Seguidores do Blog

4° LIÇÃO 3° TRIMESTRE 2014 GERADOS PELA PALAVRA DA VERDADE


GERADOS PELA PALAVRA DA VERDADE
SOMENTE COMENTÁRIOS
Revista Ensinador Cristão CPAD, n° 59, p.38.
Qual o contexto social em que a sua igreja local está localizada? Trata-se de uma cidade nobre? Ou da periferia? Quem são os seus alunos? Como se dá a relação social entre os seus alunos? O professor não pode planejar essa lição sem antes fazer estas perguntas e respondê-las com sinceridade.

Inicie a aula descrevendo as classes sociais da Igreja do Primeiro Século. Para isso, use o Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento, pois na seção bíblica de Tiago [Orgulhando-se da "Coroa da Vida" (1.9-12)], o teólogo Timothy B. Cargal procura responder como era, ou deveria ser a relação dos crentes oriundos de distintos contextos sociais, isto é, entre os ricos e os pobres da igreja. A conclusão que o teólogo chega nesta seção da carta é que os "leitores estavam muito conscientes de sua posição, e nem sempre se aproveitavam das oportunidades para demonstrar a preocupação de Deus por aqueles que estavam necessitados (2.14-17). Já se orgulhavam de sua elevada posição, talvez por considerarem 'ricos', moralmente superiores, mesmo quando se identificavam com as armadilhas das posições elevadas e do poder. Até mesmo pensavam a respeito de sua salvação utilizando a imagem da sua posição social, isto é, a coroa da vida" (p.1665).
Um desastre que pode ocorrer ao crente economicamente bem sucedido é quando ele interpreta as ocorrências cotidianas da vida como "acontecimentos espirituais". Ele faz uma teologia particular sem se importar com os outros ao redor. Por exemplo, é comum um crente atribuir a Deus a compra de um bem material dizendo "foi Deus quem me deul". Mas ele não pode esquecer o contexto desta aquisição. Ora, estamos num país economicamente equilibrado e que, por isso, lhe proporcionou uma linha de crédito para esse fim. Se nós não considerarmos tais realidades poderemos entrar em questões bem difíceis, tais como: Por que Deus deu um bem para um irmão e não deu ao outro? Ambos não são salvos? É preciso explicar o mal que uma teologia individualista, como a da prosperidade, pode causar a uma igreja local. Não podemos ignorar o ensino da Palavra: a de que o rico deve suprir o necessitado, e este, deve se alegrar por se achar o filho escolhido por Deus.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
A Epístola de Tiago apresenta, ainda nos primeiros versículos do seu primeiro capítulo, outros importantes temas. Um deles consiste em um esclarecimento sobre a forma como o cristão deve encarar a pobreza e a riqueza. Essas condições sociais são enfatizadas pelo apóstolo como circunstâncias transitórias da vida, como situações passageiras, porquanto terrenas, e também como conjunturas em meio às quais o cristão deve aprender a estar sempre satisfeito (Tg 1.9-11).
Outro tema abordado é Deus como a fonte de todo bem verdadeiro (Tg 1.16,17); e, na sequência desse assunto, o apóstolo fala do maior de todos os dons que o Senhor nos concede: o de sermos gerados de novo pelo poder da Palavra de Deus (Tg 1.18).
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 47.
VERDADE Do heb. 'emuna, "firmeza, estabilidade, verdade"; 'emet, "firmeza, verdade"; gr. aletheia, "verdade". Em 1912, o Dicionário Webster definiu verdade como: "Conformidade a fato ou realidade; exata concordância com aquilo que é, foi, ou será". Embora possivelmente satisfatória quando formulada, tal definição mostra-se muita vaga nos dias de hoje, quando os lógicos positivistas negam toda evidência que não seja empiricamente verificável.
Carnell afirma que "a verdade é uma propriedade do julgamento que coincide com o pensamento de Deus" {An introduction to Christain Apologetics, p. 47). Enquanto o Webster erra ao reforçar o factual, esta definição erra ao reforçar o metafísico. Entretanto, ao expandir sua definição para: "correspondência com o pensamento de Deus; teste: a consistência sistemática" (p. 369), e explicar a consistência sistemática, o Webster oferece, possivelmente, a melhor definição de verdade disponível atualmente. Através da expressão consistência sistemática, ele quer dizer que uma afirmação deve: primeiramente satisfazer sem dificuldade as leis da lógica, ou seja, ser horizontalmente consistente - que é o teste da verdade formal; em segundo lugar, estar de acordo com os fatos, ou seja, concordar verticalmente com todos os fatos, que é o teste da verdade material.
Aspectos da Verdade
Em uma definição satisfatória de verdade, como esta que foi apresentada acima, estão incluídos três aspectos e elementos da verdade.
1. Verdade ontológica ou metafísica. Esta expressa o supremo relacionamento da verdade e da natureza, bem como o relacionamento da verdade religiosa e moral em particular com o próprio caráter, vontade e pensamento de Deus. A verdade religiosa e moral é o que Deus é, e está de acordo com o seu caráter. A verdade científica e social é o que Deus deseja e está, também, em consistência com seu caráter. Deus é a verdade em sua própria pessoa (Dt 32.4; SI 31.5; Is 65.16), e este fato é particularmente revelado em Jesus Cristo (Jo 1.14,17; 14.6). Sua Palavra revelada é a verdade (1 Rs 17.24; Jo 17.17); sua lei moral é a verdade (SI 119.142,151).
2. Verdade lógica. Dois extremos ocorrem: (a) Alguns aplicam a lógica e negam a revelação. Por exemplo, os (lógicos) positivistas enfatizam a expressão lógica significativa que seja empiricamente verificável, e negam a verdade metafísica e moral, dizendo que é ilógica e sem sentido, pois não pode ser cientificamente examinada como os fenômenos materiais. O cristão responde que a verdade metafísica e moral chega ao homem através da revelação, e não pode ser conhecida de outra maneira senão a. priori, já que ela forma a base principal do conhecimento e da própria existência. Sua prova apóia-se sobre a evidência razoável que suporta a revelação. Ele mostra que o lógico positivista assume as proposições básicas da moralidade e da ética, e as utiliza sem exigir provas, (b) Outros tentam aceitar a revelação, embora negando à lógica sua função própria. Os neo-ortodoxos falam da verdade de Deus como não limitada pelo tempo e pelo espaço. O homem não possui categorias nas quais possa recepcionar essa verdade e, portanto, ela aparece nas formas de contradição, paradoxo e absurdo, não podendo, portanto, ser julgada pela lógica. O evangélico diz que o problema dos neo-ortodoxos vem da aceitação de uma filosofia imperfeita de tempo e espaço introduzida na teologia por Sõren Kierkegaard, e de uma abordagem modernista da Bíblia Sagrada. Deus é racional e lógico e a Bíblia prova não estar cheia de paradoxos e contradições quando aceita, pela fé e da maneira como foi escrita. O Senhor forneceu evidências verossímeis da verdade e da infalibilidade de sua Palavra. Esta conclusão é o testemunho dos crentes dos dois Testamentos (SI 108.4; Jo 20.30,31; 1 Jo 1.1-3).
3. Verdade factual. A verdade tem de condizer com os fatos da vida e da existência. Isto significa ter uma correspondência proposicional com a realidade. A verdade não pode satisfazer-se com universalidades e generalidades, por mais úteis que possam ser, nem com meras individualidades e particularidades, mas tem de condizer verticalmente com os fatos enquanto os organiza corretamente através do uso de universalidades.
Atitudes para com a Verdade
Ouvindo e sendo a verdade. Pode-se ouvir a verdade, acreditar que é verdadeira, até ensiná-la e ainda assim recusar-se ou falhar em agir de acordo com ela. Isto corresponde a ouvir a verdade e não ser a verdade. A verdade conhecida, no sentido de acreditar e agir de acordo com ela, satisfaz, então, a três testes: consistência lógica, consistência factual e consistência prática. Os dois primeiros foram discutidos acima nos itens verdade lógica e verdade factual. O terceiro é mencionado pelo Senhor Jesus Cristo como a base da salvação, isto é, experimentar a verdade ao agir de acordo com ela (Jo 8.32). Isto acarreta um conhecimento do conteúdo sobre o qual a ação apóia-se. As Escrituras dão aos três seu lugar adequado. Elas esperam que a fé seja baseada em evidências razoáveis, e que a ação siga o recebimento de uma revelação clara e autocon-sistente.
Muitos teólogos modernos das escolas neo-or-todoxa e liberal negam que a verdade seja absoluta. Paul Tillich, por exemplo, a vê como, necessariamente, relativa, argumentando que, se fosse absoluta e imutável, isso tornaria Deus - que é o Supremo e o Absoluto - relativo. Tal visão, de fato, nega a possibilidade da verdade autêntica, substituindo-a pela verdade kairotic ou temporária - as coisas podem ser verdadeiras hoje, mas erradas amanhã. A resposta cristã destaca vários fatos.
1. Se a verdade depende de Deus, e Deus é a verdade em pessoa, então a verdade absoluta não limita, ao contrário, revela Deus. Deus é amor, mas o amor não rouba, não mente, etc, e os mandamentos apenas expressam estas verdades que já existem no caráter de Deus. Elas não estão limitando, mas revelando afirmações que têm sua base na natureza de Deus.
2. Pelo fato de Deus ser a verdade, Cristo é a verdade tanto em sua pessoa como em sua revelação (Jo 1.14,17; 14.6). Seu caráter e suas palavras complementam-se, e seu ensino revela tanto seu caráter santo quanto o do Pai (Mt 5.43-48). Os teólogos existencialistas tentavam reforçar a importância de ser a verdade, enquanto negavam que a verdade tivesse um conteúdo proposicional, isto é, um conteúdo que está compreendido nas afirmações reveladas nas Escrituras. Sua tentativa fracassa quando se percebe que Cristo, usando uma linguagem de sala de aula, sustenta em João 8 que seu testemunho é verdadeiro. Ele ensina somente o que ouviu (w. 26,40), viu (v. 38) e o que lhe foi ensinado pelo Pai (v. 28). Ele pode confirmar o que diz, porque o Pai jamais o deixou só (v. 29). Em João 14, onde Cristo declara que Ele mesmo é a verdade (v. 6), Ele mais uma vez refere-se ao conteúdo de seu ensino, mostrando que Ele não é somente a verdade em pessoa, mas que também ensina a verdade proposicional.
Isto faz parte do contexto de João 8, quando, como visto acima, Ele defende a verdade de seus ensinos ao dizer: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (v. 32). Isto torna claro que Ele não está falando de um conhecimento místico dele mesmo que salvará o homem, mas de um conhecimento cujo conteúdo é composto por aquilo que Ele ensina.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1990-1991.
TERMINOLOGIA BÍBLICA
No hebraico devemos considerar uma palavra e no grego, também uma, a saber:
I. Emeth, "verdade", "constância". Esse vocábulo hebraico ocorre por 92 vezes no Antigo Testamento, conforme se vê, para exemplificar, em Gên. 24:27; 42:16; Êxo, 18:21; Deu. 13:14; Jos. 24:14; Juí. 9:15; I Sam. 12:24; II Sam. 2:6; I Reis 2:4; II Reis 20:3,19; II Crô. 18: 15; Esl. 9:30; Sal. 15:2; 25:5,10; 30:9; 31:5; 40:10,11; 43:3; 51:6; 57:10; 61:7; 71:22; 91:4; 145:18; 146:6; Pro. 3:3; 8:7; 12:19; 23:23; Ecl. 12:10; lsa. 10:20; 16:5; 38:18,19; Jer. 4:2; 9:5; Dan. 8:12; 9:13; Osé. 4:1; Miq. 7:20; Zac. 8:3,8,16,19; Mal. 2:6. Há outras formas dessa palavra e outros vocábulos que ocorrem por algumas poucas vezes, e que também podem ser traduzidos como "verdade".
2. Alétheia, "verdade". Palavra grega que é usada por 110 vezes: Mal. 22:16; Mar. 5:33; 12:14,32; Luc. 4:25; 20:21; 22:59; João 1:14,17; 3:21; 4:23,24; 5:33; 8:32,40,44-46; 14:6,17; 18:37,38; Atos 4:27; 10:34; Rom. 1:18,25; 2:2,8,20; I Cor. 5:8; 13:6; II Cor. 4:2; 6:7; 13:8; Gál. 2:5,14; 5:7; Efé. 1:13; 4:21 ,24,25; 5:9; 6: 14; Fil. 1:18; Col. 1:5,6; II Tes. 2:10,12,13; I Tim. 2:4,7; 3:15; 4:3; 6:5; II Tim. 2:15,18,25; 3:7,8; 4:4; Tito 1:1,14; Heb. 10:26; Tia. 1: 18; 3:14; 5: 19; I Ped. I: 22; li Ped. 1:12; 2:2; I João 1:6,8; 2:4,21; 3: 18,19; 4:6; 5:6; 11 João 1-4; III João 1,3,4,8,12.
No Antigo Testamento, a palavra emeth e seus cognatos indicam as idéias de firmeza, estabilidade, fidelidade, alguma base fidedigna de apoio. É uma qualidade atribuída tanto a Deus quanto às criaturas. Também é atribuída não somente às mais diversas afirmações (por exemplo, Rute 3:12), mas também à conduta (ver Gên. 24:49) e às promessas (li Sam. 7:28). A verdade é associada na Bíblia à gentileza (Gên. 47:29), à justiça (Nee. 9: 13 e Isa. 59:14) e à sinceridade (Jos. 24:14). Por essas razões, a Septuaginta, com frequência, a traduz pelo termo grego plstts, "fé", "fidelidade", "convicção", a fim de expressar o aspecto moral, em vez de empregar alétheia, "verdau Je " .
Nas páginas do Novo Testamento, alétheia retém a ênfase moral e personalista que o termo paralelo hebraico tem no Antigo Testamento, embora a noção de fidelidade, com mais frequência, seja transmitida através da palavra grega pistis. Etimologicamente, alétheia sugere que alguma coisa tenha sido descoberta, revelada, segundo a sua verdadeira natureza, dando a ideia daquilo que é real e genuíno, em contraposição com o que é imaginário ou espúrio, ou, então, daquilo que é veraz, em contraposição com o que é falso. Assim, lemos a respeito do "verdadeiro Deus" e da "verdadeira vinha", tal como o Credo Niceno fala sobre "o vero Deus do vero Deus". O adjetivo grego, a léthinos. aparece em contextos assim, ao passo que alethés é palavra empregada como um predicado (ver Mal. 22:16; João 3:33, etc.). A julgar pelo uso que esses dois adjetivos têm no Novo Testamento, não se pode averiguar qualquer diferença essencial no significado fundamental desses dois termos, Porém, as referências neotestarnentárias a declarações verazes tomam evidente que o conceito de verdade cognitiva deriva-se das noções de franqueza ou caráter fidedigno (ver, por exemplo, Mar. 5:33; 12:32; João 8:44-46; Rom. 1:25 e Efé. 4:25).
O conceito cognitivo é mais explícito no Novo Testamento do que no Antigo Testamento. A verdade está liga da não somente à fidelidade e à justiça, mas também ao conhecimento e à revelação. Isso se deve, pelo menos em parte, à intrusão da cultura grega com seus interesses mais acentuadamente teóricos no mundo judaico; e, também, em parte, ao idioma grego, e, portanto, seria um erro supormos que a língua grega e, portanto, o uso que o Novo Testamento faz do vocábulo aletheia, reflita um dualismo platônico, e, portanto, uma epistemologia platônica ou mesmo gnóstica. Pois, em primeiro lugar, a filosofia grega é muito variada do que isso subentende: não havia somente uma epistemologia grega. Em segundo lugar, os escritos bíblicos moldavam os significados que queriam dar a entender, mediante o seu próprio uso criterioso dos vocábulos. Sem dúvida alguma, ao escreverem para uma cultura já helenizada, com suas diferentes compreensões acerca da verdade, esses escritores conservavam em mente a ideia de verdade cognitiva. Todavia, a maneira de pensar dos escritores sagrados era mais diretamente moldada pelos conceitos veterotestamentários e acima de tudo, pela crença de que o verdadeiro Deus, o Deus alethinôs, não vive oculto, mas antes, age e fala com uma franqueza totalmente digna de confiança (alethés).
A VERDADE QUE CONHECEMOS
1. Sabemos bem pouco, mas aquilo que sabemos é imensamente importante.
2. Em contraste com o conhecimento de um historiador, que depende de pesquisas do passado distante, e isso contando com meios inadequados, a busca pela verdade religiosa depende da revelação. A revelação depende do interesse de Deus pelo mundo, e é evidência do mesmo.
3. A verdade é comprovada nas vidas daqueles que são transformados segundo a imagem de Cristo. Poder é necessário para que isso se concretize, e o que é bom traz consigo suas próprias evidências.
A sabedoria não é finalmente testada nas escolas,
A sabedoria não pode passar de quem a tem para quem não a tem,
A sabedoria da alma não é suscetível de prova, é sua própria prova.
(Walt Whitman, Canção da Estrada Aberta).
Conforme disse Aristóteles (Retórica 11.13), a verdade é que os homens se vão tornando menos e menos dogmáticos, à proporção que envelhecem, reconhecendo cada vez mais a vastidão da verdade, e isso certamente é o caso da verdade de Cristo, pois é infinitamente ampla e não pode ser contida por qualquer credo ou denominação religiosa, porquanto é impossível alguém cercar Deus com uma sebe.
Contra a Arrogância
a. A fé não consiste em não crer em algo que não é a verdade. Um dogma pode servir de obstáculo para a verdade. b. Nenhumadenominação ou fé isolada pode ser guardiã da verdade divina. Podemos aprender coisas de outros, e as janelas deveriam ser mantidas abertas, para permitir que a luz entre, para que possa haver crescimento.
Da preguiça que aceita meias verdades,
Da arrogância que pensa conhecer toda a verdade.
Ó Senhor, livra-nos.
(Arthur Ford)
O próprio Paulo exibiu grande confiança: "Sei em quem tenho crido", e, no entanto, aludiu a si mesmo como mero principiante na inquirição pela verdade espiritual. (Ver II Tim. 1:12, em comparação com Fil. 3: 10-14. Quanto a Jesus como a personificação da "verdade", ver João 14:6).
Descrições e Elementos da Verdade
Deus é o Deus da verdade (Deu. 32:4; Sal. 31 :5).
Cristo é a verdade (João 14:6 com João 7:18).
Cristo estava repleto de verdade (João 1: 14).
Cristo falou a verdade (João 8:45).
O Espírito Santo é o Espírito da verdade (João 14: 17).
O Espírito Santo nos guia a toda verdade (João 16: 13).
A Palavra de Deus é a verdade (Dan. 10:21; João 17: 17).
Deus encara a verdade favoravelmente (Jer. 5:3).
Os juízos divinos são segundo a verdade (Sal. 96:13; Rom.12).
Os santos deveriam:
Adorar a Deus na verdade (João 4:24 com SaI.145:18).
Servir a Deus na verdade (Jos. 24: 14; 1 Sam. 12:24).
Andar diante de Deus na verdade (I Reis 2:4; 11 Reis 20:3).
Observar as festividades religiosas na verdade (I Cor.5:8)
Estimar a verdade como preciosíssima (Pro. 23:23).
Regozijar-se na verdade (I Cor. 13:6).
Falar a verdade uns com os outros (Zac. 8:16; Efé. 4:25).
Meditar sobre a verdade (Fil. 4:8).
Escrever a verdade sobre as tábuas do coração (Pro.3:3).
Deus deseja a verdade no coração (Sal. 51:6).
O Fruto do Espírito se verifica na verdade (Efé. 5:9).
Os ministros deveriam:
Falar a verdade (lI Cor. 12:6; Gál. 4: 16).
Ensinar a verdade (1 Tim. 2:7).
Ser aprovados pela verdade (11 Cor. 4:2; 6:7,8; 7: 14).
Os magistrados deveriam ser homens caracterizados pela verdade (Êxo. 18:21).
Os reis são preservados pela verdade (Pro. 20:28).
Os que dizem a verdade:
Exibem a retidão (Pro. 12: 17).
Serão firmados (Pro. 12:19).
São deleitáveis para Deus (Pro. 12:22).
Os ímpios:
São destituídos da verdade (Osé. 4: 1).
Não dizem a verdade (Jer. 9:5).
Não sustentam a verdade (Isa. 59:14,15).
Não pleiteiam pela verdade (Isa. 59:4).
Não são corajosos em defesa da verdade (Jer. 9:3).
Serão punidos por não terem a verdade (ler. 9:5,9; Osé, 4: 1).
O evangelho, como a verdade:
Veio por meio de Cristo (João 1:17).
Cristo dá testemunho da verdade (João 18:37).
Ela se acha em Cristo (Rom. 9: 1; 1Tim. 2:7).
João deu testemunho da verdade (João 5:33).
Ela é segundo a piedade (Tito 1:1).
Ela é santificadora (João 17: 17,19).
Ela é purificadora (I Ped. 1:22).
Ela faz parte da armadura cristã (Efé. 6:14).
Ela é revelada abundantemente aos santos (Jer. 33:6).
Ela permanece com os santos (11 João 2).
Ela deveria ser reconhecida (11 Tim. 2:25).
Ela deveria ser crida (11 Tes. 1:12, 13; 1 Tim. 4:3).
Ela deveria ser obedecida (Rom. 2:8; Gál. 3: 1).
Ela deveria ser amada (11 Tes. 2: la).
Ela deveria ser corretamente manuseada (11 Tim. 2: 15).
Os ímpios se afastam da verdade (11 Tim. 4:4).
Os ímpios resistem à verdade (11 Tim. 3:8).
Os ímpios estão destituídos da verdade (I Tim. 6:5).
A igreja é a coluna e o baluarte da verdade (1 Tim. 3: 15).
O diabo é despido de verdade (João 8:44).
TRÊS CONCEITOS DE VERDADE NA BÍBLIA
O uso que a Bíblia faz da palavra verdade, sugere três conceitos relacionados entre si, a saber: 1. a verdade moral; 2. a verdade ontológica; e 3. a verdade cognitiva. Naturalmente, os conceitos 2 e 3 dependem, logicamente, do conceito 1; e o conceito 3 depende, logicamente, dos conceitos 1 e 2. Em cada um desses casos, entretanto, a base da verdade se encontra em Deus, que é a fonte originária e o padrão de 1, a retidão; 2, o ser; e 3, o conhecimento.
1. A Verdade Moral. A verdade é um dos atributos de Deus. Como tal, esse vocábulo se refere à integridade, ao caráter digno de confiança e à fidelidade de Deus. Um poeta hebreu celebra esse atributo em Salmos 89, e o profeta Oséias o faz em Osé. 2: 19-23. Em ambos os casos, a verdade divina é combinada com a misericórdia e o amor de Deus. De acordo com Deuteronômio 32:4, Salmos 100:5 e 146:6, a fidelidade de Deus é revelada por meio da criação; e, no livro de Apocalipse, esse é o atributo de Deus sobre o qual repousa a expectação de juízo (ver Apo. 3:7,14; 6:10; 15:3,4; 19:11 e 21:5).
Visto que o caráter divino deve ser imitado pelos homens, a verdade também deveria ser uma qualidade, virtude ou atributo humano. Por esse prisma, a verdade importa em honestidade (Sal. 15:2; Efé. 4:25) e justiça civil (Isa. 59:4,14,15). Dizer a verdade, portanto, para o homem constitui uma obrigação, de tal maneira que a veracidade (verdade cognitiva) seja uma das características do homem em quem se pode confiar (verdade moral).
Entretanto, espera-se de cada indivíduo que se mostre íntegro diante de Deus e de seus semelhantes (Êxo. 18:21; Jos. 24:14). Nesse sentido moral, a verdade não é algum mero verniz superficial, pelo contrário, parte do próprio coração, distinguindo o caráter inteiro do homem interior (I Sam, 12:24; Sal. 15:2; 51:6).
2. A Verdade Ontológica. Originando-se no conceito de que o indivíduo que é inteiramente digno de confiança é veraz, temos aquele outro conceito do indivíduo que efetivamente é aquilo que se propõe a ser. Isso significa que tal individuo não vive uma ficção, não procura enganar ao próximo, e nem é um homem que dê um exemplo imperfeito ou negativo. Nesse sentido, "a verdadeira luz" (João 1:9) é a perfeição que João Batista refletia em parte, em sua pessoa; "o verdadeiro pão" (João 6:32) faz contraste com o imperfeito maná de Moisés; e "os verdadeiros adoradores" (João 4:23) fazem contraste com aqueles que adoravam por mera antecipação, aguardando por quem não conheciam o Messias. Os crentes tessalonicenses abandonaram seus ídolos a fim de servirem ao verdadeiro Deus (1Tes. 1:9).
E nesse sentido que falamos sobre "um verdadeiro homem", "um verdadeiro erudito" ou "um verdadeiro filho", dando a entender alguém que é fiel a algum ideal, que representa perfeitamente algum padrão de virtude. A teoria grega dos universais via, em todos os particulares, uma participação, em algum grau, nas formas ideais dos universais.
Pensadores cristãos como Agostinho, Anselmo e Tomás de Aquino equipararam essas formas com as ideias e os decretos divinos (verdades eternas), tendo atribuído uma "verdade ontológica" aos objetos naturais que dão corpo a essas idéias e decretos. Entretanto, essa noção não se originou dos ensinamentos bíblicos, mas pela combinação das teorias gregas sobre a forma com o conceito bíblico de um Criador que faz todas as coisas em consonância com a sua perfeita vontade.
3. A Verdade Cognitiva. Um outro fator resultante da verdade moral é que o individuo veraz diz a verdade e não a mentira ou falsidade. Em Deus, a verdade origina-se na sua onisciência, de tal modo que o atributo da verdade se refere, pelo menos em parte, ao seu perfeito conhecimento de todas as coisas (1ó 28:20-26; 38:39). Visto que Deus é o Criador, tudo quanto sabemos depende, em última análise, do Senhor. Toda verdade é uma verdade divina. Nossas habilidades cognitivas são uma criação de Deus, e o caráter inteligível da natureza confirma a sabedoria de Deus. Por conseguinte, o conhecimento de Deus é um conhecimento arquétipo, do qual o nosso conhecimento é parcial, uma imitação. Aquilo que declaramos verdadeiro, só o é à proporção que concorda com a verdade, que só se manifesta perfeitamente na pessoa de Deus. Isso posto, a verdade terrestre é contingente, dependente, limitada, provisória. É por um motivo assim que o apóstolo dos gentios explicou que"... agora vemos como em espelho, obscuramente...", e que somente na presença imediata de Deus, quando estivermos na glória, é que " ...veremos face a face ...". Sim, ainda no dizer do apóstolo, agora conhecemos apenas parcialmente; no céu conheceremos tal e qual somos conhecidos. Em contraste com o nosso conhecimento refletido, a verdade arquétipo é ilimitada, imutável e absoluta. No caso do homem, a verdade permanece em formação constante; mas, no caso de Deus, a verdade já é perfeita, completa.
Isso é expresso através do conceito do Logos, nos escritos de João, bem como na discussão, na epístola aos Colossenses, sobre o fato de estarem ocultos, em Cristo,
" ... todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento..." (Col. 2:3). O Cristo, por intermédio de Quem todas as coisas foram criadas, e que agora sustenta a tudo em existência, é aquele que empresta, à natureza e à história, inteligibilidade, boa ordem e propósito. Conhecer a Cristo é conhecer a fonte onisciente de toda a verdade, de todo o conhecimento, não a fim de que possamos saber de tudo quanto ele sabe, mas a fim de podermos compreender como são possíveis todo o conhecimento e toda a sabedoria. Cristo é aquele que garante o caráter fidedigno de qualquer verdade que podemos obter.
Apesar de ser evidente, no Novo Testamento, o conceito cognitivo da verdade (ver, por exemplo, Mar. 5:33; 12:32; Rom. 1:25), é particularmente aplicado ali à mensagem anunciada por Cristo e seus apóstolos (João 5:33; 8:31-47; Rom. 2:8; Gál, 2:5; 5:7; Efé. 1:13; I Tim. 3: 15; I João 2:21-27). Um mensageiro cristão fiel fala a verdade que procede de Deus; e, correspondendo a essa verdade de Deus, o crente confia em Deus, de quem procede essa verdade. A fé, pois, consiste tanto no assentimento da verdade como na dependência ao que Deus declara. Por isso é que se lê que uma pessoa "pratica a verdade", quando dá o seu assentimento à mensagem do evangelho e confia em Cristo, em vista de sua "verdade moral" ou fidelidade (ver I João 1:6-8; 2:4; 3:18,19).
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 6. Editora Hagnos. pag. 593-595.
I - A RELAÇÃO ENTRE OS POBRES E OS RICOS DA IGREJA (Tg 1.9-11)
1. Os pobres na Igreja do primeiro século.
Gl 2.10 Muito esforço seria necessário para promover a unidade no nível das raízes entre os cristãos de origem judaica e os gentios. Os apóstolos perceberam que uma maneira imediata e prática de transpor esta possível brecha seria lembrarem-se de ajudar aos pobres. Paulo assegurou que pretendia fazer isto com diligência. Ele nunca se esqueceu desta ideia. Ele continuava ansioso por ajudar os crentes pobres de Jerusalém. Nas suas viagens missionárias (especialmente na terceira), Paulo arrecadou fundos para ajudar os crentes de origem judaica que eram pobres e que viviam em Jerusalém (veja At 24.17; Rm 15.25-28; 1 Co 16.1-4; 2 Co 8-9).
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 268-269.
O compromisso de Paulo (Gl 2.10)
O apóstolo Paulo passa das considerações teológicas acerca do conteúdo e da defesa do evangelho para os aspectos práticos — o auxílio aos pobres. Doutrina e prática andam juntas. A teologia cristã precisa desembocar na prática do amor cristão. A salvação é só pela fé, independentemente das obras, mas a fé salvadora não vem só, ela produz obras. A fé sem obras é morta. A fé opera pelo amor. A fé é a fonte; as obras, o fluxo que corre dessa fonte. A fé é a raiz; as obras, os frutos. A fé a causa; as obras, a consequência. Não somos salvos pelas obras, mas para as obras. O mesmo evangelho que liberta do pecado, também assiste os necessitados.
Duas verdades são aqui destacadas.
Em primeiro lugar, não há conflito entre fé e obras.
“Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres...” (2.10). O evangelho da graça é integral. Ele provê salvação para a alma e redenção para o corpo. É transcendental e ao mesmo tempo assistencial. Não existe conflito entre evangelização e ação social. Fé e obras não se excluem; completam-se. Quando o coração está aberto para Deus, está também franqueado para o próximo. A conversão do coração passa também pela generosidade do bolso. Quem ama a Deus também serve ao próximo. Quem adora a Deus também socorre o necessitado.
Em segundo lugar, não há conflito entre evangelização e ação social. “... o que também me esforcei por fazer” (2.10b). Não há conflito entre a pregação do evangelho e o cuidado dos pobres. Paulo foi um homem que se afadigou na Palavra. Ele se gastou pelo evangelho. Pregou com senso de urgência e também com lágrimas. Ao mesmo tempo, porém, esforçou-se para socorrer os pobres. Foi a Jerusalém duas vezes com o propósito de levar ofertas aos necessitados (At 11.29,30; 21.17). Compromisso assumido, compromisso cumprido. A pobreza dos crentes da Judeia despertou a simpatia das igrejas gentias (Rm 15.25-27; ICo 16.1-4; 2Co 8—9). Evangelização sem ação social gera um pietismo alienado; ação social sem evangelização produz um assistencialismo humanista. Ao longo dos séculos o evangelho de Cristo tem sido o vetor inspirador para as maiores obras sociais do mundo, criando hospitais, escolas, asilos e dezenas de instituições que cuidam do ser humano de forma integral. Concluímos esta exposição com a perspectiva de William Hendriksen. Ele diz que ajudar os pobres é requerido na lei de Deus (Êx 23.10,11; 30.15; Lv 19.10; Dt 15-7-11), na exortação dos profetas (Jr 22.16; Dn 4.27; Am 2.6,7) e no ensino de Jesus (Mt 7.12; Lc 6.36,38; Jo 13.29). É fruto da gratidão do crente pelos benefícios recebidos. Aqueles que recebem misericórdia tornam-se misericordiosos. Paulo diz que aqueles que recebem benefícios espirituais devem retribuir com benefícios materiais (Rm 15.26,27). Jesus é o maior exemplo de generosidade (2Co 8.9). O homem generoso receberá grande recompensa (Mt 25.31-40).
LOPES, Hernandes Dias. GÁLATAS A carta da liberdade cristã. Editora Hagnos. pag. 90-92.
Gl 2.10 De conformidade com a doutrina farisaica, as três grandes colunas sobre as quais se apoia o mundo espiritual, seriam as esmolas, o serviço no templo e o estudo da Torah. As condições econômicas da época, em muitas comunidades judaicas, mas sobretudo em Jerusalém, tornavam a prática das esmolas extremamente importante. Os já limitados recursos da Palestina foram ainda mais exigidos devido aos conflitos e à turbulência social constantes. Jerusalém parece ter sido sempre uma parasita econômica, dependente das rendas do templo, que vinham de outras regiões da Palestina e até mesmo de países estrangeiros. Com base nos fundos dos tesouros do templo de Jerusalém e das milhares de sinagogas é que eram sustentadas as viúvas e outros pobres, sendo dali também tirados fundos para ajudar aos desempregados. Ao mesmo tempo, entretanto, líderes gananciosos se enriqueciam mediante o uso pessoal dos fundos destinados à comunidade. Estêvão selou a sua condenação ao indicar, em seu sermão, que o templo de Jerusalém estava obsoleto, e não era mais essencial para a verdadeira adoração. Ao menos por razões financeiras, discursos dessa natureza não poderiam mesmo ser tolerados entre os judeus antigos. (Ver Atos 7:49 e ss.).
Falando sobre dinheiro, ninguém deseja contribuir, hoje em dia, para a manutenção do ministério e para a ereção de escolas. Mas quando se trata do estabelecimento da idolatria e da adoração falsa, nenhum custo é poupado. A verdadeira religião sempre padecerá da falta de fundos suficientes, ao passo que as religiões falsas são sustentadas pelas riquezas materiais». (Martinho Lutero, in loc.).
«...dos pobres...» Estes deveriam ser relembrados e servidos. Provavelmente apelaram a Paulo, para que os ajudasse, e a coleta foi feita, pelo menos em parte, como resposta a esse apelo. Naturalmente que isso não foi apresentado como «condição» para a aceitação de Paulo por parte dos demais apóstolos; antes, foi a única coisa que veio a ser solicitada dele, no tocante a quaisquer sugestões adicionais que os apóstolos tinham a respeito dos labores de Paulo. Os «pobres», em geral, devem ser incluídos nessa ideia, ainda que parece ter havido uma preocupação especial como os pobres de Jerusalém e das cercanias.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 454.
2. Os ricos na Igreja Antiga.
A pobreza e a riqueza na vida do cristão
A não ser em casos específicos em que a condição espiritual da pessoa a leva a comportamentos que acabam afetando negativamente a sua vida financeira, ou em casos também muito específicos em que o juízo de Deus sobre alguém, afeta a sua vida financeira, ser pobre ou rico materialmente não tem nada a ver com a condição espiritual. Há ímpios pobres e há ímpios muito ricos, assim como há servos de Deus ricos e pobres, servos de Deus ricos que empobreceram e servos de Deus pobres que enriqueceram. Por exemplo: Abraão foi rico; Isaque também foi rico; Jacó nasceu em uma família rica, depois foi ganhar a vida como empregado de seu tio Labão até que Deus o fez enriquecer sem precisar da ajuda de seus pais; o rico Jó era um homem justo e reto diante de Deus, mas se tornou miserável e depois voltou a ser rico; Jeremias era pobre, permaneceu assim e morreu assim; os profetas Sofonias e Isaías foram aristocratas palacianos, mas o profeta Amós foi um simples camponês; o pobre Lázaro da história contada por Jesus em Lucas 16, e que morreu pobre e na miséria, era um homem justo; a Bíblia diz que um profeta que realmente “temia ao Senhor” e auxiliava no ministério do profeta Eliseu morreu pobre e endividado (1 Rs 4.1), mas sua esposa acabou prosperando após um milagre de Deus (1 Rs 4.7); etc.
O que a Bíblia classifica como mal não é a riqueza, mas o amor às riquezas, a confiança depositada nelas. Isso está mais do que claro em várias passagens das Escrituras. A Bíblia nos diz que, no que tange a bens materiais, passamos a ser ímpios quando:
1) Passamos a amar as riquezas, o que é o princípio do fim, porque “o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males” (lTm 6.10).
2) A riqueza passa a ser senhora de nossas vidas e não nossa serva: “Náo podeis servir a Deus e a Mamom” (Mt 6.24).
3) Tornamo-nos avarentos, isto é, apegados demasiadamente, e de forma repugnante, ao dinheiro (Lc 12.15a).
4) Passamos a medir a qualidade da nossa vida pela abundância do que possuímos (Lc 12.15b).
5) Passamos a colocar a nossa prioridade nas riquezas (Mt 6.19-21).
6) Passamos a colocar a nossa esperança nas riquezas (lTm 6.17b).
7) Tornamo-nos altivos, soberbos e arrogantes por causa das riquezas (lTm 6.17a).
8) Praticamos a usura (SI 15.5).
9) Somos possuídos pela cobiça (lTm 6.10), as riquezas se tornam uma obsessão em nossa vida (lTm 6.9).
10) Nossos bens são “bens mal adquiridos”, ou seja, conquistados desonestamente, seja ilegalmente (Hc 2.9) ou não (Pv 28.20), pois nem sempre o que é legal é moral. O pagamento de salários injustos é um desses casos, inclusive mencionado pelo apóstolo Tiago (Tg 5.4).
Como vemos, no que diz respeito às riquezas, o pecado está em mantermos uma relação imoral com elas. Bons exemplos de homens de Deus ricos são Jó e Abraão (Gn 13.2; Jó 1.3; 42.10,12). Eles enriqueceram honestamente dentro do sistema econômico de suas épocas e não eram avarentos. Eles eram generosos, desapegados às suas riquezas e colocavam seus bens a serviço da obra de Deus, ajudando o próximo (leia com atenção Jó 31.14-41). O próprio apóstolo Tiago cita Abraão como grande exemplo de verdadeira piedade, de fé com obras (Tg 2.21-23). Jesus criticou a avareza, o amor ao dinheiro, e não o desejo simples (que não deve ser confundido com desejo obsessivo) de prosperar financeiramente (Mt 6.19-21,24). Jesus não pregou a pobreza como uma virtude. Ser rico e ser pobre não têm nada a ver com caráter ou qualidade de vida espiritual.
Quando Jesus citou a metáfora do camelo no fundo da agulha, estava falando não da impossibilidade de um rico entrar no Reino de Deus, mas da dificuldade (Mt 19.23,24), porque o ser humano tendente a valorizar o material mais do que o espiritual. Jesus não estava ensinando, e nunca ensinou, que, para nos mantermos firmes espiritualmente, devemos ser avessos a qualquer tipo de desejo de prosperar financeiramente. Tanto é que Jesus conclui sua ilustração dizendo que Deus salvará, sim, ricos (Mt 19.26). A metáfora é só um alerta para não se apegar às riquezas, o que Jesus já havia feito em seu Sermão da Montanha (Mt 6.24). Na mesma linha do Mestre, o apóstolo Paulo não dá recomendações aos cristãos ricos para que deixem de ser ricos, mas para que sejam bênção como ricos (lTm 6.17-19), e assevera que o dinheiro não é a raiz de todos os males, mas, sim, “o amor ao dinheiro” (lTm 6.10).
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 49-51.
Lc 18.24,25 Com o discipulado lhe tendo sido oferecido, o homem decidiu voltar às suas posses. Jesus tristemente mostrou aos seus discípulos que muito dificilmente entrarão no Reino de Deus os que têm riquezas. Isto era contrário à sabedoria convencional. Muitos judeus acreditavam que a riqueza era um sinal da bênção de Deus sobre o povo. Aqui, Jesus explicou que as riquezas frequentemente podem provar ser um obstáculo. As pessoas ricas frequentemente não sentem a profunda necessidade espiritual de procurar e encontrar a Deus. Elas podem usar o seu dinheiro para obter posses, viagens e pessoas que lhes servem, para que não sintam nenhuma necessidade em suas vidas. Com todas as suas vantagens e influência, os ricos com frequência acham difícil ter a atitude da humildade, da submissão, e de serviço exigida por Jesus. Como o dinheiro representa poder e sucesso, os ricos frequentemente deixam de perceber o fato de que o poder e o sucesso na terra não podem trazer a salvação eterna. Mesmo que usem o seu dinheiro para ajudar causas boas e nobres, ainda assim podem perder a oportunidade de fazer parte do reino de Deus.
Jesus usou um conhecido provérbio judaico para descrever a dificuldade enfrentada pelos ricos; ele disse: “é mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus”. A palavra grega se refere a uma agulha de costura. O camelo, o maior animal da Palestina, poderia passar pelo furo de uma agulha de costura mais facilmente do que uma pessoa rica poderia entrar no reino de Deus. Estas realmente são palavras preocupantes para aqueles cujos bens e dinheiro são extremamente importantes.
18.26,27 Como o povo judeu via as riquezas como um sinal de bênçãos especiais de Deus, as pessoas ficaram atônitas quando Jesus disse que na verdade as riquezas impediam que as pessoas se encontrassem com Deus. Então, perguntaram: “Logo, quem pode salvar-se?” Jesus respondeu que as coisas que são impossíveis aos homens são possíveis a Deus. As pessoas não podem salvar a si mesmas, não importa quanto poder, autoridade ou influência possam comprar. A salvação vem somente de Deus. Tanto os ricos quanto os pobres podem ser salvos, e as coisas humanamente impossíveis são divinamente possíveis. Os ricos devem deixar de se apegar às suas riquezas, lembrando-se de que todos os centavos vêm de Deus. E devem usar voluntariamente o que Deus lhes deu para ajudar no avanço do seu Reino. Isto não é fácil para ninguém, seja rico ou pobre. O dinheiro pode ser um obstáculo imenso, mas Deus pode modificar todas as pessoas.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 437.
Lc 18.25-26. Esse acontecimento levou Jesus a fornecer aos seus um ensinamento sobre o perigo da riqueza. Um rico dificilmente entra no reino de Deus, porque o coração pecaminoso se apega demais à propriedade terrena. A fim de incutir mais firmemente essa verdade em seus ouvintes, o Senhor acrescenta ao que foi dito até agora um provérbio: “É mais fácil que um camelo passe pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reinado de Deus.” O ponto de comparação desse provérbio é o humanamente impossível. Com certeza não é condizente imaginar aqui a pequena entrada no muro de Jerusalém pela qual um camelo carregado passava apenas com dificuldade. Um ditado semelhante ocorre no Alcorão (Surata 7,38) e no Talmude (neste caso, com um elefante). Alguns manuscritos gregos trazem em lugar de kamelos = “camelo” uma corda marítima ou de ancoragem, que se chama kamilos. Essa última explicação na verdade foi frequentemente questionada, porém ela expressa muito bem a total impossibilidade.
A declaração do Senhor ensinou os ouvintes a lançar um olhar sincero para seu próprio coração. Consternados eles perguntam quem, então, poderá ser salvo? A pergunta não é “que pessoa rica pode tornar-se bem-aventurada?”, como consta no título do livrinho de Clemente de Alexandria, mas: “que pessoa realmente pode tornar-se bem-aventurada?”
Não obstante, tornar-se bem-aventurado, ser salvo, algo impossível a partir do ser humano, pode ser viabilizado por Deus. Nenhuma pessoa é capaz de transformar seu coração por força própria, para não se apegar mais às coisas terrenas. A onipotência da graça de Deus, porém, consegue renovar o coração, para que abra mão de tudo o que é terreno por causa do reino de Deus, para que busque, ao invés de bens terrenos, o tesouro celestial.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica Esperança.
Lc 18.25-26. Por certo, é absolutamente impossível que um camelo com sua corcova e tudo mais passe pelo fundo de uma agulha. Pense nisto: um camelo, o maior animal da Palestina, passando pela pequeníssima abertura de uma agulha! Ridículo! Tal coisa não acontece!
A razão pela qual Jesus se expressou de forma tão dramática era que ele queria que os discípulos atentassem bem. Ele queria que a verdade da total incapacidade humana penetrasse bem fundo na mente deles.
Para explicar o que Jesus quer dizer, é inútil e infundado tentar mudar “camelo” por “cabo” - veja Mateus 23.24, em que a intenção deve ter sido um camelo real - ou definir o “olho de agulha” como sendo um portão bem estreito no muro da cidade, um portão, assim prossegue o raciocínio, através do qual um camelo só pode passar ajoelhado e depois que toda a carga tenha sido removida. Essas “explicações” (?), afora o fato de serem passíveis de objeções do ponto de vista lingüístico, tentam tornar possível o que Jesus claramente declarou ser impossível. O Senhor quer dizer que é impossível que um rico faça ou encontre por suas próprias forças um caminho para o reino de Deus. Quão poderosa é a resistência que a riqueza exerce no coração do homem natural! Ele é violentamente retido por seu fascinante charme e é assim impedido de cultivar uma atitude de coração e mente necessária para entrar no reino de Deus. Veja Lucas 16.13; cf. 1 Timóteo 6.10. É preciso observar que Jesus fala deliberadamente em termos absolutos. Há pouco usamos a expressão por suas próprias forças. Embora diante do versículo 27 não se faz necessário retrair esse qualificativo, deve-se advertir que aqui no versículo 25 Jesus não qualifica assim sua afirmação.
Ele fala em termos absolutos a fim de gravar ainda mais claramente na mente dos discípulos que a salvação, do princípio ao fim, não é uma “realização” humana. Quanto ao fato de que “o extremo do homem é a oportunidade de Deus”, fica reservado para mais adiante.
A surpreendente observação de Jesus teve o efeito desejado. Abalou tanto os que o ouviam, que exclamaram: “Então, quem pode ser salvo?” Provavelmente arrazoaram deste modo: o que Jesus diz com respeito aos ricos vale para todos, porque, embora nem todos sejam ricos, contudo os pobres aspiram a ser ricos. Em relação a isso, note também que o rico havia inquirido sobre herdar a vida eterna (v. 18). Jesus havia respondido em termos de entrar no reino de Deus (v. 25). E os ouvintes - em sua maioria discípulos, provavelmente (veja vs. 15, 28) - haviam interpretado a resposta de seu Senhor como uma indicação de que ninguém poderia ser salvo (v. 26). Portanto, é evidente que as três designações são sinônimas; todas descrevem a mesma bênção, porém cada uma focaliza um ponto de vista diferente.
HENDRIKSEN. William. Comentário do Novo Testamento. Lucas. Vol 2. Editora Cultura Cristã. pag. 401-402.
Tg 1.11 Tiago descreveu um acontecimento comum no Oriente Médio. A manhã é frequentemente recebida por flores coloridas do deserto, que se abrem após o frio da noite. A sua morte é repentina com o ardor do sol. Este murchar e morrer, no caso das pessoas ricas, é tão repentino quanto a morte das flores silvestres. A morte sempre se intromete. A vida é incerta. O desastre é possível a qualquer momento.
O pobre deve ficar feliz porque as riquezas não significam nada para Deus; caso contrário, as pessoas pobres seriam consideradas sem valor. O rico deve ficar feliz porque a prosperidade não significa nada para Deus, porque a prosperidade é facilmente perdida. Nós encontramos a verdadeira riqueza quando desenvolvemos a nossa vida espiritual, e não os bens materiais. Tiago inicia a sua carta certificando-se de que os crentes, tanto os pobres como os ricos, se vejam sob a mesma luz diante de Deus (veja Gl 3.28; Cl 3.11).
Tiago convoca os seus leitores a encontrarem esperança nas promessas eternas de Deus.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 665.
Tg 1.11 Essa metáfora é acolhida por Tiago para explicitar a transitoriedade daquilo que torna alguém rico: “O sol se levanta com seu ardente calor, e faz secar o capim, sua flor cai, e desaparece a formosura do seu aspecto. Assim também definhará o rico em seus caminhos”: na hora da morte os bens ficam para trás (Lc 12.20s). Com frequência eles já se desfazem antes em crises econômicas, especulações equivocadas, guerras com suas consequências, ou por causa da desonestidade de pessoas. A pessoa rica não se livra das preocupações. Boas posições podem-nos ser tiradas rapidamente pela idade, enfermidade, mudança da conjuntura, golpes políticos. A beleza pode murchar depressa, acuidade intelectual pode se perder em acidentes ou doenças. Nada é mais seguro para nós do que isto: “Assim também definhará o rico em seus caminhos.”
Isso, pois, é visto por Tiago como motivo para alegrar-se. O rico deve “gloriar-se” de sua insignificância (v. 10), ou seja, deve gostar de lembrar e falar disso. Como isso deve ser entendido e realizado na prática? “Têm como se não tivessem” (1Co 7.29-31). Não prendem a tudo isso o coração (Mt 6.19-24). Com o que possuem são administradores de Deus. São bens que lhes foram confiados (cf. Mt 25.14ss). Levam a sério sua administração e têm o propósito de ser fiéis. Alegram-
se quando os recebem, e estão dispostos a devolvê-los novamente (Jó 1.21b). Por isso estão isentos das inquietas e medrosas preocupações que com freqüência atormentam tanto os ricos neste mundo. Não estão agarrados à propriedade. Algo diferente deixa-os alegres e confiantes na vida e na morte, no tempo e na eternidade: “Em mim e minha vida não há nenhum valor; por Cristo é concedida a luz ao pecador” (Paul Gerhardt [1607-1676 – HPD 160,3]). Isso coloca no mesmo nível os membros da igreja socialmente diferentes e os posiciona muito perto uns dos outros. A pobreza não humilha, a riqueza não exalta. – Quando a questão da riqueza não parece mais tão terrivelmente importante, estão asseguradas também as premissas para a harmonização social. Ela acontece sem que se faça grande alarde disso. Pessoas renovadas geram uma realidade nova. Dessa maneira a riqueza também passa a não ser mais tentação e perigo. Sabe-se que ela não é nada em comparação com a graça de Deus, concedida igualmente a todos. Perante Deus somos todos mendigos e todos regiamente presenteados.
Nesse contexto igualmente será bom lembrar que também os dons (em grego charismata) e serviços (cargos) específicos na igreja não exaltam uma pessoa sobre a outra. Aliás, isso contrariaria a maneira de Jesus (Mt 18.1-4; 20.25-28). Os dons espirituais não são pedestal para alçar os detentores nem condecorações por uma conduta especial, mas meros equipamentos para determinados serviços (1Co 12.7). Não devemos nos deixar fascinar pelo que conseguimos realizar por meio do dom de Deus, mas nos alegrar com o presente imerecido que nos com foi dado pela filiação divina (Lc 10.20). Também nesse caso vale de forma especial: “Em mim e minha vida não há nenhum valor; por Cristo é concedida a luz ao pecador” [Paul Gerhard, HPD 160,3] “Pela graça de Deus sou o que sou” (1Co 15.10). Por fim, o dom (1Co 13.8) e a incumbência somente nos foram atribuídos provisoriamente. No grande dia de nosso Senhor precisamos contar com uma redistribuição (Lc 19.17).
Fritz Grünzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Tg 1:11 / O quadro que Tiago usa a fim de imprimir essa idéia na mente de seus leitores é o de um fenômeno dramático, observado na Palestina. As anêmonas e as ciclamens florescem maravilhosamente pela manhã, mas, à medida que o sol vai subindo e o dia se torna mais quente, elas vão pendendo, murcham e acabam morrendo. No final da tarde as flores que havia pouco estavam em pleno viço agora não mais existem, e não renascerão. É provável que esse quadro tenha sido tirado de Isaías 40:6-8 (também é empregado em 1 Pedro 1:24), mas o sentido é singularmente de Tiago. O rico é a flor cuja aparência é tão impressionante. Contudo, da perspectiva dos céus, a situação desse rico é precária na verdade. Logo sobrevirá algum problema, alguma doença, e onde estará depois o rico? Em face da morte, as riquezas são absolutamente insignificantes (cf. Jó 15:30; Provérbios 2:8; Salmos 73; Mateus 6:19-21). O rico murchará também enquanto vai andando em seus caminhos. A memória que dos ricos restará não será eterna, cheia de glória, como imaginavam que fosse, mas dissolver-se-á no pó, à semelhança de qualquer mortal, e logo seus monumentos e a própria lembrança deles se desfarão, desaparecendo no esquecimento. Isso era tudo que o rico teve, visto que, diferentemente do pobre, que havia sido “levantado” e, dessa maneira, veio a gozar de um lugar eterno junto a Deus, o rico recebeu toda sua consolação aqui na terra, pelo que mergulhou para sempre nas trevas e no esquecimento, cortado bem no meio de seus caminhos.
Nesse momento Tiago inicia a segunda parte da sua declaração de abertura. Embora verse sobre os mesmos temas, não é repetitivo, pois cada tema é ampliado. Trata-se aí das causas interiores do fracasso nas provações e não dos benefícios gerais advindos da provação. Debate-se a boa dádiva de Deus em relação ao problema do diálogo e não em relação à oração e à sabedoria. Agora focaliza-se a prática da fé (que significa repartir com generosidade), e não o debate da situação real do rico e do pobre. Todos esses temas acabarão por fundir-se nos debates de maior monta da conclusão.
Peter H. Davids. Comentário Bíblico Contemporâneo. Editora Vida. pag. 50.
3. Perante Deus, pobres e ricos são iguais.
A transitoriedade das riquezas
Por isso, o apóstolo Tiago, após mencionar que tanto o rico quanto o pobre cristãos podem se alegrar em meio às circunstâncias, destaca ainda, no caso do rico, que ele deve se lembrar de que as riquezas terrenas são passageiras: “...porque ele [o ser rico] passará como a flor da erva. Porque o sol se levanta com seu ardente calor, e a erva seca, e a sua flor cai, e desaparece a formosura do seu aspecto; assim também se murchará o rico em seus caminhos” (Tg 1.10b, 11). Logo, se as riquezas são passageiras, não devemos nos apegar a elas, não devemos supervalorizá-las.
O rico Salomão lembrava que como não podemos levar as riquezas conosco para a eternidade (Ec 5.15), não faz sentido apoiar-se em algo passageiro, fugaz. O rico Jó afirmou o mesmo. Diante da perda de seus bens e filhos, declarou ele: “Nu saí do ventre da minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1.21). Escrevendo aos crentes em Corinto, o apóstolo Paulo afirma que, tendo em vista a brevidade da vida aqui e, em perspectiva, a eternidade, deveríamos “tratar as coisas deste mundo como se não estivéssemos ocupados com elas, pois este mundo, como está agora, não vai durar muito” (1 Co 7.31, NTLH). Ou, como aparecem nas versões ARC e ARA desse mesmo versículo, devemos “usar” as coisas deste mundo em vez de “abusar” delas ou “utilizar do mundo, como se dele não usássemos”, porque “a aparência deste mundo passa”. Escrevendo a Timóteo, Paulo assevera ainda: “Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes” (lTm 6.7,8). Nossa vida não se resume a bens. Estes são benesses agradáveis e importantes, mas não fazem parte da essência da vida.
Mas, além de apegar-se às riquezas significar a perda do sentido da vida e, consequentemente, caminha para a perdição eterna, a Bíblia também nos diz que, ainda aqui na Terra, essa atitude traz muitos males. O apóstolo Paulo ressalta que a supervalorização dos bens materiais e a cobiça levam o homem a “cair em tentação e em laço”; a “muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína; a “toda a espécie de males”; a se “desviarem da fé”; e a “muitas dores”; e que, por isso, aquele que teme a Deus “foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão” (lTm 6.9-11). E Salomão, o homem mais rico de todos os tempos, já alertava em seu tempo que o apego aos bens materiais provoca vícios e males tais como o desejo incontrolável de ganhar mais e mais (Ec 5.10), o gasto desenfreado (Ec 5.11), preocupações e noites mal dormidas (Ec 5.12) e a perda desnecessária de bens (Ec 5.13,14). Enfim, alguém pode ser muito rico, mas, sem Jesus, sem Deus, ser infeliz.
Outro detalhe é que o tipo de sentimento que alimentamos em relação aos nossos bens determina o propósito das nossas ações, o nosso comportamento. Portanto, se alimentamos um sentimento correto em relação às riquezas, não seremos tão afetados emocionalmente e muito menos espiritualmente se as perdermos; mas, se cultivamos um sentimento errado em relação a elas, uma eventual perda levar-nos-á ao desmoronamento do nosso ser interior, pois nossa alma estava apoiada em areia movediça.
O sentido e a alegria de nossas vidas não devem estar fundamentados em bens materiais, mas na solidez e perfeição dos valores divinos.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 51-53.
Rm 8.14 Os judeus já se consideravam filhos de Deus por causa da sua herança, mas Paulo explica que agora esse termo tem um novo significado. Os verdadeiros filhos de Deus são aqueles que são guiados pelo Espirito de Deus como ficou provado no seu estilo de vida. Os crentes não têm apenas o Espírito (8.9), eles também são guiados por Ele.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 55.
Rm 8.14 O “...espírito de adoção...” é outro privilégio daqueles que estão em Cristo Jesus (w. 14-16).
Todos os que são de Cristo são assumidos na relação de filhos de Deus (v. 14). Observe: (1) Sua característica: Eles são “...guiados pelo Espírito de Deus”, como um estudante, que em sua aprendizagem é guiado por seu professor, como um viajante, que em sua viagem é orientado por seu guia, como um soldado, que em combate é dirigido por seu capitão; não são guiados como animais, mas como criaturas racionais, puxados com as cordas de um homem e os laços do amor. E característica indubitável de todos os verdadeiros crentes serem guiados pelo Espírito de Deus. Tendo se submetido pela fé à sua orientação, em sua obediência eles seguem a sua orientação e são docilmente levados a toda verdade e à total submissão. (2) Os privilégios que possuem: Eles “...são filhos de Deus”, recebidos no número dos filhos de Deus por adoção, reconhecidos e amados por Ele como seus filhos.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 353.
Rm 8.14 Paulo quer que os seus leitores entendam que esta mortificação dos impulsos do nosso corpo pelo Espírito não leva a uma recaída ao legalismo. Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. A mortificação não é a base, mas sim o resultado do nosso relacionamento com Deus. A presença do Espírito nos nossos corações é o resultado de uma mudança nas nossas relações com Deus, uma mudança na qual Deus tomou a iniciativa. Ele enviou o seu Filho para que os seus filhos rebeldes pudessem se tornar seus filhos pela adoção. A mortificação, assim, nos mostra que Deus restabeleceu as relações filiais. Ela nasce da presença renovada do Espírito Santo dentro dos nossos corações. Consequentemente, não há lugar para o medo ansioso.
William M. Greathouse. Comentário Bíblico Beacon. Romanos. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 121.
Ef 2.19 Os gentios não são mais estrangeiros nem forasteiros. Estas palavras descrevem pessoas que vivem em um país que não é o seu, sem qualquer dos direitos de cidadania daquele país. Os gentios eram “estrangeiros” em relação aos judeus, bem como a qualquer esperança (sem Cristo) de um relacionamento com Deus (2.12). Esta era a sua antiga posição. Por causa de Cristo, entretanto, os gentios tornaram-se cidadãos, com todos aqueles que haviam sido chamados para serem os concidadãos dos Santos. Os judeus e os gentios que depositam a sua fé em Jesus Cristo como seu Salvador tornam-se membros da família de Deus.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 328.
Ef 2.19 Neste ponto, o apóstolo volta a falar sobre o estado dos gentios e repete o linguajar do versículo 12. Por Cristo, eles não são mais estrangeiros (xenoi) — “visitantes estrangeiros sem direitos na comunidade” — e forasteiros (paroikoi) — “residentes estrangeiros com direitos temporários e limitados”. A atual relação com Deus na qualidade de redimidos do Senhor não é nem um pouquinho inferior aos judeus. Paulo se serve de três ilustrações para expressar a unidade extraordinária que prevalece na comunhão dos crentes judeus e gentios.
1. “Concidadãos dos Santos” (19a)
Nesta metáfora, retirada da vida citadina, o apóstolo garante aos gentios que “os seus nomes estão inscritos no mesmo rol cívico com todos a quem ‘o Senhor contará quando somar as pessoas”’. Antigamente, os judeus eram os santos, cidadãos da cidade de Deus, e os gentios eram os estrangeiros. A situação não é mais esta. Os crentes gentios fazem parte do novo Israel (G1 6.16), que é formado por todos os cristãos. Eles compartilham todos os direitos e privilégios deste novo povo.
2. “Família de Deus” (19b)
Esta segunda metáfora, retirada da vida familiar, sugere uma relação mais próxima. Agora, os gentios são “família de Deus, membros plenos da sua família, na mesma base que os filhos naturais de Abraão, que entraram na família de Deus pela ‘mesma fé preciosa’”. A relação com os judeus crentes só pode ser caracterizada por palavras como “parentes”, “irmãos” e “santos”. De forma milagrosa e graciosa, os gentios ficaram presos em amor pelos judeus crentes.
Willard H. Taylor. Comentário Bíblico Beacon. Efésios. Editora CPAD. Vol. 9. pag. 142-143.
Em primeiro lugar, ele fala sobre uma nação (2.19a). “Assim, não sois mais estrangeiro, nem imigrantes; pelo contrário, sois concidadãos dos santos.” Israel era a nação escolhida de Deus, mas eles rejeitaram seu redentor e sofreram as consequências disso. O reino foi tirado deles e dado a outra nação (Mt 21.43). Essa outra nação é a igreja (IPe 2.9). No Antigo Testamento, as nações foram formadas pelos três filhos de Noé: Sem, Cam e Jafé. No livro de Atos, vemos essas três famílias unidas em Cristo. Em Atos 8, um descendente de Cam é salvo, o ministro da fazenda da Etiópia. Em Atos 9, um descendente de Sem é salvo no caminho de Damasco, Saulo de Tarso, o qual se tornou o apóstolo Paulo. Em Atos 10, um descendente de Jafé é salvo, Cornélio. O pecado dividiu a humanidade, mas Cristo faz dela uma nova nação. Todos os crentes das diferentes nacionalidades formam a nação santa que é a igreja. Francis Foulkes diz que em relação ao povo da aliança de Deus, os gentios eram xenoi e paraikos, “estrangeiros” e “imigrantes”, isto é, pessoas que, ainda que vivessem no mesmo país, tinham, contudo, os mais superficiais direitos de cidadania. Essa era a situação anterior, mas, de agora em diante, já não o é. Nas palavras do apóstolo, agora são “concidadãos dos santos”.
Em segundo lugar, Paulo fala sobre uma família (2.19b). “[...] e membros da família de Deus.” Pela fé, entramos para a família de Deus, e Deus tornou-se nosso Pai. Essa família está no céu e também na terra (3.15). Os crentes vivos na terra e os crentes que dormem em Cristo no céu; não importa a nacionalidade, somos todos irmãos, membros da mesma família. Não deve haver mais barreira racial, cultural, linguística nem econômica. Somos um em Cristo. Temos o mesmo Espírito. Fomos salvos pelo mesmo sangue. Temos o mesmo Pai. Somos herdeiros da mesma herança. Moraremos juntos no mesmo lar.
LOPES, Hernandes Dias. EFESIOS Igreja, a noiva gloriosa de Cristo. Editora Hagnos. pag. 67-68.
II - DEUS SÓ FAZ O BEM (Tg 1.16,17)
1. Não erreis (v.16).
Tg 1.16 O perigo por trás do aviso de Tiago para que não erremos é a tentação de crer que Deus náo se importa, ou que não nos ajudará, ou até mesmo que possa estar trabalhando contra nós. A imagem não é agradável. Se chegarmos a crer que estamos sozinhos, é porque fomos enganados ou erramos. Se perdermos a confiança em Deus, significa que fomos enganados. Se ousarmos acusar a Deus de ser o tentador, estaremos terrivelmente enganados.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 667.
Tg 1:16 Não vos enganeis, meus amados irmãos. Não vos enganeis a respeito do quê? Seria o parágrafo anterior encerrado por este versículo, e teria relação com alguma crença segundo a qual a pessoa poderia lançar a culpa sobre Deus, ou abrigar a concupiscência, ou o pecado, sem que sobreviessem as más consequências? Ou será que esse versículo se refere ao engano sobre de onde vêm as provações (1:13)? Ou será que esse versículo é cabeçalho do parágrafo seguinte, referindo-se à falha em perceber que Deus nos dá o bem e nos traz salvação? Estruturalmente, a terceira opção é a preferível, porquanto o termo que designa os destinatários da carta, meus amados irmãos normalmente introduz um novo parágrafo.
Todavia, aqui funciona como versículo-dobradiça: ser enganado quanto a um daqueles itens é o mesmo que ser enganado em todos, visto que o parágrafo seguinte é apenas a negação do parágrafo anterior. Se alguém lançar a culpa em Deus quanto a uma provação, essa pessoa está imergindo no pecado e negando a bondade de Deus. Tiago acredita que seus leitores são crentes verdadeiros (irmãos), mas teme que se desviem da fé, o que fica implícito na exortação não vos enganeis; ele tem medo de que esses crentes possam cair no erro da dúvida quanto à bondade de Deus, o que poderia ser fatal à fé.
Peter H. Davids. Comentário Bíblico Contemporâneo. Editora Vida. pag. 54.
Tg 1.16 Em síntese cumpre dizer: não podemos empurrar a culpa para Deus e, dessa forma, justificar a nós mesmos: “Não vos enganeis, meus amados irmãos”, declara Tiago. Isso quer dizer: não tirem conclusões falsas por meio de uma lógica aparente (consciente ou inconsciente). O ser humano que tenta se afirmar contra Deus empenha de múltiplas maneiras sua capacidade mental para justificar essa atitude errada.
Fritz Grünzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Tg 1.16. Este versículo atua como uma transição entre osw. 12-15e 17-18. Atribuir a Deus o intento maligno de tentar as pessoas é um assunto sério. Tiago quer ter certeza de que seus leitores não se “enganarão” nesta questão. Longe de atrair para o pecado, Deus é a fonte de todas as boas dádivas (v. 17), dentre as quais a maior é o novo nascimento (v. 18).
Simom J. Kistemaker. Comentário do Novo Testamento Tiago e Epistola de João. Editora Cultura Cristã. pag. 74.
2. Todo dom e boa dádiva vêm de Deus.
Deus: a fonte de todo bem verdadeiro
Por falar em bens, no versículo 17 do capítulo primeiro, o apóstolo Tiago afirma que a origem de todo bem está em Deus. Ele declara expressamente que o Pai celestial é a fonte de todo bem verdadeiro: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação” (v. 17). E mais: ao se referir a Deus como o “Pai das luzes”, Tiago está enfatizando que nEle não há não há dúvida de que muitas das crises espirituais que muitos cristãos têm vivenciado nos dias de hoje está relacionada ã sua má compreensão de Deus.
Como pai das luzes”, Tiago está enfatizando que nEle não há trevas, isto é, não há fingimento, falsidade, maldade, mentira, erro, imperfeição. E Ele não muda: nEle, “não há mudança, nem sombra de variação”. Como o próprio Deus afirma através da instrumentalidade do profeta Malaquias: “Eu, o Senhor, não mudo” (Ml 3.6). Ou seja, Deus é e continuará sendo a Fonte de todo bem.
O versículo anterior, o 16, é o que faz a ligação entre o assunto dos versículos 12 a 15 e o assunto dos versículos 17 e 18. Nele, Tiago diz: “Não vos enganeis, amados irmãos”. Mas, não vos enganeis em relação a que, especificamente? Nos versículos de 12 a 15, o apóstolo fala sobre a tentação e explica que Deus não tenta a ninguém (v. 13). Portanto, a preocupação de Tiago nessa passagem, ao esclarecer o que Deus não faz (v. 13) e enfatizar o que Ele é (v. 17), é que os seus leitores tenham uma compreensão clara de Deus. O seu Senhor não é um tentador, não é alguém que quer o seu mal; Ele é o Pai das luzes, a Fonte de todo bem.
Não há dúvida de que muitas das crises espirituais que muitos cristãos têm vivenciado nos dias de hoje está relacionada à sua má compreensão de Deus. Em meu livro Como vencer a frustração espiritual (CPAD), escrevi a respeito disso:
“Não tenho a menor dúvida de que muitas frustrações e neuroses espirituais que vemos hoje, bem como um nível raso de vida cristã, são, na maioria esmagadora das vezes, fruto de uma visão distorcida acerca de Deus. O pastor Aiden Wilson Tozer talvez tenha sido o primeiro a denunciar enfaticamente esse sintoma negativo de nossos dias — a perda do conceito bíblico de Deus. Em 1961, ele escreveu: ‘O baixo conceito de Deus mantido quase universalmente entre os cristãos é a causa de uma centena de males menores em toda parte. Uma filosofia de vida cristã inteiramente nova resultou desse único erro básico em nosso pensamento religioso’. Na época, Tozer ainda arremataria uma frase que se tornaria célebre: ‘O que nos vem à mente quando pensamos em Deus é a coisa mais importante a nosso respeito’ {Mais perto de Deus, A.W.Tozer, Mundo Cristão, 1993)”.
 “Muita gente que pensa estar se aproximando de Deus está, na verdade, se relacionando com uma imagem que criou dEle, uma mera sugestão mental, em vez de o Deus da Bíblia. Sua relação não é com o Deus vivo e verdadeiro, mas com uma caricatura do divino, uma fantasia construída pela sua própria imaginação, uma concepção equivocada de quem é Deus. Essa concepção pode ter advindo absolutamente de sua própria cabeça (“achismo”) ou ter sido importada de algum discurso bonito, atraente, mas despido de respaldo bíblico (o que acontece na maioria dos casos). Afinal, há muita falsa teologia popularizada por aí”.
“Infelizmente, não é difícil encontrar pessoas [...] que um dia aceitaram Jesus e suas vidas foram transformadas, mas estacionaram por aí. Porque não se aprofundaram no conhecimento acerca do seu Senhor, se tornaram presas fáceis, aceitando caricaturas de Deus como se fossem versões verdadeiras dEle, e hoje vivem espiritualmente frustradas e doentes. Houve um encontro seguido de desencontro e, agora, é preciso um reencontro. O reencontro com o verdadeiro Deus, que as salvou. E esse reencontro só pode ocorrer através da Palavra de Deus”.
“Só o conhecimento verdadeiro de Deus tem o poder de curar todas as feridas de nossa alma. Só a verdade pode libertar (Jo 8.32). [...] O principal objetivo da nossa existência é conhecer a Deus”.
Sigamos o conselho do profeta Oseias: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor (...) e ele descerá sobre nós como a chuva, como a chuva serôdia que rega a terra” (Os 6.3).
A mais importante de todas as dádivas divinas
No versículo 18, o apóstolo Tiago destaca a mais importante de todas as dádivas divinas: a regeneração pela Palavra da Verdade, a Salvação em Cristo, a transformação pela qual passamos pelo poder do evangelho de Cristo: “Segundo a sua vontade, Ele nos gerou pela Palavra da Verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas”.
O apóstolo Pedro também menciona essa regeneração pela Palavra em sua primeira epístola: “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela Palavra de Deus, viva e que permanece para sempre” (1 Pe 1.23). Segundo define o próprio apóstolo Pedro, regeneração é uma operação divina, com base na ressurreição de Jesus (1 Pe 1.3), de nos tornar novas criaturas pelo poder da Palavra de Deus (1 Pe 1.23). Essa ação é operada em nós pelo Espírito Santo (Jo 3.5; Tt 3.5). E Ele quem aplica o poder do Evangelho, o poder regenerador da Palavra da Verdade, em nossas vidas.
Tiago enfatiza que a regeneração não pode ser operada pelo homem: ela é “segundo a sua vontade”, ou seja, segundo a vontade de Deus. E uma ação exclusivamente divina, como o apóstolo João também destaca na abertura do seu Evangelho (Jo 1.13).
Outro detalhe importante é que o meio-irmão do Senhor ainda declara que Deus nos gerou pela Palavra da Verdade “para que fôssemos como primícias das suas criaturas”. Ao usar o termo “primícias”, o apóstolo está tomando como analogia do propósito da obra regeneradora de Deus em nossas vidas as primícias do Antigo Testamento, que nada mais eram do que a colheita dos primeiros frutos, que eram os melhores (Lv 23.10,11; Ex 23.19; Dt 18.4). Isso significa que, ao chamar os cristãos de “primícias das suas criaturas”, Tiago estava querendo dizer que o Evangelho de Cristo não apenas nos transformou, mas também nos deu, devido a essa transformação, o privilégio de “ocuparmos o primeiro lugar entre todas as suas criaturas”.4 Esta é uma honra extraordinária!
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 53-56.
Tiago 1:16-18 Mais uma vez Tiago sublinha a grande verdade de que cada dom que Deus nos concede é bom. O versículo 17 bem pode traduzir-se assim: "Toda dádiva é boa". Quer dizer: não há coisa alguma que venha de Deus que não seja boa. No grego há aqui um estranho fenômeno. A frase que traduzimos "toda boa dádiva e todo dom perfeito" é, em realidade, um perfeito verso hexâmetro. De maneira que ou Tiago tinha um ouvido rítmico capaz de captar uma delicada cadência, ou estava citando aqui alguma obra que nós não conhecemos.
O que Tiago está destacando nesta passagem é a imutabilidade de Deus. E para fazê-lo emprega dois termos astronômicos. A palavra que foi traduzida como mudança é parallage; e a expressão sombra de variação no original é trope. Ambas as palavras têm que ver com a variação que mostram os corpos celestes, as diferenças na duração do dia e da noite, as aparentes variações no curso do Sol, as fases crescentes e minguantes da Lua, os distintos graus de luminosidade tanto nas estrelas como nos planetas, etc. Variedade e mudança são características de todas as coisas criadas. Deus é o criador dos luzeiros celestiais: o Sol, a Lua, as estrelas. Uma oração judia matutina diz: "Bendito Deus, o Senhor, que formou as luzes." As luzes mudam e variam, mas Aquele que as criou nunca muda. Tudo o que vem dEle não pode ser outra coisa senão que seja bom.
Além disso, o propósito divino é completamente benigno. A palavra de verdade é o evangelho; e Deus, ao enviar este evangelho, tem o propósito de que o homem nasça a uma nova vida. Quando o evangelho penetra na vida é como se a vida começasse de novo. As sombras terminam e chegou a fidedigna palavra de verdade.
E este renascer é um renascer na família e na possessão de Deus. No mundo antigo a lei era que todos os primeiros frutos fossem consagrados a Deus. Tomavam-se as primícias e as ofereciam em sacrifício de gratidão a Deus, porque pertenciam Ele. De modo que quando renascemos pela palavra verdadeira do evangelho, tornamo-nos propriedade de Deus, assim como o eram os primeiros frutos da colheita.
Desta maneira Tiago insiste em que as dádivas de Deus longe de jamais tentar o homem, são invariavelmente boas. Em meio a todas as mudanças de um mundo cambiante, elas nunca variam. O objeto supremo de Deus é recriar a vida mediante a verdade do evangelho, para que assim os homens saibam que lhe pertencem por direito.
BARCLAY. William. Comentário Bíblico. TIAGO. pag. 64-65.
A bondade de Deus (Tg 1:17)
Um dos ardis do inimigo consiste em nos convencer de que o Pai recusa-se a dar coisas que nos são de direito, que, na verdade, não nos ama nem cuida de nós. Quando Satanás abordou Eva, insinuou que, se Deus realmente a amasse, teria permitido que ela comesse da árvore proibida. Ao tentar Jesus, Satanás levantou a questão da fome: "Se seu Pai o ama, por que você está faminto?"
A bondade de Deus é uma grande proteção para não cedermos à tentação. Uma vez que Deus é bom, não precisamos de ninguém mais (inclusive Satanás) para suprir nossas necessidades. É melhor passar fome dentro da vontade de Deus do que estar saciado fora da vontade de Deus. Uma vez que começamos a duvidar da bondade de Deus, as ofertas de Satanás tornam-se atraentes, e os desejos naturais dentro de nós apanham sua isca. Moisés advertiu o povo de Israel a não se esquecer da bondade de Deus quando estivessem desfrutando as bênçãos da Terra Prometida (Dt 6:10-15). Precisamos da mesma advertência hoje.
Tiago apresenta quatro fatos sobre a bondade de Deus.
Deus nos dá apenas boas dádivas. Tudo o que há de bom no mundo vem de Deus.
Se não vem de Deus, não é bom. Se vem de Deus, é necessariamente bom, mesmo que não vejamos de imediato qualquer bondade nessa dádiva. O espinho na carne de Paulo lhe foi dado por Deus e lhe pareceu uma dádiva estranha, mas que se tornou uma grande bênção para ele (2 Co 12:1-10).
O modo de Deus dar é bom. Podemos traduzir a segunda oração por "e todo ato de dar". É possível dar algo sem amor. O presente pode perder seu valor de acordo com a maneira de ser dado. Mas, quando Deus nos dá uma bênção, ele o faz de modo amoroso e cheio de graça. Tanto aquilo que concede quanto o modo de concedê-lo são bons.
Ele nos dá constantemente. O verbo descendo está no gerúndio e indica algo "descendo continuamente". As dádivas de Deus não são ocasionais; ele as concede constantemente. Ele as envia mesmo quando não as vemos. Como sabemos disso? É o que ele nos diz, e cremos em sua Palavra.
Deus não muda. Para o Pai das luzes, não há sombras. É impossível Deus mudar. Não pode mudar para pior porque é santo; não pode mudar para melhor porque já é perfeito.
A luz do Sol varia à medida que a Terra muda de posição, mas o Sol, em si, continua brilhando. Se há sombras entre nós e o Pai, não são causadas por ele. Ele é o Deus imutável.
Isso significa que não devemos jamais questionar seu amor nem duvidar de sua bondade, quando vêm as dificuldades ou surgem as tentações.
Se Davi se houvesse lembrado da bondade do Senhor, não teria tomado Bate-Seba para si nem cometido pecados horríveis. Pelo menos foi isso o que o profeta Natã disse ao rei: "Assim diz o S enhor, Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre Israel e eu te livrei das mãos de Saul; dei-te a casa de teu Senhor e as mulheres de teu Senhor em teus braços e também te dei a casa de Israel e de Judá; e, se isto fora pouco, eu teria acrescentado tais e tais coisas" (2 Sm 12:7, 8). Convém observar a repetição do verbo dar nessa declaração curta. Deus havia sido bom para com Davi e, no entanto, Davi havia se esquecido da bondade de Deus e mordido a isca.
A primeira barreira contra a tentação é negativa: o julgamento de Deus. A segunda barreira é positiva: a bondade de Deus. O temor a Deus é uma atitude saudável, mas deve ser contrabalançado com o amor a Deus. Podemos obedecer por causa da possibilidade de nos disciplinar ou podemos obedecer porque ele já foi tão generoso conosco que o amamos por isso.
Foi essa atitude positiva que ajudou a impedir que José pecasse ao ser tentado pela esposa de seu senhor (Gn 39:7ss). "Ele, porém, recusou e disse à mulher do seu senhor:
Tem-me por mordomo o meu senhor e não sabe do que há em casa, pois tudo o que tem me passou ele às minhas mãos. Ele não é maior do que eu nesta casa e nenhuma coisa me vedou, senão a ti, porque és sua mulher; como, pois, cometeria eu tamanha maldade e pecaria contra Deus?" (Gn 39:8, 9). José sabia que todas essas bênçãos tinham vindo de Deus. Foi a bondade de Deus, demonstrada pelas mãos do patrão de José que refrearam José em seu momento de tentação.
As dádivas de Deus são sempre melhores que as barganhas de Satanás. O inimigo nunca dá coisa alguma; sempre pagamos caro por aquilo que recebemos dele. "A bênção do Senhor enriquece, e, com ela, ele não traz desgosto" (Pv 10:22). Acã esqueceu-se da advertência e da bondade de Deus, viu a riqueza proibida, cobiçou-a e tomou-a para si. Tornou-se um homem rico, mas a tristeza que sucedeu transformou sua riqueza em miséria (Js 7).
Quando vierem as tentações, devemos meditar sobre a bondade de Deus em nossa vida. Se cremos estar necessitando algo, precisamos esperar pela providência do Senhor.
Não devemos jamais brincar com as iscas do inimigo. Devemos usar a tentação para aprender a ter paciência. Em duas ocasiões, Davi foi tentado a matar o rei Saul e adiantar a própria coroação, mas resistiu à tentação e esperou o tempo de Deus.
WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. N.T. Vol. II. Editora Central Gospel. pag. 443-444.
Tg 1.17. Está claro o sentido geral deste verso: Deus, cujo caráter benevolente é imutável, é a fonte de tudo quanto é bom. Entretanto, muitos detalhes são obscuros. Primeiro, existe a questão sobre o motivo de Tiago ter mencionado tanto boa dádiva como dom perfeito. Tasker afirma que devemos entender “boa” como um adjetivo predicativo que introduz o contraste entre os dois termos: Toda dádiva é boa, mas todo dom perfeito vem de Deus. Mas, se este fosse o significado, deveríamos esperar uma conjunção adversativa, “mas” (alia ou de), entre os dois termos. Provavelmente não deve ser vista nenhuma diferença de significado entre estas duas frases; Tiago pode repeti-las visando um efeito estilístico ou pode estar citando uma fonte desconhecida.
A segunda dificuldade encontra-se na pontuação do versículo. A ARA, junto com muitas outras versões, coloca uma vírgula depois de “lá do alto”, tornando a frase participial “descendo...” uma descrição adicional e independente. Uma certa versão em inglês (NEB) junta “lá do alto” e “descendo”: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm lá do alto...” É provável que seja melhor a tradução da ARA, porque a outra deixa a frase preposicional (“do Pai das luzes”) desajeitadamente pendente.
A descrição de Deus como o Pai das luzes é única nas Escrituras. É quase certo que luzes deve ser entendido como os corpos celestes, provavelmente incluindo o sol, a lua e as estrelas (veja SI 136.7-9; Jr 31.35 [LXX 38.36]). A Bíblia sempre faz menção do firmamento dos céus como evidência da obra criadora de Deus e de seu contínuo exercício de poder (veja principalmente Jó 38.4-15,19-21,31-33; SI 136.4-9; Is 40.22,26; e, na literatura judaica, Eclesiástico 43.1-12). A descrição de Deus como Pai também pode ser uma alusão à obra criadora (cf. Jó 38.28). Assim, a intenção de Tiago é nos lembrar do poder benevolente de Deus demonstrado em sua “boa” criação (cf. Gn 1).
Figuras extraídas dos corpos celestes são levadas adiante, até a última frase do versículo. Aqui, o texto grego é incerto. A maioria dos manuscritos apresenta dois substantivos no nominativo, variação (parallagê) e sombra (aposkiasma), separados por um ou (e) com um substantivo no genitivo, mudança (tropês), ligado a sombra. Se esta redação for adotada, devemos presumir que o genitivo tropês deve ser analisado como de origem ou subjetivo. Mas vários e importantes manuscritos antigos fazem de sombra um genitivo (aposkiasmatos). Se aceitarmos esta alternativa, a palavra ê deve provavelmente receber uma aspiração áspera, tornando-se um pronome relativo ligado a parallagê. A frase, então, seria traduzida assim: “...variação que pertence à mudança da sombra”.2 Nenhuma das redações faz um sentido excepcional, mas a primeira, tendo largo apoio, provavelmente deva ser aceita. O fato de que duas palavras usadas nesta frase (tropê e parallagê) são frequentemente utilizadas com um sentido astronômico, ao lado da referência às “luzes” na frase anterior, torna provável que esteja em mente algum tipo de fenômeno astronômico. Variação sugere naturalmente os movimentos periódicos dos corpos celestes, mas não está claro se “sombra de mudança” se refere às fases da lua, à sombra projetada por um eclipse ou à constante alternância de noites e dias. Mas a linguagem de Tiago não é exclusivamente técnica, e podemos suspeitar que seu objetivo não vai além de uma referência geral às constantes mudanças observadas na criação. A mutabilidade da criação era frequentemente utilizada para enfatizar, por comparação, a natureza imutável de Deus, o Criador (c/. Filo, Interpretação Alegórica, 2.33: “Todas as coisas criadas precisam necessariamente sofrer mudanças, pois isto faz parte de suas características, assim como a imutabilidade é a característica de Deus”).
Douglas J. Moo. Tiago. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 74-76.
3. A origem de tudo o que é bom está no Pai das Luzes.
Lc 11.11-13 Jesus explicou que os seus seguidores podem confiar que Deus atenderá as suas orações. Se nem os seres humanos que são maus pensam em dar a uma criança uma serpente em lugar de um peixe, ou um escorpião em lugar de um ovo, então quanto mais um Deus santo irá reconhecer e atender os pedidos dos cristãos? Com estas palavras, Jesus revelou o coração de Deus Pai. Deus não é egoísta, invejoso ou mesquinho; seus seguidores não precisam implorar nem humilhar-se quando vêm com seus pedidos. Ele é um Pai amoroso que entende, cuida, conforta e voluntariamente dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem. Como o Espírito Santo é a maior dádiva de Deus e Ele não se recusará a dá-la a quem a pedir, os crentes também podem contar com a provisão de Deus para todas as suas necessidades menores. Como o Pai celestial e perfeito trata bem os seus filhos! O presente mais importante que Ele poderia dar é o Espírito Santo (At 2.1-4), que Ele prometeu dar a todos os crentes depois da sua morte, ressurreição, e volta para o céu (Jo 15.26).
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 399.
Uma aplicação disto às bênçãos do nosso Pai celestial (v. 13): “Se vós, sendo maus, dão, e sabem como dar, boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito”. Ele dará coisas boas. Assim está em Mateus. Observe:
(1) A instrução que o Senhor nos dá quanto ao que devemos pedir em oração. Devemos pedir o Espírito Santo, não só o necessário para que oremos bem, mas como inclusivo em todas as coisas boas pelas quais devemos orar; não precisamos mais tentar ser felizes por meio de nossos próprios esforços, porque o Espírito é aquele que opera em nossa vida espiritual, e Ele é o penhor da vida eterna. Note que o dom do Espírito Santo é um dom pelo qual cada um de nós deve orar sincera e constantemente.
(2) O encorajamento que Ele nos dá para esperarmos ser atendidos nesta oração: Dará o Pai celestial. É no seu poder que é dado o Espírito; Ele tem todas as coisas boas para conceder, envoltas nesta concessão do Espírito. Mas isto não é tudo; esta é a sua promessa, o dom do Espírito Santo faz parte da aliança, Atos 2.33,38, e está aqui inferido na presteza dos pais em suprir as necessidades de seus filhos, e em satisfazer os seus desejos, quando eles são naturais e' próprios. Se um filho pedir uma serpente, ou um escorpião, o pai, por bondade, lhe negará. Mas não acontecerá o mesmo se ele pedir o que for necessário; aí sim, lhe será concedido. Quando os filhos de Deus pedem o Espírito, eles na verdade pedem pão; porque o Espírito é o sustentáculo da vida; Ele é o Autor da vida da alma. Se nossos pais terrenos, embora maus, são tão bons para nós, se eles, embora fracos, são tão inteligentes, que não só dão, mas dão com discrição, dão o que é melhor, da melhor maneira e no melhor tempo, muito mais o nosso Pai celestial, que excede infinitamente os pais da nossa carne tanto em sabedoria quanto em bondade, nos dá seu Espírito Santo. Se os pais terrenos desejam investir na educação de seus filhos, a quem eles planejam deixar seus bens, muito mais nosso Pai celestial dará o Espírito Santo a seus filhos, a todos aqueles a quem Ele predestinou para a herança de filhos.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 610-611.
Lc 11.11-13 Jesus fundamenta com acontecimentos práticos do dia-a-dia o fato básico de que a pessoa que pede recebe, a que procura acha, e à que bate a porta será aberta; em outras palavras, quem ora com seriedade tem suas orações atendidas.
Se aqui na terra o pedido dos filhos já exerce grande poder sobre os pais, a oração dos filhos de Deus move o coração do Pai no céu com muito mais intensidade. Nenhum pai terreno dá ao filho uma serpente em lugar do peixe e um escorpião em lugar do ovo (as palavras “quando o filho pede ao
pai um pão este lhe dá uma pedra” faltam nos manuscritos mais antigos - aparecem somente nos manuscritos da Koiné). O verdadeiro pai não dá ao filho nada que não seja comestível, nada nocivo ou até mesmo assustador.
Um ser humano, que talvez pode ser duro e severo contra um semelhante, não renegará seu filho, sua carne e seu sangue. Infinitamente menor é a possibilidade de Deus renegar seus filhos. Sua bondade ultrapassa qualquer capacidade e compreensão humanas. Se os humanos, que por natureza são maus, concedem boas dádivas a seus filhos quando estes lhes pedem, o Pai no céu fará isso de modo muito mais radical.
Conseqüentemente, o desfecho dessa seção acerca da instrução para a oração certa leva de volta ao ponto de partida, ao título “Pai”, dado a Deus e que pressupõe a relação filial. À primeira vista, os dois mantimentos citados por Jesus parecem escolhidos ao acaso. No entanto, Bovet observa que peixes assados e ovos cozidos constituem justamente os ingredientes comuns do almoço de um viajante no oriente. Mateus não menciona o “ovo”, mas Lucas com certeza não o acrescentou por conta própria. Saltam aos olhos as correlações exteriores entre peixe e serpente, ovo e escorpião. Tudo nos discursos instrutivos de Jesus é tangível, certeiro, perfeito até nos mínimos detalhes.
No entanto, ainda que frequentemente pareça que Deus não ouve nossas orações, apesar disso devemos persistir fielmente na oração. O Pai no céu, que é bom, nem sempre cumpre o que desejamos, porém sempre cumpre aquilo que resulta em nosso bem maior, como peixe e ovo. Aqui o exemplo de Agostinho poderá servir como lição excelente para nós. Ele relata que sua mãe Mônica pediu a Deus que impedisse que o filho se mudasse para Roma, a tentadora metrópole. Apesar disso Agostinho se mudou para lá, e dessa maneira encontrou a Cristo.
Pelo fato de Jesus dirigir essas palavras sobre a oração a seus discípulos, não somente seus adversários, mas todos os seres humanos são chamados de “maus”. Somos maus desde a juventude (cf. Jó 15.14-16; Mt 19.27), ao contrário de Deus, o único que é bom. Ele, o Deus exclusivamente bom, concede o Espírito Santo a quem pede, não como escreve Mateus: “Deus concede boas dádivas”. O Espírito Santo é a dádiva suprema. Não é dito “o Pai no céu”, mas que “o Pai a partir do céu” concede. O céu é o ponto de origem ou a pátria do Espírito Santo. É significativo que, em sua exortação para orar com verdadeira seriedade e persistência, o Senhor por fim cite somente o “Espírito Santo” como objeto da oração.
Mas, ao sintetizar tudo no fim dessa instrução na oração pelo Espírito Santo, o Senhor ao mesmo tempo dá a entender para quais orações podemos esperar atendimento incondicional e quais só podem ser atendidas de forma condicional. A oração por dons espirituais sempre é atendida, o desejo por determinadas bênçãos temporais somente se de fato for um peixe, e não uma serpente (serpentes e escorpiões são os símbolos mais precípuos do deserto e da aridez, que ferem e não curam nem beneficiam!).
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica Esperança.
III - PRIMÍCIAS DE DEUS ENTRE AS CRIATURAS (Tg 1.18)
1. Algo que somente Deus faz.
Is 1.18 Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor. Este é um dos mais citados versículos de Isaías, o clamor apaixonado de reforma no qual Yahweh deixou de lado, por um minuto, Suas terríveis ameaças e convidou homens humildes a raciocinar com Ele. A ideia do versículo é a correção através de um discussão arrazoada na qual a verdadeira natureza das coisas é exposta, e o desejo pela mudança é instilado.
Elementos do Versículo:
1. A condescendência divina. Deus, embora poderoso para julgar, prefere elevar os homens de seus pecados e abençoar, em vez de julgar.
2. O raciocínio substitui as ameaças.
3. Os pecados são vis, profundos e malignos, o que é indicado pela palavra escarlate, uma tintura de cor vermelha usada para tingir tecidos. A cor vermelha subentende pecados de sangue (pecados verdadeiramente terríveis, vs. 15). E a ideia de tintura implica algo penetrante na própria alma dos homens iníquos, algo que não é fácil de sair.
"... carmesim escuro, cor da mancha de sangue" (Ellicott, in loc).
4. A neve, ocasionalmente, é verdadeiramente branca, sendo composta de cristais de água, pura e incontaminada. Os cristais de neve substituem o tecido tinto de vermelho. Está em foco uma reforma total, uma purificação completa, uma mudança radical.
5. O tecido que fora tingido de vermelho tomar-se-ia branco como a lã, que prove uma nova veste, de cor inteiramente diferente.
6. O pecado tinha de ser reconhecido e abandonado. Sem isso, não haveria mudança permanente. Sem essa mudança não haveria redenção das ameaças de destruição.
7. O sangue do Cordeiro pode tingir de branco, um paradoxo divino (ver Apo. 3.4,5; 7.14).
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2791.
Is 1.18 Uma demonstração, no tribunal da razão, da equidade das atitudes de Deus para com eles: “Vinde, então, e argui-me” (v. 18). Enquanto suas mãos estiverem cheias de sangue, Eu não terei nada que ver com vocês, ainda que vocês me tragam uma enorme quantidade de sacrifícios; mas se vocês se lavarem e se purificarem, serão bem-vindos para se aproximarem de mim; venham agora, e vamos conversar sobre o assunto. Observe que aqueles, e somente aqueles, que rompem a sua lealdade ao pecado, serão bem-vindos ao concerto e à comunhão com Deus. Aquele que antes lhes proibia o acesso aos Seus átrios, agora diz, “Vinde”. Veja Tiago 4.8. Ou melhor, havia aqueles, entre eles, que se consideravam como afrontados pelo desprezo que Deus dedicava à quantidade de seus sacrifícios, como em Isa- ías 58.3: “Por que jejuamos nós (dizem eles), e tu não atentas para isso?” Eles descreviam a Deus como um Mestre duro, a quem era impossível agradar. Venham, diz Deus, vamos discutir o assunto, e Eu não duvido que veremos que os meus caminhos são direitos, e os de vocês são torcidos (Ez 18.25). Observe que a genuína religião de Deus tem a razão do seu lado. Existem todas as razões do mundo pelas quais nós devemos fazer aquilo que Deus deseja que façamos. O Deus do céu condescendeu em examinar o caso com aqueles que o contradiziam e encontravam problemas nas Suas atitudes; pois Ele será justificado quando falar (SI 51.4). O caso precisa somente ser declarado (como o é aqui, de maneira muito justa) e se decidirá por si mesmo. Aqui
Deus mostra em que termos eles estavam (como faz em Ezequiel 18.21-24; 33.18,19) e então deixa que eles julguem se esses termos são justos e razoáveis.
1. Eles não podiam, com razão, esperar nada menos do que, caso se arrependessem e se modificassem, serem restaurados à benevolência de Deus, apesar das suas provocações anteriores. Isso vocês podem esperar, diz Deus, e é muito bondoso; quem poderia ter a coragem de desejar isso em quaisquer outros termos? (1) E muito pouco o que é exigido - somente que estejam dispostos e que sejam obedientes, que consintam em obedecer (assim alguns interpretam), que submetam as suas vontades à vontade de Deus, aquiescendo nisso, e entregando-se, em todas as coisas, para serem governados por Aquele que é infinitamente sábio e bom. Aqui não há penalidade imposta pela sua teimosia anterior, nem o jugo é tornado mais pesado, nem apertado mais fortemente aos seus pescoços. Somente lhes é dito: Se até então vocês foram perversos e obstinados, e não desejaram estar de acordo com o que era para o seu próprio bem, sejam tratáveis, sejam governáveis a partir de agora. Ele não diz: Se vocês forem completamente obedientes, mas se estiverem dispostos a sê-lo; pois, se houver um espírito disposto, será aceito. (2) Que aquilo que é prometido é muito grande. [1] Que todos os seus pecados lhes seriam perdoados, e não seriam mencionados contra eles. Embora sejam tão vermelhos como a escarlata e o carmesim, embora vocês estejam sob a culpa do sangue, ainda assim, com o seu arrependimento, mesmo isso lhes será perdoado, e vocês parecerão, aos olhos de Deus, tão brancos como a neve. Observe que os maiores pecadores, se verdadeiramente se arrependerem, terão seus pecados perdoados, e assim terão suas consciências pacificadas e purificadas. Embora os nossos pecados tenham sido como a escarlata e o carmesim, como uma tintura profunda, uma tintura dupla, primeiro na lã da corrupção inicial e depois nos muitos fios da transgressão atual - embora tenhamos sido mergulhados frequentemente, por nossos muitos retrocessos, no pecado, e embora tenhamos estado por muito tempo mergulhados nele, assim como o tecido na tinta vermelha - ainda assim a misericórdia que perdoa irá limpar a mancha completamente, e, sendo por ela purificados com hissopo, ficaremos puros (SI 51.7). Se nos purificarmos pelo arrependimento e pela conversão pessoal (v. 16), Deus nos tornará brancos, por meio de uma completa remissão. [2] Que eles teriam toda a felicidade e todo o consolo que poderiam desejar. Sejam apenas dispostos e obedientes, e comerão os frutos desta terra, a terra da promessa; vocês terão todas as bênçãos do novo concerto, da Canaã celestial, todo o bem da terra. Aqueles que perseveram no pecado, ainda que possam habitar em uma boa terra, não podem, com algum conforto, comer do bem dela. A culpa deixa tudo amargo; mas, se o pecado for perdoado, os confortos das criaturas se tornam confortos realmente.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Isaías a Malaquias. Editora CPAD. pag. 8.
Is 1. 18 Agora o SENHOR resume as suas palavras que começaram no versículo 10. “Vinde, então, e argui-me” é um termo legal que faz parte da cena de um tribunal. Ele pode significar o seguinte: “Vamos cessar os argumentos; vamos fazer algo a respeito disto”. Deus está tomando a iniciativa. Os pecados deles são realmente “como a escarlata” — o tipo de tom mais profundo do vermelho — numa referência que apontava de volta para as mãos sangrentas do versículo 15. Ê pressuposto que se eles admitirem isto, ou confessarem, eles ficarão tão brancos quanto o branco mais claro, mais alvos do que a neve ou a lã, um branco que é branco por sua natureza, indicando que a própria natureza deles seria mudada pela graça de Deus. Esta exortação continua nos versículos seguintes.
HORTON. Staleym. M. Serie Comentário Bíblico Isaias. Editora CPAD. pag. 61.
Jo 14.23 Com efeito, a resposta de Jesus reafirmou a Judas e aos discípulos que nem Ele nem o Pai os abandonariam. A princípio, deve ter parecido aos discípulos que eles não possuíam qualquer vantagem sobre todas as demais pessoas - Jesus morreria e os deixaria. Ao responder a pergunta de Pedro no capítulo anterior, Jesus havia explicado que, como em oposição aos líderes judeus que foram informados que não poderiam ir aonde Jesus estava indo, os discípulos seriam capazes de estar com Jesus, mas isto ocorreria mais tarde (veja 7.32-34; 13.36). Aqui Jesus ofereceu o maior de todos os confortos - para estes discípulos, não haveria realmente qualquer separação dele. Pelo fato de Jesus voltar para o Pai, o Espírito Santo se tornaria disponível, permitindo a cada crente um acesso constante ao Pai e ao Filho. Uma bênção está reservada para aqueles que amam Jesus: o Filho e o Pai vêm a ele, e fazem nele morada.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 573.
Jo 14.23 A última declaração de Jesus provocou Judas que perguntou: Senhor, de onde vem que te hás de manifestar a nós e não ao mundo? (22) Em resposta, Jesus reiterou o que acabara de dizer. O amor não pode ser separado da obediência. Se alguém me ama, guardará a minha palavra (23). E neste relacionamento ativo que ocorre a manifestação do Filho. “O poder de receber uma Revelação divina depende da obediência ativa, que se baseia no amor pessoal”. Judas tinha evidentemente esperado que Jesus fosse de alguma maneira manifestar-se abertamente, para que todos os homens pudessem vê- lo. Mas a resposta é que “todo o poder da divindade está presente na vida e no testemunho do crente” — e viremos para ele e faremos nele morada (23; cf. 17.21). A manifestação do Espírito ocorre através daqueles que nele crêem, que o amam e lhe obedecem. A oração e viremos, por causa do pronome nós, “sugere necessariamente a reivindicação da divindade por parte de Cristo”. A frase faremos nele morada precisa ser entendida à luz de 14.2, pois a mesma palavra grega (mone) é usada em ambos os versículos — ali moradas, aqui morada. Hoskyns comenta: “O santuário e lar de Deus, que está no céu, e que estava revelado apenas de forma incompleta no Templo em Jerusalém, descerá sobre cada cristão que mantiver a sua fé”.
Joseph H. Mayfield. Comentário Bíblico Beacon. João. Editora CPAD. Vol. 7. pag. 125.
Jo 14.23 A resposta de Jesus de forma alguma parece ser realmente correspondente a essa pergunta. ―Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.‖ Já nos deparamos com um modo desses de ―responder‖ também em Jo 12.34-36. Não era o momento de abordar mais de perto a pergunta, porque naquele momento havia necessidade de algo bem diferente. Também agora, é essa a situação. Jesus ainda falará exaustivamente a respeito do envio dos discípulos ao mundo. Porém somente poderão cumprir esse envio como ―testemunhas‖ se eles próprios estiverem em ordem, se sua própria vida for uma vida repleta de Jesus. Por isso, Judas, ouça o que Jesus tem a dizer sobre a vida pessoal do discípulo! Dirija o olhar para a coisa grandiosa que Jesus está mostrando a você e aos outros discípulos. Somente desse modo se tornará uma ―testemunha‖ da nova vida que lhe cabe levar ao ser humano que vive na morte. Jesus reitera sua promessa, conferindo-lhe a expressão máxima que se pode encontrar. O discípulo torna-se ―morada‖ do Deus vivo! Isso transforma o que foi prometido nos v. 8-10 em realidade plena. Vimos que Deus não é um ―objeto‖, algo que possa ser ―mostrado‖. Apenas
quem ―vem ao Pai‖ pode realmente encontrar a realidade do Pai. ―Reconhecer‖ e ―ver‖ depende de uma maneira radical de ―ser‖. Esse novo ser é presenteado completamente quando não mais apenas a pessoa vem a Deus, mas quando Deus agora ―vem‖ ao ser humano ―e faz nele morada‖. E isso não é prerrogativa de um determinado círculo de pessoas eleitas. ―Se alguém me ama‖ é a frase que abre para cada pessoa essa inaudita possibilidade de ser tornar morada do Deus trino. A condição prévia para isso, porém, é imprescindível e está fundamentada no cerne da questão. Esse ―alguém‖ tem de amar a Jesus. Trata-se, no caso, de ―amor‖ verdadeiro, que se acende no amor redentor de Jesus por nós e que enche nosso coração. Ele é tão decisivo que o Ressuscitado pergunta a Pedro unicamente por esse amor antes de lhe confiar novamente o serviço (Jo 21.15-17). ―Amor‖ nunca é frio e sem sentimentos, mas não deve se esgotar em meros sentimentos. O amor genuíno se expressa claramente em guardar a palavra de Jesus. Quem ama o Filho e guarda a palavra do Filho, está no amor do Pai. E esse amor busca toda a proximidade e ligação com aquele que ele ama, levando ao ―vir e fazer morada‖.
Werner de Boor. Comentário Esperança Evangelho de João. Editora Evangélica Esperança.
2. A Palavra da verdade.
Tg 1.21 Devemos rejeitar toda imundícia e acúmulo de malícia. Segundo o texto grego, esta é uma ação definitiva. Por que devemos fazer isto? O progresso na nossa vida espiritual não pode ocorrer a menos que vejamos o pecado como ele é, deixemos de justificá-lo, e decidamos rejeitá-lo. A imagem das palavras de Tiago aqui nos apresenta livrando-nos dos nossos maus hábitos e atos como quem se despe de roupas sujas. Depois de “nos livrarmos”, precisamos receber com mansidão a palavra de Deus, procurando viver de acordo com ela, porque ela foi enxertada em nossos corações e se torna parte do nosso ser. Deus nos ensina desde as profundezas das nossas almas, com o ensino do Espírito e com o ensino de pessoas orientadas pelo Espírito. O solo no qual a palavra é plantada deve ser acolhedor, para que ela possa crescer. Para tornar o nosso solo acolhedor, precisamos desistir de quaisquer impurezas nas nossas vidas. A Palavra de Deus torna-se uma parte permanente de nosso ser, orientando-nos todos os dias. A palavra implantada é suficientemente forte para poder salvar a nossa alma. Quando absorvemos as características ensinadas na Palavra, estas se expressam no nosso modo de viver. As provações e as tentações não podem nos derrotar se estivermos aplicando a verdade de Deus às nossas vidas.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 668.
Tg 1.21 – “Por isso, despojai-vos de toda impureza e acúmulo de maldade”: precisamos permitir que “passo a passo” nos seja tirada publicamente a velha natureza e dada a nova. Unicamente na proporção em que estivermos dispostos a abrir mão do antigo, o novo terá espaço. Somente na medida em que os “brotos selvagens” são tirados, terão espaço os “ramos nobres”. Também o acúmulo de conhecimento por meio da palavra de Deus está relacionado à disposição de obedecer, assim como inversamente a falta de capacidade de entendimento está ligada à falta de obediência (Jo 7.17; Ef 4.18). Hoje (como em certa medida também já em épocas passadas) várias coisas podem se opor à palavra de Deus nas pessoas, como “tampões de ouvidos”: vínculos com o ocultismo, indisciplina sexual, endeusamento das riquezas. Tudo o que podemos fazer é rogar que também hoje sejam abertos os ouvidos e o coração de muitos (At 16.14). – Os citados empecilhos também podem reaparecer ou surgir pela primeira vez em pessoas há muito chamadas por Deus, impedindo que a nova vida chegue ao devido avanço, fortalecimento e amadurecimento. Por isso também há espaço no seio da igreja, como outrora nos dias de Tiago, para a exortação: “Despi-vos de toda sujeira, e do mal de todo tipo.” “Desmascara tudo e consome o que não for puro em tua luz” (G. Tersteegen).
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Tg 1.21. Em geral, este versículo é considerado juntamente com os w. 19-20. Mas, apesar de haver uma ligação óbvia com o que vem antes dele, por causa da conjunção Portanto, ele tem uma relação mais íntima com os versículos seguintes, através do tópico da palavra. Além disso, o Portanto (idio) pode atuar como um elo entre a discussão nos w. 21ss. e o v. 18, em vez de fazer uma ligação com os w. 19-20. Isto pode ser sugerido a partir do fato de que 1 Pedro 1.23-2.2 demonstra um padrão notavelmente semelhante a Tiago 1.18,21: o novo nascimento através da palavra de Deus é seguido pela ordem (introduzida com dio) para que nos despojemos do comportamento maligno e abracemos a Palavra de Deus.1 É improvável que Pedro tenha se baseado em Tiago ou vice-versa. Mas é possível que os dois autores estejam utilizando uma ordem sermônica comum no cristianismo primitivo, na qual um lembrete do nascimento espiritual concedido graciosamente pelo Senhor a seu povo, através da Palavra de Deus, era seguido por exortações para que eles evitassem o tipo de comportamento associado com a vida antiga e começassem a viver pelo padrão da Palavra de Deus que os havia salvado.
O uso que Tiago faz da expressão despojando-vos (apotithemai) também apoia a ideia de que ele estava empregando uma tradição comum. Este verbo, geralmente usado em relação ao ato de tirar as vestes (cf. At 7.58), é amplamente aplicado no Novo Testamento em referência ao “despir-se” dos padrões de comportamentos antigos e pré-cristãos (cf. Rm 13.12; Ef 4.22, 25; Cl 3.8; Hb 12.1; 1 Pe 2.1). Aquilo de que devemos nos despojar é toda impureza e acúmulo de maldade. A palavra impureza (ARC “imundícia”; gr. rhyparia) aparece somente aqui no grego bíblico, mas seu adjetivo, “sujo”, é usado em 2.2 (BJ) para descrever as roupas de um homem pobre, e em Zacarias 3.3-4, referindo-se às vestes que o sumo-sacerdote Josué tem de tirar, antes de receber os “finos trajes” das mãos do anjo do Senhor. Assim, esta palavra mantém a figura das vestes sugerida por “despojar”. Acúmulo de maldade é a tradução de uma palavra (perisseia) que significa “excesso” ou “abundância”. Tasker afirma que ela possui aqui o mesmo significado da palavra perisse uma, tendo o sentido de “o restante da maldade”. Mas em Romanos 5.17 e 2 Coríntios 8.2, a palavra parece significar apenas “abundância”, e então é preferível pensar que a palavra é acrescentada para acentuar a variedade e o predomínio do pecado contra o qual os cristãos devem lutar.
O “despojar-se” da impureza deve ser acompanhado pelo “recebimento” de alguma outra coisa: a palavra em vós implantada. Hort afirma que a palavra traduzida como “implantada” (emphytos) significa “inata” (como em Sabedoria 12.10, a única outra ocorrência da palavra no grego “bíblico”) e que Tiago estava se referindo à capacidade natural, “inata”, que o homem tem de receber a revelação de Deus — “a capacidade original envolvida na Criação à imagem de Deus, que torna possível ao homem apreender a revelação”. Mas este conceito, além de ter um apoio bíblico duvidoso, é muito geral para o contexto, onde “palavra” é descrita como possuindo poder para salvar (v. 21) e gerar de novo (v. 18). Então, ao contrário, estas referências indicam claramente que a “palavra implantada” deve ser um retrato da Palavra de Deus proclamada e não uma qualidade inata no homem.
Neste caso, emphytos poderia se referir a alguma coisa que se tomou implantada.1 Este notável conceito da Palavra pode estar baseado na famosa profecia da “nova aliança” em Jeremias, onde Deus promete: “Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei” (Jr 31.33; e cf também a referência à “lei da liberdade” em 1.25 e a parte na Introdução sobre “A lei”, pp. 48-49). O que Tiago afirma, ao descrever a Palavra deste modo, é que o cristão não deve pensar que está tudo terminado depois que a Palavra de Deus o salva. A Palavra torna-se uma parte permanente, inseparável do cristão, uma presença dominadora e orientadora dentro dele. Assim, a ordem para que “acolham” a palavra em vós implantada não é no sentido de que se convertam (este é o significado de “receber a palavra” em outro lugar do Novo Testamento), mas de que aceitem seus preceitos como obrigatórios, procurando viver por eles. Os cristãos que verdadeiramente foram “gerados” (v. 18) demonstram que a Palavra os transformou, quando eles humildemente a aceitaram como autoridade e diretriz para a vida. Ou, usando a figura utilizada pelo Senhor para explicar o mesmo assunto: o crente deve preparar uma “boa terra” em seu coração, a fim de que a “semente” da Palavra ali plantada possa produzir muito fruto (cf. Mc 4.3-20). Tiago fala do ato de “salvar as vossas almas” como sendo este fruto. Em concordância com o uso feito no Antigo Testamento, “alma” aqui significa simplesmente “pessoa”, e a salvação é considerada em aspectos futuros: “acolher a palavra” conduz ao livramento no dia do julgamento.
Peter H. Davids. Comentário Bíblico Contemporâneo. Editora Vida. pag. 79-81.
3. O propósito de Deus.
Tg 1.18 Quando o autor menciona nos, a quem ele se refere: aos leitores em geral ou aos cristãos? Os comentaristas têm pontos de vista divergentes. A verdade é significativa em qualquer um dos casos. Se entendermos nos como que significando homens criados à imagem de Deus, o significado é claro. Deus nos fez da maneira que somos — segundo a sua vontade. A razão para nossa liberdade, provas, perplexidades e problemas morais envolvendo escolha é que deveríamos ser semelhantes a Ele — como primícias das suas criaturas. Ele nos criou com liberdade para escolher o mal ou com liberdade para escolher o bem para que fôssemos em certo sentido os criadores do nosso próprio espírito, a glória coroada da sua palavra criativa (cf. Hb 11.3).
Podemos, no entanto, com sólidas evidências exegéticas entender nos como que referindo-se à Igreja cristã. Robertson coloca o seguinte título para esse versículo: “O Novo Nascimento”. Deus, que é nosso Pai por meio da criação, é também nosso Pai por meio da redenção. Homens redimidos do pecado são a glória coroada dos propósitos de Deus para a vida humana — “os primeiros espécimes da sua nova criação” (Phillips). A palavra da verdade é a verdade do evangelho. Knowling vai mais adiante e afirma: “Não podemos esquecer que o nosso Senhor (Jo 17.17-19) fala da ‘palavra’ que é verdade, por meio da qual os discípulos devem ser santificados”.14 O propósito final de Deus é conduzir-nos à vitória por meio dos nossos testes para tornar-nos semelhante a Ele em santidade e amor.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 160-161.
Tg 1.18 ·...primícias...» Um filho primogênito tinha privilégios superiores: tinha o lugar de precedência na família, exercia autoridade sobre seus irmãos mais novos, recebia uma bênção especial de seu pai, recebia a autoridade paterna, recebia dupla porção na herança, era tratado especialmente por seus pais, para que não fosse alienado (ver Deut. ׳ 21:15,16 ). Em sentido espiritual. Cristo é o primogênito acima de todos. Nele, os crentes chegam a participar de seus poderes e privilégios espirituais. Porém, na qualidade de primogênitos, eles também são ·primícias. São a melhor porção da colheita, dedicada a Deus, como o eram as primícias no antigo Israel. Deus era honrado com o oferecimento de suas vidas; a oferta dos primogênitos consagrou a humanidade inteira, mostrando que todos os homens, se o quiserem, podem participar de idênticos benefícios (ver Rom. 11:16). (Ver também Apo. 14:4. onde a igreja é chamada de primícias.). Em I Cor. 15:20.23 o próprio Cristo recebe esse titulo, o que indica que ele ocupa o primeiro lugar em uma imensa companhia, que será levada ã vida eterna e ã ressurreição. (Ver Jer. 2:3; Filo. de Const. Princ.. 6. quanto ao simbolismo usado acerca do povo de Israel. Com parar também com II Tcs. 2:13. onde o termo é usado relativamente aos crentes).
...das suas criaturas... Deus possui uma vasta criação: e todos os seres inteligentes da mesma são passíveis de redenção: e esse c o plano divino relativo a eles. Ele mostra 0 que pode fazer pelos mesmos, através do que tem feito à igreja. A igreja, pois. é o modelo da redenção divina. Esse mesmo pensamento geral está contido em Efé. 3:10. onde se vê que a igreja instrui à hierarquia angelical acerca de como a vontade de Deus e que a redenção opere no mundo. Do mesmo modo que ele reconciliou a igreja a Cristo, assim também reconciliará todas as coisas consigo mesmo. (Ver Efé. 1:10.19 ss.). Cristo, pois, tornar-se-á centro e cabeça de tudo para todos (ver Efé. 1:23). Um numero excessivo de cristãos limita essa ação universal de Deus na redenção. Finalmente, todos serão afetados, embora nem todos os homens venham a participar da mesma vida eterna dos eleitos. Cristo faz uma diferença universal, tendente ao aprimoramento. Mas inclinamo-nos por subestimar o seu poder, bem como o vastíssimo alcance de sua graça. O evangelho não pode ser o fracasso em que muitos o transformam.
Na antiga nação de Israel, as «primícias» de todas as coisas vivas, homens, gado, cereal, etc.. eram consagradas ao Senhor. Essa consagração de tudo santificava a nação inteira, tornando-a apta para ser usada por Deus (ver Rom. 11:16). Assim também, no plano espiritual, o fato que Deus separou as ·primícias mostra-nos que, eventualmente, tudo se beneficiará da expiação c da vida ressurreta de Cristo. O produto da terra era de tipo mui diversos, como a cevada, 0 trigo, o vinho, o azeite, o mel. as novas árvores frutíferas—todo o produto da terra (ver Lev. 23:10-14; Exo. 23:16; 23:16,17; Deut. 18:4: Lev. 19:23,24 e Deut. 26:2). Mediante o uso desses itens, os sacerdotes viviam. No terreno espiritual, as coisas (ou seres) de muitas espécies e gradações, se beneficiam daquilo que Cristo realizou, e tudo eventualmente, será consagrado a Deus, embora com níveis diversos de bem-estar e de glória. Toda a criação, por fim. participará, de algum modo. na glorificação dos filhos de Deus. (Ver Rom. 8:20,21).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 27.
Tg 1.18 Que efeito e finalidade tem essa palavra? “Para que fôssemos como que oferta de primícias das suas criaturas.” Vimos acima que o objetivo de Deus é voltar a clarear o mundo obscurecido pela grande rebelião. “As nações hão de andar na luz dele e os reis no fulgor de Deus” (Is 60.3), “até que Deus seja tudo em todos” (1Co 15.28). Jesus é o resplendor da glória de Deus (Hb 1.3), é “luz, que veio ao mundo”. Nele a luz vinda de Deus novamente nos alcançou. Ele é a luz do mundo (Jo 8.12). Sob seu reflexo também nós somos “luz do mundo” (Mt 5.14). Mais do que isso: a luz está em nós por meio do Espírito dele, tornando-se transparente em nós. “Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo” (2Co 4.6). O mundo zomba, dizendo que nós cristãos seríamos no máximo a “luz traseira” do mundo. Mas quando permanecemos singelamente voltados para nosso Senhor e abertos à influência de sua palavra e seu Espírito, ele cuida para que apesar disso sejamos e continuemos sendo “luz do mundo”.
Na metáfora da “oferta de primícias” cumpre lembrar os primeiros frutos da colheita ofertados a Deus. A humanidade, lavoura de Deus (Mt 13.38), produziu cardos e abrolhos. Por isso Deus permite que também a lavoura do ser humano produza cardos e abrolhos (Gn 3.17-19). Contudo agora caiu no solo o único grão de trigo bom, “importado” por Deus para dentro desse mundo, o eterno Filho de Deus (Jo 12.24). Consequentemente, a igreja de Jesus agora pode ser começo da maravilhosa colheita de Deus (Mt 13.30,37-43; Ap 14.15). A safra aponta para além dela mesma. Ela é apenas começo, “fruto de primícias”. A igreja de Jesus constitui um sinal de esperança para toda a criação (Rm 8.19ss).
Por realizar tudo isso, a palavra de Deus é a dádiva de todas as boas dádivas de Deus.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.

ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário