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3° LIÇÃO 3° TRIMESTRE 2014 A IMPORTÂNCIA DA SABEDORIA HUMILDE


A IMPORTÂNCIA DA SABEDORIA HUMILDE
SOMENTE OS COMENTÁRIOS.
Revista Ensinador Cristão CPAD, n° 59, p.37.
"É muito sábio não ser precipitado nas ações (Pv 19.2), nem se posicionar obstinadamente em suas próprias vaidades. Faz parte desta mesma sabedoria não acreditar em tudo que você ouve ou acreditou. Consulte alguém que seja sábio e consciencioso, e busque ser instruído por alguém melhor do que você, em vez de seguir suas próprias invenções (Pv 12.15)" (Thomas à Kempis).
Estas palavras do monge alemão agostiniano simbolizam a sabedoria de que Tiago aborda em sua epístola. Trata-se de sabedoria de vida, não apenas de letra; é sabedoria de espírito; não apenas teológica; é sabedoria ativa; não somente passiva. É a sabedoria que o Pai deseja conceder a todos os seus filhos. É a sabedoria divina!
Nesta lição, o professor deve estabelecer o objetivo geral para ser atingido na aula: o de demonstrar que a verdadeira sabedoria, da qual trata o meio-irmão do Senhor, é humilde e faz parte da nova natureza do crente. Só pode tê-la quem é nascido da água e do Espírito. Não se trata de uma sabedoria do banco escolar. Tiago refere-se à sabedoria das Escrituras, que é Espírito e Vida. Resultado de uma íntima relação com Deus, por meio do Seu filho Jesus e pela força do Espírito Santo. Por isso, então, esta sabedoria não pode ser negociada. Ela vem exclusivamente de Deus, por meio do estudo e da exposição das Sagradas Escrituras.
Um mito deve ser repulsado na sala de aula: o de que a sabedoria vem de maneira mística ou "psicográfica". A sabedoria de Deus é humilde porque ela não se revela unívoca, arrogante e individual. Ela nos traz a consciência de que não sabemos tudo e que, por isso, temos de estar dispostos a aprender com os outros. Retomo uma vez mais a citação de Thomas à Kempis: "Consulte alguém que seja sábio e consciencioso, e busque ser instruído por alguém melhor do que você, em vez de seguir suas próprias invenções (Pv 12.15)". Para isto acontecer em nós é preciso ter a humildade de reconhecer que não sabemos tudo. Há quem saiba mais do que nós, e precisamos aprender com eles, pois Deus usa as pessoas para nos ensinar e cultivar a verdadeira sabedoria em nós. Portanto, professor, trabalhe estas questões com a classe e incentive-a a leitura e a meditação da Palavra.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
A palavra “sabedoria” tem uma importância especial para o cristão. Como servos de Deus, somos chamados por Ele para uma vida que espelhe decisões e práticas advindas de uma sabedoria espelhada na sabedoria divina.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 35.
O que significa aqui a palavra “sabedoria”, em grego sophia?
Não devemos imaginar nela a sabedoria humana, a filosofia, principalmente se relacionada às questões últimas: “quem está acima do curso do universo?” e “qual é a origem e o sentido da vida humana e de toda a história dos povos?”. Aqui a Escritura sentencia que, em decorrência da rebelião do ser humano contra Deus, o pensamento humano está “obscurecido” (Rm 1.21; Ef 4.18), porque o pecado se coloca como uma parede de nuvens entre nós e Deus. De qualquer modo, nesse aspecto o pensamento desvinculado de Deus, autocrático e arbitrário do ser humano encontra-se no caminho falso (Rm 1.22; 1Co 1.19,27; 1Co 2.14). Não somente o querer da pessoa natural, mas igualmente seu pensar foi condenado e “cruzado” pela cruz de Jesus, que na realidade representa o juízo de Deus sobre nós.
Por nova sabedoria “espiritual”, no entanto, a Bíblia compreende o reconhecimento concedido e produzido por meio do Espírito de Deus: o reconhecimento daquilo que Deus faz e do que ele espera que o ser humano faça (1Co 1.24; 2.6s; 12.8; Ef 1.17; Cl 1.9; Tg 3.13,17).
a) A percepção, a compreensão para aquilo que Deus faz. Por meio de Jesus Cristo, seu Filho, Deus nos confidenciou informações acerca de seu plano, seus caminhos e seus alvos (Jo 15.15). Especialmente 1Co 2 mostra o sublime alvo da sabedoria divina, a nossa glória (1Co 2.7).
“Glória é divindade revelada” (F. Oetinger). A Escritura não apenas afirma que um dia estaremos na glória, mas que nós mesmos seremos glória (como também consta textualmente em Cl 3.4). É para nós uma “sabedoria na poeira”, como disseram os pais do Pietismo suábio, pela qual o ser humano se torna pequeno e Deus, grande. Isso é teologia em sentido genuíno, à qual todo cristão pensante é convocado: acompanhar pela reflexão, em admiração e gratidão, os grandes pensamentos que nos foram revelados por Deus em Jesus Cristo, e deixar que nos levem aos alvos de Deus. Conversão a Jesus Cristo não exige renúncia à razão. PeIo contrário, agora o ser humano foi liberto e iluminado para um novo pensar. Nosso pensar foi “batizado” na morte de Cristo e vivificado com ele, situando-se na obediência a ele (2Co 10.5). Nosso Senhor Jesus Cristo nos foi dado precisamente para que sejamos libertos de nosso pensar (e logo também do viver) errado para o pensar (e viver) correto. “Jesus Cristo foi feito por Deus para nós sabedoria” (1Co 1.30). Sim, em nosso Senhor Jesus Cristo, no evangelho a seu respeito, foram-nos franqueados a inesgotável fonte da sabedoria de Deus, o caminho e o alvo: o reconhecimento daquilo que Deus faz e fará com cada ser humano, com sua igreja e com todo o seu mundo. Da mesma forma o reconhecimento do que ele espera de nós em uma vida condizente com Jesus – de nós como pessoas que por meio do seu Espírito são igualadas com a figura do Primogênito. “Em Cristo estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Cl 2.3).
b) Em segundo lugar, na acepção da Escritura sabedoria significa – algo já assinalado acima – a compreensão daquilo que Deus deseja que seja feito por nós, os seus. Por isso, para Tiago importa principalmente a pergunta: como nós nos comportamos em nosso dia-a-dia, na colorida mudança da realidade, particularmente nas adversidades, nos contratempos, nas provas – será de forma agradável a Deus e de modo a representar um testemunho de Cristo também perante nosso entorno, com palavra, ação e ser?
Fritz Grünzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
I - A NECESSIDADE DE PEDIRMOS SABEDORIA A DEUS (Tg 1.5)
1. A sabedoria que vem de Deus.
Tiago enxerga a sabedoria como sendo uma necessidade para as pessoas, mas faz questão de mostrar os tipos de sabedoria que podemos encontrar à nossa volta. E para o apóstolo, mais do que ter, ou não, sabedoria, é imprescindível saber a quem pedir, é preciso utilizá-la. Tipos de Sabedoria identificados por Tiago
Quando tratamos da expressão “sabedoria” e de suas implicações, devemos reconhecer que há pelo menos três tipos de sabedoria: a maligna, a humana e a divina.
Comecemos pela sabedoria humana, partindo do pressuposto de que sabedoria pode ser considerada como a capacidade de tomar decisões de forma correta. O ser humano foi dotado de uma capacidade própria de demonstrar sabedoria em diversas esferas. Somos capazes de trabalhar e aprender a guardar recursos financeiros a fim de serem utilizados em ocasiões propícias, para realizar um sonho, estudar ou fazer uma viagem, mas também podemos trabalhar e esgotar esses mesmos recursos sem nos preocuparmos de forma responsável com nosso futuro, mas uma pessoa sábia entende que não conseguirá formar um patrimônio com aquilo que gasta, e sim com aquilo que consegue guardar. Uma pessoa pode escolher que tipo de roupa deve usar para uma determinada ocasião, ou mesmo que caminho usará para chegar a determinado destino. Esses traços envolvem a capacidade de raciocinar e tomar decisões, o que sem dúvida requer discernimento. Essas são características da sabedoria humana.
Satanás tem sua própria sabedoria? Se observarmos o que Tiago diz quando qualifica a sabedoria que não vem de Deus, podemos entender que sim, Satanás tem sua própria sabedoria. É preciso acrescentar que a expressão sabedoria deve ser entendida como sendo capacidade de pensar, tomar decisões, influenciar pessoas e agir de acordo com um padrão conhecido. Satanás pensa sempre em destruir os cristãos e dificultar o trabalho dos que servem a Deus? Sim. Ele toma decisões com base nos seus intentos? Sim. Ele pode influenciar pessoas no mundo todo e agir de uma forma já conhecida? Sim. Portanto, Tiago não erra quando comenta que a sabedoria que se contrapõe à sabedoria divina é diabólica. E evidente que Satanás, como criatura, está muito bem limitado dentro de seus intentos, e que não pode impedir o que Deus deseja fazer. Ele não pode exercer sua autoridade sobre qualquer coisa, pois está limitado pelo poder de Deus. Apenas Deus é todo poderoso, e Isaías 43.13 diz: “Ainda antes que houvesse dia, eu sou; e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos; operando eu, quem impedirá?”. Apesar de Satanás estar limitado por Deus, é astucioso para levar a cabo seus intentos, e que não podemos permitir que tal influência seja a força motriz da nossa forma de pensar e agir.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 35-37.
Sabedoria Carnal, Tg 3.14-16.
A transição para o versículo 14 pode ser encontrada na ideia da “mansidão” (v. 13). Aqueles que têm amarga inveja e sentimento faccioso no coração (v. 14) não são humildes. Essa falha indica que eles não têm a sabedoria de Deus da qual brota a mansidão. Essa “inveja amarga e ambição egoísta” (NVI) está em vosso coração — o âmago da pessoa, de onde se originam as ações (cf. Mt 15.19). Tiago diz: Se você encontrar esse tipo de espírito, “não se glorie disso e dessa forma esteja em rebeldia e contrário à Verdade” (NT AmpL). O apóstolo pode estar usando a verdade no seu sentido costumeiro. No entanto, em vista do significado específico que ele dá a esse termo em 1.18 e 5.19, ele pode ser entendido como sendo sinônimo da palavra evangelho. Assim “as pessoas são advertidas contra expressões e ações que contradizem ‘a fé do nosso Senhor Jesus Cristo’” (2.1).
Essa [...] sabedoria (v. 15) — o espírito errado que Tiago descreve no versículo 14 — não vem do alto. Inveja e ambição egoísta não são os frutos de uma vida cheia de Deus. Há uma progressão decrescente na descrição do apóstolo acerca da origem dessas atitudes. Essa sabedoria é terrena em contraste com a celestial. Ela reflete uma preocupação com os valores passageiros em vez da preocupação com as coisas de Deus (cf. Jo 8.23; Fp 3.19). Esse espírito é animal. A KJV traz “sensual” e a ASV traz “natural” na margem. “O grego é psychikos, que descreve o homem como ele é em Adão (i.e., ‘natural’) em contraste compneumatikos (‘espiritual’)”. O termo é, às vezes, entendido como quase equivalente a “carnal” ou “mundano”.3 Tiago alcança o grau máximo na descrição das atitudes más de egoísmo e discórdia quando as chama de diabólica[s] (daimoniodes), i.e., procedendo de Satanás e assemelhando-se ao espírito de demônios.
Paulo declara que “Deus não é Deus de confusão” (1 Co 14.33). Tiago confirma essa verdade ao destacar que onde as forças satânicas estão agindo, aí há perturbação (v. 16). Inveja e espírito faccioso confundem o homem que os abriga, até que não consegue mais pensar claramente, nem agir com inteligência. Esses dois males também corrompem e confundem todos os relacionamentos, as atitudes e ações dos homens. Phillips traduz esse versículo da seguinte maneira: “Porque onde você encontrar inveja e rivalidade, também encontrará desarmonia e todo tipo de mal”.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 179.
1. Sabedoria terrena Tg 3.13-16
O cristão não vive isolado, mas na companhia de outros, na comunidade em que Deus o colocou. Essa comunidade é, em primeiro lugar, a igreja de Jesus Cristo. Conforme sua vocação, a igreja está no mundo para fazer brilhar a luz do evangelho.
Para atuar de modo correto em seus respectivos lugares, o cristão e a igreja precisam de sabedoria e entendimento. Na parte introdutória de sua epístola, Tiago diz ao leitor como obter sabedoria: “deve pedir a Deus, que dá generosamente a todos sem encontrar culpa, e lhe será dada” (1.5).
Ninguém pode viver sem sabedoria, pois ninguém deseja ser tolo. Assim, a sabedoria é muito bem guardada por aqueles que a têm e procurada por aqueles que dela são desprovidos. Tiago, portanto, faz uma pergunta um tanto direta:
Tg 1.13 Quem de vocês é sábio e tem entendimento? Que mostre-o através de sua boa vida, de obras realizadas na humildade que vem da sabedoria.
Tiago se dirige aos membros da igreja. Ele parte do pressuposto de que eles oram a Deus pedindo sabedoria, de que possuem essa virtude e de que o mundo procura neles a liderança. Sabendo, porém, que esse nem sempre é o caso para os cristãos, Tiago quer que seus leitores examinem a si mesmos.
a. Exame. “Quem de vocês é sábio e tem entendimento?” Uma pessoa sábia e entendida demonstra, naquilo que diz e faz, que possui sabedoria. Não está claro se Tiago deseja considerar sábios os mestres de sua época. Se é esse o caso, vemos uma ligação direta entre o começo do capítulo (“não suponham muitos de vocês serem mestres”, v. 1) e a pergunta retórica apresentada aqui (v. 13).
Ao termo sábio Tiago acrescenta a palavra entendido. Isso significa que uma pessoa sábia também tem experiência, conhecimento e habilidade. A sabedoria consiste em se ter visão interior e capacidade de tirar conclusões corretas. Um antigo provérbio resume esse fato: “Uma visão do futuro é melhor que uma visão do passado, mas a melhor visão é a interior”.
Diversas situações provam que pessoas com conhecimento não são necessariamente sábias, mas quando uma pessoa com conhecimento tem uma visão interior, ela é, de fato, sábia. Se há entre vocês alguém sábio e entendido, diz Tiago, que demonstre isso com sua vida.
b. Demonstração. Tiago incentiva o homem sábio a mostrar, por meio de sua conduta, que recebeu o dom da sabedoria. “Mostre-o através de sua boa vida”. Tiago parece indicar que, entre os homens cristãos, sábios e entendidos são uma minoria, pois nem todos que pertencem à comunidade cristã adquirem sabedoria. Mas os que a têm são exortados a mostrar, nas palavras e obras, que são, de fato, sábios. Tiago usa o verbo mostrar com o sentido de “provar”. Que o homem ofereça provas verdadeiras de que possui sabedoria e entendimento, que confirme esse fato por meio de sua conduta diária.
O que Tiago quer dizer com a expressão “condigno proceder”?
Ele se refere a um comportamento nobre e louvável. É verdade que Tiago enfatiza obras realizadas em mansidão. Contudo, um homem sábio afirma sua nobre conduta por palavras e obras.
c. Afirmação. “Gestos falam mais alto do que palavras”. Essa verdade proverbial ressalta a necessidade de se olhar para as obras de uma pessoa a fim de constatar se elas condizem com suas palavras.
O que são essas obras? Elas são realizadas num espírito humilde e amável, controlado por um espírito de misericórdia celestial?
A ênfase desse versículo está na característica da sabedoria descrita como humildade. Essa qualidade também pode ser descrita como mansidão ou amabilidade. A amabilidade se expressa na pessoa que é dotada de sabedoria e que a demonstra em todas as suas obras.
Em Eclesiástico, também conhecido como Sabedoria de Jesus, Filho de Siraque, o autor relaciona alguns preceitos de humildade e diz: “Filho, age com mansidão em tudo o que fazes, e serás amado pelo homem que agrada a Deus” (Sir. 3.17, RSY).
Tg 1.14 Porém, se vocês acolhem em seu coração a inveja amargurada e a ambição egoísta, não se vangloriem disso nem neguem a verdade.
O oposto de um espírito amável controlado pela sabedoria é um coração repleto de “inveja amargurada e ambição egoísta”. O contraste entre esse versículo e o anterior tem um paralelo direto na epístola de Paulo aos Gálatas, onde ele menciona, entre os frutos do Espírito, “mansidão e domínio próprio” (5.23). Entre as obras da natureza pecaminosa estão “invejas... discórdias, dissenções, facções” (5.20,21).
Como pastor experiente, Tiago sabe que, entre os membros da igreja, há algumas pessoas cujo espírito é caracterizado pela inveja amargurada e por egoísmo (sentimento faccioso). Ele usa o plural vocês e indica, com uma oração condicional, que as evidências apontam para um fato. Em outras palavras, ele está ciente da condição espiritual de seus leitores. Se continuarem a dar lugar à inveja e ao egoísmo, serão consumidos por eles.
Tiago descreve a inveja com o adjetivo amargurada. Ele não explica a causa dessa inveja amargurada. Sua descrição, porém, aponta para uma transgressão do décimo mandamento: “Não cobiçarás”. Dar lugar à inveja amargurada é pecado, e estar cheio de ambição egoísta vai contra o ensinamento da lei régia: “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Tg 2.8).
“... não se vangloriem disso [da inveja amargurada e sentimento faccioso], nem neguem a verdade”. As pessoas cheias de inveja e egoísmo normalmente falam sobre isso para qualquer um que esteja disposto a ouvir. Elas deveriam perceber, entretanto, que tudo o que dizem é contrariado pela verdade. Cada vez que abrem a boca para expressar seus sentimentos, estão enganando a si mesmas.. Quando Paulo admoesta os efésios para que não entristeçam o Espírito Santo, ele lhes diz: “Longe de vós toda a amargura” (4.31). Um coração que nutre “inveja amargurada e ambição egoísta” é desprovido de sabedoria lá do alto.
Tg 1.15 Tal “sabedoria” não desce do céu, mas é terrena, não é espiritual, é do diabo, 16 pois onde há inveja e ambição egoísta, lá se encontra a desordem e toda prática perversa.
A New International Version apresenta, corretamente, a palavra sabedoria entre aspas para indicar que essa sabedoria não é autêntica.
O próprio texto explica de onde vem essa tal sabedoria e quais são suas características. Sua origem não é celestial, mas terrena; suas peculiaridades não são espirituais; mas, demoníacas. Tiago usa uma linguagem forte para retratar o contraste absoluto entre a sabedoria que se origina no homem e aquela que vem de Deus.
O crente que é verdadeiramente sábio ora continuamente a Deus em nome de Jesus. Na oração, ele está em comunhão com a fonte de sabedoria, pois o próprio Deus a dará liberalmente a qualquer um que lhe pedir (Tg 1.5).
O oposto também é verdade. Sem fé e oração, uma pessoa jamais pode obter verdadeira sabedoria. Suas palavras, movidas pela inveja e ambição egoísta, mostram uma espécie de pseudo-sabedoria que se origina no homem, e não em Deus. Esse tipo de sabedoria não “desce do céu, mas é terrena”.
Nesse versículo, Tiago relaciona uma série de três adjetivos em ordem descendente: Terrena não é espiritual é do diabo.
a. “Terrena”. O autor deseja mostrar como aquilo que é terreno está em contraste com o que Deus faz originar no céu. A besta que emerge da terra (Ap 13.11), por exemplo, desafia tudo o que é sagrado e celestial, e se o Espírito de Deus não está presente nas coisas terrenas, então ali há pecado.
b. “Não é espiritual”. Em sua primeira epístola à igreja de Corinto, Paulo discute a sabedoria que é ensinada pelo Espírito de Deus. Porém, Paulo escreve que “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2.14; comparar também com Jd 19). Não se deve, porém, entender o termo “não-espiritual” como desprovido de espírito.
Além do mais, alguém que abandona a fé segue “a espíritos enganadores e a ensinos de demônios” (lTm 4.1).
c. “É do diabo”. No versículo anterior (v. 14), Tiago diz à pessoa cujo coração está repleto de “inveja amargurada e ambição egoísta” para não negar a verdade. Se negar a verdade, porém, essa pessoa vive uma mentira que tem como origem o pai da mentira, o diabo.
Tiago dá às coisas os seus devidos nomes: “Tal sabedoria não desce do céu, mas é... do diabo”.
Quando o diabo profere a mentira, é ruim. Quando usa o mundo para colocá-la em prática, é ainda pior, mas quando os membros da igreja tomam-se seus instrumentos para propagar a sabedoria diabólica, é a pior de todas as situações. A carta de Tiago deixa a impressão de que o diabo usou alguns membros da igreja.
Tiago prova seu argumento ao observar o seguinte fato: “Pois onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins”. Note a correlação distinta que, se colocada de maneira gráfica, apresenta-se assim:
Onde             Ai.
Há                  Há.
Inveja                        Confusão.
Sentimento faccioso                      toda espécie de coisas ruins.
Uma coisa leva inevitavelmente à outra numa sequência de causa e efeito. Se há inveja, então há confusão. O que é inveja? Eis uma explicação: “Inveja é o desgostar-se com ressentimento e ódio da boa fortuna ou bênção de outra pessoa”. Tiago chama a inveja de “amargurada” (3.14). A inveja destrói a confiança mútua, desintegra a unidade e é de criação demoníaca. Como Tiago indica, a inveja transforma-se em confusão. A expressão confusão “parece ter algo da conotação negativa associada à palavra anarquia”.
Além disso, o sentimento faccioso, ou ambição egoísta, invariavelmente leva a toda espécie de coisas ruins, porque seus motivos egoístas se sobrepõem e eliminam o amor a Deus e ao próximo. A ambição em si é uma força benéfica, que busca promover o bem-estar dos outros. Quando toma-se egoísta, a ambição leva à prática de coisas ruins. Ao observar a inveja e as brigas entre os coríntios, Paulo os admoesta por serem carnais (ICo 3.3). Os crentes, pelo contrário, devem ser companheiros de trabalho de Deus.
Simom J. Kistemaker. Comentário do Novo Testamento Tiago e Epistola de João. Editora Cultura Cristã. pag. 162-167.
Tg 3. 13-17. Tiago fala sobre a sabedoria para lidar com as circunstâncias e com as pessoas. Assim como o rei Salomão pediu sabedoria para Deus, nós também podemos pedir. O que é sabedoria? Sabedoria é o uso correto do conhecimento. Uma pessoa pode ser culta e tola. Hoje se dá mais valor à inteligência emocional do que à inteligência intelectual. Uma pessoa pode ter muito conhecimento e não saber se relacionar com as pessoas. Ela pode ter muito conhecimento e não saber viver consigo e com os outros.
Sabedoria é também olhar para a vida com os olhos de Deus. A pergunta do sábio é; em meus passos, o que faria Jesus? Como ele falaria, como agiria, como reagiria? Cristo não foi um mestre da escola clássica. Ele ensinou os seus discípulos na escola da vida. Ensinar a sabedoria é mais importante do que apenas transmitir conhecimento. Tiago está contrastando dois diferentes tipos de sabedoria: a sabedoria da terra e a sabedoria do céu. Qual sabedoria governa a sua vida? Por qual caminho você está trilhando? Que tipo de vida você está vivendo? Que frutos esse estilo de vida está produzindo? A sua fonte é doce ou salgada (3.12)?
Tiago mostra, também, que essa sabedoria se reflete nos relacionamentos (3.13.14). Sábio é aquele que é santo em caráter, profundo em discernimento e útil nos conselhos. Você conhece o sábio e o inteligente pela mansidão da sua sabedoria e pelas suas obras, ou seja, imitando a Jesus, que foi manso e humilde de coração (Mt 11.29). Warren Wiersbe, comparando a sabedoria de Deus com a sabedoria do mundo, faz três contrastes: quanto à sua origem, quanto às suas características e quanto aos resultados.
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 71-72.
2. Deus é o doador da sabedoria.
Uma das características de Deus apresentadas por Tiago é inerente à sua bondade. Deus dá generosamente a sabedoria necessária para que possamos viver neste mundo de forma que o agrademos e sejamos também referenciais para as pessoas que nos cercam.
Uma das partes mais interessantes em relação a Deus dar sabedoria aos homens está no fato de que Tiago diz que Deus dá a todos a sua sabedoria. Aqui entra uma questão: essa expressão “todos” se refere apenas aos que o servem, ou a todas as pessoas que de alguma forma buscam a sabedoria, independente de suas crenças? O texto não é claro nesse aspecto, mas se tomarmos como referência o fato de que esses escritos estão relacionados a pessoas que, como se entende, conheciam a Jesus Cristo, é possível fechar o círculo de abrangência dentro da esfera cristã.
“E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente...” (Tg 1.5)
Tiago nos apresenta outro fator que deve ser aqui colocado: a busca da sabedoria por meio da oração. Devemos rogar ao Senhor a sabedoria de que precisamos, e Ele certamente a dará como um presente divino. Não somos orientados por Tiago a buscar a sabedoria em outros lugares, mas pura e simplesmente em Deus. Ele é o detentor da sabedoria que nos é necessária em todos os momentos, e Ele faz questão de que a tenhamos.
Além de bondoso, Deus não é inconveniente. Ele não nos dá a sabedoria e depois “joga na nossa cara”, como diz a expressão popular, a sabedoria que nos deu. Como qualquer dos dons que recebemos do Senhor, a sabedoria deve ser de fato bem utilizada, e que tenhamos a consciência de que daremos contas a Deus daquilo que dEle recebemos. Portanto, usemos a sabedoria recebida de acordo com os padrões de Deus.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 37-38.
“Peça a Deus”: Tiago estava aprendendo com seu Senhor e Mestre. Ele mostrou-nos a grande e maravilhosa possibilidade, a saída para toda a perplexidade: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á” (Mt 7.7). A prece pela sabedoria divina é a prece pelo Espírito de Deus, porque a sabedoria é um dos efeitos do Espírito (Ef 1.17). Nosso Senhor reservou uma promessa especial à prece pelo Espírito (Lc 11.13). Os dons exteriores também são concedidos por Deus a quem não os pede a ele (Mt 5.45). Contudo, ele não despeja simplesmente seu Espírito, a si mesmo, sua salvação sobre as cabeças das pessoas. Não impõe a ninguém os dons interiores. Nesse aspecto ele requer ser rogado. “Quer que estendamos as mãos em direção de seu agir misericordioso” (J. C. Blumhardt). – Como devemos imaginar o atendimento da prece por sabedoria? O Espírito de Deus vincula-se à palavra de Deus. Jesus declara acerca do Espírito: “Há de receber do que é meu” (da palavra dada de uma vez por todas) “e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26; 16.14). Por isso, ao darmos ouvidos à palavra de Deus e lidarmos com ela em oração, o Espírito de Deus fará incidir luz sobre nossa situação e questionamento. Propicia-se a noção do que é imperioso no momento, bem como a dádiva de dizer aos outros uma palavra de esclarecimento, orientação e auxílio (cf. 1Co 12.8).
“Deus concede a cada um”, traduz Lutero conforme o sentido geral: a sabedoria divina de forma alguma é propriedade particular de alguns teólogos, “homens de Deus”, encarregados de tempo integral, dirigentes na igreja, especialmente dotados. Cada um tem a promessa.
“Deus dá de bom grado.” A palavra grega para o modo como Deus dá significa “simplesmente”, “despretensiosamente”, “sem segundas intenções”. Lutero traduz “singelamente”. Ao dar, Deus não faz ressalvas e é cheio de bondade. Não se comporta como as pessoas, nem como os gentios pensavam a respeito de seus deuses. –“Ele dá sem repreender”: estamos acostumados à versão alemã de Lutero - “Ele não pressiona ninguém.” Não priva ninguém. Não coloca a cesta do pão fora de alcance (p. ex., para mostrar quem é chefe na casa). Literalmente o sentido é: “Ele não critica.”
Nós também damos, mas não raro criticamos ao mesmo tempo, a começar por nossos próprios filhos. Por exemplo: “Você vem pedir ajuda depois que arrumou encrenca. Deveria ter pensado melhor antes.” Ou: “Depois de todas as suas atitudes para comigo, eu não deveria lhe dar mais nada!” Deus não faz sermões nem críticas. Não nos prende ao que passou. “Sua misericórdia é nova a cada manhã” sobre nós “e sua fidelidade é grande” (Lm 3.22s).
Fritz Grünzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Tiago compartilha essa percepção. Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus. Tiago pode fazer isso com confiança total em que Deus a todos dá liberalmente. Aqui, Tiago apela à tradição a respeito de Jesus (os ensinos de Jesus ainda não escritos que, mais tarde, formariam os evangelhos), pois o Senhor prometera que Deus concederia a seus filhos o que lhe pedissem (Mateus 7:7-11; Marcos 11:24; Lucas 11:9-13; João 15:7). Que dádiva melhor poderiam pedir do que a sabedoria de que necessitassem a fim de resistir às provações que estavam enfrentando? Deus... dá porque ele é doador; Deus dá liberalmente, o que significa que dá sem reservas mentais, dá com simplicidade, com um coração singelo.
Não está procurando um lucro escondido da parte dos crentes; o Senhor não abriga motivos desprezíveis, tampouco sentimentos mesquinhos. Na verdade, não só o Senhor dá generosamente, mas não censura. Isso significa que Deus não se queixa do dom concedido, nem de seu custo. Não é “um tolo”, que “tem muitos olhos, em vez de um. Dá pouco e repreende muito, abre a boca como um arauto; hoje empresta e amanhã toma de volta” (Siraque 20:14-15). Não, Deus dá verdadeiras dádivas; nenhuma queixa, nenhuma crítica (Como? Você precisa de ajuda outra vez?), nenhum motivo escuso, nenhuma relutância. O Deus dos cristãos é caracterizado pelo hábito de dar livre e generosamente, até o ponto da prodigalidade.
E que dádivas concede o Senhor! Dá sabedoria, que nesta carta é equivalente ao Espírito Santo, dádiva que os leitores de Tiago, sendo ex-Judeus, reconheceriam como um dos dons da era vindoura (como o fizeram as pessoas dos rolos do mar Morto). A sabedoria vem ao crente mediante Cristo (1 Coríntios 1:24; 2:4-6).
Certamente, é disso que precisamos a fim de resistir às provações e chegar à perfeição.
Peter H. Davids. Comentário Bíblico Contemporâneo. Editora Vida. pag. 45.
3. Peça a Deus sabedoria.
Não é incomum nos aproximarmos de Deus para pedir dEle bênçãos. Não é errado desejar ser abençoado por Deus, pois mesmo as pessoas que não tem em Jesus o seu Senhor desejam igualmente receber bênçãos dos céus. Pois bem, se cremos que Deus pode nos abençoar, porque não pedimos a Deus sabedoria?
Tiago nos deixa evidente duas coisas: A sabedoria é uma bênção, e ela deve ser pedida a Deus. E Deus se importa com esse tipo de pedido? Sim, pois o apóstolo mostra o motivo máximo pelo qual devemos pedir a sabedoria a Deus: “... e ser-lhe-á dada”. Deus tem prazer em oferecer aos seus filhos a sabedoria, e Tiago deixa claro que Ele nos dará a sabedoria que pedimos. A sabedoria que Deus tem para dar não é custosa. Quando oramos de acordo com a vontade de Deus, temos a certeza de que receberemos respostas de nossas orações e uma dessas respostas sem dúvida é a sabedoria como um presente divino.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 38.
Quando somos provados precisamos pedir sabedoria (1.5-8). Quando estamos sendo provados, precisamos de discernimento e sabedoria (1.5; 3.13-18). O que é sabedoria? E mais que conhecimento. Sabedoria é o uso correto do conhecimento. Conhecimento pode ser definido, nesse contexto, como conhecer bem a Bíblia. Sabedoria é usar bem a Bíblia. Sabedoria é olhar para a vida com os olhos de Deus. O sábio busca maturidade e não prazer.
Há pessoas cultas e tolas. Há pessoas que têm erudição, mas não sabem viver a vida nem fazer escolhas certas. Quando estamos sendo provados, precisamos de sabedoria para não desperdiçar as oportunidades que Deus está nos dando para chegarmos à maturidade. A sabedoria nos ajuda a entender como usar as provas para nosso bem e para a glória de Deus.
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 20-21.
Observe os seguintes pontos:
a. Necessidade. A oração “se algum de vocês necessita de sabedoria” é a primeira parte de uma declaração fatual numa frase condicional. O autor está dizendo ao leitor: “Sei que você não vai admitir, mas você necessita de sabedoria”. Tiago trata de um problema delicado, pois ninguém quer ouvir que é tolo, que comete erros e precisa de ajuda. O ser humano é, por natureza, independente. Quer resolver seus próprios problemas e tomar suas próprias decisões. O teólogo do século 18, John Albert Bengel, colocou de modo um tanto sucinto: “A paciência está mais no poder de um homem bom do que a sabedoria; a primeira deve ser exercitada, e esta última deve ser pedida”. E preciso que o ser humano supere o orgulho para admitir que precisa de sabedoria. Mas a sabedoria não é algo que ele possui. Ela pertence a Deus, pois é sua divina virtude. Qualquer um que admita a necessidade de sabedoria deve ir até Deus e pedir-lhe. Tiago apela para o leitor e ouvinte individualmente. Escreve: “algum de vocês”. Tiago dá ao leitor a chance de se examinar, de chegar à conclusão de que precisa de sabedoria e de seguir o seu conselho para que a peça a Deus.
b. Pedido. O crente deve pedir sabedoria a Deus. Tiago deixa implícito que Deus é a fonte de sabedoria. Ela lhe pertence.
O que é sabedoria? Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento procuram explicar esse termo. Salomão o expressa num paralelismo tipicamente hebraico: “Porque o Senhor dá a sabedoria, da sua boca vem a inteligência e o entendimento” (Pv 2.6). Salomão equaliza a sabedoria com a inteligência e o entendimento.
Além disso, o Novo Testamento afirma que o cristão recebe sabedoria e conhecimento de Deus (ver, por exemplo, ICo 1.30). É verdade que fazemos uma distinção entre sabedoria e conhecimento quando dizemos que o conhecimento sem sabedoria é de pouco valor.
Donald Guthrie observa que “se a sabedoria é o uso correto do conhecimento, a sabedoria perfeita pressupõe conhecimento perfeito”. Para tomar-se maduro e íntegro, o crente deve pedir a Deus sabedoria. Deus deseja oferecer sabedoria a qualquer um que pedir com humildade.
O reservatório de sabedoria de Deus é infinito e ele a “dá generosamente a todos sem encontrar culpa”.
c. Dádiva. Deus não faz acepção. Ele dá a todos, não importa quem seja, pois Deus deseja dar. É uma característica de Deus. Ele dá continuamente. Toda vez que alguém chega até ele com um pedido, ele abre seu reservatório e distribui sabedoria gratuitamente. Assim como o sol continua a dar sua luz, Deus continua dando sabedoria. Não podemos imaginar um sol que deixe de dar luz, muito menos pensar em Deus deixando de dar sabedoria. A dádiva de Deus é gratuita, sem juros, sem o pedido de que se pague de volta. Ela é grátis. Além disso, Deus dá “sem encontrar culpa”. Quando pedimos a Deus por sabedoria, não devemos temer que ele expresse desprazer ou nos reprove. Quando chegamos até ele com a fé como a de uma criança, ele jamais nos manda de volta vazios. Temos a segurança de que, quando pedimos por sabedoria, ela nos “será dada”. Deus não decepciona aquele que pede com fé.
Simom J. Kistemaker. Comentário do Novo Testamento Tiago e Epistola de João. Editora Cultura Cristã. pag. 52-54.
II - A DEMONSTRAÇÃO PRÁTICA DA SABEDORIA HUMILDE (Tg 3.13)
1. A sabedoria colocada em prática.
Um talento não utilizado pode se perder com o tempo. Da mesma forma, se recebemos um presente de Deus, devemos utilizá-lo para a glória dEle, e isso inclui a sabedoria. Quando o texto de Tiago fala que o sábio e inteligente deve demonstrar sua sabedoria, ele está dizendo que essa demonstração deve ser realizada entre as pessoas, publicamente.
Tiago espera que a sabedoria seja pedida por meio da oração, recebida como um presente de Deus e manifesta na comunidade dos santos. A sabedoria não é um presente que recebemos para ficar guardada, mas para ser disponibilizada por meio de ações inteligentes.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 39.
Sabedoria É o que a Sabedoria Faz, 3.13
Essa seção tem somente uma conexão vaga com os versículos precedentes. Talvez o sábio (v. 13) pode ser comparado à fonte de água doce, não misturada com a amarga (v. 11), ou à árvore cuja natureza é tal que produz “bons frutos” (vv. 12, 17). Mas fundamentalmente, o pensamento do autor tem conexão com os versículos 1- 2a em que apresenta conselhos aos mestres cristãos — ou pretendentes a mestres
— na Igreja. O sempre prático Tiago aplica o teste da bondade aos líderes cristãos e mais amplamente a todos que se chamam cristãos. Sêneca disse: “A sabedoria nos ensina a fazer, bem como a falar”. The New English Bible reflete de forma correta o significado do versículo 13: “Quem entre vós é sábio ou inteligente? Que o demonstre por sua conduta correta, mediante obras práticas, com modéstia que provém da sabedoria”.
O verdadeiramente sábio e inteligente (epistemon) é aquele que conhece a Deus.
O sábio do Antigo Testamento escreveu: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e a ciência do Santo, a prudência” (Pv 9.10). Este é o significado que Tiago emprega aqui (cf. 1.5). O bom trato é “seu bom procedimento” (NVI). Suas obras seriam os resultados específicos ou ações que brotam da sua vida reta. Todas essas ações devem ser realizadas em mansidão de sabedoria, i.e., com a humildade que é decorrente de ser semelhante a Cristo.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 178.
«...mediante condigno proceder, as suas obras...» A sabedoria nada será a menos que se manifeste na forma de boas obras e de uma vida moral e espiritual correta. Também precisa ser frutífera c poderosa, tal como se espera que seja a fé cristã (ver Tia. 2:14 e ss.), porquanto, de outro modo, será algo morto e inútil. Mediante sua vida boa e pacífica, o homem demonstrará a origem piedosa e divina de sua sabedoria. Portanto, o sábio é convidado a demonstrar a validade de sua sabedoria pelas suas obras de mansidão. A sabedoria que não é comprovada desse modo é uma sabedoria falsa: e mostra-se ainda mais falsa quando se torna motivo de orgulho e de contenda.
«Tiago compartilha do conceito bíblico geral que a sabedoria não  consiste apenas no conhecimento, na astúcia e na habilidade, mas antes, em uma profunda compreensão sobre o que é e deve ser a vida piedosa. Tal sabedoria produz concórdia e harmonia entre as pessoas e os grupos. Faz agudo contraste com o egoísmo calculista que é a causa de ‘desordem social e de todas as ‘práticas vis’... O astuto, o esperto, o manipulador habilidoso, está convencido que sua sagacidade superior é O que os sofisticados denominam de ‘egoísmo iluminado‘, o ‘conhecimento’, a manipulação de homens e de circunstâncias, para a satisfação de sua ganância. Para obter a sua finalidade, o homem astuto não mostra escrúpulos em mentir, desunir, enganar ou subornar, se pensa que poderá evitar ser apanhado. Uma boa parte da astúcia de que ele se orgulha c a sua habilidade de ‘encobrir‘ de ‘passar despercebido‘. Se a sua ambição só puder ser satisfeita mediante a deslealdade para com seus amigos, ou mediante a crueldade para com suas vítimas, isso é lamentável, mas é o preço que 0 ‘realista paga para ganhar o único sucesso que vale a pena ter neste mundo‘*. (Easton, in loc.).
«...proceder...» No grego é usado o termo *anastrophe·, «conduta», «comportamento», o caráter geral de uma vida, algo que é indicado, nas páginas do N.T.. pela metáfora do «andar», que é de uso mui frequente. O «sábio» crente deve ser pessoa de uma conduta repleta de boas obras, efetuadas em mansidão. Somente a sabedoria divina, uma qualidade divinamente transmitida, pode tornar bem-sucedida a vida do crente. E algo por demais exigente para a personalidade humana sem ajuda.
«Ações, ações, ações, é o clamor de Tiago. ‘Isto deveríeis ter feito, sem deixardes de fazer aquelas outras'. Sem a prática cristã, todas as outras coisas que alguém professe possuir é sal que já perdeu o sabor». (Plummer, in loc.).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 39.
Tg 3.13. A pergunta que abre esta divisão — Quem entre vós é sábio e entendido? — é de fato um desafio: se você diz ser sábio, demonstre sua sabedoria pelas obras que a verdadeira sabedoria produz. Muitos comentaristas acham que a pergunta de Tiago dirige-se especialmente aos mestres mencionados no versículo 1. Mas nem sophos (sábio, “pessoa sábia”) nem epistêmõn (“instruído”, “cheio de entendimento”) são aplicados como títulos ao mestre. Eles aparecem juntos várias vezes na Septuaginta, uma vez em referência às qualidades que os líderes devem possuir (Dt 1.13,15), mas também é aplicado a todo o Israel (Dt 4.6; Dn 5.12 aplica-os ao profeta). Está claro que Tiago considera a “sabedoria” uma virtude à disposição de todos (1.5), e mesmo 3.1 realmente não se dirige a mestres, mas àqueles que queriam se tomar mestres. Portanto, a exortação de Tiago é melhor compreendida como se fosse dirigida a todos os crentes em geral, mas especialmente àqueles que se orgulhavam de seu conhecimento superior.
Conforme Dibelius destaca, a exortação de Tiago à “pessoa sábia” parece desajeitada, pelo fato de ele combinar duas ideias nela: a sabedoria deve produzir obras e a sabedoria deve ser caracterizada pela humildade. A primeira ideia dá-nos uma forte lembrança da exigência anterior de Tiago, no sentido de que a fé se manifesta em obras. A verdadeira sabedoria, assim como a fé real, é uma qualidade prática e vital que tem a ver tanto (ou mais) com o modo pelo qual vivemos como com aquilo que pensamos ou dizemos. Neste sentido, Tiago é fiel ao conceito veterotestamentário da sabedoria como um modo de vida, a atitude e conduta típicas de uma pessoa piedosa. Mas Tiago está muito mais interessado na segunda ideia mencionada acima, as qualidades que devem ser manifestadas pela sabedoria. Em mansidão de sabedoria deve ser entendido como um qualificativo de obras\estas devem ser praticadas “em mansidão” que caracteriza a “sabedoria” ou nasce dela (vendo o genitivo como descritivo ou indicador de origem). Mansidão (praütês), na mente da maioria dos gregos, dificilmente era uma virtude a ser buscada: ela sugeria um rebaixamento servil e ignóbil. Mas Jesus, que pessoalmente foi “manso” (Mt 11.29), pronunciou uma bênção sobre aqueles que fossem mansos (Mt 5.5). Tal mansidão cristã envolve uma compreensão sadia acerca de nossa falta de méritos diante de Deus e uma respectiva humildade e falta de orgulho no trato com nossos semelhantes.
Douglas J. Moo. Tiago. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 130-131.
2. A humildade como prática cristã.
Na concepção de Tiago, sabedoria e humildade devem andar juntas. O sábio tem atitudes humildes, não arrogantes. Da mesma forma que a sabedoria de que precisamos encontra sua fonte em Deus, a humildade nos faz ser sempre mais dependentes de Deus. Curiosamente falando, a obediência a Deus é uma demonstração de humildade, e não de arrogância. A desobediência a Deus e aos seus preceitos mostra o quanto podemos ser arrogantes, mas a dependência de Deus e a humildade demonstram o quanto somos obedientes a Ele.
A humildade tem um alto preço? Com certeza. Um exemplo que vale a pena ser lembrado é o caso de Naamã, o general do exército da Síria, que foi curado por Eliseu em 2 Reis 5. Naamã era um herói nacional, e por seus feitos era sempre honrado. A Bíblia descreve Naamã como um homem poderoso diante do rei e respeitado, pois através de Naamã Deus dera livramento aos sírios. Ele ainda é descrito como um homem valoroso, mas também possuidor de um mal: a lepra.
Mesmo com essa doença, Naamã era muito bem quisto em sua nação. Quando ele soube que havia um profeta em Israel que poderia curá-lo, Naamã foi atrás do homem de Deus, Eliseu, que aparentemente, fez pouco caso do general, quando ordenou que o militar fosse tomar banho nas águas do Jordão. Naamã não gostou da ordem e pegou o caminho de volta para sua terra, mas convencido pelos seus servos, voltou, banhou-se no rio e foi curado. Sua humildade e obediência, mesmo em sua posição, garantiram-lhe a cura daquela doença mortal.
Naamã não era um cristão, mas seu exemplo de humildade serve de inspiração a todos nós. Se ele pôde ouvir seus servos, humilhou-se e banhou-se em um rio que aos seus olhos era inferior, e por isso foi curado, porque não podemos nós buscar essa característica em nossas vidas?
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 39-40.
Mt 11.29 Manso e humilde de coração. Evidentemente se refere às ideias de Zac. 9:9, que fala da humildade do Messias. Primeiramente o Messias humilhou-se na encarnação—«...a si mesmo se esvaziou. assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens» (Fil. 2:7). No seu ministério, Jesus sempre apresentou provas de sua simpatia pelo estado e sofrimento da humanidade. Operou curas não para provar seu próprio poder e grandeza, mas porque anelava aliviar o sofrimento dos homens. Ressuscitou aos mortos porque simpatizou com a tristeza dos que estavam em luto. Pregou o evangelho, especialmente aos pobres, porque sentiu a desesperadora condição produzida pelo pecado. Jesus não assumiu posição de autoridade c grandeza, como o faziam alguns líderes dos judeus, nem procurou qualquer privilegio pessoal ante o governo. Viveu como homem pobre, no meio dos pobres, como homem humilde no meio dos humildes. Finalmente, submeteu-se à morte na cruz, uma morte vergonhosa e horrível, conforme se lê, ...humilhou-se, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz (Fil. 2:8). Ver nota detalhada sobre a humilhação de Cristo, cm Fil. 2:6-8.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 382.
Mt 11.29 Jesus convida a aprender dele, isto é, tornar-se seu seguidor. Ele é manso e humilde de coração. Ambas as qualidades precisam ser encontradas também na vida de seus discípulos, tanto a mansidão, que é igual para com cada pessoa, seja ela pobre ou rica, amiga ou inimiga, como também a humildade. Exatamente isso foi o que acompanhou o Senhor Jesus como uma clara luz brilhante durante todos os seus dias. Essa humildade dele não foi uma máscara exterior, um gesto adquirido de cortesia, não, ela brotava de seu coração, do mais íntimo de seu ser. Não uma coação externa o impelia para essa atitude, e sim a necessidade mais interior.
Em outras palavras: A mansidão é a característica exterior de uma ação, enquanto “ser humilde de coração” refere-se mais à disposição interior que está por trás de toda ação.
Quando o discípulo é obediente a esse imperativo, isso por sua vez lhe trará novo “descanso”. Na verdade, às vezes o descanso não é imediatamente visível de fora, pois também o discípulo está plenamente inserido em seu tempo, no mundo com toda a sua pressa e atividade, e nem sempre pode afastar-se dele. Porém o discípulo sempre de novo pode receber de presente o descanso da alma, uma segurança e firmeza interior diante de todo o exterior. Esse “descanso interior” brota da proximidade daquele que anda junto, debaixo do jugo, e que é o “Senhor do universo”.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica Esperança.
3. Obras em mansidão de sabedoria.
Tiago destaca a pessoa sábia e inteligente como uma pessoa que sabe tratar pessoas próximas (e pessoas distantes também). Isso nos leva a crer que a sabedoria não é uma qualidade que deve ser trancafiada em um escritório, distante das pessoas. O sábio não se mostra, na perspectiva de Tiago, como aquela pessoa que tem títulos e conhecimento (Tiago não menciona esses elementos titulares como sendo inúteis nem desprezíveis, como se estudar ou buscar o conhecimento acadêmico fosse algo em que o crente não deveria se empenhar. Eles apenas não são relacionados nessa linha de raciocínio.), mas como a pessoa que sabe lidar com outras pessoas de forma afável. Como o texto não designa que tipo de pessoa deve ser tratado dessa forma, nem designa também a situação em que esse tratamento afável deve ser ministrado, podemos entender que é uma regra que deve ser aplicada em todas as situações e para qualquer pessoa, sem distinção.
Essa é definitivamente uma grande prova de sabedoria. E fácil tratar bem pessoas que nos tratam bem. Mas como deveríamos lidar com pessoas que aos nossos olhos são difíceis de serem suportadas? Como lidar com pessoas grossas e mal educadas? Com bom trato em mansidão e sabedoria.
A mansidão não é sinal de fraqueza, mas sim de capacidade de dominar a si mesmo. Mansidão é sinônimo de cortesia, e essa característica sem dúvida é oriunda de uma relação vívida com Deus e com seus preceitos.
Como diz Champlin,
Tiago compartilha do conceito bíblico geral que a sabedoria não consiste apenas em no conhecimento, na astúcia e na habilidade, mas antes em uma profunda compreensão sobre o que é e deve ser a vida piedosa. Tal sabedoria produz concórdia e harmonia entre as pessoas e os grupos.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 40-41.
Tg 3.13 A pessoa verdadeiramente sábia demonstra a compreensão que tem de Cristo pela maneira como vive. As nossas obras mostram em que investimos os nossos corações (Mt 6.19-21,33). As nossas atitudes e motivações estão de acordo com os nossos atos? Embora não possamos afirmar que sejamos sábios, podemos almejar viver de maneira sábia — uma vida de constante bondade. A orientação que nos é dada pela Palavra de Deus é uma sabedoria confiável.
Mas, se nós quisermos realizar boas obras, devemos tomar cuidado com o orgulho. Orgulho é ter uma atitude de valorização própria superior aos talentos e capacidades que Deus nos deu e usar estes dons para se colocar como alguém superior, ou provocar discórdias nos nossos relacionamentos com os outros. A sabedoria, portanto, envolve tanto as ações quanto as atitudes da vida. Uma vida sábia exibirá não apenas bondade, mas também humildade.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 680.
Sabedoria em Tiago tem mais que ver com uma conduta que reflete a natureza e a vontade de Deus do que com um intelecto aguçado. Tiago lança um desfio: “Quem é sábio e tem entendimento entre vocês?” Tanto sabedoria como entendimento andam bem juntos. Sabedoria direciona os passos, e entendimento informa o destino das decisões. Segundo Tiago, ela é demonstrada pelo bom procedimento. A questão não é o quanto sabemos na nossa mente, mas quanto esse conhecimento é refletido no nosso procedimento.
Por exemplo, quem não acharia um tanto estranho ver um médico que orienta pacientes na disciplina de uma vida regrada, mas que não passa de uma chaminé ambulante de tanto que fuma?
O cristão deve demonstrar pelas suas boas obras a mansidão que a sabedoria genuína requer. Como em 2.18, as obras comprovam a fé genuína. A humildade mostra a verdadeira sabedoria que o cristão tem. Thomas Manton diz: “Um cristão é mais bem conhecido pela sua vida do que pelo seu discurso”. O Senhor Jesus convidou os cansados e sobrecarregados a tomar sobre eles o jugo dele para aprender com ele que é manso e humilde de coração. Quando tratamos pessoas com paciência e amor, mesmo aqueles que não têm posição de destaque na sociedade, imita-se a sabedoria e a humildade de Cristo. Jesus incluiu mansidão nas bem-aventuranças. A felicidade dos mansos inclui herdar a terra (Mt 5.5). Em Tiago, mansidão deve certificar a origem da sabedoria que se professa.
Na antiguidade, sabedoria e humildade eram praticamente inimigas. A visão grega da sabedoria pressupunha o orgulho. Uma pessoa “sábia” tinha que se orgulhar de sua posição. Para Tiago, porém, afirmar que se prova ser uma pessoa sábia executando obras com hum ildade era algo totalmente contra aquela cultura. Algo que é também contra nossa cultura hoje. A tendência que temos é de exaltar-nos e orgulhar-nos de nossos próprios feitos.
O oposto se mostra na sabedoria dos homens que não conhecem a Deus. E o caso dos que “dizendo-se sábios, tornaram se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens” (Rm 1.22,23). A  sabedoria que não tem respaldo na Bíblia é carente de mansidão. Sem entendimento, os intelectuais do nosso tempo carecem, na maioria dos casos, da sabedoria que o temor do Senhor produz (SI 111.10). Especular sobre as origens do universo, sobre as origens das espécies, carecem de humildade e sabedoria. Excluir o Criador de todos as explicações das maravilhas da natureza parece loucura do mais alto grau. Certamente, Manton está certo ao afirmar: “O mais evidente da sabedoria verdadeira é que seu possuidor é manso” (op. cit. p. 300).
Russell P. Shedd,. Edmilson F. Bizerra. Uma Exposição De Tiago A Sabedoria De Deus. Editora Shedd Publicações.
III - O VALOR DA VERDADEIRA SABEDORIA E A ARROGÂNCIA DO SABER CONTENCIOSO (Tg 3.14-18)
1. Administrando a sabedoria.
Se há atitudes que devemos evitar no trato com as pessoas que nos cercam, há características que devemos cultivar tomando como base as características da Sabedoria Divina. Neste capítulo, destaco pelo menos 3 aspectos:
Ela é pura. Deus não se deixa contaminar pelo mal, e a sabedoria que devemos ter não pode ser influenciada pelo mundo, perdendo sua pureza. Deus espera que sua sabedoria mantenha-se íntegra em nossas vidas. Pureza fala de integridade, da capacidade de não se diluir, de não perder suas propriedades.
Ela é pacífica. Tiago reforça essa característica da sabedoria como um instrumento de paz. Ela não busca brigas. Lembremo-nos de que um pouco acima, Tiago nos diz que a sabedoria é demonstrada na forma com que nos tratamos uns aos outros. Se sou uma pessoa sábia, certamente isso será visto na forma mansa com que trato as pessoas que me cercam, mas se me julgo inteligente e perspicaz, e sou grosseiro no trato com meu próximo, não posso ser chamado de sábio, mesmo que tenha vários títulos ao meu favor.
Pessoas sábias não arrumam confusão, ou vivem de briga em briga, esperando a próxima oportunidade de demonstrar o quão são inteligentes e que possuem uma grande disposição em não levar desaforos para casa. Deus dá a sabedoria para que tenhamos paz em nossa relação com Ele e com os nossos próximos.
Ela é tratável. Essa característica parece estar ligada à capacidade de uma pessoa sábia ser convencida de forma tranquila, diferente do caráter das pessoas obstinadas. Se um sábio é corrigido, conforme nos diz Provérbios 9.8,9, “Não repreendas o escarnecedor, para que te não aborreça; repreende o sábio, e amar-te-á. Dá instrução ao sábio, e ele se fará mais sábio; ensina ao justo, e ele crescerá em entendimento.” De forma diferente, os que mesmo ouvindo tudo o que a sabedoria tem a oferecer, preferem manter-se em seus caminhos inflexíveis, sendo conduzidos, portanto, à ruína.
Assim concluímos este capítulo. Que possamos conjugar mentes sábias e corações humildes para a glória de Deus.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 44-45.
A sabedoria é dotada de seus frutos, sendo produzida por uma atmosfera de paz; envolve rica colheita para o sábio, e para aqueles a quem ele ensina; a colheita é da santidade crescente: a colheita é perene, resultando na vida eterna. (Ver as notas expositivas sobre João 3:15).
«Quão formosos sobre os montes são os pés dos que trazem boas novas, que anunciam a paz· (Isa. 52:7). (Isso é trecho citado e comentado em Rom. 10:15). Ali temos o ·evangelho da paz·, porquanto o evangelho tende por trazer a paz aos corações dos homens (ver Rom. 5:1). estabelecendo a paz entre Deus e 0 homem (ver Col. 1:20). No estado de paz existe uma harmonia saudável, em contraste com os efeitos mortíferos das contendas e das divisões. Nessa atmosfera é possível o cultivo do fruto da justiça.
Portanto, os crentes devem viver na atmosfera da paz. (Ver João 14:2? E 16:33 quanto a notas expositivas detalhadas sobre a *paz», com poesias ilustrativas). A paz é um dos aspectos do fruto do Espírito, isto é, do desenvolvimento espiritual, mediante o que assumimos a natureza moral de Cristo, através da transformação segundo a sua pessoa. (V'er essa verdade comentada nas notas expositivas sobre Gál. 5:22).
Λ conduta reta produz muitas recompensas, que resultam na vida eterna.
O cultivo dos galardões é realizado na atmosfera da paz. E o homem justo, que é verdadeiramente sábio, sabe disso, evitando os interesses pessoais e o espírito contencioso, que não contribuem para essa finalidade.
·...promovem a paz ... * (Comparar com Mat. 5:9). Os pacificadores serão chamados *filhos de Deus». Jesus, em sua cruz c missão, «estabeleceu a paz. Os homens deveriam seguir ativamente o exemplo por ele deixado. Os pacificadores não são meramente aqueles que conciliam oponentes, para evitarem as brigas. Mas são aqueles que promovem ativamente a paz. mediante esforços planejados, procurando solucionar pendências com os inimigos c antagonistas. São exatamente o contrário daqueles que despertam contendas, c que agem devido à sua excessiva ambição (conforme é descrito no décimo quarto versículo deste capitulo). O alicerce lançado pela retidão para nele ser apoiada a vida eterna, só pode ser lançada cm paz, c por aqueles que praticam a paz. Isso equivale a dizer que a retidão inclui o espírito pacificador. (Ropes, in loc.).
Alguns estudiosos tomam o termo fruto de justiça· como se significasse ·fruto que consiste de justiça. Porém, apesar disso expressar certa verdade, a verdade é que a justiça deve também produzir muitas boas obras, ações gentis, uma vida caracterizada pelo altruísmo, etc. A retidão é produtora tanto de fruto, como o fruto colhido permite-nos entrar na presença de Deus. O homem verdadeiramente sábio colherá a retidão de Deus, que lhe é necessária, incluindo a transformação moral da imagem de Cristo, que serve para a vida eterna e que é a colheita dos justos. «Se um agricultor não empregasse mais cuidados, tempo e esforços por obter a colheita, do que fazem muitos membros da igreja de Cristo, no tocante ao estabelecimento da justiça social, conseguiria ele. porventura, obter uma colheita?» (Easton, in loc.).
A nota chave do presente versículo é a paz. em contraste com a inveja, com o espírito faccioso c com a confusão, acima mencionados; a paz e a retidão são inseparáveis, porquanto são resultantes da sabedoria, da sabedoria que vem do alto; por outro lado as contendas c as ,ações vis do dia a dia' pertencem umas às outras, pois resultam da sabedoria que é 'terrena' e 'demoníaca'·. (Ocsterlcy, in loc.).·Aqueles que são sábios para com Deus, se por um lado são pacificadores e se mostram tolerantes para com o próximo, por outro lado têm por principal preocupação a sementeira da justiça, não frigidamente, mas reprovando os pecados com tal moderação que serão amigos, e não executores dos pecadores. (Faucett, in loc.).
Quem sai andando c chorando enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes· (Sal. 126:6).
A paz virá, por fim, embora a vida seja repleta de dor: Tranquilo na fé em Cristo, eu me deito: A dor por causa de Cristo é a paz, e a perda é lucro: Pois todos quantos carregam a cruz usando a coroa ·Aquele que espalha a paz pacificamente, semeando a sabedoria cristã genuína, cresce na colheita da justiça. Isso se aplica não somente aos mestres, mas também a todos quantos recebem, da parte de Deus, a sabedoria e o dom de influenciar a outros. (Von Gcrlach, no comentário de Lange). Evidente que a sabedoria celestial é a sabedoria em inertemente prática. Não é algo pura e principalmente intelectual: não é especulativa; não se perde em mera contemplação. Seu objetivo é o de aumentar a santidade, ao invés de apenas prestar informação. Sua atmosfera não é a da controvérsia e do debate, mas a da gentileza e da paz. £ plena, não de sublimes teorias ou hipóteses arrojadas, mas de misericórdia e de bons frutos. Pode mostrar-se confiante sem ser briguenta, pode mostrar-se reservada sem hipocrisia. E a irmã gêmea daquele amor celestial que não inveja, que não se ufana, que não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal. (Plummer, in loc.).
A sabedoria não é finalmente testada nas escolas.
A sabedoria não pode passar de quem a tem, para quem não a tem,
A sabedoria é da alma, não é susceptível de provas: é sua própria prova. (Walt Whitmanj)
«O temor do Senhor é o princípio da sabedoria». (Sal. 111:10).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 61.
Contraste sobre os resultados (Tg 3.16,18)
A origem determina os resultados. A sabedoria do mundo produz resultados mundanos; a sabedoria espiritual, resultados espirituais.
A sabedoria do mundo produz problemas (3.16b). Inveja, confusão, e todo tipo de coisas ruins são o resultado da sabedoria do mundo. Muitas vezes, esses sintomas da sabedoria do mundo estão dentro da própria igreja (3.12; 4.1-3; 2Co 12.20). Pensamentos errados produzem atitudes erradas. Uma das causas do por que deste mundo estar tão bagunçado é que os homens têm rejeitado a sabedoria de Deus. A palavra “confusão” significa desordem que vem da instabilidade. Essas pessoas são instáveis como a onda (1.8) e indomáveis como a língua (3.8). Essa palavra é usada por Cristo para revelar a confusão dos últimos dias (Lc 21.9).
A sabedoria de Deus produz bênçãos (3.18). Tiago lista três coisas: primeira vida reta (3.13). Uma pessoa sábia é conhecida pela sua vida irrepreensível, conduta santa. Segundo, obras dignas de Deus (3.13). Uma pessoa sábia não apenas fala, mas faz. Terceiro, fruto de justiça (3.18). A vida cristã é uma semeadura e uma colheita. Nós colhemos o que semeamos. O sábio semeia justiça e não pecado. Ele semeia paz e não guerra. O que nós somos, nós vivemos e o que nós vivemos, nós semeamos. O que nós semeamos determina o que nós colhemos. Temos que semear a paz e não problemas no meio da família de Deus. Como poderemos conhecer uma pessoa sábia? Uma pessoa sábia é sempre uma pessoa humilde. Aquele que proclama as suas próprias virtudes carece de sabedoria.
Como poderemos identificar uma pessoa que não tem sabedoria? Suas palavras e atitudes provocarão inveja, rivalidades, divisão, guerras.
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 79-80.
Mt 5.16 “Assim” como a luz brilha a partir de um pedestal, os discípulos de Cristo devem deixar sua luz brilhar perante os outros... “para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus”. Jesus deixou bem claro que não haveria nenhum erro quanto à fonte das boas obras de um crente. A luz do crente não brilha para ele mesmo; essa luz deve ser refletida em direção ao Pai, levando as pessoas a Ele.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 38.
«Assim brilhe também a vossa luz·. Esse versículo considera os crentes em geral como luzes. A luz. do cristão deve ser constante como a luz da candeia, porque sem esse tipo de luz não haveria luz no mundo, e nem mesmo na casa de Deus. ou no escabelo de Deus, que é a terra (Mat. 5:35 e Is. 66:1). A luz do crente são suas boas obras (ver o vs. 14 sobre os outros usos do termo). Essas boas obras redundam em glória a Deus. Remover a luz e, portanto, a glória de Deus, é algo seríssimo.
«Vosso Pai». Esta é a primeira vez que, nas palavras de Jesus, vemos o ensino de que Deus é Pai. Essa ideia era bem comum entre os judeus, c assim sendo, Jesus não estava introduzindo alguma doutrina nova, mas utilizava-se da compreensão que 0 povo já tinha para dar ênfase à necessidade de deixar a luz de Deus brilhar cm suas personalidades. Deus Pai tem prazer nas boas obras de seus filhos, porque tais obras provam que os discípulos são filhos de Deus. c também revelam algo sobre a natureza de Deus. Jesus foi o exemplo mais desenvolvido e elevado da natureza de Deus que já houve sobre a terra. Os rabinos usavam com frequência a frase: «Nosso c vosso Pai, que está nos céus».
Nos escritos judaicos (Bammidbar Rabba, s. 15).. lemos estas palavras: «Os israelitas disseram ao santo e bendito Deus: Tu mandas que acendamos lâmpadas para Ti; mas Tu és a Luz do Mundo e contigo mora a luz. O Santo Deus replicou: Não ordeno isso porque precise de luz, mas para que vós reflitais luz sobre mim, como eu vos tenho iluminado. Assim 0 povo poderá dizer: Eis como os israelitas O ilustram, isto é. Aquele que os ilumina à vista de toda a terra».
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 310.
Mt 5.16 Se os discípulos devem ser a luz do mundo, está subentendido que o mundo é um único grande espaço escuro. Nessa escuridão as pessoas se batem, ferem-se no corpo e na alma. Quem traz luz para dentro dessas trevas, que significam noite e desesperança totais, é unicamente Jesus e sua turma de seguidores “iluminados” por ele!
Assim como o sal se dissolve no serviço, também a luz se desgasta ao brilhar! Novamente enfatiza-se aqui a grande ideia de compromisso e sacrifício do serviço de discípulo. Singularmente a palavra de “não colocar debaixo do cesto” é dedicada a essa ideia de compromisso. Por isso Jesus não diz: Mostrem suas obras, exibam-nas a todos!, mas declara: Assim como a tarefa da luz é brilhar, assim o dever mais sagrado de vocês é praticar o amor e a correta conduta cristã. A palavra de Jesus está tão distante do exibicionismo com a obra de amor quanto do não-testemunho temeroso, do não querer testemunhar! Há uma sutil diferença entre mostrar-se com sua “fé” e suas “experiências com Deus”, e testemunhar a fé! A primeira é ação do “eu” religioso, a segunda é o agir de Deus! Somente por essa última o Pai no céu será glorificado. Nisso está o maravilhoso do testemunho, mas nisso reside também o perigo de se dar um relato de fé sobre suas experiências com o Senhor!
No texto grego, com muito mais evidência do que na tradução, a frase brilhe a vossa luz diante dos homens faz cair a ênfase sobre “luz” e não, p. ex., no “vossa”. Do texto original evidencia-se, portanto, que é a luz que tem de brilhar. O discípulo tem somente a incumbência de permitir a livre circulação aos raios da luz, de não interpor-se no caminho da luz!
Esse pensamento aprofunda, a partir do original, o que já afirmamos acima em relação ao testemunho correto!
É significativo constatar onde Jesus diz que reside a força dos seus discípulos para brilhar: eles iluminam o mundo com o seu agir. Em outras passagens da Escritura, o peso é colocado sobre a palavra dos discípulos. Aqui vigora, não a palavra que eles proclamam, mas a obra que realizam. Jesus está dizendo: Se vocês discípulos realmente fizerem aquilo para o que eu os chamei neste mundo, então vocês, assim como a luz brilha, realizarão ações diante das quais também um não-cristão sentirá que esses feitos são presentes do mundo invisível, sendo dessa maneira direcionado para o Pai no alto, e o louvará!
A partir do texto original grego podemos fazer mais uma descoberta importante. No v. 16b, para que vejam as vossas boas obras, encontra-se uma especificidade linguística. Pois vossas vem antes do substantivo (com artigo definido). Esse tipo de formulação encontramos mais uma vez em 23.8s, onde se lê com ênfase: “Um só é o vosso mestre, um só é o vosso pai”. Ao se enfatizar o “vosso”, visa-se conscientemente destacar o contraste. Isso significa, no nosso caso, em v. 16b, que as obras dos outros não são obras boas, ao passo que as dos discípulos são boas.
A fundamentação para afirmações tão formidáveis é apresentada por Paulo em Ef 2.10.
Outras ênfases extremas do “vosso” como esta encontram-se em 10.30 e 13.16.
Às figuras do sal e da luz Jesus ainda acrescentou uma terceira, a da cidade sobre o monte.
O Senhor quer expressar com ela o seguinte: Não há como vocês, discípulos, possam ficar escondidos neste mundo. As pessoas vêem vocês! Reparam em vocês. Assim como não se pode passar ao largo de Jerusalém sem ter notado essa cidade sobre o monte, assim também não pode ser simplesmente ignorada a comunidade de Jesus na terra. Ela, enfim, está aí. Quer o mundo goste, quer não, precisa confrontar-se com ela.
Acaso Mateus não está demonstrando de novo que pensa universalmente, que não se encontra nele nenhum vestígio de judaísmo? Não é verdade que, desde logo, ele entendeu o Senhor integral e plenamente? A palavra do sal e da luz e da cidade sobre o monte mostra, como já expusemos, que o chamado dos discípulos transcende muito além de Israel, que ele abrange todos os povos e nações, a humanidade como tal.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica Esperança.
2. Sabedoria verdadeira e a arrogância do saber.
É possível que o saber nos torne pessoas arrogantes? Sim. É aceitável aos olhos de Deus que uma pessoa instruída seja arrogante no trato com as pessoas que a cercam? Não. O acúmulo de conhecimento não pode obstruir nossa vida espiritual de tal forma que nos tornemos arrogantes. Tiago aqui não está condenando pessoas que estudaram e que se valem de seus conhecimentos ao longo de suas vidas, mas está colocando em cheque o hábito de algumas pessoas acharem-se superiores a outras porque possuem conhecimento. Estudar é muito bom, e nos torna pessoas mais capacitadas para servir a Deus e ao próximo com muitos talentos, mas não pode nos tornar pessoas altivas. A soberba é tão duramente condenada por Deus que Ele resiste ao soberbo, mas dá graça ao humilde. Portanto, usufruamos do conhecimento que Deus nos permite ter, mas busquemos acima de tudo aproveitar esse conhecimento de forma sábia e com humildade.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 41.
Quando eles ficaram sabendo quão inevitável era o julgamento, alegaram a defesa de seus políticos e suas autoridades, que, com a ajuda da sua riqueza e do seu tesouro, pensaram que tornariam a cidade inexpugnável. Em resposta a isso, ele lhes mostra a loucura de confiar nesses auxílios, e de vangloriar-se deles, enquanto não têm um Deus em concerto no qual possam se apoiar (w. 23,24). Aqui Ele mostra: 1. Aquilo em que não podemos confiar, em um dia de aflição: “Não se glorie o sábio na sua sabedoria”, como se com esse auxílio ele pudesse superar ou minar o inimigo, ou, na situação mais extrema, encontrar uma ou outra evasiva. Pois a sabedoria de um homem pode falhar quando ele mais necessitar dela, e ele será enganado pela sua própria astúcia. Aitofel foi enganado, e os conselheiros frequentemente são mal conduzidos. Mas, se a prudência de um homem lhe falhar, ainda assim ele certamente poderá conseguir seu intento, pelo poder e pela coragem. “Nem se glorie o forte na sua força”, pois a batalha nem sempre pertence ao mais forte. Davi, o jovem, prova ser duro demais para Golias, o gigante. Toda força humana não é nada, sem Deus, pior que nada contra Ele. Mas a riqueza do rico não poderá ser a sua fortaleza? (o dinheiro responde a todas as coisas) Não. “Não se glorie o rico nas suas riquezas”, pois elas estarão tão longe de abrigá-lo que poderão expô-lo e torná-lo um alvo mais nítido. Que o povo não se glorie dos sábios, e fortes, e ricos, que estão em seu meio, como se pudessem fazer algo contra os caldeus, porque têm homens sábios para aconselhá-los a respeito da guerra, homens fortes para lutar suas batalhas, e homens ricos para arcar com os gastos da guerra. Que as pessoas, particularmente, não pensem em escapar à calamidade comum por sua sabedoria, por sua força ou por seu dinheiro. Pois tudo isso provará ser apenas inútil para a segurança. 2. Ele mostra em que podemos confiar em um dia de aflição. (1) O nosso único consolo, em meio às dificuldades, será o fato de termos cumprido o nosso dever. Aqueles que se recusaram a conhecer a Deus (v. 6) se vangloriarão, em vão, de sua sabedoria e riqueza. Mas aqueles que conhecem a Deus de um modo inteligente, que compreendem corretamente que Ele é o Senhor, que não somente compreendem corretamente a sua natureza, os seus atributos, e o seu relacionamento com o homem, mas que recebem e retêm as impressões de todas essas coisas, podem se gloriar no precioso Senhor. Esse conhecimento será a sua alegria no dia da calamidade. (2) A nossa única confiança, nas dificuldades, será o fato de que, tendo, pela graça, de alguma maneira cumprido o nosso dever, veremos que Deus é um Deus auto-suficiente para nós. Nós podemos nos gloriar no fato de que, onde quer que estejamos, temos uma familiaridade e um interesse no Deus que faz “beneficência, juízo e justiça na terra”. Ele não é somente justo para com todas as suas criaturas, e não fará mal algum a qualquer uma delas, mas é bondoso para todos os seus filhos, os protegerá, e proverá para eles. “O que se gloriar glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor, que faço beneficência, juízo e justiça na terra. Porque destas coisas me agrado” (v. 24). Deus se agrada em mostrar bondade e em realizar o juízo, e se agrada com aqueles que são seus seguidores, como filhos queridos. Aqueles que têm tal conhecimento da glória de Deus a ponto de serem transformados à mesma imagem, e de participarem da sua santidade, percebem que esse conhecimento é a sua perfeição e glória. Em meio às suas maiores dificuldades eles podem confiar alegremente no Deus com o qual fielmente se colocam em conformidade. Mas o profeta sugere que a maioria dessas pessoas não se preocupou com isso. A sua sabedoria, e o seu poder, e as suas riquezas, eram sua alegria e esperança, que terminariam em tristeza e desespero. Mas aqueles poucos entre eles que conheciam a Deus podiam se alegrar com isso, e se vangloriar disso. Esse conhecimento valioso lhes serviria muito mais “do que inúmeras riquezas em ouro ou prata”.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Isaías a Malaquias. Editora CPAD. pag. 393.
Jer 9.23 Sabedoria — a Falsa e a Verdadeira.
A primeira vista, esses versículos parecem ter pouca relação com o que vem antes e, mesmo assim, são apropriados. Eles poderiam muito bem descrever a única maneira de escapar da destruição futura. Esses versículos certamente traçam um contraste entre a segurança falsa e a genuína. Eles também contrastam a sabedoria dos homens com a sabedoria de Deus. Os homens dos dias de Jeremias, como os homens de qualquer época, se vangloriavam “da sabedoria humana (cultura), do poder militar (habilidade técnica) e da prosperidade material (abundância econômica)”.37 Na verdade, esse é o grau mais elevado de loucura, porque essas coisas são passageiras e não oferecem nenhuma base sólida de segurança. Portanto, não se glorie o sábio na sua sabedoria (23).
Por outro lado, a única base real de sabedoria e felicidade consiste em conhecer a Deus. Entende-se melhor o caráter de Deus ao observar o que Ele ama, e como lida com os homens. Ele tem prazer em fazer beneficência (favor gracioso, amor imutável), juízo (equidade, integridade, imparcialidade) e justiça (retidão; 24) na terra. Essas coisas formam a base da verdadeira sabedoria. Justiça (tzedek), juízo (mishpat), e beneficência (hesed) são o grande triunvirato do Antigo Testamento. Sobre essa base o indivíduo ou nação pode construir com segurança. Sem esses aspectos o maior e mais forte é desesperadamente fraco.
C. Paul Gray. Comentário Bíblico Beacon. Jeremias. Editora CPAD. Vol. 4. pag. 290.
A Única Verdadeira Razão para a Jactância (9.23-24)
Jr 9.23-24 Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria. Os pseudo-sábios, dos quais Jerusalém este tão repleto (ver o vs. 12), e os verdadeiramente sábios, dos quais havia tão poucos, não podiam jactar-se em sua falsa sabedoria ou em sua sabedoria autêntica; nem os fortes podiam gloriar-se em sua força; nem os ricos podiam jactar-se em suas riquezas e no poder que esta trazia. Todos os homens, sem importar a sua classe, tinham apenas uma razão válida para gloriar-se: conhecer e obedecer a Yahweh (vs. 24), a fonte de toda a verdadeira sabedoria, de toda a força e de autênticas riquezas, Aquele que poderia ter impedido a matança provocada pelos babilônios, contanto que os judeus se aproximassem Dele em humildade e arrependimento. Muitos convites de Yahweh tinham exortado Judá a arrepender-se, mas foram todos inúteis. Houvera disponível muita gentileza amorosa (no hebraico, hesedh, o famoso amor de Deus). Mas o réprobo povo de Judá preferiu a ruína. Em Deus há amor, gentileza, justiça e retidão, e nessas coisas Yahweh se deleitava. Judá, entretanto, preferiu a horrenda combinação de idolatria-adultério-apostasia, o que significa que foram cortadas todas as graças divinas.
Cf. estes versículos com Miq. 6.8 e 7.18. Deus se deleita na misericórdia, mas o povo de Judá insistia nas chamas do julgamento.
Se a sabedoria, a força ou as riquezas são a tua parte,
Não te glories, mas sabe que não são realmente tuas.
Somente um Deus, de quem todos os dons procedem,
É sábio, é poderoso e é realmente rico.
(Focilides, antigo poeta pagão)
Cf. I Cor. 1.31 e II Cor. 10.17. Esses versículos ensinam que os homens colhem aquilo que semeiam, mas também que podem escolher aquilo que vão semear. Se fizerem um trabalho bom, encontrar-se-ão com o Deus amoroso, misericordioso e beneficente que haverá de abençoá-los. O direito de escolha é genuíno, porquanto, de outro modo, não haveria responsabilidade moral.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 3017.
3. Atitudes a serem evitadas.
Tiago lista duas características próprias de pessoas arrogantes: amarga inveja e sentimento faccioso.
A inveja é descrita por Tiago com o adjetivo “amarga”, e não é sem razão. Pessoas invejosas costumam ser amarguradas, por terem uma dor moral dentro de si, e vivem aflitas. Não é incomum que haja inveja entre as pessoas, mas pior ainda é quando esse sentimento encontra abrigo no coração dos servos de Deus. E justamente aqui encontra-se o desafio de Tiago.
A inveja é um sentimento inconveniente para o servo do Senhor. E uma raiva existente contra pessoas que conseguiram realizar algum feito digno de louvor, por mais simples que sejam. Líderes invejam outros líderes, estudantes invejam outros estudantes, e por aí vai. A inveja é, sem dúvida, um mal da proximidade, onde o coração invejoso se irrita com as realizações de pessoas que lhe estão próximas.
O sentimento faccioso é outra característica de quem alega ter a sabedoria e não consegue demonstrá-la na prática.
Tiago propõe à igreja um desafio àqueles que afirmavam ter a verdadeira sabedoria: eles precisavam observar a verdadeira sabedoria que vem do céu. A igreja à qual Tiago estava escrevendo era uma igreja que estava sob pressão. Sob pressão, uma igreja pode se dividir em facções. Não havia um clero formal, ou um processo de ordenação, de modo que pretensos professores poderiam surgir, afirmando ter sabedoria. Como cada professor promovia seu ramo de sabedoria e ganhava seguidores, a comunidade de crentes ficou dividida. A igreja do Novo testamento tinha muitos problemas com facções ou com um espírito partidário...
Jesus ensinou que nós saberíamos diferençar os verdadeiros professores dos falsos pela maneira como vivem (Mt 7.15-23). Os bons professores exemplificam a boa disciplina na vida. As suas atividades, ações e realizações revelarão o verdadeiro núcleo de sua fé cristã. Nesta seção, as boas obras estão em contraste com a amargura, e a humildade está em contraste com a ambição egoísta.
Dois conselhos Tiago oferece a pessoas que se descobrem possuidoras desses dois sentimentos: não se glorie disso e não minta. Não há motivo para que uma pessoa se sinta alegre por ser invejosa, e nem pode manter oculto seu sentimento por muito tempo. A amarga inveja e o sentimento faccioso produzem dois frutos equivalentes aos seus genitores: o gloriar-se de maneira indevida e a mentira. Quem abriga e cultiva a inveja em seu coração e com ela torna-se arrogante, tem a oportunidade de voltar-se para o caminho certo com a advertência de Tiago: Não se glorie e não minta. É um caminho longo e duro de volta à verdadeira sabedoria. Não é fácil tratar com um invejoso sobre seu hábito e mostrar para ele que não pode haver motivos para que ele se glorie se ele nutre em seu coração um sentimento reprovado por Deus. Não é fácil também lidar com pessoas na igreja que insistem em mentir, em esconder seus sentimentos ruins em relação a outras pessoas. O caminho de resgate desse tipo de pessoa já foi apresentado pelo apóstolo, mas precisa ser trilhado por quem é alvo dessa advertência. Quem vive nesse caminho terá uma sabedoria, mas essa é descrita por Tiago como “terrena, animal e diabólica”. Resumindo, a sabedoria pode ser encontrada tanto por aqueles que andam no caminho do Senhor como por aqueles que preferem desobedecê-lo. O que teme ao Senhor acha a sabedoria divina, e o que despreza ao Senhor achará uma outra forma de sabedoria nada recomendável.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 42.-44.
Tiago, no versículo 14, fornece uma lista das “obras” características da ausência da mansidão.
1) Inveja {zelos, e no v. 16) amarga é o contrário da mansidão.
E verdade que “zelo” pode ser um termo positivo (Rm 10.2; 2Co 7.7,11; 9.2), mas, em outros textos, claramente se refere à inveja (Rm 13.13; 2Co 12.20 e G1 5.2). Como um dos pecados capitais, Richard Gordon observou: “Os ressentidos, aqueles homens com câncer na psique, tornam-se os grandes assassinos”. “Não há muitas pessoas capazes de reprimir o segredo da satisfação com o infortúnio de seus amigos” (La Rochefoucauld, citado por Os Guiness, op. cit., p. 76). Lucas explica que a raiva do sumo sacerdote e dos saduceus no Sinédrio, que provocara a prisão dos apóstolos, brotou da inveja (At 5.17; cf. 13.45). Foram a inveja e as contendas que levaram a igreja de Corinto a rachar em quatro partidos (ICo 3.3).
Foi esse pecado que corroeu o coração de Saul. Após Davi vencer Golias, as mulheres cantavam e dançavam, dizendo: “Saul matou milhares, e Davi, dezenas de milhares”. Saul ficou muito irritado e aborrecido. Daí em diante, Saul olhava com inveja para Davi (ISm 18.7). Tiago descreve a inveja como amarga (pikria, “amarga”, “áspera”), no sentido de zelo fanático na promoção de uma causa. Não dá abertura para outro irmão apresentar seu ponto de vista, mas discute com veemência que a posição dele é a única que deve ser considerada.
2) Ambição egoísta (erithian), junto com a inveja amarga, é incluída por Tiago. Essa ambição carrega o sentido de utilizar meios indignos e divisores para promover interesses próprios. Paulo usa essa palavra em Romanos 2.8 para descrever o egoísmo daqueles que “rejeitam a verdade e seguem a injustiça”. Paulo temia que chegando em Corinto encontraria “brigas, invejas, manifestações de ira, divisões [eritheiai], calúnias, intrigas, arrogância e desordem” (2Co 2.20). Se tais atitudes e hostilidade mútua podiam aparecer na igreja de Corinto, também poderiam surgir nas igrejas para as quais Tiago destinou essa carta. Poderão despontar na nossa igreja! Daí a advertência contra o perigo de se tornar um canal para ação demoníaca (v. 15).
3) “Não se gloriem disso” (v. 14). Jactar-se e orgulhar-se por causa das divisões na igreja, parece completamente incoerente. Possivelmente, alguém concordava com Paulo: “Pois é necessário que haja divergências entre vocês, para que sejam conhecidos quais dentre vocês são aprovados” (ICo 11.19). Mas a jactância que Tiago tem em mente, sem sombra de dúvidas, não tem nada de positivo.
Nesse contexto, gloriar-se da ambição egoísta nega a verdade que se prega. Somente amando-se uns aos outros como Cristo os amou é que todos saberão que vocês são discípulos dele (Jo 13.34,35). Além disso, sabedoria que não tem sua origem na revelação bíblica, que se expressa em inveja amarga e ambição egoísta, que tem sua origem na natureza caída humana, combate a verdade do evangelho. Na oferta da salvação a todos que creem, Deus oferece dignidade e aceitação. As atitudes egoístas separam e excluem. Endurecem as opiniões que podem ser falsas e nocivas. Por isso, Tiago, “o justo”, exorta seus leitores para que demonstrem sabedoria com mansidão.
“Pois onde há inveja e ambição egoísta, aí há confusão e toda espécie de males” (v. 16). Confusão (gr. Akatastasia) significa desordem e transtorno. O sentido se aproxima daquele de nossa palavra “anarquia”. Para a igreja de Corinto, Paulo escreveu: “Mas tudo deve ser feito com decência e ordem”. A confusão em Corinto foi fomentada pela ambição egoísta e pela politicagem partidária. A igreja não se submetia à liderança de sua Cabeça. Acontece hoje também, motivo pelo qual a Palavra de Deus condena a “confusão e toda espécie de males”. A palavra “males” (phaulos, vil, ruim e corrupto) caracteriza práticas e atitudes que reconhecidamente carecem de humildade e do amor ágape. Quando Cristo não reina no coração, todo tipo de podridão floresce (veja Mc 7.21,22).
Russell P. Shedd,. Edmilson F. Bizerra. Uma Exposição De Tiago A Sabedoria De Deus. Editora Shedd Publicações.
A sabedoria pervertida, pois, corrompe o próprio homem, não sendo um lapso acidental e ocasional de má conduta.
·...inveja amargurada ...· Um mestre inveja a outro, ou um líder eclesiástico se enche de ciúmes por causa de outro, porque lhe parece «melhor» ou ·potencialmente melhor» do que ele mesmo, ameaçando assim atrair mais discípulos e louvor do que ele. Sua alma está doente, e ele começa a agir como servo do diabo, e não como um líder da igreja de Cristo.
A inveja é uma das obras da carne, uma espécie de ódio, o contrário do amor, que é o fator orientador na família divina (ver João 14:21 e 15:10). O termo grego aqui usado é «zelos·, que significa ·ardor, ansiedade, ·zelo, mas que, em mau sentido, significa ·ambição desmedida», ·emulação, inveja. Portanto, ao deixar-se arrastar por tal defeito de cará ter o indivíduo se esquece de que está servindo a Cristo, e começa a servir a si mesmo, sem quaisquer reservas. Essa atitude propaga a enfermidade, e, logo. a igreja se vê despedaçada por facções que defendem seus respectivos heróis. Seu zelo é ·amargo· com interesses próprios. A fonte expede água salobra c abominável. Ao invés de alguém ser consumido de zelo pelo Senhor, o 7x10 carnal corrói a igreja. Assim, pois, supostos líderes carnais se tornam «asnos carregados de livros», conforme a literatura rabínica descreve os mestres orgulhosos e egocêntricos. Disse Vincent {in loc.):·A emulação é a melhor tradução aqui, o que não envolve, necessariamente, a inveja; mas pode ser repleta do espírito de auto devoção».
·...sentimento faccioso...» As rivalidades entre os mestres logo criam rivalidades na igreja. Os homens esforçam-se por scr. cada qual, o líder mais poderoso: e aqueles que os apoiam adicionam combustível ao fogo, até que tudo é consumido pelas chamas devoradoras da carnalidade. Todos são ·zelotes, mas não cm favor de Cristo; são todos ambiciosos, mas somente em proveito próprio; todos estão consumidos de ardor, mas não do fogo celestial, e, sim, do fogo do inferno. As dissensões eclesiásticas sempre foram caracterizadas por situações assim, e quanto mais homens carnais são exaltados e transformados em heróis, ou se apresentam a outros como tais, maior é o desastre, embora tais homens se apresentem como quem salvará o investimento divino sobre a terra.
O termo grego aqui usado erithia, subentende a «inclinação por usar meios indignos e divisórios para promover os próprios interesses.
Realmente indica o vício de um líder ou de um partido, criado pelo orgulho próprio: é a ambição partidária, a rivalidade partidária». (Hort).
Essa palavra veio a ser «...aplicada àqueles que servem cm posições oficiais por causa de seus interesses egoístas, os quais, com essa finalidade, promovem o espírito partidário e faccioso. Por isso é que Rom. 2:8 diz. Que eles são contenciosos, ou. literalmente, de facções. (Vinccnt, in loc.).
...nem vos glorieis disso...· Nada existe nisso de que um homem se possa orgulhar, e ninguém deveria sentir orgulho por esse tipo de realização da carne. (Ver I Cor. 1:29,30, quanto a uma nota geral sobre a «jactância humana·). Essa forma de jactância, no próprio espirito faccioso, e naquilo que alguém ganha com isso, é uma afronta para a verdade, porquanto é exibição de uma vida falsa. A mente carnal, secretamente, quando não abertamente, se gloria em suas realizações, cm sua forma de sabedoria pervertida. O autor sagrado repreende essa forma de atitude, como algo indigno em um mestre ou líder na igreja. Jacta-se ele: ·O triunfo malicioso, o mínimo ponto de vantagem obtido por um partido, era exatamente aquilo que foi calculado para amargurar o outro lado; isso é realmente o mentir contra a verdade, porquanto tão tolos triunfos são frequentemente obtidos às expensas da verdade». (Ocsterley, in loc.). Tais indivíduos se gloriam em seu *conhecimento»  falso e em seus efeitos prejudiciais, ao invés de se gloriarem da verdade do evangelho.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 59.
Tg 3.16. Neste versículo, Tiago justifica seu severo veredicto pronunciado sobre a falsa sabedoria, ao descrever os efeitos que ela produz. Inveja (zelos) e sentimento faccioso (eritheia) já foram destacados como características daqueles que fazem uma falsa reivindicação de sabedoria (v. 14). Agora, Tiago mostra como as atitudes egocêntricas e egoísticas levam inevitavelmente à confusão e toda espécie de coisas ruins. Akatastasia (confusão) é a forma nominativa do adjetivo usado por Tiago em 1.8 e 3.8, para caracterizar o homem de “ânimo dobre” e a língua que profere “palavras dúbias”. O termo conota um estado irrequieto e turbulento. Ele é empregado no Evangelho de Lucas para descrever os “tumultos”, os levantes e as revoluções que serão típicos do período anterior à parousia (Lc 21.9). Paulo, apelando aos coríntios para que evitassem uma demonstração desenfreada e desorganizada dos dons espirituais dos indivíduos na assembleia, lembra-lhes que “Deus não é de confusão; e, sim, de paz” (1 Co 14.33). “Confusão”, “desordem” e “tumultos” surgirão inevitavelmente na igreja onde cristãos, em especial os líderes, estiverem mais interessados em satisfazer suas ambições e causas partidárias, em lugar da edificação do corpo como um todo. Isto acaba em “toda espécie de coisas más” (BLH). Onde o coração dos indivíduos é errado, também será achada uma variedade de pecados sem fim.
Douglas J. Moo. Tiago. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 133.
Gl 5.19-21 Paulo comparou as obras da carne com as obras da vida cheia do Espírito, em 5.19-21 e 5.22,23. Os pecados da lista de Paulo classificam-se em quatro categorias. Estes pecados em particular eram especialmente habituais no mundo pagão, e os gálatas os teriam compreendido prontamente. Com poucas exceções, nós podemos também reconhecer estes pecados como presentes na nossa época atual.
Na primeira categoria, são mencionados três pecados sexuais;
• Prostituição - qualquer forma de relação sexual ilícita. A palavra serve para destacar o comportamento sexual proibido entre as pessoas ou a participação indireta como um espectador.
• Impureza - a impureza moral. Talvez nenhum ato sexual tenha ocorrido, mas a pessoa exibe uma grosseria e uma insensibilidade em questões sexuais que ofende aos demais. Um exemplo hoje seria o uso excessivo de humor sexual (ou o que se supõe que seja humor), em que as pessoas fazem declaração com um duplo sentido sexual.
• Lascívia — uma indulgência franca e excessiva quanto a pecados sexuais. A pessoa não tem sentimento de vergonha nem moderação. Este é o resultado da imoralidade e da impureza sexual.
Os dois pecados a seguir são pecados religiosos característicos da cultura pagã.
• Idolatria - adoração de ídolos pagãos. A pessoa cria substitutos para Deus e então os trata como se fossem Deus. Esta pessoa está se entregando a desejos humanos pecaminosos.
•Feitiçarias (ou participação em atividades demoníacas) — envolvimento com os poderes malignos, usando, às vezes, poções e venenos. Na idolatria, o indivíduo age submissamente com relação ao mal; na atividade demoníaca, o indivíduo é um agente ativo que serve aos poderes malignos.
Os oito pecados seguintes dizem respeito ao comportamento com relação às pessoas (relações interpessoais) que é motivado por desejos pecaminosos. E triste notar, mas muitos destes pecados são frequentemente vistos nas nossas igrejas hoje.
• Inimizades - uma situação de inimizade constante entre grupos. Isto pode ser um conflito real e não solucionado, cuja causa já foi esquecida, mas que resultou em muita amargura.
• Porfias - competição, rivalidade, conflitos amargos — as sementes e o fruto natural do ódio.
• Emulações (ou ciúmes) — o sentimento de ressentimento de que alguém tenha o que outro acha que merece.
• Iras - raiva egoísta. A forma plural transmite o significado de um comportamento contínuo e descontrolado.
• Pelejas (ou ambição egoísta) – a abordagem à vida e ao trabalho que tenta progredir à custa dos demais. Não somente pode se referir ao que chamamos de “vício de trabalho”, como também pode implicar em uma atitude mercenária, agressiva em relação aos demais, na busca dos próprios objetivos.
• Dissensões - fortes desentendimentos ou discussões. A situação que pode se instalar rapidamente entre as pessoas quando prevalece uma atitude desagradável.
• Heresias (ou o sentimento de que todos estão errados, exceto os do seu pequeno grupo) - a dissensão criada entre as pessoas por causa de divisões. Isto descreve a tendência de procurar aliados no meio do conflito. A geração quase espontânea de facções demonstra esta característica dos desejos humanos pecaminosos.
• Invejas — o desejo de possuir alguma coisa dada a outro ou conseguida por ele; ou até mesmo a lógica corrompida que grita: “Injusto!”, com respeito às circunstâncias de outra pessoa, e expressa o seguinte desejo; “Se eu não posso ter isto, eles não deveriam poder também!”
Finalmente, Paulo relaciona dois pecados, comuns às culturas pagãs, que estão frequentemente conectados com os rituais de adoração de ídolos;
• Bebedices - o uso excessivo de vinho e bebidas fortes.
• Glutonarias (ou “farras”) - “festas” com muita bebida, frequentemente cheias de promiscuidade sexual, eram associadas com as festividades para alguns deuses pagãos. Os banquetes em honra a Baco eram particularmente infames pela sua imoralidade.
• E coisas semelhantes a estas – Paulo acrescentou um “etc.”, para mostrar que a lista não estava, de maneira nenhuma, completa.
“Os que cometem tais coisas” refere-se ao modo de vida das pessoas que habitualmente exibem estas características. Isto não quer dizer que os crentes que cometerem algum destes pecados irão perder a sua salvação e a sua herança.
Mas as pessoas que habilmente exibem estas características se revelam escravizadas à natureza humana pecaminosa. Elas não são filhos de Deus; consequentemente, não podem participar da herança do reino de Deus. As pessoas que aceitaram Cristo e que têm o Espírito Santo dentro de si mesmas manifestarão esta nova vida, rompendo claramente com os pecados que foram listados acima, bem como com outros que sejam semelhantes.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 295-296.
As Obras da Carne (Gl 5.19-21)
Vemos também o contraste entre o Espírito e a carne na manifestação das obras da carne. Depois de enumerá-las, Paulo exorta os crentes gálatas dizendo que quem faz tais coisas é excluído do Reino de Deus.
Quando o homem vive de acordo com as paixões e desejos da carne (cf. 5.16,17,24), certos resultados são inevitáveis. Paulo denomina estes resultados de as obras da carne (19), expressão importante quando comparado ao “fruto” do Espírito. Essas obras são manifestas publicamente; são claramente reconhecíveis para que todos vejam o que realmente são.
a) Imoralidade sexual (5.19). As primeiras três obras dizem respeito à satisfação sexual, e sugerem um clímax de depravação. Paulo começa com esta área, por causa do clima moral do mundo de seus dias. Toda forma imaginável de imoralidade era comum e abertamente praticada por governantes, nobres, filósofos, poetas, sacerdotes e adoradores, sem o sentimento de vergonha ou remorso. Era um modo de vida aceito. Não admira que este fosse um problema com que Paulo tanto se preocupasse quando lidava com os convertidos que vinham do paganismo. Segundo ele, não há acordo nesta área; a imoralidade não pode ter lugar na vida cristã.
Prostituição é o significado básico do termo grego porneia, mas na verdade diz respeito a toda relação sexual ilícita.28 Também inclui tendências antinaturais como incesto ou homossexualidade. Impureza (akatharsia) é a impureza moral, do corpo ou da mente, que é repulsiva a homens responsáveis e os separa de um Deus santo. O termo lascívia (aselgeia) é de etimologia mais duvidosa, mas o uso de Paulo é claro ao relacioná-lo com a imoralidade. Trata-se de conduta temerária, escárnio desavergonhado dos padrões de decência pública ou até respeito próprio sem levar em conta o direito dos outros. Barclay relaciona significativamente estes três termos: ‘Torneia indica pecado em área específica da vida: a área das relações sexuais; akatharsia indica profanação geral da personalidade inteira, manchando toda esfera da vida; aselgeia indica amor ao pecado tão despreocupado e tão audacioso que a pessoa deixa de se preocupar com o que Deus ou os homens pensam de suas ações”.
Para pessoas sensatas, a falta de firmeza moral que avassala nosso mundo é para nos deixar preocupados. A história revela que esta situação é o precursor certo de uma civilização em colapso. O sinal mais sério é quando educadores defendem o amor livre e a retirada de limites e inibições morais. O passo final é a aceitação disso pelos líderes religiosos e já há indícios dessa atitude! A resposta cristã para nossos dias não é diferente da resposta nos tempos de Paulo; não é um legalismo morto, mas uma disciplina dinâmica pelo Espírito.
b) Falsas doutrinas (5.20ab). O segundo grupo de “obras” más se relaciona com práticas religiosas pagãs, que também se constituíam problema entre os convertidos de Paulo que vinham do paganismo. Idolatria (20, eidololatria,) é a adoração da imagem e do deus que ela representa. Nisto se acha o perigo sutil. Originalmente, nenhum ídolo foi feito para ser adorado. A imagem tinha o propósito de localização e visualização para tornar mais fácil adorar o deus do qual era representação. O mal básico na idolatria é que a criação é adorada no lugar do Criador (cf. Rm 1.19-23). Neste sentido, “idolatria” é igualmente um problema em nossos dias, embora esteja revestido com requinte.36 “Sempre que qualquer coisa no mundo passa a assumir o principal lugar em nosso coração, mente e propósito, então essa coisa tornou-se ídolo, pois usurpou o lugar que pertence a Deus.”
Não é coincidência que a idolatria esteja associada com imoralidade na mente de Paulo. A prostituição era elemento básico de muitas religiões pagãs. No Antigo Testamento, há um precedente claro para a condenação dos dois em associação entre si.
A prática de feitiçarias (pharmakeia) é o uso de bruxaria ou magia na religião. Originalmente, a palavra significava o uso de remédios, mas depois se voltou para fins maus (cf. veneno). Este tipo de feitiçaria tornou-se meio de prática de magia mais ampla, que por superstição foi relacionada estreitamente com religião. Há muito que este problema infesta a igreja cristã. Em vez de ser eliminada, em alguns lugares quantidade escandalosa dessa prática de feitiçaria foi “cristianizada”.
c) Relações humanas não-cristãs (5.20c,21). As próximas oito “obras da carne” estão no centro da lista de maus hábitos. Todas estas oito obras têm a ver com relações interpessoais, condição que destaca o fato de ser de grande preocupação para Paulo.
Inimizades (20, excelente tradução de echthrai) era atitude de vida aceita e aprovada nos dias do apóstolo. Com inimizade franca entre grupos raciais e culturais (e.g., gregos versus bárbaros, judeus versus gentios), não é de admirar que estas atitudes caracterizassem as relações entre as pessoas. Tudo isto é contrário à moral cristã, e Paulo determina sua verdadeira origem. “A mente da carne é inimizade contra Deus” (Rm 8.7, lit.), e naturalmente resulta em inimizade contra os homens. Essas inimizades produzem porfias ou desinteligências (eris; “brigas”, CH, NTLH). Inimizade (echthra) é a atitude mental para com as pessoas; e briga (eris) é o resultado na vida real desse estado mental. Inimizades e brigas têm uma inter-relação crucial que trabalha em ambas as direções. Inimizades resultam em “brigas”, e “brigas” causam inimizades. Paulo deixa claro que “brigas”, atitude tão característica no mundo pagão (cf. Rm 1.29), estavam diametralmente opostas à unidade que Deus planejou para a comunhão cristã. Por isso, condenou com veemência seu aparecimento na igreja. Este tópico foi tão importante que mais três termos são usados para tratar da mesma questão fundamental de elementos divisores no corpo de Cristo.
No Novo Testamento e na Septuaginta, o termo emulações (20, zelos) tem dois significados diferentes. Paulo o usa com o sentido de zelo, entusiasmo ou ardor na busca de uma causa ou tarefa. No grego secular, zelos descrevia uma virtude nobre (cf. 2 Co 11.2), fornecendo ímpeto para emular aquilo que era admirado nas realizações ou posses dos outros. Porém, tal concentração na felicidade dos outros pode se degenerar em ressentimento invejoso, tornando zelos semelhante à inveja (phthanos, 21). Assim, emulação (zelos) não é intrinsecamente mal. Quando a pessoa depara o sucesso e realizações dos outros, ela pode se inspirar e escalar novas alturas, ou se ressentir dessa felicidade com ciúme amargo. Este é o segundo significado da palavra grega zelos encontrada no Novo Testamento. Significa “ciúme” com conotação má. O significado nesta passagem é, obviamente, “ciúme.”
Uma das “obras da carne” mais complexa é ira (20, thymoi). Na Septuaginta, tem “extensa gama de significados: ira humana e ira divina, ira diabólica e ira bestial, ira nobre e ira destrutiva”. Paulo e outros escritores do Novo Testamento usam o termo primariamente com referência a homens. Refletindo uma distinção encontrada no grego secular, thymos enfatiza os aspectos violentos e breves da ira, ou seja, “temperamento explosivo, ou raiva instantânea”; é diferente da ira mais crônica (orge). Na realidade, thymos é “raiva” que é verdadeira “loucura temporária”, refletindo hostilidade pecaminosa que é nitidamente um mecanismo de defesa da carne. Já se disse que uma personalidade sensata necessita de moderação, equilíbrio, mas não há dúvida de que raiva tem conotações boas e más. Mas no Novo Testamento, o temperamento útil sempre é orge e nunca thymos. “O termo grego thymos é algo que deve ser banido da vida cristã. [...] O Novo Testamento é bastante claro em afirmar que semelhante exibição de temperamento é manifestação pecaminosa que o indivíduo ainda está no domínio de sua natureza inferior (carne).”
As próximas três “obras da carne” descrevem com mais detalhes as porfias (20, eris) analisadas acima, e são mais bem compreendidas em relação umas com as outras. A palavra pelejas (20, eritheiai) é traduzida de muitas maneiras, fato que espelha a incerteza sobre seu significado. Barclay conclui: “Nos escritos de Paulo, a palavra denota claramente espírito de ambição pessoal [cf. NTLH] e a rivalidade que resulta em partidarismo, o qual coloca o partido acima da igreja”. A ambição pessoal egoísta é deplorável em posições de confiança e responsabilidade pública, mas não é menos que trágico na igreja.
De estreita relação estão às dissensões (20, dichostasiai), cuja tradução melhor é “divisões”. A rivalidade, motivada por egoísmo, só pode resultar em divisões que destro- em a unidade da igreja. Aqui, Paulo não está falando de diferenças fundamentadas em crenças sinceras; ele está preocupado com divisões ocasionadas por motivos errados, cuja procedência é determinada à carne pecaminosa. Diferenças honestas não são incompatíveis com comunhão harmoniosa, porque parte vital da liberdade e do amor é o respeito pelas opiniões dos outros, mesmo quando estas conflitam com a nossa. Entretanto, convém que todo crente examine constantemente o coração para que preconceito não seja confundido com princípio e teimosia com dedicação.
O que é verdadeiro acerca de indivíduos também se aplica à igreja. Diferenças teológicas e eclesiásticas, fundamentadas em crenças, devem ser distinguidas de divisões motivadas por interesse congregacional. Quando a igreja ministra a uma sociedade separada por classe, partido e raça, ela é devidamente confrontada por: “Médico, cura-te a ti mesmo”!
Outro passo no caminho destrutivo da divisão é a heresia (haireseis). A transliteração heresia transmite mais da idéia de algo não ortodoxo do que o termo grego. A palavra original descreve basicamente um grupo que está unido pelas mesmas crenças ou conduta. Não tem intrinsecamente uma conotação ruim. Contudo, Paulo usa o termo com referência aos elementos divisores na igreja que se formaram em grupos ou seitas. Tais grupos exclusivos (ou panelinhas) fragmentaram a igreja e “uma igreja fragmentada não é igreja!” E mais que natural que estes grupos exclusivos se considerassem certos e todos os outros errados. Paulo condenou semelhante sectarismo, tanchando-o de “obras da carne”.
Inveja (phthonos, 21) é conceito totalmente ruim. Diferente de emulações (20, zelos), não há possibilidade de ser bom. A inveja produz ressentimento amargo e, na maioria das vezes, o esforço de privar os outros de sua felicidade e sucesso (cf. Rm 1.29; Fp 1.15).
Claramente refletida nestas “obras da carne”, que têm a ver com relações interpessoais, está a preocupação de Paulo com a unidade e harmonia da comunidade cristã. Ninguém vive, ou morre, em honra de si próprio. Pecado é uma espada de dois gumes, com os fios aguçados da responsabilidade pessoal e das consequências sociais. O maior mal proveniente da raiva, inimizade, ciúme, inveja e rivalidade é o que eles fazem à igreja. Estas atitudes carnais pessoais produzem pelejas, divisões e grupos exclusivos.
Estes fatos falam da dificuldade da unidade superficial. Estes males não podem ser varridos para debaixo do tapete da transigência ou do fingimento. As pessoas que “vivem na carne” não podem “viver em unidade”. Há “um caminho ainda mais excelente”, para o qual Paulo volta a atenção momentaneamente.
Paulo encerra a lista das “obras da carne” com dois termos54 cujos significados são totalmente óbvios: bebedices (methai) e glutonarias (komai). As Escrituras, e surpreendentemente o mundo dos dias de Paulo, reconheciam que a “embriaguez” (NVI) era vergonhosa e degradante. E lógico que não tem lugar na vida do cristão. Embora o termo glutonarias fosse usado no grego secular com o significado simples de comemoração, no Novo Testamento descreve excessos que são mais bem descritos por devassidão e libertinagem. Tais ações contradiziam o testemunho cristão.
Esta lista, de modo algum, é conclusiva. E não era intenção de Paulo que fosse base de um exaustivo código cristão de regras. A frase e coisas semelhantes (21) mostra que o escritor visava uma lista que fosse, em princípio, representativa dos males resultantes da vida segundo a carne. E trágico, e amedrontador, perceber que estas “obras da carne” são, sem exceção, perversões do que é em si mesmo potencialmente bom. Originam-se de desejos legítimos satisfeitos ilegitimamente. Portanto, sempre são possíveis armadilhas até para o homem de fé. Satanás é inimigo esperto e o pecado é enganoso. O cristão precisa examinar o coração e a vida sob a luz dos ensinos bíblicos e sob a orientação do Espírito.
É óbvio que Paulo exortara os gálatas em ocasião anterior (cf. 1.9; 4.13) sobre as consequências de tal vida. Ele os lembra desse fato e declara que esta carta é repetição da exortação — antes que o mal aconteça. Acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem“ tais coisas não herdarão o Reino de Deus (21). O Reino de Deus, do qual o homem que vive pela carne será excluído, é a esperança cristã da vida eterna com Cristo aqui e no outro mundo. Esta é a “herança” do crente, é a salvação em seu mais pleno sentido.
Paulo também enunciara repetidamente esta exortação solene para outras igrejas. Os crentes não estão isentos da responsabilidade ética mais do que os judeus (cf. Em 2). Havia obviamente um sério ponto de engano aqui que infelizmente permanece até hoje. Em vez de indiferença ética, o homem em Cristo tem pela primeira vez os recursos para viver como Deus quer que ele viva.
A razão para a objeção veemente de Paulo da volta dos gálatas à lei era que, na realidade, seria uma volta à carne. Fazer isso equivalia excluir-se de Cristo. Deus não tem padrão duplo, nem vê o crente por ângulo parcial, ignorando-lhe a conduta, mas aceita no lugar do crente a obra perfeita de Cristo. Todo homem que vive pela carne e, assim, produz suas obras é excluído do Reino de Deus (ver comentários em 5.4).
R. E. Howard. Comentário Bíblico Beacon. Galatas Editora CPAD. Vol. 9. pag. 69-73.

ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

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