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8° LIÇÃO 1°TRI 2014 MOISÉS — SUA LIDERANÇA E SEUS AUXILIARES


MOISÉS — SUA LIDERANÇA E SEUS AUXILIARES
Data: 23/01/ 2014                                       HINOS SUGERIDOS 153, 156, 305.
TEXTO ÁUREO
‘Ouve agora a minha voz; eu te aconselharei, e Deus será contigo [...]” (Êx 18.19).

VERDADE PRÁTICA
Para cuidar da sua obra, Deus chama a quem Ele quer, e pelo seu Espírito capacita essas pessoas para a sua santa missão.
LEITURA DIÁRIA
Segunda       - Êx 28.1                   O obreiro administrando para Deus
Terça             - Êx 29.44                Santificados para o ministério
Quarta           - Êx 40.1 3-15          Ungidos para o ministério
Quinta            - Mc 3.13,14            Jesus chama e envia para a obra
Sexta             - 1 Pe 5.3                 O obreiro como exemplo para o rebanho
Sábado          - Rm 1 5.30              Oração da igreja pelos obreiros
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE Êxodo 18.13-22
13 - E aconteceu que, ao outro dia, Moisés assentou-se para julgar o povo; e o povo estava em pé diante de Moisés desde a manhã até à tarde.
14 - Vendo, pois, o sogro de Moisés tudo o que ele fazia ao povo, disse: Que é isto que tu fazes ao povo? Por que te assentas só, e todo o povo está em pé diante de ti, desde a manhã até à tarde?
15 - Então, disse Moisés a seu sogro: É porque este povo vem a mim para consultar a Deus.
16 - Quando tem algum negócio, vem a mim, para que eu julgue entre um e outro e lhes declare os estatutos de Deus e as suas leis.
17-0 sogro de Moisés, porém, lhe disse: Não é bom o que fazes.
18 - Totalmente desfalecerás, assim tu como este povo que está contigo; porque este negócio é mui difícil para ti; tu só não o podes fazer.
19 - Ouve agora a minha voz; eu te aconselharei, e Deus será contigo. Sé tu peio povo diante de Deus e leva tu as coisas a Deus;
20 - e declara-lhes os estatutos e as leis e faze-lhes saber o caminho em que devem andar e a obra que devem fazer.
21 - E tu, dentre todo o povo, procura homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; e põe-nos sobre eles por maiorais de mil, maiorais de cem, maiorais de cinquenta e maiorais de dez;
22 - para que julguem este povo em todo o tempo, e seja que todo negócio grave tragam a ti, mas todo negócio pequeno eles o julguem; assim, a ti mesmo te aliviarás da carga, e eles a levarão contigo.
OBJETIVOS
Após a aula, o aluno deverá estar apto a:
Saber que a obra do Senhor precisa de trabalhadores.
Explicar a relação de Moisés com os seus auxiliares.
Elencar as qualidades de um líder.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Prezado professor, para concluir o segundo tópico da lição desta semana, sugerimos que você reproduza o esquema da página seguinte na lousa ou faça cópias. Peça aos alunos para comentarem sobre os textos em destaque no esquema. Ouça-os com atenção. Em seguida, explique para a classe a importância de o líder construir relacionamentos sólidos e sadios na igreja local onde ele exerce a liderança e na comunidade onde se relaciona cotidianamente — família, vizinhança, trabalho, escola ou faculdade, etc. Afirme que o verdadeiro líder nunca se impõe, mas conduz seus liderados com sabedoria.
INTERAÇÃO
Liderar é uma arte. Interagir com pessoas de diferentes personalidades requer flexibilidade. Quando tratamos sobre o tema liderança em relação à Igreja de Cristo o assunto torna-se mais complexo ainda, pois um líder espiritual vocacionado por Deus não responde apenas a assuntos de ordem espiritual e celestial; além disso, responde às questões de caráter material e terreno. O líder cristão precisa ter discernimento da parte de Deus para atender às necessidades espirituais do seu rebanho, mas igualmente, ter a sensibilidade para com as demandas sociais da comunidade de fé onde lidera. Apesar de Moisés ser um bom exemplo de liderança, a pessoa de Jesus Cristo é o perfeito modelo de liderança humilde, acolhedora e amorosa.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Nesta lição estudaremos a respeito de Moisés como servo fiel de Deus e como líder. Moisés havia sido “instruído em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em suas palavras e obras” (At 7.22). Todavia, como líder do povo de Deus, vemos as suas dificuldades na carência e utilização de auxiliares. O líder cristão, por mais capacitado que seja não conseguirá realizar suas tarefas sem a ajuda de líderes auxiliares.
I - O TRABALHO DO SENHOR E OS SEUS OBREIROS
1. Despenseiro e não dono (Êx 18.13-27). Podemos ser laboriosos e dedicados na obra do Senhor como foi Moisés e ainda assim cometer falhas em nossa administração. Um dos erros de Moisés e de alguns líderes da atualidade está no monopólio do poder administrativo. Na Bíblia encontramos vários exemplos que servem para mostrar que o líder de Deus não pode pensar que é dono da obra ou do rebanho que dirige. Vejamos como exemplo Diótrefes (3 Jo 9,10). Este obreiro via a congregação como uma propriedade sua. João repudiou e denunciou a recusa de Diótrefes em se relacionar com as outras lideranças e irmãos.
2. Falta de percepção do líder (Êx 18.14,17). Às vezes o líder não percebe as necessidades dos seus liderados. Isso não significa que ele seja um mau líder, mas que, em alguns momentos, os que estão de fora têm uma percepção maior da nossa administração. Jetro era sogro
de Moisés e sacerdote; ele logo percebeu a dificuldade que Moisés estava tendo no exercício da sua liderança. Eliseu também não percebia que os discípulos dos profetas enfrentavam uma séria necessidade atinente à moradia (2 Rs 6.1). Talvez você, líder, não esteja percebendo as necessidades do seu rebanho, mas elas existem e não devem ser ignoradas. Oremos para que Deus levante homens fiéis como Jetro para sempre lhe ajudar.
3. O líder necessita de ajudantes (Êx 18.18). Caso Moisés continuasse a trabalhar sozinho, logo estaria enfrentando um severo esgotamento físico e mental. Ao mesmo tempo o povo também iria se cansar pela longa espera em pé (vv. 13,14). Sozinho, ninguém é capaz de cuidar do rebanho do Senhor. O líder não deve tentar fazer mais do que pode. Também precisamos nos conscientizar de que nenhuma pessoa é insubstituível na obra de Deus. Mais cedo ou mais tarde cada um de nós será substituído, contudo, a obra de Deus prosseguirá.
SINOPSE DO TÓPICO (1)
O líder precisa ter a percepção de que no trabalho do Senhor ele é apenas um despenseiro e não o dono da Obra.
II - OS AUXILIARES DE MOISÉS NO MINISTÉRIO
1. Deus levanta auxiliares (Êx 18.21). Para fazer a sua obra, Deus levanta líderes principais, como Moisés, e de igual modo levanta líderes auxiliares. Todo obreiro que está à frente do trabalho do Senhor, seja qual for a tarefa, necessita de auxiliares, cooperadores, colaboradores (Rm 16.3,21; 2 Co 8.23).
2. Os auxiliares de Moisés (Êx 18.25). Certamente Moisés teve muitos auxiliares cujos nomes não foram registrados nas Escrituras Sagradas, mas vejamos apenas alguns que o ajudaram durante a caminhada do povo até fia Terra Prometida.
a) Miriã era auxiliar de Moisés e também sua irmã. Era profetisa e cantora (Êx 1 5.20,21). Seu nome, em hebraico, corresponde em grego a Maria. Certa vez, levantou-se contra Moisés e pagou caro por sua rebeldia (Nm 12).
b) Arão, irmão de Moisés, seu porta-voz (Êx 4.14-16; 7.1,2) e líder dos sacerdotes.
c) Os anciãos, também chamados príncipes no período mosaico. Eram líderes e representantes do povo (Dt 1.13-15; Êx 3.16,18). Outros auxiliares eram os juízes e os levitas (Os 8.33; 24.1).
d) Jetro, o sogro de Moisés, não era israelita, mas demonstrou ser um homem cheio de sabedoria. Ele muito ajudou Moisés.
e) Josué, sucessor de Moisés (Nm 27.18-23), é mencionado pela primeira vez na Bíblia em Êxodo 17.9, num contexto que destaca a sua obediência a Moisés (33.11). Por ter sido fiel e obediente a Moisés foi o escolhido de Deus para suceder o Legislador.
SINOPSE DO TÓPICO (2)
Deus levantou auxiliares para o ministério de Moisés. São eles: Miriã, Arão, os anciãos, juízes, levitas, Jetro e Josué.
III - QUALIDADES DE MOISÉS COMO LÍDER
1. Mansidão e humildade (Nm 12.3). Deus falava com Moisés face a face. Todavia, ele com humildade parou para ouvir os conselhos de Jetro, que não era nem mesmo israelita. Se você deseja ser bem-sucedido em sua liderança, seja humilde. A soberba, além de ser pecado, impede o líder de crescer. A Palavra de Deus diz que na "multidão de conselheiros, há segurança” (Pv 11.14), todavia, a soberba impede que o líder ouça seus auxiliares.
2. Piedoso e obediente. Moisés era um exemplo de obediência e integridade e da mesma forma o obreiro precisa ser modelo
dos fiéis (1 Pe 5.3). O verdadeiro ministro de Cristo precisa viver uma vida digna, não só diante de Deus, mas também dos homens (2 Co 8.21; 1 Tm 6.11,12). O servo deve viver e agir de modo honroso no trabalho, na vizinhança e na família. A santidade é um imperativo na vida do obreiro. Um bom ministro de Cristo não apenas dá ordens, mas em tudo é o exemplo para o rebanho.
3. Fiel (Nm 12.7; Hb 3.2,5). Esta é uma das qualidades primordiais de um líder, pois “requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiei” (1 Co 4.2). De nada adianta o líder cristão pregar e ensinar a Palavra, se ele é desobediente, displicente, e nem sequer pratica o que ensina. A verdadeira fidelidade revela-se em nossos atos cotidianos. Os olhos do Senhor estão à procura dos que são fiéis (SI 101.6). Moisés foi fiel a Deus, ao seu povo, à sua família. Sigamos seu exemplo.
SINOPSE DO TÓPICO (3)
Mansidão, humildade, piedade, obediência e fidelidade são algumas das qualidades que podemos encontrar na liderança de Moisés.
CONCLUSÃO
Ninguém pode fazer a obra de Deus sozinho. O líder cristão precisa de auxiliares dados por Deus que o ajude. Não sejamos como muitos líderes que não sabem delegar tarefas. Estes acabam sofrendo e fazendo a obra de Deus sofrer danos. Sigamos o exemplo de Moisés e seus auxiliares, que o ajudaram na missão de conduzir o povo de Deus até à Terra Prometida.
CONSTRUINDO RELACIONAMENTOS NA IGREJA E NA COMUNIDADE
A formação de relacionamentos começa com um procedimento e um procedimento apenas: atitude. Um líder tem de querer vê-la acontecer.
Jesus estava entre as pessoas, onde quer que estivessem.
Amizade é caracterizada por relacionamento não por imposições.
Texto adaptado do Manual Pastor Pentecostal, editado peia CPAD.
VOCABULÁRIO
Adulação: Ato ou efeito de adular, de lisonjear (alguém); bajulação.
Escoltam: Ato ou efeito de escoltar, seguir junto de (alguém ou algo) com a finalidade de dar proteção.
Datilografam: Ato ou efeito de datilografar, escrever à máquina datilográfica.
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
CARLSON, Raymond; TRASK, Thomas E. et aL Manual Pastor Pentecostal: Teologia e Práticas Pastorais. 3. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. MACARTHUR, JR., John. Ministério Pastoral: Alcançando a excelência do ministério cristão. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO I
Subsídio Teologia Pastoral
“O Pastor Deve Ser Humilde
Vivemos em um mundo que não valoriza e nem deseja a humildade. Seja na política, nos negócios, nas artes ou nos esportes, as pessoas se esforçam para alcançar destaque, popularidade e fama. Infelizmente, essa atitude tem contaminado a igreja. Existe um culto à personalidade, pois os líderes cristãos lutam para alcançar glória. O verdadeiro homem de Deus, entretanto, busca a aprovação de seu Senhor, e não a adulação da multidão. A humildade é, portanto, a marca registrada de qualquer servo comprometido com a obra de Deus. Spurgeon nos lembra de que ‘se exaltarmos a nós mesmos, nos tornaremos desprezíveis, e não exaltaremos nosso trabalho e nem o Senhor. Somos servos de Cristo, não senhores da sua herança. Os ministros são para as igrejas, e não as igrejas para os ministros... Cuide de não ser exaltado mais do que se deve, para que não se transforme em nada'” (MACARTHUR, JR., John. Ministério Pastoral: Alcançando a excelência do ministério cristão. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p.38).
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO II
Subsídio Teologia Pastoral
“Trabalhando com Pessoas de Todo Tipo
‘Pastorear seria o melhor emprego do mundo, se eu não tivesse de lidar com certos tipos de pessoas1. Essas foram as palavras de um ministro que acabou de ter uma desavença com Bill, membro exigente de sua igreja. Bitl se cansara dos sermões, [...], do estilo de administração do pastor e suas expectativas para com a congregação. Assim, frustrado, disse abertamente ao pastor: Você é o pior pastor que esta igreja já teve’.
A mandíbula do pastor apertava, enquanto citava para si mesmo: ,4 resposta branda desvia o furor. Bill prosseguiu em sua investida: ‘Essa era uma igreja maravilhosa, antes de você chegar’.
[.,.] O pastor arriscou um sorriso curioso. ‘Diga-me, Bill, como é que acabamos fazendo tudo errado?’ Bill hesitou. ‘Quando você chegou aqui e começou a pedir para mim e para todos os demais que fizéssemos coisas5.
‘Como o que?'
Você esperava que participássemos de todas as atividades da igreja de segunda a domingo. Depois, você fez com que fizéssemos seu trabalho de visitação’, O pastor suspirou. ‘Bem, irmão Bill, sinto muito que você se sinta assim’.
‘Eu também’, vociferou Bill. ‘Minha família e eu estamos nos mudando de igreja e indo para um lugar onde o pregador entende que, hoje em dia, as pessoas estão ocupadas e não têm tempo de fazer o que o pastor foi pago para fazer.
Experiências como essas fazem os pastores desistir. Para evitar conflitos com os membros da congregação e instigá-los a frequentar a igreja, alguns pastores abstém-se de colocá-los sob qualquer expectativa. Escoltam os crentes a um lugar confortável todos os domingos, depois ousam pregar mensagens que se esquivam da responsabilidade cristã. O resto da semana esses pastores tentam ser o grupo de um homem só. Só eles pregam, cantam, visitam, cortam a grama, datilografam e oram. Esse padrão leva a pastores dominadores, crentes leigos ineficazes e comunidades sem salvação” (CARLSON, Raymond; TRASK, Thomas E. et al. Manual Pastor Pentecostal: Teologia e Práticas Pastorais. 3. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, pp.61-2).
EXERCÍCIOS
1. De acordo com a lição, aponte I um dos erros de Moisés na liderança do povo.
R: Um dos erros de Moisés e de alguns líderes da atualidade está em querer fazer tudo sozinho.
2.0 que aconteceria a Moisés caso ele continuasse a trabalhar sozinho?
R: Caso Moisés continuasse a trabalhar sozinho, logo ele estaria enfrentando um severo esgotamento físico e mental.
3. Cite três auxiliares de Moisés.
R: Miriã, Arão e Josué.
4. Relacione algumas qualidades de Moisés como líder.
R: Mansidão, humildade, piedade, obediência e fidelidade.
5. Qual qualidade você acredita que seja indispensável a um líder?
R: Resposta pessoal.
Revista Ensinador Cristão CPAD, n° 57, p.39.
Moisés foi um dos líderes mais importantes do Antigo Testamento, todavia como homem ele não era perfeito e com certeza também cometeu algumas falhas enquanto líder. Moisés era um homem que teve uma excelente formação, ele foi "instruído em toda a ciência dos egípcios; e era poderoso em suas palavras e obras" (At 7.22). Liderança requer treinamento, preparo. Muitos almejam a liderança, porém não querem se esforçar e não buscam se preparar para realizar, com excelência, aquilo para o que foram chamados pelo Senhor. Moisés passou pelo treinamento do Egito e do deserto. Jesus, nosso exemplo de líder, foi treinado também no deserto. Liderança requer treinamento. Não se faz um líder da noite para o dia.
John Maxwell tem uma frase que resume bem a importância de se trabalhar em equipe: "Nada muito significativo foi alcançado por um indivíduo que tenha agido sozinho". Liderança envolve trabalho em equipe, gerenciamento de pessoas. É algo que deve ser feito em parceria. Moisés, quem sabe, durante os longos anos que passou sozinho cuidando dos rebanhos do seu sogro Jetro, precisava aprender esta lição logo no início da sua caminhada pelo deserto. Moisés carecia aprender a delegar tarefas. Para isso o líder precisa conhecer sua equipe e ter pessoas leais ao seu lado e compromissadas com o trabalho. O líder que não sabe delegar tarefas terá como resultado o cansaço e o estresse. Ele vai sofrer e a obra de Deus também, pois com certeza a produtividade será baixa. Se você está precisando de ajudantes fiéis, ore ao Senhor. Ouça também aqueles que estão ao seu lado. Moisés, em um gesto de humildade, ouviu e atendeu os sábios conselhos de Jetro, seu sogro.
Moisés, como líder, era um despenseiro do Senhor e não dono dos israelitas (Êx 18.13-27). Alguns líderes, com o passar do tempo, acabam achando, erradamente, que são os donos das ovelhas e da obra. Puro engano! Diótrefes (3 Jo vv. 9,10), tinha uma visão errada a respeito da liderança e passou a se achar dono da congregação. Ele foi duramente criticado por João.
Moisés entendeu bem a lição, pois ao estudarmos sua biografia vemos que ele contou com a ajuda de homens e mulheres. Não podemos nos esquecer que Mirã foi também uma ajudante.
Jesus, como líder, escolheu doze homens para estar com Ele. Estes doze o ajudaram na pregação do Reino de Deus e ao mesmo tempo foram preparados para a partida do Salvador.COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Neste capítulo abordaremos de forma breve o estilo de liderança de Moisés. Ele não foi apenas um homem usado por Deus para fazer com que o povo de Israel saísse do Egito. Foi também um grande líder, que demonstrou ouvir sábios conselhos e colocá-los em prática para o bem da obra do Senhor e pelo bem do povo.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 78.
O QUE É LIDERANÇA?
Definir liderança é como tentar definir o amor: todos sabem que ele existe, mas é difícil dar-lhe uma definição exata.
Vejamos algumas definições que podem nos ajudar na compreensão.
“ Liderar é influenciar” .
(Sam Deep)
“ Liderar não é dominar, mas, sim, a arte de convencer as pessoas a trabalharem em vista de um objetivo comum” .
(Daniel Goleman)
“ Liderar é libertar as pessoas para que elas façam o que é necessário, da forma mais eficaz e mais humana possível” . (Max Depree)
“ Para Jesus, liderar era ser servo dos servos” . (Mc. 10:45).
“ Liderança não é uma questão de direito ou de título, mas de habilidade” . (John C. Maxwell)
“ Liderança é a capacidade de transformar visão em realidade” . (Warren G. Bennis)
“O líder é aquele que sobe na árvore mais alta, estuda a situação em seu conjunto e grita: “ Estamos na mata errada” . (Stephen R. Covey)
“A liderança é o processo de estímulo pelo qual, mediante ações recíprocas bem-sucedidas, as diferenças individuais são controladas e a energia humana, que delas se deriva, encaminha-se em benefício de uma causa comum” .
“A liderança é o esforço de exercer, conscientemente, uma influência especial dentro de um grupo, no sentido de levá-lo a atingir metas de permanente benefício s que atendam às necessidades reais deste grupo” .
(John Haggai)
Se pudéssemos perguntar para Neemias o que é liderança, certamente ele nos responderia: “Liderar é saber planejar, integrar, motivar, avaliar e estabelecer alvos”, pois, foi o que ele fez quando gerenciou o projeto de reconstrução dos muros de Jerusalém. Neemias, como um líder, impressiona muito porque, naquela época, ele já liderava utilizando o que se chama de conceito moderno de gerenciamento de grupo.
Josué Gonçalves. 37 Qualidades do Líder que Ninguém Esquece!. Editora Mensagem para todos. pag. 15-16.
Essa pequena informação não se encontra registrada nas páginas do A.T., mas é salientada por Filo (Moisés 1.5). Não há motivos para duvidarmos de sua autenticidade. Através de outras fontes informativas, sabemos qual o estilo de vida das crianças dos haréns dos Faraós, pois naturalmente essas crianças recebiam privilégios educacionais extraordinários, os melhores que se podiam obter então, e Moisés sendo um neto adotado por Faraó, sem dúvida também se beneficiou desse excelente sistema de educação dos egípcios. A casta sacerdotal dos egípcios se notabilizava por seus vários estudos e pelo seu elevado conhecimento de ciências como a astronomia (astrologia), medicina, matemática, filosofia religiosa, etc., nas quais eles se mostravam simplesmente proverbiais. (Ver I Reis 5:40). «Moisés, à semelhança de Paulo, era homem erudito». (Robertson, in loc.).
Filo, referindo-se às ciências estudadas pelos sacerdotes egípcios, às matérias referidas acima acrescenta a aritmética, a geometria, todo o ramo de música, os hieróglifos, a astronomia (astrologia), e os idiomas assírio e caldeu. Esse mesmo autor faz os mestres de Moisés serem também gregos e assírios, e não somente egípcios.
Moisés, evidentemente, tinha uma tendência natural para a linguagem lenta; porém, nada havia de errado em sua expressão das palavras. Dominava bem o idioma, e falava fluente e eloquentemente, expressando ideias profundas com lucidez. Tentar descobrir aqui o efeito de algum poder religioso ou espiritual, no sentido de que ele veio a tornar-se poderosíssimo mestre, é ultrapassar aquilo que sabemos sobre o modo como־.
Deus prepara um de seus líderes. Moisés ainda não fora preparado para a liderança e esse preparo só ocorreu quarenta anos mais tarde. (Ver o trigésimo versículo deste mesmo capítulo). Essa preparação lhe foi conferida por agência divina, embora, sem a menor dúvida, ele possuísse habilidades naturais (igualmente proporcionadas por Deus), que eram excelentes veículos para a sua expressão espiritual mais elevada.
«...e obras...» A grandeza de Moisés não terminava em suas palavras. Os escritores judeus atribuem-lhe muitos milagres (mas tais milagres não são muito prováveis, nesse período ainda formativo de sua vida). Josefo menciona como Moisés liderou uma expedição faraônica contra os etíopes, tendo obtido sobre eles uma brilhante vitória; e posto que os egípcios haviam sido oprimidos pelos etíopes, Moisés passou a ser considerado como homem de prudência e fortaleza especiais pelos seus pares. (Ver Josefo, Antiq. 1.2, cap. 10, secções 1-3). É muito difícil para nós dizermos o quanto foi declarado a respeito 4e Moisés é verdade ou não, e quanto não passa de adorno literário; porém, podemos estar certos de suas ações como líder militar, ou como quem teve parte ativa no governo do Egito, em que as suas atuações foram suficientemente dignas de atenção para merecer esse comentário de Estêvão, o qual é confirmado nós escritos de Filo e de outros escritores antigos.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 3. pag. 149.
A EDUCAÇÃO DE MOISÉS
“Não importa se você não tem formação, pois Deus pode usar você assim mesmo”— algumas pessoas dizem. E verdade, Deus pode usar qualquer um, tenha a pessoa recebido uma boa formação ou não. Entretanto, a educação de Moisés em toda a ciência dos egípcios (At 7.22) provou ser um valioso recurso quando Deus o chamou para conduzir Israel da escravidão para a liberdade.
Durante um terço da vida de Moisés, 40 anos, ele esteve no Egito. Membro da realeza, ele foi instruído na impressionante cultura dos faraós. O currículo educacional dos faraós incluía ciência política, administração pública e, provavelmente, religião, história, literatura, geometria, e ainda engenharia e hidráulica.
Mas esse não foi o fim da formação educacional de Moisés. Ele gastou outros 40 anos na faculdade do deserto, estudando agronomia e veterinária enquanto esteve dedicado às atividades pastoris. Ele também aprendeu sobre saúde pública e sobre comunidades primitivas. Portanto, dois terços da vida de Moisés foram dedicados à preparação para a obra mais desafiadora a ser entregue em suas mãos — liderar Israel através do deserto.
Inteligência e educação por si só não tornam ninguém pronto para servir a Deus. Na verdade, é possível que uma pessoa de boa formação se esconda atrás de sua erudição ou cultura para evitar um relacionamento com Deus. 0 jovem Saulo caiu nessa armadilha (At 22.3-5), assim como fizeram antes dele os fariseus que tinham a mesma condição que ele. Assim também fizeram os filósofos em Atenas (At 17.16-34). Mas, como Estêvão demonstrou que o problema não está no intelecto, mas na vontade; o perigo não está em abraçar o conhecimento, mas em resistir a Deus (At 7.51).
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Novo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 309.
I - O TRABALHO DO SENHOR E OS SEUS OBREIROS
1. Despenseiro e não dono (Êx 18.13-27).
Uma das características essenciais à liderança na obra de Deus é saber que o líder é despenseiro ou administrador dos recursos e das pessoas, e não dono de todas essas coisas. Nenhum ministro é ordenado para pensar que a igreja que Deus depositou em suas mãos é dele. Quando escreveu sua carta à igreja em Éfeso, Paulo disse que ele mesmo [o Senhor] concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo. (Ef 4.11,12, ARA)
Essa passagem fala que Deus escolheu algumas pessoas para determinadas vocações no corpo de Cristo, com o objetivo de fazer com que os santos sejam aperfeiçoados no serviço cristão e para que o corpo de Cristo seja edificado. Portanto, podemos entendem que Deus deu pastores às igrejas, e não igrejas a pastores. O pastor é um presente de Deus à congregação, e não o contrário. Como líder, deve ser respeitado e ouvido, mas não deve se esquecer de que a obra é do Senhor, e que Ele vai cobrar a administração de seus ministros.
Um dos desafios da liderança cristã é ter esse alvo em mente. Deus deposita em nossas mãos o cuidado para com a sua Igreja, e espera que nos lembremos de que a Igreja é dEle. Por isso, deve o ministro cuidar com zelo da obra do Senhor, a quem prestará contas por suas atitudes.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 78-79.
CHEFES PARA A ADMINISTRAÇÃO
Desde o versículo 13 até ao fim do capítulo fala-se da nomeação de chefes para ajudarem Moisés na administração dos negócios da congregação. Isto foi feito por sugestão de Jetro, que temia que Moisés desfalecesse totalmente em consequência do seu trabalho. Em relação com este fato, pode ser útil considerar a nomeação dos setenta anciãos em Números, Capítulo 11. Vemos ali o espírito de Moisés esmagado sob o peso da responsabilidade que pesava sobre si, e dá lugar à angústia do seu coração nas seguintes palavras: "Por que fizeste mal a teu servo, e por que não achei graça aos teus olhos, que pusesses sobre mim a carga de todo este povo*?- Concebi eu, porventura, todo este povo1?- Gerei-o eu, para que me dissesses que o levasse ao colo, como o aio leva o que cria, à terra que juraste a seus pais£.. .Eu sozinho não posso levar a todo este povo, por que muito pesado é para mim. E, se assim fazes comigo, mata-me, eu te peço, se tenho achado graça aos teus olhos; e não me deixes ver o meu mal" (Nml 1:11-15).
Em todo este caso vemos como Moisés se retira de um lugar de honra. Se aprouve a Deus fazer dele o único instrumento da administração da Assembleia, isso foi para ele uma teria reconhecido que Deus era amplamente suficiente para tudo. Todavia, Moisés perde o ânimo (servo abençoado como era) e diz, "eu sozinho não posso levar todo este povo, porque muito pesado é para mim. Mas ele não fora incumbido de levar todo o povo sozinho, porque Deus estava consigo. O povo não era demasiado pesado para Deus; era Ele que os suportava.
Moisés era apenas o instrumento. Da mesma forma poderia ter dito que a sua vara levava o povo, porque o que era ele senão um simples instrumento nas mãos de Deus, da mesma forma que a vara o era nas suas? E neste ponto que os servos de Cristo falha  constantemente; e a sua falta é tanto mais perigosa quanto é certo que se reveste da aparência de humildade. Fugir de uma grande responsabilidade dá a impressão de falta de confiança pessoal e de uma profunda humildade de espírito; porém, tudo que nos interessa saber é se Deus tem imposto essa responsabilidade. Sendo assim, Ele estará incontestavelmente conosco no seu desempenho; e, com a Sua companhia, podemos suportar todas as coisas. Com o Senhor o peso de uma montanha não é nada; sem Ele o peso de uma simples pena é esmagador. É uma coisa muito diferente se um homem, na vaidade do seu espírito, se apressa em tomar um fardo sobre os seus ombros, um fardo que Deus nunca teve intenção de ele levar, e, portanto, nunca o dotara para o conduzir; podemos, portanto, esperar vê-lo esmagado sob o peso. Porém, se é Deus que põe sobre ele esse fardo, Ele torna-o não só apto a conduzi-lo como lhe dá as forças necessárias.
C. H. MACKINTOSH. Estudos Sobre O Livro De Êxodo. Editora Associação Religiosa Imprensa da Fé.
Êx 18.13 A Nomeação de Juízes. A chamada hipótese dos queneus (ver as notas sobre o vs. 12) presume que os midianitas ensinaram a Moisés dois pontos: 1. A adoração a Yahweh. 2. Como deveriam ser arranjadas as questões judiciais. Dei informações sobre aquela teoria nas notas introdutórias a este capítulo e sobre o vs. 12. Fica claro no texto que Jetro tinha algumas boas ideias sobre como delegar autoridade, e que compartilhava com Israel da adoração a Yahweh (embora não com a exclusão de outros deuses), mas isso não justifica as várias contenções da hipótese dos queneus.
Moisés estava sobrecarregado de trabalho, o que era óbvio para todos, menos para ele mesmo. Sua função era comparável ao de um xeque beduíno que se assenta para julgar e resolver os problemas de todos os membros de sua tribo. Ver
II Sam. 15.1-6. E a carga de trabalho de Moisés ia aumentando cada vez mais, conforme Israel crescia. Ele era a única autoridade, uma espécie de combinação de funções seculares e religiosas. Naqueles tempos antigos, em Israel, não se fazia distinção entre autoridades civis e autoridades religiosas. “Escravos não podem ser transformados em santos da noite para 0 dia” (J. Coert Rylaarsdam, in loc.). Por- tanto, não se passava um dia sem que Moisés tivesse de ouvir a muitas queixas e causas. Não havia condições de cidade grande, que complicam e geram crimes; mas 0 crime reside no coração do ser humano. Além disso, algumas vezes as coisas saem erradas, a despeito de boas intenções.
Talvez houvesse muito barulho na tenda do vizinho, e alguém não pudesse dormir. Um homem qualquer estava tentando seduzir a mulher de outro. Um homem ferira seu semelhante de maneira acidental ou propositada. Havia disputas em tomo de bens materiais, incluindo animais domésticos. Na natureza humana não há muita coisa nova, mesmo quando mudam as circunstâncias e o meio ambiente.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 381.
A indicação de juízes. A límpida tradição bíblica é que esta instituição israelita seguia as linhas da prática midianita, como resultado da sugestão feita por Jetro. A função dos oficiais é clara, embora o termo técnico não seja usado aqui. No período patriarcal, a justiça no círculo familiar era administrada pelo chefe do clã. Em sua condição de escravos no Egito, os israelitas dificilmente possuiriam um sistema judiciário próprio. É verdade que tinham “ superintendentes” egípcios e “ capatazes” israelitas a eles subordinados, mas esta era uma organização puramente “ trabalhista” . Quando Moisés tentou agir como líder ou “ juiz” os israelitas se ressentiram do fato (2:14). Além do mais, Israel parecia ter preservado até certo ponto a estrutura tribal: havia ainda um nãsVou “ chefe” para cada tribo (Nm 7:11), e em tempos primitivos estes também parecem ter tido funções judiciárias. Deuteronômio 1:15 oferece uma informação adicional interessante neste episódio.
Os anciãos, que já foram mencionados pela sua participação no oferecimento de sacrifícios (18:12) e pela sua provável função representativa, possivelmente também exerciam deveres judiciários. O título e posição de “juiz” , já era de uso antigo entre os cananeus (os fenícios preservavam o título até mesmo em suas colônias do Mediterrâneo), embora aparentemente com o sentido de “ campeão, líder” , como no livro de Juízes, e não em sentido legal. A organização esboçada abaixo é primeiramente militar, baseada no sãr, ou comandante de um certo número de homens (cf v. 21). Tal estrutura é muito apropriada para um grupo nômade no deserto. Como qualquer nação antiga, Israel é sempre considerado primeiramente como uma força de combate, e então organizado com base nisso. Entender este episódio como uma separação de casos “ sagrados” , julgados por Moisés, e casos “ civis” , julgados pelos anciãos, parece errado: toda a justiça era sagrada em Israel.
A administração da justiça, de qualquer espécie, se encontra aqui no contexto do sacrifício e da refeição sagrada. A distinção, portanto, não é entre o sacro e o secular, mas entre problemas fáceis e problemas difíceis, os primeiros já cobertos pela tradição ou por revelação em contraste com os últimos que exigiam uma nova revelação da parte de Deus, através de Seu agente, Moisés.
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 135.
3 Jo 9. O presbítero apresenta agora o problema criado por Diótrefes. No caráter e na conduta ele era inteiramente diferente de Gaio. Gaio é retratado como alguém que anda na verdade, ama os irmãos, hospeda os estrangeiros. Diótrefes, por outro lado, é visto como alguém que se ama a si próprio mais que os outros, e que recusa acolhida aos evangelistas em viagem, ou permitir que outros o façam. Contudo, Gaio e Diótrefes eram provavelmente membros da mesma igreja local, pois, “na igreja visível, os maus estarão sempre misturados com os bons” (Artigo 26 dos Trinta e Nove Artigos), apesar de C.H. Dodd achar que eram membros de igrejas vizinhas. A questão chegara a um ponto crítico, diz João. Escrevi alguma cousa à igreja; mas Diótrefes... não nos dá acolhida. Que carta era essa, não está claro. Não pode ser a carta que ele está escrevendo agora porque, embora gramaticalmente o verbo possa ser um aoristo epistolar, as palavras, Diótrefes... não nos dá acolhida, parecem descrever a resposta que a carta já recebeu (no passado). Daí deve ser alguma outra carta, não uma mensagem particular a Gaio, mas um carta diretiva oficial, dirigida à igreja. Esta dificilmente pode ser a Primeira ou a Segunda Epístola de João, desde que nenhuma delas recomenda a acolhida aos missionários viajantes, que evidentemente era o assunto da carta mencionada neste versículo. Portanto, a carta em questão deve ter-se perdido, possivelmente porque Diótrefes a destruiu.
Tenha ou não destruído a carta, ou recusado lê-la à igreja, Diótrefes certamente rejeitou a instrução escrita do presbítero {ti, alguma cousa, RA e VPR) para receber hospitaleiramente os evangelistas itinerantes. É digno de nota que o presbítero tinha uma autoridade geralmente aceita. Ele dava ordens e as expedia para serem obedecidas (cf. 2 Ts 3, quanto às ordens apostólicas que requerem obediência). Diótrefes foi uma exceção. Ele não ia ser mandado por João. Evidentemente se arrogava autoridade própria, ao ponto de excomungar membros da igreja que lhe desobedecessem (10).
Que motivos teriam incitado Diótrefes a afirmar-se assim contra João? Têm-se feito várias tentativas para reconstruir a situação. Não há prova de que a divergência deles fosse teológica. Se a verdade do Evangelho estivesse em jogo, seguramente o presbítero não teria hesitado em expor o erro na mesma linguagem intransigente que empregara na primeira e na segunda epístolas. Não heresia doutrinária, mas ambição pessoal, era a causa do aborrecimento. Findlay demonstra que o nome Diótrefes era tão raro como Gaio era comum. Desde que, literalmente traduzido, significa “criado por Zeus, bebê de Zeus” e só se encontrava “em famílias nobres e antigas”, ele prossegue e faz a engenhosa conjetura de que este Diótrefes “pertencia à aristocracia grega da velha cidade real” (de Pérgamo, à qual Findlay acredita que esta epístola foi dirigida). Neste caso, era o prestígio social que estava por trás do seu vergonhoso comportamento. Outros escritores tentaram encontrar vestígios da rivalidade entre João e Diótrefes nas mudanças do padrão de ordem da igreja no final do primeiro século A. D. A era dos apóstolos estava chegando ao fim. Na verdade, de acordo com aqueles que negam que o presbítero João era o apóstolo, essa era já tinha terminado. Sabe-se que por volta do ano 115 A. D., quando o bispo Inácio de Antioquia escreveu as suas cartas às igrejas da Ásia, o “episcopado monárquico” (a aceitação de um só bispo com autoridade sobre um grupo de presbíteros) estava estabelecida entre elas. Assim, esta epístola foi escrita no final da era apostólica, ou entre este e a aceitação universal do episcopado — um período de transição e tensão que C. fi. Dodd compara com a transferência de responsabilidade dos missionários estrangeiros à igreja nativa.
Alguns comentadores creem que o episcopado monárquico já estava sendo introduzido e que Diótrefes, como o bispo legítimo da igreja, estava ficando irritado com a autoridade apostólica ou (se C. H. Dodd está certo acerca do presbítero; ver Introdução) “subapostólica” de João. Outros acham que, ao invés disso, Diótrefes era um aspirante a èsse ofício, enquanto que Gaio era o candidato rival, favorecido por João. William Barclay sugere que a epístola reflete a tensão entre o ministério universal dos apóstolos e profetas e o ministério local dos presbíteros. Ele entende que Diótrefes pode ter sido um presbítero que estava determinado a ser o defensor da autonomia da igreja local e daí ficava ressentido com o “controle remoto” de João e com “a interferência de estrangeiros errantes”. Qual era precisamente a sua posição depende de se a excomunhão que ditava de membros da igreja (10) apoiava-se numa autoridade válida ou era arrogantemente presunçosa. C. H. Dodd se dispôs a considerar a primeira alternativa uma possibilidade, e que Diótrefes talvez estivesse compreensivelmente revoltado contra a velha ordem representada por João. É claro, porém, que o próprio João tinha opinião diferente sobre Diótrefes e, se reconhecemos a sua autoridade de escritor bíblico, naturalmente devemos aceitar o seu ponto de vista.
Para João, os motivos que governavam a conduta de Diótrefes não eram nem teológicos nem sociais nem eclesiásticos, mas morais. A raiz do problema era o pecado. Diótrefes... gosta de exercer a primazia (RSV, “gosta de se colocar em primeiro lugar”; AV, “gosta de ter a preeminência”). Ele não compartilhava o propósito do Pai, que em todas as coisas Cristo tivesse a preeminência (Cl 1:18, proteuõn). Tampouco iria fazer mesuras do presbítero. Ele queria a preeminência, ele próprio. Estava “ávido de posição e poder” (Findlay). Ele não tinha dado ouvidos às advertências de Jesus contra a ambição e desejo de domínio (ex., Mc 10:42-45; cf. 1 Pe 5:3). Seu amor-próprio secreto irrompeu na conduta anti social descrita no versículo seguinte. David Smith comenta que “proagein (2 João 9) e indicam dois temperamentos que perturbaram a vida cristã da Ásia Menor — a arrogância intelectual e o engrandecimento pessoal.
3 Jo 10. João declara que, se vier em pessoa à igreja em questão, fará lembradas (ou RSV, NEB, “fará aparecer”, isto é, numa reprovação pública) as obras e palavras de Diótrefes. Ele sabe que as palavras más, como as obras más (2 Jo 11), emanam do maligno. Ele não pode passar por alto este desafio à sua autoridade apostólica. Será obrigado a empregar alguma espécie de ação disciplinar. A gravidade da conduta de Diótrefes é exposta agora em três frases. Primeiro, ele está proferindo contra nós palavras maliciosas (AV, “tagarelando contra nós com palavras maliciosas”). A palavra proferindo (phluarrõn) significa no grego clássico “falar absurdo”. “Ela comunica a idéia de que as palavras não eram somente ímpias, mas disparatadas” (Plummer). O substantivo phluaroi em 1 Tm 5:13 é traduzido por “tagarelas” na AV e na ARA, e por “bisbilhoteiras” na RSV. A NEB verte assim a frase: “Ele lança acusações sem base e maldosas contra nós”. Evidentemente Diótrefes considerava João como um perigoso rival para a sua presumida autoridade na igreja e procurou solapar a posição do apóstolo mediante murmuração caluniadora. Contudo, não era só contra a pessoa e a posição de João que Diótrefes estava agindo, mas contra a sua instru-i ção quanto à hospedagem aos missionários. Ele não ficou satisfeito com uma campanha de palavras maliciosas contra João, mas foi adiante e deliberadamente desafiou o presbítero recusando-se a acolher os irmãos. Terceiro, impede os que querem recebê-los, e os expulsa da igreja. Por alguma razão, Diótrefes se ofendia com a intrusão dos mestres itinerantes. Ele não os honrava por saírem “por causa do Nome”; estava mais interessado na glória do seu próprio nome. Talvez não tivesse melhor razão para recusar acolhida a estes estrangeiros do que o fato de João ter ordenado isso. Ele não os teria em seu lar e não lhes daria ajuda, e aos que quiseram obedecer a João e recebê-los, ele primeiro os impediu de levarem a efeito o seu desejo e depois os excomungou. O amor próprio vicia todas as relações. Diótrefes difamou a João, tratou com pouco caso os missionários e excomungou os crentes leais porque seu amor era a si próprio e ele queria ter a preeminência. A vaidade pessoal ainda está na raiz da maioria das dissensões em toda igreja local hoje.
John R. W. Stott. 3 Epistola de João Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 193-196.
Por meio dessas frases da carta obtemos uma visão viva da vida eclesial no primeiro cristianismo. Assim como os grandes centros do cristianismo, Roma e Antioquia, não surgiram através de apóstolo famosos, mas de pessoas desconhecidas. A evangelização de regiões inteiras se realizou por meio de tais “irmãos” que partiam “em prol do nome” de Jesus. O apóstolo Paulo havia realizado seu trabalho nas cidades maiores de forma planejada. As pequenas localidades adjacentes e as muitas aldeias precisam ser alcançadas a partir das igrejas, através de “irmãos”. Não deve ter sido diferente no ministério do apóstolo João, ainda que não tenhamos nenhuma informação mais precisa de seu método de trabalho. As igrejas ofereciam a esses evangelistas itinerantes acolhida hospitaleira e sustento de viagem, tornando-se assim sustentadoras de seu trabalho.
Entretanto não podemos pintar um quadro ideal sobre fundo dourado da vida eclesial do primeiro cristianismo. O trecho seguinte da carta nos permite constatar também dificuldades e mazelas.
9s “Dirigi um breve escrito à igreja. Porém Diótrefes, que deseja ocupar o primeiro lugar entre eles, não nos aceita.” Como mostra o v. 10 e como corresponde ao sentido da carta, nesse escrito se tratava igualmente da acolhida de tais irmãos. Na igreja vive um homem de nome Diótrefes. Almeja exercer um papel de liderança na igreja e “deseja ocupar o primeiro lugar entre eles”. Tenta fechar a igreja contra os irmãos itinerantes. Faz isso de maneira muito radical. João escreve acerca dele: “Ele próprio não acolhe os irmãos e impede também os dispostos, excluindo-os da igreja.” Não é dito com que argumento ele justifica seu procedimento. Talvez tenha tido algumas experiências negativas, que agora são generalizadas. As comunidades judaicas já haviam tentado se proteger contra a exploração de sua hospitalidade por elementos desonestos mediante “cartas de recomendação”, com as quais pessoas honestas de congregações desconhecidas podiam se credenciar. Esse costume passou a ser adotado também no jovem cristianismo, sem, no entanto, transformar isso em um sistema de controle geral. Logo Diótrefes poderia ter certa desconfiança contra pregadores itinerantes, tentando de antemão mantê-los longe de sua igreja. Contudo nesse procedimento agia com estreiteza de coração e autoritarismo. Talvez também temesse um prejuízo em sua influência na igreja em virtude de pregadores de fora.
João tentou vir em auxílio da igreja, dirigindo-lhe por isso “um breve escrito”. “Porém Diótrefes… não nos aceita.” Será concebível que uma pessoa autoritária “não aceite” em uma igreja local, e seguramente pequena, um apóstolo nem sua carta? Teríamos aqui, enfim, um inequívoco sinal de que o apóstolo João de fato não é o autor da carta? Ora, basta lembrarmos como o próprio apóstolo Paulo foi tratado nas igrejas que ele mesmo fundou na Galácia e em Corinto! João era “o velho”. Isso podia suscitar uma reverência especial. Contudo igualmente podia ser pronunciado com inflexão de menosprezo: “Ora, o velho! Que sabe ele sobre a situação de hoje? Que nos deixe em paz. Aqui na igreja, de qualquer forma, mando eu, Diótrefes, aqui não acolhemos irmãos estranhos!”
João não se dá por derrotado. Pode-se deixar de lado sua carta. Porém João irá pessoalmente à igreja e exigirá contas de Diótrefes perante os membros da igreja. “Por isso, quando eu for aí, vou lembrá-lo das obras que ele pratica, tagarelando com palavras maldosas contra nós.” Novamente nos perguntamos se, afinal, era possível que alguém agisse assim contra o apóstolo João? No entanto, recordamos tudo o que foi “tagarelado” em Corinto contra Paulo. O próprio Jesus suportou tal “oposição de pecadores contra si” (Hb 12.3), e isso do povo mais devoto do mundo! O discípulo, porém, não está acima de seu mestre. Os apóstolos não eram poderosos dignitários eclesiásticos!
É significativo que, para o apóstolo João, esse menosprezo pessoal não constitui a questão principal. Se Diótrefes ficasse “satisfeito com essas coisas”, João provavelmente as teria suportado em silêncio. Mas Diótrefes vai além: “e não satisfeito com essas coisas, ele próprio não acolhe os irmãos e impede também os dispostos, expulsando-os da igreja.” João não pode deixar passar essa dureza sem amor contra os irmãos de longe e contra os membros hospitaleiros da igreja como Gaio. Assim como Paulo, também João pretende aparecer pessoalmente na igreja ameaçada e “fazer lembrar” todo o agir de Diótrefes, expondo-o abertamente. Então a própria igreja deverá deliberar.
Precisamos tentar construir uma visão nítida dos acontecimentos a que se referem as palavras de João. O próprio Diótrefes “não acolhe os irmãos e impede também os dispostos, expulsando-os da igreja”. Seria Diótrefes algo como um “bispo” da igreja, que governa a igreja e tem poderes para agir com autoridade legal? Seria a “expulsão da igreja” o “banimento” que o novel cristianismo adotou da comunidade judaica? Será que o “banimento” de Diótrefes é aplicado somente com poderes “episcopais”? Inicialmente tudo pode ter essa conotação. Entretanto, essa visão dos acontecimentos se torna questionável tão logo levarmos em conta que Gaio, afinal, realizou tranquilamente nessa igreja a acolhida amorosa dos irmãos, sendo agora nesta carta incentivado a equipá-los generosamente para a continuação de sua viagem. No entanto, como haveremos de entender a frase de João? Primeiramente, diante de seu modo de escrever, na constatação “ele os expulsa da igreja”, o “os” não precisa se referir aos “dispostos”, mas pode retroagir para “os irmãos”. Nesse caso Diótrefes não interferiria diretamente de forma violenta na própria igreja, mas somente intensificaria a “não-acolhida” para uma “expulsão” da igreja. Ademais, alegou-se com razão que no grego as afirmações de um verbo não representam sempre uma ação de fato já realizada, mas às vezes também a simples tentativa para tal (presente de conatu). Diótrefes “tenta” impedir os dispostos e expulsá-los da igreja. Em ambos os casos, porém, fica evidente que Diótrefes não é o dirigente oficial e autorizado da igreja. A própria carta não fala nada disso. João dirigiu todo o seu escrito “à igreja”. Isso seria completamente inviável se nela já existisse um “bispo” no sentido de uma constituição eclesiástica posterior. Diótrefes é simplesmente uma pessoa da igreja, que justamente por não deter um “cargo” de mando “deseja ocupar o primeiro lugar entre eles”. Nesse caso, porém, o “expulsar da igreja” não pode ser interpretado como uma “excomunhão” nos moldes em que podia ser realizada segundo determinadas regras por instâncias competentes no judaísmo. Conforme o sentido, deveríamos falar de “tentar desalojá-los da igreja”. É em defesa desses membros da igreja, atacados pessoalmente por Diótrefes, que João se posicionará quando visitar a igreja, com certeza principalmente em defesa do próprio Gaio.
Werner de Boor. Comentário Esperança Cartas aos Filipenses. Editora Evangélica Esperança.
2. Falta de percepção do líder (Êx 18.14,17).
Um dos maiores perigos com que o líder se depara em seu dia a dia é o excesso de atividades. Há momentos em que a quantidade demasiada de afazeres nos impede de ver as coisas à nossa volta como elas são, e, não raro, tendem até mesmo a nos afastar da comunhão com Deus.
Os líderes têm diversas obrigações no dia a dia, e isso faz parte da tarefa que lhes foi confiada. Eles precisam avaliar situações e tomar decisões. E precisam ter também a habilidade de líder com pessoas de todos os tipos, tentando acalmar ânimos e motivar pessoas ao serviço cristão.
No estudo em questão, analisando o texto bíblico, veremos que o servo de Deus, Moisés, precisou de ajuda em sua liderança para poder desempenhar melhor o seu papel de líder e condutor do povo de Deus.
Moisés já havia saído do Egito com o povo de Israel quando recebeu a visita de seu sogro, Jetro. Este era um homem aparentemente mais velho e experiente em questões de liderança e administração do tempo. Vendo certo dia que Moisés ia atender ao povo, que trazia demandas para que pudessem ser resolvidas, percebeu que alguns procedimentos do libertador não eram os mais adequados àquela situação. Ele estava atendendo todas as pessoas que lhe traziam questões, consumindo o tempo delas e o seu próprio, além de provocar em Moisés o cansaço que o impediria de tomar decisões corretas.
Ele era ungido do Senhor? Com certeza. Fazia suas atividades com boa vontade? Com certeza. Ele tinha sabedoria? Certamente que sim.
Mas o que aconteceu que inspirou seu sogro, Jetro, a intervir na forma como Moisés liderava o povo?
“E aconteceu que, ao outro dia, Moisés assentou-se para julgar o povo; e o povo estava em pé diante de Moisés desde a manhã até à tarde” (Ex 18.13). Esse versículo mostra o que acontecia. O povo ficava em torno de Moisés e trazia a ele as questões relevantes sobre dificuldades que estavam enfrentando, e Moisés ficava resolvendo essas questões sozinho. O problema não residia em Moisés atender ao povo, mas em tentar resolver as questões sem a ajuda de outras pessoas. Ele precisava delegar autoridade a outros homens para que, da mesma forma que ele, atendessem ao povo e resolvessem conflitos comuns.
Isso não retiraria de Moisés sua autoridade. Delegar autoridade para que outros nos ajudem a realizar o trabalho faz com que haja mais pessoas trabalhando para o mesmo Senhor, e faz também com que tenhamos mais tempo para pensar em outras coisas importantes e treinar pessoas para o ministério.
Mas isso não ficou claro para Moisés no início da narrativa. Foi preciso que ele escutasse essas observações de seu sogro, um homem mais experiente e amadurecido nas questões relacionadas a gestão. Jetro viu que o modelo de administração seguido por Moisés era cansativo tanto para ele quanto para o povo, pois não apenas Moisés se cansava atendendo o povo, mas o próprio povo se sentia cansado de esperar por uma solução da parte de Moisés.
Totalmente desfalecerás, assim tu como este povo que está contigo; porque este negócio é mui difícil para ti; tu só não o podes fazer. Ouve agora a minha voz; eu te aconselharei, e Deus será contigo. Sê tu pelo povo diante de Deus e leva tu as coisas a Deus. (Ex 18.18,19)
O líder precisa de um tempo para se recompor, descansar e pensar em suas atividades. Ele deve planejar seu dia, pedindo a orientação do espírito de Deus para cada etapa, e não se esquecer de que precisa ter seus momentos com Deus e com sua própria família. Essas atitudes fortalecem a pessoa do líder. Muitos momentos em que o líder se sente desestimulado e cansado são originados na falta de descanso apropriado. Isso traz a perda de concentração, implica tomada de decisões precipitadas e torna desgastantes as tarefas diárias.
Jetro recomendou que Moisés fosse um intercessor pelo povo, e que levasse as questões do povo a Deus. Na verdade, essa era a função que Deus pretendia para Moisés, mas até aquele momento, o legislador estava sobrecarregado resolvendo questões do povo, sem a ajuda de auxiliares idôneos.
Caso Moisés não seguisse o conselho de Jetro, acabaria desfalecendo por causa de seu excesso de atividades, além de não ter tempo para interceder pelo povo a Deus. Mas por seguir o conselho de seu sogro, pôde exercer melhor seu ministério e partilhar sua autoridade com homens dignos de confiança e que honrariam o nome do Senhor. Essa foi a lição que Moisés aprendeu: Não se pode fazer tudo sozinho.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 79-81.
Êx 18.14 Por que te assentas só...? Moisés tinha tanto para fazer que não podia dar muita atenção a seu sogro. Jetro tinha um sistema melhor, que já vinha funcionando fazia anos. E assim sendo, sentiu-se encorajado a sugeri-lo a Moisés. Um dos problemas dos chefes é a delegação de autoridade, e se esse chefe é um pequeno césar, então os seus problemas apenas se agravam. Jetro, sendo um chefe e um sacerdote midianita, tinha suas sessões diárias, mas não tomava para si mesmo todo 0 trabalho.
Perguntou Jetro a Moisés: “Que é isto que fazes ao povo?”. Lá estavam os israelitas, impacientes e formando iongas filas, como aqueles que precisam depender do INSS. Moisés estava exaurindo a si mesmo e ao povo.
Êx 18,15,16 A Liderança Divina. Moisés, 0 legislador, antes da outorga da lei (ver Êxo. 19), estava legislando de acordo com princípios divinos. Ele não tomava nenhuma decisão secular. Ele sempre procurava fazer brilhar uma luz espiritual, até mesmo sobre as questões mais corriqueiras, triviais. Quando as pessoas brigavam, ele procurava aplicar a sabedoria divina à situação. Talvez houvesse precedentes para solução de certas questões, mas até mesmo esses tinham sido firmados pelas mesmas formas de consi- derações espirituais. Moisés estava funcionando como vidente e profeta. Ver I Sam. 9.9 e 22.15. Os profetas posteriores também foram videntes (ver I Reis 22.8; II Reis 3.11; 8.8; 22.14). As decisões do juiz-profeta-vidente eram aceitas como a palavra de Deus, presumivelmente inspiradas. Seu trabalho não consistia apenas em julgar alternativas pragmáticas. Moisés era o representante de Deus diante do povo de Israel (Êxo. 18.19).
Êx 18.17 “Você está fazendo as coisas da maneira errada", afirmou Jetro. Como é óbvio, ele deve ter concordado que Moisés tinha tanto a autoridade quanto a sabedoria para 0 seu trabalho. Mas é possível fazer 0 que é certo da maneira errada. Os argumentos de Moisés em favor de seus atos eram bons (vss. 15,16), mas não expressavam um problema central que estava envolvido: a fadiga. Moisés estava exaurindo as suas forças e a paciência do povo.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 381.
Êx 18. 14. Por que te assentas só? Eis aqui a pergunta de um velho chefe que já aprendera a lição de como delegar autoridade. Como muitos líderes cristãos, Moisés estava se desgastando desnecessariamente (v. 18) ao tentar fazer tudo sozinho. Isto nem sempre é prova de ambição: às vezes indica excesso de zelo e ansiedade. Além do mais, ele estava também desgastando o povo (v. 18 mais uma vez), um aspecto geralmente omitido. A demora na administração da justiça, surgida de circunstâncias semelhantes, foi uma das causas da revolta de Absalão, séculos mais tarde (2 Sm 15:1-6).
Êx 18. 15. Para consultar a Deus. Este verbo é traduzido mais adiante em passagens devocionais como “ buscar a Deus” em oração. Aqui, entretanto, significa buscar a decisão divina num assunto controvertido, quer uma disputa legal, quer um caso em que se precisasse de orientação.
Em dias futuros a “ estola sacerdotal” viria a ser usada em tais ocasiões, aparentemente contendo os Urim e Tumim, ou seja, as pedras com as quais se determinavam os oráculos divinos (1 Sm 23:9; 28:6): este sistema, entretanto, não viria a existir senão bem mais tarde (28:30).
Êx 18. 16. E lhes declare os estatutos de Deus. Moisés evidentemente considerava sua tarefa judiciária como um ministério de ensino, declarando aos israelitas os “ estatutos” , “ leis” e “ decisões” ou “ instruções” divinos, dados em ocasiões específicas para tratar de casos específicos.
Talvez tenhamos aqui o processo pelo qual a lei mosaica veio a se formar, uma combinação de grandes princípios de revelação e sua aplicação à vida cotidiana no deserto.
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 136.
Êx 18.14,15 — A importante conversa entre o profeta e seu sogro mostra um lado bastante humano de Moisés. Ele era motivado por um desejo de fazer tudo de forma correta, mas suas advidades consumiam muito tempo e energia para serem realizadas por apenas um homem. Jetro notou isso naquele dia (v. 17,18).
Êx 18.16 — A expressão vem a mim (hb. yarâ, no tema hiphil, fazer saber, dirigir) é uma forma da palavra da qual o substantivo Torá (lei, hb. tôrâ) é derivado. O versículo sugere que as leis do S e nhor eram gerais, na concepção original, e, posteriormente, aplicadas caso a caso. Sem dúvida alguma, muitas das regras específicas no livro de Êxodo são o resultado deste processo: a aplicação dos princípios gerais em situações determinadas (Êx 21.1).
Êx 18.17-24 — Há, algumas vezes, a ideia de que os servos do Senhor só aceitam as palavras vindas de outras pessoas de fé. Entretanto, muitos indivíduos que não possuem a mesma crença no verdadeiro Deus vivo têm experiência e entendimento de questões importantes. O sábio é aquele que é capaz de ouvir e aprender coisas boas, não importando sua religião.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 162.
3. O líder necessita de ajudantes (Êx 18.18).
Uma das lições que Jetro ensinou a Moisés é que ele precisava de outras pessoas para partilhar responsabilidades. Ninguém que trabalha em posição de liderança consegue fazer todas as suas atividades sem ajuda. Há trabalhos que dependem de apenas uma pessoa, mas boa parte dos trabalhos precisa ser executada por um grupo de pessoas. Todo trabalho que exige coletividade exige liderança, e dependendo da complexidade do trabalho, vários líderes são necessários na empreitada.
O líder deve treinar seus auxiliares e aprender a confiar neles. Deve orientá-los no sentido de seguirem os parâmetros estabelecidos e cuidarem daquilo que foi proposto. Jetro disse a Moisés:
E tu, dentre todo o povo, procura homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; e põe-nos sobre eles por maiorais de mil, maiorais de cem, maiorais de cinquenta e maiorais de dez; para que julguem este povo em todo o tempo, e seja que todo negócio grave tragam a ti, mas todo negócio pequeno eles o julguem; assim, a ti mesmo te aliviarás da carga, e eles a levarão contigo. Se isto fizeres, e Deus to mandar, poderás, então, subsistir; assim também todo este povo em paz virá ao seu lugar. (Êx 18.21-23)
A recomendação de Jetro sobre os auxiliares de Moisés não pode ser esquecida em nosso estudo. Ele recomendou que Moisés selecionasse homens capazes (pessoas que tinham habilidade de lidar com outras pessoas, ouvir e resolver problemas), tementes a Deus (um requisito básico para se lidar com o povo de Deus, pois estariam julgando o povo de acordo com a vontade de Deus), homens de verdade (homens sobre os quais não poderia recair suspeitas, e cujas ações demonstrassem sua respeitabilidade), que aborrecessem a avareza (essa característica não poderia passar em branco, visto que se uma pessoa for trazer pareceres vinculados ao dinheiro, com certeza seu parecer será tendencioso). Eles seriam colocados, conforme suas capacidades, sobre grupos de pessoas, maiores ou menores conforme a quantidade designada, e deveriam resolver os problemas mais simples, e os mais complexos deveriam ser levados a Moisés.
Eles deveriam ser ensinados nos estatutos e nas leis para que pudessem julgar o povo de Deus de forma correta. Se um líder não conhece as regras pelas quais deve se pautar para tomar decisões, ou para decidir entre pessoas, não poderá liderar. Ninguém exerce a liderança sem ter em mente princípios norteadores pelos quais agir. Portanto, o conselho de Jetro é válido para os nossos dias. Líderes precisam conhecer a lei de Deus e os princípios pelos quais tomarão suas decisões. Conhecer princípios de liderança e como aplicá-los faz a diferença entre um bom e um mau líder.
Lembremo-nos de que aqueles homens não foram chamados para tomar o lugar de Moisés na liderança do povo, mas para ajudá-lo a exercer de forma efetiva sua liderança. Eles levariam o peso do trabalho de Moisés com ele, e não tomariam o lugar dele. Aqui cabe uma observação aos que estão sendo chamados a ajudar líderes. Quando uma pessoa é escolhida para ajudar em um ministério, ela está sendo chamada para auxiliar, para cooperar, não para comandar ou dar um golpe no seu próprio líder.
Há pessoas em nossas igrejas que se deixam enganar quando escolhidas para ajudar em uma determinada função. Começam a pensar que logo estarão no topo do comando, que terão o próprio ministério, que agirão de acordo com sua própria vontade e que não prestarão contas a ninguém. Há pessoas que nesse sentido logo se rebelam contra seus líderes e fazem o que podem para dividir o rebanho do Senhor.
Aqui reside grandeza dos líderes auxiliares: eles sabem que estão servindo a Deus sob a liderança de outro líder escolhido por Deus, ao qual devem prestar obediência. E com essa obediência poderão ser escolhidos por Deus para desafios maiores, em outras esferas, inclusive liderando outros até no rebanho do Senhor.
Futuros líderes podem ser ensinados
Quando Jetro falou com Moisés, recomendou que ele ensinasse os estatutos e as leis ao povo, antes de escolher as pessoas que iriam ajudá-lo. Ou seja, os auxiliares do legislador deveriam ser instruídos para serem úteis ao trabalho que lhes seria confiado. Conhecer os procedimentos normais de nossas atividades na obra do Senhor faz parte de nossas obrigações diante dEle. O líder precisa estar sempre pronto a aprender.
Se por um lado aqueles líderes deveriam conhecer a lei de Deus para poderem exercer seus julgamentos, é preciso lembrar que foi responsabilidade de Moisés ensinar-lhes a Lei de Deus e seus estatutos. Um líder não pode cobrar de seus liderados atitudes que não lhes foram ensinadas. Portanto, como líder, Moisés não apenas deveria partilhar com homens escolhidos sua autoridade, mas também ensiná-los a exercerem suas funções.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 81-83.
Êx 18.18 Desfalecerás, assim tu, como este povo. Havia fadiga coletiva, em resultado do que Moisés estava fazendo. Ele precisava aprender a delegar autoridade, resolvendo somente as questões mais difíceis, como fazem os juízes das cortes supremas. Moisés estava administrando justiça com sabedoria e sinceridade, mas não estava agindo de maneira pragmática. Estava exibindo um esforço hercúleo elogiável, em total altruísmo, qualidades essas necessárias em todos os grandes líderes. Mas uma devida delegação de autoridade também é uma das qualidades dos líderes.
“A carga era demasiada para os seus ombros, e as suas forças não eram suficientes. Não podia continuar fazendo sozinho aquele trabalho. Jetro estava preocupado com a saúde de Moisés, e não apenas com a dignidade de sua posição. Conta-se uma história sobre Deioces, rei dos medos, que agia mais ou menos a exemplo de Moisés. Escusava-se de seu esforço demasiado afirmando que isso era necessário para que 0 povo 0 visse com frequência, ou acabariam tendo a ideia de que ele não era um ser humano como eles (Heródoto, Hist. i.99).
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 381.
O que Moisés estava fazendo não era bom (17). Mesmo um homem de sua força não podia esquecer que era humano e se cansaria (18) com este tipo de procedimento. Jetro disse: Tu só não o podes fazer. Moisés deveria saber acerca disso, mas ele, como tantos outros, precisava de um amigo para lhe mostrar. Este método não só era trabalhoso em si, mas também causava dificuldades para as pessoas que eram forçadas a esperar na fila.
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 182.
1 Ele discordava do método que Moisés empregava, e tinha liberdade com ele, para dizer-lhe isto, w. 14,17,18. Ele julgava que era trabalho demais para que Moisés realizasse sozinho, julgava que seria prejudicial à sua saúde, e uma fadiga excessiva para ele, e também que faria a administração da justiça cansativa para o povo. E por isto ele lhe diz claramente: “Não é bom o que fazes”. Observe que pode haver algum excesso até mesmo ao fazer
0 bem, e por isto o nosso zelo deve ser sempre governado pela discrição, para que o bem que fazemos não venha a ser mal interpretado. A sabedoria é benéfica para orientar, para que não nos contentemos com menos do que o nosso dever, nem nos sobrecarreguemos com aquilo que está além das nossas forças.
2. Jetro o aconselhou a um modelo de governo que melhor serviria à intenção, que consistia em: (1) Que Moisés reservasse a si mesmo todas as questões referentes a Deus (v. 19): “Sê tu pelo povo diante de Deus”. Esta era uma honra que não era adequado que ninguém mais compartilhasse com ele, Números 12.6-8. Além disto, tudo o que dissesse respeito a toda a congregação, de maneira geral, deveria passar pelas suas mãos, v. 20. Mas: (2) Que Moisés nomeasse juizes nas diversas tribos e famílias, que deveriam julgar as causas entre os homens, e decidi-las. Isto seria feito com menos alvoroço e maior rapidez do que na assembleia geral que o próprio Moisés presidia. Desta maneira, eles seriam governados, como nação, por um rei, como superior, e por magistrados inferiores, enviados e comissionados por ele,
1 Pedro 2.13,14. Desta maneira, muitas mãos tornariam o trabalho leve, as causas seriam ouvidas mais cedo, e o povo ficaria tranquilo por ter a justiça trazida à porta de suas tendas. Ainda assim: (3) Poderia haver uma apelação, se houvesse causa justa para isto, destas cortes inferiores ao próprio Moisés. Pelo menos, se os próprios juízes tivessem dúvidas: “Todo negócio grave tragam a ti”, v. 22. Desta maneira, este grande homem seria ainda mais útil, sendo consultado somente em assuntos mais importantes. Observe que aqueles cujos dons e posições são mais eminentes podem, ainda assim, ser ainda maiores nos seus trabalhos, pela ajuda daqueles que são, de todas as maneiras, seus inferiores, a quem, portanto, eles não devem desprezar. A cabeça tem necessidade das mãos e dos pés, 1 Coríntios 12.21. Grandes homens não só devem procurar ser úteis, pessoalmente, mas planejar como tornar úteis os outros, segundo a capacidade que possuírem. Este é o conselho de Jetro, pelo qual parece que, embora Moisés o superasse em profecias, ele superava Moisés em política. Ainda assim:
3. Ele acrescenta duas qualificações ao seu conselho: (1) Que grande cuidado deveria ser tomado na escolha das pessoas a quem esta tarefa seria confiada (v. 21). Eles deveriam ser “homens capazes” etc. Era essencial que fossem homens do melhor caráter: [1] Para julgamento e decisão - “homens capazes”, homens de bom senso, que compreendessem os negócios, e homens corajosos, que não se atemorizassem com olhares
carrancudos e repreensões. Mentes esclarecidas e corações valentes fazem bons juízes. [2j Para piedade e religião - como temer a Deus, como crer que existe um Deus acima deles, cujos olhos estão sobre eles, e a quem devem prestar contas, e cujo julgamento esperam com respeito. Homens conscientes, que não ousam fazer uma coisa vil, embora pudessem fazê-la secretamente e com segurança. O temor a Deus é aquele princípio que irá melhor fortificar um homem contra todas as tentações à injustiça, Neemias 5.15; Gênesis 42.18. [3] Para integridade e honestidade - homens de verdade, cuja palavra pudesse ser aceita, e em cuja fidelidade se pudesse confiai', que não diriam, nem por todo o mundo, uma mentira, nunca trairiam a confiança de alguém ou agiriam de modo traiçoeiro. [4] Para desprezo nobre e generoso da riqueza do mundo - odiando a avareza, não somente não procurando subornos nem desejando enriquecer a si mesmos, mas odiando o simples pensamento disto. É adequado para ser um magistrado aquele, e somente aquele, que arremessa para longe de si o ganho que pode ser auferido através de opressões, que sacode das suas mãos todo o presente, Isaías 33.15. (2) Para que possa receber a instrução de Deus no caso (v. 23): “Se isto fizeres, e Deus to mandar”. Jetro sabia que Moisés tinha um conselheiro melhor do que ele, e a este ele o encaminha. Observe que os conselhos devem ser dados com humilde submissão à Palavra e à providência de Deus, que sempre devem prevalecer.
Moisés não desprezou este conselho por não sei' dado por alguém que não era, como ele, familiarizado com as palavras de Deus e as visões do Todo-poderoso. Mas “deu ouvidos à voz de seu sogro”, v. 24. Quando considerou o assunto, ele viu como era razoável o que o seu sogro propunha, e decidiu colocar o conselho em prática - o que fez pouco tempo depois, quando já tinha recebido instruções de Deus sobre o assunto. Observe que não são tão sábios como julgam ser aqueles que se julgam sábios demais para receberem conselhos. Pois um homem sábio (que verdadeiramente o é) irá ouvir, e continuará ouvindo, e não desprezará bons conselhos, ainda que dados por alguém inferior a eles. Moisés não confiou ao povo a escolha dos magistrados, pois o povo já tinha feito o suficiente para provar que não era adequado para tal tarefa. Mas ele mesmo os escolheu, e os indicou - alguns para uma posição mais elevada, outros para uma posição menos elevada, os mais inferiores provavelmente subordinados aos superiores. Temos motivos para considerar o governo como uma misericórdia muito grande, e para agradecer a Deus pelas leis e magistrados, para que não sejamos como os peixes do mar, onde os maiores devoram os menores.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 287.
II - OS AUXILIARES DE MOISÉS NO MINISTÉRIO
1. Deus levanta auxiliares (Êx 18.21).
Os recursos humanos dos céus sempre estão cheios de pessoas para que venham trabalhar na obra do Senhor. Quando Jesus disse que a seara era grande e que havia poucos ceifeiros para trabalharem nela, não ordenou aos seus discípulos que fosse atrás de obreiros, mas que orassem a fim de que o Senhor da seara enviasse ceifeiros para a sua seara. E Deus levantou ajudantes para Moisés.
E Moisés deu ouvidos à voz de seu sogro e fez tudo quanto tinha dito; e escolheu Moisés homens capazes, de todo o Israel, e os pôs por cabeças sobre o povo: maiorais de mil e maiorais de cem, maiorais de cinquenta e maiorais de dez. E eles julgaram o povo em todo tempo; o negócio árduo traziam a Moisés, e todo negócio pequeno julgavam eles. (Êx 18.24-26)
Deus deu a orientação para que Moisés escolhesse homens para ajudá-lo. Foram selecionados homens de todo o Israel, ou seja, representantes de cada tribo, que foram tidos por capazes, divididos de acordo com a quantidade de pessoas que deveriam ajudar a cuidar, e realmente ajudaram Moisés em seu trabalho. Eles se responsabilizaram por tratar com o povo acerca das coisas de menor complexidade, e traziam a Moisés as causas de maior complexidade. Dessa forma, Moisés pôde exercer sua liderança com a ajuda de pessoas escolhidas por Deus.
No Novo Testamento, vemos que Deus levanta auxiliares e coopera- dores nas atividades em sua obra. Quando a igreja em Jerusalém precisou de pessoas para ajudarem os apóstolos em afazeres especificamente voltados à questão social, atendendo as viúvas no tocante a ajudas oferecidas pelo grupo, a recomendação dos apóstolos foi: “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio” (At 6.3).
Aqui está a origem dos diáconos. Enquanto os discípulos se dedicariam à oração e à Palavra, esses homens iriam ajudar a assistência social da igreja.
Não podemos imaginar que não houvesse diáconos cujos feitos foram registrados de forma marcante. Estêvão foi o primeiro mártir, sendo apedrejado por seus compatriotas, e Felipe foi poderosamente usado para falar de Jesus ao mordomo de Candace, rainha dos etíopes. Entretanto, esses homens tinham a nobre função de auxiliar os apóstolos na esfera social da igreja. Eles deveriam ter como características:
Boa reputação. Os diáconos não deveriam ser conhecidos por más atitudes, mas por um bom testemunho na igreja. O bom testemunho faria a diferença no ministério diaconal.
Ser cheios do Espírito Santo. Uma pessoa que vai lidar com questões materiais na igreja não pode perder de vista que seu serviço é dedicado ao Senhor. Ser cheio do Espírito de Deus é um requisito para quem cuida de questões simples na igreja hoje.
Cheios de sabedoria. Ter sabedoria era um diferencial para ser escolhido para aquele ministério. Pessoas néscias não teriam oportunidade naquela função.
Ser constituídos para aquela junção. Era preciso que fossem apresentados publicamente para prestarem seus serviços. A igreja deveria saber quem eram e respeitá-los, pois tinham o aval dos apóstolos para aquelas atividades.
Lembremo-nos de que, no caso de Moisés, a nação já possuía homens que poderiam ser escolhidos para ajudá-lo, mas só foram escolhidos após a orientação de Jetro e fizeram a diferença no ministério de Moisés.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 83-85.
Êx 18.21 “Moisés deveria tratar de casos sem precedente legal, que requeriam um oráculo especial (cf. Deu. 17.8-13). Os casos ordinários seriam manuseados por líderes leigos (Núm. 11.16-22; 24.25) ou por juízes nomeados (cf. Deu. 16.18-20)” (Oxford Annotated Bible, in loc.).
As qualificações dos ajudantes escolhidos fazem-nos lembrar das qualificações dos anciãos e diáconos da Igreja (Tito 1.7 ss.). Essas são qualidades espirituais. Quando um homem tem essas qualidades, então pode aprender outras capacidades, que se aplicam estritamente às questões seculares. Precisavam ser homens verazes, sinceros, livres de falsos motivos. Teriam de ser juízes imparciais, que buscas- sem razões espirituais e morais em seus julgamentos. Teriam de abominar a cobiça, não desejando coisas para si mesmos nem se mostrando parciais. Uma vez que tais homens fossem achados, então seriam feitos cabeças de vários grupos: de milhares, de centenas e de dezenas, uma espécie de autoridade ascendente, uma espécie de sistema hierárquico, onde Moisés apareceria no alto, como juiz supremo. Essa organização é, essencialmente, aquela que predomina nas forças armadas das nações civilizadas, mas adaptada ao campo civil. Cf. I Sam. 22.7.
Devemos entender que os tribunais de apelo formam um poder ascendente. Paralelamente, devemos entender que os casos julgados também deveriam ser dispostos em importância ou dificuldade ascendente. O homem com autoridade sobre dez cuidaria de questões mais chãs. O homem com autoridade sobre mil teria maior autoridade e julgaria os casos mais sérios, da mesma forma que um general tem maior autoridade do que um sargento. Mas cada homem teria uma autoridade absoluta para seu próprio tipo de problemas. Um homem de menor autoridade poderia transferir para outro, de maior autoridade, qualquer caso que não pudesse resolver. Assim, um caso poderia chegar até Moisés.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 382
Êx 3. 21. Procura dentre o povo. “ Procurar” é o sentido mais básico deste verbo, aqui a ideia secundária de “ escolher” .
Homens capazes. O termo hebraico empregado poderia ter significado militar, indicando um soldado de valor. Com o passar do tempo veio a significar “ um homem de bem” . Podemos comparar o uso de frase semelhante em Provérbios 12:4, em relação à esposa ideal. Driver ressalta que as qualidades exigidas para tal posição são morais e não intelectuais: isto é demonstrado pelas cláusulas explanatórias que se seguem. Muitas das mesmas qualidades são exigidas de líderes cristãos ao tempo do Novo Testamento (ver At 6:3 e 1 Tm 3:1-3).
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 136-137.
Contudo, para cumprir sabiamente os propósitos de Deus, Moisés deveria escolher homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza, e colocá-los sobre o povo por maiorais de mil, de cem, de cinquenta e de dez (211. Talvez estes números se refiram a famílias e não a pessoas.59 Os homens serviriam na função de juízes de tribunal inferior e tribunal superior, cada líder de grupo menor responsável a quem estava acima dele. Quem não estivesse satisfeito com uma sentença de instância inferior poderia apelar para um tribunal superior. Isto significaria que inumeráveis sentenças não chegariam a Moisés (22).
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 182.
2. Os auxiliares de Moisés (Êx 18.25).
Dentre os diversos auxiliares de Moisés, podemos destacar:
Miriã. Irmã de Moisés, era profetisa e entoava louvores ao Senhor. Foi uma coluna na história de Moisés.
Arão. Irmão de Moisés, acompanhou sua história desde o Egito e foi escolhido por Deus para ser sacerdote em Israel.
Os anciãos. Pessoas de mais idade entre o povo, foram pessoas que muito auxiliaram Moisés em sua liderança na condução do povo à Terra Prometida. Espera-se, por esse exemplo, que as pessoas de mais idade estejam aptas a ser bons conselheiros aos líderes mais novos.
Jetro. Jetro era um midianita. Mesmo não sendo israelita, concedeu abrigo a Moisés e lhe deu uma de suas filhas como esposa quando Moisés fugiu do Egito. Pelas palavras que disse a Moisés, mostrou ser uma pessoa sábia e experiente. Ele muito ajudou Moisés em seu ministério, permitindo que no período em que esteve em Midiã aprendesse a pastorear ovelhas e conhecesse os caminhos do deserto.
As palavras de Jetro para com Moisés e a atenção que Moisés deu ao sogro mostram o quanto havia respeito entre eles. Esse deve ser um marco em nossas vidas, pois há famílias em que a harmonia do lar é quebrada com comentários críticos e desprovidos de sabedoria. Quando Jetro viu o que acontecia com Moisés, falou-lhe com brandura, e Moisés atendeu à voz de seu sogro, sendo posteriormente abençoado por Deus. É claro que Moisés ponderou o que foi falado, e entendeu que era prudente seguir tal conselho.
Josué. Este foi um servo de Moisés que é apresentado na Bíblia como aquele que seria o seu substituto na condução do povo à Terra Prometida. Josué era um combatente, um homem de armas, e foi usado por Deus para abrir o caminho das conquistas ordenadas por Deus.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 85-86.
Êx 18.24,25 Moisés, ouvindo os conselhos de Jetro, pôs em ação 0 método de seu sogro. O vs. 25 repete os números dados no vs. 21. É provável que os anciãos de cada tribo, conhecendo as qualificações das pessoas de suas respectivas tribos, tenham sido postos a trabalhar na seleção de oficiais, ao passo que os próprios anciãos retiveram sua autoridade como oficiais maiores do sistema.
O Targum de Jonathan informa-nos os números envolvidos: seiscentos chefes de mil; seis mil chefes de cem; doze mil chefes de cinquenta; sessenta mil chefes de dez. Jarchi e o Talmude falam no mesmo sentido. A soma total, no Talmude, sobre 0 sistema coletivo, é de setenta e oito mil homens. Esses números estão baseados no trecho de Números 1.46, mas vários intérpretes não concordam com isso, como Aben Ezra. E não dispomos de meios para saber se esses cálculos estão ou não com a razão.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 382.
Moisés não desprezou este conselho por não sei' dado por alguém que não era, como ele, familiarizado com as palavras de Deus e as visões do Todo-poderoso. Mas “deu ouvidos à voz de seu sogro”, v. 24. Quando considerou o assunto, ele viu como era razoável o que o seu sogro propunha, e decidiu colocar o conselho em prática
- o que fez pouco tempo depois, quando já tinha recebido instruções de Deus sobre o assunto. Observe que não são tão sábios como julgam ser aqueles que se julgam sábios demais para receberem conselhos. Pois um homem sábio (que verdadeiramente o é) irá ouvir, e continuará ouvindo, e não desprezará bons conselhos, ainda que dados por alguém inferior a eles. Moisés não confiou ao povo a escolha dos magistrados, pois o povo já tinha feito o suficiente para provar que não era adequado para tal tarefa. Mas ele mesmo os escolheu, e os indicou - alguns para uma posição mais elevada, outros para uma posição menos elevada, os mais inferiores provavelmente subordinados aos superiores. Temos motivos para considerar o governo como uma misericórdia muito grande, e para agradecer a Deus pelas leis e magistrados, para que não sejamos como os peixes do mar, onde os maiores devoram os menores.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 287.
Êx 18.24-27 — Podemos ver claramente o caráter de Moisés neste trecho. Ele aceitou de bom grado, ou seja, deu ouvidos ao conselho e decidiu melhorar a maneira como estava fazendo as coisas.
Isso também é um sinal de sua habilidade de liderança e de sua falta de soberba (Nm 12). O registro de que Jetro voltou para sua terra não é uma conclusão moral, mas apenas uma declaração de sua viagem. Ao retornar para sua casa, Jetro disseminaria todo o conhecimento vivenciado acerca do verdadeiro Deus. Faria isso em uma época em que os israelitas conservavam tal entendimento entre seu povo. Jetro, o sacerdote de Midiã, tornou-se Jetro, o ministro do Senhor.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 162.
MIRIÃ Filha de Anrão e Joquebede, e irmã de Arão e Moisés (Êx 15.20; Nm 26.59). Sem dúvida, ela foi a Miriã que protegeu o cesto de juncos no qual Moisés foi escondido. Foi mencionada pela primeira vez e chamada de profetisa por ocasião da jubilosa celebração que liderou depois da travessia do mar Vermelho (Êx 15.20,21). Ela pecou quando foi insubordinada à vontade de Deus, e incitou Arão contra Moisés. Ela e Arão se opuseram ao seu destaque e posição de respeito. Como resultado do seu envolvimento e liderança da rebelião, Deus a castigou com lepra. Moisés orou por sua recuperação e Deus ouviu sua oração. Durante o tempo da sua recuperação, Israel não prosseguiu em sua peregrinação (Nm 12.1-16). Ela morreu em Cades-Barnéia e foi sepultada ali (Nm 20.1).
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1290.
ARÃO. O significado do nome é desconhecido, como é o caso de muitos nomes bíblicos. A conexão com “arca” (’aron) é muito improvável, como são também “montanhês” (de har, “montanha”), “iluminado (de ’or, “luz”). A terminação õn ocorre frequentemente com nomes pessoais. Este nome em particular foi usado somente pelo irmão de Moisés. Nenhuma explicação ou interpretação dele é dada nas Escrituras, o que pode indicar que, diferentemente de Moisés (Êx 2.10), seu nome não possuía nenhum significado especial.
1. A Família. Arão era o filho mais velho de Anrão e Joquebede. Anrão pertencia à família de Coate, filho de Levi (Êx 6.16). A genealogia dada sugere que Anrão era um dos filhos de Coate e, consequentemente, neto de Levi. O fato que, no tempo do Êxodo, os coatitas eram c. 8.600 (Nm 3.28), toma provável que Anrão, Jizar e Uziel (Êx 6.20ss.) foram descendentes de homens de nome igual no verso 18, com um considerável intervalo de tempo entre eles, embora esse intervalo não seja indicado (cp. Lv 10.4). Por outro lado, a notável longevidade atribuída a Coate (133 anos) e a Anrão (137 anos) podem ter uma relação significativa com este problema. O nome da mãe de Arão era Joquebeque (“Yahweh é glorioso”), que pode ser significativo, visto que os nomes combinados com Yahweh eram raros nesse período inicial. A esposa de Arão era Eliseba, irmã de Naassom, aparentemente o príncipe de Judá que foi um ancestral de Davi (Êx 6.23; Rt 4.20; lCr 2.10). Ele possuía quatro filhos, Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar (Êx
6.23), sendo os primeiros dois mortos por causa de um ato de sacrilégio (Lv 10.Is.).
2. O porta-voz de Moisés. O papel subordinado de Arão, quando comparado com o de Moisés, é indicado claramente. Ele foi completamente ignorado até que Moisés mostrou a sua quase insuperável indisposição de obedecer ao chamado de Deus para ser o libertador de Israel. “Não é Arão, teu irmão, o levita?” (Êx 4.14 seguindo a ordem hebraica das palavras). O modo de construção da pergunta é notável. A expressão “teu irmão” indica que Arão possuía sua posição primariamente pelo seu relacionamento com Moisés. Parentesco e descendência tinham um papel proeminente na história bíblica. Arão foi chamado “irmão de Moisés” onze vezes. A essa altura ele tinha oitenta e três anos de idade (Êx 7.7), e a designação “o levita” sugere que ele ocupava uma posição proeminente nessa tribo específica de israelitas escravizados. O que aconteceu é desconhecido. O texto simplesmente diz que ele falava fluentemente (heb. “ele pode certamente falar”) e ele substituiria a lentidão de Moisés ao falar (heb. “pesado de boca e pesado de língua”).
3. Arão e o Êxodo. Arão esteve constantemente associado a Moisés na apresentação de atos poderosos que ocasionaram a libertação (Êx 5-13). O cajado como símbolo de autoridade foi manejado algumas vezes por Arão. Deus frequentemente falou a ambos, Moisés e Arão, mas raramente a Arão sozinho. Arão não teve parte alguma na entrega da lei, mas ele e seus dois filhos mais velhos, juntamente com os setenta anciãos, testemunharam a auto manifestação de Deus e comeram e beberam na presença de Deus (Êx 24.9-11).
4. Arão e o Tabernáculo. Arão não teve nada a ver com a construção do Tabernáculo ou com a confecção da Arca e os vasos sagrados. Tudo o que foi feito, inclusive as vestes de Arão e as de seus filhos, foi feito por Bezalel de Judá e por Aoliabe de Dã (Êx 31.1-6) e também pelos que possuíam coração disposto dentre o povo (Ex
35.21-35), “como o Senhor havia ordenado...” (Êx 39.43).
5. A investidura de Arão. Os sacerdotes, e especialmente Arão, usaram uma vestimenta especial. Muito é dito a respeito das roupas que foram confeccionadas para Arão, “para glória e ornamento” (Êx 28.2), especialmente o cinto e o peitoral sobre o qual foram gravados os nomes das doze tribos (Êx 28.9s., 21. 29), e o Urim e o Tumim (q. v.). A “lâmina de ouro” com a gravação “Santidade ao Senhor” (“Yahweh”?) (v.36) que foi colocado na frente da mitra, era simbólico de seu ofício. Arão era, num sentido proeminente, ambos: o representante do povo e o mediador deles perante Deus. O caráter hereditário do seu ofício é enfatizado pelo fato de que suas vestes deveriam ser usadas por seus sucessores no ofício (Êx 29.29s.; Nm 20.25-28). Em contraste, nada é dito a respeito das vestes de Moisés, e este não teve sucessores. Seu ofício como legislador foi singular e a lei que ele deu ao povo era de validade perpétua (Ml 4.4). Todos os sacerdotes eram ungidos com óleo (Êx 40.12-15; Lv 8.12), mas aparentemente a unção de Arão e de seu sucessor foi diferente da unção dos sacerdotes comuns. Portanto, o sumo-sacerdote era, num sentido especial, o “sacerdote ungido” (Lv 4.3,5; 6.20,22; 21.10).
6. Arão e o sacerdócio. O livro de Levítico é o manual para os sacerdotes. O nome Levítico, retirado da LXX, talvez tenha sido um termo errôneo, visto que os levitas são mencionados somente numa passagem em todo o livro (25.32s.). Todavia, ele realmente contém um manual de instrução para os sacerdotes levitas, como se segue: Os capítulos 1-7 tratam do elaborado ritual sacrificial que devia ser apresentado por Arão e seus filhos. Fazer a expiação pelo pecado era o grande dever mediatorial dos sacerdotes. Seus deveres também incluíam a remoção de todas as formas de impureza do povo de Deus, como uma comunidade santa (Êx 29.43-46); animais limpos e imundos (Lv 11), a purificação de mulheres após o parto (cap. 12), lepra (13-14), questões corporais como secreções de homens e mulheres (15), relações proibidas no casamento (18), várias leis rituais (19-22), o Sábado e as festas anuais (23), os sábados da terra, dízimos, bênçãos e maldições, votos, etc. (24-27). O fato de que a imposição para o cumprimento dessas leis foi entregue aos sacerdotes, tomou-os, num sentido preeminente, os mestres do povo (Dt 31.9-11).
7. O Dia da Expiação. O ritual no qual Arão como sumo-sacerdote, e os sumo-sacerdotes que o seguiram, exercia um papel distinto era a cerimônia do Dia da Expiação (Yom Kippur) (Lv 16), quando o sumo-sacerdote fazia expiação pelo Tabernáculo, pelos sacerdotes e pelos filhos de Israel “por causa dos seus pecados uma vez por ano” (Lv 16.34). Os “seus” refere-se principalmente aos pecados de ignorância e de inadvertência (Nm
15.22-29), visto que pelos pecados de presunção, os pecados atrevidos, a penalidade era a morte (v. 30-36).
Arão vigorosamente se opôs ao povo em Cades-Bamea, quando eles se recusaram a ir em direção à posse da terra (Nm 14.5), e os levitas não tiveram nenhum representante entre os doze espias, do que se pode inferir que os sacerdotes e os levitas não foram incluídos na “geração da ira”, a qual foi condenada a perecer no deserto por sua desobediência e incredulidade (v. 26-3 8). A rebelião do levita Coré (Nm 16) foi dirigida diretamente contra a autoridade exclusiva de Moisés e Arão, e Arão foi usado como instrumento na suspensão da praga que já havia começado (v. 46-50). O ritual da novilha vermelha, provendo a purificação da impureza, foi a última das ordenanças rituais instituídas durante a vida de Arão (Nm 19).
8. Meribá. A vida de Arão teve um fim trágico. A viagem no deserto de Zim (Nm 20.1) levou a mais uma das muitas murmurações dos Israelitas
— “não há água!” Moisés e Arão foram encorajados pela visão da glória de Deus (v.6). Foram, então, ordenados a tomar o cajado, reunir o povo e “falar” à rocha. Ao invés disso, Arão disse ao povo: “Ouvi agora, rebeldes, porventura faremos sair água desta rocha para vós outros? Moisés levantou a mão e feriu a rocha duas vezes com sua vara, e saíram muitas águas; e bebeu a congregação e os seus animais”. Então o texto continua: “Mas o Senhor disse a Moisés e a Arão: Visto que não crestes em mim, para me santificardes diante dos filhos de Israel, por isso...." (Nm 20.10-12). O capítulo termina com uma breve narrativa da investidura de Eleazar com as roupas do sumo-sacerdote Arão, e com a morte de Arão. A narrativa deixa totalmente claro que ambos, Moisés e Arão, foram envolvidos no pecado da presunção ou de auto-afirmação, e este incidente serve como uma advertência solene a todos os servos de Deus, para que não tomem para si mesmos o crédito das “obras poderosas” que Deus realiza através deles.
9. Arão, o homem. Se alguém ler corretamente o caráter deste irmão de Moisés, perceberá que Arão possuía sua posição exaltada devido a duas coisas: uma prontidão no falar e seu parentesco com Moisés. O caráter de Arão deve ser medido por dois incidentes: o primeiro foi o teste supremo de sua vida, i.e., o bezerro de ouro. Arão havia ouvido o Decálogo com as expressões “não farás” proclamado pela voz de Deus. Ele havia “visto Deus” e havia tomado parte na festa sacramental (Ex 24.9-14). Seu irmão havia subido para o monte para comungar com Deus; Arão e Hur ficaram responsáveis pelo povo. O povo, impaciente pela longa ausência de Moisés por quarenta dias, exigiu deuses. Arão procurou pelo ouro necessário para fazê-los. Ele fez um ídolo de um bezerro e construiu um altar para ele. Então ele anunciou uma festa em honra de Yahweh, embora Deus houvesse proibido a idolatria. Quando confrontado pela ira furiosa de Moisés, ele lançou a culpa sobre o povo e negou toda a responsabilidade pela forma assumida da imagem fundida (Ex 32.22-24). Ele não expressou nenhum remorso por aquele “grande pecado” (v. 30ss.), ao qual ele havia induzido o povo; foi somente a intercessão de Moisés (Dt 9.12,16,20), não o seu arrependimento próprio, que o salvou da pena de morte, que ele talvez merecesse mais do que os três mil que pereceram por causa da, e na, sua iniquidade.
10. Arão, o irmão desleal. Arão tinha a clara e total consciência de que ele possuía a sua posição exaltada graças ao fato de ser irmão de Moisés. Ele mesmo chamou Moisés de “senhor” (Êx 32.22; Nm 12.11). Todavia, ele não conseguiu esquecer totalmente que ele e Miriã eram mais velhos que Moisés. Por isso, numa ocasião, seguiram o exemplo do povo falando contra Moisés (Nm 12). A situação era um assunto pessoal ou familiar, o casamento de Moisés com a mulher cusita. Como em muitas outras ocasiões, a Bíblia afirma o fato sem explicação ou argumento. Quem era a mulher e por que Moisés casou-se com ela, o que havia acontecido com Zípora, não nos é dito. Míriã e Arão viram nesta circunstância uma ocasião ou pretexto para desafiar a autoridade singular de Moisés. O Senhor interveio direta e sumariamente, repreendeu Míriã e Arão, e até castigou Míriã com lepra, que foi graciosamente removida unicamente em resposta à oração de Moisés, a pedido de Arão. Arão não era um verdadeiro líder de homens. Ele possuía sua posição devido ao seu parentesco com Moisés e ele precisava do apoio daquele maravilhoso irmão para qualificá-lo como um sumo-sacerdote.
11. Arão e os críticos. Arão tem recebido notável tratamento nas mãos dos críticos do Antigo Testamento. Seu nome aparece nas Escrituras hebraicas aproximadamente 350 vezes, das quais 300 estão no Pentateuco (Êx 115,Lv80, Nm 101, Dt 4). Frequentemente seu nome vem combinado com o de Moisés, o que significa que, naquele tempo do Êxodo, ele perdia somente para Moisés em proeminência. Conforme a, ainda amplamente sustentada, hipótese de Wellhausen, Arão era uma mistura artificial da recente tradição bíblica. Tais escritores declaram que, “Arão está ausente em J; e está apenas incidentalmente em E (Dt 9.20; 10.6; 32.50)” (Brightman). É esclarecedor examinar a base para essa afirmação. No documento J o nome de Arão vem junto com o de Moisés (“Moisés e Arão”) 10 vezes, descrevendo as relações com Faraó. Como, então, pode ser afirmado que Arão está ausente em J? Brightman assinala que muitos críticos, seguindo a liderança de Welllhausen, consideram “e Arão” como uma inserção de um redator posterior do Pentateuco. Em outras palavras, o nome de Arão não estava originalmente no documento mais antigo do Pentateuco. Arão é declarado ser “incidental em E” (a próxima fonte mais antiga), embora E o mencione 24 vezes, das quais mais da metade está no incidente do bezerro de ouro (Êx 32), e no desafio da autoridade de
Moisés (Nm 12), ambos eventos importantes na história de Israel. Isto deixa a vasta maioria das ocorrências de seu nome no P (o documento que trata mais do ritual), que é reivindicado pelos críticos pertencer ao período pós-exílio. Consequentemente, o sacerdócio araônico e Arão como sumo-sacerdote podem ser considerados como uma invenção recente em Israel. E Arão se toma em grande parte uma invenção da imaginação dos sacerdotes do período exílico. A arbitrariedade desta reconstrução pode ser indicada pelo fato de que as palavras “chamou Faraó a Moisés e Arão” (Êx 8.8,25; 9.27; 10.16; 12.31), que é atribuída a J, requer em cada caso a supressão da expressão “e Arão”. Por outro lado, as palavras “falou o Senhor a Moisés e Arão” (Êx 7.8 e outras quinze ocorrências que apresentam palavras similares) são atribuídas a P e consideradas como pertencendo propriamente àquele lugar e, entretanto, não sujeitas à supressão. Este tratamento do texto requer uma notável desconsideração da consistência, para dizer pouco, e é energicamente rejeitada pela erudição conservadora. Veja Sacerdotes e Levitas.
MERRILL C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 1. pag. 417-420.
ARÃO Arão é mais conhecido como líder dos sacerdotes hebreus. Era descendente de Levi, filho de Amram e de sua esposa Joquebede (Êx 6.20). Irmão mais novo de Miriam, ele tinha três anos quando seu irmão Moisés nasceu (Êx 7.7). Teve quatro filhos com sua esposa Eliseba. Nadabe, Abiu, Eleazar e Itamar. Os dois primeiros morreram perante o altar (Lv 10.1,2) e, depois da morte do pai, a sucessão passou para Eleazar (Nm 20.26). Nos relatos bíblicos, Arão aparece primeiro como assistente de Moisés e seu porta-voz. Em resposta a uma ordem de Deus, Arão, que tinha permanecido no Egito durante os quarenta anos da ausência de Moisés, foi em seguida encontrá-lo na "montanha de Deus" e o reapresentou à comunidade dos hebreus no Egito (Éx 4.27-31). Moisés deveria receber a mensagem diretamente de Deus e era obrigação de Arão transmitir essa mensagem ao povo (Êx 4.16). Arão também acompanhou Moisés quando este foi à presença do Faraó pedir que Israel tivesse permissão de realizar uma festa no deserto (Êx 5.1). Foi Arão que realizou os milagres na presença do Faraó como prova de que sua autoridade vinha do Deus Todo-Poderoso (Êx 7.10). Mais tarde, durante a batalha contra os amale-quitas, Arão, com a ajuda de Hur, sustentou as mãos de Moisés até que o povo de Israel fosse vitorioso.
Arão aparece no Monte Sinai como um ancião que, como representante de seu povo, tinha permissão, juntamente com seus dois filhos, Moisés e mais 70 anciãos de se aproximar da própria presença do Senhor (Ex 24.1-11). Depois, quando Moisés devia se encontrar sozinho com Deus na montanha, ele nomeou Arão como líder interino do povo (Ex 24.13-18). Foi durante esse período de sua maior responsabilidade que Arão traiu tragicamente a confiança nele depositada. Menos de 40 dias depois de ter estado face a face com o Deus de Israel, Arão cedeu à pressão popular e sancionou a volta dos hebreus à idolatria. Quando confrontado com Moisés, ele tentou fugir à responsabilidade, de seu papel na apostasia (Êx 32.21-24). É estranho que nenhuma menção tenha sido feita a respeito da punição de Arão. Mais tarde, sua fraqueza revelou-se no ciúme mesquinho que o levou a juntar-se a sua irmã Miriã, numa queixa contra Moisés pelo fato de esse último ter afirmado ser o porta-voz de Deus, e por causa de seu casamento com uma mulher de origem cusita (Nm 12). Miriam foi castigada, mas Arão novamente não foi disciplinado, talvez por causa de seu cargo de sacerdote. Mais tarde, Arão e Moisés enfrentaram uma rebelião que terminou quando ambos intercederam pelo povo (Nm 16.47). O consequente florescer do poder de Arão serviu para justificá-lo, bem como o seu sacerdócio perante toda a nação (Nm 17). Ele morreu no Monte Hor com a idade de 123 anos (Nm 20.28).
A principal importância de Arão foi ter estabelecido o sacerdócio. Ele tinha a responsabilidade de comparecer perante Deus como representante da nação, de interceder pelo povo e oferecer os sacrifícios. O sacerdócio, assim estabelecido, durou até o ano 70 d.C. Embora não tenha sido relacionado entre os heróis da fé (Hb 11), Arão é reconhecido como sendo o sumo sacerdote nomeado por Deus que ajudou a preparar o povo para o sumo sacerdócio maior, que foi o de Cristo (Hb 5.4)
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 171-172.
ANCIÃO No Antigo Testamento.
Discussões Preliminares.
De modo geral, ancião é uma palavra que se refere aos lideres de um grupo ou comunidade, presumindo-se que os mesmos tenham idade avançada e sejam dotados de caráter maduro. No Antigo Testamento, o termo se aplicava a vários oficios. Era o caso de Eliézer. o «mais antigo servo» de Abraão, em Gên, 24:2; certos oficiais da casa de Faraó, em Gên. 50:7; os principais servos de Davi, em 11 Sam. 12:17; e os anciãos de Gebal (ver Eze. 27:9). No Egito, mui provavelmente os anciãos eram funcionários do estado, pelo que o termo aplicava-se ali aos lideres e chefes políticos. Isso também sucedia entre os israelitas, moabitas e midianitas (ver Núm. 22 :7). Não há que duvidar que o direito de primogenitura. Bem como a capacidade de chefe da família. influenciaram tal uso, porquanto presumia-se que a idade tinha algo a ver com o amadurecimento e a sabedoria, o que se refletia em boa variedade de costumes. Os lideres das tribos naturalmente vinham dentre os anciãos pertencentes a essas tribos. Moisés e Aarão, ao chegarem no Egito, reuniram os anciãos de Israel e anunciaram ao povo a comissão divina que haviam recebido. para liderarem o povo. tirando-o do Egito (ver lho. 3: 16, 18; 4:29). Os anciãos do povo acompanharam a Moisés na primeira entrevista deste com o Faraó (ver lho. 31:9). Moisés também se comunicava com o povo por meio dos anciãos (ver Êxo, 19:7 e Deu. 31:9). Setenta anciãos de Israel acompanharam Moisés até o monte (Ex. 24:1). Esses anciãos também tinham o título de «príncipes». De acordo com a legislação mosaica, esses anciãos tinham seus respectivos deveres e poderes (ver Deu. 19: 12 e 21 :3). Era responsabilidade deles governarem e cuidarem para que a lei fosse cumprida (ver Jos, 20:4; Juí. 8:16 e Rute 4:2). Nos salmos, os anciãos são aludidos como uma classe distinta de autoridade (ver Sal. 107:32. Ver também Lam. 2:10 e Eze. 14: O, Após o exílio. eles receberam uma autoridade muito significativa.
Em cada sinagoga, havia um grupo governante de anciãos, de número variado. dependendo do número dos membros da congregação. Era dentre esses anciãos, finalmente. que se formava o superior tribunal, o Sinédrio (ver o artigo).
Nos arquivos de Mari, do século XVIII A.C., e até mesmo na correspondência real da dinastia de Sargão, no século VIII A.C., os anciãos aparecem como representantes do povo e defensores dos interesses populares, embora antes disso eles não tivessem quaisquer funções administrativas. No império hitita, entretanto. eles controlavam as questões municipais. Tais costumes eram praticamente universais entre os povos antigos, e os israelitas não eram exceção. Mas. no caso de Israel esse costume era associado às questões religiosas, visto que Israel era uma teocracia.
No Novo Testamento. Dentro do contexto judaico. nos dias neotestamentários, encontramos os anciãos associados aos principais sacerdotes (ver Mat. 21:23) e aos escribas (ver Mat. 16:21), bem como ao concilio (ver Mat. 26:29). Esses anciãos sempre exerciam alguma atividade, provavelmente porque seus membros acabavam tornando-se membros de alguma dessas três categorias. Lucas alude ao grupo inteiro dos anciãos. usando o termo grego coletivo presbutérion (ver Luc. 22:66; Atos 22:5). como também Paulo, em [ Tim. 4: 14, embora o apóstolo, nesse caso, estivesse falando ao grupo de pastores de alguma igreja cristã local. No tocante aos anciãos ou pastores da Igreja cristã, não contamos com qualquer informação especifica acerca de sua origem, mas tão-somente que os títulos «ancião», «bispo = supervisor» e «pastor» são intercambiados (ver. Para exemplificar, Atos 20:28). A importância dos anciãos cristãos aumentou, quando a Igreja se dispersou.
Esses anciãos eram líderes, pastores. mestres, supervisores, enfim, autoridades cristãs (ver Atos 15:22,23; Efé. 4:11; Atos 20:28; Heb. 13:7 e I Tes. 5:12).
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 1. Editora Hagnos. pag. 156.
ANCIÃO No AT hebraico, zaqen, lit., "aquele que tem barba", era um termo utilizado para designar um homem de certo grau e posição entre seus irmãos. Entre os israelitas havia dois tipos de anciãos: os "anciãos de Israel" que eram os chefes de família ou de clãs nas várias tribos, e os "anciãos" das cidades construídas e habitadas depois da Conquista.
A partir do século XVIII a.C, os anciãos são mencionados nos textos da Mesopotâmia como representantes do povo e defensores de seus direitos, mas sem funções- administrativas. No Império Hitita, muitos deveres das municipalidades eram executados pelo conselho de anciãos. Os anciãos de Gebal (Biblos) são mencionados em Ezequiel 27.9 e a assembleia (de anciãos) do príncipe de Biblos, na história de Wen-Amon (ANET, p. 29). O sistema de anciãos também existia entre outros povos, vizinhos de Israel. Egito (Gn 50.7; SI 105.22), Moabe, os Midianitas iNm 22.4,7), e os Gibeonitas (Js 9.11). O termo hebraico é, assim, equivalente ao termo Homérico gerontes, ao espartano presbys, ao romano senatus e ao árabe sheikh. O termo zaqen, não significa necessariamente um homem velho, mas implica alguma pessoa com maturidade e experiência que tenha assumido a liderança entre seus compatriotas e na sua cidade ou tribo (cf. Nm 11.16). Embora os anciãos não fossem eleitos, durante a maior parte dos períodos de Moisés até Esdras, e também na era intertestamentária, eles eram reconhecidos como o grupo de mais elevada autoridade sobre o povo. Eles agiam como representantes da nação (Jr 19.1; Jl 1.14; 2.16) e também administravam muitos assuntos políticos e resolviam disputas entre as tribos (por exemplo, Finéias e os dez chefes tribais ou anciãos, Js 22.13-33). Os anciãos da cidade formavam uma espécie de conselho municipal cujos deveres incluíam a função de juízes com a finalidade de mandar prender assassinos (Dt 19.12), conduzir as investigações e inquéritos (Dt 21.2) e resolver conflitos matrimoniais (Dt 22.15; 25.7). Os "anciãos de Israel", conhecidos primeiramente em Êxodo 3.16-18, foram reunidos por Moisés para receber o anúncio de Deus sobre a libertação do Egito. O pacto foi ratificado no Monte Sinai na presença de 70 dos anciãos de Israel (Êx 24.1,9,14; cf. 19.7), os "nobres" ou os principais homens da nação, "os escolhidos dos filhos de Israel" (24.11). Mais tarde, 70 anciãos foram especialmente ungidos com o Espírito para ajudar Moisés a governar a nação (Nm 11.16-25). Nos casos em que toda a comunidade pecasse, os anciãos da congregação ou da comunidade deveriam representá-la para fazer a expiação (Lv 4.13-15).
A autoridade dos anciãos era, em princípio, maior do que a do próprio rei (cf. 2 Reis 23.1). Foi este grupo que exigiu que Samuel designasse um rei (1 Sm 8.4-6), e foram partidários da aliança real que estabeleceu Davi como rei (2 Sm 5.3). Na Babilónia, os anciãos eram o ponto central da comunidade judaica que estava no exílio (Jr 29.1; Ez 8.1; 14.1; 20.1-5), e, após o retorno a Jerusalém, ainda permaneciam ativos (Ed 5.5,9; 6.7,8,14; 10.8,14). Do Conselho de Anciãos (gerousia) do período helenístico de Judá, desenvolveu-se a Grande Assembleia (Knesset) de judeus que, em 142 a.C, concedeu grande poder a Simão, o líder macabeu (1 Mac 14.28). O Grande Sinédrio, com seus 71 membros, o supremo corpo legislativo anterior ao ano 70 d.C., constituía a mais elevada instituição dos
"anciãos de Israel". Veja Sinédrio. (Veja também "Governo, Autoridade e Reinado", CornPBE, pp. 354-369). Para a função de ancião nas igrejas do NT, veja Bispo. Em sua visão do céu, João viu 24 anciãos sentados sobre tronos que rodeavam o trono de Deus, vestidos de branco e ostentando coroas de ouro (Ap 4.4). Estes se prostram em adoração, e depositam as suas coroas diante do trono de Deus (4.10; cf. 11.16; 19.4). Com suas harpas e salvas cheias de incenso, simbolizando as orações dos santos, eles cantam um novo cântico ao Cordeiro (5.8-10). Como anciãos, eles representam o povo de Deus; seus tronos e coroas simbolizam um papel de reinado, enquanto seu ato de adoração e as salvas de incenso sugerem uma função sacerdotal. Dessa maneira, eles parecem ser os principais representantes dos remidos como um reino de sacerdotes (Ap 1.6; cf. 20.6; 1 Pedro 2.5,9; Êx 19.6). É possível discutir se o número 24 sugere os 24 turnos do sacerdócio judaico, ou uma combinação das 12 tribos de Israel (indicando os santos do AT) e dos 12 apóstolos (os líderes dos santos do NT).
ANCIÃOS Refere-se aos sábios de Israel que eram a fonte e os comunicadores das palavras de sabedoria tradicionais. E usado na RSV em inglês somente em 1 Samuel 24.13, mas outros versículos podem referir-se a eles de uma maneira velada, como, por exemplo, em Jó 12.12 e Isaías 3.2. A expressão os "mais velhos de Israel" provavelmente também se refira a estes ensinadores respeitáveis.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 100-101.
JETRO No hebraico, «abundância», «excesso», «superioridade», «excelência». Esse era o nome do sogro de Moisés. Ele foi sacerdote e príncipe de Midiã. Parece que, entre os midianitas, os seus príncipes automaticamente também oficiavam como sacerdotes. Há uma certa confusão no tocante ao nome desse homem, que a Bíblia não se dá ao trabalho de explicar. Ele é chamado Reuel, em Êxo. 2:18 e Núm. 10:29. Em Juí. 4:11, ele é chamado de Hobabe; mas, em Núm. 10:29 Hobabe parece ser o filho de Reuel (Jetro). Todas as demais passagens, onde aparece esse homem, dão o seu nome como Jetro. É possível que os nomes Reuel e Jetro fossem ambos nomes desse homem, o que não era um caso único. Moisés passou quarenta anos em seu exílio em Midiã, enquanto se preparava para o seu ofício de Libertador de Israel, em companhia de Jetro, e de uma de suas filhas, e de com a qual se casou, Zípora (vide) (Êxo. 3:1; 4:18).
Não somos informados quanto à religião que Jetro promovia; mas é vão tentar ligá-lo a Yahweh, o Deus dos judeus, conforme este se revelou a Moisés, na sarça ardente (ver Êxo. 6:3). Todavia, segundo alguns estudiosos, Yahweh pode ter sido uma das divindades dos midianitas, embora muito duvidemos disso. Seja como for, residindo Moisés com seu sogro, aquele recebeu uma teofania da parte do Deus de Abraão. Na oportunidade, Moisés estava cuidando das ovelhas de seu sogro. Então, ele reconheceu sua comissão divina como libertador de Israel da servidão egípcia. Moisés tomou sua esposa e seus filhos e viajou para o Egito. Posteriormente, entretanto, os enviou de volta a Midiã, talvez como uma medida de segurança. O décimo oitavo capítulo
do livro de Êxodo registra a narrativa comovente de como, depois que Moisés conseguiu retirar, com sucesso, do Egito, o seu povo de Israel, e estava acampado no deserto, Jetro, juntamente com seus familiares (incluindo a esposa e os filhos de Moisés, que tinham sido deixados em Midiã), vieram visitar Moisés, no deserto. Jetro estava muito satisfeito com o que Moisés fizera, e deu ao Deus de Israel o crédito pela operação inteira. Foi então que Jetro reconheceu a superioridade de Yahweh sobre todos os deuses das nações, tendo-lhe oferecido sacrifícios e ofertas queimadas. Jetro observou como Moisés estava trabalhando arduamente, a fim de tentar solucionar os inúmeros problemas que o povo de Israel lhe trazia para julgar; e o aconselhou a nomear assessores, em vez de tentar atuar como juiz exclusivo. E Moisés aceitou o conselho de seu sogro, tendo nomeado juízes e líderes de mil, de cem, de cinquenta e de dez (ver Êxo. 18:24,25). Após esse incidente, Jetro partiu para a sua própria terra.
Por causa do crítico envolvimento de Jetro nessas questões práticas atinentes ao começo da história do povo de Israel, alguns estudiosos têm pensado que a sua influência também se fez sentir até na religião, ensinada por Moisés. E alguns deles vão ao extremo de ensinar que Yahweh não era um nome de Deus conhecido e usado por Moisés, e, sim, que Jetro foi quem teria introduzido esse nome divino na religião hebréia. Ver o artigo sobre Jeová, quanto a uma discussão sobre essa questão. Se essa sugestão é verdadeira, então Jetro seria um sacerdote de Yahweh entre os midianitas; podemos presumir que Yahweh era uma espécie de deus de algum sistema quase henoteísta. Ver o artigo sobre o Henoteísmo. Contra essa idéia, porém, encontramos a menção a Yahweh em Gên. 4:26; 6:3,5; 12:1,4 e em outros trechos desse mesmo livro. Alguns afirmam, todavia, que, nessas passagens, temos material posterior que veio a ser combinado com o material mais antigo, mediante o trabalho de um editor ou editores. Damos informações sobre a questão, no artigo sobre Jeová, além de mais detalhes no artigo intitulado Jeovista (Eloísta). Ver também o artigo sobre J. E. D. P.(S) acerca da teoria de muitos documentos complicados que teriam servido de fontes do Pentateuco ou Hexateuco. Uma coisa que parece indiscutível, entretanto, é que Yahweh não era um nome de Deus exclusivamente usado pelos hebreus (e talvez nem mesmo originalmente). Antes, era um nome de Deus bem conhecido entre as tribos do Oriente Médio e Próximo. Sabemos que os midianitas descendiam de Abraão por meio de Quetura (Gên. 25:2,4; I Crô. 1:32,33), sendo possível que Yahweh fosse um dos nomes do Sar divino entre eles. Em português, usamos a palavra latina para Deus, isto é, Deus; mas isso não significa que adoramos alguma divindade pagã romana. Há evidências arqueológicas, entretanto, em favor de amálgamas e empréstimos, nas religiões antigas, e a fé de Israel exibe evidências desse fato. Parece melhor confessarmos que nenhuma fé religiosa, à face da terra, incluindo o cristianismo, é destituída de qualquer mistura, com elementos provenientes do passado. É indubitável que todos erramos em algumas de nossas crenças e práticas, por mais sinceros que possamos ser, e por mais que gostemos de afirmar que a nossa fé é pura.
Uma ilustração de mistura com a religião dos queneus (midianitas):
No vale de Tinra, não muito longe do extremo norte do mar Vermelho, vários objetos de interesse têm sido achados pelos arqueólogos. Um desses objetos é uma serpente de cobre dourado. Os estudiosos bíblicos lembram-se de que enquanto os israelitas vagueavam pelo deserto, Moisés fez uma serpente de metal (Núm. 21:9). Mui provavelmente, a serpente de cobre era um item religioso vinculado à adoração à serpente dos midianitas. Moisés, como é sabido, casou-se com Zípora, filha de um sacerdote midianita, tendo passado nada menos de quarenta anos convivendo com aquele povo. Embora, como é provável, ele não desse à serpente o mesmo valor que eles davam, é facilmente possível que seu uso, naquele incidente da serpente de metal, tenha sido inspirado por experiências que ele tivera entre os midianitas e com a religião deles.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 4542.
JETRO Também foi aparentemente chamado de Reuel (Êx 2.18) e Hobabe ou Raguel (Nm 10.29). Era um sacerdote dos nómades midia-nitas (q.v.) que residiam nas proximidades do monte Sinai (Êx 2.16; 3.1; 4.18). Era descendente de Abraão com Quetura (Gn 25.1,2) e, por conseguinte, possuía os vestígios do verdadeiro conhecimento de Jeová (Êx 18.10-12). Moisés se casou com Zípora, uma das sete filhas de Jetro, durante os 40 anos que permaneceu ao lado deste homem (Êx 2.22; 4.20; 18.3,4; At 7.29). Moisés pediu e recebeu de Jetro a permissão para retornar ao Egito (Êx 4.18-20). Foi acompanhado por Zípora e seus dois filhos, porém Moisés mandou-os de volta a Jetro por alguma razão desconhecida (Êx 4.24-26; 18.2).
Depois do êxodo do Egito, e enquanto os israelitas estavam nas proximidades do monte Sinai (cf. Êx 3.12 com 19.2,3), Jetro trouxe Zípora e seus dois filhos de volta para Moisés (18.1-6). Jetro fez coisas notáveis nessa reunião: (1) iniciou e observou, junto com os líderes de Israel, o sacrifício de ação de graças pela recente libertação do Egito (18.10-12); (2) sabiamente aconselhou Moisés a fazer certas mudanças em seu penoso sistema de julgar as pessoas que, aparentemente, foram adotadas imediatamente (18.13-26). Veja Juiz. Jetro então retornou à sua própria terra (18.27).
Seus futuros contatos com os israelitas estavam ligados ao problema quase insolúvel relacionado à identidade de Hobabe, mencionado em Números 10.29. Ele podia ser Jetro, seu filho, ou seu neto, de qualquer forma um parente de Moisés. Os descendentes dessa família viviam entre os israelitas depois da conquista de Canaã (Jz 1.16; 4.11; 1 Sm 15.6).
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1049.
JOSUÉ (PESSOAS)
Ver o artigo separado sobre o livro de Josué, relacionado ao primeiro homem que, na Bíblia, recebeu esse nome. Houve um total de quatro homens com esse nome, nas páginas do Antigo Testamento:
1. Josué, filho de Num, assistente e sucessor de Moisés.
a. Nome. Esse nome deriva-se do hebraico, Yehoshua, «Yahweh é salvação». Moisés mudou o nome dele, de Oséias («salvação»), para Yehoshua. Ver Núm. 13:16 e 13:8. Esse é o equivalente veterotestamentário de Jesus. A Septuaginta traduziu aquele nome hebraico para o grego, lesous, a forma grega do nome hebraico.
b. Família. Ele era filho de Num, que era filho de Elisama, príncipe da tribo de Efraim (Êxo. 33:11; Núm. 1:10).
c. Informes Históricos 1. Considerando-se a habilidade de Josué como estrategista militar, é possível que ele tivesse sido um soldado profissional, treinado no Egito. A arqueologia dá-nos conta de que estrangeiros eram contratados pelo exército egípcio. Moisés usou Josué como seu comandante militar, contra o ataque dos amalequitas, em Refidim (Êxo. 17:8-16). A tarefa de Josué era organizar aquele bando de ex-escravos, que tão recentemente haviam obtido a liberdade, organizando com eles um exército respeitável. A tarefa, pois, não era nada pequena. 2. Josué era o ministro pessoal e assistente de Moisés, quando este recebeu a lei (ver Êxo. 24:13; 32:17). 3. Josué foi um dos espias enviados para obter uma visão geral da terra a ser conquistada. Ele foi um dos dois únicos que deram um relatório bom, e encorajaram o ataque (Núm. 14:6-9). 4. O povo de Israel, como um todo, foi proibido de entrar na Terra Prometida, em face de desobediência e incredulidade. Somente Josué e Calebe tiveram permissão, dentre aquela geração inteira, de entrar na Terra Prometida (Núm. 26:65; 32:12; Deu. 1:34-40). 5. Josué foi comissionado para ocupar a
liderança, após o falecimento de Moisés. Josué, pois, tornou-se o novo pastor de Israel (Núm. 27:12-17). Ele recebeu a autoridade divina de Moisés (Núm. 27:20). Foi ordenado por Moisés para assumir seu novo posto (Núm. 27:21-23; Deu. 3:21-28). 6. A tarefa de Josué consistia em liderar Israel na conquista da terra de Canaã (Jos. 1- 12). Se excetuarmos uma comunidade que, através de engodo, conseguiu assinar um acordo de não-agressão com Josué, ele conseguiu exterminar os habitantes de Canaã até o último homem, excetuando aqueles lugares onde obteve vitórias apenas parciais. 7. Quando a totalidade da Palestina havia sido conquistada, Josué recebeu a tarefa de averiguar que a mesma fosse dividida entre as doze tribos (Jos. 13-21). 8. Josué foi homem de notável habilidade como líder, conforme se vê em seu trabalho capaz, como o general dos exércitos de Israel (Jos. 1-12), em sua capacidade de conduzir espiritualmente os israelitas, estabelecendo os acordos apropriados (Jos. 8:30-35); ao orar pedindo poder e orientação espirituais, e recebendo as mesmas (Jos. 10:10-14); em seu respeito pela mensagem espiritual e pelo uso que fazia da mesma, o que tanto o ajudou a conduzir corretamente o povo de Deus (Jos. 1:13-18; 8:30-35,11:12,15; 14:1-5, 23:6). Quando da divisão da terra, ele mostrou ser um hábil administrador (Jos. 13-21). 9. Foi Josué quem deu ao sistema tribal dos israelitas sua forma fixa, impondo o elemento do acordo para fixação de terras específicas entre as diversas tribos (Jos. 24:1-28). 10. Idade avançada e morte. Quando o fim de sua vida terrena aproximava-se, Josué quis consolidar os ganhos que obtivera. Convocou uma assembleia, com representantes de todo o povo de Israel, e apresentou um solene discurso e incumbência, relembrando-os sobre o que fora realizado, e exortando-os a guardarem a aliança e continuarem na fé de seus pais. Em Siquém, foi renovada a aliança com o Senhor. Josué faleceu com a idade de cento e dez anos, e foi sepultado em sua cidade, Timnate-Sera, pertencente à tribo de Efraim (Jos. 24:29). Isso ocorreu em cerca de 1365 A.C.
d. Tipos. Na seção IX, no artigo sobre Josué (Livro), em seu primeiro ponto, mostramos como Josué é símbolo de Cristo. Ele foi o Jesus do Antigo Testamento. Ambos conduzem à Terra Prometida, e ambos receberam uma autoridade acima da de Moisés. Aquela seção sublinha certo número de outros tipos que se encontram no livro de Josué, e que nos são instrutivos.
e. Caráter de Josué. Foi Josué quem disse a Israel: «...escolhei hoje a quem sirvais... Eu e a minha casa serviremos ao Senhor». (Jos. 24:15). Isso exprimiu a atitude que Josué teve durante toda a sua vida. Ele foi uma personagem das mais fulgurantes do Antigo Testamento, a quem o próprio Moisés não fez muita sombra. Sentimo-nos infelizes diante de tanta matança que houve na conquista da terra de Canaã. Ver sobre Josué (Livro), seção VI. Problemas Especiais, segundo ponto, O Tratamento Dado aos cananeus, quanto a uma discussão sobre essa questão. É óbvio que Josué sempre cumpriu o seu dever, sem nenhum grande desvio, sem nunca haver cometido qualquer grave infração, o que também se vê no caso de todos os outros grandes vultos do Antigo Testamento. Josué sen/e de ilustração do homem que confronta alguma imensa dificuldade, mas a vence, porquanto nele não havia nem dúvida e nem hesitação, de tal modo que, com coragem e resolução, ele foi capaz de realizar a tarefa que o Senhor lhe deu.
2. Josué, um nativo de Bete-Semes. Esse foi um israelita, proprietário do campo onde chegou a carruagem que trazia a arca da aliança, ao retornar da terra dos filisteus. Ver I Sam. 6:14,18. Ele viveu em cerca de 1076 A.C.
3. Josué, governador de Jerusalém, no começo do reinado de Josias. Um dos portões da cidade recebeu nome, com base em seu nome. Ver II Reis 23:8. Ele viveu em cerca de 621 A.C.
4. Josué, também chamado Jesus, filho de Jeozadaque. Ver sobre Jesua, terceiro item.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 4581
JOSUÉ Líder dos israelitas em sua conquista da terra prometida. Seu nome completo "Jehoshua" (Nm 13.16) significa "Jeová é salvação" e tem a mesma forma grega do nome de Jesus (At 7.45; Hb 4.8). Seu nome está escrito como "Josué" em Neemias 8.17, mas seu nome original era Oséias (Nm 13.8). Josué era filho de Num, da tribo de Efraim (Nm 13.8). Depois de dirigir a distribuição de terras, ele se instalou nas terras altas de Efraim em Timnate-Sera, onde foi sepultado (Js 19.50; 24.30).
Como tinha mais de 40 anos de idade quando deixou o Egito, e parecia bem qualificado para assumir o comando das forças israelitas que lutaram contra os amalequitas em Refidim (Êx 17.8-16), é possível que tivesse sido treinado pelo exército do Faraó. Durante aquele ano, no monte Sinai, Josué serviu como auxiliar direto de Moisés quando esse último recebeu as leis, e todas as vezes que ia à tenda onde encontrava e ouvia o Senhor (Êx 24.13; 32.17; 33.11). Mesmo depois de deixar o Sinai, Moisés considerava Josué como um "moço" e achava necessário censurá-lo por proibir dois anciãos do acampamento de profetizar (Nm 11.27-29).
Além dos possíveis contatos que pode ter tido antes do Êxodo com Canaã e seus habi tantes, que vinham comercializar com os egípcios, ou mesmo que pudesse ter viajado ao Egito em alguma campanha militar, Josué adquiriu experiência dessa terra por ser um dos doze espias. Foi escolhido para ser o representante da tribo de Efraim (Nm 13.8). Eles exploraram cuidadosamente desde o Neguebe até Reobe, perto de Lebo-Hamate (Lebweb, pouco mais de 20 quilómetros a noroeste de Baalbek, entre os limites do Líbano). Como Josué e Calebe se opunham ao difamatório relatório da maioria, e insistiam que os israelitas deviam entrar na terra que era "muito boa" (Nm 14.7) ao invés de se rebelar contra o Senhor, eles cresceram em sua estatura espiritual. Os outros dez que não creram na promessa da terra, que fora feita pelo Senhor, morreram devido à praga (Nm 14.36-38). Dos que iniciaram a jornada, somente Josué, Calebe e aqueles que tinham menos de 20 anos permaneceram vivos ao final dos 40 anos, e receberam permissão para entrar em Canaã (Nm 26.65; 32.12; Dt 1.34-40). O Senhor ordenou a Moisés que desse a Josué o encargo de ser o novo pastor de seu povo, quando o legislador entendeu que logo morreria ao invés de entrar em Canaã (Nm 27.12-23; Dt 3.21-29). Moisés solenemente investiu Josué com honra e autoridade perante Eleazar, o sumo sacerdote, e toda a congregação, e compartilhou o espírito de sabedoria ao impor as mãos sobre ele (Nm 27.18,23; Dt 34.9). Como parte dos preparativos finais de Moisés para a continuidade da aliança, ele publicamente advertiu Josué a ser corajoso e forte a fim de levar Israel à terra de sua prometida herança (Dt 31.3,7,8). Quando Moisés e seu sucessor se dirigiram à porta da tenda, Deus comissionou Josué de uma forma direta (Dt 31.14,15,23). Depois da morte de Moisés, o Senhor bondosamente repetiu essa ordem particularmente a Josué, aumentando as suas promessas com a finalidade de encorajá-lo na véspera da invasão de Canaã (Js 1.1-9).
Acampado a leste do Jordão, Josué enfrentou dois imensos problemas: (a) como cruzar o rio transbordante; e (6) como vencer os adversários cananeus. Será que estariam esperando na margem oposta com espadas desembainhadas? Ele enviou dois espias para fazer o reconhecimento da fortaleza de Jericó e ordenou-lhes que mantivessem a missão em segredo caso seu relatório pudesse desencorajar o povo, como os dez espias anteriores haviam feito (Js 2; cf. Nm 13; 14). Deus lhes deu a vitória sobre os dois obstáculos, enchendo de terror os habitantes da terra (Js 2.9-11) e interrompendo as águas do Jordão, quando o povo marchou cheio de fé em sua direção e na hora em que os sacerdotes que carregavam a arca pisaram em suas águas (3.14-17).
Obedecendo ao Senhor, Josué ordenou a circuncisão de todos os homens que haviam nascido no deserto (5.2-9). A nação estava novamente disposta a caminhar pela fé com Jeová, o seu Deus, nas promessas da aliança que havia sido feita com Abraão, e se submeter à circuncisão, que era o sinal desta aliança. Dessa forma, Deus eliminou toda reprovação e desgraça que foram trazidas pelo comportamento idólatra e sensual que haviam demonstrado no Egito (5.9).
Josué demonstrou ser possuidor de grande disciplina ao obedecer às inusitadas táticas de Deus para vencer Jericó. Ele ordenou aos sacerdotes e ao povo que marchassem em volta da cidade e ignorassem os gritos e as réplicas mordazes cheias de visível deboche dos defensores cananeus (6.6-10). Exceto no caso de Acã, as tropas israelitas seguiram suas ordens de não saquear as ruínas em benefício próprio. Sentindo-se pessoalmente responsável, Josué teve um grande sofrimento pela derrota e pela perda de 36 de seus homens em Ai, e prostrou-se sobre a sua face, desesperado, perante o Senhor (7.6-9).
Os detalhes do segundo ataque a Ai demonstram o cuidadoso planejamento e a estratégia que estavam presentes nas campanhas de Josué. Ele era cuidadoso e decisivo em suas atitudes, como mostra a marcha noturna de Gilgal para aliviar o cerco de Gibeão (10.9). Quando as fileiras dos amorreus foram rompidas, ele induziu o seu exército a prosseguir rumo às vitórias (10.19,20). Josué havia pedido que Deus o ajudasse a destruir, em campo aberto, o potencial de luta do inimigo e, depois da saraiva que fora divinamente enviada, ele continuou a utilizar a vantagem alcançada, enquanto os exércitos amorreus fugiam para fortalezas situadas a 30 quilómetros de distância (10.10-14). Com incrível velocidade, ele atacou as principais fortalezas do sul, uma após outra, com o objetivo maior de matar as tropas e não de ocupar e dominar as cidades (10.28-43). Ele contava muito mais com a direção e o suporte divino (10.25,30,31,42; 11.6-9,15), com a surpresa e a astúcia, a disciplina e o incentivo aos seus homens e com o colapso moral do inimigo, do que com a superioridade e a quantidade das armas e homens. Como o seu exército havia sido formado no deserto, e não estava treinado para operações de cerco, ele não podia se arriscar a ficar atolado do iado de fora de uma cidade murada. É provável que muitos cananeus tenham fugido para as montanhas e cavernas, para depois retornar e reocupar as suas cidades. Outras cidades, como Gibeão e seus aliados, capitularam imediatamente. Dessa forma, exceto no caso de Jericó, Ai e Hazor, que Josué incendiou (11.13), os arqueólogos podem esperar encontrar poucas e claras evidências da destruição de uma cidade por causa das incursões de Josué. Ele subjugou o país como um todo, e promoveu a necessária segurança para permitir que cada tribo entrasse e reclamasse a herança que lhe fora destinada. Gradualmente se seguiram a instalação dos israelitas e a construção dos edifícios durante o período que decorreu desde os juízes até Davi. Veja Êxodo, O
Josué possuía as qualidades de um verdadeiro líder. Exibiu grande coragem desde a primeira batalha contra os amalequitas em Refidim, mantendo-se firme todas as vezes que começavam a prevalecer, até o seu ataque contra a associação de reis cananeus junto às águas de Merom. Era rápido ao receber e obedecer às ordens de seu divino Comandante-em-Chefe (por exemplo, 5.13-6.5), e suficientemente humilde para reconhecer sua constante necessidade de depender do Senhor - embora tenha deixado de buscar a Deus na questão da identidade dos enviados de Gibeão (9.14,15). Josué era um homem de honra. Ele cumpriu o acordo feito com os dois espias sobre o lar de Raabe, e poupou a família desta mulher quando a cidade de Jericó foi derrotada (6.22-25). Também não invalidou o tratado feito pelos príncipes israelitas com os gibeonitas (9.18-26). Porém, a melhor qualidade que ele demonstrava era a sua total devoção à lei de Deus. Saturava a sua mente e o seu coração com a Palavra do Senhor. Dessa maneira, a nação confiava em suas decisões (veja 1.13-18; 11.11,15; 14.1-5). Em meio às suas primeiras campanhas, Josué dedicou tempo ao estabelecimento da aliança de Israel com a nova lei da terra em seu próprio centro, em Gerizim e Ebal (8.30-35). Em seu discurso de despedida apelou ao povo, pedindo que cada um renovasse o compromisso de sua aliança com o Senhor, exortando-os a guardar e a fazer "tudo quanto está escrito no livro da Lei de Moisés" (23.6).
Seu santo exemplo de temor e obediência ao Senhor continuou a influenciar a nação mesmo depois de sua morte, e durante o período dos anciãos que a ele sobreviveram (24.31).
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 195-197.
III - QUALIDADES DE MOISÉS COMO LÍDER
1. Mansidão e humildade (Nm 12.3).
Não é incomum as pessoas buscarem qualidades em seus líderes. Bons líderes servem como bons exemplos, e o mesmo ocorre quando um líder deixa a desejar com seu comportamento; logo é visto como uma pessoa indigna de crédito por divorciar suas palavras de sua vida prática.
Moisés tinha suas limitações, como todos nós. Como homem, inicialmente resistiu à voz de Deus quando foi chamado para libertar Israel, mas depois obedeceu à ordem divina. Neste capítulo, vimos que ele dedicava-se mais ao trabalho que à sua vida familiar, até receber a orientação de seu sogro. Por não perceber que estava sozinho na liderança do povo, acabava sendo cercado de problemas de todos os tipos, que poderiam ser resolvidos por outras pessoas.
Mas Moisés tinha também suas qualidades. Entre elas, destacamos:
Mansidão
A Palavra de Deus apresenta Moisés como uma pessoa de coração manso. “E era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra” (Nm 12.3). Mansidão é a capacidade de enfrentar problemas sem que se perca a calma. Essa foi a atitude de Moisés quando atacado por Miriã e Arão, seus irmãos, no deserto. Ele não perdeu a calma naquela situação e deixou que Deus resolvesse o problema de rebeldia que seus próprios irmãos trouxeram.
Humildade
Moisés não era um líder soberbo. Ele não temeu partilhar sua autoridade com seus auxiliares a fim de que o povo pudesse ser mais bem atendido em suas demandas. Ele aceitou com humildade o conselho de Jetro, e viu como acatar aquele conselho permitiu que ele focasse sua liderança onde ela era mais importante: conduzir o povo de acordo com os planos de Deus. “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda” (Pv 16.18).
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 86-87.
HUMILDADE
“Nenhum homem será um grande líder, se quiser fazer tudo sozinho, ou se quiser receber todo o crédito só para ele” . (Andrew Carnegie) Cuidado com os perigos de extrapolação do ego.
Qualquer líder que se propõe a aprender mais sobre humildade, precisa ouvir Jesus falar: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou MANSO E HUMILDE de coração” (Mt. 11: 29). No convite ao discipulado, aparece embutido o mandamento da humildade.
O que é humildade? Uma das mais lindas definições de humildade que já ouvi é: “Humildade é fazer silenciar todo o nosso saber diante da sabedoria de Jesus, é afirmar a nulidade de todo nosso poder. Se Cristo não estiver conosco, é ter a coragem de admitir que se está assentado no banco primário da sabedoria de Deus, é se ver na real medida da graça divina, nem acima e nem abaixo do que se é. Na fila da História, humildade é considerar o próximo em primeiro lugar em relação a você. É ter a coragem de servir aos iguais”.
Como a humildade de Jesus se manifestava na prática, no seu dia a dia.
1. Modéstia - Jesus viveu uma vida modesta (Lc. 4:16). Ele teve sua humanidade talhada por Deus em uma cidade simples e modesta, de onde ninguém esperava que dali saísse Alguém que iria fazer história;
2. Submissão - Na Sua submissão aos seus pais como criança, adolescente e jovem (Lc.2:51);
3. O trabalho duro - Jesus aprendeu a humildade, trabalhando duro para pôr o pão na mesa (Mc 6:3). Jesus, o carpinteiro, que furou os dedos com farpas, que enfiou pregos na madeira, apesar da Sua onisciência, bateu com o martelo no dedo. Ele também talhou móveis e desgastou-se na perspectiva de torná-los úteis e bonitos;
4. Honrar - Ele honrava os profetas, falava de João Batista com uma admiração muito grande (Mt. 11:7-15);
5. Atenção -Ele dava atenção aos velhos, tratava-os com carinho (Mc 1:30,31); e tratava com carinho e atenção às crianças (Mt. 19:13-15);
6. O improviso da vida - Ele aceitava o improviso de noites mal dormidas (Jo 7:53; 8:1). As noites mal dormidas não era algo que ofendia a sua realeza divina;
7. A interrupção das coisas programadas - Ele era capaz de interromper um discurso para responder a uma pergunta (Lc 14:15,16);
8. Aceitação da ajuda dos outros com humildade – Ele aceitou ser servido com os bens dos outros (Lc. 8:3);
9. Servir ao próximo - Ele preparou comida para os seus próprios discípulos (Jo 21:9). Mesmo ressuscitado, a glória não lhe subiu à cabeça. Ele ressuscitou e venceu a morte, mas continuou humilde de coração. Ao convidar os discípulos para um lanche, foi Ele quem preparou o  fogo, trouxe o peixe e o pão;
10. Sujeitando-se à autoridade absoluta - Ele afirma, em Jo 5:19, que estava sujeito à autoridade do Pai e disse algo tremendo que, retraduzindo o texto, seria: “Eu sou discípulo do meu Pai”;
11. Saber não saber tudo - Ele fez questão de não saber tudo (Mc. 13:32). Certas datas, prazos e eventos definidos não competia a ninguém saber, nem a Ele; somente ao Pai.
O que é orgulho? Podemos dizer que orgulho é o homem transferir o centro do seu pensamento e de suas afeições do Criador (Deus) para si mesmo. O maior perigo, quando uma liderança alcança o sucesso, é a extrapolação do ego. Nada é mais destruidor do que o “orgulho alimentado A pessoa orgulhosa é aquela que se coloca acima do que ela realmente é.
Fazendo uma auto avaliação, é comum você dizer...
► “Eu admito que cometi um erro
► “Eu estou orgulhoso de você”.
► “Qual é a sua opinião
► “Poderia, por favor”.
► “Muito obrigado”.
► “Nós...”
► “Eu...” (Apalavra menos importante.)
Humildade: marca característica dos grandes.
William Carey foi reconhecido e chamado o Pai das Missões Modernas. Poucos homens fizeram o que ele fez. Seus incansáveis trabalhos pela cristianização na índia são os de um gigante impulsionado por uma paixão apostólica. A lista de suas realizações em quarenta anos de trabalho missionário é simplesmente impressionante.
Quando enfermo, já nos seus últimos dias de vida, William Carey foi visitado pelo jovem escocês Alexandre Duff, que se preocupou em elogiar o valente missionário pela sua obra grandiosa.
Diante desses elogios, Carey disse: “Sr. Duff, o senhor tem estado a falar de um lado para o outro de meus feitos, mas eu lhe peço: quando eu estiver morto, não diga nada do Dr. Carey, fale apenas do Salvador de William Carey”. Em sua sepultura há uma única inscrição que ele permitiu: Willian Carey,
Nascido em 17 de agosto de 1761.
Falecido em 9 de junho de 1834.
Um verme miserável, pobre, desamparado.
Em Teus bondosos braços eu caio.
Apesar de todos os seus trabalhos e conquistas, certa vez ele escreveu: “A indolência é o meu pecado dominante” . A humildade deste gigante do Reino de Deus é a marca de todos os homens que ficaram registrados na galeria dos heróis da fé. S.
Júlio Schwantes escreveu : “O rio da humildade se alimenta de duas fontes inesgotáveis: a da reverência frente a grandeza de Deus a quem adoramos, e a do reconhecimento de nossa insignificância individual. A primeira tem sua razão de ser fora de nós; e, a segunda, em nós”.
Os líderes que monitoram sempre os perigos da extrapolação do ego e mantém a vida centralizada em Deus, não serão corrompidos por causa do sucesso. Ao encerrar sua autobiografia, Franklin concluiu falando sobre a humildade de forma muito interessante. Veja o que ele escreveu: “Na realidade não há, talvez, entre nossas paixões naturais, nenhuma tão difícil de dominar como o orgulho. Disfarce-a, lute com ela, submeta-a, afogue-a, mortifique-a à vontade e ela ainda estará viva, e reaparecerá de tempos em tempos; vê-la-á, talvez, frequentemente nesta história, pois, ainda que pudesse conceber tê-la vencido, provavelmente orgulhar-me-ia da minha humildade”.
Aquele que disse, “aprendei de mim que sou humilde”, também disse, “Bem-aventurados os humildes, porque deles é o reino dos céus” (Mt. 5:3). Um dos maiores gênios da história, Isaac Newton dizia em seus últimos anos de vida: “Se pude enxergar mais longe do que os outros, foi por haver subido nos ombros de gigantes” .
Josué Gonçalves. 37 Qualidades do Líder que Ninguém Esquece!. Editora Mensagem para todos. pag. 85-89.
Nm 12.3 Mui manso. A humildade era uma das grandes características de Moisés. Ver Êxo. 3.11. A palavra hebraica aqui traduzida por “manso" é ‘anaw, “humilde”. A raiz desse termo hebraico é ‘ana, “forçar à submissão". A melhor tradução, pois, é mesmo “humilde”. Contrariamente à maioria dos ditadores, Moisés não era um homem arrogante. Ocupava a posição que ocupava por atribuição de Deus, e não porque tivesse ascendido à sua posição mediante poder e arrogância, impondo aos outros a sua vontade. Isso nos mostra que Moisés não era o tirano que Miriã e Arão queriam que ele parecesse ser. Sua autoridade era divinamente conferida. Ele era o homem apropriado para o momento, e não um indivíduo que se tivesse exaltado a algum elevado ofício por meio de sua poderosa personalidade.
A autoria mosaica do Pentateuco é um dos problemas levantados por este versículo. Uma terceira pessoa nos descreve aqui Moisés, e não ele mesmo.
O livro de Números sempre alude a Moisés na terceira pessoa do singular. Mas visto que Yahweh falava por meio dele, suas tradições foram preservadas, sem importar se ele foi o compilador real de algum livro, quanto à sua forma final.
As tentativas feitas por alguns intérpretes para forçar o texto a dizer que Moisés fora “alquebrado” e “oprimido” por suas cargas e pelos ataques contra sua pessoa, em vez de ser um homem humilde, não convencem. O texto não dá apoio a esse tipo de tratamento.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 647.
Nm 12. 3. Ele tinha muita razão para se ressentir da afronta. Ela era mal intencionada e inoportuna, em um momento em que o povo se dispunha a um motim, e tinha recentemente lhe causado muita irritação com suas queixas, e isto podia irromper novamente quando encabeçado e estimulado por Arão e Miriã. Mas ele, como surdo, não ouvia. Quando a honra de Deus estava em questão, como no caso do bezerro de ouro, ninguém era mais zeloso que Moisés. Mas, quando a sua própria honra era atacada, não havia homem mais manso. Corajoso como um leão na causa de Deus, mas doce como uma ovelha em sua própria causa. O povo de Deus são “os mansos da terra” (Sf 2.3), mas alguns são mais notáveis que outros, por esta graça, como Moisés, que assim se adequava ao trabalho ao qual fora chamado, que exigia toda a mansidão que ele tinha, e às vezes, ainda mais. E às vezes a aspereza dos nossos amigos é uma prova maior para nossa mansidão do que a maldade dos nossos inimigos. O próprio Senhor Jesus Cristo recorda a sua própria mansidão (Mt 11.29: “sou manso e humilde de coração”). A mansidão que Cristo estabeleceu era imaculada. Mas a de Moisés, não o era.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 478.
I. Taberá (11:1-3). Saindo da região ao redor do Monte Sinai, que tinha relativa fertilidade, os israelitas depressa se descobriram no inóspito deserto de Et-Tih, e começaram a se queixar. Um viajante moderno os entenderia. Mas os escritores bíblicos não os entenderam (cf. Dt 9:22; SI 78:17ss.). Para eles, as queixas de Israel eram prova de rebeldia e incredulidade nacional. Números dá a mesma ideia, descrevendo Deus como zangado, e o Seu fogo consumindo as “extremidades do arraial” (1). O fogo é um sinal da atividade divina, para bênção ou julgamento (cf. Lv 9:24; 10:1). O texto não esclarece o que foi queimado nessa ocasião, se apenas arbustos perto das tendas, ou mesmo algumas das tendas. Todavia, o povo percebeu o perigo em que estava, e apelou a Moisés, pedindo-lhe que orasse por eles. Como em ocasiões anteriores, Deus acedeu à sua intercessão (Êx 15:25; 32:11-14). Para comemorar o acontecimento, aquele lugar foi chamado Taberá, “queima.” Visto que Taberá não é incluído na lista de lugares de acampamento citado em Números 33, provavelmente foi o nome dado a uma região próxima a Quibrote-Taavá (cf. versículos 4-35).
Este episódio leva a uma série de historietas em que todos os grupos entre os israelitas se rebelam com a provisão e os planos de Deus. Em cada ocasião é descrito o pecado, e em seguida vem o julgamento divino subsequente. Como resultado da incredulidade e desobediência, todos os adultos do sexo masculino, exceto Josué e Calebe, morrem no deserto, e não entram na terra da promessa. Até mesmo Moisés e Arão morrem antes de chegar em Canaã. Enfatiza-se a inversão completa das atitudes nacionais nas tradições a respeito de Quibrote-Taavá. O otimismo triunfante de Moisés, recomendando que Hobabe acompanhasse Israel para a boa terra prometida pelo Senhor, é substituído por murmurações a respeito do mal (Aia-sorte, versículo 1, miséria, versículo 15) que na verdade está experimentando. Ao invés de olhar à frente para Canaá os Israelitas anelam nostalgicamente para o Egito(10.29; 11.5; 18, 20.) Enquanto Moisés assegurava a Hobabe que o Senhor trataria bem a Israel, pouco antes, agora ele apressava-se em perguntar: “Por que fizeste mal a teu servo?” (10:32; 11:11). Outros grandes santos passaram por crises de fé semelhantes em tempos de adversidade, v.g. Elias, João Batista e Pedro (I Re 19:4ss.; Mt ll:2ss.; 26:69ss.). Tanto Moisés quanto o povo são tratados gentilmente a princípio; o fogo se acende apenas nas extremidades do acampamento (versículo 1), e Moisés não é repreendido por suas dúvidas. Os seus repetidos atos de incredulidade é que levaram à sua exclusão de Canaã.
Gordon J.Wenhan. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 113.
2. Piedoso e obediente.
Moisés era um homem temente a Deus. Piedade não se refere a fazer boas obras e caridade, mas a ter o respeito por Deus e por sua obra. Ser piedoso é o contrário de ser uma pessoa ímpia, que despreza a Deus e não trata sua Palavra de forma respeitosa.
Jetro sabia que Moisés era o líder escolhido por Deus e que era importante que estivesse bem, com procedimentos administrativos adequados para a condução do povo e preservando a si mesmo de uma vida estafante e de pouca praticidade. Ele não aconselhou Moisés a empurrar os problemas para que outros resolvessem; estava recomendando ao legislador que ensinasse a Lei de Deus com a ajuda de outros homens, que o auxiliariam na condução do povo.
Que isso nos sirva de lição. Podemos confiar em Deus para recebermos ajuda de pessoas comprometidas com o seu Reino, pessoas que podem ser ensinadas nos estatutos e leis do Senhor, e que poderão ampliar o campo de atuação de Deus em nossos dias.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 87.
PIEDADE Normalmente, o termo "piedade" é uma tradução da palavra grega eusebeia. Em um sentido amplo, piedade significa pra ticar a piedade cristã. Ela encontra sua base em um conhecimento apropriado de Deus (1 Jo 5.18), sua realização em uma vida entregue a Deus por meio de Jesus Cristo (Rm 12.1), e seu objetivo final no desenvolvimento da consciência em relação a Deus, e de características similares como a justiça, a fé, o amor, a paciência e a mansidão (1 Tm 6.11; 2 Pe 1.6). O conceito é amplamente exposto nas Epístolas Pastorais, e cristalizado nas palavras: "Mas é grande ganho a piedade com contentamento" (1 Tm 6.6; cf. 1 Tm 2.3,10; 3.16; 4.7,8; 6.3,5,11; 2 Tm 3.5,12; Tt 1.1; 2.12).
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1534-1535.
PIEDOSO, TEMENTE A DEUS. Estas palavras são traduzidas de maneira variada nas VSS brasileiras, como “piedoso”, “reverente”, “religioso” e “temente a Deus”. Fora poucas exceções, elas são peculiares a Lucas, em cujos escritos são traduzidas como “temente a Deus” somente na ARC. Ele a aplicou à descrição de Simeão (Lc 2.25), de Cornélio e seu “piedoso soldado” (At 10.2,7) e de Ananias, por meio de quem Paulo recuperou sua visão (At 22.12). E coletivamente aos “homens piedosos [que] sepultaram Estevão” (8.2); “prosélitos piedosos” (13.43); “mulheres piedosas de alta posição” em Antioquia da Pisídia (13.50); “gregos piedosos” em Tessalônica (17.4); e “gentios piedosos”, provavelmente prosélitos, na sinagoga de Atenas (17.17). Além dos dez usos por Lucas, Isaías fala de “homens piedosos” em suas profecias (Is 57.1).
MERRILL C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 4. pag. 969.
OBEDIÊNCIA As palavras hebraicas e gregas traduzidas como "obedecer" ou "obediência" são geralmente shama' e as formas cognatas de akouo. O significado básico de ambas é "ouvir". De fato, muitas vezes que o tradutor se confronta com estas palavras e seus cognatos, é muito difícil determinar se a tradução mais apropriada é "ouvir" ou "obedecer". Esta dificuldade, porém, oferece uma visão profunda do conceito bíblico básico de obediência, um conceito que ocorre tanto no AT como no NT.
Embora a obediência expresse uma ação que existe nas relações humanas comuns (tais como discípulos aos mestres ou filhos aos pais), sua referência mais significativa é a de um relacionamento que deve existir entre o homem e Deus. Deus revela-se a si mesmo ao homem por sua voz e palavras. As palavras devem ser ouvidas. Isto obviamente envolve uma recepção física das palavras com uma suposta compreensão mental de seu significado.
Mas em termos da recepção da revelação de Deus pelo homem, este fato em si não é um ouvir verdadeiro. A atitude de ouvir verdadeiramente está ligada à fé que recebe a Palavra divina e, a traduz em ação. E uma resposta de fé. E uma resposta positiva e ativa, não meramente ouvir e considerar de forma passiva. Ouvir é agir. Em outras palavras, ouvir realmente a Palavra de Deus é obedecer à Palavra de Deus. No NT, a ideia de se assumir a responsabilidade de obedecer à Palavra ouvida, ou de se colocar sob esta responsabilidade, é claramente enfatizada pelo termo hupakouo, uma composição dos termos "sob" e "ouvir". Muitas passagens referentes ao ouvir e à obediência obviamente têm em vista este aspecto de resposta positiva e ativa. "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça" (Mt 11.15; cf. 13.9,43; Ap 2.7,11,17,29; 3.6,13,22; 13.9). Veja Ouvido. O homem sábio é aquele que "ouve estas minhas [do Senhor Jesus] palavras e as pratica" (Mt 7.24). "As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e... me seguem" (Jo 10.27). Com respeito à revelação que havia recebido em Patmos, João disse: "Bem-aventurado(s)... os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas" (Ap 1.3). Não há nenhuma dicotomia entre o ouvir e o obedecer. O ouvir verdadeiro é a obediência. A fé em si envolve obediência. O Senhor Jesus, Paulo e Tiago deixam bem claro que a verdadeira fé emana da obediência.
S.N.G. No AT, pelo fato de Abraão ter crido em Deus e obedecido à sua voz, todas as nações da terra se tornaram benditas (Gn 15.6; 22.18; 26.4,5). Obedecer à voz de Deus é equivalente a guardar a sua aliança (Êx 19.5; cf. 23.20-22); portanto, os israelitas prometeram ser obedientes quando o Livro da Aliança foi ratificado com a aspersão de sangue (Êx 24.7,8). A re-dedicação do povo para obedecer à lei era uma parte básica das cerimónias de renovação de aliança (Dt 27.1-10; 30.2,8,20; Js 24.24-27). Ao castigar o rei Saul por sua obediência incompleta, Samuel ensinou a grande verdade de que obedecer é melhor do que sacrificar (1 Sm 15.22). Em séculos posteriores, a nação foi repetidamente advertida por sua desobediência a Deus e à sua lei (Is 42.24; Jr 3.13; 7.23-28; Sf 3.2; Ne 9.17,26). A obediência, ou a falta dela, pode ser tanto interior, do coração (Pv 3.1), ou meramente exterior, no sentido de uma obediência forçada (SI 72.8-11).
No NT, Paulo fala da "obediência da fé" (ou "por fé") por parte dos cristãos (Rm 1.5; cf. At 6.7). A frase em grego é a mesma que foi utilizada em Romanos 16.26, onde ele escreve que o evangelho conduz à "obediência da fé". O apóstolo está, evidentemente, referindo-se ao desejo de Deus de que os gentios, ao ouvirem o evangelho, obedeçam-no recebendo-o pela fé, confiando em seus termos (cf. 1 Pe 1.2,22; 1 Jo 3.23). Paulo adverte quanto ao terrível castigo que aguarda aqueles que se recusam a obedecer ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo (2 Ts 1.8; cf. Rm 2.8; 1 Pe 2.7,8). Ele elogia os coríntios por sua obediência ao evangelho de Cristo que professavam (2 Co 9.13).
Como um exemplo de obediência, Paulo e Pedro apontam para o Senhor Jesus Cristo que "humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte" (Fp 2.8; cf. 1 Pe 2.18,21). Paulo fala da obediência de Cristo ao fazer a expiação pelos pecadores, em contraste com a desobediência de Adão e seus descendentes (Rm 5.19). A declaração em Hebreus 5.8 de que Ele "aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu", deve significar que Cristo fez da experiência de obedecer ao Pai algo real. Ao agir assim, Ele cumpriu o propósito eterno da Divindade vivendo toda a sua vida como nosso representante, obedecendo e sofrendo em nosso lugar e por nossa causa, satisfazendo completamente a lei, em todos os seus aspectos (J. O. Buswell, Jr., A Systematic Theology of the Christian Religion, Grand Rapids. Zondervan, 1962, II, lllss.).
A Palavra de Deus exorta os servos (escravos) a obedecerem a seus senhores (Ef 6.5-8; Cl 3.22; 1 Tm 6.1; Tt 2.9); os cristãos, a obedecerem a seus líderes (Hb 13.17); as mulheres, a obedecerem a seus maridos (Tt 2.5; Ef 5.22-24; 1 Pe 3.1-6); e os filhos, a obedecerem a seus pais (Ef 6.1; Cl 3.20; cf. Pv 6.20; 23.22; 29.15). Portanto, os crentes como um todo são caracterizados como "filhos obedientes" (1 Pe 1.14; cf. Rm 6.16,17; Hb 5.9). A desobediência aos pais é considerada uma marca da depravação humana (Rm 1.30) e um sinal dos últimos dias (2 Tm 3.2). Os cristãos são ensinados a obrigar cada pensamento humano a se render em obediência a Cristo (2 Co 10.5).
O mais alto nível de obediência para o cristão é fazer a vontade de Deus de todo o coração (Rm 6.17), e não por uma mera complacência exterior. Ele possui um espírito de obediência que cria dentro de si o desejo de obedecer no pensamento e através de atitudes (por exemplo, Mt 5.28,44; 19.21,22). O cristão tem a mente de Cristo (Fp 2.5), pois a Palavra de Deus está dentro de seu coração e ele deleita-se em fazer a vontade de Deus (SI 40.8; cf. Hb 10.5-9).
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1386-1387.
OBEDIENCIA (escutar, ouvir reverentemente, obedecer, depositar a confiança em, escutar de forma submissa, ouvir, obedecer, seguir).
A Bíblia é notável em suas muitas descrições das respostas dos homens às palavras e vontade de Deus. Respostas que são claramente favoráveis, a tal ponto que, aquele que é persuadido a agir é chamado de “ouvindo”, “crendo”, ou mais simplesmente “obedecendo”. Outras respostas que são apáticas ou negligenciam a Palavra de Deus são caracterizadas como “rebelião”, “incredulidade” ou “desobediência”.
Estudos sobre as situações de obediência tendem a enfatizar os aspectos mais externos e formais da resposta, ou a natureza interna daquele que responde e os aspectos espirituais de sua atitude. Compare as abordagens em HERE, vol.
IX, 438-440 e Mst, vol. VII, 271, com as de von Allmen em A Companion to the Bible, 314s. e R. Bultmann em Jesus and the Word, 53-66. Justiça deve ser feita a estes dois elementos.
1. A natureza externa da obediência. Uma abordagem externa e um tanto formal tenderá a focar sua atenção nas circunstâncias observáveis ou nas causas inferíveis e consequências da ação.
O aspecto mais evidente da obediência é a presença de uma pessoa (ou grupo) com autoridade, que ordena ou que exige que outros sujeitem-se a seu desejo expresso. Essa autoridade pode ser reconhecida porque normalmente é expressa por intermédio de costumes e tradições bem estabelecidos, de leis e ordenanças veneradas, cujo valor para a vida humana é inquestionável. Obedecer é ajustar-se às exigências consideradas valiosas. Obediência, portanto, pode ser vista como sendo motivada por convenções, hábitos, medo de punição e esperança de recompensa. Quando Moisés diz: “Se atentamente ouvires a voz do Senhor, teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus mandamentos que hoje te ordeno, o Senhor, teu Deus, te exaltará sobre todas as nações da terra. Se ouvires a voz do Senhor, teu Deus, virão sobre ti e te alcançarão todas estas bênçãos...” (Dt 28.1,2, veja também 30.9s.), parece evidente que a resposta da obediência frequentemente ocorre em uma matriz de causas externas e persuasão similar às mencionadas acima.
Uma palavra de cautela é necessária, pois é fácil inferir que os escritores bíblicos advogam a obediência a Deus apenas por motivos práticos. Tal inferência seria muito naturalística em seu entendimento do AT e NT, e ignora o aspecto espiritual mais profundo da obediência encontrado até no AT, e.g., em 1 Samuel 15.22, “Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar”. Indiscutivelmente, a maioria das respostas obedientes registradas nas Escrituras incluía um elemento do obedecer em razão daquilo que foi ordenado: religião, na Bíblia, nunca é considerada como não prática. A ideia bíblica de obediência é distorcida se não for reconhecido que os homens também obedecem por causa de quem ordenou. A vontade de Deus era considerada ser definida para o estabelecimento de toda sabedoria e lei prática. Por isso, os escritores bíblicos podiam apresentar razões práticas para a obediência e mencionar suas consequências desejáveis, mesmo sabendo o tempo todo que a verdadeira obediência à Palavra de Deus não dependia de uma espera por recompensa.
A maneira como a obrigação à obediência é desenvolvida e aplicada é um elemento formal da própria obediência. O salmista, por exemplo, insta à obediência quando enfatiza a dependência do homem, como um ser criado, de Deus, como o ser não criado (SI 95.6,7). A lei de Deus, da mesma forma, é vista como colocando os homens sob obrigação de obedecer a Deus, porque ela foi graciosamente concedida (Ex 19.5; SI 119.1-4). No NT, o homem tem a mesma obrigação à obediência, mas somente por causa do conhecimento de Deus revelado em Cristo. De forma similar uma promessa da bênção é expressa, mas ela é mais específica, pois refere-se à esperança da apropriação da glória e excelências de Cristo (2Pe 1.3-7). A bondade comum de Deus em relação a todos os homens é a base formal para a obediência (SI 145; At 14.17) e a obra especial de redenção realizada por Deus é o fato que nos constrange à obediência por amor (ICo 6.20 etc.).
Elementos formais adicionais são citados nas disposições que são consideradas requisitos para a obediência, por exemplo, sinceridade (1 Tm 1.5), amor (Jo 14.21; 2Co 5.14; lJo 2.5), zelo (Rm 12.11), franqueza (Mt 5.16; Fp 2.15), constância (G1 6.9) e paciência (Rm 2.7). Tranquilidade nas relações interpessoais também requer a complacência formal da obediência, como nos relacionamentos entre pai e filho (Ef 6.4; Cl 3.20), marido e esposa (Cl 3.18), senhor e servo (empregador e empregado) (IPe 2.18) e cidadão e governo (Lc 20.25; At 5.29).
2. Os aspectos internos da obediência. Quando Jesus censura aqueles que obedecem à lei externamente, mas não internamente (Mt 6.2,5,16; 23.23-25), ele exemplifica a percepção de Samuel sobre o aspecto interno da obediência, quando disse que “eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar” (ISm 15.22). A verdadeira obediência é mais do que submissão a uma autoridade de um modo formal, pois uma pessoa pode ser submissa sem a correspondente disposição interna para a obediência. De acordo com a Bíblia, obedecer é escutar de tal forma que o assentimento interior é inseparável da atividade externa. Bultmann descreve esta atitude como o homem todo permanecendo sob e estando no que faz. Ele diz que o indivíduo “não está fazendo algo de forma obediente, mas é essencialmente obediente” (Jesus and the Word, pág. 61).
No NT, o escutar, ou este tipo de obediência interior, está intimamente associado ao crer. E estar unido a Cristo (Rm 15.17,18; 16.19; IPe 1.2). Uma fórmula bíblica comum afirma explicitamente que “a fé vem pelo ouvir” (Rm 10.17; cp. lTs 2.13). O pensamento é que a palavra do Evangelho produz a fé naqueles que a escutam, que é então rotulada de “obediência por fé” (Rm 1.5; 16.19,26). Falando através de parábolas e de sermões, Jesus retrata os crentes como aqueles que escutam a Palavra de Deus e a praticam (Mt 7.24; Mc 4.20; 7.32-37; Lc 8.21). Obediência é a marca de uma decisão pessoal, da confiança e do compromisso que caracterizam a fé. Richardson diz algo que resume muito bem esta atitude: “Obediência toma-se praticamente uma expressão técnica para a aceitação da fé cristã” {An Introduction to the Theology of the NT, 30; veja também At 6.7; Rm 1.5; IPe 1.2).
MERRILL C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 1. pag. 586-587.
I Ped 5.3.·...dominadores...· No grego é usado o termo ·katakurieuo·, «tomar-se senhor», «obter o domínio. As palavras raízes são kata, «sobre», e kurieuo», «dominar. Alguns pastores se transformam em *pequenos césares· na igreja, agindo como se a igreja fosse um pequeno reino sob sua soberania. Todos nós conhecemos supostos líderes cristãos que são dotados de atitudes ditatoriais. E isso se torna ainda mais crítico quando homens, que iá demonstram essa tendência, tornam-se mais idosos. Então suas tendências ditatoriais chegam ao cúmulo, e logo começam as divisões, provocadas por tal atitude. Isso se deve ao fato que tais homens perdem a capacidade de arbítrio, e temem perder os seus poderes. Lutas de poder são o resultado, e Cristo é perdido de vista em meio à batalha. A pior parte desse quadro, já negro por si, é que tais homens pensam que os ataques contra suas atitudes ditatoriais são ataques contra a fé. Não podem distinguir entre questões «reais» c interesses pessoais.
Pode-se ver, pois, que o poder pode corromper até mesmo homens espirituais. Não há corrupção tão odiosa como a que se origina do puro egoísmo, mas que se apresenta em público como luta pela fé, luta pela razão, etc. Jesus advertiu contra isso quando falou sobre a atitude carnal dos pagãos que eleva a uns dentre outros, obtendo aqueles a primazia. Disse ele: «Mas entre vós não c assim...·(Marc. 10:43). Se um crente tem o desejo de ser grande, que tal desejo seja espiritualmente orientado, e que se torne servo de todos; então é que será verdadeiramente grande. (Ver Marc. 10: 43-45). O próprio Jesus foi exemplo supremo disso. (Ver as notas sobre isso em Mat. 20: 25-28). Os apóstolos com razão se ·indignaram» ante a tentativa da mãe de João c Tiago (talvez impelida por eles) por elevar seus filhos acima dos demais. Um bem conhecido pregador, líder de certa denominação evangélica, foi descrito por sua própria filha como o tipo de homem que *governa ou arruína·. Tais homens certamente receberão o pago quando do tribunal de Cristo, devido sua atitude. São carnais, e não espirituais, e só trazem descrédito à igreja.
·...dos que voa foram confiados...· No grego é *kleros, ·sorte, ·seixo, «dado». Ou pode ser «aquilo atribuído por sorte», ou seja, uma «partilha».
Algumas vezes essa palavra é usada no N.T. para indicar «herança eterna», ou seja. ·porção eterna, ou mesmo ·porção» (ver Col. 1: 12). No presente texto, a palavra indica os que estão ao encargo de alguém, a herança de Deus, o rebanho de alguma congregação local. Cada ancião tem autoridade sobre certa porção da herança de Deus, sua igreja, e essa porção lhe é deixada aos cuidados. Isso envolve tanto um elevadíssimo privilégio como uma pesadíssima responsabilidade. Um pastor não deve abusar de seu cargo, tornando-se ditatorial. Mas muitos homens não podem resistir a essa tentação, porquanto alimentam o orgulho carnal.
...antes...· Ao invés de ser um pequeno césar, o pastor deve ser um exemplo para o rebanho. Essa é a maneira espiritual de agir.
«...modelos...» No grego é usado o termo «tupos», que originalmente significava «golpe»; então veio a indicar «marca deixada pelo golpe·. Essa impressão duplica o instrumento que a fez, pelo que se torna cópia do mesmo. Daí o vocábulo veio a significar «cópia» ou exemplo. O exemplo torna-se um ·arquétipo para outros. Em outras palavras, aqueles que seguem um exemplo são os que duplicam em si mesmos a natureza geral do exemplar. O líder deveria ter qualidades tais que aqueles que estão sob a sua autoridade deveriam ansiar por duplicar em si mesmos as suas qualidades. Por isso c que Paulo foi capaz de escrever aos crentes que se tornassem «imitadores» seus, tal como ele era de Cristo. (Ver I Cor. 11:1ª esse respeito). Nessa referência também é dada a nota geral sobre o ·exemplo·, que ilustra admiravelmente bem o presente texto.
Todo indivíduo, quer ele goste disso ou não, quer se proponha a isso ou não, torna-se uma força para o bem ou para o mal (ou para ambas as coisas, alternadamente), pelo exemplo que projeta no inundo. Ninguém é uma ilha de tal modo que não influencie a outros para o bem ou para o mal, atingindo, nem que seja algumas poucas pessoas. Isso indica uma espantosa responsabilidade; e ela foi imposta a cada um de nós. Haveremos de prestar contas pelo tipo de exemplo que tivermos dado neste mundo vil.
O pastor é a principal figura cristã do rebanho. Ele é o crente de todos. Assim como o bom Pastor não empurrava suas ovelhas, mas antes, ia adiante delas no caminho (ver João 10:4) assim também deve fazer o pastor no caso de sua congregação. No caso de um pastor não é possível ele dizer:
‘F azei o que digo, mas não fazei o que faço. O nível espiritual da congregação dificilmente se elevará acima do nível da integridade espiritual de seu pastor. Palavra e vida devem corresponder uma à outra; a palavra sem a vida, estéril é; a vida sem a palavra, não tem sentido. (Homrighausen, in loc ).
A história de Cristo, e o de seus doze apóstolos
Ele ensinava, mas antes, praticava-a pessoalmente.
(Chaucer, falando sobre um pastor fiel).
«Ou não ensines, ou ensina com a tua vida». (Nazianzcno).
«Pregador ou pastor, quem quer que sejas, ao leres isto, não apliques a palavra a teu próximo, seja ele nomeado pelo estado , nomeado pela congregação ou nomeado por si mesmo, mas toma tudo para ti... Cuida para que teu próprio coração, teus pontos de vista e tua conduta sejam corretos com Deus; e então prossegue para o próximo versículo.
 (Adam Clarke, in loc.).
Uma monstruosidade é ver elevada posição unida a uma vida aviltada, uma língua grandiloquente unida a uma vida preguiçosa, e muito falar com pouco fruto (Bernardo).
O pastor, por conseguinte, não deve desempenhar um papel de ditador, empurrando suas ovelhas. Antes, compete-lhe liderá-las, dando-lhes o seu exemplo.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 164.
I Ped 5. 3 Segue uma última exortação aos anciãos. Tampouco como aqueles que se fazem senhores sobre o que lhes foi distribuído, mas como aqueles que se tornam (ou: são) exemplos do rebanho. O termo grego para o que lhes foi distribuído na realidade significa “sorteio”. Em seguida passa a
significar: o que foi sorteado, a herança, o quinhão sorteado. No presente contexto refere-se com certeza à igreja, respectivamente à área de tarefas confiada a cada um dos anciãos. Duas coisas repercutem nessa palavra: que se trata de algo grandioso e que eles não o buscaram por si, mas que lhes foi atribuído. Não como aqueles que se fazem senhores sobre o que lhes foi distribuído significa textualmente: “olhar de cima para baixo”, depois “oprimir”, “subjugar”. Os anciãos devem conduzir a igreja, e nessa função também exercer a disciplina eclesial. Nessa posição de liderança reside o perigo do abuso, devido à pulsão humana pelo poder. Existe um abuso da liderança, um senso equivocado quanto ao cargo. Ao senhorear sobre os demais, os servidores da igreja se portam como senhores, privam Deus da honra e posição de domínio que lhe cabem e impõem inferioridade aos membros da igreja. Nisso sua liberdade e cooperação responsável se perdem, bem como a alegria em servir e o senso comunitário. É assim que anciãos, por “olhar de cima para baixo”, praticamente conseguem “gerir os negócios para baixo”. A isso Pedro contrapõe a maneira correta de apascentar: como aqueles que se tornam exemplo para o rebanho. Também Paulo emprega o termo exemplo ou “molde” (em grego typos) e exorta no mesmo sentido os responsáveis pelas igrejas (1Tm 4.12; Tt 2.7; cf. também 1Ts 1.4; 2Ts 3.9). Em Fp 3.17 ele conclama: “Imitai-me todos juntos, irmãos, e fixai o vosso olhar naqueles que se conduzem segundo o exemplo que tendes em nós” [TEB]. A igreja não precisa de índoles dominadoras, mas de exemplos. Quem se transforma em senhor gosta de exigir da igreja serviços que ele mesmo não está disposto a executar. Quem, no entanto, é exemplo, antecipa-se no servir. Todos os “mais velhos” estão submetidos à tarefa de se tornar exemplos do rebanho. Para o serviço de ancião não são necessários em primeiro lugar o dom da pregação nem capacidades humanas de destaque, mas, pelo contrário, uma atitude de vida que é marcada por Jesus e pelos apóstolos, ou seja, pela Sagrada Escritura.
Uwe Holmer. Comentário Esperança Carta I Pedro. Editora Evangélica Esperança.
Ser um exemplo para o rebanho (v. 3).
O contraste é entre a ditadura e a liderança. É impossível tanger ovelhas; o pastor precisa ir adiante delas e conduzi-las. Alguém disse bem que a Igreja precisa de líderes que sirvam e de servos que liderem. Um líder cristão me disse certa vez:
- O problema hoje em dia é que temos celebridades demais e servos de menos. Muitas das tensões de estar "entre" e "sobre" as ovelhas são resolvidas quando o pastor toma o propósito de ser um exemplo. As pessoas estão dispostas a seguir um líder que pratica o que prega e que dá um bom exemplo a imitar. Conheço uma igreja que sempre enfrentava problemas financeiros, e ninguém conseguia entender por quê. Depois que o pastor deixou o cargo, descobriu-se que ele próprio nunca havia contribuído para a obra da congregação, mas pregara sermões para outros contribuírem. Não se pode conduzir as pessoas a lugares por onde nós mesmos não passamos.
Ao se referir "[aos] que vos foram confiados", Pedro não muda de ilustração. O povo de Deus é, sem dúvida, sua herança preciosa (Dt 32:9; SI 33:12). O termo empregado no original significa "escolhido ao lançar sortes", como foi feito na divisão da terra de Canaã (Nm 26:55). Cada presbítero tem o próprio rebanho para tomar conta, mas todas as ovelhas pertencem ao rebanho do qual Jesus Cristo é o Supremo Pastor. O Senhor coloca seus obreiros onde lhe apraz, e devemos ser submissos a sua vontade. Quando servimos dentro da vontade de Deus, não há competição na obra de Deus. Assim, ninguém precisa mostrar-se importante nem querer "dominar" sobre o povo de Deus. Os pastores são "supervisores", não "dominadores".
WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. N.T. Vol. II. Editora Central Gospel. pag. 555.
3. Fiel (Nm 12.7; Hb 3.2,5).
FIDELIDADE (Gr. pistis, "fidelidade", "confiabilidade"). O adjetivo pistos é geralmente traduzido como "fiel". A palavra pistis é traduzida como "fidelidade" ou "lealdade" apenas uma vez no NT (Tt 2.10), embora seja possível que em Gálatas 5.22 ela devesse ser traduzida dessa forma. Em Romanos 3.3, "a fidelidade de Deus" expressa a justiça de Deus.
Há uma possibilidade de que em Lucas 18.8: "Quando, porém, vier o Filho do Homem, porventura, achará fé na terra", o significado deva ser "fidelidade". Mais duas passagens que trazem a palavra fé - 1 Timóteo 6.11: "a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a mansidão", e 2 Timóteo 2.22: "Segue a justiça, a fé, a caridade" - fariam melhor sentido se fossem traduzidas como "fidelidade". Em todos os outros usos de pistis no NT o significado parece ser "fé" ou "a fé" (q.v.). Quando a palavra "fidelidade" é usada em relação a Deus, como em Romanos 3.3, o significado é que podemos confiar que Deus jamais mudará o seu caráter ou a sua disposição. Ele possui o atributo da "fidelidade". Em Tito 2.10: "Mostrando toda a boa lealdade", os escravos (ou os servos) são exortados a demonstrar a qualidade da fidelidade. Como cristãos, devemos todos permanecer fiéis a Cristo, isto é, termos fidelidade em nossa vida e em nossa fé cristã, e manifestar "a perseverança dos santos". Desta maneira também nos tornamos "dignos de confiança".
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 795.
FIDELIDADE HUMANA. O adjetivo pistós é simplesmente usado para crentes sem distinção entre início e continuação na fé. Ele tem o significado específico de digno de confiança quando refere-se a despenseiros do Evangelho (ICo 4.1s.) e ministros (Ef 6.21; Cl 1.7; 4.7). Paulo pode julgar-se ser reconhecido digno de confiança pelo Senhor (ICo 7.25; lTm 1.12) e ter o Evangelho confiado (pisteúõ) a ele (lTm. 1.11; Tt 1.3). Ele incita Timóteo a encontrar pessoas idôneas ou dignas de confiança para ensinar os outros (2Tm 2.2). A ideia de continuar firmemente na fé é encontrada também como um tema importante (ICo 16.13; 2Co 1.24; 2Ts 1.4), embora a palavra mais frequentemente usada seja hupomonê, “paciente resistência.”
A fidelidade também precisa ser demonstrada a outros como parte do fruto do Espírito (G1 5.22). A fé em Cristo está ligada ao amor (Ef 1.15; 3.17; 6.23; l Ts 1.3; 3.6; 2Ts 1.3). Fé e amor são duas das "virtudes teológicas” (1 Co 13.13). Paulo resume a relação das duas dizendo que "a fé que atua pelo amor” (G1 5 .6).
MERRILL C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 2. pag. 788.
Nm12.7 Não é assim com 0 meu servo Moisés. Essas palavras mostram a superioridade de Moisés em relação aos demais profetas. Todavia, é algo lindo receber sonhos e visões espirituais, que são modos de comunicação divina, segundo comentei nas notas sobre 0 versículo anterior. Moisés, contudo, gozava de um tipo de comunicação superior a isso. Ele se encontrava com Deus face a face, e recebia revelações diretas (vs. 8; ver também Êxo. 33.11). O papel de Moisés como mediador entre Yahweh e Israel foi assim reiterado. Ver Exo. 19.9; 20.19. Cf. Deu. 34.10-12.
Fiel em toda a minha casa. O fulcro dessa casa, naqueles tempos, era 0 tabernáculo; assim, a casa metafórica aqui referida era a esfera de sua atividade em toda a nação de Israel. Israel era a casa de Deus, nesse sentido metafórico. Moisés desincumbia-se fielmente de todos os seus deveres, e Yahweh não tinha do que se queixar contra ele, em contraste com Miriã e Arão, que se queixavam de Moisés.
Uso no Novo Testamento. O trecho de Hebreus 3.2-6 informa-nos que Cristo também foi fiel na casa de Deus, e também que atuava na capacidade de Filho, e não na capacidade de servo. Isso posto, Ele era muito maior do que Moisés, tal como Moisés era muito maior do que os profetas comuns. E, sendo muito superior a Moisés, Cristo superou-o em uma nova dispensação, a saber, a era do evangelho, na qual vivemos. O Novo Testamento tomou 0 lugar do Antigo Testamento. Aparecera um novo Legislador, Cristo, 0 qual trouxe Sua mensagem de graça e fé para substituir a antiga mensagem severa da lei.
Nem Moisés nem Cristo eram meros profetas comuns. Ambos foram media dores, respectivamente do Antigo e do Novo Testamentos. Miriã e Arão se tinham posto na mui ridícula posição de profetas comuns que atacavam a autoridade e a pessoa do mediador do antigo pacto.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 647-648.
Nm 12. 7 Moisés era um homem de grande integridade, cuja fidelidade foi posta à prova. Ele “fiel em toda a minha casa”. Isto é colocado em primeiro lugar nas suas características, porque a graça se destaca acima dos dons. O amor, acima do conhecimento. E a sinceridade na obra de Deus confere uma honra maior ao homem, e o recomenda ao favor divino, mais do que o aprendizado, as especulações de difícil compreensão, e a capacidade de falar em línguas. Esta era aquela característica de Moisés que o apóstolo menciona quando desejava mostrar que Cristo era maior que Moisés, sugerindo que Ele o foi neste exemplo principal da sua grandeza. Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo, mas Cristo, como Filho, Hebreus 2.2,5,6. Deus confiava em Moisés para transmitir a sua vontade em todas as coisas a Israel. Israel confiava nele, para tratar, por seu intermédio, com Deus. E ele era fiel a ambos. Ele dizia e fazia tudo na administração daquela grande missão como convinha a um homem bom e honesto, que não desejava nada além da honra de Deus e do bem-estar de Israel. (2) Moisés foi, portanto, honrado com as revelações mais claras da vontade de Deus, e uma comunhão mais íntima com Deus, do que qualquer outro profeta. Ele: [1] Ouve mais de Deus do que qualquer outro profeta, mais claramente e distintamente: “Boca a boca falo com ele”, ou face a face (Ex 30.11), como um homem fala com seu amigo, com quem ele conversa com liberdade e familiaridade, e sem nenhuma confusão ou consternação, como às vezes acontecia com outros profetas. Como Ezequiel, e o próprio João, quando Deus falou com ele. Por intermédio dos outros profetas, Deus enviava ao seu povo repreensões e predições do bem ou do mal, que eram transmitidas, de maneira suficientemente adequada, em palavras, exemplos e tipos sombrios, e em parábolas. Mas por meio de Moisés, Ele deu leis ao seu povo, e a instituição de santas ordenanças, que, de nenhuma maneira, poderiam ser transmitidas por palavras sombrias, mas deveriam ser expressas da maneira mais clara e inteligível. [2] Ele via mais de Deus do que qualquer outro profeta: Ele via a semelhança do Senhor, como viu em Horebe, quando Deus proclamou seu nome diante de si. Mas ele via somente a semelhança do Senhor. Os anjos e os santos glorificados sempre contemplam a face do nosso Pai. Moisés tinha o espírito de profecia de uma maneira peculiar a si mesmo, e que o colocava muito acima de todos os outros profetas. Ainda assim, aquele que é o menor no reino do céu é maior do que ele.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 478-479.
Nm 12. 7. Moisés, é fiel Neeman, um prefeito ou superintendente. Samuel é chamado, 1 Samuel 2:35; 3:20; Davi é chamado, 1 Samuel 18:27, Neeman, e o genro do rei. Jó 12:20, fala da Neemanim como um nome de dignidade. Ele também parece ter sido um título de respeito dado aos embaixadores, Provérbios 13:17; 25:13. Calmet bem observa que a fidelidade palavra é usada frequentemente para um emprego, escritório, ou dignidade, e refere-se a 1 Crônicas 9:22,26, 31; 2 Crônicas 31:12,15; 34:12, Moisés era um fiel, servo na casa de Deus, bem tentou, e, portanto, ele usa-o como um familiar, e coloca a confiança nele.
ADAM CLARKE. Comentário Bíblico de Adam Clarke.
Hb 3.2. Cristo é Apóstolo e Sumo Sacerdote por determinação e «nomeação» de Deus, tal como Moisés foi nomeado para o seu ofício. A essa tarefa Cristo foi «fiel», «leal», «digno de confiança», mostrando a fidelidade apropriada ao Pai, que o nomeara para tão elevado encargo. Evidentemente o autor sagrado tem em mente a passagem de Núm. 12:7. Moisés foi um «servo» que, conforme Deus disse, foi «fiel em toda a minha casa». Essa declaração indica que lhe foi dado um serviço a fazer na economia divina, o serviço de governar a Israel, de edificar espiritualmente àquela nação. Moisés se caracterizou pela «fidelidade». No entanto, alguém maior do que Moisés viera a este mundo ultimamente; e esse alguém fora incumbido de maior comissão ainda; uma casa maior (a igreja) estava sendo edificada; Cristo é co-edificador e Senhor sobre essa casa. Já Moisés fora apenas um servo fiel—mas Cristo é o Filho fiel. O trecho de Heb. 2:17 já declarara que Cristo fora fiel. Cristo é tanto o criador do edifício físico como o criador do edifício espiritual, tanto do universo físico como da família celestial. (Ver Heb. 1:2 e 2:11 e ss.). Em ambas as coisas ele é o agente fiel de Deus, que edifica a casa de Deus—nessa casa ele é o Filho, e não algum mero servo. Sua fidelidade suprema é que o colocou naquela elevadíssima posição, em acréscimo ao fato de que a comissão por ele recebida ultrapassava em importância à missão de Moisés, ou à missão de qualquer outro simples «servo».
A fidelidade de Cristo ficou demonstrada em toda a sua vida e atividade. Conforme diz Friedrich Rittelmeyer, em seu livro, Behold the Man (págs. 49:50): «...Quando ele curava os enfermos e quando os evitava; quando se retirava perante os seus inimigos ou quando os enfrentava; quando ele limitava suas atividades aos judeus, ou quando ministrava aos gentios; quando se retirava para lugares obscuros e quando resolveu firmemente dirigir-se a Jerusalém; quando ele tomou a azorrague na mão e quando ofereceu a mesma mão para ser cravada na cruz—a mesma consistente e inquebrantável vontade se manifestava em tudo quanto fazia, emergindo, das profundezas de sua alma, derramando-se dos mananciais de sua própria vida... E assim, ressoa através de tudo quanto Cristo faz e diz, algo que parece vir dos mais profundos recessos do mistério do próprio mundo.
A fidelidade de Moisés era grande, pelo que também foi aprovado. Mas a fidelidade de Cristo é maior, em pelo menos três particulares: 1. Porque, acima de todos, ele foi fiel; sua fidelidade ultrapassou a de todos, incluindo a de Moisés (ver Heb. 1:9). 2. Porque ele foi fiel em um ofício mais elevado, a saber, na fundação do edifício. Moisés fora apenas um servo nesse edifício. 3. Porque, na qualidade de Filho de Deus, que compartilhou de sua natureza com os «filhos», permitiu que o edifício de Deus tivesse as características apropriadas, o que envolvia uma missão e uma capacidade muito acima do que Moisés seria capaz de fazer.
«...a casa de Deus...» As operações divinas são aqui pintadas como se fossem a ereção de uma casa. A criação original talvez esteja parcialmente em foco—foi uma obra de Deus, mas também foi do Filho, como co-criador (ver Heb. 1:3); porém, é particularmente enfatizada aqui a «edificação espiritual», o que é uma ideia frequente no N.T. (Ver Heb. 2:19 e ss.). Os homens se tornam um «templo», edificado e habitado pelo Espírito Santo, tornando-se assim moradia divina. Desse modo os remidos ganham supremo acesso a Deus. Cristo é o principal edificador dessa casa espiritual, que inclui a igreja. Moisés meramente tomou lugar como um dos servos,' dentro dessa família. Mas Cristo é ao mesmo tempo o Filho e o Principal Edificador.
O termo «...casa...» sugere-nos a ideia de «família». Já foi salientado que existe certa comunhão de natureza entre o Filho e os filhos, pois ambos têm um só Pai. (Ver Heb. 2:11-13). Faz parte do desígnio do «edifício» de Deus que o Filho seja duplicado, e isso no sentido mais pleno e literal, ficando infundida a sua natureza em outros filhos, de modo que venham a participar—de sua natureza, de seus atributos e de suas perfeições. É exatamente nisso que consiste o evangelho. A filiação é a natureza inerente da salvação. Deus «edifica» a fim de fazer disso uma realidade. Ora, Moisés não podia fazer tal coisa, por ser ele uma mera criatura, e não o criador. Ele é apenas um outro dos filhos, embora estivesse encarregado de elevadíssima missão, por parte do Chefe da casa.
É mediante esses argumentos que o autor sagrado estabelece a superioridade do Filho de Deus sobre Moisés; e isso requer que Cristo receba uma atenção superior e uma lealdade superior àquelas conferidas a Moisés (ver o primeiro versículo deste capítulo). Seus argumentos são claros como cristal, plenamente em consonância com a doutrina cristã normal, que aparece no restante do N.T.
Mais adiante, o autor sagrado estenderá a superioridade de Cristo sobre os «sacerdotes da lei do A.T.», já nos capítulos quinto em diante. Mas agora ele se concentra sobre a superioridade de Cristo em relação a Moisés, porquanto sabia que seus leitores ficavam profundamente impressionados ante a menção do nome de Moisés. Por longos e longos anos tinham sido treinados a respeitar esse nome. Mas agora deveriam aprender que nenhum treinamento deveria levá-los a respeitar a Moisés acima de Cristo. De fato, o respeito por Moisés deveria levá-los a respeitar a Cristo acima de todos, porquanto Moisés era apenas um dos servos de Cristo.
No texto aludido, Moisés é elevado acima dos profetas, pois a este Deus fala mediante visões e sonhos. Em contraste com isso, falava face a face com Moisés, mostrando assim a elevadíssima estatura espiritual a que chegara este, dentro da «casa de Deus», da família teocrática. No entanto, agora Cristo é elevado acima dos profetas e. de Moisés; porquanto não apenas figura como um servo fiel, mas como o próprio edificador da casa. Todavia, Cristo é também servo de Deus (o que é exposto em Atos 3:13); mas esse aspecto não é enfatizado aqui. Antes, agora ele é visto como infinitamente superior a qualquer servo.
Assim como Cristo é o Filho e o Construtor da casa, assim também age como Apóstolo e Sumo Sacerdote, segundo devemos entender a conexão entre o primeiro e o segundo versículos deste capítulo.
Hb 3.5.« ...fie l...» (ver o segundo versículo deste capítulo , quanto a notas expositivas sobre essa palavra, onde ela se aplica tanto a Moisés como a Cristo).
«...em toda a casa de D eu s...» Essa expressão também se acha e é comentada no segundo versículo deste capitulo, embora ali haja uma variante textual que põe em dúvida a autenticidade da palavra «toda». Neste ponto, não há qualquer dúvida sobre a legitimidade desse termo. Moisés é declarado como «fiel em toda a casa de Deus». É possível que essa expressão indique que a autoridade de Moisés penetrava em toda a casa de Deus naquela época, e que ele se mostrou fiel no cumprimento de todos os seus deveres, atinentes àquela casa. Ou talvez o intuito seja o de dar a entender que a Missão de Moisés se revestia de importância universal, tendo algo a ver com todos os planos espirituais de Deus, para todos os séculos. Dessa maneira, Moisés transcendeu em importância a todos os outros profetas, e não somente à sua própria geração; e, tal como Cristo, foi revestido de um serviço muito maior e duradouro. Todavia, por maior que tivesse sido Moisés, foi apenas um servo. Foi um super-servo, mas o Filho de Deus é quem dirige todos os servos. E Cristo Jesus é o Filho de Deus.
«O ponto da comparação está no fato de que Moisés e Cristo estiveram ambos ocupados, não apenas como outros mensageiros divinos, com uma parte, mas com a ‘totalidade’ da economia divina. Os profetas trataram variegadamente deste ou daquele aspecto da verdade; os reis tiveram outra região da vida a dirigir; e os sacerdotes, outra ainda. Mas Moisés e Cristo cuidaram da casa inteira de Deus». (Westcott, in loc.). Mui provavelmente, isso significa que a autoridade de Moisés permeava a todos os recantos do governo de Deus, naquela dispensação. Ele foi legislador, sacerdote e assumiu autoridade monárquica. Isso é verdade; mas também é provável que ele seja visto como alguém que transcendeu à sua própria geração e dispensação, no tocante à ordem de importância. Sua grandeza, entretanto, se devia exclusivamente ao fato de que ele foi feito grande pelo Filho de Deus, que lhe confiou uma importantíssima missão, acima da de seus companheiros.
«...servo...» No grego temos o vocábulo «therapon», que em todas as páginas do N.T. é usada exclusivamente para indicar a Moisés. Outras alusões, na literatura bíblica, quanto ao uso desse termo, também plicam esse adjetivo somente a Moisés. A forma verbal, «therapeuo», significa «esperar», «prestar serviço aos deuses» (como um sacerdote), «atender aos enfermos».
Daí é que se originou nosso vocábulo moderno, «terapia». Sua forma nominal, pois, pode indicar todos os tipos de «servos», ainda que o termo seja usado para contrastar com os «escravos» (douloi), aqueles que servem não sem vontade própria. O «servo» é um homem livre, e seu serviço pode ser honorário, dado a ele em reconhecimento de seu valor; seja como for, seu serviço não é forçado. Talvez o autor sagrado tenha empregado essa palavra para indicar a posição de Moisés. E verdade, porém, que, na Septuaginta, essa palavra algumas vezes é usada para traduzir o termo hebraico que significa «escravo», casos em que nenhuma distinção ou prestígio fica subentendido no termo; contudo, é lógico pensarmos que o autor sagrado quis dizer algo dessa ordem, pois, do contrário, provavelmente teria usado o termo grego «doulos», «escravo». Porém, apesar de tão honrado , Moisés, como «servo», agiu de modo subserviente ao Filho—e essa é a lição principal aqui ensinada.
«...para testemunho ...» Essa declaração tem sido entendida como afirmativa que quer dar a entender que a fidelidade de Moisés foi um meio de autenticar sua mensagem falada e posteriormente escrita; mas essa ideia fica muito aquém do espírito do contexto. Pelo contrário, tudo quanto Moisés fez e disse, a sua missão inteira, teve o efeito de autenticar a vinda do Messias. Tal como tudo quanto fazia parte do A.T., em seu sistema de preceitos e sacrifícios, em seu sacerdócio, em seus reis, de algum modo prefigurava a pessoa de Cristo, assim também Moisés, por maior que ele tivesse sido, foi apenas uma figura simbólica do grande Legislador e Sumo Sacerdote que é Cristo. O particípio futuro, aqui usado, no original grego, parece dar a entender, ainda que essa maneira de entender não seja requerida, algum tempo subsequente ao próprio Moisés.
«Disse, na verdade, Moisés: O Senhor Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser...» (Atos 3:22, referindo-se à predição em Deut. 18:15). Era isso que estava na mente do autor sagrado, quando ele escreveu este versículo, embora não tivesse pensado especificamente sobre alguma passagem particular do A.T., que assim o afirme.
O contexto do décimo segundo capítulo do livro de Números, onde a autoridade de Moisés foi posta em dúvida, talvez pudesse limitar o sentido deste versículo à autenticação da missão de Moisés, como legislador, naqueles dias, e que a sua «fidelidade» seja vista como aquilo que lhe cabia fazer. O autor sagrado alicerça suas declarações sobre aquela secção; ou então a tinha em mente, conforme já pudemos observar no segundo versículo deste capítulo. Porém, é tolice supormos que o autor sagrado limita a compreensão dessas palavras ao contexto do trecho do A.T. Antes, ele lhes dava propositadamente uma aplicação mais vasta, vendo em Moisés uma prévia autenticação de Cristo. Isso se adapta bem ao seu desígnio geral de exaltar a Cristo como Filho, fazendo de Moisés servo de Cristo. Assim sendo, até mesmo em tempos tão remotos, Moisés já era servo de Cristo'.
Nisso, naturalmente, percebe-se como a importância de Cristo penetra em todas as eras. Cristo é uma figura cósmica. (Ver Heb. 9:9 acerca da tese do autor sagrado que as coisas do A.T. eram apenas símbolos das coisas por vir, na dispensação a ser introduzida por Cristo). E o que ele diz aqui faz parte dessa tese.
«Moisés, apesar de arauto daquela doutrina que por algum tempo seria publicada ao povo antigo, ao mesmo tempo prestou testemunho acerca do evangelho, cuja publicação não começara ainda a ser feita; pois é evidente que o fim e término da lei é que seja atingida aquela perfeição de sabedoria contida no evangelho. Essa exposição parece estar inclusa no tempo futuro do particípio». (Calvino, in loc.).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 503-505.
Hb 3.2 Ao Senhor Jesus Cristo, que representa absolutamente tudo na confissão cristã e na vida da igreja, o apóstolo contrapõe o homem de Deus, Moisés, que ocupava uma posição central no pensamento de Israel. O que a obra redentora de Cristo significa para a igreja do NT era para os judeus a saída de Israel do Egito sob Moisés. Jesus e Moisés são comparados entre si, sendo que determinados termos-chave da explicação do texto do AT são singularmente importantes para o apóstolo. Ele é (“foi” [BLH]) fiel àquele que o constituiu, como também o era Moisés em toda a casa de Deus. Como
peculiaridade é destacada a fidelidade (o termo grego pistós “fiel” tem parentesco com a palavra pístis “fé”).
Ambos, Moisés e Jesus, comprovaram sua fidelidade e sua fé na tribulação. As palavras “que o estabeleceu” não significam que Deus tivesse criado o Senhor Jesus Cristo como qualquer outro de suas criaturas celestiais ou terrenas, mas elas indicam ou para a instalação de Jesus como Apóstolo e Sumo Sacerdote por parte de Deus, o Pai, ou para a sua encarnação. Em todo caso o presente versículo destaca a dependência consciente de Deus em que Jesus viveu durante sua existência humana. Ele próprio assegurou aos judeus: “O Filho nada pode fazer de si mesmo, a não ser aquilo que vê seu Pai fazer; porque tudo o que este fizer, o Filho também o faz de modo semelhante” (Jo 5.19; cf. Jo 17.8a).
A casa que foi confiada a Moisés era a tenda da revelação, o tabernáculo. O termo grego kataskeuázein “estabelecer”, “construir” (RC), “instalar” no v. 4 tem um significado peculiar em correlação com a edificação do tabernáculo em Hb 9.6. Exegetas do judaísmo tardio relacionaram essa palavra com todo o povo de Israel, que no AT é muitas vezes chamado de “casa de Israel”. Uma decisão segura e definitiva a esse respeito não é possível. Pelo contrário, ambas as explicações complementam-se de modo significativo.
Hb 3.3 Jesus e Moisés são comparados entre si com respeito à sua “glória” e “honra”. Jesus está para Moisés como o construtor de uma casa para a própria casa. Ele possui glória maior que Moisés, assim como o serviço da nova aliança ultrapassa em muito a glória do serviço da antiga aliança (2Co 3.7-11). Também Jo 1.17 ressalta a mesma realidade: “Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo”. Nisso reconhecemos que, apesar de toda a convergência entre Moisés e Jesus, de fato existe uma diferença não apenas gradual, mas qualitativa! – No presente versículo Jesus Cristo é chamado de “construtor”. Isso nos conduz ao próximo pensamento.
Hb 3.5 A comparação entre Jesus e Moisés é levada adiante. Mais uma vez destaca-se aquilo que ambos têm em comum: ambos receberam de Deus o atestado de serem fiéis. Depois, porém, segue-se a ênfase nos contrastes: Moisés é somente o servo, ele governa em toda a sua casa que lhe foi confiada por Deus. Porém Jesus Cristo é imensamente superior a Moisés. Ele não é servo, mas Filho. Não está na casa para administrá-la, e sim estabelecido acima dela como Senhor e ao mesmo tempo como seu construtor. Sua “casa” é sua igreja. Nessa constatação o apóstolo une-se a todos os que creem: a […] casa somos nós!
Fritz Laubach. Comentário Esperança Cartas aos Hebreus. Editora Evangélica Esperança.
Hb 3. 2-6 Outro argumento é extraído da glória e da excelência de Cristo, que eram superiores às de Moisés (w. 3-6); por isso eram eles ainda mais obrigados a considerar a Cristo. (1) Cristo era o edificador da casa, Moisés, apenas um membro dela. Por “casa” devemos entender a igreja de Deus, o povo de Deus incorporado sob o senhorio de Cristo, seu Criador e cabeça, e sob ministros subordinados, de acordo com a sua lei, observando as instituições. Cristo é o edificador dessa casa da igreja em todos os tempos. Moisés era um ministro na casa, era instrumento sob Cristo ao governar e edificar a casa, mas Cristo é o Criador de todas as coisas; pois Ele é Deus, e ninguém menos do que Deus poderia h edificar a igreja, nem colocar o fundamento, nem levantar a construção acima da terra. Não foi necessário nenhum poder menor para edificar a igreja do que o necessário para criar o mundo; o mundo foi feito do nada, a igreja foi feita de materiais completamente inadequados para tal edificação. Cristo, que é Deus, projetou a planta da igreja, proveu os materiais, e por força superior os dispôs para receber a forma; Ele ligou firmemente e uniu essa sua casa, estabeleceu a ordem nela e coroou tudo com sua própria presença, que é a verdadeira glória dessa casa de Deus. (2) Cristo era o senhor dessa casa, como também o seu edificador (w. 5,6). Essa casa é chamada casa dele, como Filho de Deus. Moisés era somente um servo fiel, como testemunha das coisas que seriam reveladas posteriormente. Cristo, como o eterno Filho de Deus, é o proprietário legal e o governante soberano da igreja. Moisés era apenas um tipo de governante, como testemunha de todas as coisas relacionadas à igreja que seriam mais claramente, mais completamente e mais satisfatoriamente reveladas no evangelho pelo Espírito de Cristo; e por isso Cristo é digno de mais glória do que Moisés, como também de maior atenção e consideração. O apóstolo conclui esse argumento: [1] Com uma adaptação satisfatória dele a si mesmo e a todos os verdadeiros crentes (v. 6). “...a qual casa somos nós”: cada um de nós pessoalmente, à medida que somos o templo do Espírito Santo, e Cristo habita em nós pela fé; todos nós juntos, à medida que somos unidos pelos laços da graça, das verdades, das ordenanças, da disciplina do evangelho e das devoções. [2] Com uma descrição característica das pessoas que constituem essa casa: “...se tão-somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim; isto é, se mantivermos uma profissão ousada e franca das verdades do evangelho, sobre as quais estão edificadas nossas esperanças de graça e glória, e vivermos sob elas e de acordo com elas, de modo que tenhamos uma santa alegria nelas, que permanecerão até o final, não importa o que enfrentarmos ao fazê-lo”. Assim você vê que não é necessário somente que haja um bom começo nos caminhos de Cristo, mas uma perseverança e constância neles até o fim. Temos aqui as orientações que devem seguir os que são participantes da dignidade e dos privilégios da casa de Cristo. Em primeiro lugar, eles precisam receber as verdades do evangelho na sua cabeça e coração. Em segundo lugar, precisam edificar suas esperanças de felicidade sobre essas verdades. Em terceiro lugar, precisam fazer uma profissão franca dessas verdades. Em quarto lugar, precisam viver de acordo com elas de tal forma que as mantenham claramente em evidência, para que se alegrem em esperança, e então precisam perseverar até o fim. Em uma palavra, eles precisam caminhar íntima, coerente, corajosa e constantemente na fé e na prática do evangelho, para que o seu Senhor, quando vier, os reconheça e aprove.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 768.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

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