O DIVÓRCIO
Data: 19/04/2013. Hinos sugeridos: 23,
441, 597.
TEXTO ÁUREO
Eu vos digo, porem, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por
causa de prostituição, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a
repudiada também comete adultério. Mt 19. 9.
VERDADE PRÁTICA
O divórcio embora
admissível em caso de infidelidade sempre trás seria consequências à família.
Por isso Deus o odeia.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Dt 24. 1. O divórcio no Antigo Testamento.
Terça - Dt 24. 1-4. O
divórcio sem volta.
Quarta - Gn 2. 24. Deus
institui o casamento.
Quinta - 1 Co 7. 34. Ate
que a morte os separe.
Sexta - Mt 5. 31-32 O
ensino de Cristo sobre o divórcio.
Sábado - 1 Co 7. 21. O ensino de Paulo sobre o divórcio.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Mateus 19. 3-12.
3. Então, chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o e t dizendo-lhe: E licito ao homem repudiar sua
mulher por qualquer motivo?
4. Ele, porem, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que, no
principio, o Criador os fez ‘macho e femea
5. e disse: Portanto, deixara o homem pai e mãe e se unira a sua mulher,
‘e serão dois numa só carne?
6. Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus
ajuntou não separe o homem.
7. Disseram-lhe eles: Então, por que mandou Moises dar-lhe carta de
divorcio e repudia-la?
8. Disse-lhes ele: Moises, por causa da dureza do vosso coração, vos
permitiu repudiar vossa mulher; mas, ao principio, não foi assim.
9. Eu vos digo porem,
que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e
casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.
10. Disseram-lhe seus discípulos: Se assim e a condição do homem
relativamente a mulher, não convém casar.
11 Ele, porem, lhes disse: Nem todos podem receber esta palavra, mas 's. aqueles a quem foi
concedido.
12 Porque ha eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; 'e ha eunucos
que foram castrados pelos homens; e ha eunucos que se castraram a si mesmos por
causa do Reino dos céus. Quem pode receber isso que o receba.
INTERAÇÃO
Prezado professor, divorcio e o tema da lição desta semana. É um assunto laborioso para se desenvolver. Por isso,
tenha muita atenção e cuidado ao tratar desse tema, pois e possível que exista
alguém nessa situação em sua classe. Lembre-se que o objetivo de ministrarmos esta
lição é o de descrever o que as
Escrituras Sagradas têm a falar sobre
o assunto. Assim, teremos o respaldo bíblico para agirmos quanto à realidade do
divorcio na igreja local. No decorrer da lição procure enfatizar que no projeto
original de Deus não havia espaço para o divorcio.
OBJETIVOS
Apos a aula, o aluno devera estar apto a:
Dissertar sobre o divorcio no Antigo
Testamento.
Defender como padrão o ensinamento de Jesus
sobre o divorcio.
Explicar o porquê do ensino de Paulo acerca do
divorcio.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Professor para lhe
auxiliar na ministração dos tópicos II e III, sugerimos que reproduza o esquema
da pagina seguinte. Este sintetiza a opinião bíblica, acerca do procedimento do
divorcio na vida da igreja. A fim de aprofundar-se no assunto, sugerimos também
que o prezado professor leia a obra do Pastor Esequias Soares, Casamento, Divórcio e Sexo a Luz da Bíblia,
Editado pela CPAD. Boa aula.
PALAVRA CHAVE Divórcio:
Dissolução do vinculo matrimonial.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Por ser algo
traumático o divórcio é sempre um assunto difícil de ser tratado. Existem
pessoas que não o aceitam em nenhuma condição. A pessoas que sob determinadas
circunstancias são favoráveis e ate buscam base nas sagradas escrituras para
admiti-lo em qualquer situação. Qual a posição da Bíblia? É o que estudaremos
nesta lição.
I. O DIVÓRCIO NO ANTIGO
TESTAMENTO.
1. A lei de Noises e o divórcio. O capitulo 24 do livro
de Deuteronômio trata a respeito do divórcio. Como a prática havia se tornado
comum em Israel, o proposito da lei era regulamentar tal situação a fim de
evitar os abusos e preservar a família. Nenhuma lei do Antigo Testamento
incentivava a alguém a divorciar-se, mas servia como base legal para a
proibição de outros casamentos com a mulher divorciada. O divórcio era um ato
extremo ( Ml 2. 16). Infelizmente, muitos que conhecem a palavra do Senhor se
divorciam por qualquer motivo.
O casamento é uma
aliança de amor inclusive com Deus, um pacto que não pode ser quebrado, sobretudo
por motivos fúteis e torpes.
2. A carta de Divórcio. Uma vez que recebia a
carta de divórcio, tanto o homem quanto a mulher estavam livres para se casarem
novamente. Todavia, segundo a lei, a mulher que fora repudiada, depois de viver
com um outro marido, não poderia retornar para o primeiro, pois tal atitude era
considerada abominação ao Senhor (Dt 24. 4). Divorciar-se não era fácil, pois
havia varias formalidades, e somente o homem poderia pedir o divórcio. A mulher
não tinha tal direito. A lei de Moises apesar de não incentivar o divórcio,
dispunha de vários
mecanismos
para torna-lo mais humano (D t 24).
SINOPSE DO TÓPICO (1)
A Lei de Moisés não incentivava o
divórcio, mas dispunha de mecanismos diversos, com o objetivo de garantir a
dignidade humana.
II - O ENSINO DE JESUS A
RESPEITO DO DIVÓRCIO.
1. A pergunta dos fariseus. Procurando incriminar
Jesus, e imbuídos da ideia difundida pela escola do rabino Hilel (que defendia o
direito de o homem dar carta de divórcio á mulher "por qualquer motivo”),
os fariseus questionaram: "É lícito ao homem repudiar sua mulher por
qualquer motivo"? (Mt 19. 3b). Respondendo aos acusadores, Jesus relembrou
o "princípio" divino para o casamento, quando Deus fez o ser humano,
"macho e fênea", "ambos uma [só] carne" Cf. Gn 2.24).
Assim, o Mestre concluiu: "Portanto, o que Deus ajuntou não separe o
homem" (Mt 1 9.6b). Essa é a doutrina originária a respeito da união entre
um homem e uma mulher; ela reflete o plano de Deus para o casamento, considerando-o
uma união indissolúvel,
2. O ensino de Jesus. Os fariseus insistiram: Então. Por que
mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio e repudiá-la? (Mt 19.7b). Respondendo à
insistente pergunta, Jesus explicou que Moisés permitiu dar carta de repúdio às
mulheres, “por causa da dureza dos vossos corações". Uma mulher abandonada
pelo marido ficaria exposta á miséria ou á prostituição para sobreviver. Com a
carta de divórcio ela poderia casar-se novamente. Deus não é radical no trato com
os problemas decorrentes do pecado e com o ser humano, Ele se importava com as
mulheres e sabia o quanto elas iriam sofrer com a dureza do coração do homem e tornou
o trato desse assunto mais digno para elas.
Segundo o ensino do Senhor
Jesus, o divórcio é permitido somente no caso de Infidelidade conjugal. Ao
invés de satisfazer o desejo dos fariseus, que admitiam o divórcio "por
qualquer motivo”; o Mestre disse: Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar
sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e casar com outra, comete
adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério" (Mt
19.9). Numa outra versão bíblia, lê-se: “exceto por causa de infidelidade conjugal"
ou relações sexuais ilícitas". Essa foi a única condição que Jesus
entendeu ser suficiente para o divórcio.
3. Permissão para novo casamento. Pelo texto bíblico,
está claro que Jesus permite o divórcio, com a possibilidade de haver novo casamento,
somente por parte do cônjuge fiel, vítima de prostituição, ou infidelidade
conjugal, Deus admite a separação do casal, não como regra, mas como exceção,
em virtude de práticas insuportáveis relacionadas à sexualidade, que desfazem o
pacto conjugal. Do contrário, um servo ou uma serva de Deus seria lesado duas
vezes: pelo Diabo, que destrói casamento e, outra, pela comunidade local, que
condenaria uma vítima a passar o resto da vida em companhia de um ímpio, ou
viver sob o jugo do celibato, que não faz parte do plano original de Deus {Gn
2.18). Todavia, em Jesus o crente tem forças para perdoar e fazer o possível
para restaurar seu casamento.
SINOPSE DO TÓPICO (2)
O Senhor Jesus
condena o divórcio, excetuando àquele que foi motivado por prostituição.
III - ENSINOS DE PAULO
A RESPEITO DO DIVÓRCIO.
1. Aos casais crentes. Paulo diz: "Todavia, aos casados,
mando não eu, mas o Senhor, que a mulher se não aparte do marido. Se, porém, se
apartar, que fique sem casar ou que reconciliem com o marido; e que o não deixe
a mulher" (1 Co 10-11). Esta passagem refere-se aos "casais crente",
os quais não devem divorciar-se, sem que haja algum dos motivos prescritos na
Palavra de Deus (Mt 19.9; I Co 7. 15). Se há desentendimentos o caminho não é o
divórcio, mas a reconciliação acompanhada do perdão sincero ou o celibato por
opção e não por imposição eclesiástica.
2. Quando um dos cônjuges não é crente. Paulo ensina que, se
o cônjuge não crente concorda em viver (dignamente) com a crente, que este não
o deixe (1 Co 7. 12-14). O crente agindo com sabedoria poderá inclusive ganhar o
descrente para jesus (1 Pe 3. 1).
3. O cônjuge fiel não está sujeito à servidão. O apóstolo, porém,
ressalva: "Mas, se o descrente se apartar aparte-se; porque neste caso o
irmão, ou Irmã, não está sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos- para a paz.
Porque, donde sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? Ou, donde sabes, ó marido,
se salvarás tua mulher?" (1 Co 7 ,15-16). Ou seja, o cristão fiel, esposo
ou esposa, não é obrigado a viver até a morte sob a servidão de um ímpio. Messe
caso, ele ou ela, pode reconstruir a sua vida de acordo com a vontade de Deus
(1 Co 7,27,28,39). Entretanto, aguarde o tempo de Deus na sua vida.
SINOPSE DO TÓPICO (3)
O apóstolo Paulo
afirma que a pessoa crente, quando abandonado pelo cônjuge não crente, esta
livre para conceder novas núpcias. Contanto que seja no Senhor.
CONCLUSÃO
O divórcio causa
sérios inconvenientes à igreja local, as famílias e a sociedade. No projeto
original de Deus, não havia espaço para o divorcio. Precisamos tratar cada caso
de modo pessoal sempre em conformidade com a palavra de Deus. Não podemos fugir
do que recomenda e prescreve a Bíblia Sagrada. Não podemos nos esquecer de que
a igreja também é uma comunidade terapêutica.
AUXÍLIO BIBLIOGRAFICO I.
Subsidio
Lexicográfico
De onde Veio à ideia
de que a fornicação é o pecado sexual entre solteiros? O citado Dicionário Patrística
responde a essa pergunta em seguida: Basilio, o único entre os Padres, junto
com Ambrosiáster, a manter uma desigual concepção de adultério, com hesitação aplica
o termo de fornicação á União de um homem casado com uma jovem não casada e
reserva a palavra adultério para os casos em que se traia de uma mulher
casada'. Diante disso, não se sustenta a Ideia de que o termo prostituição', na
cláusula de exceção, aplica-se apenas aos solteiros; também não é verdade que
'fornicação' é o pecado sexual entre os solteiros. Essa interpretação não
resiste a exegese bíblica.
Tudo é pecado, tudo é
prostituição, casados também se prostituem como a prática da sodomia pode ocorrer
dentro do casamento. Ninguém pode provar que pornela se aplica apenas a pessoas
solteiras. Nenhuma autoridade em língua grega afirma isso (SOARES, Esequias. Casamento,
Divórcio & Sexo à Luz da Bíblia. I, ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2011, pp.48-49).
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO II.
A Lei do Divórcio
[Mateus 19] vv 3-12
Nós temos aqui a lei
de Cristo no caso do divórcio, ocasionada, como algumas outras manifestações da
sua vontade, por uma discussão com “os fariseus”. Ele suportou tão
pacientemente as contradições dos pecadores, que as transformou em instruções
para os seus próprios discípulos! Observe aqui: O caso proposto pelos fariseus
(v. 3): “É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?” Os fariseus
lhe perguntaram isso para provocá-lo, e não porque desejassem ser ensinados por
Ele. Algum tempo atrás, Ele havia, na Galileia, manifestado seu pensamento sobre
esse assunto, contra aquilo que era uma prática comum (cap. 5.31,32); e se Ele,
do mesmo modo, se pronunciasse agora contra o divórcio, eles fariam uso disso
para indispor e enfurecer o povo desse país contra Ele, que olharia com
desconfiança para alguém que tentasse diminuir a liberdade de que eles tanto
gostavam.
Os fariseus esperavam
que Ele perdesse o afeto das pessoas tanto por esse como por qualquer um dos
seus preceitos. Ou então, a armadilha pode ter sido planejada dessa forma: se
Ele dissesse que os divórcios não eram legais, eles o apontariam como um
inimigo da lei de Moisés, que os permitia; se dissesse que eram legais, eles caracterizariam
a sua doutrina como não tendo em si aquela perfeição que era esperada na
doutrina do Messias, uma vez que, embora os divórcios fossem tolerados, eles
eram vistos pela parte mais rígida do povo como não sendo algo de boa
reputação. Alguns pensam que, embora a lei de Moisés permitisse o divórcio,
ainda que houvesse uma causa justa, havia uma controvérsia entre os próprios
fariseus, e eles desejavam saber o que Cristo diria sobre isso. Causas
matrimoniais têm sido numerosas, e algumas vezes intrincadas e confusas; elas
se tornam assim não por causa da lei de Deus, mas pelos desejos e pela loucura
dos homens. Nesses casos, as pessoas frequentemente decidem o que vão fazer,
antes de perguntarem qual seria a melhor solução.
A pergunta dos
fariseus foi a seguinte: Será que um homem pode repudiar a sua mulher por
qualquer motivo? O divórcio era permitido por alguns motivos, como por
prostituição, mas o divórcio era praticado, como acontecia geralmente, por
pessoas irresponsáveis, e por qualquer motivo. Será que ele poderia ser
praticado por qualquer motivo que um homem pudesse julgar adequado (embora
fosse, como sempre, frívolo), como também por qualquer antipatia ou desagrado?
A tolerância, nesse caso, permitia isso: “Se não achar graça em seus olhos, por
nela achar coisa feia, ele lhe fará escrito de repúdio” (Dt 24.1). Eles
interpretavam esta passagem literalmente; e assim, qualquer desgosto, mesmo que
sem motivo, poderia se tornar a base para um divórcio.
HENRY. Matthew, Comentário Bíblico Novo Testamento.
Mateus A João. I. ed- Rio de Janeiro: CPAD, 2008. p 240.
BIBLIOGRÁFIA SUGERIDA
ARRINGTON, French L.; STRONSTAD. Roger (Eds.). Comentário Bíblico
Pentecostal: Novo Testamento- l -ed- Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
HENRY, Matthew.
Comentário Bíblico Novo Testamento: Mateus a João. l. ed. Rio de janeiro: CPAD,
200&.
SOARES, Esequias. Casamento,
Divórcio & Sexo à Luz da Bíblia- 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
EXERCÍCIOS
1. Segundo a lição
qual era o propósito da lei do divórcio?
R: Como a prática
havia se tornado comum em Israel, o proposito da lei era regulamentar tal
situação a fim de evitar os abusos e preservar a família.
2. Que a escola de
Hilel defendia acerca do divórcio?
R: Defendia o direito
de o homem dar carta de divórcio á mulher por qualquer motivo, os fariseus
questionaram: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo
3. Qual a resposta de
Jesus aos fariseus a respeito do divórcio?
R: Que Moisés permitiu
dar carta de repúdio às mulheres, “por causa da dureza dos vossos corações”.
4. Qual o ensino de
Paulo aos casais crentes?
R: "Todavia, aos
casados, mando não eu, mas o Senhor, que a mulher se não aparte do marido. Se,
porém, se apartar, que fique sem casar ou que reconciliem com o marido; e que o
não deixe a mulher" (1 Co 10-11).
5. O que Paulo ensina
quando um dos cônjuge não é crente?
R: Paulo ensina que,
se o cônjuge não crente concorda em viver (dignamente) com a crente, que este não
o deixe (1 Co 7. 12-14).
VOCABULÁRIO Repúdio:
Rejeitar a esposa legalmente divorciar-se.
Revista Ensinador Cristão CPAD, n° 54,
p.39.
O divórcio é a
dissolução do casamento. No direito brasileiro, é a oficialização do término de
um compromisso conjugal e a oportunidade de se contrair novas núpcias.
Para Deus, o divórcio
é um ato nocivo, condenado em diversos textos da Bíblia devido ao seu grande prejuízo
para a instituição familiar.
O parecer de Jesus
quanto ao divórcio - Em certa ocasião, Jesus se deparou com a questão do
divórcio quando foi questionado por seus opositores. Isso porque nos anos
finais do Antigo Testamento não era incomum os homens de Israel abandonarem suas
esposas para contraírem um novo casamento com mulheres mais novas de outras
nações: Deus usa o profeta Malaquias para condenar a atitude dos israelitas:
"Além disso, ainda cobris o altar do Senhor com lágrimas, choro e gemidos
, porque ele não olha mais para as ofertas, nem as aceita da vossa mão com
prazer. Mesmo assim, perguntais: por quê? Porque o Senhor tem sido testemunha
entre ti e a esposa que tendes desde q juventude, para com a qual foste infiel,
embora ela fosse tua companheira e a mulher da tua aliança matrimonial... Pois
eu odeio o divórcio e também odeio aquele que se veste de violência" (Ml
2.13,14,16). Se analisarmos o texto, teremos duas observações a fazer:
primeiro, que não adianta a pessoa se derramar diante do altar do Senhor e
ofertar de forma abundante se não for fiel à companheira de sua mocidade (uma
referência ao casamento feito na juventude e desprezado após os anos de
convivência); e segundo, aos olhos de Deus, o divórcio e a violência são como
se fossem a mesma coisa. Divórcio e violência são usados no mesmo verso, como
se demonstrasse que o divórcio é uma verdadeira violência para com Deus e a
família.
Retornemos para
Jesus, quando questionado no tocante à licitude do divórcio. Jesus só entendeu
ser tolerável o divórcio em caso de infidelidade conjugal, e isso porque os
israelitas tinham um coração duro. E quando os fariseus citaram a pessoa de
Moisés, querendo dizer que a Lei deveria ser "respeitada", Jesus
retornou ao princípio da criação, ou seja, séculos antes da Lei, quando Deus
criou o homem e a mulher e fez dos dois "uma só carne" no casamento.
Os fariseus queriam
colocar Jesus contra a Lei, mas se esqueceram de analisar o que Deus havia
proposto antes de a Lei de Moisés ser apresentada ao povo de Israel. E foi esse
lembrete que Jesus fez, a fim de que o divórcio não fosse uma prática comum
entre o povo de Deus, mas, sim, uma exceção entre os santos.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Divórcio é permitido por Cristo como uma
exceção, ante à prática da infidelidade, que quebra a aliança matrimonial. O
tema do divórcio talvez seja um dos mais discutidos e pouco resolvidos no meio
das igrejas evangélicas. De um lado, há os que não o aceitam em qualquer
hipótese, entendendo a indissolubilidade do casamento de modo radical. Por
outro lado, há os que o aceitam, sob determinadas circunstâncias, buscando base
para tal entendimento na Bíblia Sagrada, como regra de fé e prática. E há os
que são liberais, admitindo o divórcio em qualquer situação.
I - O QUE É O DIVÓRCIO
O divórcio é o rompimento da aliança,
celebrada diante de Deus, perante um ministro, ou autoridade eclesiástica ou
diante da sociedade, representada pela autoridade civil, encarregada de oficiar
o casamento. Na prática, é a expressão marcante da falta de amor, de
entendimento, de união e de fidelidade conjugal. Todo divórcio deixa marcas
profundas nos que são alcançados por essa medida de caráter radical. Os que
mais sofrem
são os filhos, que não entendem porque seus pais não conseguem viver juntos, em
amor, cuidando da missão de zelar pelo lar e pela família.
LIMA. Elinaldo Renovato de. A
família cristã e os ataques do inimigo. Editora CPAD. pag. 81-82.
No Brasil, a
partir da Constituição de 1967, com o advento da Emenda Constitucional de 28 de
junho de 1977, foi permitido, de forma muito tímida e restrita, o instituto do
divórcio. Para regulamentar o referido dispositivo constitucional foi editada a
Lei n° 6.515/1977, que passou a disciplinar todos os procedimentos para a
efetivação do divórcio, cujo pedido, à época, podia ser formulado por uma pessoa
somente uma vez.
Só com o advento
da Constituição Federal de 1988 é que a matéria foi institucionalizada, tendo o
texto magno inserido este instituto de forma positiva no ordenamento jurídico
nacional. A Constituição Federal vigente trata do divórcio no seu Art. 226,
parágrafo 6o. O Supremo Tribunal Federal reconheceu que a Lei n°
6.515/1977, com as modificações que lhes deram as Leis n° 7.841/1989 e n°
8.408/1992, foi admitida na atual ordem constitucional do país. O Código Civil
vigente (Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002) também disciplinou a matéria
a partir do Art. 1.571 até o Art. 1.582. Dando um passo em direção à celeridade
processual, foi editada a Lei n° 11.441 /2007, a qual autoriza que a separação
e o divórcio consensuais, assim como a partilha de bens, em que não haja
interesse de menores, sejam feitos diretamente em cartório, desde que com a
presença obrigatória de advogado.
AVALIAÇÃO
Isso não significa
que a Igreja seja obrigada a admitir o divórcio por qualquer motivo, salvo no
caso das pessoas que só conheceram a Jesus quando já estavam nessa situação (Jo
6.37). Nem tudo o que é legal é ético: "Todas as coisas me são lícitas,
mas nem todas as coisas me convém" (ICo 6.12). As bases para o divórcio
nas culturas judaica, grega e romana eram frouxas; entretanto, o Senhor Jesus e
o apóstolo Paulo não se deixaram influenciar pela legislação vigente. Mas a
Igreja precisa pronunciar-se sobre o assunto, uma vez que o Senhor Jesus lhe conferiu
essa autoridade (Mt 16.19; 18.16-18). As igrejas, os ministérios ou as convenções
devem estabelecer critérios embasados na Palavra de Deus. Há muito pouca
referência ao divórcio nos primeiros séculos do cristianismo. Alguns dos pais
da Igreja, Agostinho, por exemplo, consideraram equivocadamente o casamento um
sacramento. A base dessa distorção é a VL, uma tradução malfeita de
Jerônimo da palavra
grega mystêrion
"mistério, segredo", em Efésios 5.32, traduzida pelo termo latino
sacramentum, "sacramento".1 Erasmo de Roterdã descobriu esse e outros
erros de tradução na VL e esse termo é um deles (MCGRATH, 2005, p. 89). É com
base nessa visão que a Igreja Católica, ainda hoje, não permite o divórcio.
Os reformadores
não consideravam o casamento um sacramento e tinham sobre o assunto uma visão
mais voltada para a Bíblia, e não para a longa tradição da Igreja Católica. A
Igreja Anglicana da Inglaterra apresenta dois relatórios: O Casamento, o
Divórcio e a Igreja, datado de 1971, e O Casamento e a Tarefa da Igreja, de
1978. Segundo a Enciclopédia I lisLórico Teológica da Igreja Cristã esses
documentos "recomendavam que a Igreja da Inglaterra relaxasse sua regra
rigorosa, atual, de que nenhuma pessoa com cônjuge ainda vivo pode se casar na
Igreja, embora pessoas divorciadas, que tenham recebido permissão para tal,
possam ser admitidas à Santa Comunhão (ELWELL, 1988, p. 482).
Resumindo o que
vimos até agora, existem duas linhas opostas sobre o divórcio: uma que crê que
Jesus revogou o divórcio previsto em Deuteronômio 24.1-4; outra que admite que
o Novo Testamento permite o divórcio em situações excepcionais, já discutidas.
Analisando o divórcio à luz da Bíblia, vimos que ele estava previsto na lei de
Moisés e era realizado nos tempos do Antigo Testamento. Era uma prática comum
nas comunidades judaica, grega e romana, nos dias do ministério terreno de
Jesus e de seus apóstolos. Vimos também que o divórcio está amparado pelo Novo
Testamento nos seguintes casos: prática de prostituição (Mt 5.31,32; 19.9) e
impossibilidade de reconciliação entre os cônjuges em casais mistos, desde que
a iniciativa seja da parte descrente (1 Co 7.15). Fora isso, o divórcio será
adultério, caso o divorciado ou a divorciada contraia novas núpcias.
John Stott, em sua
obra Grandes Questões sobre Sexo, declara de maneira resumida o propósito de
Deus com o casamento e de que maneira o divórcio é visto biblicamente, nos
seguintes termos:
1. Deus criou o
homem, no princípio, macho e fêmea, tendo ele mesmo instituído o casamento. Era
seu propósito e ideal que a sexualidade humana se realizasse através do
casamento, e que esta fosse uma união exclusiva, amorosa e vitalícia.
2. Em nenhum lugar
da Escritura se aconselha ou se encoraja o divórcio. Pelo contrário, mesmo no
caso de ser biblicamente justificado ele continua sendo um lamentável pecado em
relação ao ideal divino.
3 .0 divórcio e o
novo casamento são permissíveis (não imperativos) sobre duas bases. A primeira
é aquela em que há uma parte inocente e outra culpada de imoralidade sexual. Em
segundo lugar, o cristão pode concordar com a deserção do cônjuge no caso de este
se recusar a viver com ele ou ela. Entretanto, em ambos os casos a permissão é
concedida em termos negativos e relutantes. Somente querendo alguém se
divorciar sobre o fundamento de infidelidade conjugal é que recasamento não
resulta em adultério. Somente se a parte não cristã insiste na não convivência
é que a parte cristã "não está mais sujeita" (STOTT, 1993, pp. 93,
94).
Sem essa
compreensão sobre casamento e divórcio, fica difícil para o pastor aconselhar
as pessoas que se encontram nessa situação. Quem defende tais princípios terá
condições de êxito no aconselhamento para os casais. Essa linha resumida,
traçada acima por John Stott, é o padrão que a maioria das igrejas evangélicas
segue, e está amparada pela Palavra de Deus.
Afora as exceções
previstas em Mateus 5.31,32; 19.9, ICoríntios 7.15, já discutidas nesta obra,
existem casais crentes que esgotaram todos os recursos para a reconciliação.
Esses casos devem ser analisados pela Igreja, por meio do pastor ou de
comissões, para que o divórcio possa ser aceito ou não pela Igreja. Não é
apenas por causa da falta do culpado que o divórcio terá validade aos olhos de
Deus, pois, em algumas ocasiões, há intransigências que impedem a
reconciliação. É necessário, pois, analisar as causas pelas quais o cônjuge culpado
procede dessa maneira. Quais seriam os estímulos que provocaram tais reações? O
simples fato de se estar divorciado legalmente, conforme a legislação
brasileira, não garante o amparo bíblico. A Igreja não está obrigada a aceitar
essas pessoas no rol de membros. Por isso, cada caso deve ser analisado
cuidadosamente.
O problema do
divórcio não se resume ao que temos visto até agora. Há o lado prático,
extremamente complexo e, em muitos casos, de difícil conclusão. A injustiça, o
ódio, as mágoas e os ressentimentos deixam sequelas que marcam para sempre a
vida de ambas as partes, comprometendo toda a estrutura emocional, psicológica
e espiritual. Há a destruição do lar, a situação dos filhos, principalmente se
forem menores. Ou o pai vai tomar-se pai solteiro, ou a mãe, mãe solteira.
Muitas vezes os filhos ficam traumatizados por toda a vida. Isso não raro
envolve a família de ambos os lados, a Igreja e os amigos. Por essa e outras
razões, a Bíblia não "ordena nem sequer encoraja o divórcio".
Considerando superados
todos os problemas familiares, vem o lado espiritual. Se o cônjuge infiel
divorciado vier ao arrependimento e pedir a sua reconciliação com a Igreja,
qual deve ser a posição desta última? O Senhor Jesus disse que quem se casa com
cônjuge divorciado ou divorciada, que tenha sido a parte infiel no primeiro
casamento, comete adultério. Assim ambos estarão em adultério (Mt 19.9; Mc
10.11,12). Como a Igreja pode receber em comunhão uma pessoa que cometeu adultério,
destruiu o próprio lar, depois vem com outro cônjuge pedir a sua reconciliação
com Igreja, visto que à luz da Bíblia ambos estão em adultério? Será que não há
reconciliação para situações dessa natureza?
A Bíblia nada
declara sobre isso. Afirma apenas que eles estão em adultério, mas não diz se a
situação é irreversível. Fica difícil generalizar, pois cada caso é um caso. Em
situações extremas, cabe ao pastor da Igreja analisar cada situação. Quando o
culpado pede reconciliação com a Igreja, estando sem cônjuge, é menos
complicado, mormente se resolve tornar-se eunuco, vivendo sozinho (Mt
19.10-12). Do contrário, à luz da Bíblia, seu novo casamento será adultério.
Mas, se a parte inocente ainda não contraiu novas núpcias, é a ocasião para a
reconciliação do casal, mas o relacionamento conjugal só deverá acontecer após
se casarem novamente, pois do contrário será adultério, visto que ainda não são
"marido e mulher", mas divorciados.
Quanto ao que vem
para Jesus já nessa situação, as condições são diferentes. Essa pessoa, após o
encontro com Jesus, passou a ser nova criatura (2Co 5.17). Jesus disse: "O
que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora" (Jo 6.37); pois Deus não
leva "em conta os tempos da ignorância" (At 17.30). Essa pessoa deve
consertar o que puder. Fora isso, já foi alvejada pelo perdão e pela
misericórdia de Deus, assim cada um deve ficar "diante de Deus no estado
em que foi chamado" (ICo 7.24). E uma situação diferente daquela em que a
pessoa se desviou ou abandonou o seu cônjuge.
No caso de casais
mistos, isto é, quando um dos cônjuges se desvia, ou quando um se converte e o
seu cônjuge não quer saber do evangelho, o ensino bíblico é que vivam juntos.
Os casamentos mistos, nesse caso, são legítimos, não devendo haver a dissolução
do matrimônio (1 Co 7.12-14). O divórcio não é e nunca foi um mandamento, mas
uma permissão, em casos humanamente insolúveis. Deus assim permitiu por causa
da pecaminosidade do gênero humano (Mt 19.8). Se a irmã ou o irmão está
impossibilitado de viver com o seu cônjuge incrédulo,
sem possibilidades
de reconciliação, o assunto deve ser levado ao pastor da Igreja. Esgotados
todos os recursos para uma vida pacífica – Deus nos chamou para a paz (ICo
7.15) -, a Igreja poderá aprovar esse divórcio, pois nesse caso ele é válido e
estará amparado pela Bíblia. O papel da Igreja é o de ajudar e orientar, e não
rejeitar, as pessoas já divorciadas, procedendo como Jesus ao tratar com a
mulher samaritana (Jo 4.17,18). A Igreja deve, assim, aconselhar os casais que
estão com problemas a superar os obstáculos e buscar reconciliação.
SOARES. Esequias. CASAMENTO, DIVÓRCIO E SEXO A LUZ DA BÍBLIA.
Editora CPAD. pag. 55-61.
I. O DIVÓRCIO NO ANTIGO
TESTAMENTO.
1. A lei de Moises e o divórcio.
Divórcio
Os casamentos às vezes eram dissolvidos,
podendo o homem divorciar-se da esposa se encontrasse “coisa indecente nela”
(Dt 24.1). Os advogados judeus interpretavam essa frase de diferentes maneiras.
Nos dias de Jesus, os seguidores da escola de Shammai acreditavam que ela se
referia ao adultério ou má conduta sexual.
Os seguidores da escola de Hiliel acreditavam
que a frase podia abranger até um jantar estragado. Na sociedade da época, o
homem podia simplesmente avisar à mulher que se divorciara dela, mas os judeus
eram obrigados a dar uma “carta de divórcio” por escrito,
anulando o contrato de casamento original.
Parte da carta (ou documento) de divórcio permitia que a mulher se casasse de
novo (Dt 24.1,2), mas uma moça que se casasse com um homem por ter sido antes
estuprada por ele não podia ser mandada embora (Dt 22.28,29). O homem que
acusasse falsamente a mulher de não ser virgem quando se casaram, não podia
também divorciar-se dela (Dt 22.13-19). Se uma mulher divorciada voltasse a
casar e seu novo marido morresse ou lhe desse carta de divórcio, o primeiro
marido não podia casar-se de novo com ela (Dt 24.3,4); mas se não tivesse
casado outra vez, ela e o primeiro marido podiam voltar a casar-se (Os 3). O
povo judeu foi muito bem esclarecido, de modo a não restarem dúvidas.de que o
divórcio era inaceitável para Deus (Ml 2.16), e Jesus repetiu que aqueles que
Deus uniu ninguém poderia separar (Mt 5.31,32; 19.6). Não era permitido que as
mulheres dessem início ao divórcio.
GOWER. Ralph. Usos e Costumes dos Tempos Bíblicos. Editora
CPAD. pag. 70.
O ANTIGO TESTAMENTO E A SUA INTERPRETAÇÃO
É do Antigo Testamento que vem o significado
do termo "divórcio".
Na verdade, o assunto é tratado com escassez
na Bíblia. As poucas referências bíblicas dificultam elucidar o tema e deixam
margem a muitas interpretações. Tudo isso revela que se trata de algo que não é
da vontade de Deus.
1 Quando um homem tomar uma mulher e se casar
com ela, então, será que, se não achar graça em seus olhos, por nela achar
coisa feia, ele lhe fará escrito de repúdio, e lho dará na sua mão, e a
despedirá da sua casa. 2 Se ela, pois, saindo da sua casa, for e se casar com
outro homem, 3 e se este último homem a aborrecer, e lhe fizer escrito de
repúdio, e lho der na sua mão, e a despedir da sua casa ou se este último
homem, que a tomou para si por mulher, vier a morrer, 4 então, seu primeiro
marido, que a despediu, não poderá tornar a tomá-la para que seja sua mulher,
depois que foi contaminada, pois é abominação perante o SENHOR; assim não farás
pecar a terra que o SENHOR, teu Deus, te dá por herança (Dt 24.1-4).
Aqui está o ponto de partida para
compreendermos o assunto em foco. Primeiro, o divórcio não foi instituído por
Deus nem é mandamento divino, já existindo na época de Moisés. O termo
"quando" (v. la) mostra ser uma prática social à qual o grande
legislador dos hebreus deu forma jurídica ao escrever: "Ele lhe fará
escrito de repúdio, e lho dará na sua mão" (v. lb). O termo hebraico usado
aqui para repúdio é keríthüth, "rompimento (de relações), demissão,
divórcio", do verbo kãrath, "cortar fora" (DITAT, pp. 751, 752).
Esse significado é o mesmo nas línguas semitas cognatas (GESENIUS-TREGELLES,
1982, p. 414; BAUMGARTNER, vol. I, 2001, pp. 497, 500). A LXX usa 0 termo grego
apostasion, "certificado de divórcio" (BALZ & SCHNEIDER, vol. I,
2001, p. 423), o mesmo que aparece no Novo Testamento (Mt 5.31).
A expressão "escrito de repúdio" é,
em hebraico, sêpher kenthüth, "carta, livro, escrito, termo, documento de
divórcio, de repúdio". Essa carta de divórcio era um documento público
reconhecido pelas autoridades judaicas, que liberava a mulher para se casar
novamente com outro homem. A LXX emprega biblion apostasiou, expressão grega
para designar a carta de divórcio (Dt 24.1,3). A expressão reaparece também em
Isaías: "Onde está a carta de divórcio de vossa mãe, pela qual eu a repudiei?"
(50.1), em Jeremias: "A rebelde Israel despedi e lhe dei o seu libelo de
divórcio" (3.8) e em duas ocorrência do Novo Testamento: "Por que
Moisés mandou dar-lhe carta de divórcio e repudiá-la" (Mt 19.7) e
"Moisés permitiu escrever carta de divórcio e repudiar" (Mc 10.4). A
ARA traduz por "termo de divórcio".
Assim, o conceito de divórcio em toda a
Bíblia, no Antigo e no Novo Testamento, é de ruptura do casamento, o fim e o
corte do relacionamento conjugal.
O texto sagrado continua: "Se ela, pois,
saindo da sua casa, for e se casar com outro homem" (Dt 24.2). Essa mesma
mulher, em quem foi encontrada "coisa feia", motivo que deu causa à
separação, tem a permissão da lei para contrair novas núpcias, pois o divórcio
é o fim e a ruptura definitiva do casamento. A sociedade israelita naquela
época aceitava essa situação, e ninguém era considerado adúltero por causa
disso. Não há indícios, nem aqui nem em qualquer outra parte do Antigo
Testamento, que provem ser proibido um
divorciado casar-se pela segunda vez. Jamais, na história de Israel, alguém
ousou considerar adúltera uma mulher divorciada, ou vice-versa, que contraiu
novas núpcias. O que a legislação mosaica proibia, naqueles dias, era o retorno
da esposa ao seu primeiro marido, caso ela fosse divorciada ou viúva do segundo
marido (vv. 3, 4).
A base para a realização do divórcio ficou
sem solução nesse texto até a vinda do Messias. A expressão "Se não achar
graça em seus olhos, por nela achar coisa feia" (v. 1), ou "coisa
indecente" (ARA), é muito vaga e foi ponto de discussão ao longo dos
séculos.
Essa mesma expressão aparece também em
Deuteronômio 23.14, mas não nos ajuda a compreender a passagem em apreço.
Isaías 50.1 nada de novo acrescenta. Jeremias 3.8 dá a entender que o adultério
justifica o divórcio.
O clímax desses debates aconteceu pouco antes
do nascimento de Cristo. Havia nos dias de Herodes, o Grande, dois rabinos que
fundaram escolas: um deles chamava-se Shammai, extremamente radical, e o outro,
Hillel, liberal. Eles discutiram sobre o assunto.
Shammai insistia dizendo que o divórcio seria
legítimo somente em caso de adultério. A Mishná afirma que Shammai interpretava
a expressão "coisa indecente" como pecado imoral (Gittin IX. 10).
Ainda há muitos que pensam dessa maneira, acreditando que tal expressão diz
respeito ao pecado pré-marital. O adultério era punido com a morte:
"Também o homem que adulterar com a
mulher de outro, havendo adulterado com a mulher do seu próximo, certamente
morrerá o adúltero e a adúltera" (Lv 20.10); "Quando um homem for
achado deitado com mulher casada com marido, então, ambos morrerão, o homem que
se deitou com a mulher e a mulher; assim, tirarás o mal de Israel" (Dt
22.22). Se ambos, adúltera e adúltero, deviam ser apedrejados, logo não havia
espaço para o divórcio. Visto que essa mesma lei se aplicava também ao pecado
pré-marital: "Porém, se este negócio for verdade, que a virgindade se não
achou na moça, então, levarão a moça à porta da casa de seu pai, e os homens da
sua cidade a apedrejarão com pedras, até que morra; pois fez loucura em Israel,
prostituindo-se na casa de seu pai; assim, tirarás o mal do meio de ti"
(Dt 22.20,21), tal interpretação é inconsistente.
Hillel, por outro lado, insistia que o
divórcio podia ser aprovado por qualquer razão apresentada pelo marido.
Relacionava a expressão "coisa indecente" a qualquer coisa de que o
marido não gostasse na mulher. O rabino Akiva (falecido em 132 d.C.)
interpretava a referida "expressão" como tendo 0 homem direito de se
divorciar de sua mulher, caso encontrasse outra mais bonita. Alfred Edersheim,
citando a Mishná, diz que "coisa indecente" para Hillel era "no
sentido mais amplo possível, e declarava que havia base para 0 divórcio, se uma
mulher perdia 0 jantar do seu marido" (EDERSHEIM, vol. 2, 1989, p. 280).
Por exemplo, continua Edersheim, se passasse a achar feia a sua mulher, isso
era considerado "coisa indecente". Se a comida preparada por ela já
não 0 agradasse, era também tido como "coisa indecente". Assim, o
homem se divorciava quando quisesse.
SOARES. Esequias. CASAMENTO, DIVÓRCIO E SEXO
A LUZ DA BÍBLIA. Editora CPAD. pag. 36-39.
Os versículos primeiro a quarto deste
capítulo abordam questões como o divórcio e um novo casamento, constituindo a
sexta das vinte leis que ocupam esta seção.
24.1 Se um homem tomar uma mulher. No
Dicionário foi examinado, de forma exaustiva, o assunto abordado neste artigo
(ver Divórcio e Divórcio, Carta (Termo) de, quanto a completas informações).
Achamos aqui “um antigo caso real que tratava de novo casamento após 0 divórcio.
Quem tomava a iniciativa do divórcio era 0 homem, embora ele não pudesse agir
sem seguir um processo legal, incluindo a formulação de uma carta de divórcio
(ver Jer. 2.2,3), que dissesse 0 motivo” (Oxford Annotated Bible, comentando
sobre este versículo). A prática de divórcio e novo casamento era comum no
antigo Oriente Próximo e Médio, incluindo Israel. Jesus, porém, afirmou que
essa lei era uma concessão, por causa da dureza dos corações, que tinham
perdido de vista 0 propósito original e a santidade do casamento. Quanto a isso
ver Mat. 19.8 ss.. Jesus limitou as causas do divórcio ao adultério, mas as
palavras usadas neste texto, “por ter ele achado cousa indecente nela”, foram
interpretadas das mais diversas maneiras pelos intérpretes rabínicos. De fato,
a natureza vaga dessa afirmação permitia que um homem se divorciasse de sua
esposa quase por qualquer motivo, até mesmo por “ter queimado seus biscoitos da
primeira refeição”, conforme disse um intérprete. Visto que 0 adultério
requeria a pena de morte, a “cousa indecente” deste versículo não pode
referir-se a isso. Ver Deu. 22.22, quanto à execução de uma mulher principalmente adúltera.
E também não pode estar em pauta 0 homem
descobrir que a mulher tinha tido sexo pré-marital, visto que isso também
requeria execução (Deu. 22.20,21). Portanto, alguma coisa menos grave estava em
pauta; e os homens tiravam proveito desse fato para que coisas até de somenos
importância se tornassem razões legais para 0 divórcio.
O divórcio era um costume milenar, e não
podemos achar nenhum trecho do Antigo Testamento que 0 tenha instituído. A
passagem que ora comentamos simplesmente regulamentava um costume já existente.
E essa regulamentação era: um homem só podia divorciar-se se tivesse uma boa
causa (embora essa causa tivesse sido deixada indefinida). Era-lhe mister
apresentar seu caso diante de um oficial público; um documento legal tinha de
acompanhar 0 processo, determinando as razões, as condições etc. Talvez essas
formalidades envolves- sem algum tempo e dinheiro, 0 que atuaria como um fraco
aviso contra divórcios precipitados. A monogamia era a ordem original desde a
criação (Gên. 1 e 2). O divórcio é algo repugnante para Deus (Mal. 2.14,15).
Os Targuns interpretam as palavras “cousa
indecente” de várias maneiras: desonestidade; maneiras sem polidez; algum tipo
de impureza cerimonial persistente etc. A escola rabínica de Hilel interpretava
isso de forma liberal, incluindo até a “queima de algum alimento”; comida
salgada demais; negligência quanto aos deveres domésticos. Akiba dizia que era
suficiente que um homem achasse uma mulher “mais bonita” para que ele pudesse
divorciar-se de sua esposa. Se a mulher deixasse de usar 0 véu em público; se
se ocupasse de atos tolos em público; se tomasse um banho em lugar público,
onde homens a pudessem observar; se tivesse um odor corporal desagradável; se
flertasse com outros homens; se tivesse mau hálito; se tivesse sinais cutâneos
pelo corpo... Quase qualquer razão era suficiente para que 0 pedido de divórcio
fosse atendido. Não há que duvidar, Israel era uma sociedade patriarcal.
24.2 Regras acerca do Divórcio. Essas regras
permitiam que a mulher, uma vez divorciada do primeiro marido, se casasse
novamente. O divórcio era a dissolução do casamento, como se este nunca tivesse
ocorrido. Havia apenas uma restrição: a mulher não podia casar-se de novo com o
mesmo marido, se seu segundo casamento também fracassasse. Os ensinamentos de
Jesus mostram-se muito mais estritos. Para Ele, uma mulher divorciada não
poderia casar-se de novo, enquanto seu marido continuasse vivo. Se ela viesse a
casar-se de novo antes da morte do marido, estaria cometendo adultério. Ver
Mat. 5.31,32 e a exposição sobre esses versículos no Novo Testamento
Interpretado. Alguns intérpretes dizem que temos aí um ideal que nunca foi
realmente posto em prática na sociedade humana. Meu artigo do Dicionário,
intitulado Divórcio, entra em todos os aspectos dessa questão.
24.3 Ou se este último homem... vier a
morrer. Uma grande falta de sorte no casamento, sem dúvida! Ela fora desprezada
pelo marido, casara-se de novo, mas somente para ser desprezada de novo. E todo
o processo se repetia, seguindo as mesmas regras aqui determinadas. Ou então a
morte do segundo marido deixara a mulher novamente descasada. Nesse caso, ela
poderia casar-se pela terceira vez, contanto que não fosse com o seu primeiro
marido. E as razões dessa proibição figuram no versículo seguinte. Todavia,
poderia casar-se com um terceiro homem.
24.4 Depois que foi contaminada. Este texto
não dá a entender que a mulher havia cometido adultério. A possibilidade do
divórcio, segundo a legislação mosaica, dificilmente pode ser entendida como se
permitisse 0 adultério. Mas o fato de ter-se casado com outro homem tinha
contaminado a mulher. Ela se havia tornado uma mulher de segunda classe, que
tinha passado de um homem para outro, mesmo que esse passar de mão em mão fosse
permitido por lei. O texto subentende certo desgosto com 0 sexo, especialmente
com 0 segundo caso de sexo. Cf. Deu. 23.10 e seus paralelos. O sêmen masculino
tornava imundos tanto o homem quanto a mulher, mesmo que os dois estivessem
liga- dos pelos laços do matrimônio. Um banho cerimonial (ver as notas a
respeito em Lev. 14.8; 15.16; 17.15; Num. 8.7; 19.7,19) tinha de ocorrer após
cada ato sexual, embora tal banho fosse deixado para o dia seguinte, quando era
mais conveniente. Ver Deu. 15.18. Fica assim patente que se um banho cerimonial
tinha de ocorrer até mesmo no caso de um primeiro e único matrimônio, quanto
mais quando uma mulher ficava contaminada caso se casasse de novo, após ter-se
divorciado. Se tais coisas eram permitidas, a mente hebreia via algo de sujo e
contaminador na questão, mesmo que a mulher nunca chegasse a adulterar. Cf.
Jer. 3.1. Jesus fazia um segundo casamento tornar-se adultério, caso 0 primeiro
marido de uma mulher ainda não tivesse morrido. Logo Jesus levava a questão
mais além do que 0 fazia a antiga mentalidade dos hebreus. Ver Mat. 5.31,32.
Mulheres que se Divorciavam de Seus Maridos?
Isso jamais foi permitido na sociedade dos hebreus. Em tempos posteriores,
entretanto, uma mulher dispunha de recursos para forçar o marido a divorciar-se
dela. E assim ela acabava obtendo o mesmo resultado.
Contaminação e Pecado. Se uma mulher voltasse
a seu primeiro marido, depois de ter sido esposa de um segundo homem, isso
constituiria pecado, e de natureza tal que contaminava a terra inteira, pelo
que devia ser evitado a todo custo. A terra era a herança que Yahweh tinha dado
a Abraão e seus descendentes, por meio do Pacto Abraâmico (sobre 0 qual ver as
notas em Gên. 15.18). A Terra Prometida era santa porque havia sido dada por
Deus, o Santo, e não devia ser contaminada por meio de atos imprudentes e
pecaminosos. A ideia é que esse pecado feminino era algo comunal, pois ninguém
peca sozinho. Abominação. O autor sacro usou esse vocábulo forte para indicar
tanto a idolatria quanto o adultério espiritual.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo
por versículo. Editora Hagnos. pag. 843-844.
24.1-4 — Esta situação envolve o retorno de uma
divorciada ao primeiro marido, após o casamento com um segundo homem.
24.1,2 — Coisa feia. A natureza do problema não
é especificada, embora estivesse bastante clara no contexto original. E
provável que fosse algo relacionado a um problema físico, tal como a inaptidão
para conceber filhos. Neste caso, o marido poderia conceder o escrito de
repúdio à sua esposa, o qual era um documento legal que provia direitos ao
divorciado (Lv 21.7,14;22.13; Nm 30.9; Mt 19.3-9). Tal certificado permitia que
a mulher se casasse novamente.
24.3,4 — Contaminada. Retornar ao primeiro marido
após um segundo casamento provavelmente colocava a mulher na mesma posição de uma
esposa infiel.
24.5,6 — Uma mó era uma pedra usada para triturar
o cereal e transformá-lo em farinha. A combinação de duas mós constituía um
instrumento familiar que gerava a provisão diária de alimento. O princípio é
claro: uma família não poderia ser privada de suprir suas necessidades do dia-a-dia.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne
House. O
Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento com
recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 345.
Dt. 24. Vv. 1-4. Quando a providência de
Deus, ou uma má escolha no matrimônio, traz ao cristão uma tribulação, ao invés
de uma ajuda idônea, ele preferirá de todo o seu coração levar a cruz, do que o
alívio que tenda ao pecado, à confusão ou à desgraça. A graça divina santificará
a sua cruz, sustentá-lo-á nela, e ensiná-lo-á a comportar-se de tal maneira que
o seu problema seja paulatinamente mais tolerável.
HENRY. Matthew. Comentário Bíblico de Matthew Henry. Editora
CPAD. Deuteronômio. pag. 37.
Deuteronômio 24. Leis da Família. 24:1-5.
O divórcio conforme permitido na Lei Mosaica
(cons. Lv. 21:7, 14; 22:13 ; Nm. 30:9), por causa da dureza do coração dos
israelitas Mat. 19:8; Mc. 10:5), punha em perigo a dignidade das mulheres
dentro da teocracia. Por isso, o abuso da permissão foi prevenido, cercando o
divórcio de regias técnicas e restrições (Dt. 24:1-4). A E.R.A. está certa em considerar
os versículos 1-4 como uma só sentença, sendo que 1-3 constituem a condição e o
4 a conclusão. A E.R.C. dá a impressão de que o divórcio era obrigatório na
situação descrita. Na realidade, o que era obrigatório não era o divórcio, mas
(se alguém recorresse ao divórcio) um processo legal que incluía quatro
elementos: a) Devia haver motivo sério para o divórcio. O significado exato das
palavras coisa indecente (v. 1; cons. 23:14) é incerto. Não se trata de
adultério, pois a lei prescrevia para isto a pena de morte (22:13 e segs.; Lv.
20:10; cons. Nm. 5:11 e segs.). b) Uma certidão da separação devia ser colocada
na mão da mulher para sua subsequente proteção. O preparo deste instrumento
legal implica
no envolvimento de c) um oficio público que também deveria julgar a suficiência
da base alegada para o divórcio. d) O homem devia fazer uma despedida formal –
despedir de casa (v. 1).
O ponto principal desta lei, contudo, era que
um homem não poderia tornar a se casar com sua esposa depois do divórcio, caso
ela viesse a se casar novamente, mesmo se o seu segundo marido se divorciasse
dela ou morresse. Em relação ao primeiro marido, a divorciada casada de novo
era considerada contaminada (v. 4). Tal era a anormalidade desta situação,
tolerada nos tempos do V.T., mas revogada por nosso Senhor no interesse do
padrão original (Mt. 19:9; Mc. 10: 6-9; cons. Gn. 2:23, 24).
MOODY. Comentário Bíblico Moody. Deuteronômio. pag. 82-83.
24.1-4 - Alguns pensam que nessa passagem
viabiliza o divórcio, mas não é o caso. Nela, apenas há o reconhecimento do
divórcio como prática em Israel. Para uma melhor compreensão do objetivo desse
texto, releia a passagem e verá que certamente não há sugestão para que o homem
se divorcie de sua esposa por um capricho, pelo contrário. O divorcio era um
ato extremo, colocava um ponto final o permanente no relacionamento do casal. Uma
vez divorciados, os ex cônjuges poderiam casar com outras pessoas, mas jamais
poderiam reatar um com o outro (Dt 24.4) Esta restrição tinha a finalidade de
prevenir a separação por motivos frívolos. As pessoas deveriam pensar duas
vezes antes de divorciar-se.
APLICAÇÃO PESSOAL. Bíblia
de estudo. Editora CPAD. pag.260.
2. A carta de Divórcio.
A carta d e divórcio. Era um documento legal,
fornecido à mulher repudiada, a qual ficava livre para casar de novo.
Chamava-se de “carta de liberdade” — “documento de emancipação” — que lhe dava
direito a novo casamento (Duty, p. 29,30).
A carta de divórcio ou de repúdio deveria ser
dada em presença de duas testemunhas, e as partes estariam livres para um novo
matrimônio. Aliás, o divórcio só tinha sentido se houvesse em vista um novo casamento.
Se assim não fosse, por que motivo a mulher receberia carta de divórcio? Seria
simplesmente abandonada. Note-se, também, que a mulher não tinha direito de
pedir divórcio. Era privilégio do homem. Este poderia escolher com quem viver,
inclusive possuindo mais de uma mulher, além de ter concubinas a seu dispor.
LIMA. Elinaldo Renovato de. A
família cristã e os ataques do inimigo. Editora CPAD. pag. 83.
DIVÓRCIO CARTA (TERMO) DE
No hebraico, sayfer, «escrito». No grego, bibIion,
«Livrinho». No Antigo Testamento encontramos o «termo de divórcio», em Deu.
24:1. Em Isaías 50:1, a «carta de divórcio». A palavra grega, usada por trinta e
uma vezes, principalmente no Apocalipse, é usada em Mat. 19:7, dentro da
expressão «carta de divórcio», refletindo o hebraico sayfer. Um judeu
podia divorciar-se de sua esposa,
simplesmente entregando-lhe esse certificado. Ver o NTI, em Mat. 19:7, quanto a
detalhes sobre a questão. Esse documento. naturalmente, era preparado pelas autoridades
religiosas judaicas, concordando com a lei da nação, por mais brutal que isso
parecesse ser para as mulheres.
O termo grego gramma, «escrito», usado por catorze
vezes, de Lucas 16:6 ali Tim. 3:15, também indicava uma «conta corrente»,
conforme se vê em Luc, 16:6, dentro da parábola do administrador injusto. E, em
11 Tim, 3:15, aponta para os livros sagrados, dentro da expressão usada por
Paulo, «as sagradas letras». Paulo também usava a palavra para indicar as
letras graúdas que ele escreveu, com suas próprias mãos, no autógrafo da
epistola aos Gálatas, dentro da expressão -letras grandes» (Gál. 6:11).
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia.
Vol. 2. Editora HAGNOS pag. 201.
II - O ENSINO DE JESUS A
RESPEITO DO DIVÓRCIO.
1. A pergunta dos fariseus.
A
Lei do Divórcio w. 3-12
Nós temos aqui a lei de Cristo no caso do
divórcio, ocasionada, como algumas outras manifestações da sua vontade, por uma
discussão com “os fariseus”. Ele suportou tão pacientemente as contradições dos
pecadores, que as transformou em instruções para os seus próprios discípulos!
Observe aqui:
I. O caso proposto
pelos fariseus (v. 3): “É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer
motivo?” Os fariseus lhe perguntaram isso para provocá-lo, e não porque
desejassem ser ensinados por Ele. Algum tempo atrás, Ele havia, na Galileia,
manifestado seu pensamento sobre esse assunto, contra aquilo que era uma prática
comum (cap. 5.31,32); e se Ele, do mesmo modo, se pronunciasse agora contra o
divórcio, eles fariam uso disso para indispor e enfurecer o povo desse país
contra Ele, que olharia com desconfiança para alguém que tentasse diminuir a
liberdade de que eles tanto gostavam.
Os fariseus esperavam que Ele perdesse o
afeto das pessoas tanto por esse como por qualquer um dos seus preceitos. Ou
então, a armadilha pode ter sido planejada dessa forma: se Ele dissesse que os
divórcios não eram legais, eles o apontariam como um inimigo da lei de Moisés, que
os permitia; se dissesse que eram legais, eles caracterizariam a sua doutrina
como não tendo em si aquela perfeição que era esperada na doutrina do Messias, uma
vez que, embora os divórcios fossem tolerados, eles eram vistos pela parte mais
rígida do povo como não sendo algo de boa reputação. Alguns pensam que, embora a
lei de Moisés permitisse o divórcio, ainda que houvesse uma causa justa, havia
uma controvérsia entre os próprios fariseus, e eles desejavam saber o que
Cristo diria sobre isso. Causas matrimoniais têm sido numerosas, e algumas
vezes intrincadas e confusas; elas se tornam assim não por causa da lei de
Deus, mas pelos desejos e pela loucura dos homens. Nesses casos, as pessoas frequentemente
decidem o que vão fazer, antes de perguntarem qual seria a melhor solução.
A pergunta dos fariseus foi a seguinte: Será
que um homem pode repudiar a sua mulher por qualquer motivo? O divórcio era
permitido por alguns motivos, como por prostituição, mas o divórcio era
praticado, como acontecia geralmente, por pessoas irresponsáveis, e por qualquer
motivo. Será que ele poderia ser praticado por qualquer motivo que um homem
pudesse julgar adequado (embora fosse, como sempre, frívolo), como também por
qualquer antipatia ou desagrado? A tolerância, nesse caso, permitia isso: “Se
não achar graça em seus olhos, por nela achar coisa feia, ele lhe fará escrito
de repúdio” (Dt 24.1). Eles interpretavam esta passagem literalmente; e assim,
qualquer desgosto, mesmo que sem motivo, poderia se tornar a base para um
divórcio.
II. A resposta de Cristo
para essa pergunta. Embora ela fosse apresentada para tentá-lo, mesmo sendo um
caso de consciência, e de consciência pesada, Ele deu uma resposta
satisfatória. Não foi uma resposta direta, mas foi eficaz, afirmando os bons
princípios, como prova inegável de que os divórcios arbitrários que estavam
sendo praticados, que tornavam os laços matrimoniais tão precários, não eram de
forma alguma legítimos.
O próprio Cristo não daria a regra sem uma
razão, nem declararia o seu julgamento sem uma prova nas Escrituras para
apoiá-lo. Seu argumento é este: “Se estão, marido e mulher, pela vontade e
desígnio de Deus, ligados pela mais rígida e íntima união, então eles não devem
ser, levianamente e em qualquer ocasião, separados; se a ligação for
consagrada, não poderá ser facilmente desfeita”. Para provar que existe tal
união entre marido e mulher, Ele ressalta três pontos.
1. A criação de Adão e Eva. No que se refere
a isso, Ele apela para o próprio conhecimento que eles tinham das Escrituras:
“Não tendes lido?” Há alguma vantagem em discutir, tratar com aqueles que
possuem e têm lido as Escrituras. Vocês têm lido (mas não têm considerado) “que,
no princípio, o Criador os fez macho e fêmea” (Gn 1.27; 5.2). Note que será de
grande utilidade para nós pensarmos frequentemente sobre nossa criação, como e
por quem, por que e para que, fomos criados.
Ele os criou macho e fêmea, uma fêmea para um
macho; de modo que Adão não poderia se divorciar de sua esposa, e tomar outra,
porque não existia nenhuma outra para ser tomada. Isso, da mesma forma, sugeria
uma união inseparável entre eles. Eva era uma costela tirada de Adão, de modo
que ele não podia repudiá-la, porque não devia remover um pedaço de si mesmo,
contradizendo as manifestas indicações da criação dela. Cristo faz uma breve
alusão a isso, mas, recorrendo ao que eles tinham lido, Ele os remete ao
registro original, onde é observado que, muito embora o restante das criaturas
vivas tenha sido criado macho e fêmea, ainda assim isso não é dito no que se
refere a nenhuma delas, mas apenas no que concerne à raça humana; porque a
conjunção entre homem e mulher é racional, e planejada para propósitos mais
nobres do que meramente a satisfação dos sentidos e a preservação da semente. E
ela é, portanto, mais íntima e sólida do que aquela que existe entre macho e fêmea entre
os animais, que não são capazes de se ajudar mutuamente como Adão e Eva. Por
conseguinte, a forma de expressão é um tanto singular (Gn 1.27):
“E criou Deus o homem à sua imagem, macho e
fêmea os criou”; algumas traduções da Bíblia em inglês trazem os pronomes “ele”
e "eles” (singular e plural) de uma forma alternada. O singular é
utilizado no princípio da criação, antes que se tomassem dois. Porém, mais
tarde, eles se tornam novamente um, através de uma aliança de casamento, uma
união que só poderia ser íntima e indissolúvel.
2. A lei fundamental do casamento é: “Deixará
o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher” (v. 5). A relação entre marido e
mulher é mais íntima do que aquela que existe entre pais e filhos; então, se a
relação filial não pode ser facilmente rompida, muito menos pode a relação de
casamento ser rompida. Pode um filho abandonar seus pais, ou pode um pai ou mãe
abandonar seus filhos, por qualquer motivo, seja ele qual for? Não, de modo
nenhum. Muito menos pode um marido repudiar a sua esposa. Entre marido e
esposa, a relação é mais íntima, e o laço da união é mais forte, do que entre
pais e filhos - embora não por natureza, mas por desígnio divino. Observe que a
relação pais-filhos é, em grande medida, substituída pelo casamento quando um
homem deixa os seus pais para se unir à sua esposa. Veja aqui o poder de uma
instituição divina. O resultado dela é uma união mais forte do que aquela que
resulta das obrigações mais elevadas da natureza.
3. A natureza do contrato matrimonial. Esta é
uma união de pessoas; os cônjuges “serão dois numa só carne”, de modo que (v.
6) “já não serão dois, mas uma só carne”. Os filhos de um homem são partes dele
mesmo; mas a sua esposa é ele mesmo. Assim como a união conjugal é mais íntima
do que aquela que existe entre pais e filhos, ela também é, até certo ponto,
equivalente àquela união que existe entre um membro e outro no corpo natural. Uma
vez que esta é uma razão pela qual os maridos devem amar suas esposas, também é
uma razão pela qual eles não devem repudiá-las, pois “nunca ninguém aborreceu a
sua própria carne”, ou a separou de si, “antes, a alimenta e sustenta”, e faz
tudo o que pode para preservá-la. Os dois serão um; por isso deve haver apenas uma
esposa, pois Deus fez apenas uma Eva para um Adão (Ml 2.15).
A partir daí, o Senhor deduz: “O que Deus
ajuntou não separe o homem”. Note que: (1) Marido e mulher são uma união de
Deus; synezeuxen - Ele os colocou sob um mesmo jugo, assim é a palavra, e é
muito significativa. O próprio Deus instituiu o relacionamento entre marido e
mulher no estado de inocência. O casamento e o sábado sagrado são as
instituições, mais antigas. Embora o casamento não seja exclusivo da igreja,
mas comum para o mundo, mesmo sendo caracterizado por uma instituição divina,
que é aqui ratificada pelo nosso Senhor Jesus, ele deve ser conduzido como uma
união sagrada, e santificado pela Palavra de Deus, e pela oração. Um respeito
consciencioso para com Deus nessa instituição teria uma boa influência sobre o
dever, e, consequentemente, sobre a tranquilidade e o conforto do
relacionamento.
(2) Marido e mulher, sendo unidos pela lei de
Deus, não podem ser separados por qualquer lei humana. Homem nenhum deve
separá-los; nem o próprio marido, nem alguém designado por ele; nem mesmo o
magistrado, pois Deus jamais lhe deu autoridade para fazer isso. “O Senhor,
Deus de Israel, diz que aborrece o repúdio” (Ml 2.16). O homem não deve tentar
separar aquilo que Deus uniu. Esta é uma regra geral.
III. Uma objeção
levantada pelos fariseus contra o dever do homem não separar o que Deus ajuntou
- uma objeção não destituída de plausibilidade (v. 7): “Então, por que mandou
Moisés dar-lhe carta de divórcio e repudiá-la?” Jesus utilizou as Escrituras
para argumentar contra o divórcio; os fariseus, por sua vez, alegam a
autoridade das Escrituras para defendê-lo. Note que as aparentes contradições
na Palavra de Deus são grandes obstáculos para homens de mente corrompida. E
verdade, Moisés era fiel àquele que o designou, e não ordenou nada além daquilo
que recebeu do Senhor; mas, nesse caso, o que eles chamam de mandamento era
apenas uma concessão (Dt 24.1), planejada mais para conter os excessos do que
para encorajar o divórcio em si. Os próprios doutores judeus observam tais
limitações naquela lei; o divórcio não podia ser concedido sem uma grande
deliberação.
Uma razão particular deve ser apontada: o
atestado de divórcio deveria ser escrito, e, como uma ação judicial, deveria
ter todas as suas formalidades executadas e registradas. Ele deveria ser
entregue nas mãos da própria esposa (o que obrigaria os homens, se eles
tivessem alguma consideração, a refletir), e os cônjuges eram expressamente proibidos
de se juntar novamente.
IV. A resposta de Cristo
a essa objeção.
1. Ele retifica o erro dos fariseus com
relação à lei de Moisés. Eles a chamaram de um mandamento, Cristo a chama
somente de permissão, uma tolerância. Corações carnais tomarão o braço se lhes
dermos a mão. A lei de Moisés, nesse caso, era uma lei política que Deus
concedeu como o Governante daquele povo; e o divórcio era tolerado por razões
de Estado. Sendo o rigor da união matrimonial o resultado de uma lei não-natural,
mas formal, em alguns casos a sabedoria de Deus prescindia dela através do
divórcio, sem qualquer depreciação de sua santidade.
Mas Cristo diz aos fariseus que havia uma
razão para essa tolerância - e esta não se devia, de modo algum, a algum mérito
deles: “Moisés, por causa da dureza do vosso coração, vos permitiu repudiar
vossa mulher”.
Moisés se queixou do povo de Israel em seu
tempo, pois o coração do povo estava endurecido (Dt 9.6; 31.27), endurecido
contra Deus; naquela ocasião, a permissão para o divórcio se devia ao fato de
eles estarem endurecidos contra o próximo; os homens eram geralmente violentos
e ultrajantes, qualquer que fosse o caminho que seguissem tanto em seus desejos
como em suas paixões. E então, se a eles não tivesse sido permitido repudiar
suas esposas quando expressassem antipatia por elas, eles as teriam tratado com
crueldade, teriam agredido e abusado delas, e talvez as matassem. Note que não
há maior crueldade no mundo do que um homem ser rude e áspero com a sua própria
esposa. Os judeus, ao que parece, eram abomináveis por isso, e então lhes foi
permitido repudiá-las; melhor divorciar-se delas do que fazer pior, do que
cobrir “o altar do Senhor de lágrimas” (Ml 2.13). Uma pequena complacência para satisfazer
a vontade de um louco, ou de um homem que delira, pode evitar um dano maior.
Leis formais podem ser prescindidas em prol da preservação da lei da natureza,
pois “Deus quer misericórdia e não sacrifício”. Entretanto, aqueles que
tornaram isso necessário são infelizes, são perdidos que possuem um coração
endurecido.
E ninguém pode desejar ter a liberdade do
divórcio, sem virtualmente confessar a dureza de seu coração. Jesus diz: “por
causa da dureza do vosso coração”, não apenas daqueles que viviam naquela
época, mas de toda a sua semente. Deus não apenas vê, mas também antevê a dureza
do coração dos homens. Ele adaptou os mandamentos e a providência do Antigo
Testamento ao temperamento daquela gente, e o fez através do medo. Observe também:
a lei de Moisés considerava a dureza do coração dos homens, mas o Evangelho de
Cristo, a cura; e sua graça tira do homem o coração de pedra e lhe dá um
coração de carne. Através da lei, vinha o conhecimento do pecado; mas através
do Evangelho, ele é derrotado.
2. Jesus os leva de volta à instituição
original: “Mas, ao princípio, não foi assim”. Note que as perversões que se
insinuam em qualquer lei de Deus devem ser expurgadas recorrendo-se à
instituição original. Se a cópia estiver incorreta, ela deverá ser examinada e
retificada pelo original. Desse modo, o apóstolo Paulo, ao corrigir as
transgressões da igreja de Corinto em relação à Santa Ceia, recorreu ao que
aconteceu naquela reunião (1 Co 11.23): “Porque eu recebi do Senhor”. A verdade
estava disponível desde o princípio; nós devemos então perguntar “pelas veredas
antigas, qual é o bom caminho” (Jr 6.16), e devemos fazer as devidas correções,
não pelos padrões recentes, mas pelas regras antigas.
3. Jesus define a questão através de uma lei
explícita: “Eu vos digo” (v. 9), e isso está de acordo com que Ele havia dito
antes (cap. 5.32). Naquela ocasião, isso foi dito em um sermão; aqui, em uma
discussão. Mas é a mesma Palavra, pois Cristo não muda. Entretanto, em ambas as
passagens:
(1) Ele permite o divórcio em caso de
adultério; sendo que a razão da lei contra o divórcio consiste na máxima: “Serão
dois numa só carne”. Se a esposa se prostituir e se tornar uma só carne com um
adúltero, a razão da lei cessa, e também a lei. O adultério era punido com a
morte pela lei de Moisés (Dt 22.22). Então, o nosso Salvador suaviza o seu
rigor, e determina que o divórcio seja a penalidade.
O Dr. Whitby entende isso não como adultério
(porque o nosso Salvador usa a palavra porneia - fornicação), mas como a
impureza cometida antes do casamento, que é descoberta mais tarde; porque se
fosse cometida depois do casamento, seria um pecado capital, e assim o divórcio
não seria necessário.
(2) O Senhor desaprova isso em todos os
outros casos: “Qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de
prostituição, e casar com outra, comete adultério”. Essa foi uma resposta
direta para a pergunta dos fariseus, e que não estava de acordo com a lei. E nisso,
como em outras coisas, o tempo do evangelho é “tempo de correção” (Hb 9.10). A
lei de Cristo tende a restabelecer o homem em sua integridade primitiva; a lei
do amor, do amor conjugal, não é um novo mandamento, mas era desde o princípio.
Se considerarmos quantos danos às famílias e países, quantas confusões e desordens
resultariam de divórcios arbitrários, entenderemos o quanto essa lei de Cristo
é para o nosso próprio benefício, e que amigo o cristianismo é para nossos interesses
seculares. Alei de Moisés, que permite o divórcio por causa da dureza do
coração dos homens, e a lei de Cristo, que o proíbe, sugerem que estando os
cristãos sob a dispensação do amor e da liberdade, pode-se, legitimamente, esperar
uma brandura de coração entre eles, pois eles não serão desumanos como os
judeus, pois “Deus chamou-nos para a paz”. Não haverá oportunidade para
divórcios se os cônjuges forem indulgentes um com o outro, e perdoarem um ao
outro no amor, como aqueles que são, e esperam ser, perdoados, e que
descobriram que Deus não nos repudiará (Is 50.1). Não há necessidade de
divórcios se os maridos amarem suas esposas, se as esposas forem obedientes a
seus maridos, e se ambos viverem juntos como herdeiros da graça da vida: e
estas são as leis de Cristo. Não encontramos uma lei como essa em todas as leis
de Moisés.
V Aqui está uma sugestão dos discípulos
contra essa lei de Cristo (v. 10): “Se assim é a condição do homem relativamente
à mulher, não convém casar”. Parece que os próprios discípulos estavam
relutantes em renunciar à liberdade do divórcio, considerando-a como um bom
expediente para preservar o bem-estar na condição de casado; e então, como
crianças mal-humoradas, se eles não tivessem o que queriam ter, jogariam fora
aquilo que tinham. Se a eles não for permitido repudiar suas esposas quando
lhes aprouver, eles não terão esposas de modo nenhum. Entretanto, desde o princípio,
quando o divórcio não era permitido, Deus disse: “Não é bom que o homem esteja
só”, e os abençoou, declarando como abençoados aqueles que fossem, dessa forma,
completamente unidos; no entanto, a menos que possam ter a liberdade do
divórcio, os discípulos acham que é melhor o homem não se casar. Note que: 1. A
natureza corrupta não tolera o controle e as restrições, e de bom grado
romperia os laços de Cristo ao meio para obter a liberdade para a sua própria
luxúria. 2. E uma atitude tola.e impertinente para os homens, abandonar os
confortos desta vida por causa das cruzes que habitualmente os acompanham, como
se precisássemos necessariamente sair do mundo por não termos todas as coisas
que desejamos; ou precisássemos assumir uma ocupação ou uma condição
improdutiva, porque a sobrevivência nele se tornou a nossa obrigação. Não.
Qualquer que seja a nossa condição, devemos direcionar nossas mentes para isso:
ser agradecidos pelos nossos confortos, obedientes às nossas cruzes, sabendo que
quando pensarmos nos nossos dias, deveremos ter em mente que “Deus fez este em
oposição àquele”, e assim fazermos o melhor com o que tivermos (Ec 7.14). O
fato de não podermos desfazer os laços do casamento a nosso bel-prazer não
significa que não devamos nos submeter a eles; mas que quando nos submetermos,
deveremos decidir nos comportar de acordo por amor, submissão, e paciência, o
que tornará o divórcio a coisa mais desnecessária e indesejável que pode
existir.
VI A resposta de Cristo a essa sugestão (w.
11,12), na qual: 1. Ele reconhece que é bom para alguns não se casar: Aquele que
é capaz de receber essa palavra, que a receba - “Nem todos podem receber esta
palavra, mas só aqueles a quem foi concedido”. Cristo consentiu com o que os discípulos
disseram, “não convém casar”; não como uma objeção contra a proibição do
divórcio, como eles o pretendiam, mas dando-lhes uma regra (talvez não menos desagradável
para eles): que aqueles que têm a dádiva da abstinência, e não sentem qualquer
necessidade de casar-se, fazem melhor se continuarem solteiros (1 Co 7.1); pois
aqueles que não estão casados têm a oportunidade, se tiverem disposição, de se
preocupar mais com as “coisas do Senhor, em como hão de agradar ao Senhor” (1
Co 7.32-34), sendo menos comprometidos com os cuidados desta vida, e tendo uma
maior disponibilidade de tempo e pensamento para preocupar-se com coisas
melhores. O crescimento da graça é melhor do que o crescimento da família, e a
comunhão com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo deve ser preferida à qualquer
outra comunhão.
2. Ele desaprova, como absolutamente
prejudicial, proibir o casamento, porque “nem todos podem receber esta
palavra”; realmente poucos podem - é preferível que as cruzes da condição de
casado sejam carregadas do que esses homens caírem em tentação para evitá-las; “é
melhor casar do que abrasar-se”. Cristo fala aqui de uma dupla incapacidade
para o casamento.
(1) Aquela que é uma calamidade pela
providência de Deus; tal como a daqueles que nascem eunucos, ou se tornam assim
através dos homens, e que, sendo incapazes de corresponder a uma finalidade do
casamento, não devem se casar. Mas que lhes seja permitido compensar essa
calamidade com a oportunidade que existe na condição de solteiro - servir
melhor a Deus.
(2) Aquela que é uma virtude pela graça de
Deus; como é a daqueles que se fizeram eunucos “por causa do Reino dos céus”.
Essa é uma incapacidade para o casamento, não no corpo (e alguns, por erro de
interpretação dessa Escritura, prejudicaram a si mesmos de forma tola e
perniciosa), mas na mente. Aqueles que se tornaram eunucos alcançando um
sagrado desinteresse por todos os prazeres da condição de casado, têm uma
decisão estabelecida, na força da graça de Deus, de se privar completamente
deles; e por jejum, e outros exemplos de mortificação, subjugaram todos os
desejos voltados a eles. Estes são aqueles que podem receber esta palavra; além
disso, não devem obrigar a si mesmos, através de voto, a nunca se casar. Eles
só devem entender que, da forma como pensam agora, pretendem não se casar.
Então: [1] Essa simpatia pela condição de
solteiro deve ser concedida por Deus; pois ninguém pode recebê-la, exceto “aqueles
a quem foi concedido”. Note que a abstinência é um dom especial de Deus para
alguns, e não para outros; e quando um homem, na condição de solteiro, descobre
por experiência que tem esse dom, ele pode resolver permanecer solteiro, e
(como o apóstolo diz, 1 Coiintios 7.37) ficar “firme em seu coração, não tendo
necessidade”, mas tendo poder sobre a sua própria vontade para se manter assim.
Mas os homens, nesse caso, devem tomar cuidado para não se gabarem de um falso
dom (Pv 25.14).
[2] A condição de solteiro deve ser escolhida
por amor ao Reino dos céus. Pois naqueles que resolvem nunca se casar apenas
para que possam economizar nas despesas, ou para satisfazer um temperamento mal-humorado
e egoísta, ou ainda para ter uma maior liberdade para servir a outros desejos e
prazeres, isto está muito longe de ser uma virtude - é um vicio perverso.
Mas quando é por amor à religião - não sendo um
ato meritório em si mesmo (em que os papistas o transformaram), mas apenas como
um meio para manter a mente mais aplicada e mais direcionada aos serviços da
religião, e para que, não tendo família para sustentar, a pessoa possa fazer
mais obras de caridade -, isto é aprovado e aceito por Deus. Note que essa
condição é melhor para nós. E ser escolhido e comportar-se adequadamente, que é
o melhor para a nossa alma, nos leva a nos prepararmos mais e a nos
preservarmos para o Reino dos céus.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS
A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 240-243.
3. A LEI MOSAICA ACERCA DO DIVÓRCIO (Mt 19:7,
8)
Como tantas pessoas que gostam de
"discutir religião", os fariseus não estavam interessados em
descobrir a verdade, mas apenas em defender a si mesmos e suas convicções.
Foi esse desejo que os levou a perguntar
sobre a lei judaica do divórcio registrada em Deuteronômio 24:1-4. Algumas
versões da Bíblia deixam claro que Moisés deu apenas um mandamento: a esposa
divorciada não poderia voltar para o primeiro marido, caso fosse rejeitada pelo
segundo marido.
Moisés não ordenou o divórcio; apenas o permitiu. Ordenou que o marido desse à
ex-esposa uma carta de divórcio; mas, caso a esposa se casasse e se divorciasse
novamente, não poderia voltar ao primeiro marido. Trata-se de uma lei
extremamente sábia, pois, para começar, o marido pensaria duas vezes antes de
se livrar apressadamente de sua esposa, uma vez que não poderia tê-la de volta.
Além disso, levaria tempo para achar um escriba (nem todos podiam redigir
documentos legais) e, durante esse período, o casal separado poderia se
reconciliar. Os fariseus estavam interpretando a lei de Moisés como se fosse um
mandamento. Jesus deixa claro que Moisés estava apenas dando permissão para o
divórcio. Mas a que Moisés se referia com as palavras
"ter ele achado coisa indecente
nela"? No hebraico, isso quer dizer "alguma questão de nudez",
mas não se refere a pecado sexual. Trata-se de um equivalente a "algo vergonhoso"
(ver Gn 2:25; 3:7, 10). A interpretação dessa frase foi a causa da divisão que
deu origem às escolas do rabino Hillel e do rabino Shammai, estudiosos judeus conceituados
do primeiro século. Hillel seguiu uma linha bastante liberal e afirmou que o
marido poderia divorciar-se da esposa por quase qualquer razão, enquanto Shammai
seguiu uma linha mais rigorosa, afirmando que Moisés estava falando somente de
pecado sexual. Qualquer lado que Jesus escolhesse tomar partido seria motivo de
ofensa para alguém.
Os judeus possuíam várias leis referentes ao
casamento e devemos examiná-las, a fim de ter uma melhor perspectiva. Se, por exemplo,
um homem se casasse e descobrisse que sua esposa não era virgem, podia tornar
público o pecado da mulher e providenciar para que fosse apedrejada (Dt 22:13-21).
É evidente que deveria ter provas disso, pois, do contrário, teria de pagar uma
multa e não poderia jamais se divorciar da esposa. Essa lei protegia tanto o
homem quanto a mulher.
Se um homem suspeitasse de infidelidade da
esposa, deveria seguir os procedimentos descritos em Números 5:1 Iss. Não se
pode mais seguir esses procedimentos (que, sem dúvida, incluíam elementos de
julgamento divino), pois não há mais sacerdócio nem tabernáculo.
É importante lembrar que a lei de Moisés determinava
a pena de morte para os que cometessem adultério (Lv 20:10; Dt 22:22).
Os inimigos de Jesus lançaram mão dessa lei
quando tentaram armar uma cilada para ele (Jo 8:1). Embora não haja registro no
Antigo Testamento de que alguém tenha sido apedrejado por cometer adultério,
essa era a lei divina. A experiência de José (Mt 1:18-25) indica que, ao
tratarem de esposas adúlteras, os judeus usavam o divórcio em vez do
apedrejamento. Por que Deus ordenou que a pessoa adúltera fosse morta por
apedrejamento? Por certo, para servir de exemplo e para advertir as pessoas, pois
o adultério corrompe a estrutura da sociedade e da família. A fim de haver
estabilidade na sociedade e na igreja, é preciso haver compromisso no casamento
e fidelidade do marido para com a esposa bem como do casal para com o Senhor.
Era necessário que Deus preservasse Israel, pois
o Salvador prometido descenderia dessa nação. Deus opôs-se ao divórcio em
Israel, pois enfraquecia a nação e representava uma ameaça para o nascimento do
Messias (ver Ml 2:10-16).
No entanto, havia outro motivo para a pena
capital: deixava o cônjuge fiel livre para se casar novamente. A morte rompe os
laços do casamento, pois o casamento é uma união física (Rm 7:1-3). Era
importante que as famílias tivessem continuidade em Israel, a fim de que
pudessem proteger sua herança (Nm 36).
Antes de passar para a seção seguinte, convém
observar um fato importante: o divórcio que Moisés autoriza em Deuteronômio 24,
na verdade, representa um rompimento da relação matrimonial original. Deus permitia
que a mulher se casasse novamente, e esse segundo casamento não era considerado
uma forma de adultério. Seu segundo companheiro era chamado de
"marido", não de adúltero. Isso explica como foi possível a mulher samaritana ter
tido cinco maridos e, ainda assim, estar vivendo com um homem que não era seu
marido (Jo 4:16-18). Ao que parece, os cinco casamentos anteriores haviam sido
legais e de acordo com as Escrituras. Isso significa que o divórcio legal rompe
o relacionamento matrimonial. O homem não pode romper esse relacionamento com suas
próprias leis, mas Deus pode. O mesmo Deus que dá as leis para unir as pessoas também
pode dar leis para separá-las. Tratasse de algo que só pode ser feito por Deus,
nunca pelos homens.
Por fim, Jesus deixa claro que a lei mosaica
do divórcio era uma concessão da parte de Deus. A lei original de Deus quanto ao
casamento não deixava espaço para o divórcio, mas essa lei começou a vigorar antes
de o homem pecar. Em lugar de ter duas pessoas vivendo juntas em conflito constante,
com um dos cônjuges ou ambos procurando satisfação fora do casamento, Deus
preferiu permitir o divórcio. Esse divórcio incluía o direito de se casar
novamente. Os fariseus não perguntaram sobre a possibilidade de casar
novamente, pois esse não era o problema. Aceitavam o fato de que as duas partes
divorciadas procurariam outros cônjuges e de que isso era permitido por Moisés.
WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. N.T. Vol. I.
Editora Central Gospel. pag. 90-92.
A
escola de Shammai. Este
rabino tinha uma interpretação radical de Deuteronômio 24.1. Segundo seu
entendimento, a carta de divórcio só podia ser dada à mulher em caso de
fornicação ou de infidelidade conjugal. De certa forma, era uma evolução do
pensamento judaico, pois uma leitura cuidadosa de Deuteronômio 24.1 dá a
entender que a mulher só podia ser despedida se o homem achasse nela “coisa
feia”, ou “coisa indecente”, sem que isso fosse a prática de infidelidade ou prostituição,
visto que às mulheres infiéis só restava a pena de morte (cf. Lv 20.10; Dt
22.20-22). Mas a visão de Shammai era bem aceita por grande parte dos
intérpretes da Lei. Veremos que Jesus corroborou esse pensamento, quando
doutrinou sobre o assunto.
A
escola d e Hillel.
Este era um rabino de visão liberal, e favorecia a posição do homem em relação
à mulher. Para ele, o homem poderia deixar sua mulher, divorciando-se dela,
“por qualquer motivo”, por qualquer “coisa feia”, ou “coisa indecente”. Tais
coisas seriam as que já enumeramos antes: andar de cabelos soltos, falar com
homens que não fossem seus parentes, maltratar os sogros, falar muito alto etc.
Assim, o homem podia divorciar-se a seu bel-prazer.
Com isso, o divórcio, ao invés de proteger a
mulher, dando-lhe direito a uma nova oportunidade de constituir um lar, fez
dela uma vítima em
potencial dos caprichos machistas da época. Segundo o Dr. Alfred Edersheim,
citado por Da Silva (p. 30), a mulher podia, “como exceção, divorciar-se, no
caso de ser o marido leproso ou trabalhar em serviço sujo, por exemplo, em
curtume ou em caldeira, e também no caso de apostasia religiosa, caso abraçasse
uma religião herética”. Esse último conceito não tem base veterotestamentária.
Era uma evolução da lei judaica.
1 O divórcio não faz parte dos planos de
Deus. Assim como a poligamia, no Antigo Testamento, que Ele permitiu ou melhor,
tolerou. Há casos em que é impossível manter um relacionamento conjugal. Se o
esposo espanca a esposa; se ele vive traindo sua mulher; se ela vive na prática
de adultério; se um ou outro entra pelo caminho do homossexualismo; tais
práticas são tão abomináveis, que desfazem o vínculo conjugal, e, na
permissibilidade de Cristo, Ele admite o divórcio. Não como regra, mas como
exceção, como um “remédio amargo” para um mal maior. Se não fosse assim, um
servo ou uma serva de Deus seriam atingidos duas vezes: uma pelo Diabo, que
destrói relacionamentos; e, outra, pela igreja local, que condenaria uma vítima
a passar o resto da vida em companhia de um ímpio, ou viver sob o jugo do
celibato, que não faz parte dos planos de Deus. Disse o Senhor, o Criador: “Não
é bom que o homem esteja só” (Gn 2.18). Mas graças a Deus que não é assim.
O evangelho de Cristo é sábio, justo e bom.
Jesus não incentiva nem aprova o divórcio, mas o permite como um meio de
reparar um dano moral de consequências drásticas, como um direito ao cônjuge que
permanece fiel a Deus e ao casamento. Viver solteiro pode ser opção, mas não um
estado que foi planejado por Deus. No final do texto em que Jesus responde aos
fariseus, seus discípulos ficaram estarrecidos. “Disseram-lhe seus discípulos:
Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar” (Mt
19.10). Ficaram chocados com o ensino de Jesus, que só admite divórcio e novo
casamento, no caso de infidelidade. Eles que viviam numa sociedade patriarcal e
machista, estavam acostumados a ver o divórcio “por qualquer motivo”.
LIMA. Elinaldo Renovato de. A
família cristã e os ataques do inimigo. Editora CPAD. pag. 83-84.
2. O ensino de Jesus.
Os ensinamentos de Jesus. No Novo Testamento,
Jesus reafirmou o caráter permanente do matrimônio, ressaltou que a permissão
divina para o divórcio foi dada apenas por causa da natureza pecaminosa do
homem (e não porque fosse o ideal de Deus), afirmou que a imoralidade sexual
era a única causa legítima para o divórcio, e ensinou claramente que a pessoa
que se divorcia de um cônjuge infiel e se casa com outro comete adultério (e
faz com que o novo cônjuge também cometa adultério). Como os líderes judeus que
questionavam o significado da palavra impureza, alguns eruditos modernos
discutiram o significado da expressão “exceto em caso de relações sexuais ilícitas”,
em Mateus 5.32 e 19.9. A palavra grega traduzida por “relações sexuais” é
porneia, que se refere a todo tipo de intercurso sexual fora do casamento. Este
comportamento viola o conceito de uma só carne, que é fundamental ao matrimônio
bíblico.
Mesmo quando há infidelidade envolvida, o
divórcio não é ordenado; ele é simplesmente permitido. O perdão e a
reconciliação ainda são preferíveis ao divórcio. No entanto, se o divórcio
ocorrer nestas circunstâncias, a opinião de muitos eruditos evangélicos é que a
parte inocente está livre para se casar novamente.
COLLINS. Gary R. Aconselhamento Cristão Edição Século 21. Editora
Vida Nova. pag.
531.
A opinião pública sobre o divórcio estava
dividida durante o tempo do ministério terreno de Jesus, pois naquela época o
divórcio era uma prática generalizada e o casamento estava em vias de ser
banalizado.
O estado da mulher samaritana pode servir
como uma amostra da situação: "A mulher respondeu e disse: Não tenho
marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido, porque tiveste cinco
maridos e o que agora tens não é teu marido" (Jo 4.17,18). O pensamento de
Hillel contribuía para esse estado de coisas. Jesus não deixou a situação como
estava; algo precisava ser feito, por essa razão falou sobre o assunto em seu
célebre discurso do Sermão do Monte.
31 Também foi dito: Qualquer que deixar sua
mulher, que lhe dê carta de desquite. 32 Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar
sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério;
e qualquer que casar com a repudiada comete adultério (Mt 5.31, 32).
Se a expressão "também foi dito"
(v. 31a) é referência a alguns ensinos dos antigos rabinos ou diretamente à
lei, não vem ao caso aqui, pois direta ou indiretamente o assunto remete a
Moisés (Dt 24.1-4). O termo grego para "desquite" é apostasion, o
mesmo usado na LXX (Dt 24.1,3). A ARA e a TB empregam, para a segunda palavra,
um termo mais preciso: "carta de divórcio", em vez de "carta de
desquite" (v. 31). O mesmo procedimento legal desde Moisés se mantém aqui:
o marido devia entregar na mão da repudiada um documento público dizendo ser
ela divorciada (v. 31b). Assim, Jesus não revogou o divórcio nem instituiu um
novo tipo de repúdio diferente do mencionado na lei. Se ele tivesse introduzido
algo radicalmente novo, isso estaria claro.
A lei deixou claro que o divórcio é a
dissolução do vínculo matrimonial,
um termo legal para o ato de remover as
obrigações do contrato de casamento, mas não esclareceu qual era a base para
justificar a ruptura definitiva do casamento. Jesus reconhecia a autoridade de
Moisés e também a existência do divórcio, e, em hipótese alguma, discutiu a
validade do preceito mosaico, apenas substituiu a expressão vaga "coisa
feia" ou "indecente" por "a não ser por causa de
prostituição" (v. 32). Assim, restringia as razões para justificar o
motivo desse ato de repúdio, pois o que deveria ser exceção se tornara prática
comum naquela época. O episódio da mulher samaritana é uma amostra daquele contexto
social.
O divórcio a que Jesus se refere é o mesmo da
lei de Moisés (Dt 24.1-4), o que significa permissão para novas núpcias, pois
ele disse: "E qualquer que casar com a repudiada comete adultério"
(v. 32b).
Considerava a existência do novo casamento.
Ele repete essa observação na discussão com os fariseus (Mt 19.9). A lei não
proíbe as novas núpcias da parte culpada no divórcio, pois a mulher em quem foi
encontrada "coisa feia" tinha a mesma permissão para se casar outra
vez (Dt 24.1,2). Jesus, contudo, não deixou a situação da mesma maneira que
Moisés, já que a parte culpada estará em adultério se contrair novas núpcias,
bem como o cônjuge, o seu novo cônjuge estará também em adultério (Mc
10.11,12).
Não são poucos os que recusam a aceitar a
autenticidade da cláusula de exceção: "a não ser por causa de
prostituição". Afirmam que se trata de interpolação posterior acrescentada
por copistas ou escribas.
Entre esses expositores, estão os que admitem
que Mateus escreveu essa frase, mas que Jesus jamais teria dito essas coisas. A
Crítica Textual confirma a presença dessa cláusula em todos os manuscritos e papiros
gregos, o que é em si mesmo um atestado científico de sua autenticidade. Na
impossibilidade de negar essa verdade, outros afirmam que Mateus escreveu o que
Jesus não disse e usam como base para a sua declaração o silêncio de Marcos e
Lucas. O assunto em Lucas está restrito a um só versículo (Lc 16.18), omitindo
a exceção.
Mateus omite o fato de a mulher poder
divorciar-se do marido, como era comum nas legislações romana e grega. Por
outro lado, Marcos omite a expressão "por qualquer motivo" (Mt 19.3;
Mc 10.2) e a exceção apresentada em Mateus 19.9, além da pergunta dos
discípulos e a resposta de Jesus sobre os eunucos (Mt 19.10-12). Segundo O Novo
Dicionário da Bíblia: "o motivo para a omissão da cláusula excepcional em Marcos
e Lucas pode ter sido que nenhum judeu, romano ou grego jamais duvidou de que o
adultério constituía motivo para divórcio, e os evangelistas consideraram isso
como ponto pacífico" (p. 1.017). Mateus escreveu para os judeus e a tal
cláusula estava no contexto deles desde os dias de Shammai e de Hillel; ela é
autêntica e Jesus falou exatamente como está escrito.
3 Então, chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o
e dizendo-lhe: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?
4 Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não
tendes lido que, no princípio, o Criador os fez macho e fêmea 5 e disse: Portanto,
deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher, e serão dois numa só carne?
6 Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não
separe o homem. 7 Disseram-lhe eles: Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta
de divórcio e repudiá-la? 8 Disse-lhes ele: Moisés, por causa da dureza do
vosso coração, vos permitiu repudiar vossa mulher; mas, ao principio, não foi
assim. 9 Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo
por causa de prostituição, e casar com outra, comete adultério; e o que casar
com a repudiada também comete adultério (Mt 19.3-9).
"É lícito ao marido repudiar a sua
mulher por qualquer motivo?" (v. 3). Na passagem paralela (Mc 10.2), não
aparece a expressão "qualquer motivo". Se a passagem for analisada
simplesmente no texto de Marcos, dá a impressão de que os judeus queriam saber
se Jesus questionava a legitimidade da lei de Moisés. Não é o que ocorre aqui.
Isso fica evidente porque todos sabiam que Moisés escreveu sobre o assunto.
Assim, está mais do que claro que não era
essa a questão, mas que se tratava das bases para o divórcio. A pergunta dos
fariseus girava em torno das razões de se legitimar o divórcio. Eles não
perguntaram se o divórcio era ilícito, mas se seria lícito fazê-lo por
"qualquer motivo".
Essa era a grande controvérsia das escolas
rabínicas, principalmente das disputas entre os seguidores de Hillel e os de
Shammai. Os fariseus queriam saber de qual deles Jesus seria partidário, porém
o Mestre foi mais profundo, desconsiderou totalmente essas escolas rabínicas e reivindicou
a Palavra de Deus.
A pergunta era sobre a base para o divórcio,
entretanto Jesus começou a sua resposta pelo casamento, levando as autoridades
judaicas à Palavra de Deus. Nos w . 4-6 vemos que o Senhor Jesus foi além da
letra, baseando-se no espírito da lei de Moisés. Ele recorreu aos propósitos originais
de Deus com relação ao casamento estabelecido desde o princípio. Primeiro ele
combinou as palavras de Gênesis 1.27, "macho e fêmea os criou", com
as de Gênesis 2.24, "Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e
apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne" (w. 4, 5), mostrando
com isso que Deus é o Criador também da sexualidade humana e que o casamento é
uma ordem divina.
Ambos são de origem divina. Ele também
afirmou que o texto sagrado da criação diz respeito à indissolubilidade do
matrimônio, com as seguintes palavras: "Portanto, o que Deus ajuntou não
separe o homem" (v. 6). A expressão de Jesus em foco diz respeito ao
propósito divino e original para o casamento.
Diante da resposta de Jesus, que provou nas
próprias Escrituras dos judeus que Deus instituiu o casamento originalmente
indissolúvel, perguntaram-lhe os fariseus: "Por que mandou então Moisés
dar carta de divórcio e repudiar?" (v. 7; Mc 10.4). Jesus já havia dito
que o divórcio nunca esteve no propósito divino e que Moisés não mandou nem estabeleceu
esse repúdio, mas simplesmente o permitiu. Os fariseus queriam saber por que
isso estava na lei de Moisés e Jesus respondeu:
"Por causa da dureza do vosso coração
que Moisés permitiu repudiar vossas mulheres; entretanto, não foi assim desde o
princípio" (v. 8). As autoridades judaicas eram incapazes de compreender
entre a vontade absoluta de Deus (Gn 1.27; 2.4) e a provisão legal como
concessão temporária ao pecado humano (Dt 24.1-4).
A palavra grega usada para "dureza de
coração" é sklêrokardia, formada das palavras skleros, "seco, duro,
áspero, dificultoso, exigente",» que diz respeito ao homem extremamente
obstinado, e kardia, "coração".
Essa combinação só aparece no grego bíblico,
tanto no Novo Testamento grego como na LXX (Dt 10.16; Jr 4.4). Com isso Jesus
dizia que o divórcio estava fora do plano de Deus desde o princípio. Ele mostrou
que se trata de uma concessão ao pecado humano como pro visão da misericórdia
divina para limitar os danos procedentes da pecaminosidade humana. Podia
servir, por exemplo, como saída honrosa numa situação de infidelidade (Mt
1.19). Uma vez que a mulher era considerada um objeto, que podia até ser
comprada por alguém, o divórcio veio como válvula de escape, como proteção para
ela. Jesus restaurou a posição da mulher, reconhecendo o seu direito de se
divorciar do marido, conforme previam as legislações romana e grega (Mc 10.11,12).
Assim, ele conferiu à mulher os mesmos direitos do homem, conforme o plano de
Deus no princípio.
O adultério é um dos efeitos da queda no
Éden. Todo o adultério é pecado, mas nem todo o pecado é adultério. O segundo
casamento depois do divórcio é adultério, são palavras do Senhor Jesus;
portanto, é um risco muito grande alguém querer se aventurar nessa inglória
empreitada. É um casamento que estará sob contínuo julgamento divino.
SOARES. Esequias. CASAMENTO, DIVÓRCIO E SEXO A LUZ DA BÍBLIA.
Editora CPAD. pag. 41-44.
A lei do Senhor acerca do casamento (Mt
19:9-12; 5 :31, 3 2 )
Com as palavras: "Eu, porém, vos
digo", Jesus está afirmando ser Deus, pois somente Deus pode instituir ou
alterar as leis do casamento.
Declara que o casamento é uma união
permanente que só pode ser rompida por causa de pecado sexual. A palavra impureza,
no Novo Testamento, abrange vários tipos de pecados sexuais, e sua definição como
fornicação ou "pecado sexual entre duas pessoas não casadas" não se aplica
a esse caso, pois Jesus está se referindo a pessoas casadas. Devemos imaginar que
os 23 mil homens que se entregaram à lascívia em Baal-Peor (Nm 25) eram todos
solteiros? E a admoestação de Atos 15:20, 29 refere-se apenas aos membros solteiros
da igreja?
O casamento é uma união física permanente que
só pode ser rompida por uma causa física: morte ou pecado sexual (a meu ver, o
homossexualismo e a bestialidade também se aplicam). Os seres humanos não podem
romper a união, mas Deus pode. Sob a lei do Antigo Testamento, o pecador era apedrejado
até a morte. Mas a igreja de hoje não empunha a espada (Rm 13:1-4). Acaso o
adultério e a impureza sexual eram mais sérios sob a lei do que o são hoje?
Claro que não! Hoje, tais pecados são ainda piores, quando consideramos a
revelação completa da graça e santidade de Deus que temos agora em Jesus
Cristo. Ao que parece, podemos concluir que o divórcio no Novo Testamento é o
equivalente à morte no Antigo Testamento: libera o cônjuge inocente para se
casar novamente.
É importante observar que a nova lei de casamento
e divórcio instituída pelo Senhor tem como fundamento três leis anteriores. Da
lei do Éden, Jesus pegou o princípio de que o casamento é uma união física que somente
pode ser rompida por uma causa física e que apenas Deus tem poder de permitir o
rompimento da união. Do sétimo mandamento, pegou o princípio de que o pecado
sexual rompe, de fato, a união do casamento. E da lei mosaica do divórcio, pegou
o princípio de que Deus pode ordenar o divórcio e romper a união, e a parte livre
pode casar-se novamente sem ser culpada de adultério.
Assim, Jesus ensina que há somente uma base
legal para o divórcio: as relações sexuais ilícitas. Se duas pessoas se
divorciarem sob qualquer outro pretexto e se casarem com outra pessoa, estarão
cometendo adultério.
Jesus não ensinou que o cônjuge ofendido deve
se divorciar. Sem dúvida, há espaço para o perdão, para a cura e para a
restauração do relacionamento rompido. Essa deve ser a abordagem cristã da
questão. Infelizmente, porém, por causa da dureza do coração humano, há
ocasiões em que se torna impossível curar as feridas e salvar o casamento. O
divórcio é o último recurso, não a primeira opção.
Casamentos felizes não são acidentes, mas sim
resultado de compromisso, amor, compreensão mútua, sacrifício e trabalho duro.
Se um marido e uma esposa estão cumprindo os votos de seu casamento,
desfrutarão de um relacionamento cada vez mais profundo que os satisfará e os
manterá fiéis um ao outro. Exceto pela possibilidade de uma tentação repentina,
nenhum marido ou esposa cogitaria ter um relacionamento extraconjugal, visto
que seu relacionamento em casa é cada vez melhor e satisfatório. E o amor puro
do marido e da esposa é uma excelente proteção até mesmo contra tentações repentinas.
A reação dos discípulos aos ensinamentos de
Cristo mostrou que não concordavam com ele. "Se não há nenhum jeito de
pular fora de um casamento horrível, então é melhor permanecer solteiro!",
argumentaram. Jesus não queria que eles considerassem o divórcio uma
"solução", pois, se o fizessem, não tratariam o casamento com a
devida seriedade.
Em Mateus 19:12, Jesus deixa claro que cada
homem (e mulher) deve considerar a vontade de Deus com respeito ao casamento. Algumas
pessoas não devem se casar por causa de problemas físicos ou emocionais congênitos.
Outros não devem se casar por causa de suas responsabilidades para com a
sociedade - aqueles que foram feitos "eunucos pelos homens" (Mt
19:12). Uma filha ou filho único que deve tomar conta de seus pais idosos pode
ser um exemplo dessa categoria. Outros, como o apóstolo Paulo, permanecem
solteiros para melhor servir ao Senhor (1 Co 7:7).
É bastante apropriado que os ensinamentos de
Jesus acerca do casamento sejam seguidos da bênção às crianças, pois as crianças
são a herança maravilhosa dos que se casam. Jesus não considerou as crianças uma
maldição ou um fardo. "De modo que já não são mais dois, porém uma só
carne" - esse conceito se cumpre na geração de filhos, e o amor dos pais
aprofunda-se e amadurece ao ser compartilhado com os outros membros da família.
Os pais levaram as crianças a Jesus para que
fossem abençoadas. Essa passagem não se refere, de maneira alguma, ao batismo nem
mesmo à salvação, pois as crianças que ainda não são capazes de prestar contas
de seus atos (Is 7:16) sem dúvida alguma são salvas pela morte de Cristo (Rm
5:1 7-21). As crianças nascem pecadoras (SI 51:5), mas se morrem antes de poder
prestar contas de seus atos, são regeneradas e levadas para o céu (2 Sm 12:23;
SI 23:6).
Essas crianças que Jesus pegou no colo e
pelas quais orou certamente foram privilegiadas. O costume atual de consagrar
nossos filhos ao Senhor procura seguir esse exemplo. Como são felizes as
crianças cujos pais estão casados na vontade de Deus, procuram obedecer ao
Senhor e as levam até Jesus para serem abençoadas.
WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. N.T. Vol. I.
Editora Central Gospel. pag. 92-93.
3. Permissão para novo casamento.
Os ensinamentos sobre o novo casamento. A
controvérsia sobre o divórcio nos círculos judaicos, pelo menos no tempo de
Cristo, estava centrada nas causas. Algumas pessoas dentro da comunidade
judaica nunca puseram em dúvida o direito de se casar novamente depois de um
divórcio. Hoje em dia, o foco da discussão nos meios evangélicos está colocado
na questão das segundas núpcias.
De acordo com vários autores: Deuteronômio
24.2 prova que o divórcio dissolve um casamento e dá o direito de se casar
novamente. Esta passagem não obriga a pessoa a se casar de novo, mas garante
esse direito se a pessoa quiser [...].
A exceção explicitada em Mateus 5.32 e Mateus
19.9, indica claramente que, quando o cônjuge pratica fornicação (porneia) e
ocorre um divórcio, o cônjuge fiel tem o direito de se casar novamente. Jesus
parece estar ensinando nesta passagem que, enquanto o divórcio torna o contrato
sem efeito, a imoralidade habitual torna o pacto sem efeito e, portanto, dá à
parte fiel uma oportunidade de se casar novamente. Jesus não obriga as pessoas
a se casarem de novo. No entanto, fica claro em Mateus 19.9 que ele presume que
um segundo casamento irá ocorrer [...]. Em ICoríntios 7.15 [...] como é o cônjuge
incrédulo que toma a decisão de ir embora e desencadeia o divórcio, [...] o
crente fica livre para casar-se outra vez, se desejar.
Também neste caso as segundas núpcias não são
obrigatórias. Mesmo sendo permitido um segundo casamento, esta atitude nem
sempre é sensata. Paulo recomendou que as pessoas que não eram casadas (isso
poderia incluir os ex-casados) permanecessem solteiras, e muitos concordariam
com um autor moderno que apresentou algumas razões para não se casar. Se os
problemas do passado não foram corrigidos ou resolvidos, se o indivíduo não tem
uma ideia clara sobre o novo casamento, ou se ele não tem muita vontade de se
casar outra vez, então é melhor continuar solteiro.
COLLINS. Gary R. Aconselhamento Cristão Edição Século 21. Editora
Vida Nova. pag.
532.
NOVO CASAMENTO
1.
Novos Casamentos Populares. Há homens e mulheres tão ciumentos que proíbem seus
cônjuges de casarem-se novamente, mesmo depois de terem eles morrido. Isso é
ridículo. Conta-se a história de uma esposa ciumenta que, em seu leito de
morte, tentou convencer seu esposo a não se casar novamente. Ele retrucou: Isso
eu não lhe posso prometer. Mas posso prometer-lhe que farei melhor a próxima
vez», E também há histórias de fantasmas em que uma falecida esposa volta para
perseguir a nova esposa de seu ex-marido. Ao que parece, espíritos masculinos
não se dão ao trabalho de voltar para assombrar outros homens.
2.
Novos Casamentos Eclesiásticos. Na Igreja Católica Romana, o clero não se
casa, pelo que, nessa organização religiosa, não existe o problema de novos
casamentos. No clero inferior da Igreja Ortodoxa Oriental (os padres, mas não
os bispos)
é permitido o casamento, mas não um segundo casamento. Assim, é porque estaria
envolvi do
o ideal de um-homem-uma-mulher, tanto no matrimônio literal quanto no noivado
espiritual entre
Cristo e sua Igreja. Para que esse ideal não seja violado. o clero
ortodoxo não torna a casar-se.
3.
Novos Casamentos, no Novo Testamento. Podemos alistar três casos, a saber:
a. Quando o outro cônjuge morre. Os trechos
de Rom.
7:1-3 e I Cor. 7:39 deixam claro que um novo casamento por parte de um crente,
depois da morte de seu cônjuge, é espiritualmente legitimo e permissível, contanto
que se faça «no Senhor», ou seja, com outro crente em Cristo.
b. Quando um dos cônjuges divorcia-se do
outro por motivo de adultério do outro (ver Mat. 5:31,32; 19:3-9). O cônjuge
inocente, pois, pode casar-se novamente. No entanto, se uma parte da Igreja aprova
isso com um sim, outra parte reprova com um não. Concordo com aqueles que dizem
sim. Por outra parte, de acordo com I Tito 3:2 e I Tim. 1:6 (segundo alguns
estudiosos), uma pessoa divorciada e novamente casada não deveria assumir posto
de liderança na Igreja. a menos que extraordinariamente qualificada (conforme
alguns dizem). Também concordo com isso, embora a maioria discorde.
c. A exceção paulina, Um crente pode
divorciar-se legal e espiritualmente de seu cônjuge, se este é incrédulo. e se
esse cônjuge incrédulo é que quer o divórcio (I Cor. 7:10-15). Diante de tal
conjuntura o crente pode casar-se de novo, tendo sido abandonado por seu
cônjuge. Essa é a interpretação de alguns (incluindo eu mesmo), embora outros
neguem tal direito. Se não é possível um novo casamento, nesse caso, então é
difícil perceber como é que tais crentes não ficam sujeitos à «escravidão». Em
minha estimativa, tais crentes também podem exercer autoridade na Igreja,
embora isso também seja negado por outros intérpretes, que aplicam.
rigorosamente, os textos de Tito 3:2 e I Tim. 1:6.
4. Pontos de Vista Mais Liberais. Muitos
intérpretes insistem em que as regras neotestamentárias sobre o divórcio e um
novo casamento são parciais, porquanto existem razões ainda mais fortes para o
divórcio do que o adultério, incluindo a insanidade e a criminalidade, os maus tratos,
as perseguições, os abusos físicos, etc. Ver o artigo geral sobre o Divórcio,
onde essas questões são ventiladas.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia.
Vol. 4. Editora HAGNOS pag. 526-527.
III - ENSINOS DE PAULO
A RESPEITO DO DIVÓRCIO.
O divórcio na visão paulina.
O apóstolo Paulo enfrentou alguns dos maiores
questionamentos que perturbaram a igreja cristã nos seus primórdios. Um deles,
sem sombra de dúvidas, foi a questão do divórcio. E ele soube posicionar-se com
elevado
discernimento espiritual, sob a direção divina. Interpretando a doutrina de
Cristo sobre o divórcio, o apóstolo dos gentios apresentou sérias argumentações
doutrinárias a respeito do assunto.
LIMA. Elinaldo Renovato de. A
família cristã e os ataques do inimigo. Editora CPAD. pag. 84-85.
1. Aos casais crentes.
Aos casais crentes — “aos casados” (1 Co
7.10). Esta passagem refere-se aos “casais crentes”, os quais não devem
divorciar-se. Essa é a “regra geral”. Se não houver algum dos motivos permissivos
(Mt 19.9 e 1 Co 7.15), não há qualquer justificativa para o casal crente se
divorciar.
Sabemos que há cristãos que são, na prática,
“discípulos” de Hillel, que querem o divórcio “por qualquer motivo”. Se há
desentendimentos, incompatibilidade de gênio, ou se a esposa ficou feia (ou o
marido), o caminho não é o divórcio, mas a reconciliação com o perdão sincero,
ou o celibato, caso sejam esgotados todos os recursos para a vida em comum.
Não vemos, na Bíblia, qualquer razão que
justifique o divórcio para os casais cristãos, quando não há as exceções
previstas na Palavra de Deus.
LIMA. Elinaldo Renovato de. A
família cristã e os ataques do inimigo. Editora CPAD. pag. 83.
7.10-16 — Paulo deixou de se preocupar com os
celibatários e passou a falar dos casados. Ele discorreu sobre os mandamentos
que Cristo deixou sobre o tema enquanto esteve na terra, além de apresentar a
visão que ele tem como apóstolo do Senhor.
7.10,11 — Não eu, mas o Senhor. Quando Cristo
esteve na terra, Ele disse que não nos devemos divorciar de nosso cônjuge. Em
vez de divórcio, Paulo usou a palavra chorizo traduzida pelo verbo apartar-se.
A ideia é a mesma: o marido e a esposa cristãos não devem deixar um ao outro. A
afirmação adicional de que, se o casal se divorciar, deve ficar sem casar
condiz com o ensinamento de Jesus (Mc 10.9-12).
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne
House. O
Novo Comentário Bíblico Novo Testamento com
recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 422.
7:10:
Todavia, aos casados, mando, não eu mas o Senhor, que a mulher não se aparte do
marido.
Neste ponto encontramos o parecer do apóstolo
dos gentios acerca do
divórcio. (Quanto ao problema inteiro do
«divórcio», que é abordado em
seus pormenores, e com várias interpretações
dos trechos bíblicos que falam sobre essa questão, ver as notas expositivas
acerca de Rom. 7:3). As diversas escolas dos judeus diferiam sobre essa
questão. Assim é que a escola de Hilel assumia o ponto de vista mais liberal,
típico da atitude masculina. Segundo essa escola, um homem podia divorciar-se
de sua mulher, mas não esta de seu marido, e isso praticamente por qualquer
razão, contanto que encontrasse alguma imundícia nela. E essa «imundícia» era
interpretada com ridícula liberalidade. (Ver Deut. 24:1). Já a escola de
Shammai era mais estrita, permitindo o divórcio somente em caso de adultério. Naturalmente,
a poligamia e o concubinato não eram consideradas relações adúlteras, de acordo
com a legislação judaica, motivo por que o divórcio estava limitado
praticamente aos contactos sexuais ilícitos, com a mulher de outro homem. E
isso reduzia grandemente o número dos casos em que um homem se divorciava de
sua legítima esposa, meramente para ter outra mulher. Pois poderia deitar-se
com ela, sem divorciar-se de sua esposa verdadeira, e isso com sanção da
legislação interpretativa do judaísmo.
A posição original do Senhor Jesus, acerca de
toda essa questão do divórcio, parece ser aquela que aparece no evangelho de
Marcos, onde não é dado qualquer motivo que permita o divórcio. (Ver Marc.
10:2-12). O evangelho de Mateus modifica essa posição extrema, mais para perto
da interpretação da escola de Shammai, permitindo o divórcio sob a condição do
adultério; e talvez com a mesma definição de adultério que era aceita por aquela
escola. É bem possível que essa tenha sido a posição da igreja cristã primitiva.
A posição de Paulo sobre essa questão, até
onde podemos determiná-la, alicerçados no sétimo capítulo da epístola aos
Romanos e na presente secção, era a mesma expressa pelo Senhor Jesus, conforme
o evangelho de Marcos; e essa posição é que não há qualquer base para o
divórcio, embora Paulo abra uma exceção. Mas, aquilo que Paulo estipula não se
aplica ao caso de um crente, quando casado com uma mulher incrédula, embora se aplique
ao cônjuge incrédulo, que queira «separar-se» do cônjuge crente.
Neste último caso, o crente não está
«obrigado» a conservar os laços matrimoniais. (Ver o décimo quinto versículo
deste capítulo). No entanto, se o casal se compõe de dois crentes, temos de
reverter a posição ensinada pelo Senhor Jesus, a qual não admite qualquer
exceção. (Ver o décimo primeiro versículo deste capítulo). Mas, se Paulo fazia
qualquer ideia quanto à possibilidade dessa exceção, ele nada diz a respeito. O
crente não está «sujeito» às obrigações matrimoniais quando seu cônjuge
incrédulo quer separar-se dele. Isso significa, logicamente, que o crente tem a
liberdade de
casar-se novamente, que é o oposto do que é dito quando se trata de dois
crentes (ver o décimo primeiro versículo), porque, nesse caso, «ela» precisa
permanecer sem marido.
Alguns estudiosos, entretanto, procurando
defender um duplo padrão, um para o homem e outro para a mulher, supõem que o
homem pode casar-se novamente, mesmo que se tenha separado de sua esposa, sendo
ambos crentes. Todavia, isso não concorda com a posição judaica, porque, ali,
sem importar qual a situação exata do divórcio, tanto o homem como a mulher têm
o direito de se casarem novamente. O que se pode concluir de tudo isso,
portanto, é que Paulo parece proibir novo casamento, tanto para o homem como
para a mulher, quando se tra ta de crentes, embora o cônjuge crente possa
casar-se outra vez, se porventura seu primeiro cônjuge era incrédulo.
Para os judeus, o casamento entre os pagãos
não era válido. Por essa razão, quando alguém se tornava judeu, é como se
tivesse nascido de novo. E assim, quaisquer contratos de casamento porventura
anteriormente firmados, ficavam sem valor, não impedindo tal pessoa de contrair
matrimônio com uma pessoa judia. Parece que Paulo reconhece até certo ponto
essa atitude, embora também reconheça a «validade» dos casamentos mistos, entre
crentes e incrédulos, algo que os judeus não reconheciam, no caso de casamentos
entre judeus e gentios, conforme aprendemos através da correta interpretação do
décimo quarto versículo deste mesmo capítulo.
Muitos intérpretes bíblicos modernos não têm
ficado satisfeitos com as provisões do divórcio, conforme elas se encontram nas
Escrituras. Esses, apesar de não considerarem errôneas essas provisões, pelo
menos acham-se inadequadas, incompletas. (Ver a explanação sobre isso,
igualmente, nas notas expositivas sobre Rom. 7:3, onde o problema inteiro é
ventilado com mais riqueza de detalhes do que aqui).
«...não eu, mas o Senhor...» O que Paulo quer
dizer é que suas recomendações sobre o divórcio, que ele faz agora, nos
versículos décimo e décimo primeiro, não eram de sua própria lavra, mas antes,
estavam baseadas sobre instruções conferidas pelo próprio Senhor Jesus. As declarações
de Cristo sobre o divórcio figuram entre as declarações mais bem confirmadas,
dentro da tradição dos evangelhos, tanto no evangelho original—o de Marcos—como
no ensinamento tradicional intitulado «Q», que foi usado tanto por Mateus como
por Lucas. (Ver Marc. 10:5-9; Mat. 5:31 e ss.; 19:3-11 e Luc. 16:18). Conforme
foi mencionado antes, algumas variantes ocorrem nessas tradições, provavelmente
devido a adições feitas durante o período da igreja primitiva, modificando até
certo ponto a posição inflexível de Jesus sobre essa questão. Evidentemente
Paulo não tinha consciência da exceção proposta pelo evangelho de Mateus,
porquanto a ignorava. Paulo escreveu esta primeira epístola aos Coríntios antes
da publicação de qualquer dos nossos quatro evangelhos. Portanto, não fez aqui
qualquer alusão aos mesmos, mas antes, às tradições orais dos ensinamentos e
declarações de Jesus, o que, finalmente, veio a ser concretizado em forma
escrita, nos nossos quatro evangelhos. As referências do apóstolo Paulo às
declarações de Jesus são extremamente raras, e esta é uma das mais
significativas dessas referências.
Paulo estabelece distinções entre suas
próprias opiniões pessoais (ver os versículos primeiro a nono), suas próprias
declarações «inspiradas» (ver o quadragésimo versículo), e os mandamentos conhecidos
de Cristo (versículos décimo e décimo primeiro deste capítulo). Abordava nesta
secção o problema, porque tal questão se levantara no seio da igreja cristã de Corinto.
O fato que ele estipula, «...que a mulher não se separe do marido...», mostra-nos
que esse era o tipo de caso ou de casos sobre os quais tinha ouvido dizer, ou,
pelo menos, que esses eram os casos mais numerosos de separação. Ê bem provável
que alguma mulher, membro da igreja de Corinto, tenha pedido o conselho de
Paulo sobre essa delicada questão. Pois, na sociedade coríntia, as mulheres
podiam divorciar-se de seus maridos, conforme era comum no império romano, nos
dias de Paulo, em contraste com as sociedades judaicas, onde a mulher não tinha
o direito de divorciar-se de seu marido, mas tão-somente o homem podia
divorciar-se de sua mulher. Paulo lembra aqui, porquanto, que as instruções
dadas pelo Senhor Jesus já haviam respondido às perguntas formuladas por
aqueles crentes de Corinto. É verdade que, na sociedade moderna, grande porcentagem,
que talvez forme até uma maioria quase absoluta, dos divórcios, são obtidos
pelas mulheres. E isso, na maioria dos casos, esteja com base no direito.
Talvez a mesma coisa ocorresse na sociedade pagã dos dias de Paulo.
Paulo proíbe o divórcio com base em qualquer
motivo, incluindo o desejo de entrar na vida do celibato, o que provavelmente
era a causa que levava algumas mulheres crentes de Corinto a desejarem
abandonar seus maridos, os quais não queriam concordar com elas acerca de uma
«mútua abstinência sexual». É evidente que as mulheres crentes, mais do que os homens
crentes, se deixavam impressionar pelos argumentos dos ascetas, visto que elas
já tinham impulsos sexuais mais fracos. É quase certo que isso era motivo de
dissensão em vários lares crentes de Corinto. Isso, por sua vez, provocava
separações, divórcios. E tudo supostamente a fim de seguir algum princípio
religioso mais elevado. Mas Paulo lembra aqui que o Senhor Jesus proibiu o
divórcio em termos gerais, que se aplicaram a todos os casos, sem exceção.
7:11:
se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou se reconcilie com o marido; e
que o marido não deixe a mulher.
O apóstolo dos gentios reiterava aqui a
tradição, bem-conhecida na igreja cristã primitiva, ensinada originalmente pelo
Senhor Jesus, no que tange ao divórcio. Essa tradição foi amplamente ventilada
nos comentários sobre o versículo anterior. O evangelho de Marcos concorda com
o que Paulo diz aqui, visto ser aquele o único documento que obviamente
concorda com as verdadeiras opiniões de Jesus em tudo. Os demais evangelhos
sinópticos— Mateus e Lucas—acrescentam certas modificações criadas pela igreja cristã,
a fim de enfrentarem determinadas situações críticas, de conformidade com os
princípios exarados pela escola interpretativa de' Shammai, os quais permitiam
o divórcio por motivo de adultério, permitindo que ambos os cônjuges casassem
novamente, visto que o adultério desfaz o contrato do casamento. Os judeus
desconheciam o casamento apenas do cônjuge «inocente» em segundas núpcias. Para
eles, uma vez dissolvido o casamento, isso era o fim de seus efeitos
obrigatórios, pelo que também permitiam que tanto o homem como a mulher se
casassem novamente.
A maioria dos intérpretes, comentando sobre
as passagens paralelas dos evangelhos de Mateus e Lucas, permitem somente o
novo casamento do cônjuge inocente. Mas outros bons intérpretes acreditam que,
a despeito das claras afirmativas constantes nesses dois evangelhos, a igreja
cristã primitiva mui provavelmente assumia a atitude tipicamente judaica sobre a
questão. (Ver Mat. 5:31 e ss. e 19:33 ss.). O trecho de Rom. 7:3 nos apresenta
a nota expositiva que sumaria a questão em sua inteireza. Porém, a despeito das
modificações que possam ter sido adicionadas às declarações originais do Senhor
Jesus (conforme são vistas no evangelho de Marcos, o qual não dá margem a
qualquer exceção que permita o divórcio, e certamente nenhum novo casamento de
qualquer dos cônjuges, inocentes ou culpados, porquanto nos problemas
matrimoniais raramente existe mesmo qualquer cônjuge «inocente»), parece que ó
próprio Senhor Jesus, defendendo o ideal de «um homem para uma mulher», não
podia dar lugar a qualquer divórcio dentro desse ideal, pelo que também nunca
abordou qualquer possibilidade de «novo casamento» enquanto ambos os cônjuges estiverem
vivos. Não possuímos evidências da existência de qualquer outra instrução dada
pelo Senhor Jesus quanto a essa particularidade, a não ser que o presente
versículo deixe subentendido que Jesus declarou algo sobre isso.
O texto de Marc. 10:5-9, que certamente é a
forma mais pura das declarações do Senhor Jesus sobre essa questão, não envolve
divórcio e nem qualquer consideração sobre novas núpcias. Já o apóstolo Paulo
considera aqui a possibilidade de divórcio, para os crentes, embora tenha
proibido novas núpcias até mesmo para o cônjuge «inocente» (o que é permitido
em Mat. 19:9). Entretanto, a regra exarada pelo Senhor Jesus é «universal», aplicando-se
a todos os casais; ao passo que a regra de Paulo se aplica exclusivamente aos
«crentes», pois imediatamente em seguida encontramos a «exceção paulina» (no
décimo quinto versículo deste capítulo), que remove a servidão
matrimonial nos casos de casamentos «mistos», isto é, entre crentes e
incrédulos. Uma vez removida essa «servidão», é permitido novo casamento, com a
condição que seja realizado «...somente no Senhor...» (versículo trinta e nove
deste mesmo capítulo), isto é, contanto que se case com outro crente. Não
obstante, qualquer casamento já firmado ou por firmar, entre crente e
incrédulo, é «legítimo», conforme declara o décimo quarto versículo deste
capítulo, embora nunca seja recomendado ao crente que procure cônjuge
incrédulo. Contudo, os judeus não reputavam legítimos os casamentos mistos,
entre judeus e gentios, e tais casamentos eles não levavam em consideração. 1 Este
versículo parece ser um reflexo do duplo padrão seguido pelos judeus. Conforme
esses padrões, uma mulher não podia divorciar-se de seu marido, embora um homem
pudesse divorciar-se de sua mulher. Assim sendo, neste versículo deve ser o
«marido» que está em foco como aquele que se separou. Não obstante, é fato
sobejamente conhecido que, na sociedade judaica, uma mulher sempre dispunha de
meios indiretos para forçar seu marido a divorciar-se dela; e assim,
infernizando a vida de seus respectivos maridos, muitas mulheres obtinham
indiretamente o divórcio. «O apóstolo Paulo, à semelhança de nosso Senhor,
proíbe o divórcio em termos absolutos: a ‘pornéia’ (impureza sexual) não é
mencionada aqui como algo que cria a exceção, sendo bem possível que essa
exceção (ver Mat. 5:32 e 19:9)... fosse desconhecida do apóstolo, porque não
fora estabelecida pelos lábios do próprio Cristo». (Robertson e Plummer, in
loc.).
Desconhecida, dentro dessa citação de
Robertson e Plummer, deve significar «entre as declarações feitas pelo próprio
Cristo», porquanto Paulo conhecia a exceção aludida, com base nos ensinamentos
judaicos sobre a matéria.
Mas, se por qualquer razão, a despeito dos
próprios ensinamentos de Jesus a respeito, um homem ou uma mulher crente viesse
a encontrar-se divorciado, então, segundo a recomendação de Paulo, que
permanecesse sem casar-se novamente, passando a viver como celibatário. Esse é
um elevado ideal, mas poucos são os que conseguem seguir tal norma. Os ensinamentos
constantes no evangelho de Mateus, todavia, se adaptam melhor às situações e
necessidades humanas. «...ou que se reconcilie com seu marido...». Essa palavra
dão-nos a entender que o motivo da separação aqui corrigida não foi o
«adultério», mas antes, alguma outra razão qualquer, talvez até mesmo o desejo
de unir-se a mulher crente ao partido dos ascetas, que viviam como celibatários,
o que evidentemente acontecia até mesmo em Corinto. Ora, se alguém se separasse
de seu cônjuge, por alguma razão assim, então deveria permanecer sem casar-se
com outrem; mas, se descobrisse ser-lhe impossível continuar em tal estado,
então que entrasse em reconciliação com seu legítimo ex-cônjuge, e não
procurasse união com outra pessoa. Mui provavelmente Paulo tencionou incluir
essa ideia; mas não há razão alguma para supormos que ele não estivesse falando
em termos gerais, incluindo casos de adultério.
Por conseguinte, parece que, na opinião de
Paulo, não pode haver novo casamento para o crente divorciado, nem mesmo se ele
é o cônjuge «inocente», e nem mesmo que o motivo do divórcio tenha sido o
adultério praticado pelo outro cônjuge. Naturalmente, poderia haver novo
casamento se o cônjuge culpado viesse a falecer. E é bem possível que o que
Paulo diz aqui também seja o ensinamento do Senhor Jesus sobre a questão.
Trata-se de um ponto de vista extremamente idealista, sendo necessário um homem
altamente espiritual como o Senhor Jesus ou como Paulo para que viva de conformidade
com o mesmo. Por essa razão é que no evangelho de Mateus encontramos uma
exceção a essa regra, e os estudos modernos sobre a matéria têm postulado
outras exceções lógicas, conforme é ilustrado nas notas expositivas sobre o
trecho de Rom. 7:3.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo
por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 99-101.
2. Quando um dos cônjuges não é crente.
Aos casais mistos — “aos outros” (1 Co
7.12,13). “Mas, aos outros, digo eu, não o Senhor: se algum irmão tem mulher
descrente, e ela consente em habitar com ele, não a deixe. E se alguma mulher
tem marido descrente, e ele consente em habitar com ela, não o deixe”.
Valorizando a família, a Palavra de Deus reconhece a união de um cônjuge que
aceita a Cristo, e a esposa (ou o esposo) continua na incredulidade, ou de um fiel,
cujo cônjuge se desvia. Entretanto, no caso de o cônjuge descrente (ou
desviado) quiser abandonar o crente fiel, pedindo divórcio, não pode ficar
“sujeito à servidão”, ou seja, sob o jugo de um casamento insuportável.
Há casos em que o descrente é prostituído,
com risco de levar doenças para a esposa; ou é beberrão contumaz, ou que
espanca a esposa, proibindo-a de ser crente, etc. O crente não deve tomar a
iniciativa do divórcio. Deve deixar que o descrente o faça: “Mas, se o
descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não está
sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz” (v. 15).
LIMA. Elinaldo Renovato de. A
família cristã e os ataques do inimigo. Editora CPAD. pag. 85.
7.12,13 — Digo eu, não o Senhor. Paulo
apresentou um problema que não foi discutido por Jesus. As vezes, o marido ou a
esposa se converte, mas o outro não. Paulo exorta o cristão a continuar casado
se o cônjuge não cristão não quiser divorciar-se.
7.14 — O principal significado de santificado
é separado. Aqui, o termo se refere à situação especial de que a esposa ou o
marido incrédulos desfrutam quando seu cônjuge é cristão, sendo expostos aos
ensinos de Deus. Imundos, neste contexto, provavelmente, significa o oposto de
santificado. Os filhos com um dos pais que seja cristão podem aprender coisas sobre
Deus e achegar-se a Cristo.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne
House. O
Novo Comentário Bíblico Novo Testamento com
recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 423.
ACERCA DE CÔNJUGES INCRÉDULOS (7.12-16) -
Digo eu, não o Senhor (12). Paulo agora passa a tratar de um problema que não
fora objeto de nenhum mandamento específico de nosso Senhor. Que fazer quando
um cônjuge é crente e o outro ainda é pagão? Devia haver muitos casos desses em
Corinto, como ocorrem hoje constantemente no campo missionário. Aconselha os
cristãos a não se separarem do cônjuge incrédulo, a não ser que este
voluntariamente vá embora (12,13,15). Tal conselho nos impressiona de pronto,
por sua caridade e espírito cristão.
O apóstolo tece outros comentários: O marido
incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é
santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte os vossos filhos seriam
impuros; porém, agora, são santos (14).
Os comentadores não são acordes sobre o
sentido destas palavras. Quererão dizer que o incrédulo ou a incrédula em razão
de sua união conjugal com uma crente ou um crente, participa com o cônjuge fiel
de uma posição de santidade diante de Deus e, além disso, que os filhos
nascidos de tal união (e a fortiori, da união de dois crentes) são de algum
modo santos (i. e., isentos da mancha do pecado original)? Significarão que,
por serem santificadas as relações com o cônjuge inconverso, no mundo subjetivo
do pensamento e vida do crente, nada há de mal em manter tais casamentos já
existentes, aos quais se refere? Se as relações, dessa forma, não fossem
santificadas, então os filhos, por igual, seriam uma ofensa a Deus (impuros),
porém agora são santos, isto é, não há mal que lhes pegue por serem filhos de
tal casamento «misto». Ou, ainda, significarão simplesmente que, por ser Cristo
mais forte que Satanás, o cônjuge fiel exercerá uma influência dominadora no
lar, introduzindo, neste, dose elevada de santidade, de modo que, de fato, os
filhos que aí se criem são santos? Este escritor subscreve esta terceira
alternativa, visto a mesma estimular os cônjuges crentes à evangelização dos
seus familiares.
NOVO.
Comentário da Bíblia. 1 Coríntios.
pag. 38-39.
7.12 - A ordem de Paulo referente à
permanência do casamento (7.10) tem como base o AT (Gn 2.24) e o ensinamento de
Jesus (Mc 10.2-12). Sua sugestão neste versículo é baseada na ordem de Deus.
Paulo a aplicou à situação que os coríntios estavam enfrentando. Sua ordem
estava acima da sugestão porque uma trata de um princípio eterno enquanto a
outra é uma aplicação especifica. Não obstante, para as pessoas em situações
semelhantes, a sugestão de Paulo é o melhor conselho que poderiam obter. Paulo
era um homem de Deus, um apóstolo, e tinha a mente de Cristo.
7.12-14 Por causa do desejo de servir a
Cristo, algumas pessoas na igreja coríntia pensaram que deveriam divorciar-se
de seu cônjuge pagão e se casar com um cristão. Mas Paulo reafirmou o
compromisso do casamento. O ideal de Deus é que marido e esposa permaneçam
juntos — mesmo quando um dos cônjuges não for crente. O cônjuge cristão deve
tentar ganhar o outro para Cristo. Seria fácil pensar no rompimento do
relacionamento.
Paulo, porém, enfatizou que se deve
permanecer com o cônjuge incrédulo e ser uma influência positiva na união.
Assim como Jesus, Paulo acreditava que o casamento deve ser para sempre (ver Mc
10.1-9).
7.14 - As bênçãos que fluem para os crentes
não se limitam a eles; estendem-se também às outras pessoas. Deus considera o
casamento como algo separado para seu uso por causa da presença de um cônjuge
cristão. O outro cônjuge não recebe a salvação automaticamente, mas é
santificado por essa relação. Os filhos desse casamento recebem uma influência espiritual
positiva por parte do cônjuge cristão e são guardados (por causa da bênção de
Deus na unidade familiar) até que tenham idade suficiente para tomar sua
própria decisão em relação a Cristo.
APLICAÇÃO PESSOAL. Bíblia
de estudo. Editora CPAD. pag. 1592.
3. O cônjuge fiel não está sujeito à servidão.
Em nenhum momento, neste capítulo, desejamos
incentivar o divórcio. O casamento deve ser realizado dentro de uma perspectiva
para toda a vida, até que a morte separe o casal. Entretanto, a vida conjugal é
complexa, e podem surgir casos em que a convivência torna-se insuportável. As
exceções, na Bíblia, são prova do amor de Deus para com os que permanecem fiéis
aos seus princípios para o casamento, não os condenando a uma vida inteira sob
o jugo de uma penosa servidão a um infiel, desviado ou incrédulo.
LIMA. Elinaldo Renovato de. A
família cristã e os ataques do inimigo. Editora CPAD. pag. 86.
A Exceção Paulina. (O Divórcio nos Escritos
de Paulo). Também poderíamos denominar esta seção de o Privilégio Paulino.
Paulo tem pouquíssimo a dizer sobre esse assunto.
A passagem de Rom. 7:1-3 não pode ser
considerada corno uma declaração dogmática sobre a questão do divórcio. O
apóstolo dos gentios ignorou propositadamente qualquer exceção, porquanto não
estava procurando ensinar qualquer doutrina acerca da questão, mas meramente se
utilizava do matrimônio como ilustração simbólica sobre a nossa nova lealdade a
Cristo. Não encontramos nesse texto, por conseguinte, o pensamento de Paulo
sobre a questão do divórcio. Poderíamos supor, entretanto, que sendo ele um
ex-fariseu, teria seguido ou a ideia de Hilel ou o pensamento de Shamai sobre
essa particularidade, mas que teria seguido mais provavelmente a opinião da
escola de Shamai, porém com uma importante exceção.
Note-se que, na passagem de I Cor. 7: 10-16,
Paulo permite que o cônjuge «crente. se separe de seu cônjuge <<incrédulo>>,
contanto que o cônjuge incrédulo deseje tal separação. Neste caso, o crente
pode casar-se de novo, porque não está sob servidão. Esta expressão implica que
o divórcio, nestes casos, é o verdadeiro fim do casamento, e que o crente está
totalmente livre. Devemos nos lembrar de que os judeus nem reconheceram
casamentos mistos como legais. Paulo nos informa que tais casamentos são legais
(não são adulterinos), mas não são totalmente obrigatórios.
Nestes casos, pode existir uma variedade de
razões para desfazer o casamento. Paulo exige, entretanto, um esforço honesto
de evangelização do incrédulo, antes de qualquer consideração de divórcio. Além
disto, a decisão de desfazer o casamento (sob circunstâncias normais) deve ser
do incrédulo. Mas isso ainda deixaria sem solução, de forma absoluta, a questão
se uma pessoa crente, casada com um incrédulo, tendo sido abandonada por este,
e tendo-se casado pela segunda vez, com um crente, pode participar ou não como
membro da igreja local, não ficando reduzido à condição apenas de um espectador.
'S verdade que os trechos de I Tim. 3:2 e Tito 1:6 proíbem aos anciãos e
diáconos terem «mais de uma esposa»; e isso certamente é mais do que uma provisão
para evitar a poligamia, embora isso também esteja em foco. Tal pessoa, pois,
que antes era casada com um incrédulo, que a abandonou, mas que agora é casada
com um crente, visto que teve o direito legitimo de fazer tal, sem incorrer em
culpa (contanto que o div6rcio haja sido provocado pelo incrédulo, já que ao próprio
crente é vedado o direito de separar-se, mas antes, deve procurar conquistar
seu cônjuge incrédulo para Jesus Cristo), também deve ter o direito de
participar na igreja, até mesmo na capacidade de figura lideram-te. Além disso,
posto haver a possibilidade de ambas as formas á resposta para essa questão,
homens bons e bons intérpretes têm assumido posições diametralmente opostas.
Parece razoável, de conformidade com a linha
paulina de pensamento, sobre esse particular, pensarmos que essa liberdade é
total, ou seja, se tal crente vier a distinguir-se por seu progresso
espiritual, não devemos negar-lhe o privilégio de participar ativamente das
atividades da igreja local, somente por causa de um erro cometido antes de sua
conversão.
Por consequência, poderia até mesmo vir a
ocupar um cargo oficial lideram-te na igreja local. Desnecessário é dizer,
entretanto, que muitíssimos intérpretes discordam dessa opinião. Ainda teríamos
que resolver o problema da participação de alguém que, sendo antes incrédulo, estivera
casado com um crente, para em seguida divorciar-se do mesmo, e tomar a contrair
núpcias.
Com base em razões paulinas, parece-nos
seguro dizermos que a tal pessoa devemos encorajar manter-se fora da liderança
das igrejas locais, ainda que venha a ser aceita como membro ativo de uma delas.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia.
Vol. 2. Editora Candeias. pag. 199-200.
7.15,16 Este
versículo é usado erroneamente por algumas pessoas como um modo de sair do
casamento. Mas as declarações de Paulo foram dadas para encorajar o cônjuge
cristão a tentar um entendimento com o incrédulo e tornar o casamento harmonioso.
Se. porém, o cônjuge incrédulo insistir em partir. Paulo disse que é melhor
deixá-lo ir. A única alternativa seria o cristão negar sua fé para preservar o
casamento, o que seria pior do que dissolvê-lo. O principal propósito da carta
de Paulo era exortar as pessoas casadas a buscarem a união, não a separação
(ver 7.17; 1 Pe 3.1. 2).
APLICAÇÃO PESSOAL. Bíblia
de estudo. Editora CPAD. pag. 1592.
7:15: Mas, se o
incrédulo se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou a irmã, não está
sujeita à servidão; pois Deus nos chamou em paz. A exceção Paulina. Paulo
permite o divórcio e o novo consórcio ao cônjuge crente, evidentemente devido a
grande variedade de razões, se o casamento era misto e se a iniciativa do
divórcio partiu do cônjuge incrédulo, e não do crente. O cônjuge crente tem a
obrigação de preservar os laços matrimoniais enquanto o cônjuge incrédulo assim
desejá-lo, consentindo com isso.
Porém, se o
cônjuge incrédulo manifestar o seu desejo de divorciar-se e estiver firme nessa
resolução, não desejando vir a Jesus Cristo, então o crente, homem ou mulher,
está desobrigado dessa questão; e isso deve incluir a idéia de novas núpcias,
contanto que seja efetuado esse casamento «...no Senhor...», isto é, com outro
crente, conforme fica demonstrado pelo trigésimo nono versículo deste capítulo,
juntamente com o sexto capítulo da segunda epístola aos Coríntios.
«..
.apartar-se...» A palavra grega assim traduzida não é a mesma que foi empregada
nos versículos doze e treze deste mesmo capítulo, onde é traduzida por
«abandone» e «deixe», respectivamente. (Mas em todos os casos, na realidade, o
sentido é «divórcio»), Essa palavra grega significa «dividir», «separar»,
«partir». Neste texto, porém, é óbvio que está em vista o «divórcio», e não
meramente a separação de leito e mesa. A «sujeição» envolvida no matrimônio é
suspensa, não precisando mais ser observada.
Aqueles
intérpretes que têm pensado que o incrédulo pode separar-se de seu cônjuge
crente, mas que este último, subsequentemente, não pode contrair novas núpcias,
pensam que o cônjuge crente fica em «servidão» ao cônjuge incrédulo que se
afastou. Mas essa interpretação é claramente contrária à intenção expressa por
Paulo, sendo o oposto do que ele dizia.
Razões que
permitem esse divórcio dos casamentos «mistos»: O presente texto é muito geral,
pelo que também podemos supor que várias razões são perfeitamente válidas. A
única coisa necessária é que
cônjuge incrédulo
é quem tenha tomado a iniciativa no processo de divórcio, ao mesmo tempo que,
com base no que Paulo diz no próximo versículo, o cônjuge crente faça um
esforço consciente no sentido tanto de preservar seus laços conjugais com o
incrédulo como de conduzi-lo aos pés de Cristo. Uma vez que esses dois tipos de
esforço tenham fracassado, se o cônjuge incrédulo ainda estiver disposto a
separar-se, então o cônjuge crente não deve sentir-se na obrigação de continuar
casado, e nem deve ter a relutância de casar-se novamente, contanto que o faça
com outro crente.
Pano De Fundo
Judaico Desse Conceito Poderemos entender melhor a natureza da exceção paulina,
se nos lembrarmos que, de acordo com o pensamento judaico, um casamento misto
(judeu com pagão) não era considerado um matrimônio legal; e que sempre era
ordenado que houvesse separação nesses casos, e que o cônjuge judeu se casasse
com outra pessoa israelita. Paulo não ordenou tal coisa, entretanto, mas também
não insistiu que um casamento misto fosse mantido, sendo extremamente provável
que ele permitisse novo casamento de um crente, com outro crente, sem qualquer
censura.
«...descrente...»,
sem importar se é o marido ou a mulher, conforme fica demonstrado pelo restante
deste versículo, porquanto é o «irmão» ou a «irmã» que não fica mais em
«sujeição», em tais casos.
Naturalmente,
alguns bons intérpretes insistem que o cônjuge crente abandonado pelo
descrente, não procure casar-se de novo. Mas assim fazem ignorando o contexto
geral da passagem, bem como esquecendo o sentido da palavra «...servidão...»,
que faz parte deste versículo, e assim também o fundo histórico desta passagem.
De acordo com a mentalidade judaica, era até mesmo «desejável», e não apenas
«permissível», que um judeu que estivesse casado com um gentio, abandonasse a
este último, a fim de casar-se com outro judeu. Nenhum princípio teológico
judaico jamais forçaria tal judeu a continuar casado com um gentio, conforme
fica bem ilustrado na narrativa do livro de Esdras. E não somente isso, mas
também de acordo com essa mentalidade, era exigido que os judeus que tivessem caído
no erro de se casarem com gentios, quando voltassem ao bom senso, se separassem
de seus cônjuges gentios, se porventura estes se recusarem a se converter ao
judaísmo.
O apóstolo Paulo,
entretanto, modificou em muito essa questão. Ele aconselhava antes um esforço
honesto, da parte do crente, por converter o seu cônjuge incrédulo. Outrossim,
defendia a legitimidade dos casamentos «mistos»,
entre crentes e incrédulos. No entanto, proibia que o cônjuge crente tomasse a
iniciativa de divorciar-se de seu cônjuge descrente; todavia, não proibia o
divórcio, nesses casos, contanto que a iniciativa partisse da parte descrente.
E certamente, sendo judeu, ele não proibia novas núpcias do cônjuge crente, em
tais casos, porque isso deixaria o mesmo em verdadeira «sujeição» ao seu
ex-cônjuge incrédulo, o que para Paulo era uma situação inconcebível. Essa é a
única interpretação que se coaduna com o contexto histórico em que encontramos
esta secção, ainda que isso seja contrário à grande parte da moderna posição
teológica.
«...não fica
sujeito à servidão...» O cônjuge crente abandonado pelo cônjuge incrédulo não
fica em «servidão» ao mesmo, através das várias exigências próprias do contrato
matrimonial. Compare-se esse uso com o que diz Rom. 7:1-6, onde o matrimônio é
apresentado como uma espécie de «servidão», tanto para com o outro cônjuge como
para com as leis que governam o matrimônio.
«...o abandono, em
tal caso, e acompanhado de tais circunstâncias, é um rompimento do contrato
matrimonial, uma dissolução do vínculo, e a pessoa abandonada pode casar-se
legalmente outra vez; doutro modo, um irmão ou uma irmã, em casos semelhantes,
ficaria em sujeição e servidão a tal pessoa». (John Gill, in loc.).
Lutero concordava
com a interpretação dada aqui, mas avançava ainda mais um passo. Argumentava
ele que até mesmo o casamento com crentes aparentes poderia ser dissolvido,
quando se tornasse evidente que tais pessoas realmente não eram crentes,
tomando-se em consideração os seus frutos. Naturalmente, se alguém não é
realmente um crente, o texto em foco se aplica a isso, mas sempre há o problema
da averiguação da realidade da questão, e sempre o indivíduo interpretará os
casos em seu próprio favor.
Portanto, a
questão inteira está passível de abusos, e se alguém abusa dessa questão sobre
a «permissão paulina» é uma questão entre esse alguém e seu Deus.
Erasmo fez um
comento curioso sobre o casamento e o divórcio: «Enquanto um casamento é
meramente um purgatório, ele deve ser respeitado. Quando se torna um inferno,
deve ser dissolvido.»
«...Deus vos tem
chamado à paz...» O sentimento destas palavras pode ser comparado com os
trechos de Gál. 1:6; Efé. 4:4 e I Tes. 4:7. A chamada divina tende para a
instauração da paz com Deus e com nossos semelhantes, devendo ser vista
especialmente no fato que produz o caráter pacífico entre os crentes. A escravização,
mediante o mau casamento com um incrédulo, tende por destruir esse estado de
paz. Paulo estava asseverando que a preservação do vínculo da paz, no coração,
no lar e na comunidade cristã, é mais importante do que a preservação de um
péssimo casamento com um incrédulo. (Quanto ao tema da paz com Deus, ver Rom.
5:1. Quanto a outras notas expositivas sobre a «natureza da paz», acompanhadas
de poesia ilustrativa, ver os trechos de João 14:27 e 16:33).
O fato da
importância crucial da paz, no coração do indivíduo e no seio da igreja, é a
razão central pela qual Paulo está dando a sua «permissão», está abrindo a sua
«exceção» à regra que proíbe o divórcio. E que Paulo ventila casos e facetas
nos quais se reputava influenciado pelo Espírito, se não mesmo guiado palavra
por palavra, ou ideia por ideia, daquilo que dizia. (Ver o quadragésimo
versículo deste capítulo). (Quanto a notas expositivas sobre a «chamada e a
eleição divinas», ver Efé. 1:4. Ver também Rom. 8:30 quanto a notas expositivas
acerca do termo «chamar», o convite divino).
A chamada ou
convite divinos, uma vez aceito, conduz o indivíduo à paz com Deus e com os
seus semelhantes, bem como consigo mesmo. Isso é extremamente importante. Se um
mau casamento vier a perturbar isso, e se tal casamento tiver sido firmado com
um incrédulo, é melhor que tal vínculo termine, contanto que isso tenha sido
iniciativa e desejo do cônjuge incrédulo. Em Corinto, bem como em muitas outras
localidades, naqueles primeiros dias do cristianismo, os homens abusavam da nová
fé, odiando-a profundamente. Esse abuso se estendia aos próprios lares, e a
vida inteira de muitas pessoas era perturbada. Os crentes eram perseguidos por
causa de sua fé ou por outros motivos, e assim a sua «paz» com Deus era perturbada.
Ora, Paulo recomenda aqui que não é necessário ser conservado um tal
matrimônio, e a dissolução do casamento pode ser a solução correta, uma vez que
todas as tentativas para ganhar o incrédulo para Cristo falharam.
Somos chamados «..
.à paz...», o objetivo do convite divino e não «na paz», embora isso também
seja um aspecto verdadeiro. Somos chamados «com a finalidade» que vivamos em
paz com Deus, com nossos semelhantes e conosco mesmos, visto que toda a
alienação foi removida. Maimonides, mais ou menos da mesma maneira se referiu
ao divórcio como algo permitido por Moisés, visando preservar «a paz no
casamento e a tranquilidade no lar».
7:16: Pois, como
sabes tu, 6 mulher, se salvarás teu marido? ou, como sabes tu, marido, se
salvarás tua mulher?
Essa permissão ou
«exceção» de Paulo não é o ideal paulino. Na opinião desse apóstolo, é melhor
ainda persistir no matrimônio, transformando o lar em um campo missionário,
procurando conquistar para Cristo o cônjuge incrédulo, do que ceder
imediatamente à pressão. Portanto é melhor salvar uma alma—nesse caso, do
marido ou da mulher—do que estar livre de problemas matrimoniais. Assim, pois,
Paulo encerra essa discussão com um desafio, e não com uma concessão. Sim,
salvar uma alma, sobretudo a do esposo ou a da esposa, é mais importante do que
a felicidade matrimonial. A persistência sob os erros sofridos, sob os abusos,
ao mesmo tempo que o crente dá testemunho fiel do poder de Cristo para
transformar a vida e salvar a alma, a despeito dessas dificuldades, pode ser
uma atitude que sirva de instrumento para transformar até mesmo os corações
mais endurecidos. Paulo recomenda que, nesses casos, ao menos se dê uma boa
oportunidade ao matrimônio.
Que o cônjuge
crente não desista facilmente. «É sempre cedo demais para desistir.» (Edmans).
Entretanto, se todos os esforços vierem a falhar, se os sofrimentos se tornarem
intoleráveis, se o incrédulo persistir em seu desejo de divorciar-se, então é
chegado o tempo de aplicar a permissão paulina, a sua «exceção» à regra que
proíbe o divórcio. Mas somente então é que essa regra deveria ser aplicada.
Poucos indivíduos conseguiriam cumprir essas condições; mas os crentes
espirituais conseguirão cumpri-la.
Alguns intérpretes
têm sugerido que este versículo dá a entender exatamente o contrário, afirmando
que as duas perguntas retóricas têm o intuito de dar a entender a remota
possibilidade do cônjuge crente vir a conquistar a relutância de seu cônjuge
incrédulo. Assim sendo, essas perguntas equivaleriam a: «O que te faz pensar
que poderás conquistar teu marido ou tua mulher, a despeito de todas essas
evidências em contrário? O casamento não é um campo missionário. É melhor
seguir a paz». Mas essa interpretação, apesar de ser possível para o original
grego, é decididamente contrária ao pensamento paulino, bem como ao próprio
contexto desta passagem, visto que os versículos décimo segundo e décimo
terceiro deste capítulo falam contra o divórcio, recomendando a preservação dos
laços matrimoniais. Portanto, é melhor pensarmos que neste décimo sexto versículo
temos um outro apelo em favor da preservação do matrimônio, e não o reforço da
permissão ou «exceção» que aparece no décimo quinto versículo. Portanto, nos é
apresentada aqui a «esperança» que é possível a salvação do cônjuge incrédulo,
e, portanto, a possibilidade desse cônjuge vir a ser persuadido, até mesmo às
custas da felicidade matrimonial pessoal, e não por motivo de temor que tal
perseverança venha a destruir a mui desejada paz para a qual fomos convocados
por Deus. «Suporta a tua cruz e olha para Deus, e ele poderá dar-te, em face das
tuas orações, teu marido ou tua mulher incrédulos. (Adam Clarke, in loc.).
Assim foi que
Rute, a moabita, converteu-se à fé de seu esposo; e que José e Moisés, mui
provavelmente, conquistaram suas esposas. Em contraposição com isso, o marido
incrédulo pode ser ganho pela mulher crente. (Ver I Ped. 3:1)». (Faucett, in
loc.).
«A oportunidade de
salvar o cônjuge incrédulo justifica qualquer inconveniência temporal». (Lightfood, in loc.).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo
por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 103-104.
7:27: Estás ligado a mulher? não procures separação. Estás livre de mulher?
Não procures casamento.
Paulo sugeria aqui a manutenção do «status quo», o que é típico do capítulo
inteiro. Essa será a última ação dolorosa, quando a tempestade irromper. Até
mesmo sob circunstâncias normais, Paulo advogaria tal coisa, porquanto, para
ele, era errado cortar os laços matrimoniais a fim de buscar o celibato (ver I
Cor. 7:2 e ss.), ao mesmo tempo que era preferível, se alguém já vivia como
celibatário, viver como tal, visto que assim tal crente poderia entregar-se
muito mais prontamente ao serviço de Cristo, sem distrações. (Ver os versículos
trigésimo segundo e trigésimo terceiro). Tal advertência teria ainda muito
maior aplicação no período da Grande Tribulação, quando qualquer modificação só
fará intensificar a dor que já é necessária ser sofrida.
«...casado...» Embora assim diga esta versão portuguesa, que serve de base
textual para nosso comentário, no original há alusão a laços e responsabilidades
do matrimônio, e não apenas ao noivado. No original grego temos «ligado a mulher»,
e não «casado». Mas essa «ligação» importa em matrimônio, e não noivado ou
algum compromisso de menor importância com alguma mulher. Portanto, «mulher»,
nesse caso (seu primeiro uso neste versículo, mas que não aparece na nossa
tradução em português), significa esposa. Paulo não permitia nem uma separação indefinida
e nem real divórcio, nem mesmo por causa de alguma suposta razão espiritual
(ver I Cor. 7:2-6), nem separação permanente por meio do divórcio (versículos
décimo e décimo primeiro deste capítulo).
«.. .livre de mulher...», isto é, sem laços matrimoniais, solteiro.
Paulo não estava falando daqueles que se tornaram livres por meio do divórcio, dando-lhes
o conselho que permanecessem divorciados. Se esse fosse o caso, mui
provavelmente Paulo teria recomendado novo casamento, sob todas as hipóteses.
Antes, o apóstolo falava a solteirões, viúvas, viúvos, e todos aqueles que não
estavam obrigados por qualquer contrato de casamento.
Aos tais, Paulo aconselhava que não tentassem modificar suas circunstâncias,
especialmente em vista do período de angústia que se avizinhava. Parece que
Paulo esperava que a igreja passaria pelo período da Grande Tribulação,
porquanto aconselhava que não houvesse novos casamentos e nem mudança de
situação, porquanto isso serviria apenas para complicar a vida dos crentes
quando da grande tribulação, e não porque seriam repentinamente arrebatados,
escapando assim de toda a tribulação. É possível criarmos um argumento em favor
do «status quo», mesmo que a igreja deva ser «arrebatada». Esse argumento é que
visto que o fim está tão próximo, é melhor nos concentrarmos somente nas
questões celestiais, ignorando as
terrenas. Isso expressa uma verdade; mas não era assim que Paulo apresentava a
questão, ou pelo menos, não era exclusivamente assim que ele a apresentava.
Os que estivessem «livres» não deveriam procurar empenhar-se por modificar
as suas circunstâncias. Embora Paulo recomende isso, devido à grande
«angústia», contudo, todo este capítulo mostra-nos que ele preferia que todos
os crentes vivessem solteiros, e isso sob quaisquer circunstâncias, embora ele
considerasse isso como algo não-realista, porquanto nem todos recebem o dom
para viverem como celibatários.
7:28: Mas, se te casares, não pecaste; e, se a virgem se casar, não
pecou. Todavia estes padecerão tribulação na carne e eu quisera poupar-vos.
Paulo Responde Aos Objetores
1. Os celibatários se julgavam elementos super-espirituais e
autoridades
religiosas no seio da igreja. Requeriam exigências impossíveis, baseadas
sobre teorias absurdas.
2. Paulo responde como segue: a. O celibato se limita àqueles que foram
dotados para isso. Não pode nem deve ser uma prática universal, mesmo no caso
dos ministros do evangelho, b. Quem casa não comete pecado por isso; de fato, o
casamento é preferível no caso de alguns, pois, para viver com bom êxito no
estado celibatário é mister que o indivíduo tenha sido dotado para tanto. c.
Seja como for, ninguém pode impor o celibato a outrem, pela força de algum
decreto. É lamentável que a igreja dos séculos passados não tenha aprendido
essa lição.
3. Paulo poderia ter acrescentado que o celibato, verdadeiramente, não
é garantia de santidade, pois não está revestido de qualquer força espiritual inerente.
O celibato forçado leva ao desastre.
O casamento é bom (ver 0 trigésimo oitavo versículo), e não é pecado alguém
contrair matrimônio. Isso é óbvio para nós; mas o partido dos celibatários, em
Corinto, mui provavelmente apresentava o matrimônio como uma condição
«inferior», como se, para os iluminados, constituísse um pecado, visto que não
estariam seguindo a vontade de Deus conforme toda a extensão de sua iluminação.
Paulo, entretanto, negava tal coisa. O celibato poderia ser melhor, mas o
matrimônio é unja instituição divina, não havendo nele qualquer aspecto de
maldade. Outrossim, é preciso mais do que iluminação para que um crente possa
viver como «celibatário»: é preciso o «dom» para isso. Fica subentendido que
aquele que sente a necessidade de casar-se, só por isso estará mostrando que
não possui aquele «dom». Portanto, para 0 tal, o casamento é melhor do que o
celibato.
Ninguém pode inferir, pois, que casar-se é algo mau, em qualquer
sentido.
Pelo contrário, a tentativa de permanecer alguém no celibato, sem as necessárias
qualificações espirituais para tanto, pode levar o crente ao pecado. Ao assim
dizer, Paulo derrubou pela base os argumentos do partido dos celibatários, que
procuravam impingir a outros, incluindo as jovens virgens, exortando-os para
que permanecessem tais; e nesse processo até mesmo os pais dessas jovens vinham
sendo persuadidos a conservarem suas filhas como virgens.
«...eu quisera poupar-vos...» A palavra «...eu...», neste caso, é
enfática.
Do princípio ao fim Paulo reconhece quão impraticável é esse conselho
em prol do celibato, embora não possa deixar de mostrar sua preferência por esse
estado. E assim, uma vez mais, mesmo depois de haver solapado os argumentos dos
membros do partido de celibatários, acabou mostrando que ele mesmo favorecia o
celibato. Aqueles que não atingem esse estado, certamente sofrerão «...angústia na carne...», na forma de «tribulações
seculares», e não meramente na forma de ajustamentos necessários aos seus respectivos
cônjuges, o que nem sempre é fácil. Antes, sofreriam angústias porque estariam complicando sua vida, envolvendo-se
em problemas que, de outra forma, poderiam ser facilmente evitados. Por
exemplo, os casados têm responsabilidades sociais e financeiras muito maiores.
Grande parte de sua vida será consumida com o trabalho material necessário para
prover o necessário para a esposa e os filhos. Além disso, poderíamos pensar na
questão da educação dos filhos; e isso para não falar nas enfermidades, nas revoltas
dos filhos contra seus pais, o que provoca muitas tragédias e dores de coração.
Naturalmente, não interessava ao argumento de Paulo expor aqui as vantagens
dos casados, pelo que também o seu estudo é unilateral, porquanto tudo reflete
a sua própria preferência. Uma lista das bênçãos certamente poderia destacar-se
favoravelmente, devido ao contraste, com a lista de tribulações. Entretanto, a
passagem de Efé. 5:22,23 nos fornece o outro lado da moeda, onde o casamento é
descrito em suas vantagens; mas o certo é que isso não é atitude tipicamente
paulina. Lembramo-nos, naturalmente, que aquilo que Paulo dizia, dizia por
opinião, e não por «revelação». (Ver o vigésimo quinto versículo deste
capítulo). Há um bom número de intérpretes que não concorda com essas opiniões
de Paulo. Pois, dizem eles, as angústias podem incluir a ideia da angústia da
tribulação; mas Paulo parece estar falando aqui em termos mais gerais sobre as
formas de tribulação que geralmente acompanham os casais, em qualquer época da história.
Paulo parece ter atribuído ao celibato uma grande «excelência moral», e
não meramente que tal estado envolve menos «perturbações externas», sem importar
se estamos de acordo com ele ou não, e sem importar qual seja a verdade de toda
essa questão.
Fótio concordava com Paulo. Disse ele: «Mais facilmente, e com menos angústias,
poderemos suportar as tribulações se não tivermos esposas e filhos para levar
conosco, nas perseguições e outras incontáveis misérias».
«Aquele que tem esposa e filhos tem dado hóspedes à fortuna. Os filhos adoçam
os labores, mas tornam o infortúnio ainda mais amargo». (Francis Bacon).
As palavras «...e eu quisera poupar-vos...» têm provocado comentários e
pareceres os mais diversos, a saber:
1. Alguns intérpretes pensam que isso significa: Não vos entristecerei mais,
continuando a falar. Mas essa interpretação é altamente improvável.
2. Agostinho era da seguinte opinião: «Poupo-vos maiores detalhes sobre
as inconveniências do matrimônio». Essa interpretação é possível, mas não é provável.
3. Antes, o que Paulo queria era poupar os crentes das «angústias» do casamento,
procurando convencê-lo a continuarem celibatários.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo
por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 110-111.
ELABORADO: Pb.
Alessandro Silva.
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