A IGREJA E A LEI DE DEUS
Quando
Jesus de Nazaré veio ao mundo terreno, Ele mostrou que a principal razão da sua
vinda era esta: "Eu vim para que tenham vida e a tenham com
abundância" (Jo 10.10).
Jesus de Nazaré é a Palavra encarnada. É o
cumprimento de toda a lei: "E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor, teu Deus,
de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é
o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu
próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os
profetas (Mt 22.34-40)". Não podemos fazer com a Lei de Cristo o que os
escribas fizeram com os Dez Mandamentos: Atentar para a dureza da Lei e
esquecer-se do olhar amoroso que ela nos demanda.
Mais
importante que obedecer a letra é alcançar o espírito da Lei, que é Cristo.
Assim o apóstolo Paulo ratifica: "Com efeito: Não adulterarás, não
matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás, e, se há
algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo
como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo; de sorte que o cumprimento da
lei é o amor" (Rm 13.9,10). Quer cumprir a Lei de Deus de todo coração?
Ame! Contra o amor não há lei. Por quê? O amor é o cumprimento da lei. Em vez
de decorarmos uma lista de "pode não pode", devemos fazer tudo
baseado no amor — naturalmente a Bíblia não se refere ao amor romântico das
telas de Hollywood, mas à disposição de se fazer o que tem de ser feito em
favor do outro, segundo o Evangelho —, então cumpriremos a lei de Deus na
íntegra. O nosso Senhor resumiu toda a lei ao dizer que o seu objetivo é levar
os homens à plenitude do amor. Aqui está o seu significado: "E disto
demanda a Lei e os Profetas" (Mt 22.40).
Precisamos
relembrar que o Decálogo tem uma divisão natural que versa sobre o
relacionamento do homem com Deus e do homem com o seu próximo. A nossa relação
com a lei de Deus deve se dá nestes termos: vertical, amando a Deus de todo
coração e alma; horizontal, amando o próximo como a si mesmo. Mais do que
quaisquer perspectivas de interpretação, o mais importante é nos
conscientizarmos da importância dos princípios eternos de Deus revelados na sua
Palavra e interpretados pela pessoa bendita de Jesus de Nazaré. Por isso, toda
leitura do Antigo Testamento precisa e deve ser feita tendo Jesus como a chave
hermenêutica da nossa leitura e interpretação.
Revista ensinador. Editora CPAD Ano 16 - N° 61. pag.
42.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
A lei
de Deus e os Dez Mandamentos não são a mesma coisa. Os Dez Mandamentos encabeçam
os demais preceitos entregues por Deus a Moisés no monte Sinai desde Êxodo
19.16-19 até Levítico 26.46; 27.34. Esses preceitos são identificados com
frequência como estatutos, juízos, leis e mandamentos. Muitos deles são
repetidos nos livros de Números e Deuteronômio. Todo esse sistema legal integra
o Pentateuco, que aparece na Bíblia como lei, livro da lei, lei de Moisés, lei
de Deus, lei do Senhor.
É
oportuno aqui esclarecer o que a Bíblia quer dizer quando usa as palavras
"lei de Deus". O termo aparece sete vezes nas Escrituras, quatro no
Antigo Testamento e três no Novo, e em nenhum lugar diz respeito ao Decálogo.
As quatro primeiras ocorrências se referem a toda a lei de Moisés, ao
Pentateuco, como livro: "Josué escreveu estas palavras no livro da Lei de
Deus" Os 24.26); "E leram o livro, na Lei de Deus... ele lia o livro
da Lei de Deus" (Ne 8.8,18); "e convieram num anátema e num
juramento, de que andariam na Lei de Deus, que foi dada pelo ministério de
Moisés, servo de Deus; e de que guardariam e cumpririam todos os mandamentos do
SENHOR, nosso Senhor, e os seus juízos e os seus estatutos" (Ne 10.29).
Assim, as expressões "lei de Deus", "lei do Senhor" e
"lei de Moisés" dizem respeito à mesma coisa (Ne 8.1, 8, 18; Lc 2.22,
23). Trata-se do Pentateuco no seu todo, e não apenas do Decálogo, do livro, e
não das tábuas de pedra.
As
outras três aparecem somente em Romanos, e nenhuma delas diz respeito ao
Decálogo: "Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de
Deus... Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim que eu mesmo,
com o entendimento, sirvo à lei de Deus, mas, com a carne, à lei do
pecado" (Rm 7.22, 25). O termo "lei" aparece cerca de 70 vezes
nesta epístola com amplo significado, cuja explanação não cabe aqui. A
"lei de Deus" neste contexto contrasta a "lei do pecado",
mostrando tratar-se de um princípio. A outra ocorrência é no capítulo seguinte:
"Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é
sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser" (Rm 8.7). O homem
carnal não tem lei nem se submete à vontade de Deus que o apóstolo chama de
"lei de Deus".
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 140-141.
Os
judeus usavam o termo a Lei em quatro acepções diferentes:
(1)
Usavam-no para designar aos Dez Mandamentos.
(2)
Usavam-no para designar os cinco primeiros livros da Bíblia, essa porção das
Escrituras que também se conhece como o Pentateuco – que significa literalmente
Os cinco rolos – e que era para os judeus a Lei por excelência e a parte mais
importante das Escrituras.
(3)
Usavam a expressão A Lei e os Profetas para denotar a totalidade das
Escrituras; era uma espécie de descrição ampla que abrangia a totalidade do
Antigo Testamento.
(4) E
também a usavam para descrever a lei oral, ou dos escribas.
Nos
tempos de Jesus o último destes significados era o mais freqüente, e é
precisamente esta lei dos escribas a que tanto Jesus como Paulo condenavam de
maneira radical.
O que
era, pois essa lei dos escribas?
No
Antigo Testamento mesmo achamos muito poucas regras e regulamentos; o que sim
contém são grandes e amplos princípios que cada pessoa deve tomar e interpretar
sob a guia de Deus, aplicando-os às situações concretas de sua vida. Os Dez
Mandamentos não são um estatuto de regras concretas; são, cada um deles,
grandes princípios dos quais cada indivíduo tem que extrair suas próprias
normas de vida. Os judeus dos tempos de Jesus não acreditavam que esses
princípios gerais fossem suficientes. Sustentavam que a Lei era divina, e que
com ela Deus tinha pronunciado sua última palavra, e que portanto nela deviam
estar contidas todas as coisas. De modo que, se algo não aparecia
explicitamente na lei, devia estar contido em forma implícita. Sustentavam, por
conseguinte, que era possível extrair da lei, por um procedimento lógico de
dedução, regras e estatutos que fixassem o que era correto para todo homem, em
qualquer situação da vida. Surgiu assim uma casta de especialistas na Lei,
chamados escribas, que se dedicaram a reduzir os grandes princípios da Lei,
literalmente a milhares e milhares de regras, estatutos e regulamentos.
A
melhor forma de compreender o significado desta interpretação da Lei é vendo
como funcionava. A Lei estabelecia que o dia de sábado devia ser santificado, e
que durante suas vinte e quatro horas ninguém pode fazer trabalho algum. Este é
um grande princípio. Mas esses legalistas judeus eram apaixonados pelas
definições. De maneira que se perguntavam, para começar: o que é "trabalho"?
Fizeram-se longas listas de atividades que deviam considerar-se trabalhos. Por
exemplo, levar uma carga é um trabalho, e portanto não se podiam levar-se
cargas no dia de sábado. Mas então se fazia necessário definir o que era uma carga.
De modo que a lei dos escribas estabelece que "carga" é "uma
quantidade de comida equivalente em peso a um figo seco, suficiente vinho para
encher uma taça, leite para um gole, mel para cobrir uma ferida, a quantidade
de azeite que forneceria a unção de alguma das partes mais pequenas do corpo,
água suficiente para umedecer uma pálpebra, papel para redigir nele uma
declaração de alfândega, a tinta que pode requerer a escritura de duas letras
do alfabeto, e uma cana com a qual possa fazer uma pena para escrever" – e
assim sucessivamente, até o infinito. Deste modo, passavam-se horas e dias
discutindo se se podia ou não levantar um abajur para trocá-lo de lugar, no dia
de sábado, ou se o alfaiate pecava ao levar por descuido uma agulha cravada em
sua túnica, se uma mulher podia levar um alfinete, ou uma peruca, e até se
podiam usar-se no dia de sábado, dentes postiços ou uma perna artificial, ou se
se podia levantar a um menino. Estas coisas eram, para eles, a essência de sua
religião. A religião deles era um legalismo de regras e normas ridiculamente
detalhistas.
No dia
de sábado não se podia escrever. Mas era necessário definir o que devia
considerar-se escritura. A definição de escritura que propuseram era:
"Quem
escreve duas letras do alfabeto, com sua mão direita ou com sua mão esquerda,
sejam do mesmo tipo ou de dois tipos diferentes, com tintas diferentes ou em
idiomas diferentes, sendo sábado, é culpado de pecado. Embora escreva essas
duas letras por descuido, também peca, tenha-as escrito com tinta, giz vermelho,
pintura, vitríolo, ou algo que deixe uma marca permanente. Também peca quem
escreve em um canto de duas paredes, ou em dois tabletes de seu livro de
contas, se as duas letras podem ser lidas juntas… Mas se escrever com fluido
escuro, com suco de frutas, ou sobre o pó do caminho, na areia ou utilizando
qualquer outro elemento de escritura que não produza uma marca permanente, não
é pecado… Se se escreve uma letra no piso e outra na parede da casa, ou em duas
páginas diferentes de um livro, de tal maneira que não se possam ler juntas,
não é pecado."
Esta é
uma passagem típica da Lei dos escribas; e isto é o que para o judeu ortodoxo
da época de Jesus constituía a verdadeira religião e o verdadeiro serviço a
Deus.
Curar
era um trabalho, e portanto não se podia fazer no sábado, Mas, evidentemente,
isto devia definir-se com maior exatidão. Permitia-se curar quando a vida do
doente corria perigo, e especialmente quando o problema afetava os ouvidos, o
nariz ou a garganta. Entretanto, até nestes casos, só se podia fazer aquilo que
impedisse a piora do paciente. Não se podia fazer nada para que melhorasse.
Podia enfaixar uma ferida, mas não colocar-lhe ungüento algum; podia tapar um
ouvido inflamado, mas sem lhe acrescentar medicação alguma.
Os
escribas eram os encarregados de elaborar estas normas e regulamentos. Os
fariseus, cujo nome significa "separados", eram os que se separavam
de toda atividade comum para dedicar-se a observar todas estas regulamentações
e estatutos.
Podemos
nos dar conta dos extremos a que chegou este sistema tendo em mente os
seguintes fatos. Durante muitas gerações a lei dos escribas se transmitiu de
maneira oral e foi conservada na memória de geração após geração de escribas.
Para meados do século III d. C., foi posta por escrito e se codificou um resumo
desta tradição oral. Este "resumo" se conhece como a Mishnah; contém
sessenta e três tratados sobre distintos temas relacionados com a lei, e em
nosso idioma constitui um volume de umas oitocentas páginas. A erudição judia
posterior se ocupou de escrever comentários da Mishnah. Estes se conhecem como
talmudes. O Talmud de Jerusalém está contido em doze volumes, e o Talmud de
Babilônia alcança, em sua versão impressa, sessenta volumes.
Para o
judeu ortodoxo dos tempos de Jesus, a obediência a Deus envolvia a observância
de milhares de regras e estatutos legalistas; consideravam literalmente essas
meticulosas disposições como questões de vida ou morte, que tinham que ver com
seu destino eterno. Evidentemente, quando Jesus fala da lei que não passará,
não se refere a essas regras e estatutos, pois ele mesmo os quebrantou
repetidas vezes, e repetidas vezes os condenou, Não era isso o que ele entendia
por "a Lei", pois essa classe de leis tanto Jesus como Paulo as
condenaram.
BARCLAY. William. Comentário Bíblico. Mateus. pag.
138-141.
Deus
enviou leis morais e cerimoniais para ajudar as pessoas a amá-lo com seu coração
e mente. Entretanto, na época de Jesus os líderes religiosos haviam transformado
as leis de Deus em um confuso emaranhado de regras. Quando Jesus falou sobre
uma nova forma de entender a lei, Ele estava tentando fazer com que as pessoas
se voltassem ao seu significado original. Jesus não falava contra a lei, mas contra
os abusos e excessos aos quais ela havia sido submetida.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 39.
I. O QUE SIGNIFICA "CUMPRIR
A LEI"?
1.
COMPLETAR A REVELAÇÃO.
«Vim».
Indica uma missão especial a ser cumprida. Ele veio à terra e assumiu os
direitos próprios do Messias, a fim de cumprir certos propósitos de
conformidade com a lei, e não contrários a ela. Provavelmente o modo diferente
usado por Jesus para transmitir a sua mensagem, a autoridade que emanava de sua
pessoa, a sua superioridade em relação aos escribas e rabinos,
tanto em conhecimento como na apresentação desse conhecimento levaram muitos a
pensar que ele provocaria uma revolução capaz de eliminar a ordem e a base
religiosa dos judeus. Mas aqui Jesus esclarece que sua vinda não tinha tal
finalidade.
«A
LEI...os profetas». Em Luc. 24:44 lemos «...escrito na Lei de Moisés, nos
Profetas e nos Salmos»—evidentemente uma expressão geral que indica o V.T.,o
conjunto completo das Escrituras judaicas. Jesus usou novamente essa expressão
(Mat. 7:2 e 22:40; ver também Luc. 16:16 e Atos 13:15). Não há razão para
interpretarmos outra coisa que não as Escrituras judaicas de modo geral, ou
seja, o V. T. Notar que a frase diz «...a lei ou os profetas...», e não «a lei
e os profetas». Os judeus eram culpados de revogar um ou outro.
Os
saduceus não aceitavam os escritos dos profetas; por motivo de sua
interpretação errônea, os fariseus revogavam parte da lei. Provavelmente, se a
nossa fonte informativa é correta, os essênios revogavam partes de ambos.
O
Messias, Jesus de Nazaré, não revogou nem a um nem a outro.
«CUMPRIR».
Há diversas idéias sobre o sentido destas palavras: 1. Cumprir no sentido de
obedecer completamente, ser o que a lei manda e cumprir as profecias e os
preceitos dos profetas. 2. Completar, aumentar e aperfeiçoar a mensagem do V.T.,
mostrando sentidos e experiências espirituais de maior elevação, aumentando as
doutrinas e mudando a posição do povo de Deus. 3. Provavelmente, a combinação
dos dois pontos anteriores é a mais correta. Jesus obedeceu todos os
mandamentos, cumpriu as profecias em sua própria pessoa, obedeceu os preceitos
dos profetas; mas também, sendo superior a Moisés, aumentou e aperfeiçoou o
sistema, as doutrinas e a experiência espiritual. Escreveu a lei no coração,
mas também expôs novas idéias e ensinos. Trouxe-nos o principio da graça, da
justificação em sua própria pessoa, da regeneração, coisas essas que a lei
prefigurava, mas que não podia efetuar.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 308-309.
Mt 5.17.
Não vim ab-rogar, mas cumprir. O verbo ab-rogar significa “soltar”, “desatar”, “desprender”
como se faz com uma casa ou tenda (2 Co 5.1).
Cumprir
significa “encher por completo” ou “completar”. Foi o que Jesus fez com a lei
cerimonial, que o apontava. Ele também guardou a lei moral. “Ele veio completar
a lei, revelar a total profundidade do significado que estava ligado a quem a
guardava.”
A.
T. ROBERTSON. Comentário Mateus &
Marcos. À Luz do Novo Testamento Grego. Editora CPAD. pag.
70.
A que
se referia Jesus, então, quando falava de "a Lei"? Disse que não
tinha vindo para destruir a lei e sim para cumpri-la. Quer dizer, veio para pôr
de manifesto o verdadeiro significado da Lei. Qual era o verdadeiro significado
da Lei? Mesmo por trás da lei oral dos escribas e fariseus, havia um grande
princípio de crucial importância, que estes não compreendiam a não ser de
maneira equivocada e imperfeita. Este grande princípio fundamental é que em
todas as coisas o homem deve procurar a vontade de Deus e que uma vez que a
conhece deve dedicar toda sua vida a obedecê-la. Os escribas e fariseus tinham
razão ao procurar a vontade de Deus, e não se equivocavam ao dedicar a vida a
sua obediência; mas se equivocavam ao acreditar que suas centenas e milhares de
insignificantes normas legalistas eram a vontade de Deus.
Qual
é, pois, o verdadeiro princípio, que respalda a Lei em sua totalidade, esse
princípio que Jesus deveu cumprir, esse princípio cujo verdadeiro significado
veio a nos mostrar?
Quando
examinamos os Dez Mandamentos, que são a essência e o fundamento de toda a Lei,
podemos nos dar conta que todo o seu significado pode resumir-se em uma só
palavra – respeito, ou até mais adequadamente, reverência. Reverência para com
Deus e para o nome de Deus, reverência pelo dia de Deus, respeito aos pais,
respeito à vida, respeito à propriedade, respeito à personalidade, respeito à
verdade e ao bom nome de outros, a respeito a si mesmo, de tal modo que jamais
possam chegar a nos dominar os maus desejos. Estes são os princípios
fundamentais que resumem o significado dos Dez Mandamentos. Os princípios
fundamentais dos Dez Mandamentos são a reverência para com Deus e o respeito a
nossos semelhantes e a nós mesmos. Sem esta reverência e este respeito
fundamentais não pode haver Lei. Sobre estas atitudes se apóia toda lei.
E é
esta reverência e este respeito o que Jesus deveu cumprir. Veio para demonstrar
aos homens, em sua própria vida concreta de cada dia, o que é a reverência para
com Deus e o respeito para com o homem. A justiça, diziam os gregos, consiste
em dar a Deus e aos homens o que merecem. Jesus veio para mostrar, na vida, o
que significa a reverência que Deus merece e o respeito que o homem merece.
Essa
reverência e esse respeito não consistiam na obediência de uma multidão de
meticulosas regras e estatutos. Não exigia o sacrifício, a e sim a
misericórdia; não era um legalismo e sim o amor; não era uma série de
proibições que estipulavam detalladamente o que não se devia fazer, e sim uma
série breve de mandamentos fundamentais que levavam o crente a modelar sua vida
a partir do mandamento positivo: o do amor. A reverência e o respeito que
constituem o fundamento dos Dez Mandamentos jamais passarão. São a própria
substância da relação de cada indivíduo com Deus e com o seu próximo.
BARCLAY. William. Comentário Bíblico. Mateus. pag.
141-143.
2.
CUMPRIMENTO DAS PROFECIAS.
Jo
19.36 A vida do Senhor Jesus se caracterizou pelo perfeito cumprimento de todas
as profecias messiânicas; e por ocasião de sua morte não ocorreu outra coisa,
porquanto, quando vieram os soldados quebrar as suas pernas, descobriram que
ele já estava morto. Estes dois versículos (36 e 37) encerram duas predições
bíblicas que se cumpriram quando o Senhor já expirara, pelo que também não era
possível que tivesse ele cumprido as mesmas propositalmente. H á uma teoria que
diz que Jesus procurava cumprir propositalmente as profecias messiânicas, a fim
de dar a impressão de que era ele o Messias. Porém, uma vez morto, não era
possível que ele tivesse participado ativamente no cumprimento das profecias; e
tanto o «crucifragium» (ou quebra das pernas dos condenados à cruz, para apressar-lhes
a morte) como o golpe de misericórdia, com a lança, foram cumprimentos de
profecias a seu respeito. Esse cumprimento se torna tanto mais notável quando
nos lembramos que fora predito que ele escaparia ao «crucifragium», ao passo
que o golpe traspassador de lança fora predito. E assim sucedeu quando ele já
rendera o espírito, servindo de prova inconteste do fato de que havia realmente
morrido, e, por conseqüência, de prova inconteste de sua autêntica
ressurreição.
Essas
profecias e suas respectivas realizações, na vida e na morte de Cristo, ajudam-nos
a crer na validade desses acontecimentos, conforme foram registrados pelos
evangelistas diversos, de tal modo que podemos eliminar com toda a segurança a
teoria do «desmaio» como explicação da ressurreição, bem como quaisquer outras
suposições que procuram diminuir a autenticidade ou o valor da ressurreição de
Jesus Cristo. (Ver as notas expositivas em Luc. 24:6, que expõem as teorias
sobre os possíveis modos de ressurreição; e também I Cor. 15:20, quanto ao fato
da ressurreição e a sua doutrina bíblica). Grande é a nossa dívida ao apóstolo
João por haver preservado para nós esses pormenores adicionais, que confirmam a
realidade desses fatos.
Com
base no trecho de Êxo. 12:46, com respeito ao cordeiro pascal, observamos que
nenhum osso do animal podia ser quebrado, pois de outra maneira não seria
considerado próprio para servir de sacrifício. Cristo, pois, na qualidade de
Cordeiro de Deus, não poderia ter quebrado qualquer de seus ossos, embora, nas
execuções por crucificação fosse muito comum essa violência.
Naturalmente
o autor sagrado tinha em mente confirmar a validade das reivindicações
messiânicas de Jesus, demonstrando o fato de que ele cumprira as profecias
messiânicas. Todavia, esta é apenas uma, dentre muitas outras provas
neotestamentárias. sobre o assunto. (Quanto a um sumário sobre a questão, ver
João 7:45).
«Ele
viu aquilo que poderia ter parecido mera ocorrência acidental: não partiram
qualquer dos ossos de Jesus; ele viu aquilo que poderia ter parecido uma
espécie de instinto do momento: que o soldado romano transpassou-lhe o lado com
sua lança; ele viu, no sangue e na água que fluiu do lado traspassado de Jesus
uma prova visível que Jesus era o Filho do homem; mas ele também viu que esse
incidente fazia parte do destino divino para o Messias, que os profetas haviam
predito e que cumpriu assim as Escrituras». (Ellicott, in loc.).
João
Batista já enfatizara o caráter de Jesus Cristo como o Cordeiro de Deus (ver
João 1:29); e, posteriormente, Paulo fez a mesma coisa(ver ICor. 5:7). Neste
ponto o fato é enfatizado sem o emprego desse título, porquanto Cristo aparece
como o cordeiro do sacrifício, cujos ossos não podiam ser quebrados (ver Êxo.
12:46). (Quanto a notas sobre o tema do «Cordeiro de Deus», conforme teve seu
cumprimento em Jesus, ver João 1:29). Alguns estudiosos vêem nessa declaração:
«...Nenhum dos seus ossos será quebrado...» uma referência simbólica ao seu
corpo místico, a igreja, pensando tratar-se de uma proinessa de segurança para
todos quantos confiam em Cristo. Por conseguinte, seria uma repetição do tema
que pode ser encontrado em João 10:28,29 e 17:11,12, onde as notas expositivas devem
ser consultadas. (Quanto a uma nota expandida sobre a segurança do crente, ver
Rom. 8:39).
Sobre
essa questão, é a seguinte a exposição feita por Brown (in loc.): «...essa é
uma maneira definida de expressar o cuidado minucioso com que Deus cuida do seu
povo, no corpo (referindo-se ao fato de que nenhum de seus ossos seria
partido). E o correto ponto de vista sobre a conexão que isso tem com Cristo é
a observação que nota quão congruente era que isso se cumprisse literalmente
naquele que tinha o propósito expresso de ser o símbolo da segurança de todos
os seus santos». Esse mesmo autor também sente que uma das augustas implicações
deste versículo é que Deus permitiu que os homens abusassem de Jesus e o
crucificassem, porque ele estava neste mundo para ser o sacrifício expiatório
pelo pecado. Assim, pois, a proteção de Deus Pai se retirou nesses momentos, a
fim de que ele tivesse cumprido o seu destino. Porém, assim que esse destino se
cumpriu, voltou a proteção divina sobre a pessoa do Senhor Jesus, de tal modo
que nenhum de seus ossos teve de ser quebrado, embora houvesse sido permitida a
perfuração de seu lado, com a lança, para que ficasse perfeitamente
comprovada a validade de sua morte, e, por conseqüência, de sua ressurreição, a
fim de que todos os crentes tivessem confirmada a sua confiança nele, em sua
morte
expiatória e em sua ressurreição miraculosa, que nos proporciona a vida eterna.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 625-626.
Jo 19.36
Por meio de um enfático ―pois‖ João nos revela o que de fato lhe era grandioso
nesse acontecimento todo. ―Pois isso aconteceu para se cumprir a Escritura.‖
Aqui aconteceu algo surpreendente e de forma alguma previsível. Na realidade
deveria ter acontecido com Jesus exatamente a mesma coisa que aconteceu com os
outros dois ao lado dele. Mas ele terminou sua vida com uma rapidez
surpreendente. Por isso suas coxas não foram quebradas. Em troca, foi perfurado
pelo golpe de uma lança. E isso não é uma ―coincidência‖ exótica. Não, aqui se
cumpre de forma maravilhosa a Escritura, mais uma vez confirmada perante os
olhares de cada pessoa que deseja ouví-la seriamente. A instrução sobre o
cordeiro da Páscoa em Êx 12.46; Nm 9.12 determina: ―Nenhum osso lhe deve ser
quebrado.‖ Contra todas as expectativas foi isso que sucedeu com Jesus, e assim
Ele foi atestado como o verdadeiro Cordeiro da Páscoa. Jesus morre na hora em
que os cordeiros para a Páscoa eram abatidos no templo, e é preservado de ter
seus ossos quebrados.
Werner de Boor. Comentário Esperança Evangelho de João. Editora Evangélica
Esperança.
Era um
costume romano abandonar os cadáveres na cruz, deixando-os aos cães e abutres.
Mas havia uma lei judaica que “proibia deixar um corpo no local da execução de
um dia para outro”. Por essa razão, e porque era a preparação, i.e., a véspera
do sábado, os judeus... rogaram a Pilatos que quebrassem as pernas das vítimas,
e fossem tirados. Esta prática brutal, conhecida como crurifragium, era usada
como um meio de apressar a morte. Ela envolvia a quebra das pernas das vítimas
com uma grande marreta. Os soldados fizeram isto com os dois ladrões que foram
crucificados com Jesus. Mas, vindo a Jesus e vendo-o já morto, não lhe
quebraram as pernas. João registra aqui o cumprimento das Escrituras: Nenhum dos
seus ossos será quebrado ; cf. Êx 12.46; Nm 9.12. Jesus foi o sacrifício
perfeito, tanto na morte quanto na vida.
Joseph
H. Mayfield. Comentário Bíblico Beacon.
João. Editora CPAD. Vol. 7. pag. 158.
3.
O CENTRO DAS ESCRITURAS.
São
estas as palavras que vos disse estando ainda convosco (44). Jesus se refere ao
seu ministério, até à hora da sua crucificação, como a alguma coisa que já
fazia parte do passado. As palavras estando ainda convosco não só predizem a
sua ascensão, mas também indicam que mesmo naquele momento em que está falando,
Ele não está “com eles”, no mesmo sentido usado anteriormente. Sua morte e
ressurreição mudaram o mortal para imortal, e criaram uma diferença entre eles
que apenas a morte e a ressurreição deles próprios poderiam lhes permitir
transcender. Convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei
de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos. A Lei, os Profetas e os Salmos são as
três principais divisões das Escrituras Hebraicas. Deste modo, Jesus está se
referindo à série completa da profecia messiânica, da primeira promessa em
Gênesis 3.15 até o Livro de Malaquias. Ele deixa claro um vínculo inseparável
entre Ele mesmo e esta profecia do Antigo Testamento. O Senhor lembra aos seus
discípulos que Ele deixou este ponto claro enquanto ainda estava com eles.
Antes de sua morte, a ênfase era de que se cumprisse tudo, e se referia ao seu
ministério terreno.
Charles
L. Childers. Comentário Bíblico Beacon.
Lucas. Editora CPAD. Vol. 6. pag. 497.
Lc 24.44.
São estas as palavras que eu vos falei: “Estes acontecimentos, especificamente
a ressurreição, representam a concretização das coisas que Eu vos ensinei.”
Jesus incluíra no Seu ensino um número suficiente de prenúncios da Paixão e da
Ressurreição para Seus seguidores não terem sido surpreendidos com aquilo que
aconteceu. Podia dizer: estando ainda convosco, porque Sua presença agora (e
noutras ocasiões como esta) era excepcional. O rompimento definitivo ocorrera e
Ele já não habitava na terra. A divisão solene das Escrituras na Lei de Moisés,
nos Profetas e nos Salmos (as três divisões da Bíblica Hebraica) indica que não
há parte alguma da Escritura que não dá testemunho a Jesus. Este, aliás, parece
ser o único lugar no Novo Testamento onde esta tríplice divisão é explicitamente mencionada.
Leon L. Morris. Lucas. Introdução
e Comentário.
Editora Vida Nova. pag. 321.
Lc 24:44-49
/ O principal ponto enfatizado por Jesus no v. 44 é que realmente nada há de
novo ou inesperado em sua ressurreição no terceiro dia. Isso ocorre por dois
motivos: (1) [Jesus] estando ainda com seus discípulos dissera-lhes que era
necessário que se cumprisse tudo o que dele estava escrito. Vê-se isso de modo
especial quanto às predições dapaixão (9:22,44; 18:31-33), de modo especial as
de 9:22 e 18:33, em que o Senhor predisse sua ressurreição no terceiro dia. (2)
Os discípulos deveriam entender os fatos da paixão e ressurreição de Jesus
porque foram profetizados nas Escrituras (i.e., no Antigo Testamento). Dessa
vez, todas as três partes do Antigo Testamento são mencionadas (e não apenas
duas, como no v. 27, acima): na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.
Entende-se o termo Salmos como referência à terceira divisão da Bíblia
hebraica, que em geral se denomina “Escritos”. Aqui, essa divisão recebe o nome
simples de Salmos, provavelmente porque, de todos os Escritos, os Salmos tinham
grande importância para a interpretação cristológica do Antigo Testamento.
Isso
se torna evidente nas alusões aos salmos de lamentação (Salmo 22, 31 e 69) no
relato de Lucas sobre a paixão e morte de Cristo (v. 23:26-43).
Craig
a. Evans. Comentário Bíblico
Contemporâneo. Lucas. Editora Vida. pag. 399.
II. O SENHOR JESUS VIVEU A LEI
1.
PRECEITOS CERIMONIAIS.
É
comum ouvir falar de lei moral, lei cerimonial e lei civil. Os preceitos morais
estão resumidos nos Dez Mandamentos. São os que tratam dos princípios básicos
morais (alguns chegam a considerar erroneamente o sábado como preceito moral,
ver Capítulo 5). É única porção do Pentateuco escrita pelo dedo de Deus em duas
tábuas de pedra. A própria nação de Israel viu e ouviu Deus entregando essa
parte da lei a Moisés. Essa é outra característica distintiva do Decálogo. A
lei cerimonial é a parte que trata das festividades religiosas, do sistema de
sacrifício e da adoração no santuário, dos alimentos limpos e imundos e das
instruções sobre a pureza ritual, entre outros.
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 141.
Observâncias
cerimoniais tinham um sentido sim bólico e temporário. O sistema de sacrifícios
prefigurava Cristo em sua obra expiatória; as festas, de vários tipos,
simbolizavam Cristo em sua missão e realizações. As diversas cerimônias
relembravam os antigos sobre os valores espirituais, que se acham em Cristo e
no evangelho, mas não tinham qualquer valor próprio pará a salvação da alma. A
circuncisão, segundo vimos, em seu sentido espiritual, indica a eliminação da
natureza inferior; as lavagens tipificam o poder de Cristo para limpar-nos do
pecado. Até mesmo o templo, centro da adoração legalista, era um quadro das realidades
celestes, isto é, como os homens acham acesso à presença de Deus, e isso
através de Cristo. Um «sábado» significa nosso descanso em Cristo, em que a
alma se vê em perfeita harmonia com Deus, livre para contemplá-lo, repousando
do conflito que caracteriza este mundo pecaminoso. A Páscoa falava da lib e
rtação do povo de Deus de seus inimigos, e Cristo é o grande libertador dos
homens, de todos os inimigos da verdade e da bondade. A festa de Pentecoste
(festa das colheitas e das primícias), tipificava a frutificação que há no
Espírito).
«
...sombra...» No grego temos «skia», «sombra», e não «esboço», conforme alguns
têm interpretado. Devemos pensar nos pontos seguintes:
1.
Isso fala de inexatidão. Os valores espirituais não eram, então, claramente d
efinidos. 2. Fala de natureza incompleta. As realidades espirituais não eram,
então, perfeitamente conhecidas. 3. Fala de falta de substancialidade. Não eram
aquelas as realidades de valor espiritual, mas apenas uma espécie de prelibação
das mesmas. 4. Fala de temporalidade. A sombra tem de desaparecer, quando a
realidade aparece. 5. Fala de inferioridade. Aquelas coisas tinham certo valor,
mas bem pequeno em comparação com a realidade espiritual. 6. Fala de
simbolismo. Não eram realidades espirituais (as realidades simbolizadas), mas
apenas símbolos obscuros das realidades que ainda seriam reveladas. 7. Isso
também fala de diferença de natureza. Eram coisas «físicas», e não espirituais.
Os valores autênticos são os de natureza espiritual. 8. Fala de questões
cerimoniais, contidas em ritos. Mas os valores espirituais autênticos são
conhecidos misticamente, mediante a comunhão com Cristo. 9. Fala do fato que
são coisas dispensáveis. Não eram coisas que teriam sempre de existir, o que só
pode ser atribuído aos valores espirituais indispensáveis.
«...cousas
que haviam de vir...» O verbo no futuro é usado, porque o autor sagrado escreve
do ponto de vista do tempo em que tais sombras ainda estavam em vigor, pelo que
o advento de Cristo e do evangelho é reputado como algo ainda futuro. É claro
de que grande parte do que possuímos em Cristo a inda é futuro, pois as eras da
eternidade também devem ser envolvidas na idéia das «coisas que hão de vir».
Mas a primeira idéia é que é enfatizada neste versículo. O «reino messiânico»
também fica aqui implícito, embora não seja diretamente referido.
«...porém
o corpo é de Cristo... » O corpo lança uma sombra, mas o corpo é infinitamente mais
real que a sua sombra, além de ser distinto desta. Os judeus helenistas criam,
à moda platônica, que todas as coisas da terra têm paralelos celestes, nos
vários níveis da glória celestial. Essa expressão, «...o corpo é de Cristo...»,
dá a entender tal crença, embora não a confirme.
Quando
Jesus veío dos céus trouxe a nós a substância e a realidade daquilo quê a
religião somente sim bolizava, em seus ritos, cerimônias, dias especiais, etc.
Em Cristo, pois, se incorporam todas as realidades celestes; e estas lhe
pertencem, desde sua origem, sendo ele quem as dá, porquanto «pertencem» a ele.
«A
'substância' pertence à economia cristã. Deriva-se de Cristo, e só se concretizará
mediante a nossa união com ele». (Vincent, in loc.). (Ver Heb. 8:5 e 10:1
quanto a expressões similares, que falam do mesmo assunto). Em Cristo se acha
tudo quanto é necessário para a vida, para a piedade e para a glória eterna.
Ele é a perfeita concretização de todas essas coisas, porque é segundo a sua im
agem que estamos sendo transformados, e através disso, chegaremos a participar
do destino espiritual que a vontade divina estabeleceu para nós. (Ver Efé. 1:3,
que fala de todas as bênçãos espirituais que nos são dadas em Cristo).
H á
aqueles que correm atrás de sombras. Ninguém possui a substância da realidade
espiritual, enquanto estiver preocupado em perseguir meras sombras. Os falsos
mestres, segundo a estimativa de Paulo, eram indivíduos que corriam atrás de
sombras.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 124-125.
O
engano do legalismo (2.17). O apóstolo Paulo derruba o fundamento do legalismo,
dizendo: “Porque tudo isso (comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou
sábados) tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de
Cristo” (2.17). Platão, no seu livro República, distingue a sombra (aparência
externa) da realidade (a verdade espiritual e interna das coisas). Paulo,
porém, usa “sombra” no sentido de prenúncio da realidade. O corpo lança uma
sombra, mas o corpo é infinitamente mais real que a sua sombra, além de ser
distinto desta. Paulo refuta os falsos mestres usando a ilustração do “corpo” e
da “sombra”. Werner de Boor esclarece esse ponto quando escreve:
Um
corpo lança sua sombra e pode ser reconhecido pela sombra, segundo seu
contorno. Porém o essencial não é a sombra, mas próprio corpo. Assim o
mandamento do sábado de Israel também é “apenas uma sombra do que haveria de
vir, o verdadeiro corpo é de Cristo”. Os mandamentos e regras dados a Israel
eram tão-somente a sombra projetada de uma coisa cuja realidade plena pertence
somente a Cristo e chegou nele e com ele.
Nessa
mesma linha de pensamento, Russell Norman Champlin diz que a palavra “sombras”
deve levar-nos a pensar nos seguintes pontos: ela fala de 1) inexatidão; 2) natureza
incompleta; 3) falta de substancialidade; 4) temporalidade; 5) inferioridade;
6) simbolismo; 7) diferença de natureza; 8) questões cerimoniais contidas em
ritos; 9) que são coisas dispensáveis.
Essas
coisas às quais os legalistas se agarravam eram a sombra, mas o corpo é de
Cristo. Quando a realidade chega, náo precisamos mais da sombra. Por que
retornar à sombra, quando já temos a realidade? Corroborando essa posição,
Fritz Rienecker diz que a palavra grega skia, “sombra”, usada aqui por Paulo,
indica uma sombra que não tem substância em si mesma, e indica a existência de
um corpo que a produz ou indica um esboço, um mero esquema do objeto, em
contraste com o objeto em si. Isso significa que o ritual do Antigo Testamento era
um mero esquema das verdades redentivas do Novo Testamento.
Ralph
Martin afirma que a “sombra” é um presságio daquilo que está por vir; e o tempo
da substância já chegou, tornando antiquado, desta maneira, tudo quanto apontava
para ela como coisa futura. Aquela “substância” é Cristo. A nova era cristã
liberta os homens da escravidão ao medo e ao terror supersticioso. Liberta-os
de noções falsas e esperanças insubstanciais, e dá-lhes um gosto da realidade
na religião, na medida em que chegam a conhecer em Cristo a verdadeira comunhão
com o Deus vivo. Esta realidade é aquilo a que Paulo se refere nas suas alusões
anteriores à “esperança do evangelho” (1.5,23).
Hendriksen
deixa claro esse ponto, quando escreve:
Por
que ter como indispensável o submeter-se a preceitos sobre comida, quando
Aquele que foi anunciado pelo maná de Israel se nos oferece a Si mesmo como o
Pão da vida? (Jo 6.35,48). Como pode considerar-se a Páscoa (Êx 12.1-12) uma
observância necessária para a perfeição espiritual, se “nossa páscoa, que é
Cristo, já foi sacrificado por nós?” (ICo 5.7). Que justificativa havia para
impor aos que se converteram do mundo gentílico a observância do sábado judeu, quando
Aquele que traz o descanso eterno exorta a todos a ir até Ele? (Mt 11.28,29; Hb
4.8,14).Uma questão intrigante pulsa em nossa mente: Por que o legalismo com
sua rigidez fundamentalista é tão popular e tão aceito na maioria das
religiões? Warren Wiersbe responde: “E porque dentro desse sistema, é possível
medir nossa vida espiritual - e até nos vangloriar dela!”
Em
quarto lugar, a derrota do legalismo (2.16,17). Em virtude de tudo aquilo que
Cristo é e fez por nós, não devemos permitir que ninguém nos julgue pelas
regras do legalismo. A preposição “pois” (2.16) nos ensina que a base da nossa
liberdade são a pessoa e a obra de Jesus Cristo. Somente depois que Paulo
proclamou que Cristo triunfou na cruz sobre os nossos pecados, sobre a lei que
nos condenava e sobre as forças espirituais que nos acusavam, é que ele
orienta: “Ninguém, pois, vos julgue...” (2.16). A cruz de Cristo é a nossa
carta de alforria. Se já morremos e ressuscitamos com Cristo, somos servos Dele
e não mais escravos da lei. A lei não exerce mais jurisdição sobre um morto.
Agora temos um novo Senhor!
LOPES,
Hernandes Dias. Colossenses. A suprema grandeza de Cristo, o cabeça da
Igreja. Editora Hagnos. pag. 145-147.
Col 2.16,17
Portanto refere-se ao que acabou de ser apresentado e leva à conclusão: Ninguém
vos julgue (“dê seu parecer sobre vós”). Todas as outras religiões envolvem
atos e práticas de reconciliação inferiores e inúteis: pelo comer, ou pelo
beber (alimentos), dias de festa (festividades anuais), lua nova (observância
mensal), sábados (observância semanal) (Nm 28.9).42 Embora não haja no original
grego o artigo definido os antes de sábados, seu uso esclarece o significado.
Paulo estava resistindo aos judaizantes que insistiam na observância legalista
do sábado.43 Estas eram questões nas quais os inimigos de Cristo tiveram
sucesso em crucificá-lo (Rm 14.1ss.; 1 Tm 4.3; Tt 1.14; Hb 9.10ss.; 13.9,10).
Que
são sombras (17) é explicado no versículo 18 e posto em contraste no versículo
19. O termo sombras caracteriza os sistemas ritualistas do judaísmo. As sombras
são indicativas da realidade, Cristo. No Antigo Testamento, viam-se apenas as
sombras. No Novo Testamento, o corpo (soma, “substância”), que é Cristo, está
presente. Mas mesmo hoje temos aqueles que seriam “escravos de sombras”: tipos,
formas e rituais. A base da exortação de Paulo aqui é a obra de Cristo;
questões de calendário não têm valor como meio de salvação (Rm 14.17). Sua
função mostra o sacrifício de Cristo. Que tolice chamar as sombras de
realidade!
John
B. Nielson. Comentário Bíblico Beacon.
Colossenses. Editora CPAD. Vol. 9. pag. 327.
2.
PRECEITOS CIVIS.
A lei
civil diz respeito à responsabilidade do israelita como cidadão; são
regulamentos jurídicos e instruções que regiam a nação de Israel. Convém
salientar o que já foi dito no Capítulo 1: "Embora essa distinção
tripartite seja antiga, seu uso como fundamento para explicar a relação entre
os testamentos não é demonstravelmente derivada do Novo Testamento e
provavelmente não é anterior a Tomás de Aquino" (CARSON, 2011, p. 179). Os
preceitos cerimoniais e civis derivam dos preceitos morais. Esses três tipos de
lei estão presentes no Pentateuco, entretanto, tudo é a lei de Moisés.
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 141-142.
«O reino de Deus...»
Jesus aplica a parábola aos que ouviam e à nação inteira de Israel. Ele acabara
de ilustrar o sentido da parábola dos «lavradores maus» mostrando que as obras
de Deus podem ser comparadas a um edifício que requer uma maciça pedra angular,
como também o templo de Deus, em Jerusalém, tinha uma dessas pedras. Os
construtores do templo espiritual haviam rejeitado a pedra angular que fora
cortada por ordem do arquiteto em chefe. Para esses, isto é, para o povo de
Israel, a edificação terá de cessar até que a principal pedra angular seja
devolvida ao seu devido lugar. Mas chsga.rk, finalmente, o tempo em que Israel
tornará a construir sobre essa pedra. Nesse ínterim, as obras de Deus não
cessam. Deus planta uma nova vinha e envia novos servos, tendo garantido de
antemão o sucesso da empreitada. O novo povo, como é óbvio, refere-se à Igreja.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 523.
Mt 21 :42 -46 /Jesus
cita do Salmo 118 a passagem da pedra rejeitada pelos edificadores, que veio a
tomar-se pedra de esquina (vv. 22-23) e conclui que o reino de Deus há de ser
tirado dos judeus e entregue a um povo que há de produzir os seus frutos. Aqui
está o ponto central da parábola. Ao rejeitar a mensagem dos profetas e, por
fim, ao rejeitar o próprio Filho, Israel demonstrou sua incapacidade para
produzir o tipo de conduta e vida apropriados ao reino de Deus. O reino é
tirado de Israel e dado aos gentios.
A passagem do Salmo 118
era bem conhecida da igreja primitiva, sendo citada em Atos 4:11 e em 1 Pedro
2:7.
Robert
h. Mounce. Comentário Bíblico
Contemporâneo.Mateus. Editora Vida. pag. 212.
Mt 21.43. O Reino de
Deus vos será tirado terceira pessoa do singular do futuro passivo do
indicativo de aípco. Era o alarma da morte para a nação judaica, com as suas
esperanças de liderança mundial política e religiosa.
A.
T. ROBERTSON. Comentário Mateus &
Marcos. À Luz do Novo Testamento Grego. Editora CPAD. pag.
238.
3.
PRECEITOS MORAIS.
Há uma
interpretação entre os cristãos de que a lei moral é eterna, portanto, para a
atualidade. A lei cerimonial se cumpriu na vida e na obra de Jesus Cristo. A
lei civil cumpriu sua função até que Israel deixou de ser um estado teocrático,
e a Igreja não é um estado. Tudo isso são interpretações. É verdade que a lei
cerimonial se cumpriu em Jesus, pois todo o sistema e ritos do tabernáculo
apontavam para o Messias. Israel perdeu a condição de estado teocrático (Mt
21.43), e os privilégios de Israel foram transferidos para a Igreja (Êx 19.6,
7; 1 Pe2.9, 10). O Senhor Jesus cumpriu todos os preceitos morais durante sua
vida terrena. Em nenhum lugar o Novo Testamento diz que a lei moral se resume a
amar a Deus e ao próximo, mas abrange toda a lei: "Desses dois mandamentos
dependem toda a lei e os profetas" (Mt 22.40). O apóstolo Paulo afirma:
"Porque quem ama aos outros cumpriu a lei" (Rm 13.8). Em seguida, ele
cita cinco mandamentos do Decálogo, mas não na seqüência canônica, e depois
volta a enfatizar que "o cumprimento da lei é o amor" (Rm 13.10).
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 142.
Destes
dois mandamentos...». A palavra «dependem» significa, literalmente,
penduram-se. A figura é extraída da porta em seus gonzos, ou de um prego na
parede, indicando admiravelmente bem a dependência do crente de um princípio
comum e de seu desenvolvimento à base desse princípio. Assim sendo, vê-se que
em realidade não existem muitos mandamentos—certamente não os seiscentos e
treze diferentes preceitos, conforme os judeus dividiam a descrição de todo o
dever dos homens. Em realidade há apenas um mandamento—a total devoção de nosso
ser a Deus.
Isso é
tão típico da pessoa de Jesus, que ele demonstrou em sua vida como isso deveria
ser feito; e embora seja um alvo extremamente alto para os homens abandonados a
si mesmos, Jesus fez tudo isso como homem. Jesus provou que um ser dotado de
livre-arbítrio, em meio a todas as formas de tentações, que eram tão reais e
potencialmente destruidoras para ele como o são para nós, pode escolher o bem e
não o mal. Jesus mostro:i-nos o caminho real do amor, perante o qual se
dissipam todas as dificuldades próprias da inquirição espiritual. Se tivermos
de mencionar outro mandamento por seu nome, então seja-nos permitido mencionar
o amor aos nossos semelhantes, pois é justamente nessa esfera que demonstramos
o nosso amor a Deus, onde praticamos esse amor, onde aprendemos a dar e a
receber, onde aprendemos a ser mais parecidos com Deus, com a esperança de
algum dia sermos perfeitamente semelhantes a ele.
John
Gill (in loc.) salienta para nós que o termo pendurar, ao referir-se aos
preceitos sobre os quais os demais mandamentos estão edificados, é um
hebraismo; e fomece-nos a seguinte citação de Maimonides (Hilch. Yesode Hatorah,
c.l, see.6); «...0 conhecimento dessa questão é um preceito afirinativo,
conforme está dito, Eu sou 0 Senhor, teu Deus; e aquele que imagina que existe
outro Deus além desse, transgride um preceito negativo, conforme foi dito, Não
terás outros deuses diante de mim; e nega o ponto fundamental, pois esse é o
grande alicerce, no qual tudo está pendurado».
Jesus
salientou que a mensagem dos profetas, embora dada mais tarde e não fizesse
parte da lei original, não contradizia, mas antes, estava em plena harmonia com
essa mensagem. Beza achava que aqui há uma alusão às filactérias (ver nota em
Mat. 23:5, onde há uma explicação) ou caixinhas amarradas à testa e a uma das
mãos, como memorial da lei. O lugar onde a lei está realmente pendurada é no
amor de Deus e no amor a Deus.
Jesus
ensinou a doutrina de que o homem deve ser consagrado a Deusem sua totalidade e
com isso ele entendia que o homem não pode dividir a sua vida em diversas
partes, algumas para Deus e outras para os interesses próprios de várias
modalidades. O shema era oferecido diariamente em orações, por todos os judeus
devotos. Essa palavra significa «ouvir», e essa oração era assim chamada devido
à primeira palavra\do grande mandamento: «Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o
único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a
tua alma, e de toda a tua força» (Deut. 6:4,5). Coração, alma e forças devem
participar dessa profunda adoração. A inquirição espiritual é que dá sentido à
vida. O alvo dessa inquirição é a perfeição (Mat. 5:48), quando o crente será
moralmente semelhante a Deus, quando sua vida será semelhante à de Cristo,
moral e metafisicamente. A devoção parcial deixa-nos com uma vida dividida e
sobrecarregada de tensões. É fato bejn conhecido nos escritos psicológicos que
a personalidade dupla é prejudicial à saúde mental. Platão ensinava que o homem
bom é aquele que não sofre de tensões entre seus três componentes, que seriam o
vegetal (o físico), o animal (talvez as emoções) e o racional (a alma ou
espírito). A alma deve dominar, a parte animal é que encoraja para o bem e o
vegetal (físico) deve ficar em sujeição. Quando reina—a harmonia—no homem
inteiro, tal homem é justo e faz aquilo que é correto.
Neste
ponto, a narrativa em Marcos é mais completa e acréscenta a resposta dada por
um dos escribas. (Ver Marcos 12:32-34). O autor do
evangelho
de Mateus, por razões desconhecidas, deixou de fora essa porção da
narrativa, provavelmente por querer condensá-la e abreviá-la. Essa omissão,
entretanto, remove o calor humano da narrativa, e podemos ser gratos a Marcos
pela sua inclusão. Sua adição é como segue: «Muito bem, Mestre disseste que ele
é o único, e não há outro senão ele; e que amar a Deus de todo o coração, de
todo o entendimento e de toda a força, e amar ao próximo como a si mesmo,
excede a todos os holocaustos e sacrificios.
Vendo
Jesus que ele havia respondido sabiamente, declarou-lhe; Não estás longe do
reino de Deus. E já ninguém mais ousava interrogá-lo».
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 538-539.
Observe
qual é a importância e a grandeza desses mandamentos (v. 40): “Desses dois
mandamentos dependem toda a lei e os profetas”, isto é, eles são a soma e o significado
de todos aqueles preceitos selacionados à religião prática, que estão escritos
nos corações dos homens pela natureza, revividos por Moisés, e apoiados e
reforçados pela pregação e pelos escritos dos profetas. Tudo depende da lei do
amor; remova-a, e tudo cai ao chão e se reduz a nada. Os rituais e os
cerimoniais devem dar lugar a esses dois mandamentos, como ocorre com todos os
dons espirituais, pois o amor é o caminho mais excelente. Este é o espírito da
lei, que a anima, o cimento da lei, que a acompanha, é a raiz e a origem de
todas as outras obrigações, o compêndio de toda a Bíblia, não somente da lei e dos
profetas, mas também do Evangelho, supondo apenas que esse amor seja o fruto da
fé, e que nós amemos a Deus em Cristo, e ao nosso próximo, em nome dele. Tudo depende
desses dois mandamentos, como o efeito que ocorre tanto na sua eficiência
quanto na sua causa final; pois o cumprimento da lei é amor (Rm 13.10), e o fim
da lei é a caridade (1 Tm 1.5). A lei do amor é o prego, é o prego no lugar
certo, fixado pelos mestres das congregações (Ec 12.11), do qual pende toda a
glória da lei e dos profetas (Is 22.24), um prego que nunca será arrancado; pois
deste prego depende eternamente toda a glória da nova Jerusalém. O amor nunca
falha. A esses dois grandes mandamentos, portanto, os nossos corações devem se render
como a um molde; à defesa e à evidência desses dois mandamentos, dediquemos o
nosso zelo, e não noções, nomes e conflitos de palavras, como se estas fossem as
coisas poderosas de que dependem a lei e os profetas, e a elas o amor a Deus e
ao nosso próximo devesse ser sacrificado; pois é ao poder controlador dos
mandamentos que todas as demais coisas devem se curvar.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 292.
Jesus acrescentou (apenas em
Mateus): Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas (40) - isto
é, todo o Antigo Testamento. Esses são os dois mandamentos-chave, que
demonstram o significado de todos os demais.
Como a
essência de todo o Antigo Testamento está contida nesses mandamentos, é óbvio
que a santidade como padrão para o povo de Deus não é isolada na dispensação do
Evangelho. O que é especial na nova aliança é o meio com o qual os homens devem
atender a esse padrão, e a medida (ou o grau de perfeição) com que devem
cumpri-lo. O poder para alcançar a plenitude interior tornou-se agora a herança
de cada filho de Deus. E um poder que altera de tal maneira o afeto e preenche
o ser com o Espírito Santo, que amar a Deus com todo o ser torna-se uma atitude
natural e espontânea (Rm 5.5). Quando Deus promete que na nova aliança Ele irá
colocar as suas leis no entendimento e no coração do seu povo (Hb 8.10; Jr
31.33), Ele está se referindo, acima de tudo, a estes dois mandamentos, pois
eles incluem todos os outros.
Ralph
Earle. Comentário Bíblico Beacon. Mateus.
Editora CPAD. Vol. 6. pag. 155.
III. A LEI NÃO PODE SER REVOGADA
1.
JESUS REVELA SEU PENSAMENTO SOBRE A LEI.
A
ideia cristológica não se restringe a esses vaticínios e ocupa todo o pensamento
das Escrituras hebraicas. A provisão do Antigo Testamento sobre a obra
redentora de Deus em Cristo é muito rica de detalhes. Os escritores do Novo
Testamento reconhecem a presença e a obra de Cristo na história da redenção (Os
11.1; Mt 2.15) e nas suas instituiçõese festas (Êx25.8; Jo l.l4;Hb5.4,5;Êx
12.3-13; Lc 22.15; 1 Co 5.7). A lei e os profetas convergem para Jesus; ele é o
cumprimento das Escrituras do Antigo Testamento (Lc 24.26,27,44).
A
expressão "a lei e os profetas" aparece com frequência no Novo
Testamento para designar as Escrituras do Antigo Testamento (Mt 7.12; 22.40; At
13.15; Rm 13.21) ou fraseologia similar (Mt 11.13; Jo 1.45; At 28.23). Mas a
presença do "ou" disjuntivo aqui mostra duas partes distintivas, em
que nem uma e nem outra é para ser abolida (Jo 10.35). Aqui não se trata apenas
dos preceitos morais, e o Decálogo nem sequer é mencionado no Novo Testamento
como tal. Jesus fala ainda a respeito da existência de mandamentos menores:
"Qualquer, pois, que violar um destes menores mandamentos" (Mt 5.19).
Isso por si só invalida a interpretação de que a lei é uma referência aos
preceitos morais. Existem mandamentos menores entre os preceitos morais? A
resposta é não. Jesus, portanto, está se referindo a todo o sistema mosaico e
às demais Escrituras do Antigo Testamento.
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 145-146.
A lei
que Cristo veio estabelecer concordava com exatidão com as Escrituras do Antigo
Testamento, aqui chamada de a lei e os profetas. Os profetas eram os comentaristas
da lei, e, juntos, os profetas e a lei, criaram aquela lei de fé e prática que
Cristo encontrou no trono da sinagoga judaica; e aqui Ele a mantém no trono.
Jesus
protesta contra a idéia de anular e enfraquecer o Antigo Testamento: “Não
cuideis que vim destruir a lei ou os profetas” . (1) Em outras palavras “Não deixemos
que os judeus religiosos, que têm grande apreço pela lei e pelos profetas,
temam que Eu tenha vindo para destrui-los”. Não deixemos que eles tenham preconceito
contra Cristo e a sua doutrina, devido a uma inveja deste reino que Ele veio
estabelecer, o que pode soar como um menosprezo da honra das Escrituras que eles
aceitavam como vindas de Deus e das quais eles sentiam o poder e a pureza, Não.
Deixemos que eles fiquem satisfeitos por verem que Cristo não tem nenhum mau
desígnio em relação à lei ou aos profetas. Em outras palavras: (2) “Não
permitamos que os judeus profanos, que não consideram a lei ou os profetas, e que
estão cansados daquele jugo, achem que Eu vim para destruir a lei ou os
profetas” . Não permitamos que os libertinos carnais imaginem que o Messias
veio para libertá-los da obrigação dos preceitos divinos, e ainda assim
assegurar-lhes as promessas divinas, para fazê-los felizes e dar-lhes permissão
para viver como desejarem. Cristo não ordena nada agora que fosse proibido,
fosse pela lei da natureza ou pela lei moral, nem proíbe qualquer coisa que
aquelas leis obrigassem. E um grande engano pensar que Ele faz isto, e aqui Ele
toma cuidado para corrigir este engano. “ Não cuideis que vim destruir” . O
Salvador das almas não destrói nada, a não ser as obras do diabo; Eie não
destrói nada que venha de Deus Pai, muito menos aqueles excelentes preceitos
que temos de Moisés e dos profetas. Não. Ele veio para cumpri-los, Isto é: [1]
Ele veio para obedecer aos mandamentos da lei, pois Ele nasceu sob a lei
(G14.4). Em todos os aspectos, Ele mostrava obediência à lei, honrava os sêus
pais, observava o sábado judeu, orava, dava esmolas e fazia o que ninguém
maisfazia-obedecendo perfeitamente-, e jamais infringiu qualquer ponto da lei.
[2] Para cumprir as promessas da lei e as predições dos profetas, de que todos
deram testemunho dele. O concerto da graça é, basicamente, o mesmo agora que
era naquela época, e Cristo é o seu Mediador. [3] Para responder aos símbolos da
lei; assim (como expressa o bispo Tillotson), Ele não esvaziou, mas cumpriu a
lei cerimonial, e se manifestou como sendo a Essência de todas aquelas sombras.
[4]. Para reparar as suas imperfeições, e assim completá-la e aperfeiçoá-la.
Dessa forma, a palavra plerosai tem um significado adequado. Se considerarmos a
lei como um recipiente que anteriormente continha alguma água, podemos entender
que Ele não veio para jogar a água fora, mas para encher o recipiente até o
topo. Ou ainda, podemos considerar a lei como uma imagem que é um primeiro
esboço, e que exibe alguns traços somente para delinear a peça que se pretende
confeccionar; posteriormente, estes traços são completados. Assim, Cristo aprimorou
a lei e os profetas, através das suas adições e explicações. [5J. Para
prosseguir com o mesmo desígnio.
As
instituições cristãs estão tão longe de distorcer e contradizer aquilo que era
o principal desígnio da religião judaica, que o promovem ao máximo. O Evangelho
é o tempo da correção (Hb 9.10), não para rejeitar a lei, mas para corrigi-la
e, conseqüentemente, estabelecê-la.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 50.
Mt 5.17
Jesus não veio como um rabino trazendo um ensino recém elaborado, Ele veio como
o prometido Messias com uma mensagem que fora transmitida desde o início dos
séculos. “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar,
mas cumprir”. Jesus completa e transcende a lei. A lei do Antigo Testamento não
foi rescindida e deve ser agora interpretada e reaplicada à luz de Jesus. Deus
não mudou de idéia e a vinda de Jesus fazia parte do plano de Deus para a Criação
(veja Gênesis 3.15).
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 39.
Sem
dúvida, alguns dos ouvintes de Jesus sentiram que Ele era revolucionário em seu
ensino. Eles podem ter pensado que Ele pretendia destruir a lei ou os profetas
(17). Isto Ele negou enfaticamente - não vim ab-rogar, mas cumprir. Nesta
declaração muito significativa Ele indicou o seu relacionamento com o Antigo
Testamento. Ele iria cumprir seus mandamentos e promessas, seus preceitos e
profecias, seus símbolos e tipos. Isto Ele fez em sua vida e ministério, em sua
morte e ressurreição. Jesus cumpriu totalmente os aspectos do Antigo
Testamento. Quando lido à luz de sua pessoa e obra, ele brilha com um novo
significado. Cristo é a Chave, a única Chave que abre as Escrituras.
Ralph
Earle. Comentário Bíblico Beacon.
Mateus. Editora CPAD. Vol. 6. pag. 57-58.
2.
“ATÉ QUE O CÉU E A TERRA PASSEM”.
O jota
se refere ao yõd (’),a menor letra do alfabeto hebraico; ocupa a metade da linha
na escrita. O til, keraia, em grego, "tracinho, parte de uma letra,
acento" (Lc 16.17), é um sinal diacrítico para distinguir uma letra da
outra. A autoridade da lei permanece mantida até no "menor traço." E
o termo "lei" no Novo Testamento, às vezes, se estende a todo o
Antigo Testamento (Jo 10.34; Rm 3.19; 1 Co 14.21). Parece que o Senhor Jesus se
refere aqui às Escrituras, de qualquer forma, seja a lei ou todo o Antigo
Testamento, o certo é que não se trata apenas da lei moral. Sua validade se
estenderá até o fim das eras. Isso significa até "que tudo seja
cumprido". O verbo grego usado aqui para "cumprir" não é o mesmo
do versículo 17, mas gínomai, "ser, tornar, vir a ser, acontecer",
eõs panta genêtai, "até que todas essas coisas aconteçam" (Mt 5.18b).
Logo, não se trata aqui de obediência aos mandamentos; essas palavras não
significam obedecer à lei. A ideia é até que todas essas coisas aconteçam. A
lei aqui, portanto, não se refere à Torá nem aos mandamentos, mas a todo o
Antigo Testamento, que é a base do Novo, e seus ensinos perduram enquanto
existirem os céus e a terra.
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 146.
Ele
declara a perpetuidade da lei; não apenas que Ele não desejava ab-rogá-la, mas
que ela nunca deveria ser ab-rogada (v. 18). “Era verdade, vos digo” que Eu, o Amém,
a Testemunha fiel, solenemente declaro que “ até que o céu e a terra passem” ,
quando não existir mais tempo e o estado imutável das recompensas substituir todas
as leis, “nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido” .
Pois o que é que Deus está fazendo em todas as operações, tanto de providência
como de graça, a não ser cumprir as Escrituras? O céu e a terra se unirão, e
serão completamente envolvidos em ruína e confusão, antes que qualquer palavra
de Deus caia ao chão ou seja em vão. A palavra cio Senhor permanece para
sempre, tanto a da lei como a do Evangelho. Observe que o cuidado de Deus, a
respeito da sua lei, se estende até mesmo àquelas coisas que parecem ser menos
importantes nela, o jota e o til; pois o que quer que pertença a Deus, e leve a
sua marca, por menor que seja, será preservado. As leis dos homens são tão
patentemente imperfeitas (e todos temos consciência dessa imperfeição), que
permitem uma máxima: Apicesjuris non sunt jura - Os pontos extremos da lei não
correspondem à lei; porém Deus estará a postos e manterá cada jota e cada til
da sua lei.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 50-51.
Até
que o céu e a terra passem. Subentende que a lei e os profetas jamais seriam
revogados, porque, segundo a doutrina judaica, o céu e a terra são eternos
(Baruch 3:32; Luc. 16:17). «Até que tudo se cumpra» não alude a um tempo
quando, finalmente, a lei e o profetas serão revogados, mas é o modo enfático
de dizer «nunca*. A expressão «até que o céu e a terra passem», provavelmente é
uma fórmula comum para mostrar a invariabilidade da palavra divina.
Posteriormente Jesus empregou quase as mesmas palavras para indicar que suas
próprias palavras são invariáveis e eternas: «Passará o céu e a terra, porém as
minhas palavras não passarão» (Mat. 24:35; ver também Marc. 13:31 e Luc.
21:33). Jesus não estava ensinando, nesse versículo (Mat. 5:18), se o céu e a
terra passarão ou não.
mas
simplesmente dava a idéia comum (que não passarão) afim de ilustrar a
importância e a imutabilidade da palavra e das ordens emanadas de Deus.
«NEM
um i ou um tiU. O «i» (iota,no grego) é a letra «yod» no hebraico, a menor
letra do alfabeto. Na Bíblia hebraica há mais de 66 mil dessas letras. «r;V»é
uma pequena marca que distingue certas letras hebraicas de outras. Nos escritos
dos rabinos nota-se que às vezes advertiram aos escribas para que tivessem o
cuidado de não escrever uma letra parecida com outra, o que poderia modificar o
sentido das Escrituras.
É
mister que notemos aqui a importância dada por Jesus às Escrituras do V.T., o
que contrasta violentamente com al^ns modernos, que rejeitam essas Escrituras
ou lhes dão pouco valor. E verdade que o modernismo começa nesse ponto
(rejeitam ao V.T.), como na cultura grega ou romana.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 309.
3.
O MENOR MANDAMENTO (MT 5.19).
Voltando
ao "menor dos mandamentos", ele é muito importante porque é parte da
lei de Deus. O discípulo que declarar insignificante ou não observar o menor
desses mandamentos será chamado de menor no reino dos céus, mas o que o cumprir
e o ensinar aos outros será considerado grande no reino dos céus (Mt 5.19).
Aquele que violar ou abolir esses pequenos mandamentos ocupará uma posição
inferior (1 Co 3.12-15). Não significa ficar excluído da felicidade eterna.
Agostinho de Hipona, Lutero e Calvino concordam com essa linha de pensamento.
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 146-147.
Ele dá
aos seus discípulos a missão de preservar cuidadosamente a lei, e lhes mostra o
perigo de negligenciá-la e menosprezá-la (v. 19). “Qualquer, pois, que violar um
destes menores mandamentos”, da lei de Moisés (quanto mais um dos maiores, como
faziam os fariseus, que negligenciavam os aspectos mais importantes da lei), “e
assim ensinai' aos homens” (como eles faziam, anulando os mandamentos de Deus
com suas tradições, cap. 15.3), “será chamado o menor no Reino dos céus” . Embora
os fariseus pudessem se denominalos melhores professores possíveis, eles nào
seriam usados como professores no reino de Cristo. ‘Aquele, porém, que os
cumptir e ensinar” (como fariam os discípulos de Cristo, portanto provando ser
melhores amigos do Antigo Testamento do que os fariseus eram, embora
desprezados pelos homens), “será chamado grande no Reino dos céus".
Observe:
(1) Entre os mandamentos de Deus há alguns menores que outros; nenhum deles é
pequeno de maneira absoluta., mas de. forma comparativa. Os judeus reconhecem o
menor dos mandamentos da lei como sendo aquele que fala do ninho de ave (Dt
22,6,7); mesmo ele, no entanto, tem um significado e unia intenção bastante
considerável.
(2) É
uma coisa perigosa, na doutrina ou na prática, revogar o menor dos mandamentos
de Deus; infringi-lo, isto é, agir de modo a diminuir a sua abrangência ou
enfraquecer a sua obi'igatoriedade; quem fizer isto estará correndo riscos.
Assim, invalidar qualquer um dos dez mandamentos é um golpe ousado demais para
que o Deus zeloso possa condescender. É algo aléin de transgredir a lei, é
quebrantai- a lei (SI 119,126). (3) Quanto mais corrupção eles espalham, piores
eles são. Infringir o mandamento já é atrevimento suficiente, mas é muito pior
ensinar os homens a fazê-lo, Claramente, isto se refere àqueles que, nesta
época, se assentavam na cadeira de Moisés e pelos seus comentários corrompiam e
desvirtuavam o texto. Opiniões que tendem à destruição da religiosidade séria e
dos fundamentos da religião cristã, por meio de observações corruptas às
Escrituras, são suficientemente ruins quando defendidas, mas piores quando
propagadas e ensinadas como se fossem a Palavra de Deus. Aquele que faz isto
será chamado o menor no Reino dos céus, o reino da glória; ele nunca irá para
lá, mas será eternamente excluído. Ele não fará parte do reino da igreja do Evangelho.
Ele estará tão longe de merecer a dignidade de um professor no reino, que nem
chegará a ser considerado um membro dele. O profeta que ensina estas falsidades
é a cauda naquele reino (Is 9.15); quando a verdade aparecer em sua própria
evidência, estes professores corruptos, embora valorizados como os fariseus,
não serão considerados juntamente com os sábios e os bons. Nada torna os
ministros mais desprezíveis e indignos do que corromper a lei (Ml 2.8,11).
Aqueles que atenuam e incentivam o pecado, discordando e desprezando a
severidade na religião, assim como a seriedade na devoção, são uma contaminação
na igreja. Mas, por outro lado, são verdadeiramente honrados e de grande
responsabilidade na igreja de Cristo aqueles que dedicam a sua vida e doutrina
a promover a pureza e a severidade da religião prática, que tanto fazem como
ensinam o que é bom, pois os que não fazem o que ensinam derrubam com uma mãrf
o que edificam com a outra, Estes se entregam à mentira, e tentam os homens a
pensar que a religião como um todo é um engano. Mas aqueles que falam com experiência,
que vivem o que pregam, são verdadeiramete grandes; eles honram a Deus, e Deus
os honrará (1 Sm 2.30), e no futuro irão brilhar como astros no reino do nosso
Pai.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 51.
Aquele,pois,
que violar um... É natural que ao perdurar por muito tempo um sistema religioso
ou outro, comece o seu declínio; aparecem indivíduos, talvez até mestres e
líderes religiosos, que alteram o caráter original da religião e da doutrina.
Nos tempos modernos notamos que é raro que um sistema conserve os seus
propósitos e ensinos originais por mais de cem anos. Geralmente, antes desse
tempo, já é bem avançado o processo de deterioração.
ALGUNS
PENSAM que Jesus se referiu a alguém como João Batista, que não observava dias
e festividades especiais e que dava pouca importância aos cultos e reuniões no
templo. Tal pessoa seria o mínimo no reino dos céus ou no reino que Cristo
estabeleceria no mundo. Poderia ser pessoa sincera, religiosa, etc., mas
simplesmente teria perdido algo muito necessário a adoração a Deus.
Dificilmente, porém, pode-se aceitar tal idéia.
EM
PRIMEIRO LUGAR, o texto mostra que Jesus não falava da lei cerimonial e do
formalismo que emprestaram ao judaísmo seu caráter singular. O próprio Jesus
guardava essas leis. Aludia a algo mais sério e fundamental do que o
formalismo. Falava da lei moral, porque essa não sofre modificações. Não
podemos imaginar que Jesus desse tal importância à lei cerimonial que chegasse
a dizer que nem um «i» e nem um «til» jamais seriam modificados. É difícil crer
que ele não tenha antecipado até mesmo a eliminação da lei cerimonial. Assim
sendo, quando ele falou em «violar um destes mandamentos», referia-se morais. O
resto do capítulo e do sermão (caps. 7 e 8) demonstram o fato. Referia-se às
leis morais, ao juramento, à vingança, ao amor, à justiça etc. Estavam
em foco os fariseus e outros lideres oficiais dos judeus, particularmente os
mestres,, rabinos e escribas do povo, que tinham por responsabilidade ensinar a
lei ao povo. Mais tarde Jesus mostrou que esses mestres do povo nãó
interpretavam corretamente a lei. Por exemplo, no vs. 38, sobre «olho por olho»
(que era ensino dos rabinos), disse Jesus: «Eu, porém, vos digo, não resistais
ao perverso». Ou no vs. 43, «Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo»
(que era ensino dos rabinos e escribas), mereceu de Jesus uma reprimenda que
começa com" «Eu, porém, vos digo», etc.
«MlNIMO
no reino». Os mestres que interpretam erroneamente e assim ensinam, levam
outros a errar por seus ensinos; esses homens serão—os menores—no reino. É
provável que Jesus fizesse alusão especial ao reino do Messias, por ele
oferecido. Nesse reino, tais mestres teriam pouca importância, em contraste com
a posição antes ocupada. Talvez a interpretação seja mais ampla do que essa,
segundo fazem alguns comentaristas, que aplicam as palavras até mesmo ao «céu»
ou ao «inferno». O apóstolo Paulo parece ensinar algo semelhante em I Cor.
3:13-15: «...manifesta se tornará a obra de cada um ... se permanecer a obra
de. alguém.... receberá galardão...se queimar,.sofrerá dano... será salvo,
todavia, como que através do fogo». Mas a interpretação principal é aquela dada
acima.
«Grande».
Não o «maior». Só Deus poderia fazer tal declaração. O serviço bem feito,
segundo as regras de Deus, merece o galardão dado por Deus. Provavelmente Jesus
pensou nos santós do V.T., nos profetas e em Moisés. Foram exemplos de
«grandes» indivíduos. Pregaram, mas também obedeceram aos mandamentos de Deus.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 309.
IV. A LEI E O EVANGELHO
1.
O PAPEL DA LEI.
A
palavra «...aio...», no original grego, é «pedagogos», que significa «guia»,
«auxiliar». Essa palavra não significa aqui'«mestre-escola», «tutor», aquele
que tinha a incumbência de educar uma criança. Pelo contrário, está em foco a
idéia de um «auxiliar» ou «guardião»; Usualmente se tratava de um escravo, que
cuidava da criança desde os seis aos dezesseis anos de idade. Tinha por tarefa
disciplinar a criança, podendo corrigir as suas faltas por meios apropriados
para a ocasião. Um dos seus deveres era o de acompanhar a criança para a
escola, cuidando para que nenhum perigo a ameaçasse. Mas quando a criança
atingia a idade apropriada, cessava a autoridade do «guardião», e a criança não
mais era responsável perante ele, e nem mais estava sujeita às suas exigências.
Assim
sendo, propositadamente Paulo frisou o ponto que um ser «espiritualmente
adulto» já passou do período em que precisa de tal orientação do «aio». Os
deveres de tal guia eram limitados e temporários.
Aquele
que tem a Cristo como seu mestre dificilmente precisa ainda da ajuda de um tal
«auxiliar». Não obstante, a lei tinha uma função importante, a despeito de ser
temporária, embora não separadamente de Cristo, mas antes, como caminho que
apontava Cristo para o indivíduo. No entanto, os oponentes de Paulo, existentes
nas igrejas da Galácia, haviam exagerado de tal modo a importância e as funções
da lei que faziam da fé em Cristo algo virtualmente supérfluo. Pelo menos, no
conceito deles, a lei não ocupava posição inferior à de Cristo, no tocante à
redenção. Mas aqui Paulo contrasta a lei com Cristo, situando cada qual dentro
de sua perspectiva apropriada.
A
idéia expressa aqui por alguns intérpretes, de que os gentios, que nunca
estiveram debaixo da lei, também nunca foram conduzidos pelo «aio», é
perfeitamente correta. A metáfora de Paulo se aplica somente à nação de Israel,
bem como aos gentios que se tinham tomado judeus por motivo de convicções
religiosas. Assim sendo, certamente era um crime sujeitar os gentios sob o
auxiliar da lei, o qual não tinha nenhuma capacidade de salvá-los, posto que
até mesmo no caso dos judeus, era temporário esse auxílio. Mas agora não existe
mais tal ajuda, tanto no caso dos judeus como no caso dos gentios. Um homem não
está mais debaixo da lei em qualquer sentido, nem como um meio de
salvação e nem como um meio de santificação. Não somos nem justificados e nem
santificados pela lei.
Que a
lei não tem a serventia de justificar-nos e de santificar-nos é óbvio pelo fato
de que a «santificação» faz parte da transformação do crente segundo a imagem
de Cristo (e, portanto, parte da própria salvação), como operação que só pode
ser realizada pelo Espírito Santo. (Ver Gál. 5:22,23), Essa transformação
independe de qualquer «princípio legal». Tal transformação requer a «lei do
Espírito», isto é, a atuação do princípio espiritual no ser mais íntimo do
crente, segundo se aprende em Rom. 8:2. Assim, pois, a lei não é a «regra da
vida». A regra da vida é aquela orientação íntima do Espírito. Naturalmente,
existem valores morais eternos que se refletem na lei; mas tais valores não são
aplicados legalmente, e, sim, mediante contactos místicos com o Espírito de
Deus. E esse é um princípio normativo que, ao mesmo tempo, é um princípio que
transmite força e capacidade.
E
deveras lamentável que os reformadores, que perceberam claramente que a
justificação não vem através da lei, tenham deixado a igreja «debaixo da lei»,
como «regra de fé e prática». Assim é que em seus comentários sobre o versículo
anterior, Lutero (in loc.) se refira aos «abusos contra a lei», um dos quais
seria, ainda segundo ele, que muitos cristãos supõem que a «liberdade» os isenta
da «observância da lei». Pergunta ele: «Quem são esses que usam de sua
liberdade como capa de malícia, e levam ao opróbrio o nome do evangelho de
Cristo?» Ê verdade que existem cristãos com essa atitude; mas a «liberdade»
significa «liberdade das peias da lei», em todos os sentidos. A lei do Espírito
ultrapassa a todas as funções da lei mosaica, para os crentes, e não apenas no
tocante à questão da justificação.
«...justificados
por fé...» (Quanto a notas expositivas completas sobre a «justificação», ver o
trecho de Rom. 3:24,28. O último versículo citado inclui a mesma expressão aqui
utilizada).
Este
texto não faz de Cristo o «mestre-escola», e a lei de «auxiliar» do mesmo, que
conduziria as «crianças» ao Salvador. Naturalmente, tal interpretação expressa
certa verdade, mas não aquela diretamente ensinada aqui.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 477.
A lei
foi designada para nos servir “...de aio, para nos conduzir a Cristo” (v. 24).
No versículo anterior, o apóstolo nos informa acerca do estado dos judeus
debaixo da organização mosaica, antes que a fé viesse, ou antes que Cristo
aparecesse e a doutrina da justificação pela fé nele fosse mais plenamente
revelada. Eles estavam guardados debaixo da lei, obrigados, debaixo de penas
severas, a uma observância rigorosa dos vários preceitos dela. E naquela época
eles estavam encerrados, mantidos debaixo do terror e disciplina dela, como
prisioneiros em um estado de confinamento. A intenção era que por meio dessa
situação eles se dispusessem mais prontamente a abraçar a “...fé que se havia
de manifestar”, ou ser persuadidos a aceitar Cristo quando veio ao mundo, e
harmonizar-se com essa dispensação melhor que Ele estava prestes a introduzir,
por meio da qual seriam libertos da escravidão e servidão e trazidos para um
estado de maior luz e liberdade. Agora, nesse estado, ele diz que a lei
“...serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que, pela fé, fôssemos
justificados”.
Assim
como a lei declarava o propósito e a vontade de Deus em relação a eles, e ao
mesmo tempo pronunciava uma maldição contra eles por toda falha na obrigação ou
dever deles, assim era apropriado convencê-los da sua condição perdida e
incompleta neles mesmos, e deixá-los ver a fraqueza e insuficiência da sua
própria justiça e recomendá-los a Deus. E como os obrigava a uma variedade de
sacrifícios etc., que, embora não pudessem tirar o pecado, era uma tipificação
de Cristo e do grande sacrifício que Ele iria oferecer pela expiação dele,
assim isso os conduziu a Ele (embora de uma forma mais obscura e sombria) como
único socorro e refúgio deles. Dessa forma, esse era o aio deles, que os
instruiria e dirigiria no seu estado de menoridade, ou, como a palavra
paidagogos mais apropriadamente significa, servo deles, para guiar e
conduzi-los a Cristo (como as crianças eram acostumadas a ser levadas para a
escola pelos servos que cuidavam delas); para que fossem instruídos de maneira mais
completa por ele como seu aio, na verdadeira forma de justificação e salvação,
que somente ocorre pela fé nele, e de quem ele era designado a dar as
descobertas mais completas e claras. Mas para que não fosse dito: “Se a lei
tinha esse uso e serviço para o estado juueu, por que ela não poderia continuar
a ter o mesmo significado para o estado cristão?”, o apóstolo acrescenta (v.
25) que “...depois que a fé veio”, e ocorreu a dispensação do evangelho, na
qual Cristo e o caminho do perdão e da vida por meio da fé nele são colocados à
luz mais clara, “...já não estamos debaixo de aio” – não temos mais esse tipo
de necessidade da lei para nos conduzir a Ele como ocorria naquela época.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 556-557.
Paulo
descreve esta verdadeira função da lei usando uma figura ilustrativa que era
amplamente compreendida na sociedade dos seus dias: De maneira que a lei nos
serviu de aio, para nos conduzir a Cristo (24). O termo grego paidagogos (aio)
significa “guarda” (cf. “guardiã”, BAB), “tutor” (CH, NVI) ou “guia” e
referia-se ao “homem, na maioria das vezes escravo, cujo dever era levar e
trazer da escola um menino ou moço e superintender sua conduta em geral; ele
não era um ‘professor’ (apesar do significado atual do derivado ‘pedagogo’)”.33
Paulo está descrevendo como a lei põe o homem sob uma escravidão como a de uma
criança menor sob a supervisão de um criado-escravo. Nos próximos versículos,
veremos que tal supervisão não é mais necessária ao homem de fé.
A
observação importante neste ponto é que a lei, trancando o homem debaixo do
pecado e para a fé, exerceu a função temporária de protegê-lo e prepará-lo para
a vinda de Cristo. Ao contrário do argumento dos oponentes de Paulo, a lei não
tinha função permanente, mas serviu apenas para que, pela fé, fôssemos
justificados (24).
R.
E. Howard. Comentário Bíblico Beacon.
Galatas Editora CPAD. Vol. 9. pag. 51.
2.
JESUS E MOISÉS ESTÃO DO MESMO LADO.
I Cor
14.21. A lei aqui é o Velho Testamento em geral, e não especificamente o
Pentateuco. A criação é de Is 28:11,12. Ali a referência é ao fato de os homens
de Israel não darem ouvidos ao profeta. O julgamento deles será que serão
entregues a homens de linguajar estranho (os invasores assírios). A conexão com
o presente argumento não é óbvia. O que talvez Paulo queira dizer é que, como
aqueles que se recusaram a ouvir o profeta tiveram como castigo ouvir linguagem
que não podiam entender, assim seria nos seus dias. Os que não cressem, ouviriam
“ línguas”, e não conseguiriam entender o seu maravilhoso significado.
Leon Monis. I Corintos Introdução e Comentário.
Editora Vida Nova. pag. 158.
I Cor
14.21 As línguas, como os coríntios as usavam, eram mais um sinal do julgamento
de Deus do que da misericórdia para quaisquer pessoas (v. 21): “Está escrito na
lei (isto é, no Antigo Testamento): Por gente doutras línguas e por outros
lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor” (Is
28.11; comparar Deuteronômio 28.46,49). Entende-se que o apóstolo se refira a
essas passagens. Ambas são entregues na forma de ameaça, e uma supõe-se que
interpreta a outra. O significado neste ponto de vista é de que é uma evidência
de que o povo está abandonado por Deus quando Ele lhes dá esse tipo de instrução,
para a disciplina através daqueles que falam outra língua. E certamente o
discurso do apóstolo sugere: “Vós não deveis estar afeiçoados aos sinais do
aborrecimento divino. Deus pode não ter recompensas graciosas para aqueles que
são deixados meramente a esse tipo de instrução, e que são ensinados em língua
que não compreendem. Eles podem nunca ser beneficiados por ensinamentos como
esse; e, quando eles forem deixados a ele, será um triste sinal de que Deus os considera
irrecuperáveis”. E os cristãos devem desejar estar em tal estado, ou conduzir
as igrejas a ele? Contudo, é o que faziam de fato os pregadores coríntios, que sempre
apresentavam suas inspirações em uma língua desconhecida.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 491.
I Cor
14.21 O apóstolo introduz uma citação livre da lei (a lei aqui se refere ao
V.T.) para mostrar que as línguas tinham a intenção de ser um sinal da presença
de Deus com outros além dos judeus.
Charles
F. Pfeiffer. Comentário Bíblico Moody.
Editora Batista
Regular I Corintios. pag. 67.
3.
A JUSTIÇA DOS FARISEUS.
A
justiça que Cristo veio estabelecer com esta lei deve exceder a dos escribas e
fariseus (v. 20). Esta era uma estranha doutrina para aqueles que consideravam
os escribas e fariseus como tendo chegado ã posição mais elevada na religião.
Os escribas eram os professores mais admirados da lei, e os fariseus os seus
mestres mais celebrados, e ambos se assentavam na cadeira de Moisés (cap. 23.2)
e tinham tal reputação entre 0 povo, que eram considerados como completamente
adaptáveis à lei e as pessoas não se consideravam obrigadas a ser tão boas
quanto eles eram. Portanto, foi uma grande surpresa para eles ouvir que deviam
ser melhores do que os fariseus e os escribas, ou não iriam para o céu. Desta
maneira, Cristo aqui declara com solenidade: “ Vos digo” , ou seja, é assim. Os
escribas e os fariseus eram inimigos de Cristo e da sua doutrina, e eram
grandes opressores, e ainda assim deve ser reconhecido que eles consideravam isto
um elogio. Eles oravam e jejuavam muito e davam esmolas; eram pontuais na
observância dos compromissos cerimoniais e a sua função era ensinar os outros; eles
tinham tal interesse pelas pessoas, que achavam necessário que, se somente dois
homens fossem ao céu, um deles seria um fariseu. Mas aqui o nosso Senhor .Jesus
diz aos seus discípulos que a religião que Ele veio estabelecer não somente
exclui a maldade, mas supera a bondade dos escribas e dos fariseus. Nós
precisamos fazer mais do que eles, e melhor do que eles, ou não chegaremos ao
céu. Nós éramos parciais na lei, e atribuíamos mais importância à sua parte ritual.
Mas nós devemos ser universais, e não pensar que é suficiente dar à igreja o
nosso dízimo, mas dar a Deus os nossos corações. Eles se preocupavam somente
coni o exterior, mas nós devemos ter consciência da religiosidade interior.
Eles procuravam o elogio e o aplauso dos homens, mas nós devemos procurar a
aceitação de Deus; eles se orgulhavam do que faziam na religião, e confiavam
que o que faziam era justiça; mas nós, quando tivermos feito tudo, precisamos negar
a nós mesmos e dizer: “Somos servos inúteis” , e confiar somente na justiça de
Cristo, e desta forma poderemos ir além dos escribas e dos fariseus.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 51.
O
versículo 20 é geralmente considerado o versículo-chave do Sermão do Monte. A
justiça dos discípulos de Cristo deve exceder a dos escribas e fariseus. Jesus
estava se referindo a uma justiça interior, moral e espiritual, em vez da
justiça exterior, cerimonial e legalista dos fariseus. “O problema com os
fariseus”, diz Martin Lloyd-Jones, “era que eles estavam interessados nos
detalhes em vez de nos princípios, que eles estavam interessados nas ações em
vez de nos motivos, e que eles estavam interessados em fazer em vez de ser”.
É
correto para o cristão agradecer a Deus por não estar debaixo da Lei, mas
debaixo da graça. Mas se ele pensa que as exigências sobre ele são menores por
causa disso, não leu o Sermão do Monte de forma a compreendê-lo. Jesus declarou
enfaticamente que Ele exige uma justiça mais elevada do que a dos escribas e
fariseus. No restante do capítulo, o Senhor fornece seis exemplos concretos
daquilo que Ele quer dizer, exatamente, com isso. Ele basicamente se refere a
uma justiça de atitude interior em vez de meramente uma ação exterior. Mas isto
levanta a exigência. Deve-se não só guardar as suas ações, mas também as suas
atitudes; não só as suas palavras, mas também os seus pensamentos. A lei de
Cristo traz, para aqueles que a guardam, mais exigências do que a lei de
Moisés.
Ralph
Earle. Comentário Bíblico Beacon.
Mateus. Editora CPAD. Vol. 6. pag. 58.
Eram
mestres da lei, copiavam as Escrituras, os contratos legais e os registros
civis . Eram diplomatas e emissários do governo (II Reis 18:18; 19:2). Eram
considerados autoridades religiosas.
«Fariseus».
Ver nota detalhada em Marc. 3:6. Geralmente vinham do ppvo comum, eram zelosos
da fé ortodoxa, mas gradualmente forafti passando da fé para uma religião
constituída de formalidades e cerimônias, pois davam exagerada importância às
leis que não se encontram no V.T., 613 mandamentos ao todo, 365 negativos e
248positivos. Alguns ensinavam que a lavagem das mãos e de outros objetos
pequenos eram as medidas mais
importantes.
Outros ensinavam que a omissão de tais lavagens era um pecado tão grave como o
homícídío (ver nota em Mat. 15:2; também em Mat. 22:36; 23:35; 24:27). Ver nóta
sobre o «concilio» ou «sinédrio», o principal tribunal dos judeus, constituído
de escribas, fariseus e saduceus (Mat. 22:23). A explicação sobre os «saduceus»
aparece na mesma nota. Os fariseus eram numerosos ao tempo de Jesus. Segundo
informação dada por Josefo, haveria mais de seis mil deles nos dias de Jesus.
Exerciam grande poder sobre o povo.
Eram
meticulosos observadores das formas externas da lei, mas não compreendiam nem
observavam os princípios morais. Talvez o melhor comentário sobre esse
versículo se encontre em Mat. 23:13-36, onde há os sete «ais» contra tais
líderes. Ali vemos acusações tais como «hipócritas».
«devorais
as casas das viúvas», «tornais prosélitos piores que vós mesmos», «filhos do
inferno», «guias cegos», «insensatos», «limpais o exterior do copo e do prato,
mas estes por dentro estão cheios de rapina e intemperança», «sois semelhantes
aos sepulcros caiados...cheios de toda imundicia», «serpentes, raça de
viboras», «matadores dos profetas», e outras acusações semelhantes.
Nisso
se vê o conceito de Jesus sobre a «obediência» desses homens à lei. A
verdadeira justiça, pois, tem de exceder a desses homens. Nâo quanto ao
formalismo ou quanto a particularidades secundárias, mas quanto ao espirito da
lei. A parte seguinte do sermão mostra que Jesus ordena a pureza de motivos e
de intenção do coração, e não apenas a observância exterior (vss. 27-48).
»Escribas
e fariseus». Combinação que destaca as principais autoridades judaicas, e que
aparece por treze vezes nos evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas).
«Jamais
entrareis no reino dos céus». Talvez Jesus fizesse alusão ao reino no sentido
literal, que estabeleceria sobre a terra; porém, mais provavelmente se referia
ao estado futuro—salvação da vida eterna, como em João 3:3,5 «sem o novo
nascimento ninguém pode ver o reino de Deus...pode entrar no reino...»
Pecisamos lembrar que o termo «reino de Deus» ou «reino dos céus» pode assumir
vários significados, usualmente definidos no uso do texto. Ver nota em Mat.
3:2, onde há uma explicação sobre essa complexa designação.
Nos
vss. 19 e 20 temos as classificações dos homens ante o reino dos céus: aqueles
que violam os mandamentos são os ‘mínimos*; aqueles que os observam e ensinam
são os «grandes». As falsas autoridades (vs. 20) nem ao menos poderiam entrar
no reino. Essas autoridades são justamente aqueles que deixavam de lado os
mandamentos importantes e frisavam os secundários; punham de lado o elemento
moral e requeriam o ritual; eliminavam o divino e salientavam a tradição humana.
Dessa maneira, punham de lado os princípios do reino de Deus, ao mesmo tempo
que perdiam o direito de participar desse reino.
Buttrick
(in loc.) diz em citação parcial: «Sua justiça não era suficientemente extensa.
Para eles, quem não observasse as questões externas era um pária: não
comprariam alimentos para o tal. Nâo queriam ter contactos com os estrangeiros.
Apertavam em tomo de si as suas vestes, para evitar a contaminação por
contacto...Sua justiça não era bastante ampla. Muito freqüentemente a religião
deles se estreitava a meras proibições. Durante a Primeira Grande Guerra, um
questionário feito entre as tropas, respondido por soldados britânicos, deixou
claro que eles criam que o ensino da igreja era quase exclusivamente: ‘Não
fumarás. Não usarás de juramentos. Não cobiçarás’. É óbvio que a disciplina tem
seu legitimo lugar em qualquer religião verdadeira. Devemos ser separados de
hábitos indignos, mas somente porque primeiro fomos ‘separados para Cristo’...
A justiça deles não era bastante profunda. Julgavam os homens em tons
censuradores. Julgavam por hereditariedade. Qual seria, nesse caso, a posição
de Lincoln ou de Keats?... nâo eram dotados de olhos perscrutadores de amor, e
não entendiam a graça do sofrimento vicário. A justiça deles não era suficientemente
elevada. Estavam satisfeitos consigo mesmos. Naõ havia ‘além’ para onde ir, não havia riscos, nâo havia aspirações, não havia abandono de alma em sua adoração.
Era uma justiça formal e de teto reduzido. Nâo ansiavam pela visão de um mundo mais
digno e não podiam perceber em Cristo qualquer graça oculta. O ensino de Cristo
ultrapassa todas as muralhas, expande-se para além de meras proibições,
aprofunda-se no sacrifício motivado pelo amor e alteia-se na direção da própria
intenção de Deus».
No
trecho de 5:21-48, Jesus ilustra a verdadeira compreensão da lei. O espirito de
santidade deve permear inteiramente a personalidade humana, por dentro e por
fora; somente assim haverá santidade autêntica e a semelhança de Deus na vida
humana. As relações se referem à humanidade em geral, sem destacar amigos ou
inimigos (vs. 21-23), aos inimigos (vs. 25), ao sexo oposto (vs. 27), aos
esposos (vs. 31). Cristo oferece seis ilustrações para esclarecer a compreensão
espiritual da lei, em contraste com a interpretação errônea das autoridades
judaicas: 1. O sexto mandamento: Não matarás(vss. 21 a 26), 2. O sétimo
mandamento: Não adulterarás (vss. 27 a 30). 3. A lei do divórcio (vss. 31,32).
4. Os juramentos (vss. 33 a 37). 5. A vingança (vss. 38 a 42). 6. A lei do amor
(vss. 43 a 48).
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 309-310.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva.
Maravilhosa lição estou ahuardando
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