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2° LIÇÃO DO 1° TRI 2014 UM LIBERTADOR PARA ISRAEL


UM LIBERTADOR PARA ISRAEL
Data: 12 de Janeiro de 2014                    HINOS SUGERIDOS 458, 459, 467
TEXTO ÁUREO
“E disse Deus a Moisés: EU SOU o QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós” (Êx 3.14).

VERDADE PRÁTICA
Assim como Moisés, usado por Deus, libertou Israel do cativeiro, Cristo nos liberta da escravidão do pecado e do mundo.
LEITURA DIARIA
Segunda       - Hb 3.3         Cristo é superior a Moisés
Terça             - Hb 3.5         Moisés, um servo fiel
Quarta           - Êx 2.23-2 5 Deus ouve o clamor do povo
Quinta           - Êx 3.10       Deus chama Moisés
Sexta             - Ex 4.3-8      Deus confirma a liderança de Moisés com sinais
Sábado          - Êx 5.1         Moisés diante de Faraó
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Êxodo 3.1-9
1 - E apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em Midiã; e levou o rebanho atrás do deserto e veio ao monte de Deus, a Horebe.
2 -E apareceu-lhe o Anjo do SENHOR em uma chama de fogo, no meio de uma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia.
3 - E Moisés disse: Agora me virarei para lá e verei esta grande visão, porque a sarça se não queima.
4 - E, vendo o SENHOR que se virava para lá a ver, bradou Deus a ele do meio da sarça e disse: Moisés! Moisés! E ele disse: Eis-me aqui.
5 - E disse: Não te chegues para S cá; tira os teus sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa.
6 - Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus.
7 - E disse o SENHOR: Tenho visto atentamente a aflição do meu povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheci as suas dores.
8 - Portanto, desci para livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e larga, a uma terra que mana leite e mel; ao lugar do cananeu, e do Heteu, e do a morreu, e do Ferezeu, e do Heveu, e do Jebuseu.
9 - E agora, eis que o clamor dos filhos de Israel chegou a mim, e também tenho visto a opressão com que os egípcios os oprimem.
INTERAÇÃO
Deus tinha um plano traçado para o seu povo através de Moisés. Este o conduziria até Canaã. Moisés foi dia a dia preparado e lapidado pelo Senhor para cumprir os propósitos divinos. A formação de um líder requer tempo, mas infelizmente muitos na atualidade não querem respeitar o momento de Deus. Vivemos em uma sociedade imediatista onde as pessoas não admitem mais esperar.
O enfoque da lição de hoje é o preparo de Moisés para se tornar o libertador do povo de Deus. Quando assumiu a missão de conduzir os israelitas pelo deserto, Moisés já havia sido preparado pelas universidades egípcias e pelo próprio Todo-Poderoso. O Deus que levantou Moisés não mudou, Ele continua a levantar e preparar pessoas para serem usadas na sua obra. Você está disposto a servir mais a Deus? O Senhor deseja usá-lo em sua obra para que muitos sejam libertos da escravidão do pecado e da ignorância espiritual.
OBJETIVOS
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Compreender como se deu a chamada e o preparo de Moisés.
Saber quais foram as desculpas apresentadas por Moisés ao Senhor.
Analisar como foi a apresentação de Moisés a Faraó.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Professor, reproduza o mapa da página seguinte. Utilize-o para mostrar aos alunos o caminho que Moisés teve que percorrer de volta ao Egito. Ele andou aproximadamente 320 quilômetros. Enfatize que Deus chamou Moisés para uma importante Missão — libertar os israelitas do jugo da escravidão. Em obediência ao Senhor, Moisés voltou ao Egito. Muitas vezes Deus requer que voltemos de onde saímos. Porém, ao retornar, Moisés era um novo homem. Agora não agiria mais segundo as suas forças, mas em obediência restrita a Deus.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Um líder cristão não é feito da noite para o dia. É preciso que sua liderança seja amadurecida pelo tempo. Na lição de hoje, veremos que Moisés foi preparado lentamente pelo Senhor ao longo dos anos até que se tornasse o libertador do seu povo. Moisés era um homem manso e ao que parece g não era muito eloquente, porém Deus viu que ele seria obediente e capaz de libertar o seu povo da escravidão egípcia.
I - MOISÉS - SUA CHAMA DA E SEU PREPARO (ÊX 3.1 17)
1. Deus chama o seu escolhido. Quando o Senhor escolheu e chamou Moisés para libertar seu povo, ele estava pastoreando ovelhas — um excelente aprendizado para quem mais tarde iria ser o pastor do povo de Deus, Israel (SI
77.20). É Deus que chama e separa aqueles que vão dirigir seu rebanho, e Ele continua vocacionando e capacitando para o santo ministério. O Senhor chama, mas cabe ao homem cuidar do seu preparo para ser útil a Deus.
O que muito nos edifica no versículo seis é Deus identificar-se não somente como “o Deus de Abraão e o Deus de Isaque”, mas igualmente como “o Deus de Jacó”. Ele é, portanto, o Deus de toda graça, compaixão e paciência, uma vez que Jacó teve sérios incidentes negativos na sua vida em geral (1 Pe 5.1 0;Jo 1.14,1 6).
2. O preparo de Moisés (Êx 3.10-15). Moisés foi chamado e recebeu treinamento da parte de Deus para que cumprisse sua missão com êxito. Deus ainda chama e prepara seus servos. Talvez Ele o esteja chamando para a realização de uma obra. Qual será sua resposta?
Moisés experimentou o silêncio e a solidão do deserto em Midiã (Êx 3.1). Em sua primeira etapa de 40 anos de vida viveu no palácio real e frequentou as mais renomadas universidades. O conhecimento adquirido por Moisés, e empregado com sabedoria, foi-lhe muito útil em sua missão de libertador, condutor, escritor e legislador na longa jornada conduzindo Israel no deserto.
3. O objetivo da chamada divina (Êx 3.10). O propósito divino era a saída do povo de Israel do Egito liderada por Moisés. Deus pode, segundo o seu querer, agir diretamente. Contudo, o seu método é usar homens e mulheres junto aos seus semelhantes. Hoje, em relação a muitas igrejas, Deus está dizendo à seus dirigentes: “Tira o ‘Egito’ de dentro do meu povo”. É o mundanismo entre os crentes, na teoria e na prática; no viver e no agir, enfraquecendo e contaminando a igreja. É Israel querendo voltar para o Egito (Êx 16.3; 17.3). Deus com mão poderosa tirou Israel do Egito, mas não tirou o ‘Egito’ de dentro deles, porque isso é um ato voluntário de cada crente que, quebrantado e consagrado, recorre ao Espírito Santo.
“Certamente eu serei contigo” (v. 12). Isso era tudo o que Moisés precisava como líder espiritual do povo de Deus. Hoje, muitos já perderam essa divina presença em sua vida e em seu ministério, por acharem que são alguma coisa em si mesmos, daí, a operação do Espírito Santo cessar em sua vida. Paulo exclamou: “Nada sou” (2 Co 12.11). Tudo que temos ou somos na obra de Deus vem dEle (1 Co 3.7).
SINOPSE DO TÓPICO (1)
Moisés foi chamado e preparado por Deus para que cumprisse sua missão com excelência.
II - AS DESCULPAS DE MOISÉS E A SUA VOLTA PARA O EGITO
1, O receio de Moisés e suas desculpas. O Moisés impulsivo que matou o egípcio e o enterrou na areia já não existia mais. Ele havia sido mudado e moldado pelo Senhor, e agora precisava crer não no seu potencial, mas no Senhor que o chamara. Ao ser chamado pelo Senhor para ser o libertador dos hebreus, Moisés apresentou algumas desculpas — “eles não vão crer que o Senhor me enviou”; “não sou eloquente”. Quantas desculpas também não damos quando Deus nos chama para um trabalho específico? As escusas de Moisés, assim como as nossas, nunca são aceitas pelo Senhor, pois Ele conhece o mais profundo do nosso ser. Se o Senhor está chamando você para uma obra, não tema e não perca tempo com desculpas. Confie no Senhor e não queira acender a ira divina como fez Moisés, que tentou protelar sua chamada dando uma série de desculpas a Deus (Êx 4.14).
2. Deus concede poderes a Moisés. A fim de encorajar Moisés e confirmar o seu chamado, o Senhor realiza alguns sinais (Êx 4.1-9). Da mesma forma Deus ainda demonstra sinais para nos mostrar o seu poder e a sua vontade.
3. O retorno de Moisés. Moisés não revelou ao seu sogro Jetro o que ele faria no Egito. Ainda não era a hora certa para isso. O líder precisa saber o momento adequado para revelar seus projetos. Entretanto, Moisés não poderia partir sem o consentimento de sua família, assim ele disse a Jetro que iria ao Egito rever seus irmãos: “Eu irei agora e tornarei a meus irmãos que estão no Egito, para ver se ainda vivem” (Êx 4.18). Jetro prontamente liberou Moisés dizendo: “Vai em paz”. Moisés não saiu sem a bênção dos seus parentes. Para realizar a obra de Deus o líder precisa ter o apoio e cooperação da sua família. Se você ainda não o tem, ore a Deus nesse sentido.
SINOPSE DO TÓPICO (2)
Deus não aceitou as escusas de Moisés. Ele também não aceitará as nossas, pois Lie conhece o mais profundo do nosso ser.
III - MOISÉS SE APRESENTA A FARAÓ (ÊX 5.1-5)
1. Moisés diante de Faraó. Chegando ao Egito, Moisés e seu irmão Arão procuraram Faraó para comunicar-lhe a vontade de Deus para o povo de Israel. Quão difícil e arriscada era a tarefa de Moisés. Após o encontro que já tivera com Deus, ele estava preparado para apresentar-se ao rei do Egito. Faraó recusou de imediato o pedido de Moisés. Além de recusar deixar o povo ir embora, Faraó agora aumenta o volume de trabalho do povo (Êx 5.8,9). Moisés fez tudo como Deus lhe ordenara, porém, sua obediência não impediu que ele e seu povo sofressem. Talvez você esteja realizando alguma obra em obediência ao Senhor, mas isto não vai impedir que surjam dificuldades, problemas e aflições. Esteja preparado. Não á podemos nos esquecer de que por muitas tribulações nos importa entrar no Reino de Deus” (At 14.22). Enquanto estivermos neste mundo, estamos sujeitos às dificuldades (Jo 16.33).
2. A queixa dos israelitas (Êx 5.20,21). O povo hebreu fica descontente com Moisés e Arão e logo começam a murmurar. Certamente todos esperavam que a saída do Egito fosse imediata. Mas este não era o piano de Deus. Moisés, aflito com a piora da situação, busca o Senhor e faz várias indagações. Quem de nós em semelhantes situações, estando em obediência a Deus, na vida cristã e no trabalho, já não indagou: “Por que Senhor?” Moisés não conseguia entender tudo o que estava ocorrendo, mas Deus estava no controle. Às vezes não conseguimos entender o motivo de certas dificuldades, mas não podemos deixar de crer que Deus está no comando de tudo.
3. Deus promete livrar seu povo (Êx 6-1). A saída de Israel do Egito seria algo sobrenatural e esta promessa foi totalmente cumprida quando Israel, finalmente, saiu do Egito. Deus, nos seus atributos e prerrogativas, ia agora redimir o povo de Israel (v. 6), adotá-lo como seu povo (v.7), e introduzi-lo na Terra Prometida. Todo o Israel, assim como os egípcios, teriam a oportunidade de ver o poder de Deus.
SINOPSE DO TÓPICO (3)
Depois do encontro que Moisés tivera com Deus, ele estava finalmente preparado para apresentar-se ao rei do Egito.
CONCLUSÃO
Na lição de hoje aprendemos como o grande “Eu Sou” escolheu e preparou Moisés para que ele libertasse seu povo da escravidão egípcia. Deus continua a levantar e preparar homens para a sua obra. Você está disposto a ser usado pelo Senhor? Moisés apresentou algumas desculpas, mas não foram aceitas. Não perca tempo com justificativas, mas diga “sim” ao chamado de Deus.
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
COHEN, Armando Chaves. Êxodo 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1998. HAMILTON, Victor P. Manual do Pentateuco. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO I
Subsídio Bibliológico
“O Encontro entre Deus e Moisés (3—5)
O termo hebraico para ‘sarça’ (seneh) só aparece no Antigo Testamento aqui e em Deuteronômio 33.16, quando Moisés canta que Deus era ‘[aquele] que habitava na sarça (ardente)’. Quão oportuno que as últimas palavras de Moisés registradas nas Escrituras sejam, entre outras coisas, sobre-seu primeiro encontro com Deus na sarça ardente! Essa palavra hebraica faz soar e faz lembrar a palavra ‘Sinai’ {sny e snh). Por duas vezes, Deus apareceu a Moisés de forma incandescente. Primeiro em uma snh (capítulo 3), depois no sny (capítulo 19). Deus costuma aparecer nos locais mais inesperados, como em uma sarça. Foi próximo a um arbusto que Ele apareceu para Agar (Cn 21.15, com uma outra palavra hebraica para ‘arbusto’, (siah)) e foi em um arbusto, ou sarça, que apareceu pela primeira vez a Moisés. Falando em lugares inesperados, talvez seja possível estabelecer uma analogia entre o anjo de Deus que apareceu no meio do nada para o pastor Moisés, fazendo um importante anúncio; e os anjos que apareceram diante de um grupo de pastores, no meio do nada, a fim de fazer um importante anúncio (Lc 2.8-20)” (HAMILTON, Victor P. Manual do Pentateuco. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 160).
AUXILIO BIBLIOGRÁFICO II
Subsídio Teológico
“Capacitou e transformou o seu caráter
O ser humano deve reconhecer a sua deficiência em realizar a obra de Deus com perfeição. Moisés, reconhecendo a sua incapacidade de fazer o que o Senhor lhe ordenara, relutou e perguntou humildemente: ‘Quem sou eu?’ (Êx 3.1). Certamente o valente e afoito príncipe herdeiro do trono egípcio sentia-se incapaz de cumprir a ordem do Senhor, pois muitos anos se haviam passado, e ele pouco ou nada sabia sobre o Egito de então. E, depois, voltar ao país de origem para libertar seu povo da escravidão seria uma missão muito árdua. Assim sendo, preferiria ficar no deserto pastoreando os rebanhos de seu sogro. Sentia-se mais útil. Além disso, a rejeição de seus irmãos o abatera fortemente.
Como se vê, o tempo passara e tudo havia se transformado; o homem também. Contudo, o Todo-Poderoso permanecera imutável, pois nEle não há sombra de variação. Moisés sentiu-se desanimado, mas Deus o fortalecera, dizendo: ‘Eu serei contigo’ (Êx 3.12-15). A promessa da presença real de Deus é a resposta para toda fraqueza humana” (COHEN, Armando Chaves. Comentário Bíblico Êxodo, ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1 998, p.32).
EXERCÍCIOS
1. Qual era a atividade que Moisés estava exercendo quando Deus o chamou para libertar seu povo?
R: Ele estava apascentando as ovelhas do seu sogro.
2. Qual foi o objetivo da chamada divina na vida de Moisés?
. O objetivo da chamada divina na vida de Moisés era fazer o povo de Israel sair do Egito.
3. Quais foram as desculpas de Moisés ao ser chamado peto Senhor?
“Eles não vão crer que o Senhor me enviou”, “não sou eloquente”.
4. O que Deus fez para encorajar Moisés?
R: A fim de encorajar Moisés e confirmar o seu chamado, o Senhor realiza alguns sinais (Êx 4.1-9).
5. Chegando ao Egito, Moisés e Arão foram até Faraó. O que eles foram comunicar ao rei do Egito?
R: A vontade de Deus para o povo de Israel.
Revista Ensinador Cristão CPAD, n° 57, p.37.
Moisés foi sendo preparado dia a dia pelo Senhor a fim de que se tornasse o líder do seu povo e os conduzisse rumo à Terra Prometida. Aprendemos com a segunda lição do trimestre que Deus vocaciona e chama líderes para sua obra, porém aqueles que forem chamados precisam fazer a sua parte preparando-se. Se você tem um chamado de Deus em sua vida, prepare-se. Faça a sua parte e deixe que o Senhor faça a dEle.
Moisés é preparado para se tornar o libertador (Êx 3.1-22)
Moisés viveu seus primeiros anos de vida na casa de seus pais. Certamente uma família humilde, porém temente a Deus. Em seu lar ele foi preparado para poder viver mais tarde no palácio de Faraó. Segundo os historiadores, como príncipe, Moisés teve uma educação primorosa, pois o texto bíblico de Atos 7.22 declara que ele foi "instruído em toda a ciência dos egípcios". O conhecimento adquirido por Moisés não foi certamente desperdiçado, mas muito o ajudou como líder do seu povo, profeta, escritor e legislador.
Deus tinha um propósito definido ao chamar Moisés, Ele também tem um propósito definido em sua vida. Porém, muitos não querem assumir um compromisso com Deus e a sua obra. Você deseja assumir um compromisso com o Todo-Poderoso?
Ao chamar Moisés, Deus foi bem enfático quanto ao seu propósito: "Para que tires o meu povo do Egito" (Êx 3.8-10). Deus desejava redimir o seu povo e organizá- -lo como nação a fim de que todas as famílias da terra fossem abençoadas. O Senhor precisava de um único homem, Moisés, para redimir seu povo da escravidão. Na Nova Aliança, Deus também necessitava de um único homem, porém este deveria ser perfeito. Então o Todo-Poderoso enviou seu próprio Filho, Jesus Cristo. Jesus atendeu ao Pai, se fez homem e habitou entre nós para nos libertar da escravidão do pecado (Jo 3.16).
Quantos, ao serem chamados pelo Senhor para alguma obra já não apresentaram uma lista vasta de desculpas? Com Moisés não foi diferente, ele também apresentou a Deus várias dificuldades. Porém, assim como nós, ele se esqueceu de que Deus é o nosso Criador. Ele nos conhece melhor do que nós mesmos. As escusas de Moisés, assim como as nossas, não vão impressionar o Senhor. Confie naquEle que está chamando você e não queira perder tempo com desculpas.

Quem sabe o Senhor não esteja também chamando você para a realização da sua obra? Evite as escusas. Confie no Senhor e permita que Ele use seus dons e talentos para que muitos sejam libertos da escravidão do pecado.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Deus tinha um plano de libertação para Israel, e iria usar um homem chamado Moisés para tal feito. Neste capítulo veremos de que forma Deus tratou com Moisés pessoalmente, chamando-o para que fosse uma das grandes figuras do Antigo Testamento.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 16.
MOISÉS O grande líder e legislador dos hebreus, sob cuja mão Deus levou os israelitas do Egito às fronteiras da terra prometida. Moisés foi a maior personalidade na dispensação do AT, porque foi seu fundador e, como tal, tipificou o Senhor Jesus Cristo (cf. Hb 3.1-6)
O nome. Em Êxodo 2.10, é feito um trocadilho com o nome Moisés: "E chamou o seu nome Moisés e disse: Porque das águas o tenho tirado [meshiti-hu]". Há uma questão exegética relacionada à pessoa que deu o nome a Moisés. Se foi sua mãe, possivelmente a palavra deveria ser explicada como relacionada a masha ("extrair"), uma adaptação semítica de uma forma egípcia. Por outro lado, a maioria dos estudiosos pensa que a filha do Faraó escolheu o seu nome, e que a palavra é realmente egípcia, embora existam dificuldades linguísticas em tal opinião. A vida. De acordo com Êxodo 2.1, os pais de Moisés eram descendentes de Levi, embora não possamos dizer quantas gerações houve entre Levi e Moisés. A história da infância de Moisés é bem conhecida. Desafiando a ordem do rei de lançar no rio todo menino que nascesse, os pais esconderam o bebé Moisés em uma arca, uma pequena cesta de bambu, vedada com piche. Veja Arca de Juncos. A filha do Faraó foi ao rio se banhar, viu a arca, e teve compaixão da criança. A irmã de Moisés, que estava por perto, armou um plano para que a sua mãe tomasse conta dele. Assim Deus graciosamente salvou a vida do menino.
Com relação à sua vida na corte egípcia, praticamente nada se sabe, salvo que de acordo com Hebreus 11.24, Moisés "recusou ser chamado filho da filha de Faraó". Sabemos que ele foi "instruído em toda a ciência dos egípcios" (At 7.22). Sabemos também que quando cresceu, ele demonstrou interesse pelo bem estar do seu povo. Ao ver um egípcio espancando um hebreu, Moisés interveio e matou o egípcio. No segundo dia, quando Moisés tentou intervir na disputa entre dois hebreus, um deles o acusou referindo-se ao assassinato do dia anterior. Moisés percebeu que sua façanha tinha sido descoberta e fugiu para Midiã, um distrito da Arábia. O Faraó ficou sabendo da sua atitude e procurou matá-lo.
Ao mesmo tempo, Moisés não temeu a ira do rei (Hb 11.27), mas o desafiou. Em Midiã ele ajudou as filhas de Reuel (Jetro) a dar de beber ao seu rebanho e mostrou a nobreza do seu caráter ao defendê-las de outros pastores. Ele se casou com Zípora, uma das filhas de Jetro. Com relação à sua vida como pastor de ovelhas em Midiã, pouco se sabe, porque o propósito das Escrituras não é tanto enfocar a atenção nos detalhes da vida de Moisés, porém, mostrar seu lugar na obra de libertação e no cumprimento dos propósitos de Deus. No deserto, Deus apareceu a Moisés na sarça ardente, pois a obra do Deus da aliança na redenção é cercada por milagres. Este evento tinha todas as características de um verdadeiro milagre; era um trabalho realizado pelo poder sobrenatural de Deus no mundo exterior. Deus fez com que a sarça queimasse de forma que Moisés o visse. Isto parece ter sido contrário à obra providencial usual do Senhor, e assim atende aos requisitos do termo niflaoth ("maravilhas" "aquelas coisas que são distintas"). Além do mais, o evento tinha o propósito de ser um sinal. Ele indicava a presença de Deus como um fogo consumidor, e revelava que a sua presença estava com o seu povo. Este evento mostrava que Ele os libertaria da escravidão, e que não havia se esquecido das suas promessas aos patriarcas. Veja Sarça ardente.
Moisés estava de alguma forma hesitante em retornar ao Egito para encontrar o Faraó e, de modo amoroso, Deus tratou com ele, assegurando-lhe que estaria com ele. O Senhor permitiu que o irmão de Moisés, Arão agisse como intermediário ou profeta, declarando a palavra de Moisés - a mensagem dada por Deus - ao Faraó.
O encontro com o Faraó foi muito interessante. Em última análise, ele levou a uma competição entre Jeová, o Deus de Israel, e o "deus" Faraó, uma representação dos poderes das trevas. Em primeiro lugar, Moisés simplesmente pediu que os israelitas tivessem permissão para fazer uma pequena viagem ao deserto e adorar ao seu Deus. Como seu pedido fora recusado, Deus mostrou seus sinais e maravilhas a Faraó. As pragas tiveram a finalidade de convencer os egípcios e os israelitas de que o Deus de Israel era o Deus Todo-poderoso. As pragas culminaram com a morte do primogênito do Faraó.
O relato de Êxodo é transmitido de maneira simples e direta. Quando os israelitas chegaram ao Sinai, Deus revelou que Ele os havia escolhido para serem o seu povo, e deu-lhes sua lei, santa e imutável. Moisés deveria ser o mediador entre a nação e Deus. As Escrituras relatam as peregrinações dos israelitas até chegarem às fronteiras da Palestina, porém Moisés não foi autorizado a entrar na terra. Ele morreu e foi sepultado no monte Nebo, e não se conhece a localização de sua sepultura. Para conhecer mais detalhes sobre o contexto histórico e a data da vida de Moisés, veja Egito; Êxodo, O A importância. O esboço da vida de Moisés, descrito acima, revela a importância deste grande homem. Sua verdadeira grandeza é trazida, entretanto, em conexão com um episódio que se passou depois que os israelitas deixaram o Sinai. Miriã e Arão demonstraram ciúme pelo fato de Deus ter dado revelações a Moisés. "Porventura, falou o Senhor somente por Moisés? Não falou também por nós?" (Nm 12.2). Moisés não podia falar em sua própria defesa, por causa da elevada posição que ocupava no plano divino. Ele foi humilde na elevada posição em que foi colocado por Deus, de forma que se engajar em uma defesa pessoal teria desviado a atenção da sua posição, e atraído a atenção para si, pessoalmente. Por esta razão, o Senhor interveio subitamente e esclareceu o relacionamento correto entre Moisés, Arão e Miriã. Para os verdadeiros profetas, Deus se fez conhecer por intermédio de sonhos e visões; mas para Moisés, que era seu servo e fiel em toda a sua casa, o Senhor falou diretamente e sem a capa da ambiguidade. O mesmo pensamento é encontrado em Hebreus 3, onde se faz uma comparação entre Moisés e Cristo. Nesta passagem fica claro que Moisés foi o homem mais exaltado na dispensação do AT, e ainda que esta dispensação apontava diretamente para o Senhor Jesus Cristo, e nele teria o seu cumprimento. Enquanto Moisés, como servo, foi fiel em toda a casa de Deus, Cristo, como o Filho, governa aquela casa. O AT é, em grande parte, o relato da dispensação Mosaica. Entretanto, os profetas e todos os outros como Miriã e Arão, estavam em uma posição inferior à de Moisés. Por isso, o pecado de Miriã e Arão era tão abominável. Miriã, que sem dúvida foi a instigadora, foi punida com lepra. Moisés, o homem que ocupou esta posição exaltada no plano divino do AT, era um homem de verdadeira grandeza. Ele viveu pela fé em Deus (cf. Hb 11.27Ò), e teve uma profunda preocupação pela honra do Deus a quem servia (Nm 14.13ss.). Esta preocupação também manifestava um desejo genuíno de que os propósitos de Deus fossem cumpridos. Uma leitura cuidadosa de Hebreus 11 mostra que Moisés tinha consciência de que era um servo de Deus, a serviço do cumprimento dos seus propósitos de redenção. Moisés chegava a considerar a possibilidade de ter o seu próprio nome riscado do livro de Deus, para que o seu povo pudesse ser salvo (Êx 32.32). Só um homem com uma profunda devoção poderia ter servido ao Senhor em tantas situações como Moisés. Ele se mostrou um verdadeiro líder do seu povo. Embora tenha pecado e, às vezes, demonstrado fraquezas, prosseguiu em sua tarefa até levar o povo à fronteira da terra prometida. Na época da grande apostasia, no incidente do bezerro de ouro, ele afirmou vigorosamente a sua liderança. O mesmo ocorreu na rebelião de Corá, Data e Abirão (Nm 16). Só um homem da grandeza de Moisés poderia ter trazido a nação de Israel do Egito até a terra prometida. Moisés também era um legislador, e será sempre lembrado neste aspecto. "A lei foi dada por Moisés" (Jo 1.17). Israel recebeu mais do que um código de leis tal como o código-lei de Hamurabi; na realidade, Moisés era o mediador de uma aliança. Um estudo dos tratados e alianças feitos pelos antigos heteus indica que ao dar a aliança a Israel, Deus empregou uma forma que foi bem entendida na época, o chamado tratado de suserania. Entre este tipo de aliança e a aliança de Israel há similaridades formais. Veja Aliança. Entretanto, há uma diferença profunda em relação ao conteúdo. Os suseranos heteus impunham uma série de condições que os povos conquistados tinham que obedecer. Entre o rei e o povo não havia amor ou afeição especial. No caso de Israel, entretanto, tudo era diferente. Israel deveria ouvir a voz de Deus e obedecê-la, porque Deus era verdadeiramente soberano. Além do mais, Deus havia manifestado o seu amor por Israel através de sua escolha e redenção. Israel foi a nação que Deus escolheu dentre todas as nações que estão sobre a face da terra. Ela seria o seu povo peculiar e a proximidade do seu relacionamento com Deus foram demonstradas através de sua libertação da escravidão do Egito. Israel não prestaria uma obediência baseada na força, mas como uma nação santa, sem dúvida serviria ao seu Deus em amor, como um reino de sacerdotes. Deus se revelou a Israel como Jeová, o Deus da aliança, o Deus da libertação. O homem que foi honrado por Deus como mediador da aliança foi Moisés. Moisés também demonstrou a sua grandeza através de suas produções literárias. Como mediador da aliança, o servo fiel na casa de Deus, Moisés foi o autor da lei, os cinco livros que falam do estabelecimento da teocracia. A questão da autoria Mosaica, então, é fundamentalmente teológica. Os livros de Moisés diferenciam-se de todos os demais livros do AT, pois mostram o pensamento daquele homem que foi escolhido por Deus para ser mediador da aliança, o pensamento de um legislador.
Isto não sugere que estes livros contenham algo imaginário. Moisés sem dúvida empregou documentos escritos que foram transmitidos de geração em geração; sem dúvida empregou sua vasta cultura, pois foi um homem criado em toda a sabedoria e conhecimento dos egípcios (At 7.22). Também não podemos nos esquecer de que os 5 livros da lei são Escrituras; e, assim, ao escrevê-los, Moisés foi um profeta que revelou as palavras de Deus ao povo. Ele se tornou o padrão para todos os verdadeiros profetas que se seguiram, culminando no Senhor Jesus Cristo, o Messias (Dt 18.15,18). Como um escritor das Escrituras, ele estava sob a direção do Espírito Santo, de tal forma que escreveu sob a inspiração de Deus (2 Tm 3.16; 2 Pe 1.21). Assim, os 5 livros de Moisés, cujo autor humano era um servo de Deus, são também a Palavra de Deus. Moisés e o golpe na rocha. Depois de uma longa jornada pelo deserto, Moisés não teve permissão para entrar na terra prometida. O motivo declarado é que ele golpeou a rocha em Cades. Este foi um ato de desobediência, no qual Deus não estava sendo glorificado. Golpear a rocha também foi um ato de descrença por parte de Moisés. Aqui, o grande líder hesitou; aqui ele renunciou efetivamente a tudo que ele mesmo representava, e mostrou descrença na Palavra de Deus. Por este motivo, não lhe foi permitido entrar na terra prometida. Este episódio é uma mácula no currículo do servo fiel e confiável do Deus da aliança.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1300-1302, 1304.
I - MOISÉS - SUA CHAMADA E SEU PREPARO (ÊX 3.1 17)
1. Deus chama o seu escolhido.
Moisés foi chamado por Deus quando estava vivendo em Midiã, com seu sogro Jetro. Ele chegara a Midiã aos 40 anos, fugido do Egito, e agora, aos 80 anos, quando cuidava das ovelhas do sogro, tem um encontro com Deus.
Moisés foi chamado por Deus em uma fase da vida em que, aos olhos humanos, poderia se aposentar e aproveitar os poucos anos que lhe restariam sem se aborrecer. Mas aqui reside um principio divino: Deus não depende de nossa faixa etária para nos convocar a ser úteis para Ele. Com certeza havia pessoas mais jovens e mais dispostas a fazer o que Moisés faria, mas Deus escolheu Moisés para aquela missão.
Deus não apenas escolhe as pessoas para determinadas obras, mas também as convoca. De que adianta ser escolhido por Deus e não ser informado dessa chamada? Como Deus faz tudo de forma perfeita, Ele mesmo se encarregou de falar com Moisés de modo sobrenatural e convincente.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 16-17.
O ENCONTRO ENTRE DEUS E MOISÉS (3-5)
Em função desses acontecimentos e antes do comissionamento de Moisés, ocorre o episódio da sarça ardente (3.1-6). O termo hebraico para “sarça” (sêneh) só aparece no Antigo Testamento aqui e em Deuteronômio 33.16, quando Moisés canta que Deus era “[aquele] que habitava na sarça (ardente)”. Quão oportuno que as últimas palavras de Moisés registadas nas Escrituras sejam, entre outras coisas, sobre seu primeiro encontro com Deus na sarça ardente! Essa palavra hebraica soa e faz lembrar a palavra “Sinai” (,sny e snft). Por duas vezes, Deus apareceu a Moisés de forma incandescente. Primeiro em uma snh (capítulo 3), depois no sny (capítulo 19). Deus costuma aparecer nos locais mais inesperados, como em uma sarça. Foi próximo a um arbusto que Ele apareceu para Agar (Gn 21.15, com uma outra palavra hebraica para “arbusto”, síah) e foi em um arbusto, ou sarça, que apareceu pela primeira vez a Moisés. Falando em lugares inesperados, talvez seja possível estabelecer uma analogia entre o anjo de Deus que apareceu no meio do nada para o pastor Moisés, fazendo um importante anúncio; e os anjos que apareceram diante de um grupo de pastores, no meio do nada, a fim de fazer um importante anúncio (Lc 2.8-20).
VICTOR P. HAMILTON. Manual do Pentateuco. Editora CPAD. pag. 160.
O QUE VEMOS E OUVIMOS
Examinemos agora o que Moisés viu e ouviu, atrás do deserto. Teremos ocasião de ver como ele aprende ali lições que estão muito acima da inteligência dos mais eminentes sábios do Egito. Poderia parecer à razão humana uma estranha perda de tempo um homem como Moisés ter de passar quarenta anos sem fazer nada senão guardar ovelhas no deserto. Porém, ele estava ali com Deus, e o tempo assim passado nunca é perdido. É conveniente recordar que há para o verdadeiro servo de Cristo alguma coisa mais do que mera atividade. Todo aquele que está sempre em atividade corre o risco de trabalhar demais. Um tal homem deveria meditar cuidadosamente nas palavras profundamente práticas do Servo perfeito: "Ele desperta-me todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que ouça, como aqueles que aprendem" (Isaías 50:4). O servo deve estar frequentemente na presença do seu mestre, a fim de poder saber o que deve fazer. O "ouvido" e a "língua" estão intimamente unidos, em vários aspectos; porém, debaixo do ponto de vista espiritual, ou moral, se o ouvido está fechado e a língua desatada, não restam dúvidas que se dirão muitas coisas bem tolas. Por isso, "amados irmãos... todo o homem seja pronto para ouvir; tardio para falar" (Tiago 1:19). Esta exortação oportuna baseia-se em dois fatos: a saber, que tudo o que é bom vem do alto, e que o coração está repleto de maldade, pronto a transbordar. Daí, a necessidade de ter o ouvido aberto e a língua refreada: rara e admirável ciência!—ciência na qual Moisés fez grande progresso "atrás do deserto", e que todos podem adquirir, desde que estejam dispostos a aprender nessa escola.
A SARÇA
"E apareceu-lhe o Anjo do SENHOR em uma, chama de fogo no meio de uma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia. E Moisés disse: agora me virarei para lá e verei esta grande visão, porque a sarça se não queima" (versículos 2-3). Era efetivamente uma grande visão, porque uma sarça ardia e não se consumia. A corte do Faraó nunca poderia oferecer nada de semelhante. Porém, era uma visão graciosa porque nela era simbolizada de um modo notável a situação dos eleitos de Deus. Eles encontravam-se no meio do forno do Egito; e o Senhor revelava-se no meio de uma sarça ardente. Porém, assim como a sarça se não consumia, tampouco eram eles consumidos, porque Deus estava com eles. "O SENHOR dos Exércitos está conosco: o Deus de Jacó é o nosso refúgio" (SI 46:7). Aqui temos força e segurança, vitória e paz. Deus conosco, Deus em nós, e Deus por nós. Isto é provisão abundante para todas as necessidades.
Não há nada mais interessante e mais instrutivo do que a maneira como aprouve ao Senhor revelar-Se a Moisés na passagem que estamos considerando. Ele ia confiar-lhe o encargo de tirar o Seu povo do Egito, para que eles fossem a Sua Assembleia, para habitar no meio deles tanto no deserto como na terra de Canaã; e é do meio de uma sarça que lhe fala.
Símbolo belo, solene e próprio do Senhor habitando no meio do Seu povo eleito e resgatado; "O nosso Deus é um fogo consumidor" (Hb 12:29)-não para MOS consumir, mas para consumir em nós e à nossa volta tudo que é contra a Sua santidade, e que é, portanto, um perigo para a nossa verdadeira e eterna felicidade. "Mui fiéis são os teus testemunhos; a santidade convém à tua casa, SENHOR, para sempre" (Salmo 93:5).
O Velho e o Novo Testamento encerram vários casos em que Deus Se manifesta como "um fogo consumidor": como por exemplo o caso de Nadabe e Abiú, em Levítico 10. Tratava-se de uma ocasião solene. Deus habitava no meio do Seu povo, e queria manter este numa posição digna de Si Próprio. Não podia ter feito outra coisa. Não seria para Sua glória nem para proveito dos Seus se Ele tolerasse qualquer: coisa, neles incompatível com a pureza da Sua presença. O lugar de habitação de Deus tem que ser santo.
Do mesmo modo, em Josué, capítulo 7, temos outra prova notável, no caso de Acã, de que o Senhor não pode sancionar o mal com a Sua presença, qualquer que seja a forma que o mal possa revestir ou por muito oculto que possa estar. O Senhor é "um fogo consumidor", e, como tal, tinha de agir a respeito de tudo que pudesse manchar a Assembleia no meio da qual habitava. Procurar unir a presença de Deus com o pecado não julgado é o indício da impiedade.
Ananias e Safira (Atos, 5) dão-nos a mesma lição. Deus o Espírito Santo habitava na Igreja, não somente como uma influência, mas, sim, como uma pessoa divina, de tal maneira que ninguém podia mentir na Sua presença. A Igreja era, e é ainda agora, morada de Deus; e é Ele Quem deve governar e julgar no meio dela. Os homens podem reviver em união a concupiscência, a impostura e a hipocrisia; mas Deus não pode fazê-lo. Se quisermos que Deus ande conosco, devemos julgar os nossos caminhos, ou então Ele os julgará por nós (veja 1 Co 11:29-32).
Em todos estes casos e em muitos mais que podíamos aduzir, vemos a força destas palavras solenes, "a santidade convém à tua casa, SENHOR, para sempre" (SI 93:5). Para aquele que a tiver compreendido, esta verdade produzirá sempre sobre ele um efeito moral idêntico àquele que exerceu sobre Moisés: "Não te chegues para cá; tira os teus sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa" (versículo 5). O lugar da presença de Deus é santo, e só se pode caminhar por ele com os pés descalços. Deus, habitando no meio do Seu povo, comunica à Assembleia desse povo um caráter de santidade que é a base de todo o santo afeto e de toda a santa atividade. O caráter da habitação deriva do caráter d'Aquele que a habita.
A aplicação deste princípio à Igreja, que é agora a habitação de Deus, em Espírito, é da maior importância prática. Assim como é bem-aventuradamente verdade que Deus habita, pelo Seu Espírito, em cada membro da Igreja, dando deste modo um caráter de santidade ao indivíduo, é igualmente certo que Ele habita na Assembleia; e, por isso, a Assembleia deve ser santa. O centro em volta do qual os membros se reúnem é nada menos do que a Pessoa de um Cristo vivo, vitorioso e glorificado. O poder que os une é nada menos do que o Espírito Santo; e o Senhor Deus Todo-Poderoso habita neles e entre eles (vede Mt 18:20; 1 Co 6:19; 3:16-17; Ef 2:21-22). Se tais são a santidade e dignidade que pertencem à morada de Deus, é evidente que nada impuro, quer seja em princípio, quer na prática, deve ser tolerado. Todos os que estão lugar em que tu estás é terra santa." "Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá" (1 Co 3:17). Estas palavras são dignas de toda a aceitação da parte de todos os membros da Assembleia—de cada pedra viva no Seu santo templo! Possamos nós todos aprender a pisar os átrios do Senhor com os pés descalços!
O Monte Horebe: Santidade e Graça Debaixo de todos os aspectos, as visões de Horebe rendem testemunho, ao mesmo tempo, da graça e da santidade do Deus de Israel. Se a graça de Deus é infinita, a Sua santidade também o é; e, assim como a maneira em que Ele se revelou a Moisés nos faz conhecer a primeira, o próprio fato de Se revelar atesta a última. O Senhor desceu porque era misericordioso; mas, depois de haver descido, é dito que Se revelou como sendo santo: "Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus" (versículo 6). A natureza humana esconder-se-á sempre como resultado da presença divina; quando estamos na presença de Deus, com os pés descalços e o rosto coberto, quer dizer, naquela disposição de alma que esses atos exprimem de um modo tão admirável, estamos em condições vantajosas para ouvir os doces acentos da graça. Quando o homem ocupa o lugar que lhe compete, Deus pode falar-lhe em linguagem de pura misericórdia.
"E disse o SENHOR: Tenho visto atentamente a aflição do meu povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheci as suas dores. Portanto, desci para livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e larga, a uma terra que mana leite e mel;.. .E agora, eis que o clamor dos filhos de Israel chegou a mim, e também tenho visto a opressão com que os egípcios os oprimem" (versículos 7 a 9). Neste trecho, a graça absoluta, livre e incondicional do Deus de Abraão brilha em todo o seu esplendor, livre dos "ses" e dos "mas", dos votos, das resoluções e das condições impostas pelo espírito legalista do homem. Deus havia para Se manifestar em Sua graça soberana, para realizar a obra de salvação, para cumprir a Sua promessa a Abraão, promessa repetida a Isaque e a Jacó. Não havia descido para ver se, na realidade, os herdeiros da promessa estariam em condições de merecer a salvação. Bastava-Lhe que Necessitassem dela. Ponderarão seu estado oprimido, as suas aflições, as suas lágrimas, os seus suspiros, e a sua pesada servidão; pois, bendito seja o Seu nome, Ele conta os "ais" do Seu povo e põe as suas lágrimas no Seu odre (Sl 56:8). Não foi por coisa alguma de bom que houvesse visto neles que os visitou, porque Ele sabia o que havia neles. Numa palavra, o verdadeiro fundamento da intervenção misericordiosa do Senhor a favor do Seu povo é revelado nestas palavras: "Eu sou o Deus de Abraão" e "Tenho visto a aflição do meu povo."
Estas palavras revelam um princípio fundamental nos caminhos de Deus. É com base naquilo que Ele é que atua sempre. "EU SOU" assegura todas as cosias para "O MEU POVO". Certamente, Deus não ia deixar o Seu povo no meio dos fornos de tijolo do Egito, e debaixo do azorrague dos exatores do Faraó. Era o Seu povo, e, portanto, queria agir, com respeito a esse povo, de uma maneira digna de Si Próprio. O fato de ser o Seu povo, o objeto favorecido do Seu amor de eleição e possuidor da Sua promessa incondicional, era suficiente. Nada podia impedir a manifestação pública da relação que existia entre o Senhor e aqueles a quem, segundo os Seus desígnios eternos, havia sido assegurada a posse da terra de Canaã. Havia descido para os libertar, e os poderes da terra e do inferno reunidos não poderiam retê-los nem uma hora além do tempo determinado por Ele. Podia servir-Se, e de fato serviu-Se, do Egito como escola, na qual estava o Faraó como um mestre; porém, uma vez cumprida a sua missão, o mestre e a escola são postos de parte, e o Seu povo é libertado com mão forte e braço estendido.
A GRAÇA DE DEUS LEMBRA-SE SOMENTE DOS ATOS DA FÉ (HEBREUS 11)
Nisto, como em tudo mais, o Mestre bendito forma um contraste notável com os Seus servos mais honrados e destacados. O próprio Moisés "temeu" (versículo 14), e Paulo teve de se arrepender (2 Co 7:8); porém, o Senhor Jesus nunca fez uma coisa nem outra. Jamais se viu forçado a recuar um passo, a arrepender-se duma palavra ou a corrigir um pensamento.
Tudo quanto fez foi absolutamente perfeito. Era tudo fruto dado na estação própria. O curso da Sua vida santa e celestial deslizava adiante sem obstáculos nem deslizes. A sua vontade estava perfeitamente submissa ao Pai. Os melhores homens, e até mesmo os mais dedicados, cometem erros; mas é perfeitamente exato que quando mais, pela graça, nos é dado mortificarmos a nossa vontade, menos erramos. E uma feliz circunstância quando, dum modo geral, a nossa vida é de fé e de dedicação exclusiva a Cristo.
Assim sucedeu com Moisés. Era um homem de fé, um homem que absorveu em alto grau o espírito do seu Mestre e que seguiu com maravilhosa firmeza os Seus passos. É certo que antecipou, como notamos, em quarenta anos o período que Deus destinara para julgar o Egito e libertar Israel; todavia, quando lemos o comentário inspirado do Capítulo 11 de Hebreus nenhuma menção encontramos deste fato. Encontramos somente o princípio divino que, dum modo geral, orientou a sua vida: "Pela fé, Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de Deus do que por, um pouco de tempo, ter o gozo do pecado; tendo, por maiores riquezas, o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa. Pela fé, deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisível" (Hb 11: 24-27). Esta passagem apresenta-nos os atos de Moisés de uma maneira cheia de graça. É assim que o Espírito Santo sempre conta a história dos santos do Velho Testamento. Quando descreve a vida dum homem, apresenta-o como ele é, com todas as suas falhas e imperfeições. Mas quando, no Novo Testamento, comenta essa biografia limita-se a dar o princípio que o orientou e o resultado da sua atividade. Por isso, não obstante lermos em Êxodo que Moisés "olhou a uma e a outra banda", e disse; "certamente este negócio foi descoberto", e por fim que "fugiu de diante da face de Faraó", lemos também na epístola aos Hebreus que o que ele fez, fê-lo "pela fé"— não temeu a ira do rei — e ficou firme como vendo o invisível.
Assim acontecerá em breve quando vier o Senhor, "o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor" (1 Co 4:5). Eis aqui uma verdade consoladora e preciosa para toda a alma reta e o coração fiel. O coração pode formar muitos projetos que, por diversas razões, a mão não pode realizar. Todos esses intentos serão manifestados quando o Senhor vier. Bendita seja a graça divina por nos haver dado uma tal certeza! As devoções do coração são muitos mais preciosas para Cristo do que as obras mais espaventosas que as mãos possam executar. Estas podem dar algum brilho aos olhos do homem; mas aquelas são devidamente apreciadas pelo coração de Jesus. As obras podem ser assunto de conversação dos homens, mas as afeições são manifestadas diante de Deus e dos Seus anjos. Que todos os servos de Cristo saibam ter os seus corações somente ocupados com Ele e os seus olhos postos na Sua vinda.
C. H. MACKINTOSH. Estudos Sobre O Livro De Êxodo. Editora Associação Religiosa Imprensa da Fé.
2. O preparo de Moisés (Êx 3.10-15).
Deus se utiliza de diversos recursos para treinar aqueles a quem escolheu. Com Moisés não foi diferente. Ele passou por pelo menos três grandes ambientes em sua vida, onde fora colocado por Deus para exercer seu ministério futuro como libertador, legislador e líder de um grupo de pessoas que deixaria uma vida de escravidão para entrar em uma terra própria e se tornarem uma nação.
O primeiro grande ambiente pelo qual Moisés passou foi, sem dúvida, o lar em que foi criado por seus pais. Lá ele foi instruído sobre seu povo e sua cultura, e certamente aprendeu algo acerca de Deus.
O segundo grande ambiente foi a corte do Egito. Nesse local ele foi ensinado no que o Egito tinha de melhor em tecnologia e conhecimento, construindo uma vida acadêmica e preparando-se para um futuro brilhante na liderança egípcia.
O terceiro foi o deserto. A esse lugar Moisés se dirigiu quando matou um egípcio e foi perseguido. Em Midiã, Moisés constituiu uma família com Zipora, filha de Jetro. Não há indícios de que Moisés tenha se casado no Egito.
Portanto, o preparo de Moisés durou muitos anos, e mesmo que ele não o soubesse, Deus o estava preparando como instrumento para uma grande missão.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 17.
O Pacto Abraâmico foi confirmado a Moisés (Êxo. 2.24). Ele foi nomeado para tornar-se um instrumento especial desse pacto, passando a desempenhar um papel cêntrico para tirar Israel do Egito e fazê-lo voltar à Terra Prometida. Jacó e seus filhos, ao fugirem da seca na terra de Canaã, desceram ao Egito para estarem em companhia de José (ver Gên. 46-50). Isso armou o palco para o exílio e a escravidão naquele país. Agora, essa situação seria revertida, e o cronograma de Deus estava avançando para uma fase nova. Ver Gên. 15.13,16 e as notas sobre 0 Pacto Abraâmico em Gên. 15.18.
Os críticos pensam que esta seção é uma mescla das fontes informativas J, E e P(S). Moisés era considerado o maior de todos os profetas de Israel (Êxo. 34.10); e outros ainda o exaltavam mais do que isso (Núm. 12.6,7). Seja como for, ele foi o homem escolhido por Deus para aquele momento crítico. Foi mister que ele recebesse uma autoridade e um poder real, e isso lhe foi concedido pela presença de Deus, que começou quando da teofania que lhe foi outorgada. Isso faz-nos lembrar da chamada de Isaías (Isa. 6).
A seção à nossa frente consiste em três divisões:
1. Confrontação com Deus (Êxo. 3.1-12)
2. Instruções (Êxo. 3.13-22)
3. Queixas de Moisés (Êxo. 4.1-17).
Êx 3.1 Apascentava Moisés o rebanho. Moisés sentia-se satisfeito no deserto, enquanto ajudava a cuidar do rebanho de seu sogro. Não havia excitações, mas também não havia ameaças nem necessidades. Tinha tudo 0 de que precisava, com sua pequena família: sua esposa e seus dois filhos. Mas 0 plano de Deus em breve haveria de agitar a sua vida, preparando-o para uma importantíssima mis- são. Por igual modo, séculos depois, Davi também foi arrancado de suas ocupações pastoris para cumprir um notável destino.
Jetro. Em Êxo. 2.18, o nome do sogro de Moisés aparece como Reuel. Ver as notas em Êxo. 2.16-18 quanto ao problema da aparente confusão de nomes próprios. Talvez Reuel fosse o pai de Jetro.
O lado ocidental do deserto. Essa era a estreita faixa de terra fértil que ficava por trás da planície arenosa, estendendo-se desde a serra do Sinai até as praias do golfo Elanítico.
Horebe. Chamado algures de “monte de Deus”. Cuidando de seu rebanho, Moisés acabou chegando a esse lugar. E ali, inesperadamente, teve um encontro com a presença de Deus. Parece que Horebe era o nome de toda a cadeia montanhosa que havia naquela área. O Sinai era apenas uma parte dessa cadeia, posteriormente conhecido como Jebel Musa. Alguns estudiosos opinam que Horebe e Sinai eram os nomes de dois picos da serra em pauta. E Horebe, nesse caso, veio a ser conhecido como “monte de Deus” porque foi ali que Deus apareceu a Moisés.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 312.
A sarça ardente (3.1-6). De acordo com Estêvão (At 7.23), Moisés tinha quarenta anos quando matou o egípcio, e, depois de outros quarenta anos, ele encontrou o Senhor na sarça ardente (At 7.30). Depois deste período no deserto, Deus viu que seu povo e Moisés estavam prontos para o milagre de libertação. Aqui, o sogro de Moisés recebe o nome Jetro (1), embora seja possível que Jetro fosse o filho de Reuel e, portanto, cunhado de Moisés.15 Ainda pastor, Moisés estava nas proximidades de Horebe, o monte de Deus (1), também chamado Sinai (ver Mapa 3). E provável que Horebe fosse o nome dado à cadeia de montanhas, ao passo que Sinai dissesse respeito a um grupo menor ou a um único cume.
Os estudiosos da Bíblia consideram que o anjo do SENHOR (2) na sarça ardente seja Cristo pré-encarnado, embora o Novo Testamento nunca use essa expressão para se referir a ele. Na Bíblia, uma chama de fogo simboliza a presença de Deus (Hb 12.29).
Este fato despertou a curiosidade de Moisés, momento em que Deus falou com ele. Então, encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus (6). Ele não podia ficar em pé levianamente na presença de Deus, e aprendeu que a presença divina santifica o lugar onde Ele aparece (5).
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 145.
A visão de Deus. 1. Apascentava Moisés o rebanho. O texto hebraico sugere que esta era sua ocupação habitual. Não há na Bíblia o menor indício de que Midiã fosse uma região onde se minava o cobre, ou que os queneus fossem ferreiros itinerantes, embora esses pontos de vista sejam prediletos dos estudiosos mais recentes e, arqueologicamente, tentadores. Certamente havia minas de cobre na Arabá, ao sul do Mar Morto, e durante sua peregrinação pelo deserto Israel fabricou um grande número de objetos de cobre (cap. 35 seg.), mas além disso não vai a tradição bíblica.
O lado ocidental do deserto. A palavra hebraica ’ah.ar, “ atrás, detrás” , deve significar “ oeste” do ponto de vista midianita e portanto pode ser um termo originado em Midiã. Como de costume, no pensamento semita, defronta-se sempre o leste ao definir direções; atrás, portanto, se refere ao ocidente. Horebe, o monte de Deus. Possivelmente, “ Horebe, o grande monte” , segundo uma expressão idiomática semita muito comum para descrever força ou tamanho muito grande (cf. o uso em árabe). Os que usam os símbolos críticos convencionais para descrever as pressupostas fontes do Pentateuco alegam que “ Horebe” se encontra em material Eloísta e Deuteronomista, ao passo que “ Sinai” é o nome utilizado em material Jeovista e sacerdotal. Não sabemos por que razão os dois nomes foram usados, aparentemente alternadamente.
Já foi sugerido que Horebe é uma parte do Sinai, mas isso é pura adivinhação. Horebe é comprovadamente um nome semita, cujo provável significado é “ deserto” Ou “ desolação” . É possível que fosse o nome semita correspondente ao nome Sinai, não-semita. Sinai deve ser um nome antigo e, provavelmente, de ligações etimológicas com o vizinho deserto de Sin. Qualquer ligação com seneh (heb. “ espinheiro” ) ou com Sin (o deus-Lua de Acade) é resultado de uma etimologia duvidosa. Questão mais séria, à parte de seu nome, é o fato de que não sabemos onde ficava o “ monte de Deus” (o termo popular, conforme usado neste versículo). Ficaria na Península do Sinai? Caso a resposta seja afirmativa, ficaria ele ao sul (a área tradicional) ou a nordeste, entre as montanhas de Seir, fronteiro ao oásis de Cades-Barnéia, onde Israel manteve seu centro tribal por tanto tempo? Ou seria ainda nas montanhas da Arábia, a nordeste do Golfo de Aqaba? Os detalhes geográficos gerais parecem sugerir a área meridional da península: o local tradicionalmente apontado, Gebel Musa, “ o monte de Moisés” (2464 metros de altura) tem muito a seu favor, embora alguns prefiram outras montanhas próximas mais elevadas. Um fato digno de nota é que, tal como o exílio em Babilônia, este acontecimento tão importante para a fé israelita aconteceu em solo estrangeiro (cf. a chamada de Abrão) e que, mais tarde, Israel sempre pareceu ignorar e não se importar com a exata localização do Sinai. Não há qualquer sugestão de peregrinações posteriores ao local, com a possível exceção da jornada de Elias (1 Reis 19). Israel sabia, entretanto, que o “ monte de Deus” ficava em algum lugar ao sul de Canaã. Isto fica claro pelas descrições em que Deus vem ajudar Seu povo desde Parã ou Seir ou outras montanhas vagamente definidas para os lados do sul (Dt 33:2). Este é um contraste marcante em relação à mitologia cananita, em que os deuses habitavam um monte no extremo norte.
Não há qualquer evidência no pensamento bíblico de que os israelitas sequer pensassem que Deus vivesse no Sinai. Pelo contrário, Sinai era o lugar em que Deus Se revelara a Moisés (3:2) e sobre o qual, posteriormente, dera a lei a Seu povo (3:12). O Sinai, portanto, poder-se-ia dizer em terminologia moderna, não era tanto o monte de Deus quanto se tornaria o monte de Deus em virtude das coisas que ali Ele veio a dizer e fazer; este é um conceito dinâmico e não estático. Deus, em dias passados, podia ser adorado em qualquer lugar onde aparecesse (20:24) e o Sinai é apenas mais um exemplo desse fato. É verdade que há numerosas inscrições nabatéias na área do Sinai, indicando que ao menos mais tarde ele foi considerado uma montanha sagrada. Com base nisso, alega-se que bem poderia ter sido um lugar sagrado para os próprios midianitas. Isso é impossível desmentir ou comprovar, em vista da absoluta falta de provas. Moisés, pelo menos, não foi ao monte com qualquer motivo religioso, segundo o texto, mas apenas para apascentar seu rebanho.
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 60-61.
A ESCOLA DE DEUS
Vamos agora retomar a história pessoal de Moisés e considerar este grande servo de Deus durante o período tão interessante da sua vida de solidão, período este que não vai além de quarenta dos seus melhores anos, se assim podemos dizer. O Senhor, na Sua bondade, Sua sabedoria e Sua fidelidade, põe o Seu servo à parte, livre das vistas e dos pensamentos dos homens, para o poder educar debaixo da Sua imediata direção. Moisés tinha necessidade disso. Havia passado quarenta anos na casa do Faraó; e, conquanto a sua estadia ali não deixasse de ser proveitosa, todavia, tudo que tinha aprendido ali não era nada em comparação com o que aprendeu no deserto. O tempo passado na corte pode ter sido valioso, mas a sua estadia no deserto era indispensável.
Nada há que possa substituir a comunhão secreta com Deus ou a educação que se recebe debaixo da Sua disciplina. "Toda a ciência dos egípcios" não havia habilitado Moisés para o serviço a que devia ser chamado. Havia podido seguir uma carreira brilhante nas escolas do Egito, e deixara-as coberto de honras literárias, com uma inteligência enriquecida por vastos conhecimentos e o coração cheio de orgulho e vaidade. Havia podido tomar os seus títulos nas escolas dos homens, mas tinha ainda de aprender o alfabeto na escola de Deus. Porque a sabedoria e a ciência humanas, por muito valor que tenham em si mesmas, não podem fazer de ninguém um servo de Deus nem qualificar alguém para desempenhar qualquer cargo no serviço divino. Tais conhecimentos podem qualificar o homem natural para desempenhar um papel importante diante do mundo: porém é necessário que todo aquele que Deus quer empregar ao Seu serviço seja dotado de qualidades bem diferentes, qualidades aliás que só se adquirem no santo retiro da presença de Deus.
Todos os servos de Deus têm aprendido por experiência a verdade do que acabamos de dizer: Moisés em Horeb, Elias no ribeiro de Kerith, Ezequiel junto ao rio Chebar, Paulo na Arábia, e João em Patmos, são todos exemplos da grande importância de estarmos a sós com Deus. E se considerarmos o Servo Divino, vemos que o tempo que Ele passou em retiro foi dez vezes aquele que gastou no Seu ministério público. Ainda que perfeito em inteligência e vontade, passou trinta anos na casa humilde de um carpinteiro de Nazareth, antes de se manifestar em público. E, mesmo depois de ter entrado na Sua carreira pública, quantas vezes o vemos afastar-Se das vistas dos homens, para gozar a solidão santa da presença do Pai! Pode perguntar-se, como poderá a falta de obreiros, que tanto se faz sentir, ser suprida se é necessário que todos passem por uma educação secreta tão prolongada antes de tomarem o seu trabalhou Mas isto é um assunto do Mestre, e não nosso. É Ele Quem sabe chamar os obreiros, e Quem sabe também prepará-los. Não é obra do homem. Só Deus pode chamar e preparar um verdadeiro obreiros, e se Ele toma muito tempo para educar um tal homem, é porque assim o julga bom; sabemos que, se outra fosse a Sua vontade, Ele podia realizar esta obra num instante. Uma coisa é evidente: Deus tem tido todos os Seus servos muito tempo a sós Consigo, tanto antes como depois da sua entrada no ministério público; ninguém poderá dispensar este treino, e sem esta disciplina, sem este exercício privativo, nunca seremos mais que teóricos superficiais e inúteis. Todo aquele que se aventura numa carreira pública sem se haver pesado na balança do santuário, e medido na presença de Deus, parece-se com um navio saindo à vela sem lastro próprio, que terá fatalmente de soçobrar ao primeiro embate do vento. Pelo contrário, existe para todo aquele que tem passado pelas diferentes classes da escola de Deus uma profundidade, uma solidez, e uma constância que são os elementos essenciais na formação do carácter de um verdadeiro e eficiente servo de Deus.
Por isso, quando vemos Moisés, à idade de quarenta anos, afastado de todas as honras e magnificência de uma corte, para passar quarenta anos na solidão do deserto, podemos esperar vê-lo empreender uma carreira de serviço notável; no que aliás não ficamos desapontados. Ninguém é verdadeiramente educado senão aquele a quem Deus educa. Não está dentro das possibilidades do homem preparar um instrumento para serviço do Senhor. A mão do homem é incapaz de moldar um "vaso idôneo para uso do Senhor" (2 Tm 2:21). Somente Aquele que quer usá-lo pode prepará-lo; e no caso presente temos um exemplo singularmente belo do Seu modo de o fazer.
No Deserto
"E APASCENTAVA Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em Midiã; e levou o rebanho atrás do deserto e veio ao monte de Deus, a Horebe" (versículo 1). Aqui temos, pois, uma mudança admirável na vida de Moisés. Lemos em Génesis, capítulo 46:34, que "todo o pastor de ovelhas é abominação para os egípcios" e no entanto, Moisés, que era "instruído em toda a ciência dos egípcios", é transferido da corte do Egito para trás do deserto para apascentar um rebanho de ovelhas e preparar-se para o serviço de Deus. Seguramente isto não "é o costume dos homens" (2 Sm 7:19) nem o curso natural das coisas: é um caminho incompreensível para a carne e o sangue. Nós havíamos de pensar que a educação de Moisés estava terminada logo que se tornou mestre de toda a sabedoria do Egito, gozando ao mesmo tempo das vantagens que oferece a este respeito a vida de uma corte. Poderíamos supor que um homem tão privilegiado havia de ter não apenas uma instrução sólida e extensa mas também uma distinção tal em suas ações que o tornariam apto para cumprir toda a espécie de serviço. Porém, ver um tal homem, tão bem dotado e instruído, ser chamado a abandonar a sua elevada posição para ir apascentar ovelhas atrás do deserto, e qualquer coisa incompreensível para o homem, qualquer coisa que humilha até ao pó o seu orgulho e a sua glória, mostrando que as vantagens humanas são de pouco valor diante de Deus; mais ainda, que são "como esterco", não somente aos olhos do Senhor, mas aos olhos de todos aqueles que têm sido ensinados na Sua escola (Fp. 3:8).
Existe uma diferença enorme entre o ensino humano e o divino. Aquele tem por fim cultivar e exaltar a natureza; este começa por a "secar" e a pôr de lado. "Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente" (1 Co 2:14). Podeis esforçar-vos por educar o homem natural tanto quanto puderdes, sem que jamais consigais fazer dele um homem espiritual. "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito" (Jo 3:6). Se alguma vez um "homem natural" educado pôde esperar ter êxito no serviço de Deus, esse tal foi Moisés: ele era "instruído... e poderoso em suas palavras e obras" (At 7:22); e todavia teve que aprender alguma coisa "atrás do deserto" que as escolas do Egito nunca lhe haviam ensinado. Paulo aprendeu muito mais na Arábia do que jamais havia aprendido aos pés de Gamaliel (¹). Ninguém pode ensinar como Deus; e é necessário que todos aqueles que querem aprender d'Ele estejam a sós com Ele. Foi no deserto que Moisés aprendeu as lições mais preciosas, mais profundas, mais poderosas e mais duráveis; e é ali que devem encontrar-se todos os que queiram ser formados para o ministério.
C. H. MACKINTOSH. Estudos Sobre O Livro De Êxodo. Editora Associação Religiosa Imprensa da Fé.
3. O objetivo da chamada divina (Êx 3.10).
Êx 3.12 Resposta à Primeira Objeção. Moisés não era apenas Moisés; ele era o Moisés em quem Deus estava cumprindo o Seu propósito. Esse é um segredo universal de homens verdadeiramente grandes. Eles são capacitados mediante a presença e o poder divino. O projeto era de Deus, e não de Moisés. Moisés seria apenas um instrumento. Naturalmente, suas habilidades naturais e seu conhecimento seriam usados no plano. Ele não seria apenas uma marionete.
O sinal. Temos aqui uma garantia dada por Deus, como se fora uma promessa, de que 0 plano teria êxito, de tal modo que, ao sair do Egito, o povo de Israel serviria a Deus naquele monte santo, o monte de Deus, Horebe, ou Sinai. E isso teve cumprimento, como é lógico. A lei foi concedida ali, e Israel tornou-se uma nova espécie de nação, uma teocracia.
A Moisés foi dado entender que o êxodo seria um empreendimento teocêntrico, envolvendo um sentido cósmico, o que significa que só o poder divino poderia realizar o feito.
Alguns eruditos pensam que o sinal foi a sarça ardente (vs. 3,4); mas isso é menos provável. Ver Êxo. 24.4,5 quanto ao cumprimento do sinal, em comparação com Isa. 37.30, outro acontecimento da mesma natureza.
Êx 3.13 A Segunda Objeção. Israel não daria crédito ao radical Moisés, que falava em visões e comissões dadas pelo Deus de Abraão. Haveriam de considerá-lo um visionário louco. Não o veriam como uma autoridade. Faltava a Moisés a autoridade divina, de acordo com sua própria estimativa, e o povo de Israel não demoraria a perceber isso. Moisés teria a tarefa de convencer o povo de Israel de que tinha falado com Deus e tinha recebido sua comissão.
Qual é o seu nome? De acordo com a Bíblia, o nome de uma pessoa indica o seu caráter. Moisés, pois, estava reivindicando uma nova revelação, e isso requereria um novo nome divino para dar-lhe respaldo. Isso pode ser com- parado com a história do novo nome de Jacó, Israel (Gên. 32.27 ss.). “Cria-se nos dias antigos que a essência de uma pessoa se concentrava em seu nome” (Oxford Annotated Bible, sobre Gên. 32.27). Um novo nome é um novo “eu”. No caso de Moisés, o novo nome indicava uma nova revelação de Deus, um novo propósito.
Neste versículo está envolvido muito mais do que a ideia de o Deus de Israel ser identificado mediante um nome, em contraposição aos muitos nomes que eram adorados no Egito, conforme alguns eruditos têm interpretado.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 318.
Embora Deus pudesse ter livrado Israel diretamente por uma palavra, preferiu fazer sua obra por seu servo. Disse Deus a Moisés: Eu te enviarei a Faraó (10). Este homem, outrora auto designado libertador, tinha de ir à presença do orgulhoso rei e tirar Israel do Egito sob a direção de Deus.
Identificamos “O Envolvimento de Deus com o seu Povo” em cinco declarações: 1) Tenho visto atentamente, 7; 2) Tenho ouvido, 7; 3) Conheci, 7; 4) Desci, 8; 5) Eu te enviarei, 10.
c) As instruções divinas (3.11-22). A princípio, Moisés contestou o plano de Deus usá-lo. Viu: a) sua incapacidade: Quem sou eu?; e b) a impossibilidade da tarefa: E tire do Egito os filhos de Israel? (11). O príncipe que há quarenta anos era confiante em si mesmo agora temia a tarefa. Era mais sábio no que concerne à capacidade humana de ocasionar a libertação, mas ainda tinha de aprender o poder de Deus. Como é frequente hesitarmos quando olhamos para nós mesmos — ato que devemos fazer —; mas não precisamos ter medo quando olhamos para Deus! Certamente eu serei contigo (12) sugere que quando Deus escolhe um mensageiro, Ele não se baseia na habilidade do indivíduo, mas na submissão deste à vontade de Deus. Deus assegurou a Moisés que ele e o povo serviriam a Deus neste monte depois que Israel fosse libertado do Egito. A expressão: Isto te será por sinal, está corretamente traduzida.
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 146.
II - AS DESCULPAS DE MOISÉS E A SUA VOLTA PARA O EGITO
1, O receio de Moisés e suas desculpas.
Moisés foi chamado por Deus, mas não atendeu à voz divina imediatamente. Analisemos os textos que se seguem.
Em um primeiro momento (Êx 3.5,6), Deus fala com o pastor Moisés para que tenha temor ao se aproximar, e de imediato se identifica como sendo o Deus de Abraão, de Isaque e Jacó, uma clara referência de que Ele era reverenciado pelos antepassados de Moisés.
Após se identificar (Ex 3.7,8), Deus deixa claro que viu a aflição do seu povo e que ia livrá-lo, tirando-os da escravidão e levando-os a uma terra nova e frutífera.
“Vem agora, pois, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito” (Ex 3.10). É curioso que Deus diz a Moisés que vai tirar seu povo do Egito, para depois dizer a Moisés que ele havia sido escolhido para ir diante de Faraó e convencer o rei a libertar o povo. Por que Ele mesmo não aparecia a Faraó e ordenava que o povo fosse solto? Ele tinha de usar alguém para tal função? Sim, Deus tinha de usar Moisés para tal feito. Como Moisés, precisamos aprender que Deus pode fazer grandes coisas sem utilizar ninguém, mas em diversas situações Ele se utiliza de pessoas como eu e você, limitadas, para cumprir seus propósitos.
Analisando de forma mais acurada o texto que narra a conversa de Deus com seu servo, poderemos observar: “Então, Moisés disse a Deus: Quem sou eu, que vá a Faraó e tire do Egito os filhos de Israel? E Deus disse: Certamente eu serei contigo; e isto te será por sinal de que eu te enviei: quando houveres tirado este povo do Egito, servireis a Deus neste monte” (Ex 3.11,12).
Moisés já tinha visto a sarça ardendo no deserto, e já ouvira Deus convocando-o para a missão que ocuparia uma parte importante de sua vida. Mas nem sempre pessoas que serão grandemente utilizadas por Deus estarão de imediato prontas para obedecer à sua voz quando chamadas. Moisés trouxe seu primeiro questionamento ao Senhor: “Quem sou eu para falar com Faraó e tirar o povo do Egito?” Aos próprios olhos, Moisés não tinha tal capacidade. É provável que ele estivesse pensando em seu passado, no crime que havia cometido, no prejuízo que teria se retornasse ao Egito e alguém se lembrasse do que ele fizera. Mesmo se essa possibilidade fosse remota, o certo é que Moisés não estava disposto a obedecer à voz de Deus, e deixou claro que não era qualificado para falar com Faraó.
Observe que Deus disse a Moisés que seria com ele. Deus sabia das limitações daquele homem, mas garantiu-lhe que o acompanharia. Essa é uma promessa que nos deve fazer refletir, pois não raro, dependemos de muitos fatores para nos sentirmos seguros para fazer a obra de Deus, como recursos, pessoal e tempo. E do que realmente precisamos? Da companhia de Deus. Sem ela, nossos recursos, por mais que se mostrem abundantes, serão insuficientes. Com a presença de Deus, os recursos, por mais escassos, tornam-se instrumentos de abundância e de milagres diariamente.
Então, disse Moisés a Deus: Eis que quando vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me disserem: Qual é o seu nome? Que lhes direi? E disse Deus a Moisés:
EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós. E Deus disse mais a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: O SENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me enviou a vós; este é meu nome eternamente, e este é meu memorial de geração em geração. (Êx 3.13-15) Moisés fez um segundo questionamento ao Senhor: Qual era o nome daquele que o estava comissionando? Deuses deveriam ter nomes. Os do Egito tinham suas nomenclaturas, e o nome das divindades geralmente espelhava alguma característica relacionada a um poder ou a um hábito dentro da teologia daquele povo.
O Deus de Abraão, de Isaque e Jacó deveria ter um nome também. A expressão “o Deus de vossos pais” é muito impessoal. Se Deus tem um nome, porque Moisés não poderia sabe-lo? A resposta divina foi: “Diga aos filhos de Israel que o EU SOU está mandando você para libertá-los. Lembre-os de que sou o Deus de Abraão, Isaque e Jacó”. Deus deveria ser identificado como o Deus dos antepassados dos israelitas.
Deus ordena que Moisés procure os anciãos e diga que o Deus dos pais deles tinha aparecido e ordenado a ele que fosse falar com Faraó. Observe que Deus não apenas trata de falar com Moisés, mas de dar a ele ordens bem direcionadas e específicas. Ele deveria falar com Faraó que Deus estava ordenando que o rei deixasse o seu povo ir, mas havia a orientação para que Moisés procurasse os anciãos do povo e comunicasse que Deus tinha visto o que os egípcios fizeram com os israelitas, que Ele os tiraria do Egito e que eles prestariam culto ao Senhor (Êx 13.16-18).
A mensagem foi dada, mas isto não indicava que as coisas seriam fáceis para Moisés. Deus diz a Moisés que Faraó não era uma pessoa de fácil relacionamento, e que não deixaria o povo sair. Por isso, Deus feriria o Egito e no fim os israelitas seriam libertos e ainda pediriam aos seus vizinhos egípcios bens em roupas e metais preciosos (Êx 3.19-22).
Moisés apresentou outra desculpa para não obedecer àquilo que Deus estava mandando: os israelitas não acreditariam nele, e ainda diriam que Deus não havia aparecido a Moisés. Se Moisés não se convenceu imediatamente de sua chamada, como convenceria os israelitas de que ele era um enviado de Deus? A resposta de Deus foi imediata, por meio de sinais. Moisés lançou no chão a vara com que liderava as ovelhas de seu sogro, e ela se transformou em uma serpente. Quando Moisés pegou a serpente pela cauda, ela se transformou em uma vara novamente. Mas se este sinal foi pouco, Deus tinha outra forma de mostrar seu poder a Moisés:
E disse-lhe mais o Senhor: Mete agora a mão no peito. E, tirando-a, eis que sua mão estava leprosa, branca como a neve. E disse: Torna a meter a mão no peito. E tornou a meter a mão no peito; depois, tirou-a do peito, e eis que se tornara como a sua outra carne. E acontecerá que, se eles te não crerem, nem ouvirem a voz do primeiro sinal, crerão a voz do derradeiro sinal; e, se acontecer que ainda não creiam a estes dois sinais, nem ouçam a tua voz, tomarás das águas do rio e as derramarás na terra seca; e as águas que tomarás do rio tornar-se-ão em sangue sobre a terra seca (Êx 4.6-9).
Deus já conversara com Moisés, e lhe mostrou sinais de seu poder. Depois de tantas demonstrações, disse que confirmaria um terceiro sinal, transformando a água do rio em sangue. O que Moisés queria mais? Ele já tinha visto dois sinais, e se isso fosse pouco, um terceiro sinal Deus faria. Mas Moisés permaneceu na defensiva: desta vez ele alegou que não era uma pessoa hábil para realizar discursos que convencessem as pessoas.
O tom de voz de Deus começou a mudar naquela conversa. Deus disse que Moisés fosse fazer seu trabalho que Ele o ensinaria como deveria falar (Ex 4.10-12). Moisés apenas deveria aprender a confiar no Senhor.
Essas desculpas podem parecer irreais a nós hoje, mas nos lembremos de que Moisés até aquele momento, ao que parece, não tivera ainda um contato com Deus. Ele pode ter sido criado por uma família piedosa, mas ainda precisava ter sua própria experiência com o Senhor. E por não ter ainda essa experiência, provavelmente não estava disposto a obedecer. Para não ficar tão mal aos olhos de Deus, ele sugeriu: “Ah! Senhor! Envia aquele que hás de enviar, menos a mim” (Ex 4.13, ARA).
Moisés já chegara ao seu limite, e não poderia mais protelar sua obediência ao Senhor. Deus disse-lhe que Arão seria um companheiro adequado para aquela missão, e que Arão falaria ao povo por Moisés. Desta vez, ele não teria mais alternativas a não ser obedecer (Ex 4.13-17).
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 17-21.
Êx 3.11 Quem sou eu para ir...? Moisés Apresentou Quatro Objeções. 1. Inadequação pessoal (3.11). 2. A autoridade de Deus (investida em Seu nome) entregue a Moisés diante de Israel (3.13). 3. As dúvidas de Israel acerca da comissão e da autoridade recebida por Moisés da parte de Deus (4.1). 4. A falta de eloquência de Moisés (4.10).
Moisés iniciou suas queixas falando sobre suas próprias inadequações. O augusto Faraó nem lhe daria ouvidos. É como se Moisés tivesse dito: Domine, non sum dignos. “Os homens mais aptos para grandes missões geralmente são os que se julgam mais despreparados. Quando Deus chamou Jeremias para ser um profeta, sua resposta foi: Ah! Senhor Deus! Eis que não sei falar; porque não passo de uma criança (Jer. 1.6). Ambrósio lutou muito para não ser nomeado arcebispo de Milão. Agostinho relutou em aceitar a missão na Inglaterra. Anselmo temia aceitar a liderança da igreja nos dias maus de Rufo” (Ellicott, in loc.).
Durante quarenta anos (Atos 7.30), Moisés tinha sido um humilde pastor no deserto. Estaria ele agora preparado para ir falar pessoalmente com o Faraó? O Faraó tinha grande poder e um exército bem equipado. E 0 que tinha Moisés?
Êx 4.14 ... se acendeu a ira do Senhor. Temos aqui uma expressão antropomórfica. Por que o Senhor se irou? Não porque Moisés estava sendo humilde demais. Antes, estava demonstrando incredulidade e porque, naquele momento, preferia sacrificar sua grande missão e privilégio em troca de conforto pessoal. A maioria dos homens não se dispõe a sacrificar-se muito em favor de Deus e do bem. A maioria dos homens é egocêntrica.
O Substituto. O texto apresenta Deus a raciocinar com Moisés, cedendo diante de suas objeções e limitações, e, por assim dizer, concordando com as suas condições. Todos nós procuramos tratar com Deus dessa maneira, mas isso é uma ilusão. A sugestão divina foi que, em lugar de substituir Moisés, haveria de reforçá-lo no ponto de sua fraqueza. Arão, irmão de Moisés, homem que a mente divina sabia ser eloquente (pois, afinal de contas, Deus o havia criado desse modo, vs. 11), seria um reforço para garantir o sucesso do projeto divino. Fosse como fosse, conforme minha mãe costumava dizer: “Algumas vezes podemos barganhar com Deus, mas de outras vezes, não”. Ademais, 0 homem espiritual sabe que, algumas vezes, 0 melhor dos homens precisa ser fortalecido em seus pontos fracos, a fim de não fracassar. Deus lembra-se de que somos apenas pó. (Sal. 103.14).
A Elevação de Arão. Esse foi um dos fatores que 0 qualificou para sua obra de sumo sacerdote, e qualificou a sua tribo, a dos levitas, a ocupar o oficio sacerdotal. Arão tornou-se o porta-voz de Moisés. Neste versículo, Arão é chamado de levita. Alguns críticos pensam que essa afirmação tenha sido feita a fim de conferir a Arão e à sua tribo a autoridade sacerdotal, mediante um texto de prova bíblico que favorece tal autoridade. O autor sagrado estaria aqui firmando os levitas como uma ordem sacerdotal autorizada, mediante uma palavra divina.
... se alegrará em seu coração. Provavelmente essas palavras indicam que Arão sentir-se-ia feliz em participar do projeto de libertação, a despeito de seus perigos, e não apenas que se alegraria por ver Moisés, ao qual talvez já não visse por algum tempo, que não é aqui designado.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 318.
Moisés percebeu que, como porta-voz de Deus, ele tinha de convencer o povo. As pessoas perguntariam: Quem é este Deus que está te enviando? Qual é o seu nome? (13). Os deuses egípcios tinham nomes, e as pessoas iam querer saber o nome do Deus delas.
Aqui em Horebe, Deus disse: EU SOU O QUE SOU (14). O original hebraico é uma forma da palavra Yahweh (Jeová). O tempo é indefinido, podendo significar igualmente o passado, o presente ou o futuro.20 Deus “se revelou a Moisés não como o Criador — o Deus de poder — Elohim, mas como o Deus pessoal de Salvação, e tudo o que contém o ‘eu sou’ será manifestado pelos séculos por vir”.21 Este nome também revelou sua eternidade — Ele era o Deus de vossos pais e este seria seu nome eternamente: Seu memorial de geração em geração (15). Mais tarde, este Ser divino disse que seria ele aquele “que é, e que era, e que há de vir, o Todo-poderoso” (Ap 1.8). E evidente por Gênesis 4.26 (onde Yahweh é traduzido por “o SENHOR”) que aqui Moisés recebeu uma explicação de um nome há muito conhecido (cf. tb. 6.3 e os comentários feitos ali).
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 146-147.
10. Eu te enviarei. Davies aponta esta passagem como a comissão apostólica de Moisés. Não há contradição entre o envio de Moisés e a intenção declarada de Deus de realizar pessoalmente a obra, Deus normalmente trabalha através da obediência voluntária de Seus servos, realizando Sua vontade. Cristo pode ter tido esta passagem em mente quando deu uma comissão apostólica semelhante a Seus discípulos (João 20:21).
11. Quem sou eu. Esta não é uma pergunta existencial mas uma expressão de dúvida (cf Jz 6:15). Moisés, ao contrário de seus anos no Egito, aprendera a desconfiar de si mesmo tão profundamente a ponto de incorrer na ira de Deus (4:14). Auto-desconfiança só é virtude quando nos leva a confiar em Deus. Caso contrário, termina em paralisia e incapacidade espirituais, "bem como em completa relutância em levar a cabo qualquer tipo de ação. Moisés, tal como Elias, é o exemplo do homem que sofreu um “ colapso nervoso” e se encontra completamente fechado para o trabalho de Deus.
 12. Eu serei contigo. A frase “ Eu serei” (hebraico ’ehyeh) é quase com certeza um jogo de palavras com YHWH, o nome divino, explicado nos versos 14 e 15. O único meio de “ traduzir” o jogo de palavras para o português seria dizer “ Eu, Deus, serei contigo” . Deus responde à objeção levantada por Moisés quanto à sua incapacidade, de duas maneiras. Primeiramente Ele promete Sua própria presença; em segundo lugar, dá a Moisés um sinal ou prova de que está com ele. Depois disso Moisés não tem mais direito de protestar. Já não se trata de falta de autoconfiança (o que é bom) mas falta de fé (que é pecado). Este será o sinal de que Eu te enviei. A despeito de várias outras interpretações mais sofisticadas, a explicação mais simples de uma “ prova” é ainda a melhor. A nação que fora escrava, depois de liberta, adoraria a Deus um dia naquele mesmo Monte Sinai. Como diríamos hoje, era questão de ver para crer. O sucesso da missão confiada a Moisés provaria além de qualquer dúvida que Deus estava com ele e o havia enviado.
Tais sinais sempre seguem a fé. Por enquanto, Moisés deve avançar pela fé; a situação é típica da perspectiva bíblica quanto a sinais. A grande aliança e a doação da Lei no Sinai foram o cumprimento deste sinal (cap. 19 ss). Basta esta promessa para entendermos a insistência de Moisés perante Faraó de que Israel precisava celebrar uma festa a YHWH no deserto (5:1); somente assim o sinal poderia ser cumprido.
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 65-66.
MOISÉS TENTA ESQUIVAR-SE DE DEUS
Longe de sentir-se encorajado com sua experiência na sarça ardente, Moisés inventa uma série de desculpas que ele acredita desqualificá-lo como escolha de Deus. Quem sabe Deus cometeu um erro de julgamento! Suas desculpas são:
Incapacidade (ou au Lo dep reciação): “Quem sou eu, que vá a Faraó e tire do Egito os filhos de Israel?” (3.11)
Ignorância'. “Eis que quando vier aos filhos de Israel [...] e eles me disserem: Qual é o seu nome? Que lhes direi?” (3.13)
Incredulidade-, “Então, respondeu Moisés e disse: Mas eis que me não crerão, nem ouvirão a minha voz, porque dirão: O Senhor não te apareceu” (4.1).
Inexpressividade. “Ah! Senhor! Eu não sou homem eloquente [...] porque sou pesado de boca e pesado de língua” (4.10).
Insubordinação-, “Ah! Senhor! Envia aquele que hás de enviai; menos a mim” (4.13 — ARA).
Childs, com correção, comenta: “O avanço do diálogo é mais visceral que racional”.
Felizmente para Moisés, o Deus com quem ele conversou já estava acostumado à desculpas semelhantes. Deus retorque a cada escusa apresentada.
Incapacidade. Nas várias respostas de Moisés, nota-se que ele considera seus próprios recursos, sem contar com os recursos de Deus. Logo, para corrigi-lo e refutar sua primeira desculpa, Deus diz: “Eu estarei com você” (Ex 3.12 — NVI). Isso significa que, para Moisés, a principal questão não é “Quem sou eu?”, mas “A quem pertenço?” (Conforme o que afirma o apóstolo Paulo: “Porque, esta mesma noite, o anjo de Deus, de quem eu sou e a quem sirvo, esteve comigo” [At 27.23]). D. E. Gowan, em um fascinante estudo dessa expressão (“Eu estarei com você” / “o Senhor estava com ele”) no Antigo Testamento, frisa que ela é predominantemente utilizada com pessoas em posição de liderança, ou prestes a assumi-la. E também utilizada com pessoas que enfrentam um sério perigo ou cuja chance de fracasso é grande. Assim sendo, jamais se pretendeu que ela significasse uma “garantia incondicional de segurança do status quo [...] (ou) fosse uma expressão comum utilizada em relação a um bem-estar geral”. Como garantia.
Deus provê um “sinal” (3.12a). Para decepção de Moisés, o sinal se tornaria evidente somente após ele arriscar a própria vida (3.12b). O que ele deseja é um sinal antecipado, não posterior; não apenas a palavra do Senhor, mas um sinal tangível.
Ignorância. Moisés previu que lhe seria perguntado algo que não saberia responder. Pode ser que tal preocupação tivesse sido motivada por suposições quanto à possibilidade de o nome de Deus ter sido apagado da memória dos hebreus, visto que já estavam há tanto tempo refugiados no Egito. Mais provavelmente, contudo, ele estava preocupado com a possibilidade de lhe pedirem para identificar pelo nome o Deus que o enviou, como em um tipo de teste para validar seu ministério entre eles. Talvez não seja incidental o fato de as Escrituras jamais registrarem alguém fazendo essa pergunta. Apesar disso, Deus não considera as preocupações de Moisés inválidas.
Em resposta, surge o nome do próprio Deus, Jeová, ou como ele é muitas vezes chamado, o Tetragramaton (ou seja, o tetragrama formado por quatro letras hebraicas\y-h-w-h). E enorme o número de estudiosos que já trataram dessa questão. Para os principiantes, podemos definir como a terceira pessoa do singular do verbo h-w-h, “ser”, ou seja: “ele é” ou “ele será”. Via de regra, a tradução no versículo 14 de ’ehyeh ’ashèr ’ehyeh é “eu sou o que sou”, apesar de uns poucos (como, por exemplo, C. H. Gordon e C. Isbell) estudiosos defenderem que essa frase está na terceira pessoa e não na primeira pessoa, de modo que deveria ser lida como “Ele é o que Ele é” .
Qual o significado da resposta de Deus? Seria uma evasiva, uma humilhação para Moisés, que, assim como Jacó (Gn 32.29) ou a mãe de Sansão (Jz 13.6), não tinha direito algum de indagar sobre o nome sagrado? O argumento apresentado no versículo 14b (“Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vós”) demonstra que não se trata de uma evasiva. E uma resposta suficiente e satisfatória para que Moisés atenda ao povo no caso de a questão ser levantada.
Na sintaxe hebraica, quando o verbo da oração subordinada é o mesmo da oração principal, existem duas traduções possíveis. E exatamente isso que encontramos aqui: “Eu sou o que Sou” (3.14).
Para exemplificar, podemos citar Êxodo 4.13, onde se lê: “Envia aquele que hás de enviar” (ARA); ou seja, “envie qualquer outro, menos eu” . Em 1 Samuel 23.13, lemos literalmente: “Então, se levantou Davi com os seus homens [...] e foram-se aonde puderam”; ou seja, “foram para onde puderam ir”. Nesses dois exemplos, com o orador no primeiro e o narrador no segundo, vemos expressões deliberadamente genéricas. Ao comentar sobre essa expressão em Êxodo 3.14, Martin Noth observa: “O tipo de indefinição expressa deixa um grande número de possibilidades em aberto (‘Eu sou aquilo que quiser ser’)” .
A mesma expressão pode transmitir não apenas indeterminação, mas também veemência e realidade. Êxodo 33.19. “terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem me compadecer” , por exemplo, não expressa indefinição, mas veemência. Da mesma forma, Ezequiel 12.25.
“Porque eu, o Senhor, falarei, e a palavra que eu falar se cumprirá”, significa que o Senhor não pode ser silenciado ou sua palavra abafada. Um texto neotestamentário semelhante pode ser encontrado na palavras de Pilatos: “O que escrevi, escrevi” (Jo 19.22).
Sua palavra é imutável e indelével.
Nesse sentido, portanto, “Eu sou o que Sou” significa que “eu estou (com você, onde quer que você esteja), que eu realmente estou” . Parte dessa nuança é aventada pela tradução da Septuaginta, que traz “Eu sou aquele que é” . Voltando à sintaxe hebraica, o sujeito da oração subordinada deve concordar em gênero e número com a oração principal. Sendo assim, Êxodo 20.2 literalmente diz: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que [Eu] te tirei da terra do Egito, da casa da servidão”. E claro que na sintaxe da língua portuguesa o “que” já bastaria como sujeito do verbo, mas em hebraico, não passa de um conectivo que liga a oração principal à subordinada. Em consequência, o termo equivalente a “Eu sou o que Sou” seria “Eu sou ele que é”. E visto que ele é, ele está sempre presente, ainda que em meio à confusão que havia no Egito.
O fato de Deus revelar seu nome a Moisés indica a impossibilidade de poder haver um relacionamento significativo com alguém cujo nome não se conhece. Contudo, como Terence Fretheim enfatiza, conhecer o nome de alguém implica em poder honrar ou desonrar esse nome. Deus se dispõe a assumir esse risco, mas não sem antes dar um alerta. Logo, o Deus que revela seu nome a Moisés em Êxodo 3 e 6 toma o cuidado de proibir seu uso errado em Êxodo 30 (v. 7).
Incredulidade. Ainda assombrado pela possibilidade de ser rejeitado, Moisés sugere que sua credibilidade será atacada por seu próprio povo. O povo de Deus é mais difícil de lidar que os inimigos do Altíssimo.
Moisés recebeu três sinais de Deus para comprovar seu chamado divino: uma vara é transformada em cobra e então novamente em vara; uma mão é tomada pela lepra e então curada; um copo cheio de água do Nilo, ao ser derramado na terra, transforma-se em sangue (4.2-9). Os dois primeiros, ao menos para Moisés, devem ter sido assustadores. George Knight comenta: “Deus precisou sacudir de Moisés seus raciocínios egoístas. Moisés precisou aprender que ninguém menos que Deus o chamava para fazer coisas absurdamente difíceis”.
Inexpressividade. Uma coisa é realizar atos miraculosos, mas o que acontece se a pessoa também precisar falar e temer ficar com a língua presa ou confundir as palavras? Poderiam alguns tropeços verbais destruir os bons efeitos dos sinais sobre o povo?
E interessante observar que Estevão fala sobre um Moisés “instruído em toda a ciência dos egípcios e [...] poderoso em suas palavras e obras” (At 7.22). Ou Estevão está deliberadamente exagerando em sua exposição, ou o que Moisés demonstrou foi uma falsa humildade; ou seja, negou um dom que Deus efetivamente lhe dera.
Pode ser, no entanto, que Moisés de fato sofresse de algum tipo de problema na fala (Tigay), o que justificaria seus temores.
Insubordinação. O esforço de Moisés em evitar suas responsabilidades chegam ao clímax em sua quinta objeção: “Manda outra pessoa” . De modo relutante, Deus cede aos seus desejos, sugerindo que Arão seja o representante de Moisés. As credenciais de Arão? “Eu sei que ele falará muito bem” (4.14). Como bem? Pelo menos suficientemente bem para reunir apoio e recursos para a apostasia do bezerro de ouro (Ex 32)!
Satisfeito por Deus tê-lo ao menos suprido de um assistente, Moisés volta até seu sogro para dizer adeus (um tanto diferente da separação entre Jacó e Labão!) e segue para o Egito.
Em seguida, lemos o mais estranho acontecimento narrado no livro de Êxodo. Antes de chegar a seu destino, Moisés encontra-se com o Senhor, que tenta matá-lo. (Moisés ou o primogênito de Moisés?) A passagem é extremamente confusa. Por que Deus procuraria matar Moisés logo após chamá-lo? Na frase “o Senhor o encontrou e o quis matar”, quem é o “o”? Seria Moisés ou um de seus dois filhos? Caso fosse um filho, qual dos dois? Como Zípora, uma midianita, sabe como reagir prontamente naquela situação?
Na frase “e o lançou a seus pés”, aos pés de quem ela lançou? Seriam os pés de Moisés, do filho ou do agressor celestial (a ARA substitui abertamente o “o” por “Moisés”)? Que devemos entender quando Zípora reage automaticamente: circuncida seu filho com uma pedra afiada e toca os pés de alguém (seria isso um eufemismo para genitália?) com o prepúcio. Graças à ação rápida da esposa, Moisés (ou seu filho) é salvo. Fretheim comenta que Zípora, ao salvar Moisés (ou seu filho) da ira de Deus, prenuncia o ministério de intercessão de Moisés (capítulo 32), o qual salva Israel da ira divina.
Se ela não tivesse tomado uma atitude, Moisés (ou seu filho) seria morto. Se Moisés não orasse e implorasse pela misericórdia de Deus, o povo de Israel seria morto e Deus começaria tudo outra vez com Moisés. Zípora assemelha-se a Raabe e Rute: três mulheres gentias que demonstram grande sabedoria e coragem, sendo usadas por Deus para livrar e preservar seu povo.
A história claramente enfatiza a importância da circuncisão como um sinal da aliança. Não se trata de um ritual a ser realizado conforme a conveniência do momento. Não se pergunta ao adorador se ele acha isso apropriado e importante. A circuncisão é uma ordenança divina. O ministério junto à família tem precedência sobre o ministério para com a congregação. A respeito desse incidente, C. H. Gordon comenta: “Ele tem o objetivo de alertar os judeus de todas as gerações: ‘Não deixem de circuncidar seus filhos! Se nem Moisés conseguiu fugir disso, como poderiam vocês?’”
A utilidade da narrativa, contudo, vai além de uma lição com fins práticos para as gerações vindouras. Já vimos que interiormente que a circuncisão era o sinal da aliança especial com Abraão e sua semente (Gn 17). Como mediador da aliança, Moisés precisa cumprir em si o sinal da aliança. Além do mais, a circuncisão feita por Zípora identifica Moisés e seu filho como pertencentes à descendência de Abraão. A aliança de Deus com Abraão incluiu Moisés na qualidade de filho de Abraão. Toda tentativa de se traçar distinções rígidas entre a aliança com os patriarcas e a aliança firmada no Sinai acaba neutralizada pela correspondência entre as obrigações de Moisés e Abraão.
Greenberg relaciona as temáticas desse relato e da experiência de Jacó em Peniel. Um agressor divino, encoberto pela escuridão, ataca alguém que está desprevenido. Jacó estava na expectativa de se reconciliar com Esaú. Moisés estava voltando ao Egito para reunir-se com seus compatriotas e enfrentar Faraó. O sangue ali derramado, que resultou no livramento de Moisés, prenuncia a libertação de Israel do Egito, também com derramamento de sangue. As correspondências entre esse incidente, em Êxodo 4. e a Páscoa, em Êxodo 12, são por demais interessantes. Ambos acontecem à noite (4.24; 12.8,12,29). Em ambos, a circuncisão tem um papel fundamental (4.25,26; 12.43-49). Ambas utilizam o verbo “lançar” (nãga")\ em 4.25, Zípora “lançou” o prepúcio aos pés de Moisés ou de seu filho; enquanto, em 12.22, as pessoas devem “lançar” um pouco de sangue nas vergas e ombreiras das portas de suas casas. E, acima de tudo, em ambos os casos o sangue derramado protege alguém da ira de Deus. Para esse episódio, existem outros temas análogos em Gênesis e Êxodo. O Senhor, por exemplo, livra, comissiona e, então, procura matar Moisés. De forma semelhante, o Senhor livra, comissiona e procura, logo em seguida, exterminar seu povo (Ex 32.10). Em ambos os casos, o juízo é causado por uma violação dessa aliança. A presteza de Zípora salvou Moisés e a intercessão de Moisés salvou os israelitas.
Assim como a atitude astuta de Raquel salvou Jacó de Labão a agilidade de Zípora salvou Moisés de Deus. Knight levanta algumas questões interessantes: “Será que Zípora compreendia esse aspecto da aliança melhor que seu marido? Cria ela que a união de um homem e uma mulher em aliança refletia a importância da própria aliança divina, de modo que seu marido havia desonrado tanto ela como a Deus? Seria possível que ela, intuitivamente, tivesse compreendido a gravidade da revelação de que não há redenção sem o derramamento de sangue?”
Pelo menos no curto prazo, a vida de Moisés não se tornou nem um pouco mais agradável. Após um difícil diálogo com Deus (3.1—4.17), ele se acha à beira da morte (4.18-26). Ele já havia conhecido a Deus em meio a um debate; agora, conhecia-o como um divino agressor. Em seguida, há um momento de alívio (4.27-31), quando Moisés é recebido de volta e se reúne com todo o povo em um culto de adoração e louvor.
O Faraó, no entanto, é obstinado. Ele é totalmente indiferente aos apelos de Moisés (5.3). Ao afirmar: “Não conheço o Senhor”.
Faraó quer dizer que não reconhece sua autoridade. Sua declaração parece ser uma combinação de desafio e ignorância. Um Faraó anterior não “conhecera” José (1.8) e aquele Faraó não “conhecia" Jeová como Jeová, tal qual os patriarcas que, conforme 6.3, são impedidos de “conhecer” Jeová como Jeová.
Para piorar tudo, a carga de trabalho exigida dos hebreus foi aumentada de maneira absurda (5.4-18). Como seria de se esperar, os hebreus ficam profundamente ressentidos com seu suposto libertador (5.19-21). Que mudança de ânimo! Num dia, lisonja no outro, repúdio. Diante de um outro libertador, um dia o povo diria: “Hosana”; e então, no dia seguinte: “Crucifica-o!” Observe a aspereza das palavras de Moisés para Deus nos versículos 22,23. Em sua raiva e perplexidade, ele dá início a uma tradição de dizer a verdade em oração, novamente verificada em alguns salmos de lamento (SI 73, por exemplo) e nas “confissões” de Jeremias (Jr 12.1-6; 15.16-18; 20.7).
VICTOR P. HAMILTON. Manual do Pentateuco. Editora CPAD. pag. 162-169.
2. Deus concede poderes a Moisés.
Deus não apenas convocou Moisés para aquela empreitada, mas deu- lhe poderes específicos para que o representasse. Os sinais que Moisés presenciou eram um prenúncio do que Deus haveria de fazer no Egito. Ele deveria contar aos hebreus o que presenciara e, mais que isso, deveria, por recomendação divina, pegar a água do rio e lançá-la na terra, para que se tornasse em sangue. Moisés, portanto, tinha não apenas os sinais para contar aos hebreus, mas tinha também outro para fazer na frente deles, caso não acreditassem na sua palavra.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 21.
Deus Concede Poderes a Moisés (4.1-17)
Os críticos atribuem esta seção a uma combinação das fontes J, E e P(S).  Moisés tinha recebido o informe de que era participante do Pacto Abraâmico (Êxo. 2.24). Tinha recebido o Novo Nome de Deus que impressionaria Israel com sua autoridade (Êxo. 3.14). Tinha recebido muitas promessas de sucesso (Êxo. 3.16 ss.), a começar pelos anciãos de Israel, o que culminaria com o resgate de Israel da servidão no Egito. Agora, porém, ele precisava receber poderes divinos, sendo esse o tema da seção à nossa frente. Esses poderes seriam miraculosos, porquanto somente milagres de Deus poderiam conseguir o livramento de Israel. Ver as notas sobre o Pacto Abraâmico em Gên. 15.18, como também os vss. 13 e 16 daquele capítulo.
O texto que se segue destaca mais duas objeções feitas por Moisés. Ver Êxo. 3.11 quanto às três objeções de Moisés, com suas respectivas referências. Agora, era mister que Moisés autenticasse sua autoridade diante dos anciãos de Israel (Êxo. 4.1); e também deveria haver alguma provisão para que ele se comunicasse bem, pois não era homem eloquente (Êxo. 4.10). Deus cuidou paciente e eficazmente dos temores de Moisés. Mas quem não teria tais temores se tivesse de enfrentar ao Faraó e a uma tarefa aparente- mente impossível? Deus deu a Moisés poderes miraculosos (vss. 3,5-9) a fim de mostrar-lhe que o projeto divino contaria com o poder de Deus, que se manifestaria através dele.
No Egito florescia uma mágica supersticiosa. Mas não devemos supor que Moisés participasse dessas artes mágicas. Foi-lhe dado o poder divino, e não um poder mágico. Alguns estudiosos liberais atribuem esse relato a meras noções supersticiosas. O homem espiritual, porém, sabe que existem milagres.
Êx 4.1 Eis que não crerão. Moisés referia-se aos anciãos de Israel (ver os vss. 5 e 21). Além disso, o Faraó também não daria crédito à simples palavra de Moisés. Era mister que ele se tornasse um Moisés dotado de poderes miraculosos, para que seu testemunho fosse eficaz. Os milagres sempre foram úteis para efeito de autenticação. Mas também servem de veículos da misericórdia divina. Cf. Atos 7.22. Moisés possuía toda a sabedoria do Egito, mas agora estava munido de muito mais do que isso. Agora também fora divinamente dotado, o que o distinguia dos mágicos do Egito.
Os milagres cristalizam-se em torno de certas crises do trato de Deus com o homem” (Ellicott, in loc).
As palavras têm grande valor. Algumas vezes, porém, é mister adicionar obras. E mais ocasionalmente ainda, deve haver obras miraculosas se os propósitos de Deus tiverem de cumprir-se.
Êx 4.2,3 Uma vara. Provavelmente era um cajado comum. Mas logo a vara seria transformada em uma serpente. A habilidade dos mágicos egípcios aparentemente incluía a capacidade de hipnotizar uma serpente, fazendo-a tornar-se rígida. E assim os mágicos eram capazes de segurar na mão uma serpente hipnotizada, para admiração dos circunstantes. Era um truque de mágico. Mas fazer um pedaço de madeira transformar-se realmente em uma serpente era coisa totalmente diversa.
Os céticos pensam que temos aqui uma exibição de antigas artes mágicas, aprendidas no Egito por Moisés. Os mágicos são capazes de fazer coisas deveras admiráveis, embora tudo não passe de ilusão. Mas quando Moisés fugiu da serpente, não havia nela nenhuma ilusão! Os egípcios usavam de ilusão e imitação. Moisés, porém, realizava feitos reais extraordinários. Essa era a diferença vital entre o antigo Moisés e 0 novo Moisés. Se os críticos veem apenas um elemento supersticioso nessa questão da “vara”, podemos estar certos de que havia ali poder, por causa do poder que Yahweh tinha atribuído a Moisés. Assim também a coroa de um rei não tem, em si mesma, nenhuma autoridade. Trata-se apenas de um símbolo dessa autoridade. A vara de Moisés era apenas um objeto de madeira. Mas pareceu bem a Yahweh agir quando Moisés brandia aquela vara. Esta tornara-se emblema do poder divino nele investido, que funcionava sempre que isso se tomava necessário. Ver Êxo. 4.17 quanto a notas adicionais sobre a vara.
O Primeiro Milagre. Temos aqui o primeiro milagre a ser registrado na Bíblia. Os intérpretes judeus ornavam o texto com toda espécie de descrição pavorosa sobre as serpentes venenosas. Filo, porém, realmente exagerou nos comentários, ao dizer que a serpente era, de fato, um enorme dragão (De Vita Mosis, 1.1 614).
Êx 4.4 Pega-lhe pela cauda. Moisés fugiu de medo, mas a voz de Deus ordenou- lhe que não tivesse medo e segurasse a serpente pela cauda, 0 que não exigia pequena coragem! Moisés obedeceu e, para seu espanto, a serpente transformou-se de novo em uma simples vara. Esse ato final foi necessário para mostrar a Moisés que aquilo que tinha acontecido não era apenas uma ilusão. Moisés tinha que ver, antes de tudo, a autenticidade do poder divino, antes que pudesse convencer os outros a esse respeito.
Metáforas. O que os intérpretes judeus dizem aqui, embora interessante, é totalmente inútil. A serpente é concebida como 0 diabo, ao qual Moisés aprendeu a controlar. Além disso, seus três estados ilustrariam a vida de Israel: primeiro Israel floresceria no Egito, sob José (a serpente como uma vara); então Israel seria escravizado (a serpente adquire vida e torna-se perigosa); e, então, Israel seria libertado (a serpente volta a ser uma vara, sem nenhum dano).
Os intérpretes cristãos veem Cristo aqui: a vara, Sua força; Ele foi lançado por terra em Sua humilhação; finalmente, foi-Lhe restaurado o poder. Mas outros eruditos pensam mais no ministério de Moisés: a principio, em conforto e em paz; então, em perigo; finalmente, foi-lhe devolvida a paz e a vitória.
A fé triunfou sobre o mero instinto. O instinto de Moisés consistiu em fugir da serpente. Mediante a fé, porém, foi capaz de vencer isso e segurar a serpente pela cauda. Por igual modo, ele seria capaz de domar a serpente, ou seja, o Faraó.
Êx 4.5 Para que creiam. Os milagres autenticam a fé, e esse tem sido sempre o uso da fé. Este versículo faz-nos voltar aos nomes divinos que figuram com tanta importância neste texto.
Em seguida, Moisés levou a Israel os nomes tradicionais de Yahweh e Elohim, associando-se ao propósito que tinha operado através dos patriarcas (Êxo. 3.15). E isso é repetido neste versículo. Ver Êxo. 3.13 quanto ao poder existente no nome de uma pessoa, de acordo com uma antiga crença.
Para que [eles] creiam. Esse “eles” (oculto em nossa versão portuguesa) refere-se aos anciãos de Israel, cuja cooperação com Moisés seria um sine qua non (sem a qual não) do projeto divino. O vs. 21, porém, aplica a questão aos egípcios.
“Sem o dom de milagres, nem Moisés teria persuadido os israelitas, nem os apóstolos teriam convertido o mundo” (Ellicott, in loc.).
Êx 4.6,7 O Segundo Milagre Autenticador. O primeiro milagre, Moisés exibiu diante dos egípcios (Exo. 7.10 ss.). Mas este segundo milagre não foi efetuado diante do Faraó, pelo menos até onde vai o registro sagrado. Mas talvez o vs. 30 tencione dizer que assim aconteceu.
A mão estava leprosa. No Oriente, essa era uma doença comum, ainda que outras enfermidades, e não somente a doença de Hansen, fossem chamadas por esse nome. Ver uma de suas mãos leprosa deve ter assustado Moisés mais ainda do que a serpente. Um mágico poderia fingir tal acontecimento, escondendo algo em sua capa que se apegasse à sua mão como se fosse pele leprosa. Mas um homem que realmente ficasse com uma mão leprosa, mesmo que por alguns segundos apenas, certamente teria consciência do fato. Deus é aqui visto como aquele que pode curar doenças incuráveis. Moisés deve ter passado do horror para o alívio. Essa foi outra lição objetiva de poder. Esse poder foi posto à sua disposição. O primeiro sinal talvez não fosse convincente; mas 0 segundo sem dúvida convenceria (vs. 8).
Josefo, ao que parece, pensava que Moisés também tinha usado esse segundo sinal, embora isso não seja registrado na Bíblia. Os egípcios chamavam os hebreus de leprosos”, talvez porque Moisés lhes tinha mostrado esse sinal. Ver Contra Ap. 1.26.
A modalidade esbranquiçada de lepra era considerada a pior, incurável. Ver Lev. 13.3,4; Num. 12.10. Alguns antigos escritores registraram que 0 povo de Israel foi expulso do Egito porque entre eles havia tão grande número de leprosos que os egípcios não queriam contato com eles. Assim disseram Tácito (Hist. 1.5 c.3) e Trogo (Justino e Trogo, 1.36 c.2).
Êx 4.8 O Segundo Sinal. O sinal da mão leprosa, que era curada, foi 0 mais estonteante, garantindo que a Moisés dar-se-ia crédito. Ver no Dicionário 0 artigo Sinal (Milagre). Diz literalmente o hebraico, “a voz do sinal”. Tal sinal daria uma mensagem clara e convincente. Naturalmente, há milagres falsos, ou seja, milagres por trás dos quais falam vozes malignas. As pessoas também dão ouvidos a esses “falsos sinais”. Um milagre não serve de prova indiscutível de correção. No caso de Moisés, entretanto, eram esperados resultados positivos.
Êx 4.9 O Terceiro Sinal. Jesus transformou água em vinho (João 2). Esse foi 0 Seu primeiro milagre. Moisés transformou água em sangue. Potencialmente, esse foi o seu terceiro milagre. Uma vez mais, não há registro bíblico de que ele tenha usado esse “milagre-sinal”, tal como no caso do segundo (vss. 6,7). “O Deus da fé bíblica é senhor do mundo que Ele mesmo criou. O Deus que controla até os demônios não é alguém que possa ser lisonjeado pelos homens; antes, Ele impõe ao homem a responsabilidade e chama-o para que entre em compromisso sério” (J. Coert Rylaarsdam, in loc.). Visto que os egípcios consideravam o rio Nilo como uma fonte de vida, e alguns chegavam mesmo a pensar que esse rio era divino, Moisés, ao transformar suas águas em sangue, mostraria ser controlador até mesmo daquilo que era tão reverenciado pelos egípcios. O vs. 30 deste capítulo pode significar que os vários sinais (todos eles) foram realizados, embora nada de específico seja dito a respeito. Seja como for, o resultado foi a crença, conforme fora prometido a Moisés. Mais tarde, quando Arão feriu as águas do Nilo com sua vara, estas se transformaram em sangue (Êxo. 7.17-21). Milagres com sangue aparecem entre os milagres e os juízos apocalípticos (Apo. 8.7; 11.6; 16.4).
O rio Nilo era considerado sagrado e vital para a vida humana no Egito. Se Moisés foi capaz de poluir ou causar dano às suas águas, então é que os egípcios tinham encontrado nele um respeitável adversário. A libertação de Israel seria o resultado final do dramático conflito.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 316-317.
Os sinais divinos (4.1-9). Moisés era muito humano, e sua fé ainda estava fraca. Ele disse acerca dos hebreus: Eis que me não crerão (1). Deus então pacientemente lhe deu mais garantias. Usando o cajado comum de pastor, Deus deu provas do seu poder sobrenatural (2,3) transformando a vara em cobra.
O segundo sinal para Moisés foi a mão que ficou leprosa (6,7). Se as pessoas não cressem no primeiro nem no segundo sinal, creriam no terceiro: a transformação das águas do rio em sangue quando fossem despejadas em terra seca (9). Além do caráter miraculoso, estes sinais ensinavam lições importantes. Avara, símbolo do pastor ou trabalhador comum, quando entregue a Deus se torna maravilha e poder. A lepra, símbolo do pecado e corrupção no Egito, pode ser curada imediatamente pelo poder de Deus. O sangue, sinal de guerra e julgamento, garantia vingança pela maldade dos egípcios.
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 147.
Os três sinais.
1. YHWH não te apareceu. Moisés aceitou a realidade da revelação de Deus, mas será que seu povo faria o mesmo? O prometido sinal de que iriam sacrificar a Deus em Seu monte não seria suficiente para eles, pois já exigia a presença de fé (como o sinal da ressurreição de Cristo, Mt 12:39) e nem isso eles possuíam. Moisés solicita sinais de nível inferior, sinais que possam conduzir à fé ou até mesmo criá-la, e assim validar sua vocação aos olhos do povo de Israel. João Batista jamais recebeu poder para realizar “ sinais” desta natureza (Jo 10:41); Cristo se recusou a realizá-los (Mt 12:39), mas alguns personagens do Velho Testamento receberam sinais confirmatórios (por exemplo Acaz, em Isaías 7:11). A passagem em discussão não implica necessariamente em que Israel já conhecesse o nome YHWH. O narrador ou Moisés pode estar simplesmente usando o novo nome para indicar o conhecido Deus patriarcal (6:3). Já que a frase é uma negativa enfática, podemos parafraseá-la “ o Deus de nossos ancestrais não te apareceu” . Moisés está pensando ainda na amarga experiência de 2:14, “ Quem te pôs por príncipe e juiz sobre nós?”
2. Uma vara. Provavelmente o tradicional cajado curvo do pastor mencionado no Salmo 23:4. No versículo 20 ela é chamada “ a vara de Deus” , por ser usada nos milagres e em 7:9 é usada por Arão. Comentaristas que procuram determinar fontes salientam o fato de que na tradição J, ela aparece como um cajado nas mãos de Moisés; na fonte E, ela aparece como uma miraculosa “ vara de Deus” (4:20), ao passo que em material sacerdotal (fonte P) aparece como a vara de Arão (7:9). Essas “ contradições” aparentes são apenas verbais, normais em tradição oral e apenas confirmam a existência de testemunhas independentes de uma tradição fidedigna.
3. Cobra, nãfyãsé a palavra hebraica comum para cobra. Números 21:9 usa esta palavra como explicação para o termo “ seraph” , as serpentes que atacaram Israel no deserto, das quais uma imagem foi colocada num mastro, mas os dois incidentes não são paralelos. Êxodo 4:30 menciona a realização deste (v. 3) e dos outros sinais na presença dos israelitas (aparentemente por Arão e não por Moisés). Em 7:9-10 Arão realiza o mesmo sinal mais uma vez, perante o incrédulo Faraó. Nessa referência, entretanto, a palavra usada para cobra é tannin, que bem pode significar um lagarto ou até mesmo um pequeno crocodilo (Driver), bem apropriado para as margens do Nilo.
9. Se nem ainda crerem mediante estes dois sinais. Um terceiro sinal ainda mais impressionante deveria ser dado. Estes três podem ser considerados juntamente, como sendo do mesmo tipo. São os três de natureza mais superficial, com o objetivo de promover fé. Eles convencem a Israel (4:31) mas não convencem a Faraó (7:13,23). Não há referência direta ao uso do sinal da lepra perante Faraó, mas é interessante comparar a narrativa da lepra e cura de Miriã em Números 12. Não podemos agora precisar a natureza exata destes sinais. Podemos afirmar a sua descrição nas Escrituras, tal como devem ter parecido aos olhos de quem os presenciou: uma vara transformada em cobra, uma mão leprosa curada e água transformada em sangue. Alguns aceitam a narrativa literalmente, como o que chamaríamos de manifestações sobrenaturais do poder de Deus. Outros procuram encontrar Deus, o Senhor da natureza, operando pelo que chamaríamos de meios naturais. Outros os consideram metáforas espirituais. Podemos rejeitar esta última hipótese de imediato; metáforas jamais convenceriam escravos oprimidos, muito menos a Faraó. É imperioso que tenham ocorrido sinais externos, qualquer que seja a explicação correta entre as duas primeiras hipóteses, ou ainda que a verdade esteja numa combinação de ambas. Provavelmente incorremos em erro ao estabelecer tais distinções entre as duas; certamente isso jamais ocorreria à mente de um israelita. Seja qual for a maneira em que Deus escolhe agir, através do mundo que criou ou independente dele, a obra é Sua e, tal como Israel, devemos curvar nossas cabeças perante Ele e adorá-lo (4:31).
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 70-72. 
3. O retorno de Moisés.
Moisés recebe a ordem para retornar ao Egito e falar com Faraó com uma certeza: Deus estaria com ele. Ele já tinha a chamada, e também os sinais. Faltava agora obedecer. E ele o fez. E evidente que Moisés não saiu de Midiã sem a anuência de seu sogro. Jetro recebeu Moisés de bom grado, e deu-lhe sua filha em casamento. Moisés tinha laços afetivos com a família de Jetro, e antes de ir ao Egito, deveria dizer ao sogro para onde iria e o que faria. É evidente que Moisés não disse tudo, mas o que disse foi suficiente para obter a permissão para se ausentar daquela região e dar prosseguimento ao plano de Deus.
Porém Moisés ainda tinha uma pendência a resolver. Ele tinha um crime em sua “ficha”, quando pertencia à corte egípcia e matou um egípcio quando este açoitava um hebreu. Por esse crime, Moisés teve de fugir, e certamente seu coração não estava esquecido desse detalhe. Como Deus não faz nada de forma incompleta, disse a Moisés: “Vai, volta para o Egito; porque todos os que buscavam a tua alma morreram” (Ex 4.19). Moisés poderia levar a cabo sua missão sem se preocupar com aquela mácula.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 21-22.
          Moisés Regressa ao Egito (4.18-31)
Moisés foi chamado, instruído e dotado de poder para a sua missão. E agora voltou o rosto na direção do temível Faraó, e, com firme propósito no coração e confiança na missão que Deus lhe dera, partiu para a cena onde se mostraria ativo. Deixando sua “terra", naturalmente ele precisou despedir-se daqueles que deixava para trás, principalmente seu sogro, Jetro, e outros parentes por casa- mento. Ele tinha morado em Midiã pelo espaço de quarenta anos — 0 segundo dos três ciclos de sua vida. Esse número, “quarenta”, simboliza os “testes” pelos quais passamos. Ver no Dicionário os artigos intitulados Quarenta e Numerologia. Os últimos quarenta anos de vida de Moisés seriam passados no cumprimento da missão para a qual ele tinha sido cuidadosamente preparado. Ver Êxo. 2.11 e suas notas quanto aos três ciclos de quarenta anos cada, na vida de Moisés.
Êx 4.18 Jetro. Tanto Reuel quanto Jetro são chamados de sogro de Moisés. Ver Êxo. 2.16,18 e os artigos sobre ambos quanto a completas explicações sobre essa questão, até onde ela pode ser explicada. Moisés despediu-se de seu sogro, embora sem revelar, na oportunidade, qual a verdadeira razão de sua viagem, dizendo apenas que tinha de ver novamente os seus irmãos, ou seja, os hebreus. A vontade de Deus, antes de sua execução, fora revelada ao profeta e libertador Moisés. Haveria tempo para explicações e comunicações posteriores. Moisés tinha servido corretamente Jetro, e não houve objeção ante a sua partida. De fato, Jetro abençoou Moisés. Ele bem que precisava de toda a bênção que pudesse receber, visto que, segundo os padrões humanos, estava ocupado em uma missão impossível. Para Deus, todavia, os impossíveis são possíveis (Mat. 17.20).
“Os laços tribais eram apertados, e exigiam que se pedisse permissão para viajar, pois mesmo uma ausência temporária, requeria o curso de ação apropria- do, mesmo que não fosse necessário” (Ellicott, in loc.).
Êx 4.19 Ver Mateus 2.19,20 quanto a um paralelo na vida de Jesus. Ver em Êxo. 2.2 quanto a Moisés como um tipo de Cristo. Todos, embora esteja no plural, tem em mente principalmente a pessoa de Faraó. Ver na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, o artigo intitulado Faraó, em sua terceira seção, onde se tenta identificar os faraós mencionados na Bíblia. Moisés era um “fugitivo da justiça”, porquanto havia matado um egípcio quando defendia outro hebreu (Êxo. 2.15 ss.). Mas mortas agora as principais autoridades do Egito, Moisés podia reiniciar sua tarefa de libertador. Mas a sua missão em breve haveria de identificá-lo como um revolucionário radical, e sua vida também se tornaria muito miserável. Moisés, todavia, estava pronto para o que viesse, e desceu ao Egito com bom ânimo e cheio de esperança.
O Faraó tinha falecido; os homens de seu governo, também; e outro tanto sucedia a todos quanto poderiam lembrar-se de Moisés. Moisés, pois, teve um novo começo, iniciando-se assim 0 terceiro de seus três ciclos de quarenta anos cada. Ver as notas introdutórias ao vs. 18.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 319.
A prestação de contas (4.18-20). Moisés, agora submisso ao plano de Deus, primeiramente foi obter permissão de Jetro para ir embora e voltar ao Egito (18). Não lhe apresentou todas as razões para a mudança, mas o motivo que deu foi suficiente para obter aprovação. Seus irmãos eram as pessoas de sua nação, os israelitas. Jetro disse: Vai em paz. Deu liberdade a Moisés e, assim, não pôs impedimento ao plano de Deus.
Deus garantiu que as pessoas que procuravam a vida de Moisés estavam mortas (19). Moisés começou a viagem com sua mulher e dois filhos (20; cf. 18.3,4), embora pareça que depois do episódio da circuncisão (24-26), ele os tenha mandado de volta a Jetro (18.2) e prosseguido sozinho com Arão (29). E lógico que as palavras tornou à terra do Egito (20) é uma declaração geral que teve cumprimento no versículo 29. Pode ser traduzida por: “Pôs-se a voltar para a terra do Egito”.
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 148.
Êx 5.18. Moisés precisava antes de tudo levar os rebanhos de volta a Jetro, onde quer que ficasse a povoação dos midianitas (seria apenas um acampamento temporário?). Depois, ao contrário de Jacó, obteve de seu sogro a permissão de partir com a esposa e a família que, ao que parece, no tempo dos patriarcas, permaneciam sob a autoridade do sogro (compare a posição da esposa do escravo que deseja deixar o serviço de seu senhor, 21:4).
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 74.
III - MOISÉS SE APRESENTA A FARAÓ (ÊX 5.1-5)
1. Moisés diante de Faraó.
Como era de se esperar, o encontro de Moisés com Faraó não foi nada promissor. Isso vemos da resposta que o rei deu a Moisés: “Quem é o Senhor, cuja voz eu ouvirei, para deixar ir Israel? Não conheço o Senhor, nem tampouco deixarei ir Israel” (Êx 5.2). A lógica de Faraó era a seguinte: Há vários deuses no Egito. Por que obedecer a um que não conheço, e que acha que pode me ordenar a libertar minha mão de obra escrava? Esse Deus do deserto não tem uma forma definida, e ainda me manda um representante pastor...
Deus já avisara a Moisés que os diálogos com Faraó mostrariam o quanto o coração do rei era duro, e que apenas pela forte mão de Deus os hebreus sairiam daquela nação.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 22.
Moisés e Arão Falam ao Faraó (5.1-5)
O Faraó era um homem idólatra e despótico. Reagiu às demandas de Moisés exibindo ambos esses defeitos. De imediato ficou claro que a tarefa consumiria muito tempo e muita luta. Duas qualidades são necessárias para alguém realizar um grande projeto: entusiasmo e persistência. O Faraó haveria de testar Moisés quanto a esses dois pontos. Seria necessário muito sacrifício pessoal. Para obterem livramento, os escravos sacrificam tudo mais (cf. Fil. 3.8). Os escravos do pecado, por igual modo, enfrentam o sacrifício de seus antigos caminhos, tendo de adotar um caminho total- mente novo. O mesmo se dá com a dedicação do crente ao Senhor (Rom. 12.1,2).
Moisés teria de enfrentar a cólera do Faraó, bem como a insatisfação de sua própria gente. Coisa alguma funcionaria com suavidade.
Êx 5.1 Uma Petição Humilde. Moisés estava sondando a situação, como um lutador de boxe que não mostra o seu jogo logo no primeiro round. E fez uma petição humilde: queria apenas licença para uma breve jornada deserto adentro, a fim de realizar um ato religioso. Não disse claramente, mas deixou implícito, que traria 0 povo de Israel de volta depois de três dias (vs. 3). Talvez, porém, estivesse planejando continuar caminhando, efetuando assim um êxodo rápido, o que solucionaria a escravidão com um golpe simples e astucioso.
Faraó. Alegadamente filho de uma divindade, versado no folclore politeísta, era profundo conhecedor de verdades religiosas. Mas nunca tinha ouvido falar em Yahweh, o Deus dos hebreus, e não se dispunha a fazer nenhuma concessão a uma divindade estrangeira (e, para ele, falsa).
“Era absurdo que ele entregasse Israel a uma divindade que nem ao menos conhecia. A ironia do drama que se segue é que esse foi o próprio Deus que, progressiva- mente, despiu o Faraó de todas as coisas” (J. Coert Rylaarsdam, in loc.). O homem deificado seria derrotado miseravelmente no seu conflito contra o verdadeiro Deus. E assim sucedeu.
O Targum de Jonathan diz: “Não encontrei o nome de Yahweh escrito no livro dos anjos. Não tenho medo dele”.
O Senhor Deus. No hebraico, Yahweh Elohim, dois nomes tradicionais do Deus dos hebreus. 
Deixa ir o meu povo. Esse é o tema central bem como o grito de guerra do livro de Êxodo. Cf. Êxo. 4.22,23. O povo de Israel era o filho primogênito de Yahweh, o filho privilegiado. Se não fossem libertados, pereceriam todos os filhos primogênitos do Egito.
Uma festa no deserto. Não foi especificada a natureza dessa festa. Os israelitas cumpririam seus deveres religiosos diante de seu Deus. E então, presumivelmente, voltariam ao Egito. A viagem ao deserto talvez tivesse sido planejada para impedir a indignação dos egípcios que seriam testemunhas do sacrifício de animais que eles reputavam sagrados. Pelo menos, Moisés pode ter apresentado essa desculpa como razão pela qual ele queria uma saída até algum deserto.
Êx 5.2 Não conheço 0 Senhor. Faraó não poderia mesmo ter respondido de outra maneira. Primeiramente, porque nenhum perdido conhece o Senhor Deus, como uma experiência pessoal. Porquanto está morto em seus pecados. E, em segundo lugar, porque Deus estava endurecendo o coração do Faraó, ao passo que o Faraó também endurecia, por sua vez, o seu próprio coração, conforme por tantas vezes se lê a respeito de todo este incidente longamente historiado. Por conseguinte, o Faraó falou de tal modo que exprimiu o seu caráter distorcido e a realidade de seu estado espiritual.
Êx 5.3 0 Deus dos hebreus. No hebraico, Elohim. Também chamado Yahweh (vs. 2). Deus é quem havia baixado a ordem. Moisés afirmava ter tido um encontro pessoal com Yahweh, de acordo com o incidente registrado em Êxo. 3.2 ss., bem como boa parte do quarto capítulo deste livro. Tinha havido uma longa entrevista, que incluíra muitas instruções. Moisés reivindicava ter conhecimento em primeira mão de seu Deus. Não havia apenas lido sobre Ele em algum livro, nem ouvira 0 Seu nome ser louvado por homens sábios e piedosos. Outro tanto tem acontecido a muitos homens espirituais. Se quisermos poder espiritual, teremos de receber o toque místico em nossa vida. Além disso, esse poder é transformador, tal como Moisés, o humilde pastor de Midiã, agora era o líder de Israel, a proferir palavras exigentes diante do monarca do Egito.
Ver Êxo. 3.18; 7.16; 9.1,13 e 10.3 quanto a esse título, “o Deus dos hebreus”. O Deus único e verdadeiro foi posto em confronto com os muitos deuses e espíritos venerados no antigo Egito.
Caminho de três dias. Ou seja, do Egito ao Sinai (ou Horebe), o monte de Deus (Êxo. 3.1; 4.27), onde seriam efetuadas a festividade e a adoração.
E não venha ele sobre nós. Se o Deus de Israel fosse desobedecido, haveria punição. Para o Faraó, porém, isso pareceu apenas como outro aspecto da mitologia de Moisés.
Êx 5.4 Ide às vossas tarefas. O Faraó percebeu que o problema envolvia apenas o relacionamento senhor-escravos. Hoje em dia a luta se dá entre o capital e 0 trabalho, e há muitos empregados que são virtuais escravos. Os oficiais dos governos vivem em escandalosa luxúria, com contas polpudas nos bancos nacionais e estrangeiros, ao passo que metade da população do país nem tem o suficiente para alimentar-se.
No versículo anterior, o Faraó tentou descartar Deus tão voluvelmente, e, agora, fazia-o com Moisés. O porta-voz de Moisés recebeu um tratamento similar. Provável- mente, o Faraó supôs que Moisés tinha sido enviado como representante dos escravos. A parte divina da história seria uma fábula. Os escravos estariam tentando escapar de seus superintendentes, os quais desde há muito tinham provado ser homens sem razão e sem misericórdia. Devem ter pensado que um apelo feito diretamente ao Faraó lograria resultados. O Faraó deve ter pensado que estava sendo promovida alguma agitação, e quis cortá-la pelas raízes. E assim, respondeu com severidade, não cedendo um milímetro. Sua resposta para o problema foi mais trabalho. Não foram reconhecidos direitos dos trabalhadores, uma provocação que, finalmente, haveria de devastar o país inteiro.
Êx 5.5 ׳ A greve havia deixado ociosa praticamente toda a população. A produtividade estancara, a um custo incalculável! As palavras do Faraó foram um reca- do indireto a seus oficiais, salientando o dano causado por aquele atrevido Moisés.
O povo da terra já é muito. Em algumas traduções lemos aqui: “O povo da terra está preguiçoso”. Mas isso requer leve emenda textual, a qual, contudo, pode estar com a razão.
Se os escravos descansassem de seus labores, isso significaria “torná-los mais numerosos ainda” (John Gill, in loc.). O outro decreto do Faraó, ordenando que os meninos hebreus fossem afogados no rio Nilo, falhara miseravelmente, e 0 problema tinha apenas aumentado. Ver Êxo. 1.22.
O Faraó Intensifica a Opressão (5.6-14)
Êx 5.6,7 Naquele mesmo dia. Cargas de Israel Foram Aumentadas. Se, anterior- mente, os capatazes, para facilitar as coisas, forneciam palha para o fabrico de tijolos, agora foi descontinuada essa pequena ajuda, aumentando mais ainda 0 trabalho dos escravos israelitas. E embora agora tivessem de trabalhar extra para conseguir a palha, a quantidade de tijolos não foi diminuída (vs. 8). “A palha era misturada com a argila e a areia, não tanto como agente cimentador, mas para fazer a argila tornar-se mais duradoura” (John D. Hannah, in loc.).
As pessoas que têm conhecimento das coisas dizem que essa exigência deve ter dobrado o labor dos escravos. Usualmente, no Oriente, os tijolos eram secos ao sol, embora também haja provas de que alguns coziam seus tijolos ao forno. Filo (Oper. edit. vol. íi. par. 86) refere-se ao processo e diz que a palha servia de liga. Ver no Dicionário 0 artigo chamado Tijolo, quanto a informações sobre 0 fabrico de tijolos no mundo antigo.
Obter palha requeria dos escravos ir aos campos, cortar certas plantas, transportar o material a depósitos, e, finalmente, trazê-lo até onde os tijolos estavam sendo feitos. No Egito, tijolos crus eram feitos do lodo do Nilo misturado com palha cortada, que eram então secos ao sol. E os tijolos eram usados na construção de casas, túmulos, muros, fortificações, recintos sagrados, edifícios e toda espécie de construção. E, em casos raros, eram usados até na construção de pirâmides. Ver Heródoto (Hist. vol. 2, par. 213).
Êx 5.8 Exigireis deles a mesma conta de tijolos. O ócio dos israelitas seria curado mediante maior carga de trabalho, 0 que os forçaria a desistir da ideia de perder tempo com inúteis cerimônias religiosas. Embora agora tivessem de trabalhar o dobro, porque tinham de conseguir a palha que antes lhes era fornecida, continuavam tendo de produzir a mesma quantidade de tijolos.
O fervor religioso dos israelitas seria abafado com grande excesso de trabalho. Se o Faraó mostrou-se tão severo diante do pedido dos escravos de se afastarem por três dias, qual não seria sua severidade se eles quisessem deixar o país de forma permanente? A ira provocada pelas circunstâncias forma o ambiente em volta do qual foi escrito o livro de Êxodo.
Êx 5.9 Agrave-se 0 serviço. Uma conversa tola seria descontinuada por um trabalho físico redobrado. Moisés teria despertado esperanças de libertação no coração dos israelitas, mediante “palavras mentirosas” (ver Êxo. 4.30). Também é possível que o Faraó tenha percebido que a jornada de três dias, deserto adentro, fosse apenas um ardil para que partissem do Egito de forma permanente.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 320, 322-323.
a) A recusa do rei (5.1-5). Ao homem que mantinha Israel em seu poder, Moisés e Arão proferiram a palavra de Deus: Deixa ir o meu povo (1). Não há que duvidar que Faraó ficou surpreso, porque ele considerava que Israel era seu povo. Fazia mais de quatro séculos que os hebreus estavam no Egito. Como alguém poderia pedir a lealdade destes escravos e exigir que fizessem uma festa de sacrifício?
Além disso, Faraó não reconhecia autoridade senão a si próprio. Ele perguntou: Quem é o SENHOR, cuja voz eu ouvirei, para deixar ir Israel? (2). Havia muitos deuses no Egito, e este rei conhecia todos. Para ele, as pessoas tinham de manipular os deuses e não lhes obedecer. Seu ultimato foi: Não conheço o SENHOR, nem tampouco deixarei ir Israel.
Moisés e Arão mantiveram-se firmes na petição. Disseram ao rei: O Deus dos hebreus nos encontrou (3). Pediram permissão para fazer uma viagem de três dias a fim de sacrificar ao Deus que serviam. No único tipo de linguagem que Faraó entendia, avisaram que, caso o pedido fosse negado, o Senhor o julgaria: E ele não venha sobre nós com pestilência ou com espada. Mas o rei recusou assim mesmo.
Faraó os acusou de preguiçosos, indivíduos que procuram fugir da responsabilidade apelando para a religião. Por que fazeis cessar o povo das suas obras? (4). Para ele, tratava-se de preguiça e afronta. Em outras palavras: “Por que afastar as pessoas do trabalho?” Os déspotas sempre acham difícil acreditar que os súditos tenham uma causa justa. b) O aumento de trabalho (5.6-14). O rei, furioso, ordenou imediatamente que os exatores do povo e os oficiais (6)25 israelitas aumentassem o trabalho dos escravos. Em vez de fornecer a palha dos campos já cortadas e prontas para uso, os exatores do povo exigiram que as pessoas mesmas colhessem palha para si (7). A palha era misturada com barro para deixar mais forte os tijolos secos ao sol. O restolho era a parte inferior do talo das gramíneas. Embora houvesse o trabalho extra de juntar a palha, a conta (o número) dos tijolos fabricados devia permanecer a mesma (8). Este tirano, insensível ao bom senso, estava determinado a minar a vontade do povo. Nem se dava conta de que não podia ir contra Deus. Ele poderia ser cruel com o povo de Deus, mas as palavras que ouvira não eram palavras de mentira (9).
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 149-150.
2. A queixa dos israelitas (Êx 5.20,21).
O povo de Israel sentiu-se prejudicado pela intervenção de Moisés junto a Faraó. Na verdade, eles não sabiam que Moisés estava ali obedecendo a Deus, e que ele não tinha o desejo de fazer com que o sofrimento dos seus irmãos fosse aumentado.
Esta deve ter sido uma prova dura para Moisés. Ele estava no Egito obedecendo à voz de Deus, falando com Faraó para que o povo fosse liberto, e como consequência o rei ordena que os hebreus trabalhem mais. Não é incomum que líderes se vejam nessa mesma situação: obedecem a Deus, mas não veem de imediato um fruto positivo de sua obediência.
O que devemos saber é que obedecer a Deus não é uma garantia de que as coisas que se seguirão não serão alvo de investidas de Satanás. Além disso, os líderes devem entender que nem sempre o povo vai entender determinadas atitudes, mas que se estamos agindo de forma correta e dentro da vontade de Deus, Ele vai se responsabilizar por nos honrar no devido tempo.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 22.
Êx 5.20 Moisés e Arão estavam esperando pelos representantes do povo de Israel, os capatazes que estavam tendo uma audiência com 0 Faraó, para ouvirem 0 relatório que trariam. Havia uma expectação doentia, doentia porque era inútil dialogar com 0 tresloucado Faraó, conforme Moisés e Arão já tinham descoberto quando tentavam dialogar com ele.
Êx 5.21 Olhe o Senhor... e vos julgue. Assim disseram os capatazes israelitas, Chegaram a invocar a Deus como juiz. A sentença divina (conforme estavam certos os capatazes) seria que Moisés e Arão tinham produzido toda a miséria que tanto os afligia. O Faraó teria ficado indignado por causa da sugestão tola de Moisés e de Arão que os israelitas se internassem no deserto caminho de três dias. E apesar de os capatazes não terem sido encarcerados, a vida dos escravos tinha sido reduzida a frangalhos. A violência poderia irromper a qualquer instante. Os superintendentes egípcios tinham espadas nas mãos; o Faraó poderia apelar para a execução em massa. “Temor e desespero” eram as palavras que descreveriam bem a sorte dos israelitas. Moisés e Arão tinham posto a espada nas mãos de seus inimigos.
... nos fizestes odiosos. Ou “mal cheirosos”, conforme a palavra hebraica também pode ser traduzida. Aos olhos do Faraó, agora eles eram vis e repelentes. Cf. a ideia de “mau cheiro" com os trechos de Gên. 34.30; I Sam. 13.4; II Sam. 10.6.0 Papyr. Anastas, (i.27,7) diz algo semelhante. Agora as espadas poderiam aparecer na cena, a fim de manter a ordem. E provavelmente não temos aí mera metáfora, mas uma negra realidade.
Êx 5.22 Então Moisés, tornando-se ao Senhor. Moisés apresentou diante de Deus a sua queixa. Diz um antigo hino: “Leva tua carga ao Senhor, e deixa-a com Ele”. Tão amarga foi a queixa de Moisés que ele reconheceu a alegada verdade daquilo que o povo tinha dito, e passou a lançar a culpa sobre Deus. É muito fácil lançarmos a culpa sobre Deus. Clamamos procurando saber “a razão” de nosso sofrimento, e as respostas que obtemos não são satisfatórias. E, então, a culpa pelo sofrimento humano é lançada sobre Deus. É verdade que Moisés aprendeu que aquela derrota inicial era, na verdade, uma primeira vitória disfarçada. Deus castigaria Faraó por causa do que ele estava fazendo. Em outras palavras, as maldades do Faraó provocariam a ira divina, e esse seria, afinal, 0 poder que libertaria o povo de Israel, e não os pobres discursos que Moisés e os capatazes israelitas poderiam fazer. Naquela conjuntura, meras palavras nada resolviam. A mão divina feriria os ofensores.
Moisés estava à cata de uma solução rápida para um problema dificílimo. Ele tinha esperado fazer Israel sair do Egito com o simples ardil de levar 0 povo ao deserto num caminho de três dias (Êxo. 5.3), e, então, simplesmente desaparecer. Mas o truque não deu certo. O Faraó percebeu a artimanha. Moisés estava agora sem novas ideias. Mas o plano divino tinha muitas outras provisões guardadas na algibeira.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 323-324.
Êx 5.20. Encontraram Moisés e Arão. Este é o mesmo verbo significativo que Moisés e Arão usaram para descrever perante Faraó o encontro com YHWH no monte Sinai (5:3).
Que estavam à espera deles. O verbo hebraico usado aqui sugere mais do que simplesmente “ estar em pé à espera de alguém” ; a palavra (sãbah) tem a conotação militar de “ estar postado” . Estariam os dois líderes cheios de esperança ou estariam determinados a enfrentar as conseqüências do fracasso?
Êx 5.21. Olhe YH W H para vos outros e vos julgue. Esta é a costumeira alegação de inocência de quem sofre injustamente (cf Gn 16:5). Moisés deve ter ficado muito sentido com a observação, como se vê no v. 22. Nos fizestes odiosos aos olhos de Faraó. Literalmente ‘ ‘nos fizestes cheirar mal” . Os anciãos de Israel podem ser diretos e rudes, mas comunicaram muito bem o que estavam pensando. Claramente eles pressentiam que o pior ainda estava para vir.
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 80.
3. Deus promete livrar seu povo (Êx 6-1).
A promessa divina para com Israel não foi esquecida por Deus. Depois do encontro com Faraó e das reclamações dos hebreus, Deus diz a Moisés: “Agora verás o que hei de fazer a Faraó; porque, por mão poderosa, os deixará ir, sim, por mão poderosa, os lançará de sua terra” (Ex 6.1). Uma palavra de Deus em meio às adversidades e correntes contrárias é suficiente para que tenhamos a certeza de que Ele está conosco, e que se aguardarmos nEle, no devido tempo ele cumprirá o que prometeu.
E evidente que levou um tempo até que o que Deus falou se cumprisse. As dez pragas enviadas contra o Egito mostraram o quanto Deus é poderoso, e o quanto Ele deu oportunidade para que Faraó voltasse atrás e libertasse o povo de Israel sem que a nação egípcia sofresse tantos danos e mortes. Entretanto, Deus cumpriu o que prometeu, e no devido tempo trouxe a libertação tão esperada àquela nação e honrou seu servo, Moisés, diante de seus inimigos e diante do seu próprio povo.
Lembremo-nos de que a chamada que Deus tem para cada um deve ser obedecida, e que no devido tempo, Deus cumpre suas promessas e honra a fé daqueles que confiaram nEle.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 23.
Agora verás. Deus repassava agora as promessas que tinha feito ao povo de Israel, além de ameaçar Faraó. Ambos esses fatores eram necessários para o divino projeto de redenção de Seu povo.
“Agora precisamos continuar a confiar no Senhor. A religião consiste em continuar a confiar em Deus, depois de termos envidado nossos esforços ao máximo... Moisés tinha feito o melhor ao seu alcance e estava desencorajado diante dos resultados; mas fizera 0 máximo que podia. Deus disse que, para ele, isso poderia parecer um adiamento desnecessário, mas ele precisaria somente confiar em Deus, o qual entraria em ação quando chegas- se o momento oportuno (J. Edgar Partt, in loc).
Por mão poderosa. Haveria a intervenção divina, sem a qual Israel simples- mente nunca seria posta em liberdade. “A mão poderosa... o poder soberano, aplicado de maneira súbita e com força” (Adam Clarke, in loc). A mão de Deus mostrar-se-ia tão poderosa que o Faraó em breve haveria de “deixá-los ir-se”. Seria alto demais o preço a ser pago, se ele quisesse reter o trabalho escravo.
Êx 6.2 Eu sou o Senhor. A Presença de Deus continuava com Moisés. Por muitas vezes, vemos a presença divina, nos primeiros livros da Bíblia. Toda decisão e mudança importante que os homens de Deus precisam enfrentar são acompanha- das pela presença de Deus: ou sob a forma do Anjo do Senhor; ou sob a forma de uma teofania (ver sobre isso no Dicionário); ou sob a forma de um sonho (ver as notas sobre Gên. 28.12; 31.10). Não basta tomarmos conhecimento acadêmico das realidades espirituais, ler a Bíblia, orar e meditar. Precisamos do toque místico em nossas vidas.
Êx 6,3 Apareci a Abraão. Conforme se vê em Gên. 17.1, onde aparece pela primeira vez na Bíblia 0 nome El Shaddai (ver abaixo). A comissão dada a Moisés estava ligada à história dos patriarcas de Israel. Cabia a Moisés dar continuidade ao plano divino, à história sagrada que tinha começado com aqueles. Este trecho do versículo tem paralelo em Êxo. 3.15. A comissão outorgada a Moisés estava vinculada à missão dos patriarcas. No caso presente, são nomeados Abraão, Isaque e Jacó, e não meramente Abraão.
O Deus Todo-poderoso. No hebraico, El Shaddai. Esse era um antigo nome de Deus, que significa “o todo-suficiente”, embora outras ideias existam sobre o seu significado. Esse nome não era usado exclusivamente pelo povo de Israel. Ver Joel 1.15 e Deu. 32.17. Deuses estrangeiros e poderes destrutivos também podiam ser chamados assim. Jó usou esse nome por trinta e uma vezes (Jó 5.17 e outros trechos).
O Senhor. No hebraico, Yahweh. De acordo com este versículo, um nome mediante o qual Deus não se manifestara aos patriarcas. Essa declaração tem deixado os estudiosos perplexos. Os trechos de Êxo. 13.3; 17.2 e outros contêm esse nome. Os críticos supõem que essa declaração é oriunda da fonte informativa P(S), ao passo que, em outras fontes, o nome Yahweh era conhecido entre os patriarcas como um nome divino. Os críticos veem nisso apoio para sua teoria de fontes múltiplas, supondo que o nome Yahweh (J seria a fonte do nome) seria um nome divino usado por outra fonte informativa, mais tardia. Nesse caso, o aparecimento do nome Yahweh, nos relatos sobre os patriarcas, deveria ser visto como inserções feitas por algum editor, em narrativas antigas, e não algo nativo a essas narrativas. Para Adão, o nome de Deus era Elohim; para Abraão, era Adonai; para Moisés, era Yahweh. Mas o culto a Yahweh foi estabelecido muito antes de Moisés, assim a confusão permanece de pé. Seja como for, o autor sacro diz-nos aqui que podemos chamar Deus de El-Shaddai ou de Yahweh, pois, em ambos os casos, nos estaremos referindo ao mesmo único Deus. Esse Deus único guiara a Abraão; e agora estava guiando a Moisés.
Os eruditos conservadores opinam que o próprio Moisés inseriu o nome Yahweh nos relatos anteriores (ver Gên. 2.4; 3.14; 9.1-9 etc.). Adam Clarke escreveu toda uma página de duas colunas tentando explicar como Yahweh já era um nome divino nos dias dos patriarcas, tendo achado esse nome até mesmo em outras culturas semíticas do mundo antigo. Mas lemos aqui que não foi assim que as coisas sucederam. Clarke não chegou a nenhum resultado definitivo, e é precisamente ai que nos encontramos, fazendo-lhe companhia.
Observou John Gill (in loc.): “Isso não deve ser entendido em um sentido absoluto; pois é certo que Ele se fizera conhecer por Abraão, Isaque e Jacó por esse nome: Gên. 15.6-8; 26.2,24; 28.13. Mas comparativamente... Ele não era tão bem conhecido por aqueles, por esse nome, do que era conhecido pelo outro nome [El Shaddai]”. Uma boa tentativa, mas não o suficiente.
Este versículo tem sido alistado em favor da chamada hipótese quenita, ou seja, de que Moisés aprendeu esse nome divino, Yahweh, bem como as práticas religiosas ligadas a esse nome, da parte dos midianitas, entre os quais permaneceu, com seu sogro, durante quarenta anos, na terra de Midiã. Ver Êxo. 18.1 e suas notas introdutórias, bem como as notas em Êxo. 18.12 onde a questão é mais amplamente ventilada.
Êx 6.4 Estabeleci a minha aliança. O Pacto Abraâmico (ver as notas a respeito em Gên. 15.18) reunia em um bloco toda a nação de Israel, a começar por Abraão, estendendo-se aos demais patriarcas, até Moisés, e, finalmente, a todo o povo de Israel. No livro de Gênesis, esse pacto é reiterado por dezesseis vezes, em várias conexões e graus de plenitude. Uma das principais provisões dessa aliança era que Israel teria um território pátrio. Mas antes que esse território lhes pudesse ser dado, deveria haver um período de exílio no Egito, ao mesmo tempo em que os habitantes originais da terra de Canaã teriam de preencher a sua taça de iniquidade. Quando essa taça estivesse cheia, então Deus os julgaria, e um dos resultados desse juízo é que os cananeus perderiam seus territórios. E, então, o povo de Israel apossar-se-ia deles. Ver Gên. 15.13,16. Ver Êxo. 2.24 quanto a como Deus lembrou o Seu pacto com Abraão, e, por essa razão, tinha levantado Moisés para ser o libertador.
A terra em que habitaram como peregrinos. Ver Gên. 17.8 e 23.4. “Abraão, Isaque e Jacó ocupavam a terra de Canaã por mera concessão; tinham permissão de ocupá-la, porque ela não lhes pertencia, mas foi-lhes dado esse direito por aqueles que realmente a possuíam. Esse território pertencia às nações cananéias, aos hititas, e outros (Gên. 20.15; 23.3-20)” (Ellicott, in loc).
Êx 6.6 Reiteração da Mensagem Divina. Moisés deveria anunciar ao povo a mesma mensagem anterior. Agora Yahweh a tinha reiterado. Um grande livra- mento estava surgindo no horizonte, e esse livramento contava com o poder de Deus.
... vos resgatarei com braço estendido. O poder de Deus haveria de manifestar-se, e a tarefa da libertação seria cumprida. Ver em Êxo. 3.20 as notas sobre a poderosa mão de Deus. Ver Êxo. 3.10 quanto à declaração do propósito divino de libertação.
Com grandes manifestações de julgamento. Esses juízos seriam dois: 1. Me- diante uma longa série de prodígios que produziriam confusão e destruição, culminando na décima praga mediante a qual pereceriam todos os primogênitos do Egito. Ver Êxo. 12.28 ss. Assim teria cumprimento o que fora dito em Êxo. 4.22,23. Ou 0 filho primogênito (Israel) de Yahweh seria libertado, ou teriam de morrer todos os primogênitos do Egito. 2. Haveria 0 grande milagre de destruição na travessia do mar Morto (Êxo. 14).
Êx 6.7 Compare as declarações deste versículo com Êxo. 19.5,6 e Deu. 7.6. Uma nação havia sido escolhida para tornar-se o veículo da mensagem espiritual e para produzir 0 Messias. Mas o mundo é o objeto dessa mensagem (João 3.16; I João 2.2). Deus era e sempre será o Deus de todas as nações (Sal. 67.4). Todos os povos são aceitos por Ele (Atos 10.35; ver também Mat. 8.5-13; Luc. 7.2-10; Atos 10.1-33). Confronte a escolha de Abraão, em Gên. 17.7,8, onde as notas expositivas se aplicam a este versículo. A providência de Deus (ver sobre esse assunto no Dicionário) é multifacetada. Ela opera através de Israel e beneficia a todas as demais nações, e não somente a nação de Israel.
Demonstrando a Natureza de Deus. Esse é um dos propósitos do livramento de Israel da servidão no Egito. Deus seria exaltado; Seu poder seria exibido; Sua justiça comprovada; Sua misericórdia mostrada; e Sua vingança seria provada contra os injustos, especialmente contra Faraó. Uma pessoa é conhecida por meio de seus atos.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 324, 326.
A Renovação da Promessa e da Ordem (6.1-13)
Deus não deixou Moisés na mão. A demora na libertação não significava renúncia da promessa. Deus estava trabalhando em seus propósitos. Smith-Goodspeed traduz o versículo 1 assim: “Agora verás o que farei a Faraó; forçado por um grandioso poder ele não só os deixará ir, mas os expulsará da terra”. Outras dificuldades tinham de vir sobre Israel (5.19), mas a promessa de Deus ainda era certa.
O valor da promessa estava no fato de Deus endossá-la: Eu sou o SENHOR (2). Os antepassados de Israel conheciam o Deus Todo-poderoso (3), o Deus de poder e “força dominante”. “Aqui a ideia primária de Jeová concentra-se, pelo contrário, em sua existência absoluta, eterna, incondicional e independente.”26 Ambos os nomes eram muito antigos e amplamente conhecidos (Gn 4.26; 12.8; 17.1; 28.3), mas Deus se manifestou principalmente pelo nome de El Shaddai, Deus Todo-poderoso. Para este grande livramento, o próprio Deus revelou o pleno significado de Yahweh, “o Senhor”. Esta não é outra narrativa do chamado de Moisés, diferente da anterior, como advogam muitos estudiosos liberais, mas trata-se de uma renovação das promessas a Moisés com maior destaque a um povo desanimado.
A nova revelação neste nome retratava que Deus se ligara com seu povo por concerto (4). Este concerto começou com os patriarcas e incluía a promessa da terra de Canaã, por onde, durante muitos anos, vaguearam como peregrinos e estrangeiros (Gn 15.18).
Deus se lembrou do concerto quando ouviu o gemido dos filhos de Israel por causa da escravidão (5). Ele não esqueceu; somente esperara até que os filhos estivessem prontos para cumprir sua parte no concerto.
Deus ordenou que Moisés renovasse a confiança dos israelitas. Ele tinha de lhes dizer que seriam libertos da servidão egípcia, que Deus os resgataria com braço estendido (“ação especial e vigorosa”, ATA) e com juízos grandes (6) sobre os opressores. Israel seria o povo especial de Deus e lhe daria a terra da promessa por herança (7,8).
Estas palavras tranquilizadoras foram apoiadas pela declaração: Eu, o SENHOR. Embora a promessa fosse feita com firmeza, os líderes de Israel não ouviram a Moisés, por causa da ânsia do espírito e da dura servidão (9). Embora tivessem crido antes (4.31), o aumento da crueldade os abatera tanto que meras palavras de promessa não bastariam. As vezes Deus tem de operar para que creiamos em suas promessas. Mais tarde, nos lembraremos das palavras da promessa. Quando Moisés (10) não pôde convencer Israel, duvidou que pudesse convencer Faraó (11), a quem agora Deus o dirigia. Se Israel não lhe dava ouvidos, por que Faraó escutaria? Incircunciso de lábios (12), de acordo com a expressão idiomática em hebraico, seria um defeito que interfere com a eficiência. O ouvido incircunciso era um ouvido que não ouvia (Jr 6.10), e o coração incircunciso era um coração que não entendia.
A boca de Moisés não podia falar com clareza. Mas a despeito da debilidade humana, Deus falaria. Ele daria mandamento para os filhos de Israel e para Faraó, e o assunto seria resolvido (13).
Encontramos em 5.22 a 6.13, certos “Problemas para a Fé”: 1) A demora de Deus em agir, 22,23; 2) Espíritos desanimados e abatidos, 9; 3) Pessoas indiferentes, 12; 4) Enfermidades físicas, 9.
Nos versículos 1 a 8, temos estas “Garantias para a Fé”: 1) O poder de Deus, 1; 2) O nome de Deus, 3; 3) A resposta de Deus, 5; 4) O relacionamento de Deus, 7; 5) A promessa de Deus, 8.
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 150-151.
Êx 6:1. Agora verás o que hei de fazer. Eis aqui uma promessa divina renovada, uma promessa que vai além da anterior. Faraó não irá apenas permitir que os israelitas saiam de sua terra, o que até aqui recusou fazer; na verdade, o monarca os “ lançará fora” . O verbo usado parece ser uma reminiscência clara da “ expulsão” de Moisés para Midiã e provavelmente contém um trocadilho com o nome de Gérson, filho de Moisés (2:22).
6. E vos resgatarei com braço estendido. Literalmente “ farei o papel do parente resgatador” ou gõ ’êl. A melhor ilustração deste costume é a atividade de Boaz em relação a Rute (Rt 4). A legislação aparece em Lv 25:25. Driver sugere “ reivindicar como direito” ou “ vindicar” como traduções possíveis com base nesse costume. Ao contrário do verbo pãdâh, gã’al sugere um relacionamento pessoal íntimo entre o redentor e o redimido e assim o termo é apropriado para descrever o Deus da aliança.
7. Tomar-vos-ei por meu povo. Esta é uma das mais límpidas declarações causadas pela aliança. O pensamento é ampliado em 19:5,6, por ocasião da ratificação da aliança entre Deus e Israel. Que vos tiro de debaixo das cargas do Egito. Este é o começo do grande credo da fé israelita, e aparece de forma mais distinta na introdução aos dez mandamentos (20:2). À medida que crescia a experiência de Israel com Deus, novos “ artigos” eram acrescentados ao credo, mas este “ artigo” fundamental permaneceu o mesmo em toda a história da nação.
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 80-81; 83.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva.
Colaboração: Escriba Digital, Gospel books.

Um comentário:

  1. A Paz irmão, muito obrigado pelo recurso das lições da E.B.D. , é muito valioso, que Deus continue a te usar com esta ferramenta que é muito importante cada a igreja de Jesus,, a paz abraços,,,

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