DONS DE REVELAÇÃO
Data:
20 de AbriI de 2014 HINOS
SUGERIDOS: 155; 387; 441.
TEXTO ÁUREO
"Que
fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem
doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para
edificação (I Co 14,26).
VERDADE PRATICA
Os
dons de revelação divina são indispensáveis à igreja da atualidade, pois
vivemos em um tempo marcado pelo engano.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - 1 Rs 4-29-31 Sabedoria concedida por Deus
Terça - 2 Rs 6.8-12 Deus revela o oculto
Quarta - 1 Co 12-8 Sabedoria e ciência
Quinta - Mt 2.12 Proteção por divina revelação
Sexta - Ef 1.17 Espírito de sabedoria e revelação
Sábado - Ap 1.1 A revelação de Jesus Cristo
LEITURA BÍBLICA EM
CLASSE
1
Coríntios 12.8,10; Atos 6.8-10; Daniel 2.19-22
1
Coríntios 12
8
- Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo
mesmo Espírito, a palavra da ciência;
10
- e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o dom
de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a
interpretação das línguas.
Atos
6
8
- E Estêvão, cheio de fé e de poder; fazia prodígios e grandes sinais entre o
povo.
9
- E levantaram-se alguns que eram da sinagoga chamada dos Libertos, e dos
cireneus, e dos alexandrinos, e dos que eram da Cilicia e da Ásia, e disputavam
com Estêvão.
10
- E não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava.
Daniel
2
19
- Então foi revelado o segredo a Daniel numa visão de noite; e Daniel louvou o
Deus do céu.
20
- Falou Daniel e disse: Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre, porque
dele é a sabedoria e a força;
21
- ele muda os tempos e as horas; ele remove os reis e estabelece os reis; ele
dá sabedoria aos sábios e ciência aos inteligentes.
pq
22 - Ele revela o profundo e o escondido e conhece o que está em trevas; e com
ele mora a luz.
INTERAÇÃO
Prezado
professor; nesta lição estudaremos a respeito dos dons de revelação. Estes dons
são concedidos à Igreja a fim de que ela seja edificada. Estamos vivendo “tempos
trabalhosos", necessitamos da sabedoria que vem do alto, do poder de Deus.
Durante o preparo da lição, ore, peça que o Senhor conceda aos seus alunos os
dons de revelação. Siga o exemplo de Paulo, pois sua oração em favor dos
crentes de Éfeso era: “Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da
glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação"
(Ef 1.17). Deus deseja nos outorgar os dons de revelação, a fim de que sejamos
edificados e jamais venhamos a cair nas astutas ciladas do Maligno.
OBJETIVOS
Após
esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Analisar
o dom da palavra da sabedoria.
Compreender
o dom da palavra da ciência.
Saber
a respeito do dom de discernimento dos espíritos.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Professor,
reproduza no quadro o esquema da página ao lado. Utilize-o para introduzir a
lição, pois a partir desta lição estudaremos, detalhadamente os dons, então é
importante que os alunos conheçam a classificação geral dos nove dons descritos
no capitulo 1 2 de 1 Coríntios. Ao explicar o quadro, ressalte a semelhança que
existe entre os respectivos dons. Conclua explicando que todos os dons,
independentemente da sua classificação, são importantes e necessários para a
edificação do Corpo de Cristo.
PALAVRA-CHAVE
Revelação: Ato pelo qual Deus revela aos homens os seus
mistérios, sua vontade.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
O
teólogo pentecostal Stanley Horton afirma que “a maioria dos estudiosos
classifica os dons de 1 Coríntios 12.8-10 em três categorias: revelação, podere
expressão, [tendo] três dons em cada categoria". Na lição desta semana
estudaremos a respeito dos dons da “primeira categoria”: os de revelação. Estes
são concedidos aos servos de Deus para o aconselhamento e orientação da Igreja
do Senhor.
I -
PALAVRA DA SABEDORIA
1. Conceito. O termo palavra
exprime uma manifestação verbal ou escrita. Segundo o Dicionário Eletrônico
Houaiss, sabedoria significa “discernimento inspirado nas coisas sobrenaturais
e humanas”. A sabedoria abordada pelo apóstolo Paulo em 1 Coríntios 12.8a
refere-se a uma capacitação divina sobrenatural para tomada de decisões sábias
e em circunstâncias extremas e difíceis. De acordo com Estevam Ângelo de Souza,
“a palavra da sabedoria é a sabedoria de Deus, ou, mais especificamente, um
fragmento da sabedoria divina, que nos é dada por meios sobrenaturais”.
2. A Bíblia e a
palavra de sabedoria.
Embora na Antiga Aliança os dons espirituais não fossem plena e claramente
evidenciados como na Nova, alguns episódios do Antigo Testamento vislumbram o
quanto Deus conferia aos homens sabedoria do alto para executar tarefas ou
tomar decisões. Um exemplo disso é a revelação e a interpretação dos sonhos de
Faraó através de José, o filho de Jacó (Gn 41.14-41). Ele não apenas
interpretou os sonhos de Faraó, mas trouxe orientações sábias para que o Egito
se preparasse para o período de fome que estava para vir. A habilidade do rei
Salomão em resolver causas complexas, igualmente, é um admirável exemplo de dom
da sabedoria no Antigo Testamento (1 Rs 3.16-28; 4.29-34).
Em
o Novo Testamento podemos tomar como exemplo de palavra da sabedoria a
exposição da Escritura realizada pelo diácono e primeiro mártir cristão,
Estevão.
O
livro de Atos conta-nos que os sábios da sinagoga, chamada dos Libertos, “não
podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava” (At 6.9,1 0).
3. Uma liderança
sábia.
A palavra de sabedoria é de grande valor na tarefa do aconselhamento pessoal e
em situações que demandam uma orientação no exercício do ministério pastoral
Entretanto, tenhamos cuidado para não confundir a manifestação desse dom com o
nosso desejo pessoal, Lembremo-nos de que Deus manifesta os dons em nossas
vidas segundo o conselho da sua sabedoria, não da nossa. Tenhamos maturidade e
cuidado no uso dos dons!
SINOPSE
DO TÓPICO (1)
A
sabedoria a que se refere 1 Coríntios 1 2.8 não é a humana, adquirida mediante
os livros ou nas universidades, mas sim uma capacidade sobrenatural, divina,
para tomar decisões sábias em circunstâncias extremante difíceis.
II -
PALAVRA DA CIÊNCIA
1- O que é? Este dom muito se
relaciona ao ensino das verdades da Palavra de Deus, fruto do resultado da
iluminação do Espírito acerca das revelações dos mistérios de Deus conforme
aborda Stanley Norton, em sua Teologia Sistemática (CPAD). Este dom também se
relaciona à capacidade sobrenatural concedida pelo Espírito Santo ao crente
para este conhecer fatos e circunstâncias ocultas.
2. Sua função. O dom da palavra da
ciência não visa servir a propósitos triviais, como o de descobrir o
significado dos tecidos do Tabernáculo ou a identidade da mulher de Caim, etc.
isto é mera curiosidade humana, e o dom de Deus não foi dado para satisfazê-la.
A manifestação sobrenatural deste dom tem a finalidade de preservar a vida da
igreja, livrando-a de qualquer engano ou artimanha do maligno.
3. Exemplos bíblicos
da palavra da ciência. Ao profeta Eliseu foram revelados os planos de guerra do
rei da Síria. Quando o rei sírio pensou em atacar o exército de Israel,
surpreendendo-o em determinado lugar, o profeta alertou o rei de Israel sobre
os planos inimigos (2 Rs 6.8-12). Outro exemplo foi a revelação de Daniel
acerca do sonho de Nabucodonosor, quando Deus descortinou a história dos
grandes impérios mundiais ao profeta (Dn 2.2,3; 17- 19). Em o Novo Testamento,
esse dom foi manifesto quando o apóstolo Pedro desmascarou a mentira de Ananias
e Safira (At 5.1-11). O dom da palavra da ciência não é adivinhação, mas
conhecimento, concedido sobrenaturalmente, da parte de Deus.
SINOPSE
DO TÓPICO (2)
O
dom da palavra da ciência não é para servir a propósitos triviais. A
manifestação sobrenatural deste dom tem a finalidade de preservar a vida da
igreja, livrando-a de qualquer engano ou artimanha do maligno.
III -
DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS
1. O dom de discernir
os espíritos.
É uma capacidade sobrenatural dada por Deus ao crente para discernir a origem e
a natureza das manifestações espirituais. De acordo com o termo grego
diakrisis, a palavra discernir significa “julgar através de”; “distinguir”. Ela
denota o sentido de “se penetrar da superfície, desmascarando e descobrindo a
verdadeira fonte dos motivos”. Stanley Horton afirma que este dom “envolve uma
percepção capaz de distinguir espíritos, cuja preocupação á proteger-nos dos
ataques de Satanás e dos espíritos malignos” (cf. 1 Jo4.1).
2. As fontes das manifestações
espirituais.
Ao longo das Escrituras podemos destacar três origens das manifestações
espirituais no mundo: Deus, o homem e o Diabo. Uma profecia, por exemplo, pode
ser fruto da ordem divina ou da mente humana ou ainda de origem maligna. Como saber?
Aqui, o dom de discernir os espíritos tem o papel essencial de preservar a
saúde espiritual da congregação. Segundo nos ensina o pastor Estevam Ângelo, o
“discernimento de espíritos não é habilidade para descobriras faltas alheias”.
O dom não é uma permissão para julgar a vida dos outros.
3. Discernindo as
manifestações espirituais. A Palavra de Deus nos ensina que os espíritos devem ser
provados (1 Jo 4,1). Toda palavra que ouvimos em nome de Deus deve passar peio
crivo das Sagradas Escrituras, pois o Senhor Jesus nos advertiu sobre os falsos
profetas. Ele ensinou-nos que os falsos profetas são conhecidos pelos “frutos
que produzem”, isto é, pelo caráter (Mt 7.15-20). Jesus conhece o segredo do
coração humano, mas nós não, e por isso precisamos do Espírito Santo para
revelar-nos a verdadeira motivação daqueles que falam em nome do Senhor. O
apóstolo João nos advertiu acerca do “espírito do anticristo” que já opera
neste mundo (1 Jo 4.3).
SINOPSE
DO TÓPICO (3)
O
dom de discernimento dos espíritos é uma capacidade sobrenatural dada por Deus
ao crente para discernir a origem e a natureza das manifestações espirituais.
CONCLUSÃO
A
Igreja de Jesus necessita dos dons de revelação para discernir entre o certo e
o errado, entre o legítimo e o falso. Os falaciosos ensinos e as manifestações
malignas podem ser desmascarados pelo dom do discernimento dos espíritos. Que
Deus conceda à sua igreja dons de revelação para não cairmos nas astutas
ciladas do Maligno.
CLASSIFICAÇÃO GERAL DOS DONS - 1 Co 12
DONS DE
REVELAÇÃO DONS DE PODER DONS DE ELOCUÇÃO
Palavra da sabedoria Fé Profecia
Palavra do conhecimento Curar Variedade de línguas
Discernimento de
espíritos Operação de milagres Interpretação de línguas
Extraído
de Nos Domínios do Espírito, CPAD p. 131.
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO
I
Subsídio
Teológico
“Uma
Palavra de Sabedoria
Trata-se
de uma palavra (uma proclamação, uma declaração) de sabedoria dada para
satisfazer a necessidade de alguma ocasião [...]. Não depende da capacidade
humana nem da sabedoria natural, pois é uma revelação do conselho divino.
Mediante esse dom, a percepção sobrenatural, tanto da necessidade como da
Palavra de Deus, traz a aplicação prática daquela Palavra [...] ao problema do
momento.
Porque
é uma palavra de sabedoria, fica claro que é concedida apenas o suficiente para
aquela necessidade. Este dom não nos enaltece para um novo nível de sabedoria,
nem nos torna impossibilitados de cometer enganos. [...]. Às vezes, este dom
transmite uma palavra de sabedoria para orientar a Igreja, assim como em Atos
6*2- 4; 15.13-21. É possível, também, que cumpra a promessa dada por Jesus, que
daria ‘boca de sabedoria a quem não poderão resistir nem contradizer todos
quantos se vos opuserem’ (Lc 21.15). A prova de que Jesus falava em um dom
sobrenatural (a palavra de sabedoria) é comprovada, quando proibiu a
premeditação do que diriam nas sinagogas ou diante dos tribunais (Lc 21.13,14).
Isso certamente foi cumprido pelos apóstolos e por Estêvão (At 8.4-14,19-21,
6,9,10)” (HORTON, Stanley M. A Doutrina
do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. 12.ed. Rio de Janeiro: CPAD,
2012, p.294).
AUXILIO BIBLIOGRÁFICO
II
Subsídio
Teológico ‘Discernimento de espíritos
A
expressão inteira, no grego, apresenta-se no plural. Este fato indica uma
variedade de maneiras na manifestação desse dom. Por ser mencionado
imediatamente após a profecia, muitos estudiosos o entendem como um dom
paralelo responsável por ‘julgar’ as profecias (1 Co 14.29). Envolve uma
percepção capaz de distinguir espíritos, cuja preocupação é proteger-nos dos
ataques de Satanás e dos espíritos malignos (cf. 1 Jo 4.1). O discernimento nos
permite pregar a Palavra de Deus e todos os demais dons para liberar o campo à
proclamação plena do Evangelho" (HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: Uma perspectiva pentecostal. l. ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 1996, p.475).
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
SOUZA,
Estevam Ângelo de. Nos Domínios do
Espírito. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1987.
HORTON,
Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo
no Antigo e Novo Testamento. 12. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
SAIBA
MAIS
EXERCÍCIOS
1,
De acordo com a lição, defina sabedoria.
R:
Discernimento
inspirado nas coisas sobrenaturais e humanas.
2.
Cite dois exemplos de sabedoria vinda de Deus no Antigo Testamento.
R:
José e Salomão.
3.
O que é o dom da palavra da ciência?
R:
Este dom se relaciona ao ensino das verdades da Palavra de Deus, fruto do
resultado da iluminação do Espírito acerca das revelações dos mistérios de
Deus.
4.
Qual é a função do dom da 1 palavra da ciência?
R:
Preservar a vida da igreja, livrando-a de qualquer engano ou artimanha do
Maligno.
5.
Segundo a lição, defina o dom de discernimento dos espíritos.
R:
É uma capacidade sobrenatural dada por Deus ao crente para discernir a origem e
a natureza das manifestações espirituais.
Revista
Ensinador Cristão CPAD, n° 58, p.37.
Os
dons são capacidades inatas, adquiridas, ou é algo que vem direto de Deus?
Segundo Stanley Horton, "os dons são encarnacionais. Isto é, Deus opera
através dos seres humanos". Logo, são capacidades sobrenaturais vinda
d'Ele por intermédio do Espírito Santo. Deus colocou à disposição da igreja
muitos dons e todos são extremamente úteis para a edificação e exortação dos
crentes.
Para
melhor estudar o assunto, os dons foram divididos em três categorias: dons de
revelação, de elocução e de poder. Nesta lição estudaremos os dons de
revelação: palavra de sabedoria, palavra do conhecimento e discernimento de
espíritos.
Palavra de Sabedoria
O
que seria este dom? "Sabedoria" no grego é shophia e segundo o
Dicionário Bíblico Beacon quer dizer "julgamento de Deus diante das
demandas feitas pelo homem, especificamente pela vida cristã". Esta
sabedoria não é o resultado da capacidade cognitiva humana.
A
sabedoria aqui é uma capacidade divina de julgar as questões práticas do nosso
dia a dia de maneira que o nome do Senhor seja exaltado. Todo crente é exortado
a buscarem Deus a sabedoria (Tg 1.5). Neste texto, segundo a Bíblia de Estudo
Aplicação Pessoal, Tiago está falando a respeito da "habilidade de tomar
decisões em circunstâncias difíceis". Logo, também não diz respeito ao
conhecimento adquirido pelo homem. Muitos homens são dotados de grande
capacidade intelectual, mas infelizmente desconhecem a Deus.
Sabedoria divina x
sabedoria humana
Em
1 Coríntios 2.6, Paulo faz uma comparação, mostrando à igreja em Corinto a
diferença entre a sabedoria humana e a espiritual. Paulo mostra que a razão
humana não pode levar o homem à redenção dos seus pecados. Somos redimidos pela
fé em Cristo. A fé salvifica é um dom divino. O homem que não aceita Cristo
como Salvador não pode compreender a sabedoria de Deus revelada em Jesus.
Dom da Palavra de
Sabedoria
De
acordo com Estevam Ângelo de Souza, "a palavra de sabedoria é a sabedoria
de Deus ou, mais especificamente, um fragmento da sabedoria divina, que é dada
por meios sobrenaturais". É uma capacidade vinda diretamente de Deus,
mediante a ação direta do Espírito Santo em nossas vidas. A liderança, bem como
todos aqueles que querem servir à Igreja de Cristo, deve buscar este dom a fim de
administrar e servir com excelência. A Bíblia nos mostra que os diáconos eram
homens cheios do Espírito Santo e que Estêvão, dispunha de tanta sabedoria, que
ninguém conseguia se sobrepor a ele durante a sua pregação (At 6.10).
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Os dons de revelação
constituem parte da revelação de Deus, concedida ao homem salvo, para que, por
eles, a “multiforme sabedoria” divina seja manifestada no meio da Igreja, e os
crentes em Jesus sejam protegidos das sutilezas do Adversário e das maquinações
humanas contra a fé cristã.
Sem a presença física
de Cristo, após sua Ascensão aos céus, os salvos, reunidos em igrejas locais,
precisam, de maneira indispensável, dos dons espirituais, tanto para cumprirem
a Missão confiada por Cristo, quanto para lutar e vencer “as hostes espirituais
da maldade nos lugares celestiais” (Ef 6.12). Sem eles, a igreja local não
passa de uma comunidade humana, uma associação religiosa, como um “vale de
ossos”, transformados em corpos com tecidos humanos, mas sem vida. Tem
estruturas humanas, ministeriais, denominacionais, intelectuais, políticas e
administrativas, mas não tem o poder de Deus em sua vida institucional. Os dons
espirituais propiciam a provisão divina para a igreja cumprir a sua missão,
concedida por Cristo, de proclamar o evangelho por todo o mundo e a toda a
criatura.
Dentre esses, os
chamados “dons de revelação” aparecem como categoria de grande valor e
necessidade, no meio das igrejas locais. No tempo de Paulo, havia confusões,
mistificações doutrinárias, ensinos heréticos e tantos outros tipos de
informações, que chegavam aos ouvidos dos crentes, que muitos se desviaram,
iludidos pelos “ventos de doutrina” (Ef 4.14). O gnosticismo ameaçava a
integridade da fé cristã. Os judaizantes queriam impor seus ensinos legalistas
e ultrapassados. A igreja precisava de recursos espirituais sobrenaturais para
não ser esmagada pelas heresias, muitas delas travestidas de verdades
absolutas. Só a revelação de Deus, manifestada de forma incisiva, poderia
evitar a derrocada do cristianismo.
E, nos dias
presentes, será que não há necessidade da revelação especial de Deus, através
de sua palavra e de dons ou carismas que façam a diferença, para que os
cristãos saibam discernir o “joio do trigo”? Certamente hoje, mais do que
nunca, a igreja de Jesus, em toda a parte, necessita desses recursos. Os dons
de revelação podem identificar a origem, os meios e os propósitos de muitas
falsas doutrinas que surgem a cada dia, no meio evangélico. Pela revelação
sobrenatural, pode-se desmascarar os falsos pastores, os “obreiros
fraudulentos”, “de torpe ganância”.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 31-32.
OS DONS ATUAM ATRAVÉS
DOS MEMBROS DA IGREJA DE CRISTO
Quanto à natureza dos
dons espirituais, há três posicionamentos teológicos:
1. Os dons
espirituais são capacidades meramente naturais.
Ou seja: são
inerentes ao ser humano como a poesia, a música ou a eloquência. Ora, se não
passam de dotes naturais, como podem eles ser tidos na conta de espirituais? Não
há aí uma contradição? Não está uma possibilidade a anular a outra?
2. Os dons
espirituais são básica e essencialmente sobrenaturais.
Neste caso, atuam
independentemente da anuência e da vontade humana, não passando nosso corpo de
um mero recipiente para a atuação dos dons. A Bíblia, porém, afirma estar o
espírito do profeta submisso ao profeta (1 Co 14.32).
3. Os dons atuam
através dos membros da Igreja de Cristo, quando estes colocam suas mentes,
corações e vontade, amorosa e voluntariamente, a serviço de Deus. Esta é a
forma como a Bíblia revela a natureza dos dons espirituais.
A atuação destes,
embora sobrenaturais, não anula de forma alguma a personalidade humana. Pelo
contrário: usa a de tal forma, a fim de que a sublimidade divina tenha em tudo
a preeminência.
Observemos,
outrossim, que, de acordo com o padrão de Atos dos Apóstolos e das experiências
pentecostais subsequentes, os dons espirituais ou nos são entregues quando recebemos
o batismo no Espírito Santo ou posteriormente a este; não antecedem nem são
conferidos independentemente do batismo no Espírito Santo.
Claudionor
Corrêa de Andrade. Fundamentos Bíblicos
De Um Autêntico Avivamento. Editora CPAD. pag. 109-110.
I -
PALAVRA DA SABEDORIA
1. Conceito.
Observação Ev. Henrique - Ainda que haja certa vinculação entre dom palavra de Sabedoria e a palavra do Conhecimento, há uma diferença básica entre ambos. Sabedoria é falar sobre o futuro e Conhecimento ou ciência é sobre presente.
Lembrando que o dom é uma manifestação sobrenatural sem aviso para acontecer, sem premeditação, sem haver ai alguma coisa da sabedoria do homem, pois é futuro - coisa que ainda não aconteceu.
A palavra da sabedoria. O ensino, a busca da orientação divina, o conselho e a luta com as necessidades práticas do governo e administração da igreja devem ser buscados, mas isso não é dom de Palavra de Sabedoria. Todos podemos e devemos pedir sabedoria a DEUS (Tg 1.5) e ELE conceder, mas isso não é dom de Palavra de Sabedoria.
Salomão não foi usado em Dom Palavra de Sabedoria, embora tenha recebido sabedoria de DEUS para governar. Se Salomão fosse usado pelo dom Palavra de Sabedoria não teria feito nenhum teste com as mulheres, mas dito imediatamente quem era a mãe verdadeira assim que colocou os olhos nelas.
É parte da sabedoria
de Deus, com a finalidade de propiciar entendimento, na ministração da palavra
ou pregação; é de grande valor na tarefa de aconselhamento, em situações que
demandam uma orientação sábia, notadamente no ministério pastoral. E de
fundamental importância no exercício da liderança, da administração
eclesiástica, na separação de obreiros, ultrapassando os limites do saber
intelectual ou humano. Jesus agradeceu ao Pai por essa revelação: “Naquela
mesma hora, se alegrou Jesus no Espírito Santo e disse: Graças te dou, ó Pai,
Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e
inteligentes e as revelaste às criancinhas; assim é, ó Pai, porque assim te
aprouve” (Lc 10.21).
“Esse dom
proporciona, pela operação do Espírito Santo, uma compreensão (cf. Ef 3.4) da
profundidade da sabedoria de Deus, ensinando a aplicá-la, seja no trabalho seja
nas decisões no serviço do Senhor, e a expô-la a outros, de modo a ser bem
entendida”. Quando os que dirigem a igreja local contam com esse dom, dispõem
de uma diversidade de serviços ou ministérios que dinamizam o trabalho da
igreja (1 Co 12.28) e a edificação da igreja é feita com sabedoria (1 Co 3.10).
Quando surgem problemas, no meio da congregação, as soluções são encontradas
com a ajuda do Espírito Santo (At 6.1-7; 15.11-21).
Paulo recebeu essa
visão, de que há uma sabedoria sublime, quando escreveu aos coríntios, dizendo:
“Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e
não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam.
Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as
coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do
homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as
coisas de Deus, senão o Espírito de Deus” (1 Co 2.9-11).
Essa sabedoria é de
altíssimo nível, e transcende os limites da sabedoria natural ou humana. Não se
adquire nas escolas seculares, nem também nas escolas teológicas ou
filosóficas. Ela é concedida por Deus, a quem Ele quer, visando atender à
necessidade da igreja, ou individual, de algum servo ou serva sua,
principalmente em ocasiões em que o saber natural é insuficiente para a tomada
de decisões, ou resoluções difíceis.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 33-34.
DOM DA PALAVRA DA
SABEDORIA.
Aqui é focalizada a
habilidade de compreender e de transmitir as coisas mais profundas do Espirito
de Deus de compreender os mistérios cristãos, como também a capacidade de
transmitir a outros esse conhecimento é provável que também esteja em foco a
aplicação da sabedoria a circunstancias particulares, em que são resolvidos problemas
difíceis, mediante a aplicação da sabedoria espiritual. Neste sentido, Salomão
era supremamente possuidor desse dom. Não há razão para pensarmos que o
«discernimento intuitivo», nos problemas da igreja e dos crentes individuais,
não esteja incluso nesse dom da sabedoria. O «discernimento» através de meios
espirituais está aqui em vista; e esse discernimento pode ter muitas
aplicações. Provavelmente esse dom se aproxima e se mistura até certo ponto ao
dom da profecia.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 2. Editora Hagnos. pag. 222.
Palavra da sabedoria
Este dom é uma palavra (uma proclamação,
uma declaração) de sabedoria, dada por Deus através da revelação do Espírito
Santo, para satisfazer a necessidade de solução urgente dum problema
particular. Não se deve confundi-lo, portanto, com a sabedoria num sentido
amplo e geral. Não depende da habilidade cultural humana de solucionar
problemas, pois é uma revelação do conselho divino. Nos domínios do ministério
cristão, este dom se aplica tanto ao ensino da doutrina bíblica, quanto à
solução de problemas em geral.
A manifestação deste dom pode ser
evidenciada no caso dum jovem que foi enviado a pastorear uma igreja onde havia
um seríssimo problema de discórdia, o qual vinha desafiando vários pastores que
por ali já haviam passado.
A igreja era formada por duas grandes
famílias que viviam em constantes litígios, problema que já se vinha arrastando
por vários anos. E, para resolver tão delicado assunto, o pastor entrou num
regime de oração e jejum, pedindo a Deus a necessária sabedoria para dar
solução ao caso. Foi assim que certo dia ele convocou uma reunião com a igreja,
disposto a ouvir as partes litigantes. Levantando-se o líder duma das famílias,
contou toda a sua história, e no final perguntou: “Pastor, nós temos ou não
temos razão?” ao que o pastor respondeu: “Sim, os irmãos têm razão”.
Levantou-se o líder da outra família, contou também a sua versão da história, e
no final perguntou também: “Pastor, nós temos ou não temos razão?” ao que o
pastor igualmente respondeu: “Sim, os irmãos têm razão.”
Nesse momento criou-se um tumulto, pois, já
que o pastor tinha dado razão a ambos os lados, o que se sentia era que a
disposição dele de solucionar tão grave problema iria terminar em fracasso. Mas
foi nesse momento que ele reassumiu o controle da situação, restabeleceu a
ordem no culto, e, tomando a palavra, disse:
“Irmãos, tenho-vos ouvido e dado razão a
ambos os lados. Tenho observado que este problema ainda não foi resolvido
exatamente porque ambos têm razão. Portanto, para que seja resolvido, façamos o
seguinte: uma família fica com a razão e a outra fica com Jesus. Qual de vocês
quer ficar com Jesus?” Como as duas famílias queriam ficar com Jesus, ambas
perderam a razão e se reconciliaram, e a paz foi restabelecida na igreja.
Outro exemplo da manifestação deste dom é
dado pelo saudoso escritor pentecostal Donald Gee, no seu livro “Acerca dos
Dons Espirituais”. Ele narra a história de certa moça, na Rússia, que num
domingo, quando ia assistir a um culto que se realizava ocultamente nas matas,
foi interceptada pela polícia. Em resposta às perguntas do guarda, a moça
respondeu que ia ouvir a leitura do testemunho de seu irmão mais velho. A
polícia deixou-a passar, desejando-lhe felicidade e que recebesse uma boa
porção da herança.
Ainda que haja certa vinculação entre este
dom e a palavra do conhecimento, há uma diferença básica entre ambos. Sabedoria
é a capacidade de raciocinar e de planejar com o uso do conhecimento e da
experiência já adquiridos.
A distinção entre palavra da sabedoria e
palavra do conhecimento, pode ser melhor explicada em face do seguinte
acontecimento:
Certa igreja estava reunida num dos seus
cultos habituais. Nem bem o culto havia começado, quando um dos mais simples
membros foi possuído por um sentimento de convicção de que se aquele culto não
fosse interrompido imediatamente, haveria de terminar em catástrofe. Ele
levantou-se, pediu a palavra ao dirigente e contou o que sentia. Como este irmão
era tido na conta dum crente de reconhecida piedade, o culto foi encerrado e a
casa evacuada o mais rápido possível. Minutos depois o templo caiu
desastrosamente.
Agradecidos a Deus por lhes ter preservado
a vida, os crentes se lançaram á construção dum novo templo. Mas, não demorou
muito para que esmorecessem e interrompessem a obra. Por mais que o pastor os
concitasse a continuar a construção, mais difícil ficava.
Num culto em que o pastor falava mais uma
vez da necessidade de se concluir a construção, aquele mesmo irmão, levantou-se
pedindo a palavra e começou a estimular os irmãos a continuar a construção do
templo. A certa altura, ele disse:
“Façamos de conta que todos nós tivéssemos
morridos sob as ruínas do templo que ruiu; quanto teríamos gasto pelo enterro
de cada um de nós?” Contabilizado quanto teria sido pago, disse ainda esse
simples irmão: “Irmãos, entreguemos aos cofres da igreja a importância que cada
um de nós teria gasto com o seu próprio funeral e esta obra será concluída!”
Naquele momento todos foram convencidos a fazer isso, e a construção foi
reiniciada e concluída em tempo recorde.
Na primeira parte da história vimos a
manifestação da palavra do conhecimento, e na segunda, a palavra da sabedoria.
Este dom é ferramenta indispensável para o
sucesso do ministro no exercício do seu ministério de aconselhamento, e na
solução de problemas espirituais, sociais e familiares dos membros em
particular, e da Igreja em geral.
Raimundo
F. de Oliveira. A Doutrina Pentecostal Hoje.
Editora CPAD.
A Palavra da
Sabedoria (12.8a)
O termo Palavra
significa alguma coisa dita ou falada. Sabedoria (sophia) quer dizer:
“Julgamento de Deus diante das demandas feitas pelo homem, especificamente pela
vida cristã”.15 E essa sabedoria prática que Tiago considera como sendo um dom
de Deus (Tg 1.5). Nesse sentido, “a sabedoria é a capacidade de aplicar nosso
conhecimento aos julgamentos ou à prática”.
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 8. pag. 335.
A palavra da
sabedoria. O ensino, a busca da orientação divina, o conselho e a luta com as
necessidades práticas do governo e administração da igreja podem oferecer
oportunidade para o dom de sabedoria. Mas este não deve ser limitado à adoração
na igreja ou às experiências na sala de aula. Ele ensina as pessoas a crescer
espiritualmente quando apli-cam seus esforços ao estudo da sabedoria e fazem
escolhas que levam à maturidade. Por si só, no entanto, o dom é uma mensagem,
proclamação ou declaração de sabedoria, não significa que os que ministram a
mensagem sejam necessariamente mais sábios que os outros.
Nossa fé não deve
depender de sabedoria humana (1 Co 2.5). Se nos faltar a sabedoria, somos
exortados a pedi-la a Deus (Tg 1.5). Jesus prometeu aos seus discípulos
"boca e sabedoria a que não poderão resistir, nem contradizer todos
quantos se vos opuserem" (Lc 21.15). Esta promessa refere-se a um dom sobrenatural,
pois assim demonstra o seu mandamento: "Proponde, pois, em vosso coração
não premeditar como haveis de responder" (Lc 21.14). Esse dom, portanto,
vai além da sabedoria e preparo humanos.
HORTON. Staleym. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva
Pentecostal. Editora CPAD.
2. A Bíblia e a palavra
de sabedoria.
No Antigo Testamento,
temos alguns exemplos marcantes dessa revelação da sabedoria de Deus. Vemos tal
sabedoria na construção do Tabernáculo (Êx 36.1,2).
José, filho de Jacó,
teve momentos especiais em sua vida, em que demonstrou ter a sabedoria
concedida por Deus, em situações extremamente significativas. Na prisão,
interpretou sonhos de servos de Faraó, os quais se cumpriram plenamente.
Chamado ao palácio real, diante de todos os sábios, adivinhos e conselheiros do
rei, interpretou os sonhos proféticos que Deus concedera ao monarca egípcio, e,
ainda por cima, deu instruções e consultoria gratuita sobre planejamento,
economia, contabilidade e finanças a Faraó. Se não fosse a sabedoria do
Espírito de Deus, jamais o jovem hebreu teria tamanha capacidade para
interpretar os misteriosos sonhos das vacas gordas e das vacas magras, e foi
elevado à posição de Governador do Egito (cf. Gn 41.14-41).
A proverbial
sabedoria de Salomão era, sem dúvida alguma, manifestação da sabedoria de Deus,
para a resolução de “causas impossíveis”. O caso das duas mulheres, que
disputavam a mesma criança demonstra tal capacidade, proveniente do Espírito de
Deus (1 Rs 3.16-28). Antes de desviar-se dos caminhos do Senhor, em sua
velhice, Salomão foi um exemplo como beneficiário da sublime sabedoria de Deus.
“E deu Deus a Salomão sabedoria, e muitíssimo entendimento, e largueza de
coração, como a areia que está na praia do mar. E era a sabedoria de Salomão
maior do que a sabedoria de todos os do Oriente e do que toda a sabedoria dos
egípcios” (1 Rs 4.29,30).
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 34-35.
Atos 6.9. Deus não
está amarrado a determinadas pessoas, nem mesmo quando lhes concedeu tarefas
extraordinárias. Nada o impede de atuar também por meio de outras pessoas.
Estêvão é autônomo também nos caminhos de sua evangelização. Em Jerusalém
havia, além do templo, as “sinagogas”. Nelas a Escritura (i. é, o “AT”) era
lida e explicada pelos escribas. No entanto, como sabemos fartamente da vida de
Jesus e da história de Paulo, na sinagoga todo israelita podia ler da Escritura
e comentar algo a respeito da leitura (cf. Mt 9.35; Lc 4.16-22; At 13.14-16;
17.2; 18.4; 19.8). Não nos surpreende que Estêvão faça uso desse direito, a fim
de levar a mensagem de Jesus também desse modo para dentro do povo. Ele próprio
era “helenista”, motivo pelo qual procurava as sinagogas helenistas de
Jerusalém. Não depreendemos com certeza das palavras de Lucas se ele tem em
mente cinco sinagogas diferentes ou apenas duas, de sorte que os “Libertos”
usavam a mesma sinagoga junto com os judeus de Cirene e Alexandria, enquanto os
da Cilícia e da província romana da “Ásia” (cf. acima o exposto sobre At 2.10)
tinham à disposição uma segunda casa de oração. Com certeza também Saulo de
Tarso estava na sinagoga dos cilícios naquela época, ouvindo assim a mensagem
cristã pela primeira vez por meio de uma pessoa como Estêvão.
Uma sinagoga
“helenista” parecia oferecer um campo de trabalho singularmente profícuo. Os
judeus da diáspora ocidental tinham visão mais ampla e eram mais versáteis que
os judeus de Jerusalém. O pensamento grego não deixou de exercer influência
sobre eles. Contudo, em breve se constatou que justamente por isso também eram
mais perigosos do que os “mestres da lei” do antigo tipo hebreu. Enquanto estes
se interessavam mais por detalhes da interpretação da Escritura, aqueles
captavam com maior rapidez e clareza as consequências de cada ideia no conjunto
total. Os “prodígios e sinais” como tais novamente não foram capazes de
conduzir à fé. Tão somente puderam despertar perguntas e incomodar uma falsa
tranquilidade. Essas perguntas começam a se manifestar. Homens das sinagogas
helenistas “levantaram-se e discutiam com Estêvão”. Uma vez que em seguida a
acusação contra Estêvão se concentrava em “temos ouvido esse homem proferir
blasfêmias contra Moisés e Deus” e “esse homem não cessa de falar contra o
lugar santo e a lei”, a discussão deve ter versado mais e mais sobre os dois
pontos “templo” e “lei”. Ao que parece, aconteceu algo muito similar ao que
sucedeu mais tarde com Martinho Lutero. Os arautos do novo evangelho falaram
primeiramente com alegria do positivo, daquilo que Jesus traz, daquele a quem
Deus “exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o
arrependimento e a remissão de pecados” (At 5.31). O caso de Estêvão não deve
ter transcorrido de outro modo que o dos apóstolos. Agora, porém, Estêvão, como
depois Martinho Lutero, é obrigado pelos adversários a traçar as consequências
negativas. E os “helenistas”, ágeis no raciocínio, conseguem impeli-lo para
ideias cada vez mais ousadas de forma mais eficaz do que os hierosolimitas, que
ficam atolados numa indignação genérica e proíbem, sem justificativa clara, o
“falar com base no nome de Jesus”. Os apóstolos associavam sua nova notícia com
uma óbvia fidelidade ao templo e à lei, assim como Martinho Lutero também
queria continuar sendo um bom católico depois de sua redescoberta do evangelho.
Na discussão, porém, certas perguntas são dirigidas a Estêvão : se o perdão de
todos os pecados é concedido em Jesus e sua cruz, que sentido ainda possuem o
templo e todas as cerimônias no templo? Se a nova igreja está edificada sobre a
“fé”, e se ela possui pela “fé” o relacionamento decisivo com Deus e sua
justiça perante Deus, que, então, significa ainda a lei? São as questões que
mais tarde também ocuparam vivamente as próprias igrejas cristãs (cf. as cartas
aos Romanos, Gálatas, Hebreus!).
Atos 6.10. Nessas
controvérsias acaloradas Estêvão experimenta a verdade da promessa de Jesus em
Lc 21.35: “E não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito pelo qual ele
falava.” O que mais tarde a irresistível limpidez e poder do Espírito nos
apresenta nas cartas aos Romanos e aos Gálatas e o que constantemente gerou
novas rupturas para a verdade e a liberdade em todos os séculos, já fora
proferido naquele tempo por Estêvão. Interiormente Estêvão não podia ser
derrotado. Sua palavra constantemente se apresentava cheia de Espírito e vida
no recinto da sinagoga.
Werner
de Boor. Comentário Esperança Atos. Editora Evangélica
Esperança.
Estêvão defendeu a
causa do cristianismo contra os que se opunham e debatiam contra ela (w. 9,10).
Ele serviu aos interesses da religião como defensor da fé, nos lugares altos do
campo, enquanto que outros serviram como vinhateiros e lavradores.
1. Quem eram os
oponentes de Estêvão (v. 9). Eram judeus, judeus helenistas, judeus da
dispersão que, pelo visto, eram mais zelosos que os nativos. Eles retiveram com
dificuldade as práticas e as confissões judaicas no país onde moravam, onde
eram como pássaros salpicados, e mantiveram a frequência a Jerusalém com grande
despesa e labuta. Esta dificuldade e empenho os fizeram defensores mais ativos
do judaísmo do que aqueles cuja confissão religiosa era fácil e barata. Eles
eram da sinagoga chamada dos Libertos. Os romanos chamavam esses Libe-rti ou
Libertini, que eram estrangeiros que se naturalizaram, ou escravos de nascença
que foram alforriados ou se fizeram homens livres. Eruditos defendem que estes
Libertos eram judeus que tinham obtido a cidadania romana, como Paulo (cap.
22.27,28). É provável que Paulo fosse o homem mais zeloso desta sinagoga
chamada dos Libertos. Ele possivelmente debateu com Estevão e engajou outros na
sua arguição. Essa dedução advém do fato cie o vermos ocupado com o
apedrejamento de Estêvão e consentindo na sua morte. Havia ainda oponentes que
pertenciam à sinagoga [...] dos cireneus, e dos alexandrinos, sobre cuja
sinagoga os escritores judeus discorrem; e outros oponentes que pertenciam à
sinagoga [...] dos que eram da Cilicia e da Asia. Se Paulo, como cidadão livre
de Roma, não pertencesse à sinagoga [...] dos Libertos, pertenceria a esta por
ser nativo de Tarso, cidade da Cilicia. Não é improvável que fosse membro de
ambas.
Os judeus que
nasceram em outros países e ali cuidavam de seus negócios, tinham oportunidades
frequentes de ir e até residir em Jerusalém. Cada nação tinha sua sinagoga, como
em diversas partes do mundo há igrejas francesas, holandesas e dinamarquesas.
Essas sinagogas eram as escolas para as quais os judeus dessas nações enviavam seus
filhos para serem educados no ensino judaico. Os que eram tutores e professores
nestas sinagogas estavam vendo que o evangelho crescia e que os sacerdotes estavam
sendo coniventes com seu crescimento. Eles temiam qual seria a consequência
disto para a religião judaica, da qual eram zelosos. Além disso, tinham
confiança na excelência da sua causa e em sua própria suficiência para tratar
do assunto. Por isso, lutavam para acabar com o cristianismo por meio de
debates. Tratava-se de um modo justo e racional de lidar com a situação. Este era
procedimento sempre aceito pela religião. Apresentai a vossa demanda, diz o
Senhor; trazei as vossas firmes razões, diz o Rei de Jacó (Is 41.21). Mas por
que eles debateram com Estêvão? Por que não o fizeram com os próprios
apóstolos? (1) Certos estudiosos pensam que eles menosprezaram os apóstolos
porque os consideravam homens sem letras e indoutos (cap. 4.13). Julgavam-nos
inferiores para entrarem em debate com eles.
Mas como Estêvão fora
bem educado, achavam uma honra provocar alguém tão estudioso quanto eles. (2)
Outros eruditos pensam que eles tinham grande temor dos após tolos. Ele a não
se sentiriam tão desimpedidos e à vontade com eles como se sentiram com Estêvão
que estava em posição inferior. (3) Talvez o desafio tenha sido feito
publicamente e Estêvão foi escolhido e nomeado pelos discípulos para
defendê-los. Não era, pois, razoável que os apóstolos deixassem a pregação da
palavra de Deus para se ocuparem com controvérsias. Estêvão foi designado para
este serviço, porque era apenas um diácono da igreja e um jovem muito
inteligente e talentoso. Ele estava mais bem qualificado para lidar com
altercadores do que os próprios apóstolos. Certos historiadores afirmam que Estêvão
foi criado aos pés de Gamaliel, e que Saulo e os demais o abordaram
violentamente - como se agiria com um desertor. (4) É provável que debateram
com Estevão por ser ardoroso em argumentar com eles e convencê-los, e este era
o serviço para o qual Deus o chamara.
2. Como Estêvão
triunfou nesta disputa: E não podiam resistir ci sabedoria e ao Espírito com
que falava (v. 10). Eles não conseguiam fundamentar os próprios argumentos nem
responder aos argumentos de Estêvão. Ele provou por argumentos irrefutáveis que
Jesus é o Cristo e se entregou com tanta pureza e inteireza à sua defesa que
não tiveram como contestar o que dizia.
Embora não tenham
sido convencidos, foram confundidos.
O texto sacro não
diz: Eles não podiam resistir a Estêvão, mas: Eles não podiam resisti-lo,
sabedoria e ao Espírito com que [Estêvão] falava, ao Espírito de sabedoria que
falada por ele. Tratava-se de cumprimento da promessa: Eu vos darei boca e
sabedoria a que não poderão resistir, nem contradizer todos quantos se vos opuserem
(Lc 21.15). Eles achavam que disputavam apenas com Estêvão e que levariam a
melhor nesse páreo. Mas eles estavam disputando com o Espírito de Deus que nele
estava, e contra o Espírito Santo ninguém é páreo.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 63-64.
Nem mesmo o intelecto
de Saulo de Tarso era páreo à altura para Estêvão, porquanto este era ajudado
divinamente em seu conhecimento e expressão, e possuía poderes miraculosos que
confundiam os seus oponentes. Nesse tempo, quão pouco sabia Saulo de Tarso que,
algum dia, seria ele mesmo um expositor ainda mais poderoso do cristianismo do
que o próprio Estêvão, pois, de fato, foi o maior expositor das verdades
divinas de todos os tempos! Como Estêvão teria morrido muito mais feliz, se
tivesse tido tal conhecimento de antemão, conhecendo que a sua vida e o seu
testemunho haveriam de produzir tão notável resultado!
«Estêvão não se
satisfazia em fazer mais nada além de aliviar as necessidades dos pobres. Não
demorou a tornar-se um defensor bem conhecido da causa de Cristo. As sinagogas
eram os lugares costumeiros onde os homens argumentavam sobre as questões
envolvidas na lei judaica.
Estêvão, pois,
participava desses debates, ainda que por motivo inteiramente diferente. Era
inevitável que encontrasse opositores. Foi a mesma forma de oposição que Pedro,
João e seus colegas, já haviam encontrado». (Theodore P. Ferris, in loc.).
«É realmente notável
que Estêvão tenha sido o primeiro mestre cristão ao qual se atribui, de modo
especial, o dom da ‘sabedoria’. Nos evangelhos, essa virtude é atribuída a
nosso Senhor (ver Mat. 13:54; Luc. 2:40,52), e também se fala sobre a
‘sabedoria de Salomão’ (ver Mat. 12:42). Nos escritos de Lucas, essa palavra
subentende algo superior ainda à ‘consolação’ ou ‘profecia’, do que Barnabé
derivava 0 seu nome—pensa- mentos mais latos, uma visão mais clara da verdade,
o desenvolvimento do que antes se mostrara latente em indícios e parábolas e
enigmas». (E.H. Plumptre, in loc.).
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 3. pag. 136.
3. Uma liderança
sábia.
Em o Novo Testamento,
há diversas referências quanto à aplicabilidade dessa sabedoria divina. Paulo
exorta aos colossenses a que saibam transmitir a palavra aos ouvintes, dizendo:
“Andai com sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo. A vossa
palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos
convém responder a cada um” (Cl 4.5,6). A falta dessa sabedoria de Deus pode
causar graves prejuízos à pregação do evangelho. Há pregadores, que usam o
púlpito, em eventos evangelísticos, de maneira arrogante e prepotente. Houve um
que dizia, para uma grande multidão, que os pastores eram um bando de
trambiqueiros; e que a igreja (denominação da qual fazia parte) estava
ultrapassada. E dizia, diante de pessoas não crentes; “Não sei por que Deus não
tira essa velharia de cena”. A sabedoria desse tipo de pregador não é do
Espírito Santo. “Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal
e diabólica” (Tg 3.15).
Na vida de Jesus,
como o “Filho do Homem”, por diversas vezes, ele demonstrou essa sabedoria
vinda do Alto. Ao chegar à sua pátria, causou profunda admiração em seus
conterrâneos, por causa da sabedoria como que ministrava a mensagem. “E,
chegando à sua pátria, ensinava-os na sinagoga deles, de sorte que se
maravilhavam e diziam: Donde veio a este a sabedoria e estas maravilhas? Não é
este o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos,
Tiago, e José, e Simão, e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs?
Donde lhe veio, pois, tudo isso!” (Mt 13.54-56 — grifo nosso).
Essa mesma sabedoria
tem sido identificada, na vida de irmãos humildes, ao longo da História da
Igreja. Há casos em que pessoas de pouca instrução formal, usadas por Deus,
transmitem mensagens de profundo significado e conteúdo espiritual, que
provocam admiração nos que o ouvem. Em Natal, décadas atrás, o folclorista Luís
da Câmara Cascudo, um dos ícones da literatura nacional, estava num culto, na
Assembleia de Deus. Foi dada oportunidade a um crente muito humilde, que, cheio
do Espírito Santo, entregou a mensagem na unção de Deus. O ilustre visitante
não se conteve, e exclamou: “Esse homem prega e mostra o céu por dentro!”.
Na vida da igreja
local, há casos interessantes, do exercício da sabedoria divina, pois Deus é o
mesmo. Um novo convertido, homem do campo, recebeu a visita de um neto, que era
formado em Medicina, em faculdade famosa. Sabendo que o avô houvera aceitado a
Cristo, passou a criticá-lo com arrogância, dizendo que, em seus estudos
houvera aprendido muitas coisas, inclusive que Deus não existe, que o homem
proveio de um macaco, e, depois de desfilar outras informações do que
aprendera, perguntou ao velho crente: “E, nessa crença, o que o senhor
aprendeu?”. O novo convertido, que nem sequer tivera tempo de conhecer bem a
Bíblia, respondeu ao neto ateu: “Eu aprendi a dizer: para trás de mim,
Satanás!”. O materialista despediu-se, dizendo que não adiantava lutar “contra
esses crentes...”.
É interessante que
anotemos que o dom da palavra da sabedoria não faz do seu portador uma pessoa
mais sábia do que as outras. Diz Horton: “O Espírito não torna a pessoa sábia
por meio deste dom, nem significa que a pessoa mais tarde não possa cometer
erros (cf. o exemplo do rei Salomão que, no fim da vida, não só errou, mas
pecou)”.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais & Ministeriais
Servindo a Deus e aos homens com poder
extraordinário. Editora CPAD. pag. 35-36.
CONSELHEIRO (ACONSELHAMENTO)
Os ministros
evangélicos com frequência são chamados a dar conselhos. de maneira formal ou informal.
Em anos recentes, o aconselhamento cristão tem recebido um renovado impulso e
interesse com o surgimento de especialistas, dotados de bom treinamento nesse
campo de atividades. Considerável literatura tem surgido sobre o assunto. Mas
também tem havido muito abuso por parte de ministros que pouco ensinam da
Bíblia, porquanto eles se tomaram mais psicólogos do que pastores e mestres, e
sua prédica está eivada do vocabulário usado na psicologia. Outro tanto tem
sucedido a conferências onde antes a Bíblia era o centro das atenções. Mas agora
elas se assemelham mais a sessões psicológicas populares, com algum verniz de
religiosidade. Por outra parte, é bom que os ministros do evangelho tenham
algumas noções básicas sobre o assunto sabendo também como outros ministros,
que se tornaram especialistas nesse campo, manipulam essas questões. Assim, são
melhor capazes de examinar. expressar e manipular ideias. A ignorância nunca é recomendável,
Um ministro do evangelho deve estar bem informado em muitas, mas, e quanto
mais, melhor ao mesmo tempo em que jamais deve olvidar-se dos requisitos de seu
alto chamamento como pregador do evangelho de Cristo. Em nosso moderno e
complexo mundo, o ministro é uma pessoa que se dispõe a ajudar a outros, e cuja
ajuda não seja dispendiosa em termos econômicos. Portanto, um pastor serâ
procurado para aconselhar e ajudar quanto a muitos problemas. como aqueles envolvidos
no matrimônio, no vicio com drogas nos casos de ansiedade, de tristezas de
aspirações de necessidade de orientação, ou de qualquer coisa que aborde a vida
humana diária. Ocasionalmente, um ministro do evangelho não se sentirá apto a aconselhar
sobre determinados problemas, pelo que deveria ser capaz de encaminhar as
pessoas a médicos, advogados, etc. Naturalmente, no campo das questões
religiosas, um pastor jamais poderá desistir de suas funções deixando o
bem-estar das almas entregue aos cuidados de quem não entende que o principal
problema humano é como corrigir seu relacionamento com Deus e com os nossos
semelhantes.
Infelizmente, isso
tem sucedido.
Um dos mais bem
conhecidos conselheiros cristãos da atualidade, um pastor presbiteriano
surpreendeu-se quando descobriu, na universidade onde estava estudando
psicologia, que a melhor técnica de aconselhamento é aquela que segue os moldes
bíblicos, ou seja, fazendo os pacientes enfrentarem sua realidade moral, diante
de Deus, dos homens e de si mesmos. A esse método ele chamou de aconselhamento
noutético ou seja alicerçado sobre a iluminação da mente do paciente, com o uso
da Palavra de Deus. Esse conselheiro cristão, Jay E. Adams, evoca trechos bíblicos
como Rom. 15:14 e Col. 3:16, entre outros, como base bíblica de sua contenção.
O ministro evangélico
que busca aconselhar deve dispor-se a enfrentar certo número de
responsabilidades.
Em primeiro lugar,
ele precisa ser um homem de sólidos conhecimentos. A ignorância, oculta por detrás
de citações bíblicas, não é grande ajuda. Além disso, ele precisa ser um
exemplo de espiritualidade, a fim de que suas palavras tenham peso. Também é mister
que entenda a linguagem das emoções. Nunca deveria devolver hostilidade pela
hostilidade recebida, prestando conselhos com termos aceitáveis. Haver! De tratar
com mulheres, casadas, viúva e solteiras, que enfrentam muitos problemas com
homens, mas têm sede de afeição. Isso posto, será objeto de tentativas de sedução. No caso
de mulheres especialmente atraentes, será tentado a seduzi-las, porquanto um pastor
é uma pessoa como outra qualquer, impulsionado por impulsos irracionais, como
qualquer outra pessoa. Um dos piores escândalos que envolvem o tratamento psiquiátrico
é a frequência das relações sexuais entre os médicos e suas pacientes.
Acrescente-se a isso
que um ministro do evangelho, tal e qual um médico ou um advogado, deve saber guardar
segredos, sempre que as pessoas aconselhadas solicitarem segredo, e sempre que
o senso de propriedade do pastor assim mostrar que deve ser. Hâ aquele velho
escândalo da esposa do pastor que espalha tudo quanto ouve. E um ministro
também não deve usar os casos que trata como ilustrações em seus sermões. As
pessoas não terão dificuldade em perceberem a quem ele se refere.
Quando um ministro
toma-se conselheiro profissional, deve cuidar para não promover sua igreja ou
sua denominação, embora, necessariamente, promova princípios bíblicos e
espirituais. Em todo o seu envolvimento no campo da psicologia, sempre deveria conferir
suprema importância à espiritualidade do homem, tratando com as pessoas como
almas necessitadas, e não apenas como mentes perturbadas.
Um pastor sabe que o
Senhor Jesus é o médico da mente, das emoções, do espirito, e não apenas do corpo
(H)
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 1. Editora Hagnos. pag. 874-875.
II -
PALAVRA DA CIÊNCIA
1- O que é?
É manifestação da
ciência ou do conhecimento de Deus, concedido ao homem salvo. Pode ser dado por
sonho, por visão, por revelação especial, operando na esfera humana, no seio da
igreja; sendo um conhecimento sobrenatural propiciado por Deus. Podemos dizer
que a palavra da sabedoria é a aplicação da “ciência” de Deus, na vida prática
pessoal ou da igreja. Escrevendo aos coríntios, sobre as “armas de nossa
milícia”, Paulo diz que essas “armas” destroem “...os conselhos e toda altivez
que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo
entendimento à obediência de Cristo” (2 Co 10.5 — grifo nosso). Paulo fala de
“todos os mistérios e toda a ciência” (1 Co 13.2), que só têm valor se for sob
a graça do amor de Deus. Através desse dom, o crente penetra nas profundezas do
conhecimento de Deus (cf. Ef 1.17-19).
Em Cristo — “o
mistério de Deus [...] em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria
e da ciência” (Cl 2.2,3), é que os dons devem ser exercidos, no meio da igreja
cristã. Pois Deus quer que esse conhecimento profundo e sobrenatural esteja à
disposição dos seus servos, que o amam. “Mas, como está escrito: As coisas que
o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as
que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu
Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de
Deus” (1 Co 2.9).
A Palavra de Deus
mostra exemplos desse dom. Quando Jesus pregava para a mulher samaritana, soube
detalhes da vida dela, que o conhecimento humano não teria condições de
alcançar naquela circunstância de um encontro inesperado. Ele disse à mulher
que chamasse seu marido. A mulher respondeu que não tinha marido e Jesus lhe
disse que ela tivera “cinco maridos” e aquele com quem vivia não era seu
marido. A mulher ficou admirada, e disse: “Senhor, vejo que és profeta” (Jo
4.16-19). A palavra da ciência não é adivinhação nem expressão de tentativa de
erro e acerto. E dada pelo Espírito Santo.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 36-37.
Este dom tem sido definido como sendo a
revelação sobrenatural dalgum fato que existe na mente de Deus, mas que o
homem, devido às suas naturais limitações, não pode conhecer, a não ser que o
Espírito Santo lhe revele. Exemplos da manifestação deste dom são encontrados no
ministério de Samuel: 1 Sm 9.15,20; 10.22; Eliseu: 2 Rs 5.20,26; 6.8; Aias: 1
Rs 14.6; Jesus: Jo 1.48; 4.18; Lc 19.5; Mt 16.23; Pedro: At 5.3,4, e Paulo: At
27.23-25.
Através deste dom, os segredos do mais
profundo do coração são revelados, enquanto que obstáculos ao desenvolvimento
da Igreja são manifestos, e desmascarada toda e qualquer hipocrisia. Este dom é
de grande importância para o ministério, pois pode apontar os maus obreiros,
possíveis candidatos ao ministério cristão.
Raimundo
F. de Oliveira. A Doutrina Pentecostal
Hoje. Editora CPAD.
A Palavra da Ciência
(12.86)
Ciência (ou
conhecimento; gnosis) “implica em pesquisa e investigação, embora ciência não
deva ser entendida em um sentido puramente intelectual; ela tem um caráter
existencial”. Paulo também faz a associação da ciência com uma espécie de
consciência mística sobrenatural, e a relaciona aos mistérios, revelações e
profecias (13.2; 14.6). Enquanto a sabedoria vem inteiramente do Espírito, a
ciência (ou conhecimento) vem à medida que o Espírito concede.
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 8. pag. 335.
2. Sua função.
Esse dom revela
coisas que não são percebidas pela visão natural (ver 1 Sm 16.7; Jo 2.24,25).
Na vida prática da igreja, algumas experiências demonstram que o dom da palavra
da ciência pode ser dado nos tempos presentes. Num Círculo de Oração, em
Natal-RN, as irmãs estavam tranquilas, orando e louvando a Deus, numa
congregação, anos atrás. Apresentou-se um homem, muito bem vestido, de paletó
de tecido fino, sapato lustroso, gravata e Bíblia debaixo do braço. Ao ser
interpelado, para ser apresentado, disse que era um servo de Deus, que estava
de passagem por ali, e que viera visitar o trabalho. Acrescentou que era “filho
do Ministro da Educação, Sr. Jarbas Passarinho”. A apresentação do “ilustre”
visitante foi feita, e as irmãs de imediato quiseram ouvir uma palavra por ele.
Uma humilde serva de
Deus, num lampejo divino, disse à dirigente: “Não dê oportunidade a ele. E um
mentiroso, falso e procurado pela polícia...!”. Foi um mal-estar, pois a
dirigente já ia anunciar a oportunidade ao visitante. Mas, diante da
advertência, não o fez. Foi criticada por um santo irmão, que achou uma falta
de respeito a um “servo de Deus”, “filho de uma autoridade pública”. Esse
também convidou o visitante para ir à sua casa, num gesto de desagravo e de
hospitalidade. No caminho, dizia ao visitante: “Essas irmãs não têm sabedoria”.
E pediu desculpas pelo constrangimento. Recebeu-o em casa, apresentou à
família, e ofereceu dormida ao desconhecido.
Pela madrugada,
alguém bateu à porta. O anfitrião foi abrir, e deparou-se com policiais
federais, apontando metralhadoras para sua casa, e dizendo que ele estava
preso, pois dera acolhida a um criminoso, estelionatário, que vinha sendo
rastreado em sua viagem. Quem revelaria tal coisa a uma simples serva de Deus?
Sem dúvida, foi a operação do dom da ciência, num momento crucial. Este exemplo
é prova de que Deus não muda. Agiu nos tempos antigos. E age em todos os
tempos.
E preciso entender a
diferença entre o dom da sabedoria e o dom da palavra da ciência. A ciência é o
conhecimento profundo, concedido por Deus, em relação às coisas divinas ou às
coisas dos homens, que estão além do conhecimento natural. O dom da sabedoria
refere-se à utilização do conhecimento em questões práticas da vida.
Conhecimento sem sabedoria é puro exercício intelectual infrutífero e
diletante. O cristão deve ter conhecimento de Deus para viver o cristianismo de
forma concreta, no seu dia a dia.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 38-39.
Palavra do
conhecimento
De acordo com o registro bíblico, quando
este dom era exercido, o extraordinário acontecia, como mostram os exemplos que
se seguem:
- O rei de Israel foi avisado do perigo de
destruição por parte do rei da Síria: 2 Rs 6.9-12.
- Elias recebeu novo alento em meio à
perseguição: 1 Rs 19.14-18.
- A hipocrisia de Geazi foi manifesta: 2 Rs
5.20-
- A samaritana foi convencida da
necessidade dum Salvador: Jo 4.18,19,29.
- Saul foi achado no meio da bagagem: 1 Sm
10.22.
- A necessidade de Saulo foi revelada a
Ananias: At 9.11.
- Foi desmascarada a hipocrisia de Ananias
e Safira: At 5.3.
- O local da celebração da Páscoa de Jesus
e seus discípulos, foi indicado: Mc 14.13-15.
Este dom pode manifestar-se por diferentes
meios, seja através da pregação no púlpito, da profecia, do aconselhamento aos
necessitados e aos que buscam orientação divina, ou mesmo através de sonhos.
Quando fui enviado para o meu primeiro
campo de atividades pastorais, minha esposa ainda não tinha recebido a
experiência do batismo com o Espírito Santo, razão por que fomos levados a orar
mais intensamente durante o» primeiros meses de nossa atividade naquele vasto
campo.
Certa noite sonhei que me encontrava
próximo a, uma grande árvore junto à margem dum enorme lago. De momento, vi
aquela árvore ser envolvida por uma enorme chama de fogo. Pelo que vi,
lembrei-me da experiência de Moisés diante da sarça que ardia em fogo, mas que
não se consumia. O milagre parecia repetir-se diante dos meus olhos. Olhando ao
meu redor, vi que estava bem no meio dum capinai tão seco como jamais eu havia
visto antes. De momento, vi que minha esposa se aproximava de mim e me chamava
para corrermos, antes que o fogo que envolvia aquela árvore se espalhasse pelo
capinzal e viéssemos a ser queimados. Peguei minha esposa pelo braço e
começamos a correr em direção à porteira daquela propriedade, que dava para uma
estrada.
Quando começamos a correr, as chamas que
envolviam a árvore saltaram em forma de algodão nos meus pés, envolvendo-os.
Pareciam algodão a meus pés, porém, era fogo de verdade, pois, onde quer que eu
pisasse, começava um novo foco de incêndio que logo se espalhou por todo o
capinai.
Quando chegamos â estrada, minha esposa
tinha um dos seus braços completamente queimado, enquanto que o capinai ardia
em chamas incontroláveis.
Ao acordar no dia seguinte, contei a ela o
sonho e lhe disse: “Você será batizada com o Espírito Santo hoje”. Conforme
havíamos previamente programado, realizamos, naquela noite, um culto de vigília
numa das nossas congregações. Ali minha esposa recebeu o batismo com o Espírito
Santo: cumpria-se, assim, o sonho que Deus me dera na noite anterior.
Outro exemplo da operação deste dom
aconteceu com o Dr. Mordecai Ham, instrumento que Deus usou para conduzir Billy
Graham a Cristo.
Ouvi um amigo do Dr. Mordecai contar que
certo dia esse impetuoso pregador, acompanhado dum grande grupo de obreiros,
partiu para uma fazenda no interior dos Estados Unidos, onde haveria de
realizar uma série de cultos. Para espanto de todos, os arreios de suas
montarias foram todos furtados na noite após a chegada à fazenda. Como não
sabiam quem havia praticado tal ação, começaram a orar no sentido de Deus mover
o ladrão a devolver tudo em tempo. Até a hora da realização do último culto, já
haviam sido devolvidos quase todos os arreios, menos os do cavalo do próprio Dr.
Mordecai.
O Dr. Mordecai estava pregando quando, de
momento, baixou-se e apanhou uma pedra que estava próximo à mesa que usava como
púlpito, levantou-a e disse à grande multidão que o ouvia: “Bem senhores, os
arreios dos cavalos dos meus companheiros foram todos devolvidos, porém ainda
faltam os arreios da minha montaria. Sei que o ladrão que os está retendo está
aqui presente me ouvindo; não sei exatamente em que lugar desse auditório ele
se encontra, mas vou atirar esta pedra a esmo, certo que o Espírito Santo há de
guiá-la e fazê-la cravar na fronte desse ladrão.
Nesse momento levantou-se um homem e
apressadamente saiu. Minutos depois, voltava trazendo os arreios do cavalo do
Dr. Mordecai!
Raimundo
F. de Oliveira. A Doutrina Pentecostal
Hoje. Editora CPAD.
3. Exemplos bíblicos
da palavra da ciência.
O profeta Eliseu
sabia os planos de guerra do rei da Síria, mesmo à distância. Quando o rei
pensava em atacar o exército de Israel de surpresa, em determinado lugar o
profeta de Deus alertava ao rei de Israel dos planos do inimigo, por diversas
vezes. O rei sírio ficou intrigado e desconfiou de que haveria um traidor no
meio de suas tropas. Mas um dos servos do rei o fez saber o mistério: “E disse
um dos seus servos: Não, ó rei, meu senhor; mas o profeta Eliseu, que está em
Israel, faz saber ao rei de Israel as palavras que tu falas na tua câmara de
dormir” (2 Rs 6.8-12).
Era um conhecimento
muito mais aperfeiçoado do que todos os atuais sistemas de informação, com uso
de tecnologia de ponta, usados no mundo atual. Eliseu não tinha informantes,
nem sonhava com equipamentos de comunicação ou de satélites. Era a mensagem
divina, diretamente do Espírito Santo ao seu coração. Quando o profeta Samuel
disse a Saul que as jumentas do pai já haviam sido encontradas, foi pela
ciência ou conhecimento de Deus (1 Sm 9.15-20).
A revelação dada a
Daniel acerca dos impérios mundiais demonstra quão grande é a sabedoria de
Deus, como recurso divino para ocasiões especiais, em que de nada adianta a
sabedoria humana, ou os conhecimentos adquiridos pela experiência de quem quer
que seja. Quis Deus utilizar-se de um rei estrangeiro ao seu povo para revelar
segredos sobre acontecimentos que teriam lugar na História, na ocasião, e para
o futuro. A visão de Nabucodonosor é uma referência para a Escatologia, com
base nas interpretações dadas pelo Altíssimo a Daniel, seu servo, que estava
vivendo naquele País, com uma missão do mais alto significado.
Trata-se de um caso
bem emblemático do que significa receber o conhecimento, ou a revelação de
Deus. O rei tivera um sonho muito estranho, que o perturbara sobremaneira. Pela
manhã, reuniu “os magos, e os astrólogos, e os encantadores, e os caldeus, para
que declarassem ao rei qual tinha sido o seu sonho; e eles vieram e se
apresentaram diante do rei. E o rei lhes disse: Tive um sonho; e, para saber o
sonho, está perturbado o meu espírito” (Dn 2.2,3). Tudo em vão. Ninguém soube
interpretar o sonho, por uma razão muito óbvia: o rei não se lembrava do sonho!
Furibundo, o rei mandou matar todos os sábios da Babilônia, pelo fato de não
saberem interpretar um sonho de que não tiveram sequer o relato de sua visão.
Mas Daniel, que
estava no reino, em posição de destaque, pediu ao mensageiro do rei que desse
um tempo para que buscassem a interpretação. Seu pedido foi atendido, e,
contando o grave problema a seus três companheiros, foram orar ao Deus dos
céus. Diz a Bíblia: “Então, Daniel foi para a sua casa e fez saber o caso a
Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros, e pediu que orassem a Deus,
“para que pedissem misericórdia ao Deus dos céus sobre este segredo, a fim de
que Daniel e seus companheiros não perecessem com o resto dos sábios da
Babilônia. Então, foi revelado o segredo a Daniel numa visão de noite; e Daniel
louvou o Deus do céu” (Dn 2.17-19). De maneira didática, com precisão
histórica, Daniel interpretou o sonho, mostrando ao rei o desenrolar dos
acontecimentos de sua época e de eventos futuros. Foi o conhecimento de Deus e
não humano, lógico ou natural.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 37-38.
1. Antecedentes
(5.1-16)
Houve três
antecedentes à primeira perseguição: 1. A cura do coxo (3.1-10); 2. A
curiosidade da multidão (3.11); 3. O corajoso desafio de Pedro (3.12-26). Da
mesma forma, houve três antecedentes à segunda perseguição: 1. A morte de
Ananias (5.1-6); 2. A morte de Safira (5.7-11); 3. Acura dos enfermos
(5.12-16). a. A Morte de Ananias (5.1-6). E difícil entender como podem ter existido
hipócritas na Igreja Primitiva, tão pouco tempo após o Pentecostes. E é difícil
ver por que pessoas falsas e egoístas unem-se a uma igreja hoje, causando
divisões e desentendimentos. Talvez, diriam os psicólogos, algumas pessoas
“pequenas” pensem em “crescer” em uma congregação local e alcançar posições de
liderança que nunca viriam a atingir em uma sociedade secular. Assim, elas
encontram uma maneira de compensar um sentimento de inferioridade. Também deve
ser dito que a igreja frequentemente oferece uma completa gama de serviços para
aqueles que têm capacidades limitadas, e desta forma contribui para o
desenvolvimento da personalidade.
Por outro lado,
existem pessoas orgulhosas, de posses, que gostam de impressionar a igreja com
métodos falsos. Ananias e Safira pertenciam a esta categoria. Eles tinham bons
nomes. Ananias, o equivalente do Novo Testamento ao Hananias do Antigo
Testamento, significa “aquele a quem Jeová foi gracioso”. Mas Ananias não era
muito gracioso para Deus. Ele guardou para si parte do que fingiu estar dando à
igreja. Safira significa “bonita”. Mas ao invés de ser uma pedra de “safira”
brilhante, como sugere o seu nome, ela representa a falta de sinceridade, que é
muito feia. Klausner registra o fato de que, em junho de 1923, foi desenterrado
em Jerusalém um bonito ossuário que trazia o seu nome inscrito em hebraico e em
grego. Ele opina que é provável que a referência seja à Safira do capítulo 5 do
livro de Atos.
Barnabé tinha
recebido um elogio especial pela sua generosidade para com a igreja. Ele
vendera um terreno na ilha de Chipre e colocara todo o dinheiro aos pés dos
apóstolos (4.36-37). Evidentemente, Ananias e Safira estavam ansiosos por
receber um reconhecimento similar. Assim, venderam uma propriedade (1) — uma
herdade (3) que possuíam.
Mas, diferentemente
de Barnabé, eles retiveram parte do preço (2). O verbo pode ser traduzido como
“defraudar, desviar”. Lake e Cadbury escrevem: “A expressão ocorre com certa frequências
na prosa helenística... e sempre implica: (a) que o roubo é secreto; (b) que
parte de uma quantia maior é usurpada... Deve-se observar, adicionalmente, que
o verbo é mais comumente usado referindo-se à usurpação daquilo que é entregue
em confiança... do que ao roubo de um indivíduo, por outrem”. Aqui é usado
adequadamente neste contexto da mordomia cristã. A palavra é usada em Josué 7.1
(Septuaginta), sobre Acã, que “tomou do anátema”. E encontrada novamente no
versículo 3, e no Novo Testamento somente em Tito 2.10, onde é traduzida como
“defraudar”.
Guardar para si
mesmos o que eles estavam ostensivamente entregando à igreja foi um ato
premeditado de Ananias e Safira. O relato diz sabendo-o também sua mulher —
literalmente, “a sua mulher também sabia, com” o seu marido. Por ser
deliberado, o pecado era ainda mais grave.
Pedro provavelmente
recebeu um discernimento especial dado pelo Espírito — embora alguns entendam
que o relato não descarte a possibilidade de que ele tenha sido informado por
algum indivíduo humano sobre o preço da venda da terra. De qualquer forma, ele
desafiou Ananias. Por que este membro da igreja tinha permitido que Satanás
entrasse no seu coração e fizesse com que ele mentisse ao Espírito Santo (3)?
No versículo 4, Pedro diz: Não mentiste aos homens [ou seja, não somente aos
homens] mas a Deus. Estas duas frases juntas indicam tanto a personalidade
quanto a divindade do Espírito Santo.
Enquanto a terra
fosse guardada, sem ser vendida, não ficava para ti? (4) E, vendida, não estava
em teu poder [exousia, “autoridade”]? Estas duas perguntas confirmam o que já
observamos em conexão com 2.44-45 e 4.32-35: uma comunidade universal de bens
nunca foi praticada nem exigida pela Igreja Primitiva.
Quando Ananias ouviu
esta revelação da sua tentativa de ludibriar, ele caiu e expirou (5). Uma única
palavra em grego descreve este fato, exepsyxen — literalmente, “expirou”. A
melhor tradução é “expirou”. No Novo Testamento, o verbo aparece somente aqui,
no versículo 10 (sobre Safira) e em 12.23 (sobre a morte de Herodes Agripa I).
Hobart diz: “A palavra ekpsychein é muito rara e parece estar quase sempre
confinada aos autores médicos, e mesmo assim é raramente usada por eles”.
Os jovens (6) — lit.,
“os homens mais jovens” (NEB), os que estavam capacitados para aquele trabalho,
em contraste com os homens mais velhos — cobriram o morto ou “envolveram-no com
panos, cobrindo o seu corpo” (cf. NEB). Este é o costume no Oriente Próximo
hoje — e, transportando-o para fora, o sepultaram. Era necessário que o morto
fosse enterrado no mesmo dia, e também fora dos muros da cidade (exceto no caso
de reis).
Este incidente mostra
“O Alto Preço da Hipocrisia”. 1. O engano (1-2); 2. A descoberta (3-4); 3. A
morte (5-6).
b. A Morte de Safira
(5.7-11). Passadas três horas da morte tão repentina de Ananias, entrou... sua
mulher (7) no principal local de reuniões da igreja — talvez o cenáculo (1.13).
Ela não tinha sido informada do que acontecera com o seu marido. Pedro
dirigiu-se a ela — e disse (8) — na Septuaginta e no Novo Testamento este termo
frequentemente significa algo como “perguntou-lhe” (RSV). Talvez a melhor
tradução seja a de Phillips: “Diga-me, você vendeu a sua terra por tanto?” A
resposta dela foi: Sim, por tanto. Obviamente, a quantia mencionada nos dois
casos foi a que Ananias tinha apresentado aos apóstolos. Então Pedro expôs a
conspiração da fraude (9) e anunciou que aqueles que estavam acabando de
retornar, tendo enterrado o seu marido, também iriam levá-la. Ela imediatamente
“expirou” e os jovens (10) — uma expressão (um substantivo) diferente daquela
do versículo 6, mas referindo-se ao mesmo grupo de pessoas — levaram- na para o
seu sepultamento. O versículo 11 é uma ampliação da última frase do versículo
5. “E houve um grande
temor em toda a igreja e em todos os que ouviram estas coisas”. Tanto a igreja
quanto a comunidade ficaram atemorizadas por essa demonstração do julgamento
divino.
Atos 5.10-12 O
Testemunho em Jerusalém Houve muita discussão quanto ao fato de a morte de
Ananias e Safira ter sido causada de forma natural ou sobrenatural. Em favor de
um ato sobrenatural está Knowling, que diz: “Portanto, ele não pode ser
encarado como um relato de um acontecimento ao acaso, ou o efeito de um choque
súbito causado pela descoberta da culpa nas palavras de Pedro”. A maioria dos
comentaristas conservadores mais velhos assume a opinião de que as duas mortes
foram julgamentos divinos diretos, atos imediatos de Deus. Um pouco mais
complicada é a opinião de F. F. Bruce, que normalmente é reconhecido como o
estudioso do Novo Testamento mais conservador das ilhas britânicas hoje. No
primeiro (1949) dos seus três comentários sobre o livro de Atos — um magnífico
trabalho sobre o texto grego — ele sugere que Safira "... além da surpresa
de ter sido descoberta e da condenação da culpa, sofreu o choque pela morte
repentina do seu marido”.116 Em seu segundo comentário, ele diz que “o choque
produzido pelo repentino senso da enormidade de tal crime foi o que causou a
morte dela”. Mas no seu terceiro comentário, ele escreve: “Foi um evidente ato
de julgamento”.
De qualquer forma, o
ponto em que devemos insistir é que, em nenhum lugar, a narrativa afirma que
Pedro matou ou amaldiçoou este casal de hipócritas. Ele predisse a morte de
Safira no que poderia ser descrito como um anúncio do julgamento divino. Mas
isto é tudo.
Sobre a gravidade do
pecado cometido, Lumby tem a dizer o seguinte: “O pecado de Ananias e Safira
mostrou desprezo por Deus, a vaidade e a ambição dos pecadores e uma total
desconsideração da corrupção que eles estavam trazendo à sociedade”. Ele
acrescenta: “Eles pensaram mais na exibição que estavam fazendo aos pés dos
apóstolos do que no pecado perante os olhos de Deus”.
A palavra igreja (11)
aparece aqui pela primeira vez no texto grego do livro de Atos.1210 histórico e
o significado da palavra ecclesia já foram comentados em relação a Mateus
16.18; 18.17, os únicos lugares onde ela aparece antes deste ponto no Novo
Testamento. Algumas observações adicionais serão feitas aqui. O substantivo
ecclesia significa “uma assembleia reunida”. Deissmann diz: “Este nome auto-outorgado
baseia-se na convicção de que Deus separou do mundo os seus ‘santos’ em Cristo,
e ‘chamou-os’ ou ‘reuniu-os’ numa assembleia, que era ‘a assembleia de Deus’...
porque Deus era aquele que os reunia”.
A palavra foi usada
pela primeira vez em relação a uma assembleia dos cidadãos livres de uma cidade
grega (cf. 19.32,39,41), porque eles tinham sido convocados (“chamados para
fora”) por um arauto. Schmidt diz: “Naturalmente, isto sugere que, na Bíblia, a
referência é a Deus em Cristo citando ou convocando os homens do mundo”, mas
ele ainda observa: “Foi a Septuaginta que realmente deu a palavra ecclesia ao
Novo Testamento; depois disso a palavra adquiriu o seu significado específico”.
F. F. Bruce escreve: “Na LXX, ela é usada com referência à ‘congregação’ de
Israel, a nação em seu aspecto teocrático, organizada como uma comunidade
religiosa”. Macgregor comenta: “O uso da palavra pelos cristãos certamente
implica a afirmação de que eles, e não os judeus, eram o verdadeiro ‘povo de
Deus”’.
Ralph
Earle. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 7. pag. 238-240.
1. Desmascarado o pecado. O Espírito Santo, habitando no meio da
Igreja, detecta todo o pecado. Ananias es- colheu um lugar muito perigoso e uma
época desfavorável à pratica da hipocrisia. O divino Espírito de pureza, sinceridade
e verdade tinha sido derramado em abundância. Portanto, era imediatamente
reconhecido o espírito da falsidade e hipocrisia que, em tais circunstâncias,
era ainda mais imperdoável. Num ambiente de tanta espiritualidade, havia
pessoas dispostas à hipocrisia. O que aconteceria, então, em tempos mais
difíceis se não condenassem este pecado? Pedro, mediante o dom do discernimento
de espíritos, viu o que havia em Ananias. Ele não pertencia àquele ambiente
espiritual. Pela inspiração divina, Pedro disse: “Ananias, por que encheu
Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte
do preço da herdade? Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em
teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos
homens, mas a Deus”.
Pearlman. Myer. Atos: e a Igreja se Fez Missões. Editora CPAD. pag. 61.
Lucas acabara de narrar um exemplo de verdadeiro e
caridoso altruísmo ocorrido na conduta de Barnabé de Chipre.
Infelizmente, contudo, a apreciação e o louvor que se dá a pessoas que
mostraram verdadeira benevolência, leva muitas vezes hipócritas a fazer uma
simulação e ostentação de grande amor, para que também se lhes diga palavras
que soam agradáveis aos seus comichentos ouvidos. No paraíso da primeira igreja
entrou a serpente do egoísmo e da corrupção. Lucas não apresenta qualquer
ponderação nem encobre com moral, mas se atem à sua prática de simplesmente
narrar os fatos da história. Havia certo homem, um membro da congregação de Jerusalém,
de nome Ananias (“a quem o Javé tem sido gracioso”). O nome de sua mulher, a
qual também pertencia aos que professavam o cristianismo, foi Safira (“a
bela”). A estes dois pertencia uma posse, alguma propriedade, muito
provavelmente um pedaço próspero de bens de raiz de bom valor. Pois bem,
Ananias e bem assim sua mulher estiveram desejosos para serem considerados
benfeitores de seus irmãos mais pobres, e por isso, provavelmente com algum
alarde, venderam sua propriedade. Mas o interesse dos dois foi só uma
simulação, e de modo nenhum se preocupavam com a aquiescência de Deus.
Separaram, apropriaram-se para o seu próprio benefício, uma certa parte do
produto de sua venda. É afirmado expressamente que Safira esteve plenamente
ciente deste arranjo, que tudo foi feito com o total conhecimento e
consentimento dela; era tão culpada como seu esposo. “Se tentarmos analisar o
motivo do casal culpado, descobriremos que o seu ato foi um compromisso entre
dois desejos impuros. O desejo de ter o louvor das pessoas, como foi concedido
a Barnabé e outros mais, estimulou a venda e o dom, enquanto o amor do dinheiro,
que ainda os prendia fortemente, estimulou a retenção duma parte, enquanto pretendiam
dar o total.”15) Tendo eles decidido plenamente o curso, Ananias pegou a soma
do dinheiro que haviam decidido necessário para proclamar sua fama como
ministradores de caridade, trouxe-a para a sala de reunião dos apóstolos e da
congregação, e a depositou no lugar costumeiro. O ato que o casal culposo
estava cometendo não foi simplesmente um pecado seu como indivíduos, mas
colocou a igreja inteira em grande perigo. Pois se outros soubessem deste
subterfúgio, poderiam atrever-se a praticar a mesma hipocrisia. Mas, se
a integridade e a verdade desaparecessem da congregação, a igreja de Cristo
perderia seus ornamentos mais luminosos, e uma hipocrisia farisaica
substituiria a santidade cristã. “Por isso, foi de importância vital para a
igreja que a introdução dum mal de tal magnitude se depararia com uma
resistência imediata e eficiente.” De modo muito apropriado, Pedro fez a
Ananias a incisiva pergunta: Como acontece que Satanás encheu teu coração para
mentires ao Espírito Santo? Tal como o diabo é o autor de cada pecado e
transgressão, assim também aqui ele deu ao coração de Ananias a ideia da
perversidade e do engano. Pois pretendendo um benefício que jamais sentira, o
homem mentira, não tanto aos homens, a Pedro, aos apóstolos e à congregação,
mas ao Espírito Santo, que falava e agia através dos apóstolos, que habitavam e
se moviam na congregação cristã. Ele tentara ao Espírito de Deus, que prova
corações e mentes, que, como o verdadeiro Deus, conhece os pensamentos mais
íntimos do coração de cada homem. E Pedro, muito acertadamente, lembrou Ananias
que a propriedade era sua para que a preservasse, caso assim o quisesse; não
havia na congregação alguma espécie de comunismo obrigatório. E, se tivesse
optado vender sua propriedade e conservar todo o dinheiro, também isso estava
em seu poder. Também teria estado estritamente seu problema se tivesse dito com
franqueza que trazia somente uma parte do produto, porque ele mesmo queria usar
o resto. Mas seu coração se tornara
obstinado em conseguir crédito por caridade e benevolência que não possuía. “O
ato de vender sua propriedade com o ostensivo propósito de trazê-la no depósito
comum não lhes deixava qualquer controle ou posse adicional sobre a
propriedade; e sua alegação que o dinheiro que trouxeram era o total do produto
da venda foi em si mesma uma mentira inequívoca, e uma tentativa de enganar o
Espírito Santo, sob cuja influência pretendiam agir. Nisto se constituiu a
iniquidade de seu pecado.”16) Notemos: O fato que Satanás enchera o coração de
Ananias, e o fato que ele concebera esta coisa em seu próprio coração, são colocados
no mesmo nível. O fato que Ananias atendera a persuasão e tentação do diabo
lançou sobre ele a responsabilidade, a culpa. O mesmo é verdade de cada pecador
em cada pecado que comete, em especial se é feito com a mesma intenção
deliberada como neste caso.
Marquemos também: Ananias, quando mentiu ao Espírito Santo, mentira ao
próprio Deus, pois o Espírito Santo é verdadeiro Deus com o Pai e com o Filho.
Como qualquer um que é culpado desses pecados, cedo ou tarde e para sua própria
tristeza, descobrirá, engano e hipocrisia de toda e qualquer forma estão
patentes diante de sua onisciência. O pecado de Ananias recebeu imediatamente seu castigo, e
uma punição que tem o objetivo de ser uma advertência para todos os tempos.
Pois, logo que Pedro findara sua severa repreensão, logo que o homem culpado ouvira
estas palavras, ele tombou ao chão e expirou sua alma; morreu imediatamente,
atingido que fora pela ira do Espírito Santo. Desta forma a execução foi, sem
dúvida, um ato de Deus para que grande temor caísse sobre todos quantos viram a
penalidade e ouviram as palavras que a acompanharam. Quando Deus falar, então o
coração do homem corrupto se enche de espanto.
E os jovens da congregação, não alguma classe ou corpo separado, mas os
membros mais jovens da plateia, se ergueram de seus lugares. Não houve tempo
nem para alguma lamentação ou para uma detalhada cerimônia fúnebre, caso o povo
presente tivesse tido este desejo; não houve choro nem delonga. Os jovens,
envolvendo o homem morto em sua própria capa, carregaram-no para fora e o
sepultaram. Tal é o fim daqueles que abusam da graça do Senhor. Não vos
enganeis, de Deus não se zomba.
Se, por ordem de
Pedro, a informação sobre a morte de seu esposo fora ocultada de Safira, ou se
o espanto do incidente que haviam testemunhado deteve os membros da difusão da
história, não tem maior importância. Depois dum intervalo de cerca de três
horas, Safira, que pode ter vindo preocupada pela longa ausência de Ananias,
veio ao lugar de reuniões
da congregação. Ela esteve plenamente preparada para guardar o acordo que
fizera com seu esposo sobre o dinheiro, não sabendo que, horas antes, o destino
dele fora selado. Por isso, quando Pedro lhe fez a pergunta se haviam vendido
sua propriedade por exatamente aquela soma que ainda estava deitada ali, ela,
sem hesitar, replicou: Sim, por exatamente tanto.
A pergunta de Pedro
fora um último apelo à consciência dela, uma última admoestação para que
contasse a verdade e desse toda glória a Deus. Ela, porém, desprezou a
admoestação, perseverou em seu pecado, e apoiou a mentira vil de seu esposo.
Foi uma persistência voluntária em pecado, em hipocrisia. Notemos a intensidade
dramática da narrativa. Pedro, agora, em nome de Deus, como um profeta do
Senhor, pronunciou a sentença sobre ela. Por qual razão, para que fim,
concordastes entre vós para tentar o Espírito de Deus, para ver se fosse
possível enganar a ele bem como à sua igreja? Os pés daqueles que levaram teu
esposo estão junto à porta, e hão de levar a ti. E logo que Pedro proferira o
juízo do Senhor, Safira tombou ao chão, exatamente como acontecera com seu
esposo antes dela, e também deu seu último suspiro. Entrando os jovens,
encontraram-na morta, e a sepultaram ao lado de seu esposo, para estar com ele
na morte como estivera na vida. Esta foi uma sentença terrível, mas juta, que o
Senhor aqui executou no meio da primeira congregação. Deus, com este ato, declarou
para sua igreja em todos os tempos, que os hipócritas são aos seus olhos uma abominação.
Em nossos dias acontece raramente que o Senhor torna conhecido seu poder vingativo
na mesma maneira, como aqui, mas em nossos dias sua mão não se encurtou quando sua
honra está em jogo. Notemos: Há uma repetição do pecado de Ananias e Safira na
vida moderna da igreja, também em relação com à tesouraria do Senhor, a saber,
quando membros da congregação fazem afirmações exageradas sobre as quantias que
dão ou reduzem sua renda, para conseguir que suas contribuição ao reino se
destaque sobre a de outros. O efeito desta história, ao contrário, devia ser,
como aconteceu naqueles dias, que sobrevenha um grande temor ao povo, tanto
sobre os que são membros da igreja como sobre aqueles de fora, mas que ouvem
desta manifestação do poder de Deus. O mesmo Deus que julgou a Ananias e
Safira, a seu modo e em seu tempo determinado, não falhará para visitar os
pecados daqueles que seguem o exemplo destes dois hipócritas.
KRETZMANN.
Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo
Testamento Volume 1. Editora
Concordia Publishing House.
III -
DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS
1. O dom de discernir
os espíritos.
Mais adiante, na
epístola em apreço, encontramos o “dom de discernir os espíritos” (1 Co
12.10b). Refere-se à capacidade sobrenatural, concedida por Deus, com a
finalidade de identificarem-se as origens e natureza das manifestações
espirituais. Tais manifestações podem ter basicamente, três origens: De Deus,
do homem (da carne) ou do maligno. Em determinadas ocasiões, uma manifestação
espiritual pode apresentar-se, no meio da congregação, ou diante de um servo de
Deus, com aparência de genuína, e ser uma mistificação diabólica, ou artimanha
de origem humana. Pelo entendimento e pela lógica humana, nem sempre é possível
avaliar a origem das manifestações espirituais. Mas, com o dom de discernir os
espíritos o servo de Deus ou a igreja não será enganada.
Segundo Boyd, “a
palavra ‘discernir’ (grego “diakrisis”) julgado através de, distinguir, e tem o
sentido de penetrar por baixo da superfície, desmascarando e descobrindo a
verdadeira fonte dos motivos e da animação”. Através desse dom, em suas
diversas manifestações, a igreja pode detectar a presença de demônios, no meio
da comunidade ou congregação, a fim de expulsá-los, no nome de Jesus. Na ilha
de Pafos, Paulo defrontou-se com uma ação diabólica declarada com o objetivo de
impedir a pregação do evangelho ali, e a conversão de uma autoridade pública.
Mas o apóstolo, cheio do Espírito Santo, percebeu as artimanhas do Adversário,
e, na autoridade de Deus, declarou que o opositor do evangelho ficaria cego por
algum tempo, o que de pronto aconteceu. Diante de tamanho sinal, “Então, o
procônsul, vendo o que havia acontecido, creu, maravilhado da doutrina do
Senhor” (At 13.12).
Myer Pearlman diz que
se pode saber a diferença entre uma manifestação espiritual legítima e uma
falsa manifestação, através desse dom. “Pelo dom de discernimento que dá
capacidade ao possuidor para determinar se um profeta está falando, ou não,
pelo Espírito de Deus. Esse dom capacita o possuidor para ‘enxergar’ todas as
aparências exteriores e conhecer a verdadeira natureza duma inspiração.” A
manifestação espiritual precisa passar por duas provas de sua legitimidade: A
prova doutrinária e a prova prática.
A prova doutrinária
pode basear-se no ensino do apóstolo João, que diz:
“Amados, não creiais
em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos
falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de
Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e
todo espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus;
mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis
que está já no mundo. Filhinhos sois de Deus e já os tendes vencido, porque
maior é o que está em vós do que o que está no mundo. Do mundo são; por isso,
falam do mundo, e o mundo os ouve. Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus
ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o
espírito da verdade e o espírito do erro.” (1 Jo 4.1-6)
A prova prática tem
base no ensino de Jesus, quando advertiu acerca dos falsos profetas, que podem
ser conhecidos pelos “seus frutos”, ou seja, pelo seu caráter, demonstrado em
seu testemunho, na vida prática: “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas,
que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores.
Por seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou
figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má
produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar
frutos bons. Toda árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo.
Portanto, pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7.15-20).
Jesus tinha esse dom.
Quando seus adversários queriam apanhá-lo em alguma palavra ou alguma falta,
Ele já sabia o que se passava no interior das pessoas. “Mas o mesmo Jesus não
confiava neles, porque a todos conhecia e não necessitava de que alguém
testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem” (Jo 2.24,
25). O apóstolo Pedro teve a percepção de que Ananias estava mentindo, quando
sonegou parte da oferta que prometera a Deus, por esse dom especial de
discernir os espíritos (At 5.3).
No ministério de
Paulo, temos o exemplo notável do uso desse dom (At 16.12-18). Ao lado de seu
companheiro, Silas, chegou à cidade de Filipos, na Macedônia, para onde se
dirigiram por orientação do Espírito Santo. Após um período de oração e
evangelização pessoal, foi acolhido por Lídia, a vendedora de púrpura, que
aceitou a Cristo e foi batizada com toda a sua família. Era patente o sucesso
da missão dos apóstolos naquele lugar. O Adversário não ficaria satisfeito de
forma alguma e resolveu atacar de uma forma muito sutil, usando uma jovem para
tecer um dos mais elevados elogios que um pregador poderia receber
publicamente.
Ela era bem conhecida
na cidade, pois era usada por comerciantes inescrupulosos que obtinham grande
lucro, usando-a em seu proveito, pois possuía “espírito de adivinhação”. Quando
os dois apóstolos saíram para a oração, a jovem os seguiu, dizendo em alta voz:
“Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus
Altíssimo” (At 16.17). E fez essa declaração elogiosa, durante vários dias.
Pregadores são seres humanos, sujeitos às falhas próprias de sua natureza.
Elogios em geral sempre fazem bem ao ego, à parte emocional, ainda mais, quando
o elogio é verdadeiro, como era o que a moça propagava acerca dos dois servos
de Deus.
Jamais alguém poderia
imaginar que aquele elogio não seria de origem legítima. Podemos entender até,
que, a princípio, os apóstolos devem ter ficado pensativos com aquela
declaração. De fato, eles eram servos do Deus Altíssimo! O que haveria de
errado ou repreensível ouvir tal elogio? Não teria a jovem percebido que eles
eram cristãos autênticos? Acontece que Paulo e Silas eram homens de oração,
tinham comunhão com o Espírito Santo. Depois de alguns dias, ouvindo aquela
declaração, Paulo discerniu a sua origem.
Não era nada da parte
de Deus. A afirmação era verdadeira, mas a origem e a intenção eram malignas. O
Diabo queria iludir os apóstolos, com bajulação e lisonja, para que o demônio
continuasse livre para agir, após a saída dos servos do Senhor. Assim, “Paulo,
perturbado, voltou-se e disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando
que saias dela. E, na mesma hora, saiu” (At 16.18).
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 39-42.
Como podemos conhecer
um verdadeiro cristão (I Jo 4.1-21)
A PRINCIPAL TESE DO
APÓSTOLO JOÃO nessa epístola é provar que temos a vida eterna (5.13). Ao longo
da carta, João trabalha com três provas insofismáveis que identificam um
verdadeiro cristão: a prova doutrinária, a social e a moral. No texto em
apreço, o apóstolo retorna à prova doutrinária e social, ou seja, à fé e ao
amor.
Um verdadeiro cristão
é conhecido por aquilo que ele crê (4.1-6)
A igreja na Ásia
Menor, no final do primeiro século, estava sendo atacada pelas heresias dos
falsos mestres. O gnosticismo incipiente estava sendo proposto como alternativa
à fé cristã. As verdades do cristianismo estavam sendo atacadas desde os seus
alicerces. Os mestres gnósticos negavam tanto a divindade quanto a humanidade
de Cristo. Eles pregavam um falso cristo, um falso evangelho, uma falsa fé e um
falso amor.
E neste contexto que
João exorta a igreja para não dar crédito a qualquer espírito. Em vez de ter
uma fé ingênua, os crentes deveriam provar os espíritos se de fato procediam de
Deus. A negação da encarnação de Cristo era uma evidência insofismável de que o
espírito que estava por trás destes pregadores era o espírito do anticristo e
não o Espírito de Deus. Algumas verdades devem ser aqui observadas:
Em primeiro lugar, um
alerta solene (4.1). “Amados, não deis crédito a qualquer espírito...”. A
palavra “espírito” neste versículo equivale a ensinamento.344 Os falsos mestres
estavam tentando fazer uma combinação da filosofia grega com o cristianismo. A
proposta deles era um concubinato espúrio entre o conhecimento esotérico e a fé
cristã. A heresia nem sempre vem com uma negação ostensiva e integral da
verdade. Ela propõe uma parceria. Ela vem com uma linguagem ecumênica. Ela está
disposta a sentar-se à mesa para dialogar. A igreja de Cristo, porém, não pode
ser crédula. Ela não pode ser acrítica. Ela não pode dar crédito àqueles que
falam em nome de Deus sem trazer integralmente a doutrina de Deus.
John Stott diz que o
tempo presente de “não deis crédito a qualquer espírito” indica que os leitores
de João eram propensos a aceitar sem crítica todo ensino que parecesse dado por
inspiração. Era preciso mostrar-lhes que identificar o sobrenatural com o divino
é um erro perigoso.
Em segundo lugar, uma
ordem expressa (4.1b). “[...] antes, provai os espíritos se procedem de Deus,
porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora”. João dá uma ordem e
em seguida oferece a justificativa. Sua ordem tem uma razão de ser. Ela não vem
num vácuo. Porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora, os crentes
precisam provar os espíritos, para saber se de fato eles procedem de Deus.
Werner de Boor está
correto quando diz que a expressão “têm saído” remete ao fato de que os falsos
mestres destacavam enfaticamente seu “envio”, que os impelia atuar mundo afora.
O aspecto sedutor desses homens era o fato de se apresentarem com essa
consciência de envio, demandando fé e obediência.
Augustus Nicodemus
diz que em vez de uma atitude de credulidade simplista, os crentes deveriam ter
uma atitude crítica para com as manifestações alegadamente provenientes de Deus.
“Provar” significa, à semelhança do metalúrgico que testa a integridade do
metal por meio do fogo, testar a mensagem com a verdade apostólica, para saber
qual o espírito que está por trás dela.
Os falsos mestres
fizeram do mundo suas salas de aula. Desejavam conquistar a audiência de muitos
cristãos. Simon Kistemaker fala de duas esferas espirituais neste mundo: uma é
do domínio do Espírito Santo; a outra é do domínio do diabo.
O Espírito Santo
habita nos filhos de Deus (3.24), mas o espírito do diabo vive nos falsos profetas,
que falam em seu nome. Satanás imita o fenômeno da iluminação divina inspirando
falsos profetas e mestres, com o objetivo de espalhar o erro religioso e
afastar as pessoas da verdade (lTm 4.1,2; 2Pe 2.1).
Acolher todo pregador
que fala em nome de Deus e ouvir de boa mente toda pregação como se fosse
verdadeira
são uma atitude
insensata. Precisamos ser crentes bereanos. Precisamos julgar os profetas.
Precisamos passar tudo o que ouvimos pelo crivo da Palavra de Deus. Concordo
com John Stott quando diz que não se deve confundir a fé cristã com
credulidade. A fé verdadeira examina o seu objeto antes de depositar confiança
nele.
Jesus preveniu os
seus discípulos acerca dos falsos profetas (Mt 7.15: Mc 13.22,23). De igual
forma o fizeram Paulo (At 20.28-30) e Pedro (2 Pe 2.1). Ainda hoje há muitas
vozes clamando por nossa atenção. Somos um canteiro fértil onde têm florescido
e prosperado muitas seitas, ganhando amplo apoio popular.
Há uma urgente
necessidade de discernimento entre os cristãos. Nossa geração perdeu o
entusiasmo pela defesa da verdade. Mais assustador do que a pregação herética
dos falsos profetas é o silêncio dos profetas de Deus. Assistimos,
estarrecidos, a uma perigosa tolerância para com as falsas doutrinas.
LOPES. Hernandes Dias. 1, 2, 3 JOÃO Como ter garantia da salvação. Editora Hagnos. pag.
185-188.
Deus nos concedeu o
Espírito. Nessa posse do Espírito reconhecemos que Deus permanece em vós. Era o
que João havia atestado às igrejas. Precisamos nos conscientizar de quanto isso
era a convicção fundamental do primeiro cristianismo e que importância tinha a
posse do Espírito para todo seu pensar e viver. Atualmente deveríamos revisitar
pelo menos passagens tão centrais como 1 Co 2.6-16; Rm 8.1-10; Gl 5.16-22; 1 Co
12-14, não desconsiderando que também para Paulo o Espírito Santo constitui o
“selo” da verdadeira condição cristã: 2 Co 1.22; Ef 1.13s; Gl 3.2. É necessário
que fique bem claro para nós essa convicção geral do cristianismo primitivo,
porque ela se tornou estranha para nós. Em geral, os membros de nossas igrejas
dificilmente têm algo a dizer acerca do agir do Espírito. Quando lermos as
passagens referidas veremos que no primeiro cristianismo isso era completamente
diferente. O Espírito de Deus e sua atuação eram tão conhecidos das igrejas que
o apóstolo João pode se limitar a apontar para eles com uma frase muito breve.
1 É comovente o fato
de que o novo cristianismo precisou experimentar que não havia nesse caso
qualquer “segurança” absoluta. João acrescenta imediatamente uma exortação à
frase a respeito da certificação da filiação divina pela dádiva do Espírito
Santo: “Amados, não a qualquer espírito deis crédito, mas examinai os
espíritos, se são de Deus, porque muitos pseudoprofetas partiram para o mundo.”
Inicialmente, nossa atenção pode ser despertada pelo plural “espíritos”.
Contudo ele ocorre também em Paulo quando os coríntios são chamados de “zelosos
de pneumata”, zelosos de “espíritos” em 1Co 14.12, quando ele fala dos
“espíritos dos profetas” em 1Co 14.32. Na formulação, Paulo tem em mente as
diferentes realizações do Espírito e a ação do Espírito em muitas pessoas,
falando por isso do Espírito no plural. Mas igualmente existem “espíritos” de
uma categoria muito diferente, que nos evangelhos são classificados como
espíritos “imundos” ou “maus” (Mt 8.16; 12.43; Lc 6.18; 7.21; 8.2).
Já nos encontramos,
assim, diante da situação que afligia as igrejas. Existem palavras cheias de
ardor e poder de fascínio, e essas palavras também são “atestadas” por meio de
feitos e efeitos admiráveis, que têm aparência de poder de Deus e apesar disso
não “são de Deus”. Especialmente o falar profético demandava da igreja audição
e fé, porque afiançava ser infundido por Deus e constituir palavra de Deus.
Contudo existem “pseudoprofetas”, i. é, pessoas que parecem ser profetas, falam
“profeticamente” e apesar disso na verdade não são “profetas”, ou seja, não são
pessoas incumbidas por Deus e plenas do Espírito de Deus. Isso é um fato que
realmente podia abalar e confundir uma igreja! Se não era mais possível
“acreditar” simplesmente em “qualquer espírito”, nem aceitar como verdade
norteadora qualquer palavra dita em nome de Deus, como então obter certeza?
Na mais antiga carta
de Paulo que nos foi preservada há a solicitação de não “desprezar” as
“profecias”, os “vaticínios”, e sim “examiná-los” (1Ts 5.19-21; de forma
análoga também em 1Co 14.29). A igreja precisa e pode fazê-lo porque, como
igreja crente em Jesus, possui pessoalmente o Espírito e por isso não está
indefesa diante daqueles que alegam falar no Espírito. No caso de Paulo, porém,
a situação ainda se limita à análise da palavra dos profetas, e não sua pessoa
nem seu caráter profético em si. Paulo considera a possibilidade de que o
profeta se equivoque, que ele pense falar uma palavra de Deus enquanto na
realidade enuncia apenas pensamentos próprios. A princípio o apóstolo Paulo
ainda não cogita do surgimento de “pseudoprofetas” propriamente ditos. Na
verdade ele conhece o dom especial do discernimento dos espíritos (1Co 12.10). Aparentemente
trata-se da mesma questão abordada por João: trata-se da pessoa e não apenas da
palavra dos que falam “no Espírito”. Nesse caso surge a possibilidade – já
caracterizada no AT – de que um profeta não apenas misture ou confunda coisas
próprias e divinas, mas que nem mesmo seja convocado, incumbido e plenificado
por Deus, tendo recebido sua palavra, seu ardor, seu poder de eficácia de uma
fonte completamente diferente, do “mundo” (v. 5!) e, em decorrência, também do
príncipe do mundo, do diabo. É um “pseudoprofeta” na raiz de seu ser e de seu
envio.
João tem a
experiência de que existem “muitos” desses pseudoprofetas que “têm saído para o
mundo”. A expressão “têm saído” remete ao fato de que os falsos mestres
destacavam enfaticamente seu “envio” que os impelia para atuar mundo afora. O
aspecto sedutor desses homens era o fato de se apresentarem com essa
consciência de envio, demandando “fé” e obediência. Talvez utilizassem a
fórmula introdutória dos profetas do AT “Assim diz o Senhor”, ou rotulassem
seus discursos e ditos como inspirados pelo Espírito, e talvez até mesmo se
credenciassem “por meio de sinais e prodígios”. Como se torna difícil, então,
“examinar”! Será que nesse caso de fato podemos questionar e examinar? Não
cumpre simplesmente curvar-se e crer? Da maneira mais clara possível o apóstolo
João afirma que não, expressamente desafiando as igrejas a não crer em qualquer
espírito, mas “examinar os espíritos se são vindos de Deus”.
Werner
de Boor. Comentário Esperança I João. Editora Evangélica
Esperança.
2. As fontes das
manifestações espirituais.
AS OBRAS DE DEUS
Outro aspecto da
doutrina de Deus que requer a nossa atenção é o das suas obras. Este aspecto
pode ser dividido em: 1) seus decretos 2) sua providência e 3) conservação. Os
decretos divinos são o seu plano eterno que, em virtude de suas características,
faz parte de um só plano, que é imutável e eterno (Ef 3.11; Tg 1.17). São
independentes e não podem ser condicionados de nenhuma maneira. (SI 135.6). Têm
a ver com as ações de Deus, e não com a sua natureza (Rm 3.26). Dentro desses
decretos, há as ações praticadas por Deus, pelas quais tem Ele responsabilidade
soberana; e também as ações das quais Ele, embora permita que aconteçam, não é
responsável.41 Baseado nessa distinção, torna-se possível concluir que Deus nem
é o autor do mal (embora seja o criador de todas criaturas subalternas), nem é
a causa derradeira do pecado.
Além disso, Deus está
sustentando ativamente o mundo que criou. Na conservação, Ele sustenta a
criação através de leis estabelecidas (At 17.25). Na providência, Ele controla
todas as coisas existentes no Universo, com o propósito de levar a efeito seu
plano sábio e amoroso, de forma que não venha a interferir na liberdades das
suas criaturas (Gn 20.6; 50.20; Jó 1.12; Rm 1.24).
Se reconhecermos tudo
isso, e se nos deleitarmos no Senhor, meditando na sua Palavra de dia e de
noite, receberemos todas as bênçãos divinas, pois entenderemos quem Ele é, como
adorá-lo e de que maneira poderemos servi-lo.
Os salmos são de
grande ajuda em nossa adoração. Muitos começam com a chamada tradicional
hebraica à adoração: Aleluia! que significa: "louvem ao Senhor!" (ver
SI 106; 111; 112; 113; 135; 146; 147; 148; 149; 150). Atualmente, esse termo é
utilizado como declaração de exaltação. Originalmente, porém, era uma
conclamação à adoração divina. Os salmos que começam com essa chamada,
usualmente fornecem informações a respeito de Deus, focalizando nEle toda a
adoração, e revelam aspectos da sua grandeza que são dignos do louvor.
Servir a Deus começa
com o orar em seu nome. Isto implica em reconhecer como é distinta a sua
natureza conforme revelada nos seus diversos nomes. Ele se revela a nós a fim
de que o glorifiquemos e cumpramos a sua vontade.
HORTON. Staleym. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva
Pentecostal. Editora CPAD.
HOMEM CARNAL
Paulo divide em três
claras distinções os tipos de homens: 1. o homem carnal (I Cor. 3:1); 2. o
homem espiritual (I Cor. 3:1); e 3. o homem natural (I Cor. 2:14). Apresento artigos
separados sobre cada um desses tipos, pelo que neste artigo, não entro em detalhes,
exceto no caso do homem carnal, que é o assunto que tenho em mãos. O homem
natural, por sua vez, é o homem que ainda não foi regenerado. Esse é o homem
que pertence à antiga natureza terrena. Ele é natural, e não espiritual. É o
que permanece em seu estado natural, antes das operações do Espirito. O homem
espiritual é aquele que já foi regenerado e que está vivendo de acordo com os
principias ditados pelo Espírito, ou seja, vitorioso sobre os antigos impulsos
carnais. Ele obedece à mente do Espirito e anda em novidade de vida.
O homem carnal é uma
espécie de meio-termo entre os dois primeiros. Realmente, converteu-se, pelo
que entrou nos primeiros estágios da regeneração; mas continua sendo derrotado
por seus próprios antigos impulsos. Esse é o homem que se encontra em estado de
tensão e conflito espirituais, conforme se vê no sétimo capitulo de Romanos.
Faz coisas que, realmente, não aprova; mas não possui a energia espiritual
necessária para obter a vitória sobre suas debilidades e vicias. Portanto, tal
crente mostra ser uma contradição, pois aprova e é afetado pelas realidades
espirituais, mas é incapaz de subir acima do nível da carnalidade.
Em I Cor. 3:1, Paulo
chamou os crentes de Corinto de carnais, ou seja, homens da carne, crentes controlados
pela carne. É possível interpretar que esse adjetivo significa que as pessoas
assim qualificadas são inteiramente destituídas do Espirito de Deus (se considerarmos
tão-somente o sentido verbal), mas o contexto geral não nos permite tirar essa
conclusão. Mui facilmente, entretanto, Paulo poderia estar querendo dar a
entender que toda a sua suposta e apregoada espiritualidade, no exercício dos
dons espirituais (que os crentes coríntios exibiam), era algo falso,
fraudulento; porquanto, não dispor das qualidades morais de Cristo.. e ao mesmo
tempo, ser supostamente residência do Espirito de Deus, ao ponto de realizar
feitos miraculosos, é uma aberrante contradição, é uma impossibilidade moral.
ELEMENTO. DA CARNALIDADE:
1. Embora certas
pessoas se apresentem como espirituais, na verdade andam vendidas ao pecado, sendo
escravas do principio do pecado (Rom. 7:14).
2. Tal pessoa é
dotada de uma mente carnal, que está em conflito com Deus (Rom. 8:7).
3. O homem carnal
vive como se não fosse regenerado (I Cor. 3:3).
4. O homem carnal é
faccioso (I Cor. 3:4).
5. O homem carnal tem
vicias na sua vida, e ignora o cultivo das virtudes espirituais (Gâl. 5:19 ss).
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 3. Editora Hagnos. pag. 150-151.
DEMÔNIO, DEMONOLOGIA (Diabo, Satanás)
Duas coisas são indiscutíveis
sobre esse assunto: primeira, nem os hebreus e nem os cristãos criaram as elaboradas
demonologias e angelologias que, finalmente, vieram a ser aceitas. Segunda,
apesar das elaborações, exageros e elementos místicos que entraram no
pensamento hebreu e cristão, no tocante aos demônios, essas noções são corretas
quanto à temível realidade dos demônios e sua capacidade de influenciar e de
apossar-se das pessoas. Que os espíritos malignos existem e exercem poder sobre
os homens tem sido uma ideia universalmente aceita. Essa ideia permeia todos os
níveis da sociedade, podendo ser encontrada entre as tribos mais primitivas e
as civilizações mais avançadas. Essa universalidade fala em favor da veracidade
dessas noções, sem importar os exageros e os elementos mitológicos criados em
torno do assunto. Os demônios são vistos como seres poderosos, sobre-humanos, pertencentes
a vários níveis de seres. Alguns são tidos como espíritos humanos
desencarnados, negativos, que ainda não chegaram ao seu destino, e que
continuam tentando viver suas vidas nas vidas de outras pessoas, através de
influência ou de possessão. Outras classes incluem os elementares, que são
menos poderosos do que os espíritos humanos, como se fossem uma espécie de
símios do mundo espiritual. Porém, até mesmo esses podem ser um incômodo. Então,
se subirmos um pouco mais na escala, encontraremos os anjos caldos, os quais
também pertencem a diversas categorias. Após o século V D.C., essa tornou-se a
identificação mais comum dos demônios na teologia cristã, embora outras
identificações não tenham sido abandonadas. Os demônios mais perigosos são
aqueles que pertencem a elevadas ordens de seres espirituais; e a conexão com
os anjos caldos sem dúvida está correta, pelo menos em parte.
No pensamento hebreu
e cristão, tomou-se usual considerar maus todos os demônios. Esses são OS espíritos
que mais chamam a atenção, porquanto são perturbadores. Os cristãos primitivos
levavam muito a sério a existência e o poder dos demônios, conforme é demonstrado
pela frequente menção a eles, no Novo Testamento. Males mentais e corporais
eram atribuídos às atividades de espíritos invisíveis, o que ocorre na história
da maioria das culturas. Jesus dava ordens aos maus espíritos, e eles lhe eram
obedientes (Mar. 1:27). Eles reconheciam a autoridade espiritual dele, e não
ousavam fazer-lhe oposição. Os discípulos de Jesus deram continuação ao seu
ministério de curas, no tocante ao corpo e à mente, e se utilizavam da
autoridade do nome de Jesus quando tratavam com os espíritos malignos (Atos
16:18; Mar. 9:38; Luc. 10:17). As culturas com as quais o cristianismo foi
entrando em contato, à medida que se propagava, já tinham suas respectivas
demonologias, havendo muitas interferências demoníacas, pelo que nada de novo
foi introduzido nessa área, excetuando o fato de que há aquele Nome que é capaz
de libertar, com o qual as pessoas das culturas pagãs não estavam acostumadas.
Entre os judeus era
corrente a noção que a idolatria pagã era influenciada pelos demônios, e que,
algumas vezes, os demônios são o próprio alvo da adoração idólatra. Paulo
compartilhava dessa crença, pois, apesar de chamar um ídolo de coisa vil, em
certas ocasiões (ver 1 Cor. 8:4), em outras oportunidades ele afirmava que os
demônios eram objetos da adoração idólatra do paganismo (I Cor. 10:20). Por
volta do século IH D.C. já havia surgido uma espécie de classe de exorcistas
oficiais no cristianismo, usualmente constituída por ministros, e as pessoas
apelavam para eles, a fim de serem ajudadas contra os demônios.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 2. Editora Hagnos. pag. 48.
Satanás é o principal
poder maligno, e a Bíblia apresenta-o como uma espécie de comandante das forças
da malignidade. O poder de Satanás é limitado por Deus (Jô 1:12.; 2:6), apesar
do que ele é muito poderoso, encabeçando um vasto exército do mal (ver Efé,
2:2; 6:12). Porém, sua queda final é certa (Luc. 10:18). Ver os artigos
chamados Satanás e Diabo.
Anjos caldos, poderes
e demônios fazem parte do reino das trevas, reino esse que tem o poder de influenciar
os homens e de votá-los à perdição. O trecho de 11Ped. 2:11 refere-se ao poder
desses seres malignos. O mundo inteiro está debaixo do poder deles,
excetuando-se somente os lavados no sangue de Cristo (ver I João 5:19). Esses
seres são numerosíssimos (Efé. 6: 12). Não obstante, esses poderes não têm forças
para separar-nos do amor de Cristo (ver Rom. 8:38). A existência desses seres
provoca um conflito de dimensões cósmicas (ver Efé. 6: 12). O reino das trevas é
contrastado com o reino da luz (Col. 1:13). O dualismo (vide) ensina que o
reino da luz e o reino das trevas estão em luta um contra o outro, e que há esperança
que esses dois reinos, finalmente, separar-se-ão inteiramente. Porém. dentro
desse sistema, não há qualquer expectação de que o reino das trevas possa vir a
ser derrotado. A Bíblia Sagrada, por outro lado, é dualista somente em parte.
Ela projeta a vitória do mundo da luz sobre o mundo das trevas, e não apenas
uma separação final entre esses dois reinos. Os últimos capitulas do livro de Apocalipse
refletem essa certeza. O trecho de Cal. 2: 15 refere-se ao triunfo garantido
por Cristo sobre as forças do mal. segundo também se aprende em Rom. 8:38 ss.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 311.
3. Discernindo as
manifestações espirituais.
Temos aqui uma
advertência contra os falsos profetas.
Devemos prestar
atenção para não sermos enganados ou nos deixar impressionar por eles. Profetas
são aqueles que preveem as coisas que vão acontecer. Existem alguns,
mencionados no Antigo Testamento, que tinham a pretensão de fazer previsões,
sem dar nenhuma garantia, e os acontecimentos desmentiram as suas pretensões; dentre
eles, estão Zedequias (1 Rs 22.11) e um outro Zedequias (Jr 29.21). Os profetas
também ensinavam ao povo o seu dever, de modo que os falsos profetas mencionados
aqui também eram falsos mestres. Cristo, que além de Messias era um Profeta e
um Mestre enviado por Deus com a missão de enviar outros mestres que com Ele
aprendessem, está nos advertindo a prestar atenção nos impostores. Ao invés de
terem a pretensão de curar as almas com tuna doutrina saudável, eles não fazem
mais do que envenená-las.
Os falsos mestres e
os falsos profetas:
1. São todos aqueles
que afirmam ter certas incumbências, não as tendo. Aqueles que fingem que
possuem garantia e orientação imediatas, supostamente enviadas por Deus e
divinamente inspiradas; eles estão mentindo. Embora sua doutrina possa ser
verdadeira, devemos ter cuidado, pois são falsos profetas. Falsos apóstolos são
aqueles que dizem ser apóstolos, mas estão mentindo (Ap 2,2); eles são falsos profetas.
“Tome cuidado com aqueles que fingem ter revelações; não os aceite sem provas
suficientes, para que um absurdo não seja aceito, seguido de outra centena
deles”.
2. São todos aqueles
que pregam uma falsa doutrina sobre tudo aquilo que é essencial à religião. Que
ensinam aquilo que é contrário à verdade que está em Jesus, a verdade que está
de acordo com a santidade. A primeira dissertação parece ser a verdadeira noção
do que é um pseudo-profeta, ou de alguém que finge ser um profeta, enquanto geralmente
a última também está de acordo com ela. Pois aquele que exibe cores falsas, a
pretexto delas, e com maior sucesso, ataca a verdade. “Tenha cuidado com eles,
suspeite deles e, quando tiver descoberto sua falsidade, afaste-se e nada tenha
a ver com eles. Fique em guarda contra essa tentação, que nos é geralmente
dirigida nos dias da reforma, e do alvorecer de uma luz divina que possui
imensa força e esplendor”. Quando a obra de Deus é reavivada, Satanás e seus
agentes ficam mais ocupados.
Aqui temos:
I Uma boa razão para
ter esse cuidado. Tenha cuidado com eles, pois são lobos vestidos como ovelhas
(v. 15).
1. Precisamos ter
muito cuidado porque suas pretensões são muito justas e plausíveis e, assim
sendo, irão nos enganar se não estivermos em guarda. Eles aparecem vestidos
como ovelhas, usando a mesma vestimenta dos profetas, que era simples,
grosseira e tosca. Usarão trajes rudes para enganai' (Ze 13.4). A Septuaginta
chama o manto de Elias de manto de pele de ovelha. Devemos prestar atenção para
não sermos iludidos com as vestes e a aparência dos homens, como as dos
escribas, que preferiam andar usando vestes longas (Lc 20.46).
Ou, falando
figurativamente, eles pretendem ser cordeiros, e externamente parecem ser
totalmente inocentes, inofensivos, humildes, úteis e tudo mais que é bom, e se colocam
acima de todos os homens. Eles fingem ser homens justos e, por causa da sua
aparência, são aceitos entre as ovelhas e isso lhes dá a oportunidade de
fazer-lhes o mal sem que ninguém perceba. Eles e suas mentiras estão cercados
de ilusórias pretensões de santidade e devoção. Satanás se transforma num anjo
de luz (2
Co 11.13,14). 0 inimigo tem chifres como um cordeiro (Ap 13.11), e as feições
de um homem (Ap 9.7,8). Sua linguagem é sedutora e suas maneiras são suaves
como a lã (Em 16.18; Is 30.10).
2, Também precisamos
ter muito cuidado porque sob essas pretensões seus desígnios são
mal-intencionados e enganadores e, no seu interior, eles não passam de lobos
devoradores. Todo hipócrita é um lobo com peie de ovelha. Ele não é uma ovelha,
mas o seu pior inimigo, que aparece apenas para destruir, devorar e espantar as
ovelhas (Jo 10.12), para levá-las para longe das suas companheiras e de Deus,
conduzidas por atalhos tortuosos.
Aqueles que pretendem
nos enganar com qualquer verdade, e nos dominam com terror, sob qualquer que seja
seu propósito, têm a intenção de faze)- mal à nossa alma. Paulo dá a eles o
nome de lobos cruéis (At 20.29).
Eles são glutões e
servem ao próprio ventre (Rm 16.18), eles lucram conosco e fazem de nós a sua
presa. Como isso é muito fácil, e também muito perigoso, tenha cuidado com os
falsos profetas.
II Eis aqui uma boa
regra para ser obedecida em nossos cuidados; devemos examinar todas as coisas (1
Ts 5.21), e provar todos os espíritos (1 Jo 4.1). Aqui temos uma prova
fundamental, iremos conhecê-los pelos seus frutos (vv. 16-20). Observe:
1. O exemplo dessa
comparação - o fruto serve para revelar a árvore. N em sempre podemos
distinguir a árvore pelo tronco ou pelas folhas, nem pela distribuição dos seus
ramos. Somente através dos frutos ficaremos conhecendo a sua natureza, pois o
fruto está de acordo com a árvore. Os homens podem, através da sua religião, influir
na sua natureza e contradizer princípios interiores, porém a corrente e a
inclinação das suas práticas estarão de acordo com ela. Cristo insistiu nesse
ponto, sobre a concordância entre arvore e o seu fruto. (1) Se você conhece a
árvore, sabe também qual fruto deve esperar. Nunca procure colher uvas dos
espinheiros, ou figos dos abrolhos. Não faz parte da sua natureza produzir esses
frutos. Podemos confundir uma maçã, e um cacho de uvas pode estar pendurado num
espinheiro, da mesma maneira que uma boa verdade, ou uma boa palavra ou ação,
podem sei- encontradas num homem mau, mas esteja certo de que elas nunca
nasceram lá.
Veja bem: (1)
Corações corruptos, malvados e pecadores são como o espinheiro e o abrolho, que
vieram com o pecado, esses corações são inúteis, inquietos e destinados ao
fogo. [2J As boas obras São como os bons frutos, como as uvas e os figos, elas
são agradáveis a Deus e proveitosas ao homem. (3) Nunca podemos esperar um bom
fruto de um homem mau, e coisas limpas de coisas impuras, pois a eles falta a
influência de um princípio reconhecido.
Um mau tesouro irá
produzir coisas más. (2) Por outro lado, se você conhecer como o fruto é,
poderá conhecer como é a árvore que o produziu. Uma boa árvore não poderá
produzir maus frutos, assim como uma árvore corrompida não poderá produzir bons
frutos, mas apenas frutos maus. Devemos considerar o fruto que é produzido
natural e genuinamente por uma árvore, e de forma constante e abundante. Os
homens não são conhecidos através de atos particulares, mas pelo curso e teor
da sua conduta e pelos atos praticados com mais frequência, especialmente aqueles
que parecem ser livres, próprios e isentos da influência de qualquer persuasão ou
motivos externos. 2. A aplicação dessas verdades aos falsos profetas.
(1) Através do terror
e da ameaça (v. 10). Toda árvore que não produz bons frutos deve ser cortada. O
próprio João Batista usou essa citação (cap. 3.10). Cristo poderia ter falado a
mesma coisa com outras palavras, poderia ter feito alguma alteração ou Lhe dado
uma nova forma. Mas acreditou que não havia nenhum descrédito para Ele se
repetisse o que João Batista havia afirmado antes. Os ministros não devem ser
ambiciosos a ponto de produzir novas expressões, nem o ouvido das pessoas
ansiar por novidades. Falar e escrever as mesmas coisas não deve ser penoso,
pois é mais seguro.
Eis aqui: (1) A
descrição de árvores estéreis, árvores que não produzem bons, frutos. Embora os
frutos possam existir, se não forem bons a árvore será considerada estéril.
Mesmo que as ações representadas por estes frutos sejam provenientes de boas
intenções, elas não serão aceitáveis se não forem realizadas da maneira
correta, e com os propósitos corretos. [2] O destino das árvores estéreis. Elas
certamente serão cortadas e lançadas ao fogo. Deus irá fazer com eles o mesmo
que o homem faz com as árvores secas que ocupam inutilmente terreno. Ele irá
marcá-los com algum sinal da sua insatisfação, despindo-os da suas partes e dos
seus dons, irá abatê-los até a morte e lançá-los ao fogo do inferno, um fogo
atiçado com a ira de Deus e alimentado com a madeira das árvores estéreis,
Compare isso com Ezequiel 31.12,13; Daniel 4.14; João 15.6. (2) Através do
julgamento. Pelos seus frutos iremos conhecê-los.
[1] Pelos seus frutos
como pessoas, isto é, suas palavras e atos, e pelo curso da sua conduta. Se
você não sabe se estão certos ou errados, observe como vivem.
Suas obras irão
testificar a favor ou contra eles. Os escribas e fariseus sentavam-se na
cadeira de Moisés e ensinavam a lei, mas eram orgulhosos, falsos, opressores e
cobiçosos, portanto Cristo preveniu os apóstolos para tomar cuidado com eles e
com sua influência (Mc 12.38). Se os homens fingem sei' profetas, mas são
imorais, isso irá contradizer as suas pretensões. Qualquer que seja a religião
que professam, se 0 deus a que servem estiver no seu ventre, se só pensarem nas
coisas terrenas, não serão verdadeiros amigos da cruz de Cristo (Fp 3.18,19).
Não foram ensinados, nem enviados pelo Deus Santo, e suas vidas provam que são
guiados por um espírito imundo. Deus coloca tesouros era vasos de barro, mas
não em vasos corrompidos como estes. Eles podem declarar os estatutos de Deus,
mas de que maneira devem fazê-lo? [2] Através dos frutos da sua doutrina, dos
seus frutos como profetas. Porém, essa não é a única maneira de provar sua
doutrina, sejam eles enviados por Deus ou não. O que eles tendem a fazer? A
quais sentimentos ou práticas guiarão aqueles que os aceitam? Se a doutrina for
de Deus, ela promoverá uma sincera piedade, humildade, caridade, santidade e
amor, além de outras virtudes cristãs. Mas, se ao contrário, as doutrinas
pregadas por esses profetas revelarem uma manifesta tendência para tomar as
pessoas orgulhosas, mundanas e provocadoras, negligentes e descuidadas em suas
condutas, injustas, exigentes, revoltadas ou perturbadoras da ordem pública, se
elas toleram a liberdade sexual, e afastam as pessoas do autocontrole e das
suas famílias, de acordo com as rigorosas leis do caminho estreito, podemos concluir
que essa persuasão não vem daquele que nos chamou (G15.8). Essa sabedoria não
vem do alto (Tg 3.15). A fé e uma boa consciência sempre caminham juntas (1 Tm
1.19; 3.9), Veja que as doutrinas de duvidosa controvérsia devem ser
comprovadas através de graças e deveres devidamente confessados. Essas opiniões
não vêm de Deus e levam ao pecado. Se não pudermos conhecê-los pelos seus
frutos, devemos recorrer à grande pedra fundamental, à lei e ao testemunho.
Será que eles falam de acordo com essa regra?
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo
Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 85-87.
Mt 7:15-20 Durante
alguns séculos, antes da vinda de Cristo, acreditava-se de modo geral que a
profecia havia cessado. O período entre os dois testamentos às vezes é chamado
de período de silêncip. Vindo João Batista, retornou a voz profética, e no
início do cristianismo a profecia floresceu. A multidão reunida no dia de
pentecoste, Pedro explicou que o fenômeno das línguas era o cumprimento da
promessa feita por Joel segundo a qual nos últimos dias Deus derramaria seu
Espírito em todos, de tal modo que os moços teriam visões, os velhos teriam sonhos,
e homens e mulheres proclamariam a mensagem (Atos 2:17-18; cp. 1 Coríntios
14:29-31).
A medida que a igreja
crescia, o problema dos falsos profetas ia-se tomando agudo. Jesus havia-nos
advertido contra o surgimento de falsos profetas que enganariam o povo (Mateus
24:11, 24). João também advertiu os crentes (1 João 4:1-3; Apocalipse 2:20). De
que maneira os cristãos poderiam reconhecer um falso profeta? Nos tempos
antigos o profeta ficava desacreditado se aquilo que ele houvesse proclamado em
nome de Deus não se cumprisse (Deuteronômio 18:20-22). O didache apresenta
alguns testes simples para identificar o falso profeta (se ele permanecer mais
de dois dias ou se pedir dinheiro, 11:5-6). É “pelo comportamento dele,
portanto, [que] o falso profeta é distinguido do verdadeiro” (didache 11:8).
Jesus nos adverte
contra os falsos profetas. Eles chegam disfarçados em ovelhas (isto é, parecem
pertencer ao rebanho de crentes; cp. Números 27:17 e Salmo 100:3, quanto
afigura de linguagem; além disso, os profetas usavam roupas feitas de peles de
animais, Zacarias 13:4; Mateus 3:4), mas interiormente são lobos devoradores
(todas as atividades deles são motivadas pela ambição pessoal; matarão e
destruirão os outros se isso for para seu lucro egoísta). Apresentar-se com
vestes de profeta era o mesmo que vindicar essa posição. De início parecia que
o ensino deles era verdadeiro, mas, quando se examinou o modo como viviam,
descobriu-se que eram lobos (falsos profetas; cp. Ezequiel 22:27; Zacarias
3:3).
Os falsos profetas
são conhecidos pelos seus frutos. Numa época em que Deus ainda estava revelando
sua vontade mediante o ofício profético, era mais difícil dar validade a uma
mensagem com base em seu conteúdo teológico, que deveria ser aceitável. Os
falsos profetas podiam ser identificados de modo mais simples mediante o modo
de vida deles. Colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Se não
houver uvas é que não há videira. Se os frutos são maus, é que você não tem uma
árvore boa. De modo semelhante, se a vida do profeta não se nivela à sua
pregação, você estará diante de um falso profeta. “Tal pai, tal filho; o fruto
se parece com a árvore” eram os ditados dos antigos. A boa teologia deve
produzir retidão ética. A conduta revela o caráter.
ROBERT
H. MOUNCE. Novo Comentário Bíblico
Contemporâneo. Baseado na Edição Contemporânea
de Almeida. Editora Vida Nova. pag. 76-77.
Mencionam-se
profetas! São pessoas que falam em nome de Deus. Assim também esses profetas se
apresentam no meio da comunidade de Cristo como quem usa palavras santas e fala
em nome de Deus. Não obstante, o que dizem e o que fazem não é de Deus, porque
sua motivação íntima é sombria e sacrílega. Por isso se comparam a lobos
vorazes que andam sob a veste de ovelhas e, como piores inimigos do rebanho,
dividem a comunidade do Senhor.
Como seria bem mais
fácil viver seguindo a Jesus, andar no caminho estreito, se não irrompessem
sempre de novo na própria comunidade de Jesus a ânsia de poder e de vantagem
pessoal, a necessidade de prestígio e as discórdias. Desse modo, cada um
precisa acautelar-se diante do outro e cuidar de si próprio e do “rebanho”.
O sinal de
reconhecimento para discernir quem é lobo e quem é ovelha é definido por Jesus
nos termos: Pelos seus frutos os conhecereis! Quando a comunidade do Senhor for
fiel na oração e na vigilância, em breve se revelará quais foram os poderes
ocultos e sombrios e as motivações dos “lobos em peles de ovelha”. Promoveram a
sua própria obra e não a obra de Deus. Será descoberto se tinham o Espírito de
Deus ou o espírito de baixo, se produziram fé ou descrença, se levaram à paz ou
à discórdia, se buscaram a santificação ou não, se aproximaram de Deus ou
fixaram as pessoas a si próprios, se defenderam com toda a clareza a vontade de
Deus ou perseguiram alvos egoístas.
Efeitos e frutos do
Espírito Santo somente podem crescer sobre o chão do Espírito Santo, não sobre
a areia desértica do espírito anticristão. Para tornar isso mais uma vez
palpável o Senhor lança mão de outra dupla de parábolas, das sebes de espinhos
e das árvores imprestáveis em combinação com os seus frutos.
Do mesmo modo como é
impossível que a fruta de uma árvore seja outra que a da própria árvore, também
é impossível que o diabo busque a santificação, que a injustiça dê à luz a
justiça, que a mentira produza a verdade, que a motivação falsa efetue um crescimento
na fé, que a briga leve à paz, e o egoísmo gere o amor ágape.
Porque, apesar de não
podermos olhar para dentro do coração da pessoa, podemos, com o tempo, deduzir
a partir do que “sai dela” o que a moveu internamente. Assim como o fruto
produzido pela árvore corresponde exatamente ao que a árvore é em si, tudo o
que o ser humano faz também está profundamente ligado ao que ele é em sua
essência. Se não recebeu o Espírito de Deus, tampouco pode gerar frutos do
Espírito, nem mesmo quando “emoldura” seu falar e agir com o nome de Deus.
O juízo de Deus
queimará esses frutos aparentes e frutos falsos juntamente com a árvore. Porém
a comunidade de Jesus tem o dever de separar-se o quanto antes de tais “falsos
profetas” e “lobos em pele de ovelha”. Isso é o que a disciplina exige, pois o
Espírito Santo é um Espírito de disciplina.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica
Esperança.
Advertência contra os
falsos profetas, V.15: Acautelai-vos dos falsos profetas que se vos apresentam
disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Esta é uma das
maneiras pelas quais os discípulos de Cristo poderão ser desviados do caminho
ao céu, o que torna o fato uma advertência necessária. Tomai cuidado,
conservai-vos longe, não tende nada a ver com pseudo-profetas, com profetas
falsos. Até mesmo é loucura parar e discutir com eles. Pois, eles são profetas
falsos. Falsificam, deliberadamente, a Palavra de Deus. Eles colocam suas
próprias mentiras e a sabedoria de pessoas falíveis no lugar da verdade eterna.
Chegam, sem serem convidados, sem chamado. Têm, como prática, ir àquelas
pessoas que são membros duma igreja, com a intenção deliberada de induzi-las a
abandonarem a verdade. São sábios em sua própria presunção e nas formas do
engano. Chegam numa forma muito humilde, na vestimenta da inocência e
inofensividade. Confessam ter autorização do próprio Deus, e são adeptos de
fingida amabilidade. Mas seu verdadeiro caráter se mostrará depois, visto que,
por inclinação e treinamento, são lobos vorazes. Sua natureza é devorar. São
gananciosos por dinheiro, ambiciosos por poder, mas, acima de tudo, são
ansiosos para destruir almas. São assassinos de almas humanas.
O princípio de testar
mestres falsos e todos os fraudes, V.16: Pelos seus frutos os conhecereis.
Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? 17) Assim
toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. 18)
Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos
bons. Um ponto importante: Não só os discípulos de Cristo, por si mesmos, podem
identificar estes falsos mestres, mas o Senhor espera que os reconheçam porque
estudaram seus métodos e maneira de viver.Os cristãos são capazes de provar os
espíritos - até têm o sagrado dever de faze-lo - e de examinar e testar a
doutrina que lhes é oferecida. Eles têm uma regra infalível, que é o ensino de
Cristo, a Palavra da Verdade. Conforme este critério e padrão, devem julgar,
não só a doutrina, mas também as obras dos mestres falsos, as quais, aqui, são
chamadas de seus frutos. As pessoas nunca imaginam colher uvas dos espinheiros
ou figos dos abrolhos. Eles não são enganados por falsas aparências, tal com o
botânico que, com uma olhadela, apontará a variedade venenosa de fruta ou dum
cogumelo duma boa. Mas, mesmo lá onde não acontece tanto o conhecimento
botânico, se distingue imediatamente a árvore boa, a que está em boas condições
e sadia, da árvore doente, degenerada por causa do mau solo, ou que, por causa
da idade, já não produz mais fruto. Todas estas árvores carregam fruto de
acordo com sua natureza própria. Este teste nunca falha. “Como, perfeitamente,
sabemos que uma árvore boa não produzirá fruto mau, e que uma árvore má não
produzirá bom fruto - e nem o poderá -, assim, também sabemos que, enquanto o
viver é impiedoso, a confissão de piedade é impossível, mas é hipocrisia e
engano”.
O fim dos impostores,
V.19: Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. 20)
Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis. Quanto ao que diz respeito ao
teste de árvores, o julgamento das pessoas é tão claro e absoluto, que elas não
hesitam em cortar e queimar uma árvore ruim. Elas sabem muito bem, que para
aquela árvores é totalmente impossível produzir, mesmo no próximo ano, fruto
bom. Este juízo, porém, também acertará aqueles que são culpados de doutrina e
vida falsas, cujos frutos, finalmente, irão revelar a condição de suas almas.
Será sua a punição do fogo do inferno. Enquanto isto, os cristãos não devem esquecer
seu dever de testar e examinar a doutrina e as obras dos mestres falsos, para
que não se tornem culpados de negligência em assuntos espirituais. “Nenhuma
doutrina falsa ou heresia, jamais, surgiu sem ter o sinal que o Senhor indica
aqui, a saber, que eles produziram outras obras do que aquelas mandadas e
ordenadas por Deus...Deixem que aquele, que deseja julgar corretamente, faça
como Cristo lhe ensina aqui, pegando suas obras e frutos, para as colocar ao
lado da Palavra e dos mandamentos de Deus. Assim ele verá, imediatamente, se
eles concordam entre si... Desta forma possuis um juízo seguro, que não poderá
falhar, como Cristo te ensina a conhecê-los pelos seus frutos. Pois, tenho
estudado a respeito de todos os heréticos e seitas, e verifiquei que eles
sempre produziram e trouxeram algo que foi diferente daquilo que Deus ordenou e
impôs, um nesse, outro naquele artigo. Um proibiu comer de tudo. O segundo, o
casamento. O terceiro condenou qualquer governo, escolhendo cada um o seu
próprio. Concluo que todos eles andam neste trilho”.
KRETZMANN.
Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo
Testamento Volume 1. Editora
Concordia Publishing House.
I João 4. 3. Ele
apresenta um teste para os discípulos poderem provar esses espíritos fingidos.
Esses espíritos levantaram-se como profetas, doutores ou doutrinadores na
religião cristã e, assim, eles precisavam ser provados pela sua doutrina; e a
prova naquele tempo ou naquela parte do mundo em que o apóstolo residia (pois
em várias épocas e em várias igrejas as provas seriam diferentes) precisava ser
esta: “Nisto conhecereis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que
Jesus Cristo veio em carne (ou confessa a Jesus Cristo que veio em carne) é de
Deus” (v. 2). Jesus Cristo deve ser confessado como o Filho de Deus, a Vida e
Palavra eternas, que estava com Deus desde o início; como o Filho de Deus que
veio ao mundo e veio em nossa natureza humana mortal e nela sofreu e morreu em
Jerusalém. Aquele que confessa e prega isso, por meio de uma mente
sobrenaturalmente bem informada e iluminada dessa maneira, faz isso pelo Espírito
de Deus ou Deus é o autor dessa iluminação. Do contrário: “...todo espírito que
não confessa que Jesus Cristo veio em carne (ou a Jesus Cristo que veio em
carne) não é de Deus (v. 3). Deus concedeu tanto testemunho de Jesus Cristo,
que esteve nos últimos tempos aqui no mundo e na carne (ou em um corpo físico
como o nosso), embora agora no céu, que vós podeis estar assegurados de que
qualquer impulso ou inspiração simulada que contradiga isso está longe de ser
do céu e de Deus”. O resumo da revelação é compreendido na doutrina acerca de Cristo,
sua pessoa e sua função. Por isso, vemos o incremento de uma oposição
sistemática a Ele e a isso. “...mas este é o espírito do anticristo, do qual já
ouvistes que há de vir, e eis que está já no mundo” (v. 3). Foi previsto por Deus
que anticristos surgiriam e espíritos anticristãos se oporiam ao seu Espírito e
à sua verdade; também foi previsto que um anticristo eminente surgiria e
travaria uma batalha longa e fatal contra o Cristo de Deus e sua instituição e
honra e reino no mundo. Esse grande anticristo teria seu caminho preparado e
sua origem facilitada por outros anticristos menores, e o espírito do erro
trabalharia e inclinaria a mente dos homens para si: o espírito do anticristo
começou cedo, mesmo que esse começo ocorresse no tempo dos apóstolos. Terrível
e insondável é o julgamento de Deus, pois pessoas cederam a um espírito anticristão
e a esse tipo de escuridão e desilusão a ponto de colocar-se contra o Filho de
Deus e todo testemunho que o Pai tinha apresentado do Filho! Mas nós fomos avisados
antecipadamente de que esse tipo de oposição ocorreria; deveríamos, portanto,
cessar de ficar escandalizados e quanto mais vermos a palavra de Cristo cumprida,
tanto mais devemos ser confirmados pela sua verdade.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo
Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 926.
Um esclarecimento
necessário (4.2,3).
Nisto reconhecereis o
Espírito de Deus: todo espírito que confessar que Jesus Cristo veio em carne é
de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo
contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido
que vem e, presentemente, já está no mundo.
Simon Kistemaker diz
que, no grego, João usa o tempo perfeito para a palavra veio a fim de indicar
que Jesus veio em natureza humana e, ainda agora, no céu, ele possui uma
natureza humana, ou seja, além de sua natureza divina, ele também tem uma
natureza humana.
Os falsos mestres
gnósticos negavam tanto a divindade quanto a humanidade de Cristo. Eles negavam
tanto a sua encarnação como a sua ressurreição. Eles negavam tanto o seu
nascimento virginal quanto a sua morte expiatória.
A critologia deles
procedia do anticristo. Embora o anticristo seja um personagem que aparecerá no
futuro, seu espírito já opera no mundo. Os verdadeiros profetas são
instrumentos de comunicação do Espírito de Deus (4.2).
Os falsos profetas
são instrumentos de comunicação do “[...] espírito do erro” (4.6). Por trás de
cada profeta está um espírito, e por trás de cada espírito está Deus ou o
diabo. Antes de podermos confiar em quaisquer espíritos, precisamos prová-los,
se procedem de Deus. O que importa é a sua origem.
Augustus Nicodemus
tem razão quando diz que o anticristo é uma figura escatológica sombria que
virá no fim dos tempos, cuja característica principal é a guerra contra o povo
de Deus e o desejo de ocupar o lugar de Deus. Ele virá no poder de Satanás,
fazendo sinais e prodígios e disseminando o erro, sendo finalmente destruído
pelo Senhor. Esse grande anticristo tem seu caminho preparado, e seu surgimento
facilitado por outros anticristos menores, o espírito do erro que opera e
dispõe a mente das pessoas para ele.
Qualquer espírito que
nega que Jesus é o Cristo e qualquer espírito que nega que Jesus veio em carne
não é de Deus. William Barclay diz que para ser de Deus, um espírito deve
confessar que Jesus é o Cristo, o Messias. Negar esta verdade é negar que Jesus
é o centro da História, aquele para quem toda a História tem uma preparação; é
negar que ele é o cumprimento das promessas de Deus; é negar sua soberania.
Jesus Cristo veio não
só para morrer, mas também para estabelecer o seu Reino de graça e de glória.
Entretanto, negar que Jesus veio em carne, ou seja, a sua encarnação, é negar
que ele pode ser o nosso exemplo; é negar que ele seja o nosso Sumo Sacerdote,
que nos abre acesso à presença de Deus; é negar que ele seja o nosso Salvador;
é negar a redenção do corpo bem como a possibilidade do encontro entre o humano
e o divino.
Simon Kistemaker é
enfático sobre esse ponto:
Qualquer um que
separa a natureza humana da natureza divina de Jesus Cristo fala sem a
autoridade de Deus. E qualquer um que negue a natureza humana ou divina de
Jesus “não procede de Deus”. Além disso, qualquer um que ensine que Jesus
recebeu de Deus um espírito divino quando foi batizado e que esse espírito o
deixou quando ele morreu na cruz está distorcendo o evangelho. E, finalmente,
qualquer um que diga que depois da morte de Jesus ele foi feito Filho de Deus,
não está apresentando a verdade da Palavra de Deus. Todos esses mestres não
falam como representantes de Jesus Cristo, não foram comissionados por Deus e
não são porta-vozes do Espírito de Deus neste mundo.
João faz certamente
uma distinção entre o conhecimento e a confissão. Não basta saber que Jesus
Cristo veio em carne, é preciso confessar essa bendita verdade. Até os
espíritos impuros reconheceram a divindade de Jesus durante o seu ministério
(Mc 1.24; Mc 3.11; Mc 5.7,8). Contudo, embora o conhecessem, não o confessavam.
O Espírito de Deus, porém, dá testemunho de que Jesus Cristo, sendo Deus, se
fez carne.
O ministério
particular do Espírito é testemunhar de Jesus (Jo 15.26; 16.13-15). O ministério
do Espírito é o ministério do holofote. Ele aponta sua luz para Jesus. O
Espírito veio para testemunhar que Jesus não deixou de ser Deus ao se fazer
homem. Sua encarnação não foi aparente como ensinavam os falsos mestres do
docetismo nem sua divindade foi uma mera simulação.
Os falsos mestres do
gnosticismo separavam o Jesus do Cristo; faziam uma distinção entre o Cristo
divino e o Jesus histórico. Para eles, o Cristo veio sobre Jesus no batismo e
se retirou dele na cruz. João classifica esta posição como herege e procedente
do anticristo. Não foi o Cristo que veio “para” a carne de Jesus, mas o próprio
Jesus era o Cristo vindo “em” carne.
John Stott é oportuno
quando diz que o homem Jesus de Nazaré não é outro senão o Cristo ou o Filho
encarnado. Longe de vir sobre Jesus no batismo e deixá-lo antes da cruz, o
Cristo veio realmente em carne e nunca a deixou de lado. Com isto João está
dizendo que a doutrina cristã fundamental, que nunca pode ser transigida, é a
da Pessoa divino-humana e eterna de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Nenhum
sistema pode ser tolerado, por mais estrondosas que sejam as suas pretensões ou
por mais cultos que sejam os seus adeptos, se negar que Jesus é o Cristo vindo
em carne, isto é, se negar a sua divindade eterna ou a sua humanidade
histórica.
Em quarto lugar, um
contraste profundo (4.4). “Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os
falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está
no mundo.”
João faz uma
transição dos falsos profetas para os verdadeiros crentes. Os falsos profetas
são governados pelo espírito do anticristo; os verdadeiros crentes procedem de
Deus, são de Deus e são habitados por Deus. Os verdadeiros crentes vencem os
falsos profetas porque o Deus que neles está é maior do que o espírito do
engano que habita nos falsos profetas.
Werner de Boor diz
que o Deus vivo, infinitamente maior que o inimigo, não apenas está com os
crentes, mas também está neles. A mais necessária armadura para todas as lutas
e a força para repetidas vitórias está em saber que o próprio Senhor está “em
nós” pelo Espírito Santo.
Em quinto lugar, uma
procedência distinta (4.5,6).
Eles procedem do
mundo; por essa razão, falam da parte do mundo, e o mundo os ouve. Nós somos de
Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não
nos ouve. Nisto conhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro.
Simon Kistemaker diz
que os falsos profetas “são do mundo”. Eles tiram seus princípios, cuidados,
objetivos e existência do mundo de hostilidade, no qual Satanás governa como
príncipe (Jo 12.31).359 Pensamentos satanicamente inspirados são atraentes para
as mentes mundanas, diz Augustus Nicodemus. Os falsos profetas procedem do
mundo, e os verdadeiros crentes procedem de Deus; o mundo ouve os falsos
profetas enquanto os verdadeiros crentes ouvem o ensinamento dos apóstolos.
Aqueles que são de Deus ouvem as palavras de Deus (Jo 8.47). As ovelhas de
Cristo ouvem a sua voz (Jo 10.4,5,8,16,26,27). Aqueles que são da verdade ouvem
o testemunho da verdade (Jo 18.37). No entanto, o mundo ouve os falsos
profetas. O mundo é governado pelo espírito do erro e não pelo espírito da
verdade.
LOPES. Hernandes Dias. 1, 2, 3
JOÃO Como ter garantia da salvação. Editora Hagnos. pag.188-192.
I João 4. 2s Nesse
caso, porém, o apóstolo precisa ajudar as igrejas a “examinar” e mostrar-lhes
marcas identificadoras em que se evidencia se um profeta é “de Deus” ou não. É
o que João também passa a fazer já na frase seguinte. “Nisto reconheceis o
Espírito de Deus: Cada espírito que confessa Jesus Cristo como vindo na carne é
de Deus.” Como isso é notável para nós: não é para manifestações de poder de
qualquer tipo, ou para capacidades e forças prodigiosas que o apóstolo remete
como característica determinante para a autenticidade de um profeta!
Importa-lhe unicamente o conteúdo de sua mensagem. Entretanto, de que forma
peculiar se fala, nesse caso, do conteúdo central da proclamação! Novamente
precisamos reconhecer que se trata de uma “carta” autêntica que – ao contrário
de um tratado teológico genérico – fala a pessoas concretas em uma situação
concreta, que a princípio não precisa ser igual à nossa. Inicialmente teremos
pouco uso para a frase de João. Mas a igreja daquele tempo imediatamente
prestou atenção! Estava sendo afligida por propagandistas de um “gnosticismo
cristão”. Os grandes sistemas religiosos deles evidentemente também falavam de
“Cristo”. Atestava-se que um Cristo celestial teria vindo do mundo da luz para
conduzir as almas humanas de volta da perdição nas trevas e na morte, rumo ao
reino da luz. Contudo esse “Cristo” havia se conectado apenas temporariamente
com o homem histórico Jesus e vestia essa configuração humana apenas como traje
exterior. Quem padeceu e sangrou foi apenas o ser humano Jesus; somente ele morreu.
Afinal, sofrer, sangrar e morrer jamais seria possível para o ser celestial
“Cristo”. Por isso a redenção tampouco acontece através do sofrer, sangrar e
falecer, mas através da gnosis, do “conhecimento”, ainda que ele não seja
intelectual, mas místico-religioso. Para o gnosticismo cristão a afirmação de
que “o Verbo” não apenas se “revestiu” de carne, mas “veio a ser carne”, “veio
na carne”, era completamente absurda, e até mesmo blasfema. Para a mensagem
apostólica, porém, toda a importância residia justamente no rebaixamento do
Filho de Deus, em sua verdadeira humanização, em ter vindo “na carne”. Porque
somente assim era possível que acontecesse a única coisa que redime o ser
humano que resistia a Deus, culpado e perdido diante dele: o sofrimento e a
morte no madeiro maldito da cruz. Aqui os caminhos das igrejas apostólicas e do
gnosticismo cristão divergiam radicalmente.
Agora fica claro para
nós o quanto a frase de João, apesar de seu foco histórico, é uma frase
decisiva, e por isso também divisora, para qualquer época, inclusive a nossa.
De diferentes formas o ser humano sempre tenta ter um Cristo imponente, um
Cristo “ajustado ao moderno”, que ele possa recomendar a qualquer pessoa. Tenta
não precisar “se envergonhar” do evangelho. Tanto hoje como outrora o Cristo
que sofre, sangra e morre na cruz é “uma loucura” ou “um escândalo” (1Co 1.23).
Subjacente a isso, porém, está algo mais profundo. Nessa questão estamos em
jogo nós mesmos e nossa auto-apreciação. O Filho de Deus teve de “vir na
carne”, habitar no mundo sem esplendor e poder e morrer tão terrivelmente no
madeiro maldito por causa de nossos pecados. Ou seja, quem adora o verdadeiro
“Cristo”, o único Redentor de pessoas perdidas, na pessoa de Jesus, que foi
expulso pelos humanos, entregue por Deus ao juízo e morto na cruz, precisa
considerar a si mesmo uma pessoa condenada, cuja culpa miserável não lhe
concede saída perante Deus e que só pode ser redimido a esse custo. É contra
isso que nosso orgulho se rebela! É a essa condenação que resistimos. É em
razão disso que queremos ter outro Cristo: um Cristo nobre e magnífico, junto
ao qual nós mesmos podemos ser “magníficos”, um “Cristo” que é o “exemplo” que
nos impele a ações próprias de melhoramento do mundo. “Crer como Jesus”, “amar
como Jesus”, assumir a cruz como fez Jesus, isso passa a ser o caminho para a
salvação. Quem, no entanto, não tem no centro de sua confissão o Jesus Cristo
que “veio na carne” e seu morrer em nosso favor, evidencia-se assim como cego
que ainda não experimentou sua real perdição. Aqui abre-se o abismo que separa
vários tipos de cristianismos e teologias da mensagem apostólica.
Por essa razão João
prossegue: “E todo espírito que não confessa a Jesus não é a partir de Deus.” É
assim que o NT grego de Nestle apresenta o texto. Se João realmente escreveu
assim, ele pretendia dizer: quem fala somente de um Cristo celestial e não
confessa de fato “o Jesus” e, consequentemente, a verdadeira encarnação do
Redentor (com todo o padecimento e morte, em função dos quais ela aconteceu),
esse “não é a partir de Deus”. Passa longe da verdadeira revelação de Deus,
conduzindo a igreja ao engano. Os manuscritos da koiné e o Códice Sinaítico
também acrescentam aqui a expressão “como vindo na carne”. Então a frase
negativa é totalmente paralela à frase positiva anterior. Mas isso caracteriza
uma adequação posterior.
Lemos a respeito dos
pais da igreja Ireneo (178, bispo de Lyon), Orígenes (nasc. 185/186) e Clemente
de Alexandria (por volta do ano 200) que os manuscritos de 1Jo utilizados por
eles continham a seguinte frase na presente passagem: “e todo espírito que
dissolve a Jesus não é a partir de Deus”. Essa variante possui grande peso. Em
primeiro lugar porque os manuscritos de que esses homens dispunham no final do
séc. II eram muito mais antigos que os primeiros manuscritos disponíveis para
nós. Trata-se de uma atestação mais antiga. Em segundo lugar é totalmente
inexplicável como um copista teria inserido essa curiosa expressão “que
dissolve o Jesus” no texto se a versão original tivesse trazido o confortável
“que não confessa”. Em contraposição é fácil imaginar que os copistas
posteriores não sabiam o que fazer com a expressão “dissolver Jesus”, adequando
a formulação negativa à precedente positiva. “Quem confessa” – “quem não confessa”,
era um raciocínio quase automático. Para nós, porém, a expressão “dissolver a
Jesus” explicita com exatidão o que João imputava com apaixonada seriedade aos
novos mestres: “dissolveis” ao Jesus que os apóstolos testemunham, colocando no
lugar dele vossa própria construção mental de “Cristo”. Desse modo dissolveis
“o que era desde o início, o que ouvimos e vimos com os olhos, o que
contemplamos e apalpamos com as mãos, a palavra da vida” (1Jo 1.1s). Assim não
tendes uma teologia um pouco diferente, mais moderna, sobre a qual se possa
discutir, mas dissolveis e descartais todo o fundamento de fé e toda a certeza
de salvação da igreja.
A igreja precisa ver
isso e proferir um não radical a esses novos mestres. Sendo “dissolvido Jesus”,
o Cristo feito ser humano, entregue em favor de nós na cruz para a sentença
mortal de Deus, e ressuscitado por Deus, então fica aniquilada toda a salvação
para pecadores perdidos. A igreja não deve considerar as novas teorias como
sendo interessantes; não deve pensar que, afinal, é preciso ocupar-se delas,
não as condenando de antemão. Não, a igreja precisa reconhecer: “E esse é o
(espírito) do anticristo, do qual ouvistes que ele virá, e que agora ele já
está no mundo.” Esse cristianismo novo supostamente superior e mais puro é,
pelo contrário, “anticristianismo”. Aqui opera “o espírito do anticristo”, não
o Espírito de Deus. A advertência “não a partir de Deus” é agora positivamente
aguçada. A igreja ouviu a proclamação de que o anticristo “virá”. Contudo não
deve perder, diante desse olhar correto para o futuro, o olhar lúcido para a
atualidade. Precisa reconhecer que o “espírito” do anticristo “virá” não apenas
em um momento posterior, mas que “já está no mundo”, e precisamente na hora em
que lhe é apresentado um novo “cristianismo”! O soberano anticristão do mundo
um dia tentará “dissolver” a Jesus e sua igreja com toda a força brutal. Porém
a igreja deve notar: essa “dissolução” já se inicia agora de maneira sutil sob
a aparência de um melhoramento do cristianismo.
Werner
de Boor. Comentário Esperança I João. Editora Evangélica
Esperança.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva.
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