O MINISTÉRIO DE APÓSTOLO
Data: 11 de Maio de 2014 HINOS SUGERIDOS: 96,
149, 355.
TEXTO ÁUREO
E
ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas,
e outros para pastores e doutores ( Ef 4.11).
VERDADE PRÁTICA
O
dom do apostolado foi concedido por Deus a Igreja com o proposito de expandir o
evangelho de Cristo.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Hb 3.1 Jesus, o apóstolo por excelência
Terça - 2 Co 12.12 Sinais do apostolado
Quarta - At 2.42 A doutrina dos apóstolos
Quinta - 1 Tm 1.1 Paulo, apóstolo de Jesus Cristo
Sexta - 1 Co 4.9 Apóstolo, uma
missão sacrifical
Sábado - Lc 6.12-16 Os doze apóstolos de Cristo
LEITURA BÍBLICA EM
CLASSE
Efésios 4-7-16
7 - Mas a graça foi dada a cada um
de nós segundo a medida do dom de Cristo.
8 - Pelo que diz: Subindo ao alto,
levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens.
9 - Ora, isto — ele subiu — que é,
senão que também, antes, tinha descido às partes mais baixas da terra?
10 - Aquele que desceu é também o
mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas.
11 - E ele mesmo deu uns para
apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para
pastores e doutores,
12 - querendo o aperfeiçoamento
dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo,
13 - até que todos cheguemos à
unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da
estatura completa de Cristo,
14 - para que não sejamos mais
meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano
dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente.
I5 - Antes, seguindo a verdade em
amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo.
16 - do qual todo o corpo, bem
ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de
cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor.
INTERAÇÃO
Prezado professor, já estudamos
nas lições anteriores os dons espirituais de poder, de elocução e de revelação.
A partir da lição desta semana você terá a oportunidade ímpar de estudar e
ensinar a respeito dos dons ministeriais. Estes dons se encontram relacionados
em Efésios 4.11. Estas dádivas divinas são igualmente importantes e necessárias
para que a igreja cumpra a sua missão neste mundo e os crentes cresçam "na
graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo” (2 Pe 3.18).
Sabemos que o ministério apostólico, segundo os moldes do colégio dos doze, não
existe mais, todavia o dom ministerial descrito em Efésios 4.11 continua em
plena vigência. Por isso, precisamos orar para que Deus levante apóstolos a fim
de que o Evangelho seja pregado a todas as nações.
OBJETIVOS
Após esta aula, o aluno deverá
estar apto a:
Analisar
biblicamente o colégio apostólico.
Descrever o
ministério apostólico de Paulo.
Conscientizar-se
a respeito da apostolicidade atual.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Professor, para introduzir a lição
de forma dinâmica, faça a seguinte indagação: “Quais são os dons ministeriais?”
Ouça os alunos com atenção e em seguida leia a relação descrita em Efésios 4.11,
Depois, utilizando o quadro da página seguinte, explique a respeito do termo
apóstolo e faça um pequeno resumo a respeito deste dom. Enfatize que Deus
continua levantando apóstolos em nosso tempo. Conclua orando para que o Senhor
distribua este dom entre os seus alunos.
PALAVRA CHAVE
Apóstolo: Do gr. apóstolos, enviado.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
A partir da lição desta semana
estudaremos os Dons Ministeriais distribuídos por Deus à sua Igreja,
objetivando desenvolver o caráter cristão da comunidade dos santos, tornando-o
semelhante ao de Cristo (Ef 4.13). De acordo com as epístolas aos Efésios e aos
Coríntios, são cinco os dons ministeriais concedidos por Deus à Igreja^
apóstolos profetas, evangelistas, pastores e doutores (1 Co 12.27-29). Veremos
o quanto esses ministérios são necessários avida da igreja local para cumprir a
missão ordenada pelo Senhor ante o mundo e, simultaneamente, crescer “na graça
e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 3.18). Mostrando
a sequência de Efésios 4.11, iniciaremos o estudo peio dom ministerial de
apóstolo.
1 - O COLÉGIO APOSTÓLICO
1. O termo “apóstolo”. O Dicionário Bíblico Wycliffe informa que o termo
grego apostolas origina-se do verbo apostellein, que significa “enviar”,
"remeter". A palavra apóstolo, portanto, significa “aquele que é
enviado”, “mensageiro”, “oficialmente comissionado por Cristo”. Ao longo do
Novo Testamento, o verdadeiro apóstolo é enviado por Cristo igualmente como o
Filho foi enviado pelo Pai com a missão de salvar o pecador com autoridade,
poder, graça e amor. O verdadeiro apostolado baseia-se na pessoa e obra de
Jesus, o Apóstolo por excelência (Hb 3.1).
2. O colégio apostólico. Entende-se por colégio apostólico o grupo dos doze
primeiros discípulos de Jesus convidados por Ele a auxiliarem o seu ministério
terreno. O Salvador os separou e nomeou. Os primeiros escolhidos não eram
homens perfeitos, mas foram vocacionados a levar a mensagem do Evangelho a todo
o mundo (Mt 28.19,20; Mc 16.15-20). De acordo com Stanley Horton, eles foram
habilitados a exercer “o ministério quando do estabelecimento da Igreja (At
1.20,25,26)”. Em outras palavras, os doze apóstolos constituíram a base ministerial para o desenvolvimento e a
expansão da Igreja no mundo. Mas antes, como nos mostra a Palavra de Deus,
receberam o batismo com o Espírito Santo (Lc 24,49; At 1.8; 2.1-46).
3. A singularidade dos doze. Aqui á importante ressaltar que o apostolado dos doze
tem uma conotação bem singular em relação aos demais encontrados em Atos e
também nas epístoias paulinas.
a) Eles foram convocados
pessoalmente pelo Senhor. Multidões seguiam Jesus por onde Ele \ passava (Mt
4.25), e muitos se tornavam seguidores do Mestre. Mas para iniciar o trabalho
da Grande Comissão, apenas doze foram convocados pessoalmente por Ele (Mt 10.1;
Lc 6.13).
b) Andaram com Jesus durante todo
o seu ministério. Desde o batismo do Senhor até a crucificação, os doze andaram
com o Mestre, aprenderam e conviveram com Ele (Mc 6.7; Jo 6.66-71; At 1.21-23).
c) Receberam autoridade do j
Senhor (Jo 20.21-23). Os doze receberam de Jesus um mandato [ especial para
prosseguirem com
a obra de evangelização. Eles
foram revestidos de autoridade de Deus para expulsar os demônios, curar os
enfermos e pregar o Evangelho à humanidade (Mc 16.17,18; cf. At 2.4).
SINOPSE DO TÓPICO (1)
O verdadeiro apostolado é centrado
única e exclusivamente em Jesus Cristo, pois Ele é o Apóstolo enviado pelo Paí.
II - O APÓSTOLO PAULO
1. Saulo e sua conversão. Saulo foi um judeu de cidadania romana, educado “aos
pés de Ga- malier, e também um importante mestre do judaísmo (At 22.3,25). Ele
era intelectual, fariseu e foi perseguidor dos cristãos. Entretanto, a caminho
de Damasco, em busca dos cristãos que haviam fugido devido à perseguição em
Jerusalém, e com carta de autorização para prendê-los, Saulo teve uma
experiência com o Cristo ressurreto (At 9.1-22). A sua vida foi inteiramente
transformada a partir desse encontro pessoal com Jesus. De perseguidor, passou
a perseguido; de Saulo, o fariseu, a Paulo, o apóstolo dos gentios.
2. Um homem preparado para servir. Dos vinte sete livros do Novo Testamento, treze foram
escritos pelo apóstolo Paulo. Quão grande tratado teológico encontramos em sua
Epístola aos Romanos! O seu legado teológico foi grandioso para o cristianismo.
Mas para além da intelectualidade teológica, o apóstolo dos gentios levou uma
vida de sofrimento por causa da pregação do Cristo ressurreto. Eis a declaração
apostólica que denota tal verdade: “Combati o bom combate, acabei a carreira,
guardei a fé” (2 Tm 4.7).
3. “O menor dos apóstolos”. O apóstolo Paulo não pertencia ao colégio dos doze. Ele não andou com Jesus em
seu ministério terreno nem testemunhou a ressurreição do Senhor — requisitos
indispensáveis para o grupo dos doze (At 1.21-23). Humildemente, o apóstolo
reconheceu que não merecia ser assim chamado, pois considerava-se um
“abortivo”, como que nascido fora de tempo, o menor de todos (1 Co 15.8,9).
Entretanto, o Senhor se revelou a ele ressurreto (At 9.4,5) e ensinou- lhe
todas as coisas. O apóstolo recebeu o Evangelho diretamente do Senhor (Cl
1.6-24; 1 Co 11.23). Embora o colégio apostólico tenha reconhecido o apostolado
paulino (Cl 2,6-10; 2 Pe 3.14-16), as igrejas plantadas por ele eram o seio do
seu ministério apostólico (1 Co 9.2).
SINOPSE DO TÓPICO (2)
Paulo viu o Cristo ressurreto.
Esta era a sua credencial apostólica.
III - APOSTOLICIDADE ATUAL (Ef
4.11)
1. Ainda há apóstolos? No sentido estrito do termo, e de acordo com a sua
singularidade, apóstolos como os doze não mais existem. A Palavra de Deus diz
que durante o milênio, os doze se assentarão sobre tronos para julgar as doze
tribos de Israel (Mt 19.28). Os seus nomes também estarão registrados nos doze
fundamentos da cidade santa (Ap 21.12-14). Logo, o colégio apostólico foi formado
por um grupo limitado de discípulos, não havendo, portanto, uma sucessão
apostólica.
2. Apóstolos fora dos doze. A carta aos Efésios apresenta a vigência do dom
ministerial de apóstolo. O teólogo Stanley Horton informa-nos que “o Novo
Testamento indica que havia outros apóstolos que também haviam sido dados como
dons à Igreja. Entre estes se acham Paulo e Barnabé (At 14.4,14, bem como os
parentes de Paulo, An- drônico eJúnia (Rm 16.7)”. Ao longo do Novo Testamento,
e no primeiro século da Igreja, o termo apóstolo recebeu um significado mais
amplo, de um dom ministerial distribuído à igreja locai (Dicionário Vine).
3. O ministério apostólico atual. Não há sucessão apostólica. Esta é uma doutrina
formada pela igreja romana e, infelizmente, copiada por algumas evangélicas
para justificar a existência do poder papal. O ministério dos doze não se
repete mais. O que há é o ministério de caráter apostólico. Atualmente,
missionários enviados para evangelizar povos não alcançados pelo Evangelho são
dignos de serem reconhecidos como verdadeiros apóstolos de Cristo. Homens como
John Wesley, William Carey (cognominado “pai das missões modernas”), Hudson Taylor,
D. L. Moody, Gunnar Vingren, Daniel Berg, “irmão André” e tantos outros, em
tempos recentes, foram verdadeiros desbravadores
apostólicos. Cidades e até países foram impactados pela instrumen- talidade
desses servos de Deus.
SINOPSE DO TÓPICO (3)
Segundo Efésios 4.11 o dom
ministerial de apóstolo está em plena vigência na igreja atuai.
CONCLUSÃO
Nos moldes do colégio dos doze, o
ministério apostólico não existe atualmente. Entretanto, o dom ministerial de
apóstolo citado por Paulo em Efésios 4.11 está em plena vigência. Pastores
experimentados, evangelistas e missionários que desbravaram os rincões do nosso
país ou em países inimigos do Evangelho, são pessoas portadoras desse dom
ministerial. São os verdadeiros apóstolos da Igreja de Cristo hoje.
AUXILIO BIBLIOGRÁFICO I
Subsidio Teológico
“Jesus é o supremo Sumo Sacerdote
e Apóstolo (Hb 3.1). A palavra apóstolo era usada, no entanto, para qualquer
mensageiro nomeado e comissionado a algum propósito. Epafrodito foi um
mensageiro (apóstolo) nomeado pela igreja em Filipos e enviado a Paulo (Fp
2.25). Os companheiros de Paulo eram os mensageiros (apóstolos) enviados peias igrejas
e por elas comissionados (2 Co 8.23).
Os doze, apenas, eram apóstolos
específicos. Depois de uma noite em oração, Jesus os escolheu do meio de um
grupo de discípulos e os chamou apóstolos (Lc 6.13). Pedro recomendou que os
doze tinham um ministério e supervisão especiais (At 2. 20,25,26),
provavelmente tendo em mente a promessa de que eles futuramente julgariam
(governariam) as 12 tribos de Israel (Mt 19.28). Sendo assim, nenhum apóstolo
foi escolhido, depois de Matias, para estar entre os doze. Nem foram nomeados
substitutos, quando estes foram martirizados. Na Nova Jerusalém há apenas 12
alicerces, com os nomes dos 12 apóstolos inscritos neles (Ap 21J 4). Os doze,
portanto, eram um grupo limitado, e realizavam uma função especial na pregação,
no ensino e no estabelecimento da Igreja, além de testificar da ressurreição de
Cristo, com poder. Ninguém mais pode ser um apóstolo no sentido em que eles
foram” (HORTON, Stanley M, A Doutrina do
Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. 12.ed. Rio de Janeiro: CPAD,
2012, p.287).
AUXÍLIO BIBLIO GRÁFICO II
Subsídio Teológico
“APÓSTOLO
Os apóstolos foram testemunhas
oculares das atividades de Jesus na terra e consequentemente testificaram que
Jesus era o Senhor res- surrecto (Lc 24.45-48; 1 Jo 1.1-3). Os pré-requisitos
para a substituição apostólica nesta função única são dados em At 1.21,22. A
lista de apóstolos de Lucas (Lc 6.14-16; At 1.13) corresponde à lista dos doze
dadas em Mateus 10.2-4 e Marcos 3.16-1 9. Mateus lista os discípulos aos pares,
supostamente como enviados por Jesus. Tadeu (em Mateus e Marcos) era idêntico
ajudas o filho de Tiago (em Lucas). Pedro, Tiago e João formavam um círculo
íntimo dentre os doze, e estavam presentes no episódio da transfiguração (Mt 1
7.1-9; Mc 9.2-10; Lc 9.28-36) e no Cetsêmani (Mt 26.36-46; Mc 14.32-42; Lc
22.39-46). Os doze foram selecionados para ser os companheiros de Jesus e
proclamar o Evangelho (Mc 3.14). Durante o ministério de Jesus, os doze
serviram como seus representantes, uma função compartilhada por outros (Lc
10.1).
Aparentemente, a posição dos
apóstolos não foi fixada permanentemente antes da ressurreição (Mt 19.28-30; Lc
22.28-34; cf. Jo 21.15-18). O Cristo ressurrecto fez deste grupo seleto de
testemunhas do seu ministério e ressurreição, apóstolos e testemunhas
permanentes de que Ele é o Senhor, os comissionou como missionários, os instruiu
a ensinar e batizar (Mt 28.18-20; Mc 1 6.1 5-1 8; Lc 24.46-48), e completou o
processo com o envio do Espírito Santo no Pentecostes (Lc 24.49; At 1.1-8;
2.1-13). No período inicial, os 12 apóstolos eram os únicos ensinadores e
líderes da igreja, e outros ofícios foram derivados deles (At 6.1-6; 15.4). O
apostolado não implicava em uma liderança permanente. Embora Pedro tenha
iniciado missões aos judeus (Atos 2) e aos gentios (At 10.11.18), Tiago o
substituiu como líder entre os judeus, e Paulo como líder entre os gentios.
Os membros da igreja são
sacerdotes, reis, servos de Deus e santos que usam seus dons para a edificação
da igreja como um todo (1 Co 1 2.1-11; 1 Pe 2.9; Ap 1.6; 5.8,10; 7.3) e, como
os apóstolos, são mediadores de Cristo (Mt 25.40,45; Mc 9.37; Lc 9.48) e
reinarão com Ele (Ap 3.21).
Os apóstolos, porém, através do
testemunho de sua palavra, sempre serão a norma e os arautos do fundamento
sobre o qual Cristo edifica a sua igreja (Ef 2.20; Ap 18.20; 21.14). Os
apóstolos são as primeiras dádivas de Cristo para a sua igreja (Ef 4.11) e os
ministros estabelecidos por Deus na igreja (1 Co 12.28,29)” (PFEIFFER, Charles
F.; REA, John; VOS, Howard F. (Eds.). Dicionário
Bíblico Wydiffe. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p. 162).
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo no Antigo e
Novo Testamento. 12. ed. Rio dejaneíro: CPAD, 201 2.
HORTON, Stanley M (Ed). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva
Pentecostal. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
EXERCÍCIOS
1.
Segundo as epístolas aos Efésios e aos Coríntios, quantos e quais são os dons
ministeriais?
R: São cinco dons: Apóstolos, profetas, evangelistas,
pastores e doutores.
2.
De acordo com o Dicionário Bíblico Wycliffe, defina o termo grego apóstolos. R: Apostolos origina do verbo aposteliein que diz
respeito a “enviar”, “remeter". 3. Qual era a cidadania do apóstolo Paulo?
R: Ele erajudeu de cidadania romana.
4.
De acordo com a lição, ainda existem apóstolos?
R: Nos moldes do colégio dos doze, o ministério
apostólico não existe mais. Todavia o dom ministerial de apóstolo citado em
Efé- sios 4.11 está em plena vigência.
5.
Na atualidade, quem são os verdadeiros apóstolos?
R: Os missionários.
Revista
Ensinador Cristão CPAD, n°58. p.39.
Estudamos
a respeito dos dons espirituais de locução, poder e revelação nas primeiras
cinco lições. A partir desta, trataremos dos dons ministeriais relacionados em
Efésios 4.11: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores. O
primeiro dom listado por Paulo é o de apóstolo, vamos começar nosso estudo por
ele. A primeira indagação que, em geral, fazemos quando estudamos a respeito
deste dom ministerial é: "Ainda existem apóstolos?" Primeiro precisamos
da definição do vocábulo que significa literalmente enviado. De certa forma,
todos os crentes são enviados a pregar as Boas-Novas.
O
colégio apostólico foi único. Ele foi formado por Jesus no momento da escolha
dos Doze que receberam o nome de enviados. Como homem perfeito, Jesus tinha
consciência de que não poderia realizar sua missão sozinho.
Para
ser apóstolo, um dos requisitos era ter estado pessoalmente com Cristo.
Atualmente, de certa forma, todos que creem em Jesus e já tiveram um encontro
com Ele são apóstolos, pois Cristo, antes de ascender aos céus, declarou a
todos os seus discípulos: "Ide por todo o mundo" (Mc 16.15). A Igreja
de Jesus tem uma missão apostólica. O apóstolo é alguém enviado por Jesus
Cristo com uma mensagem especial, servos de Deus separados para uma missão
específica, diferente dos mestres, profetas e evangelistas. Estes receberam o
dom ministerial, descrito em Efésios 4.11. Podemos afirmar que os missionários
são os apóstolos da atualidade. O apostolado não é um título pomposo, especial,
também não é um cargo hierárquico. Ser apóstolo é ter uma missão específica a
cumprir no Reino de Deus.
O
apóstolo Paulo - Paulo teve sérios problemas com os crentes de Corinto, pois
alguns não reconheciam o seu apostolado. Por isso, ele inicia a primeira carta
aos Coríntios, declarando-se apóstolo de Jesus Cristo (1 Co 1.1). Paulo
enfatiza que seu chamado se deu "pela vontade de Deus". Os orgulhosos
crentes de Corinto não aceitavam o apostolado de Paulo pelo fato dele não ter
feito parte do colégio apostólico. Todavia, Paulo teve um encontro pessoal com
Cristo no caminho de Damasco (At 9). Este encontro mudou seu ser. A missão
confiada a Paulo foi dada pelo próprio Senhor Jesus At 9.15. Os próprios
coríntios eram a marca do apostolado de Paulo. Ele declara isso em 1 Coríntios
9.2.
Apóstolo
e sevo - Aprendemos com Paulo que ser apóstolo é ser um servo, um cooperador de
Deus no ministério da reconciliação (2Co 6.1). Quem deseja o dom ministerial de
apóstolo deve seguir os passos de Jesus, estando sempre pronto para servir e
não buscar ser servido.
O ministério de Mestre é tão necessário que os demais, e sua importância é a mesma
que os demais, não é o último como afirma alguns teólogos, a sua importância é
vital em todas as épocas, pois onde ouve avivamento havia ali um mestre.
O ministério de mestre é um e o de Pastor é outro e nunca os dois são um só.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
A partir deste capítulo, estudaremos acerca dos dons
ministeriais, que identificam uma diversidade enorme de funções, ofícios e
atividades, de homens, chamados por Deus, e designados pela igreja local, para
exercerem a operacionalidade de serviços ou ministérios.
Os dons ministeriais são indispensáveis ao “o
aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo
de Cristo” (Ef 4.12). Neste estudo, o texto básico para referência é o capítulo
4, da epístola de Paulo aos efésios. Os dons espirituais são voltados para a
igreja em seu ambiente interno, congregacional, com manifestações
sobrenaturais, no falar línguas estranhas, profecia, interpretação, dons de
curar e outros carismas, os dons ministeriais ampliam a ação do Espírito Santo,
com sua ação poderosa e sobrenatural, tanto no âmbito interno como externo, da
missão da Igreja, na Terra.
Os dons ministeriais confundem-se com aqueles a quem
Deus lhes concede. Se alguém é chamado para ser evangelista, ele mesmo é um
“dom”, assim como sua função de evangelizar. E Deus que concede os que podem
ser chamados de “homens-dons” à igreja. Por isso, o apóstolo Paulo diz “E ele
mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros evangelistas, e
outros para pastores e doutores” (Ef 4.11). A expressão “ele mesmo deu” indica
que o dom precede o ofício. Diz Donald Gee: “Se ‘Ele concedeu, está fora de
dúvida náo poder haver ministério divinamente ordenado sem o Seu dom”.
O primeiro dom ministerial que estudaremos é o de
apóstolo. Há uma controvérsia que atravessa séculos acerca da atualidade do
ministério de apóstolo. Há uma corrente de estudiosos da Bíblia, que podemos
chamar de “cessacionista”, a exemplo do que ocorre com a atualidade dos
espirituais, que também entende que o ministério apostólico “cessou” com os
primeiros discípulos de Cristo. Outros entendem que ainda existem apóstolos,
hoje, ainda que numa conotação um tanto diferente dos primeiros doze apóstolos
de Cristo. A Igreja Católica tem como patrimônio de fé a chamada “sucessão
apostólica”, concedendo aos papas o título de “sucessores de Pedro”,
considerado o primeiro papa.
Além dos 12 apóstolos de Cristo, que integraram o
chamado “Colégio Apostólico”, vemos, no Novo Testamento, que outros apóstolos
foram levantados por Deus, sem que nenhum se considerasse sucessor de outro.
Paulo e Barnabé não pertenciam ao “grupo dos 12”; mas eram apóstolos,
credenciados por Deus para realizar a missão que lhes foi confiada (1 Co 1.1;
Cl 1.1; At 13.46); Tiago, “irmão do Senhor”, também recebia a qualificação de
apóstolo (Gl 1.19).
Um apóstolo de Cristo, como Pedro, Tiago ou João,
reunia em si diversas funções ministeriais, além da missão de evangelizar, ou
de proclamar as Boas-Novas de salvação. Ele tinha que ser, além de evangelista,
profeta e mestre. Podemos dizer que um apóstolo, nos primórdios da Igreja, era
um homem polivalente. Nos dias atuais, após a expansão da Igreja, percebemos
que o Espírito Santo quis distribuir, não só os “dons espirituais”, “repartindo
particularmente a cada um como quer” (1 Co 12.11), mas, também, concedendo
diversas operações e ministérios à igreja, através de homens, chamados por Deus
com variadas missões, concedidas a cada um.
Um dos maiores equívocos, cometidos por muitos líderes
de igrejas, nos dias presentes, é o de entender que o título de “Apóstolo” lhes
confere posição hierárquica superior ao de pastor, evangelista, bispo ou
presbítero. Já são conhecidos exemplos diversos de obreiros, que eram detentores
do título de “pastor”, devidamente ordenados por seus ministérios ou
convenções, os quais arrogaram para si o título de “apóstolo”, com o objetivo
de se colocarem em posição ministerial “superior”. Procedimento totalmente fora
de propósito ou de fundamento escriturístico. Esquecem-se tais “apóstolos”, que
a maior função, no ministério de Cristo, é o de “servo fiel” (Nm 12.7; Hb 3.5;
Mt 25.21-23).
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 70-72.
Ef 4.11 O mesmo que
levou cativos os poderes também concedeu dons à sua igreja: “os apóstolos, os
profetas, os evangelistas, os pastores e mestres”. Diferentemente do v. 7, onde
se falava da distribuição de dons individuais para todos os membros da igreja,
Paulo aqui designa determinadas pessoas como dom de Cristo. Em vista da
proximidade do presente trecho com Ef 1.20-23 é preciso chamar atenção para o
fato de que em Ef 1.22 o Cristo exaltado foi “concedido” como cabeça sobre a
igreja toda. Logo Cristo é a “dádiva principal” para sua igreja, no seio da
qual ele próprio “concede” determinadas pessoas.
De modo diverso da
listagem análoga em 1Co 12.28-30, Paulo emprega aqui o artigo definido para
cada uma das pessoas. Isso permitiria concluir que na carta aos Efésios não se
trata da tarefa em geral, mas do grupo claramente delimitado de representantes
incumbidos do serviço específico. Essa diferença também é constatável em
relação a Rm 12.6s, onde são arroladas não as respectivas pessoas, mas cada uma
das atividades: profecia, diaconia, exortação, etc.
No mesmo sentido
Paulo havia falado também em Ef 2.20 do “fundamento dos apóstolos e profetas” e
em Ef 3.5 de “seus santos apóstolos e profetas”. Diante das demais
considerações em Ef 4.12ss, parece que essa ênfase refere-se especificamente às
tarefas de proclamação, direção e ensino. Por isso não são mencionados aqui
outros dons da graça que aparecem em Rm 12 e 1Co 12.
Não se deve esquecer
que também na primeira carta aos Coríntios os dons da palavra e as pessoas
agraciadas com eles aparecem no começo das respectivas listas, de modo que o
tratamento do conflito causado por fenômenos entusiastas é marcado por uma
clara premissa: isso diz respeito em 1Co 12.8 à palavra da sabedoria e à palavra
do conhecimento, dadas pelo Espírito, e em 1Co 12.28 “primeiramente a
apóstolos, em segundo lugar a profetas, e em terceiro lugar, a mestres”. A
combinação de “profetas e mestres” ocorre em At 13.1. Em 1Tm 2.7 (também em 2Tm
1.11) Paulo relaciona consigo mesmo o serviço de “pregador” (cf.
“evangelista”), apóstolo e mestre (dos gentios). É digno de nota que também
esse trecho está visivelmente próximo de Ef 4.4ss: a confissão do único Deus e
do único Mediador entre Deus e os humanos, que se “deu” como pagamento de
resgate, é seguida pela transição para a investidura de Paulo como “arauto”
desse evento de salvação.
Segundo esse
pensamento Cristo presenteou sua igreja com dons, i. é, com pessoas incumbidas
e capacitadas que possuem uma relevância fundamental para a construção e o
crescimento da igreja. Trata-se aqui daqueles que proclamaram e explicaram o
evangelho da salvação em Jesus Cristo de acordo com a situação atual dos
ouvintes, bem como firmaram, exortaram e encorajaram as incipientes igrejas através
dessa palavra.
Nesse contexto duas
coisas são irrenunciáveis: a importância das referidas pessoas como “detentores
de cargo” não vem delas mesmas. Pelo contrário, são presentes do Senhor à
igreja dele. Elas, por sua vez, receberam seus dons daquele que é o verdadeiro
presente para a igreja (Ef 1.23). Possuem importância fundamental para a
constituição da igreja, motivo pelo qual de forma alguma podem ser
arbitrariamente substituídos.
Ef 4. 13 A edificação, o
crescimento do corpo de Cristo, estão direcionados para um alvo que é indicado
neste versículo. A expressão “chegar” pode significar literalmente alcançar um
lugar (diversas vezes em At: p. ex., At 16.1; 18.19; etc.), mas também pode ser
usada em sentido figurado (o fim dos tempos chegou: 1Co 10.11). Assim como
aqui, em Fp 3.11 ela implica a atenta orientação rumo ao alvo visado, quando
Paulo afirma de si: “para alcançar a ressurreição dentre os mortos”.
Pode parecer estranho
que desde já a igreja seja a “plenitude de Cristo”, concidadã crente dos santos,
família de Deus, pedra no templo santo, e que apesar disso ainda se diga que
haverá um crescimento, um vir-a-ser. A mesma duplicação já chamara atenção no
contexto da herança colocada à disposição: os direitos já foram transferidos,
mas ainda não se tomou posse dela (Ef 1.18; 2.7). Consequentemente a plenitude
de Cristo é ponto de partida e alvo de todo o crescimento.
Agora isso passa a
ser relacionado a uma situação concreta: na realidade pode haver na igreja uma
só fé, visto que esta só pode ser fé em um só Senhor Jesus Cristo (Ef 4.5). Na
realidade a “unidade do Espírito” é algo dado, porque o Espírito Santo é um só
(Ef 4.3). Não obstante cabe “segurar” essa unidade, ou “chegar” a ela. A força
motriz de todos os esforços nessa direção não é a utopia de uma igreja
unificada, mas a realidade do único corpo de Cristo.
A unidade da fé está
estreitamente ligada à “unidade do conhecimento”, que por sua vez se concentra
no “Filho de Deus”. Em Ef 1.17-19 Paulo já suplicara pelo Espírito da
sabedoria, para que os leitores reconheçam a esperança e a força resultante da
ressurreição de Cristo. De maneira semelhante Cl 2.2 interliga o esforço para
que “os corações sejam unidos em amor” e o “conhecimento do mistério de Deus:
Cristo”. Por isso uma fé aumentada e um conhecimento aprofundado do Filho de
Deus caracterizam o crescimento da unidade eclesial.
À unidade corresponde
a perfeição. A igreja, “todos nós”, devemos nos tornar “seres humanos
perfeitos”: “unidade e perfeição constituem o alvo da igreja, e o Cristo concede
participação a cada um nessa unidade e perfeição; ao procurar „chegar‟,
impelido pela palavra de Deus, o indivíduo cresce em direção ao alvo da
totalidade.”
Discordando de
tentativas equivocadas de derivação de concepções gnósticas, o “ser humano perfeito”
deve ser entendido como a pessoa amadurecida, adulta. Isso é elucidado pela
segunda expressão: “para a medida cheia da plenitude de Cristo”. “Medida plena”
é a tradução literal para “medida da idade da vida” ou também “medida da
estatura”. Trata-se da “idade adulta” ou da “medida cheia da figura”. O
trabalho dos encarregados edifica o corpo de Cristo. Terá alcançado seu tamanho
completo “quando todos que são destinados à igreja segundo o plano divino de
salvação pertencerem à igreja… A igreja, que é o corpo do Cristo, constitui na
estatura completa o pleroma de Cristo.”
Eberhard
Hahn. Comentário Esperança Efésios. Editora
Evangélica Esperança.
A Classificação dos
Dons (Ef 4.11)
Tudo indica que
Paulo, quando escreveu estas palavras, tinha em mente a lista dos ministérios
relacionados em 1 Coríntios 12.28. A passagem coríntia compreende uma lista
mais longa de dons espirituais (charismata). Mas nesta passagem, Paulo está
interessado em apresentar os ofícios necessários para a expansão e sustento da
igreja. Cristo deu à igreja os apóstolos: os ministros supremos, os doze que
haviam visto
o Senhor ressurreto e recebido suas tarefas diretamente dele. Os profetas têm
posição proximal à dos apóstolos, e o seu dom especial era o de ministério
inspirado. Foulkes afirma que a função primária dos profetas era similar à dos
profetas do Antigo Testamento: “anunciar” a palavra de Deus. Porém,
ocasionalmente prediziam acontecimentos futuros, como em Atos 11.28 e
21.9,ll.30 Os evangelistas eram pregadores itinerantes, que iam de lugar em
lugar para ganhar os incrédulos (cf. 2 Tm 4.5), de modo muito semelhante como
se faz hoje.
Certos intérpretes
sugerem que as primeiras três categorias se aplicam à igreja universal, ao
passo que as outras duas se ajustam especificamente à igreja local. Pastores
são pastores de um rebanho de comunicantes; a palavra grega (poimen) empregada
aqui significa, literalmente, “pastor de ovelhas”. A tarefa dos pastores é
alimentar o rebanho e protegê-lo dos perigos espirituais. Doutores pode ser uma
outra função do pastor. Bruce afirma que estes dois termos “denotam a mesma e
uma única classe de homens”.31 Contudo, pode ser que os doutores representem
uma classe de responsabilidade um tanto quanto menor que os pastores, mas que,
mesmo assim, detêm lugar especial na igreja. Os cinco ministérios são
concedidos pelo Espírito e dados por Cristo à sua igreja.
Estes dons
ministeriais são dados para promover maturidade. O versículo 13 rememora o
anterior e oferece explicação adicional da “edificação” da igreja. Uma vez
mais, Paulo usa três frases, cada uma iniciada com a preposição grega eis: 1) à
unidade da fé; 2) a varão perfeito; 3) à medida da estatura completa de Cristo.
Estas não são idéias paralelas. A primeira fala do meio da maturidade, a
segunda fala da realidade da maturidade e a terceira fala da medida da
maturidade. Uma tradução melhor do versículo seria esta: “Assim, todos
finalmente atingiremos a unidade inerente em nossa fé e em nosso conhecimento
do Filho de Deus, e chegaremos à maturidade, medida por nada menos que a
estatura completa de Cristo” (NEB).32
A unidade da fé e do
conhecimento do Filho de Deus constitui o meio do amadurecimento (cf. RA). A
unidade é um dom do Espírito (cf. 3), mas requer-se fé e conhecimento para
recebê-la. Neste texto, a fé é a resposta que damos ao Filho de Deus e a nossa confiança
nele — Deus manifestado na carne que morreu no Calvário em nosso benefício.
Aqui, conhecimento (epignosis) é semelhante à fé no ponto em que significa
“compreensão, familiaridade, discernimento”. Não devemos equipará-lo a
conhecimento intelectual, mas a relações pessoais. A unidade se origina dessa
intimidade com o Filho proporcionada pela graça. Paulo não está falando da
experiência inicial com Cristo. O apóstolo se preocupa com o crescimento e
aumento em entendimento e compreensão dos propósitos e vontade de Deus conforme
estão revelados em associação com Cristo. Os membros da igreja podem e devem
ter tal crescimento em maior medida enquanto o servem.33
A varão perfeito
refere-se ao nível de maturidade coletiva e individual na igreja, no qual o
poder de Deus se manifesta inteiramente em santidade e justiça. Tal estado será
atingido em seu significado máximo futuramente, quando possuirmos a graça de
Cristo na perfeição da ressurreição (cf. Fp 3.7-16).34
A medida da estatura
completa de Cristo é o padrão de medida que determina a maturidade cristã.
Hodge escreve: “A igreja se torna adulta, homem perfeito, quando alcança a
perfeição de Cristo”.36 A chave para interpretar o versículo é a expressão
estatura completa de Cristo. Qual é esta estatura? Salmond diz que é “a soma
das qualidades que fazem o que ele é”.36 Quando a igreja está à altura da
maturidade plena do seu Senhor, ela é perfeita. E à medida que cresce em
direção a essa maturidade, ela fica mais próxima de sua meta em Cristo.
Precisamos também destacar que não há crescimento na igreja separadamente de
nosso crescimento individual como crente. É cada um de nós individualmente que
tem de se dirigir com empenho à estatura completa de Cristo.
Willard
H. Taylor. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 9. pag.160-162.
O apóstolo então nos
relata quais foram os dons de Cristo na sua ascensão: “E ele mesmo deu uns para
apóstolos...” (v. 11). Na verdade, Ele enviou alguns desses antes da sua
ascensão (Mt 10.1-5), mas um foi acrescentado depois (At 1.26). E todos eles
foram mais solenemente empossados e publicamente confirmados, em seu ofício,
pelo seu derramar visível do Espírito Santo de uma forma extraordinária.
Observe: O grande dom que Cristo deu à igreja na sua ascensão foi o ministério
da paz e da reconciliação. O dom do ministério é o fruto da ascensão de Cristo.
E ministros têm seus vários dons, que são todos dados pelo Senhor Jesus. Os ministros
que Cristo deu à sua igreja eram de dois tipos - os extraordinários, investidos
de um ofício superior na igreja: tais eram apóstolos, profetas e evangelistas.
Os apóstolos eram os dirigentes. Cristo os investiu com dons extraordinários,
poder para operar milagres e uma infalibilidade para anunciar sua verdade.
Tendo eles sido testemunhas dos seus milagres e doutrina, Ele os enviou a
espalhar o evangelho e a implantar e governar igrejas. Os profetas expunham os
escritos do Antigo Testamento e prediziam as coisas do futuro. Os evangelistas eram
pessoas ordenadas (2 Tm 1.6) que os apóstolos levavam como companheiros de
viagem (G12.1), e os enviavam para estabelecer igrejas que eles, os apóstolos, tinham
implantado (At 19.22). Os evangelistas não estavam presos a nenhum lugar
específico; por isso, deveriam continuar o seu trabalho até que fossem chamados
de volta (2 Tm 4.9). Também existem os ministros ordinários, empregados em uma
esfera mais restrita tais como pastores e mestres. Alguns entendem que esses dois
nomes significam um ofício só, envolvendo as tarefas de governar e ensinar.
Outros entendem que eles representam dois ofícios distintos, ambos regulares e
de uso permanente na igreja. Os pastores são colocados como dirigentes
principais de igrejas particulares, com o intento de guiar, instruir e
alimentar os membros de acordo com as instruções de Cristo. Eles são
frequentemente chamados de bispos e anciãos. Os mestres eram aqueles que também
pregavam o evangelho e instruíam o povo por meio da exortação. Vemos aqui que é
prerrogativa de Cristo designar oficiais e ofícios em sua igreja. A igreja é
rica pelo fato de ter tido uma diversidade tão grande de oficiais e continuar
tendo uma diversidade tão grande de dons! Como Cristo é amável com sua igreja!
Quão grande é o seu
cuidado por ela e pela sua edificação! Quando Ele subiu, enviou o dom do
Espírito Santo; e os dons do Espírito Santo são vários: alguns receberam mais,
outros, menos; mas todos os dons são para o bem do corpo, o que nos leva ao
terceiro argumento:
Todos são designados para
preparar-nos para o céu: “...até que todos cheguemos...”(v. 13). Os dons e
ministérios (alguns deles) que foram mencionados devem continuar na igreja até
que os santos sejam aperfeiçoados, o que não acontecerá “...até que todos
cheguemos à unidade da fé (até que todos os verdadeiros crentes se unam, por
meio da mesma preciosa fé) e ao conhecimento do Filho de Deus”, o que não quer
dizer um conhecimento meramente especulativo, ou o reconhecimento de Cristo
como o Filho de Deus e o grande Mediador, mas como deveria ser observado, com
apropriação e afeto, com a devida honra, confiança e obediência; “...a varão
perfeito”, para o crescimento completo dos dons e graças, livre das
fragilidades imaturas às quais estamos sujeitos no presente mundo; “...à medida
da estatura completa de Cristo”, tornando-nos cristãos maduros em todas as
graças providas pela plenitude de Cristo. Ou, de acordo com a medida dessa
estatura que é completar a plenitude de Cristo e seu corpo místico. Nunca
chegaremos a ser o varão perfeito, até que cheguemos ao mundo perfeito. Há uma
plenitude em Cristo, e uma plenitude a ser obtida dele; uma certa estatura
dessa plenitude e uma medida dessa estatura são determinadas no conselho de
Deus para cada crente, e nunca chegaremos a essa medida até chegarmos ao céu.
Os filhos de Deus, enquanto estiverem neste mundo, estão crescendo. O Dr.
Ligthfoot entende que o apóstolo está falando aqui dos judeus e gentios ligados
na unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, constituindo, dessa forma,
um homem perfeito, e a medida da estatura completa de Cristo.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 592.
A Igreja é Unificada, Mas Diversificada (12.27-30)
Em seguida, Paulo faz sua aplicação: Vós sois o corpo
de Cristo. “A igreja de Corinto como tal é o corpus Christi, um organismo feito
por Cristo e mantido por Ele, e tem o caráter de um corpo como o que foi
descrito”.46 Como na realidade a igreja é um organismo espiritual, os
indivíduos são seus membros em particular. Cada um deles pertence ao corpo.
Portanto, ninguém pode legitimamente afirmar ser mais importante que os outros,
e nem ninguém deve considerar o outro como seu inferior.
a) A Igreja unificada tem muitas funções e diferentes
dons (12.28). Paulo agora passa das idéias gerais para questões específicas.
Ele mostra que no corpo de Cristo os homens não escolhem esta ou aquela função,
e também não escolhem os seus dons. Foi Deus quem pôs cada um na igreja para
fazer coisas particulares.
Estas funções e estes dons estão relacionados da
seguinte maneira: 1) apóstolos, 2) profetas, 3) doutores, 4) milagres, 5) dons
de curar, 6) socorros, 7) governos, 8) variedades de línguas. “A ordem na
qual... a relação de ministérios foi expressa é deliberada. Os apóstolos
receberam o lugar mais elevado, e aqueles que falam em línguas o mais baixo”.47
Outro texto faz ecoar a mesma idéia: “Em Corinto... era necessária a presença
de um intérprete para explicar a língua àqueles que não a conheciam. Portanto,
Paulo colocou esse dom na posição mais baixa de todas. Ele suscitou admiração,
porém o seu benefício foi um tanto restrito”.48 Ainda outro autor escreve: “Em
vez de uma simples enumeração, Paulo preferiu fazer um arranjo na ordem da
classificação”.49 As funções, os dons, e sua importância podem ser analisados
de forma breve.
1) Apóstolos. Estes foram homens convocados e
comissionados diretamente por Cristo para serem suas testemunhas.
2) Profetas. Os profetas eram aqueles convocados para
predizer o curso da história redentora, para proclamar a mensagem de Deus e
para exortar.
3) Doutores. Os doutores eram considerados extremamente
essenciais e necessários ao bem-estar da Igreja Primitiva. Em uma época em que
os livros eram raros, os doutores significavam uma peça fundamental para
apresentar e interpretar os ensinos do AT e as doutrinas da igreja.
4) Milagres. Paulo passa de “pessoas dotadas a dons
abstratos”.50 Aparentemente, Deus concedeu a algumas pessoas poderes especiais
para realizar feitos que seriam impossíveis do ponto de vista da capacidade
humana (cf. v. 10).
5) Dons de curar. A Igreja Primitiva foi testemunha de
curas dramáticas e de eventos de instantânea recuperação da saúde (At 3.1-11;
9.32-42).
6) Socorros. Alguns membros da igreja mostravam um
cuidado especial, compaixão e capacidade para socorrer os necessitados. A
referência também pode estar mencionando pessoas que agiam como secretários da
igreja, tesoureiros ou pastores assistentes.
7) Governos. A palavra governos (kyberneseis) “denota a
atividade do timoneiro de um navio, do homem que pilota o barco através de
perigosos bancos de areia e o conduz com segurança até o porto”.51 Portanto,
ele provavelmente está se referindo “aos administradores do governo da igreja,
como os presbíteros”.
8) Variedades de línguas. Em relação a este dom, Clarke
escreve: “E o poder de falar, em todas as ocasiões necessárias, línguas que
eles não tinham aprendido”.53 Alguns estudiosos acreditam que esse dom
carismático inclua o dom das línguas inteligíveis do Pentecostes, assim como as
da pneumatika de 14.2ss. Outros afirmam que os dons (charismata) são diferentes
da pneumatika.
b) A realidade da diversidade na igreja (12.29-30).
Agora Paulo faz uma série de perguntas retóricas. São todos apóstolos? São
todos profetas? Estas perguntas, em grego, foram introduzidas com a partícula
me, o que indica que ele esperava uma resposta negativa. A atitude cristã é
aceitar a diversidade na igreja e honrar e respeitar todos os seus membros por
serem importantes e essenciais.
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 8. pag. 311-312.
I Co 12. 27 Paulo aposta tudo no mostrar a vida do
corpo com seus membros em toda a sua realidade. Nessa realidade encontram-se
também os coríntios. “Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente,
membros desse corpo.” Também aqui está em primeiro lugar o ser, a condição real
concedida. Paulo obviamente também sabe que uma igreja como ―corpo‖ não
funciona por si mesma como o corpo humano. Na verdade não temos de primeiro
constituir o corpo de Cristo nem ―fazer‖ de nós membros. No entanto, podemos
prejudicar ou até destruir o que nos foi concedido. É por isso que Paulo
escreverá o capítulo 13 e dará no capítulo 14 instruções marcantes para a vida
da igreja. Inicialmente, porém, sua preocupação é dizer aos coríntios: ―Tudo o
que agora lhes mostrei no corpo humano realmente existe; vocês são o corpo de
Cristo, vocês são membros. Portanto vocês têm a unidade na multiformidade dos
membros, dons, poderes e serviços e possuem toda essa riqueza na unidade da
igreja.‖
I Co 12. 28 Na seqüência Paulo retorna ao que ele havia
dito nos v. 7-11 sobre os carismas. Agora, no entanto, depois do ensinamento
sobre a igreja como ―corpo‖, isso se pode tornar palpável aos coríntios ainda
de outro modo. Agora Paulo acrescenta à plenitude dos dons de serviço, que são
recebidos respectivamente por indivíduos na igreja, os três ministérios, que
evidentemente não são dons variáveis, mas se tornam a firme ―vocação‖ de
determinadas pessoas. É por isso que agora ele não cita dons e poderes, mas
pessoas, com uma contagem expressa de sua seqüência: “A uns estabeleceu Deus na
igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro
lugar, mestres.”
Nesse caso a palavra ―igreja‖ não se refere isoladamente
à congregação de Corinto, mas à igreja em si, à igreja em todos os lugares, que
se forma pelo trabalho dos apóstolos e cujo surgimento é alvo específico
justamente do serviço dos “apóstolos”. Contudo é significativo que a totalidade
das ―igrejas locais‖ não receba um nome diferente, assim como a igreja em
Corinto por outro lado também não recebe a designação depreciativa de igreja
―local‖. Tudo é essencial e integralmente ―igreja‖, a multidão dos que crêem em
Corinto e em outros locais, bem como a soma de todos os crentes na face da
terra. A totalidade das igrejas não é mais importante nem ―igreja‖ ou
―denominação‖ num sentido superior do que a ―igreja local‖ em Corinto, Filipos
ou Icônio.
Ao serviço de fundação de igrejas pelos apóstolo
agregam-se “profetas” e “mestres”. Desde já somos lembrados com clareza de que
―ser profeta‖ é algo diferente do que ter os dons de ―profetizar‖ que Paulo
deseja com tanta insistência a todos os membros da igreja. Em 1Co 14 nos
depararemos novamente com esse fato. O ―profeta‖ recebe certeza sobre a vontade
e os planos de Deus, comunica-os à igreja e, assim, dirige a igreja. A igreja,
porém, de forma alguma depende unicamente de revelações proféticas renovadas.
Ao lado do ―profeta‖ está o “mestre”, que com base na palavra de Deus é capaz
de mostrar à igreja de forma abundante o que Deus lhe concede e o que ele quer
dela. Em conseqüência, na presente carta Paulo se apresenta de forma muito
especial como ―mestre‖, que não anuncia à igreja oráculos proféticos, mas que a
conduz para entender e captar verdade divina.
Diferentemente de Ef 4.11, não se mencionam aqui os
―evangelistas‖ e os ―pastores‖. Ao falar dos ―apóstolos‖ Paulo talvez esteja
pensando não apenas nos apóstolos em sentido mais restrito, mas também nas
pessoas que mais tarde serão especialmente citadas como ―evangelistas‖. Afinal,
prosseguem o trabalho dos ―apóstolos‖, anunciam a mensagem salvadora de Jesus,
a fim de fazer com que das pessoas salvas se forme a ―igreja‖, ou que uma
igreja já existente cresça por meio delas. O ―serviço pastoral‖ acontecia tanto
por meio dos ―apóstolos, profetas e mestres‖, como também através do serviço
recíproco dos membros da igreja (Cl 3.16; 1Ts 4.18; 5.11), e somente mais tarde
se destacou como uma atividade própria conferida a determinados membros. A
designação ―pastores‖ também pode referir-se às pessoas que de resto são
chamadas de ―presbíteros‖ e que conforme At 20.28 têm de executar especialmente
o serviço de ―pastorear‖ a igreja. Lá Paulo os designa de ―bispos‖. No primeiro
cristianismo tudo ainda é bastante livre e flexível, sem ―cargos‖ instituídos.
Às pessoas singularmente vocacionadas de forma
permanente agregam-se os ―dons‖ concedidos aos respectivos membros da igreja
para o serviço. Não são citadas outra vez a ―palavra de sabedoria‖, a ―palavra
do conhecimento‖ e a ―fé‖. Em contrapartida são acrescentados aos ―poderes de
milagre‖ [tradução do autor] e “dons de curar” ainda a “assistência” [TEB] e os
―dons de direção‖, que faltam nos v. 8-10. Para prestar assistência e para
dirigir obviamente há também capacidades naturais, que não devem ser
desprezadas na igreja. Contudo, considerando que uma ―igreja‖ não é uma
organização secular, e sim um organismo ―pneumático‖ = espiritual, nesse caso,
por natureza, nem mesmo a melhor aptidão natural será suficiente. Também toda
―assistência‖ e ―direção‖ carece de um ―dom‖ que somente pode ser presenteado
pelo Espírito Santo. No entanto é significativo que os “dons de direção” não se
encontrem entre os primeiros, mas entre os últimos carismas. Ao mesmo tempo
somos lembrados de que justamente também para os necessários cargos de direção
não devemos buscar unilateralmente por pessoas com as respectivas aptidões
inatas, mas que podemos rogar sinceramente pelos dons espirituais da ―direção‖ e
da ―administração‖. Do contrário, com quanta facilidade a igreja e suas obras
se tornam mundanas por intermédio dos que por nascimento têm a natureza de
comandar! Também agora as “variedades de línguas” são mencionadas em último
lugar.
I Co 12. 29,30 Após essa listagem dos múltiplos
serviços e dons necessários para a vida da igreja Paulo novamente se dedica a
combater as mazelas em Corinto que – a partir de complexos de inferioridade e
de arrogância – tolhiam a boa vida da igreja. Por essa razão ele cita outra vez
os serviços e dons, agora, porém, perguntando se “porventura todos” na igreja
detêm igualmente cada um desses serviços e possuem cada um desses dons
espirituais. É evidente que aqui a resposta somente pode ser: ―Não, obviamente
que não.‖ Não é obrigatório que todos tenham e saibam tudo. Cada um pode servir
em seu lugar com o seu dom. A igreja como um todo obviamente pode e deve ser
rica em muitas forças e capacidades, serviços e efeitos. É isso que perfaz sua
vitalidade. Porém ela é rica quando cada um de seus muitos membros possui algo
dessa riqueza e a coloca a serviço do todo.
Werner
de Boor. Comentário Esperança Cartas aos I Corinto.
Editora
Evangélica Esperança.
Começando com o v. 12, Paulo dera o relato detalhado da
inter-relação dos membros e órgãos que há no organismo humano, indicando,
contudo, mesmo no v. 13, que quis que a aplicação fosse feita ao caso da
igreja. E aqui ele afirma que toda esta passagem deve ser aplicada à
congregação cristã: Vós sois o corpo de Cristo, e muitos membros. Em relação a
Cristo tendes a relação dum corpo, em relação de uns aos outros tendes a
relação de membros. Por isso na igreja deviam ser levadas em conta as lições
dos membros descontentes e menos nobres, o orgulho dos membros mais corretos, e
do cuidado mútuo e da solicitude dos membros em geral. E Paulo francamente
afirma que há de fato uma diversidade de talentos, de ministérios, de
realizações na igreja. Foi Deus quem operou estas distinções. Foi Ele quem
escolheu e estabeleceu certos funcionários na igreja, sendo que eles detiveram
um ofício pela Sua vontade, At. 20.. 28. Havia, primeiro, os apóstolos, que
constituíram os mestres de toda a igreja até o fim do tempo, originalmente por
meio da palavra proclamada, depois por sua doutrina transmitida de forma
escrita. Havia, em segundo lugar, profetas, que foram homens que tinham o dom
da profecia, vv. 8, 10. Em terceiro lugar, havia os mestres, homens que foram
capazes de ensinar a doutrina transmitida, e de aplicá-la aos casos
individuais. Estes três representaram as ordens de ensino. E na congregação em
geral, e sem distinção devida ao cargo, se encontravam poderes milagrosos, dons
de cura, vv. 9, 10; socorros, que era a tarefa que principalmente era feita
pelos diáconos; governos, que era a obra que foi realizada pelos funcionários
executivos na organização da congregação; e, por fim, variedades de línguas, v.
10.
Nota: Aqui evidentemente o apóstolo se refere à
organização visível da igreja, à qual Ele confiara a administração dos meios da
graça. Quando uma pessoa que se chama cristã evidencia o espírito de independência,
mantendo que pode ignorar o trabalho do ministério, então este não está em conformidade
com esta passagem das Escrituras.
Deus concedeu os ofícios e distribuiu os dons, mas Ele
em pessoa fez a distinção, escolhendo os veículos de Sua graça assim como Ele o
julgou melhor. Insatisfação com a posição designada a qualquer um na igreja é
rebelião contra o Seu governo: São todos apóstolos? Todos profetas? todos
mestres? todos poderes? Possuem todos dons de curas? Falam todos em línguas?
Todos interpretam? Na igreja todos os cristãos não
podem ser tudo, não podem deter todos os ofícios, não podem possuir todos os
mesmos dons; o Senhor distribuiu os dons, e todos são responsáveis a Ele, seja
o dom que lhes foi confiado grande ou pequeno em sua apresentação diante das
pessoas. Que o apóstolo, o profeta, o mestre, o curador, o intérprete, o
diácono fazer, sem ciúme, cada um seu trabalho no lugar que lhe foi indicado,
como também se estar descontente com seu fardo. Todas estas posições são
necessárias e mutuamente são interdependentes; todas elas devem servir para
glória do Senhor e para o bem-estar de Seu povo. O auto-engrandecimento e o ciúme
são a morte do verdadeiro trabalho da igreja.
Em lugar de fomentar o orgulho e a vaidade, os cristãos
de todos os tempos devia, ao contrário, empenhar seus esforços em outro
sentido: Mas sede zelosos pelos dons melhores, lutai por aqueles dons do
Espírito que são para o melhor benefício da obra do Senhor na igreja. Quando os
cristãos são realmente ansiosos para estarem dispostos na obra do Senhor, por
meio dum empenho totalmente altruísta, então o Senhor há de recompensar este
zelo devoto. A tais pessoas será concedida a oportunidade de dispor seus
talentos para o Rei da graça. Paulo não só quer exortar seus leitores para este
fim, mas também deseja mostrar-lhes uma maneira excelente, um meio impar, por
meio do qual poderão alcançar o cumprimento de seu desejo e serem colocados numa
posição em que podem servir a igreja em todos os seus membros, para a glória de
Deus.
Resumo: O apóstolo discute a diversidade dos dons do
Espírito, assim como são distribuídos para a vida da igreja, sendo todos
necessários e sendo todos honrosos quando usados apropriadamente, como ele o
mostra por meio duma comparação detalhada dos membros do organismo humano e
suas funções, mas que nenhum deve ser buscado num espírito de emulação.
KRETZMANN.
Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo
Testamento. Editora
Concordia Publishing House.
1 - O COLÉGIO APOSTÓLICO
1. O termo “apóstolo”.
Na língua grega, em que foi escrito o Novo Testamento,
a palavra apóstolo tem o significado de um enviado, um mensageiro ou um
delegado. “Apóstolos. Um delegado; especialmente um embaixador do evangelho;
oficialmente, uma pessoa comissionada por Cristo [um apóstolo’] (com poderes
miraculosos): — apóstolo, mensageiro, aquele que é enviado”.2 Essa é a
conceituação de apóstolo, em seu sentido original. Apóstolo não é qualquer pessoa
que “vai” ou que é mandada por alguém, numa visão humana. “O apóstolo é enviado
por Cristo do mesmo modo pelo qual foi Ele enviado pelo Pai; e pelo menos com
algo quanto de tudo implica autoridade e poder, e graça e amor”.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 72.
Em sentido litúrgico, isso traz em si a idéia de um
confessionário, onde o pecador arrependido busca perdão para seus pecados. No
caso dos santos, esse confessionário são os pés de nosso Senhor Jesus Cristo.
Jesus foi constituído por Deus como “... apóstolo e sumo sacerdote da nossa
confissão”. Diante dEle: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo
para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (I Jo 1.9).
Severino Pedro Da Silva. Epistola aos Hebreus coisas novas e grandes que Deus preparou
para você. Editora CPAD. pag. 46.
O autor demonstrou tanto a divindade quanto a
humanidade do Messias e toda a adequação do seu sofrimento e morte. Pelo que
(Em vista disso), ele agora desafia seus irmãos santos, que participam com ele
na vocação celestial, a considerar cuidadosamente o apóstolo e sumo sacerdote
da sua confissão, Jesus Cristo (l). Esta comparação não é feita em relação aos
anjos, Adão ou Abraão, mas em relação a Moisés. A voz de Moisés havia se
tornado virtualmente a voz de Deus no pensamento hebraico. Um apelo a Moisés
respondia a todas as perguntas. A transferência de fé e lealdade de Moisés para
o Homem da Galiléia era muito difícil, e a pressão para retomar a Moisés era
constante.
Os devotos de Moisés podiam apontar para os milagres no
Egito, os acontecimentos poderosos no Sinai e a saída da nação da terra do
Egito. Os discípulos de Jesus podiam apontar somente para os milagres locais em
indivíduos e um pequeno bando de seguidores desprezados. Moisés morreu com
dignidade no topo de um monte e foi enterrado pelos anjos (Dt 34.9; Jd 9);
Jesus passou por uma morte pública desonrosa e cruel nas mãos dos seus
inimigos. Os discípulos de Jesus se apegaram à sua ressurreição e à promessa da
glória futura — uma promessa que até então não mostrava sinais de
materialização. E a ressurreição era prova de superioridade somente para
aqueles que criam nela. Na tentativa de provar que Jesus é maior que Moisés,
precisamos observar que a ressurreição não faz parte da argumentação. Em vez
disso, o argumento está baseado somente na identidade, já vista nas Escrituras
do AT, de que Jesus é o divino Filho de Deus. Mas, independentemente da
abordagem, o autor é verdadeiramente paulino em sua explanação de como Cristo
ofuscou completamente a Moisés. A pergunta da perpetuidade da autoridade de
Moisés surgiu muito cedo na Igreja, mesmo em Jerusalém, e a primeira grande
assembléia foi convocada para resolver esta questão (At 15). Na sua firme
oposição à tendência dos judaizantes de tornar o cristianismo uma forma de
judaísmo, Paulo e o escritor aos Hebreus, se não são a mesma pessoa, tinham ao
menos a mesma opinião.
Richard
S. Taylor. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 10. pag. 36.
Os títulos que ele dá a Cristo, a quem ele quer que eles
considerem: (1) Como o apóstolo da nossa confissão, o primeiro-ministro da
igreja do evangelho, um mensageiro e o principal mensageiro enviado por Deus
aos homens, com a mais importante missão, o grande revelador daquela fé em que
professamos crer e da esperança que professamos ter. (2) Não somente como o
apóstolo, mas também como o sumo sacerdote da nossa profissão de fé, o
principal ministrante do Antigo Testamento, como também do Novo, o cabeça da
igreja em qualquer estado, e em cada dispensação, de cuja satisfação e
intercessão confessamos depender para o perdão dos pecados e a aceitação por
parte de Deus. (3) Como o Cristo, o Messias, o ungido e em todas as formas
qualificado para a missão tanto de apóstolo quanto de sumo sacerdote. (4) Como
Jesus, nosso Salvador, o que nos cura, o grande médico da nossa alma,
tipificado na serpente de bronze que Moisés levantou no deserto, para que os
que haviam sido picados pelas serpentes de fogo pudessem olhar para Ele e ser
salvos.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 767.
Ao enraizamento da existência humana na eternidade de
Deus corresponde, porém, uma orientação espiritual da vida que tem de parecer
contraditória ao pensamento natural. O apóstolo convoca os fiéis: considerai
atentamente (“voltem seu olhar firmemente para”) o Apóstolo e Sumo Sacerdote da
nossa confissão, Jesus! Acaso não é impossível olhar para uma pessoa que nem
sequer está visivelmente presente? Esse questionamento válido prontamente deixa
claro para nós que não se está pensando num processo de percepção física, mas
em uma experiência espiritual. O apóstolo refere-se à atualidade de Deus em
nossa vida, da qual devemos nos conscientizar repetidamente (cf. de modo
análogo 2Tm 2.8: “Mantém na memória a Jesus Cristo”).
Pelo que se evidencia, é intencional que o autor cite,
aqui como em Hb 2.9 e 12.2, somente o nome de Jesus, sem o título messiânico
Cristo. Trata-se da identidade do Senhor terreno como o exaltado. O Cristo
celestial, ao qual vêem com os olhos do coração (Ef 1.18), não é outro senão o
Jesus de Nazaré anunciado pelos apóstolos. A participação na vocação celestial,
a saber a filiação pessoal de cada fiel à igreja, impõe, assim como a nuvem de
testemunhas (Hb 12.1,2), um compromisso interior, para manter o olhar da fé
dirigido para Jesus, i. é, para permanecer na inviolada comunhão de vida com
ele.
Novamente não se pode separar a confissão da fé da vida
com o Senhor e da integração na igreja. Nessa confissão o apóstolo não entende
uma confissão de fé qualquer de uma igreja, fixada por escrito, mas sim o firme
testemunho da salvação pessoal em Cristo, que cada filho de Deus deve ao mundo,
justamente quando se tem em vista a ameaça que significam para ele os poderes
antidivinos (Rm 10.10).
Quando em nosso versículo se fala de Jesus, o Apóstolo
e Sumo Sacerdote, então dois fatos básicos da salvação constituem o conteúdo da
confissão: Jesus é o último enviado de Deus, que pelo seu sacrifício efetuou a
expiação perfeita de toda a culpa dos seres humanos.
Fritz Laubach. Comentário
Esperança Hebreus. Editora Evangélica Esperança.
2. O colégio apostólico.
Entende-se por “Colégio apostólico” o grupo dos 12
primeiros discípulos de Jesus, que foram convidados por Ele para dar início ao
seu ministério terreno. Primeiramente, Ele os fez discípulos ou seguidores.
Jesus foi o Apóstolo Líder do Grupo dos Doze. Ele foi enviado pelo Pai (Jo
20.21). Foram três anos aproximadamente, em que eles aprenderam as verdades de
Deus com o maior Mestre da História. Após o seu disci- pulado, aos pés de
Cristo, e o recebimento do batismo com o Espírito Santo (Lc 24.49; At 1.8),
aqueles 12 foram enviados para proclamar o evangelho,
ou as Boas-Novas de salvação (Lc 6.13). Eles constituíram a base ministerial
para o crescimento, o desenvolvimento e a expansão do Reino de Deus e da Igreja
de Cristo, por todo o mundo.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 72-73.
A escolha que Jesus fez dos doze discípulos que
gradualmente se reuniram ao seu redor é uma importante referência na história
do evangelho.
Tal ato divide o ministério do nosso Senhor em duas
partes provavelmente muito semelhantes quanto à duração, mas diferentes quanto à
extensão e a importância do trabalho realizado em cada uma. No período inicial
Jesjjs trabalhou sozinho; suas obras milagrosas estavam confinadas a uma área
limitada, e seu ensino era, em sua maior parte, de caráter elementar. Mas na
ocasião em que os doze foram escolhidos, a obra do reino "assumiu
dimensões que requeriam organização e divisão de trabalho. O ensino de Jesus
estava começando a ser de natureza mais profunda e elaborada, e suas atividades
beneficentes estavam crescendo muito.
E provável que a escolha de um número limitado de
discípulos para ser seus companheiros íntimos e constantes tenha se tornado uma
necessidade para Cristo, em conseqüência de seu próprio sucesso ao fazer discípulos.
Seus seguidores eram tão numerosos a ponto de serem um impedimento aos seus
movimentos, especialmente nas longas jornadas que marcam a parte posterior de
seu ministério. Era impossível que todos os que criam pudessem então continuar
a segui-lo de modo literal, para onde quer que Ele fosse: o grande número de
pessoas agora poderia ser apenas de seguidores ocasionais. Mas era seu desejo
que alguns homens escolhidos estivessem consigo em todos os momentos e em todos
os lugares — seus companheiros de viagem em todas as suas jornadas, testemunhando
toda a sua obra e ministrando às suas necessidades diárias. E assim, nas
palavras singulares de Marcos: “E subiu ao monte e chamou para si os que ele
quis; e vieram a ele. E nomeou doze para que estivessem com ele...”.
Estes doze, contudo, como sabemos, deveriam ser mais
que meros companheiros de viagem ou servos comuns do Senhor Jesus Cristo. Eles deveriam
ser, então, aprendizes da doutrina cristã, e ocasionais cooperadores das obras
do reino, e mais tarde agentes treinados, escolhidos por Cristo para propagar a
fé depois que Ele deixasse a terra. A partir do momento em que foram
escolhidos, de fato, os doze iniciaram um aprendizado regular para o grande
ofício do apostolado, no curso do qual deveriam aprender, na privacidade de um
relacionamento íntimo diário com seu Mestre, como deveriam ser, agir, crer, e
ensinar como suas testemunhas e seus embaixadores no mundo. Doravante o
treinamento desses homens deveria ser uma parte constante e proeminente da obra
pessoal de Cristo. Ele os orientava à noite a respeito do que deveriam falar de
dia, e falava aos seus ouvidos o que nos anos posteriores anunciariam
publicamente.
A ocasião em que ocorreu essa eleição (embora não se
conheça tal data com precisão) é fixa em relação a certos eventos-chave da
história do evangelho. João se refere aos doze como uma companhia organizada na
ocasião em que o Senhor realizou o milagre de alimentar mais de cinco mil
pessoas, e do discurso sobre o Pão da vida na sinagoga de Cafarnaum, proferido
pouco tempo após aquele milagre. Desse fato aprendemos que os doze foram
escolhidos pelo menos um ano antes da crucificação; pois o milagre da
multiplicação dos alimentos ocorreu, de acordo com o quarto evangelista, logo
após a festa da Páscoa. A partir das palavras ditas por Jesus aos homens que
havia escolhido, transmitindo a sua pergunta em relação à fidelidade devida a
ele depois da multidão tê-lo abandonado: “Não vos escolhi a vós os doze? E um
de vós é um diabo”, concluímos que a escolha não era tão recente. Os doze haviam
estado juntos durante tempo suficiente para dar ao falso discípulo a
oportunidade de mostrar o seu verdadeiro caráter.
Voltando agora aos evangelistas sinópticos,
encontramo-los tentando estabelecer a posição da eleição em referência a dois
outros eventos ainda mais importantes. Mateus fala pela primeira vez dos doze
como um corpo distinto em relação à sua missão na Galiléia. Ele não diz,
contudo, que foram escolhidos imediatamente antes e com referência direta a tal
missão. Antes, fala como se a fraternidade apostólica já existisse
anteriormente, sendo estas as suas palavras: “E, chamando os seus doze
discípulos...”
Lucas, por outro lado, faz um relato formal da eleição,
como um prefácio de seu relatório do Sermão ia Montanha, dando a impressão de que
um evento ocorreu logo após o outro5. Finalmente, a narrativa de Marcos
confirma o ponto de vista sugerido por essas observações de Mateus e Lucas,
isto é, os doze foram chamados pouco antes da realização do Sermão da Montanha,
e um tempo considerável antes de terem sido enviados em missão para pregar e
curar. Está escrito: “E subiu ao monte (t )6 e chamou para si os que ele quis”
— a subida obviamente se refere à ocasião em que Jesus subiu antes de pregar
seu grande discurso. Marcos continua: “E nomeou doze para que estivessem com
ele e os mandasse a pregar e para que tivessem o poder de curar as enfermidades
e expulsar os demônios”. Aqui há uma alusão feita a uma intenção da parte de
Crist® de enviar seus discípulos em uma missão, mas a intenção não é
representada e imediatamente executada. Nem pode ser dito que a execução
imediata esteja implícita, embora não tenha sido expressa; o evangelista faz um
relato da missão como consta em vários capítulos seguintes em seu Evangelho,
iniciando com estas palavras: “Chamou a si os doze, e começou a enviá-los de
dois a dois...”.
Deve ser considerado, então, como toleravelmente certo,
que o chamado dos doze tenha sido um prelúdio à pregação do grande sermão sobre
o reino, em cuja fundação eles teriam, posteriormente, uma participação ainda
mais distinta. Não podemos determinar com exatidão em que período do ministério
de nosso Senhor o sermão em si deve ser precisamente alocado. Nossa opinião,
contudo, é que o Sermão da Montanha foi proferido próximo ao primeiro
ministério prolongado de Cristo na Galiléia, durante o tempo passado entre as
duas visitas a Jerusalém em ocasiões de festas mencionadas no segundo e no
quinto capítulo do Evangelho de João.
O número da companhia apostólica é significativo e, sem
dúvida, uma questão de escolha, assim como a composição daquele grupo seleto. Um
número maior de homens elegíveis poderia ser facilmente encontrado no círculo
de discípulos que, mais tarde, não se tornou menor que setenta auxiliares na
obra evangelística9; e um número menor pode ter servido a todos os propósitos
presentes ou futuros do apostolado. O número doze foi recomendado por óbvias
razões simbólicas. Expressava de uma forma feliz e figurada o que Jesus
reivindicava ser e o que veio fazer e, deste modo, fornecia apoio à fé e
estímulo à devoção de seus seguidores. Isto sugeriu de forma significativa que
Jesus era o divino Rei messiânico de Israel, que veio para estabelecer o reino
cujo advento fora anteriormente previsto pelos profetas em linguagem fervorosa,
sugerida pelos dias de felicidade da história de Israel, quando a comunidade teocrática
existia em sua integridade, e todas as tribos da nação escolhida eram unidas
sob a casa real de Davi. Sabemos que o número doze estava designado a conter
tal significado espiritual através das próprias palavras de Cristo aos
apóstolos em uma ocasião posterior, quando, ao descrever as recompensas que os
esperavam no reino pelos serviços e sacrifícios prestados, Ele disse: “Em
verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho «do
Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze
tronos, para julgar as doze tribos de Israel”.
E possível que os apóstolos conhecessem muito bem a importância
espiritual do seu número, e tenham encontrado nele o encorajamento para a terna
e ilusória esperança de que a vinda do reino não deveria ser apenas um
cumprimento espiritual das promessas, mas uma restauração literal de Israel em
relação à sua independência e integridade política. O risco de tal equívoco era
um dos obstáculos relacionados ao número doze em particular, mas não foi
considerado por Jesus como uma razão suficiente para estabelecer outro. Seu
método de procedimento nesse caso, como em todas as coisas, era continuar o que
era verdadeiro e certo, e então corrigir os equívocos à medida que surgissem. Do
número do grupo apostólico passamos para as pessoas que o compõem. Sete dos
doze — os primeiros sete na lista de Marcos e Lucas, presumindo que Bartolomeu
seja Natanael — são pessoas já conhecidas por nós. Dois dos cinco restantes — o
primeiro e o último — conheceremos bem à medida que avançarmos na
história.Tomé, chamado Dídimo ou o Gêmeo, aparece como um homem de coração
terno, mas de temperamento melancólico, pronto para morrer por seu Senhor, mas
lento para crer em sua ressurreição. Judas Iscariotes e conhecido em todo o mundo
como o Traidor. Ele aparece pela primeira vez nessa lista de apóstolos com o
título infame marcado em sua testa: “Judas Iscariotes, aquele que o traiu”. A
presença de um homem capaz de trair entre os discípulos eleitos é um mistério
no qual não devemos tentar penetrar. Meramente fazemos aqui uma observação
histórica sobre Judas — ele parece ter sido o único não galileu entre os doze.
Seu sobrenome veio aparentemente de seu lugar de origem, Queriote; e no livro
de Josué podemos constatar que existia uma cidade com tal nome na fronteira do
sul da tribo de Judá.
Os três nomes que restam são extremamente obscuros. Em
bases familiares aos estudiosos da Bíblia, existem tentativas de identificar
Tiago, filho de Alfeu, com Tiago, o irmão ou parente do Senhor. O próximo na lista
de Mateus e Marcos é apontado por muitos como sendo o irmão deste Tiago, e
assim, possivelmente um outro irmão de Jesus. Esta opinião é baseada no fato
de, em lugar de Lebeu e Tadeu dos dois primeiros Evangelhos, encontrarmos na
lista de Lucas o nome Judas “... de Tiago”. A elipse nesta designação foi
preenchida pela palavra irmão, e presume-se que o Tiago aludido seja Tiago,
filho de Alfeu. Independentemente de quão tentador esses resultados possam ser,
não podemos considerá-los como apurados, e devemos nos satisfazer com a idéia
de que em meio aos doze havia um segundo Tiago, além do irmão de João e filho
de Zebedeu, e também um segundo Judas, que novamente aparece como um
interlocutor na conversa de despedida entre Jesus e seus discípulos na noite
anterior à crucificação, cuidadosamente distinguido do traidor, pelo
evangelista, através da anotação parentética: “não o Iscariotes”. Este Judas,
que é o próprio Lebeu ou Tadeu, foi chamado de discípulo de três nomes.
O discípulo a quem reservamos o último lugar, como
aquele que fica no topo de todas as listas, é Simão. Este segundo Simão é
desconhecido, enquanto o primeiro é notório, porque não é mencionado na
história do evangelho, exceto nas listas dos apóstolos; e assim, pouco se sabe
a respeito dele, o apelido anexado ao seu nome leva a uma informação curiosa e
interessante. Ele é chamado de kananita (não de cananita), o que é uma
designação política e não geográfica, como consta no termo grego que Lucas usou
para substituir o termo hebraico, chamando o discípulo do qual falamos de
Simão, o zelote. Este apelido, zelote, relaciona Simão indiscutivelmente ao
famoso partido que surgiu da rebelião sob a coordenação de Judas nos dias da
taxação14, aproximadamente vinte anos antes do mício do ministério de Cristo,
quando*a Judéia e Samaria ficaram sob o comando direto do governo de Roma, e o
censo populacional foi feito com a intenção de se impor uma tributação
subseqüente.
Que fenômeno singular foi a presença desse ex-zelote
entre os discípulos de Jesus! Dois homens não poderiam diferir mais em relação ao
seu espírito, metas, e pretensões do que Judas (o líder dos zelotes) e Jesus de
Nazaré. Um era um político descontente; o outro, completamente vencedor, daria
a César o que era de César. O primeiro desejava a restauração do reino de
Israel, adotando como lema: “Nós não temos um Senhor ou Mestre, exceto Deus”; o
segundo desejava a fundação do reino que não era nacional, e sim universal; não
deste mundo, e sim “puramente espiritual”. Os métodos empregados pelos dois
eram tão diferentes quanto os seus objetivos e fins. Um havia recorrido às
armas carnais de guerra, a espada e o punhal; o outro confiava apenas na força bondosa
e amável, porém onipotente, da verdade.
Não sabemos o que levou Simão a deixar Judas (o líder
dos zelotes) para seguir Jesus; mas ele fez uma troca feliz para si, pois anos
depois o partido que ele abandonou atraiu a ruína para si e seu país devido a
seu patriotismo fanático, inconseqüente e inútil. Embora a insurreição de Judas
fosse subjugada, o fogo do descontentamento ainda queimava no peito dos seus
adeptos; e com o tempo, eclodiu na fogueira de uma nova rebelião, que fez
surgir uma luta mortal contra o poder gigantesco de Roma, e terminou na
destruição da capital do judaísmo, e na dispersão do povo judeu.
A escolha desse discípulo para ser um apóstolo fornece
uma outra ilustração do desprezo de Cristo pela sabedoria humana. Não era
seguro transformar um ex-zelote em um apóstolo, porque ele poderia ser o meio
de transformar Jesus e os seus seguidores em objetos de suspeitas políticas.
Mas o Autor da nossa fé estava disposto a correr este risco. Ele desejava
ganhar tanto discípulos das classes perigosas como das classes desprezadas, e
queria que também estivessem representados entre os doze.
É uma surpresa agradável pensar que Simão, o zelote, e
Mateus, o publicano, homens de posições opostas, estivessem juntos e em
comunhão naquele pequeno grupo de doze pessoas. Na pessoa desses dois discípulos
os extremos se tocam — o ex-coletor de impostos e aquele que odiava os
impostos: o judeu que não era patriota, que havia se degradado ao se tornar um
servo do governante estrangeiro, e o judeu patriota, que se irritava com o
domínio estrangeiro, e suspirava pela emancipação.
Esta união dos opostos não era acidental, mas havia
sido designada por Jesus como uma profecia daquilo que aconteceria no futuro.
Ele desejava que os doze fossem a igreja em miniatura ou como o seu embrião; e
assim, Ele os escolheu para que a distinção entre publicanos e zelotes não
existisse, e então na igreja do futuro não deveria haver nem gregos nem judeus,
circuncisão ou incircuncisão, escravos ou livres, mas somente Cristo — Ele é
tudo em todos e todos estão nele. Estes eram os nomes dos doze conforme consta
nas listas dos evangelistas. Quanto à ordem são apresentados, examinando-se
cautelosamente as listas, podemos observar que elas contêm três grupos de
quatro pessoas, e em cada um deles os mesmos nomes são sempre encontrados, embora
a ordem não seja a mesma. O primeiro grupo inclui aqueles que são mais
conhecidos, o segundo inclui aqueles que são pouco menos conhecidos, e o terceiro
inclui aqueles que são os menos conhecidos de todos, exceto no caso do traidor,
que ficou muito bem conhecido. Pedro, a figura mais proeminente entre os doze,
está no topo de todas as listas, e Judas Iscariotes no rodapé, cuidadosamente
designado, conforme já foi observado, como o traidor. O rol apostólico, a
partir da ordem fornecida em Mateus, e empregando os cognomes característicos
da história do evangelho como um todo, é o seguinte:
PRIMEIRO GRUPO
Simão Pedro O homem de pedra
André Irmão
de Pedro
Tiago e João Filhos
de Zebedeu, e filhos do trovão
SEGUNDO GRUPO
Filipe O
inquiridor sincero
Bartolomeu ou Natanael O israelita em quem não havia dolo
Tomé O
melancólico
Mateus O publicano (assim chamado apenas
por si mesmo)
TERCEIRO
GRUPO
Tiago (filho) de Alfeu (Tiago
o menor? Marcos 15 .40)
Lebeu.Tadeu, Judas de Tiago O discípulo que tinha três nomes
Simão O
zelote
Judas, o homem de Queriote O traidor
Estes foram os homens que Jesus escolheu para o
acompanharem enquanto estivesse nesta terra, e para dar continuidade à sua obra
depois de sua partida. Estes são os homens que a igreja celebra como “a
companhia gloriosa dos apóstolos”. O louvor é merecido; mas a glória dos doze
não era deste mundo. Sob um ponto de vista mundano, alguns podem considerá-los,
de fato, uma companhia insignificante — um grupo de pobres e iletrados galileus
provincianos, totalmente desprezados, privados das características sociais mais
elevadas, com mínimas chances de serem escolhidos por alguém que valorizasse as
considerações da prudência.
Por que Jesus escolheu tais homens? Teria Ele sido
levado por sentimentos de antagonismo por aqueles que possuíam vantagens
sociais, ou uma predileção por homens de sua própria classe? Não; sua escolha foi
feita com base na verdadeira sabedoria. Se Ele escolheu principalmente os
galileus, não foi por preconceito provincial contra aqueles do sul; se, como
algumas pessoas pensam, Ele escolheu dois ou mesmo quatro de seu próprio
parentesco, não foi por nepotismo; se Ele escolheu homens rudes, ignorantes,
humildes, não foi movido pela inveja do conhecimento, da cultura, ou da boa
origem. Se qualquer mestre, homem rico, ou governante estivesse disposto a se
entregar sem reservas ao serviço do reino, nenhuma objeção teria sido feita a
ele em virtude de suas habilidades, posses ou títulos. O caso de Saulo de
Tarso, o pupilo de Gamaliel, prova a verdade dessa afirmação. Nem mesmo o
próprio Gamaliel poderia ter impedido que Paulo se tornasse um discípulo do Nazareno.
Mas sim! Nem ele nem nenhuma de suas ordens chegariam tão longe. Por esta razão
o desprezado Senhor não teve nenhuma oportunidade de mostrar sua disposição de
aceitá-los como díscípulos e escolhê-los como apóstolos.
A verdade é que Jesus quis se contentar com pescadores,
publicanos, e antigos zelotes como apóstolos. Eles eram o melhor que se poderia
obter. Aqueles que se consideravam melhores, eram também muito orgulhosos para
se tornarem discípulos, e por isso se excluíram do que o mundo considera agora
como a honra de serem os príncipes escolhidos do reino. A aristocracia civil e
religiosa se gabava de sua descrença. Os cidadãos de Jerusalém se sentiram, por
um momento, interessados no jovem entusiasta que havia purificado o templo com
um chicote de correias curtas; mas a fé deles era superficial e sua atitude era
defensiva, e por isso Jesus não se entregou a eles, porque sabia o que havia no
interior de cada um deles17. Alguns poucos eram simpatizantes sinceros, mas não
estavam decididos quanto ao seu ingresso na eleição para o apostolado.
Nicodemos mal era capaz de dizer uma tímida palavra apologética a favor de
Cristo, e José de Arimatéia foi um discípulo “secretamente”, por medo dos
judeus. Estes dificilmente seriam os homens certos para ser enviados como
missionários da cruz — homens tão presos aos laços sociais e conexões
partidárias, e tão escravizados pelo medo dos homens. Os apóstolos do
cristianismo devem ser feitos de material rígido.
E assim Jesus preferiu optar pelos homens da Galiléia:
rústicos, porém simples, sinceros e motivados. E Ele ficou bastante satisfeito
com sua escolha, e devotadamente agradeceu a seu Pai por ter-lhe concedido homens
como esses. Jesus não desprezaria a erudição, a posição, a riqueza, o requinte,
voluntariamente deixados em razão de seu serviço; mas preferia homens devotos
que não tivessem nenhuma dessas vantagens a homens não devotos que tivessem
todas elas. E com uma forte razão; isso importava muito pouco, exceto aos olhos
do preconceito contemporâneo, para o qual a posição social ou mesmo a história
prévia dos doze teria algum significado. O importante é que eram
espiritualmente qualificados para o trabalho que foram chamados a fazer. Ou
seja, o que importa não é o exterior do homem, mas o seu interior. João* Bunyan
foi um homem de origem simples, de posição inferior, e até à sua conversão tinha
hábitos pouco louváveis; mas era por natureza um homem capacitado e, pela
graça, um homem de Deus. Ele teria se tornado — como de fato foi — um dos
apóstolos mais eficientes.
A. B. BRUCE. O Treinamento dos Doze. Editora CPAD. pag. 44-54.
“Até que do alto sejais revestidos de poder”. Esta
expressão tem um som místico, e o seu sentido parece difícil de definir;
contudo, o sentido geral é, certamente, simples o bastante. Ela significou não
total ou principalmente um poder para operar milagres, mas justamente o que
Jesus tinha dito em seu discurso de despedida, antes de sua morte. Este poder que
vem do alto significa tudo o que os apóstolos receberiam através da missão do
Consolador — esclarecimento da mente, dilatação do coração, santificação de
suas faculdades e transformação de caráter, para tornálos espadas afiadas e
flechas polidas para subjugar o mundo à verdade; essas qualidades, ou o efeito
combinado delas, constituíram o poder que Jesus direcionou os onze a esperar. O
poder, portanto, era espiritual, não mágico; uma inspiração, não uma possessão;
um poder que não agiria como uma força fanática cega, mas que se manifestaria
como um espírito de amor e de uma consciência sã. Depois que o poder desceu, os
apóstolos não se tornaram menos racionais, porém mais racionais; não loucos,
mas sóbrios; não meros entusiastas inflamados e vazios, mas entusiastas
equilibrados, claros e dignos expositores da verdade divina, tal como o relato
de Lucas sobre o seu ministério. Em resumo, estavam prestes a ser diferentes
daquilo que foram no passado, e mais parecidos com o seu Mestre: e não mais
ignorantes, infantis, fracos, carnais, mas iniciados nos mistérios do Reino, e
habitualmente sob a direção do Espírito de graça e santidade.
Tal poder prometido era evidentemente indispensável
para que fossem bem-sucedidos. Os títulos oficiais não seriam o mais
importante, e sob certos aspectos poderiam ser vãos — apóstolos, evangelistas,
pastores, professores, governantes; as vestes clericais seriam vãs se a alma
dos onze não fosse vestida com esta peça de roupa do poder divino. Vãos, então,
e igualmente vãos agora. O mundo está prestes a ser evangelizado, não pelos
homens investidos com dignidades eclesiásticas e com peças de roupas
parcialmente coloridas, mas por homens que têm experimentado o batismo no
Espírito Santo, e que estão visivelmente imbuídos do poder divino da sabedoria,
amor e zelo. O poder prometido era indispensável, e também era, em sua
natureza, algo a ser simplesmente esperado. Os discípulos foram instruídos a esperar
até que viesse. Não deveriam tentar fazer nada sem ele, nem tentar alcançá-lo.
E foram sábios o suficiente para seguir as instruções. Entenderam completamente
que o poder era necessário, e que não poderia ser alcançado, mas que deveria
vir sobre eles. Nem todos são igualmente sábios. Muitos virtualmente assumem
que o poder do qual Cristo falou pode ser dispensado, e que, de fato, não é uma
realidade, mas uma quimera. Outros, mais devotados, acreditam no poder, mas não
na impotência do homem de investir-se dele por si mesmo. Estes tentam ganhar o
poder por meio de seu próprio trabalho, ou assumem para si e para outros uma
situação de frenesi e entusiasmo. O fracasso, mais cedo ou mais tarde, convence
essas pessoas de seus erros, mostrando que os resultados espirituais são
produzidos por algo mais do que eloqüência, intelecto, dinheiro e organização;
mostra, também, que o verdadeiro poder espiritual não pode ser produzido, como
faíscas elétricas, por fricção ou estímulo, mas deve, soberana e graciosamente,
vir do alto.
A. B. BRUCE. O Treinamento dos Doze. Editora CPAD. pag. 573-574.
Atos 1. 20. «...encargo...» Do termo grego aqui
traduzido assim é que se deriva o nosso moderno vocábulo «episcopado». Algumas
traduções dizem «bispado». O sentido básico é 0 de «supervisor» (no grego, se
deriva de «epí» e «skopeo»—literalmente, «ver de cima»). Pode ser
apropriadamente traduzido por «ofício», conforme se vê em I Ped. 2:12. O
sentido eclesiástico em que esse vocábulo pode ser usado é encontrado em I Tim.
3:1: «Fiel é a palavra: Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja».
Nesse capítulo da primeira epístola a Timóteo são descritos os deveres e as
qualificações dos anciãos e dos diáconos, aqueles que são os líderes das
igrejas cristãs locais. O ofício mais formal de «bispo», no sentido moderno,
como alguém que supervisiona um distrito de igreja, foi um desenvolvi- mento
posterior, em parte alguma ensinado nas páginas do N.T.
No que diz respeito a Judas Iscariotes, está em foco a
sua missão apostólica, conforme fica demonstrado por toda esta secção,
porquanto este trecho bíblico (Atos 1:15-26) descreve para nós como 0 ofício de
Judas Iscariotes foi assumido por outrem, a fim de que se completasse novamente
0 número de «doze» apóstolos. (Ver as notas expositivas, no décimo quinto
versículo deste capítulo, sobre o ofício apostólico;
ver também Mat. 10:1 a respeito). O vocábulo, por conseguinte, se reveste de um
sentido bem geral, podendo referir-se a qualquer dos diversos ofícios da
liderança das igrejas cristãs primitivas.
Atos 1. 25. (Quanto a notas expositivas sobre o
«apostolado» cristão, sobre suas exigências, sobre suas descrições e
propósitos, ver os trechos de Mat. 10:1 e Atos 1:15,21). Judas Iscariotes caiu
de seu elevadíssimo ofício apostólico e do destino associado ao mesmo, isto é,
dos lugares celestiais, além de outros serviços futuros especialmente
reservados para os apóstolos, sem falarmos no tremendo desenvolvimento
espiritual que capacitará os apóstolos a serem instrumentos especiais e
sem-par, no serviço eterno de Deus, tendo-se precipitado a uma posição de que
se tornara merecedor, embora fosse lugár de sofrimento e punição. (Quanto a
notas sobre o destino especial que têm os crentes, na qualidade de instrumentos
sem-par de Deus, no estado eterno, e como indivíduos sem igual em seu
desenvolvimento segundo a imagem moral e metafísica de Cristo, ver 0 trecho de
Apo. 2:17. Essa é uma daquelas exaltadas doutrinas cristãs que dizem respeito ao
futuro dos crentes, mas que raramente são mencionadas na igreja evangélica
moderna).
Ao invés de um destino sem-par, com Cristo, em glória
exaltada, Judas Iscariotes desceu ao seu lugar exclusivo de punição. A
expressão «...seu próprio lugar...» tem deixado perplexos a muitos intérpretes,
razão pela qual muitos sentidos diversos têm sido vinculados à mesma. Aqui
damos apenas um exemplo dessa variedade:
1. A maioria dos intérpretes pensa que está em foco
meramente a «geena» ou inferno. Citações rabínicas são apresentadas para
mostrar que essa expressão pode indicar simplesmente 0 sofrimento da punição
eterna, como Baal-Turim, sobre a passagem de Núm. 24:25 (e Gên. 31:55), onde 0
pervertido profeta Balaão é retratado como alguém que foi precipitado nesse lugar
de castigo, sobre o qual é asseverado que era 0 «seu próprio lugar». Outros
intérpretes, no entanto, negam que tal comentário bíblico tenha esse sentido; e
salientam que Inácio (Magn.v) se utilizou dessa exata expressão em seus
escritos, onde pode significar até mesmo um lugar de galardão. O citado
comentário de Inácio, contudo, longe de negar essa verdade, na realidade
confirma (já que se trata de um comentário acerca deste texto sagrado) que essa
expressão pode indicar 0 lugar de castigo eterno, merecido por todos aqueles
que ali são lançados. Policarpo (Phil, ix) expressa essa expressão para aludir
à recompensa especial dos mártires, que se vão para a companhia do Senhor
Jesus. (Quanto ao «inferno», expresso através desse termo, ver também Midrash
Kohelet, foi. 74.3; e Maimonides, Hilchot Chobel, cap. 8, secção 9).
2. Tal expressão, pois, seguindo-se os indícios
oferecidos sobre a primeira posição, acima, provavelmente visa aquele lugar
especial que alguém obtém para si mesmo, na vida após-túmulo, sem importar se
está em vista a recompensa nos lugares celestiais ou a punição eterna no hades
e na geena. Cada indivíduo merece a sua própria recompensa ou retribuição, e
esse galardão ou castigo é distintivo para cada pessoa. Assim sendo, foi dito
acerca de Judas Iscariotes que ele foi para aquele lugar de castigo
distintivamente seu, o «seu próprio lugar».
3. Isso significa, outrossim, que essa expressão
subentende certo grau de recompensa ou de castigo, e talvez até mesmo certa
diferença de local onde a recompensa ou o castigo são recebidos; e isso
concorda com a idéia paulina dos «lugares celestiais», que subentende uma
multiplicidade de. lugares. (Ver também as «multas» moradas, em João 14:1). Por
conseguinte, é lógico pensarmos que os mundos espirituais que fazem parte do
hades são uma multiplicidade de lugares, e não apenas um grande abismo profundo de horror. Dante, em sua famosa obra/4
Divina Comédia, pinta Judas Iscariotes nos lugares mais baixos do inferno; e
isso parece destacar o fato de que ali Judas tinha reservado um lugar especial,
o «seu próprio lugar».
4. Mas outros intérpretes, como Adam Clarke (in loc.),
negam que esteja aqui em vista, necessariamente, o castigo final no inferno.
Chegam mesmo ,a supor que o arrependimento de Judas Iscariotes, após ter traído
ao Senhor Jesus, foi genuíno, e que a misericórdia de Deus se estendeu até ele,
embora tivesse perdido para todo 0 sempre a sua posição apostólica. Há uma
minoria de expositores bíblicos que tem assumido essa posição. No que diz
respeito à declaração feita por Jesus: «...ai daquele por intermédio de quem o
Filho do homem está sendo traído! Melhor lhe fora não haver nascido!» (Mat.
26:24), supõe-se estar envolvida uma expressão judaica proverbial, que
subentendia as mais graves transgressões, embora não indique, necessariamente,
a condenação eterna. Não obstante, a maioria dos eruditos bíblicos não apóia
essa opinião.
5. Alguns estudiosos pensam que essa expressão indica o
estado dos mortos em geral, 0 que poderia estar subentendido em um trecho como
Ecl. 3:20, que diz: «Todos vão para o mesmo lugar; todos procedem do pó, e ao
pó tornarão».
6. Mas outros pensam que essa expressão alude a Matias,
recém-eleito ao ofício apostólico, e não a Judas Iscariotes; e pensam que esse
«lugar» especial seria o do apostolado. Assim opinaram Adam Clarke e John Gill
(in loc.).
7. Dr. M.R. De Haan, expositor popular pelas ondas de
rádio e em seus livretos de estudos bíblicos, que também foi autor de vários
volumes, um evangelista internacionalmente conhecido, especialmente nos Estados
Unidos da América do Norte, onde atuou por muitos anos, até que morreu com mais
de sessenta anos de idade, supunha que essas palavras, seu próprio lugar,
indicavam uma habitação .qualquer, e não a punição no inferno, pelo menos não um
castigo eterno, no qual Judas Iscariotes atualmente habitaria, mas do qual retornaria,
a fim de ser o futuro anticristo. Em outras palavras, reencarnado, ele ocuparia
o ofício de anticristo, voltando ao palco deste mundo em uma segunda missão
satânica. Trata-se, sem dúvida, de um pensamento assaz interessante. Pode estar
com a razão, embora não contemos com meios para asseverar ou negar a sua
veracidade. De Haan expressou essa opinião com base na observação de que tanto
Judas Iscariotes como o anticristo são chamados na Bíblica como «filho da
perdição», com exclusividade. (Ver João 17:12 e II Tes. 2:3). Também se
alicerçou na declaração de Cristo que o chamou de«diabo», não querendo dar a
indicar mera possessão demoníaca. (Quanto a uma discussão mais ampla sobre o
«anticristo», ver as notas expositivas referentes a II Tes. 2:3). (Essa teoria
foi exposta por De Haan em seu livro sobre 0 Apocalipse, págs. 183 e 184).
A verdadeira interpretação provavelmente é aquela que
combina a segunda e a terceira dessas posições. (Quanto a uma nota expositiva
completa sobre o «inferno», ver Apo. 14:11. Ver também as passagens de I Ped.
3:18-20 e 4:6).
O incidente inteiro mostra-nos até que ponto a fibra
moral de Judas Iscariotes havia sido destruída; pouco lhe restava da consciência.
Todavia, isso não foi algo que lhe tenha acontecido repentinamente—mas foi um
processo gradual, que provavelmente teve começo na infância.
Atos 1. 26. Esta história nos faz lembrar das práticas
do A.T. Por enquanto a igreja primitiva ainda não usava da imposição de mãos,
mas uma espécie de cerimônia que provavelmente vinha desde os tempos de Moisés.
O método de «lançar sortes» consistia em colocar pedras ou tabuinhas, com nomes
escritos, em um vaso, o qual era sacudido até que um deles caísse. Aquele cujo
nome estivesse nessa pedra ou tabuinha, era considerado como a pessoa escolhida
por Deus, porquanto pensava-se que de algum modo 0 Senhor Deus é quem causara
aquela ação particular. Não obstante, alguns estudiosos têm pensado que tudo
quanto se fazia em tais casos era «tomar um voto», o que seria uma antiga
expressão idiomática acerca do lançamento de sortes. No entanto, a maioria dos
intérpretes se tem manifestado contrariamente a essa noção, a qual, mui
provavelmente, apareceu como tentativa de «limpar» 0 texto sagrado, posto que
muitos cristãos modernos pensam que esse tipo de ação é muito estranho, posto
ser uma forma antiga de adivinhação.
«Interpretada à luz da oração que se fez, no vs. 24,
bem como pela palavra ‘caiu’, que aqui aparece, parece não restar dúvidas de
que a passagem fala sobre lançamento de ‘sortes’, e não sobre ‘votos’.» (E.H.
Plumptre, in loc.).
A literatura antiga revela-nos que essas práticas eram
extremamente comuns em outras culturas da época, como, por exemplo, entre os
gregos. A bem conhecida história do estratagema de Cresponto, na divisão do
território, após a invasão dos dóricos (Sófocles, Aias. 1285), é um exemplo
disso. A passagem de Pro. 16:33 reflete tanto essa prática como também à
confiança que Deus se utilizava desses meios para revelar a sua vontade: «A
sorte se lança do vaso, mas do Senhor procede toda a sua disposição». Isso pode
refletir um tipo de diferente modo de proceder, em que se punham várias sortes
dentro de um vaso; quando estas eram retiradas, as primeiras a saírem eram as
favorecidas, sem importar quais decisões estavam sendo tomadas.
No tocante a essa passagem, John Gill diz o seguinte(m
loc.): «...lançadas em seu colo, nas vestes de um homem, no seu seio, em seu
chapéu, capa, urna ou o que quer que tivesse no colo, de onde eram retiradas.
Essa prática era usada na escolha de líderes, tanto civis como eclesiásticos,
nas divisões de heranças e na determinação de casos duvidosos; também no
estabelecimento de contendas e para pôr fim aos conflitos e desentendimentos, 0
que, de outro modo, não se poderia conseguir...o juízo que se deveria fazer
mediante essa prática, acerca de pessoas ou de coisas...era assim dirigido por
Deus, de tal modo que (a sorte) caía sobre a pessoa certa, ou então ficava conhecido
aqui 0 que era o motivo da dúvida...Isso deveríamos atribuir não ao acaso cego
ou à sorte, ou à influência das estrelas, ou a qualquer ser criado invisível,
anjo ou demônio, e, «im, somente ao próprio Senhor. Pois não existe aquilo que
se convencionou chamar de sorte, e nem acontecimentos fortuitos; tais
ocorrências, ainda aquelas que parecem mais fortuitas ou contingentes, são
todas dispostas, ordenadas e governadas pela vontade soberana de Deus». (Isso
dizia John Gill referindo-se ao trecho de Pro. 16:31. Ver também o uso dessa
prática por parte de Aarão, em Lev. 16:8. Ver também Núm. 34:13; I Crô. 24:6;
João 1:17 e Luc. 1:9, referências bíblicas essas que mostram que a ordem
particular do serviço prestado pelos sacerdotes, isto é, quando e como haveriam
de servir, em suas várias capacidades no templo, era determinada por alguma
forma de sorte, quando se empregavam diversos sistemas possíveis, conforme fica
subentendido nas notas expositivas acima).
Outras alusões antigas a essa prática, fora da cultura
hebraica, são as seguintes: Lívio xxiii.3; Sófocles, Aias. 1285. Josefo
menciona igualmente tal prática, no trecho de Antiq. vi.5, havendo referências
à mesma nos antiqüíssimos escritos de Homero.
«...recair sobre Matias...» Sem importar qual método de
lançamento de sortes foi usado, 0 resultado é que Matias foi considerado
apóstolo por escolha divina, porquanto se aceitou o fato de que Deus havia
dirigido o salto da sorte para fora do vaso ou urna; ou que, no caso da mesma
haver sido retirada com a mão, de algum recipiente, que Deus orientara a mão
para que retirasse o nome escolhido pelo Senhor. Desse modo Matias tomou lugar,
junto com os outros onze apóstolos, no ofício apostólico.
Com base nessa circunstância, ficamos sabendo da grande
fé dos apóstolos na providência divina, e que eles não criam que as coisas
acontecem por acaso.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 3. pag. 38; 40-41.
Atos 21/22 Pedro constata inicialmente as exigências imprescindíveis
a um “apóstolo”. Um “apóstolo” é acima de tudo uma “testemunha da ressurreição
de Jesus”. A ressurreição de Jesus é – obviamente mediante ligação indissolúvel
com sua cruz! – o evento decisivo que realmente faz do evangelho um evangelho. Sem
o acontecimento do dia da Páscoa, o “cristianismo” jamais teria surgido no
mundo. Não teria significado extremo para nós e para o mundo todo o fato de que
o ser humano Jesus de Nazaré viveu, ensinou, curou, amou e sofreu, se esse
Jesus não tivesse sido despertado por Deus e transformado em seu “Senhor e
Cristo” (cf. At 2.32-36; 3.13-15; 4.10-12; 13.38s; 17.30s). Jesus foi
“designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela
ressurreição dos mortos” (Rm 1.4). Essa ressurreição dentre os mortos, contudo,
constitui ao mesmo tempo o “impossível”, o humanamente inconcebível e por isso
escandaloso, irritante e ridículo (At 17.32). Por isso o testemunho originário
do apostolado, fundador da igreja, somente pode ser prestado nesse mundo alienado
de Deus por aquela pessoa que presenciou pessoalmente o fato inaudito da
ressurreição de Jesus e que experimentou sua verdade. Essa ressurreição, porém,
não é um evento isolado em si. Jesus, e unicamente Jesus, é aquele que
ressuscitou dentre os mortos! E precisamente Jesus é, como o Ressuscitado, de
fato o Salvador glorioso de que os pecadores precisam. Por isso a testemunha de
sua ressurreição igualmente precisa ter conhecido bem a Jesus pessoalmente. No
entanto, ele não é “apóstolo” como pessoa isolada e solitária, mas – já
falávamos disso – unicamente como membro do grupo de apóstolos. Por isso
precisa ter estado em contado desde o início com esse grupo a que deverá
pertencer integralmente. Ele deve exercer o ministério “conosco”.
Atos 25 Expõem diante dele a necessidade de suas
preces. É o que podemos fazer na oração. Judas se demitiu da “vaga neste
ministério e envio”, para ir “para seu próprio lugar”, i. é, para a perdição. O
lugar vazio precisa ser preenchido e assumido por outro.
Atos 26 O Senhor deve decidir agora através do sorteio.
O texto não deixa inequivocamente claro se eles “lançam sortes por eles” (assim
traduz A. Schlatter) ou se fazem que os dois tirem a sorte. Seja como for, o
sorteio indicou Matias como aquele que foi eleito pelo Senhor, e “foi
acrescentado aos onze apóstolos” [NVI].
Portanto, tão vivos e múltiplos eram os acontecimentos
no começo da igreja! Pedro age a partir de si com sua própria autoridade. Na
igreja existem homens que a lideram. Mas então ele convoca a própria igreja
para agir, depois que lhe mostrou sobre o que deve dirigir sua atenção. E em
oração a igreja entrega a última decisão na mão do Senhor, recorrendo uma vez,
aqui no começo, ao método do sorteio. Não se implanta nenhum princípio, nem
“episcopal”, nem “democrático”, nem tampouco se estabelece um direito de gozar
constantemente da maravilhosa direção através do Senhor. De forma livre fez-se
justiça a tudo, conforme a respectiva situação demandava.
Às vezes se afirmou que apesar disso a igreja agiu com
precipitação. O décimo segundo apóstolo preparado pelo Senhor seria Paulo, por
cuja vocação a igreja deveria ter esperado. Porém, será que a igreja podia
esperar durante anos por algo incerto? Para isso ela teria necessidade de uma
instrução clara do Senhor. Sobretudo, porém, Paulo nunca se considerou entre os
“Doze”, aos quais diferencia expressamente de si em 1Co 15.5 como sendo um
grupo especial. Em sua característica numérica, os Doze se dirigiam a Israel.
Quem desejasse pertencer a eles de fato precisava ter vivenciado, como Pedro
está demandando aqui, a história especial de Deus no âmbito de Israel desde o
movimento de arrependimento desencadeado por João até o último desfecho na
ascensão de Jesus. Nesse sentido, Paulo não podia ser um apóstolo. Em vista disso,
Paulo se considerou pessoalmente uma exceção muito peculiar: 1Co 15.8-10. Ele
tinha consciência de ser um “apóstolo das nações”, embora, nessa tarefa, fosse
plena e integralmente um “apóstolo” – Paulo lutou com todas as forças pelo
reconhecimento de seu envio e autoridade apostólicos – mas não como um dos
“Doze”, que juntos exerciam seu ministério em Jerusalém, sobretudo em prol de
Israel.
Werner
de Boor. Comentário Esperança Atos. Editora
Evangélica Esperança.
O termo bispado (20) corresponde ao grego episcope, de
onde vem “episcopal”, e realmente significa “supervisão”. Um episcopos era um
supervisor. Finalmente, este substantivo, traduzido como “bispo”, foi atribuído
aos supervisores da igreja. E provável que a melhor tradução aqui seja “ofício”
(ASV).
As principais qualificações e funções de um apóstolo
estão declaradas nos versículos 21 e 22, pelo menos como entendidas por Pedro.
O escolhido para assumir o lugar de Judas deve ser alguém que tenha estado
associado com Jesus, desde o seu batismo por João até a sua ascensão. A
principal função do apóstolo é ser testemunha da ressurreição.
Dois homens foram indicados para esta posição: José
Barsabás, palavra aramaica que significa “filho do sábado”, e Matias (“presente
de Jeová”). Em seguida, os discípulos oraram pedindo a orientação divina na
escolha do candidato correto entre os dois. E, lançando-lhes sortes, caiu a
sorte sobre Matias, que assumiu o seu lugar com os onze apóstolos (26). “O
método empregado pelos judeus era o de colocar os nomes escritos em pedras
dentro de um recipiente e agitá-lo até que uma das pedras caísse”.52 Os
apóstolos tinham orado antes das suas indicações e também antes de lançarem
sortes? Não sabemos. Mas depois do Pentecostes, não se lê mais que os
discípulos tenham lançado sortes. O Espírito Santo, que passou a habitar em
cada um, guiava-os.
Ralph
Earle. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 8. pag. 213.
·...envio sohre wísupromessa de meu Pai...» A promessa
que se cumpriu 110 dia dc Pcntccoste, antecipa também, neste passo bíblico, a
declaração mais completa que se vê no livro d Atos. que Lucas tencionava
escrever, a fim de completar a sua obra cm dois volumes, que versa sobre as
origens do cristianismo (Lucas-Atos); e não c mesmo impossível que Lucas já
tivesse dado início a essa obra, em algum estágio preliminar. Este versículo é
paralelo a Atos 1:4-5. 8; 2:1-13. (Quanto a uma nota sobre O dia de Pentecoste.
ver Atos 2:1; quanto ao batismo do Espirito, ver I Cor. 12:13). A promessa feita pelo Pai, que é o próprio Espírito
Santo, não é claramente definida nos evangelhos sinópticos. mas podemos aceitar
o trecho de Luc. 11:13 como indicação sobre isso; e não há que duvidar que a
mensagem dc Joào Batista, na tradição evangélica mais primitiva, conforme nos é
dada cm Marc. 1:8 - «...mas ele vos batizará com o Espírito Santo...» · deve
scr compreendida como paralela à promessa aqui registrada. Trata-sc. por
conseguinte, da tradição evangélica mais remota. O evangelho de Joào a anuncia
de forma ainda mais clara. (Ver Joào 14:16 c 15:26). A ordem dada aos
discípulos dc sc demorarem cm Jerusalém, até que se cumprisse essa promessa, é
paralela à passagem dc Atos 1:4.
*...revestidos de poder...*Essa traduçào da AA
(·...revestidos...·) é um reflexo do
sentido original do grego, o que, cm algumas traduçftes, tem sido alterado para
«dotados«. A figura simbólica fala mais de revestir-se, porém, conforme
Aristófancs a empregou, no sentido de alguém estar vestido de «audácia·. Homero
falou dc sermos *vestidos de fortaleza*. Plutarco se referiu ao fato dc alguém
ser revestido de *nobreza e riqueza*. Em sua forma mais antiga, esse verbo era
simplesmente 0 mesmo usado para indicar alguém vestir suas roupas, mas o seu
significado se estendeu a ponto de significar qualquer maneira de alguém adquirir
atributos ou características especiais.
Ora, a característica cspccial que os mensageiros
cristàos necessitariam, a fim dc alcançarem succsso no progresso da prédica das
boas-novas, em um mundo completamente hostil, cra poder. Por eles mesmos jamais
poderiam convencer quem quer que fosse. Os homens haveriam de negar
imediatamente a história da ressurreição, sem nem ao menos admitirem
discussftcs a respeito, ou encontrariam alguma explicação lógica, racional ou
natural para o fenômeno. Outrossim, a regeneração nao pode ocorrer mediante
mera persuasão intelectual. Nenhuma alma pode vir à vida através dc meras
palavras. A doutrina celestial precisa estar constituída das realidades
celestiais. O Espírito Santo—Deus entre os homens—precisa estar presente, sc
qualquer resultado real tiver de ocorrer. As palavras do evangelho são
tão-somente veículos que esclarecem a operação do Espírito Santo, c essa
operação, nesta passagem, se caracteriza pela palavra *poder».
Uma palavra que traz o hálito do Espirito de Deus, traz pulcro em si mesma; e neste caso precisamos pensar em uma presença literal de Deus e em sua influencia, porquanto este versículo não pode ser posto de lado
como mera expressão poética sobre alguma verdade religiosa.
O apóstolo Paulo também empregou a metáfora do vestir,
conforme se >c na expressão do trecho de Gál. 3:27; «...de Cristo vos
revestistes...»; ou cm Efé. 4:24: «...vos revistais do novo homem...»; ou em I
Cor. 15:53,54: «...0 corpo mortal se revista da imortalidade...· (ver também II
Cor. 5:2-4). Somente Lucas c Paulo, cm todo o N.T. empregaram essa metáfora.
Dessa maneira, tal como uma veste que cobre o corpo inteiro se torna conspicua,
podendo ser vista por todos, assim também 0 Espírito Santo haveria de envolver
aos discípulos, emanando deles e convencendo aos incrédulos do mundo inteiro
sobre a veracidade da mensagem crista, levando os homens à conversão e
transformando-os à imagem de Cristo, o que c a mensagem central do evangelho de
Cristo. Ver as notas sobre isso cm Rom. 8:29 e Efé. 3:19.
A observação feita por Alford. neste ponto, é digna de
ser notada: «...(no tocante ao revestimento do Espírito Santo) tem isso aqui
seu sentido mais completo, de 'permanecer sobre alguém e caracteriza-lo*, tal
como uma veste faz com uma pessoa; isso, conforme Sticr assinala, é o vestuário
verdadeiro e completo para a nudez da queda». (Alford, in loc.).
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 247-248.
Lc 24. 49. O Jesus ressurreto tem o poder
para enviar o Espírito. Sua autoridade não é limitada como era durante os dias
do Seu ministério terrestre. A promessa de meu Pai é uma designação incomum do
Espírito Santo, e ressalta o lugar da promessa divina na Sua vinda. Os
discípulos não devem tentar a tarefa da evangelização com seus próprios parcos
recursos, mas, sim, devem aguardar a vinda do Espírito. O equipamento que Ele
forneceria é descrito de forma pitoresca em termos de os discípulos serem revestidos
de poder do alto. A nota de poder é significante, e do alto lembrava a eles (e
nos lembra também) qual é a fonte de todo o verdadeiro poder para a
evangelização.
I.
Howard Marshall. Atos. Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 322.
3. A singularidade dos doze.
A característica fundamental do apóstolo é ser alguém
que tem uma missão a cumprir, enviado por quem tem autoridade espiritual para
fazê-lo. Em seu discipulado, os doze apóstolos foram preparados para o
cumprimento da missão mais importante que um mortal poderia receber. Serem
embaixadores do Reino de Deus. Não poderiam ser pessoas desprovidas de
qualificações especiais. Eram homens comuns, humanamente detentores de virtudes
e defeitos, mas tiveram um treinamento aos pés do Mestre dos mestres. E
demonstraram possuir algumas qualidades especiais.
1) Foram
chamados por Jesus
Em seu ministério, Jesus teve muitos discípulos (Mt
8.21; 9.57-62). Mas, para cumprir a grande missão, Jesus selecionou apenas 12,
e lhes deu credenciais e poder para se tornarem apóstolos. “E, chamando a si os
seus doze discípulos...” (Mt 10.1a). Lucas anotou a eleição dos 12 dentre
muitos outros. Após passar uma noite inteira em oração a Deus, “chamou a si os
seus discípulos, e escolheu doze deles a quem deu nome de apóstolos” (Lc 6.12 —
grifo nosso).
2) Receberam
autoridade espiritual
Jesus “deu-lhes autoridade sobre os espíritos imundos,
para expulsarem, e para curarem toda sorte de doenças e enfermidades” (Mt 10.1;
Mc 3.15). Inicialmente, essa autoridade foi concedida aos doze. E, na Grande
Comissão, além de mandar que seus discípulos pregassem o evangelho por todo o
mundo, a toda a criatura, disse que os sinais e maravilhas haveriam de seguir a
todos os que nEle cressem. Não apenas aos doze, mas “aos que crerem”, ou seja,
a todos os seus discípulos (Mc 16.17, 18). E importante destacar que os doze
receberam dons sobrenaturais, antes que o Espírito Santo os colocasse à
disposição da Igreja.
3) Tinham
delegação de Cristo
Os 12 apóstolos não foram apenas “enviados”, mas
tiveram um mandato especial. Jesus lhes disse; “Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a
vós. E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito
Santo.
A autoridade delegada aos apóstolos foi tão grande, que
eles tinham poder para perdoar pecados ou retê-los. Jesus os enviou, do mesmo
modo como Ele fora enviado pelo Pai (Jo 20.21-23).
Podemos imaginar o que os doze sentiram, ao ouvir
aquelas palavras! Serem enviados por Cristo, e como Cristo o fora por seu Pai!
Os que entenderam bem a missão devem ter sentido o grande peso de sua
responsabilidade. Os que haviam sido pescadores, antes, podiam guardar as redes
e suspender a pescaria. Mas, uma vez feitos “pescadores de homens” (Mt 4.19; Mc
1.17), não poderiam suspender a missão. Os que outrora tinham outras atividades
não tinham como voltar atrás. O mundo nunca mais foi o mesmo depois de Cristo,
e depois que seus apóstolos começaram a cumprir a Grande Comissão (Mc 16.15).
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 73-74.
Eles foram convocados pessoalmente pelo Senhor.
Quem foram aqueles que Cristo ordenou para ser seus
apóstolos ou embaixadores; eram seus discípulos (v. 1). Ele os tinha chamado,
havia algum tempo, para que fossem discípulos, seus seguidores imediatos e
ajudantes constantes, e naquela ocasião Ele lhes disse que eles deveriam ser
pescadores de homens, promessa que Ele agora cumpria. Cristo normalmente
concede honras e graças em estágios; a luz de ambas, como a luz da manhã, brilha
cada vez mais. Durante todo o tempo, Cristo manteve esses doze:
1. Em uma situação de experiência. Embora conheça o ser
humano, e soubesse desde o início o que havia neles (Jo 6.70), ainda assim Ele
usou este método para dar um exemplo à sua igreja. Observe que sendo o
ministério uma grande responsabilidade, era conveniente que os homens fossem
testados durante algum tempo, antes que ele lhes fosse confiado. “E também
estes sejam primeiro provados” (1 Tm 3,10). Portanto, “a ninguém imponhas precipitadamente
as mãos” (1 Tm 5.22), mas deixai que esta pessoa seja, primeiramente, observada
como um candidato em experiência, porque os pecados de alguns homens vão
adiante, e outros os seguem.
2. Em uma condição de preparação. Todo o tempo Jesus
esteve preparando-os para esta grande obra. Observe que aqueles que Cristo
designa e chama para qualquer serviço, Ele primeiramente, de certa maneira, os
prepara e qualifica, para tanto. Ele os preparou: (1) Levando-os para estar com
Ele. Observe que o melhor preparativo para a obra do ministério é o
conhecimento e a comunhão com Jesus Cristo. Aqueles que o servem devem estar com Ele (Jo 12.26). Paulo teve Cristo revelado, não somente para ele, mas nele,
antes que fosse pregá-lo entre os gentios (GI 1.16). Pelos atos vivos de fé e
pela prática freqüente de orações e meditações, esta comunhão com Cristo deve
ser mantida e preservada, e essa é uma qualificação essencial para a obra do
ministério. (2) Ensinando-os. Eles estavam com Ele como alunos, e Ele os
ensinava em particular, além do benefício que eles obtinham com a sua pregação
pública. Ele lhes abriu as Escrituras e ampliou sua compreensão para entenderem
as Escrituras. Foi-lhes permitido conhecer os mistérios do Reino dos céus e
para eles estes mistérios foram esclarecidos. Aqueles que são designados para ser
professores devem, antes, ser aprendizes; eles devem receber, antes que possam
dar; eles devem ser capazes de ensinar outros (2 Tm 2.2). As verdades do Evangelho
devem ser entregues a. eles, antes que sejam encarregados de ser ministros do
Evangelho. Dar a autoridade de ensinar a homens que não têm capacidade para
isto não é nada mais que uma zombaria a Deus e à igreja; é mandar mensagens
pelas mãos de um tolo (Pv 26.6). Cristo ensinou os seus discípulos antes de
enviá-los (cap. 5.2), e depois, quando ampliou a missão deles, deu-lhes
instruções mais amplas (At 1.3).
Qual foi a comissão que Ele lhes deu.
1. Ele os chamou para que viessem até Ele (v. 1).
Ele os tinha chamado antes, para que o seguissem; agora
Ele os chama para que venham até Ele, admitindo-os a uma familiaridade maior, e
não mais os conservando a uma certa distância, de onde eles tinham observado
até então. Aqueles que se humilharem, serão exaltados. Dizia-se que os
sacerdotes, sob a lei, aproximavam-se de Deus mais que as outras pessoas; a
mesma coisa pode ser dita sobre os ministros do Evangelho; eles são cha mados a se aproximarem de Cristo, o que, assim como é uma
honra, também deve lhes provocar um certo respeito e temor. Lembremo-nos de que
Cristo será santificado naqueles que se aproximam dele. Percebe-se que quando
os discípulos iam receber instruções, eles se aproximavam de Jesus por sua
própria vontade (cap, 5.1). Mas agora que eles seriam ordenados, Ele os chamou.
Convém aos discípulos de Cristo que se predisponham mais
a aprender do que a ensinar. No sentido da nossa própria ignorância, devemos
procurar oportunidades de sermos ensinados, e da mesma maneira nós devemos esperai'
por um chamado, um chamado claro, antes de assumir a responsabilidade de
ensinar aos outros; pois nenhum homem deve apropriar-se dessa honra,
2. Ele lhes deu poder, exousian, autoridade no seu nome,
para convocar os homens à obediência, e para a confirmação daquela autoridade
que também coloca os demônios sob sujeição. Toda a autoridade legítima deriva de
Jesus Cristo. Todo o poder é dado a Ele, sem limites, e os poderes subordinados
são ordenados por Ele.
Ele coloca sobre os seus ministros um pouco da sua honra,
assim como Moisés colocou um pouco da sua honra sobre Josué. Note que é uma
prova inegável da plenitude do poder que Cristo usava como Mediador o fato de que
Ele pudesse distribuir o seu poder àqueles a quem Ele usava, e os capacitasse a
realizar, em seu nome, os mesmos milagres que Ele realizava. Ele lhes deu poder
sobre os espíritos imundos, e sobre todos os tipos de enfermidades.
Observe que o desígnio do Evangelho é vencer o mal e
curar o mundo. Estes pregadores foram enviados, destituídos de todas as
vantagens externas que os pudessem recomendar. Eles não tinham riqueza, nem aprendizado,
nem títulos honoríficos, e eram muito poucos; portanto, era essencial que eles
tivessem algum poder extraordinário que os colocasse acima dos escribas.
(1 ) Ele lhes deu poder contra os espíritos imundos, para
expulsá-los. Observe que o poder entregue aos ministros de Cristo está
diretamente apontado contra o diabo e o seu reino. O diabo, sendo um espírito
imundo, trabalha tanto em erros doutrinários (Ap 16.13) como em concupiscências
(2 Pe 2.10); e, nos dois casos, os ministros têm uma acusação contra ele.
Cristo lhes deu o poder de expulsá-lo dos corpos das pessoas; mas isto deveria significar
a destruição do reino espiritual do diabo, coma também de todas as suas obras;
para este propósito, o Filho de Deus se manifestou.
(2) Ele lhes deu poder para curar todos os tipos de enfermidades.
Ele os autorizou a realizar milagres para a confirmação da sua doutrina, para
provar que ela era de Deus; e eles deviam realizai1 milagres úteis para exemplificá-la,
para provar que ela não apenas era confiável, mas digna de toda a aceitação;
que o desígnio do Evangelho é curar e salvar. Os milagres de Moisés eram, muitos
deles, para a destruição. Os milagres que Cristo realizou, e designou aos seus
apóstolos que realizassem, eram todos para a edificação, e evidenciavam que Ele
era não apenas o grande Professor e Governante, mas também o grande Redentor do
mundo. Observe que a ênfase é colocada sobre a extensão do seu poder, sobre
toda enfermidade, e todo mal, sem a exceção nem mesmo daqueles que são
reconhecidamente incuráveis, e com a censura dos médicos, Na graça do
Evangelho, existe uma pomada para cada ferida, um remédio para cada doença. Não
existe doença espiritual tão maligna, tão inveterada, mas existe suficiência de
poder em Cristo para a sua cura. Que ninguém, portanto, diga que não existe
esperança, ou que a brecha é tão grande quanto o mar a ponto de não poder ser
curada.
O número e os. nomes daqueles que foram Eles foram feitos
apóstolos, isto é, mensageiros. Anjo e apóstolo, as duas palavras significam a
mesma coisa, alguém enviado em uma missão, um embaixador. Todos os ministros
fiéis são enviados por Cristo, mas aqueles que foram primeira e imediatamente enviados
por Ele, são eminentemente chamados de apóstolos; os primeiros-ministros de
estado no seu reino. Mas isto foi apenas a parte inicial do seu trabalho; quando
Cristo ascendeu aos céus é que Ele deu alguns para apóstolos (Ef 4.11). O
próprio Cristo é chamado de apóstolo (Hb -3.1), pois foi enviado pelo Pai, e
também os enviou (Jo 2.21). Os profetas eram chamados de mensageiros de Deus.
1. Eles eram doze, uma referência ao número de tribos de
Israel, e aos filhos de Jacó, que eram os patriarcas dessas tribos. A Igreja do
Evangelho é o Israel de Deus; os judeus foram os primeiros convidados a entrar nela;
os apóstolos foram os pais espirituais, para gerar uma semente para Cristo. O
Israel que segue a carne deve ser rejeitado pela sua infidelidade; estes doze,
portanto, são nomeados para ser os pais de outra nação de Israel. Estes doze,
pela sua doutrina, deverão julgar as doze tribos de Israel (Lc 22.30). Eles
eram as doze estrelas que constavam da coroa da igreja (Ap 12.1), os doze
fundamentos da nova Jerusalém (Ap 21.12,14), caracterizados pelas doze pedras
preciosas no peitoral de Arão, os doze pães na mesa dos pães da proposição, as doze
fontes de água em Elim. Este era aquele famoso tribunal (e para torná-lo um
grande tribunal, Paulo foi acrescentado a ele) que foi nomeado para analisar a
situação entoe o Rei dos reis e toda a humanidade. E, neste capítulo, os
membros deste tribunal recebem a responsorialidade que lhes é dada por aquele a
quem todo o julgamento foi confiado.
2. Os seus nomes são aqui registrados, e isto é feito para
a honra deles. Até nisto eles tinham mais razões para se alegrar, porque os
seus nomes estavam escritos nos céus (Lc 10.20), enquanto os nomes dos
arrogantes e poderosos da terra são enterrados na poeira. Observe:
(1) Dos doze apóstolos, há alguns sobre os quais as Escrituras
não nos informam nada além dos seus nomes, como Bartolomeu e Simão, o zelote; e
ainda assim eles foram servos fiéis a Cristo e à sua igreja. Observe que nem
todos os bons ministros de Deus são igualmente famosos, nem os seus atos são
comemorados da mesma maneira,
(2) Eles são nomeados em pares; pois no início assim foram
enviados, porque dois é melhor que um; um serviria ao outro, e juntos serviriam
melhor a Cristo e às almas; o que um deles esquecesse, o outro lembraria, e da boca
de duas testemunhas todas as palavras se estabeleceriam.
Três dos pares eram compostos de irmãos: Pedro e André,
Tiago e João, e o outro Tiago e Lebeu. Observe que a amizade e o companheirismo
devem ser mantidos nas relações, e devem ser
úteis à religião. É algo excelente quando irmãos de sangue são irmãos pela graça,
e estes dois laços fortalecem cada um deles.
(3) Pedro é nomeado em primeiro lugar, porque ele foi o
primeiro a ser chamado ou porque ele era o mais entusiasmado deles, e em todas
as ocasiões ele se fazia a voz dos demais, e além disso ele seria o apóstolo da
circuncisão.
Mas isso não lhe deu nenhum poder sobre os demais
apóstolos, nem existe a menor marca de que qualquer supremacia lhe tenha sido
dada, ou mesmo reivindicada por ele, neste grupo sagrado.
(4) Mateus, o escritor deste Evangelho, aqui se une a
Tomé (v. 3), mas em dois aspectos existe uma diferença entre este relato e os
de Marcos e Lucas (Mc 3.18; Lc 6.15), onde Mateus é citado em primeiro lugar;
nesta ordem, ele parece ter sido ordenado antes de Tomé; mas aqui, na sua
própria lista, Tomé é nomeado em primeiro lugar. Observe que é muito apropriado
que os discípulos de Cristo desejem, uns aos outros, que estejam em honra.
Nos livros de Marcos e Lucas, ele é chamado somente de
Mateus; aqui, de Mateus, o publicano, o cobrador de impostos, que foi chamado
daquele emprego infame para sei um apóstolo. Bom é que aqueles que são
promovido » à honra com Cristo, olhem para a rocha de onde foram cortados;
freqüentemente para se Lembrarem do que eram antes que Cristo os chamasse, para
que dessa maneira possam se conservar humildes, e para que a graça divina possa
ser glorificada cada vez mais. Mateus, o apóstolo, era Mateus, o publicano.
(5) Em algumas versões em inglês, Simão é chamado de “o
cananeu” , um homem de Caná da Galiléia, onde provavelmente nasceu; aqui ele é
chamado de Simão, “o zelote”, que alguns interpretam como sendo o
significa" do de “cananeu”.
(6) Judas Iscariotès é sempre citado por último, e com
aquela marca negra sobre o seu nome, “aquele que o traiu”; o que dá a entender
que, desde o início, Cristo sabia quão infeliz aquele homem era, e também que
tinha um demônio, e que provaria ser um traidor; ainda assim, Cristo o recebeu
entre os apóstolos, para que não fosse uma surpresa e um desencorajamento para
a sua igreja se, em alguma ocasião, os escândalos mais desprezíveis acontecessem
nas melhores sociedades. Estas manchas têm estado nas nossas festas de
caridade; joio em meio ao trigo, lobos junto às ovelhas; mas se aproxima o dia
da descoberta e da separação, quando os hipócritas serão desmascarados e
lançados fora. Nem o apostolado, nem os demais apóstolos, foram piores por
Judas ter sido um dos doze, enquanto a sua maldade estava oculta.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 118-120.
Mt 10.1. Os seus doze discípulos (touç ôcÓôékcí
|j,a0r|Tàç oarroO). Na primeira vez que Mateus menciona o grupo dos
“aprendizes”, usa o artigo para mostrar que o grupo já estava estabelecido (ver
Me 3.14-17). Foram escolhidos antes do Sermão do Monte, mas Mateus não cita
este fato. Marcos (3.13-19) e Lucas (6.12-16) declaram que Jesus os escolheu ou
nomeou depois de uma noite de oração e desceu com eles a certo lugar plano do
monte para entregar o Sermão do Monte (Lc 6.17).
Deu-lhes poder “Poder” (Moffatt, Goodspeed). Ficamos um
tanto surpresos que Mateus só fale sobre o trabalho de cura, ao passo que Lucas
fala sobre “pregar o Reino de Deus” e “curar os enfermos” (Lc 9.2). E Mateus
diz: “E, indo, pregai” (Mt 10.7). Por conseguinte, não é justo dizer que Mateus
só soubesse da incumbência de curar os enfermos, por mais importante que fosse
como sinal de que Jesus era o Cristo. A aflição física era grande, mas a
espiritual era maior. Poder é a ideia mais provável aqui. O ministério de cura
chamava a atenção e fazia muito bem. Hoje, temos hospitais, médicos e
enfermeiras. Mas não neguemos o poder de Deus para abençoar essas agências e
curar doenças como ele quiser. Jesus ainda é o Mestre da alma e do corpo, mas a
fé inteligente não se priva de buscar a ajuda de médicos experientes.
A.
T. ROBERTSON. Comentário Mateus &
Marcos. À Luz do Novo Testamento Grego. Editora CPAD. pag.
115-116.
O termo grego proskaléo quer dizer “chamar para junto
de si”, “avocar”. É o mesmo termo usado por Marcos, ao passo que Lucas emprega
a palavra synkaléo, isto é, “convocar”. A partir do termo usado por Lucas,
“Jesus convocou”, deve-se deduzir que não se deve exagerar a ideia de que Jesus
e o discípulos sempre viviam juntos, sem que às vezes a convivência fosse
interrompida de dia ou de noite por breves separações ou ausência de alguns. Em
Cafarnaum moravam, em casas diferentes, Pedro e André, os filhos de Zebedeu e o
publicano Mateus. Quando, pois, Jesus queria dizer algo a todos em conjunto,
precisavam ser reunidos para esse fim. Isso acontece agora de modo solene.
Jesus chama os doze para junto de si. Antes de
iniciarem seu serviço, seu serviço missionário, eles têm de chegar primeiro ao
Senhor, a fim de receberam dele a vocação e a autorização. Somente depois disso
poderão cumprir sua missão, sua tarefa, somente então poderão ir às pessoas.
Isso é digno de nota. O envio somente é possível a partir da vocação pessoal.
Quando não existe a vocação pessoal, o envio paira no
ar. Somente por meio do próprio Senhor o envio adquire fundamento, poder e
objetivo. A partir de agora os doze são um conceito definido, uma unidade, a
tal ponto que a designação “os doze” continuou sendo usada mesmo depois da saída
de Judas. O número “doze” tem um sentido profundo. A aliança antiga estava
alicerçada sobre as doze tribos de Israel. A nova aliança deveria ser
construída sobre os doze apóstolos. – Do mesmo modo como o sumo sacerdote
trazia sobre o peito de sua vestimenta litúrgica os nomes das doze tribos,
assim Jesus, o novo e verdadeiro sumo sacerdote, carrega no coração os nomes
dos doze apóstolos. – O Apocalipse de João fala das doze portas da nova
Jerusalém, sobre as quais estão inscritos os nomes das doze tribos. Entre cada
par de portas encontra-se uma imponente pedra retangular como fundamento do
muro da cidade, e sobre cada uma dessas pedras está escrito com letras
luminosas o nome de cada um dos apóstolos (Ap. 21.12ss). Desse modo está
assegurada a unidade da Antiga e da Nova Aliança. Na vocação dos doze, essa
unidade ficou documentada (ao convocar os doze, Jesus estabelece sua
reivindicação sobre todo o povo de Israel!).
No contexto judaico, a máxima demonstração de poder é
realizar milagres. É com isso, pois, que inicia a incumbência do Senhor Jesus
aos apóstolos. Os demônios terão de obedecer aos apóstolos por causa de sua
autoridade apostólica, e de fato lhes obedecerão por causa de seu poder
apostólico.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica
Esperança.
Lc 6. 12. Nós o temos nomeando seus acompanhantes
imediatos como sua família, que deveriam
ser constantes ouvintes da sua doutrina e testemunhas oculares de seus milagres
- para que no futuro pudessem ser enviados como apóstolos, seus mensageiros
para o mundo, para pregar seu Evangelho e estabelecer nele a sua igreja, v. 13.
Depois que Ele havia permanecido a noite toda em oração, poder-se-ia pensar que
quando fosse dia, Ele descansaria e dormiria um pouco. Mas não foi assim. Logo
que amanheceu, Ele “chamou a si os seus discípulos”. Servindo a Deus, nossa
grande preocupação deveria ser não perder tempo, mas fazer, do fim de um bom
trabalho, o início de outro. Os ministros cristãos devem ser ordenados mais com
oração do que com simples solenidades. O número de apóstolos era doze: Ele
“escolheu doze deles”. Os seus nomes estão registrados aqui é a terceira vez
que nós os encontramos, e em cada uma das três passagens a ordem deles difere.
Este exemplo serve para ensinar tanto aos ministros quanto aos cristãos em
geral a não serem exigentes quanto à primazia, nem ao dá-la nem ao recebê-la,
mas olhar para ela como algo sem importância; não importa quem seja mencionado primeiro,
e quem seja mencionado depois. Aquele que em Marcos é chamado Tadeu, e em
Mateus “Lebeu, apelidado Tadeu”, é aqui chamado de “Judas, filho de Tiago”, o
mesmo que escreveu a epístola de Judas. Simão é chamado de “Simão, chamado
Zelote”, talvez por seu grande zelo pela religião. No tocante a esses doze aqui
nomeados nós temos razão para dizer, como a rainha de Sabá disse dos criados de
Salomão: “Bem-aventurados os teus homens, e bem-aventurados estes teus servos, que
estão sempre diante de ti e ouvem a tua sabedoria!”
Homem nenhum havia sido tão privilegiado como estes, e
ainda assim um deles tinha um demônio, e demonstrou ser um traidor (v. 16).
Apesar disso, quando o escolheu, Cristo não se enganou a respeito dele.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 563.
Lc 6.13. Jesus passou a noite nas montanhas, vigiando
em oração. Mais de uma vez Lucas salientou essa necessidade íntima que o
Redentor tinha de orar, que com freqüência impelia Jesus a lugares ermos (Lc
4.42; 5.16). Contudo os termos aqui utilizados contêm uma ênfase muito
especial. A palavra “vigiar por toda a noite” ocorre unicamente aqui.
A escolha dessa expressão incomum, bem como a forma
verbal analítica (imperfeito e particípio), destacam a persistência determinada
e incessante dessa vigília noturna. A expressão proseuché tou theou,
literalmente “oração de Deus”, é também única no Novo Testamento. Essa
formulação não designa nenhum pedido peculiar, mas um estado da mais profunda
devoção na presença santa e direta de Deus, uma invocação que transita para a
mais íntima comunhão com Deus. Durante essa noite Jesus apresentou a Deus sua
obra no estágio decisivo em que ingressara naquele momento, aconselhando-se com
ele. Durante essa longa luta de oração, por toda a noite, Jesus provavelmente
havia apresentado todos os seus discípulos individualmente a seu Pai, para que
o Pai designasse aqueles que o Filho deveria tornar emissários da salvação. O
que será que os discípulos, que haviam se ajuntado em grande número em torno de
Jesus, sentiram quando Jesus, como um general, chamou um por um do meio deles,
até que ficasse completo o número dos doze?
“Simão”, começou ele. Com quanta expectativa cada novo
nome era aguardado! Com que estremecimento cada um ouvia, então, o chamado do
próprio nome. Dentre o grupo de discípulos “ele escolheu os doze”, “aos quais
também chamou de apóstolos”. Isso é significativo. Os demais discípulos tiveram
de tolerar que esses doze obtivessem uma posição especial do Senhor. O Redentor
os havia escolhido em virtude de ordem divina. Deus é soberano.
Os discípulos não têm outra opção a não ser obedecer a
esse Senhor extraordinário. “Chamou-os a si”. Mas, se desejou aqueles que o Pai
lhe concedeu, de agora em diante sabemos a quem recorrer quando desejamos
chegar ao Pai. Porque ele os “ordenou” para duas finalidades.
1) Primeiramente, devem estar junto dele. Devem
perseverar com ele em suas tentações até chegarem ao Getsêmani; afinal, devem
tornar-se testemunhas dele até os confins do mundo (At 1.8). Precisavam
conhecer suas “horas silenciosas”, conviver com ele no dia-a-dia, observar seu
trabalho, obter uma visão dos mistérios de sua sabedoria de educador, e até
mesmo familiarizar-se com os objetivos de sua ação. 2) O segundo aspecto é que
eles partilharão de sua autoridade. Dessa maneira ele providencia, de certo
modo, pernas e pés, línguas e lábios que levem adiante sua obra.
Mateus relata a convocação e o credenciamento dos
apóstolos em uma ocasião (Mt 10.1ss), e Lucas o faz em dois trechos, mais
precisamente como segue: de acordo com Lucas, o primeiro passo de Jesus foi
nomeá-los, provavelmente para que passassem a ser seus alunos de modo especial.
Isso aconteceu aqui em Lc 6.12-16. A capacitação é relatada em Lc 9.1-6, onde
Jesus lhes confere a autoridade para servir como apóstolos. O relato mais
preciso indica que esse deve ter sido o processo. Mateus reúne em uma só
ocasião as duas ações de Jesus. Isso tem a ver com sua característica de
enfatizar tão-somente o aspecto doutrinário e fundamental.
Dessa forma o Redentor obteve, portanto, um grupo de
auxiliares para sua obra. Ele, o maravilhoso canal da poderosa benignidade de
Deus, fora multiplicado por doze. Mas de antemão os doze não obtiveram nem
poder nem incumbência para a ação espiritual propriamente dita.
Quanto ao título “apóstolo”, cf. o exposto no
Comentário Esperança, Marcos, sobre Mc 3.13-19, bem como Jo 17.18; 20.21; At
1.8. Essas passagens não devem levar à conclusão que a tarefa dos apóstolos
consistia tão somente em ser testemunhas de Jesus. O próprio nome expressa
mais, cf. 2Co 5.20: “Somos mensageiros de Cristo… e rogamos que vos
reconcilieis com Deus.”
Com a escolha dos doze estava organizada a obra de
Jesus. Passou do estágio de fenômeno local e isolado para o estágio de
instituição que abrange e cuja intenção arrebata povos e épocas. A obra do
Senhor obteve um solo histórico firme e uma perspectiva clara para o futuro,
com todas as suas esperanças e todos os seus perigos.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica Esperança.
Lc 6.13. Ao amanhecer, Jesus chamou a si os seus
discípulos. Deve tratar-se de um grupo de pessoas que se ligaram a Ele de modo
informal.
Um discípulo era um aprendiz, um estudante. No século
I, o estudante não estudava simplesmente uma matéria; estudava com um mestre.
Há um elemento de ligação pessoal no “discípulo” que falta no “estudante.” Deste
grupo maior de aderentes, Jesus escolheu doze. Este é o número das tribos de
Israel, número este que significa que Jesus estava estabelecendo o povo de
Deus, o verdadeiro Israel. Em Jesus e nos Seus seguidores “as pessoas podiam
ver uma dramatização do quadro vétêrotestamentário de Deus trazendo as doze
tribos de Israel à terra prometida” (Tinsley). Jesus nunca estabeleceu uma
organização. Estes doze homens representam a totalidade da Sua máquina
administrativa. Alguns deles eram claramente homens de destaque, mas, de modo
geral, parecem ter sido nada mais do que medianos. A maioria deles deixou
pouquíssimas marcas na história da igreja. Jesus preferia operar, naqueles
tempos como também agora, através de pessoas perfeitamente comuns.
A estes doze Jesus deu o nome de apóstolos. 0 termo é
derivado do verbo “enviar" e significa “uma pessoa enviada ” “um
mensageiro.” Lucas emprega a palavra seis vezes (com mais vinte e oito em
Atos), ao passo que cada um dos demais Evangelistas a emprega uma só vez (é
possível que Marcos a tenha duas vezes, dependendo da solução de um problema
textual).
Nos Evangelhos, o grupo usualmente é referido
simplesmente como “os doze.” Marcos explica que Jesus os escolheu “para estarem
com ele e para os enviar a pregar, e a exercer a autoridade de expelir
demônios” (Mc 3:14-15). Esta expressão ressalta a noção de missão e a
centralidade da pregação na sua função.
Leon L. Morris. Lucas. Introdução
e Comentário.
Editora Vida Nova. pag. 118-119.
Andaram com
Jesus durante todo o seu ministerio.
As principais qualificações e funções de um apóstolo
estão declaradas nos versículos 21 e 22, pelo menos como entendidas por Pedro.
O escolhido para assumir o lugar de Judas deve ser alguém que tenha estado
associado com Jesus, desde o seu batismo por João até a sua ascensão. A
principal função do apóstolo é ser testemunha da ressurreição.
Dois homens foram indicados para esta posição: José
Barsabás, palavra aramaica que significa “filho do sábado”, e Matias (“presente
de Jeová”). Em seguida, os discípulos oraram pedindo a orientação divina na
escolha do candidato correto entre os dois. E, lançando-lhes sortes, caiu a
sorte sobre Matias, que assumiu o seu lugar com os onze apóstolos (26). “O
método empregado pelos judeus era o de colocar os nomes escritos em pedras
dentro de um recipiente e agitá-lo até que uma das pedras caísse”.52 Os
apóstolos tinham orado antes das suas indicações e também antes de lançarem
sortes? Não sabemos. Mas depois do Pentecostes, não se lê mais que os
discípulos tenham lançado sortes. O Espírito Santo, que passou a habitar em
cada um, guiava-os.
Ralph
Earle. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 7. pag. 213.
2. As medidas que Pedro toma para a escolha de outro apóstolo
(w. 21,22). Observe aqui: (1) As qualidades que o candidato deve ter para
preencher o cargo vacante. Tem de ser alguém dos varões, estes setenta
discípulos que conviveram conosco, que constantemente nos acompanharam todo o
tempo em que o Senhor Jesus entrou e saiu dentre nós, pregando e realizando
milagres os três anos e meio, começando desde o batismo de João, do qual
iniciou o evangelho de Cristo, até ao dia em que dentre nós foi recebido em c
ima. Os que foram diligentes, fiéis e constantes no desempenho dos seus deveres
em um nível mais baixo, são mais aptos a serem promovidos a um nível mais alto;
os que foram fiéis no pouco receberão mais. E ninguém deve ser empregado como ministro
de Cristo, pregador do seu evangelho e dirigente em sua igreja, senão aquele
que conhece bem a doutrina e os feitos, do início ao fim. Ninguém deve ser apóstolo,
senão aquele que tem acompanhado os apóstolos de forma contínua; não alguém que
os visitou de vez em quando, mas que esteve estreitamente ligado a eles. (2) O
trabalho ao qual o candidato é chamado para fazer quando preencher o cargo
vacante: Ele deve ser alguém que se faça conosco testemunha da ma ressurreição.
Isto nos leva a entender que havia outros discípulos com os onze quando Jesus
apareceu a eles, de outra forma esses discípulos não poderiam ter sido
testemunhas com os apóstolos - como testemunhas competentes que eram - da. sua
ressurreição. O grande evento que os apóstolos tinham de atestar para o mundo
era a ressurreição de Jesus, pois esta era a prova cabal de Ele ser o Messias e
o fundamento de nossa esperança nele. Notemos que os apóstolos foram ordenados,
não para ocupar um alto cargo honorífico e governo secular, mas para pregar Jesus
e o poder da sua ressurreição.
mA nomeação do candidato que sucedeu Judas no ofício de
apóstolo.
1. Dois homens de grande integridade e que estiveram constantemente
com Jesus foram apresentados para ocupar o cargo vacante: Eles apresentaram
dois (v. 23). Não foram os onze que tomaram para si a responsabilidade de
determinar quem assumiria o posto, mas os cento e vinte, pois Pedro se dirigiu
a eles e não aos onze. Os dois candidatos eram José e Matias, os quais não
constam em outra parte das Escrituras, exceto que este José é o mesmo sobre
quem Paulo fala em Colossenses 4.11: Jesus, chamado Justo, que é da
circuncisão, judeu nativo, que foi um dos cooperadores de Paulo no Reino de
Deus e lhe era uma consolação. Notemos que, embora não tivesse sido nomeado
apóstolo, ele não deixou o ministério, mas foi muito útil em posição
ministerial menos importante: Porventura, são todos apóstolos? São todos
profetas? (1 Co 12.29). Certos estudiosos pensam que este José é o citado em
Marcos 6.3, irmão de Tiago, o menor (Mc 15.40), e foi chamado José, o justo,
como o irmão dele foi chamado Tiago, o justo. Outros o confundem com o José
mencionado em Atos 4.36. Mas este er*a de Chipre, e aquele era da Galileia. Foi
para diferenciá-los que este se chamava Bamabé - da consolação, e
aquele, Barsabás - um filho do juramento. Estes dois candidatos eram homens tão
dignos e tão bem qualificados para o cargo vacante que a assembléia reunida não
sabia dizer quem deles era o mais adequado, embora todos concordassem que
deveria ser um destes. Nenhum dos dois se apresentou nem se esforçou para
conseguir a vaga, mas os dois permaneceram em silêncio, aguardando humildemente
a nomeação.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 11.
At 1.21/22 Pedro constata inicialmente as exigências
imprescindíveis a um “apóstolo”. Um “apóstolo” é acima de tudo uma “testemunha
da ressurreição de Jesus”. A ressurreição de Jesus é – obviamente mediante
ligação indissolúvel com sua cruz! – o evento decisivo que realmente faz do
evangelho um evangelho. Sem o acontecimento do dia da Páscoa, o “cristianismo”
jamais teria surgido no mundo. Não teria significado extremo para nós e para o
mundo todo o fato de que o ser humano Jesus de Nazaré viveu, ensinou, curou, amou
e sofreu, se esse Jesus não tivesse sido despertado por Deus e transformado em
seu “Senhor e Cristo” (cf. At 2.32-36; 3.13-15; 4.10-12; 13.38s; 17.30s). Jesus
foi “designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela
ressurreição dos mortos” (Rm 1.4). Essa ressurreição dentre os mortos, contudo,
constitui ao mesmo tempo o “impossível”, o humanamente inconcebível e por isso
escandaloso, irritante e ridículo (At 17.32). Por isso o testemunho originário
do apostolado, fundador da igreja, somente pode ser prestado nesse mundo
alienado de Deus por aquela pessoa que presenciou pessoalmente o fato inaudito
da ressurreição de Jesus e que experimentou sua verdade. Essa ressurreição,
porém, não é um evento isolado em si. Jesus, e unicamente Jesus, é aquele que
ressuscitou dentre os mortos! E precisamente Jesus é, como o Ressuscitado, de
fato o Salvador glorioso de que os pecadores precisam. Por isso a testemunha de
sua ressurreição igualmente precisa ter conhecido bem a Jesus pessoalmente. No
entanto, ele não é “apóstolo” como pessoa isolada e solitária, mas – já
falávamos disso – unicamente como membro do grupo de apóstolos. Por isso
precisa ter estado em contado desde o início com esse grupo a que deverá
pertencer integralmente. Ele deve exercer o ministério “conosco”.
23 Havia homens com essa qualificação entre os cento e
vinte. Dois deles pareciam especialmente dignos de confiança aos que estavam
reunidos. Destacaram José, chamado Barsabás, com o cognome Justo, e Matias.
Contudo, nem eles nem os apóstolos queriam tomar pessoalmente a decisão
definitiva. Afinal, o Espírito Santo, que mais tarde – p. ex., em At 13.2 –
separa e convoca para o ministério, ainda não está presente.
Werner
de Boor. Comentário Esperança Atos. Editora
Evangélica Esperança.
Receberam
autoridade do Senhor.
O poder de que eles deveriam estar revestidos, para a
confirmação da doutrina que deveriam pregar (v. 17): “E estes sinais seguirão
aos que crerem”. Isto não significa que todos os que crerem serão capazes de
produzir esses sinais, mas aqueles que estiverem empenhados na propagação da
fé, e na atração de outros a ela; pois os sinais se destinam àqueles que não creem (veja 1 Co 14.22). Aumenta muito a glória e a evidência o fato de que os
pregadores não somente realizavam milagres pessoalmente, mas concediam a outros
um poder de realizar milagres, poder este que seguia alguns dos que criam, aonde
quer que eles fossem pregar. Eles realizavam milagres em nome de Cristo, o
mesmo Nome no qual foram batizados, em virtude do poder obtido dele, e
alcançado através da oração. Alguns sinais em especial são mencionados. (1)
Eles expulsarão demônios; este poder era mais comum entre os cristãos do que
entre outras pessoas, e durava mais tempo, como podemos deduzir pelos
testemunhos de Justino Mártir, Orígenes, Irineu, Tertuliano, Minúcio Félix, e
outros, citados por Grotius a respeito dessa passagem. (2) Eles “falarão novas
línguas”, que nunca tinham aprendido, ou conhecido; e isto era tanto um milagre
(um milagre sobre a mente), para a confirmação da verdade do Evangelho, como um
meio de transmitir o Evangelho entre todas aquelas nações que não o tinham
ouvido. Alguns entendem que isso evitou que os pregadores fizessem um grande
esforço para aprender as línguas; e, sem dúvida, aqueles que, por milagre, receberam
o domínio das línguas, receberam o domínio completo delas e de toda a sua
elegância nativa, que era adequada tanto para ensinar quanto para influenciar, o
que muito lhes recomendava, bem como a sua pregação. (3) Eles “pegarão nas serpentes”.
Esta promessa se cumpriu na vida de Paulo, que não foi ferido pela víbora que
lhe acometeu a mão, o que foi reconhecido pelos bárbaros como um grande milagre
(At 28.5,6).
Os cristãos não serão feridos por aquela geração de
víboras entre as quais vivem, nem pela malícia da velha serpente. (4) “Se
beberem alguma coisa mortífera” - por imposição dos seus perseguidores - “não
lhes fará dano algum”: muitos exemplos deste milagre são encontrados na
história da igreja cristã. (5) Eles não serão somente protegidos contra
ferimentos, mas também serão capacitados a fazer o bem aos outros; “imporão as
mãos sobre os enfermos e os curarão”, como tinha acontecido com as multidões
pelo toque curativo do seu Mestre.
Muitos dos presbíteros da igreja tinham esse poder, como
se pode ver em Tiago 5.14, onde, como um sinal instituído dessa cura milagrosa,
eles recebem a instrução de ungir os enfermos com azeite em nome do Senhor Jesus.
Com que certeza de sucesso eles podiam viajar, realizando a obra que lhes fora
confiada, tendo credenciais como essas para apresentar!
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 505.
A boa nova de Jesus precisa ser confirmada (16.17,18).
Adolf Pohl corretamente afirma que os sinais não estão vinculados a cargos, mas
em primeiro lugar à fé que deixa Deus ser Deus (5.36; 9.23; 11.22). Em segundo
lugar, eles fazem parte do contexto missionário, pois o fato de eles
“acompanharem” pressupõe que os discípulos estão a caminho para difundir o
evangelho.
Paul Beasley-Murray diz que o que temos aqui é
descritivo e não prescritivo. O que temos aqui é um sumário da vida da Igreja
primitiva. Os cristãos primitivos expulsaram demônios em nome de Jesus (3.15;
6.7,13; At 8.7,16,18; 19.12). Eles falaram em línguas (At 2.4; 10.46; 19.6; 1Co
12.10,28; 14.2-40). Paulo foi picado por uma víbora sem sofrer o dano de seu
veneno letal (At 28.3-6). Eles impuseram as mãos sobre os enfermos para
curá-los (At 28.8). Não há, porém, nenhuma alusão no Novo Testamento sobre a
ingestão de veneno. O único registro que temos na história é de Eusébio,
historiador da Igreja, que fala sobre Justus Barsabas, um cristão que, forçado
a beber veneno, pela graça de Deus não morreu.
Warren Wiersbe diz que alguns sinais descritos em
Marcos 16.17,18 ocorreram durante o período apostólico descrito no livro de
Atos. Eles foram as credenciais dos apóstolos (Hb 2.1-4; Rm 15.19; 2Co 12.12),
mas não devemospresumir que eles pertencem a todos os crentes hoje. É
insensatez tentar a Deus bebendo veneno, mas não é tolice confiar em Deus
quando a obediência à sua vontade nos levar a situações perigosas. A presunção
nos mata, mas a fé nos liberta.
B. B. Warfield, em conexão com esses dons especiais
diz: “Esses dons eram parte das credenciais dos apóstolos, como os agentes
autoritativos de Deus, na fundação da Igreja... tais dons necessariamente
desapareceram, com os apóstolos”. Crisóstomo e Agostinho também eram da opinião
que esses dons, com a morte dos apóstolos, cessaram de existir. Essa também era
a opinião de Jonathan Edwards: “Esses dons extras foram dados para a fundação e
estabelecimento da Igreja no mundo. Contudo, desde que o cânon das Escrituras
se completou e a Igreja foi plenamente fundada e estabelecida, esses dons
extraordinários cessaram de existir. Entre outros que expressaram um
entendimento semelhante, estão Matthew Henry, George Whitefield, Charles H.
Spurgeon, Robert L. Dabney, Abraham Kuiper, e G. T. Shedd.
Não é esse, porém, o nosso entendimento. Cremos que
Deus pode e tem dado seus dons de sinais onde e quando quer, a quem quer, livre
e soberanamente, segundo o seu beneplácito, para o louvor da sua própria
glória, para a salvação dos eleitos e a edificação dos santos. A grande ênfase
de Marcos é que quando a Igreja proclama a mensagem de Deus, o próprio Deus
confirma essa mensagem com a manifestação do seu poder (1Co 2.4; 1Ts 1.5),
transformando vidas, atraindo as pessoas irresistivelmente pelo seu poder
sobrenatural. A Igreja é chamada para ser um sinal do Cristo vivo e ressurreto
no mundo. William Barclay conclui o seu comentário
de Marcos afirmando que a vida cristã é a vida vivida na presença e no poder
daquele que foi crucificado e ressuscitou.
LOPES. Hernandes Dias. MARCOS, O evangelho dos milagres. Editora
Hagnos.
Mc 16. 17 Começa a descrição da comunidade dos
“crentes”. De forma alguma o Senhor tinha em vista apenas a primeira geração,
antes, conforme o v. 16, todos os batizados. Estes sinais hão de acompanhar
aqueles que crêem. Eles não estão vinculados a cargos, mas em primeiro lugar à
fé que deixa Deus ser Deus (cf. 5.36; 9.23; 11.22s). Em segundo lugar eles
fazem parte do contexto missionário, pois o fato de eles “acompanharem”
pressupõe que os discípulos estão a caminho para difundir o evangelho. Conforme
o v. 20 os sinais reforçam a palavra missionária, de modo que esta não chega às
palavras como teoria desnuda, como afirmação rígida. Paulo não podia renunciar
à confirmação das suas palavras “por força de sinais e prodígios, pelo poder do
Espírito Santo” (Rm 15.19). Aos coríntios, que colocaram em dúvida sua condição
de apóstolo, ele lembrou que seu ministério entre eles contara com “as
credenciais do apostolado” (2Co 12.12; cf. Hb 2.4). Não se pensa em provas
convincentes; sinais sempre podem ser mal-interpretados (3.22). Aquele que foi
elevado, porém, legitima a entrada em cena dos seus mensageiros com sinais de
atenção.
Os cinco exemplos relacionados a seguir são confirmados
especialmente pelos Atos dos Apóstolos. Exorcismos encontramos ali em 5.16;
8.7; 16.16ss; novas línguas em 2.1-11; 10.46; 19.6; milagres com serpentes em
28.3-6 e curas em 3.1-10; 4.30; 5.12,15; 9.12,17,33s,29ss; 14.8ss; 19.11;
28.8s. Só para a preservação em caso de veneno falta um exemplo.
Como primeiro está um sinal que também tem muito peso
no evangelho de Marcos (1.34,39; 3.11,15; 6.7,13; 9.38): Em meu nome, expelirão
demônios. A mudança de governo pascal que os crentes proclamam não agrada aos
senhores anteriores. A má vontade deles também pode manifestar-se com
resistência em altos brados. Mas o nome de Jesus os faz calar.
Em segundo lugar, falarão novas línguas. O NT
geralmente é mais curto: “falar em línguas”. Só duas vezes a expressão é mais
longa: “falar em outras línguas” (At 2.4), e: “falar em línguas estrangeiras”
(1Co 14.21. BV). Aqui a intenção é esclarecer: “falar novas línguas”. Será que
se pensa realmente na mudança para uma das línguas do mundo antigo, que só são
subjetivamente novas para a pessoa em questão porque não as conhecia até então?
Provavelmente a expressão “novas línguas” deve ser colocada ao lado de
expressões como “nova aliança, nova criação, novo céu, nova terra, nova
Jerusalém, novo cântico e novo nome”. Como parte da nova criação, elas se
distanciam da confusão de línguas babilônica, são “língua dos anjos” com Deus
(1Co 13.1). É claro que se pode contar com manifestações diferentes, já que há
“variedade de línguas”, conforme 1Co 12.10. No contexto missionário elas podem
ser um sinal de condenação ou de advertência (1Co 14.22).
Mc 16. 18 Pegarão em serpentes. Cumprimentos literais
temos em At 28.3-6 e na história recente de missões (p ex E. Seiler, Wunderbar
sind seine Wege, Hänssler V., 1970, p 7ss). Além disso, “pisar em serpentes e
escorpiões” ilustra já no AT a submissão dos poderes malignos. Lc 10.19 também está
próximo deste sentido. O ser humano governa novamente
sobre os animais (Gn 1.26,28; Is 11.8). Anuncia-se a restauração da criação e
do ser humano.
E, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará
mal. O acréscimo conduz a Ap 11.4-7, onde se promete proteção à comunidade de
testemunhas, igualmente vinculada ao tempo do seu testemunho. Ninguém poderá
encurtar o serviço delas, nem por um dia. Também em Mt 6.25-34 Jesus garante a
existência terrena dos seus mensageiros até nos detalhes. Segundo Jo 17.15, ele
pede por milagres de proteção para eles, sempre tendo em vista que eles buscam
em primeiro lugar o reino de Deus e executam sua missão.
Se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão
curados. Como com seu Senhor, a imposição de mãos também para eles não é um
meio de transmitir poder (cf. 7.32), mas é um gesto de bênção e intercessão.
Os sinais não são demonstrações a bel-prazer, mas fazem
parte do objetivo. Por isso a relação pode ser ampliada, mas não
reinterpretada, talvez em sentido moralista: em nossas obras de amor, paz e
justiça temos uma confirmação muito melhor da Palavra (p ex Marti). Ou
espiritualizando, trazendo a campo os milagres interiores muito maiores:
qualquer pessoa pode crer em todo o amor de Deus. Recebe certeza do perdão e
pode perdoar ao seu próximo. Experimenta paz e alegria na dor. Albert
Schweitzer acrescentou um ponto de vista da filosofia da história (em: Allerlei
Festfreuden II, em H.-H. Jenssen, Evangelische Predigtmeditationen 1976/77, p
204): A atuação do Espírito é muito parecida com um rio. Na proximidade da sua
fonte, ele corre animado e ruidoso, espirra e espuma, mas ainda tem pouca
força. Mais abaixo, ele corre calmo e até parecendo preguiçoso, mas carrega
grandes cargas, abriga uma abundância de peixes e gira turbinas elétricas.
Assim, os milagres instigantes do primeiro tempo do cristianismo diminuíram,
tudo passou para dentro das margens organizadas da vida eclesial, mas em vez
disto a torrente de amor derramada por Jesus – e o amor é maior que tudo! –
aumentou tanto em largura e força no transcorrer da história da igreja, que não
há mais motivo para ter saudade dos começos. – Tão cor-de-rosa não podemos mais
ver o desenvolvimento no fim do século XX.
Mais cinco pontos de vista para classificar o texto:
1. Os sinais não são a coisa em si mas, de acordo com
os v. 17 e 20, a acompanham, mais ou menos como na visita de uma alta
autoridade o carro oficial é escoltado por batedores. Mas, pela causa, a
ausência de sinais precisa ser considerada uma deficiência (cf. 1Co 14.24; Lc
7.18-23).
2. No território fora do cristianismo há manifestações
iguais ou semelhantes (9.38s), de modo que estes sinais não podem servir, sem
verificação, como prova de identificação com Cristo e de sua autoridade.
3. Conforme 6.5; 8.10-13 e 15.31,32, de vez em quando
os sinais devem ser recusados legitimamente.
4. As listas de carismas no NT não são idênticas, mas
têm diferenças de comprimento, conteúdo e terminologia (Rm 12.7,8; 1Co
12.8-10,28-30; Ef 4.11; Hb 2.4; 1Pe 4.11 e Mc 16.17,18). O quadro é
necessariamente variado, porque as situações mudam. Por isso não se deve ceder
à tentação de pinçar dons à vontade. Não concordamos com brincadeiras
carismáticas em que a seqüência de carismas é praticada para alegria própria e
mútua. Também não aceitamos a imposição de uma obrigatoriedade de sinais,
independente de necessidades concretas.
5. A passagem sobre os sinais apostolares em 2Co 12.12
é acompanhada de uma observação chamativa: Paulo os fazia “com toda a
paciência” (BLH). Isto não parece combinar. Quem tem autoridade não precisa
mais de paciência! No entanto, a impaciência é exatamente o sinal dos profetas
falsos, é a maneira dos senhores mundanos. A paciência, por outro lado, é o
estilo do nosso Senhor. Jesus suportou a cruz renunciando às orações atendidas
e à alegria, e concordando com a vergonha e o mal-entendido (Hb 12.12; cf. 1Pe
2.20s). Também para Paulo a autoridade se combinou com as insígnias da
insignificância de Jesus. Sua autoridade não serviu ao seu próprio bem-estar, à
sua auto-estima, à sua reputação e à sua aparência. Repetiu-se com ele Mc
15.31: “Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se” (cf. 2Co 4.12). Todo
aquele que, em vista dos sinais apostólicos, é incendiado pelo desejo: “Também
a mim!” (At 8.19), pense nestes contextos.
Adolf Pohl. Comentário Esperança Evangelho de Marcos. Editora Evangélica
Esperança.
II - O APÓSTOLO PAULO
1. Saulo e sua conversão.
Chamado por Deus
“Paulo (chamado apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade
de Deus), e o irmão Sóstenes (1 Co 1.1; 2 Co 1.1; Gl 1.1). Os Doze foram
chamados por Jesus de maneira bem natural e espontânea. Ao passar pelas margens
do Mar da Galileia, Jesus simplesmente olhou para os irmãos Pedro e André, e os
chamou para serem pescadores de homens (Mt 4.18,19); aos irmãos Tiago e João,
os chamou da mesma forma (Mt 4.21,22). E eles o seguiram também de maneira
espontânea. O chamado de Paulo foi bem diferente. A caminho de Damasco, com
ordens dos sacerdotes para prender os cristãos, foi interrompido por Jesus, de
maneira sobrenatural e impactante.
Derrubado ao chão, Paulo teve o chamado de Deus de
forma tão dramática, que caiu, ouvindo a potente voz do Senhor, que o abatera
em seu orgulho e presunção, quando julgava estar fazendo a vontade de Deus no
zelo do judaísmo (At 9.4; 22.7; At 9.10-19). Deus tem seus caminhos e suas
maneiras de agir, às vezes muito estranhas (cf. Is 28.21). Diante de um chamado
tão singular e diferente dos demais apóstolos, Paulo tinha razão em dizer que
era chamado pela vontade de Deus e não dos homens. Até seu nome foi mudado, de
Saulo (hb. Sha'ul, o que foi pedido) para Paulo (gr. Paulus, baixo, pequeno,
humilde), após ser convocado pelo Espírito Santo para ser enviado para a missão
(At 13.8).
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 75.
Da Terra das
Tendas Negras
Os juízes saltaram dos seus assentos, uivando de raiva.
O Corredor das Pedras Polidas, cenário de graves
debates e julgamentos históricos, reverberava com o rugir da multidão em cuja
mente rodopiava o linchamento. Não se contendo, a multidão invadiu o recinto,
lançou mão do jovem réu e arrastou-o ao Pátio dos Sacerdotes, banhado por forte
luz solar. Descendo mais degraus através desse largo espaço aberto e atravessando
pátio após pátio, a enlouquecida multidão que crescia com transeuntes, adoradores
e comerciantes empurrou a Estêvão para fora do templo e pelas ruas da Cidade
Santa.
Ele não fora condenado à morte, e ainda que tivesse
sido, a sentença não poderia ser executada sem a confirmação das autoridades
romanas. Embora a pena de morte devesse ser precedida de solene ritual que
assegurasse justiça até o fim, não era esse o processo que ia na mente dos
juízes e da turba. Saíram pela porta norte rumo à Rocha da Execução, "duas
vezes a altura de um homem". Ao chegar a esse local, deveriam solenemente
despir o réu e em seguida atirá-lo abaixo a fim de lhe quebrar o pescoço ou,
pelo menos, deixá-lo fora de si, para que a morte por apedrejamento não fosse tão
dolorosa. Em vez disso, empurraram a Estêvão assim como estava. A roupa
amor-teceu-lhe a queda e ele se levantou tonto, mas totalmente consciente.
A multidão, com o choque, voltou às formalidades
legais. Como num apedrejamento judicial os acusadores deviam lançar as
primeiras pedras, estes foram à frente, tiraram as capas e, olhando ao redor,
procuravam alguém que as guardasse. Um jovem advogado, esbaforido da corrida
pelas ruas da cidade, deu um passo à frente. Reconheceram nele um fariseu da Cilicia,
na Ásia Menor, por nome Saulo entre os judeus e Paulo entre os gregos e os
romanos.
Paulo dava sua aprovação à medida que cada testemunha
apanhava uma pedra, erguia-a acima da cabeça e a atirava para ferir e aleijar o
homem lá embaixo. Então Paulo ouviu a voz de Estêvão. Em dor, mas com clareza,
ele falava como se a alguém invisível, mas próximo: "Senhor Jesus, recebe
o meu espírito".
Choveram as pedras enquanto a multidão se apressava a
completar o que as testemunhas haviam iniciado. O sangue esguichava dos cortes
e ferimentos de Estêvão. Tentando dominar a dor, ele se ajoelhou em oração.
Paulo não podia deixar de ouvir as palavras que saíam com volume espantoso de
alguém a morrer: "Senhor, não lhes imputes este pecado."
A próxima pedra tombou-o ao chão. O mártir perdera a
consciência. A multidão continuou a apedrejá-lo.
Paulo nasceu numa cidade situada entre as montanhas e o
mar. É provável que o ano tenha sido 1 d.C, mas os detalhes originais do local
do seu nascimento são escassos. A indicá-lo, temos a reivindicação do próprio
apóstolo: "Eu sou judeu de Tarso, cidade não insignificante da Cilicia...
Da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus".
Tarso era a principal cidade da fértil planície da
Cilicia, no extremo Sudoeste da Ásia Menor. O mar distava dezenove quilômetros,
ao sul. As montanhas do Tauro curvavam-se num grande arco cerca de 40 quilômetros para o interior, aproximando-se do mar no lado oeste e marcando ao norte
gargantas e penhascos que se elevavam como fortalezas diante das nevascas. Um
panorama magnífico para a infância, especialmente no inverno, quando os picos
sem nuvens eram recobertos de neve branca e suave.
O rio Cnido, estreito, rápido e de águas muito claras,
a não ser quando chovia nas montanhas, atravessava a cidade e ia cair no porto
artificial, obra-prima da engenharia do mundo antigo. Aí Cleópatra, uns 40 anos
antes do nascimento de Paulo, aportara a fim de se encontrar com António. Tarso
se admirara dos remos de prata, de uma chalupa de ouro batido e de velas cor de
púrpura "tão perfumadas que os ventos por elas se apaixonaram". Na
primavera, quando a navegação recomeçava e nas passagens das montanhas a neve
se derretia, os escravos descarregavam mercadorias vindas do Oriente. A cidade
se enchia de ruídos, aromas e sinais de prosperidade. As caravanas rumo ao
norte, depois de passarem pelos portões da Cilicia — uma brecha na rocha de
cerca de três metros de largura, e que era outra antiga maravilha da antiga
engenharia de Tarso — seguiam a estrada romana que transpunha as montanhas.
Tarso era uma fusão de civilizações em paz sob o
governo de Roma: cilicianos nativos e hititas cujos ancestrais haviam dominado
a Ásia Menor; gregos de pele clara; assírios e persas, e macedônios que vieram
com Alexandre, o Grande, em sua marcha contra a índia. Depois de formado o
império de Alexandre, quando Tarso se tornou parte do reino dos selêucidas que
governaram da Síria, Antíoco IV, por volta de 170 a.C, introduziu na cidade uma colônia de judeus. Estes, além de direitos e privilégios, possuíam a
determinação de nunca dar seus filhos em casamento aos que não pertencessem à
sua fé e ao seu sangue, aos quais chamavam de gentios, "nações" ou
"gregos". É provável que os ancestrais de Paulo estivessem entre
esses judeus que, por sua vez, devem ter saído da obscura cidade de Giscala, na
Galileia.
É possível que o pai de Paulo tenha sido um mestre na
arte de fabricar tendas, e trabalhasse, como os outros artesãos, em couro e
cilicium. O pano era tecido dos longos pelos de bodes pretos que pastavam, como
ainda hoje o fazem, nas encostas do Tauro. As tendas negras de Tarso eram
usadas por caravanas, nômades e exércitos provenientes de toda a Ásia Menor e
da Síria.
Da mãe de Paulo nada se sabe. Ele jamais a menciona,
talvez por haver ela falecido quando ele era criança ou por alguma outra causa.
Ou simplesmente porque não teve a oportunidade de mencioná-la. Ele tinha pelo
menos uma irmã. Nasceram num lar rico — seu pai era um cidadão ou burguês de
Tarso, e numa reforma quinze anos antes a classe de cidadão havia sido removida
de todas as famílias que não possuíssem certa fortuna ou propriedades
consideráveis. Além disso, a família detinha a cobiçada posição de cidadania
romana. Nessa época o civis romanos era raramente concedido, a não ser por
causa de serviços prestados ou por bom dinheiro. Quer o avô de Paulo tenha
ajudado a Pompeu ou a Cícero quando Roma era governada pela Cilicia, quer seu
pai houvesse comprado a cidadania, essa posição conferia distinção local e
privilégios hereditários, os quais cada membro podia reivindicar onde quer que
se encontrasse em todo o império.
Significava também que Paulo possuía um nome latino
completo composto de três palavras (por exemplo: Gaius Julius Caesar). As duas
primeiras eram nomes comuns a todas as famílias (no caso de César, Gaius
Julius). Estas, porém, se perderam com o tempo, pois a história da vida de
Paulo foi escrita pela primeira vez por um seu colega grego. E grego nenhum
conseguia entender os nomes latinos. O terceiro nome, chamado cognomen, era
Paulus. Por ocasião do ritual da circuncisão, no oitavo dia de vida, ele também
havia recebido um nome judaico: "Saulo". Este foi escolhido ou por
causa do seu significado, "pedido", ou em honra do benjamita mais
famoso de toda a história, o rei Saul.
Saulo era o nome usado em casa, ressaltando que a
herança judaica lhe era a coisa mais importante nos seus primeiros anos. Os
gentios estavam em toda a parte, as colunas dos templos pagãos dominavam o
mercado. Atenas e Roma, Babilónia e Nínive haviam combinado fundar a cidade de
Tarso, e Paulo, sabendo ou não, era filho desse mundo helênico-oriental. Embora
a perspectiva grega da vida influenciasse muitos judeus por todo o
Mediterrâneo, essa influência parecia remota na juventude de Paulo em virtude
de seus pais serem fariseus, membros do partido judaico nacionalista mais
fervoroso e mais estrito em sua obediência à lei de Moisés.
Esses fariseus procuravam proteger seus filhos da
contaminação. Desestimulavam a amizade com crianças gentias. Desprezavam as ideias
gregas. Embora Paulo, desde a infância, falasse grego, a língua franca de
então, e tivesse conhecimento de latim, em casa a família falava o aramaico, a
língua da Judeia, derivada do hebraico.
Consideravam Jerusalém como hoje o islã considera Meca.
Seus privilégios de pessoas livres e de cidadãos romanos nada eram diante da
honra de serem israelitas, o povo da promessa, o único povo a quem o Deus vivo
havia revelado sua glória e seus planos.
A escola anexa à sinagoga de Tarso não ensinava nada
mais que o texto hebraico da sagrada lei. Cada aluno a repetia em coro com o
guardador da sinagoga, o hazzan, até que as vogais, o acento e o ritmo se
tornassem precisos. Paulo aprendeu a escrever os caracteres hebraicos em papiro
e, desta forma, pouco a pouco formou seus próprios rolos das Escrituras. É
provável que seu pai o tenha presenteado com outro conjunto de rolos em velo: a
tradução grega do Antigo Testamento conhecida como Septuaginta, lida aos
sábados nas sinagogas. Aos treze anos de idade, Paulo já havia dominado a
história judaica, a poesia dos salmos e a majestosa literatura dos profetas.
Com seu ouvido treinado até à exatidão e seu cérebro rápido, ele podia reter o
que ouvia tão instantânea e fielmente quanto uma mente fotográfica moderna pode
reter a página impressa. Ele estava preparado para a escola superior.
Tarso tinha sua própria universidade, tornada famosa
por causa de estudantes locais como Athenodorus, tutor e confidente do
imperador Augusto, e o igualmente eminente Nestor. Esses ilustres mestres, em
sua velhice, haviam retornado a Tarso e eram cidadãos honrados na infância de
Paulo. Mas um fariseu severo não deixava seu filho enredar-se pela filosofia
moral pagã. Assim, é provável que no ano em que Augusto morreu, 14 d.C, Paulo,
ainda adolescente, tenha sido enviado, por mar, à Palestina, e tenha subido os
montes na direção de Jerusalém.
Durante os seguintes seis anos ele se sentou aos pés de
Gamaliel, neto do mestre supremo Hillel que, alguns anos antes, falecera com
mais de cem anos de idade. Sob o frágil e gentil Gamaliel, em contraste com os
líderes da escola rival de Shamai, Paulo aprendeu a dissecar um texto até
revelar dezenas de possíveis significados. Gerações de rabis haviam obscurecido
o sentido original mediante o acréscimo de camadas de tradição, todas com o fim
de proteger o israelita da menor quebra da lei e, ilogicamente, ajudá-lo a
evitar as suas inconveniências. Paulo aprendeu a debater no estilo
pergunta-e-resposta, conhecido no mundo antigo como "diatribe". Aprendeu
também a fazer uma exposição, pois o rabi, além de advogado de acusação ou de
defesa dos que quebravam a lei sagrada, era também pregador.
Paulo excedeu a seus contemporâneos. Sua mente poderosa
poderia levá-lo a ocupar um lugar no Sinédrio, no Corredor das Pedras Polidas,
e torná-lo um "governador dos judeus". Por ser o estado judaico uma
teocracia em que as mesmas pessoas exerciam funções religiosas e civis, os
setenta e um membros do Sinédrio eram igualmente juízes, senadores e mestres
espirituais. O tribunal tomava decisões supremas em todos os assuntos
religiosos e dentro da pequena liberdade de se governarem a si mesmos permitida
pelo romanos. Alguns dos membros do tribunal procediam do sacerdócio
hereditário. Outros eram advogados e rabis.
Antes de chegar a ser mestre em Israel, Paulo teve de
aprender uma profissão, como todos os judeus, porque, em teoria, nenhum rabi
recebia pagamento, mas sustentava-se a si mesmo. Portanto, Paulo deixou
Jerusalém no início dos seus vinte anos. Tivesse ele permanecido aí durante o
ministério de Jesus de Nazaré, certamente teria argumentado com ele, à
semelhança dos outros fariseus. Nos anos posteriores ele se referiu com
frequência à morte de Jesus por crucificação, mas jamais confessou-se sua
testemunha ocular.
É provável que Paulo tenha retornado a Tarso e
trabalhado no negócio da família, a fabricação de tendas, seguindo sua antiga
rotina: inverno e primavera em Tarso, e quando a planície ficava quente e
doentia, ele se dirigia à cidade de veraneio nas encostas do Tauro. Em Tarso
ele teria ensinado na sinagoga. Uma de suas cartas sugere que ele tinha forte
inclinação missionária. Onde quer que os judeus adoravam, os simpatizantes
gentios eram admitidos como "tementes a Deus". Fariseus como Paulo
instavam a que os tementes a Deus se fizessem prosélitos, judeus completos:
deviam submeter-se ao simples mas doloroso ritual da circuncisão, e então
honrar as exigências cerimoniais e pessoais da lei em todo o seu rigor. O fardo
podia ser pesado, mas a recompensa era grande, pois ganhariam o favor de Deus.
Era natural que o pai de Paulo se deleitasse nesse
filho que lhe havia seguido os passos de fariseu, e que possuía força
intelectual capaz de o elevar aos mais importantes cargos em Israel.
Logo depois de seu trigésimo aniversário Paulo voltou a
Jerusalém — com ou sem uma esposa. E quase certo que ele se tenha casado. Os
judeus raramente permaneciam solteiros, e a paternidade era um dos requisitos
dos candidatos ao Sinédrio. Entretanto, a sua esposa jamais entra na história.
Talvez ele tenha perdido não somente a esposa, mas também um filho único, pois
nos anos subsequentes ele se mostrou impaciente com o gênero feminino, embora
individualmente tratasse com gentileza as mulheres e tivesse grande compreensão
do casa¬mento. Estes fatos negam que ele tenha sido misógamo. Além disso, ele
praticamente adotou um jovem como se desejasse substituir o filho.
É bem provável que sua esposa e família tenham voltado
com ele. Em Jerusalém, podiam desincumbir-se das obrigações mais complicadas e
mais dignas da lei, e demonstrar zelo onde este seria notado. Paulo também
podia combater o movimento lançado por Jesus de Nazaré. Tarso deve ter recebido
ecos dos ensinos e das reivindicações do novo profeta e dos estranhos relatos
de milagres, e até mesmo da notícia de que ele havia ressurgido dentre os
mortos.
Estêvão
Comparada aos terraços de mármore e de ouro do Templo,
a sinagoga de Jerusalém, à qual assistiam os judeus da Cilicia, era pequena,
austera e fria, apesar do sol de verão. Os homens se assentavam em bancos de
pedra dispostos ao longo das paredes, sob as colunas de apoio às galerias das
mulheres. Os anciãos ficavam de frente para a congregação. Perto deles, ao lado
do candelabro de sete velas e da arca coberta por um véu e contendo os rolos da
lei, estava a pequena plataforma. Aqui os convidados dos anciãos liam a Lei em
voz alta e a explicavam. Paulo aceitava o convite para falar nas sinagogas como
coisa muito normal.
Mas como em Jerusalém não faltavam candidatos, o
apóstolo tinha de ouvir mais do que falar. Um daqueles a quem ele ouviu era
discípulo de Jesus.
É provável que Estêvão e Paulo tivessem quase a mesma
idade. A palavra grega traduzida por "jovem", com a qual o
historiador Lucas introduz o apóstolo, indica pessoa do sexo masculino entre a
juventude e os quarenta anos de idade. Desconhecemos o local do nascimento de
Estêvão. Sabemos, porém, que ele falava o grego tão fluentemente quanto o
aramaico. Ambos os homens eram ágeis pensadores, possuíam mentes poderosas e
amavam a controvérsia. Não nos resta nenhuma tradição referente ao porte físico
de Estêvão.
Segundo se acredita, Paulo era baixo; seu porte, porém,
era tal que ele sobressaía em qualquer multidão. Possuía rosto um tanto oval e
sobrancelhas cerradas. Por causa da boa vida que levava, talvez fosse gordo.
Ele devia usar barbas, já que os judeus desprezavam o costume romano de se
barbear. E sua barba preta juntamente com seu vestuário de bainha azul, mais o
talismã preso a um turbante, mostravam seu orgulho de ser fariseu. Ao andar
pelos pátios do Templo ele revelava a arrogância inevitável de um homem cujos
ancestrais e ações o tornaram importante. Ele praticava fielmente o
interminável ciclo de purificações rituais de pratos e xícaras e de sua própria
pessoa. Ele guardava os jejuns semanais — entre o nascer e o pôr-do-sol — e
repetia as orações diárias na progressão e número exatos. Ele sabia o que lhe
era devido: saudações respeitosas, grande precedência, lugar proeminente na
sinagoga.
A carreira legal e a preparação para o céu
consumiam-lhe os dias. Não lhe sobrava tempo para os pobres, aleijados e desprezados
da sociedade. Bem no fundo do seu caráter corria um veio de compaixão, mas ele
acreditava que os bons deviam man-ter-se à distância dos maus. Paulo teria
apoiado o fariseu que, vendo Jesus permitir que uma prostituta lhe lavasse os
pés com as lágrimas e os ungisse com bálsamo, achava ser isto prova de que o
homem não podia ser profeta. O quadro imortal que Jesus pintou do fariseu e do
publicano (coletor de impostos) orando no Templo, ter-se-ia ajustado a Paulo.
Como aquele fariseu, Paulo estava seguro de merecer o favor de Deus. Ele
desprezava os outros e podia ter orado, como aquele, dizendo: "Deus,
agradeço-te não ser como os outros homens, extorsionários, injustos, adúlteros
ou até mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana, dou o dízimo de
tudo o que possuo."
Estêvão, por outro lado, passava grande parte do seu
tempo distribuindo alimento e víveres às viúvas.
Nos dois anos seguintes à execução de Jesus, a cidade
santa se enchera daqueles que acreditavam que Jesus ressurgira dentre os
mortos. A maioria era pobre e humilde. Muitos viviam em grupos comuns e todos
partilhavam os seus recursos. Quando os discípulos de fala grega reclamaram que
suas viúvas estavam sendo negligenciadas, Estêvão e seis outros foram
es¬colhidos para fazer a distribuição rotineira.
Paulo perturbava-se pelo fato de um homem do calibre acadêmico de Estêvão se rebaixar a preocupações sociais, e se irritava porque,
enquanto seus próprios assuntos o absorviam, Estêvão andava ao redor
distribuindo felicidade. Os homens respeitavam a Paulo, mas o temiam;
respeitavam a Estêvão, e o amavam. Quando Estêvão pregava Paulo não podia
deixar de perceber o abismo entre eles: Estêvão sempre levava as Escrituras na
direção de Jesus de Nazaré como libertador ou Messias (ou Cristo, quando
Estêvão usava a palavra grega), a quem todos os judeus aguardavam. Além disso,
provava a sua mensagem citando a evidência de testemunhas oculares. Por mais
incrível que parecesse, o cadáver tinha voltado à vida e saído do sepulcro.
Eles haviam falado com Jesus em lugares diferentes nas seis semanas que se
seguiram à sua execução. Estêvão não dizia ser testemunha ocular, mas tinha
certeza de que Jesus estava vivo e afirmava tê-lo visto.
Paulo achava tolos os argumentos de Estêvão. O Cristo
ainda não tinha vindo, e o caminho para Deus estava fixado para sempre: era
preciso que o homem pertencesse à nação judaica, o povo escolhido de Deus, e
tentasse obedecer a todos os detalhes da Lei. Quando pecasse, o perdão
dependeria da matança ritual de animais dia após dia, ano após ano no Templo.
Paulo não podia engolir a ideia apresentada por Estêvão de que a morte de um
jovem, mediante uma forma de punição comum e degradante, pudesse apagar
pecados. Quanto à alegada ressurreição, ele tinha pena daqueles que estreitavam
sua vida seguindo após um Messias morto.
Conhecendo a sua própria bondade, ele não tinha nenhuma
preocupação pessoal. Reconhecia, porém, que as ideias de Estêvão eram
perigosas. Gamaliel aconselhara tolerância; Simão e os outros discípulos de
Jesus adoravam no Templo e continuavam a obedecer à Lei. Mas Paulo via, assim
como Estêvão, que o antigo e o novo eram incompatíveis. O homem era salvo ou
pelo sacrifício do Templo em obediência à Lei, ou pela fé em Jesus. O antigo
deve destruir o novo ou por ele ser destruído.
Paulo dedicou-se a demolir o argumento de Estêvão
através do método clássico da disputa pública. Os bancos da sinagoga estavam
repletos; os graves anciãos ouviam.
Paulo e os que o apoiavam argumentavam com base na lei.
Já que Jesus fora pregado num madeiro, ele devia ter morrido sob a maldição de
Deus e não podia ser o Cristo. Paulo se desfez da ressurreição usando a
explicação aceita: os discípulos roubaram o corpo. A alternativa de que a
ressurreição era um símbolo ou mito pelo qual os crentes expressavam a sobrevivência
espiritual e o triunfo de Jesus, não lhe entrava na cabeça. O túmulo estava
vazio. Tivessem as autoridades judaicas tido conhecimento de que o corpo de
Jesus se encontrava no sepulcro, teriam-no retirado e exposto a fraude.
Estêvão, em resposta, mostrou que Moisés e os profetas,
Davi e os salmos predisseram que o Cristo, quando viesse, não se apresentaria
como um conquistador, mas permitiria ser ferido, zombado e assassinado; e que
se levantaria dentre os mortos. Estêvão contou de novo a história daquela
Páscoa de dois anos antes, por ocasião da morte de Jesus, e terminou, uma vez
mais, citando a evidência ocular de que Jesus fora visto vivo depois da morte.
Estêvão ganhou o debate. A congregação votou-lhe as
honras, e alguns perguntaram como se podiam tornar crentes em Jesus.
Possivelmente nessa ocasião Paulo e seus amigos tiveram, pela primeira vez, a
sensação de que não lutavam apenas contra Estêvão, mas também contra uma força
que não podiam entender. Diz Lucas: "Não podiam suportar a sabedoria e o
espírito com que ele falava."
A reação de Paulo à derrota, a julgar pelas
reminiscências espalhadas em suas cartas, foi muito parecida com a dos fariseus
aos quais Jesus repreendeu: "Começaram a pressioná-lo a fim de provocá-lo
a falar muitas coisas, tentando apanhá-lo em algo que ele dissesse." Paulo
fez o oposto do conselho que, na velhice, teria dado: "O servo do Senhor
não deve ser briguento, mas amável a todos, corrigindo seus oponentes com
gentileza". E perseguiu a Estêvão com espírito de vingança, levantando inimizade,
dissensão e inveja, insultando a Jesus. Paulo não poupou seu temperamento
impetuoso nem seu sarcasmo, componentes fortes do seu caráter. Estêvão não
retaliou. As qualidades dele das quais os homens se lembravam eram força e
encanto; ele podia demonstrar indignação e desprezo, mas os guardava para uso
mais positivo.
O partido de Paulo tinha arma mais forte que o insulto.
Se pudessem torcer as palavras de Estêvão, fazendo-as parecer blasfêmia,
poderiam silenciá-lo para sempre, mediante processo legal. Deram início a esse
processo. E o próprio Paulo, anos mais tarde, sofreria com a mesma estratégia
que usaram — tortuosa e indireta. Não foram à casa do sumo sacerdote fazer uma
reclamação formal. Em vez disso, houve muito movimento nas vielas mais
estreitas da cidade. Logo depois, incidentes apa¬rentemente espontâneos
expuseram as atividades de Estêvão aos olhos do público. Suas reuniões foram
violentamente interrompidas até que anciãos e escribas, os quais não haviam
ainda encontrado tempo para ouvi-lo, descobriram que era urgente suprimi-lo.
Levaram guardas do Templo, prenderam-no e o conduziram
à presença do Sinédrio enquanto Paulo e seus colegas cilicianos permaneceram
nos bastidores.
Os setenta e um juízes se assentavam em grandes bancos
que se curvavam em ambos os lados do lugar do Presidente, na Sala das Pedras
Polidas. Em cada ponta, um secretário escrevia em papiro, tentando seguir o
discurso de Estêvão. De frente para os juízes e atrás do prisioneiro estavam os
servos do tribunal, os advogados, os mestres e os candidatos ao Sinédrio.
Paulo se encontrava sentado em seu meio, tendo a
atenção tomada pelas palavras do oponente. Estêvão tinha como que enfeitiçado o
tribunal, desde o Presidente, em seu manto de sumo sacerdote e peitoral de
jóias, até ao mais jovem advogado. A atenção deles estava presa à expressão do
rosto de Estêvão, uma mistura de serenidade e autoridade incomuns num homem
cuja vida estava em julgamento, e à compreensão que ele demonstrava da história
judaica enquanto entregava, impro-visadamente, uma análise de mestre em
resposta às acusações que lhe haviam sido feitas. Paulo jamais se esqueceu do
tema daquele discurso, e o usaria em circunstâncias muito diferentes numa terra
distante. Uma frase, "o Altíssimo não habita em lugar feito por mãos de
homens", gravou-se de tal modo na sua memória que emergiu bem mais tarde
quando ele falava abaixo do Partenon em Atenas.
Continuando Estêvão a falar, o ambiente mudou. A admiração
deu lugar à perturbação. Recordações incômodas saídas de outro julgamento no
mesmo salão dois anos antes, e do corpo executado que não fora encontrado. De
súbito Estêvão percebeu que seus juízes não o ouviriam até o fim. Lançando a
cautela aos ventos, ele os acusou na cara de hipócritas obstinados e de
traidores e assassinos de seu Messias.
Os eruditos juízes rosnaram furiosos. A reação do
prisioneiro foi igualmente espantosa. Ignorou a ira deles. Levantou a cabeça e
fixou os olhos acima e além deles. Eles mal podiam acreditar no que ouviam
quando esse jovem entusiasta a quem procuravam condenar por blasfêmia clamou
ver a Deus, e que no lugar de honra ao seu lado estava "o Filho do
homem" — expressão que todos sabiam referir-se ao falecido Jesus de
Na¬zaré.
Assim teve início a pressa adoidada que culminou com um
cadáver arrojado numa poça de sangue abaixo da Rocha da Execução. Não foi por
acaso que as testemunhas lançaram suas vestes "aos pés de um jovem chamado
Saulo". Conheciam a responsabilidade dele. Ele, porém, não atirou uma
única pedra. Ele observava e aprovava — e ouviu Estêvão clamar: "Senhor
Jesus, recebe o meu espírito!" "Senhor, não lhes imputes este
pecado." E a ágil mente de Paulo viu e repudiou a essência dessa oração.
"Senhor, não lhes imputes este pecado", significava, no ensino de
Estêvão: "Senhor, tomaste sobre ti mesmo o pecado deles. Que eles creiam
em ti, que te conheçam e que te amem."
Durante o restante do verão em que Estêvão foi morto
(provavelmente 31 d.C.) e por todo o inverno seguinte as autoridades judaicas,
tendo Paulo como principal agente, deram início a uma repressão sistemática.
Ele atacou como um animal, rasgando sua presa. Não era
a triste eficiência de um oficial obedecendo a ordens desagradáveis. Seu
coração, bem como sua mente, estavam engajados com a precisão de um inquisidor
que desmascara a traição. Seu ímpeto chegou ao ponto de reduzir uma comunidade
vigorosa de âmbito urbano à impotência e pôr seus líderes em fuga ou em
esconderijos. Ele foi de casa em casa. Então realizou interrogatórios nas
sinagogas durante as reuniões. Todo suspeito, homem ou mulher, tinha de se pôr
de pé na presença dos anciãos enquanto Paulo, como representante do sumo sacerdote,
lhes ordenava que amaldiçoassem a Jesus. Se se recusassem, seriam formalmente
acusados, mas tinham o direito antigo de usar em sua defesa a fórmula:
"Tenho algo a argumentar em favor de minha absolvição."
Assim, Paulo ouviu as histórias e as crenças de muitos
daqueles que chamavam a Jesus de "Senhor". Muitos haviam estado com
Jesus em Jerusalém ou tinham ido à Galileia a fim de encontrá-lo, e estes
repetiam as suas palavras. Repetidamente, as mesmas frases, as mesmas parábolas
eram apresentadas ao tribunal da sinagoga. Paulo não se surpreendia com a
exatidão dessas histórias, uma vez que todos os rabis insistiam em que seus
discípulos aprendessem os seus ditos com perfeição, até mesmo reproduzindo a
tonalidade de sua voz. E os ditos, quer Paulo desejasse quer não, foram
imediatamente armazenados na biblioteca em expansão de seu arguto cérebro.
Alguns dos nazarenos defendiam sua devoção relatando a
influência de Jesus sobre seus corpos, como o cego de nascença a quem o Senhor
curara, que teria respondido a Paulo de modo tão insolente quanto respondera
aos indignados fariseus depois do milagre. Alguns tinham visto Jesus cambalear
na direção do Gólgota e tinham-no observado morrer. Muitos insistiam tê-lo
visto vivo depois de morto, não como fantasma, mas real — a despeito da surra
que lhe havia arrancado a pele e desnudado as costas, e o choque, a exaustão e
a exposição à crucificação romana com seu término inevitável por sufocação, se
a morte não chegasse primeiro. A maioria dos acusados, contudo, não
reivindicava ser testemunhas oculares, mas convertidos daqueles que o eram,
particularmente de Simão chamado Pedro ou "Pedra".
Vez após vez, um discípulo tímido e sem grande
influência, de educação medíocre e sem graças sociais, era atirado na presença
do tribunal. Depois de algumas frases o homem se transformava: começava a falar
claramente, com firme convicção. Era quase como se alguém lhe estivesse dizendo
o que falar.
Alguns presos afirmavam que certamente alguém lhes
dizia o que falar. Esquecidos da ira de Paulo, tiravam oportunas citações dos
incontáveis ditos de Jesus, os quais haviam decorado: "Quando vos levarem
às sinagogas e perante os governadores e as autoridades, não vos preocupeis
quanto ao modo por que respondereis, nem quanto às coisas que tiverdes de
falar. Porque o Espírito Santo vos ensinará, naquela mesma hora, as coisas que
deveis dizer." "Este será um tempo de dar-lhes testemunho. . .
Dar-vos-ei uma boca de sabedoria, a que nenhum dos vossos adversários será
capaz de resistir ou contradizer."
Paulo podia rir-se disso.
Atirou-os nos calabouços. Um ou dois talvez tenham sido
apedrejados. Paulo parece sugerir tal coisa ("Quando eram mortos, eu dava
o meu voto contra eles"), mas os romanos limitavam estritamente os direitos
judaicos à pena capital. A maioria era punida por meio de espancamento público,
as "quarenta chicotadas menos uma" que não eram nada agradáveis para
os de estômago fraco. A coragem de alguns desmoronava. Prestes a ser
chicoteados, ou depois de algumas pancadas, ou quando forçados a observar a
tortura da esposa ou do marido, gritavam a maldição contra Jesus, como Paulo
exigia.
Ele permanecia impassível enquanto homens e mulheres
saíam cambaleando com as costas inchadas e ensanguentadas. Ele permanecia igualmente
impassível com a recusa de homens em ser humilhados por causa de uma surra na
presença dos seus vizinhos. Diz-se que os judeus espancados na sinagoga quase
morriam de vergonha, mas estes pareciam contentes, e alguns diziam estar orando
por aqueles que os maltratavam e perseguiam.
Para o final do inverno chegaram notícias de que os
seguidores de Jesus fugidos de Jerusalém não se deixaram intimidar, mas
propagavam as suas doutrinas aonde quer que fossem — em Samaria, com êxito
impressionante, e no Norte, na direção de Damasco; no país dos fenícios além
das montanhas do Líbano, e até mesmo no além-mar. Paulo foi furioso à presença
do sumo sacerdote. "Respirando ainda ameaças e morte" como descreve o
seu primeiro biógrafo, ele pediu cartas para as sinagogas, autorizando-o a
prender homens e mulheres que seguissem o "caminho" e trazê-los
amarrados para Jerusalém.
Como primeiro objetivo, ele sugeriu Damasco. Embora a
disciplina do Sinédrio se estendesse aos judeus de todos os lugares, os romanos
não gostavam de perturbações. Mas Damasco, embora cidade romana, possuía duas
grandes comunidades que contavam com certa medida de autogoverno: os árabes
leais ao rei nabateu que vivia em sua capital de rocha em Petra, e os judeus. É
provável que Paulo pretendesse perseguir e castigar os cristãos da Fenícia e
depois os de Antioquia, a grande capital romana da Síria. Ele tinha toda uma
vida pela frente.
Ele partiu na primavera, assim que as viagens tiveram
início, à primeira luz da manhã, sob a forte luminosidade dos montes da Judeia.
Deve ter ido de jumento ou, de acordo com a imaginação de Miquelângelo, a
cavalo, embora o pequeno bando pudesse ter levado um camelo para carregar a
bagagem. Teriam passado perto do local em que Estêvão fora assassinado. Se tomaram
a estrada que atravessava Samaria, passaram por montes pedregosos acarpetados
de variegadas flores primaveris, e no segundo dia tiveram um breve vislumbre
das neves distantes do monte Hermom que domina a estrada para Damasco. No
quarto ou no quinto dia chegaram ao mar da Galileia onde as próprias pedras das
encostas clamavam. O local estava tão repleto de recordações de Jesus que
ninguém podia passar por estas paragens sem ser intimamente tocado. Paulo teria
encontrado aqui mais pessoas do que em Jerusalém as quais juravam ter visto a
Jesus vivo de novo, com cicatrizes nas mãos e nos pés.
Paulo atravessou o Jordão usando a ponte romana e subiu
as escarpas desnudas onde, séculos mais tarde, as armas sírias bombardeariam os
kibbutzim judaicos até que aquelas fossem destruídas na Guerra dos Seis Dias.
Agora ele tinha conhecimento do que Jesus havia feito e dito, até mesmo da
tonalidade da sua voz, da sua aparência e caráter, este homem que era quase da
mesma idade de Paulo.
Paulo jamais sugere que à medida que a sua pequena
caravana avistou o monte Hermom ele tenha pesado os fatores a favor e contra
Jesus. Este fora um impostor blasfemo e estava morto.
A Estrada de
Damasco
O último dia da viagem deixava para trás o Hermom,
cujos cumes, ainda sob a neve, erguiam-se acima dos montes marrons recobertos
de flores brancas. Mas a montanha já não parecia particularmente alta porque
eles estavam perto demais para ver o pico, e o planalto de Damasco encontra-se
a uma altitude de mais de 600 metros.
À frente deles, ao pé de um monte desnudo e escarpado,
estava o verde do oásis. Eles, porém, além de não perceberem, por causa da
distância, o rio, os edifícios e as árvores — oliveiras, vinhedos, figueiras e
amendoeiras em flor — estavam encorajados a prosseguir adiante até ao fim da
jornada, em vez de pararem, como em outras ocasiões, antes do meio-dia. O meio-dia
primaveril não causaria insolação. Paulo e seu grupo continuaram a caminhar.
Um homem, na retaguarda, conduzia os burros ligados por uma corda. A estrada estava
vazia. De vez em quando avistavam ovelhas ou bodes apascentados por um menino a
brandir o estilingue, ou enxergavam um pedaço de terra onde, atrás do arado, um
homem guiava o seu boi com uma longa vara com ponta de ferro.
O céu estava claro e azul. A memória de Paulo enfatiza
que não havia nem tempestade nem vento forte, como sugerem os que buscam uma
explicação natural para o acontecimento. Ele não estava perto de um colapso
nervoso nem prestes a sofrer um ataque epiléptico; ele nem mesmo tinha pressa.
"Quase ao meio-dia, repentinamente grande luz do
céu brilhou ao redor de mim... uma luz mais brilhante do que o sol, brilhando
ao meu redor e ao redor de meus companheiros de viagem."
Todos eles caíram por terra, apavorados com o fenômeno.
Não se tratava de apenas um relâmpago, mas de luz
terrível e inexplicável. Parece que Paulo permaneceu prostrado, enquanto seus
companheiros se levantaram cambaleando. Para ele somente, a intensidade da luz
aumentou.
Paulo ouviu uma voz, ao mesmo tempo calma e autoritária,
dizer-lhe em aramaico: "Saulo, Saulo, por que me persegues?"
Ele levantou os olhos. No centro da luz que o impedia
de ver ao derredor, ele encarou um homem de mais ou menos a sua idade. Paulo
não podia acreditar no que ouvia e via. Todas as suas convicções, intelecto,
treinamento, reputação e auto-estima exigiam que Jesus não estivesse vivo
novamente. Assim, procurando ganhar tempo, ele replicou: "Quem és,
Senhor?" A expressão de tratamento podia não significar nada mais que
"Excelência".
"Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas,
levanta-te, e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer."
Então ele soube. Em um segundo, que mais pareceu uma
eternidade, Paulo viu as feridas nas mãos e nos pés de Jesus, viu-lhe o rosto e
compreendeu que estava vendo ao Senhor, vivo, como Estêvão e outros haviam
dito, e que Jesus amava não apenas aos que Paulo perseguia, mas também ao
próprio Paulo: "Dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões." Nem
uma palavra de reprovação.
Paulo jamais admitira a si mesmo sentir as pontadas de
um aguilhão ao enfurecer-se contra Estêvão e seus discípulos. Mas agora,
instantaneamente, se conscientizava de que estivera lutando contra Jesus. E
lutando contra si mesmo, contra sua consciência, sua falta de poder, contra as
trevas e o caos de sua alma. Deus pairou sobre este caos e o levou ao momento
de nova criação. Só faltava o consentimento de Paulo.
Paulo se quebrou.
Ele tremia e não estava em condições de pesar os prós e
os contras para a mudança de ideias. Sabia apenas ter ouvido uma voz e visto o
Senhor, e que nada mais importava a não ser descobrir a sua vontade e obedecer
a ela.
"Que farei, Senhor?"
Aqui ele usa o mesmo tratamento de antes, mas toda a
obediência e adoração, e todo o amor no céu e na terra entraram nessa única
palavra "Senhor". Naquele momento ele se senda totalmente perdoado,
totalmente amado. Em suas próprias palavras: "Porque Deus que disse: Das
trevas resplandecerá luz — ele mesmo resplandeceu em nossos corações, para
iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo."
"Levanta-te", ouviu ele, "e entra na
cidade, onde te dirão o que te convém fazer." Ele havia confiado. Agora
tinha de obedecer — a uma primeira ordem humilhante, quase trivial.
Ao se pôr de pé, estava cego. Estendeu a mão aos
companheiros, agora ainda mais espantados ouvindo Paulo responder ao
inaudível, os quais o conduziram. Os animais de carga e de montaria alcançaram
a pequena caravana que se dirigia a Damasco em maravilhado silêncio.
Paulo entrou cegamente no desconhecido. Mas ele não se
encontrava em trevas, e sim em luz. "Não podia ver por causa do brilho
dessa luz." Embora o azul do céu, a poeira vermelha da estrada e o verde
do oásis desaparecessem, pouca falta faziam. A luz lhe infundia os olhos cegos
e a mente. Andando, em obediência a esse primeiro mandamento de seu novo Mestre,
Paulo fez a primeira grande descoberta: Jesus permanecia a seu lado, não na
forma de um corpo crucificado e ressurreto, mas como alguém invisível, contudo
presente.
Passaram pelo mau cheiro do caravançarai, calmo no
início da tarde, e entraram na cidade pela Rua Direita, espaçosa e cheia de
colunas, que dividia a cidade ao meio. Esta rua também estava relativamente
calma, pois as lojas e estandes ainda estavam fechados para a sesta do meio-dia,
e as janelas das casas, por causa do sol, permaneciam cerradas. Chegaram à casa
de um damasceno chamado Judas, provavelmente um rico mercador judeu, hospedeiro
digno de um representante do Sinédrio. Os anciãos da sinagoga deviam estar à
espera de Paulo, pois até os nazarenos sabiam que ele estava a caminho a fim de
persegui-los. Ambos os grupos o perderam de vista. A escolta o entregou e
desapareceu. Ele não pediu nada a Judas, a não ser o quarto de hóspede —
recusando até mesmo a comida — e estar a sós.
O tempo perdeu o significado. Ele ouviu a trombeta
vespertina, o cantar dos galos na manhã seguinte e o ruído de carroças no
calçamento. Ouviu os gritos dos comerciantes anunciando seus produtos, percebeu
o murmúrio distante de barganha-dores, e o relinchar ocasional de um burro.
Então, a calma do meio-dia. Paulo passou o tempo deitado, totalmente desperto,
a não ser por uma ou duas horas de sono, ou ajoelhado ao lado da cama. Ele não
queria companhia humana, mas desejava estar a sós com o Senhor Jesus, como
agora o chamava. Logo ele se esqueceu da fome e da sede. Sua personalidade toda
estava em mudança. Ao permitir que a luz de Cristo iluminasse os recessos de
sua alma, ele estava sendo virado do avesso.
"Saulo, Saulo, por que me persegues?" Agora
ele podia responder a essa pergunta com as palavras do Salmo de Davi:
"Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade: segundo a
multidão das tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões... Contra ti,
contra ti somente pequei."
Paulo se sentia imundo e nojento. Ele poderia ter usado
as palavras das Confissões de Agostinho: "Tu me colocaste perante o meu
rosto para que eu pudesse ver quão vil era, quão distorcido e impuro e
manchado e cheio de úlceras. Vi a mim mesmo e fiquei horrorizado." Segundo
o padrão da desumanidade do homem para com o homem — a repressão romana das
duas rebeliões judaicas, ou do massacre de Nero aos cristãos depois do incêndio
de Roma, ou da "solução final" de Hitler — a perseguição de Paulo era
ninharia. Mas o assassínio sempre é absoluto à consciência despertada do
assassino. Nem foi somente assassínio e crueldade. Ele havia blasfemado,
insultado e perseguido ao Senhor, cuja resposta fora procurá-lo e mostrar-lhe
o amor que ultrapassava tudo o que Paulo antes conhecia. Quanto mais ele, em
cegueira, se banhava nesse amor, à medida que as horas passavam velozes, tanto
mais ele se que¬brava ante a enormidade de seus feitos.
Ele supunha que estivesse servindo a Deus, que
estivesse caindo na graça divina. Ele havia disposto seus padrões de bondade,
tinha-se comparado com os outros e visto que era bom. Mas agora, em contraste
com Jesus cujo Espírito lhe invadia, ele sabia que sua pureza não passava de
contrafação do inexpressivamente Puro, suas boas ações nada mais eram que uma
paródia da Bondade. Ele havia sido mental e espiritualmente hostil a Deus,
embora o tivesse honrado com os lábios. Ele se ocupara do mal, embora
praticasse seus ritos religiosos. Ele se isolara totalmente, arrastando-se para
tão longe quanto pudesse da luz cegante que era Deus.
Contudo, Jesus o havia apanhado. Paulo, desse dia em
diante, citaria esse fato entre as provas indiscutíveis da ressurreição, não
importando o quanto os homens pudessem zombar dele ou chamá-lo de mentiroso.
Deus, de maneira incrível, havia levantado do sepulcro o corpo amassado de
Jesus de modo que ele estava vivo e aparecera a Paulo, não com o propósito de o
humilhar ou destruir, ou vingar o sangue dos perseguidos, mas para salvar o
perseguidor e sobrepujá-lo com amor e perdão. Paulo sabia, do fundo do coração,
que Jesus era o Messias, o Cristo, o Salvador do mundo. Esta não era uma
conclusão tirada da lógica fria, embora essa um dia haveria de chegar. Ia além
do intelecto. Ele sabia porque conhecia a Jesus.
E, conhecendo a Jesus, ele compreendia o que tinha
acontecido na cruz.
Paulo, em seu orgulho e conhecimento, tinha rejeitado a
Jesus porque homem algum poderia ser pendurado no madeiro a menos que tivesse
sido amaldiçoado. Agora, à medida que enfrentava o seu pecado, ele via, com uma
intuição irresistível, que Jesus deveras sofrera uma maldição sobre a cruz, mas
não a dele; era a maldição de Paulo e de todos os homens. Cada hora passada em
cegueira na casa de Judas, cada dia do restante de sua vida, revelaria um pouco
mais da largura, do comprimento, da altura e da profundidade das boas novas,
mas o coração estava seguro delas, agora e para sempre: o amor de Cristo,
"o Filho de Deus que me amou e a si mesmo se deu por mim". Paulo
podia, instantaneamente, ser tratado como alguém que jamais pecou, ser recebido
com amor e confiança. Quanto mais ele olhava com olhos cegos para o brilho da
luz, tanto mais distinto se apresentava o fato revelado naquele instante na
es¬trada de Damasco: o perdão era uma dádiva, inteira e perfeita, porque era o
próprio Cristo. Não podia ser merecido. Mérito humano algum podia superar o
pecado humano; mas, ao possuir a Cristo, Paulo tinha tudo.
Na casa de Judas, ele podia ter gritado o que
escreveria no futuro: "Enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu
Filho". "O mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações;
agora, todavia, se manifestou. . . Cristo em vós". "Para mim, o viver
é Cristo!" Ele já sentia o impulso de orar. Não apenas as orações formais
da gloriosa liturgia judaica, mas a conversação de um filho com seu Pai. Ao
falar com Jesus, ele falava com o Pai, ao adorar o Pai, ele conversava com o
Filho. Ele contou ao Senhor tudo o que lhe ia no coração. Ele inter-cedeu com
urgência por aqueles que havia perseguido, especialmente pelos que forçara a
blasfemar; pelos nazarenos de Damasco que o aguardavam com temor; por seus
amigos judeus e por seus superiores.
Com a oração, veio a fome das palavras de Jesus. Como
uma ovelha recém-nascida que, mesmo antes de conseguir pôr-se de pé procura
instintivamente o peito da mãe, Paulo tinha fome do conhecimento de tudo o que
Jesus havia dito e feito. Até à sua conversão ele havia sido indiferente às
palavras de Cristo. Desde o instante em que disse: "Que farei,
Senhor?" ele aceitou a sua autoridade, e agora era de importância
transcendental saber o que Jesus tinha ordenado, prometido, prevenido e predito;
conhecer a atitude do Mestre para com aqueles que o odiavam e para com os que o
amavam, saber tudo o que ele ensinou a respeito do Pai e de si mesmo, seus
veredictos em todos os assuntos do comportamento e destino humanos.
Paulo possuía ainda outro anseio: espalhar esta grande
descoberta. Contudo, ele tinha de esperar. O mandamento do Mestre fora:
"Entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer." Esperando,
ele ouviu a trombeta vespertina, o cantar dos galos e o ruído de carroças e
novamente a trombeta vespertina. Finalmente, na calma da terceira aurora,
enquanto orava, recebeu a revelação do que viria a seguir.
No quarto de uma pequena casa da rua chamada Direita um
judeu de meia-idade estava deitado entre dormindo e acordado.
Ananias, honrado membro da comunidade judaica de Damasco
e também seguidor de Jesus Cristo, não se surpreendeu nem hesitou ao ouviu uma
voz chamar o seu nome: "Ananias!"
"Eis-me aqui, Senhor."
"Dispõe-te, e vai à rua que se chama Direita e, na
casa de Judas, procura por Saulo, apelidado de Tarso; pois ele está orando, e
viu entrar um homem, chamado Ananias, e impor-lhe as mãos, para que recuperasse
a vista."
Ananias ficou espantado. Seu Senhor devia ter-se
enganado. É provável que Ananias tenha assistido a pequenas reuniões dos
nazarenos que, com a notícia de que Saulo, o Perseguidor, se aproximava, oraram
pedindo que o Senhor os livrasse, aparentemente, sem esperar que sua oração
fosse atendida.
"Senhor", respondeu Ananias, "de muitos
tenho ouvido a respeito desse homem, quantos males tem feito aos teus santos em
Jerusalém; e para aqui trouxe autorização dos principais sacerdotes para
prender a todos os que invocam o teu nome."
Disse a voz: "Vai, porque este é para mim um
instrumento escolhido". O Senhor, a seguir, confirmou e ampliou o seu
mandamento.
Com isso, Ananias levantou-se e foi.
Caminhando apressado pela viela e desviando-se dos
carregadores de água que voltavam do rio, no momento em que o sol despontava
nos penhascos do norte, ele quase gritava: "Aleluia!" Então o braço
do Senhor não se encolhera. Ele o havia estendido para curar, e o lobo se
deitaria com o cordeiro como na antiga profecia. E ele, o obscuro Ananias, de
quem jamais se ouviu falar nem antes nem depois, fora escolhido para batizar a
Saulo, o primeiro exemplo de um padrão histórico, segundo o qual os grandes
embaixadores de Cristo, por mais preparados que sejam de outros modos, são
levados à sua vocação por intermédio de insignificantes agentes. Agostinho ouve
a voz de uma criança repetir: "Apanha e lê!" João Wesley escuta um
moraviano anónimo ler algo de Lutero; D. L. Moody, embrulhando sapatos numa
loja, faz uma pausa para atender às palavras de seu professor de escola
dominical; Charles Haddon Spurgeon, procurando abrigar-se de uma tempestade de
neve, ouve o sermão pregado por um operário do púlpito de um pastor que, por
causa da neve, não pôde comparecer.
Ananias, levado imediatamente à presença de Paulo, permaneceu
em pé ao lado da cama.
Ele via um rosto que passara de profundo sofrimento à
paz. A pele se enrugava onde a boa vida de fariseu tinha sido esgotada pelo
jejum; podiam-se ainda perceber as rugas feitas pela crueldade; a barba era
irregular e os olhos fixos. Contudo, era um rosto descontraído, como se Paulo
tivesse visto o pior e já não o temesse, tivesse olhado o melhor e soubesse que
estava sendo reconstruído em seu molde.
Ananias pôs as mãos na cabeça de Paulo.
"Saulo, irmão", começou ele (e engoliu em
seco ao chamar o assassino dos seus amigos de "irmão", mas a alegria
tragou a hesitação), "o Senhor me enviou, a saber, o próprio Jesus que te
apareceu no caminho por onde vinhas, para que recuperes a vista e fiques cheio
do Espírito Santo."
Naquele instante umas como que escamas caíram dos olhos
de Paulo. Ele viu Ananias. E o viu claramente. George Matheson, pregador
escocês e escritor de hinos (1842-1906), pensava que Paulo tivesse ficado
semi-cego pelo resto da vida, que o efeito daqueles três dias jamais o tivesse
deixado. Mas temos exemplos de Paulo haver fixado os olhos no seu oponente, ou
comandado a atenção de um auditório com o olhar, algo impossível aos quase
cegos. Paulo recuperou a vista instantânea e completamente.
Ananias desincumbiu-se do restante das suas ordens:
"O Deus de nossos pais de antemão te escolheu para conheceres a sua
vontade, ver o Justo e ouvir uma voz da sua própria boca, porque terás de ser
sua testemunha diante de todos os homens, das coisas que tens visto e
ouvido." Paulo ouviria mais, disse ele, diretamente do Senhor Jesus, que
lhe daria um vislumbre da dureza e da dor à medida que se aventurassem juntos,
não só aos filhos de Israel, grandes e pequenos, escravos e reis — mas também a
"todos os homens", a quem o fariseu Saulo desprezara e rejeitara.
A seguir, Ananias proferiu mais palavras, entregues
como se da parte do próprio Jesus: "Envio-te para lhes abrir os olhos e
convertê-los das trevas para a luz, e da potestade de Satanás para Deus, a fim
de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados
pela fé em mim."
O alcance e a implicação dessa comissão deixou Paulo
sem fala.
Disse mais Ananias: "Por que te demoras?
Levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados, invocando o nome
dele."
Ananias ajudou-o a deixar a cama. Normalmente os seguidores
do Caminho, como João Batista, batizavam por imersão num rio ou numa corrente
de águas, mas Paulo estava fraco depois de seu prolongado jejum. É provável que
se tenham encaminhado para o atrium, o jardim do pátio da casa de Judas onde
havia uma fonte; ou Paulo, com sua vontade férrea, pode ter insistido em
caminhar, apoiado em Ananias, os oitenta metros até o rio Abana, fora do muro
norte da cidade.
Nunca as árvores pareceram tão frescas como os
damas-queiros e pessegueiros, nem a água tão clara como a do Abana. A pedra cor
de creme do muro da cidade e dos portões devolvia o brilho do sol, sob um céu
azul. Paulo, embora advertido de que viriam tempestades, nessa ocasião podia
tornar suas as palavras do Salmo 19: "Os céus proclamam a glória de Deus...
o sol... se regozija como herói, a percorrer o seu caminho."
Paulo sentia bem-estar, descontração de toda a tensão,
agudeza de percepção e paz mental. Andando pela rua Direita, que, como todas
as ruas orientais era uma miscelânea de cores, barulhos e movimentos, ou
entrando no bazar de especiarias ou na rua dos trabalhadores em metal, ele
estava apaixonado com a humanidade toda. Damasco, por ser uma cidade de fronteira,
atraía tipos variados: árabes, judeus, partos com seus chapéus cônicos, e
soldados romanos. Paulo sabia ter sido enviado a todos — e a seu próprio povo,
os judeus, porque até mesmo eles, com exceção dos que tinham visto a Jesus,
possuíam so-mente um vislumbre da aparência de Deus.
Naquela noite, em companhia de Ananias, Paulo ficou conhecendo
o pequeno grupo de nazarenos. Se alguns fugitivos de Jerusalém estavam entre
eles — o que é possível — foi um momento de grande emoção quando os que haviam sido
chicoteados sob as ordens de Paulo lhe deram o beijo da paz e, como prova de
sua união uns com os outros e com Jesus, partilharam com ele o pão e o vinho,
símbolos do corpo e do sangue do Senhor, como o próprio Senhor ensinara na
noite em que foi traído.
Um incidente ainda mais extraordinário ocorreu no
sábado seguinte na sinagoga mais importante de Damasco. Os anciãos e a
congregação não faziam ideia da conversão de Paulo. Ele não a revelara nem
mesmo ajudas. Eles meramente supunham haver-se ele recuperado da indisposição e
estar pronto para a obra a respeito da qual fofocaram desde o anúncio da sua
vinda. Os membros mais severos, ao sentar-se, expressaram satisfação pia de que
a heresia seria apagada; os cruéis tiveram uma expectativa prazerosa de possível
derramamento de sangue. Os nazarenos, contudo, que sabiam que as coisas
correriam de modo diferente, estavam orando enquanto o hazwn acompanhava Paulo,
ainda vestido como fariseu e trajando uma veste de barras azuis, tendo no
turbante um talismã de couro, até à plataforma e lhe entregava o rolo da Lei.
Ele leu a passagem designada e devolveu o rolo. No
instante de pausa, antes de começar a falar, ele se maravilhou da estratégia
divina mediante a qual, nos séculos passados, levantaram-se sinagogas em
incontáveis cidades gentias — prontas para o dia em que, sob a sua liderança,
se transformariam nos baluartes de uma grande cruzada para Jesus Cristo! Como
ele tinha visto a verdade, certamente que eles também a veriam. Ele e eles
haviam sido separados para espalhar as boas novas de Jesus Cristo entre os
gentios. E começariam em Damasco.
Então ele proclamou: "Jesus é o Filho de
Deus." Paulo atacou com a mesma veemência e paixão que caracterizaram sua
perseguição. As palavras tropeçavam uma nas outras enquanto ele contava como o
Senhor lhe aparecera, que o Senhor estava vivo e que os amava. E a reação não
foi nada parecida com a que ele esperava. Os adoradores ficaram espantados e
horrorizados. Longe de se convencerem, ficaram com raiva. Esse vira-casaca,
recebido como representante do sumo sacerdote, se declarava representante de
Jesus.
Paulo se surpreendeu. Nos dias que se seguiram ele se
sentiu como Moisés que "pensou que seus patrícios compreenderiam que Deus
lhes estava oferecendo libertação por seu intermédio, mas não
compreenderam." Ainda mais, sua impaciência com os nazarenos aumentou. Ele
se reunia com eles todas as noites, mas poucos tinham recordações de Jesus.
Possuíam vários dos seus ditos, os quais haviam sido repetidos por aqueles que
o tinham conhecido, mas isso não satisfazia a Paulo. Ele tinha fome de
evidência de primeira mão. Contudo, não podia voltar a Jerusalém. Ainda que os
apóstolos, que haviam conhecido a Jesus melhor do que ninguém, confiassem nele
imediatamente, Paulo não devia arriscar-se a cair nas garras de um sumo sacerdote
enfurecido, que se encarregaria de fazê-lo desaparecer mediante o
estrangulamento ou prisão perpétua.
De noite, na casa de Judas ou talvez agora na casa de
Ananias, ele se revirava na cama, frustrado. E a glória dos dias de ce¬gueira
estava a desvanecer. Finalmente, ele disse ao Senhor que deixaria tudo nas suas
mãos. A paz voltou. Nenhuma voz ou luz revelou o próximo passo, somente a
convicção crescente de que devia sair sozinho, não levando nada a não ser os
rolos das Escrituras. Não era dos apóstolos que Paulo necessitava, mas de Jesus
somente; não de uma cidade, mas do deserto.
O passo seguinte foi fácil. Damasco era o ponto final
de uma das grandes rotas de especiarias que vinham do país da mirra e do incenso,
ao sul da Arábia, e da Ponta da África. As caravanas de camelos voltavam
trazendo moedas e mercadorias do mundo romano. O filho de um importante
comerciante não teve dificuldade alguma em conseguir passagem.
JOHN POLLOCK. O Apóstolo. Editora Vida.
2. Um homem preparado para servir.
Paulo teve experiências com Deus
Um verdadeiro apóstolo é homem que deve ter comunhão e
experiência com Deus. Paulo, não obstante não ter convivido com Jesus como os
demais apóstolos, teve experiências espirituais que os outros não tiveram. E
essas experiências fortaleceram sua vida espiritual e solidificaram o seu
relacionamento com Cristo. Ele diz que teve “visões e revelações do Senhor” (1
Co 12.1); com bastante modéstia, falando na terceira pessoa, diz que “foi
arrebatado ao terceiro céu”... “e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é
lícito falar” (1 Co 12.2,4). Que palavras foram essas, só Deus e Paulo sabem.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 75.
O prazer com que ele olha para a vida que tinha vivido
(v. 7): Combati o bom combate, acabei a carreira etc. Ele não temia a morte,
porque tinha o testemunho da sua consciência de que pela graça de Deus ele
tinha, em alguma medida, correspondido às expectativas do propósito da vida.
Como cristão, como ministro, ele tinha combatido o bom combate. Ele tinha
realizado o serviço, passado pelas dificuldades da sua batalha e tinha sido um
instrumento ao levar avante as gloriosas vitórias do Redentor exaltado sobre os
poderes das trevas.
Sua vida foi uma carreira, e ele a tinha concluído.
Como sua batalha tinha sido cumprida, assim sua corrida tinha acabado. “Guardei
a fé. Guardei as doutrinas do evangelho e nunca neguei nenhuma delas”. Note
que, em primeiro lugar, a vida de um cristão, mas especialmente de um ministro,
é um combate e uma corrida, às vezes comparada a um ou ao outro nas Escrituras.
Em segundo lugar, esse é um bom combate,
uma boa milícia. A causa é boa, e a vitória é certa, se continuarmos fiéis e
corajosos. Em terceiro lugar, devemos
combater esse bom combate, devemos concluí-lo e terminar nossa carreira. Não devemos
parar até que sejamos mais do que vencedores por aquele que nos amou (Rm 8.37).
Em quarto lugar, é um grande consolo para um santo moribundo quando ele pode
olhar para trás e dizer com o nosso apóstolo: “Combati etc. Guardei a fé, a
doutrina da fé e a graça da fé”.
Se pudermos falar da mesma maneira, ao nos aproximar do
final dos nossos dias, sentiremos um consolo inexprimível.
Portanto, precisamos continuar nos esforçando, contando
com a graça de Deus, para que possamos terminar nossa carreira com alegria (At
20.24).
[3] O prazer com que ele olha para a vida futura (v. 8):
Desde agora, a coroa da justiça me está guardada etc. Ele havia sofrido perda
por Cristo, mas estava certo de que ganharia a Cristo (Fp 3.8). Que isso possa
servir de ânimo para Timóteo para suportar as dificuldades como um bom soldado de Jesus Cristo, que há uma coroa da
vida para ele, a glória e a alegria que abundantemente compensarão todas as
dificuldades e privações do combate presente. Observe: Ela é chamada de coroa
da justiça, porque será a recompensa dos nossos serviços, que o Senhor não
esquecerá, porque não é injusto para esquecer, e porque a nossa santidade e
justiça serão aperfeiçoadas e serão a nossa coroa. Deus a dará como justo juiz
e não permitirá que alguém se desvie. Essa coroa da justiça não era somente
para Paulo, como se pertencesse somente aos apóstolos, aos ministros famosos e
aos mártires, mas para todos os que amarem a sua vinda. Observe: A natureza de
todos os santos é amar a vinda de Jesus Cristo: eles amaram a sua primeira
vinda, quando Ele apareceu para tirar o pecado pelo sacrifício de si mesmo (Hb
9.26). Eles têm prazer em refletir a respeito dela. Eles aguardam ansiosos pela
segunda vinda de Cristo naquele grande Dia. Eles a amam e a aguardam com
ansiedade. Em relação àqueles que amam a vinda de Jesus Cristo, Ele virá para a
alegria deles.
Existe uma coroa de justiça reservada para eles, que na
segunda vinda de Jesus Cristo será dada a eles (Hb 9.28). Disso, podemos
aprender que, em primeiro lugar, o Senhor é o Juiz justo, porque seu julgamento
é de acordo com a verdade. Em segundo lugar, a coroa dos crentes é uma coroa de
justiça, comprada pela justiça de Cristo e guardada como recompensa pela
justiça dos santos. Em terceiro lugar, essa coroa, que os crentes deverão usar,
é depositada para eles. Eles não a têm na era presente, porque aqui eles são
somente herdeiros. Ela não é deles como uma posse, e, mesmo assim, ela é certa,
porque foi depositada para eles. Em quarto lugar, o justo Juiz a dará a todos
que amam a sua vinda, se preparam para ela e anelam por ela. Certamente, cedo
venho.
Amém! Ora, vem, Senhor Jesus! (veja Ap 22.20).
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 719-720.
I Tm 4.7 Combati o bom combate. Aquilo para o que
Timóteo foi convocado (1Tm 6.12) foi cumprido pessoalmente pelo apóstolo e
suportado até o vitorioso fim. Ele “proclamou o evangelho de Deus mediante
grande luta”. Agora acabou a luta, esgotou-se a luta da vida, o bom combate
chegou a bom fim. Ele lutou contra poderes sombrios da maldade, contra Satanás,
contra vícios judaicos, cristãos e gentílicos, hipocrisia, violência, conflitos
e imoralidades em Corinto, fanáticos e desleixados em Tessalônica, gnósticos
helenistas judeus em Éfeso e Colossos, e não por último – no poder do Espírito
Santo – o velho ser humano dentro de si mesmo, tribulações externas e temores
internos. Acima de tudo e em tudo, porém, lutou em prol do evangelho, a grande
luta de sua vida, seu bom combate.
Completei a corrida. A imagem do atleta competidor que
alcançou a meta e por quem espera a coroa da vitória. Agora não cabe mencionar
os in-contáveis obstáculos que ele certamente conhece e poderia enumerar, mas o
final da corrida, a perseverança até o alvo. Nada pôde deter sua trajetória,
por nada ele foi interrompido significativamente. Agora tampouco poderes
mundanos destruirão sua vida de forma autocrática, ele é “prisioneiro do
Senhor”. O que ele anunciou aos anciãos de Éfeso na despedida se cumpriu agora:
“Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim
mesmo, se tão-somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o
Senhor Jesus me confiou, de testemunhar o evangelho da graça de Deus.” Tu,
Timóteo, cumpre cabalmente teu ministério, assim como eu agora concluí minha
tarefa. Uma vida cumpriu seu propósito quando a tarefa foi reconhecida e
concretizada e quando Deus é glorificado assim.
Guardei a fé. Será que se deve traduzir aqui com a
frase que se tornou linguajar corrente “Guardei a fidelidade”? Sem dúvida
tem-se em vista “a fidelidade até a morte”; é intencional a ligação com 2Tm
2.11-13; também a fidelidade do administrador, do qual se demanda prestação de
contas no juízo; a aprovação do colaborador e sua paciência até o fim no
trabalho penoso, quando os frutos estão maduros. Tudo está englobado, mas antes
de tudo e em tudo vale uma só coisa: “Aqui se trata da perseverança dos santos,
os que guardam fielmente os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.” “Guardei a
fé”, isso é o alfa e o ômega, origem e alvo daquele que por ocasião do primeiro
aprisionamento confessou: Cristo é minha vida e morrer para mim é lucro. Poder
crer até o fim, ser sustentado na fé em Jesus, receber constantemente essa fé
renovada e aprofundada: essa é a graça máxima, dádiva imerecida, exaltação da
fidelidade de Deus.
O soldado, o corredor, o administrador (agricultor) –
todas as três metáforas que Paulo lançou a Timóteo para encorajá-lo, todas
direcionadas para o fim dos tempos, cumpriram-se em Paulo. Essas declarações
não são marcadas pelo enaltecimento próprio, mas pela gratidão e adoração
àquele que o tornou forte na luta, que o conduziu à perfeição, que o presenteou
com a fé e o preservou.
Hans
Bürki. Comentário Esperança Cartas aos I
Timóteo.. Editora
Evangélica Esperança.
«...Combati o bom combate...» No grego temos o termo
«agonidzomai», em forma verbal; e o substantivo é «agon», que se deriva da
mesma raiz.
Originalmente, o termo «agon» indicava uma «assembléia»
de qualquer natureza; em seguida veio a indicar a multidão que se reunia para
ver as competições atléticas; e, finalmente, passou a indicar a própria competição
em que homens se esforçavam po r alcançar o prêmio ou coroa. Por extensão,
veio a significar qualquer forma de luta ou batalha. A forma verbal, aqui
empregada, é o termo de onde nos vem a palavra moderna «agonizar». No original
grego significava «entrar em combate», «lutar», «contender». Todas as
expressões, usadas no presente versículo, envolvem metáforas baseadas no
atletismo. A primeira dessas expressões provavelmente se alicerça sobre a luta
corpo a corpo, ou sobre alguma outra forma de luta na arena; a segunda, alude
às corridas dos fundistas, às maratonas, onde os corredores tinham de percorrer
longas distâncias, eivadas de obstáculos; e a terceira dessas metáforas é uma
alusão à «promessa» feita pelos atletas de que competiriam de conformidade com
as regras (ver também II Tim. 2:5 e I Tim. 5:12). (Quanto a outras metáforas
usadas pelo apóstolo dos gentios, com base na vida atlética, ver os trechos de
I Cor. 9:24,25; Fil. 2:16 e 3:13,14). Na passagem de I Tim. 6:12 encontramos as
seguintes palavras: «Combate o bom combate da fé...», onde o mesmo vocábulo
grego é empregado.
A verdadeira vida cristã é pintada aqui como uma luta ,
como uma competição atlética, como uma experiência árdua e testadora, embora o
seu propósito seja elevado, pois há uma coroa a ser obtida. Mas essa coroa só pode
ser conquistada por aqueles que lutarem de conformidade com as regras, e assim
se saírem vencedores. O ra , isso exige a ace ita ção do verdadeiro Cristo,
conforme é este exposto no evangelho e na doutrina de Paulo; e, po r o u tro
lado, exige a negação e a oposição contra os ensinamentos contrários. Também
envolve o cumprimento fiel dos deveres cristão se do ministério da Palavra em
que o crente observa todas as exigências próprias da vida cristã. E preciso,
pois, seguir a santidade, propagar o evangelho e ensinar devidamente àqueles
que já confiaram em Cristo.
Notemos aqui o uso do artigo definido, no original
grego, «Combati ‘o’ bom combate...», ou seja, «o combate cristão», aquele
combate no qual Pau lo fora posto pelo próprio Senhor. E trata-se de um « ...bom
...» combate, visto que tem por escopo bons e nobres propósitos, em defesa e propagação
do bem eterno entre os homens, em prol do qual se esforçam todos os legítimos
ministros do evangelho. A tradução inglesa de Williams
(aqui vertida para o português), diz: «Tenho lutado a
luta pelo bem». Na passagem de I Tim. 6:12, essa luta é descrita como a luta
«da fé», ou seja, em favor da propagação e da defesa da fé cristã (a «fé
objetiva», tão freqüentemente usada nas «epístolas pastorais», ver notas
expositivas a respeito , em I Tim. 1:2). O comentário de Adam C lark e , sobre
este particular, é o seguinte (m loc.): «Tenho lutado e vencido em favor de uma
causa honorabilíssima».
Notemos que a lu ta do apóstolo Pau lo term in o u em
«calamidade», conforme os homens podem ver as coisas, porquanto o apóstolo dos
gentios estava prestes a morrer como mártir. Para o próprio Paulo, no entanto,
isso era a coroação e a glória, o triunfo final de sua luta, de seu combate. As
palavras «Combati o bom combate...» poderiam ser entendidas como: «Não me
lamento, porquanto agora posso gloriar-me nas realizações de meu combate».
«Nenhum escravo romano, tangido pelo açoite ou pelo
aguilhão, poderia ter trabalhado como Paulo trabalhou. Paulo exigiu o máximo de
seu corpo frágil e de seu espírito sensível; e durante a vida inteira teve de
enfrentar a oposição, a zombaria e a perseguição, da parte daqueles que
deveriam ter sido seus amigos, e que de fato se mostraram amigáveis para com
ele, até ao momento em que entrou para o serviço de Jesus Cristo... Segundo o
ponto de vista do mundo, ele dera muito e ganhara pouco, além das tribulações e
do opróbrio. Desistira de distinguida posição na comunidade judaica, a fim de
tornar-se o homem mais odiado entre aquele povo capaz de ódios apaixonados.
Apesar de que seus esforços, em favor dos gentios, haviam terminado, uma
terceira vez, em aprisionamento em uma prisão gentilica, da qual, segundo ele
via claramente, só poderia ser libertado através da morte física ... contudo, a
despeito disso, o apóstolo Paulo se mostra triunfalmente exultante... É que ele
media as tribulações dentro do tempo pelas glórias da eternidade. Com olhos da
fé ele divisava para além de seu aparente fracasso e percebia a coroa da
justiça, que o justo Juiz já tinha em reserva para ele, bem como para os
milhares e milhares de outros também—a saber, para todos aqueles que tiverem
aprendido a esperar anelantemente pelo tempo em que o seu Senhor voltará. Em
tudo isso podemos perceber, em miniatura, a história da cristandade, desde a
morte do apóstolo». (Plummer, in loc.).
«Nada há de sutil ou obscuro nessa afirmativa
profundamente comovente; e aquilo que ele nos diz aqui é claro como o cristal.
Lembra-nos que a vida cristã é um conflito contra o mal, em nós mesmos e ao
nosso derredor... Lembra-nos que a carreira não está ganha enquanto não tivermos
cruzado a linha da chegada, não podendo haver afrouxamento do esforço ao longo
do caminho. Entre as mais penetrantes parábolas de Jesus, encontram-se aquelas
nas quais ele salienta o fracasso daqueles que começaram bem, mas não foram
capazes de prosseguir até ao fim. (Ver Luc. 14:25-33; Mat. 13:5,6,20,21;
25:8-10). Lembra-nos que nos temos oferecido a Cristo, a quem devemos lealdade fiel».
(Noyes, in loc.).
«... completei a carreira...» No grego, o substantivo é
«dromos», que significa «pista de corrida», onde é efetuada a competição.
(Quanto a essa metáfora, em sentido mais extenso, ver Fil. 3:13,14). O «prêmio»
buscado é a «vida eterna», isto é, tornar-se o que Cristo é e compartilhar de
sua natureza e atributos, ou perfeições, que procedem da parte de Deus Pai, mas
que Cristo outorga aos homens (ver Efé. 3:19; 1:23; Col. 2:9,10; II Cor. 3:18;
Rom. 8:29 e II Ped. 1:4), para que assim venham a compartilhar de sua herança e
glorificação (ver Rom. 8:17,29,30). Neste caso, naturalmente, essa carreira
completa aponta para o sucesso obtido no ministério; contudo, não podemos
destacar disso o sucesso individual na obtenção da vida eterna (ver o trecho de
I Tim. 4:16, onde o prêmio conquistado através da conduta de um autêntico
ministério é a própria salvação e a de outros; e ver também a passagem de I
Tim. 6:12, onde o «combater o combate da fé» é equivalente ao «apossar-se da
vida eterna»),
A vida cristã é retratada como uma longa carreira, como
uma maratona, repleta de obstáculos e dificuldades que esmagam aos homens que
não possuem a força conferida por Cristo. Nisso não pode haver vitória a menos que
o corredor prossiga até à linha de chegada; mas essa linha é cruzada triunfalmente.
Aprendemos que a carreira exige dedicação e coragem, bem como o poder
espiritual do Espírito Santo, pois, de outro modo, será inteiramente impossível
concluí-la com êxito, o que também é comprovado pela experiência diária.
Sabemos, com base de tudo quanto encontramos e sofremos, que correr com sucesso
a carreira cristã não é coisa fácil. Cristo exige a total dedicação de nossas
almas, a outorga da própria vida às mãos de Cristo, que é aquela atitude a que
denominamos de «fé». (Ver a nota de sumário sobre a «fé», em Heb. 11:1).
«Sabes tu que em uma carreira correm todos os
corredores, mas somente um pode obter o prêmio? Deves correr de tal maneira que
possas obter o prêmio» (I Cor. 9:24, segundo a tradução inglesa de Williams,
aqui vertida para o português).
«Porém, em nada (nos sofrimentos, nas perseguições e
nos encarceramentos) considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que
complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para
testemunhar o evangelho da graça de Deus» (Atos 20:24).
Clemente de Alexandria expande essa metáfora, até seus
detalhes mais completos, em seu Quis dives salvetur, capítulo terceiro. «Cristo
já nos deu o exemplo, como o precursor (ver Heb. 6:20)». (Lock, in loc.).
«...guardei a fé...» Se porventura a metáfora tem
continuação, então temos aqui o «compromisso» de um atleta de que «observaria
as regras», de que «se esforçaria legitimamente» (ver II Tim. 2:5 quanto a
notas a esse ,respeito). Em sua aplicação, isso indica: 1. Esforçar-se
legitimamente, como autêntico ministro de Cristo, em obediência às suas ordens,
trabalhando sob a sua autoridade. 2. Confiar na mensagem cristã, sem adições e
nem corrupções. 3. Defender a fé (a doutrina e a prática paulinas ortodoxas)
contra os assédios da heresia. 4. Propagar a «fé» aos perdidos. 5. Ensinar a fé
em toda a sua pureza, aos novos convertidos. A fé, neste caso, é a «fé
objetiva», ou seja, o «ensinamento cristão ortodoxo, interpretado por Paulo»,
conforme é comum nestas «epístolas pastorais». (Ver as notas expositivas a
respeito em I Tim. 1:2. Ver Heb. 11:1 quanto à «fé subjetiva», que consiste da
outorga da alma aos cuidados de Cristo). 6. Em tudo isso está envolvida a
«fidelidade» pessoal para com o Senhor. É como se Paulo tivesse dito: «Tenho
sido fiel às minhas promessas e ao meu compromisso com ele; tenho feito o seu
trabalho e tenho sido seu servo fiel. Tenho transmitido a sua mensagem aos
homens, em sua forma original e pura».
«Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os
mandamentos de Deus e a fé em Jesus» (Apo. 14:12). A alusão que temos aqui é à dificuldade
de guardar a fé, em oposição contra o anticristo, durante o negro período da
Grande Tribulação.
A Conduta Ideal·. Paulo terminou a sua carreira, a sua
«missão determinada», o seu destino terreno. Todos os homens têm tal curso e destino,
e todos são indivíduos ímpares, sem igual, conforme se aprende em Apo. 2:17. E
o alvo final não é necessariamente a «felicidade», como também por certo não é
o bem-estar físico. O texto à nossa frente ilustra isso perfeitamente. A
conduta ideal consiste da tentativa de cumprirmos nossa carreira e nosso
destino fixos. Para Aristóteles, a virtude consistia de «função»; e função
indicava o cumprimento do desígnio específico para o que o indivíduo estava
melhor preparado e dotado. Faz parte de nosso dever moral saber que função é
essa, saber o que podemos fazer, e realizá-la ao máximo de nossas forças e de
nossas habilidades. Há nisso certa verdade, se a aplicarmos às nossas vidas
espirituais. Deus nos coloca na posição em que nos encontramos, e confere-nos
uma tarefa, para então a realizarmos com todas as nossas forças. O N.T. não
recomenda a preguiça, e nem o viver diário meramente para desfrutar dos seus
prazeres. Mas é entristecedor o fato que, nas igrejas, muitas pessoas,
incluindo ministros e mestres, vão passando de um ano para outro sem nenhuma
tentativa séria de se aprimorarem, em suas próprias vidas cristã e em seu
trabalho. Mas se essa atitude fosse tomada no que concerne às atividades comuns
do mundo dos negócios, todos ficariam estagnados. Portanto, o que não é
permitido no mundo, devido ao seu espírito competitivo, é praticado na igreja praticamente
sem qualquer reprimenda. Mas é por isso mesmo que tantas pessoas sentem que a
igreja é monótona e maçante, e alguns declaram-no francamente.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 401-402.
3. “O menor dos apóstolos”.
Paulo era um homem de grande cultura
Desmistificando a crença ou “doutrina” de que Deus só
usa pessoas de pouca instrução, o exemplo de Paulo é bem marcante. Era homem
de alto conhecimento bíblico e teológico, discípulo de
Gamaliel, um dos mestres do judaísmo (At 22.3).
Paulo era um intelectual poliglota. Falava hebraico,
por ser judeu e fariseu (At 22.2); por ser cidadão romano (At 22.25), falava
latim; suas epístolas foram escritas em grego, o que dá a entender que, sendo
um homem culto de sua época, falava a língua helénica; e, como judeu zeloso,
certamente, falava o aramaico, que era língua usual, nos meios intelectuais de
sua época. Em sua soberania, e segundo seus propósitos divinos, Jesus resolveu
contrariar a lógica humana, e chamar um perseguidor do evangelho para ser salvo
e fazer dele um apóstolo dos mais destacados entre os que quis escolher.
Enquanto alguns de seus primeiros discípulos, do grupo
dos Doze, eram humildes pescadores, de menor grau de instrução, Paulo era um
homem intelectual, que haveria de levar o evangelho aos gentios, ou gentes de
todas as nações, fora de Israel, inclusive aos “reis” ou governantes de povos
estrangeiros. Além dessa característica marcante, em seu ministério, Paulo foi
o grande teólogo e intérprete dos evangelhos de Cristo. Dos 27 livros do Novo Testamento,
13 foram escritos por ele. E ainda resta dúvida se a epístola aos hebreus
também foi de sua autoria.
Não foi por acaso que Paulo foi o primeiro apóstolo a
levar o evangelho de Cristo à Europa. Ele foi o grande evangelizador do Império
Romano (Rm 15.24,28). Em suas viagens missionárias, levou o evangelho de Cristo
a cidades de Israel, passou pela Turquia, pela Ásia Menor; pregou na Macedônia,
na Acaia, na Grécia, centro cultural da Europa, à época; e, em sua última
viagem missionária, reviu discípulos nas igrejas que fundara, e terminou em
Roma, para onde foi levado preso, e pregou na capital do Império mundial da
época. Concluiu sua extraordinária missão, declarando solenemente: “Combati o
bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7).
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 75-76.
O Apóstolo Paulo (I
Cor 15.8-11). Paulo se inclui entre aqueles que viram Jesus ressuscitado: E,
por derradeiro de todos, me apareceu também a mim (8). Paulo não acreditava que
tivesse visto Cristo somente numa visão. Ele considerava sua experiência na
estrada de Damasco uma válida aparição da pessoa do Senhor ressuscitado. Ele
não conhecia nenhuma aparição posterior de Cristo a qualquer pessoa - pois a
aparição de Cristo a João na ilha de Patmos aconteceu depois da morte de Paulo.
O apóstolo refere aqui a si mesmo como um abortivo (ektroma). Essa estranha
frase significa um aborto, ou nascimento fora do tempo, e “denota um filho
nascido de forma violenta e prematura”.
Esta referência à
conversão de Paulo é a descrição “da rapidez e violência da transição...
enquanto ele ainda estava num estado de imaturidade”.13 Fazendo um contraste,
os 12 discípulos haviam sido escolhidos, alimentados, treinados e depois
comissionados. Haviam sido aprendizes, antes de se tornarem apóstolos. A
mudança de Paulo foi dramática e excepcional. No entanto, ele havia visto o
Senhor de forma tão real como eles.
Paulo não só havia
visto o Senhor, como a experiência havia revolucionado completamente a sua
vida. Ele estava bastante ciente de ser o menor dos apóstolos (9) e indigno de
ter esse nome, por causa da intensa perseguição que havia feito à igreja. Mas,
apesar da sua falta de mérito e aptidão, a graça de Deus (10) o havia tornado
semelhante aos apóstolos para essa tarefa. A abundante graça que foi concedida
a Paulo não foi vã, pois deu frutos e era valiosa.
Sobre os outros
apóstolos, Paulo declara: Trabalhei muito mais que todos eles. Isso pode querer
dizer que Paulo viveu mais tempo, portanto trabalhou mais, ou pode significar
que ele teve mais sucesso que os outros na fundação das igrejas. Embora Paulo
seja suficientemente humano para apreciar seu sucesso como servo do Senhor, ele
reconhecia que as suas realizações não eram o resultado de seus talentos, mas
da graça de Deus que estava em sua vida.
A conclusão é que
todos os líderes apostólicos e várias centenas de crentes da Igreja Primitiva
aceitavam o fato da ressurreição de Cristo. Além disso, esse fato havia sido
pregado aos coríntios e eles o haviam aceitado. Cheio de propósito, Paulo podia
declarar em relação à ressurreição: Então, ou seja eu ou sejam eles, assim
pregamos, e assim haveis crido (11).
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 8. pag. 358.
I Cor 15. 8,9 Por
fim, Paulo cita também a si mesmo como ―testemunha da ressurreição‖ (At 1.22).
“Afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de
tempo. Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser
chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus.” Se de fato for um verdadeiro
―apóstolo‖, Paulo também precisa constar do rol de testemunhas. Nisso, porém,
ele é apenas algo como um ―nascimento falho‖ ou ―o aborto‖ de um apóstolo. Porque
a tarefa de um apóstolo é a edificação fundamental da ―igreja de Deus‖. Paulo,
porém, “perseguiu a igreja de Deus”, tentando aniquilá-la (Gl 1.13). Por isto
ele era – de modo completamente diferente do que todos os demais ―apóstolos‖
com todas as suas falhas – em si mesmo o exato oposto de um apóstolo. Ele não é
“digno de ser chamado apóstolo”, e por consequência é “o menor dos apóstolos”.
Werner
de Boor. Comentário Esperança Cartas aos I Corinto.
Editora
Evangélica Esperança.
A mesma palavra aqui traduzida por «...foi visto...» é
usada tanto no caso de Paulo como no caso dos demais discípulos de Jesus que o
viram redivivo; todavia, nenhum argumento importante se pode edificar com base nesse
fato, como se alguma diferença entre sinônimos pudesse «fazer alguma diferença»
na natureza das manifestações de Jesus. Todas essas manifestações foram
«corporais», todas foram experiências de Jesus. Todas essas manifestações foram
«corporais», todas foram «experiências místicas» também.Se pudéssemos
interrogá-lo, provavelmente Paulo não teria admitido qualquer distinção no modo
do aparecimento de Jesus. Porém, embora fosse uma aparição mística, não há
motivo para duvidarmos que foi perfeitamente real. Talvez não tivesse sido
capaz de tocar no Senhor, a exemplo de Tomé; mas foi a «presença real» do ser
de Jesus Cristo que Paulo viu e sentiu. Por conseguinte, não há qualquer
diferença quanto à realidade desta manifestação de Cristo, e isso é o que
importa. Tal como no caso de outros igualmente privilegiados, o encontro de
Paulo com o Senhor, na estrada de Damasco, foi a cena de sua comissão como
testemunha de Cristo, acerca de sua ressurreição, de sua importância cósmica, e
de seu poder de salvar toda a humanidade.
«....nascido fora de tempo...» O vocábulo grego aqui traduzido
como «...fora de tempo...», ê «ektroma», forma jônica de «ektrauma», que significa
«proveniente de trauma», isto é, de injúria, de dor; e isso é uma alusão à
experiência dolorosa da maioria dos abortos. Tal palavra indica «nascimento abortivo». Através de tal palavra Paulo se
refere à «subitáneidade», à «violência», ao «inesperado» de sua transição para
a vida em Cristo, bem como de sua comissão subseqüente como um apóstolo. Os demais
apóstolos tomaram-se tais de maneira natural, tendo sido ensinados pessoalmente
por Cristo, lentamente, tendo tido de amadurecer em sua formação espiritual.
Mas Saulo de Tarso surgiu repentinamente, ainda um tanto imaturo, tal çomo uma
criança que nasce antes do tempo certo, como que nasceu repentinamente, do
ventre morto do judaísmo, tendo recebido vida do alto.
A maneira como Paulo se refere à questão parece indicar
que ele se mostrava muito sensível em relação à sua vida anterior de erros, que
havia precedido & sua conversão.
«.. .também por mim.. .» são palavras que Paulo usa com
certo senso de humildade, porquanto fora ele um elemento incrédulo, um
indivíduo odioso, perseguidor e assassino dos cristãos. O fato que ele fora tal
coisa (um incrédulo, à semelhança de Tiago, mas muito mais destruidor para a causa
cristã), mas que repentinamente se convertera de todo, demonstra o poder e a
realidade das aparições do Senhor Jesus para ele.
«Porque todos quantos souberam qualquer coisa sobre a
história de Paulo, como perseguidor zeloso da igreja, aceitavam isso como um argumento
final e convincente. Ele fora transformado para perder toda a semelhança de seu
antigo ‘eu’; e assim, na qualidade do grande missionário dos povos gentílicos,
embora nem ele e nem os outros o soubessem então--ele se tornou um dos homens
mais significativos do mundo greco-romano. Àquilo em que Paulo cria, a despeito
da sua fortíssima expectação do retorno quase imediato de Jesus Cristo -embora
até mesmo então possamos supor, legitimamente, que um ponto de vista mais
maduro sobre essa grande consumação estava se formando naquela mente fértil e que
via longe- é que a igreja, mantida no germem de sua comunhão, aponta o
verdadeiro caminho da vida para a humanidade inteira. Isso fazia, tanto da
igreja como do apóstolo, as razões de maior significação possível para as eras
futuras. Alguns historiadores não têm hesitado em salientar que a tradição
cristã, que é um dos elementos essenciais da civilização do mundo ocidental,
deve o fato de sua proeminência, sobretudo, às viagens missionárias de Paulo.
Mas certamente ele mesmo não teria feito reivindicação similar. (Ver o décimo
versículo deste capítulo, bem como o trecho de Gál. 2:20)». (John Short, in loc.).
«.. .Paulo.. foi como que lançado para fora do ventre,
nem bem recebera a fagulha vital...ora, esse seu nascimento prematuro toma a
graça de Deus ainda mais ilustre em Paulo do que se tudo tivesse acontecido
pouco a pouco, mediante passos sucessivos, até chegar ele à maturidade em
Cristo». (Calvino, in loc.).
Paulo quis salientar diversas coisas através desse símbolo:
Seu aparecimento súbito e aparentemente fora de tempo entre as fileiras apostólicas;
sua «imaturidade» por ocasião de seu aparecimento; sua «inferioridade» natural
diante dos outros apóstolos, exceto a graça de Deus; e, no entanto, quão grande
é a graça de Deus que tal pessoa veio a tomar-se, por assim dizer, o principal
dentre todos os apóstolos. E foi assim que Paulo completou a lista de
testemunhas da ressurreição de Cristo, aludindo a si mesmo. Jesus foi visto
após sua morte, e estava vivo. E isso constitui um fato histórico digno de
confiança. Conforme disse Sir William Barrett: «O que quer que os mais humildes
homens afirmem, com base em sua própria experiência, isso é digno de ser
ouvido; porém, aquilo que até mesmo os homens mais habilidosos negam, em sua
ignorância, jamais merece um momento sequer de atenção».
Paulo se considerava bem pouca coisa. As palavras «...o
menor dos apóstolos...»nada têm a ver com sua estatura física, ou seu poder
espiritual ou suas realizações; porquanto, nessas coisas, ele foi realmente o
maior de todos. Por igual modo, isso não se pode referir à sua dedicação, ao
seu propósito e à sua espiritualidade genuína, pois, uma vez mais, nessas coisas,
ele foi o maior de todos os apóstolos. Mas temos aqui a estimativa humilde em
que Paulo tinha a si mesmo, no que concerne ao seu «valor pessoal», que ele
poderia ter a fim de merecer tão elevado ofício. Em si mesmo, dificilmente ele
era digno de ser ao menos um crente comum e possuir a vida eterna, em Jesus
Cristo, porquanto perseguira miseravelmente à igreja de Deus. A dor de
consciência se mostra clara aqui. Ele aprisionara e assassinara a mulheres e
crianças inocentes, entre suas outras vítimas. Não admira, pois, que ele visse
a si mesmo como o menor dos apóstolos e que se não fora a graça divina, nem ao
menos era digno de ser chamado «apóstolo». (Comparar essa autodepreciação de
Paulo com os trechos de Efé. 3:8 e I Tim. 1:15. Quanto às suas perseguições
anteriores contra os cristãos, ver as passagens de Atos 8:3; Gál. 1:13 e Fil.
3:6).
Paulo havia dito que era ele qual um «aborto» entre os
apóstolos; e essa era outra razão para ter-se em tão pouca conta. Ele empregou
aqui o termo grego «ikanos», que é traduzido aqui por «digno». Mas essa não é a
mesma palavra grega «aksios», a palavra grega ordinariamente traduzida por «digno».
Antes, o termo aqui usado significa «competente», «adequado»
(comparar com II Cor. 2:16). Ele não via qualquer
mérito em si mesmo, como explicação de por que Deus lhe outorgara tão estupenda
graça. Contudo, a graça não lhe fora dada em vão, conforme sucede quando o
livrearbítrio de um homem teimoso interfere com os planos divinos. Pelo contrário,
a vontade de Paulo correspondia aos impulsos divinos; e isso era tudo que o
Senhor requeria da parte dele. Seu «aborto» violento, para fora do judaísmo,
fora uma necessidade; porque ele fora um destruidor; e, através desse processo,
normalmente jamais teria vindo aos pés de Cristo, e muito menos poderia ter
assumido a posição de sua mais importante testemunha.
Todavia, a grande mancha de culpa de sua vida jamais
foi olvidada pelo apóstolo Paulo (ver Gál. 1:3; I Tim. 1:12-14 e Atos 26:9).
Por igual modo,
não foi eliminado o princípio da colheita segundo a
semeadura; porquanto existe uma lei que dita que tudo quanto um homem semear,
isso também terá de colher.É o mesmo caso de Davi, o qual, mésmo depois de
haver-se arrependido de seus pecados e de ter sido perdoado, teve de sofrer as conseqüências.
Paulo ainda teria de pagar pelos erros cometidos. Ele, o grande perseguidor,
tornou-se o grande perseguido. Aquele que havia encarcerado a outros, agora era
freqüentemente encarcerado. Aquele que havia assassinado a outros, finalmente
foi morto. Essa é uma grande lei, que não admite qualquer exceção, até mesmo
quando o perdão entra em operação. (Ver Gál. 6:7,8).
«Houve ocasiões em que esse fato terrível (o de ter
perseguido a igreja)' confrontava a Paulo como um pesadelo. E quem não
compreende essa forma de contribuição?» (Robertson, in loc.).
«Embora Deus o tivesse perdoado, o próprio Paulo
dificilmente se perdoaria por seu pecado passado». (Faucett, in loc.).
O trecho de Efé. 3:8 apresenta Paulo a dizer algo ainda
mais depreciativo a seu respeito. Lá ele aparece como «...o menor de todos os
santos...».
CHAMPLIN, Russell Norman,
O Novo Testamento Interpretado versículo
por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 239-241.
I Cor 9 .2 a) O apostolado de Paulo (9.1-3). Em
primeiro lugar, Paulo afirma que ele não estava preso a uma lei ritual. “Não
sou eu apóstolo? Não sou livre?” (1). Em se tratando da atividade cristã, ele
tinha completa liberdade dentro dos limites das leis da ética e do espírito. A
esse respeito, ele gozava da liberdade de todos os cristãos, cuja redenção
pessoal está baseada na fé no Senhor Jesus Cristo. Mas Paulo gozava de uma
liberdade ainda maior, a liberdade de um apóstolo. Sua pretensão a todos os
privilégios dessa função tinha o apoio de dois fatos.
1) Ele havia visto a Jesus Cristo, Senhor nosso (1).
Por definição “um apóstolo é alguém que é enviado diretamente pelo Senhor, o
único que pode conferir esse mandato”. Isso não significa que ele viu Cristo
como parte de uma multidão ou como uma visão, mas que isto “pode apenas
designar o fato histórico positivo da aparição de Jesus no caminho de Damasco”.
Esse conhecimento pessoal de Cristo era a essência do apostolado (At 1.22;
2.32; 3.15; 4.33).
2) A segunda validação de Paulo como apóstolo era o
sucesso do seu trabalho entre os coríntios. Ele havia equilibrado a doutrina
com seus resultados práticos. Não sois vós a minha obra no Senhor? Essa era uma
pergunta que só podia ser respondida afirmativamente. E a resposta iria
confirmar sua alegação, pois ele havia ido a Corinto como apóstolo do Senhor
Jesus Cristo. Dessa forma, os coríntios seriam os últimos a questionar a
validade desse encargo. Eles eram o seu selo... no Senhor (2).
O selo ou sinete era o emblema da propriedade e da
segurança. Da maneira como foi usada aqui, essa “palavra significa a impressão
feita pelo selo, usada metaforicamente a respeito dos convertidos de Corinto,
como uma autenticação do apostolado de Paulo”. Todas as outras congregações
fundadas por Paulo teriam selos semelhantes.
A palavra defesa ou exame (3) “significa uma
investigação crítica de sua reivindicação ao apostolado”. O uso do tempo
presente sugere que algumas pessoas de Corinto estavam continuamente usando a
prática de desafiar as credenciais apostólicas de Paulo. Alford afirma que a
frase: “Esta é a minha defesa para com os que me condenam”, se refere aos
versículos anteriores. Lenski acredita que os versículos 1-2 são preliminares,
e que a verdadeira defesa que Paulo faz do seu apostolado começa no versículo
4.
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 8. pag. 311-312.
I Cor 9.2 Ademais, não falta o ―selo‖ à sua incumbência
apostólica: ―Porque o selo de meu apostolado sois vós no Senhor‖. Como os
coríntios podem duvidar da autenticidade de sua incumbência? Nesse caso também
deveriam colocar em dúvida a autenticidade de sua condição cristã e sua existência
como igreja de Jesus. “Se não sou apóstolo para outros, certamente o sou (pelo
menos) para vós” [tradução do autor]. Essa é a sucinta e contundente ―defesa‖
de seu apostolado contra os que se posicionam como juízes contra ele em
Corinto.
Werner
de Boor. Comentário Esperança Cartas aos I Corinto.
Editora
Evangélica Esperança.
I Cor 9.2 Paulo enfatiza a prova de seu apostolado,
dada no primeiro versículo deste capítulo, onde diz que os próprios crentes de
Corinto eram uma prova de seu ministério. Quanto a outros, que tão-somente
tinham ouvido falar sobre Paulo, mas nunca tinham contemplado o seu poderoso
ministério em primeira mão, era possível que se desculpassem por não reconhecer
nele o grande homem de Deus, de fé e poder como ele era. Mas os crentes de Corinto
não podiam apresentar essa mesma desculpa. Acima de outros, tinham de
reconhecer como Cristo operava por intermédio dele. Paulo estivera entre
aqueles coríntios por nada menos de dezoito meses, isto é, por mais tempo do
que estivera entre qualquer outro grupo de pessoas, excetuando Efeso.
«...selo...» Essa era a marca da autenticação, nas
culturas antiga e moderna. O «selo» ou «caminho» da autoridade, impresso sobre
um documento, é necessário para dar-lhe legalidade. Ora, os labores tão
bemsucedidos de Paulo serviam-lhe de selo, de autenticação. Entre esses labores
havia o estabelecimento do evangelho na cidade de Corinto. Paulo não poderia
ter conseguido tal coisa, a menos que tivesse sido preparado para tanto pelo
Espírito de Deus. Através do dons espirituais, que resultavam em poderosos
sinais e grandes maravilhas, além de uma pregação eloqüente e convincente,
homens e mulheres ficavam convictos do poder de Cristo, atuante nesse apóstolo.
Nisso consistia o selo autenticador de Paulo.
Alguns intérpretes encaram a natureza da própria igreja
de Corinto, possuidora que era de dons espirituais em abundância, como uma
prova da fonte apostólica de sua conversão. Ê provável que isso expresse uma verdade,
porquanto muitos poderiam ter-se convertido através de ministros menores;
porém, os notáveis dons espirituais que os crentes de Corinto possuíam agiam
como uma prova que nenhum mero ministro comum labutara entre eles.
«...no Senhor...», tal como já dissera no primeiro
versículo, numa repetição que indica a forte convicção que tinha o apóstolo de
que tudo quanto fazia, fazia-o através do poder do próprio Cristo, mediante o
seu Santo Espírito, tudo tendo como fonte ao Senhor, e tudo tendo ao Senhor por
alvo.
«A despeito de suas imperfeições, a igreja de Corinto era
uma brilhante evidência da comissão de Paulo; provavelmente era a maior igreja
até então fundada em seu ministério independente». (Findlay, in loc.).
«.-. .selo...»«Aquilo com que alguém conclui, designa e
confirma qualquer coisa; então também ‘confirmação’, ‘testemunho’, ‘testemunho
original’». (Kling, in loc.).
«...mediante os sinais e portentos que ele operara
entre eles, como diz Crisóstomo, alicerçado em II Cor. 12:11-13...a conversão
era a grande prova». (Alford, in loc.).
Nos tempos antigos, vários tipos de selos eram usados,
a saber:
1. As portas eram seladas com uma corda, e os túmulos
com grandes pedras. Algumas vezes a argila era usada para selar portas. (Ver
Dan. 6:17; Bel e o Dragão 14; Herod.ii.121 e Mat. 27:66).
2. O selo cilíndrico era um dos mais comuns. Tratava-se
de um cilindro feito de barro cozido ou de pedra, com gravuras esculpidas ao
derredor. O cilindro era rolado por cima de um objeto, deixando suas marcas em
uma linha reta.
3. Selos de cera eram usados para selar livros e outros
documentos. Então, qualquer perturbação no selo notificava que o livro fora
aberto. Esse é o tipo de selo aludido em Apo. 5:1 e em vários outros trechos.
4. Selos escaravelhos, feito de rocha ou de outro
material, esculpido na forma de um besouro, com figuras gravadas no mesmo, e
com o qual se fazia a impressão.
5. Selos em anéis. Algumas vezes os selos escaravelhos
eram ngastados em um anel, embora também
existissem outros tipos. Muitas figuras eram usadas nesses selos, incluindo
figuras humanas, divindades, vários animais e quaisquer letras ou palavras.
6. Asas de jarras têm sido encontradas com freqüência
pelos arqueólogos.
Muitos selos escaravelhos têm sido encontrados no
Egito. Selos cilíndricos têm sido achados nas ruínas da Fenícia e da Síria, principalmente.
Cento e cinqüenta selos, inscritos com nomes pessoais em hebraico, prevêem a massa
maior dos nossos achados arqueológicos de «inscrições» feitas com selos. As
escavações efetuadas na Palestina têm produzido mais de seiscentas asas de
jarras com impressões feitas por selos.
De que maneiras eram utilizados esses selos?
1. Servia de sinal de autenticidade e autoridade, como
o selo que José recebeu, na qualidade de representante de Faraó.
2. Servia para testificar e confirmar a autenticidade
de documentos. (Ver Jer. 32:11-14; Nee. 9:38 e Dan. 9:24).
3. Servia para impedir a leitura de um documento ou
livro. Simbolicamente, pois, esse tipo de selo representa algo oculto ou ainda
não revelado.
Neste texto, o selo de que Paulo fala servia
essencialmente como «autenticação» de seu ministério, como uma «testemunha»,
como uma confirmação do mesmo.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 131.
III - APOSTOLICIDADE ATUAL (Ef
4.11)
1. Ainda há apóstolos?
Aplicamos este termo ao que já vimos no item 1.1, ao
“Colégio Apostólico”, ou aos Doze discípulos que foram selecionados por Jesus,
e enviados como apóstolos para dar início à Grande Comissão (Mc 16.15).
Apóstolos como eles não existem mais. Eles eram apóstolos no sentido estrito da
palavra, e nas circunstâncias em que foram chamados e enviados por Jesus.
1) Estiveram
com Cristo, durante todo o seu ministério terreno
Enquanto Paulo aprendeu “aos pés de Gamaliel”, os Doze
aprenderam aos pés de Jesus, o Mestre dos mestres, no mais perfeito curso de
evangelização e discipulado que alguém poderia realizar. Próximo à sua morte,
Jesus lhes disse: “E vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas
tentações” (Lc 22.28). O fato de ter visto a Cristo não é condição exclusiva,
pois Paulo também o viu (1 Co 9.1,2). Mas o terem aceito seu chamado
diretamente de sua parte; de terem caminhado durante cerca de três anos, ao seu
lado, ouvindo sua palavra, e vendo seus milagres; de terem comido e dormido ao
seu lado, muitas vezes sem ter “onde reclinar a cabeça” (Mt 8.20); só os Doze
compartilharam momentos tão expressivos da humanidade, bem como da divindade de
Cristo.
2) Eles
estiveram com Jesus, após a sua ressurreição
Outros discípulos também estiveram com Jesus, como os
do Caminho de Emaús (Lc 24.13-31). Mas os que compartilharam da companhia do
Senhor, de modo privado e especial, foram os 11, visto que Judas traiu o Mestre
e foi para o seu destino trágico. “Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro
da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se
tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja
convosco! E, dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. De sorte que os
discípulos se alegraram, vendo o Senhor. Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz
seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós” (Jo
20.19-21).
3) Receberam
a Grande Comissão
O mandato para evangelizar o mundo é destinado a todos
os crentes em Jesus, a toda a Igreja do Senhor. Mas os Doze receberam a ordem
missionária, diretamente da boca de Jesus (Mc 16.15). Jesus não disse aos Doze
que eles fizessem apóstolos, mas sim, discípulos em todas as nações (Mt
28.18-20).
4) Os Doze
terão seus nomes nos fundamentos da Nova Jerusalém
Esse importante detalhe, registrado no Apocalipse,
certamente, constitui argumento mais que suficiente para se entender, que o
apostolado especial dos Doze, que constituíam o Colégio Apostólico, não é
repetido em nenhuma fase da História da Igreja. João viu esse singular
privilégio, concedido unicamente aos que seguiram Jesus, durante o seu
ministério terreno (Ap 21.12-14).
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 77-78.
APOSTÓLICA, ERA A
época que tem início a partir do Pentecostes (aprox. 30 d.C.) até a morte do
apóstolo João (aprox. 100 d.C.) é aquela em que os apóstolos estavam exercendo
a sua influência entre as igrejas. Esta era prontamente se divide nos períodos
pré-paulino (aprox. 30-40 d.C), paulino (aprox. 40-67 d.C.) e pós-paulino
(aprox. 67-100 d.C). Durante o primeiro período, o cristianismo esteve
grandemente confinado a Jerusalém e ao povo judeu. Não houve nenhuma tentativa
de fazer um rompimento definitivo com o judaísmo até então. A vida da igreja
foi marcada pela simplicidade, pureza e poder. No período paulino ocorreu uma
transição de uma igreja judaica para gentio-judaica com uma expansão
correspondente ao tamanho do império. Vários problemas começaram a tomar forma,
tais como a perversão judaística na Galácia, irregularidades em Corinto e a
heresia em Colossos. A principal figura do período pós-paulino foi o apóstolo
João, cuja morte trouxe o final da Era Apostólica. Nesta época, o cristianismo havia
sido firmemente plantado em todas as terras de Jerusalém a Roma.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora
CPAD. pag. 161.
Temos aqui as promessas de Cristo aos discípulos e a
todos aqueles que trilham nos caminhos da fé e da obediência. Cristo
desconsidera, sem dar a perceber, aquilo que havia de vaidade ou de vãs
esperanças naquilo que Pedro disse, mas aproveita a ocasião para estabelecer o
vínculo de uma promessa:
(1) Para seus seguidores imediatos (v. 28). Eles haviam
enfatizado o seu respeito para com Ele, como os primeiros que o seguiram, e a
eles o Senhor promete não apenas tesouros, mas glória no céu; e aqui eles têm uma
concessão ou privilégio sobre isso, daquele que é a fonte da glória naquele
reino: “Vós, que me seguistes... na regeneração... vos assentareis sobre doze
tronos”. Observe:
[1] O preâmbulo ao privilégio ou ao exame da concessão,
que, como de costume, é um relato dos serviços deles: “Vós, que me seguistes...
na regeneração”; portanto, eu farei isso por vós. A época do aparecimento de Cristo
no mundo era um tempo de regeneração, de correção (Hb 9.10), quando as coisas
antigas começavam a se extinguir, e as coisas novas começavam a surgir. Os discípulos
haviam seguido a Cristo quando a igreja ainda estava no estágio embrionário,
quando o templo do Evangelho não tinha mais do que colunas, quando tinham mais
do trabalho e ocupação de apóstolos do que da dignidade e do poder que
pertenciam ao seu cargo. Agora eles seguiam a Cristo, com cansaço permanente, quando
poucos o faziam; e por isso, sobre eles, Ele colocará sinais especiais de
glória. Cristo demonstra um favor especial por aqueles que lhe entregam a sua
vida desde cedo, que confiam nele mesmo sem vê-lo, como fizeram aqueles que o
seguiram na regeneração. Pedro falou que eles haviam deixado tudo para segui-lo
– Cristo fala somente da atitude de seguirem-no, que era o assunto principal.
[2] O dia de sua honra, que define a hora inicial. Não imediatamente
após aqueles dias. Não. Eles devem permanecer por algum tempo na obscuridade,
como estavam. Mas quando “o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória”;
e a isso alguns se referem como: “ na regeneração” : “Vocês, que agora me
seguiram, serão, na regeneração, dignificados dessa maneira”. A segunda vinda
de Cristo será umâ regeneração, pois haverá novos céus e uma nova terra, bem
como a restauração de todas as coisas. Todos aqueles que tiverem parte na
regeneração e na graça (Jo 3.3) terão parte na regeneração que ocorrerá em
glória; pois assim como a graça é a primeira ressurreição (Ap 20.6), a glória é
a segunda regeneração.
O fato de a glória deles ser adiada até que o Filho do Homem
se assente no trono de sua glória implica, em primeiro lugar, que eles devem
aguardar pelo seu desenvolvimento.
Assim como a glória de nosso Mestre é postergada, é
adequado que a nossa também o seja e que devamos esperar por ela com fervorosa
expectativa, como a de uma esperança invisível (Rm 8.19). Devemos viver,
trabalhar, e padecer na fé, na esperança, e na paciência, que conseqüentemente
serão testadas por esse período de espera. Em segundo lugar, que eles devem compartilhar
os resultados do avanço da obra de Cristo - a glória deles deve ser uma
comunhão com Ele em sua glória. Eles, tendo sofrido com um Jesus sofredor, de vem
reinar com um Jesus vencedor, pois agora e no mundo futuro, Cristo será tudo em
todos; estaremos onde Ele estiver (Jo 12.26), nos manifestaremos com Ele (Cl
3.4); e essa será uma recompensa abundante não apenas por nossa perda, mas pelo
adiamento; e quando o nosso Senhor vier, receberemos não apenas o que é nosso, mas
o que é nosso com juros. As viagens mais longas trazem os maiores retornos.
[3] A própria glória aqui assegurada: “Vos assentareis sobre
doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel”. É difícil determinar o
sentido específico dessa promessa, e se ela não deveria ser cumprida muitas
vezes (o que não vejo problema em admitir). Em primeiro lugar, quando Cristo
for elevado à mão direita do Pai e se sentar no trono de sua glória, então os
apóstolos receberão o poder do Espírito Santo (At 1.8); serão tão aperfeiçoados
em relação à sua condição atual, que pensarão estar assentados sobre tronos, na
promoção do evangelho.
Eles o comunicarão com autoridade, como um juiz a
partir da tribuna; eles terão seus poderes aumentados e anunciarão as leis de
Cristo, pelas quais a Igreja, o Israel espiritual de Deus (G16.16), será
governado, e o Israel segundo a carne, que se mantiver na infidelidade, com todos
os outros que assim o fizerem, será condenado. A glória e o poder que lhes são
conferidos podem ser explicados através de Jeremias 1.10: “Ponho-te neste dia
sobre as nações e sobre os reinos”; Ezequiel 20.4: “Julgá-los-ias tu”?; Daniel
7.18: “Os santos receberão o reino”; e Apocalipse 12.1, onde a doutrina de Cristo
é chamada de “uma coroa de doze estrelas”. Em segundo lugar, quando Cristo
surgir para a destruição de Jerusalém (cap. 24.31), então Ele enviará os
apóstolos para julgar a nação dos judeus, pois nessa destruição, as previsões deles,
de acordo com a Palavra de Cristo, se cumprirão.
Em terceiro lugar, alguns pensam que isso se refere à
conversão dos judeus, que ainda está para acontecer, no fim do mundo, após a
queda do Anticristo; assim pensa o Dr. Whitby, e que “isso diz respeito à
autoridade dos apóstolos ou às doze tribos de Israel, não pela ressurreição de
seus corpos, mas por uma revivificação do Espírito que neles residia, e da
pureza e do conhecimento que eles comunicaram ao mundo, e, principalmente, pela
confissão do seu Evangelho, como a base da sua fé e do rumo de suas vidas” . Em
quarto lugar, é certo o seu cumprimento total na segunda vinda de Cristo,
quando os santos em geral e os doze apóstolos, especialmente, como assessores
de Cristo, julgarão o mundo por ocasião do “juízo daquele grande Dia”, quando o
mundo todo receberá a sua sentença final e os apóstolos ratificarão e
aplaudirão a sentença. Mas as tribos de Israel são citadas, em parte, porque o
número de apóstolos era designado pelo mesmo número de tribos; e em parte porque
os apóstolos eram judeus, o que deveria trazer algum grau de amizade. Porém,
embora os apóstolos mencionassem então os judeus, eram perseguidos por estes de
uma forma implacável. Isso dá a entender que os santos julgarão os seus
conhecidos e familiares segundo a carne e, no Grande Dia, julgarão aqueles com quem
tinham amizade; eles julgarão os seus perseguidores, aqueles que os julgaram
neste mundo.
Mas o propósito geral dessa promessa é mostrar a glória
e a dignidade que estão reservadas aos santos no céu, o que será uma abundante
recompensa pela desonra que sofreram aqui pela causa de Cristo. Há maiores graus
de glória para aqueles que mais realizaram e sofreram.
Os apóstolos, neste mundo, eram perseguidos e torturados,
lá eles se sentarão para descansar e relaxar; aqui obrigações, angústias e
mortes habitavam neles, mas lá eles se sentarão em tronos de glória; aqui eles eram
arrastados aos tribunais, lá eles serão promovidos a juizes; aqui as doze
tribos de Israel os espezinhavam, lá elas estremecerão diante deles. E isso não
será uma recompensa suficiente para compensar as suas perdas e gastos por amor
a Cristo? (Lc 22.29).
[4] A ratificação desse privilégio. Ele é permanente, é
inviolável e imutavelmente garantido, pois Cristo disse, em outras palavras:
“Em verdade vos digo: Eu sou ‘o Amém, a testemunha fiel e verdadeira’, que tem o
poder de dar este privilégio; Eu o disse, e isto não pode ser revogado”.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 250-251.
«Doze tronos». Evidentemente alude ao poder político
literal, não sendo mero símbolo dc glória ou de autoridade. Os paralelos desta
secção, em Marcos e cm Lucas, não contêm este versículo, mas o trecho de Luc.
22:30 encerra uma promessa semelhante: ·Para quc comais e bebais à minha mesa
no meu reino: e vos assentareis cm tronos para julgar as doze tribos dc Israel ״.
Esse ministério, por conseguinte, está especialmente relacionado ao
governo da nação de Israel no milênio. Alguns
intérpretes dão uma interpretação simbólica, dizendo quc Israel representa 0
estado da sociedade ou da igreja, e que a palavra «tronos· representa a
autoridade que será conferida aos doze nessa sociedade. Nessa idéia sc encontra
certa verdade. Por certo os apóstolos desfrutarão de tais posições na igreja
universal e eterna, mas nào há razão para que se negue o seu reinado literal
sobre 0 Israel literal, na terra, durante o milênio. O trccho dc Apo. 21:24
indica a continuação da existência das nações no milênio, e, provavelmente, até
mesmo no estado eterno. As populações dessas nações, no milênio, provavelmente
passarão por uma transformação metafísica em seu scr. quando da regeneração;
mas é óbvio que essa transformação será cm menor grau do que a transformação
doscrentes á imagem de Cristo. Não contamos com muitas informações sobre essa
questào. e precisamos ficar à espera dc um conhecimento mais sólido, quando
ocorrer a própria revelaçào da ·regeneração·.
Mas, se por um lado, essa promessa dos doze tronos foi
espccialmcntc feita para os apóstolos, por outro lado. a passagem de II Tim.
4:8 indica quc a recompensa quc será dada aos crentes fiéis é certa, adquirindo
diversas formas. Trechos como os de Rom. 8:17: I Cor. 6:2; II Tim. 2:12; Apo.
2:26 e 3:21 implicam todos na verdade que pelo menos uma parte da recompensa
dos crentes será o poder dc reinar com Cristo, em seu reino.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 493.
Mt 19.28 — Os apóstolos jamais se esqueceram da
promessa de Jesus sobre o lugar que ocupariam no Seu Reino; isso era algo que
ainda estava muito vivo na mente deles em Atos 1.15-26.
Na regeneração aponta para a vinda do Reino prometido
em Daniel 7.13,14. Trono da sua glória. Cristo hoje está assentado à destra do
trono eterno do Pai. Em Seu Reino futuro,
Ele ocupará o trono de Davi (Ap 3.21). E, nesse Reino, os doze apóstolos se
assentarão sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário
Bíblico Novo Testamento com
recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 58-59.
A cidade tinha um grande e alto muro com doze portas
(12), guardadas por doze anjos, e nomes escritos sobre elas (i.e., nas portas),
que são os nomes das doze tribos de Israel. Havia três portas (13) em cada um
dos quatro lados da cidade. Grande parte dessa descrição é bastante parecida
com o que lemos em Ezequiel acerca da nova Jerusalém (Ez 48.31-34). Em relação
às doze tribos, Swete diz: “O objetivo do vidente em relação às tribos é
simplesmente defender a continuidade entre a Igreja cristã e a Igreja do AT”.
O muro da cidade tinha doze fundamentos e, neles, os
nomes dos doze apóstolos do Cordeiro (14). Jesus disse aos seus apóstolos:
“também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de
Israel” (Mt 19.28). Paulo escreveu que a Igreja é edificada “sobre o fundamento
dos apóstolos e dos profetas” (Ef 2.20). O simbolismo das doze tribos de Israel
(12) e dos doze apóstolos do Cordeiro (14) aponta para a nova Jerusalém.
Ralph
Earle. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 10. pag. 497.
Ap 21.12 Agora a descrição da cidade passa da altitude
para a profundidade dos muros, passando pelos portões, até os fundamentos.
Tinha grande e alta muralha. Na Antigüidade, o viajante que se aproximava de
uma grande cidade inicialmente não via nada além de muros, que muitas vezes
sobrepujavam até as casas. Da grandeza deles podia depreender a força, a
riqueza e a segurança da cidade. João destaca intensamente os muros da nova
Jerusalém. Contudo, simbolizam para ele sobretudo a separação realizada entre o
puro e o impuro (v. 27), pois na nova terra descartou-se a tarefa de repelir
ataques. ―O mar já não existe‖ (Ap 21.1) e ―já não haverá noite‖ (Ap 21.25;
22.5). O muro demarca a ―santidade‖ da cidade (v. 10), isto é, sua separação do
que não é sagrado, do que se encontra ―lá fora‖, a saber, no charco de fogo.
Conforme esse dado, não existe um céu no qual ―naturalmente‖ todos entrarão um
dia. A nova Jerusalém não é uma ―ubiqüidade que se dilui para todos os lados‖
(W. Stählin).
O pensamento continua a desenvolver-se. No muro há doze
portas (―portões‖), e, junto às portas (―sobre os portões‖), doze anjos, ou
seja, vigias dos portões. Em decorrência, os portões, que conforme o v. 25
estão abertos, não devem ser interpretados erroneamente. Não contradizem o que
os muros altos anunciam. Os textos de Ap 21.27 e 22.14,19 sublinham que não
existe acesso à cidade santa sem um controle. Quem tem permissão de entrar nela?
E nos portões estavam nomes inscritos, que são os nomes
das doze tribos dos filhos de Israel, muito semelhante a Ez 48.30-35. O sentido
é que não poderá ingressar na cidade ninguém que não fizer as pazes com Israel.
Além de Israel não existe nenhuma outra base de salvação nem tampouco uma nova
Jerusalém (cf. Ef 3.6; 2.19; Rm 11.13-15).
Nesse ponto fica clara também a mais singela explicação
do número doze, sempre recorrente. Ele não é deduzido de concepções cósmicas
(EXCURSO 20b), mas sim do AT. Logo, essa visão não sonha de maneira genérica
com o aperfeiçoamento do mundo, mas está profundamente comprometida com a
história da revelação no AT. O que o antigo nome ―Jerusalém‖ já proclamava (Ap
21.2) é agora ressaltado por ―Israel‖: na última cidade o povo das doze tribos
da antiga aliança é aperfeiçoado.
Rissi expõe que cada portão representa um convite do
Deus fiel àquela tribo de Israel cujo nome ele traz. Os portões, portanto,
seriam um indício para o grande retorno de Israel da ―sinagoga de Satanás‖ (Ap
3.9) e do charco de fogo. Por princípio ele também coaduna o número doze com a
nação de Israel, enquanto, segundo sua opinião, no contexto da igreja de Jesus
deveria aparecer o número sete. A delimitação dos doze à nação de Israel, no
entanto, será corrigida pelo v. 14, e o número sete é relacionado no Ap a
tantas coisas que é impossível restringi-lo justamente à igreja. Na realidade
parece improvável que os portões fossem denominados conforme um Israel que se
encontra do lado de fora. Apoiando-se na profecia do AT, o texto projeta uma
imagem inversa: não é Israel que vem, mas são os reis dos povos que vêm à
cidade, a ―Israel‖ (v. 24-26).
Ap 21.13 À semelhança de Ez 48, o v. 13 distribui os
doze portões entre os quatro pontos cardeais. Do Leste três portões levam à
cidade, e do Norte três portões, e do Sul três portões, e do Oeste três
portões. A simetria, narrada solenemente, não apenas alegra o olhar, mas
igualmente o coração. Anuncia ao observador que nenhuma parte da cidade está em
condições mais precárias e fracas que a outra. Cada lado da cidade e cada
parcela da população dessa cidade está equipada de forma homogênea. Nas cidades
antigas os edifícios dos portões, com um pátio amplo, constituíam centros
importantes, nos quais se desenrolava a vida. Desse modo assegura-se o
resultado de que nenhum membro do povo de Deus sofre, mas que cada um deles é
gloriosamente considerado (1Co 12.26). O olhar resignado lançado ao membro
melhor situado (1Co 12.15,16) ou ao servo talentoso (Mt 25.16), um olhar que
ainda hoje impossibilita tanto serviço e louvor a Deus, finalmente
desaparecerá. Todos louvam a Deus ―a uma boca‖ (Rm 15.6 [RC]).
Ap 21.14 Na menção e descrição das pedras das
fundações, para as quais o AT não fornece nenhum paralelo, salienta-se um
interesse singular. A muralha da cidade tinha doze fundamentos, e estavam sobre
estes os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro. Esse dado impede
enfaticamente que se refira
a nova Jerusalém unilateralmente ou mesmo
predominantemente à nação Israel (cf. o exposto sobre o v. 12), pois o
fundamento da cidade é formado pelos apóstolos do Cordeiro, que pelo seu sangue
comprou para si pessoas ―que procedem de toda tribo, língua, povo e nação‖ (Ap
5.9). Quem separa os gentílico-cristãos dos apóstolos, não somente esvaziaria a
nova Jerusalém, mas também a cruz de Cristo.
Pelo fato de que João vê tanto os nomes dos doze
patriarcas quanto também os nomes dos doze apóstolos como emblema da nova
Jerusalém, ele está vendo a unidade da história da salvação, do povo da
salvação e da consumação da salvação. Um significado análogo já estava contido
na passagem do cântico de Moisés e do Cordeiro (Ap 15.3). Tudo isso é
confirmado também por Paulo, sobretudo na carta aos Efésios (nota 320).
Contudo, em 1Co ele igualmente está lutando para que a plenitude do evangelho
não seja diminuída, combatendo qualquer tentativa de usar Pedro contra Paulo ou
vice-versa. Percebe uma divisão do grupo de apóstolos como divisão do próprio
Cristo (1Co 1.13). A nova Jerusalém é o contrário dessas divisões, ou seja,
nela congregam-se todos os santos dentre judeus e gentios, para a unidade do
reconhecimento de fé no Filho de Deus (Ef 4.13).
Adolf
Pohl. Comentário Esperança Apocalipse. Editora
Evangélica Esperança.
Ap 21.12. A cidade
tinha grande e alta muralha com doze portas. De acordo com o v. 13 havia três
portas em cada lado do muro. O quadro é emprestado diretamente de Ez 48:31ss.
E junto às portas
havia doze anjos, montando guarda nas torres. Veja Is 62:6, onde havia guardas
sobre os muros para interceder por Israel e orar pela vinda do reino
messiânico. Sobre as portas estavam inscritos os nomes das doze tribos dos
filhos de Israel (veja Ez 48:31).
14. A muralha da
cidade tinha doze fundamentos, e estavam sobre estes os doze twmes dos doze
apóstolos do Cordeiro. Isto é uma alusão óbvia à teologia da igreja, edificada
sobre o fundamento dos apóstolos e profetas (Ei 2:20). Com este simbolismo das
doze portas com os nomes das doze tribos de Israel e dos doze fundamentos com
os nomes dos doze apóstolos João indica que a cidade engloba as duas
dispensações, mostrando que o Israel do Antigo Testamento e a igreja do Novo
Testamento têm seu lugar na morada derradeira de Deus.
George
Eldon Ladd. Apocalipse Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 209.
2. Apóstolos fora dos doze.
Já ressaltamos o envio dos “setenta” discípulos, que,
sendo enviados, de dois em dois, cumpriram o papel de apóstolos. Mas, além
deles, o Novo Testamento também cita outros exemplos de apóstolos, como Paulo,
que se considerou a si mesmo “o menor dos apóstolos” por ter perseguido “a
igreja de Deus” (1 Co.15.9; Rm 1.1; 2 Co 1.1); ele viu a Jesus Cristo (1 Co
9.1). Barnabé também foi reconhecido como apóstolo (At 14.14). Havia “outros
apóstolos”, a que Paulo se referia em sua carta aos romanos (Rm 16.7) e em
outras epístolas (G1 1.19; 1 Ts 2.6,7).
1) A
liderança dos apóstolos
Segundo o comentário da Bíblia de Estudo Pentecostal,
os apóstolos “Eram homens de reconhecida e destacada liderança espiritual,
ungidos com poder para defrontar-se com os poderes das trevas e confirmar o
Evangelho com milagres. Cuidavam do estabelecimento de igrejas, segundo a
verdade e pureza apostólicas”. Eles tinham a mensagem “original” de Cristo, e
náo eram apóstolos, com alguns, hoje, que apresentam um “evangelho genérico”,
antropocêntrico e deturpado, com ensinos que não têm fundamento bíblico, como a
falsa “teologia da prosperidade”, a absurda “confissão positiva”, o “teísmo
aberto” e outros da mesma natureza.
2) A itinerância
dos apóstolos
Diz, ainda, a Bíblia de Estudo Pentecostal que os
apóstolos “Eram servos itinerantes que arriscavam suas vidas em favor do nome
de nosso Senhor Jesus Cristo e da propagação do evangelho (At 11.21-26; 13.50;
14.19-22; 15;25,26). No presente, vemos “apóstolos”, que nunca foram além dos
limites da cidade onde vivem e assumiram a direção de uma igreja. São
“presidentes” de igrejas, radicados e estabelecidos em domínios eclesiásticos
bem característicos. Os que se consideram “apóstolos”, hoje, em geral,
adquiriram tal “posição”, após terem sido ordenados a evangelista ou pastor, ou
bispo, o que lhes confere a ideia de que estão em posição hierárquica superior.
Nada mais inadequado para um verdadeiro apóstolo de Cristo, que deve ser, antes
de tudo, um servo ou um servidor e não alguém em grau de superioridade.
3) A ordem de
fazer discípulos
A expressão “ensinai todas as nações”, no texto bíblico
original (Mt 28.19), escrito em grego, tem o sentido de fazer discípulos. A
tradução mais aproximada seria “ide, fazei discípulos em todas as nações”. “O
propósito da Grande Comissão é fazer discípulos que observarão os mandamentos
de Cristo. Este é o único imperativo direto no texto original deste
versículo”.4 De modo mais didático e direto, lemos, na Bíblia de Estudo
Palavras-Chave sobre o versículo de Mt 28.19: “3.100 (mathêteuo), intransitivo,
tornar-se um aluno-, transitivo, ser discípulo, i.e., inscrever-se como
estudante: — ser discípulo, instruir, ensinar. O termo correlato, mathetês
(3101), “discípulo. Ser discípulo de alguém (Mt 27.57); treinar como discípulo,
ensinar, instruir; por exemplo, a Grande Comissão (Mt 28.19). Também Mateus
13.52; Atos 14.21”.5 (grifos nossos).
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 78-80.
«...apóstolos...»
Deve-se notar, neste ponto, o uso do termo «apóstolo», aplicado a Barnabé.
Trata-se do uso secundário e não-técnico da palavra. Como título oficial, que
dá a entender poderes e autoridade especiais, em referência aos alicerces da
igreja cristã (ver Efé. 2:20), aplicava-se exclusivamente aos doze apóstolos
originais, a Matias e a Paulo. Todo apóstolo dessa categoria principal
precisava ter sido testemunha ocular da ressurreição do Senhor Jesus, dele
tendo recebido sua comissão apostólica especial. Não há qualquer evidência bíblica
de que esse ofício tenha sido transferido a outros, embora várias tradições e
alguns dogmas eclesiásticos façam essa transferência, o que é aceito pela
Igreja Católica Romana, mas é rejeitado pela maioria dos grupos protestantes.
(Quanto a notas expositivas sobre o ofício do apostolado, ver Mat. 10:1. Quanto
a uma descrição sobre os «apóstolos» propriamente ditos, ver Luc. 6:12. Quanto
a comentários sobre as qualificações dos apóstolos— em referência ao seu ofício
e ao uso mais estrito do termo— ver as notas expositivas sobre Atos
1:15,21,22).
Contudo, há também um
sentido não-técnico, secundário, da palavra «apóstolo». Trata-se de uma
significação mais lata, em que o termo foi aplicado a muitas outras pessoas,
nas páginas do N.T. Esse sentido secundário dá a entender essencialmente
«missionários», enviados dotados de poder e autoridade especiais. Foi assim que
Barnabé é aqui incluído como um «apóstolo», juntamente com Paulo. Não sabemos
precisar,, naturalmente, se ele chegou a ver 0 Senhor Jesus ressurreto, mas
isso não seria motivo essencial para ele não poder ser chamado de «apóstolo»
nesse sentido secundário.
A palavra «apóstolo»
significa enviado, pelo que também pode ter grande gama de aplicações, enquanto
não é utilizada em algum sentido técnico, para indicar o ofício especial do
apostolado, conforme foi instituído pelo Senhor Jesus. O apóstolo Paulo aplica
essa palavra a Tiago, irmão do Senhor (ver Gál. 1:19), a Epafrodito (ver Fil.
2:25), por ser mensageiro da igreja em Filipos, a Silvano e a Timóteo (ver I
Tes. 2:6 e Atos 18:5), e, possivelmente também a Apoio (I Cor. 4:9), a
Andrônico e a Júnias (ver Rom. 16:6). Os próprios «judaizantes» foram chamados
«falsos apóstolos», pelo mesmo Paulo, 0 que demonstra a grande flexibilidade
desse vocábulo, quando usado em seu sentido mais amplo (ver II Cor. 11:13).
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 3. pag. 288.
Lucas introduz a
palavra apóstolos. Um estudo de Atos revela que Lucas emprega o termo
consistentemente em relação aos doze apóstolos e somente duas vezes (vs. 4,14)
em referência a Paulo e Barnabé. Os Doze, tendo Pedro como seu cabeça, são portadores
e guardiães do evangelho de Cristo em Jerusalém (8.1,14). Os próximos na ordem
a reclamar o título são Paulo e Barnabé, que foram comissionados pela igreja em
Antioquia para proclamar o evangelho aos gentios (13.1-3).
E por fim, num
sentido mais abrangente, Paulo menciona Andrônico e Júnias, que são pregadores
do evangelho e reconhecidos pelas igrejas como apóstolos (Rm 16.7). Não
obstante, o apóstolo tinha de ser testemunha da ressurreição de Jesus e ter
sido comissionado pelo próprio Cristo. Assim, Matias é nomeado por Cristo em
Jerusalém, e Paulo, nas imediações de Damasco. Mas Apolo e Timóteo jamais são
chamados de apóstolos.
Embora em Atos, Lucas
duas vezes designe Paulo como apóstolo, ele registra três vezes o seu chamado e
comissionamento para ser apóstolo aos gentios (9.1-19; 22.1-21; 26.2-18). E
mais, Jesus diz que Paulo é seu instrumento escolhido para levar seu nome
perante os gentios e reis (9.15). Jesus o envia como apóstolo (22.21; 26.16,17;
a palavra deriva do verbo grego [eu envio]. Paulo cumpriu o requisito do
apostolado determinado pelos apóstolos quando escolheram Matias para ser o
sucessor de Judas Iscariotes (1.21,22). Por causa da sua experiência de
conversão perto de Damasco, Paulo viu Jesus e se tornou testemunha da
ressurreição de Cristo. Apesar de Paulo não ter seguido Jesus desde o tempo de
João Batista até a ascensão de Cristo, os Doze o aceitaram como um genuíno
apóstolo. Como Lucas retrata Paulo?
“O quadro pintado por
Atos não é o de que Paulo não fosse um apóstolo, porém que ele era um apóstolo
singular, o que está de acordo com o relato do próprio Paulo (1Co 9.1-3;
15.5-9; Gl 1.12-17).”11 E por fim, Paulo indiretamente, chama Barnabé de
apóstolo (1Co 9.6; Gl 2.9,10).
William
Hendriksen. Comentário do Novo
Testamento. Editora Cultura Cristã. pag. 18-19.
3. O ministério apostólico atual.
Como demonstrado, o
ministério dos Doze, ou do colégio apostólico, náo se repete. Nenhum dos
Setenta, nem qualquer dos apóstolos da Igreja Primitiva; ou dos tempos antigos,
modernos, atuais, ou futuros, jamais terá seu nome nos fundamentos da Nova
Jerusalém. Aqueles Doze foram únicos. Não há sucessão apostólica, como entende
a Igreja Católica. Referindo-se aos apóstolos de Jesus, no sentido especial, a
Bíblia de Estudo Pentecostal diz: “O ministério de apóstolo nesse sentido
restrito é exclusivo, e dele não há repetição. Os apóstolos originais do Novo Testamento
não têm sucessores”.
Atualmente, o que
podemos ver como ministério de caráter apostólico, é o trabalho dos
missionários, quando são enviados para desbravar campos, em países de povos não
alcançados pelo evangelho de Cristo. Se um missionário vai assumir um trabalho
que já está estabelecido, cujas bases e desenvolvimento deveram-se ao esforço
de outros companheiros, não pode dizer que faz um trabalho de apóstolo, e sim,
de pastor ou evangelista.
Paulo ensina que
Jesus, depois de subir ao alto e levar “cativo o cativeiro”, “deu dons aos
homens”. Observando o texto bíblico, de Efésios 4.11, lemos: “E ele mesmo deu
uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e
outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a
obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.11,12). Esses
“homens-dons”, concedidos por Deus e seus ofícios ou ministérios, têm por
finalidade alcançar a “unidade do Espírito” (Ef 4.3), visando “o
aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério” e a “edificação do corpo
de Cristo”. Dessa forma, se existe atualidade para os ofícios de “profetas”,
“evangelistas” e “doutores” ou “mestres”, por que não deveria haver atualidade
do ofício do apóstolo?
Sem dúvida alguma, o
ministério de caráter apostólico deve ser desenvolvido, na atualidade, ao lado
dos demais ministérios, indispensáveis à unidade e à edificação do corpo de
Cristo. Homens como John Wesley, William Carey, cognominado “pai das missões
modernas”; Adoniran Judson, Hudson Taylor, D. L. Moody, Jorge Müller, Smith
Wigglesworth, Gunnar Vingren, Daniel Berg, Richard Wurmbrand, e tantos outros,
em tempos mais recentes, podem ser considerados verdadeiros apóstolos de Jesus.
São homens que expuseram suas vidas para levar a mensagem do evangelho aos mais
longínquos lugares do mundo.
Patzia afirma: “Visto
que a Igreja de hoje não tem lugar para o cargo de apóstolo, por exemplo, a
tentação é encontrar-se uma contrapartida contemporânea nos líderes
eclesiásticos, como superintendentes ou supervisores”.7 Há realmente, essa
“tentação”, de se buscar aplicação para o termo “apóstolo”, a funções que pouco
ou nada têm de apostólicas.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 80-81.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva.
Vaso de Deus, parabéns pelo blog, em me ajuda muito publico sempre as lições Bíblicas em meu blog e estou te seguindo viu Deus te abençoe seu blog rem sido fonte de benção e de profundo conhecimento.
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