COMENTÁRIO COM BASE NA 1° LIÇÃO 3 TRIMESTRE 2014 CPAD.
TIAGO – FÉ QUE SE MOSTRA PELAS OBRAS
Data:
6 de Julho de 2014 HINOS
SUGERIDOS 18, 47, 93.
TEXTO ÁUREO
‘Assim
também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma” (Tg 2.17).
VERDADE PRATICA
A
nossa fé tem de produzir frutos verdadeiros de amor, do contrário, ela se
apresenta falsa.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Hb 10.24 As boas obras devem ser estimuladas
Terça - 1 Tm 6.1 7-19 As boas obras e as riquezas do mundo
Quarta - Tg 2.14-17 É possível haver fé sem as obras?
Quinta - Ef 2.8,9 Não somos salvos pelas boas
obras
Sexta - Ef 2.10 Salvos praticam boas obras
Sábado - Rm 12.9,10 Amor cordial e fraterno
LEITURA BÍBLICA EM
CLASSE
Tiago
2.14-26
14
- Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras?
Porventura, a fé pode salvá-lo?
15
- E, se o irmão ou a irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento
cotidiano,
16
- e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentar-vos e fartai- -vos; e lhes
não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?
17
- Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.
18
- Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra- -me a tua fé sem
as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.
19
-Tu crês que há um só Deus? Fazes bem; também os demônios o creem e estremecem.
20
- Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta?
21
- Porventura Abraão, o nosso pai, não foi justificado pelas obras, quando
ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?
22
- Bem vês que a fé cooperou com as suas obras e que, pelas obras, a fé foi
aperfeiçoada,
23-
e cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi- -Ihe isso
imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.
24
- Vedes, então, que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé.
25
- Ede igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas obras,
quando recolheu os emissários e os despediu por outro caminho?
26
- Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem
obras é morta.
INTERAÇÃO
“Fé
e obras: Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica” é o tema deste
trimestre! Portanto, estudaremos a Epístola de Tiago. O comentarista é o pastor
Eliezer de Lira e Silva, conferencista de Escolas Bíblicas e diretor do projeto
missionário Ide Ensinai em Moçambique, África.
Ao
ler a Epístola Universal de Tiago chegamos à conclusão de que
o
Evangelho não admite uma vida cristã acompanhada de um discurso desassociado da
prática. A nossa fé deve ser confirmada através das obras. Caro professor, de
maneira profunda, estude esta epístola, pois, temos um grande desafio:
convencer os nossos alunos de que vale a pena levar estes ensinamentos até as
últimas consequências.
OBJETIVOS
Após
a aula, o aluno deverá estar apto a:
Descrever as questões de autoria,
local, data e destinatário da epístola.
Entender o propósito da
epístola.
Destacar a atualidade da
epístola.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Prezado
professor, para iniciar o estudo da Carta de Tiago sugerimos que reproduza o
esquema da página seguinte na lousa, ou em cópias, conforme as suas
possibilidades. O esquema é um esboço da epístola a ser estudada. Ele vai
auxiliar na análise panorâmica da carta. Neste esquema ainda constam
informações como: a estrutura da epístola, autoria, tema, data e uma consideração
preliminar. Tenha uma boa aula!
PALAVRA-CHAVE
Fé: Confiança absoluta em alguém. A primeira das três virtudes
teologais: fé, esperança e amor.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Neste
trimestre, estudaremos a mensagem de Deus entregue aos santos irmãos do
primeiro século por intermédio de Tiago, o irmão do Senhor. Assim pode ser
resumida a Epístola universal de Tiago: uma carta de conselhos práticos para
uma vida bem-sucedida e de acordo com a Palavra de Deus. A espiritualidade
superficial, a ausência de integridade, a carência de perseverança e a
insuficiência da compaixão para com o próximo são características que permeiam o
caminho de muitos crentes dos dias modernos. O estudo dessa epístola é
relevante para os nossos dias, pois contempla a oportunidade de aperfeiçoarmos o
nosso relacionamento com Deus e com o próximo, levando-nos a compreender que a
fé sem as t obras é morta (Tg 2.17).
I -
AUTORIA, LOCAL, DATA E DESTINATÁRIOS (Tg 1.1)
1. Autoria. Em lugar, é preciso
destacar o fato de que há, em o Novo Testamento, a menção de quatro pessoas com
o nome de Tiago: Tiago, pai de Judas, não o Iscariotes, (Lc 6.16); Tiago, filho
de Zebedeu e irmão de João (Mt 4.21; 10.2; Mc 1.19, 10.35; Lc 5.10; 6.14; At.
1.13; 12.2); Tiago, filho de Alfeu, um dos doze discípulos (Mt 10.3; Mc 3.18;
15.40; Lc 6.15; At 1.13) e, finalmente, Tiago, o autor da epístola, que era
filho de José e Maria e meio-irmão do nosso Senhor (Mt 1.18,20). Após firmar os
passos na fé e testemunhar a ressurreição do Filho de Deus, o irmão do Senhor
liderou a Igreja em Jerusalém (At 15.13-21) e, mais tarde, foi considerado
apóstolo (Cl 1.19). Pela riqueza doutrinária da carta, o £ autor não poderia
ser outro Tiago, senão, o irmão do Senhor e líder da Igreja em Jerusalém.
2. Local e data. Embora a maioria dos
biblistas veja a Palestina, e mais especificamente Jerusalém, como locai mais
indicado de produção da epístola, tal
informação é desconhecida. Sobre a data, tratando-se do período antigo da era
cristã, sempre será aproximada. Por essa razão, a Bíblia de Estudo Pentecostal
data a produção da carta de Tiago entre os anos 45 a 49 d.C., aproximadamente.
3. Destinatário. “Às doze tribos que
andam dispersas” (Tg 1.1). Há muito a estrutura política de Israel perdera a
configuração de divisão em tribos. Assim, em o Novo Testamento, a expressão
“doze tribos” é um recurso linguístico que faz alusão, de forma figurativa, à
nação inteira de Israel (Mt 19.28; At 26.7; Ap 21.12). Todavia, ao usar a
fórmula “doze tribos”, na verdade, Tiago refere-se aos cristãos dispersos na
Palestina e variadas igrejas estabelecidas em outras regiões, isto é, todo o
povo de Deus espalhado pelo mundo.
SINOPSE
DO TÓPICO (1)
O
autor da epístola é Tiago, o meio-irmão de Jesus. A carta foi escrita
provavelmente em Jerusalém, entre os anos 45 e 49 d.C. e dirigida aos cristãos
dispersos da Palestina bem como as igrejas de outras regiões.
II - O
PROPÓSITO DA EPÍSTOLA DE TIAGO
1. Orientar. Em um tempo marcado
pela falsa espiritualidade e egoísmo, as orientações de Tiago são relevantes e
pertinentes. Isso porque a Escritura nos revela o serviço a Deus como a prática
concreta de atitudes e comunhão: guardar-se do sistema mundano (engano, falsidade,
egoísmo, etc.) e amar o próximo. Assim, através de orientações práticas, Tiago
almeja fortalecer e consolar os cristãos, exortando-os acerca da profundidade
da verdadeira, pura e imaculada religião para com Deus a qual é: a) visitar os
órfãos e as viúvas nas tribulações; b) não fazer acepção de pessoas e c)
guardar-se da corrupção do mundo (Tg 1.27).
2. Consolar. Numa cultura onde
não se dobrar a César, honrando-o como divindade, significava rebelião à
autoridade maior, os crentes antigos foram impiedosamente perseguidos, humilhando-se
mortos. Entretanto, a despeito de perder emprego, pais, filhos e sofrer
martírios em praças públicas, eles se mantiveram fiéis ao Senhor. Por isso, a
epístola é, ainda hoje, um bálsamo para as igrejas e crentes perseguidos
espalhados pelo mundo (Tg 1.17,18; 5.7-11).
3. Fortalecer. Além das
perseguições cruéis, os crentes eram explorados pelos ricos e defraudados e
afligidos pelos patrões (Tg 5.4). Apesar de a Palavra de Deus condenar com
veemência essa prática mundana, infelizmente, ela ainda é muito atual (Ml 3.5;
Mc 10.19; 1 Ts 4.6). A Epístola de Tiago não foge à tradição profética de
condenar tais abusos, pois, além de expor o juízo divino contra os
exploradores, o meio-irmão do Senhor exorta os santos a não desanimarem na fé,
pois há um Deus que contempla as más atitudes do injusto e certamente cobrará
muito caro por isso. A queda de quem explora o trabalhador não tardará (Tg
5.1-3).
SINOPSE
DO TÓPICO (2)
O
propósito geral da epístola de Tiago era orientar, consolar e fortalecer a
Igreja de Cristo que estava sendo perseguida.
III -
ATUALIDADE DA EPÍSTOLA
1. Num tempo de
superficialidade espiritual. Outro propósito da epístola é levar o leitor
a um relacionamento mais íntimo com Deus e com o próximo. A carta traz diversas
citações do Sermão do Monte como prova de que o autor está em plena
concordância com o ensino de Jesus Cristo. Tiago chama a atenção para a verdade
de que se as orientações de Jesus não forem praticadas, o leitor estará fora da
boa, perfeita e agradável vontade de Deus. Portanto, a Igreja do Senhor não
pode abandonar os conselhos divinos para desenvolver uma espiritualidade sadia
e profunda.
2. Num tempo de
confusão entre “salvação pela fé” ou “salvação pelas obras”. O leitor desavisado
pode pensar que a Epístola de Tiago contradiz o apóstolo Paulo quanto à
doutrina da salvação mediante a fé. Nos tempos apostólicos, falsos mestres
torceram a doutrina da salvação pela graça proclamada pelo apóstolo dos gentios
(2 Pe 3.14-16 cf. Rm 5.20—6.4). Entretanto, a Epístola de Tiago evidencia que
não se pode fazer separação entre a fé e as obras. Apesar de as obras não
garantirem a salvação, a sua manifestação dá testemunho da experiência
salvífica do crente (Ef 2.10; cf. Tg 2.24).
3. Uma fé posta em
prática.
Muitos dizem ser discípulos de Cristo, mas estão distantes das virtudes
bíblicas. Estes não evidenciam sua fé por intermédio de suas atitudes. Os
pseudodiscípulos
visam os seus interesses particulares e não a glória de Deus. Precisamos
urgentemente priorizar o Reino de Deus e a sua justiça (Mt 6.33). Tiago nos
ensina, assim como João Batista (Lc 3.8-14), que precisamos produzir frutos
dignos de arrependimento.
SINOPSE
DO TÓPICO (3)
Num
tempo de superficialidade espiritual e de confusão entre “salvação pela fé” e
'‘salvação pelas obras”, a epístola de Tiago é uma mensagem atual sobre a fé
posta em prática.
CONCLUSÃO
Como
em toda a Escritura Sagrada, a Epístola de Tiago é um farol acesso e
permanentemente atual. Ela nos alerta contra a mediocridade da vida
supostamente cristã e nos exorta a fazer das Escrituras o nosso pão diário.
Jesus Cristo sempre foi zeioso pelo bem estar do seu rebanho (Jo 10.10). Em
todas as épocas Ele é o bom pastor que cuida das suas ovelhas (Jo 10.11). É do
interesse do Mestre que os discípulos vivam em harmonia e amor mútuo, afim de
não trazerem escândalo aos de dentro e, muito menos, aos de fora (1 Co 10.32).
E não nos esqueçamos: A religião pura e imaculada é a fé que se mostra através
de nossas práticas e obras.
VOCABULÁRIO
Compatriota: Que se origina da
mesma terra.
Dispersa: Espalhada, separada.
Imaculada: Pura, sem qualquer mancha.
Pseudodiscípulos: Falsos discípulos.
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
RICHARDS,
Lawrence O. Comentário
Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1 .ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
STAMPS,
Donald C (Ed.). Bíblia de Estudo
Pentecostal: Antigo e Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
STRONSTAD, Roger;
ARRINGTON, French L. (Eds.) Comentário Bíblico
Pentecostal Novo Testamento. 2.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO
Subsídio
Bibliológico
“Deve
ser observado que existem resultados mais abençoados e reais quando um
indivíduo realmente confia no Senhor Jesus Cristo. Há não apenas uma mudança de
posição diante de Deus (justificação), mas há o início da obra redentora e
santificadora de Deus. Embora a transformação da vida não seja a base da
salvação, ela é a evidência da salvação. E sem tal evidência (em maior ou menor
grau) deve ser levantada uma questão quanto à autenticidade da fé do indivíduo.
[...]
As
boas obras de um cristão são o resultado e a evidência da autenticidade da sua
fé. É o entendimento deste fato que resolverá o problema de alguns quanto a uma
alegada discrepância entre Paulo e Tiago. Paulo certamente relaciona as boas
obras com a fé (Ef 2.8-1 0). Fica claro que Tiago está falando da justificação
diante dos homens (Tg 2.18 - ‘mostra-me’, ‘te mostrarei’; v.22 - ‘bem vês’;
v.24 - ‘vedes’; v.26), e que a fé é provada pelas obras (v.22)” (PFEIFFER,
Charles F.; VOS, Howard, F. Dicionário
Bíblico Wydiffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, pp.779,80).
EXERCÍCIOS
1.
Quem é o autor da Epístola de Tiago?
R:
Tiago, filho de
José e Maria e meio-irmão do nosso Senhor.
2.
Quem são os destinatários da Epístola de Tiago?
R:
Os cristãos
dispersos na Palestina e variadas igrejas estabelecidas em outras regiões, isto
é, todo o povo de Deus espalhado pelo mundo.
3.
Segundo a lição, quais são os propósitos da Epístola de Tiago?
R:
Orientar,
consolar e fortalecer a Igreja de Cristo.
4.
O que provam as várias citações do Sermão da Montanha na Epístola de Tiago?
R:
Que o autor
está em plena concordância com o ensino de Jesus Cristo.
5.
Por que não podemos fazer separação entre a fé e as obras?
R:
Porque apesar
de as obras não garantirem a salvação, a sua manifestação dá testemunho da
experiência salvífica do crente (Ef 2.10; cf. Tg 2.24).
Revista
Ensinador Cristão CPAD, n° 59, p.36.
O tema deste trimestre é "Fé e Obras: Ensino de Tiago para uma vida cristã autêntica". Por isso, ao professor não poderá faltar algumas obras literárias para o bom desenvolvimento do trabalho educativo, como, por exemplo, várias versões da Bíblia (pelo menos quatro); um bom Dicionário Bíblico; um Dicionário Teológico e um Comentário Bíblico.
Por que usarmos diferentes versões bíblicas para interpretar cuidadosamente as Escrituras? Ora, apesar de boas e fieis ao original do texto bíblico, algumas versões apresentam, por exemplo, problemas de linguagem arcaica, que não se adequa à contem- poraneidade da língua portuguesa (cf. Caridade/ Amor - 1 Co 13). Quando comparamos as várias versões da epístola de Tiago, podemos compreender os textos de razoável dificuldade interpretativa. Por isso é que sugerimos ao menos quatro das muitas versões disponíveis em língua portuguesa: a ARC (Almeida Revista Corrigida); a ARA (Almeida Revista Atualizada); a NVI (Nova Versão Internacional); e outra (poder ser até mesmo uma tradução católica da Bíblia, como TEB - Tradução Ecumênica da Bíblia - ou a Bíblia de Jerusalém).
O Dicionário Bíblico lhe auxiliará para a compreensão de algum termo das Escrituras. Por exemplo,
a carta de Tiago cita a palavra "obra". Mas a que Tiago se refere ao usar o termo "obra"? Às Obras da Lei ou à "Ação de Misericórdia"? Os artigos de um bom Dicionário Bíblico (sugerimos o Dicionário Bíblico Wycíiffe, editado pela CPAD) desenvolvem a exaustão os termos bíblicos dessa natureza.
Para compreendermos a linguagem teológica de uma palavra contextualizada à doutrinas bíblicas, o Dicionário Teológico muito lhe ajudará (sugerimos o Dicionário Teológico, editado pela CPAD). Dominarmos os conceitos doutrinários de Salvação, Lei, Graça etc., e os seus desdobramentos, é de grande relevância para quem estuda a Epístola de Tiago. Ademais, não podemos confundir os conceitos teológicos que, ao mesmo tempo, aparecem na carta de Tiago e nas de Paulo.
Por último, um bom Comentário da Epístola de Tiago (sugerimos O Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento, editado pela CPAD) para remontarmos o contexto histórico, social, cultural, econômico e exegese da epístola. Mas, antes de tudo, sugiro-lhe ler as treze lições do trimestre em uma única leitura. Este processo lhe ajudará a desenvolver o panorama do assunto de maneira mais eficaz. Faço votos de que você e a sua classe cresçam no estudo desta belíssima carta que é a Epístola de Tiago!
O tema deste trimestre é "Fé e Obras: Ensino de Tiago para uma vida cristã autêntica". Por isso, ao professor não poderá faltar algumas obras literárias para o bom desenvolvimento do trabalho educativo, como, por exemplo, várias versões da Bíblia (pelo menos quatro); um bom Dicionário Bíblico; um Dicionário Teológico e um Comentário Bíblico.
Por que usarmos diferentes versões bíblicas para interpretar cuidadosamente as Escrituras? Ora, apesar de boas e fieis ao original do texto bíblico, algumas versões apresentam, por exemplo, problemas de linguagem arcaica, que não se adequa à contem- poraneidade da língua portuguesa (cf. Caridade/ Amor - 1 Co 13). Quando comparamos as várias versões da epístola de Tiago, podemos compreender os textos de razoável dificuldade interpretativa. Por isso é que sugerimos ao menos quatro das muitas versões disponíveis em língua portuguesa: a ARC (Almeida Revista Corrigida); a ARA (Almeida Revista Atualizada); a NVI (Nova Versão Internacional); e outra (poder ser até mesmo uma tradução católica da Bíblia, como TEB - Tradução Ecumênica da Bíblia - ou a Bíblia de Jerusalém).
O Dicionário Bíblico lhe auxiliará para a compreensão de algum termo das Escrituras. Por exemplo,
a carta de Tiago cita a palavra "obra". Mas a que Tiago se refere ao usar o termo "obra"? Às Obras da Lei ou à "Ação de Misericórdia"? Os artigos de um bom Dicionário Bíblico (sugerimos o Dicionário Bíblico Wycíiffe, editado pela CPAD) desenvolvem a exaustão os termos bíblicos dessa natureza.
Para compreendermos a linguagem teológica de uma palavra contextualizada à doutrinas bíblicas, o Dicionário Teológico muito lhe ajudará (sugerimos o Dicionário Teológico, editado pela CPAD). Dominarmos os conceitos doutrinários de Salvação, Lei, Graça etc., e os seus desdobramentos, é de grande relevância para quem estuda a Epístola de Tiago. Ademais, não podemos confundir os conceitos teológicos que, ao mesmo tempo, aparecem na carta de Tiago e nas de Paulo.
Por último, um bom Comentário da Epístola de Tiago (sugerimos O Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento, editado pela CPAD) para remontarmos o contexto histórico, social, cultural, econômico e exegese da epístola. Mas, antes de tudo, sugiro-lhe ler as treze lições do trimestre em uma única leitura. Este processo lhe ajudará a desenvolver o panorama do assunto de maneira mais eficaz. Faço votos de que você e a sua classe cresçam no estudo desta belíssima carta que é a Epístola de Tiago!
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
A Carta de Tiago é a
primeira do grupo de epístolas consideradas como escritos gerais. Tais epístolas recebem essa designação por não serem endereçadas especificamente a
qualquer grupo que possa ser identificado de imediato. Outra denominação dada a
este grupo de escritos é “escritos católicos”, por serem cartas gerais. Essa
designação nada tem a ver com o nome da Igreja Católica Apostólica Romana.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 13
A carta de Tiago
difere das outras cartas do Novo Testamento pelo seu estilo, conteúdo e
apresentação. A carta demorou a ser incluída no cânon do Novo Testamento.
Martinho Lutero descreveu a como uma epístola de palha. Mas todos, que
confiando em sua inspiração divina e no fato que é a Palavra de Deus, serão
ricamente compensados pela meditação e aplicação à vida de suas palavras.
Agostinho confessou
para Deus: “O que tuas Escrituras dizem, tu dizes!”. Kierkegaard tinha Tiago
como sua Escritura predileta.
Quanto ao seu estilo,
Tiago omite, quase por completo, uma discussão teológica. Suas pressuposições
são ortodoxas. Seu estilo é direto e objetivo. Combate pecados e atitudes que
prejudicam a vida e o testemunho dos cristãos. Apresenta o imenso valor de se viver
segundo a sabedoria do alto, isto é, de acordo com a revelação de Deus.
O livro foi escrito
aproximadamente entre 10 e 15 anos após a morte de Jesus. O discipulado que
Jesus ordenou na Grande Comissão a seus seguidores para ensinar foi obediência
a tudo que ele mesmo tinha passado para eles. Não nos surpreende descobrir que
há doze nítidos paralelos entre o Sermão do Monte e Tiago (cf. Bíblia Almeida
Século 21, p. 1238). Por isso, muito daquilo que vemos aqui podemos sentir as
palavras de Jesus, como pano de fundo, temperando as palavras de Tiago. Mas
além de ter Jesus como sua fonte, Tiago é um dos livros que mais tem
referências diretas ou indiretas aos livros do Antigo Testamento. E dos 39
livros que completam o Antigo Testamento, ele faz algum tipo de referência a
pelo menos 22 livros.
E quem era Tiago?
Esse nome pertencia a vários personagens do Novo Testamento. O primeiro mártir
da igreja foi Tiago, o irmão de João, filho de Zebedeu. Tiago, filho de Alfeu
se encontra na lista dos discípulos de Jesus, mas o Tiago que se destaca era
coluna da igreja de Jerusalém (G12.9). Esse último Tiago foi incluído na lista
dos irmãos de Jesus (Mc 6.3; Mt 13.55). Foi designado como “apóstolo” em Gálatas
1.19. O fato de o Cristo ressurreto ter aparecido a Tiago (1 Co 15.7) e de
Paulo argumentar em favor do seu próprio apostolado com a frase “não vi Jesus,
nosso Senhor?” (ICo 9.1), talvez explique porque Tiago estava incluído nesse
círculo maior (além dos Doze) de líderes que foram reconhecidos como apóstolos.
No concilio de Jerusalém (49 d.C), ele teve papel importante como bispo dessa
igreja (At 15.13-21), sugerindo o envio da carta recomendando quatro abstenções
que os crentes gentios deveriam observar (v. 20).
Os destinatários
dessa carta foram as doze tribos dispersas entre as nações. Havia colônias de
judeus em muitas cidades do império, e em algumas delas havia cristãos judeus,
como sabemos que era o caso em Roma. Foram os distúrbios provocados por um “ Chrestos’
(muito provavelmente, Cristo), segundo o historiador Suetônio, que levaram o
imperador, Cláudio, a expulsar os judeus da capital no ano 48 d.C. (At 18.2).
Os destinatários eram
evidentemente judeus convertidos a Cristo que, naquela época, viviam dispersos
por todo o mundo conhecido.
A descrição deles
como “as doze tribos dispersas entre as nações” reflete a maneira pela qual os
escritores judeus falavam do Israel escatológico, uma vez que deixaram de
existir as tribos do norte quando foram misturadas com o mundo gentio.
Como vemos em Atos,
no episódio do Pentecostes da descida do Espírito Santo, vários judeus estavam
vindo de diversas partes para Jerusalém, e esses judeus eram conhecidos como o
povo da dispersão. provável também que Tiago esteja fazendo uma referência espiritual
a essas pessoas. Ou seja, ele está escrevendo para o Israel de Deus que hoje é
a igreja de Jesus.
Segundo Josefo, Tiago
foi martirizado no ano 62 d.C. Nesse caso, a data de origem dessa carta teria
que ser anterior. Pelas condições refletidas na carta, podemos identificar as
regiões costeiras da Palestina e Síria, (em 5.7, há uma referência às chuvas do
outono e da primavera, características daquela região) e dos que viviam
luxuosamente da terra (5.5), latifundiários, frequentemente ausentes. Por isso,
não devemos estar longe da verdade se atribuirmos essa carta a Tiago, irmão de
Jesus e líder da igreja de Jerusalém.
Como Tiago não toca
na controvérsia que os judaizantes provocaram e que desembocou no Concilio de
Jerusalém (49 d.C), podemos sugerir a data de 45-47 d.C. (cf. Douglas Moo,
Tiago, Edições Vida Nova, 1990; pp. 33,34).
Russell P. Shedd,.
Edmilson F. Bizerra. Uma Exposição De
Tiago A Sabedoria De Deus. Editora Shedd
Publicações.
A carta de Tiago se
parece com um memorando de segunda-feira de manhã em uma organização. Desde o
início, ele espera que os seus leitores coloquem a sua fé em ação. Os seus
desafios não têm data.
Tiago trata de
questões práticas que são tão comuns como o jornal desta manhã. A fé que os cristãos
afirmam ter deve ser demonstrada em todas as situações e circunstâncias da vida
— no trabalho, em casa, no bairro, na igreja. As provações e dificuldades não
devem ser encaradas como obstáculos à fé, mas como oportunidades para colocar
em prática uma fé saudável. Não basta conhecer a Palavra de Deus. Este
conhecimento deve ser aplicado às nossas vidas diariamente. A fé verdadeira é a
aplicação da verdade de Deus a nós mesmos.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 649.
A carta de Tiago é um
livro prático.
Esse livro é
considerado o livro de Provérbios do Novo Testamento.* Tiago é mais pregador
que escritor.^ É como se ele nos agarrasse pela lapela, fitasse-nos olhos e
falasse conosco algo urgente. Um dos grandes problemas que a igreja estava
enfrentando era colocar em prática aquilo que eles professavam. A vida estava
divorciada da teologia. Esse também é o problema da igreja contemporânea. Daí,
a pertinência e a urgência de estudarmos Tiago.
O tema central de
Tiago é: o nascimento (1.13-19a), o crescimento (1.19b-25) e a maturidade (1.26
- 5.6) do cristão.^ Através das provas, pela paciência, recebemos a coroa.
A primeira ênfase de
Tiago é sobre o novo nascimento (1.13-19a). Embora a velha natureza permaneça ativa
(1.13-16), o Pai nos trouxe ao novo nascimento pela Sua Palavra (1.17-19a). A
segunda ênfase é sobre o crescimento espiritual (1.19b-25). Nós crescemos pelo
ouvir (1.19), receber (1.21) e obedecer (1.22-25) a Palavra. A terceira ênfase
é sobre a maturidade espiritual (1.26 - 5.6).
Há três notáveis
desenvolvimentos que são característicos da verdadeira maturidade cristã: 1) O
controle da língua (1.26); 2) O cuidado dos necessitados (1.27a); 3) A pureza pessoal
(1.27b).
Por que Tiago
escreveu esta carta? Para resolver alguns problemas:
1) Eles estavam
passando por duras provações;
2) Eles estavam sendo
tentados a pecar;
3) Alguns crentes
estavam sendo humilhados pelos ricos, enquanto outros estavam sendo roubados
pelos ricos;
4) Alguns membros da
igreja estavam buscando posições de liderança; ‘
5) Alguns crentes
estavam falhando em viver o que pregavam;
6) Outros crentes
estavam vivendo de forma mundana;
7) Outros não
conseguiam dominar a língua;
8) Outros estavam se
afastando do Senhor;
9) Havia crentes que estavam
vivendo em guerra uns contra os outros.
Esses são os mesmos
problemas que enfrentamos hoje.
Para Tiago, a raiz de
todos esses problemas era a imaturidade cristã.
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 11-13.
I –
AUTORIA, LOCAL, DATA E DESTINATÁRIOS
1. Autoria.
Comecemos nosso breve
estudo pela questão da autoria desta Carta. O nome Tiago não era incomum nos
dias de Jesus, e no Novo Testamento ocorrem ao menos quatro citações a pessoas
que tinham esse nome:
• Tiago, pai de Judas
(Lc 6.16);
• Tiago, filho de
Zebedeu e irmão de João;
• Tiago, filho de
Alfeu. Há estudiosos que o identificam como Tiago, o pequeno, filho de Maria
(Mc 15.40).
Tiago, irmão do
Senhor. Esta tem sido a teoria mais corrente em relação à autoria desta Carta.
Paulo o destaca como apóstolo (G1 1.19), um homem que era considerado um dos
pilares da igreja.
D. A. Carson aborda
dessa forma a pluralidade de candidatos à autoria:
Destes quatro [Carson
cita Tiago, filho de Zebedeu e irmão de João, Tiago filho de Alfeu, Tiago o
menor e Tiago, irmão do Senhor], o último é de longe o mais óbvio candidato à
autoria desta carta. Tiago, o pai de Judas é por demais obscuro para ser
seriamente considerado; o mesmo vale, num grau menor, para Tiago, o filho de
Alfeu. Por outro lado, Tiago, o filho de Zebedeu, tem um papel de destaque
entre os Doze, mas a data de seu martírio — 44 d.C. (Veja At 12.2) — é
provavelmente muito cedo para que o liguemos à carta. Resta, então, Tiago, o
irmão do Senhor, que certamente é o Tiago mais proeminente na Igreja Primitiva.
Há ainda estudiosos que entendem que essa carta é de autoria anônima. Sobre
esse assunto, Carson comenta:
Poucos estudiosos têm
atribuído a carta a um Tiago desconhecido. Mas embora isso seja possível e não
conflite em nenhum aspecto com nada existente na própria carta, a simplicidade
da identificação do autor indica um indivíduo bem conhecido — e uma pessoa tão
bem conhecida seria provavelmente mencionada no Novo Testamento.
Depois de brevemente
apresentadas as teorias, a Igreja Cristã tem tido em Tiago, o irmão de Jesus e
bispo em Jerusalém, o autor dessa carta que atravessou os séculos e até hoje
fala com toda a igreja.
Data
A carta de Tiago já
recebeu diversas propostas de datação. Esta tem sido determinada por alguns
especialistas como tendo sido escrita em 45 ou 62 d.C. Os argumentos orbitam da
seguinte forma para se deduzir que foi escrita em um desses períodos. Conforme
Josefo, o martírio de Tiago ocorreu em 62 d. C, portanto, ele teve de escrever antes
desse período sua carta. A epistola não faz menção sobre a controvérsia de
judeus e cristãos entre
os anos 50 e 60. Como relata o livro de Atos, Tiago foi o chamado “moderador”
do Concílio de Jerusalém, evento que provavelmente teria sido realizado o ano
50 d.C. e que discutiu a chegada de gentios no seio da igreja cristã. E há
estudiosos que entendem que como a Carta de Tiago não cita o apóstolo Paulo, é
provável que Tiago escreveu sua Carta antes de Paulo ter sido considerado um
obreiro de destaque.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 13-15.
Tendo visto
claramente as dificuldades que circundam este livro, no tocante à sua
autoridade e canonicidade, podemos mais facilmente dizer algo de significativo
sobre a questão do pró p rio a u to r. O livro identifica algum «Tiago» como
seu autor. Mas, qual Tiago está em foco, que nos seja conhecido no N.T.? Ou
tratar-se-ia de um Tiago desconhecido? Ou seria este livro uma pseudepígrafe,
isto é, escrito em nome de um famoso Tiago do N .T., mas não na realidade? Essa
prática era comum nos primeiros séculos da era cristã, havendo mais de cem escritos
dessa natureza que chegaram até nós, supostamente de famosos cristãos
primitivos, mas certamente sem que isso seja verdade. E esses são 08 escritos
acerca dos quais temos algum conhecimento, pelo menos a través de fragmentos,
ou títulos mencionados por outros pais da igreja.
Deve ter havido um
número muito maior de casos. Tal prática não era reputada desonesta, naqueles
dias; era uma prática comum, usada tanto na literatura profana como na sagrada.
1. Tiago, filho de
Zebedeu, irmão de João. incluído em todas as quatro listas sobre os doze
apóstolos. Foi decapitado a mando de Herodes Agripa I, em 44 D.C. ou pouco
antes. (Ver Atos 12:2).
2. Tiago, filho de
Alfeu, um dos doze apóstolos. (Ver Mat. 10:3; Marc. 3:18; Luc. 6:15 e Atos
1:13).
3. Tiago, irmão do
Senhor. (Ver Gál. 1:19; 2:9,12; I Cor. 15:7; Atos 12:17; 15:13 e 21:18). Ficou
convicto do caráter messiânico de Jesus, evidentemente através de aparição pessoal
a ele, após a ressurreição de Cristo. Subsequentemente, tornou-se o líder
principal da igreja de Jerusalém, uma figura de estatura sumo sacerdotal, muito
respeitado entre judeus e cristãos, igualmente.
4. Tiago, o Menor
(uma alusão à sua pequena estatura, a fim de distingui-10 de outros personagens
do mesmo nome). (Ver Marc. 15:40; Mat. 27:56; Luc. 24:10). Muitos identificam
esse Tiago com o filho de Alfeu.
5. Tiago, pai ou
irmão de Judas, um dos doze apóstolos (ver Luc. 6:16 e Ato s 1:13). Ao invés desse
Judas (não o Iscariotes), nas listas dos evangelhos de Marcos (capitulo terceiro)
e de Mateus (capítulo décimo), aparece o nome de Tadeu ou Labeu.
6. Tiago, autor da
epístola, que possivelmente, pode ser com um ou outro dos Tiagos mencionados
acima.
7. Tiago, irmão de
Judas (ver Jud. 1), por meio de quem a epístola de Judas teria sido escrita.
Dentre esse número,
os Tiagos de posição primeira, segunda, terceira e sétima têm sido
identificados como o autor da epístola.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 2-3.
A. Autoria
O autor identifica-se somente como “Tiago,
servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo” (1.1). Havia vários homens importantes
no Novo Testamento que se chamavam Tiago. No entanto, há uma forte evidência,
defendida por muitos estudiosos da Bíblia, de que o autor era o líder da igreja
em Jerusalém (At 15.13). Paulo se refere a ele como “Tiago, irmão do Senhor” e
o inclui entre os “apóstolos”1 (G11.19). Em Gálatas 2.9, ele caracteriza Tiago
como um dos “pilares” da Igreja.
Este Tiago é mencionado duas vezes nos
evangelhos (Mt 13.55; Mc 6.3). Nas duas passagens ele é identificado como um
dos irmãos de Jesus. Ele somente se tornou um seguidor do nosso Senhor após a
Ressurreição. Ele estava entre os discípulos primitivos que, no cenáculo,
esperavam pela descida do Espírito Santo e “perseveravam unanimemente em oração
e súplica” (At 1.14).
A habilidade e fé de Tiago logo o colocaram
num lugar de proeminência entre os cristãos primitivos. Quando Pedro deixou a
Palestina (At 12.17), tudo indica que Tiago assumiu a liderança da igreja de
Jerusalém. Três anos após a conversão de Paulo, ele visitou os líderes de
Jerusalém e lá viu “Tiago, irmão do Senhor” (G11.19). Em Atos 15, na assembléia
que discutia a admissão dos gentios na Igreja, Tiago era o ministro que
presidia a reunião. Na mesma visita a Jerusalém, “Tiago, Cefas e João”
estenderam a destra da comunhão a Paulo e Barnabé (G1 2.9). Na sua última
visita a Jerusalém, quando Paulo apresentou seu relatório, “Tiago, e todos os
anciãos vieram ali” (At 21.18).
De um homem nessa posição de responsabilidade
e autoridade haveríamos de esperar uma carta pastoral de conselhos práticos
concernentes a questões que afetavam a vida espiritual da Igreja. E isso que
encontramos nesta epístola.
A. O Autor, 1.1
As cartas no primeiro século geralmente
iniciavam com o nome do autor, seguido pelo nome do receptor e uma fórmula de
saudação na mesma ordem que aparecem nesta carta. O autor identificou-se
simplesmente como Tiago. Provavelmente, nenhuma outra explicação era necessária
para os cristãos daquela época. Eles logo compreendiam tratar-se de Tiago de
Jerusalém, o reconhecido líder da Igreja. (Veja Int., “Autoria”).
B. As Credenciais do Autor, 1.1
Com um verdadeiro espírito cristão, Tiago
apresentou-se aos seus leitores, não como o líder da Igreja, mas como servo de
Deus e do Senhor Jesus Cristo. O termo servo (doulos) é literalmente um servo
cativo ou escravo. O termo escravo era entendido quando usado em relação ao
homem. No entanto, quando esse termo era usado em relação a Deus, os leitores
judeus compreendiam tratar-se de um adorador.
Às vezes trata-se de maneira negativa o fato
de Cristo ter sido mencionado somente três vezes nesta epístola (1.1; 2.1;
5.8). Pode-se supor que a razão não era um desinteresse por parte de Tiago, mas
sim que os leitores cristãos conheciam o fundamento da sua mensagem. Em todo
caso, há uma evidente declaração da suprema lealdade cristã na frase de
abertura do apóstolo. Servo de Deus era uma frase comum do Antigo Testamento.
Tiago acrescenta a ela a dimensão distintamente neotestamentária — um adorador
do Senhor Jesus Cristo. O autor desta carta é um homem que serve a Deus e
aceita a divindade de Jesus.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 10. pag. 147, 152-153.
O AUTOR
A – A situação
inicial
1 – A carta de Tiago
em si não traz nenhuma referência direta sobre quem é o autor.
2 – A tradição da
igreja antiga nomeia como autor o irmão mais velho do Senhor, Tiago. No
entanto, chama atenção que por um período relativamente longo a carta de Tiago
não tenha sido reconhecida como escrito canônico, i. é, como pertencente ao
conjunto dos livros do NT. É a posição de Orígenes (falecido por volta de 254
d.C.) e Eusébio (séc. IV). Este, porém, declara que a carta era lida em público
na maioria das igrejas. Foi somente durante o séc. IV que ela se impôs
definitivamente na igreja oriental e ocidental (Cirilo, Atanásio, Jerônimo,
Agostinho). Contudo não se tem notícia de que na igreja antiga também tenha
sido citada outra pessoa além de Tiago, irmão do Senhor.
3 – Dentre os
portadores do nome Tiago no NT dificilmente outra pessoa além do irmão do
Senhor poderia ser cogitada como autor da carta. No grupo dos discípulos de
Jesus dois homens têm o nome Tiago: Tiago, filho de Zebedeu e irmão de João, e
Tiago, filho de Alfeu (cf. Mt. 4.21 e as duas listas de apóstolos em Mt 10.2ss
e Lc 6.14ss). No NT há ainda outros homens chamados Tiago: a fim de ser
diferenciado de Judas Iscariotes, um segundo Judas entre os discípulos é
chamado de filho de Tiago (Lc 6.16). E, entre as mulheres que observavam à
distância os acontecimentos no Calvário, Maria é chamada de mãe de “Tiago, o
menor” (Mc 15.40). De todos eles, é somente a respeito de Tiago, filho de
Zebedeu, que o NT menciona mais do que meramente o nome. Ele fazia parte dos
três discípulos que Jesus levou consigo para a casa de Jairo, para o monte da
transfiguração e para a agonia no Getsêmani. Já no ano de 44, Tiago foi
decapitado por Herodes, enquanto Pedro experimentou uma milagrosa salvação pela
intervenção de um anjo (At 12.2ss). Por isso, dificilmente podemos cogitar
Tiago, filho de Zebedeu, como autor da carta de Tiago. Afinal, essa carta
registra uma experiência longa e rica com a igreja cristã. Os demais
permaneceram desconhecidos demais para que um deles pudesse se apresentar em
uma carta eclesial simplesmente como “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus
Cristo”. Por isso, de fato somente o irmão do Senhor pode ser considerado como
possível autor dentre todos os portadores do nome Tiago citados no NT.
B – Argumentos contra
a autoria do irmão do Senhor
A pesquisa crítica
arrola várias razões pelas quais Tiago, o irmão de Jesus, não escreveu a carta.
Alegou-se em especial que:
1 – O grego usado na
redação da carta é o de uma pessoa erudita, versada, com artifícios linguísticos
como trocadilhos etc. É o grego de um homem que provavelmente tinha este idioma
como língua materna. Em contraposição, Tiago, irmão do Senhor, era palestino e
uma pessoa simples. Sua língua materna era o aramaico, e ele dificilmente
esteve alguma vez no exterior.
2 – Tg 2.14ss,
dizia-se, debatia um equívoco evidentemente bastante disseminado acerca da
teologia de Paulo. Por isso a carta de Tiago provavelmente teria sido redigida
posteriormente ao período de vida de Tiago, irmão do Senhor.
3 – O problema dos
mandamentos rituais e cultuais, algo particularmente importante para a primeira
igreja, não é mencionado em lugar algum. Tiago, irmão do Senhor, dificilmente
teria escrito dessa forma. Também foi afirmado que no tempo da redação da carta
a controvérsia entre os cristãos gentílicos e cristãos judeus acerca do
mandamento cultual e ritual já teria sido superada há muito e pouco conhecida.
Isso deporia em favor da escrita da carta em torno de cem anos depois da morte
de Tiago, irmão do Senhor.
4 – O fato de que a
carta de Tiago foi reconhecida apenas tardiamente como escrito do NT
demonstraria que a igreja antiga não era unânime acerca da autoria da carta
pelo irmão do Senhor (de acordo com Orígenes, a carta de Tiago não fazia parte
dos escritos de reconhecimento geral, e também Eusébio a relaciona entre os
antilegomena, i. é, os escritos “contestados”).
C – Posicionamento
diante desses argumentos contrários
1 – Pedro escreveu
sua primeira carta “por meio de Silvano, o fiel irmão” (1Pe 5.12). Portanto é
possível que também Tiago, líder da primeira igreja em Jerusalém (veja abaixo,
item D), tenha mandado escrever sua carta dirigindo-se a igrejas de outros
países, que devem ter sido constituídas principalmente por cristãos judeus
estrangeiros de fala grega, valendo-se dos préstimos de um cristão judeu de
fala grega em Jerusalém (posição de Wilhelm Michaelis: Einleitung in das NT,
1946, BEG-Verlag, Berna), o qual conhecia com exatidão a forma de pensar dos
destinatários. Não era pequeno o grupo desses cristãos judeus em Jerusalém (At
6.1). A maioria dos chamados “diáconos”, liderados por Estêvão, podem ter sido
escolhidos do seio desse grupo. Todos os diáconos tinham nomes gregos. Na
verdade a carta de Tiago foi escrita em grego fluente no tocante ao idioma, mas
traz um modo de pensar hebraico em seu conteúdo e se compara com coletâneas de
sabedoria do AT e do judaísmo. – A carta, que comunica às igrejas a decisão do
“concílio dos apóstolos” (At 15.23ss) , contém a mesma saudação helenista que
não ocorre em mais nenhum lugar do NT e que no grego também consta em Tg 1.1.
Essa carta possivelmente foi concebida por Tiago, que conforme At 15,
apresentou a correspondente sugestão de acordo. Talvez nesse caso também tenha
trabalhado o mesmo intérprete e escrevente que colaborou com a redação da carta
de Tiago. Alguns pesquisadores também opinam que seus primeiros destinatários
(cf. também a comunicação em At 15.23) tenham sido igrejas na Síria e Cilícia.
2 – No tocante ao
conteúdo e à forma, a carta de Tiago possui fortes semelhanças com o Sermão do
Monte e outras pregações de Jesus (cf., p. ex., Tg 1.22 com Mt 7.21,26; Tg 2.10
com Mt 5.19; Tg 2.13 com Mt 5.7; Tg 3.18 com Mt 5.9; Tg 4.5 com Mt 6.24; Tg
4.12 com Mt 7.1; Tg 5.2 com Mt 6.19; Tg 5.12 com Mt 5.34,37. – Cf. também a
posição semelhante de Jesus e Tiago em relação a pobres e ricos, Lc 6.24s;
16.19-25; Tg 5.1-6). Como aquelas, a carta se assemelha à forma de exposição da
sabedoria proverbial do AT. Isso permite supor que a carta também surgiu em um
momento cronologicamente próximo à proclamação de Jesus. Vários exegetas, como
Adolf Schlatter, Gerhard Kittel e Wilhelm Michaelis, suspeitam que a carta de
Tiago seja um dos escritos mais antigos do NT.
Como será demonstrado
no comentário sobre Tg 2.14ss, esse trecho da carta contém uma controvérsia
apenas aparente com a teologia do apóstolo Paulo. O conceito decisivo “obras”
possui significados diferentes em Tiago e em Paulo. As palavras da carta de
Tiago também podem estar discutindo com um orgulho generalizado pela posse da
verdade, um orgulho não disposto a obedecer a essa verdade. E podem combater o
equívoco de transformar a graça que nos foi propiciada e anunciada por Jesus,
como também é expressa nos evangelhos (Lc 15.22-24; 18.14; 23.43; Jo 8.11), em
motivo de acomodação. A graça e o Espírito de Deus, bem como a obra redentora
de Jesus Cristo, não visam gerar filhos desobedientes, mas obedientes a Deus.
3 – Possivelmente
Tiago, o irmão de Jesus, já tenha escrito a carta antes que a controvérsia em
torno da lei cultual e ritual tenha ficado bem evidente. Consequentemente,
Tiago poderia ter anunciado, como seu Senhor e Mestre Jesus Cristo, sobretudo a
vontade de Deus que nos compromete eticamente, assim como também já fizeram os
profetas do AT. Também Jesus só falou detalhadamente a respeito das leis
cultuais e rituais depois que isso se tornou imperioso devido ao conflito com
os fariseus e escribas. Se Tiago era “servo de Jesus Cristo” (Tg 1.1), deve-se
supor que também para Tiago, assim como para seu Senhor, importava acima de
tudo a vontade de Deus que compromete eticamente toda a nossa vida.
Até mesmo se Tiago
tivesse escrito somente depois da reunião dos apóstolos relatada em At 15, em
que ele mesmo sugeriu o acordo, a questão deve ter ficado clara tanto para ele
como para as igrejas às quais a decisão foi comunicada, e que possivelmente
também foram as primeiras destinatárias desta carta. Logo, não havia mais
necessidade de abordar a questão.
4 – Podem ter havido
duas razões para que a carta de Tiago não fosse aceita no acervo dos escritos
do NT por um tempo relativamente longo:
a) É possível que a
carta de Tiago tivesse um grupo de leitores relativamente pequeno,
primordialmente judeus cristãos. Somente mais tarde é que ela se tornou mais
amplamente conhecida.
b) Talvez várias
pessoas considerassem a carta de Tiago como sendo um escrito das igrejas
cristãs judaicas que se isolaram fortemente em relação às demais, sobretudo da
igreja cristã gentílica, e cujos escritos não constavam
da tradição geral do
primeiro cristianismo. De qualquer modo vemos a atuação do Espírito de Deus no
fato de que a igreja antiga finalmente acabou acolhendo no cânon do NT a tão
importante carta, que em diversos aspectos complementa o testemunho restante do
NT, e que é prática e inquietante.
Consideramos muito
provável que a presente carta seja de autoria do Tiago irmão do Senhor
(posições de Adolf Schlatter, Gerhard Kittel, Wilhelm Michaelis, Kurt Hennig,
Walter Warth). O único líder cristão conhecido no primeiro cristianismo que se
chamava Tiago era Tiago, o irmão do Senhor. O autor da carta cita somente seu
nome. Ele sabe que é conhecido. Com singeleza e naturalidade a carta advoga
para si a necessária autoridade. Se, p.ex., outra pessoa, de época posterior,
tivesse pretendido escrever sob o nome do irmão do Senhor – como supõem vários
– ele com certeza teria se intitulado expressamente de “irmão do Senhor”.
Precisamente essa singela indicação de autoria depõe de forma decisiva em favor
do conceito de que de fato não se trata de outra pessoa que não Tiago, o irmão
do Senhor.
Contudo, a questão da
autoria por parte do irmão do Senhor com certeza não é determinante, ainda mais
porque nem a própria carta levanta tal reivindicação. Afinal, cremos no Senhor
testemunhado e em sua palavra, não nas testemunhas.
D – A vida de Tiago,
irmão do Senhor
Uma vez que
consideramos plausível a autoria de Tiago, o irmão do Senhor, apresentemos aqui
algumas coisas sobre sua vida:
1 – Além do irmão
mais velho, por assim dizer um meio-irmão, Jesus, Tiago tinha mais três irmãos
mais novos: José, Simão e Judas (Mt 13.55) e no mínimo mais duas irmãs (em Mt
13.56 a palavra ocorre no plural).
No início Tiago não
creu em Jesus. Depois que eclodiu o conflito entre Jesus e o poderoso partido
dos fariseus, bem como com os influentes escribas, sua família quis trazê-lo
para casa: “Saíram para o prender; porque diziam: Está fora de si!” (Mc 3.21).
Parecia-lhes como um ato de loucura arriscar esse confronto (a razão mais
profunda para esta tentativa de levá-lo para casa deve ter sido justamente esse
conflito, cf. Mc 2.18-3.6.) Os irmãos tentavam proteger Jesus e toda a família
da vergonha do apedrejamento ou da cruz. Também tinham convencido Maria, a mãe,
a ir com eles (Mc 3.31ss). – Contudo, os irmãos certamente também tinham
esperança de que junto de seu irmão mais velho, que flagrantemente era uma
pessoa especial, também poderiam ser pessoalmente engrandecidos. Por isso o
desafiaram a não apenas mostrar seu poder milagreiro no recôndito da Galiléia,
mas no grande “palco” de Jerusalém e da festa dos tabernáculos. Talvez tivessem
esperança de que agora ele finalmente se manifestasse como o Messias (Jo 7.3s).
Nessas duas iniciativas, que Tiago, o mais velho depois de Jesus, deve ter
liderado, percebe-se que os irmãos de Jesus pensavam de forma tipicamente
humana, “porque também seus irmãos não criam nele” (Jo 7.5).
2 – Após a Páscoa,
porém, aconteceu a grande mudança na vida de Tiago. O Senhor ressuscitado lhe
aparecera (1Co 15.7). Não existe nenhum relato detalhado acerca deste encontro
no NT, assim como tampouco sobre o primeiro encontro de Pedro com o Senhor
ressuscitado (1Co 15.5; Lc 24.34).
Agora Tiago, sua mãe
e os irmãos se associam ao grupo dos apóstolos (At 1.14). Em breve ele teria
uma posição de liderança na primeira igreja, a congregação cristã judaica de
Jerusalém. Isso se nota pela menção expressa de Tiago em At 12.17, onde Pedro
se despede da igreja de Jerusalém. Também Gl 1.19 cita Tiago como um dos homens
decisivos em Jerusalém.
A importância de
Tiago evidenciou-se especialmente pela forma como cooperou no “concílio dos
apóstolos” (At 15). Propôs o acordo decisivo a ser celebrado entre os cristãos
judeus e gentílicos (At 15.13-21). Esse acordo não excluía tensões ocasionais.
Elas não se manifestaram entre Paulo e Tiago, mas entre Paulo e os adeptos de
Tiago (Gl 2.9,12). No relevante esforço de encontrar o caminho certo para o
novel cristianismo, que se desenvolvera a partir de um grupo no seio do
judaísmo até tornar-se uma entidade independente, Tiago defendia, no convívio
entre cristãos judeus e gentílicos, particularmente os interesses dos grupos
judaicos. Seu coração batia intensamente em favor da obediência séria à santa e
salutar vontade de Deus já revelada no AT. Isso se torna visível também na
presente carta, o que depõe em favor da autoria do irmão do Senhor.
3 – No contexto
externo à Bíblia há informações de que Tiago viveu ainda até a década de
sessenta do primeiro século em Jerusalém, sendo chamado pelos judeus de
“justo”: também como cristão ele teria cumprido com grande fidelidade a lei do
AT, orando e jejuando intensamente. Isso lhe teria rendido entre o povo um
respeito tão grande que, ao contrário de outros líderes cristãos, conseguiu se
manter em Jerusalém durante toda uma geração.
A respeito da morte
de Tiago, irmão do Senhor, há dois relatos extrabíblicos que concordam no fato
de que ele sofreu o martírio: o historiador judaico Josefo informa que Tiago
teria sido entregue ao apedrejamento pelo sumo sacerdote Anás II depois do
falecimento do governador Festo e antes da chegada de um novo governador romano
(ou seja, durante um interregno, que lhe propiciou certa liberdade de manobra)
no ano de 62 (Josefo descreveu a guerra judaico-romana – 66-70 d.C. – e faleceu
por volta de 100 d.C.). O escritor cristão Eusébio (séc. IV), porém, reproduz
um informe de Hegésipo, do séc. II, segundo o qual Tiago, pouco antes de
eclodir a guerra judaico-romana no ano de 66, foi lançado do pináculo do templo
por uma multidão furiosa, instigada pelos fariseus e escribas, e trucidado com
uma clava. Estava eliminado o homem cujo serviço sacerdotal de intercessão por
Israel havia detido a desgraça. Esta seguiu seu curso.
Fritz
Grünzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
2. Local e Data.
Tiago escreveu esta
carta aproximadamente entre 47 e 49 d.C.
Há diversas razões
para crer que a carta de Tiago tenha sido escrita no início da vida da igreja.
• Tendo Tiago, o
irmão de Cristo, como seu autor, a carta teria que ter sido escrito antes de 62
d.C., ano do martírio de Tiago, de acordo com Josefo.
• A carta não
menciona a controvérsia sobre judeus e gentios dos anos 50 e 60. Lembre-se de
que Tiago foi o moderador do Concilio de Jerusalém, reunido para debater esta
questão (At 15). Supõe-se que este concilio tenha sido realizado aproximadamente
no ano 50 d.C. Paulo passou muito tempo comentando o problema dos judaizantes
nas suas cartas.
• Esta carta não faz
menção ao apóstolo Paulo ou alusões aos seus escritos. Portanto, é provável que
ela tenha sido escrita antes que Paulo atingisse grande proeminência na igreja.
• Tiago não fala a
respeito dos falsos ensinos, outra questão posterior na igreja e um tema
importante nos escritos de Paulo, Pedro, Judas e João. A carta de Tiago foi
escrita após a morte de Estêvão (35 d.C.), a perseguição que fez com que muitos
crentes de Jerusalém fugissem para salvar suas vidas, a conversão de Paulo (35
d.C.), e a morte de Tiago, o apóstolo (44 d.C.).
Ela foi escrito antes
do Concílio de Jerusalém (50 d.C.), da segunda e terceira viagens missionárias
de Paulo (50-52 d.C. e 53-57 d.C.), do aprisionamento final e do martírio de
Paulo (aproximadamente 67 d.C.), e da destruição de Jerusalém, por Tito (70
d.C.).
Alguns defendem uma
data posterior e outro autor, devido à excelente qualidade do idioma grego
usado no livro. A língua-mãe de Tiago seria o aramaico, e ele provavelmente não
teria sido fluente em um bom grego helénico. É possível, no entanto, que Tiago,
como Paulo (veja Cl 4.18), usasse um “secretário” para traduzir as suas
palavras para o grego, a língua do mundo comercial e a escolha apropriada para
alcançar os que estavam espalhados pelo mundo inteiro.
Tiago escreveu a
cristãos judeus do século I. Ele também escreveu a nós, hoje, que também
estamos “dispersos entre as nações”. Embora separados por aproximadamente vinte
séculos, as necessidades sáo praticamente as mesmas, e a mensagem de Tiago
ainda precisa ser ouvida e aplicada.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 651-652.
Não há evidência na
epístola ou de fontes externas que ajudem a determinar exatamente a data em que
foi escrita esta carta. Alguns estudiosos conservadores argumentam que esta
carta pode ter sido escrita em 45 d.C., outros já acreditam que ela foi escrita
em 62 d.C. As datas mais precoces se baseiam no fato de que na epístola o autor
não faz nenhuma menção do problema da admissão de gentios na Igreja. Sabemos
que Tiago estava profundamente preocupado com esta questão numa época
posterior. Aqueles que propõem uma data posterior ressaltam a condição
relativamente estabelecida da Igreja refletida na epístola. Tiago não parece
estar muito preocupado em colocar os fundamentos e ressaltar doutrinas
evangélicas para uma Igreja que está dando seus primeiros passos na fé. Isto
favorece a ideia de a epístola ter sido escrita numa data posterior. Assim, o
conteúdo sugere que esta carta foi escrita numa data posterior às cartas aos
Gálatas e aos Romanos, nas quais o autor tratou de assuntos doutrinários
fundamentais. O aspecto-chave não é o ano exato, mas o período. Se, como tudo
indica, Tiago foi martirizado em 63 d.C., a epístola obviamente foi escrita
antes dessa data.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 10. pag. 148.
Em face do que foi
dito antes acerca da autoria e da forma da carta, sua data pode ser apurada a
seguir. É evidente que os que não crêem que Tiago, o Justo, tenha sido o autor
dessa carta, datam-na relativamente tarde, cerca de 70-130 d.C., e com mais
freqüência entre 80-100 d.C. Todavia, argumentamos anteriormente que Tiago, o
Justo, foi a fonte dos sermões contidos na carta, o que significa que o material
pertence à época da vida de Tiago, a saber, antes de 62 d.C. Além disso, Tiago
2:14-26 com toda a probabilidade teria sido composto como uma unidade antes de
Tiago ter tido a oportunidade de conversar com Paulo sobre as doutrinas características
do apóstolo. Isso faz que a data desta parte da carta recue para antes de 49
d.C., pelo menos. Todavia, essa data é satisfatória para qualquer parte da carta,
visto que a igreja por essa época tinha mais de quinze anos de existência, isto
é, ela teria idade suficiente para apresentar quaisquer dos problemas descritos
por Tiago. Na verdade, a década de quarenta foi uma época de escassez econômica
em Jerusalém, circunstância que se encaixa na insegurança financeira e na vulnerabilidade
que a igreja de Tiago está experimentando. Assim, é provável que grande parte
do material da carta se tenha originado em meados da década de quarenta, tendo
circulado oralmente, ou em tradução grega tosca, durante uma década mais ou
menos, antes de chegar à sua forma final.
A segunda etapa do
trabalho, a versão final para publicação, é mais difícil de datar. Seria com
toda a probabilidade anterior a 66 d.C., visto que a fuga da igreja para Pela
teria posto um fim na continuidade de contatos com Jerusalém, e Tiago, o Justo,
precisava coligir as tradições. É difícil saber quantos anos antes isso
ocorreu.
É muito provável que
a morte de Tiago tenha motivado fortemente a redação da carta, visto que, tendo
silenciado aquela voz poderosa, é certo que teria surgido o desejo, no seio da
igreja entristecida, de preservar seus ensinos para o verdadeiro Israel — “às
doze tribos da Dispersão” — a todo o povo de Deus espalhado pelo mundo. Isso
explicaria também outros dois fatos: (1) o de Hermas ter obtido uma cópia em
Roma, por volta de 96 d.C., visto ter decorrido bastante tempo entre 66 e 96
d.C., para que uma cópia chegasse aos judeus cristãos de Roma, e (2) o fato de
Tiago não ser mencionado senão por Orígenes, cerca de 256 d.C., porque uma obra
judaico-cristã que não fosse útil numa controvérsia doutrinária logo estaria um
tanto esquecida pela igreja de Jerusalém em exílio e, a seguir, em luta pela
sua existência distintiva, visto que a missão judaica entrou em colapso com a
queda de Jerusalém em 70 d.C.
Russell P. Shedd,.
Edmilson F. Bizerra. Uma Exposição De
Tiago A Sabedoria De Deus. Editora Shedd
Publicações. pag. 24-25.
O local da composição
As conclusões que
tiramos sobre a autoria e a data da carta praticamente determinam o local da
composição. Tiago viveu em Jerusalém durante este período e seus leitores,
provavelmente, se encontrariam em regiões imediatamente fora da Palestina,
junto à linha costeira para o norte, na Síria e, talvez, no sul da Ásia Menor.
Várias alusões na carta, principalmente a referência às “primeiras e últimas
chuvas” (5.7), parecem confirmar esta localização; pois apenas ao longo da
costa oriental do Mar Mediterrâneo é que as chuvas ocorrem nesta seqüência.
Laws recentemente sugeriu Roma como o local de origem da carta,2 mas as únicas
razões que ela fornece são as semelhanças literárias entre Tiago e várias obras
com origem em Roma: 1 Pedro, Hermas e 1 Clemente.
As condições sociais
generalizadas no Oriente Próximo, na metade do primeiro século, também
correspondem à situação pressuposta em Tiago. Os comerciantes que andavam de um
lado para o outro em busca de lucro (4.13-17) e os senhores de terras,
freqüentemente absenteístas, que exploravam uma força de trabalho cada vez maior
e mais pobre (5.1-6), eram figuras bem conhecidas. Igualmente familiares eram
os sempre violentos e odiosos debates religiosos que parecem ter infectado as
igrejas que estavam sob os cuidados de Tiago (veja 3.13-4.3). O movimento
zelote, que procurava alcançar a liberdade para Israel usando meios violentos,
estava se tornando cada vez mais influente. De fato, alguns eruditos pensam que
Tiago 4.2 — “cobiçais e nada tendes; matais” — pode ser uma referência aos
partidários do movimento zelote, os quais haviam trazido para dentro da igreja
sua ideologia violenta.3 Seja isto verdade ou não, as condições sociais da
Palestina e da Síria do primeiro século certamente fornecem uma tela de fundo
apropriada para a carta de Tiago.
Douglas J. Moo. Tiago. Introdução
e Comentário. Editora
Vida Nova. pag. 35-36.
3. Destinatários.
Destinatários
O autor da carta
indica que seus destinatários são as 12 tribos que estão dispersas. Como os
judeus foram os primeiros convertidos à fé cristã, principalmente porque o
evangelho de Jesus foi primeiramente pregado a eles, e a Igreja Primitiva teve
sua origem em Jerusalém, não é difícil entender que esse escrito teria sido
inicialmente para eles, mas isso não exclui a possibilidade de os gentios
estarem sendo posteriormente incluídos nos sermões dessa epístola.
Essa referência é
claramente simbólica, se considerarmos que a estrutura tribal de Israel havia
cessado de ser um conjunto literal de doze tribos desde pelo menos a conquista
da Assíria do Reino do Norte em 722 a. C. A questão que se apresenta, então, é:
até que ponto Tiago estende aos seus leitores os elementos metafóricos de sua
designação? A interpretação mais “literal” da saudação é que cópias dessa carta
foram enviadas aos judeus (às “doze tribos”) que estavam vivendo fora da
Palestina (“dispersos entre os gregos”; cf Jo 7.35). No entanto, levando em
conta que a carta obviamente não representa um tratado evangelístico destinado
a converter os judeus ao cristianismo, esse entendimento pode ser rapidamente
excluído.
Os destinatários são
apresentados como já possuindo a fé em Jesus Cristo (2.1) e, sendo assim, a
linguagem a respeito das “doze tribos” é geralmente aceita como simbolizando a
crença de que cristãos são agora o povo de Deus, e formam o novo Israel ou Israel
espiritual.
Partindo dessa
orientação, podemos entender que os destinatários não eram apenas judeus, mas
igualmente gentios que se tinham chegado à fé em Jesus Cristo e agora fariam
parte da igreja cristã.
Local
Jerusalém tem sido
considerada o local da confecção desta carta, apesar de ela mesma não trazer
qualquer indicação de que tenha sido escrita lá. A base para essa teoria está
mais vinculada à tradição da igreja. Pelo fato de essa carta ter circulado
primeiramente na Palestina, como registram alguns pais da igreja como Orígenes,
acredita-se que Jerusalém foi de fato a localidade de origem dessa epístola.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 15-16.
“As doze tribos que
andam dispersas” (1.1).
O cristianismo é
judeu. Isto pode parecer uma contradição, mas é verdade.
Maria, a mãe do nosso
Senhor, era judia, como também José era judeu. Sendo assim, Jesus foi criado em
um lar judeu. E no seu ministério público, Jesus dirigia-se primeiro aos
judeus, o povo escolhido de Deus, chamando-os ao arrependimento e à fé. Todos
os doze discípulos originais eram judeus. O cristianismo iniciou-se no Templo e
na sinagoga, quando os judeus que procuravam encontravam o Messias.
Portanto, é bastante
natural que Jerusalém fosse o berço da igreja. Este é o lugar onde Jesus foi
crucificado e onde Ele ressuscitou e posteriormente ascendeu ao céu.
Em Jerusalém, o
Espírito Santo encheu o primeiro grupo de crentes. E ali foi onde os apóstolos
ministraram. A igreja de Jerusalém teve um crescimento explosivo, com milhares
de pessoas respondendo positivamente ao Evangelho (At 2.41; 4.4; 5.14; 6.1,7).
Os crentes encontravam-se nos pátios do Templo e nas suas casas (At 5.42), adorando,
comendo, aprendendo, e servindo juntos.
Jesus disse aos seus
seguidores que transmitissem a fé além de Jerusalém, “em toda a Judéia e
Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8). No sermão do monte das Oliveiras,
Jesus predisse uma perseguição terrível e a destruição final de Jerusalém (Lc
21.5-24) - Jesus sabia que os seus seguidores se espalhariam. A perseguição começou
pouco tempo depois da ascensão de Jesus. Quer estes primeiros cristãos estivessem
prontos ou não, muitos deles foram forçados a se espalhar pelo império romano
(At 8.1). Eles foram a Samaria e a lugares tão distantes quanto Fenícia, Chipre,
e Antioquia da Síria (At 11.19).
Os crentes espalhados
“iam por toda parte anunciando a palavra” (At 8.4) e, desta forma, acrescentavam
muitos novos convertidos à fé. Isto gerou uma necessidade de acompanhamento, de
instrução espiritual e de incentivo para os novos crentes. Por exemplo, os
apóstolos em Jerusalém enviaram Pedro e João a Samaria, para avaliar o ministério
de Filipe (At 8.14), e enviaram Barnabé a Antioquia, por terem ouvido falar que
os gregos estavam se convertendo ali (At 11.19-22).
Naturalmente, os
seguidores de Jesus, o Messias, já estavam vivendo em muitas terras
estrangeiras, tendo vindo à fé no Pentecostes. Realizada cinquenta dias depois da
Páscoa, Pentecostes (também chamada Festa das Semanas) era uma festa de ação de
graças pela colheita. Todos os anos, judeus de muitas nações reuniam-se em
Jerusalém para esta celebração. De acordo com Atos 2.9-11, “partos e medos, elamitas
e os que habitavam na Mesopotâmia, e Judéia, e Capadócia, e Ponto, e Ásia, e
Frigia, e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros
romanos (tanto judeus como prosélitos), e cretenses, e árabes” ouviram, em suas
línguas nativas, a mensagem que era cheia do Espírito. Eles também ouviram o
poderoso sermão de Pedro (At 2.14-41), e muitos vieram à fé em Cristo. Ao
voltar às suas casas, estes novos convertidos tornaram-se uma equipe
evangelizadora internacional.
Na verdade, é provável
que a igreja em Roma tenha sido fundada por aqueles que ouviram falar sobre
Jesus e creram nele em Jerusalém, por ocasião do Pentecostes.
Tiago, sendo o líder
da comunidade cristã de Jerusalém e o pastor de um rebanho disperso, escreveu a
este grande grupo de crentes judeus em Cristo que estavam vivendo muito longe
dos muros de Jerusalém. Assim ele endereçou a sua carta; “Às doze tribos que
andam dispersas” (1.1). Pelo fato de esta carta ter sido escrita no início da
vida da igreja (antes das viagens missionárias de Paulo), praticamente todos os
crentes teriam sido judeus, mas esta é uma carta para todos os cristáos, tanto
judeus quanto gentios.
Tiago sabia o que
estes jovens crentes estariam enfrentando ao tentarem viver para Cristo, longe
dos apóstolos e anciãos. Haveria provações e perseguições, similares àquelas
que tinham tirado muitos deles de suas casas. Haveria sofrimento.
Haveria tentações.
Haveria pressões. Tiago estava preocupado com que seus irmãos e irmãs cristãos
conseguissem perseverar.
Tiago também sabia
que é fácil voltar a velhos hábitos ou à neutralidade espiritual quando se é
afastado e cercado por aqueles que creem em outras coisas.
Assim, ele desafiou
os seus leitores a irem além de meras palavras e chegarem à ação — viver
segundo a sua fé.
Tiago também estava
preocupado com o corpo, a comunhão, e a igreja. Assim, ele advertiu a respeito
de discriminações e divisões e incentivou os crentes a tomarem cuidado com as
suas palavras, procurarem a sabedoria divina, serem humildes, e orarem uns
pelos outros.
Os leitores desta
carta do século teriam apreciado a abordagem direta e prática de Tiago. Ele foi
direto ao ponto, com respostas orientadas pelo Espírito, que eles tanto
necessitavam.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 654-655.
Os destinatários da
carta
Tg 1.1 diz que “as
doze tribos na dispersão” (em grego diaspora) são os destinatários (cf. 1Pe
1.1).
1 – A quem isso se
refere? Porventura os judeus daquele tempo que viviam no estrangeiro, que desde
o cativeiro babilônico haviam se estabelecido inicialmente nos países orientais
e depois, como vemos particularmente em At, também no Ocidente, em muitas
localidades maiores? Contudo, naquela época as “doze tribos” há tempo já não
existiam. Desde o cativeiro assírio (722 a.C.) as dez tribos do reino do Norte
não existiam mais.
A carta de Tiago é
uma carta cristã, ainda que o nome de Jesus seja mencionado expressamente
apenas em duas ocasiões (Tg 1.1 e 2.1). Toda a carta está nitidamente
impregnada do espírito e da terminologia do Sermão do Monte (cf., p. ex., Tg
1.22 com Mt 7.21,26; Tg 2.10 com Mt 5.19; Tg 2.13 com Mt 5.7; Tg 3.18 com Mt
5.9; Tg 4.5 com Mt 6.24; Tg 4.12 com Mt 7.1; Tg 5.2 com Mt 6.19; Tg 5.12 com Mt
5.34,37). Igualmente se fala da vinda do Senhor (Tg 5.8), sendo que Tg 2.1 diz
quem é o Senhor aguardado. Em Tg 5.14 a comunidade em questão é necessariamente
cristã. No grego consta ekklesia. Era assim que se chamavam as igrejas cristãs,
mas não as sinagogas judaicas. Logo, não pode tratar-se de um escrito judaico.
Mostra-se aqui a vida do grupo trazido ao lar divino por Jesus, seu
relacionamento entre si e perante o contexto em que vivia.
2 – Além disso, é
levantada a pergunta: seriam apenas grupos cristãos judeus os destinatários da
carta de Tiago e, consequentemente, não teria ela nada a ver diretamente
conosco, que viemos de povos gentílicos? Em diversas passagens da Escritura
nota-se como as pessoas que conforme At 15 se reuniram para um “concílio de
apóstolos” (e, em decorrência, o primeiro cristianismo propriamente dito)
entendiam a igreja de Jesus Cristo.
a) Pedro escreve a
igrejas cristãs, das quais evidentemente também participavam cristãos
gentílicos que “outrora viviam na ignorância segundo os desejos” (uma fórmula
fixa de condenação dos judeus sobre os gentios da época): “Vós sois a geração
eleita, o sacerdócio real, o povo santo, o povo da propriedade” (1Pe 1.14;
2.9). Portanto a escolha, dádiva e incumbência do povo de Deus do AT (Êx 19.6)
valiam agora também para o povo de Deus do NT, a igreja de Jesus formada de
Israel e dos povos dentre as nações.
b) Paulo escreve:
“Ele de ambos fez um só” (a igreja de Israel e das nações) “e derrubou o muro
que separava” (Ef 2.14). Na carta aos Romanos ele declara que os cristãos
vindos dos gentios foram enxertados de forma não-natural como ramos silvestres
na oliveira de Israel (Rm 11.17). O povo de Deus do NT, a igreja de Jesus
formada de Israel e das nações, é o povo gerado pelo Espírito de Deus e que
serve a Deus (Jo 1.13; 3.3-6; Fp 3.3), formando agora por assim dizer as “doze
tribos na dispersão”. Estão no mundo, na diáspora (o mesmo termo grego, tanto
em Tg 1.1 como também em 1Pe 1.1), inclusive entre nós, no “Ocidente cristão”.
A multidão assim
reunida constitui, já durante a irrupção da era presente (“primícias”, Rm
11.16), a vanguarda da grande e boa soberania de Deus em Jesus Cristo. A ordem
das doze tribos de Israel é, até mesmo depois de exteriormente as doze tribos
já não existirem, o “quadro”, a moldura para a grande multidão dos que foram
trazidos ao lar. Também os cristãos dentre os gentios agora são por assim dizer
enxertados nas doze “coroas de ramos” da grande oliveira Israel, e no dia de
Jesus Cristo já não faltará nela nenhuma folha sequer. Terá entrado no lar o
número pleno previsto por Deus dentre as nações (Lc 21.24; Rm 11.25). No limiar
do reino milenar de paz de Jesus Cristo, o próximo grande passo de Deus depois
de nosso éon atual rumo à consumação será a salvação, então, de “todo o
Israel”, ou seja, Israel como povo (Rm 11.26). Na seqüência todos os demais
povos também darão honras a Deus (Ap 15.4; cf. 21.3). Veja também abaixo o
comentário sobre Tg 4.4s.
c) À semelhança de
Pedro e Paulo, também Tiago deve ter considerado a igreja de Jesus reunida
dentre Israel e as nações como o Israel da nova aliança, agora transposto para
a diáspora. Em decorrência, também nós cristãos dentre os gentios somos, ao
lado dos cristãos de Israel, os destinatários diretos da carta de Tiago.
Fritz
Grünzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Destino: Alguns
estudiosos têm argumentado que não há destino expresso no caso desta epístola,
nenhuma comunidade especial está em vista. Isso, provavelmente, é correto.
Tiago é, verdadeiramente, uma epístola «católica» ou «universal», que visa a
igreja cristã inteira. O endereço, as «doze tribos» (ver Tia. 1:1), pode ser
reputado como indicação de «cristãos judeus»; mas há quem pense que isso
significa a «igreja cristã», e não o povo de Israel, fé verdade que estão ausentes
«problemas gentílicos» distintivos, nas várias repreensões e exortações
existentes neste tratado. Não há qualquer alusão à idolatria, a escravos, à
lassidão sexual—em suma, os perigos e vícios do paganismo, conforme poderíamos
esperar em uma epístola dirigida para cristãos gentílicos, ou mesmo para a igreja
em geral, onde havia a mistura de elementos judeus e gentios. Essa observação
favorece a ideia que toma a expressão «doze tribos» como suposição que a
epístola foi literalmente escrita a judeus da dispersão. Notemos, em Tia.
2:2, que a palavra
«sinagoga» é usada, ao invés de «igreja»; e bastaria isso para mostrar-nos a
mentalidade «judaica» do seu autor, e, talvez, a mesma coisa, por parte dos
endereçados da epístola. Outrossim, a própria epístola tem numerosas alusões judaicas,
que um autor não haveria de esperar que gentios compreendessem, mas somente os
judeus. A ênfase sobre as esmolas (ver Tia. 2:14-16) e sobre a visita dos
anciãos aos enfermos (ver Tia , 5:10 e ss.), são toques tipicamente judaicos,
talvez visando principalmente os crentes judeus. A despeito dessas coisas,
alguns bons intérpretes contendem pela verdadeira catolicidade ou
universalidade da epístola, isto e, por toda a parte, onde estivesse a igreja
cristã, composta de judeus ou de gentios, era destinada a epístola.
A epístola não indica
condições calamitosas, não havendo qualquer alusão à destruição de Jerusalém, o
que quase certamente ocorreu antes de sua composição. Isso pode indicar um
lugar distante de Jerusalém, e, talvez, fora mesmo da Palestina. A escolha
parece ficar reduzida a: 1. Crentes judeus da dispersão, que seriam seus
principais endereçados; 2. A igreja universal, composta de judeus e gentios.
Seja como for, nenhuma comunidade local parece estar em foco. Não há saudações
e nem informes pessoais.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 7.
II – O
PROPÓSITO DA EPISTOLA DE TIAGO.
1. Orientar Tg 1.27.
O que faz parte do
culto a Deus. “Um culto puro e imaculado perante Deus, o Pai, consiste em
visitar órfãos e viúvas em sua aflição e manter a si próprio incontaminado do
mundo”: Deus nos presenteou com seu grande amor, dando-nos seu Filho unigênito
como irmão e tornando-se assim pessoalmente nosso Pai e a nós, seus filhos (Rm
5.8; 1Jo 3.1). Agora tudo depende de que nós lhe agrademos, como o Filho
primogênito de Deus (Mt 3.17). Duas coisas são citadas aqui como partes
integrantes do verdadeiro culto a Deus: dirigir-se para dentro do mundo e
preservar-se diante do mundo.
“Visitar órfãos e
viúvas em sua aflição”: Tiago cita pessoas que naquele tempo eram especialmente
carentes de ajuda, bem como de proteção jurídica. Literalmente consta: “olhar
por eles”. Isso inclui o cuidado assistencial. Primeiramente ele tinha em mente
os co-cristãos na igreja, mas de forma alguma somente a eles (Gl 6.10). É
condizente com a intenção de nosso Senhor e vale como dirigido a ele, quando
nos dedicamos com toda energia, amor e fantasia às pessoas em torno de nós,
perto e longe, em vista de suas mais diversas carências (Mt 25.45; 18.5).
Uwe
Holmer. Comentário Esperança Cartas aos I Pedro. Editora Evangélica
Esperança.
Tg 1.27. Precisamos
ter em mente que Tiago não está tentando aqui resumir tudo o que envolve a
verdadeira adoração a Deus. Segundo Calvino, “ele não dá uma definição geral de
religião, mas nos lembra de que a religião sem as coisas que ele menciona é
nada...”. ritual religioso, se praticado com um coração reverente e num
espírito de adoração, não é errado — e a Palavra de Deus não pode ser
“praticada” se primeiro não for “ouvida”. Mas Tiago está preocupado com uma
super-ênfase no “ouvir”, em detrimento da “prática”. Neste versículo são
apresentadas duas outras áreas da vida que devem revelar evidências de nosso
“ouvir” reverente da Palavra: preocupação social e pureza moral. O cuidado
pelos órfãos e as viúvas é uma ordem do Antigo Testamento como uma forma de imitar
o cuidado do próprio Deus com estas pessoas — ele é o “pai dos órfãos e
defensor das viúvas” (SI 68.5; PIB). Num texto que apresenta muitas semelhanças
com esta passagem de Tiago, Isaías anuncia que Deus não mais irá aceitar a
adoração que seu povo lhe oferece (a “religião” deles); eles precisam “se
lavar... aprender a fazer o bem; atender à justiça, repreender o opressor;
defender o direito do órfão, pleitear a causa das viúvas” (Is 1.10-17). O órfão
e a viúva tornam-se tipos daqueles que se encontram desamparados neste mundo.
Os cristãos que professam uma religião pura irão imitar seu Pai, intervindo
para ajudar os desamparados. Aqueles que passam necessidade no Terceiro Mundo,
nas cidades; aqueles que estão desempregados e sem dinheiro; aqueles que são
precariamente representados no governo ou na justiça — estas são as pessoas que
deveriam ver abundantes evidências da “religião pura” dos cristãos.
A pureza moral é
outra marca da religião pura. O guardar-se incontaminado do mundo significa
evitar que pensemos e ajamos de acordo com o sistema de valores da sociedade
que nos cerca. Tal sociedade reflete amplamente crenças e práticas não-cristãs
ou, quem sabe, ativamente anticristãs. O cristão que vive “no mundo” corre o
constante perigo de ter sobre si a mácula do sistema. É importante e instrutivo
o fato de Tiago incluir esta última área, pois ela penetra além da ação,
chegando às atitudes e crenças das quais a ação brota. A “religião pura” do
“cristão perfeito” (v. 4) associa a pureza de coração à pureza de ação.
Douglas J. Moo. Tiago. Introdução
e Comentário. Editora
Vida Nova. pag. 86.
Tg 1:27 / Em
contraste com o crente piedoso, cuja língua é todavia afiada, a religião que
nosso Deus e Pai considera pura e imaculada não é primordialmente ritualística,
feita de hábitos piedosos, mas a que procura visitar os órfãos e as viúvas nas
suas aflições e guardar-se incontaminado do mundo. A primeira característica, a
da caridade e do interesse ativo pelos indefesos e fracos, com freqüência é
mencionada no Antigo Testamento (Deuteronômio 14:29; 24:17-22),
bem como no Novo
(Atos 6:1-6; 1 Timóteo 5:3-16). Os órfãos e as viúvas, ao lado dos estrangeiros
e dos levitas, constituíam os pobres dentre o antigo Israel. A verdadeira
piedade, portanto, vai ajudar os fracos e os pobres, porque Deus é quem
sustenta os oprimidos e indefesos (Deuteronômio 10:16-17).
A segunda
característica centraliza-se no mundo, designação comum em Paulo e em João para
a cultura, os costumes e as instituições humanas (1 Coríntios 1- 3; 5:19; Efésios
2:2; João 12:31; 15:18-17; 16; 1 João 2:15-17). A verdadeira piedade não é
conformação à cultura humana, mas a transformação à imagem de Cristo (Romanos
12:1-2). Para Tiago, isso significa especificamente a rejeição dos motivos da
concorrência, da ambição pessoal e do acúmulo de riquezas, paixões que jazem na
raiz da falta de caridade e da multiplicação de conflitos na comunidade (e.g.,
4:1-4). Ao declarar que essa, e nada mais, é a verdadeira religião aos olhos de
Deus, declara Tiago que a conversão é coisa vã se não conduzir a uma vida
transformada.
Russell P. Shedd,.
Edmilson F. Bizerra. Uma Exposição De
Tiago A Sabedoria De Deus. Editora Shedd
Publicações. pag. 61.
2. Consolar.
Deus Dá somente
Coisas Boas (1.16-17)
O versículo 16 é com
frequência tratado como uma transição do pensamento dos versículos 13-14 para
os versículos 17-18. A mudança é brusca: Não erreis. Não vagueiam tanto no seu
pensamento a ponto de acreditar que qualquer provação ou tentação, com um
propósito mal, vem de Deus. Deus somente dá o que é bom — e Ele é a Fonte de
todas as coisas boas. Deus nos fez o tipo de pessoas que somos e quando a
criação estava completa Ele viu que tudo "era muito bom” (Gn 1.31).
Moffatt traduz a primeira parte do versículo Tg 1.17 da seguinte maneira: “Tudo
que recebemos é bom e todos os nossos dons são perfeitos”.
Pai das luzes (v. 17)
indubitavelmente tem um duplo sentido. Este termo se refere a Deus como o
Criador das luzes do universo físico — sol, lua e estrelas. Mas Ele também é o
Pai de toda nossa iluminação espiritual e de todas as bênçãos. Tiago contrasta
aqui as mudanças de hora em hora no sol e lua com o caráter imutável de Deus.
As luzes nos céus podem mudar de hora em hora e lançar sombras onde previamente
haviam lançado luz. Mas no caráter de Deus “não há variação, nem sombra de
mudança” (ASV). Ele é imutável. Segue-se como consequência certa do caráter
imutável de Deus de que em seu tratar conosco “não há a menor variação ou
sombra de inconsistência” (Phillips).
A Glória do Plano de
Deus (1.18)
Quando o autor
menciona nos, a quem ele se refere: aos leitores em geral ou aos cristãos? Os
comentaristas têm pontos de vista divergentes. A verdade é significativa em
qualquer um dos casos. Se entendermos nos como que significando homens criados
à imagem de Deus, o significado é claro. Deus nos fez da maneira que somos —
segundo a sua vontade. A razão para nossa liberdade, provas, perplexidades e
problemas morais envolvendo escolha é que deveríamos ser semelhantes a Ele —
como primícias das suas criaturas. Ele nos criou com liberdade para escolher o
mal ou com liberdade para escolher o bem para que fôssemos em certo sentido os
criadores do nosso próprio espírito, a glória coroada da sua palavra criativa
(cf. Hb 11.3).
Podemos, no entanto,
com sólidas evidências exegéticas entender nos como que referindo-se à Igreja
cristã. Robertson coloca o seguinte título para esse versículo: “O Novo
Nascimento”. Deus, que é nosso Pai por meio da criação, é também nosso Pai por
meio da redenção. Homens redimidos do pecado são a glória coroada dos
propósitos de Deus para a vida humana — “os primeiros espécimes da sua nova
criação” (Phillips). A palavra da verdade é a verdade do evangelho. Knowling
vai mais adiante e afirma: “Não podemos esquecer que o nosso Senhor (Jo
17.17-19) fala da ‘palavra’ que é verdade, por meio da qual os discípulos devem
ser santificados”.14 O propósito final de Deus é conduzir-nos à vitória por
meio dos nossos testes para tornar-nos semelhante a Ele em santidade e amor.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 10. pag. 160-161.
Tg 1.17 Sendo assim,
como podemos evitar cair em tentação? O caminho está em um relacionamento
íntimo com Deus e na aplicação da sua Palavra à nossa vida diária. Este padrão
nos levará a ver claramente que toda dádiva boa e perfeita vem do alto. Em comparação
com a visão de que Deus envia o mal, Tiago ressalta o fato de que toda boa dádiva
e todo dom perfeito vêm do alto, de Deus. Podemos ter certeza de que Deus sempre
deseja o melhor para nós - não boas coisas hoje e coisas más amanhã. O caráter de
Deus é sempre confiável e leal - em Deus, não há mudança, nem sombra de
variação (Ml 3.6). Nada pode impedir que a bondade de Deus nos alcance. Ele não
se intimida pelas nossas incoerências e infidelidades.
1.18 Um exemplo
maravilhoso das boas coisas que Deus nos dá (“toda boa dádiva e todo dom
perfeito”) é o nascimento espiritual! Nós somos salvos porque Deus decidiu nos
tornar primícias das suas criaturas (seus próprios filhos). O nosso nascimento
espiritual não se dá por acidente, nem porque Deus tinha que fazê-lo. O novo
nascimento é um presente para todos os crentes (veja Jo 3.3-8; Rm 12.2; Ef 1.5;
Tt 3.5; 1 Pe 1.3,23; 1 Jo 3.9). A palavra da verdade é o Evangelho, as Boas
Novas da salvação (Ef 1.13; Cl 1.5; 2 Tm 2.15). Nós somos informados sobre o
novo nascimento por meio da leitura da Palavra de Deus e da pregação do
Evangelho, e respondemos positivamente a ele.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 667.
Tg 1.17 Tiago
afirmou: “Ninguém que é tentado diga: Sou tentado por Deus”. Contudo, será que
Deus não está agindo em tudo, até mesmo no mal, razão pela qual nossa decisão
entre bem e mal possui apenas importância relativa? Diante disso a carta de
Tiago (e toda a Bíblia) pronuncia um categórico não: “Somente a boa dádiva e o
dom perfeito são lá do alto, do Pai das luzes.” A palavra de Deus nos diz
claramente o que vem de Deus e o que não vem dele.
a) O que vem de Deus.
Ele afirma: “Eu sou o Senhor, e não há outro; Eu formo a luz e crio as trevas;
faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas essas coisas” (Is 45.6s).
“Sucederá algum mal à cidade, sem que o Senhor o tenha feito?” (Am 3.6). A
essas palavras de profetas corresponde a palavra em Sir 11.14: “Os bens e os males,
a vida e a morte, a pobreza e a riqueza vêm do Senhor” [TEB]. Tudo isso é “boa
dádiva e presente perfeito”, enviado pela sabedoria, amor e santidade de Deus.
Por um lado não podemos perscrutar o agir Deus (Rm 11. 33), por outro
certamente vemos: em Jó desgraça e enfermidade foram provas (Jó 1s). Israel foi
duramente disciplinado por Deus por meio de Nabucodonosor na época da
destruição de Jerusalém e do cativeiro babilônico. Do contrário provavelmente
teria sido assimilado e submerso pelos povos que o cercavam. Acontece, porém,
que Deus incluiu Israel de tal forma em sua educação que foi capaz de dar
continuidade à sua história de salvação com ele (cf. Is 40ss; Dn 9). Deus
também pode ordenar experiências difíceis e aflitivas para nós, com a finalidade
de nos separar do mal, proteger contra a maldade e consolidar o bem. Suas
dádivas não são sempre encantadoras e aprazíveis, mas são sempre “boa dádiva e
presente perfeito”. Paulo diz: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem
daqueles que amam a Deus” (Rm 8.28). Para que encontremos o caminho certo e
permaneçamos nele, Deus nos envia felicidade e bem-estar, mas para a nossa
educação e aprovação, também sofrimento e pesar.
b) Tudo vem de Deus,
exceto o pecado, o mal, a natureza impura e oposta a Deus.
“Do alto” vêm apenas
coisas boas e todo o bem. A isso se costuma dizer: Novamente se trata da visão
de mundo antiga com sua concepção de “três andares”. Mas Deus não está “no
alto” no sentido do lugar mais elevado. Está “no alto” e “em baixo”: “Habito no
alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito” (Is
57.15). “Nele vivemos, nos movemos, e existimos” (At 17.28). Deus está “no
alto” no sentido da elevada importância, da posição decisiva.
c) Deus é a mais pura
e imutável luz. Ele é o “Pai das luzes”.
c.1 - Lutero traduz:
“Pai da luz.” Deus é luz. Ele é “a fonte da vida, e em sua luz vemos a luz” (Sl
36.9). Deus é a fonte de todas as luzes, a “não-esgotada luz”. Assim como a
natureza e tudo o que é vivo depende do sol, assim nós, como humanos,
dependemos do sol de todos os sóis. Essa é nossa dignidade especial como
pessoas. Mas fazíamos sombra a nós mesmos: “Teu pecado faz separação entre ti e
teu Deus” (Is 59.2). Aconteceu o “eclipse de Deus” (Martim Buber). Contudo, em
sua misericórdia Deus enviou a nós aquele que trouxe e traz sua luz ao mundo.
“A luz brilha nas trevas” (Jo 1.5). Jesus é “a luz do mundo” (Jo 8.12).
Seguindo-o encontramos o caminho por esse mundo. “Quem me segue não andará nas
trevas.” Esse é o conteúdo do evangelho: “A verdadeira luz resplandece agora”
(1Jo 2.8). Nossa condição cristã é termos sido “chamados das trevas para a sua
maravilhosa luz” (1Pe 2.9). O alvo dos caminhos de Deus é que, depois que a
escuridão cobriu o orbe terrestre e trevas, os povos (Is 60.2), “as nações se
encaminham para a tua luz” (Is 60.3; Ap 21.24). Então já não dependeremos da
luz criada, porque temos a ele próprio de forma revelada (Ap 21.23). – Mas se
Deus for a fonte da mais pura luz, da mais límpida santidade, então o pecado, o
mal, não podem vir dele. A fonte não consegue dar o que não se encontra nela.
c.2 - “O Pai das
luzes.” Muitos entendem a passagem imaginando Deus como Pai dos astros
personificados. Mas a Bíblia constantemente fala de poderes angelicais usando a
imagem das estrelas, como provavelmente Jz 5.20; Sl 148.3; Is 14.12s; Dn 12.3;
Ap 8.10; 9.1; 12.4. E também os poderes angelicais excepcionalmente são
chamados “filhos de Deus” (Jó 1.6; 2.1).
Deus é somente luz,
somente pureza, somente santidade. Não é comparável à terra com sua alternância
entre dia e noite, quando a claridade é seguida pela escuridão. Em Deus não
existem as duas coisas: “Nele não existe mudança nem escurecimento em
decorrência da guinada” (os antigos pensavam que na alternância entre dia e
noite se tratava de uma guinada na trajetória do sol. Hoje, porém, sabemos que
a terra se “vira”, i. é, que sua rotação constante produz esta alternância).
A mais preciosa das
dádivas de Deus (v. 18).
Somos “irmãos amados”
(v. 16), porque somos filhos amados de Deus, “filhos da luz” (Ef 5.8).
a) Como nos tornamos
isso? Certamente não através de nossa louvável decisão.
Tg 1.18 Tiago diz:
“Ele nos gerou segundo seu querer.” Sem dúvida, nosso Senhor nos chama e em
seguida espera de nós a decisão de segui-lo. Contudo quando prestarmos contas a
nós mesmos em retrospectiva, não restará nenhuma honra para nós: tudo foi feito
por ele segundo sua vontade de tornar nova nossa vida (cf. Jo 15.16; Rm
8.28-30).
b) Através de que
isso aconteceu? Qual é seu instrumento? “Pela palavra da verdade.” Essa é a
dádiva de todas as dádivas. É a palavra que ilumina nossa situação, que
constitui a verdade sobre nós. É a palavra que “lavra algo novo”, que
representa a semente para os sulcos e que orvalha, nutre e limpa a plantação.
Ela traz a vida verdadeira, a vida a partir de Deus. Leva-nos à verdadeira
existência humana, assim como Deus nos concebeu (Mt 13.3ss; Lc 8.11). É a
palavra que está sendo proclamada aqui, a palavra que em última análise se
chama Jesus Cristo (Jo 1.1ss; Ap 19.13). Sua palavra é Espírito e vida (Jo
6.63). Traz não somente conhecimento, mas possui força e é ação. Assim como a
palavra criadora de Deus foi ação, assim também é ação a palavra de nossa nova
criação, a palavra do evangelho. Neste caso também vale: “Pois ele falou, e
tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir” (Sl 33.9). Em tudo isso Deus
se mostra como o único fiel na grande apostasia da humanidade, como o único
verdadeiro, também no cumprimento de sua promessa, quando todo o resto tiver se
tornado refém da mentira (cf. Ap 19.11).
c) Que efeito e
finalidade tem essa palavra? “Para que fôssemos como que oferta de primícias
das suas criaturas.” Vimos acima que o objetivo de Deus é voltar a clarear o
mundo obscurecido pela grande rebelião. “As nações hão de andar na luz dele e
os reis no fulgor de Deus” (Is 60.3), “até que Deus seja tudo em todos” (1Co
15.28). Jesus é o resplendor da glória de Deus (Hb 1.3), é “luz, que veio ao
mundo”. Nele a luz vinda de Deus novamente nos alcançou. Ele é a luz do mundo
(Jo 8.12). Sob seu reflexo também nós somos “luz do mundo” (Mt 5.14). Mais do
que isso: a luz está em nós por meio do Espírito dele, tornando-se transparente
em nós. “Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo
resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de
Deus, na face de Cristo” (2Co 4.6). O mundo zomba, dizendo que nós cristãos
seríamos no máximo a “luz traseira” do mundo. Mas quando permanecemos
singelamente voltados para nosso Senhor e abertos à influência de sua palavra e
seu Espírito, ele cuida para que apesar disso sejamos e continuemos sendo “luz
do mundo”.
Na metáfora da
“oferta de primícias” cumpre lembrar os primeiros frutos da colheita ofertados
a Deus. A humanidade, lavoura de Deus (Mt 13.38), produziu cardos e abrolhos.
Por isso Deus permite que também a lavoura do ser humano produza cardos e
abrolhos (Gn 3.17-19). Contudo agora caiu no solo o único grão de trigo bom,
“importado” por Deus para dentro desse mundo, o eterno Filho de Deus (Jo 12.24).
Consequentemente, a igreja de Jesus agora pode ser começo da maravilhosa
colheita de Deus (Mt 13.30,37-43; Ap 14.15). A safra aponta para além dela
mesma. Ela é apenas começo, “fruto de primícias”. A igreja de Jesus constitui
um sinal de esperança para toda a criação (Rm 8.19ss).
Por realizar tudo
isso, a palavra de Deus é a dádiva de todas as boas dádivas de Deus.
Fritz
Grünzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
A. Cristo Está
Voltando, 5.7,8
Tiago não tenta
provar a doutrina da Segunda Vinda, nem anunciá-la. Para ele, a Segunda Vinda é
uma esperança viva para a Igreja Primitiva. Ele cita a iminência e realidade da
vinda (parousia) do Senhor como um motivo para os cristãos permanecerem firmes:
Sede, pois, irmãos, pacientes até a vinda do Senhor (v. 7).
Dois tipos de
paciência são sugeridos. O primeiro diz: Sede [...] pacientes (v, 7) — não se
apressem em retaliar contra as injustiças cometidas contra vocês por homens
descritos nos versículos 1-6. O segundo diz: Sede [...] pacientes (v. 8) —
aceitando pacientemente a demora de Deus em relação ao retorno do nosso Senhor.
A ilustração da época
de plantio e colheita foi tirada da experiência palestina. O fruto da terra é a
colheita de grãos. Ele era precioso porque a vida do lavrador e sua família
dependiam dele. Na Palestina, o grão é plantado no outono e recebe a chuva
temporã no final de outubro. Ele recebe a chuva [...] serôdia em março e abril,
pouco antes de estar maduro. Durante todo esse tempo, o agricultor espera pacientemente
pela colheita. A razão da sua paciência é sua esperança confiante na colheita.
Tiago interpreta sua
própria parábola: Sede vós também pacientes, fortalecei o vosso coração, porque
já a vinda do Senhor está próxima (v. 8). A vinda do nosso Senhor era uma
grande fonte de esperança para os primeiros cristãos. Porventura temos essa
mesma expectativa em relação à vinda do Senhor? Tasker escreve:
Se a volta do Senhor
parece muito distante, ou se a relegamos a um futuro tão remoto que não exerce
nenhum efeito sobre a nossa perspectiva ou nossa maneira de viver, fica claro
que deixou de ser para nós uma esperança viva. E possível que tenhamos
permitido que a doutrina da sua volta em glória para julgar os vivos e os
mortos tenha sido abafada pelo ceticismo ou se transformado em algo diferente,
talvez como a transformação gradual da sociedade humana por valores cristãos,
que parou de exercer qualquer tipo de influência em nossas vidas.
Na medida em que
permitimos que isso aconteça, cessamos de ser cristãos do Novo Testamento.
B. A Pressão nos
Induz à Impaciência, 5.9
O foco aqui muda da
paciência com os pecadores fora da igreja para a paciência um com o outro
dentro da Igreja. Alguém escreveu o seguinte:
Caminhar em amor com
os santos de cima Será uma maravilhosa glória;
Mas, caminhar com os
santos aqui em baixo,
Bem, isso já é uma
outra história!
Em tempos de
dificuldades, a paciência é provada e somos tentados a nos queixar (v. 9; lit.,
gemer, ou seja, reclamar ou resmungar) uns contra os outros. Tiago adverte os
cristãos a não apontarem para os erros de outra pessoa, para que não sejais
condenados. A proximidade da vinda de Cristo serve como advertência contra o
fracasso do cristão bem como para a consolidação da sua constância. Além do
mais, o juiz está à porta. O retorno de Cristo está próximo; Ele será o Juiz de
todos os homens; portanto, não devemos assumir o papel de julgar os outros,
quer fora quer dentro da Igreja (cf. Mt 7.1-5).
C. Exemplos de
Paciência, 5.10,11
Exemplos de piedade e
devoção sempre servem de encorajamento para o cristão. Tiago provavelmente
tinha as palavras de Jesus em mente: “bem-aventurados sois vós quando vos [...]
perseguirem [...] por minha causa. Exultai [...] porque assim perseguiram os
profetas que foram antes de vós” (Mt 5.11-12). E por isso que ele diz: Eis que temos
por bem-aventurados (v. 11, “Eis que temos por felizes”, ARA). “Nós,
semelhantemente a Jesus, pronunciamos uma bem-aventurança aos profetas que
foram homens tão pacientes”.2 Tiago nos lembra do nosso privilégio bem como do
nosso sofrimento. Se sofremos por Deus, estamos em boa companhia. Por que os
profetas, em vez de Jesus (cf. 1 Pe 2.21), foram escolhidos por Tiago como
exemplos de paciência? Mayor considera diversas possibilidades, entre elas que
“Tiago deseja que eles vejam Jesus como o Senhor da glória em vez de o padrão
de sofrimento”.
Dos profetas que
sofriam com paciência e que falaram em nome do Senhor (v. 10), Tiago volta-se
agora para um homem que tem sido conhecido como “o maior exemplo” de paciência.
Essa é a única referência a Jó no Novo Testamento, embora Tiago entenda que
seus leitores estejam familiarizados com a história de Jó: Ouvistes qual foi a
paciência de Jó (v. 11). A paciência dos profetas era uma atitude de
longanimidade em relação aos seus compatriotas que os perseguiam. A palavra
usada para descrever a paciência de Jó (hypomene) significa persistência ou
tolerância.4 A paciência singular de Jó podia ser reconhecida na sua
determinação em suportar quaisquer que fossem os infortúnios, sem perder sua fé
em Deus. A frase o fim que o Senhor significa “o alvo do Senhor”. O apóstolo
sabia que o propósito final de Deus sempre é bênção para o homem que suporta
com paciência a aflição. Provavelmente, citando dos Salmos, ele conclui:
“porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo” (v. 11, ARA; cf.
SI 103.8; também Êx 34.6).
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 10. pag. 182-183.
Tg 5.7 Os crentes
devem ser pacientes mesmo em meio às injustiças. Os crentes precisam ter perseverança,
confiar em Deus em meio às suas dificuldades, e se recusarem a procurar a
vingança pelas injustiças que são cometidas contra cada um deles (veja também
1.2,12; Sl 37). Mas a paciência não significa inatividade. Havia trabalho a ser
realizado — servir a Deus, cuidar uns dos outros, e proclamar as Boas Novas.
Existe um ponto final, uma ocasião em que a paciência não será mais necessária
- a vinda do Senhor. Nesta ocasião, tudo será corrigido. A igreja primitiva
vivia em constante expectativa da volta de Cristo, e nós devemos fazer o mesmo.
Como nós não sabemos quando Cristo irá retornar, para trazer a justiça e
remover toda a opressão, devemos esperar com paciência (veja 2 Pe 3.8-10).
Como um exemplo de
paciência, Tiago fala do lavrador, que precisa esperar o precioso fruto da
terra, aguardando-o com paciência.
A paciência deve ser
exercitada e desenvolvida no período entre as chuvas. Até mesmo aqueles que não
são lavradores têm muitas oportunidades para desenvolver a paciência. A espera
da chegada de um bebê, o início em um novo emprego, a conclusão dos estudos, a
espera pela visita de alguém querido, a melhora lenta da saúde durante uma
enfermidade prolongada – todas estas situações colocam a nossa paciência à
prova.
Nós iremos exercitar
a paciência quando nos concentrarmos no resultado final da nossa espera. O
caminho de Deus raramente é o caminho mais rápido, mas é sempre o caminho
completo.
Tg 5.8 Em lugar de
serem como os ricos do versículo 5, que “engordaram” seus corações na riqueza
deste mundo, os crentes devem permitir que a certeza do retorno de Cristo os
ajude a ser pacientes e a fortalecer o seu coração, isto é, ter coragem. Quaisquer
que sejam as circunstâncias, Tiago nos encoraja a sermos firmes na nossa fé e a
termos uma alegria inspirada pela fé que impregne todas as partes da vida (veja
1.2-4). Como o lavrador, nós investimos muito tempo na nossa esperança futura.
O lavrador está à mercê do clima - ele está fora do seu controle. Mas nós
realmente sabemos que a vinda do Senhor está próxima.
Tg 5.9 Estes crentes,
que estavam enfrentando a perseguição de fora e os problemas de dentro da
igreja, naturalmente poderiam se achar resmungando e criticando uns aos outros.
Tiago não quer que eles se encham de ressentimentos e amarguras uns em relação
aos outros — isto somente destruiria a unidade de que eles precisam tão
desesperadamente. Recusar-se a se queixar uns contra os outros faz parte da virtude
de ser paciente (5.7). Queixar-se uns dos outros indica uma atitude descuidada
em relação às palavras. Devido aos perigos criados pelas nossas palavras (veja
Tg 3.I-I2), não podemos ser descuidados na maneira como falamos uns com os
outros e uns dos outros.
Tiago já mencionou o
grande Juiz (4.12).
Este Juiz não está
longe, mas já está à porta.
Tiago está advertindo
os crentes a que não estejam envolvidos em julgamentos, brigas críticas ou
mexericos quando aquele a quem deveriam servir retornar. O conhecimento da presença
de Cristo não é apenas confortante; ele também pode ser condenador –
especialmente quando nós começamos a nos comportar como se Ele estivesse longe.
Tg 5.10 Os cristãos
de origem judaica conheciam as histórias dos profetas, muitos dos quais sofreram
enormemente ou foram mortos por proclamar a mensagem de Deus (veja, por exemplo,
o caso de Elias, em 1 Reis 19.1 ss.; o caso de Jeremias, em Jeremias 38; e o
caso de Amós, em Amós 7). Tiago está lembrando os seus leitores de que mesmo
aqueles que falaram em nome do Senhor tiveram que ter paciência na sua aflição.
O significado parcial é que Deus não preserva aqueles a quem Ele chamou do
sofrimento; antes, Ele os preserva no sofrimento. Eles tornam-se um exemplo
para todos os crentes por causa da sua obediência e fidelidade, a despeito das dificuldades
que suportaram.
Tg 5.11 Aqui Tiago
está levando seus leitores à aplicação das lições de pessoas do Antigo Testamento.
Por exemplo, Jó pode nos oferecer um olhar fascinante à história antiga e uma biografia
interessante, mas a melhor obra de Jó é como um professor: alguém que sofreu e
que pode nos ajudar a suportar o sofrimento. A sua vida é um exemplo que nós
precisamos seguir. Jó pode ter reclamado, mas ele náo deixou de confiar em
Deus, ou de obedecer ao Senhor (veja Jó 1.21; 2.10; I6.I9-2I; 19.25-27). E o
Senhor o libertou e o restaurou (veja Jó 42.12). Os crentes, depois de todo o
sofrimento que tinham suportado até então, eram encorajados a não desistir -
Deus os libertaria e os recompensaria.
Nós podemos ver
claramente, com base na vida de Jó, que a perseverança náo é o resultado do
entendimento. Jó nunca recebeu uma explicação de Deus sobre o seu sofrimento.
Isto deve-se, em
parte, ao fato de que a dor é frequentemente uma parte da vida que deve ser
suportada sem explicações. Existem muitas coisas que nós conseguimos entender,
mas não todas. O objetivo de Deus não é que nós simplesmente desenvolvamos uma
mente cheia de explicações e respostas; o seu objetivo é trazermos a um ponto
em que nós confiemos nele. Deus náo gosta de ver o seu povo sofrendo. Ele permite
que o seu povo enfrente a dor porque um bem maior será produzido. Enquanto
isto, Tiago encoraja os seus leitores a confiarem em Deus, a esperarem
pacientemente, a perseverarem, e a se lembrarem de que Deus é muito
misericordioso e piedoso.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 689-690.
Primeiramente ocorre
a menção do grande horizonte que domina a história universal, o grande dia do
juízo. Na sequência Tiago mostra que esse horizonte não é apenas assustador,
mas também consolador, útil e mais uma vez compromissivo. Temos a impressão de
que não somente no presente bloco, mas em toda sua carta Tiago visa fornecer
uma orientação para “viver o cotidiano à luz do Senhor vindouro” (K.
Hartenstein).
1 – O grande futuro
ajuda a viver corretamente no presente (v. 7s).
Mas como podemos
perseverar na fé, até mesmo quando somos alvo da injustiça descrita no v. 6?
Tg 5.7 “Perseverai,
pois, irmãos, até à chegada do Senhor”:
a) “Irmãos”: Enquanto
os v. 1-6 se referem principalmente a pessoas do mundo ao redor da igreja, aqui
o texto se dirige àqueles que ouviram o chamado de Jesus e se tornaram filhos
de Deus por arrependimento e fé e pelo Espírito Santo (Rm 8.14s).
b) “Chegada”, em
grego parusia, “do Senhor”: a palavra, freqüentemente traduzida como “volta”,
significa literalmente “presença”, “chegada” (parusia tem ambos os
significados: estar presente e tornar-se presente). A palavra expressa aqui que
Aquele que no passado veio discretamente como ser humano e que agora está
presente de modo invisível, inclusive por meio sua palavra e Espírito, virá e
se manifestará súbita e dominantemente em divindade explícita (Jo 1.14; Mt
18.20; 28.20; 25.31s; Lc 17.24; 1Co 1.7; Fp 3.20; Tt 2.13).
Essa grande esperança
e certeza constituem por assim dizer o horizonte dominante de nossa vida
cristã. Sabemos, para onde correm a história do mundo e da salvação. Essa
esperança determina nossa atualidade. O brilho da alegria prévia se estende até
o dia mais sombrio. Ao mesmo tempo isso representa um forte compromisso para nós.
“A expectativa esperançosa do futuro torna-se rigorosa disciplina para a
atualidade” (Heinrich Rendtorff). A questão dominante é se estamos prontos para
a chegada dele (Mt 24.44; Lc 12.35). Seja como for, cabe dizer “que somente
poderemos falar de uma vida cristã quando o olhar para o Senhor vindouro
dominar todas as coisas. Vida cristã de forma alguma se esgota em exemplaridade
moral” (Kurt Hennig).
c) “Suportai, pois,
com paciência”: no NT grego consta um verbo formado por makrothymia =
“longanimidade”, “perseverança”. Por sabermos que Deus pronunciou a primeira
palavra sobre este mundo e que também pronunciará a última, podemos ter fôlego
resistente. Por termos conhecimento de como tudo “se apaga” em nossa vida
pessoal e no mundo todo, podemos aguentar firmes.
Nossa paciência vive
da paciência e longanimidade que Deus tem e precisa ter conosco. “Considerai
como vossa beatitude a longanimidade de nosso Senhor” (2Pe 3.15). Deus espera
até que sua casa esteja cheia (Lc 14.22s), até que tenha entrado o “número
pleno dentre as nações” previsto por ele (Rm 11.25). Não é Deus quem nos faz
esperar, mas somos nós que o fazemos esperar. A morosidade não é de Deus, mas
nossa (2Pe 3.9,14s). Necessário é que os chamados também sejam preparados para
que o Filho possa apresentar-nos ao Pai (Ef 5.25-27; Fp 1.6; 2Co 4.14; Cl
1.22,28; 1Ts 5.23). No NT a trajetória da igreja de Jesus pela história
universal é comparada com o caminho de Israel do Egito à terra prometida (1Co
10.1-13; Hb 3.7-19; etc.). Israel poderia ter chegado mais rapidamente ao alvo
se tivesse sido mais fiel. Será que nós também poderemos chegar mais depressa
ao alvo se formos mais fiéis em vista de outros e nós mesmos? “Esperai e
correi” em 2Pe 3.12 igualmente pode ser traduzido como “esperai e acelerai”. Apesar
de todas as exortações à paciência certamente temos também a permissão e a
ordem de suplicar pela vinda próxima de Jesus (Ap 22.17; Rm 8.18-27). Também Lc
18.7s se refere, conforme o contexto, à intervenção de Deus em seu grande dia
para redimir os seus e eliminar o inimigo (cf. também Rm 16. 20; Ap 20.1-3).
d) De uma forma
geral, as pessoas estão acostumadas a aguardar algo que na verdade não têm em
mãos, mas do que não duvidam, em última análise por confiarem na fidelidade de
Deus: “Eis que o lavrador aguarda.” Espera por duas coisas:
d.1) Pelo resultado
de seus esforços: “o precioso fruto da terra”. Constitui grande milagre que a
terra dê, com antiga fidelidade, a cada ano, o que o ser humano precisa. Quando
falha apenas um ano, isso representa, até mesmo na atual era industrial, a
maior catástrofe. Mas, após um crescimento praticamente imperceptível, a terra
produz fielmente suas dádivas, embora as plantinhas sejam
inicialmente muito
pequenas e ameaçadas. O próprio Deus se mantém fiel a nós nessa questão:
“Enquanto durar a terra não cessarão semeadura nem colheita” (Gn 8.22; cf. Mc
4.26-29).
d.2) Espera que a
planta receba o que precisa para crescer e amadurecer: “as primeiras e as
últimas chuvas”, a chuva no outono para a semeadura e a germinação, a chuva na
primavera para o crescimento e a maturação. O agricultor pratica com denodo e
cuidado o que sabe e pode fazer. Deixa o restante serenamente por conta de
alguém outro.
Tg 5.8 e) “Suportai
vós também com paciência”: também no caso do reino de Deus temos uma colheita
(Mt 13.23,30; Ap 14.15s; Sl 126.5s; Gl 6.9). Também nele é preciso semear e
trabalhar a lavoura (Mt 13.3,24; 1Co 3.9; Gl 6.9). Porém o próprio Senhor tem
de conceder o crescimento (1Co 3.6). Por meio da metáfora do lavrador se
expressam duas coisas:
e.1) Não se
preocupem, um dia haverá uma colheita. Os cardos e abrolhos, o inço semeado
pelo inimigo não poderão sufocar tudo (Mt 13.8,23,30).
e.2) A lavoura recebe
de Deus aquilo de que tem necessidade, “as primeiras e últimas chuvas”, sua palavra
e seu Espírito (bem como as pessoas que prestam o serviço, hoje e amanhã – 1Co
3.6). “Aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de
Cristo Jesus” (Fp 1.6). Por isso nós também podemos estar tranqüilos. Faremos
com esmero e fidelidade aquilo que podemos e devemos. O restante deixaremos por
conta de nosso Senhor. O fato de que a extraordinária semente tenha caído no
solo já não poderá ser revertido pelo inimigo com sua astúcia e violência, nem
com todo o seu exército (Jo 12.24). Pelo fato de nosso Senhor ter sido morto e
ressuscitado, a colheita para Deus pode amadurecer em nossa vida e também na
vida de outros, por meio de nós. Já não será em vão o que fizermos (1Co 15.58).
f) Como, porém,
sustentaremos essa paciência e serenidade? Tiago convoca: “Fortalecei os
corações.” E Paulo escreve: “Sede fortes no Senhor” (Ef 6.10). A “bateria” de
nossa própria força se esgotaria rapidamente. Somente quando perseveramos na
“fonte energética” da força dele somos capazes de resistir. Cuidar desse
contato significa “fortalecer os corações”. Jesus expressa isso por meio da
ilustração da videira e dos ramos: “Permanecei em mim, e eu em vós, e dareis
muito fruto. Porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 1.3s). – Tiago afirma: toda
a questão pode ser vista em conjunto. Afinal, não é possível continuar
infinitamente assim: “A chegada do Senhor está próxima”.
De acordo com os
presságios da volta de Jesus citados pelas Escrituras temos a impressão de que
poderíamos formular, também segundo a cronologia humana: “A chegada do Senhor
se aproximou”.
2 – Como o grande dia
da salvação ainda poderia se tornar uma desgraça para nós (v. 9).
De que nos valeria a
esperança pelo grande dia se, quando ocorrer, não fôssemos encontrados prontos?
Tg 5.9 Tiago diz como
isso pode acontecer precisamente na época em que a “injustiça toma conta e o
amor esfria em muitos” (Mt 24.12): “Não vos queixeis uns aos outros, irmãos”: a
queixa pode se dirigir contra o entorno, mas também contra os co-cristãos (“uns
aos outros”). Tempos de perseguição sempre foram também tempos de confusão
interior nas igrejas. Isso duplica o sofrimento. Amigos se afastam e nos atacam
pelas costas. Alguns não querem ceder nem um milímetro. Outros gostariam de
fazer acordos dizendo ser “prudência de serpente” (Mt 10.16), como a definem. O
inimigo sempre manejou de forma excelente a arte de “dividir e dominar”. Alguém
que persistir fielmente em seu lugar certamente ficará amargurado e gemerá por
causa de seus amigos. Desse modo, porém, em pensamento já estará julgando (cf.
acima o comentário a Tg 4.11s). E nosso Senhor declara: “Não julgueis, para que
não sejais julgados” (Mt 7.1). Também Tiago nos diz o que está em jogo nesse
pensamento (como tal muito bem inteligível): “Para que não sejais julgados”
(novamente notamos que Tiago está próximo do Sermão do Monte). Em vista do
grande juízo final temos de escolher se enveredaremos pela “via judicial”
(“exijo o meu direito!” – contudo desse modo não somos capazes de “responder
nem a uma de mil coisas”, Jó 9.3), ou, então, pela “via da graça”. Nosso Senhor
franqueou este caminho com seu sacrifício e nos convida, conseqüentemente, a
apresentar nosso “pleito por graça”. “Quem invocar o nome do Senhor será salvo”
(Jl 2.32). Quando julgamos ao próximo, “queixando-nos” dele e buscando proceder
contra ele pela “via judicial”, abandonamos também para nós mesmos a “via da
graça”. Jesus, por exemplo, declara: “Com a medida com que tiverdes medido, vos
medirão também” (Mt 7.2; cf. Mt 18.23-35). – “O Juiz está diante da porta”: nosso
Senhor virá em breve. Isso faz com que tudo seja ainda mais atual.
3 – Outros foram
exemplos para nós na perseverança (v. 10s).
Tg 5.10 Não somos os
primeiros que passam por coisas desse tipo. Em outros que trilharam o caminho
antes de nós podemos constatar o que acontece com uma pessoa, como ela procede
corretamente e a que alvo Deus a leva: “Irmãos, tomai por modelo no sofrimento
e na paciência os profetas, os quais falaram em nome do Senhor”: se tivessem
silenciado, nada lhes teria acontecido. Se tivessem dito o que as pessoas
gostam de ouvir, teriam sido aplaudidos. Contudo perseveraram em sua missão.
Por isso, no lugar em que se encontravam estava também seu Senhor (cf. 1Rs
18.36). Pessoas como elas são incômodas para o inimigo. Mas ele sempre encontra
outras pessoas que também se deixam usar como instrumentos dele contra aquelas.
Elas passam a atacar duramente os mensageiros de Deus. Por isso eles não ficam
isentos do sofrimento. Porém, confiando em seu Senhor, preservam e comprovam
paciência, perseverança e rumo claro. Também os que foram crentes antes de nós
não passaram sem tribulação por este mundo. Não esperemos algo diferente!
Tg 5.11 “Temos por
felizes os que perseveraram firmes”: no entanto não adianta somente declará-los
felizes. Temos de seguir o exemplo deles. Não basta ler biografias cristãs. É
necessário que em nosso lugar e nossa época também nós sejamos aprovados no
sofrimento e na paciência.
Em Hb 11.17-40
cita-se por nome uma série de pessoas que andaram o caminho antes de nós e
cruzaram a meta. Tiago, porém, menciona somente uma: Jó. “Tendes ouvido da
paciência de Jó”: atingiam-no, golpe após golpe, as “notícias sinistras”. Ele,
porém, dizia: “O Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do
Senhor!” (Jó 1.21), bendito apesar de tudo! A pessoa mais próxima dele, sua
esposa, aconselhou-o a renegar a fé: “Amaldiçoa a Deus e morre!” (Jó 2.9). Ele,
porém, ficou firme: “Temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o
mal?” (Jó 2.10). Ao prosseguir na leitura do livro, notamos: nem mesmo Jó
estava livre de dúvidas. Às vezes passava bem perto da ira contra Deus. Também
os líderes espirituais de nosso país não desempenharam sempre um papel tão
admirável como poderíamos imaginar a partir de diversas biografias. E tampouco
nós o desempenharemos. “… para que diante dele ninguém se glorie” (1Co 1.29).
“Vistes o fim do
Senhor; que o Senhor é rico em terna misericórdia e cheio de compaixão”: O “fim
do Senhor” é, na acepção lingüística ativa, uma expressão hebraica peculiar e
significa o fim (positivo) que Deus deu à atribulada trajetória de Jó, o alvo
para o qual ele o conduziu (Jó 42.10-16). Deus declarou-se admiravelmente
favorável a Jó. Como razão de tudo isso Tiago cita somente uma coisa: “que o
Senhor é rico de terna misericórdia e cheio de compaixão” (cf. acima o
comentário sobre Tg 2.13; 3.17 acerca da misericórdia de Deus).
Pergunta-se se essa
palavra também se refere a Jesus. Nesse caso significa: o destino de Jó foi uma
das prefigurações da trajetória de Jesus. De forma muito diferente de Jó ele
também comprovou a perseverança paciente. E o desfecho positivo nele foi ainda
mais significativo (Fp 2.5-11). Nós “vimos” que Deus se declarou milagrosamente
a favor dele na Páscoa e na Ascensão. Igualmente “vimos”, ou seja, experimentamos,
que “o Senhor é rico de terna misericórdia e cheio de compaixão”. Por ter
passado por tudo isso, nosso Senhor nos compreende completamente e tem maior
compaixão com nossa fraqueza (Hb 4.15).
É possível uma ou
outra interpretação da passagem. Seja como for, a mensagem é: é verdade que
passamos por consideráveis sofrimentos e testes de paciência, porém temos um
Senhor misericordioso que não nos quer torturar, mas conduzir a um fim glorioso
(Is 28.29; 1Co 10.13).
Fritz
Grünzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
3. Fortalecer.
Deus está tão
interessado na forma em que ganhamos e gastamos o nosso dinheiro quanto está
com o montante que colocamos na sacola de ofertas. O versículo 4 condena
aqueles que se tornam ricos por meio da exploração. Encontramos aqui um
paralelo hebraico comum na poesia do Antigo Testamento, no qual o segundo
pensamento repete o primeiro de uma forma levemente diferente. Na primeira
cláusula, são os clamores dos que ceifaram que entraram nos ouvidos do Senhor.
A linguagem reflete a lei do Deus do Antigo Testamento para o trabalhador:
“Paguem-lhe o seu salário diariamente, antes do pôr-do-sol, pois ele é
necessitado e depende disso. Se não, ele poderá clamar ao Senhor contra você, e
você será culpado de pecado” (Dt 24.15, NVI). Jahwe Sabaoth (Senhor dos
Exércitos) era um nome israelita para Javé.
O versículo 6 reflete
a riqueza desonesta adquirida por meio de ações fraudulentas da justiça. Em
2.6, Tiago refere-se aos ricos que “vos arrastam aos tribunais”. Ele não vos
resistiu provavelmente significa que o pobre não tinha uma defesa legal
adequada. Nos tribunais, os ricos influentes têm “condenado e devastado”
(Phillips) o pobre que não tem condições de pagar o salário de um advogado ou o
suborno para o juiz. O desamparo da vítima somente aumenta a culpa do opressor.
Quando o desejo por riqueza se torna tão intenso a ponto de planejar tirar a
vida de outra pessoa, a ganância tornou-se assassina.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 10. pag. 189-190.
Tg 5:4 Além do mais,
Tiago sabe que as riquezas acumuladas em geral indicam injustiça. Na Palestina,
em geral, tratava-se de injustiça contra os trabalhadores rurais. Vede! o
salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos, e que por vós foi
retido com fraude, está clamando. O sistema econômico da Palestina utilizava
trabalhadores braçais diaristas, em vez de escravos, em parte porque o escravo passaria
a custar mais, caso ele convertesse ao judaísmo. Esses trabalhadores contratados
eram os filhos jovens das famílias de camponeses expulsas de suas terras por
causa de bancarrota, quando as hipotecas das propriedades venceram e não havia
como pagá-las. Tais trabalhadores viviam da mão à boca. O salário de hoje é
para comprar o desjejum de amanhã. Quando o salário não era pago no fim do dia,
a família passava fome. A despeito de uma porção de mandamentos no Antigo Testamento
(Levítico 19:13; Deuteronômio 24:14-15), os ricos descobriam jeitos de reter o
salário dos trabalhadores (e.g., Jeremias 22:13; Malaquias 3:5). O fazendeiro
poderia retê-lo até o fim da época de colheita, a fim de garantir que o camponês
viria trabalhar; poderia apelar para uma minúcia técnica a fim de provar que o
contrato não foi cumprido; ou poderia alegar estar cansado demais para pagar o
salário no fim do dia. Se o trabalhador reclamasse, o patrão o poria na lista
negra; se fosse aos tribunais, o rico teria os melhores advogados. Assim é que
Tiago retrata o dinheiro no bolso dos ricos, dinheiro que deveria ter sido
usado para pagar os trabalhadores que clamam por justiça.
Os clamores não
deixaram de ser ouvidos por alguém: os clamores dos ceifeiros chegaram aos
ouvidos do Senhor Todo-poderoso. Visto tratar-se de ceifeiros, não pode haver
desculpa de falta de dinheiro; há montões de cereais para serem vendidos. O
trabalhador faminto apelou aos prantos para o único recurso que tem: Deus. Ao
mencionar o Senhor Todo-poderoso, Tiago lembra seu leitor de Isaías 5:9, onde
as pessoas que adquirem grandes latifúndios são condenadas.
Todos os judeus
sabiam o que acontecia às pessoas condenadas por Isaías, e também sabiam que os
ouvidos de Deus estão abertos para os pobres (Salmo 17:1-6; 18:6; 31:2), de
modo que a declaração de Tiago inclui a ameaça de julgamento.
Peter
H. Davids. Comentário Bíblico
Contemporâneo. Editora Vida. pag. 150-151.
Tg 5.4 Violação não
apenas do amor, mas igualmente do direito (cf. Lv 19.13; Dt 24.14; Jr 22.13).
“Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por
vós foi retido com fraude está clamando; e os clamores dos cortadores
penetraram até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos”: não somente deixaram de
doar, mas tampouco deram o que era devido (até mesmo por um serviço que lhes
trouxe muitos rendimentos). Também nós cristãos temos de nos submeter a
interrogatório nesse aspecto. Paulo diz: “Não fiqueis devendo nada a ninguém”
(Rm 13.8). Talvez façamos muitas coisas voluntariamente no sentido do amor
cristão (o que possivelmente nos rende certo reconhecimento). Contudo geralmente
deixamos de fazer o que simplesmente teria sido nosso dever e o que todos
consideram óbvio (motivo pelo qual não rende nenhuma admiração). Primeiro temos
de satisfazer a justiça, antes de praticarmos o amor. Primeiro temos de pagar
as contas antigas e assalariar com justiça nossos colaboradores, antes de
fazermos grandes donativos. É possível atuar ocasionalmente de maneira cristã,
e ao mesmo tempo negligenciar os pais idosos, o cônjuge e os próprios filhos.
“Se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem
negado a fé e é pior do que o descrente” (1Tm 5.8). Como pregadores e pastores
podemos ter grande alcance pela mensagem falada e escrita e ter um nome, e ao
mesmo tempo negligenciar os enfermos, os idosos e a população de risco na
própria congregação e igreja. “O que se requer dos administradores é que cada
um deles seja encontrado fiel” (1Co 4.2). Somos administradores com tudo o que
temos e somos. Tudo é propriedade dada em custódia. Importa, então, ser fiel no
lugar em que Deus nos colocou.
O salário retido
“grita” a Deus como o sangue de Abel (Gn 4.10) e como o pecado de Sodoma (Gn
18.20). Surpreendentemente Deus se importa também com a realidade social e
nosso comportamento em sociedade. Não queremos ficar em dívida nem nos
aproveitar da parte contrária, sejamos empregadores ou empregados. Também
categorias profissionais inteiras devem receber o que lhes cabe, p.ex., a
classe camponesa, porque “todo trabalhador é digno de seu salário” (cf. Lc
10.7). Faz parte do “salário” também a moradia digna e a obtenção do devido
reconhecimento, sem ser degradado para cidadão de segunda categoria.
Fritz
Grünzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Tg 5.1-3. Essa seção,
que trata do julgamento de Deus aos ricos, é uma continuação natural de
4.13-17, em que Tiago trata da ideia de fazer negócios e obter ganhos sem
incluir Deus nos planos. Há, no entanto, uma mudança marcante na atmosfera da
epístola. Em 4.13- 17, Tiago se dirige aos mercadores da Diáspora; aqui ele tem
em foco os ricos proprietários de terra da Palestina.1 No capítulo 4, o autor
estende esperança e aperfeiçoamento; aqui há apenas um prognóstico de
julgamento. Em outra parte da epístola, o autor se dirige aos “irmãos”
cristãos; aqui, obviamente ele está se dirigindo aos ímpios.
De que maneira
devemos considerar esse interlúdio surpreendente nessa carta? A melhor
explanação é que Tiago usa aqui um artifício retórico conhecido por apóstrofe.
Ao fazer uso dessa técnica literária, um orador ou escritor parece por um
momento se afastar do seu público e dirigir-se diretamente a uma outra pessoa
ou coisa. Obviamente, a apóstrofe visa beneficiar o verdadeiro público e não
aqueles que estão sendo endereçados de forma imaginativa. A séria advertência
do apóstolo aos ricos ímpios tinha a função de encorajar os pobres a quem ele
estava escrevendo. Talvez ele também tivesse a intenção de adverti-los em
relação à inveja para com os ricos (cf. SI 73). É possível que Tiago tenha
imaginado que sua mensagem escrita pudesse cair nas mãos de algumas pessoas
dessa classe de homens ricos e eles seriam, assim, advertidos. Cremos que o
Espírito Santo tinha em mente uma influência mais ampla do que a que
encontramos em nossa Bíblia
— uma influência que
certamente ia além do que Tiago imaginava quando foi movido pelo Espírito Santo
a lhes escrever.
A. O Ai Pronunciado,
5.1
Em nenhum lugar do
Novo Testamento os ricos são denunciados simplesmente pelo fato de serem ricos.
Em vez disso, Deus adverte contra as tentações que dizem respeito especialmente
aos ricos. Tiago não se dirige aos ricos de maneira geral, mas apenas aos ricos
incrédulos. Em 1.10, ele tem uma outra mensagem para os cristãos ricos. Os
ricos (v. 1) estão inclinados a dizer para si mesmos: “Coma, beba e folgue”;
mas Deus diz: chorai e pranteai por vossas misérias, que sobre vós hão de vir.
Quando Deus fala, é bom prestar atenção.
B. Acúmulo Egoísta,
5.2,3
Tiago aponta agora
para o mal das riquezas que são acumuladas de maneira egoísta, em vez de gastas
ou investidas para um propósito que Deus aprova. Em um dos livros apócrifos2
lemos: “Perca o seu dinheiro para um irmão ou amigo e não deixe que enferruje
debaixo de uma pedra” (Siraque 29.10). O julgamento descrito nessa seção não
havia se cumprido no tempo em que Tiago estava escrevendo, mas esse julgamento
é tão certo que Tiago fala a respeito dele de maneira profética. O significado
literal do grego é que essas misérias já estão no processo de se tornarem
realidade. Vossas riquezas (v. 2) provavelmente referem-se a riquezas agrícolas
como grãos, vinho ou óleo, que eram estocadas mas que também estavam sujeitas a
se estragar (cf. Lc 12.16-20). Vestes caras e moedas eram a principal forma de
riqueza oriental. O tecido naturalmente era sujeito à destruição pelas traças.
O ouro e a prata (v. 3) não enferrujavam, mas tinham a tendência de perder o
brilho e, dessa forma, evidenciavam claramente um mau uso por meio do acúmulo.
Esses resultados de
riquezas acumuladas servem de testemunho contra os proprietários. Os buracos
das traças e a perda de brilho diziam de forma eloquente que aqui havia uma
riqueza não sendo usada. Tiago vê essa deterioração do dinheiro se estendendo
aos seus donos. Semelhantemente a alguns agentes infecciosos que destroem tanto
o metal como o homem, a ferrugem começou sua obra cancerígena nos corpos dos
ricos egoístas. A infecção queima sua carne como fogo. A expressão os últimos
dias (v. 3) parece claramente referir-se à consumação do tempo e ao dia do
julgamento.3 Na última sentença do versículo 3, parece haver um jogo de idéias
e palavras. Os ricos que acumulavam tesouros para os seus próprios “últimos
dias” descobrirão que esses tesouros tornaram-se fogo nos últimos dias do
julgamento final. “Sua ferrugem [...] comerá sua carne, visto que vocês
armazenaram fogo”.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 10. pag. 188-189.
Tg 5.1 Estes ricos
provavelmente não são crentes, mas pessoas não-crentes e ricas (talvez as
mesmas pessoas a que se fez referência em 2.6). Muito provavelmente, os ricos
proprietários de terras são o objeto da repreensão mordaz de Tiago. Estas
pessoas vivem em ambientes de luxo, repletas de alimentos e dinheiro. Mas há
terríveis misérias, que sobre eles hão de vir - não se tratando de sofrimentos
terrenos, mas eternos -, e eles devem se lamentar de tristeza pelo que perderão.
As palavras “chorai e pranteai” eram frequentemente usadas no Antigo Testamento
pelos profetas para descrever a reação dos ímpios quando o Dia do Senhor (o dia
do juízo de Deus) chegasse (veja Is 13.6; 15.3; Am 8.3). Jesus disse que entre
aqueles que fossem excluídos do reino de Deus haveria pranto e ranger de dentes
(Mt 8.12; 22.13; 24.51; 25.30).
Tg 5.2 A
instabilidade das riquezas é a advertência mais evidente das “misérias” futuras
dos ricos. Os bens que estão apodrecidos e as roupas que se transformam em
farrapos indicam a transitoriedade da vida. O seu dinheiro, a sua segurança, o
seu luxo e a sua autoindulgência são equivalentes a coisas apodrecidas porque não
lhes servirão para nada na eternidade.
Tg 5.3 Os metais
preciosos acumularam-se e estragaram-se sem ter sido usados. Quando a riqueza
nâo é usada para ajudar os outros, ela perde o seu valor. Tiago nos adverte de
que até mesmo o que parece ser mais indestrutível (ouro e prata) estará
condenado se não for colocado em um bom uso. A inutilidade do ouro e da prata acumulados
os comerá como fogo no inferno. Então, se revelará a avareza, o egoísmo e a
maldade dos ricos. Eles deixaram de fazer o bem com o que tinham, e isto é
pecado (4.17). Poucas pessoas no mundo ocidental podem ler esta passagem com
entendimento e não ficar pelo menos marcadas pela sua verdade. Nós provavelmente
adicionamos uma nova dimensão ao problema, porque não acumulamos para preservar
para mais tarde, mas acumulamos para gastar, ou até mesmo para desperdiçar. Os crentes
da atualidade encontram-se participando da tendência da sociedade de consumir
tanto quanto possível sem considerar as condições em outras partes do mundo, ou
até mesmo o que vamos deixar para os nossos filhos e netos. Será que a nossa
ferrugem não dará testemunho contra nós nos últimos dias?
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 687-688.
Tg 5; 1-3. No bloco
anterior Tiago falou de pessoas seguras de si que pensam não precisar de Deus.
É possível que agora tenha lembrado da objeção: “No entanto, não deixam de ter
êxito e prosperar. Têm todos os trunfos na mão e os usam. Nós pessoas humildes
temos de sofrer muito debaixo dessa situação.” Em decorrência, Tiago apresenta
neste trecho o que acontece com a riqueza vinda de Deus. No presente caso as
pessoas de que se fala não são primordialmente membros da igreja (ainda que
vários do seu âmbito tiveram e têm de se confrontar com a pergunta: “Senhor,
sou eu?”). A princípio os ricos fora da igreja não devem ter visto a carta
(como também ocorreu com as palavras proféticas sobre a Babilônia, Assíria,
Tiro, etc. – Is 13-23; Jr 46-51; etc. – que não foram proclamadas nessas
cidades). Mas a palavra serviu para deixar as coisas claras.
1 – “Vós ricos”, em
grego ploúsios (v. 1).
1 a) No Sl 73.12
consta: “Os ímpios aumentam suas riquezas”. Lá se mostra a figura de pessoas
teimosas: “Falam com altivez.” “São sólidos como um palácio.” Qualquer meio
lhes convém. “Fazem o que bem entendem” (Sl 73.4,8). Na verdade não é válida a
equação: rico = ímpio, pobre = devoto. Também Abraão era rico (Gn 13.2). Mas
com certeza os ricos estão majoritariamente do outro lado. Muitos não teriam
enriquecido se tivessem sido escrupulosos nos métodos. Ademais é notório que o
ser humano é sujeito a transformar sua riqueza em ídolo e então pensar que já
não precisa de Deus. Também nos evangelhos os ricos muitas vezes participavam
da oposição (Mt 23.14; Lc 16.14). O próprio Jesus descreve em suas parábolas
dois personagens ricos para os quais a propriedade veio a ser fatal: o rico que
ignorava Lázaro que jazia à sua porta (Lc 16.19ss) e o rico
agricultor que se
satisfazia com sua riqueza, acreditando poder usá-la exclusivamente em prol de
si mesmo (Lc 12.16-21). Jesus sentencia: “É mais fácil passar um camelo pelo
fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus” (Mt 19.24; Lc
18.25). E Paulo escreve: “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação e
cilada” (1Tm 6.9).
b) Também hoje muitas
pessoas são ateístas não tanto por causa de dúvidas intelectuais, mas porque no
fundo pensam não precisar de Deus e por confiarem nos bens, na boa posição, em
suas capacidades. São esses seus ídolos. Geralmente nem mesmo é necessária
grande quantidade de bens, posição e inteligência para que alguém se considere
“rico” no sentido do presente trecho. – Nenhum de nós está livre do risco de
transformar suas propriedades e garantias maiores ou menores em ídolos: conta
bancária, casa, bons ganhos constantes. Então existirá também o perigo de
permanecermos “sentados” em tudo isso. “A avareza é uma raiz de todos os males”
(1Tm 6.10). Leva a uma atitude errônea perante Deus e pessoas.
c) Para a última
jornada da história universal anuncia-se que o anticristo controlará tudo e
boicotará os que se mantêm fiéis a Jesus (Ap 13.17). Aqui se explicita outra
linha que perpassa a Escritura: há seres humanos cuja consciência está presa a
Deus, que perseveram singela e inabalavelmente do lado de Deus e são
prejudicados em todos os sentidos porque o diabo é o “príncipe deste mundo”.
Nos salmos eles são chamados de “necessitados” (Sl 10.2,12; 12.5; 34.2,7;
74.19-22; etc.). Jesus os chama de “pobres”. Mas declara: “Bem-aventurados vós,
os pobres” (Lc 6.20).
2 – Muda a situação
(v. 1-3).
a) O fato da mudança
de tom. Tiago vê aproximar-se o que os ricos ainda não veem: “Atenção, agora,
ricos, chorai lamentando, por causa das vossas desventuras, que vos
sobrevirão!” Assim como em geral o dono da casa ergue a taça no início de uma
festividade e brinda como sinal de que a festa está começando: “Atenção!”,
assim Tiago convoca agora para o lamento. Ainda estão “numa boa”. Porém isso
acabará em breve. Devem preparar-se desde já. Isso é semelhante às palavras de
Jeremias, que já entoava o lamento fúnebre (cf. Jr 4.19ss; etc.) quando muitos
ainda se consideravam seguros em Jerusalém. “Como o mundo jaz cego e morto!
Dorme em segurança e presume que a aflição do grande dia ainda está distante e
remota” (J. C. Rube; cf. também Lc 17.26-30).
2 b) A causa da
guinada. “Vossa riqueza está apodrecida”: provavelmente tem-se em mente as
ricas reservas de víveres que foram estocados e agora se deterioraram. Era
muito melhor guardar esses estoques do que dá-los aos pobres (Sl 41.2; Pv
19.17; Sir 4.1-6; Mt 5.42; 25.40; Lc 6.38; Gl 6.9s; Hb 13.16). Talvez também se
visasse aguardar tempos em que se poderia vendê-los a preços vis. – “Vossas
roupas estão comidas de traças”: os antigos não tinham dinheiro em moeda, como
hoje. Acumulavam-se sobretudo valores materiais, tecidos, vestes preciosas etc.
Também João Batista convocou – de forma audível para muitos em Israel – a um
comportamento diferente (Lc 3.11). Novamente somos lembrados aqui do Sermão do
Monte (Mt 6.20).
Tg 5.3 “Vosso ouro e
vossa prata enferrujaram”: os antigos ainda não tinham a possibilidade de
limpar metais nobres de outras substâncias da forma como nós. Por isso era
possível que em certas condições também ouro e prata oxidassem. Todas as joias
e outros objetos metálicos de valor experimentavam forte depreciação. Em suma:
aquilo em que consiste a riqueza é passageiro, está sujeito à transitoriedade
geral, também hoje: muda o “clima” na economia de um país. As ações caem.
Empresas de renome pedem concordata ou têm de ser vendidas com urgência; não
resta muita coisa aos donos antigos. Instala-se o desemprego. Bons cargos se
perdem. Outros ramos da economia são prejudicados também. Caem as receitas de
impostos. Uma coisa está ligada à outra. O chão treme sob os pés. Ou pode ser
até mesmo que grasse pelo país o arado da guerra e da revolução; grandes
personalidades de ontem tornam-se hoje mendigos.
c) Bens não usados
transformam-se em acusação: “Sua ferrugem há de ser por testemunho contra vós
mesmos”: Na grande data do juízo de Deus servirão de testemunhas contra eles os
mantimentos deteriorados e as roupas, bem como o dinheiro estocado e
depreciado, que não manteve seu brilho, por assim dizer, por não circular nas
mãos de terceiros. Também nós um dia seremos questionados: “O que você fez com
sua vida, com seus dons, com sua profissão e sua propriedade, bem como com as
pessoas necessitadas que coloquei diante de você?” São perguntas dirigidas não
apenas ao “mundo”, mas também a nós. Isso inicia com as pessoas que
encontramos, estendendo-se até as tarefas de amplitude mundial. Em nossa época
fala-se muito, mas apenas se fala, de “ajuda para o desenvolvimento”. Várias
pessoas a transformam praticamente em substituto para o evangelho que perderam.
Talvez seja por isso que quase não suportamos mais ouvir a palavra. Não
obstante, um dia seremos questionados: Vocês ouviram muito sobre a miséria
daqueles povos distantes, mais do que no passado. E vocês também tinham mais
possibilidades de fazer algo, mais que no passado. O que foi que vocês cristãos
ocidentais abastados fizeram nessa área?
d) A conexão de nosso
destino com o de nossos bens. “Sua ferrugem há de devorar, como fogo, a vossa
carne”: a ruína do que foi acumulado contagia aquele que acumulou e que se
prendeu às coisas acumuladas. O ídolo arrasta o idólatra junto em sua própria
ruína. É como quando um cachorro está acorrentado na varanda de uma propriedade
rural, e as construções se desfazem em chamas. O pobre animal uiva e força a
corrente, tentando se soltar. Finalmente, porém, é esmagado na queda do telhado
em chamas. Assim acontece com o ser humano que se deixou amarrar a esse mundo e
seus bens. João escreve: “O mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele,
porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente” (1Jo 2.17). É
extremamente importante soltar-se do mundo e ligar-se a Jesus. Ele declara: “A
(vontade e a) obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi
enviado.” (Jo 6.29). “Todo o que comete pecado é escravo do pecado… Se, pois, o
Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.34,36).
Fritz
Grünzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
III – A
ATUALIDADE DA EPISTOLA
1. Num tempo de
superficialidade espiritual.
Relacionamento mais intimo com Deus (Andar com Deus)
ANDAR, Metáfora de,
1. A metáfora do ato de andar expressa a natureza geral
da vida espiritual.
Isso é comum nas páginas do NT. Ver Gál. 5:16,25; 6:16; Rom. 4:12; 6:4; 8:1,4; 13:13;
I Cor. 3:3; 7:17; Efé. 2:10; 4:1,17; 5:2,8,15; Fil 3:16-18; Col. 1:10; 2:6;
4:5; I Tes. 2:12; 4:1,12; II Tes. 3: 11. A metáfora se encontra em Paulo 33
vezes, e no resto do NT, 16 vezes. Nos filósofos éticos, também é comum.
2. A orientação do Espírito. Andar no Espirito,
na comunhão e sob a influência do Espírito, o Poder Divino que cultiva em nós
seus frutos. «Devemos dar os nossos passos pela ajuda e orientação do
Espírito», (Robertson, em Gál. 5:25).
Andai na luz!
Assim conhecereis
aquela comunhão de amor,
Que somente seu
Espírito pode dar.
E que reina na luz
superior.
Andai na luz!
E nem mesmo O
sepulcro terá sombra temível:
A glória espantará
sua tristeza,
Pois Cristo
conquistou também ali.
(Bernard Barton)
3.Os Mandamentos e o Andar
a. Todos OS
mandamentos éticos do N.T., estio relacionados ao modo de «andar», ou seja, à
maneira do crente conduzir-se neste mundo. O ato de andar é uma série de quedas
interrompidas. Em nossas imperfeições, caímos com frequência, e mesmo quando
andamos, levamos conosco muitas quedas. Porém, o crente autêntico acaba
encontrando a vitória cabal sobre todos os vicioso
b, O andar do crente
precisa envolver as seguintes características:
Honestidade (ver I
Tes. 2:12).
Ser digno de Deus
(ver I Tes. 2:12), ser digno do Senhor (ver Cal. 1:10), e ser digno de nossa vocação
(ver Efé. 4:1). No Espírito (ver Gã1. 5:25), e como filhos da luz (ver Efé.
5:8).
Digno de Deus.., I
Tess 2. 12. No grego encontramos o termo aksio«, um advérbio muito bem traduzido
aqui, isto é, de maneira tal que o crente possa ser aprovado por ele, cuja vida
seja agradável ao Senhor, sendo conduzido, ao destino que o Senhor planejou
para nós, em Cristo Jesus. (Comparar com Cal. 1:10). Essa passagem diz: «...a
fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando
em toda boa obra, e crescendo no pleno conhecimento
de Deus•. ~ dessa maneira que podemos cultivar uma conduta digna. Também se pode
comparar com o trecho de Efé. 4:1: «Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no
Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados..... Essa expressão
tem sido encontrada em vários papiros e inscrições de tipo diverso do N. T .,
bem como em antiquíssimos documentos cristãos, como em I Clemente 21:1 e
Policarpo 5:2. .
4. A Maneira Digna de Andar.
a. O seu exemplo é
Cristo, o qual, como homem em que se tornou, enfrentou as mesmas tentações e problemas
com que nos defrontamos, mas triunfou sobre tudo e muito aprendeu disso. (Ver
Heb. 5:9).
Dessa maneira se
tornou o Pioneiro de nossa fé, mostrando-nos a vereda a seguir e como podemos enveredar
por esse caminho. (Ver as notas a respeito, em Heb. 2:10, no NTI). Ele dizia:
«Vinde após mim? (Mat. 4: 19).
b. A maneira ideal de
andar leva-nos a uma missão específica que precisa ser cumprida, pois cada indivíduo
é singular e tem uma obra singular a realizar. (Ver notas completas sobre esse
conceito em Apo. 2:17 no NTI). Assim como o Pai enviou o Filho em sua missão,
assim também somos agora enviados (ver João 17:18).
c. A maneira ideal de
andar inclui a nossa comunhão com Deus, atreveis do Espírito, ao ponto mesmo de
sermos o templo do Espírito Santo, o lugar onde ele habita. (Ver Efé. 2:20-22).
Isso requer a santidade e as boas obras (Ver I Tes. 4:3 e Efé. 2:10).
d. A maneira digna de
andar requer que o crente ponha em prática os meios de desenvolvimento espiritual:
O estudo dos
documentos sagrados, bem como de outros livros que sejam espiritualmente úteis.
5. Através desses meios que nos tomamos «dignos.. de Deus, o
qual nos chamou como seus filhos.
O Lado Negativo o
Andar nas Trevas.
O «curso. geral da
vida conduz as pessoas aos vícios do paganismo, à participação na rebeldia
maléfica, fazendo-os enveredar por avenidas de degradação 40 corpo e do
espírito. A expressão, «andar nas trevas é usada somente nas obras joaninas.
(Comparar com João 8:12 e 12:35). Para que não andemos nas trevas, precisamos
da iluminação sobrenatural, pois o andar espiritual é inspirado e dirigido pelo
Espírito de Deus.
É impossível tal alvo
para o homem natural. Este precisa de iluminação,' de transformação, de
inspiração e de ajuda da parte de Deus. A experiência mostra isso para nós,
porque frequentemente falhamos em nossas próprias forças; e quando a nossa
santidade depende de nossa própria iniciativa, tomamo-nos profanos. Para
andarmos santamente precisamos «nascer de novo. (ver I Ped. 1:23); e é o poder residente,
do Espírito Santo, em nós infundido, que nos confere a natureza moral de
Cristo.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 1. Editora Hagnos. pag. 161.
A insistência de
Tiago para que os cristãos pratiquem a palavra de Deus, e não apenas a ouçam, e
sua exigência das obras como partes integrantes da fé, compõem esta ênfase. A
obediência à “lei da liberdade”, a exigência de Deus resumida por Jesus, deve
ser sincera e coerente. E esta obediência tem um importante aspecto social. O
mandamento para que
amemos nosso próximo como a nós mesmos é a “lei régia” (2.8). Tiago insiste em
que “a religião pura e sem mácula” deve se manifestar no cuidado para com os desprivilegiados
e menos favorecidos (“visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações”,
1.27) e numa atitude altruísta e mansa diante dos outros (3.13-18). O
favoritismo demonstrado aos ricos transgredi a “lei régia” (2.1-7), assim como
também a maledicência (4.11-12).
Douglas J. Moo. Tiago. Introdução
e Comentário. Editora
Vida Nova. pag. 51-52.
2. Num tempo de
confusão entre salvação pela fé ou pelas obras.
II Pd 3.14 Pelo fato
de os crentes poderem confiar na promessa de Deus de lhes trazer uma nova terra,
e por eles estarem aguardando estas coisas, eles devem viver imaculados e irrepreensíveis
em paz. Em outras palavras, somente esta esperança poderosa pode nos instigar a
viver com justiça. O reino de Deus será caracterizado pela paz com Deus; portanto,
os crentes devem praticar a paz com Deus agora, preparando-se para vivê-la no reino.
Não devemos agir como preguiçosos e ser complacentes somente porque Cristo
ainda não retornou. Na verdade, devemos viver em ansiosa expectativa de sua
vinda. O que você deseja estar fazendo quando Cristo voltar? É assim que você
deve viver todos os dias.
II Pd 3.15,16
Enquanto os crentes esperavam, talvez impacientemente, pelo retorno do Senhor,
Pedro os lembrou de que eles tinham por salvação a longanimidade de nosso Senhor.
A paciência de Deus significa a salvação para muitos mais que terão a oportunidade
de responder à mensagem do evangelho.
Quando lemos as
várias cartas do Novo Testamento, é interessante estudar a correlação entre os
autores. Pedro era um dos doze discípulos de Jesus. Posteriormente, ele
tornou-se o líder indiscutível da igreja de Jerusalém. Paulo veio mais tarde,
depois de ser convertido na estrada para Damasco, através de uma visão de Jesus
Cristo (At 9). Paulo também era considerado um apóstolo. Pedro e Paulo tinham
um grande respeito mútuo ao trabalharem nos ministérios para os quais Deus os
tinha chamado. Na época em que Pedro estava escrevendo, as cartas de Paulo já
tinham uma grande reputação. Pedro apoiou as suas palavras com o aparente conhecimento
dos crentes de que Paulo também tinha escrito a eles sobre o mesmo assunto.
Pedro reconhecia o valor das cartas de Paulo para o crescimento da igreja, pois
ele descreveu Paulo como alguém que lhes havia escrito segundo a sabedoria que
lhe foi dada. Os ensinos dos apóstolos nunca eram distorcidos pela pessoa, nem
pela área de ministério. Quer a carta viesse de Paulo, ou de Pedro, podia-se
confiar que a mensagem seria a mesma, pois ela tinha vindo, em primeiro lugar,
do próprio Deus. Observe que Pedro escreveu sobre as cartas de Paulo como se
elas estivessem no mesmo nível das outras Escrituras. A igreja primitiva já
estava considerando as cartas de Paulo como sendo inspiradas por Deus. Tanto
Pedro como Paulo estavam cientes de que estavam transmitindo a Palavra de Deus
juntamente com os profetas do Antigo Testamento (veja I Ts 2.13). Nos primeiros
dias da igreja, as cartas dos apóstolos eram lidas aos crentes e frequentemente
passadas a outras igrejas. Às vezes, as canas eram copiadas e somente então eram
passadas a outras igrejas.
Os crentes
consideravam estes textos como tendo tanta autoridade quanto as Escrituras do
Antigo Testamento.
Alguns leitores podem
ter sido afastados por alguns dos comentários de Paulo, que eram difíceis de
entender. Porém, a cura não está em ouvir àqueles que distorcerão a verdade,
mas, antes, em continuar a crescer no conhecimento de Jesus. Quanto melhor
conhecermos a Jesus, menos atraentes serão os falsos ensinos. Os falsos doutores
distorciam todas as Escrituras para que elas significassem o que eles queriam.
No entanto isto podia resultar em perdição.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 758.
II Pd 3.15s Pedro não
está sozinho com sua exortação. Com ênfase ele acrescenta isto às suas próprias
palavras: Como também nosso amado irmão Paulo vos escreveu segundo a sabedoria
que lhe foi dada, como também em todas as cartas em que fala desses assuntos.
Neles algumas coisas são difíceis de entender, o que os ignorantes e
inconstantes distorcem, assim como as demais passagens da Escritura, para sua
própria perdição. Não é possível verificar se houve um motivo especial que
levou Pedro a dizer essa palavra sobre Paulo. No entanto, é possível que nas
igrejas a que ele se dirige a situação tenha sido semelhante à de Corinto, onde
os “fortes” na fé argumentavam com frases de Paulo para justificar sua
“liberdade”. Paulo considerou-se como um dos “fortes” (Rm 15.1), mas ao mesmo
tempo claramente protegeu a “liberdade” também proclamada por ele (cf. 1Co
5.1-5; 6.12-20) contra mal-entendidos grosseiros, limitando-a com profunda
seriedade por meio do “amor” (1Co 8; Rm 14.14 e 15.7). Nas igrejas que Pedro
tem em mente os falsos mestres também podem ter-se apoiado expressamente em
afirmações de Paulo em suas cartas, impressionando assim os membros das
igrejas. Pedro, porém, tem consciência de sua plena unidade com nosso amado
irmão Paulo. Acabamos de citar pessoalmente 2Co 7.1, remetendo repetidas vezes
a Paulo no comentário sobre a presente carta. Obviamente, apesar de toda a
concórdia no concílio dos apóstolos (At 15; Gl 2.6-10), toda a peculiaridade de
Paulo deve ter sido percebida pelos grupos dos primeiros apóstolos da Palestina.
Por essa razão Pedro fala aqui da sabedoria dada a ele (a Paulo), que ele
reconhece e respeita como dádiva presenteada por Deus. Porém sem qualquer
crítica constata objetivamente que nas cartas de Paulo há coisas difíceis de
entender. Qualquer leitor atento das cartas de Paulo há de confirmar essa
constatação. Logo, era possível que vários assuntos fossem arrancados do
contexto e interpretados erroneamente, servindo para que hereges justificassem
seu ponto de vista. Tal “distorção” de frases de Paulo poderia confundir e
seduzir os ignorantes e impacientes. Entretanto isso não se deve apenas a Paulo
e à dificuldade de entendê-lo. Por isso Pedro acrescenta que também se pode
abusar das demais passagens da Escritura. Nós, que contemplamos um longo período
de história eclesiástica, temos em vista uma série de penosos exemplos. Quantas
opiniões e doutrinas erradas e perigosas foram comprovadas “a partir da
Bíblia”! Ou seja, isso já acontecia
naquela época, e
Pedro precisa proteger a igreja contra isso. As pessoas que “distorcem” frases
de Paulo ou outras passagens da Escritura fazem-no por risco próprio e para sua
própria perdição. É isso que a igreja tem de considerar seriamente.
Uwe
Holmer. Comentário Esperança Cartas aos II Pedro. Editora Evangélica
Esperança.
II Pd 3.14-16 Em uma
maneira similar à sua admoestação prévia (v. 11), depois de mais uma ênfase na
natureza apocalíptica do “Dia de Deus” (v. 12), Pedro repete a ênfase da
necessidade da santidade pessoal. Procurai (Façam o seu melhor”, NEB) que dele
sejais achados [...] em paz (14), para que “O encontrem sem pavor, estando
borrifados com seu sangue e santificados pelo seu Espírito”.39 Isto significa
que devemos estar imaculados, sem mácula moral ou espiritual (Ef 5.27; Tg 3.6;
Jd 23) e irrepreensíveis, em sinceridade, sem mancha ou defeito.40 O versículo
5a tem sido interpretado da seguinte forma: “E lembrem-se por que Ele está
esperando. Ele nos está dando tempo para anunciar a sua mensagem de salvação
aos outros” (Bíblia Viva).
Esse chamado descritivo
para a pureza pessoal é seguido de um apelo para o estudo das cartas do nosso
amado irmão Paulo (15) além das outras Escrituras (16). Obviamente, Pedro
estava familiarizado com esses escritos e referia-se a eles como tas loipas
graphas, “o restante das Escrituras”.41 O fato de que alguns as tenham torcido
para sua própria perdição não significava que deveriam ser evitadas. Em vez
disso, queria dizer que deveriam ser estudadas e aplicadas com maior cuidado e
precisão. É impossível determinar o número de epístolas paulinas a que Pedro se
refere aqui, mas Robertson acredita que Pedro deve ter lido todas elas um ou
dois meses após a sua composição.42 De qualquer forma, Pedro insiste que quanto
à questão do retorno de Cristo ele e Paulo estão de acordo.
Ao falar dos indoutos
e inconstantes, que torcem as Escrituras para sua própria ruína, Strachan
aponta que a palavra indoutos (amatheis) “não significa tanto ‘indouto’, mas
‘mal educado’; uma mente não instruída e indisciplinada em hábitos de
pensamento, carecendo de qualidades morais para um julgamento equilibrado”.43 A
segunda palavra, inconstantes (astarikoi), “refere-se mais à conduta, aqueles
cujos hábitos não são plenamente treinados e estabelecidos”.44 A razão óbvia e
básica para se “traçar um sulco reto” na Palavra de Deus (2 Tm 2.15, NEB) é
assegurar uma experiência cristã sadia. Isso deve ser seguido de uma pesquisa
diligente e prolongada pela verdade unida com uma vida de devoção consciente e
do comportamento ético.
Eldon
R. Fuhrman. Comentário Bíblico Beacon II
Pedro.. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 279-280.
Tg 2.21-24. O
Argumento de Abraão.
O versículo 21 fala
de Abraão como sendo justificado pelas obras. Isso parece estar em contradição
direta com Paulo, que escreveu: “Creu Abraão [tinha fé] em Deus, e isso lhe foi
imputado como justiça” (Rm 4.3; cf. G1 3.6). Tanto Tiago quanto Paulo recorrem
à verdade em Gênesis 15.6 para suportar seus argumentos. A reconciliação pode
ser encontrada nos eventos específicos na vida de Abraão à qual Paulo e Tiago
se referem; também no sentido em que usaram o termo justificado (v. 21).
Paulo refere-se à fé
do patriarca Abraão no tempo em que Deus prometeu dar-lhe um filho (Gn 15.1-6).
A sua fé era uma fé que aceitava a promessa de Deus sem ter provas concretas.
Tiago, por outro lado, referiu-se à fé do patriarca quando ofereceu sobre o
altar o seu filho (Gn 22.1-19). “Tiago não está falando da imputação original
de justiça a Abraão em virtude da sua fé, mas da prova infalível [...] de que a
fé que resultou nessa imputação era uma fé real. Ela se expressava em uma
obediência tão completa a Deus que 30 anos mais tarde Abraão estava pronto, em
submissão à vontade divina, para oferecer o seu filho Isaque. O termo
justificado nesse versículo significa na verdade ‘revelado para ser
justificado’”.6
A interação
inseparável entre a fé cristã e a ação é deixada clara em uma tradução mais
recente do versículo 22: “Você pode ver que tanto a fé como as obras estavam
atuando juntas, e a fé foi aperfeiçoada pelas obras” (NVI). Se aceitarmos a
evidência de Tiago, devemos aceitar sua conclusão: “Vocês veem, portanto, que
um homem é salvo pelo que ele faz, tanto como pelo que ele crê” (v. 24, A Bíblia
Viva).
A expressão Abraão, o
nosso pai (v. 21) é, às vezes, usada para apoiar o argumento de que os
receptores dessa epístola eram judeus ou pelo menos de origem judaica. Mas o
conceito de Abraão como o “pai dos fiéis” — gentios e judeus — era um conceito
cristão do primeiro século (cf. Rm 4.16; G1 3.7-9).
Em apoio à realidade
da justiça de Abraão, Tiago ressalta que ele foi chamado o amigo de Deus (v.
23). Em 2 Crônicas 20.7, Abraão é chamado de “amigo [de Deus], para sempre”; e
em Isaías 41.8, Deus chama Israel de “semente de Abraão, meu amigo”. Essa
expressão “amigo de Deus” parece significar “que Deus não escondeu de Abraão o
que propôs fazer (veja Gn 17.17). Abraão foi privilegiado em ver alguma coisa
do grande plano que Deus estava realizando na história. Ele exultou em ver o
dia do Messias (veja Jo 8.56)”.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 10. pag. 171-172.
A fé salvadora (Tg
2.20-26)
A fé salvadora pode
ser sintetizada em três palavras: notitia (conteúdo), assensus (concordância),
fiducia (confiança): conteúdo, concordância e confiança. A fé verdadeira inclui
o intelecto, as emoções e a vontade. O conteúdo da fé é a verdade de Deus. Eu
recebo essa verdade e confio nela e por ela sou transformado.
Como Tiago descreve a
fé verdadeira? Warren Wiersbe responde a esta questão oferecendo vários pontos.
Em primeiro lugar, a f é salvadora está baseada na Palavra de Deus. James Boyce
diz que o primeiro elemento da fé salvadora é o conteúdo intelectual expresso
como doutrinas básicas do cristianismo. Tiago cita dois exemplos; Abraão e
Raabe. Duas pessoas totalmente diferentes; Abraão, o amigo de Deus; Raabe,
membro dos inimigos de Deus. Abraão, piedoso; Raabe, prostituta. Abraão, judeu;
Raabe, gentia. O que tinham em comum? Ambos confiaram na Palavra de Deus. A
questão não é a fé, mas o objeto da fé. Não é fé na fé. Não é fé nos ídolos.
Não é fé nos ancestrais. Não é fé na confissão positiva. Não é fé nos méritos.
E fé em Deus e em Sua Palavra. A fé está baseada em um conjunto de verdades. A
fé está estribada em Deus e em Sua Palavra. Não é fé em subjetividades, mas fé
na Palavra.
Em segundo lugar, a fé
salvadora envolve todo o ser humano. A fé morta toca apenas o intelecto. A fé
dos demônios toca o intelecto e também as emoções. Mas a fé salvadora atinge o
intelecto, as emoções e também a vontade. A mente entende a verdade, o coração
deseja a verdade, e a vontade age com base na verdade.
Em terceiro lugar, a
f é salvadora conduz à ação. Tiago cita dois exemplos de fé que produziram ação;
primeiro, o exemplo de Abraão. Gênesis 15.6 diz que Abraão creu e isso lhe foi
imputado para justiça. Gênesis 22.1-19 mostra a obediência de Abraão ao
oferecer o seu filho para Deus, crendo que Deus poderia ressuscitá-lo (Hb
11.19). Abraão náo foi salvo por obedecer a esse difícil mandamento. Sua obediência
provou que ele já era salvo. Abraão não foi salvo pela fé mais as obras, mas
pela fé que produz obras.
Como, então, Abraão
foi justificado pelas obras, uma vez que já tinha sido justificado pela fé (Gn
15.6; Rm 4.2,3)? Pela fé, ele foi justificado diante de Deus, e sua justiça foi
declarada. Pelas obras, ele foi justificado diante dos homens, e sua justiça
foi demonstrada. A fé do patriarca Abraão foi demonstrada por suas obras.
Segundo, o exemplo de
Raabe. Ela creu e agiu. Ela ouviu a Palavra de Deus e reconheceu que estava em
uma cidade condenada. Ela não somente entendeu â mensagem, mas seu coração foi
tocado (Js 2.11), e assim fez alguma coisa: protegeu os espias (Hb 11.31). Ela
arriscou sua própria vida para proteger os espias. Mais tarde ela fez parte do povo
de Deus (Mt 1.5) e tornou-se membro da genealogia de Cristo. Isso é graça que
opera a fé salvadora.
O apóstolo Paulo diz
que do mesmo jeito que somos destinados para a salvação, somos também
destinados para as boas obras. Se a ordenação é determinativa no caso da salvação,
também o é no caso das boas obras. A salvação é só pela fé, mas por uma fé que não
está só. Uma fé viva se expressa por obras, ou seja, uma vida que traz glória a
Jesus.
Paulo ainda nos
exorta a um autoexame; “Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé;
provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo
está em vós? Se não é que já estais reprovados” (2Co 13.5). A fé salvadora
precisa ser examinada; houve um tempo em que, sinceramente, reconheci meu
pecado diante de Deus? Houve um tempo em que meu coração desejou fortemente fugir
da ira vindoura? Houve um tempo em que compreendi que Cristo morreu pelos meus
pecados e já confessei que não posso salvar-me a mim mesmo? Houve um tempo em
que sinceramente eu me arrependi de meus pecados? Houve um tempo em que
realmente depositei minha confiança no Senhor Jesus? Houve um tempo em que de
fato houve mudança em minha vida? Desejo viver para a glória de Deus, pregar a
salvação para os outros e ajudar os necessitados? Tenho prazer na intimidade
com Deus? Se você pode responder a essas perguntas positivamente, então os
sinais da fé verdadeira estão presentes na sua vida.
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 51-55.
Tg 2. 24 “Vedes que
uma pessoa é justificada por causa de suas obras e não simplesmente da fé”:
Tiago chega a essa conclusão geral. Paulo, porém, escreve: “Concluímos, pois,
que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rm
3.28). Não sabemos qual carta foi escrita antes, a carta aos Romanos ou a carta
de Tiago. Tampouco sabemos – na hipótese de que a carta aos Romanos seja a mais
antiga – se Tiago viu uma das cópias da carta de Paulo, que certamente eram
raras. Com suas palavras poderia ter-se dirigido apenas contra um Paulo
mal-interpretado, contra a opinião de que a graça seria como uma poltrona
confortável. No mais os dois “trens” não colidem, porque não andam sobre os
mesmos trilhos. Em Rm 3.28 está em jogo a questão de como, afinal, acontece a
aceitação do pecador por Deus (na parábola de Lc 15.11ss: o filho pródigo
aceito pelo pai). Paulo diz: não por “obras da lei”, ou seja, não quando o
filho cumpre quaisquer condições prévias, mas unicamente pela aceitação
confiante da bondade do Pai. Tiago, porém, tem em vista outra questão: como o
filho aceito misericordiosamente passa a se conduzir na casa do pai; a
aceitação da bondade do pai tem de ser sucedida pela disposição de se deixar
engajar por essa bondade. Deus nos acolhe assim como somos, mas ele não nos
deixa permanecer como somos.
Fritz
Grünzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
3. Uma fé posta em
pratica.
O
Significado e a função da fé.
a. A fé é um atributo
da alma; não é algo que possa ser aprendido pela experiência física. Não vem mediante
o exercício dos cinco sentidos. Não é algo que se aprende na experiência humana.
Por exemplo, não é fé esperar o recebimento de um cheque no mês seguinte
estivermos trabalhando e costumamos receber nosso salário desse modo. Isso é
confiança, e não fé. Confiamos que receberemos mais um cheque, e a confiança se
baseia na experiência humana, através dos cinco sentidos. Um outro exemplo não
é a fé que nos faz sentar numa cadeira, sem testá-la (exemplo abusado pelos
pregadores), Isso também é confiança-pois Já temos aprendido pela experiência humana,
através dos cinco sentidos, que as cadeiras ordinariamente aguentam o peso do
corpo humano.
Portanto, sentar-se
em uma cadeira sem testá-la primeiro, não é fé.
b. A fé é, -em vez
disso, um atributo da alma que não depende da experiência física que nos vem mediante
o exercício dos cinco sentidos. A fé tem sua base no conhecimento. Esse
conhecimento é diretamente intuitivo, sobre as realidades espirituais, como a
existência eterna da alma, a realidade de Deus, a realidade das coisas
espirituais, o governo de Deus, o firme destino da alma que se acha em Deus,
etc. A alma é o elo entre Deus, as coisas espirituais e a consciência humana. A
alma conhece a realidade de Deus e das coisas espirituais, bem como o seu
próprio destino. A alma sabe, portanto, crê. A fé, pois, é um atributo da alma.
O problema consiste em como permitir que a alma entre em comunicação com a mente
consciente. E: neste ponto que o homem bloqueia o conhecimento natural e
intuitivo de seu ser interior (a alma). Ele bloqueia esse conhecimento com pensamentos
e ações carnais, enfatizando o que físico e negligenciando as coisas do
espírito. O homem perdeu o conhecimento de como entrar em contato com sua
própria porção superior, ao ponto de algumas vezes negar a existência dessa
porção superior, dizendo que a alma não existe.
c. O plano de Deus na
criação foi o de dar ao homem a capacidade de conhecer o seu Criador, bem como
o de ser capaz de conhecer as realidades espirituais em geral, Deus criou de
tal modo a alma humana que ela pode, por dotes naturais, entender tais coisas.
Esse conhecimento provém da alma. A alma age como transmissor para a mente consciente.
A fé não pode ser destruída, tal como não pode ser destruída a alma. A fé,
porem, pode ser ocultada pela mente consciente, devido à perversão do
individuo, ou podemos negligenciar lhe o desenvolvimento nas coisas
espirituais. Tão completo pode ser esse bloqueio da fé que nem um único raio de
luz venha a iluminar a mente fosca, a consciência, Assim, um homem pode chegar
a nem mesmo crer na existência de sua própria alma, ou na existência do seu Criador.
No entanto, a alma
sabe da verdade dessas coisas, a fé continua existindo, mas não pode esse
conhecimento ser transmitido ao individuo consciente.
AFÉ E
AS OBRAS.
A fé não é alguma
nova espécie de obra que agrade a Deus mais do que as obras legalistas, de tal
modo a tomar-se em «mérito», sobre cuja base Deus nos daria a salvação. Pois a
verdadeira base da salvação é a graça, e isso por causa da expiação pelo sangue
de Cristo (ver Efé. 2:8 e Rom. 3:25). A fé é o instrumento que recebe tal
bênção, não sendo base ou mérito para tal recebimento. A fé é, naturalmente,
produtiva por sua própria natureza inerente, pelo que produz o fruto das boas
obras. Não existe tal coisa como fé sem santificação; pois a santificação é o
meio mesmo da salvação (ver 11 Tes. 2:13). A fé estéril não é a fé salvadora. A
fé não é credal, mas é a operação do Espirito de Deus, feita no homem interior,
mediante o que começa a ser efetuada a transformação do crente segundo a imagem
de Cristo.
Fé em Hebreus 11:1
Ora, a fé é o firme
fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem.
A palavra «fé» ocorre
por duzentas e quarenta e quatro vezes nas páginas do N.T.; mas o conceito de fé,
mediante o uso de outros termos, ainda é mais frequente. A fé, em seus muitos
aspectos, conforme é demonstrado acima, é um dos princípios mais importantes do
N.T. Por toda a parte se insiste sobre essa qualidade e se requer a mesma. A fé
indica a apropriação de tudo quanto Deus nos oferece por meio de Cristo. e a completa
outorga da alma aos cuidados do Senhor.
A fé é a certeza das
coisas que se esperam O grego, aqui traduzido por «certeza» é d, palavra grega
comum para indicar a «natureza real» ou «natureza essencial» de alguma coisa,
com frequência traduzida por «substância». Significa a «realidade» de algo, em
contraste com seus meros «acidentes», Este último termo indica algo «não
essencial» à existência de qualquer coisa como a cor e outros aspectos superficiais.
No trecho de Heb. 1:3, esse vocábulo é usado para falar sobre o ser de Cristo,
que é a exata «substância» do ser do Pai, o que é indicação extremamente clara
de sua divindade. O uso dessa palavra por parte do autor parece indicar que ele
encarava a fé como algo que dá «substâncias às realidades invisíveis, em nosso
consciente. A fé «consubstancia» o mundo eterno e-invisível para nós, trazendo
até nós as suas realidades, como se ele realmente se fizesse presente, embora
continue ausente. A fé é o meio que dispomos para «ver», «aceitar» e «aplicar.
o mundo invisível; é o meio através do qual «vivemos segundo as dimensões
eternas». Portanto, a fé é mais do que «certeza». Esta é um dos resultados da
fé. Temos certeza e convicção sobre O mundo espiritual e suas exigências, a nós
impostas; e isso nos vem pela fé; mas a fé nos traz essa realidades, que fica
consubstanciada ao passo que, para outras pessoas, tal realidade permanece uma
teoria, ou mesmo um sonho louco.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 2. Editora Hagnos. pag. 694, 696-697.
Fé e obras
Uma comparação entre
Romanos 4 e Tiago 2 revela uma aparente semelhança na escolha das palavras fé e
obras e na citação de Gênesis 15.6: “Abraão creu em Deus, e isto lhe foi
imputado para justiça” (Rm 4.3; Tg 2.23). Qual é a relação entre a apresentação
de Paulo da fé e das obras em Romanos e a de Tiago em sua epístola?
Alguns comentaristas
afirmam que Tiago escreveu sua epístola para criticar os ensinamentos de Paulo
sobre fé e obras. Dizem que Paulo foi mal-entendido pela igreja, pois separou
os conceitos de/é e obras. Tiago via um perigo nos ensinamentos apresentados
por Paulo,
a saber, da fé sem
obras. Assim, pelo fato de alguns cristãos terem interpretado incorretamente a
frase sem obras, Tiago escreveu sua carta para reforçar o ensinamento de que a
fé resulta em obras.
Na opinião de outros
estudiosos, Tiago escreveu sua epístola antes de Paulo começar sua carreira
como escritor, ou seja, depois que a Epístola de Tiago começou a circular na
igreja primitiva, Paulo escreveu sua carta aos romanos para apresentar uma
melhor compreensão do significado da fé sem obras.
Tanto Tiago quanto
Paulo desenvolvem o tópico de fé e obras, cada um de sua própria perspectiva e
cada um com seu propósito. Tiago usa a palavra/é de modo subjetivo, no sentido
de confiança e segurança no Senhor. Essa fé ativa dá ao crente perseverança,
certeza e salvação (1.3; 2.14; 5.15). A fé é o envolvimento ativo do crente com
a igreja e o mundo. Pela fé, ele recebe sabedoria (1.5), justiça (2.23) e cura
(5.15).
Paulo, por outro
lado, com frequência, fala da fé de modo objetivo.
Fé é o instrumento
pelo qual o crente é justificado diante de Deus (Rm 3.25,28,30; 5.1; G12.16; Fp
3.9). A fé é o meio pelo qual o crente se apropria dos méritos de Cristo. Por
causa desses méritos, o homem é justificado diante de Deus. A justificação,
portanto, vem como uma dádiva de Deus para o homem - um dom que ele toma para
si pela fé. A justificação é a declaração de Deus de que ele restaurou o crente
pela fé, colocando-o num relacionamento correto consigo mesmo.
Em sua discussão
sobre fé e obras, Tiago parece escrever de maneira independente da carta de
Paulo aos romanos. Tiago aborda o assunto de um ponto de vista mais prático do
que teológico. Com efeito, sua abordagem é simples, direta e consequente. A
discussão de Paulo representa um estágio avançado do ensinamento que relaciona
a fé com as obras. Pelo fato de a abordagem de Tiago diferir bastante da de
Paulo, concluímos que ele escreveu sua epístola independente do ensinamento de
Paulo e talvez até antes da redação de Romanos.
Simom
J. Kistemaker. Comentário do Novo
Testamento Tiago e Epístola de João. Editora Cultura Cristã. pag. 27-28.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva.
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