O LEGADO DE MOISÉS
TEXTO ÁUREO
“Era
Moisés da idade de cento e vinte anos quando morreu; os seus olhos nunca se
escureceram, nem perdeu ele o seu vigor” (Dt 34.7).
VERDADE PRÁTICA
Moisés
foi usado por Deus para tirar Israel do Egito e entregar os Dez Mandamentos
para a humanidade.
LEITURA DIARIA
Segunda - Ex 6.20 A família de Moisés
Terça - Dt 33.1-29 A última bênção de um líder
Quarta - Lc 24,27,44,45 Moisés, profeta messiânico
Quinta - At 3.22,23 Moisés, tipo de Cristo
Sexta - Dt 32,1-47 O último cântico de Moisés
Sábado - Dt 34.1-5 Moisés vê a Terra Prometida e morre
LEITURA BÍBLICA EM
CLASSE
Deuteronômio
34.10-12; Hebreus 11.23-29
Deuteronômio
34
10
- E nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o Senhor
conhecera face a face;
11
- nem semelhante em todos os sinais e maravilhas, que o Senhor o enviou para
fazer na terra do Egito, a Faraó, e a todos os seus servos, e a toda a sua
terra;
12
- e em toda a mão forte e em todo o espanto grande que operou Moisés aos olhos
de todo o Israel.
Hebreus
11
23
- Pela fé, Moisés, já nascido, foi escondido três meses por seus pais, porque
viram que era um menino formoso; e não temeram o mandamento do rei.
24
- Pela fé, Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó,
25
- escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de Deus do que por; um pouco de
tempo, ter o gozo do pecado;
26
- tendo, por maiores riquezas, o vitupério de Cristo do que os tesouros do
Egito; porque tinha em vista a recompensa.
27
- Pela fé, deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme como
vendo o invisível.
28
- Pela fé, celebrou a Páscoa e a aspersão do sangue, para que o destruidor dos
primogênitos lhes não tocasse.
29
- Pela fé, passaram o mar Vermelho, como por terra seca; o que intentando os
egípcios, se afogaram.
INTERAÇÃO
Se
há alguma coisa de valor transcendente que os líderes podem deixar aos
sucessores é o seu legado. Queremos dizer com legado toda a disposição,
tradição exemplos e valores morais e espirituais, deixados pelo líder para o
bem da igreja local. Conta-nos a Bíblia a história de um rei chamado Jeorão (2
Cr 21.4-20). Este era um opressor, sem qualquer sensibilidade humana e que
andava nos caminhos dos reis de Israel. Esse rei não deixou qualquer legado
edificante para os seus sucessores, ao ponto de o texto bíblico descrever o
sentimento do povo quando da sua morte, desse modo: “e foi-se sem deixar de si
saudades" (v.20). Que este não seja o legado dos líderes cristãos!
OBJETIVOS
Após
a aula, o aluno deverá estar apto a:
Conhecer a respeito dos
últimos dias da vida de Moisés.
Explicar as características
de Moisés como homem de Deus e pastor de Israel.
Aprender à luz do legado de
Moisés sobre a comunhão, a piedade e a prudência.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Prezado
professor, peça à classe que cite cinco características positivas e cinco
negativas que possam existir numa liderança. À medida que responderem, anote as
respostas na lousa em duas colunas respectivas (características positivas e
negativas). Em seguida, diga aos alunos que um líder não é um super-homem. Ele
é igualzinho a nós, pois se trata de um ser humano. Entretanto, as Escrituras
convocam os líderes a apresentarem uma vida de serviço a Deus e à igreja que
lideram* Conclua a lição dizendo que devemos amar os nossos líderes, pois são
pessoas vocacionadas por Deus para fazer o bem à sua Igreja.
PALAVRA-CHAVE
Legado: O que é transmitido às gerações que se seguem.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Moisés
nasceu quando Israel estava cativo no Egito, durante os terríveis dias em que
Faraó ordenou que todos os recém-nascidos israelitas do sexo masculino fossem
mortos (Êx 1.15,16). Casou-se com Zípora, filha de Jetro, sacerdote de Midiã,
descendente de Abraão (Gn 25.1,2). Ele teve uma comunhão especial com o Senhor
e nas Escrituras Sagradas é repetidamente chamado de “servo de Deus”, pois “foi
fiel em toda a sua casa” (Hb 3.5). No último livro do Antigo Testamento, Deus
chama Moisés de “meu servo” (Ml 4.4), e no último livro do Novo Testamento ele
é chamado “Moisés, servo de Deus" (Ap 1 5.3). Moisés é uma figura
tipológica de Cristo.
I - OS
ÚLTIMOS DIAS DE MOISÉS
1. As palavras de
despedida.
O ministério de Moisés chegaria ao fim em breve. Consciente deste fato, ele se
despede ensinando o seu povo a guardar as leis. No capítulo 32 do livro de
Deuteronômio, temos o último cântico de Moisés. O servo do Senhor se despede
com adoração e louvor. Moisés de forma bem didática faz um resumo de toda a
história de Israel em forma de cântico. Segundo a Bíblia de Estudo Aplicação
Pessoal, ele “fez o povo lembrar de seus erros, a fim de que não mais os
repetisse e suscitou a nação a confiar apenas em Deus”.
2. Moisés incentiva o
povo a meditar na Palavra. Moisés era um homem que amava os preceitos divinos. Por
isso, antes de sua partida ele incentiva e reforça a ideia de que os israelitas
precisavam ouvir e obedecerás ordenanças de Deus, a fim de que prosperassem
enquanto nação. Sabemos que todos que amam e meditam na lei de Deus são
bem-aventurados (SI 1.1-6).
3. Moisés vê a Terra
Prometida e morre.
Antes de morrer, Moisés abençoou cada uma das tribos de Israel (Dt 33.1-29).
Ele lutou em favor do seu povo e o amou até os últimos dias de sua vida. Ele
foi fiel a Deus e à sua nação em tudo. Por ocasião de sua morte, por ordem de
Deus, Moisés sobe até o monte Nebo e dali avista toda a Terra Prometida. Porém,
não tem permissão para entrar nela. Moisés havia desobedecido a Deus ferindo a
rocha (Nm 20). Ali no monte, solitário, o grande legislador vai se encontrar
com o seu Deus. Ele foi sepultado pelo Senhor em um vale na terra de Moabe,
todavia, o local nunca foi revelado a ninguém (Dt 34.6). Certamente Deus quis
evitar que o local, assim como o corpo de Moisés, fossem venerados pelos
israelitas. Durante trinta dias os israelitas choraram e lamentaram a morte de
Moisés (Dt 34.8).
4. Moisés nomeia seu
sucessor (Dt 31.1-8).
É necessário começar bem um ministério e terminá-lo de igual forma. Moisés
preparou Josué para que este fosse o seu sucessor. O Legislador de Israel tinha
consciência de que seu ministério um dia findaria. É muito importante que o
líder do povo de Deus tenha esta consciência e prepare os seus sucessores ainda
em vida, assim como fez Moisés (Dt 34.7-9).
SINOPSE
DO TÓPICO (1)
Em
seus últimos dias de vida, Moisés dispensou palavras de advertências e
exortações ao povo. Em seguida, viu a Terra Prometida e morreu.
II -
MOISÉS, PASTOR DE ISRAEL
1. Homem de Deus. No final de sua
carreira, Moisés é chamado nas Escrituras de “homem de Deus” (Dt 33.1). Ele é
também pastor e líder do povo de Israel sob a mão de Deus (SI 77.20). Assim,
Homem de Deus é o homem a quem Deus usa como Ele quer.
2. Homem de oração. A vida de intensa
oração de Moisés resultou em força, coragem, destemor, sabedoria e humildade,
pois o povo de Israel era na época muito desobediente, murmurador e carnal.
Moisés era um homem muito ocupado com seus encargos, mas conseguia levar sempre
muito tempo em oração intercessora pelo povo. Era com a sabedoria do Alto que
Moisés orava. Um exemplo disso está em Êxodo 33.13, quando ele diz: “rogo-te
que [...] me faças saber o teu caminho”, No versículo 18, ele ora em
continuação: “Rogo-te que me mostres a tua glória”. Essas duas orações não
devem ser invertidas pelo crente, como alguns fazem por imaturidade ou
fanatismo.
Moisés
intercedeu diante do Senhor pedindo para entrar na tão sonhada Terra Prometida,
mas Deus negou esse pedido (Dt 3.23-25).
Oremos
sempre uns pelos outros, inclusive pelos desconhecidos. Intercedamos “por todos
os homens" (1 Tm 2.1), a fim de que alcancem a eterna Jerusalém.
3. Homem de fé. Moisés agia por fé
em Deus (Hb 11.24- 29), daí, a quantidade de milagres realizados peio Senhor
através dele. Seus pais foram campeões da fé (Hb 11.23), pois a fé em Deus
opera milagres (Mt 17.18-21; At 3.16; 6.8;). Aliás, um dos dons espirituais é o
da fé (1 Co 12.9); fé para operar maravilhas.
Moisés
e Arão realizaram muitos milagres perante Faraó e seus oficiais no período que
prece- deu a saída de Israel do Egito (Êx 4—12). Esses milagres em forma de
catástrofes tinham por objetivo U demonstrar publicamente que os deuses do
Egito nada eram diante do Deus verdadeiro e único de Israel (Êx 12.12; Nm
33.4).
SINOPSE
DO TÓPICO (2)
Moisés
como pastor de Israel era um homem de Deus, de oração e de fé.
III -
APRENDENDO COM MOISÉS
1. A cultivar comunhão
com Deus.
"Cultivar”, significa incentivar, preparar para o crescimento. Muito antes
de as primeiras flores aparecerem ou os sinais do fruto serem vistos, muito foi
feito para preparar a planta para o fruto esperado. O lavrador cuida da planta
com zelo para que esta seja mais produtiva. Este processo de carinho e atenção
é o cultivo. É em nossa relação com Deus, mediante a comunhão contínua, que
nossa vida é mudada e desenvolvida em direção à realização plena. Como filho de
Deus, você desfruta de plena comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo?
Cultive, como Moisés, esta comunhão, passando mais tempo com Deus em oração,
leitura da Palavra e adoração. Moisés foi um homem que cultivou uma comunhão
bastante íntima com Deus.
2. A ter comunhão com
outros crentes.
Através da vida de comunhão com os santos, você é incentivado a viver a vida
cristã saudável e abundante. Os primeiros cristãos tinham comunhão diária entre
si (At 2.46). Não admira que suas vidas fossem testemunhos poderosos do
Evangelho e fizessem com que as pessoas tivessem sede de salvação. Havia uma
colheita diária de almas, à medida que o Senhor acrescentava à igreja os que
iam sendo salvos (At 2.46,47). Moisés prezava pela comunhão em família e com
todo o povo de Deus. Sigamos de perto o seu exemplo e busquemos a comunhão com
os nossos irmãos, pois estamos também todos caminhando rumo à Terra Prometida.
3. A aceitar o
ministério de líderes piedosos. Os líderes são instrumentos de Deus para
alimentar e nutrir seu povo. Efésios 4.11-13 enfatiza que o propósito dos
ministérios de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores na igreja
é edificar o povo de Deus. Quando você aceita e aplica os ensinos de Deus, que
nos são proporcionados por meio dos líderes que E(e chamou, você é levado a um
lugar de maior fertilidade e de crescimento (Ef 4.16). Toda vez que os hebreus
deixavam de obedecer a Moisés eles pecavam e eram grandemente prejudicados.
Quando Miriã se rebelou contra a liderança de Moisés, seu irmão, ela ficou
leprosa e o povo todo não pôde partir. Todos ficaram retidos pela desobediência
de uma única pessoa.
4. A ter cuidado com
os inimigos.
Ao entrarem na Terra Prometida, os israelitas tinham de destruir as nações
ímpias que ali viviam. Esse era o plano de Deus, mas Israel não o seguiu. Em
consequência disso, o povo de Israel foi seduzido pelos maus caminhos desses
povos (SI 106.34-36). Essa experiência é um aviso para nós* Cuidado com o
Inimigo e as suas propostas. Vigie para que você e sua família não sejam
seduzidos pelas coisas deste mundo. O mundo e a sua concupiscência é
passageiro, mas os valores de Deus e a sua Palavra são eternos.
SINOPSE
DO TÓPICO (3)
A
vida de Moisés nos ensina a cultivara comunhão com Deus e com o próximo, a
piedade e a prudência.
CONCLUSÃO
Moisés
cumpriu sua carreira com fé em Deus, coragem e determinação. Em tudo ele buscou
ser fiel ao Senhor. Sigamos o exemplo deste líder a fim de que possamos viver
com sabedoria e a agradar a Deus em toda a nossa maneira de viver.
AUXILIO BIBLIOGRÁFICO
I
Subsidio
Bibliológico [Deuteronômio] 31.2 [...] Parece injusto que o Senhor negue a
Moisés o acesso à Terra Prometida, por causa de uma explosão e descontrole por
parte daquele homem (1.37; cf. Nm 20.12). Mas Moisés, aquele homem que havia
recebido um privilégio especial, também foi incumbido de uma responsabilidade
especial. Deixar de cumprir a sua responsabilidade de uma forma completa
significava passar a ter uma má reputação, tanto para si mesmo como para o seu
Deus. Por este motivo, ele não pôde entrar na terra, com a nova geração.
31-9
Este versículo confirma claramente a autoria mosaica, pelo menos do livro de
Deuteronômio, se não todo o Pentateuco. Os que argumentam que editores do final
da época anterior ao exílio, ou até mesmo durante o exílio, inseriram declarações
como esta para indicar uma composição de autoria mosaica tardia, o fazem apenas
com base em uma pressuposição de que Moisés não poderia ter escrito estes
textos. Estas suposições infundadas podem surgir de um desejo de despir o
Pentateuco, e a Bíblia como um todo, de qualquer credibilidade” (Bíblia de Estudo Defesa da Fé: Questões
Reais, Respostas Precisas, Fé Solidificada. Rio de Janeiro: CPAD, 2010,
p.359).
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
Bíblia de Estudo
Defesa da Fé:
Questões Reais, Respostas Precisas, Fé Solidificada. Rio de Janeiro: CPAD,
2010. HAMILTON, Vitor P. Manual do Pentateuco:
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. 1. ed. Rio de Janeiro:
CPAD, 2006. ZUCK, Roy B (Ed.). Teologia
do Antigo Testamento. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD. 2009.
EXERCÍCIOS
1.
Em que livro da Bíblia encontramos o último cântico de Moisés?
R:
Deuteronômio.
2.
De acordo com a lição, o que fez Moisés antes de morrer?
R:
Moisés abençoou
cada uma das tribos de Israel (Dt 33.1-29).
3.
Por que Moisés não teve permissão para entrar na Terra Prometida?
R:
Moisés havia
desobedecido a Deus ferindo a rocha (Nm 20).
4.
Descreva sobre Moisés como homem de oração.
R:
Moisés era um
homem muito ocupado com seus encargos, mas conseguia levar sempre muito tempo
em oração pelo povo. Era com a sabedoria do Alto que Moisés orava.
5.
Cite três coisas que podemos aprender com a vida de Moisés.
R:
Cultivar a
comunhão com Deus e com os outros crentes.
Revista
Ensinador Cristão CPAD, n° 57, p.42.
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO
II
Subsidio
Bibliológico
“Em
um certo sentido, Deuteronômio, e na verdade todo o Pentateuco, termina como
uma história incompleta. Deuteronômio se encerra sem que Moisés ou Israel
adentrem a terra, embora Moisés tenha podido vê-la. O que Deus tinha prometido
repetidas vezes aos patriarcas, desde Gênesis 12.7, não se concretiza até o fim
do Pentateuco. Von Rad resolveu de modo fácil (e artificial) essa questão,
bastando substituir o conceito de Pentateuco pelo de um Hexateuco. Ele traz
Josué para o clímax final de um conjunto de seis livros, em vez de permitir que
Deuteronômio e Moisés desempenhem esse papel em um conjunto de cinco livros.
Todavia,
a forma como o Pentateuco é encerrado pode ser mais uma confirmação teológica
que um problema teológico. Em primeiro lugar, como comenta Sanders, a posição
de Deuteronômio entre Números e Josué, entre peregrinações e o fim das
peregrinações, ‘tomou o lugar de Josué e suas conquistas como o clímax do
perigo canônico de autoridade [...] A verdadeira autoridade é encontrada apenas
no período de Moisés’.
Além
disso, o Pentateuco termina com realismo (‘Vocês ainda não são o que Deus quer
que vocês sejam’) e esperança (‘Logo vocês estarão no lugar que Deus lhes
separou7). É no deserto que você está, mas não é no deserto que ficará. Para
citar Walter Brueggemann: ‘O texto, de mais a mais, serve para todo o tipo de
comunidades de exilados. O Pentateuco é, no final das contas, a promessa de um
lar e de um retorno ao lar. É uma promessa dada pelo Deus de todas as
promessas, que jamais se contentará com o deserto, o exílio ou o degredo.
(HAMILTON, Vitor P. Manual do
Pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. 1. ed. Rio de
Janeiro: CPA, D, 2006, pp. 534-534.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Moisés foi, sem
dúvida alguma, uma das maiores personalidades e um dos maiores heróis da fé de
todos os tempos. O seu legado para o povo de Israel, para a humanidade como um
todo e para a Igreja até os dias de hoje é enorme. Neste capítulo, dentro do
que nossa proposta sintética permite, queremos apresentar alguns pontos
importantíssimos desse legado, relembrando aspectos especiais e inspiradores da
vida e da obra desse homem de Deus, destacando os efeitos de seu ministério até
os nossos dias e a importância do exemplo de Moisés para os crentes em Cristo
de todos os tempos.
Primeiro, falaremos
do legado de Moisés para o povo judeu; em seguida, de sua importância para a
humanidade como um todo; e, por fim, e mais atentamente, analisaremos os
exemplos instigantes de sua vida e ministério para a vida do crente.
O Legado de Moisés para o Povo Judeu A formação de uma
nação
Moisés foi o
instrumento que Deus usou para que Israel se tornasse, enfim, uma nação,
conforme Ele havia prometido aos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó (Gn 15.5,7;
17.5-8; 26.3,4,24; 28.4,13-15; 35.9-13). Toda nação precisa de uma identidade,
de uma cultura própria, de uma língua, de valores, de leis pelas quais serão
regidos, e Moisés foi usado por Deus para dar tudo isso a Israel.
Por meio de seu
ministério, a identidade religiosa e os valores que deveriam pautar e guiar o
povo foram definidos em detalhes; uma cultura nova foi formada, diferente em
muitos aspectos da cultura das nações vizinhas; a língua hebraica ganhou o seu
primeiro grande texto — a Torá (o Pentateuco) — que lhe daria perpetuidade e
ser-lhe-ia referência na história dos povos; e uma legislação revolucionária e
um completo sistema de organização social foram concedidos aos israelitas, que,
agora, finalmente, podiam se perceber e ser reconhecidos como uma nação, um novo
povo.
Mesmo quando sofreu o
exílio e a diáspora, Israel continuou a ser reconhecido como uma nação, conquanto seu
território tenha
passado, durante séculos, sem a sua presença maciça ou o seu governo.
Uma fé e uma religião estruturadas
O Deus de Israel era
o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, porém a fé e o culto hebreus ainda careciam de
uma normatização e organização, até que Deus os estruturou, por intermédio de
Moisés, como vimos detidamente nos capítulos 9, 11 e 12 deste livro. Em Romanos
9.4,5, o apóstolo Paulo lembra que Deus deu a Israel sete coisas: tornou os
israelitas seus filhos por adoção, repartiu com eles um pouco da sua glória,
fez-lhes uma aliança e deu-lhes os patriarcas (Abraão, Isaque e Jacó), a
legislação, o culto e as promessas; e ainda, por meio deles, o Messias, Jesus
(Rm 9.5). Tudo isso é o que distinguia Israel das outras nações, fazendo dele o
povo eleito. Porém, como sabemos, houve a rejeição de Israel à vontade de Deus
e, consequentemente, a rejeição divina a Israel, que são os temas dos capítulos
9 a 11 de Romanos, os quais terminam "Moisés foi o instrumento que Deus
usou para que Israel se tornasse, enfim, uma nação, conforme Ele patriarcas
Jacó” revelando que a rejeição de Israel não é final e que Deus haverá de
restaurar Israel no fim dos tempos (Rm 11.25-28).
As Escrituras
Sagradas do Pentateuco, um salmo e, provavelmente, o Livro de Jó O grande
legado de Moisés está expresso em suas obras que atravessaram séculos, chegando
até os nossos dias e formando parte significativa e basilar do cânone veterotestamentário.
São de Moisés o Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio),
o Salmo 90 (que é, portanto, o mais antigo salmo de Israel) e provavelmente
também o belíssimo Livro de Jó. A riqueza e a importância histórica, social,
espiritual e literária dessas obras para o mundo revelam a grandeza do
ministério desse grande homem de Deus para o seu povo e para toda a humanidade.
As Escrituras Sagradas do Pentateuco, um salmo e,
provavelmente, o Livro de Jó
O grande legado de
Moisés está expresso em suas obras que atravessaram séculos, chegando até os
nossos dias e formando parte significativa e basilar do cânone
veterotestamentário. São de Moisés o Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico,
Números e Deuteronômio), o Salmo 90 (que é, portanto, o mais antigo salmo de
Israel) e provavelmente também o belíssimo Livro de Jó. A riqueza e a
importância histórica, social, espiritual e literária dessas obras para o mundo
revelam a grandeza do ministério desse grande homem de Deus para o seu povo e
para toda a humanidade.
O Legado de Moisés para a Humanidade A legislação
hebraica
Já nos dedicamos, no
capítulo 10, a demonstrar alguns dos muitos aspectos revolucionários da
legislação hebraica para a história do Direito no mundo. Ela foi revolucionária
para a sua época e, tempos depois, serviria de inspiração para muitos avanços
legais saudáveis com os quais já estamos muito habituados em nossos dias, mas
que, na época de Moisés, se constituíam uma grande inovação. Dentre seus muitos
aspectos revolucionários, a legislação hebraica, por exemplo, “atribuía um
grande valor à vida humana, exigia um grande respeito para com a honra da
mulher e conferia mais dignidade à posição do escravo do que poderíamos
encontrar em qualquer um dos códigos legais das outras nações do Oriente
Próximo”. Mais detalhes no já referido capítulo 10.
Os valores judaicos
Não à toa, costuma-se
chamar os valores tradicionais do Ocidente, que foram responsáveis pela sua
formação e se constituem a base de todas as suas conquistas, de valores judaico-cristãos.
Os princípios do Decálogo (Ex 20.1-17), por exemplo, ajudaram a moldar todos os
valores do Ocidente, juntamente com o cristianismo.
COELHO,
Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de
Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a
Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 146-149.
I - OS
ÚLTIMOS DIAS DE MOISÉS
1. As palavras de
despedida.
Último Cântico e
Exortação de Moisés (32.1-47)
Os críticos pensam
que esse cântico data da época da monarquia de Israel. “Este salmo, que
contrasta a fidelidade de Deus com a infidelidade de Israel, é uma
interpretação da fé mosaica, e não uma composição do próprio Moisés.
Provavelmente data de algum tempo durante a monarquia de Israel” (Oxford
Annotated Bible, comentando sobre Deu. 31.30). Mas os estudiosos conservadores
aceitam a situação histórica do cântico (entregue nas planícies de Moabe, antes
da invasão da parte ocidental da Terra Prometida) como válida. A línguagem
posterior em que 0 cântico está expresso pode ser devida à adaptação histórica
da sua linguagem, e não porque a própria composição seja tardia.
O cântico interpreta
a história à luz dos lapsos morais de Israel, que teve lugar por causa da
natureza rebelde daquela nação, por todo 0 desenrolar de sua história, conforme
Moisés havia predito (ver Deu. 31.29). Ele sabia que as coisas acabariam muito
azedas, porquanto Israel não corresponderia ao seu caráter histórico ímpar (ver
Deu. 26.19 e suas notas expositivas). Mas, embora 0 cântico prediga a
humilhação e 0 desastre da nação, a composição também vê longe, futuro adentro,
para indicar 0 triunfo eventual de Israel, embora em um futuro remoto. Ver os
vss. 36 e 43 deste capítulo.
“Um pensamento
exaltado busca as mais belas expressões. Os poetas da Grécia, da índia, da
Inglaterra, da Alemanha e da Itália têm-se valido de seus escritores clássicos
como motivo inspirador; e outro tanto é verdade no tocante à Bíblia. Aqui,
dentro do arcabouço da história de Israel, um poema didático, composto por uma
mão antiga, retrata 0 poder da palavra falada em despertar um povo abatido para
uma nova vida e um renovado esforço.
Goteje a minha
doutrina como a chuva, destile a minha palavra como 0 orvalho; como chuvisco
sobre a selva.
Encontramos nesse
poema o autêntico espírito profético. Implícita em cada página dos escritos
proféticos, acha-se a convicção de que um ser humano não pode afundar tanto que
a Palavra de Deus não seja capaz de alcançá-lo. Por conseguinte, o pregador é a
mais importante profissão de qualquer época. Ele mexe com os valores sem os
quais nenhuma verdadeira civilização é capaz de existir'’ (Henry H. Shires, in
loc.).
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 877.
Procedimento de
Impeachment: O Cântico do Testemunho, 32.1-47
O típico tratado do
Oriente Próximo continha uma lista de testemunhas das cláusulas do concerto.
Outra característica era a determinação dos procedimentos a tomar em ação
contra o vassalo rebelde. Continha muitos dos elementos do próprio concerto,
mas reformulados na forma de ação judicial. O Cântico de Moisés une estes dois
elementos: testemunhas e ação judicial.
Há quem assevere que
a forma de Deuteronômio 32 é mais que ação judicial normal, pois pondera sobre
a restauração depois do julgamento (26-43). Por esta razão, dizem que o capítulo
é reformulação posterior do padrão de ação judicial com o propósito de confissão
e ensino. Contudo, Deuteronômio não é mero documento legal. Quando se serve de
formatos legais, usa-o para finalidades próprias. E não há motivo para ter se adaptado
ao padrão de ação judicial secular para transmitir sua mensagem. A linguagem e
a estrutura poética tendem a confirmar esta concepção. Mais tarde, esta ação.
Os altos céus que ouviram o voto solene / Continuarão a ouvir diariamente a renovação
do voto / Até que, no último momento de vida, eu me curvar / E bendizer na
morte um laço tão querido.
judicial ou padrão
controverso se tornou arma legal nas mãos dos profetas para acusar Israel de
violação da fé (cf. Is 1.2; Os 4.1; 12.2; Mq 6.2).
1. A Convocação das
Testemunhas (32.1-3)
O procedimento para
levar os rebeldes a julgamento começa com a convocação das testemunhas do concerto, os
céus e a terra (1), para testificarem que o pacto foi feito de forma legal. Mas
a convocação também implica em uma afirmação da probidade do concerto.
A doutrina (2) ou
“ensino” (NTLH; NVI) do concerto tem o efeito que a chuva faz na vegetação,
porque é a palavra de Deus. Deve ser recebida neste princípio vital (3). O termo
doutrina (2, leqah) é usado somente na literatura sapiencial, como, por
exemplo, em Provérbios 1.5; 4.2; Jó 11.4 e Isaías 29.24.
2. A Declaração
Preliminar da Acusação (32.4-6)
O Deus de Israel é a
Rocha (4; cf. 15,18,30,31,37), a essência da estabilidade e confiança. Sua
administração política do mundo é perfeita, porque todos os seus caminhos são
justos. Esta perfeição de desempenho governamental é mera expressão da
perfeição do seu caráter, que é “fiel e correto” (NTLH), justo e reto. Seu povo
apresenta um triste contraste, e com o versículo 5 inicia a acusação. “Seus
filhos têm agido corruptamente para com Ele, já não são seus filhos, por causa
da mancha que possuem” (5, RSV). No versículo 6, a acusação é imposta
interrogativamente. Onde está a sabedoria em repudiar teu Pai, que salvou a
nação da escravidão no Egito? (Cf. 8.1-5.) Não é ele que te fez e te
estabeleceu?
3. A Acusação em
Detalhes (32.7-18)
A acusação contra os
israelitas é que eles retribuíram a Deus com maldade pelas suas múltiplas
bênçãos recebidas. Esta ideia, esboçada nos versículos 4 a 6, agora é minuciosamente
desenvolvida, recontando a bondade de Deus nos versículos 7 a 14. Os versículos
15 a 18 descrevem a ingratidão de Israel. A benevolência de Deus data dos dias
da antiguidade (7), na verdade, desde o estabelecimento das nações (8), quando cada
uma recebeu sua herança. Naqueles tempos antigos, as nações foram dispostas de modo
a deixar espaço adequado para Israel (cf. Gn 10.32). O povo de Israel se tornou
a porção do SENHOR (9).
No versículo 10, o
pensamento avança para as peregrinações no deserto — deixando de lado a
libertação do Egito para enfatizar o cuidado divino. Israel foi encontrado no deserto,
como uma criança abandonada (10; Ez 16.3-6). Deus cuidou dessa criança como a
menina do seu olho. Considerando que Deus está constantemente cuidando de
Israel, sua imagem está refletida na pupila dos olhos divinos. A metáfora da
águia (11, abutre) que empurra as avezinhas recém-emplumadas para fora do ninho
para lhes ensinar a voar, mas paira por perto para sustentá-las se caírem,
enfatiza ainda mais o cuidado de Deus. Aproxima acusação é prevista pela
afirmação de que só Deus conduziu os israelitas sem a ajuda de qualquer deus
estranho (12).
A terceira marca do
favoritismo de Israel é a ocupação da Terra Prometida, “que mana leite e mel”.
A posse das alturas da terra (13) dá a entender propriedade incontestável.
Depois do parco regime alimentar no deserto, ainda que tivesse sido suficiente,
o produto suculento dos campos e rebanhos era mesmo abençoador (13,14).
Como prova de que o
cântico não era mosaico, certos expositores afirmam que os versículos 7 a 14
rememoram o Êxodo e a ocupação da terra do ponto de vista de acontecimentos do
passado remoto. Esta interpretação visa menosprezar ou negar seu elemento
profético, como nas passagens anteriores nas quais estão baseados
(e.g.,28.15-68; 9.16—30.10).
Nos versículos 8 a
14, vemos o cuidado de Deus para com seu povo na descrição “Como Águias”. 1)
Deus empluma o ninho, 8-10,12-14; 2) Deus agita o ninho, 11a; 3) Deus ensina os
filhotes a voar segundo a natureza, 11b; 4) Deus sustenta os que caem, 11c (G.
B. Williamson).
O esplendor da
beneficência divina serve apenas para realçar a baixeza da resposta de Israel.
O vocábulo Jesurum (15, “ereto, íntegro”) vem do mesmo radical que a palavra
“Israel”, à qual é uma opção. Pode ser um nome carinhoso. Há grande ironia em
seu uso aqui. Israel reagiu à bondade de Deus como um animal super alimentado, ficando
teimoso e até desdenhoso do Deus que o fez. Não satisfeito em ignorá-lo (18), Israel
se voltou a deuses estranhos (16) e às abominações que vinham com eles (cf. 18.9-12). Estes deuses são
chamados diabos (17). No Salmo 106.37, a única outra ocorrência no Antigo
Testamento da palavra, eles são os recebedores dos sacrifícios humanos. Estes
eram deuses que eles nunca conheceram; novos deuses de quem seus pais nunca
tinham ouvido falar. Qualquer deus era suficientemente bom e não muito ruim
para Israel servir (16,17), ao passo que o Deus “que os gerou” e “os fez nascer”
(18, NVI) foi ignorado.
4. A Sentença
(32.19-25)
Chegou a hora da
sentença, dada em duas partes. Os versículos 19 a 21 enfatizam o princípio; os
versículos 22 a 25 acrescentam pormenores. O princípio é a justiça rígida.
Visto que seus filhos o ignoraram (18), Ele esconderia deles o rosto (20).
Visto que querem
seguir os próprios caminhos, Ele os deixará para ver qual será o seu fim. Note
a fórmula periódica em Romanos 1.24,26,28: “Deus os entregou [abandonou]”. Dodd
escreve: “Paulo [...] vê que o fato realmente terrível é cair das mãos divinas,
e ser deixado a si mesmo em um mundo onde a escolha do mal ocasiona a própria
vingança moral”. Visto que Israel provocara Deus com um não-Deus e ídolos inúteis,
Ele os provocará com um não-povo e uma nação louca (21; “insensata”, NVI).
Preferem a insensatez; eles a terão. A perfeita combinação com um deus que é a
negação de tudo que é divino é um povo que é a negação de tudo que é civilizado
— uma horda de bárbaros selvagens. Tendo tudo o que se quer, como descobriu
Midas, é uma boa definição de inferno. Este abandono judicial por Deus, longe
de ser sinal de desdenho da responsabilidade de sua parte, é um fogo (22) aceso
contra o pecado que engloba o universo e alcança as profundezas do mundo
inferior. O mais profundo do inferno é, aqui, o “Sheol” (NVI), a sepultura; não
é o domicílio eterno dos ímpios, como no Novo Testamento.
A segunda parte da
sentença expõe o modo no qual a pena será estabelecida: a imposição das
maldições do concerto (cf. 28.15-68). Como caçador em franca perseguição, Deus esgotará
as suas setas contra eles (23). A fome (24), a peste e a praga serão o ponto culminante
na invasão. A guerra de ruas não poupará o jovem, a virgem, a criança de mama
ou o homem de cãs (25).
5. A Promessa de
Misericórdia (32.26-43)
A sentença, que
obviamente está a ponto de ser dada na morte e aniquilação de Israel, é
subitamente encurtada. E detida pelo temor divino do efeito que esse fim
causaria no invasor. Por todos os cantos os espalharia (26) é melhor “para
longe os espalharia” (RSV). Na estupefação do triunfo sobre Israel, o inimigo
(27) deduziria que fora seu poder que lhe trouxera vitória. A ira do inimigo
quer dizer “a provocação do inimigo” (ARA;
cf. NVT). Não estranhem significa “entendesse[m] mal” (NVI), ou seja, não vissem
a verdade. Longe de revelar a glória de Deus, tal reação a colocaria em dúvida.
Esta interpretação
enganosa da vitória inimiga pelos conquistadores de Israel é desenvolvida nos
versículos 28 a 35. Se tivessem perspicácia, eles perceberiam que o julgamento
último seria o seu fim (29; cf. 34,35). A derrota dos exércitos de Israel obtida
pelos adversários fracos teria somente uma explicação: Deus tinha abandonado Israel
(30). Com certeza não podia ser explicada pela superioridade moral dos inimigos,
cuja vinha é a vinha de Sodoma (32). Se é que eles são piores que os israelitas.
Por conseguinte, o julgamento é inevitável. A colheita mortal está selada nos
depósitos de Deus (34). Logo virá a hora da vingança (defesa) divina quando sobrevier
a ruína (35).
O pensamento agora se
volta diretamente para os israelitas (36-43). À beira da destruição total, no
último instante eles veem a maré virar. No momento de abandono, quando não
houver fechado nem desamparado (36; “escravo nem livre”, ARA; NVI), Deus
interferirá para fazer justiça ao seu povo e se arrepender pelos seus servos.
Ele defenderá seu povo e lhe mostrará compaixão. A profundidade do fundo do
poço em que os israelitas se encontrarem os compelirá a reconhecer o poder
divino. Os deuses em quem ternamente confiavam — a rocha (37), como são ironicamente
chamados — os decepcionaram. Há apenas um Deus, o Único que tem o poder da vida
e da morte (39). E agora Ele jura que afiará a sua espada (41) e dará aos adversários
o que merecem. Ele ergue a mão, fazendo um juramento que, como eu vivo para
sempre, assim a justiça será feita (40,41). No versículo 42, a espada entra em
ação. “Embriagarei as minhas setas de sangue (a minha espada comerá carne), do
sangue dos mortos e dos prisioneiros, das cabeças cabeludas do inimigo” (42,
ARA). Os cabelos compridos caracterizavam a aparência feroz e desleixada ou indicavam
a dedicação religiosa à guerra (SI 68.21).
O cântico termina com
uma convocação a todas as nações (43): Elas devem se alegrar na intervenção
justa de Deus. A salvação dos israelitas é causa de alegria, pois por eles
todas as nações da terra serão abençoadas (Gn 12.3). A ocasião de alegria é,
primeiramente, a exibição da justiça, e em segundo lugar, o exercício da
misericórdia. Terá misericórdia tem o sentido de “fará expiação” (ARA; cf. NVI;
NTLH). O mesmo Deus que se vinga do pecado, o perdoa e limpa; Ele é ao mesmo
tempo “Deus justo e Salvador” (Is 45.21), a um só tempo “justo e justificador
daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.26).
6. A Exortação de
Moisés (32.44-47)
Como indicado pelo
texto de 31.14,19, Josué estava associado com Moisés em escrever o cântico e
ensiná-lo para Israel. Oséias (44, Salvação) era o nome original que Moisés
mudou para Josué (Jeová é Salvação, Nm 13.8,16). A ocorrência de Oséias aqui é provavelmente
erro de ortografia, criado pela omissão de um til (cf. Mt 5.18). Moisés exorta
que todo o Israel (45) preste atenção a todas as palavras (46) do cântico, de forma
que ele as ensine ã geração em formação. Esta mensagem não é vã (47,
insignificante, inútil; cf. NVI), pois a vida de Israel está em jogo. O Cântico
de Moisés é grandiosa exposição da doutrina do julgamento de Deus na história,
visto que a história de Israel é exemplo notável disso. A doutrina bíblica do
senhorio divino da história — do qual o julgamento é apenas um aspecto — é, aqui,
dramaticamente afirmada. Se Deus tem um acordo com o povo de Israel para abençoá-lo,
também tem um procedimento concordante para autuá-lo em caso de pecado e
rebelião. Deus não fica, como pensou Carlyle, sentado no céu sem fazer nada. Há
momentos e lugares que parece que o certo é desconsiderado e o erro fica impune,
de forma que é difícil “justificar os caminhos de Deus aos homens”. Em tais ocasiões,
unindo-nos com Forsyth, “confiemos em Cristo” nos quesitos que não podemos “investigar
acerca dos acontecimentos”. Moisés, primeiro, e Israel, depois, descobriram que
a justificação de Deus no ato pelo qual Ele perdoou o pecado, também o condenou
(32.43). Na mais ampla medida, podemos descobrir que por esse ato semelhante Ele
fez o mesmo pelo mundo inteiro. Foi demonstração sublime de sua justiça e amor
na cruz do seu Filho (Rm 3.21-26).
Jack Ford; A. R. G.
Deasley. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol.
1. pag. 484-488.
Dt 32. 1 — O
céus[...] ouça a terra. De forma similar, Isaías invocou os céus e a terra como
testemunhas (Is 1.2).
Dt 32. 2 — Esta
canção é uma expressão de sabedoria, a minha doutrina (Pv 1.5;4.2;9.9). As
quatro analogias que se referem a ela — chuva, orvalho, chuvisco e gotas de
água — transmitem a refrescante e revigorante natureza da instrução.
Dt 32. 3 — Dai
grandeza a nosso Deus. A verdadeira sabedoria e a obediência sempre instigam o louvor
a Deus (SI 145.3; 150.2).
Dt 32 .4 — Diferente
da ineficácia dos deuses pagãos (v. 37), Deus dá a vida, a estabilidade e a felicidade
ao povo (v. 15,18,30,31). A vida abundante que Ele concede é baseada em Sua
obra perfeita. Como uma Rocha firme que permanece inabalável diante das águas
furiosas de um mar revolto, o Senhor e Sua obra continuam sólidos perante o
caos produzido pelas vidas em pecado.
O Todo-poderoso é a
fundação segura de toda verdade num mundo decadente. Além disso, Ele nunca
deixará as mentiras corromperem a justiça (Sf 3.5). Ao contrário, como um juiz
justo e reto, protegerá os oprimidos. No momento anterior à entrada dos
israelitas na Terra Prometida para que a nova nação fosse estabelecida, Moisés
enalteceu Deus, que é o alicerce perfeito para qualquer sociedade.
Dt 32. 5 — Geração
perversa e torcida é. Moisés contrastou os israelitas com seu Deus fiel. Com' parados
ao Deus perfeito, eles eram corruptos, maculados e enganadores (v. 20).
Dt 32. 6 — Os antigos
israelitas sabiam que Deus era seu Pai (Is 63.16;64.8), mas raramente
confessavam esta grande verdade. Logo, essas palavras são excepcionais e
impressionantes porque, ao mesmo tempo em que expressam a relação próxima dos
filhos de Israel com o Senhor, castigam-nos por abandonar seu Pai. Deus os
escolheu, amou, e cuidou deles. Yahweh os libertou do Egito e estabeleceu-os
como nação ao dar-lhes instruções detalhadas.
Dt 32. 7 —
Lembra-te[...] ele te informará. Neste versículo, a canção usa a linguagem da
sábia literatura para exortar os israelitas a buscar os caminhos do Senhor. As
Escrituras enfatizam repetidamente que a sabedoria é baseada no Deus de toda
verdade.
Dt 32. 8,9 —
Altíssimo. Esta designação para o Senhor pautada em Sua supremacia é singular
em Deuteronômio. Ele é soberano sobre todas as nações, até mesmo sobre os
termos dos povos. Mesmo sendo da vontade de Deus que todas as nações
existissem, Ele favoreceu Israel com Sua graça, Suas promessas e Sua aliança,
pois a porção do Senhor é o seu povo.
Dt 32. 10 — A
expressão na terra do deserto é uma referência poética ao Egito. Deus deu ao
povo de Israel Sua revelação e Suas leis, isto é, instruiu-o, com o objetivo de
liderá-lo em verdade. Ademais, guardou-o como a menina do seu olho. Este é um símbolo
de um tenro amor cuidadoso por uma coisa preciosa que tem necessidade de
proteção.
Dt 32. 11 — A águia é
uma ave de rapina encontrada geralmente em regiões desérticas. Na canção, o
modo como ela cuida de seus filhotes é comparado às ações de Deus para com
Israel. Ele não só protegeu o Seu povo, como também supriu todas as suas
necessidades, incentivou-o, zelou por ele e guiou-o à Terra Prometida (Êx
19.4). Ao realizar esses feitos, o Senhor provou ser um Pai amoroso para os
israelitas (v. 6).
Dt 32.12 — Só o
Senhor... não havia com ele deus estranho. Deuteronômio é um grande documento contra
a idolatria e o paganismo. Neste sentido, observamos que, na verdade, os
israelitas não tinham razão para abandonar o Deus da graça e do amor que havia
suprido todas as suas necessidades.
Dt 32. 13,14 — Ele o
fez cavalgar sobre as alturas da terra. O Senhor tinha grandes planos para Seu povo
(Is 48.17-19). Deus supriu os israelitas com plantações, boa comida, azeite de
oliva e até mesmo laticínios na Terra Prometida, de acordo com as expressões
comer as novidades do campo, chupar mel e azeite. Em suma, o Altíssimo
proporcionou tudo aquilo que as pessoas não tiveram no deserto. A gordura da
flor do trigo e o vinho puro, símbolos da misericórdia de Deus, também foram concedidos
a Israel.
Dt 32. 15,16 —
]esurum, nome poético de Israel, significa íntegro. Esta parte da canção
estabelece um contraste entre o que Israel deveria ter sido e o que se tornou.
Visto que o povo recebeu a revelação de Deus e Sua Lei, ele tinha a obrigação de
ser íntegro (v. 4). Entretanto, os israelitas engordaram e tornaram-se
rebeldes.
Mesmo prosperando por
causa das bênçãos divinas, os hebreus rejeitaram não só a fonte de toda a
graça, mas também a própria salvação, como afirma a sentença desprezou a Rocha
da sua salvação. Em vez de seguir as instruções de Deus, os israelitas
abraçaram os deuses estranhos, que não tinham feito nada por Israel (v. 12).
Dt 32. 17 — Raramente
são encontradas no Antigo Testamento referências a diabos e a poderes
demoníacos (SI 106.37; Am 2.1). Embora as Escrituras deixem claro que os falsos
deuses não existiam como tal, esta passagem identifica o poder por trás dos
deuses estranhos: os demónios.
Dt 32.18,19 — Que te
gerou literalmente significa fez com que existisse. Este é um dos vários textos
em que Deus é retratado com termos que assemelham Sua função à de uma mãe, que
nutre e dá a vida (compare com Is 66.13).
Dt 32.20,21 — Verei
qual será o seu fim. Mesmo que Israel rejeitasse Deus, Ele seria paciente com Seus
filhos rebeldes.
Dt 32. 22,23 — A
expressão mais profundo do inferno combina a palavra Sheol (que pode ser traduzida
por sepultura, profundezas, pó ou morte) com o termo profundo, sugerindo que há
gradações na condenação eterna, assim como pode haver gradações na glória (o
terceiro céu, 2 Co 12.2).
Dt 32. 24 — Fome[...]
carbúnculo[...] peste amarga. Ao invés de abençoar o povo que escolheu, Deus o
amaldiçoaria a fim de discipliná-lo. Pelo uso dos termos dentes de feras, com
ardente peçonha de serpentes do pó, pode-se observar que a criação se voltaria
contra as pessoas.
Dt 32. 25,26 —
Jovem... homem de cãs. O emparelhamento de vocábulos opostos no versículo 25 indica
que o julgamento de Deus seria abrangente. Ele afetaria toda a sociedade.
Estruturas similares a esta em Joel 2.28,29 falam do amplo alcance das bênçãos
do Senhor.
Dt 32. 27 — Se eu não
receara. Deus não destruiria completamente Seu povo para que as nações arrogantes
e independentes não se vangloriassem de sua valentia e destreza.
Dt 32. 28 — Este
versículo antevê o julgamento divino de Israel e Judá nos dias de Isaías (Is 1.3;6.9,10).
Dt 32. 29,30 —
Geralmente, a palavra fim é entendida como um futuro glorioso. Nestas
passagens, esse vocábulo fala de um “futuro ruinoso” para os rebeldes
israelitas, que não possuíam entendimento sobre Deus. A afirmação se a sua Rocha
os não vendera indica que a proteção do Senhor sobre Seu povo era tão certa que
a conquista deste pelos inimigos só poderia acontecer se o Todo-poderoso
entregasse os israelitas aos oponentes.
32.31-33 — As nações
inimigas eram como as pessoas de Sodoma e Gomorra - cruéis, imorais e tiranas.
32.34-36 — Não está
isso encerrado comigo, selado nos meus tesouros1 Este questionamento denota que
os planos definitivos e os propósitos de Deus são secretos. Além disso, do
Senhor é a vingança. Ele fará justiça ao seu povo, pois apenas Deus, que é
completamente justo, pode julgar e corrigir todas as coisas erradas que foram
cometidas (Rm 12.19; Hb 10.30).
Haverá um momento
específico para a vingança do Senhor, quando Ele se arrependerá pelos seus servos.
Um dia, Ele distinguirá entre os justos e os perversos (Ml 3.16). Ele tratará
amavelmente aqueles que restaram porque o amaram e seguiram.
Esta é a base de
todas as mensagens proféticas acerca dos remanescentes de Israel.
Dt 32.37,38 — Onde
estão os seus deuses! A canção menospreza aqueles que decidiram seguir falsos
deuses. Eles abandonaram a Rocha da verdade por uma rocha que não era sequer
uma pequena pedra. Quando a gordura era queimada e o vinho entornado nos
altares dos falsos deuses, acreditava-se que estes comiam e bebiam tais ofertas.
Contudo, esses ídolos sequer existiam, por isso nunca comeram nem beberam o
ofertado.
Dt 32.39 — Que eu, eu
o sou. Esta é uma gloriosa afirmação da incomparabilidade de Deus (SI 113.4-6).
Deus sozinho controla todas as coisas. Por ser totalmente livre para fazer o
que quiser, apenas Ele pode amaldiçoar ou abençoar, ferir ou curar, matar ou
dar vida.
Dt 32.40-42 —
Levantarei a minha mão aos céus. Deus jurou a si mesmo que vingaria Seu povo
(Gn 22.16; Hb 6.13-18). Ele tornaria certo tudo o que estivesse errado.
Dt 32.43-45 —
Jubilai, ó nações, com o seu povo. Deus, nessa canção dada a Moisés, convidou todas
as nações para se unirem em adoração, para louvá-lo por prometer restaurar a
justiça.
Dt 32.46 — Lei, neste
versículo, pode remeter à canção de Moisés ou a Deuteronômio como um todo
(compare com Dt31.26).
Dt 32.47 — Prolongareis
os dias na terra. A intenção das instruções de Deus era mostrar aos israelitas o
caminho que levava à plenitude da vida e às ricas bênçãos.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário
Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 354-356.
2. Moisés incentiva o
povo a meditar na Palavra.
Sl 1.1 Bem-aventurado.
O hebraico diz aqui, literalmente, ‘'oh, felicidade de" ou, simplesmente,
“feliz”. O justo tem tanto alegria interior como felicidade exterior. Ver na
Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia o artigo chamado Bem- aventuranças
de Jesus. Compreendemos que a alegria aqui mencionada é dada por Deus, como
recompensa aos piedosos que a merecem por terem observado a lei. Presume-se que
o guardador da lei seja um homem espiritual, inspirado pelo Espírito a ser bom
e a praticar o bem.
Anda. Ver no
Dicionário o artigo sob o título Andar, Metáfora do.
A Trilogia Negativa.
Há três coisas que o homem bom não faz:
1. Ele não participa
dos conselhos dos ímpios nem aceita seus conselhos; ele não adota seus planos
nem seu padrão de vida. Cf. Jó 10.3 e Jer. 7.24.
2. Ele não imita os
caminhos dos ímpios nem age como eles. Ele não se detém no caminho dos
pecadores nem é companheiro deles.
3. Ele não se assenta
junto aos zombadores. Em outras palavras, não acompanha os ímpios nos lugares
onde eles se reúnem para planejar, promover e praticar atos pecaminosos e
rebeldes. Ninguém encontra um homem bom em companhia de tais indivíduos. Cf.
Sal. 26.4,5.
Notem-se as trilogias
poéticas: andar, ficar de pé e assentar-se (para descrever os caminhos dos
pecadores). Além disso, fala-se em ímpios, pecadores e escarnecedores, termos
que descrevem a natureza dos ímpios.
O homem bom luta e
ganha a vitória contra essas tendências viciosas, mas os ímpios se submetem
voluntariamente a elas. Não me tenho
assentado com homens falsos, e com os dissimuladores não me associo. Aborreço a
súcia de malfeitores e com os ímpios não me assento. (Salmo 26.4,5)
Sl 1.2 Antes o seu
prazer está na lei do Senhor. O vs. 1 deste salmo declara negativamente qual é
o comportamento do homem bom: ele não imita os ímpios nem desfruta sua
companhia. Quanto ao lado positivo, o piedoso deleita-se na lei do Senhor, o
código mosaico, que é o seu manual de fé e conduta. O deleite de tal homem é a
sua ocupação, conforme se lê no hebraico posterior. Ver Pro. 31.13; Ecl.
3.1,17; 8.6. O principal interesse de estudo do homem piedoso é seguir a lei
mosaica. O conteúdo dessa lei, conforme visto nos salmos, é indicado em Sal.
19.7-10. Cf. Pro. 3.1-3. Ver também Sal. 119.
Medita. Esta palavra
traduz um termo hebraico que indica proferir sons baixos, inarticulados, como
aqueles que uma pessoa faz ao ler para si mesmo, mas não em voz alta. A palavra
também é usada com o sentido de murmurar, como faz uma pomba (ver Isa. 27.14),
ou como lamentam os homens (ver Isa. 16.7), ou como faz um leão ao rugir baixo
(ver Isa. 31.4), ou como encantamentos sussurrados (ver Isa. 8.19). Ver no
Dicionário o verbete chamado Meditação.
“Não se trata de um
estudo ocasional para o homem piedoso. Antes, trata-se de seu trabalho dia e
noite. Seu coração dedica-se a esse mister. É o seu emprego. Seu estudo é
frequente e, de fato, perpétuo" (Adam Clarke, in loc.). “Tal meditação
necessariamente envolve estudo e retenção da matéria estudada” (Allen P, Ross,
in loc.).
Josué foi orientado a
dar esse tipo de atenção à lei (ver Jos. 1.8). Ver também Sal. 119.97. “Isso
deve ser compreendido com diligente leitura e consideração da lei, com o
emprego do raciocínio e um estudo profundo... diariamente” (John Gill, in
loc.). O versículo, naturalmente, exalta o lado intelectual como uma ajuda ao
crescimento espiritual. As experiências místicas não representam tudo, nem são
a única forma de desenvolvimento espiritual. Ver no Dicionário o artigo chamado
Desenvolvimento Espiritual, Meios do. E ver também o verbete denominado
Misticismo.
A Lei de Moisés -
Ideias dos Hebreus:
1. A lei transmite
vida. Originalmente, isso significava longa e próspera vida física (teologia
patriarcal), mas nos Salmos e nos Profetas surge em cena a ideia de uma vida
além-túmulo, visto que a doutrina da imortalidade da alma emergiu nessa época.
Ver as notas em Deu. 4.1; 5.33; 6.2; 22.6,7; 25.15 e Eze. 20.1.
2. Israel tornou-se
uma nação distintiva mediante a possessão e o uso da lei de Moisés. Ver Deu.
4.4-8. A lei era a marca distintiva de Israel, o que fazia a nação ser o que
era, em contraste com os povos destituídos da lei.
3. A lei compunha-se
de estatutos eternos. Não havia no judaísmo a expectação de que algum outro
sistema substituiria a lei mosaica como medida justificadora e santificadora.
Ver Êxo. 29.42; 31.16; Lev. 3.17 e 16.29.
4. A tríplice
designação revela algo de seu caráter. Ver Deu. 6.1.
5. A possessão da lei
era o âmago do pacto mosaico. Ver as notas introdutórias em Êxo. 19. A guarda
do sábado era o sinal desse pacto.
6. A desobediência
conduz ã morte. Na teologia patriarcal, isso significava a morte física,
especialmente a morte física prematura. Porém, de acordo com o pensamento
posterior dos hebreus, surgiu a noção de uma espécie de segunda morte,
envolvendo a alma, embora não houvesse nenhuma doutrina acerca de recompensas
para os bons e castigo para os maus. Essas doutrinas só se desenvolveram nos
livros do período entre o Antigo e o Novo Testamento, ou seja, nos livros
apócrifos e pseudepígrafos. As chamas do inferno foram acesas no livro de Enoque,
e não no Antigo Testamento. Ver as muitas ameaças de morte em Êxo. 20, onde
ameaças de sérias infrações foram lançadas. Ver também a morte pelos próprios
pecados, em Deu. 25.16 e Eze. 18.20. Ver a morte pelos pecados dos pais, em
Êxo. 20.5.
Caros leitores, o
sistema hebreu de fé religiosa era o da justificação mediante a observância da
lei, uma vez que a doutrina da alma começou a fazer parte da fé hebreia. Embora
a fé fizesse parte do ensino veterotestamentário, e possamos ilustrar a graça
divina a partir de certas passagens, é inútil e anacrônico forçar a
justificação pela fé a entrar naquele documento. Essa foi uma contribuição do
apóstolo Paulo, e, de fato, tratava-se uma nova doutrina. Até no Novo
Testamento a antiga posição persistiu, como se vê no livro de Tiago, onde temos
fé e obras (da lei) combinadas como a base da justificação. Ver Tia. 2.14 ss.,
e a controvérsia sobre o legalismo em Atos 15. Ver na Enciclopédia de Bíblia,
Teologia e Filosofia o artigo chamado Legalismo.
Sl 1.3 Ele é como
árvore. Prosperidade Espiritual e Econômica. O homem piedoso, que já prosperava
espiritualmente, pelo decreto de Deus também deve prosperar economicamente.
Essa era a fé constante dos hebreus, que eles mantinham mesmo quando a
adversidade parecia ensinar o contrário. Portanto, o homem bom é como uma
árvore que conta com um suprimento de água abundante infalível, a saber, o rio da
vida que passa próximo. Alguns estudiosos pensam que este versículo significa
valetas da irrigação (ver Deu. 11.10,11), uma prática empregada pelos egípcios
e babilônios, mas não muito usada na Palestina. A lei de Deus controlava o que
um homem fazia (Sal. 1.2) e então dava a ele bom suprimento, acima de suas
expectações. Há o plantio, o cultivo e a colheita de bons frutos. Ver no
Dicionário o artigo chamado Agricultura, Metáfora da, quanto a um
desenvolvimento detalhado das ideias deste versículo.
Correntes de águas.
No hebraico temos a expressão palgey mayim, correntes ou divisões de águas, em
alusão ao costume de preparar irrigação nos países do Oriente, onde as
correntes de águas são construídas pela mão humana, com base em rios e
correntes de águas naturais referidas em Deu. 11.10 como a “rega da terra”. A
figura é a de um lugar desértico que conta com pouca ou mesmo nenhuma água.
Apesar disso, a provisão adequada contribui para a frutificação nas estações do
ano apropriadas. O fruto é algo a ser esperado e produzido no tempo devido, por
haver permanente provisão de água. Ver no Dicionário o artigo chamado Água, que
inclui informações acerca de usos metafóricos.
Para outras
comparações entre o homem bom e uma árvore, ver Sal. 52.8 (a oliveira), Sal.
128.3 (a videira); Osé. 14.6 (a oliveira e o cedro). Apresento vários artigos
no Dicionário sobre Árvore.
Cf. Jer. 17.8. Ver
Gál. 5.22,23, quanto ao fruto do Espirito, o que aponta para o cultivo de
virtudes por parte do crente, pelo poder de Deus. Ver também Eze.
31.4 nessa
conexão."... o rio do amor de Deus... a fonte das águas vivas chegadas do
Líbano, para reavivar, refrescar, suprir e consolar o povo de Deus... as graças
do Espírito” (John Gill, in loc.).
Sl 1.4 Os ímpios não
são assim. Os ímpios, em contraste, não são comparados nas Escrituras com uma
árvore bem regada e frutífera. Antes, são como a palha inútil dos campos, que o
vento dispersa. O julgamento de Deus cai sobre eles, em lugar das bênçãos
abundantes. Visto serem estéreis, serão eliminados. A figura, neste versículo,
é o ato de trilhar as sementes. As espigas produzem seu grão, e o que resta é
inútil. O vento dispersa parte da palha inútil, e os homens queimam o restante.
Os homens lançam ao ar a palha, para que o grão dela se separe, e o que sobra,
sendo de menor peso, é soprado pelo vento. O que cai de volta ao chão é então
queimado, no tempo apropriado.
As versões da
Vulgata, o etíope e o árabe duplicam aqui a negativa, como um reforço: “Não são
assim os ímpios, não são”. “O ímpio nunca se mostra constante. Seus propósitos
são abortados. Sua conversação é leviana, emocional e tola. Suas profissões e
amizades são insignificantes, ocas e insinceras. Tanto ele quanto suas obras
são levados para a destruição, pelo vento dos julgamentos de Deus” (Adam
Clarke, in loc.).
Cf. Jó 21.28; Isa.
17.13; Osé. 13.3 e Mat. 3.12. “No Oriente, existem eiras em lugares altos. 0
grão trilhado é lançado ao vento para ser levado e tangido como se fosse palha”
(Fausset, in loc.).
A figura simbólica
denota “a ruína fácil dos ímpios que se precipita sobre eles em um único
instante. Eles não podem evitar as lufadas de ar, nem podem resistir diante de
Deus. Como a palha, são soprados para longe” (John Gill, in loc.).
Sl 1.5 Por isso os
perversos não prevalecerão no juízo. A palavra juízo, aqui usada, não indica o
julgamento para além-túmulo, em algum sentido cristão. A própria doutrina do
seol (ver a respeito no Dicionário) ainda não estava bem desenvolvida quando os
salmos foram escritos. Antes, o autor sagrado nos deu uma ideia geral e deixou
os detalhes nas mãos de Deus. Os ímpios terminam muito mal, tanto física quanto
espiritualmente. Eles não podem suportar, temporal ou espiritualmente, os
julgamentos de Deus (cf. Sal. 10.3; 37.9,13,15,17,35,36). Estamos falando sobre
os julgamentos divinos, prontos a cair sobre qualquer
indivíduo, e não
sobre determinado dia escatológico de julgamento. Os livros pseudepígrafos e
apócrifos (pertencentes ao período entre o Antigo e o Novo Testamentos) é que
desenvolveram a ideia do “julgamento escatológico". O Novo Testamento
levou avante o processo. As chamas do inferno foram acesas no livro de I
Enoque. O julgamento escatológico será terrível, mas também remedial, e não
somente retributivo (ver I Ped. 4.6). Ver, na Enciclopédia de Bíblia, Teologia
e Filosofia, o artigo intitulado Julgamento de Deus dos Homens Perdidos. Ver
somente retribuição no julgamento é condescender diante de uma teologia
inferior.
No ato de trilhar o
grão, o trigo e a palha eram separados; e os juízos de Deus exercem esse efeito
separador. Ver em Mat. 13.25 ss. como o trigo e o joio são separados um do
outro, e como o joio é queimado.
Na congregação dos
justos. Há um grande exagero aqui em ver o “céu” onde os justos se reúnem, mas
de onde os impios são separados. A palavra “congregação”, no livro de Salmos,
refere-se a “Israel”, em contraste com os pagãos. Ou então, pode referir-se aos
homens fiéis que se reuniam para adorar no templo. A congregação devia ser
santa (ver Núm. 16.3). Os ímpios serão excluídos dos lugares de reunião dos
bons. A idéia é de “separação” para os bons. Seja onde for que os bons
estiverem, os maus não estarão, quando Deus tiver julgado os homens.
Sl 1.6 Pois o Senhor
conhece o caminho dos justos. 0 conhecimento especial de Yahweh (o nome divino
usado neste versículo) mantém os piedosos separados dos ímpios. Yahweh sabe com
o que se parecem os homens e ameaça-os de acordo com esse conhecimento. Ele
conhece o caminho dos bons e o caminho pervertido dos ímpios. O caminho dos
justos conduz à vida, mas o caminho dos ímpios leva à destruição. Ver o uso que
Jesus fez da metáfora dos “dois caminhos”, em Mat. 7.13,14. “... os ímpios
terminam em nada, mas o Senhor recompensa os justos” (William R. Taylor, in
loc.). Ver no Dicionário os artigos Caminho e Caminho de Deus, que ilustram
este versículo. Ver na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia o artigo
intitulado Caminho, Cristo como. Quanto aos nomes divinos, ver no Dicionário o
verbete intitulado Deus, Nomes Bíblicos de, bem como o artigo separado chamado
Yahweh.
Conhece. Isto é,
reconhece com um discernimento cheio de discriminação e apreciação (cf. Sal.
31.7; 144.3; Êxo. 2.25; João 10.14). Assim disse Shakespeare, em seu livro
intitulado As You Like it: “Sei que és meu irmão mais velho e, na gentil
condição de sangue, você deveria conhecer-me” (Ellicott, in loc.).
O justo atenta para a
vida dos seus animais, mas o coração dos perversos é cruel
(Provérbios 12.10)
Essa declaração
ilustra a noção de que Deus conhece os que Lhe pertencem. Cf. Sal. 112.10,
quanto ao conhecimento negativo de Deus. O termo “caminho” significa a atitude
geral e as ações da vida de uma pessoa, o que ela é e o que ela faz. Deus tem
consciência de tais coisas e age em conformidade. O vs. 6 é a conclusão do vs.
1, formando um paralelo entre a ideia de dois caminhos distintos para os bons e
os ímpios, e mostrando como cada qual tem sua própria conclusão natural, de
acordo com a Lei Moral da Colheita segundo a Semeadura.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2063-2065.
Um Estudo em
Contraste, 1.1-6
O primeiro salmo pode
ser considerado o prelúdio da coleção inteira. E bem possível que ele tenha
sido composto com esse objetivo. Ele não contém um título, mas foi evidentemente
escrito e conhecido antes da época de Jeremias, visto que Jeremias 17.5-8
parece ser uma paráfrase e expansão de uma parte deste salmo.
Este salmo é
considerado um salmo sapiencial. Ele traça um contraste acentuado entre os
justos e os ímpios que encontramos na literatura sapiencial. Ele demonstra o
que tem sido chamado de “a doutrina da retribuição”. Os justos prosperam e são
felizes. Os ímpios são afligidos e têm uma vida curta. No entanto, conheciam-se
exceções muito claras em casos individuais a essa regra. Mas o princípio geral
era aceito como verdadeiro e válido.
1. A Bênção dos
Santos (1.1-3)
O homem piedoso é
descrito, primeiramente, em termos do que ele não faz. Ele é bem-aventurado (1;
asher) ou feliz. A LXX usa makarios, o mesmo termo grego encontrado nas
Bem-aventuranças em Mateus 5.3-11.
O justo é feliz
naquilo que ele não faz. A religião consiste em mais do que aspectos negativos,
mas ela também inclui essa faceta. Não é possível construir um prédio sem
escavação; semelhantemente, não pode haver vida santa sem renúncia do mal. A
felicidade do justo consiste primeiramente no fato de que ele não anda segundo
o conselho dos ímpios (hb., rashaim, os perversos). Kirkpatrick sugere que “se
a noção primária da palavra hebraica rasha é inquietação (veja Jó 3.17; Is
57.20,21), a palavra expressa de uma maneira clara a desarmonia que o pecado
incutiu na natureza humana, afetando o relacionamento do homem com Deus, com o
próximo e consigo mesmo”.1 Nem se detém no caminho dos pecadores. A forma intensa
do termo traduzido por pecadores indica que o autor tinha em mente
transgressores habituais e determinados. Os escarnecedores, com frequência
descritos no livro de Provérbios, são “os ímpios da pior qualidade; eles são
arrogantes, briguentos, injuriosos, inimigos da paz e ordem entre os homens e
em suas comunidades, e zombadores da bondade”.
Existe um progresso
inequívoco aqui, descrevendo o caminho que o justo evita com todo cuidado. Anda
significa uma associação casual ou passageira com aqueles que estão fora de
sintonia com Deus. Detém é uma comunhão contínua com pessoas que são
continuamente pecaminosas em atitudes e atos. Assenta implica que a pessoa está
à vontade no meio daqueles que zombam de Deus e da religião. A pessoa justa
recusa-se a dar um passo sequer em direção a esse caminho inferior.
O caráter do justo é
então descrito positivamente. Uma pessoa que é verdadeiramente feliz faz o
seguinte: Ela tem o seu prazer na lei do Senhor (2), o ensino ou instrução de
Javé. O termo hebraico torah tem um significado muito mais amplo do que é
sugerido por “lei”. Ela representa todo o caminho revelado de vida contido nos
ensinos de Moisés e nos profetas e é usada paralelamente com a expressão “a
palavra do Senhor”. Estes termos são virtualmente sinônimos. O termo hebraico
para medita vem da raiz que sugere o murmúrio (sussurro) daquele que está
estudando à meia voz as palavras de um livro. “A verdadeira felicidade não se
encontra no próprio pensamento do homem, mas na vontade revelada de Deus”. O
cristão é “gerado, guiado e nutrido pela Bíblia”.
Os resultados de uma
vida justa são descritos por meio de símbolos conhecidos. Esse homem é como a
árvore plantada junto a ribeiros de águas (3). A imagem é de uma árvore bem
irrigada, favoravelmente colocada (“transplantada”, Anchor) junto a um ribeiro
ou canal de irrigação, cultivada e cuidada, e, como consequência disso,
frutífera. Esse não é um crescimento silvestre, que sobrevive por acaso. A
menção de folhas que não caem e a abundância de água sugere que se tinha em
mente uma tamareira. Nas palavras tudo quanto fizer o salmista abandona a
figura da árvore e se refere diretamente ao justo. Está inferida, é claro, a ideia
de que esse homem vai fazer aquelas coisas por meio das quais o Senhor o possa
fazer prosperar.
2. A Carga do Pecador
(1.4-6)
O pecador está em
completo contraste com o justo. Os ímpios (4) são os rashaim do versículo 1. Ao
contrário da árvore com raízes profundas, eles são como a moinha (palha) que o
vento espalha. Esta é uma referência ao local de debulha onde a palha era
batida e separada do trigo. Esse local geralmente ficava no topo de uma colina
ou num lugar alto onde o vento soprava mais forte. O trigo e a palha juntos
eram jogados para cima com pás. O trigo mais pesado caía no chão para então ser
cuidadosamente recolhido, mas a palha leve e imprestável era levada pelo vento.
As pessoas ímpias são
semelhantes à palha, sem raízes ou frutos, incapazes de subsistir no juízo (5).
Os ímpios não conseguirão sobreviver ao julgamento do último dia nem ao
julgamento contínuo do peneirar providencial de Deus do caráter humano. Nem
resistirão os pecadores na congregação dos justos. Esses pecadores são
persistentes e habituais, como no versículo 1. A congregação dos justos é o
ideal bíblico para a verdadeira comunidade de fé. O propósito dos julgamentos
atuais de Deus bem como do seu julgamento final no porvir (Mt 13.24-30, 36-43)
é remover o mal e os malfeitores de sua Igreja.
Um resumo do
contraste entre justo e ímpio no Salmo 1 pode ser observado no seu último
versículo. A primeira parte do versículo 6, Porque o Senhor conhece o caminho
dos justos, resume os versículos 1-3. A segunda parte resume os versículos 4-5.
O Senhor conhece, não no sentido abstrato de estar ciente ou informado, mas no
sentido concreto e pessoal de cuidar, aprovar, guiar e estar atento. E
possível, em alguns contextos, traduzir yada, “conhecer”, por “cuidar” ou “se
importar”. De modo inverso, o caminho dos ímpios perecerá, terminará em ruína,
“caminhos da morte” (Pv 14.12). As primeiras e últimas palavras do salmo
resumem o contraste que é traçado entre os justos e os ímpios: bem-aventurado e
perecerá.
W. T. Purkiser, M. A..
Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol.
3. pag. 113-115.
O Homem
Bem-aventurado Vv. 1-3
O salmista começa com
o caráter e a condição de um homem devoto, aquele que pode primeiramente
experimentar o conforto que lhe pertence. Aqui está:
Uma descrição do
espírito e do caminho do homem devoto, que nós mesmos devemos experimentar. O Senhor
conhece aqueles que são seus por nome, mas nós devemos conhecê-los por seu
caráter. Isso é agradável a um estado de provação que nós podemos estudar para
responder ao caráter, que é de fato tanto a ordem da lei a que estamos sujeitos
com a obrigação de obedecer quanto a condição da promessa a que nós estamos
sujeitos e interessados em realizar. O caráter de um homem bom é mostrado aqui
por meio das regras que ele escolhe seguir e tomai- providências. O que nós
levamos na nossa partida e em cada volta, como guia da nossa conversa, seja no
curso desse mundo ou na palavra de Deus. tem consequências materiais. Um erro
na escolha do nosso padrão de conduta pode ser fatal; porém, se nós estamos bem
aqui, isso significa que nós estamos no caminho justo para fazer o bem.
1. Um homem devoto
que quer evitar o mal renuncia formalmente ao companheirismo dos malfeitores e
não será conduzido por eles (v. 1): Ele “não anda segundo o conselho dos
ímpios’’. Essa característica do seu caráter é colocada em primeiro lugar,
porque aqueles que manterão os mandamentos do seu Deus devem dizer aos
malfeitores: “Apartai-vos de nós” (SI 119.115) e apartar-se do mal é onde
começa a sabedoria. (1) Ele vê malfeitores ao seu redor; o mundo está cheio
deles; eles caminham por todos os lados. Eles são aqui descritos por três
características: ímpios, pecadores e escarnecedores. Observe quais são os
passos que os homens dão para chegar à altura da impiedade. Nemo repente fit
turpissimus - Ninguém alcança o auge do vício de uma vez. Eles são primeiro
ímpios, afastando-se do temor de Deus e vivendo na negligência de suas
obrigações para com ele: mas lá eles não descansam. Quando os cultos são
deixados de lado, eles se tornam pecadores, ou seja, eles começam uma rebelião
aberta contra Deus e envolvem-se no culto ao pecado e a Satanás. As omissões
abrem caminho para as comissões e assim o coração fica tão endurecido que aos
poucos eles se tornam escarnecedores, isto é, eles desafiam abertamente tudo
que é sagrado, zombam da religião e do pecado. Então o caminho da iniquidade é
um declive; os maus tendem a piorar, os pecadores tornam-se tentadores dos
outros e advogados de Baal. Aqueles que nós chamamos de ímpios são instáveis,
não almejam um fim certo e caminham em suas próprias regras, e eles estão no
comando de toda cobiça e por trás de cada tentação. Os pecadores são
determinados pela prática do pecado e o praticam como se fosse o negócio deles.
Os escarnecedores são aqueles que voltam as suas bocas contra o céu. Isso o homem bom
vê com o coração triste; eles são uma aflição constante para a sua alma
íntegra. Entretanto: (2) Ele foge deles sempre que os vê. Ele não faz como eles
fazem; e por isso, ele não conversa familiarmente com eles. [1] Ele “não atida
segundo o conselho dos ímpios’’. Ele não está presente em seus conselhos, nem
recebe deles aconselhamento; mesmo eles sendo tão espirituosos, sutis e
estudados, se eles são ímpios, não devem ser os homens do seu conselho. Ele não
consente com eles, nem “consente com seus atos” (Lc 23.51). Ele não consente
com eles, nem “consente no conselho deles” (Lc 23.51). Ele não toma os
princípios deles como parâmetro, nem age segundo os conselhos que eles dão e
pedem. Os ímpios têm a tendência de dar seus conselhos contra a fé e isso é
gerenciado de forma tão astuciosa que nós temos motivos para ficarmos felizes
se conseguirmos evitar ser corrompidos e enlaçados por isso. [2] Ele “nem se
detém no caminho dos pecadores'’; ele evita agir como eles agem; o caminho
deles não deve ser o caminho do crente; ele não herdará isso, muito menos dará
continuidade a isso, como faz o pecador, que “põe-se evi caminho que não é bom”
(SI 36.4). Ele evita (o quanto pode) ser como eles são. Ele não pode imitá-los,
ele não se associará a eles, nem os escolherá para companhia dele. Ele não fica
no caminho deles para ser escolhido por eles (Pv 7.8), mas permanece longe
deles como de um lugar ou indivíduo infectado por uma peste, por medo de
contágio (Pv 4.14,15). Aquele que quer se manter longe do mal deve se afastar
do caminho do mal. [31 Ele “nem se assenta na roda dos escarnecedores”; ele não
descansa com aqueles que se firmam em sua loucura e se satisfazem com a
sequidão de suas consciências. Ele não se relaciona com aqueles que se sentam a
fim de fazer intriga, para descobrir maneiras e sentidos de apoiar e promover o
reino do diabo, ou que fazem um julgamento aberto e direto para condenar a
geração dos justos. O assento dos bêbados é “a canção dos bebedores de bebida
forte” (SI 69.12). Feliz é o homem que nunca se assenta com eles (Os 7.5).
2. Um homem devoto e
que faz aquilo que é bom e fiel, submete-se à orientação da palavra de Deus e
se familiariza com ela (v. 2). E isso que o mantém longe do caminho do ímpio e
o fortifica contra as tentações. “Pela palavra dos teus lábios me guardei das
veredas do destruidor” (SI 17.4). Nós não precisamos cortejar a sociedade dos
pecadores, nem por prazer, nem por superioridade, quando nós temos sociedade
com a palavra de Deus e com o próprio Deus, pela sua palavra. “Quando acorda
res, falará contigo” (Pv 6.22). Nós devemos julgar nosso estado espiritual com
a pergunta: “O que a lei de Deus é para nós? O que nós devemos fazer dela? Que
lugar ela tem em nossa vida?” Veja aqui: (1) Toda afeição que um homem bom tem
pela lei de Deus: tem o seu prazer nela. Ele tem prazer nela, mesmo sendo uma
lei, uma regra, porque é a lei de Deus, que é santa, justa e boa, e que ele
consente livremente seguir e tem então prazer nela, “segundo o homem
interior" (Rm 7.16,22). Todos aqueles que estão satisfeitos por existir um
Deus devem estar satisfeitos pela existência da Bíblia, a revelação de Deus, da
sua vontade e do único caminho para a felicidade nele. (2) O conhecimento
íntimo que um homem devoto tem com a palavra de Deus: “na sua lei medita de dia
e de noite”-, e assim seu prazer parece estar nela, pois nós amamos pensar
naquilo que amamos (SI 119.97). Meditar na palavra de Deus é aprofundar nosso
entendimento sobre os grandes temas contidos nela, com uma aplicação imediata,
uma fixação de pensamento, até que nós estejamos adequadamente influenciados
por tais conteúdos e experimentemos o seu sabor e poder em nosso coração. Isso
nós devemos fazer “de dia e de noite”-, nós devemos ter um hábito constante de
respeitar a palavra de Deus como o regulamento das nossas ações e a libertação
do nosso conforto e, consequentemente, nós devemos tê-la em nossos pensamentos,
em qualquer situação da vida, seja dia ou noite. Não há tempo inadequado para
meditar na palavra de Deus, nem estação imprópria para tais meditações. Nós não
apenas devemos nos voltar para a meditação na palavra de Deus de manhã e à
tarde, ao nascer do dia e da noite, mas esses pensamentos devem se entremear
com os assuntos e conversas de todos os dias e com o repouso e descanso de
todas as noites. Ao acordarmos eles ainda estarão em nossa mente e coração.
nUma garantia é dada
no que diz respeito à felicidade do homem devoto, o que deveria nos encorajar a
seguir o seu caráter. 1. Em geral, ele é abençoado (SI 5.1). Deus o abençoa e
tal bênção o fará feliz. bem-aventuranças, bênçãos de todos os tipos,
superiores e inferiores, são suficientes para fazê-lo completamente feliz;
nenhum dos ingredientes da felicidade deve lhe faltai-. Quando o salmista
responsabiliza-se por descrever um homem abençoado, ele descreve um homem bom;
pois apesar de tudo eles só são felizes, verdadeiramente felizes, se forem
santos, verdadeiramente santos; e nós estamos mais preocupados em conhecer o
caminho para a felicidade do que em conhecer em que consiste tal felicidade.
Não, a bondade e a santidade não são apenas o caminho para a felicidade (Ap
22.14), e sim a felicidade em si; supondo que não existisse vida eterna, o
homem feliz seria aquele que se mantém no caminho dos seus deveres. 2. Sua
bem-aventurança é aqui ilustrada com uma comparação (v. 3): ele será como a
árvore, frutífera e florida. Este é o efeito: (1) Da sua prática piedosa; ele
medita na lei de Deus, tornando-a in succum et sangui- nem - suco e sangue, e
isso faz dele parecido com uma árvore. Quanto mais nós meditamos na palavra de
Deus, mais munidos nós estamos para toda a boa obra e trabalho. Ou: (2) Da
bênção prometida; ele é abençoado pelo Senhor e, portanto, ele será como a
árvore. A bênção divina produz efeitos reais. Esta é a felicidade de um homem
devoto: [1] Que ele é plantado pela graça de Deus. Essas árvores são por
natureza oliveiras selvagens, e continuarão assim até que sejam plantadas
novamente, mas plantadas por um poder do céu. Nunca uma árvore cresce por si
só; ela é a. plantação do Senhor, e por isso Ele deve ser glorificado (Is
61.3). [2] Que ele é plantado pelos meios da graça, chamados aqui de ribeiros
de águas, aqueles rios que “alegram a cidade de Deus” (SI 46.4); daí um homem
bom recebe suprimentos de força e vigor, mas de maneira secreta e
desapercebida. [3] Que as suas práticas frutificarão, ficando cheias de boas
considerações (F1 4.17). Para aqueles a quem Deus primeiramente abençoou, ele
disse: “frutificai” (Gn 1.22), e assim o conforto e a honra da fecundidade são
uma recompensa pelo seu trabalho árduo. Espera-se daqueles que desfrutam das
misericórdias da graça que, tanto no temperamento das suas mentes quanto no
sentido das suas vidas, eles cumpram as intenções de tal graça e produzam
frutos. E espera-se, para o louvor do grande adornador da videira, que eles
produzam seus frutos (o que é requerido deles) na devida estação, quando eles
são mais belos e de maior utilidade, aproveitando cada oportunidade de fazer o
bem e fazê-lo no tempo certo. [4] Que a sua profissão deve ser preservada de
ser manchada e sacrificada: suas folhas não caem. Para aqueles que trazem
apenas as folhas da profissão, sem qualquer bom fruto, até mesmo as suas folhas
secarão e eles ficarão envergonhados de sua profissão, como um dia tiveram
orgulho dela; todavia, se a palavra de Deus governa o coração, isso manterá a
profissão vicejante, para o nosso conforto e para o nosso crédito; desse modo,
os louros conquistados nunca secarão. [5] Que a prosperidade está presente
aonde quer que ele vá, prosperidade de alma. O que quer que ele faça, conforme a
lei, prosperará, conforme o seu pensamento ou acima do que esperava.
Ao cantar esses
versos, e considerar que somos afetados pela natureza maligna e perigosa do
pecado, e pensar nas excelências da lei divina e no poder e na eficácia da
graça de Deus, através da qual o nosso fruto é produzido, nós devemos advertir
uns aos outros a vigiar contra o pecado e evitar toda aproximação em direção a
ele, além de meditar muito na palavra de Deus e ter fartura do fruto da
retidão; e ao orar por isso, nós devemos buscar a Deus e suplicar a sua graça,
para nos fortalecer contra cada palavra e obra má e para nos conceder palavras
e ações boas.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo
Testamento Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. pag. 215-217.
O caminho da vida.
A palavra “Feliz”, ou
“A felicidade de . . .!” é preferível a Bem-aventurado, para o qual existe uma
palavra separada. Tal foi a exclamação da Rainha de Sabá em 1 Rs 10:8, e a
expressão se ouve vinte e seis vezes no Saltério.1 Este salmo continua, mostrando
a escolha sóbria que
é a base disto. O Sermão da Montanha, empregando a palavra correspondente em
grego, futuramente acrescenta uma exposição ainda mais radical.
Conselho, caminho e
roda (ou “assembleia” ou “habitação”) chamam a atenção aos setores do
pensamento, da atividade e do pertencer; é neles que a escolha fundamental da
lealdade da pessoa é feita e levada a efeito. Isto é corroborado pela indicação
de um elemento decisivo no tempo dos verbos hebraicos (o perfeito). Seria
atribuir demais a estes verbos tirar moral daquilo que parece ser um processo
de diminuição da velocidade, do andar para o sentar-se, pois a viagem estava na
direção errada, entre outras coisas. Certamente, porém, as três frases completas
mostram três aspectos, e, realmente, três graus, de separação de Deus, ao
retratarem a conformidade a este mundo em três níveis diferentes: a aceitação
dos seus conselhos, a participação dos seus costumes, e a adoção da sua atitude
mais fatal — isto porque os zombadores, se não forem os mais escandalosos dos
pecadores, são os mais distanciados do arrependimento (Pv 3:34).
2. Os três negativos
prepararam o caminho para aquilo que é positivo, e que é sua verdadeira função
e o valor de seu duro corte. (Mesmo no Éden, Deus deu ao homem uma negativa, a
fim de lhe permitir o privilégio de uma escolha decisiva.) A mente era o
primeiro baluarte a ser defendido, conforme v. 1, e ela é tratada como chave ao
homem inteiro. A lei do Senhor se coloca em oposição ao “conselho dos ímpios” (1),
ao qual, em última análise, é a única resposta. O salmo se restringe a
desenvolver este tema único, dando a entender que aquilo que realmente molda o
pensamento do homem molda a sua vida. Isto se ilustra de modo conveniente no
salmo seguinte, onde a palavra “imaginam” (2:1b) é a mesma que aqui se traduz
“medita”, com resultados que se seguem dos tipos de pensamento muito diferentes
que ali se acalentam.
No versículo aqui
tratado, o eco deliberado da exortação dirigida a Josué lembra ao homem de ação
que o convite a pensar seriamente a respeito da vontade de Deus não é meramente
para o recluso: é o segredo de conseguir qualquer coisa que valha a pena (cf.
bem sucedido, neste salmo, com Js 1:8). Lei (tôrâ) significa, basicamente,
“direção” ou “instrução”; pode se confinar a um único mandamento, ou pode se
estender às Escrituras inteiras, como neste caso. 3. Com este quadro atraente,
que forma com o v. 4 a parte central do salmo, compare a passagem mais
detalhada de Jr 17:5-8. A frase no devido tempo, dá o seu fruto ressalta o aspecto
distintivo e o crescimento silencioso do produto. Isto porque a árvore não é
mero canal, levando a água de um lugar para outro, sem alterá-la. Pelo
contrário, é um organismo vivo que a absorve, para produzir, no devido tempo,
algo que ê novo e agradável, próprio do seu tipo e estação. A promessa de que a
folha fica imune ao murchar não é independência do ritmo das estações (cf. a
linha anterior, e ver sobre 31:15); é o livramento dos danos aleijantes da seca
(cf. Jr 17:8b).
Derek
Kidner. Salmos. Introdução e Comentário.
Editora Vida Nova. pag. 62-64.
3. Moisés vê a Terra
Prometida e morre.
A Morte de Moisés
A Bíblia diz que
quando Moisés faleceu, ele estava com 120 anos, que era uma idade já bem
longeva para os padrões da época, conforme depoimento do próprio Moisés (SI
90.10). Não obstante, “os seus olhos nunca se escureceram, nem perdeu ele o seu
vigor” (Dt 34.7).
O último capítulo de
Deuteronômio, que é o único capítulo do Pentateuco que não foi escrito por
Moisés, registra que, após a morte do legislador de Israel, o reconhecimento e
o amor do povo era tão grande por ele que “os filhos de Israel prantearam a
Moisés trinta dias, nas campinas de Moabe” (Dt 34.8).
O relato que Flávio
Josefo, historiador judeu do primeiro século d.C., faz das reações do povo de
Israel e do próprio Moisés por ocasião de sua despedida, conforme a tradição
que havia sido passada aos judeus até os dias do célebre historiador, é
extremamente tocante. Claro que, eventualmente, pode haver um ou outro exagero
aqui e acolá nesse relato, mas não se pode duvidar que muito dessa narrativa,
que reproduzimos a seguir e que atravessou gerações, é carregado de verdade.
Vale a pena lê-la:
Depois que Moisés
assim lhes falou, predisse a cada uma das tribos o que lhes deveria acontecer e
desejou-lhes mil bênçãos. Toda essa enorme multidão não pôde por mais tempo
reter as lágrimas; homens e mulheres, grandes e pequenos, demonstraram
igualmente sua pena por perder um chefe tão ilustre; não houve nem mesmo
criança que não derramasse lágrimas; sua eminente virtude não podia ser
ignorada nem mesmo pelos dessa idade. As pessoas sensatas, umas deploravam a
gravidade de sua perda para o futuro e outras queixavam-se de não terem
compreendido bastante que felicidade era para ele ter um tal chefe e guia e
serem privados dele quando o começavam a conhecer.
Nada, porém,
demonstrou até que ponto chegava sua aflição como o que aconteceu a esse grande
legislador. Pois ainda que ele estivesse persuadido de que não era necessário
chorar à hora da morte, pois ela vem por vontade de Deus e por uma lei
indispensável da natureza, ele, no entanto, ficou tão comovido pelas lágrimas
de todo o povo que ele mesmo não pôde deixar de chorar. Caminhou depois para
onde deveria terminar a vida e todos seguiram-no gemendo. Ele fez sinal com a
mão aos que estavam mais afastados para que parassem e rogou aos que estavam
mais próximos que não o afligissem mais ainda seguindo-o com tantas
demonstrações de afeto. Assim, para obedecer, eles pararam e todos, juntamente,
lamentavam sua infelicidade por tão grande perda.
Os senadores
[anciãos], Eleazar, o grão-sacrificador [sumo sacerdote], e Josué, o comandante
do exército, foram os únicos que o acompanharam. Quando ele chegou ao monte
Nebo, que está em frente a Jericó, tão alto que de lá se vê todo o país de
Canaã, despediu-se dos senadores [anciãos], abraçou a Eleazar e Josué, e
deu-lhes seu último adeus. Ainda ele falava quando uma nuvem o rodeou e ele foi
levado a um vale. Os livros santos que ele nos deixou dizem que morreu porque temia
que não se acreditasse que ele ainda estaria vivo, arrebatado ao céu, por causa
da sua eminente santidade. Faltava somente um mês para que, dos cento e vinte
anos que viveu, ele passasse quarenta no governo de todo esse grande povo, cuja
direção Deus lhe havia confiado. Ele morreu no primeiro dia do último mês do
ano, que os macedônios chamam Dystros e os hebreus, Adar.
Jamais homem algum
igualou em sabedoria a este ilustre legislador, jamais alguém soube, como ele,
tomar sempre as melhores resoluções e tão bem pô-las em prática; jamais algum
outro se lhe pôde comparar na maneira de tratar com um povo, governá-lo e
persuadido, pela força de suas palavras. Sempre foi tão senhor de suas paixões
que parecia até que delas havia sido isento e que as conhecia apenas pelos
efeitos que via nos outros. Sua ciência na guerra pôde dar-lhe um lugar entre
os maiores generais e nenhum outro teve o dom de profecia em tão alto grau;
suas palavras eram outros tantos oráculos, e parecia que o próprio Deus falava
por sua boca. O povo chorou-o durante trinta dias e nenhuma outra perda lhe foi
jamais tão sensível. Mas ele não foi chorado somente por aqueles que tiveram a
felicidade de o conhecer, mas também por aqueles que conheceram as leis
admiráveis que ele nos deixou, porque a santidade que nelas se nota não pode
permitir dúvidas sobre a eminente virtude do legislador.
Não sabemos onde a
sepultura de Moisés se encontra — aliás, ninguém sabe, desde aquela época (Dt
34.6b) até hoje. A única informação é que Deus mesmo o sepultou “num vale, na
terra de Moabe, defronte de Bete-Peor” (Dt 34.6a). Deus fez com que sua
sepultura nunca fosse encontrada para que, provavelmente, não se criasse uma
idolatria e romaria em torno do túmulo de seu servo. O apóstolo Judas nos fala
da altercação do arcanjo Miguel com Satanás sobre o corpo de Moisés (Jd 9). Não
sabemos o porquê do interesse de Satanás pelo corpo de Moisés, mas a tradição
judaica afirma que tal altercação se deu porque Satanás sustentava que Moisés
não era digno de um sepultamento decente, ainda mais feito pelo próprio Deus,
por ter sido um homicida em sua juventude (Ex 2.11,12). Miguel, que guardava o
corpo de Moisés, apenas lhe respondeu: “O Senhor te repreenda”.
O exemplo de Moisés
como líder e homem de Deus nunca será esquecido. Sobretudo pelos últimos
quarenta anos de sua vida, ele sempre será lembrado como um exemplo de fé, vida
de santidade, seriedade, liderança, sabedoria, paciência, fidelidade ao chamado
divino e vida dedicada totalmente ao Senhor.
Como escreveu o autor
da Epístola aos Hebreus, referindo-se à nossa responsabilidade hoje diante do
que fizeram os grandes heróis da fé do Antigo Testamento, dentre eles Moisés
(Hb 11.23-29), “nós também, pois, que estamos rodeados de uma tão grande nuvem
de testemunhas [os heróis da fé do Antigo Testamento], deixemos todo embaraço e
o pecado que tão de perto nos rodeia e corramos, com paciência, a carreira que
nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé” (Hb 12.1,2).
Amém!
COELHO,
Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de
Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a
Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 154-157.
Morte e Sepultamento
de Moisés (34.1-12)
“Este capítulo
reinicia a história desde 0 fim do livro de Números, depois do discurso
deuteronômio de Moisés ao povo de Israel. Estão envolvidas aqui duas tradições
acerca do lugar onde Moisés teria morrido: 0 Monte Nebo, na Transjordânia, a
leste da cidade de Jericó; e 0 Monte Pisga, um pico que existe na mesma serra
montanhosa, ligeiramente para oeste. Daquela grande altura, Moisés olhou para 0
norte, na direção do Mar da Galiléia (área que ficou com as tribos de Dã e
Naftali); para 0 ocidente, na direção do Mar Grande (ou Mediterrâneo); para 0
sul, na direção do Neguebe (deserto sul de Judá); e na direção do vale do rio Jordão,
até Zoar (localizada no extremo sul do Mar Morto; ver Gên. 14.2). Yahweh
sepultou secretamente 0 corpo de Moisés. Cf. Núm. 27.18- 23. Quanto ao parecer
de que Moisés foi 0 maior de todos os profetas de Israel, cf. Deu. 18.15-22;
Núm. 12.6-8; Osé. 12.13" {Oxford Annotated Bible, em comentário que cobre
todas as ideias constantes neste capítulo).
É provável que essa
conclusão, que sem dúvida não foi escrita por Moisés, tenha sido extraída da
edição editorada do livro, feita por algum sacerdote. Os críticos identificam
essa autoria com J. e E. Ver no Dicionário o verbete intitulado J.E.D.P.(S.),
quanto à teoria das fontes informativas múltiplas do Pentateuco. O editor do
livro de Deuteronômio, presumivelmente, tomou essa fonte informativa e a
adaptou, a fim de formar o seu livro. Alguns críticos veem nesta conclusão
alguns toques da fonte informativa P, conforme se vê em Deu. 34.1a, 5b e os
vss. 7-9.
Dt 34.1 Então subiu
Moisés das campinas de Moabe. Era nessa planície que 0 povo de Israel estava
acampado, preparado para invadir a terra de Canaã. A narrativa, abandonada no
fim do livro de Números, reinicia-se aqui, uma vez terminados os discursos
deuteronômios (que constituem essencialmente o livro) de Moisés. Ver Núm.
36.13, último versículo do livro de Números, onde lemos que o povo de Israel
estava nas campinas de Moabe. Isso posto, Moisés deixou o acampamento e partiu
na direção do Monte (Nebo ou Pisga), que dava de frente para a cidade de
Jericó. Todos os nomes próprios que aparecem neste versículo são anotados no
Dicionário. É óbvio que os dois montes ou picos mencionados não são um só; mas
os intérpretes, a fim de evitar a idéia de discrepância, ou a fim de evitar
afirmar que o editor incluiu duas tradições diversas em seu livro, deram a
entender que Pisga deve ter sido um pico da serra que se estendia desde o Monte
Nebo, de tal modo que o local podia ser chamado Nebo ou Pisga.
Fosse como fosse,
daquele elevado pico, Yahweh mostrou a Moisés toda a Terra Prometida,
apontando-lhe trechos, em diversas direções. Alguns estúdiosos, procurando
envolver a Terra Prometida inteira nessa contemplação feita por Moisés, supõem
que ele tenha tido uma visão sobrenatural, havendo observado, literalmente,
tudo. Mas essa é uma interpretação tão exageradamente literal que chega a ser
desonesta.
A narrativa começa
dizendo que Moisés olhou na direção oeste, para então, acompanhando um
movimento anti-horário, mencionar áreas em cada uma das outras direções do
compasso, ou seja, norte, oeste e sul.
Quem Teria Sido 0
Autor da Conclusão do Livro? As tradições judaicas apontam para nomes como
Josué, os setenta anciãos ou Esdras. Mas é inútil toda tentativa que fizermos
para determinar quem teria sido esse autor. Algum editor que desconhecemos fez
essa adição, ou, conforme alguns dizem, esse editor foi o mesmo que compilou o
livro inteiro, incorporando materiais escritos deixados por Moisés.
Dt 34.2 Todos os
nomes próprios que figuram neste versículo são comentados no Dicionário. Moisés
começou a ver a Terra Prometida olhando para o leste, e então, seguindo o
movimento anti-horário, foi contemplando aquelas partes da Terra Prometida que
ficavam nas direções gerais norte, oeste, sul, na ordem dos territórios
mencionados, isto é, Naftali, Manassés e Judá.
Até ao Mar ocidental.
Temos aí o Mar Mediterrâneo. A partir de onde Moisés se achava, esse Mar ficava
nas direções noroeste, oeste e sudoeste da Terra Prometida. Moisés não poderia
ter vistoo0 Mediterrâneo se estivesse no Monte Nebo; mas o autor não se incomodou
com esse detalhe. No entanto, é inútil falar em visão sobrenatural nessa
oportunidade.
Dt 34.3 Ao olhar na
direção sul, Moisés poderia ter visto as cidades de Jericó e Zoar, nomes
locativos que aparecem no Dicionário. Ver Gên. 14.2; 19.22,23. Zoar, mui
provavelmente, ficava localizada na extremidade sul do Mar Morto, em um trecho
atualmente coberto pela água. Das cinco cidades da planície, Zoar era a que
ficava mais ao sul, conforme lemos em Gên. 14.2. O “Neguebe” é a mesma coisa
que dizer “sul”. Ver no Dicionário 0 verbete intitulado Neguebe. Este era 0
deserto que ocupava a porção sul do território de Judá.
Cidade das palmeiras.
Temos ai uma marca distinta de Jericó, confirmada por Plínio (Hist. Natural
1.5, cap. 14) e por Diodoro Sículo (Biblioteca 1.2, par. 132). Estrabão ajuntou
a isso que Jericó ficava situada em uma planície circundada por montes, e nela
havia muitas palmeiras (Geografia, 1.16, par. 525).
Dt 34.4 Esta é a
terra. Em outras palavras, toda a Palestina, o território que Yahweh havia
prometido dar a Abraão e aos demais patriarcas, Isaque e Jacó, e que agora era
entregue aos descendentes deles. Essa era uma das provisões do Pacto Abraâmico
(ver notas em Gên. 15.18).
Moisés Pôde
Contemplar a Terra, Mas Não Pôde Entrar Nela. Isso por ser ele o símbolo da
lei, ao passo que Josué, que liderou os hebreus na invasão da Terra Prometida,
foi símbolo de Jesus e do sistema da graça-fé, do Novo Testa- mento. Quanto às
razões pelas quais Moisés não teve permissão de entrar na Terra Prometida, ver
as notas detalhadas em Núm. 20.12; Deu. 1.37; 3.23,26 e 4.21. Essas notas
oferecem os tipos envolvidos. Ver a terra foi uma espécie de consolação para um
perdedor.
A Terra Prometida
havia sido assegurada a Abraão (Gên. 15.18), a Isaque (Gên. 26.3), a Jacó (Gên.
28.13) e, daí por diante, ao povo hebreu.
Dt 34.5 Assim morreu
ali Moisés. Por ocasião de sua morte, Moisés estava com cento e vinte anos de
idade. Ver Deu. 31.2 e 34.7. Ele passou por três períodos distintos de quarenta
anos cada: missão especial: quarenta anos no Egito; qua- renta anos no interior
do deserto, em Mídiã; e quarenta anos em perambulações pelo deserto, junto com
0 povo de Israel. Ver no Dicionário os verbetes chamados Quarenta e Número
(Numeral, Numerologia). Neste último artigo, damos os senti- dos dos números
que aparecem na Bíblia, especificamente o número quarenta. Ver também os
artigos Morte e Mortos, Estado dos. O texto à nossa frente nada diz sobre a
vida além-túmulo, pois esta foi uma doutrina que só começou a fazer parte da fé
dos hebreus nos dias dos Salmos e dos Profetas, mas esperou até o período
intertestamentário, ou seja, o período de quatrocentos anos entre o Antigo e o
Novo Testamentos nos livros apócrifos e pseudepígrafos.
Teólogos judeus
posteriores, pois, devem ter injetado essa crença no texto que ora examinamos,
e alguns deles chegaram a conferir a Moisés uma ascensão ou arrebatamento (como
sucedeu a Elias), contra a clara afirmativa de que Moisés morreu.
Mas sabemos que
Moisés estava sendo amparado pelos braços eternos (ver Deu. 33.27), e agora Moisés
é um espírito desincorporado, que continua vivo.
Segundo a palavra do
Senhor. Ou seja, em harmonia com a predição divina, que não havia sido dita
muito tempo antes (ver Deu. 31.2). Essa declaração também pode significar que a
morte de Moisés não ocorreu por motivo de idade avançada, enfermidade ou
acidente, e, sim, de acordo com a palavra que fora dita pelo Senhor, fazendo
com que a alma de Moisés saísse de seu corpo e deixasse o corpo físico a fim de
ser sepultado. Seja como for, o fato é que a morte de Moisés ocorreu de acordo
com a vontade de Deus, sendo que o momento, o lugar e as circunstâncias haviam
sido todos determinados por Deus.
Dt 34.6 Este o
sepultou num vale. A frase também tem sido traduzida na voz passiva: “Este foi
sepultado em um vale”. As tradições judaicas indicam que Yahweh se fez presente
ao sepultamento de Moisés. O trecho de Judas 9 pode significar que foi 0
arcanjo Miguel que sepultou o corpo de Moisés. Esse versículo representa um
empréstimo feito da tradição dos livros pseudepígrafos. Dou completas
informações sobre essa questão no Novo Testamento Interpretado, in loc.
O autor sacro
fornece-nos o local aproximado do sepultamento de Moisés, em algum ponto do
território de Moabe, no vale defronte de Bete-Peor (ver a respeito no Dicionário).
Foi ali que os israelitas se acamparam, quando Moisés lhes deu as instruções e
as bênçãos que ficaram registradas nos capítulos 5 a 22 de Deuteronômio. Ver
especificamente Deu. 3.29 e 4.46.
Moisés viveu uma vida
especial, e foi-lhe conferido um sepultamento especial. E podemos ter certeza
de que ele ocupa um lugar especial no céu.
Dt 34.7 Tinha Moisés
a idade de cento e vinte anos. Este versículo reitera a informação que já nos
havia sido dada em Deu. 31.2. Moisés morreu com cento e vinte anos de idade.
Ver minhas notas, no quinto versículo deste capítulo, quanto aos três ciclos de
quarenta anos da vida de Moisés. Embora estivesse com tão avançada idade,
Moisés não morreu devido aos efeitos de um corpo físico desgastado; nem
morreu por motivo de enfermidade. De alguma forma, a sua juventude foi
preservada até o fim, comparativamente falando. Ver Deu. 31.2 e suas notas
expositivas quanto ao fato de que Moisés estava “sentindo a sua idade”, não
sendo mais capaz de fazer o que sempre havia feito. Não obstante, ele se
encontrava em um notável estado de saúde.
Nem se lhe abateu 0
vigor. No hebraico, a palavra traduzida aqui por “vigor” aparece somente neste
versículo, embora termos cognatos, em outros trechos, possam ser traduzidos por
“frescor”, “umidade” etc., sempre usados acerca de madeiras ou de árvores. Ver
Gên. 30.37; Núm. 6.3; Eze. 17.24. Essa palavra também é usada para indicar
cordas verdes, ou seja, não-ressecadas, conforme se vê no caso da corda com que
Sansão foi amarrado (ver Juí. 16.7,8). Até mesmo a visão deficiente, que aflige
a maioria das pessoas de idade avançada, não constituía problema para Moisés,
até 0 fim de sua vida, um detalhe que nos assegura suas boas condições gerais
de saúde.
Por conseguinte,
ocorreu com Moisés aquilo que foi dito como uma bênção especial:"... como
os teus dias, durará a tua paz” (Deu. 33.25).
Dt 34.8 Prantearam a
Moisés por trinta dias. Seguiu-se um período de luto e de lamentações por
Moisés, durante trinta dias, do qual participou todo 0 povo de Israel. O período
de trinta dias de lamentações por um morto estava de acordo com os costumes da
época. Ver Gên. 50.10 e Núm. 20.29. Moisés tinha morrido e desaparecido. Ao que
tudo indicava, ele havia “terminado”. E no entanto, séculos mais tarde, ele foi
capaz de aparecer, juntamente com Elias, por ocasião da transfiguração do
Senhor Jesus (Mat. 17.1-3). Achamos nesse fato o triunfo do espírito. As
tradições judaicas procuram ornamentar a narrativa, dizendo-nos que esse
período começou no mês de nisã (equivalente ao nosso mês de março), ao oitavo
dia; no nono dia, eles prepararam o seu equipamento para começar a marcha; no
décimo dia eles atravessaram o rio Jordão; e no décimo sexto dia o maná deixou
de cair, e assim o povo de Israel entrou em uma nova fase de sua existência.
Detalhes como esses podem ser interessantes, mas não têm nenhum valor
histórico.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 890-891.
Dt 34.5, 6. Moisés
provavelmente estava acompanhado na hora de sua morte, ou então alguém chegou
pouco depois dela acontecer, porque ele foi enterrado na montanha. A expressão
Este o sepultou poderia ser traduzida “alguém o sepultou”, i.e. ele foi
enterrado. O contexto sugere que foi o próprio Javé quem o sepultou, embora,
sem dúvida, Ele tenha tido agentes. Talvez a segunda frase e ninguém sabe até
hoje o lugar da sua sepultura tenha o propósito de cercar seu sepulcro com uma
aura de mistério, embora este pareça estar definido em termos gerais na
expressão num vale, na terra de Moabe, defronte de Bete-Peor. O lugar é
evidentemente o mesmo vale em que Israel se reuniu para ouvir os últimos discursos
de Moisés (3:29; 4:46).
Dt 34.7. A idade de
Moisés, cento e vinte anos, é três vezes quarenta anos. Sua vida se divide em
três períodos de quarenta anos e nisto pode haver significado simbólico.
Quarenta anos era a duração de uma geração, de modo que Moisés viveu por três
gerações.
As condições de saúde
de Moisés por ocasião de sua morte são descritas de maneiras variadas. Assim,
em 31: 2 ele aparece dizendo: Sou hoje da idade de cento e vinte anos. Já não
posso sair e entrar. A expressão aqui utilizada é não se lhe escureceram os
olhos, nem se lhe abateu o vigor, i.e. sua visão era perfeita e sua força
física inalterada. O termo empregado para “vigor” (leah) e o termo paralelo lah
são usados para descrever madeira verde (Gn30: 37; Nm 6: 3; Ez 17: 24) e cordas
recém-trançadas (Jz 16: 7, 8). O termo cognato em línguas semíticas
relacionadas significa “fresco”, “úmido”. Em ugarítico (Cananita) o substantivo
significa “força vital” e é contrastado com a fraqueza demonstrada na morte.
Daí o termo parece denotar, em sentido metafórico, “vigor”, “energia”. O quadro
diante de nós é uma típica visão idealizada dos fatos, característica do
Oriente Próximo. Sem sombra de dúvida Moisés, mesmo na velhice, era um homem de
grande vigor.
As observações em 34:
7 e 31: 2 não devem ser consideradas uma contradição. Há numerosas expressões
no Velho Testamento que têm sentido metafórico, e.g. “uma terra que mana leite
e mel” (6: 3; 11:9; 26: 9; 27: 3; 31: 20), que parece indicar que a terra tinha
recursos alimentares abundantes. De igual modo, “cidades grandes e fortificadas
até os céus” (1: 28) era uma expressão indicadora de cidades com altas muralhas.
Assim, as expressões não se lhe escureceram os olhos e não se lhe abateu o
vigor, quaisquer que sejam seus significados literais, devem ser consideradas
figuras de linguagem, cujo sentido exato não nos é claro. Talvez signifiquem
que, para um homem de sua idade, Moisés retivera sua capacidade física de maneira
admirável, mesmo que já não fosse capaz “de sair e entrar” (mesmo esta
expressão é uma figura de linguagem).
Por outro lado,
poderiam significar algo como “ele enfrentou a morte triunfantemente e em plena
posse de suas faculdades”.
Dt 34.8. O povo o
pranteou por trinta dias nas planícies de Moabe, onde fora enterrado (cf. Nm
20:29, o pranto por Arão).
J.
A. Thompson. Deuteronômio. Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 305-306.
A Morte de Moisés
(34.1-8)
Chegou a hora de
Moisés morrer, mas ele não subiu ao monte apenas para isso. Em primeiro lugar,
foi-lhe mostrada a Terra Prometida. Do monte Nebo (1), do topo da cordilheira serrilhada
ou pisga7 das montanhas a leste de Jericó, “está em panorama a parte principal
do oeste da Palestina”.8 Toda a terra foi mostrada a Moisés, e não somente parte
dela (1-3). A Oeste, ele viu Judá, até ao mar último (2; o “mar ocidental”, ARA;
i.e., “o mar Mediterrâneo”, NTLH). Ao Sul estava Jericó, famosa por suas
palmeiras até Zoar (3). Esta era a terra prometida aos patriarcas, e Moisés
estava vendo a por inteiro. Daube, com base em analogia legal, propõe que no
pensamento hebraico olhar era símbolo de aquisição, por cujo ato a propriedade
se tornava legalmente, senão de fato, de quem olhava (cf. Gn 13.14,15). Desta
forma, Moisés estava aceitando de Deus a propriedade da Terra Prometida em nome
de todo o povo de Israel. Mas isto só acrescenta sentimento de aflição à
tragédia inevitável da situação. Ele a vê, mas nunca a possuirá de verdade. Por
causa de pecado próprio, embora ocasionado pelo pecado de outrem (3.24-29), ele
foi permanentemente excluído. Assim, morreu... Moisés, servo do SENHOR (5) até
à morte, e foi enterrado em sepultura desconhecida (6). Ninguém vai adorar
junto ao túmulo do mediador do antigo concerto nem do Mediador do novo. O registro
bíblico enfatiza que, apesar de idade avançada, seus olhos nunca se escureceram
(7). Esta observação reforça que ele viu a terra em sua totalidade e, assim,
entrou em plena posse legal. A frase: Nem perdeu ele o seu vigor, dá a entender
que sua morte não foi natural, mas ocorreu conforme o dito do SENHOR (5). O
versículo 8 registra o período de trinta dias de luto oficial.
Jack Ford; A. R. G.
Deasley. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol.
1. pag. 492.
4. Moisés nomeia seu
sucessor (Dt 31.1-8).
Dt 31.1 Passou Moisés
a falar. Tal como no caso de Deu. 29.1, este versículo tem sido considerado a
conclusão do que foi dado antes, ou introdução do material que aparece em
seguida. A Septuaginta trata este versículo como a conclusão do capítulo 30;
mas as traduções, de modo geral, tratam-no como a introdução ao capítulo 31.
Moisés, pois, dá prosseguimento ao seu terceiro discurso, levando-o à sua conclusão,
por meio de suas palavras de despedida (vss. 1-8).
As tradições judaicas
imaginam a cena em que Moisés foi diante de cada tribo, separadamente, a fim de
entregar suas instruções finais. Seja como for, todo o povo de Israel ouviu a
outorga da mensagem, sem importar quais métodos tenham sido empregados.
Dt 31.2 O trecho de
Deuteronômio 34.7 também nos fornece a idade de Moisés, por ocasião de sua
morte. Ele viveu por três vezes quarenta anos. Alguns estudiosos pensam que
devemos considerar isso como termos gerais; sua vida ter-se-ia prolongado por
três gerações de quarenta anos, e também passando por três fases distintas.
Isso também exprime verdades, mas não há razão nenhuma para duvidarmos de que
ele realmente atingiu essa idade. Ver a introdução ao livro de Êxodo,
imediatamente antes da exposição de um gráfico que apresenta as idades
comparadas dos antediluvianos, dos patriarcas e daqueles que viveram durante a
era do reino. De Adão a Noé, as idades ficavam na faixa entre os novecentos e
os mil anos; de Noé a Abraão, entre os duzentos e os seiscentos anos; e os
patriarcas viveram entre os cem e os duzentos anos. Durante a era do reino,
entrou em efeito a média de setenta anos. Portanto, a idade de Moisés
comparava-se com a idade dos mais jovens entre os patriarcas.
Moisés Não Pôde
Entrar em Canaã. Ver a história sobre isso em Núm. 20.1- 13. Cf. Deu. 3.27. E
ver Núm. 20.12 quanto às diversas razões pelas quais ele foi barrado. É
provável que os trechos de Deu. 1.37 e 3.23 nos forneçam a maior de todas as razões.
Ver as notas expositivas sobre esses trechos. Foi “por causa de Israel”, mais
do que por sua própria culpa, que a Moisés foi negada a permissão de entrar na
Terra Prometida. Em outras palavras, a identificação de Moisés com o povo de
Israel era tão profunda que ele precisou compartilhar da sorte da geração mais
velha, rebelde.
Tipologia. Moisés, um
tipo da lei, não poderia mesmo introduzir o povo de Israel na Terra Prometida,
mas chegou somente até a fronteira. Porém Cristo, o segundo Moisés, por meio do
sistema da graça-fé, foi capaz de assim o fazer. A Terra Prometida simboliza a
salvação. Vemos, pois, que mesmo dentro desse simbolismo, a salvação não ocorre
por meio da obediência à lei mosaica, mas mediante a graça de Deus em Jesus
Cristo.
“Não Moisés e a sua
lei, ou a obediência a ela, mas Jesus e a Sua retidão é que podem introduzir o
povo na Canaã celestial" (John Gill, in loc.).
Moisés Expressou Aqui
a Sua Fraqueza. Ele não podia mais entrar e sair com facilidade, ou seja,
cumprir os seus deveres, por causa de um corpo debilitado pela idade. Não
obstante, o trecho de Deu. 31.1-7 refere-se ao contínuo vigor físico e até
juvenil de Moisés. Todavia, devemos entender isso de uma maneira comparativa.
Em comparação com outros, ele continuava juvenil para a sua idade. Mas no tocante
às tarefas cansativas que tinha de realizar, então, sim, ele era idoso demais.
Dt 31.3 O Senhor teu
Deus passará diante de ti. Yahweh tinha prometido que seguiria diante do povo
de Israel à Terra Prometida, preparando o caminho, e então acompanharia os
hebreus na conquista militar. Cf. essa informação com o que se lê em
Deuteronômio 1.37,38; 3.18-28 e 7.17-26, onde são ditas as mesmas coisas e onde
as notas expositivas devem ser consultadas.
Josué já havia sido
nomeado como o sucessor de Moisés. Josué não seria um grande profeta como
Moisés, o qual conheceu a Yahweh face a face; mas seria um excelente
instrumento para a missão de introduzir Israel na Terra Prometida, apto como
general e um excelente líder. Ver sobre ele no Dicionário. A missão de Josué
era diferente da missão de Moisés, embora fosse uma missão necessária, que
confirmava e ampliava o poder e a missão de Moisés. Os dois faziam parte da
mesma equipe, e não competiam um com o outro.
Ό programa de Deus
para a nação de Israel não dependia de nenhum líder humano. Dependia somente do
poder de Deus, para que fossem cumpridas as promessas do pacto” (Jack S. Deere,
in loc.).
Destruirá estas
nações. Sete povos diferentes tinham de ser destruídos. Ver as notas
expositivas a esse respeito em Êxo. 33.2 e Deu. 7.1. Esses povos eram mais
numerosos e mais poderosos do que Israel, mas faltava-lhes a ajuda divina, pelo
que sucumbiram diante de um poder militar inferior. Quanto a isso, ver Núm.
13.31 e Deu. 7.1.
Dt 31.4 Como fez a
Seom e a Ogue. A derrota desses dois monarcas ficou registra- da no capítulo 21
do livro de Números. As vitórias sobre esses dois reis tinham sido apenas
vitórias preliminares, que tinham servido para infundir coragem aos israelitas,
ajudando-os a atirar-se no cumprimento de um tremendo labor. Yahweh afirmou
especificamente que 0 resto da campanha militar obteria um resultado similar,
pelo que aquelas vitórias se tornaram lições objetivas, como garantias de
vitórias ainda maiores que viriam em seguida. A mudança de liderança não seria
prejudicial para os filhos de Israel. Afinal de contas, a realização era de
Yahweh, e não dos homens.
Dt 31.5 Quando, pois,
o Senhor vos entregar estes povos. Israel teria de efetuar uma longa campanha
militar a fim de obliterar totalmente aqueles povos. Essa tarefa só terminou
nos dias de Davi e Salomão. Quanto ao modo de proceder na guerra santa, ver
Deu. 7.1-5. Os inimigos de Israel tornaram-se no temido hrm, palavra hebraica
que indica um sacrifício totalmente devotado a Yahweh, como holocausto. Cf.
Deu. 20.10-18, onde achamos algumas modificações que permitiam que mulheres e
animais domesticados fossem poupados, ao passo que todos os homens deveriam ser
destruídos. Mas ali estão em pauta cidades distantes, isto é, aquelas para bem
além das fronteiras da Terra Prometida, e não no âmbito da Terra Prometida.
Todas as cidades dentro dessas fronteiras estavam agora sob o hrm, de acordo
com o que nenhum ser vivo podia ser poupado, embora as casas pudessem ser
ocupa- das. Certas maneiras de agir tinham sido determinadas por Yahweh, pelo
que Ele foi retratado como o general do exército de Israel. Por isso mesmo, a
guerra era considerada santa.
Dt 31.6 Não vos
deixará nem vos desamparará. A promessa de Yahweh era suficiente para aliviar
os temores dos israelitas. Era impossível pensar que Yahweh falhasse ou
abandonasse o Seu povo. Assim sendo, Moisés não tinha razões para temer pelo
sucesso do labor futuro, por motivo de mudança de liderança, que estava ocorrendo
naquele momento crítico. Cf. o encorajamento dado por Yahweh, naquele momento
histórico, com outros incidentes similares, em Êxodo 4.21 e 9.15. Ver Deu.
1.21,29, quanto a paralelos diretos. Parece que 0 apóstolo Paulo se utilizou
das palavras deste versículo em I Coríntios 16.13, onde ele exorta os seus
discípulos a serem heróis espirituais na batalha espiritual.
Dt 31.7 Chamou Moisés
a Josué. Moisés transmitiu a mensagem divina de encorajamento a seu sucessor,
Josué. E deu-lhe uma comissão que 0 orientaria em sua tarefa. O objetivo era entrar
na posse da herança que por direito divino cabia aos filhos de Israel,
resultante da promessa de Yahweh a Abraão. Ver sobre 0 Pacto Abraámico em Gên.
15.18, que incluía a promessa da Terra Prometida. Assim foi que Josué levou
avante a tradição sagrada de liderança que vinha desde Abraão e servia ao mesmo
Deus. Estando ele dentro daquela augusta tradição, Josué nada tinha para temer.
“Moisés preparou
Josué para a gigantesca tarefa que havia à frente. Foi por idênticas razões que
Jesus preparou os Seus apóstolos. Todos aqueles cuja vida fica envolvida na sua
tarefa esforçar-se-ão para prover uma liderança adequada aos seus
continuadores, pois a grande preocupação de um líder religioso deve ser a
sucessão de homens piedosos que haverão de segui-lo” (Henry H. Shires, in
loc.). Cf. Jos. 1.5, onde Josué repetiu essas palavras de encorajamento a
outros líderes.
“Nessas palavras,
Moisés entregou formalmente a incumbência de dirigir o povo de Israel a Josué,
que deveria liderá-los na travessia do Jordão e além” (Ellicott, in loc.).
Dt 31.8 O Senhor é
quem vai adiante de ti. Este versículo repete os elementos vistos nos dois
versículos anteriores. Israel enfrentaria adversários muito mais fortes, mas
não precisaria ficar desencorajado, porquanto um poder mais do que adequado
tinha sido posto à disposição deles para cumprirem a contento a sua missão.
O crente precisa
confiar na presença fortalecedora de Deus. Assim também Josué foi instruído a
esperar grandes coisas da parte de Yahweh. O homem que esteja empenhado em
cumprir a sua missão pode esperar receber um grande sucesso.
Coisa alguma é tão
bem-sucedida como o sucesso.
(Lord Illingworth)
Requeimar sempre com
essa chama que mais se parece com uma gema;
manter esse profundo
êxtase, isso é ser bem-sucedido na vida.
(Walter Pater)
O verdadeiro sucesso
consiste no labor.
(Robert Louis
Stevenson)
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 872-873.
A Nomeação do
Sucessor (31.1-8)
A morte de Moisés
estava se aproximando. Por dois motivos, ele não podia liderar os israelitas na
conquista de Canaã. Primeiro, a idade exaurira sua capacidade de liderança.
Já não podia sair e
entrar (1; mas cf. 34.7). Segundo, ele fora divinamente proibido por Deus de
cruzar o rio Jordão por causa de um pecado cometido (cf. 4.21,22; Nm 20.12).
Deus, então, lhe indicara o sucessor. Já ordenado como líder da nação (Nm
27.18-23; Dt 1.38), Josué (3) foi a pessoa divinamente nomeada para o cargo.
Mas o próprio Deus seria o verdadeiro Líder dos israelitas, os quais poderiam
esperar vitórias no futuro como as obtidas sobre Seom e Ogue (4,5; cf.
2.32—3.10). Josué não precisava ter medo (6), e pela mesma razão: o SENHOR,
pois, é aquele que vai adiante de ti (6-8).
Jack Ford; A. R. G.
Deasley. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol.
1. pag. 482-483.
AS PALAVRAS DE DESPEDIDA DE MOISÉS E A APRESENTAÇÃO DE
JOSUÉ (31:1-8)
À medida que sua
morte se aproximava Moisés apresentou uma série de desafios ao povo (1-6), a
Josué (7, 8) e aos sacerdotes (9-13), cada um relacionado, de algum modo, à
preservação da aliança. O primeiro deles foi o desafio a Josué. Esta divisão
(1-8) revela vários elementos do padrão pactuai típico.
1. O versículo diz
literalmente: “Moisés foi e falou estas palavras (coisas) a Israel”. A LXX e um
antigo manuscrito hebraico interpretam esta frase como uma indicação de que
Moisés terminou de falar. Algumas versões inglesas (AV e RSV) e a SBB
consideram estas palavras como uma continuação do discurso anterior e que,
assim, se referem ao que vem a seguir. A LXX considera a expressão uma
referência àquilo que a precede.
Os comentaristas se
dividem em suas opiniões, alguns considerando os últimos capítulos como
apêndices sem ligação direta com o que os precede, enquanto outros consideram
estes últimos capítulos como uma continuação do discurso de Moisés no capítulo
30. De fato, a possibilidade de uma transferência de autoridade para Josué
depois da morte de Moisés já ter sido sugerida em 1: 38 e 3: 28 torna
argumentável, em termos da estrutura literária total, que o que fora a
princípio apenas um indício seja agora realizado de maneira plena e aberta.
2. A idade de Moisés
é dada, cento e vinte anos (34:7; cf. Êx 7:7). A significância do ntímero não é
clara. Na literatura egípcia 110 anos era o tempo ideal de vida para um homem
sábio e numerosos exemplos são conhecidos. O fato da vida de Moisés ser dez
anos mais longa pode ser um recurso literário para indicar a sua superioridade
sobre os sábios do Egito. Além disso, 120 é três vezes quarenta (cf o tempo
passado no deserto, 2:7) e pode muito bem denotar três gerações. Em qualquer dos
casos Moisés chegou a ser um ancião que pôde ver seus netos crescerem até a
maturidade. Em idade tão avançada Moisés confessava que já não era uma pessoa
ativa (Já não posso entrar e sair; cf. 28: 6; Js 14:11). Além do mais, Javé o
proibira de atravessar o Jordão (3:23-29; 32:50-52; Nm 20:11,12).
3-6- O líder de
Israel continuaria a ser Javé. O motivo da Guerra Santa está claramente
presente aqui (cf 1: 30). Na prática o representante de Javé seria Josué (1:
37, 38; 3: 28; 31: 7s., 23). Na conquista da terra prometida, todavia, Javé
desapossaria os habitantes, tal como desapossara Seom e Ogue. À luz desta
promessa e da liderança final de Javé,
Josué foi exortado a
ser forte e resoluto (7, 23; Js 1: 6-9, 18). Javé teu Deus marcha contigo. Ele
não te deixará nem te abandonará (JPSA).
7, 8. Josué já fora
consagrado por Moisés perante Eliazar e a congregação, para assumir a liderança
depois de sua morte (1: 38; cf Nm 27: 18-23). Repetindo a promessa da presença
divina dada ao povo, Moisés desafia Josué publicamente a conduzir Israel à
terra prometida. O conceito da Guerra Santa fica bem próximo da superfície
nestes versículos. Javé estaria com Josué e não o abandonaria nos conflitos de
dias vindouros. Por isso não havia necessidade de que ele ficasse temeroso ou
desanimado.
J.
A. Thompson. Deuteronômio. Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 276-277.
II -
MOISÉS, PASTOR DE ISRAEL
1. Homem de Deus.
Sl 77.20 O teu povo,
tu o conduziste, como rebanho. Israel era o rebanho de Deus, que Ele tirou da
escravidão no Egito. Israel era o Seu rebanho, quando se aproximou das águas
temíveis. Os subpastores foram Moisés e Arão. Eles chegaram à beira-mar,
estando o mar à frente e o exército egípcio avançando por trás. O braço
poderoso de Deus se ergueu, e as águas foram divididas. Um caminho se formou no
meio do mar, e os homens, admirados, seguiram por aquele caminho em segurança.
O Pastor divino não perdeu uma única ovelha. Cf. Sal. 23; 78.52; 79.13; 100.3,
e ver no Dicionário o verbete intitulado Pastor. Quanto à liderança do Senhor
durante o êxodo, ver Êxo. 13.21; 15.13 e 78.52,53. Quanto à liderança de Moisés
e Arão, ver Núm. 33.1. Cf. Osé. 12.13; Isa. 63.11,12 e Miq. 6.4. Nos países
orientais, o pastor lidera, em vez de tanger as ovelhas. O povo de Israel não
teria atravessado o mar Vermelho se Yahweh não houvesse seguido à frente deles,
tornando aquela vereda um caminho possível e seguro. Oh, Senhor, concede-nos
tal graça!
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2291.
Sl 77.20. Se o
versículo final parece ser um anticlímax, é deliberado. As demonstrações de
poder (como Elias haveria de descobrir), são meios, e não fins; a preocupação
principal de Deus é para com Seu rebanho. Com aquela palavra pouca lisonjeira,
mas que não deixa de consolar, e com a liderança humana mista de Moisés e Arão,
o salmo chega ao fim, numa distância não longe demais do salmista e do seu dia
de coisas pequenas, numa situação que não deixava de marcar uma etapa na
peregrinagem de Israel, e que era destinada a ser não menos formativa do que o
começo espectacular.
DEREK KIDNER, M. A. Salmo. Introdução
e Comentário.
Editora Vida Nova. pag. 308-309.
Ele tomou o seu povo
Israel sob a sua própria liderança e proteção (v. 20): Guiaste o teu povo, como
a um rebanho. Por estarem eles fracos e impotentes, propensos a vaguear como um
rebanho de ovelhas, e sujeitos ao ataque de animais predadores, Deus seguiu na
frente deles com todo o cuidado e ternura de um pastor, para que não viessem a
se perder. A coluna de nuvem e fogo os guiava; mas isto não é levado em
consideração aqui, somente a liderança de Moisés e Arão, por cujas mãos Deus os
guiou; ambos não poderiam ter feito isto sem a direção de Deus, e Deus agiu com
eles e por meio deles. Moisés era o seu governador, Arão, o sumo sacerdote;
eles eram guias, conselheiros e soberanos sobre Israel, e por meio destes
homens o povo foi guiado por Deus. A administração correta e bem-aventurada das
duas grandes ordenanças representadas pela magistratura e pelo ministério
sacerdotal é, mesmo não sendo um milagre da mais alta ordem, uma prova de
grande misericórdia para qualquer povo, assim como a coluna de nuvem e fogo o
foi para Israel na sua peregrinação no deserto.
Este salmo termina de
forma abrupta, e não aplica estes antigos exemplos do poder de Deus às aflições
presentes da igreja, como seria de esperar. Entretanto, tão logo este homem
justo começa a meditar acerca destas coisas, ele percebe que chegou a uma nova
percepção; a simples abordagem desta questão lhe deu luz e alegria (SI
119.130); os seus medos desapareceram de forma estranha e repentina, de forma
que não seria mais necessário prosseguir neste raciocínio; ele, então, seguiu o
seu caminho e foi se alimentar, e a sua fisionomia deixou de ser triste, tal
como se deu com Ana, 1 Samuel 1.18.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo
Testamento Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. pag. 484.
2. Homem de oração.
Êx 33.13 Rogo-te que
me faças saber... o teu caminho. Com quanta frequência enfrentamos problemas
para os quais precisamos de iluminação. Não basta sermos bem versados nas
Escrituras; também não basta orar. Algumas vezes precisamos do toque místico da
presença de Deus a fim de podermos entender o Seu plano e o modus operando
desse plano. Oh, Senhor, concede-nos tal graça! A fé chama-nos à ação quando
não podemos ver. Mas às vezes é uma grande ajuda ver alguma coisa! É de
prestimoso auxílio ser testemunha do poder de Deus. Nenhum homem é tão forte
que não precise desse tipo de ajuda, mesmo que só ocasionalmente. Deus se
conserva em meio às sombras, para ver o que podemos fazer com os dons e a graça
que Ele nos tem outorgado. Ele nos dá oportunidades e espera que usemos nossos
próprios dons e poderes. Ele provê para Seus filhos uma boa educação, esperando
da parte deles que usem essa instrução. Mas ao notar que eles têm mais para
fazer do que são capazes de fazer, Ele sai das sombras e provê a assistência
divina.
Esta nação é teu
povo. Em Êxodo 32.7, Yahweh pareceu ter renegado a Seu povo, chamando-o de povo
“de Moisés” e não Dele mesmo. Ver as notas expositivas sobre aquele versículo.
A primeira intercessão de Moisés lembrou Yahweh da relação especial que Ele
mantivera com Israel como um filho. Ver Êxo. 32.7-14. Abraão, Isaque e Jacó
tinham que ser levados em consideração, sem falar sobre o Pacto Abraâmico.
Sendo esses fatos indiscutíveis, Moisés sentiu ser necessário que Yahweh
reafirmasse Suas boas intenções no tocante a Israel, garantindo a Sua presença,
para que a marcha até à Terra Prometida tivesse bom êxito.
Êx 33.18 Rogo-te que
me mostres a tua glória. Moisés estava sempre pronto para fazer outra petição
audaciosa. Visto que Yahweh tinha prometido a Sua presença e orientação, Moisés
agora anelou por ver alguma manifestação especial de Deus. E pediu uma
poderosíssima experiência mística. Moisés desejava que Deus se manifestasse de
modo totalmente franco a ele. Então Moisés entenderia o caráter e o poder de
Deus de uma maneira que não tinha sucedido ainda até ali. Yahweh satisfaria
esse pedido, embora com limitações (vs. 23), pois uma revelação completa de
Deus só aconteceria na eternidade, e como uma questão de progresso espiritual
eterno, não podendo ser dado como um único acontecimento. Moisés estava pedindo
demais, mas é melhor pedir demais, com sinceridade, do que não ser um
inquiridor. É melhor pedir demais do que pedir a menos. É melhor crer demais do
que crer a menos. Moisés anelava pela chamada visão beatilica (ver sobre isso
na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia). Mas essa visão é uma questão
de glorificação eterna, e não de um único acontecimento dentro do tempo. Essa
experiência inclui a participação na natureza divina, de um filho com seu Pai
celeste. As expectações de Moisés eram demasiadas para este lado da vida, mas
seu zelo obteve para ele experiências tremendas, embora não tudo quanto ele
esperava. Ademais, 0 que ele havia esperado estava muito acima do escopo da
experiência humana mortal. Algo visível e glorioso haveria de ser dado, mas
Moisés não veria a essência mesma da deidade, e, sim, alguma manifestação de
Deus. “Tal- vez esse tenha sido o mais alto favor que já foi concedido a um ser
humano, antes da encarnação de nosso Senhor* (John Gill, in loc.).
“Embora os homens não
pudessem ver a Deus, eles puderam contemplar a glória que indicava a Sua
presença (Êxo. 40.34; Núm. 14.10,22; 16.19; Eze. 11.23”).
CHAMPLIN, Russell Norman,
Antigo Testamento Interpretado versículo
por versículo. Editora Hagnos. pag. 455-456.
A promessa da presença de Deus (33.12-17).
Estes versículos
pintam a terceira vez que Moisés intercedeu pelo povo. Na primeira vez
(32.11-14), ele obteve a moderação da ira de Deus sobre o povo. Na segunda vez
(32.30-35), obteve o perdão para os israelitas e uma promessa modificada de
levá-los a Canaã. Desta vez, Moisés recebeu a garantia da plena restauração dos
filhos de Israel ao favor de Deus e do restabelecimento total da presença de
Deus com eles.
Moisés sabia que Deus
renovara a ordem para ele fazer subir a este povo (12) a Canaã; também sabia
que Deus o favorecera com graça pessoal. Todavia, estava confuso quanto ao modo
ou com quem seria feita a viagem. Rogou uma revelação do teu caminho (13), de
forma que conhecesse Deus ainda com mais clareza e nitidez e encontrasse graça
aos olhos divinos. Moisés não era espiritualmente egoísta; não estava pedindo a
bênção de Deus somente por prazer pessoal. Assim, acrescentou: Atenta que esta
nação é o teu povo; sentia-se inadequado para conduzir o povo sem a garantia de
que Deus iria com ele.
Na verdade, Moisés
não queria conduzir o povo a menos que Deus estivesse com eles: Se a tua
presença não for conosco, não nos faças subir daqui (15). Esta presença de Deus
em sua plenitude demonstraria que Moisés e o povo foram totalmente restaurados
à graça (16), e seria a verdadeira marca de supremacia entre as nações. A única
justificativa para a existência de Israel como nação era ser inteiramente do
Senhor.
Quando a igreja perde
a plenitude do Espírito de Deus, ela deixa de ser diferente como instrumento de
Deus.
As súplicas de Moisés
prevaleceram. Deus afirmou: Irá a minha presença contigo para te fazer
descansar (14). Que garantia esplendorosa! O espírito intranquilo de Moisés
suplicara que Deus poupasse o povo. Ele quebrara as tábuas de pedra, destruíra o
ídolo e dirigira a execução dos transgressores; contudo, não descansou até que
lhe fosse garantido que a graça de Deus seria completamente restabelecida ao
povo. Os servos de Deus não conseguem ter paz até que saibam que Ele respondeu
as orações. Quando responde e a presença divina é certeza, há grande tranquilidade.
Deus condescende em
responder o clamor do homem. Declarou a Moisés: Farei também isto, que tens
dito (17). Há coisas que Deus faz porque os crentes oram, caso contrário, ele
não faria. A integridade pessoal do intercessor é vital; Deus acrescentou: Porquanto
achaste graça aos meus olhos; e te conheço por nome. Quem suplica a Deus deve
ser o primeiro a se certificar se tem uma relação certa com Deus. “A oração feita
por um justo pode muito em seus efeitos” (Tg 5.16).
Identificamos “A
Presença Divina” nos versículos 1 a 17. 1) E sujeita à provocação, 1-6; 2)
Honra a separação, 7-11; 3) Responde a intercessão, 12,13,15,16; 4) Concede a restauração,
14,17.
O pedido de Moisés para ver a glória de Deus (33.18-23).
A maioria dos crentes
se satisfaz com a experiência da presença de Deus com muito menos que Moisés.
Eis um homem a quem Deus dera mais que a qualquer outro, e ainda queria mais.
Quanto mais perto nos aproximamos do céu, mais do céu queremos; quanto mais
experimentamos de Deus, mais de Deus queremos. Moisés implorou: Rogo-te que me
mostres a tua glória (18). “A glória de Deus se manifesta na mente mortal pelas
evidências de sua bondade. Contudo, esta revelação a Moisés foi — de certo modo
incompreensível por nós que não a vimos — uma visão direta da bondade divina
não turbada pelas limitações de suas manifestações habituais através das formas
terrenas.” “O que Moisés desejava era uma visão da glória ou do ser essencial
de Deus, sem qualquer figura e sem véu.” Tratava-se de pedido ousado. Deus
prometeu a Moisés concessão parcial da petição. Toda a sua bondade (19) passaria
por diante de Moisés. Aira de Deus arrefecera e suas ameaças foram postas de
lado. Ele estava pronto para revelar sua grande misericórdia e compaixão
àqueles que, embora indignos, experimentariam sua graça. A proclamação do nome
do SENHOR era anúncio de compaixão, clemência, longanimidade, misericórdia e
fidelidade (cf. 34.6, ARA).
O Senhor disse a
Moisés que ele não podia ver a face de Deus e viver (20). Só no mundo vindouro
poderemos ter totalmente a visão beatífica. Moisés tinha de se satisfazer, enquanto
fosse mortal, com algo menos que desejava. Por ora, não nos é permitido
alcançar e possuir tudo que nos espera no futuro. Mas naquele dia “veremos face
a face” (1 Co 13.12).
Deus prenunciou a
teofania (a manifestação visível de si mesmo) a Moisés, que mais tarde a veria
(cf. 34.5-7). Deus prometeu colocá-lo sobre a penha (21) e sua glória passaria.
Quando acontecesse isso, Deus cobriria Moisés com a mão (22) enquanto Ele passasse,
mas retiraria a mão para que Moisés o visse pelas costas (23). Desta forma, Moisés
veria “o reflexo do resplendor que Ele deixaria atrás de si, mas que, ao mesmo tempo,
indicaria palidamente o que seria a plena magnificência da sua presença”. Para esta
experiência, a linguagem humana seria inadequada, como se deu com Paulo quando foi
levado ao “terceiro céu” (2 Co 12.2). Os filhos de Deus que têm coração puro
recebem visões de Deus que são enigmas para a mente mundana e incompreensíveis
para o coração carnal. Mas para os santos em Cristo estas visões trazem o céu à
terra, ao mesmo tempo que ainda arde neles o desejo de ver as glórias do céu.
Leo
G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 1. pag. 231-232.
Moisés cuida dos
interesses que tem na presença
de Deus, e busca, da parte do Senhor, expressões de bondade e misericórdia: Tu
disseste: Conheço-te por teu nome, como um amigo e confidente particular,
também achaste graça aos meus olhos, acima de qualquer outro. Agora, pois, diz
Moisés, se é isso mesmo, se tenho achado graça aos teus olhos, rogo-te que
agora me faças saber o teu caminho, v. 13. O povo havia perdido os benefícios
do favor que Deus lhes havia expressado. E o pior é que não procuraram
reavê-los. Portanto, Moisés enfatiza e pede aquilo que Deus lhe havia
prometido. Embora se considere indigno das bênçãos do Senhor, ele espera não
ter se excluído dos seus benefícios. Através disso ele se firma ainda mais com
o Deus precioso: “Senhor, se fores fazer qualquer coisa por mim, faça pelo
povo.” Assim o nosso Senhor Jesus, em sua intercessão, se apresenta ao Pai como
alguém em quem Ele sempre tem prazer, e obtém misericórdia por nós. Pois somos
aqueles em quem Ele, por misericórdia, se desagrada. É assim que somos aceitos
no Amado. Desse modo também os homens de espírito público se comprazem em
buscar os seus interesses tanto com Deus como com os homens, visando o bem
público. Observe o que Moisés anseia fervorosamente: Faça com que eu venha a
saber o teu caminho, para que isto seja uma evidência de que achei graça aos
teus olhos. Observe que a direção divina é uma das melhores evidências do favor
divino. Há uma maneira de sabermos se achamos graça aos olhos de Deus: se
achamos em nossos corações a graça que nos dirige e anima no caminho do nosso
dever, podemos saber que fomos beneficiados pelo bondoso Senhor. A boa obra de
Deus em nós é a evidência mais palpável da sua boa vontade para conosco. Ele
sugere que o povo também, embora muito indigno, estava em um relacionamento com
Deus: “Considere que esta nação é o teu povo, um povo por quem tu fizeste
grandes coisas, remiste para Ti mesmo, e levaste em aliança contigo mesmo;
Senhor, eles pertencem a Ti, não os abandone.” O pai ofendido considera isto:
“Meu filho é tolo e obstinado, mas ele é meu filho, e eu não posso
abandoná-lo.”
1. O humilde pedido
que Moisés faz: Rogo-te que me mostres a tua glória, v. 18. Moisés havia estado
recentemente no monte com Deus, havia permanecido ali por bastante tempo, e
desfrutado de uma comunhão tão íntima com Deus como nenhum outro jamais tivera
neste lado do céu. E ainda assim ele está desejando conhecer mais a este Deus
maravilhoso. Todos aqueles que são efetivamente chamados ao conhecimento de
Deus e à comunhão com Ele, embora não desejem nada mais do que a sua gloriosa
presença, passam a desejar mais e mais dele, até chegarem a ver como são
vistos. Moisés havia prevalecido maravilhosamente junto ao Deus bondoso,
recebendo um favor após outro, e o sucesso de suas orações o encorajaram a ir
ainda mais adiante e buscar a Deus. Quanto mais Moisés tinha, mais ele pedia.
Quando estamos em uma boa situação diante do trono da graça, devemos tentar
preservá-la e melhorá-la, e bater enquanto o ferro está quente: “Rogo-te que me
mostres a tua glória. Faça-me vê-la” (assim é a palavra); “torne-a de um modo
ou de outro visível, e permita que eu possa suportar a sua visão.” Isto não
significa que Moisés fosse tão ignorante a ponto de pensar que a essência de
Deus pudesse ser vista com olhos físicos. Mas, tendo até aqui apenas ouvido uma
voz saindo da coluna de nuvem ou de fogo, ele desejava ver alguma representação
da glória divina, como Deus entendesse que fosse adequado lhe mostrar. Não
convinha que o povo visse qualquer imagem semelhante quando o Senhor lhes
falasse, para que não se corrompessem. Mas Moisés esperava que não houvesse
perigo em ver alguma manifestação semelhante. Moisés desejava algo além daquilo
que já tinha visto. Se este pedido tivesse simplesmente a intenção de ajudar a
sua fé e devoção, este seria um desejo louvável. Mas talvez houvesse nisto uma
mistura da fraqueza humana. Deus quer que andemos pela fé - não por vista -
neste mundo. E a fé vem pelo ouvir. Alguns pensam que Moisés desejava uma visão
da glória de Deus como um sinal de sua reconciliação, e um anseio desta
presença que o Senhor lhes havia prometido. Mas ele não sabia o que pedia.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo
Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 339-341.
Êx 18. Rogo-te que me
mostres a "tua glória. Deus acabara de atender seu pedido quanto à
continuação de Sua presença com Israel. Agora, a oração de Moisés é ver a
kãbôd, a glória manifesta (literalmente “peso” ) de YHWH. Equivale a pedir a
Deus para vê-lo como Ele é: nestes termos, porém, é um pedido impossível. O
homem mortal não pode suportar a visão de Deus (v. 20). Em linguagem pictórica
bem vivida, a passagem afirma que o homem pode apenas contemplar o lugar por
onde Deus passou (vv. 22,23) e assim conhecê-lo pelos Seus atos no passado e no
presente. Deus como Ele é, em todo o Seu mistério, não podemos conhecer ou
apreender. O homem precisaria esperar a vinda de Jesus Cristo (Jo 14:9) para
ter uma revelação plena de Deus. Não há contradição entre esta passagem e
24:10, onde os anciãos viram “ o Deus de Israel” (cf.Gn 32:30). Tudo que viram
foi a “ pavimentação de safira” que ficava sob Seus pés: tudo que Isaías viu
foram as abas das vestes reais que enchiam o vasto átrio do Templo (Is 6:1).
R.
Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 218.
Dt 3.23 De repente
vemos Moisés, entusiasmado diante de todas as promessas de Yahweh acerca da
conquista do ocidente, anelante para reverter o juízo que caiu sobre ele por
causa da questão da água que saiu da rocha. Ver Núm. 20.12, quanto a notas que
explicam no que consistiu exatamente o pecado de Moisés. O livro de
Deuteronômio adiciona um discernimento mais profundo. Moisés, por estar
identificado com 0 rebelde povo de Israel, teve de levar vicariamente a culpa
deles; e, por essa razão, não pôde entrar na Terra Prometida. Esse é um
discernimento que fala sobre Moisés como tipo da lei, que pode conduzir até
Cristo, mas que não pode realizar a obra de Cristo, ou seja, a salvação,
simbolizada pela entrada na Terra Prometida. Já pudemos ver esse discernimento
em Deu. 1.37, cujas notas também se aplicam aqui.
A intercessão de
Moisés quase obtivera êxito, poderosa como tinha sido. Mas quando orou em
proveito próprio, nada aconteceu. Não porque sua oração tivesse sido fraca, mas
porque não poderia reverter a decisão de Yahweh, já que não fazia parte da
vontade de Deus que ele entrasse na Terra Prometida. Ver no Dicionário os
artigos intitulados Oração e Intercessão.
Moisés tinha iniciado
a obra. Mas não pôde vê-la terminada enquanto vivo no corpo. Josué terminou a
obra da conquista com grande sucesso, pelo que Moisés teve essa consolação.
Ademais, em espírito, não tenho dúvida, ele viu o sucesso final daquilo que
havia iniciado, fazia tanto tempo, no Egito.
Êx 3.24 Que Deus há
nos céus ou na terra...? Moisés atribuiu a Deus todos os feitos que tinham
ocorrido. O Deus Todo-poderoso estivera presente em tudo. Ninguém poderia ter
livrado Israel da escravidão no Egito. Ninguém poderia ter fornecido o
necessário para cerca de quatro milhões de pessoas em um deserto, pelo espaço
de quarenta anos. O poder divino estivera sempre presente. A grandeza e o poder
tinham sido amplamente demonstrados. A realização era grandiosa demais para ter
sido um empreendimento meramente humano. Tinha sido um feito divino. Yahweh
destacava-se acima de quaisquer deuses imaginários. Nenhum homem poderia ter
feito o que foi feito, e nem alguma outra divindade; Yahweh (o Eterno) e El (0
poderoso) é que tinha feito tudo aquilo.
“... houve aquelas
instâncias admiráveis de poder divino, que impôs juízos contra homens ímpios,
reis e reinos; que livrou o Seu povo desses ímpios; que permitiu que Israel
entrasse na posse deles e de seus reinos; essas eram as obras admiráveis que
Moisés tinha em mira” (John Gill, in loc.).
“Em contraste com os
deuses das religiões naturais dos pagãos, o Deus de Israel é ímpar, pois Seus
atos poderosos testificam que Ele é o Senhor da história” (Oxford Annotated
Bible, comentando sobre este versículo).
O fio cortante do
argumento de Moisés foi: “Se tu, ó Yahweh, fizeste tudo isso, seria coisa de
somenos permitir-me entrar na Terra Prometida!”.
Dt 3.25 Rogo-te que
me deixes passar. Isso Deus faria se aplicasse o mesmo grande poder que
trouxera Israel aonde o povo se achava no momento (vs. 24). O Deus que tinha
feito o maior, sem dúvida poderia fazer o menor. Moisés queria entrar, e não
apenas ver ou ouvir sobre a boa terra que Deus havia prometido a Abraão.
Esta boa terra. Era
uma terra que manava leite e mel, uma terra excelente (ver Deu. 8.7,8; Êxo
3.8,17; 13.5; 33.3; Lev. 20.24; Núm. 13.27; 14.8; 16.13; Deu. 6.3; 11.9; Jos.
5.6).
“Ao que parece,
Moisés não percebeu que poderia buscar as obras de Yahweh e a Sua glória, ainda
mais claramente, no outro mundo” (Ellicott, in loc.).
Que está dalém do
Jordão. O autor sacro falava da perspectiva da Transjordânia. Moisés pensou que
permitir a entrada dele na Terra Prometida seria um feito pequeno em relação
com os Seus feitos grandiosos. Mas até mesmo um feito pequeno não pode suceder,
quando não está de acordo com a vontade de Deus.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 768.
O pedido de Moisés (3.23-29). Moisés não disfarça
seu desejo intenso de entrar na Terra Prometida. Os textos onde ele menciona
este desejo não realizado estão entre os trechos mais tristes de Deuteronômio.
A tragédia é que a pessoa que mais desejava entrar na terra achou-se impedida
por uma atitude de incredulidade, que não lhe era típica, e ato de loucura de
sua parte. Talvez não entendamos bem este impedimento, mas é ilustração clara
do princípio de que mais luz implica em maior responsabilidade.
Rogo-te que me deixes
passar, para que eu veja esta boa terra (25). Porém o SENHOR indignou-se muito
contra mim, por causa de vós (26). Certos estudiosos entendem que estas
palavras significam sofrimento puramente vicário de Moisés a favor do povo. De
comum acordo, no hebraico, a expressão por causa de vós é diferente da expressão
“por causa de vós” que aparece em 1.37. Pelo visto, um pensamento semelhante está
presente em ambos os lugares.
O SENHOR... não me
ouviu; antes, o SENHOR me disse: Basta; não me fales mais neste negócio. Há
quem considere que basta é uma ordem para parar de pedir; outros reputam que
Moisés já desfrutava de muitos privilégios e não precisava pedir mais. Contudo,
a metade da oração foi respondida. Foi-lhe permitido ver a terra desde o cume
do Pisga, perto, ainda que não pudesse entrar. E foi-lhe garantido que o
empreendimento que ele começara teria uma conclusão bem-sucedida por Josué
(28).
Esta não foi a última
vez que Moisés viu a terra. “Em um ‘monte santo’ (Hermom ou Líbano) Moisés e
Elias estavam com o Salvador do mundo, e conversaram acerca de uma conquista
muito mais gloriosa que Josué: ‘a partida de Jesus, que estava para se cumprir em
Jerusalém’ (Lc 9.31, NVI).”
Este parágrafo nos dá
insights sobre “Os Princípios da Oração”: 1) A oração deve começar com louvor,
24; 2) A oração deve ser feita com desejo veemente, 25; 3) A oração exige fé e
conduta obediente, 26; 4) A oração é respondida do jeito de Deus, 27,28.
Leo
G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 1. pag. 425.
A oração que Moisés
fez por si mesmo e a resposta de Deus à sua oração.
1. Sua oração foi
para que, se fosse a vontade de Deus, ele pudesse ir adiante de Israel,
cruzando o Jordão, para entrar em Canaã. Nesta ocasião, quando estava
encorajando Josué para lutar as batalhas de Israel, dando por certo que ele
deveria ser o líder do povo, Moisés sentiu um ardente desejo de ir, ele mesmo.
Este desejo não se expressa em nenhuma queixa apaixonada e impaciente, nem em
reflexões sobre a sentença sob a qual se encontrava, mas em humildes orações a
Deus, para que Ele graciosamente revertesse tal sentença. “Eu pedi graça ao
Senhor”. Observe que jamais devemos abrigar nos nossos corações qualquer desejo
que não possamos, pela fé, oferecer a Deus em oração. E devemos permitir que
aqueles desejos que são inocentes, sejam apresentados a Deus. Nós não temos,
porque não pedimos. Observe:
(1)0 que Moisés alega
aqui. Duas coisas: [1] A grande experiência que tinha tido da bondade de Deus
para consigo, no que tinha feito a Israel: “Já começaste a mostrar ao teu servo
a tua grandeza”. Senhor, completa o que iniciaste. Tu me permitiste ver a tua
glória na conquista destes dois reis e a visão me provocou assombro e gratidão.
Rogo-te que me deixes ver as realizações do meu Deus, meu Rei! Esta grande
obra, sem dúvida, será continuada e completada. Deixe-me ter a satisfação de
vê-la. Observe que quanto mais vemos da glória de Deus, nas suas obras, mais
desejamos ver. As obras do Senhor são grandiosas, e, portanto, são cada vez
mais buscadas por todos aqueles que têm prazer nelas. [2] As boas impressões
que tinham sido provocadas no seu coração por aquilo que ele tinha visto:
“Porque, que deus há nos céus e na terra, que possa fazer segundo as tuas
obras?” Quanto mais formos influenciados pelo que virmos de Deus, da sua
sabedoria, do seu poder e da sua bondade, melhor estaremos preparados para
novas revelações. Verão as obras de Deus aqueles que o reverenciam e admiram
nelas. Assim Moisés tinha se expressado, a respeito de Deus e das suas obras há
muito tempo (Êx 15.11), e ainda tem a mesma opinião de que não existem obras
dignas de comparação com as obras de Deus, Salmos 86.8.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo
Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 569.
3. Homem de fé.
A Coragem da Fé (11.23)
Foi a fé que
capacitou Anrão e Joquebede a esconder Moisés, já nascido [...] três meses
[...] porque viram que era um menino formoso; e não temeram o mandamento do rei
(Ex 2.2ss). A ordem era que cada infante masculino fosse lançado no rio (Ex
1.22). Mas os pais perceberam que este menino era formoso, i.e., bonito. O
adjetivo principesco ou magnífico transmite melhor a ideia do original. Todos
os pais têm orgulho de seus filhos e acham que são especiais; há uma dica aqui,
no entanto, de uma percepção profética de que esta criança tinha um destino
especial. Esta visão e fé deram aos pais a coragem de crer que Deus os ajudaria
a frustrar a ordem do rei. Eles não temeram (lit., não estavam apavorados ou
intimidados). Quando o bebê se tornou tão barulhento aos três meses que se
tornou impossível manter a sua presença em segredo, prepararam um berço
flutuante e designaram sua irmã maior a cuidar do menino. Em vez de lançá-lo no
rio, eles o colocaram sobre o rio, crendo que se Deus tinha um plano especial
para Moisés, Ele poderia de alguma forma preservá-lo. E Ele o fez, de tal forma
que se tornou uma história mais interessante do que as melhores histórias de
ficção.
A Escolha da Fé (11.24-26)
Os primeiros anos,
normalmente, são mais importantes do que os anos posteriores na vida da
criança. Felizmente, a mãe de Moisés esteve com ele quando ele era mais
moldável e deve tê-lo educado bem no conhecimento do único e verdadeiro Deus.
Como jovem, ele ponderou cuidadosamente a vida do povo simples e temente a Deus
da sua mãe e a vida resplandecente, mas corrupta da corte. Pela fé, Moisés,
sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó (24). Foi um
repúdio claro e definitivo, como o tempo aoristo sugere. Ele rompeu com a
realeza egípcia de uma vez por todas, escolhendo (lit., tendo escolhido),
antes, ser maltratado com o povo de Deus (25). A rejeição exterior foi o
resultado de uma decisão interior prévia. A habilidade de tomar decisões e de
escolher sempre o lado certo é a marca do caráter forte. Outra vez, o autor
está envergonhando estes cristãos hebreus em virtude da forma vacilante e
indecisa de eles se comportarem.
Moisés conhecia bem a
opressão cruel e a privação sofridas por este povo; ele não era ignorante ou
ingênuo. Mas ele pesou o sofrimento deles com o gozo do pecado, porque percebeu
que aqueles que sofriam eram o povo de Deus, portanto, interiormente
superiores, e se sairiam melhor no final, porque o gozo do pecado era apenas
por um pouco de tempo. Assim, as vantagens da corte egípcia eram vistas como
sendo superficiais e temporárias. Sua escolha, portanto, era inspirada pelo seu
modelo de valores: tendo, por maiores riquezas, o vitupério de Cristo (“o
estigma que está sobre o Ungido de Deus”, NEB) do que os tesouros do Egito. O
estigma continua presente! Muitos estudiosos modernos tentam de todas as
maneiras possíveis desfazer e desacreditar o caminho cristão, mas podemos estar
certos de que na medida em que tiverem êxito em tornar Cristo palatável ao
homem natural, nessa mesma medida moldaram um Cristo falso e imaginário. Que
conceito Moisés tinha de Cristo (lit., o Cristo)? Provavelmente o seu conceito
não era claro, mas seu conhecimento de que os hebreus eram o povo de Deus indubitavelmente
incluía um conhecimento vago de um Ungido prometido (1 Co 10.1-4). Embora sua
mente possa ter estado nebulosa quanto a detalhes, sua fé estava segura, tão
segura que por causa dela ele estava disposto a arriscar seu presente e seu
futuro.
Hebreus 11.26-28 A Nossa Confissão de Fé é Definitiva
O autor continua
mostrando que o sistema de valores de Moisés estava baseado em grande parte na
sua habilidade de olhar para o futuro: porque tinha em vista a recompensa (26).
Literalmente, a palavra apeblepen, “ele estava olhando”, significa “desviar o
seu olhar de todos os outros objetos e olhar para um único”. O tempo imperfeito
indica que este não era um interesse romântico ou caprichoso, mas um olhar
fixo. Ele continuou olhando com uma atenção fixa e séria; inevitavelmente o
resplendor egípcio dissipou-se completamente de sua mente. O segredo de escapar
do encanto sedutor do mundo é olhar tão longe para o futuro para perceber
duração e consequência.
Pela fé, portanto,
Moisés foi capaz de perceber os verdadeiros problemas da vida. Na superfície
parecia que ele estava escolhendo entre dor e prazer, mas, na realidade, era
entre piedade e pecado. Superficialmente, parecia ser uma escolha entre sua mãe
e a filha de Faraó, mas, na realidade, era uma escolha entre Cristo e o mundo.
Parecia que ele estava escolhendo entre pobreza e os tesouros do Egito; mas, na
verdade, era uma escolha entre céu e terra. Parecia uma escolha entre o deserto
e o trono; mas, na realidade, era entre a imortalidade e o esquecimento.
Além disso, pela fé,
ele foi capaz de distinguir o passageiro do permanente. O passageiro incluía 1)
o sofrimento do povo de Deus, 2) o gozo do pecado, 3) os tesouros do Egito, 4)
o vitupério de Cristo. O permanente incluía 1) o povo de Deus, 2) a pessoa de
Cristo, 3) o pagamento da recompensa.
Nos versículos 24-26,
vemos “As Qualidades da Fé Duradoura”. 1) Ela percebe a superioridade dos
valores morais e espirituais sobre os prazeres temporais e carnais, vv. 25,26.
2) Ela está certa de que os valores duradouros estão do lado de Cristo e do
povo de Deus, vv. 24,26. 3) Ela escolhe renunciar a uma vantagem passageira
para obter um ganho permanente, w. 25,26.
A Persistência da Fé (11.27)
Pela fé, deixou o
Egito, não temendo a ira do rei (27). De acordo com Êxodo 2.11-15, o êxodo
juvenil de Moisés foi, na verdade, uma fuga, instigada pelo medo. Portanto, é
mais provável que Hebreus esteja se referindo aqui à saída dignificada e
deliberada 40 anos mais tarde. A palavra katelipen, deixou, simplesmente
significa deixar para trás e não necessariamente sugere fuga. Em sua mocidade,
a fé que Moisés tinha era forte o suficiente para fazer a escolha básica e
final, mas ela precisava da maturação do deserto e da sarça ardente para
tornar-se à prova de pânico. O segredo do seu equilíbrio foi que ele ficou
firme, como vendo o invisível. Ele suportou resolutamente as ameaças e a
duplicidade de um Faraó colocado contra a parede e foi fortalecido porque a fé
vê o invisível; não somente a ordem invisível como tal, mas o “Invisível”
(masculino singular). A fé tem um radar espiritual que a descrença não tem (2 Rs
6.16-17; Dn 3.23- 25). Mas a grande marca distinta da fé bíblica é que ela está
firmada num Deus pessoal, não numa lei ou poder impessoal.
O Êxodo da Fé (11.28-31)
A verdadeira fé
sempre sai do Egito. Ela nunca fica. Na verdade, o versículo 27 é tanto um
prefácio como uma apresentação prévia desta seção, que consiste em esboçar os
pontos altos da migração do Egito para Canaã. A história aqui não é de todo
brilhante; uma descrença vergonhosa tornou a história acidentada, com
consequências trágicas.
Os cristãos hebreus
têm sido lembrados deste fato com muita intensidade. Mas a atenção agora está
no fato de que a nação nunca teria sido liberta da escravidão, e nunca teria
entrado em Canaã, se não fosse por aqueles que tiveram fé. Cada passo
importante era uma vitória da fé. Mas a dúvida nunca registrou avanços.
a) A Páscoa (11.28).
O primeiro passo preparatório essencial no Êxodo foi a Páscoa. Pela fé,
celebrou a Páscoa e a aspersão do sangue. O objetivo era escapar da espada do
destruidor dos primogênitos. Este ato de julgamento divino não era somente
necessário e justificado pela teimosia egípcia, mas foi simbólico da morte
eterna que é endêmica do Egito espiritual. Semelhantemente, o cordeiro morto
era simbólico do futuro Cordeiro de Deus, que tiraria o pecado do mundo (Jo
1.29). Não há escape, quer da escravidão egípcia ou da escuridão ou morte
egípcia, sem o aspergir do sangue. Mas note bem, a vida não depende apenas do
sangue derramado, mas do sangue aplicado. Somente o derramar do sangue não
teria protegido ninguém. Havia salvação somente à medida que o sangue era
aspergido individualmente na verga da porta e em ambas as ombreiras das casas
(Ex 12.23). A verdade aplica-se igualmente ao sangue do Cordeiro de Deus.
Somente quando a fé toma posse e o Espírito opera que o Sangue salva.
b) O mar Vermelho
(11.29). Pela fé, passaram o mar Vermelho, como por terra seca. Para maiores
detalhes, leia Êxodo 14.22-27. A fé agora é atribuída ao povo, bem como a
Moisés. Neste acontecimento, vemos a diferença entre fé e presunção. A fé não
depende do que é feito, mas com que autoridade. Israel agiu de acordo com a
ordem divina, mas o intentar (lit., tentar) dos egípcios em fazer a mesma coisa
causou o seu afogamento. A mesma ação pode ser apropriada e bem-sucedida ou
presunçosa, fanática e desastrosa, dependendo da presença ou ausência de Deus.
“Com Deus, ando sobre o mar; sem Ele, nem saio pela porta”.
Richard
S. Taylor. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 10. pag. 109-111.
Moisés e o Êxodo
23 Pela fé, Moisés, já nascido, foi escondido três meses
por seus pais, porque viram que era um menino formoso; e não temeram o
mandamento do rei.
Esconder uma criança
saudável e robusta com poder absoluto de chorar, espernear e gritar em alta voz
foi realmente um ato de fé. Contudo, chegou um momento quando seus pais “não
podendo, porém, mais escondê-lo”, usaram novamente o poder da fé. Moisés foi
colocado numa “arca de junco” e esta lançada nas correntezas do rio Nilo. Mas a
mão divina guiou aquela pequena “embarcação” até onde se encontrava a filha do
monarca egípcio que, vendo Moisés chorando: "... moveu-se de compaixão
dele”. A partir daí, a fé e a proteção divina estavam presentes na vida daquele
que Deus havia escolhido para libertar o seu povo da escravidão.
24 Pela fé, Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado
filho da filha de Faraó,
Ser chamado filho da
filha do monarca egípcio era um dos maiores privilégios daquela época. Recusar
tamanho privilégio era, portanto, um verdadeiro ato de fé. Moisés foi alvo da
misericórdia de Deus e também da bondade da princesa egípcia Thermuthis
(segundo Flávio Josefo, é o nome da princesa que adotou Moisés. Alguns
historiadores afirmam ainda que seu nome seria Hatchepsute2 ), filha de Faraó,
que passeava pela margem do rio Nilo, “... viu a arca no meio dos juncos, e
enviou a sua criada, e a tomou. E, abrindo-a, viu o menino, e eis que o menino
chorava; e moveu-se de compaixão dele...” (Êx 2.5,6). Thermuthis, não tendo
filhos, “... o adotou; e chamou o seu nome Moisés e disse: Porque das águas o
tenho tirado” (Êx 2.10).
25 escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de Deus
do que, por um pouco de tempo, ter o gozo do pecado;
Somente a eternidade
poderá nos revelar o que a fé pode fazer para honrar a Deus, como a decisão de
Moisés em escolher ser maltratado ao lado de um grupo de escravos, sofrendo
debaixo do julgo egípcio. Tal decisão levou Moisés a ser odiado por Faraó e
pelos seus súditos. Josefo nos informa que antes mesmo da morte do egípcio por
Moisés, os súditos de Faraó aconselharam ao rei que o mandasse matar. O monarca
prestou ouvidos a tais palavras, porque a grande fama de Moisés já lhe causava
inveja e ele começava a temer que o sobrepujasse também. Mas Moisés nada disso
temeu; ele sabia que Deus tinha um plano para sua vida com relação a Israel. E
pelos inúmeros incidentes que marcaram sua vida, ele era, portanto, a pessoa
escolhida por Deus para a libertação de seu povo (cf. At 7.25). O Diabo usou de
todos os meios sombrios de destruição e de todas as suas artimanhas para que
Moisés não se tornasse o grande libertador do povo de Deus, buscando assim
frustrar o plano divino para com este povo. Mas Deus operou milagrosamente em
tudo, e mais uma vez, como sempre, o Diabo foi derrotado.
26 tendo, por maiores riquezas, o vitupério de Cristo do
que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa.
Quem conhece o Egito
sabe que ali existem alguns dos maiores tesouros da humanidade encontrados pela
arqueologia. O museu de Antiguidade do Cairo revela todos os detalhes dessa
suntuosidade. Basta contemplar os tesouros que foram encontrados no túmulo de
Tutankamon, no Vale dos Reis, monarca egípcio assassinado aos 18 anos de idade.
Este achado deu-se em 4 de novembro de 1922, por Howard Carter. O sarcófago
onde se encontrava o corpo do rei é recoberto de ouro e pesa cerca de 1.800 libras
(cerca de 816 quilos). Sua máscara mortuária consta de 200 quilos de ouro
incrustado com lápis-lazúli, turquesas e coralinas. Além de mais quatro
sarcófagos — todos recobertos de ouro, inúmeros objetos, em sua maioria de ouro
ou pedras preciosas, foram também ali encontrados. Além dos tesouros de
Tutankamon, outros achados preciosíssimos relacionados à vida dos faraós têm
sido encontrados pela arqueologia ou por pessoas comuns. Flávio Josefo também
nos diz que quando Faraó colocou Moisés em seus braços, para agradar a sua
filha, mandou que colocassem na cabeça de Moisés um diadema. Moisés, como uma
criança que se diverte, tirou-o e o jogou no chão, pisando-lhe em cima. Muitos
destes “tesouros do Egito” foram descobertos, inclusive em escavações mais
recentes. Contudo, Moisés teve por “... maiores riquezas o vitupério de
Cristo... porque tinha em vista a recompensa” do porvir.
27 Pela fé, deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque
ficou firme, como vendo o invisível.
Ver o invisível
parece contraditório quando visualizado na esfera humana. Pois se é invisível,
como pode alguém ver? Talvez por esta razão alguns tradutores traduziram esta
parte final do versículo, “... como quem vê aquele que é invisível”. Nesse caso
seria uma referência direta a Deus ou a Cristo. Mesmo havendo esta emenda de
tradução, o sentido original deve ser aqui conservado. “Como vendo o invisível”
está de acordo com o argumento e a tese principal daquilo que foi dito no
início no tocante à definição da fé. Ela é “... o firme fundamento das coisas
que se esperam e a prova das coisas que se não veem”. Moisés não estava vendo o
futuro com os olhos naturais — mas estava vendo e crendo nele, com os olhos da
fé. Ele sabia que “as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não
subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam” (I Co
2.9); por esta razão ficou firme na esperança de recebê-las.
25 Pela fé, celebrou
a Páscoa e a aspersão do sangue, para que o destruidor dos primogênitos lhes
não tocasse.
Tudo relacionado com
a Páscoa tinha um significado profundo e um infinito alcance. Ela apontava para
Cristo, que é a “... nossa Páscoa” (I Co 5.7). Como também aquele sangue que
oferecia proteção contra o malho destruidor da ira divina tinha também uma
significação toda especial. O sangue do cordeiro ordinário, por si mesmo, sem a
mistura da fé, não podia oferecer proteção alguma, mas aquele sangue apontava
para o tempo em que Jesus morreria como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo. E assim como o sangue aspergi- do nos umbrais das portas do povo
escolhido lhe garantiu proteção contra o anjo destruidor, também o sangue de Jesus
nos oferece proteção contra o avanço das forças do mal, que possibilitam a
destruição das almas. A promessa de Deus era esta: “... vendo eu sangue,
passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade” (Ex
12.13).
29 Pela fé, passaram o mar Vermelho, como por terra seca;
o que intentando os egípcios, se afogaram.
Os céticos têm
oferecido inúmeras explicações técnicas para negar a possibilidade da operação
divina na travessia do mar Vermelho. Porém, todas elas, têm sido rejeitadas
pelo povo de Deus em geral e também por aqueles que creem na possibilidade dos
milagres de Deus. A Bíblia afirma que Deus ordenou a Moisés, dizendo: “levanta
a tua vara, e estende a tua mão sobre o mar, e fende-o, para que os filhos de
Israel passem pelo meio do mar em seco... Então, Moisés estendeu a sua mão
sobre o mar, e o Senhor fez retirar o mar por um forte vento oriental toda
aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas. E os filhos
de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas lhes foram como muro à
sua direita e à sua esquerda” (Êx 14.16,21,22). Qualquer outra explicação fora
deste contexto não se harmoniza nem com a tese e nem com o argumento principal.
Tudo foi possível pelo caminho da fé. Os egípcios intentaram fazer a mesma
trajetória, seguindo pelo mesmo caminho pelas vias naturais — mas “... se
afogaram”. Eles ignoraram que aquele caminho aberto pelo sopro das narinas de
Deus era exclusivamente para o seu povo. E isto é confirmado pelo profeta
Isaías, séculos depois, quando diz: “E ali haverá um alto caminho, um caminho
que se chamará O Caminho Santo; o imundo não passará por ele, mas será para o
povo de Deus; os caminhantes, até mesmo os loucos, não errarão” (Is 35.8).
Severino
Pedro da Silva. Epistola aos Hebreus.
Editora CPAD. pag. 227-232.
Mt 17.20. Por causa
da vossa pequena fé uma boa tradução. Era menor que “um grão de mostarda”. Eles
não tinham a fé de milagre.
De acordo com Bruce,
“este monte” é o monte da transfiguração para o qual Jesus apontou. Se for
verdade, então ele está ensinando em uma parábola. O nosso problema sempre é
com “este monte” que obsta o nosso caminho. Passa (Merapa). Uma forma de
imperativo de “mudar de lugar”.
A.
T. ROBERTSON. Comentário Mateus &
Marcos. À Luz d o Novo Testamento Grego. Editora CPAD. pag.198-199.
O REI E SEU PODER (MT 17:14-21)
Passamos da montanha
da glória para o vale da necessidade. A aparição repentina de Jesus e de seus
três discípulos surpreendeu a multidão (Mc 9:15). Um pai havia levado o filho
endemoninhado aos nove discípulos, implorando que o curassem, mas eles não puderam.
Os escribas viram o que aconteceu e estavam usando o insucesso dos discípulos para
discutir com eles. Enquanto os escribas faziam acusações e os discípulos se
defendiam, o demônio estava quase matando o menino indefeso.
Quando comparamos os
relatos dos Evangelhos dessa cena dramática, descobrimos que esse filho único
estava de fato em grande perigo. De acordo com Mateus, o menino enfermo era
epilético e suicida, atirando-se repetidamente no fogo ou na água.
Marcos o descreve
como um mudo, que caía no chão com frequência, espumando e rangendo os dentes,
depois ficando com o corpo todo rígido. Lucas diz que o menino era filho único
e que gritava ao entrar em convulsões. Apesar de alguns desses sintomas poderem
ter causas naturais, o menino estava à mercê de um demônio. Uma vez que os
discípulos não conseguiram fazer coisa alguma, não é de se admirar que o pai
tenha se ajoelhado aos pés de Jesus.
A primeira reação de
Jesus foi uma tristeza profunda. Ao olhar para seus discípulos envergonhados,
para os escribas argumentando e para o pai necessitado e seu filho, o Mestre
gemeu em seu íntimo e disse: "Até quando estarei convosco e vos
sofrerei?" (Lc 9:41). A incredulidade e a perversidade espiritual deles
era um peso para Jesus. Fico imaginando como Jesus se sente ao olhar para os
cristãos fracos de hoje...
Jesus libertou o
menino e ordenou que o demônio nunca mais retornasse àquele corpo (Mc 9:25). O
demônio tentou ainda uma "última cartada" (como disse Spurgeon) para
que a multidão pensasse que o menino estava morto (Mc 9:26). Mas Jesus levantou
o menino e o entregou a seu pai, enquanto a multidão, maravilhada, dava glórias
a Deus (Lc 9:43).
Os nove discípulos
deveriam ter sido capazes de expulsar o demônio. Jesus lhes dera poder e
autoridade (Mt 1O: 1, 8), mas, de alguma forma, haviam perdido esse poder!
Quando perguntaram a
Jesus qual havia sido a causa dessa derrota vergonhosa, ele respondeu: falta de
fé (Mt 17:20), falta de oração (Mc 9:29) e falta de disciplina (Mt 17 :21,
apesar de esse versículo não ser encontrado em vários manuscritos). Talvez os
nove discípulos estivessem com ciúme por não terem sido chamados para subir ao
monte com Jesus. É possível que, durante a ausência de Jesus, tenham se acomodado
e deixado de orar, enfraquecendo, desse modo, sua fé, ficando despreparados para
a crise que surgiu. Como Sansão, saíram para a batalha sem perceber que não tinham
forças (Jz 16:20). Seu exemplo mostra como precisamos estar sempre
espiritualmente saudáveis.
A expresse "fé
como um grão de mostarda" sugere não apenas o tamanho (Deus honrará até
mesmo uma pequena fé), mas também vida e crescimento. Ter fé como uma semente
de mostarda é ter uma fé viva alimentada para crescer. A fé deve ser cultivada a
fim de que cresça e realize feitos ainda mais poderosos para Deus (1 Ts 3:10; 2
Ts 1:3). Se os nove tivessem se mantido firmes na oração, na disciplina pessoal
e na meditação na Palavra, teriam sido capazes de expulsar o demônio e de
salvar o menino.
Toda essa cena
ilustra o que Jesus fará quando deixar a glória do céu e vier para a Terra.
Derrotará Satanás e o manterá cativo por mil anos (Ap 20:1-6).
WIERSBE.
Warren W. Comentário Bíblico Expositivo.
N.T. Vol. I. Editora Central Gospel. pag. 80-81.
Deve ter sido com a
maior severidade em sua voz que Jesus repreendeu... o demônio que,
imediatamente, saiu dele (18). O menino (pais) foi curado (therapeuo) naquele
mesmo instante. E óbvio que Cristo era mais do que capaz de cuidar desse caso
tão difícil.
Não é de admirar que
os discípulos quisessem saber porque haviam fracassado (19). Jesus informou que
era por causa da sua pequena fé (20).48 Se tivessem fé como um grão de mostarda
(veja os comentários sobre 13.31-32), teriam ordenado ao monte que passasse
daqui para acolá e ele teria passado. E provável que Cristo não estivesse
falando literalmente sobre um monte. Ao mencionar este monte Ele queria dizer
“essa grande dificuldade”, esse caso que era demasiado difícil para eles.
Sherman Johnson observa: “A fé não move montanhas físicas através de alguma
mágica, mas seus próprios triunfos são mais maravilhosos do que uma engenharia
em grande escala”. Em uma linha semelhante, George Buttrick escreve: “A fé já
removeu montanhas - poderosos impérios, seitas pagãs e a impiedade
entrincheirada”.
O versículo 20 atinge
o seu clímax com essa admirável afirmação: nada vos será impossível. Mas como
isso poderia acontecer? A resposta é: “Pela fé”. Marcos, cuja descrição dessa
cura é, como de costume, muito mais vívida do que consta em Mateus ou Lucas,
registra que Jesus disse ao pai do menino: “Tudo é possível ao que crê” (Mc
9.23). Isso acontece porque Deus é o Todo-Poderoso, e a fé traz consigo a
divina onipotência para superar os problemas humanos.
O versículo 21 não
consta em algumas versões modernas, porque não faz parte dos dois manuscritos
gregos mais antigos (Vaticano e Sinaítico), assim como de algumas versões
antigas. Em Marcos, a primeira parte do versículo é autêntica, mas as palavras “e
jejum” foram acrescentadas mais tarde. Então, o versículo todo deve ter sido
transcrito por algum copista de acordo com esse mesmo paralelo em Mateus.
Ralph
Earle. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 6. pag.124-125.
As palavras de Cristo
aos seus discípulos, como conseqüência desse episódio.
1. Os discípulos
perguntam a razão pela qual eles não puderam expulsar o demônio nessa ocasião
(v. 19):
“Os discípulos,
aproximando-se de Jesus em particular, disseram...”. Note que os ministros, que
devem fazer a obra de Cristo, têm necessidade de manter uma comunhão particular
com Ele, para que possam, em segredo, sem ser vistos, lamentar a sua fraqueza e
as suas dificuldades, as suas limitações e inseguranças, nas suas atividades públicas,
e perguntar qual é a causa delas. Devemos fazer uso da liberdade de acesso que
temos a Jesus em particular, quando podemos estar à vontade com Ele. Tais
perguntas como essa que os discípulos fizeram a Cristo, deveríamos fazer a nós
mesmos, conversando intimamente com os nossos corações, antes de dormir:
Por que fui tão tolo
e descuidado em tal ocasião? Por que não consegui cumprir satisfatoriamente tal
dever? Para que aquilo que estiver incorreto possa, quando descoberto, ser
corrigido.
2.Cristo lhes dá duas
razões para o fracasso que tiveram. (1) “Por causa da vossa pequena fé” (v.
20). Quando Jesus falou com o pai do menino e com o povo, Ele censurou a sua
incredulidade; quando Ele falou aos seus discípulos, Ele censurou a deles, pois
a verdade era que havia falhas nos dois lados. Mas nós estamos mais preocupados
em ouvir falar sobre as falhas dos outros do que sobre as nossas próprias
falhas, e a imputar o que está incorreto aos outros, e não a nós mesmos. Quando
a pregação da Palavra não parece ser tão bem-sucedida como já chegou a ser
algumas vezes, as pessoas estão prontas a atribuir toda a falha aos ministros,
e os ministros a atribuem ao povo, embora fosse mais conveniente que cada um
admitisse as suas próprias falhas e dissesse: “E por minha causa”. Os
ministros, ao repreenderem ou acusarem, precisam aprender a dar a cada um a sua
porção da palavra, e a evitar que as pessoas julguem umas às outras. Eles devem
ensinar que cada um julgue a si mesmo: “Por causa da vossa pequena fé”. Embora
tivessem fé, a fé deles era fraca e não produzia nenhum efeito. Observe que:
[1] A medida que a fé falha em termos de força, vigor e atividade, pode ser
dito com verdade:
“Este é um caso de
incredulidade”. Muitos podem ser acusados de ter pouca fé, embora não devam ser
chamados de incrédulos. [2] Por causa da nossa pequena fé, somos os
responsáveis por acontecerem poucos milagres na religião, e por eles não
acontecerem, frequentemente, como deveriam. Assim, a situação fica em um nível aquém
do esperado, naquilo que é bom.
O nosso Senhor Jesus
aproveita essa ocasião para mostrar aos discípulos o poder da fé, para que eles
não fracassem, em outra ocasião, como fracassaram agora: “Se tiverdes fé como
um grão de mostarda, nada vos será impossível” (v. 20). Alguns interpretam a
comparação como referindo-se à qualidade do grão de mostarda, que é, quando
moído, agudo e penetrante. “Se vocês tivessem uma fé ativa e em crescimento,
não morta, achatada ou insípida, vocês não teriam ficado frustrados dessa maneira”.
Mas, na verdade, isso se refere à quantidade. “Se vocês tiverem apenas um grão
de fé verdadeira, mesmo que tão pequeno quanto o menor dos grãos, nada lhes
será impossível; vocês farão maravilhas”. A fé em geral é uma aquiescência
firme, uma concordância e uma confiança em toda a revelação divina. A fé que se
exige aqui, é aquela que tem como seu objeto aquela revelação particular pela
qual Cristo deu aos seus discípulos o poder para realizar milagres em seu nome,
para a confirmação da doutrina que eles pregavam. E nesse tipo de fé que eles
são deficientes. Eles duvidam da validade da sua chamada, ou temem que ela
tenha expirado com a sua primeira missão, e que não devesse continuar quando
retornassem para junto do seu Mestre; que, de alguma maneira, ela teria sido
retirada ou perdida. Talvez a ausência do Mestre juntamente com os três
principais discípulos, com a ordem de que os demais não deviam segui-lo,
pudesse ter ocasionado algumas dúvidas a respeito do seu poder, ou melhor, do
poder do Senhor com eles, para fazer isso. Entretanto, não havia, naquela ocasião,
uma confiança ou dependência tão grande na promessa da presença de Cristo com
eles, como devia ter havido. E bom não termos confiança em nós mesmos, nem na
nossa própria força. Mas é desagradável para Cristo quando nós perdemos a
confiança em qualquer poder obtido dele, ou concedido por Ele.
Se tiverdes ainda que
um pouco dessa fé com sinceridade, se verdadeiramente confiardes nos poderes
que vos foram concedidos, “direis a este monte: Passa”. Esta é uma expressão
conhecida, que denota aquilo que vem a seguir, e nada mais: “Nada vos será
impossível”. Eles tinham uma comissão plena, entre outras coisas, para expulsar
demônios, sem exceção; mas, pelo fato desse demônio ter uma maldade inveterada,
acima do normal, eles não tiveram confiança no poder que haviam recebido, e por
isso falharam. Para convencê-los disso, Cristo lhes mostra o que poderiam ter
feito. Observe que uma fé ativa pode mover montanhas, não por si mesma, mas na
virtude do poder divino, que está ligado a uma promessa divina; e a fé se
mantém sobre essa virtude e sobre essa promessa.
(2) Porque havia
alguma coisa no tipo de doença que tornava a cura mais difícil do que o normal
(v. 21): ‘“Esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo
jejum’. Esta e possessão, que opera através de uma doença, ou este tipo de
demônios que são furiosos dessa maneira, não é expulsa pela maneira normal, mas
por meio de grandes atos de devoção, e nisso vocês são deficientes”.
Observe que: [1]
Embora os adversários que combatemos sejam todos principados e potestades,
ainda assim alguns são mais fortes do que outros, e há poderes mais difíceis de
serem subjugados. [2] O extraordinário poder de Satanás não deve desencorajar a
nossa fé, mas sim nos estimular a agir nela com maior intensidade, tendo mais
fervor em nossas orações a Deus, pedindo que o Senhor aumente a nossa fé. Por
isso alguns têm a seguinte interpretação: “Este tipo de fé (que remove
montanhas) não pode proceder, não pode ser obtido de Deus, não pode ser trazido
ao seu crescimento completo, nem pode se transformar em ações e exercícios,
exceto por meio de fervorosas orações”. [3] O jejum e a oração são meios
adequados para destruir o poder de Satanás contra nós, e para trazer o poder
divino em nosso auxílio. O jejum é útil para aprimorar a oração; é uma evidência
e um exemplo de humilhação que é necessário na oração, e é um meio de eliminar
alguns hábitos corruptos, e de dispor o corpo para servir à alma em oração.
Quando o interesse do demônio pela alma é confirmado pela disposição e pela
constituição do corpo, o jejum deve ser acompanhado pela oração, para que o
indivíduo possa manter o seu corpo em sujeição ao Senhor.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 222-223.
III -
APRENDENDO COM MOISÉS
1. A cultivar
comunhão com Deus.
"
Seu exemplo de
comunhão com Deus
A Bíblia nos mostra
que Moisés cultivava uma vida de oração, mantendo um relacionamento muito
íntimo com Deus: “Falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer fala com
o seu amigo” (Ex 33.11). Como frisa Matthew Henry, “isto sugere que Deus se
revelou a Moisés, não só com clareza e evidências maiores da luz divina do que
a qualquer outro dos profetas, mas também com expressões particulares e ainda
maiores de bondade e graça. Ele fala não como um príncipe a um súdito, mas como
qualquer fala com o seu amigo, a quem ama”.
Deus também quer ter
hoje um relacionamento íntimo conosco! Como destaca a Bíblia de Estudo
Aplicação Pessoal, “Moisés desfrutou tal favor de Deus não porque era perfeito,
genial ou poderoso, mas porque Deus o escolheu. Por sua vez, Moisés confiou
inteiramente na sabedoria e direção de Deus. A amizade com Deus era um
verdadeiro privilégio para Moisés, e estava [nesse nível] fora do alcance dos
hebreus. Mas, hoje, ela não é inalcançável para nós. Jesus chamou seus
discípulos — e, por extensão, todos os seus seguidores — de amigos (Jo 15.15).
Ele o chamou para ser seu amigo. Você confiaria nEle como fez Moisés?”.
COELHO,
Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de
Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a
Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 152.
A comunhão
espiritual. Há uma comunhão com Deus, por meio do Espírito, O espirito humano é
capaz de ter comunhão com o Espirito Santo. Paulo, por mais de cento e sessenta
vezes, falou em estarmos «em Cristo.., retratando, com essas duas palavras, a nossa
comunhão mistica. Ver I Cor. 1:4. As notas expositivas, no NTI, sobre aquele
versículo, detalham essa doutrina. A comunhão não tem apenas a dimensão humana,
do homem com homem; também tem a dimensão divina, do homem com Deus. O trecho
de Efésios 4:1-6, e vários trechos paralelos, dão-nos esse ensino. Diz I João
1:3: «... a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo... O
Espírito Santo reside em nós e nos confere comunhão divina (João 14:16 ss).
Cristo é a vinha, e nós somos os ramos, pelo que devemos pensar em uma comunhão
orgânica (João 15). Há a comunhão do Espirito (Fil. 2:1 ss). «A graça do Senhor
Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos
vós.. (11 Cor. 13:13).
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 1. Editora Hagnos. pag. 822.
Comunhão espiritual.
O ceme da comunhão cristã é espiritual. Pelo Espírito o homem tem comunhão com
Deus, com Cristo e com os santos.
A união mística do
Espírito permeia e unifica a igreja. Jesus disse a seus discípulos: “Um só é
vosso mestre, e vós todos sois irmãos” (Mt 23.8). Assim como os discípulos são
companheiros de estudo, também aqueles que participam da “comunhão” são companheiros
de adoração. “Considerai o Israel segundo a came; não é certo que aqueles que
se alimentam dos sacrifícios são participantes do altar?” (I Co 10.18). Paulo
adverte para o mérito da comunhão: “Com toda humildade e mansidão e
longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos
diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz”, ao que
ele adiciona: “Um corpo e um Espírito... numa só esperança... um só Senhor, uma
só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos” (Ef 4.1-6). Os líderes da nova
igreja encorajavam continuamente a comunhão, ensinando os meios práticos de
exercê-la: “Instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria” e
cantem juntos com ações de graça (Cl 3.16). “Consolai-vos, pois, uns aos outros...”
(lTs 4.18); “Consolai-vos uns aos outros e edificai-vos reciprocamente... vivei
em paz uns com os outros... admoesteis os insubmissos, consoleis os
desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimes para com todos” (5.11-14).
“Exortai-vos mutuamente cada dia... consideremo-nos também uns aos outros para
nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é
costume de alguns, antes façamos admoestações” (Hb 3.13; 10.24s.). “Confessai,
pois, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros” (Tg 5.16).
A comunhão espiritual
se origina em Deus e em Cristo. “O que temos visto e ouvido anunciamos também a
vós outros, para que vós igualmente mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa
comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo” (1 Jo 1.3). Na alegoria da
videira, Jesus retratou a união mística entre ele, Deus e seus discípulos: “Eu
sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor... vós sois os ramos” (Jo
15.1,5). Por meio desta união o crente dá muito fruto.
Finalmente, o
Espírito Santo é o mediador da comunhão na presente dispensação. Por intermédio
dele o homem tem comunhão com Deus e mantém comunhão universal com os santos. A
promessa consoladora de Jesus a seus discípulos foi: “Eu rogarei ao Pai, e ele
vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito
da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós
o conheceis, porque ele habita conosco e estará em vós” (14.16s.). Paulo disse:
“Porque vós sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu
Filho” (G1 4.6). A seguir ele escreve aos filipenses acerca de Cristo, do amor,
da alegria, e da “participação (comunhão) no Espírito” (Fp 2.1s.). Paulo resume
a relação tripla do homem em sua bênção: “A graça do Senhor Jesus Cristo e o
amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (2Co 13.14).
MERRILL
C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia.
Editora Cultura Cristã. Vol. 1. pag. 1114-1115.
2. A ter comunhão com
outros crentes.
At 2.46 É verdade,
porém, que ao mesmo tempo tinham necessidade de seus próprios encontros:
“Partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com regozijo e
singeleza de coração.” Essas reuniões nas refeições comunitárias
caracterizavam-se pela “regozijo e singeleza de coração”. Com certeza deram
pouca atenção ao cardápio! Essa alegria jubilosa não era um contraste para o
“temor”, nem sequer era limitada apenas pelo temor, mas, exatamente como o
“temor”, constituía o efeito da presença plena de Deus. Sempre deixamos de ver
a verdade quando separamos em Deus a justiça e o amor, a seriedade e a bondade.
Por isso sempre perdemos a alegria profunda quando perdemos o temor diante de
Deus. Pelo Deus vivo revelado em Jesus, em Sua cruz e ressurreição foram-nos
dados gratidão efusiva e santo respeito. O Espírito Santo em nossos corações
faz-nos regozijar e tremer, temer e amar a Deus. É preciso levar em conta que a
palavra “regozijar” sempre possui conotação “escatológica”. “Os resgatados do
Senhor voltarão e virão a Sião com cânticos de júbilo; alegria eterna coroará a
sua cabeça; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido”,
profetizou Isaías (Is 35.10). Ao serem celebradas agora na igreja as refeições
cheias de júbilo e louvor a Deus, apesar de toda a pobreza material, essas
refeições já eram prefiguração e primeira garantia do banquete nupcial do fim
dos tempos, quando Deus estará no meio de seu povo com toda a Sua glória e
presença visíveis e o encherá com “alegria indizível e gloriosa” (1Pe 1.8,
NVI). A circunstância de que eles, inimigos de Deus e assassinos de Jesus,
podiam pertencer a esses “redimidos do Senhor” representava uma razão sempre
renovada desse “regozijo” que agora já perpassava os dias da novel igreja com
seu brilho. As orações de santa ceia transmitidas no assim chamado “Didaquê”
nos permitem perceber algo de como precisamos imaginar esse “tomar as refeições
com regozijo e singeleza de coração e com louvor a Deus”.
Consequentemente,
esses primeiros cristãos estavam em paz com Deus e as pessoas, “louvavam a Deus
e contavam com a simpatia de todo o povo”. Foi um grande presente que essa
igreja – diferente da de Tessalônica (1Ts 1.6) – pôde organizar-se inicialmente
em paz. No momento não havia dificuldades exteriores para chegar à fé em Jesus
e lhe render a vida. É óbvio que a superação interior dos corações não é produzida
pela simpatia exterior, e nem mesmo pela palavra desafiadora de uma igreja viva
como tal. Somente o próprio Senhor pode nos resgatar da incredulidade e
perdição e nos conceder a conversão. Foi assim que Jesus fez naquele tempo. Não
se limitou ao avivamento daquele primeiro dia de Pentecostes. Diariamente
acontecia a grande alegria por pessoas que se deixavam salvar. “O Senhor,
porém, acrescentava os que iam sendo salvos, dia a dia, ao mesmo”.
Werner
de Boor. Comentário Esperança Atos. Editora Evangélica Esperança.
At 2.46. A devoção
religiosa dos cristãos primitivos era assunto de todos os dias. Reuniam-se em
espírito de unanimidade no templo. Esta expressão talvez signifique que
empregavam o átrio do templo como lugar de reunião (cf. 5:12), mas também subentende-se
que participavam do culto diário do templo (3:1). Este culto diário consistia da oferta de um holocausto e incenso, de manhã e
de tarde; e era realizado pelos sacerdotes, mas sempre havia uma congregação de
pessoas que ficavam onde podiam ver os sacerdotes que cumpriam os seus deveres
e que entravam no santuário; participavam das orações, e recebiam uma bênção do
sacerdote.
Visto que os cristãos
primitivos acreditavam que tinham um relacionamento verdadeiro com Deus através
do Messias, era natural que participassem do culto a Deus conforme o modo
comumente aceito. É provável que ainda não lhes tivessem ocorrido as questões
teológicas acerca da substituição dos sacrifícios do templo pelo sacrifício
espiritual de Jesus. Além disto, as autoridades religiosas não excluíram os
cristãos do templo. Ao mesmo tempo, porém, os cristãos se reuniam para seus
próprios ajuntamentos religiosos. Reuniam-se de casa em casa, nos lares uns dos
outros, e juntamente partiam o pão num espírito de gozo intenso e sincero.
A ideia é que faziam
refeições em comum, as quais também incluíam o partir do pão; podemos comparar
a descrição que Paulo deu da refeição em conjunto na igreja em Corinto, que
incluía a celebração da Ceia do Senhor (1 Co 11:17-34). A grande alegria que caracteriza
estes encontros era, sem dúvida, inspirada pelo Espírito (13:52) e talvez se
associasse com a convicção de que o Senhor Jesus estava presente com eles (cf.
24:35).
At 2.47. A estrutura
da frase talvez indique que os discípulos comessem juntos no templo bem como
nos seus lares. Ao fazerem assim, louvavam a Deus; esta é uma das poucas
referências em Atos à adoração que os cristãos prestavam a Deus no sentido de
renderem graças a Ele. A raridade de tais frases nos faz lembrar que, conforme
o testemunho do Novo Testamento, os encontros dos cristãos eram para a
instrução, a comunhão e a oração; noutras palavras, para o benefício dos
participantes; menciona-se menos a adoração a Deus, embora este elemento
naturalmente não faltasse.
Um comentário final nota
que a atividade evangelizadora da igreja continuava diariamente. Na medida em
que os cristãos eram vistos e ouvidos pelo restante do povo em Jerusalém, suas
atividades formavam uma oportunidade paia o testemunho. Mais uma vez, Lucas se
refere ao processo de tomar-se cristão como o ser salvo, i. é, salvo de
pertencer ao povo pecaminoso em derredor que está sob o julgamento divino por
ter rejeitado ao Messias (2:40, cf. 2:21).
I.
Howard Marshall. Atos. Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 84-85.
A ICREJA CAMINHANDO
NO ESPÍRITO (AT 2:42-47)
Os cristãos
continuaram a usar o templo como lugar de reunião e de ministério, mas também
passaram a encontrar-se nos lares de várias pessoas. Os três mil novos
convertidos precisavam ser instruídos na Palavra e ter comunhão com o povo de
Deus, a fim de crescer e de se tornar testemunhas eficazes.
A Igreja primitiva
não se ateve a converter pessoas, também as discipulou (Mt 28:19, 20).
Convém explicar duas
frases de Atos 2:42. "Partir do pão", provavelmente, é uma referência
às refeições regulares, mas, no final de cada refeição, é bem possível que fizessem
uma pausa para se lembrar do Senhor celebrando o que chamamos de "Ceia do
Senhor" ou "Santa Ceia". O pão e o vinho eram elementos comuns
sempre presentes na mesa dos judeus. O termo comunhão não significa apenas
"estar juntos".
Quer dizer "ter
em comum", podendo ser uma referência ao compartilhamento de bens
materiais praticado na Igreja primitiva.
Por certo, não se
tratava de uma forma de comunismo, pois foi um programa inteiramente voluntário,
temporário (At 11:27-30) e motivado pelo amor.
A igreja foi
unificada (At 2:44), exaltada (At 2:47a) e multiplicada (At 2:47b). Seu testemunho
entre os judeus era poderoso, não apenas em função dos milagres realizados pelos
apóstolos (At 2:43), mas também pelo amor que os membros da comunidade tinham
uns pelos outros e por seu serviço ao Senhor. O Senhor ressurreto continuou a
operar por meio deles (Mc 16:20), e o povo continuou a ser salvo. Uma igreja e
tanto!
Os cristãos que vemos
no Livro de Atos não se contentavam em se encontrar uma vez por semana para
"o culto habitual". Encontravam-se diariamente (At 2:46), cuidavam uns
dos outros diariamente (At 6:1), ganhavam almas diariamente (At 2:47),
examinavam as Escrituras diariamente (At 1 7:11 ) e cresciam em número
diariamente (At 16:5).
A fé cristã era uma
realidade diária, não uma rotina semanal. Isso porque o Cristo ressurreto era
uma verdade viva para eles, e seu poder de ressurreição operava na vida deles por
meio do Espírito.
A promessa ainda vale
para nós hoje: "Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo"
(At 2:21; Rm 10:13). Você já invocou o nome do Senhor? Já creu em Jesus Cristo
como seu Salvador?
WIERSBE.
Warren W. Comentário Bíblico Expositivo.
N.T. Vol. I. Editora Central Gospel. pag. 531.
A palavra de Deus que
fora pregada com tanto poder e que tinha sido acompanhada com exortações tão
sérias, não ficou sem fruto. Pela ação do mesmo Espírito, cujo poder milagroso
estava evidente aos seus olhos, algumas das pessoas presentes, que chegou a um
considerável número dos ouvintes, receberam pela fé a palavra, e aceitaram
Jesus de Nazaré como o Messias prometido e foram batizadas. O batismo em o nome
de Jesus Cristo serviu para o fortalecimento de sua fé na palavra do evangelho,
e para a confirmação e selo de sua salvação em Cristo, do que Pedro havia
testificado. Não faz sentido se este grande número de pessoas, que assim foram
somadas ou juntadas às fileiras dos discípulos, foram batizadas por imersão (estando
os necessários recursos presentes em Jerusalém, como os defensores da imersão
declaram) ou não, visto que o modo do batismo não estar prescrito nas
Escrituras Sagradas. Há muitos argumentos da probabilidade contra a imersão.
Mas, seja como for, o fato é que estas pessoas foram somadas à, ou recebidas
na, igreja cristão pelo sacramento do batismo, sendo seu número perto de três
mil almas. As almas que são ganhas para Cristo são, desta forma, adicionadas à
igreja.
Agora Lucas traça um
quadro da primeira congregação cristão de Jerusalém, tendo como núcleo os
apóstolos e os cento e vinte discípulos, e como corpo os três mil convertidos
de pentecostes. O crescimento da igreja não foi só em número, mas também na fé
e na caridade.
Os membros da
congregação continuaram, perseveraram, com grande fidelidade e devoção, nos ensinos,
na doutrina dos apóstolos. Estes homens, por Cristo estabelecidos e ordenados
como os mestres de toda a cristandade, foram naquela ocasião os mestres da
congregação de Jerusalém. E a doutrina deles foi a doutrina de Cristo; eles
ensinaram o que havia ouvido de Cristo; a palavra deles foi a palavra de Deus.
Os discípulos, permanecendo firmemente nesta palavra, também conservaram a
comunhão. Estiveram unidos na mesma fé e no mesmo amor ao seu Senhor e Mestre;
estiveram em comunhão um com o outro, e em união com Cristo e o Pai, que foi
uma intimidade maravilhosa e abençoada, pela qual estiveram mais unidos entre
si do que irmãos e irmãs de sangue. Cada um sentia o interesse mais solícito
pelas alegrias e tristezas do outro. Sua comunhão estreita era expressa no
partir do pão. Caso esta expressão não se referir só à celebração da Santa
Comunhão, ela certamente não exclui o sacramento. Cf. 1. Co. 10. 16. Ela,
claramente, não se refere a uma refeição regular, e provavelmente foi usada por
Lucas para descrever resumidamente a refeição em comum que os cristãos, nos
primeiros tempos da igreja, ligaram à celebração da Ceia do Senhor. E da mesma
maneira como os cristãos ouviram a palavra, da mesma forma como observaram a
Eucaristia, assim também foram diligentes, assíduos, na oração pública. Os
discípulos de Jerusalém manifestaram, por meio de oração, louvor e
agradecimento comum, sua comunhão fraterna e sua unidade de espírito. Todos
estes fatos, com certeza, não podiam ficar sem o conhecimento do povo da cidade,
nem mesmo se os membros da congregação assim o tivessem desejado. O modo
cristão no viver foi uma confissão constante e uma admoestação a todos os
habitantes da cidade. O resultado foi, que muitos dos judeus, tantos quantos
entraram em contato com os cristãos, foram tomados de grande temor; o espanto
solene que os milagres e sinais operados pelos apóstolos inspiraram, aumentou
pela veneração requerida pelo seu viver sem dolo. A presença de Deus e do Cisto
exaltado, por meio da manifesta operação do Espírito, em meio à congregação,
precisou ser admitida por todos os que entraram em contato com eles. E este temor
também serviu para a difusão do evangelho; serviu como freio sobre o ódio dos
judeus, impedindo-os de qualquer manifestação pública de sua inimizade. Foi
intenção de Deus, que a plantinha jovem de sua igreja devia gozar por algum
tempo dum crescimento em paz.
Enquanto isto o amor
fraterno dos discípulos mostrou seu poder na vida e nos atos deles. Estiveram
juntos; seus corações e suas mentes estiveram direcionados a sua causa comum, o
fato que naturalmente os levou a se reunirem tantas vezes quantas possíveis,
fosse no tempo ou em casas particulares, e isto não só para os cultos públicos,
mas também para o trato social no verdadeiro espírito cristão. E eles tiveram
tudo em comum; não praticaram o comunismo e não ab-rogaram o direito da
propriedade particular. Não a posse, mas o uso e o benefício dos bens foi
comum. Cf. cap. 4. 32. Cada membro da congregação considerava sua propriedade
como um talento do Senhor, com o qual devia servir seu próximo. Este amor fraterno
em muitos casos realizou ainda mais. Venderam suas posses e bens, toda sua propriedade,
e dividiram o produto entre os irmãos, tal como as necessidades o exigiam. Esta
não foi uma lei proposta ou reforçada pelos apóstolos, mas foi uma livre
manifestação de verdadeira caridade. Os cristãos abastados estiveram dispostos
e desejosos para realizar estes sacrifícios, sempre que era evidente que esta
era a única maneira pela qual as necessidades dos irmãos podiam ser supridas.
Não qualquer sinal da arrogante indiferença que agora caracteriza o intercurso
dos ricos com os pobres. Expressões de amor como esse poucas vezes, ou jamais, haviam
sido vistas anteriormente na terra. E tudo isto foi feito sem qualquer tentativa de ostentação. Como era de se
esperar, os cristãos, de comum acordo e em plena unidade de espírito, tinham
suas reuniões públicas no templo, onde tinham oportunidade para testificar aos outros
de sua nação a respeito da esperança que os animava. E não somente no templo
eram feitas reuniões diárias, mas também se encontravam de casa em casa,
principalmente para a celebração da Santa Comunhão e da ceia comum conhecida
como ágape, onde juntos tomavam a refeição com grande alegria e exultação e
também com toda a simplicidade de coração. Os membros mais ricos não se
indignavam sobre o fato que os irmãos mais pobres compartilhavam do alimento
que de sua abastança haviam provido, nem julgavam ser-lhes algo indigno sentar-se
à mesma mesa. E os membros pobres nada possuíam da ridícula vaidade da pobreza
de serem obrigados a aceitar a generosidade de outros. Todos estavam unidos
nesta uma obra sublime, de dar louvor a Deus por todos os dons que ele
derramara sobre eles. Não é de admirar que acharam as boas graças de todo povo.
Cada judeu honesto e sincero naturalmente estimava os cristãos pela
simplicidade, pureza e caridade de suas vidas. E, sendo a confissão da boca apoiada
e confirmada pela evidência das obras, o resultado foi que diariamente se
registravam adesões ao número dos cristãos. Mas Lucas afirma expressamente que
o Senhor juntava à congregação aqueles que deviam ser salvos. A conversão de
cada pessoa é somente um ato do Senhor, e é o resultado de sua vontade graciosa
e boa pela salvação dos pecadores. Notemos: A congregação de Jerusalém é em
tudo um exemplo luzente para as congregações cristãs e para os cristãos de
todos os tempos. Se o mesmo amor à palavra de Deus, ao uso do sacramento, se
esta mesma caridade desinteressada aos irmãos fosse evidente em nossos dias,
então cada congregação também se sobressairia da mesma forma. E esta é a
vontade de Cristo, o Cabeça da igreja.
KRETZMANN.
Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo Testamento
Volume 2. Editora
Concordia Publishing House.
3. A aceitar o
ministério de líderes piedosos.
Ef 4.11. Paulo passa
a falar agora dos dons específicos que Ele deu aos homens. A luz dos versículos
7, 8 não devemos entender concedeu como um mero equivalente para “designou”.
Todos, em seus ministérios particulares, são dom de Deus à Igreja. “Devemos a
Cristo o fato de termos ministros do evangelho”, diz Calvino. A Igreja pode
indicar homens para diferentes trabalhos e funções, mas, a menos que tenham os
dons do Espírito e sejam, portanto, eles mesmos os dons de Cristo à Sua Igreja,
sua indicação será sem valor. A expressão também “serve para lembrar aos
ministros que os dons do Espírito não são para enriquecimento pessoal, e sim
para enriquecimento da Igreja” (Allan).
Se esta epístola
tivesse sido escrita numa data posterior, conforme o pensamento de alguns,
seria quase impossível não existir referência ao ministério local dos bispos,
presbíteros e diáconos, os quais se tornaram da maior importância para a
Igreja. Assim, o apóstolo não está pensando nos ministros de Cristo em seus
ofícios, mas sim em seus dons espirituais específicos e suas tarefas, e havia
muitos que não estavam limitados a uma determinada localidade no exercício de
suas funções para a edificação da Igreja. Este fato explica a seleção que
encontramos aqui e na lista semelhante em 1 Coríntios 12:28.
Em primeiro lugar
estavam os apóstolos. A palavra apóstolos é usada no Novo Testamento com três
sentidos diferentes. Podia significar simplesmente um mensageiro, como é aparentemente
o caso em Filipenses 2:25 sentido esse que podemos deixar de lado aqui. Era
usada acima de tudo para os doze, que por todo o Novo Testamento ocuparam uma
posição especial e preeminente (1 Co 15:5; Ap 21:14). Mas lemos a respeito de
outros como apóstolos, não apenas o próprio Paulo e Barnabé (At 14:14), mas
também Tiago, o irmão do Senhor (G1 1:19), Silas (1 Ts 2:7), e Júnias e
Andrônico que são mencionados apenas em Romanos 16:7. De fato, parece terem
existido alguns que podem ser verdadeiramente chamados de apóstolos (1 Co
15:7), mas que não conhecemos nem de nome. De acordo com as palavras de Paulo
em 1 Coríntios 9:1 parece que uma das qualidades para o apostolado era a de ter
visto o Senhor Jesus ressurreto, e de ter sido enviado por Ele, e, dessa forma,
ter assumido pessoalmente o compromisso como membro considerado fundador (Ef
2:20), consagrado ao trabalho de edificação da Igreja. 1 Se a qualificação para
ser apóstolo era a de ter visto o Senhor ressurreto e de ter sido enviado por
Ele, a prova de ser apóstolo eram seus labores no poder de Cristo, inclusive
“por sinais, prodígios e poderes miraculosos” (2 Co 12:12).
Os profetas (veja
comentário sobre 2:20 e 3:5) estavam intimamente associados a eles na obra da edificação
da Igreja a partir de seus fundamentos e eram, portanto, essenciais como dons
de Cristo à Igreja. É difícil, para nós, ver de uma forma isolada o ministério
dos profetas, mas eles se destacam claramente no Novo Testamento como homens de
fala inspirada, cujo ministério da palavra foi da máxima importância para a
jovem Igreja. As vezes podiam prever o futuro, como em Atos 11:28 e 21:9, 11,
mas tal como os profetas do Antigo Testamento, sua grande obra era proclamar a
palavra de Deus. Isto podia acontecer quando mostravam os pecados dos homens
com poder convencedor (1 Co 14:24), ou quando fortaleciam a Igreja pela palavra
de exortação. Esta segunda ideia está claramente ilustrada em Atos 15:32, onde
se diz que “Judas e Silas, que eram também profetas, consolaram os irmãos com
muitos conselhos e os fortaleceram”.
A partir da própria
definição de apóstolo é evidente que seu ministério devia cessar com a morte da
primeira geração da Igreja. O ministério, ou pelo menos o nome, de profeta
também logo morreu na Igreja. Sua obra, que era receber e declarar a palavra de
Deus sob inspiração direta do Espírito, era mais vital antes da existência de
um cânon das Escrituras do Novo Testamento. Em escritos do segundo século lemos
acerca de profetas, mas em importância decrescente. Os escritos apostólicos
começavam a ser lidos largamente e aceitos como autorizados, e estes foram
paulatinamente substituindo a autoridade dos profetas. Ao mesmo tempo, o
ministério local assumiu cada vez mais importância, maior que a dos ministros
itinerantes, e a isto, acrescentou-se o problema de que surgiram muitos falsos
mestres e “profetas” por conta própria que iam de lugar em lugar, como
vendedores ambulantes, cada um a oferecer sua mercadoria.
A seguir, vêm os
evangelistas. Apenas duas outras referências no Novo Testamento aos
evangelistas podem nos guiar às suas funções e trabalho. Em Atos 21:8 Filipe,
cujas quatro filhas eram profetisas, é chamado de evangelista, e em 2 Tm 4:5
Paulo chama Timóteo para fazer “o trabalho de um evangelista”. Podemos presumir
que o trabalho deles era uma obra itinerante de pregação orientada pelos
apóstolos, e parece ser justo chamá-los de “a milícia missionária da Igreja”
(Barclay).
Juntos então,
aparecem os pastores e mestres (palavras ligadas pelo mesmo artigo em grego). É
possível que esta frase descreva os ministros da igreja local, enquanto as três
primeiras categorias são consideradas como pertencentes à Igreja universal.
Mais provavelmente, o pensamento dominante é ainda de funções e dons espirituais.
Apóstolos e evangelistas têm a tarefa específica de plantar a Igreja em cada
lugar, profetas a de trazer uma palavra específica de Deus para uma dada
situação. Os pastores e mestres são dotados para assumirem a responsabilidade
pela edificação da Igreja dia a dia. Não há uma nítida linha divisória entre os
dois. Os deveres do pastor são: prover o rebanho de alimento espiritual e
procurar protegê-lo de perigos espirituais. Nosso Senhor utilizou esta palavra
em João 10:11,14 para descrever Sua própria obra, sendo sempre Ele mesmo, o
sumo Pastor (Hb 13:20; 1 Pe 2:25; 5:4), sob Quem os homens são chamados a
pastorear “o rebanho de Deus” (1 Pe 5:2; Jo 21:15; At 20:28). Cada pastor deve
ser “apto para ensinar” (1 Tm 3,2; Tt 1:9), embora seja evidente que alguns
possuem preeminentemente o dom de ensino, e pode-se dizer que formam uma
divisão particular do ministério dentro da Igreja e que são um dom especial de
Cristo a Seu povo (At 13:1; Rm 12:7, 1 Co 12:28).
Ef 4.12. Agora são
usadas neste versículo três frases para descrever o propósito dos dons
espirituais que acabam de ser mencionados. A diferença de preposições em grego
indica que elas não podem estar separadas, pois a segunda frase é dependente da
primeira, e a terceira é dependente das duas que a precedem.1 Em primeiro lugar
portanto, o ministério da Igreja lhe é entregue com vistas ao aperfeiçoamento
dos santos. A palavra usada (katartismos) não se encontra em qualquer outro
lugar do Novo Testamento, embora o verbo correspondente seja usado no sentido de
consertar alguma coisa (Mt 4:21); de Deus ter formado no princípio o universo
de acordo com o modelo e ordem pretendidos (Hb 11:3); e de restaurar a saúde
espiritual de alguém que sofreu queda (G1 6:1). Todavia, a palavra pode ter o
sentido de “aperfeiçoar” o que está deficiente, na fé dos cristãos (1 Ts 3:10;
Hb 13:21; 1 Pe 5:10) e podemos dizer com Robinson que a palavra dá a ideia de
“levar os santos a tornarem-se aptos para o desempenho de suas funções no
Corpo, sem deixar implícita uma restauração de um estado desordenado”. Alcançar
tal condição não é um fim em si mesmo, mas tem um propósito que é de
habilitá-los para o desempenho do seu serviço. Tão claramente quanto no
versículo 7, isto deixa implícito que cada cristão tem um serviço a desempenhar,
uma tarefa e função espirituais no corpo. A palavra empregada aqui (diakonia;
ou o verbo correspondente) diz respeito ao serviço feito pelos servos da casa
(Lc 10:40; 17:8; 22:26s; At 6:2), refere-se, portanto, não só ao trabalho
específico daqueles que vieram a ser conhecidos como “diáconos”, mas é usada
também num sentido mais geral da palavra que se refere a todo “serviço” da
igreja (3:7).
O que é feito para os
santos, e pelos santos, é para a edificação do corpo de Cristo. A palavra
oikodome foi utilizada em 2:21, mas tem aqui um sentido mais amplo. A Igreja
vai sendo construída e aumentada e seus membros são edificados, à medida que
cada membro usa seus dons individuais segundo o que o Senhor da Igreja ordena,
e, desta forma, cada crente desempenha um serviço espiritual para com seus
companheiros no Corpo e para com a Cabeça. Não há necessariamente confusão de
metáforas quanto ao sentido dado a oikodomê com o corpo, mas o apóstolo acha
que a metáfora do corpo é mais adequada do que qualquer outra por causa do que
deseja falar logó adiante a respeito do crescimento e unidade da Igreja.
Ef 4.13. Todas as
três frases no versículo 12 descrevem o processo que ocorre na vida da Igreja.
Mas o apóstolo jamais poderia pensar em um processo sem fixar os olhos no alvo.
O verbo empregado no princípio do versículo (katantaõ) é usado nove vezes em
Atos com referência aos viajantes que chegam a seu destino.1 (At 26:7 e Fp 3:11
para uso semelhante ao daqui). E o ponto de chegada da jornada da Igreja é
descrito de três modos. O primeiro é a unidade da fé. Quando a fé (veja
comentário sobre o versículo 5) é corretamente participada, pessoas com
diferentes origens de erro e ignorância chegam a uma compreensão crescente da
única “esperança”, a uma dependência também crescente do único “Senhor”, e,
assim sendo, a uma apreciação progressiva do único “corpo”. O alvo, portanto,
deve ser a unidade na fé.
Segundo, embora já se
tenha dito o suficiente para tornar isto evidente, enfatiza-se que fé não é
apenas aceitar-se uma coleção de dog mas, e obter-se assim a unidade. É algo mais
profundo e mais pessoal. É a unidade no pleno conhecimento do Filho de Deus
(veja comentário sobre 1:17). Jamais conheceremos uma pessoa apenas com a
mente; e o conhecimento de uma tal Pessoa deve envolver a mais profunda
comunhão. Pois esta Pessoa é o Filho de Deus, e esta é uma das raras vezes, em
todas as epístolas paulinas, que este título aparece (Rm 1:4; G1 2:20; 1 Ts
1:10). Quando Paulo fala da relação do Senhor com Sua Igreja e com o propósito
do Pai, em geral usa o título “Cristo”, mas “quando O descreve como o objeto
daquela fé e conhecimento em que nossa unidade será finalmente compreendida”
(Robinson), fala dEle em Sua posição única como o Filho de Deus.
Mas esse
conhecimento, que é comunhão com o Filho de Deus, envolve a experiência plena
de vida “em Cristo”, e, portanto, de desenvolvimento até a perfeita
varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo. Todas as diferentes
expressões aqui falam de maturidade. A palavra traduzida por perfeita (teleios)
possui a conotação de desenvolvimento pleno em 1 Coríntios 2:6; 14:20 e Hebreus
5:14. Varonilidade significa aqui o estado de ser adulto, como em 1 Coríntios
13:11, onde a palavra também é contrastada com nêpios, que é usada no próximo
versículo aqui para designar crianças. O singular, além do mais, expressa
novamente o pensamento de que maturidade envolve unidade; os “muitos” devem se
tornar um “novo homem” (2:15). Então a palavra usada para estatura, que pode
ter o sentido de idade (Jo 9:21, 23) ou de estatura física (Lc 19:3), fala
figuradamente de maturidade, cujo padrão é nada menos que a plenitude de
Cristo. Tal como em 1:23, alguns interpretam esta expressão como “a medida do
Cristo perfeito”, perfeição esta que Ele atinge ao preencher-se de Sua Igreja.
Outros entendem a expressão como aquilo que Cristo preenche. Parece-nos que a
melhor interpretação é a mesma que de 1:23, isto é, como posse completa dos
dons e graça de Cristo, os quais Ele procura dar aos homens. Ele mesmo possui a
própria plenitude de Deus (Cl 1:19; 2:9); Ele quer que o cristão seja
preenchido de tudo o que Ele possa comunicar. É irrelevante que este alvo possa
ou não ser alcançado nesta vida. O importante é que o cristão deve marchar
firme para frente levado por esta alta ambição.
Ef 4.16. É somente de
Cristo, como Cabeça, que o corpo recebe toda sua capacidade para crescer e para
desenvolver sua atividade, recebendo assim uma direção única para funcionar
como entidade coordenada. Colossenses 2:19 é um texto paralelo bem próximo
deste versículo, e ambos deveriam ser estudados em conjunto, embora não se
encontre ali a palavra que é traduzida por bem ajustado. Essa palavra só
aparece outra vez no Novo Testamento em Ef. 2:21. Deriva de uma palavra
(harmos) que designa um tipo de junta ou amarração usada na construção de
edifícios, ou para as juntas de articulação do corpo. O segundo particípio
(sunbibazomenon) é empregado para a ação de reunir, ligar coisas ou pessoas,
para reconciliar aqueles que tenham brigado e também para relacionar fatos ou
argumentos num plano de aula ou programa de ensino. Assim, ambos os particípios
têm o sentido daquela unidade funcional que se torna possível entre os membros,
quando orientados pelo Cabeça. Mas depois desses particípios o grego já se
torna difícil. A palavra traduzida junta (haphê) possui inúmeros significados.
Denota basicamente “toque”, de sorte que pode significar “contato”, “ponto de
contato” ou “pegas”, e estes sentidos levaram os comentadores a uma variedade
de interpretações. O uso da palavra tanto no contexto quanto no âmbito restrito
da medicina justifica a sua tradução por “junta”, e assim, afirma que é pelo
auxilio de toda junta, com que o corpo é equipado, é que o crescimento e
funcionamento verdadeiros se tornam possíveis. Em outras palavras, o corpo
depende para seu crescimento e atividade: da direção do Senhor, de Sua provisão
para tudo o que necessita (compare versículos 11, 12), e também do bom
relacionamento entre os membros.
E agora estamos de
volta com uma palavra que se tornou familiar nesta epístola (1,19 e 3:7), pois
o apóstolo deixa de considerar os membros e a conexão entre eles para tratar da
justa cooperação de todo o corpo. A “energização” de Deus no corpo todo torna
possível este funcionamento de cada parte, em sua medida e de acordo com sua
necessidade. Então menciona-se mais uma vez o propósito do crescimento, e está
claro que cada membro não procura o seu próprio crescimento, mas o do corpo
como um todo: não sua própria edificação, mas a edificação do todo.
Basicamente, a edificação não é o aumento numérico da Igreja, mas o crescimento
espiritual. E este crescimento é acima de tudo em amor. Esta pequena frase
aparece novamente (1:4; 3:17; 4:2; 5:2), pois o amor determina que cada membro
procurará a edificação de todos. Então, sem dúvida, se houver a comunhão da
convivência em amor e a demonstração da verdade em amor, o aumento numérico
virá como consequência natural.
Francis
Foulkes. Efésios. Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 98-104.
A Classificação dos
Dons (4.11)
Tudo indica que
Paulo, quando escreveu estas palavras, tinha em mente a lista dos ministérios
relacionados em 1 Coríntios 12.28. A passagem coríntia compreende uma lista
mais longa de dons espirituais (charismata). Mas nesta passagem, Paulo está
interessado em apresentar os ofícios necessários para a expansão e sustento da
igreja. Cristo deu à igreja os apóstolos: os ministros supremos, os doze que
haviam visto
o Senhor ressurreto e recebido suas tarefas diretamente dele. Os profetas têm
posição proximal à dos apóstolos, e o seu dom especial era o de ministério
inspirado. Foulkes afirma que a função primária dos profetas era similar à dos
profetas do Antigo Testamento: “anunciar” a palavra de Deus. Porém,
ocasionalmente prediziam acontecimentos futuros, como em Atos 11.28 e
21.9,ll.30 Os evangelistas eram pregadores itinerantes, que iam de lugar em
lugar para ganhar os incrédulos (cf. 2 Tm 4.5), de modo muito semelhante como
se faz hoje.
Certos intérpretes
sugerem que as primeiras três categorias se aplicam à igreja universal, ao
passo que as outras duas se ajustam especificamente à igreja local. Pastores
são pastores de um rebanho de comunicantes; a palavra grega (poimen) empregada
aqui significa, literalmente, “pastor de ovelhas”. A tarefa dos pastores é
alimentar o rebanho e protegê-lo dos perigos espirituais. Doutores pode ser uma
outra função do pastor. Bruce afirma que estes dois termos “denotam a mesma e
uma única classe de homens”.31 Contudo, pode ser que os doutores representem uma
classe de responsabilidade um tanto quanto menor que os pastores, mas que,
mesmo assim, detêm lugar especial na igreja. Os cinco ministérios são
concedidos pelo Espírito e dados por Cristo à sua igreja.
visto o Senhor
ressurreto e recebido suas tarefas diretamente dele. Os profetas têm posição
proximal à dos apóstolos, e o seu dom especial era o de ministério inspirado.
Foulkes afirma que a função primária dos profetas era similar à dos profetas do
Antigo Testamento: “anunciar” a palavra de Deus. Porém, ocasionalmente
prediziam acontecimentos futuros, como em Atos 11.28 e 21.9,ll.30 Os
evangelistas eram pregadores itinerantes, que iam de lugar em lugar para ganhar
os incrédulos (cf. 2 Tm 4.5), de modo muito semelhante como se faz hoje.
Certos intérpretes sugerem
que as primeiras três categorias se aplicam à igreja universal, ao passo que as
outras duas se ajustam especificamente à igreja local. Pastores são pastores de
um rebanho de comunicantes; a palavra grega (poimen) empregada aqui significa,
literalmente, “pastor de ovelhas”. A tarefa dos pastores é alimentar o rebanho
e protegê-lo dos perigos espirituais. Doutores pode ser uma outra função do
pastor. Bruce afirma que estes dois termos “denotam a mesma e uma única classe
de homens”.31 Contudo, pode ser que os doutores representem uma classe de
responsabilidade um tanto quanto menor que os pastores, mas que, mesmo assim,
detêm lugar especial na igreja. Os cinco ministérios são concedidos pelo
Espírito e dados por Cristo à sua igreja.
O Propósito dos Dons
(4.12-16)
Falando
principalmente da vida interior da comunidade cristã, Paulo descreve o
propósito para o qual Cristo deu à igreja estes ministérios. Pelo menos quatro
dimensões do propósito divino são distinguíveis.
a) Estes ministérios
são dados para edificar ou construir o corpo de Cristo (12). As três frases
neste versículo, cada uma separada por uma vírgula (RC), dão a impressão de que
o apóstolo expressa um propósito triplo. No idioma original, a ênfase está na
última frase: “Ele fez isso para preparar o povo de Deus para o serviço
cristão, a fim de construir o corpo de Cristo” (NTLH). O objetivo destes servos
especiais é ocasionar um aperfeiçoamento (katartismos, lit., “adaptação” ou
“equipamento”) para a obra do ministério (diakonias). A expectativa é que
haverá um trabalho ativo e frutífero para o Senhor, com o resultado de que a
igreja será edificada. A medida que as almas são ganhas, a vida da comunidade
se aprofunda e se fortalece pelo serviço unificador da igreja.
b) Estes dons
ministeriais são dados para promover maturidade. O versículo 13 rememora o
anterior e oferece explicação adicional da “edificação” da igreja. Uma vez
mais, Paulo usa três frases, cada uma iniciada com a preposição grega eis: 1) à
unidade da fé; 2) a varão perfeito; 3) à medida da estatura completa de Cristo.
Estas não são ideias paralelas. A primeira fala do meio da maturidade, a
segunda fala da realidade da maturidade e a terceira fala da medida da
maturidade. Uma tradução melhor do versículo seria esta: “Assim, todos finalmente
atingiremos a unidade inerente em nossa fé e em nosso conhecimento do Filho de
Deus, e chegaremos à maturidade, medida por nada menos que a estatura completa
de Cristo” (NEB).32
A unidade da fé e do
conhecimento do Filho de Deus constitui o meio do amadurecimento (cf. RA). A
unidade é um dom do Espírito (cf. 3), mas requer-se fé e conhecimento para
recebê-la. Neste texto, a fé é a resposta que damos ao Filho de Deus e a nossa confiança
nele — Deus manifestado na carne que morreu no Calvário em nosso benefício.
Aqui, conhecimento (epignosis) é semelhante à fé no ponto em que significa
“compreensão, familiaridade, discernimento”. Não devemos equipará-lo a
conhecimento intelectual, mas a relações pessoais. A unidade se origina dessa
intimidade com o Filho proporcionada pela graça. Paulo não está falando da
experiência inicial com Cristo. O apóstolo se preocupa com o crescimento e
aumento em entendimento e compreensão dos propósitos e vontade de Deus conforme
estão revelados em associação com Cristo. Os membros da igreja podem e devem
ter tal crescimento em maior medida enquanto o servem.33
A varão perfeito
refere-se ao nível de maturidade coletiva e individual na igreja, no qual o
poder de Deus se manifesta inteiramente em santidade e justiça. Tal estado será
atingido em seu significado máximo futuramente, quando possuirmos a graça de
Cristo na perfeição da ressurreição (cf. Fp 3.7-16).34
A medida da estatura
completa de Cristo é o padrão de medida que determina a maturidade cristã.
Hodge escreve: “A igreja se torna adulta, homem perfeito, quando alcança a
perfeição de Cristo”.36 A chave para interpretar o versículo é a expressão
estatura completa de Cristo. Qual é esta estatura? Salmond diz que é “a soma
das qualidades que fazem o que ele é”.36 Quando a igreja está à altura da
maturidade plena do seu Senhor, ela é perfeita. E à medida que cresce em
direção a essa maturidade, ela fica mais próxima de sua meta em Cristo.
Precisamos também destacar que não há crescimento na igreja separadamente de
nosso crescimento individual como crente. É cada um de nós individualmente que
tem de se dirigir com empenho à estatura completa de Cristo.
No versículo 16, o
apóstolo retorna à analogia do corpo e se serve disso para enfatizar a unidade
que Cristo, a cabeça, traz para a igreja. Ele visualiza a estrutura maravilhosa
e intricada do corpo humano com suas partes unidas de modo bem ajustado e
ligado (“bem unido e consolidado”, NEB).39 Na analogia, juntas referem-se aos
ligamentos pelos quais as partes do corpo se unem. Quando o corpo está
funcionando segundo ajusta operação de cada parte, quer dizer, quando cada
parte é ativada de acordo com o seu propósito, a harmonia prevalece e o
crescimento é certo. Cristo é, obviamente, o centro e a origem de toda a vida
espiritual. Ele dá “coesão e poder vital para o crescimento”.40 Este
crescimento resulta na edificação ou “construção” (BAB) da igreja em amor (cf.
1.4; 3.17; 4.2; 5.2). A estrutura tem a ver principalmente com o
desenvolvimento espiritual interno, mas quando a igreja é interiormente forte
ela aumenta numericamente.
Em suma, Paulo vê a
unidade da igreja em termos orgânicos e não organizacionais. A verdadeira
unidade é interior e resultado de um organismo saudável. O Espírito cria essa
unidade; não é obra de homens, por mais inteligentes ou apessoados que sejam.
Quando esta unidade prevalece, compartilhada por cada membro e motivada pela
fidelidade de ministros talentosos, a igreja cresce em simetria e beleza, para
espanto do mundo não-crente.
Nos versículos 4 a
16, o pensamento da medida da estatura completa de Cristo
sugere o tema “O Alvo
Ultimo do Cristão”. 1) O meio para esse fim. Ensinar e pregar a Palavra de
Deus, 11,12; 2) O compêndio do ideal, 4-7,15. Afé incorporada e o corpo
incorporado, 16; 3) A proximidade da meta num caráter estável, 14. Cristo no
trono do coração. A igreja unida (G. B. Williamson).
Willard
H. Taylor. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 9. pag. 160-163.
Ef 4.11 O mesmo que
levou cativos os poderes também concedeu dons à sua igreja: “os apóstolos, os
profetas, os evangelistas, os pastores e mestres”. Diferentemente do v. 7, onde
se falava da distribuição de dons individuais para todos os membros da igreja,
Paulo aqui designa determinadas pessoas como dom de Cristo. Em vista da
proximidade do presente trecho com Ef 1.20-23 é preciso chamar atenção para o
fato de que em Ef 1.22 o Cristo exaltado foi “concedido” como cabeça sobre a
igreja toda. Logo Cristo é a “dádiva principal” para sua igreja, no seio da
qual ele próprio “concede” determinadas pessoas.
De modo diverso da
listagem análoga em 1Co 12.28-30, Paulo emprega aqui o artigo definido para
cada uma das pessoas. Isso permitiria concluir que na carta aos Efésios não se
trata da tarefa em geral, mas do grupo claramente delimitado de representantes
incumbidos do serviço específico. Essa diferença também é constatável em
relação a Rm 12.6s, onde são arroladas não as respectivas pessoas, mas cada uma
das atividades: profecia, diaconia, exortação, etc.
No mesmo sentido
Paulo havia falado também em Ef 2.20 do “fundamento dos apóstolos e profetas” e
em Ef 3.5 de “seus santos apóstolos e profetas”. Diante das demais
considerações em Ef 4.12ss, parece que essa ênfase refere-se especificamente às
tarefas de proclamação, direção e ensino. Por isso não são mencionados aqui
outros dons da graça que aparecem em Rm 12 e 1Co 12.
Não se deve esquecer
que também na primeira carta aos Coríntios os dons da palavra e as pessoas
agraciadas com eles aparecem no começo das respectivas listas, de modo que o
tratamento do conflito causado por fenômenos entusiastas é marcado por uma
clara premissa: isso diz respeito em 1Co 12.8 à palavra da sabedoria e à
palavra do conhecimento, dadas pelo Espírito, e em 1Co 12.28 “primeiramente a
apóstolos, em segundo lugar a profetas, e em terceiro lugar, a mestres”. A
combinação de “profetas e mestres” ocorre em At 13.1. Em 1Tm 2.7 (também em 2Tm
1.11) Paulo relaciona consigo mesmo o serviço de “pregador” (cf.
“evangelista”), apóstolo e mestre (dos gentios). É digno de nota que também
esse trecho está visivelmente próximo de Ef 4.4ss: a confissão do único Deus e
do único Mediador entre Deus e os humanos, que se “deu” como pagamento de
resgate, é seguida pela transição para a investidura de Paulo como “arauto”
desse evento de salvação.
Segundo esse
pensamento Cristo presenteou sua igreja com dons, i. é, com pessoas incumbidas
e capacitadas que possuem uma relevância fundamental para a construção e o
crescimento da igreja. Trata-se aqui daqueles que proclamaram e explicaram o
evangelho da salvação em Jesus Cristo de acordo com a situação atual dos
ouvintes, bem como firmaram, exortaram e encorajaram as incipientes igrejas
através dessa palavra.
Nesse contexto duas
coisas são irrenunciáveis: a importância das referidas pessoas como “detentores
de cargo” não vem delas mesmas. Pelo contrário, são presentes do Senhor à
igreja dele. Elas, por sua vez, receberam seus dons daquele que é o verdadeiro
presente para a igreja (Ef 1.23). Possuem importância fundamental para a
constituição da igreja, motivo pelo qual de forma alguma podem ser
arbitrariamente substituídos.
Ef 4.12 A finalidade
para a qual Cristo concedeu os “dons” é indicada por meio de três segmentos da
frase. A concatenação das diversas afirmações entre si apresenta alguns
problemas. Em especial cumpre esclarecer se a parte intermediária “para a obra
do serviço” se refere aos santos ou aos “detentores de cargos” no sentido
daqueles que são incumbidos “de uma obra do serviço”. Uma vez que isso não pode
ser decidido unicamente com base na estrutura gramatical, é preciso dar a
seguinte explicação a partir do contexto: as diversas pessoas incumbidas foram
dadas “para o preparo (grego: pros) dos santos para (grego: eis) a obra do
serviço, para (grego: eis) a edificação do corpo de Cristo”. Portanto, o
sentido seria este: os “detentores de cargos” têm a tarefa de preparar os
crentes a fim de que eles por seu turno possam assumir serviços. O corpo de
Cristo é edificado por meio de ambas as atividades – o preparo por meio dos
grupos citados (em seu todo, não apenas por pastores e mestres) e a obra dos
santos.
O termo “preparar” é
empregado no NT no sentido de “equipar”, “firmar”: p. ex., conforme 1Ts 3.10
Paulo visa consolidar a fé dos tessalonicenses acrescentando aquilo que ainda
lhes falta. Em 1Co 1.10 o termo refere-se a “cunhar o caráter” em vista da
unidade da igreja (cf. Gl 6.1). Nisso os membros da igreja devem ajudar-se uns
aos outros (cf. 2Co 13.11). Em consonância, a tarefa dos pregadores, dirigentes
e pastores consiste em firmar e fortalecer os crentes na confiança em Jesus
Cristo, bem como equipá-los para a percepção de suas próprias tarefas. Na
verdade podemos relacionar “a obra do serviço” (grego: ergon diakonias)
sobretudo com o serviço ao evangelho, a proclamação. Contudo, isso salienta
apenas a característica especial da diaconia incumbida por Jesus Cristo: pelo
fato de que o próprio Senhor é o servo (Lc 22.27; Jo 13.4ss) e sua vida, paixão
e morte são o “serviço” por excelência (Mc 10.45; par.), que é disseminado
exclusivamente pela proclamação do evangelho, por isso toda a diaconia brota
dessa palavra e é sustentada por ela. Por essa razão uma diaconia desse tipo é
predominantemente “diaconia da reconciliação” (2Co 5.18) e consiste no “serviço
ao evangelho” (cf. Fp 2.22).
Em uma forma de
expressão comparável ao presente versículo Paulo encoraja os coríntios em 1Co
15.58 a destacar “na obra do Senhor” (cf. 1Co 16.10 a respeito de Timóteo),
evidentemente descrevendo assim a abrangência total da atuação cristã. O
cumprimento das respectivas tarefas por pessoas santas especificamente
incumbidas serve à “edificação do corpo de Cristo”. Foi citada, portanto, a
palavra básica da vida da igreja em seu todo: tudo o que acontece dentro da
igreja local e na igreja cristã em geral precisa servir à “edificação”. Isso
marca a linha básica da argumentação diante da igreja em Corinto: na igreja tem
vez não o que talvez até seja lícito, individualmente emocionante, mas só
aquilo que edifica (1Co 10.23; 14.3s,14,26), e por isso sobretudo o amor (1Co 8.1).
Ef 4.13 A edificação,
o crescimento do corpo de Cristo, estão direcionados para um alvo que é
indicado neste versículo. A expressão “chegar” pode significar literalmente
alcançar um lugar (diversas vezes em At: p. ex., At 16.1; 18.19; etc.), mas
também pode ser usada em sentido figurado (o fim dos tempos chegou: 1Co 10.11).
Assim como aqui, em Fp 3.11 ela implica a atenta orientação rumo ao alvo
visado, quando Paulo afirma de si: “para alcançar a ressurreição dentre os
mortos”.
Pode parecer estranho
que desde já a igreja seja a “plenitude de Cristo”, concidadã crente dos
santos, família de Deus, pedra no templo santo, e que apesar disso ainda se
diga que haverá um crescimento, um vira-se. A mesma duplicação já chamara
atenção no contexto da herança colocada à disposição: os direitos já foram
transferidos, mas ainda não se tomou posse dela (Ef 1.18; 2.7).
Consequentemente a plenitude de Cristo é ponto de partida e alvo de todo o
crescimento.
Agora isso passa a
ser relacionado a uma situação concreta: na realidade pode haver na igreja uma
só fé, visto que esta só pode ser fé em um só Senhor Jesus Cristo (Ef 4.5). Na
realidade a “unidade do Espírito” é algo dado, porque o Espírito Santo é um só
(Ef 4.3). Não obstante cabe “segurar” essa unidade, ou “chegar” a ela. A força
motriz de todos os esforços nessa direção não é a utopia de uma igreja
unificada, mas a realidade do único corpo de Cristo.
A unidade da fé está
estreitamente ligada à “unidade do conhecimento”, que por sua vez se concentra
no “Filho de Deus”. Em Ef 1.17-19 Paulo já suplicara pelo Espírito da
sabedoria, para que os leitores reconheçam a esperança e a força resultante da
ressurreição de Cristo. De maneira semelhante Cl 2.2 interliga o esforço para
que “os corações sejam unidos em amor” e o “conhecimento do mistério de Deus:
Cristo”. Por isso uma fé aumentada e um conhecimento aprofundado do Filho de
Deus caracterizam o crescimento da unidade eclesial.
À unidade corresponde
a perfeição. A igreja, “todos nós”, devemos nos tornar “seres humanos perfeitos”:
“unidade e perfeição constituem o alvo da igreja, e o Cristo concede
participação a cada um nessa unidade e perfeição; ao procurar „chegar‟,
impelido pela palavra de Deus, o indivíduo cresce em direção ao alvo da
totalidade.”
Discordando de
tentativas equivocadas de derivação de concepções gnósticas, o “ser humano
perfeito” deve ser entendido como a pessoa amadurecida, adulta. Isso é
elucidado pela segunda expressão: “para a medida cheia da plenitude de Cristo”.
“Medida plena” é a tradução literal para “medida da idade da vida” ou também
“medida da estatura”. Trata-se da “idade adulta” ou da “medida cheia da
figura”. O trabalho dos encarregados edifica o corpo de Cristo. Terá alcançado
seu tamanho completo “quando todos que são destinados à igreja segundo o plano
divino de salvação pertencerem à igreja… A igreja, que é o corpo do Cristo,
constitui na estatura completa o pleroma de Cristo.”
Ef 4.16 A partir do
cabeça resulta, no encerramento dessas considerações sobre a unidade e o
crescimento do corpo que Cristo presenteia com dons, o ensejo de ilustrar
resumidamente a concomitância e o entrelaçamento desse organismo singular.
Viabilizado por esse
cabeça e emanando dele “o corpo todo efetua… o crescimento do corpo para a
edificação de si próprio no amor”. O corpo “todo”, até as menores ramificações,
recebe de Cristo impulso e vigor para o crescimento, para a edificação. Como em
Ef 2.20ss, aparecem também aqui lado a lado as figuras do corpo e da
construção. Com o crescimento do corpo em direção do cabeça amplia-se também a
construção, favorecendo a sua conclusão. A ligação vital com o cabeça, a única
coisa que torna viável esse “efetuar”, exclui a possibilidade de que essa
“edificação de si próprio” possa tratar-se de um agir autocrático da igreja. A
igreja somente pode ser reconhecida a partir de seu cabeça, Cristo. Toda vez que
ela perde isso de vista, o presente trecho visa estimular a retornar para o
cabeça.
Todo o corpo é “bem
ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta de apoio”. De maneira muito
semelhante, Paulo diz, em Cl 2.19: “… o cabeça, a partir do qual o corpo todo é
apoiado por articulações e tendões e mantido coeso e cresce pelo agir de Deus.”
Quando se entende o
v. 16 como síntese de Ef 4.7-15, as “juntas de apoio”, que possuem uma função
central para a coesão do corpo, serão relacionadas com as pessoas incumbidas
das tarefas citadas no v. 11.
Também aqui é preciso
chamar novamente atenção para o fato de que a tarefa de apoio daqueles
especificamente incumbidos apenas é possível a partir de sua ligação vital com
o cabeça, uma vez que não representam apenas “dons” para o corpo, mas que
também receberam os “dons” pessoalmente de Cristo, de acordo com a vontade dele
(Ef 4.7s).
Essa coesão é
fomentada “segundo a força atribuída a cada parte”. A formulação “a cada”
retoma o v. 7, motivo pelo qual igualmente não deve ser restrito aos que são
especificamente encarregados, mas à totalidade dos que creem: a cada um foi
concedida, de acordo com a medida do dom de Cristo, a graça com os dons dela
decorrentes. De forma análoga o corpo é favorecido por todos os membros. Isso
ocorre conforme a força medida para cada parte (cf. Ef 3.7 com vistas ao
próprio Paulo).
Assim este versículo
sintetiza de fato todo o trecho precedente: partindo da unidade de Deus e de seu
agir no corpo de Cristo, o olhar se estende para a multiplicidade dos dons
distribuídos aos crentes. Na sequência, Paulo destaca as tarefas específicas
dos apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres no preparo dos
santos, para que a igreja de Cristo possa alcançar a idade adulta e resistir a
doutrinas ardilosas e enganosas. Por fim o apóstolo enfoca novamente a
cooperação de todos na edificação do corpo. A característica marcante de toda a
incumbência é que a edificação acontece “no amor” (v. 13). Isso sucede quando o
conhecimento do amor de Cristo (Ef 3.19) cresce mais e mais e por isso também
se fala a verdade em amor (Ef 4.15).
Eberhard
Hahn. Comentário Esperança Cartas aos Efésios. Editora Evangélica
Esperança.
4. A ter cuidado com
os inimigos.
Sl 106.34 Não
exterminaram os povos. Tendo entrado na Terra Prometida, os hebreus não foram
capazes de exterminar os cananeus nativos, conforme as referências dadas
anteriormente o demonstram. Apareceram muitos bolsões de resistência, e em cada
um houve uma má influência qualquer que fez com que Israel pecasse, especialmente
imiscuindo-se na idolatria. Somente nos tempos de Davi os inimigos de Israel
foram finalmente aniquilados ou confinados. (Ver em II Sam. 10.19 como Davi
derrotou oito nações inimigas.) Tendo derrotado esses povos, Davi possibilitou
a Salomão uma boa era de paz, a época áurea de Israel. Mas isso levou vários
séculos para ser realizado. O poeta sentiu que a falta de fé de Israel impediu
o processo da conquista. Os israelitas contentaram-se com o que já tinham
conseguido, pelo que estavam sendo constantemente atacados pelos povos não
dominados, além de se deixarem corromper moral e espiritualmente. Eles deveriam
ter feito guerra santa contra aqueles povos, levando-os ao aniquilamento total,
incluindo homens e animais, e nem ao menos ficando com os despojos. Quanto a
isso, ver Deu. 7.1-5 e 20.10-18.
Sl 106.35 Antes se
mesclaram com as nações. Israel continuou a mesclar-se com os povos em
derredor, aprendendo más ideias e maus hábitos, especialmente a idolatria e a
variedade de pecados que sempre a acompanha. Essas práticas eram imorais,
incluindo prostituição sagrada e até sacrifícios infantis (vss. 37-40), a mais
terrível de todas as práticas associadas à idolatria (ver a respeito no
Dicionário) Os pagãos os engaiolaram como pássaros e os fizeram transformar- se
em um povo pagão. Ver Juí. 2.3; Êxo. 23.33; Deu. 7.16. Josué e outros homens de
Deus avisaram acerca do que estava acontecendo (Jos. 23.12,13), mas os filhos
de Israel não atentaram para essas advertências. Os casamentos mistos promoviam
a corrupção geral (Deu. 7.3.4).
Sl 106.36 Deram culto
a seus ídolos. A idolatria era o pior dos pecados de Israel, multifacetado e
mortífero para o espírito. A síndrome do pecado-julgamento-restauração nunca
deixou de rolar até que os cativeiros assírio e babilônico puseram fim a esse
ciclo. Ver Êxo. 23.33 e Juí. 8.27. A armadilha causou destruição, tal como uma
ave é apanhada pela rede e depois é morta, de maneira que o seu corpo pode ser
usado como alimento ou em algum outro propósito. Ver Exo. 10.7. Quanto à adoção
dos pactos canaanitas, ver Juí. 2.11,12; II Reis 16.3,4."... tal como uma
ave ou fera em uma armadilha, eles foram levados à tribulação e à angústia, das
quais foram incapazes de livrar-se” (John Gill, in loc.).
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2397-2398.
Desobediência em
Canaã (106.34-39)
Nem mesmo a posse da
Terra Prometida encerrou a triste narrativa de desobediência e incredulidade.
Os israelitas não destruíram as tribos pagãs de Canaã como haviam sido
ordenados, mas, em vez disso, se misturaram com as nações e aprenderam as suas
obras (práticas, 35). A idolatria foi a maldição e o laço (36) dos israelitas
desde o Êxodo até o exílio. Eles foram curados somente pelo rigoroso fogo do cativeiro babilônico. Esse culto pagão chegou ao extremo do sacrifício humano (37-38; cf.
Dt 12.31; 18.9-10; 2 Cr 33.5-6; Ez 16.20-21; 20.31). A expressão: Sacrificaram
[...] aos demônios (38) e aos ídolos de Canaã (38) mostra que os “deuses” dos
cananeus eram, na verdade, demônios na ótica do salmista. “Tornaram-se impuros
pelos seus atos; prostituíram-se por suas ações” (39, NVI).
W. T. Purkiser, M. A..
Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol.
3. pag. 276.
A narrativa termina
com um relato da conduta de Israel em Canaã, que foi do mesmo tipo da conduta
deles no deserto, e da conduta de Deus com eles em que, o tempo todo, estavam
presentes justiça e misericórdia.
1. Eles provocavam
muito a Deus. Os milagres e as misericórdias que os estabeleceram em Canaã não
causaram impressão mais profunda nem mais durável neles que aqueles que os
tiraram do Egito; pois no momento em que foram estabelecidos em Canaã, eles
corromperam-se e abandonaram a Deus. Observe:
(1) Os passos da
apostasia deles. [1] Eles pouparam as nações que Deus determinara que fossem
destruídas (v. 34); Deus dissera-lhes para que, quando conseguissem a terra
boa, não sentissem zelo pelo habitantes ímpios que o Senhor ordenara que
eliminassem, fingindo sentir pena; mas Deus é tão misericordioso que o homem
não precisa de forma alguma ser mais compassivo que ele. [2] Quando eles os
pouparam, prometeram a si mesmos que, não obstante isso, não teriam nenhuma
afinidade perigosa com eles. Contudo, o caminho do pecado é um declive; as
omissões abrem caminho para as concessões; quando eles não destruíram os povos,
a notícia seguinte que temos é que eles se misturaram com as nações, aliaram-se a
elas e tiveram intimidade com elas de tal maneira que aprenderam as suas obras
(v. 35). O que é decaído corrompe mais depressa o que é são do que é curado ou
feito são por ele. [3] Quando eles se misturaram com as nações e aprenderam
algumas de suas obras que pareciam diversões e passatempos inocentes, eles
pensavam que, todavia, não se juntariam a eles em sua adoração; mas, aos
poucos, eles aprenderam a fazer isso também: serviram os seus ídolos da mesma
maneira e com os mesmos rituais que as nações os serviam; e elas vieram a
ser-lhes um laço. Esse pecado inspirou muitos outros mais e trouxe julgamento
de Deus sobre eles, em relação ao qual eles não podiam fazer nada além de ser
sensíveis ao julgamento e, ainda assim, não sabiam como se recuperar. [4]
Quando eles se juntaram às nações em alguns de seus cultos idólatras, que eles
achavam que tinham pouquíssimo dano em si, pensaram pouco no fato de que sempre
seriam culpados da idolatria bárbara e desumana de sacrificar crianças vivas a
deuses mortos; mas, por fim, eles chegaram a isso (w. 37,38), no que Satanás
triunfou sobre seus adoradores e regalou-se no sangue e no homicídio:
sacrificaram seus filhos e suas filhas, partes deles mesmos, aos demônios e
acrescentaram homicídio, a morte menos natural, a sua idolatria; não se pode
pensar nisso sem sentir horror. Eles derramaram sangue inocente, o mais
inocente, pois era sangue de crianças, não, era o sangue de seus filhos e de
suas filhas. Veja o poder do espírito que opera nos filhos da desobediência e
perceba a malícia dele. O início da idolatria e da superstição, como o do
conflito, é como deixar a água correr, e não há vilania que os que se aventuram
nisso possam ter certeza de que pararam antes de a cometer, pois justamente
Deus os entregou a um sentimento perverso (Em 1.28).
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo
Testamento Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. pag. 586-587.
Sl 106.31-33 — Aguas
da contenda refere-se a Meribá (SI 95.8; Nm 20.1-13). Aqui, o pecado atribuído
a Moisés é o de haver falado imprudentemente.
Em Números 20.12,
Deus identifica o pecado de Moisés exatamente como o de O haver desonrado
perante o povo por não confiar nele. Ao não seguir a ordem do Senhor para falar
à rocha, Moisés serviu de exemplo, ante toda a comunidade ali presente, de
desobediência e desrespeito às Suas ordens, desmoralizando-o.
Sl 106.34-39 — O
juízo de Deus sobre Israel em Canaã foi resultado da má vontade dos israelitas em
destruir os povos pervertidos, pagãos. Se os cananeus tivessem sido expulsos da
terra, o povo de Israel jamais teria sucumbido à idolatria que marcou sua
existência por centenas de anos. Os israelitas, pelo contrário, aprenderam a
reverenciar os ídolos cananeus; participaram dos piores ritos da religião deles
e se corromperam perante Deus, o Redentor.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário
Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 107.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva.
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