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13° LIÇÃO 1° TRIMESTRE 2015 A IGREJA E A LEI DE DEUS

A IGREJA E A LEI DE DEUS
Quando Jesus de Nazaré veio ao mundo terreno, Ele mostrou que a principal razão da sua vinda era esta: "Eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância" (Jo 10.10).
Jesus de Nazaré é a Palavra encarnada. É o cumprimento de toda a lei: "E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas (Mt 22.34-40)". Não podemos fazer com a Lei de Cristo o que os escribas fizeram com os Dez Mandamentos: Atentar para a dureza da Lei e esquecer-se do olhar amoroso que ela nos demanda.
Mais importante que obedecer a letra é alcançar o espírito da Lei, que é Cristo. Assim o apóstolo Paulo ratifica: "Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás, e, se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor" (Rm 13.9,10). Quer cumprir a Lei de Deus de todo coração? Ame! Contra o amor não há lei. Por quê? O amor é o cumprimento da lei. Em vez de decorarmos uma lista de "pode não pode", devemos fazer tudo baseado no amor — naturalmente a Bíblia não se refere ao amor romântico das telas de Hollywood, mas à disposição de se fazer o que tem de ser feito em favor do outro, segundo o Evangelho —, então cumpriremos a lei de Deus na íntegra. O nosso Senhor resumiu toda a lei ao dizer que o seu objetivo é levar os homens à plenitude do amor. Aqui está o seu significado: "E disto demanda a Lei e os Profetas" (Mt 22.40).
Precisamos relembrar que o Decálogo tem uma divisão natural que versa sobre o relacionamento do homem com Deus e do homem com o seu próximo. A nossa relação com a lei de Deus deve se dá nestes termos: vertical, amando a Deus de todo coração e alma; horizontal, amando o próximo como a si mesmo. Mais do que quaisquer perspectivas de interpretação, o mais importante é nos conscientizarmos da importância dos princípios eternos de Deus revelados na sua Palavra e interpretados pela pessoa bendita de Jesus de Nazaré. Por isso, toda leitura do Antigo Testamento precisa e deve ser feita tendo Jesus como a chave hermenêutica da nossa leitura e interpretação.
Revista ensinador. Editora CPAD Ano 16 - N° 61. pag. 42.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
A lei de Deus e os Dez Mandamentos não são a mesma coisa. Os Dez Mandamentos encabeçam os demais preceitos entregues por Deus a Moisés no monte Sinai desde Êxodo 19.16-19 até Levítico 26.46; 27.34. Esses preceitos são identificados com frequência como estatutos, juízos, leis e mandamentos. Muitos deles são repetidos nos livros de Números e Deuteronômio. Todo esse sistema legal integra o Pentateuco, que aparece na Bíblia como lei, livro da lei, lei de Moisés, lei de Deus, lei do Senhor.
É oportuno aqui esclarecer o que a Bíblia quer dizer quando usa as palavras "lei de Deus". O termo aparece sete vezes nas Escrituras, quatro no Antigo Testamento e três no Novo, e em nenhum lugar diz respeito ao Decálogo. As quatro primeiras ocorrências se referem a toda a lei de Moisés, ao Pentateuco, como livro: "Josué escreveu estas palavras no livro da Lei de Deus" Os 24.26); "E leram o livro, na Lei de Deus... ele lia o livro da Lei de Deus" (Ne 8.8,18); "e convieram num anátema e num juramento, de que andariam na Lei de Deus, que foi dada pelo ministério de Moisés, servo de Deus; e de que guardariam e cumpririam todos os mandamentos do SENHOR, nosso Senhor, e os seus juízos e os seus estatutos" (Ne 10.29). Assim, as expressões "lei de Deus", "lei do Senhor" e "lei de Moisés" dizem respeito à mesma coisa (Ne 8.1, 8, 18; Lc 2.22, 23). Trata-se do Pentateuco no seu todo, e não apenas do Decálogo, do livro, e não das tábuas de pedra.
As outras três aparecem somente em Romanos, e nenhuma delas diz respeito ao Decálogo: "Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus... Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim que eu mesmo, com o entendimento, sirvo à lei de Deus, mas, com a carne, à lei do pecado" (Rm 7.22, 25). O termo "lei" aparece cerca de 70 vezes nesta epístola com amplo significado, cuja explanação não cabe aqui. A "lei de Deus" neste contexto contrasta a "lei do pecado", mostrando tratar-se de um princípio. A outra ocorrência é no capítulo seguinte: "Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser" (Rm 8.7). O homem carnal não tem lei nem se submete à vontade de Deus que o apóstolo chama de "lei de Deus".
Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 140-141.
Os judeus usavam o termo a Lei em quatro acepções diferentes:
(1) Usavam-no para designar aos Dez Mandamentos.
(2) Usavam-no para designar os cinco primeiros livros da Bíblia, essa porção das Escrituras que também se conhece como o Pentateuco – que significa literalmente Os cinco rolos – e que era para os judeus a Lei por excelência e a parte mais importante das Escrituras.
(3) Usavam a expressão A Lei e os Profetas para denotar a totalidade das Escrituras; era uma espécie de descrição ampla que abrangia a totalidade do Antigo Testamento.
(4) E também a usavam para descrever a lei oral, ou dos escribas.
Nos tempos de Jesus o último destes significados era o mais freqüente, e é precisamente esta lei dos escribas a que tanto Jesus como Paulo condenavam de maneira radical.
O que era, pois essa lei dos escribas?
No Antigo Testamento mesmo achamos muito poucas regras e regulamentos; o que sim contém são grandes e amplos princípios que cada pessoa deve tomar e interpretar sob a guia de Deus, aplicando-os às situações concretas de sua vida. Os Dez Mandamentos não são um estatuto de regras concretas; são, cada um deles, grandes princípios dos quais cada indivíduo tem que extrair suas próprias normas de vida. Os judeus dos tempos de Jesus não acreditavam que esses princípios gerais fossem suficientes. Sustentavam que a Lei era divina, e que com ela Deus tinha pronunciado sua última palavra, e que portanto nela deviam estar contidas todas as coisas. De modo que, se algo não aparecia explicitamente na lei, devia estar contido em forma implícita. Sustentavam, por conseguinte, que era possível extrair da lei, por um procedimento lógico de dedução, regras e estatutos que fixassem o que era correto para todo homem, em qualquer situação da vida. Surgiu assim uma casta de especialistas na Lei, chamados escribas, que se dedicaram a reduzir os grandes princípios da Lei, literalmente a milhares e milhares de regras, estatutos e regulamentos.
A melhor forma de compreender o significado desta interpretação da Lei é vendo como funcionava. A Lei estabelecia que o dia de sábado devia ser santificado, e que durante suas vinte e quatro horas ninguém pode fazer trabalho algum. Este é um grande princípio. Mas esses legalistas judeus eram apaixonados pelas definições. De maneira que se perguntavam, para começar: o que é "trabalho"? Fizeram-se longas listas de atividades que deviam considerar-se trabalhos. Por exemplo, levar uma carga é um trabalho, e portanto não se podiam levar-se cargas no dia de sábado. Mas então se fazia necessário definir o que era uma carga. De modo que a lei dos escribas estabelece que "carga" é "uma quantidade de comida equivalente em peso a um figo seco, suficiente vinho para encher uma taça, leite para um gole, mel para cobrir uma ferida, a quantidade de azeite que forneceria a unção de alguma das partes mais pequenas do corpo, água suficiente para umedecer uma pálpebra, papel para redigir nele uma declaração de alfândega, a tinta que pode requerer a escritura de duas letras do alfabeto, e uma cana com a qual possa fazer uma pena para escrever" – e assim sucessivamente, até o infinito. Deste modo, passavam-se horas e dias discutindo se se podia ou não levantar um abajur para trocá-lo de lugar, no dia de sábado, ou se o alfaiate pecava ao levar por descuido uma agulha cravada em sua túnica, se uma mulher podia levar um alfinete, ou uma peruca, e até se podiam usar-se no dia de sábado, dentes postiços ou uma perna artificial, ou se se podia levantar a um menino. Estas coisas eram, para eles, a essência de sua religião. A religião deles era um legalismo de regras e normas ridiculamente detalhistas.
No dia de sábado não se podia escrever. Mas era necessário definir o que devia considerar-se escritura. A definição de escritura que propuseram era:
"Quem escreve duas letras do alfabeto, com sua mão direita ou com sua mão esquerda, sejam do mesmo tipo ou de dois tipos diferentes, com tintas diferentes ou em idiomas diferentes, sendo sábado, é culpado de pecado. Embora escreva essas duas letras por descuido, também peca, tenha-as escrito com tinta, giz vermelho, pintura, vitríolo, ou algo que deixe uma marca permanente. Também peca quem escreve em um canto de duas paredes, ou em dois tabletes de seu livro de contas, se as duas letras podem ser lidas juntas… Mas se escrever com fluido escuro, com suco de frutas, ou sobre o pó do caminho, na areia ou utilizando qualquer outro elemento de escritura que não produza uma marca permanente, não é pecado… Se se escreve uma letra no piso e outra na parede da casa, ou em duas páginas diferentes de um livro, de tal maneira que não se possam ler juntas, não é pecado."
Esta é uma passagem típica da Lei dos escribas; e isto é o que para o judeu ortodoxo da época de Jesus constituía a verdadeira religião e o verdadeiro serviço a Deus.
Curar era um trabalho, e portanto não se podia fazer no sábado, Mas, evidentemente, isto devia definir-se com maior exatidão. Permitia-se curar quando a vida do doente corria perigo, e especialmente quando o problema afetava os ouvidos, o nariz ou a garganta. Entretanto, até nestes casos, só se podia fazer aquilo que impedisse a piora do paciente. Não se podia fazer nada para que melhorasse. Podia enfaixar uma ferida, mas não colocar-lhe ungüento algum; podia tapar um ouvido inflamado, mas sem lhe acrescentar medicação alguma.
Os escribas eram os encarregados de elaborar estas normas e regulamentos. Os fariseus, cujo nome significa "separados", eram os que se separavam de toda atividade comum para dedicar-se a observar todas estas regulamentações e estatutos.
Podemos nos dar conta dos extremos a que chegou este sistema tendo em mente os seguintes fatos. Durante muitas gerações a lei dos escribas se transmitiu de maneira oral e foi conservada na memória de geração após geração de escribas. Para meados do século III d. C., foi posta por escrito e se codificou um resumo desta tradição oral. Este "resumo" se conhece como a Mishnah; contém sessenta e três tratados sobre distintos temas relacionados com a lei, e em nosso idioma constitui um volume de umas oitocentas páginas. A erudição judia posterior se ocupou de escrever comentários da Mishnah. Estes se conhecem como talmudes. O Talmud de Jerusalém está contido em doze volumes, e o Talmud de Babilônia alcança, em sua versão impressa, sessenta volumes.
Para o judeu ortodoxo dos tempos de Jesus, a obediência a Deus envolvia a observância de milhares de regras e estatutos legalistas; consideravam literalmente essas meticulosas disposições como questões de vida ou morte, que tinham que ver com seu destino eterno. Evidentemente, quando Jesus fala da lei que não passará, não se refere a essas regras e estatutos, pois ele mesmo os quebrantou repetidas vezes, e repetidas vezes os condenou, Não era isso o que ele entendia por "a Lei", pois essa classe de leis tanto Jesus como Paulo as condenaram.
BARCLAY. William. Comentário Bíblico. Mateus. pag. 138-141.
Deus enviou leis morais e cerimoniais para ajudar as pessoas a amá-lo com seu coração e mente. Entretanto, na época de Jesus os líderes religiosos haviam transformado as leis de Deus em um confuso emaranhado de regras. Quando Jesus falou sobre uma nova forma de entender a lei, Ele estava tentando fazer com que as pessoas se voltassem ao seu significado original. Jesus não falava contra a lei, mas contra os abusos e excessos aos quais ela havia sido submetida.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 39.
I. O QUE SIGNIFICA "CUMPRIR A LEI"?
1. COMPLETAR A REVELAÇÃO.
«Vim». Indica uma missão especial a ser cumprida. Ele veio à terra e assumiu os direitos próprios do Messias, a fim de cumprir certos propósitos de conformidade com a lei, e não contrários a ela. Provavelmente o modo diferente usado por Jesus para transmitir a sua mensagem, a autoridade que emanava de sua pessoa, a sua superioridade em relação aos escribas e rabinos, tanto em conhecimento como na apresentação desse conhecimento levaram muitos a pensar que ele provocaria uma revolução capaz de eliminar a ordem e a base religiosa dos judeus. Mas aqui Jesus esclarece que sua vinda não tinha tal finalidade.
«A LEI...os profetas». Em Luc. 24:44 lemos «...escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos»—evidentemente uma expressão geral que indica o V.T.,o conjunto completo das Escrituras judaicas. Jesus usou novamente essa expressão (Mat. 7:2 e 22:40; ver também Luc. 16:16 e Atos 13:15). Não há razão para interpretarmos outra coisa que não as Escrituras judaicas de modo geral, ou seja, o V. T. Notar que a frase diz «...a lei ou os profetas...», e não «a lei e os profetas». Os judeus eram culpados de revogar um ou outro.
Os saduceus não aceitavam os escritos dos profetas; por motivo de sua interpretação errônea, os fariseus revogavam parte da lei. Provavelmente, se a nossa fonte informativa é correta, os essênios revogavam partes de ambos.
O Messias, Jesus de Nazaré, não revogou nem a um nem a outro.
«CUMPRIR». Há diversas idéias sobre o sentido destas palavras: 1. Cumprir no sentido de obedecer completamente, ser o que a lei manda e cumprir as profecias e os preceitos dos profetas. 2. Completar, aumentar e aperfeiçoar a mensagem do V.T., mostrando sentidos e experiências espirituais de maior elevação, aumentando as doutrinas e mudando a posição do povo de Deus. 3. Provavelmente, a combinação dos dois pontos anteriores é a mais correta. Jesus obedeceu todos os mandamentos, cumpriu as profecias em sua própria pessoa, obedeceu os preceitos dos profetas; mas também, sendo superior a Moisés, aumentou e aperfeiçoou o sistema, as doutrinas e a experiência espiritual. Escreveu a lei no coração, mas também expôs novas idéias e ensinos. Trouxe-nos o principio da graça, da justificação em sua própria pessoa, da regeneração, coisas essas que a lei prefigurava, mas que não podia efetuar.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 308-309.
Mt 5.17. Não vim ab-rogar, mas cumprir. O verbo ab-rogar significa “soltar”, “desatar”, “desprender” como se faz com uma casa ou tenda (2 Co 5.1).
Cumprir significa “encher por completo” ou “completar”. Foi o que Jesus fez com a lei cerimonial, que o apontava. Ele também guardou a lei moral. “Ele veio completar a lei, revelar a total profundidade do significado que estava ligado a quem a guardava.”
A. T. ROBERTSON. Comentário Mateus & Marcos. À Luz do Novo Testamento Grego. Editora CPAD. pag. 70.
A que se referia Jesus, então, quando falava de "a Lei"? Disse que não tinha vindo para destruir a lei e sim para cumpri-la. Quer dizer, veio para pôr de manifesto o verdadeiro significado da Lei. Qual era o verdadeiro significado da Lei? Mesmo por trás da lei oral dos escribas e fariseus, havia um grande princípio de crucial importância, que estes não compreendiam a não ser de maneira equivocada e imperfeita. Este grande princípio fundamental é que em todas as coisas o homem deve procurar a vontade de Deus e que uma vez que a conhece deve dedicar toda sua vida a obedecê-la. Os escribas e fariseus tinham razão ao procurar a vontade de Deus, e não se equivocavam ao dedicar a vida a sua obediência; mas se equivocavam ao acreditar que suas centenas e milhares de insignificantes normas legalistas eram a vontade de Deus.
Qual é, pois, o verdadeiro princípio, que respalda a Lei em sua totalidade, esse princípio que Jesus deveu cumprir, esse princípio cujo verdadeiro significado veio a nos mostrar?
Quando examinamos os Dez Mandamentos, que são a essência e o fundamento de toda a Lei, podemos nos dar conta que todo o seu significado pode resumir-se em uma só palavra – respeito, ou até mais adequadamente, reverência. Reverência para com Deus e para o nome de Deus, reverência pelo dia de Deus, respeito aos pais, respeito à vida, respeito à propriedade, respeito à personalidade, respeito à verdade e ao bom nome de outros, a respeito a si mesmo, de tal modo que jamais possam chegar a nos dominar os maus desejos. Estes são os princípios fundamentais que resumem o significado dos Dez Mandamentos. Os princípios fundamentais dos Dez Mandamentos são a reverência para com Deus e o respeito a nossos semelhantes e a nós mesmos. Sem esta reverência e este respeito fundamentais não pode haver Lei. Sobre estas atitudes se apóia toda lei.
E é esta reverência e este respeito o que Jesus deveu cumprir. Veio para demonstrar aos homens, em sua própria vida concreta de cada dia, o que é a reverência para com Deus e o respeito para com o homem. A justiça, diziam os gregos, consiste em dar a Deus e aos homens o que merecem. Jesus veio para mostrar, na vida, o que significa a reverência que Deus merece e o respeito que o homem merece.
Essa reverência e esse respeito não consistiam na obediência de uma multidão de meticulosas regras e estatutos. Não exigia o sacrifício, a e sim a misericórdia; não era um legalismo e sim o amor; não era uma série de proibições que estipulavam detalladamente o que não se devia fazer, e sim uma série breve de mandamentos fundamentais que levavam o crente a modelar sua vida a partir do mandamento positivo: o do amor. A reverência e o respeito que constituem o fundamento dos Dez Mandamentos jamais passarão. São a própria substância da relação de cada indivíduo com Deus e com o seu próximo.
BARCLAY. William. Comentário Bíblico. Mateus. pag. 141-143.
2. CUMPRIMENTO DAS PROFECIAS.
Jo 19.36 A vida do Senhor Jesus se caracterizou pelo perfeito cumprimento de todas as profecias messiânicas; e por ocasião de sua morte não ocorreu outra coisa, porquanto, quando vieram os soldados quebrar as suas pernas, descobriram que ele já estava morto. Estes dois versículos (36 e 37) encerram duas predições bíblicas que se cumpriram quando o Senhor já expirara, pelo que também não era possível que tivesse ele cumprido as mesmas propositalmente. H á uma teoria que diz que Jesus procurava cumprir propositalmente as profecias messiânicas, a fim de dar a impressão de que era ele o Messias. Porém, uma vez morto, não era possível que ele tivesse participado ativamente no cumprimento das profecias; e tanto o «crucifragium» (ou quebra das pernas dos condenados à cruz, para apressar-lhes a morte) como o golpe de misericórdia, com a lança, foram cumprimentos de profecias a seu respeito. Esse cumprimento se torna tanto mais notável quando nos lembramos que fora predito que ele escaparia ao «crucifragium», ao passo que o golpe traspassador de lança fora predito. E assim sucedeu quando ele já rendera o espírito, servindo de prova inconteste do fato de que havia realmente morrido, e, por conseqüência, de prova inconteste de sua autêntica ressurreição.
Essas profecias e suas respectivas realizações, na vida e na morte de Cristo, ajudam-nos a crer na validade desses acontecimentos, conforme foram registrados pelos evangelistas diversos, de tal modo que podemos eliminar com toda a segurança a teoria do «desmaio» como explicação da ressurreição, bem como quaisquer outras suposições que procuram diminuir a autenticidade ou o valor da ressurreição de Jesus Cristo. (Ver as notas expositivas em Luc. 24:6, que expõem as teorias sobre os possíveis modos de ressurreição; e também I Cor. 15:20, quanto ao fato da ressurreição e a sua doutrina bíblica). Grande é a nossa dívida ao apóstolo João por haver preservado para nós esses pormenores adicionais, que confirmam a realidade desses fatos.
Com base no trecho de Êxo. 12:46, com respeito ao cordeiro pascal, observamos que nenhum osso do animal podia ser quebrado, pois de outra maneira não seria considerado próprio para servir de sacrifício. Cristo, pois, na qualidade de Cordeiro de Deus, não poderia ter quebrado qualquer de seus ossos, embora, nas execuções por crucificação fosse muito comum essa violência.
Naturalmente o autor sagrado tinha em mente confirmar a validade das reivindicações messiânicas de Jesus, demonstrando o fato de que ele cumprira as profecias messiânicas. Todavia, esta é apenas uma, dentre muitas outras provas neotestamentárias. sobre o assunto. (Quanto a um sumário sobre a questão, ver João 7:45).
«Ele viu aquilo que poderia ter parecido mera ocorrência acidental: não partiram qualquer dos ossos de Jesus; ele viu aquilo que poderia ter parecido uma espécie de instinto do momento: que o soldado romano transpassou-lhe o lado com sua lança; ele viu, no sangue e na água que fluiu do lado traspassado de Jesus uma prova visível que Jesus era o Filho do homem; mas ele também viu que esse incidente fazia parte do destino divino para o Messias, que os profetas haviam predito e que cumpriu assim as Escrituras». (Ellicott, in loc.).
João Batista já enfatizara o caráter de Jesus Cristo como o Cordeiro de Deus (ver João 1:29); e, posteriormente, Paulo fez a mesma coisa(ver ICor. 5:7). Neste ponto o fato é enfatizado sem o emprego desse título, porquanto Cristo aparece como o cordeiro do sacrifício, cujos ossos não podiam ser quebrados (ver Êxo. 12:46). (Quanto a notas sobre o tema do «Cordeiro de Deus», conforme teve seu cumprimento em Jesus, ver João 1:29). Alguns estudiosos vêem nessa declaração: «...Nenhum dos seus ossos será quebrado...» uma referência simbólica ao seu corpo místico, a igreja, pensando tratar-se de uma proinessa de segurança para todos quantos confiam em Cristo. Por conseguinte, seria uma repetição do tema que pode ser encontrado em João 10:28,29 e 17:11,12, onde as notas expositivas devem ser consultadas. (Quanto a uma nota expandida sobre a segurança do crente, ver Rom. 8:39).
Sobre essa questão, é a seguinte a exposição feita por Brown (in loc.): «...essa é uma maneira definida de expressar o cuidado minucioso com que Deus cuida do seu povo, no corpo (referindo-se ao fato de que nenhum de seus ossos seria partido). E o correto ponto de vista sobre a conexão que isso tem com Cristo é a observação que nota quão congruente era que isso se cumprisse literalmente naquele que tinha o propósito expresso de ser o símbolo da segurança de todos os seus santos». Esse mesmo autor também sente que uma das augustas implicações deste versículo é que Deus permitiu que os homens abusassem de Jesus e o crucificassem, porque ele estava neste mundo para ser o sacrifício expiatório pelo pecado. Assim, pois, a proteção de Deus Pai se retirou nesses momentos, a fim de que ele tivesse cumprido o seu destino. Porém, assim que esse destino se cumpriu, voltou a proteção divina sobre a pessoa do Senhor Jesus, de tal modo que nenhum de seus ossos teve de ser quebrado, embora houvesse sido permitida a perfuração de seu lado, com a lança, para que ficasse perfeitamente comprovada a validade de sua morte, e, por conseqüência, de sua ressurreição, a fim de que todos os crentes tivessem confirmada a sua confiança nele, em sua morte expiatória e em sua ressurreição miraculosa, que nos proporciona a vida eterna.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 625-626.
Jo 19.36 Por meio de um enfático ―pois‖ João nos revela o que de fato lhe era grandioso nesse acontecimento todo. ―Pois isso aconteceu para se cumprir a Escritura.‖ Aqui aconteceu algo surpreendente e de forma alguma previsível. Na realidade deveria ter acontecido com Jesus exatamente a mesma coisa que aconteceu com os outros dois ao lado dele. Mas ele terminou sua vida com uma rapidez surpreendente. Por isso suas coxas não foram quebradas. Em troca, foi perfurado pelo golpe de uma lança. E isso não é uma ―coincidência‖ exótica. Não, aqui se cumpre de forma maravilhosa a Escritura, mais uma vez confirmada perante os olhares de cada pessoa que deseja ouví-la seriamente. A instrução sobre o cordeiro da Páscoa em Êx 12.46; Nm 9.12 determina: ―Nenhum osso lhe deve ser quebrado.‖ Contra todas as expectativas foi isso que sucedeu com Jesus, e assim Ele foi atestado como o verdadeiro Cordeiro da Páscoa. Jesus morre na hora em que os cordeiros para a Páscoa eram abatidos no templo, e é preservado de ter seus ossos quebrados.
Werner de Boor. Comentário Esperança Evangelho de João. Editora Evangélica Esperança.
Era um costume romano abandonar os cadáveres na cruz, deixando-os aos cães e abutres. Mas havia uma lei judaica que “proibia deixar um corpo no local da execução de um dia para outro”. Por essa razão, e porque era a preparação, i.e., a véspera do sábado, os judeus... rogaram a Pilatos que quebrassem as pernas das vítimas, e fossem tirados. Esta prática brutal, conhecida como crurifragium, era usada como um meio de apressar a morte. Ela envolvia a quebra das pernas das vítimas com uma grande marreta. Os soldados fizeram isto com os dois ladrões que foram crucificados com Jesus. Mas, vindo a Jesus e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas. João registra aqui o cumprimento das Escrituras: Nenhum dos seus ossos será quebrado ; cf. Êx 12.46; Nm 9.12. Jesus foi o sacrifício perfeito, tanto na morte quanto na vida.
Joseph H. Mayfield. Comentário Bíblico Beacon. João. Editora CPAD. Vol. 7. pag. 158.
3. O CENTRO DAS ESCRITURAS.
São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco (44). Jesus se refere ao seu ministério, até à hora da sua crucificação, como a alguma coisa que já fazia parte do passado. As palavras estando ainda convosco não só predizem a sua ascensão, mas também indicam que mesmo naquele momento em que está falando, Ele não está “com eles”, no mesmo sentido usado anteriormente. Sua morte e ressurreição mudaram o mortal para imortal, e criaram uma diferença entre eles que apenas a morte e a ressurreição deles próprios poderiam lhes permitir transcender. Convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos. A Lei, os Profetas e os Salmos são as três principais divisões das Escrituras Hebraicas. Deste modo, Jesus está se referindo à série completa da profecia messiânica, da primeira promessa em Gênesis 3.15 até o Livro de Malaquias. Ele deixa claro um vínculo inseparável entre Ele mesmo e esta profecia do Antigo Testamento. O Senhor lembra aos seus discípulos que Ele deixou este ponto claro enquanto ainda estava com eles. Antes de sua morte, a ênfase era de que se cumprisse tudo, e se referia ao seu ministério terreno.
Charles L. Childers. Comentário Bíblico Beacon. Lucas. Editora CPAD. Vol. 6. pag. 497.
Lc 24.44. São estas as palavras que eu vos falei: “Estes acontecimentos, especificamente a ressurreição, representam a concretização das coisas que Eu vos ensinei.” Jesus incluíra no Seu ensino um número suficiente de prenúncios da Paixão e da Ressurreição para Seus seguidores não terem sido surpreendidos com aquilo que aconteceu. Podia dizer: estando ainda convosco, porque Sua presença agora (e noutras ocasiões como esta) era excepcional. O rompimento definitivo ocorrera e Ele já não habitava na terra. A divisão solene das Escrituras na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos (as três divisões da Bíblica Hebraica) indica que não há parte alguma da Escritura que não dá testemunho a Jesus. Este, aliás, parece ser o único lugar no Novo Testamento onde esta tríplice  divisão é explicitamente mencionada.
Leon L. Morris. Lucas. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 321.
Lc 24:44-49 / O principal ponto enfatizado por Jesus no v. 44 é que realmente nada há de novo ou inesperado em sua ressurreição no terceiro dia. Isso ocorre por dois motivos: (1) [Jesus] estando ainda com seus discípulos dissera-lhes que era necessário que se cumprisse tudo o que dele estava escrito. Vê-se isso de modo especial quanto às predições dapaixão (9:22,44; 18:31-33), de modo especial as de 9:22 e 18:33, em que o Senhor predisse sua ressurreição no terceiro dia. (2) Os discípulos deveriam entender os fatos da paixão e ressurreição de Jesus porque foram profetizados nas Escrituras (i.e., no Antigo Testamento). Dessa vez, todas as três partes do Antigo Testamento são mencionadas (e não apenas duas, como no v. 27, acima): na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Entende-se o termo Salmos como referência à terceira divisão da Bíblia hebraica, que em geral se denomina “Escritos”. Aqui, essa divisão recebe o nome simples de Salmos, provavelmente porque, de todos os Escritos, os Salmos tinham grande importância para a interpretação cristológica do Antigo Testamento.
Isso se torna evidente nas alusões aos salmos de lamentação (Salmo 22, 31 e 69) no relato de Lucas sobre a paixão e morte de Cristo (v. 23:26-43).
Craig a. Evans. Comentário Bíblico Contemporâneo. Lucas. Editora Vida. pag. 399.
II. O SENHOR JESUS VIVEU A LEI
1. PRECEITOS CERIMONIAIS.
É comum ouvir falar de lei moral, lei cerimonial e lei civil. Os preceitos morais estão resumidos nos Dez Mandamentos. São os que tratam dos princípios básicos morais (alguns chegam a considerar erroneamente o sábado como preceito moral, ver Capítulo 5). É única porção do Pentateuco escrita pelo dedo de Deus em duas tábuas de pedra. A própria nação de Israel viu e ouviu Deus entregando essa parte da lei a Moisés. Essa é outra característica distintiva do Decálogo. A lei cerimonial é a parte que trata das festividades religiosas, do sistema de sacrifício e da adoração no santuário, dos alimentos limpos e imundos e das instruções sobre a pureza ritual, entre outros.
Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 141.
Observâncias cerimoniais tinham um sentido sim bólico e temporário. O sistema de sacrifícios prefigurava Cristo em sua obra expiatória; as festas, de vários tipos, simbolizavam Cristo em sua missão e realizações. As diversas cerimônias relembravam os antigos sobre os valores espirituais, que se acham em Cristo e no evangelho, mas não tinham qualquer valor próprio pará a salvação da alma. A circuncisão, segundo vimos, em seu sentido espiritual, indica a eliminação da natureza inferior; as lavagens tipificam o poder de Cristo para limpar-nos do pecado. Até mesmo o templo, centro da adoração legalista, era um quadro das realidades celestes, isto é, como os homens acham acesso à presença de Deus, e isso através de Cristo. Um «sábado» significa nosso descanso em Cristo, em que a alma se vê em perfeita harmonia com Deus, livre para contemplá-lo, repousando do conflito que caracteriza este mundo pecaminoso. A Páscoa falava da lib e rtação do povo de Deus de seus inimigos, e Cristo é o grande libertador dos homens, de todos os inimigos da verdade e da bondade. A festa de Pentecoste (festa das colheitas e das primícias), tipificava a frutificação que há no Espírito).
« ...sombra...» No grego temos «skia», «sombra», e não «esboço», conforme alguns têm interpretado. Devemos pensar nos pontos seguintes:
1. Isso fala de inexatidão. Os valores espirituais não eram, então, claramente d efinidos. 2. Fala de natureza incompleta. As realidades espirituais não eram, então, perfeitamente conhecidas. 3. Fala de falta de substancialidade. Não eram aquelas as realidades de valor espiritual, mas apenas uma espécie de prelibação das mesmas. 4. Fala de temporalidade. A sombra tem de desaparecer, quando a realidade aparece. 5. Fala de inferioridade. Aquelas coisas tinham certo valor, mas bem pequeno em comparação com a realidade espiritual. 6. Fala de simbolismo. Não eram realidades espirituais (as realidades simbolizadas), mas apenas símbolos obscuros das realidades que ainda seriam reveladas. 7. Isso também fala de diferença de natureza. Eram coisas «físicas», e não espirituais. Os valores autênticos são os de natureza espiritual. 8. Fala de questões cerimoniais, contidas em ritos. Mas os valores espirituais autênticos são conhecidos misticamente, mediante a comunhão com Cristo. 9. Fala do fato que são coisas dispensáveis. Não eram coisas que teriam sempre de existir, o que só pode ser atribuído aos valores espirituais indispensáveis.
«...cousas que haviam de vir...» O verbo no futuro é usado, porque o autor sagrado escreve do ponto de vista do tempo em que tais sombras ainda estavam em vigor, pelo que o advento de Cristo e do evangelho é reputado como algo ainda futuro. É claro de que grande parte do que possuímos em Cristo a inda é futuro, pois as eras da eternidade também devem ser envolvidas na idéia das «coisas que hão de vir». Mas a primeira idéia é que é enfatizada neste versículo. O «reino messiânico» também fica aqui implícito, embora não seja diretamente referido.
«...porém o corpo é de Cristo... » O corpo lança uma sombra, mas o corpo é infinitamente mais real que a sua sombra, além de ser distinto desta. Os judeus helenistas criam, à moda platônica, que todas as coisas da terra têm paralelos celestes, nos vários níveis da glória celestial. Essa expressão, «...o corpo é de Cristo...», dá a entender tal crença, embora não a confirme.
Quando Jesus veío dos céus trouxe a nós a substância e a realidade daquilo quê a religião somente sim bolizava, em seus ritos, cerimônias, dias especiais, etc. Em Cristo, pois, se incorporam todas as realidades celestes; e estas lhe pertencem, desde sua origem, sendo ele quem as dá, porquanto «pertencem» a ele.
«A 'substância' pertence à economia cristã. Deriva-se de Cristo, e só se concretizará mediante a nossa união com ele». (Vincent, in loc.). (Ver Heb. 8:5 e 10:1 quanto a expressões similares, que falam do mesmo assunto). Em Cristo se acha tudo quanto é necessário para a vida, para a piedade e para a glória eterna. Ele é a perfeita concretização de todas essas coisas, porque é segundo a sua im agem que estamos sendo transformados, e através disso, chegaremos a participar do destino espiritual que a vontade divina estabeleceu para nós. (Ver Efé. 1:3, que fala de todas as bênçãos espirituais que nos são dadas em Cristo).
H á aqueles que correm atrás de sombras. Ninguém possui a substância da realidade espiritual, enquanto estiver preocupado em perseguir meras sombras. Os falsos mestres, segundo a estimativa de Paulo, eram indivíduos que corriam atrás de sombras.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 124-125.
O engano do legalismo (2.17). O apóstolo Paulo derruba o fundamento do legalismo, dizendo: “Porque tudo isso (comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados) tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo” (2.17). Platão, no seu livro República, distingue a sombra (aparência externa) da realidade (a verdade espiritual e interna das coisas). Paulo, porém, usa “sombra” no sentido de prenúncio da realidade. O corpo lança uma sombra, mas o corpo é infinitamente mais real que a sua sombra, além de ser distinto desta. Paulo refuta os falsos mestres usando a ilustração do “corpo” e da “sombra”. Werner de Boor esclarece esse ponto quando escreve:
Um corpo lança sua sombra e pode ser reconhecido pela sombra, segundo seu contorno. Porém o essencial não é a sombra, mas próprio corpo. Assim o mandamento do sábado de Israel também é “apenas uma sombra do que haveria de vir, o verdadeiro corpo é de Cristo”. Os mandamentos e regras dados a Israel eram tão-somente a sombra projetada de uma coisa cuja realidade plena pertence somente a Cristo e chegou nele e com ele.
Nessa mesma linha de pensamento, Russell Norman Champlin diz que a palavra “sombras” deve levar-nos a pensar nos seguintes pontos: ela fala de 1) inexatidão; 2) natureza incompleta; 3) falta de substancialidade; 4) temporalidade; 5) inferioridade; 6) simbolismo; 7) diferença de natureza; 8) questões cerimoniais contidas em ritos; 9) que são coisas dispensáveis.
Essas coisas às quais os legalistas se agarravam eram a sombra, mas o corpo é de Cristo. Quando a realidade chega, náo precisamos mais da sombra. Por que retornar à sombra, quando já temos a realidade? Corroborando essa posição, Fritz Rienecker diz que a palavra grega skia, “sombra”, usada aqui por Paulo, indica uma sombra que não tem substância em si mesma, e indica a existência de um corpo que a produz ou indica um esboço, um mero esquema do objeto, em contraste com o objeto em si. Isso significa que o ritual do Antigo Testamento era um mero esquema das verdades redentivas do Novo Testamento.
Ralph Martin afirma que a “sombra” é um presságio daquilo que está por vir; e o tempo da substância já chegou, tornando antiquado, desta maneira, tudo quanto apontava para ela como coisa futura. Aquela “substância” é Cristo. A nova era cristã liberta os homens da escravidão ao medo e ao terror supersticioso. Liberta-os de noções falsas e esperanças insubstanciais, e dá-lhes um gosto da realidade na religião, na medida em que chegam a conhecer em Cristo a verdadeira comunhão com o Deus vivo. Esta realidade é aquilo a que Paulo se refere nas suas alusões anteriores à “esperança do evangelho” (1.5,23).
Hendriksen deixa claro esse ponto, quando escreve:
Por que ter como indispensável o submeter-se a preceitos sobre comida, quando Aquele que foi anunciado pelo maná de Israel se nos oferece a Si mesmo como o Pão da vida? (Jo 6.35,48). Como pode considerar-se a Páscoa (Êx 12.1-12) uma observância necessária para a perfeição espiritual, se “nossa páscoa, que é Cristo, já foi sacrificado por nós?” (ICo 5.7). Que justificativa havia para impor aos que se converteram do mundo gentílico a observância do sábado judeu, quando Aquele que traz o descanso eterno exorta a todos a ir até Ele? (Mt 11.28,29; Hb 4.8,14).Uma questão intrigante pulsa em nossa mente: Por que o legalismo com sua rigidez fundamentalista é tão popular e tão aceito na maioria das religiões? Warren Wiersbe responde: “E porque dentro desse sistema, é possível medir nossa vida espiritual - e até nos vangloriar dela!”
Em quarto lugar, a derrota do legalismo (2.16,17). Em virtude de tudo aquilo que Cristo é e fez por nós, não devemos permitir que ninguém nos julgue pelas regras do legalismo. A preposição “pois” (2.16) nos ensina que a base da nossa liberdade são a pessoa e a obra de Jesus Cristo. Somente depois que Paulo proclamou que Cristo triunfou na cruz sobre os nossos pecados, sobre a lei que nos condenava e sobre as forças espirituais que nos acusavam, é que ele orienta: “Ninguém, pois, vos julgue...” (2.16). A cruz de Cristo é a nossa carta de alforria. Se já morremos e ressuscitamos com Cristo, somos servos Dele e não mais escravos da lei. A lei não exerce mais jurisdição sobre um morto. Agora temos um novo Senhor!
LOPES, Hernandes Dias. Colossenses. A suprema grandeza de Cristo, o cabeça da Igreja. Editora Hagnos. pag. 145-147.
Col 2.16,17 Portanto refere-se ao que acabou de ser apresentado e leva à conclusão: Ninguém vos julgue (“dê seu parecer sobre vós”). Todas as outras religiões envolvem atos e práticas de reconciliação inferiores e inúteis: pelo comer, ou pelo beber (alimentos), dias de festa (festividades anuais), lua nova (observância mensal), sábados (observância semanal) (Nm 28.9).42 Embora não haja no original grego o artigo definido os antes de sábados, seu uso esclarece o significado. Paulo estava resistindo aos judaizantes que insistiam na observância legalista do sábado.43 Estas eram questões nas quais os inimigos de Cristo tiveram sucesso em crucificá-lo (Rm 14.1ss.; 1 Tm 4.3; Tt 1.14; Hb 9.10ss.; 13.9,10).
Que são sombras (17) é explicado no versículo 18 e posto em contraste no versículo 19. O termo sombras caracteriza os sistemas ritualistas do judaísmo. As sombras são indicativas da realidade, Cristo. No Antigo Testamento, viam-se apenas as sombras. No Novo Testamento, o corpo (soma, “substância”), que é Cristo, está presente. Mas mesmo hoje temos aqueles que seriam “escravos de sombras”: tipos, formas e rituais. A base da exortação de Paulo aqui é a obra de Cristo; questões de calendário não têm valor como meio de salvação (Rm 14.17). Sua função mostra o sacrifício de Cristo. Que tolice chamar as sombras de realidade!
John B. Nielson. Comentário Bíblico Beacon. Colossenses. Editora CPAD. Vol. 9. pag. 327.
2. PRECEITOS CIVIS.
A lei civil diz respeito à responsabilidade do israelita como cidadão; são regulamentos jurídicos e instruções que regiam a nação de Israel. Convém salientar o que já foi dito no Capítulo 1: "Embora essa distinção tripartite seja antiga, seu uso como fundamento para explicar a relação entre os testamentos não é demonstravelmente derivada do Novo Testamento e provavelmente não é anterior a Tomás de Aquino" (CARSON, 2011, p. 179). Os preceitos cerimoniais e civis derivam dos preceitos morais. Esses três tipos de lei estão presentes no Pentateuco, entretanto, tudo é a lei de Moisés.
Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 141-142.
«O reino de Deus...» Jesus aplica a parábola aos que ouviam e à nação inteira de Israel. Ele acabara de ilustrar o sentido da parábola dos «lavradores maus» mostrando que as obras de Deus podem ser comparadas a um edifício que requer uma maciça pedra angular, como também o templo de Deus, em Jerusalém, tinha uma dessas pedras. Os construtores do templo espiritual haviam rejeitado a pedra angular que fora cortada por ordem do arquiteto em chefe. Para esses, isto é, para o povo de Israel, a edificação terá de cessar até que a principal pedra angular seja devolvida ao seu devido lugar. Mas chsga.rk, finalmente, o tempo em que Israel tornará a construir sobre essa pedra. Nesse ínterim, as obras de Deus não cessam. Deus planta uma nova vinha e envia novos servos, tendo garantido de antemão o sucesso da empreitada. O novo povo, como é óbvio, refere-se à Igreja.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 523.
Mt 21 :42 -46 /Jesus cita do Salmo 118 a passagem da pedra rejeitada pelos edificadores, que veio a tomar-se pedra de esquina (vv. 22-23) e conclui que o reino de Deus há de ser tirado dos judeus e entregue a um povo que há de produzir os seus frutos. Aqui está o ponto central da parábola. Ao rejeitar a mensagem dos profetas e, por fim, ao rejeitar o próprio Filho, Israel demonstrou sua incapacidade para produzir o tipo de conduta e vida apropriados ao reino de Deus. O reino é tirado de Israel e dado aos gentios.
A passagem do Salmo 118 era bem conhecida da igreja primitiva, sendo citada em Atos 4:11 e em 1 Pedro 2:7.
Robert h. Mounce. Comentário Bíblico Contemporâneo.Mateus. Editora Vida. pag. 212.
Mt 21.43. O Reino de Deus vos será tirado terceira pessoa do singular do futuro passivo do indicativo de aípco. Era o alarma da morte para a nação judaica, com as suas esperanças de liderança mundial política e religiosa.
A. T. ROBERTSON. Comentário Mateus & Marcos. À Luz do Novo Testamento Grego. Editora CPAD. pag. 238.
3. PRECEITOS MORAIS.
Há uma interpretação entre os cristãos de que a lei moral é eterna, portanto, para a atualidade. A lei cerimonial se cumpriu na vida e na obra de Jesus Cristo. A lei civil cumpriu sua função até que Israel deixou de ser um estado teocrático, e a Igreja não é um estado. Tudo isso são interpretações. É verdade que a lei cerimonial se cumpriu em Jesus, pois todo o sistema e ritos do tabernáculo apontavam para o Messias. Israel perdeu a condição de estado teocrático (Mt 21.43), e os privilégios de Israel foram transferidos para a Igreja (Êx 19.6, 7; 1 Pe2.9, 10). O Senhor Jesus cumpriu todos os preceitos morais durante sua vida terrena. Em nenhum lugar o Novo Testamento diz que a lei moral se resume a amar a Deus e ao próximo, mas abrange toda a lei: "Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas" (Mt 22.40). O apóstolo Paulo afirma: "Porque quem ama aos outros cumpriu a lei" (Rm 13.8). Em seguida, ele cita cinco mandamentos do Decálogo, mas não na seqüência canônica, e depois volta a enfatizar que "o cumprimento da lei é o amor" (Rm 13.10).
Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 142.
Destes dois mandamentos...». A palavra «dependem» significa, literalmente, penduram-se. A figura é extraída da porta em seus gonzos, ou de um prego na parede, indicando admiravelmente bem a dependência do crente de um princípio comum e de seu desenvolvimento à base desse princípio. Assim sendo, vê-se que em realidade não existem muitos mandamentos—certamente não os seiscentos e treze diferentes preceitos, conforme os judeus dividiam a descrição de todo o dever dos homens. Em realidade há apenas um mandamento—a total devoção de nosso ser a Deus.
Isso é tão típico da pessoa de Jesus, que ele demonstrou em sua vida como isso deveria ser feito; e embora seja um alvo extremamente alto para os homens abandonados a si mesmos, Jesus fez tudo isso como homem. Jesus provou que um ser dotado de livre-arbítrio, em meio a todas as formas de tentações, que eram tão reais e potencialmente destruidoras para ele como o são para nós, pode escolher o bem e não o mal. Jesus mostro:i-nos o caminho real do amor, perante o qual se dissipam todas as dificuldades próprias da inquirição espiritual. Se tivermos de mencionar outro mandamento por seu nome, então seja-nos permitido mencionar o amor aos nossos semelhantes, pois é justamente nessa esfera que demonstramos o nosso amor a Deus, onde praticamos esse amor, onde aprendemos a dar e a receber, onde aprendemos a ser mais parecidos com Deus, com a esperança de algum dia sermos perfeitamente semelhantes a ele.
John Gill (in loc.) salienta para nós que o termo pendurar, ao referir-se aos preceitos sobre os quais os demais mandamentos estão edificados, é um hebraismo; e fomece-nos a seguinte citação de Maimonides (Hilch. Yesode Hatorah, c.l, see.6); «...0 conhecimento dessa questão é um preceito afirinativo, conforme está dito, Eu sou 0 Senhor, teu Deus; e aquele que imagina que existe outro Deus além desse, transgride um preceito negativo, conforme foi dito, Não terás outros deuses diante de mim; e nega o ponto fundamental, pois esse é o grande alicerce, no qual tudo está pendurado».
Jesus salientou que a mensagem dos profetas, embora dada mais tarde e não fizesse parte da lei original, não contradizia, mas antes, estava em plena harmonia com essa mensagem. Beza achava que aqui há uma alusão às filactérias (ver nota em Mat. 23:5, onde há uma explicação) ou caixinhas amarradas à testa e a uma das mãos, como memorial da lei. O lugar onde a lei está realmente pendurada é no amor de Deus e no amor a Deus.
Jesus ensinou a doutrina de que o homem deve ser consagrado a Deusem sua totalidade e com isso ele entendia que o homem não pode dividir a sua vida em diversas partes, algumas para Deus e outras para os interesses próprios de várias modalidades. O shema era oferecido diariamente em orações, por todos os judeus devotos. Essa palavra significa «ouvir», e essa oração era assim chamada devido à primeira palavra\do grande mandamento: «Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a tua força» (Deut. 6:4,5). Coração, alma e forças devem participar dessa profunda adoração. A inquirição espiritual é que dá sentido à vida. O alvo dessa inquirição é a perfeição (Mat. 5:48), quando o crente será moralmente semelhante a Deus, quando sua vida será semelhante à de Cristo, moral e metafisicamente. A devoção parcial deixa-nos com uma vida dividida e sobrecarregada de tensões. É fato bejn conhecido nos escritos psicológicos que a personalidade dupla é prejudicial à saúde mental. Platão ensinava que o homem bom é aquele que não sofre de tensões entre seus três componentes, que seriam o vegetal (o físico), o animal (talvez as emoções) e o racional (a alma ou espírito). A alma deve dominar, a parte animal é que encoraja para o bem e o vegetal (físico) deve ficar em sujeição. Quando reina—a harmonia—no homem inteiro, tal homem é justo e faz aquilo que é correto.
Neste ponto, a narrativa em Marcos é mais completa e acréscenta a resposta dada por um dos escribas. (Ver Marcos 12:32-34). O autor do
evangelho de Mateus, por razões desconhecidas, deixou de fora essa porção da narrativa, provavelmente por querer condensá-la e abreviá-la. Essa omissão, entretanto, remove o calor humano da narrativa, e podemos ser gratos a Marcos pela sua inclusão. Sua adição é como segue: «Muito bem, Mestre disseste que ele é o único, e não há outro senão ele; e que amar a Deus de todo o coração, de todo o entendimento e de toda a força, e amar ao próximo como a si mesmo, excede a todos os holocaustos e sacrificios.
Vendo Jesus que ele havia respondido sabiamente, declarou-lhe; Não estás longe do reino de Deus. E já ninguém mais ousava interrogá-lo».
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 538-539.
Observe qual é a importância e a grandeza desses mandamentos (v. 40): “Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas”, isto é, eles são a soma e o significado de todos aqueles preceitos selacionados à religião prática, que estão escritos nos corações dos homens pela natureza, revividos por Moisés, e apoiados e reforçados pela pregação e pelos escritos dos profetas. Tudo depende da lei do amor; remova-a, e tudo cai ao chão e se reduz a nada. Os rituais e os cerimoniais devem dar lugar a esses dois mandamentos, como ocorre com todos os dons espirituais, pois o amor é o caminho mais excelente. Este é o espírito da lei, que a anima, o cimento da lei, que a acompanha, é a raiz e a origem de todas as outras obrigações, o compêndio de toda a Bíblia, não somente da lei e dos profetas, mas também do Evangelho, supondo apenas que esse amor seja o fruto da fé, e que nós amemos a Deus em Cristo, e ao nosso próximo, em nome dele. Tudo depende desses dois mandamentos, como o efeito que ocorre tanto na sua eficiência quanto na sua causa final; pois o cumprimento da lei é amor (Rm 13.10), e o fim da lei é a caridade (1 Tm 1.5). A lei do amor é o prego, é o prego no lugar certo, fixado pelos mestres das congregações (Ec 12.11), do qual pende toda a glória da lei e dos profetas (Is 22.24), um prego que nunca será arrancado; pois deste prego depende eternamente toda a glória da nova Jerusalém. O amor nunca falha. A esses dois grandes mandamentos, portanto, os nossos corações devem se render como a um molde; à defesa e à evidência desses dois mandamentos, dediquemos o nosso zelo, e não noções, nomes e conflitos de palavras, como se estas fossem as coisas poderosas de que dependem a lei e os profetas, e a elas o amor a Deus e ao nosso próximo devesse ser sacrificado; pois é ao poder controlador dos mandamentos que todas as demais coisas devem se curvar.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 292.
Jesus acrescentou (apenas em Mateus): Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas (40) - isto é, todo o Antigo Testamento. Esses são os dois mandamentos-chave, que demonstram o significado de todos os demais.
Como a essência de todo o Antigo Testamento está contida nesses mandamentos, é óbvio que a santidade como padrão para o povo de Deus não é isolada na dispensação do Evangelho. O que é especial na nova aliança é o meio com o qual os homens devem atender a esse padrão, e a medida (ou o grau de perfeição) com que devem cumpri-lo. O poder para alcançar a plenitude interior tornou-se agora a herança de cada filho de Deus. E um poder que altera de tal maneira o afeto e preenche o ser com o Espírito Santo, que amar a Deus com todo o ser torna-se uma atitude natural e espontânea (Rm 5.5). Quando Deus promete que na nova aliança Ele irá colocar as suas leis no entendimento e no coração do seu povo (Hb 8.10; Jr 31.33), Ele está se referindo, acima de tudo, a estes dois mandamentos, pois eles incluem todos os outros.
Ralph Earle. Comentário Bíblico Beacon. Mateus. Editora CPAD. Vol. 6. pag. 155.
III. A LEI NÃO PODE SER REVOGADA
1. JESUS REVELA SEU PENSAMENTO SOBRE A LEI.
A ideia cristológica não se restringe a esses vaticínios e ocupa todo o pensamento das Escrituras hebraicas. A provisão do Antigo Testamento sobre a obra redentora de Deus em Cristo é muito rica de detalhes. Os escritores do Novo Testamento reconhecem a presença e a obra de Cristo na história da redenção (Os 11.1; Mt 2.15) e nas suas instituiçõese festas (Êx25.8; Jo l.l4;Hb5.4,5;Êx 12.3-13; Lc 22.15; 1 Co 5.7). A lei e os profetas convergem para Jesus; ele é o cumprimento das Escrituras do Antigo Testamento (Lc 24.26,27,44).
A expressão "a lei e os profetas" aparece com frequência no Novo Testamento para designar as Escrituras do Antigo Testamento (Mt 7.12; 22.40; At 13.15; Rm 13.21) ou fraseologia similar (Mt 11.13; Jo 1.45; At 28.23). Mas a presença do "ou" disjuntivo aqui mostra duas partes distintivas, em que nem uma e nem outra é para ser abolida (Jo 10.35). Aqui não se trata apenas dos preceitos morais, e o Decálogo nem sequer é mencionado no Novo Testamento como tal. Jesus fala ainda a respeito da existência de mandamentos menores: "Qualquer, pois, que violar um destes menores mandamentos" (Mt 5.19). Isso por si só invalida a interpretação de que a lei é uma referência aos preceitos morais. Existem mandamentos menores entre os preceitos morais? A resposta é não. Jesus, portanto, está se referindo a todo o sistema mosaico e às demais Escrituras do Antigo Testamento.
Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 145-146.
A lei que Cristo veio estabelecer concordava com exatidão com as Escrituras do Antigo Testamento, aqui chamada de a lei e os profetas. Os profetas eram os comentaristas da lei, e, juntos, os profetas e a lei, criaram aquela lei de fé e prática que Cristo encontrou no trono da sinagoga judaica; e aqui Ele a mantém no trono.
Jesus protesta contra a idéia de anular e enfraquecer o Antigo Testamento: “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas” . (1) Em outras palavras “Não deixemos que os judeus religiosos, que têm grande apreço pela lei e pelos profetas, temam que Eu tenha vindo para destrui-los”. Não deixemos que eles tenham preconceito contra Cristo e a sua doutrina, devido a uma inveja deste reino que Ele veio estabelecer, o que pode soar como um menosprezo da honra das Escrituras que eles aceitavam como vindas de Deus e das quais eles sentiam o poder e a pureza, Não. Deixemos que eles fiquem satisfeitos por verem que Cristo não tem nenhum mau desígnio em relação à lei ou aos profetas. Em outras palavras: (2) “Não permitamos que os judeus profanos, que não consideram a lei ou os profetas, e que estão cansados daquele jugo, achem que Eu vim para destruir a lei ou os profetas” . Não permitamos que os libertinos carnais imaginem que o Messias veio para libertá-los da obrigação dos preceitos divinos, e ainda assim assegurar-lhes as promessas divinas, para fazê-los felizes e dar-lhes permissão para viver como desejarem. Cristo não ordena nada agora que fosse proibido, fosse pela lei da natureza ou pela lei moral, nem proíbe qualquer coisa que aquelas leis obrigassem. E um grande engano pensar que Ele faz isto, e aqui Ele toma cuidado para corrigir este engano. “ Não cuideis que vim destruir” . O Salvador das almas não destrói nada, a não ser as obras do diabo; Eie não destrói nada que venha de Deus Pai, muito menos aqueles excelentes preceitos que temos de Moisés e dos profetas. Não. Ele veio para cumpri-los, Isto é: [1] Ele veio para obedecer aos mandamentos da lei, pois Ele nasceu sob a lei (G14.4). Em todos os aspectos, Ele mostrava obediência à lei, honrava os sêus pais, observava o sábado judeu, orava, dava esmolas e fazia o que ninguém maisfazia-obedecendo perfeitamente-, e jamais infringiu qualquer ponto da lei. [2] Para cumprir as promessas da lei e as predições dos profetas, de que todos deram testemunho dele. O concerto da graça é, basicamente, o mesmo agora que era naquela época, e Cristo é o seu Mediador. [3] Para responder aos símbolos da lei; assim (como expressa o bispo Tillotson), Ele não esvaziou, mas cumpriu a lei cerimonial, e se manifestou como sendo a Essência de todas aquelas sombras. [4]. Para reparar as suas imperfeições, e assim completá-la e aperfeiçoá-la. Dessa forma, a palavra plerosai tem um significado adequado. Se considerarmos a lei como um recipiente que anteriormente continha alguma água, podemos entender que Ele não veio para jogar a água fora, mas para encher o recipiente até o topo. Ou ainda, podemos considerar a lei como uma imagem que é um primeiro esboço, e que exibe alguns traços somente para delinear a peça que se pretende confeccionar; posteriormente, estes traços são completados. Assim, Cristo aprimorou a lei e os profetas, através das suas adições e explicações. [5J. Para prosseguir com o mesmo desígnio.
As instituições cristãs estão tão longe de distorcer e contradizer aquilo que era o principal desígnio da religião judaica, que o promovem ao máximo. O Evangelho é o tempo da correção (Hb 9.10), não para rejeitar a lei, mas para corrigi-la e, conseqüentemente, estabelecê-la.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 50.
Mt 5.17 Jesus não veio como um rabino trazendo um ensino recém elaborado, Ele veio como o prometido Messias com uma mensagem que fora transmitida desde o início dos séculos. “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir”. Jesus completa e transcende a lei. A lei do Antigo Testamento não foi rescindida e deve ser agora interpretada e reaplicada à luz de Jesus. Deus não mudou de idéia e a vinda de Jesus fazia parte do plano de Deus para a Criação (veja Gênesis 3.15).
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 39.
Sem dúvida, alguns dos ouvintes de Jesus sentiram que Ele era revolucionário em seu ensino. Eles podem ter pensado que Ele pretendia destruir a lei ou os profetas (17). Isto Ele negou enfaticamente - não vim ab-rogar, mas cumprir. Nesta declaração muito significativa Ele indicou o seu relacionamento com o Antigo Testamento. Ele iria cumprir seus mandamentos e promessas, seus preceitos e profecias, seus símbolos e tipos. Isto Ele fez em sua vida e ministério, em sua morte e ressurreição. Jesus cumpriu totalmente os aspectos do Antigo Testamento. Quando lido à luz de sua pessoa e obra, ele brilha com um novo significado. Cristo é a Chave, a única Chave que abre as Escrituras.
Ralph Earle. Comentário Bíblico Beacon. Mateus. Editora CPAD. Vol. 6. pag. 57-58.
2. “ATÉ QUE O CÉU E A TERRA PASSEM”.
O jota se refere ao yõd (’),a menor letra do alfabeto hebraico; ocupa a metade da linha na escrita. O til, keraia, em grego, "tracinho, parte de uma letra, acento" (Lc 16.17), é um sinal diacrítico para distinguir uma letra da outra. A autoridade da lei permanece mantida até no "menor traço." E o termo "lei" no Novo Testamento, às vezes, se estende a todo o Antigo Testamento (Jo 10.34; Rm 3.19; 1 Co 14.21). Parece que o Senhor Jesus se refere aqui às Escrituras, de qualquer forma, seja a lei ou todo o Antigo Testamento, o certo é que não se trata apenas da lei moral. Sua validade se estenderá até o fim das eras. Isso significa até "que tudo seja cumprido". O verbo grego usado aqui para "cumprir" não é o mesmo do versículo 17, mas gínomai, "ser, tornar, vir a ser, acontecer", eõs panta genêtai, "até que todas essas coisas aconteçam" (Mt 5.18b). Logo, não se trata aqui de obediência aos mandamentos; essas palavras não significam obedecer à lei. A ideia é até que todas essas coisas aconteçam. A lei aqui, portanto, não se refere à Torá nem aos mandamentos, mas a todo o Antigo Testamento, que é a base do Novo, e seus ensinos perduram enquanto existirem os céus e a terra.
Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 146.
Ele declara a perpetuidade da lei; não apenas que Ele não desejava ab-rogá-la, mas que ela nunca deveria ser ab-rogada (v. 18). “Era verdade, vos digo” que Eu, o Amém, a Testemunha fiel, solenemente declaro que “ até que o céu e a terra passem” , quando não existir mais tempo e o estado imutável das recompensas substituir todas as leis, “nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido” . Pois o que é que Deus está fazendo em todas as operações, tanto de providência como de graça, a não ser cumprir as Escrituras? O céu e a terra se unirão, e serão completamente envolvidos em ruína e confusão, antes que qualquer palavra de Deus caia ao chão ou seja em vão. A palavra cio Senhor permanece para sempre, tanto a da lei como a do Evangelho. Observe que o cuidado de Deus, a respeito da sua lei, se estende até mesmo àquelas coisas que parecem ser menos importantes nela, o jota e o til; pois o que quer que pertença a Deus, e leve a sua marca, por menor que seja, será preservado. As leis dos homens são tão patentemente imperfeitas (e todos temos consciência dessa imperfeição), que permitem uma máxima: Apicesjuris non sunt jura - Os pontos extremos da lei não correspondem à lei; porém Deus estará a postos e manterá cada jota e cada til da sua lei.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 50-51.
Até que o céu e a terra passem. Subentende que a lei e os profetas jamais seriam revogados, porque, segundo a doutrina judaica, o céu e a terra são eternos (Baruch 3:32; Luc. 16:17). «Até que tudo se cumpra» não alude a um tempo quando, finalmente, a lei e o profetas serão revogados, mas é o modo enfático de dizer «nunca*. A expressão «até que o céu e a terra passem», provavelmente é uma fórmula comum para mostrar a invariabilidade da palavra divina. Posteriormente Jesus empregou quase as mesmas palavras para indicar que suas próprias palavras são invariáveis e eternas: «Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão» (Mat. 24:35; ver também Marc. 13:31 e Luc. 21:33). Jesus não estava ensinando, nesse versículo (Mat. 5:18), se o céu e a terra passarão ou não.
mas simplesmente dava a idéia comum (que não passarão) afim de ilustrar a importância e a imutabilidade da palavra e das ordens emanadas de Deus.
«NEM um i ou um tiU. O «i» (iota,no grego) é a letra «yod» no hebraico, a menor letra do alfabeto. Na Bíblia hebraica há mais de 66 mil dessas letras. «r;V»é uma pequena marca que distingue certas letras hebraicas de outras. Nos escritos dos rabinos nota-se que às vezes advertiram aos escribas para que tivessem o cuidado de não escrever uma letra parecida com outra, o que poderia modificar o sentido das Escrituras.
É mister que notemos aqui a importância dada por Jesus às Escrituras do V.T., o que contrasta violentamente com al^ns modernos, que rejeitam essas Escrituras ou lhes dão pouco valor. E verdade que o modernismo começa nesse ponto (rejeitam ao V.T.), como na cultura grega ou romana.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 309.
3. O MENOR MANDAMENTO (MT 5.19).
Voltando ao "menor dos mandamentos", ele é muito importante porque é parte da lei de Deus. O discípulo que declarar insignificante ou não observar o menor desses mandamentos será chamado de menor no reino dos céus, mas o que o cumprir e o ensinar aos outros será considerado grande no reino dos céus (Mt 5.19). Aquele que violar ou abolir esses pequenos mandamentos ocupará uma posição inferior (1 Co 3.12-15). Não significa ficar excluído da felicidade eterna. Agostinho de Hipona, Lutero e Calvino concordam com essa linha de pensamento.
Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 146-147.
Ele dá aos seus discípulos a missão de preservar cuidadosamente a lei, e lhes mostra o perigo de negligenciá-la e menosprezá-la (v. 19). “Qualquer, pois, que violar um destes menores mandamentos”, da lei de Moisés (quanto mais um dos maiores, como faziam os fariseus, que negligenciavam os aspectos mais importantes da lei), “e assim ensinai' aos homens” (como eles faziam, anulando os mandamentos de Deus com suas tradições, cap. 15.3), “será chamado o menor no Reino dos céus” . Embora os fariseus pudessem se denominalos melhores professores possíveis, eles nào seriam usados como professores no reino de Cristo. ‘Aquele, porém, que os cumptir e ensinar” (como fariam os discípulos de Cristo, portanto provando ser melhores amigos do Antigo Testamento do que os fariseus eram, embora desprezados pelos homens), “será chamado grande no Reino dos céus".
Observe: (1) Entre os mandamentos de Deus há alguns menores que outros; nenhum deles é pequeno de maneira absoluta., mas de. forma comparativa. Os judeus reconhecem o menor dos mandamentos da lei como sendo aquele que fala do ninho de ave (Dt 22,6,7); mesmo ele, no entanto, tem um significado e unia intenção bastante considerável.
(2) É uma coisa perigosa, na doutrina ou na prática, revogar o menor dos mandamentos de Deus; infringi-lo, isto é, agir de modo a diminuir a sua abrangência ou enfraquecer a sua obi'igatoriedade; quem fizer isto estará correndo riscos. Assim, invalidar qualquer um dos dez mandamentos é um golpe ousado demais para que o Deus zeloso possa condescender. É algo aléin de transgredir a lei, é quebrantai- a lei (SI 119,126). (3) Quanto mais corrupção eles espalham, piores eles são. Infringir o mandamento já é atrevimento suficiente, mas é muito pior ensinar os homens a fazê-lo, Claramente, isto se refere àqueles que, nesta época, se assentavam na cadeira de Moisés e pelos seus comentários corrompiam e desvirtuavam o texto. Opiniões que tendem à destruição da religiosidade séria e dos fundamentos da religião cristã, por meio de observações corruptas às Escrituras, são suficientemente ruins quando defendidas, mas piores quando propagadas e ensinadas como se fossem a Palavra de Deus. Aquele que faz isto será chamado o menor no Reino dos céus, o reino da glória; ele nunca irá para lá, mas será eternamente excluído. Ele não fará parte do reino da igreja do Evangelho. Ele estará tão longe de merecer a dignidade de um professor no reino, que nem chegará a ser considerado um membro dele. O profeta que ensina estas falsidades é a cauda naquele reino (Is 9.15); quando a verdade aparecer em sua própria evidência, estes professores corruptos, embora valorizados como os fariseus, não serão considerados juntamente com os sábios e os bons. Nada torna os ministros mais desprezíveis e indignos do que corromper a lei (Ml 2.8,11). Aqueles que atenuam e incentivam o pecado, discordando e desprezando a severidade na religião, assim como a seriedade na devoção, são uma contaminação na igreja. Mas, por outro lado, são verdadeiramente honrados e de grande responsabilidade na igreja de Cristo aqueles que dedicam a sua vida e doutrina a promover a pureza e a severidade da religião prática, que tanto fazem como ensinam o que é bom, pois os que não fazem o que ensinam derrubam com uma mãrf o que edificam com a outra, Estes se entregam à mentira, e tentam os homens a pensar que a religião como um todo é um engano. Mas aqueles que falam com experiência, que vivem o que pregam, são verdadeiramete grandes; eles honram a Deus, e Deus os honrará (1 Sm 2.30), e no futuro irão brilhar como astros no reino do nosso Pai.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 51.
Aquele,pois, que violar um... É natural que ao perdurar por muito tempo um sistema religioso ou outro, comece o seu declínio; aparecem indivíduos, talvez até mestres e líderes religiosos, que alteram o caráter original da religião e da doutrina. Nos tempos modernos notamos que é raro que um sistema conserve os seus propósitos e ensinos originais por mais de cem anos. Geralmente, antes desse tempo, já é bem avançado o processo de deterioração.
ALGUNS PENSAM que Jesus se referiu a alguém como João Batista, que não observava dias e festividades especiais e que dava pouca importância aos cultos e reuniões no templo. Tal pessoa seria o mínimo no reino dos céus ou no reino que Cristo estabeleceria no mundo. Poderia ser pessoa sincera, religiosa, etc., mas simplesmente teria perdido algo muito necessário a adoração a Deus. Dificilmente, porém, pode-se aceitar tal idéia.
EM PRIMEIRO LUGAR, o texto mostra que Jesus não falava da lei cerimonial e do formalismo que emprestaram ao judaísmo seu caráter singular. O próprio Jesus guardava essas leis. Aludia a algo mais sério e fundamental do que o formalismo. Falava da lei moral, porque essa não sofre modificações. Não podemos imaginar que Jesus desse tal importância à lei cerimonial que chegasse a dizer que nem um «i» e nem um «til» jamais seriam modificados. É difícil crer que ele não tenha antecipado até mesmo a eliminação da lei cerimonial. Assim sendo, quando ele falou em «violar um destes mandamentos», referia-se morais. O resto do capítulo e do sermão (caps. 7 e 8) demonstram o fato. Referia-se às leis morais, ao juramento, à vingança, ao amor, à justiça etc. Estavam em foco os fariseus e outros lideres oficiais dos judeus, particularmente os mestres,, rabinos e escribas do povo, que tinham por responsabilidade ensinar a lei ao povo. Mais tarde Jesus mostrou que esses mestres do povo nãó interpretavam corretamente a lei. Por exemplo, no vs. 38, sobre «olho por olho» (que era ensino dos rabinos), disse Jesus: «Eu, porém, vos digo, não resistais ao perverso». Ou no vs. 43, «Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo» (que era ensino dos rabinos e escribas), mereceu de Jesus uma reprimenda que começa com" «Eu, porém, vos digo», etc.
«MlNIMO no reino». Os mestres que interpretam erroneamente e assim ensinam, levam outros a errar por seus ensinos; esses homens serão—os menores—no reino. É provável que Jesus fizesse alusão especial ao reino do Messias, por ele oferecido. Nesse reino, tais mestres teriam pouca importância, em contraste com a posição antes ocupada. Talvez a interpretação seja mais ampla do que essa, segundo fazem alguns comentaristas, que aplicam as palavras até mesmo ao «céu» ou ao «inferno». O apóstolo Paulo parece ensinar algo semelhante em I Cor. 3:13-15: «...manifesta se tornará a obra de cada um ... se permanecer a obra de. alguém.... receberá galardão...se queimar,.sofrerá dano... será salvo, todavia, como que através do fogo». Mas a interpretação principal é aquela dada acima.
«Grande». Não o «maior». Só Deus poderia fazer tal declaração. O serviço bem feito, segundo as regras de Deus, merece o galardão dado por Deus. Provavelmente Jesus pensou nos santós do V.T., nos profetas e em Moisés. Foram exemplos de «grandes» indivíduos. Pregaram, mas também obedeceram aos mandamentos de Deus.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 309.
IV. A LEI E O EVANGELHO
1. O PAPEL DA LEI.
A palavra «...aio...», no original grego, é «pedagogos», que significa «guia», «auxiliar». Essa palavra não significa aqui'«mestre-escola», «tutor», aquele que tinha a incumbência de educar uma criança. Pelo contrário, está em foco a idéia de um «auxiliar» ou «guardião»; Usualmente se tratava de um escravo, que cuidava da criança desde os seis aos dezesseis anos de idade. Tinha por tarefa disciplinar a criança, podendo corrigir as suas faltas por meios apropriados para a ocasião. Um dos seus deveres era o de acompanhar a criança para a escola, cuidando para que nenhum perigo a ameaçasse. Mas quando a criança atingia a idade apropriada, cessava a autoridade do «guardião», e a criança não mais era responsável perante ele, e nem mais estava sujeita às suas exigências.
Assim sendo, propositadamente Paulo frisou o ponto que um ser «espiritualmente adulto» já passou do período em que precisa de tal orientação do «aio». Os deveres de tal guia eram limitados e temporários.
Aquele que tem a Cristo como seu mestre dificilmente precisa ainda da ajuda de um tal «auxiliar». Não obstante, a lei tinha uma função importante, a despeito de ser temporária, embora não separadamente de Cristo, mas antes, como caminho que apontava Cristo para o indivíduo. No entanto, os oponentes de Paulo, existentes nas igrejas da Galácia, haviam exagerado de tal modo a importância e as funções da lei que faziam da fé em Cristo algo virtualmente supérfluo. Pelo menos, no conceito deles, a lei não ocupava posição inferior à de Cristo, no tocante à redenção. Mas aqui Paulo contrasta a lei com Cristo, situando cada qual dentro de sua perspectiva apropriada.
A idéia expressa aqui por alguns intérpretes, de que os gentios, que nunca estiveram debaixo da lei, também nunca foram conduzidos pelo «aio», é perfeitamente correta. A metáfora de Paulo se aplica somente à nação de Israel, bem como aos gentios que se tinham tomado judeus por motivo de convicções religiosas. Assim sendo, certamente era um crime sujeitar os gentios sob o auxiliar da lei, o qual não tinha nenhuma capacidade de salvá-los, posto que até mesmo no caso dos judeus, era temporário esse auxílio. Mas agora não existe mais tal ajuda, tanto no caso dos judeus como no caso dos gentios. Um homem não está mais debaixo da lei em qualquer sentido, nem como um meio de salvação e nem como um meio de santificação. Não somos nem justificados e nem santificados pela lei.
Que a lei não tem a serventia de justificar-nos e de santificar-nos é óbvio pelo fato de que a «santificação» faz parte da transformação do crente segundo a imagem de Cristo (e, portanto, parte da própria salvação), como operação que só pode ser realizada pelo Espírito Santo. (Ver Gál. 5:22,23), Essa transformação independe de qualquer «princípio legal». Tal transformação requer a «lei do Espírito», isto é, a atuação do princípio espiritual no ser mais íntimo do crente, segundo se aprende em Rom. 8:2. Assim, pois, a lei não é a «regra da vida». A regra da vida é aquela orientação íntima do Espírito. Naturalmente, existem valores morais eternos que se refletem na lei; mas tais valores não são aplicados legalmente, e, sim, mediante contactos místicos com o Espírito de Deus. E esse é um princípio normativo que, ao mesmo tempo, é um princípio que transmite força e capacidade.
E deveras lamentável que os reformadores, que perceberam claramente que a justificação não vem através da lei, tenham deixado a igreja «debaixo da lei», como «regra de fé e prática». Assim é que em seus comentários sobre o versículo anterior, Lutero (in loc.) se refira aos «abusos contra a lei», um dos quais seria, ainda segundo ele, que muitos cristãos supõem que a «liberdade» os isenta da «observância da lei». Pergunta ele: «Quem são esses que usam de sua liberdade como capa de malícia, e levam ao opróbrio o nome do evangelho de Cristo?» Ê verdade que existem cristãos com essa atitude; mas a «liberdade» significa «liberdade das peias da lei», em todos os sentidos. A lei do Espírito ultrapassa a todas as funções da lei mosaica, para os crentes, e não apenas no tocante à questão da justificação.
«...justificados por fé...» (Quanto a notas expositivas completas sobre a «justificação», ver o trecho de Rom. 3:24,28. O último versículo citado inclui a mesma expressão aqui utilizada).
Este texto não faz de Cristo o «mestre-escola», e a lei de «auxiliar» do mesmo, que conduziria as «crianças» ao Salvador. Naturalmente, tal interpretação expressa certa verdade, mas não aquela diretamente ensinada aqui.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 477.
A lei foi designada para nos servir “...de aio, para nos conduzir a Cristo” (v. 24). No versículo anterior, o apóstolo nos informa acerca do estado dos judeus debaixo da organização mosaica, antes que a fé viesse, ou antes que Cristo aparecesse e a doutrina da justificação pela fé nele fosse mais plenamente revelada. Eles estavam guardados debaixo da lei, obrigados, debaixo de penas severas, a uma observância rigorosa dos vários preceitos dela. E naquela época eles estavam encerrados, mantidos debaixo do terror e disciplina dela, como prisioneiros em um estado de confinamento. A intenção era que por meio dessa situação eles se dispusessem mais prontamente a abraçar a “...fé que se havia de manifestar”, ou ser persuadidos a aceitar Cristo quando veio ao mundo, e harmonizar-se com essa dispensação melhor que Ele estava prestes a introduzir, por meio da qual seriam libertos da escravidão e servidão e trazidos para um estado de maior luz e liberdade. Agora, nesse estado, ele diz que a lei “...serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que, pela fé, fôssemos justificados”.
Assim como a lei declarava o propósito e a vontade de Deus em relação a eles, e ao mesmo tempo pronunciava uma maldição contra eles por toda falha na obrigação ou dever deles, assim era apropriado convencê-los da sua condição perdida e incompleta neles mesmos, e deixá-los ver a fraqueza e insuficiência da sua própria justiça e recomendá-los a Deus. E como os obrigava a uma variedade de sacrifícios etc., que, embora não pudessem tirar o pecado, era uma tipificação de Cristo e do grande sacrifício que Ele iria oferecer pela expiação dele, assim isso os conduziu a Ele (embora de uma forma mais obscura e sombria) como único socorro e refúgio deles. Dessa forma, esse era o aio deles, que os instruiria e dirigiria no seu estado de menoridade, ou, como a palavra paidagogos mais apropriadamente significa, servo deles, para guiar e conduzi-los a Cristo (como as crianças eram acostumadas a ser levadas para a escola pelos servos que cuidavam delas); para que fossem instruídos de maneira mais completa por ele como seu aio, na verdadeira forma de justificação e salvação, que somente ocorre pela fé nele, e de quem ele era designado a dar as descobertas mais completas e claras. Mas para que não fosse dito: “Se a lei tinha esse uso e serviço para o estado juueu, por que ela não poderia continuar a ter o mesmo significado para o estado cristão?”, o apóstolo acrescenta (v. 25) que “...depois que a fé veio”, e ocorreu a dispensação do evangelho, na qual Cristo e o caminho do perdão e da vida por meio da fé nele são colocados à luz mais clara, “...já não estamos debaixo de aio” – não temos mais esse tipo de necessidade da lei para nos conduzir a Ele como ocorria naquela época.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 556-557.
Paulo descreve esta verdadeira função da lei usando uma figura ilustrativa que era amplamente compreendida na sociedade dos seus dias: De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo (24). O termo grego paidagogos (aio) significa “guarda” (cf. “guardiã”, BAB), “tutor” (CH, NVI) ou “guia” e referia-se ao “homem, na maioria das vezes escravo, cujo dever era levar e trazer da escola um menino ou moço e superintender sua conduta em geral; ele não era um ‘professor’ (apesar do significado atual do derivado ‘pedagogo’)”.33 Paulo está descrevendo como a lei põe o homem sob uma escravidão como a de uma criança menor sob a supervisão de um criado-escravo. Nos próximos versículos, veremos que tal supervisão não é mais necessária ao homem de fé.
A observação importante neste ponto é que a lei, trancando o homem debaixo do pecado e para a fé, exerceu a função temporária de protegê-lo e prepará-lo para a vinda de Cristo. Ao contrário do argumento dos oponentes de Paulo, a lei não tinha função permanente, mas serviu apenas para que, pela fé, fôssemos justificados (24).
R. E. Howard. Comentário Bíblico Beacon. Galatas Editora CPAD. Vol. 9. pag. 51.
2. JESUS E MOISÉS ESTÃO DO MESMO LADO.
I Cor 14.21. A lei aqui é o Velho Testamento em geral, e não especificamente o Pentateuco. A criação é de Is 28:11,12. Ali a referência é ao fato de os homens de Israel não darem ouvidos ao profeta. O julgamento deles será que serão entregues a homens de linguajar estranho (os invasores assírios). A conexão com o presente argumento não é óbvia. O que talvez Paulo queira dizer é que, como aqueles que se recusaram a ouvir o profeta tiveram como castigo ouvir linguagem que não podiam entender, assim seria nos seus dias. Os que não cressem, ouviriam “ línguas”, e não conseguiriam entender o seu maravilhoso significado.
Leon Monis. I Corintos Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 158.
I Cor 14.21 As línguas, como os coríntios as usavam, eram mais um sinal do julgamento de Deus do que da misericórdia para quaisquer pessoas (v. 21): “Está escrito na lei (isto é, no Antigo Testamento): Por gente doutras línguas e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor” (Is 28.11; comparar Deuteronômio 28.46,49). Entende-se que o apóstolo se refira a essas passagens. Ambas são entregues na forma de ameaça, e uma supõe-se que interpreta a outra. O significado neste ponto de vista é de que é uma evidência de que o povo está abandonado por Deus quando Ele lhes dá esse tipo de instrução, para a disciplina através daqueles que falam outra língua. E certamente o discurso do apóstolo sugere: “Vós não deveis estar afeiçoados aos sinais do aborrecimento divino. Deus pode não ter recompensas graciosas para aqueles que são deixados meramente a esse tipo de instrução, e que são ensinados em língua que não compreendem. Eles podem nunca ser beneficiados por ensinamentos como esse; e, quando eles forem deixados a ele, será um triste sinal de que Deus os considera irrecuperáveis”. E os cristãos devem desejar estar em tal estado, ou conduzir as igrejas a ele? Contudo, é o que faziam de fato os pregadores coríntios, que sempre apresentavam suas inspirações em uma língua desconhecida.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 491.
I Cor 14.21 O apóstolo introduz uma citação livre da lei (a lei aqui se refere ao V.T.) para mostrar que as línguas tinham a intenção de ser um sinal da presença de Deus com outros além dos judeus.
Charles F. Pfeiffer. Comentário Bíblico Moody. Editora Batista Regular I Corintios. pag. 67.
3. A JUSTIÇA DOS FARISEUS.
A justiça que Cristo veio estabelecer com esta lei deve exceder a dos escribas e fariseus (v. 20). Esta era uma estranha doutrina para aqueles que consideravam os escribas e fariseus como tendo chegado ã posição mais elevada na religião. Os escribas eram os professores mais admirados da lei, e os fariseus os seus mestres mais celebrados, e ambos se assentavam na cadeira de Moisés (cap. 23.2) e tinham tal reputação entre 0 povo, que eram considerados como completamente adaptáveis à lei e as pessoas não se consideravam obrigadas a ser tão boas quanto eles eram. Portanto, foi uma grande surpresa para eles ouvir que deviam ser melhores do que os fariseus e os escribas, ou não iriam para o céu. Desta maneira, Cristo aqui declara com solenidade: “ Vos digo” , ou seja, é assim. Os escribas e os fariseus eram inimigos de Cristo e da sua doutrina, e eram grandes opressores, e ainda assim deve ser reconhecido que eles consideravam isto um elogio. Eles oravam e jejuavam muito e davam esmolas; eram pontuais na observância dos compromissos cerimoniais e a sua função era ensinar os outros; eles tinham tal interesse pelas pessoas, que achavam necessário que, se somente dois homens fossem ao céu, um deles seria um fariseu. Mas aqui o nosso Senhor .Jesus diz aos seus discípulos que a religião que Ele veio estabelecer não somente exclui a maldade, mas supera a bondade dos escribas e dos fariseus. Nós precisamos fazer mais do que eles, e melhor do que eles, ou não chegaremos ao céu. Nós éramos parciais na lei, e atribuíamos mais importância à sua parte ritual. Mas nós devemos ser universais, e não pensar que é suficiente dar à igreja o nosso dízimo, mas dar a Deus os nossos corações. Eles se preocupavam somente coni o exterior, mas nós devemos ter consciência da religiosidade interior. Eles procuravam o elogio e o aplauso dos homens, mas nós devemos procurar a aceitação de Deus; eles se orgulhavam do que faziam na religião, e confiavam que o que faziam era justiça; mas nós, quando tivermos feito tudo, precisamos negar a nós mesmos e dizer: “Somos servos inúteis” , e confiar somente na justiça de Cristo, e desta forma poderemos ir além dos escribas e dos fariseus.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 51.
O versículo 20 é geralmente considerado o versículo-chave do Sermão do Monte. A justiça dos discípulos de Cristo deve exceder a dos escribas e fariseus. Jesus estava se referindo a uma justiça interior, moral e espiritual, em vez da justiça exterior, cerimonial e legalista dos fariseus. “O problema com os fariseus”, diz Martin Lloyd-Jones, “era que eles estavam interessados nos detalhes em vez de nos princípios, que eles estavam interessados nas ações em vez de nos motivos, e que eles estavam interessados em fazer em vez de ser”.
É correto para o cristão agradecer a Deus por não estar debaixo da Lei, mas debaixo da graça. Mas se ele pensa que as exigências sobre ele são menores por causa disso, não leu o Sermão do Monte de forma a compreendê-lo. Jesus declarou enfaticamente que Ele exige uma justiça mais elevada do que a dos escribas e fariseus. No restante do capítulo, o Senhor fornece seis exemplos concretos daquilo que Ele quer dizer, exatamente, com isso. Ele basicamente se refere a uma justiça de atitude interior em vez de meramente uma ação exterior. Mas isto levanta a exigência. Deve-se não só guardar as suas ações, mas também as suas atitudes; não só as suas palavras, mas também os seus pensamentos. A lei de Cristo traz, para aqueles que a guardam, mais exigências do que a lei de Moisés.
Ralph Earle. Comentário Bíblico Beacon. Mateus. Editora CPAD. Vol. 6. pag. 58.
Eram mestres da lei, copiavam as Escrituras, os contratos legais e os registros civis . Eram diplomatas e emissários do governo (II Reis 18:18; 19:2). Eram considerados autoridades religiosas.
«Fariseus». Ver nota detalhada em Marc. 3:6. Geralmente vinham do ppvo comum, eram zelosos da fé ortodoxa, mas gradualmente forafti passando da fé para uma religião constituída de formalidades e cerimônias, pois davam exagerada importância às leis que não se encontram no V.T., 613 mandamentos ao todo, 365 negativos e 248positivos. Alguns ensinavam que a lavagem das mãos e de outros objetos pequenos eram as medidas mais
importantes. Outros ensinavam que a omissão de tais lavagens era um pecado tão grave como o homícídío (ver nota em Mat. 15:2; também em Mat. 22:36; 23:35; 24:27). Ver nóta sobre o «concilio» ou «sinédrio», o principal tribunal dos judeus, constituído de escribas, fariseus e saduceus (Mat. 22:23). A explicação sobre os «saduceus» aparece na mesma nota. Os fariseus eram numerosos ao tempo de Jesus. Segundo informação dada por Josefo, haveria mais de seis mil deles nos dias de Jesus. Exerciam grande poder sobre o povo.
Eram meticulosos observadores das formas externas da lei, mas não compreendiam nem observavam os princípios morais. Talvez o melhor comentário sobre esse versículo se encontre em Mat. 23:13-36, onde há os sete «ais» contra tais líderes. Ali vemos acusações tais como «hipócritas».
«devorais as casas das viúvas», «tornais prosélitos piores que vós mesmos», «filhos do inferno», «guias cegos», «insensatos», «limpais o exterior do copo e do prato, mas estes por dentro estão cheios de rapina e intemperança», «sois semelhantes aos sepulcros caiados...cheios de toda imundicia», «serpentes, raça de viboras», «matadores dos profetas», e outras acusações semelhantes.
Nisso se vê o conceito de Jesus sobre a «obediência» desses homens à lei. A verdadeira justiça, pois, tem de exceder a desses homens. Nâo quanto ao formalismo ou quanto a particularidades secundárias, mas quanto ao espirito da lei. A parte seguinte do sermão mostra que Jesus ordena a pureza de motivos e de intenção do coração, e não apenas a observância exterior (vss. 27-48).
»Escribas e fariseus». Combinação que destaca as principais autoridades judaicas, e que aparece por treze vezes nos evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas).
«Jamais entrareis no reino dos céus». Talvez Jesus fizesse alusão ao reino no sentido literal, que estabeleceria sobre a terra; porém, mais provavelmente se referia ao estado futuro—salvação da vida eterna, como em João 3:3,5 «sem o novo nascimento ninguém pode ver o reino de Deus...pode entrar no reino...» Pecisamos lembrar que o termo «reino de Deus» ou «reino dos céus» pode assumir vários significados, usualmente definidos no uso do texto. Ver nota em Mat. 3:2, onde há uma explicação sobre essa complexa designação.
Nos vss. 19 e 20 temos as classificações dos homens ante o reino dos céus: aqueles que violam os mandamentos são os ‘mínimos*; aqueles que os observam e ensinam são os «grandes». As falsas autoridades (vs. 20) nem ao menos poderiam entrar no reino. Essas autoridades são justamente aqueles que deixavam de lado os mandamentos importantes e frisavam os secundários; punham de lado o elemento moral e requeriam o ritual; eliminavam o divino e salientavam a tradição humana. Dessa maneira, punham de lado os princípios do reino de Deus, ao mesmo tempo que perdiam o direito de participar desse reino.
Buttrick (in loc.) diz em citação parcial: «Sua justiça não era suficientemente extensa. Para eles, quem não observasse as questões externas era um pária: não comprariam alimentos para o tal. Nâo queriam ter contactos com os estrangeiros. Apertavam em tomo de si as suas vestes, para evitar a contaminação por contacto...Sua justiça não era bastante ampla. Muito freqüentemente a religião deles se estreitava a meras proibições. Durante a Primeira Grande Guerra, um questionário feito entre as tropas, respondido por soldados britânicos, deixou claro que eles criam que o ensino da igreja era quase exclusivamente: ‘Não fumarás. Não usarás de juramentos. Não cobiçarás’. É óbvio que a disciplina tem seu legitimo lugar em qualquer religião verdadeira. Devemos ser separados de hábitos indignos, mas somente porque primeiro fomos ‘separados para Cristo’... A justiça deles não era bastante profunda. Julgavam os homens em tons censuradores. Julgavam por hereditariedade. Qual seria, nesse caso, a posição de Lincoln ou de Keats?... nâo eram dotados de olhos perscrutadores de amor, e não entendiam a graça do sofrimento vicário. A justiça deles não era suficientemente elevada. Estavam satisfeitos consigo mesmos. Naõ havia ‘além’ para onde ir, não havia riscos, nâo havia aspirações, não havia abandono de alma em sua adoração. Era uma justiça formal e de teto reduzido. Nâo ansiavam pela visão de um mundo mais digno e não podiam perceber em Cristo qualquer graça oculta. O ensino de Cristo ultrapassa todas as muralhas, expande-se para além de meras proibições, aprofunda-se no sacrifício motivado pelo amor e alteia-se na direção da própria intenção de Deus».
No trecho de 5:21-48, Jesus ilustra a verdadeira compreensão da lei. O espirito de santidade deve permear inteiramente a personalidade humana, por dentro e por fora; somente assim haverá santidade autêntica e a semelhança de Deus na vida humana. As relações se referem à humanidade em geral, sem destacar amigos ou inimigos (vs. 21-23), aos inimigos (vs. 25), ao sexo oposto (vs. 27), aos esposos (vs. 31). Cristo oferece seis ilustrações para esclarecer a compreensão espiritual da lei, em contraste com a interpretação errônea das autoridades judaicas: 1. O sexto mandamento: Não matarás(vss. 21 a 26), 2. O sétimo mandamento: Não adulterarás (vss. 27 a 30). 3. A lei do divórcio (vss. 31,32). 4. Os juramentos (vss. 33 a 37). 5. A vingança (vss. 38 a 42). 6. A lei do amor (vss. 43 a 48).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 309-310.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

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