O PROPÓSITO DA TENTAÇÃO
A
PARTI DESTE TRIMESTRE NÃO POSTAREI MAIS A LIÇÃO, SOMENTE OS COMENTÁRIOS.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
REVISTA
ENSINADOR
"Não
nos deixes cair em tentação." Foi a oração de Jesus ensinada aos
discípulos. No tempo da provação, angústia, tristeza e sofrimento são
realidades presentes na vida do discípulo de Cristo. Infelizmente, e em nome de
uma teologia, muitos desejam descartar da vida esta realidade humana e não dá
ao seguidor do caminho o direito de sofrer. Não é isto que a Palavra de Deus
nos ensina! Pelo contrário, o sofrimento por Cristo nos dá a oportunidade de
mostrarmos a nossa fé e amor por Ele, como os mártires que não retrocederam na
convicção do Evangelho.
A
lição desta semana tem um penoso objetivo: o de resgatar a doutrina bíblica do
sofrimento por Cristo. Esta, por vezes, tem sido esquecida pela Igreja
Evangélica. Quando falamos de sofrimento, algumas pessoas nos perguntam:
"Mas por que o crente deveria sofrer?"; "Devemos ensinar a
teologia da miséria?" etc. Tais perguntas são descabidas, pois não escolhemos
sofrer por Jesus, é Este quem nos escolhe. Por consequência, ao vivermos para
Cristo precisamos estar dispostos a também sofrermos por Ele. Note as palavras
do Meigo Nazareno: "E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se
a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque qualquer que quiser
salvar a sua vida perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua
vida a salvará. Porque que aproveita ao homem granjear o mundo todo,
perdendo-se ou prejudicando-se a si mesmo?" (Lc 9.23-25).
As
expressões "negue-se a si mesmo", "tome cada dia a sua
cruz" e "siga-me" significam o convite para peregrinarmos o
caminho da execução do nosso eu. Este é o caminho da Cruz de Cristo! Há,
porventura, coisa mais difícil do que negar a nós mesmos? Esmagar a nossa
vontade para fazer a do outro? A expressão "cada dia" revela-nos que
o caminho da cruz deve ser feito por nós, diariamente, crucificando assim o
"eu". O teólogo French L. Arrington amplia este conceito: "Tomar
a cruz significa uma resolução diária em negar a si mesmo por causa do
Evangelho. [...] Não é questão momentânea, mas um modo de vida. Os cristãos
nunca devem deixar de carregar a cruz" (Comentário Bíblico Pentecostal
Novo Testamento, CPAD, p.374).
O
Evangelho não deixa outra escolha: o nosso caminho é o do sofrimento por
Cristo. O ensino de Tiago sobre o sofrimento está em pleno acordo com o
Evangelho de Cristo.
COMENTÁRIO NA INTEGRA
DO LIVRO DO TRIMESTRE.
O propósito da
tentação
Por estar escrevendo
“às doze tribos que andam dispersas” (Tg 1.1), isto é, provavelmente aos
cristãos judeus que se encontravam espalhados entre as nações devido à primeira
onda de perseguição ao Cristianismo no início da Igreja Primitiva (At 8.1;
11.19), o primeiro assunto que o bispo de Jerusalém trata em sua epístola é
justamente a provação. Mais especificamente, ao dirigir-se a seu rebanho
disperso, o apóstolo Tiago demonstra sua preocupação com a necessidade de esses
cristãos entenderem corretamente o propósito das aflições pelas quais estavam
passando bem como o posicionamento que deveriam ter diante dessas terríveis
intempéries. E ao fazê-lo, ele apresenta, resumidamente, o significado da
provação na vida dos filhos de Deus.
Neste capítulo,
abordaremos esse tema da provação à luz dos versículos 2 a 4 e 12 a 15 do
primeiro capítulo da Epístola de Tiago, porque eles tratam mais diretamente
sobre esse assunto. Entretanto, os versículos intermediários, isto é, aqueles
que se encontram entre esses dois blocos de versículos, serão também e
eventualmente citados quando for necessário para melhor compreensão do assunto.
Comecemos, então, pela análise dos versículos de 2 a 4. O propósito da provação
na vida do cristão.
A afirmação que abre
esse primeiro bloco de versículos sobre o tema na Epístola de Tiago expressa
contundentemente algumas verdades sobre as provações um tanto esquecidas hoje
em dia por muitos cristãos. Declara Tiago: “Meus irmãos, tende grande gozo
quando cairdes em várias tentações” (Tg 1.2). Só esse versículo já seria
suficiente para jogar por terra, por exemplo, todos os pressupostos da Teologia
da Prosperidade e da Confissão Positiva. Antes, porém, de mergulharmos nas
verdades nele contidas, é preciso entender corretamente o que Tiago quer dizer
quando fala de “tentações” aqui.
O vocábulo que
aparece no original grego dessa passagem para “tentações” é Peirasmos, que
significa literalmente “prova”, “provação” ou “teste”.1 O termo “sugere uma
situação difícil, uma pressão dolorosa”,2 daí algumas versões do texto sagrado
preferirem a tradução “tentações”, que traz a ideia de “teste”, enquanto outras
— a maioria — preferem a tradução “provações”, que traz a ideia de uma situação
aflitiva. Na verdade, as duas traduções estão corretas, uma vez que Peirasmos é
utilizado nessa passagem em alusão às aflições decorrentes de perseguições
sofridas pelos crentes por causa da sua fé (Tg 1.3) e tais adversidades são
também tentações, porque elas testam a fidelidade dos cristãos a seu Senhor.
Aliás, aflições, de forma geral, funcionam quase sempre também como tentações.
Ou seja, Peirasmos descreve perfeitamente a situação dos cristãos judeus dispersos
pelo Império Romano: eles estavam tendo a sua fidelidade ao evangelho provada
pela fornalha da perseguição.
Esclarecido isso,
vamos agora às lições extraordinárias que essa declaração inicial de Tiago nos
traz.
Em primeiro lugar,
essa afirmação do apóstolo implica que o cristão, o servo de Deus, o filho de
Deus, aquele que ama e serve ao Senhor, passa, sim, por dificuldades. Tiago se
dirige aos seus leitores não como falsos crentes, mas como “irmãos” em Cristo,
e conta-nos que esses irmãos, apesar da sua fé e principalmente por causa da
sua fé, estão passando por “várias provações”, não por poucas. Isso se coaduna
com o que Jesus já havia dito a seus discípulos, que no mundo teríamos aflições
(Jo 16.33), e com o que o salmista Davi asseverou em Salmos 34.19, que o
“justo” sofre “muitas aflições”. Então, é absolutamente falsa a crença de que
todas as provações na vida de uma pessoa são resposta direta a algum pecado na
vida dela. Santos, justos, irmãos em Cristo, também passam por dificuldades
pelo simples fato de estarem neste mundo.
Em segundo lugar,
diferentemente do que a maioria esmagadora dos seres humanos faz diante das
aflições, a afirmação de Tiago deixa claro que devemos reagir a elas com
alegria e não com desolação. O problema é que, infelizmente, como declara
Lawrence Richards, “a última coisa que fazemos normalmente, quando vêm as
tentações, é alegrar-nos”. Aliás, a primeira pergunta que o homem natural faria
diante de uma declaração como a de Tiago seria, como também frisa Richards:
“Nós podemos compreender porque os cristãos de Jerusalém, forçados a deixar
seus lares e fugir para terras estrangeiras, enfrentariam ‘várias tentações’,
mas teriam ‘grande gozo’?”.
O célebre teólogo
puritano Matthew Henry ressalta brilhantemente a razão mais óbvia para essa
reação do cristão, e que também está subentendida nas palavras de Tiago. Frisa
Henry: “Não devemos afundar numa disposição mental triste e desconsolada, que
nos faria desfalecer nas provações, mas precisamos nos empenhar em manter o
nosso espírito elevado e firme para melhor discernir a nossa situação; e para
maior vantagem nossa, devemos empenhar-nos em fazer o melhor dela”.4 Ou seja,
qualquer pessoa que reage com desânimo completo diante das provações está se
rendendo a elas e, portanto, já está derrotado; logo, se queremos vencê-las,
temos que enfrentá-las com disposição de ânimo, não com abatimento de alma.
Entretanto, mesmo
após essa explicação mais óbvia para a reação do cristão frente às
adversidades, ainda há uma indagação que incomoda aquele que não é cristão: “E
até compreensível tentar manter-se calmo ou com um espírito elevado em meio à
tempestade, mas alegrar-se grandemente diante dela?”. É por isso que Matthew
Henry acrescenta em seguida: “A filosofia pode instruir os homens a permanecerem
calmos em suas dificuldades, mas o Cristianismo lhes ensina [algo mais:] a
serem alegres”.
Sim, os cristãos
podem ter “grande alegria” em meio às aflições. Mas, como isso é possível? Como
o Cristianismo ensina o cristão a se alegrar em meio às dificuldades? A
explicação de Tiago está nos versículos 3 e 4: o entendimento do propósito das
provações leva o crente
a ver as suas adversidades como oportunidades para seu crescimento,
amadurecimento e fortalecimento espirituais.
Tiago diz que o
cristão tem “grande gozo” quando se vê mergulhado em “várias provações” porque
ele sabe (“sabendo”, v.3) “que a prova da vossa fé produz a paciência” (v.3). O
vocábulo grego traduzido aqui como “paciência” é Hupomone, que significa
literalmente “permanência em baixo de”, “ficar em baixo de”, trazendo a ideia
de “tolerância”, “resignação”, “persistência”, “perseverança”.6 Não por acaso,
a maioria das versões da Bíblia traduz esse vocábulo nessa passagem como
“perseverança”. Ou seja, o que Tiago está dizendo nesse texto é que uma vez
confirmada a nossa fé em meio às provações, esta é fortalecida, porque o
resultado da provação é a paciência ou a perseverança. São nas provações que
aprendemos a perseverança, que é a capacidade de mantermo-nos firmes mesmo
quando tudo está dando errado, mesmo quando tudo parece estar conspirando
contra nós. Não se engane: ninguém aprende a perseverar, ninguém cresce e
amadurece na fé, sem passar por provações.
Alguns cristãos são
mais provados do que outros, mas todos são provados de alguma forma, porque são
as provas que exercitam a nossa fé. Essa é a razão pela qual Deus permite
provações na vida dos seus filhos. Como dizia A. W. Tozer, “Deus não mima os
seus filhos”, por isso as provações na vida do cristão. Quando mimamos nossos
filhos, eles se estragam, eles crescem com um caráter defeituoso. E a
disciplina que aperfeiçoa o caráter da criança, como Salomão enfatiza inúmeras
vezes no Livro de Provérbios. Da mesma forma, são as provações que aperfeiçoam
a fé e o caráter cristãos.
Como assevera o
apóstolo Pedro: “agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco
contristados com várias tentações [Peirasmos], para que a prova da vossa fé,
muito mais preciosa que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em
louvor, e honra, e glória na revelação de Jesus Cristo” (1 Pe 1.6,7).
A IMPORTÂNCIA DE NÃO
ESMORECER NAS PROVAÇÕES E DA SABEDORIA PARA O COMPLETO CRESCIMENTO ESPIRITUAL
É interessante notar
que Tiago estava preocupado não apenas em seus leitores entenderem o propósito
das provações, mas também em ajudá-los a cumprirem esse propósito. Isso porque,
no versículo 4, ele afirma: “Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita,
para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma”. Ou seja,
ele estava dizendo a seus leitores: “A obra da perseverança deve ser completada
em suas vidas para que vocês sejam realmente aperfeiçoados, maduros,
fortalecidos na fé”. Isto é, não basta entender o propósito das provações; é
preciso enfrentar até o fim esse processo, não parar no meio do caminho, para
finalmente se chegar ao resultado desejado.
Mas, e se depois
desse processo o cristão ainda sentir que está lhe faltando alguma coisa? Nos
versículos 5 a 8, Tiago responde a essa questão que eventualmente um de seus
leitores poderia fazer. Ele diz aos cristãos judeus dispersos que para garantir
que o crescimento espiritual deles seja completo, além de não esmorecerem em
meio às provações, eles devem também, caso sintam necessidade, pedir sabedoria
a Deus. E aqui Tiago estava confrontando uma antiga corrente da tradição
judaica sobre a sabedoria, que afirmava que toda sabedoria que precisamos seria
alcançada apenas por meio das provações. Ao contrário dessa crença, diz Tiago
aos seus irmãos em Cristo que se “a paciência” tiver “a sua obra completa” em
suas vidas e, mesmo assim, eles sentirem que ainda lhes falta alguma coisa, que
não têm ainda toda a sabedoria almejada, devem, então, pedi-la a Deus: “E, se
algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente
e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada” (v.5).
Finalmente,
consideremos ainda os versículos 9 a 11 do capítulo primeiro de Tiago, porque
eles são uma continuação do raciocínio do apóstolo sobre como as provações
podem ser transformadas em motivo de grande alegria para o crente em Cristo
(apesar de esses versículos, isoladamente, também trazerem outras lições
específicas que serão analisadas no capítulo 4 deste livro). Nos versículos de
9 a 11, Tiago fala que assim como o cristão pobre deve alegrar-se em sua
melhora de vida (v.9), o cristão rico também deve alegrar-se nas circunstâncias
difíceis (v. 10a), porque as riquezas terrenas são passageiras, transitórias,
não devemos nos apegar a elas (w. 10b-11).
Ou seja, à luz dos
versículos anteriores, o que o apóstolo Tiago está afirmando nesses versículos
é, em síntese, que o cristão deve aceitar as ordens da providência divina com
gratidão.
Portanto, o cristão
transforma a sua provação em grande alegria quando ele reconhece na provação
uma oportunidade para amadurecer e fortalecer-se na fé (w.2-4); quando ele se
aproxima de Deus em oração, pedindo-lhe sabedoria (w.5-8); e quando ele aceita
com gratidão a soberania e a providência divinas em todas as circunstâncias de
sua vida (w.9-11), sabendo que Deus está no controle de tudo e Ele sabe o que
faz e o que é melhor para a sua vida (Rm 8.28; 12.2). Mas, não termina aí.
Ainda há um quarto ponto, que se encontra no versículo 12, e sobre o qual
falarei ao final deste capítulo.
A ORIGEM DAS
TENTAÇÕES
No segundo bloco de
versículos sobre provações (Tg 1.12- 15 — o vocábulo grego para tentações nessa
passagem é Peiras- mos também), Tiago é claro quanto à origem das tentações.
Ele declara que elas não provêm de Deus (v. 13) e também não faz nenhuma
referência a elas procederem diretamente do Diabo ou do mundo. O apóstolo
assevera que a tentação tem a sua origem, na verdade, no próprio ser humano, em
sua natureza pecamino sa
(w. 14,15). Ou seja, o mundo e o Diabo são apenas agentes indutores externos da
tentação.
Como afirma o teólogo
Millard J. Erickson, a Bíblia enfatiza que o problema do pecado “está no fato
de que os homens são pecadores por natureza. [...] Muitas vezes, a tentação
envolve indução externa, [...] porém, o pecado é uma escolha da pessoa que o
comete. O desejo de fazer o que se faz pode estar presente de forma natural e
também pode haver indução externa, mas o indivíduo é basicamente responsável”.7
Como o próprio Jesus afirmou, o pecado não vem de fora para dentro; ele está
dentro de nós, é resultado de nossa natureza (Mc 7.15). O que vem de fora são
apenas estímulos para que o pecado se manifeste dentro de nós.
Entendido isso,
percebemos que as tentações, na verdade, não exercem alguma força sobre a
pessoa para fazê-la cair, mas apenas revelam a natureza interior da pessoa e a
verdadeira qualidade de sua fé. Basta lembrar que se não houvesse natureza
pecaminosa, nenhuma tentação seria de fato tentação. O que torna a tentação de
fato uma tentação é porque temos uma natureza pecaminosa. Como bem explica
Tiago, “cada um é tentado quando atraído e engodado pela sua própria
concupiscência” (v. 14).
Finalmente, é
importante frisar ainda que ser tentado não é pecado; pecado é ceder à
tentação. E, inclusive, ser provado é, como afirma Tiago, motivo de
contentamento do cristão, porque se ele não buscou aquela dificuldade, mas foi
confrontado por ela, ele sabe que essa situação poderá se transformar em uma
oportunidade para o seu crescimento; ele poderá suportar e vencer essa provação
pela graça de Deus, fortalecendo-se no Senhor e na força do seu poder (Ef
6.10), vencendo no dia mal (Ef 6.13) e crescendo na fé (1 Pe 1.6,7).
O prêmio eterno para
quem sofre e vence as tentações
O prêmio eterno do
cristão que sofre e vence as provações já está garantido: “Bem-aventurado o
varão que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da
vida, a qual o Senhor tem prometido aos que O amam” (Tg 1.12). Aleluia! Está é
a quarta razão pela qual o cristão pode transformar suas provações em grandes
alegrias: ele sabe que maior é o galardão daquele que, mesmo sendo muito
provado, permanece firme em sua fé.
Não à toa, a palavra
“paciência” (ou “perseverança”, em outras versões), que é o resultado de
suportar as provações (Rm 5.3; Tg 1.3), aparece no texto bíblico ligada não
apenas às tribulações (Rm 5.3), às aflições (2 Co 6.4) e às perseguições (2 Ts
1.4; Tg 1.2,3), mas também à vida eterna (Lc 21.19; Rm 2.7; Hb 10.36), à
esperança (Rm 5.3; 15.4,5; lTs 1.3) e à alegria (Cl 1.11). Logo, ser provado é
motivo de alegria porque nosso prêmio por suportar as provações serão a vida
eterna, a coroa da vida, a esperança que não murcha e a alegria que não tem
fim. Portanto, louve a Deus nas suas provações! “Tende grande gozo quando
cairdes em várias provações” (Tg 1.2), porque “em todas essas coisas, somos
mais do que vencedores por aquele que nos amou” (Rm 8.37)!
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 25-33.
Hb 5.8 Ainda que era
Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu.
Pedro, falando sobre
o sofrimento, disse: “... se fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é
agradável a Deus. Porque para isto sois chamados, pois também Cristo padeceu
por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas” (I Pe 2.20,21).
Algumas vezes passamos por provas tão duras em nossas vidas, que até chegamos a
perguntar a Jesus: “Senhor, tu não tens uma maneira mais suave para nos
ensinar?” E vez por outra o Senhor nos responde com amor e ternura: “O que eu
faço, não o sabes tu, agora, mas tu o saberás depois” (Jo 13.7). Em nenhum
momento em sua vida José questionou a Deus, mesmo sendo maltratado por seus
irmãos, e depois, ao ser vendido como escravo para o Egito, ou ainda quando foi
posto na prisão injustamente. Apesar de todos estes infortúnios, José conservou
firme sua fé em Deus e em suas promessas para sua vida. E, por fim, ao
reencontrar seus irmãos, não mais como um escravo, mas como o governador do
Egito, José disse: “Pelo que Deus me enviou diante da vossa face, para conservar
vossa sucessão na terra e para guardar- vos em vida por um grande livramento.
Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, senão Deus...” (Gn 45.7,8).
Severino Pedro Da Silva. Epistola aos Hebreus coisas novas e grandes que Deus preparou
para você. Editora CPAD. pag. 86-87.
Hb 5.8 Nos reinos de
qualquer regime antigo, nenhum príncipe sofre; o príncipe da coroa é
especialmente criado e preparado para o reinado. Mas Jesus, embora fosse o
Filho de Deus, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu. A lição
desconcertante deste versículo é que Deus mesmo, nascido de ascendência humana,
realmente aprendeu algo em meio ao sofrimento que passou. O Deus onisciente
precisava aprender? Jesus aprendeu sobre a condição humana. Este conhecimento
trouxe mais compaixão do que inteligência, mais identificação pessoal do que informação
mensurável.
Como Jesus, os
crentes frequentemente aprendem a obediência através do sofrimento (veja
12.2-11). Este exemplo de Cristo encorajou os leitores a permanecerem firmes e a
não se desviarem da fé em períodos de sofrimento. Assim como Cristo foi
aperfeiçoado através de seu sofrimento, os cristãos também o serão.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 602.
Hb 5.8 A obediência
que aprendeu (5.8). Por aquilo que padeceu Ele aprendeu a obediência. No
entanto, nosso Senhor nunca havia sido desobediente, nem teve nenhum tipo de
inclinação para isso. Como então poderia aprender obediência? Somente no
sentido de que a obediência que causa tremenda angústia assume uma nova
dimensão. Em relação a Jesus, o amor pelo Pai era tamanho que a obediência
sempre tinha sido
um prazer. Nunca houve qualquer hesitação ou o sentimento de um preço doloroso.
Mas aqui se exigia uma obediência num aspecto que tocava o próprio
relacionamento do Pai com o Filho, uma exigência que na sua essência não podia
ser um prazer, mas um castigo. Quando a obediência é fácil precisa estar sob
suspeita. Talvez não passe de um egoísmo disfarçado ou simplesmente uma
política de conveniência. Mas quando a obediência custa um coração quebrantado
é porque a lição foi aprendida e a sua genuinidade autenticada.
O nosso Senhor teve
de aprender este aspecto pela experiência pessoal, bebendo o copo até a última
gota, ainda que era Filho. Se o Filho quisesse tornar-se o sumo sacerdote
salvador, adequado para todas as necessidades dos homens, precisava ir até o
fim e ser aprovado em todos os sentidos. Somente um sumo sacerdote
completamente submisso a Deus poderia representar Deus perante o homem e o
homem perante Deus. A dignidade da pessoa de Cristo como Filho não poderia
isentá-lo da humilhação do sofrimento, se ele fosse cumprir seu chamado como
servo sofredor de Deus (Is 53). A perfeição da obediência e a extremidade do
sofrimento implicada neste versículo tenderia a apoiar a exposição do versículo
7 de que sua oração não foi “ouvida” no sentido de que ele não foi isentado de
tomar o “copo”.
Gramaticalmente, tudo
até aqui nos versículos 7,8 está subordinado ao sujeito principal e ao
predicado aprendeu a obediência. O sentido, portanto, é que, apesar do “grande
clamor e lágrimas” do nosso Senhor, e apesar do fato de que o Pai os viu e
ouviu, e apesar do fato de Jesus ser o Filho, era necessário que sofresse para
aprender pela experiência a plena inteireza da obediência.
Richard
S. Taylor. Comentário Bíblico Beacon.
Hebreus. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 53-54.
Mt 5.10 Os que sofrem
perseguições por causa da justiça são bem-aventurados. Este é o maior paradoxo
de todos, e é peculiar ao cristianismo. Consequentemente, é deixado para o
final, e é mais reforçado do que qualquer um dos outros (w. 10-12). Esta
bem-aventurança, como o sonho de Faraó, é dupla, porque é dificilmente reconhecida,
e ainda assim, ela é garantida; e na última parte, há a mudança do sujeito:
“Bem-aventurados sois vós”, meus discípulos e seguidores. Em outras palavras:
“E com isto que vocês, que têm virtudes abundantes, devem estar mais
imediatamente preocupados; pois vocês devem contar com as dificuldades e os problemas,
mais do que outros homens”. Observe aqui:
1. A descrição do caso
dos santos sofredores; este é um caso difícil, que desperta a compaixão. (1)
Eles são perseguidos, caçados, e capturados, como os animais nocivos, que são
procurados para serem destruídos; como se um cristão tivesse uma cabeça de
lobo, como um malfeitor - qualquer pessoa que o encontre pode matá-lo. Eles são
abandonados como os dejetos de todas as coisas; multados, aprisionados,
expulsos, privados de suas propriedades, excluídos de todos os lugares de confiança
e que podem trazer lucro, espancados, atormentados, torturados, sempre entregues
à morte e considerados como ovelhas para o matadouro. Este tem sido o efeito da
inimizade da semente da serpente contra a semente sagrada, desde os tempos do
justo Abel. Era assim na época do Antigo Testamento, como vemos em Hebreus
11.35ss. Cristo nos disse que seria assim também com a igreja cristã, e não
devemos pensar que isto é estranho (1 Jo 3.13).
Ele nos deixou um
exemplo.
(2) Eles são
injuriados, e têm todos os tipos de maldades falsamente ditas contra si
Apelidos e palavras de acusação se ligam a eles, sobre pessoas, em particular,
e sobre a geração dos justos, de maneira geral, para fazê-los odiados; algumas
vezes, para fazê-los formidáveis, para que possam ser. atacados poderosamente;
diz-se contra eles coisas que não sabiam (SI 35.11; Jr 20.18; At 17.6,7).
Aqueles que não tinham poder em suas mãos para causar algum outro prejuízo,
ainda podiam fazer isto. E aqueles que tinham poder para persegui-los, também achavam
necessário fazê-lo para se justificarem da forma bárbara como os tratavam. Eles
não podiam tê-los importunado, se não os tivessem vestido em peles de lobos;
nem teriam lhes dado o pior dos tratamentos, se não os tivessem representado,
primeiramente, como os piores dentre os homens. Eles serão injuriados e
perseguidos. Observe que injuriar os santos é persegui-los, e isto será
descoberto em breve, quando as palavras duras forem computadas (Jd 15), como
também os cruéis escárnios (Hb 11.36). Eles dirão todo tipo de maldade contra
vocês, com falsidade; algumas vezes, diante do trono do julgamento, como
testemunhas; algumas vezes, no assento do escarnecedor, com zombarias
hipócritas nas festas; eles são a canção dos bêbados. Algumas vezes diretos,
como Simei amaldiçoou Davi; algumas vezes, pelas costas, como fizeram os
inimigos de Jeremias. Observe que não há maldade tão negra e horrível que, em
uma ocasião ou em outra, não tenha sido dita, em falsidade, sobre os discípulos
e seguidores de Cristo. (3) “Por causa da justiça” (v. 10); “por minha causa” (v.
11). Por causa da justiça, portanto por causa de Cristo, pois Ele está muito
interessado na obra da justiça. Os inimigos da justiça são inimigos de Cristo;
Isto exclui da bem-aventurança aqueles que sofrem justamente, e têm maldades
ditas com verdade pelos seus crimes reais; que eles se envergonhem e se
confundam, isto é parte da sua punição. Não é o sofrimento que faz o mártir,
mas a causa. Os mártires são aqueles que sofrem por causa da justiça, que sofrem
por não pecai- contra suas próprias consciências, e que sofrem por fazer o que
é bom. Qualquer que seja a desculpa que os perseguidores tenham, é no poder da
santidade que eles têm um inimigo; é realmente Cristo e a sua justiça que são
difamados, odiados e perseguidos. “As afrontas dos que te afrontam caíram sobre
mim” (SI 69.9; Rm 8.36).
2. O consolo dos
santos sofredores é apresentado.
(1) Eles são
“bem-aventurados”; pois agora, na sua vida, recebem males (Lc 16,25), e os
recebem em grande medida. Eles são bem-aventurados, pois é uma honra para eles
(At 5.41); é uma oportunidade de glorificar a Cristo, de fazer o bem e de
sentir consolo especial e visitas de graça e sinais da presença do Senhor (2 Co
1.5; Dn 3.25; Rm 8.29).
(2) Eles serão
recompensados; “deles é o reino dos céus”. Na atualidade, eles têm direito a
ele, e têm doces antecipações dele; e em breve tomarão posse dele. Embora não
haja nada nestes sofrimentos que possa, a rigor, ser digno de Deus (pois os
pecados do melhor merecem o pior), ainda assim o reino dos céus é aqui
prometido como recompensa (v. 12). “Grande é o vosso galardão nos céus” . Tão
grande, a ponto de transcender o serviço. Está no céu, no futuro e fora do
alcance da vista; mas está bem guardado, fora do alcance do acaso, da fraude, e
da violência. Observe Deus irá cuidar daqueles que perdem por Ele, ainda que
seja a própria vida, para que não o percam no final. O céu, no final, será uma
recompensa abundante por todas as dificuldades que enfrentamos no nosso
caminho. Isto é o que tem sustentado os santos sofredores de todas as épocas, esta
alegria que está diante deles.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 47-48.
Mt 5.10
“Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é
o Reino dos céus” . A perseguição não deve surpreender os cristãos. Pessoas que
dão prioridade aos outros raramente recebem aplausos e honrarias, e muitas
vezes são perseguidas. Pelo fato de viverem para Deus, elas se destacam no
mundo, e se tornam alvos dos ataques do inimigo. O mundo está sob o controle de
Satanás, e os crentes pertencem ao exército que o está combatendo. A recompensa
para esses crentes será o Reino dos céus. Deus irá compensar o sofrimento que
seus filhos experimentam por serem leais a Ele.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 37.
10 Não foi por
acidente que Jesus passou da pacificação para a perseguição, pois o mundo gosta
tanto de acalentar ódios e preconceitos que nem sempre os pacificadores são
bem-vindos. A oposição é uma marca normal do ser discípulo de Jesus, tão normal
quanto ter fome de justiça ou ser misericordioso (cf. também Jo 15.18-25; At
14.22; 2Tm 3.12; IPe 4.13,14; cf. o “ai” em Lc 6.26). Lachs (p. 101-3) não
consegue acreditar que os cristãos sempre foram perseguidos por causa da
justiça; por isso, ele recoloca um alegado texto hebraico subjacente dizendo “por
causa do Justo” — referência a Jesus. Mas ele subestima quão ofensiva realmente
é (cf. Is 51.7) a verdadeira justiça, “a conduta apropriada diante de Deus”
(Przybylski, p. 99). A recompensa dessas pessoas perseguidas é a mesma recompensa
dos pobres em espírito — a saber, o reino dos céus, que conclui a inclusão.
D.
A. CARSON. O Comentário De
Mateus. Editora
Shedd Publicações. pag. 170.
I – O
FORTALECIMENTO PRODUZIDOS PELAS TENTAÇÕES (Tg 1.2, 12).
1. O que é tentação.
I. Definição
Há uma palavra
hebraica e duas palavras gregas, envolvidas neste verbete, a saber:
1. Massah,
"teste". "provação". Palavra hebraica usada por cinco vezes. Deu.
4:34; 7:19; 29:3;, SaL 95:8; Jó 9:23.
2. Peirasmôs,
"teste", "prova". Palavra grega usada por vinte vezes: Mal.
6:13; 26:41; Mar. 14:38; Luc. 4:13; 8:13; 11:4; 22:28,40,46; Atos 20:19; 1 Cor.
10:13; Gál. 4:14; 1 Tim. 6:9; Heb. 18; Tia. 1:2,12; 1 Ped. 1:6; 11 Ped. 2:9 e Apo.3:10.
3. Peirázo,
''testar'', "submeter à prova". Vocábulo grego que ocorre por trinta
e seis vezes: Mal. 4:1,3; 16:1; 19:3; 22:18,35; Mar. 1:13; 8:11; 10:2; 12:15;
Luc. 4:2; 11:16; João 6:6; 8:6; Atos 5:9; 9:26; 15:10; 16:7; 24:6; 1 Cor. 7:5; 10:9,13;
11 Cor. 115; GáI. 6:1; 1 Tes. 3:5; Heb. 2:18; 3:9 (citando Sal. 95:9); 4:15;
11:17,37; Tia. 1:13,14; Apo. 12,10; 3:10.
No original grego,
tentação é "peirasmos", que significa "teste",
"provação", "tentação para a prática do mal". Esse vocabulário
pode incluir ou não a ideia de alguma questão moral envolvida. Pode
simplesmente indicar um teste difícil, uma prova, e não alguma tentação
tendente à prática do mal, uma incitação ao pecado. Por outro lado, essa palavra
pode envolver a ideia de incitação ao pecado. Essa foi exatamente a palavra
utilizada pelo Senhor Jesus, em sua oração, no trecho de Mat. 6:13, onde ele
diz: " ... e não nos deixeis cair em tentação...". É também o mesmo
termo usado para indicar as tentações que Satanás lançou contra o Senhor Jesus,
no deserto (ver Luc. 4: 13). Na passagem de Tia. 1:12 essa mesma palavra é
empregada para indicar, bem definidamente, a tentação à prática do mal.
É lógico
acreditarmos, por conseguinte, que a tentação referida neste versículo tem por
intuito incluir questões tanto "morais" como "amorais",
isto é, tentações para a prática do pecado (o que é evidente no próprio
contexto), mas igualmente, certos períodos de dificuldades, o que também se
evidencia quando consideramos, no contexto, o que Paulo mesmo esperava para o
fim desta era, refletindo uma doutrina judaica comum, de que haveria um período
geral de tribulações, em todos os sentidos, quando se aproximasse o fim da
presente dispensação (ver 1 Ped. 4: 12 e Apo. 3: 10 quanto a essa mesma ideia,
nas páginas do N.T.). Deus não tenta a homem algum para a prática do mal (ver
Tia. 1:12), embora ele permita que as tribulações nos sobrevenham (ver Mal. 6:
13), e destas últimas o Senhor Jesus orou pedindo livramento. Satanás foi capaz
de tentar ao Senhor Jesus com o mal; nada disso o diabo jamais teria podido
fazer, sem a permissão divina.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 6. Editora Hagnos. pag. 350-351.
TENTAR, TENTAÇÃO Os
termos heb. e gr. para "tentar" (heb. massa, gr. peirazo, ekpei-razo)
e "tentação" (heb. nasa, gr. peirasmos) podem, às vezes, ter o
significado de "induzir ao pecado", que tão fortemente colore nossas
palavras em português "tentar" e "tentação". Mas seu
principal e predominante significado é o de "testar o valor e o caráter de
homens" e, às vezes, os de Deus. Nesse sentido, os cristãos devem se
examinar para se certificarem de que suas palavras e ações evidenciam que eles
são crentes genuínos (2 Co 13.5; cf. 2 Pe 1.10).
Semelhantemente, Deus
testa, no AT, a veracidade da confiança que seu povo tem nele, como no caso de
Abraão (Gn 22.1), Israel (Êx 15.25; 16.4), a tribo de Levi (Dt 33.8), Ezequias
(2 Cr 32.31) e o salmista (SI 26.2). O NT diz que Deus (ou Cristo) provou a fé
de Filipe (Jo 6.6) e de Abraão (Hb 11.17; cf. Gn 22.1).
Na sua providência,
Deus usa os eventos da vida cotidiana para testar a professada fé e o caráter
dos cristãos. O teste pode resultar em severos tormentos, tanto físicos quanto
espirituais (Hb 11.37; 1 Pe 4.12). Deus usou severos fenómenos naturais (Êx
20.18-20), as dificuldades das peregrinações pelo deserto (Dt 8.2), e a
opressão das tribos cananéi-as para testar Israel (Jz 2.21,22). Aos cristãos
não é prometida a ausência de provas, mas a força necessária para suportá-las
(1 Co 10.13; 2 Pe 2.9; cf. 1 Pe 4.1,12-16). O próprio Cristo, ao se tornar
humano, passou por toda sorte de testes mentais e físicos (Hb 2.18; 4.15).
Crê-se que até mesmo
coisas são testadas ou provadas, como por exemplo uma espada (1 Sm 17.38), uma
reputação (1 Rs 10.1; 2 Cr 9.1) e convicções (Dn 1.12,14). Tanto a palavra heb.
quanto a gr., às vezes, têm o significado de tentar fazer algo. Em uma pergunta
retórica, Deus questiona: "...ou se um deus intentou ir tomar para si um
povo..." (Dt 4.34). Os homens tentam se comunicar (Jó 4.2) ou se juntar a
outros (At 9.26). Os termos gregos e hebraicos traduzidos como
"tentar" e "tentação" também aparecem no mau sentido de
"induzir ao pecado". O Diabo é acusado de ser o instigador de tais
provas (Mt 4.3; 1 Ts 3.5,6). Até mesmo na vida dos cristãos ele exerce grande
pressão para o pecado
(1 Co 7.5; 1 Ts 3.5;
Ap 2.10). Sucumbir a tais tentações pode demonstrar que a profissão do cristão
não é sincera (Lc 8.13). A tentação para pecar frequentemente se origina de
pensamentos malignos e da concupiscência (Tg 1.14); provocações às quais um
forte desejo por riquezas bem pode se juntar (1 Tm 6.9). Contudo, a tentação
para pecar nunca vem de Deus (Tg 1.13). O cristão deve orar por libertação de
todas essas tentações (Mt 6.13; Lc 11.4). A tentação, no mau sentido, também
pode tomar a forma de testar o outro na esperança de expor seus pontos fracos,
e usá-los contra a própria pessoa. Os inimigos de Cristo frequentemente tentaram
empregar essa tática contra Ele (cf. Mt 16.1; 19.3; 22.35; Lc 20.23).
Algumas vezes a
Bíblia fala de homens testando ou tentando a Deus. Por exemplo, Israel tentou a
Deus no deserto (Êx 17.2,7; Nm 14.22; SI 95.8,9; 1 Co 10.9), e os fariseus e
saduceus tentaram a Jesus (Mt 16.1; Mc 8.11; 10.2). Além disso, os cristãos
professos podem tentar a Deus. Ananias e Safira o fizeram ao mentir (At 5.9).
Cristãos judeus o fizeram, trazendo empecilhos aos crentes gentios (At 15.10).
Paulo advertiu os coríntios a respeito da incredulidade, da idolatria, do modo
de vida ímpio, da atitude de tentar a Cristo e da murmuração (1 Co 10.7-10; cf.
Nm 21.4-9).
Quando confrontado
pelas tentações, o cristão tira o encorajamento necessário do conhecimento de
que ele não os enfrenta sozinho. Deus já removeu o crente do domínio de Satanás
e o colocou em seu próprio reino e família (Cl 1.12,13). As tentações que
Satanás traz estão sempre dentro dos limites permitidos por Deus (Jó 1.8-12;
2.3-6). Além disso, o cristão tem o exemplo da vitória de Cristo sobre o pecado
(Hb 4.15) e a promessa da sua ajuda (Hb 2.18). Mesmo quando o cristão sucumbe à
tentação e ao pecado, ele ainda tem a promessa de perdão disponível através da
contínua, eficaz e redentora graça de Cristo (Hb 4.14-16; 1 Jo 2.1).
A recompensa dos
cristãos por sua fiel resistência a todos os tipos de tentação é a coroa de
vida (Ap 2.10).
Os exemplos mais
conhecidos de tentação nas Escrituras são a indução de Adão e Eva ao pecado no
jardim do Éden por Satanás (Gn 3.1-7; 1 Tm 2.13,14) e a tentação de Cristo no
deserto (Mt 4.1-11; Mc 1.12,13; Lc 4.1-13).
Comparando-se essas
tentações, nota-se que Eva (em comum acordo com Adão) sucumbiu à tentação por
dar atenção excessiva aos desejos físicos (por exemplo, a comida) e às posses
materiais dessa vida (o belo fruto que ela desejava), e por se entregar a um
orgulho precipitado (supunha-se que o fruto traria sabedoria). Se por um lado
Cristo, o segundo Adão (Rm 5.12-21; 1 Co 15.22) sentiu todo o peso do teste,
por outro Ele superou completamente a tentação em cada uma dessas áreas (por
exemplo, a tentação de transformar pedras em pães; de desejar obter para si os
reinos do mundo; e, com um orgulho presunçoso, se atirar do Templo). Por ter
experimentado e triunfado sobre essas e outras tentações, o Senhor Jesus Cristo
é capaz de se compadecer e ajudar seu povo nas tentações que enfrenta.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora
CPAD. pag. 1908-1909.
Hb 4.14 Para os
leitores cristãos judeus, o sumo sacerdote tinha sido a sua mais elevada
autoridade religiosa. O sacerdócio começou com Arão, irmão de Moisés (Ex 28.41).
Somente o sumo sacerdote podia interceder junto a Deus pelos pecados da nação
(Lv 16). Mas Jesus é um grande Sumo Sacerdote, melhor que todos os sumos
sacerdotes de Israel. Aqui estão as razões:
• Os sumos sacerdotes
eram homens que podiam oferecer sacrifícios, mas que não podiam fazer nada para
tirar o pecado.
Jesus deu a sua vida
e morreu como o sacrifício supremo e final pelo pecado.
• O sumo sacerdote
podia entrar no Santo dos Santos somente uma vez por ano para fazer a expiação
pelos pecados da nação. Jesus penetrou nos céus e tem acesso irrestrito a Deus
Pai.
• Os sumos sacerdotes
eram humanos e pecadores. Jesus intercede a Deus pelas pessoas como o Filho de
Deus, que não tem pecado, o qual é, ao mesmo tempo, humano e divino.
• Os sumos sacerdotes
eram as autoridades religiosas mais elevadas para os judeus. Jesus tem mais
autoridade do que os sumos sacerdotes judeus, porque Ele é tanto Deus como
homem.
• As pessoas não
podiam se aproximar de Deus, exceto através de um sumo sacerdote. Quando Jesus
morreu, o véu que separava o Santo dos Santos no Templo foi rasgado em dois, indicando
que a morte de Jesus Cristo tinha aberto o caminho para que as pessoas
pecadoras pudessem se chegar à presença do Deus santo.
Por causa de tudo o
que Jesus Cristo fez e está fazendo por nós, retenhamos firmemente a nossa
confissão. Permita que Jesus seja o seu Sumo Sacerdote; somente Ele pode lhe
proteger do juízo inevitável (descrito em 4.12,13). Cristo é um Sumo Sacerdote fiel
que representa todos aqueles que confiam nele.
Hb 4.15 Pelo fato de
Jesus, o nosso Sumo Sacerdote, ter-se tornado como nós. Ele experimentou a vida
humana de uma forma completa. Ele cansou-se, teve fome, e enfrentou as
limitações humanas normais. Dessa forma.
Jesus entende as
nossas fraquezas. Não apenas isso, mas Ele também em tudo foi tentado, mas sem
pecado. Jesus, em sua humanidade, sentiu a luta e a realidade da tentação. O texto
em Mateus 4.1-11 descreve uma série específica de tentações do Diabo, mas Jesus
provavelmente enfrentou tentações ao longo de toda a sua vida terrena, assim
como nós as enfrentamos (veja 1 Jo 2.16).
Hb 4.16 Através de
sua morte na cruz, o nosso grande Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, abriu o acesso
a Deus. Agora as pessoas podem se aproximar de Deus diretamente por causa do
sacrifício que Jesus fez pelos pecados. Por Jesus ter dado a sua vida para
fazer isto a nosso favor, cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça de
Deus. Este versículo é um convite aberto para considerarmos a Deus como um
grande aliado e um verdadeiro amigo. Sim, Deus ocupa um trono, um lugar de
poder e autoridade, mas é um trono de um Deus misericordioso. “Graça” significa
favor imerecido. A nossa capacidade de nos aproximarmos de Deus não vem de
nenhum mérito próprio que tenhamos, mas depende inteiramente dele. Ele é o
nosso Pai, que nos ama como seus filhos. Do trono de Deus, não receberemos ira,
nem seremos ignorados; antes, poderemos alcançar misericórdia e achar graça, a
fim de sermos ajudados em tempo oportuno. Deus está atento às nossas
necessidades. Nenhum pedido é insignificante, e nenhum problema é pequeno
demais. Deus promete ajudar-nos no momento certo — no tempo dele. Isto não significa
que Deus promete resolver todas as necessidades no exato momento em que o
buscarmos. Tampouco significa que Deus apagará as consequências naturais de
qualquer pecado que foi cometido. Significa, porém, que Deus ouve, cuida, e
responderá do seu modo perfeito, em seu tempo perfeito.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 599-600.
Hb 4.15 Porque não
temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém
um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.
No versículo 18 do
capítulo 2 desta epístola está escrito: “Porque, naquilo que ele mesmo, sendo
tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados”. Aprendemos destes textos
e de outros similares das Escrituras que a tentação em si mesma não é pecado.
Ela pode induzir alguém ao pecado, se houver espaço e lugar para tal
procedimento. Quando Jesus esteve aqui entre os homens, Ele “em tudo foi
tentado”, isto é, Ele passou a ser alvo das “mesmas paixões que nós”. Contudo,
Ele nunca cedeu a uma só dessas paixões, nem por pensamento e nem por atos, por
cuja razão o escritor sagrado conclui dizendo: "... [Ele] em tudo foi
tentado, mas sem pecado”. A tentação sempre visa destruir a fé daquele que se
encontra em paz com Deus. Ela vem à pessoa humana por várias vias de acesso que
conduzem ao coração, sendo a “concupiscência” o veículo transmissor da sedução,
que vem em primeiro lugar, e quando cedida pode conduzir à morte (cf. Tg
1.14,15).
Severino Pedro Da Silva. Epistola aos Hebreus coisas novas e grandes que Deus preparou
para você. Editora CPAD. pag. 78.
Hb 4. 14-16. Porque
Jesus nos ajudará (4.14-16). Estes versículos constituem uma continuação do
discurso de exortação acerca do repouso e uma recapitulação e resumo dos quatro
primeiros capítulos. Vamos primeiro considerar o discurso acerca do repouso.
Tendo chamado a
atenção para a penetrante e inescapável luz da Palavra de Deus, o autor agora
redireciona a atenção para a necessidade desesperadora de um Sumo Sacerdote —
Jesus, o Filho de Deus. O Deus, a respeito de quem ele tem falado, é o mesmo
Deus que rejeitou seus pais antigos na sua ira santa; Ele não pode ser
menosprezado e vai igualmente rejeitá-los. Portanto, eles deveriam estar
alegres pelo seu Sumo Sacerdote, e rapidamente refugiar-se nele. A terrível e
incriminadora revelação do seu coração pela Palavra de Deus é motivo de medo,
mas o ministério sumo sacerdotal de Jesus é motivo de esperança. Portanto,
retenhamos firmemente a nossa confissão (14). Vamos nos apegar à nossa fé
pessoal e à confissão pública de Jesus como nosso Salvador. Porque não temos um
sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas (15).
Literalmente, Jesus pode “sentir as nossas debilidades” (Mueller). A palavra
fraquezas (astheneiais) tem uma conotação moral em Hebreus (cf. 5.2) e
significa não apenas fraqueza física ou uma limitação humana, mas uma fraqueza
consciente e instável na tentação. Nosso Senhor também nos entende nesta
fraqueza, porque, como nós, em tudo foi tentado. Visto que foi tentado como
nós, Ele sabe por experiência o que significa para nós ser tentado. Ele não foi
tentado em todas as particularidades ou em cada situação possível; e.g., Ele
não foi tentado como marido, ou pai, ou dono de uma propriedade, ou empregador,
ou soldado, porque não exerceu nenhuma dessas funções. Mas Ele foi tentado em
três áreas básicas da suscetibilidade humana: corpo, alma e espírito. Jesus
conhecia a tentação no campo do apetite do corpo, no campo dos relacionamentos
humanos e no campo dos relacionamentos espirituais. Eu — os outros — Deus: Ele
foi tentado nestes três pontos. O que deveria governá-lo? Seu desejo por pão?
Seu desejo por aceitação? Seu desejo por poder? Ou sua lealdade a Deus? Estas
são perguntas fundamentais da vida que cada pessoa deve responder. Certamente,
nestes aspectos básicos as tentações do Senhor eram exatamente iguais (kath
homoioteta) às nossas.
Mas sem pecado.
Embora seja perfeitamente verdadeiro que Jesus não enfrentou a tentação com a
desvantagem do pecado original, esta não é a ideia aqui. O que o autor de
Hebreus ressalta neste texto é que Jesus não cedeu uma única vez à tentação.
Ele foi perfeitamente triunfante. Se não fosse tentado como nós, não poderia
compreender os nossos sentimentos em nossas muitas tentações; por outro lado,
se não tivesse sido perfeitamente vitorioso, não poderia ajudar-nos, mas
necessitaria Ele próprio de ajuda.
Parece que estava
claro na mente do autor a tentação peculiar que estes cristãos hebreus estavam
enfrentando. Eles foram tentados a voltar atrás, e desta forma, falhar em
entrar no seu repouso prometido. Jesus também teve sua experiência de deserto —
em certo sentido, seu Cades-Barnéia — e, portanto, sabia o que estavam
passando. Ele entende o deserto do ataque satânico que segue a primeira emoção
gloriosa da fé. Por isso, eles não devem permitir que a ideia de voltar atrás
ocupe a mente, nem devem ficar envergonhados ou ceder à paralisia do desespero.
Eles precisam chegar com confiança ao trono da graça, para que possam alcançar
misericórdia (perdão pelo fato de vacilar) e achar graça, a fim de serem ajudados
neste tempo oportuno (16).
Estes versículos
também são um resumo de toda a argumentação até aqui nesta epístola. Jesus é um
grande sumo sacerdote, visto que não é um ser angélico nem está numa posição de
igualdade com Moisés. Ele é o Filho de Deus, Aquele que “assentou-se à destra
da Majestade, nas alturas” (1.3), ou, como está expresso aqui: que penetrou nos
céus (14). O trono da graça ao qual somos convidados a vir com confiança em
oração é o trono não só de Deus o Pai, mas de Deus o Filho — não só daquele
cuja palavra é lei, mas daquele que se tornou Mediador e Intercessor. O Jesus
da história recente e o Javé do AT se fundem em um Deus num único trono. Lá, no
trono, nossos pecados são condenados e perdoados. Lá encontramos justiça e
misericórdia. Lá encontramos acesso renovado para o restante do povo de Deus.
Mas tudo isto é mediado por Jesus. Nossa ousadia só ocorre nele e por meio
dele. Se Jesus não é o Filho de Deus, que está à destra do Pai, tendo cumprido plenamente
e, desta forma, substituído a ordem mosaica, nossa ousadia não passa de uma
arrogância insensata. É o Pai, por meio de Jesus, ou é o repouso por meio de
Jesus, ou não é nada. E assim que o autor determina a finalidade da pessoa de
Jesus Cristo.
Richard
S. Taylor. Comentário Bíblico Beacon.
Hebreus. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 48-49.
«...Deus é fiel...» E
isso pelas razões expostas em seguida —ele exerce controle sobre todas as
tentações que sobrevêm ao crente em sua vida, ele permite somente aquelas
tentações que podem ser toleradas, sem importar se essas assumem a forma de
testes, de sofrimentos, de perseguições ou de incitações para a prática do mal.
Além disso, Deus provê sempre um meio de escape, quando somos assediados pelas
tentações, desviando aquelas outras que, de modo algum, poderíamos suportar.
Sim, Deus é «...fiel...» no sentido de «digno de confiança», como alguém em
quem se pode confiar, no que diz respeito a essa questão das tentações.
A Fidelidade De Deus
1. Existe o «poder de
Deus», que nos guarda, escudado em sua promessa (ver I Ped. 1:5).
2. Os próprios
castigos divinos são planejados com o propósito de aprimorar a nossa
espiritualidade, e não meramente com a finalidade de punir-nos pelo mal que
tivermos praticado. Esse é um dos aspectos da fidelidade de Deus para com os
seus «filhos», nos quais ele está formando a imagem do Filho.
3. As tentações
diárias são controladas por Deus. Ê fatal que venham essas tentações, mas não
chegam a nós sem qualquer razão, e sempre tendem para o nosso bem.
4. Os pais terrenos
podem castigar seus filhos por mero capricho (ver Heb. 12:10), mas Deus jamais
age dessa maneira, pois todos os problemas da vida, que envolvam ou não o
pecado, são presentes que nos são dados a fim de encorajar-nos a prosseguir no
caminho espiritual e aprimorar a nossa espiritualidade. (Ver João 7:6; 11:4 e
Atos 7:9,10 acerca da «providência divina»).
«...não sejais
tentados além das vossas forças...» Um crente conta com reservas de forças até
mesmo para enfrentar os poderes espirituais malignos. Não obstante, compete-lhe
utilizar-se de certos meios para desenvolver esses recursos, a fim de que possa
usá-los prontamente quando isso se tornar necessário. Precisa ter certo nível
de espiritualidade, desenvolvido mediante a oração, a meditação, a comunhão com
o Espírito Santo, a transformação segundo a imagem moral de Cristo. O próprio Cristo
e o exemplo supremo das reservas de forças espirituais que resguardam o homem
de Deus contra qualquer modalidade de tentação. As passagens de Heb. 2:18 e
4:15 mostram-nos que Jesus foi tentado em todos os pontos em que também o
somos, embora jamais tivesse cedido ao pecado Cristo Jesus não pecou, não
porque não pudesse, fazê-lo; pois, nesse caso, não serviria de exemplo e de
consolo para nós. Mas não pecou porque o seu desenvolvimento espiritual,
através da presença do Espírito Santo, era tão grande que foi capaz de resistir
às formas mais variegadas e difíceis de tentação, incluindo a «incitação ao
pecado», as «tribulações», as «perseguições» e os «momentos difíceis».
Por Que Ê Importante
Resistir a Tentação?
1. A tentação, se não
for dominada, destrói a fibra moral. Mas, uma vez que lhe oferecemos
resistência, isso melhora a qualidade moral do nosso ser. Aquele hino que diz:
«Cada vitória te ajudará a outra vitória conquistar», encerra grande verdade.
2. Há uma
bem-aventurança especial pronunciada em prol daqueles que resistirem às
tentações, a saber, a «coroa da vida», e isso por promessa de Deus (ver Tia.
1:12).
3. Isso significa que
a santificação conduz à glória, o que é um tema ensinado em vários lugares do
N.T. (Ver Mat. 5:48 e II Tes. 2:13). Por conseguinte, a transformação moral é
que nos leva à transformação metafísica, dentro da qual chegamos a compartilhar
da própria natureza do Filho (ver II Cor. 3:18).
4. Os testes, por si
mesmos, podem ser forças que nos ajudem em nosso desenvolvimento espiritual;
isso é explicado abundantemente em Atos 14:22, onde há notas sobre o tema.
Tiago expressou essa
mesma ideia de maneira um tanto mais poética, ao dizer: «Bem-aventurado o homem
que suporta com perseverança a provação; porque, depois de ter sido aprovado,
receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam» (Tia. 1:12).
Sim, a verdadeira bem-aventurança espiritual é conferida ao homem digno de
receber a coroa da vida, isto é, o dom da vida eterna, com a consequente
participação em tudo quanto Cristo é e tem, a glorificação em Cristo. (Quanto a
notas expositivas gerais sobre as «coroas», ver II Tim. 4:8. Quanto ao
«tribunal de Cristo», ver II Cor. 5:10. Quanto aos «galardões», ver I Cor.
3:8,14).
A resistência às
tentações, em suas variegadas formas, aumenta o poder do crente. Mas a cessão
ante as mesmas destrói as defesas espirituais dos remidos. (Quanto a como as
tribulações podem ser uma bênção, ver Rom. 5:3. Quanto à «persistência», como
uma qualidade espiritual, ver Rom. 5:3.
Quanto a notas
expandidas sobre os «resultados benéficos da perseguição e dos sofrimentos»,
ver Atos 14:22, que se aplicam diretamente a este versículo).
«...juntamente com a
tentação...» No original grego temos «...o livramento...», com o artigo
definido, o que certamente indica «o meio de escape». Mui provavelmente isso
quer dizer que no caso de cada tentação, manifestar-se-á alguma maneira pela
qual podemos escapar ao mal, algum meio que nos capacite a suportar a dor e a
tristeza. O «meio de escape» é sempre adaptado a cada circunstância. O pecado
se faz presente e é poderoso; nenhum indivíduo escapa à tentação à prática do
mal. Mas esse não é o «escape» prometido. Testes de ordem física e espiritual,
grandes tragédias, são acontecimentos poderosos, debilitadores,
desencorajadores, algumas vezes avassaladores; mas Deus sempre se mantém
próximo do crente. Paulo promete aqui alguma ajuda divina em cada caso, embora
não especifique exatamente o que devemos esperar. E essa «ajuda» será tão variegada
como as tribulações.
Ele (Deus) conhece os
poderes que nos conferiu, bem como quanta pressão somos capazes de resistir.
Não permitirá que sejamos vítimas das circunstâncias que ele mesmo determinou
para nós e ‘impossibilita non jubet’...Tentação é provação, e Deus ordena as
provações de tal modo que ‘sejamos capazes de suportá-las’. O ‘poder’ é
conferido paralelamente com a ‘tentação’, embora a resistência não nos seja proporcionada;
essa resistência depende de nós mesmos». (Robertson e Plummer, in loc.).
«É uma demonstração
de covardia cedermos à tentação, bem como um voto de desconfiança a Deus».
(Robertson, in loc.).
A parte seguinte do
presente versículo deixa entendido que o «escape» só aparece através da
resistência e da persistência do crente.
«...de sorte que a
possais suportar...» Notemos que não nos é dado o «escape» por meio da ausência
de toda a tentação; nem nos é outorgado o «escape» porque logo somos livres da
tribulação. Antes, esse «escape» nos é proporcionado ‘porque’ temos podido
resistir e chegar ao triunfo. Somente essa forma de escape e de disciplina é
que pode produzir qualquer crescimento cristão substancial.
«Com frequência, o
único ‘escape’ se verifica através da ‘resistência’. Ver Tia. 1:12». (Vincent,
in loc.).
«Fechem-se em um 'cul
de sac ’ os desesperos de um homem; mas que ele veja uma porta aberta para sua
saída; e ele continuará lutando, levando a sua carga. A palavra grega ‘ekbasis’
(escape) significa ‘saída’, escape para longe da luta. Logo em seguida aparece
‘upenegkein’ (sustentar debaixo de algo), em que esta última ação é
possibilitada pela esperança relativa àquela primeira. Quão diferente é tudo
isso da consolação estoica dos suicidas: ‘A porta continua aberta’! No caso
desta epístola aos Coríntios, a ideia de ‘tentação’ deve incluir tanto as atrações em
direção à idolatria como as perseguições que o abandono da idolatria envolve».
(Findlay, in loc.).
«Neste versículo
encontramos talvez a exposição mais pratica, e, portanto, mais clara, que se pode
achar acerca da doutrina do livre-arbítrio humano, em relação ao poder governador de
Deus. Deus abre a estrada, mas o próprio homem deve ‘caminhar’ por ela. Deus
controla as circunstâncias;
mas o homem se utiliza delas. É nesse ponto que jaz a sua responsabilidade como
homem». (John Short, in loc).
«.. .A providencia de
Deus abre um caminho em meio a teia. Deus sempre abre uma brecha nessa fortaleza doutra
maneira inexpugnável. No caso de alguma alma reta entrar em dificuldades e
apertos, podemos descansar certos de que haverá um ‘meio de escape’, tal como houve
uma ‘entrada’; e também
que o teste jamais ultrapassará as forças que Deus dá a cada qual, para que possa
suportar à prova». (Adam Clarke, in loc.).
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 154-155.
Além disso. Deus
promete dar também o escape para que possamos suportar e não cair em pecado.
Será necessário ter autodisciplina para procurar esse “escape” até no meio da
tentação e então utilizá-lo, assim que for encontrado. O escape é sempre
difícil e muitas vezes exige a ajuda dos outros. Uma das formas que Deus nos dá
para que consigamos fugir da tentação é o bom senso. Se um crente sabe que será
tentado em certas situações, então deve se afastar delas. Outra forma é através
dos amigos cristãos. Em vez de tentar enfrentar sozinho a tentação, o crente
pode explicar o seu dilema a um amigo cristão que lhe seja íntimo e confiável e
pedir a sua ajuda.
Esse amigo poderá
orar, sensibilizar a pessoa, e dar valiosos conselhos e opiniões. A verdade é
que Deus ama tanto o seu povo, que irá protegê-lo das tentações insuportáveis.
E sempre irá oferecer uma saída.
A tentação nunca deverá
inserir uma barreira de separação entre o crente e Deus, e cada crente deve ser
capaz de dizer: “Obrigado, Senhor Deus, por confiar tanto em mim. O Senhor me
considera capaz de enfrentar essa tentação. Agora, o que o Senhor quer que eu faça?”
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 149
“Mas Deus é fiel e
não permitirá que sejais tentados além de vossas forças; pelo contrário,
juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais
suportar.” A igreja pode possuir ambas as coisas que fazem parte da essência da
fé. A verdadeira fé vê toda a seriedade da vida. Mede os perigos das tentações
e está disposta ao empenho extremo com todas as forças. Isso corresponde à
imagem do atleta traçada por Paulo. No entanto a fé vê simultaneamente a Deus,
pairando acima de tudo com sua fidelidade e, como uma criança no colo da mãe,
repousa na palavra e nas promessas de Deus, experimentando por isso aquele
―desfecho‖ das provações que no final a apresenta ―irrepreensíveis no Dia de
nosso Senhor Jesus Cristo‖ (1Co 1.8), porque ―Deus é fiel‖ (1Co 1.9).
Werner
de Boor. Comentário Esperança Cartas aos I Corinto.
Editora
Evangélica Esperança.
2. Fortalecimento
após a tentação (v.2).
Tg 1.2 “Por várias
provações”: constam aí os momentos altos e baixos, a aflição na vida pessoal e
na vida dos semelhantes, as dificuldades econômicas e profissionais (os
cristãos daquele tempo eram em grande medida pessoas simples, em parte
escravos), as pessoas com as quais lidamos diariamente e que nos dificultam as
coisas. – Agregam-se a essas as aflições específicas que atingem os cristãos:
as pessoas em torno deles os ridicularizam, deixam de lado, observam com a
finalidade de poder criticar. Naquele tempo os judeus, com os quais, afinal, tinham
tanto em comum, hostilizavam os cristãos. Cada vez mais também os
representantes do poder estatal romano, de altos e baixos escalões, os viam com
suspeita. Essas tribulações são “várias”, “multiformes”. Vêm de todos os lados.
São “coloridas”, como também se pode traduzir. Às vezes a situação se torna
“variada” demais para nós.
“Entrardes”: entra-se
em tais provações como em uma tempestade repentina. Há pouco o sol ainda
brilhava amistosamente. Despreocupados seguíamos a jornada. Mas de repente
precipita-se sobre nós a aflição, vinda de um lado inesperado. Ficamos
deprimidos e arrasados. Também os cristãos daquele tempo podem ter pensado:
como seria bela a vida, se não existisse isso!
É verdade que a
Bíblia nos diz que não precisamos ocultar quando também estamos tristes em
diversos tormentos (1Pe 1.6). Sim, ela nos diz que o próprio Jesus esteve
triste quando atribulado (Mt 26.38; Hb 5.7). Mas Tiago escreve: a rigor, deveis
e podeis vos alegrar com vossas tribulações.
Fritz
Grünzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Tg 1.2 Como pode
alguém ter grande gozo ao passar por tentações ou provações? Esta é uma
recomendação admirável – devemos decidir ficar alegres em situações em que a alegria
seria, naturalmente, a nossa última reação. Quando determinadas circunstâncias nos
irritam e nós queremos culpar o Senhor, Tiago nos dirige para a alternativa
mais saudável - a alegria. Aqueles que confiam em Deus devem exibir uma
resposta positiva e radicalmente diferente diante dos eventos difíceis da vida.
A nossa atitude deve
ser de alegria genuína.
Não é uma alegre
previsão antes das provações.
Ao contrário, é a
alegria durante as provações.
A alegria baseia-se
na confiança no resultado da provação. É a percepção surpreendente de que as provações
representam a possibilidade de crescimento. Por outro lado, muitas pessoas ficam
felizes quando escapam às dificuldades.
Mas Tiago nos
incentiva a sentirmos alegria pura mesmo diante das dificuldades. Tiago não
está incentivando os crentes a fingirem estar felizes. Alegrar-se vai além da
felicidade.
A felicidade
concentra-se em circunstâncias terrenas e no quanto as coisas vão bem por aqui.
O gozo concentra-se em Deus e na sua presença em nossas experiências.
A palavra “quando”
não deixa muito espaço para a dúvida. Somos encorajados a nos sentir alegres
quando passarmos por todos os tipos de aflições, e não se as enfrentarmos.
Provações, problemas,
situações adversas podem roubar a nossa alegria se não adotarmos a atitude
correta. De onde vem este problema? Os problemas e as tentações que enfrentamos
podem ser dificuldades que vêm de fora ou tentações que vêm de dentro. Um
problema pode ser uma situação difícil que põe à prova a fé de uma pessoa, como
uma perseguição, uma decisão moral difícil, ou uma tragédia. O caminho da vida
está cheio de tais provações.
Suportar a provação
não é suficiente. O objetivo de Deus ao permitir que ocorra este processo é
desenvolver a maturidade completa em nós.
Considerar que os
seus problemas podem ser motivo de alegria vem da atitude de ver a vida tendo
em mente a perspectiva de Deus.
Podemos não ser
capazes de compreender as razões específicas para Deus permitir que determinadas
experiências nos esmaguem e esgotem, mas podemos estar confiantes de que o seu
plano é para o nosso bem. O que pode parecer desanimador ou impossível para nós
nunca parece da mesma maneira para Deus!
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 662-663.
Tg 1.2. Tiago abre
sua carta com dois aspectos bastante característicos. Ele chama seus leitores
de meus irmãos, uma forma de tratamento que ele utiliza catorze vezes (três
delas acompanhadas da qualificação “amados”), principalmente para introduzir
uma nova divisão. Esta forma de tratamento afetuoso confere um forte tom
pastoral a muitas exortações da carta. E, em segundo lugar, ele expressa uma
ordem: tende por motivo de toda a alegria. A ordem é categórica e sugere a
necessidade de uma decisão definitiva no sentido de se tomar uma atitude
alegre. “toda a” modificando “alegria” pode sugerir que a alegria não deve
estar misturada com outras emoções — “tende por motivo de somente alegria” —
mas provavelmente enfatize em primeiro lugar a qualidade da alegria (BJ,
“grande alegria”). O que é notável nesta ordem é que ela se aplica a uma
situação em que uma reação de alegria não seria muito natural: o passardes por
várias provações. A palavra traduzida como “provações”, peirasmos, tem dois
significados básicos no Novo Testamento. Ela pode se referir à atração interna ao
pecado, como em 1 Timóteo 6.9: “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação
e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam
os homens na ruína e perdição”. Em outros casos, ela se aplica a aflições
externas, especialmente perseguições (cf. 1 Pe 4.12). E provável que em vários
versículos os dois significados estejam incluídos (e.g. Mt 26.41 e paralelos).
No presente
versículo, o uso de passardes (literalmente, “cair em”) e a substituição de
peirasmos por “prova” (ARC), no versículo 3, favorecem bastante o segundo
significado. Devido à qualificação várias, provavelmente devamos pensar tanto
nas dificuldades comuns a todas as pessoas bem como em adversidades específicas
que os cristãos precisam enfrentar, como resultado da fé que possuem. Assim, as
doenças (cf. 5.14), dificuldades financeiras (cf. 1.9) e perseguições
econômicas e sociais (cf. 2.6) estariam todas incluídas nas várias provações.
Quaisquer que sejam as provações, elas devem ser consideradas pelos crentes
como uma ocasião para regozijo.
Douglas J. Moo. Tiago. Introdução
e Comentário. Editora
Vida Nova. pag. 59.
I Ped 1.7 Embora Deus
possa ter diferentes objetivos nas provações que o seu povo enfrenta, um
resultado preponderante de todas as provações está claro: elas provam a fé das
pessoas, mostrando que esta fé é forte e pura. Para Deus, a fé dos crentes é
muito mais preciosa do que o ouro, a substância mais valiosa e durável daquela
época.
A fé verdadeira é
indestrutível e durará por toda a eternidade. No entanto, ela pode suportar o
fogo das provações, lutas e perseguições que a purificam, removendo impurezas e
defeitos. Deus valoriza uma fé provada pelo fogo (ou pelas “dificuldades”).
Por meio das
provações, Deus queima a nossa autossuficiência e as nossas atitudes egoístas, para
que a nossa autenticidade possa refletir a sua glória e lhe traga louvor.
Como as provações
provam a força e a pureza da fé de alguém? Uma pessoa que vive uma vida
confortável pode achar muito fácil ser um crente. Mas conservar a fé diante do
ridículo, da calúnia, da perseguiçáo ou até mesmo da morte prova o verdadeiro valor
daquela fé. Esta fé resulta em louvor, honra e glória concedidos aos crentes
pelo próprio Deus, quando Jesus Cristo retornar (na revelação) para julgar o
mundo e levar os crentes para casa.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 706.
I Ped 1.7 Na
sequência é exposta a finalidade das provações: para que o que é autêntico de
vossa fé seja constatado como muito mais precioso que ouro perecível, que é
apurado por fogo, para louvor e glória e honra na revelação de Jesus como
Messias. O presente versículo tem por base uma comparação frequente na Bíblia
(Sl 12.6; Pv 17.3; 27.21; Ml 3.3). Para saber se o ouro é autêntico, ele
precisa ser derretido no fogo. Isso não afeta o ouro em nada, mas todas as
impurezas são expulsas no processo, e aquilo que é autêntico, que realmente tem
valor, se destaca com pureza. Pelo fato de a fé frequentemente se misturar a
diversas impurezas, Deus precisa realizar um processo de derretimento. Assim
como a depuração do ouro, também o sofrimento deve ser visto positivamente como
teste para a fé. Essa visão pode ajudar decisivamente na aflição. Para que o
que é autêntico de vossa fé seja constatado como muito mais precioso. Por que é
a fé preciosa? Por nos dar paz no coração ou ajuda para viver? O aspecto mais
grandioso dela é que honra a Deus: para louvor e glória e honra. Sem fé é
impossível agradar a Deus (Hb 11.6). E sem fé é impossível honrar a Deus e lhe
servir. Porém, o real cumprimento de sentido de nossa vida é que “sejamos algo
para o louvor de sua glória” (Ef 1.12). Já para um ser humano representa uma
honra ser alvo de confiança. Isso vale também perante Deus: a criatura honra
seu Criador, o filho de Deus honra seu Pai, confiando nele. No entanto, para
poder honrar a Deus, a fé tem de ser autêntica. Por isso tem de ser provada por
causa da honra de Deus. Tudo isso se revestirá de um peso particular pela
revelação de Jesus como Messias. Esse é o ponto para o qual tudo converge. Esse
é o próximo grande evento no curso da história da salvação: o desprezado
Nazareno será revelado com sua dignidade messiânica. Agora ainda está oculto.
Quando, porém, Jesus se tornar visível, também o que é autêntico na fé de sua igreja
sofredora passará a ser nitidamente manifesto. Isso há de acontecer para a
honra de Deus. Ainda que o diabo concentre toda a sua intenção em arrastar as
pessoas para longe de Deus em sua rebelião antidivina, naquele dia com certeza
será flagrante que não teve sucesso em incontáveis pessoas (Ap 7.9s). Chama
atenção que o texto deixa em aberto a questão de a quem, afinal, são dirigidos
o louvor e a honra. Certamente o faz de forma pensada. Porque a glorificação do
Redentor em sua revelação é ao mesmo tempo a revelação e glorificação de seus
redimidos (Rm 8.17; 1Jo 3.2), e em tudo isso são conferidos louvor, glória e
honra ao próprio Pai. Porque o alvo é a honra de Deus (1Co 15.28). É para isso
que Jesus virá, para “ser glorificado em seus santos e ser admirado em todos
que vieram a ele” (2Ts 1.10). “Quando, porém, se manifestar o Messias, nossa
vida, então também vós sereis manifestos junto com ele em glória” (Cl 3.4).
Fritz
Grünzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
«...o valor da vossa
fé ... confirmado...* No grego, o primeiro substantivo abstrato é *dokimion*.
Esse termo pode significar «teste», «prova», sendo assim que alguns intérpretes
o entendem. Nesse caso, a provação mesma se torna preciosa, devido a seus
gloriosos resultados. Mas outros pensam que a palavra deve ser entendida no
sentido dc «genuína», pois tal vocábulo era empregado para indicar moedas
«genuínas· ou outros metais preciosos, os quais, apesar de passarem por teste,
demonstram sua autenticidade e pureza. Quando o termo é usado para indicar a
pureza de metais, significa que eles são ·genuínos», livres de mistura com
metais inferiores.
Provavelmente a ideia
de «genuinidade» é que está em foco aqui. O teste mostrará que a fé é genuína,
sem qualquer mistura de incredulidade. Essa fé consiste na outorga da alma a
Cristo, sem espaço para o serviço ao próprio eu, e que seja fé suficientemente
forte para resistir aos assaltos de homens hostis e ímpios.
Aquilo sobre o que
lemos aqui tão pacificamente era uma questão das mais vitais para seus leitores
originais. Alguns deles morreriam na voragem.
Outros ficariam
aleijados; ainda outros seriam aprisionados ou perderiam suas propriedades. E
muitos seriam vilipendiados e expulsos de seus lares.
A fé deles resistiria
ao impacto de tal tratamento? Pedro diz que tais coisas servem somente para
demonstrar a autenticidade da fé; c isso resulta em grande vitória, para louvor
de Deus c para o bem-estar espiritual de seus filhos.
·...muito mais
precioso do que o ouro perecível...» O ouro é testado no fogo. E quanto mais
quente for o fogo, tanto mais puro sairá o ouro. A metáfora metalúrgica
continua em foco. O ouro é precioso; e o tesouro humano é elevadíssimo. O ouro
tem sido, frequentemente, a base da economia. Alguém já disse que o ouro é
amarelo por ser tão cobiçado por homens violentos. Mas, pertence apenas a este
mundo temporal. Finalmente, terá de perecer. E só é mais valioso que os outros
metais por ser mais raro do que eles. Há metais de maior utilidade, pois o ouro
é um metal principalmente decorativo. Teria pouquíssimo valor, se não fosse tão
raro.
Só tem valor porque
os homens lhe atribuem tal valor, e não porque ele tem valor intrínseco.
Existem três espécies de valor: 1. Algumas coisas possuem um valor intrínseco
ou primário, por serem valiosas por si mesmas. Nessa categoria se acha a água
por exemplo. Não podemos viver sem água. 2. Há coisas que possuem um valor
secundário, por causa do uso que lhe podemos dar como se dá no caso de um
instrumento. Seu metal talvez não valha grande coisa; mas a sua ·utilidade» a
torna valiosa. 3. Além disso, há valores terciários ou subjetivos—como quando
uma pessoa atribui valor a uma fotografia, porque está sentimentalmente preso a
ela. O papel é de valor extremamente baixo; outras pessoas não estão
interessadas no mesmo; porém, uma ou mais pessoas poderão dará uma fotografia
um grande valor, devido àquilo que ela representa. O ouro cabe dentro desta
terceira categoria. Só é valioso porque os homens o supõem valioso, em seu raciocínio
subjetivo. Tal raciocínio, entretanto, pode modificar-se. Se descobrirmos
grandes depósitos de ouro em um outro planeta, e esse tornar-se disponível em
grande abundância na terra, o ouro perderá o seu valor relativo.
Não acontece a mesma
coisa com a fé. diz Pedro. Quando é testada no fogo, e é comprovadamente
genuína, terá muito mais valor que todo o ouro da terra. Por essa mesma razão é
que disse o Senhor Jesus: «Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e
perder a sua alma? Que daria um homem cm troca de sua alma?»(Marc. 8:36,37).
Mediante a fé, um homem é «guardado para a salvação», contanto que com ela
combine o poder de Deus e se aproveite do mesmo. A alma é o elemento do homem
dotado de valor primário ou intrínseco, e isso em um grau incalculável.
«O ponto frisado é
que se o ouro temporal tem valor para ser trabalhosamente refinada, quanto mais
a fé se reveste de um valor eterno».
(Hunter. in loc.).
·...mesmo apurado por
fogo...» E preciso um fogo de grau muito elevado para purificar o minério de ouro; mas
os homens se dão a esse trabalho, por causa do resultado obtido. Assim também o
crente, com coragem deveria resistir às chamas da provação, porquanto envolverá
purificações morais; c. se o crente resistir ao teste será o instrumento pelo
qual receberá a salvação divina. O autor sagrado queria dar a entender que Deus
acolhe o indivíduo que sofre, recompensando-o generosamente, porquanto terá
sofrido tudo por amor ao Senhor Jesus Cristo. (As notas expositivas. em Atos
14:22, sugerem muitas maneiras pelas quais as tribulações e as perseguições podem
redundar em nosso benefício).
*...redunde em
louvor...* De quem? Do ·Deus bendito» (ver o terceiro versículo), naturalmente,
porquanto Deus transformará a tragédia em triunfo; c seu Filho será exaltado quando
os filhos de Deus atingirem a imagem e a natureza dele, como parte integrante
de sua herança, quando de sua segunda vinda. Por isso é que Jesus falou da
bem-aventurança do servo que ouviu o Muito bem, servo bom e fiel» (Mat. 25:21).
Ora, vendo que Deus o conduziu em segurança através das provações, para o
beneficio eterno de sua alma. o crente se encherá de louvores ao Senhor. Assim
é que um agnóstico, como John Stuart Mill, pode dizer: «Devemo-nos esforçar por
viver de tal modo que Jesus Cristo aprove a nossa vida». E não temos nisso nenhuma
sugestão inútil. Eventualmente, todos haverão de buscar a sua aprovação,
segundo se vê no primeiro capitulo da epístola aos Efésios c no trecho de Fil.
2:9-11.
Louvor. 1. Deus é
digno de ser louvado (ver II Sam. 22:4): 2. Cristo é digno de ser louvado (ver
Apo. 5:12); 3. Deus é glorificado por nossos louvores (ver Sal. 22:23); 4. O
louvor deve ser oferecido a Cristo; 5. O louvor é aceitável mediante Cristo
(ver Heb. 13:15); 6. Deus merece o louvor devido aos seguintes fatores: a. sua
majestade (Sal. 96:1):
b. sua glória (Sal.
138:5); c. sua excelência (Sal. 148:3); d. sua grandeza (l Crô. 16:25 e Sal.
145:3); e sua santidade (Isa. 6:3).
...glória e honra ...
Essa combinação de qualidades é comum nas páginas do N.T. (Ver Rom. 2 :7,10; I Tim
1:17; Heb. 1:3 e Sal. 8:6).
Porém, em combinação
com o «louvor*, só figura aqui cm todo ο Ν.'Γ. Λ glória e a honra pertencem a
Deus, pelas mesmas razões que o louvor lhe deve ser atribuído, conforme vimos
acima. Esses elementos pertencem exclusivamente a Deus; mas agradou-lhe conferi-los
também aos homens (ver Rom. 2:7,10), quando estes agem bem, de modo que lhe
agrade. Deus é honrado pela vida do crente de fé comprovada; e também receberá
honra verbalmente expressa da parte de tal crente. Deus é honrado pela vida e pelas
palavras desse crente, tal como um pai é exaltado quando seus filhos agem
direito. A glória de Deus se derramará por sobre os homens, e muitos filhos de
Deus, por conseguinte, serão conduzidos à glória (ver Heb. 2:10).
...revelação de Jesus
Cristo... Está em foco a «parousia», tal como nos versículos quinto e décimo
terceiro . A segunda vinda de Cristo será a revelação de sua pessoa e de sua
glória: e assim o homem dará um grande salto à frente, para descobrir o centro
e a razão de sua existência, o que finalmente, haverá de caracterizar a todas
as coisas, conforme explica o primeiro capitulo da epístola aos Efésios. Ele
será então revelado como Salvador, Juiz, Senhor universal, centro de tudo.
razão da existência e alvo de toda a existência. (Comparar com I Cor. 1:7 e II
Tes. 1:7). «Em todas essas passagens, denota a revelação de Cristo em sua
majestade, como Juiz c Galardoador». (Bigg. in loc.). Porém, parece que está
envolvido ainda mais do que isso, segundo é explicado mais acima.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 98.
Lc 4. 1-13. A Tentação de Jesus
Para uma ampla
argumentação sobre as tentações de Jesus, veja os comentários referentes a
Mateus 4.1-11. Mateus e Lucas apresentam a narrativa da Tentação com detalhes,
ao passo que Marcos apenas a menciona (Mc 1.12-13). Naquilo que é o principal,
os relatos de Mateus e Lucas contêm as mesmas informações, mas diferem quanto
aos seguintes aspectos:
1) Eles não mencionam
a segunda e a terceira tentações na mesma ordem. Mateus coloca a tentação de
saltar do pináculo do Templo em segundo lugar, ao passo que no texto de Lucas
ela está em terceiro lugar. A tentação de aceitar os reinos do mundo, então, é
a terceira em Mateus e a segunda em Lucas.
2) Lucas diz que
Jesus foi tentado durante os quarenta dias do jejum e também posteriormente;
Mateus não menciona estas outras tentações.
3) Segundo Mateus,
depois que Satanás mostra a Jesus os reinos deste mundo, ele diz: “Tudo isto te
darei”. Lucas enfatiza a autoridade e a glória destes reinos. De acordo com
Lucas, Satanás diz Dar-te-ei a ti todo este poder (literalmente, “autoridade”)
e a sua glória (6).
4) Quanto à mesma
tentação, em Lucas, acrescenta-se ao texto de Mateus o seguinte: porque a mim
me foi entregue, e o dou a quem quero (6).
5) Na tentação de
saltar do pináculo do Templo, Mateus chama a cidade de “Cidade Santa”, enquanto
Lucas a chama pelo nome, Jerusalém (9). Aqui, o motivo de Lucas é, obviamente,
esclarecer os leitores gentios.
Estas diferenças não
alteram em nada os ensinos relativos à tentação de Jesus.
Barclay intitula esta
seção como “A batalha contra a tentação” e assim a esquematiza: 1) A tentação
de subornar as pessoas com presentes materiais, 2-4; 2) A tentação de fazer
acordos ou concessões, 5-8; 3) A tentação de dar demonstrações sensacionais às
pessoas, 9-12. Poderíamos acrescentar mais uma: 4) As recompensas da vitória
sobre a tentação, 13-14.
Charles
L. Childers. Comentário Bíblico Beacon.
Lucas. Editora CPAD. Vol. 6. pag.
Lc 4.1,2 A palavra
“E” retoma a história de 3.22.
Jesus voltou do
Jordão e foi... ao deserto. Jesus tomou a ofensiva contra o inimigo, o diabo,
indo ao deserto para enfrentar a tentação.
A palavra “diabo” em
grego significa “acusador”; em hebraico, a palavra “Satanás” significa a mesma
coisa. O diabo, que tentou Adão e Eva no jardim, também tentou a Jesus no
deserto. Satanás é um ser real, um anjo criado, mas rebelde e caído, e não um
símbolo ou uma ideia. Ele luta constantemente contra Deus e aqueles que seguem
e obedecem a Deus. Satanás não é onipresente, nem é todo poderoso.
Por meio dos
espíritos malignos sob o seu domínio, Satanás trabalha em todas as partes,
tentando afastar as pessoas de Deus e atraí-las à sua própria escuridão.
A expressão foi
tentado descreve uma ação contínua; Jesus foi tentado constantemente durante os
quarenta dias. O Espírito levou Jesus ao deserto onde Deus pôs Jesus à prova -
não para ver se Jesus estava pronto, mas para mostrar que Ele estava preparado
para a sua missão. Satanás, no entanto, tinha outros planos; ele esperava
distorcer a missão de Jesus tentando-o para fazer o mal. Por que era necessário
que Jesus fosse tentado? A tentação faz parte da experiência humana. Para que
Jesus fosse completamente humano, Ele tinha que enfrentar a tentação (veja Hb 4.15).
Jesus tinha de desfazer o que Adão tinha feito. Adão, embora criado perfeito
cedeu à tentação, e assim o pecado entrou na raça humana. Jesus, por outro
lado, resistiu a Satanás. A sua vitória oferece a salvação aos descendentes de
Adão (veja Rm 5.12-19). Durante estes quarenta dias, Jesus não comeu coisa
alguma, de modo que ao final Ele teve fome. A condição de Jesus como Filho de
Deus não tornava o seu jejum mais fácil; o seu corpo físico sofria a fome
severa e a dor de estar sem alimento. As três tentações registradas aqui
ocorreram quando Jesus estava na sua condição física mais enfraquecida.
Lc 4.3 A primeira
vista, este parece ser um ato relativamente inofensivo, até mesmo uma sugestão
piedosa. Jesus rinha muita fome, então por que não usar os recursos sob o seu comando
e transformar uma pedra em pão? Neste caso, entretanto, o pecado não estava no
ato, mas na razão por trás dele. O diabo estava tentando fazer Jesus tomar um
atalho para resolver o seu problema imediato à custa de seus objetivos de longo
prazo, procurando o conforto através do sacrifício da sua disciplina. Satanás
normalmente trabalha desta forma - persuadindo as pessoas a realizar uma ação,
até mesmo uma boa ação, por um motivo errado ou na hora errada. O fato de que
alguma coisa não seja propriamente errada não significa que é boa para alguém
em determinado momento. Muita gente peca tentando satisfazer desejos legítimos
não incluídos na vontade de Deus, ou, antes do momento definido por Ele.
4.4 Jesus respondeu a
Satanás com o que está escrito nas Escrituras. Nas três citações de Deuteronômio,
encontradas em Lucas 4.4, 8 e 12, o contexto mostra que Israel fracassou em
cada um dos testes. Jesus mostrou a Satanás que embora o teste pudesse ter
feito Israel fracassar, isto não funcionaria com Ele. Jesus compreendia que a
obediência à missão do Pai era mais importante do que comida. Fazer pão para si
teria mostrado que Ele não havia deixado todos os seus poderes de lado, nem se
humilhado e nem se identificado completamente com a raça humana. Mas Jesus recusou-se
a fazê-lo, mostrando que só usaria os seus poderes em submissão ao plano de
Deus.
Lc 4.5,7 O diabo
arrogantemente esperava ter sucesso na sua rebelião contra Deus, afastando Jesus
de sua missão e obtendo a sua adoração. Satanás tentou a Jesus para que Ele
assumisse o mundo como um reino terreno ali mesmo, sem executar o plano de
salvar o mundo do pecado. Para Jesus, aquilo significava obter o seu prometido
domínio sobre o mundo sem passar pelo sofrimento e pela morte na cruz. Satanás
ofereceu um atalho. Mas Satanás não entendeu que o sofrimento e a morte eram parte
do plano de Deus, que Jesus tinha decidido obedecer. O fato de que Jesus
pudesse ver, num momento de tempo, todos os reinos do mundo, apoia a interpretação
de que esta experiência foi visionária. O foco não está na montanha, mas sim
naqueles reinos que estavam (e estão) sob o domínio de Satanás (Jo 12.31).
Satanás ofereceu-se para dar o domínio sobre o mundo a Jesus. Isto desafiava a
obediência de Jesus ao cronograma e à vontade de Deus. A tentação de Satanás, basicamente,
era: “Por que esperar? Eu posso lhe dar isto agora!” Naturalmente, a oferta tinha
uma condição: “Se tu me adorares”. Lc 4.8 Uma vez mais, Jesus respondeu a
Satanás com as Escrituras. Para Jesus, obter o domínio do mundo mediante a
adoração de Satanás seria não apenas uma contradição (Satanás ainda estaria no
comando), mas também romperia o primeiro mandamento, “Adorarás o Senhor, teu
Deus, e só a ele servirás” (Dt 6.4,5, 13). Para realizar a sua missão de trazer
salvação ao mundo, Jesus precisaria seguir o caminho da submissão a Deus.
Lc 4.9-11 O templo
era o edifício mais alto em Jerusalém e o seu pináculo provavelmente era o
canto da parede que se projetava sobre a encosta. Se o diabo levou Jesus
fisicamente a Jerusalém ou se isto aconteceu numa visão não está claro. De
qualquer forma, Satanás estava arrumando o cenário para a sua próxima tentação.
Jesus tinha citado as Escrituras em resposta às outras tentações de Satanás.
Aqui Satanás tentou a mesma tática com Jesus; ele usou as Escrituras para
tentar convencer Jesus a pecar! Satanás estava citando o Salmo 91.11,12 para apoiar
a sua solicitação. Este salmo descreve a proteção de Deus para aqueles que
confiam nele. Obviamente, Satanás interpretou as Escrituras erroneamente,
tentando fazer parecer que Deus protegeria os seus até mesmo em meio ao pecado,
removendo as consequências naturais dos atos pecaminosos.
Saltar do pináculo
para testar as promessas de Deus não era parte da vontade de Deus para Jesus.
No contexto, o salmo promete a proteção de Deus para aqueles que, enquanto de
acordo com a sua vontade e fiéis a Ele, se encontrassem em perigo. Ele não
promete a proteção para crises criadas artificialmente, nas quais os cristãos
chamam a Deus para testar o seu amor e o seu cuidado.
Lc 4.12 Jesus
novamente respondeu citando as Escrituras: no entanto, Ele usou as Escrituras com
uma compreensão do verdadeiro significado. Os fatos eram que embora Deus prometa
proteger o seu povo, Ele também exige que ele não o tente. Na passagem em Deuteronômio
6.16, Moisés estava se referindo a um incidente durante a peregrinação de
Israel no deserto, registrada em Êxodo 17.1-7.0 povo tinha sede e estava
disposto a fazer um motim contra Moisés e retornar ao Egito, se ele não lhes
desse água. Para Jesus, saltar do pináculo do templo teria sido um teste
ridículo ao poder de Deus, e teria estado fora da vontade de Deus.
Jesus sabia que seu
Pai poderia protegê-lo. Ele também entendia que todas as suas ações deveriam
concentrar-se no cumprimento da missão de seu Pai.
Lc 4.13 Este seria
somente o primeiro de muitos encontros que Jesus teria com o poder de Satanás.
A vitória pessoal de Jesus sobre Satanás no verdadeiro início do seu ministério
definiu o cenário do seu comando sobre os demônios por todo o seu ministério,
mas não dissuadiu a Satanás de continuar a tentar arruinar a missão de Jesus. A
sua vitória sobre o diabo no deserto foi decisiva, mas não final, pois o diabo ausentou-se
dele por algum tempo.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 340-342.
As últimas palavras
do capítulo anterior, de que Jesus era o Filho de Adão, revelam-no como a
semente da mulher; sendo assim, temos o Senhor aqui, de acordo com a promessa,
pisando na cabeça da serpente, frustrando e derrotando o diabo em todas as suas
tentações, que por uma única tentação havia frustrado e derrotado os nossos
primeiros pais. Portanto, no início da guerra, Jesus fez represálias a ele, e
venceu aquele que no passado havia sido o vencedor.
Nesta história da
tentação de Cristo, observe:
I Como Ele foi
preparado e equipado para ela. Aquele que permitiu a tribulação proveu aquilo
de que o Senhor Jesus precisava para vencer; porque embora não saibamos que
exercícios possam estar diante de nós, nem para que encontros podemos estar
reservados, Cristo sabia, e teve aquilo que era necessário; e Deus faz o mesmo
por nós, e esperamos dele tudo o que nos é necessário.
1. Ele estava cheio
do Espírito Santo, que havia descido sobre Ele como uma pomba. O Senhor Jesus
tinha agora medidas maiores de dons, graças e consolações do Espírito Santo do
que antes. Note que aqueles que estão cheios do Espírito Santo é que estão bem
armados contra as tentações mais fortes.
2. Ele havia retornado
do Jordão recentemente, onde foi batizado, e reconhecido por uma voz do céu como
sendo o Filho Amado de Deus; e assim E le foi preparado para este combate. Note
que quando tivermos a mais consoladora comunhão com Deus, e as descobertas mais
claras de seu favor a nós, podemos esperar que Satanás nos ataque (o navio mais
rico é o prêmio do pirata), e que Deus permitirá que ele faça isso, para que o
poder de sua graça possa ser manifestado e exaltado.
3. Ele foi levado
pelo Espírito ao deserto, pelo Espírito bom, que o conduziu como um campeão
para o campo, para lutar contra o inimigo que Ele certamente iria derrotar. O
fato de ser levado ao deserto:
(1) Deu alguma vantagem
ao tentador; porque ali ele o teve sozinho, sem a companhia de amigos, por
cujas orações e conselhos o Senhor Jesus poderia ser ajudado na hora da
tentação. Ai daquele que está sozinho! Ele poderia dar vantagem a Satanás, pois
conhecia a sua própria força; mas nós não podemos, pois conhecemos a nossa
própria fraqueza.
(2) Ele ganhou alguma
vantagem para si durante este jejum de quarenta dias no deserto. Podemos supor que
o Senhor estava totalmente concentrado em sua própria consagração, e em
consideração à sua tarefa, e à obra que Ele tinha diante de si; que Ele passou
todo o seu tempo em uma conversa imediata e íntima com o seu Pai, como Moisés
no monte, sem qualquer desvio, distração, ou interrupção. De todos os dias da
vida de Cristo na carne, estes parecem ter se aproximado mais da perfeição da
vida angelical e da vida celestial, e isto o preparou para os ataques de
Satanás. Aqui o Senhor Jesus foi fortalecido contra eles. 4. Ele continuou
jejuando (v. 2): E naqueles dias não comeu coisa alguma. Este jejum foi
totalmente miraculoso, como o jejum de Moisés e de Elias, e o revela, como a
eles, um profeta enviado por Deus. E provável que este episódio tenha ocorrido
no deserto de Horebe, o mesmo deserto no qual Moisés e Elias jejuaram. Assim como
ao se retirar para o deserto, Ele se mostrou perfeitamente indiferente ao
mundo, por seu jejum Ele se mostrou perfeitamente indiferente ao corpo; e
Satanás não pode dominar facilmente aqueles que se desprendem e morrem para o
mundo e para a carne. Quanto mais mantivermos a nossa carne em sujeição, menos vantagens
Satanás terá contra nós.
II Como o Senhor
Jesus foi atacado por uma tentação atrás da outra, e como Ele derrotou o plano do
tentador em cada ataque, e se tornou mais do que vencedor. Durante os quarenta
dias, Ele foi tentado pelo diabo (v. 2), não por uma sugestão interior, porque o
príncipe deste mundo não tinha nada em Cristo, e assim não tinha como injetar
qualquer coisa nele, mas por solicitações exteriores, talvez com a aparência de
uma serpente, como tentou os nossos primeiros pais. Mas no final de quarenta
dias Satanás se aproximou mais, e fez o que estava ao seu alcance, ao perceber
que o Senhor Jesus estava com fome, v. 2. Provavelmente, o nosso Senhor Jesus
começou a olhar ao redor entre as árvores, para ver se poderia achar algo que
fosse comestível, quando então o diabo aproveitou a ocasião para lhe fazer a
sua proposta.
1. Ele o tentou a não
confiar no cuidado de seu Pai em relação a Ele, e a agir por conta própria, e a
ajudar-se a si mesmo provendo o sustento de uma maneira que o seu Pai não havia
designado (v. 3): Se tu és o Filho de Deus, como a voz do céu declarou, dize a
esta pedra que se transforme em pão. (1) “Eu te aconselho a fazer isto; porque
Deus, se é teu Pai, se esqueceu de ti, e demorará muito antes que Ele envie
corvos ou anjos para te alimentar”. Se começarmos a pensar em sermos os nossos
próprios escultores, e vivermos pela nossa própria previsão, sem dependermos da
providência divina, se quisermos obter riquezas pelo nosso poder e pela força das
nossas mãos, podemos considerar isto como uma tentação de Satanás, e devemos
consequentemente rejeitá-la; pensar em ser independente de Deus é um conselho de
Satanás. (2) “Eu te desafio, se tu o podes; se não o fizeres, direi que não és
o Filho de Deus; porque João Batista disse recentemente que Deus pode suscitar,
das pedras, filhos a Abraão, que é o maior; portanto, tu não tens o poder do
Filho de Deus, se não transformares as pedras em pão para ti mesmo, quando
necessitares. E este é um milagre menor” . Assim, o próprio Deus foi tentado no
deserto: Poderá Deus preparar uma mesa no deserto? Poderá dar pão? Salmos
78.19,20.
Agora: [1] Cristo não
cedeu à tentação; Ele não transformaria aquelas pedras em pães; não, embora
estivesse com fome; Em primeiro lugar, porque Ele não faria o que Satanás lhe
ordenou que fizesse, pois isto seria como se tivesse havido um pacto entre o
Senhor e o príncipe dos demônios. Note que não devemos fazer nada que se pareça
com a atitude de dar lugar ao diabo. Os milagres foram operados para a
confirmação da fé, e o diabo não tinha fé para ser confirmada; portanto o
Senhor Jesus não faria isto por ele. Ele operou os seus sinais na presença dos
seus discípulos (Jo 20.30), e particularmente o início de seus milagres,
transformando água em vinho, o que Ele fez para que os seus discípulos pudessem
crer nele (Jo 2.11); mas aqui no deserto o Senhor Jesus não tinha nenhum
discípulo em sua companhia.
Em segundo lugar, Ele
operou milagres para a ratificação de sua doutrina, e, portanto, até que
começasse a pregar, Ele não começaria a operar milagres. Em terceiro lugar, Ele
não operaria milagres para si mesmo e para o seu próprio sustento, para que não
parecesse impaciente pela fome, porquanto o Senhor Jesus não veio para agradar
a si mesmo, mas para sofrer a dor, e esta seria apenas uma dor entre outras.
Ele também mostraria que não agradou a si mesmo, e iria, antes, transformar água
em vinho para crédito e conveniência de seus amigos, e não pedras em pão para o
seu próprio sustento, mesmo que isto parecesse necessário. Em quarto lugar, Ele
reservaria a prova de ser o Filho de Deus para mais adiante, e preferia ser
censurado por Satanás por se comportar como fraco, e incapaz de fazê-lo, do que
ser persuadido por Satanás a fazer o que lhe convinha fazer.
Desse modo, o Senhor
Jesus foi censurado por seus inimigos como se não pudesse salvar a si mesmo, e
descer da cruz, quando Ele de fato poderia ter descido; mas não o faria, porque
não convinha que o fizesse. Em quinto lugar, Ele não faria nada que parecesse
falta de confiança em seu Pai, não agiria separadamente dele, e não faria qualquer
coisa que estivesse em desacordo com a sua condição atual. Sendo, em todas as
coisas, feito como os seus irmãos, o Senhor Jesus iria, como os outros filhos de
Deus, viver na dependência da Providência e da promessa divina. Ele confiaria
em Deus Pai, fosse para enviar a provisão necessária ao deserto, ou para
levá-lo à cidade que deveria habitar onde haveria mantimento, como costumava
fazer (SI 107.5-7). E assim, quando o Senhor Jesus tivesse terminado estes
quarenta dias de jejum, o Pai iria supri-lo, embora Ele estivesse com fome
naquele momento.
[2] 0 Senhor Jesus
respondeu utilizando as Escrituras (v. 4): Está escrito. Esta é a primeira
palavra registrada como sendo falada por Cristo depois da instalação de seu
ofício profético; e é uma citação do Antigo Testamento, para mostrar que Ele
veio para declarar e manter a autoridade das Escrituras como algo que não se
pode controlar; Satanás não é capaz de controlá-la. E embora o Senhor Jesus
tivesse o Espírito sem medida, e tivesse uma doutrina própria para pregar e uma
religião para fundar, ela estava de acordo com Moisés e os profetas. O Senhor
Jesus estabelece os escritos destes homens como uma regra para si mesmo, e nos
recomenda que os tenhamos como uma resposta a Satanás e às suas tentações. A
Palavra de Deus é a nossa espada, e a fé nesta preciosa Palavra é o nosso
escudo; devemos, portanto, ser poderosos nas Escrituras, e seguirmos nesta
força, avançarmos, e continuarmos na nossa batalha espiritual, conhecendo o que
está escrito, porque ela é para o nosso aprendizado, para o nosso uso. O texto
das Escrituras que o Senhor Jesus menciona é Deuteronômio 8.3. Em outras
palavras: “O homem não viverá só de pão. Eu não preciso transformar as pedras em
pão, porque Deus Pai pode enviar o maná para o meu sustento, assim como Ele fez
por Israel; o homem pode viver de toda Palavra de Deus, e ser alimentado por
aquilo que Ele determinar”. Como é que Cristo pode ter vivido confortavelmente
durante estes últimos quarenta dias? Não pelo pão, mas pela Palavra de Deus,
pela meditação sobre esta Palavra, e pela comunhão com ela, e com Deus nela e
por ela; e de uma maneira que Ele ainda pudesse viver, embora agora Ele começasse
a ter fome. Deus tem muitas maneiras de sustentar o seu povo, sem os meios
comuns de subsistência.
Portanto, não se deve
em nenhuma circunstância perder a confiança nele, mas em todo o tempo devemos depender
dele, no caminho da obediência. Se faltar o alimento, Deus pode tirar o
apetite, ou dar graus de paciência que permitam que um homem ria da assolação e
da fome (Jó 5.22). O Senhor também pode tornar os legumes e a água mais
nutritivos do que toda a porção do manjar do rei (Dn 1.12,13), permitindo que o
seu povo se alegre nele, mesmo que a figueira não floresça, Habacuque3.17. Uma
crente vigorosa disse que fez das promessas a sua refeição nas ocasiões em que
sofreu a escassez de alimentos.
2. O diabo tentou
Jesus a aceitar dele o reino, o qual, como o Filho de Deus, Ele esperava
receber de seu Pai, e glorificá-lo, w. 5-7. Este evangelista coloca esta
tentação em segundo lugar, a qual Mateus colocou por último, e que, parece, foi
realmente a última; mas Lucas estava absorto por ela, como a mais maligna e a mais
violenta, e, portanto, se apressou em citá-la. Na tentação do diabo aos nossos
primeiros pais, ele lhes apresentou o fruto proibido, primeiro como bom para se
comer, e então como agradável aos olhos; e eles foram dominados por estes dois
encantamentos. Satanás aqui primeiro tentou a Cristo para transformar pedras em
pão, que seria bom para se comer, e então lhe mostrou os reinos do mundo e a
sua glória, que eram agradáveis aos olhos; mas em ambas estas coisas o Senhor Jesus
venceu Satanás, e talvez tendo isto em vista, Lucas muda a ordem. Agora
observe: (1) Como Satanás procurou conduzir esta tentação, para persuadir
Cristo a se tornar tributário a ele, e receber o seu reino das mãos dele. [1]
Satanás trouxe ao Senhor uma perspectiva de todos os reinos do mundo em um
momento, uma representação visionária deles, como ele pensava ser mais provável
de cativar, e parecer uma perspectiva real. Para obter melhor êxito, ele o
levou para este propósito a um alto monte; e, devido ao fato de em seguida,
depois da tentação, encontrarmos a Cristo do outro lado do Jordão, alguns
acreditam que provavelmente o diabo o tenha levado ao topo do Pisga, de onde
Moisés tem a visão de Canaã. O fato de que este foi apenas um espectro que o
diabo, como príncipe do poder dos ares, aqui apresentou ao nosso Salvador, é
confirmado pela circunstância que Lucas aqui faz notar, que tudo se passou em
um momento; enquanto que, se um homem toma a perspectiva de apenas uma nação,
ele deve fazê-lo sucessivamente, deve se virar, e observar primeiro uma parte e
então a outra. Assim o diabo pensou em impor sobre o nosso Salvador uma falácia
- a deceptio visus; ao procurar fazê-lo crer que poderia lhe mostrar todos os
reinos do mundo, Satanás o levaria a uma opinião de que ele poderia lhe dar
todos estes reinos.
[2] Ele ousadamente
alegou que todos estes reinos lhe foram entregues, que ele tinha poder para
dispor deles e de toda a glória deles, e dá-los a quem quisesse, v. 6. Alguns
acreditam que aqui ele se fez passar por um anjo de luz, e que, como um dos
anjos que foi colocado sobre os reinos, ele tinha comprado, ou conquistado,
todos os demais, e, portanto, lhe foi confiada a disposição de todos eles, e,
em nome de Deus, Satanás os daria ao Senhor Jesus, sabendo que eles foram
criados para Ele; mas o impedimento era esta condição, que ele deveria se prostrar
e adorá-lo, o que um anjo bom jamais teria exigido nem admitido, e o Senhor
jamais o faria, nem sequer por coisas muito maiores do que estas, Apocalipse 19.10;
22.9. Mas eu prefiro acreditar que Satanás reivindicou este poder por ser o
próprio demônio, e que este poder lhe foi entregue não pelo Senhor, mas pelos
reis e pelo povo destes reinos, que deram o seu poder e honra ao diabo, Efésios
2.2. Por isso ele é chamado de deus deste mundo, e príncipe deste mundo. Foi
prometido ao Filho de Deus que ele deveria ter as nações por sua herança, Salmos
2.8. “Por que”, diz o diabo, “as nações são minhas, são meus súditos e devotos;
no entanto, serão tuas, eu as darei a ti, sob a condição de me adores por elas,
e digas que elas são as recompensas que dei a ti, como outros fizeram antes de
ti (Os 2.12), e consintas em tê-las sob o meu domínio.”
[3] Satanás exigiu
dele honra e adoração: Portanto, se tu me adorares, tudo será teu, v. 7. Em
primeiro lugar, Satanás deseja que o Senhor o adore. Talvez ele não queira dizer
nunca mais adorar a Deus Pai, mas adorá-lo junto com a adoração oferecida a
Deus Pai; porque o diabo sabe, que se ele conseguir apenas uma vez se fazer
sócio, logo será o único proprietário. Em segundo lugar, Satanás faria um
contrato com o Senhor Jesus, de que quando, de acordo com esta promessa, Ele
tomasse posse dos reinos deste mundo, não faria nenhuma alteração nas religiões
do mundo, mas toleraria as nações como havia feito até aquele momento,
permitindo que sacrificassem aos demônios (1 Co 10.20). Por esta proposta, o Senhor
Jesus deveria ainda manter o culto aos demônios no mundo, e então deixá-lo
tomar todo o poder e a glória dos reinos se lhe agradasse. Que a riqueza e a
grandeza desta terra fiquem para quem quiser; porém, quanto a Satanás, este
nada terá se não tiver o coração dos homens, bem como os seus sentimentos e a
sua adoração. O diabo só pode operar nos filhos da desobediência, e é assim que
ele eficazmente os devora.
(2) Como o nosso
Senhor Jesus triunfou sobre esta tentação. Ele deu à tentação uma repulsa
terminante, e a rejeitou com veemência (v. 8): “Vai-te, Satanás, não suporto a
menção disto. O que? Adorar o inimigo do Deus a quem eu vim servir? e do homem
a quem eu vim salvar? Não, Nunca farei isto.” Uma tentação como esta não era
para ser analisada, mas recusada imediatamente; o assunto foi liquidado com uma
única palavra, Está escrito: Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a Ele servirás;
e não somente isto, mas somente a Ele adorarás; a Ele e a nenhum outro.
Portanto, Cristo não adorará a Satanás, e quando tiver os reinos do mundo entregues
a si por seu Pai, como espera em breve receber, amais permitirá que qualquer
adoração ao diabo continue neles. Onde quer que chegue o seu Evangelho, tudo o
que for maligno será perfeitamente arrancado e abolido. Cristo não fará nenhum
acordo com o diabo. O politeísmo e a idolatria deverão sucumbir, quando se
levantar o reino de Cristo. Os homens devem se converter do poder de Satanás
para Deus, do culto aos demônios para o culto ao único Deus vivo e verdadeiro.
Esta é a grande lei divina que Deus restabelecerá entre os homens, e por sua
santa religião reduzirá o homem à obediência: só Deus deve ser adorado e
servido; portanto, qualquer que toma qualquer criatura como objeto de culto
religioso - mesmo que seja um santo ou um anjo, ou a própria virgem Maria -
frustra diretamente o desígnio de Cristo, e cai no paganismo.
3. O diabo o tentou a
ser o seu próprio assassino, em uma presunçosa confiança da proteção de seu
Pai, da qual Ele não tinha nenhuma garantia. Observe: (1) O que o diabo
pretendia com esta tentação: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo,
v. 9. [1] Ele queria que Cristo buscasse uma nova prova de que era o Filho de
Deus, como se a prova que o seu Pai havia lhe dado, pela voz do céu, e a descida
do Espírito sobre Ele não fossem suficientes. Isto seria uma desonra para Deus,
como se Ele não tivesse escolhido o meio mais adequado de lhe dar esta
garantia; e teria sido uma falta de confiança de que o Espírito habitava nele,
o que era a maior prova e a prova mais convincente de que o Senhor Jesus era o
Filho de Deus, Hebreus 1.8,9. [2] Ele queria que Cristo buscasse um novo método
de proclamar e anunciar isto ao mundo. O diabo, na verdade, sugere que o Senhor
Jesus foi confirmado como sendo o Filho de Deus em uma região afastada, na
companhia de pessoas comuns, que compareceram ao batismo de João, e que estas
honras foram proclamadas nestas condições desfavoráveis; mas se Ele agora
declarasse no pináculo do templo, em meio a todas as pessoas importantes que compareciam
ao serviço no templo, que Ele era o Filho de Deus, e então, para prová-lo, se
lançasse de lá de cima e saísse ileso, com certeza seria recebido por todos
como um mensageiro enviado do céu. Assim Satanás teria feito com que o Senhor Jesus
buscasse honras conforme um plano diabólico (desprezando tudo o que Deus havia feito
a respeito dele), e assim se manifestasse no templo de Jerusalém. Porém Deus
Pai planejou que o Senhor Jesus se manifestasse mais entre os penitentes de
João, por quem a sua doutrina seria mais bem recebida do que pelos sacerdotes.
[3] E provável que o diabo tivesse alguma esperança de que, embora não pudesse
lançá-lo abaixo, causando-lhe algum dano, pudesse convencê-lo a se lançar
abaixo, e a queda poderia ser a sua morte; então o diabo o teria finalmente
fora do caminho. (2) Como o diabo apoiou e reforçou esta tentação. Ele fez a
sua sugestão dizendo, “Está escrito”, v. 10. Cristo havia citado as Escrituras
contra ele; e ele achou que estaria em pé de igualdade com Cristo, e mostraria
que podia citar as Escrituras tanto quanto o Senhor. Os hereges e sedutores têm
procurado perverter as Escrituras, utilizando textos isolados e fora de
contexto, para cometer as piores iniquidades. Mandará aos seus anjos, acerca de
ti, se tu fores seu Filho, que te guardem e que te sustentem nas mãos. E agora
que Jesus estava no pináculo do templo, poderia esperar especialmente esta
ministração de anjos; porque, sendo o Filho de Deus, o templo era o lugar adequado
onde Ele deveria estar (cap. 2.46). E, além disto, se algum lugar debaixo do
sol tivesse uma guarda de anjos constantemente, deveria ser este lugar, Salmos 68.17.
E verdade, Deus prometeu a proteção de anjos para nos encorajar a confiar nele,
não para tentá-lo; a promessa da presença de Deus está conosco, e junto com ela
está também a promessa da ministração dos anjos; mas esta promessa referente
aos anjos não vai além da promessa da presença do Senhor: Eles te guardarão quando
estiveres andando pelo caminho, onde estivei’ o teu caminho, mas não se
presumires voar nos ares. (3) Como o diabo foi frustrado e derrotado na
tentação, v. 12. Cristo citou Dt 6.16, onde é dito, Não tentareis o Senhor,
vosso Deus, desejando um sinal para a prova da revelação divina, quando ele já
entregou o que é suficiente; porque assim fez Israel, quando tentaram a Deus no
deserto, dizendo, Ele nos deu água tirando-a da pedra, mas será que também é
capaz de nos dar carne? Disto Cristo seria culpado se dissesse: Deus Pai
certamente provou que sou o seu Filho, enviando o Espírito sobre mim, a maior
bênção. Mas, será que Ele também poderia me dar uma bênção menor do que esta,
dando ordem aos seus anjos a meu respeito? Qual foi o resultado e o desfecho
deste combate, v. 13. O nosso Redentor vitorioso manteve o seu fundamento, e
saiu vencedor, não só por si mesmo, mas também por nós.
1. O diabo esvaziou a
sua aljava, e assim acabou toda a tentação. Cristo lhe deu a oportunidade de
dizer e fazer tudo o que podia contra si; ele permitiu que o diabo tentasse
toda a sua força, e mesmo assim o derrotou.
Cristo sofreu, sendo
tentado, até que toda a tentação terminou? E não devemos esperar passar por
todas as nossas aflições, atravessando a hora da tentação que nos está
reservada?
2. O diabo então
deixou o campo de batalha: Ausentou-se dele. O diabo viu que era inútil atacar
o Senhor Jesus;
ele não tinha nada nele para que os seus dardos inflamados o atingissem; o
Senhor não tinha nenhum ponto cego, nenhuma parte fraca ou desprotegida em seu
muro; por esta razão, Satanás desistiu do caso.
Observe que se
resistirmos ao diabo, ele fugirá de nós.
3. No entanto, o
diabo prosseguiu em sua maldade contra o Senhor, e partiu decidido a atacá-lo
novamente; ele ausentou-se, mas por algum tempo, achri kairou – até uma outra
hora, ou até o dia em que deveria outra vez ser solto contra Ele, não como um
tentador, para fazê-lo pecai'. O diabo tentaria golpear a cabeça do Senhor, mas
seria totalmente derrotado; mas como um perseguidor, o diabo procuraria fazer
com que o Senhor sofresse através das atitudes de Judas e de outros
instrumentos perversos a quem ele empregou. O diabo feriria o calcanhar do Senhor,
conforme lhe foi dito (Gn 3.15) que deveria fazer, e que faria, mas a própria
cabeça do diabo seria esmagada.
Ele se ausenta agora
até que chegue aquele dia que Cristo chama de poder das trevas (cap. 22.53),
quando o príncipe deste mundo viria outra vez, João 14.30.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 545-549.
3. Felicidade pela
tentação (v. 12).
Rm 5.3-5 Enquanto
aqueles que faziam parte da igreja coríntia tinham falhado em fazer alguma coisa
sobre o pecado deste homem, o próprio Paulo lhes diria o que deveria ser feito.
Paulo tinha avaliado o problema e havia jugado. Como um apóstolo e pai
espiritual desta igreja (4.15), Paulo tinha a autoridade para lidar com o
assunto, e ele compreendia o perigo que haveria para a igreja se o pecado
permanecesse impune. Paulo disse à igreja, em termos bastante claros, que
deveria ser convocada uma reunião de toda a congregação, para que testemunhassem
e apoiassem a ação. Quando eles se reunissem, ele estaria presente no espírito,
porque tinha a autoridade como um apóstolo, e o poder do Senhor Jesus também estaria
com eles quando se reunissem. Toda a situação estava sob o poder soberano que o
Senhor Jesus tem para lidar com o espírito do homem e trazê-lo ao
arrependimento. Paulo explicou a disciplina que deveria ser executada: expulsar
o homem da igreja e entregá-lo nas mãos de Satanás. Isto significaria excluí-lo
da comunhão dos crentes (veja 1 Tm 1.20). Sem o apoio espiritual dos cristãos, este
homem seria deixado sozinho com seu pecado e Satanás, e esperava-se que este
vazio o levasse ao arrependimento. A igreja não poderia entregá-lo a Satanás em
um sentido completamente destrutivo, porque somente Deus pode entregar uma
pessoa para o juízo eterno. O que se pretendia era obrigá-lo a enxergar as
consequências do pecado, através de sua vivência na esfera de influência de
Satanás - o mundo separado de Cristo e da igreja. “Para destruição da came”
significava que a exclusão da comunhão ajudaria o homem a encarar a sua
natureza (carne) pecadora e egoísta, a se arrepender, e a voltar para a igreja.
Paulo queria que este pecador experimentasse a crucificação de sua natureza
pecadora (Rm 7.5,6; Gl 5.24). Tais medidas drásticas podem ser necessárias para
lidar com a natureza pecaminosa, mas para o homem era muito mais importante
encarar isto e arrepender-se, a fim de, no final, ser salvo. Paulo esperava que
esta severa ação disciplinar pudesse trazer um benefício eterno para o homem. Hoje,
as igrejas precisam de determinação espiritual para lidar com pecados como
estes, que afetam a igreja como um todo. Mas a excomunhão como uma forma de disciplina
deve ser usada raramente e cuidadosamente.
Esta deve ser uma
ação do corpo da igreja, e não apenas de uma ou duas pessoas. O seu propósito
deve ser remissivo e restaurador, e não vingativo ou justificativo.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 126-127.
A alegria no
sofrimento (5.3-5a)
A justificação não
apenas nos prepara para o céu, mas também nos equipa para vivermos
vitoriosamente aqui na terra. Paulo não está tratando de algo apenas para o
porvir, mas de algo que nos capacita a viver vitoriosamente em meio às tensões
da vida. Nas palavras de John Stott, há paz, graça e glória, sim! Porém, há
também sofrimento Aquele
que foi justificado demonstra gloriosa alegria não apenas na esperança da
glória, mas também no sofrimento. A força do verbo grego kaucometha indica que
nos alegramos com grande e intenso júbilo. Tanto as tribulações presentes como
a glória vindoura são objetos de júbilo do cristão. Em outras palavras,
regozijamo-nos não somente no alvo, a glória, como também nos meios que
conduzem a ela, isto é, nos sofrimentos. Nestas duas coisas encontramos
alegria. Nessa pedagogia divina, quatro estágios devem ser observados.
Em primeiro lugar,
nós nos gloriamos nas próprias tribulações (5.3). Não somos masoquistas, como
aqueles a quem agrada a dor; tampouco estoicos impassíveis e sofridos. Não nos
gloriamos no sofrimento ou por causa do sofrimento, mas por seus frutos, por
seus resultados. Nossa esperança da glória não pode ser obumbrada ante as
angústias e provações que agora nos cercam. O cristão não olha para a vida com
uma visão romântica, pessimista ou irreal. Não nega a existência da dor e do
sofrimento. Não murmura nem se insurge contra Deus por causa do sofrimento.
Sabe que o sofrimento é proposital e pedagógico. As tribulações devem ser
vistas à luz de suas consequências eternas (IPe 4.12,13).
O cristão não crê em
acaso, coincidência, sorte, azar ou determinismo. Não tem medo de sexta-feira
13 nem de passar debaixo de escada. Sabe que nem um fio de cabelo da sua cabeça
pode ser tocado sem que Deus saiba, permita e tenha um propósito. Concordo com
Geoffrey Wilson quando ele diz que “não existe atalho para a glória; a cruz
sempre precede a coroa (Fp 1.29,30).
Este gloriar-se na
tribulação é um fruto da fé. Não é o efeito natural da tribulação, que, como
vemos, leva grande parte da humanidade a murmurar contra Deus, e até mesmo a
amaldiçoá-lo. E apenas o conhecimento de que essas tribulações são conformes a
determinação de seu Pai celeste, que capacita o cristão a regozijar-se nelas,
pois em si mesmas elas são más, aflitivas, e não causa de júbilo (Hb 12.6;
Ap3.19).
A palavra
“tribulação”, no grego thlipsis, significa “pressão”. John Stott diz que essa
palavra se refere especificamente a oposição e perseguição por parte de um
mundo hostil. No sentido preciso, não se trata aqui de enfermidade, dor,
tristeza ou aflição, mas da pressão de um mundo posto no maligno. A vida cristã
é o enfrentamento de muitas pressões: do diabo, do mundo, de nossas fraquezas.
Jesus deixou claro que no mundo teremos aflições (Jo 16.33) e o apóstolo Paulo
diz: “[...] através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus”
(At 14.22).
A palavra
“tribulação” vem do latim tribulum, o lugar onde se descascava o trigo,
separando o grão da palha. O tribulum. era um pedaço pesado de madeira com
cravos de metal usado para debulhar cereais. Ao ser arrastado sobre os cereais,
o tribulum separava o grão da palha. Quando passamos por tribulações e
dependemos da graça de Deus, as dificuldades nos purificam e nos ajudam a
eliminar a palha. As tribulações na vida do salvo não vêm para destruí-lo, mas
para purificá-lo. Elas não agem contra ele, mas a seu favor. As tribulações não
operam por si mesmas, à revelia, na vida dos salvos, mas são trabalhadas pelo
próprio Deus, para o nosso bem. Por meio das tribulações, Deus esculpe em nós a
beleza de Cristo.
Em segundo lugar,
sabemos que a tribulação produz perseverança (5.3). A tribulação é pedagógica.
Ela gera paciência triunfadora. Não poderíamos exercer a paciência sem o
sofrimento, porque sem este não haveria necessidade de paciência. A paciência
nasce do sofrimento. A palavra grega hupomone significa “paciência
triunfadora”. Trata-se de uma paciência vitoriosa, que não se entrega nem é
passiva, mas triunfa alegremente diante das intempéries da vida. Hupomone é
paciência diante das circunstâncias adversas. E o espírito que enfrenta as
coisas e as supera. Não é o espírito que resiste passivamente, mas o que vence
e conquista ativamente as provas e tribulações da vida. Isso significa saber
que Deus está no controle, forjando em nós o caráter de Cristo no cadinho das
provas.
As grandes lições da
vida, nós as aprendemos no vale da dor. O sofrimento é não apenas o caminho da
glória, mas também o caminho da maturidade. O rei Davi afirmou: “Foi-me bom ter
passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos” (SI 119.71). O
patriarca Jó disse que antes do sofrimento conhecia a Deus só de ouvir falar,
mas por meio do sofrimento seus olhos puderam contemplar o Senhor (Jó 42.5).
Em terceiro lugar,
sabemos que perseverança produz experiência (5.4). A palavra grega dokime,
traduzida por “experiência”, significa literalmente algo provado e aprovado.
Essa palavra era usada para descrever o metal submetido ao fogo do cadinho com
o propósito de remover-lhe as impurezas e torná-lo um metal provado, legítimo e
puro. William Hendriksen diz que, assim como o fogo purificador do ourives
livra o ouro e a prata das impurezas que no estado natural a ele aderem, também
a paciente resignação ou perseverança dos filhos de Deus os purifica.
A palavra dokime,
portanto, significa caráter provado e aprovado como resultado de um teste de
julgamento. Um bom exemplo disso é a experiência vivida por Davi.
Ele não quis a
armadura de Saul porque nunca a havia provado, não a havia submetido à prova. O
que Paulo nos está ensinando é que não devemos ter uma fé de segunda mão.
Devemos conhecer a Deus não apenas de ouvir falar. Devemos conhecê-lo
pessoalmente, profundamente, experimentalmente.
Em quarto lugar,
sabemos que a experiência produz esperança (5.5a). Esta não é uma esperança
vaga nem vazia. E uma esperança segura, que não nos decepciona nem nos deixa
envergonhados. Mas como saber que essa esperança não é uma fantasia nem uma
ficção? A resposta de Paulo é meridianamente clara: porque o amor de Deus é
derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi outorgado. O
apóstolo Paulo diz que o fundamento sólido sobre o qual descansa nossa
esperança de glória é o amor de Deus. Há uma efusão do amor de Deus em nosso
coração. Nesse momento o céu desce à terra e somos inundados pelas profusas
torrentes do amor divino. A justificação não é apenas um ato jurídico de Deus
feito no céu; tem também reflexos concretos e reais na terra. O resultado da
justificação é uma bendita experiência de transbordamento do amor de Deus em
nosso coração.
LOPES. Hernandes Dias. ROMANOS O
Evangelho segundo Paulo. Editora Hagnos. pag. 207-211.
Rm 3-5a Apesar da
frase: “O justo viverá”, vale também a verdade: “Muitas são as aflições do
justo” (Sl 34.19). E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias
tribulações. O justo sempre será como um estilhaço na carne para um mundo de
injustiças (Rm 1.18). É inconcebível que ele permaneça livre de contrariedades,
ameaças e medo. “Filho, se te dedicares a servir ao Senhor, prepara-te para a
prova” (Eclesiástico 2.1 [BJ]). Pressão de todos os lados tenta esmagar
novamente sua fé. As “tribulações” devem ser entendidas aqui como uma síntese.
Elas vêm de fora como de dentro, física, espiritual e intelectualmente, do
exterior como do interior da igreja. Tanto mais admirável é que essa plêiade de
males não apenas é incapaz de obscurecer o gloriar-se e a esperança daquele que
crê, mas que até pode intensificá-los. Pois não se gloria, apesar de sofrer,
mas precisamente porque sofre: sabendo que a tribulação produz perseverança; e
a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Conjugadas com a fé
(v. 1,2), as tribulações produzem uma corrente de reações positivas. Assim como
é possível usar uma escada rolante descendente para subir por ela correndo,
assim é possível superar em direção oposta aquilo que deprime (Rm 8.28).
Subitamente descobrimos o sofrimento para Cristo como sendo um sofrimento com
Cristo, como um presente da mais íntima comunhão com ele e como marca
registrada da autenticidade de nosso seguimento. Isto transmite uma firmeza
antes desconhecida. Provações superadas, porém, resultam em experiência, a qual
por sua vez ativa a esperança pela glória de Deus. Apoiando-se em palavras de
salmos como Sl 22.5; 25.3,20.
Adolf
Pohl. Comentário Esperança Romanos. Editora
Evangélica Esperança.
I Ped 4.12,13 Os
cristãos não deveriam estranhar as violentas provações que vinham sobre eles. Como
Cristo, os cristãos devem esperar enfrentar perseguições. Isto não seria coisa
estranha – a perseguição vinha seguindo o Evangelho desde a época da
crucificação de Jesus. Os crentes deviam esperar a perseguição e o sofrimento porque
estas coisas fazem parte do plano de Deus para aperfeiçoar os cristãos. Nem
mesmo o Senhor Jesus Cristo foi poupado da perseguição (Rm 8.32). Em lugar de
ficarem surpresos pelas provações, Pedro exortou os crentes a se alegrarem,
porque, quando sofriam pela sua fé em Cristo, estavam sendo participantes das
aflições de Cristo. Se nós sofremos, este fato mostra a nossa identificação com
Cristo e que a nossa fé é genuína. Como Cristo foi perseguido, nós também
seremos perseguidos e, consequentemente, participaremos dos seus sofrimentos.
Se nós perseverarmos, desfrutaremos a nossa herança futura com Ele. Os servos
que conhecem o sofrimento de Cristo terão alegria na revelação da sua glória. Isto
não significa que todo sofrimento é resultado de uma boa conduta cristã.
Algumas vezes, alguém irá se queixar: “Ele está me atormentando porque eu sou
um cristão”, quando é óbvio, para todo mundo, que o próprio comportamento
desagradável da pessoa é a causa dos seus problemas. Pode ser necessária uma
análise cuidadosa ou um sábio aconselhamento para determinar a verdadeira causa
do nosso sofrimento. No entanto, podemos ter a certeza de que, sempre que sofrermos
devido à nossa lealdade a Cristo, Ele estará conosco o tempo todo.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 730.
I Ped 4.12 Amados,
não estranheis o fogo ardente entre vós, que vos sobrevém para provação, como
se algo estranho vos acontecesse. Quanto à expressão amados, cf. o comentário a
1Pe 2.11. Antes de posicionar-se novamente a respeito do sofrimento, Pedro
enfatiza mais uma vez sua ligação especial no amor de Jesus Cristo. Não
estranheis (ou: estejais surpresos ou admirados) expressa o mesmo que: não vos
deixeis irritar, não vos deixeis abalar, não vos sintais decepcionados. Se
encarassem o sofrimento como algo estranho, poderiam surpreender-se, poderiam
pensar que algo não estaria certo com as promessas de Deus ou com a filiação
divina deles. Poderiam temer que algo alheio, como o maligno, fosse mais forte
que a proteção de Deus. No entanto, sofrimentos de forma alguma são algo
estranho para seguidores do Crucificado, e sim algo normal. São parte inerente
do discipulado. Aqui o sofrimento é chamado de fogo ardente. Cf. 1Pe 1.7: assim
como o ardor do fogo depura o ouro, assim o sofrimento purifica a fé. Ao
denominar “sofrimento” como ardor do fogo, Pedro lhe dá uma interpretação,
ligando a ela a frase relativa subsequente: que vos sobrevém para provação (cf.
o exposto sobre 1Pe 1.7). Quem sabe disso não fugirá do sofrimento, mas
concordará com ele. Desse modo é presenteado com a atitude que o ajuda a
suportar o sofrimento! Não obstante, algo muito maior será propiciado aos
cristãos.
I Ped 4.13 Pelo
contrário, na medida em que participais dos sofrimentos do Cristo, alegrai-vos,
para que também vos alegreis jubilando na revelação de sua glória. A frase
grega contém duas asserções, para as quais precisamos de duas frases na
tradução. A idéia é: na medida em que (ou: assim como) participais nos
padecimentos do Cristo, participareis e vos alegrareis com júbilo na revelação
da sua glória. E: por isso concordai com o sofrimento, e até alegrai-vos com
ele na mesma proporção em que sofreis. É algo grandioso poder convocar pessoas
sofredoras à alegria com tanta autoridade. Que força está por trás disso! É a
força da expectativa cristã primitiva (cf. 1Pe 1.3), da esperança viva pela
manifestação da glória do Messias. Pedro experimentou pessoalmente que o Senhor
Jesus é capaz de encher os corações dos seus em meio à aflição e tortura com
vitoriosa alegria. Diz-se dele e de João: “E eles se retiraram do Sinédrio
regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse
Nome. (de Jesus)” (At 5.41). Aqui se afirma: participais em (ou: estais em
comunhão com) os sofrimentos do Cristo. O que ele, como Cordeiro de Deus,
suportou vicariamente por nós sem dúvida aconteceu de uma vez por todas (1Pe
3.18; Hb 9.27): a vitória do Calvário está consumada (Jo 19.30). O padecimento
expiatório da culpa da humanidade jamais se repetirá. Apesar disso continua
havendo sofrimentos do Cristo, porque o Senhor exaltado sofre com sua igreja. E
sua igreja sofre porque se apega a ele, testemunhando o nome dele neste mundo.
O sofrimento na verdade a atinge, porém aponta para Cristo. Ele se ligou
indissoluvelmente à sua igreja: afinal, é o cabeça dela (Ef 1.22; 4.15; 5.23;
Cl 1.18) e ela é seu corpo (1Co 12.27; Ef 1.23; 4.12,16). Ele identifica-se
tanto com sua igreja que é capaz de dizer a Saulo, perseguidor da igreja: “Por
que me persegues (At 9.4)? Em Cl 1.24 Paulo escreve: “Agora, me regozijo nos
meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na
minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja;” O Comentário Esperança diz
o seguinte acerca desta passagem: “Até então (até a parusia), porém, ainda
durarão as „dores de parto do Messias‟, que agora atingem seu corpo, a igreja.
Por isso o „tem de‟ da obrigatoriedade divina do sofrimento também paira sobre
a trajetória da igreja rumo ao reino vindouro (At 14.22)” [p. 308]. De forma
muito clara testemunha-se de antemão que ao confessar Jesus a igreja terá de
passar por sofrimentos (Mt 10.22; Mc 13.9; 1Ts 3.3s; 2Tm 3.12; Ap 1.9; 2.9s;
7.14). Porém a participação nos sofrimentos do Messias a insere simultaneamente
na participação na consumação: para que também vos alegreis jubilando na revelação
de sua glória (cf. também Rm 8.17). Essa glória, que ele já possui agora, na
realidade ainda está oculta, e a igreja ainda aguarda sua revelação; então,
porém, se alegrará com júbilo. É rumo a esse evento que ela vive e sofre.
Unicamente a escatologia bíblica não-deturpada, a expectativa da glória
vindoura de Jesus conferem aos cristãos força, e até mesmo alegria no
sofrimento! Alegrar-se antecipadamente por isso constitui sua força!
Uwe
Holmer. Comentário Esperança Cartas aos I Pedro. Editora Evangélica
Esperança.
I Pd4.12-16. Participando
dos Sofrimentos de Cristo,
Novamente Pedro
retorna a um tema dominante: o sofrimento dos cristãos. Como seguidores de
Cristo, eles esperam compartilhar da sua glória; conseqüentemente, eles também
deveriam esperar compartilhar dos seus sofrimentos. Eles não deveriam
“estranhar” ou surpreender-se com a ardente prova (12). Esse não é um
acontecimento fortuito. Também não é Satanás simplesmente tentando persuadi-los
de que se eles possuem um relacionamento especial com Deus (cf. 1.2-4; 2.9-10),
esses sofrimentos não iriam ocorrer. Sua “provação pelo fogo” tem um propósito
divino, embora no momento eles tenham dificuldade em entendê-lo. Pedro tinha se
referido anteriormente ao teste de fogo da sua fé que redundava em glória (cf.
1.7). Como participantes das aflições de Cristo (13), eles devem regozijar-se,
não pelo fato do seu sofrimento, mas porque o experimentam como representantes
de Cristo. O sofrimento imediato veio porque os cristãos chamaram Jesus de
Filho de Deus e o adoravam como o Soberano supremo em vez de adorar o
imperador. O grau do seu regozijo deveria ser aumentado pela intensidade das
perseguições que suportavam. A alegria que eles agora experimentam apesar dos
seus sofrimentos dará lugar a uma grande alegria, na revelação da sua glória,
i.e., quando verão a Cristo e o seu reino será supremo. Nesse tempo esses
sofredores deverão saltar de alegria, em exultação triunfante.
Pedro estava
preocupado com os insultos e as perseguições que eles experimentavam pelo nome
de Cristo (14) e por causa de uma vida coerente com seus ensinamentos.
Repreensão e glória são colocadas em contraste. O tratamento desdenhoso inflige
sofrimento maior na alma mais sensível do que o abuso físico ou a destruição de
sua propriedade. Por isso temos aqui a alusão à promessa de Cristo de bênçãos
por sofrer por sua causa (cf. Mt 5.11). O Espírito da glória de Deus dá coragem
para enfrentar o sofrimento sem retroceder.85 O Espírito de Deus garante aos
cristãos sofredores que eles participarão da glória aperfeiçoada na vinda de
Cristo. O significado dos versículos 15-16 é a seguinte: Que ninguém desonre a
Cristo sofrendo um castigo justo por crimes contra os homens; ninguém é
abençoado se está sofrendo em decorrência das suas próprias faltas. Em vez
disso, que o homem se glorie por causa do castigo infligido por ser cristão.86
A advertência de
sofrer como homicida [...] ladrão [...] malfeitor, ou como o que se entremete
em negócios alheios (15) não deveria nos chocar se lembramos do estado geral da
sociedade daquela época. A vida de alguns desses crentes pode ter sido tão má
como as pessoas de Corinto que Paulo descreveu (cf. 1 Co 6.9-11). Havia
exemplos em que criminosos, para ocultar sua natureza e a verdadeira causa do
seu castigo, professavam ser cristãos, e davam a impressão que estavam sendo
castigados por serem cristãos.
Aquele que se
entremete em negócios alheios é a pessoa que “se desvia do seu chamado e se
torna juiz dos outros” (Wesley). Os inimigos acusavam os cristãos de serem hostis
à sociedade civilizada, sendo acusados de tentar forçar os não cristãos a agir
de acordo com os padrões cristãos. Isso criaria um tumulto civil que poderia
resultar em violência do povo (cf. At 19.21-41).
Aquele que se padece
como cristão, não se envergonhe; antes, glorifique a Deus (16). A essa altura,
o termo cristão tinha se tornado o nome pelo qual os pagãos sarcasticamente
descreviam os seguidores de Cristo (cf. At 11.26; 26.28). Os judeus que
rejeitaram Jesus como o Cristo não chamavam seus seguidores de cristãos. Renan,
citado em Ellicott, disse: “Pessoas bem educadas evitavam pronunciar esse nome,
ou, quando forçadas a fazê-lo, pediam desculpas”.87 Evidentemente, os próprios
cristãos ainda não usavam esse nome, mas o consideravam como um símbolo da mais
alta honra quando seus inimigos os chamavam assim. O que Pedro exortou que
fizessem (v. 16) ele mesmo havia praticado (cf. At 5.29-42, especialmente o v.
41).
Roy
S. Nicholson. Comentário Bíblico Beacon. I Pedro Editora CPAD. Vol. 10. pag. 240-241.
II –
ORIGEM DAS TENTAÇÕES (Tg 1. 13-15)
1. Tentação é Humana.
Tg 1.13 Precisamos
ter uma visão correta de Deus para podermos perseverar durante os períodos de
provações. Especificamente, precisamos compreender a visão que Deus tem das
nossas tentações. As provações e tentações sempre se apresentam a nós com
escolhas. Deus quer que façamos boas escolhas, não más. As dificuldades podem
produzir maturidade espiritual e levar a benefícios eternos, se suportadas com
fé. Mas também se pode fracassar nos testes. Nós podemos ceder às tentações. E,
quando fracassamos, frequentemente usamos todos os tipos de desculpas e razões
para os nossos atos. O mais perigoso deles é dizer: “De Deus sou tentado”. É
crucial que nos lembremos de que Deus testa as pessoas para o bem; Ele não
tenta as pessoas para o mal. Mesmo durante as tentações, podemos ver a
soberania de Deus ao permitir que Satanás nos tente para melhorar a nossa fé e
nos ajudar a crescer na nossa confiança em Cristo. Em lugar de perseverarmos
(1. 12), nós podemos ceder ou desistir diante das provações e, desta forma, culpar
a Deus pelo nosso fracasso. Desde o início, a reação humana normal é inventar
desculpas e culpar os outros pelo pecado (veja Gn 3.12,13).
Uma pessoa que
inventa desculpas está tentando transferir a culpa para outra coisa ou pessoa.
Um cristão, por outro lado, aceita a responsabilidade pelos seus erros,
confessa-os, e pede perdão a Deus. Por Deus não poder ser tentado pelo mal. Ele
não pode ser o autor da tentação. Tiago está argumentando contra a visão pagã
dos deuses, na qual o bem e o mal coexistiam. Deus não deseja o mal para o
povo; Ele não causa o mal; Ele não tenta enganar as pessoas - Ele a ninguém
tenta. A esta altura, uma pergunta pode ser feita acertadamente: “Se Deus
realmente nos ama, por que Ele não nos protege da tentação?” Um Deus que nos
protege da tentação é um Deus que não está disposto a nos permitir crescer.
Para que um teste seja uma ferramenta eficiente de crescimento, ele deve poder
permitir o fracasso. Na verdade.
Deus prova o seu
amor, protegendo-nos na tentação, em vez de nos proteger da tentação (1 Co
10.13).
Tg 1.15 Tiago mostra
o resultado da tentação quando uma pessoa cede a ela. Observe que os dois
primeiros passos da tentação (havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado)
enfatizam a natureza interna do pecado. Quando nos entregamos à tentação, o nosso
pecado coloca os eventos mortalmente em movimento - o pecado gera a morte. Para
abandonar o pecado, não basta deixar de pecar. O estrago já foi feito. Decidir “não
mais pecar' pode cuidar do futuro, mas não cura o passado. Esta cura deve vir
por meio do arrependimento e do perdão. Algumas vezes, é necessário fazer uma
reparação. Por mais amargo que pareça o remédio, nós podemos ficar
profundamente gratos pelo fato de que existe um remédio.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 666-667.
Como lidar de forma
sábia com as tentações (Tg 1.13-15)
Uma pessoa madura é
paciente nas provas. Uma pessoa imatura transforma provas em tentações. Warren Wiersbe
diz que provas são testes enviados por Deus, e tentações são armadilhas
enviadas por Satanás. Quando Deus nos prova é para que possamos passar no teste
e herdar as bênçãos. Quando passamos por dificuldades somos tentados a questionar
o amor e o poder de Deus. Então, Satanás oferece um caminho para escaparmos das
provas. Essa oportunidade é uma tentação. Quando Jesus estava jejuando e orando
no deserto, Satanás o tentou, sugerindo a ele que transformasse pedras em pães.
Há três fatos que devemos
considerar se queremos vencer as tentações. Em primeiro lugar, olhe para frente
e considere o julgamento de Deus (1.13-16). Não culpe a Deus pela tentação, Ele
é absolutamente santo para ser tentado e Ele é absolutamente amoroso para
tentar.'^ Deus nos prova como provou a Abraão, mas Ele não nos tenta. A prova é
para santificar-nos. A tentação é para derrubar-nos. Uma tentação é uma
oportunidade de fazer uma coisa boa de maneira errada, como por exemplo: passar
em uma prova é coisa boa, mas colar na prova para passar é uma coisa errada; o
prazer sexual é uma coisa boa, mas o sexo fora do casamento é uma coisa errada.
A provação visa a nosso fortalecimento; a tentação, a nossa queda. Tiago vê o
pecado não apenas como um ato, mas como um processo em quatro estágios: o
primeiro estágio é o desejo ou cobiça (1.14). A palavra que Tiago usou para
“desejo”, epithymia, não necessariamente tem um sentido de desejo mau e
impuro.^® Podemos transformar um desejo legítimo em um desejo pecaminoso. A
cobiça é a tentativa de satisfazer um desejo fora da vontade de Deus. Comer é normal,
glutonaria é pecado. Dormir é normal, preguiça é pecado. Sexo no casamento é
normal, sexo fora do casamento é pecado. Os desejos devem estar sob controle, e
não no controle. Devemos controlar os desejos, não estes a nós.
O segundo estágio é o
engano (1.14). Tiago usa duas figuras para ilustrar o engano da tentação: a
figura do caçador que usa uma armadilha (atrai) e a figura do pescador que usa
o anzol com isca (seduz). Se Ló pudesse ver a ruína que estava por trás de
Sodoma, e se Davi pudesse ver a tragédia sobre a sua casa quando se deitou com
Bate-Seba, eles jamais teriam caído. Precisamos identificar a isca e a arapuca
do diabo, para não cairmos na rede de seu engano.
O terceiro estágio é
o nascimento do bebê chamado pecado (1.15). Tiago muda a figura da armadilha e
do anzol para a figura do nascimento de um bebê maldito, chamado PECADO.
O quarto estágio é a
morte (1.16). A cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado,
uma vez consumado, gera a morte. Vemos aqui a genealogia do pecado. A cobiça é
a mãe do pecado e a avó da morte. O salário do pecado é a morte (Rm 6.23).
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 25-26.
Tg 1.13 “O poder das
circunstâncias era forte demais.” “Minha personalidade é forte, não consegui me
controlar.” “Outras pessoas são culpadas.” “A rigor, Deus mesmo é culpado. Por
que ele me deixou cair nessa situação tentadora? Por que me criou assim?” É
assim que o ser humano tenta se livrar da culpa – e em última análise
empurrá-la para Deus, para assim se auto justificar. A isso Tiago responde:
“Ninguém que é tentado diga: Sou tentado por Deus.”
No bloco final da
primeira série de provérbios da carta de Tiago, Tg 1.2-18, os versículos 13ss
nos colocam novamente diante da palavra pesarmos, aqui predominante, e que no
grego significa tanto os termos “prova”, “teste de aprovação” como também
“tentação” (cf. Tg 2.12). Refere-se aos momentos perigosos e decisivos, nos
quais um caminho errado se abre diante de nós e se torna viável e sedutor. Na
Bíblia repetidamente vemos pessoas nessa situação: Eva perto da árvore proibida
e com os desejos despertados e fortalecidos pelo tentador, querendo servir-se
dos frutos (Gn 3.1-6). Caim, aparentemente preterido e cheio de rancor (Gn
4.3-8). José no Egito, com a possibilidade de, não obstante a situação criada
pela vileza dos irmãos, tornar as coisas bem agradáveis para si (Gn 39.7-10).
Absalão, com a chance de agora se tornar rei (2Sm 15.1-12).
Tg 1.15 “Em seguida,
depois de haver começado a cobiça”: aqui é descrito o segundo estágio. À
semelhança de um bacilo que traz enfermidade, damos espaço ao desejo em nós,
quando não buscamos ajuda junto do Senhor em oração. Acontece a “incubação”,
ainda não manifesta exteriormente, e então a irrupção visível da “doença”: “Dá
à luz o pecado.”
Cobiça e pensamento
geram, pois, ação. O peixe abocanha (a metáfora da isca – e do peixe – é a
segunda utilizada por Tiago). Engoliu o anzol e passa a nadar com ele no corpo.
Ainda está na água, mas fisgado pelo anzol. Quando toleramos uma ideia ou
desejo por tempo suficiente em nós, ela (ou ele) finalmente se torna, com certa
obrigatoriedade, uma ação.
“O pecado, porém, uma
vez consumado, dá à luz a morte.” O bacilo de enfermidade, multiplicado
infinitamente, é capaz de finalmente sufocar a vida de um ser humano. Ou,
ilustrando com a outra metáfora aqui utilizada, a da “isca”: na sequência
acontece um puxão com a vara de pesca, e o peixe sai voando do ambiente de vida
para o ambiente de morte. Isso não acontece apenas quando alguém passou da
morte para a “segunda morte”, a morte após a morte, para a eterna consciente
condição de ter morrido para Deus (Mc 9.44; Ap 20.14). Vale igualmente agora,
quando alguém “está morto em pecados” (Ef 2.5). É bem possível que os outros
ainda nos considerem cristãos: “Tens o nome de que vives, e estás morto” (Ap
3.1).
O mais perigoso na
realidade não seria o “abocanhar do peixe”, o ato maligno individual, mas o
fato de que por meio dele o inimigo amarra o ser humano a si, afastando-o assim
da comunhão de vida com Deus, com Jesus Cristo, seu ambiente de vida. Na
desobediência concreta começamos a apostatar de Jesus.
A ajuda ainda
continua aberta. “Onde o pecado se tornou poderoso, a graça é ainda mais
poderosa” (Rm 5.20). Podemos correr até Jesus Cristo, o médico que permanece
com o consultório aberto, bem como levar outros até ele. Ele é capaz de retirar
novamente a “isca” e o “anzol” que já foi engolido, i.é, tirar o pecado e
libertar das amarras (1Jo 1.7; Jo 8.34,36). Sim: Jesus pode não somente curar a
enfermidade, mas também acordar da morte ao conceder (novamente) sua comunhão
(Ap 3.1-4; Ef 2.1-6; Cl 2.13-15). Nosso Senhor diz: “Quem vem a mim, certamente
não o lançarei fora” (Jo 6.37).
Fritz
Grünzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
2. Atração pela
própria concupiscência.
Tg 1.14 Alguns
crentes pensavam que, como Deus permitia as provações. Ele também deveria ser a
origem da tentação. Estas pessoas podiam desculpar os seus pecados, dizendo que
a culpa era de Deus. Tiago corrige isto. As tentações vêm de dentro, do engodo
da nossa própria concupiscência. Tiago destaca a responsabilidade individual
pelo pecado. Os desejos podem ser alimentados ou deixados morrer de fome. Se o
próprio desejo é mau, precisamos negá-lo. Isto depende de nós, com a ajuda de
Deus. Se incentivarmos os nossos desejos, eles logo se tornarão atos. A culpa
pelo pecado é somente nossa. O tipo de desejo que Tiago está descrevendo aqui é
o desejo descontrolado. Ele é egoísta e sedutor. Será que tira Satanás do
aperto, colocando a responsabilidade pela tentação sobre os nossos desejos?
Não. Podemos ser levados pelos nossos desejos, mas é o diabo que está por trás dos
impulsos quando nós estamos seguindo uma direção errada. A tentação vem dos
desejos maus dentro de nós, e não de Deus. Podemos montar e colocar a isca na
nossa própria armadilha. Ela começa com um mau pensamento e torna-se pecado
quando permanecemos no pensamento e permitimos que ele se transforme em uma
ação. Como uma bola de neve rolando ladeira abaixo, o pecado cresce e torna-se
ainda mais destruidor á medida que nós lhe damos mais liberdade. A melhor hora
para interromper uma tentação é antes que ela seja grande demais, ou esteja se
movendo rápido demais, fora de controle (veja Mt 4.I-I1; 1 Co 10.13; e 2 Tm
2.22, para mais informações sobre como escapar das tentações).
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 666.
O que Deus faz e
deixa de fazer nesse caso (v. 14).
Nos testes de
aprovação é Deus mesmo quem nos conduz – esse é o inequívoco testemunho da
Bíblia. José sofreu provação pela mão humana, mas sabia que Deus estava agindo
nela. Era com ele que estava lidando. E Deus ajudou para que essa prova
chegasse a um final feliz (Gn 50.20). Ao povo de Israel Deus declarou no fim de
sua peregrinação pelo deserto: “Eu te humilhei e te provei, para saber o que
estava no teu coração” (Dt 8.2). Ao velho Tobias é dito nos livros deuterocanônicos,
(sem dúvida no mesmo sentido dos escritos canônicos), ao final de um longo e
enigmático caminho, porém com desfecho positivo: “Fui enviado a ti para pôr-te
à prova” (Tb 12.13b). Acima de tudo o próprio Jesus, como novo “Adão”, a fim de
realizar mais uma vez o mesmo exame em que no passado o primeiro Adão fora
reprovado, “foi conduzido ao deserto pelo Espírito, para ser tentado pelo
diabo” (Mt 4.1).
b) O que Deus, porém,
não faz: ele não “tenta”. Não deseja que sejamos reprovados nas provações. Não
nos tenta para o mal. Procura não nos arrastar para a maldade. Do contrário,
ele próprio ficaria do lado do mal.
Contudo Deus é
“não-tentável”, inviolável pelo mal. Ele é a mais pura luz. Consequentemente
Deus, por natureza, tampouco é capaz de “ludibriar” alguém ou arrastá-lo para
as trevas.
Como o mal de fato
surge em nossa vida.
14 Não por culpa ou
determinação de Deus, mas “cada um é tentado por sua própria cobiça, quando
esta o atrai e seduz”.
a) O primeiro estágio
do caminho para o mal é “a própria cobiça”. Chama atenção que Tiago não cita o
diabo. Não que o desconhecesse (cf. Tg 4.7s), mas ele nos diz: “Não se apresse
em empurrar a culpa para o diabo; não o use para se livrar.” – “A própria
cobiça” representa o objeto ou situação específicos que, dependendo da
constituição e situação da pessoa, lhe são sedutores aqui e agora: no caso de
Caim, foi a possibilidade dar uma boa lição ao privilegiado Abel. No caso de
Acã foram ricos despojos. Para Sansão, uma mulher dentre os filisteus. Para
Absalão, a coroa real. Isso “atrai” e “fisga”. Ou seja: primeiramente chegamos
perto e rodeamos, ao menos em pensamento, aquilo que nos tenta, como o peixe
rodeia a isca. Enquanto o peixe apenas é atraído pela isca e nada em seu redor,
ele ainda não foi fisgado. Também nós ainda podemos ser preservados, ainda
podemos fugir do pecado (Sir 21.2; Tg 4.7s), refugiar-nos junto de nosso
Senhor, o vitorioso do Calvário e da Páscoa, junto daquele que é capaz de
tornar “verdadeiramente livre” (Jo 8.36). “O nome do Senhor é um castelo firme
(uma fortaleza). O justo corre até lá e é abrigado” (Pv 18.10; “Castelo forte é
nosso Deus” [Martim Lutero]).
Fritz
Grünzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
A Tentação Vem de
Dentro (1.14)
Tiago conhecia os
poderes sobrenaturais do mal que agiam no mundo (cf. 3.6), mas aqui ele procura
ressaltar o envolvimento e a responsabilidade pessoal do homem ao cometer
pecados. O engodo do mal está em nossa própria natureza. Ele está de alguma
forma entrelaçado com a nossa liberdade. A questão é: “Será que eu preferiria
ser livre, tentado e ter a possibilidade de vitória ou ser um ‘bom’ robô?” O
robô está livre de tentação, mas ele também não conhece a dignidade da
liberdade ou o desafio do conflito e não conhece nada acerca da imensa alegria
quando vencemos uma batalha.
Tiago diz que cada um
é atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Essa palavra epithumia
(“desejo”, RSV) pode ter um significado neutro, nem bom nem mal. Assim, H.
Orton Wiley escreve: “Todo apetite é instintivo e sem lógica. Ele não
identifica o erro, mas simplesmente anela pelo prazer. O apetite nunca se
controla, mas está sujeito ao controle. Por isso o apóstolo Paulo diz: ‘Antes,
subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu
mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado’ (1 Co 9.27)”.12 Este
talvez seja o sentido que Tiago emprega aqui.
No entanto, na
maioria dos casos no Novo Testamento, epithumia tem implicações maléficas. Se
for o caso aqui, quando um homem é seduzido para longe do caminho reto, isso
ocorre por causa de um desejo errado. Tasker escreve: “Este versículo, na
verdade, confirma a doutrina do pecado original. Tiago certamente teria
concordado com a declaração de que ‘a imaginação do coração do homem é má desde
a sua meninice’ (Gn 8.21).
Desejos
concupiscentes, como nosso Senhor ensinou de maneira tão clara (Mt 5.28), são
pecaminosos mesmo quando ainda não se concretizaram em ações lascivas”.13 Se
essa interpretação for verdadeira, há aqui mais uma dimensão na origem da
tentação. Desejos errados podem ser errados não somente porque são
incontrolados, mas porque, à parte da presença santificadora do Espírito, eles
são carnais.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag.159-160.
3. Deus nos fortalece
na tentação.
I Cor 10.13 As
tentações acontecem na vida de todos os crentes — ninguém está livre delas. A tentação
em si não é um pecado; o pecado só passa a existir quando a pessoa cede à
tentação. Os crentes não devem ficar assustados ou desanimados, ou pensar que
estão sozinhos nas suas fraquezas. Eles devem, antes, entender as suas
fraquezas e se voltar a Deus, para que possam resistir às tentações. Suportar as
tentações traz grandes recompensas (Tg 1.12). Mas Deus não abandona o seu povo aos
caprichos de Satanás, pois Deus é fiel. Ele não irá eliminar todas as tentações
porque enfrentá-las e permanecer forte na fé pode representar uma experiência
de crescimento. Entretanto, Deus promete evitar que elas se tornem tão fortes,
que não possamos lutar contra elas. O segredo de resistir à tentação é
reconhecer a sua fonte, e então reconhecer a origem da força que é capaz de
combater contra ela.
Além disso. Deus
promete dar também o escape para que possamos suportar e não cair em pecado.
Será necessário ter autodisciplina para procurar esse “escape” até no meio da
tentação e então utilizá-lo, assim que for encontrado. O escape é sempre
difícil e muitas vezes exige a ajuda dos outros. Uma das formas que Deus nos dá
para que consigamos fugir da tentação é o bom senso. Se um crente sabe que será
tentado em certas situações, então deve se afastar delas. Outra forma é através
dos amigos cristãos. Em vez de tentar enfrentar sozinho a tentação, o crente
pode explicar o seu dilema a um amigo cristão que lhe seja íntimo e confiável e
pedir a sua ajuda.
Esse amigo poderá
orar sensibilizar a pessoa, e dar valiosos conselhos e opiniões.
A verdade é que Deus
ama tanto o seu povo, que irá protegê-lo das tentações insuportáveis. E sempre
irá oferecer uma saída.
A tentação nunca
deverá inserir uma barreira de separação entre o crente e Deus, e cada crente
deve ser capaz de dizer: “Obrigado, Senhor Deus, por confiar tanto em mim. O Senhor
me considera capaz de enfrentar essa tentação. Agora, o que o Senhor quer que
eu faça?”
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 149.
I Cor 10.11-13. Aplicação
à igreja de Corinto. O AT não é simplesmente uma história de acontecimentos
seculares. Ele contém a revelação do relacionamento de Deus com os homens.
Dessa forma, sua história é usada para mostrar um padrão de comportamento a ser
imitado ou evitado. O exemplo de Israel foi escrito para aviso nosso (11). A
palavra aviso significa “colocar na mente” ou “instruir pela palavra”. Em 2
Timóteo 3.16-17 existe a ideia de uma repreensão ou correção. Para quem já são
chegados os fins dos séculos significa para aquele que vive na última era do
tempo, a dispensação cristã.
A sua aplicação é
clara e direta. Aqueles que eram excessivamente confiantes e egoístas entre os
coríntios foram advertidos de que, no exato momento em que se sentissem mais
seguros, poderiam cair (12). O exemplo de estar de pé e de cair representa um
estado de fidelidade e um estado de desobediência. “A queda dos outros deve nos
deixar mais cautelosos a nosso próprio respeito”.
Paulo ameniza a
severidade das suas palavras ao garantir que a tentação peculiar dos coríntios
é humana (13). Nada de novo havia acontecido aos coríntios; todos os homens
experimentam tentações. Portanto, se eles pecarem, não terão desculpas. Paulo
declara também que Deus age firmemente e sempre concede forças àqueles que
confiam nele, e o seguem. Como Alford escreve: “Ele celebrou uma aliança com
você ao lhe chamar: se Ele permitisse que você sofresse uma tentação além do
seu poder de vencê-la... Ele estaria transgredindo essa aliança”.84 Deus
conhece muito bem as circunstâncias que cercam cada tentação, e vos não deixará
tentar acima do que podeis; antes, com a tentação dará também o escape, para
que a possais suportar. O termo escape (ekbasis) era usado como referência a
uma passagem na montanha. A imagem é de um exército ou de um grupo de viajantes
preso nas montanhas. Eles descobrem uma passagem e o grupo escapa para algum
lugar em que possa estar em segurança. A frase para que a possais suportar
indica o poder sustentador do Espírito Santo, que todos os homens podem
receber. A vitória sobre a tentação será possível através de uma humilde
confiança. Porém, ter uma autoconfiança presunçosa diante da tentação
representa uma avenida aberta para uma derrota certa.
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. I
Coríntios. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 320.
Mas a essa palavra de
cautela ele acrescenta uma palavra de conforto (v. 13). Embora seja desagradável
a Deus abusarmos, não é agradável para Ele nos desesperarmos. Se o primeiro é
um grande pecado, o último está longe de ser inocente. Embora devamos temer e
acautelar-nos a fim de não cairmos, também não devemos estar com medo e
aturdidos; pois ou nossas provações serão proporcionais à nossa força, ou a força
será suprida na proporção de nossas tentações. De fato, nós vivemos em um mundo
tentador, onde estamos cercados de armadilhas. Cada lugar, condição, relação, emprego
e divertimento têm abundância delas; porém, que conforto podemos obter de tal
passagem! Pois: 1. “Não veio sobre vós, diz o apóstolo, tentação, senão humana;
isto é, tal como vós esperais da parte dos homens de princípios pagãos e que
têm poder; ou ainda, tal como é comum à humanidade na presente situação; ou
ainda, tal como o espírito e a determinação de meros homens podem vos fazer
passar.” Note que as provações dos cristãos comuns não passam de provações
comuns; outros têm semelhantes cargas e tentações; o que eles suportam e passam
nós também podemos. 2. “...mas fiel é Deus”. Embora Satanás seja um enganador,
Deus é verdadeiro. Os homens podem ser falsos, e o mundo pode ser falso; mas
Deus é fiel e nossa força e segurança estão nele. Ele guardou sua aliança e
nunca desapontará a esperança filial e a confiança de seus filhos. 3. Ele é tão
sábio quanto fiel e dará a nossa carga à proporção de nossa força. Ele “vos não
deixará tentar acima do que podeis”. Ele sabe o que podemos carregar e o que
podemos suportar. E Ele fará, em sua sábia providência, que as nossas tentações
sejam proporcionais à nossa força ou nos fará aptos a enfrentá-las. Ele cuidará
para que não sejamos vencidos, se nós confiarmos nele, e decidirmos mostrar-nos
fiéis a Ele. Não precisamos nos desorientar com as dificuldades em nosso
caminho, pois Deus cuidará que elas não sejam grandes demais para enfrentarmos,
especialmente: 4. Quando Ele levá-las a bom termo. Ele “...dará também o
escape”, ou da própria provação ou do seu prejuízo. Não há nenhum vale tão
escuro que Ele não possa encontrar um caminho por ele; nenhuma aflição tão
horrível que Ele não possa evitar, remover, ou nos capacitar para suportá-la,
e, no fim, dominá-la para a nossa vantagem.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 470.
Sal 119.11 Guardo no
coração as tuas palavras. Qualquer criança que frequente a escola dominical
conhece este versículo e qualquer crente adulto também o conhece, mas
porventura nós o observamos? Este versículo é largamente usado para falar sobre
a sabedoria da memorização da Bíblia e, embora provavelmente
não seja esse o
sentido pretendido, é uma boa aplicação. Não precisamos ser como os fanáticos
que decoram todo o saltério e o citam diariamente. Eu mesmo memorizei as
epístolas paulinas (além da epístola aos Hebreus, que não é paulina) em minha
juventude, pelo que agi como um fanático. É possível que as pessoas que colocam
em prática esses prodígios mentais se ocupem da Bibliolatria (ver a respeito no
Dicionário). Além disso, talvez eles façam viagens pelo próprio “eu”, gabando-
se de quantas Escrituras conseguem memorizar. Por outra parte, os abusos não
anulam o bem, e a memorização é um modo digno de estudar a Bíblia.
Naturalmente, este
versículo fala sobre a lei, empregando a terceira das dez palavras listadas no
vs. 1.
Guardo. Isto é,
“escondo” (conforme diz a Revised Standard Version), aludindo à metáfora de um
tesouro escondido. O homem que tem o tesouro escondido em seu coração tem menor
inclinação a ceder à tentação. “A palavra de Cristo deve habitar nele
ricamente. Caso contrário, em breve ele pode ser surpreendido por algum pecado
teimoso” (Adam Clarke, in Ioc.).
Habite ricamente em
vós a palavra de Cristo, instrui-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria,
louvando a Deus, com salmos e hinos e cânticos espirituais, com gratidão em
vossos corações.
(Colossenses 3.16)
“Escondei... como os
orientais escondem seus tesouros. Cf. Mat.
13.44” (Ellicott, in Ioc.). Ver II Cor. 7.1 e Tito 2.11,12, que contêm passagens
neotestamentárias similares. Ver o vs. 14, quanto a ideias sobre riquezas.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2433.
Sl 119.11 Aqui temos:
1. A aplicação íntima que Davi faz da palavra de Deus a si mesmo: escondi a tua
palavra no meu coração, guardou-a no coração para que sempre esteja à mão
quando tiver motivo para usá-la; ele guarda-a como algo de muito valor para
ele, como algo muito querido, como algo que tivesse medo de perder ou de que
ser roubado. A palavra de Deus é um tesouro digno de ser guardado, e não há
lugar mais seguro para guardá-la que em nosso coração; se a tivermos só em
nossa casa ou em nossa mão, os inimigos podem tirá-la de nós; se a tivermos só
em nossa mente, nossa memória pode falhar, mas se nosso coração for libertado
por estar moldado nela, e a impressão dela permanecer em nossa alma, ela está a
salvo. 2. O bom uso que ele designou fazer da palavra de Deus: para eu não
pecar contra ti. Os homens bons têm medo de pecar e tomam cuidado para evitar o
pecado; e a forma mais eficaz de evitar o pecado é esconder a palavra de Deus
em nosso coração, para que possamos responder a cada tentação como nosso Mestre
o fez, como está escrito, para que possamos opor os preceitos de Deus ao
domínio do pecado, as promessas dele à sedução do pecado, e suas ameaças ao
perigo do pecado.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo
Testamento Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. pag. 624.
III –
PROPÓSITO DAS TENTAÇÕES (Tg 1.3-4, 12.)
1. Para provar a
nossa fé (v.3)
Tg 1.12 A Bíblia
Sagrada aprofunda o significado de bem-aventurado para incluir uma alegria profunda
que vem do recebimento da graça de Deus. Da mesma maneira que os atletas perseveram
no seu treinamento para melhorar a sua capacidade e a sua resistência para a competição,
os cristãos também perseveram no treinamento espiritual ao suportarem, com
perseverança, a provação (versão RA), que irá trazer maturidade e integridade.
As provações de hoje
se parecerão com um treinamento quando nós enfrentarmos os desafios de amanhã.
A maneira de entrar no círculo vencedor de Deus é amá-lo e permanecer fiel a
Ele, mesmo sob pressão. Existe uma linha de chegada. Há bons resultados pelo
caminho - o progresso espiritual tem marcadores de quilometragem.
Mas as provações
desta vida estão limitadas a esta vida. Algum dia, as provações terminarão. O
primeiro capítulo da carta de Tiago nos ensina que o objetivo de longo prazo de
Deus para nós é a maturidade e a integridade, mas o seu objetivo eterno para nós
é a coroa da vida, uma expressão rica em esperança. O crente que suporta com perseverança,
confiando em Deus, terá uma vida que, embora não seja cheia de glória nem de
honra, ainda é verdadeiramente abundante, alegre, e vitoriosa. Suportar as provas
da vida dá aos crentes um sabor de eternidade, mesmo no presente. Esperar por
esta
maravilhosa recompensa e por aquele que a apresentará a nós pode ser uma fonte
de resistência e coragem em tempos de provações (veja também 1 Co 9.24-27; 2 Tm
4.7,8). Os cristãos podem se considerar verdadeiramente bem-aventurados, não
importando quais sejam as suas circunstâncias exteriores, porque a eles foi
prometida a coroa da vida.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 665-666.
Quando somos provados
precisam os estar de olho na recompensa (1.12). Quando Deus nos prova é para o
nosso bem, por isso somos bem-aventurados. Quando somos provados, desenvolvemos
a paciência triunfadora. Quando somos provados somos aprovados por Deus. Quando
somos provados somos galardoados por Deus. Quando somos provados temos a
oportunidade de demonstrar nosso amor por Deus. A Bíblia diz que nossa leve e
momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória (2Co 4.17). Como
Lutero expressou no hino Castelo Forte, ainda que percamos família, bens,
prazeres. Deus continua sendo nosso castelo forte.
Herbert Lockyer narra
uma história que lança luz sobre essa questão.
A história é contada
por uma mulher piedosa que, tendo enterrado um de seus filhos, recolheu-se a
sua melancolia. Contudo, quando leu o Salmo 18.45: ‘Vive o Senhor’, foi
consolada. Então, outro filho morreu. Ainda assim, ela permaneceu calma e
confiante, enquanto dizia: ‘o consolo pode morrer, mas Deus está vivo’. Porém,
o mais pesado golpe de todos ocorreu quando o seu amado esposo morreu, e ela
quase foi subjugada pelo sofrimento. Mas sua filha que sobrevivera, observando
como antes sua mãe falava para confortar-se a si mesma, perguntou-lhe, desconsolada:
‘Deus morreu, mamãe? Deus morreu?’. Isso alcançou o dolorido coração daquela
mulher, e a sua antiga confiança no Deus vivo retornou. O fato de sermos
provados nos capacita, não apenas para recebermos recompensa futura, mas também
nos equipa para sermos usados por Deus agora. Li algo maravilhoso que nos ajuda
a entender esse princípio: O processo utilizado no passado para o cultivo das
árvores que se tornariam os mastros principais dos navios militares e mercantes
era assim: os grandes construtores de navios selecionavam as árvores
localizadas no topo das altas colinas para, provavelmente, virem a ser o mastro
de um navio. Então, eles cortavam todas as árvores que as circundavam e que protegeriam
da força do vento as árvores escolhidas. Com o passar dos anos, e com os fortes
açoites dos ventos contra aquelas árvores, elas cresciam e se tornavam mais
fortes ainda, até que, finalmente, estavam suficientemente firmes para serem o
mastro de um navio.
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 23-24.
Tg 1.12
“Bem-aventurado”: a palavra constitui praticamente uma continuação das
bem-aventuranças de Jesus (Mt 5.3-11). Não se trata de verdades gerais. Não são
verdadeiras “em si”, mas apenas verdadeiras em e por meio de Jesus Cristo, por
meio do Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Em sua graça Deus concede o
maravilhoso prêmio à nossa porçãozinha de aprovação, que na verdade vive a cada
instante da fidelidade dele.
a) Quem é “ditoso”?
“A pessoa que carrega (ou “suporta”) com perseverança a provação”. Trata-se de
um verbo derivado do grego “paciência”, “permanecer por baixo”, hypomoné (cf. o
comentário a Tg 1.3). Portanto, é importante não tentar escapar das múltiplas
provas de Deus, mas perseverar nelas por amor e para louvor dele: seja sob o
peso que significa sermos atribulados por causa da obediência de fé – condições
precárias, tarefas difíceis, pessoas que nos causam problemas, preces
aparentemente não atendidas – seja (conforme a composição da palavra) debaixo
da tribulação de nos encontrarmos, em um aspecto qualquer, ou até mesmo em
vários aspectos, humanamente no lado obscuro da vida.
b) “Bem-aventurado”
em que sentido? Desde já, porque o beneplácito de Deus repousa sobre nós
quando, pelo amor de nosso Pai, suportamos aquilo que nos foi ordenado como
filhos de Deus. Mas Deus por sua graça nos presenteará principalmente no alvo
com o grande prêmio de vitória: “Porque, depois de ter sido aprovado, receberá
a coroa da vida.” O termo grego stéphanos significa os louros da vitória na
competição esportiva. Como ficaremos pasmos quando Deus responder de forma tão
maravilhosa à nossa corrida cristã, na qual de fato nos guiamos pela palavra:
“Deste-me trabalho com os teus pecados e me cansaste com as tuas iniqüidades”
(Is 43.24). “Lá soará, Deus coroará: só ele salvação trará” (Philipp Friedrich
Hiller [1699-1769]). – “A vida” é a definição de conteúdo daquilo que a coroa
representa. Por isso pode ser traduzida: “Receberá a coroa, a saber, a vida.”
Ou seja, a única coisa chamada vida, nosso Senhor Jesus Cristo, o grande Deus,
sua comunhão eterna. “Estaremos com o Senhor eternamente” (1Ts 4.17). Quem tem
Jesus tem tudo. “Contigo está a fonte da vida, e em tua luz vemos a luz” (Sl
36.9). “O Senhor é meu bem e minha porção” (Sl 16.5; cf. também 1Jo 1.2).
“Que Deus prometeu”:
cf. Jo 3.16,36; 10.28; Rm 6.23; Cl 3.4; 1Ts 4.17b. Deus fez promessas. Penhorou
sua palavra. Ele há de resgatá-la, inclusive quando parece estar atrasado (Hc
2.3; 2Pe 3.9). “A palavra do Senhor é verdadeira; e o que ele promete ele
certamente cumprirá” (Sl 33.4).
“Aos que o amam”: em
Jesus vemos o que significa amar a Deus. Por amor ao Pai ele trilhou qualquer
caminho, também o mais enigmático: ao sinal dele tornou-se ser humano, “a fim
de procurar e salvar o que está perdido” (cf. Fp 2.6ss; Lc 19.10). Segundo o
desígnio do Pai, concordou com que os famosos se afastassem dele e somente os
sem-nome o seguissem. “Eu te louvo, ó Pai… sim, Pai; porque assim foi agradável
perante ti” (Mt 11.25s). Ele também ofertou dor e lágrimas do caminho indizivelmente
difícil e enigmático até a cruz como sacrifício ao Pai (Hb 5.7). Amar a Deus:
entre nós isso também inclui precisamente que por meio do Espírito de Jesus
suportemos, segundo sua orientação e por amor ao Pai, caminhos incompreensíveis
e sinas aparentemente absurdas: “Sim, Pai, de todo coração, o fardo teu
carregarei” (Paul Gerhardt).
Fritz
Grünzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Provação,
dificuldades, problemas, sofrimento, tribulação, depressão, seja qual for o nome
que damos às adversidades e às tragédias da vida, a verdade absoluta é que não
é fácil enfrentá-las. O ser humano pode ser forte, inteligente, brilhante ou,
até mesmo, o maior gênio da matemática, e ainda assim não estar imune aos dramas
da vida. Como aconteceu com John Forbes Nash Jr. Que ainda jovem fez uma
descoberta revolucionária no campo da matemática que anos depois lhe renderia o
prêmio Nobel de Economia. Mas mesmo para uma mente brilhante como a de Nash não
foi suficiente para que ele ficasse imune à esquizofrenia que quase destruiu
sua vida, carreira e casamento.
A adversidade náo
escolhe a classe social, baixa ou alta; a escolaridade, analfabeto ou doutor; a
beleza, bonito ou feio; a religião, cristão ou pagão nem o grau de
espiritualidade, infiel ou comprometido.
Ela é uma fatalidade,
parte de um mundo caído. E parte de um mundo que vive no mal, que herdou as consequências
da rebelião do primeiro casal que teve o privilégio de ver Deus face a face.
Mas independentemente
desse drama que vivemos, nós, como servos do Senhor, podemos experimentar e
viver de forma diferente mesmo diante dos problemas e das provações que o mundo
nos prepara.
E no versículo 12,
Tiago, novamente, vai de forma contundente contra tudo aquilo que o mundo nos
apresenta como resposta fácil quando afirma que existe maior alegria no fato de
perseverarmos na provação, porque depois de aprovados receberemos o grande
prêmio, a coroa da vida, que Deus garantiu entregar àqueles que o consideram
acima de tudo nessa vida. Tiago começa dizendo “feliz” ou “bem-aventurado” é a
pessoa que persevera na provação. O grande dilema e mesmo ironia dessa bem-aventurança
é que ela pressupõe a felicidade quando nós nos encontramos em um estado
deplorável. É fácil abraçar aquilo que o salmista diz: “Como é feliz aquele que
não segue o conselho dos ímpios” (SI 1.1). É certo que ninguém em sã
consciência iria para a porta de um botequim para se aconselhar com bêbados
sobre sua vontade de abrir um negócio. Qual a felicidade que alguém encontraria
seguindo conselhos dessas pessoas? Por isso, é muito fácil perceber que feliz é
aquele que tem sua satisfação na lei do Senhor (SI 1.2). Por outro lado, é
muito mais difícil aceitar que exista felicidade em se perseverar na provação.
Todos nós já tivemos nossos dias difíceis. E quantos se animam com os famosos:
“Não chora”; “Deixa disso, não vale nem a pena se estressar”; “Ah, isso vai
passar”; “Levanta a cabeça, esquece isso, tudo vai ficar bem”; “Nada como um
dia após o outro”; “Você tem que ser forte”. Se tivéssemos essa força, não
seria exatamente isso que estaríamos fazendo?
Mas independentemente
de ser tão difícil abraçar o que Tiago diz, ainda assim, é verdade que feliz é
aquele que persevera. Por mais doloroso que seja aceitar, há felicidade mesmo
quando nos encontrarmos em um estado miserável. O próprio mundo nos dirá que
somos coitados por estarmos nesse estado. Ou muitos de nós olham para as
pessoas em dificuldade como coitadas e miseráveis. A razão disso é que
definimos a miséria das pessoas pelo que elas passam. Só que Deus define nossa
miséria não pelo que passamos, mas pelo que deixamos de alcançar. Por essa
razão, Tiago nos ensina que feliz é a pessoa que persevera na provação. A
felicidade aqui está ligada a perseverança. Como Tiago já havia mencionado nos
versículos 3 e 4: “pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança.
[...] E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros
e íntegros Não temos outra saída, pois, como cristãos, precisamos praticar a
perseverança a fim de alcançar um caráter perseverante. Da mesma forma que um
atleta persevera ou passa por estresse físico para alcançar um grau maior de
resistência, assim também acontece conosco, os cristãos. Precisamos resistir
aos testes ou às tribulações da vida a fim de obter a perseverança espiritual
que trará perfeição. Diante dos problemas, temos que zelar pela nossa atitude
diante de Deus. Não devemos permitir que entremos na murmuração que leva ao
desespero. Mas como o autor de Hebreus escreveu devemos “suportar as
dificuldades como disciplina. Deus nos trata como a seus filhos. Ora, qual o
filho que não é disciplinado por seu pai?” (Hb 12.7). Tribulação para o não
cristão é punição, mas para o cristão é teste, uma verdadeira prova de amor do
Pai. Como escreveu Thomas M.: “Uma pessoa pode não ser sempre feliz quando tudo
acontece segundo os seus próprios desejos, mas ela pode resistir e perseverar o
mal com vitória e paciência”. E a perseverança é alcançada na provação, ou
seja, durante a tempestade. Deus quer de nós dependência, confiança nele, ou
seja, quer que nos apoiemos nele. O cristão chora. O cristão sente dor. O
cristão se humilha diante de Deus. Ele clama ao pai por socorro. Ele persevera na
provação. Como Jesus disse: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este
cálice; contudo, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mt 26.39). Quando
Jesus disse isso ele estava sendo poético e politicamente correto com suas
palavras? E claro que não. Jesus estava prestes a enfrentar a morte e ele sabia
muito bem disso. Seu próprio sentimento demonstra isso. No versículo anterior,
ele dissera que sua alma estava profundamente triste, “tristeza mortal” (Mt
26.38). E o evangelista Lucas nos informa que sua angustia era tamanha que ele
orava intensamente, e seu suor era como “gotas de sangue que caíam no chão” (Lc
22.44). Não podemos ser cínicos. Não podemos negar que o sofrimento existe e
que ele dói. Ele machuca. As dificuldades física, emocional e econômicas desta
vida são reais. A vida é repleta de problemas. Não temos como fugir dessa
realidade. Somos pessoas vulneráveis a tudo. Basta um vírus, e ficamos de cama.
Basta uma mudança de tempo, e pegamos uma gripe. Basta uma noite mal dormida,
um pouco de estresse, falta de comida e uma queda na pressão sanguínea que perdemos
os sentidos, como acontece com aqueles que sofrem de síncope do vaso vagai.
Mas será que Deus
está pedindo que tenhamos fé a ponto de ignorar ou fazer de conta que não
estamos sofrendo ou que não sofremos de forma alguma porque somos supercrentes?
De forma alguma! Não é vergonha nem pecado um cristão ficar doente ou sofrer,
sentir-se frágil. Isso é ser humano. Como Paulo afirmou: “por amor de Cristo,
vos foi concedido não somente crer nele, mas também sofrer por ele” (Cl 1.29,
A21). Contudo, o Senhor espera que não vivamos presos, limitados nem
acorrentados pelas tragédias da vida de tal forma que nos impossibilite de ver
além do nosso próprio problema. Pois assim deixamos de enxergar tudo aquilo que
de mais precioso ele tem nos dado e nos preparado para receber. Como disse o
profeta Habacuque: “mesmo não florescendo a figueira, e não havendo uvas nas
videiras, mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de
alimentos na lavoura, nem ovelhas no curral, nem bois nos estábulos, ainda assim,
eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação” (3.17,18).
As aflições externas
só serão o mal maior, se Deus não for nosso bem maior. Por isso, rejeitar nossa
situação não é o caminho, mas o caminho é perseverar na nossa provação.
Provação e tentação
traduzem a mesma palavra grega (peirasmos). Esta deve ser a razão que Tiago
trata dos dois sentidos nesse parágrafo. Primeiro, ele trata da felicidade do
homem que persevera na provação (certamente, a melhor opção no v. 12). Todo
tipo de sofrimento atinge o homem em conseqüência da queda de Adão e a maldição
que foi pronunciada contra o mundo por Deus. O apóstolo Paulo escreveu:
“Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a
glória que em nós será revelada. A natureza criada aguarda, com grande
expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados. Pois ela foi submetida à
inutilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que
a sujeitou, na esperança de que a própria natureza criada será libertada da
escravidão da decadência em que se encontra, recebendo a gloriosa liberdade dos
filhos de Deus” (Rm 8.18-21).
A felicidade dos que
perseveram nas provações e são aprovados (,dokimos, v. 2) culmina no galardão
de receber a coroa da vida (v. 12). Essa coroa (stephanos, grinalda, uma coroa
de folhas) correspondia nos jogos olímpicos à medalha de ouro nos dias atuais.
A aprovação do Senhor resulta na honra concedida a um vencedor. Todo cristão que
não desiste, mas persevera, será reconhecido como vencedor, recebendo a coroa
da vida, prometida por Deus para aqueles que o amam.
Paulo afirma que ele
corre para ganhar o prêmio que ele também chama de coroa (stephanon). Enquanto
os que correm no estádio correm para uma coroa ou grinalda que perece, Paulo esmurra
seu corpo para ganhar a corrida de Deus. A grinalda que o Senhor lhe dará não
perece (ICo 9.25), mas durará para sempre. A permanente e duradoura confirma
que a vida eterna nunca acabará. Novamente, em 2Timóteo, Paulo, pouco antes de
sua decapitação em Roma, expressa sua confiança em ser galardoado com uma coroa
(stephanos) de justiça (4.8). Todos os justificados (declarados justos pela
graça) receberão a coroa que os identifica como perfeitos, sem mácula ou mancha
de pecado.
A coroa é o emblema
de sucesso espiritual concedido pelo Rei do universo àqueles que mantêm sua fé.
Talvez tenha sido desse versículo que C. S. Lewis tenha tirado a ideia de
coroar os jovens vencedores Pedro, Edmundo, Susana e Lucia, no final de sua
primeira aventura, contra a Rainha má de Nárnia, pois eles passaram no teste da
fé e perseveram até o fim.
E coroa da vida aqui
pode ser entendida como a coroa que é a vida que Deus nos premiou. Essa vida é
sem dúvida a vida eterna, o desfrutar da presença de Deus na eternidade. Em Apocalipse
2.9 e versículos seguintes, Jesus diz para os cristãos que estão sofrendo que
aqueles que perseverarem que o prêmio será a vitória sobre a morte. “Estas são
as palavras daquele que é o Primeiro e o Ultimo, que morreu e tornou a viver.
Conheço as suas aflições e a sua pobreza, mas você é rico! Conheço a blasfêmia
dos que se dizem judeus, mas não são, sendo antes sinagoga de Satanás. Não
tenha medo do que você está prestes a sofrer. O Diabo lançará alguns de vocês
na prisão para prová-los, e vocês sofrerão perseguição durante dez dias. Seja
fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida. Aquele que tem ouvidos ouça o
que o Espírito diz às igrejas. O vencedor de modo algum sofrerá a segunda
morte’.
Jesus conhece nossa
aflição. Ele sabe onde está localizada nossa dor. Ele conhece exatamente o que
estamos passando. E ele pede de nós coragem? Ele diz para nós “deixarmos
disso”, ou “sairmos dessa”? Não. Ele pede de nós fidelidade. Ser fiel, mesmo em
caso de ter que enfrentar a morte. Esse versículo de Tiago é um dos mais
apocalípticos de todo o livro. Pois ele está olhando para o presente: as nossas
dificuldades e provações hoje, mas nos chamando para uma disposição futura. É impressionante
como, em grande parte da Bíblia, a questão do sofrimento está relacionada com o
presente e o futuro.
O presente sempre
sendo o momento que experimentamos nosso sofrimento, e o futuro sendo sempre
nossa âncora na qual devemos nos apoiar. Parece que, de alguma forma, o Senhor
quer nos ensinar que o sofrimento nessa vida, no presente, é inevitável. Em
parte, é inevitável por estarmos em um mundo caído, corrompido e contaminado
pelo pecado. E focalizar no sofrimento, na dor, no problema, na tribulação só
agrava o fato como se fosse uma forma que o mundo encontrou para nos distanciar
de Deus. Mas o encorajamento do Senhor está em nos ensinar e nos impulsionar a
olhar para além do sofrimento na expectativa e na esperança daquilo que ele
está reservando para nós para toda a eternidade.
Por pior que sejam os
nossos sofrimentos, e eles são legítimos e verdadeiros, Paulo diz que eles
ainda assim se quer podem ser comparados com a glória que em nós será revelada
(Rm 8.18). Ou ainda que eles, embora nada mais sejam do que leves e momentâneos
estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles
(2Co 4.17). Por essa razão, precisamos fixar os olhos, não naquilo que se vê,
mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é
eterno (v. 18).
De alguma forma
sobrenatural encontraremos força mudando nosso foco do problema para a glória
aguardada da herança que receberemos no momento prometido. Além disso, é
necessário reconhecer a própria limitação do período de sofrimento atual que é passageiro,
mesmo que para muitos de nós algumas horas de angústia pareçam representar uma
vida inteira de sofrimento. E se falhamos em ter uma visão correta e certa de
nosso futuro, falharemos em uma abordagem correta e equilibrada do nosso
presente. Viveremos no tormento da dor sem esperança. Ficaremos desanimados e desmotivados
com a própria vida, e muito mais ainda com a vida cristã. Estaremos nos
culpando por não agirmos como deveríamos, e a tendência de correr para mais
longe de Deus, por conta da própria sensação e sentimento de falência
espiritual, por saber como devemos agir e acabar agindo de outra forma.
Como é lastimável
pensar que existem muitas pessoas enganando e sendo enganadas com essa ideia
diabólica de que o crente 11.10 sofre, o crente não fica doente. Quando o que a
Bíblia mais afirma é que o sofrimento é real. Que os problemas machucam, doem.
Que essa vida não é fácil não. E essa mentira nos tenta a encobrir uma
realidade que é impossível de ser coberta. E tão impossível encobrir e mascarar
o sofrimento como cobrir o mar ou impedir que o sol apareça. Podemos e tentamos
fazer de tudo — correr para médicos, tomar remédios, fazer tratamentos,
praticar esportes, alimentar-se bem, mas a verdade é que a vida neste mundo pressupõe
dor, angústia e tribulação.
Seria utopia achar
que o sofrimento é injusto tanto quanto que Deus é injusto por permitir que o
mundo seja assim. Por outro lado, o lado melhor da moeda, é que Deus não nos
criou para a terra, mas para o céu. E pode um crente viver no presente sem a visão
do céu? O presente que recebemos no meio de tudo é um chamado para focalizarmos
nossa pátria verdadeira (Fp 3.20).
Por isso, a
constância e a perseverança têm grande valor para Deus. O apóstolo Paulo disse
que Deus retribuirá a cada um conforme o seu procedimento’. Ele dará vida
eterna aos que, persistindo em fazer o bem, buscam glória, honra e imortalidade
(Rm 2.6,7). Na competição dos jogos, a perspectiva de ganhar o prêmio serve de
estímulo para os atletas. Também, para todos os que perseveram na corrida
cristã, apesar das aflições e oposição, Deus oferecerá a coroa da vida.
Russell P. Shedd,.
Edmilson F. Bizerra. Uma Exposição De
Tiago A Sabedoria De Deus. Editora Shedd
Publicações.
Tg 1.3 Embora a nossa
tendência seja pensar nas provas como uma maneira de testar o que não sabemos
ou não temos, passar por uma prova deveria ser uma oportunidade positiva para provar
aquilo que aprendemos. Esta prova à nossa fé é um teste que tem um objetivo
positivo. Neste caso, os problemas não determinam se os crentes têm fé ou não.
Os problemas fortalecem os crentes, acrescentando paciência à fé que já se
encontra presente. A paciência é a fé ampliada; ela envolve a confiança em Deus
por um período muito longo de tempo. Tiago náo está questionando a fé dos seus
leitores — ele supõe que eles confiam em Cristo. Ele não está convencendo as
pessoas a terem fé; ele está encorajando os crentes a permanecerem fiéis até o
fim. Tiago sabe que a fé deles é verdadeira, mas esta fé precisa amadurecer.
Não podemos conhecer
verdadeiramente a nossa própria profundidade até que vejamos como reagimos sob
pressão. Diamantes preciosos começam sendo carbono, sujeitos a uma pressão
intensa durante algum tempo. Sem pressão, o carbono continua sendo carbono.
A prova da sua fé é a
pressão contínua que a vida exerce sobre você. A paciência, como uma pedra
preciosa, é o resultado desejado deste teste. A paciência não é uma submissão
passiva às circunstâncias; é uma resposta forte e ativa aos eventos difíceis da
vida, mantendo-lhe em pé à medida que você enfrenta as tempestades.
Não é simplesmente a
atitude de suportar as provações, mas sim a capacidade de convertê-las em
glória e superá-las.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 663.
Aprova da nossa fé
(v. 3) fortalece nossa paciência. Jesus disse: “E na vossa paciência que
ganhareis a vossa alma” (Lc 21.19, ASV). Tiago não nos dá este conselho com
base na sua autoridade pessoal. Sabendo que significa: “Descubram por conta
própria”. O tempo do verbo sugere uma ação progressiva e contínua — descobrindo
continuamente. O apóstolo diz, na verdade: “Procurem ser alegres e
perseverantes e vejam se não é a melhor maneira de lidar com as suas
provações”.
E por que deveríamos
continuar provando? Tasker responde: “Para que os cristãos sejam perfeitos e
completos, avançando até alcançar a vida equilibrada de santidade perfeita e
íntegra”.3 Essa é a vontade de Deus para o cristão. A exortação aponta para uma
santidade representando o alvo mais elevado da maturidade cristã. Mas essa
maturidade não deve estar dissociada do cumprimento do mandamento do nosso
Senhor e da sua provisão para alcançar esse elevado nível de santidade. A
palavra perfeitos é a mesma que Jesus usou quando instruiu seus seguidores:
“Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus” (Mt
5.48).
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 155.
Tg 1.3 a) Aprendemos
a paciência. “Pois tendes o conhecimento de que o teste de autenticidade de
vossa fé produz paciência.” O termo grego para “paciência”, hypomoné, significa
também “perseverança”, “constância”, literalmente “permanecer por baixo”,
debaixo das condições difíceis, das tarefas onerosas, dos sofrimentos físicos e
psíquicos etc., permanecer debaixo de Deus e de sua vontade, no lugar em que
ele nos colocou. Nossa natureza humana perde a paciência diante das
adversidades. Mas em que sentido, afinal, as tribulações produzirão paciência
nos cristãos?
Paulo escreve:
“Estais radicados nele”, em Cristo (Cl 2.7). As tribulações são capazes de nos
prestar o serviço de nos ensinar a enraizar-nos cada vez mais profundamente em
Deus, a agarrar-nos cada vez mais firmemente a ele. É como as árvores fazem na
natureza: as de raízes rasas são derrubadas, uma depois da outra, pela
tempestade. As faias solitárias sobre os montes agarram-se cada vez mais
firmemente às rochas nas ventanias. Consequentemente, nossa constância se
fortalece cada vez mais nos testes de autenticidade. – Igualmente colhemos
experiências com nosso Senhor, como p. ex.: “Ele tira a vida e a dá; faz descer
à sepultura e faz subir, ele empobrece e enriquece; abaixa e também exalta”
(1Sm 2.6s). Em novas provações saberemos por experiência própria: não há
motivos para resignar. Sabemos o que podemos esperar de Deus nas provações,
qual é o método de nosso Deus: ele socorre na aflição e, na hora certa, também
ajuda a sair dela. Em certas circunstâncias, outros, ainda iniciantes na fé,
poderão aprender algo com a tranquilidade, serenidade e certeza daqueles que há
muito vivem com seu Senhor e em muitas provações já colheram numerosas
experiências com ele. “… que têm sido exercitados” (Hb 12.11). Ademais é
importante que preservemos as experiências de tribulações anteriores para a
atualidade e o futuro, para nós e outros (Sl 77.12) e as façamos frutificar em
determinadas ocasiões.
Fritz
Grünzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
2. Produzir a
paciência (v.3,4)
Similar à sua lista
de fraquezas de 4.8-10, esta lista inclui aflições, necessidades e angústias
que a maioria dos pregadores não apresentaria perante seus ouvintes.
Por pregar a Cristo,
Paulo tinha sido açoitado. Em 11.23-25, Paulo lembra que tinha sido açoitado
cinco vezes pelos judeus.
Ele também tinha sido
espancado com varas pelas autoridades civis em três ocasiões diferentes. Lucas
registrou, no livro de Atos, que Paulo e Silas sofreram esta punição em Filipos
(veja At 16.23,24).
Paulo tinha sido
aprisionado em Filipos (At 16.23). Em praticamente todas as cidades, Paulo
tinha enfrentando tumultos, normalmente provocados pelos judeus rancorosos. Em
Antioquia da Pisídia, os judeus incitaram os homens e mulheres influentes da
cidade para expulsá-lo daquela cidade (At 13.49-52). Em Icônio, os cidadãos
tramaram apedrejar Paulo até a morte (At 14.5,6). Em Listra, uma multidão
irritada o apedrejou, e, milagrosamente, ele sobreviveu e seguiu até a cidade
seguinte para pregar o Evangelho (At 14.19). Em Filipos, uma multidão cercou Paulo
e Silas e os aprisionou (At 16.19-24).
Em Tessalônica, uma
multidão que procurava Paulo cercou a casa de Jason (At 17.5). Em Éfeso, uma
multidão de ourives enraivecidos atacou os companheiros de viagem de Paulo (At
19.23-41). Mesmo durante o ministério de Paulo entre os coríntios, os judeus de
Corinto o prenderam e o levaram diante do governador (veja At 18.12-17). Em
toda parte onde Paulo pregava o Evangelho, ele encontrava-se com multidões
inflamadas. Ele esperava oposição, mas também esperava que Jesus o guiasse
nestas situações difíceis (veja 1.3-7).
Depois de listar
algumas das aflições involuntárias que tinha enfrentado, Paulo mencionou as
aflições que ele havia suportado voluntariamente pela causa do Evangelho. Paulo
não apenas enfrentou obedientemente todos os tipos de oposição a Cristo, como
também fez sacrifícios pessoais para poder continuar a anunciar as boas novas.
Paulo tinha trabalhado até a exaustão para não se tornar um peso para as
pessoas a quem estava pregando, em especial para os coríntios (veja 11.9). Em
Tessalônica, ele trabalhou noite e dia; talvez isto lhe tenha causado algumas
daquelas noites sem dormir, em vigília (1 Ts 2.9; 3.8). Talvez algumas destas vigílias
voluntárias não tivessem sido passadas em trabalho físico, mas em orações por
todas as igrejas. Além disto, Paulo tinha jejuado muitas vezes. Ele pode ter
feito isto para não ser um peso financeiro para as pessoas a quem estava
pregando (veja 11.7-10).
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 216-217.
Mas como os seus
caluniadores coríntios aparentemente sentiram que a honra da indicação feita
por Deus significava sucesso e proeminência, Paulo teve que ressaltar que até
mesmo os seus sofrimentos eram demonstrações da autenticidade do seu apostolado
(4-5).201 Em tudo - possivelmente em todas as ocasiões - Paulo e seus
companheiros de trabalho se tornavam recomendáveis (dignos de elogio, cf. 3.1;
4.2; 5.12) como ministros (servos; cf. 6.4; Mt 20.26; Mc 10.43) de Deus.
Redpath sugere que todas as condições mencionadas em 4-10 “fornecem uma
plataforma para a exibição da graça de Deus” na vida dos seus servos.202
Paulo recomenda o seu
ministério, primeiramente, na muita paciência (“grande persistência”, RSV).
Esta qualidade, muita ressaltada por Jesus (Mt 10.22; 14.13; Lc 8,15; 21.19) e
certamente significativa para Paulo (1.6; 11.23-30; Rm 5.3; 1 Ts 1.3),
coloca-se no topo de três grupos de provações. O primeiro grupo, no versículo 4,
apresenta os sofrimentos de Paulo em termos gerais. Eles podem se referir
àquelas dificuldades que são independentes do agente humano, e incluem aflições
(cf. 1.3-10; 2.4; 4.8,17; At 14.22; 20.23), todas as experiências de pressão
física, mental ou espiritual que talvez possam ser evitadas; necessidades
(“privações”, NEB), que não possam ser evitadas; e angústias (“dilemas”, NEB,
4.8), das quais não é possível escapar.
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. I
Coríntios. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 438.
«...na muita
paciência...» Esta última palavra, no original grego, é «upomone». Trata-se não
simplesmente da capacidade de esperar com tranquilidade e sem queixumes, pela
concretização de algo que se espera, conforme a definição ordinária da palavra
moderna «paciência». Antes, dentro do uso neotestamentário há a ideia de
«constância», «fortaleza», «permanência», «perseverança», em face das
dificuldades, das perseguições e de um trabalho árduo e prolongado. Por isso
mesmo, um elevado lugar é atribuído a essa virtude, nas páginas do N.T., bem
como em outras literaturas cristãs. Notemos a «constância de Cristo», em seus
sofrimentos (Pol. 8:2); a fortaleza «similar à de Cristo» (ver II Tes. 3:5); a
«constância» na prática do que é direito (ver Rom. 2:7); a «perseverança dos
santos» (em, Apo. 3:10). O Senhor Jesus dava a essa virtude uma importância
muito grande, conforme se vê em Luc. 8:16; 21:19; Marc. 13:13; Mat. 10:22 e 24:13.
Esta epístola torna a mencioná-la, no trecho de II Cor. 12:12. E nas passagens
de I Tim. 6:11; II Tim. 3:10 e Tito 2:2, essa virtude aparece logo depois do
«amor», nas listas das virtudes cristãs. Crisóstomo teceu louvores a essa
virtude como segue: «É ela a raiz de toda a bondade, a mãe da piedade, o fruto
que nunca murcha, uma fortaleza jamais conquistada, um porto que desconhece
tempestades». (Hom. 117). O mesmo autor diz em sua Ep. ad Olymp. 7: «(ela é) a
rainha das virtudes, o alicerce das ações corretas, a paz na guerra, a calma na
tormenta, a segurança nas maquinações, que nenhuma violência humana e nenhum poder
do mal poderá prejudicar». Clemente de Roma, ao referir-se às várias virtudes
que recomendavam aos apóstolos, deu o primeiro lugar a essa virtude. (Ver Cl.
12:12).
Aquieta-te, minha
alma: o Senhor está a teu lado; Suporta com paciência a cruz da tristeza ou da
dor; Deixa ao teu Deus ordenar e providenciar; Em toda a modificação ele
permanecerá fiel; Aquieta-te, minha alma; teu melhor e celeste Amigo Por
caminhos espinhosos te conduz a um fim feliz. (Katharina von Schlegel).
«Todos os homens
aprovam a paciência, embora poucos estejam dispostos a praticá-la». (Tomás à
Kempis, 1380-1471, em sua famosa obra Imitação de Cristo).
«É na vossa perseverança
que ganhareis as vossas almas» (Luc. 21:19).
«Tendes ouvido da
paciência de Jó...» (Tia. 5:11).
«...aflições...» No
grego temos o termo «thlipsis», uma palavra geral que indica várias formas de
aflição, produzidas por circunstâncias externas adversas, pelas tribulações,
pelas perseguições, pelas angústias mentais e espirituais. A ideia à raiz dessa
palavra é «pressão». O verbo grego «thlibo» significa «premir», «espremer»,
«restringir», «estreitar», e, por conseguinte, «oprimir, «afligir». Esse
vocábulo é usado por nada menos de quarenta e cinco vezes nas páginas do N.T.,
com tais sentidos como «tribulação» (como em Mat. 13:21 e 24:21,29), «aflição»
(como em Marc. 4:17 e 13:19); «angústia» (como em I Cor. 7:28); e «perseguição»
(como em Atos 11:19).
«...privações...» é
tradução do vocábulo grego «anagke», que quer dizer «necessidade»,
«calamidade». Essa palavra, no original grego, também podia transmitir a idéia
da «falta» de algo necessário, ou seja, a redução a uma pobreza extrema.
Sabemos que Paulo sofreu assim, porquanto aprendeu como ter abundância e sofrer
penúria. (Ver Fil. 4:12). Essa palavra grega, entretanto, pode significar
simplesmente «calamidades», «experiências adversas», o que também se verificou
na vida do apóstolo dos gentios. Esse vocábulo é empregado por dezoito vezes no
N.T., e ambas essas ideias aparecem inerentes nas ocorrências do mesmo. «...angústias...»,
no grego, é «stenochoria», que literalmente traduzido seria «estreiteza»,
demonstrando um estado de «confinamento», de «restrição», dando a ideia de
angústias, apertos de muitas formas.
É interessante que
alguns estudiosos veem certa intensificação crescente das dificuldades
mencionadas por Paulo —«Aflições» (II Cor. 1:4,8; 2:4 e 4:7), que podem ser
evitadas; «necessidades» (II Cor. 12:10), que não podem ser evitadas; e
«apertos» (II Cor. 12:10), do que não há como escapar». (Plummer, in loc.).
«A ideia aqui
prevalente é a de pressão e confinamento: cada estágio mais estreito do que o
anterior, de tal modo que nenhum espaço é deixado para movimento ou escape».
(Stanley, in loc.).
Paulo expressa as
suas grandes tribulações mediante o emprego de diversos trios, três ao todo,
expressando nove formas de angústia (nos versículos quarto e quinto deste
capítulo). Comenta Faucett(ín loc.), acerca disso: «O primeiro trio expressa as
aflições em geral; o segundo trio, aquelas que se originam nas violências dos
homens; e o terceiro trio, expressa aquelas que ele provocou contra si mesmo,
direta ou indiretamente. Tudo isso comprovava o seu direito de exortá-los com
autoridade, bem como sua capacidade de servir-lhes de exemplo.
O recital que se
segue (nos versículos quarto a décimo deste capítulo) é uma extravasam do
coração de Paulo, com o objetivo único de revelar o seu amor, através daquilo
que ele teve de tolerar. Tudo começa com a menção de seus sofrimentos físicos,
uma lista impressionante, repetida com maiores detalhes em II Cor. 11:23-28.
Paulo se regozijava nesses sofrimentos, mas não mediante alguma ufania no
martírio, conforme com freqüência os sofrimentos dos santos se transformam em
uma espécie de indulgência masoquista. Para Paulo, essas coisas eram as ‘marcas
do Senhor Jesus’ (ver Gál. 6:17). Os sinais de seu companheirismo com seu
Senhor, o resultado e aprova de sua fidelidade a seu Senhor e à sua
mensagem...Em seguida nos é oferecida uma descrição sobre as qualidades que
acompanhavam a mensagem do apóstolo. Nisso se encontram os frutos e
manifestações do Espírito Santo. Essas são as graças que Paulo procurava
cultivar, e que ele reputava como essenciais naquele que quisesse recomendar o
seu ministério aos outros». (James Reid, ín loc.).
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 353-354.
II Ts 1.4 Aparentemente,
não era costumeiro de Paulo falar, nas igrejas de Deus, sobre um grupo de
crentes a fim de se gloriar de determinadas características. No caso dos tessalonicenses,
entretanto, Paulo os elogiou, assim como outros já tinham feito (I Ts 1.7-10).
A palavra hupomone,
traduzida como paciência, é a mesma palavra usada em I Tessalonicenses 1.3. Ela
retrata não uma aceitação passiva face às dificuldades, mas sim uma resistência
ativa contra elas, demonstrada pela fé.
Os crentes
tessalonicenses permaneciam fiéis a Deus mesmo em meio a todas as perseguições e
aflições que estavam suportando. Paulo tinha sido perseguido durante a sua
primeira visita a Tessalônica (At 17.5-9). Sem dúvida, aqueles que tinham
respondido positivamente à sua mensagem e tinham se tornado cristãos continuavam
a enfrentar perseguições.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 462.
Em linguagem
exuberante, Paulo relembra a origem emocionante da igreja tessalonicense. Eles
são chamados de amados irmãos... de Deus (4). A frase de Deus deve ser colocada
depois de irmãos, e não depois de é referindo-se à eleição (cf. AEC, BAB, BJ,
NVI, RA). A fraternidade cristã é a fraternidade dos filhos de Deus que
nasceram de novo e estão mutuamente unidos pelo amor e pela vida comum que têm
em Cristo. E muito real e forte. Tais pessoas foram e são amadas continuamente
por Deus (cf. Rm 8.31-39). “Amados por Deus” (BV) era termo reservado no Antigo
Testamento para Israel e pessoas especiais. Em Cristo, todos os homens tomam parte
do privilégio.
Acerca dos
tessalonicenses cristãos, Paulo confirma: sabendo... a vossa eleição (4). E
comum este conceito bíblico ser erroneamente interpretado ou torcido. Eleição
significa escolha, e nas Escrituras os eleitos são aqueles a quem Deus escolheu
para serem seus filhos e herdeiros da vida eterna. A construção grega (4)
denota que o ato de eleição de Deus brota
do seu amor imutável.
Há acordo sobre este ponto entre todos os que aceitam as Escrituras como regra.
A divisão surge na questão do método e base da eleição. Para um grupo, é a
deliberação secreta e eterna de Deus, sua escolha soberana de certos
indivíduos, ao mesmo tempo em que ele ignora os demais. Mas o único ponto de
vista consistente com o teor geral
das Escrituras, como
também com todas as passagens em questão, é o que ensina que a eleição é a
escolha de Deus para a vida, pela graça, de todos os que salvadoramente creem
em Jesus Cristo. O chamado é universal, de forma que ainda que o princípio no
qual a escolha é feita seja decretado eternamente, a eleição não é arbitrária,
mas condicional à aceitação da oferta de misericórdia em Cristo. A escolha é
condicional, e, portanto, os eleitos são aqueles que permanecem na fé e
perseveram na obediência7 (cf. 2.13-15; 2 Pe 1.10).
Paulo não hesita em
insistir no conhecimento da eleição para a salvação pessoal. Tal garantia é
promessa das Escrituras. A força da palavra porque, que inicia o versículo 5,
denota que a eleição dos tessalonicenses foi deduzida dos fatos indisputáveis
de sua experiência. Eles têm “fé”, “amor” e “esperança” (3) em Jesus Cristo? E
estas virtudes se mostram em “obra” (3), por exemplo, afastar-se dos ídolos; em
“trabalho” (3), por exemplo, servir ao Deus vivo e verdadeiro; e em “paciência”
(3), por exemplo, esperar dos céus a seu Filho (cf. 9,10)? O auto-exame
minucioso não deve suscitar dúvidas ansiosas, mas combater a falsa confiança na
bênção de um dia que é apenas lembrança.
Paulo nos lembra o
que James Denney denomina de “os sinais da eleição”.
Árnold E. Airhart. Comentário Bíblico Beacon. I e II Tessalonicenses. Editora CPAD. Vol. 9. pag. 361-362.
A terceira razão para
o louvor prestado por Paulo aos crentes tessalonicenses é que eles tinham
suportado bem as perseguições, não abandonando o poder da fé e nem a constância
do testemunho cristão. Os trechos de I Tes. 1:6; 2:14 e 3:2-5 mostram-nos que
aqueles crentes estavam sob o assédio da perseguição, quando Paulo lhes
escreveu sua primeira epístola; e essa situação teve prosseguimento durante os
meses passados entre o recebimento da primeira e da segunda epístolas. Aqueles
crentes, tendiam para o desencorajamento por esse motivo; mas o apóstolo dos gentios
demonstra como não tinham razão alguma para o desânimo, já que o progresso
espiritual deles, que era fator verdadeiramente importante, nada sofrera, sendo
tão extraordinário que ele podia elogiá-los perante outras comunidades cristãs,
de outras localidades, utilizando-se deles como um exemplo de como os crentes
devem confiar em Cristo e mostrar-se perseverantes sob a opressão.
«Estamos sempre
prontos para ver nisso todas as coisas, exceto aquilo que vem de Deus, os erros
feitos pelo o b reiro, os pre co n c eito s de novos discípulos, no sentido que
a luz ainda não clareou, e também as falhas de caráter que o Espírito Santo não
conseguiu vencer; e quando fixamos nossa atenção sobre essas coisas, é apenas
natural que nos mostremos inclinados à censura. O homem natural gosta muito de
encontrar defeitos; pois isso lhe dá, com pouquíssimo trabalho, o senso
consolador de ser superior. Mas é um olho maligno aquele que só pode ver
faltas, deleitando-se nelas. Antes de comentarmos as deficiências ou equívocos,
que só se tornam visíveis em face do pano de fundo da nova vida, agradeçamos a
Deus pela vida nova, por mais humilde e imperfeita que seja essa forma. Não é
necessário que o caráter do crente seja agora o que ainda será. Porém, somos
forçados, pela força do dever, pela verdade e por tudo quanto é correto e
justo, a dizer:
‘Graças sejam dadas a
Deus por aquilo que ele começou a fazer mediante a sua graça’. Existem pessoas
que nunca deveriam ver trabalhos feitos pela metade; e talvez essas mesmas
pessoas devessem ser proibidas de criticar as missões, tanto as de âmbito
pátrio como as que atuam no estrangeiro. A graça de Deus não é responsável
pelas falhas dos pregadores ou dos convertidos; mas ela é antes a fonte
originária de suas virtudes; é a fonte de sua nova vida; é também a esperança
do futuro deles; e a menos que acolhamos suas operações com ações de graças
constantes, não estaremos em uma atitude mediante a qual a graça divina possa
operar em nós».
(Denny, in loc.).
«...nos gloriamos de
vós...» Os crentes tessalonicenses não tinham reais motivos para estarem
desencorajados; pois o que devia ser realizado, estava sendo realizado. Paulo
se «gloriava» neles perante outras igrejas. É usado por ele o vocábulo grego
«egkauchomai», que significa «ufanar-se», e que em um mau sentido significa
«mostrar-se arrogante». Não era coisa de somenos que o grande apóstolo dos
gentios pensasse que o progresso espiritual daqueles crentes era de tal
natureza que merecesse jactar-se ele do mesmo de maneira sincera. Isso Paulo
disse a fim de encorajá-los em meio às tribulações e descoroçoamentos. Em
Corinto (bem como em outras localidades da província da Acaia), Paulo
apresentava o caso dos crentes tessalonicenses como um exemplo de como os
crentes devem progredir na sua vida espiritual (ver II Cor. 1:1). Outro sim, o
trecho de I Tes. 1:8 deixa entendido um contato e uma atividade muito maiores do
que aquela concentrada em qualquer província romana isolada. Poucos meses, pelo
menos, se tinham passado; e isso teria dado a Paulo tempo de visita diversos
territórios, onde poderia ter iniciado novas obras. Não sabemos dizer,
entretanto, quanto tempo se passara desde que ele escrevera sua primeira
epístola aos Tessalonicenses; mas pelo menos alguns meses teriam sido
necessários para que houvesse aqueles novos acontecimentos.
«...igrejas de
Deus...» (Quanto a notas expositivas completas sobre a «igreja», em sua chamada,
em sua natureza, em sua missão e em seu destino, ver Efé. 3:10. Ver as notas
expositivas sobre a «igreja de Deus», em I Tes. 3:5,15). Essa expressão também
se acha nas passagens de I Cor. 1:2; 10:32; 11:22; 15:9; II Cor. 1:1; Gál.
1:13. No plural temos «igrejas de Deus»
As igrejas de Deus
são dele (é usado o genitivo possessivo, no o rig in a l grego), pertencem ao
Senhor; e também em Deus elas encontram seu propósito e destino, sua presente
existência e sua manutenção partem dele; e é ele quem exerce autoridade
religiosa sobre elas, porquanto Cristo é o Filho unigénito de Deus e é também o
Cabeça da igreja (ver Efé. 1:23).
«Os crentes
tessalonicenses não precisavam temer que estavam ocultos em algum posto
distante. Nem os homens e nem Deus deixavam de dar atenção à coragem deles...
Seus fundadores e amigos, mesmo à distância, observavam com ufania quão
resoluta era a fé deles; ao passo que no processo seguro da providência divina
aquela fé tinha um destino todo próprio, porquanto estava vinculada aos
desígnios eternos do Senhor».
(Moffatt, in loc.).
É possível que os
crentes tessalonicenses tivessem imaginado que o tom de louvor, da parte do
apóstolo Paulo, em sua primeira epístola, fosse um tanto exagerado. Mas agora
Paulo mostra que em nada ele se, mostrara exagerado. Os seus elogios eram
plenamente merecidos por eles, de formas espiritualmente recomendáveis. A
vereda pela qual eles tinham começado a andar, a despeito das dificuldades
crescentes, agora era exposta novamente como o caminho pelo qual deveriam
palmilhar.
« ...constância de f
é ...» No grego, a primeira dessas palavras é «upomone», que poderia ser
traduzida por «paciência» ou «resistência». Mui raramente, porém, tal termo tem
o sentido de «paciência», se emprestarmos a esse vocábulo o sentido de
passividade sem queixumes. Por exemplo, Jó, apesar de ser homem de grande
paciência, não ficou passivo, e não deixou de queixar-se, conforme os registros
bíblicos deixam bem claro. Contudo, em meio à sua tremenda provação, ele se
mostrou «resistente», sem jamais ter abandonado a sua confiança no Senhor.
Aqueles crentes de
Tessalônica, que sofriam sob a perseguição, mereciam ser elogiados. Podiam eles
ficar no aguardo de uma glória que me estava sendo Separada através de sua
resistência fiel debaixo da tribulação, visto que eram sais a Cristo. Por outro
lado, seus perseguidores não podiam enganar a si mesmos sob o pensamento que o
tratamento desumano que conferiam a outros, ainda que feito em nome a e Deus,
pudesse ser esquecido pelo Senhor ou pudesse deixar de ser devidamente
castigado. As leis morais do universo exigem que o homem colha segundo aquilo
que tiver semeado; e isso se aplica tanto no caso do incrédulo como no caso do
próprio crente.
As ações de um homem
e sua conduta na vida tomarão evidente que tipo de colheita ele poderá esperar.
O juízo é certo; e não nos deveríamos equivocar a esse respeito, porquanto
assim o requerem as leis morais. Doutro modo, se alguém pudesse fazer o mal,
sem nunca ser punido, Deus seria motivo de zombarias e o mundo não passaria de
caos. Por outro lado, o bem que os homens praticam não pode deixar de ser
notado pela mente divina. Mas naturalmente, embora isso não seja destacado no
presente texto, o juízo será disciplinador, e não meramente retributivo, o que
fica perfeitamente claro em passagens como I Ped. 3:18-20 e 4:6, onde também
aparecem as notas expositivas centrais sobre o julgamento divino. Assim, pois,
o juízo divino será exato, tendo por desígnio recompensar e punir, em medida
exata, de conformidade com a gravidade de cada crime; mas essa própria vingança
serve, «resistência persistente», a despeito das circunstâncias difíceis. Isso
pode ser confrontado com o trecho de Rom. 5:3-5 (conforme a tradução inglesa de
Williams, mas aqui vertida para o português), e que diz: «...o sofrimento produz
‘resistência’ (a mesma palavra do presente versículo); a resistência, o caráter
comprovado; o caráter comprovado, a esperança; e a esperança jamais nos
desaponta; pois através do Espírito Santo, que nos foi dado, o amor de Deus tem
invadido os nossos corações». Vemos, no presente contexto, que a «resistência»
do crente, aqui focalizada, é uma qualidade espiritual, um produto de um andar
inspirado e dirigido pelo Espírito Santo; e todas as qualidades e graças cristãs
são produzidas da mesma maneira.
«A paciência humana,
por conseguinte, além da resistência, possui igualmente a qualidade da
expectação, em que o crente aguarda que algo aconteça, que ‘alguém venha em seu
socorro’. A mensagem da paciência de Deus, nos profetas e através deles,
contribui para a reativação da paciência.
Nas páginas do
N.T...... a ‘paciência de Deus’ (ver Rom. 15:5), continua revestida do mesmo
sentido tão lato». (R. Gregor Sjnith).
Cumpre-nos observar,
no presente versículo, que essa «resistência» se alicerça sobre a fé. A fé
consiste da outorga da alma a Cristo, em que o crente entrega a sua pessoa aos
cuidados do Senhor, a fim de ser transformado segundo a sua imagem. Tal
consagração a Cristo dá a um crente a disposição e o poder de suportar
dificuldades que se originam em face de sua expressão de lealdade a Cristo.
«...perseguições...»
No grego temos o vocábulo «diogmos», que significa «perseguição» ou «teste
severo». Também tem o sentido de «caça»; pois se deriva do verbo «dioko», que
quer dizer «perseguir», «caçar», «expulsar».
Em sentido nominal,
esse termo também significa «tormento», «molestamento». Esse vocábulo dá-nos a
entender a figura simbólica de um animal caçado, de uma presa perseguida, de um
tormento incansável e sem misericórdia.
« ...tribulações...»
No grego é «thlipsis», que significa «pressão», «opressão», e, metaforicamente,
«aflição», «perseguição». Excelente tradução, nesse caso, é «opressão», que
preserva à ideia de pressão inerente que há nessa palavra. A forma verbal,
«thlibo», significa «pressionar», «comprimir», «estreitar».
«Portanto, quanto
mais profundidade alguém alcança na fé, tanto mais será dotado de paciência
para suportar a tudo com fortaleza de espírito, por um lado; e, por outro lado,
a impaciência e a covardia ante a adversidade deixa transparecer a
incredulidade, da parte de quem assim age, e mais especialmente ainda quando as
perseguições devem ser sofridas por amor ao evangelho. Neste último caso a
influência da fé aparece em primeiro plano».
(Calvino, in loc.).
ao mesmo tempo, de
medida instrutora, corrigindo e produzindo alguma espécie de restauração, ainda
que os punidos sob hipótese alguma venham a obter a glória reservada aos
eleitos. (Ver o trecho de Rom. 11:32, que mostra Sue até mesmo os secretos
decretos de Deus, contra os ímpios, têm a finalidade e aplicar sua misericórdia
para com todos, através da aplicação da disciplina).
O primeiro capítulo
da epistola aos Efésios deixa perfeitamente claro que o poder restaurativo de
Cristo, que é universal e cósmico, é tão grande que é simplesmente impossível
que qualquer coisa, em qualquer lugar, possa escapar de sua órbita, ainda que
esse poder seja aplicado em graus variados, e sempre porque os homens ou os
seres angelicais se prostrem ante sua posição de Cabeça e Senhor, posição essa
que, finalmente, será firmada e reconhecida universalmente. (Ver a passagem de
Fil. 2:10, 11 e as notas expositivas ali existentes, que deixam isso bem
claro). Todos se prostrarão perante «Jesus» (onde se destaca sua qualidade de
«Salvador»), e todos se prostrarão perante «o Senhor». Ver o mistério da
vontade de Deus, Efé. 1:10.
A passagem à nossa
frente fala sobre o fervor ardente do judaísmo posterior, utilizando-se da linguagem
dos profetas, que proferiam palavras duras e altissonantes contra os inimigos e
perseguidores da nação de Israel. Nessas palavras há uma verdade que não pode
ser ignorada. No entanto, não honramos a Deus por fazer dele o grande
Destruidor de todos os séculos, que queima pessoas como se fossem leitões
assados, em uma imensa fornalha. Há certas passagens que lançam uma preciosa
luz sobre a natureza dos julgamentos de Deus, definindo mais exatamente o que
eles significam.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 229-230.
3. Chegar à
perfeição.
Ef 4.13 A palavra
“até” indica que o processo descrito em 4.12 deve continuar até que um certo
objetivo seja alcançado – quando todos os crentes chegarem (conseguirem, alcançarem)
à unidade da fé. Isto quer dizer a unidade na crença no próprio Cristo, e essa crença
relaciona-se intrinsecamente com o nosso conhecimento dele. O objetivo inclui a
realização de um esforço unido para viver e proclamar essa fé.
Unidade em nosso
conhecimento refere-se ao mais completo e total conhecimento experimental. Cada
crente deve ter um relacionamento íntimo e pessoal com Jesus Cristo. Paulo o
chamou aqui de Filho de Deus, mostrando que o seu conhecimento inclui um
entendimento apropriado do novo relacionamento com o Pai que foi concedido pelo
Filho (Rm 8.10-17).
Este corpo unificado
dos crentes é dito maduro e completamente adulto, à medida da estatura completa
de Cristo. O foco, neste versículo, está em nós - cada crente como parte do
corpo completo. Esta metáfora quer dizer que a igreja, como o corpo de Cristo,
deve se adequar à Cabeça em desenvolvimento e maturidade. Isto não se refere à
perfeição (impossível nesta vida), mas ao crescimento - como crianças tornando-se
adultas, o que leva ao próximo conselho referente a esse crescimento.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD.
Vol 2. pag. 337.
O versículo 13
rememora o anterior e oferece explicação adicional da “edificação” da igreja.
Uma vez mais, Paulo usa três frases, cada uma iniciada com a preposição grega
eis: 1) à unidade da fé; 2) a varão perfeito; 3) à medida da estatura completa
de Cristo. Estas não são idéias paralelas. A primeira fala do meio da
maturidade, a segunda fala da realidade da maturidade e a terceira fala da medida
da maturidade. Uma tradução melhor do versículo seria esta: “Assim, todos
finalmente atingiremos a unidade inerente em nossa fé e em nosso conhecimento
do Filho de Deus, e chegaremos à maturidade, medida por nada menos que a estatura
completa de Cristo” (NEB).
A unidade da fé e do
conhecimento do Filho de Deus constitui o meio do amadurecimento (cf. RA). A
unidade é um dom do Espírito (cf. 3), mas requer-se fé e conhecimento para
recebê-la. Neste texto, a fé é a resposta que damos ao Filho de Deus e a nossa confiança
nele — Deus manifestado na carne que morreu no Calvário em nosso benefício.
Aqui, conhecimento (epignosis) é semelhante à fé no ponto em que significa
“compreensão, familiaridade, discernimento”. Não devemos equipará-lo a
conhecimento intelectual, mas a relações pessoais. A unidade se origina dessa
intimidade com o Filho proporcionada pela graça. Paulo não está falando da
experiência inicial com Cristo. O apóstolo se preocupa com o crescimento e
aumento em entendimento e compreensão dos propósitos e vontade de Deus conforme
estão revelados em associação com Cristo. Os membros da igreja podem e devem
ter tal crescimento em maior medida enquanto o servem.
A varão perfeito
refere-se ao nível de maturidade coletiva e individual na igreja, no qual o poder
de Deus se manifesta inteiramente em santidade e justiça. Tal estado será
atingido em seu significado máximo futuramente, quando possuirmos a graça de
Cristo na perfeição da ressurreição (cf. Fp 3.7-16).
A medida da estatura
completa de Cristo é o padrão de medida que determina a maturidade cristã.
Hodge escreve: “A igreja se torna adulta, homem perfeito, quando alcança a
perfeição de Cristo”. A chave para interpretar o versículo é a expressão
estatura completa de Cristo. Qual é esta estatura? Salmond diz que é “a soma
das qualidades que fazem o que ele é”. Quando a igreja está à altura da
maturidade plena do seu Senhor, ela é perfeita. E à medida que cresce em
direção a essa maturidade, ela fica mais próxima de sua meta em Cristo.
Precisamos também destacar que não há crescimento na igreja separadamente de
nosso crescimento individual como crente. É cada um de nós individualmente que
tem de se dirigir com empenho à estatura completa de Cristo.
Willard H. Taylor. Comentário Bíblico Beacon. Efésios. Editora CPAD. Vol.
9. pag. 161-162.
Essa é uma das
grandes declarações do N.T., no que concerne ao alvo vital e ao sentido do
evangelho, o que sem dúvida ultrapassa os meros aspectos iniciais do perdão dos
pecados e da futura transferência para os céus, ao que o evangelho usualmente
vem sendo frequentemente reduzido.
Essa é uma declaração
similar a outras fortes afirmativas, a saber:
1. A conformação à
imagem de Cristo, mediante o propósito da predestinação (ver Rom. 8:29; nessa
referência oferecemos a nota de sumário sobre o conceito da «transformação
segundo a imagem de Cristo»).
2. A participação na
vida necessária e independente de Deus, ou seja, haveremos de compartilhar do
mesmo «tipo» de vida que Deus tem, e do que os anjos não participam, por terem
uma vida «dependente». (Ver as notas expositivas a respeito em João 5:25,26 e
6:57).
3. A transformação do
crente segundo a imagem de Cristo, de um estágio de glória para outro, através
do Espírito Santo (ver II Cor. 3:18). 4. A condução dos filhos de Deus ó glória,
para que se tornem membros da divina família, para que sejam filhos tal como o
Filho é filho, para que compartilhem com ele de sua natureza e herança. (Ver
Rom. 8:14-17 e Heb. 2:10).
5. A participação na
plenitude da divindade, tal como o próprio Cristo, o Deus-homem, está completo
nessa plenitude. (Ver Col. 2:9,10).
6. A participação em
«toda a plenitude do próprio Deus Pai». (Ver Efé. 3:19).
7. A participação na
natureza divina. (Ver II Ped. 1:4).
A meditação sobre
essas referências bíblicas e notas expositivas dará ao leitor uma ideia
completa do que o evangelho neotestamentário tem como alvo, conforme se vê nos
escritos dos apóstolos. E o versículo que ora comentamos é paralelo a todas as
passagens citadas, em seu sentido e intuito básicos, ainda que frisem
diferentes detalhes das mesmas verdades;
«.. .até...»
Provavelmente essa palavra não foi usada para distinguir a vida presente, na
igreja, da vida futura nos lugares celestiais, e, sim, para incluir ambas as ideias.
Todos os aspectos da edificação, do processo de aperfeiçoamento, fomentado no
presente pela administração dos dons na igreja, visam a unidade final da fé, o
pleno conhecimento do Filho de Deus, a ampla participação em tudo quanto ele é
e possui, isto é, a sua «plenitude». Esse processo de aperfeiçoamento é aquilo
que continuamente nos preenche mais e mais com a plenitude de Deus; mas, posto
que Deus é infinito, a eternidade futura inteira se caracterizará por um
preenchimento contínuo, pois no céu não há estagnação. A própria vida, em sua
essência e caráter, consiste da inquirição eterna para que sejamos cheios de
Deus para que tenhamos sua natureza, sua santidade e sua plenitude.
«...todos...» Esse
termo aponta para os crentes e remidos de todas as eras. No original grego
temos a expressão «o todo», o que torna essa expressão coletiva e universal.
Não diz «todos nós», e, sim, «o todo». Devemos observar que crentes individuais
isolados não poderão obter o elevadíssimo alvo aqui apresentado. A igreja
inteira é que atingirá tal alvo. Somente a edificação e o desenvolvimento
mútuos nos levarão a esse clímax espiritual. Meu progresso depende do progresso
da comunidade cristã inteira; e o progresso da igreja depende de mim, por sua
vez. Todos nós perfazemos o «corpo único», o único organismo, e o crescimento
se dá por igual. Não poderei atingir a perfeição e a completa glorificação, até
que todos os membros do corpo participem disso comigo. E esse é um
poderosíssimo argumento em favor da necessidade de edificação mútua.
«...unidade d a
fé...» Que significará essa expressão?
1. Não está em foco
«a total harmonia em torno de proposições de fé», o acordo sobre o que deve
consistir o «corpo de doutrinas». Deus cuidará das nossas «crenças»; mas não é
isso que se destaca aqui, porquanto a palavra «fé» raramente tem a ideia de um
conjunto de doutrinas, nas páginas do N.T. Ver I Tim. 1:2, onde encontramos
notas sobre este uso. 2. Pelo contrário, conforme é usual nos escritos de
Paulo, devemos entender aqui a «fé salvadora». Assim sendo, essa expressão significa
«...até que todos nós cheguemos àquela unidade para onde nos conduz a ‘entrega de
alma’ (ou fé) a Cristo».
A fé é o instrumento
da salvação; e vivemos de fé em fé. Na fé é que entregamos a alma eternamente
às mãos de Cristo, pois a fé é essa entrega. Porém tal entrega se manifesta em
diversos graus. Porém, na experiência da igreja cristã, coletivamente, essa
entrega será finalmente absoluta, em que todos os remidos se entregarão
totalmente e por igual a Cristo, chegando àquela grande unidade que é o objeto
de tudo quanto ocorre na igreja. Dentro dessa unidade, pois, os homens chegam à
perfeita harmonia com Deus e seu Cristo, ficando removidos então todos os
elementos separadores e alienadores, o que significa que uma completa comunhão
com o Senhor e com os irmãos será atingida, além de recebermos total benefício
espiritual da parte do Senhor. Essa unidade é a finalidade mesma do «mistério
da vontade de Deus» (ver Efé. 1:10). Isso se concretizará, primeiramente, no seio
da igreja (ver Efé. 3:3), quando então a igreja tornar-se-á o modelo de como
Deus haverá de restaurar todas as coisas em Cristo, fazendo tudo entrar em
harmonia com ele, por ser ele o cabeça de todos os mundos e de toda a criação.
Já existe no momento
uma certa unidade criada pelo Espírito, a qual deve ser preservada por nós e
aplicada no âmbito da igreja local (e essa é a mensagem desta secção inteira, a
começar pelo primeiro versículo, até ao versículo décimo sétimo). Porém, haverá
aquela completa realização da unidade, a total restauração em Cristo, a
perfeita harmonia com ele, como se fosse um corpo com sua cabeça; e esse é o
aspecto final da unidade (o cumprimento da vontade de Deus), para o que o
presente versículo aponta.
«Essa frase com
freqüência tem sido mal-entendida na prédica e no ensino cristãos. Muitos são
tentados a pensar que está em foco o exciusivismo da ortodoxia, uma unidade de
um grupo fracionário de cristãos, que aceitam uma formulação comum de confissão
teológica». (Wedel, in loc.).
E prossegue o mesmo
autor: «Não precisamos subestimar a ortodoxia. Essa palavra significa ‘crença
correta’. A fé cristã requer a crença correta, bem como formulações
intelectuais corretas, e não errôneas, sobre o evangelho. A heresia foi e é,
conforme esta epístola (aos Efésios) não tardará a demonstrá-lo, um perigo constante
para a igreja».
A unidade da fé
significa claramente aqui, entretanto, aquela unidade exigida ‘pela fé’ em
Cristo.
Nenhum crente
individual e nem a igreja, coletivamente, atingiram ainda a unidade que a fé
pode produzir, quando então estaremos em total união com tudo quanto Cristo é e
tem. Paulo não reivindicava haver atingido a perfeição (ver Fil. 3:12-14). Há
um a só fé (ver o quinto versículo), sendo essa uma das formas unificadoras
fundamentais do sistema cristão. Essa fé salvadora, essa «entrega de alma» a
Cristo, finalmente resultará em total entrega a Cristo, por parte de todos os
crentes. Disso é que fluirá a plena unidade e tudo quanto está prometido no
caminho das bênçãos espirituais e celestes (ver Efé. 1:3). (Quanto a notas
expositivas completas sobre a «fé evangélica», ver Heb. 11:1).
«...pleno conhecimento
do Filho de Deus...» As palavras «...pleno conhecimento...» traduzem um único
vocábulo grego, «epignosis»; mas, visto que essa palavra é uma forma intensificada
(com um prefixo preposicional), é tradução correta dizer como temos aqui. Quem
recebe tal conhecimento, conhece experimentalmente ao Filho de Deus. Quanto a isso,
consideremos os pontos abaixo:
1. Essa palavra
indica conhecimento intelectual, mas não somente isso. 2. Também significa o
conhecimento experimental da alma, mediante a «comunhão» com o Filho de Deus,
em sua natureza essencial e em suas manifestações. Paulo via Cristo como uma
personalidade transcendental que, em sua grandiosidade, só pode vir a ser
conhecido por métodos espirituais. E assim conhecido ele passa a transformar os
homens, para que estes assumam sua natureza e suas riquezas. É por isso que
Paulo declarou, em Fil. 3:10: «...para o conhecer e o poder da sua ressurreição
e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte...»
3. Esse conhecimento,
pois, é de natureza «mística», conforme diz a teologia paulina do princípio ao
fim. Em outras palavras, tal conhecimento nos chega através da «iluminação e
transformação» operadas pelo Espírito Santo. (Comparar isso com Efé. 1:18, onde
Paulo ora para que os crentes tenham seus olhos do entendimento «iluminados», a
fim de que possam «conhecer» a esperança da nossa vocação, as riquezas da
glória de herança nos santos; e assim «conheceremos» seu grande poder, que foi
exercido em Cristo, e que será exercido em nós. (Ver Efé. 1:19). Conhecer e experimentar
tais coisas, portanto, faz parte do que significa «conhecer» a Cristo.
A revelação, além
disso, leva-nos a conhecer ao próprio Deus, conforme aprendemos no décimo
sétimo versículo deste mesmo capítulo. O tema da segunda oração de Paulo, neste
livro, é que possamos «conhecer» o «amor de Cristo», e nesse amor se encerra o
«conhecimento de tudo quanto o amor de Cristo está fazendo por nós e em nós».
Pois, nas páginas do N.T., conhecer é amar, pois o «conhecimento-amor» é a
«gnosis» neotestamentária, em contraste com os conceitos dos gnósticos. Sim, o
amor é a real «gnosis» cristã, por ser essa a fonte originária de todas as bênçãos
espirituais.
«...do Filho de Deus...»
Essa expressão, dentro desta frase, está ligada tanto à «fé» como ao
«conhecimento». Trata-se da «fé em Cristo» e do «conhecimento de Cristo».
«...d perfeita
varonilidade...» Variações dessa expressão são «homem perfeito», «varonilidade
madura». Paulo fala de um corpo humano que cresce desde a infância até atingir
a idade adulta, a maturidade.
Espiritualmente
falando, a «criança», que é a igreja, mediante o «desenvolvimento espiritual»,
haverá finalmente de tornar-se homem maduro. (Isso pode ser comparado com o
«novo homem» de Efé. 2:15). Porém, «plenamente desenvolvido» ou «maduro», neste
caso, no presente contexto, deve também significar «perfeito», ou seja, «homem
sem qualquer deficiência ou defeito», porquanto nada menos do que isso concorda
com o próprio texto, ao mesmo tempo que o vocábulo grego «teleios» naturalmente
tem esse significado, ainda que não tenha necessariamente tal sentido, podendo
indicar apenas «maduro», em contraste com «infantil», quando aplicado a seres
humanos.
No versículo
seguinte, Paulo menciona os «nepioi» («crianças»), palavra grega essa que com
freqüência indica «infantes» bem pequenos, que ainda não sabem falar. Os
crentes imaturos são como tais crianças, quanto ao desenvolvimento espiritual.
Porém, o propósito dos dons espirituais, na igreja e em seu programa geral de
edificação (ver o décimo segundo versículo), é produzir a maturidade e a
perfeição no seio da igreja; e nessa unidade perfeita é que se cumpre o
mistério da vontade de Deus, no que tange à igreja (ver Efé. 1:10 e 3:3).
A igreja inteira, e
não meros crentes individuais, é que está em pauta aqui, embora seja verdade
que aquilo que sucede à igreja inteira necessariamente sucede a todos os seus
membros. Cada crente será um exemplar do que Cristo é, porquanto somos Cristo
em formação. O singular usado neste caso, o «homem» que chegou à «perfeita
varonilidade», assinala a total unidade que se busca concretizar e que,
fatalmente, será atingida.
Portanto, toda e
qualquer desunião, conforme vemos hoje em dia à face da terra, no seio da
própria igreja evangélica, com suas numerosíssimas denominações, onde igrejas
locais competem entre si em mau sentido onde crentes se destroçam uns aos
outros, tudo isso é uma negação prática da unidade da igreja, sinal de
imaturidade espiritual, por que ainda somos infantes, espiritualmente falando.
Para chegarmos à
unidade, é inútil continuarmos a reduzir o cristianismo ao seu estado mais
ínfimo, com o que todos possam concordar e ficar unidos. Pelo contrário,
precisamos, todos nós, crescer em Cristo, atingir a maturidade espiritual.
Somente assim seremos unidos em Cristo, alicerçados no «máximo» e não no
«mínimo» do cristianismo. O movimento ecumênico da igreja de hoje em dia
procura unir os cristãos sobre bases «mínimas»; e por isso fica automaticamente
condenado pelo conceito de unidade encontrado nesta passagem.
«...a medida da
estatura da plenitude de Cristo...» Isso reitera, em outras palavras, o
conceito da «perfeição» com que se inicia o presente versículo. A obtenção da
«perfeição», na realidade, consiste em assumirmos a total medida da plenitude
de Cristo. Essa expressão também define o que deve ser o «homem perfeito» (que
Paulo acabara de mencionar). Ninguém poderá ser «perfeito» enquanto não for
tudo quanto Cristo é. Trata-se de elevada doutrina, que nos ensina profunda
verdade. Essa elevação, entretanto, está oculta da moderna igreja evangélica,
que não pode elevar-se acima de pensamentos como ficarmos livres do pecado.
Porém, estarmos sem pecado não nos torna perfeitos. Pois os anjos, que não
caíram, são impecáveis, mas nem por isso participam da perfeição de Deus Pai e
de Deus Filho. O evangelho, porém, expõe ante os homens essas perfeições, que
transcendem infinitamente a mera impecabilidade que muitos veem aqui.
A Natureza Da
Perfeição
1. Em sua
manifestação terrena, a perfeição aparece como maturidade espiritual, como
elevado grau de santidade, de parceria com poder espiritual e utilidade nas
mãos de Deus, no que diz respeito tanto a nós, quanto à igreja. Recebemos poder
a fim de servirmos e cumprirmos nossas respectivas missões.
2. Porém, nas
dimensões celestiais, começaremos dotados da mesma natureza que Cristo (ver I
João 3:2), e assim seremos participantes de sua plenitude e atributos (ver Col.
2:10).
3. Por semelhante
modo, pertencem-nos a natureza e os atributos do Pai (ver Efé. 3:19).
4. Na qualidade de
seres tão exaltados, ainda assim a nossa perfeição será apenas «relativa», pois
só Deus é perfeito. Mas iremos passando de um estágio de glória para outro,
perenemente aumentando a nossa perfeição, sempre nos aproximando, mas nunca
atingindo plenamente, as perfeições divinas. Portanto, a glorificação será um
processo interminável. A impecabilidade será apenas seu início. Também iremos
avançando no campo das virtudes positivas de Deus, em seus atributos, e na
participação de sua forma de vida.
Qual será o tempo da
maturidade? Paulo não frisa aqui nenhum ponto no tempo, presente ou futuro,
para atingirmos esse alvo da perfeição. Mas a, eternidade futura será o terreno
da busca contínua e bem-sucedida. De fato, sendo Deus infinito, e visto que
estamos crescendo segundo a sua plenitude, passaremos a eternidade nessa
inquirição, crescendo sempre na direção da perfeição. Esse é o próprio
significado da vida, pois a vida vem de Deus, é de Deus, está em Deus e
volta-se para Deus.
ELABORADO:
Pb Alessandro Silva.
A PAZ DO SENHOR
ResponderExcluirAMADO NÃO PARA DE POSTAR OS ESTUDOS DAS LIÇÕES
POIS TEM SIDO DE GRANDE AJUDA PARA MIM
POIS EU SEMPRE ESTOU GUARDANDO SEUS ESTUDOS E IRÃO FAZER FALTA
QUE DEUS CONTINUE LHE ABENÇOANDO E ESTAREI ORANDO PELO IRMÃO
A PAZ DO SENHOR
ResponderExcluirACHO MUITO INTERESSANTE ESSE ESTUDO REFERENTE A EBD, PORÉM EU NÃO VISUALIZEI OS HINOS SUGERIDOS E NEM OS EXERCÍCIOS DESSA LIÇÃO :(
DEUS ABENÇOE IRMÃO
A paz do Sr Jesus aos amados.
ResponderExcluirMeu amado irmão não estou mais postando a lição somente os comentário.
Devido a problemas de tempo, pois assim sobra mais tempo para pesquisar e preparar as aulas.
Mas existem outros blog e site que o fazem como o do Ev: Henrique.
Site: http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/videosebdnatv.htm
Deus te abençoe meu irmão pelo seu esforço e dedicação a ebd, isso é muito imortante.
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