DONS DE ELOCUÇÃO
Data: 4 Maio de 2014 HINOS SUGERIDOS
33, 77, 185.
TEXTO ÁUREO
“Se
alguém falar, faie segundo as palavras de Deus; se alguém administrar,
administre segundo o poder que Deus dá, para que em tudo Deus seja glorificado
por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o poder para todo o sempre. Amém!”
(1 Pe 4.11)
VERDADE PRÁTICA
Os
dons de profecia, de variedades de línguas e de interpretação das línguas são
para edificar, exortar e consolar a Igreja de Cristo.
LEITURA Diária
Segunda - Jo 1 7.17 A Palavra de Deus é a verdade
Terça - 1 Tm 4.14 Não despreze o dom de Deus
Quarta - 1 Co 14.3 Os objetivos do dom de profecia
Quinta - 1 Co 14.32 Equilíbrio e bom-senso quanto aos
dons
Sexta - 1 Co 14.22-25 Sinais para os fiéis e para os infiéis
Sábado - 1 Co 12.31 Buscar os dons com zelo
LEITURA BÍBLICA EM
CLASSE
1
Coríntios 12.7,10-12,- 14.26 32
I
Coríntios 12
7
- Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil.
10
- e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o dom
de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a
interpretação das línguas.
11
- Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas,
S
repartindo particularmente a cada um como quer.
12
- Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e s todos os membros,
sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também.
1
Coríntios 14
26
- Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem
doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para
edificação.
27
- E, se alguém falar língua estranha, faça-se isso por dois ou, quando muito,
três, e por sua vez, e haja intérprete.
28
- Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja e fale consigo mesmo e
com Deus.
29
- E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.
30
- Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o
primeiro.
31
- Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros, para que todos
aprendam e todos sejam consolados.
32
- E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas.
INTERAÇÃO
Prezado
professor, na lição de hoje estudaremos a respeito dos três dons de elocução:
profecia, variedade de línguas e interpretação. Qual o propósito destes dons?
Atualmente temos visto muita confusão e falta de sabedoria no uso destes dons,
em especial o de profecia, por isso, precisamos estudar com afinco este tema a
fim de que não sejamos enganados pelos falsos profetas. Paulo exortou os
crentes de Corinto para que eles procurassem com zelo os dons espirituais e em
especial o dom de profecia, pois aquele que profetiza edifica toda a igreja.
Por isso, ao preparar a lição, ore e peça que o Senhor conceda a você e aos
seus alunos os dons de profecia, de faiar em línguas estranhas e o de
interpretá-las.
OBJETIVOS
Após
esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Analisar biblicamente o dom
de profecia.
Compreender o dom de variedade
de línguas.
Valorizar o dom de
interpretação de línguas.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Professor,
para introduzir o primeiro tópico da lição, faça as seguintes indagações: “O
que é ser profeta?" “Qual é a função do profeta?" Depois de ouvir os
alunos, explique que o profeta é aquele que fala em lugar de outrem. Sua função
é proclamar os oráculos de Deus a fim de que a Igreja seja edificada, exortada
e consolada. A Palavra de Deus nos exorta a não desprezarmos as profecias,
todavia precisamos examiná-las com sabedoria, de acordo com a Palavra de Deus,
pois muitos falsos profetas têm se levantado atualmente. Leia, juntamente com
os alunos 1 Tessalonicenses 5.20,21. Ressalte que a Igreja não pode deixar de
julgar as profecias e discernir os espíritos.
PALAVRA-CHAVE
Elocução: Ação ou efeito de enunciar o pensamento por palavras.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
O
estudo da lição desta semana concentrar-se-á nos três dons classificados como
os de elocução: profecia, variedade de línguas e interpretação das línguas. Os
propósitos destes dons especiais são os de edificar, exortar e consolar a
Igreja de Cristo (1 Co 14.3). Isso porque os dons de elocução são manifestações
sobrenaturais vindas de Deus, e não podem ser utilizadas na igreja de forma
incorreta. Assim, devemos estudar estes dons com diligência, reverência e temor
de Deus, para não sermos enganados pelas falsas manifestações.
I - DOM
DE PROFECIA (1 Co 12.10)
1. O que é o dom de
profecia?
De acordo com Stanley Horton, o dom de profecia relatado por Paulo em 1
Coríntios 14 refere-se a mensagens espontâneas, inspiradas pelo Espírito, em
uma língua conhecida para quem fala e também para quem ouve, objetivando
edificar, exortar ou consolar a pessoa destinatária da mensagem. Profetizar não
é desejar uma bênção a uma pessoa, pois essa não é a finalidade da profecia.
Infelizmente, por falta de ensino da Palavra de Deus nas igrejas, aparecem várias
aberrações concernentes ao uso incorreto deste dom. Não poucos crentes e
igrejas locais sofrem com as consequências das falsas profecias. Apesar dei exortar-nos
a não desprezar ou sufocar as profecias na igreja local (1 Ts 5.20), as
Escrituras orientam-nos a que examinemos “tudo", julgando e discernindo,
pelo Espírito, o que está por trás das mensagens. Toda profecia espontânea deve
ser julgada (1 Co 14.29-33).
2. A relevância do
dom de profecia. O
dom de profecia é tão importante para a Igreja de Cristo que o apóstolo Paulo
exortou a sua busca (1 Co 14.1). Não obstante, ele igualmente recomendou que o
exercício desse dom fosse observado pela ordem e cuidado nos cultos (1 Co 1
4.40). Os crentes de Corinto deveriam julgar as profecias quanto ao seu conteúdo
e a origem de onde elas procedem (1 Co 1 4.29), pois elas possuem três fontes
distintas: Deus, o homem ou o Diabo. Devemos nos cuidar, pois a Bíblia, tanto
no Antigo quanto no Novo Testamento, mostra ações dos falsos profetas. O Senhor
Jesus nos alertou: “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós
vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores” (Mt 7.15).
Vigiemos!
3. Propósitos da
profecia. A
profecia contribui para a edificação do crente. Porém, ainda existe muita confusão
a respeito do uso dos dons de elocução, e em especial ao de profecia e sua
função. Há líderes permitindo que as igrejas que lideram sejam guiadas por
supostos profetas.
A
Igreja de Jesus Cristo deve ser conduzida segundo as Escrituras, pois esta é a inerrante
Palavra de Deus- A Bíblia Sagrada, a Profecia por excelência, deve ser o manual
do líder cristão. Outros líderes, também erroneamente, não tomam decisão alguma
sem antes consultar um “profeta” ou uma “profetisa”. Estes profetizam aquilo
que as pessoas querem ouvir e não o que o Senhor realmente quer falar. Todavia,
a Palavra de Deus alerta-nos a que não ouçamos a tais falsários (Jr 23.9-22).
SINOPSE
DO TÓPICO (1)
O
propósito do dom de profecia é edificar, exortar e consolar a Igreja (1 Co
14.3).
II -
VARIEDADE DE LÍNGUAS (1 Co 12.10)
1. O que é o dom de
variedades de línguas? De acordo com o teólogo pentecostal Tho- mas Hoover, o
dom de línguas é “a habilidade de falar uma língua que o próprio falante não
entende, para fins de louvor, oração ou transmissão de uma mensagem divina”.
Segundo Stanley Horton, “alguns ensinam que, por estarem alistados em último
lugar, estes dons são os de menor importância”. Ele acrescenta que tal
“conclusão é insustentável”, pois as “cinco listas de dons encontradas no Novo
Testamento colocam os dons em ordens diferentes”. O dom de variedades de
línguas é tão importante para a igreja quanto os demais apresentados em 1
Coríntios 12.
2. Qual é a
finalidade do dom de variedade de línguas? O primeiro propósito é a edificação
da vida espiritual do crente (1 Co 14.4). As línguas, ao contrário da profecia,
não edificam ou exortam a igreja. Elas são para a devoção espiritual do crente
que recebe este dom. À medida que o servo de Deus fala em línguas estranhas vai
sendo também edificado, pois o Espírito Santo o toca e renova diretamente (1 Co
14.2).
3. Atualidade do dom. É preciso deixar
claro que a variedade de línguas não é um fenômeno exclusivo do período
apostólico. O Senhor continua abençoando os crentes com este dom e cremos que
assim o fará até a sua vinda. No Dia de Pentecostes, todos os crentes reunidos
no cenáculo foram batizados com o Espírito Santo e falaram noutras línguas pelo
Espírito (At 1.4,5; 2.1-4). É um dom tão útil à vida pessoal do crente em
nossos dias quanto o foi nos dias da igreja primitiva.
SINOPSE
DO TÓPICO (2)
O
dom de línguas é tão importante para a igreja quanto os demais apresentados em
1 Coríntios 12.
III -
INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS (1 Co 12.10)
1. Definição do dom. Thomas Hoover ensina
que a interpretação das línguas é “a habilidade de interpretar, no próprio
vernáculo, aquilo que foi pronunciado em línguas”. Na igreja de Corinto havia
certa desordem no culto com relação aos dons espirituais, por isso, Paulo os
advertiu dizendo: “E, se alguém falar língua estranha, faça-se isso por dois
ou, quando muito, três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver
intérprete, esteja calado na igreja e fale consigo mesmo e com Deus” (1 Co
14.27,28).
2. Há diferença entre
dom de interpretação e o de profecia? Embora haja semelhança são dons distintos. O
dom de interpretação de línguas necessita de outra pessoa, também capacitada
pelo Espírito Santo, para que interprete a mensagem e a igreja seja edificada.
Do contrário, os crentes ficarão sem entender nada. Já no caso da profecia não
existe a necessidade de um intérprete. Estêvam Ângelo de Souza definiu bem essa
questão quando disse que “não haverá interpretação se não houver quem fale em
línguas estranhas, ao passo que a profecia não depende de outro dom”.
SINOPSE
DO TÓPICO (3)
O
dom de interpretação de línguas é imprescindível para que todos sejam
edificados.
CONCLUSÃO
Ainda
que haja muitas pessoas em diversas igrejas que não aceitem a atualidade do
batismo com o Espírito Santo e dos dons espirituais — os chamados “sensacionistas”
— Deus continua abençoando os crentes com suas dádivas. Portanto, não podemos
desprezar o dom de profecia, o de falar em línguas estranhas e o de
interpretá-las. Porém, façamos tudo conforme a Bíblia: com sabedoria, decência
e ordem (1 Co 14.39,40). Agindo dessa forma, Deus usará os seus filhos para que
sejam portadores das manifestações gloriosas dos céus.
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO
I
Subsídio
Teológico
“Paulo
era grato a Deus por falar em línguas, e mais do que todos os coríntios. Na igreja,
porém, diz que preferiria falar cinco palavras com seu entendimento, a fim de
que pudesse, pela sua voz ensinar aos outros, do que dez mil palavras em
línguas (1 Co 14.18,19). Mas não deseja com isso excluir as línguas. É parte
legítima de sua adoração (1 Co 14.26).
Paulo
lhes adverte para que cessem de proibir o falar em línguas. Segundo parece,
alguns não gostavam da confusão causada pelo uso exagerado das línguas.
Procuravam solucionar o problema por meio da proibição total do falar em
línguas. Mas a experiência era preciosa, e a bênção excelente, para a maioria
dos coríntios aceitar essa proibição. Alguns dizem hoje: ‘Há problemas
envolvidos no falar em línguas; vamos evitá-las, portanto’. Mas não foi essa a
solução de Paulo para si, nem para a Igreja. Até mesmo os limites que Paulo
impõe não tinham a intenção de impedir as línguas. Tratava-se, apenas, de dar
mais oportunidade, para maior edificação a outros dons” (HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo no Antigo e
Novo Testamento. 12.ed.Riode Janeiro: CPAD, 2012, p.242).
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO
II
Subsídio
Teológico
“Natureza
Encarnacional dos Dons
Os
crentes desempenham um papel vital no ministério dos dons. Romanos 12.1-3 nos
diz para apresentarmos nosso corpo e mente como adoração espiritual e que
testemos e aprovemos o que for a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Semelhantemente,
1 Coríntios 12.1-3 nos adverte a não perdermos o controle do corpo e a não
sermos enganados pela falsa doutrina, mas deixar Jesus ser Senhor. E Efésios 4.1-3
nos recomenda um viver digno da vocação divina, tomar a atitude correta e
manter a unidade do Espírito.
Nosso
corpo é o templo do Espírito Santo e, portanto, deve estar envolvido na
adoração. Muitas religiões pagãs ensinam um dualismo entre o corpo e o
espírito. Para elas, o corpo é mau, uma prisão, ao passo que o espírito é bom e
precisa ser liberto. Essa opinião era comum no pensamento grego.
Paulo
conclama os coríntios a não se deixarem influenciar pelo passado pagão. Antes,
perdiam o controle; como consequência, podiam dizer qualquer coisa e alegar que
provinha do Espírito de Deus. O contexto bíblico dos dons não indica nenhuma
perda de controle. Pelo contrário, à medida que o Espírito opera através de
nós, temos mais controle do que nunca. Entregamos nosso corpo e mente a Deus
como instrumentos a seu serviço” (HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 10.ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2007, p.469).
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
BEVERE,
John. Assim Diz o Senhor? Como saber quando Deus está falando através
de outra pessoa, l. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
HORTON,
Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo
no Antigo e Novo Testamento. 12. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
EXERCÍCIOS
1.
Quais são os propósitos da profecia?
R:
Exortar, consolar
e edificar.
2.
Quais são as três fontes de onde podem proceder as profecias?
R:
Deus, o homem
ou o Diabo.
3.
Segundo o teólogo Thomas Hoover, o que é o dom de línguas?
R:
“É a habilidade
de falar uma língua que o próprio falante não entende, para fins de louvor,
oração ou transmissão de uma mensagem divina”.
4.
Qual é a finalidade principal do dom de variedade de línguas?
R:
É a edificação
da vida espiritual do crente.
5.
Defina, de acordo com a lição, o dom de interpretação de línguas.
R:
“É a habilidade
de interpretar no próprio vernáculo, aquilo que foi pronunciado em línguas”.
Revista
Ensinador Cristão CPAD, n° 58, p.38.
Estudaremos
nesta lição os dos dons de elocução. Neste grupo estão relacionados o dom de
profecia, variedade de línguas e a interpretação de línguas (1Co 12.10).
O
dom de profecia - Em 1 Coríntios 14, Paulo fala à igreja a respeito do dom de
profecia. O apóstolo incentiva os crentes a profetizarem (1Co 12.1). Por quê?
Seria este dom superior aos outros? Não. Paulo estava preocupado com a
edificação do Corpo de Cristo, pois o dom de profecia tem como propósitos a
edificação, a exortação e consolo da igreja (1Co 14.3). Como podemos definir
este dom? Segundo o Comentário Bíblico Beacon, profecia "é aquele dom
especial que exorta e capacita certas pessoas a transmitir a revelações de Deus
à sua igreja". Para uma definição mais abrangente, vejamos o que Whendon
nos diz: "Uma inspirada pregação; predizendo o futuro, expondo misteriosas
verdades, ou pesquisando os segredos do coração e do caráter dos homens".
Ao conceder o dom da profecia, Deus não faz distinção entre homem e mulher.
Ana, filha de Famuel, era uma profetisa que aguardava a vinda de Cristo (Lc
2.36). Felipe, o evangelista, tinha quatro filhas que profetizavam (At 21.9).
Variedade
de línguas (1Co 12.10) - O dom de variedade de línguas é diferente das línguas
estranhas como evidência do Batismo com o Espírito Santo. Segundo a Bíblia, as
línguas estranhas são um sinal para os não crentes (1 Co 14.22). Quem possui
este dom deve orar pedindo que o Senhor também conceda o dom de interpretação.
O que profetiza edifica o outro, mas o que fala línguas estranhas edifica a si
mesmo. Parece que na igreja de Corinto havia uma desordem no culto quanto aos
dons de línguas. Paulo exorta os crentes dizendo que eles estavam "falando
ao ar" (1 Co 14.9), ou seja, não havia proveito algum, já que ninguém era
edificado. As línguas estranhas continuam sendo um sinal divino para a igreja
atual e não deve ser desprezado, todavia quem já possui este dom deve buscar
interpretar as línguas.
Interpretação
de línguas - É uma habilidade sobrenatural, concedida pelo Espírito Santo, que
torna o crente capaz de interpretar, na sua própria língua, aquilo que foi dito
pelo crente em línguas estranhas. Paulo advertiu os irmãos de Corinto quanto ao
uso deste dom (1Co 14.27,28). Se não há interprete a vontade de Deus não é
revelada e a igreja não é edificada, exortada ou consolada. O dom de
interpretação complementa o dom de profecia. Os dons de poder são para os
crentes atuais. Segundo John Sttot, "os dons são atuais, contemporâneos,
úteis e necessários".
EM UM DOS COMENTÁRIOS O AUTOR POR SEGUIR UMA LINHA TEOLÓGICA DIFERENCIADA PUBLICOU QUE AS LÍNGUAS ERAM IMPORTANTE SOMENTE PARA OS APÓSTOLOS E AS LÍNGUAS ESTRANHAS CESSARAM.
NÃO CONCORDO COM ESTE PONTO DE VISTA EMBORA TENHA PUBLICADO; POR TER ALGUM CONTEÚDO JUNTO.
RECONHEÇO A ESCASSEZ DE MATERIAL E MUITOS PONTOS POLÊMICOS QUE ESTE TEMA TRÁS.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Deus sempre quis
comunicar-se com o homem. O relato bíblico sobre a criação do ser humano
demonstra, de modo bem evidente, que Deus comunicava-se diretamente com o ser
criado. Sem dúvida, ao por o homem no jardim, para deste ser o responsável e
guardador, Deus lhe deu as instruções necessárias, fazendo-lhe ouvir sua voz. E
o fez, falando diretamente com o ser criado.
Com a Queda,
rompeu-se a comunhão com Deus. Antes, sentiam satisfação em ouvir a voz de
Deus, que lhes parecia música suave, pois foram os primeiros sons que
penetraram em seus ouvidos, naquele momento inicial da criação. A história se
repete. Se o homem, e, muito mais, o crente, não zelar pela comunhão com Deus,
o pecado destrói a comunicação com o Senhor. Mas, no seio da igreja cristã,
Deus comunica-se com seus servos, através da leitura da Bíblia; através de seus
mensageiros, pregadores, ensinadores e líderes, visando sua edificação. De modo
sobrenatural, o Senhor usa pessoas, com os dons especiais de expressão verbal,
ou de elocução, para transmitir sua vontade, orientações, exortações e direção
divina.
Pelo dom de profecia,
Deus supre aquilo que a mensagem costumeira não consegue alcançar. Quantas
vezes, no meio da congregação, um servo ou uma serva de Deus, que tem esse dom,
levanta-se e entrega uma mensagem de exortação, de alerta, ou de edificação
para toda a comunidade presente. Via de regra, a profecia autêntica provoca
alegria e glorificação a Deus. Em outras ocasiões, o dom de variedade de
línguas é usado por Deus, com interpretação, para confortar a igreja ou,
equivalendo a uma profecia (com interpretação), consolar ou edificar o seu
povo.
Infelizmente, nos
tempos presentes, percebe-se que muitas igrejas, ditas pentecostais,
substituíram a adoração viva e cheia da presença do Espírito Santo, por um tipo
de liturgia social, em que palmas e danças tomam o lugar da glorificação a
Deus. Os dons espirituais são esquecidos, ou nunca procurados. Não se pode
dizer que palmas sejam gestos ilícitos, de modo algum. Há ocasiões, em que elas
cabem bem, na expressão de louvor. Quanto às danças, a nosso ver, era um
costume oriental, bem aceito e praticado entre o povo de Israel. Mas, no culto
neotestamentário, não conseguimos constatar, biblicamente, que haja espaço para
essa expressão corporal. Vemos que a adoração a Deus, em glórias, aleluias e em
línguas estranhas, é muito mais eloquente para a adoração individual e
coletiva. E, quando o dom de variedade de línguas é praticado, com
interpretação, é de grande valor para a igreja.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 53-54.
Neste ponto o dom dç
profecia é contrastado com o dom de línguas. (Quanto ao dom de profecia, ver as
notas de introdução ao décimo segundo capítulo). Todo o homem fala em seu
idioma nativo; mas o que alguém diz na profecia, é inspirado por Deus. O
próprio indivíduo compreende o que diz, ou, pelo menos, entende a maioria das
palavras que profere. Ê guiado pelo Espírito Santo, para que diga coisas
significativas e importantes; não repete meramente algum conhecimento que já
tivesse como mestre, expandindo-as. Pode fazer isso, é verdade; mas as suas
palavras envolvem um fenômeno inspirativo. Não se espera que aquele que
profetiza ultrapasse as Escrituras; mas haverá sempre de ensinar elevadas
verdades espirituais, quer estejam quer não estejam escritas na Bíblia. Quem
profetiza fala como um agente direto do Espírito de Deus, e não indireta ou
secundariamente como um mestre. (Ver mais detalhes a esse respeito, nas notas
expositivas acima mencionadas). Quem profetiza também pode prever o futuro,
visto que tal fenômeno transparece em profecias em que foram usados profetas do
N.T., ainda que, nesta passagem específica, estejam muito mais em foco os
ensinamentos inspirados. O Profeta Fala
1. Ele é inspirado e
transmite mensagens inspiradas.
2. Sua mensagem
edifica à igreja, e não se orgulha devido ao uso de seu dom.
3. Não transforma a
igreja em um teatro, entrando em competição com outros profetas.
4. Em contraste com
as línguas sem interpretação, o profeta fala a outros, para o bem deles, e não
se dirige a si mesmo, visando o seu proveito próprio.
«.. .edificando...»
No original grego, essa palavra era usada para indicar a ereção literal de
edifícios, conforme se vê em Mat. 2:41 e Marc. 13:1,2. Porém, também era usada
metaforicamente, no sentido de edificação espiritual, como um meio de
desenvolvimento espiritual. (Ver também I Cor. 8:1, onde essa palavra é
explanada. E outras referências onde essa palavra reaparece são I Cor. 10:23;
14:4,17; Rom. 15:20; Gál. 2:18 e I Tes. 5:11). Tal como um edifício qualquer é
levado à sua totalidade e utilidade, mediante um processo contínuo de
edificação e aprimoramento, assim também se dá no caso da alma humana, ou mesmo
da comunidade de almas remidas. Torna-se necessário um desenvolvimento gradual;
porquanto nenhum crente se aperfeiçoa imediatamente, e nem de maneira fácil. A
profecia é o dom espiritual que mais contribui para o nosso desenvolvimento em
Cristo, para nossa transformação moral em Cristo, para nossa transformação
metafísica à imagem de Jesus Cristo (ver Rom. 8:29, onde há uma nota de sumário
sobre essa elevadíssima doutrina). Por essa razão é que o dom profético se
reveste de tanta importância. De fato, de alguma maneira, todos os dons
espirituais visam exatamente esse propósito, o desenvolvimento espiritual do
crente, segundo a imagem moral e metafísica de Cristo, conforme aprendemos em I
Cor. 12:7.
«.. .exortando...» No
sentido de exercer a vontade, para que se faça o que é direito, e não para que
se faça o que é mal. Essa palavra pode significar «exortação» (ver Fil. 2:1),
«consolo» (ver II Cor. 1:4-7), «súplica» (ver II Cor. 8:4), ou mesmo a
combinação de exortação e consolo, que também é «encorajamento» (ver Heb.
6:18). Está em pauta o despertamento da vontade para que se faça o que é
correto e próprio. A maioria dos intérpretes entende que aqui se deve
compreender a «exortação» no sentido de «encorajamento». Assim sendo, mediante
o dom da profecia, o indivíduo pode ser encorajado, exortado, consolado,
sujeito a uma súplica, porquanto compreende o que se diz; e aquilo que ouve tem
a energia do poder do Espírito de Deus. Sem o acompanhamento da interpretação,
entretanto, o dom de línguas não pode conseguir tal efeito; por conseguinte, as
línguas formam um dom inferior ao da profecia.
«...consolando...» No
original grego, um vocábulo diferente do anterior é usado aqui, embora essas
duas palavras pudessem ser sinônimas, ambas as quais dão a entender «consolo»,
embora a palavra que ora consideramos significa especificamente isso. Sua forma
verbal, «paramutheomai», significa «animar», «encorajar», «consolar». Por
conseguinte, sua forma nominal significa «encorajamento», «consolo». Há uma
outra forma nominal dessa palavra que também significa «encorajamento»,
«consolo» ou «alívio». (Ver Sófocles, El. 129; Thu. 5, 103, 1; Epigr. Gre.
951,4; Filo, Praem. 72; Josefo, Guerra dos Judeus 6,183; 7,392). Muitas são as
aflições e as tristezas pelas quais devem passar todos os crentes. Pode-se
observar facilmente, na experiência humana, que os crentes não são poupados, em
qualquer sentido, da tristeza geral e das dores que afligem a humanidade em
geral. No entanto, em Cristo, mediante o dom da profecia, há alívio para tais
sofrimentos. Ouvimos falar acerca da providência de Deus, de seu amor e
cuidado, de seu propósito, e a mente do crente é levada a compreender assim o
propósito da agonia, bem como a esperança relativa ao futuro, quando toda a
adversidade será finalmente eliminada, e quando a própria morte física (o pior
dos males físicos) houver de ser tragada na vitória. Ora, o falar em línguas,
sem a ajuda da interpretação, não pode realizar isso, não pode consolar,
fortalecer, encorajar. Por isso é que o dom de línguas é inferior à profecia.
Por esses motivos é
que a profecia, no dizer de Findlay (in loc.), «...serve para melhor edificar a
igreja cristã, para estimular a vontade dos crentes e para fortalecer o
espírito cristão».
«Edificação, ânimo,
encorajamento, conforme a necessidade de cada um». (Shore, in loc.).
O leitor pode
examinar as notas expositivas sobre «Barnabé», que possuía esse dom altamente
consolador, em Atos 4:36.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 216.
I Cor 14.3 O que significa, em contraposição
ao ―falar em línguas‖, o propheteuein, o ―falar profético‖? “Quem fala
profeticamente fala a pessoas edificação, exortação e consolo” [tradução do
autor]. Essa sucinta frase revela de imediato que não se trata de um ―profetizar‖
no sentido corrente de predizer o futuro, como nós costumamos falar de
―previsão do tempo‖ e coisas semelhantes. A palavra como tal aponta para os
―profetas‖ da Antiga Aliança. Contudo entenderemos esses personagens de forma
equivocada se os considerarmos tão somente como anunciadores de acontecimentos
futuros. Em primeiro lugar sua tarefa era confrontar povo, sacerdotes e rei com
todo o seu fracasso, toda a sua culpa. Deviam conclamar ao arrependimento.
Precisavam chamar atenção para a santa vontade de Deus, ensinar, exortar e
consolar. Unicamente no contexto dessa grande incumbência geral eles também
precisam apontar para o futuro e ameaçar ou confrontar mediante determinadas
revelações sobre o futuro. Quem, pois, falava como ―profeta‖ na igreja não
apenas tinha de prenunciar, como Ágabo, uma carestia, mas cuidar, como declara
expressamente também o v. 3, da ―edificação‖ por meio da ―exortação e do
consolo‖.
O “falar profético” refere-se, pois, a um
falar inteligível em palavras simples, dirigido e plenificado pelo Espírito de
Deus, e por isso atingindo coração e consciência de pessoas. Seu conteúdo pode
variar muito, de acordo com a incumbência de Deus. Porém seu objetivo sempre é
a edificação da igreja como corpo de Cristo.
Werner
de Boor. Comentário Esperança Cartas aos I Corinto.
Editora
Evangélica Esperança.
I - DOM
DE PROFECIA (1 Co 12.10)
1. O que é o dom de
profecia?
No Antigo Testamento,
havia um “ministério profético”, reconhecido e considerado por toda a nação.
Hoje, não existe esse ministério nas igrejas cristãs. Existem pessoas ou
mensageiros de Deus, que possuem o “dom de profecia”, usado em determinadas
ocasiões, como propósitos definidos, como veremos mais adiante. Entre os dons
ministeriais, objeto de outro comentário, há dom de “profeta”. No AT, as
palavras entregues pelos profetas não admitiam julgamento, exceto quanto a seu
cumprimento. Quando o profeta era de fato “homem de Deus”, nenhuma palavra
deixava de se cumprir (1 Sm 3.19). Se não se cumprisse, era um falso profeta e
era punido com pena de morte (Dt 13.5; 18.20,22). Em o Novo Testamento, os
profetas podem ser julgados ou avaliados (1 Co 14.29). Fico a imaginar se
houvesse punição para os falsos profetas de hoje...
O dom de profecia, no
Novo Testamento, possui algumas diferenças, em relação ao ministério profético do
Antigo Testamento. Na Antiga Aliança, os profetas, ou mensageiros de Deus,
tinham mensagens dirigidas a todo o povo, à nação de Israel e, em determinadas
ocasiões, a pessoas individualmente, a reis, a profetas e a quem Deus quisesse
enviar sua palavra. Em o Novo Testamento, a mensagem profética é proclamada, no
seio de uma igreja local. Dificilmente, há uma mensagem para toda a nação.
Embora essa hipótese não seja descartada, Deus age e fala como quer.
Deve-se considerar
que a profecia, bem como outras manifestações do Espírito Santo, é
absolutamente necessária nos dias presentes. Concluir que os dons, os carismas,
os milagres, sinais e prodígios, foram apenas para os dias dos apóstolos, é
querer reduzir o poder e a ação do Espírito Santo a uma matriz teológica,
acadêmica e intelectualizada, que não se coaduna com as afirmações da Palavra
de Deus.
1. O QUE É DOM DE
PROFECIA
Para entendermos
melhor esse dom, precisamos saber um pouco sobre o significado da palavra profeta
e profecia. No Antigo Testamento, a palavra profeta é navi, (hb. Nãbi') que se
refere ao homem que era inspirado pelo Espírito Santo para entregar as
mensagens de Deus para as pessoas (cf. 2 Pe 1.21). A palavra profetizar, no
Antigo Testamento, é nãbã isto é, “a função do verdadeiro profeta quando ele
fala a mensagem de Deus para o povo sob a influência do Espírito Divino (1 Rs
22.8; Jr 29.27; Ez 37.10).'
No Novo Testamento, a
palavra grega para profecia é propheteia, formada de dois termos, depro, que
significa “adiante”, “antecipado” e phemi, “falar”. Assim, nesses termos,
profecia significa “a declaração do que não pode ser conhecido por meios
naturais (Mt 26.68), é a descrição antecipada da vontade de Deus, quer com
referência ao passado, presente e futuro (veja Gn 20.7; Dt 18.18; Ap 10.11;
11.3”.2 Profetizar, no grego, se resume numa palavra, propheteiiein, que
significa “falar em nome de alguém, em favor de alguém”.
O dom de profecia é
um dom especial, em que seu portador transmite uma mensagem para a igreja ou
para alguém, na inspiração do Espírito Santo. Não pode ser uma mensagem humana,
pessoal da parte do
que a transmite, mas é falada numa linguagem humana. É necessário ter cuidado
com as distorções que podem ocorrer na transmissão da mensagem profética, na
igreja de hoje.
Diz a Bíblia: “O
profeta que teve um sonho, que conte o sonho; e aquele em quem está a minha
palavra, que fale a minha palavra, com verdade. Que tem a palha com o trigo?
diz o Senhor” (Jr 23.28 — grifo nosso). Não deve haver mistura da “palha” das
“profetadas”, que ocorrem aqui e ali, em certas igrejas, com o genuíno “trigo”
da verdadeira profecia, transmitida por um servo ou serva de Deus, pela
inspiração do Espírito Santo.
Segundo Raymond
Carlson, “A profecia, no Novo Testamento, que difere de uma pregação comum, é
uma manifestação sobrenatural, dada para edificação, exortação e consolação.
Através de 1 Coríntios 14.30, entendemos que o dom nos é dado por revelação
através do Espírito”.3 Uma pregação pode ter caráter profético, mas nem toda
pregação é profecia. Raymond Carlson diz que a profecia, “como seu homônimo dom
de línguas, tem de conter elementos de revelação, conhecimento e doutrina”.
Aqui, cabe um esclarecimento. Sem dúvida, a profecia resulta de revelação
espiritual e de conhecimento, concedido por Deus. Mas não pode trazer nova
doutrina, pois tudo o que consta na Bíblia é a Palavra de Deus, suficiente e
necessária para nossa edificação. Quando o autor citado diz que a profecia deve
conter doutrina, certamente quer dizer que ela tem que ter fundamento
doutrinário ou bíblico. A profecia não pode acrescentar nada à Bíblia.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 54-56.
A profecia é uma manifestação do Espírito
de Deus e não da mente do homem, e é concedida a cada um, visando a um fim
proveitoso: 1 Co 12.7.
Embora o dom da profecia nada tenha a ver
com os poderes normais do raciocínio humano, pois é algo muito superior, isso
não impede que qualquer crente possa exercitá-la: “Porque todos podereis
profetizar, um após outro, para todos aprenderem e serem consolados”, 1 Co
14.31.
Ainda que nalguns casos o dom da profecia
possa ser exercido simultaneamente com a pregação da Palavra, é evidente que
esse dom é dotado de um elemento sobrenatural, não devendo, portanto, ser
confundido com a simples habilidade de pregar o Evangelho.
Dada a importância
desse dom em face dos demais dons espirituais, e dentro do contexto da doutrina
pentecostal, necessário se faz uma análise cuidadosa, no sentido de
conceituá-lo no seio da Igreja hoje.
O apóstolo Paulo adverte os crentes a
procurar “com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar” (1
Co 14.1); isto por razões que ele mesmo enumera:
a. Porque “o que profetiza fala aos homens
para edificação, exortação e consolação... O que profetiza edifica a igreja”, 1
Co 14.3,4.
“Edificação”, “exortação” e “consolação”
são os três elementos básicos da profecia, são a razão de ser e de existir
desse dom. É evidente que isto contraria a crença tão popular entre nós, de que
o principal elemento da profecia é o preditivo (predição do futuro).
Certamente, que tanto o Antigo quanto o
Novo Testamento contêm numerosas profecias preditivas, muitas das quais
já se cumpriram, e outras estão se cumprindo, e outras ainda se hão de cumprir,
No entanto, no conteúdo geral das Escrituras, o elemento preditivo da profecia
é relativamente o menor.
b. Porque ‘‘se todos profetizarem, e algum
indouto ou infiel entrar, de todos é convencido, de todos é julgado. Os
segredos do seu coração ficarão manifestos, e assim, lançando-se sobre o seu
rosto, adorará a Deus, publicando que Deus está verdadeiramente entre vós”, l
Co 14.24,25.
Há algo mais que precisamos ter em mente
quanto ao dom de profecia e o seu uso na Igreja hodiemamente:
a) O dom de profecia nunca deve exercer
propósitos diretivos ou de governo sobre a Igreja. No Antigo Testamento, Israel
era governado por reis e o culto era dirigido pelos sacerdotes, mas nunca por
alguém que se tivesse distinguido por um ministério cem por cento profético. Os
profetas eram apenas colaboradores na condução do povo. O mesmo aconteceu com a
Igreja do Novo Testamento: o seu governo sempre esteve sob a responsabilidade
dos presbíteros ou bispos, ou pastores, mas nunca sob a responsabilidade de
profetas.
Escreveu o missionário Eurico Bergstén, que
“quando alguém, por meio de profecia, penetra na direção da igreja, mostra que
é dominado por influências estranhas. Abre-se, então, uma porta para a
perturbação... Quando alguém se faz ‘oráculo de profeta’, para responder a
perguntas e orientar os crentes, está usando indevidamente o dom de profecia...
O dom de profecia não atinge, nesta dispensação, a faixa de consulta, pois tem
uma outra finalidade: a edificação da Igreja”.
b) Devido a possíveis abusos quanto ao uso
do dom da profecia, este dom está sujeito a análise e a consequente julgamento.
Recomenda o apóstolo Paulo: “...falem dois ou três profetas, e os outros
julguem”, 1 Co 14.29.
Paulo arremata suas advertências quanto ao
dom de profecia, dizendo: “Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual,
reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor”, 1 Co 14.37.
O dom de profecia não deve ser desprezado (1
Tm 4.14), mas despertado (2 Tm 2.16), a fim de que a Igreja seja enriquecida: 1
Co 1.57.
Raimundo F. de Oliveira.
A Doutrina Pentecostal Hoje. Editora
CPAD.
Dom da profecia: Esse
é o dom principal, a habilidade de usar certos poderes, a inspiração da
mensagem, a qual transcende o que é meramente didático. Esse dom inclui o
conhecimento prévio, mas envolve especialmente certo poder de ministrar ensino,
instrução, consolo, ainda que em um nível superior ao do mestre ordinário, o
qual é, essencialmente, transmissor de preceitos adredemente conhecidos. O
profeta pode falar por intuição, inspiração e revelação, mediante alguma forma
de discernimento que ultrapassa o que é natural, através do dom sobrenatural do
conhecimento.
Levantaram-se na igreja
primitiva falsos profetas, provavelmente alguns dos quais eram psiquicamente
dotados, embora não usassem seu dom para defesa da justiça. Por essa razão foi
mister avisar aos crentes que pusessem à prova todas as coisas (ver I Tes. 5:20
e ss.). Esse dom continuaria sendo útil se fosse genuíno, não forçado, embora o
«cânon» das Escrituras estivesse já firmemente estabelecido. Pode-se aceitar
que nenhuma «profecia» excederá aos limites da verdade revelada nos documentos
básicos; mas a profecia pode contribuir bastante para interpretar tais
verdades, além de abordar necessidades específicas da igreja local, envolvendo
questões de ensino, questões morais, que pessoas menos dotadas não saberiam
resolver com sucesso. Considerando-se o dom profético sob esse prisma, esse é
um dom altamente desejável na igreja cristã moderna.
Com base nesse
pensamento, pode-se ver que um bom profeta, que opere no seio da igreja cristã,
pode ser meio para dar solução a vários problemas, trazendo luz para situações
difíceis. Tal solução precisaria de tempo extraordinário se fosse usado somente
o método comum do ensino. Mais do que isso ainda, a verdadeira profecia exerce
certa forma de poder e autoridade entre os irmãos que serve de meio poderoso
para aproximar os homens mais ainda de Cristo, inteiramente à parte das
mensagens faladas. Um profeta, pois, exerce um poder imediato maior, em uma
igreja local, que um pastor comum. Por isso mesmo, o pastor que, ao mesmo
tempo, é profeta, é um extraordinário presente para a igreja.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 188.
O crente não deve
desprezar as profecias (5.20). As mensagens apostólicas eram revelatórias.
Atualmente, as mensagens sao expositivas. Profecias aqui não são apenas ensinos
escatológicos, mas todo o conteúdo das Escrituras.
O dom de profecias
era o mais importante na Igreja primitiva (ICo 14.1). Paulo disse que a
profecia fala aos homens edificando, exortando e consolando (ICo 14.3). Paulo
ensina que a edificação, a exortação e o consolo que emanam da Palavra não
devem ser desprezados na igreja. William Hendriksen lembra que o dom de
profecia era como uma chama ardente. Essa chama não deveria ser apagada ou
extinta! Assim, Paulo une os dois assuntos, como se estivesse dizendo; “Ao
Espírito não apaguem; aos pronunciamentos proféticos não desprezem”. Isto
porque ao desprezarem as profecias estavam rejeitando Aquele que é sua fonte, o
Espírito Santo.^^s q mesmo escritor ainda esclarece; A razão para tal
descrédito das palavras proféticas pode ser facilmente percebida. Onde quer que
Deus planta trigo, Satanás semeia o seu joio. Onde quer que Deus estabeleça uma
igreja, o diabo erige uma capela. E assim também, sempre que o Espírito Santo
capacita determinados homens para operarem curas milagrosas, o diabo semeia suas
“maravilhas da mentira”. E sempre que o Parácleto coloca em cena um autêntico
profeta, o enganador apresenta seu falso profeta. A mais fácil - não, porém, a
mais sábia - reação a esse estado de coisas é o desprezo a toda profecia.
Acrescente-se a isso o fato de que os fanáticos, os intrometidos e os ociosos
de Tessalônica talvez não gostassem de alguns dos pronunciamentos dos legítimos
profetas, o que nos fez entender prontamente pór que entre alguns membros da congregação
a proclamação profética caíra em descrédito. É preciso deixar claro que não
existem hoje novas revelações de Deus forânèas às Escrituras. Como disse, Billy
Graham, a Bíblia tem uma capa ulterior. Ainda mesmo que um anjo viesse do céu
e pregasse alguma novidade fora da Bíblia deveria ser anátema. A revelação de
Deus está contida na Escritura. Ele fala pela Escritura. Por isso, devemos restaurar
a supremacia da Palavra e a primazia da pregação na Igreja contemporânea.
LOPES. Hernandes Dias. 1 e 2 Tessalonicenses. Como se
preparar para a segunda vinda de Cristo. Editora Hagnos. pag. 149-150.
Não desprezeis as
profecias (20; “não desprezeis as expressões vocais proféticas”, NASB; “nem
desprezem o que é dito em nome do Senhor”, CH). O verbo grego exoutheneite
(desprezeis) é, literalmente, “contar como nada”. Profetizar está relacionado
como um dos dons do Espírito, mas no Novo Testamento o sentido geral aceito é
“dizer adiante” (o significado literal da palavra grega traduzida por profecias).
Assim, significa a pregação cristã e não a “revelação antecipada”, embora este
significado não esteja totalmente ausente (cf. 1 Co 14.24,25). Considerando que
o espúrio ficaria misturado com a realidade, seria fácil desprezar todas as
profecias. Mas Deus escolheu falar com os homens através de expressões vocais
humanas, e por mais que o vaso seja humilde e inábil, o ouvinte tem de procurar
a mensagem de Deus para si.
Examinai tudo (21;
“discerni tudo”, BJ; “usem o bom senso a todo custo”, CH; “examinai tudo
cuidadosamente”, NASB; “ponham à prova todas as coisas”, NVI; cf. BAB, BV,
NTLH; “julgai todas as coisas”, RA). Estas últimas três exortações na passagem
equilibram as primeiras duas. O julgamento cristão, o bom senso, o exame
criterioso são ações imprescindíveis na vida da igreja. Isto também é o
Espírito que dá (cf. 1 Co 14.29; 12.10, onde “discernir” é um dos dons). Erdman
escreve: “Paulo não especifica as provas a serem aplicadas. Em outra passagem,
ele dá a entender que todos os dons espirituais devem ser exercidos em amor,
que o verdadeiro propósito dos dons deve ser a edificação das pessoas e que as
pessoas que são movidas pelo Espírito reconhecerão o senhorio de Cristo e se
empenharão em promover a sua glória”.41
Retende o bem (21).
Quando o trigo e o joio forem separados, retenha o trigo. Quando descobrir a
falsificação pelo som do metal genuíno, mantenha o que é de valor. Ninguém
jamais ficou rico apenas descartando o que é espúrio. Esta é a ilusão do
crítico destrutivo.
Árnold
E. Airhart. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 9. pag. 400.
I Tes 5.19 Se em tudo
isso a nova vida da igreja, e consequentemente também de cada cristão, já foram
descritas sem qualquer moralismo, as frases subsequentes falam ainda mais de
efeitos do Espírito Santo situados em um nível muito diferente de tudo o que
comumente chamamos de “moral-religioso”. No início aparece a advertência: “Não
apagueis o Espírito!” Espírito Santo é fogo! Será que ainda estamos conscientes
disso, nós que consideramos a sã doutrina como marca essencial da verdadeira
igreja e temos tanta predileção pela sua temperatura amena? A instintiva e
apaixonada aversão de Lutero contra todo “entusiasmo”, que tornou ainda mais
difícil e negativo seu encontro com todo tipo de movimentos complicados na
época da Reforma, fez da preocupação com “fanatismo” um traço fundamental das
igrejas evangélicas. Sempre que há um fogo flamejando, tememos imediatamente o
nefasto incêndio que ameaça o edifício da igreja. Por essa razão é típico para
a histórica eclesiástica evangélica que os novos movimentos nela nunca foram
saudados com alegria, mas sempre foram inicialmente alvos de suspeita e
combate. “Apagar” fogo questionável aparece como uma das principais tarefas da
direção da igreja e da teologia. Paulo, porém, adverte justamente de forma
oposta: “Não apagueis o fogo do Espírito Santo!” Logo já deve ter havido uma
tendência nessa direção na jovem igreja – uma constatação surpreendente para
nós. Talvez era essa a tendência naquela parcela da igreja, que via com
preocupação a conduta inquieta e agitada dos “desordeiros”, aos quais a
exortação de 1Ts 4.11 se dirigia em particular e contra os quais 2Ts investe de
forma ainda mais incisiva. Nesse caso teríamos aqui de fato um paralelo com
acontecimentos da época da Reforma. Mas então é particularmente digno de nota
que justamente pessoas como Paulo e seus colaboradores não tirem aquelas
conclusões temerosas que impregnaram nosso sangue, mas advertem aquele grupo
crítico da igreja contra todas as tentativas de “apagar”! Também aqui Paulo foi
novamente capaz de unir coisas aparentemente contraditórias: “Empenhai tudo
para serdes tranquilos” e “Não apagueis o Espírito”. Nada pode ser mudado na
natureza de fogo do Espírito, e o fogo procura e precisa queimar. Quando se
ignora isso, obtém-se aquele “Espírito Santo” cuja existência é apenas
postulada dogmaticamente, mas não mais experimentada pela igreja de forma viva
e irrefutável.
Aquele efeito e dom
do Espírito que para Paulo sempre foi o mais importante e digno de ser
conquistado (1Co 14.1; o “amor” não constitui dom do Espírito, mas fruto do
Espírito! – Gl 5.22) é o propheteuein, o “profetizar”. Também poderíamos
traduzir simplesmente “falar como profeta”. Entendemos mal os profetas quando
os consideramos como uma espécie de adivinhos do futuro. São portadores da
mensagem divina a Israel, mensagens que dizem respeito primordial às
circunstâncias atuais e somente daí tiram as consequências para o futuro e, sob
esse aspecto, também predizem coisas vindouras. Conforme 1Co 14.24s
propheteuein na igreja também é, sobretudo, o dom de ver e denunciar com força
penetrante as condições essenciais de pessoas. Dependendo de cada caso, essas
palavras também podem ter sido associadas a anúncios de juízos divinos e
manifestações divinas da graça. Tais “profecias” também havia em Tessalônica.
Novamente parece que nelas também podem ter emergido críticas na igreja. Ainda
que agora já lancemos um olhar prévio sobre a segunda carta, capazes de deduzir
dela consequências para a realidade na época da primeira, podem ter sido
manifestadas várias “profecias” que começavam a clamar “por meio do Espírito”
(2Ts 2.2): “O dia do Senhor chegou!”. O grupo sensato da igreja se defendia com
razão contra tal “fanatismo”. Mas tirava disso diretamente a conclusão genérica
a que se chegou na época da Reforma: de nada valem todas essas “profecias”. E
agora é novamente muito grandioso e importante que Paulo – que neste caso
específico dava toda razão à crítica! – não concorda simplesmente com isso:
“muito bem! O melhor é que vocês deem fim a todo esse profetismo!”, mas pelo
contrário adverte: “Não menosprezeis as profecias.” Apesar de tudo prevalece, e
precisa prevalecer, o cumprimento da promessa de Joel por ocasião de
Pentecostes: “Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão
visões, e sonharão vossos velhos” (At 2.17). É preciso que vigore o anseio de
pessoas como Moisés: “Tomara que todo o povo do Senhor fosse profeta!” (Nm
11.29). Apesar de todas as difíceis e amargas experiências da igreja de Deus
até nos nossos dias, isso precisa continuar assim! O fogo do Espírito precisa
queimar e enviar suas chamas, do contrário restará tão-somente lava endurecida,
da qual os teólogos fabricam suas peças doutrinárias.
I Tes 5. 21s Todavia:
“Julgai todas as coisas, retende o que é bom; abstende-vos de toda forma de
maldade.” Novamente a palavra apostólica unifica questões opostas. Quando
pessoas produzem percepções através do Espírito Santo e anunciam atos divinos,
será que resta aos ouvintes somente uma coisa: a sujeição obediente? “Assim diz
o Senhor” - será que neste caso ainda podemos “julgar”? Porventura os profetas
da antiga aliança não exigiram de rei, sacerdote e povo a aceitação
incondicional da palavra? No AT com razão! Mas na igreja de Jesus não apenas os
“videntes” possuem o Espírito Santo, mas todos, ou seja, também os ouvintes das
profecias! Justamente porque na nova aliança não apenas ditos proféticos
isolados são inspirados pelo Espírito, mas todo o coração está continuamente
repleto dele, os ditos divinos já não aparecem mais tão inequivocamente
destacados ao lado dos pensamentos e sentimentos humanos. Vimos anteriormente
que para o NT todo falar dos crentes deve ser “palavra de Deus”. Nesse caso,
porém, pode ocorrer com uma maior facilidade do que no AT que os “profetas”
involuntária e desavisadamente mesclem dádivas do Espírito e ideias próprias,
coisas espirituais e psíquicas. Por isso na nova aliança também há uma
necessidade bem maior do que na antiga de “examinar as profecias”. Portanto, o
caminho genuíno passa exatamente no meio termo entre menosprezo e
supervalorização!
Quando, enfim, a
igreja de Jesus em todo o mundo se recuperará a atitude de, por puro medo do
“fanatismo”, não apagar constantemente o Espírito, sendo por isso pobre de
fogo, vigor e dons? Quando ela deixará de ser refém acrítica de todo movimento
que parece possuir algo “vivo”, e será realmente capaz de ouvir e julgar?!
O resultado de um
exame é sempre duplo. Coisas boas, valiosas são destacadas. Agora “retende-o”!
Não permitais que a palavra ouvida seja apenas agitação de uma hora, mas
acolhei-a em vossa vida e vosso serviço. Em contraposição, “abstende-vos de
toda forma de maldade”. A palavra não autêntica, oriunda de nossa própria
natureza, sempre pode ser reconhecida pelo fato de que também possui em si algo
de nossa natureza maligna. Aqui nossa resistência precisa ser implacável. Tão
logo surgir algo indisciplinado ou amargo, sem amor ou egoísta, a igreja
precisa declarar seu não, até mesmo quando isto alega resultar do Espírito,
sendo apresentado com entusiasmo e exigências. Talvez possamos dar mais um
passo e ver “o” maligno, o diabo, por trás do mal. Então também Paulo já teria
contado com a possibilidade de que o inimigo tentaria penetrar na igreja mesclando
coisas más e perigosas à proclamação. No presente contexto a admoestação teria
o seguinte sentido: reconheçam o inimigo, o maligno, em qualquer configuração e
disfarce, justamente também no disfarce especialmente devoto e santo!
Rejeitai-o com a mesma determinação com que acolheis o bem.
Evidentemente essa
obrigação de examinar e discernir não é fácil. Seria muito mais belo se
pudéssemos aceitar sem preocupação e com alegria tudo o que penetra em nossos
ouvidos no âmbito da igreja. Mas isso não acontece de acordo com nossos desejos
e nossa comodidade. Os tessalonicenses não conseguem se furtar à verdadeira
situação e à consequente tarefa sem conjurar graves ameaças à vida da igreja. E
nós tampouco o podemos.
Werner
de Boor. Comentário Esperança I Carta
aos Tessalonicenses. Editora Evangélica Esperança.
I Cor 14. 30
Entretanto também é possível que a um profeta ou um membro da igreja que
“esteja assentado” e ouve, “venha uma revelação”. Nesse caso o respectivo não
deve esperar até que o profeta que está falando termine, mas deve aceitar como
sinal que o Senhor que concede a revelação quer que essa nova palavra seja dita
naquele instante. Então “cale-se o primeiro”. Será que conseguirá fazê-lo? Será
que não é tão ―impelido‖ pelo Espírito que precisa continuar falando sem
vontade própria? Não é assim que Paulo considera a atuação do Espírito Santo.
I Cor 14. 32 “Os
espíritos dos profetas estão subordinados aos profetas” [tradução do autor].
Paulo está conjugando – como já fez no v. 12 – o plural de espírito, uma
conotação que para nós a princípio soa estranha. Paulo não quer dizer que o
Espírito Santo se dissolve numa pluralidade de ―espíritos‖, mas que ele, em sua
atuação, se doa a cada pessoa de tal maneira que passa a ser ―espírito dela‖.
Tanto mais surpreendente torna-se a afirmação de que o Espírito, que segundo
1Co 12.11 distribui soberanamente seus dons como quer, agora se “subordina” a
pessoas. Como isso é possível?
I Cor 14. 33a A razão
é que “Deus não é de confusão, e sim de paz”. Consequentemente, seu Espírito
tampouco causa desordem, fazendo com que vários profetas falem ao mesmo tempo
uns contra os outros. O próprio Espírito está disposto a silenciar no primeiro
orador, se desejar levantar sua voz em outro. Por isso o profeta também é capaz
de se calar e não tem de continuar a falar desenfreadamente. Na formulação da frase
justificativa é bonito que Paulo não chama o Deus vivo de ―Deus da ordem‖, mas
que designe o contrário da “confusão” como “paz”. Para Deus não interessa a
ordem como tal. Porém todo seu objetivo é a comunhão entre as pessoas, a
cooperação de todos os membros em plena paz.
I Cor 14. 31
Retomemos agora a frase, que parece estar em contradição com o v. 29, por causa
do ―porque‖ que lhe dá início: “Porque podeis falar profeticamente um após o
outro”. Esse ―porque‖ apenas poderá ser compreendido se o número dos ―profetas‖
que profetizam for restrito dessa maneira justamente para que, se possível,
―todos‖ os membros da igreja possam exercer o ―falar profético‖ tão essencial.
Novamente a finalidade é “que todos aprendam e sejam exortados” [tradução do
autor]. O falar conduzido pelo Espírito deve jorrar com tanta abundância e
multiformidade para que cada pessoa na igreja receba aquilo de que ela precisa
para sua vida de fé em termos de ensinamento e exortação.
Werner
de Boor. Comentário Esperança Cartas aos I Corinto.
Editora
Evangélica Esperança.
2. A relevância do
dom de profecia.
ERROS A SEREM
EVITADOS NO USO DO DOM DE PROFECIA
1) Usar a profecia para guiar a igreja
A mensagem através do
dom de profecia tem como finalidade: “exortação, edificação e consolação” (1 Co
14.3). Não tem por objetivo guiar ou direcionar a administração da igreja
local. A Bíblia Sagrada, a Profecia por excelência, é o manual da Igreja e tem
todas as orientações sobre a administração espiritual, humana e material da
igreja cristã. Vemos, em Atos 13.1-3, que, quando Deus quis enviar missionário,
O Espírito Santo se dirigiu aos líderes, como Barnabé, Simeão (Níger), Lúcio de
Cirene, Manaén e Saulo. Não se dirigiu a “um profeta” em particular.
2) Usar o dom de profecia como um “oráculo”
Tendo em vista a
finalidade da profecia, não é correto o crente só fazer as coisas se consultar
um profeta. Essa prática tem endeusado irmãos ou irmãs, a quem Deus deu o dom,
para se tomarem verdadeiros “gurus” de determinadas pessoas. Há exemplos de
profetas, nas igrejas, cujo lar se transformou em lugar de verdadeira romaria.
Há, até, os que praticam a simonia (At 8.18), profetizando para receber ofertas
dos que lhe procuram. Deus pode usar, e tem usado, homens e mulheres de caráter
cristão ilibado, para consolar e orientar casos específicos de pessoas que
precisam de uma palavra específica para eles. Mas é preciso cuidado. A profecia
é para o proveito da igreja e não de domínio particular.
3) Usar o dom de profecia como fonte de doutrina
É completamente errado
e contraria a Palavra de Deus. A fonte por excelência de doutrina é a Palavra
de Deus. Nenhuma profecia pode acrescentar ou retirar o que já foi revelado nas
Sagradas Escrituras. Quem o fizer, incorre no perigo de ser punido por Deus.
“Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste
livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as
pragas que estão escritas neste livro; e, se alguém tirar quaisquer palavras do
livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida e da Cidade
Santa, que estão escritas neste livro” (Ap 22.18,19).
4) Usar o dom de profecia deforma descontrolada
O dom de profecia
deve ser usado, na igreja, com decência e ordem. Diz Paulo: “Portanto, irmãos,
procurai, com zelo, profetizar e não proibais falar línguas. Mas faça-se tudo
decentemente e com ordem” (1 Co 14.39, 40). A igreja em Corinto, como já vimos,
possuía todos os dons, operando em seu meio. Talvez por isso, houve que se
achasse mais importante ou santo do que os outros que não possuíam dons, e
achavam-se no direito de usar os dons como bem entendessem. Por isso, o
apóstolo exortou quanto à necessidade de ordem e decência no culto.
Quando este autor
liderava a juventude, há quase 30 anos, aconteceu um fato constrangedor,
mediante o uso do dom de profecia. Um grupo de jovens e adolescentes passou a
reunir-se em casa dos colegas, e passarem noites inteiras em oração e vigílias.
Em princípio, com o consentimento dos pais, não haveria nada a se reprovar. No
entanto, aquele grupo passou a considerar-se porta-voz de Deus, e a considerar
os que não faziam parte dele como carnais, inclusive este que escreve este
texto. Em pouco tempo, aqueles jovens estavam-se sentindo autossuficientes, e
não davam mais satisfação à igreja e muito menos à direção da mocidade.
Um dizia que Deus
estava mandando ir à casa de um irmão para levar uma mensagem. Outro dizia que
Deus lhe falara para irem a outro estado, para dar uma mensagem para um pastor.
Em certa ocasião, na casa de um do grupo, os jovens se deitaram no chão,
rapazes com as moças, e passaram a noite em vigília. Em dado momento, uma jovem
começou a “ser usada em profecia”. E falou para um jovem: “O teu noivado não é
do meu agrado. A que tenho preparado para ti é o vaso que estou usando”. Se o
jovem que ouvira a mensagem não tivesse convicção do seu noivado teria acabado
o relacionamento com sua noiva, com quem se casou e vive muito bem.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 59-61.
I Cor 14.1. a.
Contraste entre o dom de profecia e o dom de línguas (versículos primeiro a
décimo segundo).
«...Segui o amor...»
Sim, devemos seguir o amor, devido às muitas razões expostas no capítulo
anterior, que é o hino ao amor. Quanto ao «amor».
consideremos os
seguintes pontos:
1. O amor é o
regulador dos dons espirituais, levando cada um deles a ser usado de maneira
apropriada, sobretudo como parte da edificação geral da igreja, bem como da
eliminação daqueles fatores que impedem a união da igreja, devido ao
aparecimento de facções, com base no orgulho humano e suas manifestações.
2. O amor é o grande
elevador dos dons espirituais; enriquece a expressão ' de cada um deles.
3. O amor é maior do
que os dons espirituais, algo que deve ser buscado por si mesmo, inteiramente à
parte da questão dos dons espirituais. Essa é a virtude que nos torna mais
semelhantes a Deus, pois Deus é amor. É também a maior das virtudes; pois
apesar da fé e da esperança serem imensas virtudes, o amor ainda é maior, sendo
a base fundamental da fé e da esperança.
4. O amor é o caminho
mais rápido de retorno a Deus, porquanto inspira toda a conduta humana,
requerendo a mais elevada e nobre expressão de um homem.
5. Visto que o amor é
totalmente altruísta, negando ao próprio «eu», essa condição é altamente
desejável na comunidade cristã, tanto quanto na vida do crente individual.
(Quanto a muitas outras ideias acerca de como o amor deve ser seguido, ler a
exposição do décimo terceiro capítulo).
Este versículo
sumaria os dois capítulos anteriores: «Segui o amor» é a mensagem do décimo
terceiro capítulo; «Zelai pelos dons espirituais» é a mensagem do décimo
segundo capítulo.
«...procurai com zelo
os dons espirituais...» Isso é reiteração de I Cor. 12:31 (conclusão do décimo
segundo capítulo), excetuando que ali os «melhores dons» é que devem ser
seguidos. Porém, este décimo quarto capítulo também encerra essa mensagem,
visto que agora Paulo começa a mostrar
especificamente quais são os maiores dons espirituais. Por isso é que este
versículo sumaria os capítulos doze e treze, ao mesmo tempo que serve de
introdução ao presente décimo quarto capítulo, que é uma expansão ainda maior
sobre a questão dos dons maiores, além de regulamentar o emprego de todos os
dons espirituais. (Quanto a uma descrição completa acerca dos «dons
espirituais», ver a lista dos mesmos, em que cada qual é separadamente
esclarecido, na introdução ao décimo segundo capítulo. Quanto a notas
expositivas sobre o sentido da injunção «buscai os dons», ou «zelai pela
obtenção dos dons espirituais», ver I Cor. 12:31. Essas notas expositivas
também explicam o significado da palavra grega aqui traduzida por «...procurai
com zelo...» Acerca de como essa «busca» não é contrária ao fato que Deus «determinou»
quem deve possuir este ou aquele dom—segundo é afirmado em I Cor. 12:18. Ver
também 12:31).
«...principalmente
que profetizeis...·» Todos os dons espirituais são úteis, visto que todos eles
são propiciados por Deus; mas nem todos se revestem de igual importância; e
Paulo destaca esse fato, primeiramente, ao contrastar as línguas e a profecia.
O dom da profecia deve ser mais intensamente desejado que qualquer outro dom
espiritual, devido às seguintes razões, que Paulo se preparava para ventilar:
1. A profecia visa a
edificação da igreja (ver o terceiro versículo deste capítulo), o que é o tema
mais reiterado deste capítulo, e não apenas a edificação do crente individual,
como é o caso das línguas, quando não interpretadas.
2. A profecia serve
para exortar (ver o terceiro versículo).
3. A profecia também
serve para consolar (ver o mesmo versículo).
4. A profecia é um
meio de transmitir revelações e doutrinas (ver o sexto versículo).
5. A profecia faz
«soar» aquele toque da mensagem cristã que leva o crente a preparar-se para a
batalha espiritual (ver o oitavo versículo).
6. A profecia é uma
voz clara, em um mundo de vozes confusas (ver o décimo versículo).
7. A profecia é um
meio de bênção, principalmente de ação de graças a Deus, do que a comunidade
inteira pode participar (ver os versículos dezesseis e dezessete); por
conseguinte, se assemelha às línguas e até lhe é superior, porque beneficia a
todos, e não somente aquele que fala. 8. A profecia é o dom espiritual que
abençoa supremamente os crentes (ver o vigésimo segundo versículo).
9. A profecia é uma
maneira de ensinar (ver o trigésimo primeiro versículo).
«A prédica moderna é
o sucessor da profecia, mas sem a sua inspiração”. “Desejemos intensamente esse
dom (a profecia), mais do que qualquer outro, sobretudo em relação às línguas
(ver os versículos dois em diante)». (Faucett, in loc.).
I Cor 14.29. A mesma
regra é estabelecida no caso de profetas, atingindo o número daqueles que devem
exercer a profecia, semelhante à regra concernente aos que falam em línguas.
(Ver as notas expositivas sobre essas razões, no primeiro parágrafo das notas
expositivas sobre o vigésimo sétimo versículo).
«Esse dom (da
profecia) está sujeito à disciplina do autocontrole. As reuniões de natureza
religiosa, tais como as reuniões de outras naturezas, podem ser saturadas ao
ponto da total incapacidade dos ouvintes absorverem qualquer coisa mais, se
houver um excesso de iluminação profética. (Ver a exegese sobre o trigésimo
versículo). Paulo sabia que o indivíduo pode ficar ofuscado ante o excesso de
luz, em mais de um sentido.
Há um lugar genuíno
para a proporção na prédica, até mesmo nos casos onde há um único pregador.
Aqueles que pregam se inclinam por esquecer a significação do fato que eles
contam com um tempo normalmente maior para meditarem e para se prepararem, do
que aqueles que são os ouvintes.
Deixar os ouvintes
com a impressão que o pregador tem reservas, e que essas poderão ser expostas
em uma ocasião posterior apropriada, é muito melhor do que a tentativa de exaurir
as riquezas inexauríveis do evangelho, em uma única reunião pública. Quão sábio
era Paulo!» (John Short, in loc.).
No tocante ao dom
profético, as instruções são menos explícitas e enfáticas do que as instruções
relativas ao dom de línguas, no tocante ao número de participantes. As palavras
«...quando muito...» são deixadas de lado. Paulo realmente anelava para que o
número de manifestações em língua fosse limitado. No tocante à profecia, entretanto,
parece que ele dizia que três manifestações seriam, de modo geral, um limite
conveniente.
Os profetas atuam
como os guardiães da igreja, «...e os outros julguem...» Esse juízo deve
averiguar se a «profecia» proferida vem ou não da parte do Espírito de Deus. O
dom do «discernimento de espíritos» sem dúvida alguma é o dom que aqui entra em
ação; não está em foco o mero juízo intelectual, e nem apenas um juízo gerado
pela reação emocional ao que acaba de ser dito. Paulo quis dar a entender um
julgamento verdadeiramente espiritual, mediante certa operação do Espírito de
Deus.
Essa manifestação
protege a congregação dos falsos profetas, porquanto nem todos que dizem «Assim
diz o Senhor» realmente falam por inspiração divina.
Paulo parece dar a
entender que os que falam por inspiração também possuem algum discernimento
espiritual. Esses deveriam perceber se alguém está falando mediante o «Espírito
Santo», ou mediante algum espírito estranho, talvez até mesmo maligno, que se
apresente como anjo de luz, com o propósito de iludir (ver II Cor. 11:14); e
também deveriam esses perceber se o espírito humano do profeta está de acordo
com a natureza do Espírito de Deus e seus ensinamentos. (Quanto ao «dom do
discernimento de espíritos», ver a introdução ao décimo segundo capítulo, onde
todos os dons espirituais são alistados e ventilados).
Assim, pois, os
profetas devem agir como aqueles que edificam a congregação, e também como
aqueles que são seus guardiões. Não devem permitir que mestres e ensinamentos
falsos atuem livremente na igreja.
I Cor 14. 40. Eis
outra afirmativa sumariadora, desta vez recapitulando a sua ênfase sobre a necessidade
de uma ordem apropriada, do respeito devido as tradições apostólicas, no que concerne
aos cultos púbicos dos crentes, a necessidade de ser evitada a confusão de ser
buscada a vangloria, de inovações
e praticas que, aos olhos de Paulo, fossem vergonhosas, como as mulheres se
desfazerem do véu, ou como as mulheres participarem do ensino público nas igrejas
«...Com decência..
» o sentido dessas palavras é que tudo deveria ser efetuado de maneira
«apropriada», em «boa conduta». A forma verbal significa «conduzir-se com dignidade»,
«conduzir-se com decoro», de maneira «cavalheiresca». As facções existentes na
comunidade cristã de Corinto,
ao procurarem avidamente sua glória pessoal, as desordens que havia quando da
celebração da Ceia do Senhor, o abandono do véu pelas mulheres, o abuso dos
dons espirituais, sobretudo o dom de línguas, tudo isso eram motivos que levava
aqueles crentes a se mostrarem desordenados e malcomportados, além de se mostrarem
indecorosos nos cultos públicos.
«...e Ordem.. » Isto
é de conformidade do que é ordeiro. Talvez se trate de um tema militar, que
indica algo que deve ser feito sobre disciplina apropriada. A cada dom
Espiritual se deveria dar o seu devido lugar, e que os cultos de adoração,
incluindo a “Ágape” não fosse sujeito a excessos e abusos
Não tumultuosamente
como um levante, mas como um exercito ordeiro, onde cada qual exerce seu lugar
e aja no momento apropriado e da maneira certa». (Hodge, in loc.).
...” decentemente , o
que requer o bom gosto e o comportamento crista° s apropriados; e em ordem que
indica um método e uma regra de proceder extremamente cristãos.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 215; 228; 234.
I Cor 14.1. A
profecia é o dom mais importante (14.1). Em suas palavras iniciais, Paulo usa
dois verbos que são significativos: Segui a caridade e procurai com zelo os
dons espirituais. O verbo seguir (literalmente, perseguir) “indica uma ação
interminável, enquanto ‘procurai com zelo’ realça a intensidade e não a
continuidade da ação”. O amor deve ser buscado com persistência, mas também é
correto desejar os dons. Desses dons, Paulo coloca em primeiro lugar a
profecia, que está intimamente ligada à pregação. O elemento essencial é a
transmissão de uma mensagem diretamente inspirada por Deus. Várias comparações
entre falar em línguas e profetizar vêm a seguir, e indicam as fraquezas e as
limitações da glossolalia da maneira como era praticada em Corinto.
I Cor 14. 29. O ato
de profetizar estava sujeito a uma regulamentação (14.29-33a). Assim como o
falar línguas estranhas estava sujeito a certas regras, o mesmo acontecia com a
profecia: E falem dois ou três profetas (29). Aqui o apóstolo está novamente
preocupado com o fato de nenhum grupo ou dom se tornar dominante. Embora Paulo
tivesse deliberadamente classificado a profecia como superior ao falar em
línguas, ele não iria permitir uma excessiva exposição de qualquer dom, mesmo
que se tratasse de um dom classificado como “superior”. Além disso, aquele que
profetizasse poderia estar sujeito a cometer erros. Portanto, Paulo diz: e os
outros julguem. A palavra julgar (diakrinetosan) significa discernir,
discriminar. “Era dever de todos examinar se aquilo que estava sendo declarado
estava de acordo com a verdade”.
Nos versículos 39-40,
Paulo faz uma referência final aos dons espirituais. Em relação à profecia ele
é positivo ao afirmar: Procurai, com zelo, profetizar (39). Se um homem deseja
falar na igreja, fale sob a direção do Espírito Santo, de maneira a fortalecer
a igreja. Sobre o outro assunto Paulo se mostra cauteloso: Não proibais falar
línguas. Este dom não deveria ser proibido ou desprezado. Pois, em seu próprio
lugar, e em sua própria ocasião, ele é sem dúvida uma valiosa capacitação.
A discussão sobre o
lugar da profecia e do falar em línguas termina com um notável princípio. A
adoração é essencial para edificar o corpo de Cristo, mas, às vezes, a adoração
que busca ou enfatiza de forma exagerada a presença e o poder do Espírito Santo
pode chegar a ser caótica e confusa. Aqui o princípio de Paulo é importante:
Faça-se tudo decentemente e com ordem (40).
A palavra
decentemente (euschemonos) significa que “tudo deve ser feito adequadamente e
em boa ordem”.93 A palavra ordem (taxin) tem um significado semelhante - “de
maneira ordenada”.94 Adam Clarke escreve: “Onde a decência e a ordem não são
observadas em cada parte da adoração a Deus, não se pode adorar de uma forma
espiritual”.96 Paulo almejava a presença e o poder do Espírito Santo; e o
apóstolo sabia que o Espírito Santo trabalha para produzir harmonia, paz, ordem
e edificação.
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 8. pag. 348-349; 353-355.
I Cor 14.1 “Correi
atrás do amor” [tradução do autor]. Na sequência Paulo pensa naqueles irmãos em
Corinto que não têm nenhum amor ou amor insuficiente. No entanto, sua palavra
também se refere à igreja toda. ―Amor‖ não é uma ―posse‖, que ―possuímos‖
seguramente de uma vez por todas. Precisamente quando penso ter amor suficiente
já não tenho mais amor verdadeiro. No amor continuamos incessantemente
―devedores‖, para amar sempre mais e com maior veracidade (Rm 13.8). O texto de
1Ts 4.9s é característico: pelo fato de terem amor fraternal, os
tessalonicenses podem e devem transbordar ainda mais nele. Assim é que cumpre
sempre “correr atrás” do amor. Essa metáfora aponta, do mesmo modo como a
figura do ―vestir-se‖ (Cl 3.14), para a circunstância de que não conseguimos produzir
o amor por nós mesmos, mas que ele tampouco cai facilmente em nosso colo; antes
temos de agarrá-lo e nos apropriar dele por meio de plena atividade pessoal.
O capítulo 13 nos
mostra a importância singular do amor também diante dos mais elevados dons do
Espírito. Contudo isso não significa que esses dons sejam sem valor. Não,
“procurai com zelo os efeitos do Espírito” [tradução do autor]. Quando o amor
deseja ajudar verdadeiramente, ele carece da força e da capacidade que
tornariam essa ajuda eficaz. Apesar de todos os dons do Espírito não sou ―nada‖
sem amor; mas sem os efeitos do Espírito permaneço ineficaz com meu amor.
Consequentemente, porém, o valor de cada dom do Espírito e a hierarquia dos
dons também são determinados pelo amor. É nítida a intenção de Paulo de não
acrescentar 1Co 14 diretamente a 1Co 12. Somente a partir do ágape é possível
julgar corretamente os dons do Espírito. Por trás das exposições de 1Co 14 está
a lucidez de 1Co 13. Cabe entender 1Co 14 a partir de 1Co 13.
No final de 1Co 12
Paulo havia dito de forma bem genérica: ―Procurai os maiores dons.‖ É o que ele
agora detalha com clara determinação por meio do convite: “Mas principalmente
que profetizeis.” Chegou, assim,
à questão realmente
concreta que estava em jogo em Corinto. Qual é o dom do Espírito ―mais
valioso‖, essencial e ―maior‖? Ao que parece, muitos em Corinto declaravam: é o
falar com a ―língua‖. Paulo discorda com persistente seriedade, opondo ao
―falar com língua‖ o ―falar profético‖ como o efeito do Espírito singularmente
importante. É isso que está em jogo em todo o presente trecho. Agora temos de
mantê-lo diante de nós como um todo, a fim de penetrar num território que se
tornou completamente estranho para nós.
I Cor 14. 29,31 A
compreensão da frase seguinte não é fácil. Parece haver uma contradição entre a
ordem de que “profetas devem falar apenas dois ou três” e a asserção “todos
podereis falar profeticamente, um após outro” [tradução do autor]. A
contradição somente se soluciona se considerarmos os ―profetas‖ como pessoas
distintas dos membros da igreja que ―falam profeticamente‖. Em vista desse
―falar profético‖ Paulo podia conceber como uma situação desejada que “todos
profetizem”, incentivando por isto os membros da igreja irrestritamente a
buscar o dom do ―falar profético‖. Nesse caso não pode deixar que apenas dois
ou três façam uso da palavra. Não, evidentemente existem ―profetas‖ num sentido
próprio, que por isso também aparecem na listagem de 1Co 12.28 como
permanentemente incumbidos. Desse grupo definido, dois ou três devem usar da
palavra em cada reunião da igreja. Reparamos na diferença entre os v. 27 e 29.
Sobre o falar em línguas e sua manifestação Paulo fala apenas de maneira
condicional: “No caso de alguém falar em línguas” e se houver a presença de um
intérprete. Essas condições não ocorrem nos “profetas”. Eles foram concedidos à
igreja com toda a certeza, motivo pelo qual estão presentes e “devem” falar.
Obviamente também deles falem apenas dois ou três, “e os outros julguem (o que
é dito)”. Na palavra ―outros‖ pensamos em primeiro lugar em todos os demais
―profetas‖, além daquele que está falando no momento; são especialmente
convocados para um julgamento assim. 1Ts 5.20s revela, porém, que Paulo
considera a igreja toda fundamentalmente autorizada e comprometida, pelo
Espírito Santo que nela habita, a ―examinar‖ os profetas e suas afirmações. Por
consequência, é possível que também na presente passagem Paulo entenda por
―outros‖ os membros da igreja em si. Nessa instrução não é mencionado o dom especial
do ―discernimento dos espíritos‖. Tudo está sendo visto de maneira bastante
livre e viva, sem uma fixação sistemática.
I Cor 14. 40 A
exigência incondicional é que nada aconteça em confusão descontrolada e que não
se atue de forma egoísta e sem amor, mas que “tudo seja feito com decência e
(boa) ordem”. Isso, porém, também já é o bastante. O apóstolo não prescreve uma
―ordem‖ determinada, que seria a única correta por motivos dogmáticos ou
litúrgicos. Vale a livre atuação de Deus pelo Espírito Santo. Como ele poderia
ser capturado em ordens prescritas? Com toda a certeza, porém, ―o Deus da paz‖
deseja conduta conveniente e boa ordem. Tudo que é desregrado, descontrolado e
impulsivo é caracterizado de antemão como não-divino. Na frase final do grande
bloco destaca-se mais uma vez o que ficou explícito para nós acima, p. 228s,
sobre a importância abrangente da decisão de Paulo na questão dos dons do
Espírito.
Werner
de Boor. Comentário Esperança Cartas aos I Corinto.
Editora
Evangélica Esperança.
Mt 7.15. Temos aqui
uma advertência contra os falsos profetas. Devemos prestar atenção para não
sermos enganados ou nos deixar impressionar por eles. Profetas são aqueles que
preveem as coisas que vão acontecer. Existem alguns, mencionados no Antigo
Testamento, que tinham a pretensão de fazer previsões, sem dar nenhuma garantia,
e os acontecimentos desmentiram as suas pretensões; dentre eles, estão
Zedequias (1 Rs 22.11) e um outro Zedequias (Jr 29.21). Os profetas também
ensinavam ao povo o seu dever, de modo que os falsos profetas mencionados aqui
também eram falsos mestres. Cristo, que além de Messias era um Profeta e um
Mestre enviado por Deus com a missão de enviar outros mestres que com Ele
aprendessem, está nos advertindo a prestar atenção nos impostores. Ao invés de
terem a pretensão de curar as almas com tuna doutrina saudável, eles não fazem
mais do que envenená-las.
Os falsos mestres e
os falsos profetas: 1. São todos aqueles que afirmam ter certas incumbências,
não as tendo. Aqueles que fingem que possuem garantia e orientação imediatas,
supostamente enviadas por Deus e divinamente inspiradas; eles estão mentindo.
Embora sua doutrina possa ser verdadeira, devemos ter cuidado, pois são falsos
profetas. Falsos apóstolos são aqueles que dizem ser apóstolos, mas estão mentindo
(Ap 2,2); eles são falsos profetas. “Tome cuidado com aqueles que fingem ter revelações;
não os aceite sem provas suficientes, para que um absurdo não seja aceito,
seguido de outra centena deles”.
2. São todos aqueles
que pregam uma falsa doutrina sobre tudo aquilo que é essencial à religião. Que
ensinam aquilo que é contrário à verdade que está em Jesus, a verdade que está
de acordo com a santidade. A primeira dissertação parece ser a verdadeira noção
do que é um pseudoprofeta, ou de alguém que finge ser um profeta, enquanto geralmente
a última também está de acordo com ela. Pois aquele que exibe cores falsas, a
pretexto delas, e com maior sucesso, ataca a verdade. “Tenha cuidado com eles,
suspeite deles e, quando tiver descoberto sua falsidade, afaste-se e nada tenha
a ver com eles. Fique em guarda contra essa tentação, que nos é geralmente
dirigida nos dias da reforma, e do alvorecer de uma luz divina que possui
imensa força e esplendor”. Quando a obra de Deus é reavivada, Satanás e seus
agentes ficam mais ocupados.
Aqui temos:
I Uma boa razão para
ter esse cuidado. Tenha cuidado com eles, pois são lobos vestidos como ovelhas
(v. 15).
1. Precisamos ter
muito cuidado porque suas pretensões são muito justas e plausíveis e, assim
sendo, irão nos enganar se não estivermos em guarda. Eles aparecem vestidos
como ovelhas, usando a mesma vestimenta dos profetas, que era simples,
grosseira e tosca. Usarão trajes rudes para enganai' (Ze 13.4). A Septuaginta
chama o manto de Elias de manto de pele de ovelha. Devemos prestar atenção para
não sermos iludidos com as vestes e a aparência dos homens, como as dos
escribas, que preferiam andar usando vestes longas (Lc 20.46).
Ou, falando
figurativamente, eles pretendem ser cordeiros, e externamente parecem ser
totalmente inocentes, inofensivos, humildes, úteis e tudo mais que é bom, e se colocam
acima de todos os homens. Eles fingem ser homens justos e, por causa da sua
aparência, são aceitos entre as ovelhas e isso lhes dá a oportunidade de
fazer-lhes o mal sem que ninguém perceba. Eles e suas mentiras estão cercados
de ilusórias pretensões de santidade e devoção. Satanás se transforma num anjo
de luz (2
Co 11.13,14). 0 inimigo tem chifres como um cordeiro (Ap 13.11), e as feições
de um homem (Ap 9.7,8). Sua linguagem é sedutora e suas maneiras são suaves
como a lã (Em 16.18; Is 30.10).
2, Também precisamos
ter muito cuidado porque sob essas pretensões seus desígnios são
mal-intencionados e enganadores e, no seu interior, eles não passam de lobos
devoradores. Todo hipócrita é um lobo com peie de ovelha. Ele não é uma ovelha,
mas o seu pior inimigo, que aparece apenas para destruir, devorar e espantar as
ovelhas (Jo 10.12), para levá-las para longe das suas companheiras e de Deus,
conduzidas por atalhos tortuosos. Aqueles que pretendem nos enganar com
qualquer verdade, e nos dominam com terror, sob qualquer que seja seu
propósito, têm a intenção de faze)- mal à nossa alma. Paulo dá a eles o nome de
lobos cruéis (At 20.29). Eles são glutões e servem ao próprio ventre (Rm 16.18),
eles lucram conosco e fazem de nós a sua presa. Como isso é muito fácil, e
também muito perigoso, tenha cuidado com os falsos profetas.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 85-86.
Mt 7.15. Mencionam-se
profetas! São pessoas que falam em nome de Deus. Assim também esses profetas se
apresentam no meio da comunidade de Cristo como quem usa palavras santas e fala
em nome de Deus. Não obstante, o que dizem e o que fazem não é de Deus, porque
sua motivação íntima é sombria e sacrílega. Por isso se comparam a lobos
vorazes que andam sob a veste de ovelhas e, como piores inimigos do rebanho,
dividem a comunidade do Senhor.
Como seria bem mais
fácil viver seguindo a Jesus, andar no caminho estreito, se não irrompessem
sempre de novo na própria comunidade de Jesus a ânsia de poder e de vantagem
pessoal, a necessidade de prestígio e as discórdias. Desse modo, cada um
precisa acautelar-se diante do outro e cuidar de si próprio e do “rebanho”.
O sinal de
reconhecimento para discernir quem é lobo e quem é ovelha é definido por Jesus
nos termos: Pelos seus frutos os conhecereis! Quando a comunidade do Senhor for
fiel na oração e na vigilância, em breve se revelará quais foram os poderes
ocultos e sombrios e as motivações dos “lobos em peles de ovelha”. Promoveram a
sua própria obra e não a obra de Deus. Será descoberto se tinham o Espírito de
Deus ou o espírito de baixo, se produziram fé ou descrença, se levaram à paz ou
à discórdia, se buscaram a santificação ou não, se aproximaram de Deus ou
fixaram as pessoas a si próprios, se defenderam com toda a clareza a vontade de
Deus ou perseguiram alvos egoístas.
Efeitos e frutos do
Espírito Santo somente podem crescer sobre o chão do Espírito Santo, não sobre
a areia desértica do espírito anticristão. Para tornar isso mais uma vez
palpável o Senhor lança mão de outra dupla de parábolas, das sebes de espinhos
e das árvores imprestáveis em combinação com os seus frutos.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica
Esperança.
3. Propósitos da
profecia.
Como todos os demais
dons espirituais, o de profecia tem propósitos especiais da parte de Deus para
a Igreja de Jesus Cristo. Só deve ser usado de forma correta, com base na
Palavra de Deus. “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que
for útil” (1 Co 12.7) ou proveitoso para a igreja. De maneira bem clara e até
didática, o dom de profecia tem três finalidades básicas, em proveito da
igreja: “Mas o que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e
consolação” (1 Co 14.3).
1) Edificação
Assim como um
edifício de pedras é edificado pouco a pouco, com a união dos elementos
materiais, com a argamassa própria, da mesma forma, os crentes em Jesus são
“edifício de Deus” (1 Co 3.9). A formação espiritual de um discípulo de Jesus
começa com a conversão, mas não para no discipulado inicial. Deve continuar por
toda a vida. Pouco a pouco, o ensino da Palavra e da doutrina do Senhor vai
construindo o caráter cristão no crente.
Mas, às vezes, é
necessária uma mensagem especial ou específica para alguém ou para toda a
congregação. E aí que Deus usa um profeta para transmitir uma mensagem da parte
de Deus, visando corrigir ou colocar “no prumo”, ou “no nível”, alguma área da
edificação espiritual. Pastores são “serventes” ou “servidores” do supremo
Arquiteto ou Construtor, que é Cristo. Não são perfeitos na edificação. Sua
mensagem, mesmo com base na Bíblia, carece de reparos, aqui e ali. Em grande
parte das igrejas, pelo país afora, há grande falta de preparo para o ensino da
Palavra de Deus. Há obreiros despreparados até para os mais elementares ensinos
bíblicos. Por misericórdia, o Senhor dá sabedoria até mesmo a pessoas sem
cultura para transmitir sua mensagem, mas, há ocasiões em que só uma mensagem
específica, para determinadas ocasiões, pode suprir o que é indispensável para
a edificação do Corpo de Cristo, no que respeita à igreja local.
2) Exortação
Exortar tem o sentido
de “chamar para fora”, para orientar, ajudar e ensinar. Deriva da palavra grega
parakalao, que tem o sentido de confortar, inspirar, defender e guiar. Exortar
não tem o sentido distorcido, entendido por alguns, de que significa ameaçar,
intimidar, ou causar pavor, na igreja. O verbo grego parakalao tem origem em
outra palavra de muito significado, Paracleto, que significa Consolador, o
título que é dado ao Espírito Santo (cf. Jo 14.16; 15.26). Por isso, Paulo
ensina que quem exorta deve fazê-lo “com toda a longanimidade e doutrina” (2 Tm
4.2).
Uma mensagem profética
ajuda a entender como aplicar a Profecia Maior, que é a Bíblia Sagrada, para os
dias presentes, quando surgem problemas, situações e circunstâncias, que não
existiam, quando a mensagem bíblica foi escrita. Sem o ensino da Palavra de
Deus e da mensagem profética, há uma tendência para a ocorrência de desvios de
conduta e distorções perigosas no meio das igrejas locais. Diz Provérbios: “Não
havendo profecia, o povo se corrompe...” (Pv 29.18a).
As inovações e
modismos têm tomado conta de muitos redutos pentecostais. A chamada “teologia
da prosperidade” tem causado grandes estragos, com sua filosofia utilitarista
dos dons e da Palavra de Deus. O evangelho antropocêntrico tem dado ao homem a
primazia nas decisões e ensinamentos de muitos líderes. Aberrações teológicas
ou práticas estranhas têm ocorrido, em certas igrejas. A “unção do riso”, “a
unção do leão”, “a urina ungida”, inventada por determinada igreja (os crentes
saíram urinando, nas esquinas e ruas de uma cidade, para “marcar território”),
para o pecado diminuir. Em lugar disso, a pecaminosidade tem aumentado; certo
pregador, “celebridade” pregou que seu suor era ungido, pois seu DNA era
ungido. Com isso, levou muito dinheiro dos irmãos, além do “cachê polpudo”.
Nada disso tem fundamento bíblico. São ensinos heréticos, que têm grande
aceitação no meio de igrejas e atraem muitos crentes que não conhecem a Palavra
de Deus.
Deus disse, no Antigo
Testamento: “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque
tu rejeitaste o conhecimento...” (Os 4.6). Essa palavra aplica-se de modo bem
atual, ao que está ocorrendo no meio dos evangélicos. 3) Consolação
O Espírito Santo é
chamado de “O outro Consolador” (cf. Jo 14.16). Ele é o parakleto prometido por
Cristo. Por isso, também usa o dom de profecia, para transmitir mensagem de
consolação aos servos de Deus. Já vimos que o verbo parakaleo (gr.) significa
consolar, confortar. E o que podemos ver em Barnabé, amigo de Paulo (At 4.36;
ver Rm 15-4,5; 1 Co 14.3; 2 Co 1.3,4-7)). Consolação vem deparaklesis (gr.) e
tem o sentido de “consolar”, “dar alegria”, dar “paz”. Paulo diz que todos os
crentes podem profetizar (se Deus conceder tal dom), visando a consolação da
igreja: “Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros, para que
todos aprendam e todos sejam consolados” (1 Co 14.31 — grifo nosso).
Muitas vezes,
infelizmente, o zelo exagerado de alguns ministros, com a palavra e as normas
da igreja local faz com ele se torne agressivo, intolerante e radical. E
esquecem que, no meio da congregação, há dezenas de pessoas que estão
experimentando momentos difíceis e dolorosos em suas vidas. E estão precisando
mais do que nunca de ouvir uma palavra de consolação. A exortação pesada, às
vezes, é necessária. Mas fazer uso do púlpito para chicotear as ovelhas,
indiscriminadamente, é falta do espírito de consolação. O Espírito Santo é o
mesmo. Ele consolava no Antigo Testamento (SI 23.4; Is 51-12) e continua
consolando na Dispensação da Graça (2 Co 1.4; 7.6). Faltaria espaço literário,
sem dúvida, se pudessem ser registradas todas as mensagens de consolação que
Deus tem dado à sua Igreja, no Brasil e em todos os lugares do mundo. Em cultos
de oração, nos círculos de oração, em tantos lugares; em reuniões informais de
oração, Jesus tem confortado seus servos, principalmente os que sofrem por
causa do seu Nome e do evangelho. “O Dom de Profecia, portanto, serve para
falarmos sobrenaturalmente aos homens, assim como o Dom de Línguas serve para
falarmos sobrenaturalmente a Deus”.'
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 56-59.
Importância dos profetas e da profecia no NT. O leitor casual da
Bíblia não está apto a compreender que o NT contém a mesma quantidade de
referências a profetas e profecias que o AT; não apenas porque esse era um novo
período de revelação, mas porque muitas referências do período de revelação
anterior foram incluídas. O personagem central no NT, Jesus Cristo, é o maior
profeta de todos (cp. Dt 18.15-19). Seu ofício como sacerdote e rei pode
assumir proporções maiores na mente do leitor comum, mas sua atividade profética não
deveria ser negligenciada. O termo “profeta” é aplicado a ele cerca de doze
vezes.
Em sua capacidade
como profeta, Jesus expôs o pecado da humanidade, mostrou o caminho da salvação
através da confiança nele mesmo, encorajou o povo de Deus, revelou a natureza
de Deus numa extensão nunca mostrada antes e deixou claro o padrão do Senhor
para aqueles que são salvos. E dado mais espaço nos evangelhos aos registros de
suas atividades proféticas, ou seja, sua revelação da verdade de Deus, do que a
outras ações. “Ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas”
(Mt 7.29).
João Batista, o
precursor de Cristo, foi um profeta no verdadeiro sentido do AT. Grande parte
de sua atividade consistia em repreender os homens pelo pecado, declarando o
castigo que viria, advertindo-os sobre a ira vindoura e admoestando-os ao
arrependimento. Ele falou sem hesitação do pecado nos lugares altos, de maneira
rememorativa das atividades de Elias e Isaías. Ele perdeu sua vida em
consequência direta disso (Mc 6.18-27).
Muitos dos que
praticaram a função profética na época de NT foram mais distintos em outras
atividades, como na tarefa dos apóstolos de administrar o estabelecimento da
igreja. Além das vezes em que o termo é aplicado a Cristo, e as cinco vezes em
que é usado para João Batista, o NT designa ocasionalmente outros indivíduos
como profetas ou profetisas, ou diz que eles profetizaram. Estas incluem
Zacarias, o pai de João Batista (Lc 1.67), Ágabo (At 11.28; 21.10), Bamabé,
Simeão, Lúcio e Manaém (At 13.1), Judas e Silas (At 15.32) e as filhas de
Filipe o evangelista (At 21.9).
Caifás, o sumo
sacerdote, é descrito em João 11.51 como preferido uma profecia. Isso dá a
distinção clara entre o caráter de um homem e sua posição como porta-voz da
revelação de Deus, pois nesse caso o Senhor fez com que um dos oponentes de
Cristo expressasse palavras que comunicavam uma verdade vital, que era
diferente de tudo o que Caifás pretendia expressar.
Em Efésios 2.20; 3.5
e 4.11, Paulo fala de apóstolos e profetas como dons de Deus à sua igreja em
seus primeiros dias. A passagem de 1 Coríntios 11-14 menciona muitas vezes
homens e mulheres que profetizavam nas reuniões da igreja, descrevendo
indivíduos na igreja que afirmavam agir como porta-vozes de Deus, ou que
estavam transmitindo sua mensagem, o qual eles tinham recebido através da
Palavra dele.
Um falso profeta,
chamado Bar-Jesus, é mencionado em Atos 13.6. Apocalipse 2.20 fala da “mulher
Jezabel, que a si mesma se declara profetisa”. O apóstolo João admoesta os
crentes: “...provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos
profetas têm saído pelo mundo fora” (lJo 4.1).
MERRILL
C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia.
Editora Cultura Cristã. Vol. 3. pag. 1089-1090.
Oráculos contra os
Falsos Profetas, 23.9-40.
Tendo lidado com os
líderes políticos na seção anterior, Jeremias agora volta sua atenção para os
líderes religiosos da sua nação. Nenhum grupo tinha dado tantos problemas para
Jeremias como os profetas profissionais e alguns sacerdotes. A época é a mesma
da seção anterior, provavelmente no reino de Zedequias.
1. A Dor de Jeremias
(23.9-10)
Jeremias sentiu-se
esmagado com o que estava acontecendo entre os líderes religiosos dos seus
dias: O meu coração está quebrantado dentro de mim; todos os meus ossos
estremecem; sou como um homem embriagado (9). Apesar da maldição10 da seca com
suas consequentes catástrofes, o povo era flagrantemente imoral. Aterra está
cheia de adúlteros (10), sua carreira de vida é incorrigivelmente má, “e seu
poder é ilegítimo” (NVI). Quando o profeta viu essas condições à luz do caráter
de Deus e sua palavra santa, ele foi dominado por tristeza e dor.
2. O Caráter Profano
dos Profetas (23.11-15)
Jeremias não perde
tempo para chegar à verdadeira causa dessa situação: tanto o profeta como o
sacerdote estão contaminados (11). Esses homens que deveriam estar
reverenciando a Deus e todas as coisas santas eram culpados de sacrilégio; na
minha casa achei sua maldade. Eles lidavam com as coisas sagradas de maneira
irreverente. O dia da sua visitação (12) seria seu tempo de juízo. O Reino do
Norte tinha sido abertamente apóstata. Em Samaria, os profetas profetizaram da
parte de Baal ruidosamente (13), e essa foi a causa principal de Israel ir para
o exílio. Mas Judá tinha sobrepujado em muito a Israel em sua maldade. Os
profetas em Jerusalém eram culpados dos tipos de pecados mais depravados —
cometeram adultérios, e andam com falsidade (14) — não obstante proclamam a
palavra do Senhor com grande bravata. Uma coisa horrenda (“imundice” rodapé da
KJV) pode se referir ao pecado de sodomia, visto que Jerusalém é comparada a
Sodoma e Gomorra. A capital de Judá era um “sumidouro” de perversidade moral.
E, pior de tudo, esses líderes religiosos pareciam permanentemente enraizados
em seus caminhos perversos, “para que nenhum deles se converta de sua
impiedade” (NVI).
A profanação, no
entanto, tornou-se a semente de ruína e morte: “o caminho deles será como
lugares escorregadios nas trevas” (12, NVI). Além do mais, diz o Senhor [...]:
Eis que lhes darei a comer alosna, e lhes farei beber [...] fel (15). Essa é a
forma bíblica de dizer que seu fim será repleto de desgraça e pesar.
3. A Proclamação do
Engano (23.16-22)
Jeremias agora
censura esses profetas falsos por profetizarem o engano. Suas razões para a
acusação não são difíceis de achar: a) Eles recebem suas ideias da fonte
errada, ou seja, do seu coração (16). b) Eles proclamam o que o povo quer
ouvir: Paz tereis [...] Não virá mal sobre vós (17). c) Eles não estiveram no
conselho (sodh) do Senhor (18), senão saberiam qual era a palavra de Deus para
esse momento: Uma tempestade penosa cairá cruelmente [...] não se desviará a
ira do Senhor até que execute e cumpra os pensamentos do seu coração (19-20).
d) Eles saíram e proclamaram sem uma comissão ou sem uma mensagem: Não mandei
os profetas [...] não lhes falei a eles; todavia, eles profetizaram (21). e) Se
eles tivessem tido disposição de ouvir o conselho (22) do Senhor, eles saberiam
a verdadeira palavra, e teriam se salvado e a nação.
C.
Paul Gray. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 4. pag. 319-320.
Deus expõe os pecados
dos falsos profetas (Jr 23:9-40)
De acordo com o que
se encontra registrado em Jeremias 14:14, as palavras de Deus resumem toda essa
seção: "Os profetas profetizam mentiras em meu nome, nunca os enviei, nem
lhes dei ordem, nem lhes falei; visão falsa, adivinhação, vaidade e o engano do
seu íntimo são o que eles vos profetizam".
Jeremias
concentrou-se em três áreas na vida deles especialmente abomináveis. Sua conduta
vergonhosa (vv. 9-15). Os verdadeiros profetas sabem como é algo sério ser
chamado por Deus para proclamar sua Palavra e aceitam a responsabilidade com
temor e tremor. Quando veem pessoas que se dizem profetas e que vivem como pecadores,
isso lhes causa angústia. Não é de se admirar que o coração de Jeremias estivesse
quebrantado e que tremesse como um bêbado! Jeremias se deu conta do que os
falsos profetas estavam fazendo ao povo e à terra e encheu-se de revolta:
"De mim se apoderou a indignação7 por causa dos pecadores que abandonaram
a tua lei" (SI 119:53).
Os falsos profetas
estavam cometendo adultério e se reunindo nas casas de prostituição (Jr 5:7).
Depois, iam ao templo e fingiam adorar a Jeová (Jr 23:11), transformando a casa
de Deus num covil de salteadores (Jr 7:9-11). Contudo, a palavra
"adultério" também inclui a adoração que prestavam a ídolos,
abandonando o Deus vivo (com quem Israel era "casada") e sendo
infiéis às promessas da aliança.
Os falsos profetas
conduziram Israel, o reino do Norte, para o mau caminho (Jr 23:13) e estavam
fazendo o mesmo com Judá, o reino do Sul (v. 14). Baal era o deus cananeu da
chuva, ao qual os judeus costumavam recorrer nas épocas de seca (1 Rs 17 - 18),
e sua adoração incluía a "prostituição sagrada". Jerusalém estava se
tornando como Sodoma e Gomorra - cidades tão perversas que Deus teve de
destruí-las (Jr 20:16; Gn 18 - 19).
A terra passava por
uma seca muito grave (Jr 23:10, ver cap. 14), pois os falsos profetas levaram o
povo a transgredir as estipulações da aliança com Deus. O Senhor prometeu enviar
as chuvas de que precisavam, tanto as primeiras quanto as últimas (Dt 11:10-15;
28:12), porém também os advertiu de que fecharia os céus e a terra secaria caso
não lhe obedecessem (Dt 11:16, 17; 28:23, 24).
"A terra chora
por causa da maldição" (Jr 23:10). Mas os pecadores se recusavam a fugir,
apesar de Deus ter prometido julgá-los em seu devido tempo (vv. 12, 15).
Quando uma nação
precisa de cura, normalmente é porque o povo de Deus não está obedecendo nem
servindo ao Senhor como deveria. Temos a tendência de culpar políticos
desonestos e os vários fornecedores de prazeres escusos pelo declínio moral de
uma nação, mas Deus culpa seu próprio povo. "Se o meu povo, que se chama
pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus
caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua
terra" (2 Cr 7:14).
Sua mensagem
desonesta (vv. 16-32).
Em primeiro lugar, os
falsos profetas ofereciam ao povo uma falsa esperança (Jr 23:16-20). "O Senhor
disse: Paz tereis [...]. Não virá mal sobre vós" (v. 1 7; ver 6:13-15;
8:10-12).
É evidente que se
tratava de uma mensagem que agradava o povo, e os judeus, assustados, agarravam-se
a ela com unhas e dentes. No entanto, os falsos profetas não haviam recebido
essas mensagens da parte de Deus; inventaram-nas em seu próprio coração. Em
lugar de paz, o Senhor estava preparando uma tempestade (Jr 23:19). Deus estava
prestes a liberar sua ira santa sobre seu povo pecador, e quando finalmente
compreendessem os propósitos divinos, seria tarde demais para deter o
redemoinho.
Os falsos profetas
não apenas davam ao povo falsas esperanças, como também ministravam sob uma
falsa autoridade (Jr 23:21-24). Deus não havia lhes falado e, mesmo assim,
profetizavam. Deus não os havia chamado e, mesmo assim, se diziam enviados por
ele. Se fossem verdadeiros profetas da parte de Deus, teriam vivido em piedade
e encorajado o povo a abandonar sua perversidade.
Em vez disso,
ensinavam uma "teologia" que agradava o povo e que tornava conveniente
aos judeus ser religiosos e continuar a viver em pecado.
Jeová não era uma
divindade local como os ídolos pagãos, mas sim um Deus transcendente, que reina
acima de todas as coisas e que preenche o céu e a Terra (vv. 23, 24). Nem
tampouco era cego como os ídolos (Sl 11 5:5), incapaz de ver os pecados do
povo. "Ocultar-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o
veja?" (Jr 23:24).
Pelo fato de darem
ouvidos a falsos profetas, os judeus creram em mentiras sobre o Senhor, e
aquilo em que cremos a respeito de Deus determina a forma como vivemos.
Por fim, falavam sob
uma falsa inspiração (vv. 25-32). Dependiam de sonhos e de ilusões de sua mente
e até mesmo plagiavam as mensagens uns dos outros! Comparadas com o trigo
nutritivo da Palavra, suas mensagens eram apenas palhas; não se podiam comer,
edificar e nem mesmo aquecer alguém com elas.
A mensagem dos
verdadeiros profetas é como um martelo que pode destruir e reconstruir (ver jr
1:10) bem como quebrar até mesmo as pedras mais duras (Jr 23:29). A Palavra é
como fogo que consome e purifica qualquer coisa que toca. Jeremias tinha a Palavra
ardendo em seu coração (Jr 20:9; ver Lc 24:32) e em seus lábios (Jr 5:14). Era o
acrisolador de Deus, usando o fogo da Palavra para testar a vida do povo (Jr
6:27). Há falsos profetas e mestres em nosso mundo atual (2 Pe 2:1; 1 Jo
4:1-6), pessoas que dizem conhecer a vontade do Senhor por causa de seus
sonhos, de seus estudos de astrologia ou de seus "dons" espirituais especiais.
Alguns invadiram a igreja (Jd 3, 4;. Qualquer um que afirme falar em nome do
Senhor deve ser testado pela Palavra de Deus. "À lei e ao testemunho! Se
eles não ralarem desta maneira, jamais verão a alva" te 8:20).
WIERSBE.
Warren W. Comentário Bíblico Expositivo.
A.T. Vol. IV. Editora Central Gospel. pag. 141-143.
Acusações contra os
profetas de Judá (23:9-40)
A série de oráculos
precedente tratou dos governantes seculares. Agora Jeremias passa a se
preocupar com os líderes da vida religiosa da nação.
9-15. Os pecados dos
profetas falsos. Coração, no sentido que é usado aqui, denota mais um estado
mental profundamente perturbado, do que emocional. Sua mente não pode
compreender a maneira que estes profetas escolheram para abusar da sua vocação
profissional, e ele está chocado com o comportamento corrupto deles, equiparado
pela depravação do Povo Escolhido. TM e LXX divergem quanto à sequência dos
itens do v. 10, e não há certeza sobre a sequência correta. Fazendo uma
avaliação crítica dos que diziam ser profetas, Jeremias considera os judeus
piores que seus irmãos do norte. Eles concordaram com as orgias dos rituais do
culto a Baal, unânimes com os sacerdotes. Veja 2 Rs 21: 5 e Ez 8:6-18, onde
práticas imorais e sacrifícios idólatras tinham se infiltrado até no culto no Templo
em Jerusalém. Seu caminho mau (13: 16) deixará agora a descoberto sua natureza
traiçoeira, e eles serão como pessoas que andam por caminhos escorregadios no
escuro, tropeçando e caindo uma sobre a outra.
A indecência dos
profetas de Samaria (13) era adorar a Baal; o escândalo dos profetas de
Jerusalém (14) era que eles incentivavam abertamente adultério e falsidade,
ultrapassando a maldade de Sodoma e Gomorra. Jeremias coloca toda a
responsabilidade pela depravação moral de Judá sobre os ombros destes homens
perversos.
16-20.
Características do falso profetismo. Jeremias identifica os traços desta
atividade como uma separação fundamental da realidade espiritual, moral e
política. Os profetas falsos criam naquilo que eles queriam que fosse verdade,
expressando expectativas falsas de paz. Suas visões eram auto-induzidas, não
inspiradas por Deus. Cristo avisou que nos últimos dias surgiriam profetas
falsos, enganando a muitos (Mt 24: 5, 11). Se os colegas falsos de Jeremias
tivessem se apresentado para ouvir as palavras do Senhor e proclamá-las (18),
estariam falando de julgamento, como ele, e não de paz (22). Os w. 19-20 são
repetidos em 30: 23s com algumas mudanças.
Eles trazem as
decisões da corte celestial que os profetas falsos ainda não conheciam porque
tinham sido julgados à revelia; não estão fora do lugar, como pensam alguns. Os
últimos dias (20) apontam para o dia do julgamento, quando a justiça divina
será feita em Judá. Então o significado dos acontecimentos, até o momento não
reconhecido por causa da auto-ilusão, ficará dolorosamente claro. O termo dia
pode ser interpretado como messiânico (cf Is 2: 2, Os 3: 5).
21-32. A missão
fraudulenta dos profetas falsos. Qualquer profecia que fale de um futuro de paz
em vez de proclamar a ira de Deus é falsa. Deus, que está perto, pode ver tudo
que está por trás, e os profetas falsos não podem se esconder do seu olhar
perscrutador. Certas classes de profetas pagãos em Mari (Tel Ariri, no médio
Eufrates) e em outros lugares achavam que sonhos era o método normal de eles
receberem revelações.24 O v. 26 apresenta algumas dificuldades textuais, e o
significado original é muito obscuro. Sugiro a seguinte tradução: Por quanto
tempo continuará isto na mente dos profetas que proclamam mentiras, destes
profetas do auto-engano? Suas visões irreais desviavam a atenção da moralidade
da aliança e a focalizavam nos ritos imorais de Baal. Falta substância aos seus
sonhos vaidosos, como à palha, enquanto que a palavra profética alimenta os que
a recebem, como o trigo. Os profetas falsos iniciam suas observações com uma
fórmula que quer indicar inspiração divina, porém as palavras que pronunciam
foram inspiradas por outros indivíduos e não se aplicam à situação presente
(30, 31).
RK.
Harrison. Jeremias. Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 96-97.
II -
VARIEDADE DE LÍNGUAS (1 Co 12.10)
1. O que é o dom de
variedades de línguas?
Difere das línguas
como evidência do batismo com o Espírito Santo. Não é um dom dado a todos os
que quiserem. Assim como os outros dons, é dado “a cada um” como o Espírito
quer (cf. 1 Co 12.11,30). Também não é uma capacidade aprendida humanamente.
Diz Carlson: “Falar em línguas é expressar-se com palavras que nunca
aprendemos, mas que nos são comunicadas diretamente pelo Espírito Santo. Não se
manifesta através de palavras pensadas de antemão ou vocalizadas pela pessoa
que fala”... “As línguas constituem um milagre vocal e não um milagre mental. A
mente se faz espectadora, e os ouvidos a atendem...”.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 63.
A Natureza dos Dons
Definições
Não é de modo algum
difícil definir o dom de línguas; contudo, por causa do debate em torno deste assunto,
a sustentação para a definição aqui dada será avaliada em alguns detalhes.
O dom de línguas foi
a capacidade sobrenatural de falar em um idioma humano estrangeiro que não era
previamente conhecido ou estudado pelo locutor. Note que o dom de línguas não é
a capacidade de balbuciar – o que não requer capacidade sobrenatural. Mas nisto
é onde precisamente o debate começa.
Virtualmente todos os
teólogos liberais, por causa de sua negação da possibilidade do sobrenatural e
da revelação direta, ensinam que o dom de línguas era meramente uma expressão
extática. Embora eles não questionem a possibilidade do sobrenatural, todos os
Carismáticos e muitos não-carismáticos ensinam virtualmente a mesma coisa.
Muitos deles creem que embora as línguas de Atos fossem deveras idiomas
estrangeiros, as línguas de 1 Coríntios eram diferentes – eram expressões
extáticas, balbuciações, que continham uma revelação de Deus compreensível para
o próprio Deus (para uso privado, devocional) e para o intérprete (para uso
público). Contudo, este não é o caso; e que estas línguas eram idiomas
estrangeiros é evidente a partir das seguintes considerações.
1. A palavra Grega
traduzida por “línguas” nas Escrituras ( glossa ) normalmente se refere à
língua como um órgão físico ou como um idioma humano. Este é precisamente seu
uso hoje – falamos com nossas línguas em nossa língua nativa. A palavra pode
ser usada com referência ao falar extático, mas tal uso é completamente
estranho ao Novo Testamento. A menos que haja uma boa razão (evidência) para
entender o termo como se referindo ao balbuciar, é injustiça assumi-lo como
tal, especialmente à luz do fato de que seu significado por toda parte no Novo
Testamento é sempre o contrário.
2. Em Atos 2 as
línguas, claramente, eram idiomas humanos conhecidos (isto é, conhecido para
alguns que ouviam). As “outras línguas” (heterais glossais) do verso 4 são
explicadas como sendo os idiomas dos Partos, Medos, Elamitas, Mesopotâmicos,
etc., nos versos 9-11. No verso 6 aqueles que ouviam os discípulos pregar, lhes ouviam em sua
“própria língua”. O termo grego para “língua” neste verso (e no verso 8) é
dialektos, de onde vem a palavra portuguesa “dialeto”; ela pode significar
somente idioma, nunca balbucio. Além do mais, é claro que em Atos 2 as línguas
eram designadas para ser o método de comunicação efetiva para aqueles que
estavam visitando Jerusalém para a festa de Pentecoste. Em outras palavras, as
línguas de Pentecoste quebraram a barreira da linguagem; elas não estabeleceram
uma barreira de linguagem. Esta regra tira qualquer possibilidade de balbucio.
3. Semelhantemente, o
dom era claramente de idiomas em Atos 10 também, porque em Atos 11:15-17 Pedro
o identifica como o mesmo fenômeno que ocorreu em Atos 2. Parecerá óbvio,
então, presumir o mesmo para as línguas de Atos 10 também.
4. O dom de línguas
em 1 Coríntios nunca é declarado ser algo diferente daquele de Atos.
Entendê-las como sendo algo diferente, requereria alguma explicação.
Além do mais, os
relatos de Atos foram escritos por Lucas, que era um companheiro de Paulo; é
inconcebível que ele falasse de outra espécie de línguas sem explicação.
5. Em 1 Coríntios
14:14 Paulo fala que alguém que fala em uma língua edifica a si mesmo. É
evidente, então, que ele entendia o que estava dizendo, porque a edificação
seria impossível aparte do entendimento (o que Paulo prossegue estabelecendo
nos versos seguintes). Incidentalmente, é evidente também a partir disto que o
verdadeiro dom de línguas não era uma experiência puramente emocional, mas uma
na qual a mente estava ativa. A implicação de Paulo era que alguém falava numa
língua, entendia o que ele estava falando, e assim era edificado. Seu ponto nos
versos seguintes é que o que não pode ser entendido, não pode edificar. O dom
de línguas é frequentemente caracterizado, hoje, como se ele fosse um transe
santo de alguma espécie, falando coisas desconhecidas até mesmo para o próprio
locutor! Isto está claramente excluído pela implicação de Paulo aqui. A
concepção é que o locutor, em completo controle de suas faculdades mentais,
sabe o que ele quer falar e é capaz, sobrenaturalmente, de dizer isso em outro
idioma. Como todos os outros dons, as línguas eram exercitadas
inteligentemente.
6. 1 Coríntios
14:10-11 claramente demanda o mesmo. Paulo estava falando de línguas “no mundo”
e isto demanda sons distintos, idiomas conhecidos.
7. Em 1 Coríntios
14:18 Paulo declara que ele falava em línguas mais do que qualquer um deles.
Ele segue com uma declaração afirmando que esta nunca foi sua prática na Igreja
(verso 19). A única coisa que poderia se fazer necessário para Paulo falar em
línguas mais do que eles, então, seria sua necessidade delas nas suas jornadas
missionárias. Novamente, isto aponta para idioma, não para balbucio; porque o
balbucio teria sido sem sentido na sua obra de missões estrangeiras; o idioma,
por outro lado, teria sido o mais útil possível.
8. Em 1 Coríntios
14:21 Paulo associa seu dom de línguas com a profecia de Isaías sobre Israel
ouvindo o idioma Assírio. Entender o dom como balbucio, destrói seu ponto de
referência totalmente.
9. Em 1 Coríntios
14:22 Paulo diz que as línguas eram “um sinal”. Elas eram tão espetaculares que
despertavam atenção. Somente um idioma humano pode ser eficaz como um sinal. O
falar extático era bem conhecido muito antes do século XI a.C., especialmente
como uma parte das religiões misteriosas Gregas; ele serviria somente para
associar os Cristãos de Corinto com seu passado pagão. O que fazia o dom de
línguas Cristão diferente e significante era o fato que aqueles assim dotados,
eram capazes de falar em idiomas não aprendidos previamente; mero balbucio,
falar extático, não teria sentido algum e assim não poderia servir como um
sinal.
10. As palavras
gregas hermeneuo e diermeneuo traduzidas por "interpretar" e "interpretação"
em 1 Coríntios 14, normalmente significa “traduzir” de um idioma para outro. É
como a palavra é frequentemente usada hoje: quando um homem de um idioma fala
para uma audiência de outro, ele fala através de um “intérprete”.
Este é seu
significado comum através de todo o Novo Testamento e da Septuaginta (a
tradução grega do Velho Testamento; por exemplo, Gênesis 42:23; Esdra 4:7; João
1:42; Atos 9:36). “Tradução”, então, aponta para idioma, não para balbucio.
11. Jesus
especificamente proíbe o falar extático em oração: “ E, orando, não useis de
vãs repetições, como fazem os gentios” (Mateus 6:7). O termo grego traduzido
por “vãs repetições” não tem nada a ver com um pedido de oração repetente
(embora Jesus use a palavra aqui para se referir também à descuidada repetição
de orações), mas antes significa “balbuciar” ou “falar balbucios”. Jesus, aqui,
expressamente proíbe o balbucio. É inconcebível que Ele proibisse algo que era
em si mesmo um dom espiritual. A única alternativa é que as línguas eram realmente
idiomas. Deus nunca intencionou que os homens falassem ou orassem em uma
“linguagem” que até mesmo eles não poderiam entender. Tal coisa teria sido sem
propósito algum.
LÍNGUAS ESTRANHAS
ENTRE OS CRENTES
[AUTORES DIVERSOS]
LÍNGUAS COMO SINAL
Vale notar que as línguas estranhas têm
duas funções na Bíblia. Primeira: elas são apresentadas como sinal, ou
evidência de que alguém foi batizado com o Espírito Santo. Isso é o que vemos
em pelo menos três das cinco ocasiões históricas do derramamento do Espírito
Santo nos dias do Novo Testamento.
As línguas estranhas neste aspecto
manifestam-se uma única vez, isto é, no momento em que o crente recebe o
batismo com o Espírito Santo. Se a partir daí o crente continua falando em
línguas, essas línguas já passam para a segunda esfera, que é dom de línguas
propriamente dito, o qual se pode manifestar de duas maneiras: línguas
congregacionais (interpretáveis); e línguas devocionais (não-interpretáveis).
Aqueles que combatem a doutrina bíblica do
batismo com o Espírito Santo intrigam-se com a ênfase que damos quanto à
necessidade de se falar línguas estranhas como evidência da recepção desse
batismo, achando ser possível dar-se outra prova em detrimento desta para
afirmar que o crente foi batizado com o Espírito Santo. Contudo, o que na
prática tenho observado é que aqueles que dizem ter sido batizados com o
Espírito mas que não falaram línguas, não estão tão seguros de que o foram
quanto aqueles que falaram novas línguas,
O QUE É DOM DE
LÍNGUAS?
O dom de línguas é o meio sobrenatural
através do qual o Espírito Santo leva o crente a falar uma ou mais línguas
nunca antes estudada, portanto, estranhas àquele que a fala. Este dom nada tem
a ver com a habilidade natural de se falar diferentes idiomas. Falar em línguas
pela unção do Espírito Santo é “glossolalia” e não “poliglotismo”. O dom de
línguas está na esfera do sobrenatural.
Muitos estudiosos desse assunto, com
frequência, citam casos de missionários que, após longos anos tentando aprender
a língua do povo ou da tribo com que trabalham, de momento começam a falar
aquela língua com uma fluência invejável, dispensando a ajuda de intérprete. E
confundem, assim, esse fenômeno com o dom de línguas, quando o que aconteceu na
verdade foi a manifestação do dom de milagres ou maravilhas.
Quando Paulo escreveu aos Coríntios:
“Dou graças ao meu Deus, porque falo mais
línguas do que vós todos” (1 Co 14.18), não estava com isso dizendo que falava
mais idiomas estrangeiros do que os crentes da igreja em Corinto. Se assim
fosse o que Paulo estaria fazendo era demonstrar pura vaidade. Ele fazia alusão
à glossolalia, ou seja, à habilidade sobrenatural de falar em línguas nunca
antes estudadas.
Raimundo F. de Oliveira.
A Doutrina Pentecostal Hoje. Editora
CPAD.
2. Qual é a
finalidade do dom de variedade de línguas?
Com base na Palavra
de Deus, podemos dizer que o dom de variedade de línguas tem finalidades
múltiplas:
1) Edificação da igreja
Como vimos, os dons
não são dados para promoção pessoal de quem os possui. Todas as manifestações
espirituais, concedidas pelo Espírito Santo, são para a edificação no seio da
igreja cristã. Paulo diz que todos os dons devem contribuir para a edificação
da igreja: “Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem
salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo
para edificação” (1 Co 14.26). Essa exortação tem caráter atualizadíssimo para
os dias presentes.
Desse modo, uma
finalidade fundamental do dom de variedade de línguas é “transmitir à Igreja
uma mensagem em línguas, e, por isso, precisa de interpretação para que aquela
seja edificada. Essa interpretação é feita pelo dom de interpretação de
línguas”.8 Trata-se de um milagre, pois quem fala as línguas bem como quem as
interpreta não as conhece. “Trata-se de uma língua verdadeira, seja de homens
ou de anjos (cf. 1 Co 13.1), conforme o Espírito Santo concede que se fale (cf.
At 2.4)”.
2) Edificação pessoal
A variedade de
línguas pode ser útil para a edificação pessoal. Paulo ensina sobre isso de
maneira bem clara: “O que fala língua estranha edifica-se a si mesmo, mas o que
profetiza edifica a igreja” (1 Co 14.4). No caso de o crente falar línguas,
para sua edificação pessoal, não há necessidade de interpretação. “Mas, se não
houver intérprete, esteja calado na igreja e fale consigo mesmo e com Deus” (1
Co 14.28). Ê um dom valioso para a edificação pessoal. O crente, cheio do
Espírito Santo e edificado por Deus, pode ser usado nas reuniões para a
edificação da igreja, através do dom de interpretação de línguas.
Daí, a necessidade da
busca pelo dom de interpretação: “Assim, também vós, como desejais dons
espirituais, procurai sobejar neles, para a edificação da igreja. Pelo que, o
que fala língua estranha, ore para que a possa interpretar” (1 Co 14.12,13).
Dessa forma, fica bem claro que o dom de variedade de línguas pode servir para
a edificação da igreja, desde que haja interpretação sobrenatural, concedida
pelo Espírito Santo.
3) Glorificação a Deus
O livro de Atos dos
Apóstolos registra o episódio da ida de Paulo à casa do centurião Cornélio, por
revelação do Espírito Santo (cf. At 10.3-8; 18-20). Os judeus tradicionais que
se encontravam ali ficaram maravilhados, pois ouviam as pessoas falando línguas
estranhas em adoração a Deus.
Na descida do
Espírito Santo, no Dia de Pentecostes, as pessoas de diversas nações, ali
presentes, ouviam os apóstolos, após o batismo com o Espírito Santo, “falar das
grandezas de Deus” (At 2.11). Nada mais natural, essa finalidade, pois Jesus
disse que enviaria o Espírito Santo com a missão de anunciar a Cristo, e
glorificar ao Senhor: “Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e
vo-lo há de anunciar” (Jo 16.14). Se um dom não glorifica a Cristo, em sua
manifestação, não deve ser considerado proveniente do Espírito Santo.
4) Comunicação sobrenatural da parte de Deus
Gordon Chown relata o
caso, ocorrido em 1906, de uma jovem suíça, da área de fala alemã, chamada
Maria Gerber, que foi para os Estados Unidos, para estudar num Instituto
Bíblico. Seu irmão foi esperá-la, no porto, e, de imediato convidou-a para ir
orar por um amigo doente. Ela se recusou de pronto, dizendo que não faria nada
no país, antes de aprender a falar inglês. O irmão deixou-a em casa, e foi
fazer a visita sozinho. Mas o Espírito de Deus inquietou a jovem Maria, fazen-
do-a sentir que não consultara a vontade de Deus.
Ela de imediato, saiu
pelas ruas, com o endereço que fora dado pelo irmão, e, sem saber uma palavra
em inglês, perguntava aos guardas como chegar lá. Foi muito difícil, mas
conseguiu chegar à casa do doente, onde seu irmão já estava. E começou a orar
em alemão pelo enfermo para que Jesus o curasse. Porém, o sobrenatural
aconteceu. Ela foi tomada pelo Espírito Santo, e começou a orar em inglês
perfeito, e o doente foi curado de imediato. Não só isso, mas Maria recebeu o
dom de variedade de línguas, e passou a falar inglês fluentemente, realizando
seus estudos sem dificuldades, e orando pelos que precisavam de sua ajuda.
Dizer que esse dom
foi apenas para a época dos apóstolos é sem dúvida um preconceito contra o
próprio poder ilimitado do Espírito Santo.
5) Sinal para os descrentes
Praticamente, todo o
capítulo 14 da primeira carta de Paulo aos coríntios se refere ao uso dos dons,
nas reuniões da igreja local. Ali, ele orienta quanto à ordem e aos cuidados no
uso dos dons. Com relação ao dom de línguas, ou variedade de línguas, ele diz
que o falar línguas, na congregação, deve ser acompanhado da interpretação de
línguas para que a igreja possa ser edificada (1 Co 14.13-17). As línguas
servem para edificação da igreja, desde que sejam interpretadas para toda a
congregação. E também servem de “sinal” para os não crentes, da mesma forma, se
houver interpretação profética.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 64-66.
O Novo Testamento é
claro em seu ensino que os dons espirituais são para o propósito de edificar a
igreja. As línguas não têm este efeito: quando elas eram traduzidas, elas tinham
a função equivalente à da profecia. Que as línguas eram então edificantes para
a igreja (quando propriamente usadas) não pode ser questionado. Contudo, no
caso das línguas, a edificação era somente secundária; elas tinham um propósito
maior.
Após exortar os
crentes de Corinto para terem um pensamento mais maduro sobre o dom, Paulo cita
Isaías 28:11-12 para estabelecer o propósito das línguas: “Está escrito na lei:
Por homens de outras línguas e por lábios de estrangeiros falarei a este povo;
e nem assim me ouvirão, diz o Senhor. De modo que as línguas são um sinal, não
para os crentes, mas para os incrédulos; a profecia, porém, não é sinal para os
incrédulos, mas para os crentes” (1 Coríntios 14:21-22). Este é o propósito
declarado e pretendido das línguas: elas são para um sinal, um sinal para os
incrédulos.
Este é, então, o
porque as línguas têm tão pequeno propósito na igreja: elas são para um sinal
para os incrédulos. Seu propósito primário não era ministrar aos crentes, mas
aos incrédulos – para despertar sua atenção ao evangelho e confirmar a
credibilidade do Cristianismo em geral. Este é precisamente o propósito
satisfeito com a ocorrência inicial do dom de línguas (Pentecoste, Atos 2).
Nem Paulo
necessariamente implica nestes versos (1 Coríntios 14:21-22) que as línguas são
para um sinal de julgamento ou um sinal para os Judeus somente, como é
frequentemente ensinado. Ele meramente cita Isaías para traçar um princípio a
partir dele, a saber, que as línguas servem como um sinal para os incrédulos.
Jesus disse aos Judeus que eles não teriam outro sinal, exceto aquele da
ressurreição (Mateus 16:4); e o próprio apóstolo Paulo já tinha dito aos Coríntios
que os Judeus pediam, mas não recebiam um sinal (1 Coríntios 1:22-23).
Se este sinal era
para os Judeus somente, Paulo certamente teria declarado isto amplamente na
igreja Gentílica em Corinto; antes, ele meramente diz que as línguas eram sinal
para os incrédulos, quer Judeu, quer Gentio. Isto é tudo que é requerido a
partir desta declaração. As línguas eram um sinal para os incrédulos confirmando
o evangelho e a nova mensagem Cristã.
Se o finalzinho de
Marcos é genuíno ou mesmo historicamente correto, Jesus também declarou ser
este o propósito das línguas; línguas são “sinais” (Marcos 16:17).
Embora este seja o
declarado e assim, primário, propósito do dom de línguas, eles também serviam
outro propósito: eles demonstravam o recebimento do Espírito Santo e a unidade
no Corpo de Cristo. Agora, tenha cuidado! Isto não é dizer que as línguas são
evidência de um Batismo do Espírito subsequente à salvação. Mas no livro de
Atos, as línguas serviam para demonstrar o recebimento do Espírito, isto é, a
salvação. Pela natureza disto, então, aqueles que falavam em línguas davam
evidência de sua unidade no corpo de Cristo. Isto é precisamente o que aconteceu
em Atos 2. Foi o dom de línguas dado para a casa de Cornélio que convenceu
Pedro que os Gentios também tinham recebido o Espírito e assim se tornado parte
da igreja também (Atos 11:15-58, se referindo aos eventos de Atos 10:44-48). O
mesmo foi demonstrado em Atos 19 com os discípulos de João o Batista e também
em Atos 8 com os Samaritanos, se realmente as línguas ocorreram ali. Crentes de
todos os tipos – Judeus, Samaritanos e Gentios – receberam o mesmo dom e por
isto deram evidência de sua unidade no mesmo corpo, o Corpo de Cristo.
LÍNGUAS ESTRANHAS
ENTRE OS CRENTES
[AUTORES DIVERSOS]
I Cor 14.2. Paulo se
refere àqueles que falam em línguas, sem intérprete, o que, evidentemente, era
uma prática comum na igreja de Corinto (ver os versículos vinte e sete e vinte
e oito deste capítulo); porque falar em línguas, como interpretação, equivale à
profecia. Nesse caso, aquele que fala em línguas não é inferior àquele que
profetiza (ver o quinto versículo deste capítulo).
«...ninguém o
entende...» Assim sendo, no que diz respeito à edificação, quem fala em línguas
é nulo, fazendo-o sem propósito, se pensarmos na edificação alheia. Quem fala
em línguas edifica somente a si mesmo. Mas isso quem fala em línguas pode
fazê-lo privadamente, não desperdiçando o tempo do culto de adoração; e essa
norma Paulo recomenda no vigésimo oitavo versículo deste capítulo.
Este versículo não
prova que não são usados «idiomas estrangeiros» quando alguém faia em línguas,
idiomas antigos ou modernos, de homens ou de anjos; e isso porque o falar em
línguas ocorre no nível da alma e se eleva para Deus, em uma espécie de
comunicação espiritual com o ser divino. O fato que as línguas podem ser
«interpretadas» (ver os versículos quinto e vigésimo sétimo), mostra-nos que
elas devem ser, em sua maior parte, idiomas «coerentes» de alguma espécie. É
algo inteiramente fora do alvo pensar em interpretação de «sons incoerentes»,
como se tudo se resumisse numa descarga de emoção. Tal descarga certamente não
teria qualquer interpretação lógica.
«...fala
mistérios...»Aquele que fala em línguas diz «...mistérios...», mas isso não
apenas no sentido que é deixado sem interpretação. O que Paulo queria dizer é
que aquele que fala em línguas diz revelações profundas, emite profundas
verdades espirituais, interpretações de verdades espirituais conhecidas, mas de
alguma natureza incomum. Nas Escrituras, um «mistério» é ordinariamente uma
verdade divina qualquer, antes oculta, mas agora revelada. Os mistérios
paulinos em nada se assemelhavam aos mistérios dos cultos gregos, que só eram
desvendados para alguns poucos iniciados nessas religiões misteriosas. Antes,
para Paulo eram «segredos abertos», verdades divinas acerca de questões
importantes, para que todos pudessem compreendê-las. (Quanto a notas
expositivas completas sobre os «mistérios», ver o trecho de Efé. 3:9, onde há
uma definição do que Paulo entendia por essa palavra. Quanto a comentários
sobre todos os «mistérios do N.T.», alistados e discutidos de maneira
abreviada, ver Mat. 13:10).
Isso não significa
que os mistérios proferidos no dom de línguas sejam sempre alguma doutrina ou
revelação extraordinárias. Mas significa que então é dito algo de
significativo, doutrinária ou eticamente falando. Essa é uma das dificuldades
que se encontram no moderno movimento evangélico da «glossolalia», porquanto,
em muitas oportunidades, aquilo que é dito nessas línguas (se quisermos
acreditar nos que algumas vezes têm compreendido tais línguas) pertence a um
baixo nível mental; e é extremamente difícil crermos que o Espírito Santo tenha
algo a ver com manifestações de tão baixo nível. Parece lógico supormos que
aquilo que é sobrenaturalmente conferido deve transcender à capacidade mental comum,
pelo menos à capacidade daquele que fala. No entanto, muitas vezes, aquilo que
é apresentado como se fosse proveniente do Espírito de Deus, é inferior ao que
se diz sem qualquer inspiração. Em tais casos, podemos suspeitar que tais
línguas se originam em fontes psíquicas, dentro da própria personalidade do indivíduo,
e não devido a um contato divino.
Seja como for, um
«mistério» não terá proveito algum enquanto não for «revelado». Esse é o ponto
que Paulo desejava frisar. Deve haver, portanto, um intérprete; de outro modo,
as línguas não devem ser faladas na igreja.
(Ver os versículos
vigésimo sétimo e vigésimo oitavo). Antes, deve ser dada ênfase ao dom de
profecia, porquanto esse dom envolve a «compreensão», e o resultado disso é a
edificação, a exortação, o consolo e o ensino, bem como o desenvolvimento
espiritual.
«...em espírito...»
também poderia ser traduzido por «em Espírito». A ausência do artigo, no
original grego, favorece a ideia que está em foco o «espírito humano». O que
Paulo queria dizer é que o falar em línguas parte da alma, originando-se no
nível da intuição. No entanto, bons intérpretes existem que veem aqui uma
alusão ao Espírito Santo, a despeito da ausência do artigo definido no original
grego, porquanto isso concorda melhor com o contexto dos capítulos doze e
catorze, acerca dos «dons espirituais». No original grego, a letra «e» inicial,
da palavra «espírito», não era escrita em letras maiúsculas, nem mesmo quando
estava em vista o Espírito Santo, pelo que nada se pode decidir com base de
letras maiúsculas ou minúsculas. O mais provável é que o Espírito Santo está em
foco, o qual se utiliza do espírito humano, para fazer suas comunicações. Sendo
esse o caso, conforme se mencionou acima, poder-se-ia esperar «algo de extraordinário»
como o tema de tal comunicação. É altamente improvável que meras banalidades
sejam transmitidas através do dom de línguas, ou coisas que não estejam acima
da capacidade mental normal de quem fala, se porventura o Espírito Santo
realmente é o inspirador das línguas.
Contudo, é possível
que essas palavras, «em espírito»', talvez indiquem a ideia da transmissão de
algum segredo antes oculto, em contraste da ideia da compreensão «com o
entendimento».
A opinião que o
Espírito Santo é que está em foco nas palavras «em espírito», e não apenas o
«espírito humano», é defendida com base nas seguintes razões:
1. Esse é o uso
prevalente do termo «espírito», nos escritos de Paulo.
2. Isso concorda
melhor com o contexto geral, concernente aos dons do Espírito Santo, os quais
são dados e regulados por ele.
3. Em vista da
palavra «espírito» ser usada formando contraste com o «entendimento», o que
subentende alguma qualidade transcendental. Outros estudiosos, entretanto,
defendendo a ideia que aqui está realmente em foco o espírito humano,
apresentam os seguintes argumentos:
1. Sem o artigo
definido, no original grego, é mais natural pensarmos que está em vista o
«espírito humano». Pelo menos assim essa palavra é mais naturalmente
compreendida, quando desacompanhada de qualificativos ou descrições. (Ver o
artigo definido, usado antes da palavra «espírito», nos trechos de Rom. 1:9;
8:9; 15:1 e I Cor. 6:11).
2. O uso «no espírito
humano» concorda com o contexto, porquanto todos os dons espirituais são
exercidos no nível da alma humana.
Pode-se perceber,
todavia, que nenhum dos argumentos, pró ou contra, são conclusivos. Permanece
de pé a dúvida se está aqui em foco o «Espírito Santo» ou o «espírito humano».
Mas não há que duvidar que o «espírito humano» é usado pelo «Espírito Santo» e
é uma realidade que transparece no uso de todos os dons espirituais, sendo
esse, mui provavelmente, o sentido das palavras que ora focalizamos. O emprego
geral do termo, portanto, parece ser capaz de definir a questão, sem
necessidade de qualquer comparação com outras passagens, com bases gramaticais.
A palavra «mistérios»
é compreendida, por vários excelentes intérpretes, como algo que meramente
significa «segredos fechados», coisas não reveladas, em contraste com o uso
neotestamentário ordinário desse vocábulo; ou talvez signifique meramente «coisas
não reveladas», sem qualquer indício acerca da estatura de tais coisas,
querendo frisar Paulo tão-somente que permaneciam sem revelação, quando as
línguas são proferidas e não há quem as interprete. No entanto, parece
preferível aqui a ideia mais elevada sobre os «mistérios»; em outras palavras,
estariam em destaque algo significativo, algo que ultrapassa ao comum, conforme
se poderia esperar de uma manifestação especial do Espírito Santo, e não apenas
algo que permanece «oculto».
I Cor 14.4. Nem mesmo
o dom de línguas, desacompanhado de interpretação, deixa de ter seu devido
propósito. As línguas podem servir de meio de edificação própria, no nível da
alma, ainda que a mente não entenda o que é dito. As línguas são um meio de entrarmos
em contato com o divino, ainda que o conhecimento não se beneficie. As
experiências místicas, até mesmo aquelas da mais elevada ordem, geralmente são
inefáveis, isto é, sua natureza e seus resultados não podem ser bem expressos
verbalmente. Não obstante, tais experiências produzem um efeito «purificador»,
um efeito elevador, um efeito até mesmo transformador. É óbvio que isso
beneficia a pessoa envolvida; contudo, trata-se de um benefício de natureza
egoísta, a despeito de ser aprovado e desejado pela vontade divina. Por essa
mesma razão é que o apóstolo dos gentios jamais proibiu que se falassem em línguas
(ver o trigésimo nono versículo deste capítulo), ainda que tivesse recomendado
que as línguas, sem interpretação, não fossem usadas na adoração pública (ver
os versículos vigésimo sétimo e vigésimo oitavo deste capítulo). As línguas
particulares seriam altamente benéficas para cada crente, porquanto nada há de
errado com a alma que se comunica com Deus, ainda que o intelecto não tire
proveito. No entanto, os crentes de Corinto apreciavam o caráter teatral das
línguas, e lhe davam preferência acima da profecia, conforme este capítulo
inteiro deixa subentendido. Esse foi o «abuso» que Paulo procurou corrigir.
O dom profético, em
contraste com as línguas, é uma manifestação de natureza altruísta; portanto,
está mais conforme ao grande princípio do amor cristão (altruísmo puro),
segundo Paulo havia demonstrado no décimo terceiro capítulo desta epístola.
Esse exaltado princípio do amor cristão é que deve governar todas as atividades
da igreja cristã; portanto, em uma comunidade cristã bem orientada pelo Senhor,
o dom profético terá proeminência sobre as línguas. A profecia é tão mais
importante que o dom de línguas como a edificação da congregação inteira é mais
importante que a edificação de uma única pessoa.
Acerca do benefício
do dom de línguas, comenta Findlay (in loc.): «A impressão causada sobre aquele
que fala em línguas, por sua ejaculação verbal, visto tudo suceder em um
arrebatamento, e sem concepção clara (ver o décimo segundo versículo e ss.),
deve ser vaga; mas isso confirma poderosamente a sua fé, porquanto deixa um
senso permanente de possessão do Espírito de Deus (comparar com II Cor.
12:1-10). Nossos mais profundos sentimentos entram na mente abaixo da
superfície do consciente».
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 215-217.
A Profecia é
Entendida (14.2-3). Paulo tem a intenção de exaltar a profecia, mas procura
fazê-lo apontando antes as limitações dos “sons estranhos” (TEV).
1) Ninguém entende o
homem que fala em línguas (14.2). Uma razão pela qual falar em línguas é
inferior a profetizar diz respeito ao fato de que as línguas não são
compreendidas pelos outros. Porque o que fala língua estranha não fala aos
homens, senão a Deus. A palavra estranha está em itálico em algumas versões,
sugerindo que ela não pertence ao texto original. Entretanto, os tradutores da
versão KJV em inglês captaram corretamente o significado das palavras de Paulo;
portanto seu uso não distorce o significado da sentença. A frase porque ninguém
o entende sugere que o dom discutido aqui não é o mesmo que o falar em outras
línguas que ocorreu no dia de Pentecostes (At 2.4). O homem que pratica esse
dom não está falando aos homens, mas está envolvido em uma expressão pessoal de
louvor a Deus.
Em espírito significa
provavelmente o espírito da própria pessoa, tomado de exaltação e de emoção.
Nessas condições, a pessoa fala de mistérios que nem ela, nem qualquer outra
pessoa entendem, exceto alguém que possa interpretar. Como aquilo que é dito
por meio do falar em línguas é desconhecido dos homens, esta expressão também é
inferior à profecia.
A profecia é
compreendida pelos homens (14.3). Em contraste com a natureza desconhecida das
expressões proferidas em êxtase, a profecia serve ao propósito de edificar,
exortar e consolar. A palavra edificar (oikodomen) significa “construir como um
processo, uma edificação”. Paulo emprega essa palavra no sentido de edificar o
caráter cristão. Exortar significa “avisar, encorajar”.78 Consolar é a clássica
tradução de paramythia, que no grego clássico significa “qualquer
pronunciamento feito com o propósito de persuadir, estimular, despertar,
acalmar ou consolar”.79 Dessa forma, a profecia é um inspirado pronunciamento
que todos os homens entendem; ela serve para edificar o caráter cristão,
encorajar, fortalecer, confortar ou consolar.
A profecia edifica a
igreja (14.4-6). Como a profecia é entendida pelos homens, ela edifica a igreja
(4). Falar em línguas desconhecidas serve apenas para fortalecer o indivíduo.
Entretanto, Paulo não proíbe completamente esta prática: Quero que todos vós
faleis línguas estranhas (5). O verbo quero, ou desejo (thelo), “não expressa
uma ordem, mas uma concessão sob a forma de um desejo improvável de ser
realizado (cf. 7.7)”. Quanto a essa declaração, Bruce escreve: “E provável que
Paulo receasse ter ido muito longe ao rejeitar as línguas. Portanto, ele deixa
claro que não está proibindo as línguas, mas insistindo na superioridade da
profecia”. Como era difícil fazer a distinção entre um dom válido de falar em
línguas, ou a legítima expressão de um desejo de êxtase espiritual, e uma
inválida expressão de alegria pessoal, Paulo preferiu não proibir o falar em
línguas. Entretanto ele indica, de forma rápida e distinta, que o dom de
profecia é superior: ...mas muito mais que profetizeis.
O critério de
avaliação de qualquer dom é o seu valor para a igreja. Mesmo quando Paulo faz a
concessão do falar em línguas, ele imediatamente insiste que seu valor é menor
que a profecia, a não ser que elas sejam interpretadas para que a igreja receba
edificação (5). As palavras a não ser que também interprete “não se referem à
particular interpretação de uma mensagem transmitida em línguas, mas ao dom
permanente da interpretação... Paulo tem em vista uma pessoa que recebeu dois
dons, o de falar em línguas e o de ter a sua interpretação”. Dessa forma, o
apóstolo indica que qualquer glossolalia deveria ser interpretada para
fortalecer a congregação.
Quando Paulo faz
alusão à sua futura visita a Corinto, ele novamente faz da edificação da igreja
o critério pelo qual se estabelece o valor dos dons do Espírito: Que vos
aproveitaria, se vos não falasse ou por meio da revelação, ou da ciência, ou da
profecia, ou da doutrina? (6)
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 8. pag. 349-350.
I Cor 14.2,3
Inicialmente Paulo apresenta os dois dons com sua diferença essencial um em
relação ao outro: “Pois quem fala em línguas não fala a pessoas, mas a Deus;
porque ninguém o ouve, e em espírito ele fala mistérios. Quem fala
profeticamente fala a pessoas edificação, exortação e consolo” [tradução do
autor]. Não descreve nem o falar em línguas nem o falar profético em si. Nem há
necessidade para isso. Os coríntios conhecem ambos de sobra. A nossa situação é
outra.
Ainda que o ―falar em
línguas‖ aconteça novamente em círculos mais amplos e não apenas em ―seitas‖,
irrompendo também em ―igrejas‖, ele não obstante é algo desconhecido da maioria
dos leitores atuais da primeira carta aos Coríntios. Para nós a expressão
―língua‖ causa dificuldades. Com toda a certeza não está sendo mencionado o
órgão do corpo. Todos nós precisamos dele para falar, também das coisas mais
comuns. A palavra glossa também pode significar ―idioma‖. É assim que Lucas a
usa na História de Pentecostes em At 2.11: ―Ouvimo-los falar em nossas próprias
línguas as grandezas de Deus!‖ Será que também em Corinto se trata de falar num
idioma estrangeiro? Porém já no dia de Pentecostes foi preciso que se agregasse
ao falar o ―milagre do ouvir‖, a ―tradução‖ por meio do Espírito Santo, para
que o falar em línguas pelos discípulos fosse entendido como dialeto da terra
natal. Porque para aqueles que permaneceram em atitude de rejeição tiveram a
impressão de ouvir ―bêbados‖. A situação em Corinto deve ter sido ainda mais
dramática. Nessa questão o v. 23 se reveste de importância: estranhos que
entram numa igreja com pessoas que falam em línguas, não apenas os
considerariam como embriagados, mas como loucos. Nós, porém, não
consideraríamos ninguém bêbado ou demente por repentinamente falar turco ou
japonês, nem mesmo se não compreendêssemos nenhuma palavra desses idiomas.
Contudo, a palavra grega glossa, que nosso idioma acolheu no estrangeirismo
―glosa‖, também pode designar justamente a expressão ininteligível. Talvez seja
por isso que o falar enigmático indecifrável seja uma ―glossolalia‖, um ―falar
com línguas‖. Por outro lado, é possível que simplesmente tenha sido registrado
o fato que também Paulo destaca de forma especial, de que aqui não é mais a
razão que comanda a fala, mas a ―língua‖ da pessoa está entregue a si mesma e
movida por um poder estranho. Aqui não é a cabeça ou coração da pessoa, mas
somente sua ―língua‖ que se torna órgão do Espírito.
De qualquer forma
está claro que se trata de um falar completamente ininteligível. “Ninguém o
ouve” no sentido de que ninguém entende. Quem fala em línguas pode estar
proferindo a mais bela oração de gratidão, mas ninguém consegue dizer amém para
ela, por não saber o que disse aquele que falou em línguas (v. 16). Nos v. 7-9
Paulo chega a compará-lo com uma música e um sinal de trombeta sem distinção
clara dos tons, que permanecem incompreensíveis e ineficazes. Nos v. 10s ele
explicita a mesma situação com base num idioma estrangeiro, cujo significado
desconhecemos. Além disso, o trecho todo deixa transparecer que no falar em
línguas não se trata de comunicação com pessoas, mas de um falar voltado para
Deus, de oração em suas múltiplas formas. “Pois quem fala em outra língua não
fala a homens, senão a Deus.” Na sequência, nos v. 14-17, Paulo também
mencionará expressamente a oração, o louvor, o bendizer, o agradecer, que são
todos formas da oração. Por isso deveríamos falar mais precisamente do ―orar em
línguas‖ em lugar do ―falar em línguas‖. Dessa maneira seriam evitados muita
confusão e muitos equívocos.
I Cor 14.4,5 Agora
Paulo pode salientar claramente a diferença, decisiva para ele, entre ―falar em
línguas‖ e ―falar profético‖. “O que fala em línguas a si mesmo se edifica, mas
o que fala profeticamente edifica a igreja” [tradução do autor]. O termo
―edificação‖ não possui a conotação de ―edificante‖, mas é entendido de maneira
bem real como aquele
―construir‖ de que falava 1Co 3. Não se trata de sentimentos, sobre os quais um
falar ininteligível em línguas até pudesse causar uma forte impressão. Trata-se
de fomentar, fortalecer e purificar a vida real da igreja. Disso resulta a
formulação: “Maior, porém, é o que fala profeticamente do que o que fala em
línguas.” Com essa afirmação se coaduna a declaração de desejo do apóstolo à
igreja: “Eu quisera que vós todos falásseis em línguas, muito mais, porém, que
falásseis profeticamente.” Também o falar em línguas não deixa de ser uma boa
dádiva do Espírito Santo, que Paulo deseja a toda a igreja. Declara
expressamente à parcela reticente da igreja que não deve tolher o falar em
línguas (v. 39). Essa é a parte grandiosa em toda essa passagem, e
paradigmática para nós, que Paulo não usa nenhum tom ―polêmico‖, que ele não
faz qualquer tentativa de depreciar de algum modo o falar em línguas, a fim de
atingir seus adversários em Corinto, que usavam o falar em línguas também
contra a pessoa dele, com menções negativas. Paulo persiste em sua maravilhosa
objetividade. Contudo, sem dúvida é muito mais importante o dom do ―falar
profético‖. Somente uma exceção é possível, pela qual também aquele que fala em
línguas recebe o mesmo valor na igreja: “Salvo se interpretar, para que a
igreja receba edificação.” Novamente torna-se explícito o ponto de vista
decisivo: a edificação da igreja.
Werner
de Boor. Comentário Esperança Cartas aos I Corinto.
Editora
Evangélica Esperança.
3. Atualidade do dom.
EQUÍVOCO QUANTO AO
BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO E O DOM DE LÍNGUAS
Intérpretes da linha
“sensacionista” entendem que, assim como o batismo com o Espírito Santo, com
sinais de línguas estranhas, foi apenas para o período apostólico, os dons
espirituais também perderam sua necessidade e valor para os dias presentes.
Jean Jacques Dubois" afirma que a crença no batismo com o Espírito Santo,
como “uma segunda bênção”, distinta da salvação, é “confusão doutrinária” e
“obra do Diabo”. Para ele, a confusão se dá pelo desconhecimento das expressões
“batizados no Espírito Santo” e “cheios do Espírito Santo”.
Esse autor diz que
“nenhum versículo da Escritura exorta o cristão a ser ‘batizado com o
Espírito’, o que seria um contrassenso!”. Ele incorre no erro de muitos
intérpretes da Bíblia que fazem eisegese, ao invés de exegese. No primeiro
caso, procura-se adaptar o texto bíblico ao que se quer a partir de ideias
preconcebidas e cristalizadas como doutrina. No segundo, o que é correto,
procura-se extrair do texto bíblico o que de fato o escritor queria dizer ao
escrevê-lo. Isso se faz através da Hermenêutica cristã, que nos ajuda a
interpretar a Bíblia de modo correto. O autor cessassionista diz que nenhuma
exortação existe para que se busque o batismo com o Espírito Santo.
Mas o que Jesus disse
aos discípulos? Que eles seriam batizados com o Espírito Santo (At 1.4,5). E
acrescentou, respondendo a uma pergunta dos discípulos sobre a restauração de
Israel: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e
ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até
aos confins da terra” (At 1.8).
O referido autor não
dá o menor valor aos escritos do livro de Atos dos Apóstolos. Ele critica os
pentecostais dizendo: “E impressionante ver que a argumentação dos escritores
pentecostais se apoia em grande parte no livro de Atos e em modalidades de
experiências de indivíduos ou de grupos de indivíduos'. Para ele, o fundamento
dos escritores pentecostais “é tirado de um livro que contém mais história que
um ensino” (grifo nosso). Esquece o autor crítico que esses “indivíduos” e
“grupos de indivíduos”, que são exemplos claros de batismo com o Espírito
Santo, com línguas estranhas, não são “indivíduos” quaisquer. Seus exemplos, da
experiência pentecostal, são fundamento para a doutrina do batismo com o Espírito
Santo.
A partir dessa visão
limitada e distorcida sobre o batismo com o Espírito Santo, Dubois rechaça a
atualidade dos dons espirituais. Para ele, a igreja do século XX e do século
atual não precisam mais das manifestações do Espírito Santo, através dos nove
dons de 1 Coríntios 12. Ele passa de largo na questão dos dons espirituais. Em
todas as páginas de seu livro, apenas se refere aos dons, e assim mesmo,
enfatizando os aspectos negativos, ocorridos na igreja dos coríntios, onde
havia “desordem e divisão”. Ele considera os dons como “experiências especiais”
apenas para os apóstolos, visto que esses não tiveram sucessores, pois viveram
num “tempo de transição”. Mas não fundamenta sua interpretação crítica em
qualquer dos versículos do Novo Testamento.
Segue os ensinos dos
teólogos sensacionistas, que ignoram o valor e a atualidade dos espirituais.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 66-68.
QUAL A UTILIDADE DO
DOM DE LÍNGUAS?
Grande é a utilidade do dom de línguas
quando exercitado humildemente e com orientação do Espírito Santo. À luz de 1
Coríntios 14, o exercício do dom de línguas é útil para:
a. falar mistérios com Deus. quem fala em
outra língua, não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e
em espírito fala mistérios” (v. 2);
b. edificação individual. “O que fala em
outra língua a si mesmo se edifica...” (v.4);
c. orar bem. “Porque, se eu orar em outra
língua, o meu espírito ora de fato...” (v. 14);
d. complemento do culto. “Que fazer, pois,
irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro doutrina; este traz revelação,
aquele outro língua, e ainda outro interpretação”, v.26.
Falar de mistérios com Deus é um grande
privilégio. Aquele que fala em línguas estranhas tem consciência de que está
orando a Deus, louvando-o ou rogando algo a Ele, não obstante desconheça o
significado daquilo que ora. Fala de acordo com o momento, e com uma força a
jorrar dentro de si mesmo assim, terá consciência de que é ele quem fala, e tem
controle para começar ou terminar à hora que quiser. A pessoa fica
perfeitamente calma e em pleno uso de suas faculdades mentais, consciente o que
está fazendo e do que está acontecendo em torno dela. Frequentemente está
absorvida por uma conversa racional, e normal, imediatamente antes e depois de
falar em línguas.
Não há nenhum pecado em o crente buscar
edificação espiritual ou individual através de uma identificação mais íntima
com Deus. John F. Mac-Arthur diz no seu livro “Os Carismáticos” que o falar em
línguas é um individualismo condenado por Paulo e que o individualismo deve ser
evitado pelo cristão. Essa assertiva não tem apoio nas Escrituras. Veja, por
exemplo: se o falar em línguas mostra individualismo, e se o individualismo não
edifica ninguém, como iria Paulo dizer que “o que fala em outras línguas a si
mesmo se edifica”? 1 Co 14.4.
Há uma grande incoerência entre a afirmação
de John F. MacArthur e o pensamento de Paulo, que está mais claro no versículo
39 de 1 Coríntios 14: ‘‘...não proibais falar línguas”. Se a edificação pessoal
fosse individualismo e egoísmo, Paulo jamais teria escrito a Timóteo: “Tem
cuidado de ti mesmo...” 1 Tm 4.16. Noutro lugar escreveu Judas: “Mas vós,
amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé...”, Jd 20.
Uma igreja sólida ergue-se com o respaldo
da edificação individual de cada um de seus membros.
Falar a Deus em outras línguas é orar com o
espírito e no espírito; fazer assim é orar bem. Através das línguas estranhas,
o crente fala e o Espírito Santo comunica a ele a alegria (ou a angústia) que
lhe vai no coração, o que, de outro modo, ao crente não seria revelado. Isto é
o que ensina Paulo em Romanos 8.26:
“E da mesma maneira também o Espírito ajuda
as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas
o Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis”.
Através das línguas estranhas, podemos
elevar a Deus o mais puro louvor que as nossas tribulações e tentações impedem
que façamos em nossa própria língua.
4. QUEM NÃO FALOU EM
OUTRAS LÍNGUAS?
Robert G. Gromacki, no seu livro “Movimento
Moderno de Línguas”, escreve:
“Tem havido, e ainda há, muitos homens
piedosos que não falaram línguas: Calvino, Knox, Wesley, Carey, Judson, Moody,
Spurgeon, Torrey, Sundey e Billy Graham (...) Certamente eles têm manifestado
mais santidade e têm testemunhado mais efetivamente em prol de Cristo do que
muitos que pretendem ter falado línguas”.
Este argumento de Gromacki baseia-se em
homens, antes que nas Escrituras. O fato de não se ler que esses homens falaram
em línguas estranhas, implica deveras em que eles não as tenham falado? Pode-se
usar o silêncio deles sobre o assunto para formar uma doutrina de negação daquilo
que a Bíblia ensina com clareza meridiana? E se eles não falaram línguas, isto
invalidará a promessa divina? - De maneira nenhuma!
Se o fato de alguns cristãos nobres não
terem falado em línguas anula a promessa de Deus, ou §e o dom de línguas é inautêntico
só porque os pentecostais “pretensamente” dizem ter falado em línguas,
dar-se-ia o caso que a autenticidade ou a inautenticidade de qualquer dom
divino pode ser evidenciada pela aceitação ou pela rejeição parcial ou total
desses dons. Partindo dessa premissa, atrevo-me a mostrar um número muito maior
de crentes célebres que falaram e falam outras línguas do que aquele que os
antipentecostais apontam como não tendo falado línguas.
Vem o caso de fazer aqui a indagação de
Paulo, feita em 1 Coríntios 3.5: “Quem é Apoio? e quem é Paulo?...”. Quem foi
Calvino, Knox, Wesley, Ca-rey, Judson, Moody, Spurgeon, Torrey, Sundey? e quem
é Billy Graham senão “servos por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor
concedeu a cada um ”. Deve-se porventura evocar a vida piedosa de qualquer um
desses homens de Deus com o propósito de se anular algum dom do Espírito Santo,
mesmo que seja o de língua? - Evidentemente não.
5. QUAL O
COMPORTAMENTO MAIS SENSATO QUANTO AO DOM DE LÍNGUAS?
Evidentemente, o melhor comportamento quanto
ao dom de línguas é o que foi demonstrado pelo apóstolo Paulo, ainda no
capítulo 14 de 1 Coríntios:
a) - “Eu quero que todos vós faleis línguas
estranhas”, v.5.
b) - "...pelo que, o que fala línguas
estranhas, ore para que possa interpretar”, v. 13.
c) - “Não proibais falar línguas”, v.39.
À igreja de Corinto não faltava dom algum
(1 Co 1.7), o que faltava era o ensino quanto ao uso desses dons, haja vista o
abuso que se fazia deles, principalmente do dom de línguas. Diante dessa
necessidade, que fez Paulo? a) Disse que todos os crentes na igreja poderiam
falar em línguas, desde que o fizessem de forma ordeira e dirigida, b) Orientou
no sentido de que aqueles que falavam línguas orassem para que recebessem do
Espírito Santo a capacidade de interpretá-las, a fim de que a igreja fosse
edificada. Paulo poderia ter escrito: “Pelo que, o que fala línguas estranhas e
não pode interpretar [deixe de falar]”, mas não foi assim que fez. O objetivo
da observação do apóstolo, visava a dimensionar o uso correto desse dom, c)
Exortou então aqueles que, por não possuírem sabedoria, queriam proibir o dom
de línguas, a que dessem livre curso a esse dom.
Não há dons imperfeitos ou desnecessários,
o que há é imperfeição ou omissão quanto ao uso dos dons por parte de alguns
crentes.
Se alguém tem um dos membros afetado por
uma enfermidade, o que deve fazer para extirpar a enfermidade desse membro? -
Cortar o membro doente? Não, de modo nenhum! O que deve é tratar do membro
enfermo até que este possa voltar a exercer a sua função insubstituível, para o
bem de todo o corpo.
Billy Graham é de opinião que existe um dom
de línguas real, em contraste com uma imitação, e que muitos dos que receberam
esse dom foram transformados espiritualmente - alguns por pouco tempo e outros
permanentemente.
6. NORMAS QUANTO AO
USO DO DOM DE LÍNGUAS
Quanto ao exercício do dom de línguas, o
apóstolo Paulo não só ratifica a liberdade que o crente tem de exercitar o dom,
mas também estabelece um princípio normativo para esse exercício,
principalmente no culto público, onde pessoas não-crentes tenham acesso.
Segundo Paulo, aquele que possui o dom de
línguas deve observar o seguinte:
a) - “Pelo que, o que fala em outra língua,
ore para que a possa interpretar”, 1 Co 14.13.
Paulo diz que se alguém fala em línguas e
as interpreta está contribuindo para a edificação da igreja, como também o faz
aquele que profetiza. Assim, aquele que fala em outra língua deve ter o cuidado
de não fazer do culto público um espetáculo de glossolalia, a não ser que possa
interpretar a língua que fala.
b) - “No caso de alguém falar em outra
língua, que não seja mais do que dois ou quando muito três, e isto
sucessivamente, e haja quem interprete. Mas não havendo intérprete, fique
calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus”, 1 Co 14.27,28.
O culto público nunca deve ser transformado
num festival de línguas estranhas; tampouco a mensagem evangelística ou de
doutrina deve ser interrompida pelo falar em língua estranha. Pergunta o
apóstolo Paulo:
“Se, pois, toda a igreja se reunir no
mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso de entrarem
indoutos ou incrédulos, não dirão porventura, que estais loucos?” 1 Co 14.13.
No caso de manifestar-se o dom de línguas
em culto público, que somente dois, ou quando muito três, falem em línguas; não
os dois ou os três de uma só vez, mas um após o outro, e com a condição de
haver quem interprete; do contrário, que “fique calado na igreja, falando consigo
mesmo e com Deus”, ou seja, que não perturbe a boa ordem do culto atraindo para
si as atenções dos presentes, em detrimento da pregação e do louvor.
“FAÇA-SE TUDO
DECENTEMENTE E COM ORDEM”, 1 Co 14.40
Os pentecostais, em geral, são tachados de
barulhentos, emocionais e, às vezes, de desordeiros. Para aqueles que se lhes
opõem, “faça-se tudo decentemente e com ordem” é o versículo preferido. Para
esses (os antipentecostais) “decência e ordem” é o mesmo que silêncio. Um
cemitério, por exemplo, retrata muito bem a decência e ordem que eles gostariam
de ver entre os pentecostais. Os que habitam os cemitérios não perturbam
ninguém, eles têm perfeita ordem; mas eu conheço milhares de pessoas que
preferem mil vezes a “desordem” dos vivos à decência e ordem dos mortos. Vem ao
caso lembrar as palavras do Dr. John Alexander Mackay, presidente emérito do
Seminário Princeton: “Se eu tivesse de fazer uma escolha entre a vida inculta
dos pentecostais e a morte estática das igrejas mais antigas, pessoalmente, preferiria
essa vida inculta”. Noutra oportunidade disse ainda o Dr. Mackay: “Alguma coisa
está errada quando a emoção se toma legítima em tudo, exceto na religião”.
Um certo pregador disse:
“Hoje em dia, vai-se ao futebol para
torcer; ao cinema para chorar, e à igreja para gelar”. E, prosseguindo, disse
como testar a realidade da emoção em qualquer experiência espiritual, usando
esta regra: “Não me importa seus pulos e gritos em meio à emoção, desde que,
passando aquele momento, você tenha vida equilibrada”.
O medo dos “erros” dos pentecostais,
manifestos por excesso de emoção, tem impedido que muitos crentes sinceros
gozem um Cristianismo vivo e dotado do genuíno frescor espiritual. Eles são
pessoas incapazes de acertar, porque são dominados pelo medo de errar, pelo que
jamais farão coisa alguma. Conheço muitos crentes que estão acuados entre o
profundamente humano e aquilo que podem experimentar pela operação do Espírito
Santo, só porque os seus líderes os ensinaram a pensar e a agir assim. Lembra-me
a história do pescador que, ao apanhar um peixe, o media, e se o pescado
medisse mais de 25 centímetros de comprimento, ele o devolvia à água. Naquele
instante aproximou-se um turista que, curioso com o que via, perguntou porque o
pescador agia assim, ao que ele respondeu: “É que minha frigideira só tem vinte
e cinco centímetros de diâmetro, e não adianta levar para casa um peixe maior
do que a medida que ela comporta”. Infelizmente, muitos crentes são como esse
pescador: incapazes de buscar e reter consigo uma experiência que vá além dos
limites estabelecidos pelos seus teólogos e líderes.
João Wesley, o grande avivalista inglês,
acerca dos gritos, convulsões, danças, visões e coisas testemunhadas nos seus
dias, disse:
“O perigo consiste em dar-lhes um pouco de
valor, em condená-las abertamente, em imaginar que não provenham da parte de
Deus; e isso serve de obstáculo ao trabalho do Espírito, pois a verdade é que:
“a. Deus tem convencido, forte e
subitamente, a muitos de que são pecadores perdidos, e as consequências
naturais disso têm sido clamores súbitos e violentas convulsões corporais;
“b. para fortalecer e encorajar os que
creem, e para tomar a sua obra mais evidente, o Senhor favoreceu a alguns deles
com sonhos divinos, e a outros com êxtases e visões;
“c. em algumas dessas instâncias, após
algum tempo, a natureza humana mescla-se com a graça;
“d. o próprio Satanás imita essa parte da
obra de Deus, a fím de lançar no descrédito toda a obra; no entanto, não é mais
sábio desistir dessa porção do que desistir do todo. A princípio, sem dúvida
alguma, tudo se originava inteiramente em Deus. E, parcialmente, continua
assim, até os nossos próprios dias; e Ele nos capacitará a discernir até que
ponto, em cada caso, a situação é pura, bem como onde se mescla com coisas
estranhas e se degenera. A sombra não é motivo para desprezarmos a substância,
nem o diamante falso para recusarmos o autêntico”.
Outro depoimento digno de observação quanto
a esse assunto, é do Dr. T.B.Barratt, de Oslo, Noruega:
“Os sinais sobrenaturais, os dons do
Espírito, as demonstrações do corpo, tudo é uma parte apenas desse Movimento
Pentecostal, mas a grande influência morai desse avivamento, o poderoso ímpeto
espiritual que ele nos traz é de monta muito maior”.
Os antipentecostais, preocupados em
denunciar as exceções, pisoteiam as regras. Ao tentarem expurgar os
pentecostais do seio da Igreja, estão denunciando a esterilidade de suas
próprias igrejas. Isso lembra o que disse o teólogo suíço, Karl Barth:
“Ao jogarem fora a água em que banharam a
criança, jogaram também a criança. Ao tentarem tomar o cristianismo plausível
para os céticos, o que conseguiram foi tomá-lo destituído de sentido”.
O capítulo 6 de 2 Samuel relata a volta da
arca do Senhor à cidade de Jerusalém. A alegria de Davi pelo evento era tal,
que “saltava com todas as suas forças diante do Senhor”.
Mas “sucedeu que, entrando a arca dó Senhor
na cidade de Davi, Mical, a filha de Saul, estava olhando pela janela; e, vendo
o rei Davi, que ia bailando e saltando diante do Senhor, o desprezou no seu
coração".
No final da festa, “embriagado” pela
alegria do Senhor, Davi volta para casa, e Mical, sua mulher, sai-lhe ao
encontro e lhe censura o comportamento, dizendo:
“Quanto honrado foi o rei de Israel,
descobrindo-se hoje aos olhos das servas de seus servos, como sem pejo se
descobre qualquer vadio. “Disse, porém, Davi a Mical: Perante o Senhor, que me
escolheu a mim antes do que a teu pai, e a toda a sua casa, mandando-me que fosse
chefe sobre o povo do Senhor, sobre Israel, perante o Senhor me tenho alegrado.
E ainda mais do que isto me envilecerei, e me humilharei aos seus olhos; e das
servas, de quem me falaste, delas serei honrado”, vv.20-22.
Para Mical, indiferente ao significado da
volta da arca do Senhor à cidade de Jerusalém, era fácil, através da janela do
palácio real, fazer mau juízo de Davi, que, feliz, em meio ao povo, dançava de
alegria na presença do Senhor. Para Mical importava a “etiqueta”, como para os
antipentecostais importa hoje a “decência e ordem” cemiterial.
Na cristandade de hoje acontece o mesmo:
ser Pentecostal é para muitos um agravo ao pudor evangélico. Alguém pode
escrever ou dizer porque não é pentecostal, e o seu testemunho é como um grande
serviço prestado a Deus; mas, se alguém escreve porque é pentecostal, isso
parece uma idiotice: é como Davi tentando convencer a Mical porque dançava nas
ruas de Jerusalém no meio da plebe.
O último versículo do capítulo 6 de 2
Samuel diz:
“E Mical, a filha de Saul, não teve filhos,
até ao dia da sua morte”.
O contexto deste versículo mostra que a
esterilidade de Mical era devida à censura feita por ela ao rei Davi. Esta, sem
dúvida, tem sido a inevitável sentença sob a qual têm estado grande parte das
denominações cujos líderes têm feito do antipentecostalismo o seu apostolado.
Apesar disso, o número de pentecostais
continua crescendo, e sabe-se que há hoje em todo o mundo nada menos de cinquenta
milhões de crentes que têm experimentado a promessa pentecostal do batismo com
o Espírito Santo, acompanhada do falar em outras línguas.
O crescimento das igrejas pentecostais tem
sido considerado um verdadeiro fenômeno pelos estudiosos de assuntos
eclesiásticos. O escritor não-pentecostal, Peter Wagner, no seu livro “Cuidado!
Aí vêm os Pentecostais”, quanto ao comportamento das igrejas não-pentecostais
diante do acelerado crescimento das igrejas pentecostais, escreveu: “...as
igrejas não-pentecostais ainda têm um problema: seus dirigentes reconhecem (e é
óbvio) que as igrejas pentecostais estão crescendo muito mais rapidamente do
que as das outras denominações. Eles mesmos fazem a pergunta: ‘Por quê’ E se
tornam mais frustrados quando colocam o que está acontecendo em termos
teológicos, e levantam a possibilidade de que, por alguma razão, o Espírito
Santo seja capaz de trabalhar o milagre da regeneração mais frequentemente nas
igrejas pentecostais do que em suas próprias. Em vez disso, eles deveriam
pensar: ‘O que nós podemos fazer para limpar a erva daninha das nossas igrejas,
de modo que o Espírito Santo possa trabalhar?’”
A HISTORICIDADE DO
DOM DE LÍNGUAS
A história mostra que a experiência
pentecostal de falar línguas estranhas constitui-se num círculo ininterrupto
desde o dia de Pentecoste até os nossos dias, e continuará até que Cristo
volte.
Agostinho escreveu no IV século:
“Ê de esperar-se que os novos convertidos
falem em novas línguas”.
Irineu, discípulo de Justino discípulo do
apóstolo João, escreveu:
“Temos em nossas igrejas irmãos que possuem
dons proféticos e, pelo Espírito Santo, falam toda classe de idiomas”.
João Crisóstomo, no V século escreveu:
“Qualquer pessoa que fosse batizada nos
dias apostólicos, imediatamente falava em línguas”.
Tertuliano inseriu nos seus escritos
manifestação dos dons do Espírito Santo, entre os quais o dom de línguas, no
meio dos montanistas, movimento ao qual ele pertencia.
O decano Farrar, em seu livro “Das Trevas à
Aurora”, refere-se aos cristãos perseguidos em Roma, cantando hinos e falando
em línguas desconhecidas.
Na História da Igreja Alemã, lemos o
seguinte:
“O Dr. Martinho Lutero foi um profeta,
evangelista, falador em línguas e intérprete, tudo em uma só pessoa, dotado de
todos os dons do Espírito”.
Na História da Igreja Cristã, escrita por
Filipe Schaff, edição de 1882, ele escreve que o fenômeno de falar em línguas
tem reaparecido de quando em quando nos avivamentos dos Camisards e dos
Cevennes, na França e entre os primitivos Quakers e Metodistas, seguidores de
Lasare da Suécia em 1841-1843, e entre os irlandeses em 1859, e finalmente, até
os nossos dias.
Na história dos avivamentos de Finney,
Wesley, Moody e outros, houve demonstração do poder do Espírito Santo no dom de
falar línguas com prostrações físicas e estremecimento debaixo do poder de
Deus. Charles G. Finney assegura em sua autobiografia que o Senhor se
manifestou aos seus discípulos nesta geração, assim como fez nos tempos
apostólicos.
James Gilchrist Lawson, em seu livro
“Profundas Experiências de Cristãos Famosos”, escreve: “Em algumas ocasiões o
poder de Deus se manifestava em tal grau nas reuniões de Finney, que quase
todos os presentes caíam de joelhos em oração, ou melhor, oravam com lamentos e
queixumes inenarráveis pelo derramamento do Espírito de Deus”.
O Rev. R. Boyd, batista, amigo íntimo de
Dwight L. Moody, relata no seu livro “Provas e Triunfos da Fé”, edição de 1875:
“Quando cheguei ao Vitória Hall, Londres,
encontrei a assembléia ardendo. Os jovens estavam falando em línguas e
profetizando. Qual seria a explicação de tão estranho acontecimento? Somente
que Moody os estava dirigindo naquela tarde”.
Stanley Frodsham, em seu livro ’’Estes
Sinais Seguirão”, dá detalhes do poderoso derramamento do Espírito Santo em
1906, em Los Àngeles, Califórnia:
“Centenas de leigos e ministros, todos por
igual, de todo os Estados Unidos - metodistas, episcopais, batistas,
presbiterianos, e os denominados seguidores da doutrina da Santidade - de
diferentes nacionalidades, foram batizados com o Espírito Santo e falavam em
outras línguas, seguindo-se os sinais”.
No seu livro “Demonstração do Espírito
Santo”, H.H. Ness escreveu:
“Quando o fogo pentecostal brotou com
ímpeto entre os cristãos das igrejas da Aliança Missionária Cristã nos estados
de Ohio, Pensilvânia, Nova Iorque e outros estados do Noroeste dos Estados
Unidos, faz alguns anos, em muitos deles houve demonstração do poder do
Espírito Santo, o que foi visto, sentido e ouvido. Resultaram notáveis milagres
de cura divina - recuperação de saúde de cegos, surdos, mancos e outros
afligidos - pela oração da fé. Mais ainda, não houve ali somente prostrações e
línguas desconhecidas, mas houve também surpreendentes casos em que pessoas
foram levantadas do solo pelo poder de Deus”.
Nestes últimos anos tem-se tomado comum ler
em jornais, revistas e livros, a respeito da experiência de falar línguas
estranhas entre evangélicos de denominações até então invulneráveis à ação
sobrenatural do Espírito Santo.
O jornal episcopal “The Living Church” há
alguns anos, trouxe o seguinte sobre o fenômeno de falar línguas estranhas:
“O falar em línguas não é mais um fenômeno
de alguma seita estranha do outro lado da rua. Está em nosso meio, e vem sendo
praticado pelo clero e pelos leigos, homens de nomeada e boa reputação na
igreja. Sua introdução generalizada se chocaria contra nosso senso estético e
contra algumas de nossas mais entrincheiradas ideias preconcebidas. Mas sabemos
que somos membros de uma igreja que de toda sorte precisa de um choque - se
Deus tem escolhido este tempo para dinamitar o que o bispo Sterling, de
Montana, designou de ‘respeitabilidade episcopal’, não conhecemos explosivo de
efeito mais terrivelmente eficaz”.
No “The Episcopalian” de 15/05/1968, disse
o Rev. Samuel M. Shoemaker:
“Sem importar o que significa o antigo-novo
fenômeno do ‘falar línguas’, o mais admirável é que se declara, não apenas no
seio dos grupos pentecostais, mas também entre os episcopais, os luteranos e os
presbiterianos. Eu mesmo não passei por essa experiência, mas tenho visto
pessoas que a têm recebido, e isso as tem abençoado e dado um poder que não
possuíam antes. Não pretendo entender esse fenômeno, mas estou razoavelmente
certo de que indica a presença do Espírito Santo, assim como a fumaça que sai
de uma chaminé indica a presença de fogo por baixo. E sei com certeza que isso
significa que Deus quer entrar na igreja antiquada e autocentralizada como
geralmente ocorre, para que lhe outorgue uma modalidade de poder que a torne radiante,
excitante e altruísta. Deveríamos procurar compreender e ser reverentes para
com esse fenômeno, ao invés de desprezá-lo ou zombar dele”.
CESSOU O DOM DE
LÍNGUAS?
No seu livro “Os Carismáticos”, John F.
MacArthur escreve o seguinte:
“Primeiro Coríntios 13.8 declara claramente
que ‘as línguas cessarão’. Quanto a esse ‘cessar’, o verbo grego não se
encontra na voz passiva, mas na voz reflexiva, que sempre enfatiza o sujeito
que faz a ação. O que essa frase no versículo 8 está dizendo é que ‘as línguas
cessarão por si mesmas’.
“Se as línguas cessarão por si, a questão é
quando? Depois de diversos anos de estudo, em que li todos os lados da questão
e discuti com carismáticos como também com pessoas não-carismáticas, estou
convencido, sem dúvida alguma, de que as línguas cessaram na era apostólica, e
que, quando cessaram, foi uma coisa permanente”.
É evidente que este raciocínio do
antipentecostal John F. MacArthur é falho e não honra as Escrituras, nem se
harmoniza com a historicidade da glossolalia que se tem tomado um círculo
ininterrupto desde o dia de Pentecoste até os nossos dias. O dom de línguas é
um dom atualíssimo.
Para melhor compreensão do assunto, é
importante citar não só o versículo 8 de 1 Coríntios 13, mas também os versículos
9 e 10:
“A caridade nunca falha; mas havendo
profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciências
desaparecerá; porque em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; mas, quando
vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado”.
MacArthur assegura que as línguas cessaram
na era apostólica, porém, como os demais antipentecostais, é de opinião de que
“profecia” e “ciência” são dons ainda operantes na igreja de hoje. É
simplesmente inconcebível que as línguas tenham cessado, e “profecia” e
“ciência” que estão sujeitas ao mesmo espaço de vigência, ainda continuem.
A alusão de Paulo às línguas, profecia e
ciência, é feita em termos de comparação com a caridade. É evidente que há
circunstância em que o próprio amor chega a faltar, mas isto não é regra, mas
uma exceção.
John F. MacArthur tem dificuldade em fixar
com exatidão bíblica, quando o dom de línguas cessaria. À maioria dos
antipentecostais, cujas obras tenho consultado, são de opinião de que 1
Coríntios 13.10 - “...mas quando vier o que é perfeito, então o que o é em
parte será aniquilado” - significa que quando fosse encerrado o cânon divino
(segundo eles) o que Paulo se refere como “o que é perfeito”, então o que é
perfeito em parte (segundo eles, referente ao dom de línguas e aos demais
dons), será aniquilado.
Se as Escrituras não dizem o que dizem os
seus escritos, como dirão aquilo que dizem os anti-pentecostais? Ao escrever
sobre uma aparente transitoriedade do dom de línguas, o apóstolo Paulo se
referia simplesmente às limitações às quais estamos sujeitos até que aquele que
é perfeito (Jesus Cristo) apareça na plenitude da sua glória, quando então
seremos semelhantes a Ele: Jó 19.25-27; SI 17.15; 1 Jo 3.2.
“De igual modo, agora só podemos ver e
compreender um pouquinho a respeito de Deus, como se estivéssemos observando
seu reflexo num espelho muito ruim; mas o dia chegará quando o veremos
integralmente, face a face. Tudo quanto sei agora é obscuro e confuso, mas
depois verei tudo com clareza, tão claramente como Deus está vendo agora mesmo
o interior do meu coração”, 1 Co 13.12 (O Novo Testamento Vivo).
MAIS EVIDÊNCIAS DA
ATUALIDADE DO DOM DE LÍNGUAS
Sabe-se que, hoje, nada menos de cinquenta
milhões de cristãos, espalhados por todas as partes do mundo, em diferentes
denominações, falam em línguas. São crianças, jovens, e adultos que gozam do
glorioso privilégio de adorar a Deus em novas línguas. Sabe-se que até irmãos
mudos-surdos têm sido tomado pelo Espírito Santo e inspirados a falar em
línguas como acontece a qualquer pessoa normal. Mesmo igrejas até há pouco
invulneráveis à operação do Espírito Santo, têm levantado a sua voz, num
vibrante testemunho quanto à atualidade dos dons do Espírito Santo.
Sob o patrocínio do Rev. Sílvio Ribeiro
Ladeira, pastor da Igreja Presbiteriana Independente de Cara-picuíba, São
Paulo, foi publicado recentemente o livro “O Movimento Carismático e a Teologia
Reformada”, de autoria do Dr. J. Rodman Williams, que traz a opinião de
ilustres teólogos e de famosas igrejas quanto à atualidade do dom de línguas.
A. A. Hoekema, teólogo reformado
conservador, escreve:
“... não podemos certamente limitar o
Espírito Santo, sugerindo que seria impossível para Ele conceder o dom de
línguas hoje.”
A “Dutch Reformed Church” da Holanda, em
sua carta pastoral de 1960, sobre a Igreja e os Grupos Pentecostais, diz:
“Achamos presunçoso afirmar que o falar em
línguas foi algo somente para o início do Cristianismo. A evidência bíblica em
Atos e 1 Coríntios 12 a 14 é demasiado explícita para isso. O fato de falar em
línguas ter também um significado em nossos dias, não pode ser, portanto, posto
de lado.”
Raimundo F. de Oliveira.
A Doutrina Pentecostal Hoje. Editora
CPAD.
Atos 1.4. A arte de
esperar. Os discípulos tinham de esperar a promessa em Jerusalém. Há várias
maneiras de esperar. O servo infiel o faz com a esperança de que o senhor vai
demorar. Existe um tipo de espera que significa acomodar-se, sem fazer esforços
físicos ou mentais. A verdadeira espera inclui:
4.1. Expectativa.
Aguardar com tanta boa vontade que a mente fique sempre mais cheia de
esperanças. É como o servo aguardando o mestre, a esposa ao marido, a mãe
aguardando a volta do filho. Esperar como o comerciante aguardando a vinda do
seu navio carregado de mercadorias, o marinheiro procurando ver a terra, o rei
desejando notícias da batalha. São casos em que a mente se firma num só
objetivo e dificilmente pode prestar atenção a outra coisa.
4.2. Oração. A espera
exige quietude e paciência. Muitos de nós, porém, nos deixamos levar pelo
espírito inquieto dos nossos dias. Quando Daniel orava, Gabriel veio rapidamente
(Dn 9.21). Hoje em dia teria de se apressar muito para ainda nos pegar de
joelhos!
4.3. Consagração.
Devemos descobrir em qual direção Deus está guiando as coisas. E remover do
caminho tudo quanto há em nós que possa impedir sua obra.
Atos 1.5. A arte de
testemunhar. “E ser-me-eis testemunhas...” Ruskin disse certa vez: “A coisa
mais grandiosa que a alma humana pode fazer neste mundo é ver algo, e contar
aos outros o que viu, de forma singela e clara”. De acordo com este pensamento,
certamente a coisa mais grandiosa da vida é perceber a beleza de Jesus e falar
aos outros sobre Ele. Um estudo do livro de Atos mostra que o testemunhar é a
forma mais antiga de pregação. Os apóstolos contavam tudo quanto sabiam acerca
de Jesus, e os convertidos contavam o que Jesus fizera por eles. A testemunha
no foro é submetida ao interrogatório. E nós, como testemunhas do Senhor, somos
submetidos a semelhantes interrogatórios por parte do mundo. As pessoas, depois
de ouvirem nosso testemunho, prestam atenção em nossa conduta para então,
mentalmente, calcular o relacionamento entre o que falamos e vivemos.
Pearlman.
Myer. Atos: e a Igreja se Fez Missões.
Editora CPAD. pag.14-15.
Atos 1.4 Nesse ponto
a descrição do dia da ascensão se torna mais pormenorizada do que no evangelho.
Jesus celebra mais uma vez a comunhão de mesa com seus discípulos. A comunhão
de mesa era um acontecimento característico do convívio de Jesus com os seus.
Por essa razão, o Ressuscitado escolheu justamente a comunhão da ceia para
manifestar a seus discípulos tanto a realidade plena de sua pessoa, como também
seus laços restaurados com os discípulos, antes destruídos por causa do
fracasso deles (cf. Mc 16.14; Lc 24.30ss; 24.41ss; Jo 21.12ss). Por isso, as
alegres refeições da igreja, com o “partir do pão” (At 2.46s), a respeito das
quais seremos informados em breve, representavam a lembrança da antiga comunhão
à mesa existente durante toda a atuação de Jesus, mas eram igualmente um
memorial daquela última ceia antes do sofrimento e da morte, e daquela
maravilhosa refeição matinal após a ressurreição. No “diálogo à mesa” da
refeição antes da ascensão os apóstolos recebem a ordem expressa de permanecer
em Jerusalém. Para os homens da Galiléia (v. 11) o retorno para a terra natal
após a despedida definitiva de Jesus era muito plausível, ainda mais que lá
também haviam encontrado o Ressuscitado (Mt 28; Jo 21). O que ainda os
seguraria em Jerusalém? Jesus explicou: o próximo grande evento da história da
salvação, a efusão do Espírito, acontecerá na capital de Israel. Com ele terá
início também a vocação dos discípulos para testemunhas. A narrativa transita
para a fala direta, um recurso literário que Lucas emprega diversas vezes (At
17.3; 25.5; 22.22).
Atos 1.5 Na época em
que Lucas escreveu, outros grupos que também ansiavam pela “soberania de Deus”,
mas que haviam obtido seu impulso do movimento de João Batista e que se
contentavam com o batismo deste, exerciam certa influência: em At 18.24-26;
19.1-6 nos depararemos expressamente com esses grupos (cf. p. … [338]). Por
isso Lucas considera necessário fazer referência, na própria palavra do Senhor,
ao fato de que sem dúvida João tivera importância com o batismo de
arrependimento, mas que agora, na prometida efusão do Espírito Santo por parte
de Deus, se criaria uma situação completamente nova. A presença do Espírito de
Deus eleva a igreja de Jesus acima de tudo o que existira até então na
História. Jesus lembra aos discípulos a “promessa do Pai”, que Ele mesmo havia lhes
dito. Lucas deve ter tido em mente palavras de Jesus como por exemplo Lc 11.13;
12.12, mas tampouco deve ter esquecido da palavra do próprio Batista, que Jesus
acolhe quase literalmente neste versículo. Somente uma diferença é digna de
nota. Enquanto o Batista dizia: “Aquele que vem depois de mim (ou seja, Jesus)
vos batizará com o Espírito”, aqui Jesus desaparece completamente por trás do
Pai e formula: “Sereis batizados com o Espírito Santo”. A maneira judaica de
falar a respeito de Deus com extrema reverência não citava o nome de Deus, mas
usava a voz passiva.
Os reunidos –
provavelmente bem mais do que os onze apóstolos no sentido restrito – respondem
com uma pergunta que nós talvez consideremos insensata e equivocada:
Atos 2.1 Os
apóstolos, juntamente com um grande grupo de discípulos de Jesus, entre os
quais havia também mulheres e Maria, a mãe de Jesus, e seus irmãos de sangue
(At 1.14), esperavam em oração pelo cumprimento das grandes promessas de Deus
e, simultaneamente, pelo começo de seu serviço de testemunhas. Agora chegava
esse cumprimento. Por essa razão Lucas inicia sua narrativa: “E ao começar a cumprir-se…”
Esse cumprimento acontece por livre majestade unicamente do próprio Deus, no
dia determinado por Ele. Os discípulos não ficam cada vez mais cheios do
Espírito aos poucos, em silêncio. Muito menos tentam chegar à posse do Espírito
através de quaisquer métodos religiosos. Sabem fazer uma coisa somente: esperar
com fé pela ação do próprio Deus.
Essa ação acontece
num dia festivo judeu, “ao começar a cumprir-se o dia de Pentecostes”. Podemos
traduzir assim: “No início do dia de Pentecostes, todos estavam reunidos.” O
grande evento ocorre logo na manhã da festa. Quando Pedro começa seu discurso
são apenas 9 horas da manhã. A ordem do “ano eclesiástico” na antiga aliança
previa três grandes festas: o passa, a festa da sega e a festa “quando
recolheres do campo o fruto do teu trabalho” no final do ano (cf. Gn 23.14-17).
Em Lv 23.15-22 a festa da sega passa a ser regulamentada com mais detalhes.
Deve ser celebrada no 50º dia depois do passa. Em grego, o “quinquagésimo”
(dia) chama-se “pentekosté”; dele derivou-se mais tarde nosso termo
“Pentecostes”. Em época posterior, Israel também não queria mais celebrar
Pentecostes e a festa dos tabernáculos apenas como festas da natureza e da
colheita. Sem dúvida continuava a receber com gratidão da mão de Deus também as
dádivas naturais dos campos, pomares e vinhedos. Porém sabia que Deus havia ido
a seu encontro em sua história de outras formas gloriosas e divinas. Por consequência,
considerou os “tabernáculos” uma recordação da peregrinação pelo deserto, com
suas tendas e com o maravilhoso auxílio e provisão até entrarem na terra
prometida, e relacionou a festa de Pentecostes com a legislação no monte Sinai.
É verdade que a comprovação dessa ligação existe somente na literatura
pós-apostólica. Porém, não é possível que a memória do evento do Sinai no dia
de Pentecostes já tenha estado viva antes entre o povo ? Seja como for, chama a
atenção a profunda correlação que o acontecimento narrado por Lucas nesse dia
de Pentecostes possui com a revelação de Deus no Sinai. Lá e cá ocorre a
presença do Deus vivo para criar sua “igreja”, um povo santo, um reino de
sacerdotes. Lá e cá acontecem tempestade e fogo como sinais visíveis da
presença do Senhor. De acordo com a tradição judaica, os 70 povos do mundo
teriam captado a proclamação divina no Sinai em sua respectiva língua, assim
como agora pessoas de todo o mundo ouvem a exaltação dos grandes feitos de Deus
em sua língua pátria. No entanto: agora acontece a nova aliança, profetizada
por Jeremias (Jr 31.31-34) – não mais o serviço de Moisés, da “letra”, da
condenação e da morte, mas o serviço do Espírito, da justiça e da vida (cf. 2Co
3.4-9). Somente agora se forma de fato o “sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que
vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9). Como no “passa”,
também no “Pentecostes” vemos lado a lado o Deus que não age arbitrariamente,
mas numa sequência planejada, ligada à sua ação anterior, que é acolhida e
levada à perfeição, e o Deus que também não se deixa encerrar na bitola de
revelações antigas, que cria coisas inéditas, por meio das quais mostra a
glória plena daquilo que Ele já tinha em mente nas manifestações anteriores.
Assim o “passar poupando” (é que significa o termo “passa”) de Deus diante do
“sangue do Cordeiro” (Êx 12.13), de magnitude universal e validade eterna, se
“cumpre” na morte e no sangue do Filho de Deus na cruz; e assim se “cumpre”
agora em “Pentecostes”, ao ser derramado o Espírito de Deus em escala universal
e realidade máxima, aquilo que Deus de fato havia previsto no Sinai quando
vocacionou a Israel.
Atos 2.2 O que sucede
em seguida não é apenas “acontecimento interior”. Afinal, não se trata de
“espírito” no sentido da “intelectualidade” humana. Temos de nos libertar do
idealismo grego que nos alienou. Trata-se do poder e da vida do Deus vivo. A
esse Deus e Criador, porém, o mundo “exterior” pertence da mesma forma como o
“interior”. Quando ele se aproxima, sua presença viva também se torna sempre audível
e visível. Precisamente nisso, pois, também a história de Pentecostes revela
que não se trata de processos dentro da psique que poderíamos explicar de uma
ou outra maneira, mas sim da intervenção de Deus. “De repente, veio do céu um
som, como de um vento poderoso que descia.” No grego, “pnoé” = vento, “pneuma”
= Espírito são (como também no termo hebraico “ruach”) derivados da mesma raiz.
P. ex., ao dialogar com Nicodemos, Jesus também tomou o misterioso sopro do
vento como ilustração do sopro do Espírito. Obviamente é apenas uma “figura”.
Notemos que Lucas diz expressamente: Soava “como” de um vento poderoso. O
zumbido veio “do céu”, naturalmente não da atmosfera terrena, mas oriundo de
Deus. Contudo penetra totalmente no mundo terreno e enche uma casa. Deus não
está limitado a templos e lugares consagrados! Para a sua presença, ele
seleciona um mísero arbusto espinhento no deserto, e agora uma casa secular,
comum, em Jerusalém.
Atos 2.3 Na sequência
o Espírito também se torna “visível”. “E apareceram-lhes línguas separando-se,
como de fogo.” João Batista já havia falado do batismo “com o Espírito Santo e
com fogo” (Mt 3.11). Desde sempre o “fogo” foi, como a “luz” e a “tempestade”,
um sinal da essência e da atuação divinas. Tanto aqui como na descrição da ascensão,
Lucas, sóbrio e contido diante da singularidade dos acontecimentos divinos,
sabe muito bem que pode aduzir somente comparações precárias. Podem ser vistas
línguas “como” de fogo. Por essa razão seu relato também não representa uma
contradição com a visão de João, que vê o Espírito descer “como uma pomba”.
Quem jamais experimentou pessoalmente o Espírito Santo não sabe que Ele é
“fogo”, aquecedor, purificador, consumidor, que incendeia o coração, que Ele é
“tempestade” que impele com força irresistível, e que Ele apesar disso sempre
aquele Espírito silencioso que se distingue completamente de toda agitação
humana e de todo alvoroço demoníaco. As línguas são descritas como
“separando-se”. Talvez deveríamos traduzir diretamente: “distribuindo-se”. Não
está sendo referida a imagem de labaredas repartidas, mas o compartilhamento
pessoal do fogo do Espírito a cada indivíduo do grande grupo. Por isso Lucas
continua no singular, apesar da recém-mencionada pluralidade de línguas: “… e
ele pousou sobre cada um deles.” Nessa formulação aparentemente desajeitada
expressa-se certeiramente que é o mesmo Espírito Santo indivisível que, não
obstante, agora é concedido pessoalmente a cada um.
Atos 2.4 “E todos
ficaram cheios do Espírito Santo.” O Espírito é como um mar de fogo que desce
do alto, que com suas “línguas” alcança todos os reunidos. Recebem o Espírito
não apenas os apóstolos, os “ministros”. Também os demais discípulos são
presenteados com ele, inclusive as mulheres. Sim, desde o início vigora na
igreja de Jesus que “não há… nem homem nem mulher” (Gl 3.28). É por essa razão
que em seu discurso Pedro olha para a palavra de Joel, que cita expressamente
as “servas” e “filhas”, ao lado dos “filhos” e “servos”, como destinatárias do
Espírito e de seus efeitos.
O que, porém, o
Espírito efetua? Somente cumprimento interior e alegria nos próprios
agraciados? Isso seria uma contradição à linha básica de toda a revelação da
Escritura. Jamais os poderosos feitos de Deus estão presentes apenas para nossa
felicidade pessoal! Eles sempre preparam pessoas para Deus, para a honra de
Deus e para a cooperação na história salvadora de Deus entre os seres humanos.
Assim, pois, experimentam-no também os discípulos. “E passaram a falar em
outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que proferissem.” O Espírito
Santo concede “proferir”. O termo grego usado refere-se a um falar inflamado ou
entusiasmado. Os discípulos não estão “pregando”! Lucas expôs com muita clareza
que a “pregação” propriamente dita, com suas exposições tranquilas (ainda que
poderosas para compungir o coração!), haveria de ser somente tarefa de Pedro.
Como, afinal, 120 pessoas seriam capazes de “fazer pregações” ao mesmo tempo?
Quem poderia prestar atenção neles? Igualmente é digno de nota que pessoas
contrariadas entre a multidão podiam ter a impressão acerca dos discípulos de
que: “Estão cheios de vinho novo.” Isso deixa claro que não podia tratar-se de
“pregações em diversos idiomas ou dialetos”. Pois nesse caso, como cada ouvinte
teria conseguido chegar perto justamente daquele discípulo que falava sua
língua materna? E a pregação em diversos idiomas tampouco gera a impressão da
“embriaguez”. Não, esse “falar com outras línguas” deve ter sido o primeiro
“falar em línguas” do cristianismo. Diante desse fenômeno, o observador de fora
podia dar de ombros e dizer: “doidos!” (1Co 14.23) ou, como aqui, “bêbados!”.
Afinal, também possui redobrada importância que mais tarde Pedro faz um
paralelo expresso entre o “falar em línguas” dos gentios presenteados com o Espírito
e o evento de Pentecostes: At 11.15, 15.8 relacionado com At 10.44-46. O “falar
em línguas”, porém, não era “pregação,” mas adoração, louvor, exaltação,
gratidão (At 10.46; 1Co 14.14-17). Em consonância, os discípulos estão
enaltecendo aqui, ao orar em línguas, os grandes feitos de Deus. Isso podia ser
feito simultaneamente, no grande grupo. Com razão, a partir de amargas
experiências, alimentamos desconfiança contra todos os fenômenos “entusiastas”.
Contudo, isso não deve nos impedir de ver que em Atos dos Apóstolos o “falar em
línguas” é considerado como sinal especial da eficácia do Espírito e que também
o próprio Paulo falava muito em línguas (1Co 14.18). Sem nenhuma dúvida, Lucas
se posiciona da mesma forma como Paulo em 1Co 14.5 na valoração do Espírito.
Não é a jubilosa oração em línguas do grupo de discípulos que cria o movimento
de arrependimento que leva à constituição da primeira igreja, mas o anúncio de
Pedro (o “profetizar”). Apesar disso, o que aconteceu nessa manhã de
Pentecostes continua sendo algo grandioso. Na verdade, os discípulos já sabiam
antes de Deus e criam nele. Igualmente eram capazes de orar com uma seriedade e
persistência que nos envergonha até mesmo antes do Pentecostes. Agora, porém, a
realidade e glória de Deus estão diante deles no Espírito Santo, de maneira tão
extraordinária que eles esquecem completamente de si mesmos e de tudo em torno
de si, podendo tão somente adorar e exaltar a Deus. O que veem diante de si,
pelo Espírito, acerca da sabedoria, da santidade, do amor e da misericórdia de
Deus excede todo pensar e falar humanos. Todas as palavras do linguajar comum
fracassam diante disso. Somente “em outras línguas” ainda se pode adorar a
“grandiosidade” (possível tradução para “grandes feitos” de Deus) da essência, dos
pensamentos e dos feitos de Deus.
Werner
de Boor. Comentário Esperança Atos. Editora
Evangélica Esperança.
Atos 1.4. Estando com
eles (4) é uma única palavra em grego (synalizomenos). Cadbury e Lake adotam uma
leitura alternativa, encontrada em Eusébio, synaulizomenos, que quer dizer
“passar a noite com, hospedar-se com”. Esta é evidentemente a base da tradução
“estando com eles”. Provavelmente, a melhor tradução é aquela encontrada na
margem das versões mais atuais em inglês: “comendo com eles”. Esta opinião é
compartilhada por C. S. C. Williams em sua tradução “compartilhando refeições
com eles”.
Determinou, em grego,
não é a mesma palavra encontrada no versículo 2 (ver os comentários sobre este
texto). Abbott-Smith indica que a palavra usada na passagem anterior “aponta
mais para o conteúdo do mandamento”, ao passo que o termo encontrado aqui é
usado “especialmente para as ordens transmitidas por um comandante militar”. Os
discípulos ainda não estavam adequadamente capacitados para a sua principal
ofensiva contra o inimigo. Assim, o seu General ordenou que eles esperassem
(lit., “esperar nas redondezas”) até serem autorizados pelo Espírito Santo a
executarem a sua tarefa.
O mandamento de que
não se ausentassem de Jerusalém sugere que os discípulos estavam planejando
retornar ao seu território natal na Galiléia. Os governantes judeus de
Jerusalém tinham causado a morte do seu Mestre, e naturalmente esperava-se que
perseguissem os seus seguidores. Além disso, os anjos no sepulcro vazio tinham
avisado, por meio das mulheres, que os discípulos deveriam encontrar o seu
Senhor ressuscitado na Galiléia (Mt 28.7; Mc 16.7). Jesus os tinha encontrado
ali (cf. Mt 28.16-20; Jo 21.1-14). Portanto, parece completamente lógico que os
discípulos retornassem para lá.
Mas o Mestre tinha
outros planos para eles. Ele ordenou que esperassem em Jerusalém pela promessa
do Pai, i.e., a promessa feita pelo Pai (cf. Is 44.2-5; Ez 39.28-29; J1 2.28-29).
Esta é uma promessa que de mim ouvistes (cf. Lc 24.49; Jo 14.16, 26; 15.26).
Rackham observa que “a repentina mudança do estilo direto para o indireto (a
expressão disse ele não consta no texto grego) é característico do estilo
dramático de Lucas”.
Atos 1.5. A afirmação
do versículo 5 é intimamente correspondente às palavras de João Batista
encontradas em Mateus 3.11; Marcos 1.8 e Lucas 3.16. Da mesma maneira que Jesus
repetira o principal texto da pregação de João (cf. Mt 3.2; 4.17), agora Ele
também ecoava a antiga declaração de João Batista. Esta forte ênfase no batismo
no Espírito Santo como maior e mais essencial do que o batismo nas águas
antecipa o impulso central do livro de Atos. Qualquer cristianismo que
negligencie o batismo pelo Espírito é incompleto e pré-pentecostal. Na verdade,
ainda não se iguala à pregação de João Batista. Sem esse batismo, não teria
existido o livro de Atos, e na verdade nem a Igreja de Cristo hoje. Sem o
batismo no Espírito Santo como uma experiência pessoal, não existe uma
capacitação adequada para uma vida vitoriosa e um serviço eficaz.
A última frase do
versículo 5 é, literalmente: “não depois destes muitos dias”. Williams comenta:
“A ordem curiosa das palavras... pode ser do aramaico (Torrey e Burney) ou
possivelmente um latinismo (Blass). Ela provavelmente significa “não muitos
dias depois de hoje”.
Atos 2. 1-4. a.
Pentecostes (2.1-4). Este é o acontecimento mais importante do livro de Atos.
Sem ele, o livro nunca teria sido escrito. Foi este grandioso ato de Deus de
derramar o Espírito Santo sobre os primeiros crentes que precipitou todos os
atos dos homens autorizados pelo Espírito, sobre os quais podemos ler na
história do início da igreja cristã. Winn sugere que o livro de Atos poderia
ser chamado de “o livro mais emocionante que já foi escrito”.1
Cumprindo-se o dia de
Pentecostes2 literalmente significa “quando o dia de Pentecostes estava sendo
completado”. Isto pode se referir ao final das sete semanas que precederam o Pentecostes.3
Mas como a palavra dia está no singular, e uma vez que o dia dos judeus
começava no pôr-do-sol, pode-se assumir melhor que a frase indica que, naquela
manhã, “o dia de Pentecostes estava se cumprindo”.4 Robertson diz: “Lucas pode
querer dizer que o dia de Pentecostes ainda não estava terminado; ainda estava
em curso”.5
Mas o verdadeiro
significado da frase é provavelmente mais teológico do que cronológico. Lenski
escreve: “Lucas está pensando na promessa do Senhor e de como agora se aproxima
o seu cumprimento. A chegada deste dia conclui a medida do tempo que o Senhor
contemplava quando Ele fez a promessa”. O retrocesso é anterior a isto — até às
profecias do Antigo Testamento sobre o derramamento do Espírito Santo, como a
referência de Joel 2.28. Todas estas promessas se cumpririam em Jerusalém, em
30 d.C.
Pentecostes é a
palavra grega que significa “cinquenta”. Este nome para a festa é encontrado
pela primeira vez nos escritos apócrifos do período intertestamentário, em
Tobias 2.1 e em 2 Macabeus 12.32. A designação do Antigo Testamento é Festa das
Semanas (Ex 34.22; Dt 16.10), assim chamada porque a festa era celebrada sete
semanas depois da Festa das Primícias, que marcava o começo da colheita de
cevada (Lv 23.9-16).
Todo homem judeu
adulto deveria comparecer a três festas anuais — a Festa dos Pães Asmos
(relacionada com a Páscoa), a das Semanas e a dos Tabernáculos (Dt 16.16). Os
judeus da Palestina vinham em grande número a Jerusalém para a Páscoa, que
comemorava o início da sua vida nacional e também assinalava o início do seu
ano religioso. Mas os judeus da dispersão tinham a sua maior celebração no
Pentecostes. Isto se devia ao fato de que a viagem pelo Mediterrâneo era muito
mais segura em maio ou junho (Pentecostes) do que em março ou abril (Páscoa).7
Encontramos um exemplo disto no caso de Paulo. Na sua última viagem a
Jerusalém, ele não teve tempo para visitar Éfeso, porque “apressava-se... para
estar, se lhe fosse possível, em Jerusalém no dia de Pentecostes” (At 20.16).
Em uma ocasião anterior, ele tinha escrito aos coríntios: “Ficarei, porém, em Éfeso
até ao Pentecostes” (1 Co 16.8). Estas são as três únicas passagens do Novo
Testamento onde aparece a palavra Pentecostes.
Existe uma tradição
entre os judeus de que a Festa das Semanas comemorava a entrega da Lei no
Sinai. Não se sabe ao certo se esta era a opinião na época de Jesus. Purves
observa que não há menção disto no Antigo Testamento, nem em Filo nem em
Josefo, e conclui: “Provavelmente foi depois da queda de Jerusalém que se iniciou
esta tradição”.8 Dosker é ainda mais específico quando escreve: “Ela
originou-se com o grande rabino judeu Maimonides [século XII] e foi copiada
pelos escritores cristãos”.9 Mas Foakes- Jackson declara: “Não podemos deixar
de recordar a cena da entrega da Lei no monte Sinai, quando Israel se tornou
uma comunidade estritamente religiosa, e há razão para supor que o Pentecostes
já era a festa comemorativa da entrega da lei”.10 O Pentecostes era o
cumprimento de Jeremias 31.33 — “porei a minha lei no seu interior e a
escreverei no seu coração”. Aqui há uma completa submissão à vontade de Deus. E
simultaneamente a base e o fruto da completa santificação do crente.
Na nova edição
revisada da obra de Hasting, em um volume, o Dictionary of the Bible, afirma-se
que tanto os fariseus quanto os saduceus consideravam o Pentecostes como “a
festa que concluía a Páscoa”.11 Este fato tem nuanças teológicas. A
crucificação de Cristo, quando Ele se ofereceu como um sacrifício pelo pecado
do homem, e a ressurreição, que validou o seu sacrifício como aceito
divinamente, seriam incompletas sem o derramamento do Espírito. De certa
maneira, a sexta-feira santa e o domingo de Páscoa não seriam senão um prelúdio
para o dia de Pentecostes. A crucificação, a ressurreição e a ascensão, juntas,
formam o êxodo12 de Jesus da terra de volta para o céu, que era a preparação
necessária para o derramamento do Espírito Santo no Pentecostes. Jesus disse:
"... vos convém que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá a
vós; mas, se eu for, enviar-vo-lo-ei” (Jo 16.7). Quando Maria encontrou pela
primeira vez o Cristo ressuscitado, ela abraçou os seus tornozelos, em um
abraço que não queria deixá-lo ir (cf. Mt 28.9). Mas Jesus gentilmente a
advertiu: “Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai” (Jo 20.17),
i.e., “não se agarre a mim” na carne, que é limitada em tempo e espaço, mas
deixe-me ir, para que você possa receber-me no Espírito. Sem dúvida, Maria Madalena
era uma das “mulheres” (1.14) que estavam esperando no cenáculo. Quando o
Espírito Santo encheu o seu coração no dia de Pentecostes, ela teve a presença
do seu Senhor ressuscitado consigo durante todo o tempo e em todos os lugares.
No dia de
Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar.
O melhor texto grego
diz: “juntos em um lugar” — homou ao invés de homothymadon. Daí, a força total
da última expressão, reunidos, não deve ser ressaltada aqui. No entanto, tanto
a palavra homou (juntos) quanto o contexto sugerem um espírito de unidade. Uma
das traduções recentes afirma: “Eles estavam todos harmoniosamente em um lugar”
(Berk).
A primeira; parte do
versículo 2 diz literalmente: “e, de repente, veio do céu um som (grego echos),
como de um vento veemente e impetuoso”, i.e., como o rugido reverberante de um
tornado. Ele encheu toda a casa. Alguns estudiosos sugeriram que o derramamento
do Espírito sobre os discípulos pode ter ocorrido no Templo.13 Mas Lenski
provavelmente está correto quando diz: “Se Lucas tivesse em mente uma sala no
Templo, ele certamente teria escrito hierori”.
Este som, como o
rugido do vento, serviu como um alerta para todos os que estavam reunidos. Se
alguém tinha estado sonolento, agora estaria completamente desperto. Assim, todos
eles viram as línguas repartidas, como que de fogo (3). O texto grego diz:
“línguas como que de fogo distribuindo-se” (ou “sendo distribuídas”).16 Hackett
descreve a cena corretamente quando diz: “A aparição semelhante ao fogo
apresentou-se primeiramente em um corpo único, e então repentinamente
repartiu-se em todas as direções, para que uma porção pousasse sobre cada um
dos presentes”.16
A importância desses
dois símbolos — o vento e o fogo — é demasiado óbvia para ser perdida. Knowling
diz: “O fogo, como o vento, era símbolo da presença divina (Ex 3.2) e do
Espírito que purifica e santifica (Ez 1.13, Ml 3.2,3)”.17 Blaiklock escreve: “O
vento (2) e o fogo (3) eram uma simbologia aceita da operação poderosa e
purificadora do Espírito de Deus”.18 Isto é, quando o Espírito Santo enche o
coração do crente, Ele confere tanto o poder quanto a pureza. Ninguém pode ter
uma coisa sem ter a outra. Receber o Espírito Santo na sua totalidade é sentir
ambas as coisas, simultaneamente.
Qual era o propósito
da combinação sobrenatural do som e da visão, do vento e do fogo? E muito
instrutiva a comparação com o que teve lugar no monte Sinai, em relação à
entrega da Lei. Lemos que “Houve trovões e relâmpagos sobre o monte, e uma
espessa nuvem, e um sonido de buzina mui forte... E todo o monte Sinai
fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; e a sua fumaça subia como
fumaça de um forno, e todo o monte tremia grandemente” (Ex 19.16-18). Uma nova
época passava a existir; nascia uma nova era. Era importante que os israelitas
percebessem a suprema importância do momento. Eles deveriam estar fortemente
conscientes da autoridade divina da Lei que lhes estava sendo entregue.
Assim foi com o
Pentecostes. A revelação do Espírito Santo iniciava-se. Os discípulos deveriam
estar alertas e ativos para o que estava acontecendo. Os símbolos do vento e do
fogo nos ajudariam a entender o significado daquilo que acontecia.
Mas estas coisas,
juntamente com o falar em outras línguas, não eram senão acompanhamentos do
Pentecostes; eram acessórios temporários. O tema central era que todos foram
cheios do Espírito Santo (4). Este foi o grande milagre, que de longe superou
os demais.
O fato de que o
derramamento do Espírito Santo purificou os corações dos discípulos é indicado
claramente pelas palavras de Paulo no Concílio de Jerusalém. Falando das
pessoas na casa de Cornélio (cap. 10), ele declarou: “E Deus, que conhece os
corações, lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a
nós; e não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando o seu coração
pela fé” (At 15.8-9). Essas duas coisas — encher com o Espírito Santo e
purificar o coração — estão assim equiparadas (ou, pelo menos, foi afirmado que
são simultâneas).
Qual é o significado
da afirmação de que os discípulos cheios do Espírito Santo começaram a falar em
outras línguas? (4). Os versículos seguintes parecem indicar claramente que os
discípulos falavam em linguagens articuladas e compreensíveis. O propósito
disso parece ter sido a evangelização mais eficaz da multidão de judeus e
prosélitos, muitos dos quais compreenderiam melhor a mensagem do evangelho na sua
própria língua (8) do que no grego ou no aramaico normalmente falado.
Os primeiros quatro
versículos poderiam se esquematizados assim: Pentecostes — (1) O lugar; (2) O
som; (3) A visão; (4) A importância.
Ralph
Earle. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 7. pag. 206-207; 214-217.
III -
INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS (1 Co 12.10)
1. Definição do dom.
Já vimos que o dom de
línguas propicia mensagens de edificação para quem o possui e que, para a
edificação da igreja, necessita de interpretação. E isso é possível, através do
dom de interpretação de línguas. Essa concomitância, entre os dois dons não
havia no Antigo Testamento.
1. O QUE É O DOM DE
INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS
O pastor Antônio
Gilberto ensina que “É um dom de manifestação de mensagem verbal, sobrenatural,
pelo Espírito Santo. Não se trata de “tradução de línguas”, mas de
“interpretação de línguas”.13 O dom de línguas prescinde do dom de
interpretação de línguas, para que seja útil para a edificação da igreja. Paulo
deu precioso ensino à igreja de Corinto sobre o uso dos dons. Ao que parece, o
dom de línguas era muito usado, mas sem o necessário equilíbrio espiritual e
emocional.
Esse dom deve andar
lado a lado com o dom de línguas, no seio da igreja cristã. São “dons
geminados”. Gordon Chown diz que “A interpretação é tão milagrosa quanto a
própria Língua — e isto quer dizer que quem possui o Dom de Línguas não vai
procurar decifrá-la com a mente, mas sim, pede e recebe a Interpretação da
mesma fonte divina de onde surgiu a Língua”.14 Isso não quer dizer que o dom de
interpretação de línguas é outro tipo de dom de profecia.
A profecia é
autossuficiente em sua ação para quem a ouve. O dom de interpretação de línguas
depende da mensagem em línguas, para que tenha eficácia.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 68.
Interpretação das
línguas
O dom de interpretação de línguas é o único
cuja existência ou função depende de outro dom - a variedade de línguas.
Consequentemente, não havendo o dom de variedade de línguas, não pode haver a
interpretação de línguas.
“Interpretação” aqui não é a mesma coisa
que tradução. A interpretação geralmente alonga-se mais que a simples tradução.
Vale a pena ressaltar a importância de nos
precavermos dum ensino aritmético quanto aos três dons de inspiração, muito
comum nos nossos dias, a ensinar que línguas + interpretação é = a profecia. É
evidente que são muitos os riscos a que está sujeito este ensino.
Partindo do ensino de Paulo de que “...quem
fala em outra língua, não fala a homens, senão a Deus..." (1 Co 1.4.2),
“...mas o que profetiza fala aos homens” (1 Co 14.3), temos de aceitar que é
Deus quem fala através do profeta à congregação. Assim o ensino de que línguas
+ interpretação é = a profecia não se harmoniza com o ensino de Paulo, pelas
seguintes razões:
a) - Quem fala em outra língua, fala a
Deus. A direção da fala é vertical, homem - Deus: sempre no sentido de baixo
para cima e nunca de cima para baixo.
b) - Ainda que não seja uma tradução
palavra por palavra, a interpretação tem de se manter fiel à língua estranha
falada, tanto no seu conteúdo quanto na sua direção, pois é de se esperar que a
interpretação continue sendo o homem falando com Deus.
c) - Partindo do princípio de que profecia
é Deus falando a alguém (Deus - homem), de cima para baixo e nunca de baixo
para cima, há grande diferença de direção entre o dom de profecia e o de
línguas e a interpretação de línguas.
Este ensino, sincero sem dúvida, mas que
não se apoia nas Escrituras, deve ter surgido devido ao fato de haver muitos
elementos comuns entre o dom de interpretação de línguas e o dom de profecia.
Por haver peculiaridades comuns a ambos esses dons, não implica em que eles
sejam absolutamente iguais quanto à sua maneira de manifestação.
O dom de interpretação de línguas revela o
poder, a riqueza, a soberania e a sabedoria de Deus. Por certo que este dom não
implica em que haja algum tipo de conhecimento do idioma por parte do
intérprete.
A interpretação de línguas é em si mesma um
dom tão miraculoso quanto o é o próprio dom de variedade de línguas.
Raimundo F. de Oliveira.
A Doutrina Pentecostal Hoje. Editora
CPAD.
I Cor 14. 27. Línguas
privadamente faladas não são incluídas nestas instruções paulinas. Um crente
pode falar em línguas consigo mesmo quanto tempo quiser, quando ele sentir a
necessidade de tal louvor de sua alma a Deus. Na igreja, entretanto, mesmo
quando se encontra presente o intérprete, Paulo limitava tal exercício a duas
pessoas, ou quando muito, a três. Mas essa regra não parece tão severa quando
verificamos, no vigésimo nono versículo, que ele estabelece o mesmo regulamento
para os profetas.
Portanto, Paulo não
subestimava as «línguas interpretadas»; antes, situava-as em pé de igualdade
com a profecia, pelo menos no que concerne ao número de pessoas envolvidas em
cada reunião. A passagem de 1 Cor. 14:5 parece indicar um total pé de igualdade
entre a profecia e as línguas interpretadas, porque, nesse caso, a «edificação»
é dada através das línguas.
No entanto, o
vigésimo segundo versículo deste capítulo parece indicar que Paulo favorecia a
profecia acima das línguas interpretadas. Devemos meditar que Paulo, ao assim
instruir aos crentes, não «apagava ao Espírito» (ver I Tes. 5:18-20), conforme
alguns o têm acusado; porque há limite às instruções que alguém pode absorver
numa única reunião.
Outrossim, precisamos
reconhecer que há limite para o «período de atenção» de qualquer indivíduo,
embora alguns possam estender por mais tempo esse período. Um culto
exageradamente longo pode resultar em dano. Não seremos ouvidos por muito
falar.
A necessidade de
intérprete também elimina qualquer possibilidade de dois ou três falarem em
línguas ao mesmo tempo, porquanto isso criaria total confusão, visto que, nesse
caso, um mínimo de quatro pessoas estaria participando do culto, ao mesmo
tempo. O dom de interpretação de línguas mui provavelmente é mais raro que o do
falar em línguas, e bastaria essa raridade para limitar a atividade das
línguas; sem a interpretação, em uma igreja que estivesse obedecendo às
instruções de Paulo à risca, não se ouviriam línguas. Somente nas ocasiões em
que intérpretes «bem conhecidos», «experientes» e «comprovados» estivessem
presentes é que seriam exercidas as línguas. E, nessas ocasiões, dois ou três
poderiam usar o dom de línguas.
O fato de que as
línguas podem e devem ser assim limitadas, mostra-nos que esse dom também é
controlado pela inteligência, sobre quando deve ser exercido; pois, do
contrário, Paulo não teria podido estabelecer qualquer regra, e nem alguém
seria capaz de antecipar como o Espírito de Deus pode mover homens a falarem
«involuntariamente».
«...sucessivamente...»
Paulo proíbe o falar em línguas em massa, todos ao mesmo tempo, mas apenas uma
pessoa de cada vez. Cada qual teria sua oportunidade; e isso é uma outra
evidência que as línguas são controladas pela inteligência, pelo menos
usualmente; caso contrário, como poderia um homem, que estivesse prestes a
irromper em línguas, refrear-se de modo a não interferir na manifestação de
outrem?
I Cor 14. 28. Não há
que duvidar que essa era a instrução mais difícil de ser obedecida que Paulo
apresentou aos coríntios; seja como for, porém, certamente foi difícil eles
abafarem suas atitudes de vangloria, no uso desse dom, a fim de obedecerem às
injunções apostólicas, em qualquer aspecto dessas instruções. A menos que
esteja presente um intérprete, as línguas não devem ser usadas na igreja. Isso
não impediria o largo uso desse dom, em casa; pois, nesse caso, a alma do
crente pode ser edificada, e Deus pode ser glorificado, mesmo que a mente nada
aproveite em seu entendimento. Mas, visto que a «edificação» é a razão mesma
pela qual os dons espirituais existem na igreja, as línguas devem ser limitadas
a fim de atender a essa exigência; e só poderão fazê-lo quando acompanhadas de
interpretação.
No original grego, a
gramática é um pouco obscura aqui, parecendo dar a entender que o intérprete
deve manter-se calado; mas devemos compreender aqui a existência de um sujeito
oculto, na frase. Assim sendo, o que se entende da frase grega é que, não
havendo intérprete, «...aquele que fala em línguas deve...» permanecer calado.
«...falando consigo
mesmo...» No original grego, encontramos aqui uma expressão enfática. O crente
fala apenas para «si mesmo», comungando com o Senhor em seu coração, como que
em êxtase, sem a necessidade da presença de um intérprete. Mas essa «comunhão»
não deve ocorrer nos cultos públicos, como se um indivíduo, arrebatado em
êxtase, se separasse do resto da congregação para ter o seu culto particular.
Antes, tal exercício deve ser feito somente em casa. Embora outra coisa possa
ser compreendida, essa é a única forma de instrução que faz sentido. Os cultos públicos
visam a edificação da congregação inteira, e com essa finalidade é que devem
ser efetuados. Essa mesma forma de falar em línguas, em voz alta, para o
próprio indivíduo, faz parte inerente do significado do próprio verbo, que
significa «falar audivelmente», ou, pelo menos, esse é o seu sentido quase
exclusivo. No dizer de Findlay (in loc.): «A instrução de falar no coração, sem
ruído, seria contrária ao sentido do verbo ‘lalein’ (falar), e, de fato,
contrário à natureza de uma ‘língua’».
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 227-228.
a) A regra da
edificação (14.26). A primeira diretriz de Paulo era: Faça-se tudo para a
edificação. Quando os coríntios se reuniam para adorar a Deus, cada parte do
culto deveria contribuir para a edificação da igreja. O Salmo (hino), a
doutrina (ensinamento cristão), a língua (alguma expressão em uma linguagem que
não era geralmente conhecida), a revelação, a interpretação da língua - tudo
deveria ter o propósito de fortalecer a igreja.
b) Somente dois ou
três deveriam ter permissão de falar (14.27a). Paulo coloca um limite no número
de pessoas que teriam permissão para falar em línguas estranhas em qualquer
reunião pública. Faça-se isso por dois ou, quando muito, três. Tal restrição
eliminaria a confusão e a frustração que poderiam ocorrer se a maior parte do
culto fosse dedicada a tais atividades.
c) Devem falar um de
cada vez (14.276). Além do limite do número de pessoas que podiam falar em
línguas, estas deveriam falar uma de cada vez. Esta restrição iria eliminar a
confusão gerada por várias pessoas falando ao mesmo tempo em um culto público.
d) Deve haver um
intérprete (14.27c-28a). A terceira regra de Paulo era: E haja intérprete. Mas,
se não houver intérprete, esteja calado na igreja. Tudo aquilo que é dito em
línguas estranhas deveria ser acompanhado por uma interpretação. De acordo com
Morris, esta restrição “nos mostra que não devemos pensar que as línguas’ eram
o resultado de um irresistível impulso do Espírito Santo que levava os homens a
fazer um discurso em êxtase e desorganizado. Se eles preferissem, poderiam
manter silêncio, e isso é o que Paulo os instruiu a fazer em certas ocasiões”.
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 8. pag. 353.
I Cor 14.27,28 Em
vista disso Paulo intervém estabelecendo a ordem. De imediato destaca novamente
o ponto de vista que não é determinado por um princípio de ordem como tal, mas
pelo amor. “Seja tudo feito para edificação.” Que a igreja seja edificada, essa
é a única coisa que importa, a esse objetivo é que tudo precisa servir e levar.
Na sequência Paulo fornece instruções diversas para esse fim, começando com os
que “falam em língua”. Ao que
parece, eles eram em maior número e haviam ocupado o espaço principal em
Corinto, orando também ao mesmo tempo. Paulo não os exclui do culto da igreja
quando existirem ―intérpretes‖, um ―tradutor‖. Contudo também nesse caso devem
ser no máximo “dois ou quando muito três”, e devem orar um após o outro. Se não
houver intérprete “fique calado na reunião (o que fala em línguas)”. Então o
silêncio oculto de sua vida de oração deve ser o lugar em que ele “fala consigo
mesmo e com Deus” e ―a si mesmo se edifica‖ (v. 4).
Werner
de Boor. Comentário Esperança Cartas aos I Corinto.
Editora
Evangélica Esperança.
2. Há diferença entre
dom de interpretação e o de profecia?
Como é óbvio o que o
nome diz, a finalidade principal é a interpretação da mensagem, transmitida à
igreja, através do dom de línguas. No culto pentecostal, deve haver sabedoria e
humildade no uso dos dons. Não é comum haver quem tenha os nove tipos de dons.
Normalmente, o Espírito distribui “a cada um como quer”. Quanto mais dons
houver numa igreja local, maior será sua edificação espiritual. A Palavra de
Deus é a fonte primária e mais importante para a edificação do crente. Mas,
como vimos, os demais dons também contribuem para a edificação da igreja.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag.69.
INTERPRETAR,
INTÉRPRETE O substantivo
"intérprete"
(gr. diermeneutes, a pessoa que explica totalmente ou interpreta) é usado no NT
apenas em 1 Coríntios 14.27,28. O verbo dessa raiz ocorre em 1 Coríntios 12.30;
14.5,13,27. No cap. 14, Paulo instrui que o falar em línguas em uma assembleia
da igreja deve ocorrer de uma maneira ordeira, mas somente quando houver um
"intérprete" presente, pois somente então isso será edificante.
Aquele que fala em línguas deve orar para que ele mesmo possa interpretar
(v.13). Um dos propósitos do dom de línguas era que um inconverso pudesse ouvir
a mensagem em seu próprio idioma, como aconteceu com aqueles que estavam
presentes no Pentecostes (At 2.8), e depois ouvi-la interpretada por um outro
que não conhecesse aquela língua. Isto seria, portanto, um milagre duplo,
contudo um milagre que correspondesse especificamente ao ouvinte. Veja Línguas,
Dom de; Dons Espirituais. O termo gr. hermeneuo e seu composto me-thermeneuomai
podem ser entendidos como interpretar traduzindo de um idioma para outro (por
exemplo, Mt 1.23; Jo 1.38,41, 42). Na época de Esdras, os decretos reais eram
traduzidos (meturgam, Ed 4.7), e as traduções aramaicas com exposições das
Escrituras Hebraicas tornaram-se conhecidas como os Targuns ou Targumim. Em 2
Pedro 1.20, a palavra para "interpretação" é epilusis, libertar ou
revelar. Interpretar as Escrituras não é uma questão relacionada à opinião
própria ou particular de uma pessoa.
No AT, José atuou
como um intérprete (do heb. pathar) de vários sonhos (Gn 40-41). Daniel
convenceu Nabucodonosor de sua habilidade, dada por Deus, de fornecer a
interpretação (aram. p'shar) ou a explicação do sonho do rei, primeiramente
dizendo ao rei o que este viu no sonho (Dn 2.5-45). Posteriormente, Daniel
revelou a interpretação do sonho de Nabucodonosor da grande árvore que havia
sido derrubada (4.8-27), e da escritura na parede do palácio de Belsazar
(5.12-28). A palavra pesher, "interpretação" (Ec 8.1), tornou-se o
termo padrão para as explicações, ou comentários, dos livros canónicos do AT
pelos membros da comunidade de Qumrã. Veja Rolos do Mar Morto.
R. A. K.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora
CPAD. pag. 979.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva.
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