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4° LIÇÃO 2° TRIMESTRE 2015 A TENTAÇÃO DE JESUS


A TENTAÇÃO DE JESUS
O evangelista Lucas registra que Jesus foi cheio do Espírito Santo (4.1). Após o nosso Senhor ser cheio do Espírito, Ele foi conduzido pelo mesmo Espírito ao deserto, onde foi tentado pelo Diabo por quarenta dias.
Neste período, o Senhor Jesus ficou em comunhão com Deus Pai através de jejum e oração. Entretanto, ao sentir fome, nosso Senhor começou a ser tentado pelo Diabo.
O relato do capítulo 4 do Evangelho de Lucas retrata três tentações que o Senhor Jesus foi provado: as necessidades físicas (w.3,4), a oferta de autoridade sobre os reinos (w.5-8) e provar a verdade da promessa de Deus (w.9-12).
A primeira tentação de Jesus revela-nos que Ele não usou o seu poder para benefício próprio, pois antes agradava obedecer a Deus que a Satanás. Seria natural, se com fome, o nosso Senhor transformasse pedra em pão e revelasse ser verdadeiramente o Filho de Deus. Não! A resposta do nosso Senhorfoi direta: nem só de pão viverá o homem, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus (Dt 8.3).
A segunda tentação de nosso Senhor tem a ver com a ambição de conquistar e governar todos os reinos do mundo. Satanás colocou diante de Jesus toda a autoridade do mundo, e em troca, ordenou que Jesus o adorasse prostrado. O Diabo usou de meia-verdade, pois apesar de ter poder (Ef 2.2), ele não tinha autoridade para dar ou não a Jesus reinos ou a glória desse mundo. A promessa de torná-lo o grande soberano do mundo não "encheu os olhos" de nosso Senhor, que de pronto, logo respondeu: "O Senhor, teu Deus, temerás, e a ele sen/irás, e pelo seu nomejurarás" (Dt 6.13).
A terceira tentação mostra o nosso Senhor sendo levado pelo Diabo ao pináculo do Templo. A proposta de Satanás: Pular, pois estava escrito que Deus daria ordens aos anjos para livrá-lo. Ainda haveria outro impacto: Pular do pináculo do Templo e cair salvo no meio pátio sagrado, de uma só vez, faria o Senhor ser reconhecido como "Messias". Mas não foi isso que aconteceu. O nosso Senhor não queimou etapas, mas repreendeu Satanás dizendo que ninguém pode tentar a Deus. As coisas do Altíssimo não são para fazermos provas sem sentido.
As três tentações de Jesus Cristo expuseram três áreas que o ser humano se mostra frágil: A das pulsões carnais, as do poder e a da busca pela fama. Nosso Senhor venceu as tentações e nos estimulou a fugir das pulsões carnais, do apego pelo poder e da possibilidade de usar as promessas divinas para benefício próprio para a formação da autoimagem.
Revista ensinador. Editora CPAD Ano 16 - N° 62. pag. 38.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Cercas para a Tentação
No final dos anos 80 eu cursava Teologia no Seminário Batista de Te- resina. Na cadeira de Antigo Testamento nós tínhamos um professor muito divertido e que demonstrava sempre estar de bom humor. Ele costumava ilustrar suas aulas com lições práticas do cotidiano e quase sempre extraía dos alunos largas gargalhadas. Era uma forma bem didática de fazer com que os seus alunos pudessem assimilar as lições dadas.
Pois bem, uma dessas ‘histórias’ que ele nos contou e que eu não consegui esquecer era relacionada à realidade da tentação. Toda vez que passo essa estória à frente logo percebo que os ouvintes imediatamente assimilam a “moral” da mesma.
A estória é a seguinte: “Um nobre e abastado homem que viveu em um pequeno lugarejo medieval e, que teve muitos problemas com sua natureza adãmica, sofrendo muitas tentações, idealizou algo até então inusitado. Projetou que quando gerasse um filho homem este seria livre de toda tentação e não sofreria dos mesmos desejos que o atormentaram a vida toda. Seu filho, diferentemente dele, jamais iria pecar! Acreditava firmemente nas suas convicções porque, segundo dizia, seu filho jamais iria ter contato algum com algo pecaminoso. Dessa forma ele estaria livre de toda e qualquer tentação.
O tempo passou e como ele havia imaginado, o primeiro fruto de seu casamento foi um belo e saudável menino! Ele não perdeu tempo! Imediatamente entregou a criança a uma clausura, algo parecido com um convento, prometendo aos responsáveis pelo lugar que só voltaria lá novamente vinte anos depois! A criança viveria totalmente confinada nesse período, não lhe sendo permitido ver qualquer imagem do mundo exterior. O único mundo que ela conheceria, portanto, seria dos muros para dentro. Enquanto isso, imaginava o abnegado pai, ele lutaria com suas tentações lá fora, mas o filho estaria protegido das mesmas lá dentro.
Os anos passaram e vinte anos depois, aquele pai voltou para buscar o seu filho! Agora não era mais uma criança, mas um jovem de porte atlético e bela aparência. O pai estava ansioso para saber como seu filho se comportaria ao contemplar o mundo lá fora, já que ele jamais havia entrado em contado com o mesmo. Mas antes de colocar seu filho na rua, ele tratou de ter certeza junto aos responsáveis pela clausura que o seu filho jamais teria visto o mundo exterior. Todas as garantias lhe foram dadas!
A hora havia chegado! Os enormes portões foram abertos! Os primeiros passos do jovem rumo a um mundo desconhecido foram dados! As primeiras imagens do mundo arrancaram do jovem um olhar de fascinação! Seus olhos se enchiam com as primeiras e belas imagens do mundo à sua volta. O pai acompanhava atento todos os gestos do filho e como ele reagiria a tudo isso. As perguntas se tornaram inevitáveis e se multiplicavam à medida que o jovem se distanciava da clausura.
Foi então que algo inesperado aconteceu! De repente uma bela e linda moça, de corpo escultural e uma beleza ímpar, cruzou o caminho do estonteado jovem! Com nunca tinha visto uma garota, o jovem perguntou: ‘Papai o que é aquilo?’ O pai apavorado com a pergunta do filho, e mais temeroso ainda qual seria a reação do filho à sua resposta, disse bruscamente: ‘Meu filho aquilo é o Diabo!’ O jovem, com os olhos brilhando, comentou: ‘Papai, oh Diabinho bonito!’”
Essa estória, embora seja engraçada, nos traz uma lição muito clara
— a tentação é uma realidade bem presente na vida de cada ser humano! Não há ninguém que não esteja sujeito à tentação. Numa linguagem mais popular, podemos dizer que ainda não foi inventada uma vacina para a tentação! Todos são tentados, desde os mais jovens até os mais velhos. Até mesmo, Jesus, o Homem Perfeito, também foi tentado.
Há algum tempo lembro ter lido uma história que aconteceu com David Du Plessis (1905-1987), pioneiro pentecostal sul-africano. Após sair exausto de uma Conferência, onde ministrou para milhares de pessoas, um jovem aparentando ter 18 anos de idade o procurou. Ainda ofegante, o jovem lhe perguntou: “Irmão Du Plessis, o que o senhor faz para não ter problemas com a tentação?” Du Plessis franziu a testa enrugada pelo peso de seus quase 80 anos e respondeu: “quando eu tiver idade para não ter problemas com a tentação, eu lhe procuro para informar”. Mesmo já velho, Du Plessis demonstrou que continuava sujeito à tentação!
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 47-49.
Resumo do capítulo. O primeiro desafio de Jesus ê claramente coordenado pelo Espírito Santo que o conduz- a uma área deserta para jejuar. Em seguida, permite que o enfraquecido Salvador seja testado por Satanás. A vitória de Cristo demonstra o tema de Lucas. Jesus ê um ser humano ideal, diferentemente de Adão e Eva, que caíram (4.1-13).
RICHARDS. Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia. Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. Editora CPAD. pag. 655.
Esta seção mostra Jesus como o Filho de Deus derrotando Satanás num combate aberto. Nenhuma discussão ou tentação poderia amedrontar ao Senhor Jesus. Esta tentação por parte de Satanás também revela que, embora Jesus fosse humano e estivesse sujeito às tentações humanas, Ele era perfeito porque venceu todas as tentações que Satanás lhe apresentou. A história da tentação de Jesus é uma importante demonstração do seu poder e da ausência de pecado em sua vida. Ele enfrentou a tentação e não desistiu. Os seus seguidores devem confiar nele quando enfrentarem tentações que irão colocar à prova a sua fidelidade a Deus.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 340.
Vimos como na vida de Jesus existiram certos grandes marcos, e este é um deles. No templo, quando tinha doze anos tomou consciência de que Deus era seu pai em uma maneira única. Sua hora tinha chegado com o surgimento de João e a aprovação de Deus tinha chegado durante seu batismo. De modo que neste momento Jesus estava para começar sua campanha. Antes de fazer tal coisa, qualquer pessoa deve escolher os métodos que vai usar. O relato da tentação mostra a Jesus escolhendo uma vez por todas os métodos que se propunha utilizar para ganhar homens para Deus. Mostra a Jesus rechaçando o caminho do poder e a glória e aceitando o do sofrimento na cruz.
BARCLAY. William. Comentário Bíblico. LUCAS. pag. 38.
I - A REALIDADE DA TENTAÇÃO
1. UMA REALIDADE HUMANA.
Tentado e Testado
A palavra grega peirasmos (Lc 4.2), dependendo do contexto, pode significar “tentação” ou “prova”. Quando usada em um contexto onde Deus está por trás da ação, então nesse caso o crente está sendo provado. Por outro lado, quando é o Diabo quem está induzindo ao mal, então o crente está sendo tentado. Em palavras mais simples, Deus prova-nos e o Diabo nos tenta. Deus testa-nos para aperfeiçoar-nos enquanto o Diabo nos tenta para nos derrubar. Aqui em Lucas 4.1-3, assim como Gênesis 22, onde a Septuaginta usa a mesma raiz grega de peirasmos, Jesus é enviado pelo Espírito ao deserto para ser testado. E nessa mesma ocasião que recebe a visita do Diabo para ser tentado.
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 50.
A tentação (4.2). As palavras gregaspeirazo e peirasmossãa  igualmente traduzidas por “prova” e “julgamento” bem como por “tentar” e “tentação”. O que há de comum é a situação que nos coloca sob grande pressão. O texto em Tiago 1 é especialmente útil para nos ajudar a tratar essas situações, ao nos lembrar que Deus jamais tenta as pessoas, no sentido de induzi-las ao mal (Tg 1.13). Deus, contudo, nos prova da mesma maneira que permitiu que Satanás o fizesse com Jesus, a fun de demonstrar a nós e a todos que podemos vencer peia sua força. Adão e Eva falharam no teste. Por meio de Cristo você e eu somos vitoriosos.
RICHARDS. Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia. Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. Editora CPAD. pag. 655.
A Possibilidade da Tentação
Como era possível que o Jesus sem pecado fosse tentado? Em nossa tentativa de responder a essa pergunta devemos antes de mais nada observar que o que foi tentado foi sua natureza humana. Jesus não só era Deus; ele era também homem. Além do mais, sua alma não era dura como uma pederneira nem fria como um bloco de gelo. Era uma alma plenamente humana, profundamente sensível, afetada e comovida pelos sofrimentos de todo gênero. Foi Cristo quem disse: “Tenho um batismo com o qual hei de ser batizado; e como me angustio até que o veja concretizado” (Lc 12.50). Jesus foi capaz de expressar carinho (Mt 19.13, 14), compaixão (Mt 23.37; Jo 11.35), piedade (Mt 12.32), ira (Mt 17.17), gratidão (Mt 11.25) e profundo anseio pela salvação dos pecadores (Mt 11.28; 23.37; Lc 15; 19.10; Jo 7.37) para a glória do Pai (Jo 17.1-5). Sendo não só Deus mas também homem, ele sabia o que era estar cansado (Jo 4.6) e sedento (4.7; 19.28). Portanto, realmente não deveria surpreender-nos que, depois de um jejum de quarenta dias, ele sentisse muita fome, e que a proposta de converter pedras em pães se constituía numa tentação bem real para ele, tanto mais sabendo que estava revestido do poder para fazer milagres! Não obstante, não deixa de ser verdade que a possibilidade e realidade da tentação de Cristo vai além de nossa compreensão. Mas não é esse um fato em relação a cada doutrina? O que sabemos realmente sobre nós mesmos, sobre nossa alma e a interação que existe entre alma e corpo? Pouco, aliás, bem pouco! Como poderíamos, pois, penetrar nas profundezas da alma de Cristo e analisá-la suficientemente a fim de fornecer uma explicação psicológica absolutamente satisfatória de suas tentações?
HENDRIKSEN. William. Comentário do Novo Testamento. Lucas I. Editora Cultura Cristã. pag. 315-316.
«...tentado...»
Jesus Poderia Ter Caído Em Pecado ?
1. Se respondermos a essa pergunta do ponto de vista da sua divindade (com comentários em Heb. 1:3), teremos de responder com um «não».
2. Se respondermos do ponto de vista de sua humanidade, teremos de afirmar que as tentações e provas por que passou Jesus foram reais, e que, como homem, poderia ter incorrido em pecado, embora sua elevadíssima espiritualidade não lhe permitisse fazê-lo. Por conseguinte, temos aqui um «paradoxo», não havendo como solucionar adequadamente a questão.
Homens igualmente piedosos, têm assumido um ou outro la do do problema.
3. Nessa controvérsia, contudo, não percamos de vista a mensagem do versículo à nossa frente. Jesus, como homem, exibia elevadíssima espiritualidade. Suas qualidades espirituais não eram automáticas, mas resultavam de uma luta muito intensa, através da vitória sobre o pecado, diante do qual, jamais cedeu. Entrementes, ele desenvolveu elevadas virtudes morais positivas. (Ver as notas em Gál. 5:22,23, quanto a essas virtudes). Assim sendo, Jesus foi o Pioneiro do c am inh o, tendo-nos mostrado, como devemos desenvolvermos espiritualmente, através da dedicação absoluta. Jesus possuía nosso tipo de natureza, juntamente com as suas fraquezas. Não obstante, triunfou!
O que é dito aqui é sem-par no N.T., dando-nos uma visão mais clara sobre a natureza humana de Cristo, pelo menos em alguns particulares. Até mesmo a tentação de Cristo, nos evangelhos sinópticos (ver Mat. 4:1-11 e seus paralelos) tem o propósito polêmico de mostrar que nada podia tirar Jesus de seu «propósito m essiânico», o que significa que ele era mais poderoso que o próprio Satanás. Aqui, porém, sua vitória sobre a tentação visa mostrar o que a natureza humana pode fazer e como ela deve ser, quando devidamente impelida pelo Espírito Santo. Suas tentações têm por fito mostrar-nos que ele se identificou totalmente conosco, sem qualquer limitação. Ele era humano tal e qual somos humanos; não possuía alguma natureza humana diferente, como a do homem «antes da queda». (Ver Rom. 8:3). Ele foi enviado «na semelhança de carne pecaminosa», isto é, compartilhou da mesma natureza dos homens, a qual fora debilitada e degradada pelo pecado, embora ele mesmo não tivesse qualquer pecado pessoal. Contudo, ele compartilhou do «desastre da natureza humana», que resulta do pecado. «...se/n pecado...» H á várias declarações neotestamentárias sobre a impecabilidade de Jesus. (Ver as notas expositivas em Atos 3:14; o trecho  de II Cor. 5:21 mostra outra dessas afirmações, onde há notas expositivas adicionais a respeito). Jesus mostrou que a natureza humana não precisa do pecado como um de seus elementos. A verdadeira natureza humana é impecável. A natureza humana pervertida é que peca. Daí resulta a necessidade de redenção.
A impecabilidade de Cristo qualificou-o preeminentemente para o sumo sacerdócio, pois ele, diferentemente de outros, não precisa oferecer sacrifício por si mesmo. Todo seu labor pode ser assim devotado a seus irmãos. Assim, mediante o sacrifício de si mesmo, ele eliminou o pecado para sempre (ver Heb. 9:26), livrando os filhos de Deus de sua manopla e dando-lhes um lugar de acesso a Deus Pai. E da «segunda vez» em que ele aparecer (na parousia), não haverá mais necessidade de cuidar da questão do pecado. Portanto, ele aparecerá «à parte do pecado», e isso «para a salvação», com o propósito de levar à fruição a salvação de seus irmãos (ver Heb. 9:28). A impecabilidade de Cristo, pois, deve significar mais do que a rejeição de atos pecaminosos; ele nunca favoreceu à atitude do pecado; não pecou em seus desejos e em seus motivos, muito menos em suas ações. Ele mesmo deixou claro que o pecado reside nos desejos e motivos dos homens, e não apenas em atos pecaminosos (ver Mat. 5:27 e ss.).
Gloriando-nos nas debilidades. Newell (in loc.) relata-nos acerca de um amigo seu que sofria de m uitas debilidades físicas que ameaçavam o bem-estar de sua própria alma. Seu senso de fraqueza era tão profundo que o avassalava, de tal modo que sentiu que perdera até mesmo o contacto com Deus. Mas foi encorajado, por meio do trecho de I I Cor. 12:9,10, a «gloriar-se» nessas debilidades, para extrair delas alguma forma de glória a Deus, transformando-as em pontos fortes. Isso lhe emprestou uma nova dimensão na vida. Jesus também conhecia bem essas coisas; mas triunfou.
Mostrou-nos que é possível a vitória espiritual, em meio às nossas condições humanas, que são tão adversas.
«Em sua vida terrena ele teve um admirável discernimento sobre os homens, uma estranha sensibilidade para com as necessidades humanas ao seu derredor. Segundo diz o autor do quarto evangelho, Jesus «...não precisava de que alguém lhe desse testemunho a respeito do homem, porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana» (João 2:25). Ele suportou todos os testes, mas «sem pecado». Não se pode duvidar que nenhum homem, em toda a história, tem sido sujeito a tão cuidadoso e crítico escrutínio como o homem Jesus. Os homens têm sondado sua vida e palavras, mas seu desafio continua de pé: ‘Quem dentre vós me convence de pecado!’ (João 8:46)». (Cotton, in loc.).
«O escritor deseja eliminar a fantasia comum que havia alguma peculiaridade em Jesus que fazia suas tentações inteiramente diversas das nossas, como se fosse um campeão vestido de cota de malhas que servia de alvo de flechas de brinquedo. Pelo contrário, ele sentiu, em sua própria consciência, a dificuldade de alguém ser justo neste mundo; ele sentiu sobre si mesmo a pressão das razões e atrações que inclinam os homens ao pecado, para que escapem do sofrimento e da morte». (Dods, in loc.).
«Isso serve de real base de encorajamento, pois a melhor ajuda é aquela conferida por aqueles que se m an têm firmes onde falham os, tendo enfrentado o início da tentação sem ceder à mesma. A referência especial é às tentações que levam à apostasia ou à desobediência à vontade de Deus». (Moffatt, in loc.).
Notemos que o autor sagrado afirmou em seu tratado, de modo absoluto, tanto a divindade como a humanidade de Cristo. Ele não tentou qualquer reconciliação entre os dois conceitos, e nem quis mostrar como ambas as naturezas podem ter residido na mesma personalidade ao mesmo tempo. O que sabemos é que ambas as naturezas são importantes para nós, pois ambas as naturezas foram postas à nossa disposição. Com temor e tremor podemos chegar perante Deus, mas Cristo está presente para tornar possível nosso acesso a ele.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 522-523.
Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compade- cer-se das nossas fraquezas (15). Literalmente, Jesus pode “sentir as nossas debili- dades” (Mueller). A palavra fraquezas (astheneiais) tem uma conotação moral em Hebreus (cf. 5.2) e significa não apenas fraqueza física ou uma limitação humana, mas uma fraqueza consciente e instável na tentação. Nosso Senhor também nos entende nesta fraqueza, porque, como nós, em tudo foi tentado. Visto que foi tentado como nós, Ele sabe por experiência o que significa para nós ser tentado. Ele não foi tentado em todas as particularidades ou em cada situação possível; e.g., Ele não foi tentado como marido, ou pai, ou dono de uma propriedade, ou empregador, ou soldado, porque não exerceu nenhuma dessas funções. Mas Ele foi tentado em três áreas básicas da suscetibilidade humana: corpo, alma e espírito. Jesus conhecia a tentação no campo do apetite do corpo, no campo dos relacionamentos humanos e no campo dos relacionamentos espirituais. Eu — os outros — Deus: Ele foi tentado nestes três pontos. O que deveria governá-lo? Seu desejo por pão? Seu desejo por aceitação? Seu desejo por poder? Ou sua lealdade a Deus? Estas são perguntas fundamentais da vida que cada pessoa deve responder. Certamente, nestes aspectos básicos as tentações do Senhor eram exatamente iguais (kath homoioteta) às nossas.
Mas sem pecado. Embora seja perfeitamente verdadeiro que Jesus não enfrentou a tentação com a desvantagem do pecado original, esta não é a ideia aqui. O que o autor de Hebreus ressalta neste texto é que Jesus não cedeu uma única vez à tentação. Ele foi perfeitamente triunfante. Se não fosse tentado como nós, não poderia compreender os nossos sentimentos em nossas muitas tentações; por outro lado, se não tivesse sido perfeitamente vitorioso, não poderia ajudar-nos, mas necessitaria Ele próprio de ajuda.
Parece que estava claro na mente do autor a tentação peculiar que estes cristãos hebreus estavam enfrentando. Eles foram tentados a voltar atrás, e desta forma, falhar em entrar no seu repouso prometido. Jesus também teve sua experiência de deserto — em certo sentido, seu Cades-Barnéia — e, portanto, sabia o que estavam passando. Ele entende o deserto do ataque satânico que segue a primeira emoção gloriosa da fé. Por isso, eles não devem permitir que a ideia de voltar atrás ocupe a mente, nem devem ficar envergonhados ou ceder à paralisia do desespero.
Richard S. Taylor. Comentário Bíblico Beacon. Hebreus. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 48-49.
2. VENCENDO A TENTAÇÃO.
Na Esfera do Espírito
O papel do Espírito Santo, como Lucas faz em outros lugares, também recebe destaque especial no evento da Tentação. Roger Stronstad comenta que cada um dos evangelistas sinóticos conecta a tentação de Jesus com sua recepção do Espírito Santo. Depois do seu batismo o Espírito Santo leva (Mt 4.1, Lc 4.1) ou impulsiona (Mc 1.12) Jesus a ir ao deserto para um período de provas com o Diabo. “A oração para ser tentado pelo Diabo”, observa o exegeta Genival C. Silva, meu ex-professor de exegese e grego no Seminário Batista de Teresina, “na língua grega em que foi escrito este texto, trata-se de uma oração reduzida de infinito subordinada adverbial consecutiva. O termo grego peirasthenai, exprime uma conseqüência ou resultado e não uma ideia final, como se acha traduzida. Portanto, a tradução deve ser esta: ‘A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto de modo que foi tentado pelo Diabo’. Numa tradução livre a ideia é: e como consequência lá foi tentado pelo Diabo, exprimindo assim uma conseqüência ou resultado”.2 Por outro lado, destaca Stronstad “somente Lucas qualifica Jesus de ‘cheio do Espírito Santo’ (Lc 4.1). Em seu comentário sobre o Evangelho de Lucas, Alfred Plummer observa que se havia dotado a Jesus com o poder sobrenatural; e foi tentado a usá-lo para promover seus próprios interesses sem considerar a vontade do Pai... Foi ao deserto de acordo com o impulso do Espírito. O que foi testado ali foi o propósito divino a fim de prepará-lo para sua tarefa.
Jesus e a Tentação
Há um longo debate teológico em torno da Tentação de Jesus há muito discutido nos meios acadêmicos. A opinião dos teólogos, mesmos os mais conservadores, não são unânimes sobre esse assunto. A questão diz respeito à realidade ou não da Tentação de Jesus. A Tentação foi ou não real? Jesus poderia ceder ou não à Tentação? As respostas a essas perguntas não são consensuais entre os estudiosos, porque em última análise se referem à pecabilidade ou impecabilidade do Redentor!4 Não há, portanto, resposta fácil para esse assunto. Até mesmo os teólogos cuja erudição e conservadorismo são inquestionáveis reconhecem esse fato. Como diz Millard J. Erickson: “Aqui nos defrontamos com um dos grandes mistérios da fé”.
Foge do propósito desse capítulo analisar os paradoxos e aporias existentes nesse debate teológico e também entrar no mérito das questões cristológicas relativas à natureza da Tentação de Jesus. Todavia parto do princípio de que a Tentação de Jesus foi real e que uma análise do texto revelará que ela foi decisiva na vida de Jesus. Feito isso verificaremos que a prova pela qual Jesus passou serve de modelo e parâmetro para todos os cristãos em todos os tempos. William Barclay comenta: “Vimos que havia certos marcos na vida de Jesus, e aqui temos outro dos mais importantes. No tempo quando tinha doze anos, havia chegado à convicção de que Deus era seu Pai de maneira única e exclusiva. Com o surgimento de João Batista veio a hora de Jesus, e em seu batismo recebeu a aprovação de Deus. Nesta ocasião Jesus está a ponto de iniciar sua campanha. Antes de iniciar uma campanha, se há de escolher os métodos. A passagem da Tentação nos apresenta Jesus elegendo, de forma definitiva, o método com o qual se proporia ganhar os homens para Deus. Vemos Jesus rejeitando o caminho do poder e da glória, e aceitando o caminho do sofrimento e da cruz”.
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 50-52.
As últimas palavras do capítulo anterior, de que Jesus era o Filho de Adão, revelam-no como a semente da mulher; sendo assim, temos o Senhor aqui, de acordo com a promessa, pisando na cabeça da serpente, frustrando e derrotando o diabo em todas as suas tentações, que por uma única tentação havia frustrado e derrotado os nossos primeiros pais. Portanto, no início da guerra, Jesus fez represálias a ele, e venceu aquele que no passado havia sido o vencedor.
Nesta história da tentação de Cristo, observe:
I Como Ele foi preparado e equipado para ela. Aquele que permitiu a tribulação proveu aquilo de que o Senhor Jesus precisava para vencer; porque embora não saibamos que exercícios possam estar diante de nós, nem para que encontros podemos estar reservados, Cristo sabia, e teve aquilo que era necessário; e Deus faz o mesmo por nós, e esperamos dele tudo o que nos é necessário.
1. Ele estava cheio do Espírito Santo, que havia descido sobre Ele como uma pomba. O Senhor Jesus tinha agora medidas maiores de dons, graças e consolações do Espírito Santo do que antes. Note que aqueles que estão cheios do Espírito Santo é que estão bem armados contra as tentações mais fortes.
2. Ele havia retornado do Jordão recentemente, onde foi batizado, e reconhecido por uma voz do céu como sendo o Filho Amado de Deus; e assim E le foi preparado para este combate. Note que quando tivermos a mais consoladora comunhão com Deus, e as descobertas mais claras de seu favor a nós, podemos esperar que Satanás nos ataque (o navio mais rico é o prêmio do pirata), e que Deus permitirá que ele faça isso, para que o poder de sua graça possa ser manifestado e exaltado.
3. Ele foi levado pelo Espírito ao deserto, pelo Espírito bom, que o conduziu como um campeão para o campo, para lutar contra o inimigo que Ele certamente iria derrotar. O fato de ser levado ao deserto: (1) Deu alguma vantagem ao tentador; porque ali ele o teve sozinho, sem a companhia de amigos, por cujas orações e conselhos o Senhor Jesus poderia ser ajudado na hora da tentação. Ai daquele que está sozinho! Ele poderia dar vantagem a Satanás, pois conhecia a sua própria força; mas nós não podemos, pois conhecemos a nossa própria fraqueza.
(2) Ele ganhou alguma vantagem para si durante este jejum de quarenta dias no deserto. Podemos supor que o Senhor estava totalmente concentrado em sua própria consagração, e em consideração à sua tarefa, e à obra que Ele tinha diante de si; que Ele passou todo o seu tempo em uma conversa imediata e íntima com o seu Pai, como Moisés no monte, sem qualquer desvio, distração, ou interrupção. De todos os dias da vida de Cristo na carne, estes parecem ter se aproximado mais da perfeição da vida angelical e da vida celestial, e isto o preparou para os ataques de Satanás. Aqui o Senhor Jesus foi fortalecido contra eles.
4. Ele continuou jejuando (v. 2): E naqueles dias não comeu coisa alguma. Este jejum foi totalmente miraculoso, como o jejum de Moisés e de Elias, e o revela, como a eles, um profeta enviado por Deus. E provável que este episódio tenha ocorrido no deserto de Horebe, o mesmo deserto no qual Moisés e Elias jejuaram. Assim como ao se retirar para o deserto, Ele se mostrou perfeitamente indiferente ao mundo, por seu jejum Ele se mostrou perfeitamente indiferente ao corpo; e Satanás não pode dominar facilmente aqueles que se desprendem e morrem para o mundo e para a carne. Quanto mais mantivermos a nossa carne em sujeição, menos vantagens Satanás terá contra nós.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 545-546.
A intenção de Deus é que Jesus fosse tentado pelo diabo. Portanto, o próprio Deus está por trás desse episódio da tentação no deserto (Cf. Lc 22.31s; 1Co 10.13). E, com base no AT, a pessoa “tentada” sempre é o devoto e justo, e não o ímpio. Cf., por exemplo, Abraão (Gn 22), José, Jó, etc. O objetivo da tentação é a aprovação e o aprofundamento da fé, e não pôr em risco ou até mesmo destruir a fé. (cf. José na casa de Potifar – [Gn 39]). Por essa razão também Tiago escreve: “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta” (Tg 1.13). – E, já que é assim e não pode ser de outra forma, o cristão sempre precisa alegrar-se quando é conduzido para diversas tentações (cf. Tg 1.2). – Por isso a prece por tais provações também é encontrada diversas vezes no saltério. Leia Sl 26.2; 139.23s; Jr 20.12 (veja também a brochura do mesmo autor “Warum all das Leid e Übel in der Welt?” [Por que todo esse sofrimento e maldade no mundo?]).
Por isso a prece a Deus na oração do Pai Nosso: “Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal” [Mt 6.13], só pode ser interpretada da seguinte forma: “Protege-me do mal, para que ele me não engane – mas, ó Deus, concede-me a vitória quando o inimigo me aflige, me tortura ou me amedronta.”
Satanás entra pessoalmente no campo de batalha, de uma forma como jamais se manifestara anteriormente. Durante estes quarenta dias, o príncipe das trevas deve ter investido com toda a sua milícia contra o Senhor Jesus. Satanás sabia o que estava em jogo (cf. Comentário Esperança, Mateus, p. 66, e Marcos, p. 60).
Se alguém perguntasse: “Será que encontrar-se realmente com o diabo já é um fato condenável e pecaminoso?”, caberia responder-lhe duas coisas:
A história da tentação do Senhor Jesus pode ser chamada de arrasadora revelação da existência do poder e das leis do reino das trevas. A existência do reino daquele que é pessoalmente mau não é revelada pelo santo Deus. Ele revela-se em fatos como a tentação de Jesus. A história da tentação mostra que o diabo é um espírito maligno, um inimigo de Deus. O diabo conhece a Jesus e por isso o odeia. O diabo conhece a Escritura e por isso a odeia. Ele a odeia e distorce. Distorcer e seduzir é seu contexto, mentir é seu ofício.
É estranho como longos períodos de desenvolvimento do reino de Deus são repetidamente acompanhados de uma reação mais intensa do reino das trevas. – No começo da história da humanidade o pai da mentira se mostra em forma de serpente. Quando Israel está para tornar-se o povo eleito de Deus, ele imita os milagres de Moisés por intermédio de mágicos egípcios. Quando o Filho de Deus aparece na carne, ele multiplica o número dos possessos e tenta fazê-lo tropeçar pessoalmente. E quando percebe a aproximação da última etapa do reino de Deus, age com fúria, por “pouco tempo” (Ap 20.3).
As tentações que o Senhor Jesus teve de superar aqui no deserto eram muito mais graves que as dos primeiros seres humanos. Eles encontravam-se no esplêndido paraíso, eram visitados por Deus e não sabiam nada a respeito das terríveis tribulações e dos assédios de Satanás. Jesus estava no inóspito deserto, onde havia apenas areia e pedras. Foi ininterruptamente perseguido pelo diabo durante quarenta dias e noites. Era imensa a tensão em seu íntimo, de modo que ele se esqueceu de beber e comer por quarenta dias.
Provavelmente, após o decurso destes quarenta dias, Jesus tenha ficado mortalmente debilitado, e foi esse momento que o tentador aproveitou para a última e decisiva investida.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica Esperança.
A expressão foi tentado descreve uma ação contínua; Jesus foi tentado constantemente durante os quarenta dias. O Espírito levou Jesus ao deserto onde Deus pôs Jesus à prova - não para ver se Jesus estava pronto, mas para mostrar que Ele estava preparado para a sua missão. Satanás, no entanto, tinha outros planos; ele esperava distorcer a missão de Jesus tentando-o para fazer o mal. Por que era necessário que Jesus fosse tentado? A tentação faz parte da experiência humana. Para que Jesus fosse completamente humano, Ele tinha que enfrentar a tentação (veja Hb 4.15). Jesus tinha de desfazer o que Adão tinha feito. Adão, embora criado perfeito, cedeu à tentação, e assim o pecado entrou na raça humana. Jesus, por outro lado, resistiu a Satanás. A sua vitória oferece a salvação aos descendentes de Adão (veja Rm 5.12-19).
Durante estes quarenta dias, Jesus não comeu coisa alguma, de modo que ao final Ele teve fome. A condição de Jesus como Filho de Deus não tornava o seu jejum mais fácil; o seu corpo físico sofria a fome severa e a dor de estar sem alimento. As três tentações registradas aqui ocorreram quando Jesus estava na sua condição física mais enfraquecida.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 341.
II - A TENTAÇÃO DE SER SACIADO.
1. A SUTILEZA DA TENTAÇÃO.
Note a expressão: Está escrito, não só aqui no versículo 4, mas também nos versículos 8 e 10, todas as vezes com referência ao mesmo livro, Deuteronômio, que, como é evidente, Jesus considerava não uma “fraude piedosa”, mas a própria Palavra de Deus. Outras passagens que expressam a elevada opinião que Jesus nutria pelas Escrituras são Lucas 24.25-27, 44-47; João 5.33; e 10.35. As Escrituras do Antigo Testamento, segundo ele mesmo as interpretava, evidentemente eram para ele o critério da verdade final para a vida e a doutrina, o tribunal último de apelação para a razão.
A primeira citação é oriunda de Deuteronômio 8.3. Descreve Moisés lembrando Israel dos temos cuidados de Deus durante os quarenta anos de peregrinação pelo deserto. Em particular, mostra como o Senhor os alimentara com maná, algo completamente desconhecido até então a eles e a seus pais, com o intuito de ensinar-lhes “que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca do Senhor”.
Portanto, o que Jesus tenciona dizer poderia ser parafraseado assim: “Tentador, você está laborando sobre falsa premissa de que o pão é absolutamente necessário para que um ser humano sacie sua fome e se mantenha vivo. Ante essa equivocada idéia, eu afirmo agora que não é o pão, mas o poder criador, vivificador e sustentador de meu Pai, a única fonte indispensável para a vida e o bem-estar tanto do homem e quanto meus”. Não obstante, Lucas omite a última parte de Deuteronômio 8.3: “mas de toda palavra que procede” etc. Mateus 4.4 contém essas palavras. Lucas com freqüência omite material, provavelmente para dar, em seu Evangelho, espaço suficiente a outros temas.
Essa resposta ao conselho de Satanás por parte de Jesus foi uma expressão de confiança filial ao cuidado do Pai. Sem dúvida, aquele que providenciara o maná quando não havia pão, e que bem recentemente dissera: “Tu és o meu Filho, o Amado”, não falharia a seu amado nesta hora de provação.
HENDRIKSEN. William. Comentário do Novo Testamento. Lucas II. Editora Cultura Cristã. pag. 320-321.
Lc 4.4 Jesus respondeu a Satanás com o que está escrito nas Escrituras. Nas três citações de Deuteronômio, encontradas em Lucas 4.4, 8 e 12, o contexto mostra que Israel fracassou em cada um dos testes. Jesus mostrou a Satanás que embora o teste pudesse ter feito Israel fracassar, isto não funcionaria com Ele. Jesus compreendia que a obediência à missão do Pai era mais importante do que comida. Fazer pão para si teria mostrado que Ele não havia deixado todos os seus poderes de lado, nem se humilhado e nem se identificado completamente com a raça humana. Mas Jesus recusou-se a fazê-lo, mostrando que só usaria os seus poderes em submissão ao plano de Deus.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 341.
O Senhor Jesus respondeu utilizando as Escrituras (v. 4): Está escrito. Esta é a primeira palavra registrada como sendo falada por Cristo depois da instalação de seu ofício profético; e é uma citação do Antigo Testamento, para mostrar que E le veio para declarar e manter a autoridade das Escrituras como algo que não se pode controlar; Satanás não é capaz de controlá-la. E embora o Senhor Jesus tivesse o Espírito sem medida, e tivesse uma doutrina própria para pregar e uma religião para fundar, ela estava de acordo com Moisés e os profetas. O Senhor Jesus estabelece os escritos destes homens como uma regra para si mesmo, e nos recomenda que os tenhamos como uma resposta a Satanás e às suas tentações. A Palavra de Deus é a nossa espada, e a fé nesta preciosa Palavra é o nosso escudo; devemos, portanto, ser poderosos nas Escrituras, e seguirmos nesta força, avançarmos, e continuarmos na nossa batalha espiritual, conhecendo o que está escrito, porque ela é para o nosso aprendizado, para o nosso uso. O texto das Escrituras que o Senhor Jesus menciona é Deuteronômio 8.3. Em outras palavras: “O homem não viverá só de pão. Eu não preciso transformar as pedras em pão, porque Deus Pai pode enviar o maná para o meu sustento, assim como Ele fez por Israel; o homem pode viver de toda Palavra de Deus, e ser alimentado por aquilo que Ele determinar”. Como é que Cristo pode ter vivido confortavelmente durante estes últimos quarenta dias? Não pelo pão, mas pela Palavra de Deus, pela meditação sobre esta Palavra, e pela comunhão com ela, e com Deus nela e por ela; e de uma maneira que Ele ainda pudesse viver, embora agora Ele começasse a ter fome. Deus tem muitas maneiras de sustentar o seu povo, sem os meios comuns de subsistência. Portanto, não se deve em nenhuma circunstância perder a confiança nele, mas em todo o tempo devemos depender dele, no caminho da obediência. Se faltar o alimento, Deus pode tirar o apetite, ou dar graus de paciência que permitam que um homem ria da assolação e da fome (Jó 5.22). O Senhor também pode tornar os legumes e a água mais nutritivos do que toda a porção do manjar do rei (Dn 1.12,13), permitindo que o seu povo se alegre nele, mesmo que a figueira não floresça, Habacuque 3.17. Uma crente vigorosa disse que fez das promessas a sua refeição nas ocasiões em que sofreu a escassez de alimentos.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 547.
2.GRATIFICAÇÃO PESSOAL.
A intenção é fazer com que Jesus ponha as coisas materiais em primeiro lugar, e uma forma que Satanás via como eficaz era apelar para os apetites. Os desejos não são pecaminosos em si mesmos. Não há nada de errado com o desejo de se alimentar. Todavia, quando esses desejos ou apetites quebram algum princípio estipulado pelo Criador, então se convertem em algo mal. Jesus venceu Satanás citando a Palavra de Deus que se encontra em Deuteronômio 8.3.
William Barclay observa que era como se o Diabo dissesse: “Se você quer que o povo lhe siga, usa teus poderes para dar-lhes coisas materiais”. De fato o foco da tentação está na centralização das coisas materiais. Ainda hoje essa continua sendo a artimanha do Diabo. O apelo ao ego, ao desejo de consumo e outras guloseimas espirituais continua sendo a tentação de homens, mulheres e crianças. Na cultura pós-moderna o consumismo é um deus que não se apieda de ninguém. Por ele os homens roubam, por ele os homens matam!
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 52.
Como o Senhor Jesus foi atacado por uma tentação atrás da outra, e como Ele derrotou o plano do tentador em cada ataque, e se tornou mais do que vencedor. Durante os quarenta dias, Ele foi tentado pelo diabo (v. 2), não por uma sugestão interior, porque o príncipe deste mundo não tinha nada em Cristo, e assim não tinha como injetar qualquer coisa nele, mas por solicitações exteriores, talvez com a aparência de uma serpente, como tentou os nossos primeiros pais. Mas no final de quarenta dias Satanás se aproximou mais, e fez o que estava ao seu alcance, ao perceber que o Senhor Jesus estava com fome, v. 2. Provavelmente, o nosso Senhor Jesus começou a olhar ao redor entre as árvores, para ver se poderia achar algo que fosse comestível, quando então o diabo aproveitou a ocasião para lhe fazer a sua proposta.
1. Ele o tentou a não confiar no cuidado de seu Pai em relação a Ele, e a agir por conta própria, e a ajudar-se a si mesmo provendo o sustento de uma maneira que o seu Pai não havia designado (v. 3): Se tu és o Filho de Deus, como a voz do céu declarou, dize a esta pedra que se transforme em pão. (1) “Eu te aconselho a fazer isto; porque Deus, se é teu Pai, se esqueceu de ti, e demorará muito antes que Ele envie corvos ou anjos para te alimentar”. Se começarmos a pensar em sermos os nossos próprios escultores, e vivermos pela nossa própria previsão, sem dependermos da providência divina, se quisermos obter riquezas pelo nosso poder e pela força das nossas mãos, podemos considerar isto como uma tentação de Satanás, e devemos conseqüentemente rejeitá-la; pensar em ser independente de Deus é um conselho de Satanás. (2) “Eu te desafio, se tu o podes; se não o fizeres, direi que não és o Filho de Deus; porque João Batista disse recentemente que Deus pode suscitar, das pedras, filhos a Abraão, que é o maior; portanto, tu não tens o poder do Filho de Deus, se não transformares as pedras em pão para ti mesmo, quando necessitares. E este é um milagre menor” . Assim, o próprio Deus foi tentado no deserto: Poderá Deus preparar uma mesa no deserto? Poderá dar pão? Salmos 78.19,20. Agora: [1] Cristo não cedeu à tentação; Ele não transformaria aquelas pedras em pães; não, embora estivesse com fome; Em primeiro lugar, porque Ele não faria o que Satanás lhe ordenou que fizesse, pois isto seria como se tivesse havido um pacto entre o Senhor e o príncipe dos demônios. Note que não devemos fazer nada que se pareça com a atitude de dar lugar ao diabo. Os milagres foram operados para a confirmação da fé, e o diabo não tinha fé para ser confirmada; portanto o Senhor Jesus não faria isto por ele. Ele operou os seus sinais na presença dos seus discípulos (Jo 20.30), e particularmente o início de seus milagres, transformando água em vinho, o que Ele fez para que os seus discípulos pudessem crer nele (Jo 2.11); mas aqui no deserto o Senhor Jesus não tinha nenhum discípulo em sua companhia. Em segundo lugar, Ele operou milagres para a ratificação de sua doutrina, e, portanto, até que começasse a pregar, Ele não começaria a operar milagres. Em terceiro lugar, Ele não operaria milagres para si mesmo e para o seu próprio sustento, para que não parecesse impaciente pela fome, porquanto o Senhor Jesus não veio para agradar a si mesmo, mas para sofrer a dor, e esta seria apenas uma dor entre outras. Ele também mostraria que não agradou a si mesmo, e iria, antes, transformar água em vinho para crédito e conveniência de seus amigos, e não pedras em pão para o seu próprio sustento, mesmo que isto parecesse necessário. Em quarto lugar, Ele reservaria a prova de ser o Filho de Deus para mais adiante, e preferia ser censurado por Satanás por se comportar como fraco, e incapaz de fazê-lo, do que ser persuadido por Satanás a fazer o que lhe convinha fazer. Desse modo, o Senhor Jesus foi censurado por seus inimigos como se não pudesse salvar a si mesmo, e descer da cruz, quando Ele de fato poderia ter descido; mas não o faria, porque não convinha que o fizesse. Em quinto lugar, Ele não faria nada que parecesse falta de confiança em seu Pai, não agiria separadamente dele, e não faria qualquer coisa que estivesse em desacordo com a sua condição atual. Sendo, em todas as coisas, feito como os seus irmãos, o Senhor Jesus iria, como os outros filhos de Deus, viver na dependência da Providência e da promessa divina. Ele confiaria em Deus Pai, fosse para enviar a provisão necessária ao deserto, ou para levá-lo à cidade que deveria habitar onde haveria mantimento, como costumava fazer (SI 107.5-7). E assim, quando o Senhor Jesus tivesse terminado estes quarenta dias de jejum, o Pai iria supri-lo, embora Ele estivesse com fome naquele momento.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 546.
Lc 4.3 A primeira vista, este parece ser um ato relativamente inofensivo, até mesmo uma sugestão piedosa. Jesus rinha muita fome, então por que não usar os recursos sob o seu comando e transformar uma pedra em pão? Neste caso, entretanto, o pecado não estava no ato, mas na razão por trás dele. O diabo estava tentando fazer Jesus tomar um atalho para resolver o seu problema imediato à custa de seus objetivos de longo prazo, procurando o conforto através do sacrifício da sua disciplina.
Satanás normalmente trabalha desta forma - persuadindo as pessoas a realizar uma ação, até mesmo uma boa ação, por um motivo errado ou na hora errada. O fato de que alguma coisa não seja propriamente errada não significa que é boa para alguém em determinado momento.
Muita gente peca tentando satisfazer desejos legítimos não incluídos na vontade de Deus, ou, antes do momento definido por Ele.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 341.
Cristo não defendeu sua filiação divina; em vez disso deu uma resposta adequada a qualquer filho de Deus em tentação semelhante. Sua resposta foi uma citação literal de Deuteronômio 8:3, extraída da Septuaginta. O contexto do Velho Testamento descrevia a provisão do maná feita por Deus, talvez implicando que Jesus quis dizer: “Deus cuidou de Israel e cuidará de mim”. Além do mais, Jesus não veio suprir de pão a humanidade, mas satisfazer às suas necessidades mais profundas.
O diabo atacou um ponto de especial sensibilidade — a fome de Jesus. O desafio exigia que Jesus empregasse sua filiação divina a fim de aliviar uma necessidade física. A coisa não era errada em si mesma e Jesus tinha poder para tal. Mas este não era o papel do Filho de Deus (veja notas em 1:35). Nem faria ele o seu primeiro prodígio à ordem de tal aliado, ou mesmo em associação com ele. Jesus superou a tentação sempre presente de colocar as coisas materiais à frente das espirituais, e também assim podem fazê-lo os seus seguidores.
Anthony Lee Ash. O Evangelho Segundo Lucas. Editora Vida Cristã. pag. 82.
III-A TENTAÇÃO DE SER CELEBRADO
1. O PRÍNCIPE DESTE MUNDO.
Tendo fracassado no primeiro ataque, o Diabo volta com uma proposta ainda mais tentadora. Na segunda tentação do Diabo, ele: “Mos- trou-lhe, num momento, todos os reinos do mundo. Disse-lhe o diabo: Dar-te-ei toda essa autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser” (Lc 4.6).
O teólogo Ivo Storniolo denomina essa tentação de a “tentação do poder e da riqueza”. Não há dúvida de que este mundo, como um sistema caído, foi entregue ao Diabo. Foi o próprio Jesus quem disse que o Diabo é príncipe deste mundo (Jo 12.31). Storniolo observa que o poder e a riqueza se convertem em coisas pecaminosas porque são contrárias ao projeto de Deus. Isso acontece porque o poder se constrói às custas das liberdades humanas. E a riqueza se constrói graças ao roubo e acúmulo dos bens que deveriam ser partilhados entre todos. Neste aspecto uns enriquecem às custas da miséria dos outros.7 Jesus rechaça essa tentação citando Deuteronômio 6.13.
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 52-53.
O diabo tentou Jesus a aceitar dele o reino, o qual, como o Filho de Deus, Ele esperava receber de seu Pai, e glorificá-lo, w. 5-7. Este evangelista coloca esta tentação em segundo lugar, a qual Mateus colocou por último, e que, parece, foi realmente a última; mas Lucas estava absorto por ela, como a mais maligna e a mais violenta, e, portanto, se apressou em citá-la. Na tentação do diabo aos nossos primeiros pais, ele lhes apresentou o fruto proibido, primeiro como bom para se comer, e então como agradável aos olhos; e eles foram dominados por estes dois encantamentos. Satanás aqui primeiro tentou a Cristo para transformar pedras em pão, que seria bom para se comer, e então lhe mostrou os reinos do mundo e a sua glória, que eram agradáveis aos olhos; mas em ambas estas coisas o Senhor Jesus venceu Satanás, e talvez tendo isto em vista, Lucas muda a ordem. Agora observe: (1) Como Satanás procurou conduzir esta tentação, para persuadir Cristo a se tornar tributário a ele, e receber o seu reino das mãos dele. [1] Satanás trouxe ao Senhor uma perspectiva de todos os reinos do mundo em um momento, uma representação visionária deles, como ele pensava ser mais provável de cativar, e parecer uma perspectiva real. Para obter melhor êxito, ele o levou para este propósito a um alto monte; e, devido ao fato de em seguida, depois da tentação, encontrarmos a Cristo do outro lado do Jordão, alguns acreditam que provavelmente o diabo o tenha levado ao topo do Pisga, de onde Moisés tem a visão de Canaã. O fato de que este foi apenas um espectro que o diabo, como príncipe do poder dos ares, aqui apresentou ao nosso Salvador, é confirmado pela circunstância que Lucas aqui faz notar, que tudo se passou em um momento; enquanto que, se um homem toma a perspectiva de apenas uma nação, ele deve fazê-lo sucessivamente, deve se virar, e observar primeiro uma parte e então a outra. Assim o diabo pensou em impor sobre o nosso Salvador uma falácia - a deceptio visus; ao procurar fazê-lo crer que poderia lhe mostrar todos os reinos do mundo, Satanás o levaria a uma opinião de que ele poderia lhe dar todos estes reinos.
[2] Ele ousadamente alegou que todos estes reinos lhe foram entregues, que ele tinha poder para dispor deles e de toda a glória deles, e dá-los a quem quisesse, v. 6. Alguns acreditam que aqui ele se fez passar por um anjo de luz, e que, como um dos anjos que foi colocado sobre os reinos, ele tinha comprado, ou conquistado, todos os demais, e, portanto, lhe foi confiada a disposição de todos eles, e, em nome de Deus, Satanás os daria ao Senhor Jesus, sabendo que eles foram criados para Ele; mas o impedimento era esta condição, que ele deveria se prostrar e adorá-lo, o que um anjo bom jamais teria exigido nem admitido, e o Senhor jamais o faria, nem sequer por coisas muito maiores do que estas, Apocalipse 19.10; 22.9. Mas eu prefiro acreditar que Satanás reivindicou este poder por ser o próprio demônio, e que este poder lhe foi entregue não pelo Senhor, mas pelos reis e pelo povo destes reinos, que deram o seu poder e honra ao diabo, Efésios 2.2. Por isso ele é chamado de deus deste mundo, e príncipe deste mundo. Foi prometido ao Filho de Deus que ele deveria ter as nações por sua herança, Salmos 2.8. “Por que”, diz o diabo, “as nações são minhas, são meus súditos e devotos; no entanto, serão tuas, eu as darei a ti, sob a condição de me adores por elas, e digas que elas são as recompensas que dei a ti, como outros fizeram antes de ti (Os 2.12), e consintas em tê-las sob o meu domínio.”
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 547.
Lc 4.5,7 O diabo arrogantemente esperava ter sucesso na sua rebelião contra Deus, afastando Jesus de sua missão e obtendo a sua adoração. Satanás tentou a Jesus para que Ele assumisse o mundo como um reino terreno ali mesmo, sem executar o plano de salvar o mundo do pecado. Para Jesus, aquilo significava obter o seu prometido domínio sobre o mundo sem passar pelo sofrimento e pela morte na cruz. Satanás ofereceu um atalho. Mas Satanás não entendeu que o sofrimento e a morte eram parte do plano de Deus, que Jesus tinha decidido obedecer.
O fato de que Jesus pudesse ver, num momento de tempo, todos os reinos do mundo, apóia a interpretação de que esta experiência foi visionária. O foco não está na montanha, mas sim naqueles reinos que estavam (e estão) sob o domínio de Satanás (Jo 12.31). Satanás ofereceu-se para dar o domínio sobre o mundo a Jesus. Isto desafiava a obediência de Jesus ao cronograma e à vontade de Deus. A tentação de Satanás, basicamente, era: “Por que esperar? Eu posso lhe dar isto agora!” Naturalmente, a oferta tinha uma condição: “Se tu me adorares”.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 341.
A tentação que Mateus relata como sendo a terceira é apresentada por Lucas como a segunda tentação. Essa inversão provavelmente se deve ao fato de que Mateus descreve os ataques em ordem cronológica. Lucas, por seu turno, presumivelmente observa uma seqüência gradativa dos locais: o deserto, a montanha, a cidade santa.
O diabo conduziu Jesus para o alto, mostrando-lhe dali todos os reinos do orbe terrestre, particularmente “num momento”. O tentador afirma que toda essa esfera de poder e sua glória lhe fora entregue. Por isso também poderia passá-la adiante segundo seu bel-prazer. O diabo exige de Jesus que o adore se quiser o que oferece.
Essa condição (a adoração) que Satanás relaciona com a transferência de seu senhorio foi considerada uma tentação grosseira demais. Qualquer israelita teria rejeitado, imediatamente e com indignação e justa ira, uma proposta dessas. O sentido é, porém, o seguinte:
O povo de Israel havia recebido de Deus a promessa de reinar sobre os outros povos, motivo pelo qual aguardava o Messias, por meio do qual essa promessa deveria ser cumprida.
Portanto, não havia absolutamente nada incorreto no desejo de avançar em direção a esse futuro. É a essa incumbência que Deus dera ao povo que o inimigo se reporta. Do cume da montanha o tentador lhe mostra, em um único relance, todos os reinos do mundo, toda a terra habitada. Foram magia e ofuscamento satânicos. Todos os milagres satânicos têm uma faceta enganosa. Possuem uma aparência fascinante (2Ts 2.9). Não são milagres de bênção, que conduzem a Deus, mas artifícios, ilusão fantástica, que desviam as almas de Deus. Estaríamos muito equivocados se imaginássemos o tentador como aquela figura distorcida em que a Idade Média o transformou.
6 A palavra do diabo “Todo esse poder e sua glória… me foi entregue” contém a alusão a uma reivindicação legítima de senhorio. Portanto, como podemos inferir, antes de sua rebelião Satanás tinha recebido nossa terra como seu domínio. No entanto, foi destronado! E diante dele encontra-se aquele a quem havia sido prometida a soberania sobre o mundo (cf. Sl 2.8; Dn 7.13s; etc.) e que agora viera para destruir as obras do diabo (1Jo 3.8b). A afirmação “Eu a dou a quem eu quiser”, pela qual o diabo se declara soberano absoluto e irrestrito da terra, é uma grande mentira. É inegável que Satanás exerce um terrível poder no mundo. É capaz de elevar a pessoa favorecida por ele ao mais alto degrau do poder terreno. É o que a experiência demonstra repetidamente. O próprio Jesus fala do archon deste mundo, i. é, do detentor de poder e soberano deste mundo, em Jo 12.31; 14.30; 16.11. O Senhor levou este potentado sumamente a sério. E também os apóstolos do Senhor sabem do terrível poder do deus deste éon [desta era] em 2Co 4.4 e Ef 6.12. E toda pessoa que trabalha no reino de Deus pode relatar a respeito desse terrível fato de ter o terrível inimigo dentro e em redor de si, pela mais amarga experiência própria. O cristão sabe como é poderoso o velho inimigo mau. Porém – e novamente porém – apesar dessas declarações sobre o diabo como inimigo mortal de Deus, a fé sempre, constantemente, pode testemunhar maravilhosamente o singular e único Deus do céu e da terra! O cristão tem certeza do bendito fato de que em tudo o que vem a seu encontro ele não precisa contar com dois senhores, ou seja, Deus e Satanás, mas apenas e integralmente com o único Senhor. Foi isso que também sustentou o Senhor, como nosso inigualável exemplo, nessa segunda tentação pelo diabo. Contou exclusivamente com Deus, seu Pai.
Jesus havia desmascarado a artimanha do diabo. Jesus também conhecia as promessas que haviam sido dadas ao povo de Israel e a seu Messias em vista da primazia de Israel sobre os demais povos. Contudo, em lugar algum a Escritura dizia que essas promessas dadas no AT acerca da eleição divina e universal de Israel dentre as nações forçosamente significaria, p. ex., um privilégio exterior ou uma posição de domínio político de Israel sobre os povos. Era precisamente esse o elemento satânico na intenção tentadora do diabo. – Infelizmente, na época de Jesus o povo eleito já havia se devotado inteiramente a essa dimensão satânica da imagem política universal do Messias (cf. o exposto sobre Lc 3, no tocante à falsa expectativa messiânica daquele tempo, e ao 17º salmo de Salomão).
O assédio sedutor de Satanás na segunda tentação, portanto, consistia em que Jesus deveria ceder, no curso de sua obra, aos desejos messiânicos terrenos do Israel carnal. Desse modo ele conquistaria o favor do povo e a cooperação dos líderes religiosos (os fariseus e escribas). Então colheria um triunfo após o outro, levando, pois, à gloriosa e esplendorosa realização e execução das promessas do AT acerca de Israel e seu Messias. Essa era a interpretação satânica da Bíblia.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica Esperança.
2. A BUSCA PELO PODER TERRENO.
Satanás exigiu dele honra e adoração: Portanto, se tu me adorares, tudo será teu, v. 7. Em primeiro lugar, Satanás deseja que o Senhor o adore. Talvez ele não queira dizer nunca mais adorar a Deus Pai, mas adorá-lo junto com a adoração oferecida a Deus Pai; porque o diabo sabe, que se ele conseguir apenas uma vez se fazer sócio, logo será o único proprietário. Em segundo lugar, Satanás faria um contrato com o Senhor Jesus, de que quando, de acordo com esta promessa, Ele tomasse posse dos reinos deste mundo, não faria nenhuma alteração nas religiões do mundo, mas toleraria as nações como havia feito até aquele momento, permitindo que sacrificassem aos demônios (1 Co 10.20). Por esta proposta, o Senhor Jesus deveria ainda manter o culto aos demônios no mundo, e então deixá-lo tomar todo o poder e a glória dos reinos se lhe agradasse. Que a riqueza e a grandeza desta terra fiquem para quem quiser; porém, quanto a Satanás, este nada terá se não tiver o coração dos homens, bem como os seus sentimentos e a sua adoração. O diabo só pode operar nos filhos da desobediência, e é assim que ele eficazmente os devora. (2) Como o nosso Senhor Jesus triunfou sobre esta tentação. Ele deu à tentação uma repulsa terminante, e a rejeitou com veemência (v. 8): “Vai-te, Satanás, não suporto a menção disto. O que? Adorar o inimigo do Deus a quem eu vim servir? e do homem a quem eu vim salvar? Não, Nunca farei isto.” Uma tentação como esta não era para ser analisada, mas recusada imediatamente; o assunto foi liquidado com uma única palavra, Está escrito: Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a Ele servirás; e não somente isto, mas somente a Ele adorarás; a Ele e a nenhum outro. Portanto, Cristo não adorará a Satanás, e quando tiver os reinos do mundo entregues a si por seu Pai, como espera em breve receber, jamais permitirá que qualquer adoração ao diabo continue neles. Onde quer que chegue o seu Evangelho, tudo o que for maligno será perfeitamente arrancado e abolido. Cristo não fará nenhum acordo com o diabo. O politeísmo e a idolatria deverão sucumbir, quando se levantar o reino de Cristo. Os homens devem se converter do poder de Satanás para Deus, do culto aos demônios para o culto ao único Deus vivo e verdadeiro. Esta é a grande lei divina que Deus restabelecerá entre os homens, e por sua santa religião reduzirá o homem à obediência: só Deus deve ser adorado e servido; portanto, qualquer que toma qualquer criatura como objeto de culto religioso - mesmo que seja um santo ou um anjo, ou a própria virgem Maria - frustra diretamente o desígnio de Cristo, e cai no paganismo.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 547-548.
Lc 4.8 Uma vez mais, Jesus respondeu a Satanás com as Escrituras. Para Jesus, obter o domínio do mundo mediante a adoração de Satanás seria não apenas uma contradição (Satanás ainda estaria no comando), mas também romperia o primeiro mandamento, “Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a ele servirás” (Dt 6.4,5, 13). Para realizar a sua missão de trazer salvação ao mundo, Jesus precisaria seguir o caminho da submissão a Deus.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 341.
Também desta vez Jesus sai vitorioso da tentação, rejeitando a oferta do diabo com as palavras: “Ao Senhor, teu Deus, venerarás prostrado e só a ele servirás!” Essa declaração é citação de Dt 6.13 conforme o texto alexandrino da Septuaginta. O texto hebraico diz: “A Javé, teu Deus temerás, a ele honrarás.”
A resposta de Jesus, que também pode ser traduzida como “Ao Senhor, teu Deus, adorarás e somente a ele servirás‖, passou a ser o grande lema de sua vida na terra. Com tudo o que é e possui, ele coloca-se à disposição obediente do Pai e de Deus. “O Filho nada pode fazer de si mesmo (“não poder” não deve ser interpretado segundo a natureza do Filho, mas segundo sua vontade), senão somente aquilo que vir fazer o Pai” (Jo 5.19). Quem adora a Deus abre mão de si integralmente, a fim de perder-se totalmente para Deus em obediência incondicional a cada instante, dissolvendo-se no seu serviço. A palavra para servir (latréuo) designa, no presente caso, o serviço sacerdotal. A vida e atuação de Jesus foram um constante serviço sacerdotal na singela obediência, até a morte, sim, até a morte na cruz (Fp 2.8). “Embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu” (Hb 5.8).
Esse aspecto de obediência absoluta também deve ser conferido à nossa vida por intermédio de Jesus. Deve ser sustentado pela adoração a Deus e devoção a ele no serviço sacerdotal (latréuo). – Essa trajetória de obediência, no entanto, representa uma trajetória de sacrifício radical. Cabe render-se constantemente, com todos os desejos vãos, teimosos e arbitrários, sobre o altar de Deus, entregando assim a vida como oferenda a nosso Deus (cf. Rm 12.1).
Esse sacrifício em que constantemente entregamos ao Senhor a nós mesmos e a vida – inclusive e principalmente em todos os instantes críticos do dia-a-dia – é obediência diante da vontade de Deus. Ele é, como Paulo ainda acrescenta, “o culto a Deus condizente com a palavra”. É importante que aqui se use para “culto a Deus” a mesma palavra grega (na forma de substantivo) que Jesus emprega na frase “E somente a ele servirás (a saber, latreia)”, ou seja, o serviço sacerdotal em devotada obediência.
Essa obediência que “sacrifica”, e por meio da qual se processa a santificação do cristão, só tem um único comportamento: obediência integral, pura, pontual, conscienciosa e alegre!
Sintetizando: na segunda tentação, Jesus deveria simbolizar e incorporar vitoriosamente a obediência incondicional, não-dividida e alegre, que constitui o outro lado tão importante da autêntica fé.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica Esperança.
IV - A TENTAÇÃO DE SER NOTADO
1. A ARTIMANHA DO INIMIGO.
Como o diabo apoiou e reforçou esta tentação. Ele fez a sua sugestão dizendo, “Está escrito”, v. 10. Cristo havia citado as Escrituras contra ele; e ele achou que estaria em pé de igualdade com Cristo, e mostraria que podia citar as Escrituras tanto quanto o Senhor. Os hereges e sedutores têm procurado perverter as Escrituras, utilizando textos isolados e fora de contexto, para cometer as piores iniquidades. Mandará aos seus anjos, acerca de ti, se tu fores seu Filho, que te guardem e que te sustentem nas mãos. E agora que Jesus estava no pináculo do templo, poderia esperar especialmente esta ministração de anjos; porque, sendo o Filho de Deus, o templo era o lugar adequado onde Ele deveria estar (c-ap. 2.46). E, além disto, se algum lugar debaixo do sol tivesse uma guarda de anjos constantemente, deveria ser este lugar, Salmos 68.17. E verdade, Deus prometeu a proteção de anjos para nos encorajar a confiar nele, não para tentá-lo; a promessa da presença de Deus está conosco, e junto com ela está também a promessa da ministração dos anjos; mas esta promessa referente aos anjos não vai além da promessa da presença do Senhor: Eles te guardarão quando estiveres andando pelo caminho, onde estivei’ o teu caminho, mas não se presumires voar nos ares.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 548.
*A passagem citada é do Salmo 91.11, 12. De acordo com a forma em que se apresenta aqui em Lucas 4.10, 11, segue a Septuaginta (SI 90.11, 12). Não obstante, segundo citada pelo diabo, existe uma omissão que alguns consideram importante, outros não tanto. Segundo o texto hebraico, o Salmo 91.11 termina com as palavras: “que te guardem em todos os teus caminhos”. Lucas 4.10 simplesmente diz “que te guardem”. Portanto, estão suprimidas as palavras “em todos os teus caminhos”. Ao incluir essas palavras, Deus promete proteger o homem justo em todos os seus justos caminhos, pois estes são os caminhos do homem que habita no abrigo do Altíssimo, que mora sob a sombra do Onipotente e que encontrou refúgio em Jeová, sobre quem ele pôs seu amor. Por conseguinte, estes são os caminhos do santo (Pv 2.8), do homem bom (Pv 2.20). É a tal pessoa que se aplicam as palavras “Dará instruções a seus anjos a teu respeito, que te guardem em todos os teus caminhos”. Ao omitir as palavras “em todos os teus caminhos”, porventura não se favorece a interpretação da passagem como uma promessa de Jeová de proteger o justo, não importa o que faça? Interpretado assim, a passagem parece corresponder mais ao que o diabo quer que Jesus faça.
Não obstante, esse aspecto é provavelmente de menor importância, já que o que Satanás omite vem a ser muito mais que as palavras de uma citação. Ele omite qualquer referência à verdade bíblica que Deus não tolera, mas condena e castiga a imprudência, jogar com a providência, lançar-se impulsivamente a um perigo totalmente injustificado (Gn 13.10, 11; Et 5.14; 7.6, 10; SI 19.13; Dn 4.28-33; 5.22, 23; Rm 1.30; 2 Pe 2.10).
Atender à proposta de Satanás era tentador, pois Jesus sabia que possuía poderes extraordinários. Em contrapartida, que homem existe que, quando se lhe pede que prove o argumento que tem apresentado, não se sente como que no dever de responder imediatamente, em vez de refletir primeiro quanto ao direito de atender tal exigência? Não obstante, Jesus não caiu nessa armadilha. Ele percebe que fazer o que Satanás lhe propõe equivaleria a substituir a fé pela conjectura, e a submissão à direção de Deus pela insolência. Teria significado nada menos que expor-se à autodestruição. A falsa confiança no Pai, que o diabo pedia a Jesus nessa tentação, não era melhor que a desconfiança que propusera na primeira. Equivaleria a fazer uma experiência com o Pai.
Uma tradição rabínica diz: “Quando o Messias Rei se revelar, ele virá e se deterá no teto do lugar santo”. Com base nessa tradição, alguns expositores opinam que o tentador estava propondo que Jesus, ao lançar-se do pináculo do templo provaria ser realmente o Messias, já que, depois da descida miraculosa e ilesa, a multidão, observando com espanto, gritaria: “Vejam, ele se saiu ileso! Só pode ser o Messias!” Para Jesus, continua o argumento, esse seria, pois, um caminho fácil para o êxito. Evitaria a cruz e obteria a exaltação sem luta nem agonia.
HENDRIKSEN. William. Comentário do Novo Testamento. Lucas II. Editora Cultura Cristã. pag. 326-327.
Aqui, pela primeira vez, Satanás fez uso das Escrituras. Os rabis deram uma interpretação messiânica ao Salmo 91:11 e seguintes. Jesus não argumentou contra o uso feito por Satanás dessa passagem, desde que esse não era o conflito básico. A tentação pedia que Jesus criasse uma situação de perigo, enquanto na primeira tentação a crise (fome) já existia. Era como se Satanás estivesse dizendo: “Você não poderá conhecer- se, nem a veracidade da promessa de Deus, enquanto não fizer um teste’’.
Anthony Lee Ash. O Evangelho Segundo Lucas. Editora Vida Cristã. pag. 84.
2. A BUSCA PELO PRESTÍGIO.
Holofotes e Celebridades
Na terceira tentação, a exemplo da primeira, Satanás usa a expressão: “se tu és o filho de Deus” (Lc 4.3,9). No meu livro Defendendo o Verdadeiro Evangelho, mostro que o “se” que aparece nesse tipo de expressão no original grego tem a sua tradução dependente da estrutura gramatical na qual ele está inserido. Esse “Se”, como uma cláusula condicional, pode expressar dúvida e às vezes, dependendo do contexto, até mesmo certeza.
Satanás já sabia que Jesus era o Filho de Deus: “Bem sei que és, o Santo de Deus” (Lc 4.34) e quer que Jesus faça uso dos seus atributos divinos. Vimos quando comentamos a kenosis, isto é, o esvaziamento de Jesus por ocasião da sua encarnação, que Ele não perdeu os seus atributos, mas que como homem não fez uso dos mesmos. Aqui Satanás, astutamente, quer que Jesus faça uma demonstração sensacionalista de sua divindade. Quer que Ele renuncie a sua condição de homem e aja como Deus. Os estudiosos imaginam que Jesus se encontrava no Pináculo do Templo que se unia ao Pórtico de Salomão e o Pórtico Real. Desde que Jesus se jogasse dali, haveria uma queda livre de 150 metros até o fundo do ribeiro de Cedron. Sem dúvida Satanás queria que Jesus fizesse um espetáculo.
Não existem dúvidas de que a tentação de ser visto, celebrado e admirado continua sendo o que mais atrai os homens! Está na moda hoje o evangelho “ostentação” e os cantores, pregadores e pastores que se renderam ao mesmo estão fazendo o jogo do Diabo.
Jesus venceu essa tentação com Deuteronômio 6.16!
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 53.
O diabo o tentou a ser o seu próprio assassino, em uma presunçosa confiança da proteção de seu Pai, da qual Ele não tinha nenhuma garantia. Observe: (1) O que o diabo pretendia com esta tentação: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, v. 9. [1] Ele queria que Cristo buscasse uma nova prova de que era o Filho de Deus, como se a prova que o seu Pai havia lhe dado, pela voz do céu, e a descida do Espírito sobre Ele não fossem suficientes. Isto seria uma desonra para Deus, como se Ele não tivesse escolhido o meio mais adequado de lhe dar esta garantia; e teria sido uma falta de confiança de que o Espírito habitava nele, o que era a maior prova e a prova mais convincente de que o Senhor Jesus era o Filho de Deus, Hebreus 1.8,9. [2] Ele queria que Cristo buscasse um novo método de proclamar e anunciar isto ao mundo. O diabo, na verdade, sugere que o Senhor Jesus foi confirmado como sendo o Filho de Deus em uma região afastada, na companhia de pessoas comuns, que compareceram ao batismo de João, e que estas honras foram proclamadas nestas condições desfavoráveis; mas se Ele agora declarasse no pináculo do templo, em meio a todas as pessoas importantes que compareciam ao serviço no templo, que Ele era o Filho de Deus, e então, para prová-lo, se lançasse de lá de cima e saísse ileso, com certeza seria recebido por todos como um mensageiro enviado do céu. Assim Satanás teria feito com que o Senhor Jesus buscasse honras conforme um plano diabólico (desprezando tudo o que Deus havia feito a respeito dele), e assim se manifestasse no templo de Jerusalém. Porém Deus Pai planejou que o Senhor Jesus se manifestasse mais entre os penitentes de João, por quem a sua doutrina seria mais bem recebida do que pelos sacerdotes. [3] E provável que o diabo tivesse alguma esperança de que, embora não pudesse lançá-lo abaixo, causando-lhe algum dano, pudesse convencê-lo a se lançar abaixo, e a queda poderia ser a sua morte; então o diabo o teria finalmente fora do caminho.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 548.
Como já se explicou, a teoria segundo a qual tanto a terceira quanto a segunda tentação descrita em Lucas - talvez mesmo as três - ocorreram numa visão, é digna de séria consideração.
A presente tentação se desenvolve, pois, em Jerusalém, lugar ao qual o diabo levou Jesus. Satanás pôs o Salvador sobre o mesmo pináculo (literalmente, ala) da muralha externa do complexo inteiro do templo. O ponto exato não é fornecido. Poderia ter sido a cornija do pórtico real de Herodes que se projeta para o vale de Cedrom, numa altura de cerca de 150 metros, altura que provocava vertigem, segundo Josefo assinala (Antiguidades XV. 412). Esse lugar se encontrava a sudeste do pátio do templo, talvez no lugar, ou perto do lugar de onde, segundo a tradição, Tiago o irmão do Senhor, foi atirado. Veja o relato muito interessante em História Eclesiástica, Il.xxiii, de Eusébio.
“Já que és Filho de Deus”, diz o tentador (exatamente como no v. 3), “lança-te daqui.” Seu argumento provavelmente tenha este teor: “Poderás assim provar sua confiança na proteção do Pai. Além disso, se a Escritura, que tão prontamente citas, é verdadeira, nenhum mal te sobrevirá, pois está escrito: ‘Ele dará instruções a seus anjos a teu respeito’. Eles não só deterão tua queda. Não, eles farão ainda mais. Deforma muito terna te levarão em suas mãos, a fim de que tu, que só levas sandálias, não te firas tropeçando teu pé contra alguma dessas pedras afiadas que existem em tanta abundância no abismo embaixo”.
HENDRIKSEN. William. Comentário do Novo Testamento. Lucas I. Editora Cultura Cristã. pag. 325-326.
Lucas coloca a tentação relativa a Jerusalém no ponto culminante, de acordo com sua ênfase especial sobre a cidade (veja notas em 2:22). Como na primeira tentação, a fé que Jesus tinha como Filho de Deus foi de novo desafiada (veja versículo 3). Como antes, esta pode ter sido uma experiência visionária (cf. Ez 8:3).
Anthony Lee Ash. O Evangelho Segundo Lucas. Editora Vida Cristã. pag. 84-85.
A vitória de Jesus na primeira tentação deixou claro o que está em jogo no uso correto dos dons concedidos por Deus e que “fé” genuína é confiança ilimitada e incondicional em Deus, o Pai. O Pai há de fazer tudo bem feito!
A segunda tentação mostrou Jesus como aquele que demonstrou a obediência integral e alegre da fé, que não faz concessões nem para a esquerda nem para a direita, e que tampouco se inclina diante do eu ou diante do mundo.
A terceira tentação nos revela um terceiro lado da “fé de Jesus Cristo”, sendo também aqui a fé vista como genitivo subjetivo, i. é, como traço essencial da pessoa de Jesus.
Essa última tentação no deserto constitui um estímulo para a exacerbação ou agudização da essência da fé.
Por se tratar, nessa tentação, da exacerbação da fé, o diabo recorre pessoalmente à palavra de Deus, citando o Sl 91.11s. “Está escrito: Aos seus anjos ordenará por tua causa que te guardem, e eles te carregarão nas mãos, para não tropeçares nalguma pedra.” O diabo havia notado que Jesus desembainhara duas vezes uma palavra da Escritura como espada do Espírito. Então o diabo tenta também utilizar a mesma arma. Sua arguição tem como base uma conclusão a fortiori (rumo ao elemento mais forte): “Se Deus é capaz de proteger dessa maneira o justo comum, quanto mais ele o fará contigo, que és seu Filho!”
É significativo que Satanás, nesta terceira tentação, cite uma grande palavra de fé da Escritura, do Sl 91, o salmo de fé do AT, a fim de desviar o Senhor (leia esse salmo de fé). Em que consiste o elemento tentador, o satânico, nessa terceira tentação? Em nossa opinião trata-se do seguinte: Jesus deve declarar-se publicamente como Messias, i. é, como Redentor do povo. Nessa notória proclamação, que ainda por cima aconteceria diante do santo templo em Jerusalém, Jesus deve agir com fé audaciosa. – Isso parece ser autenticamente bíblico e de acordo com a fé. Contudo, há um calcanhar de Aquiles em tudo isto: em um ato de fé tão arbitrário, a majestade e santidade de Deus não seriam honradas e respeitadas, mas desafiadas e coagidas. O relacionamento entre o Pai celeste e o Filho em peregrinação sobre a terra seria totalmente invertido. O Filho se tornaria Senhor, e o Pai seria degradado a servo! – Algo inconcebível! Na verdade era esse o pecado do próprio diabo, que queria apoderar-se como um ladrão da igualdade com Deus, que ele não possuía (bem ao contrário de Jesus, que desde a eternidade era essencialmente igual a Deus). – Ele pretendia seduzir Jesus para esse tipo de causa satânica.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica Esperança.

ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

2 comentários:

  1. Olá santo ! Deus continue te abençoando mais e mais nessa tarefa em publicar arquivos como estes, pois tem sido uma grande ajuda para os nossos professores da EBD.

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