O PROPÓSITO DOS DONS ESPIRITUAIS
Data:
13 de Abril de 2014 HINOS
SUGERIDOS 5, 85, 440.
TEXTO ÁUREO
“Assim,
também vós, como desejais dons espirituais, procurai sobejar neles, para a
edificação da igreja” (1 Co 14.12).
VERDADE PRÁTICA
Os
dons são recursos concedidos por Deus para fortalecer e edificar a Igreja
espiritualmente.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - 1 Co 12.12 A igreja — um só corpo
Terça - 1 Co 12.4,11 Diversidade de dons no mesmo Espírito
Quarta - 1 Co 14.26 Tudo
deve ser feito para a edificação
Quinta - 1 Co 12.12-27 A verdadeira unidade
Sexta - 1 Co 1 3-1,2 Exercendo os dons amorosamente
Sábado - 1 Co 12.7 A manifestação do Espírito e sua utilidade
LEITURA BÍBLICA EM
CLASSE
1
Coríntios 12.8-11; 13.1,2
I
Coríntios 12
8
- Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo
mesmo Espírito, a palavra da ciência;
9
- e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons
de curar;
10
- e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o dom
de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a
interpretação das línguas.
11
- Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo
particularmente a cada um como quer.
1
Coríntios 13
1
- Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos e não tivesse amor
seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
2
- E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda
a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os
montes, e não tivesse amor; nada seria.
INTERAÇÃO
Qual
é o real propósito dos dons espirituais? Você, professor, tem uma visão bíblica
e teológica a respeito do objetivo dos dons? Muitos estão se utilizando dos
dons de forma interesseira e egoísta. As dádivas divinas nos são concedidas
pela graça e devem ser utilizadas com sabedoria e santidade a fim de que o nome
do Senhor seja exaltado e todos os membros do Corpo de Cristo sejam edificados.
Os dons não são para elitizar o crente. Também não são sinal de superioridade
espiritual.
OBJETIVOS
Após
esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Conscientizar-se de que os dons
espirituais não são para elitizar o crente.
Compreender que os dons devem
ser utilizados para edificar a si mesmo e aos outros.
Saber que o propósito dos
dons é a edificação do Corpo de Cristo.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Professor,
para introduzir o primeiro tópico da tição, divida a classe em dois grupos.
Depois, escreva no quadro as seguintes indagações: “O que precisamos fazer para
receber os dons espirituais?” “A santidade é condição para o recebimento dos
dons?” Cada grupo deverá ficar com uma questão. Dê alguns minutos para que os
alunos discutam as questões. Em seguida reúna a todos formando um único grupo.
Peça a um representante de cada grupo fazer suas considerações sobre a sua
questão. Ouça os alunos com atenção. Depois, explique que os dons espirituais
são habilidades concedidas pelo Espírito Santo para edificação da igreja. Para
receber estas habilidades basta crer e pedir com fé.
Os
dons são presentes divinos e fruto da misericórdia do Pai. É graça de Deus!
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Nesta
lição estudaremos o verdadeiro propósito dos dons espirituais concedidos por
Deus à sua Igreja. Os dons do Espírito Santo são recursos imprescindíveis do
Pai para os seus filhos. O seu propósito é edificar-nos e unir-nos,
fortalecendo assim a Igreja de Cristo (1 Tm 3.15).
I - OS
DONS NÃO SÃO PARA ELITIZAR O CRENTE
1. A igreja Coríntia. A Igreja em Corinto
localizava-se numa cidade comercial e próxima do mar, sendo uma das mais
importantes do Império Romano. Corinto era uma cidade economicamente rica,
porém marcada pelo culto idolátrico. Durante a segunda viagem missionária de
Paulo, a igreja recebeu a visita do apóstolo (At 18.1-18). Por conhecer muito
bem a comunidade cristã em Corinto foi que o apóstolo dos gentios tratou, em
sua Primeira Epístola dirigida àquela igreja, sobre a abundância da
manifestação dos dons do Espírito, chegando a afirmar daquela igreja que
“nenhum dom” lhe faltava (1 Co 1.7).
2. Uma igreja de
muitos dons, mas carnal. Os dons do Espírito concedidos por Deus à igreja de
Corinto tinham por finalidade prepará-la e santificá-la para o serviço do
evangelho: a proclamação da Palavra de Deus naquela cidade. Todavia, além de
aquela igreja não usar corretamente os dons que recebera do Pai, tinha em seu meio divisões,
inveja, imoralidade sexual, etc. Como pode uma igreja evidentemente cristã ser
ao mesmo tempo carnal e imoral? Por isso Paulo a chama de carnal e imatura (1
Co 3.1,3). Com este relato, aprendemos que as manifestações espirituais na
igreja local não são propriamente indicadoras de seriedade, espiritualidade e
santidade. Uma igreja onde predominam a inveja, contenda e dissensões, nem de
longe pode ser chamada de espiritual, e sim de carnal.
3. Dom não é sinal de
superioridade espiritual. Muitos creem erroneamente que os irmãos agraciados com
dons da parte de Deus são, por isso, mais espirituais que os outros. Todavia,
os dons do Espírito são concedidos pela graça de Deus. Por ser resultado da
graça divina, não recebemos tais dons por méritos próprios, mas pela bondade e
misericórdia de Deus. Que a mensagem de Jesus possa ressoar em nossa
consciência e convencer-nos de uma vez por todas de que os dons não são
garantia de espiritualidade genuína: “Muitos me dirão naquele Dia: Senhor,
Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos
demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi
abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a
iniquidade” (Mt 7.22,23).
SINOPSE
DO TÓPICO (1)
Os
dons do Espírito Santo são concedidos pela graça divina; eles não devem ser
usados para elitizar o crente.
Il -
EDIFICANDO A SI MESMO E AOS OUTROS
1. Edificando a si
mesmo. Paulo
diz que quem “fala língua estranha edifica-se a si mesmo” (1 Co 14.4). O
apóstolo estimulava os crentes da igreja de Corinto a cultivarem sua devoção
particular a Deus através do falar em línguas concedidas pelo Espírito, com o
objetivo de edificarem a si mesmos. Isto não significa que o apóstolo dos
gentios proibia o falar em línguas publicamente, mas ao fazê-lo de maneira devocional
o crente batizado com o Espírito Santo edifica-se no seu relacionamento com
Deus. Falar ou orar em línguas provenientes do Espírito é uma bênção espiritual
maravilhosa.
2. Edificando os
outros.
Os crentes de Corinto falavam em línguas e exerciam vários dons espirituais,
mas parece que eles não se preocupavam muito em ajudar as pessoas. Por isso, o
apóstolo lembra que os dons só têm razão de existir quando o portador
preocupa-se com a edificação da vida do outro irmão em Cristo (1 Co 14.12). Em
lugar de buscarmos prosperidade material, como se pudéssemos barganhar com Deus
usando dinheiro em troca de bênçãos, busquemos os dons espirituais. Agindo
assim edificaremos a nós mesmos e também aos outros.
3. Edificando até o
não crente.
Embora o apóstolo dos gentios estimulasse todos os crentes a falarem em
línguas, isto é, a edificarem a si mesmos, seu desejo era que também esses
mesmos crentes profetizassem a fim de que a igreja toda fosse edificada. O
comentário da Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal diz sobre esse texto: “Embora o
próprio Paulo falasse em línguas, enfatizava a profecia, porque esta edificava
a Igreja inteira, enquanto falarem línguas beneficiava principalmente o
falante”. Todos quantos vierem a frequentar nossas reuniões devem ser
edificados, sejam crentes ou não. Por isso, não podemos escandalizar aqueles
que não comungam a mesma fé que nós (1 Co 14.23). Como eles compreenderão a
mensagem do evangelho se em uma reunião não entenderem o que está sendo falado?
(1 Co 14.9).
SINOPSE
DO TÓPICO (2)
Os
dons só têm uma razão de existir na vida do crente: edificar a vida do outro
irmão em Cristo.
IIl -
EDIFICAR TODO O CORPO DE CRISTO
1. Os dons na igreja. Na Primeira Carta
aos Coríntios, Paulo dedica dois capítulos (1 2 e 14) para falar a respeito do
uso dos dons na igreja. O apóstolo mostra que quando os dons são utilizados com
amor, todo o Corpo de Cristo é edificado. Conforme diz Thomas Hoover,
parafraseando Paulo em Efésios 4.16, “os membros do corpo, cada qual com sua
própria função concedida pelo Espírito, cooperam para o bem de todas. O amor é
essencial para os dons espirituais alcançarem seu propósito”. Se não houver
amor, certamente não haverá edificação (1 Co 13). Sem o amor de Deus nos
tornamos egoístas e acabamos por colocar nossos interesses em primeiro lugar. O
propósito dos dons, que é edificar o Corpo de Cristo, só pode ser cumprido se
tivermos o amor de Deus em nossa vida.
2.
Os sábios arquitetos do Corpo de Cristo. Deus levanta homens para edificarem
espiritual, moral e doutrinariamente a igreja local. A Igreja é o “edifício de
Deus” (1 Co 3.9). Os ministros, sábios arquitetos (1 Co 3.10). O fundamento já
está posto pelos apóstolos: Jesus Cristo (1 Co 3.11). Mas os ministros têm de
tomar o cuidado com as pedras assentadas sobre este alicerce, pois eles também
tomam parte na edificação espiritual da Igreja de Cristo segundo a mesma graça
concedida aos apóstolos. Por isso, Paulo faz uma solene advertência para a
liderança hoje: “mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode
pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Co
3.10,11).
3. Despenseiros dos
dons. O
apóstolo Pedro exortou a igreja acerca da administração dos dons de Deus (1 Pe
4.10,11). Ele usou a figura do despenseiro que, antigamente, era o homem que
administrava a despensa e tinha total confiança do patrão. O despenseiro
adquiria os mantimentos, zelava para que não estragassem e os distribuíam para
a alimentação da família. Desta forma, os despenseiros da obra do Senhor devem
alimentar a “família de Deus” (1 Co 4.1; Ef 2.19). Eles precisam ter o cuidado
no uso dos dons concedidos pelo Senhor para prover a alimentação espiritual,
objetivando a edificação do Corpo de Cristo: “Cada um administre aos outros o
dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém
falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre
segundo o poder que Deus dá, para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus
Cristo, a quem pertence a glória e o poder para todo o sempre” (1 Pe 4.10,11).
SINOPSE
DO TÓPICO (3)
Quando
os dons espirituais são utilizados com amor todo o Corpo de Cristo é edificado.
CONCLUSÃO
A
igreja de Jesus Cristo tem uma missão a cumprir: proclamar o evangelho em um
mundo hostil às verdades de Cristo e descrente de Deus. Diante desta tão
sublime tarefa, a igreja necessita do poder divino. Os dons espirituais são um
“arsenal” à disposição do corpo de Cristo para o cumprimento eficaz de sua
missão na terra. Como já foi dito, o propósito dos dons é edificar toda a
igreja, todo Corpo de Cristo para ser abençoado, exortado e consolado. Por
isso, nunca devemos usar os santos dons de Deus em benefício particular, como
se fosse algo exclusivo de certas pessoas. Somos chamados a servir a Igreja do
Senhor, e não a utilizar os dons de Deus para nós mesmos.
AUXILIO BIBLIOGRÁFICO
I
Subsídio
Teológico
Dado
conforme o Espírito Deseja
A
primeira relação dos dons com a repetição do fato que cada um é dado pelo
Espírito (1 Co 12.8-10) leva ao clímax no versículo 11, que diz: ‘Mas um só e o
mesmo Espírito opera todas as coisas, repartindo particularmente
[individualmente] como quer'. Aqui temos um paralelo com Hebreus 2.4, que fala
dos apóstolos que primeiramente ouviram o Senhor e depois transmitiram a
mensagem: ‘Testificando também Deus com eles, por sinais [sobrenaturais], e
milagres, e várias maravilhas [tipos de obras de grande poder] e dons
[distribuições separadas] do Espírito Santo, distribuídos por sua vontade’. É
evidente, à luz destes trechos, que o Espírito Santo é soberano ao outorgar os
dons. São distribuídos segundo a sua vontade. Buscamos os melhores dons, mas
Ele é o único que sabe o que é realmente melhor em qualquer situação. Fica
evidente, também, que os dons permanecem debaixo de sua autoridade. Nunca são
nossos no sentido de não precisarmos do Espírito Santo, pela fé, para cada
expressão desses dons. Nunca se tornam parte da nossa própria natureza, ao
ponto de não perdê-los, de serem tirados de nós. A Bíblia diz que os dons e a
vocação de Deus são permanentes (Deus não muda de opinião a respeito deles),
mas aqui há referência a Israel (Rm
11,28,29)"
(HORTON, Stanley M. A Doutrina do
Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. 12. ed. Rio de Janeiro: CPAD,
201 2, ,.P- 230).
A U X ÍLIO
BIBLIOGRÁFICO II
Subsídio
Bibliológico
“O
amor é essencial
Os
dons têm um lugar especial na igreja e são muito úteis. Mas o amor representa a
essência da vida cristã, e é absolutamente necessário. Ele encontra um lugar
mesmo entre os dons carismáticos, porém os dons sem a presença do amor são como
um corpo sem alma.
Sem
amor, o dom de falar se torna vazio e imprudente — ele é como o metal que soa
ou como o sino que tine. O metal que soa (‘gongo barulhento’) significa que um
pedaço de metal não lavrado ou gongo usado para chamar a atenção. Tinir
(alalazon) significa ‘colidir’, ou um som alto e áspero. O sino (ou símbolo)
consistia de duas meias circunferências que eram golpeadas causando um estrondo.
A ideia aqui é de um inexpressivo som de metal em lugar de música.
O
objetivo do apóstolo é mostrar que o homem que professa o dom da glossoíalia,
da forma como era praticada em Corinto, mas que não tem amor, na realidade não
é mais que um instrumento metálico impessoal” (Comentário Bíblico Beacon. 1 .ed. Vol. 8. Rio de Janeiro. CPAD,
2006. pp 343-344.
BIBLIOGRAFIA
SUGERIDA
SOUZA,
Estevam Ângelo de. Nos Domínios do
Espírito. 2.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1987. HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo no Antigo e
Novo Testamento. 12. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 201 2.
EXERCÍCIOS
1.
Qual é o verdadeiro propósito dos dons divinos?
R:
Edificar-nos e
unir-nos, fortalecendo assim a Igreja de Cristo.
2.
De acordo com a lição, Paulo priorizava na igreja o ato de profetizar ou o de
falar em línguas? Por quê?
R:
O ato de profetizar. Porque assim todos seriam edificados.
3.
Quantos capítulos, Paulo dedicou para falar a respeito dos dons? Quais são
estes capítulos?
R:
Dois capítulos:
13 e 14.
4.
O que é essencial o crente ter para que a igreja seja edificada?
R:
Amor.
5.
Segundo a lição, o que fazia o despenseiro?
R:
Era a pessoa
responsável por administrar a despensa.
Revista
Ensinador Cristão CPAD, n° 58, p.37.
Muitas
dúvidas pairam sobre os crentes pentecostais quando o assunto é os dons
espirituais. Elas prejudicam a obra de Deus e o recebimento das bênçãos
divinas. Os dons do Espírito Santo são recursos indispensáveis para o Corpo de
Cristo. Eles contribuem para a expansão e edificação da Igreja.
Os
dons são sempre concedidos aos crentes visando um propósito específico. Qual
será este objetivo? O alvo divino é a edificação de todos os membros do Corpo.
Infelizmente, alguns fazem um uso errado dos dons. Vemos crentes tentando usar
os dons para alcançar interesses pessoais. Em vez de glorificar o nome do
Senhor, estes se utilizam dos dons a fim de galgar posições eclesiásticas.
Muitos não estão mais sendo usados pelo Espírito Santo, mas estão tentando usar
o Espírito. Eles estão enganando a si próprios. O Senhor conhece nossos
corações e as nossas intenções. Haverá um dia que teremos que prestar contas ao
Senhor a respeito do uso dos nossos dons e talentos. Neste dia muitos ouvirão
do próprio Senhor a quem tentaram enganar (Mt 7.24).
O
objetivo dos dons não é a superioridade ou elitização de um grupo (1Co 12.7)
Por
falta de conhecimento bíblico, muitos acreditam, erroneamente, que os dons são
um sinal de grande espiritualidade e até de superioridade, mas não o são.
Tomemos como exemplo os irmãos da igreja de Corinto. Ao visitar aquela igreja,
Paulo relatou que ali havia a manifestação de muitos dons espirituais (1Co
1.7). Corinto era uma cidade cosmopolita, marcada pela idolatria, paganismo e
imoralidade. Ser um crente fiel naquela cidade não era fácil. Logo, Deus
concedeu muitos dons do Espírito Santo àqueles irmãos a fim de que tivessem
condições de lutar contra a idolatria, a imoralidade e permanecessem em
santidade até a volta de Cristo. Todavia, a igreja de Corinto estava longe de
ser uma igreja espiritual. O pecado havia adentrado ali. Paulo chama os irmãos
de Corinto de carnais e meninos (1 Co 3.1). Fica então a pergunta: "O que
torna o crente espiritual? Os dons?" Podemos aprender, por intermédio dos
irmãos de Corinto, que não. Quem tem poder para santificar os crentes é o
Espírito Santo. Os dons são dádivas divinas. São presentes e não tem o poder de
nos santificar.
Os
dons espirituais são dádivas importantes e necessárias à igreja nestes últimos
dias antes da Segunda Vinda de Cristo. Estamos vivendo tempos trabalhosos (2Tm
3.1), por isso, precisamos ser cheios do Espírito Santo e procurar com
dedicação os dons espirituais (1Co 12.31).
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Os propósitos dos
dons podem ser compreendidos a partir de sua natureza. Myer Pearlman diz que os
dons do Espírito “...descrevem as capacidades sobrenaturais concedidas pelo
Espírito para ministérios especiais...”.3 Para esse teólogo, o propósito
principal dos dons do Espírito Santo é “edificar a Igreja de Deus, por meio da
instrução aos crentes e para ganhar novos convertidos”.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 26.
I Tm 3.15 Proceder:
portar-se, executar sua incumbência, levar sua conduta, também se comportar uns
diante dos outros. 2 Co 1.12: “O testemunho de nossa consciência de que, com
santidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria humana, mas, na graça
divina, temos vivido no mundo”, i. é, que nos comportamos.
A conduta cristã, a
verdadeira devoção, não se fundamenta na opinião humana, não no costume burguês
ou antiburguês, não na “natureza”, mas no mistério de Deus.
No AT casa de Deus
designa o templo no qual reside o nome de Deus. A pessoa que ora deseja poder
habitar constantemente na casa de Deus e ter nela comunhão com Deus. Vale notar
que em lugar algum “casa de Deus” é equiparada a “casa de Israel”, como
acontece posteriormente no NT: “Sua casa somos nós.”
Percebe-se que o
efeito do templo visível, feito por mãos, era tão grande que a ideia de uma
“casa espiritual” teve dificuldades para firmar-se. Contudo existem rudimentos
para o habitar de Deus entre os humanos que transcende um santuário visível. O
profeta vê chegar uma época em que a lei não será mais escrita exteriormente
sobre tábuas, guardada no tabernáculo itinerante ou no templo imóvel em
Jerusalém, mas deitada no interior da casa de Israel, i. é, escrita em seu
coração, e assim Deus será o seu Deus, e eles serão o seu povo (A 5).
Aquilo que se pode
notar rudimentarmente no AT, a saber, que a igreja convocada e chamada para
fora por Deus (é esse o significado do termo ekklesia), que o povo de Deus
também é casa de Deus, na qual ele habita, ocupa agora um espaço bem central no
NT. Contudo, não é verdade que agora mais uma vez o templo, isto é, a igreja se
encontre no centro; seu centro é o Senhor.
Como as past veem a
casa de Deus? (A 5) Nas casas dos cristãos deve ser evidenciada aquela piedade
que corresponde ao caráter da casa de Deus, na qual Deus se manifesta em
Cristo, o mistério da beatitude. Somente nesse Cristo é real e possível a vida
em beatitude. Toda família que tiver Cristo no centro é uma casa de Deus. “O
que se esperava dos presidentes e diáconos como pais de família possui sua
fundamentação e cumprimento em Deus, o Pai, do qual toda paternidade no céu e
na terra possuem o nome.” A família é a pequena casa (ainda que naquele tempo
fosse em geral um tanto diferente de nosso núcleo familiar: com muitas
crianças, avós ou parentes que vivem com a família, servos e servas, escravos,
administradores e supervisores), a igreja é a casa grande, em que o dono da
casa utiliza as diferentes vasilhas para seu serviço. Timóteo deve considerar e
exortar os diversos membros de igreja como família Dei.
A igreja do Deus vivo:
uma intensificação em relação a “igreja de Deus” (v. 5). O Deus vivo não se
deixa fixar por desejos e concepções humanas, ou exercícios religiosos. Ele se
entrega inteiramente à igreja e não obstante continua sendo totalmente seu
Senhor.
Desde o princípio e
por natureza a igreja sempre está tanto no movimento de ser chamada e reunida
por Deus como em permanecer e perseverar no grande ponto de reunião e repouso
de Deus: em Cristo Jesus. Por essa razão não nos deve surpreender que o texto
inclua uma terceira qualificação:
Coluna e fundamento
da verdade. Diante do fato de que cada pessoa renascida pode ser uma coluna (ou
uma pilastra) no templo de seu Deus, indivíduos também podem se tornar colunas
particularmente fortes. Deus deseja construir um templo vivo de pedras e
colunas vivas.
Fundamento da
verdade. Será que de fato temos diante de nós uma concepção apenas estática de
igreja? Porventura a igreja recebe uma relevância até agora não conhecida, como
fundamento e portadora da verdade? Contra essas suposições cumpre explicitar:
1) Ambas as palavras,
“coluna” e “fundamento”, aparecem sem artigo, ou seja, não se trata da igreja
como uma grandeza própria, mas de qualquer reunião de cristãos apoiados na
palavra de Cristo.
2) Paulo escreve, sem
considerar isto como uma contradição, que como construtor ele lançou o
fundamento que já está posto: Jesus Cristo. Ele lança a base ao anunciar a
Cristo, a pedra fundamental. Chega à verdade aquele que reconhece o único
Mediador entre Deus e os humanos, Jesus Cristo. Ouviu a palavra da verdade e
crê nela. A igreja é “fundamento da verdade” na medida em que se baseia em
Cristo.
3) Uma comparação com
2Tm 2.19s confirma que no entendimento das past Deus é aquele que lança a base
firme, e que a última decisão sobre quem pertence à igreja e quem não permanece
com Deus.
O firme fundamento
lançado por Deus permanece, ele possui um lacre duplo: a) Deus conhece aqueles
aos quais chamou, b) a Deus, que chama e santifica, o ser humano responde
deixando-se santificar, ou seja, distanciando-se da não-santidade (veja o
comentário a 2Tm 2.19s). Persiste a mesma tensão existente no discurso de
Jeremias sobre o templo: quem confessa que pertence ao templo do Senhor está
sujeito ao Senhor do templo, ao Deus santo e vivo, que possibilita sua vida em
santificação e por isso também a espera.
4) As três imagens
sobrepostas “casa”, “igreja”, “fundamento” (de Deus, do Deus vivo, da verdade)
representam um movimento de transição de um para outro, desse modo assinalando
o móvel e o permanente, o dinâmico e o constante.
5) Assim como Paulo
encerra suas afirmações sobre a conduta de homens e mulheres no culto dos
coríntios com uma referência à “igreja de Deus”, assim ocorre também aqui. O
fato de que aqui são acumuladas mais palavras não constitui prova de que a
igreja seja tomada mais a sério. Paulo havia utilizado todas as expressões, e
mais do que essas, também nas cartas aos Coríntios, ainda que dispersas no
contexto.
6) Decisivo, porém, é
o fato de que o capítulo não acaba com o olhar sobre a igreja, mas com um hino
para Cristo. É em direção desse hino que tudo aponta; a primeira e última coisa
não é a igreja, mas Cristo, não o corpo, mas o cabeça. Contudo ambos formam uma
unidade da forma como os v. 15 e 16 os conectam. Não se pode detectar uma evolução
e solidificação diante de exposições mais antigas de Paulo, mas acontece o
oposto. Uma comparação com o hino cristológico da carta aos Filipenses o
sugere. Em Fp 2.5-11 Paulo fundamenta a conduta da igreja (na humildade cada um
considere o outro superior) por meio do hino à humildade de Jesus. Cristo não é
simplesmente exemplo para imitação moral. Sua mentalidade e sua ação
fundamentam a mentalidade e ação dos filipenses. Do mesmo modo 1Tm 3.16 é alvo
final e ao mesmo tempo fundamentação da beatitude, da mentalidade santa e da
ação na igreja.
Fp 2.5 não se refere
à “mentalidade”, que se orienta pelo ideal de uma virtude, mas a um
“direcionar-se para”, um “orientar-se” conforme uma realidade dada e cumprida,
que foi resolvida e inaugurada em Cristo Jesus. É precisamente dessa maneira
que o hino cristológico de 1Tm 3.16 está inserido no conjunto da carta e de
suas instruções.
Hans
Bürki. Comentário Esperança I Timóteo. Editora Evangélica
Esperança.
Esses que estão
servindo na casa de Deus devem cuidar para que se comportem de acordo, para que
não tragam opróbrio para a casa de Deus e ao nome digno de quem os chamou. Os
ministros devem comportar-se devidamente e cuidar não somente da sua oração e
pregação, mas do seu comportamento. O seu ofício os vincula ao seu bom
comportamento, porque qualquer comportamento não será suficiente nesse caso.
Timóteo deve saber comportar-se, não somente na igreja específica onde foi
designado para habitar por um tempo, mas, sendo evangelista e o substituto do
apóstolo, ele deve aprender a comportar-se em outras igrejas, onde seria
designado da mesma forma para habitar por um período; e, portanto, * não é a
igreja de Éfeso, mas a igreja católica (ou “universal”), que é aqui chamada de
a casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo. Observe o seguinte: 1. Deus é um Deus
vivo. Ele é a fonte da vida. Ele é a própria vida e aquele que dá vida, a
respiração e todas as coisas às suas criaturas. Nele vivemos, e nos movemos, e
existimos (At 17.25,28). 2. A igreja é a casa de Deus; Ele mora lá. O Senhor escolheu
Sião para ali morar. “Este é o meu repouso.
Aqui habitarei, pois
o escolhi”. Ali podemos ver o poder e a glória de Deus (SI 132.2).
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo
Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 692.
Esta seção tem sido
bem descrita (M. Dibelius) como sendo “a cesura” da carta, i.é, o ponto de
divisão que lhe dá relevância. Não somente forma a ponte entre a primeira
parte, com suas instruções acerca da oração e do ministério, e as orientações
práticas da segunda parte, mas, sim, ao ressaltar as funções verdadeiras de uma
igreja, fornece a base teológica para as regras e os regulamentos, bem como
para o ataque contra o falso ensino, que formam o corpo da carta. A essência da
mensagem de Paulo é que a ordem, no senso mais amplo do termo, é necessária na
congregação cristã precisamente porque é a casa de Deus. Seu instrumento
escolhido para pregar aos homens a verdade salvífica da revelação do
Deus-homem, Jesus Cristo.
14,15. A sintaxe dos
dois primeiros versículos é desajeitada; Paulo teria expressado aquilo que
queria dizer de modo mais claro se tivesse escrito: “Embora espere ir ver-te em
breve, escrevo-te estas coisas para que, se eu tardar, fiques ciente...” Para a
situação contemplada, e o argumento de que demonstra traços de artificialidade,
ver a nota sobre 1:3. As “instruções” (estas coisas) abrangem todas as
exortações contidas na carta. Visto que há uma possibilidade real de atraso,
Paulo naturalmente quer colocá-las por escrito, especialmente porque seu
conselho acerca da ordem eclesiástica e a necessidade de manter a sã doutrina claramente
visa um auditório maior do que Timóteo somente. Isto se aplica especialmente à
presente passagem, com suas sugestões subentendidas acerca das responsabilidades
de ser membro da igreja. A tradução como se deve proceder na casa de Deus supõe
que o Grego queira dizer “como a pessoa deve comportar-se,” e não “como você
deve comportar-se.” A favor do último texto, que foi preferido por alguns dos
pais, estão (a) o verbo no singular para que fiques ciente, e (b) o fato de que
dependia de Timóteo, mais do que qualquer outra pessoa, cuidar que os ideais de
Paulo fossem realizados em Éfeso. Do outro lado, o verbo “proceder” (Gr.
anastrephestai) é compreensivo, e abrange de modo apto a conduta esperada de
todos os grupos discutidos, e os relacionamentos mútuos entre eles. Entender
que se aplica à igreja em Éfeso de modo geral também concorda melhor com o
caráter semi-público da carta e com a ideia da congregação como sendo a família
de Deus. A casa de Deus tem sido traduzida assim ao dar-se ao Gr. Oikos o
sentido de uma “construção.” Isto é perfeitamente possível, e é apoiado por (a)
as metáforas arquitetônicas na segunda metade do versículo, e (b) a linguagem
de Paulo noutros lugares (e.g. 1 Co 3:9, 16-17; Ef 4: 12). Nesta passagem, no
entanto, Paulo está claramente retomando o pensamento de 3:4, 5, 12, onde oikos
significa “casa” no sentido de “lar” e “família” (cf. 2 Tm 1:16; Tt 1:11) e a
analogia entre uma igreja e uma família humana está explícita ou implicitamente
presente. Fala de cristãos formando uma família entre si na fé em G1 6:10 e com
Deus em Ef 2:19.
É semelhante família
ou casa, transformada numa unidade pela sua Cabeça divina, que cada congregação,
ou igreja do Deus vivo, forma.
Como em 3:5, não há
artigo definido antes de igreja, e isto sugere que Paulo está pensando
primariamente da comunidade local específica. Seu comentário pode ter
implicações para a igreja universal, mas nenhuma doutrina dela é explicitamente
exposta aqui. Paulo frequentemente descreve Deus como sendo vivo (4:10; 2 Co
3:3; 6:16; 1 Ts 1:9). Toma emprestado o epíteto do A.T., onde serve para
ressaltar o contraste entre Javé e os ídolos mortos.
A congregação local,
Paulo acrescenta, é coluna e baluarte da verdade. Como nas Pastorais de modo
geral (ver sobre 2:4), a verdade representa a plena revelação de Deus em
Cristo, mas leva consigo a nuança de “a fé ortodoxa.” A escolha da palavra aqui
é motivada pela oposição consciente aos mestres do erro que estão para ser
denunciados em 4:1 ss. O que Paulo está dizendo é que a função e a
responsabilidade de cada congregação é apoiar, reforçai, e assim salvaguardar o
ensino verdadeiro pelo seu testemunho consciente. Devemos notar (a) que baluarte
é provavelmente a tradução mais exata do Grego hedraiõma (que não se acha em
nenhum outro lugar) e (b) que a igreja local é descrita como coluna etc., e não
“a coluna, etc.”, porque há muitas igrejas locais em todo o mundo que
desempenham este papel. Duas outras interpretações da passagem devem ser
mencionadas. Tem sido proposto que coluna e baluarte da verdade deva (a) ser
tomada em aposição a Timóteo, o sujeito oculto de fiques ciente supra, ou (bj ser
ligada àquilo que se segue e ser usada para qualificar o mistério da piedade. A
última pode ser rejeitada imediatamente. Envolve uma tautologia, visto que o
mistério da piedade não é o apoio da verdade mas, sim, a própria verdade; e o
anticlímax de Evidentemente grande vindo depois de coluna e baluarte é
intolerável. A primeira é um pouco mais plausível.
Mas, em primeiro lugar, há muita matéria interveniente entre estas palavras e
fiques ciente para permitir que sejam ligadas com aquele verbo; em segundo
lugar, o assunto em pauta não é Timóteo, mas, sim, a função da igreja. Os
exegetas têm apelado a estes expedientes porque imaginaram que, conforme é
comumente interpretada, a passagem deve subentender que a igreja é, dalguma
maneira, o fundamento ou base do evangelho, ao passo que a verdade é exatamente
o oposto disto (1 Co 3:11). Mas se a tradução e a explicação dadas supra forem corretas,
a alegada dificuldade não existe. A única preocupação de Paulo é enfatizar que
os membros de cada comunidade local devem ser um baluarte forte do evangelho
contra os assaltos dos falsos mestres.
John
N. D. Kelly. Epístolas Pastorais Introdução e Comentário. Editora Vida
Nova. pag. 87-89.
I - OS
DONS NÃO SÃO PARA ELITIZAR O CRENTE
1. A igreja Coríntia.
CORINTO Capital da
província romana da Acaia.
1. Topografia. A cidade
era uma das mais estrategicamente localizadas do mundo antigo. Estava situada
em um planalto que contemplava o istmo de Corinto, cerca de 3 km do Golfo.
Assentada aos pés do Acro corinto, uma acrópole que se ergue precipitadamente a
quase 600 m de altitude, tão fácil de defender que era chamada de um dos
'‘grilhões da Grécia”. Era uma fortaleza tão impenetrável que só foi tomada à
força depois da invenção da pólvora. Corinto comandava todas as rotas
terrestres da Grécia central para o Peloponeso ao longo do istmo.
Havia bons portos em
ambos os lados do istmo: Cencréia no Golfo Sarônico ao leste e o Lichaeum no
Golfo de Corinto ao Oeste. Uma moeda do imperador Adriano representava os
portos mediante duas ninfas, olhando em direções opostas com um leme entre
eles. Nos tempos antigos os navios eram arrastados através do istmo sobre
cilindros, para evitar a longa e perigosa passagem em tomo do Cabo Malea na
extremidade sul do Peloponeso. Periander o tirano (c. 625-585 a.C.) planejou
abrir um canal no istmo, e o Imperador Nero começou de fato este projeto, mas
um canal S& foi completado em 1893.
2. História. Os
primeiros habitantes de Corinto foram colonizadores do período neolítico e da
Antiga Idade do Bronze, que parecem ter se mudado para um local mais próximo à
costa, em Koraku, próximo a Lichaeum. Por volta da Nova Idade do Bronze, Koraku
era uma colônia próspera em comparação com o local clássico de Corinto, nesta
mesma época. E suposto, portanto, que a “Corinto abastada” da Ilíada (Livros 2
e 13) era Koraku, também chamada de Efira no livro 6. Evidências arqueológicas
indicam que a colonização na Idade do Bronze foi abandonada pelos dórios em
favor do local clássico.
A próspera
cidade-estado de Corinto surgiu no 82 séc. a.C. Ganhou controle sobre o istmo e
o sul de Megara. Colonos foram enviados para Corcira, Itaca e Siracusa. A
expansão da cidade foi liderada pelo clã dos Baquíades. Durante este período,
uma escola de poesia liderada por Eumelus se desenvolveu e o estilo
Proto-Corinto de olaria apareceu, o qual foi muito influenciado pelo contato
com o Oriente. Os Baquíades foram derrotados pelo tirano Cipselo (c. 657), cuja
linhagem reinou até 582 a.C. Durante este período, Corinto alcançou o auge de
sua prosperidade e poder. Periandro, o último e o
maior dos tiranos,
construiu um corredor de pedras (Síoakoç) através do istmo para a transferência
de navios e carga. Navios coríntios navegavam tanto para o Oriente quanto para
o Ocidente carregados com as lindas mercadorias produzidas na cidade.
No início do 52 séc.
a.C. o mercantilismo e imperialismo ateniense levaram Corinto ao declínio. As
duas competiam pela influência sobre Samos, em Megara e ao longo do Golfo de
Corinto. Uma disputa pela conquista de Corcira e Potidéia levou à deflagração
da Guerra do Peloponeso em 431 a.C., que foi desastrosa para ambas. No início
do 4- séc. a cidade se aliou a várias forças mais poderosas. Aliou-se com
Atenas, Argos e Beócia contra Esparta. Logo em seguida (395-385 a.C.) foi
estabelecido um governo democrático de pouca duração, substituído depois por
uma oligarquia. Depois da batalha de Queronéia (338 a.C.) Corinto perdeu sua
independência. Filipe II da Macedônia guarneceu o Acrocorinto e fez da cidade o
centro de sua liga helénica.
No período
helenístico Corinto era um centro industrial, comercial e de prazer. Tomou-se
membro e, por um tempo, a principal cidade da Liga Aqueana, no período entre a
morte de Alexandre e o surgimento da influência romana na Grécia. Depois de uma
breve campanha que resultou na conquista da Grécia em 196 a.C., Corinto foi
declarada pelos romanos uma cidade livre. Entretanto, logo os romanos foram
forçados a restringir a influência de Corinto e da liga, e a cidade foi
completamente destruída por Múmio em 146 a.C.
Corinto ficou em
ruínas por cem anos, até o decreto de Júlio César em 46 a.C. que dizia que
deveria ser reconstruída. Uma colônia romana foi fundada no local, a qual mais
tarde se tomou a capital da província da Acaia. Sua população era formada de
gregos locais, orientais incluindo um grande número de judeus, homens livres da
Itália, oficiais do governo de Roma e comerciantes. A cidade se tomou um lugar
favorito dos imperadores romanos. Nero exibiu sua extraordinária habilidade
artística nos jogos istmianos e, em um momento de exuberância, declarou a
cidade livre. Ele próprio, Vespasiano e Adriano foram patronos da cidade e
fizeram de Corinto a cidade mais bela da Grécia. Pausanias, o viajante e
geógrafo grego, visitou Corinto no 2- séc. d.C. e fez uma descrição concisa dos
monumentos da cidade imperial.
A cidade romana foi
destruída por hordas góticas no 3 e 4a sécs. Sua destruição pelos godos, em 521
d.C., levou Procópio a comentar que Deus estava abandonando o império romano. A
cidade foi fundada novamente pelo imperador Justiniano e mantida na Idade
Média pelos normandos, venezianos e turcos. O antigo local foi abandonado em
1858 devido a um forte terremoto. A nova cidade foi construída perto do golfo e
mais para o leste.
Nos tempos romanos, a
cidade era notória como lugar de prosperidade e indulgência. “Viver como um
coríntio” significava viver em luxúria e imoralidade. Sendo um porto marítimo,
Corinto era o local de encontro de todas as nacionalidades e oferecia todos os
tipos de vícios. O templo de Afrodite no Acrocorinto era único na Grécia. Suas
sacerdotisas eram mais de mil hierodouloi, “escravas sagradas”, que se ocupavam
na prostituição. Sua riqueza vinha de seu movimento comercial por mar e por
terra, sua cerâmica e indústrias de metal, e sua importância política como a
capital da Acaia. Em seu apogeu, provavelmente atingiu uma população de 200.000
homens livres e 500.000 escravos.
Importância bíblica.
Existem três itens de interesse arqueológico que se relacionam ao relato de
Atos acerca da visita de Paulo a Corinto. O tribunal romano, para o qual ele
foi arrastado (At 18.12) pela multidão, para comparecer diante de Gálio, foi
descoberto no centro do ágora. Era uma plataforma alta apoiada por dois
degraus, revestida com mármore azul e branco. Dos lados havia recintos com
assentos e, mais adiante, corredores que levavam da porção inferior à superior
do ágora. Esta construção é perfeitamente coerente com a concepção romana de um
rostro, uma plataforma para oratória pública.
Ao sul do teatro há
uma área grande e pavimentada, datada da metade do l2 séc. d.C. Em uma das
pedras do calçamento está a inscrição Eratus,pro aedilitate sua pecunia
stravit, “Erasto, em troca pelo título de édilo, colocou [o pavimento] responsabilizando-se
por seus custos.” Paulo, escrevendo de Corinto, mencionou em sua epístola aos
Romanos (16.23)um Erasto, a quem ele descreveu como “tesoureiro” ou
“administrador da cidade”. Embora exista alguma dúvida se 0ík0v6|10ç é um
equivalente próprio de edil, comumente em grego, em geral se afirma que este é
o mesmo Erasto, um convertido ou amigo do apóstolo.
Uma inscrição
encontrada perto do pórtico diz identificada como Zdvcc Ycoyn Epp aícov
[“sinagoga dos hebreus”]. Provavelmente era o bloco da verga da porta de um
prédio próximo. Embora a inscrição seja em geral datada no 3S séc. d.C., ela
atesta a existência de uma comunidade judaica em Corinto.
O apóstolo Paulo
visitou Corinto, pela primeira vez, em sua segunda viagem missionária (Atos
18). Ele havia acabado de chegar de Atenas, onde fora miseravelmente recebido.
Posteriormente ele disse que começou seu trabalho em Corinto em fraqueza, medo
e temor. Pretendia permanecer apenas por um curto período de tempo, antes de
retomar a Tessalônica, mas o Senhor falou com ele numa visão durante a noite
(At 18.9,10; lTs 2.17,18). Paulo pregou na cidade por um ano e meio. Por um
tempo ele residiu na casa de Aquila e Priscila, judeus que haviam recentemente
sido expulsos de Roma pelo imperador Cláudio. Assim como Paulo, os dois eram
fabricantes de tendas e Paulo trabalhou com eles durante sua estada na cidade,
para que seus motivos como pregador não fossem contestados. Logo depois de sua
chegada, Silas e Timóteo se juntaram a ele, vindos da Macedônia.
Paulo pregou na
sinagoga todos os sábados, até que uma forte oposição surgiu entre os judeus.
Ele então se voltou
para os gentios e ficou na casa de Tício Justo, um gentio adepto do Judaísmo,
que morava ao lado da sinagoga. Paulo fez vários convertidos durante sua
estada, dentre eles Crispo, o administrador da sinagoga.
Em certo momento, uma
multidão de judeus arrastou Paulo diante do procônsul romano da Acaia, L.
Junius Gálio. O vencimento de seu mandato era para o ano 51-52 ou 52-53, de
acordo com uma inscrição encontrada em Delfi, em 1908 (SIG II3.801). Gálio
ouviu as acusações no tribunal, mas se recusou a julgar assuntos concernentes à
lei judaica. Mesmo quando a multidão libertou Paulo e começou a espancar
Sóstenes, o administrador da sinagoga, ele não se envolveu (At 18.12-17). Esta
opinião, dada por um oficial romano altamente respeitado, de que a pregação de
Paulo não era contrária à lei romana, sem dúvida deu a ele uma compreensão da
proteção que Roma lhe daria ao pregar o evangelho. O relato da primeira visita
de Paulo a Corinto é encerrado com a observação de que ele partiu, algum tempo
depois deste incidente, para Jerusalém e Antioquia via Éfeso.
Paulo escreveu as
epístolas aos Tessalonicenses durante sua estada em Corinto. Tão logo chegou na
cidade, Silas e Timóteo se uniram a ele. As notícias que Timóteo trouxe da
Macedônia levaram Paulo a escrever a primeira epístola aos Tessalonicenses. A
segunda epístola foi escrita provavelmente logo após a primeira ter sido
recebida.
O livro de Atos conta
muito pouco sobre a história do começo da Igreja em Corinto, mas alguns poucos
detalhes adicionais podem ser derivados das epístolas aos Coríntios. Apoio, um
convertido de Áquila e Priscila enquanto eles estavam em Éfeso, foi enviado com
uma carta de recomendação e exerceu um grande papel na igreja, embora às vezes
involuntariamente, tenha sido causa de divisões (At 18.27—19.11; ICo
1.12). As evidências
indicam que Paulo pretendia visitar a igreja novamente, em sua terceira viagem
missionária (2Co 12.14; 13.1).
Enquanto estava em
Éfeso, Paulo enviou uma carta para Corinto, que não foi preservada (ICo 5.9). A
resposta da igreja, que pedia conselho acerca de problemas que estava
enfrentando, e um relatório oral que indicava que a igreja estava muito mal,
levou o apóstolo a escrever a primeira epístola aos Coríntios. Esta foi
provavelmente levada para Corinto por Tito (2Co 7.13) ou por Timóteo (ICo
4.17), porque ambos haviam visitado a igreja nesta época. Depois da partida
apressada de Paulo de Éfeso, ele foi para Trôade com a esperança de encontrar
Tito com novidades acerca de Corinto. Sua expectativa foi frustrada, mas ele o
encontrou mais tarde na Macedônia. Quando ele recebeu o relato sobre o
reavivamento na igreja, Paulo escreveu sua segunda epístola da Macedônia.
Depois disso, ele passou três meses na Acaia, grande parte, sem dúvida, em Corinto
(At 20.2,3). Enquanto estava lá, arrecadou uma oferta para os santos pobres de
Jerusalém, para a qual a Igreja de Corinto também deve ter contribuído, e de
onde ele provavelmente escreveu a epístola aos Romanos (Rm 16.23).
A Igreja em Corinto
reaparece na história literária ao final do l2 séc. d.C.; por volta do ano 97
Clemente de Roma escreveu uma carta, que ainda sobrevive, à igreja. Esta revela
que a igreja ainda era afligida por muitos dos mesmos problemas sobre os quais
Paulo escreveu.
MERRILL
C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia.
Editora Cultura Cristã. Vol. 1. pag. 1173-1179.
CORINTO Uma cidade
muito antiga. Os primeiros colonizadores chegaram a Corinto no quinto ou no
sexto milénio a.C. Mas a Corinto do período clássico foi realmente estabelecida
com a invasão dos dórios. Por volta de 1000 a.C. este povo grego se estabeleceu
no sopé da acrópole de Corinto. Ocupando um lugar de segurança, eles também
controlavam a principal rota comercial por terra entre o Peloponeso e a Grécia
central, como também a rota Istmiana. Chegando logo a um alto grau de
prosperidade, a cidade colonizou Siracusa na Sicília e a ilha de Corcira (a
atual Corfu) e alcançou um pico de prosperidade através do desenvolvimento
comercial e industrial. A cerâmica e o bronze de Corinto foram largamente
exportados pelo Mediterrâneo. Por volta da metade do século V as fortunas da
cidade diminuíram como resultado de uma eficaz concorrência da produção
industrial ateniense. Durante o período clássico, Corinto controlava cerca de
100 quilómetros quadrados de território, aproximadamente um quarto do tamanho
de Rhode Island. Não é possível contar a história de Corinto detalhadamente. E
suficiente dizer que ela entrou em conflito com Roma durante o século II a.C,
foi finalmente destruída pelos romanos em 146 a.C, e permaneceu virtualmente
desabitada até que Júlio César fundou-a novamente em 44 a.C. O crescimento de
Corinto foi rápido e, na época de Paulo, ou logo depois, a cidade se tornou o
maior e mais próspero centro no sul da Grécia. Ela serviu como a capital da
província romana da Acaia, com uma população que variava entre 100.000 a várias
centenas de milhares de pessoas.
A história posterior
de Corinto não possui nenhum valor especial para os estudantes do NT. A cidade
sofreu várias catástrofes até que em 1858, quando foi destruída por um
terremoto, ela se moveu para um novo local no golfo de Corinto; por isso
escavadores da Escola Americana de Estudos Clássicos foram capazes de descobrir
como era o lugar na época do NT.
Nos dias de Paulo, a
cidade ficava a aprox.. dois quilômetros e meio ao sul do golfo de Corinto, no lado norte de sua acrópole, a uma altitude de aprox. 130 metros. O monte
Acrocorinto ou acrópole se estendia a 500 metros sobre a cidade, a uma altitude
de 623 metros. A cidade e sua acrópole eram limitadas por um muro que tinha um
perímetro superior a 10 quilómetros. Do lado de fora dos muros, nas planícies
circunvizinhas, se estendiam campos de grãos, olivais, vinhas, e outras
propriedades rurais da cidade. Ao norte da parte central da cidade ficava a
Agora, o centro nervoso da metrópole. A Agora tinha aproximadamente 230 metros
de leste a oeste, e cerca de 100 metros de norte a sul. Seguindo a configuração
natural da terra, a seção sul era cerca de 4 metros mais alta que a parte norte.
Na linha divisória dos dois níveis, havia uma fileira de prédios baixos
flanqueando um rostro ou bema, que funcionava como um púlpito para proclamações
públicas e assentos de julgamento (q.v.) para magistrados. Aqui Paulo
compareceu perante Gálio (q.v.), governador da Acaia, como resultado das
acusações dos judeus de que ele havia violado a lei (At 18.12,13). Ao longo do
lado sul da Agora, havia um pórtico ou colunata que era um centro de compras,
medindo cerca de 150 metros de comprimento. Aqui e no lado noroeste perto do
templo de Apolo, havia lojas para os vendedores de carne e vinho, provavelmente
o mercado ou o "açougue" ao qual Paulo se referiu em 1 Coríntios
10.25. Uma inscrição foi encontrada perto do teatro, declarando que Erasto (q.v.;
provavelmente mencionado em Romanos 16.23) o edil (tesoureiro da cidade), havia
colocado o pavimento por sua própria conta. Quanto aos aspectos não-físicos de
Corinto, deve ser observado que uma grande parte da população era muito
inconstante (navegadores, negociantes, oficiais do governo, et ai.) e estavam,
portanto, excluídos dos habitantes da sociedade estabelecida. Para tornar as
coisas piores, a prostituição religiosa era comumente praticada em conexão com
os templos da cidade. Por exemplo, de acordo com Strabo, 1000 sacerdotisas ou
jovens escravas do Templo de Afrodite, na acrópole, eram empregadas na
prostituição religiosa. Uma inscrição revela que estas possuíam seus próprios
assentos no teatro a noroeste da Agora. A partir da mobilidade social e dos
males das práticas religiosas ali, surgiu uma corrupção geral da sociedade. A
péssima "moral de Corinto" se tornou um provérbio pejorativo até
mesmo no mundo romano pagão. Não é de se admirar que Paulo tivesse tanto a
dizer sobre a santidade do corpo em sua primeira carta aos coríntios. Perto de
Corinto, os jogos ístmicos ocorriam a cada dois anos em homenagem a Posêidon,
deus do mar. Eventos atléticos incluíam corridas a pé, corridas com carros
puxados por dois cavalos, o pentatlo (salto, corrida, luta livre, lançamento de
disco e lançamento de dardo) e o pancratium (uma combinação de boxe e luta
livre). A coroa de vitória parece ter sido um aipo selvagem seco durante o
século I d. C, realmente uma coroa corruptível (1 Co 9.25).
PFEIFFER. Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora
CPAD. pag. 462.
Dons Espirituais
Abundantes (1.7)
Na expressão De
maneira que nenhum dom vos falta, o verbo falta significa ser deficiente, ser
insuficiente. Declarado em termos positivos, os coríntios tinham abundância de
dons espirituais, ou seja, tinham tudo o que era necessário para a salvação. A
palavra dom (charisma) é usada apenas por Paulo no NT (exceto 1 Pe 4.10). Paulo
usou a palavra de duas formas. De forma geral, a palavra significa “o efeito
das ações misericordiosas de Deus, a bênção positiva conferida aos pecadores
através da graça”. Neste sentido geral ela inclui todas as graças espirituais e
os atributos espirituais. Ela também é usada por Paulo, de uma maneira
especial, para referir-se a atributos espirituais em particular que seriam
usados no ministério do evangelho de Jesus Cristo. Tais dons são discutidos no
final desta carta, nos capítulos 12-14.
Neste primeiro
capítulo Paulo usou a palavra dom em seu sentido mais geral. Com respeito ao
uso da palavra aqui, o Bispo Lightfoot escreve: “Que ela é usada aqui em seu
sentido mais amplo, fica claro a partir do contexto, o qual mostra que Paulo
está se expressando especialmente sobre os dons morais, como por exemplo sobre
a santidade de vida”. Deus havia enriquecido suas vidas para que não lhes
faltasse nada que fosse necessário para a salvação.
Expectativa
Espiritual (1.7)
Paulo, com os
coríntios, esperava a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo. O apóstolo
combinou a vitalidade espiritual presente com a antecipação espiritual futura.
Ele observou a vida de uma forma realista, sabendo dos pecados do homem e
proclamando a graça redentora de Deus. Ele também buscou com expectativa,
sabendo que a segunda vinda de Cristo era a resposta definitiva da graça a um
mundo irremediavelmente enredado no pecado. O verbo traduzido como esperando
transmite a ideia de uma expectativa forte e ardente, e uma vigilância bastante
alerta. A palavra manifestação (revelação, apocalypsis) significa literalmente
descobrir, desvelar. “Aqui ela se refere ao retomo do Senhor para receber os
seus santos para si mesmo em sua Parousia... Ela é usada em relação à sua vinda
com seus santos e anjos para distribuir os juízos de Deus...” Paulo tornou o
evangelho relevante para as atuais necessidades do homem. Mas ele, juntamente
com outros escritores do NT, sempre fez da expectativa da volta do Senhor Jesus
Cristo um estímulo para a busca espiritual e um meio de enriquecimento
espiritual e de poder espiritual (cf. 2 Pe 3.11-12; 1 Jo 3.2-3).
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 8. pag. 247-248.
I Cor 1.7. O
resultado disso tudo é que os coríntios não têm falta de nenhum dom. Esta
palavra é utilizada com referência (1) à salvação (Rm 5:15), (2) aos excelentes
dons de Deus em geral (Rm 11:29), e (3) às capacitações especiais do Espírito,
por exemplo, falar em línguas (12: 4, ss). Aqui o pensamento é dado em seu
sentido amplo (2). Deus lhes enriquecera as vidas, e não tinham falta de nenhum
dom espiritual. A referência à segunda vinda do Senhor é inesperada. A
associação de idéias pode ser a de que o presente antegozo do Espírito faz o
nosso pensamento voltar-se para a experiência mais completa do último grande
dia (cf. Rm 8:23; Ef 1:13, 14). Apokalupsin, traduzido pela VA por “ vinda” , significa
“ manifestação” (RC), revelação (RA). Há diferentes modos de ver o segundo advento.
Este o vê como uma revelação de Cristo. Nós O veremos como Ele é (cf. 1 Jo
3:2).
Leon
Monis. I Corintos. Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 29-30.
Da ação de graças
dirigida a Deus pelo apóstolo por causa deles. Paulo começa a maioria de suas
epístolas com ações de graças a Deus por seus amigos e com oração por eles.
Note que a melhor maneira de manifestar nossa afeição aos nossos amigos é
orando e agradecendo por eles. Essa é uma parte da comunhão dos santos,
agradecer a Deus mutuamente por nossos dons, graças e bem-estar. Ele agradece:
1. Pela sua conversão à fé em Cristo: “pela graça de Deus que vos foi dada em
Jesus Cristo” (v. 4). Ele é o grande provedor e distribuidor do favor de Deus.
Aqueles que são unidos a Ele pela fé, e tornaram-se participantes de seu
Espírito e méritos, são os objetos do favor divino. Deus os ama, os conduz com
completa boa vontade, e concede sobre eles seu sorriso paternal e suas bênçãos.
2. Pela abundância de seus dons espirituais. A igreja de Corinto era famosa por
isso. Eles não estavam atrás de nenhuma igreja na manifestação de qualquer dom
(v. 7). Ele especifica palavra e conhecimento (v. 5). Onde Deus tem concedido esses
dois dons, Ele tem dado grande capacidade para o seu uso. Muitos têm a flor da
palavra mas não têm a raiz do conhecimento, e a sua conversão é infecunda.
Muitos têm o tesouro do conhecimento, e querem a palavra para usá-lo para o bem
dos outros, e, neste caso, ele está por assim dizer envolvido num guardanapo.
Mas, onde Deus concede ambos, um homem está qualificado para elevado proveito.
Quando a igreja de Corinto foi enriquecida com toda a palavra e todo o
conhecimento, era conveniente que muitos louvores fossem dados a Deus,
especialmente pelo fato de esses dons serem um testemunho da verdade da
doutrina cristã, uma confirmação do testemunho de Cristo entre eles (v. 6).
Eles eram “sinais, prodígios e dons do Espírito Santo”, pelos quais Deus levou
testemunho aos apóstolos, em sua missão e doutrina (Hb 2.4), de maneira que,
quanto mais abundantemente eles eram derramados sobre qualquer igreja, mais
pleno testemunho era dado daquela doutrina pregada pelos apóstolos, e maior
evidência comprobatória eles tinham de sua missão divina. E não é de admirar que,
por terem tal fundamento para a sua fé, eles deviam viver na expectativa da
vinda do Senhor Jesus Cristo (v.7). É da natureza dos cristãos que eles esperem
a segunda vinda de Jesus Cristo; toda a nossa religião atenta para isso: nós
cremos nela, e a esperamos, e ela é a ocupação de nossa vida no sentido de nos
prepararmos para ela, se realmente somos cristãos. E quanto mais confirmados estivermos
na fé cristã, mais firme será a nossa fé na segunda vinda de nosso Senhor, e
mais zelosa será a nossa expectativa por ela.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo
Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 429.
2. Uma igreja de
muitos dons, mas carnal.
O vocábulo «...irmãos...»
é um termo que subentende afeição, usado para suavizar as severas reprimendas
que Paulo precisava dirigir contra os crentes de Corinto. (Ver outros usos
desse termo em I Cor. 1:10,26; 2:1; 4:6; 10:1; 12:1 e 14:20).
«...espirituais...»
Paulo postulou aqui três classes de homens, a saber, «espirituais», «carnais» e
«naturais». Os homens espirituais e os carnais são ambos crentes, mas de
inclinações opostas. Os homens naturais são os indivíduos ainda sem
regeneração. (Ver as notas expositivas a esse respeito em I Cor. 2:14, onde as
palavras gregas são explicadas).
«...carnais...» Em
outras palavras, «homens da carne», ou seja, crentes controlados pela carne. É
possível interpretar que esse adjetivo significa que as pessoas assim
qualificadas são inteiramente destituídas do Espírito de Deus (se considerarmos
tão-somente o sentido verbal), mas o contexto geral não nos permite tirar essa
conclusão. Mui facilmente, entretanto, Paulo poderia estar querendo dar a entender
que toda a sua suposta e apregoada espiritualidade, no exercício dos dons
espirituais, era falsa, fraudulenta; porque não dispor das qualidades morais de
Cristo, e, ao mesmo tempo, ser supostamente habitado pelo Espírito de Deus, a
ponto de realizar feitos miraculosos, é uma aberrante contradição, uma impossibilidade
moral.
(Ver o
desenvolvimento desse tema na introdução ao presente capítulo). Os crentes
«...espirituais...», de conformidade com o uso que Paulo fez desse vocábulo,
eram os crentes «experientes», espiritualmente maduros, segundo se lê em I Cor.
2:6. Já os «carnais», em contraste com isso, eram os, que davam excessivo valor
à sabedoria «humana», conforme a menção e os comentários existentes em I Cor.
1:18,19;21 e 2:1,4,5.
A sabedoria humana,
em sua exaltação por parte dos retóricos e sofistas cristãos, que abundavam na
igreja de Corinto, é que havia causado as lamentáveis divisões que Paulo
repreende com tanta severidade nesta epístola. Príncipes se encontravam entre
os sábios deste mundo; mas esses são inteiramente despidos da sabedoria divina,
tendo cometido o pior de todos os crimes da humanidade, a saber, a crucificação
do Senhor Jesus.
(Ver I Cor. 2:6-8). E
poderiam crentes verdadeiros imitar tal sabedoria, provocando assim tão
desgraçadas divisões no seio do cristianismo? Tal possibilidade pareceria
inconcebível, mas era exatamente o que aquela gente tinha feito. Dessa maneira,
se tinham desqualificado a si mesmos como crentes «espirituais». Antes, eram
imaturos, crianças na fé. Eram crentes «carnais», o que significa que não eram
necessariamente destituídos da presença do Espírito Santo, e, sim, que não eram
controlados por ele, conforme supunham, e, sim, pela carne. Não tinham ainda
atingido a plenitude da experiência espiritual, apesar de se julgarem
supremamente espirituais. Todas as suas supostas elevadas experiências
espirituais, portanto, eram fraudulentas.
A palavra «carnal»,
em sua definição básica, significa simplesmente «da carne e do sangue», não
indicando, necessariamente, qualquer qualidade ética inferior. Mas o homem que
é dominado por seus desejos inferiores, que se originam da mera mortalidade,
como as concupiscências, as paixões, a busca pela fama, pela exaltação pessoal,
etc. (tudo o que caracterizava certo grupo de crentes da igreja de Corinto,
conforme se lê na primeira e na segunda epístolas aos Coríntios), se torna
«eticamente carnal, e não apenas metafisicamente carnal. Isso significa que
pouco se conhece sobre o predomínio do «princípio espiritual», também chamado
«princípio celestial», que faz com que um homem se torne um crente espiritual.
Essa palavra, pois, significa: 1. Pertencente à ordem das coisas terrenas,
«materiais», sem ou com algum conteúdo ético. (Ver o trecho de I Cor. 9:11
quanto ao uso dessa palavra, sem qualquer conteúdo moral).
2. Pode também
significar «composto de carne», que é uma referência ao corpo humano. (Ver I
Pol. 2:2).
3. Finalmente, pode
significar pertencente ao reino da carne, isto é, algo débil, pecaminoso e
transitório, em contraste com o reino espiritual. (Ver I Cor. 3:4 e I Ped.
2:11). Nesse caso entra o elemento ético, o que mostra que o adjetivo «carnal»
significa pecaminoso, controlado por princípios errôneos.
Portanto, por si
mesma, essa palavra pode aplicar-se à totalidade dos homens não-regenerados, a
todos os homens, como seres .humanos mortais, ou aos crentes carnais. Essa é a
aplicação que esse vocábulo tem no presente texto. As pessoas a quem Paulo se
referiu não estavam subordinadas à «lei superior» dos céus, mas permaneciam
verdadeiros filhos deste mundo terreno. Com isso se pode comparar a afirmativa
de Paulo, em Rom. 7:14, em que ele se declara que fora «carnal, vendido ao
pecado». Isso é menção à carnalidade que controla o crente infantil, o que
abafa as influências espirituais superiores em sua pessoa.
No N.T. grego existem
duas palavras extremamente similares, «sarkinos» e «sarkikos». Nem mesmo no
grego clássico esses dois termós são distinguidos claramente, e muito menos
ainda no grego «koiné». «Sarkinos» é a palavra que aparece neste texto.
«Sarkikos» figura em Rom. 7:14; 15:27 e outros trechos. Os manuscritos
confundem os dois vocábulos, usando-os como sinônimos. (Ver a iiota textual que
as segue).
«.. .crianças em
Cristo...»A palavra grega aqui traduzida por «crianças» é «nepios». Esse
vocábulo usualmente indica alguém que ainda não sabe falar (derivado de «ne», o
negativo, e de «epos», palavra), ou seja, uma criança tão pequena que ainda não
aprendeu a falar, isto é, com menos de dois anos de idade. Notemos, pois, quão
severa é a repreensão de Paulo. Eram virtuais «recém-nascidos», como crentes,
totalmente destituídos de outras experiências cristãs válidas. Eram crentes
imaturos, sem espiritualidade, embora se julgassem altamente espirituais. Paulo
os põe em antítese com «experimentados», isto é, os crentes maduros, em I Cor.
2:6, que é uma de suas descrições acerca dos crentes «espirituais». Paulo se
utilizou da palavra «crianças», algumas vezes, em sentido depreciativo,
conforme vemos em Rom. 2:20; Gál. 4:3 e Efé. 4:4. Em diversas referências
literárias se verifica que esse termo era empregado para indicar os noviços nas
escolas, os prosélitos recentes de alguma religião. Paulo gostaria de ter-lhes
escrito uma mensagem como aquela que encontramos na epístola aos Efésios, um tratado
profundo sobre as questões espirituais; mas isso lhe era impossível, porquanto
se dirigia a pessoas que eram principiantes na fé cristã, que se admiravam ante
a sabedoria humana, e não por causa da sabedoria divina.
«Eram pessoas
convertidas, mas tinham um entendimento infantil, no conhecimento e na
experiência; tinham bem pouco discernimento quanto às coisas espirituais, e não
possuíam ainda habilidade na palavra da justiça». (John Gill, in loc.).
«É extremamente comum
que pessoas de conhecimento e compreensão muito moderados se mostrarem excessivamente
convencidas. O apóstolo atribuiu sua ínfima eficiência, no conhecimento do
cristianismo, como uma das razões pelas quais ele não lhes podia transmitir
mais profundas verdades». (Matthew Henry, in loc.).
O vocábulo grego aqui
usado para indicar «...carnais...» é «sarkikoi», e não «sarkinoi», conforme se
lê no primeiro versículo deste capítulo, ainda que alguns manuscritos
apresentem a mesma palavra também nesse primeiro versículo. (Ver as notas
textuais e os comentários a respeito desse primeiro versículo). Alguns eruditos
pensam que «sarkikoi» é termo mais fraco que «sarkinois»; porém, o leitor que
acompanhar as referências dadas em um bom léxico grego ou concordância grega,
ficará convencido de que ambas essas palavras eram frequentemente usadas para
dar a entender a mesma coisa, porquanto são sinônimos entre si. É bem provável,
pois, que Paulo tenha usado essas palavras como termos intercambiáveis.
A segunda menção do
termo grego sarkikoi neste versículo (onde essa palavra é empregada por duas
vezes), é alterada, em alguns manuscritos gregos, para «sarkinoi». Assim dizem
os mss P(46), D(1)G, o que certamente mostra que, para muitos escribas antigos,
não havia diferença apreciável entre essas palavras. Portanto, a suposta
distinção feita por alguns estudiosos, os quais dizem que o final «inos» denota
uma relação «material», ao passo que o término «ikos» envolve uma relação
«ética», é uma distinção artificial, tanto quanto ao uso real dessas palavras
como quanto ao sentido dessas palavras. Diversas outras interpretações estabelecem
diferenças quanto a esses vocábulos gregos, mas nenhuma delas é convincente.
Assim é que alguns eruditos pensam que «sarkinoi» significa «totalmente da
carne», ao passo que «sarkikoi» significaria «dominado pela carne», embora restem
ainda alguns elementos espirituais presentes nos indivíduos assim qualificados.
Contudo, não é provável que Paulo tenha dito uma coisa, no primeiro versículo,
para então, logo adiante, no nosso atual versículo terceiro, ter dito outra,
mais suave. Simplesmente Paulo usou esses termos como sinônimos
intercambiáveis.
«....ciúmes...» Essa
palavra, no original grego, «zelos», pode significar «zelo», «ardor», não sendo
má por si mesma. (Ver II Cor. 9:2; Fil. 3:6; Luciano, Adv. Ind. 17: I Macabeus
2:58). Esse é o vocábulo grego do qual se derivou a nossa «inveja», «ciúme»,
tal como em Plur. Thess. 6:9; Atos 5:17; 13:45; Rom. 13:13; II Cor. 12:20 e
Gál. 5:20. Nesta última referência, o «ciúme» é alistado como uma das «obras da
carne», isto é, um dos resultados da pervertida carnalidade do homem, em
contraste com o «fruto do Espírito», o qual produz a transformação moral do
crente segundo a imagem de Cristo. Por conseguinte, a inveja é aqui pintada
através do mau sentido de «zelo» ou «ardor», provocado pela criação de facções,
alicerçadas na adoração a «heróis» humanos. Porém, Cristo é o único verdadeiro
«herói» da igreja cristã; e, assim sendo, adorar ou venerar a quem quer que
seja equivale à idolatria, furtando algo da glória de Cristo.
«...contendas...» Essa
palavra tem por sinônimos «discórdia», «querelas», «dissensão». (Ver Fil. 1:15;
Tito 3:9; I Cl. 35:5; 46:5 e Tito 3:9). Essa palavra aparece na lista dos
muitos vícios que caracterizavam os pagãos, que haviam abandonado o conhecimento de Deus,
segundo se aprende em Rom. 1:29. Portanto, os crentes de Corinto agiam como
homens ainda sujeitos às obras da carne (ver Gál. 5:20), como pagãos que ainda
não conheciam a Cristo. No entanto, ao mesmo tempo, se exaltavam como elementos
altamente espirituais, ufanando-se no uso extraordinário dos dons espirituais.
A estimativa que deles fazia o apóstolo Paulo, contudo, era inteiramente
diferente disso. Aquele que é verdadeiramente espiritual deve demonstrar o
fruto do Espírito, exercendo predomínio sobre as obras da carne. Devemos
observar que essa palavra, aqui traduzida por «contidas», também aparece na
lista de Gál. 5:20, como obra da carne, aparecendo ali imediatamente antes de
«ciúmes». É possível que esses dois defeitos de caráter tenham alguma conexão
vital. As contendas começam quando surge a inveja no coração.
«As contendas são o
resultado exterior do sentimento invejoso. (Ver Gál. 5:20; Clemente Rom. Cor.
3)». (Robertson e Plummér, in loc.).
«..e andais segundo o
h om em? ...» Isto é, de conformidade como o homem de inclinações «carnais», o
homem controlado pelos apetites da natureza carnal. Paulo estabelecia aqui o
contraste com o homem «espiritual», referido no primeiro versículo deste
capítulo, que ele definiu como «experimentado» ou maduro (ver I Cor. 2:6).
Aqueles crentes de Corinto, embora inchados com pensamentos de uma
espiritualidade superior, na realidade eram homens controlados pelas paixões
carnais, tal como qualquer outra pessoa deste mundo.
Variante Textual·.
Ao invés das
palavras: «.. .segundo o homem...», alguns manuscritos dizem «segundo a carne»
(no grego, «sarkikoi»), fazendo com que este versículo apresente essa expressão
por três vezes. Mas isso é apenas uma tentativa escribal de esclarecer o que
Paulo queria dizer com as palavras «segundo o homem», que alguns escribas devem
ter imaginado que não seriam compreendidas .Essa modificação aparece em alguns outros textos posteriores).
A operação
autenticado Espírito Santo derrota os impulsos carnais na experiência do
crente. (Ver Rom. 8:3 e ss.). Os crentes de Corinto, pois, não contavam com uma
autêntica operação do Espírito de Deus em suas vidas.
Por causa disso,
tinham perdido de vista a glória de Deus, na pessoa de Cristo, substituindo-a
pelo orgulho e pela vangloria humanos. Viviam na carne, e não no Espírito; e
estavam completamente equivocados quanto a essa questão. Ê admirável como os
facciosos, provocadores de divisões entre os irmãos na fé, alicerçados sob
questões imaginárias, podem continuar a pensar que são os melhores e mais
espirituais elementos de sua comunidade, chegando até a convencer disso a
terceiros. Tudo não passa de um colossal ludibrio, que atinge tanto aos
enganadores como aos enganados.
«‘Andais como
homens’, isto é, como homens sem regeneração. (Comparar com Mat. 16:23).
‘Segundo a carne e não segundo o Espírito’, conforme sucede aos regenerados
pelo Espírito. (Ver Rom. 8:4 e Gál. 5:25,26)». (Faucett, in loc.).
Com essas palavras se
pode comparar os trechos de Rom.3:5; 15:5 e Gál. 1:2, onde lemos «segundo Jesus
Cristo», quanto ao caráter dessa maneira de andar, o que também é um contraste
com a maneira carnal de viver. Pois aquele que anda como Cristo andou, segundo
Jesus Cristo, só pode fazê-lo por meio do Espírito de Deus.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 38-40.
Paulo censura os
coríntios pela fraqueza e incompetência deles. Aqueles que são santificados
somente o são em parte: ainda há lugar para crescimento e aumento na graça e no
conhecimento (2 Pe 3.18). Aqueles que são renovados pela graça divina para uma
vida espiritual, ainda podem ser defeituosos em muitas coisas. O apóstolo lhes
diz que “não lhes pôde falar como a espirituais, mas como a carnais, como a
meninos em Cristo” (v. 1). Eles estavam tão longe de basear suas máximas e medidas
sobre o chão da revelação, e entrar no espírito do Evangelho, que se tornou
muito evidente que eles estavam sob o controle das inclinações corruptas e
carnais.
Eles ainda eram meros
bebês em Cristo. Eles haviam recebido alguns dos primeiros princípios do
cristianismo, mas não haviam crescido até a maturidade de entendimento neles,
ou de fé e de santidade; e ainda está claro, por diversas passagens nesta
epístola, que os coríntios eram muito orgulhosos de sua sabedoria e
conhecimento.
Note que é muito
comum para pessoas de entendimento e conhecimento muito restritos terem uma grande
medida de orgulho próprio. O apóstolo assinala a pouca competência que eles têm
no conhecimento do cristianismo como uma razão pela qual ele não lhes havia
comunicado mais das suas coisas profundas. Eles não podiam suportar tal comida,
eles precisavam ser alimentados com leite, não com carne (v. 2). Note que é
tarefa do fiel ministro de Cristo estudar a capacidade de entendimento de seus
ouvintes e ensinar-lhes o quanto eles puderem suportar. E também é natural que
os bebês cresçam até se tornarem homens; e bebês em Cristo devem se empenhar em
crescer em estatura e tornar-se homens em Cristo. Espera-se que seu desenvolvimento
no conhecimento seja proporcional aos seus recursos e oportunidades, e ao tempo
da profissão da sua religião, que eles possam ser capazes de suportar discursos
sobre os mistérios de nossa religião, e não descansar sempre em coisas simples e
claras. Era uma vergonha para os coríntios que eles tivessem se sentado tanto
tempo sob o ministério de Paulo e não tivessem feito progresso significativo no
conhecimento cristão. Observe que os cristãos são totalmente culpados se não se
empenham em crescer na graça e no conhecimento.
nEle os censura por
sua carnalidade, e menciona sua disputa e discórdia acerca de seus ministros como
evidência dela: “porque ainda sois carnais, pois, havendo entre vós inveja,
contendas e dissensões, não sois, porventura, carnais e não andais segundo os
homens?” (v. 3). Eles mantinham rivalidades mútuas e rixas e facções entre
eles, por conta de seus ministros, “porque, dizendo um: eu sou de Paulo; e
outro: eu, de Apoio; porventura, não sois carnais?” (v. 4). Essas são provas de
que eram carnais, que inclinações e interesses carnais os controlavam. Note que
rivalidades e rixas sobre a religião são tristes evidências de carnalidade
remanescente.
A verdadeira religião
torna os homens pacíficos e não contenciosos. Os espíritos de divisão atuam com
base nos princípios humanos, não nos princípios da religião verdadeira; eles
são guiados por seu próprio orgulho e paixões, e não pelas regras do
cristianismo: “não andais segundo os homens?” Note que é para lamentar-se que
muitos que deveriam se comportar como cristãos, isto é, acima da média dos
homens, andam realmente como homens comuns, e vivem e se comportam exatamente
como os outros homens.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo
Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 436-437.
Cristãos carnais
(3:1-4). Uma vez mais, quando Paulo introduz uma repreensão, suaviza-a com o
afetuoso irmãos. Sua expressão, não vos pude falar como a espirituais,
evidentemente se refere aos dias da missão em Corinto. Naqueles primeiros dias,
ele não pôde dirigir-se a eles como a espirituais, isto é, como a espécie de
homens de que acabara de falar. Eram carnais então, o que ele explica como
crianças em Cristo. Não parece que Paulo acha algo de errado nos coríntios
naquele estágio da carreira cristã deles. É inevitável que os que acabaram de
ser ganhos para Cristo sejam crianças em Cristo. Não podem ainda ser
amadurecidos. Têm que ser Carnais.
3. Paulo chega à raiz
da questão com a sua denúncia de que são “ainda carnais” (na AV e na ARC, “
ainda sois carnais” constam do v. 3; na ARA, do v. 2). Mudou a sua palavra pára
carnais, de sarkinos, do v. 1, para sarkikos. O sufixo inos significa, “
feito.de...” ; assim, em 2 Co 3:3, tábuas “ feitas de pedra” , lithinos, são
contrastadas com as “ feitas de carne” , sarkinos. Em vez disso, o sufixo ikos
significa, “ caracterizado por...”; vemos isso em psuchikos, do homem “
natural” e pneumatikos, do homem “ espiritual” , em 2:14,15. A diferença entre
sarkinos e sarkikos é como a que há entre “cárneo” e “ carnal” . Sarkinos é a
palavra mais abrangente, mas não há censura associada a ela, quando aplicada
aos que são novos na fé. Mas sarkikos, “caracterizado pela carne” , quando
empregada com referência aos
que são cristãos já há anos, contém censura. O crente maduro é pneumatikos, “
caracterizado pelo espírito” . Ser, em vez disso, caracterizado pela carne,
como eram os coríntios, é o oposto exato daquilo que o cristão deve ser. “
Carne” , naturalmente, como muitas vezes nos escritos de Paulo, é empregada em
sentido moral e ético. Indica os aspectos inferiores da natureza do homem, como
em Rm 13:14; Gl5:13; Ef 2:3, etc.
A acusação faz-se
específica com a menção de ciúmes e contendas (“divisões”, AV, está ausente dos
melhores MSS). A primeira palavra significa basicamente algo como “zelo”,
“ardor”. Normalmente é classificada como designativo de virtude por escritores
clássicos, e às vezes também por escritores do Novo Testamento. Contudo, esta
disposição de ânimo muitíssimo facilmente leva ao ciúme e quejandos, e o
conceito característico do Novo Testamento é que é uma das “obras da carne” (G1
5:20). Contendas é palavra que já encontramos em 1:11. Tanto ciúmes como
contendas apontam para autoafirmação e para rivalidades doentias. Enquanto que
os cristãos devem ser atenciosos para com os outros, os coríntios estavam
procurando afirmar-se.
Paulo indaga se isto
não é ser carnal (sarkikos) e andar segundo o homem. Esta última expressão
significa, “como homens naturais” (cf. 2:14).
Leon
Monis. I Corintos. Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 50-51.
3. Dom não é sinal de
superioridade espiritual.
MUITOS. A incidência
dos falsos profetas c de seus discípulos, realizando todos os tipos de milagres
cm nome de Cristo, não será um fenômeno isolado.
·Naquele dia·. (Ver
11:24 e Luc. 10:12. o dia do juízo). Provavelmente essa expressão significa «o
dia do Senhor», o grande dia, expressão usada pelos profetas do V.T. (que
também aparece no N.T.) para indicar o grande juízo divino. (Ver fs. 2:20 e
25:9). Entre os judeus era costumeiro designar esse dia somente como aquele
dia. Tinham pavor desse dia. Mal. 4:5 diz:
·...o dia grande e
terrível do Senhor.... Mal. 3:2 se lê: Mas quem suportará o dia da sua vinda? e
quem subsistirá quando ele aparecer? porque ele será como o fogo do ourives e
como o sabão dos lavandeiros. e assentar-se-á, afinando e purificando a prata.
A passagem de Joel 1:15 diz: «Ah! aquele dia! porque o dia do Senhor está
perto, e virá como uma assolação do todo-poderoso». O trecho dc I Tes. 5:2,3 demonstra
que essa ideia sobre o caráter espantoso do dia do Senhor entrou no N.T. sem
sofrer grande modificação. Ver a nota detalhada sobre o ·dia do Senhor·, que
inclui os acontecimentos c os sinais que o antecederão, em Apo. 19:19.
’Profecia·. Inclui a
previsão sobre o futuro, mas também indica o ensino público, inspirado pelo
Espírito, o ensinar com autoridade especial, exercendo o dom profético. (Ver I
Cor. 12:28 e Efé. 4:11). A indicação é que tais pessoas eram mestres na igreja,
autoridades religiosas. O dom da profecia é classificado—em segundo lugar,
depois do apostolado. (Ver I Cor. 12:28).
...Expelimos demônios...
Como o próprio Cristo fez, é um caso de poder especial. Ver nota em Marc. 5:2
sobre a questão dos demônios. Essa nota tem detalhes sobre a própria palavra c
a personalidade e obra dos demônios. O mundo dos espíritos
é—perfeitamente—real, e quando nosso conhecimento tiver crescido bastante, a
própria ciência haverá de demonstrar o fato de que não estamos sozinhos neste
mundo. Os sentidos humanos podem captar pequena fração da realidade da criação.
Ê fato conhecido que pouquíssimo sabemos sobre a natureza real da criação, pois
nem sabemos o que seja a matéria, algo que podemos ver c tocar. Como poderíamos
negar a existência de seres e poderes mais altos do que o homem? Pouco sabemos
ainda de nossa própria natureza física, quanto menos de nossa natureza
espiritual. Mas ainda haveremos de aprender mais sobre esses fatos.
Muitos milagres. São palavras que mostram que o argumento
dessas pessoas se baseia em três pontos principais: 1. O exercício das
profecias: 2. a expulsão dos demônios: 3. outros tipos inúmeros de milagres.
Todos os três pontos demonstram que haverá imitação dos poderes de Cristo e de
seus verdadeiros discípulos. Mas todos eles juntos—não provam—a presença e a
aprovação de Deus. Tudo pode ser mera imitação.
Conheço as minhas ovelhas,
e elas me conhecem a mim · (João 10:14).
»DIREI
explicitamente·. Palavras que fazem contraste com as palavras proferidas pelos
falsos discípulos, que tanto falam de seus trabalhos, de seus milagres. As
palavras de Jesus, baseadas na compreensão verdadeira da situação, mostram a
verdadeira condição de tais indivíduos. Jesus não negou a realidade das obras,
mas demonstrou que a fonte não é Deus. As palavras podem ter o sentido de
·proclamar abertamente», ou seja, revelar totalmente. O trecho de Mat. 10:31
diz: ·Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o
confessarei diante de meu Pai que está nos céus·. Essas palavras—pressupõem—que
a confissão, feita pelos discípulos de Cristo, é sincera e autêntica. Tal
confissão garante a maior confissão, feita por Cristo, em favor de seus
discípulos verdadeiros.
Nunca vos conheci·. A
ideia não é que houve um contato com Deus que depois foi interrompido, ou que
esse contato foi fraco, c. sim, que apesar das palavras e obras desses
indivíduos, tal contato jamais houve. A palavra «conhecer» pode conter a ideia
de um conhecimento especial de Deus, de aprovação divina, de seu amor pelas
pessoas conhecidas, e não indica mera familiaridade. Esse uso da palavra pode
ser visto em Rom. 8:29. As pessoas que são conhecidas por Deus dessa maneira
(não como simples consciência da existência, da vida ou das decisões delas) são aquelas
que Deus predestinou para serem moldadas à imagem de seu Filho. Amós 3:2
expressa a mesma ideia: «De todas as famílias da terra, a vós somente conheci».
É óbvio que Deus conhece, de modo geral, todas as «famílias» ou nações do
mundo, mas só Israel foi conhecido e amado de forma especial. Esses falsos
discípulos nunca tiveram contato algum com Cristo. Cristo nunca os conheceu
como amigos, como discípulos verdadeiros. Afirmavam fazer tudo cm nome de
Cristo, mas cm realidade praticavam a «iniquidade», o que explica as palavras
*...os que praticais a iniquidade».
Adam Clarkc diz neste
ponto: «...quantos pregadores há que parecem profetas em seus púlpitos; quantos
escritores e obreiros evangélicos, cujas obras nos admiram, mas que nada são. c
que são pior do que nada diante de Deus, porque não fazem a 'sua vontade‘ a sua
própria vontade! Que horrível é a situação de um homem iminente, cujos dons
sobressaem, cujos talentos são fonte de utilidade pública, e que só podem
servir de indicadores do caminho que leva à felicidade eterna, mostrando esse
caminho ao povo, quando eles mesmos não podem andar por esse caminho!»
«.Apartai-vos de
mim·. Resultado final desse tipo de vida—renúncia (não confissão) por parte do
próprio Cristo. Ver Sal. 6:8 e Mat. 25:41. Jesus indica o julgamento, nessas
palavras. Ver nota detalhada, em Apo. 14:11.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 336.
Falsa Profissão de Fé
(7.21-23). Enquanto a advertência anterior estava particularmente voltada aos líderes
religiosos, esta trata do grupo de membros dentro da Igreja. O verdadeiro teste
do discipulado é a obediência. Nem mesmo a pregação e a operação de milagres em
Nome de Jesus Cristo prova que uma pessoa é aceita diante de Deus. O termo
demônio, diabolos (“Diabo”) é sempre singular no grego. A palavra aqui é
plural, daimonia, “demônios”. A penalidade para a desobediência é a separação
de Deus.
Ralph
Earle. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 6. pag. 69.
Ele mostra, através
de uma clara exposição de razões, que uma visível profissão de fé, embora seja digna
de nota, não basta para nos levar ao céu, a não ser acompanhada por uma
correspondente conduta (w. 21-23). Todo julgamento pertence ao Senhor Jesus, as
chaves foram colocadas em suas mãos. Ele tem o poder de prescrever novos termos
de vida ou morte e de julgar os homens de acordo com eles. Essa. é uma solene
declaração que está em conformidade com esse poder. Portanto, observe que:
1. Alei de Cristo foi
estabelecida (v, 21), “Nem todos aqueles que dizem Senhor, Senhor, entrarão no
reino dos céus” , no reino da graça e da glória. Esta é uma resposta ao Salmo
15.1. "Quem habitará no teu tabernáculo?” A igreja militante. E quem
morará no teu santo monte? A igreja triunfante. Cristo está mostrando aqui:
(1) Que não basta
dizer as palavras “Senhor, Senhor” para ter Cristo como nosso Mestre, ou para
se dirigir a Ele professando nossa religião. Nas orações a Deus e nas conversas
com os homens, devemos invocar o Senhor Jesus Cristo. Quando doemos "Senhor,
Senhor”, estamos dizendo bem, pois é isso que Ele é (Jo 13.13). Mas será que
imaginamos que isso é suficiente para nos levar ao céu, que essa expressão de
formalidade deveria ser recompensada ou que Ele sabe e exige que o coração
esteja presente nas demonstrações essenciais? Os cumprimentos entre os homens
são uma demonstração de civilidade, retribuída com outros cumprimentos, e nunca
são expressos como se fossem serviços reais. E o que dizer destes em relação a
Cristo? Pode haver uma aparente impertinência na oração “Senhor, Senhor” , mas
se as impressões interiores não forem acompanhadas pelas correspondentes
expressões exteriores, nossas palavras serão como o metal que soa ou como o
sino que tine. Isso não nos deve impedir de dizer “Senhor, Senhor” , de orar, e
de sermos sinceros nas nossas orações, de professar o nome de Cristo, com toda
clareza; porém jamais devemos expressar alguma forma de piedade sem o poder de
Deus.
(2) Que será
necessário - para nossa felicidade – fazer a vontade de Cristo, que. na
verdade, é a vontade do Pai celestial. A vontade de Deus, como Pai de Cristo, é
a verdade que está no Evangelho, onde Ele é conhecido como Pai do nosso Senhor
Jesus Cristo e, através dele, O nosso Pai. Esta é a vontade de Deus; que
creiamos em Cristo, nos arrependamos dos nossos pecados, vivamos uma rida santa
e amemos uns aos outros. Essa é a sua vontade; a nossa santificação. Se não
obedecermos à vontade de Deus, estaremos zombando de Cristo ao chamá-lo de
Senhor, da mesma forma como fizeram aqueles que o vestiram com um manto
suntuoso e disseram: “Salve, Rei dos Judeus” . Dizer e fazer são duas coisas que
muitas vezes estão separadas nas palavras dos homens: existe aquele que diz:
“Eu vou, senhor” , porém jamais dá sequer um passo na direção prometida (cap. 21.30).
Mas Deus reuniu essas duas coisas no seu mandamento, e nenhum homem poderá
separá-las se quiser entrar no Reino dos céus.
2. O argumento dos
hipócritas contra o rigor dessa lei oferece outras coisas no lugar da
obediência (v. 22).
Esse argumento deve
se referir àquele dia, àquele grande dia, quando cada homem irá comparecer
exibindo todas as suas cores, quando o segredo dos corações irá se manifestai-
e, entre outras, irão aparecer as secretas pretensões com as quais os pecadores
dão suporte às suas vãs esperanças. Cristo conhece a força da causa deles, que,
na realidade, não passa de uma fraqueza. O que eles agora abrigam no seu seio
será revelado para impedir o julgamento e suspender o seu destino, mas isso será
em vão, pois irão apresentar seu argumento com grande impropriedade. “ Senhor,
Senhor” e, a esse respeito, irão apelar a Cristo com grande confiança. Senhor, não
sabes: (1) “Não profetizamos nós em teu nome?”
Pode ser que sim.
Balaão e Caifás foram dominados pela profecia e, contra a sua vontade, Saul se
encontrou entre os profetas. No entanto, isso não bastou para salvá-los. Eles
profetizaram no nome do Senhor, mas Ele não os havia enviado. Fizeram uso do
seu nome apenas para servir a uma circunstância. Veja bem, o homem pode ser um pregador,
pode ter os dons do ministério e até um chamado externo para exercê-lo; pode até
ser bem-sucedido nisso e, ao mesmo tempo, ser um homem vil; pode ajudar os
outros a ir para o céu e, no entanto, estar desqualificado e ficar fora dele.
(2) “Em teu nome, não expulsamos demônios?” Isso também pode acontecer. Judas
expulsou os demônios, no entanto, era filho da perdição. Orígenes diz que em
seu tempo o nome de Cristo era tão prevalecente para expulsar os demônios que,
às vezes, esse nome também ajudava, mesmo quando era pronunciado por cristãos
indignos.
Um homem pode
expulsar o demônio de outros homens e ainda ter, ou ser, o próprio demônio. (3)
“Em teu nome,
não fizemos muitas maravilhas?” Pode haver alguma fé nos milagres, onde não
existe nenhuma fé para a justificação; nenhuma fé que opera através do amor e da
obediência. Os dons de línguas e de cura podem recomendar os homens ao mundo,
mas somente a verdadeira piedade e santidade serão aceitas por Deus. A graça e
o amor são a maneira mais eficiente de remover montanhas, ou de falar as
línguas dos homens e dos anjos (1 Co 13.1,2). A graça irá levar o homem para o
céu mesmo sem milagres; porém os milagres nunca irão levar o homem para o céu
sem a ajuda da graça. Observe que aqueles que confiam e colocam os seus
corações na prática dessas obras, veem muitas maravilhas. Simão, o mágico,
ficou atónito com os milagres (At 8.13), portanto daria qualquer quantia para
ter o poder de fazer o mesmo. Veja que eles não tinham muitas boas obras para
pleitear, nem podiam fingir que tinham feito muitas obras de piedade ou de
caridade. Qualquer uma destas teria sido melhor para sua avaliação do que
muitas e maravilhosas obras, que de nada serviriam enquanto persistissem na
desobediência. Atualmente, os milagres continuam a acontecer. Mas será que o
coração humano ainda encontra o encorajamento em esperanças infundadas, com
seus vãos esteios? Aqueles que são descritos nesse versículo pensam que vão
para o céu porque têm tido uma boa reputação entre os mestres da religião,
observam o jejum, dão esmolas e têm sido promovidos na igreja, como se isso
fosse suficiente para reparar seu permanente orgulho, mundanismo, sensualidade
e a falta de amor a Deus e ao próximo. Betei é a sua confiança (Jr 48.13), eles
se ensoberbecem no monte santo de Deus (Sf 3.11), e se vangloriam de ser o
templo do Senhor (Jr 7.4). Devemos prestar atenção nos seus privilégios e
performances externos para não nos enganarmos e não perecermos eternamente, como
ocorre com as multidões, que seguram uma mentira em sua mão direita.
3. A rejeição desse
argumento por ser frívolo. Aquele que é o Legislador (v. 21) está aqui como
Juiz e, de acordo com essa lei (v. 23), irá publicamente anular esse argumento.
Irá comunicar a eles, com toda solenidade possível, a sentença emitida pelo
Juiz: “Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”.
Observe: (1) A razão e os fundamentos que Ele usa para rejeitá-los, e aos seus
argumentos, se resume no fato de praticarem a iniquidade. Observe que é possível
a um homem adquirir um nome notável como pessoa piedosa, e ainda assim ser um
praticante de iniquidades. Aqueles que agem assim irão receber uma condenação maior.
Quaisquer esconderijos secretos do pecado, guardados sob o manto de uma
evidente profissão de fé, são a ruína dos homens. Anulam as pretensões dos
hipócritas. Viver deliberadamente em pecado anula as pretensões dos homens, por
mais capciosas que sejam. (2) A maneira como esse argumento é expresso: “Nunca
vos conheci” . “Nunca me pertencestes como servos, nem mesmo quando
profetizáveis em meu nome, quando estáveis no auge da vossa profissão de fé, e
éreis elogiados” . Isso indica que, se alguma vez o Senhor os tivesse conhecido,
como Ele conhece aqueles que são seus, se os tivesse possuído e amado como se
fossem seus, Ele os teria conhecido e possuído e amado até o fim. Mas Ele nunca
os reconheceu, pois sempre soube que eram hipócritas e tinham o coração
corrompido, como aconteceu com Judas. Portanto, Ele diz: “Apartai-vós de mim”.
Será que Cristo
precisava de tais convidados? Quando Cristo veio em carne e osso, Ele chamou a
si os pecadores ao arrependimento (cap. 9.13), e quando voltar novamente, coroado
de glória, irá afastar de si os pecadores.
Aqueles que não forem
até Ele para serem salvos deverão partir para serem condenados. Afastar-se de
Cristo será o verdadeiro inferno do inferno, será a razão fundamental da
miséria de ser condenado, de ter sido desprovido de toda esperança dos
benefícios da mediação de Cristo. Ele não irá aceitar nem trazer a si no grande
dia aqueles que, a seu serviço, não vão além de uma simples profissão de fé.
Veja a que ponto um homem pode cair das alturas da esperança ao abismo da
desgraça. Como pode ir para o inferno através das portas do céu! Essas deveriam
ser palavras de alerta a todos os cristãos. Se um pregador que expulsa os
demônios e realiza milagres for rejeitado por Cristo porque praticou
iniquidades, o que será dele, e o
que seria de nós, caso isso acontecesse conosco? Se agirmos assim, isto
certamente acontecerá conosco. No tribunal de Deus, uma profissão de fá nunca
Irá defender homem algum da prática e do vício do pecado, portanto todo aquele
que pronuncia o nome de Cristo deve abandonar toda Iniquidade.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 87-88.
Mt 7.22. Não
profetizamos nós em teu nome? O uso de oú na pergunta pede a resposta
afirmativa.
Eles afirmam ter
profetizado ou pregado em nome de Cristo e feito muitos milagres. Mas Jesus
lhes arrancará a pele de ovelha e exporá o lobo voraz.
Mt 7.23. Nunca vos
conheci. “Nunca me fui pessoalmente conhecido de vós” (conhecimento
experimental).
O sucesso, segundo
estimação do mundo, não é um critério de conhecer Cristo e ter uma relação com
ele. “Eu lhes direi abertamente”, o mesmo vocábulo usado para confessar Cristo diante
dos homens (Mt 10.32). Esta expressão Jesus usará para o anúncio público e
franco do destino dessas pessoas.
A.
T. ROBERTSON. COMENTÁRIO MATEUS &
MARCOS A luz do novo testamento
Grego. pag. 93-94.
Il -
EDIFICANDO A SI MESMO E AOS OUTROS
1. Edificando a si
mesmo.
Diz Paulo que “O que
fala língua estranha edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a
igreja” (1 Co 14.4). É um aspecto muito interessante do propósito dos dons. O
membro da igreja, em particular, precisa ser edificado, para que a
coletividade, a igreja, também o seja. Não pode haver igreja edificada, se os
membros não tiverem edificação espiritual. Quando o crente fala línguas, sem
que haja intérprete, não edifica a igreja, porque o que fala fica sem
entendimento para os demais. Mas não se deve proibir que o crente fale língua
para si próprio (1 Co 14.39). Tão somente, deve ser ensinado que ele se
controle e não eleve a voz, numa mensagem ininteligível. Há irmãos que, ao
falar línguas, querem chamar a atenção para si, para mostrar que são
espirituais. Isso é falta de maturidade.
O apóstolo ensina:
“E, agora, irmãos, se eu for ter convosco falando línguas estranhas, que vos
aproveitaria, se vos não falasse ou por meio da revelação, ou da ciência, ou da
profecia, ou da doutrina?” (1 Co 14.6). Ele quer dizer que, se falar língua sem
interpretação, é ótimo para si próprio, pois “edifica a si mesmo”. Mas, se não
houver interpretação, não haverá revelação, ciência, profecia ou doutrina. E a
igreja fica sem edificação, sem aproveitamento. Daí, porque, no mesmo capítulo,
ele exorta: “Pelo que, o que fala língua estranha, ore para que a possa
interpretar. Porque, se eu orar em língua estranha, o meu espírito ora bem, mas
o meu entendimento fica sem fruto” (1 Co 14.13,14).
Quem fala línguas,
sem interpretação, “edifica-se a si mesmo”, mas “... não fala aos homens, senão
a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala de mistérios” (1 Co 14.2).
Naturalmente, quando o crente ora em línguas, mesmo que ele não saiba o sentido
das palavras, Deus o entende. O crente, batizado com o Espírito Santo, deve
procurar desenvolver uma adoração individual, plena da unção do Espírito Santo.
Há ocasiões em que as palavras do seu idioma nativo não conseguem expressar o
que sua alma deseja dizer a Deus, seja glorificando, intercedendo ou suplicando
ao Senhor.
E nessas horas,
quando o crente não sabe orar, que o Espírito Santo intercede por ele de
maneira especial. “E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas
fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo
Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26). Esses
“gemidos” do Espírito, pronunciados em línguas estranhas, são incompreensíveis ao
que ora, mas perfeitamente entendidos por Deus, pois há línguas estranhas que
são linguagem do céu, ou “línguas dos anjos” (1 Co 13.1).
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 28-29.
Nem mesmo o dom de
línguas, desacompanhado de interpretação, deixa de ter seu devido propósito. As
línguas podem servir de meio de edificação própria, no nível da alma, ainda que
a mente não entenda o que é dito. As línguas são um meio de entrarmos em
contacto com o divino, ainda que o conhecimento não se beneficie. As
experiências místicas, até mesmo aquelas da mais elevada ordem, geralmente são
inefáveis, isto é, sua natureza e seus resultados não podem ser bem expressos
verbalmente. Não obstante, tais experiências produzem um efeito «purificador»,
um efeito elevador, um efeito até mesmo transformador. É óbvio que isso
beneficia a pessoa envolvida; contudo, trata-se de um benefício de natureza
egoísta, a despeito de ser aprovado e desejado pela vontade divina. Por essa
mesma razão é que o apóstolo dos gentios jamais proibiu que se falassem em línguas
(ver o trigésimo nono versículo deste capítulo), ainda que tivesse recomendado
que as línguas, sem interpretação, não fossem usadas na adoração pública (ver
os versículos vigésimo sétimo e vigésimo oitavo deste capítulo). As línguas
particulares seriam altamente benéficas para cada crente, porquanto nada há de
errado com a alma que se comunica com Deus, ainda que o intelecto não tire
proveito. No entanto, os crentes de Corinto apreciavam o caráter teatral das
línguas, e lhe davam preferência acima da profecia, conforme este capítulo
inteiro deixa subentendido. Esse foi o «abuso» que Paulo procurou corrigir.
O dom profético, em
contraste com as línguas, é uma manifestação de natureza altruísta; portanto,
está mais conforme ao grande princípio do amor cristão (altruísmo puro),
segundo Paulo havia demonstrado no décimo terceiro capítulo desta epístola.
Esse exaltado princípio do amor cristão é que deve governar todas as atividades
da igreja cristã; portanto, em uma comunidade cristã bem orientada pelo Senhor,
o dom profético terá proeminência sobre as línguas. A profecia é tão mais
importante que o dom de línguas como a edificação da congregação inteira é mais
importante que a edificação de uma única pessoa.
Acerca do benefício
do dom de línguas, comenta Findlay (in loc.): «A impressão causada sobre aquele
que fala em línguas, por sua ejaculação verbal, visto tudo suceder em um
arrebatamento, e sem concepção clara (ver o décimo segundo versículo e ss.),
deve ser vaga; mas isso confirma poderosamente a sua fé, porquanto deixa um
senso permanente de possessão do Espírito de Deus (comparar com II Cor.
12:1-10). Nossos mais profundos sentimentos entram na mente abaixo da
superfície do consciente».
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 216-217.
Ele apresenta as
razões dessa preferência. E é digno de nota que ele somente compare o profetizar
com o falar em línguas. Parece que esse era o dom com o qual os coríntios
principalmente se valorizavam a si mesmos. Isso era mais ostentação do que a
clara interpretação das Escrituras, mais adequado para satisfazer o orgulho,
porém menos adequado para buscar os propósitos da caridade cristã; ele não
edificaria da mesma forma, nem faria bem à alma dos homens. Pois: 1. Aquele que
falava em línguas devia falar unicamente entre Deus e si mesmo; pois, quaisquer
mistérios que pudessem ser comunicados em suas línguas, nenhum de seus
conterrâneos poderia entendê-los, porque eles não entendiam a língua (v. 2).
Note que o que não puder ser entendido nunca poderá edificar. Não se pode tirar
vantagem alguma dos mais excelentes discursos, se pronunciados em uma língua
ininteligível, que o público não consegue falar nem entender; mas, aquele que
profetiza fala para a vantagem de seus ouvintes; eles podem lucrar com seu dom.
A interpretação da Escritura será para a sua edificação; eles podem ser
exortados e confortados por ela (v. 3). E de fato, esses dois devem caminhar juntos.
A obediência é o modo correto de confortar; e aqueles que são confortados devem
tolerar ser exorta dos.
2. 0 que fala em línguas pode edificar-se a si mesmo (v. 4). Ele pode entender
e ser afetado por aquilo que fala; e assim cada ministro deve fazê-lo; e aquele
que mais se edifica a si mesmo está disposto e em bom estado para fazer bem a
outros pelo que ele fala; mas, aquele que fala em línguas, ou em linguagem
desconhecida, somente pode edificar-se a si mesmo; outros não podem aproveitar
nenhum benefício de sua fala. Ao passo que a finalidade do falar na igreja é a
edificação da igreja (v. 4), à qual se adapta o profetizar, ou o interpretar as
Escrituras por inspiração ou de outra maneira. Note que é o dom mais desejável
e vantajoso, que melhor responde aos propósitos da caridade e realiza o melhor
bem; não que ele possa somente nos edificar, mas que também edificará a igreja.
Tal é a profecia, ou a pregação, e a interpretação da Escritura, comparada com
o falar em uma língua desconhecida. 3. De fato, nenhum dom deve ser desprezado,
mas deve-se preferir os melhores. “E eu quero, diz o apóstolo, que todos vós
faleis línguas estranhas, mas muito mais que profetizeis” (v. 5). Cada dom de
Deus é um favor de Deus, e pode ser melhorado para a sua glória, e como tal
deve ser valorizado e recebido com gratidão; mas então, devem ser mais
valorizados os que forem de maior utilidade, “...porque o que profetiza é maior
do que o que fala línguas estranhas, a não ser que também interprete, para que
a igreja receba edificação” (v. 5). A benevolência torna um homem
verdadeiramente grande. Mais bem-aventurada coisa é dar que receber. E é
verdadeira magnanimidade estudar e procurar ser útil aos outros, mais do que aumentar
a admiração e ganhar a estima deles. Tal homem tem uma grande alma, copiosa e
difundida na proporção de sua benevolência e inclinada na mente para o bem
público. O que interpreta a Escritura para edificar a igreja é maior do que
aquele que fala línguas para recomendar-se a si mesmo. E não é fácil dizer que
outra finalidade o que falava em línguas podia ter, a menos que interpretasse o
que falava. Note que contribui mais para a honra de um ministro o que é mais
para a edificação da igreja, e não o que mostra mais vantagem. Ele age em uma
estreita esfera, enquanto tem por alvo a si mesmo; mas seu espírito e caráter
crescem em proporção à sua utilidade, quer dizer, sua própria intenção e
esforço em ser útil.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 488- 489.
A profecia edifica a
igreja (14.4-6). Como a profecia é entendida pelos homens, ela edifica a igreja
(4). Falar em línguas desconhecidas serve apenas para fortalecer o indivíduo. Entretanto,
Paulo não proíbe completamente esta prática: Quero que todos vós faleis línguas
estranhas (5). O verbo quero, ou desejo (thelo), “não expressa uma ordem, mas
uma concessão sob a forma de um desejo improvável de ser realizado (cf.
7.7)”.80 Quanto a essa declaração, Bruce escreve: “E provável que Paulo
receasse ter ido muito longe ao rejeitar as línguas. Portanto, ele deixa claro
que não está proibindo as línguas, mas insistindo na superioridade da
profecia”. Como era difícil fazer a distinção entre um dom válido de falar em
línguas, ou a legítima expressão de um desejo de êxtase espiritual, e uma
inválida expressão de alegria pessoal, Paulo preferiu não proibir o falar em
línguas. Entretanto ele indica, de forma rápida e distinta, que o dom de profecia
é superior: ...mas muito mais que profetizeis.
O critério de
avaliação de qualquer dom é o seu valor para a igreja. Mesmo quando Paulo faz a
concessão do falar em línguas, ele imediatamente insiste que seu valor é menor
que a profecia, a não ser que elas sejam interpretadas para que a igreja receba
edificação (5). As palavras a não ser que também interprete “não se referem à
particular interpretação de uma mensagem transmitida em línguas, mas ao dom
permanente da interpretação... Paulo tem em vista uma pessoa que recebeu dois
dons, o de falar em línguas e o de ter a sua interpretação”. Dessa forma, o
apóstolo indica que qualquer glossolalia deveria ser interpretada para
fortalecer a congregação.
Quando Paulo faz
alusão à sua futura visita a Corinto, ele novamente faz da edificação da igreja
o critério pelo qual se estabelece o valor dos dons do Espírito: Que vos
aproveitaria, se vos não falasse ou por meio da revelação, ou da ciência, ou da
profecia, ou da doutrina? (6)
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 8. pag. 349-350.
Paulo, continuando suas
admoestações, reporta-se mais uma vez ao seu grande salmo em louvor ao amor:
Buscai o amor! Esta deve ser a maior preocupação deles, pois, como expressa
certo comentarista: O amor é a patroa; os demais dons espirituais são servos,
criados. Por isso, enquanto continuam no empenho proposital de ir após o amor,
os coríntios deviam lutar com dedicação pelos dons espirituais, sendo o uso de
todos eles, em sua dedicação à congregação, regulado pelo padrão estabelecido
pelo amor.
E neste sentido o dom
da profecia está acima dos demais, pois seu objetivo principal foi ensinar e instruir
outros nas coisas de sua salvação. Deviam cobiçar este dom mais do que todos os
outros, até mais do que o de línguas, que naturalmente fazia uma profunda
impressão sobre os coríntios e era considerado especialmente desejável.
O apóstolo dá os
motivos de sua preferência: Pois aquele que fala em língua, incitado pelo Espírito
nalguma língua estranha, em especial se isto acontece no culto público, então
ele não fala a pessoas, mas a Deus. As pessoas não têm benefício do seu falar,
porque não conseguem entendê-lo.
Ouvem os sons de sua
voz, mas não têm qualquer idéia sobre o significado de sua elocução, visto que
no espírito fala ministérios, os segredos de Deus continuam encobertos, ocultos
aos ouvintes, e provavelmente também a quem fala. Doutro lado, aquele que
profetiza, a pessoa que tem o dom da profecia, de fato fala às pessoas. Sua
fala, sendo por eles entendida, serve como meio de comunicação; Comunica-lhes
ideias, edificação e exortação e consolo. A fala daquele que profetiza serve
para fazer os cristãos crescer em conhecimento, promovendo assim o progresso da
igreja. Ela os admoesta, os estimula para se aplicarem mais sinceramente ao seu
dever cristão. Dá-lhes força e consolo espiritual quando estão em perigo de
serem dominados pelo medo. Esse, pois, é o propósito principal do culto
público, que a Palavra de Deus seja pregada e aplicada, que as pessoas possam
entender o que é dito e sejam edificadas, admoestadas e confortadas. Este
objetivo não é alcançado no caso daquele que fala em língua. Na melhor das
hipóteses ele edifica a si mesmo, enquanto que aquele que profetiza edifica a
assembleia da igreja. Era fato que aquele que falou em línguas foi confirmado
em sua fé, visto que deve ter sentido o poder do Espírito, o qual fez uso de sua
boca com um instrumento de sua declaração. Foi, porém, o único que foi atingido
desta forma, enquanto que no caso daquele que profetizou a congregação reunida
recebeu o benefício.
Paulo, fazendo esta
afirmação, não quer se entendido erradamente como se subestimasse o valor do
dom de línguas: Não obstante desejar que todos vós falásseis em línguas, desejo
muito antes que profetizásseis. Desta forma ele não faz quaisquer medíocres
concessões aos coríntios, mas está bem consciente do fato que o dom de línguas
poderia ter uma profunda impressão sobre um ímpio que chegasse à reunião deles
e que poderia abrir caminha para sua conversão. Mas sabe, devido ao uso efetivo
e prático, que o dom da profecia deve ser preferido. Além disso, aquele que profetiza
é maior do que aquele que fala em línguas. Ocupa uma posição de maior utilidade
e por isso também de maior dignidade, a não ser que, aquele que fala em línguas
tem também, ao mesmo tempo, o dom e a capacidade de interpretar suas extáticas
elocuções, de forma que todas as pessoas possam entendê-lo e a congregação
receba, desta forma, edificação. Numa pergunta dirigida a todos eles, Paulo à
sua decisão sobre o assunto: Agora, porém, irmãos, sendo tal a situação atual
em Corinto, se viesse a vós falando em línguas, que proveito, que ajuda vos
seria, se não vos falasse em revelação, ou em sabedoria, ou em profecia, ou em
ensino? Se Paulo tivesse sido só um orador em línguas, e incapaz para
interpretar os mistérios que o Espírito Santo exprimia através de sua boca,
então o seu trabalho evidentemente não teria tido qualquer valor, a não ser que
ele, de fato, se pudesse fazer entender por meio duma fala inteligível, em
revelação e profecia, pelo ensino dos grandes mistérios que compreendeu,
trazendo juntos tanto o conhecimento como a doutrina. A profecia se refere a
fatos particulares, para cuja compreensão era precisa luz adicional, a
mistérios que só por revelação podiam ser conhecidos. Doutrina e conhecimento
foram deduzidos do credo dos cristãos e foram usados para confirmar os cristãos
no assunto de sua salvação. Este apelo ao senso comum dos coríntios não podia
deixar de convencê-los da verdade do argumento de Paulo, visto que sabiam que
ele sempre buscou o bem-estar espiritual deles, e não sua própria satisfação e
edificação espiritual.
KRETZMANN.
Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo
Testamento. Editora Concordia Publishing House.
2. Edificando os
outros.
Este versículo
reitera essencialmente a declaração introdutória do primeiro versículo, a fim
de levar a discussão a seu ponto final. Todos os dons espirituais são
proveitosos, incluindo 0 dom de línguas; mas nem todos se revestem de igual importância.
Ao buscarem os dons espirituais (ver I Cor. 12:31 e 14:1), os coríntios
deveriam deixar de buscar o dom de línguas e abusar do mesmo, porquanto isso
causara efeitos prejudiciais à sua comunidade cristã, como meio que era de
auto-glorificação, além de interromper a comunicabilidade entre os membros da
igreja que assim faziam. Portanto, se os crentes de Corinto estivessem
genuinamente interessados em buscar os dons espirituais, a profecia deveria ser
o seu grande alvo, e não as línguas. Isso é o que o apóstolo dissera nos
versículos primeiro a décimo primeiro, e que agora confirma nesta sentença
breve e conclusiva.
O grande teste da
contribuição que os nossos dons espirituais podem fazer à igreja é o teste da
edificação. Que temos feito para edificar a igreja onde somos membros? Quantas
pessoas têm sido levadas a uma maior aproximação a Cristo, por causa do que
temos falado e ensinado? O zelo é bom, mas pode mal orientar inocentemente ou
propositadamente, com o propósito de exaltação própria.
«A edificação é o
teste a ser aplicado (ver a exposição sobre os versículos terceiro e quarto
deste capítulo). Em sua sabedoria, o apóstolo lhes forneceu um alvo controlador
e disciplinador que provê a expressão mais completa e satisfatória para um dom,
sem importar qual ele seja...Os coríntios deveriam ‘esforçar-se sobremaneira
para edificar a igreja’. Esse é o teste prático. Mais do que isso, quando esse
teste é satisfeito, as consequências se tornam óbvias para todos. Ninguém,
senão os mais totalmente despeitados, poderiam criticar isso. Paulo desenvolve
o tema naquilo que é uma das passagens mais notáveis desta epístola». (John
Short, in loc.).
«...dons
espirituais...», se literalmente traduzidas, diriam «espirituais», porquanto
não é usada a palavra grega «charismata» («dons», I Cor. 12:4), e nem
«pneumatika» («coisas espirituais», I Cor. 12:1). Essa não é a expressão usada
em I Cor. 12:1 e em vários outros trechos, por toda a discussão desse décimo
segundo capítulo, cuja tradução literal seria «coisas espirituais», bem como no
décimo quarto capítulo. O trecho de I Cor. 12:4 diz «charismata», de onde se
desenvolveu o termo técnico que designa os dons espirituais. Entretanto, esses
treze vocábulos gregos mui provavelmente eram usados como sinônimos.
Alguns eruditos
pensam que Paulo abordava os dons espirituais como diferentes manifestações
espirituais, como se representassem certa variedade de «espíritos». Outros
estudiosos imaginam que essa palavra indicaria emanações da parte do único
Espírito. O mais provável é que encontramos aqui o plural, «espíritos»,
simplesmente para indicar «dons espirituais», numa espécie de metonímia, em que
o nome de uma coisa é usado para indicar algo diferente, que lhe é associado,
ou sugerido pelo mesmo. Seja como for, é muito improvável que Paulo se tenha
referido à pluralidade de espíritos em qualquer sentido literal, que devessem
ser buscados, como forças espirituais «invisíveis»; em sentido geral, porém, talvez
haja uma alusão «pessoal». Nesse caso, é possível que «poderes espirituais»
sejam aqui reputados como «personificados», devido ao uso da palavra, sem que
seja sugerida a ideia de uma pluralidade de «espíritos». Para todos os efeitos
práticos, entretanto, os três termos aqui usados, «pneumatika», «pneumata» e
«charismata», são sinônimos.
Paulo queria dar a
entender que visto aqueles crentes de Corinto tanto ansiarem pelos dons
espirituais que os distinguissem de outros homens, deveriam buscar aqueles
dons, como a profecia, que verdadeiramente os distinguiria, visto que através
de dons dessa ordem a igreja é verdadeiramente edificada, mediante uma atuação
verdadeira de Deus. Se fizessem o que era devido se distinguiriam deveras; mas,
se, em seu orgulho, abusassem do dom de línguas, embora pensassem nisso
residiria a sua glória, não passariam de crentes carnais e insensíveis para com
as necessidades da comunidade cristã. Eles se tinham degradado. Para reverter
isso, precisavam buscar exceder-se na edificação da igreja local.
«...a força desta
passagem é aquela dada acima —cumpria-lhes buscarem os dons espirituais visando
ao benefício alheio, e não tanto para se beneficiarem pessoalmente. Assim
serviriam a seus irmãos na fé, no que deveriam abundar mais e mais (ver I Cor.
8:7 e I Tes. 4:1)». (Shore, in loc.).
Edificação
1. Esse é o objetivo
mesmo do ofício ministerial (ver Efé. 4:11,12).
2. Com esse propósito
é que os dons espirituais nos foram concedidos (ver I Cor. 14:3-5,12).
3. A perfeição e a
união com Cristo são seus alvos (ver Efé. 4:16).
4. A autonegação é
necessária para seu pleno desenvolvimento (ver I Cor. 10:23,33).
5. Espera-se que os
crentes se edifiquem mutuamente (ver Rom. 14:19). 6. Todas as ações efetuadas
no seio da igreja precisam ter esse alvo em mira (ver Efé. 4:29).
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 219.
I Cor 14.12. Outra
vez Paulo tem um enfático vós para fazer entender a relevância daquilo que diz
aos seus correspondentes. “ Zelosos” (AV) é realmente um substantivo, “
zelotes” . É da mesma raiz que o verbo empregado no versículo 1 e em 12:31, “
procurai com zelo” (AV: “ desejai” e “ cobiçai ardentemente” ,
respectivamente). Existe esta diferença, que, ao passo que o verbo é
frequentemente usado em mau sentido, o substantivo é usado geralmente em bom
sentido. Dons espirituais é realmente “de espíritos” (pneumatõn), mas,
provavelmente, há pouca diferença. Esta palavra salienta um pouco mais a
verdade de que os dons quanto aos quais os coríntios eram “zelotes” tinham sua origem
no Espírito Santo. Paulo não censura o desejo deles, mas o toma como base para
concitá-los a procurarem progredir, para a edificação da igreja. Precisamente
mediante esta passagem, ele retorna a este pensamento. A coisa de valor para o
cristão é que possa edificar outros. Embora seja seu direito desejar progredir
no exercício de dons espirituais, deve procurar os dons úteis para a
edificação. Os outros são relativamente sem importância.
Leon
Monis. I Corintos Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag.
No versículo 12,
Paulo volta incansavelmente ao seu ponto de maior ênfase: Assim, também vós,
como desejais dons espirituais, procurai sobejar neles, para a edificação da
igreja. O primeiro objetivo do cristão deve ser a edificação da igreja e o
fortalecimento dos seus membros. Se o crente quiser promover o bem-estar da
igreja, ele analisará os seus dons de acordo com este critério.
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 8. pag. 351.
3. Edificando até o
não crente.
Paulo teve coragem de
dizer que era um “sábio arquiteto”, na edificação da igreja. Nem todo obreiro
pode dizer isso, nos dias presentes. Os terrenos em que a igreja está sendo
edificada são tão instáveis, que desafiam a capacidade de todos os engenheiros
ou arquitetos. Os ventos fortes de falsas doutrinas e movimentos heréticos,
disfarçados de genuínos movimentos cristãos conspiram contra a estabilidade e a
unidade da Igreja de Cristo. Os edificadores de hoje têm tantos ou maiores
desafios do que os do tempo de Paulo, mesmo que tenham mais recursos humanos e
técnicos que o apóstolo dos gentios.
Mas a missão dos
obreiros do Senhor é cuidar da evangelização, buscando as almas que se integram
à igreja, e o cuidado delas, através do discipulado autêntico, que se
fundamenta na sã doutrina, esposada por Jesus Cristo, e interpretada e aplicada
pelos seus apóstolos e discípulos, ao longo da História. Os cristãos devem ser
edificados para serem templos do Espírito Santo (1 Co 6.19,20). E os dons são
indispensáveis nessa edificação espiritual.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 30-31.
I Cor 14.9. Se
diversos instrumentos destituídos de vida podem levar os homens a compreender
certas atitudes e sentimentos, reagindo conforme os mesmos, ou compreendendo
uma ordem emitida por aqueles, em ocasião de batalha, então, quão mais
expressivo instrumento precisa ser a voz humana, que conta com o apoio da
inteligência, e até mesmo de dons espirituais concedidos por Deus! Assim
equipados, os crentes devem ser capazes de transmitir benefícios espirituais a
seus ouvintes. Porém, se algum idioma não for compreendido pelos seus ouvintes,
perde-se o desígnio inteiro da comunicação de ideias, e a voz humana se torna
muito menos significativa do que o instrumento musical visto não haver
transmitido pensamento ou sentimento nenhum.
«...como se falásseis
ao ar...» Isso seria um ditado antigo, equivalente ao nosso moderno «falar a
uma porta». Está em foco um falar inútil, ao qual ninguém dá qualquer atenção,
visto não transmitir qualquer entendimento.
Aquele que falava «ao
ar» não tinha nenhum ouvinte ao alcance de sua voz; portanto, não podia
transmitir ele qualquer mensagem. Assim também sucede ao dom de línguas, sem o dom da interpretação de línguas.
«...língua...» Essa
palavra, que aparece aqui no singular, se refere à linguagem ou ao membro
literal e físico da língua, que há no interior da boca; mas o contexto deixa
claro que essa «língua» é o «falar em línguas», ou seja, mediante aquele dom do
Espírito que recebe esse nome. A «língua» é o instrumento da comunicação
verbal, tal como a trombeta, a harpa, a flauta, etc., são instrumentos de
comunicação musical.
«Essa frase denota a
inutilidade de um discurso ininteligível. Tal discurso morre na própria
atmosfera, jamais atingindo a mente de um ouvinte».
(Kling, in loc.).
Embora o dom de
línguas seja uma manifestação genuína da parte de Deus, a sua utilidade se
perde se nada consegue comunicar. Pode reter, entretanto, certa utilidade
particular, para o próprio crente que as fala; mas não tem uma utilidade
coletiva, altruísta. Portanto, as línguas, caso não acompanhadas do dom
paralelo da interpretação de línguas, devem ser praticadas em particular, e não
publicamente.
I Cor 14.23. Os
versículos vigésimo terceiro a vigésimo quinto fornecem-nos a sexta razão pela qual Paulo
dizia que as «línguas» devem ser consideradas um dom espiritual inferior à profecia. Os
«indoutos» e os «incrédulos», que estivessem presentes ao culto público, se
ouvissem línguas sem a sua interpretação, tenderiam por sentir-se ofendidos, e
poderiam até pensar que os
que assim falassem estariam mentalmente desequilibrados. No entanto, a profecia serve de
força poderosa, tanto na conversão dos incrédulos como na edificação dos
crentes.
«...toda a igreja se
reunir...» Paulo se referia ao culto público, à ordem eclesiástica, ao
referir-se ao valor comparativo dos dons espirituais, cujo grande alvo é a
edificação da comunidade; não aludia ao uso particular desses dons espirituais.
«...no mesmo
lugar...» Essas palavras podem significar «para o mesmo objetivo»; e alguns
eruditos, por isso mesmo, têm imaginado que os vãos coríntios se reuniam com o
expresso propósito de exibirem os seus dons espirituais. Apesar disso talvez
expressar uma verdade, o original grego, neste caso, muito mais certamente
expressa as reuniões dos crentes em algum lugar designado, provavelmente em uma
das mansões maiores pertencentes a seus membros. Na época apostólica, segundo
tudo parece indicar, ainda não havia templos especialmente erigidos para os
cristãos. A sinagoga, entretanto, era um lugar separado de reuniões, e não o
lar de algum de seus membros; e é bem possível que até mesmo a primitiva igreja
cristã tivesse seu equivalente às sinagogas judaicas. Os lares, outrossim, eram
os lugares ordinários de reunião dos crentes, talvez por conveniência ou talvez
por razões econômicas; pois os crentes primitivos tradicionalmente provinham
das classes menos abastadas. (Ver I Cor. 1:26-28).
Nem todas as
assembleias locais, quando se reuniam especificamente com o propósito de
adorar, permitiam que «estranhos» (incrédulos) estivessem presentes. Mas isso
dependia muito dos costumes locais. Os amigos (ou parentes) dos crentes, quase
sem dúvida, eram admitidos em quase todas essas reuniões. Tais pessoas,
entretanto, poderiam pensar que o exercício descontrolado do dom de línguas, em
que um crente após outro exercia esse dom, visto que nada se entendia do que
diziam, seria apenas um sinal de descontrole emocional, ou mesmo de insanidade
mental.
«...indoutos...» (ver
a discussão sobre essa palavra, nas notas expositivas sobre o décimo sexto
versículo deste capítulo). Concluiu-se ali que esses «indoutos» seriam crentes,
embora destituídos de «dons espirituais», ou, pelo menos, não possuidores do
dom de línguas; e esses não simpatizariam com o exagero no exercício da
«glossolalia», talvez até mesmo por motivo de inveja. Dificilmente poderíamos
pensar que os mesmos seriam incrédulos (ainda que o vocábulo grego aqui
empregado possa significar exatamente isso), porquanto dificilmente os tais
diriam «Amém», ao que os crentes dissessem em suas reuniões (conforme Paulo
declarou que tais pessoas naturalmente diriam, se porventura compreendessem o
que ali fosse dito); e aqui, além disso, esses «indoutos» são contrastados com
os «incrédulos». E o vocábulo grego usado para os tais indica exatamente isso;
por conseguinte, não pode restar dúvida alguma quanto ao sentido dessa
expressão. Ambos esses grupos, os «indoutos» e os «incrédulos», poderiam
suspeitar de que aqueles que falavam em línguas eram indivíduos psicóticos, em
maior ou menor grau, ou, pelo menos, que fossem pessoas mentalmente desequilibradas.
Pode-se comparar isso
com as atitudes dos incrédulos, na narrativa de Atos 2:13, os quais pensavam
que os crentes que falavam em línguas estivessem bêbedos. As passagens de Atos
12:15 e 26:24 são outros exemplos, existentes nas páginas do N.T., acerca
dessas atitudes dos incrédulos para com os cristãos, o que se vem manifestando
desde os longínquos tempos apostólicos até aos nossos próprios dias.
«...e todos se
puserem a falar em outras línguas...» Isso indica o abuso a que haviam
sujeitado o dom de línguas. Mui provavelmente também falavam todos ao mesmo
tempo, tal como os seus profetas, que não esperavam uns pelos outros. Assim
sendo, mostravam-se descorteses e extremamente fanáticos no uso que faziam de
seus dons espirituais. (Ver os versículos vigésimo nono em diante).
«...estais loucos...»
Temos aqui tradução do verbo grego «mainomai», de onde se deriva a palavra
moderna «mania», que indica qualquer forma de obsessão, embora também possa
indicar alguma insanidade violenta. O termo grego indica perda de controle da
mente, insanidade. As «línguas», sem sua interpretação, exerciam um efeito
adverso sobre os incrédulos (bem como sobre os crentes sem dons espirituais),
ao passo que as línguas, acompanhadas de interpretação, levavam muitos aos pés
de Cristo. Os crentes de Corinto, com suas línguas não-interpretadas, produziam
dano para a causa de Jesus Cristo. Estavam ocupados em «negócios desvairados»;
não procuravam fazer da igreja, com seriedade, um poder em prol do bem da
humanidade, que é o seu propósito real.
As observações
contrárias de Paulo, por todo este capítulo, visam as línguas desacompanhadas
de interpretação. Portanto, ele não contradiz, no presente versículo, a ideia
de que as línguas são um sinal para os incrédulos.
Imaturidade
Espiritual
1. A imaturidade
espiritual se evidencia no egoísmo (ver Rom. 15:1), pois o amor é a verdadeira
medida de nossa maturidade. Estás servindo a ti mesmo mais diligentemente do
que ao próximo? Nesse caso, és um crente espiritualmente imaturo. A tua
maturidade pode ser aquilatada pelo quanto serves aos outros.
2. Os crentes de Corinto
demonstravam sua imaturidade ao transformarem a igreja em um teatro, onde os
dons espirituais entraram em competição uns com os outros. Isso era destrutivo
para a unidade e a paz, e, por conseguinte, para o desenvolvimento espiritual.
3. Os crentes coríntios,
em surpreendente ausência de santificação, demonstravam a sua imaturidade
quando, o tempo todo, se vangloriavam de seu grande avanço.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 218; 224-225.
Falar em línguas pode
não ajudar os incrédulos (14.23-25). Agora Paulo apresenta um caso hipotético
para os coríntios. O que acontecerá se toda a igreja se congregar num lugar, e
todos falarem línguas estranhas (23). Como esse dom era desejável, conforme
indicavam os coríntios, toda a igreja tinha o direito, e até a obrigação, de
buscá-lo. Mas o que aconteceria se os incrédulos viessem a essa igreja, onde
todos estivessem falando em línguas de forma desordenada? Não dirão,
porventura, que estais loucos? Paulo não estava preocupado com as pesquisas de
popularidade eclesiástica. Nem estava ajustando a mensagem do evangelho para
conformá-la ao molde da opinião pública. O apóstolo entendia que a tarefa da
igreja era atrair os incrédulos e conquistá-los para Cristo. Ele estava
alarmado com o fato de que, ao invés de ajudar a converter os pecadores, o ato
de falar em línguas de forma desordenada poderia despertar somente o escárnio e
o desprezo dos descrentes.
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 8. pag. 352.
Agora Paulo introduz
uma passagem da Escritura, para dar aos coríntios a correta compreensão do dom
de línguas: Está escrito na lei, no livro das Escrituras do Antigo Testamento:
Falarei a este povo por meio de homens que falam uma língua estranha e em
lábios de estrangeiros, e mesmo assim não hão de escutar-me, não me darão
ouvidos atentos, diz o Senhor, Is. 28. 11, 12. Na passagem original “os
israelitas embriagados estão debochando em seus cálices o ensino do Senhor por
meio de Seus profetas, como se isto se prestasse só a uma escola de crianças;
por isso, em ira os ameaça afirmando dar-lhes Suas admoestações por meio dos
lábios de conquistadores estrangeiros.” Paulo cita a passagem para mostrar que
o falar em línguas pode operar prejuízo na igreja: Por isso as línguas
estranhas são um sinal, ou servem de sinal, não aos que creem, mas aos que não
creem; por este dom Deus manifestou Sua presença, não tanto por causa dos
membros da congregação como por causa daqueles que ainda eram descrentes.
Quando Deus fala numa maneira não inteligível, então Ele se manifesta “não como
aquele que revela Seus pensamentos aos fiéis, mas como aquele que se oculta
diante daqueles que não querem crer.” Assim, por meio deste fenômeno, os obstinados
descrentes, tendo rejeitado a pregação clara e inconfundível da cruz, conforme
sua própria opinião, se acham confirmados, e mesmo justificados. Poro outro, o
dom da profecia não é papa os descrentes, mas para os cristãos. Não somente
acontece que a correta exposição do evangelho da salvação opera a fé e a
fortalece, mas também que serve como um sinal da misericórdia de Deus e
transforma descrentes em cristãos. Desta forma Paulo desacredita o dom de línguas
e desaprova seu uso nos cultos públicos, porque por meio de seu exercício não é
alcançado o objetivo da edificação.
Agora o apóstolo
mostra a impressão desastrosa que o exercício do dom de línguas necessariamente
faz sobre as pessoas que de não possuem quaisquer conecção com a congregação: Sendo
este o caso, se a congregação inteira está reunida num mesmo lugar e se todos
estiverem falando em línguas, e entrarem pessoas não versadas e não
familiarizadas com o que acontece, ou seja, que são gentias, acaso elas não
dirão que sois loucos, que todos vos tendes afastado de vossos sentidos? Este
quadro não é em nada exagero, mas muito bem pode ser imaginado nas circunstâncias
que reinavam em Corinto, ou como aqueles que por esta possa ansiavam as poderiam
ter tornado, a saber: Um culto regular, com ensino, louvor e oração, e todos os
cristãos ativamente envolvidos em línguas estranhas na oração e no louvor,
então entram gentios, ou descrentes, que ainda não estavam versados com a
situação, - o que, nesta situação, foi mais natural do que a suposição de que
estas pessoas todas estavam falando sob os efeitos da demência? Pois aos
visitantes era algo próprio esperar uma exposição clara de alguma doutrina
cristã, e não tagarelar infindo, incoerente e heterogêneo. Nota: Este
pensamento podia ser aplicado a muitas congregações de hoje, em que o culto da
pregação se tornou um tagarelar infrutífero sobre tópicos mal amadurecidos, que
só remotamente, caso o forem, estão ligados à doutrina das Escrituras.
Mas o efeito do dom
da profecia é totalmente diferente: Mas se todos profetizam, e entra alguma
pessoa descrente ou ignorante, esta por todos será persuadida, por todos
julgada. O dom da profecia incluía uma explanação e exposição clara e
inequívoca da Palavra de Deus na língua comum, seguida pela aplicação
apropriada às circunstâncias reinantes. Por isso um visitante casual do culto,
ou alguém que estava preso em incredulidade, podia ser persuadido pelo
testemunho da Escritura Sagrada quando aplicadas ao seu caso, acontecendo que
podia ser tornado cônscio de seu pecado e de sua incredulidade. E,
incidentalmente, podia ser examinado pelas palavras de saber onisciente, sendo
reveladas as coisas secretas, ou os pecados ocultos, de seu coração. E o
resultado, evidentemente, podia ser que uma pessoa assim iria prostrar-se sobre
seu rosto e adorar a Deus, admitindo publicamente que Deus estava em meio á
congregação cristã. Nada é mais poderoso do que a viva Palavra de Deus, pela
qual Ele examina os corações e as mentes, Hb. 4. 12, e discerne os pensamentos
e as intenções do coração. Desta forma o dom da profecia resultaria não só no
ganho de almas para Cristo, mas também no dar glória ao Senhor.
KRETZMANN.
Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo
Testamento. Editora
Concordia Publishing House.
IIl -
EDIFICAR TODO O CORPO DE CRISTO
1. Os dons na igreja.
«...de quem...» Paulo
emprega aqui uma metáfora fisiológica, tal como o faz em Col. 2:19. Na epístola
aos Colossenses a metáfora por ele empregada salienta o fato que a criação
inteira depende de Cristo como cabeça, unificador, restaurador e governador de
tudo. Aqui, embora idêntica linguagem seja usada, a porção enfatizada é Cristo,
como cabeça da igreja, a qual é o seu corpo. 6 do Cabeça que o corpo recebe
suas energias e poderes vitais, como também a sua coesão. Entretanto, no corpo há
também aquela coesão mútua e aquela participação nas energias vitais de uma
união perfeita, a despeito do que essa participação vital de energias mútuas
depende do Cabeça, já que ele é a origem da mesma e o seu unificador. Por
conseguinte, há uma certa «interdependência»' no corpo, nenhum membro fica
isolado, e nenhum membro possui a vida espiritual vital que se encontra no
próprio corpo. E também há uma dependência mútua do corpo inteiro ao Cabeça,
para que receba essa mesma energia de vida divina.
«...bem ajustado e consolidado...»
Um corpo se caracteriza pela maravilhosa cooperação de muitos elementos, que
são perfeitamente unidos um ao outro. É a essa admirável unidade de muitas
porções que Paulo se refere, fazendo disso uma ilustração de como tal condição
deveria prevalecer na igreja. São usados verbos no particípio presente a fim de
salientar como essa unidade, tão intricada e perfeita em sua natureza e atuação,
deve existir na forma de uma operação contínua. As ideias de «harmonia», de
«adaptação», de< «solidariedade» e de «unidade na diversidade», são assim
expressas. (Comparar com Col. 2:2,19).
Nomes, seitas e partidos
caem:
Tu, ó Cristo, és tudo
em todos!
Esses dois verbos têm
sido variegadamente compreendidos, a saber:
1. Alguns pensam que
o primeiro indica «harmonia» e que o segundo indica «solidez».
2. Outros pensam que
o primeiro verbo indica «agregação», e que o segundo quer dizer
«interadaptação».
3. Mas essas duas
expressões não precisam expressar qualquer coisa distintiva, ainda que ambos os
verbos, na forma de expressões acumuladas, simplesmente falam da perfeita
unidade e da harmonia do corpo, em todas as suas conexões e funções. Se Paulo
tivesse realmente querido dar a entender a existência de alguma diferença sutil
entre essas duas palavras, como se se estivesse referindo à unidade do corpo,
ser-nos-ia impossível descobrir exatamente do que consiste tal diferença.
Portanto, parece-nos melhor reputar esses dois verbos como maneiras diferentes
de expressar a mesma unidade e de que se compartilha das mesmas energias
vitais.
«...toda junta...»
Quanto a estas palavras também têm havido diferenças de opinião, ou seja:
1. A maioria dos
intérpretes e das traduções pensa que o termo grego «aphe» significa «junta».
Tal vocábulo era usado para significar «junta», «ligamento», «conexão».
2. Mas alguns
intérpretes pensam estar em foco o sentido geral de «conexão», de «contato»; e
isso quer dizer que poderíamos traduzir por «mediante cada contato do
suprimento». E isso sugeriria o modo como as forças vitais se dispersam por
todo o corpo, como variedade interminável de «contatos». O «suprimento» se
refere à vida que Cristo nos outorga, a nutrição do corpo, a formação da vida divina
no homem. (Ver João 5:25,26 e 6:57).
O segundo desses
sentidos concorda mais com aquilo que se sabe sobre a função do corpo,
porquanto as juntas realmente não suprem e nem propagam a vitalidade do corpo.
Mas não sabemos o quanto Paulo sabia acerca da função do corpo humano, e nem
como exatamente ele se expressa aqui, mesmo que soubesse muito da fisiologia do
corpo humano; portanto, é bem possível que ele tivesse feito alusão às
«juntas». Uma vez mais é impossível determinarmos com qualquer exatidão a
natureza dessa alusão; mas o sentido geral é perfeitamente claro. Existe uma
vida, uma energia vital, que vem primeiramente do Cabeça, e que então se
difunde por todo o corpo. Por essa razão, o corpo ê vivificado pela vida
divina; pois a participação na mesma vida, que vem da mesma fonte originária, é
motivo de uma união perfeita. Cada porção, pois, tanto é beneficiada como serve
de canal mediante o qual a vida é passada para outras porções.
• «... segundo ajusta
cooperação de cada parte...» De acordo com a tradução inglesa RSV (aqui vertida
para o português), isso quer dizer «...quando cada porção está operando
apropriadamente...» Neste caso, «apropriadamente» é tradução do original grego
«en metro», literalmente, «por medida»; e é bem provável que isso aluda às
palavras «...segundo a proporção do dom de Cristo...», do sétimo versículo
deste capítulo. Por conseguinte, cada «...parte...» (ou membro) tem um dom, ou
seja, serve de entidade que dispersa a vida de Cristo no corpo, como agente de desenvolvimento
espiritual. Portanto, cada crente, «de acordo com sua medida e capacidade» no
corpo, torna-se um «contato» mediante o que a vitalidade do Espírito de Deus é
dispersa por todo o corpo.
«...edificação de si
mesmo em amor...» (Quanto a notas expositivas completas sobre a «edificação»,
ver Efé. 4:12). Cumpre-nos observar que todo esse processo de crescimento e
nutrição, que produz a maturidade espiritual, se alicerça sobre o «amor», pois
Paulo reiterava a ideia que mencionara no versículo anterior. (Ver as notas
expositivas ali existentes, onde são dadas outras referências acerca da «importância
do amor cristão»). Isso concorda com o que se lê em I Cor. 12-14. Os dons
espirituais devem ser buscados, pois são necessários; mas só são úteis esses
dons quando são administrados em «amor» (ver o décimo terceiro capítulo da
primeira epístola aos Coríntios), pois essa virtude ê maior que todos os dons espirituais.
Assim é que um dom espiritual administrado na igreja sem o concurso do amor,
não será de grande utilidade na igreja. Boas obras, feitas sem o condimento do
amor, não valem coisa alguma aos olhos de Deus. O amor é o elemento onde
funcionam a unidade verdadeira e o benefício mútuo no corpo de Cristo. Sem
amor, essa realização é simplesmente impossível. «...0 amor edifica...» (I Cor.
8:1). O amor «...é o vínculo da perfeição...» (Col. 3:14). Isso mostra-nos a
suprema importância do amor, porque é mediante o amor que Cristo «habita em
nossos corações»; e é nesse amor que chegamos a conhecer a pessoa de Cristo,
mediante a iluminação do Espírito Santo. (Ver Efé. 3:17-19). O próprio vocábulo
«amor» fala sobre «mutualidade», fala sobre «harmonia», «participação»,
«cuidado pelo próximo», sendo contrário às ideias do «egoísmo», da «cobiça», da
«facção» e do «ódio».
Ao mencionar a
harmonia e a participação na vida mútua que o amor cristão propicia, Paulo
chega ao final da presente secção, reiterando a ideia de unidade, que inspirou
esta passagem, a começar por Efé. 4:1, como é necessário nos suportarmos uns
aos outros em amor, tendo em vista a preservação da unidade do Espírito no
vínculo da paz. (Ver Efé. 4:3).
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 605.
Para crescermos “...em tudo naquele que é a
cabeça, Cristo”. Crescer em tudo em Cristo quer dizer estar mais arraigado
nele. Em todas as coisas - no conhecimento, no amor, na fé e em todos os
aspectos do novo homem. Devemos crescer rumo à maturidade, que é o oposto de
continuar sendo meninos. Aqueles que crescem em Cristo são cristãos saudáveis.
Quanto mais crescermos no conhecimento de Cristo, na fé nele, no amor a Ele e
na dependência dele, tanto mais prosperaremos em graça. Ele é a cabeça, e nós
devemos crescer de tal forma que estejamos em condições de honrar essa cabeça.
0 crescimento cristão sempre será para a
glória de Cristo. (4) Devemos auxiliar uns aos outros, como membros do mesmo
corpo (v. 16). Aqui o apóstolo faz uma comparação entre o corpo natural e o
corpo místico de Cristo, esse corpo do qual Cristo é a cabeça. Paulo observa que
do mesmo modo que há comunhão e comunicação mútua dos membros do corpo entre
si, para o seu crescimento e melhoramento, assim deve haver amor e unidade
mútua, junto com o fruto apropriado, entre os cristãos, para que ocorra o
melhoramento e crescimento espiritual na graça, “...do qual, diz ele (isto é,
de Cristo, seu cabeça, que transmite influência e alimento para cada membro
específico), todo o corpo, bem ajustado e ligado (estando unidos firme e
ordenadamente, cada um em seu devido lugar), pelo auxílio de todas as juntas (pelo
auxílio que cada uma das partes, assim unidas, dá ao todo, ou pelo Espírito,
fé, amor, sacramentos etc., que, semelhantemente às veias e artérias no corpo,
servem para unir os cristãos a Cristo, seu cabeça, e uns aos outros como
membros desse corpo), segundo a justa operação de cada parte (isto é, dizem
alguns, de acordo com o poder que o Espírito Santo exerce para tornar os meios
designados por Deus eficazes para esse grande fim, em relação à medida que
Cristo julga ser suficiente e apropriada para cada membro, de acordo com seu
respectivo lugar e ministério no corpo; ou, como outros pensam, segundo o poder
de Cristo, que, como cabeça, influencia e aviva cada membro; ou, de acordo com
o trabalho eficaz de cada membro em comunicar aos outros o que recebeu; assim o
alimento é levado a todos na devida proporção e segundo o estado e exigência de
cada parte) faz o aumento do corpo”, em conformidade com a necessidade do
corpo. Observe: Cada cristão recebe seus dons e graças de Cristo para o
benefício de todo o corpo. “...para sua edificação em amor”. Podemos entender
isso de duas maneiras: uma maneira é que todos os membros da igreja podem
alcançar uma medida de amor maior para com Cristo e uns para com os outros; a
outra maneira é que eles são movidos a agir na forma mencionada do amor a
Cristo e uns aos outros. Observe: O amor mútuo entre os cristãos é um grande
aliado do crescimento espiritual; ao passo que “...um reino dividido contra si
mesmo não pode subsistir” (veja Mc 3.24).
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 593.
Ef 4.16. É somente de
Cristo, como Cabeça, que o corpo recebe toda sua capacidade para crescer e para
desenvolver sua atividade, recebendo assim uma direção única para funcionar
como entidade coordenada. Colossenses 2:19 é um texto paralelo bem próximo
deste versículo, e ambos deveriam ser estudados em conjunto, embora não se
encontre ali a palavra que é traduzida por bem ajustado. Essa palavra só
aparece outra vez no Novo Testamento em Ef. 2:21. Deriva de uma palavra
(harmos) que designa um tipo de junta ou amarração usada na construção de
edifícios, ou para as juntas de articulação do corpo. O segundo particípio
(sunbibazomenon) é empregado para a ação de reunir, ligar coisas ou pessoas, para
reconciliar aqueles que tenham brigado e também para relacionar fatos ou
argumentos num plano de aula ou programa de ensino. Assim, ambos os particípios
têm o sentido daquela unidade funcional que se torna possível entre os membros,
quando orientados pelo Cabeça. Mas depois desses particípios o grego já se
torna difícil. A palavra traduzida junta (haphê) possui inúmeros significados.
Denota basicamente “toque”, de sorte que pode significar “contato”, “ponto de
contato” ou “pegas”, e estes sentidos levaram os comentadores a uma variedade
de interpretações. O uso da palavra tanto no contexto quanto no âmbito restrito
da medicina justifica a sua tradução por “junta”, e assim, afirma que é pelo
auxilio de toda junta, com que o corpo é equipado, é que o crescimento e
funcionamento verdadeiros se tornam possíveis. Em outras palavras, o corpo
depende para seu crescimento e atividade: da direção do Senhor, de Sua provisão
para tudo o que necessita (compare versículos 11, 12), e também do bom
relacionamento entre os membros.
E agora estamos de
volta com uma palavra que se tornou familiar nesta epístola (1,19 e 3:7), pois
o apóstolo deixa de considerar os membros e a conexão entre eles para tratar da
justa cooperação de todo o corpo. A “energização” de Deus no corpo todo torna
possível este funcionamento de cada parte, em sua medida e de acordo com sua
necessidade. Então menciona-se mais uma vez o propósito do crescimento, e está
claro que cada membro não procura o seu próprio crescimento, mas o do corpo
como um todo: não sua própria edificação, mas a edificação do todo.
Basicamente, a edificação não é o aumento numérico da Igreja, mas o crescimento
espiritual. E este crescimento é acima de tudo em amor. Esta pequena frase
aparece novamente (1:4; 3:17; 4:2; 5:2), pois o amor determina que cada membro
procurará a edificação de todos. Então, sem dúvida, se houver a comunhão da
convivência em amor e a demonstração da verdade em amor, o aumento numérico
virá como consequência natural.
Francis Foulkes. Efésios Introdução e Comentário.
Editora Vida Nova. pag. 103-104.
Ef 4.16 A partir do
cabeça resulta, no encerramento dessas considerações sobre a unidade e o
crescimento do corpo que Cristo presenteia com dons, o ensejo de ilustrar
resumidamente a concomitância e o entrelaçamento desse organismo singular.
Viabilizado por esse
cabeça e emanando dele “o corpo todo efetua… o crescimento do corpo para a
edificação de si próprio no amor”. O corpo “todo”, até as menores ramificações,
recebe de Cristo impulso e vigor para o crescimento, para a edificação. Como em
Ef 2.20ss, aparecem também aqui lado a lado as figuras do corpo e da
construção. Com o crescimento do corpo em direção do cabeça amplia-se também a
construção, favorecendo a sua conclusão. A ligação vital com o cabeça, a única
coisa que torna viável esse “efetuar”, exclui a possibilidade de que essa
“edificação de si próprio” possa tratar-se de um agir autocrático da igreja. A
igreja somente pode ser reconhecida a partir de seu cabeça, Cristo. Toda vez
que ela perde isso de vista, o presente trecho visa estimular a retornar para o
cabeça.
Todo o corpo é “bem
ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta de apoio”. De maneira muito
semelhante, Paulo diz, em Cl 2.19: “… o cabeça, a partir do qual o corpo todo é
apoiado por articulações e tendões e mantido coeso e cresce pelo agir de Deus.”
Quando se entende o
v. 16 como síntese de Ef 4.7-15, as “juntas de apoio”, que possuem uma função
central para a coesão do corpo, serão relacionadas com as pessoas incumbidas
das tarefas citadas no v. 11.
Também aqui é preciso
chamar novamente atenção para o fato de que a tarefa de apoio daqueles
especificamente incumbidos apenas é possível a partir de sua ligação vital com
o cabeça, uma vez que não representam apenas “dons” para o corpo, mas que
também receberam os “dons” pessoalmente de Cristo, de acordo com a vontade dele
(Ef 4.7s).
Essa coesão é
fomentada “segundo a força atribuída a cada parte”. A formulação “a cada”
retoma o v. 7, motivo pelo qual igualmente não deve ser restrito aos que são
especificamente encarregados, mas à totalidade dos que creem: a cada um foi
concedida, de acordo com a medida do dom de Cristo, a graça com os dons dela
decorrentes. De forma análoga o corpo é favorecido por todos os membros. Isso
ocorre conforme a força medida para cada parte (cf. Ef 3.7 com vistas ao
próprio Paulo).
Assim este versículo
sintiza de fato todo o trecho precedente: partindo da unidade de Deus e de seu
agir no corpo de Cristo, o olhar se estende para a multiplicidade dos dons
distribuídos aos crentes. Na sequência, Paulo destaca as tarefas específicas
dos apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres no preparo dos
santos, para que a igreja de Cristo possa alcançar a idade adulta e resistir a
doutrinas ardilosas e enganosas. Por fim o apóstolo enfoca novamente a
cooperação de todos na edificação do corpo. A característica marcante de toda a
incumbência é que a edificação acontece “no amor” (v. 13). Isso sucede quando o
conhecimento do amor de Cristo (Ef 3.19) cresce mais e mais e por isso também
se fala a verdade em amor (Ef 4.15).
Eberhard
Hahn. Comentário Esperança Efésios. Editora
Evangélica Esperança.
2. Os sábios
arquitetos do Corpo de Cristo.
I Cor 13.9. Nosso
conhecimento é parcial, até mesmo com a ajuda dos mais elevados dons da
sabedoria e do conhecimento. Essa admissão é declaração, feitas pelo apóstolo,
deveria ensinar-nos a sermos cautelosos quando cercamos a Deus com os nossos
dogmas, como se, já sabendo tudo quanto tem importância, não precisássemos mais
de fazer qualquer pesquisa honesta pela verdade. A tendência da religião
«ortodoxa» é olvidar-se desse grande fato, apodando de heterodoxa qualquer
opinião que não se adapte facilmente dentro dos limites dos dogmas já aceitos.
Da covardia que teme
novas verdades,
Da preguiça que
aceita meias-verdades,
Da arrogância que
conhece toda a verdade,
Oh, Senhor,
livra-nos. (Arthur Ford).
Os intelectuais de
Corinto faziam uma ideia exagerada da grandiosidade de seu conhecimento. Foi
mister que Paulo lhes lembrasse que, quando muito, o que sabiam era parcial; e
ele nem ao menos aborda aqui o problema dos «erros» incorporados no sistema
deles. Mui provavelmente isso é verdade porque ele via o conhecimento mais
especificamente como aquilo que nos é dado mediante os dons da sabedoria e do
conhecimento, ou seja, aquilo que seria ensinado como correto até onde vai, mas
sem qualquer pronunciamento da verdade de Deus. De fato, tal pronunciamento é
impossível para nós, no presente estado de mortalidade. Para nós o conhecimento
se acha em estado de constante expansão, nunca chegando a um ponto final. Todos
os campos do conhecimento, das ciências à teologia, estão sempre franqueados à
modificação e revisão, à medida que nossos conceitos são expandidos e
aprofundados. A doutrina do fluxo, postulada por Heráclito: «Não se pode pisar
no mesmo rio por duas vezes», encerra uma verdade que se aplica à situação
humana. E isso porque se o conhecimento de Deus é perfeito, o homem, contudo,
devido ao seu estado mortal, nunca pode compartilhar plenamente desse
conhecimento; e, assim, a sua participação está sempre em estado de fluxo.
O conhecimento e a
profecia, pois, conforme os conhecemos e podemos conhecer, serão sempre
indiretos, parciais e fragmentários; e disso participam os tipos exatos de
descrição que a moderna epistemologia atribui a todo o conhecimento, incluindo
o conhecimento científico. Existe uma realidade permanente e perfeita; porém,
agora nos dirigimos nessa direção, e finalmente chegará o tempo quando o que é
«perfeito» virá substituir o que é imperfeito, quando o incompleto cederá lugar
ao que é completo. (Ver o décimo versículo deste capítulo).
Nessa conexão,
podemo-nos lembrar da alegoria de Platão acerca da caverna. Platão imaginou
homens no interior de uma caverna, sentados de costas para uma fogueira. Entre
eles e a fogueira tinham sido postos vários objetos que havia na superfície da
terra. Mas aqueles homens jamais tinham visto a superfície, e nem as imitações
das coisas que aqui existam.
Tudo quanto conheciam
era as sombras das imitações projetadas pela luz da fogueira, na outra
extremidade da caverna. Naquela lamentável condição, eles imaginavam que
aquelas sombras, as sombras projetadas pelas imagens, eram as próprias
realidades da vida. O que aconteceria, indagou Platão, se um daqueles homens da
caverna pudesse subir à superfície e contemplar a realidade; e em seguida
voltasse a seus companheiros, contando-lhes o que vira? Os outros poderiam até
matá-lo, porquanto ele se tornaria uma afronta para o «conhecimento» aceito
entre eles. E assim também é e deve continuar sendo no caso de nosso atual
conhecimento
sobre as coisas divinas e mais elevadas. Esquecendo-nos disso, ficamos inchados
em face de nosso conhecimento, criticando e perseguindo àqueles que têm idéias
que não se adaptam bem ao nosso sistema. Alguns «crentes» têm chegado mesmo a
matar a outros, por causa de diferenças de opinião, e muitos outros
«assassinam» o caráter daqueles que deles diferem em suas ideias, ou
excluem-nos, de alguma maneira, da comunhão da igreja.
Quando muito, no
presente, vemos através de um espelho baço (ver o décimo segundo versículo
deste capítulo), onde os reflexos (isto é, o conhecimento) são imperfeitos, e,
algumas vezes, até mesmo ilusórios. «Muitos dos chamados hereges teriam sido
salvos de perseguições impróprias do cristianismo, se essa imperfeição e
caráter indireto do conhecimento cristão houvesse sido mais geralmente
percebido e reconhecido. Com grande frequência os hereges têm sido apenas
pioneiros quanto a grandes verdades. O próprio Jesus foi um herege aos olhos
dos judeus ortodoxos de seu dia. Não havia qualquer necessidade de fazer assertivas
dogmáticas sobre qualquer ponto de vista pessoal, na igreja de Corinto; mas
havia toda a necessidade de um espírito de tolerância e fraternidade, capaz de
perceber que a luz branca do conhecimento e da profecia se compõe de muitas
cores, tornando-se ainda mais rica em face disso. E essa verdade continua de pé
até hoje: ela convida aqueles que se chamam pelo nome de Cristo a praticarem
tudo de mente aberta, percebendo que ainda há mais e mais luz que provém da
Palavra de Deus».
(John Short, in
loc.).
«O bispo Butler tem
demonstrado que, neste mundo, o conhecimento completo ao menos de uma parte, é
algo impossível; pois não podemos dispor disso enquanto não conhecermos sua
plena relação para com o todo; e, a fim de fazer isso, precisamos ter
conhecimento completo do todo, o que é impossível». (Robertson e Plummer, in
loc.).
«Conhecimento e
pregação são ambos incompletos; portanto, quando esta dispensação terminar, e a
dispensação completa for inaugurada, então esses dons imperfeitos cessarão. Os
dons espirituais são apenas os implementos da lavoura divina; as graças são as
próprias sementes. Quando chegar o tempo da grande colheita, os instrumentos,
ainda que úteis, serão inteiramente postos de lado; e as sementes, em face do
próprio processo da morte, serão transformadas en. inflorescências e frutos, e,
nessa forma aperfeiçoada, permanecerão para sempre». (Shore, in loc.).
Quando Newton
surpreendeu o mundo científico, com novas e admiráveis descobertas, um poeta
qualquer continuou salientando a parcialidade do nosso conhecimento, como
segue:
Seres superiores,
quando viram ultimamente,
Um homem mortal
explicar as leis da natureza,
Admiraram-lhe a
sabedoria em forma 'terrena'.
E mostraram a Newton
como se mostra um macaco.
Contudo esse poeta,
mesmo sem ter reconhecido a sua dívida, na realidade tomou de Platão essa
ideia, por empréstimo, pois este outro escreveu: «O mais sábio dos mortais se
assemelha apenas a um macaco segundo a estimativa de Deus».
O argumento usado por
Paulo é que aquilo que é «parcial» e «imperfeito», em face dessas mesmas
características, não pode ser permanente. O amor, por outro lado, sendo
perfeito, é permanente. Um conhecimento mais elevado, um conhecimento perfeito,
é possível; mas isso somente quando da inauguração do estado eterno.
I Cor 13.10. A
imperfeição é temporária. A perfeição é permanente. Um conhecimento novo
continuamente toma obsoleto o conhecimento anterior.
A profecia,
similarmente, jamais poderá atingir qualquer alto pináculo de perfeição. Mesmo
assim ela é útil em sua forma imperfeita, a despeito de sujeita à eliminação. O
conhecimento e a profecia, embora imperfeitos e temporais, não podem ser
desconsiderados; mas nossa esperança se eleva acima disso. A perfeição nos será
conferida na forma da parousia ou segundo advento de Cristo, acontecimento ao
qual Paulo faz alusão aqui; ou, pelo menos, isso representará para nós um
notável salto para a frente, pois, ficando então libertos do corpo mortal,
nossos espíritos se elevarão mais rapidamente na direção de sua origem—o Senhor
Deus. Nessa elevação para Deus, no estado eterno que haverá nos lugares
celestiais, é que os dons espirituais que conhecemos agora na terra, serão
eliminados; mas isso somente para nos tornarmos capazes de contemplar
diretamente as grandes realidades celestiais. Finalmente a perfeição nos
envolverá completamente, visto que compartilharemos, de modo perfeito, tudo
aquilo que Cristo é e tem, em sua natureza moral, em sua natureza metafísica
(e, portanto, em sua herança perfeita), e também em sua herança. (Ver Rom. 8:17,29,30;
Efé. 1:23; II Cor. 3:18 e II Ped. 1:4).
O que é «imperfeito»
não desaparecerá enquanto não vier o que é perfeito.
E isso é um poderoso
argumento em favor da possibilidade da continuação dos dons miraculosos (e não
miraculosos), continuação essa que prosseguirá até à «parousia» ou segunda
vinda de Jesus Cristo. Isso vai de encontro aos argumentos distorcidos de
alguns, que pretendem eliminar os dons miraculosos, como se os mesmos
.houvessem desaparecido quase imediatamente depois da era apostólica, os quais
supõem encontrar base bíblica para essa opinião no fato que o oitavo versículo
deste capít. diz que esses dons eventualmente «cessarão». Ê verdade que os dons
espirituais cessarão; mas o tempo é definidamente determinado no presente
versículo, isto é, no fim da presente era da graça, quando da segunda vinda de
Cristo. Porém, enquanto não vier o que é perfeito, teremos necessidade dos dons
espirituais «imperfeitos» visto que eles são muito, muito superiores a qualquer
coisa meramente humana.
Não existe aqui,
obviamente, nenhuma referência ao «cânon» das Escrituras do Novo Testamento,
como a «perfeição» que esperamos. Esta interpretação é uma invenção do século
XX para obter um texto de prova para ensinar que os dons, necessariamente,
deveriam ter acabado ao fim da era apostólica. A «perfeição» do texto é
adequadamente descrita: Nesta perfeição, «conhecerei plenamente, como também
sou plenamente conhecido», (vs. 12). Vs.8 mostra que não é só as línguas que
cessarão. O nosso «conhecimento» (como agora existe, i.e. bastante parcial)
também cessará.
O «cânon» das Escrituras, claramente, não trouxe estas condições.
Paulo está
antecipando a perfeição que a segunda vinda de Cristo trará. Os dons podem existir,
então, até lá, mas isto não quer dizer que realmente existem. O movimento
carismático dos nossos tempos não tem se recomendado como do Espírito Santo.
Homens espirituais dos nossos dias possuem os dons de maneiras diferentes do
que aquela do tempo do N.T.
Haverá uma grande
transição de uma dispensação para outra, da era presente para o estado eterno,
em razão do segundo advento de Cristo. Essa transição é pintada pelo apóstolo
Paulo mediante aquilo que tem lugar entre a meninice e a idade adulta. A
«meninice», neste caso, representa a era inteira da imperfeição, a nossa era
presente. Não importa quão grandemente os dons sejam desenvolvidos, não importa
quão elevada se torne a nossa sabedoria e o nosso conhecimento, e não importa
quão eloqüentes se tornem a profecia e as línguas—em comparação com o que haverá
eventualmente, tudo quanto obtivermos agora é apenas brinquedo de crianças,
sentimentos infantis, pensamentos infantis, coisas próprias de meninos. Isso
serve de poderosa ilustração instrutiva, sobre a estatura de nosso presente
conhecimento. Portanto, aqueles que temem qualquer teologia especulativa,
esquecem-se de que toda a teologia presente na realidade não se afasta muito
dessa teologia especulativa, embora com bases em verdades divinas fixas e
permanentes.
Paulo fez
voluntariamente a admissão de imaturidade, algo que os altivos intelectuais da
igreja de Corinto teriam grande dificuldade em fazer, e algo a que se negam a
fazer muitos dos crentes de hoje em dia, os quais, bem pelo contrário,
preferindo seguir o exemplo dos antigos coríntios, exaltam o seu próprio
conhecimento e tratam-no como se fora algo completo e perfeito.
Esta vida, portanto,
consiste em uma «infância espiritual», e a era vindoura, ou melhor, a
eternidade, será a «idade adulta espiritual». Isso é muito encorajador, pelo
progresso dos séculos, o que, para nós, indica um progresso de natureza
espiritual, o abandono de todas as imperfeições, o aprendizado da perfeição.
«...falava como
menino...» A expressão verbal de uma criança, aqui aludida, tem por finalidade
apresentar o uso das «línguas», da «profecia» e do «ensino», porquanto são
modos pelos quais expressamos o nosso conhecimento. Quão humilhante deve ter
sido para os coríntios essa ilustração, visto que muito se ufanavam de sua
eloquência, especialmente de suas declarações místicas, proferidas em estado de
êxtase arrebatado, em línguas, e até mesmo nas línguas dos anjos, conforme
pensavam (ver o primeiro versículo deste capítulo): No entanto, assim faziam
porque eram infantes.
«...sentia como
menino...» O original grego não se refere aqui às «emoções», conforme
poderíamos compreender pela tradução. A palavra grega «phroneo» se refere antes
à «maneira de pensar». Significa «formar opinião». Assim sendo, o que é
indicado é «...pensava como menino...»
Também poderíamos
traduzir a frase por «tinha atitudes de menino». É possível que Paulo agora
esteja se referindo aos dons espirituais da sabedoria e do conhecimento. Nosso
«entendimento», até mesmo em tais dons, é apenas parte integrante de nossa
presente meninice; por conseguinte, não pode servir de desculpas para criar
facções, adoração a «heróis» e a degradação dos irmãos menos dotados.
«...pensava como
menino...» No grego temos o vocábulo «logidzomai», que significa «raciocinar»,
«considerar», «calcular». Estão aqui em foco os «poderes do raciocínio
desenvolvido», graduação acima do simples processo do pensamento. Porém, até
mesmo nesse estágio mais alto do pensamento, enquanto estivermos nesta era,
seremos simples crianças. Paulo atacava a suposta «sabedoria» daqueles crentes
de Corinto. Nem mesmo suas capacidades intelectuais mais bem desenvolvidas
faziam deles mais do que crianças espirituais; pois nem mesmo o recebimento de
dons espirituais, como o da sabedoria e do conhecimento, podem alterar isso.
«.. .quando cheguei a
ser homem...» Paulo não quis dizer com isso que ele mesmo chegara à posição de
«maturidade espiritual». Isso destruiria a analogia inteira. Somente quando a
parousia tiver lugar (a segunda vinda de Cristo) é que um crente atingirá o
estado de maturidade espiritual (que é exatamente o que é dito no versículo
anterior, e que ilustra este versículo).
No sentido físico,
porém, Paulo já chegara à idade adulta; e esse estado ele compara com a
inauguração da perfeição, quando então será eliminado aquilo que é
«imperfeito», isto é, os dons espirituais segundo eles são conhecidos por nós,
levando-os a serem ultrapassados por uma elevada expressão espiritual de
conhecimento e poder, nos lugares celestiais. (Ver Efé. 2:6).
Há certo
desenvolvimento infantil, da criança, indicado aqui.
Primeiramente a
criança balbucia, então pensa, então começa a raciocinar; no entanto, continua
sendo uma criança o tempo todo. Outro tanto sucede no caso do exercício dos
dons espirituais, conforme os conhecemos agora.
Um deles pode ser
melhor um pouco do que o outro, mas todos fazem parte de nossa infância
espiritual.
«Quantos pontos de
vista estreitos, quantas noções indistintas das coisas, têm as crianças, em
comparação com os adultos! E quão naturalmente os homens, quando a razão se
lhes amadurece, desprezam e dispensam os seus pensamentos infantis, pondo-os de
lado, rejeitando-os, considerando-os como nada! Assim é que pensaremos sobre
nossos dons mais valiosos e aquisições neste mundo, quando chegarmos ao céu».
(Matthew Henry, in loc.).
«...desisti...» No
grego encontramos o termo «katargeo» (que aqui figurano aoristo, a fim de
indicar uma ação ocorrida de uma vez para sempre).
Essa palavra
significa abolir, enxugar, pôr de lado, dar fim, remover, fazer cessar. Está em
foco o abandono completo de tudo quanto é «infantil», sua eliminação, ainda
que, na qualidade de sementes, tudo isso venha a florescer no estado eterno, em
formas fantasticamente mais elevadas do que aquelas que agora conhecemos e
usamos; e isso significará a eliminação real das formas de dons espirituais
conforme agora os conhecemos. A «infância», nas Escrituras, é sempre usada para
falar sobre a imaturidade espiritual nesta vida, ao passo que a «idade adulta»
indica a maturidade espiritual. (Ver Efé. 4:14; Rom. 2:20; I Cor. 3:1). Mas não
é esse o sentido dessas palavras, no presente capítulo.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 210-211.
O amor é perfeito e
completo (13.9-12). Na consumação final da história redentora, todas as
imperfeições serão substituídas pelo perfeito - Mas, quando vier o que é
perfeito, então, o que o é em parte será aniquilado (10). Nesse dia, todas as
imperfeições desaparecerão e tudo que aqui parece obscuro e incompreensível se
tomará claro.
1) A imperfeição do
entendimento parcial (13.11). O atual conhecimento do homem, comparado ao que
ele terá no céu, é igual ao conhecimento de uma criança em relação ao de um
homem maduro. A palavra menino (nepios) quer dizer criança pequena, ou infante,
embora sem nenhum limite específico de idade. Ela se refere ao primeiro período
da existência antes da meninice ou da puberdade.
O verbo sentia
(ephronoun) se refere aqui “ao primeiro e pouco desenvolvido exercício da mente
infantil: a um pensamento que ainda não está ligado ao raciocínio”.74 O
pensamento (logizomai) denota uma progressão para o entendimento, e de
logizomai vem o significado de inferir as coisas ou relacionar conceitos. A
ideia aqui é que quando Paulo amadureceu no amor cristão, ele abandonou as
coisas infantis com deliberada decisão e finalidade.
2) A imperfeição da
visão parcial (13.12). Paulo escreve: Porque, agora, vemos por espelho em
enigma. Por causa da natureza dos espelhos da época de Paulo, seu reflexo era
vago ou obscuro. O espelho dos gregos e romanos era um disco delgado de metal polido
de um lado, sendo que o outro lado era liso ou continha algum desenho. Nessa
época também eram feitos espelhos de vidro, mas não eram amplamente utilizados.
A palavra enigma
(ainigmati) significa na verdade uma “adivinhação” e sugere um enigma ou uma
obscura intimação. Portanto, da maneira como foi usada pelo apóstolo, a palavra
significa de forma obscura, vaga, ou imperfeita. A expressão então, veremos
face a face indica uma brilhante antecipação. Quando o homem estiver na
presença de Deus sua visão será perfeita, e nada se colocará entre eles para
obscurecer a presença de Deus.
O mesmo que acontece
com a visão, acontecerá com o conhecimento. Paulo já havia afirmado que nosso
conhecimento terreno é parcial (9), mesmo quando resulta de um dom especial.
Contra esse conhecimento parcial o apóstolo coloca o perfeito conhecimento do
redimido na presença de Deus. Os termos da versão TEV transmitem a seguinte
ideia: “Agora, conheço em parte; mas, então, conhecerei de forma completa,
assim como sou conhecido por Deus”.
3) A perfeição do
amor (13.13). Fazendo um contraste com os dons temporários que tanto haviam
ocupado a atenção dos coríntios, fica confirmada a permanência das três
principais graças cristãs: Permanecem a fé, a esperança e a caridade. De acordo
com Paulo a fé é essencial à salvação (Rm 3.28; G1 2.20). E impossível viver
sem esperança. Quando a esperança morre o espírito morre. Mas, dessas três
graças cristãs básicas - a maior é o amor.
Faris D. Whitesell
intitula esta exposição do capítulo 13 como: “A Excelência do Amor Demonstra a
Sua Excelência”.
1) O amor torna os dons
da vida aproveitáveis, 1-3;
2) O amor transforma
os relacionamentos da vida em algo maravilhoso, 4-7;
3) O amor faz com que
as contribuições da vida se tornem eternas, 8-13 (da obra Sermon Outlines on
Favorite Bible Chapters).
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 8. pag. 347-348.
A primeira sentença é
o tópico da última secção deste capítulo: O amor jamais acaba, ele dura mais
que todos os dons, nunca se esgota sua existência; tal como o Deus eterno, ao
qual deve sua existência, dura para sempre. O dom de profetizar, de inspiração
da parte do Senhor, de predizer os acontecimentos futuros e de explicar a
Palavra de Deus ligado a isto, chegarão à ruína, serão tornados sem sentido e
nulos, serão abolidos. Eles prescreveram e acabaram quando seu objetivo foi
atingido, quando o conteúdo de toda profecia será revelada em sua plenitude,
quando tudo o que esteve oculto será claramente revelado, então não haverá mais
necessidade de profecia. O dom de línguas, de pronunciamentos extáticos em
línguas estranhas e desconhecidas, cessará, acabará, visto que só teve um
significado temporário. O dom do conhecimento, da compreensão das coisas
reveladas, será removido. Virá um tempo quando este, como o resto, terá servido
ao seu propósito e por isso será abolido para sempre.
Visto que a asserção
que os dons de conhecimento e de profecia cessarão podia parecer estranho,
Paulo explica sua afirmação: Pois em parte conhecemos, e em parte profetizamos;
mas quando vier o que é perfeito, então o imperfeito será abolido. Nosso
conhecimento é imperfeito neste mundo, inadequado para um entendimento completo
de Deus, de Sua essência, de Sua vontade. Entendemos somente partes pequenas da
verdade eterna e celeste, mesmo tendo nós uma razão cristã iluminada. Não temos
uma visão compreensiva do total, da ligação dos pensamentos e conselhos
divinos. A plenitude da magnitude e majestade de Deus ainda nos é desconhecida.
Sabemos unicamente
tanto da essência e da vontade de Deus quanto é necessário para a nossa salvação.
E os comentaristas mais iluminados e inspirados da Bíblia são capazes de
conseguir lampejos dos mistérios do mundo espiritual, das glórias celestes, por
meio da revelação que nos foi dada pelo evangelho. Todavia esta condição de
imperfeição cessará, o conhecimento e a profecia terão seu fim, tão logo que o
que é perfeito aparecer, do mesmo modo como o rubro do amanhecer desaparece
quando o sol surge em pleno esplendor no horizonte. Quando Cristo há de
retornar em glória, quando nós havemos de ser glorificados com ele no céu,
então todas as imperfeições deste conhecimento atual serão deixadas para trás.
A grande diferença
entre a condição presente e a futura é ilustrada no texto pela diferença entre
a condição da criança e a condição do homem: Quando fui criança, falei como uma
criança pensei como uma criança, raciocinei como uma criança; minha fala, meus
objetivos, e minha atividade mental eram as duma criancinha, sendo imaturos e
imperfeitos. No tempo atual nossas ideias das coisas celestes e divinas não
alcançam a glória e a dignidade do assunto. Agora que cheguei a ser homem,
aboli as coisas da criança, sendo que o adulto não se apega mais às opiniões e
ideias imperfeitas e imaturas da criança. Do mesmo modo o conhecimento pleno,
madura e completo de Deus está reservado ao mundo do além. Marquemos, contudo,
que teremos exatamente as mesmas coisas divinas, belas e espirituais para nos
alegrarem no céu que agora temos no mundo: aquilo que agora só compreendemos e
conhecemos em parte então nos será revelado em sua inteireza, na glória total
de sua substância. Assim como a flor perde suas pétalas, mas retém seu centro,
que eventualmente amadurecerá numa fruta perfeita, assim nós despiremos as
opiniões imperfeitas de nossa compreensão, enquanto reteremos o núcleo em sua
condição totalmente desenvolvida e veremos sua fruição no céu.
O contraste entre o
presente imperfeito e o conhecimento futuro perfeito é ilustrado por meio de
outro quadro: pois agora enxergamos por meio dum espelho, num enigma; contudo,
então, face a face. No tempo antigo os espelhos eram feitos de metal polido,
que refletia só indistintamente a imagem, sem contornos fortes e distintos.
Assim é a nossa contemplação das glórias de Deus, tal como nos é apresentada em
Sua Palavra, e isto, não porque a Palavra seja obscura, mas porque nosso
entendimento não é suficiente para captar as maravilhas de Sua substância e de
suas qualidades. Nós enxergamos num enigma, ou seja, o que muitas vezes consideramos
uma charada. Por causa de nosso entendimento obscurecido, mesmo em nosso estado
regenerado, a fraseologia do Senhor em Sua Palavra apresente muitas vezes
dificuldades, muitas vezes só conseguimos uma ideia obscura e incerta de Seu
significado. É isto que são Paulo afirma com franqueza, fazendo de sua própria
pessoa um exemplo da cristandade em geral: Agora conheço em parte, mas então
conhecerei como também sou conhecido. Porque o Senhor precisou adaptar os
mistérios celestes à fala imperfeita dos seres humanos, porque precisou vestir
seus pensamentos eternos e divinos em palavras, expressões, figuras e parábolas
buscadas deste mundo perecível, por isso a perfeição da glória divina precisa
estar oculta aos nossos olhos. No céu, porém, cada cristão verá, conhecerá e
compreenderá a plenitude da essência, dos atributos, planos e conselhos divinos
numa compreensão perfeita e bendita, de modo tão completo como ele mesmo foi
conhecido por Deus, quando o Senhor mudou na conversão seu coração. É um
conhecimento perfeito e bendito de Deus. Então Deus não mais verá algo
esquisito, estranho e hostil entre ele e nós. Todos os nossos pecados terão
sido plenamente removidos de Sua visão. Como escreve Lutero: “Então O
conhecerei de maneira mais clara possível, sem qualquer cobertura; pois a cobertura
não foi tirada Dele, mas de mim, pois Ele não alguma sobre Si.” No céu,
finalmente, conheceremos em amor a Deus por meio de contato direto, e todo o
conhecer mediato e imperfeito que agora nos é possível será deixado bem longe
atrás e totalmente esquecido na ventura da perfeita salvação. Cf. Sl. 17. 15.
O prospecto desta
dentição maravilhosa leva o apóstolo a concluir seu salmo de amor numa maravilhosa
irrupção de alegria triunfante: Mas, como acontece, permanecem fé, esperança e
amor, esses três. Todos os demais dons, as demais virtudes, passam, mas estes
três permanecem sempre.
Fé, esperança e amor
permanecem na eternidade, porque o que o cristão crê, espera e ama permanece
para sempre, visto que Deus é eterno, com quem estamos unidos na fé, na
esperança e no amor. Esta conclusão é praticamente exigida pela afirmação que
todas as coisas imperfeitas serão abolidas. Pois o apóstolo não diz destes três
que são imperfeitos, ou seja, que cremos em parte, que esperamos em parte, que
amamos em parte. A fé, mesmo a fé fraca, ainda que conhece a Deus só em parte,
aceita, porém, como fé salvadora, o Deus inteiro, o Cristo inteiro, a redenção inteira
em Cristo, e o pleno perdão dos pecados. Também a esperança, mesmo vendo e
conhecendo somente alguns raios da glória vindoura, tem, ainda assim, o futuro
total como seu alvo. E o amor se concentra sobre o inteiro Deus trino de nossa
salvação, e não sobre algum restinho miserável.
Mas o amor não é mais
duradouro, mas maior entre eles, sendo o maior dos três. Fé e amor também
permanecem para sempre, visto que aquilo em que cremos e aquilo que esperamos
dura para sempre. Mas a natureza da fé e da esperança cessará; pois o que aqui
cremos e esperamos (pretérito) lá possuiremos e gozaremos. Nossa fé alcançará a
perfeição de sua condição no enxergar. Nossa esperança será aperfeiçoada no
usufruir. Mas nosso amor a Deus e Cristo, e por isso também a todos os nossos
irmãos, permanecerá absolutamente imutável, sendo tão somente purificado, visto
que todos os obstáculos que aqui entravam a atividade do amor lá serão removidos.
No céu o amor será completamente livre e destravado em sua capacidade de sem evidenciar,
e encontrará em todos os lugares amor em retorno e assim será bendito na
companhia de Deus, dos santos anjos, e de todos os santos. Nota: O fato que
aqui o amor é chamado a maior das virtudes de modo nenhum está em desacordo com
o fato que a fé é o único meio de obter a salvação. “Objetam, porém, que o amor
é posto acima da fé e da esperança. Pois Paulo diz: ‘O maior destes é o amor.’
Ora, é razoável que a virtude máxima e principal justifique, ... Todavia,
concedemos inteiramente aos adversários que o amor a Deus e ao próximo é a
virtude máxima, pois que o preceito supremo é este: ‘Amarás o Senhor Deus’,
(Mt.22. 37). Mas como inferirão daí que o amor justifica? A virtude máxima,
dizem, justifica. Pelo contrário: assim como nem a maior ou primeira lei
justifica, assim também não justifica a virtude máxima da lei. O que justifica
é aquela virtude que apreende a Cristo, que nos comunica os méritos de Cristo,
virtude pela qual recebemos graça e paz de Deus. Mas esta virtude é a fé. Pois,
como muitas vezes se disse, fé não é apenas notícia, senão, muito mais, querer
receber ou apreender aquilo que se oferece na promessa referente a Cristo.”24)
Resumo: O apóstolo
louva o alto valor do amor, dá uma descrição de seus aspectos essenciais, e
descreve sua duração eterna.
KRETZMANN.
Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo
Testamento. Editora
Concordia Publishing House.
Ele sugere que esses
dons são apenas adaptados a um estado de perfeição: “...porque, em parte
conhecemos e, em parte, profetizamos” (v. 9). Nosso melhor conhecimento e
nossas maiores habilidades são no presente semelhantes à nossa condição,
estreitos e temporais.
Até o conhecimento
que eles tinham por inspiração era parcial. Quão pequena porção de Deus, e do
mundo invisível, era ouvida até pelos apóstolos e pelos homens inspirados! Como
é grande a desvantagem de outros em relação a eles! Mas esses dons eram
adequados ao presente estado imperfeito da igreja, valiosos em si mesmos, mas
não para serem comparados com a caridade, porque eles
desapareceriam com as imperfeições da igreja, e, além disso, em breve, enquanto
a caridade duraria para sempre.
mEle aproveita a
ocasião para mostrar quanto melhor será para a igreja no futuro do que pode ser
aqui. Um estado de perfeição está em vista (v. 10): “Mas, quando vier o que é
perfeito, então, o que o é em parte será aniquilado”. Quando o fim é uma vez
alcançado, os recursos, claro, serão abolidos. Não haverá nenhuma necessidade
de línguas, profecia e conhecimento inspirado em uma vida futura, porque então
a igreja estará em um estado de perfeição, completa em conhecimento e
santidade. Então Deus será conhecido claramente e, de certa forma, por
intuição, e tão perfeitamente quanto a capacidade de mentes glorificadas
permitirão; não através de tais vislumbres transitórios, e pequenas porções,
como aqui. A diferença entre esses dois estados é aqui apontada com dois
detalhes: 1.0 presente estado é um estado de infância, o futuro da humanidade:
“Quando eu era
menino, falava como menino (isto é, como pensam alguns, falava em línguas),
sentia como menino, ephronoun - sapiebam (isto é, “eu profetizava, eu era
instruído nos mistérios do Reino dos céus, de tal modo extraordinário quanto é
manifesto que eu não deixei meu estado infantil”), discorria, ou raciocinava,
elogizomen, como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as
coisas de menino”. Tal é a diferença entre terra e céu. Que visões estreitas,
que noções indistintas e confusas das coisas as crianças têm em comparação com
os homens crescidos! E como é natural que os homens, quando a razão é
desenvolvida e amadurecida, desprezem e abandonem seus pensamentos infantis,
coloquem-nos de lado, rejeitem-nos, não os estimem mais! Assim nós pensaremos
acerca de nossos mais valiosos dons e aquisições neste mundo, quando formos
para o céu. Nós desprezaremos nossa tolice infantil em nos orgulharmos com tais
coisas, quando crescermos e nos tornarmos homens em Cristo. 2. As coisas são
todas escuras e confusas agora, em comparação com o que serão depois: “Porque,
agora, vemos por espelho em enigma (en ainigmati, em mistério); mas, então,
veremos face a face; agora, conheço em parte, mas, então, conhecerei como
também sou conhecido”. Agora nós apenas podemos discernir as coisas a uma
grande distância, como através de um telescópio, e envolvidas em nuvens e
obscuridade; mas depois as coisas a serem conhecidas estarão mais próximas e
óbvias, abertas aos nossos olhos; e o nosso conhecimento estará livre de toda
obscuridade e erro. Deus será visto face a face; e nós o conheceremos como
também somos conhecidos por ele; de fato, não perfeitamente, mas, de certa
forma, no mesmo modo. Nós somos conhecidos por Ele por mera inspeção; Ele volta
seus olhos em nossa direção, vê e nos busca integralmente. Nós então fixaremos
nossos olhos nele, e “...assim como é o veremos” (1 Jo 3.2). Nós conheceremos
como somos conhecidos, entraremos em todos os mistérios do amor e da graça
divinos. Oh! Mudança gloriosa! Passar da escuridão para a luz, das nuvens para
a clara luz do sol da face de nosso Salvador, e ver a luz na própria luz de
Deus! (SI 36.9). Note que é apenas a luz do céu que removerá todas as nuvens e
escuridão da face de Deus. Há no máximo só uma penumbra enquanto ainda estamos
neste mundo; lá haverá um dia perfeito e eterno.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 487.
3. Despenseiros dos
dons.
10. Vida na
comunidade cristã é vida de serviço aos outros. Jesus foi o Servo de Deus,
Aquele que “não veio para ser servido, mas para servir” (Mc 10.45). Na Sua
vida, tal como nos mostram os Evangelhos, Ele demonstrou esse princípio,
servindo ao Seu povo e aos Seus (como ilustrado em Jo 13.1-17). Servi uns aos
outros é, assim, um chamado a sair de si mesmo e dos seus problemas, e se
dedicar aos outros. É essa exteriorização
que está o fundamento da ética cristã, como vida de serviço aos outros
“enquanto outros” (ou seja, não uma extensão de mim próprio, ou “outros” a quem
eu comando ou manipulo, e coloco dentro do meu esquema). A palavra grega é
diakonuntes, de onde vem diaconia, serviço. Aqui, ela tem um significado
abrangente, incluindo todo tipo de serviço que se pode prestar a outros (em
palavra e ação).
Essa diaconia é
possível porque todos receberam dons com os quais podem servir aos outros.
Charisma é o termo usualmente empregado no N.T. para se referir aos chamados
“dons espirituais”. São várias as definições e especificações deles (cf. 1 Co
12; Rm 12; Ef 4); trata-se de capacidades que Deus concede a todos os cristãos
(associadas à habitação do Espírito Santo neles, 1 Co 12.7) para o serviço
dentro do contexto da comunidade cristã. Podem se tratar de talentos naturais
que recebem um novo impulso e uma nova orientação pela ação do Espírito, ou de
capacitações originais, concedidas ao crente para que com elas sirva aos
outros.
Esta questão dos dons
às vezes tem causado polêmicas entre os cristãos. Nunca devemos perder de vista
que são dados soberanamente pelo Espírito Santo, e que sua função é servir
(nada mais que isso; usá-los para autopromoção é absolutamente contrário à sua natureza,
sendo uma atitude exemplarmente repreendida em At 8.18-24).
Importante é também
que cada um dos crentes recebeu um dom, o que, de saída, nivela a todos, e toma
todos igualmente importantes uns para os outros. Cada um deve colocar o dom que
tem a serviço de todos, porque, ao receberem dons, os cristãos se tomam
despenseiros da graça de Deus. A charis (graça) é a fonte dos charisma (dons,
carismas). Quem os recebe, recebe graça de Deus, e os recebe por causa da graça
de Deus que lhes concedeu o Espírito Santo. Ter um dom espiritual, então, é ter
um “depósito de graça”, que deve extravasar (porque graça é para ser doada).
Despenseiros é oikonomoi, um termo técnico referente ao mordomo, o
administrador da casa (lembrando que “casa” é a oikos do mundo da época, uma
instituição social fundamental, a “comunidade doméstica” que incluía família e
trabalhadores, bem como os hóspedes). O oikonomos era o encarregado de atender
as necessidades de todos, administrando os bens nessa direção. E uma bela
figura para o papel dos cristãos na igreja (e note-se que todos o são). Todos
na “casa de Deus” têm necessidade de “graça”, e todos são chamados a suprir
essa necessidade mutuamente. E não devemos espiritualizar em demasia a questão,
pois essas necessidades muitas vezes serão bem materiais e rotineiras. E o chamado
ainda é para ser bons despenseiros, estando implícito que se pode não ser um
bom administrador da graça de Deus. Vem a propósito aqui a parábola do bom e do
mau oikonomos (mordomo), de Lc 12.42-48 (especialmente pelo contexto
escatológico).
A graça de Deus, por
fim, é multiforme. Visualmente, isso seria como um cristal que reflete a luz em
vários matizes e uma sempre nova e surpreendente combinação de cores e tons.
Esse conceito é importante e tem sido desprezado na prática, muitas vezes,
pelos cristãos. Está subentendido que a questão dos dons é sempre dinâmica. Não
podemos deduzir uma lista fixa de dons a partir das passagens do N.T. que falam
sobre o assunto, e mantê-los a todo custo como os únicos dons espirituais.
Deus dá os dons de
modo multiforme, de acordo com as características locais e as necessidades do
momento. Quando a situação muda, quando novos quadros se apresentam, Ele dará os
dons de forma apropriada à nova realidade, sempre nos surpreendendo com o Seu
agir. Multiforme também significa, para um mundo dividido como o nosso em
culturas e características regionais bastante diferenciadas, que o Espírito
leva em conta essa diversificação e trabalha dentro dela. Indispensável nas
relações entre os cristãos (também a nível internacional) é a eliminação de todo
resquício de prepotência e espírito de julgamento, e a disposição ao amor e ao
serviço ao outro como outro (respeitando-o e valorizando-o naquilo em que é
diferente de mim ou de nós).
I Ped 4.11. Na
comunidade cristã, esta graça de Deus (ou a ausência dela) revela-se também na
forma como a comunidade é organizada. Todos receberam dons; portanto, todos
participam de uma forma ou outra. Não há maiores ou melhores entre os cristãos,
todos receberam de Deus o que possuem, e isso nivela a todos de forma
irrevogável. A distinção entre os dons é funcional, e não de classe (a
sociedade cristã é sem classes, G1 3.28). 1 Pedro apresenta uma divisão muito
simples entre os dons.
Basicamente há dois
tipos de dons, que correspondem às duas formas básicas em que o evangelho de
Cristo é Se alguém fala inclui, assim, todos os tipos de ministério a igreja
que primam pela comunicação da graça de Deus em palavra (pregação missionária,
pregação pastoral, ensino, etc.; hoje teríamos de incluir a palavra escrita, a
literatura). A estes a exortação é que fale de acordo com os oráculos de Deus.
A expressão grega é bem breve, e por isso está sujeita a várias leituras dá
então, o sentido literal “se alguém fala, como palavra de Deus”. O sentido é
bem preservada na nossa versão ARA, Quem falar na comunidade cristã, deve
fazê-lo em acordo com o falar de Deus. O termo logia está se referindo,
provavelmente, de forma bem ampla à palavra de Deus (nas Escrituras do A.T., na
pregação de Jesus e dos apóstolos, nas mensagens dos profetas nas congregações cristãs).
A Bíblia tem, na igreja cristã, justamente essa função de ser “cânon”, regra e
critério para o falar de todos os cristãos. Deus falou, e o nosso falar deve se
guiar pelo dEle. Naturalmente, o nosso falar terá suas formas próprias de
expressão (um apego legalista à “linguagem de Canaã”, a linguagem das traduções
da Bíblia em português, não seria muito bíblico). Dentro da nossa realidade e
situação concreta, o nosso falar será nosso, sem dúvida, mas a partir da
inspiração e do critério que representa o falar de Deus (por ele também deverá
ser julgado o nosso falar). Isto se aplica à pregação nas igrejas, aos estudos
bíblicos comunitários e em grupos, à pregação evangelística também ao labor
teológico dos que a isso são chamados dentro da igreja, pois teologia é pensar
e expressar o falar de Deus para dentro de uma nova geração, dentro de um novo
contexto sócio-cultural e político, dentro de uma nova configuração
psico-cultural representada por cada uma das partes da multiforme igreja de
Deus; sendo assim a pregação e a teologia tarefas que perpetuamente se renovam,
para poderem ser fiéis tanto ao falar de Deus como ao mundo em que este falar
de Deus deve ser anunciado e vivido.
Se alguém serve dá
aqui um sentido um pouco mais restrito de diakonein do que no versículo
anterior (onde ele resumia todo o ministério cristão). Aqui, a palavra designa
os dons considerados como propriamente “de serviço”, e que já na época podiam
ser os mais diversos (exemplos teríamos em Rm 12.8, “o que contribui”, “o que
preside”, “quem exerce misericórdia”). Pode se incluir aqui tudo que a
comunidade necessitar para a sua organização, para o seu culto, todos aqueles
pequenos itens técnicos que tantas vezes são simplesmente “pressupostos”, sem que
se dê conta de que foram feitos por alguém (talvez com mais amor do que os
serviços que mais aparecem), e sem que, talvez, sejam valorizados adequadamente.
O versículo também não exclui (e não vemos razões por que excluir) o serviço
prestado para fora da comunidade cristã, onde de muitas maneiras os cristãos
podem dar eloquente testemunho de sua fé, simplesmente servindo aos outros (cf.
3.1, sobre o testemunho de mulheres aos maridos não-crentes). O fator
determinante nesse serviço parece ser a “necessidade” concreta e imediata (cf.
At 2.45, “à medida que alguém tinha necessidade”), especialmente as
necessidades materiais (que é o assunto de que se fala no texto mencionado de
Atos; várias vezes no N.T. diakonia refere-se a uma coleta em dinheiro que se
levantava na igreja para as igrejas e os cristãos mais pobres cf. 2 Co 8.4,20;
9.1,12).
A mesma divisão
simples do trabalho na comunidade cristã encontramos também em At 6.1-7, onde
os serviços são divididos em “serviço da palavra” e “serviço das mesas” (a
distribuição de pão entre os\pobres da comunidade). E não há primazia de uns
sobre outros; porquanto os que se dedicam à palavra são fundamentais para a
igreja, ela também não subsistiria sem estes outros, que igualmente devem ser
“cheios do Espírito e de sabedoria” (At 6.3). Também as igrejas de hoje são
chamadas a observar este duplo ministério cristão, dando o devido valor ao
serviço da palavra, mas não permitindo que ele faça com que o serviço do amor seja
negligenciado. Pelo contrário, um ministério da palavra que seja realmente “de
acordo com os oráculos de Deus” vai saber privilegiar o serviço de amor como
forma eloquente de presença cristã no mundo, tal como foi a presença serviçal
do Senhor da igreja em meio aos pobres deste mundo. Principalmente em
realidades sofridas como as do Brasil e do Terceiro Mundo em geral, a presença
cristã dessa forma é fundamental.
Quem serve, faça-o na
força que Deus supre. O termo ischyos (força) na maioria das vezes significa
“força física”, evidenciando que os serviços são trabalhos que se realizam em
prol dos outros, coisas talvez bem “mundanas” e do dia-a-dia, que os cristãos
talvez não saibam valorizar direito como dons concedidos pelo Espírito de Deus.
Aos cansados neste serviço, fica a lembrança de que Deus supre as forças
necessárias para ele. Por isso, ele deve ser feito de tal modo que Deus seja
glorificado através dele (cf. 2.12, “observando as vossas obras, glorifiquem a Deus;
Mt 5.16); ou seja, é importante a humildade daquele que serve, de não atrair
para si uma glória que é de Deus, doador da graça e das forças (de todas as
dádivas que nos dão e sustentam a vida no corpo). Em todas as cousas se refere
ao todo do ministério cristão: que tanto no serviço da palavra como no serviço
de amor seja Deus glorificado. Como costumamos ver glória a Deus mais na
pregação da palavra do que no serviço, não custa insistir em que todos os
pequenos trabalhos de amor do cristão em prol dos outros glorificam a Deus,
sendo dignos de que a eles nos dediquemos. Cl 3.17 oferece um bom comentário
neste ponto. A glória vai a Deus por meio de Jesus Cristo, sendo importante que
atentemos devidamente para essa mediação, tanto em termos do pensamento e das
intenções da pessoa que serve, como em termos de que haja algum tipo de
reconhecimento final de que Jesus Cristo está presente no serviço cristão
(embora, quanto a isso, Mt 25.31-46). A quem 1 Pedro 4.11. pertence a glória e
o domínio pelos séculos dos séculoí pode se referir tanto a Deus como a
Jesus Cristo. Na verdade, nem parece conveniente tomá-los separadamente. A
glória e o domínio que pertencem a Deus foram concedidos a Jesus Cristo na Sua
ascensão (3.22; Ap 11.15), sendo uma glória que Ele já tinha antes mesmo de vir
ao mundo (Jo 17.5).
Arriên é tanto uma
expressão de reconhecimento (“realmente é assim”; cf. o “em verdade, em
verdade” de Jesus, Jo 3.5,11, etc.) como de desejo piedoso (“assim seja”, não
tanto de que “seja” na realidade de Deus, onde já é, mas de que seja reconhecido
neste mundo como tal).
Ênio
R. Mueller. I Pedro. Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 238-243.
I Ped 4.10 Cada um,
conforme recebeu um dom da graça – servi uns aos outros com ele como bons
administradores da multiforme graça de Deus. Visto que os dons da graça (em
grego: charisma) são dados pelo Espírito Santo, eles também são chamados de
“dons do Espírito” (1Co 14.1). Este versículo presta uma importante contribuição
para a pergunta a respeito do que são os carismas e como devem ser exercidos. O
contexto demonstra que ser hospitaleiro, falar a palavra de Deus e exercer a
diaconia são serviços dos dons da graça. O NT, portanto, não restringe o termo
“dom da graça” aos dons particularmente notórios, p. ex., cura de enfermos (1Co
12.9) ou línguas (1Co 12.10; 14.13). Quem pratica de modo alegre e consciente a
hospitalidade provavelmente obteve um carisma para isso. Porém, todo aquele que
recebeu um dom para a edificação da igreja é um “carismático”. Pedro não
escreve: “cada um, quando recebeu um dom da graça”, mas como (ou: “na proporção
em que”) recebeu. Logo tem por certo que cada cristão participa da multiforme
graça de Deus, que conseqüentemente também possui dons da graça. Não é possível
produzi-los a partir de si mesmo, mas somente recebê-los. É verdade que podemos
“buscá-los” (1Co 14.1), mas sempre continuarão sendo dádiva de Deus através do
Espírito Santo. Servi uns aos outros com eles significa: os dons da graça foram
dados para o serviço mútuo. Obviamente os dons não devem ser mal usados pelo
seu detentor, p. ex. para a fama pessoal, pois então se tornam uma ameaça. Os
dons da graça que nos foram confiados não devem nos tornar “carismáticos”
deslumbrados, mas servidores humildes e singelos. Desse modo a dádiva se torna
incumbência. Cada qual é servo do outro, essa é a ordem da igreja de Jesus.
Como bons administradores da multiforme graça de Deus. A graça de Deus é sua
dadivosa dedicação aos seus (cf. o comentário a 1Pe 1.13). Multiforme ela é na
medida em que exerce uma obra diversificada na igreja e em cada cristão (cf.,
p. ex., 1Pe 5.10). Como graça multiforme ela também é suficiente para todas as
múltiplas carências da igreja. Administradores é o nome dado pelo próprio Jesus
a seus discípulos em várias parábolas (Lc 16.1; cf. Mt 25.14ss). Um
administrador é caracterizado pelo fato de ter recebido dádivas em confiança
para o serviço, que não são de sua propriedade. Cabe-lhe prestar contas sobre
seu uso, razão pela qual tem de aproveitar tempo e oportunidade, enquanto
possui os dons. Um laborioso empenho em prol de seu Senhor com os dons da graça
que lhe foram confiados constitui o bom administrador.
I Ped 4.11 Quando
alguém fala – em palavras de Deus; quando alguém serve – a partir da força que
Deus oferece. Uma vez que aqui se trata do serviço mútuo (v. 10), com “falar”
Pedro provavelmente tem em vista tanto o discurso na reunião da igreja como
também a palavra pessoal de irmão para irmão. Quando alguém fala, que sejam
palavras (ou: “enunciações”) de Deus. Aqui não se refere a palavras da Bíblia,
mas a palavras que brotam de ouvir a Deus, embora não dissociadas da Sagrada
Escritura. Trata-se do falar de Deus aqui e agora, de seu falar relativo a uma
situação específica. Quando alguém fala – em palavras de Deus não devemos
traduzir de forma atenuada: “como palavras de Deus”. No grego não apenas se usa
uma comparação, mas designa-se a realidade. Aquele que fala deve enunciar
palavras que de fato se originam de Deus. Quando isso acontece, será um falar
eficaz – para honra de Deus e não para a honra pessoal – determinado pelo
Espírito Santo e seus dons da graça (cf. também Cl 3.16): um “culto
carismático”. A presente palavra de Pedro corresponde à de Paulo: “Segui o amor
e procurai, com zelo, os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis.
(em grego propheteuein)” (1Co 14.1). Importa para Pedro a fala compreensível,
concedida por Deus e desmascarando o que está oculto no coração (1Co 14.24s).
Em 2Co 2.17 Paulo assevera: “É da parte de Deus, na presença de Deus, em Cristo
que falamos” [TEB]. É vontade do Senhor que isso aconteça na igreja de forma
abundante e clara. Quando alguém serve – a partir da força que Deus oferece. O
grego diakonein = “servir” formou o termo “diaconia”. Originalmente diakonein
significa “servir à mesa” e se refere, no NT, ao auxílio prestado em situações
de carência e necessidade física, mas também espiritual (cf. ThBl, artigo
“Dienen”). O fato de Pedro citar, dentre a grande variedade de carismas, justamente
o diakonein demonstra como ele é importante em uma igreja viva. Uma vida
eclesial apropriada sempre se manifestará através da diaconia. Não estamos
diante de uma exortação especial para diáconos e diaconisas, mas de uma
convocação para toda a igreja. Pedro conta naturalmente com o fato de que na
igreja existem muitos servidores. Todos os discípulos são instruídos a servir
(Jo 13.15-17). É verdade que nos primórdios do NT já houve exercício do ministério do diácono
e da diaconisa (At 6.3; Fp 1.1); a exortação de Pedro à igreja toda, no
entanto, revela com nitidez e clareza que esses serviços organizados não devem
tornar desnecessário o agir diaconal específico de todos os membros da igreja.
A incumbência diaconal é tão grande que o “ministério” diaconal do indivíduo e
o agir diaconal de todos os membros da igreja precisam completar um ao outro.
Quando alguém serve – a partir da força (ou “vigor”) que Deus oferece. Na força
que Deus oferece residem, teológica e historicamente, as raízes da diaconia. Por
isso a diaconia verdadeira somente poderá ser exercida por alguém que vive
diariamente da força que Deus oferece. A miséria com que o cristão se depara
pode ser tão dura e desanimadora que não se pode enfrentá-la de outra forma que
não pela força suprida por Deus. Também nesse ponto fica evidente: a diaconia
somente pode ser realizada mediante oração e no poder de Deus.
É significativo como
o presente trecho termina: para que em tudo Deus seja exaltado por meio de
Jesus Cristo. Somos chamados a ser algo para o louvor da glória de Deus (Ef
1.12). É para isso que aponta toda a atuação do Filho (Mt 6.9s; Jo 17.4). É
para isso que aponta também o Espírito Santo em nós, que ele convocou. Não
existimos para nós mesmos. Quando nos transformamos no centro das atenções,
erramos nosso alvo. Sempre estão em jogo Deus e sua honra. Toda a vida, também
o amor fraternal, a hospitalidade e diaconia, têm em Deus seu fundamento e
alvo: para que em tudo Deus seja exaltado (ou: honrado, glorificado) por meio
de Jesus Cristo. Servindo ao irmão o cristão honra a Deus. Em tudo (ou: através
de todos) Deus deve ser exaltado. O alvo da exortação apostólica é que cada um
viva, em tudo que fizer, para a glória de Deus, engrandecendo assim o nome
dele. Além disso, importa que Deus seja exaltado através de todos. Um cristão
não pode fazer nada sem Jesus, nem mesmo prestar a Deus a honra que lhe é
devida. O que ele fizer para a honra de Deus acontece por meio de Jesus Cristo.
Conseqüentemente, também na glorificação de Deus a honra não cabe aos cristãos,
mas a Jesus Cristo. Para ele é (ou: ele possui) a honra e o poder para os éons
dos éons. Amém. O trecho encerra com uma exaltação, uma “doxologia” (de doxa =
honra). Como nosso Deus é grande! Aqui Pedro diz enfaticamente: “Para ele é a
honra e o poder”, não apenas “para ele seja” ou “a ele compete a honra”, como
normalmente. Devemos estar cientes disso no sofrimento. Éon significa “era”. A
Sagrada Escritura desconhece nosso conceito estático, onerado pela filosofia,
de “eternidade” em repouso. A Bíblia fala de forma mais dinâmica de éons,
referindo-se às diferentes eras marcadas pelo agir salvador de Deus. Quanto à
expressão: para os éons dos éons, lemos, p. ex., no Comentário Esperança sobre
Rm 16.27: “O futuro não é eternidade vazia, mas uma plenitude de novas eras,
que hão de desenvolver cada vez mais e de forma mais profunda a exuberante
riqueza de sua graça (Ef 2.7).”
Uwe
Holmer. Comentário Esperança Cartas aos I Pedro. Editora Evangélica
Esperança.
I Cor 4.1. Tendo
apresentado a sua polêmica contra o espírito faccioso, Paulo agora passa a
mostrar qual deve ser a atitude certa dos crentes para com os verdadeiros
ministros do evangelho, e, em particular, para com ele mesmo, que era um
apóstolo autêntico, que tinha apresentado muitas evidências sobre a validade do
seu apostolado. Em Corinto havia detratores de Paulo que haviam convencido a
alguns dos membros daquela igreja que ele não era verdadeiro apóstolo. O nono
capítulo da presente epístola expõe a defesa de Paulo contra essa calúnia. No
capítulo que ora iniciamos a comentar, porém, esse apóstolo mostra-nos que tais
detratores, ao denegri-lo, tão-somente deixavam de mostrar o devido respeito
pela dignidade de seu oficio, que lhe fora conferido pelo Senhor. Isso era
apenas um outro resultado negativo do fato de se terem deixado encantar pelos líderes
de diversas facções, os quais exaltavam aos homens e se gloriavam no homem. Os
ministros autênticos da Palavra de Deus não podem estar sujeitos aos caprichos
da comunidade religiosa, e contra esse abuso, Paulo agora fazia objeção firme.
A Fidelidade
1. Essa deveria ser
uma das características essenciais de todos os crentes professos (ver Efé. 1:1
e Apo. 17:14).
2. A fidelidade se
exibe no serviço prestado (ver Mat. 24:45), e na pregação da Palavra (ver II
Cor. 2:17).
3. Deveria ser tão
geral que incluísse todas as coisas (ver I Tim. 3:11).
4. Não pode haver
período de férias no campo da fidelidade (ver Apo. 2:10).
5. Ela redunda em uma
espécie notável de bem-aventurança (ver Mat. 24:45,46).
6. Consideremos o
exemplo de Paulo (ver Atos 20:20,27). «...ministros...» Paulo substitui aqui o
termo grego mais comum, «diakonos» pelo vocábulo grego «uperetes».
Originalmente, essa palavra indicava aqueles que manuseavam a fileira de remos
mais inferior de uma trirreme; em seguida veio a significar qualquer pessoa que
serve subordinada a outra, um «servo», um «assistente», um «ajudante». O trecho
de Luc. 1:2 aplica esse termo grego a qualquer tipo de serviço em que esteja envolvida
a «Palavra de Deus». Em tempos posteriores, esse vocábulo passou a ser usado em
um sentido técnico, no vocabulário eclesiástico, a fim de denotar os
«subdiáconos». Mediante o uso dessa palavra, pois, o apóstolo dos gentios
assume sua correta posição como servo de Jesus Cristo. Ele não exalta a si
mesmo, como se exigisse ser respeitado devido aos seus próprios méritos; não
obstante, não é coisa de pouca monta ser um homem um verdadeiro ministro do
grande Rei, o Senhor Jesus Cristo. Tais ministros requerem um respeito
verdadeiro da parte daqueles para quem ministram.
«...despenseiros...»
é tradução do vocábulo grego «oikonomos» (derivado de «oikos», casa, e «nemo»,
distribuir, determinar), que indica alguém que tinha por função controlar uma
casa, determinando a cada qual, os seus deveres específicos. Eram os
despenseiros quem controlavam o dispêndio de dinheiro, a compra dos suprimentos
e a distribuição dos bens, dentro da casa. Essa palavra também indicava alguém
que geria os negócios externos de uma casa; razão também pela qual era aplicada
aos oficiais administradores do governo, que manuseavam os fundos públicos e conduziam
os negócios em geral do império. Na sociedade antiga, o «gerente» de uma casa,
em relação ao seu senhor, era apenas um escravo.
Por essa razão é que
era frequente que escravos de alguma habilidade fossem selecionados para essa
tarefa. Perante os demais escravos, entretanto, tal homem possuía elevada
posição aos olhos dos quais ele era o «superintendente» ou «chefe» de todas as
operações. (Ver Luc.. 12:42 e Mat. 20:8).
No terreno das
realidades espirituais, Deus ou Jesus Cristo é quem aparece como o grande
Senhor (ver I Cor. 3:23), e a casa cristã é a igreja (ver I Tim. 3:15). Os
«despenseiros» ou superintendentes estavam encarregados da distribuição dos
«mistérios de De'is». Em termos gerais, esses mistérios são as verdades
bíblicas que os pregaoores deveriam ensinar. Sendo assim comissionados para
ensinarem as verdades divinas, exigiam o respeito de todos os membros da
comunidade cristã. Entre o Senhor e os despenseiros permanecia ainda o Filho
(ver I Cor. 15:25 e Heb. 3:6), e todos os «ajudantes» são seus ministros e
despenseiros. E esses despenseiros são «distribuidores da graça divina», da
mensagem da verdade.
«...mistérios...» (Ver
as notas expositivas sobre I Cor. 2:7, acerca desse tema; e então sobre Rom.
11:25, onde se expõe o sumário de todos os «mistérios do N.T.»). Paulo alude
aqui aos cultos misteriosos, ou, pelo menos, aos primórdios de tal atividade na
igreja cristã, introduzida principalmente através do gnosticismo. Os gnósticos
contavam com os seus mistérios, suas verdades supostamente divinas mas ocultas,
e das quais somente uma elite, os iniciados, podiam saber e entender. (Ver Rom.
11:25 e as notas expositivas ali existentes sobre os «cultos misteriosos». Ver
Col. 2:18, acerca do «gnosticismo»). Em contraste com essas supostas «verdades ocultas»,
os mistérios do N.T. são «segredos franqueados», coisas reveladas em Cristo,
por intermédio do seu Santo Espirito, e através da instrumentalidade dos servos
de Cristo, principalmente dos apóstolos, cujas revelações constituem o tema
mesmo do novo pacto.
A sabedoria humana,
que o apóstolo dos gentios vinha atacando coerentemente, desde, o princípio
desta epístola, conta com seus supostos mistérios profundos.
«...considerem...»
Essa palavra indica uma «estimativa razoável», extraída de princípios aprovados
de julgamento espiritual. (Comparar com os trechos de Rom. 6:11 e 12:1).
«Paulo tinha um
vivido senso da dignidade de sua posição como despenseiro de Deus, a qual lhe
fora dada pelo Senhor (ver Col. 1:25 e Efé. 1:10). O ministério da Palavra é
muito mais do que uma profissão ou negócio. É a própria chamada de Deus para a
gerência». (Robertson, in loc.).
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 57.
A Missão do Apóstolo
(4.1-5)
A missão de Paulo e
de todos os que foram chamados para pregar o evangelho foi construída sobre
quatro elementos: serviço, mordomia, fidelidade e sensibilidade aos juízos de
Deus. Embora todos estes elementos estejam relacionados, há diferença entre
eles.
a) Serviço (4.1).
Paulo e Apoio não deveriam ser considerados como líderes de evangelhos
diferentes. Ambos eram ministros de Cristo. A palavra ministros (hyperetas)
significa “servos”. Originalmente o termo se referia a remadores que ajudavam a
impulsionar barcos através das águas do mar. A palavra sugere a labuta e o
trabalho contínuo envolvido na obra do evangelho.
b) Mordomia (4.1).
Paulo e Apoio também eram despenseiros dos mistérios de Deus. Um despenseiro
(oikonomos) era literalmente o “administrador de uma casa”. Freqüentemente ele
era um escravo respeitado e eficiente a quem o negociante ou o dono da terra
havia entregue a administração da propriedade. Como tal, o despenseiro tinha
autoridade sobre os ajudantes ou empregados. Ele atribuía trabalho e distribuía
mantimentos. Ele era o superintendente sobre a operação de todo o
empreendimento. Contudo, ele estava sempre ciente de que era um escravo, e
estava sob a obrigação de iniciar e executar a vontade do proprietário.
O termo mistérios se
refere a todo o plano da salvação (cf. o comentário sobre 2.7). Paulo e Apoio
não possuíam qualquer conhecimento secreto escondido de todos, exceto de alguns
escolhidos. Eles eram mestres e pregadores da verdade revelada sobre a salvação
em Jesus Cristo e através dele.
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 8. pag. 267.
Paulo, apesar das
condições que sabia existirem em Corinto, precisa irromper num hino de
agradecimento. A ferida causada pelos corintianos ingratos foi grande, mas sua
ingratidão não acabou com a gratidão de Paulo.”4) O modo como Paulo lida com o
caso é, incidentalmente, um belo exemplo da fé do amor em todas as coisas. Pois
esteve certo que a violação que se achava na congregação de Corinto não
representava o que eram as suas personalidades espirituais, e que sua
admoestação de fato seria aceita. Foi por isso que ele se empenhou em sempre
dar graças a Deus, bendizendo e louvando Sua misericórdia, a respeito dos cristãos
de Corinto, por causa da graça de Deus que em Cristo Jesus lhes fora dada. Este
foi o motivo do seu contínuo dar graças. Eles, apesar de suas muitas fraquezas,
ainda eram cristãos. De Deus eles haviam recebido a graça, e ainda a tinham,
como um dom gracioso em Cristo Jesus, um dom que fora tornado possível por meio
dos méritos de Cristo em seu ofício vicário. “Este também é um tesouro
indescritível do cristão, que ele tem como certa, antes de tudo, a Palavra de
Deus que é a palavra da graça e conforto eterno, batismo, o sacramento, a
compreensão dos dez mandamentos e da fé, e, além disso, também um refúgio e uma
certeza certa que Ele, quando em angústia o invocamos, nos ouvirá.”)
Agora o apóstolo mostra
a maneira em que a graça de Deus concedeu provas práticas de seu poder
vivificante nos corações dos cristãos de Corinto: Que Nele vós fostes
enriquecidos, abundantemente abençoados em todos os pontos, a saber, em toda
palavra e em todo o conhecimento, que significa, em toda doutrina e em todo o
entendimento. “É isto o que Paulo chama ‘ser rico’, primeiro ‘em toda doutrina
ou saber,’ que é a sublime compreensão espiritual da palavra que diz respeito à
vida eterna, isto é, o conforto da fé em Cristo; também sobre a invocação e
oração a Ele. E ‘em todo o conhecimento,’ isto é, conhecimento e distinção
corretos de toda vida física externa e da existência sobre a terra.”6) Haviam
chegado a conhecer o caminho da vida eterna, haviam sido enchidos com as
riquezas da certeza da graça de Deus, e estavam ricos em todo o conhecimento,
haviam alcançado um discernimento da verdade da doutrina de Deus em sua aplicação
à vida diária, às suas necessidades em todas as condições da vida. E a
abundância deste conhecimento
e desta compreensão que havia neles foi em proporção da sua aceitação da
verdade do evangelho: Assim como, ou, viso que, o testemunho de Cristo foi em
vós confirmado. O testemunho de Cristo, as boas novas de Deus sobre Seu Filho,
“a verdade firmemente estabelecida da mensagem” da salvação, lhes fora tornada
certa. Haviam-se fixado, haviam permanecido firmes na verdade, seus corações
haviam sido fundamentados, Hb. 13. 9, estavam certos de sua realidade.
Assim como então,
também hoje este estabelecimento no testemunho de Cristo é algo que sua graça realiza,
um objetivo de oração, e uma causa para gratidão.
Outro resultado deste
dom da graça e do estabelecimento sólido do evangelho: Assim que já não sois
mais deficientes em qualquer dom. Os cristãos de Corinto não tinham falta, não
sentiam a deficiência, de qualquer dom da graça de que precisassem para a
edificação, ou por meio do qual eram qualificados para o trabalho do Senhor por
meio de instrução, de exortação, de governo, de serviço. Nenhuma congregação
dos dias antigos excedeu a de Corinto na variedade de suas dotações e na
satisfação que sentiram, cap. 12. 7-11. os cristãos desta cidade gentia
estiveram de posse de tão ricas dotações, enquanto ansiosamente esperavam a
vinda, a final revelação, do Senhor Jesus Cristo. Receberam a rica dotação dos
dons da graça e os usaram em benefício da obra de Cristo, mas, ao mesmo tempo,
seus corações voltavam em ansiosa antecipação de sua final redenção, Fp. 3. 20;
Tt. 2. 13; 2.Pe. 3. 12. É assim que o coração de cada cristão está cheio de saudade
pelas mansões lá do alto. Mas é exatamente este mesmo fato que o leva a
trabalhar em favor do Mestre enquanto é dia, ou seja, usar todos os seus dons e
suas habilidades em favor de seu Senhor. Enquanto isto ele sabe que Cristo o Senhor
nos confirmará, estabelecerá, até o fim, ao fim do mundo, caso este estiver tão
próximo, ou ao fim de nossa vida, caso o Senhor nos chamar para casa antes de
Seu último grande dia. Mas, não importando quando o dia há de vir, ele nos estabelecerá
para que sejamos inculpáveis, para que não sejamos mais culpados e sob a condenação,
Rm. 8. 33, 34. Esta irrepreensibilidade dos cristãos não consiste em quaisquer
méritos da parte deles, mas no fato que a justiça de Cristo lhes é imputada
pela fé, Fp. 3. 9. A razão para a aceitação de cada cristão por Deus e, desta
forma, só colocada no lado de Deus e de Cristo, e é feita a promessa, com uma
certeza absolutamente certa, que ela será a base duma feliz esperança, Jo. 10. 27,
28.
O motivo final e mais
profundo para Paulo ter esta esperança pela salvação dos cristãos de Corinto é
a fidelidade de Deus: Deus é fiel, por quem sois escolhidos à comunhão de Seu
Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor. Nossa esperança da vida eterna se baseia
sobre a promessa de Deus, que não pode mentir, Tt. 1. 2. A nossa eleição à
comunhão de Seu Filho, Jesus Cristo, ou seja, o fato que por Ele fomos trazidos
à fé e temos assim sido unidos com Ele nesta maravilhosa união espiritual de
membros de seu corpo, é o penhor que ele nos deu que nossa salvação está firme
em suas mãos. Cristo não é ninguém menos do que o Primogênito dentre muitos
irmãos, e nós somos com Ele co-herdeiros das bênçãos da vida eterna. Contudo,
visto que ele é também o nosso exaltado Senhor, nossa comunhão com Ele nos
investe de Sua atual grandeza e certifica a manifestação de sua glória em nós.
Desta forma a fé do cristão não alguma esperança vaga e incerta, mas se baseia
sobre o fato que recebeu a garantia da final consumação de suas esperanças. “Aquilo
que Cristo começou em nós, e o que Ele já nos deu , nisso Ele certamente vos
conservará até o fim e por toda a eternidade, caso vós não cairdes
voluntariamente dela e a lançais de vós; pois Sua palavra e promessa, que vos
foram dados, e Sua obra, que Ele realiza em vós, não é mutável como o são a
palavra e a obra das pessoas, mas firme, certa e uma verdade divinamente
inamovível. Então, visto que tendes uma tal vocação divina, consolai-vos nela e
apegai-vos firmemente nela.”) “Testifica outrossim a Santa Escritura que Deus,
o qual nos chamou, é tão fiel que, quando ‘começou boa obra em nós’, há de
conservá-la também até ao fim e completá-la, se nós mesmos não nos desviarmos
deles, mas guardarmos firme até o fim a obra principiada, para o que ele
prometeu sua graça.”)
KRETZMANN.
Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo
Testamento Editora Concordia Publishing House.
Ef 2.19. Por meio da
conversão, os efésios têm o mesmo acesso a Deus que os judeus, e pelo mesmo
Espírito, o apóstolo diz: “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros”
(v. 19). Isso ele menciona em contraste com o que tinha observado deles no seu
paganismo: eles já não eram mais separados da comunidade de Israel. Os judeus
estavam acostumados a considerar todas as outras nações da terra estrangeiros
para Deus, mas agora eles também eram “...concidadãos dos Santos e da família
de Deus”, isto é, membros da igreja de Cristo, e tendo direito a todos os
privilégios dela. Observe aqui: A igreja é comparada a uma cidade, e cada
pecador convertido está livre do seu pecado. Ela também é comparada a uma casa,
e cada pecador convertido faz parte dela, é membro da família, servo e filho na
casa de Deus.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 585.
Ef 2.19 O reconquistado
acesso a Deus para os que antes estavam longe acarreta uma consequência
significativa: “Logo já não sois estrangeiros e peregrinos”.
Em Gn 23.4 (cf.
também Gn 24.37; Sl 39.12) Abraão se classifica como “forasteiro e ocupante” em
Canaã, a terra da promessa. Essa formulação é interpretada em Hb 11.13 com
vistas à trajetória da fé: os patriarcas estavam a caminho da celestial terra
da promessa (Cf. Hb 11.14ss). Do mesmo modo os cristãos são “estrangeiros e
peregrinos” (1Pe 1.1; 2.11), porque não têm neste mundo “cidade permanente,
porém buscam a que há de vir” (Hb 13.14). Por essa razão seu modo de vida
também precisa corresponder a essa situação básica: não devem prender-se de
forma definitiva a coisas desta vida, mas “ter como se não tivessem” (1Co
7.29ss).
A locução dupla
“estrangeiros e peregrinos” adquire mais um sentido em relação à posição de
gentios e judeus cristãos. Enquanto os gentios estavam “naquele tempo…
alienados da comunidade da promessa” (Ef 2.12), porque eram mantidos afastados
do Deus de Israel pela cerca da lei, essa situação foi eliminada e radicalmente
alterada em Cristo: são agora “concidadãos dos santos e familiares de Deus”.
Isso não significa
que os gentios cristãos sejam incorporados à “cidadania de Israel” (em grego:
politeia; Ef 2.12) como “concidadãos” (em grego: sympolitai). A “comunidade” da
igreja gerada em Cristo é uma criação completamente nova, na qual são acolhidos
adeptos tanto judeus como gentios. Por um lado, é totalmente incorreto pensar
que a atuação de Cristo praticamente suspendeu a história de Deus com seu povo,
tornando-a nula, ou seja, que a igreja substituiu Israel sem compensação. Para
qualquer pensamento nessa direção vale a admoestadora recordação de Paulo:
“sabe que não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz, a ti”, o ramo de oliveira
outrora brava, mas agora enxertada (Rm 11.17s). Por outro lado, essa situação
na história da salvação de Israel não propicia aos membros do povo da aliança
veterotestamentária uma posição especial, na qual pudessem trilhar um caminho
singular à parte da fé em Jesus Cristo. Os “santos”, cujos “concidadãos” os
destinatários da carta se tornaram, não são formados nem por judeus nem por
judeus cristãos, mas por todos os crentes que já integram a igreja de Jesus
Cristo.
Como essa cidade (grego:
polis) de Deus é celestial (cf. Hb 12.22), o direito de cidadania (grego:
politeuma) também está no céu (Fp 3.20). É a herança (Ef 1.14,18), da qual os
cristãos já participam em Jesus Cristo (Ef 2.6).
Com a ilustração da
cidade (“concidadãos”) está associada a metáfora da casa: “familiares de Deus”.
A igreja é “casa espiritual” (1Pe 2.5; cf. 4.17), à qual pertencem “familiares
da fé” (Gl 6.10).
Eberhard
Hahn. Comentário Esperança Efésios. Editora
Evangélica Esperança.
Ef 4.19. O estudo da
unidade de todos os cristãos “em um Espírito” receberá ênfase e será
desenvolvido no capítulo quatro, mas aqui o apóstolo volta-se especificamente
para os gentios a fim de prosseguir tratando da mudança operada em sua
situação, Antes eles estavam “separados da comunidade de Israel” (v. 12). Em
relação ao povo da aliança de Deus, eram estrangeiros e peregrinos (xenoi e paroikoi),
isto é, pessoas que ainda que vivessem no mesmo país, tenham contudo os mais
superficiais direitos de cidadania. Essa era sua situação anterior, mas de
agora em diante já não o é. No dizer do apóstolo, agora são concidadãos dos
santos. Ele deve ter pensado nos santos do Antigo Testamento, ou nos membros da
Igreja Cristã, aos quais a palavra se aplica (veja comentário sobre 1:1);
provavelmente pensou naqueles que, em todos os sentidos, podiam ser chamados
povo de Deus, e assim disse aos gentios que eles agora estavam incluídos entre
os santos, e em igualdade de condições.
Cidadania do povo de
Deus, eis um modo expressivo de estabelecer a verdadeira posição que judeus e
gentios igualmente partilhavam com Deus e entre si. Mas essa ilustração conduz
a uma outra verdade mais profunda, qual seja a intimidade maior que os cristãos
têm com Deus, e também uns com os outros. Judeus e gentios, homens de quaisquer
raças, cores ou posições, estão juntos na família de Deus, na mesma família.
Gálatas 4:10 usa a mesma palavra oikeioi para falar da “família da fé”. Embora
tal palavra não seja perfeita para expressar completamente a verdade de serem
todos “filhos de Deus, mediante a fé em Cristo Jesus” (G1 3:26; e veja também o
comentário sobre 1:5), ainda assim o pensamento se refere mais a pessoas da
casa, do que ao edifício em si (Hb 3:2, 5; 1 Pe 4:17).
Francis
Foulkes. Efésios. Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 72-73.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva.
QUE DEUS O ABENÇOE IRMÃO POIS POSTO SUAS LIÇÕES NA MINHA PAGINA ,POIS E MUITO IMPORTANTE APRENDERMOS,E A ESCOLA DOMINICAL E REALMENTE UMA ESCOLA BÍBLICA PRA NOS,DEUS CONTINUE A LHE DAR SABEDORIA
ResponderExcluir