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4° LIÇÃO 1° TRI 2014 A CELEBRAÇÃO DA PRIMEIRA PÁSCOA


A CELEBRAÇÃO DA PRIMEIRA PÁSCOA
Data: 26 de Janeiro de 2014                    HINOS SUGERIDOS 244, 282, 289.
TEXTO ÁUREO
[...] Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós” (1 Co 5.7b).

VERDADE PRÁTICA
Cristo é o nosso Cordeiro Pascal. Por meio do seu sacrifício expiatório fomos libertos da escravidão do pecado e da ira de Deus.
LEITURA DIÁRIA
Segunda        - Êx 12.5       Um cordeiro sem mácula deveria ser morto
Terça             - Êx 12.7        Sangue foi aspergido nas portas
Quarta           - Êx 12.29-33 Morte nas famílias egípcias
Quinta            - Jo 1.29        O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo
Sexta             - 1 Jo 1.7       O sangue purificador do Cordeiro de Deus
Sábado          - Hb 11.28      Pela fé, Moisés celebrou a Páscoa
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Êxodo 12.1-11
1 - £ falou o SENHOR a Moisés e a Ar ao na terra do Egito, dizendo:
2 - Este mesmo mês vos será o princípio dos meses; este vos será o primeiro dos meses do ano.
3 - Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês, tome cada um para si um cordeiro, segundo as casas dos pais, um cordeiro para cada casa.
4 - Mas, se a família for pequena para um cordeiro, então, tome um só com seu vizinho perto de sua casa, conforme o número das almas; conforme o comer de cada um, fareis a conta para o cordeiro.
5 - 0 cordeiro, ou cabrito, será sem mácula, um macho de um ano, o qual tomareis das ovelhas ou das cabras
6 - e o guardareis até ao décimo quarto dia deste mês, e todo o ajuntamento da congregação de Israel o sacrificará à tarde.
7 - E tomarão do sangue e pô-lo-ão em ambas as ombreiras e na verga da porta, nas casas em que o comerem.
8 - E naquela noite comerão a carne assada no fogo, com pães asmos; com ervas amargosas a comerão.
9 - Não comereis dele nada cru, nem cozido em água, senão assado ao fogo; a cabeça com os pés e com a fressura.
10 - E nada dele deixareis até pela manhã; mas o que dele ficar até peia manhã, queimareis no fogo.
11 - Assim, pois, o comereis: os vossos lombos cingidos, os vossos sapatos nos pés, e o vosso cajado na mão; e o comereis apressadamente; esta é a Páscoa do SENHOR.
INTERAÇÃO
Na lição de hoje, estudaremos uma das festas mais significativas para Israel e a Igreja — a Páscoa. Deus queria que seu povo nunca se esquecesse desta comemoração especial. Por isso, esta data foi santificada. No decorrer da lição, procure enfatizar que a Páscoa era uma oportunidade para os israelitas descansarem, festejarem e adorarem a Deus por tão grande livramento, que foi a sua libertação e saída do Egito. Hoje, o nosso Cordeiro Pascal é Cristo. Ele morreu para trazer redenção aos judeus e gentios. Cristo nos livrou da escravidão do pecado e sua condenação eterna. Exaltemos ao Senhor diariamente por tão grande salvação.
OBJETIVOS
Após a aula, o aluno deverá estar apto a:
Analisar o significado da Páscoa para os israelitas, egípcios e para os cristãos.
Saber quais eram os elementos principais da Páscoa.
Conscientizar-se de que Cristo é a nossa Páscoa.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Professor, para iniciar a lição faça a seguinte pergunta: “O que significa a palavra Páscoa?” Ouça os alunos com atenção e explique que o termo significa “passar por”. Diga que este vocábulo tornou-se o nome de uma das mais importantes celebrações do povo hebreu. Diga que a festa da Páscoa acontece no mês de abibe (março/abril).
Utilizando o quadro da página seguinte, explique aos alunos o significado desta celebração para os egípcios, judeus e cristãos. Conclua, enfatizando que a Páscoa nos fala do sacrifício de Cristo, o nosso Cordeiro Pascal.
PALAVRA-CHAVE
Páscoa: Uma das mais importantes festas do povo hebreu em que comemoravam a saída do Egito.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
A Páscoa foi instituída pelo Senhor para que os israelitas celebrassem a noite em que Deus poupou da morte todos os primogênitos hebreus. É uma festa repleta de significados tanto para os judeus quanto para os cristãos. Os judeus deveriam comemorar a Páscoa no mês de Abib (corresponde à parte de março e parte de abril em nosso calendário), cujo significado são as “espigas verdes”.
Hoje estudaremos a respeito desta festa sagrada e o seus significados para nós, cristãos.
I - A PÁSCOA
1. Para os egípcios. Para os egípcios a Páscoa significou o juízo divino final sobre o Egito, Faraó e todos os deuses cultuados ali. O Senhor havia enviado várias pragas e concedido tempo suficiente para que Faraó se rendesse, deixando o povo partir. Deus é misericordioso, longânimo e deseja que todos se salvem (2 Pe 3.9b). Porém, Ele é também um juiz justo que se ira contra o pecado: “Deus é um juiz justo, um Deus que se ira todos os dias” (Sl 7.11). O pecado, a idolatria e as injustiças sociais suscitam a ira do Pai. O povo hebreu estava sendo massacrado pelos egípcios e o Senhor queria libertá-lo. Restava uma última praga. Então o Senhor falou a Moisés: “À meia-noite eu sairei pelo meio do Egito; e todo primogênito na terra do Egito morrerá” (Êx 11 .4,5). Foi uma noite pavorosa para os egípcios e inesquecível para os israelitas.
2. Para Israel. Era a saída, a passagem para a liberdade, para uma vida vitoriosa e abundante. Foi para isto que Cristo veio ao mundo, morreu e ressuscitou ao terceiro dia, para nos libertar do jugo do pecado e nos dar uma vida cristã abundante (Jo 10.10). Enquanto havia choro nas casas egípcias, nas casas dos judeus havia alegria e esperança. O Egito, a escravidão e Faraó ficariam para trás. Os israelitas teriam sua própria terra e não seriam escravos de ninguém.
3. Para nós. Como pecadores também estávamos destinados a experimentar a ira de Deus, mas Cristo, o nosso Cordeiro Pascal, morreu em nosso lugar e com o seu sangue nos redimiu dos nossos pecados (1 Co 5.7).
Para nós, cristãos, a Páscoa é a passagem da morte dos nossos pecados para a vida de santidade em Cristo. No Egito um cordeiro foi imolado para cada família. Na cruz morreu o Filho de Deus pelo mundo inteiro (Jo 3.16).
SINOPSE DO TÓPICO (1)
Para nós cristãos a Páscoa é a passagem da morte dos nossos pecados para a vida de santidade em Cristo.
II - OS ELEMENTOS DA PÁSCOA
1. O pão. Deveria ser assado sem fermento, pois não havia tempo para que o pão pudesse crescer (Êx 12.8,11,34-36). A saída do Egito deveria ser rápida. A falta de fermento também representa a purificação, a libertação do fermento do mundo. Em o Novo Testamento vemos que Jesus utilizou o fermento para ilustrar o falso ensino dos fariseus (Mt 16.6, 11,12; Lc 12.1; Mc 8.15). O pão também simboliza vida. Jesus se identificou aos seus discípulos como “o pão da vida” (Jo 6.35). Toda vez que o pão é partido na celebração da Ceia do Senhor, traz à nossa memória o sacrifício vicário de Cristo, através do qual Ele entregou a sua vida em resgate da humanidade caída e escravizada pelo Diabo.
2. As ervas amargas (Êx 12.8). Simbolizavam toda a amargura e aflição enfrentadas no cativeiro. Foram 430 anos de opressão, dor, angústia, quando os hebreus eram cativos do Egito.
3. O cordeiro (Êx 12.3-7). Um cordeiro sem defeito deveria ser morto e o sangue derramado nos umbrais das portas das casas. O sangue era uma proteção e um símbolo da obediência. A desobediência seria paga com a morte. O cordeiro da Páscoa judaica era uma representação do “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). O sangue de Cristo foi vertido na cruz para redimir todos os filhos de Adão (1 Pe 1.18,19). Aquele sangue que foi derramado no Egito, e aspergido nos umbrais das portas, aponta para o sangue de Cristo que foi oferecido por Ele como sacrifício expiatório para nos redimir dos nossos pecados.
SINOPSE DO TÓPICO (2)
Os três elementos da Páscoa eram: o pão, as ervas amargas e o cordeiro sem mácula.
III - CRISTO, NOSSA PÁSCOA
1. Jesus, o Pão da Vida (Jo 6.35,48,51). Comemos pão para saciar a nossa fome, porém, a fome da salvação da nossa alma somente pode ser saciada por Jesus. Certa vez, Ele afirmou: “Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome” (Jo 6.3 5). Apenas Ele pode saciar a necessidade espiritual da humanidade. Nadal pode substituí-lo. Necessitamos deste pão divino diariamente. Sem Ele não é possível a nossa reconciliação com Deus (2 Co 5.19).
2. O sangue de Cristo (1 Co 5.7; Rm 5.8,9) No Egito, o sangue do cordeiro morto só protegeu os hebreus, mas o sangue de Jesus derramado na cruz proveu a salvação não apenas dos judeus, mas também dos gentios.
O cordeiro pascal substituía o primogênito. O sacrifício de Cristo substituiu a humanidade desviada de Deus (Rm 3.12,23). Fomos redimidos por seu sangue e salvos da morte eterna pela graça de Deus em seu Cordeiro Pascal, Jesus Cristo.
3. A Santa Ceia. A Ceia do Senhor não é um mero símbolo; é um memorial da morte redentora de Cristo por nós e um alerta quanto à sua vinda: “Em memória de mim” (1 Co 11.24,25). É um memorial da morte do Cordeiro de Deus em nosso lugar. O crente deve se assentar à mesa do Senhor com reverência, discernimento, temor de Deus e humildade, pois está diante do sublime memorial da paixão e morte do Senhor Jesus Cristo em nosso favor. Caso contrário, se tornará réu diante de Deus (1 Co 11.27-32).
SINOPSE DO TÓPICO (3)
A Ceia do Senhor é um memorial da morte redentora de Cristo por nós e um alerta quanto à sua vinda.
CONCLUSÃO
Deus queria que o seu povo Israel nunca se esquecesse da Páscoa, por isso a data foi santificada. A Páscoa era uma oportunidade para os israelitas descansarem, festejarem e adorarem a Deus por tão grande livramento, que foi a sua libertação e saída do Egito. Hoje o nosso Cordeiro Pascal é Cristo. Ele morreu para trazer redenção aos judeus e gentios. Cristo nos livrou da escravidão do pecado e sua condenação eterna. Exaltemos ao Senhor diariamente por tão grande salvação.
A PÁSCOA
A PÁSCOA                                                              SEU SIGNIFICADO
Para os egípcios                            Significava o juízo divino sobre o Egito.
Para os israelitas                           A saída do Egito, a passagem para a liberdade.
Para os cristãos                         É a passagem da morte dos nossos pecados para a vida de santidade em Cristo.
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
COHEN, Armando Chaves. Êxodo. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1998.
RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO I
Subsídio Bibliológico
“O propósito de Deus em instituir a Páscoa era estabelecer o marco inicial para a libertação de Israel do cativeiro egípcio e proclamar a redenção alcançada pelo sangue do Cordeiro, já revelada no sacrifício de Isaque (Gn 22.1-19), conforme mais tarde escreveram os apóstolos Paulo e Pedro: ‘e demonstrar a todos qual seja a dispensação do ministério, que, desde os séculos esteve oculto em Deus’ (Ef 3.9); [...] o qual, na verdade, em outro tempo, foi conhecido, antes da fundação do mundo’ (1 Pe 1.20).
Cristo é a nossa Páscoa (1 Co 5.17). Ele é o Cordeiro de Deus Co 1.29). O cordeiro deveria ser separado para o sacrifício até ao décimo quarto dia do primeiro mês do ano (Êx 12.3-6) e tinha de ser sem defeito (Êx 12.5). Cristo cumpriu essa exigência (1 Pe 1.18,19). Ele entrou em Jerusalém no dia da separação do cordeiro e morreu no mesmo dia do sacrifício. O cordeiro precisava ser imolado pela congregação, assim como Cristo foi sacrificado pelos líderes civis e religiosos de Israel e de Roma e pela vontade do povo. Nenhum osso do cordeiro poderia ser quebrado (Êx 12.46), também nenhum osso de Cristo foi partido Oo 19.33-36)” (COHEN, Armando Chaves. Êxodo. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1998, p.42).
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO II
Subsídio Bibliológico
“Êxodo 12 não diz respeito somente ao momento da Páscoa, ao porquê da Páscoa e a como ela deve ser observada, mas também quem deve participar (Êx 1 2.43-49). A Páscoa não era algo indiscriminadamente aberto para todos. Quem podia participar? A congregação de Israel (v. 47); os escravos (v. 44), quando circuncidados, por terem os mesmos privilégios dos hebreus; os estrangeiros (v. 48), gentios que tivessem abraçado a fé em Jeová. Quem não podia participar? O forasteiro (v. 43), pagão e incrédulo; o viajante (v. 45) que, hóspede ou de passagem, ficava algum tempo no território de Israel; o servo assalariado (v. 45), que pertencia a uma outra nação mas trabalhava em Israel. Essas distinções eram necessárias por causa da ‘mistura de gente’ (1 2.38) que deixou o Egito. Foi por isso que as instruções acerca da elegibilidade para participar da Páscoa (1 2.43-49) foram passadas logo após essa ‘mistura de gente’ deixar o Egito (12.37-39)” (HAMILTON, Victor P. Manual do Pentateuco. 2. ed. Rio de Janeiro; CPAD, 2007, pp. 191-92).
EXERCÍCIOS
1. O que significou a Páscoa para os egípcios?
R: Para os egípcios a Páscoa significou o juízo divino final sobre o Egito, Faraó e todos os falsos deuses cultuados ali.
2. Qual o significado da Páscoa para Israel?
R: Era a saída, a passagem para a liberdade, para uma vida vitoriosa e abundante.
3. Qual o significado da Páscoa para os cristãos?
R: Para nós cristãos a Páscoa é a passagem da morte dos nossos pecados para a vida de santidade em Cristo.
4. Quais os elementos da primeira Páscoa?
R: Pães asmos, ervas amargas e cordeiro.
5. Por que Cristo é a nossa Páscoa?
R: Porque Ele morreu em nosso lugar para nos redimir de nossos pecados. Cristo nos livrou da escravidão do pecado e sua condenação eterna.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Neste capítulo veremos de que forma os acontecimentos de uma noite mudaram a história dos egípcios e do povo de Israel. A celebração da Páscoa teve significados distintos para hebreus e egípcios, pois na noite em que foi instituída, houve lamento no Egito, mas a seguir ocorreu a libertação prometida por Deus para os seus filhos.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 35.
PÁSCOA 1 Esta palavra aparece várias vezes na Bíblia Sagrada. Porém na versão KJV em inglês ela aparece apenas uma vez (At 12.4). É usada como tradução do termo grego pascha, que é corretamente traduzido como "páscoa" nas passagens onde consta no Novo Testamento. A palavra "Páscoa" em inglês ("Easter") é derivada do nome de uma deusa teutônica da primavera, "Eastre", e foi adaptada pelos cristãos ao uso atual aprox. no século VIII d.C.
PÁSCOA 2 Festa instituída por Deus para Israel, na época do Êxodo, para celebrar a noite em que o Senhor Jeová poupou todos os recém nascidos primogênitos dos israelitas e matou todos os primogênitos dos egípcios (Êx 12.1-30,43-49). A palavra hebraica pesah (do grego pascha) tem uma origem incerta. G. E. Mendenhall a relaciona com a palavra acadiana pashu, que consta na carta Amarna 74.37 para descrever a paz ou a segurança que resulta do estabelecimento de uma aliança (BASOR, #133 [1954], p. 29). B. Couroyer sugere que este termo é uma transliteração de duas palavras egípcias p3 sh, 'Te coup" (o golpe, a pancada), e que ele refere-se ao golpe infligido pelo Senhor à terra do Egito na décima praga. Ele acredita que a expressão egípcia foi colocada ao lado de uma raiz hebraica composta pelas mesmas consoantes, pasah, que significa saltar ou passar (por cima) como em 1 Reis 18.26. Devido à sua conexão com a isenção dos primogénitos de Israel, pesah veio a ter o sentido da misericordiosa intenção de Jeová ao passar por cima das casas que foram marcadas com sangue ("Uorigine égyptienne du mot 'Pâque'", Revue Biblique, LXII [1955], 481-496). O verbo pasah ocorre em Êxodo 12.13,23,27, onde obviamente significa que o Senhor pulou ou saltou por cima e, desse modo, poupou as casas israelitas quando feriu os egípcios (Outro verbo com os mesmos radicais significa mancar ou ser manco; 2 Samuel 4.4.) A outra única ocorrência, no sentido de poupar ou proteger, está em Isaías 31.5, onde pasah está em um paralelo com outros três verbos que significam "proteger", "libertar" e "salvar". É possível que em Isaías o significado possa ter sido estabelecido pelo uso em Êxodo 12 e não por refletir o significado original da raiz. Portanto, não se pode afirmar que o substantivo pesah deriva ou não do verbo pasah, que originalmente significava passar por cima. Quanto à observação cerimonial da festa da Páscoa no AT, Veja Festividades; Sacrifícios; Adoração.
No AT, é feita uma referência à celebração da primeira Páscoa por Moisés, com a aspersão de sangue para que os primogênitos israelitas não fossem tocados (Hb 11.28). Existem muitas outras referências a festas da Páscoa durante a vida do Senhor Jesus. Ainda criança, todos os anos Ele era levado por seus pais a Jerusalém para a Festa da Páscoa (Lc 2.41). No quarto evangelho, três Páscoas são definitivamente mencionadas durante o ministério do Senhor Jesus (Jo 2.13,23; 6.4; 11.55; 12.1; 13;1; 18.28,39; 19.14) e acredita-se que a festa mencionada em João 5.1 seria a quarta Páscoa. Na época de Cristo, o cordeiro pascal (geralmente um cordeiro ou cabrito de um ano, mas veja Êxodo 12.5) era ritualmente sacrificado na área do Templo. Essa refeição, no entanto, podia ser comida em qualquer casa da cidade. Um grupo comunitário, como o de Jesus e seus discípulos, podia celebrar a Páscoa em conjunto, com se formasse uma unidade familiar. Cerca de 120.000 a 180.000 judeus compareciam a Jerusalém para essa e outras festas anuais, sendo que a grande maioria deles era formada por peregrinos vindos de países da Diáspora (J. Jeremias, Jerusalém in the Time of Jesus, Filadélfia. Fortress, 1969, pp. 58-84). Depois da destruição do Templo no ano 70 d.C, as provisões para o sacrifício de um animal, sob a forma de um ritual, cessaram totalmente e a Páscoa dos judeus passou a ser uma simples cerimônia familiar, uma refeição sem derramamento de sangue. Atualmente, apenas os samaritanos (q.v.), em sua cerimônia anual da Páscoa no monte Gerizim, sacrificam cordeiros ou cabritos visando cumprir a ordem de Êxodo 12. Uma última passagem do NT desenvolve claramente o significado tipológico da Páscoa e da Festa dos Pães Asmos para o cristão. Paulo conclama os coríntios a eliminar o fermento da malícia e da iniquidade, e observar diariamente a festa "porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós" (1 Co 5.7). Dessa forma, Paulo declara diretamente que Cristo é o "nosso Cordeiro pascal", conforme o pronunciamento de João Batista de que Jesus é "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29). Devido a estas passagens, e a ensinos semelhantes, a Igreja primitiva veio a entender que a Ceia do Senhor (q.v.) substitui completamente a celebração da Páscoa.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1467-1468.
I - A PÁSCOA.
1. Para os egípcios.
Para que possamos entender o significado da Páscoa para os egípcios, é preciso que recordemos o que ocorreu nos últimos dias antes de ela acontecer.
Moisés já havia falado com Faraó sobre ele libertar Israel, mas o rei não cedeu, mesmo com o envio de pragas assustadoras que atacaram profundamente a vida dos egípcios. Entretanto, Deus ainda tinha mais um julgamento contra o Egito, um julgamento tal que aquela nação entraria em prantos: a morte dos primeiros filhos de cada família egípcia. A Páscoa foi um duro julgamento de Deus para com as atrocidades cometidas pelos egípcios contra os meninos hebreus. Não podemos nos esquecer de que, no início do livro de Êxodo, Faraó ordenou que as parteiras Sifrá e Puá matassem os meninos recém-nascidos. Como elas não o fizeram, a ordem foi dada a qualquer egípcio. Isso significa que qualquer egípcio poderia entrar numa casa hebreia, ver se ali havia algum menino e, caso o encontrasse, poderia pegar o bebê e levá-lo para ser jogado no Rio Nilo, onde se afogaria ou seria alimento para os crocodilos.
Se nessa época as casas dos hebreus poderiam ser invadidas, na Páscoa as casas dos egípcios não poderiam proteger os seus primogênitos, pois o anjo da morte entraria em cada residência e executaria o mandado de Deus. Sem dúvida essa história poderia terminar de outra forma se Faraó deixasse ir o povo embora. Mas por causa da dureza de coração do rei, seus súditos pagaram um alto preço. Lembremo-nos de que Moisés tinha advertido a Faraó antes, deixando claro que o povo sairia com as crianças e o gado (Faraó não queria que isso acontecesse), e a última resposta do rei para Moisés, antes da Páscoa, foi: “Vai-te de mim e guarda-te que não mais vejas o meu rosto; porque, no dia em que vires o meu rosto, morrerás” (Êx 10.28). Por essa resposta, entendemos que Faraó deu por encerrado o diálogo com Moisés e com Deus, e assinou a ordem divina para a morte dos primogênitos. Ele não quis obedecer às ordens de Deus, e isso lhe custaria a vida do próprio filho.
"Deus tem dado muitas ordens em sua Palavra que são acompanhadas de promessas que Ele mesmo vai cumprir. Naquela noite, obedecer a Deus fez toda a diferença para os israelitas."
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 35-36.
Êx 11.4 O Senhor. Yahweh tinha-o informado. Cerca da meia-noite, o anjo da morte, o destruidor (Êxo. 12.23), iniciaria a sua missão destrutiva. Todas as pragas anteriores seriam como nada em comparação com a décima. Israel seria poupado (vs. 7); seus primogênitos nada sofreriam.
O Faraó tinha, no Egito, a reputação de ser um deus, uma encarnação de Rá, o deus-sol. A mitologia egípcia contava a história de como, a cada noite, o deus- sol precisava lutar e vencer os poderes das trevas, sob a forma do deus-serpente, Apófis. A cada noite era obtida a vitória. Mas naquela noite, à meia-noite, o poder das trevas, Rá, seria derrotado, e isso do ponto de vista dos egípcios.
Os versículos primeiro a terceiro deste capítulo formam um parêntese. O quarto versículo dá continuação ao diálogo de Êxodo 10.29. O Faraó tinha sido advertido pela última vez. Moisés disse ao Faraó que os dois nunca mais se veriam face a face. Antes, o Faraó teria de enfrentar Yahweh, sob a forma de seu anjo vingador. E o Faraó em breve haveria de querer ver Moisés novamente (Êxo. 12.31).
Êx 11.5 Nenhum filho primogênito, humano ou animal, seria poupado. Agora a ameaça era de uma destruição deveras devastadora. “A morte dos primogênitos simboliza a derrota imposta por Deus ao Egito, mediante o triunfo sobre os seus deuses. De acordo com o pensamento dos hebreus, os primogênitos representavam o todo. O domínio sobre o Egito, como uma entidade independente, chegara ao fim. Seus deuses estavam mortos” (J. Edgar Park, in loc).
Os Animais aos quais os Egípcios Adoravam Também Estavam Mortos. Visto que os primogênitos eram do sexo masculino, as meninas escaparam completa mente. Mas o orgulho e as esperanças de cada família giravam em torno do amado filho primogênito. Ele representava a continuação da linhagem, o transmissor da herança. Portanto, nenhuma aflição pior poderia ser imaginada do que a morte em massa dos filhos primogênitos.
Nenhuma família egípcia escaparia à calamidade que atingiria em cheio o deus-sol do Faraó, desde a humilde criada que, subitamente, perderia seu querido primeiro filho, até o próprio rei, desde o menor até o maior; desde o mais pobre até o mais rico; desde os culpados até os inocentes.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 346.
A Páscoa e os egípcios (Êx 11:1-10)
O povo do Egito havia sido transtornado pelas seis primeiras pragas; sua terra e seus bens haviam sido devastados pelas duas pragas seguintes. A nona praga - três dias de escuridão - havia preparado o caminho para a mais terrível de todas as pragas, quando mensageiros da morte visitariam a terra. "Lançou contra eles o furor da sua ira: cólera, indignação e calamidade, legião de anjos portadores de males" (SI 78:49).
Moisés ouviu a Palavra de Deus (vv. 1-3). Esses versículos descrevem o que aconteceu antes de Moisés ser convocado para ir ao palácio e ouvir a última oferta do Faraó (Êx 10:24-29). O discurso de Moisés (Êx 11:4-8) foi apresentado entre os versículos 26 e 27 do capítulo 10 e terminou com Moisés deixando a sala do trono ardendo em ira (Êx 10:29; 11:8).
Deus disse a Moisés que enviaria mais uma praga ao Egito, uma praga tão terrível que o Faraó não apenas deixaria como também ordenaria que os israelitas partissem. O Faraó os expulsaria da terra e, assim, cumpriria a promessa que Deus havia feito mesmo antes de começarem as pragas (Êx 6:1; ver 12:31, 32, 39).
Moisés disse ao povo que havia chegado a hora de receberem seus pagamentos atrasados por todo o trabalho que eles e seus ancestrais haviam feito como escravos no Egito. A palavra hebraica para essa coleta é traduzida pelo verbo "pedir" ("peça"; v. 2). Os hebreus não tinham a intenção de devolver o que os egípcios lhes dessem, pois aquela riqueza era pagamento por uma dívida pendente do Egito para com Israel.
Deus havia prometido a Abraão que seus descendentes deixariam o Egito com "grandes riquezas" (Gn 15:14) e repetiu essa promessa a Moisés (Êx 3:21, 22). Deus havia tornado seu servo, Moisés, extremamente respeitado no meio dos egípcios e também faria com que os hebreus alcançassem o favor dos egípcios, de modo que estes dariam livremente sua riqueza ao povo de Israel (Êx 12:36, 37).
Moisés advertiu o Faraó (w. 4-10). Essa foi a última vez que Moisés dirigiu-se ao Faraó, que rejeitou suas palavras como havia feito com todas as outras advertências. O Faraó não tinha qualquer temor de Deus em seu coração e, portanto, não levou a sério o que Moisés lhe disse. No entanto, ao rejeitar a Palavra de Deus, o Faraó causou a morte dos mais excelentes jovens de sua terra e trouxe profunda tristeza sobre si e sobre seu povo.
Há duas perguntas que devem ser tratadas neste ponto: (1) Por que Deus matou apenas os primogênitos? (2) Foi justo Deus fazer isso, uma vez que o Faraó era o único culpado? Ao responder à primeira pergunta. também contribuímos para a resposta da segunda.
Na maioria das culturas, os filhos primogênitos eram considerados especiais e, no Egito, eram tidos como sagrados. Devemos nos lembrar de que Deus chama Israel de seu filho primogênito (Êx 4:22; Jr 31:9; Os 11:1). Logo no início do conflito, Moisés advertiu o Faraó de que a maneira como ele tratasse o primogênito de Deus determinaria como Deus trataria os primogênitos do Egito (Êx 4:22, 23). O Faraó havia tentado matar todos os bebês hebreus do sexo masculino e seus oficiais haviam maltratado os escravos hebreus com brutalidade, de modo que, ao matar os primogênitos, o Senhor estava simplesmente pagando ao Faraó com sua própria moeda.
A compensação é uma lei fundamental da vida (Mt 7:1, 2), e Deus não é injusto quando permite que essa lei funcione no mundo. O Faraó afogou os bebês hebreus, de modo que Deus afogou o exército do Faraó (Êx 14:26-31; 15:4, 5). Jacó mentiu para o pai, Isaque (Gn 27:15-17), e, anos depois, os filhos de Jacó mentiram para ele (Gn 37:31-35). Davi cometeu adultério e mandou matar o marido de Bate-Seba (2 Sm 11); a filha de Davi foi estuprada e dois de seus filhos morreram assassinados (2 Sm 13; 18). Hamã construiu uma forca para matar Mordecai, mas o próprio Hamã acabou enforcado nela (Et 7:7-10). "Não vos enganeis, de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará" (Gl 6:7).
Quanto à justiça da décima praga, quem pode julgar os atos do Senhor, quando a "justiça e direito são o fundamento do seu trono" (Sl 89:14)? Por outro lado, por que a resistência de um homem a Deus deveria levar à morte de tantos jovens inocentes? No entanto, acontecimentos semelhantes ocorrem em nosso mundo hoje em dia. Quantos homens e mulheres que morreram como soldados em combate tiveram a oportunidade de votar a favor ou contra uma declaração de guerra? E quanto à "inocência" desses primogênitos, só Deus conhece o coração humano e pode dispensar sua justiça com perfeição. "Não fará justiça o juiz de toda a terra?" (Gn 18:25).
Ao ler o Livro de Gênesis, descobre-se que, com frequência, Deus rejeitou o primogênito e escolheu o filho seguinte para dar continuidade à linhagem da família e receber a bênção especial do Senhor. Deus escolheu Abel, depois Sete, mas não Caim; escolheu Sem e não Jafé; Isaque e não Ismael; Jacó e não Esaú. Essas escolhas não apenas exaltam a graça soberana de Deus, como também servem de símbolo para dizer que nosso primeiro nascimento não é aceito por Deus. Devemos passar por um segundo nascimento - o nascimento espiritual - a fim de que Deus possa nos aceitar (Jo 1:12, 13; 3:1-18). O filho primogênito representa o que há de melhor na humanidade, mas não é bom o suficiente para um Deus santo. Por causa de nosso primeiro nascimento, herdamos a natureza pecaminosa de Adão e estamos perdidos (Sl 51:5, 6). Contudo, quando nascemos de novo, por meio da fé em Cristo, recebemos a natureza divina do Senhor e somos aceitos em Cristo (2 Pe 1:1-4; Gl 4:6; Rm 8:9).
O Faraó e o povo egípcio pecaram contra a manifestação clara do Senhor e insultaram a misericórdia de Deus. O Senhor havia suportado com longanimidade a rebeldia e arrogância do rei do Egito bem como seu tratamento cruel para com o povo de Israel.
Deus havia avisado o Faraó várias vezes, mas ele se recusou a submeter-se. Jeová havia humilhado publicamente os deuses e deusas e provado ser o único e verdadeiro Deus vivo, e, ainda assim, a nação não creu. "Visto como se não executa logo a sentença sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto a praticar o mal" (Ec 8:11). A misericórdia de Deus deveria ter conduzido o Faraó à sujeição; mas, em vez disso, ele endureceu o coração repetidamente. Os oficiais do Faraó humilharam-se diante de Moisés (Êx 3:8), então por que o Faraó não pôde seguir o exemplo deles? "A soberba precede a ruína, e a altivez de espírito, a queda" (Pv 16:18).
WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. A.T. Vol. I. Editora Central Gospel. pag. 256-257.
2. Para Israel.
Se para os egípcios a noite da Páscoa foi uma noite de desgraça, para os hebreus a noite era de expectativa em relação ao que Deus dissera por intermédio de Moisés. Havia uma ordem para que os judeus matassem um cordeiro, comessem-no com ervas amargas e pão sem fermento, e não se esquecessem de colocar o sangue daquele animal nas ombreiras e na verga da porta. E essa ordem era seguida de uma promessa: “vendo eu sangue, passarei por cima de vós” (Êx 12.13). Deus tem dado muitas ordens em sua Palavra que são acompanhadas de promessas que Ele mesmo vai cumprir. Naquela noite, obedecer a Deus fez toda a diferença para os israelitas. Moisés repassou essa informação ao povo: “Porque o Senhor passará para ferir aos egípcios, porém, quando vir o sangue na verga da porta e em ambas as ombreiras, o Senhor passará aquela porta e não deixará ao destruidor entrar em vossas casas para vos ferir” (Êx 12.23).
Para eles, obedecer ao mandamento de Deus foi um ato de fé. Charles Swindoll comenta acerca das ordens de Deus em relação a passar o sangue do cordeiro nos umbrais da porta:
Pare e pense um momento sobre essas instruções. Que razão lógica havia para fazer essas coisas com o sangue do cordeiro? Você diz: “Deus mandou fazer isso”. E verdade. Essa é a resposta. Nesse ponto, essa era a única razão de que precisavam. Não havia poder no sangue seco de um cordeiro morto. Todavia, em sua sabedoria insondável, Deus preparou um plano que só exigia uma coisa — obediência.
O que Deus espera hoje de nós que esperava dos israelitas no Egito? Obediência.
Essa palavra muitas vezes tem colocado nossos pensamentos confrontando nossas atitudes. Não raro, sabemos como obedecer a Deus. Sabemos também que Deus espera que não apenas saibamos como proceder em nossa vida, mas espera que saibamos obedecer a Ele integralmente.
Se você acha que obedecer a Deus não faz muita diferença, desejo relembrar-lhe o caso de Saul, o primeiro rei de Israel. Saul foi escolhido por Deus para ser o primeiro governante da nação, mas a cada ordem recebida de Deus, resolvia fazer do seu próprio jeito, o que acarretava em desobediência completa ao que Deus lhe havia dito.
Em uma dessas ordens dadas a Saul, Deus lhe disse que se lembrava do que os amalequitas tinham feito contra os israelitas quando estavam no deserto. Chegara a hora da retribuição divina às atitudes dos amalequitas, que seriam destruídos por Saul. A ordem foi dada, mas Saul poupou o rei daquela nação e o seu gado, e ainda acreditou que estava obedecendo ao que Deus disse acerca dessa situação. Todavia, não foi o que aconteceu: “Então, veio a palavra do Senhor a Samuel, dizendo: Arrependo-me de haver posto a Saul como rei; porquanto deixou de me seguir e não executou as minhas palavras” (1 Sm 15.10, 11). Como Deus disse que Saul não executou as ordens dadas? Ele não estava sendo exagerado nesse quesito? Não! Depois de poupar o rei e o gado, veja o que aconteceu:
Veio, pois, Samuel a Saul; e Saul lhe disse: Bendito sejas tu do Senhor; executei a palavra do Senhor. Então, disse Samuel: Que balido, pois, de ovelhas é este nos meus ouvidos, e o mugido de vacas que ouço?
E disse Saul: De Amaleque as trouxeram; porque o povo perdoou ao melhor das ovelhas e das vacas, para as oferecer ao Senhor, teu Deus; o resto, porém, temos destruído totalmente. (1 Sm 15.13-15)
Deus havia pedido que Saul trouxesse animais para holocaustos? Não. A ordem dada não fora cumprida integralmente, e isso para Deus foi uma desobediência completa. Samuel chamou Saul e lhe perguntou se o Senhor tinha mais prazer em ofertas do que tinha prazer na obediência de seus servos.
Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei. (1 Sm 15.22, 23)
A obediência tem um preço, e a desobediência também. No caso de Saul, seu reino foi rejeitado porque ele não estava mais seguindo ao Senhor. E Saul aprendeu da pior forma a diferença entre obedecer e desobedecer a Deus: se ele fosse obediente, seu reino seria confirmado para sempre. O nome dele entraria para a história como o grande rei que Deus escolheu para ser coluna em Israel. Ele seria lembrado como o homem que obedeceu a Deus e que jamais teria sua memória apagada de Israel.
Além disso, ninguém disse a Saul que Deus preferia receber sacrifícios a obediência, pois isso seria ilógico. É o mesmo que dizer: “Não preciso obedecer a Deus completamente. Basta oferecer a Ele alguma coisa e sua ira vai ser deixada de lado”. Deus não pode ser comprado por objetos ou oferendas. Ele pode receber nossa obediência por um ato de fé. Para Saul, obedecer parcialmente ao que Deus mandara lhe custou o reino. Para os israelitas, obedecer integralmente ao que Deus mandara preservaria a vida de todos os seus primogênitos. Obedecer faz a diferença tanto quanto desobedecer.
Obedecer faz diferença. Para os israelitas no Egito, a obediência preservou a vida do filho mais velho de cada família israelita. Já pensou se sua obediência a Deus preservasse seu filho, se você é pai ou mãe, e a sua desobediência lhe custasse seu primogênito?
Charles Swindoll continua seu pensamento:
Ele nunca pediu que refletissem sobre isso. Nunca pediu que conversassem sobre a ordem. Nunca pediu que considerassem a ideia e decidissem se concordavam com ela. Ele simplesmente lhes disse o que fazer e quando. A seguir, disse a eles o que aconteceria como resultado de sua estrita obediência às suas ordens.
Que atitudes dos pais israelitas fez com que seus primogênitos fossem salvos? A fé no que Deus disse e a obediência ao que Ele disse. Fé e obediência precisam caminhar juntas.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 36-39.
A FESTA DA LIBERTAÇÃO. A Páscoa oferece um vasto campo para especulação por causa da grande variedade de características: mancha de sangue, saltos, “uma noite de vigia”, o cordeiro sacrificial, as primícias da cevada, a ceia sagrada, etc. Essas características se assemelham a rimais praticados fora de Israel. Não é de se admirar que os estudiosos a considerem uma festa enigmática. Alguns não consideram Êxodo 1-14 como um registro dos eventos, mas como uma lenda cúltica que tenta glorificar a saída do Egito (Pederson, Israel: Its Life and Culture, III-IV, 726ss.). A suposição repousa sobre um equívoco: o verdadeiro propósito da Páscoa era glorificar o Deus de Israel. Seria inútil esperar dados históricos fora dos próprios termos do escritor. No centro de Êxodo 1-14 está o Deus de Israel, que realiza feitos poderosos em favor do seu povo (cp. G. von Rad, The Problem of the Hexateuch [1965], 52). A história bíblica é escrita com um propósito, e o propósito é atestar os atos graciosos de Deus. Israel compreende sua liberdade como um milagre operado por YHWH que, com “poderosa mão e com braço estendido” levou seu povo para fora do Egito (Dt 26.8). Para compreender o significado da Páscoa deve-se procurar a interpretação bíblica; é inútil indagar qual era a festa nos tempos pré-mosaicos.
É possível que a Páscoa e a Festa dos Pães Asmos fossem festas agrícolas (cp. Êx 23.15s.).
Alguma evidência da ligação cúltica entre a Páscoa e as primícias está preservada (Js 5.10-12; cp. C. W. Atkinson, AthR [Jan 1962], 82). Mas a festa passou por uma reinterpretação radical como resultado do grande evento na história de Israel, conhecido como a libertação do Egito, a casa da escravidão. Os estudiosos não sabem explicar como um rimai primitivo enraizado na superstição se tomou a festa da libertação. Está de acordo com a prática do AT reinterpretar antigas tradições à luz da própria história de Israel. Assim, a lei do Sábado é associada à história da criação (Gn 2.3) e aparece também (Dt 5.15) como o sinal da libertação de Israel da escravidão (cp. P. R. Ackroyd, The People of the OT[1959], 48). O mesmo deve ter acontecido com a festa da primavera original: à luz do Êxodo adquiriu uma nova dimensão, isto é, a dimensão da liberdade unida a um evento histórico.
Ordenanças relacionadas ao Pesa h. O AT refere-se a um conjunto de estatutos (nosn npn) que são obrigatórios para a observância da festa (Êx 12.43; Nm 9.12,14; 2Cr 35.13). Estes estatutos definem em detalhes a data, o período, a duração da festa e a forma de se comer o cordeiro pascal, etc.
Os preparativos para a festa deveriam começar no décimo dia do primeiro mês (i.e. Abibe, cp. Dt 16.1; o nome babilónico foi substituído mais tarde por Nisã, cp. Ne 2.1; Et 3.7). O cordeiro pascal era escolhido de acordo com o número de pessoas na família. O cordeiro deveria ser sem mancha, de um ano de idade e macho. O animal deveria ser tratado de maneira especial até o décimo quarto dia do mês quando seria morto “entre as noites” (Êx 12.6mg.; Lv 23.5mg.). Isto quer dizer “à noite no por do sol” (Dt 16.6). O sangue do animal deveria ser colocado em ambas as ombreiras e na verga da porta. Posteriormente o sangue passou a ser borrifado sobre o altar e derramado em suas bases (cp. 2 Cr 35.11; Jub 49.20; Pes 5.6). A carne deveria ser assada no fogo com a cabeça, pernas e partes internas e nenhum osso deveria ser quebrado (Êx 12.46; Nm 9.12). Não deveria ser comido cru ou cozido em água (Êx 12.9; Dt 16.7 parecem contradizer essa regra; mas cp. 2 Cr 35.13; o verbo bissel pode significar “cozer” tanto quanto “ferver”). A came assada deveria ser comida com pão asmo e ervas amargas, e deveria ser consumida de forma que nada sobrasse para o dia seguinte; qualquer sobra deveria ser queimada (Êx 12.10; 34.25). A refeição deveria ser comida às pressas, com os lombos cingidos, sapatos calçados e a vara na mão. A festa da Páscoa era um dia de memorial
e, portanto, para ser comemorada por todas as gerações como uma ordenança eterna (Ex 12.14). A Festa do Pão Asmo, como distinta do cordeiro pascal, deveria ser observada durante sete dias (Ex 12.15; 13.6; 34.18; Lv 23.6; Nm 28.17; Dt 16.3; a única exceção está em Deuteronômio 16.8, mas a diferença deriva do modo de se contar os dias, cp. S. B. Hoenig, JQR [Abril 1959], 271 ss.). ’
Os israelitas que eram impedidos de participar da Festa por causa da impureza levítica ou por viagem deveriam celebrá-la um mês depois (Nm 9.10s.; cp. Pes 9.3).
A responsabilidade de explicar o significado da Páscoa estava sobre o pai da família: “Naquele mesmo dia contarás a teu filho, dizendo: E isto pelo que o Senhor me fez, quando saí do Egito” (Ex 13.8; cp. 12.26). Somente os israelitas e aqueles que, através da circuncisão, estavam unidos à comunidade podiam comer o cordeiro pascal. Estrangeiros e viajantes, i.e., estrangeiros residentes, eram excluídos (Ex 12.45), mas a regra não era aplicada aos estrangeiros circuncidados e viajantes que demonstrassem um real interesse em se identificar com Israel. A eles era permitido participar da celebração da Páscoa (Nm 9.14). O cordeiro deveria ser comido dentro da casa e não deveria ser levado para fora dela.
O tema Êxodo no AT. Com a mudança de circunstâncias, as antigas leis tiveram que ser modificadas. Os cultos centralizados em Jerusalém dificultaram algumas práticas. A mancha de sangue nos umbrais da porta deveria ser completada com o borrifar do sangue no altar (cp. 2Cr 30.16; 3 5.11). A regra de comer o cordeiro na casa foi, de acordo com o Talmude, modificada para as casas em Jerusalém apenas (cp. Pes 9.12; mas cp. Jub 49.20). As características originais agrícolas da festa abriram caminho para aspectos mais cúlticos. Uma característica peculiar sobrevive até hoje: era e continua sendo um rito público. Os rabinos consideram a regra de que o cordeiro pascal não pode ser morto para uma única pessoa (apesar do Rabino José permitir; cp. Pes 8.7). Outra característica provinda de tempos antigos era que a morte do cordeiro era feita por israelitas comuns agindo em favor de seus familiares e não por sacerdotes como no caso dos outros sacrifícios (cp. Pes 6.5). Tudo o que os sacerdotes tinham que fazer era recolher o sangue e derramá-lo nas bases do altar. A Páscoa era a única ocasião em que o israelita realizava uma função sacerdotal (a partir de 2 Cr 30 e 35 não está claro se era o povo ou os sacerdotes que matavam o animal). Outras características permanecem obscuras, por exemplo, a queima das sobras: Êxodo 12.10 ordena que o que fosse deixado até pela manhã deveria ser queimado, ao passo que Êxodo 23.18; 34.25 e Deuteronômio 16.4 especificam que deveria ser terminado antes do amanhecer. Pode não ter havido uma tradição uniforme em alguns assuntos; alguns “comeram a Páscoa, não como está escrito” (2Cr 30.18). Uma tradição uniforme evoluiu gradualmente, mas os fatos principais relacionados ao Êxodo nunca variaram.
O AT é repleto de referências ao milagre da redenção do Egito. Os Salmos, em especial, se deleitam em enfatizar o tema do Êxodo com todos os seus milagres. O Salmo 78 repete a história de Israel tendo o Êxodo como o tema central. O ato redentor de Deus consistiu em tirar uma videira do Egito e plantá-la na Terra Prometida (SI 80.8). Alguns salmos contrastam a fidelidade de Deus para com seu povo com o comportamento rebelde de Israel no deserto (cp. SI 95; 106). O propósito principal de recontar a história da redenção era louvara Deus por seus atos poderosos (cp. SI 135; 136). Os velhos cantores exultavam no privilégio de Israel ser chamado povo de Deus e de ter saído do Egito (SI 114.1).
Os profetas fazem alusões frequentes à história da redenção do Egito e da longa viagem pelo deserto. A aliança de Israel com o Egito por conveniência política era muito abominável uma vez que parecia contradizer o propósito original de Deus (cp. Jr 2.18s.; Os 11.5). Em tempos de perigo, quando a Assíria pressionou duramente Israel, o profeta trouxe à memória o que Deus fez por seu povo no Egito: “não temas a Assíria” (Is 10.24,26s.; cp. 52.4). Jeremias lamenta o fato de Israel falhar ao perguntar: “Onde está o Senhor que nos trouxe da terra do Egito, que nos guiou no deserto” (2.6ss.). Ele os faz lembrar que desde o dia em que seus pais saíram da terra do Egito até então, o Senhor persistentemente enviou profetas ao seu povo de dura cerviz (7.25,26), advertindo- os (11.4), mas eles não quiseram ouvir (vv. 7,8).
Esta referência a YHWH que tirou Israel do Egito é um refrão frequente nos escritos proféticos (cp. Jr 16.14; 23.7; 31.32; 32.21; 34.13; Ez 20.6,9s.,36; Dn 9.15, Os 2.15; 11.1; 12.9,13; Am 2.10; 3.1; 9.7). Para os profetas, o Êxodo é um fato central na história de Israel. Israel conhece YHWH principalmente como aquele que seu povo da escravidão do Egito, o guiou pelo deserto e lhe deu estatutos e ordenanças (Ez 20.9-11). Ezequiel parece associar a instituição do sábado à história da redenção do Egito (20.12), e a “lascívia e... prostituição” de Israel é uma triste herança trazida da casa da escravidão (23.27).
Os livros históricos estão igualmente cientes do significado do Êxodo para a relação entre Israel e YHWH. Deus se fez conhecido a seu povo ao libertá-lo da casa da escravidão e ao estabelecê-lo na terra prometida (I Sm 8.8,2Sm 7.23; l Rs 8.53; etc).
O Êxodo domina num senso real a perspectiva do AT, e a Páscoa é a lembrança do que Deus fez por seu povo. A libertação do Egito e o estabelecimento na terra de Israel são considerados como o selo da lealdade de YHWH para com as promessas da aliança (cp. Mq 6.3s.).
MERRILL C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 4. pag. 764-768.
O PESACH JUDAICO
O relato da instituição desse rito se encontra em Êxodo 12. Deus ordena a Israel que o observe (w. 1,2). A observância do rito, além dos atos litúrgicos prescritos no relato, exige à disposição um cordeiro ou um cabrito, macho de um ano, sem defeito (v. 5); pães ázimos e ervas amargas (v. 8). Estas recomendações dirigem-se ao círculo familiar (v. 3), podendo estender-se à vizinhança (v. 4).
O cordeiro devia ser assado inteiro, e aquilo que não era comido no banquete devia ser queimado antes do dia seguinte (v. 10). Os comensais deviam comê-lo em pé e devidamente trajados para uma longa viagem (v. 11). Nos tempos de Jesus, conforme indica Raphael Martins, a cerimônia pascal havia recebido a influência dos gregos e dos romanos que celebravam seus ágapes, não como escravos, mas como um povo livre e independente, ou seja, comiam recostados em divãs providos de almofadas. O Pesach significa na língua hebraica “passar por cima”, “passar por sobre”. Na língua portuguesa foi traduzida por “Páscoa”.
O Pesach surgiu em face da tradição de que o anjo destruidor, ou anjo da morte, “passou por sobre” as casas cujo sangue do cordeiro imolado assinalava. “Porque, naquela noite, passarei pela terra do Egito e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até aos animais... O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós...” (Ex 12.12,13)
A passagem do anjo da morte constituiu a última praga sobre o Egito, forçando o Faraó a libertar o povo hebreu, possivelmente entre os anos de 1400-1200 a.C. O Pesach, na descrição de McKenzie, mostra numerosas variantes que apontam para uma origem e desenvolvimento complexos. O Pesach, segundo a grande maioria dos estudiosos, era anterior à instituição no capítulo 12 de Êxodo. A festa original era pastoril nos seus primórdios, onde os pastores celebravam o nascimento de ovelhas na primavera; e esse termo também faz alusão à forma como as ovelhas costumam “saltar por cima” dos obstáculos. Seja como for, por meio da historização, a Páscoa se tomou a grande festa nacional de Israel, que celebrava sua constituição como povo de Iahweh, acentua McKenzie. naquela noite, comerão a carne assada no fogo; com pães asmos e ervas amargas a comerão” (v. 8) Ázimos, no hebraico maccot, significa “pães sem fermento”. A festa dos “pães sem fermento” está registrada em Êxodo 23.15, ao lado de outras duas. No momento da instituição do Pesach ela aparece em correlação com a mesma, como festa histórica que celebra a libertação de Israel da opressão egípcia. O caráter da cerimônia indica que se tratava de uma festa agrícola de agradecimento pelo início da colheita. No Novo Testamento é sempre mencionada em conexão com o Pesach (Mt 26.17; Mc 14.12).
Em memória dos sofrimentos dos hebreus no Egito são comidas ervas amargas: chicória, escarola, agrião, salsa, rabanete, amêndoa, tâmara, figo e passa. Esses ingredientes eram misturados com vinagre, formando uma espécie de molho, cor de tijolo (haroset, em hebraico), lembrando seu antigo ofício no Egito.
Roberto dos Reis Santos. A Santa Ceia. Editora CPAD. pag. 12-14.
3. Para nós.
A Páscoa do Senhor, como assim é chamada, tem um grande significado para nós. Ela deve nos fazer recordar de Jesus, nosso Cordeiro Pascal. Ele entregou-se a si mesmo para que eu e você tivéssemos a vida eterna e o acesso a Deus. A nossa vida foi preservada porque Ele nos amou até a morte.
É evidente que não temos de celebrar a Páscoa com um cordeiro assado, com pães asmos e ervas amargas. Para nós, cristãos, esses elementos fazem parte da cultura judaica, e que serviriam por todas as gerações de israelitas como uma lembrança da libertação do Egito.
Além disso, a Páscoa foi chamada de “páscoa do Senhor” (Ex 12.11), pois ela deveria ser comemorada em homenagem ao Deus de Israel. Não é um momento que deveria ser lembrado pelos israelitas posteriormente sem que tivessem em mente que era uma lembrança sobre Deus e sobre o que Ele havia feito.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 39-40.
O TEMA PÁSCOA NO NT E NA IGREJA, A atividade messiânica de Jesus alcança seu clímax nos eventos de sua Ultima Páscoa. De acordo com João, a crucificação aconteceu no primeiro dia da “Páscoa” (usado aqui aparentemente como uma designação da Festa dos Pães Asmos). Os sinópticos deixam claro que foi no primeiro dia da festa. João que parece estar interessado especialmente em dados cronológicos registra duas, ou até mesmo três Páscoas (João 2.13; 6.4; 12.1; cp. W. F. Howard, The Fourth Gospel, revisado por C. K. Banet [1955], 122). Contrário a C. H. Dodd (The Interpreter of the Fourth Gospel [1953], 234), há um bom motivo para se acreditar que João dedicou importância especial ao tema da Páscoa. Seu evangelho, que enfatiza ser o Messias o verdadeiro pão da vida, se ajusta notavelmente bem ao contexto pascal (cp. Jo 6.3 lss. cp. V. Ruland, INT [Out., 1964], 451 ss.). A Páscoa é igualmente importante para os evangelhos sinópticos; tanto que se pode vislumbrar o evangelho de Marcos como uma Haggadah da Páscoa Cristã escrita com o propósito de reinterpretar o tema pascal em termos messiânicos como o Novo Êxodo (cp. John Bowman, The Gospel of Mark [ 1965]). Um caso um pouco semelhante é 1 Pedro, que faz tantas alusões à Páscoa que alguns estudiosos se sentem justificados em considerá-la como uma liturgia pascal. Sugere-se que 1 Pedro é uma liturgia ligada à vigília pascal em preparação ao batismo pascal, um costume amplamente praticado na igreja primitiva (cp. F. L. Cross, 1 Peter I [1954]; Roger Le Déaut, La Nuit Pascale [1963], 297; A. R. C. Leaney, NTS, X [1964], 238ss.). Isto pode provar, de maneira muito restrita, um conceito que tem sido contradito por alguns (C. F. C. Moule; T. C. G. Thomton), mas não mostra, todavia, quão profundamente o tema da páscoa está embutido no NT. Outros livros do NT fazem alusões similares à Páscoa em conexão com a mensagem cristã. Paulo claramente associa o Messias à Páscoa e compara a vida cristã com o símbolo do pão asmo que permanece em sinceridade e verdade (ICo 5.7 s.).
Uma associação similar entre o Messias e a Páscoa existe no Judaísmo rabínico. O dia 15 de Nisã é declarado como um tempo de alegria para todos os israelitas, porque Deus realizou um milagre (sinal) naquela noite, mas na era que virá (i.e., no tempo do Messias) ele transformará a noite em dia (cp. SBKIV, 55). Na Haggadah shelpesah, a expectativa messiânica está ligada ao seder tanto pela referência direta ao Messias como pela parte que Elias representa a tradição pascal. O costume de abrir a porta à meia-noite, na primeira noite da Páscoa, já era praticada no Templo de Jerusalém (cp. Jos. Ant.. XVIII. ii.2), e tem implicações messiânicas definidas. Déaut mostrou a íntima associação entre o ritual pascal e as expectativas messiânicas no Judaísmo rabínico do séc. le. Isto se aplica até mesmo aos samaritanos que esperavam a aparição de seu Taheb (Messias) no dia de Páscoa (cp. Déaut, op. cit. 281, 283).
O tema pascal do NT, e em especial de João (cp. A. Guilding, The Fourth Gospel and Jewish Worship [1960], 58ss.), foi assumido pela igreja gentílica. A liturgia da vigília pascal e a tradição Quartusdecimus (décimo quarto) de fazer a Páscoa coincidir com a Páscoa judaica persistiu na igreja por séculos (cp. B. Lohse, Das Passafest der Quartodecimaner [1953]; Diepassa-Homilie des Bischofs Meliton von Sardes [1958]). A expressão “a Páscoa da salvação”, entrou no vocabulário da igreja e foi usada abertamente na liturgia (cp. Déaut, 296; apesar de Lohse ter contradito). A identificação de Cristo com a Páscoa cristã foi aceita como premissa teológica: “a festa da Páscoa do Salvador”.
23.1), significa tanto a Última Páscoa que Jesus celebrou, como a Páscoa cristã quando a igreja celebra a ressurreição de Cristo. Num jogo de palavras, que somente é possível em grego é interpretado com o significado de 7iáa%co: “E no dia seguinte nosso Salvador sofreu, aquele que era a Páscoa — sacrificado de modo propício pelos judeus” (Ante-Nicene Christian Library XXIV, 167). Portanto, a Páscoa judaica e a Páscoa cristã conservadas juntas de modo que o tema da páscoa do AT perdurasse embora centrada na ressurreição de Jesus Cristo.
MERRILL C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 4. pag. 786.
PÁSCOA CRISTÃ (EASTER)
Preservamos entre parênteses a palavra inglesa, a fim de melhor destacar o fato de que há uma diferença entre a páscoa dos hebreus e a páscoa dos cristãos. Ver o artigo geral sobre a Páscoa, onde a versão cristã é incluída em uma seção separada. Easter é uma palavra usada nos idiomas germânicos para denotar a festividade do equinócio do inverno, e que, dentro da tradição cristã posterior, passou a ser usada para denotar o aniversário da ressurreição de Cristo. Nas línguas latinas, como o português, a palavra para «páscoa» vem do latim pascha, a qual, por sua vez, alicerça-se sobre o termo hebraico, pesach , que significa «passar por cima». O termo grego pascha também é derivado do hebraico, pelo que é indeclinável.
A origem da palavra Easter é controvertida. Alguns estudiosos pensam que a mesma está ligada ao nome da deusa anglo-saxônica que representa a primavera, Eoestre, Nesse caso, teríamos o comum fenômeno de um nome de um costume pagão receber um significado cristão. Ou então, essa palavra poderia estar relacionada às vestes brancas usadas durante a celebração da festa cristã relativa à semana da páscoa. Nesse último caso, o plural da palavra que significa «branco» foi confundido com a palavra que significa «alvorecer», e, subsequentemente, foi vinculado ao alvorecer do dia da ressurreição. Seja como for, a celebração da ressurreição antecede a tudo isso, visto que cada primeiro dia da semana, originalmente, representava isso; e, pelos fins do século 11 D.C., a, celebração da ressurreição como uma festa da Igreja cristã, já estava bem estabelecida. No tocante a detalhes sobre a Páscoa Cristã, ver isso como um subponto do artigo geral sobre a Páscoa.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 102-103.
II - OS ELEMENTOS DA PÁSCOA
1. O pão.
Na noite em que seria a última dos hebreus no Egito, Deus os preparou para uma saída repentina, mas não sem se alimentarem. A ordem divina aos hebreus não foi apenas para que sacrificassem um cordeiro e colocassem o sangue dele na entrada da casa, mas também para que se alimentassem de pão sem fermento, ervas amargas e do próprio cordeiro.
Cada um deles tinha uma representação para os hebreus, que deveria ser passada de geração a geração, para que se lembrassem do quanto Deus operou grandemente em prol dos filhos de Israel.
De acordo com a descrição bíblica, o pão deveria ser sem fermento. A massa não deveria passar pelo processo de fermentação, ou seja, seria levada ao fogo tão logo estivesse pronta, sem ter de esperar para crescer. A ideia era mostrar que os israelitas teriam pouco tempo para preparar sua última refeição como escravos, pois logo sairiam para uma grande jornada. E evidente que o uso do fermento poderia fazer com que a massa dobrasse seu tamanho e alimentasse mais pessoas, mas a orientação divina indicava a pressa com que os judeus iriam comer para saírem logo do Egito.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 40.
O Pão e o Vinho na Comunidade Judaica
Nas terras do antigo Oriente o pão e o vinho, assim como determinados produtos, eram as formas mais comuns de alimentação. O pão, iehem, que aparece cerca de duzentas e oitenta vezes no Antigo Testamento, em termos gerais significa “alimento”, “sustento”, indicando sua presença indispensável para o sustento do povo hebreu.
O pão era o principal alimento. A expressão “comer pão”, em hebraico, significava “fazer uma refeição”.1 Noventa e cinco por cento dos habitantes do mundo antigo tiveram como base alimentar os derivados do trigo, além de água e vegetais. Escreve I. D. Lucírio: “natural da região do mediterrâneo e oriental médio, o trigo começou a ser cultivado em 8500 a.C. e se tornou uma das principais fontes de alimento do mundo antigo, que não vivia sem pão”.2 Sara apressou-se em preparar pão para os viajantes (Gn 18.1-6); os que trabalharam no campo se alimentaram de pão (Rt 2.14); durante as guerras o pão era usado como alimento básico para os soldados (1 Sm 16.20); no episódio da multiplicação, pães e peixes foram usados por Jesus (Mt 14.13-21; Mc 6.30-44).
O pão devia ser tratado com respeito, sendo proibido jogar fora até as migalhas. Talvez os judeus utilizassem cães domésticos para esta função — comer “... das migalhas que caem da mesa dos seus donos” (Mt 15.27).
O pão mais comum no mundo antigo era feito de cevada, alimento dos pobres, por ser mais barato. O pão de trigo era um luxo. O grão era moído por mulheres ou escravos entre duas mós, cuja farinha fina era usada para cozer bolos e também para fins litúrgicos. Três eram os métodos de cozimento: 1.0 tannur (forno), tubo cônico onde a massa era cozida sobre pedras quentes; 2. Bandejas redondas de metal colocadas sobre três pedras, onde era aceso o fogo; 3. A massa, colocada sobre cinzas quentes. Os judeus empregavam o pão para fins religiosos, sendo o ato uma espécie de gratidão pelos cuidados providenciais de Deus quando simbolicamente entregavam, nos atos litúrgicos, parte do que foi provido por Ele.
Além dos animais usados nos sacrifícios veterotestamentários, os elementos do pão apareciam em quase todos os atos sacrificiais, na classe de “ofertas de cheiro suave”, que não tratavam do peca K Siinlii Ceio do, mas falavam de gratidão, comunhão e consagração. O pão era usado em ofertas pacíficas (Lv 7.12) e ofertas das primícias (Nm 15.17-20). Naturalmente, fazia parte das cerimônias da Páscoa, e, posteriormente, na celebração da Santa Ceia cristã, “E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu...” (Lc 22.19) O pão não podia ser cortado, mas partido. Esse gesto era comum entre as famílias judaicas, onde o pai, ao iniciar uma refeição, tomava um pão e, após dar graças ao Senhor, partia-o em pedaços e distribuía-os entre os membros de sua família.
A origem do vinho é antiga. Sua produção no Oriente Médio data da pré-história. O texto sagrado indica que Noé o utilizou (Gn 9-20ss). Havia no mundo antigo diversos tipos de bebidas, entre elas o suco de romã, de tâmaras, leite e shechar — uma espécie de cerveja feita de cevada e painço. Entretanto, não se comparavam ao vinho.
O vinho fabricado na Palestina era geralmente tinto, conforme indica a expressão “sangue da uva” (Gn 49.11; Dt 32.14).
O lagar, local onde se fazia o vinho, em geral ficava na própria vinha. As escavações arqueológicas realizadas na antiga cidade de Gabaon revelam que o lagar, segundo John McKenzie, era composto de dois tanques, talhados na pedra a diversos níveis, com um pequeno canal que levava do nível superior ao inferior.
A primeira compressão se fazia espremendo a uva com os pés (Ne 13.15); era um trabalho festivo, acompanhado de gritos (Jr 25.30; 48.33) e de instrumentos musicais. Em seguida, os cachos eram espremidos por meio de uma haste com uma pedra pesada, ou por meio de paus que serviam de alavanca para os pesos. O suco da uva depois era colocado em tinas ou recipientes de couro para a fermentação.
O vinho é um dom e uma bênção do próprio Deus (Dt 7.13; Pv 3.10; Os 2.10), e evidentemente, à semelhança do pão, fazia parte nas ações litúrgicas do povo judeu. Em sentido geral, todas as refeições têm para o judeu sentido sagrado. O alimento e a bebida são dons de Deus, dádivas que os judeus não esquecem em sua orações:
Sobre o pão:
“Bendito sejas, ó eterno, nosso Deus, Rei do universo, que da terra tirais o pão.”
Sobre o vinho:
“Bendito sejas, ó eterno, nosso Deus, Rei do universo, que criastes o fruto da vinha.”
Sobre o alimento:
“Bendito sejas, ó eterno, nosso Deus, Rei do universo, que criastes tantas formas de iguarias.”
Sobre as frutas das árvores: “Bendito sejas, ó eterno, nosso Deus, Rei do universo, que criastes os frutos da terra.”
Sobre os produtos do solo: “Bendito sejas, ó eterno, nosso Deus, Rei do universo, que criastes os frutos do solo.”
Depois das refeições:
“Bendito sejas, ó eterno, nosso Deus, Rei do universo, que alimentais todas as criaturas.”
Roberto dos Reis Santos. A Santa Ceia. Editora CPAD. pag. 9-11.
Êx 12.11 Comê-lo-eis à pressa. Essa foi a instrução final. Israel estava com pressa para deixar para trás a servidão. O cordeiro pascal era comido estando as pessoas em pé, de sandálias e as vestes cingidas. Esses eram sinais externos da pressa que eles sentiam, por ordem de Deus. Esse foi um dos quatro elementos que não prosseguiram na observância da páscoa em tempos posteriores. Ver as notas sobre Êxo. 12.6 quanto a isso. O cajado e as sandálias eram objetos que as pessoas usavam fora da casa. Assim, apesar de estarem ainda dentro de suas casas, eles estavam preparados para sair delas, prontos para a jornada. Comiam vesti- dos para viajar. Já tinham estado no Egito por tempo bastante. Um novo lar e um novo destino esperavam por eles.
As sandálias usualmente eram tiradas por ocasião das festividades e dias santos. Ver Gên. 18.4,5; Luc. 7.44; João 13.5. Na páscoa, porém, essa situação era revertida. O cajado era companhia constante dos viajantes, seu apoio e ajuda, e, ocasionalmente, sua defesa contra algum animal ou bandido que porventura ata- cassem. Ver Sal. 23.4.
A páscoa. A palavra hebraica equivalente deriva-se de um termo que significa “coxear” ou “saltar” (II Sam. 4.4; I Reis 18.21,26). Mas aponta para o fato que o anjo destruidor passou por cima das casas protegidas pelo sangue do cordeiro, aplicado às ombreiras e verga da porta (Êxo. 12.23).
Temos aqui o primeiro uso da palavra páscoa na Bíblia. Alguns pensam que a palavra é de origem egípcia e significaria então “abrir as asas para protegei, mas a maioria dos estudiosos prefere o sentido do hebraico. Ver os vs. 24-27 quanto ao fato de que a páscoa foi fatal para os egípcios, mas serviu de livramento para o povo de Israel.
Êx 12.34 Provisões Básicas. Os israelitas muniram-se de massa de trigo para a sua primeira refeição no deserto. E também levaram amassadeiras, ou seja, bacias de madeira, que podiam ser usadas para o fabrico do pão. Sua partida súbita não lhes permitiu levarem pão normal, ou seja, levedado. Mas a cena também fez parte da observação da festa dos pães asmos (ver sobre isso no Dicionário, e comentários na introdução a Êxo. 12.1). Os israelitas partiram quando ainda esta- va escuro (Deu. 16.1), provavelmente pouco antes do alvorecer. Cf. 0 vs. 39.
Êx 12.35 A Espoliação dos Egípcios. Isso havia sido predito bem antes, como parte necessária do êxodo. Ver Exo. 3.21,22 e 11.2,3, onde aparecem notas completas sobre a questão, visto que o ponto já tinha sido mencionado nesses dois trechos, sobretudo no décimo primeiro capítulo do Êxodo. A curiosa tradução, “pediram em- prestado”, mesmo que seja possível com base no hebraico, seria um pequeno toque de humor do autor sacro. Alguns eruditos pensam que houve, realmente, um saque, mas que Moisés abrandou na narrativa, para que parecesse que os egípcios se mostraram generosos. Tinham medo de perder a vida, e, naquele momento, eram vítimas fáceis diante de qualquer tipo de aproveitamento.
Desde os dias de Abraão, quando foi firmado o Pacto Abraâmico (ver as notas a respeito em Gên. 15.18), o exílio e a subsequente libertação tinham sido preditos. Ver Gên. 15.13,14. Este texto conta como essa servidão chegou ao fim, e como Israel começou a voltar para a sua Terra Prometida. A Abraão foi revela- do que seus descendentes sairiam do Egito levando “grandes riquezas". Isso incluía tanto o que eles haviam acumulado na terra de Gósen, como o que agora os egípcios lhes tinham doado. Sem dúvida isso serviu de reparação. Os ex escravos mereciam tudo quanto tinham adquirido. Ver no Dicionário 0 artigo intitulado Reparação (Restituição).
Êx 12.36 Generosidade e Saque. A combinação desses dois atos permitiu que Israel extraísse grandes riquezas dos aterrorizados egípcios. Uma pessoa fará quase qualquer coisa para salvar a sua vida. Os egípcios julgaram-se pouco mais do que pessoas mortas (vs. 33), pois Moisés poderia desfechar uma praga de modo súbito e generalizado. Assim, os antes escravizados israelitas receberam o seu salário, a paga pelas muitas décadas de cativeiro e trabalho árduo. “Israel arrancou deles suas riquezas e bens, suas possessões mais valiosas" (John Gill, in loc.). Artapano (apud Euseb. Praepar. Evan. 1.9 c. 27, par. 436) falou sobre as bacias de madeira, sobre ricos tesouros e sobre vestes que os israelitas receberam da parte dos egípcios, e a esse testemunho, Ezequiel, autor de tragédias teatrais, adicionou a sua palavra (apud Euseb., idem, c. 29, par. 443).
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 349; 352-353.



2. As ervas amargas (Êx 12.8).
As ervas amargas, conforme se entende, dão a entender que eram uma representação da amargura com que os israelitas foram tratados no Egito. Não era o tipo de iguaria que provavelmente trazia alegria em uma mesa, mas sua utilização naquela refeição mostrava aos israelitas o sofrimento pelo qual haviam passado, coisa que, se dependesse dos planos de Deus, jamais se repetiria.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 40-41.
ERVAS AMARGAS
No hebraico, merorim amargores e palavra usada apenas por três vezes no A. T. (Êxo. 12:8; Núm. 9:11 e Lam. 3:15). O hebraico diz apenas «amargores», uma palavra tio geral que agora não sabemos quais ervas poderiam estar em foco. Alguns têm pensado em verduras como a chicória, a alface, a acelga, a azeda, etc. Alguns pensam no agrião. Nos tempos modernos, os judeus empregam a escarola e outras verduras, em um total de cinco espécies, para conseguirem uma salada amargosa. Alguns intérpretes supõem que, nos livros de Êxodo e Números, as ervas amargas eram apenas a hortelã.
Uso de Ervas na Páscoa. Nas Escrituras o amargor» simboliza aflição, miséria e servidão (Exo. 1:14; Rute 1:20; Pro. 5:4), a iniquidade (Jer. 4:18) e também o luto e a tristeza (Amôs 8: 10). Em face desses significados simbólicos, os israelitas receberam ordens para celebrar a páscoa utilizando-se de ervas amargas para relembrarem a amarga escravidão que haviam sofrido no Egito (Êxo. 12:8; Núm. 9:11). Os documentos escritos que chegaram até nós, provenientes  do antigo Egito, mostram que eles usavam várias ervas amargosas em suas saladas, e é bem possível que Israel tivesse empregado algumas delas na celebração da cerimônia da páscoa (ver o artigo).
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 2. Editora Hagnos. pag. 431-432.
Êx 12.8 A carne assada no fogo. Alguns têm pensado que o rito, antes de fazer parte da páscoa, consistia em comer carne crua. Mas essa prática teria sido descontinuada por Israel. 0 trecho de Deuteronômio 16.7 parece sugerir que carne cozida era uma alternativa para a carne assada. A proibição ao consumo de sangue não permitia que a carne fosse comida ema. A Mishna diz que o cordeiro era assado mediante 0 uso de um espeto de madeira de romãzeira, que atravessava a carcaça. Não eram permitidos nem metais e nem grelhas. Em suas condições primitivas, no deserto, 0 povo de Israel podia assar o cordeiro com mais facilidade do que usar qualquer outra forma de cozimento. Posteriormente, porém, os cordeiros eram cortados em pedaços e cozidos (I Sam. 2.14,15).
“Originalmente, o matzoth, a festa dos pães asmos, era distinto da páscoa” (J. Coert Rylaarsdam, in loc.). Porém, havia uma festa preliminar e primitiva dos pães asmos, em conjunção com a páscoa. Todos esses ritos desenvolveram-se em tempos posteriores, e todos eles, em alguma forma primitiva, provavelmente antecederam o evento do êxodo e da páscoa.
Ervas amargas. Essas ervas simbolizavam os sofrimentos de Israel antes de sua libertação, e, como tipo, apontavam para os sofrimentos de Cristo. A Mishna (Pesahim, 2.6) dá os ingredientes necessários, sobre os quais comentamos no artigo acima referido.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 349.
Êx 12.8 As ervas amargas (de variedade não especificada e, portanto, provavelmente apenas uma nomenclatura geral; talvez alface selvagem seja o que se quis dar a entender) eram provavelmente um tempero primitivo, embora mais tarde os judeus as considerassem um símbolo do amargor da escravidão de Israel. O evangelista pode ter visto aqui a chave para a “ mirra” amarga que foi misturada com o vinagre oferecido a Cristo na cruz (Mc 15:23), especialmente tendo-se em vista que Ele era considerado a vítima pascal (1 Co 5:7).
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 103.
AS ERVAS AMARGAS
Vemos nas "ervas amargosas", que deviam acompanhar os pães asmos, a significação e mesma utilidade moral. Não podemos desfrutar da participação dos sofrimentos de Cristo sem recordarmos o que tornou necessários esses sofrimentos, e esta recordação deve, necessariamente, produzir um espírito de mortificação e submissão, ilustrado, de um modo apropriado, nas ervas amargosas da festa da páscoa. Se o cordeiro assado representa Cristo sofrendo a ira de Deus em Sua Própria Pessoa na cruz, as ervas amargosas mostram que o crente reconhece a verdade que Ele sofreu por nós. "O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados" (Is 53:5).
Por causa da leviandade dos nossos corações é bom compreendermos a profunda significação das ervas amargosas. Quem poderá ler os Salmos 6,22,38,69,88, e 109, sem compreender, em alguma medida, o significado dos pães asmos com ervas amargosas1?- Uma vida praticamente santa, unida a uma profunda submissão de alma, deve ser o fruto da comunhão verdadeira com os sofrimentos de Cristo, porque é de todo impossível que o mal moral e a leviandade de espírito possam subsistir na presença desses sofrimentos.
Mas, pode perguntar-se não sente a alma um gozo profundo no conhecimento que Cristo levou os nossos pecados, e que esgotou, inteiramente, por nós, o cálice da ira justa de Deus? Por certo que é assim. E este o fundamento inabalável de todo o nosso gozo. Mas, poderemos nós esquecer que foi" por nossos pecados" que Ele sofreu Poderemos perder de vista a verdade, poderosa para subjugar a alma, que o bendito Cordeiro de Deus inclinou a Sua cabeça sob o peso das nossas transgressões? Certamente que não. Devemos comer o nosso cordeiro com ervas amargosas; as quais, não se esqueça, não representam as lágrimas de um sentimentalismo desprezível e superficial, mas sim as experiências profundas e verdadeiras de uma alma que compreende com inteligência espiritual o significado e efeito prático da cruz.
Contemplando a cruz, descobrimos nela aquilo que elimina a nossa culpa e dá doce paz e gozo. Porém, vemos que ela põe de lado, inteiramente, também, a natureza humana— representa a crucificação da "carne" e a morte do "homem velho" (veja-se Romanos, 6:6; Gl. 2- .20; 6:14; Cl. 2:11). Estas verdades, nos seus resultados práticos, implicam muitas coisas "amargosas" para a nossa natureza: exigem a renúncia própria, a mortificação dos nossos membros que estão sobre a terra (Cl 3:5), e a consideração do "homem velho" como morto para o pecado (Rm 6). Todas estas coisas podem parecer terríveis de encarar; porém, uma vez que se há entrado na casa cujas portas estão manchadas com o sangue veem-se de uma maneira muito diferente. As mesmas ervas que, para o gosto de um egípcio, eram, sem dúvida, tão amargosas, formavam uma parte integral da festa de redenção de Israel. Aqueles que são remidos pelo sangue do Cordeiro, e conhecem o gozo da comunhão com Ele, consideram como uma "festa" tirar o mal e ter a velha natureza no lugar da morte.
C. H. MACKINTOSH. Estudos Sobre O Livro De Êxodo. Editora Associação Religiosa Imprensa da Fé.
3. O cordeiro (Êx 12.3-7).
Deveria ser um animal macho, de um ano, sem manchas no corpo e sem defeitos físicos. Esses eram requisitos para a celebração da Páscoa, mas a colocação do sangue nos umbrais da porta é que foi eficaz para que o anjo da morte não passasse nas casas dos israelitas: “E aquele sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu sangue, passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando eu ferir a terra do Egito” (Êx 12.13).
Observe que obedecer à ordem de Deus integralmente fez a diferença na Páscoa. De nada adiantaria separarem o cordeiro perfeito, prepararem-no como uma refeição que deveria ser comida nos moldes designados e simplesmente se esquecerem de que o sangue vertido do cordeiro deveria ser colocado na porta da casa. Essa ordem era de pouca valia? Pense você mesmo: Se fosse pai ou mãe judeu com vários filhos e, ao se esquecer desse pequeno detalhe, perdesse seu primeiro filho? Portanto, os israelitas levaram a sério essa ordem divina.
Aprenda que quando Deus dá detalhes para que sigamos em uma empreitada, esses detalhes devem ser seguidos com rigor, sob pena de perdermos algo muito custoso para nós mesmos. O sangue do cordeiro deveria estar na porta das casas. Ele impediria a morte no lar da família que temia ao Senhor.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 41.
PÁSCOA, CRISTO COMO A
"...Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado» (I Cor. 5:7). No seu contexto, essa declaração tem um sentido moral. Deveríamos desvencilhar-nos de todos os elementos estranhos à espiritualidade, visto que Cristo fez o seu grande e eterno sacrifício, que é o agente de nossa purificação moral. Cumpre-nos abandonar nossa velha maneira de viver.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 102.
Êx 12.3 Congregação de Israel.  Aos dez deste mês. Dia da instituição e observância da páscoa. A páscoa era uma observância de cada família, e 0 cordeiro pascal era a figura central. No livro de Deuteronômio o caráter doméstico é substituído por um feriado religioso nacional. Finalmente, tornou-se um dos sacrifícios efetuados no templo. Ver Eze. 45.21-25; Lev. 23.5; Esd. 6.19,20; II Crô. 30; 35.1-19; Jubileus 49.
As orientações aqui dadas, a escolha do cordeiro no décimo dia do primeiro mês etc., de acordo com a Mishna (ver a respeito no Dicionário), aplicavam-se somente ao rito original, o qual sofreu modificações em tempos posteriores.
Um cordeiro. No hebraico, seh, filhote da ovelha ou da cabra. Ambos os filhotes eram usados durante a páscoa, mas acabou prevalecendo, por costume, o cordeiro, de acordo com uma antiga tradição. Segundo a casa dos pais. A nação de Israel estava organizada por famílias, clãs, tribos e príncipes. Essa observância era importante para as famílias, e, então, para a nação, em todas as suas expressões. Um cordeiro era selecionado para cada família, a menos que esta fosse muito pequena, quando então duas famílias podiam reunir-se para celebrar juntas a páscoa. Estavam envolvidas razões econômicas (ver o vs. 4).
Êx 12.4 Compartilhando a Páscoa. Sacrificar um cordeiro era um evento econômico avantajado. Uma família ou casa pequena podia compartilhar um cordeiro com outra família. Josefo diz-nos que dez pessoas era 0 número mínimo de uma casa (Guerras, vi.9.3). Esse número tornou-se 0 padrão para a organização de uma congregação ou minis sinagoga judaica. Quando duas famílias se uniam para celebrar a festa, elas ficavam separadas no aposento, de costas uma para a outra, e assim era preservada a unidade doméstica, apesar da cooperação. Um cordeiro pascal precisava ser consumido inteiro, e uma família dificilmente poderia fazer isso em uma única refeição. Ver Êxo. 12.10. Nenhuma pessoa podia comer sozinha do cordeiro pascal. A festa não tinha valor no caso de uma pessoa isolada. Era uma festa doméstica, uma observância comunal. A espiritualidade sempre se manifesta melhor em um esforço grupal, o que não isenta o indivíduo de outras práticas e observâncias solitárias, mas o convida a participar do espírito de comunidade.
Por aí calculareis quantos bastem. Em outras palavras, cada cordeiro seria morto para um certo número de pessoas, as quais, juntas, deveriam observar a páscoa.
Êx 12.5 O cordeiro será sem defeito. Não poderia haver nenhum tipo de defeito físico, deformação, enfermidade etc. Como é óbvio, isso fala da impecabilidade do Cordeiro de Deus. Ver I Ped. 1.19 e João 1.29.
Macho de um ano. Ou um animal que já tivesse completado seu primeiro ano de vida, ou que ainda estivesse dentro de seu primeiro ano de vida, sem ter ainda atingido essa idade. A Septuaginta fala em um ano completo, 0 que tem levado a maioria dos estudiosos a pensar em uma idade exata do animal a ser sacrificado. Mas há quem suponha que a prática original fosse abater um cordeiro ainda bem novo, talvez com apenas algumas semanas de nascido. Uma vida preciosa era sacrificada com esse propósito religioso. Todas as vidas preciosas pertencem a Deus Pai; e é Sua responsabilidade cuidar de todas elas. Oh, Senhor, concede-nos tal graça!
Um cordeiro ou um cabrito. Portanto, originalmente, qualquer desses filhotes podia ser usado, embora depois fosse tradicional servir um cordeiro. Os Targuns mostram que a preferência era dada ao cordeiro, embora também se usasse, ocasionalmente, um cabrito.
Êx 12.6 Décimo quarto dia. O animai a ser sacrificado era separado do rebanho no décimo dia do mês, e, então, guardado para o sacrifício por quatro dias. Os rabinos alistam quatro coisas supostamente derivadas dessa exigência, a qual acabou não sendo preservada senão no começo da história de Israel, a saber: 1. Originalmente, os cordeiros foram consumidos na terra de Gósen, na residência de cada família israelita. 2. O cordeiro era separado no décimo dia do primeiro mês. 3. O sangue do cordeiro abatido era usado para lambuzar ambas as ombreiras e a verga da porta de entrada de cada casa. 4. O cordeiro era comido às pressas.
Quando foi descontinuada a exigência acerca do décimo dia, naturalmente também foi eliminada a exigência referente ao décimo quarto dia. Talvez aquele período intermediário de quatro dias desse ao povo tempo amplo para que as pessoas se certificassem de que o animal não tinha defeito. Essa questão não podia ser tratada de modo superficial. Em tipo, de acordo com alguns intérpretes, isso mostra Cristo preservado em Sua infância, enquanto estava sendo preparado para Sua missão expiatória.
Todo o ajuntamento da congregação de Israel. No começo, isso indicava que cada família cumpriria o seu dever religioso. Todas as famílias, em seu conjunto, formavam a congregação de Israel. Posteriormente, passou a haver um sacrifício comunal, quando a questão se tornou parte da adoração no templo. Os chefes de família reuniam-se em um só lugar para efetuar o sacrifício comunal. Os críticos veem aqui uma referência a esse costume posterior, e não à forma primitiva da observância. A Mishna entende que três grupos de famílias entravam sucessivamente no átrio do templo, para matar os cordeiros escolhidos. Nesse caso, para preservar a exigência original de que o sangue fosse aspergido, os chefes de família formavam uma espécie de brigada com baldes, apanhando 0 sangue dos animais sacrificados e, então, aplicando-o às ombreiras e às vergas das portas de cada casa. Ou, então, o sangue era derramado ao pé do altar, que assim veio a substituir, posteriormente, as portas de entradas das residências.
No crepúsculo da tarde. Era o horário do sacrifício. Logo, tratava-se de uma festa noturna, celebrada durante o tempo da lua cheia (vs. 8; ver também Isa. 30.29). De acordo com a ortodoxia judaica, o abate do animal ocorria ao aproximar-se a noite. A Mishna diz-nos que era apropriada qualquer hora depois do meio-dia para esse abate. Os samaritanos, os caraítas e os saduceus especificavam o crepúsculo, antes de as trevas absolutas cobrirem a terra. A prática original por certo era consumir o cordeiro pascal durante a noite. Josefo explanou que, em seus dias, o sacrifício tinha lugar entre a nona e a décima primeira horas (entre as 15 horas e as 17 horas, Guerras, 1.6, see. 3). Jesus foi crucificado à hora nona (Mat. 26.17).
Tomarão do sangue. Ou seja, aquela porção do sacrifício que, de acordo com a antiga crença, destinava-se ao poder divino. Ver Lev. 1.5. Originalmente, o sangue foi aplicado às ombreiras e à verga da porta de cada casa, ou seja, a parte ais santa e dedicada da casa (Lev. 21.6; Deu. 6.9). No dia da matança dos primogênitos no Egito, isso atuou como uma medida protetora contra o anjo destruidor, que, vendo o sangue aplicado, passaria por sobre a casa assim protegida. V« os vss. 22 e 23 deste capítulo, como também Êxo. 4.24, e as notas expositivas 3á existentes.
No Dicionário ver os artigos Sangue e Expiação (quanto a este seus pontos quinto e sexto). Ver também ali os verbetes Expiação e Expiação pelo Sangue. E na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia ver 0 artigo Expiação pelo Sangue de Cristo.
Alguns estudiosos supõem que o uso do sangue, conforme aparece na primeira páscoa, realmente antecedeu o evento, como um rito antigo que apelava aos poderes divinos em busca de proteção contra forças espirituais malignas, para que fosse preserva a paz na família. A porta, como entrada que dava acesso à casa, seria o lugar lógico onde era aplicado o sangue protetor.
Vida ou Morte. O mesmo anjo destruidor (o Anjo de Yahweh) que matou os primogênitos do Egito também foi o anjo protetor de Israel. Assim foi e assim será sempre: escolhemos como o Poder Divino haverá de relacionar-se conosco. No caso dos israelitas, o cordeiro era morto em lugar dos filhos primogênitos, o que aponta para o poder vicário do sacrifício de Cristo.
Talvez o sangue também simbolizasse um laço que congregava a família e a comunidade, tendo-se tornado assim um sinal do pacto que todos eles compartilhavam com Yahweh.
Expiação. O sangue do cordeiro pascal fazia uma expiação simbólica pelos membros da família que se protegesse com o sangue aplicado à porta de sua casa. Isso os protegeu da ira divina que estava à solta naquela noite.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 348-349.
Êx 12.3. Toda a congregação de Israel. Esta é a primeira ocorrência no Pentateuco do que viria a ser um termo técnico para descrever Israel em sentido religioso {‘êdãh ocorre frequentemente com este sentido; em Deuteronômio e livros mais recentes a forma preferida é qãhãl) e que subjaz o uso da palavra ekklêsia (igreja) no Novo Testamento. A palavra “ congregação” não é um termo abstrato: implica no ajuntamento da nação de Israel, normalmente com propósito religioso.
Aos dez deste mês. É provável que os israelitas primitivos, tal como os chineses, dividissem o mês em três partes de dez dias cada, sendo a primeira destas a “ entrada” e a última a “ partida” . Nosso conceito de “ crescente” e “ minguante” é semelhante, embora baseado numa divisão do mês em duas partes. Tal como a Páscoa, o Dia de Expiação caía no décimo dia de um outro mês (Lv 23:26,27). Esta explicação é preferível à suposição de que o número dez era tido como sagrado. A noite do décimo quarto dia (quando o cordeiro devia ser morto, v. 6) seria exatamente a metade do mês, quando presumivelmente haveria lua cheia.
Um cordeiro. O termo hebraico, êeh, é neutro e deveria ser traduzido “ cabeça de gado (miúdo)” , aplicável igualmente a ovelhas e cabras de qualquer idade. Os israelitas, tal como os chineses, pareciam considerar qualquer distinção entre ovelhas e cabras uma subdivisão sem importância.
Talvez por causa disso, “ separar os bodes das ovelhas” veio a ser uma expressão proverbial para indicar o discernimento divino ao tempo do Novo Testamento (Mt 25:32). Quem conhece as ovelhas da Ásia, pequenas, de cor marrom ou preta e com pelo curto e crespo, sabe bem da dificuldade em distingui-las, exceto pelas caudas. Além disso, o seh poderia ser de qualquer idade: o versículo 5 diz que deveria ser “ filho de um ano” , expressão que pode significar “ do primeiro ano” , ou seja, “ nascido há um ano ou menos” . Era assim, pelo menos, que entendiam os rabis. As traduções modernas, que contêm a expressão “ macho de um ano” , estão provavelmente forçando ideias ocidentais de cronologia a um texto asiático. Em qualquer caso, porém, é apenas esta descrição de sua idade que nos mostra que o sacrifício deveria ser um “cordeiro” e não uma “ ovelha” adulta.
Para cada família. A Páscoa era uma comemoração doméstica e familiar, o que demonstra sua origem antiga. Aqui não há templo, nem tenda da congregação, nem altar nem sacerdote: a ideia de representação, porém, se não mesmo substituição, é claramente sugerida.
Êx 12.4. Por aí calculareis. Em dias mais recentes, o número mínimo de pessoas que poderia comer um cordeiro era dez adultos; este número, porém, foi alcançado através de uma exegese artificial. No principio, parecia ser questão de apetite, ou do tamanho do cordeiro, ao invés de teologia.
Êx 12. 5. Macho de um ano. O sacrifício deveria ser um macho jovem e sem defeito algum, presumivelmente representando a perfeição da espécie. Se já tivesse realmente um ano de idade, já estaria plenamente desenvolvido.
Êx 12.6. No crepúsculo da tarde. Literalmente, “ entre as duas noites” . Estudiosos judeus não chegam a um acordo quanto ao significado exato da frase. A expressão é usada para descrever a hora do sacrifício vespertino regular (29:39) e a hora em que as lâmpadas da tenda da congregação eram acesas (30:8). O pietismo ortodoxo do judaísmo farisaico entendia a frase como uma referência ao período da tarde entre a hora em que o calor do sol começava a diminuir (digamos 3 ou 4 horas) e o pôr-do-sol. Outros grupos preferiam o período entre o pôr-do-sol e a escuridão, ou outras explicações semelhantes.
7. Tomarão do sangue. Dificilmente se poderia classificar a Páscoa como um sacrifício, no sentido mais recente da palavra. Não era diretamente ligada a pecado, embora fosse “ apotropaica” no sentido de evitar o “ golpe” divino, havendo portanto um ritual cruento a ela associado.
O fato de haver um ritual cruento não é em si mesmo digno de nota: notável mesmo é o não haver qualquer associação de sacerdotes com um tipo de rito que mais tarde seria estritamente limitado à sua participação.
É claro, portanto, que esta cerimônia surgiu antes do estabelecimento do sacerdócio “ profissional” em Israel. Como presumivelmente acontecia no período patriarcal, o chefe da família fazia as vezes de sacerdote.
Todavia, a despeito deste resquício de tradição patriarcal, as ombreiras e vergas sugerem vida sedentária, tal como Israel vivia em Gósen. Embora, estritamente falando, não haja aqui o conceito de “ expiação” , o princípio básico do sacrifício cruento é o mesmo: representa uma vida que foi sacrificada (Lv 17:11).
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 101-103.
A Instituição da Páscoa. A Festa dos Pães Asmos w. 1-20
Moisés e Arão aqui recebem do Senhor aquilo que deveriam posteriormente transmitir ao povo com relação à celebração da páscoa, para a qual é pré-fixada uma ordem, um novo estilo a ser observado quanto ao seu calendário (w. 1,2): Este mesmo mês vos será o princípio dos meses. Até aqui eles haviam começado o seu ano a partir de meados de Setembro, mas daqui por diante eles deveriam começá-lo a partir de meados de Março, ao menos em todos os seus cálculos eclesiásticos. Note que é bom começar o dia, e começar o ano, e especialmente começar a nossa vida, com Deus. Este novo cálculo iniciava o ano com a primavera, que renova a face da terra, e era usada como um símbolo da chegada de Cristo, Cantares 2.11,12. Nós podemos supor que, enquanto Moisés estava trazendo as dez pragas sobre os egípcios, ele estava orientando os israelitas a se prepararem para a sua partida que poderia acontecer a qualquer momento. É provável que ele tivesse acabado com a dispersão deles reunindo-os gradualmente, pois aqui são chamados de ‘A congregação de Israel” (v. 3). Além disto, aqui as ordens são enviadas a uma congregação. O espanto e a pressa deles, é fácil deduzir, eram grandes. Ainda mais agora que eles devem se dedicar à observância de um rito sagrado, em honra a Deus. Note que não devemos nos esquecer da nossa religião, nem mesmo quando nossas mentes estiverem repletas de preocupações, e nossas mãos estiverem repletas de trabalho. Também não devemos permitir que haja em nós qualquer tipo de indisposição para com os atos de devoção.
T Deus determinou que, na noite em que eles sairiam do A Egito, eles deveriam, em cada uma de suas famílias, matar um cordeiro, ou que duas ou três famílias, se fossem pequenas, comessem juntas um cordeiro. O cordeiro deveria ser preparado quatro dias antes, e, naquela tarde, eles deveriam matá-lo (v. 6) como um sacrifício. Não de forma estrita, pois este não era oferecido no altar, mas como uma cerimônia religiosa, reconhecendo a bondade de Deus para com eles, não apenas ao protegê-los das pragas infligidas aos egípcios, mas libertando-os através delas. Veja a origem da religião em família, E perceba a conveniência da reunião de pequenas famílias para a adoração religiosa para que esta possa se tornar mais solene.
no cordeiro morto desse modo, eles deveriam comer assado (nós podemos supor, em seus vários alojamentos), com pães asmos e ervas amargosas, porque deveriam comê-lo apressadamente (v. 11), não deixando nada para o dia seguinte. Pois eles dependeriam de Deus para o pão de cada dia, e não deveriam se inquietar pelo amanhã. Aquele que os conduzia os alimentaria.
Antes de comerem a carne do cordeiro, eles deveriam borrifar o sangue sobre as ombreiras das portas, v 7. Através disso, suas casas seriam distinguidas das casas dos egípcios, e assim os seus primogênitos estariam protegidos da espada do anjo destruidor, vv. 12,13. Uma obra terrível seria realizada nesta noite no Egito. Todos os primogênitos, tanto dos homens quanto dos animais deveriam ser mortos, e julgamentos seriam executados contra os deuses do Egito. Moisés não menciona o cumprimento neste capítulo, mesmo assim ele fala sobre isso em Números 33.4. É muito provável que os ídolos que os egípcios adoravam tenham sido destruídos, os de metal derreteram, os de madeira foram consumidos, e os de pedra foram feitos em pedaços, de onde Jetro deduz (cap. 18.11): O Senhor é maior que todos os deuses. O mesmo anjo que exterminou os seus primogênitos aniquilou os seus ídolos, que não eram menos queridos para eles. Foi-lhes ordenado que aspergissem o sangue do cordeiro sobre as ombreiras das portas para a proteção de Israel, um gesto que seria aceito como um exemplo de sua crença nas advertências divinas e de sua obediência aos preceitos divinos. Note que: 1. Se em tempos de calamidade geral, Deus protege o seu próprio povo e coloca um sinal sobre as pessoas, elas serão escondidas no céu ou debaixo do céu, e serão protegidas do impacto dos julgamentos ou ao menos de seus aguilhões.
2. O sangue da aspersão é a segurança do justo em tempos de calamidade geral; é isso que os marca para Deus, tranquiliza consciências, e lhes dá ousadia e acesso ao trono da graça. E assim se torna um muro de proteção em volta deles e uma parede divisória entre eles e os filhos desse mundo.
Esta ordenança deveria ser observada anualmente em suas futuras gerações como uma festa do Senhor, ao qual a festa dos pães asmos foi acrescentada, e durante a qual, por sete dias, eles deveriam comer apenas pães sem fermento, como um memorial por estarem inevitavelmente limitados a esse tipo de pão por muitos dias após a sua saída do Egito, w. 14-20. Esse compromisso é imposto para sua melhor orientação, e para que eles não pudessem se enganar com respeito à páscoa. E também para despertar a uma diligente observância deste ritual aqueles que, no Egito, tinham se tornado tolos e descuidados nos aspectos da religião. Agora, sem dúvida, havia muito do Evangelho nessa celebração. Ela é frequentemente mencionada no Novo Testamento, e através dela nos é pregado o Evangelho. Esta pregação também se estendia a eles, que não podiam olhar firmemente para o fim dessas coisas. Hebreus 4.2; 2 Coríntios 3.13.
1. O cordeiro pascal era uma tipificação do Salvador. Cristo é a nossa Páscoa, 1 Coríntios 5.7. (1) Deveria ser um cordeiro. E Cristo é o Cordeiro de Deus (Jo 1.29), frequentemente chamado no Apocalipse de “O Cordeiro”, manso e inocente como um cordeiro, calado ante os tosquiadores, diante dos açougueiros. (2) Deveria ser um macho de um ano (v. 5), uma primícias; Cristo se ofereceu no meio de seus dias, não na infância com os bebês de Belém. Isso denota a força e a suficiência do Senhor Jesus, em quem está o nosso auxílio. (3) Deveria ser um cordeiro sem mácula (v. 5), simbolizando a pureza do Senhor Jesus, um cordeiro imaculado, Hebreus 7.26; 1 Pedro 1.19. O juiz que o condenou (como se o seu julgamento fosse feito apenas como a inspeção que era feita no tocante aos sacrifícios, para verificar se eram sem mácula ou não) o declarou inocente. (4) Deveria ser separado com quatro dias de antecedência (w. 3,6), indicando a designação do Senhor Jesus para ser o Salvador, tanto no propósito quanto na promessa. Podemos observar que, como Cristo foi crucificado durante a páscoa, Ele entrou solenemente em Jerusalém com quatro dias de antecedência, no mesmo dia em que o cordeiro pascal era separado. (5) O cordeiro deveria ser morto, e assado no fogo (w. 6-9), o que simbolizava os sofrimentos intensos do Senhor Jesus, até a morte, e morte de cruz. A ira de Deus é como fogo, e Cristo se fez maldição por nós. (6) Deveria ser morto por toda a congregação no entardecer, entre os dois dias, isto é, entre três e seis horas da tarde. Cristo sofreu no fim do mundo (Hb 9.26) pela mão dos judeus, uma multidão deles (Lc 23.18), e pelo bem de todo o seu Israel espiritual. (7) Nenhum osso do cordeiro deve ser quebrado (v. 46), o que é expressamente relatado como uma profecia que foi cumprida em Cristo (Jo 19.33,36), simbolizando a força inquebrantável do Senhor Jesus.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 260-261.
III - CRISTO, NOSSA PÁSCOA.
1. Jesus, o Pão da Vida (Jo 6.35,48,51).
Um pão pode ter mais de um sabor. Pode ter mais de uma forma. Pode ser feito com diversos ingredientes. Pode ser barato ou caro. Pode ser mais leve ou mais pesado. Mas sua função mais importante é saciar a fome. É para isso que eles são feitos. Por que Cristo é considerado o pão da vida?
Porque Ele mesmo disse isso: “Eu sou o pão da vida; (' aquele que vem a mim não terá fome” (Jo 6.35). Ele promete saciar a necessidade humana no que concerne às questões da vida e à relação com Deus, ao perdão dos pecados e à vida eterna. A fome que temos de Deus é saciada em Cristo Jesus.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 41-42.
PÃO DA VIDA, JESUS COMO
«Eu SOU o pão da "'da...» (Joio 6:35).
«Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna... » (João 6:54).
«...isto é o meu corpo...isto é o meu sangue... » (Mateus 26:26,28).
«..o que vem a mim, jamais terá fome; e o que crê em mim, jamais terá sede... » (João 6:35).
«Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai; também quem de mim se alimenta, por mim viverá» (João 6:57).
«Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo" (João 5:26),
«  os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem, viverão" (João 5:25).
Em torno desses versículos gira o ensino de Jesus como o Pão da Vida. Crentes sinceros têm atribuído aos mesmos grande variedade de interpretações, e muitíssimas disputas se têm originado de tais explicações. Parece que uma das dificuldades da interpretação deriva-se do fato de que a mensagem central que essas passagens procuram nos transmitir é muito mal compreendida pela igreja cristã, sendo algumas vezes totalmente desconhecida e, ocasionalmente, até mesmo combatida. Por causa dessas condições, apesar de que certas porções da ideia correta do que aqui é ensinado são retidas por uma ou outra denominação, com algumas variações, contudo, a própria ideia, em sua inteireza e majestade, é percebida apenas em parte, obscuramente. Essa profunda ideia do cristianismo, que «Jesus, como o Pão da Vida», oferece aos homens, está contida nas Escrituras de forma dispersa. As alusões a esse conceito aparecem no evangelho de João; em alguns trechos das epístolas paulinas, sobretudo no oitavo capitulo da epístola aos Romanos e no primeiro capítulo da epístola aos Efésios; em 11 Coríntios 3:18 e em II Pedro 1:4.
Na tentativa de descobrir e lançar luz sobre o assunto, examinaremos os seguintes particulares:
1. A orientação espiritual de João é mística, e não sacramental.
2. O modo de expressão de João.
3. As interpretações centrais do sexto capítulo do evangelho de João: a interpretação simbólica, a sacramental e a mística.
4. A Ceia do Senhor, em seu «símbolo» e na «verdade simbolizada».
5. Indicações existentes no sexto capitulo do evangelho de João sobre a veracidade da interpretação «mística».
Passemos, pois, à exposição de cada uma dessas particularidades:
A Orientação Espiritual de João é Mística, e Não Sacramental.
Dentre os quatro evangelhos, o de João é o mais místico e o menos sacramental; assim sendo, apesar do evangelho de João ser o mais usado, provavelmente é o menos compreendido dos quatro. Notemos que no trecho de João 1:29-34, o lugar onde poderíamos esperar a história do batismo de Jesus, por João Batista, não há qualquer menção ou descrição sobre o batismo em água, conforme se lê nos demais três evangelhos. Obviamente, se trata da mesma cena, e é indubitável que devemos compreender ali que Jesus foi batizado por João Batista; porém, não há qualquer alusão à própria cena do batismo. No entanto, encontramos nesse trecho a menção especifica do batismo do Espírito Santo, em que Jesus aparece tanto como o Cordeiro de Deus quanto como o Filho de Deus. Nessa seção do evangelho de João, pois, o batismo é de natureza mística, e não-sacramental.
Ainda mais surpreendente que essa instância é a daquela outra passagem onde poderíamos esperar uma descrição sobre a instituição da Ceia do Senhor ou eucaristia, a saber, João 13:1-20. Pois, apesar de ser evidente que essa passagem se refere à páscoa, sendo paralela aos trechos de Mat. 26:7-30; Mar. 14:17-26 e Luc. 22:14-39, contudo, nem ao menos há alusão à instituição da Ceia do Senhor, ao passo que lemos ali uma longa descrição da cerimônia do lava pês, que os demais evangelhos nem mencionam, e que poderíamos julgar comparativamente sem importância, em relação à Ceia do Senhor. Não obstante, nesse trecho do evangelho de João, nos é ensinada uma verdade mística, o que também era muito característico do autor do quarto evangelho; e por causa dessa verdade mística, essa passagem obviamente se revestia de grande importância para o seu autor sagrado.
Poderíamos asseverar, por conseguinte, que o autor do quarto evangelho nem ao menos registra ou descreve um evento tão importante como foi a instituição da Ceia do Senhor, ao passo que os outros três evangelistas lhe conferem um tão conspícuo lugar? Não, isso não seria verdade, pois o sexto capitulo do quarto evangelho encerra o registro sobre essa instituição da Ceia; no entanto, foi escrito não para descrever um sacramento e, sim, para servir de expressão acerca de uma elevada doutrina mística.
Devemos observar, por igual modo, que nesse sexto capitulo do evangelho de João não há qualquer descrição acerca do modus operandi da cerimônia da Ceia do Senhor, porquanto isso não se revestia de importância, aos olhos do autor sagrado; pelo contrário, nos é exposto, com abundância de pormenores, o sentido espiritual retratado por essa cerimônia; e esse sentido espiritual é uma profunda verdade mística.
O evangelho de João, portanto, aborda tanto o batismo como a Ceia do Senhor de maneira mística, e não sacramental.
Modo de Expressão de João
A fim de ilustrar a natureza da pessoa de Cristo, bem como a sua relação para com o mundo, mais do que os outros evangelistas, o apóstolo João se utiliza de termos simbólicos. Ê João quem chama o Senhor Jesus de «a Luz», «a, Água», «o Pão», «o Pastor» e «a Porta». E embora o evangelho de João não lance mão da expressão especifica, «Este é o meu corpo» (em que Cristo se referiu ao pão da Ceia) contudo, no sexto capitulo do mesmo é óbvio que uma terminologia assim seria perfeitamente apropriada (ver João 6:54,55). Todavia, esse pão (que simboliza o corpo) é declarado como algo que desceu do céu (ver João 6:32,58), o que mostra que, antes de tudo, não está em vista alguma alusão ao corpo físico de Jesus; antes, ele se refere a um tipo celestial de «pão», a um principio espiritual, a uma comunicação e participação mística na vida divina, o que, na realidade, é um conceito transcendental, e não uma ideia sacramental.
Por semelhante modo, quando falamos na «água», devemos ter em mente a infusão da vida espiritual, recebida mediante a fé, e não algum elemento sacramental. Isso fica demonstrado pelo fato de que a grande passagem joanina sobre a «água da vida» (o quarto capitulo do evangelho de João), que nos fornece maiores detalhes sobre a significação tencionada acerca dessa «água», é registrada em um trecho totalmente separado do capítulo que versa sobre o batismo do Senhor Jesus. Ali a «água da vida» figura como a comunicação do Espírito Santo à alma humana (ver João 4:23,24), em que essa água «mana» como uma fonte eterna, uma ação continua e toda possessiva, e não uma ação momentânea, como se verifica no caso de qualquer rito. Além disso, deve-se notar que no trecho de João 7:39 o próprio autor sagrado interpreta o símbolo da água, ao dizer:
«... Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem... » Torna-se evidente, portanto, que vocábulos como «pão», «água», «porta», etc., são expressões que indicam elevadíssimas verdades espirituais, místicas quanto à sua natureza, e não sacramentais. Fica suposto com razão, neste sexto capitulo do evangelho de João, segundo acredito, que o «sangue» de Cristo, que é «...verdadeira bebida... ,. (João 6:55), tem um sentido equivalente ao atribuído à «água», nos capítulos quarto e sétimo do evangelho de João, e que abordamos aqui a transmissão da vida divina, por intermédio do Espírito Santo.
O modo de expressão do evangelho de João, portanto, é místico, e não-sacramental.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 43-44.
Este versículo faz um paralelismo exato com João 4:14.26. O sentido espiritual completo é finalmente trazido à luz. Temos aqui o primeiro dos grandes ·Eu sou», proferidos por Jesus, neste quarto evangelho: Eu sou o pão do céu (ver o vs. 32). 0 pão de Deus (ver o vs. 33). O pão da vida (ver o vs. 35), o pão vivo(ver o vs. 51). Tudo isso deve ser destacado em seus diversos aspectos, quais sejam: (Ver notas completas sobre o tema, Jesus, pão da vida, João, 6:48).
1. A mensagem de Cristo é proveniente do céu e é transmitida por autoridade celestial, porquanto ele vive em união com o Pai.
2. O caráter distintivo da pessoa de Cristo, que é o Filho de Deus, o único capa/ de dar a vida eterna. Fica subentendido, por extensão, 0 caráter distintivo do cristianismo.
3. Tudo quanto Cristo c cm si mesmo, a sua Filiação especial e suas qualidades especiais como doador da vida. E Cristo quem dá e sustenta a vida eterna, e nenhum desejo insatisfeito pode frustrar permanentemente ao crente.
4. A exclusividade de sua doação, porque ele é o Filho do único, sendo o único que pode fazer tais reivindicações. Por conseguinte, essa vida reside exclusivamente nele.
5. Alguns intérpretes (com Robertson, in loc.) também veem aqui o grande tema da vida «independente» ou ·necessária», com a qual já nos encontramos e que explicamos, no trecho de João 5:26. Isso é uma inferência correta, posto que João 6:57, em desenvolvimento desse tema. aborda esse aspecto. O Pai tem vida em si mesmo, porquanto não depende de outrem para a sua existência. Assim sendo, o Pai possui vida independente. E o mesmo que a vida necessária, por tratar-se da forma da vida que não pode cessar de existir. Essa forma de vida o Pai deu ao filho, quando de sua encarnação; e o Filho de Deus. por sua vez, a dá a todos os homens que dele se aproximam. Aqui. portanto, é declarada a participação, por meio dos que creem cm Cristo, na vida eterna, que é divina, necessária, independente.
O que vem a mim jamais terá fome...o que crê em mim jamais terá sede...·. Com essas palavras é frisada a necessidade de fé, conversão e regeneração, conforme também isso foi vividamente salientado no terceiro, quarto e quinto capítulos deste evangelho. O pão natural (maná) não satisfazia necessidade alguma a menos que fosse apropriado, recolhido e ingerido. É mister que o indivíduo seja impelido pela fome para comer, e pela sede, para beber. Aquele que não sente fome ou sede espiritual, não se interessa por satisfazer essas condições. Isso. naturalmente, serve de símbolo da necessidade e dos anelos da alma. E esses anelos são ao mesmo tempo naturais para a alma -razão pela qual as Escrituras dizem que os homens creem em Cristo, e são inspirados e produzidos por Deus, na alma. através da ação do Espirito Santo -motivo por que as Escrituras ensinam que os homens são dados ao Filho, pelo Pai, ou são atraídos ao filho mediante as operações do Pai, conforme vemos nos vss. 37 e 39 deste mesmo capítulo.
A fome e a sede são símbolos aptos para os anseios espirituais, pois essas são experiências comuns a todos os seres humanos. O homem reconhece, instintivamente, o que significam essas condições. Os aldeões galileus estavam bem familiarizados com tais condições e costumavam passar longas horas de trabalho árduo, a fim de satisfazerem a essas necessidades básicas. O Senhor Jesus, pois, salientou o fato de que é necessário que os homens sintam fome e sede dos valores espirituais, c, mais especialmente ainda, que devem querer diligentemente a vida eterna.
A fé figura aqui, uma vez mais como o agente da conversão. Pois a conversão consiste na fé c no arrependimento; c isso é o começo da regeneração, bem como a fonte originária de tudo que é a ·vida eterna*. Todas essas questões são abundantemente comentadas neste quarto evangelho c o leitor deveria examinar as seguintes referências: Sobre a «fé», em João 3:16 e Heb. 11:1: sobre a «conversão·, em João 3:3; sobre o «arrependimento», em Mat. 3:2 e 21: 29; sobre a «regeneração», em João 3:3; e sobre a «vida eterna», em João 3:15.
« Monteliore, embora tivesse permanecido sempre um judeu convicto, concedeu francamente originalidade a Jesus Cristo. E, juntamente com muitas outras linhas, diz como segue: ‘Coube a Jesus transformar esse quadro da atividade divina em um ideal de atividade humana; c é admirável pensarmos quão maravilhosos e frutíferos resultados se tem seguido às dúzias ou vintenas de versículos, onde esse ideal é destacado e impressionado ». Ou ainda: «Em meio aos mistérios e milagres, parece emergir um personagem diferente de qualquer personagem do Antigo Testamento ou herói rabínico».
Por semelhante modo. Rudolf Otto, cm seu estudo simpático e mesmo entusiasta acerca das religiões da índia, admite francamente que o eixo inteiro, em volta do qual a vida gira. tanto em ação como em pensamento, é inteiramente diferente no cristianismo, em confronto com essas outras fés.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 359.
“O Verdadeiro Pão” (6.35-40). Jesus agora lhes declarou abertamente aquilo que ficara oculto no sinal e no simbolismo. Se realmente quisessem o pão que Ele lhes daria, precisariam saber que Ele era aquele pão. Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome; e quem crê em mim nunca terá sede (35; cf. 4.14; 6.48,58; 7.37- 38). Até agora, no Evangelho de João, a expressão Eu sou já ocorreu duas vezes em declarações diretas de Jesus sobre a sua divindade (4.26; 6.20). Aqui começa o uso de metáforas fortes e expressivas. Elas aparecem dezessete vezes e os exemplos mudam: por exemplo, Eu sou o pão da vida; “Eu sou a luz do mundo” (8.12); “Eu sou a porta” (10.9). Westcott escreve: “Os exemplos com que se conecta [Eu Sou] fornecem um estudo completo da obra do Senhor”.
Os verbos vem e crê no presente retratam uma ação continuada e persistente, e são importantes nesta seção. A implicação é que deixar de vir ou de ter fé também significa a descontinuidade da satisfação da fome e da sede.
O povo tinha pedido um sinal (6.30) e agora Jesus lhes diz que eles têm um sinal — a Encarnação — embora não acreditem. Já vos disse que também vós me vistes e, contudo, não credes (36).
Nos versículos 37-40, há dois temas principais. Primeiro, a vontade de Deus se torna efetiva para o homem por meio do Filho, e tem como resultado a vida eterna. O Filho realiza a vontade do Pai — porque eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou (38; cf. Mt 26.39, 42). Graças ao perfeito desempenho do Filho em realizar a vontade do Pai, o plano de Deus para o homem é: 1. uma completa comunhão com Cristo (37); 2. orientação e graça para aqueles que vêm (37) e assim “continuam tendo fé nEle” (lit., 40); 3. a vida eterna, i.e., a vida no seu nível mais elevado, aqui e agora — a vida santificada (cf. 1 Ts 4.3). Posteriormente, haverá a transformação completa (cf. 2 Co 3.18) com a participação na sua ressurreição. A frase eu o ressuscitarei no último Dia (40) aparece como um tipo de refrão por toda esta seção (39-40,44,54).
O segundo tema é que a vida eterna, tanto no seu significado presente quanto no escatológico, está aberta para o homem. Isto não se deve ao mérito do homem, mas somente à graça de Deus. A interpretação negativa da frase Tudo o que o Pai me dá virá a mim (37), como base para uma doutrina de reprovação, significa o retorno à lógica inflexível. Gossip comenta: “Existem coisas mais verdadeiras do que isso na vida... tudo o que ela diz é que se somos cristãos, então somos dele não por causa de alguma coisa que tenhamos feito... mas unicamente porque Deus se propôs a nos ganhar”
Joseph H. Mayfield. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 7. pag.71-72.
Agora Jesus faz uma declaração clara e franca. Não lhes dissera que lhes daria o pão maravilhoso que desceu do céu, mas lhes afirmara que este pão milagroso que desceu do céu tinha o poder de dar a vida eterna. Ele em pessoa é esse Pão da vida. Não importa, quem quer que vem a ele, já não mais sofrerá fome, assim como aquele que bebe da água viva de sua salvação jamais será incomodado por sede. Vir a Jesus significa crer nele como o Salvador do mundo. Nele e em sua misericórdia todos os desejos e anseios da alma encontram sua plena satisfação. Mas, mesmo que o Filho de Deus e uma tão perfeita satisfação foram trazidos tão próximo dos judeus, eles ainda assim não creram nele.
Viram-no em seu ministério de milagres, e ouviram as palavras da vida que nestas ocasiões provinham de sua boca, mas recusavam-se a crer. Por isso, que soubessem, que tudo o que Pai dá ao Filho virá a ele. Vir a Jesus é crer; fé é um vir espiritual. O coração e a vontade duma pessoa vão a Cristo, são unidas a Cristo. Todas aquelas pessoas, realmente, vem a Jesus, as quais o Pai lhe deu como seus. A fé é o resultado da seleção misericordiosa de Deus. Esta é uma vocação e uma seleção de graça, e, por isso o senhor não lançará fora nenhum daqueles que vem pela fé a ele. Os pensamentos de Deus são tão somente pensamentos de paz e de misericórdia. Ele não tem qualquer desejo pela morte de qualquer pecador. Jesus veio ao mundo para cumprir este propósito misericordioso e terno de seu Pai celeste. A vontade do Pai é que Jesus não perca nenhum daqueles que o Pai lhe deu. Todos são igualmente preciosos aos seus olhos, tendo sido adquiridos valiosamente demais, para serem perdidos. Aqueles, por isso, que o Pai deu ao Filho como propriedade, o Filho iria ressuscitar da morte no último dia para lhes dar o pleno gozo das bênçãos e da glória que são sua herança. Jesus, para acentuar a clareza e ênfase, repete o mesmo pensamento. A vontade do Pai, que enviou o Filho ao mundo, é que todo aquele que na fé olha ao Filho, ou seja, que o aceita como o Filho de Deus e o Salvador do mundo, esse, sem falha, terá a vida eterna, se tornará participante das glórias do céu na e pela ressurreição. Em Cristo fomos escolhidos para a vida eterna.
KRETZMANN. Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo Testamento. Editora Concordia Publishing House.
João 6.35 Isso apenas pode ser verificado quando Jesus agora progride para a última revelação e confirma, por meio de uma automanifestação direta, que esse pão maravilhoso não é ―algo‖, mas uma pessoa, ele, o próprio Jesus. Será que os galileus realmente querem ter o pão sobrenatural? Pois bem, então ouçam: ―Jesus lhes declarou: Eu sou o pão da vida.‖
Como em todas as outras vezes, nessa palavra de Jesus a ênfase recai sobre o poderoso ―Eu‖. Por essa razão é novamente destacado com ênfase no idioma grego. Jesus não visa descrever a riqueza múltipla que sua pessoa abrange e que ele é, além de muitas outras coisas, também o pão da vida. Não, quando pessoas compreenderam o que é esse verdadeiro pão e quanta necessidade elas têm dele, e agora indagam onde podem encontrá-lo, então Jesus somente pode responder: ―Esse pão maravilhoso, procurado e imprescindível – sou Eu.‖ Esse pão não existe desvinculado de Jesus. Ele em pessoa é esse pão. Por isso o pão não está presente numa coisa qualquer que pode estar relacionada com Jesus, sem sê-lo pessoalmente. Nenhuma doutrina sobre Jesus, por mais correta que seja, nenhum sacramento por ele instituído como tal, tampouco a ceia do Senhor, ―é‖ esse pão. A poderosa afirmação ―Eu sou o pão da vida‖ exclui todo o resto. Precisamos ter a Jesus pessoalmente se quisermos ter de fato esse pão da vida.
Merece consideração que as duas automanifestações de Jesus mencionam ―água‖ e ―pão‖. ―Água e pão‖ são os elementos imprescindíveis para a vida, de que precisamos para realmente permanecer vivos. Jesus não concede luxo, um adicional religioso embelezador e aprazível, mas os ―víveres‖ imprescindíveis.
Simultaneamente podemos ver essa auto-revelação de Jesus no contexto de toda a mensagem da Bíblia. Após cair no pecado, o ser humano foi cortado da ―árvore da vida‖ e, consequentemente, da vida eterna, ficando refém da morte (Gn 5.22-24). Agora isso é anulado por Deus, ao enviar do céu o pão da vida e oferecê-lo ao ser humano. A plenitude daquilo que segundo Ap 2.7 e 22.2 estará um dia consumado já foi iniciada com Jesus.
Visto que o ―pão da vida‖ consiste de uma pessoa, por enquanto Jesus ainda evita usar as metáforas correlatas do ―comer‖. Ele se atém às expressões simples e, mesmo assim, cabalmente expressivas: ―Vir a ele‖, ―crer nele‖. Quem ―vem a Jesus‖, solta-se de si mesmo e desvencilha-se de toda a sua vida anterior. E quem ―crê em Jesus‖ se confia integralmente a ele. Desse momento em diante sua vida reside tão somente em Jesus. Agora Jesus promete que o pão, ―que dá vida ao mundo‖, é verdadeiramente acolhido e comido dessa maneira e causa seus efeitos. ―Quem vem a mim com certeza jamais terá fome, e o que crê em mim com certeza jamais terá sede.‖ Naquele tempo Jesus assegurou isso aos galileus com certeza absoluta. Mil e novecentos anos de história de sua igreja confirmaram o quanto isso é verdadeiro. Contudo, somente poderá experimentá-lo aquele que realmente vem ao próprio Jesus e se entrega a ele.
João 6. 51 Quando a pergunta onde, afinal, esse pão pode ser encontrado, é suscitada novamente diante da extraordinária importância do mesmo, então Jesus tão somente pode voltar a assegurar: ―Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente.‖ ―Eternamente‖ tem o sentido literal de: ―para dentro do éon‖. Ele não perecerá no deserto como os pais, mas chegará a ―Canaã‖, o novo éon e o novo mundo, porque já traz dentro de si a vida desse novo mundo pela fé em Jesus.
Com essas palavras Jesus repetiu o que já havia afirmado. Agora, porém, acrescenta uma frase que leva seu diálogo com os galileus (e conosco!) a um progresso significativo, a saber, de forma semelhante ao que aconteceu também no diálogo com Nicodemos. Do mesmo modo como na pergunta pelo ―renascimento‖, a pergunta pelo ―pão da vida‖ não pode ser respondida sem uma guinada para a cruz. ―E o pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo.‖ Sem dúvida Jesus é em sua pessoa o pão da vida, mas apesar disso não pode ser simplesmente recebido da maneira como agora se encontra perante os galileus, como pão criador da vida. Antes cumpre-lhe ―dar‖ outra coisa, a única pela qual o ―mundo‖ obtém a dádiva redentora. ―Para a vida do mundo‖ é preciso pagar um resgate, ofertar um sacrifício. Porque o mundo é realmente é ―mundo‖, existência separada de Deus, rebelada contra Deus, presa em pecado, trevas e morte. Será que o mundo de fato é capaz de encontrar vida divina e chegar ao novo éon? Acaso vemos o quanto isso é ―impossível‖? Para que essas coisas impossíveis se tornem possíveis, é preciso que aconteça algo cuja magnitude corresponda a toda essa ―impossibilidade‖. Unicamente através desse acontecimento é que se pode unir esse contraste total de ―mundo‖ e ―vida divina‖. É o acontecimento da cruz. O Filho dá a ―sua carne‖, sua existência total como ser humano, para sacrifício propiciatório em favor do ―mundo‖.
Os galileus se escandalizavam com a ―carne‖ de Jesus, sua condição humana real, por meio da qual ele partilhava a existência deles, sendo como um deles. Como todos nós, eles ansiavam pelo ser ―sobre-humano‖, por um salvador divino que deixasse para trás a fraqueza e humildade da ―carne‖ e brilhasse em ―glória‖. Rejeitam a Jesus porque ele trazia a carne tão nitidamente em si. Como ele, que era ―carne‖, haveria de ser o pão da vida eterna? Não lhe deram crédito nisso. Veem em sua mensagem nada mais que uma palavra presunçosa. Jesus, porém, lhes diz que apenas através dessa ―sua carne‖ ele é capaz de ser o verdadeiro pão. Somente porque ele se tornou ―carne‖, tem condições de andar o caminho sacrificial do sofrimento e da morte. É óbvio que, se agora já se escandalizam com sua carne e por isso não conseguem crer nele, como será quando sua carne estiver dependurada no madeiro maldito, dilacerada, torturada e desfigurada?
Werner de Boor. Comentário Esperança Cartas aos Filipenses. Editora Evangélica Esperança.
2. O sangue de Cristo (1 Co 5.7; Rm 5.8,9)
Há uma semelhança clara, no estudo da Páscoa, entre o cordeiro oferecido no Egito e o Senhor Jesus Cristo, nosso Cordeiro Pascal.
Da mesma forma que o cordeiro pascal foi sacrificado, o Senhor Jesus Cristo também o foi. A diferença reside no fato de que o cordeiro de Êxodo não foi voluntário para verter seu próprio sangue. Jesus Cristo se ofereceu para esse sacrifício:
Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido. Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai e dou a minha vida pelas ovelhas. Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor.
Por isso, o Pai me ama, porque dou a minha vida para tomar a tomá-la. Ninguém má tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar e poder para tornar a tomá-la. Esse mandamento recebi de meu Pai. (Jo 10.14-18)
O sacrifício de Cristo nos trouxe vida, da mesma forma que o sacrifício do cordeiro no Egito preservou a existência dos primogênitos israelitas. A diferença é que o sacrifício de Cristo oferece vida não apenas aos filhos mais velhos de cada família, mas a todos que aceitarem pela fé o sacrifício de Cristo, se arrependerem de seus pecados e nascerem de novo.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 42.
SANGUE
Aquele fluido viscoso e vermelho, essencial à vida biológica, que flui pelo organismo inteiro através do sistema circulatório, levando oxigênio e nutrientes aos tecidos, e, ao mesmo tempo, removendo o dióxido de carbono e outros materiais decompostos. Nesse sentido literal, o sangue é frequentemente mencionado nas Escrituras (ver Gên. 37:31; Exo. 23:18 ss; II Sam. 20:12; I Reis 18:28; Luc. 13:1) onde a alusão é ao sangue tanto de seres humanos quanto de animais irracionais.
1. Ideias das Culturas Antigas. Nos estágios iniciais de quase todas as culturas, o sangue é encarado com certo ar de respeito, o que tem provocado as noções mais estranhas. Alguns atribuem ao sangue um poder misterioso, pelo que os guerreiros bebiam o sangue de suas vítimas, a fim de adquirirem as energias vitais dos inimigos mortos. Alguns pensavam que era perigoso tocar no sangue. Outros supunham que o sangue derramado nas batalhas, o sangue da menstruação das mulheres, ou o sangue perdido por ocasião do parto, poderia transmitir um contágio qualquer, pelo que deveria ser lavado.
Os antigos semitas (ver o artigo), identificavam o sangue com a princípio ativo da própria vida biológica. Por essa razão, proibiam a ingestão de sangue, derramavam sangue sobre altares consagrados, cobriam o sangue com terra, nos lugares sagrados, ou aplicavam o sangue a pedras que representavam deuses. Segundo eles imaginavam, desse modo os perigos e maravilhas do sangue podiam ser controlados e utilizados. O sangue podia ser visto como perigoso ou benéfico. Por isso mesmo era aspergido sobre os batentes das portas, para que a casa fosse protegida. Ou então os idosos tomavam sangue, a fim de recuperar a vitalidade da juventude. E o sangue também era empregado nas cerimônias de purificação e expiação. Alguns povos antigos chegavam a usar sangue, ao invés de água, em ritos batismais,
As pessoas que se consideravam íntimas bebiam um pouco do sangue uma da outra, como ato de união e dedicação mútua. O ato algumas vezes servia de selo confirmatório de algum pacto ou acordo, feito entre duas pessoas, ou mesmo entre duas nações. Os estrangeiros eram admitidos como cidadãos pela troca mútua de sangue, ou pela ingestão mútua de sangue.
2. O Sangue Usado como Alimento. Muitas culturas antigas e modernas têm usado o sangue como alimento. Uma das mais vigorosas tribos africanas, os zulus, bebem o sangue de seu gado. Algumas vezes, a prática é ou era vinculada às ideias expostas no primeiro ponto. Além de servir de alimento, esperava-se que o sangue provesse ao seu consumidor alguma espécie de virtude. Dentro da cultura dos hebreus, era estritamente proibida a prática da ingestão de sangue (Gên. 9:4; Lev. 3:8; 7:26), especificamente diante do fato de que a vida da carne está no sangue. Em outras palavras, o sangue revestir-se-ia de virtudes misteriosas, tornando-se sagrado. Portanto, não servia como artigo próprio para a alimentação.
3. O Sangue e os Hebreus. No Antigo Testamento, a palavra hebraica dam, «sangue», aparece por 362 vezes, das quais 203 como descrições de mortes violentas, e 103 vezes, em alusão a sacrifícios cruentos. Em três passagens do Antigo Testamento, o sangue é diretamente vinculado ao princípio da vida (Gên. 9:4; Deu. 12:23 e Lev. 17:11). Também já verificamos que os povos semitas se apegavam a essa ideia. 0 texto de Levítico mostra que, por causa desse conceito, surgiu a ideia da expiação pelo sangue. Mas, visto que o uso do sangue requer a morte de alguma vítima, o sangue também era associado à morte, na antiga cultura dos hebreus. De modo geral, pois, temos nesses sacrifícios alguma vida oferecida a Deus, envolvendo o supremo sacrifício da vítima, ou seja, a sua morte. Em tudo isso fica subentendida a seriedade do pecado, porquanto o pecado requer um remédio radical. A expiação é obtida através da morte da vítima, mas igualmente, por sua vida, oferecida no sangue.
4.0 Sangue no Novo Testamento. o vocábulo grego aima, «sangue», além de referir-se à morte sacrifical de Cristo, indica as ideias de reinado (João 1:13); da natureza humana (Mat. 16:17; I Cor. 15:50); de morte violenta (vinte e cinco trechos diferentes); e de animais sacrificados (doze referências, como se vê em Heb. 9:7,12 etc.) onde se enfatiza a perda da vida das vítimas, um conceito destacado no Antigo Testamento. Quanto ao sangue de Cristo e o valor expiatório do mesmo, há referências como Colossenses 1:20. Ver o artigo separado sobre esse assunto, que provê certa variedade de referências e ideias. Os intérpretes têm debatido se é a morte ou a vida perdida do animal que obtém a expiação. Penso que se trata de ambas as coisas, pois, afinal de contas, é a vida de Cristo que nos salva (Rom. 5:7) dando a entender a sua ressurreição e ascensão, em virtude do que ele tornou-se o Salvador medianeiro permanente. Aquele mesmo contexto, no nono versículo, afirma que o seu sangue nos justifica, o que nos fez pensar tanto em sua vida como em sua morte e ressurreição. A vida que Jesus viveu também faz parte de nossa inquirição espiritual, com vistas a nossa salvação final; porque, quando procuramos imitar a vida de Cristo, passamos a compartilhar de sua natureza metafísica, mediante operações do Espirito Santo (II Cor. 3:18). Como é que alguns teólogos separam essas ideias inseparáveis, como se fossem categorias distintas e valores isolados? Dentro do programa a e salvação a vida e a morte de Jesus são fatores inseparáveis, embora em sentidos diferentes.
5. Sentidos Metafóricos, a. Temos visto como os sacrifícios cruentos simbolizavam tanto a vida quanto a morte e como é óbvio, os sacrifícios do Antigo Testamento simbolizavam a morte expiatória de Cristo. A Epístola aos Hebreus tem isso como um de seus temas principais. Ver Heb. 7:27, quanto a uma declaração geral. b. Estar no próprio sangue indica que um estado imundo e destituído, uma condição de perdição (Eze. 16:6). c. Beber sangue indica ter a perversa satisfação de haver assassinado alguém (Eze, 39:8; Isa. 49:26; Núm. 23:24). d. Ter de beber sangue, significa ser morto como retribuição por ter-se deleitado em derramar sangue (Apo. 17:7; Eze. 16:38). e. A vingança divina é retratada pelo ato de mergulhar os próprios pés no sangue (Sal. 58:10; 68:23). f. Um homem de sangue é uma pessoa cruel (II Sam. 16:7). g. O plural, sangues, aponta para homicídios repetidos (Gên. 4:10; II Sam. 3:28). h. Tirar o sangue da boca e das abominações significa libertar alguém do poder dessas coisas e de sua inclinação para o homicídio. (AM ID S Z.)
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 5239-5240.
1 Cor 5.7 Na igreja não existia ―um pouco de fermento‖ apenas no maléfico caso de impureza. Nos capítulos subsequentes Paulo ainda evidenciará suficiente “fermento da maldade e da malícia”. Por isso ele convoca agora para uma purificação abrangente e profunda da igreja: “Varrei fora o velho fermento, para que sejais nova massa, de conformidade com os asmos que sois” [tradução do autor]. Espera-se da igreja um agir consciencioso e persistente. Paulo dificilmente pensou que a igreja pudesse, num esforço único, acabar para sempre com o “fermento” e, sem lutar, ser permanentemente uma ―nova massa‖. Essa hipótese é contrariada pela palavra aos gálatas em Gl 5.16s. A carne com sua ―concupiscência‖ permanece. O ―andar no Espírito‖ constantemente precisa impedir que essa concupiscência atinja o alvo. O ―velho fermento‖ aparecerá repetidamente e precisa ser repetidamente ―varrido fora‖. No entanto, Paulo agora não diz ―para que vos torneis nova massa‖. Isso seria ―idealismo‖, que tão somente redundará em fracasso. Não, ele escreve: “para que sejais nova massa, de conformidade com os asmos que sois.” Paulo enfatiza o ―ser‖. O ―ser‖ presenteado é o fundamento do ―fazer‖ bem-sucedido; mas não torna obsoleto esse ―fazer‖, e sim necessário. De forma palpável verificamos aqui a natureza da ética cristã, da concretização da vida cristã. O princípio, a regra fundamental é: ―Seja o que você é‖ ou ―Torne-se integralmente o que você é.‖ É óbvio que isso é sumamente ―ilógico‖. O pensamento lógico sempre dirá: se eu sou algo, então não preciso vir a sê-lo; se devo tornar-me algo, então eu ainda não o sou. Consequentemente, também a atitude cristã de vida oscila com bastante frequência entre atividade sem fé, que tenta conquistar tudo pessoalmente, e passividade ―crente‖, que ―tem‖ tudo pela fé e por isso pensa que não precisa mais agir. Paulo, porém, sintetiza os dois aspectos de forma ilógica e vivamente verdadeira.
No entanto, como é que os coríntios já possuem o ―novo ser‖? Como é que já são “asmos”, “nova massa”? Não podem sê-lo por si mesmos. Sua realidade de fato, afinal, é justamente tal que precisam ser exortados com muita insistência, para varrer fora o velho fermento. Somente o são ―em Cristo‖, a partir do sacrifício de Jesus. “Pois foi imolado também o nosso passá, Cristo” [tradução do autor]. Na noite antes da saída dos filhos de Israel do Egito a ira do santo Deus percorreu o país com o juízo e vitimou seus primogênitos. As casas dos israelitas não estavam ―automaticamente‖ isentas do juízo. Não há acepção da pessoa diante da justiça de Deus. A morte é a punição pelo pecado, também para Israel. Agora, porém, foi possível entre os israelitas que um cordeiro sangrasse e morresse vicariamente por eles, e o sangue do cordeiro pascal na porta cobria a casa e seus habitantes diante do juízo. A igreja de Jesus não perde para Israel. Não, “foi imolado também o seu passá, Cristo”. Sim, Cristo é de fato o verdadeiro Cordeiro de Deus. Todos os cordeiros pascais imolados no passado no Egito e até hoje em Israel são apenas uma ―sombra‖, antecipada, do verdadeiro Cordeiro (Hb 10.1; Cl 2.17), são indício provisório do sacrifício realmente válido, do sangue realmente purificador, do feito de fato libertador na cruz. Em Cristo todos os que nele creem são ―asmos‖, ―nova massa‖, ―pães doces‖, apesar de todo velho fermento que ainda esteja apegado a eles.
Werner de Boor. Comentário Esperança 1 Cartas aos Coríntios. Editora Evangélica Esperança.
O Imperativo Espiritual (5.7a)
Por causa do perigo para a igreja como um todo, Paulo profere uma ordem sonora: Alimpai-vos, pois, do fermento velho. A referência ao fermento é extraída de Êxodo 12.18-20 e 13.6-7, onde cada família judaica recebia a ordem de se livrar de todo fermento usado na preparação para a Páscoa. A palavra alimpai é forte e significa “limpar totalmente, purificar... até eliminar”. O fermento velho era o mal espiritual que permitia que a igreja tolerasse a pessoa incestuosa. Ele é chamado de velho porque era o resíduo de seu estado pecaminoso anterior, o qual, como o fermento, ainda estava em operação corrompendo o seu caráter”. Paulo indica que a relutância dos coríntios em lidar com o pecado evidente em sua igreja se devia ao fato de todos os coríntios possuírem o fermento velho em si mesmos - “a velha disposição mundana e carnal que continuava em seus corações, e que vinha do seu estilo de vida anterior”. A expressão Alimpai- vos... do fermento velho significava que cada membro deveria aplicar o processo de purificação a si mesmo, “a fim de não deixar na igreja nem uma única manifestação do velho homem, da natureza corrupta, oculta e não corrigida”. Cada cristão é exortado a ser liberto, não só livrando-se de todo o pecado, mas também vivendo o tipo de vida santa que é potencialmente seu em Cristo Jesus.
O Potencial Espiritual (5.7b)
A razão para a preocupação de Paulo concernente à purificação do fermento velho da “corrupção pagã e natural”, era que os coríntios poderiam perceber seu potencial espiritual em Cristo: para que sejais uma nova massa. A remoção deste resíduo de corrupção natural resultaria em um novo tipo de vida cristã. Nova (neos) significa novo no sentido de que a coisa ou a condição não existiam antes.
Uma outra palavra para nova (kainos) significa novo no sentido de diferir do que é velho. Os coríntios já eram novos no sentido de diferirem do seu velho modo de vida. Mas agora eles deveriam ser novos em um sentido diferente - “Sua vida e caráter cristãos devem ser como um começo inteiramente novo”. Kling escreve sobre a nova massa: “Não há fermento; portanto, temos como conseqüência uma totalidade moralmente renovada pela purificação - uma igreja santa e livre do pecado, evidenciando o seu primeiro amor e zelo”.
Paulo lembra aos coríntios o potencial que têm por meio de uma referência ao ideal cristão: assim como estais sem fermento, isto é, sem o fermento velho do pecado. O método das Escrituras consiste em fazer referências aos cristãos em seu ideal, em vez de ao seu estado real. No caso dos coríntios, a referência de Paulo serve como um lembrete de que eles deveriam “alcançar o seu verdadeiro ideal”. Este potencial espiritual é percebido através do poder de Cristo. O que o cristão precisa fazer é tornar-se, na verdade, o que ele já é em potencial. “Ele deve se tornar santo de fato, assim como o é idealmente”.
A base do potencial espiritual da igreja é encontrada nas palavras: Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. O verbo foi sacrificado é um aoristo, indicando um ato definitivo e completo. Os benefícios do sacrifício consumado ainda se estendem e se aplicam ao cristão, tanto nos dias de Paulo como nos dias atuais.
Donald S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 278-279.
1 Cor 5.7, Dá-se seguimento à metáfora, Paulo os concita a “ purificar o velho fermento” (o verbo traduzido por “ purgar” , AV, tem definidamente a ideia de purificar). O ponto que focaliza é que os velhos hábilos não são apenas maus — são corruptores. Exatamente como o fermento, eles agirão até permear tudo. A única coisa a fazer é livrar-se deles, inteiramente. Assim Paulo fala de uma nova massa. A igreja cristã não é simplesmente a velha sociedade remendada. É radicalmente nova. O mal que caracteriza os homens do mundo foi retirado, e o apóstolo pode dizer, sois de fato sem fermento (Weymouth, “ livres de corrupção” ). Ele não diz, “ Deveis ser sem fermento” , mas afirma um fato. É isso que os cristãos re,almente são. A inferência é que não lhes compete reintroduzir o velho fermento. Gar, pois, introduz a razão de sua confiante asserção acerca do estado deles. “ Cristo, a nossa páscoa, foi sacrificado” (AV; assim no grego). É isto que faz novas todas as coisas para os cristãos. Com Sua morte, Cristo pôs fora de ação o pecado deles. Fez com que eles ficassem sem fermento. A páscoa era a comemoração anual da libertação do jugo do Egito no tempo antigo.
Os israelitas tinham oferecido o seu cordeiro ou cabrito para que o anjo destruidor passasse sobre eles. Foram libertos, e a ralé escrava emergiu do Egito como o povo de Deus. Ao empregar essa figura, Paulo lembra a seus leitores que a morte de Cristo os libertou de um perigo mortal, e os constituiu povo de Deus. Neste contexto, porém, a coisa importante é a emersão para uma vida nova. Uma característica da observância normal da páscoa era a solene busca e destruição de todo o fermento, antes de iniciar-se a festa (durante sete dias só se podia comer pão sem fermento). Este expurgo de todo o fermento era feito antes de a pascha, a vítima pascal (cabrito ou cordeiro), ser oferecida no templo. Mas Paulo assinala que “ Cristo, a nossa páscoa” , já foi sacrificado. É tempo, e mais que tempo, de ter sido expurgado todo o fermento.
LEON MONIS. Comentário Bíblico 1 Coríntios. Editora Vida Nova. pag. 71-72.
Rm 5.8-9. Os três versículos seguintes retornam ao significado objetivo do amor de Deus. Eles nos dão a prova mais clara possível de que Deus ama os homens, por mais pecadores que eles sejam. “Pois o amor de Deus por nós é provado nisto (v. 8), porque Cristo morreu por nós quando ainda éramos fracos (v. 6), pecadores (v. 8), ímpios (v. 6), inimigos (v. 10). Ele não esperou por nós, mas veio para nos encontrar e ir diante de nós”.238 Porque Cristo, estando nós ainda fracos - sem forças para nos salvarmos - morreu por nós (6). A nossa condição natural é a da incapacidade moral. Nós não temos força em nós mesmos para sermos justificados. Mas por meio da Cruz de Cristo recebemos a capacitação sobrenatural para sermos convertidos. Os teólogos chamam isto de graça prévia, isto é, a graça que vem antes da justificação. O pecador incapacitado também é descrito como ímpio (cf. Ef 2.12). Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova (synistesin, “estabelece”, e, consequentemente, “prova”) o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós (7-8)... sendo inimigos (10). Se quisermos saber o que é o amor (agape) de Deus, Paulo responde mostrando-nos a morte de Cristo. Em nenhum outro lugar existe uma revelação de amor como aquela que encontramos na Cruz. Somente ali descobrimos o significado do amor de Deus. Outra vez, a linguagem e o pensamento de Paulo são próximos a João: “Conhecemos a caridade nisto: que ele deu a sua vida por nós” (1 Jo 3.16). Pela cruz, temos uma abertura ao coração de Deus e vemos que se trata de um amor que se dá e que se sacrifica.
Paulo contrasta o amor divino com o amor humano. O amor humano é motivado pela natureza do seu objeto - sob certas condições pode levar-nos a morrer por um justo. O amor divino não é motivado pela justiça do seu objeto, mas se dá para os pecadores, até mesmo para os seus inimigos. O amor divino jorra do próprio ser de Deus, como um poço artesiano. A sua única explicação é que “Deus é amor”. É a natureza do amor agape que se derrama “sobre maus e bons” (veja Mt 5.43-48). É esta revelação de Deus como Agape que constitui a exclusividade e a singularidade do evangelho cristão. Quando perguntado se a sua religião ensinava que Deus o amava, um estudante universitário hindu respondeu afirmativamente. A pergunta seguinte, “Quando Ele ama você?”, ele respondeu “Quando eu sou bom”. A mensagem cristã é que Deus nos ama, mesmo com as nossas iniquidades e hostilidades: Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores (8). A manifestação do amor de Deus se dá por meio de um evento histórico - a cruz; a aplicação é feita pelo Espírito Santo (v. 5).
Tendo estabelecido o fato do amor de Deus, Paulo retorna ao tema principal do parágrafo. Como Deus já fez tanto por nós, temos a expectativa da salvação final. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira (9). Chegamos ao clímax da seção. Justificados recorda o versículo 1, desfrutando no presente a alegria da paz com Deus. Pelo seu sangue deve ser interpretado como “por meio do seu sangue”. Sobre esse pensamento, veja os comentários sobre 3.25. Seremos salvos aponta para o futuro. Sobre os ensinos de Paulo sobre a salvação, veja os comentários sobre 1.16 e 13.11. Esta salvação pertence essencialmente ao futuro, e o verbo aqui está, como é usual, no futuro. Salvos da ira se refere à libertação final no juízo final; esta salvação é garantida pelo fato da justificação ser uma antecipação do veredicto favorável daquele dia. Sobre o significado de ira, veja os comentários sobre 1.18 e 2.5.
Donald S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 81-82.
O Teste da Edificação (Rm 3.12-15). Em referência ao teste, ou inspeção da edificação, várias coisas são claras. Primeiro, há materiais alternativos que podem ser usados. Paulo menciona ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha (12). O material é de dois tipos distintos e opostos, “rico e durável ou insignificante e perecível”. Um tipo sugere cristãos maduros e estáveis fundados em doutrinas sólidas, e rica experiência. O outro tipo é a palha frágil da opinião humana, os pedaços de madeira aleatórios da sabedoria humana. Isto sugere membros da igreja imaturos e instáveis.
Os olhos de Paulo não estão enfraquecidos nem a sua mente está nublada. Ele levanta voo além dos limites do tempo e do espaço para declarar que tanto as coisas do presente (os acontecimentos contemporâneos) como as coisas futuras (os eventos futuros), estão sujeitas ao controle soberano de Cristo. E uma vez que o cristão pertence a Cristo, todas as coisas pertencem a ele. E vós, de Cristo, e Cristo, de Deus (23). As discussões medíocres dos coríntios estavam reduzidas à insignificância, à luz das possibilidades da graça através de Cristo. Visto que Cristo é o próprio Deus revelado, Ele iria unir todos os crentes em Deus.
Donald S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 264, 266.
Rm 3. 10-18 Quando no versículo anterior Paulo afirmou: “já temos demonstrado”, era óbvio que isso se deu unicamente por meio do amparo na Escritura. Como prova surge uma longa citação composta, oriunda primordialmente de salmos de lamentação, sobre o afastamento geral das pessoas de Deus. O apóstolo abrevia e complementa as frases, aguça-as e funde-as num bloco sólido por meio do constante: “não há…”, o que tem o sentido de: “Não há… nem um sequer…”.
Os v. 10-12 denunciam maciçamente a ruptura da aliança: todos se extraviaram (v. 12). E nisso retornam elementos da descrença gentílica. Pois a injustiça de 1.18 é citada aqui no v. 10a: Não há justo. A insensatez dos corações de 1.21,31 surge aqui no v. 11: não há quem entenda. A indiferença perante Deus, de 1.28, retorna no v. 11b: não há quem busque (verdadeiramente) a Deus. Repete-se pois no v. 12b a condenação da perversão moral da sociedade, de 1.28,32: à uma se fizeram inúteis.
Rm 3.22b,23 Neste ponto, Paulo insere brevemente no seu raciocínio o resultado de 1.18–3.20. Porque não há distinção (entre judeus e gentios): pois todos pecaram e carecem da glória de Deus. De acordo com Sl 8.5,6, o ser humano na verdade está logo abaixo de Deus. Como reflexo de Deus ele traz sobre a cabeça uma coroa de glória, com a Criação aos seus pés. Ele, porém, possui essa dignidade somente quando persevera na adoração de Deus, assim como a lua somente brilha quando está voltada para o sol. Por meio da trágica alteração de percurso mencionada em 1.21, o ser humano perdeu sua irradiação prevista por Deus. Em 1.24-32 e 3.10-18 Paulo retratou o ser humano desviado de Deus e, por isso, assustadoramente sem brilho. Segundo 2.7,10, no juízo final estará em jogo a pergunta se Deus nos conferirá esse brilho reluzente da dignidade humana original.
Adolf Pohl. Comentário Esperança Cartas aos Romanos. Editora Evangélica Esperança.
3. A Santa Ceia.
Recordemos um pouco sobre a Santa Ceia. Ela é citada em pelo menos dois textos centrais: no Evangelho de Lucas e na Primeira Carta de Paulo aos Coríntios.
Lucas 22 mostra Jesus ceando com seus discípulos antes de ser entregue nas mãos daqueles que o haviam de matar. “Desejei muito comer convosco esta Páscoa, antes que padeça” (Lc 22.15). Ele sabia que em pouco tempo seria morto, mas fez questão de ter um momento de comunhão com aqueles que iriam dar prosseguimento à sua obra na terra. Aquela refeição mostrou o traidor, mas mostrou também a importância que o Senhor deu em falar que o Reino de Deus não terminaria com sua morte. Foi um momento reservado aos que eram próximos do Senhor.
Se em Lucas nos é mostrado o momento do Senhor com seus discípulos antes de sua morte, em Coríntios Paulo descreve sua tristeza para com os crentes daquela igreja sobre vários aspectos, e a Ceia do Senhor era um desses motivos. Há indícios de que os crentes que tinham mais posse levaram evidentemente mais recursos para a ceia, e os mais pobres, menos recursos. Esses alimentos deveriam ser reunidos para que todos pudessem ter uma refeição em conjunto, em comunhão, mas esse sentimento era desconhecido naquela igreja. Os que tinham levado mais comida pegavam antecipadamente o que tinham levado e o comiam, e o mesmo o faziam os que tinham levado pouca comida. Eles não sabiam dividir seus recursos para que todos comessem juntos e na mesma medida. Paulo diz que “assim um tem fome, e o outro embriaga-se” (1 Co 11.21). O versículo 22 dá a entender que essa atitude partia dos crentes mais abastados: “Não tendes, porventura, casas para comer e para beber? Ou desprezais a igreja de Deus e envergonhais os que nada têm?” De qualquer forma, foi necessário que Paulo corrigisse os desvios na Ceia do Senhor, ordenando que esperassem uns pelos outros.
Os coríntios deveriam aprender que a Ceia do Senhor é um momento sublime, em que somos motivados a lembrar da morte do Senhor até o seu retorno. Não é um momento de manifestação de egoísmo, e ninguém pode participar dela de forma indevida, sem ter em mente que o sangue de um inocente foi dado em nosso lugar, para que tivéssemos vida. Mais que isso, é um momento de anúncio do sacrifício de Cristo até que Ele retorne.
A Páscoa nos traz diversas lições espirituais, como obediência, sacrifício e comunhão. Que possamos atentar para essas lições e ter em mente que Deus preza por todos eles hoje.
"Que atitudes dos pais israelitas fez com que seus primogênitos fossem salvos? A fé no que Deus disse e a obediência ao que Deus disse. Fé e obediência precisam caminhar juntas."
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 43-44.
A ÚLTIMA CEIA. A tradição que Paulo recebeu e registrou pertence ao mais primitivo registro do que aconteceu na noite em que Jesus foi traído (1 Co 11.23-26). Este registro afirma que foi à noite que houve uma refeição (Seutvov), que Jesus tomou o pão, o partiu e disse, “Isto é o meu corpo, que é dado [partido] por vós; fazei isto em memória de mim”. O mesmo com o cálice: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue. Fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.” Não há menção da Páscoa no registro de Paulo, exceto de uma forma circunstancial: o partir do pão de forma solene, o beber do vinho no cálice, a referência à aliança. O registro sinóptico não se diferencia em essência do paradosis paulino, exceto por ser apresentado como uma ceia pascal (cp. Mt 26.17; Mc 14.12; Lc 22.7).
a. A data da crucificação. Se a referência de João ao sacrifício do cordeiro pascal, em 18.28, refere-se à verdadeira ceia pascal, então a Ultima Ceia não poderia ter sido a ceia pascal. Os sinópticos são explícitos ao declarar que a crucificação aconteceu no primeiro dia da Páscoa (15 de Nisã). Há dois possíveis problemas relativos a isto: os eventos descritos na história da paixão teriam que ser comprimidos num curto período de tempo; o envolvimento das autoridades judaicas no negócio sórdido de uma crucificação no primeiro dia de uma grande festa é difícil de aceitar. J. Jeremias rejeita as dificuldades que se levantam em relação a crucificação em 15 de Nisã (The Eucharistic Words of Jesus [1955], 46ss.), mas pelo lado judaico isto é considerado pura impossibilidade (cp. J. B. Sega, The Hebrew Passover [1963], 244 n 8; cp. também D. Daube, The NT and Rabbinical Judaism [1956], 312). D. Chwolson tentou resolver a dificuldade pressupondo duas datas para a Páscoa, uma para se ajustar ao calendário farisaico e a outra para ao saduceu (Das letzte Passamahl Christi under-Tag seines Todes [1892, rev. 1908]). Através da literatura de Qumran sabemos que as diferenças no calendário eram causa de dissensão (cp. M. Black The Scrolls and Christian Origins [1961], 199ss.). Não há evidência de que os saduceus, que tinham a superintendência do Templo, tivessem se comprometido em tão importante assunto como permitir duas datas distintas. Mlle. Annie Jaubert trabalhou sobre a premissa de dois calendários diferentes: um velho calendário sacerdotal baseado no sistema solar e o calendário lunar oficial da época. De acordo com o sistema
solar, a Páscoa cairia sempre numa quarta-feira;
0 sistema lunar tomaria a festa móvel. Sugere-se então que a discrepância nos evangelhos deriva-se do duplo sistema (cp. La Date de la Céne [1957]). De acordo com uma antiga tradição da igreja/ Jesus foi preso na quarta-feira (cp. Epifânio, de fide XXII, 1), o que significa que a Ultima Ceia teria acontecido numa terça-feira. A teoria de Mlle. Jaubert foi grandemente aceita (cp. G. R. Driver, The Judaean Scrolls [1965], 330ss.; John Bowman, op. cit. 257ss.; Norman Walker, “Conceming the Jaubertian Chronology of the Passion”, Nov Test III [1959], 317ss.). Mas a teoria fica de pé e cai com a suposição de duas celebrações pascais. Se os sinópticos e João estão falando da mesma Páscoa “a discrepância não pode ser reconciliada” (Driver, op. cit. 331). George Ogg mostrou porquê a teoria é insustentável (cp. Historicity and Chronology in the NT [1965], 82s.). Ao mesmo tempo há um grande consenso de que a Ultima Ceia foi a ceia pascal: nem a teoria do kiddush ou do haburah são adequadas (cp. Bowman, op. cit. 274s.). Jeremias sugere 14 aspectos de uma ceia pascal (op. cit. págs. 136ss.) e admite que a partir das evidências do NT nenhuma resposta uniforme é possível (TWNT, V, 895ss.). Uma solução para o dilema seria aceitar que a Ultima Ceia foi a ceia pascal, mas em antecipação à festa, o que significaria que não havia cordeiro pascal; pelo menos o cordeiro pascal nunca é mencionado no NT (apesar de Bowman admitir sua presença, op. cit. 266). Tão simples solução toma possível a reconciliação das duas tradições: João estava certo, pois a Páscoa começou na sexta-feira à noite; os sinópticos estavam corretos, pois a Ultima Ceia foi a ceia pascal mesmo sem o cordeiro (cp. J. Jocz, A Theology ofElection [1958], 37; G. Ogg, op. cit. 85s.).
b. A ceia memorial. Anamnesis é a ideia fundamental da Páscoa: Israel traz à memória o que Deus tem feito pelo seu povo (cp. Hans Kosmala, Nov Test, IV [1959], 81ss.). No contexto pascal, as palavras da instituição da Ultima Ceia se encaixam bem ao propósito da festa. Mas está faltando o convite para “lembrar” nos sinópticos, com exceção da VS mais longa de Lucas (cp. Lucas 22.17-19mg.). Isto levanta a questão sobre qual texto é o original. A questão é complicada pelo fato de que a VS mais longa está sob suspeita de ter assimilado o texto de 1 Coríntios 11.24s. Depois de um estudo cuidadoso, Jeremias escolheu a VS mais longa de Lucas e atribui as similaridades verbais ao fato de que ela deriva da fórmula litúrgica (op. cit. 91,102). Isto coincide com o próprio testemunho de Paulo de que ele recebeu a tradição (cp. Birger Gerhardsson, Memory andManuscript [1961], 321 ss.). A favor da VS mais longa de Lucas está a menção de dois cálices, um antes e um após a refeição. Isto está de pleno acordo com os costumes judaicos de ter o cálice kiddush no começo da festa.
O fato de anamnesis não ser mencionado em Marcos não significa que a instituição da Última Ceia era desconhecida naquele evangelho, como deduz Bowman (op. cit. 266). Sendo admitido o contexto pascal, o anamnesis já está automaticamente incluído — toda a festa (Ex 12.14). As palavras interpretativas que acompanham os atos manuais estão em conformidade com a obrigação de explicar o significado do “ritual”
— (Êx 12.26; Pes 10.4). Jesus seguiu o costume mas reinterpretou a Páscoa sob o ponto de vista do evento messiânico: o Messias assumiu o papel do cordeiro pascal. É, portanto, correto dizer que a Ultima Ceia proporciona à Páscoa um novo conteúdo (cp. J. Steinbeck, Nov Test III [1959], 73). Daqui em diante o pão e o vinho do seder se tomam os sinais do sacrifício do Messias na cruz. A ceia pascal se toma uma ceia messiânica.
Os estudiosos suspeitam que Paulo tenha recebido influências helénicas em vista das práticas das refeições cúlticas nas religiões pagãs. O contexto pascal da Ultima Ceia toma tais suspeitas infundadas (cp. E. Kãsemann, Exegetische Versuche und Besinnungen [1960], 11). Sverre Aalen nega qualquer ligação com rituais não judeus e aponta para o fato de que na Ultima Ceia não há indicação de uma ceia compartilhada entre Deus e o homem (Nov Test VI, 151).
c. A Ultima Ceia e a Páscoa. Na época do Templo, a ceia pascal consistia não apenas do cordeiro, mas também da festa especial do sacrifício, da qual todos participavam (cp. 2 Cr 35.13). Comer o sacrifício era uma ocasião alegre e dava coesão à vida comunitária. Isto deve ser distinguido da oferta pelo pecado, que era totalmente queimada e nunca consumida. Para os hebreus, comer o sacrifício nunca significou comer seu Deus. A participação no ai do Messias cria um problema se a Ultima Ceia for concebida puramente em termos sacrificiais. Por esta razão a ênfase na Última Ceia deve ser colocada tanto sobre a aliança quanto sobre a oferta pelo pecado, se não mais (cp. Aalen, op. cit. 148s.). O sangue que selou a aliança não é o sangue derramado sobre o altar, mas o sangue borrifado sobre as pessoas. Há uma correspondência entre a Última Ceia e Êxodo 24.11; os anciãos de Israel viram Deus e comeram e beberam.
A aliança está no centro do registro da Páscoa. Na noite do Êxodo, Deus se revelou como o Deus dos pais que se lembraram sua aliança (Êx 2.24; 3.15). Na noite da crucificação, esta aliança foi reafirmada pela voluntariedade do Messias de derramar seu sangue. O cordeiro pascal não é, portanto, suficiente para explicar o sentido completo da Última Ceia; a aliança se impõe como o tema que cobre com a arca.
Isto levanta o problema do significado em que sentido é uma nova aliança? O escritor aos Hebreus e Paulo, algumas vezes, dão a impressão de uma ruptura radical: o primeiro mandamento é colocado de lado “por causa de sua fraqueza e inutilidade” (Hb 7.18); se a primeira aliança tivesse sido feita sem defeito não haveria necessidade de uma segunda (8.7); “Quando ele diz nova, toma antiga a primeira” (8.13); aquele que está em Cristo nova criatura é; as coisas velhas já passaram, eis que tudo se fez novo (2Co 5.17).
Desde Marcião tem persistido uma tendência de separar os dois Testamentos e de compreender o “novo” num sentido radical. A exposição de Paulo sobre o destino de Israel (Rm 9-11) toma tal ruptura impossível. Os Pais da Igreja que falaram de uma “mudança de aliança” (cp. Lactâncio, Divinae Institutiones IV, 11) fizeram violência à continuidade da revelação. A doutrina do Logos não permite tal ruptura; o Cristo preexistente já falava no AT (cp. I Pe 1.11). O escritor de Hebreus baseia seu argumento na premissa de que o Cristo preencamado estava presente na história de Israel (cp. W. Manson, The Epistle to the Hebrews [1951], 79s., 82,96,184ss.). O novum, então, deve ser compreendido em conexão com o evento messiânico. A Nova Aliança coloca a Velha Aliança à margem de seu cumprimento escatológico, mas o povo de Deus é uma continuação de Abel até os dias de hoje (cp. Melanchthon, On Christian Doctrine [1965], 232). Cristo como o telos da lei (Rm 10.4) traz uma Nova Era, mas não muda as promessas de Deus. A Nova Aliança é chamada “melhor” que a velha (Hb 8.6) porque Deus em Cristo cumpre sua promessa de escrever sua lei no coração dos que creem (Hb 8.8ss.). A Última Ceia, portanto, continua o tema da Páscoa no novo contexto messiânico.
(1) É uma festa em memória da pessoa e obra do Messias. O anamnesis vai além dos eventos históricos e se toma uma proclamação e confissão de fé (cp. ICo 11.26).
(2) É uma declaração de fidelidade entre o Mestre e os discípulos, expressando coesão e uma mútua interdependência da família cristã.
(3) Reafirma a antiga aliança, selando-a no sangue do Messias.
(4) Expressa a alegria da salvação e a esperança escatológica do triunfo definitivo do Messias (cp. J. Steinbeck, op. cit. 71 ss.)
d. O êxodo cristão. A ideia fundamental da mensagem do NT é o cumprimento messiânico; Jesus é aquele de quem Moisés e os profetas escreveram (Jo 1.45). O Messias, através de sua vida, obra, morte e ressurreição realizou uma “salvação eterna” (Hb 5.9). A lei era incapaz de fazer isto, porque a lei não tomava nada perfeito (7.19); ela somente serviu como um provisório até Cristo vir (G1 3.24). A salvação de YHWH, como demonstrada na história do Êxodo (cp. Êx 14.13), era apenas um prenúncio do que estava por vir. Todos os atos de Deus no AT apontam para um acontecimento futuro. Um dia virá, quando o Senhor se revelará como “um guerreiro que dá vitória” (Sf 3.17). A diferença entre a redenção do Egito e a salvação messiânica não está nos períodos em que ocorreram. A salvação bíblica está sempre arraigada no tempo e na história; esta é sua característica mais peculiar (cp. Daube, op. cit. 271). A distinção não se dá também porque uma é física (ou política) e a outra espiritual. Mas a distinção j az antes na área da escatologia; a salvação messiânica é definitiva. Os rabinos consideram a redenção do Egito como um prenúncio da redenção final (Daube, ibid. 191), o NT a reivindica como um fato realizado. A Páscoa é o começo da jornada que o Messias completa ao alcançar sua meta.
“Salvação eterna” significa que não pode haver outra salvação após o evento messiânico, que é o definitivo. A aliança eterna que Deus prometeu aos pais (Jr 32.40; 50.5; cp. Is 55.3; Ez 16.60) foi aogra estabelecida e selada no sangue do Messias (Hb 13.20). Em Hebreus a dissolução do culto, a mudança do sacerdócio e a remoção da lei são as consequências do evento messiânico. Cristo se tomou o caminho vivo (10.20) para o interior do santuário (6.19), o novo Sumo Sacerdote que, por seu sacrifício, tomou possível ao homem aproximar-se da presença do próprio Deus (10.20ss.).
Bowman detecta um paralelo esboçado em Marcos entre Moisés e Jesus (op. cit. 157). Mas a semelhança não é uma criação artificial. Ao contrário, deriva do tema pascal; o Êxodo fala de salvação. Jesus completou o que Moisés começou, mas nunca pôde realizar num sentido definitivo. A verdadeira libertação é a libertação do pecado. Ninguém que é escravo do pecado é verdadeiramente livre. Somente aquele a quem o Filho liberta, é de fato livre (Jo 8.34s.). Paulo chega a uma conclusão parecida: os pais estavam todos debaixo da nuvem, passaram pelo mar, foram batizados em Moisés, comeram do manjar espiritual e beberam da fonte espiritual e, ainda assim pereceram no deserto (I Co 10.1-5). O Êxodo teve um objetivo limitado, que não foi alcançado até que uma nova geração viesse. Ele é, portanto, apenas uma parábola da jornada do homem ao seu destino final — a Terra Prometida. Esta jornada não pode ser feita em sua própria força. O escravo tem que se tomar liberto do Senhor (I Co 7.22) e a alforria acontece na cruz de Jesus Cristo. Em Jesus os homens se tornam filhos de Deus (Gl 4.4-6) e gozam da liberdade dos filhos de Deus (Rm 8.2ss.). O Êxodo do Egito para a terra de Canaã conduz além da história para a “Cidade” cujas fundações tem “Deus como arquiteto e edificador” (Hb 11.10). Enquanto que o Êxodo histórico foi limitado à experiência de um povo, o Êxodo cristão está aberto às nações do mundo. O destino final do homem é a Jerusalém celestial, a cidade da liberdade (G1 4.26).
MERRILL C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 4. pag. 787-789.
A Ultima Cela: a Páscoa Cristã
Um acontecimento tão importante como aquele que deu origem à nação de Israel não poderia ser ignora· do pelo Novo Testamento. Isso pode ser comprovado nos cinco pontos abaixo:
1. A morte de Cristo, que ocorreu exatamente no período da páscoa, sempre foi considerada um evento capital para os primeiros cristãos, e daí por diante, durante todo o cristianismo. Jesus é chamado de nosso "Cordeiro pascal- (ver I Cor. 5:7). Isso tem sido associado pelos cristãos à ideia de expiação e livramento, que nos liberta dos inimigos da alma. 2. A ordem de não ser partido nenhum osso do cordeiro pascal foi aplicada por João às circunstâncias da morte de Jesus Cristo (ver Êxo. 12:46 e João 19:36), pelo que foi estabelecido um vínculo entre os dois eventos, fazendo o primeiro ser símbolo do segundo.
A ideia de expiação, como é patente, faz parte vital da questão.
3. O cristão (tal como os antigos israelitas) deve pôr de lado o antigo fermento do pecado, da corrupção, da malícia e da desobediência, substituindo-o pelos pães asmos da sinceridade e da verdade. A santificação (vide) faz parte necessária da experiência cristã.
4. A última Ceia é exposta nos evangelhos sinópticos como uma refeição pascal. O evangelho de João (18:28; 19:14) apresenta o fato de que a refeição foi tomada antes da celebração, e Jesus foi crucificado ainda naquele mesmo dia (lembrando que, para os judeus, o dia começava às 18:00 horas). Para muitos, isso constitui um dos grandes problemas de harmonia dos evangelhos, sobre o que abordo no NTI, nas passagem envolvidas. Porém essa pequena deslocação cronológica em nada contribui para anular a associação da última ceia com a pascoa. Talvez o Senhor Jesus tenha antecipado a refeição por algumas poucas horas. Nesse caso o quarto evangelho expõe a correta cronologia quanto à -questão, O ensino paulino sobre a última ceia (1 Cor. 11:23-26) faz com que a mesma seja um memorial tanto da morte libertadora de Cristo quanto da expiação. Ambos os elementos faziam parte da páscoa do Antigo Testamento, segundo já vimos. Paulo não menciona especificamente a páscoa, Daquela seção, embora ele o faça em I Cor. 5: 7. Eusébio aceitava o conceito da páscoa cristã no sacrifício de Cristo (ver Hit. 5,23,1). E essa também era a ideia tradicional da Igreja antiga. É interessante que a palavra hebraica par", páscoa, pascha, é tão parecida com a palavra grega para sofrer, péscbo, que alguns cristãos antigos fizeram a ligação entre elas, embora não haja qualquer conexão histórica entre esses termos. Cristo sofreu e ele é a nossa pascoa, um jogo de palavras empregado por Eusébio. Para os cristãos, a palavra grega anámne (memorial), é uma palavra-chave. A ceia do Senhor é um memorial que deve ser mantido vivo, até que o Senhor retorne. Essa é a ênfase paulina, que não se vê nos evangelhos sinópticos, embora. apareça em Luc. 22.19. Provavelmente, esse elemento foi uma adição crista às declarações feitas por Jesus, embora sugerida pelo que ele havia dito, se é que ele mesmo não ensinou assim. Por outro lado, é possível que Mateus e Marcos tenham omitido uma afirmação genuína de Jesus, e que Paulo. e Lucas preservaram. O que é certo é que Jesus reinterpretou a páscoa em consonância com as suas próprias experiências. A páscoa, pois, foi encarada pela Igreja cristã como uma daquelas muitas coisas que receberam cumprimento e adquiriram maior significação na pessoa de Cristo, retendo o tipo de símbolo e de lições que descrevi na quarta seção deste artigo, acima.
A ideia de pacto também se faz presente. Yabweh firmou um pacto com a emergente nação de Israel. E Jesus estabelece um pacto com sua emergente Igreja.
5. O êxodo cristão. Não nos deveríamos esquecer desse aspecto. A páscoa do Antigo Testamento marcava o começo de urna saída da escravidão; e, de fato, era o poder por detrás dessa libertação. Assim também, em Cristo, encontramos um êxodo que nos liberta da velha vida com sua escravização ao pecado. No sentido teológico, algo foi realizado que não poderia ter sido realizado pela lei. Esse é o tema principal tanto de Paulo (com sua doutrina da justificação pela fé) quanto do tratado aos Hebreus. O êxodo judaico libertou um povo inteiro da servidão física. O êxodo cristão oferece a todos os homens a libertação do pecado, bem como a outorga do Reino da Luz, onde impera perfeita liberdade. Em Cristo, . pois, os homens podem tomar-se filhos de Deus (Gâl. 4:4-6), transformados segundo a imagem do Filho (Rom. 8:29), participantes da natureza divina (11 Ped. 1:4; Col. 2:10). E agora eles olham para a Cidade celeste corno a sua pátria, da mesma maneira que Israel buscava uma nova pátria (ver Heb, 11:10). (AM B E NO SEGWZ)
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 101-102,
I Cor 11. 23-25 “O Senhor Jesus, na noite em que foi entregue” [TEB]. Sempre temos de nos lembrar que a palavra ―Senhor‖, desgastada para nós, era um conceito poderoso e de conteúdo significativo. Está agindo Aquele que era kyrios, ―Senhor‖ em sentido pleno. Ao mesmo tempo, porém, ele é mencionado com seu nome pessoal ―Jesus‖. Por ter-se tornado ser humano ele tinha condições de entregar corpo e sangue por um mundo perdido. Ele age ―na noite em que ele foi entregue‖. Paulo está usando a mesma palavra ―entregar, abandonar‖ empregada também em sua poderosa afirmação de Rm 4.25; 8.32. Por isso também na presente passagem não deve ter o intuito de salientar especialmente a traição de Judas. Essa noite não se caracteriza basicamente por um detalhe assim, mas o que determina todo o acontecimento é que agora o kyrios, o ―Filho‖ foi ―entregue‖ pelo próprio Pai, no presente caso ―entregue‖ ao juízo e por isso também ao mundo, ao diabo, ao abandono por Deus. Isso nos revela que o Pai não suporta passivamente o sofrimento e a morte do Filho, mas que nisso o
amor sacrifical do Pai é tão incompreensivelmente grande quanto o amor do Filho, que obedientemente se deixa sacrificar.
O Senhor Jesus “tomou o pão e, depois de oração de graças, ele o partiu e disse: Isto é meu corpo que é para vós” [tradução do autor]. Também agora, quando Jesus vê toda a realidade de sua paixão e morte diante de si no ―partir do pão‖, ele ―agradece‖. Não é lamento nem tampouco pesar pela despedida que preenchem seu coração, e sim a gratidão. Seu corpo partido, afinal, é “o para vós”, como é dito aqui com a mais lacônica reserva bíblica. Nesse breve e contido ―para vós‖ concentra-se tudo: todo o amor que se entrega pelos culpados e perdidos, e todo o imenso ganho que resulta desse sacrifício, a eterna redenção dos perdidos. É por isso que Jesus consegue agradecer; e por essa razão sua igreja pode celebrar esse ―partir do pão‖, essa lembrança da entrega, paixão e morte como santa festa de alegria.
Nada é dito sobre a distribuição do pão, sobre receber e comer. Os participantes daquela ceia na última noite ficam completamente fora do foco. Unicamente o próprio Senhor e sua ação e fala preenchem tudo. No entanto, o pão foi ―partido‖, a fim de ser distribuído aos companheiros da ceia e comido por eles. Jesus não protagonizou uma ação simbólica, a fim de expor aos discípulos uma verdade de maneira figurada e compreensível, mas com o pão partido ele lhes deu seu corpo. Não um corpo místico, uma substância transfigurada e sobrenatural, mas justamente corpo terreno, partido por eles. Contudo, agora recebem verdadeiramente esse corpo com todo seu sentido de salvação e o ―comem‖, ou seja, acolhem-no para si com toda sua realidade.
Jesus não queria celebrar apenas essa uma ceia com seus discípulos e não queria conceder seu amor apenas a esse pequeno grupo. Ele olhou para a igreja de todos os tempos e por isso ordenou expressamente: “Fazei isto em memória de mim.” Desse modo a ceia não se torna mera ―celebração memorial‖. O ―recordar‖ autêntico traz à presença. A igreja de fato tem necessidade de que toda a sua perdição e toda a magnitude da ação redentora de seu Senhor sejam expostas vivamente diante dela. Também o crente repetidamente começa a ―esquecer‖ quem ele é e o que o Senhor fez por ele. Ao receber, tomar e comer no pão o corpo partido de seu Senhor, a igreja ―recorda‖ toda a história da salvação de Deus em Cristo. Porém esse ―recordar‖ não consiste apenas de ―pensamentos‖ e recordações, mas de ―fazer‖, uma ação, um verdadeiro receber. De qualquer forma, o próprio Paulo estava convicto da ―participação‖ real no corpo do Senhor, como já constatamos em 1Co 10.16.
“Do mesmo modo também o copo após a refeição” [tradução do autor]. “Do mesmo modo” como com o pão, Jesus procedeu com o copo. Também o ―tomou‖, proferiu sobre ele a oração de graças, e o ofereceu aos participantes na mesa, como o pão. Fica explícito o quanto a ―santa ceia‖ estava inserida na refeição toda e não representava um ato fechado em si próprio, como entre nós. A partição e distribuição do pão pelo dono da casa fazia parte do começo de uma refeição. Ela prosseguia até o final, e somente agora, ―após a refeição‖, bem depois da distribuição do pão, o copo é abençoado e oferecido.
De maneira mais clara que no caso do pão Jesus profere aqui todo o significado de salvação da dádiva: “Esse copo é a nova aliança em meu sangue.” A declaração torna singularmente perceptível para nós que apesar de toda a realidade da dádiva de modo algum se trata de quaisquer substâncias sagradas. De acordo com a própria palavra de Jesus, não está no copo propriamente ―o sangue‖, e sim ―a nova aliança‖, que por sua vez somente se concretiza ―no sangue de Jesus‖, por intermédio de seu sangue. Quem recebe e bebe esse copo não recebe por meio dele uma matéria celestial, mas participação na nova aliança. Deus a havia prometido através do profeta Jeremias (Jr 31.31-34). Agora a institui e realiza em Jesus. Essa instituição, porém, não é uma coisa simples, não uma mera declaração de propósitos. O perdão prometido e necessário para essa nova aliança somente pode tornar-se realidade pelo fato de que toda a carga de pecados é levada embora por aquele que é o Cordeiro imaculado e santo de Deus (Jo 1.29). Em decorrência, a instituição dessa aliança somente podia acontecer através do sangue e custou o alto preço da morte maldita do Filho de Deus.
I Cor 11. 27 Foi assim que o próprio Senhor instituiu a ceia. Nem Paulo nem os coríntios podem dispor dela. Quando, no entanto, uma igreja a celebrar, isso tem de acontecer de modo digno, de conformidade com sua instituição. Paulo o expressa iniciando a frase seguinte com um enfático ―por isso‖. “Por isso, quem comer o pão ou beber o cálice do Senhor de uma maneira indigna torna-se culpado do corpo e do sangue do Senhor” [tradução do autor]. Como a formulação é importante! A tradução conhecida de Lutero: ―Quem, porém, come e bebe indignamente‖ quase nos obrigou a entender ―quem come e bebe como um indigno‖. Quantas pessoas não se torturaram amargamente com a pergunta se são ―indignas‖ e se com sua participação na santa ceia estão pecando contra o corpo e sangue do Senhor! Desse modo foi-lhes infundido nos corações o medo da santa ceia, de maneira que atenderam ao convite do Senhor Jesus o mais raramente possível ou nunca. O texto grego diz inequivocamente: aquele que come e bebe “de uma maneira indigna”. Unicamente assim a frase também se encaixa no contexto da passagem. Paulo não critica os coríntios por virem à ceia do Senhor como pessoas indignas, mas por destruí-la através de um modo indigno de celebrá-la. Quando diante da mesa do Senhor há divisões dilacerando a igreja, quando um sofre fome e o outro está embriagado enquanto a morte inusitada do Kyrios por todos é proclamada, então isso constitui uma ―maneira indigna‖. Nesse caso, porém, ela não representa um defeito estético, mas possui um efeito terrível, que os coríntios precisam ter em mente. Desse modo tornam-se “culpados do corpo e sangue do Senhor”. Toda celebração da santa ceia é ―participação‖ no corpo e sangue do Cristo com pleno realismo, independentemente de como ela é celebrada. Contudo, a questão é se essa participação salva e agracia ou se ela torna culpado e sentencia. Esse tornar-se culpado em Cristo corresponde ao ―desprezar a igreja de Deus‖ (v. 22), mas de forma aprofundada. Quem se comporta na ceia do Senhor da maneira como diversos coríntios não apenas despreza a igreja de Deus, mas ignora e despreza o próprio Senhor e seu amor sério e sacrifical, tornando-se assim ―culpado de seu corpo e sangue‖, que justamente haviam sido entregues para sua salvação. Encontramo-nos muito próximos de Hb 10.28-31.
I Cor 11. 28 Diante dessa seriedade cresce a obrigação do ―exame‖. Paulo não elucidou mais detalhadamente sua exortação “Examine-se, pois, o homem a si mesmo”. Em parte alguma do NT se fala de uma ―confissão‖ anterior à ―santa ceia‖. Cada um deve “examinar-se a si mesmo”. Uma vez que na frase seguinte, como no contexto do trecho todo, está em jogo ―discernir o corpo‖, ter a atitude correta perante a ceia do Senhor, bem como perante a irmandade da igreja, também o auto-exame deverá referir-se sobretudo a isso. Sem dúvida o reconhecimento do pecado tem importância. Afinal, a verdadeira ―dignidade‖ para a mesa do Senhor Jesus reside unicamente na minha ―indignidade‖ real e por mim mesmo confirmada. Jesus realizou a ceia no passado e a realiza ainda hoje unicamente com ―pecadores‖. Somente os ―perdidos‖ têm necessidade do sacrifício salvador do corpo e sangue do Senhor. Nesse caso, porém, também estão cientes de toda a santa magnitude da ceia do Senhor e não a profanam por meio de uma celebração indigna. Estão plenos do amor do Cristo e por isso dispostos para a irmandade. Os abusos que se imiscuíram em Corinto são inconcebíveis para eles. Paulo aponta para esse alvo corretivo do ―exame‖ por meio da palavra grega dokimazein que inclui o resultado positivo, à semelhança do que acontece também entre nós, quando falamos de um ―motorista provado‖. Por isso Paulo prossegue: “E, assim, coma do pão e beba do copo”. Agora, sabendo claramente o que busca na ceia do Senhor, a saber, não ―seu próprio comer‖ (v. 21), mas verdadeiramente essa grande dádiva do Cristo e a irmandade da igreja, “assim” o cristão pode e deve vir confiante e agradecido à mesa do Senhor.
I Cor 11. 29 Mais uma vez, porém, Paulo salienta diante de uma igreja irresponsável toda a seriedade: “Pois quem come e bebe, para si próprio come e bebe um juízo se não discernir o corpo.” Como em 1Co 10. 16s temos de considerar que no “corpo” que alguém “não está discernindo” sempre ressoa também a ideia do ―corpo de Cristo‖, a igreja. Os que em Corinto se refestelavam tranquila e opulentamente já não ―discernem‖ no pão, dentre todos os demais alimentos, o corpo do Cristo entregue por eles. Mas tampouco ―discernem‖ o corpo de Cristo, a igreja, de outras reuniões em que se podia contemplar com indiferença a fome de pessoas e envergonhar os pobres. Contudo, nem mesmo agora seu comer e beber permanece ineficaz, apesar de sua indiferença contra o ―corpo do Senhor‖. Comem e bebem agora com a ceia do Senhor o juízo para si mesmos. Como em todas as situações Paulo leva a sério o corpo e os processos físicos! O corpo pertence ao Senhor, em nosso corpo glorificamos a Deus (1Co 6.13; 6.20). Nosso comer e beber nos leva à união real com os demônios ou com o corpo e sangue do Cristo (1Co 10.16,20). Pelo comer e beber honramos a Deus (1Co 10.31). Pelo comer e beber nos submetemos pessoalmente ao juízo de Deus. É isso que os coríntios, que acreditam, numa falsa ―intelectualidade‖ e ―liberdade‖, não ter necessidade de se importar com os processos reais e corporais, precisam reconhecer.
I Cor 11. 30 Eles mesmos têm diante dos olhos que o “juízo” que eles comem e bebem para si não é mera palavra ou até mera ameaça do apóstolo. Não, esse juízo está sendo executado: “Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem.” Pelo fato de que na celebração indigna da ceia se trata de comer e beber, a culpa também tem um efeito físico, em fraqueza e enfermidade, sim, ela até leva a falecimentos. Mais uma vez fica claro todo o realismo na compreensão paulina da santa ceia.
I Cor 11. 31 Será que agora os membros da igreja em Corinto estão assustados? Será que buscam o que poderão fazer? Paulo tem para eles uma resposta clara: “Se nos julgássemos a nós mesmos (corretamente), não seríamos julgados.” Deus age segundo a misericordiosa regra de que ele não realiza mais o seu julgamento quando uma pessoa sinceramente tenta obter clareza sobre si mesma e profere a sentença contra si mesma.
I Cor 11. 32 Entretanto, há mais a dizer. Novamente constatamos em Paulo (cf. acima, p. 166s) aquela peculiar guinada para o positivo, oriunda do fato de estar compenetrado do evangelho. Até mesmo aqueles em quem já se realizou um juízo, sobretudo aqueles ―fracos e enfermos‖, não precisam desesperar, porém podem ter a certeza: “Julgados, porém, pelo Senhor, somos disciplinados, para não sermos condenados junto com o mundo” [tradução do autor]. O sentido da frase não muda substancialmente quando combinamos as palavras ―pelo Senhor‖ com ―julgados‖ ou com ―somos disciplinados‖. O importante é que os juízos sobre o crente visam ser um auxílio genuíno, a fim de que escape do juízo sobre o mundo. Paulo sempre considerou esse juízo como terrivelmente sério, cf. Rm 2.5; 5.9; 1Ts 1.10. Nesse juízo sobre o mundo prevalece a ira. Se os juízos disciplinadores de Deus preservam o crente de “ser condenado junto com o mundo”, então ele poderá aceitar com grata submissão esses juízos disciplinadores.
Werner de Boor. Comentário Esperança I Cartas aos Coríntios. Editora Evangélica Esperança.
O Significado da Ceia do Senhor (11.23-26)
O entendimento de Paulo a respeito da Ceia do Senhor se originava de uma revelação direta de Deus. O apóstolo apresenta a autoridade da sua narrativa “fundamentada em um alicerce imutável”. Quando Paulo recebeu o evangelho diretamente de Cristo (Gl 1.11-12), e não do homem, ele também recebeu instruções relativas à Ceia do Senhor. Além disso, ele havia transmitido estas informações à igreja de forma cuidadosa e fiel. Assim, o apóstolo podia afirmar com segurança e autoridade: Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei (23).
A Ceia representava a inauguração de um novo pacto de graça, e deveria ser observada como um memorial. Tanto o “corpo partido” quanto o “sangue derramado” deveriam ser considerados como símbolos e não como referências literais ao corpo de Cristo. Quando Jesus disse, isto é o meu corpo que é partido por vós (24), ele não estava fisicamente sentado à mesa. Qualquer ideia sobre uma transformação milagrosa, tanto no pão quanto no vinho, é contrária ao relato bíblico. Finalmente, a Ceia do Senhor deveria ser celebrada como um memorial ou lembrança, e não como meio de salvação. As afirmações: Fazei isto em memória de mim e Anunciais a morte do Senhor, até que venha (26) confirmam a ideia de que a Ceia é uma lembrança espiritual ou um símbolo da morte de Cristo.
Celebração da Ceia do Senhor (11.27-34)
A Ceia do Senhor é uma recordação espiritual do ato de redenção de nosso Senhor, e um testemunho público da nossa fé em Jesus Cristo. Portanto, ela deve ser celebrada como um agradecimento solene.
a) Participação indigna (11.27).
Paulo afirma que é possível comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente. O advérbio indignamente se refere à diferença de pesos; portanto ele significa “pesos diferentes” ou “indevidamente equilibrados”. A atitude de uma pessoa pode não estar equilibrada com a importância da ocasião. Se ela participar da Ceia do Senhor de forma frívola e descuidada, sem respeito ou gratidão, ou mesmo se estiver em pecado ou manifestando amargura contra outro irmão crente, estará participando indignamente.
Participar indignamente é ser culpado do corpo e do sangue do Senhor. A palavra culpado (enochos) significa “ser passível do efeito penal de um ato; aqui a palavra... [envolve] a culpa pela morte de Cristo”. Ao invés de se apresentar à mesa com uma atitude imprópria ou pecadora, o crente deve comparecer “na fé, e com o devido comportamento em relação a tudo aquilo que é apropriado a este ritual solene”.
b) Exame espiritual (11.28).
Antes de participar desse serviço sagrado, examine-se o homem por meio de uma análise rigorosa. Essa palavra significa testar; portanto, o crente deverá examinar seus motivos e seus atos. Certamente ninguém poderá ganhar, como um pagamento, a graça e o perdão de Deus. Mas, por outro lado, um sincero exame irá indicar se a pessoa compareceu à mesa sagrada levada por motivos sinceros e uma obediência ativa ao Senhor. O ensino de Paulo é totalmente positivo. Ele não diz que alguém deva fazer um auto-exame, e deixar a mesa do Senhor em uma situação de desespero. Pelo contrário, ele aconselha o homem a examinar seu coração e, em seguida, cheio de uma fé sincera, coma deste pão, e beba deste cálice.
c) Os perigos da irreverência (11.29-30).
A versão ARA traduz o versículo 29 da seguinte forma: “Quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si”. A palavra krima, que a versão ARA traduz como juízo, significa condenação, como na versão ARC. Paulo não tem a intenção de afirmar que a pessoa que comparece à mesa sem a qualificação espiritual adequada será eternamente amaldiçoada. Ele quer dizer que tal ato irá trazer a condenação e a culpa. Não discernindo o corpo do Senhor significa que o crente não foi capaz de distinguir entre o memorial sagrado da Ceia de Senhor e outros tipos de refeição.
O apóstolo indica que como resultado do abuso da Ceia do Senhor... há entre vós muitos fracos e doentes e muitos que dormem (30). E muito grave declarar que o abuso da Ceia do Senhor resulta na maldição eterna, mas Paulo adverte que o castigo de Deus poderia acontecer, trazendo enfermidades e até a morte física. A palavra fracos Oasthenes) está relacionado a enfermidades; o termo doentes (arrostos) quer dizer enfermidade e decadência, enquanto a palavra dormem (koimaomai) é usada frequentemente no NT para indicar a “morte daqueles que pertencem a Cristo”. Godet diz que Paulo está descrevendo um “julgamento prévio, especificamente infligido por Deus, como aquele que Ele envia para despertar o homem para a salvação”.
d) Participação reverente (11.31-34)
A maneira de evitar o castigo de Deus é nos julgarmos a nós mesmos de modo voluntário e sincero (31). Mas, quando Deus envia seu julgamento para o crente, este é repreendido pelo Senhor (32). Nesses casos, os castigos de Deus não são severos, mas símbolos do seu amor. “Eles são enviados para nos livrar dos caminhos do pecado e para não participarmos da condenação do mundo”.
A maneira adequada de observar o sacramento é esperar uns pelos outros (33). Os membros devem esperar até que todos estejam reunidos e depois, com afeição fraterna e respeito, conduzir a festa do amor. A determinação final do versículo 34 é novamente uma advertência para não considerar a Ceia do Senhor uma refeição comum. Se um homem estiver com fome, coma em casa. A finalidade da Ceia é lembrar aos crentes a obra redentora de Cristo e despertar na igreja um espírito de unidade e amor.
Alguns outros pontos relativos a este assunto ainda exigem alguma atenção. Sobre eles Paulo escreve: Quanto às demais coisas, ordena-las-eis quando for ter convosco (34). Esses problemas estavam afetando seriamente a vida da igreja e podiam ser adiados para uma outra ocasião. Quais eram as demais preocupações que Paulo tinha em mente? Talvez ele quisesse separar completamente a ideia da festa do amor da celebração da Ceia do Senhor. Sabemos que por volta do ano 150 d.C. o costume de fazer uma refeição junto com a Ceia do Senhor havia sido abandonado.
Para os cristãos existe “Força Através das Ordenanças”. 1) Elas foram instituídas pelo Senhor, 23a; 2) Elas são memoriais do sacrifício de Cristo, 236-26; 3) Elas exigem um auto-exame, 27-29; 4) Elas produzem a preocupação pelos outros, 33-34.
Donald S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 329-331.
Em primeiro lugar, devemos olhar para trás (vv. 23·26a). O pão repartido nos lembra o corpo de Cristo dado por nós; o cálice representa seu sangue derramado. É impressionante o desejo de Jesus de que seus seguidores se lembrem de sua morte. A maioria de nós procura esquecer os detalhes sobre a morte de nossos entes queridos, mas Jesus deseja que lembremos como ele morreu.
Isso porque sua morte é o cerne de tudo o que temos como cristãos.
Devemos lembrar o fato de haver morrido, pois sua morte faz parte da mensagem do evangelho: "Cristo morreu [...] foi sepultado" (1 Co 15:3, 4). Não é a vida de Cristo nem seus ensinamentos que salvam os pecadores, mas sua morte. Portanto, devemos nos lembrar do motivo de ter morrido: Cristo morreu por nossos pecados; foi nosso substituto (ls 53:6; 1 Pe 2:24), quitando uma dívida que jamais poderíamos pagar.
Também devemos lembrar como ele morreu: voluntária e mansamente, demonstrando seu amor por nós (Rm 5:8). Entregou o corpo nas mãos de homens perversos e levou sobre si os pecados do mundo. No entanto, essa "memória" não é apenas uma lembrança dos fatos históricos. Também é uma participação de realidades espirituais. Quando celebramos a Ceia do Senhor, não caminhamos ao redor de um monumento e o admiramos a distância. Temos comunhão com o Salvador vivo, do qual nos aproximamos pela fé.
Em segundo lugar, devemos olhar para a frente (v. 26b). Observamos a Ceia do Senhor "até que ele venha". A volta de Jesus Cristo é a esperança da Igreja e de cada cristão.
Jesus Cristo não apenas morreu por nós, mas também ressuscitou e subiu ao céu e, um dia, voltará para nos levar para junto dele. Não somos hoje tudo o que devemos ser; mas quando o vermos, "seremos semelhantes a ele" (1 Io 3:2).
Em terceiro lugar, devemos olhar para dentro (w. 27, 28, 31, 32). Paulo não diz que devemos ser dignos de participar da Ceia, mas apenas que devemos fazê-lo de maneira digna. Em um culto de Ceia na Escócia, o pastor reparou que uma mulher da congregação não aceitou o cálice e o pão oferecidos pelo presbítero, mas apenas ficou sentada em seu lugar, chorando. O pastor dirigiu-se até ela e disse:
- Pode tomar, minha cara, a Ceia é para os pecadores!
De fato, é, mas os pecadores salvos pela graça de Deus não devem tratar a Ceia de maneira pecaminosa.
A fim de participar dignamente, é preciso examinar o coração, discernir os pecados e confessá-los ao Senhor. Tomar a Ceia com pecados não confessados no coração é se tornar réu do corpo e do sangue de Cristo, pois foi o pecado que o pregou à cruz. Se não discernirmos nossas transgressões, Deus nos julgará e disciplinará até que confessemos e deixemos esses pecados.
Os coríntios não examinavam a si mesmos, mas eram especialistas em examinar a vida de todo mundo. Quando a igreja se reúne, devemos ter o cuidado de não nos tornarmos "detetives religiosos" que se dedicam a vigiar os outros, incapazes de reconhecer os próprios pecados. Se comemos e bebemos indignamente, comemos e bebemos julgamento (disciplina) para nós mesmos, algo que não deve ser considerado levianamente.
A disciplina é a maneira carinhosa de Deus tratar com seus filhos e filhas e de encorajá-los a amadurecer (Hb 12:1-11). Não é como a sentença de um juiz condenando um criminoso, mas como a repreensão de um Pai amoroso, que castiga os filhos desobedientes (e, possivelmente, obstinados). A disciplina é uma prova do amor de Deus por nós e, se cooperarmos, pode aperfeiçoar a vida de Deus em nós.
Por fim, devemos olhar a nosso redor (w. 33, 34). Não se deve fazer isso com o objetivo de criticar outros cristãos, mas sim de discernir o corpo do Senhor (1 Co 11 :29). É possível que essa frase tenha um sentido duplo: devemos reconhecer seu corpo no pão e também na igreja a nosso redor – pois a igreja é o corpo de Cristo. "Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo" (1 Co 10:17). A Ceia deve ser uma demonstração de união na igreja -, mas a igreja de Corinto não era muito unida. Na verdade, sua celebração da Ceia do Senhor era apenas uma demonstração de sua desunião.
A Ceia do Senhor é uma refeição em família, e o Senhor da família deseja que seus filhos amem uns aos outros e cuidem uns dos outros. É impossível um cristão verdadeiro aproximar-se do Senhor e, ao mesmo tempo, se manter separado de seus irmãos e irmãs em Cristo. De que maneira podemos lembrar a morte de Jesus Cristo se não amamos uns aos outros? "Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros" (1 Jo 4:11 ).
Nenhuma pessoa que não é verdadeiramente convertida deve tomar a Ceia. Também um cristão não deve tomar a Ceia se seu coração não estiver em ordem com Deus e com seus irmãos e irmãs em Cristo. É por isso que várias igrejas têm um tempo de preparação espiritual antes de realizar a Ceia, a fim de que nenhum dos participantes traga disciplina sobre si mesmo. lembro-me de um membro de igreja que me procurou e contou de uma derrota pessoal que não apenas o havia prejudicado espiritualmente, como também havia sido "divulgada" por outros e estava prestes a envergonhar a ele e à igreja.
- O que posso fazer para colocar a situação em ordem? - ele me perguntou, convencendo-me de que havia, de fato, discernido e confessado seu pecado. lembrei-o de que, na semana seguinte, realizaríamos a Ceia do Senhor e sugeri que pedisse a orientação de Deus. Na noite da Ceia, comecei a celebração de uma forma como nunca havia feito antes.
- Há alguém que gostaria de compartilhar alguma coisa com a igreja? - perguntei.
Meu amigo arrependido colocou-se em pé e veio à frente, onde parou a meu lado junto à mesa da Ceia. De maneira tranquila e concisa, reconheceu que havia pecado e pediu o perdão da igreja. Sentimos uma onda de amor vindo do Espírito tomar conta da congregação, e várias pessoas começaram a chorar. Naquela celebração da ceia, verdadeiramente discernimos o corpo de Cristo.
Apesar de a confissão ser um elemento importante, a Ceia não deve ser uma ocasião de "autópsia espiritual" e tristeza. Deve ser um tempo de ação de graças e expectativa jubilosa de ver o Senhor! Jesus sabia que, em breve, passaria por grande sofrimento e morreria, mas ainda assim deu graças. Façamos o mesmo.
WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. N.T. Vol. I. Editora Central Gospel. pag. 792-794.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

Um comentário:

  1. A Paz do Senhor Jesus Cristo vaso, que a graça do Senhor Jesus esteja sobre você; lendo o seu perfil você disse que tem um acervo de mais de 5 mil Livros para compartilhar, ficaria Feliz se você compartilhasse comigo - santosbrayan@outlook.com
    Aux. Brayan Santos - Prof. Escola Dominical.

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