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1° LIÇÃO 2 TRIMESTRE DE 2014 E DEU DONS AOS HOMENS


E DEU DONS AOS HOMENS
Data: 6 de Abril de 2014                     HINOS SUGERIDOS 5, 24, 239.
TEXTO ÁUREO
 “Pelo que diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens” (Ef 4.11).

VERDADE PRATICA
Os dons são dadivas divinas para igreja cumprir sua missão até que o Noivo venha busca-la.
LEITURA DIARIA
Segunda                   - I Cor 12.4               Há diversidade de dons
Terça                         - I Cor 12.20             Os dons e a unidade da Igreja
Quarta                       - I Cor 12.11             A concessão dos dons
Quinta                                   - I Cor 12.27             Membros do corpo de Cristo
Sexta                         - I Cor 12.31             Procurai com zelo os melhores dons
Sábado                     - Ef 4.12                   Os dons são para aperfeiçoar os santos
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Romanos 12.3-8; 1 Coríntios 12.4-7
Romanos 12
3 - Porque, pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não saiba mais do que convém saber, mas que saiba com temperança, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.
4 - Porque assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma operação,
5 - assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros.
6 - De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada: se é profecia, seja ela segundo a medida da fé;
7 - se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino;
8 - ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria.
1 Coríntios 12
4 - Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo.
5 - E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo.
6 - E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.
7 - Mas a manifestação do Espirito é dada a cada um para o que for útil.
INTERAÇÃO
Prezado professor, neste trimestre estuda- remos um tema extremamente relevante para os nossos dias: os dons espirituais, ministeriais e de serviço. Todas estas dádivas são concedidas peio Espírito Santo com o propósito de edificar a Igreja do Senhor. Esse tema é tão relevante para a igreja que Paulo dedica dois capítulos inteiros na Epístola aos Coríntios para tratar do assunto. Ele não queria que os irmãos fossem ignorantes a respeito dos dons (1 Co 12.1). Então estude com afinco cada lição e busque, com zelo, os melhores dons. O comentarista das lições é o pastor Elinaldo Renovato, autor de diversos livros publicados pela CPAD, líder da Assembleia de Deus em Parnamirim, RN, e professor universitário.
OBJETIVOS
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Conscientizar-se de que os dons espirituais são atuais e bíblicos.
Analisar os dons de serviço, espirituais e ministeriais.
Saber que a igreja de Corinto era problemática na administração dos dons.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Professor, para introduzir a primeira lição, reproduza o esquema abaixo. Divida a classe em três grupos e peça que, em grupo, os alunos leiam e relacionem os dons apresentados em cada uma das listas elaboradas pelo apóstolo Paulo. Peça que os alunos também digam o total de dons relacionados em cada lista.
Ia lista - 1 Coríntios 12.8-10. (Um total de nove dons)
2a lista - 1 Coríntios 12.28. (Um total de oito dons)
3a lista— 1 Coríntios 12.29,30. (Um total de sete dons)
Reúna os alunos formando um único grupo. Ouça os grupos e conclua enfatizando que todos estes dons estão disponíveis para a igreja atuai. Os dons não cessaram. Que venhamos a buscá-los com fé para a edificação do Corpo de Cristo.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
A Bíblia de Estudo Pentecostal define "dons” como “manifestações sobrenaturais concedidas da parte do Espirito Santo, e que operam através dos crentes, para o seu bem comum". Neste trimestre analisaremos os dons de Deus dispensados á Igreja para que, com graça e poder, ela proclame o Evangelho de Jesus a toda criatura. Além de auxiliar o Corpo de Cristo no exercício da grande Comissão, os dons divinos subsidiam os santos para que cheguem à unidade da fé (Ef 4.12,13).
I - OS DONS NA BÍBLIA
1. No Antigo Testamento. O Dicionário Bíblico Wycliffe mostra que há várias palavras hebraicas que significam "dádiva". A origem dessas palavras está na raiz hebraica nathan, que significa "dar". Por isso, podemos afirmar que no Antigo Testamento há vislumbres dos dons divinos concedidos a pessoas peculiares como reis, sacerdotes, profetas e outros. Todavia, os dons divinos não estavam acessíveis ao povo de Deus da Antiga Aliança como observamos no regime da Nova Aliança.
2. No Novo Testamento. O mesmo dicionário informa ainda que ao longo do Novo Testamento a palavra "dom" aparece com diferentes significados, que se relacionam ao verbo grego didomi. Este verbo representa o sentido ativo da palavra "dar" em Filipenses 4.15. Na Nova Aliança, os dons de Deus estão disponíveis para que a Igreja, em nome de Jesus, promova a libertação dos cativos, ministre a cura aos doentes e proclame a salvação do homem para a glória de Deus. 0 Novo Testamento também deixa claro que todos os crentes têm acesso direto a Deus através de Cristo Jesus e, por isso, podem receber os dons do Espirito.
3. Uma dádiva para a Igreja. A fim de sermos mais didáticos e eficientes no estudo a respeito dos dons. dividiremos este assunto em três categorias principais: Dons de Serviço, Dons Espirituais e Dons Ministeriais. Esta divisão acompanha a classificação dos dons conforme se encontra nas epístolas paulinas aos Romanos, I Coríntios e Efésios, respectivamente. Insistimos, porém, que esta classificação é apenas um recurso didático, pois quando o apóstolo expõe o assunto em suas cartas, ele não parece querer exaurir os dons em uma lista, antes, preocupa-se em exortar os irmãos a buscá-los e usá-los para encorajar, confortar e edificar a Igreja de Cristo, bem como glorificar a Deus e evangelizar o mundo.
SINOPSE DO TÓPICO (1)
Nas páginas do Novo Testamento os dons estão à disposição de todos os crentes, com o propósito de edificar a Igreja de Cristo.
II - OS DONS DE SERVIÇO, ESPIRITUAIS E MINISTERIAIS
1. Dons relacionados ao serviço cristão. Em Romanos 12 o apóstolo Paulo admoesta a igreja, lembrando-a de que o membro do Corpo de Cristo não pode se achar autossuficiente. Assim como um membro do corpo humano depende dos outros para exercer a sua função, na igreja necessitamos uns dos outros para o fortalecimento da nossa vida espiritual e comunhão em Cristo. Por isso, a categoria de dons apresentada em Romanos 12 traz a ideia da manutenção dessa comunhão dos santos, pois ao falarmos de serviços, subentende-se que quem serve está prestando um serviço para alguém. Observe os dons de serviço listados por Paulo em Romanos: Ministério (oficio diaconal), exortação (encorajamento), repartir, presidir e exercer misericórdia. Note que esses dons estão relacionados com uma ação em prol do outro, do próximo. Portanto, se você tem um dom, deve usá-lo em benefício da Igreja de Cristo na Terra.
2. Conhecendo os dons espirituais. "Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes" (I Co 12.1). Os dons listados em I Coríntios 12 são: Palavra da sabedoria; palavra da ciência; fé; curas; operação de maravilhas; profecia; discernimento de espíritos; variedades de línguas; interpretação de línguas.
Apesar de as manifestações sobrenaturais pertencerem ao mundo « espiritual, isto é. a uma categoria particular da experiência religiosa do crente, o apóstolo Paulo desejava que as igrejas, e em especial a de Corinto, conhecessem algumas considerações importantes sobre os dons espirituais. Uma característica predominante em Corinto, segundo o Comentário Bíblico Beacon (CPAD), era a vida pregressa dos membros envolvidos com idolatria. Muitas manifestações espirituais na igreja lembravam a experiência mística das religiões de mistérios. Os coríntios precisavam ser ensinados de forma correta sobre a existência dos dons e de sua utilização dentro do culto e fora dele. Por isso, à luz da Palavra de Deus, devemos ensinar a respeito dos dons espirituais para que a igreja seja edificada. A Bíblia traz os ensinos corretos sobre o uso dos dons, e se há distorções nessa esfera, estas acontecem por algumas igrejas não ensinarem de forma correta o que a Bíblia diz, e isso contribui para o surgimento do fanatismo religioso, da corrupção doutrinária dos movimentos estranhos e de muitas heresias. Portanto, o ensino correto das Escrituras nos orienta sobre a forma adequada da utilização dos dons e previne o surgimento de práticas condenáveis no culto.
3. Acerca dos dons ministeriais. A Epístola de Paulo aos Efésios classifica os dons ministeriais assim: Apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores (4.11). Os propósitos de o Senhor concedê-los à Igreja, segundo a Bíblia de Estudo Pentecostal, são, em primeiro lugar, capacitar o povo de Deus para o serviço cristão; em segundo, promover o (crescimento da igreja local; terceiro, desenvolver a vida espiritual dos discípulos de Jesus (4.12-16). O Senhor deu a sua Igreja ministros para servi-la com zelo e amor (1 Pe 5.2,3).
O ensino do Novo Testamento acerca do exercício ministerial está ligado a concepção evangélica de serviço (Mt 20.20-28; Jo I3.I-II), jamais à perspectiva centralizadora e sacerdotal do Antigo Testamento.
SINOPSE DO TÓPICO (2)
Nenhum membro do corpo de Cristo é autossuficiente, dependemos de Cristo, assim como dependemos uns dos outros. Para que a Igreja, o corpo de Cristo, seja edificada pelos dons ministeriais é necessário que eles sejam utilizados para o benefício de todos.
III - CORINTO: UMA IGREJA PROBLEMÁTICA NA ADMINISTRAÇÃO DOS DONS ESPIRITUAIS (1 Co 12.1-11)
1. Os dons são importantes. Um argumento utilizado pelos sensacionistas (pessoas que defendem a errônea ideia de que os dons espirituais cessaram no primeiro século), é que os crentes pentecostais tendem a se achar superiores uns aos outros por terem algum dom. Lamentavelmente, isto é verdade em muitos lugares. Entretanto, o apóstolo Paulo faz questão de tratar desse assunto com os crentes de Corinto que estavam supervalorizando alguns dons em detrimento de outros. Precisamos resgatar a noção de serviço que Jesus Cristo ensinou nos Evangelhos, pois todos os dons vêm diretamente de Deus para melhor servirmos à igreja de Cristo.
2. Diversidade dos dons. O que mais nos chama a atenção na lista de dons apresentada por Paulo em 1 Coríntios 12 não são os nove dons, mas a diversidade deles. Isto denota a unidade da Igreja de Cristo, mas simultaneamente a sua multiplicidade. O Comentário Bíblico PentecostaI Novo Testamento tem razão quando fala que "talvez Paulo tenha selecionado estes noves dons por serem adequados à situação que havia em Corinto", pois se compararmos a lista de 1 Coríntios com Romanos e também Efésios, veremos que outros dons são relacionados de acordo com as necessidades de cada igreja local.
3. Autossuficiência e humildade. Os dons espirituais são concedidos aos crentes pela graça de Deus, e não por méritos pessoais (Rm 12.6; I Pe 4.10). Não podemos orgulhar-nos e portar-nos de modo arrogante e autoritário no exercício dos dons, mas com humildade e temor a Deus. Portanto, não use o dom que Deus lhe deu com orgulho, visando à exaltação pessoal. Isto é pecado contra o Senhor e contra a Igreja! Use-o com um coração sincero e transbordante de amor pelo próximo (1 Co 13). Não foi por acaso que o capitulo 13 (Amor) de 1 Coríntios foi colocada entre o 12 (dons) e o do 14 (língua e profecia).
SINOPSE DO TÓPICO (3)
Não existe um dom mais importante que o outro, todos vêm diretamente de Deus e são úteis para a edificação do Corpo de Cristo,
CONCLUSÃO
O estudo dos dons de Deus aos homens é amplo e nos apresenta recursos pelos quais podemos servir ao Senhor e a sua Igreja. Esses dons são para os nossos dias, pois não há na Bíblia nenhum versículo que diga que os dons espirituais deixaram de existir com a morte do último apóstolo. Portanto, busquemos os dons do Espirito Santo, pois estão à nossa disposição. Eles são um exemplo da multiforme graça de Deus em dispensar instrumentos espirituais para a Igreja na história.
AUXILIO BIBLIOLÓGICO I
Subsídio Teológico
“[Dons espirituais]
Os dons espirituais, que são pela graça, mediante a fé encontra-se na palavra grega mais usada para descrevê-los: charismata, É dons livre e graciosamente concedidos’, palavra esta que se deriva de charis, graça, o imerecido favor divino. Os carismas são dons que merecemos sem os merecermos. Dão testemunho da bondade de Deus, e não da virtude de quem os receberam.
Uma das falácias que frequentemente engana as pessoas é a ideia de como Deus abençoa ou usa alguém; isso significa que Ele aprova tudo o que a pessoa faz ou ensina. Mesmo quando parece haver uma ‘unção’, não há garantia disso. Quando Apoio chegou a Éfeso pela primeira vez, não somente era eloquente em sua pregação; era também ‘fervoroso de espírito’. Tinha o fogo, Mas Priscila e Áquila perceberam que faltava algo. Logo, o levaram (provavelmente, para casa, a fim de participar de uma refeição), e lhe explicaram com mais exatidão o caminho de Deus (At 18.25,26).
Era, pois o caminho de Deus a respeito dos dons espirituais, que Paulo, como um pai, desejava explicar com mais exatidão aos coríntios. A esses dons ele dá o nome de ‘espirituais5 em 1 Coríntios 12.1 (a palavra dom não se encontra no grego). A palavra, por si mesma, inclui algo dirigido pelo Espírito Santo [...] ” (HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. 1 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 225).
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO II
Subsídio Teológico
“Os dons são dados, de fato, com a intenção divina de que todos recebam proveito deles (1 Co 12.7). Isso não significa que todos têm um dom específico, mas há dons (manifestações, revelações, meios pelos quais o Espírito se torna conhecido) que são dados (continuamente) para o que for útil (proveitoso, para crescimento). ‘Útil’ significa algo que ajuda, especialmente na edificação da Igreja, tanto espiritualmente como em número de membros. (O Livro de Atos tem um tema de crescimento numérico e geográfico. Deus quer que o Evangelho seja divulgado em todo o mundo). Pode ser ilustrado pelo mandamento do Senhor: ‘Negociai até que eu venha’ (Lc 19.13). Ao partirmos para o ministério dos seus dons, Ele nos ajuda a crescer na eficiência e na eficácia, assim como fizeram os que usaram devidamente o que o Senhor lhes deu, na Parábola das Dez Minas (Lc 19.15-19)” (HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. 12.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, pp. 229,30).
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. 12. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
EXERCÍCIOS
1. De acordo com a lição, no Antigo Testamento os dons divinos eram concedidos a quem?
R: Reis, sacerdotes e profetas.
2. No Novo Testamento os dons espirituais estão disponíveis a todos?
R: Sim. Eles estão disponíveis para todos os membros do Corpo de Cristo.
3. Cite, de acordo com a lição, as três principais categorias de dons.
R: Dons de Serviço, Dons Espirituais e Dons Ministeriais.
4. Relacione os dons citados em 1 Coríntios 12.8-10.
R: Palavra de sabedoria, palavra da ciência, fé, dons de curar, operação de maravilhas, profecia, dom de discernir espíritos, variedade de línguas e interpretação de línguas.
5, Os dons espirituais podem ser concedidos aos crentes hoje?
R: Sim.
Revista Ensinador Cristão CPAD, n° 58, p.36.
Neste trimestre, estudaremos sobre os dons ministeriais e espirituais. Depois da morte e ressurreição de Cristo, acreditamos que os dons são um dos assuntos mais relevantes do Novo Testamento para a Igreja de Cristo. Os dons espirituais e ministeriais são dádivas divinas para a Igreja atual. Alguns erroneamente afirmam que os dons foram apenas para a igreja do primeiro século. Esta afirmação contraria a Bíblia, que diz em Joel 2.28 " E há de ser, depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, vossos filhos e filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões". Os dons são para a Igreja de Cristo até a sua Segunda Vinda. O apóstolo Paulo declarou aos coríntios que não devemos ser ignorantes a respeito dos dons (1Co 12.1).
Na Palavra de Deus, encontramos três listas principais que tratam a respeito dos dons. As três listas se completam. Podemos encontrar a primeira lista em Romanos 12.4-8. Aqui estão relacionados os dons de serviço. A segunda lista está em 1 Coríntios 12 e nela encontramos listados os dons espirituais. A terceira relação se encontra em Efésios 4.11, onde encontramos os dons ministeriais. Tanto os dons de serviço quanto os ministeriais e espirituais têm como propósito a edificação do Corpo de Cristo.
Usando os dons de maneira a agradar a Deus
Os dons devem ser utilizados com um propósito específico, a fim de que o nome de Cristo seja glorificado. Quem deseja os dons necessita compreender que toda a nossa capacidade e habilidade vem do Senhor. É uma capacidade sobrenatural, não é inata. Estas habilidades são resultado único da graça divina em nossas vidas.
No uso dos dons, o crente também precisa conscientizar-se de que o Corpo de Cristo é formado por vários membros, com funções diferentes, mas isso não significa que um é mais importante que o outro. Todos têm o seu valor e devem funcionar em harmonia, visando o bem de todos. Não existe um dom que seja superior aos outros, eles se complementam para a glória do Senhor.
Não seja ignorante quanto aos dons espirituais

Os dons é um assunto tão importante para a igreja, que Paulo exorta aos Coríntios a que todos sejam instruídos no assunto (1Co 12.1). A falta de conhecimento leva ao fanatismo, gerando sérios problemas. A cidade de Corinto era marcada pela idolatria. O Brasil também tem uma diversidade religiosa grande, muitos irmãos em nossas igrejas vieram de religiões idólatras, onde o uso de "poderes místicos" é comum. Precisamos estudar, à luz da Palavra, a respeito dos dons a fim de que venhamos discernir os verdadeiros dons do Espírito. A falta de ensino contribui para surgimento de muitas heresias.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Deus, o Criador de todas as coisas, do universo, dos seres vivos e do homem, compraz-se em ser um doador de bênçãos. Faz parte de sua natureza divina, do seu caráter e de sua essência, conceder dádivas ou dons ao ser criado à sua imagem, conforme a sua semelhança. Ao criar o ser humano, homem e mulher, deu-lhes o sopro divino, o primeiro dom, o dom da vida. Não apenas a vida biológica, mas a vida espiritual, a vida eterna, com a qual o homem poderia desfrutar para sempre da gloriosa presença do Criador, sem sofrer os males decorrentes do pecado.
A Queda foi a tragédia de dimensão espiritual, humana e cósmica. O homem não soube aproveitar a grande dádiva da existência e da vida, propiciada pelo Ser Supremo. E desperdiçou a grande oportunidade de viver com Deus, no paraíso, que se estenderia por todo o planeta, num ambiente plenamente adequado para uma vida especial. Perdeu a vida eterna, restando-lhe o dom da vida na dimensão biológica, sujeito às fraquezas e desordens naturais.
Mas Deus provou que tem um plano especial para o homem, na face da Terra. E propiciou a redenção da humanidade, com a promessa da “semente da mulher” (Gn 3.15), que haveria de ferir a cabeça da serpente, o Diabo e seus seguidores. Jesus, a maior dádiva de Deus à humanidade, nasceria de uma mulher (cf. Is 7.14), para ser morto, em sacrifício pelo homem perdido, e tornar-se o vencedor do pecado, da morte e do Diabo. A salvação foi o maior dom de Deus ao mundo (Jo 3.16). O dom da vida eterna, em Cristo Jesus.
No plano de Deus para o planeta Terra, Ele previu a formação de um povo especial, que deveria representar os interesses do seu Reino. Foi o povo de Israel (Ex 19.3-6).
O Senhor deu a Israel todas às condições para ser um “reino sacerdotal e povo santo”. Mas Israel não entendeu os sublimes propósitos de Deus para sua história. Ao longo de séculos, alternou-se em servir a Deus e a desobedecer a sua vontade. Bênçãos e castigos fazem parte de sua história. Culminando em sua rejeição por um tempo, para que Deus escolhesse outro povo para servir aos interesses dos céus no universo. Esse povo é a Igreja de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Cumprindo a promessa feita no Éden, de redenção da humanidade, Jesus veio ao mundo, no tempo de Deus (kairós), “na plenitude dos tempos” (G1 4.4), para congregar a sua igreja, como “... um povo seu especial, zeloso de boas obras” (Tt 2.14).
Na Antiga Aliança, Deus concedeu a Israel líderes extraordinários para guiá-los como povo eleito. Alguns tinham dons especiais, como Moisés, Arão, Miriã, Josué; outros eram profetas ou mensageiros, que tinham dons especiais, concedidos por Deus para a operação de sinais e maravilhas. Mas aqueles dons não estavam à disposição de toda a comunidade. Moisés fazia sinais ante Faraó, e o povo apenas tomava conhecimento e era beneficiário dos milagres de Deus. Eliseu fazia sinais, multiplicando o azeite da viúva; ou tornando doces as águas estéreis (2 Rs 3.20-22), e o povo era apenas espectador, ou nem tomava conhecimento de tais maravilhas.
Entretanto, na Nova Aliança (Novo Testamento), como parte do plano de Deus, em Cristo Jesus, Ele resolveu dar “dons aos homens” (Ef 4.8), após sua vitória sobre a morte e sobre todos os poderes do mal. Indo além dos “dons naturais”, Jesus resolveu capacitar seus servos, integrantes de sua Igreja, dando-lhes dons {carismas), que são postos à disposição de todos os salvos, no seio da comunidade cristã.
Os dons são “ferramentas”, por assim dizer, à disposição da igreja, para que essa exerça sua missão profética, de proclamadora do evangelho de Cristo, de modo eficaz, contra “...os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6.12), usando a “armadura do salvo”, na guerra espiritual sem tréguas a que todo salvo é submetido. Neste estudo, veremos o que são os dons, seu propósito e sua classificação, e como são postos à disposição dos salvos em Cristo Jesus.
Nunca foi tão necessária a manifestação dos dons do Espírito Santo, como nos dias atuais visto que estamos vivendo numa sociedade corrompida pelo pecado e enganada por falsos milagres e ensinamentos que contradizem o verdadeiro evangelho de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Existe em toda a Bíblia Sagrada pelo menos quatorze palavras para referir-se a dons, cinco delas em hebraico e nove em grego. Porém o apóstolo Paulo emprega a palavra charisma, para indicar os dons do Espírito Santo, as suas graças, gratuitamente conferidas para a obra do ministério (1 Co 12.4,9,28,30,31). A Palavra Charisma é usada por dezessete vezes no Novo Testamento, com certas variedades de aplicação.
As habilidades dadas a cada pessoa pelo Espírito Santo são chamadas de dons espirituais. E capacita a quem os recebe para ministrar às necessidades principalmente do Corpo de Cristo que é a Igreja. Nesta análise, de natureza introdutória, chamamos de “dons de Deus” a todos os carismas concedidos por Deus, de diversas formas, como recursos de origem divina, que têm o propósito de capacitar os salvos em Cristo Jesus, como membros da Igreja, para que esta alcance sua Missão e seus objetivos, definidos pelo seu Senhor, Cabeça e Mestre.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 9-11.
DONS ESPIRITUAIS PARA O CRENTE
1Co 12.7 “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil”.
PERSPECTIVA GERAL. Uma das maneiras do Espírito Santo manifestar-se é através de uma variedade de dons espirituais concedidos aos crentes (12.7-11). Essas manifestações do Espírito visam à edificação e à santificação da igreja (12.7; ver 14.26 nota). Esses dons e ministérios não são os mesmos de Rm 12.6-8 e Ef 4.11, mediante os quais o crente recebe poder e capacidade para servir na igreja de modo mais permanente. A lista em 12.8-10 não é completa. Os dons aí tratados podem operar em conjunto, de diferentes maneiras.
(1) As manifestações do Espírito dão-se de acordo com a vontade do Espírito (12.11), ao surgir a necessidade, e também conforme o anelo do crente na busca dos dons (12.31; 14.1).
(2) Certos dons podem operar num crente de modo regular, e um crente pode receber mais de um dom para atendimento de necessidades específicas. O crente deve desejar “dons”, e não apenas um dom (12.31; 14.1).
(3) É anticíclico e insensato se pensar que quem tem um dom de operação exteriorizada (mais visível) é mais espiritual do que quem tem dons de operação mais interiorizada, i.e., menos visível.
Também, quando uma pessoa possui um dom espiritual, isso não significa que Deus aprova tudo quanto ela faz ou ensina. Não se deve confundir dons do Espírito, com o fruto do Espírito, o qual se relaciona mais diretamente com o caráter e a santificação do crente (Gl 5.22,23).
(4) Satanás pode imitar a manifestação dos dons do Espírito, ou falsos crentes disfarçados como servos de Cristo podem fazer o mesmo (Mt 7.21-23; 24.11, 24; 2Co 11.13-15; 2Ts 2.8-10). O crente não deve dar crédito a qualquer manifestação espiritual, mas deve “provar se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1Jo 4.1; cf. 1Ts 5.20,21; ver o estudo PROVAS DO GENUÍNO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO).
OS DONS ESPIRITUAIS. Em 1Co 12.8-10, o apóstolo Paulo apresenta uma diversidade de dons que o Espírito Santo concede aos crentes. Nesta passagem, ele não descreve as características desses dons, mas noutros trechos das Escrituras temos ensino sobre os mesmos.
(1) Dom da Palavra da Sabedoria (12.8). Trata-se de uma mensagem vocal sábia, enunciada mediante a operação sobrenatural do Espírito Santo. Tal mensagem aplica a revelação da Palavra de Deus ou a sabedoria do Espírito Santo a uma situação ou problema específico (At 6.10; 15.13-22).
Não se trata aqui da sabedoria comum de Deus, para o viver diário, que se obtém pelo diligente estudo e meditação nas coisas de Deus e na sua Palavra, e pela oração (Tg 1.5,6).
(2) Dom da Palavra do Conhecimento (12.8). Trata-se de uma mensagem vocal, inspirada pelo Espírito Santo, revelando conhecimento a respeito de pessoas, de circunstâncias, ou de verdades bíblicas. Frequentemente, este dom tem estreito relacionamento com o de profecia (At 5.1-10; 1Co 14.24,25).
(3) Dom da Fé (12.9). Não se trata da fé para salvação, mas de uma fé sobrenatural especial, comunicada pelo Espírito Santo, capacitando o crente a crer em Deus para a realização de coisas extraordinárias e milagrosas. É a fé que remove montanhas (13.2) e que frequentemente opera em conjunto com outras manifestações do Espírito, tais como as curas e os milagres (ver Mt 17.20, nota sobre a fé verdadeira; Mc 11.22-24; Lc 17.6).
(4) Dons de Curas (12.9). Esses dons são concedidos à igreja para a restauração da saúde física, por meios divinos e sobrenaturais (Mt 4.23-25; 10.1; At 3.6-8; 4.30). O plural (“dons”) indica curas de diferentes enfermidades e sugere que cada ato de cura vem de um dom especial de Deus. Os dons de curas não são concedidos a todos os membros do corpo de Cristo (cf. 12.11,30), todavia, todos eles podem orar pelos enfermos. Havendo fé, os enfermos serão curados (ver o estudo A CURA DIVINA). Pode também haver cura em obediência ao ensino bíblico de Tg 5.14-16 (ver Tg 5.15 notas).
(5) Dom de Operação de Milagres (12.10). Trata-se de atos sobrenaturais de poder, que intervêm nas leis da natureza. Incluem atos divinos em que se manifesta o reino de Deus contra Satanás e os espíritos malignos (ver Jo 6.2 nota; ver o estudo O REINO DE DEUS).
(6) Dom de Profecia (12.10). É preciso distinguir a profecia aqui mencionada, como manifestação momentânea do Espírito da profecia como dom ministerial na igreja, mencionado em Ef 4.11. Como dom de ministério, a profecia é concedida a apenas alguns crentes, os quais servem na igreja como ministros profetas (ver o estudo DONS MINISTERIAIS PARA A IGREJA). Como manifestação do Espírito, a profecia está potencialmente disponível a todo cristão cheio dEle (At 2.16-18).
Quanto à profecia, como manifestação do Espírito, observe o seguinte: (a) Trata-se de um dom que capacita o crente a transmitir uma palavra ou revelação diretamente de Deus, sob o impulso do Espírito Santo (14.24,25, 29-31). Aqui, não se trata da entrega de sermão previamente preparado.
(b) Tanto no AT, como no NT, profetizar não é primariamente predizer o futuro, mas proclamar a vontade de Deus e exortar e levar o seu povo à retidão, à fidelidade e à paciência (14.3; ver o estudo O PROFETA NO ANTIGO TESTAMENTO). (c) A mensagem profética pode desmascarar a condição do coração de uma pessoa (14.25), ou prover edificação, exortação, consolo, advertência e julgamento (14.3, 25,26, 31). (d) A igreja não deve ter como infalível toda profecia deste tipo, porque muitos falsos profetas estarão na igreja (1Jo 4.1). Daí, toda profecia deve ser julgada quanto à sua autenticidade e conteúdo (14.29, 32; 1Ts 5.20,21). Ela deverá enquadrar-se na Palavra de Deus (1Jo 4.1), contribuir para a santidade de vida dos ouvintes e ser transmitida por alguém que de fato vive submisso e obediente a Cristo (12.3). (e) O dom de profecia manifesta-se segundo a vontade de Deus e não a do homem. Não há no NT um só texto mostrando que a igreja de então buscava revelação ou orientação através dos profetas. A mensagem profética ocorria na igreja somente quando Deus tomava o profeta para isso (12.11).
(7) Dom de Discernimento de Espíritos (12.10). Trata-se de uma dotação especial dada pelo Espírito, para o portador do dom discernir e julgar corretamente as profecias e distinguir se uma mensagem provém do Espírito Santo ou não (ver 14.29 nota; 1Jo 4.1). No fim dos tempos, quando os falsos mestres (ver Mt 24.5 nota) e a distorção do cristianismo bíblico aumentarão muito (ver 1Tm 4.1 nota), esse dom espiritual será extremamente importante para a igreja.
(8) Dom de Variedades de Línguas (12.10). No tocante às “línguas” (gr. glossa, que significa língua) como manifestação sobrenatural do Espírito, notemos os seguintes fatos: (a) Essas línguas podem ser humanas e vivas (At 2.4-6), ou uma língua desconhecida na terra, e.g., “línguas... dos anjos” (13.1; ver cap. 14 notas; ver também o estudo O FALAR EM LÍNGUAS). A língua falada através deste dom não é aprendida, e quase sempre não é entendida, tanto por quem fala (14.14), como pelos ouvintes (14.16). (b) O falar noutras línguas como dom abrange o espírito do homem e o Espírito de Deus, que entrando em mútua comunhão, faculta ao crente a comunicação direta com Deus (i.e., na oração, no louvor, no bendizer e na ação de graças), expressando-se através do espírito mais do que da mente (14.2, 14) e orando por si mesmo ou pelo próximo sob a influência direta do Espírito Santo, à parte da atividade da mente (cf. 14.2, 15, 28; Jd 20). (c) Línguas estranhas faladas no culto devem ser seguidas de sua interpretação, também pelo Espírito, para que a congregação conheça o conteúdo e o significado da mensagem (14.3, 27,28). Ela pode conter revelação, advertência, profecia ou ensino para a igreja (cf. 14.6). (d) Deve haver ordem quanto ao falar em línguas em voz alta durante o culto. Quem fala em línguas pelo Espírito, nunca fica em “êxtase” ou “fora de controle” (14.27,28; ver o estudo O FALAR EM LÍNGUAS).
(9) Dom de Interpretação de Línguas (12.10). Trata-se da capacidade concedida pelo Espírito Santo, para o portador deste dom compreender e transmitir o significado de uma mensagem dada em línguas. Tal mensagem interpretada para a igreja reunida, pode conter ensino sobre a adoração e a oração, ou pode ser uma profecia. Toda a congregação pode assim desfrutar dessa revelação vinda do Espírito Santo. A interpretação de uma mensagem em línguas pode ser um meio de edificação da congregação inteira, pois toda ela recebe a mensagem (14.6, 13, 26). A interpretação pode vir através de quem deu a mensagem em línguas, ou de outra pessoa. Quem fala em línguas deve orar para que possa interpretá-las (14.13).
STAMPIS. Donald C. (Ed) Bíblia de Estudo Pentecostal: Antigo e Novo testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
I OS DONS NA BÍBLIA
1. No Antigo Testamento.
A palavra “dom” tem vários significados no texto bíblico. No Antigo Testamento, escrito em hebraico, há várias palavras que traduzem o sentido de “dom”. Dentre elas, destacamos os termos mattan, com o sentido de alguma coisa oferecida gratuitamente, ou “um presente”, como em Provérbios 19.6; 21.14; ou como dote, dádiva (Gn 34.12). Há o termo maseth, que também significa “presente”, “dádiva” (Et 2.18; Jr 40.5); a mais usada, no entanto, é minchach, que ocorre duzentas e nove vezes, com o significado de “oferta”, “presente” (SI 45.12; 72.10). Em todas as ocorrências, o sentido é sempre o de algo que é dado ou oferecido gratuitamente. No Antigo Testamento, os dons eram concedidos a pessoas específicas, chamadas por Deus para cumprir determinadas missões. Os dons não estavam à disposição de todo o povo de Deus.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 11-12.
DOM Diversas palavras com o significado básico de "dádiva" vêm da raiz hebraica nathan significando "dar". Elas são usadas com relação a dotes (Gn 24.53; 34.12); a parte de uma herança (Gn 25.6; 2 Cr 21.3); uma oferta religiosa sacrificial (Nm 18.11); um incentivo para se obter o favor de outra pessoa (Pv 18.16; 21.14) e um suborno (Pv 15.27; Ec 7.7). A assistência pecuniária (Et 2.18) e um presente dado em sinal de respeito (2 Sm 19.42) são derivados da raiz hebraica nasa, que quer dizer "angariar". E traduzida como "imposto" e "oferta" em 2 Crónicas 24.6,9. Em 2 Samuel 11.8 é traduzida como "iguaria" ou "presente". A palavra hebraica minha é usada quando se trata de uma oblação (2 Sm 8.2,6; 1 Cr 18.2,6); shohad sempre quer dizer um suborno, um presente com o objetivo de escapar de uma punição (Êx 23.8; Dt 10.17). As palavras gregas no Novo Testamento se estão relacionadas ao verbo didomi: dosis pode ser usada com um sentido ativo de "dar" (Fp 4.15) ou com um sentido passivo de "dádiva" (Tg 1.17); doron é usada especificamente para "presente", "dádiva" ou "oferta" (Mt 2.11), embora nem sempre necessariamente voluntário; dorea denota um presente (Rm 3.24). O presente supremo de Deus para a humanidade é o seu Filho (2 Cr 9.15; Jo 3.16). O Espírito Santo é o presente prometido do Pai, enviado pelo Filho, que deve ser recebido com uma fé ativa pelos cristãos fiéis (Jo 14.16,26; 15.26; 16.7; At 1.4,5; 2.33,38,39; Gl 3.14). Os dons espirituais manifestam-se por meio do Espírito (1 Cr 12.1-11). Veja Dons Espirituais.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 581.
DOM
ESBOÇO
I. PALAVRAS ENVOLVIDAS
II. A ATIVIDADE E A ATITUDE DE QUEM DÁ
III. OS DONS DIVINOS
IV. O REFLEXO HUMANO
I PALAVRAS ENVOLVIDAS.
A tradução dom envolve um grande número de palavras hebraicas e gregas:
1. Mattan, palavra hebraica usada por cinco vezes: Gên. 34:12; Núm. 18:11; Pro. 18:11: 19:6: 21:14. Esse termo, e seus derivados, dão a entender algo oferecido gratuitamente (Pro. 19:6), a obtenção de um favor (Pro. 18:16; 21:14), a expressão religiosa de ação de graças (Núm, 18:11), um dote (GSn. 34:12), a possessão de uma herança (Gên. 25:6; H Crô. 21:3: Eze. 46:16,17) ou mesmo um suborno (Pro. 15:27; Bel. 7:7).
2. Nisseth, «dom", «coisa elevada... Essa palavra hebraica é usada por apenas uma vez, em 11 Sam.. 19:42.
3. Maseth, «íom-, «peso», «elevação". Palavra hebraica usada por apenas duas vezes com o sentido de dom: Est. 2:18 e Jer. 40:5.
4. Shochaâ, «suborno», «recempensa». Palavra hebraica empregada por vinte e três vezes, como em Êxo. 23:8; Deu. 16:19; 11 oe, 19:7; Pro. 6:35; 17:8,23; Isa. 1:23; Eze. 22:12.
5. Minchah, «oferta .., «presente". Palavra hebraica usada por duzentas e nove vezes, embora apenas por trinta e cinco vezes com o sentido de «dom" ou «presente». Por exemplo: II Sam. 8:2,6; I Crô. 18:2,6; II Crô. 26:8; 32:23; Sal. 45:12; Gên, 32:13,18,20,21; 33:10; Jui. 3:15,17,18; I Sam. 10:27: I Reis 4:21; II Reis 8:.8,9; 11 c-e. 9:24; Sal. 72:10; Isa. 39:1: Osê,N10:6.
6: Dldomi, «dar», que aparece por quatrocentas e treze vezes no Novo Testamento, em todas as conexões imagináveis, algumas vezes com a ideia de dar.um presente qualquer e outras vezes, sem esse sentido. Ver Mat. 4:9; 5:31; Mar. 2:26; Luc. 1:32: João 1:12; Rom. 4:20: I Cor. 1:4; Efé. 1:17: Heb. 2:13: Tia. 1:5; I João 3:23,24; Apo. 1:1; 2:7,10,17; 8:2; 9:1, etc.
7. Anéthama, «algo devotado a Deus». Palavra grega usada por sete vezes: Luc, 21:5: Atos 23:14; Rom. 9:3; I Cor. 12:3: 16:22; ou, 1:8,9.
8. Doma, «presente», que indica algum presente sagrado ou profano. Vocábulo grego utiliza-o por cinco vezes: Mat. 7:11: Luc. 11:13; Efé. 4:8 (Citando Sal. 68:19); Fil. 4:17.
9. Dôsis, «dom», indicando os múltiplos dons de Deus, dados a todos, uma palavra grega usada por duas vezes: Fil. 4:15 e Tia. 1:17.
10. Dorea, que indica dons ou presentes de vários tipos, sagrados ou profanos. Palavra usada por onze vezes: João 4:10; Atos 2:38; 8:20; 10:45; Rom. 5:15,17; H Cor. 9:15; Efé. 3:7; 4:7; Heb. 6:4.
11. Dorema, uma palavra geral para «dom", usada em Rom. 5:16 e Tia. 1:17.
12. Merismôs, «dom.., embora essa palavra derive-se da ideia de dividir. Usada por duas vezes: Heb. 2:4 e 4:12.
13. Cháns, palavra que também significa graça, mas que pode ter a ideia de «dom gratuito". Usada por uma vez, em H Cor. 8:4, para indicar ofertas enviadas para aliviar as necessidades dos santos.
14. Charism«, palavra para indicar os dons do Espírito, as suas graças gratuitamente conferidas, para a obra do ministério (I Cor. 12:4,9,28,30,31).
Além disso, enfoca o dom da graça de Deus, que nos traz a salvação (Rom, 5-:15,16). Essa palavra é usada por dezessete vezes no Novo Testamento, com certa variedade de aplicações. Ver também Rom, 1:11; 6:23; 11:29; 12:6; I Cor. 1:7; 7:7; II Cor. 1:11: I Tim. 4:14; 11 Tim. 1:6; I Ped. 4:10. Essa palavra é usada principalmente para indicar alguma espécie de dom espiritual ou divino.
II ATIVIDADE E ATITUDE DE QUEM DÁ.
Nas antigas sociedades neoliticas e da era do bronze, conforme somos informados através das evidências arqueológicas, a outorga de presentes era uma prática comum. As razões para a doação de presentes eram variadas e isso é refletido nas palavras hebraicas examinadas acima. Membros de uma família se presenteavam mutuamente como sinal de estima e amor. Esses presentes eram conferidos em ocasiões especiais, como por ocasião dos noivados, dos casamentos, de nascimentos e de morte. Também havia presentes dados a superiores, com a finalidade de agradar e esses presentes, algumas vezes, assumiam a natureza de suborno ou peita, quando algum favor especial era buscado, ou quando se esperava evitar que algum castigo fosse aplicado. A adoração religiosa requeria doações da parte dos participantes, a fim de que pudesse ser mantido o culto.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 2. Editora Hagnos. pag. 211-212.
2. No Novo Testamento.
No Novo Testamento, escrito em grego, a palavra “dom” assume de igual modo significados diversos. O termo “doma” indica a oferta de um “presente”, “boa coisa” (Mt 7.11); o “pão nosso” é uma dádiva de Deus (Lc 11.13); “dons”, concedidos por Deus aos homens (Ef 4.8), com base no Salmo 68.19. A palavra cháris indica “dom gratuito”, ou “graça” (2 Co 8.4). O termo charisma é muito utilizado em estudos bíblicos, pois tem o significado de “dons do Espírito”, concedidos pela graça de Deus, com propósitos muito elevados; é relacionado ao termo ta charismata, utilizado em 1 Coríntios 12.4,9,28,30,31, que tem o sentido de “dons da graça”. Há o termo grego ta pneumática, usado por Paulo, em 1 Coríntios 12.1; 14.1, que se refere a “dons espirituais”. Em o Novo Testamento, os dons de Deus estão à disposição de todos os que creem, com a finalidade de promover graça, poder e unção à Igreja no exercício de sua missão, de forma que Cristo seja glorificado.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 12.
Fil 4. 15.Paulo aparentemente está lembrando seus amigos filipenses de que eles ocupavam um lugar único em suas atividades missionárias: nenhuma igreja se associou (gr. ekoinõnèsen), isto é, na obra do evangelho, comigo (Seesemann, op. cit., p. 33) no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros.
Fica clara a intenção de Paulo de selecionar a igreja filipense como sendo a comunidade que ocupava lugar especial em seu afeto e estima. Ele estava pronto para receber donativos (não necessariamente em dinheiro: possivelmente outros itens estariam incluídos). Contudo, a menos que a frase dar e receber seja uma expressão idiomática, não se devendo conferir-lhe um sentido estrito, parece que havia uma transação mútua, de duas mãos, entre igreja e apóstolo. Os filipenses deram e eles também receberam, presumivelmente bens espirituais, da parte de Paulo (como em 1 Co 9:11; cf. Rm 15:27). Eles haviam sustentado Paulo em seus labores apostólicos, desde o começo. Até mesmo antes de ele deixar a Macedonia, os filipenses estavam envolvidos em seu duplo ministério. De 2 Coríntios 11:8; 12:13 se vê que outras igrejas enviaram ajuda ao apóstolo, não sendo, pois, o sustento material dos filipenses a Paulo, que os colocou numa situação privilegiada. O que marcou o relacionamento de Paulo com os filipenses foi que eles deram e receberam e, além disso, podemos presumir, não levantaram objeções como as que Paulo encontrou em Corinto, em razão das quais ele determinou que não receberia pagamento pelo seu ministério ali.
LOPES. Hernandes Dias. Filipenses. Editora Hagnos. pag. 180-181.
Fp 4.15 - Dar e receber. Paulo considerava a relação entre ele e os filipenses como uma via de mão dupla, com ambas as partes ativamente envolvidas no sentido de partilhar tanto dádivas materiais como espirituais.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Novo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 536.
3. Uma dadiva para a Igreja.
Rm 12. 6. Tendo, porem, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada- Os dons são vários; a graça é um só (Se profecia Ela, considerada um dom extraordinário, é o dom pelo qual os mistérios celestiais são declarados aos homens ou coisas do porvir são preditas. Mas aqui parece significar o dom comum de expor as Escrituras. Profetizamos segundo a analogia da fé. Pedro o expressa assim: de acordo com os oráculos de Deus'';(1Pe 4.11) segundo o teor geral deles; de acordo com o grande sistema de doutrina que é apresentado neles, no tocante ao pecado original, justificação pela fé e presente, intima salvação. Há uma maravilhosa analogia entre todos eles; e uma vez por todas foi entregue aos Santos.''(Judas3)Cada artigo (de doutrinal), portanto, no tocante a qualquer questão, deve ser decidido segundo esta regra; toda a escritura em dúvida (deve ser interpretada de acordo com as grandes verdades que perpassem o todo.
Rm 12. 7. Se ministério - Como diáconos. Se ensino Catecúmenos; para os quais  Instrutores particulares eram nomeados. Se exortação- Cuja responsabilidade particular era incentivar os cristãos ao serviço e ao conforta-los nas suas tribulações.
Rm 12. 8. O que preside- Aquele que cuida do rebanho. Quem exerce misericórdia De todas as maneiras. Com alegria- Regozijando-se quem tem tal oportunidade.
Wesley, John. Romanos: notas explicativas. Editora Cedro. pag. 89-90.
Portanto, o apóstolo prossegue: De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada (cf. v. 3): se é profecia, seja ela segundo a medida da fé (6). A palavra dons (charismata) apareceu diversas vezes, com diferentes significados (1.11; 5.15; 6.23; 11.29); “Aqui ela significa uma atualização, uma expressão prática, da graça Ccharis) de Deus, sob a qual a igreja permanece. Neste sentido toda a vida da igreja, e não apenas o seu ministério, é ‘carismática’ ”!6 Profecia é o dom do discurso inspirado; algumas vezes, mas não todas, incluía o poder da predição (At 11.27-28; 21.10-11). O significado de fé (tes pisteos) aqui é o mesmo do versículo 3 (veja os comentários sobre aquele versículo). Medida (analogian) tem provavelmente o mesmo significado do versículo 3. A expressão grega tes pisteos pode ser traduzida como “a fé” no sentido da “fé Cristã”, mas isto não parece ser o que Paulo quer dizer. Como outros cristãos, o profeta precisa ter temperança a respeito da sua atividade e importância.
Paulo prossegue: se é ministério (diakonian), seja em ministrar (7). Diakonia significa simplesmente “serviço” (NASB, RSV) e era usada de maneira geral para todo o serviço cristão (11.13; 1 Co 12.5; Ef 4.12), ou especificamente para o ministério das necessidades temporais e do corpo (1 Co 16.15; 2 Co 8.4; cf. o que reparte, o que exercita misericórdia, v. 8). Já estava a caminho de tornar-se um termo técnico (cf. diácono em 16.1; Fp 1.1; 1 Tm 3.8; cf. At 6.1-4).
Os versículos 7-8 acrescentam: Se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou o que exorta, use esse dom em exortar. Colocada ao lado de ensinar, a palavra exortar sugere pregação. Sobre o significado de exortação (dom de exortar), veja os comentários sobre o versículo 1. No entanto, Barrett nos lembra que precisamos evitar fazer uma distinção muito precisa entre ensinar e exortar. “Cada um destes termos significa uma comunicação da verdade do evangelho ao ouvinte, efetivada de diversas maneiras: em uma delas, é explicada - em outra, é aplicada. Contudo, esta comunicação nunca deve ser explicada sem ser aplicada, nem aplicada sem ser explicada”.
O que reparte, faça-o com liberalidade (8; en aploteti, NASB, RSV; “com todo o seu coração”, NEB). Esta é a generosidade liberal e sincera que vem da compaixão e da sinceridade de propósito (cf. Mt 6.1-4). O que preside (ho proistamenos), com cuidado Gen spoude, “com zelo”, RSV). Esta pode ser uma exortação aos pais cristãos para que presidam os seus lares com diligência (1 Tm 3.4). Também pode ser dirigida àqueles que presidem as igrejas (1 Ts 5.12; 1 Tm 5.17). Não há qualquer indicação no Novo Testamento de que o “presidente” presidia um culto cristão de pregação e ensino (como o presidente de uma sinagoga judaica), na Ceia do Senhor, ou em uma reunião da igreja convocada com objetivos de deliberação ou disciplina. Também não está claro se este trabalho ou função era exercido conjunta ou alternadamente com outras pessoas. Entretanto, era um charisma do Espírito tanto quanto a profecia ou os ensinos.
O que exercita misericórdia, com alegria sugere que quando um homem pratica a caridade, deve fazê-lo com um coração alegre. “Para um cristão, a caridade é uma alegria e não uma obrigação”.
Baseando-se em 12.6-8, Maclaren faz um comentário sobre “Graça e Graças”. 1) A graça que dá os dons, 6a; 2) As graças que vêm da graça, 6ò-8; 3) O exercício das graças, 60-8.
Donald S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 163-164.
Rm 12.6 — Dons. A palavra grega (chárisma) é uma regência às habilidades determinadas por Deus, as quais deveriam ser utilizadas para edificar os membros do corpo de Cristo. Embora os dons de Deus não possam ser cancelados ou mudados (Rm 11.29), eles podem ser administrados e podem ser desenvolvidos (1 Pe 4-10).
Profecia. Esta palavra é usada aqui como uma referência geral a todos os dons espirituais que envolvem o anúncio da Palavra de Deus. Por exemplo, em 1 Co 14-3, o termo exortação é um dom relacionado à profecia. Em um sentido mais estrito, profecia significa a revelação da vontade de Deus em uma situação particular (At 13.1-3).
Rm 12.7,8 — Ministério. Ou seja, serviço. Esse é um dom que está em contraste com os dons relacionados ao falar, ou anunciar, algo (1 Pe 4.11). A Bíblia lista cinco dons relacionados com a pregação: profecia, ensino, encorajamento, palavra de sabedoria e palavra de conhecimento. Além disso, são nomeados sete dons de serviço: socorro, misericórdia, fé, discernimento de espíritos, liderança, administração e mordomia.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Novo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 394.
II OS DONS ESPIRITUAIS E MINISTERIAIS.
1. Os Dons relacionado ao serviço cristão.
A Igreja, como “Corpo de Cristo”, precisa de poder, de unção e de manifestações espirituais, que se expressam genuinamente através dos dons espirituais. Esses dons são indispensáveis à unidade e à ação da Igreja, por diversas razões.
1) Na espera pela vinda de Jesus. Em toda a sua história, desde sua fundação por Jesus Cristo, a Igreja tem sido a instituição mais atacada pelas forças do mal. Ela nasceu debaixo da perseguição. Impérios humanos tentaram destruí-la, apagando seu nome da face da terra. Filosofias humanistas e materialistas tentaram sufocá-la, abafando sua mensagem; sistemas políticos totalitários e ateístas, a serviço do Diabo, tentaram eliminar sua influência no mundo.
Os ataques contra a integridade espiritual da Igreja continuam, ao longo dos séculos. Como Noiva do Cordeiro, Ela precisa de poder para vencer às mais diferentes investidas malignas, na longa espera pelo Noivo. Ainda que, no século XXI, haja, no meio das igrejas locais, recursos que os primeiros cristãos não possuíam, em termos teológicos, educacionais ou tecnológicos, o único recurso que lhe dá condições de suplantar o império do mal é o Poder do Espírito Santo. E este poder se manifesta na operação sobrenatural dos dons espirituais.
2) Os dons espirituais fazem a diferença. Na parábola das Dez Virgens (Mt 25.1-13), Jesus demonstrou a seus discípulos que a chegada do Noivo poderia demorar. As cinco virgens loucas representam a parte da Igreja que não estará preparada para esperar a Volta de Jesus. As virgens prudentes representam os crentes salvos, que, além de terem o “azeite” nas lâmpadas, ou em suas vidas e testemunho, têm “azeite” nas vasilhas de reserva.
O “azeite” representa a presença e o poder do Espírito Santo na vida dos crentes que vão subir ao encontro do Senhor Jesus Cristo (cf. 1 Ts
4.16,17). Os dons espirituais é que fazem a diferença, atuando no meio da igreja, nesses “tempos trabalhosos” (2 Tm 3.1), em que a pecaminosidade e a rebeldia contra Deus estão aumentando. Há milhares e milhares de “igrejas”, mas só vão subir ao encontro do Noivo os crentes salvos, santos e irrepreensíveis para a vinda de Jesus (1 Ts 5.23).
3) Os dons podem ser abundantes. A igreja de Corinto é um exemplo eloquente de que uma igreja cristã pode experimentar a ocorrência de uma variedade enorme de dons espirituais. Na introdução à sua primeira Carta aos Coríntios, Paulo tece considerações elogiosas àqueles crentes, acentuando que nenhum dom (espiritual) lhes faltava, “esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 1.7), que os haveria de confirmar até o fim para serem” irrepreensíveis no Dia de Nosso Senhor Jesus Cristo (1 Co 1.8).
4) Os dons são indispensáveis à evangelização. A missão da Igreja, levada a efeito através das igrejas locais, é de proclamar o evangelho. Nos tempos pós-modernos, a incredulidade, a frieza e a indiferença pelo evangelho de Cristo é tão grande e tão latente, que, sem a manifestação espiritual de forma evidente, as pessoas não vão saber discernir entre os falsos evangelhos e o verdadeiro evangelho de Jesus. Sempre houve essa necessidade.
Nos primórdios da evangelização, através de Jesus Cristo, as pessoas criam nEle, a ponto de multidões segui-lo, não só pela sua mensagem que tinha autoridade, e fazia diferença (Jo 7.46), mas, principalmente, por causa dos sinais e prodígios que Ele fazia.
Os dons espirituais devem ser utilizados na igreja, respeitados os requisitos e condições estabelecidos na palavra de Deus. Fora disso, há o risco de haver manifestações espúrias ou falsas em relação ao verdadeiro caráter dos dons.
1. OS DONS DEVEM SER EXERCIDOS COM AMOR
A divisão da Bíblia em capítulos só ocorreu em 1227 e, em versículos, em 1551.2 Quando se lê o capítulo 12 de 1 Coríntios, sobre os dons espirituais e se passa para o capítulo seguinte, sobre o amor cristão, tem-se a impressão de que são temas distintos. Na verdade, originalmente, antes da divisão da Bíblia em capítulos, o texto dos capítulos 12 a 14 trata do mesmo tema dos dons.
Paulo termina o capítulo 12, com sua belíssima dissertação sobre os dons espirituais, com uma exortação por demais relevante, dizendo: “Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente” (1 Co 12.31 — grifo nosso). Que “caminho ainda mais excelente” é esse? A resposta vem de imediato, na ligação entre o último versículo do capítulo 12 e o primeiro versículo do capítulo 13, quando o apóstolo dá sequência ao seu precioso ensino sobre os dons espirituais. E afirma de modo peremptório: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria” (1 Co 13.1,2).
A GENUIDADE DOS DONS ESPIRITUAIS
Fica bem claro que, se os crentes tiverem dons espirituais em abundância, mas não tiverem amor, o exercício desses carismas de nada adianta diante de Deus. Nesses dois versículos Paulo mostra a síntese da inutilidade dos dons, quando usados sem amor.
2. OS DONS DEVEM SER USADOS DE ACORDO COM A PALAVRA
A Palavra de Deus deve ser a referência número um para qualquer atividade ou manifestação na igreja? “Lâmpada para os meus pés é tua palavra e luz, para o meu caminho” (SI 119.105). E o Espírito Santo quem inspira a Palavra de Deus e a seus escritores. Logo, não há nenhuma justificativa para que um dom seja exercido em desacordo com os preceitos da Palavra de Deus.
3. OS DONS NÁO DÁO ORIGEM A DOUTRINAS
A fonte primordial e única de qualquer doutrina, na igreja cristã, é a Palavra de Deus. É altamente danoso para a integridade espiritual de qualquer igreja, quando um líder, ou um outro membro da igreja, apresenta como doutrina aquilo que não tem fundamento na Bíblia. Determinado obreiro ensinou que os crentes que possuem internet estão em pecado. Para se dizer que algo é pecado é necessário fundamentar na Palavra de Deus. Na realidade, tal ensino é fruto de opinião pessoal do líder. Do contrário, é imposição autoritária, que só traz prejuízo à obra do Senhor. Ensinar que quem usa a internet de maneira ilícita, para visualizar coisas que não agradam a Deus, está pecando, é correto, mas afirmar que possuir internet é pecado é abuso de autoridade ministerial. Não há necessidade de outra fonte de doutrina além da Palavra de Deus (G1 1.8,9).
4. QUEM TEM UM DOM DEVE SER MAIS HUMILDE
Os dons espirituais são parte das riquezas sobrenaturais, concedidas pelo Espírito Santo aos servos do Senhor, com o objetivo de servir à igreja. Jamais o portador de um dom deve orgulhar-se e portar-se de modo arrogante ou autoritário. Deve agir, sabendo que “Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (2 Co 4.7). Nunca devemos esquecer de que o Espírito Santo glorifica a Cristo e não ao homem (Jo 16.14). Se o que tem o dom não tiver essa consciência de humildade, poderá perder a graça para usá-lo. Deus não admite que o seu louvor seja transferido para ninguém.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 16-20.
OS DONS DO ESPÍRITO SANTO
Os dons são faculdades da pessoa divina operando no crente.
OS DONS VOCACIONAIS Romanos 12 : 6 - 8
Repartir Dividir, Distribuir;
Presidir Aquele que dirige;
Misericórdia Sentimento doloroso causado pela miséria de outro.
Autor desconhecido.
2. Conhecendo os Dons Espirituais.
I Cor 12.4-6 — Dons. A palavra usada para dons, pela primeira vez, contrasta com pneumaúkon de 1 Coríntios 12.1. Charismata se refere a dons da graça de Deus em cada cristão, por meio dos quais Deus pode fortalecer Seu povo. Diversidade aparece nos versículos 4 ,5 e 6 sob a forma da mesma palavra grega. Observe a diversidade na obra da Trindade. No versículo 4, o Espírito distribui cada um deles ao cristão (1 Co 12.11). No versículo 5, o Filho de Deus determina ao cristão o modo específico como o dom é manifestado no corpo (1 Co 12.12-27).
No versículo 6, o Pai provê a força ao cristão no exercício do dom (1 Co 12.28). Deus opera Sua vontade por meio de Seu povo de muitas maneiras. Ninguém foi colocado no corpo para ser igual a outro membro nem para exercer a mesma função. O Espírito é o mesmo [...] o Senhor é o mesmo [...] o mesmo Deus. Embora as pessoas recebam dons diferentes do Altíssimo, Deus e Sua obra estão unidos. Sejam quais forem os dons que diversas pessoas tenham ou não, o único Deus opera todas essas coisas (v. 11).
12.7-11 — A cada um para o que for útil expressa o principal ensino de Paulo sobre a obra do Espírito. Deus opera nos cristãos para beneficiar todo o corpo, não simplesmente o cristão isoladamente (v. 25,26). O cristão é um veículo por meio do qual Deus opera a fortificação e unidade de todo o corpo, e não a finalidade da obra de Deus.
Porque a um [...] e a outro. As duas palavras gregas (allos [...] heteros) enfatizam a diversidade e iniciam uma lista de charismata que são distribuídos por Deus por todo o Seu Corpo. A ninguém é dado todos os dons, nem a todos é dado um único dom, como o de línguas. Pelo contrário, os vários charismata, ou dons da graça, são distribuídos para que haja diversidade no corpo unificado.
Os vários dons — de ciência, sabedoria, fé, de curar, operação de maravilhas, profecia, o dom de discernir os espíritos, a variedade de línguas, a interpretação das línguas — provavelmente, eram muito perceptíveis para os coríntios, mas é difícil para nós, dois mil anos depois, conhecermos sua natureza exata.
Palavra da ciência parece ser a capacidade de discursar a respeito da doutrina; não o conhecimento em si, mas a habilidade do discurso.
Palavra da sabedoria é completamente o oposto da palavra da ciência e se refere às obras práticas ou éticas do conhecimento, similares ao que se observa em Provérbios. Este dom ajudou a solucionar o problema da distribuição de alimento em Atos 6. Fé parece ser a capacidade de crer que Deus é capaz de feitos extraordinários.
Operação de maravilhas, provavelmente, seria a capacidade de realizar obras como as de Moisés, os profetas, ou talvez alguns milagres da natureza que se observam nos Evangelhos. Note que Deus particularmente usou estes dons para confirmar a verdade proferida por meio dos primeiros apóstolos (Hb 2.3,4).
Profecia é o prenúncio ou a predição da revelação de Deus, seja a “nova” revelação ou a elucidação divina do que já se sabe. Mais do que um simples ensino ou pregação, esta ação é fruto da capacitação, mas não da inspiração, do Espírito.
Pedro demonstrou este dom no Pentecostes.
O dom de discernir os espíritos pode referir-se à capacidade de distinguir as obras de Deus da atividade demoníaca na igreja.
A variedade de línguas, provavelmente, faz menção à capacidade de o indivíduo falar várias línguas que jamais estudou. A interpretação de línguas é a capacidade de explicar ou interpretar as línguas faladas na congregação, para que todo o grupo de cristãos possa beneficiar-se com a oração feita (1 Co 14-16) por quem fala em línguas (1 Co 14-13,28). Como quer, não como nós queremos. Se os cristãos devem ou não buscar algum dos dons do Espírito é uma questão discutida em 1 Coríntios 12.31.
12.12-31 — Paulo tenta ajudar os cristãos coríntios carnais a abandonarem seus desejos carnais e buscarem a unidade do corpo e servirem com os dons que Deus lhes dera (v. 7,25,26).
12.12-14 — Porque [...] pois [...] Porque. Observe o desenvolvimento da ideia enquanto o Espírito de Deus continua a dar a Cristo a glória (Jo 16.12-14; 1 Co 12.3).
12.12.13 — Assim é Cristo também. A analogia do corpo humano ilustra a necessidade de unidade na diversidade no Corpo de Cristo.
12.13 — Um. O apóstolo continua a enfatizar a unidade: um Espírito, um corpo, um Espírito.
Paulo nega que o Espírito esteja dividido nos grupos mencionados nos capítulos 3 e 4- Todos os cristãos (v. 3) estão cheios do mesmo Deus. Todos nós fomos batizados em um Espírito. Cristo, a Cabeça do Corpo, exaltada e que ascendeu ao céu, é o Agente ativo que põe o novo membro do Corpo na esfera do Espírito Santo, para que ele seja cuidado e protegido. Todos os cristãos são batizados, formando o Corpo, na esfera do Espírito Santo e, por isso, fazem parte do Corpo de Cristo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres. Ninguém é superior a ninguém na Igreja de Cristo; todos entram da mesma forma: pela fé na promessa de Abraão (G1 3.26-29). Cada um de nós tem a mesma porção do mesmo Espírito de Deus: todos temos bebido de um Espírito (v. 13c).
Alguns dos coríntios — provavelmente os pneumatikon (v. 1) — acreditavam que somente determinados indivíduos com dons estavam, especialmente, em harmonia com o Espírito, mas Paulo põe cada cristão em pé de igualdade no Espírito. Dificilmente, beber se refere ao fato de todos participarem do mesmo cálice da ceia do Senhor. O Espírito não somente nos envolve no batismo, mas, uma vez que temos bebido dele, também habita em nós.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Novo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 433-435.
Outros assuntos podiam ser adiados até que o apóstolo pudesse ser capaz de realizar seu plano de visitar Corinto, mas o assunto abordado por ele nesta secção precisava ser resolvido logo: Mas sobre as coisas espirituais, isto é, os dons e poderes, irmãos, não quero que sejais ignorantes. Queria ensinar os uso correto dos dons espirituais, exatamente assim como lhes dera a informação correta sobre a celebração da ceia do Senhor. Pois com estes dons estava ligada certa porção de perigo, visto que eram, falando de modo mais geral, fenômenos sobrenaturais que precediam do Espírito e que pertenciam à Sua esfera. Ele, para colocar seus ouvintes na posição correta frente à admoestação que está para fazer, e para conservá-los no adequado estado de humildade quanto à sua total falta de mérito na aceitação destes dons, lembra-os de sua anterior situação gentia: Sabeis que uma vez éreis gentios, sendo levados aos ídolos mudos, do modo como éreis conduzidos. Aqui estão expressos dois pensamentos, a saber, que o paganismo é uma alienação do verdadeiro Deus, e que ele é uma escravidão da pior espécie.
Ser conduzido ao culto de ídolos, os quais o apóstolo caracteriza como mudos, sem voz, Sl. 115. 5; 135. 16, caracteriza todo o mundo pagão. Os gentios são levados a este culto tolo e fútil. Seus sacerdotes sabem muito bem do fato que o que afirmam não tem fundamento. Conservam, porém, o povo sob supersticiosa escravidão. Segundo o aceno de seus sacerdotes os gentios ignorantes se prostravam em culto aos seus ídolos mortos, cuja mudez fazia parte de sua nulidade, e que jamais retornaram com uma só resposta, não importando quão urgente fosse a súplica. O conhecimento de sua situação anterior foi assim como sempre, fazendo, por meio do contraste, aparecer em suas mentes a graça de Deus de modo ainda mais maravilhoso.
Os coríntios, porém, ainda não entenderam exatamente a maneira como o Espírito de Deus realizou Sua obra em seus corações, como exercia Seu poder. Isto levou Paulo a prosseguir na instrução deles. Por isso, para que pudessem formar um juízo correto das operações e dos dons do Espírito, ele os informa que ninguém quando fala no Espírito de Deus diz: Jesus está amaldiçoado; e ninguém pode dizer: Jesus é Senhor, se não somente no Espírito Santo. Os espíritos da falsidade e o da verdade estavam lutando entre si em Corinto, e aqui está registrado o grito de guerra de cada partido. Aquilo que estava amaldiçoado ou anátema, no sentido como usado pelos judeus, era votado a Deus para a destruição, como estando sob Sua maldição. Dizer que alguém ou alguma coisa era anátema foi pronunciar o juramento da execração sobre a pessoa ou coisa em questão. Os judeus fanáticos fizeram este seu brado em seu ataque incessante contra a religião cristã, e a expressão tão chamativa foi capaz de ser abarcada pelas hordas gentias sempre que foi colocada em movimento qualquer demonstração contra os cristãos. Desde o princípio estava, pois, certo que ninguém que usava esta forma de blasfêmia podia ser considerado como alguém que falava pelo Espírito de Deus. Sem interessar qual fosse neste sentido sua pretensão, o fato permaneceu que um tal blasfemador estava e precisava permanecer fora do âmbito do cristianismo até que mudasse completamente. Nesse ponto também merece ser considerada a observação de Lutero: “Pois o que ele aqui chama ‘amaldiçoar Jesus’ não é somente isto, que uma pessoa blasfema publicamente e amaldiçoa o nome ou a pessoa de Cristo, como o fizeram os judeus ateus ou os gentios.... mas [isto também é feito] quando qualquer um dentre os cristãos louva o Espírito Santo, mas não prega corretamente a Cristo como o fundamento de nossa salvação, mas o negligencia e o rejeita em favor de algo diferente, com o pretexto que isto se deriva do Espírito Santo e é muito melhor e mais necessário do que a doutrina comum do evangelho.”15) Por outro, a sincera confissão: Jesus é Senhor, é um produto de verdadeira fé, e por isso não pode ser feito pela razão e força de qualquer pessoa. Cf. 1.Jo. 4. 2ss. É um reconhecimento de Cristo com a plena percepção de Sua obra da redenção, tal como operada pelo poder do Espírito Santo. Mas, visto que esta confissão pública é a obra principal dos pastores cristãos, segue que estas obras do apóstolo se aplicam a estes com força invulgar. “Chamar Jesus o Senhor é confessar-se Seu servo e só buscar sua honra, como alguém que foi enviado por Ele ou que tem Sua palavra e mandamento. Pois aqui ele fala principalmente do ofício que prega de Cristo e que traz Seu mandamento. Onde este ministério está em uso e dirige as pessoas a Cristo (como para o Senhor), isto com certeza é a pregação do Espírito Santo.... Desta forma também não pode ser feito sem o Espírito santo, quando qualquer cristão em seu labor ou em sua situação chama com toda sinceridade Cristo seu Senhor, isto é, conclui com certeza que nisso O está servindo.”16)
Esta unidade na fé na confissão traz agora ricos frutos em “distribuições de dons da graça, serviços e trabalhos”: Mas há distribuições, diversidades, variedades de dons, mas o mesmo Espírito; e há variedade de ministérios, mas o mesmo Senhor; e há variedades de efeitos, mas o mesmo Deus que opera, que realiza, tudo em todos. Aqui o apóstolo contrasta os ídolos mudos dos gentios com o Deus trino onipotente dos cristãos, sendo que o primeiro é incapaz de falar ou de exercer qualquer poder, mas o último se revela com onipotente poder na igreja e na congregação dos santos. O Espírito, o Senhor e Deus Pai estão incessante e graciosamente ativos na edificação da igreja por meio dos talentos que concederam aos cristãos individuais. Todos os eminentes dotes, qualificações, capacidades dos cristãos, e que são algo particular à sua condição como cristãos, sejam os de curar, de milagres, de línguas, de profecia, de excelente exposição da Bíblia, de edificante aplicação da palavra, são concedidos pelo Espírito Santo, por aquele um Espírito. E estes dons maravilhosos da graça são aplicados na igreja nos vários ofícios e ministérios, que são as múltiplas funções e esferas de trabalho, Ef. 4. 12, mas sempre sob a direção do único Senhor, Jesus Cristo, o Rei da Igreja, e a feitos a Ele. É no interesse Dele que os cristãos sempre deviam usar seus dons, cada um sem exceção qualquer na forma como Cristo lhos repartiu. Pois, somente quando os vários dons, nos multiformes ofícios e postos, forem usados no serviço do único Senhor, será alcançado o propósito do Senhor quando concedeu os dons. Desta forma há, finalmente vários efeitos das atividades dos cristãos, proporcionais aos dons e à sua posição de trabalho. Mas é um só Deus que constantemente efetua tudo quanto é necessário para o bem de Sua igreja, e Ele reparte a todos os verdadeiros cristãos incessantemente do rico tesouro dos Seus dons. Desta forma o Deus trino é o manancial de toda graça e poder na igreja, sendo o despenseiro imediato de todo bem e dom perfeito. “O Espírito acende o fogo dos dons da edificação, o Filho direciona os raios dos ministérios da edificação, o Pai cria o calor das forças de edificação: Numa essência indivisa o Deus trino governa Sua igreja; que insulto causar divisões em seu meio!”17)
KRETZMANN. Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo Testamento. Editora Concordia Publishing House.
Há outros trechos de Paulo onde é empregado o termo grego «charismata», como nos versículos quatro, nove, vinte e oito, trinta e trinta e um deste capítulo. Essa palavra é traduzida por «dom», em Rom. 1:11; 6:23; 11:29; 12:6; II Cor. 1:11; 4:14; 1:16 e 4:10. Aqui, entretanto, é usada a palavra grega «pneumatikon», que significa «(coisas) espirituais». Portanto, podem estar aqui em foco os «poderes» ou «manifestações espirituais», embora essas manifestações sejam definidas como «dons», no restante deste décimo segundo capítulo. Essa palavra pode ser do gênero masculino ou do gênero neutro, o que significa que pode indicar pessoas ou coisas, respectivamente; mas aqui a ideia de «coisas» se torna auto-evidente.
«...a respeito...» Provavelmente uma referência à inquirição feita pelos crentes de Corinto, em uma missiva dirigida a Paulo, como também se vê em I Cor. 7:1. Ou então essa expressão pode ser uma simples designação de modificação de assunto, em que se passaria para outro tema.
«...não quero que sejais ignorantes...» Essa fórmula paulina indica os assuntos que merecem nossa cautelosa atenção. (Ver I Cor. 10:1 e comparar com Rom. 1:13; 11:25; II Cor. 1:8; I Tes. 4:13). Porém, também pode estar subentendido que a despeito de todo o seu pretenso conhecimento, bem como da posse de tais dons, devido ao seu abuso, faltava-lhes o conhecimento essencial a respeito desses dons e de seu propósito. Aqueles coríntios vinham usando os dons espirituais para sua própria exaltação, como parte de suas facções e de sua adoração a «heróis», ao invés de fazerem-no para a glória de Cristo. Ora, isso era uma «ignorância» essencial sobre a questão da natureza e do uso dos dons espirituais.
«...irmãos...» Essa palavra é de vez em quando usada por Paulo para suavizar suas declarações ásperas, mostrando seu afeto, reconhecendo que estava identificado com eles, em Cristo, conforme tem sido frequentemente empregado em outros trechos desta epístola. (Ver I Cor. 1:11,26; 2:1; 3:1 e 10:1). Paulo também empregou a expressão «meus amados», em I Cor. 10:14. Mas, em I Cor. 11:1, volta ele a empregar a palavra «irmãos».
«...ignorantes...», isto é, acerca dos meios, dos usos e dos propósitos dos dons espirituais, especialmente em face do fato que servem para exaltar a Jesus Cristo e devem proceder da parte do Espírito Santo (ver o terceiro versículo deste capítulo), em contraste com sua anterior idolatria, que envolvia todas as modalidades de elementos prejudiciais (ver o segundo versículo). Os verdadeiros dons espirituais e seu devido emprego devem ser encarados como um sinal digno de confiança que os crentes de Corinto tinham abandonado sua adoração idólatra, pertencendo agora a um novo Senhor. Porém, os abusos por eles cometidos punham tudo isso em dúvida.
O grande derramamento do Espírito, que se observa na posse e uso dos autênticos dons espirituais, é tema da profecia de Joel. Até mesmo a antiga literatura judaica se referia ao mesmo como sinal da «nova era». Porém, o emprego desses dons espirituais deve ser feito de acordo com regras espirituais, pois, de outro modo, nada significarão.
«Tendo os crentes de Corinto se desviado de um cristianismo simples, prático, agora empregavam os dons do Espírito sem qualquer preocupação de edificarem a igreja. Antes, davam maior valor às características mais espetaculares, aquelas que eram capazes de mais facilmente impressionar os sentidos. Por essa razão é que Paulo se sentiu constrangido a instruí-los no ‘verdadeiro e correto uso desses dons, advertindo-os contra a possibilidade de confundir a inspiração genuína com a excitação fanática (Neander, in loc.).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 189-190.
3. A cerca dos dons Ministeriais.
Ministérios são serviços ou funções exercidos na igreja local, como parte do Corpo de Cristo, que é a sua Igreja. No âmbito cristão, ministérios são serviços que devem ser exercidos por pessoas que tenham a mentalidade de servas de Cristo. Quem não pode ser servo não pode ser ministro na Igreja de Cristo. Ele disse que não veio para ser servido, mas para ser servo (Mt 20.28).
O LADO ESPIRITUAL DA IGREJA
Igreja de Jesus Cristo é espiritual e humana. No lado espiritual, precisa de poder espiritual, de sabedoria espiritual, de capacitação espiritual. Daí, a necessidade dos dons espirituais, como foi visto no item anterior. O lado espiritual reflete a natureza da Igreja como organismo, ou o Corpo de Cristo, Paulo discerniu bem o aspecto espiritual da Igreja, como organismo espiritual ao dizer: “Antes, seguindo a verdade em caridade, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor” (Ef 4.15,16).
O LADO HUMANO DA IGREJA
No lado humano, a Igreja precisa de liderança. E esta não pode ser exercida apenas pela capacidade humana, intelectual, teológica, por mais que tais capacitações sejam importantes. A liderança eclesiástica deve ser espiritual, ministerial e administrativa. Os ministérios ou serviços (gr. diakonion), indispensáveis ao ordenamento e o funcionamento da igreja dependem da graça de Deus. Os dons ministeriais fortalecem a unidade da Igreja, atuando de modo equilibrado ao lado dos espirituais.
Os líderes cristãos podem ter formação secular ou teológica, mas não podem prescindir da legitimação através dos dons que os capacitam para liderar o Corpo de Cristo na Terra. Antes de tudo, precisam ter convicção da chamada de Deus para serem servos-líderes.
Jesus, o Dono e Senhor da Igreja, só dá dons a homens que têm esse perfil de homens-servos. Os dons espirituais estão à disposição de todos os crentes, de todos os salvos. Mas os dons ministeriais são específicos para homens que têm a chamada de Deus para o ministério de servir à Igreja.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 20-21.
Ef 4.11. Paulo passa a falar agora dos dons específicos que Ele deu aos homens. A luz dos versículos 7, 8 não devemos entender concedeu como um mero equivalente para “designou”. Todos, em seus ministérios particulares, são dons de Deus à Igreja. “Devemos a Cristo o fato de termos ministros do evangelho”, diz Calvino. A Igreja pode indicar homens para diferentes trabalhos e funções, mas, a menos que tenham os dons do Espírito e sejam, portanto, eles mesmos os dons de Cristo à Sua Igreja, sua indicação será sem valor. A expressão também “serve para lembrar aos ministros que os dons do Espírito não são para enriquecimento pessoal, e sim para enriquecimento da Igreja” (Allan).
Se esta epístola tivesse sido escrita numa data posterior, conforme o pensamento de alguns, seria quase impossível não existir referência ao ministério local dos bispos, presbíteros e diáconos, os quais se tornaram da maior importância para a Igreja. Assim, o apóstolo não está pensando nos ministros de Cristo em seus ofícios, mas sim em seus dons espirituais específicos e suas tarefas, e havia muitos que não estavam limitados a uma determinada localidade no exercício de suas funções para a edificação da Igreja. Este fato explica a seleção que encontramos aqui e na lista semelhante em 1 Coríntios 12:28.
Em primeiro lugar estavam os apóstolos. A palavra apóstolos é usada no Novo Testamento com três sentidos diferentes. Podia significar simplesmente um mensageiro, como é aparentemente o caso em Filipenses 2:25 sentido esse que podemos deixar de lado aqui. Era usada acima de tudo para os doze, que por todo o Novo Testamento ocuparam uma posição especial e preeminente (1 Co 15:5; Ap 21:14). Mas lemos a respeito de outros como apóstolos, não apenas o próprio Paulo e Barnabé (At 14:14), mas também Tiago, o irmão do Senhor (G1 1:19), Silas (1 Ts 2:7), e Júnias e Andrônico que são mencionados apenas em Romanos 16:7. De fato, parece terem existido alguns que podem ser verdadeiramente chamados de apóstolos (1 Co 15:7), mas que não conhecemos nem de nome. De acordo com as palavras de Paulo em 1 Coríntios 9:1 parece que uma das qualidades para o apostolado era a de ter visto o Senhor Jesus ressurreto, e de ter sido enviado por Ele, e, dessa forma, ter assumido pessoalmente o compromisso como membro considerado fundador (Ef 2:20), consagrado ao trabalho de edificação da Igreja. 1 Se a qualificação para ser apóstolo era a de ter visto o Senhor ressurreto e de ter sido enviado por Ele, a prova de ser apóstolo eram seus labores no poder de Cristo, inclusive “por sinais, prodígios e poderes miraculosos” (2 Co 12:12).
Os profetas (veja comentário sobre 2:20 e 3:5) estavam intimamente associados a eles na obra da edificação da Igreja a partir de seus fundamentos e eram, portanto, essenciais como dons de Cristo à Igreja. É difícil, para nós, ver de uma forma isolada o ministério dos profetas, mas eles se destacam claramente no Novo Testamento como homens de fala inspirada, cujo ministério da palavra foi da máxima importância para a jovem Igreja. As vezes podiam prever o futuro, como em Atos 11:28 e 21:9, 11, mas tal como os profetas do Antigo Testamento, sua grande obra era proclamar a palavra de Deus. Isto podia acontecer quando mostravam os pecados dos homens com poder convencedor (1 Co 14:24), ou quando fortaleciam a Igreja pela palavra de exortação. Esta segunda ideia está claramente ilustrada em Atos 15:32, onde se diz que “Judas e Silas, que eram também profetas, consolaram os irmãos com muitos conselhos e os fortaleceram”.
A partir da própria definição de apóstolo é evidente que seu ministério devia cessar com a morte da primeira geração da Igreja. O ministério, ou pelo menos o nome, de profeta também logo morreu na Igreja. Sua obra, que era receber e declarar a palavra de Deus sob inspiração direta do Espírito, era mais vital antes da existência de um cânon das Escrituras do Novo Testamento. Em escritos do segundo século lemos acerca de profetas, mas em importância decrescente. Os escritos apostólicos começavam a ser lidos largamente e aceitos como autorizados, e estes foram paulatinamente substituindo a autoridade dos profetas. Ao mesmo tempo, o ministério local assumiu cada vez mais importância, maior que a dos ministros itinerantes, e a isto, acrescentou-se o problema de que surgiram muitos falsos mestres e “profetas” por conta própria que iam de lugar em lugar, como vendedores ambulantes, cada um a oferecer sua mercadoria.
A seguir, vêm os evangelistas. Apenas duas outras referências no Novo Testamento aos evangelistas podem nos guiar às suas funções e trabalho. Em Atos 21:8 Filipe, cujas quatro filhas eram profetisas, é chamado de evangelista, e em 2 Tm 4:5 Paulo chama Timóteo para fazer “o trabalho de um evangelista”. Podemos presumir que o trabalho deles era uma obra itinerante de pregação orientada pelos apóstolos, e parece ser justo chamá-los de “a milícia missionária da Igreja” (Barclay).
Juntos então, aparecem os pastores e mestres (palavras ligadas pelo mesmo artigo em grego). É possível que esta frase descreva os ministros da igreja local, enquanto as três primeiras categorias são consideradas como pertencentes à Igreja universal. Mais provavelmente, o pensamento dominante é ainda de funções e dons espirituais. Apóstolos e evangelistas têm a tarefa específica de plantar a Igreja em cada lugar, profetas a de trazer uma palavra específica de Deus para uma dada situação. Os pastores e mestres são dotados para assumirem a responsabilidade pela edificação da Igreja dia a dia. Não há uma nítida linha divisória entre os dois. Os deveres do pastor são: prover o rebanho de alimento espiritual e procurar protegê-lo de perigos espirituais. Nosso Senhor utilizou esta palavra em João 10:11,14 para descrever Sua própria obra, sendo sempre Ele mesmo, o sumo Pastor (Hb 13:20; 1 Pe 2:25; 5:4), sob Quem os homens são chamados a pastorear “o rebanho de Deus” (1 Pe 5:2; Jo 21:15; At 20:28). Cada pastor deve ser “apto para ensinar” (1 Tm 3,2; Tt 1:9), embora seja evidente que alguns possuem preeminentemente o dom de ensino, e pode-se dizer que formam uma divisão particular do ministério dentro da Igreja e que são um dom especial de Cristo a Seu povo (At 13:1; Rm 12:7, 1 Co 12:28).
12. Agora são usadas neste versículo três frases para descrever o propósito dos dons espirituais que acabam de ser mencionados. A diferença de preposições em grego indica que elas não podem estar separadas, pois a segunda frase é dependente da primeira, e a terceira é dependente das duas que a precedem.1 Em primeiro lugar portanto, o ministério da Igreja lhe é entregue com vistas ao aperfeiçoamento dos santos. A palavra usada (katartismos) não se encontra em qualquer outro lugar do Novo Testamento, embora o verbo correspondente seja usado no sentido de consertar alguma coisa (Mt 4:21); de Deus ter formado no princípio o universo de acordo com o modelo e ordem pretendidos (Hb 11:3); e de restaurar a saúde espiritual de alguém que sofreu queda (G1 6:1). Todavia, a palavra pode ter o sentido de “aperfeiçoar” o que está deficiente, na fé dos cristãos (1 Ts 3:10; Hb 13:21; 1 Pe 5:10) e podemos dizer com Robinson que a palavra dá a ideia de “levar os santos a tornarem-se aptos para o desempenho de suas funções no Corpo, sem deixar implícita uma restauração de um estado desordenado”. Alcançar tal condição não é um fim em si mesmo, mas tem um propósito que é de habilitá-los para o desempenho do seu serviço. Tão claramente quanto no versículo 7, isto deixa implícito que cada cristão tem um serviço a desempenhar, uma tarefa e função espirituais no corpo. A palavra empregada aqui (diakonia; ou o verbo correspondente) diz respeito ao serviço feito pelos servos da casa (Lc 10:40; 17:8; 22:26s; At 6:2), refere-se, portanto, não só ao trabalho específico daqueles que vieram a ser conhecidos como “diáconos”, mas é usada também num sentido mais geral da palavra que se refere a todo “serviço” da igreja (3:7).
O que é feito para os santos, e pelos santos, é para a edificação do corpo de Cristo. A palavra oikodome foi utilizada em 2:21, mas tem aqui um sentido mais amplo. A Igreja vai sendo construída e aumentada e seus membros são edificados, à medida que cada membro usa seus dons individuais segundo o que o Senhor da Igreja ordena, e, desta forma, cada crente desempenha um serviço espiritual para com seus companheiros no Corpo e para com a Cabeça. Não há necessariamente confusão de metáforas quanto ao sentido dado a oikodomê com o corpo, mas o apóstolo acha que a metáfora do corpo é mais adequada do que qualquer outra por causa do que deseja falar logo adiante a respeito do crescimento e unidade da Igreja.
Ef 13. Todas as três frases no versículo 12 descrevem o processo que ocorre na vida da Igreja. Mas o apóstolo jamais poderia pensar em um processo sem fixar os olhos no alvo. O verbo empregado no princípio do versículo (katantaõ) é usado nove vezes em Atos com referência aos viajantes que chegam a seu destino.1 (At 26:7 e Fp 3:11 para uso semelhante ao daqui). E o ponto de chegada da jornada da Igreja é descrito de três modos. O primeiro é a unidade da fé. Quando a fé (veja comentário sobre o versículo 5) é corretamente participada, pessoas com diferentes origens de erro e ignorância chegam a uma compreensão crescente da única “esperança”, a uma dependência também crescente do único “Senhor”, e, assim sendo, a uma apreciação progressiva do único “corpo”. O alvo, portanto, deve ser a unidade na fé.
Segundo, embora já se tenha dito o suficiente para tornar isto evidente, enfatiza-se que fé não é apenas aceitar-se uma coleção de dog mas, e obter-se assim a unidade. É algo mais profundo e mais pessoal. É a unidade no pleno conhecimento do Filho de Deus (veja comentário sobre 1:17). Jamais conheceremos uma pessoa apenas com a mente; e o conhecimento de uma tal Pessoa deve envolver a mais profunda comunhão. Pois esta Pessoa é o Filho de Deus, e esta é uma das raras vezes, em todas as epístolas paulinas, que este título aparece (Rm 1:4; G1 2:20; 1 Ts 1:10). Quando Paulo fala da relação do Senhor com Sua Igreja e com o propósito do Pai, em geral usa o título “Cristo”, mas “quando O descreve como o objeto daquela fé e conhecimento em que nossa unidade será finalmente compreendida” (Robinson), fala dEle em Sua posição única como o Filho de Deus.
Mas esse conhecimento, que é comunhão com o Filho de Deus, envolve a experiência plena de vida “em Cristo”, e, portanto, de desenvolvimento até a perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo. Todas as diferentes expressões aqui falam de maturidade. A palavra traduzida por perfeita (teleios) possui a conotação de desenvolvimento pleno em 1 Coríntios 2:6; 14:20 e Hebreus 5:14. Varonilidade significa aqui o estado de ser adulto, como em 1 Coríntios 13:11, onde a palavra também é contrastada com nêpios, que é usada no próximo versículo aqui para designar crianças. O singular, além do mais, expressa novamente o pensamento de que maturidade envolve unidade; os “muitos” devem se tornar um “novo homem” (2:15). Então a palavra usada para estatura, que pode ter o sentido de idade (Jo 9:21, 23) ou de estatura física (Lc 19:3), fala figuradamente de maturidade, cujo padrão é nada menos que a plenitude de Cristo. Tal como em 1:23, alguns interpretam esta expressão como “a medida do Cristo perfeito”, perfeição esta que Ele atinge ao preencher-se de Sua Igreja. Outros entendem a expressão como aquilo que Cristo preenche. Parece-nos que a melhor interpretação é a mesma que de 1:23, isto é, como posse completa dos dons e graça de Cristo, os quais Ele procura dar aos homens. Ele mesmo possui a própria plenitude de Deus (Cl 1:19; 2:9); Ele quer que o cristão seja preenchido de tudo o que Ele possa comunicar. É irrelevante que este alvo possa ou não ser alcançado nesta vida. O importante é que o cristão deve marchar firme para frente levado por esta alta ambição.
Ef 4.14. Não mais deve haver imaturidade, que é própria de meninos (nêpioi), e que é caracterizada pela instabilidade face às pressões das diferentes doutrinas e padrões de vida. A expressão agitados de um lado para outro corresponde à forma verbal do substantivo kludõn, que é usado em Lucas 8:24 com referência à “fúria das águas” do mar da Galileia, e em Tiago 1:6 sobre a “onda do mar”; RV neste último caso é o vento que agita as ondas, mas aqui em Efésios a ilustração diz respeito a um barco sacudido pela tempestade e levado ao redor. O verbo grego periphero que se encontra traduzido mais vivamente na NEB amiúde dá a ideia de uma agitação tão violenta que pode tontear uma pessoa. Os cristãos já percebiam a necessidade de se manterem firmes contra os vários tipos de vento de doutrina que a epístola correlata — Aos Colossenses — bem mostra. Suas atividades são primeiramente descritas pela palavra kubia, que literalmente significa “jogar dados”, dando então a ideia de trapaça, fraude ou artimanha-, e, segundo, por astúcia (panourgia), palavra que foi usada como relação aos inquisidores de nosso Senhor em Lucas 20:23 e em 2 Coríntios 11:3 acerca da astúcia da serpente. Quando os homens se desviam do caminho da verdade (a palavra grega planê, “erro”, significa literalmente “desvio”), não hesitam em usar planos enganosos e meios astutos para levar outros a segui-los. O indivíduo instável e sem leme é facilmente desviado de seu rumo, pois não existem apenas aqueles que são enganados e se desviam sem o perceber, mas há também aqueles que aguardam a ocasião, e induzem outros ao erro (2 Tm 3:13).
Ef 4.15. Os pregadores da verdade, por sua parte, não podem nem devem usar esses métodos (2 Co 4:2); devem agir com toda simplicidade e retidão, mas ao mesmo tempo estarem prevenidos quanto aos métodos que seus inimigos podem usar. São embaixadores da verdade e devem ser encontrados seguindo a verdade1 Além do mais, devem fazê-lo em amor. Aquilo que os cristãos defendem e a maneira como o fazem, deve estar em contraste total com os homens mencionados no versículo 14. Estes homens enganam os outros em benefício próprio, ao passo que o cristão deve levar adiante a verdade a fim de trazer benefício espiritual a outros, e deve ser feito de uma forma tão cativante como só o amor será capaz de fazê-lo. Então, por meio de uma metáfora completamente diferente daquela que usou para descrever o indivíduo imaturo como “agitado ao redor”, semelhante a um pequeno barco num temporal, diz que eles crescerão em maturidade espiritual e em estabilidade. Esse crescimento é em Cristo, e o desenvolvimento da vida de modo a ser encontrado mais e mais nEle; tudo, portanto cada parte da vida, encontra seu centro, objeto e alvo em relação a Ele e em união com Ele. A preposição poderia também ser traduzida “em direção de” ou “até”, de forma que o crescimento objetivando Sua perfeita humanidade seja o padrão, como ficou expresso no versículo 13.
Não se pense que aqui o apóstolo toma a significação de “crescimento” e de “Cabeça” de forma a confundir ambas as ideias. Devemos considerar primeiro, a ideia de crescimento, e então separadamente, a ideia de Cristo como o cabeça. Isto já foi expresso em 1:22 e o será novamente em 5:23. Tanto o crescimento, como a própria atividade de cada um dos membros, estão sob Sua direção. Os membros só podem ser saudáveis e fortes quando cada um é obediente ao Seu controle. O próximo versículo desenvolve este ponto.
Ef 4.16. É somente de Cristo, como Cabeça, que o corpo recebe toda sua capacidade para crescer e para desenvolver sua atividade, recebendo assim uma direção única para funcionar como entidade coordenada. Colossenses 2:19 é um texto paralelo bem próximo deste versículo, e ambos deveriam ser estudados em conjunto, embora não se encontre ali a palavra que é traduzida por bem ajustado. Essa palavra só aparece outra vez no Novo Testamento em Ef. 2:21. Deriva de uma palavra (harmos) que designa um tipo de junta ou amarração usada na construção de edifícios, ou para as juntas de articulação do corpo. O segundo particípio (sunbibazomenon) é empregado para a ação de reunir, ligar coisas ou pessoas, para reconciliar aqueles que tenham brigado e também para relacionar fatos ou argumentos num plano de aula ou programa de ensino. Assim, ambos os particípios têm o sentido daquela unidade funcional que se torna possível entre os membros, quando orientados pelo Cabeça. Mas depois desses particípios o grego já se torna difícil. A palavra traduzida junta (haphê) possui inúmeros significados. Denota basicamente “toque”, de sorte que pode significar “contato”, “ponto de contato” ou “pegas”, e estes sentidos levaram os comentadores a uma variedade de interpretações. O uso da palavra tanto no contexto quanto no âmbito restrito da medicina justifica a sua tradução por “junta”, e assim, afirma que é pelo auxilio de toda junta, com que o corpo é equipado, é que o crescimento e funcionamento verdadeiros se tornam possíveis. Em outras palavras, o corpo depende para seu crescimento e atividade: da direção do Senhor, de Sua provisão para tudo o que necessita (compare versículos 11, 12), e também do bom relacionamento entre os membros.
E agora estamos de volta com uma palavra que se tornou familiar nesta epístola (1,19 e 3:7), pois o apóstolo deixa de considerar os membros e a conexão entre eles para tratar da justa cooperação de todo o corpo. A “energização” de Deus no corpo todo torna possível este funcionamento de cada parte, em sua medida e de acordo com sua necessidade. Então menciona-se mais uma vez o propósito do crescimento, e está claro que cada membro não procura o seu próprio crescimento, mas o do corpo como um todo: não sua própria edificação, mas a edificação do todo. Basicamente, a edificação não é o aumento numérico da Igreja, mas o crescimento espiritual. E este crescimento é acima de tudo em amor. Esta pequena frase aparece novamente (1:4; 3:17; 4:2; 5:2), pois o amor determina que cada membro procurará a edificação de todos. Então, sem dúvida, se houver a comunhão da convivência em amor e a demonstração da verdade em amor, o aumento numérico virá como consequência natural.
Francis Foulkes. Efésios. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 97-104.
Ef 4.11 O mesmo que levou cativos os poderes também concedeu dons à sua igreja: “os apóstolos, os profetas, os evangelistas, os pastores e mestres”. Diferentemente do v. 7, onde se falava da distribuição de dons individuais para todos os membros da igreja, Paulo aqui designa determinadas pessoas como dom de Cristo. Em vista da proximidade do presente trecho com Ef 1.20-23 é preciso chamar atenção para o fato de que em Ef 1.22 o Cristo exaltado foi “concedido” como cabeça sobre a igreja toda. Logo Cristo é a “dádiva principal” para sua igreja, no seio da qual ele próprio “concede” determinadas pessoas.
De modo diverso da listagem análoga em 1Co 12.28-30, Paulo emprega aqui o artigo definido para cada uma das pessoas. Isso permitiria concluir que na carta aos Efésios não se trata da tarefa em geral, mas do grupo claramente delimitado de representantes incumbidos do serviço específico. Essa diferença também é constatável em relação a Rm 12.6s, onde são arroladas não as respectivas pessoas, mas cada uma das atividades: profecia, diaconia, exortação, etc.
No mesmo sentido Paulo havia falado também em Ef 2.20 do “fundamento dos apóstolos e profetas” e em Ef 3.5 de “seus santos apóstolos e profetas”. Diante das demais considerações em Ef 4.12ss, parece que essa ênfase refere-se especificamente às tarefas de proclamação, direção e ensino. Por isso não são mencionados aqui outros dons da graça que aparecem em Rm 12 e 1Co 12.
Não se deve esquecer que também na primeira carta aos Coríntios os dons da palavra e as pessoas agraciadas com eles aparecem no começo das respectivas listas, de modo que o tratamento do conflito causado por fenômenos entusiastas é marcado por uma clara premissa: isso diz respeito em 1Co 12.8 à palavra da sabedoria e à palavra do conhecimento, dadas pelo Espírito, e em 1Co 12.28 “primeiramente a apóstolos, em segundo lugar a profetas, e em terceiro lugar, a mestres”. A combinação de “profetas e mestres” ocorre em At 13.1. Em 1Tm 2.7 (também em 2Tm 1.11) Paulo relaciona consigo mesmo o serviço de “pregador” (cf. “evangelista”), apóstolo e mestre (dos gentios). É digno de nota que também esse trecho está visivelmente próximo de Ef 4.4ss: a confissão do único Deus e do único Mediador entre Deus e os humanos, que se “deu” como pagamento de resgate, é seguida pela transição para a investidura de Paulo como “arauto” desse evento de salvação.
Segundo esse pensamento Cristo presenteou sua igreja com dons, i. é, com pessoas incumbidas e capacitadas que possuem uma relevância fundamental para a construção e o crescimento da igreja. Trata-se aqui daqueles que proclamaram e explicaram o evangelho da salvação em Jesus Cristo de acordo com a situação atual dos ouvintes, bem como firmaram, exortaram e encorajaram as incipientes igrejas através dessa palavra.
Nesse contexto duas coisas são irrenunciáveis: a importância das referidas pessoas como “detentores de cargo” não vem delas mesmas. Pelo contrário, são presentes do Senhor à igreja dele. Elas, por sua vez, receberam seus dons daquele que é o verdadeiro presente para a igreja (Ef 1.23). Possuem importância fundamental para a constituição da igreja, motivo pelo qual de forma alguma podem ser arbitrariamente substituídos.
Ef 4.12 A finalidade para a qual Cristo concedeu os “dons” é indicada por meio de três segmentos da frase. A concatenação das diversas afirmações entre si apresenta alguns problemas. Em especial cumpre esclarecer se a parte intermediária “para a obra do serviço” se refere aos santos ou aos “detentores de cargos” no sentido daqueles que são incumbidos “de uma obra do serviço”. Uma vez que isso não pode ser decidido unicamente com base na estrutura gramatical, é preciso dar a seguinte explicação a partir do contexto: as diversas pessoas incumbidas foram dadas “para o preparo (grego: pros) dos santos para (grego: eis) a obra do serviço, para (grego: eis) a edificação do corpo de Cristo”. Portanto, o sentido seria este: os “detentores de cargos” têm a tarefa de preparar os crentes a fim de que eles por seu turno possam assumir serviços. O corpo de Cristo é edificado por meio de ambas as atividades – o preparo por meio dos grupos citados (em seu todo, não apenas por pastores e mestres) e a obra dos santos.
O termo “preparar” é empregado no NT no sentido de “equipar”, “firmar”: p. ex., conforme 1Ts 3.10 Paulo visa consolidar a fé dos tessalonicenses acrescentando aquilo que ainda lhes falta. Em 1Co 1.10 o termo refere-se a “cunhar o caráter” em vista da unidade da igreja (cf. Gl 6.1). Nisso os membros da igreja devem ajudar-se uns aos outros (cf. 2Co 13.11). Em consonância, a tarefa dos pregadores, dirigentes e pastores consiste em firmar e fortalecer os crentes na confiança em Jesus Cristo, bem como equipá-los para a percepção de suas próprias tarefas. Na verdade podemos relacionar “a obra do serviço” (grego: ergon diakonias) sobretudo com o serviço ao evangelho, a proclamação. Contudo, isso salienta apenas a característica especial da diaconia incumbida por Jesus Cristo: pelo fato de que o próprio Senhor é o servo (Lc 22.27; Jo 13.4ss) e sua vida, paixão e morte são o “serviço” por excelência (Mc 10.45; par.), que é disseminado exclusivamente pela proclamação do evangelho, por isso toda a diaconia brota dessa palavra e é sustentada por ela. Por essa razão uma diaconia desse tipo é predominantemente “diaconia da reconciliação” (2Co 5.18) e consiste no “serviço ao evangelho” (cf. Fp 2.22).
Em uma forma de expressão comparável ao presente versículo Paulo encoraja os coríntios em 1Co 15.58 a destacar “na obra do Senhor” (cf. 1Co 16.10 a respeito de Timóteo), evidentemente descrevendo assim a abrangência total da atuação cristã. O cumprimento das respectivas tarefas por pessoas santas especificamente incumbidas serve à “edificação do corpo de Cristo”. Foi citada, portanto, a palavra básica da vida da igreja em seu todo: tudo o que acontece dentro da igreja local e na igreja cristã em geral precisa servir à “edificação”. Isso marca a linha básica da argumentação diante da igreja em Corinto: na igreja tem vez não o que talvez até seja lícito, individualmente emocionante, mas só aquilo que edifica (1Co 10.23; 14.3s,14,26), e por isso sobretudo o amor (1Co 8.1).
Ef 4.13 A edificação, o crescimento do corpo de Cristo, estão direcionados para um alvo que é indicado neste versículo. A expressão “chegar” pode significar literalmente alcançar um lugar (diversas vezes em At: p. ex., At 16.1; 18.19; etc.), mas também pode ser usada em sentido figurado (o fim dos tempos chegou: 1Co 10.11). Assim como aqui, em Fp 3.11 ela implica a atenta orientação rumo ao alvo visado, quando Paulo afirma de si: “para alcançar a ressurreição dentre os mortos”.
Pode parecer estranho que desde já a igreja seja a “plenitude de Cristo”, concidadã crente dos santos, família de Deus, pedra no templo santo, e que apesar disso ainda se diga que haverá um crescimento, um vir-a-ser. A mesma duplicação já chamara atenção no contexto da herança colocada à disposição: os direitos já foram transferidos, mas ainda não se tomou posse dela (Ef 1.18; 2.7). Consequentemente a plenitude de Cristo é ponto de partida e alvo de todo o crescimento.
Agora isso passa a ser relacionado a uma situação concreta: na realidade pode haver na igreja uma só fé, visto que esta só pode ser fé em um só Senhor Jesus Cristo (Ef 4.5). Na realidade a “unidade do Espírito” é algo dado, porque o Espírito Santo é um só (Ef 4.3). Não obstante cabe “segurar” essa unidade, ou “chegar” a ela. A força motriz de todos os esforços nessa direção não é a utopia de uma igreja unificada, mas a realidade do único corpo de Cristo.
A unidade da fé está estreitamente ligada à “unidade do conhecimento”, que por sua vez se concentra no “Filho de Deus”. Em Ef 1.17-19 Paulo já suplicara pelo Espírito da sabedoria, para que os leitores reconheçam a esperança e a força resultante da ressurreição de Cristo. De maneira semelhante Cl 2.2 interliga o esforço para que “os corações sejam unidos em amor” e o “conhecimento do mistério de Deus: Cristo”. Por isso uma fé aumentada e um conhecimento aprofundado do Filho de Deus caracterizam o crescimento da unidade eclesial.
À unidade corresponde a perfeição. A igreja, “todos nós”, devemos nos tornar “seres humanos perfeitos”: “unidade e perfeição constituem o alvo da igreja, e o Cristo concede participação a cada um nessa unidade e perfeição; ao procurar „chegar‟, impelido pela palavra de Deus, o indivíduo cresce em direção ao alvo da totalidade.”
Discordando de tentativas equivocadas de derivação de concepções gnósticas, o “ser humano perfeito” deve ser entendido como a pessoa amadurecida, adulta. Isso é elucidado pela segunda expressão: “para a medida cheia da plenitude de Cristo”. “Medida plena” é a tradução literal para “medida da idade da vida” ou também “medida da estatura”. Trata-se da “idade adulta” ou da “medida cheia da figura”. O trabalho dos encarregados edifica o corpo de Cristo. Terá alcançado seu tamanho completo “quando todos que são destinados à igreja segundo o plano divino de salvação pertencerem à igreja… A igreja, que é o corpo do Cristo, constitui na estatura completa o pleroma de Cristo.”
Ef 4.14 Tendo esse alvo diante dos olhos, Paulo passa à análise dos problemas com os quais os destinatários da carta estão sendo confrontados. Estabelece uma relação com a figura da pessoa adulta à qual os crentes devem “chegar”, e exorta que superem a imaturidade e a idade infantil: “para que não mais sejamos menores”, que se deixam influenciar facilmente. No NT a pessoa “menor de idade”, a criança, é considerada de diversas maneiras. Por um lado a criança depende de outros, tornando-se modelo de confiança (Mt 18.3) e tem a promessa de receber o reino dos céus (Mt 11.25, cf. 19.14). Por essa razão os crentes podem ser chamados “pequenos filhos de Deus”. Por outro lado destaca-se o aspecto de que o adolescente se deixa ludibriar e carece de firmeza, perfazendo algo que cabe superar (cf. Gl 4.1-3; 1Co 3.1; 13.11).
A falta de firmeza mostra-se particularmente desvantajosa na associação com uma ilustração da navegação: “agitados de um lado para outro pelas ondas e levados ao redor por todo vento de doutrina”. Quando falta crescimento na fé e no conhecimento do Filho de Deus (v. 13) na vida da igreja ou do cristão, quando o trabalho na igreja não serve ao objetivo da edificação do corpo de Cristo, então tal situação se assemelha à de um navio que está indefesamente exposto ao jogo do vento e das ondas. No caso, “toda espécie de doutrina” não se refere ao “calor” externo da perseguição anticristã (cf. 1Pe 4.12), mas à multiplicidade das heresias cristãs.
A figura da navegação transita para a ilustração do jogo de dados. Quem não estiver firme, torna-se joguete. O resultado desse tipo de jogo é aleatório – um contraste total com a certeza da fé, com a posição enraizada no amor de Cristo.
Por meio de um adendo, o jogo, que já é “tortuoso”, passa a ser até mesmo “jogo ludibrioso”: “pelo procedimento com artimanha, que visa o logro”.
Por trás de tal ardileza que se manifesta especialmente por meio de doutrina acessível, agradável, porém enganosa, encontra-se o diabo (cf. Ef 6.11). Sobre essa “artimanha” Paulo também fala em 2Co 11.3: através dela a serpente seduziu Eva para a queda do pecado. Esse processo torna-se exemplo para aquilo que planejam os hereges em Corinto: desviar os crentes da “singeleza e pureza” direcionadas para Cristo. Dessa forma pessoas tornam-se vítimas do “embuste”. Ele se firma quando o “amor pela verdade” é rejeitado, quando a fé na mentira ocupa o espaço da fé na verdade (2Ts 2.10ss). Em contrapartida, o modo de agir de Paulo em suas igrejas sempre se caracterizou por franqueza e retidão, decorrentes do evangelho (cf. 1Ts 2.3: sem engano; 2Co 4.2: sem astúcia).
15 Ao ardil e ao engano são contrapostas “verdade” e “amor”: “e falar a verdade em amor”. Nessa formulação aparece (de forma cruzada) no lugar do engano a verdade, enquanto a artimanha é superada pelo amor.
A expressão “falar a verdade” (grego: aletheuein) ocorre somente neste versículo e em Gl 4.16, podendo também ser traduzida por “ser veraz”. A marca da revelação de Jesus Cristo é a luz, a verdade (cf. Jo 1.14,17; etc.). Em consonância, o evangelho é “palavra da verdade” (Ef 1.13; Cl 1.5; cf. Gl 2.5,14). Logo, também os mensageiros do evangelho são marcados em todo seu serviço pela verdade. Isso é ilustrado, p. ex., de forma impressionante em 2Co 4.2: “Rejeitamos as coisas que, por vergonhosas, se ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade.”
A verdade deve ser dita “em amor”, pelo que se rejeita qualquer artimanha. A franqueza resultante da verdade alia-se à cordialidade e à retidão que brotam do amor (cf. Fp 2.1). O que vale para a relação entre fé e amor (Ef 1.15) também deve ser aplicado à relação entre verdade e amor: ambos têm origem na revelação de Deus e são confiados aos crentes para o trato uns com os outros.
Por isso não é possível impedir que a verdade seja escândalo apelando ao amor, nem marginalizar o amor em nome da verdade.
Pois a ligação de verdade e amor viabiliza o crescimento da igreja rumo a seu alvo: “e crescer em tudo naquele que é a cabeça, Cristo”.
Com o termo “crescer” Paulo retoma a figura do “ser humano adulto” do v. 13. O termo designa tanto o aumento de cada um na fé (cf. a mesma intenção em Ef 3.16ss), como o crescimento do corpo da igreja (cf. Ef 2.21).
Esse crescimento deve incluir “tudo” (não: o universo) no âmbito da igreja: todo membro, toda atividade no corpo recebe a orientação a partir do cabeça, em direção do qual tudo deve estar voltado. O que vale para cada cristão (aumento na fé, no amor e particularmente no conhecimento do amor de Cristo: Ef 3.17ss) deve impactar toda a igreja.
16 A partir do cabeça resulta, no encerramento dessas considerações sobre a unidade e o crescimento do corpo que Cristo presenteia com dons, o ensejo de ilustrar resumidamente a concomitância e o entrelaçamento desse organismo singular.
Viabilizado por esse cabeça e emanando dele “o corpo todo efetua… o crescimento do corpo para a edificação de si próprio no amor”. O corpo “todo”, até as menores ramificações, recebe de Cristo impulso e vigor para o crescimento, para a edificação. Como em Ef 2.20ss, aparecem também aqui lado a lado as figuras do corpo e da construção. Com o crescimento do corpo em direção do cabeça amplia-se também a construção, favorecendo a sua conclusão. A ligação vital com o cabeça, a única coisa que torna viável esse “efetuar”, exclui a possibilidade de que essa “edificação de si próprio” possa tratar-se de um agir autocrático da igreja. A igreja somente pode ser reconhecida a partir de seu cabeça, Cristo. Toda vez que ela perde isso de vista, o presente trecho visa estimular a retornar para o cabeça.
Todo o corpo é “bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta de apoio”. De maneira muito semelhante, Paulo diz, em Cl 2.19: “… o cabeça, a partir do qual o corpo todo é apoiado por articulações e tendões e mantido coeso e cresce pelo agir de Deus.”
Quando se entende o v. 16 como síntese de Ef 4.7-15, as “juntas de apoio”, que possuem uma função central para a coesão do corpo, serão relacionadas com as pessoas incumbidas das tarefas citadas no v. 11.
Também aqui é preciso chamar novamente atenção para o fato de que a tarefa de apoio daqueles especificamente incumbidos apenas é possível a partir de sua ligação vital com o cabeça, uma vez que não representam apenas “dons” para o corpo, mas que também receberam os “dons” pessoalmente de Cristo, de acordo com a vontade dele (Ef 4.7s).
Essa coesão é fomentada “segundo a força atribuída a cada parte”. A formulação “a cada” retoma o v. 7, motivo pelo qual igualmente não deve ser restrito aos que são especificamente encarregados, mas à totalidade dos que creem: a cada um foi concedida, de acordo com a medida do dom de Cristo, a graça com os dons dela decorrentes. De forma análoga o corpo é favorecido por todos os membros. Isso ocorre conforme a força medida para cada parte (cf. Ef 3.7 com vistas ao próprio Paulo).
Assim este versículo sintetiza de fato todo o trecho precedente: partindo da unidade de Deus e de seu agir no corpo de Cristo, o olhar se estende para a multiplicidade dos dons distribuídos aos crentes. Na seqüência, Paulo destaca as tarefas específicas dos apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres no preparo dos santos, para que a igreja de Cristo possa alcançar a idade adulta e resistir a doutrinas ardilosas e enganosas. Por fim o apóstolo enfoca novamente a cooperação de todos na edificação do corpo. A característica marcante de toda a incumbência é que a edificação acontece “no amor” (v. 13). Isso sucede quando o conhecimento do amor de Cristo (Ef 3.19) cresce mais e mais e por isso também se fala a verdade em amor (Ef 4.15).
Eberhard Hahn. Comentário Esperança Cartas aos Efésios. Editora Evangélica Esperança.
A Classificação dos Dons (4.11)
Tudo indica que Paulo, quando escreveu estas palavras, tinha em mente a lista dos ministérios relacionados em 1 Coríntios 12.28. A passagem coríntia compreende uma lista mais longa de dons espirituais (charismata). Mas nesta passagem, Paulo está interessado em apresentar os ofícios necessários para a expansão e sustento da igreja. Cristo deu à igreja os apóstolos: os ministros supremos, os doze que haviam visto o Senhor ressurreto e recebido suas tarefas diretamente dele. Os profetas têm posição proximal à dos apóstolos, e o seu dom especial era o de ministério inspirado. Foulkes afirma que a função primária dos profetas era similar à dos profetas do Antigo Testamento: “anunciar” a palavra de Deus. Porém, ocasionalmente prediziam acontecimentos futuros, como em Atos 11.28 e 21.9,ll. Os evangelistas eram pregadores itinerantes, que iam de lugar em lugar para ganhar os incrédulos (cf. 2 Tm 4.5), de modo muito semelhante como se faz hoje.
Certos intérpretes sugerem que as primeiras três categorias se aplicam à igreja universal, ao passo que as outras duas se ajustam especificamente à igreja local. Pastores são pastores de um rebanho de comunicantes; a palavra grega (poimen) empregada aqui significa, literalmente, “pastor de ovelhas”. A tarefa dos pastores é alimentar o rebanho e protegê-lo dos perigos espirituais. Doutores pode ser uma outra função do pastor. Bruce afirma que estes dois termos “denotam a mesma e uma única classe de homens”. Contudo, pode ser que os doutores representem uma classe de responsabilidade um tanto quanto menor que os pastores, mas que, mesmo assim, detêm lugar especial na igreja. Os cinco ministérios são concedidos pelo Espírito e dados por Cristo à sua igreja.
O Propósito dos Dons (4.12-16)
Falando principalmente da vida interior da comunidade cristã, Paulo descreve o propósito para o qual Cristo deu à igreja estes ministérios. Pelo menos quatro dimensões do propósito divino são distinguíveis.
a) Estes ministérios são dados para edificar ou construir o corpo de Cristo (12). As três frases neste versículo, cada uma separada por uma vírgula (RC), dão a impressão de que o apóstolo expressa um propósito triplo. No idioma original, a ênfase está na última frase: “Ele fez isso para preparar o povo de Deus para o serviço cristão, a fim de construir o corpo de Cristo” (NTLH). O objetivo destes servos especiais é ocasionar um aperfeiçoamento (katartismos, lit., “adaptação” ou “equipamento”) para a obra do ministério (diakonias). A expectativa é que haverá um trabalho ativo e frutífero para o Senhor, com o resultado de que a igreja será edificada. A medida que as almas são ganhas, a vida da comunidade se aprofunda e se fortalece pelo serviço unificador da igreja.
b) Estes dons ministeriais são dados para promover maturidade. O versículo 13 rememora o anterior e oferece explicação adicional da “edificação” da igreja. Uma vez mais, Paulo usa três frases, cada uma iniciada com a preposição grega eis: 1) à unidade da fé; 2) a varão perfeito; 3) à medida da estatura completa de Cristo. Estas não são ideias paralelas. A primeira fala do meio da maturidade, a segunda fala da realidade da maturidade e a terceira fala da medida da maturidade. Uma tradução melhor do versículo seria esta: “Assim, todos finalmente atingiremos a unidade inerente em nossa fé e em nosso conhecimento do Filho de Deus, e chegaremos à maturidade, medida por nada menos que a estatura completa de Cristo” (NEB).
A unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus constitui o meio do amadurecimento (cf. RA). A unidade é um dom do Espírito (cf. 3), mas requer-se fé e conhecimento para recebê-la. Neste texto, a fé é a resposta que damos ao Filho de Deus e a nossa confiança nele — Deus manifestado na carne que morreu no Calvário em nosso benefício. Aqui, conhecimento (epignosis) é semelhante à fé no ponto em que significa “compreensão, familiaridade, discernimento”. Não devemos equipará-lo a conhecimento intelectual, mas a relações pessoais. A unidade se origina dessa intimidade com o Filho proporcionada pela graça. Paulo não está falando da experiência inicial com Cristo. O apóstolo se preocupa com o crescimento e aumento em entendimento e compreensão dos propósitos e vontade de Deus conforme estão revelados em associação com Cristo. Os membros da igreja podem e devem ter tal crescimento em maior medida enquanto o servem.
A varão perfeito refere-se ao nível de maturidade coletiva e individual na igreja, no qual o poder de Deus se manifesta inteiramente em santidade e justiça. Tal estado será atingido em seu significado máximo futuramente, quando possuirmos a graça de Cristo na perfeição da ressurreição (cf. Fp 3.7-16).
A medida da estatura completa de Cristo é o padrão de medida que determina a maturidade cristã. Hodge escreve: “A igreja se torna adulta, homem perfeito, quando alcança a perfeição de Cristo”. A chave para interpretar o versículo é a expressão estatura completa de Cristo. Qual é esta estatura? Salmond diz que é “a soma das qualidades que fazem o que ele é”. Quando a igreja está à altura da maturidade plena do seu Senhor, ela é perfeita. E à medida que cresce em direção a essa maturidade, ela fica mais próxima de sua meta em Cristo. Precisamos também destacar que não há crescimento na igreja separadamente de nosso crescimento individual como crente. É cada um de nós individualmente que tem de se dirigir com empenho à estatura completa de Cristo.
c) Estes ministérios são dados para garantir a estabilidade na igreja diante de doutrinas divergentes e do engano de homens (14). Esta é consequência natural da maturidade, como Paulo indica por sua frase introdutória: Para que não sejamos mais meninos. Uma das evidências claras de imaturidade é a incapacidade de resistir, de forma inteligente e espiritual, as declarações das falsas doutrinas. As palavras de Paulo são pitorescas. O termo inconstantes só ocorre aqui no Novo Testamento e é derivado de kludon (“vagalhão” ou “onda”). Por conseguinte, o verbo significa literalmente “ser lançado pelas ondas”. Cristãos imaturos são como barcos açoitados pela tempestade. Levados em roda vem da palavra gregaperiphero, que tem a ideia de oscilar violentamente. Boas traduções dos dois termos são: “levados de um lado para outro pelas ondas” e “jogados para cá e para lá por toda nova rajada de ensino” (cf. BJ, NVI). Atarefa dos ministros é pôr mão forte no leme da igreja, mantê-la firme e fornecer o lastro doutrinário mediante um ministério fiel de pregação e ensino.
Aqueles que introduzem falsos ensinos, nos quais os crentes instáveis caem vítimas, enganam a si mesmos e também enganam fraudulosamente os outros. Esta fase é mais bem traduzida por “fazem uso de todo tipo de dispositivo inconstante para induzir ao erro” (Weymouth). Eles usam de engano (lit., “jogo de dados”). Metaforicamente, veio a significar “artimanha” (BJ, RA). Moule declara corretamente o aviso de Paulo: “Há pessoas próximas de vós que não só vos desviam, mas o fazem de propósito, pondo armadilhas premeditadas e organizando métodos bem-elaborados, com o objetivo de afastá-los de Cristo a quem eles não amam”. A única proteção adequada contra a sutileza da heresia é uma fé crescente e um conhecimento progressivo da verdade. Os ministros têm de proporcionar a oportunidade de tal maturação para assim garantir a estabilidade na igreja.
d) Estes ministérios são dados para possibilitar o crescimento em Cristo. Seguindo a verdade (15) é derivado do verbo grego aletheuo, geralmente traduzido por “falar a verdade” (cf. CH, NTLH). Mas há mais no pensamento de Paulo do que proferir sons articulados. Ele pensa em termos de viver e agir. Dale comenta: “A verdade tem de ser a vida de todos os cristãos. A revelação de Deus em Cristo tem de influenciar e inspirar todas as atividades dos cristãos. A verdade tinha de se encarnar nos efésios, tinha de se corporificar neles. [...] Não era apenas para falar, mas para vivenciá-la”. E esta vida era para ser vivida em caridade (“em amor”, ACF, AEC, BAB, BJ, CH, NVI, RA), quer dizer, com os motivos e inclinações que o amor evoca. As pessoas confessam e vivem asperamente certa porção de verdade, mas a comunidade cristã sempre tem de se expressar em amor. O resultado será o movimento progressivo em direção à perfeição de Cristo, a cabeça da igreja. Repare que esta ideia é essencialmente idêntica ao pensamento do versículo 13. Além disso, esta ação positiva é a melhor defesa contra os efeitos do erro descritos no versículo 14.
No versículo 16, o apóstolo retorna à analogia do corpo e se serve disso para enfatizar a unidade que Cristo, a cabeça, traz para a igreja. Ele visualiza a estrutura maravilhosa e intricada do corpo humano com suas partes unidas de modo bem ajustado e ligado (“bem unido e consolidado”, NEB). Na analogia, juntas referem-se aos ligamentos pelos quais as partes do corpo se unem. Quando o corpo está funcionando segundo ajusta operação de cada parte, quer dizer, quando cada parte é ativada de acordo com o seu propósito, a harmonia prevalece e o crescimento é certo. Cristo é, obviamente, o centro e a origem de toda a vida espiritual. Ele dá “coesão e poder vital para o crescimento”.40 Este crescimento resulta na edificação ou “construção” (BAB) da igreja em amor (cf. 1.4; 3.17; 4.2; 5.2). A estrutura tem a ver principalmente com o desenvolvimento espiritual interno, mas quando a igreja é interiormente forte ela aumenta numericamente.
Em suma, Paulo vê a unidade da igreja em termos orgânicos e não organizacionais. A verdadeira unidade é interior e resultado de um organismo saudável. O Espírito cria essa unidade; não é obra de homens, por mais inteligentes ou apessoados que sejam. Quando esta unidade prevalece, compartilhada por cada membro e motivada pela fidelidade de ministros talentosos, a igreja cresce em simetria e beleza, para espanto do mundo não-crente.
Nos versículos 4 a 16, o pensamento da medida da estatura completa de Cristo sugere o tema “O Alvo Ultimo do Cristão”. 1) O meio para esse fim. Ensinar e pregar a Palavra de Deus, 11,12; 2) O compêndio do ideal, 4-7,15. A fé incorporada e o corpo incorporado, 16; 3) A proximidade da meta num caráter estável, 14. Cristo no trono do coração. A igreja unida (G. B. Williamson).
Willard H. Taylor. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 9. pag. 160-163.
III - CORINTO: UMA IGREJA PROBLEMÁTICA NA ADMINISTRAÇÃO DOS DONS ESPIRITUAIS (1 Co 12.1-11)
1. Os dons são importantes.
OBJETIVOS DOS DONS
Glorificação de Jesus Jo. 16: 14 Ele me glorificará porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.
Expansão do Evangelho Rom. 15: 19 Por força de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito Santo; de maneira que desde Jerusalém e circunvizinhanças, até ao Ilirico, tenho divulgado o evangelho de Cristo.
Edificação da Igreja I Cor. 14: 12 Assim também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir, para a edificação da Igreja.
Confirmação da Palavra Mc. 16: 20 E eles, tendo partido, pregaram a em toda parte, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam.
FATBI. Faculdade Teológica Bereana Internacional Módulo De Teologia Sistemática Curso Bacharelado Em Teologia.
Agora o apóstolo mostra como se manifestavam os vários dons do Espírito, nos quais a congregação era tão rica, e qual o propósito que eles deviam guardar em mente: Mas a cada um (cristão) está sendo dada a manifestação do Espírito visando o proveito comum. Ele fala de  modo muito geral, afirmando que cada cristão possui algum dom da graça, um dom que não foi meramente derramado sobre ele em certa ocasião no vago e distante passado, mas que lhe é concedido dia após dia. Por isso, seu alvo e objetivo não é servir ao engrandecimento e gozo pessoal, mas ser colocado à disposição e ao ministério do proveito espiritual da congregação inteira e da igreja. Cada cristão devia revelar-se um bom despenseiro da multiforme graça de Deus, 1.Pe. 4. 10; Mt. 25. 14-30.
Paulo mostra por meio de certo número de exemplos como exatamente os talentos espirituais dos cristãos individuais deviam servir para o benefício da congregação toda: A um foi dada pelo Espírito, por meio do Seu poder, a palavra de sabedoria. Teve um saber excepcionalmente completo das grandes verdades da Escritura, ou seja, do mistério do evangelho,
da palavra da cruz, e de modo claro e convincente pôde expô-las em seu conjunto. Mas a outro foi dada a palavra de conhecimento, segundo o mesmo Espírito, orientado pelo Seu poder. Teve o dom de aplicar a palavra de Deus a casos individuais na vida, lançar de modo apropriado luz sobre eles, fazer as conclusões corretas na base dum claro conhecimento. O saber é mais teórico, conhecimento é mais prático. São estas em especial as qualificações do professor e pastor.
Na segunda série de dons, a um outro é dada fé, no mesmo Espírito, unicamente no Seu poder e outorga. Não é aquela fé que aceita a salvação em Cristo, ou seja, não a fé que justifica, mas uma confiança forte e inabalável no Deus onipotente ou no poder de Cristo, como algo capaz de se revelar em feitos extraordinários e realizar o que aos homens parece impossível.18) Este dom de fé heróica foi especialmente necessária nos dias antigos da igreja, mas desde então apareceu em muitos servos do Senhor, que, com a assistência do Senhor, realizaram o aparentemente sobrenatural. A um outro foram dados na concessão do mesmo Espírito os dons das curas. Nos dias antigos houve cristãos que foram capazes de curar os doentes sem o uso de medicamentos e para realizar outras coisas milagrosas, como sejam: ressuscitar os mortos, castigar os maus por meio duma manifestação extraordinária da ira de Deus, como no caso de Ananias e Safira, Elimas, etc. Com estes dons estiveram intimamente ligados os atos de poder, e a operação de milagres em geral.
Paulo menciona no terceiro grupo de dons, que a outro cristão é dada profecia, o que não só inclui a habilidade de ver o futuro e pré-anunciar eventos vindouros, mas também a de aplicar a palavra de Deus no ensino e na admoestação. “A profecia é que alguém pode interpretar e explicar corretamente a Escritura, e dela comprovar, de modo vigoroso, a doutrina da fé e a doutrina falsa; por meio dela também admoestar o povo, ameaçar ou fortalecer e confortar, indicando, enquanto isto, a ira vindoura, o castigo e a vingança sobre os descrentes e desobedientes, e, por outro, o socorro divino e a recompensa para os cristãos e piedosos; assim como os profetas o fizeram à base da palavra de Deus, tanto da lei como das promessas.”19) A outro é dado o discernir espíritos, que é a capacidade de, rapidamente, distinguir entre verdadeiros e falsos mestres, 2.Ts. 2. 9; 1.Jo. 4. 1.
Quando Satanás descobriu que aberta inimizade e perseguição não tiveram o sucesso que seus planos quiseram, então ele empregou a astúcia e atuação escondida, fazendo surgir falsos mestres exatamente no meio das congregações cristãs, cujas línguas fluentes muitas vezes conseguir introduzir doutrinas diferentes do puro evangelho pregado pelos apóstolos. Por isso uma pessoa que tem a capacidade para logo discriminar, para desmascarar a posição dúbia e perigosa dos falsos mestres, foi uma valiosa aprovação na congregação. A mais outro cristão foram dadas tipos de línguas, sendo ele capaz para falar as grandes coisas de Deus em línguas estranhas, que jamais estudara, Mc. 16. 17, ou ele podia louvar o Senhor numa língua totalmente nova e desconhecida, virtualmente na língua dos anjos, cap. 13. 1. Contudo, visto que estes dons em si mesmo teriam sido inúteis, o Senhor também havia concedido a um outro a interpretação de línguas, ou seja, a capacidade de traduzir a língua desconhecida para o benefício da congregação, para a edificação dos ouvintes.
Claramente o apóstolo lembra seus leitores que, não importando a imensa diferença entre eles, não importando a inclinação que houve entre os detentores dos diferentes talentos para exaltar seus dons pessoais, todos estes dons haviam sido operadas por um e o mesmo Espírito, quando distribuiu a cada pessoa individual exatamente como Sua vontade o ditava. Aqui se destacam dois pensamentos: Que é tão somente o Espírito que lida com cada indivíduo, que é Sua escolha e juízo que determinam os dons, mas também que não podia haver qualquer ideia de mérito da parte de quem os recebeu; a medida do Espírito Santo é a sua vontade e seu conselho pessoal e gracioso.
Nota: Dos dons aqui mencionados pelo apóstolo, quatro desapareceram completamente do meio da igreja cristã, os outros cinco ainda são encontrados, ainda que em medida menor.
Desapareceram completamente o dom de curar sem a aplicação de remédios, o dom de operar outros milagres, o dom de falar línguas estranhas sem algum estudo e uso prévio, e por último o dom de interpretar tais línguas que jamais se estudou. Este, porém, não é o caso com os outros dons mencionados pelos apóstolos, a saber, com os dons de falar pelo Espírito com sabedoria e com conhecimento, com o dom de profetizar, isto é, de expor as Escrituras, com o dom de uma fé excepcionalmente alta, forte e heroica, e por fim com o dom de distinguir entre os espíritos.”20) Se estes dons ao menos tivessem sido empregados mais vezes, em toda humildade, para o benefício da igreja!
KRETZMANN. Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo Testamento. Editora Concordia Publishing House.
2. Diversidade dos dons.
Dons de manifestação do Espírito
Vamos agora classificar ou agrupar os dons com o objetivo de entender melhor o assunto. A primeira classificação é a dos dons de manifestação do Espírito em número de nove, conforme I Coríntios 12.8-10. Esses dons são formas de capacitação sobrenatural de pessoas, para a “edificação do corpo de Cristo” como um todo, e também para a bem-aventurança de seus membros, individualmente (vv.3-5,12,17,26).
Os capítulos 12 a 14 de I Coríntios têm a ver com esses maravilhosos dons. Eles são de atuação eventual, inesperada e imprevista (quanto ao portador do dom), tudo dependendo da soberania de Deus na sua operação. Esses dons manifestam o saber de Deus, o poder de Deus e a mensagem de Deus.
Dons que manifestam 0 saber de Deus (I Co 12.8-10). Esses dons manifestam a multiforme sabedoria de Deus:
1) A palavra da sabedoria (v.8). E um dom de manifestação da sabedoria sobrenatural, pelo Espírito Santo. E um dom altamente necessário no governo da igreja, pastoreio, administração, liderança, direção de qualquer encargo na igreja e nas suas instituições.
2) A palavra da ciência (v.8). “Ciência” equivale, aqui, a “conhecimento”. Ê um dom de manifestação de conhecimento sobrenatural pelo Espírito Santo; de fatos, de causas, de ensinamentos, de ensinadores, etc.
3) O dom de discernir os espíritos (v.IO). No original, os dois termos que designam este dom estão no plural. E um dom de conhecimento e de revelação sobrenaturais pelo Espírito Santo. E um dom de proteção divina para não sermos enganados e prejudicados por Satanás e seus demônios, e também pelos homens. Uma das principais atividades de Satanás é enganar (Ap 12.9; 20.8,10; I Tm 4.1). Os homens também enganam (Ef 4.14; I Jo 2.26; 2 Jo v.7). Líderes em geral — inclusive de música —, pastores, evangelistas, mestres, precisam muito deste dom para não serem enganados.
Dons que manifestam o poder de Deus (I Co 12.9,10). Esses dons manifestam a poder dinâmico de Deus:
1) A fé (v.9). E um dom de manifestação de poder sobrenatural pelo Espírito Santo. Superação e eliminação de obstáculos sejam quais forem, e de impedimentos; liberação do poder de Deus; intercessão. Não se trata aqui da fé no seu sentido salvífico (Ef 2.8); ou fé como fruto do Espírito (G1 5.22); ou fé significando o corpo de doutrinas bíblicas (G1 1.23); ou fé como o aspecto puramente espiritual da vida cristã (2 Co 13.5). Trata-se da fé chamada “fé especial”, “fé miraculosa”. Este dom opera também em conjunto com vários outros dons.
2) 05 dom de curar. Ou “dons de curas”, literalmente (v.9). Isto é, este dom é multiforme na sua constituição e na sua operação. Ê uma sublime mensagem para os enfermos, não importando a sua doença. São dons de manifestação de poder sobrenatural pelo Espírito Santo para a cura das doenças e enfermidades do corpo, da alma e do espírito, para crentes e descrentes.
Esses “dons de curas” operam de várias maneiras: através da Palavra; através de outro dom; uma palavra de ordem; um olhar; mãos, etc. Os dons de curas abrangem o ser humano em sua totalidade; já o dom da fé, além do ser humano, abrange tudo mais, conforme os planos e propósitos de Deus.
3) A operação de maravilhas (v. 10). No original, os dois termos que designam este dom estão no plural: “operações de maravilhas”. São operações de milagres extraordinários, surpreendentes, pasmosos; prodígios espantosos pelo poder de Deus, para despertar e converter incrédulos, céticos, oponentes, crentes duvidosos. Leia João 6; Atos 8.6,13; 19.11; e Josué 10.12-14.
Dons que manifestam a mensagem de Deus (I Co 12.10). Esses dons manifestam a mensagem da parte de Deus, poderosa, vivificante, criativa, edificante e consoladora (E em torno desses três últimos dons que ocorre mais falta de disciplina e de ordem nas igrejas, como também ocorreu em Corinto.).
1) A profecia (v. 10). E um dom de manifestação sobrenatural de mensagem verbal pelo Espírito, para “edificação, exortação e consolação” do povo de Deus (I Co 14.3). E um dom necessário a todos os que ministram a Palavra; que trabalham com a Palavra (cf. Lc 1.2b; I Tm 5.7). O grau da profecia na igreja hoje não é o mesmo da “profecia da Escritura” (2 Pe 1.20), que é infalível — a profecia da Bíblia.
A profecia na igreja deve ser, pois, julgada. De fato, a Bíblia declara: “Em parte profetizamos” (I Co 13.9). A profecia da igreja está sujeita a falhas por parte do profeta; daí a recomendação bíblica de I Coríntios 14.29: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”.
Por que a profecia é denominada o principal dom, conforme I Coríntios 13.2 e 14.1,5,39? Porque a profecia edifica a igreja como um corpo, e não ape- nas como indivíduos. Também porque a profecia é um meio de expressão de muitos dons (I Tm 4.14a). A maior parte do tempo do culto deve ser para a ministração da Palavra de Deus, e não para a profecia, conquanto seja esta tão importante (I Co 14.29).
2) A variedade de línguas (v. 10). É um dom de expressão plural, como indica o seu título. È um milagre linguístico sobrenatural. Nem todos os crentes batizados com o Espírito Santo recebem este dom (I Co 12.30). Já as línguas como evidência física inicial do batismo, todos ao serem batizados no Espírito Santo as falam.
As mensagens em línguas mediante este dom devem ser interpretadas para que a igreja receba edificação (I Co 14.5,27). O crente portador deste dom, ao falar em línguas perante a congregação, não havendo intérprete por Deus suscitado, deve este crente falar somente “consigo e com Deus” (I Co 14.4,28), isto é, falar em silêncio.
3) A interpretação das línguas (v. 10). Ê um dom de manifestação de mensagem verbal, sobrenatural, pelo Espírito Santo. Não se trata de “tradução de línguas”, mas de “interpretação de línguas”. Tradução tem a ver com palavras em si; interpretação tem a ver com mensagem. As línguas estranhas como dom espiritual, quando interpretadas, assemelham-se ao dom de profecia, mas não é a mesma coisa. O dom de interpretação é um dom em si mesmo, e não uma duplicação do dom de profecia (cf. I Co 12.10,30; 14.5,13,26-28).
Dons de ministérios práticos São administrações de serviços práticos, individuais e em grupo (Rm 12.6-8; I Co 12.28-30). Nestas passagens, eles aparecem juntamente com os demais dons espirituais, e sob o mesmo título original charismata — “dons da graça”. São dons de ministração residentes no portador, pela natureza de sua finalidade junto às pessoas ou grupos: assistência, serviço, socorro, auxílio, amparo, provisão. São dons residentes nos seus portadores, pela natureza e objetivos de sua ação.
Estes dons têm sido pouco estudados na igreja. Daí os equívocos e dúvidas existentes. São da mesma natureza espiritual e sobrenatural dos demais dons da graça de Deus. A Bíblia os coloca em conjunto com os demais dons (I Co 12.28). Ela usa para esses dons o mesmo termo original empregado para os dons de I Coríntios 12.4-10: charismata (Rm 12.6-8).
Ministério (Rm 12.7). Ministração, servir, prestar serviço material e espiritual, sem primeiramente esperar recompensa, reconhecimento, retribuição, remuneração, com motivação e capacitação mediante este dom. E servir capacitado sobrenaturalmente pelo Espírito.
Ensinar (Rm 12.7). Ensinar no sentido didático, como deixa claro o original. E o dom espiritual de ensinar, tanto na teoria, como na prática; ensinar fazendo; ensinar a fazer; ensinar a entender; treinar outros. Educar no sentido técnico desta palavra. Não confundir com o ministério do ensino, que tem a ver com ministros do evangelho, segundo Efésios 4. II e Atos 13.1 (“profetas e mestres”).
Exortar (Rm 12.8). Exortar, aqui, é como dom: ajudar, assistir, encorajar, animar, consolar, unir pessoas desunidas, que não se falam; admoestar.
Repartir (Rm 12.8). O sentido no original é dar generosamente, doar, oferecer, distribuir aos necessitados em primeiramente esperar recompensa ou reconhecimento, movido pelo Espírito Santo. Este dom ocupa-se da benevolência, beneficência, humanitarismo, filantropia, altruísmo.
Presidir (Rm 12.8). E conduzir, dirigir, organizar, liderar, governar, orientar com segurança, conhecimento, sabedoria e discernimento espiritual. Isso em se tratando de igreja, congregação, instituição, etc. Para alguém presidir desta maneira, só mesmo tendo de Deus este dom! A tendência natural de quem lidera e preside é ser duro, dominar somente pela autoridade, ser insensível.
Exercitar misericórdia (Rm 12.8). Este dom refere-se a assistência aos sofredores, necessitados, carentes; fracos, enfermos, presos, visitação, compaixão.
Socorros (I Co 12.28). Literalmente “achegar-se para socorrer”. É o caso de enfermos, exaustos, famintos, órfãos, viúvas, etc. È um dom de ação plural.
Governos (I Co 12.28). E um dom plural no seu exercício. Ê dirigir, guiar e conduzir com segurança e destreza. O termo original sugere pilotar uma embarcação com segurança, destreza e responsabilidade.
Dons na área do ministério
Esses dons são enumerados em Efésios 4.11 e I Coríntios 12.28, 29, a saber: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores, doutores ou mestres.
Alvos e resultados dos dons espirituais. De acordo com I Coríntios 12.7, “a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil”. Vejamos quais são os alvos e resultados dos dons espirituais:
1) A glorificação do Senhor Jesus em escala muito além da natural e humana (Jo 16.14).
2) A confirmação da Palavra de Deus anunciada, pregada e ensinada (Mc 16.17-20; Hb 2.3,4).
3) O crescimento constante e real, em quantidade e qualidade, da obra de Deus na igreja, na evangelização e nas missões (At 6.7; 19.20; 9.31; Rm 15.19\
4) A “edificação” espiritual da igreja de Deus como um corpo e como membros individualmente (I Co 12.12-27). Jesus afirmou: “Eu edificarei a minha igreja” (Mc 16.18), mas na ocasião Ele não disse como ia edificar. Mas em Atos e nas Epístolas vemos que é em parte através desses dons divinos de que estamos a tratar.
5) O aperfeiçoamento dos santos (Ef 4.11,12). Isso jamais é possível por parte do homem, ou das coisas desta vida, mas é possível para Deus (c£ Lc 18.27).
O exercício dos dons do Espírito. Toda energia e poder sem controle é desastroso. Estudando I Coríntios 14.26,32,33 e 40, vemos que Deus nos concede dons, mas não é responsável pelo mau uso deles, por desobediência do portador à doutrina bíblica, ou por ignorância desta. A eletricidade quando domada nas subestações, torna-se apropriada ao consumo doméstico, mas nas linhas de alta tensão é letal e destruidora. Também não adianta ter um bom freio no carro sem o seu potente motor, como muitos fazem nas igrejas mornas, frias e secas. Elas têm freio e direção no “carro”, porém falta-lhes o ativo e poderoso motor.
O uso dos dons na igreja deve ser regulado e equilibrado pela Palavra de Deus, corretamente entendida, interpretada e aplicada. A Palavra e o Espírito interpenetram-se e combinam-se em sua operação conjunta na igreja. A Palavra é a espada do Espírito, e o Espírito interpreta e emprega a Palavra.
Na igreja, a predominância da doutrina do Senhor corrige erros, evita con- fusão e repara estragos. Ela, quando ensinada e aplicada, neutraliza o fanatismo, que é zelo religioso sem entendimento — são exageros, práticas antibíblicas, emocionalismo, gritaria e outros desmandos. Por sua vez, quando o Espírito predomina, neutraliza o formalismo, que é excesso de regras, regulamentos, legalismo, rotina religiosa, formalidades secas e enjoativas, mornidão, fórmulas, ritos e coisas assim.
Quem recebe dons de Deus, a primeira coisa a fazer é procurar conhecer o que a Palavra ensina sobre o exercício deles. Em Corinto havia abuso dos dons, enquanto em Tessalônica havia carência deles, por tanto refreio. E de pasmar em nossas igrejas a carência da doutrina bíblica sobre essas manifestações do Espírito — os dons espirituais. O resultado disso aí está em muitos lugares: fanatismo, práticas antibíblicas, meninices, confusão, escândalo e desonra para o evangelho que pregamos.
No exercício dos dons e de outras manifestações do Espírito Santo, ninguém que aja desordenadamente e cause confusão, dentro da congregação e fora dela, venha a dizer que está agindo assim por direção do Espírito Santo. Ele não é o autor de tais coisas!
Responsabilidade quanto aos dons. É preciso haver responsabilidade quanto aos dons, a fim de que não haja mau uso deles.
1) Conhecer os dons. “Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes” (I Co 12.1).
2) Buscar os dons. “Procurai com zelo os melhores dons” (I Co 12.31).
3) Zelar pelos dons. “Procurai com zelo os dos espirituais” (I Co I4.I).
4) Ser abundante nos dons. “Procurai progredir neles, para a edificação da igreja” (I Co 14.12, ARA).
5) Ter autodisciplina nos dons. “E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas” (I Co 14.32).
6) Ter decência e ordem no exercício dos dons. “Mas faça-se tudo decen- temente e com ordem” (I Co 14.40).
Portanto, poder, mais, curas, libertação e maravilhas devem caracterizar um genuíno avivamento pleno de renovação espiritual e pentecostal. No entanto, tudo deve ser livre de escândalos, engano, falsificação, e segundo a decência e ordem que a Palavra de Deus preceitua (I Co 14.26-40).
Antônio Gilberto. Teologia Sistemática Pentecostal. Editora CPAD. pag.196-202.
Os dons de Deus
Notemos o que Paulo diz: “E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos” (1 Coríntios 12.6).
A palavra “operações” refere-se ao método usado para pregar o evangelho. Para ser mais específico, refere-se à estratégia usada para que o evangelho alcance o mundo todo. Meios eficientes e programas para testemunhar o evangelho incluem a abertura de novas igrejas, reavivamento, estabelecimento e manutenção de escolas e hospitais. Essas ações pertencem às diversas operações que Deus usa para o avanço do evangelho.
Os dons de Jesus
Paulo também diz: “E também há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo” (I Coríntios 12.5). Isso quer dizer que Jesus Cristo tem dado o dom de ministrar a alguns cristãos, para que possam ocupar posição de liderança e realizar trabalhos dentro da igreja. Assim como toda organização na terra requer liderança responsável, a igreja, o corpo de Cristo, também o exige.
O ministério é explicado em diversos lugares na Bíblia. Como exemplo, em I Coríntios 12.27-28 lemos:
“Ora, vós sois corpo de Cristo e, individualmente, membros desse corpo. A uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro lugar mestres, depois operadores de milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas”.
Com respeito a esses ministérios, Paulo escreveu em Efésios 4.11: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores”. Esse versículo nos mostra que, como cristãos, não podemos escolher o tipo de ministério que gostaríamos de ter dentro da igreja. Sem dúvida, cada um de nós deve descobrir o dom de Jesus que nos foi dado e, então, servir a Deus fielmente naquele tipo de serviço para o qual fomos escolhidos.
Os dons do Espírito
Concluímos, então, que os dons são dados pelo Espírito Santo: “Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo” (I Coríntios 12.4).
Dons do Espírito Santo são os instrumentos de poder que levam adiante, com sucesso, a realização e administração do trabalho de Deus em sua igreja.
Quando se planeja construir uma casa e o arquiteto, construtor e especialistas são escolhidos, todas as ferramentas e materiais necessários para a construção são trazidos e usados, para que o projeto obtenha sucesso e seja efetuado o mais rápido possível.
Quando há um grande trabalho a ser realizado para Deus, os dons do Espírito Santo são distribuídos a diferentes cristãos dentro da igreja, o corpo de Cristo. Esses dons capacitam os cristãos a completar o trabalho de Deus com responsabilidade e eficiência; e o trabalho desenvolve-se graças ao Espírito Santo.
Existem nove dons do Espírito Santo, e podem ser divididos em três grupos como segue:
1. Os dons de revelação
a. O dom da palavra da sabedoria
b. O dom da palavra da ciência
c. O dom de discernimento de espíritos
2. Os dons vocais
a. O dom de línguas
b. O dom de interpretação de línguas
c. O dom de profecia
3. Os dons de poder
a. O dom de fé
b. O dom de cura
c. O dom de operar milagres
Os dons de revelação referem-se à comunicação sobrenatural, revelada pelo Espírito Santo ao coração daquele que recebe esse dom. O conhecimento de experiências e situações de outras pessoas, que é revelado mediante esses dons, só se tornará público quando a pessoa que recebe um ou todos esses dons decide falar.
Os dons vocais tratam da comunicação sobrenatural que o Espírito Santo de Deus revela, usando a voz humana. Não somente a pessoa que usa os dons, mas outras ao seu redor podem ouvir a comunicação, pois esses dons são recebidos pelos sentidos.
Os dons de poder são dons grandiosos pelos quais o poder de Deus se manifesta, a fim de transmitir uma resposta miraculosa mediante uma intervenção divina, sobrenatural. Por meio desses dons as pessoas e seu ambiente são transformados.
Todos os tipos de dons são distribuídos às pessoas pelo Espírito Santo, de acordo com sua própria vontade, para o benefício e crescimento da igreja, o corpo de Cristo.
DAVID YONGGI CHO. O Espírito Santo, Meu Companheiro. Editora Vida. pag. 116-119.
3. Autossuficiência e humildade.
Utilizando Os Dons Espirituais
1. Não são meios pelos quais nos autoglorifiquemos. Tal atitude seria contrária ao inteiro espírito do evangelho. Mas que tal atitude havia na igreja de Corinto é algo que fica transparente no décimo quarto capítulo de I Coríntios.
2. Os dons espirituais visam a edificação, e devem servir de meios para conduzir os homens na direção da perfeição, em Cristo (ver Efé. 4:11 e ss.).
3. Precisam ser exercidos no ambiente do amor (ver I Cor. 13), pois o amor é maior que qualquer dom espiritual. A nossa preocupação deveria ser: «Mediante 0 uso deste dom, como posso ajudar os homens a serem transformados mais profundamente segundo a imagem de Cristo?» Ou então: «Como poderei servir a outros, material e espiritualmente, pelo meu ministério caracterizado por dons espirituais?»
4. Cada membro do corpo de Cristo deveria possuir algum dom espiritual, e cada dom é uma função do corpo. Paulo emprega uma metáfora baseada na fisiologia, em I Cor. 12:12-31, a qual é mui instrutiva.
«...a graça que nos foi dada...» Todos os dons espirituais começam e têm por base a graça de Deus, tal como 0 apóstolo dos gentios já havia demonstrado, em seu próprio caso, porque, ao ser chamado para 0 apostolado, foi chamado através da dispensação da graça de Deus. (Ver o terceiro versículo deste mesmo capítulo). Todas as demais funções espirituais são igualmente alicerçadas nesse propósito divino, atuadas nos homens mediante o Espírito Santo.
Neste ponto, a medida da fé e. a. «graça que nos foi dada» significam essencialmente a mesma coisa. (Ver as notas expositivas no terceiro versículo deste capítulo, quanto à leve diferença de sentido entre as duas expressões). Ambas as passagens referem-se à «graça» do Espírito, como fundamento de toda a outorga dos dons espirituais. Aquilo que fala da fé enfatiza a base em que a graça se desenvolve e floresce. Diz Brown (in loc.)
referindo-se ao terceiro versículo deste capítulo: «A fé é aqui vista como a entrada e como o canteiro de todas as outras graças, sendo assim a faculdade receptiva da semente renovada». A própria fé, cujo início tem lugar quando da regeneração, e que frutifica na vida cristã diária, por ser o princípio transmissor de vida, em si mesma é uma graça de Deus, porque é conferida aos homens, embora sempre em cooperação com a vontade humana.
Neste versículo, «...dons...» é tradução do termo grego «charismata»,. O vocábulo grego técnico para todos os chamados «dons espirituais». Todos esses dons são proporcionados e inspirados pelo Espírito Santo, não 'se tratando meramente das manifestações miraculosas. Paulo não entra aqui em longa descrição sobre os dons do Espírito, e nem mesmo chega a mencionar os dons especialmente «miraculosos», segundo faz no paralelo do décimo segundo capítulo da primeira epístola aos Coríntios. Portanto, suas explicações são muito menos extensas neste décimo segundo capítulo da epístola aos Romanos, simplesmente porque 0 apóstolo dos gentios não foi obrigado a tentar corrigir abusos sérios, conforme se deu no caso de sua epístola aos Coríntios.
O Uso E O Abuso Dos Dons Espirituais
1. Quando a epístola aos Romanos foi escrita, os dons espirituais ainda não haviam cessado. Não podemos usar 0 trecho de I Cor. 13:10, como texto de prova do ensino que supostamente os dons espirituais desapareceriam dentro da era cristã, pois o que é «perfeito»—que finalmente eliminará a necessidade de certos dons espirituais—é a «parousia» (ou segunda vinda de Cristo), e não o término do cânon neotestamentário.
2. Entre os dons espirituais, alguns são perturbadores por haverem sido imitados e abusados, a saber, alguns dons miraculosos como as línguas, a interpretação de línguas e os milagres de curas. Há algumas indicações, dentro da tradição profética, de que a espiritualidade continuará avançando até um ponto em que os dons espirituais controvertidos chegarão a ser substituídos por formas de expressão espirituais mais elevadas. Então os verdadeiros crentes unir-se-ão ao redor de uma mais alta espiritualidade. Portanto, estamos progredindo para um ponto mais avançado, melhor que uma simples restauração.
As manifestações místicas não procedem necessariamente do reino da luz, e é muito engenhosa aquela atitude que pensa que simplesmente porque são buscadas em «nome» do Senhor Jesus, que os benefícios espirituais assim adquiridos procedem do Espírito Santo. Blasfêmias e vulgaridades têm sido ouvidas em línguas, nas igrejas evangélicas, supostamente no nome do Senhor Jesus. A possessão demoníaca não é incomum em algumas igrejas evangélicas onde a psyche é escancarada às influências espirituais externas. Isso prova que os «demônios» se fazem presentes; e, estando presentes os demônios, são eles os provocadores de muitas das manifestações que ali se efetuam.
Há uma igreja evangélica, que este autor conhece pessoalmente, onde ocorre o chamado «fenômeno do perfume». Trata-se do aparecimento repentino do odor de rosas, embora diferente do perfume das rosas terrestres. Naquela igreja supõe-se que tal perfume aparece quando o Senhor Jesus se faz presente entre seu povo. Essa opinião é aceita pelos membros da citada igreja sem qualquer sombra de dúvida; mas certamente ficariam muito surpreendidos se soubessem que esse fenômeno e bastante comum em centros espiritas, onde nenhuma reivindicação é feita da presença de Jesus Cristo, mas tão-somente da presença de vários «espíritos». Além disso, essa mesma experiência é comum para certos indivíduos, com frequência em conexão com a suposta volta de algum ente amado já falecido, como algo que muito se repete, usualmente em tempos de crise, quando tal «presença» se torna psicologicamente necessária. Eles «reconhecem» que 0 espírito da pessoa falecida se fez presente mediante o citado perfume, usualmente de alguma espécie de flor. O famoso «Arigó», aqui no Brasil, com frequência produzia o «fenômeno do perfume», simplesmente pondo um vaso qualquer com água sobre uma mesa, a qual prontamente adquiria o odor do perfume. Tudo isso dizemos para advertência a pessoas mais psicologicamente destreinadas, as quais facilmente supõem que qualquer ocorrência diferente e aparentemente miraculosa procede necessariamente do Espírito Santo de Deus.
3. Em cada século, os dons espirituais são desesperadoramente necessários para o bem da igreja, em seu desenvolvimento (ver o que diz Efé. 4:11 e ss.); mas esses dons podem ser exercidos segundo moldes diferentes dos do primeiro século cristão, ou em moldes superiores àqueles de eras passadas. Estamos aguardando exatamente esta última alternativa.
4. Foram dadas notas completas sobre o «batismo do Espírito e os dons espirituais», incluindo o dom das línguas, em Atos 2:4.
Quanto aos abusos, consideremos as notas abaixo;
Os Dons, Que Fiquem Para Sempre! Mas Cuidado Com Os Abusos
1. Paulo nos ensina a buscar os dons (ver I Cor. 12:31).
2. Abundam, entretanto, os abusos e as imitações.
a. A mera alma humana, em seus poderes psíquicos, pode duplicar a todos esses dons espirituais, pois o homem é um espírito e está revestido de poderes espirituais. O psiquismo pode servir de base de supostos dons espirituais. Têm sido feitos estudos, que demonstram a existência de línguas telepáticas, e que os estados alterados da consciência podem produzir inspiração suficiente para que alguém profetize e diga maravilhas, meramente porque o espírito humano, por si mesmo, é uma maravilha e está dotado de admiráveis poderes.
b! Existem poderes estranhos, demoníacos e outros, que podem influenciar um homem, imitando os dons espirituais.
c. Mas também existe a presença do Espírito Santo, e sua função é doar os dons espirituais, embora estes possam funcionar em moldes diferentes dos do primeiro século, como também possam manifestar-se de maneiras mais avançadas, do que aquelas que até agora têm sido reconhecidas entre nós. Como poderia suceder que não estamos envolvidos no avanço espiritual? Esse avanço nos conduzirá até à perfeição em Cristo, conforme formos sendo transformados em sua imagem (ver Rom. 8:29). Isso irá sendo realizado pelo poder do Espírito (ver II Cor. 3:18), e nesse processo terminaremos maiores do que jamais foi Paulo, dotados finalmente de poderes muito superiores aos dele. Portanto, talvez até seja errado, ficarmos contemplando de volta ao primeiro século, desejando a restauração nos moldes da igreja primitiva. A verdadeira fé e uma elevada espiritualidade quiçá prefiram olhar para o futuro avanço, para uma forma que nos faça subir acima de abusos e imitações. Que ainda não possuímos esse tipo de fé é evidente.
Contrariamente à ideia que diz que os dons espirituais «não são para nós», mas estavam reservados às primeiras gerações cristãs tão-somente, diz Newell (in loc.), em excelente comentário: «Essa é uma tríplice suposição: 1. Procura desculpar nosso próprio estado espiritual inferior; 2. pior ainda, é que lança a culpa sobre Deus, no que tange ao fracasso da igreja quanto a essa particularidade; e 3. eleva o presente estado dos crentes como suficiente e superior ao estado de coisas que prevalecia nos tempos em que o Espírito Santo era conhecido em seu poder».
«...profecia...» (Ver as notas expositivas a respeito em Atos 13:1 e Efé. 4:1, onde são distinguidos os «profetas» dos «mestres» cristãos. Quanto a notas expositivas sobre os «profetas do N.T.», ver Atos 11:27). Nas Sagradas Escrituras, os «profetas» são as seguintes pessoas:
1. Algumas vezes são aqueles que, em sentido muito especial, foram escolhidos para algum ministério de revelação das verdades, através de revelações ou oráculos, conforme se verificava no caso dos profetas do A.T. Esses profetas do A.T., quanto à sua posição e autoridade, eram um tanto semelhantes aos apóstolos do N.T. O oficio espiritual deles era especial. Não há razão alguma para a suposição de que isso não pode continuar ocorrendo hoje em dia. Talvez indivíduos como Lutero, João Wesley e tantos outros, na história da igreja, incluindo até mesmo outros de menor envergadura, embora tenham sido elevados acima dos mestres e ministros comuns do evangelho, possam ser chamados «profetas». São pessoas encarregadas de alguma missão elevada, que falam com uma unção incomum do Espírito Santo. No sentido secundário da palavra, tais indivíduos também podem ser chamados «apóstolos», conforme esclarecemos nas notas expositivas sobre Atos 14:4. Esses «apóstolos» seriam os mais elevados dentre esses «profetas».
2. Os profetas da igreja cristã primitiva evidentemente eram homens de considerável habilidade psíquica, capazes de proferirem declarações inspiradas, não sendo confundidos com os pregadores ordinários. No exercício dos dons espirituais, ocupavam posição secundária somente em relação aos apóstolos, conforme depreendemos de passagens neotestamentárias como I Cor. 12:28; Efé. 2:20; 3:5; 4:11 e Apo. 22:9. (Ver igualmente Atos 13:1; 15:32 e 21:9,10). Esses profetas do N.T. exerciam seu ofício em virtude do recebimento de dons carismáticos, e não por sanção ou nomeação oficial por parte das igrejas locais, porquanto não há o menor laivo de evidência que a posição deles fosse alcançada através da consagração a esse ofício. O trecho de I Cor. 14:29-39 mostra-nos que algumas vezes esses profetas se deixavam arrastar em seu entusiasmo ao ponto de produzirem a desordem nos cultos, o que Paulo censurou severamente.
Evidentemente surgiram dúvidas, até mesmo naqueles dias primitivos, acerca da autenticidade dos dons espirituais de alguns desses «profetas», ao ponto de suspeitar-se que seus poderes procediam de fontes malignas. (Ver I João 4:1 e I Tes. 5:20,21). Os poderes sobrenaturais, manifestamente superiores àquilo que se poderia esperar da parte das capacidades humanas normais, são sempre :difíceis de julgar quanto à sua origem exata; o máximo que podemos fazer é aplicar as palavras do Senhor Jesus, que disse: «...pelos seus frutos os conhecereis» (Mat. 7:20). Infelizmente, o critério moderno de julgar tais pessoas tem degenerado ao teste que declara: «Por suas denominações os conhecereis». Esse critério é fruto do sectarismo.
Judas e Silas, nas páginas do N.T., são chamados «profetas» (ver Atos 14:4 e 15:32). Esses possuíam uma inspiração superior à daqueles que falavam em línguas (ver I Cor. 14:3). João Batista, por igual modo, foi chamado de «profeta» (ver Luc. 7:26), embora não tivesse exercido qualquer dom miraculoso. Entretanto, foi um elevadíssimo mestre, enviado por Deus, e predisse o futuro com discernimento profético.
3. Os profetas, não obstante, não profetizaram sempre e necessariamente o futuro, embora tal função evidentemente não fosse incomum entre eles. (Ver Atos 21:4,9-11). Nessa oportunidade, a profecia neotestamentária incluiu o conhecimento prévio, embora isso não faça parte necessária da profecia. Entretanto, é fenômeno comum, entre aqueles que possuem dons psíquicos, possuírem algum discernimento quanto a alguns acontecimentos futuros. Contudo, a profecia consiste muito mais de uma «afirmação inspirada» do que da predição do futuro. Todavia, é muito difícil fazer a separação dessas duas funções, no mesmo indivíduo.
Ê bem provável que certo número dos profetas existentes na época do apóstolo Paulo tivesse pertencido aos setenta discípulos especiais de Jesus, e que são mencionados como encarregados de missão especial (conforme o modelo da missão apostólica), no décimo capítulo do evangelho de Lucas, embora não haja nenhuma razão para limitarmos a esfera de serviço profético a tão exíguo número de homens, como também não é correto supor que não pode haver profetas em nossos próprios dias, segundo os moldes dos dias do N.T., ou segundo outros moldes.
O dom da profecia visa especialmente a consolar e edificar a igreja, além de ter a serventia de convencer os incrédulos presentes sobre as verdades do evangelho. A importância do ensino foi assim salientada, porquanto um dom especial é conferido a certos, para que se tornem mestres mais poderosos. Além disso, não devemos supor que os «mestres» também nâo sejam diretamente inspirados pelo Espírito Santo, já que esse é um dos ministérios formados pelo Espírito de Deus. Contudo, esse ministério é mais sutil, menos psiquicamente poderoso, mais geral e menos imediato; também é mais quieto e menos espetacular, estando mais limitado ao uso inspirado dos documentos sagrados—a Bíblia—como sua fonte, do que sucede no caso da inspiração imediata, que não depende dos documentos escritos, conforme se dá no caso dos profetas.
«Os profetas, que são associados aos apóstolos como o alicerce da igreja (ver Efé. 2:20), porquanto podem revelar a mente de Deus, segundo me parece, em certo sentido subordinado podem existir até os nossos dias, sendo aqueles que não meramente ensinam e esclarecem doutrinas ordinárias e proveitosas, mas também que, devido a uma energia especial do Espírito Santo, podem desdobrar e transmitir a mente de Cristo à igreja cristã, nos casos em que esta mostrar-se ignorante da mesma (embora tal mentalidade esteja oculta nas Escrituras), podendo desvendar à igreja verdades bíblicas antes escondidas, através do poder do testemunho do Espírito de Deus, de conformidade com as circunstâncias presentes da igreja e das espectativas futuras para o mundo. Isso faz deles, para todos os efeitos práticos, profetas (embora nenhum fato novo seja revelado, mas tudo já esteja presente na Palavra de Deus); os quais, por isso mesmo, tornam-se uma bênção direta e uma dádiva de Jesus Cristo à sua igreja, quanto à sua necessidade e aparecimento, embora eles se apeguem firmemente à Palavra, sem o que, entretanto, a igreja não possuiria o poder dessa Palavra». (Darby, in loc.).
«...segundo a proporção da fé...« Visto que essa expressão é um tanto obscura, tem ela recebido certa variedade de interpretações, como segue:
1. Alguns pensam que se trata da fé subjetiva. Diz Tholuck (irt loc.): «O profeta se mantém dentro dos limites de seu dom profético, que lhe é atribuído pela sua individualidade». Essa interpretação inclui igualmente a ideia de sua própria «receptividade», ou seja, como ele se entrega para ser instrumento para o exercício de seu dom. Cada homem tem um certo desenvolvimento em sua espiritualidade. Portanto, cada qual exerce o seu dom de conformidade com seu desenvolvimento espiritual, e isso de conformidade com a sua «proporção da fé», ou seja, com a proporção de seu desenvolvimento espiritual, no que diz respeito à função de seu ofício. Ainda uma subcategoria dessa fé subjetiva é aquela ideia que diz que, para cada qual, Deus tem determinado certa medida da «graça» da «fé», ou seja, da dotação espiritual, em que cada indivíduo labora de conformidade com a mesma. Isso concorda com o terceiro versículo deste capítulo, bem como com a ideia geral de havermos recebido alguma medida da «graça», que nos capacita a ministrar, devendo ser reputada como parte da ideia aqui tencionada. Não obstante, essa «graça» não se mostrará eficaz a menos que seja exercida com fé pessoal, e de acordo com o desenvolvimento espiritual do indivíduo, que depende do princípio da fé. Por essa razão é que disse Meyer (in loc.) ׳. «...de acordo com a força, a clareza, o fervor e outras qualidades da fé que lhes tiver sido outorgada; de tal modo que 0 caráter e 0 modo de falar se conformem com as regras e os limites que são subentendidos na proporção de seu grau individual de fé».
2. Outros estudiosos preferem pensar na fé objetiva, isto é, pensar haver aqui alusão à regra das Escrituras ou revelação divina, a regra ou padrão de doutrina cristã, que é a autoridade seguida pela igreja cristã, dependendo do ponto de vista do intérprete. Essa seria a «analogia fidei», ou seja, o padrão de revelação, especialmente aquele exibido nas Sagradas Escrituras. E isso significa, por sua vez, que as profecias transmitidas por meio de quem quer que seja devem conformar-se a esse padrão, não ultrapassando do mesmo. Paulo realmente apelou para certos cânones fundamentais da verdade, se não mesmo a confissões eclesiásticas formais, aplicadas às doutrinas neotestamentárias; e com frequência esse apóstolo citava o A.T. como documento autoritativo. (Quanto aos «cânones fundamentais da verdade, segundo Paulo», ver as notas expositivas sobre Gál. 1:8; 6:16; Fil. 3:16; II Tim. 3:15,16). Não obstante, não podemos incluir aqui a «autoridade eclesiástica», ou mesmo algum cânon de fé estabelecido pelo homem no N.T., conforme alguns intérpretes de tendências mais eclesiásticas gostariam de fazer-nos crer, porque, ao tempo em que Paulo assim escreveu, não havia essa autoridade estabelecida no seio da igreja neotestamentária, além do fato que o cânon do N.T. estava longe de ficar completo.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 3. pag. 812-814.
A utilidade (12.6b-8). Temos vários dons. Nesta lista, os dons são dados pelo Pai. Em I Coríntios 12, os dons são dados pelo Espírito. Em Efésios 4, os dons são dados pelo Filho. Os dons mencionados em Romanos 12.6-8 são divididos em duas categorias: dons de fala (profecia, ensino e exortação) e dons de serviço (servir, contribuir, liderança e mostrar misericórdia).1014 E bastante óbvio que o apóstolo não está falando de cargos, mas de dons. Nem todo dom implica um cargo diferente. Muitos dons não exigem nenhum cargo.1015 Consideraremos a seguir esses dons espirituais.
- O dom de profecia. “[...] se profecia, seja segundo a proporção da fé” (12.6b). William Barclay diz que, no Novo Testamento, a profecia raramente tem a ver com a predição do futuro; geralmente se refere à proclamação da Palavra de Deus (ICo 14.3,24,31).1016 Devemos fazer uma distinção entre o ofício de profeta no Antigo e Novo Testamentos e o dom de profecia. Hoje não há mais profetas no sentido daqueles primeiros profetas, que se tornaram o fundamento da igreja (Ef 2.20) e receberam a revelação divina para o registro das Escrituras. Hoje qualquer manifestação subsequente deste dom deve ser submetida à doutrina autorizada dos apóstolos e profetas originais, conforme consta do cânon das Escrituras. Hoje Deus não revela mais “verdade nova” diretamente. Sendo, assim, o dom de profecia é o dom de entender as Escrituras e explicá-las. É apresentar ao povo de Deus verdades recebidas não por revelação direta, mas pelo estudo cuidadoso da Palavra de Deus, completa e infalível. Quando Paulo diz: “Se profecia, seja segundo a proporção da fé”, precisamos entender que “fé” aqui não é subjetiva, mas fé objetiva, ou seja, o conteúdo geral das Escrituras (Jd 3; IPe 4.10,11).
LOPES, Hernandes Dias. Romanos: a alegria triunfante no meio das provas. Editora Hagnos. pag. 404-405.
A humildade no Uso dos Dons de Deus. 12:3-8.
3. Na introdução da questão dos dons, Paulo fala da graça que lhe foi dada para capacitá-lo a ser um apóstolo. Depois ele exorta cada um dos seus leitores a que não sejam arrogantes, isto é, que não pensem bem demais sobre si mesmos. Ele apela para um jogo de palavras, usando diversos termos gregos que têm a palavra "mente" ou "pensar" como elemento básico – que não pense de si mesmo, além do que convém (saber), antes, pense com moderação (com equilíbrio na avaliação). Devemos fazer uma auto-avaliação quanto ao que Deus repartiu a cada um. Paulo aqui não fala da "fé salvadora" mas antes de "uma fé que impulsiona uma pessoa na obra de Deus". A "fé salvadora" não seria o padrão para um auto-exame correto. Só o orgulho poderia dizer: "Veja quanta fé salvadora eu tenho". Mas é com humildade que se diz: "Eis aqui a fé que eu tive na execução desta ou daquela tarefa particular para Deus". Isto apenas leva à oração, "Senhor, aumenta a nossa fé" (veja Lc. 17:5). Na lista dos heróis da fé em Hb. 11, vemos que a medida da fé dada, corresponde à tarefa a ser realizada.
4,5. O um só corpo do qual os muitos são membros, enquanto ao mesmo tempo são, individualmente, membros uns dos outros, é a Igreja universal, constituída de todos os crentes em Cristo. (Veja I Co. 10:17; 12:12, 13, 28; Ef. 1:22, 23; 2:15b, 16; 4:3-6, 11-13, 15, 16; 5:22-30; Cl. 1:17, 18, 24, 25). O símbolo do corpo descreve a Igreja como um organismo, com cada membro recebendo vida de Cristo (veja Cl. 3:3). Uma vez que todos os membros recebem sua vida de Cristo, eles todos se pertencem mutuamente. Grupos locais de crentes são a manifestação local do corpo de Cristo, a Igreja. Tal grupo local é corpo de Cristo, mas não todo o corpo de Cristo (veja I Co. 12:27). O corpo de Cristo consiste da totalidade dos crentes que estão unidos a Cristo, a cabeça da Igreja. 6. A graça de Deus concedida a crentes individualmente, está comprovada nos diferentes dons. Paulo faz uma lista dos dons e depois diz de que modo cada um deve ser usado. Em cada caso o leitor, para entender, deve suprir o verbo, vamos usá-lo, seguido do dom particular. Se profecia, seja (vamos usá-la) segundo a proporção da fé, ou no correto relacionamento com a fé. Fé aqui significa o corpo da fé, da crença ou doutrina (veja Arndt, pistis, 3, págs. 669-670). A profecia, que tem a intenção de exortar, encorajar e confortar (veja I Co. 14:3), deve ser usada no devido relacionamento, com a verdade revelada de Deus.
Charles F. Pfeiffer. Comentário Bíblico Moody. Editora Batista Regular Romanos. pag. 97-98.
(1) Porque qualquer coisa boa que tenhamos, foi Deus que repartiu a nós; todo dom perfeito e bom “...vem do alto” (Tg 1.17). O que temos, que não temos recebido? E, se o recebemos, por que nos gloriamos? (1 Co 4.7). O homem mais competente e melhor do mundo não é mais nem melhor do que o que a livre graça de Deus faz dele cada dia. Quando estamos pensando em nós mesmos, devemos nos lembrar de pensar não como temos alcançado, como se nossa força e o poder de nossa mão tivessem adquirido esses dons, mas pensar quão generoso Deus tem sido para conosco, pois é Ele quem nos dá poder para fazer qualquer coisa que é boa e nele está toda a nossa suficiência.
(2) Porque Deus concede seus dons em certa medida:
“...conforme a medida da fé...". Observe: Ele chama de medida da fé a medida dos dons espirituais, pois essa é a graça radical. O que temos e fazemos de bom é certo e aceitável na medida em que está fundamentado na fé, e flui da fé, e não vai além dela. Ora, a fé e os outros dons espirituais com ela são concedidos por medida, como a Infinita Sabedoria vê que é adequado para nós. Cristo tinha o Espírito que lhe fora dado sem medida (Jo 3.34). Mas os santos o têm por medida (Ef 4.7).
Cristo, que tinha dons sem medida, era meigo e humilde; e nós, que os temos de forma limitada, seremos arrogantes e orgulhosos?
(3) Porque Deus repartiu dons tanto aos outros como a nós: “...repartiu a cada um”. Tivéssemos o monopólio do Espírito, ou um documento que nos garantisse sermos proprietários exclusivos dos dons espirituais, podia haver alguma base para essa presunção; mas outros têm sua parte assim como nós. Deus é Pai de todos, e Cristo, a raiz de todos os santos, de quem eles obtêm virtude; e por isso, não é conveniente nos tornarmos arrogantes e desprezarmos os outros, como se apenas nós fôssemos o povo de bem com Deus e os únicos possuidores da sabedoria. Ele ilustra esse raciocínio com uma comparação extraída dos membros do corpo natural (como em 1 Co 12.12; Ef 4.16): “Porque assim como em um corpo temos muitos membros...” (w. 4,5). Observe aqui: [1] Todos os santos formam um corpo em Cristo, que é a cabeça do corpo e o centro comum de sua unidade. Os crentes não estão no mundo como um grupo desordenado e confuso, mas estão organizados e unidos, já que estão unidos a uma cabeça comum e movidos e animados por um Espírito comum a todos. [2] Os crentes individuais são membros desse corpo, partes componentes, o que significa que são menos do que o todo, e estão em relação com o todo, derivando vida e vigor da cabeça. Alguns membros do corpo são maiores e mais úteis que outros e cada um recebe vigor da cabeça de acordo com a sua proporção. Se o dedinho recebesse tanta nutrição quanto a perna, quão inconveniente e prejudicial seria! Devemos nos lembrar que não somos o todo; pensamos além do que é adequado se pensamos assim; somos apenas partes e membros. [3] “...nem todos os membros têm a mesma operação” (v. 4), mas cada um possui seu respectivo lugar e função que lhe foi designado.
A função do olho é ver, a função da mão é trabalhar etc. Assim também ocorre no corpo místico: alguns são qualificados e chamados para um tipo de função; outros são, da mesma forma, preparados e chamados para outro tipo de função. Os magistrados, os ministros, as pessoas, em uma comunidade cristã, têm seus vários ofícios, e não devem se intrometer uns nas funções dos outros, nem entrar em conflito na execução de suas várias funções. [4] Cada membro tem o seu lugar e a sua função, para o bem e o beneficio do todo e de todos os outros membros. Não somos apenas membros de Cristo, mas “...membros uns dos outros” (v. 5). Permanecemos em relação uns com os outros; estamos encarregados de fazer todo o bem que pudermos reciprocamente e agir em união para o benefício comum. Veja isso ilustrado em detalhes em 1 Coríntios 12.14ss. Por essa razão, não devemos ficar inchados com presunção de nossos próprios talentos, porque, qualquer coisa que tenhamos, foi recebida, e não recebemos para nós mesmos, mas para o bem de outros.
2. Um uso sóbrio dos dons que Deus nos tem concedido. Como não devemos, por um lado, estar orgulhosos de nossos talentos, assim, por outro lado, não devemos enterrá-los. Tomemos cuidado para que, sob pretensão de humildade e abnegação, não sejamos vagarosos em nos colocar à disposição para o bem de outros. Não devemos dizer: “Eu não sou nada, por isso, me sentarei e não farei nada”; mas: “Eu não sou nada em mim mesmo e, por isso, me colocarei ao máximo na força da graça de Cristo”. Ele especifica as funções eclesiásticas designadas em igrejas particulares, em cujo desempenho cada um deve pensar em cumprir o seu próprio dever, para preservar a ordem e promover a edificação na igreja, cada um conhecendo o seu lugar e ocupando-o. “De modo que, tendo diferentes dons”. O seguinte raciocínio particular completa o sentido desse raciocínio geral. Tendo dons, usemo-los. Autoridade e habilidade para a obra ministerial são dons de Deus. Diferentes dons. O propósito imediato é diferente, embora o alvo último de todos seja o mesmo, “...segundo a graça...”, charismata kata ten charin. A livre graça de Deus é a fonte e a origem de todos os dons que são concedidos aos homens. E a graça que designa a função, qualifica e dirige as pessoas e que opera tanto o querer quanto o realizar. Havia, na igreja primitiva, dons extraordinários de línguas, de discernimento e de cura; mas o apóstolo fala aqui daqueles que são comuns (compare com 1 Co 12.4; 1 Tm 4.14; 1 Pe 4.10). Ele especifica sete dons em particular (w. 6-8), os quais parecem significar várias funções distintas, usadas pela estrutura consultiva de muitas igrejas primitivas, principalmente as maiores. Existem dois dons gerais aqui expressos por “profecia” e “ministério”, o primeiro sendo a função dos bispos, e o último, a função dos diáconos (esses dois eram os únicos ofícios estabelecidos - Fp 1.1). Mas a obra particular que pertence a cada um desses podia ser, e parece que era, dividida e distribuída por consentimento e acordo geral, para que isso pudesse ser feito mais eficazmente, porque aquilo que é função de todos não é função de ninguém, e aquele que é vir unius negotii - homem de uma tarefa desempenha melhor a sua função. Assim Davi separou os levitas (1 Cr 23.4,5), e nessa sabedoria é proveitoso se conduzir. Consequentemente, os cinco últimos serão reduzidos aos dois primeiros. (1) Profecia, “...se é profecia^ seja ela segundo a medida da fé”. Não significa os dons extraordinários de predizer o futuro, mas o ofício comum de pregar a palavra: assim profetizar é considerado em 1 Coríntios 14.1-3ss.; 11.4; I Tessalonicenses 5.20. A obra dos profetas do Antigo Testamento não foi apenas a de predizer o futuro, mas advertir o povo a respeito do pecado e dos deveres, e serem aqueles que o lembravam a respeito do que eles sabiam antes. E assim, os pregadores do evangelho são profetas, e de fato, até onde vai a revelação da palavra, predizem o futuro. A pregação refere-se à condição eterna dos homens, aponta diretamente para um estado futuro. Então, aqueles que pregam a palavra devem fazê-lo segundo a medida da fé - kata ten analogian tes pisteos, isto é: [1] Quanto ao modo do nosso profetizar, isso deve ser feito de acordo com a medida da graça da fé. Ele tinha falado no versículo 3 a respeito da medida da fé repartida a cada homem. Que aquele que prega coloque toda a sua fé no trabalho, para gravar as verdades que prega sobre o seu próprio coração em primeiro lugar. Como as pessoas não conseguem ouvir bem, também os pregadores não conseguem pregar bem, sem fé. Primeiro creia, depois fale (SI 116.10; 2 Co 4.13). E devemos nos lembrar da medida da fé - que, embora nenhum homem deixe de tê-la, porém muitos têm-na além de nós mesmos; e por isso devemos permitir que outros tenham uma porção de conhecimento e habilidade para instruir, assim como nós, até aqueles que diferem de nós em coisas menores. “Tu tens fé? Tenham-na para ti mesmo; e não faça dela uma regra para os outros, lembrando que a tens recebido apenas em tua medida”.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 387-388.
·...Servi uns aos outros...· De modo geral, mas particularmente aqui devemos entender ·trabalho físico», isto é, a partilha de alimentos, de abrigo e de dinheiro, tal como na hospitalidade que acabara de ser recomendada.
·...conforme o dom que recebeu...· O trecho de Rom. 12:7 focaliza um dom de ·ministério», isto é, boas obras na forma de esmolas, de cuidados pelos enfermos, e de hospitalidade. Alguns crentes são especialmente dotados pelo Espírito, tomando-se·ricos em atos de caridade, dispostos à realização de serviço bondoso, o que fazem com maneiras graciosas e corteses. Talvez alguns médicos, enfermeiras e filantropos, quando são também crentes espirituais, recebem tal dom, além de outros, que têm a oportunidade especial de ministrar as necessidades físicas dos outros.
Algumas vezes tais pessoas também recebem amplos meios financeiros capacitando-se assim de se mostrarem generosas em alto grau. O judaísmo e o cristianismo primitivo enfatizavam grandemente a importância das esmolas. (Isso é comentado nas notas sobre Atos 3:2. Comparar também com Tia. 1:27, onde a ·religião pura é definida como a visita aos órfãos e às viúvas, em suas aflições, isto é, mediante a ministração às suas necessidades, além de conservar-se o crente imaculado do mundo). Tal ministração é a prática da regra áurea de Cristo, uma duplicação do seu amor. Portanto, esse ·ministério· é apenas a concretização da lei do amor, mencionada no oitavo versículo deste capítulo.
Este versículo, naturalmente, não só fala do dom especial da ·ministração às necessidades físicas», mas também impõe a todos os crentes o mesmo costume, ao ponto em que suas habilidade se circunstâncias lhes permitirem a participação. Cada homem tem um ·dom»; e, no presente versículo, sem dúvida cada crente deve contribuir com o seu próprio. Em outras palavras, Deus abençoa um homem, e então ele tem os ·meios» para realizar um serviço de caridade para com outros, sem importar se esse serviço consiste cm hospedar alguém, cm dar esmolas ou em cuidar de enfermos ou necessitados. E assim aprendemos aquele principio básico, tão comum nas páginas do N.T., e que determina: Recebemos a fim de dar, não a fim de amontoar bens para nosso próprio conforto. Feliz é o homem que crê nisso e o pratica. Todo crente é um «mordomo, e não um *proprietário» daquilo que possui. O mordomo deve mostrar-se ativo no «uso* de seus bens cm favor dc outrem, e não na tentativa de juntar mais ainda para si mesmo.
·...despenseiros...· Cada pessoa é ímpar e tem uma missão sem igual, agora e na eternidade. (Ver as notas expositivas a esse respeito, cm Apo. 2:17). Ele recebe habilidades necessárias para o exercício apropriado de sua missão. Também recebe os meios financeiros para poder realizar sua obra. Sua missão o transforma no tipo de pessoa que pode realizar um serviço específico. Um crente também pode receber várias missões; e todas as coletivamente consideradas, visam fazer dele um indivíduo sem-par. Uma missão é um meio de expressar a graça de Deus para com outros, pois nenhuma missão visa apenas o benefício do próprio indivíduo. Todos os dons de Deus se originam em sua ·graça*. Essa é a fonte de tudo de bom que possuímos. Portanto, quando ministramos a outros, cm qualquer sentido que seja. meramente espalhamos ao redor a graça de Deus, do modo que nos foi apontado. A mordomia subentende tanto que nos foi confiada certa missão como também a existência de uma necessidade autêntica. A graça de Deus se reveste de variedade infinita, resultando em dádivas abundantes aos homens. Tornamo-nos ministros mediante quem essa abundância é distribuída. Não ·possuímos* aquilo que a graça de Deus nos dá. pois tudo nos foi dado por empréstimo, temporariamente. Se nos recusarmos a contribuir, logo deixaremos de receber. Quando o povo de Israel ficou cobiçoso e recolheu mais maná do que era mister para o suprimento de um dia, o maná se estragou e soltou mau cheiro, tomando-se inútil. Assim, o homem que recebe mas não dá logo se tornará inútil como despenseiro da graça de Deus, e sua alma será estragada, perdendo toda a similaridade com a natureza espiritual de Cristo. O próprio Cristo veio para servir, e não para ser servido. (Ver Mat. 20:28).
«...multiforme graça...» No grego, o adjetivo é ·poikilos·, «diversificado», «de muitas espécies*. A graça divina se manifesta de muitos modos e se concretiza na vida humana de muitas maneiras. Cada crente recebeu tal graça, e está na obrigação moral de concedê-la a outros.
·...graça...» (Quanto a notas expositivas completas sobre a *graça*, ver Efé. 2:8). O que possuímos que não tenhamos recebido de Deus? *Pois quem é que te faz sobressair? c que tens tu que não tenhas recebido? e. se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não ti veras recebido?» (I Cor. 4:7). Alguns agem como se o que têm fora produzido por eles mesmos.
Concede-nos graça tal que possamos cumprir tua vontade.
E proferir tuas palavras e andar diante de teu rosto.
Profundos e calmos, como águas profundas e tranquilas.
Concede-nos tal graça.
(Christina Roasetti)
Dom: Consideremos os pontos seguintes a respeito: 1. Envolve qualquer coisa doada gratuitamente. 2. Indica alguma bênção dada graciosamente por Deus, de qualquer espécie, aos pecadores (ver Rom. 5:15.16 e 11:29). 3. Indica a graça da salvação (ver Efé. 2:9), mediante a qual a salvação é conferida aos homens. 4. Indica um preparo gracioso e divino para o serviço, algum dom espiritual, alguma operação extraordinária do Espírito Santo (ver I Tim . 4:14) ou mesmo os dons do Espirito San to (ver os capítulos doze a catorze da primeira epistola aos Coríntios). 5. Indica a abundância de possessões físicas, usadas para benefício alheio: ou bens materiais suficientes para que deles possamos contribuir, embora não naquela profusão que poderíamos chamar de «abundante». Esse é o sentido que está em foco, talvez com alguma mistura com a quarta posição.
Esta passagem pode ser ilustrada pela parábola dos ·talentos», narrada pelo Senhor Jesus, em Mat. 25:15. Alguns intérpretes acreditam que Pedro alude aqui a essa tradição, embora tal narrativa ainda nào tivesse tomado forma escrita nos evangelhos canônicos, porquanto esta primeira epistola de Pedro foi escrita antes dos mesmos, com a única exceção possível do evangelho de Marcos.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 156-157.
I Pd 4.10 Cada um, conforme recebeu um dom da graça – servi uns aos outros com ele como bons administradores da multiforme graça de Deus. Visto que os dons da graça (em grego: charisma) são dados pelo Espírito Santo, eles também são chamados de “dons do Espírito” (1Co 14.1). Este versículo presta uma importante contribuição para a pergunta a respeito do que são os carismas e como devem ser exercidos. O contexto demonstra que ser hospitaleiro, falar a palavra de Deus e exercer a diaconia são serviços dos dons da graça. O NT, portanto, não restringe o termo “dom da graça” aos dons particularmente notórios, p. ex., cura de enfermos (1Co 12.9) ou línguas (1Co 12.10; 14.13). Quem pratica de modo alegre e consciente a hospitalidade provavelmente obteve um carisma para isso. Porém, todo aquele que recebeu um dom para a edificação da igreja é um “carismático”. Pedro não escreve: “cada um, quando recebeu um dom da graça”, mas como (ou: “na proporção em que”) recebeu. Logo tem por certo que cada cristão participa da multiforme graça de Deus, que consequentemente também possui dons da graça. Não é possível produzi-los a partir de si mesmo, mas somente recebê-los. É verdade que podemos “buscá-los” (1Co 14.1), mas sempre continuarão sendo dádiva de Deus através do Espírito Santo. Servi uns aos outros com eles significa: os dons da graça foram dados para o serviço mútuo. Obviamente os dons não devem ser mal usados pelo seu detentor, p. ex. para a fama pessoal, pois então se tornam uma ameaça. Os dons da graça que nos foram confiados não devem nos tornar “carismáticos” deslumbrados, mas servidores humildes e singelos. Desse modo a dádiva se torna incumbência. Cada qual é servo do outro, essa é a ordem da igreja de Jesus. Como bons administradores da multiforme graça de Deus. A graça de Deus é sua dadivosa dedicação aos seus (cf. o comentário a 1Pe 1.13). Multiforme ela é na medida em que exerce uma obra diversificada na igreja e em cada cristão (cf., p. ex., 1Pe 5.10). Como graça multiforme ela também é suficiente para todas as múltiplas carências da igreja. Administradores é o nome dado pelo próprio Jesus a seus discípulos em várias parábolas (Lc 16.1; cf. Mt 25.14ss). Um administrador é caracterizado pelo fato de ter recebido dádivas em confiança para o serviço, que não são de sua propriedade. Cabe-lhe prestar contas sobre seu uso, razão pela qual tem de aproveitar tempo e oportunidade, enquanto possui os dons. Um laborioso empenho em prol de seu Senhor com os dons da graça que lhe foram confiados constitui o bom administrador.
Uwe Holmer. Comentário Esperança I Pedro. Editora Evangélica Esperança.
10. Vida na comunidade cristã é vida de serviço aos outros. Jesus foi o Servo de Deus, Aquele que “não veio para ser servido, mas para servir” (Mc 10.45). Na Sua vida, tal como nos mostram os Evangelhos, Ele demonstrou esse princípio, servindo ao Seu povo e aos Seus (como ilustrado em Jo 13.1-17). Servi uns aos outros é, assim, um chamado a sair de si mesmo e dos seus problemas, e se dedicar aos outros. É nessa exteriorização que está o fundamento da ética cristã, como vida de serviço aos outros “enquanto outros” (ou seja, não uma extensão de mim próprio, ou “outros” a quem eu comando ou manipulo, e coloco dentro do meu esquema). A palavra grega é diakonuntes, de onde vem diaconia, serviço. Aqui, ela tem um significado abrangente, incluindo todo tipo de serviço que se pode prestar a outros (em palavra e ação).
Essa diaconia é possível porque todos receberam dons com os quais podem servir aos outros. Charisma é o termo usualmente empregado no N.T. para se referir aos chamados “dons espirituais”. São várias as definições e especificações deles (cf. 1 Co 12; Rm 12; Ef 4); trata-se de capacidades que Deus concede a todos os cristãos (associadas à habitação do Espírito Santo neles, 1 Co 12.7) para o serviço dentro do contexto da comunidade cristã. Podem se tratar de talentos naturais que recebem um novo impulso e uma nova orientação pela ação do Espírito, ou de capacitações originais, concedidas ao crente para que com elas sirva aos outros. Esta questão dos dons às vezes tem causado polêmicas entre os cristãos. Nunca devemos perder de vista que são dados soberanamente pelo Espírito Santo, e que sua função é servir (nada mais que isso; usá-los para autopromoção é absolutamente contrário à sua natureza, sendo uma atitude exemplarmente repreendida em At 8.18-24).
Importante é também que cada um dos crentes recebeu um dom, o que, de saída, nivela a todos, e toma todos igualmente importantes uns para os outros. Cada um deve colocar o dom que tem a serviço de todos, porque, ao receberem dons, os cristãos se tomam despenseiros da graça de Deus. A charis (graça) é a fonte dos charisma (dons, carismas). Quem os recebe, recebe graça de Deus, e os recebe por causa da graça de Deus que lhes concedeu o Espírito Santo. Ter um dom espiritual, então, é ter um “depósito de graça”, que deve extravasar (porque graça é para ser doada). Despenseiros é oikonomoi, um termo técnico referente ao mordomo, o administrador da casa (lembrando que “casa” é a oikos do mundo da época, uma instituição social fundamental, a “comunidade doméstica” que incluía família e trabalhadores, bem como os hóspedes). O oikonomos era o encarregado de atender as necessidades de todos, administrando os bens nessa direção. E uma bela figura para o papel dos cristãos na igreja (e note-se que todos o são). Todos na “casa de Deus” têm necessidade de “graça”, e todos são chamados a suprir essa necessidade mutuamente. E não devemos espiritualizar em demasia a questão, pois essas necessidades muitas vezes serão bem materiais e rotineiras. E o chamado ainda é para ser bons despenseiros, estando implícito que se pode não ser um bom administrador da graça de Deus. Vem a propósito aqui a parábola do bom e do mau oikonomos (mordomo), de Lc 12.42-48 (especialmente pelo contexto escatológico).
A graça de Deus, por fim, é multiforme. Visualmente, isso seria como um cristal que reflete a luz em vários matizes e uma sempre nova e surpreendente combinação de cores e tons. Esse conceito é importante e tem sido desprezado na prática, muitas vezes, pelos cristãos. Está subentendido que a questão dos dons é sempre dinâmica. Não podemos deduzir uma lista fixa de dons a partir das passagens do N.T. que falam sobre o assunto, e mantê-los a todo custo como os únicos dons espirituais. Deus dá os dons de modo multiforme, de acordo com as características locais e as necessidades do momento. Quando a situação muda, quando novos quadros se apresentam, Ele dará os dons de forma apropriada à nova realidade, sempre nos surpreendendo com o Seu agir. Multiforme também significa, para um mundo dividido como o nosso em culturas e características regionais bastante diferenciadas, que o Espírito leva em conta essa diversificação e trabalha dentro dela. Indispensável nas relações entre os cristãos (também a nível internacional) é a eliminação de todo resquício de prepotência e espírito de julgamento, e a disposição ao amor e ao serviço ao outro como outro (respeitando-o e valorizando-o naquilo em que é diferente de mim ou de nós).
Ênio R. Mueller. I Pedro Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 238-239.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva.
Colaboradores: Escriba Digital.

5 comentários:

  1. muito bom o assunto que Deus me de entendimento para aprender mais a usar os meus dons

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  2. louvo ao nosso Deus por tudo que Ele nos acrescenta com um Espirito ecelente a nossa disposição

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  3. que o Senhor Deus de amor nos enssine a aproveitar para o bem do seu povo esses dons tremendos em poder.

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  4. irmão Alessandro, a paz do Senhor! Louvo a Deus por sua vida, que Ele continue te abençoando. Eu não conhecia o site, tive acesso hoje ao estudo acima e estou impressionado com a qualidade e quantidade de informações que vc nos coloca a disposição. Todas as principais obras, clássicas e atuais, com informações sobre o assunto, estão disponíveis neste estudo. PARABÉNS, GLÓRIA A DEUS!!

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  5. Que possamos crescer na graça e no conhecimento que em cristo Jesus, e estudarmos com afinco os dons e ñ se esquecendo que o maior desses e o amor

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