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5° LIÇÃO 2° TRIMESTRE 2015 JESUS ESCOLHE SEUS DISCÍPULOS


JESUS ESCOLHE SEUS DISCÍPULOS
Quem eram os discípulos escolhidos por Jesus? Pessoas simples, habitantes de uma cidade sem importância para a antiga Palestina. Pessoas que não tinham alto grau de instrução, mas que acreditaram na mensagem do meigo nazareno.
Na presente aula, devemos ressaltar que o nosso Senhor não chamou os doze homens para serem apóstolos objetivamente, mas, primeiramente, para discípulos. Pessoas disponíveis a aprender, e igualmente, desaprender os equívocos aprendidos ao longo da vida religiosa e, principalmente, ansiosos em imitar o Mestre de Nazaré.
O discipulado de Jesus é assim. Chama pessoas, do ponto de vista humano, incapazes de desenvolver algum projeto de vida. E mostra-lhe o maior projeto que ser humano algum pôde imaginar: o Reino de Deus. Quando fomos chamados por Jesus a viver o Evangelho, percebemos que não estávamos prontos a dizer "sim" para o seu projeto. O nível do Evangelho é alto de mais para a nossa natureza caída. Mas ao despirmo-nos de nós mesmos e procurarmos ser mais parecido com Jesus, o Evangelho será parte da nossa vida e ficará impregnado à nossa natureza. Então passamos a ser uma nova criação, ter outra mente e outra perspectiva de vida que só encontramos com o meigo nazareno.
O chamado de Jesus é um convite para não mais olhar para si mesmo, uma convocação para olhar para o outro. Uma decisão de renunciar aos próprios anseios e uma atitude de viver a vida que não é mais sua, mas de Deus.
A mensagem do Reino de Deus é absolutamente oposta ao modo de o mundo comunicar seus valores às pessoas. O Reino de Deus não faz violência para convencer alguém de alguma ideia, enquanto que o sistema de vida mundano é violento, arrogante e predatório em convencer o outro acerca dos seus valores. Embora saibamos que os valores do mundo são destruidores para um projeto de vida digna, não fazemos terrorismo ou algo do tipo. Simplesmente somos chamados a sermos pescadores de homens, de almas, de sentimentos, de pessoas. Levar vida, onde há morte; paz, onde reina a guerra; alegria, onde reina a tristeza; bondade, onde reina a perversidade; esperança, onde reina a ausência dela.
Em Jesus, somos chamados a sermos arautos do Evangelho para pessoas sem Deus, sem dignidade, sem alegria de viver. Nele, todo dia somos estimulados a testemunhar com a vida a verdade daquilo em que acreditamos e cremos. Sim, Jesus, a nossa razão de ser. É o sentido último da nossa vida. Podemos dizer "sim" ao seu convite? — Vem e segue-me!
Revista ensinador. Editora CPAD. Ano 16 - N° 62. pag. 38.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
A Natureza do Chamado
Uma outra coisa posta em destaque diz respeito à natureza do chamado de Jesus. Esse chamado é de graça e não tem nenhum custo a mais. Todavia, o grau de compromisso dessa decisão é muito alto. Jesus não engana ninguém nem camufla as implicações envolvidas no seu chamado. E um chamado que deve ser aceito de forma consciente por aquele que o abraça (Mc 1.15).
Nesse aspecto o chamado é começar tudo de novo (Jo 3.3-8). O compromisso com o Reino e o chamado deve estar acima de qualquer vinculo familiar (Lc 9.60). Quem o acolheu não pode mais voltar atrás (Lc 9.62). E uma pérola preciosa e quem a achou deve se desprender de tudo para tê-la. Enfim quem o aceita deve se desprender de tudo para se dedicar a Ele (Mt 13.4446).
O Perfil dos Chamados
E interessante também o perfil dos chamados por Jesus. Figueira e Junqueira põe em evidência esses perfis. Eram humanos, limitados e imperfeitos.
Os exemplos:
Pedro — era generoso e entusiasta (Mc 14.29,31), mas, na hora do perigo e da decisão, o seu coração encolhia e ele voltava atrás (Mt 14.30; Mc 14.66-72).
Tiago e João - estavam dispostos a sofrer por Jesus (Mc 10.39), mas queriam ter mais poder que os outros (Mc 10.35-41), e eram temperamentais (Lc 9.54). Jesus deu-lhes o apelido de “filhos do trovão” (Mc 3.17).
Filipe — tinha muito jeito para colocar os outros em contato com Jesus (Jo 1.45,46), mas não era prático em resolver os problemas (Jo 6.5-7; 12.20-22). Jesus certa vez o censurou (Jo 14.8,9).
Natanael — era bairrista 0o 1.46), mas diante da evidência reconhece que Jesus é o Messias (Jo 1.49).
André - era mais prático. Foi ele que encontrou o menino com cinco pães e dois peixes (Jo 6.8,9).
Tomé - era generoso, disposto a morrer com Jesus (Jo 11.16). Mas também era cabeçudo e teimoso, capaz de sustentar a sua opinião, uma semana inteira, contra o testemunho de todos os outros (Jo 20.24,25).
Mateus — era publicano e como tal era excluído da religião judaica.
Simão - era Cananeu ou Zelote (Mc 3.18). Fazia parte de um partido dos zelotes que se opunha ao governo romano.
Judas - guardava o dinheiro do grupo (Jo 12.6; 13.29).
Joana — era esposa de Cusa, procurador de Herodes, que governava a Galileia. Junto com Susana e outras mulheres, ela seguia a Jesus e o servia com seus bens (Lc 8.2-3).
Maria Madalena — era nascida na cidade de Magdala. Jesus libertou-a de sete demônios (Lc 8.2).
Marta e Maria - eram irmãs, que junto com Lázaro, o irmão delas, viviam em Betânia, perto de Jerusalém (Jo 11.1).
Nicodemos - Era membro do Sinédrio, o Supremo Tribunal da época.
Jesus, o Discipulado e o Espírito Santo
Por último, desejo pôr em destaque o papel do Espírito Santo no discipulado. O terceiro evangelho, como faz em outras partes, aqui também põe os carismas do Espírito a serviço do discipulado. “Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar, até ao dia em que foi recebido em cima, depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera; aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias e falando do que respeita ao Reino de Deus. E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (At 1.1-5).
Lucas destaca que Jesus deu mandamentos aos apóstolos através do Espírito Santo (At 1.2). O Espírito Santo foi um instrumento eficaz no amoldamento dos discípulos de Jesus. Sem a participação efetiva do Espírito do Senhor nenhum programa de discipulado ou recrutamento cristão será eficaz.
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 63-65; 67.
A escolha que Jesus fez dos doze discípulos que gradualmente se reuniram ao seu redor é uma importante referência na história do evangelho.
Tal ato divide o ministério do nosso Senhor em duas partes provavelmente muito semelhantes quanto à duração, mas diferentes quanto à extensão e a importância do trabalho realizado em cada uma. No período inicial Jesjjs trabalhou sozinho; suas obras milagrosas estavam confinadas a uma área limitada, e seu ensino era, em sua maior parte, de caráter elementar. Mas na ocasião em que os doze foram escolhidos, a obra do reino "assumiu dimensões que requeriam organização e divisão de trabalho. O ensino de Jesus estava começando a ser de natureza mais profunda e elaborada, e suas atividades beneficentes estavam crescendo muito.
E provável que a escolha de um número limitado de discípulos para ser seus companheiros íntimos e constantes tenha se tornado uma necessidade para Cristo, em conseqüência de seu próprio sucesso ao fazer discípulos. Seus seguidores eram tão numerosos a ponto de serem um impedimento aos seus movimentos, especialmente nas longas jornadas que marcam a parte posterior de seu ministério. Era impossível que todos os que criam pudessem então continuar a segui-lo de modo literal, para onde quer que Ele fosse: o grande número de pessoas agora poderia ser apenas de seguidores ocasionais. Mas era seu desejo que alguns homens escolhidos estivessem consigo em todos os momentos e em todos os lugares — seus companheiros de viagem em todas as suas jornadas, testemunhando toda a sua obra e ministrando às suas necessidades diárias. E assim, nas palavras singulares de Marcos: “E subiu ao monte e chamou para si os que ele quis; e vieram a ele. E nomeou doze para que estivessem com ele...
Estes doze, contudo, como sabemos, deveriam ser mais que meros companheiros de viagem ou servos comuns do Senhor Jesus Cristo. Eles deveriam ser, então, aprendizes da doutrina cristã, e ocasionais cooperadores das obras do reino, e mais tarde agentes treinados, escolhidos por Cristo para propagar a fé depois que Ele deixasse a terra. A partir do momento em que foram escolhidos, de fato, os doze iniciaram um aprendizado regular para o grande ofício do apostolado, no curso do qual deveriam aprender, na privacidade de um relacionamento íntimo diário com seu Mestre, como deveriam ser, agir, crer, e ensinar como suas testemunhas e seus embaixadores no mundo. Doravante o treinamento desses homens deveria ser uma parte constante e proeminente da obra pessoal de Cristo. Ele os orientava à noite a respeito do que deveriam falar de dia, e falava aos seus ouvidos o que nos anos posteriores anunciariam publicamente.
A ocasião em que ocorreu essa eleição (embora não se conheça tal data com precisão) é fixa em relação a certos eventos-chave da história do evangelho. João se refere aos doze como uma companhia organizada na ocasião em que o Senhor realizou o milagre de alimentar mais de cinco mil pessoas, e do discurso sobre o Pão da vida na sinagoga de Cafarnaum, proferido pouco tempo após aquele milagre. Desse fato aprendemos que os doze foram escolhidos pelo menos um ano antes da crucificação; pois o milagre da multiplicação dos alimentos ocorreu, de acordo com o quarto evangelista, logo após a festa da Páscoa. A partir das palavras ditas por Jesus aos homens que havia escolhido, transmitindo a sua pergunta em relação à fidelidade devida a ele depois da multidão tê-lo abandonado: “Não vos escolhi a vós os doze? E um de vós é um diabo”4, concluímos que a escolha não era tão recente. Os doze haviam estado juntos durante tempo suficiente para dar ao falso discípulo a oportunidade de mostrar o seu verdadeiro caráter.
Voltando agora aos evangelistas sinópticos, encontramo-los tentando estabelecer a posição da eleição em referência a dois outros eventos ainda mais importantes. Mateus fala pela primeira vez dos doze como um corpo distinto em relação à sua missão na Galiléia. Ele não diz, contudo, que foram escolhidos imediatamente antes e com referência direta a tal missão. Antes, fala como se a fraternidade apostólica já existisse anteriormente, sendo estas as suas palavras: “E, chamando os seus doze discípulos...”
Lucas, por outro lado, faz um relato formal da eleição, como um prefácio de seu relatório do Sermão ia Montanha, dando a impressão de que um evento ocorreu logo após o outro5. Finalmente, a narrativa de Marcos confirma o ponto de vista sugerido por essas observações de Mateus e Lucas, isto é, os doze foram chamados pouco antes da realização do Sermão da Montanha, e um tempo considerável antes de terem sido enviados em missão para pregar e curar. Está escrito: “E subiu ao monte (t )6 e chamou para si os que ele quis” — a subida obviamente se refere à ocasião em que Jesus subiu antes de pregar seu grande discurso.
Marcos continua: “E nomeou doze para que estivessem com ele e os mandasse a pregar e para que tivessem o poder de curar as enfermidades e expulsar os demônios”. Aqui há uma alusão feita a uma intenção da parte de Crist® de enviar seus discípulos em uma missão, mas a intenção não é representada e imediatamente executada. Nem pode ser dito que a execução imediata esteja implícita, embora não tenha sido expressa; o evangelista faz um relato da missão como consta em vários capítulos seguintes em seu Evangelho, iniciando com estas palavras: “Chamou a si os doze, e começou a enviá-los de dois a dois...
Deve ser considerado, então, como toleravelmente certo, que o chamado dos doze tenha sido um prelúdio à pregação do grande sermão sobre o reino, em cuja fundação eles teriam, posteriormente, uma participação ainda mais distinta. Não podemos determinar com exatidão em que período do ministério de nosso Senhor o sermão em si deve ser precisamente alocado. Nossa opinião, contudo, é que o Sermão da Montanha foi proferido próximo ao primeiro ministério prolongado de Cristo na Galiléia, durante o tempo passado entre as duas visitas a Jerusalém em ocasiões de festas mencionadas no segundo e no quinto capítulo do Evangelho de João.
O número da companhia apostólica é significativo e, sem dúvida, uma questão de escolha, assim como a composição daquele grupo seleto.
Um número maior de homens elegíveis poderia ser facilmente encontrado no círculo de discípulos que, mais tarde, não se tornou menor que setenta auxiliares na obra evangelística; e um número menor pode ter servido a todos os propósitos presentes ou futuros do apostolado. O número doze foi recomendado por óbvias razões simbólicas. Expressava de uma forma feliz e figurada o que Jesus reivindicava ser e o que veio fazer e, deste modo, fornecia apoio à fé e estímulo à devoção de seus seguidores. Isto sugeriu de forma significativa que Jesus era o divino Rei messiânico de Israel, que veio para estabelecer o reino cujo advento fora anteriormente previsto pelos profetas em linguagem fervorosa, sugerida pelos dias de felicidade da história de Israel, quando a comunidade teocrática existia em sua integridade, e todas as tribos da nação escolhida eram unidas sob a casa real de Davi. Sabemos que o número doze estava designado a conter tal significado espiritual através das próprias palavras de Cristo aos apóstolos em uma ocasião posterior, quando, ao descrever as recompensas que os esperavam no reino pelos serviços e sacrifícios prestados, Ele disse: “Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho «do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel”.
E possível que os apóstolos conhecessem muito bem a importância espiritual do seu número, e tenham encontrado nele o encorajamento para a terna e ilusória esperança de que a vinda do reino não deveria ser apenas um cumprimento espiritual das promessas, mas uma restauração literal de Israel em relação à sua independência e integridade política. O risco de tal equívoco era um dos obstáculos relacionados ao número doze em particular, mas não foi considerado por Jesus como uma razão suficiente para estabelecer outro. Seu método de procedimento nesse caso, como em todas as coisas, era continuar o que era verdadeiro e certo, e então corrigir os equívocos à medida que surgissem.
A. B. BRUCE. O Treinamento Dos Doze. Editora CPAD. pag. 45-48.
I - O MESTRE
1. SEU ENSINO.
Aqui Jesus conclui o seu discurso—«Quando Jesus acabou de proferir estas palavras...» expressão essa nem sempre encontrada apôs os principais discursos de Jesus, no evangelho de Mateus. Essas palavras assinalam a conclusão de cada um dos cinco trechos principais dos "discursos (ensinos) de Jesus, em Mateus. Tal expressão se acha também em 11:1; 13:53; 19:1 e 26:1. Essas cinco principais secções formam a base sobre a qual foi escrito) o evangelho. Essas secções são 1. Caps. 3 a 7. 2. Caps. 8 a 10. 3. Caps. 11a 13. 4. Caps. 14 a 18. 5. Caps. 19 a 25. Os capítulos 26 a 28 formam a conclusão, sem discursos de ensinos.
^Maravilhadas», ‘lespantadas». Literalmente, são expressões fortes como «fora de si» ou “atônitas”. As amostras dos discursos dos rabinos, na Miskna, na Gemara e no Talmude, usualmente eram secas, insípidas, desconjuntadas, que continham declarações desconexas sobre todos os problemas humanos. P^ciam ter receio de falar, a nâo ser com o apoio de ãlgum antecessor. Tem', todavia, grandes trechos no Talmude. Jesus falava por si mesmo, escudado em sua própria autoridade, pelo Espírito de Deus, na hora certa; mas até hoje hâ casas (vidas) edificadas sobre a areia, e por isso caem. Ver nota sobre o Talmude, em Marc. 7:3.
Alguns mss, como C(l) 33, e certo número de versões latinas e siríacas, adicionam, no fim destes versículos, «...e os fariseus». Não é acréscimo autêntico. Talvez tenha resultado de uma extensão natural do texto. Entre as traduções, somente F contém o acréscimo. Ver nota detalhada sobre os «escribas», em Marc. 3:22; sobre os «fariseus», em Marc. 3:6; e sobre os «saduceus», em Mat. 22:23; e também sobre o «sinédrio», em Mat. 22:23.
Principais diferenças entre Cristo e as autoridades religiosas dos judeus:
1. Jesus falou sobre coisas de grave importância, e não sobre ritos, lavagens, etc. 2. Jesus praticava o que ensinava. 3. Jesus ensinava com energia e clareza notáveis. 4. Jesus confirmava os seus ensinos por meio de milagres, comprovando assim que era aprovado por Deus. 5. Jesus ensinava como quem tem o direito de acrescentar ensinos à lei, qual novo Moisés, e nâo como as autoridades religiosas dos judeus, que sempre citavam outros, por lhes faltar autoridade pessoal. 6. Jesus sempre falou para aumentar a glória do Pai, ao passo que muitos falavam só para aumentar a glória e a reputação de si mesmos entre os homens. 7. Jesus tinha o poder de outorgar compreensão aos seus ouvintes (graça divina). S. A doutrina de Jesus era perfeita e espiritual,—com os conceitos humanos acrescidos à lei pelas autoridades religiosas. 9. Jesus falava como Messias, Rei do reino dos céus, posiçâo essa que os mestres da lei nâo tinham o direito de imitar. 10. Jesus àlava como ser desenvolvido, mesmo sendo homem, algo que os outros não obtiveram.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 337.
Nos dois últimos versículos, tomamos conhecimento da impressão criada pelo diseurso de Cristo nos seus ouvintes. Foi um excelente sermão, provável que Ele tenha falado muito mais, porém estas palavras não foram registradas. Sem dúvida, as palavras que saíram da sua boca, de cujos lábios se derramava a graça, contribuíram poderosamente para isso. Portanto:
1. Eles ficaram admirados com a sua doutrina. Acredita-se que poucos tenham sido levados a segui-lo, mas naquele momento todos ficaram maravilhados. Veja bem: Será que é possível acreditar que as pessoas admirem um bom sermão e ainda assim permaneçam na ignorância e na incredulidade? Ficam admiradas, mas não se tornam santificadas?
2. Talvez a razão disso seja que, apesar de ensinar com autoridade, Ele não era como os escribas. Os escribas pretendiam ter a mesma autoridade de qualquer um dos mestres, e eram apoiados por todas as vantagens externas que conseguiam. Porém, a sua pregação era pobre, vazia e insípida. Falavam como se não fossem mestres daquilo que pregavam, suas palavras não vinham de alguém que tivesse força ou vida, e repetiam as palavras como os alunos repetem as lições. Mas Cristo pronunciava o seu discurso da mesma maneira que um juiz pronuncia uma sentença. Ele realmente fazia seus discursos com um tom de autoridade. Suas lições eram leis, e a sua palavra era uma palavra, de comando. Cristo, sobre a montanha, mostrava mais autoridade que os escribas na cadeira de Moisés. Dessa forma, quando Cristo ensina às almas através do seu Espírito, Ele ensina com autoridade. Ele disse: “Haja luz. E houve luz” .
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 90.
Quando Jesus parou de falar, a grande multidão, que fascinada o ouvia, estava em estado de espanto. Em nosso idioma é muito difícil, talvez impossível, reproduzir o exato sabor do pitoresco verbo usado no original para descrever o estado do coração e da mente do povo. As várias versões em português traduzem o termo por “maravilhadas” (Atualizada), “admirou-se” (Corrigida), “extasiadas” (Bíblia de Jerusalém). The Amplified New Testament traz: “estavam atônitos e dominados de perplexa admiração." Essas traduções são todas elas muito úteis. O significado literal do original é “ficaram como que fora de si”. Tem-se sugerido “tirados de seus sentidos”. Compare-se também com o alemão “ser trazido para fora de si” (Lenski, op. cit., p.305) e o holandês “derrotados para fora do campo ”. O tempo do verbo mostra que esse estado de assombro não foi só uma experiência momentânea, mas que durou algum tempo. Poder-se-ia muito bem perguntar: Quais foram algumas das razões desse sentimento de admiração e assombro? Mt 13.54,55 poderia fornecer parte da resposta. Não obstante, com base no próprio sermão e em 7.28 (“não como os seus escribas”), os seguintes temas merecem consideração: a. Ele falava a verdade (Jo 14.6; 18.37). O arrazoado corrupto e evasivo caracterizava os sermões de muitos dos escribas (Mt 5.21 ss.).
b. Ele apresentava assuntos de grande relevância, questões de vida, morte e eternidade (ver todo o sermão). Eles com freqüência desperdiçavam seu tempo com trivialidades (Mt 23.23; Lc 11.42).
c. Havia sistema na pregação de Jesus. Segundo o Talmude deles comprova, eles com freqüência divagavam sem parar.
d. Ele excitava a curiosidade ao fazer uso generoso de ilustrações (5.13-16; 6.26-30; 7.24-27; etc.) e exemplos concretos (5.21—6.24; etc.), como o sermão o revela do princípio ao fim.
Os discursos deles eram com freqüência áridos como o pó.
e. Ele falava como aquele que amava os homens, como aquele que se preocupava com o bem-estar eterno de seus ouvintes e apontava para o Pai e seu amor (5.44-48). A falta de amor por parte deles é evidente com base em passagens tais como 23.4,13-15; Mc 12.40; etc.
f. Finalmente, e este aspecto é o mais importante, pois ele é especificamente declarado aqui (v.28). Ele falava “com autoridade” (Mt 5.18,26; etc.), porque sua mensagem vinha diretamente do coração e mente do Pai (Jo 8.26), daí também vir do mais profundo de seu próprio ser e das Escrituras (5.17; 7.12; cf. 4.4,7,10). Eles estavam constantemente aproveitando fontes falíveis, citando um escriba ou outro. Eles tentavam tirar água de cisternas rotas. Ele extraía de si mesmo, pois era (e é) “a fonte de águas vivas” (Jr 2.13).
HENDRIKSEN. William. Comentário do Novo Testamento. Mateus I. Editora Cultura Cristã. pag. 540-541.
2. SEU EXEMPLO.
O supremo exemplo:
1. Três coisas um pai deve a seus filhos, três coisas um mestre deve a seus alunos: Exemplo... exemplo... exemplo.
2. Jesus deu o supremo exemplo, ver notas em Fil. 2:3-11.
3. Paulo servia de um subexemplo notável, ver notas em I Cor. 11:1.
4. Há algumas crenças que têm grande importância. Certamente, uma delas é: seguir o exemplo de Cristo. Se seguires meu exemplo, poderás fazer as obras que eu faço e até maiores! (João 14:12). Deve haver poder nesse exemplo.
5. Não basta saber; é mister seguir. Senhor, não é de conhecimento que precisamos; é de força de vontade.
6. O versículo nos deixa bracejando em águas profundas. Quem é o Ideal? Do que consiste a vereda? C risto é o ideal; e o seu cam inho é a vereda. Pode o homem mortal atingir esse alvo? Em seu Espírito, sim; mas jamais por iniciativa própria apenas.
7. O exemplo específico que aqui nos é recomendado seguir é o do serviço humilde prestado ao próximo. Jesus destacou, no versículo seguinte, que essa é a essência mesma da grandeza autêntica.
O último pensamento destacado neste versículo pelo autor sagrado é ouve dos púlpitos evangélicos, porque expressa não só a necessidade da conformidade moral com Deus, mas também a própria participação em sua natureza.
Whittier expressou esse conceito como segue:
Por tudo quanto ele requer de mim, Sei o que Deus deve ser.
Essa verdade, ainda que de formam odificada, tam bém tem transparecido no sistema do estoicismo, conforme é expressa, ainda que debilmente, nesta citação de Sêneca: «Precisamos escolher algum homem bom, tendo-o sempre diante dos olhos, para que vivamos como se ele nos vigiasse e para que pratiquemos tudo como se ele nos estivesse vendo». Se substituirmos aqui homem bom por «Deus», teremos atingido em cheio a verdade encerrada nesta passagem do evangelho de João.
John Stuart Mill ( Três Ensaios sobre a Religião ) descobriu o princípio contido neste texto, e, considerando-o elevadíssimo, comentou: «Até hoje não seria fácil, mesmo para um incrédulo, encontrar melhor exemplo da regra da virtude, passando-a do abstrato para o concreto, do que esforçar-se alguém por viver de tal modo que Cristo aprove».
Além disso, salienta-se a necessidade de alguma alma grande e nobre seguir à frente das outras, a fim de guiar no caminho, preparando-lhes a vereda, pela qual todos finalmente terão de seguir e da qual se beneficiarão, conquistando, eventualmente, o mesmo terreno que foi conquistado pelo pioneiro; Esse ideal teve o seu cumprimento na pessoa de Jesus.
«Não é tanto aquilo que vos tenho feito, e, sim, como eu vos fiz, façais vós também. A imitação não deve ser realizada senão mediante a aplicação do mesmo princípio de amor e de abnegação, em todas as variegadas circunstâncias da vida em que somos postos». (Ellicott, in loc.): No tocante à questão do serviço humilde e mútuo, entre os crentes, Jesus estabeleceu o grande exemplo. Ele baixou-se a fim de lavar os pés de seus discípulos, embora, mais do que qualquer outro, ele é quem deveria ter sido servido. A vida inteira, pois, deve servir-nos de palco no qual atos de serviço humilde, em favor de nossos semelhantes, devem ser feitos; e isso com o propósito de exibir o espírito humilde demonstrado por Jesus, em nossa vida. A exposição acima tem procurado enfatizar os aspectos simbólicos e espirituais do ato do lava-pés, realizado por Jesus em favor dos discípulos; e também tem salientado como em todas as facetas da vida, devemos seguir o exemplo de humilde serviço humanitário. Porém, dar atenção exclusiva a essa parte do sentido do texto sagrado é fazer injustiça ao versículo que ora consideram os. O autor deste evangelho obviam ente tencionava que a cerim ônia do lava-pés fosse p raticad a pela igreja cristã inteira, como símbolo daquele serviço leal que devemos incorporar no coração mesmo de nossas vidas cristãs. Os versículos catorze e quinze deste décimo terceiro capítulo servem de defesa da perpetuidade e da obrigação dessa prática; porquanto a leitura simples e honesta dos mesmos convence qualquer crente sincero do que não é fácil qualquer outra interpretação. (Quanto a um tratamento completo acerca da obrigação (ou da não-obrigação) dessa prática do lava-pés, conforme ela tem sido encarada pela igreja cristã, através dos séculos, ver as notas expositivas referentes ao vs. 5 deste mesmo capítulo).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 506.
Jo 13:15 / exemplo, para que façais o que eu fiz: o contexto demonstra que Jesus tem em mente primordialmente um exemplo moral. Contudo, de modo algum fica excluído o exemplo litúrgico (i.e., os discípulos em seu culto deverão literalmente encenar o simbolismo do lava-pés). Isso é verdade de forma especial à luz do fato que, neste Evangelho, o ato simbólico de lavar os pés substitui o ato simbólico da instituição da Ceia do Senhor. João conhece, ou está advogando, a prática do lava-pés nas comunidades cristãs com as quais está familiarizado. Essa prática seria um meio de a comunidade cristã dramatizar a responsabilidade de seus membros de serem servos uns dos outros e, desse modo, concretizar integralmente no mundo o perdão e o amor de Jesus.
Entretanto, não é provável que João tenha em mente estabelecer uma “ordenança” ou um “sacramento”, o lava-pés, a fim de com ele substituir a Ceia do Senhor, que está no centro do culto cristão. A omissão da Santa Ceia no Evangelho de João explica-se, talvez, pela inclusão, antes, do sermão da sinagoga, cujo tema é o pão da vida (esp. 6:52-58), que tomou supérfluo o registro da instituição da Ceia do Senhor. Se João houvesse considerado o lava-pés como prática litúrgica, provavelmente o teria visto como apenas uma parte do que aconteceu ao redor da mesa do Senhor, talvez como preparativo para a eucaristia propriamente dita.
J. Ramsey Michaels. Comentário Bíblico Contemporâneo. João. Editora Vida. pag. 256.
Jo 13.15 ―Porque eu vos dei um exemplo, para que vós façais como eu vos fiz.‖ Representa uma distorção do evangelho se virmos em Jesus apenas um ―exemplo‖, ao qual queremos imitar com nossas próprias forças. Nessa leitura se ignoraria o que Jesus disse em Jo 3.1ss ao sério fariseu Nicodemos sobre a necessidade do novo nascimento. Por outro lado, também não podemos nem devemos negar que Jesus é ―exemplo‖. Em consonância, ele próprio está se colocando a seus discípulos como ―exemplo‖ precisamente em sua função apostólica. Acrescenta-se que no grego a palavra ―como‖ (kathos) não possui apenas um sentido comparativo, mas também uma conotação de justificativa. Devem ―fazer como Jesus fez‖; porém somente podem fazê-lo porque Jesus agiu primeiro dessa forma com eles.
Werner de Boor. Comentário Esperança Evangelho de João. Editora Evangélica Esperança.
II - O CHAMADO
1. O MÉTODO.
O Recrutamento
A forma como Jesus chama as pessoas é bastante simples e variada. Muitas vezes Jesus toma iniciativa no chamado. Ele vê as pessoas e as chama (Mc 1.16-20). Mas em outros casos este chamado se dá através da rede de entrelaçamento familiar quando um membro da família conduz algum parente ou amigo até Jesus (Jo 1.40-42; 45-46). João, o batista, também tem participação nesse chamado quando orienta seus discípulos a seguir o Mestre (Jo 1.35-39). Em outros casos as pessoas decidem espontaneamente seguir Jesus (Lc 9.57,58; 61,62).
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 63.
Nós o vemos orando a Deus, a sós, v. 12. Este evangelista menciona freqüentemente os retiros de Cristo para nos dar um exemplo de oração a sós pela qual mantemos diariamente nossa comunhão com Deus, e sem a qual é impossível que a alma possa evoluir. Naqueles dias em que seus inimigos estavam cheios de ódio contra Ele, e estavam conferenciando sobre o que lhe fariam, Ele saiu para orar. Esta atitude foi tipificada por Davi (SI 109.4): “Em paga do meu amor, são meus adversários; mas eu faço oração”. Observe: 1. Ele estava sozinho com Deus. E le “subiu ao monte a orar”, onde não seria perturbado ou interrompido. Nós nunca estamos mais sós do que quando estamos assim sozinhos. Pareceme muito incerto o pensamento de alguns, de que houvesse algum lugar conveniente construído nessa montanha para pessoas religiosas se retirarem para as suas devoções particulares, e que aquele oratório ou local de oração seja indicado aqui por he proseuche tou theou. Ele subiu ao monte em busca de privacidade, e por essa razão, provavelmente, não iria a um lugar freqüentado por outras pessoas. 2. Ele ficou muito tempo sozinho com Deus: Ele “passou a noite em oração a Deus”. Alguns pensam que meia hora é um tempo longo demais para dedicarmos às nossas devoções particulares; mas Cristo permaneceu a sós durante a noite inteira em meditação e oração. Nós temos muitos assuntos para apresentar diante do trono da graça, e deveríamos nos comprazer muito na comunhão com Deus. E devido a essas duas razões, devemos dedicar longos períodos à oração.
Nós o temos nomeando seus acompanhantes imediatos como sua família, que deveriam ser constantes ouvintes da sua doutrina e testemunhas oculares de seus milagres - para que no futuro pudessem ser enviados como apóstolos, seus mensageiros para o mundo, para pregar seu Evangelho e estabelecer nele a sua igreja, v. 13. Depois que Ele havia permanecido a noite toda em oração, poder-se-ia pensar que quando fosse dia, Ele descansaria e dormiria um pouco. Mas não foi assim. Logo que amanheceu, Ele “chamou a si os seus discípulos”. Servindo a Deus, nossa grande preocupação deveria ser não perder tempo, mas fazer, do fim de um bom trabalho, o início de outro. Os ministros cristãos devem ser ordenados mais com oração do que com simples solenidades. O número de apóstolos era doze: Ele “escolheu doze deles”. Os seus nomes estão registrados aqui - é a terceira vez que nós os encontramos, e em cada uma das três passagens a ordem deles difere. Este exemplo serve para ensinar tanto aos ministros quanto aos cristãos em geral a não serem exigentes quanto à primazia, nem ao dá-la nem ao recebê-la, mas olhar para ela como algo sem importância; não importa quem seja mencionado primeiro, e quem seja mencionado depois. Aquele que em Marcos é chamado Tadeu, e em Mateus “Lebeu, apelidado Tadeu”, é aqui chamado de “Judas, filho de Tiago”, o mesmo que escreveu a epístola de Judas. Simão é chamado de “Simão, chamado Zelote”, talvez por seu grande zelo pela religião. No tocante a esses doze aqui nomeados nós temos razão para dizer, como a rainha de Sabá disse dos criados de Salomão: “Bem-aventurados os teus homens, e bem-aventurados estes teus servos, que estão sempre diante de ti e ouvem a tua sabedoria!” Homem nenhum havia sido tão privilegiado como estes, e ainda assim um deles tinha um demônio, e demonstrou ser um traidor (v. 16). Apesar disso, quando o escolheu, Cristo não se enganou a respeito dele.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 563.
Jesus passou a noite nas montanhas, vigiando em oração. Mais de uma vez Lucas salientou essa necessidade íntima que o Redentor tinha de orar, que com freqüência impelia Jesus a lugares ermos (Lc 4.42; 5.16). Contudo os termos aqui utilizados contêm uma ênfase muito especial. A palavra “vigiar por toda a noite” ocorre unicamente aqui.
A escolha dessa expressão incomum, bem como a forma verbal analítica (imperfeito e particípio), destacam a persistência determinada e incessante dessa vigília noturna. A expressão proseuché tou theou, literalmente “oração de Deus”, é também única no Novo Testamento. Essa formulação não designa nenhum pedido peculiar, mas um estado da mais profunda devoção na presença santa e direta de Deus, uma invocação que transita para a mais íntima comunhão com Deus. Durante essa noite Jesus apresentou a Deus sua obra no estágio decisivo em que ingressara naquele momento, aconselhando-se com ele. Durante essa longa luta de oração, por toda a noite, Jesus provavelmente havia apresentado todos os seus discípulos individualmente a seu Pai, para que o Pai designasse aqueles que o Filho deveria tornar emissários da salvação. O que será que os discípulos, que haviam se ajuntado em grande número em torno de Jesus, sentiram quando Jesus, como um general, chamou um por um do meio deles, até que ficasse completo o número dos doze?
“Simão”, começou ele. Com quanta expectativa cada novo nome era aguardado! Com que estremecimento cada um ouvia, então, o chamado do próprio nome. Dentre o grupo de discípulos “ele escolheu os doze”, “aos quais também chamou de apóstolos”. Isso é significativo. Os demais discípulos tiveram de tolerar que esses doze obtivessem uma posição especial do Senhor. O Redentor os havia escolhido em virtude de ordem divina. Deus é soberano.
Os discípulos não têm outra opção a não ser obedecer a esse Senhor extraordinário. “Chamou-os a si”. Mas, se desejou aqueles que o Pai lhe concedeu, de agora em diante sabemos a quem recorrer quando desejamos chegar ao Pai. Porque ele os “ordenou” para duas finalidades.
1) Primeiramente, devem estar junto dele. Devem perseverar com ele em suas tentações até chegarem ao Getsêmani; afinal, devem tornar-se testemunhas dele até os confins do mundo (At 1.8). Precisavam conhecer suas “horas silenciosas”, conviver com ele no dia-a-dia, observar seu trabalho, obter uma visão dos mistérios de sua sabedoria de educador, e até mesmo familiarizar-se com os objetivos de sua ação.
2) O segundo aspecto é que eles partilharão de sua autoridade. Dessa maneira ele providencia, de certo modo, pernas e pés, línguas e lábios que levem adiante sua obra.
Mateus relata a convocação e o credenciamento dos apóstolos em uma ocasião (Mt 10.1ss), e Lucas o faz em dois trechos, mais precisamente como segue: de acordo com Lucas, o primeiro passo de Jesus foi nomeá-los, provavelmente para que passassem a ser seus alunos de modo especial. Isso aconteceu aqui em Lc 6.12-16. A capacitação é relatada em Lc 9.1-6, onde Jesus lhes confere a autoridade para servir como apóstolos. O relato mais preciso indica que esse deve ter sido o processo. Mateus reúne em uma só ocasião as duas ações de Jesus. Isso tem a ver com sua característica de enfatizar tão-somente o aspecto doutrinário e fundamental.
Dessa forma o Redentor obteve, portanto, um grupo de auxiliares para sua obra. Ele, o maravilhoso canal da poderosa benignidade de Deus, fora multiplicado por doze. Mas de antemão os doze não obtiveram nem poder nem incumbência para a ação espiritual propriamente dita.
Quanto ao título “apóstolo”, cf. o exposto no Comentário Esperança, Marcos, sobre Mc 3.13-19, bem como Jo 17.18; 20.21; At 1.8. Essas passagens não devem levar à conclusão que a tarefa dos apóstolos consistia tão somente em ser testemunhas de Jesus. O próprio nome expressa mais, cf. 2Co 5.20: “Somos mensageiros de Cristo… e rogamos que vos reconcilieis com Deus.”
Com a escolha dos doze estava organizada a obra de Jesus. Passou do estágio de fenômeno local e isolado para o estágio de instituição que abrange e cuja intenção arrebata povos e épocas. A obra do Senhor obteve um solo histórico firme e uma perspectiva clara para o futuro, com todas as suas esperanças e todos os seus perigos.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica Esperança.
A escolha dos Doze (6:12-16)
12. Mais uma vez, a referência ao tempo em Lucas é vaga {Naqueles dias). Não está dedicando sua atenção à seqüência exata. Jesus estava enfrentando uma decisão momentosa. Os incidentes anteriores demonstraram que Seus inimigos estavam aumentando. Um dia, O matariam. O que deveria Ele fazer? Caracteristicamente, Lucas nos diz que Ele orava. E então, escolheu um grupinho de homens que continuariam Sua obra depois dEle.
13. Ao amanhecer, Jesus chamou a si os seus discípulos. Deve tratar-se de um grupo de pessoas que se ligaram a Ele de modo informal.
Um discípulo era um aprendiz, um estudante. No século I, o estudante não estudava simplesmente uma matéria; estudava com um mestre. Há um elemento de ligação pessoal no “discípulo” que falta no “estudante.” Deste grupo maior de aderentes, Jesus escolheu doze. Este é o número das tribos de Israel, número este que significa que Jesus estava estabelecendo o povo de Deus, o verdadeiro Israel. Em Jesus e nos Seus seguidores “as pessoas podiam ver uma dramatização do quadro vétêrotestamentário de Deus trazendo as doze tribos de Israel à terra prometida” (Tinsley). Jesus nunca estabeleceu uma organização. Estes doze homens representam a totalidade da Sua máquina administrativa. Alguns deles eram claramente homens de destaque, mas, de modo geral, parecem ter sido nada mais do que medianos. A maioria deles deixou pouquíssimas marcas na história da igreja. Jesus preferia operar, naqueles tempos como também agora, através de pessoas perfeitamente comuns.
A estes doze Jesus deu o nome de apóstolos. O termo é derivado do verbo “enviar" e significa “uma pessoa enviada ” “um mensageiro.” Lucas emprega a palavra seis vezes (com mais vinte e oito em Atos), ao passo que cada um dos demais Evangelistas a emprega uma só vez (é possível que Marcos a tenha duas vezes, dependendo da solução de um problema textual). Nos Evangelhos, o grupo usualmente é referido simplesmente como “os doze.” Marcos explica que Jesus os escolheu “para estarem com ele e para os enviar a pregar, e a exercer a autoridade de expelir demônios” (Mc 3:14-15). Esta expressão ressalta a noção de missão e a centralidade da pregação na sua função.
14-16. Há variações mínimas na ordem, mas se dividirmos os nomes em três grupos de quatro, os mesmos nomes ocorrem em cada grupo em todas as nossas listas, O mesmo nome lidera cada grupo, embora varie a ordem dentro dos grupos. O primeiro nome em todas as listas é Simão. Jesus lhe deu outro nome, Pedro, que significa “Rocha.” Deste momento em diante, Lucas sempre emprega este nome, e nio Simão como anteriormente. Não diz quando o nome foi dado (ver Jo 1:42). O outro Simão é chamado Zelote. Talvez tenha pertencido ao grupo radical dos “Zelotes” que eram notórios por sua resistência violenta a Roma, ou o nome pode sugerir que era caracterizado por um zelo fogoso. Para Judas, filho de Tiago (outra vez em At 1:13) Mateus e Marcos têm Tadeu, que parece ser outro nome para o mesmo homem. Todas as três listas colocam Judas Iscariotes no fim, e mencionam sua traição, mas somente Lucas diz que se tomou traidor. Parece que era fiel no início. Iscariotes provavelmente significa “homem de Queriote,” uma cidade na Judeia (Js 15:25) ou em Moabe (Jr 48:24). Se for assim, Judas era o único não galileu entre os Doze.
Leon L. Morris. Lucas. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 118-119.
2. O CUSTO.
O Custo do Discipulado
No texto: A Educação no Antigo Israel e no Tempo de Jesus encontramos uma excelente exposição sobre o processo do chamado de Jesus. O texto põe em evidência alguns desses princípios. É dada atenção para o fato de que o chamado de Jesus não é algo que vem pronto e acabado, mas se constrói através de repetidas idas e vindas, de avanços e recuos. Tem início na beira do mar da Galileia (Mc 1.16), e termina com a ascensão (Mt 28.18-20). Depois da ressurreição começa de novo à beira do mesmo lago (Jo 21.2-17). É um recomeçar sempre!
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 63.
Como as pessoas eram zelosas ao seguirem a Cristo (v. 25): Ia com Ele uma grande multidão, muitos por amor e, talvez, um número ainda maior por companhia, porque onde houver muitas pessoas, outras tantas se aglomerarão. Aqui estava uma multidão mista, como aquela que foi com Israel na saída do Egito; podemos esperar que haja sempre a mesma situação na igreja. Portanto será necessário que os ministros façam uma cuidadosa separação entre os preciosos e os vis.
O zelo e a atenção que o Senhor espera dos seus seguidores. As vezes, aqueles que se comprometem a seguir a Cristo devem contar com o pior, e estar preparados apropriadamente.
1. O Senhor lhes diz qual é o pior com que eles devem contar. Em boa parte, eles poderiam esperar enfrentar muitas coisas que o próprio Senhor havia enfrentado antes deles, e por amor a eles. Ele sabia que eles queriam ser seus discípulos, para que pudessem estar qualificados a uma posição honrosa em seu Reino. Eles esperavam que Ele dissesse, “Se qualquer homem vier a mim, e for meu discípulo, terá riquezas e honras em abundância; Eu mesmo, sozinho, farei dele um grande homem”. Mas o Senhor lhes diz o contrário.
(1) Eles deveriam estar dispostos a abandonar aquilo que prezavam muito; deste modo, deveriam ir a Ele afastados de todos os confortos que agradam à criatura, estando mortos para eles, deixando-os alegremente em vez de abandonarem o seu interesse por Cristo, v. 26. Um homem não pode ser discípulo de Cristo a menos que aborreça seu pai, sua mãe, e sua própria vida. Ele não será sincero, constante e perseverante, a menos que ame mais a Cristo do que qualquer coisa neste mundo. Ele deverá estar disposto a deixar aquilo que pode e deve deixar, desde que este tipo de sacrifício possa ser um motivo de glorificação ao Senhor Jesus Cristo (assim como os mártires, que não amaram as suas vidas, mas foram fiéis até à morte). Também é necessário deixar tudo aquilo que possa ser como uma tentação, pois assim recebemos a capacidade de servir melhor a Cristo. Dessa forma, Abraão deixou a sua própria terra, e Moisés a corte de Faraó. Nenhuma menção é feita aqui de casas e terras; a filosofia ensina o homem a olhar estas coisas com desprezo; mas o cristianismo leva isto a um nível mais elevado. [11 Todo homem bom ama seus familiares. No entanto, se ele for um discípulo de Cristo, podem ocorrer algumas diferenças e ele pode não se dar com alguns; assim foi dito que Léia foi preterida enquanto Raquel foi mais amada. Não que as pessoas devam ser odiadas em qualquer grau, mas nosso conforto e satisfação nelas devem ser perdidos e eliminados através de nosso amor a Cristo, como aconteceu com Levi, quando disse a respeito de seu pai, Nunca o vi, Deuteronômio 33.9. Quando nosso devei' para com nossos pais competirem com nosso dever evidente para com Cristo, devemos dar-Lhe a preferência. Se tivermos que escolher entre negar a Cristo ou ser banidos do convívio com nossas famílias e parentes (como foram muitos dos primeiros cristãos), devemos antes perder a companhia deles do que perder o favor do Senhor. [2] Todo homem ama a sua própria vida, e nenhum homem jamais a odiou; e não podemos ser discípulos de Cristo, se não o amarmos mais do que à nossa própria vida. Podemos até ter uma vida angustiada pela escravidão cruel, ser eliminados por mortes cruéis, porém jamais podemos desonrar a Cristo, ou abandonar quaisquer de suas verdades e caminhos. A experiência dos prazeres da vida espiritual, e a crença nas esperanças e perspectivas da vida eterna, tornarão esta palavra tão dura, um pouco mais suave. Quando a tribulação e a perseguição surgirem por causa da Palavra, então podemos saber que estamos sendo provados; amamos mais a Cristo ou aos nossos familiares e à nossa vida? No entanto, mesmo em dias de paz, este assunto é às vezes trazido à prova. Aqueles que não se dispõem a servir a Cristo, e a aproveitar as oportunidades de comunhão com Ele, e se envergonham de confessá-lo por medo de ofenderem um parente ou amigo, ou de perderem um cliente, dão motivos para que se suspeite que eles amam mais a si mesmos do que a Cristo.
(2) Que eles devem estar dispostos a suportar aquilo que era muito pesado (v. 27): E qualquer que não levar sua cruz, como fizeram aqueles que foram condenados a serem crucificados, em submissão à sentença e em uma expectativa de sua execução, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo; isto é (diz o Dr. Hammond), este não é por mim; e o meu serviço que, certamente, traz consigo a perseguição, não será desempenhado por pessoas deste tipo. Embora os discípulos de Cristo não sejam todos crucificados, todos levam sua cruz como se contassem com a possibilidade de serem crucificados. Eles devem ficar contentes por receberem uma má reputação, e serem carregados de infâmia e desgraça; porque nenhum nome é mais ignominioso do que Furcifer – aquele que leva o patíbulo. Ele deve levar sua cruz, e seguir a Cristo; isto é, ele deve levá-la no caminho de sua obrigação, sempre que ela aparecer neste caminho. Ele deve levá-la, quando Cristo o chamar para ela; e, ao levá-la, deve ter Cristo em vista, e ser encorajado por Ele, e viver na esperança de ter uma recompensa da parte dele.
2. O Senhor os exorta a contar com isso, e então considerar.
Visto que Ele tem sido tão justo para conosco nos dizendo claramente quais as dificuldades que enfrentaremos ao segui-lo, sejamos também justos conosco, avaliando a questão seriamente antes de assumirmos uma profissão de fé. Josué obrigou o povo a considerar o que fizeram quando prometeram servir ao Senhor, Josué 24.19.
E melhor nunca começar do que não proceder; portanto, antes de começarmos, devemos considerar que jamais devemos abandonar nossa chamada. Isto é agir racionalmente, como cabe ao homem, e como fazemos em outras situações. A causa de Cristo produz um exame minucioso. Satanás mostra aquilo que parece melhor, mas esconde aquilo que é realmente o pior, porque o seu melhor não compensará o seu pior. Mas em se tratando de Cristo, o melhor que o Senhor Jesus tem a oferecer compensará abundantemente qualquer dificuldade que venhamos a enfrentar. A consideração disto é necessária para a perseverança, especialmente em períodos de sofrimento.
Nosso Salvador, aqui, ilustra a necessidade disso por meio de duas analogias, a primeira mostrando que devemos considerar os custos da nossa religião, e a segunda mostrando que devemos considerar os perigos dela.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 646-647.
Ainda que não seja dito expressamente, provavelmente trata-se aqui da lenta marcha pela Peréia até Jerusalém (Lc 13.32s). A adesão do numeroso séquito em sua caminhada estimulou-o a instruir o povo acerca do que realmente faz parte do tornar-se um verdadeiro discípulo. Estabeleceu condições para tornar-se seu discípulo, a fim de examinar o número de seus seguidores.
A exigência de odiar os familiares mais próximos e sua própria vida ocorre diversas vezes com variações secundárias quanto à forma literal. Mateus cita-a na instrução aos apóstolos (Mt 10.37-39) e nós a encontramos no anúncio de seu sofrimento (Lc 9.23s; Mc 8.34s; Mt 16.24s).
Pelo fato de que essa sentença doutrinária corresponde às ocasiões específicas respectivas, a forma de expressão do Senhor difere nas diversas passagens. Jesus emprega aqui a forte expressão “odiar pai, mãe, mulher, filhos e irmãos”. Até mesmo sem a versão mais amena em Mt 10.37-39 o leitor dessas palavras precisa convencer-se de que Jesus não visa descarrilar aqui os mandamentos do amor ao próximo e da honra aos pais (cf. Lc 10.27; 18.20). Mas o Senhor emprega a forte expressão “odiar” a fim de revestir a exigência de uma ênfase especial. Para entender esta palavra é preciso avaliar o contexto, pois fixar-se na letra leva ao mal-entendido. Odiar é o contrário de amar. No entanto, Jesus não está afirmando que o amor aos pais e familiares e à própria vida precisa converter-se em ódio. Não! O amor ao Senhor exige que se odeie tudo o mais no mundo no sentido de que é preciso acabar de vez com a busca unilateral e exclusiva por outro objetivo de vida. O discipulado de Jesus demanda a prontidão para sofrer até mesmo a morte mais cruel e infame por amor a Jesus. Por meio dessa exigência séria e de dura conotação, Jesus visa explicitar ao povo a entrega total do coração a ele. Suportar sofrimentos por causa de Jesus é descrito aqui figuradamente como carregar uma cruz. A expressão é retirada do costume de que os condenados à morte na cruz tinham de carregar pessoalmente sua cruz (cf. Mt 27.32). Jesus, portanto, demanda dos discípulos que levem a cruz ao local da execução junto com ele, que andem com ele rumo à morte.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica Esperança.
(25, 26) O parágrafo poderia ser intitulado: “Quem se qualifica como discípulo?” (vs. 26,27,33). Essas palavras foram ditas em vista da paixão de Jesus que estava próxima e deveriam separar o verdadeiro discípulo dos seguidores indiferentes. O primeiro teste do discipulado se referia aos parentes mais próximos (cf. 18:29). Jesus apoiava o amor familiar, mas mesmo este precisa ser subordinado ao amor a Deus. Aborrece é um termo duro, mas o paralelo em Mateus 10:37 indica que significa “amar menos” (também Gn 29:30; Dt 21:15). Além da família, a pessoa precisa amar a sua própria vida menos do que ama Jesus. Vida abrange todos os interesses mundanos, até mesmo o nosso próprio ser (cf. Jo 12:25).
(27) A cruz, sugerindo um criminoso desprezado seguindo para a sua morte terrível, amplia a ideia de aborrecer a própria vida (veja notas em 9:23). É preciso estar disposto, se necessário, a sofrer um destino assim horrível por causa de Jesus. Essas palavras teriam ainda maior significado para os cristãos depois da crucificação e ressurreição de Jesus (cf. G1 2:20; 6:14).
Anthony Lee Ash. O Evangelho Segundo Lucas. Editora Vida Cristã. pag. 235.
III - O TREINAMENTO
1. MUDANÇA DE DESTINO.
As Dimensões do Chamado
Ainda segundo o pensamento desses autores o discipulado de Jesus possui três dimensões:
• Tomar o Mestre como Exemplo
Jesus se torna o referencial na vida do discípulo (Jo 13.13-15).
• Ter participação na cruz
Seguir Jesus estava muito longe de algo meramente teórico. Seguir Jesus era sofrer com Ele, era participar de suas provações (Lc 22.28) e perseguições (Jo 15.20; Mt 10.24,25). Era se sujeitar a viver sob o peso da cruz e até mesmo morrer com Jesus (Mc 8.34,35; Jo 11.16).
• Viver a vida de Jesus
Essa nova dimensão vem logo após a ressurreição de Jesus e a vinda do Espírito Santo. Seus discípulos estão convictos de que Jesus vive neles através do Espírito Santo: “Vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim” (G1 2.20). Como seus seguidores, cheios do Espírito, e com a presença de Jesus no meio deles, agora continuam a obra que Jesus começou entre eles. Entregam-se totalmente à palavra de Deus e à oração.
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 65.
A respeito dos sofrimentos deles por Cristo.
Eles deveriam procurar não pensar em como evitar os sofrimentos dele, mas, antes, em se preparar para seus próprios sofrimentos.
1. Devemos nos acostumar a todos os exemplos de renúncia e paciência, v. 23. Este é o melhor preparativo para o martírio. Devemos viver uma vida de renúncia, mortificação, e desprezo em relação ao mundo. Não devemos ser indulgentes com nossa tranqüilidade e com nosso apetite, porque então será difícil suportar o trabalho árduo, as fadigas, e a necessidade, por Cristo. Estamos sujeitos diariamente à aflição, e devemos nos ajustar a ela, e concordar com a vontade de Deus para ela, e devemos aprender a suportar as dificuldades. Freqüentemente nos deparamos com cruzes no caminho da obediência; e, embora não devamos forçá-las sobre as nossas próprias cabeças, quando elas se apresentam no nosso caminho, devemos tomá-las, carregá-las após Cristo, e agirmos da melhor maneira possível.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 588.
1) Negar-se a si mesmo é despedir-se. Dar adeus à vontade própria, às inclinações e aos desejos pessoais, essa é a “negação de si mesmo” que nos cabe realizar.
Negar-se a si mesmo significa viver como se não nos importássemos mais conosco e nossa vontade.
2) Tomar sobre si a cruz refere-se ao fardo que devemos nos dispor a carregar. A cruz é a mais infame pena de morte que jamais existiu. Jesus compromete os seus com a morte. Ao mostrar-lhes o desfecho que esperava por ele em Jerusalém, asseverou-lhes: “Minha cruz mostra a vocês para onde eu conduzo. Vocês estão seguindo atrás de mim como expulsos, malditos, condenados à morte, iguais àqueles que carregam sua cruz para o local de execuções. Para essas pessoas, o mundo passou e a vida está encerrada; o que ainda têm diante de si é somente infâmia, dor e morte.”
A crucificação do “eu” acontece paulatinamente, de acordo com a medida determinada por Deus para cada um e para cada etapa da vida. É o que dizem as palavras “dia a dia” e “sua cruz”. A razão de Lucas para inserir a expressão “dia a dia” só pode ter sido que ele entendia esta exigência como uma ação constantemente repetida no discipulado de Jesus. A disposição de um seguidor do Senhor de contribuir pessoalmente para o desfecho penoso da vida dificilmente pode ser melhor explicitada do que por meio da figura do condenado que carrega a cruz; afinal, não há qualquer dúvida de que está indo ao encontro do doloroso sofrimento da morte.
3) Siga-me é o caminho que nos cabe percorrer, é andar a cada instante o caminho traçado por Cristo e em cada passo seguir as pegadas dele. Não se trata de mortificação pessoal, ou meio de santificação, ou atividade para o reino de Deus conforme o nosso próprio arbítrio! Desta forma, a vontade própria supostamente sacrificada na verdade apenas tornaria a manifestar-se.
Portanto, a frase “siga-me” não é uma repetição do primeiro: “Vem após mim!” Pelo contrário, ressalta a ideia mais profunda do ser discípulo. Expressa que o discípulo de forma alguma passa à frente do Mestre e tampouco deve esquivar-se furtivamente atrás dele, mas que o segue decididamente no cumprimento obediente da vontade de Deus, sedimentado em sua palavra e em seus mandamentos.
Talvez diversas pessoas agora digam: gostaria muito de assumir a cruz de acordo com a palavra do Senhor e entregar minha vida velha à morte. Já tentei diversas vezes negar a mim mesmo – mas subitamente descubro que minha velha natureza pecaminosa ainda não se afastou, mas continua exercendo uma poderosa influência sobre mim. Estas experiências realmente estão entre os fatos mais tristes de nossa vida interior. Felizes, porém, os que não se deixam abalar por isso, mas sempre recomeçam! Devem precaver-se do equívoco de pensarem que primeiro precisam abrir o caminho. Jesus foi à frente, e ao discípulo cumpre seguir. Cumpre erguer o olhar para ele, para a sua obediência, sua fidelidade quando o desânimo e o cansaço começam (Riggenbach).
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica Esperança.
Aqui Jesus estabelece as condições do serviço daqueles que o seguem.
(1) Negar-se a si mesmo. O que significa isto? Um grande erudito dá o significado seguinte: Pedro uma vez negou a seu Senhor. Disse: "Não conheço esse homem." Negar-nos a nós mesmos quer dizer: "Não me conheço a mim mesmo." É ignorar a existência de si mesmo. É tratar o eu como se não existisse. Quase sempre tratamos a nós mesmos como se nosso eu fora com muito o mais importante do mundo. Se queremos seguir ao Jesus devemos destruir o eu e nos esquecer de que existe.
(2) Tomar sua cruz. O que significa isto? Jesus sabia muito bem o que significava a crucificação. Quando era menino de uns onze anos, Judas o Galileo tinha encabeçado uma rebelião contra Roma. Tinha atacado ao exército real em Seforis, que estava a uns seis quilômetros de Nazaré. A vingança dos romanos foi rápida e repentina. Queimaram a cidade integralmente; seus habitantes foram vendidos como escravos; e dois mil rebeldes foram crucificados com o passar do caminho para que fossem uma terrível advertência para outros que queriam fazer o mesmo. Tomar nossa cruz significa estar preparados para enfrentar coisas como esta por nossa fidelidade a Deus; significa estar dispostos a suportar o pior que um homem nos possa fazer pela graça de ser fiéis para com Deus.
BARCLAY. William. Comentário Bíblico. Lucas. pag. 106.
2. MUDANÇA DE VALORES.
O Senhor os exorta a não ficarem apreensivos com os cuidados perturbadores e desconcertantes pelas coisas necessárias para a manutenção da vida: Não estejais apreensivos pela vossa vida, v. 22. Na parábola anterior Ele havia nos dado aviso contra o ramo da avareza do qual os ricos estão em maior perigo; ou seja, uma complacência sensual quanto à abundância dos bens deste mundo. Agora os seus discípulos poderiam pensar que não estavam correndo este risco, pois eles não tinham fartura nem variedade em que pudessem se gloriar.
Portanto, o Senhor aqui os adverte contra um outro ramo da avareza, ao qual eles estão mais sujeitos à tentação, o de terem apenas um pouco neste mundo (que, na melhor hipótese, era o caso dos discípulos, muito mais agora que haviam deixado tudo para seguir a Cristo), sentindo uma ansiosa solicitude pelas coisas que são necessárias para a manutenção da vida: “Não estejais apreensivos pela vossa vida, seja pela preservação dela, se estiver em perigo, ou pela provisão que deve ser feita para ela, seja de comida ou de roupas, o que comereis ou o que vestireis” . Esta é a advertência que o Senhor havia enfatizado, Mateus 6.25 e versículos seguintes. E os argumentos usados aqui são em boa parte os mesmos, tendo como propósito o nosso encorajamento para lançarmos todo o nosso cuidado sobre Deus, que é o modo correto de nos tranquilizarmos.
Uma busca excessiva e ansiosa das coisas deste mundo, mesmo das coisas necessárias, não é algo que convenha aos discípulos de Cristo (w. 29,30): “A despeito daquilo que outros façam, não pergunteis o que haveis de comer ou o que haveis de beber. Não andeis inquietos com preocupações confusas, nem vos canseis com trabalhos constantes. Não vos apresseis em perguntar o que haveis de comer ou beber como os inimigos de Davi que vagueavam buscando o que comer (SI 59.15) ou como a águia que, de longe, descobre a sua presa, Jó 39.29. Que os discípulos de Cristo, portanto, não apenas trabalhem pelo alimento, mas peçam-no a Deus todos os dias; que eles não tenham mentes duvidosas; me meteorizesthe - Não sejam como os meteoros no ar, que são lançados aqui e ali por todo vento; não subam ou caiam, como eles, mas mantenham uma constância em si mesmos; sejam equilibrados e firmes, e tenham seus corações fixos; não vivam em suspense cuidadoso; não deixem que suas mentes fiquem continuamente perplexas entre a esperança e o medo, permanecendo sempre angustiados”.
Que os filhos de Deus não fiquem apreensivos; porque:
(1) Isto seria agir como os filhos deste mundo: “Porque os gentios do mundo buscam todas essas coisas, v. 30. Aqueles que só buscam os cuidados do corpo, e não os da alma, só para este mundo, e não para o porvir, não olham além daquilo que comerão e beberão; e, não tendo um Deus totalmente suficiente para buscar e em quem confiar, eles se sobrecarregam com cuidados ansiosos sobre estas coisas. Mas isto não vos convém. Vós, que fostes chamados deste mundo, não deveis vos conformar com este mundo, nem andar no caminho deste povo, Isaías 8.11,12. Quando os cuidados excessivos dominam a nossa vida, devemos pensar: “O que sou eu, um cristão ou um pagão? Batizado ou não batizado? Sendo um cristão batizado, será que devo me igualar aos gentios, unindo-me a eles naquilo que buscam?”
(2) E desnecessário que eles estejam apreensivos com os cuidados pelas coisas necessárias para o sustento da vida; porque eles têm um Pai no céu que sempre cuida deles, que toma conta deles: “Vosso Pai sabe que necessitais delas, e considera isto, e suprirá todas as vossas necessidades de acordo com as riquezas da sua glória. Pois Ele é o vosso Pai, que vos fez sujeitos a estas coisas; portanto, Ele mesmo usará sua compaixão e suprirá todas elas. Vosso Pai, que vos sustenta, vos educa e reserva uma herança para vós, portanto, Ele cuidará para que não vos falte nada”.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 625-626.
Por causa disso, pelo fato de que a vida não depende de bens terrenos, porém exclusivamente de Deus, o crente não precisa preocupar-se ansiosamente. O crente não somente está livre da busca ávida por bens terrenos e do apego doentio aos mesmos (veja o oposto: o agricultor), mas está igualmente isento da torturante preocupação com as necessidades imperiosas do corpo. Porventura Deus, que concedeu o bem maior, a vida física, não poderia e não desejaria cuidar também da coisa menor, a saber, sua preservação?
A falta de confiança na providência paternal de Deus é desmascarada pela referência aos corvos, que não providenciam nem armazenam sua comida e apesar disso são alimentados por Deus. Lucas expressa-se com extrema precisão. Ele não afirma que os corvos não colhem, mas que não possuem depósitos nem paiol, e nem por isso morrem de fome. Ao contrário de Mateus, o presente evangelista cita os corvos, por ser proverbial o cuidado que Deus tem com seus filhotes (Jó 38.41; Sl 147.9).
A santa despreocupação que Jesus recomenda aos discípulos não tem nada a ver com descuido leviano. Preocupar-se confiando na bondade paternal de Deus impele à oração denodada, mas ao mesmo tempo também ao trabalho dedicado. Jesus critica a preocupação que acredita que tudo depende unicamente de si mesmo. Lutero distingue com precisão: “A preocupação vinda do amor foi ordenada; porém a que passa ao largo da fé, essa é proibida.”
Às preocupações que atormentam as pessoas no mundo (v. 29s) Jesus contrapõe a única preocupação que deve tomar conta do crente (v. 31ss). Com a expressão “povos do mundo” Jesus não se refere apenas aos gentios – nesse caso teria afirmado sucintamente: os gentios – mas também aos judeus que, ao se recusarem a ingressar no reino de Deus e do Messias, condenam-se a tornar-se “povo deste mundo” como os demais, e a permanecer fora do verdadeiro povo de Deus, ao qual as palavras do v. 30ss se dirigem com exclusividade.
O Senhor recomenda empenho absoluto pelo reino de Deus. Essa demanda não é distinta da forma “Buscai primeiro!” (Mt 6.33). Também ali trata-se de uma procura que exclui qualquer outra. Crisóstomo diz acerca dessa demanda do Senhor: “Não fomos criados com o propósito de alimentar-nos, beber e vestir-nos, mas para agradar a Deus.”
Jesus visa dizer: no entanto, resta unicamente uma preocupação e busca digna para vós, discípulos, a busca pelo reino de Deus. Aqui retornamos ao terreno do Pai Nosso. O reino de Deus significa o senhorio de Deus. A vontade de Deus deve acontecer, razão pela qual a pessoa deve estar íntima e integralmente dedicada a Deus em todos os momentos. Então já não é necessário pensar na segurança exterior por meio de dinheiro e bens. Ao libertarem-se da posse passageira adquirem um patrimônio não-transitório, a riqueza em Deus. Nesse caso, eventuais bens existentes passam a ser somente um penhor de Deus, confiado a seus filhos e destinado a ser usado para tornar o reino de Deus real em nós e por meio de nós. A fé entrega tudo completamente nas mãos de Deus, para que ainda “acrescente” o que considerar correto.
Em Mateus (Mt 6.33) o texto do v. 31: “Antes buscai, aspirai a, almejai o seu reino, e isso (trata-se das coisas terrenas) vos será acrescentado!” ocorre em uma passagem do Sermão do Monte, quando Jesus confronta os fariseus com sua ganância.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica Esperança.
Lc 22,23. As palavras anteriores foram dirigidas à multidão, mas estas aos discípulos de Jesus. O que Jesus passa agora a dizer advém das Suas palavras anteriores, conforme demonstra Por isso eu vos advirto.
É aos Seus que Jesus diz: Não andeis ansiosos pela vossa vida. O crente pode tomar providências razoáveis de antemão para as suas necessidades, mas não deve preocupar-se com a comida e com as roupas. A vida é maior do que tais coisas (cf. 12:15).
Lc 29,30. Jesus ordena (e não aconselha) Seus seguidores a não se preocuparem. A preocupação é uma grande inibidora da ação: viver preocupado é perder tudo quanto é de importante na vida. Os discípulos não devem indagar (com preocupação) acerca da comida e da bebida. Isto, naturalmente, não exclui o esforço legítimo, mas certamente proíbe a concentração nestes itens. Phillips consegue o sentido com: “Não deveis colocar vosso coração naquilo que comeis ou bebeis” (cf. o rico tolo, 12:16-20). De modo semelhante, os discípulos não devem entregar-se a inquietações. A preocupação com a comida e as roupas pode ser apropriada para os gentios de todo o mundo (uma designação rabínica comum dos gentios; ver SB), mas não é apropriada para o povo de Deus. Vosso Pai sabe que necessitais delas; e Aquele que conhece a necessidade a suprirá.
Leon L. Morris. Lucas. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 201-203.
IV - A MISSÃO
1. PREGAR E ENSINAR.
No Novo Testamento há um total de quatro palavras usadas para indicar a «pregação», indicando as idéias de «dizer as boas novas», «pregar», «ensinar», «proclamar», «mestre», «pregador», etc.:
1. Euangelizesthai, «anunciar as boas novas». Esse verbo é usado por cinqüenta e cinco vezes, conforme exemplificamos em seguida.
A forma nominal, euaggélion, «boa nova», é usada por quase cento e cinqüenta vezes.
2. Kataggéllein, «proclamar», «pregar», «proclamar as boas novas». Essa forma verbal é usada por dezoito vezes no Novo Testamento.
A forma nominal, kataggeleús, «pregador», «proclamador», ocorre por apenas uma vez, em Atos 17:18.
3. Kerússein, «anunciar», «proclamar». Esse verbo é usado por sessenta e uma vezes. A kérugma é a «coisa pregada» a «mensagem do evangelho». Essa palavra é usada por oito vezes no Novo Testamento.
Essa palavra indica a pregação apostólica, que é a mensagem central e o fundamento do Novo Testamento.
4. Didaché, «ensino». Essa palavra aparece por trinta vezes no Novo Testamento, referindo-se à doutrina de Jesus e de seus apóstolos.
O adjetivo didáskalos, «mestre», um título dado a Jesus, e então aos mestres em geral, é usado por cinqüenta e oito vezes.
Didásko, o verbo, «ensinar», é utilizado por noventa e sete vezes.
2. Importância da Pregação e do Ensino
Temos enfatizado essa importância no artigo intitulado Ensino. A grande abundância de referências ao ensino e à pregação demonstra o papel primordial dessas funções, no Novo Testamento. O texto de I Cor. 1:18,21 mostra-nos que, no conceito dos gregos incrédulos, a pregação era uma «tolice». Eles preferiam a sabedoria filosófica. Porém, através da pregação do evangelho é que a salvação é outorgada aos homens. O trecho de Rom. 10:14,15 mostra que o pregador é uma figura necessária dentro do modus operandi de Deus, para anunciar a mensagem de Deus aos homens. O próprio Senhor Jesus deixou-nos o exemplo, tendo sido ele o supremo pregador, não somente à face da terra, mas também no hades (ver I Ped. 3:19 e 4:6).
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 367.
Jesus anunciou o Reino pregando a Palavra de Deus e curando os enfermos. Se Ele tivesse se limitado a pregar, as pessoas poderiam imaginar o seu Reino com um caráter apenas espiritual. Por outro lado. se tivesse curado sem pregar, talvez elas não percebessem a importância espiritual da missão de Jesus.
A maioria dos ouvintes esperava um Messias que traria riqueza e poder à nação judaica; o povo preferia os benefícios materiais ao discernimento espiritual. A verdade sobre Jesus é que Ele é o Deus encarnado, tem duas naturezas: uma divina e outra humana; possui espírito, alma e corpo; a salvação que Ele oferece é tanto para a alma quanto para o corpo. Qualquer ensino que enfatize a salvação da alma à custa do corpo ou o contrário distorce as Boas Novas de Jesus Cristo.
BÍBLIA APLICAÇÃO PESSOAL. Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Editora CPAD. pag. 1366-1367.
Para Jesus, o motivo primordial do envio dos doze foi a grande miséria do povo eleito, completamente abandonado por seus mestres e líderes (cf. Mt 9.35-38). Seus apóstolos, ou “os doze”, como costuma ocorrer em Lucas o termo técnico do grupo mais restrito de discípulos do Senhor (Lc 9.10; 17.5; 22.14; 24.10), deveriam fazer soar a voz do grande Pastor entre um povo que definhava e se encontrava disperso, que vagava como ovelhas sem pastor.
O Senhor tinha o objetivo de conduzir seus eleitos, que até então apenas o acompanhavam como testemunhas, a um trabalho vocacionado autônomo. Por intermédio deles ele visava disseminar a notícia do reinado de Deus em todas as cidades e localidades da Galileia. A verdadeira proclamação da salvação, para a qual somente a efusão do Espírito Santo os capacitaria, ainda não estava associada a essa atuação. Cumpria-lhes apenas anunciar que o reino de Deus, alvo do anseio geral, apareceria e que Jesus, o fundador desse governo de Deus, estava no meio deles.
A expressão synkalesámenos = “ele convocou” designa uma reunião solene e é mais expressiva que o termo proskáleisthai = “chamar a si”, que ocorre em Marcos e Mateus.
A tarefa recebida pelos apóstolos não era ir “à frente” do Senhor, mas seguir os rastos dele aqui e acolá. Não os envia para semear, mas para colher; não para começar, mas para continuar o que ele mesmo já começara. Por essa razão eles tinham de examinar caso a caso quem era digno de recebê-los. Por isso tinham de sacudir o pó quando, depois da pregação de seu Senhor, sua nova tentativa era outra vez desprezada. Somente assim passamos a compreender a proibição de levar grande equipamento de viagem. Afinal, os discípulos não iam como estranhos para o meio de inimigos, mas como amigos para uma região em que o próprio Senhor já lhes havia aberto os caminhos. Quanto mais Jesus vislumbra o desenvolvimento da grande tarefa de sua vida, tanto mais ele insiste na grave e dura seriedade da decisão. Para que os pensamentos do coração se revelassem com clareza, ele envia agora seus apóstolos.
Os exorcismos e curas de enfermos por parte dos apóstolos enviados tinham a finalidade de confirmar a verdade de sua proclamação e apontar para Jesus, o doador dessas dádivas da graça. O reinado de Deus não deveria ser fundado e construído sobre força humana. Por isso também Jesus concedeu aos discípulos o carisma extraordinário da cura.
Por um lado, a incumbência dos discípulos era retomar a atividade de João Batista, que em breve encerraria sua carreira na terra. Mas, por outro lado, havia mais (cf. Lc 7.28). Para esses filhos do reino de Deus, o Senhor havia acrescentado à pregação também a capacidade e a autoridade de realizar milagres. Não há relatos de que João Batista tenha realizado milagres.
A transmissão do poder milagroso de Jesus a seus alunos foi de certo modo prefigurada na transmissão do espírito de Elias para Eliseu. Com o mesmo manto com que Elias dividiu as águas do rio Jordão, Eliseu o divide ao retornar [2Rs 2.8-15].
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica Esperança.
2. LIBERTAR E CURAR.
Aqui está um relato geral das muitas curas que Cristo realizou. Esta cura da sqgra de Pedro trouxe-lhe pacientes em grande número. “Ele curou alguém assim, por que não eu? O amigo de alguém, por que não o meu?” Agora nos é contado: 1. O que Cristo fez (v. 16). (1) Ele expulsou os demônios. Ele expulsou os espíritos malignos “com a sua palavra”. Deve haver muitos representantes de Satanás, por permissão divina, naquelas doenças para as quais causas naturais são apontadas (como no caso das feridas de Jó), especialmente nas doenças mentais; mas, na época em que Cristo estava no mundo, parece ter ocorrido uma maior liberdade do diabo para possuir e atormentar os corpos das pessoas. Ele veio com grande ira, pois sabia que seu tempo era curto. E Deus sabiamente ordenou que assim fosse, para que Cristo pudesse ter oportunidades mais freqüentes e claras de mostrar o seu poder sobre Satanás, e o propósito e desígnio de sua vinda ao mundo, que eram desarmar e despojar Satanás, para acabar com o seu poder e destruir as suas obras. E o sucesso do Senhor Jesus foi tão glorioso quanto o seu desígnio.
(2) Ele “curou todos os que estavam enfermos”; todos sem exceção, embora os pacientes tivessem sempre uma condição muito ruim, e os casos fossem sempre muito difíceis.
2, Como as Escrituras foram cumpridas neste caso (v. 17). O cumprimento das profecias do Antigo Testamento era o grande objetivo que Cristo tinha em vista, e a grande prova de que Ele era o Messias, Dentre outras coisas que foram escritas a respeito dele, temos (Is 53.4): “Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si” - isto se refere a 1 Pedro 2.24, e neste texto é interpretado que Ele levou os nossos pecados.; aqui podemos interpretar que Ele levou as nossas enfermidades; os nossos pecados se tornam as nossas enfermidades, em meio aos nossos sofrimentos. Cristo levou embora o pecado por meio da sua morte e levou embora as doenças por meio dos milagres da sua vida. Assim, podemos dizer que Ele, então, levou sobre si as nossas enfermidades quando carregou os nossos pecados em seu próprio corpo sobre o madeiro; pois o pecado é a causa e o aguilhão das enfermidades. Muitas são as doenças e flagelos aos quais o nosso corpo está sujeito: e há mais sobre este assunto nos evangelhos - para nos apoiar e confortar - do que em todos os escritos dos filósofos. Ele “ tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si” ; Ele os levou, ou seja, Ele os tirou de nós. Embora Ele nunca tenha estado doente, Ele sentia fome, sede e cansaço, foi atormentado em espirito, aflito e muito oprimido. Ele os carregou por nós em sua paixão e os sofreu conosco em sua compaixão, sendo tocado com o sentimento de nossas fraquezas; e desse modo Ele as carrega de nós e as torna leves, a não ser que retenhamos a nossa própria culpa. Observe quão enfaticamente isso está expresso aqui: “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças” . Ele tinha tanto a capacidade como o desejo de intervir nesse assunto, e, como nosso médico, está interessado em lidar com nossas fraquezas e doenças, Essa parte do flagelo da natureza humana era uma preocupação particular que Ele evidenciou através da sua grande disposição para curar enfermidades. E Ele. não é menos poderoso ou menos compassivo agora, pois sabemos que a dificuldade para se chegar ao céu não foi reduzida com o passar do tempo.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 97-98.
«ELE MESMO tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças». Profecia messiânica, que se acha em Is. 53:4. A citação foi tirada do hebraico, porque a LXX interpreta essa profecia como referência ao pecado. No grego a expressão é enfática. O Messias, Cristo Jesus, veio com a finalidade de aliviar o sofrimento humano. Esse versículo tem recebido diversas interpretações: 1. Refere-se ao ministério espiritual do Messias, ao levar o pecado do mundo. O texto de Isaías aborda exatamente isso, e a LXX reflete isso na tradução. 2. Segundo o uso de Mateus, indica apenas as doenças físicas. A profecia, pois, expõe outro aspecto do ministério de Cristo; sem mencionar aqui a expiação pelo pecado. 3. Refere-se a ambas as_ coisas—o pecado e as enfermidades—, provavelmente considerando as doenças como resultantes do pecado, ou então com ligação direta ao' pecado; o Messias veio para tratar da enfermidade espiritual e física da natureza humana. Provavelmente o autor do evangelho concordaria com esta interpretação. Essa doutrina tem recebido várias interpretações exageradas, como: 1. A cura física está incorporada na expiação pelo pecado, e assim sendo, nunca é da vontade de Deus que seu povo adoeça. É verdade que, no fim, a expiação terá o efeito de eliminar as enfermidades físicas, mas isso só ocorrerá da transformação operada na ressurreição. Não é menos ridículo dizer que a morte física é agora eliminada pela expiação.
isto é, a morte no presente. A morte física, mais do que as doenças, demonstra que estados enfermos, e geralmente resulta das doenças. A expiação também e/immarti a morte na raça humana, mas isso só será total depois do milênio (I Cor. 15:24-26). A expiação eliminará finalmente as doenças, mas dizer que isso ocorre no presente é exagerar a doutrina. O próprio Paulo sofreu fisicamente. (Ver II Cor. 12:7). Paulo nunca atingiu a perfeição nesta vida (FU. 3:12). João declarou enfaticamente a permanência do pecado (I João 1:8), e somente o equivoco pode levar as pessoas a pensar de outro modo. Enquanto permanecer o pecado, permanecerão as enfermidades. 2. Outros abusam desse versículo, dizendo que Jesus sofreu de esgotamento espiritual por haver carregado os nossos pecados e doenças em oportunidades como esta. Não há que duvidar que algumas vezes ele sofreu de esgotamento físico e mental. Ver Marc. 5:30, quando dele saiu poder, ao curar; ver também Luc. 22:44 e Marc. 15:21.
Finalmente, seria um erro não notar que este versículo (além de ensinar certas doutrinas) mostra principalmente a simpatia e o espirito de misericórdia de Jesus para com a raça humana. Jesus não operou milagres para mostrar sua divindade, ilustrar as doutrinas, etc. , mas para aliviar o sofrimento humano, porquanto, como homem, participou desses sofrimentos e simpatizou com os homens. O versículo demonstra, mais do que qualquer outra coisa, a compaixão de Jesus.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 342.
Sem dúvida, tinha ensinado e pregado, e certamente se teria encontrado com seus acérrimos adversários. Agora tinha chegado a tarde. Deus deu aos homens o dia para trabalhar e a noite para o descanso. A tarde é o momento quando se deixa de lado o trabalho e começa o repouso. Mas não era assim para Jesus. No momento em que ele também necessitava o descanso, viu-se rodeado das clamorosas necessidades humanas e sem egoísmo, sem protestar, com uma generosidade divina, saiu ao encontro dos homens. Enquanto houvesse uma alma necessitada, não haveria descanso para Jesus.
Esta cena traz à mente de Mateus certas palavras de Isaías (Isaías 53:4) onde se diz que o Servo de Deus levou nossas enfermidades e sofreu nossas dores.
O discípulo de Cristo não pode procurar descanso quando ainda há quem necessita ajuda e saúde; e o mais estranho é que seu cansaço desaparecerá e sua fraqueza se fortalecerá quando usar suas energias para ajudar a outros. De algum modo, quando chegarem as demandas, também virá o poder. E sentirá que pode seguir adiante por amor dos outros quando por si mesmo não daria mais nenhum passo.
BARCLAY. William. Comentário Bíblico. Lucas. pag. 335.
Mt 8.17 Mateus destaca o cumprimento da profecia por Jesus, citando Isaías 53.4. Jesus tinha autoridade sobre todos os poderes malignos e todas as enfermidades terrenas. Ele também tem o poder e a autoridade para vencer o pecado. A doença nem sempre é a punição para o pecado, mas pode ser mais bem interpretada como uma possibilidade real e constante da vida num mundo caído. A cura física num mundo caído é sempre temporária. No futuro, quando Deus remover todo o pecado, não haverá mais doenças nem morte. Os milagres de cura de Jesus eram uma amostra do que todos os crentes irão um dia sentir no Reino de Deus.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 58.

ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

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