GERADOS PELA PALAVRA DA VERDADE
SOMENTE COMENTÁRIOS
Revista
Ensinador Cristão CPAD, n° 59, p.38.
Qual
o contexto social em que a sua igreja local está localizada? Trata-se de uma
cidade nobre? Ou da periferia? Quem são os seus alunos? Como se dá a relação social
entre os seus alunos? O professor não pode planejar essa lição sem antes fazer
estas perguntas e respondê-las com sinceridade.
Inicie
a aula descrevendo as classes sociais da Igreja do Primeiro Século. Para isso,
use o Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento, pois na seção bíblica de
Tiago [Orgulhando-se da "Coroa da Vida" (1.9-12)], o teólogo Timothy
B. Cargal procura responder como era, ou deveria ser a relação dos crentes
oriundos de distintos contextos sociais, isto é, entre os ricos e os pobres da
igreja. A conclusão que o teólogo chega nesta seção da carta é que os
"leitores estavam muito conscientes de sua posição, e nem sempre se
aproveitavam das oportunidades para demonstrar a preocupação de Deus por
aqueles que estavam necessitados (2.14-17). Já se orgulhavam de sua elevada
posição, talvez por considerarem 'ricos', moralmente superiores, mesmo quando
se identificavam com as armadilhas das posições elevadas e do poder. Até mesmo
pensavam a respeito de sua salvação utilizando a imagem da sua posição social,
isto é, a coroa da vida" (p.1665).
Um
desastre que pode ocorrer ao crente economicamente bem sucedido é quando ele
interpreta as ocorrências cotidianas da vida como "acontecimentos
espirituais". Ele faz uma teologia particular sem se importar com os
outros ao redor. Por exemplo, é comum um crente atribuir a Deus a compra de um
bem material dizendo "foi Deus quem me deul". Mas ele não pode
esquecer o contexto desta aquisição. Ora, estamos num país economicamente
equilibrado e que, por isso, lhe proporcionou uma linha de crédito para esse
fim. Se nós não considerarmos tais realidades poderemos entrar em questões bem
difíceis, tais como: Por que Deus deu um bem para um irmão e não deu ao outro?
Ambos não são salvos? É preciso explicar o mal que uma teologia individualista,
como a da prosperidade, pode causar a uma igreja local. Não podemos ignorar o
ensino da Palavra: a de que o rico deve suprir o necessitado, e este, deve se
alegrar por se achar o filho escolhido por Deus.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
A Epístola de Tiago
apresenta, ainda nos primeiros versículos do seu primeiro capítulo, outros
importantes temas. Um deles consiste em um esclarecimento sobre a forma como o
cristão deve encarar a pobreza e a riqueza. Essas condições sociais são enfatizadas
pelo apóstolo como circunstâncias transitórias da vida, como situações
passageiras, porquanto terrenas, e também como conjunturas em meio às quais o
cristão deve aprender a estar sempre satisfeito (Tg 1.9-11).
Outro tema abordado é
Deus como a fonte de todo bem verdadeiro (Tg 1.16,17); e, na sequência desse
assunto, o apóstolo fala do maior de todos os dons que o Senhor nos concede: o
de sermos gerados de novo pelo poder da Palavra de Deus (Tg 1.18).
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 47.
VERDADE Do heb. 'emuna, "firmeza, estabilidade,
verdade"; 'emet, "firmeza, verdade"; gr. aletheia,
"verdade". Em 1912, o Dicionário Webster definiu verdade como:
"Conformidade a fato ou realidade; exata concordância com aquilo que é,
foi, ou será". Embora possivelmente satisfatória quando formulada, tal
definição mostra-se muita vaga nos dias de hoje, quando os lógicos positivistas
negam toda evidência que não seja empiricamente verificável.
Carnell afirma que
"a verdade é uma propriedade do julgamento que coincide com o pensamento
de Deus" {An introduction to Christain Apologetics, p. 47). Enquanto o
Webster erra ao reforçar o factual, esta definição erra ao reforçar o
metafísico. Entretanto, ao expandir sua definição para: "correspondência
com o pensamento de Deus; teste: a consistência sistemática" (p. 369), e
explicar a consistência sistemática, o Webster oferece, possivelmente, a melhor
definição de verdade disponível atualmente. Através da expressão consistência
sistemática, ele quer dizer que uma afirmação deve: primeiramente satisfazer
sem dificuldade as leis da lógica, ou seja, ser horizontalmente consistente -
que é o teste da verdade formal; em segundo lugar, estar de acordo com os fatos,
ou seja, concordar verticalmente com todos os fatos, que é o teste da verdade
material.
Aspectos da Verdade
Em uma definição
satisfatória de verdade, como esta que foi apresentada acima, estão incluídos
três aspectos e elementos da verdade.
1. Verdade ontológica ou metafísica. Esta expressa o
supremo relacionamento da verdade e da natureza, bem como o relacionamento da
verdade religiosa e moral em particular com o próprio caráter, vontade e
pensamento de Deus. A verdade religiosa e moral é o que Deus é, e está de
acordo com o seu caráter. A verdade científica e social é o que Deus deseja e
está, também, em consistência com seu caráter. Deus é a verdade em sua própria
pessoa (Dt 32.4; SI 31.5; Is 65.16), e este fato é particularmente revelado em
Jesus Cristo (Jo 1.14,17; 14.6). Sua Palavra revelada é a verdade (1 Rs 17.24;
Jo 17.17); sua lei moral é a verdade (SI 119.142,151).
2. Verdade lógica. Dois extremos ocorrem: (a) Alguns aplicam a
lógica e negam a revelação. Por exemplo, os (lógicos) positivistas enfatizam a
expressão lógica significativa que seja empiricamente verificável, e negam a
verdade metafísica e moral, dizendo que é ilógica e sem sentido, pois não pode
ser cientificamente examinada como os fenômenos materiais. O cristão responde
que a verdade metafísica e moral chega ao homem através da revelação, e não
pode ser conhecida de outra maneira senão a. priori, já que ela forma a base
principal do conhecimento e da própria existência. Sua prova apóia-se sobre a
evidência razoável que suporta a revelação. Ele mostra que o lógico positivista
assume as proposições básicas da moralidade e da ética, e as utiliza sem exigir
provas, (b) Outros tentam aceitar a revelação, embora negando à lógica sua
função própria. Os neo-ortodoxos falam da verdade de Deus como não limitada
pelo tempo e pelo espaço. O homem não possui categorias nas quais possa
recepcionar essa verdade e, portanto, ela aparece nas formas de contradição,
paradoxo e absurdo, não podendo, portanto, ser julgada pela lógica. O
evangélico diz que o problema dos neo-ortodoxos vem da aceitação de uma
filosofia imperfeita de tempo e espaço introduzida na teologia por Sõren
Kierkegaard, e de uma abordagem modernista da Bíblia Sagrada. Deus é racional e
lógico e a Bíblia prova não estar cheia de paradoxos e contradições quando
aceita, pela fé e da maneira como foi escrita. O Senhor forneceu evidências
verossímeis da verdade e da infalibilidade de sua Palavra. Esta conclusão é o
testemunho dos crentes dos dois Testamentos (SI 108.4; Jo 20.30,31; 1 Jo 1.1-3).
3. Verdade factual. A verdade tem de condizer com os
fatos da vida e da existência. Isto significa ter uma correspondência
proposicional com a realidade. A verdade não pode satisfazer-se com
universalidades e generalidades, por mais úteis que possam ser, nem com meras
individualidades e particularidades, mas tem de condizer verticalmente com os
fatos enquanto os organiza corretamente através do uso de universalidades.
Atitudes para com a Verdade
Ouvindo e sendo a
verdade. Pode-se ouvir a verdade, acreditar que é verdadeira, até ensiná-la e
ainda assim recusar-se ou falhar em agir de acordo com ela. Isto corresponde a
ouvir a verdade e não ser a verdade. A verdade conhecida, no sentido de
acreditar e agir de acordo com ela, satisfaz, então, a três testes:
consistência lógica, consistência factual e consistência prática. Os dois
primeiros foram discutidos acima nos itens verdade lógica e verdade factual. O
terceiro é mencionado pelo Senhor Jesus Cristo como a base da salvação, isto é,
experimentar a verdade ao agir de acordo com ela (Jo 8.32). Isto acarreta um
conhecimento do conteúdo sobre
o qual a ação apóia-se. As Escrituras dão aos três seu lugar adequado. Elas
esperam que a fé seja baseada em evidências razoáveis, e que a ação siga o
recebimento de uma revelação clara e autocon-sistente.
Muitos teólogos
modernos das escolas neo-or-todoxa e liberal negam que a verdade seja absoluta.
Paul Tillich, por exemplo, a vê como, necessariamente, relativa, argumentando
que, se fosse absoluta e imutável, isso tornaria Deus - que é o Supremo e o
Absoluto - relativo. Tal visão, de fato, nega a possibilidade da verdade
autêntica, substituindo-a pela verdade kairotic ou temporária - as coisas podem
ser verdadeiras hoje, mas erradas amanhã. A resposta cristã destaca vários
fatos.
1. Se a verdade
depende de Deus, e Deus é a verdade em pessoa, então a verdade absoluta não
limita, ao contrário, revela Deus. Deus é amor, mas o amor não rouba, não
mente, etc, e os mandamentos apenas expressam estas verdades que já existem no
caráter de Deus. Elas não estão limitando, mas revelando afirmações que têm sua
base na natureza de Deus.
2. Pelo fato de Deus
ser a verdade, Cristo é a verdade tanto em sua pessoa como em sua revelação (Jo
1.14,17; 14.6). Seu caráter e suas palavras complementam-se, e seu ensino
revela tanto seu caráter santo quanto o do Pai (Mt 5.43-48). Os teólogos
existencialistas tentavam reforçar a importância de ser a verdade, enquanto
negavam que a verdade tivesse um conteúdo proposicional, isto é, um conteúdo que
está compreendido nas afirmações reveladas nas Escrituras. Sua tentativa
fracassa quando se percebe que Cristo, usando uma linguagem de sala de aula,
sustenta em João 8 que seu testemunho é verdadeiro. Ele ensina somente o que
ouviu (w. 26,40), viu (v. 38) e o que lhe foi ensinado pelo Pai (v. 28). Ele
pode confirmar o que diz, porque o Pai jamais o deixou só (v. 29). Em João 14,
onde Cristo declara que Ele mesmo é a verdade (v. 6), Ele mais uma vez
refere-se ao conteúdo de seu ensino, mostrando que Ele não é somente a verdade
em pessoa, mas que também ensina a verdade proposicional.
Isto faz parte do
contexto de João 8, quando, como visto acima, Ele defende a verdade de seus
ensinos ao dizer: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos
libertará" (v. 32). Isto torna claro que Ele não está falando de um
conhecimento místico dele mesmo que salvará o homem, mas de um conhecimento
cujo conteúdo é composto por aquilo que Ele ensina.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora
CPAD. pag. 1990-1991.
TERMINOLOGIA BÍBLICA
No hebraico devemos
considerar uma palavra e no grego, também uma, a saber:
I. Emeth,
"verdade", "constância". Esse vocábulo hebraico ocorre por
92 vezes no Antigo Testamento, conforme se vê, para exemplificar, em Gên.
24:27; 42:16; Êxo, 18:21; Deu. 13:14; Jos. 24:14; Juí. 9:15; I Sam. 12:24; II
Sam. 2:6; I Reis 2:4; II Reis 20:3,19; II Crô. 18: 15; Esl. 9:30; Sal. 15:2;
25:5,10; 30:9; 31:5; 40:10,11; 43:3; 51:6; 57:10; 61:7; 71:22; 91:4; 145:18;
146:6; Pro. 3:3; 8:7; 12:19; 23:23; Ecl. 12:10; lsa. 10:20; 16:5; 38:18,19;
Jer. 4:2; 9:5; Dan. 8:12; 9:13; Osé. 4:1; Miq. 7:20; Zac. 8:3,8,16,19; Mal.
2:6. Há outras formas dessa palavra e outros vocábulos que ocorrem por algumas
poucas vezes, e que também podem ser traduzidos como "verdade".
2. Alétheia,
"verdade". Palavra grega que é usada por 110 vezes: Mal. 22:16; Mar.
5:33; 12:14,32; Luc. 4:25; 20:21; 22:59; João 1:14,17; 3:21; 4:23,24; 5:33; 8:32,40,44-46;
14:6,17; 18:37,38; Atos 4:27; 10:34; Rom. 1:18,25; 2:2,8,20; I Cor. 5:8; 13:6;
II Cor. 4:2; 6:7; 13:8; Gál. 2:5,14; 5:7; Efé. 1:13; 4:21 ,24,25; 5:9; 6: 14;
Fil. 1:18; Col. 1:5,6; II Tes. 2:10,12,13; I Tim. 2:4,7; 3:15; 4:3; 6:5; II
Tim. 2:15,18,25; 3:7,8; 4:4; Tito 1:1,14; Heb. 10:26; Tia. 1: 18; 3:14; 5: 19;
I Ped. I: 22; li Ped. 1:12; 2:2; I João 1:6,8; 2:4,21; 3: 18,19; 4:6; 5:6; 11
João 1-4; III João 1,3,4,8,12.
No Antigo Testamento,
a palavra emeth e seus cognatos indicam as idéias de firmeza, estabilidade,
fidelidade, alguma base fidedigna de apoio. É uma qualidade atribuída tanto a Deus
quanto às criaturas. Também é atribuída não somente às mais diversas afirmações
(por exemplo, Rute 3:12), mas também à conduta (ver Gên. 24:49) e às promessas
(li Sam. 7:28). A verdade é associada na Bíblia à gentileza (Gên. 47:29), à
justiça (Nee. 9: 13 e Isa. 59:14) e à sinceridade (Jos. 24:14). Por essas
razões, a Septuaginta, com frequência, a traduz pelo termo grego plstts,
"fé", "fidelidade", "convicção", a fim de
expressar o aspecto moral, em vez de empregar alétheia, "verdau Je "
.
Nas páginas do Novo
Testamento, alétheia retém a ênfase moral e personalista que o termo paralelo
hebraico tem no Antigo Testamento, embora a noção de fidelidade, com mais frequência,
seja transmitida através da palavra grega pistis. Etimologicamente, alétheia
sugere que alguma coisa tenha sido descoberta, revelada, segundo a sua
verdadeira natureza, dando a ideia daquilo que é real e genuíno, em
contraposição com o que é imaginário ou espúrio, ou, então, daquilo que é
veraz, em contraposição com o que é falso. Assim, lemos a respeito do
"verdadeiro Deus" e da "verdadeira vinha", tal como o Credo
Niceno fala sobre "o vero Deus do vero Deus". O adjetivo grego, a
léthinos. aparece em contextos assim, ao passo que alethés é palavra empregada
como um predicado (ver Mal. 22:16; João 3:33, etc.). A julgar pelo uso que
esses dois adjetivos têm no Novo Testamento, não se pode averiguar qualquer
diferença essencial no significado fundamental desses dois termos, Porém, as
referências neotestarnentárias a declarações verazes tomam evidente que o
conceito de verdade cognitiva deriva-se das noções de franqueza ou caráter
fidedigno (ver, por exemplo, Mar. 5:33; 12:32; João 8:44-46; Rom. 1:25 e Efé.
4:25).
O conceito cognitivo
é mais explícito no Novo Testamento do que no Antigo Testamento. A verdade está
liga da não somente à fidelidade e à justiça, mas também ao conhecimento e à
revelação. Isso se deve, pelo menos em parte, à intrusão da cultura grega com
seus interesses mais acentuadamente teóricos no mundo judaico; e, também, em
parte, ao idioma grego, e, portanto, seria um erro supormos que a língua grega
e, portanto, o uso que o Novo Testamento faz do vocábulo aletheia, reflita um
dualismo platônico, e, portanto, uma epistemologia platônica ou mesmo gnóstica.
Pois, em primeiro lugar, a filosofia grega é muito variada do que isso
subentende: não havia somente uma epistemologia grega. Em segundo lugar, os
escritos bíblicos moldavam os significados que queriam dar a entender, mediante
o seu próprio uso criterioso dos vocábulos. Sem dúvida alguma, ao escreverem
para uma cultura já helenizada, com suas diferentes compreensões acerca da
verdade, esses escritores conservavam em mente a ideia de verdade cognitiva.
Todavia, a maneira de pensar dos escritores sagrados era mais diretamente moldada
pelos conceitos veterotestamentários e acima de tudo, pela crença de que o
verdadeiro Deus, o Deus alethinôs, não vive oculto, mas antes, age e fala com
uma franqueza totalmente digna de confiança (alethés).
A VERDADE QUE CONHECEMOS
1. Sabemos bem pouco,
mas aquilo que sabemos é imensamente importante.
2. Em contraste com o
conhecimento de um historiador, que depende de pesquisas do passado distante, e
isso contando com meios inadequados, a busca pela verdade religiosa depende da
revelação. A revelação depende do interesse de Deus pelo mundo, e é evidência
do mesmo.
3. A verdade é
comprovada nas vidas daqueles que são transformados segundo a imagem de Cristo.
Poder é necessário para que isso se concretize, e o que é bom traz consigo suas
próprias evidências.
A sabedoria não é
finalmente testada nas escolas,
A sabedoria não pode
passar de quem a tem para quem não a tem,
A sabedoria da alma
não é suscetível de prova, é sua própria prova.
(Walt Whitman, Canção
da Estrada Aberta).
Conforme disse
Aristóteles (Retórica 11.13), a verdade é que os homens se vão tornando menos e
menos dogmáticos, à proporção que envelhecem, reconhecendo cada vez mais a
vastidão da verdade, e isso certamente é o caso da verdade de Cristo, pois é
infinitamente ampla e não pode ser contida por qualquer credo ou denominação religiosa,
porquanto é impossível alguém cercar Deus com uma sebe.
Contra a Arrogância
a. A fé não consiste
em não crer em algo que não é a verdade. Um dogma pode servir de obstáculo para
a verdade. b. Nenhumadenominação ou fé isolada pode ser guardiã da verdade
divina. Podemos aprender coisas de outros, e as janelas deveriam ser mantidas
abertas, para permitir que a luz entre, para que possa haver crescimento.
Da preguiça que
aceita meias verdades,
Da arrogância que
pensa conhecer toda a verdade.
Ó Senhor, livra-nos.
(Arthur Ford)
O próprio Paulo
exibiu grande confiança: "Sei em quem tenho crido", e, no entanto,
aludiu a si mesmo como mero principiante na inquirição pela verdade espiritual.
(Ver II Tim. 1:12, em comparação com Fil. 3: 10-14. Quanto a Jesus como a
personificação da "verdade", ver João 14:6).
Descrições e Elementos da Verdade
Deus é o Deus da
verdade (Deu. 32:4; Sal. 31 :5).
Cristo é a verdade
(João 14:6 com João 7:18).
Cristo estava repleto
de verdade (João 1: 14).
Cristo falou a
verdade (João 8:45).
O Espírito Santo é o
Espírito da verdade (João 14: 17).
O Espírito Santo nos
guia a toda verdade (João 16: 13).
A Palavra de Deus é a
verdade (Dan. 10:21; João 17: 17).
Deus encara a verdade
favoravelmente (Jer. 5:3).
Os juízos divinos são
segundo a verdade (Sal. 96:13; Rom.12).
Os santos deveriam:
Adorar a Deus na
verdade (João 4:24 com SaI.145:18).
Servir a Deus na
verdade (Jos. 24: 14; 1 Sam. 12:24).
Andar diante de Deus
na verdade (I Reis 2:4; 11 Reis 20:3).
Observar as
festividades religiosas na verdade (I Cor.5:8)
Estimar a verdade
como preciosíssima (Pro. 23:23).
Regozijar-se na
verdade (I Cor. 13:6).
Falar a verdade uns
com os outros (Zac. 8:16; Efé. 4:25).
Meditar sobre a
verdade (Fil. 4:8).
Escrever a verdade
sobre as tábuas do coração (Pro.3:3).
Deus deseja a verdade
no coração (Sal. 51:6).
O Fruto do Espírito
se verifica na verdade (Efé. 5:9).
Os ministros
deveriam:
Falar a verdade (lI
Cor. 12:6; Gál. 4: 16).
Ensinar a verdade (1
Tim. 2:7).
Ser aprovados pela
verdade (11 Cor. 4:2; 6:7,8; 7: 14).
Os magistrados
deveriam ser homens caracterizados pela verdade (Êxo. 18:21).
Os reis são
preservados pela verdade (Pro. 20:28).
Os que dizem a
verdade:
Exibem a retidão
(Pro. 12: 17).
Serão firmados (Pro.
12:19).
São deleitáveis para
Deus (Pro. 12:22).
Os ímpios:
São destituídos da
verdade (Osé. 4: 1).
Não dizem a verdade
(Jer. 9:5).
Não sustentam a
verdade (Isa. 59:14,15).
Não pleiteiam pela
verdade (Isa. 59:4).
Não são corajosos em
defesa da verdade (Jer. 9:3).
Serão punidos por não
terem a verdade (ler. 9:5,9; Osé, 4: 1).
O evangelho, como a
verdade:
Veio por meio de
Cristo (João 1:17).
Cristo dá testemunho
da verdade (João 18:37).
Ela se acha em Cristo
(Rom. 9: 1; 1Tim. 2:7).
João deu testemunho
da verdade (João 5:33).
Ela é segundo a
piedade (Tito 1:1).
Ela é santificadora
(João 17: 17,19).
Ela é purificadora (I
Ped. 1:22).
Ela faz parte da
armadura cristã (Efé. 6:14).
Ela é revelada
abundantemente aos santos (Jer. 33:6).
Ela permanece com os
santos (11 João 2).
Ela deveria ser
reconhecida (11 Tim. 2:25).
Ela deveria ser crida
(11 Tes. 1:12, 13; 1 Tim. 4:3).
Ela deveria ser
obedecida (Rom. 2:8; Gál. 3: 1).
Ela deveria ser amada
(11 Tes. 2: la).
Ela deveria ser
corretamente manuseada (11 Tim. 2: 15).
Os ímpios se afastam
da verdade (11 Tim. 4:4).
Os ímpios resistem à
verdade (11 Tim. 3:8).
Os ímpios estão
destituídos da verdade (I Tim. 6:5).
A igreja é a coluna e
o baluarte da verdade (1 Tim. 3: 15).
O diabo é despido de
verdade (João 8:44).
TRÊS CONCEITOS DE VERDADE NA BÍBLIA
O uso que a Bíblia
faz da palavra verdade, sugere três conceitos relacionados entre si, a saber:
1. a verdade moral; 2. a verdade ontológica; e 3. a verdade cognitiva. Naturalmente,
os conceitos 2 e 3 dependem, logicamente, do conceito 1; e o conceito 3
depende, logicamente, dos conceitos 1 e 2. Em cada um desses casos, entretanto,
a base da verdade se encontra em Deus, que é a fonte originária e o padrão de
1, a retidão; 2, o ser; e 3, o conhecimento.
1. A Verdade Moral. A verdade é um dos atributos de Deus.
Como tal, esse vocábulo se refere à integridade, ao caráter digno de confiança
e à fidelidade de Deus. Um poeta hebreu celebra esse atributo em Salmos 89, e o
profeta Oséias o faz em Osé. 2: 19-23. Em ambos os casos, a verdade divina é
combinada com a misericórdia e o amor de Deus. De acordo com Deuteronômio 32:4,
Salmos 100:5 e 146:6, a fidelidade de Deus é revelada por meio da criação; e,
no livro de Apocalipse, esse é o atributo de Deus sobre o qual repousa a
expectação de juízo (ver Apo. 3:7,14; 6:10; 15:3,4; 19:11 e 21:5).
Visto que o caráter
divino deve ser imitado pelos homens, a verdade também deveria ser uma
qualidade, virtude ou atributo humano. Por esse prisma, a verdade importa em
honestidade (Sal. 15:2; Efé. 4:25) e justiça civil (Isa. 59:4,14,15). Dizer a
verdade, portanto, para o homem constitui uma obrigação, de tal maneira que a veracidade
(verdade cognitiva) seja uma das características do homem em quem se pode
confiar (verdade moral).
Entretanto, espera-se
de cada indivíduo que se mostre íntegro diante de Deus e de seus semelhantes
(Êxo. 18:21; Jos. 24:14). Nesse sentido moral, a verdade não é algum mero
verniz superficial, pelo contrário, parte do próprio coração, distinguindo o
caráter inteiro do homem interior (I Sam, 12:24; Sal. 15:2; 51:6).
2. A Verdade Ontológica. Originando-se no conceito de que o
indivíduo que é inteiramente digno de confiança é veraz, temos aquele outro
conceito do indivíduo que efetivamente é aquilo que se propõe a ser. Isso
significa que tal individuo não vive uma ficção, não procura enganar ao
próximo, e nem é um homem que dê um exemplo imperfeito ou negativo. Nesse
sentido, "a verdadeira luz" (João 1:9) é a perfeição que João Batista
refletia em parte, em sua pessoa; "o verdadeiro pão" (João 6:32) faz
contraste com o imperfeito maná de Moisés; e "os verdadeiros adoradores"
(João 4:23) fazem contraste com aqueles que adoravam por mera antecipação,
aguardando por quem não conheciam o Messias. Os crentes tessalonicenses abandonaram
seus ídolos a fim de servirem ao verdadeiro Deus (1Tes. 1:9).
E nesse sentido que
falamos sobre "um verdadeiro homem", "um verdadeiro
erudito" ou "um verdadeiro filho", dando a entender alguém que é
fiel a algum ideal, que representa perfeitamente algum padrão de virtude. A
teoria grega dos universais via, em todos os particulares, uma participação, em
algum grau, nas formas ideais dos universais.
Pensadores cristãos
como Agostinho, Anselmo e Tomás de Aquino equipararam essas formas com as ideias
e os decretos divinos (verdades eternas), tendo atribuído uma "verdade
ontológica" aos objetos naturais que dão corpo a essas idéias e decretos.
Entretanto, essa noção não se originou dos ensinamentos bíblicos, mas pela
combinação das teorias gregas sobre a forma com o conceito bíblico de um
Criador que faz todas as coisas em consonância com a sua perfeita vontade.
3. A Verdade Cognitiva. Um outro fator resultante da verdade
moral é que o individuo veraz diz a verdade e não a mentira ou falsidade. Em
Deus, a verdade origina-se na sua onisciência, de tal modo que o atributo da
verdade se refere, pelo menos em parte, ao seu perfeito conhecimento de todas
as coisas (1ó 28:20-26; 38:39). Visto que Deus é o Criador, tudo quanto sabemos
depende, em última análise, do Senhor. Toda verdade é uma verdade divina.
Nossas habilidades cognitivas são uma criação de Deus, e o caráter inteligível da
natureza confirma a sabedoria de Deus. Por conseguinte, o conhecimento de Deus
é um conhecimento arquétipo, do qual o nosso conhecimento é parcial, uma imitação.
Aquilo que declaramos verdadeiro, só o é à proporção que concorda com a
verdade, que só se manifesta perfeitamente na pessoa de Deus. Isso posto, a
verdade terrestre é contingente, dependente, limitada, provisória. É por um
motivo assim que o apóstolo dos gentios explicou que"... agora vemos como
em espelho, obscuramente...", e que somente na presença imediata de Deus,
quando estivermos na glória, é que " ...veremos face a face ...".
Sim, ainda no dizer do apóstolo, agora conhecemos apenas parcialmente; no céu
conheceremos tal e qual somos conhecidos. Em contraste com o nosso conhecimento
refletido, a verdade arquétipo é ilimitada, imutável e absoluta. No caso do
homem, a verdade permanece em formação constante; mas, no caso de Deus, a
verdade já é perfeita, completa.
Isso é expresso
através do conceito do Logos, nos escritos de João, bem como na discussão, na
epístola aos Colossenses, sobre o fato de estarem ocultos, em Cristo,
" ... todos os
tesouros da sabedoria e do conhecimento..." (Col. 2:3). O Cristo, por
intermédio de Quem todas as coisas foram criadas, e que agora sustenta a tudo
em existência, é aquele que empresta, à natureza e à história, inteligibilidade,
boa ordem e propósito. Conhecer a Cristo é conhecer a fonte onisciente de toda a
verdade, de todo o conhecimento, não a fim de que possamos saber de tudo quanto
ele sabe, mas a fim de podermos compreender como são possíveis todo o
conhecimento e toda a sabedoria. Cristo é aquele que garante o caráter
fidedigno de qualquer verdade que podemos obter.
Apesar de ser
evidente, no Novo Testamento, o conceito cognitivo da verdade (ver, por
exemplo, Mar. 5:33; 12:32; Rom. 1:25), é particularmente aplicado ali à
mensagem anunciada por Cristo e seus apóstolos (João 5:33; 8:31-47; Rom. 2:8;
Gál, 2:5; 5:7; Efé. 1:13; I Tim. 3: 15; I João 2:21-27). Um mensageiro cristão
fiel fala a verdade que procede de Deus; e, correspondendo a essa verdade de
Deus, o crente confia em Deus, de quem procede essa verdade. A fé, pois,
consiste tanto no assentimento da verdade como na dependência ao que Deus
declara. Por isso é que se lê que uma pessoa "pratica a verdade",
quando dá o seu assentimento à mensagem do evangelho e confia em Cristo, em
vista de sua "verdade moral" ou fidelidade (ver I João 1:6-8; 2:4;
3:18,19).
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 6. Editora Hagnos. pag. 593-595.
I - A RELAÇÃO ENTRE OS POBRES E OS RICOS DA IGREJA (Tg 1.9-11)
1. Os pobres na
Igreja do primeiro século.
Gl 2.10 Muito esforço
seria necessário
para promover a unidade no nível das raízes entre os cristãos de origem judaica
e os gentios. Os apóstolos perceberam que uma maneira imediata e prática de
transpor esta possível brecha seria lembrarem-se de ajudar aos pobres. Paulo
assegurou que pretendia fazer isto com diligência. Ele nunca se esqueceu desta ideia.
Ele continuava ansioso por ajudar os crentes pobres de Jerusalém. Nas suas
viagens missionárias (especialmente na terceira), Paulo arrecadou fundos para
ajudar os crentes de origem judaica que eram pobres e que viviam em Jerusalém
(veja At 24.17; Rm 15.25-28; 1 Co 16.1-4; 2 Co 8-9).
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 268-269.
O compromisso de Paulo (Gl 2.10)
O apóstolo Paulo
passa das considerações teológicas acerca do conteúdo e da defesa do evangelho
para os aspectos práticos — o auxílio aos pobres. Doutrina e prática andam juntas.
A teologia cristã precisa desembocar na prática do amor cristão. A salvação é
só pela fé, independentemente das obras, mas a fé salvadora não vem só, ela
produz obras. A fé sem obras é morta. A fé opera pelo amor. A fé é a fonte; as
obras, o fluxo que corre dessa fonte. A fé é a raiz; as obras, os frutos. A fé
a causa; as obras, a consequência. Não somos salvos pelas obras, mas para as
obras. O mesmo evangelho que liberta do pecado, também assiste os necessitados.
Duas verdades são
aqui destacadas.
Em primeiro lugar,
não há conflito entre fé e obras.
“Recomendando-nos
somente que nos lembrássemos dos pobres...” (2.10). O evangelho da graça é
integral. Ele provê salvação para a alma e redenção para o corpo. É transcendental
e ao mesmo tempo assistencial. Não existe conflito entre evangelização e ação
social. Fé e obras não se excluem; completam-se. Quando o coração está aberto para
Deus, está também franqueado para o próximo. A conversão do coração passa
também pela generosidade do bolso. Quem ama a Deus também serve ao próximo.
Quem adora a Deus também socorre o necessitado.
Em segundo lugar, não
há conflito entre evangelização e ação social. “... o que também me esforcei
por fazer” (2.10b). Não há conflito entre a pregação do evangelho e o cuidado
dos pobres. Paulo foi um homem que se afadigou na Palavra. Ele se gastou pelo
evangelho. Pregou com senso de urgência e também com lágrimas. Ao mesmo tempo,
porém, esforçou-se para socorrer os pobres. Foi a Jerusalém duas vezes com o
propósito de levar ofertas aos necessitados (At 11.29,30; 21.17). Compromisso
assumido, compromisso cumprido. A pobreza dos crentes da Judeia despertou a
simpatia das igrejas gentias (Rm 15.25-27; ICo 16.1-4; 2Co 8—9). Evangelização
sem ação social gera um pietismo alienado; ação social sem evangelização produz
um assistencialismo humanista. Ao longo dos séculos o evangelho de Cristo tem
sido o vetor inspirador para as maiores obras sociais do mundo, criando
hospitais, escolas, asilos e dezenas de instituições que cuidam do ser humano de
forma integral. Concluímos esta exposição com a perspectiva de William Hendriksen.
Ele diz que ajudar os pobres é requerido na lei de Deus (Êx 23.10,11; 30.15; Lv
19.10; Dt 15-7-11), na exortação dos profetas (Jr 22.16; Dn 4.27; Am 2.6,7) e
no ensino de Jesus (Mt 7.12; Lc 6.36,38; Jo 13.29). É fruto da gratidão do
crente pelos benefícios recebidos. Aqueles que recebem misericórdia tornam-se
misericordiosos. Paulo diz que aqueles que recebem benefícios espirituais devem
retribuir com benefícios materiais (Rm 15.26,27). Jesus é o maior exemplo de
generosidade (2Co 8.9). O homem generoso receberá grande recompensa (Mt
25.31-40).
LOPES, Hernandes Dias. GÁLATAS A carta da liberdade cristã. Editora Hagnos. pag. 90-92.
Gl 2.10 De
conformidade com a doutrina farisaica, as três grandes colunas sobre as quais
se apoia o mundo espiritual, seriam as esmolas, o serviço no templo e o estudo
da Torah. As condições econômicas da época, em muitas comunidades judaicas, mas
sobretudo em Jerusalém, tornavam a prática das esmolas extremamente importante.
Os já limitados recursos da Palestina foram ainda mais exigidos devido aos
conflitos e à turbulência social constantes. Jerusalém parece ter sido sempre
uma parasita econômica, dependente das rendas do templo, que vinham de outras
regiões da Palestina e até mesmo de países estrangeiros. Com base nos fundos
dos tesouros do templo de Jerusalém e das milhares de sinagogas é que eram
sustentadas as
viúvas e outros pobres, sendo dali também tirados fundos para ajudar aos
desempregados. Ao mesmo tempo, entretanto, líderes gananciosos se enriqueciam
mediante o uso pessoal dos fundos destinados à comunidade. Estêvão selou a sua
condenação ao indicar, em seu sermão, que o templo de Jerusalém estava
obsoleto, e não era mais essencial para a verdadeira adoração. Ao menos por
razões financeiras, discursos dessa natureza não poderiam mesmo ser tolerados
entre os judeus antigos. (Ver Atos 7:49 e ss.).
Falando sobre
dinheiro, ninguém deseja contribuir, hoje em dia, para a manutenção do
ministério e para a ereção de escolas. Mas quando se trata do estabelecimento
da idolatria e da adoração falsa, nenhum custo é poupado. A verdadeira religião
sempre padecerá da falta de fundos suficientes, ao passo que as religiões
falsas são sustentadas pelas riquezas materiais». (Martinho Lutero, in loc.).
«...dos pobres...»
Estes deveriam ser relembrados e servidos. Provavelmente apelaram a Paulo, para
que os ajudasse, e a coleta foi feita, pelo menos em parte, como resposta a
esse apelo. Naturalmente que isso não foi apresentado como «condição» para a
aceitação de Paulo por parte dos demais apóstolos; antes, foi a única coisa que
veio a ser solicitada dele, no tocante a quaisquer sugestões adicionais que os
apóstolos tinham a respeito dos labores de Paulo. Os «pobres», em geral, devem
ser incluídos nessa ideia, ainda que parece ter havido uma preocupação especial
como os pobres de Jerusalém e das cercanias.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 454.
2. Os ricos na Igreja
Antiga.
A pobreza e a riqueza
na vida do cristão
A não ser em casos
específicos em que a condição espiritual da pessoa a leva a comportamentos que
acabam afetando negativamente a sua vida financeira, ou em casos também muito
específicos em que o juízo de Deus sobre alguém, afeta a sua vida financeira,
ser pobre ou rico materialmente não tem nada a ver com a condição espiritual.
Há ímpios pobres e há ímpios muito ricos, assim como há servos de Deus ricos e
pobres, servos de Deus ricos que empobreceram e servos de Deus pobres que
enriqueceram. Por exemplo: Abraão foi rico; Isaque também foi rico; Jacó nasceu
em uma família rica, depois foi ganhar a vida como empregado de seu tio Labão
até que Deus o fez enriquecer sem precisar da ajuda de seus pais; o rico Jó era
um homem justo e reto diante de Deus, mas se tornou miserável e depois voltou a
ser rico; Jeremias era pobre, permaneceu assim e morreu assim; os profetas
Sofonias e Isaías foram aristocratas palacianos, mas o profeta Amós foi um
simples camponês; o pobre Lázaro da história contada por Jesus em Lucas 16, e
que morreu pobre e na miséria, era um homem justo; a Bíblia diz que um profeta
que realmente “temia ao Senhor” e auxiliava no ministério do profeta Eliseu
morreu pobre e endividado (1 Rs 4.1), mas sua esposa acabou prosperando após um
milagre de Deus (1 Rs 4.7); etc.
O que a Bíblia
classifica como mal não é a riqueza, mas o amor às riquezas, a confiança
depositada nelas. Isso está mais do que claro em várias passagens das
Escrituras. A Bíblia nos diz que, no que tange a bens materiais, passamos a ser
ímpios quando:
1) Passamos a amar as
riquezas, o que é o princípio do fim, porque “o amor ao dinheiro é a raiz de
toda espécie de males” (lTm 6.10).
2) A riqueza passa a
ser senhora de nossas vidas e não nossa serva: “Náo podeis servir a Deus e a
Mamom” (Mt 6.24).
3) Tornamo-nos
avarentos, isto é, apegados demasiadamente, e de forma repugnante, ao dinheiro
(Lc 12.15a).
4) Passamos a medir a
qualidade da nossa vida pela abundância do que possuímos (Lc 12.15b).
5) Passamos a colocar
a nossa prioridade nas riquezas (Mt 6.19-21).
6) Passamos a colocar
a nossa esperança nas riquezas (lTm 6.17b).
7) Tornamo-nos
altivos, soberbos e arrogantes por causa das riquezas (lTm 6.17a).
8) Praticamos a usura
(SI 15.5).
9) Somos possuídos
pela cobiça (lTm 6.10), as riquezas se tornam uma obsessão em nossa vida (lTm
6.9).
10) Nossos bens são
“bens mal adquiridos”, ou seja, conquistados desonestamente, seja ilegalmente
(Hc 2.9) ou não (Pv 28.20), pois nem sempre o que é legal é moral. O pagamento
de salários injustos é um desses casos, inclusive mencionado pelo apóstolo
Tiago (Tg 5.4).
Como vemos, no que
diz respeito às riquezas, o pecado está em mantermos uma relação imoral com
elas. Bons exemplos de homens de Deus ricos são Jó e Abraão (Gn 13.2; Jó 1.3;
42.10,12). Eles enriqueceram honestamente dentro do sistema econômico de suas
épocas e não eram avarentos. Eles eram generosos, desapegados às suas riquezas
e colocavam seus bens a serviço da obra de Deus, ajudando o próximo (leia com
atenção Jó 31.14-41). O próprio apóstolo Tiago cita Abraão como grande exemplo
de verdadeira piedade, de fé com obras (Tg 2.21-23). Jesus criticou a avareza,
o amor ao dinheiro, e não o desejo simples (que não deve ser confundido com
desejo obsessivo) de prosperar financeiramente (Mt 6.19-21,24). Jesus não
pregou a pobreza como uma virtude. Ser rico e ser pobre não têm nada a ver com
caráter ou qualidade de vida espiritual.
Quando Jesus citou a
metáfora do camelo no fundo da agulha, estava falando não da impossibilidade de
um rico entrar no Reino de Deus, mas da dificuldade (Mt 19.23,24), porque o ser
humano tendente a valorizar o material mais do que o espiritual. Jesus não
estava ensinando, e nunca ensinou, que, para nos mantermos firmes
espiritualmente, devemos ser avessos a qualquer tipo de desejo de prosperar
financeiramente. Tanto é que Jesus conclui sua ilustração dizendo que Deus
salvará, sim, ricos (Mt 19.26). A metáfora é só um alerta para não se apegar às
riquezas, o que Jesus já havia feito em seu Sermão da Montanha (Mt 6.24). Na
mesma linha do Mestre, o apóstolo Paulo não dá recomendações aos cristãos ricos
para que deixem de ser ricos, mas para que sejam bênção como ricos (lTm
6.17-19), e assevera que o dinheiro não é a raiz de todos os males, mas, sim,
“o amor ao dinheiro” (lTm 6.10).
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 49-51.
Lc 18.24,25 Com o
discipulado lhe tendo sido oferecido, o homem decidiu voltar às suas posses.
Jesus tristemente mostrou aos seus discípulos que muito dificilmente entrarão no
Reino de Deus os que têm riquezas. Isto era contrário à sabedoria convencional.
Muitos judeus acreditavam que a riqueza era um sinal da bênção de Deus sobre o
povo. Aqui, Jesus explicou que as riquezas frequentemente podem provar ser um
obstáculo. As pessoas ricas frequentemente não sentem a profunda necessidade
espiritual de procurar e encontrar a Deus. Elas podem usar o seu dinheiro para obter
posses, viagens e pessoas que lhes servem, para que não sintam nenhuma
necessidade em suas vidas. Com todas as suas vantagens e influência, os ricos
com frequência acham difícil ter a atitude da humildade, da submissão, e de
serviço exigida por Jesus. Como o dinheiro representa poder e sucesso, os ricos
frequentemente deixam de perceber o fato de que o poder e o sucesso na terra
não podem trazer a salvação eterna. Mesmo que usem o seu dinheiro para ajudar
causas boas e nobres, ainda assim podem perder a oportunidade de fazer parte do
reino de Deus.
Jesus usou um
conhecido provérbio judaico para descrever a dificuldade enfrentada pelos
ricos; ele disse: “é mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do
que entrar um rico no Reino de Deus”. A palavra grega se refere a uma agulha de
costura. O camelo, o maior animal da Palestina, poderia passar pelo furo de uma
agulha de costura mais facilmente do que uma pessoa rica poderia entrar no
reino de Deus. Estas realmente são palavras preocupantes para aqueles cujos
bens e dinheiro são extremamente importantes.
18.26,27 Como o povo
judeu via as riquezas como um sinal de bênçãos especiais de Deus, as pessoas
ficaram atônitas quando Jesus disse que na verdade as riquezas impediam que as pessoas
se encontrassem com Deus. Então, perguntaram: “Logo, quem pode salvar-se?” Jesus
respondeu que as coisas que são impossíveis aos homens são possíveis a Deus. As
pessoas não podem salvar a si mesmas, não importa quanto poder, autoridade ou
influência possam comprar. A salvação vem somente de Deus. Tanto os ricos
quanto os pobres podem ser salvos, e as coisas humanamente impossíveis são divinamente
possíveis. Os ricos devem deixar de se apegar às suas riquezas, lembrando-se de
que todos os centavos vêm de Deus. E devem usar voluntariamente o que Deus lhes
deu para ajudar no avanço do seu Reino. Isto não é fácil para ninguém, seja
rico ou pobre. O dinheiro pode ser um obstáculo imenso, mas Deus pode modificar
todas as pessoas.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 437.
Lc 18.25-26. Esse
acontecimento levou Jesus a fornecer aos seus um ensinamento sobre o perigo da
riqueza. Um rico dificilmente entra no reino de Deus, porque o coração
pecaminoso se apega demais à propriedade terrena. A fim de incutir mais
firmemente essa verdade em seus ouvintes, o Senhor acrescenta ao que foi dito
até agora um provérbio: “É mais fácil que um camelo passe pelo fundo de uma
agulha do que um rico entrar no reinado de Deus.” O ponto de comparação desse
provérbio é o humanamente impossível. Com certeza não é condizente imaginar
aqui a pequena entrada no muro de Jerusalém pela qual um camelo carregado
passava apenas com dificuldade. Um ditado semelhante ocorre no Alcorão (Surata
7,38) e no Talmude (neste caso, com um elefante). Alguns manuscritos gregos
trazem em lugar de kamelos = “camelo” uma corda marítima ou de ancoragem, que se
chama kamilos. Essa última explicação na verdade foi frequentemente
questionada, porém ela expressa muito bem a total impossibilidade.
A declaração do
Senhor ensinou os ouvintes a lançar um olhar sincero para seu próprio coração.
Consternados eles perguntam quem, então, poderá ser salvo? A pergunta não é
“que pessoa rica pode tornar-se bem-aventurada?”, como consta no título do
livrinho de Clemente de Alexandria, mas: “que pessoa realmente pode tornar-se
bem-aventurada?”
Não obstante,
tornar-se bem-aventurado, ser salvo, algo impossível a partir do ser humano,
pode ser viabilizado por Deus. Nenhuma pessoa é capaz de transformar seu
coração por força própria, para não se apegar mais às coisas terrenas. A
onipotência da graça de Deus, porém, consegue renovar o coração, para que abra
mão de tudo o que é terreno por causa do reino de Deus, para que busque, ao
invés de bens terrenos, o tesouro celestial.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica
Esperança.
Lc 18.25-26. Por certo,
é absolutamente impossível que um camelo com sua corcova e tudo mais passe pelo
fundo de uma agulha. Pense nisto: um camelo, o maior animal da Palestina,
passando pela pequeníssima abertura de uma agulha! Ridículo! Tal coisa não
acontece!
A razão pela qual
Jesus se expressou de forma tão dramática era que ele queria que os discípulos
atentassem bem. Ele queria que a verdade da total incapacidade humana
penetrasse bem fundo na mente deles.
Para explicar o que
Jesus quer dizer, é inútil e infundado tentar mudar “camelo” por “cabo” - veja
Mateus 23.24, em que a intenção deve ter sido um camelo real - ou definir o
“olho de agulha” como sendo
um portão bem estreito no muro da cidade, um portão, assim prossegue o
raciocínio, através do qual um camelo só pode passar ajoelhado e depois que
toda a carga tenha sido removida. Essas “explicações” (?), afora o fato de
serem passíveis de objeções do ponto de vista lingüístico, tentam tornar
possível o que Jesus claramente declarou ser impossível. O Senhor quer dizer
que é impossível que um rico faça ou encontre por suas próprias forças um
caminho para o reino de Deus. Quão poderosa é a resistência que a riqueza
exerce no coração do homem natural! Ele é violentamente retido por seu
fascinante charme e é assim impedido de cultivar uma atitude de coração e mente
necessária para entrar no reino de Deus. Veja Lucas 16.13; cf. 1 Timóteo 6.10.
É preciso observar que Jesus fala deliberadamente em termos absolutos. Há pouco
usamos a expressão por suas próprias forças. Embora diante do versículo 27 não
se faz necessário retrair esse qualificativo, deve-se advertir que aqui no
versículo 25 Jesus não qualifica assim sua afirmação.
Ele fala em termos
absolutos a fim de gravar ainda mais claramente na mente dos discípulos que a
salvação, do princípio ao fim, não é uma “realização” humana. Quanto ao fato de
que “o extremo do homem é a oportunidade de Deus”, fica reservado para mais
adiante.
A surpreendente
observação de Jesus teve o efeito desejado. Abalou tanto os que o ouviam, que
exclamaram: “Então, quem pode ser salvo?” Provavelmente arrazoaram deste modo:
o que Jesus diz com respeito aos ricos vale para todos, porque, embora nem
todos sejam ricos, contudo os pobres aspiram a ser ricos. Em relação a isso,
note também que o rico havia inquirido sobre herdar a vida eterna (v. 18).
Jesus havia respondido em termos de entrar no reino de Deus (v. 25). E os
ouvintes - em sua maioria discípulos, provavelmente (veja vs. 15, 28) - haviam
interpretado a resposta de seu Senhor como uma indicação de que ninguém poderia
ser salvo (v. 26). Portanto, é evidente que as três designações são sinônimas; todas
descrevem a mesma bênção, porém cada uma focaliza um ponto de vista diferente.
HENDRIKSEN. William. Comentário do Novo Testamento. Lucas. Vol 2. Editora Cultura
Cristã. pag. 401-402.
Tg 1.11 Tiago
descreveu um acontecimento comum no Oriente Médio. A manhã é frequentemente
recebida por flores coloridas do deserto, que se abrem após o frio da noite. A
sua morte é repentina com o ardor do sol. Este murchar e morrer, no caso das
pessoas ricas, é tão repentino quanto a morte das flores silvestres. A morte
sempre se intromete. A vida é incerta. O desastre é possível a qualquer
momento.
O pobre deve ficar
feliz porque as riquezas não significam nada para Deus; caso contrário, as
pessoas pobres seriam consideradas sem valor. O rico deve ficar feliz porque a prosperidade
não significa nada para Deus, porque a prosperidade é facilmente perdida. Nós
encontramos a verdadeira riqueza quando desenvolvemos a nossa vida espiritual,
e não os bens materiais. Tiago inicia a sua carta certificando-se de que os
crentes, tanto os pobres como os ricos, se vejam sob a mesma luz diante de Deus
(veja Gl 3.28; Cl 3.11).
Tiago convoca os seus
leitores a encontrarem esperança nas promessas eternas de Deus.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 665.
Tg 1.11 Essa metáfora
é acolhida por Tiago para explicitar a transitoriedade daquilo que torna alguém
rico: “O sol se levanta com seu ardente calor, e faz secar o capim, sua flor
cai, e desaparece a formosura do seu aspecto. Assim também definhará o rico em
seus caminhos”: na hora da morte os bens ficam para trás (Lc 12.20s). Com
frequência eles já se desfazem antes em crises econômicas, especulações equivocadas,
guerras com suas consequências, ou por causa da desonestidade de pessoas. A
pessoa rica não se livra das preocupações. Boas posições podem-nos ser tiradas
rapidamente pela idade, enfermidade, mudança da conjuntura, golpes políticos. A
beleza pode murchar depressa, acuidade intelectual pode se perder em acidentes
ou doenças. Nada é mais seguro para nós do que isto: “Assim também definhará o
rico em seus caminhos.”
Isso, pois, é visto
por Tiago como motivo para alegrar-se. O rico deve “gloriar-se” de sua
insignificância (v. 10), ou seja, deve gostar de lembrar e falar disso. Como
isso deve ser entendido e realizado na prática? “Têm como se não tivessem” (1Co
7.29-31). Não prendem a tudo isso o coração (Mt 6.19-24). Com o que possuem são
administradores de Deus. São bens que lhes foram confiados (cf. Mt 25.14ss).
Levam a sério sua administração e têm o propósito de ser fiéis. Alegram-
se quando os recebem,
e estão dispostos a devolvê-los novamente (Jó 1.21b). Por isso estão isentos
das inquietas e medrosas preocupações que com freqüência atormentam tanto os
ricos neste mundo. Não estão agarrados à propriedade. Algo diferente deixa-os
alegres e confiantes na vida e na morte, no tempo e na eternidade: “Em mim e
minha vida não há nenhum valor; por Cristo é concedida a luz ao pecador” (Paul
Gerhardt [1607-1676 – HPD 160,3]). Isso coloca no mesmo nível os membros da
igreja socialmente diferentes e os posiciona muito perto uns dos outros. A
pobreza não humilha, a riqueza não exalta. – Quando a questão da riqueza não
parece mais tão terrivelmente importante, estão asseguradas também as premissas
para a harmonização social. Ela acontece sem que se faça grande alarde disso.
Pessoas renovadas geram uma realidade nova. Dessa maneira a riqueza também
passa a não ser mais tentação e perigo. Sabe-se que ela não é nada em
comparação com a graça de Deus, concedida igualmente a todos. Perante Deus
somos todos mendigos e todos regiamente presenteados.
Nesse contexto
igualmente será bom lembrar que também os dons (em grego charismata) e serviços
(cargos) específicos na igreja não exaltam uma pessoa sobre a outra. Aliás,
isso contrariaria a maneira de Jesus (Mt 18.1-4; 20.25-28). Os dons espirituais
não são pedestal para alçar os detentores nem condecorações por uma conduta especial,
mas meros equipamentos para determinados serviços (1Co 12.7). Não devemos nos
deixar fascinar pelo que conseguimos realizar por meio do dom de Deus, mas nos
alegrar com o presente imerecido que nos com foi dado pela filiação divina (Lc
10.20). Também nesse caso vale de forma especial: “Em mim e minha vida não há
nenhum valor; por Cristo é concedida a luz ao pecador” [Paul Gerhard, HPD
160,3] “Pela graça de Deus sou o que sou” (1Co 15.10). Por fim, o dom (1Co
13.8) e a incumbência somente nos foram atribuídos provisoriamente. No grande
dia de nosso Senhor precisamos contar com uma redistribuição (Lc 19.17).
Fritz
Grünzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Tg 1:11 / O quadro
que Tiago usa a fim de imprimir essa idéia na mente de seus leitores é o de um
fenômeno dramático, observado na Palestina. As anêmonas e as ciclamens
florescem maravilhosamente pela manhã, mas, à medida que o sol vai subindo e o
dia se torna mais quente, elas vão pendendo, murcham e acabam morrendo. No
final da tarde as flores que havia pouco estavam em pleno viço agora não mais
existem, e não renascerão. É provável que esse quadro tenha sido tirado de
Isaías 40:6-8 (também é empregado em 1 Pedro 1:24), mas o sentido é
singularmente de Tiago. O rico é a flor cuja aparência é tão impressionante.
Contudo, da perspectiva dos céus, a situação desse rico é precária na verdade.
Logo sobrevirá algum problema, alguma doença, e onde estará depois o rico? Em
face da morte, as riquezas são absolutamente insignificantes (cf. Jó 15:30;
Provérbios 2:8; Salmos 73; Mateus 6:19-21). O rico murchará também enquanto vai
andando em seus caminhos. A memória que dos ricos restará não será eterna,
cheia de glória, como imaginavam que fosse, mas dissolver-se-á no pó, à semelhança
de qualquer mortal, e logo seus monumentos e a própria lembrança deles se
desfarão, desaparecendo no esquecimento. Isso era tudo que o rico teve, visto
que, diferentemente do pobre, que havia sido “levantado” e, dessa maneira, veio
a gozar de um lugar eterno junto a Deus, o rico recebeu toda sua consolação
aqui na terra, pelo que mergulhou para sempre nas trevas e no esquecimento,
cortado bem no meio de seus caminhos.
Nesse momento Tiago
inicia a segunda parte da sua declaração de abertura. Embora verse sobre os
mesmos temas, não é repetitivo, pois cada tema é ampliado. Trata-se aí das
causas interiores do fracasso nas provações e não dos benefícios gerais
advindos da provação. Debate-se a boa dádiva de Deus em relação ao problema do
diálogo e não em relação à oração e à sabedoria. Agora focaliza-se a prática da
fé (que significa repartir com generosidade), e não o debate da situação real
do rico e do pobre. Todos esses temas acabarão por fundir-se nos debates de maior
monta da conclusão.
Peter
H. Davids. Comentário Bíblico
Contemporâneo. Editora Vida. pag. 50.
3. Perante Deus,
pobres e ricos são iguais.
A transitoriedade das
riquezas
Por isso, o apóstolo
Tiago, após mencionar que tanto o rico quanto o pobre cristãos podem se alegrar
em meio às circunstâncias, destaca ainda, no caso do rico, que ele deve se
lembrar de que as riquezas terrenas são passageiras: “...porque ele [o ser
rico] passará como a flor da erva. Porque o sol se levanta com seu ardente
calor, e a erva seca, e a sua flor cai, e desaparece a formosura do seu
aspecto; assim também se murchará o rico em seus caminhos” (Tg 1.10b, 11).
Logo, se as riquezas são passageiras, não devemos nos apegar a elas, não
devemos supervalorizá-las.
O rico Salomão
lembrava que como não podemos levar as riquezas conosco para a eternidade (Ec
5.15), não faz sentido apoiar-se em algo passageiro, fugaz. O rico Jó afirmou o
mesmo. Diante da perda de seus bens e filhos, declarou ele: “Nu saí do ventre
da minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito
seja o nome do Senhor” (Jó 1.21). Escrevendo aos crentes em Corinto, o apóstolo
Paulo afirma que, tendo em vista a brevidade da vida aqui e, em perspectiva, a
eternidade, deveríamos “tratar as coisas deste mundo como se não estivéssemos
ocupados com elas, pois este mundo, como está agora, não vai durar muito” (1 Co
7.31, NTLH). Ou, como aparecem nas versões ARC e ARA desse mesmo versículo,
devemos “usar” as coisas deste mundo em vez de “abusar” delas ou “utilizar do
mundo, como se dele não usássemos”, porque “a aparência deste mundo passa”.
Escrevendo a Timóteo, Paulo assevera ainda: “Porque nada trouxemos para este
mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento, e com
que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes” (lTm 6.7,8). Nossa vida não se
resume a bens. Estes são benesses agradáveis e importantes, mas não fazem parte
da essência da vida.
Mas, além de
apegar-se às riquezas significar a perda do sentido da vida e,
consequentemente, caminha para a perdição eterna, a Bíblia também nos diz que,
ainda aqui na Terra, essa atitude traz muitos males. O apóstolo Paulo ressalta
que a supervalorização dos bens materiais e a cobiça levam o homem a “cair em
tentação e em laço”; a “muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem
os homens na perdição e ruína; a “toda a espécie de males”; a se “desviarem da
fé”; e a “muitas dores”; e que, por isso, aquele que teme a Deus “foge destas
coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão”
(lTm 6.9-11). E Salomão, o homem mais rico de todos os tempos, já alertava em
seu tempo que o apego aos bens materiais provoca vícios e males tais como o
desejo incontrolável de ganhar mais e mais (Ec 5.10), o gasto desenfreado (Ec
5.11), preocupações e noites mal dormidas (Ec 5.12) e a perda desnecessária de
bens (Ec 5.13,14). Enfim, alguém pode ser muito rico, mas, sem Jesus, sem Deus,
ser infeliz.
Outro detalhe é que o
tipo de sentimento que alimentamos em relação aos nossos bens determina o
propósito das nossas ações, o nosso comportamento. Portanto, se alimentamos um
sentimento correto em relação às riquezas, não seremos tão afetados
emocionalmente e muito menos espiritualmente se as perdermos; mas, se
cultivamos um sentimento errado em relação a elas, uma eventual perda
levar-nos-á ao desmoronamento do nosso ser interior, pois nossa alma estava
apoiada em areia movediça.
O sentido e a alegria
de nossas vidas não devem estar fundamentados em bens materiais, mas na solidez
e perfeição dos valores divinos.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 51-53.
Rm 8.14 Os judeus já
se consideravam filhos de Deus por causa da sua herança, mas Paulo explica que agora
esse termo tem um novo significado. Os verdadeiros filhos de Deus são aqueles
que são guiados pelo Espirito de Deus como ficou provado no seu estilo de vida.
Os crentes não têm apenas o Espírito (8.9), eles também são guiados por Ele.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 55.
Rm 8.14 O
“...espírito de adoção...” é outro privilégio daqueles que estão em Cristo
Jesus (w. 14-16).
Todos os que são de
Cristo são assumidos na relação de filhos de Deus (v. 14). Observe: (1) Sua
característica: Eles são “...guiados pelo Espírito de Deus”, como um estudante,
que em sua aprendizagem é guiado por seu professor, como um viajante, que em
sua viagem é orientado por seu guia, como um soldado, que em combate é dirigido
por seu capitão; não são guiados como animais, mas como criaturas racionais,
puxados com as cordas de um homem e os laços do amor. E característica indubitável
de todos os verdadeiros crentes serem guiados pelo Espírito de Deus. Tendo se
submetido pela fé à sua orientação, em sua obediência eles seguem a sua orientação
e são docilmente levados a toda verdade e à total submissão. (2) Os privilégios
que possuem: Eles “...são filhos de Deus”, recebidos no número dos filhos de
Deus por adoção, reconhecidos e amados por Ele como seus filhos.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 353.
Rm 8.14 Paulo quer
que os seus leitores entendam que esta mortificação dos impulsos do nosso corpo
pelo Espírito não leva a uma recaída ao legalismo. Porque todos os que são
guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. A mortificação não é a
base, mas sim o resultado do nosso relacionamento com Deus. A presença do
Espírito nos nossos corações é o resultado de uma mudança nas nossas relações
com Deus, uma mudança na qual Deus tomou a iniciativa. Ele enviou o seu Filho
para que os seus filhos rebeldes pudessem se tornar seus filhos pela adoção. A
mortificação, assim, nos mostra que Deus restabeleceu as relações filiais. Ela
nasce da presença renovada do Espírito Santo dentro dos nossos corações.
Consequentemente, não há lugar para o medo ansioso.
William
M. Greathouse. Comentário Bíblico Beacon.
Romanos. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 121.
Ef 2.19 Os gentios
não são mais estrangeiros nem forasteiros. Estas palavras descrevem pessoas que
vivem em um país que não é o seu, sem qualquer dos direitos de cidadania
daquele país. Os gentios eram “estrangeiros” em relação aos judeus, bem como a
qualquer esperança (sem Cristo) de um relacionamento com Deus (2.12). Esta era
a sua antiga posição. Por causa de Cristo, entretanto, os gentios tornaram-se
cidadãos, com todos aqueles que haviam sido chamados para serem os concidadãos
dos Santos. Os judeus e os gentios que depositam a sua fé em Jesus Cristo como
seu Salvador tornam-se membros da família de Deus.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 328.
Ef 2.19 Neste ponto,
o apóstolo volta a falar sobre o estado dos gentios e repete o linguajar do
versículo 12. Por Cristo, eles não são mais estrangeiros (xenoi) — “visitantes
estrangeiros sem direitos na comunidade” — e forasteiros (paroikoi) —
“residentes estrangeiros com direitos temporários e limitados”. A atual relação
com Deus na qualidade de redimidos do Senhor não é nem um pouquinho inferior aos
judeus. Paulo se serve de três ilustrações para expressar a unidade
extraordinária que prevalece na comunhão dos crentes judeus e gentios.
1. “Concidadãos dos
Santos” (19a)
Nesta metáfora,
retirada da vida citadina, o apóstolo garante aos gentios que “os seus nomes
estão inscritos no mesmo rol cívico com todos a quem ‘o Senhor contará quando
somar as pessoas”’. Antigamente, os judeus eram os santos, cidadãos da cidade
de Deus, e os gentios eram os estrangeiros. A situação não é mais esta. Os
crentes gentios fazem parte do novo Israel (G1 6.16), que é formado por todos
os cristãos. Eles compartilham todos os direitos e privilégios deste novo povo.
2. “Família de Deus”
(19b)
Esta segunda
metáfora, retirada da vida familiar, sugere uma relação mais próxima. Agora, os
gentios são “família de Deus, membros plenos da sua família, na mesma base que
os filhos naturais de Abraão, que entraram na família de Deus pela ‘mesma fé
preciosa’”. A relação com os judeus crentes só pode ser caracterizada por
palavras como “parentes”, “irmãos” e “santos”. De forma milagrosa e graciosa,
os gentios ficaram presos em amor pelos judeus crentes.
Willard
H. Taylor. Comentário Bíblico Beacon.
Efésios. Editora CPAD. Vol. 9. pag. 142-143.
Em primeiro lugar,
ele fala sobre uma nação (2.19a). “Assim, não sois mais estrangeiro, nem
imigrantes; pelo contrário, sois concidadãos dos santos.” Israel era a nação
escolhida de Deus, mas eles rejeitaram seu redentor e sofreram as consequências
disso. O reino foi tirado deles e dado a outra nação (Mt 21.43). Essa outra
nação é a igreja (IPe 2.9). No Antigo Testamento, as nações foram formadas
pelos três filhos de Noé: Sem, Cam e Jafé. No livro de Atos, vemos essas três
famílias unidas em Cristo. Em Atos 8, um descendente de Cam é salvo, o ministro
da fazenda da Etiópia. Em Atos 9, um descendente de Sem é salvo no caminho de
Damasco, Saulo de Tarso, o qual se tornou o apóstolo Paulo. Em Atos 10, um
descendente de Jafé é salvo, Cornélio. O pecado dividiu a humanidade, mas
Cristo faz dela uma nova nação. Todos os crentes das diferentes nacionalidades
formam a nação santa que é a igreja. Francis Foulkes diz que em relação ao povo
da aliança de Deus, os gentios eram xenoi e paraikos, “estrangeiros” e
“imigrantes”, isto é, pessoas que, ainda que vivessem no mesmo país, tinham,
contudo, os mais superficiais direitos de cidadania. Essa era a situação
anterior, mas, de agora em diante, já não o é. Nas palavras do apóstolo, agora são
“concidadãos dos santos”.
Em segundo lugar,
Paulo fala sobre uma família (2.19b). “[...] e membros da família de Deus.”
Pela fé, entramos para a família de Deus, e Deus tornou-se nosso Pai. Essa
família está no céu e também na terra (3.15). Os crentes vivos na terra e os
crentes que dormem em Cristo no céu; não importa a nacionalidade, somos todos
irmãos, membros da mesma família. Não deve haver mais barreira racial,
cultural, linguística nem econômica. Somos um em Cristo. Temos o mesmo
Espírito. Fomos salvos pelo mesmo sangue. Temos o mesmo Pai. Somos herdeiros da
mesma herança. Moraremos juntos no mesmo lar.
LOPES, Hernandes Dias. EFESIOS
Igreja, a noiva gloriosa de Cristo. Editora Hagnos. pag. 67-68.
II - DEUS SÓ FAZ O BEM (Tg 1.16,17)
1. Não erreis (v.16).
Tg 1.16 O perigo por
trás do aviso de Tiago para que não erremos é a tentação de crer que Deus náo
se importa, ou que não nos ajudará, ou até mesmo que possa estar trabalhando
contra nós. A imagem não é agradável. Se chegarmos a crer que estamos sozinhos,
é porque fomos enganados ou erramos. Se perdermos a confiança em Deus, significa
que fomos enganados. Se ousarmos acusar a Deus de ser o tentador, estaremos
terrivelmente enganados.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 667.
Tg 1:16 Não vos
enganeis, meus amados irmãos. Não vos enganeis a respeito do quê? Seria o
parágrafo anterior encerrado por este versículo, e teria relação com alguma
crença segundo a qual a pessoa poderia lançar a culpa sobre Deus, ou abrigar a
concupiscência, ou o pecado, sem que sobreviessem as más consequências? Ou será
que esse versículo se refere ao engano sobre de onde vêm as provações (1:13)?
Ou será que esse versículo é cabeçalho do parágrafo seguinte, referindo-se à
falha em perceber que Deus nos dá o bem e nos traz salvação? Estruturalmente, a
terceira opção é a preferível, porquanto o termo que designa os destinatários da
carta, meus amados irmãos normalmente introduz um novo parágrafo.
Todavia, aqui
funciona como versículo-dobradiça: ser enganado quanto a um daqueles itens é o
mesmo que ser enganado em todos, visto que o parágrafo seguinte é apenas a
negação do parágrafo anterior. Se alguém lançar a culpa em Deus quanto a uma
provação, essa pessoa está imergindo no pecado e negando a bondade de Deus.
Tiago acredita que seus leitores são crentes verdadeiros (irmãos), mas teme que
se desviem da fé, o que fica implícito na exortação não vos enganeis; ele tem
medo de que esses crentes possam cair no erro da dúvida quanto à bondade de
Deus, o que poderia ser fatal à fé.
Peter
H. Davids. Comentário Bíblico
Contemporâneo. Editora Vida. pag. 54.
Tg 1.16 Em síntese
cumpre dizer: não podemos empurrar a culpa para Deus e, dessa forma, justificar
a nós mesmos: “Não vos enganeis, meus amados irmãos”, declara Tiago. Isso quer
dizer: não tirem conclusões falsas por meio de uma lógica aparente (consciente
ou inconsciente). O ser humano que tenta se afirmar contra Deus empenha de
múltiplas maneiras sua capacidade mental para justificar essa atitude errada.
Fritz
Grünzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Tg 1.16. Este
versículo atua como uma transição entre osw. 12-15e 17-18. Atribuir a Deus o
intento maligno de tentar as pessoas é um assunto sério. Tiago quer ter certeza
de que seus leitores não se “enganarão” nesta questão. Longe de atrair para o
pecado, Deus é a fonte de todas as boas dádivas (v. 17), dentre as quais a
maior é o novo nascimento (v. 18).
Simom
J. Kistemaker. Comentário do Novo
Testamento Tiago e Epistola de João. Editora Cultura Cristã. pag. 74.
2. Todo dom e boa
dádiva vêm de Deus.
Deus: a fonte de todo
bem verdadeiro
Por falar em bens, no
versículo 17 do capítulo primeiro, o apóstolo Tiago afirma que a origem de todo
bem está em Deus. Ele declara expressamente que o Pai celestial é a fonte de
todo bem verdadeiro: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo
do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação” (v. 17). E
mais: ao se referir a Deus como o “Pai das luzes”, Tiago está enfatizando que
nEle não há não há dúvida de que muitas das crises espirituais que muitos
cristãos têm vivenciado nos dias de hoje está relacionada ã sua má compreensão
de Deus.
Como pai das luzes”,
Tiago está enfatizando que nEle não há trevas, isto é, não há fingimento,
falsidade, maldade, mentira, erro, imperfeição. E Ele não muda: nEle, “não há
mudança, nem sombra de variação”. Como o próprio Deus afirma através da
instrumentalidade do profeta Malaquias: “Eu, o Senhor, não mudo” (Ml 3.6). Ou
seja, Deus é e continuará sendo a Fonte de todo bem.
O versículo anterior,
o 16, é o que faz a ligação entre o assunto dos versículos 12 a 15 e o assunto
dos versículos 17 e 18. Nele, Tiago diz: “Não vos enganeis, amados irmãos”.
Mas, não vos enganeis em relação a que, especificamente? Nos versículos de 12 a
15, o apóstolo fala sobre a tentação e explica que Deus não tenta a ninguém (v.
13). Portanto, a preocupação de Tiago nessa passagem, ao esclarecer o que Deus
não faz (v. 13) e enfatizar o que Ele é (v. 17), é que os seus leitores tenham
uma compreensão clara de Deus. O seu Senhor não é um tentador, não é alguém que
quer o seu mal; Ele é o Pai das luzes, a Fonte de todo bem.
Não há dúvida de que
muitas das crises espirituais que muitos cristãos têm vivenciado nos dias de
hoje está relacionada à sua má compreensão de Deus. Em meu livro Como vencer a
frustração espiritual (CPAD), escrevi a respeito disso:
“Não tenho a menor
dúvida de que muitas frustrações e neuroses espirituais que vemos hoje, bem
como um nível raso de vida cristã, são, na maioria esmagadora das vezes, fruto
de uma visão distorcida acerca de Deus. O pastor Aiden Wilson Tozer talvez
tenha sido o primeiro a denunciar enfaticamente esse sintoma negativo de nossos
dias — a perda do conceito bíblico de Deus. Em 1961, ele escreveu: ‘O baixo
conceito de Deus mantido quase universalmente entre os cristãos é a causa de
uma centena de males menores em toda parte. Uma filosofia de vida cristã
inteiramente nova resultou desse único erro básico em nosso pensamento
religioso’. Na época, Tozer ainda arremataria uma frase que se tornaria célebre:
‘O que nos vem à mente quando pensamos em Deus é a coisa mais importante a
nosso respeito’ {Mais perto de Deus, A.W.Tozer, Mundo Cristão, 1993)”.
“Muita gente que pensa estar se aproximando de
Deus está, na verdade, se relacionando com uma imagem que criou dEle, uma mera
sugestão mental, em vez de o Deus da Bíblia. Sua relação não é com o Deus vivo
e verdadeiro, mas com uma caricatura do divino, uma fantasia construída pela
sua própria imaginação, uma concepção equivocada de quem é Deus. Essa concepção
pode ter advindo absolutamente de sua própria cabeça (“achismo”) ou ter sido
importada de algum discurso bonito, atraente, mas despido de respaldo bíblico
(o que acontece na maioria dos casos). Afinal, há muita falsa teologia
popularizada por aí”.
“Infelizmente, não é
difícil encontrar pessoas [...] que um dia aceitaram Jesus e suas vidas foram
transformadas, mas estacionaram por aí. Porque não se aprofundaram no
conhecimento acerca do seu Senhor, se tornaram presas fáceis, aceitando
caricaturas de Deus como se fossem versões verdadeiras dEle, e hoje vivem
espiritualmente frustradas e doentes. Houve um encontro seguido de desencontro
e, agora, é preciso um reencontro. O reencontro com o verdadeiro Deus, que as
salvou. E esse reencontro só pode ocorrer através da Palavra de Deus”.
“Só o conhecimento
verdadeiro de Deus tem o poder de curar todas as feridas de nossa alma. Só a
verdade pode libertar (Jo 8.32). [...] O principal objetivo da nossa existência
é conhecer a Deus”.
Sigamos o conselho do
profeta Oseias: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor (...) e ele
descerá sobre nós como a chuva, como a chuva serôdia que rega a terra” (Os
6.3).
A mais importante de
todas as dádivas divinas
No versículo 18, o
apóstolo Tiago destaca a mais importante de todas as dádivas divinas: a
regeneração pela Palavra da Verdade, a Salvação em Cristo, a transformação pela
qual passamos pelo poder do evangelho de Cristo: “Segundo a sua vontade, Ele
nos gerou pela Palavra da Verdade, para que fôssemos como primícias das suas
criaturas”.
O apóstolo Pedro
também menciona essa regeneração pela Palavra em sua primeira epístola: “Sendo
de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela Palavra
de Deus, viva e que permanece para sempre” (1 Pe 1.23). Segundo define o
próprio apóstolo Pedro, regeneração é uma operação divina, com base na
ressurreição de Jesus (1 Pe 1.3), de nos tornar novas criaturas pelo poder da
Palavra de Deus (1 Pe 1.23). Essa ação é operada em nós pelo Espírito Santo (Jo
3.5; Tt 3.5). E Ele quem aplica o poder do Evangelho, o poder regenerador da
Palavra da Verdade, em nossas vidas.
Tiago enfatiza que a
regeneração não pode ser operada pelo homem: ela é “segundo a sua vontade”, ou
seja, segundo a vontade de Deus. E uma ação exclusivamente divina, como o
apóstolo João também destaca na abertura do seu Evangelho (Jo 1.13).
Outro detalhe
importante é que o meio-irmão do Senhor ainda declara que Deus nos gerou pela
Palavra da Verdade “para que fôssemos como primícias das suas criaturas”. Ao
usar o termo “primícias”, o apóstolo está tomando como analogia do propósito da
obra regeneradora de Deus em nossas vidas as primícias do Antigo Testamento,
que nada mais eram do que a colheita dos primeiros frutos, que eram os melhores
(Lv 23.10,11; Ex 23.19; Dt 18.4). Isso significa que, ao chamar os cristãos de
“primícias das suas criaturas”, Tiago estava querendo dizer que o Evangelho de
Cristo não apenas nos transformou, mas também nos deu, devido a essa
transformação, o privilégio de “ocuparmos o primeiro lugar entre todas as suas
criaturas”.4 Esta é uma honra extraordinária!
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 53-56.
Tiago 1:16-18 Mais
uma vez Tiago sublinha a grande verdade de que cada dom que Deus nos concede é
bom. O versículo 17 bem pode traduzir-se assim: "Toda dádiva é boa".
Quer dizer: não há coisa alguma que venha de Deus que não seja boa. No grego há
aqui um estranho fenômeno. A frase que traduzimos "toda boa dádiva e todo
dom perfeito" é, em realidade, um perfeito verso hexâmetro. De maneira que
ou Tiago tinha um ouvido rítmico capaz de captar uma delicada cadência, ou
estava citando aqui alguma obra que nós não conhecemos.
O que Tiago está
destacando nesta passagem é a imutabilidade de Deus. E para fazê-lo emprega
dois termos astronômicos. A palavra que foi traduzida como mudança é parallage;
e a expressão sombra de variação no original é trope. Ambas as palavras têm que
ver com a variação que mostram os corpos celestes, as diferenças na duração do
dia e da noite, as aparentes variações no curso do Sol, as fases crescentes e
minguantes da Lua, os distintos graus de luminosidade tanto nas estrelas como
nos planetas, etc. Variedade e mudança são características de todas as coisas
criadas. Deus é o criador dos luzeiros celestiais: o Sol, a Lua, as estrelas.
Uma oração judia matutina diz: "Bendito Deus, o Senhor, que formou as
luzes." As luzes mudam e variam, mas Aquele que as criou nunca muda. Tudo
o que vem dEle não pode ser outra coisa senão que seja bom.
Além disso, o
propósito divino é completamente benigno. A palavra de verdade é o evangelho; e
Deus, ao enviar este evangelho, tem o propósito de que o homem nasça a uma nova
vida. Quando o evangelho penetra na vida é como se a vida começasse de novo. As
sombras terminam e chegou a fidedigna palavra de verdade.
E este renascer é um
renascer na família e na possessão de Deus. No mundo antigo a lei era que todos
os primeiros frutos fossem consagrados a Deus. Tomavam-se as primícias e as
ofereciam em sacrifício de gratidão a Deus, porque pertenciam Ele. De modo que
quando renascemos pela palavra verdadeira do evangelho, tornamo-nos propriedade
de Deus, assim como o eram os primeiros frutos da colheita.
Desta maneira Tiago
insiste em que as dádivas de Deus longe de jamais tentar o homem, são
invariavelmente boas. Em meio a todas as mudanças de um mundo cambiante, elas
nunca variam. O objeto supremo de Deus é recriar a vida mediante a verdade do
evangelho, para que assim os homens saibam que lhe pertencem por direito.
BARCLAY. William. Comentário Bíblico. TIAGO. pag. 64-65.
A bondade de Deus (Tg
1:17)
Um dos ardis do
inimigo consiste em nos convencer de que o Pai recusa-se a dar coisas que nos
são de direito, que, na verdade, não nos ama nem cuida de nós. Quando Satanás
abordou Eva, insinuou que, se Deus realmente a amasse, teria permitido que ela comesse
da árvore proibida. Ao tentar Jesus, Satanás levantou a questão da fome:
"Se seu Pai o ama, por que você está faminto?"
A bondade de Deus é
uma grande proteção para não cedermos à tentação. Uma vez que Deus é bom, não
precisamos de ninguém mais (inclusive Satanás) para suprir nossas necessidades.
É melhor passar fome dentro da vontade de Deus do que estar saciado fora da
vontade de Deus. Uma vez que começamos a duvidar da bondade de Deus, as ofertas
de Satanás tornam-se atraentes, e os desejos naturais dentro de nós apanham sua
isca. Moisés advertiu o povo de Israel a não se esquecer da bondade de Deus quando
estivessem desfrutando as bênçãos da Terra Prometida (Dt 6:10-15). Precisamos da
mesma advertência hoje.
Tiago apresenta
quatro fatos sobre a bondade de Deus.
Deus nos dá apenas
boas dádivas. Tudo o que há de bom no mundo vem de Deus.
Se não vem de Deus,
não é bom. Se vem de Deus, é necessariamente bom, mesmo que não vejamos de
imediato qualquer bondade nessa dádiva. O espinho na carne de Paulo lhe foi
dado por Deus e lhe pareceu uma dádiva estranha, mas que se tornou uma grande
bênção para ele (2 Co 12:1-10).
O modo de Deus dar é
bom. Podemos traduzir a segunda oração por "e todo ato de dar". É
possível dar algo sem amor. O presente pode perder seu valor de acordo com a
maneira de ser dado. Mas, quando Deus nos dá uma bênção, ele o faz de modo
amoroso e cheio de graça. Tanto aquilo que concede quanto o modo de concedê-lo
são bons.
Ele nos dá
constantemente. O verbo descendo está no gerúndio e indica algo "descendo
continuamente". As dádivas de Deus não são ocasionais; ele as concede constantemente.
Ele as envia mesmo quando não as vemos. Como sabemos disso? É o que ele nos
diz, e cremos em sua Palavra.
Deus não muda. Para o
Pai das luzes, não há sombras. É impossível Deus mudar. Não pode mudar para
pior porque é santo; não pode mudar para melhor porque já é perfeito.
A luz do Sol varia à
medida que a Terra muda de posição, mas o Sol, em si, continua brilhando. Se há
sombras entre nós e o Pai, não são causadas por ele. Ele é o Deus imutável.
Isso significa que
não devemos jamais questionar seu amor nem duvidar de sua bondade, quando vêm as
dificuldades ou surgem as tentações.
Se Davi se houvesse
lembrado da bondade do Senhor, não teria tomado Bate-Seba para si nem cometido
pecados horríveis. Pelo menos foi isso o que o profeta Natã disse ao rei:
"Assim diz o S enhor, Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre Israel e eu te
livrei das mãos de Saul; dei-te a casa de teu Senhor e as mulheres de teu
Senhor em teus braços e também te dei a casa de Israel e de Judá; e, se isto
fora pouco, eu teria acrescentado tais e tais coisas" (2 Sm 12:7, 8). Convém
observar a repetição do verbo dar nessa declaração curta. Deus havia sido bom
para com Davi e, no entanto, Davi havia se esquecido da bondade de Deus e
mordido a isca.
A primeira barreira
contra a tentação é negativa: o julgamento de Deus. A segunda barreira é
positiva: a bondade de Deus. O temor a Deus é uma atitude saudável, mas deve
ser contrabalançado com o amor a Deus. Podemos obedecer por causa da
possibilidade de nos disciplinar ou podemos obedecer porque ele já foi tão
generoso conosco que o amamos por isso.
Foi essa atitude
positiva que ajudou a impedir que José pecasse ao ser tentado pela esposa de
seu senhor (Gn 39:7ss). "Ele, porém, recusou e disse à mulher do seu
senhor:
Tem-me por mordomo o
meu senhor e não sabe do que há em casa, pois tudo o que tem me passou ele às
minhas mãos. Ele não é maior do que eu nesta casa e nenhuma coisa me vedou,
senão a ti, porque és sua mulher; como, pois, cometeria eu tamanha maldade e
pecaria contra Deus?" (Gn 39:8, 9). José sabia que todas essas bênçãos tinham
vindo de Deus. Foi a bondade de Deus, demonstrada pelas mãos do patrão de José
que refrearam José em seu momento de tentação.
As dádivas de Deus
são sempre melhores que as barganhas de Satanás. O inimigo nunca dá coisa
alguma; sempre pagamos caro por aquilo que recebemos dele. "A bênção do
Senhor enriquece, e, com ela, ele não traz desgosto" (Pv 10:22). Acã
esqueceu-se da advertência e da bondade de Deus, viu a riqueza proibida,
cobiçou-a e tomou-a para si. Tornou-se um homem rico, mas a tristeza que sucedeu
transformou sua riqueza em miséria (Js 7).
Quando vierem as
tentações, devemos meditar sobre a bondade de Deus em nossa vida. Se cremos
estar necessitando algo, precisamos esperar pela providência do Senhor.
Não devemos jamais
brincar com as iscas do inimigo. Devemos usar a tentação para aprender a ter
paciência. Em duas ocasiões, Davi foi tentado a matar o rei Saul e adiantar a
própria coroação, mas resistiu à tentação e esperou o tempo de Deus.
WIERSBE.
Warren W. Comentário Bíblico Expositivo.
N.T. Vol. II. Editora Central Gospel. pag. 443-444.
Tg 1.17. Está claro o
sentido geral deste verso: Deus, cujo caráter benevolente é imutável, é a fonte
de tudo quanto é bom. Entretanto, muitos detalhes são obscuros. Primeiro,
existe a questão sobre o motivo de Tiago ter mencionado tanto boa dádiva como
dom perfeito. Tasker afirma que devemos entender “boa” como um adjetivo
predicativo que introduz o contraste entre os dois termos: Toda dádiva é boa,
mas todo dom perfeito vem de Deus. Mas, se este fosse o significado, deveríamos
esperar uma conjunção adversativa, “mas” (alia ou de), entre os dois termos.
Provavelmente não deve ser vista nenhuma diferença de significado entre estas
duas frases; Tiago pode repeti-las visando um efeito estilístico ou pode estar citando
uma fonte desconhecida.
A segunda dificuldade
encontra-se na pontuação do versículo. A ARA, junto com muitas outras versões,
coloca uma vírgula depois de “lá do alto”, tornando a frase participial
“descendo...” uma descrição adicional e independente. Uma certa versão em
inglês (NEB) junta “lá do alto” e “descendo”: “Toda boa dádiva e todo dom
perfeito vêm lá do alto...” É provável que seja melhor a tradução da ARA,
porque a outra deixa a frase preposicional (“do Pai das luzes”)
desajeitadamente pendente.
A descrição de Deus
como o Pai das luzes é única nas Escrituras. É quase certo que luzes deve ser
entendido como os corpos celestes, provavelmente incluindo o sol, a lua e as
estrelas (veja SI 136.7-9; Jr 31.35 [LXX 38.36]). A Bíblia sempre faz menção do
firmamento dos céus como evidência da obra criadora de Deus e de seu contínuo
exercício de poder (veja principalmente Jó 38.4-15,19-21,31-33; SI 136.4-9; Is
40.22,26; e, na literatura judaica, Eclesiástico 43.1-12). A descrição de Deus
como Pai também pode ser uma alusão à obra criadora (cf. Jó 38.28). Assim, a
intenção de Tiago é nos lembrar do poder benevolente de Deus demonstrado em sua
“boa” criação (cf. Gn 1).
Figuras extraídas dos
corpos celestes são levadas adiante, até a última frase do versículo. Aqui, o
texto grego é incerto. A maioria dos manuscritos apresenta dois substantivos no
nominativo, variação (parallagê) e sombra (aposkiasma), separados por um ou (e)
com um substantivo no genitivo, mudança (tropês), ligado a sombra. Se esta
redação for adotada, devemos presumir que o genitivo tropês deve ser analisado
como de origem ou subjetivo. Mas vários e importantes manuscritos antigos fazem
de sombra um genitivo (aposkiasmatos). Se aceitarmos esta alternativa, a
palavra ê deve provavelmente receber uma aspiração áspera, tornando-se um
pronome relativo ligado a parallagê. A frase, então, seria traduzida assim:
“...variação que pertence à mudança da sombra”.2 Nenhuma das redações faz um
sentido excepcional, mas a primeira, tendo largo apoio, provavelmente deva ser
aceita. O fato de que duas palavras usadas nesta frase (tropê e parallagê) são
frequentemente utilizadas com um sentido astronômico, ao lado da referência às
“luzes” na frase anterior, torna provável que esteja em mente algum tipo de
fenômeno astronômico. Variação sugere naturalmente os movimentos periódicos dos
corpos celestes, mas não está claro se “sombra de mudança” se refere às fases
da lua, à sombra projetada por um eclipse ou à constante alternância de noites
e dias. Mas a linguagem de Tiago não é exclusivamente técnica, e podemos
suspeitar que seu objetivo não vai além de uma referência geral às constantes
mudanças observadas na criação. A mutabilidade da criação era frequentemente
utilizada para enfatizar, por comparação, a natureza imutável de Deus, o
Criador (c/. Filo, Interpretação Alegórica, 2.33: “Todas as coisas criadas
precisam necessariamente sofrer mudanças, pois isto faz parte de suas
características, assim como a imutabilidade é a característica de Deus”).
Douglas J. Moo. Tiago. Introdução
e Comentário. Editora
Vida Nova. pag. 74-76.
3. A origem de tudo o
que é bom está no Pai das Luzes.
Lc 11.11-13 Jesus
explicou que os seus seguidores podem confiar que Deus atenderá as suas orações.
Se nem os seres humanos que são maus pensam em dar a uma criança uma serpente em
lugar de um peixe, ou um escorpião em lugar de um ovo, então quanto mais um
Deus santo irá reconhecer e atender os pedidos dos cristãos? Com estas
palavras, Jesus revelou o coração de Deus Pai. Deus não é egoísta, invejoso ou
mesquinho; seus seguidores não precisam implorar nem humilhar-se quando vêm com
seus pedidos. Ele é um Pai amoroso que entende, cuida, conforta e
voluntariamente dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem. Como o Espírito
Santo é a maior dádiva de Deus e Ele não se recusará a dá-la a quem a pedir, os
crentes também podem contar com a provisão de Deus para todas as suas
necessidades menores. Como o Pai celestial e perfeito trata bem os seus filhos!
O presente mais importante que Ele poderia dar é o Espírito Santo (At 2.1-4),
que Ele prometeu dar a todos os crentes depois da sua morte, ressurreição, e
volta para o céu (Jo 15.26).
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 399.
Uma aplicação disto
às bênçãos do nosso Pai celestial (v. 13): “Se vós, sendo maus, dão, e sabem
como dar, boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o
Espírito”. Ele dará coisas boas. Assim está em Mateus. Observe:
(1) A instrução que o
Senhor nos dá quanto ao que devemos pedir em oração. Devemos pedir o Espírito Santo,
não só o necessário para que oremos bem, mas como inclusivo em todas as coisas
boas pelas quais devemos orar; não precisamos mais tentar ser felizes por meio
de nossos próprios esforços, porque o Espírito é aquele que opera em nossa vida
espiritual, e Ele é o penhor da vida eterna. Note que o dom do Espírito Santo é
um dom pelo qual cada um de nós deve orar sincera e constantemente.
(2) O encorajamento
que Ele nos dá para esperarmos ser atendidos nesta oração: Dará o Pai
celestial. É no seu poder que é dado o Espírito; Ele tem todas as coisas boas
para conceder, envoltas nesta concessão do Espírito. Mas isto não é tudo; esta
é a sua promessa, o dom do Espírito Santo faz parte da aliança, Atos 2.33,38, e
está aqui inferido na presteza dos pais em suprir as necessidades de seus
filhos, e em satisfazer os seus desejos, quando eles são naturais e' próprios.
Se um filho pedir uma serpente, ou um escorpião, o pai, por bondade, lhe
negará. Mas não acontecerá o mesmo se ele pedir o que for necessário;
aí sim, lhe será concedido. Quando os filhos de Deus pedem o Espírito, eles na
verdade pedem pão; porque o Espírito é o sustentáculo da vida; Ele é o Autor da
vida da alma. Se nossos pais terrenos, embora maus, são tão bons para nós, se
eles, embora fracos, são tão inteligentes, que não só dão, mas dão com
discrição, dão o que é melhor, da melhor maneira e no melhor tempo, muito mais
o nosso Pai celestial, que excede infinitamente os pais da nossa carne tanto em
sabedoria quanto em bondade, nos dá seu Espírito Santo. Se os pais terrenos desejam
investir na educação de seus filhos, a quem eles planejam deixar seus bens,
muito mais nosso Pai celestial dará o Espírito Santo a seus filhos, a todos
aqueles a quem Ele predestinou para a herança de filhos.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 610-611.
Lc 11.11-13 Jesus
fundamenta com acontecimentos práticos do dia-a-dia o fato básico de que a
pessoa que pede recebe, a que procura acha, e à que bate a porta será aberta;
em outras palavras, quem ora com seriedade tem suas orações atendidas.
Se aqui na terra o
pedido dos filhos já exerce grande poder sobre os pais, a oração dos filhos de
Deus move o coração do Pai no céu com muito mais intensidade. Nenhum pai
terreno dá ao filho uma serpente em lugar do peixe e um escorpião em lugar do
ovo (as palavras “quando o filho pede ao
pai um pão este lhe
dá uma pedra” faltam nos manuscritos mais antigos - aparecem somente nos manuscritos
da Koiné). O verdadeiro pai não dá ao filho nada que não seja comestível, nada
nocivo ou até mesmo assustador.
Um ser humano, que
talvez pode ser duro e severo contra um semelhante, não renegará seu filho, sua
carne e seu sangue. Infinitamente menor é a possibilidade de Deus renegar seus
filhos. Sua bondade ultrapassa qualquer capacidade e compreensão humanas. Se os
humanos, que por natureza são maus, concedem boas dádivas a seus filhos quando
estes lhes pedem, o Pai no céu fará isso de modo muito mais radical.
Conseqüentemente, o
desfecho dessa seção acerca da instrução para a oração certa leva de volta ao
ponto de partida, ao título “Pai”, dado a Deus e que pressupõe a relação
filial. À primeira vista, os dois mantimentos citados por Jesus parecem
escolhidos ao acaso. No entanto, Bovet observa que peixes assados e ovos
cozidos constituem justamente os ingredientes comuns do almoço de um viajante
no oriente. Mateus não menciona o “ovo”, mas Lucas com certeza não o
acrescentou por conta própria. Saltam aos olhos as correlações exteriores entre
peixe e serpente, ovo e escorpião. Tudo nos discursos instrutivos de Jesus é
tangível, certeiro, perfeito até nos mínimos detalhes.
No entanto, ainda que
frequentemente pareça que Deus não ouve nossas orações, apesar disso devemos
persistir fielmente na oração. O Pai no céu, que é bom, nem sempre cumpre o que
desejamos, porém sempre cumpre aquilo que resulta em nosso bem maior, como
peixe e ovo. Aqui o exemplo de Agostinho poderá servir como lição excelente para
nós. Ele relata que sua mãe Mônica pediu a Deus que impedisse que o filho se
mudasse para Roma, a tentadora metrópole. Apesar disso Agostinho se mudou para
lá, e dessa maneira encontrou a Cristo.
Pelo fato de Jesus
dirigir essas palavras sobre a oração a seus discípulos, não somente seus
adversários, mas todos os seres humanos são chamados de “maus”. Somos maus
desde a juventude (cf. Jó 15.14-16; Mt 19.27), ao contrário de Deus, o único
que é bom. Ele, o Deus exclusivamente bom, concede o Espírito Santo a quem
pede, não como escreve Mateus: “Deus concede boas dádivas”. O Espírito Santo é
a dádiva suprema. Não é dito “o Pai no céu”, mas que “o Pai a partir do céu”
concede. O céu é o ponto de origem ou a pátria do Espírito Santo. É
significativo que, em sua exortação para orar com verdadeira seriedade e
persistência, o Senhor por fim cite somente o “Espírito Santo” como objeto da
oração.
Mas, ao sintetizar
tudo no fim dessa instrução na oração pelo Espírito Santo, o Senhor ao mesmo
tempo dá a entender para quais orações podemos esperar atendimento
incondicional e quais só podem ser atendidas de forma condicional. A oração por
dons espirituais sempre é atendida, o desejo por determinadas bênçãos temporais
somente se de fato for um peixe, e não uma serpente (serpentes e escorpiões são
os símbolos mais precípuos do deserto e da aridez, que ferem e não curam nem
beneficiam!).
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica
Esperança.
III - PRIMÍCIAS DE DEUS ENTRE AS CRIATURAS (Tg 1.18)
1. Algo que somente
Deus faz.
Is 1.18 Vinde, pois,
e arrazoemos, diz o Senhor. Este é um dos mais citados versículos de Isaías, o
clamor apaixonado de reforma no qual Yahweh deixou de lado, por um minuto, Suas
terríveis ameaças e convidou homens humildes a raciocinar com Ele. A ideia do
versículo é a correção através de um discussão arrazoada na qual a verdadeira
natureza das coisas é exposta, e o desejo pela mudança é instilado.
Elementos do
Versículo:
1. A condescendência
divina. Deus, embora poderoso para julgar, prefere elevar os homens de seus
pecados e abençoar, em vez de julgar.
2. O raciocínio
substitui as ameaças.
3. Os pecados são
vis, profundos e malignos, o que é indicado pela palavra escarlate, uma tintura
de cor vermelha usada para tingir tecidos. A cor vermelha subentende pecados de
sangue (pecados verdadeiramente terríveis, vs. 15). E a ideia de tintura
implica algo penetrante na própria alma dos homens iníquos, algo que não é
fácil de sair.
"... carmesim
escuro, cor da mancha de sangue" (Ellicott, in loc).
4. A neve,
ocasionalmente, é verdadeiramente branca, sendo composta de cristais de água,
pura e incontaminada. Os cristais de neve substituem o tecido tinto de
vermelho. Está em foco uma reforma total, uma purificação completa, uma mudança
radical.
5. O tecido que fora
tingido de vermelho tomar-se-ia branco como a lã, que prove uma nova veste, de
cor inteiramente diferente.
6. O pecado tinha de
ser reconhecido e abandonado. Sem isso, não haveria mudança permanente. Sem
essa mudança não haveria redenção das ameaças de destruição.
7. O sangue do
Cordeiro pode tingir de branco, um paradoxo divino (ver Apo. 3.4,5; 7.14).
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2791.
Is 1.18 Uma demonstração,
no tribunal da razão, da equidade das atitudes de Deus para com eles: “Vinde,
então, e argui-me” (v. 18). Enquanto suas mãos estiverem cheias de sangue, Eu
não terei nada que ver com vocês, ainda que vocês me tragam uma enorme
quantidade de sacrifícios; mas se vocês se lavarem e se purificarem, serão
bem-vindos para se aproximarem de mim; venham agora, e vamos conversar sobre o
assunto. Observe que aqueles, e somente aqueles, que rompem a sua lealdade ao
pecado, serão bem-vindos ao concerto e à comunhão com Deus. Aquele que antes
lhes proibia o acesso aos Seus átrios, agora diz, “Vinde”. Veja Tiago 4.8. Ou
melhor, havia aqueles, entre eles, que se consideravam como afrontados pelo
desprezo que Deus dedicava à quantidade de seus sacrifícios, como em Isa- ías
58.3: “Por que jejuamos nós (dizem eles), e tu não atentas para isso?” Eles
descreviam a Deus como um Mestre duro, a quem era impossível agradar. Venham,
diz Deus, vamos discutir o assunto, e Eu não duvido que veremos que os meus
caminhos são direitos, e os de vocês são torcidos (Ez 18.25). Observe que a
genuína religião de Deus tem a razão do seu lado. Existem todas as razões do
mundo pelas quais nós devemos fazer aquilo que Deus deseja que façamos. O Deus
do céu condescendeu em examinar o caso com aqueles que o contradiziam e
encontravam problemas nas Suas atitudes; pois Ele será justificado quando falar
(SI 51.4). O caso precisa somente ser declarado (como o é aqui, de maneira
muito justa) e se decidirá por si mesmo. Aqui
Deus mostra em que
termos eles estavam (como faz em Ezequiel 18.21-24; 33.18,19) e então deixa que
eles julguem se esses termos são justos e razoáveis.
1. Eles não podiam,
com razão, esperar nada menos do que, caso se arrependessem e se modificassem,
serem restaurados à benevolência de Deus, apesar das suas provocações
anteriores. Isso vocês podem esperar, diz Deus, e é muito bondoso; quem poderia
ter a coragem de desejar isso em quaisquer outros termos? (1) E muito pouco o
que é exigido - somente que estejam dispostos e que sejam obedientes, que
consintam em obedecer (assim alguns interpretam), que submetam as suas vontades
à vontade de Deus, aquiescendo nisso, e entregando-se, em todas as coisas, para
serem governados por Aquele que é infinitamente sábio e bom. Aqui não há penalidade
imposta pela sua teimosia anterior, nem o jugo é tornado mais pesado, nem
apertado mais fortemente aos seus pescoços. Somente lhes é dito: Se até então
vocês foram perversos e obstinados, e não desejaram estar de acordo com o que
era para o seu próprio bem, sejam tratáveis, sejam governáveis a partir de
agora. Ele não diz: Se vocês forem completamente obedientes, mas se estiverem
dispostos a sê-lo; pois, se houver um espírito disposto, será aceito. (2) Que
aquilo que é prometido é muito grande. [1] Que todos os seus pecados lhes
seriam perdoados, e não seriam mencionados contra eles. Embora sejam tão
vermelhos como a escarlata e o carmesim, embora vocês estejam sob a culpa do
sangue, ainda assim, com o seu arrependimento, mesmo isso lhes será perdoado, e
vocês parecerão, aos olhos de Deus, tão brancos como a neve. Observe que os
maiores pecadores, se verdadeiramente se arrependerem, terão seus pecados
perdoados, e assim terão suas consciências pacificadas e purificadas. Embora os
nossos pecados tenham sido como a escarlata e o carmesim, como uma tintura
profunda, uma tintura dupla, primeiro na lã da corrupção inicial e depois nos
muitos fios da transgressão atual - embora tenhamos sido mergulhados frequentemente,
por nossos muitos retrocessos, no pecado, e embora tenhamos estado por muito
tempo mergulhados nele, assim como o tecido na tinta vermelha - ainda assim a
misericórdia que perdoa irá limpar a mancha completamente, e, sendo por ela
purificados com hissopo, ficaremos puros (SI 51.7). Se nos purificarmos pelo
arrependimento e pela conversão pessoal (v. 16), Deus nos tornará brancos, por
meio de uma completa remissão. [2] Que eles teriam toda a felicidade e todo o
consolo que poderiam desejar. Sejam apenas dispostos e obedientes, e comerão os
frutos desta terra, a terra da promessa; vocês terão todas as bênçãos do novo
concerto, da Canaã celestial, todo o bem da terra. Aqueles que perseveram no
pecado, ainda que possam habitar em uma boa terra, não podem, com algum
conforto, comer do bem dela. A culpa deixa tudo amargo; mas, se o pecado for
perdoado, os confortos das criaturas se tornam confortos realmente.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo
Testamento Isaías a Malaquias. Editora CPAD. pag. 8.
Is 1. 18 Agora o
SENHOR resume as suas palavras que começaram no versículo 10. “Vinde, então, e
argui-me” é um termo legal que faz parte da cena de um tribunal. Ele pode
significar o seguinte: “Vamos cessar os argumentos; vamos fazer algo a respeito
disto”. Deus está tomando a iniciativa. Os pecados deles são realmente “como a
escarlata” — o tipo de tom mais profundo do vermelho — numa referência que apontava
de volta para as mãos sangrentas do versículo 15. Ê pressuposto que se eles
admitirem isto, ou confessarem, eles ficarão tão brancos quanto o branco mais
claro, mais alvos do que a neve ou a lã, um branco que é branco por sua
natureza, indicando que a própria natureza deles seria mudada pela graça de
Deus. Esta exortação continua nos versículos seguintes.
HORTON. Staleym. M. Serie Comentário Bíblico Isaias. Editora CPAD. pag.
61.
Jo 14.23 Com efeito,
a resposta de Jesus reafirmou a Judas e aos discípulos que nem Ele nem o Pai os
abandonariam. A princípio, deve ter parecido aos discípulos que eles não possuíam
qualquer vantagem sobre todas as demais pessoas - Jesus morreria e os deixaria.
Ao responder a pergunta de Pedro no capítulo anterior, Jesus havia explicado
que, como em oposição aos líderes judeus que foram informados que não poderiam
ir aonde Jesus estava indo, os discípulos seriam capazes de estar com Jesus,
mas isto ocorreria mais tarde (veja 7.32-34; 13.36). Aqui Jesus ofereceu o
maior de todos os confortos - para estes discípulos, não haveria realmente
qualquer separação dele. Pelo fato de Jesus voltar para o Pai, o Espírito Santo
se tornaria disponível, permitindo a cada crente um acesso constante ao Pai e
ao Filho. Uma bênção está reservada para aqueles que amam Jesus: o Filho e o
Pai vêm a ele, e fazem nele morada.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 573.
Jo 14.23 A última
declaração de Jesus provocou Judas que perguntou: Senhor, de onde vem que te
hás de manifestar a nós e não ao mundo? (22) Em resposta, Jesus reiterou o que
acabara de dizer. O amor não pode ser separado da obediência. Se alguém me ama,
guardará a minha palavra (23). E neste relacionamento ativo que ocorre a
manifestação do Filho. “O poder de receber uma Revelação divina depende da
obediência ativa, que se baseia no amor pessoal”. Judas tinha evidentemente
esperado que Jesus fosse de alguma maneira manifestar-se abertamente, para que
todos os homens pudessem vê- lo. Mas a resposta é que “todo o poder da
divindade está presente na vida e no testemunho do crente” — e viremos para ele
e faremos nele morada (23; cf. 17.21). A manifestação do Espírito ocorre
através daqueles que nele crêem, que o amam e lhe obedecem. A oração e viremos,
por causa do pronome nós, “sugere necessariamente a reivindicação da divindade
por parte de Cristo”. A frase faremos nele morada precisa ser entendida à luz
de 14.2, pois a mesma palavra grega (mone) é usada em ambos os versículos — ali
moradas, aqui morada. Hoskyns comenta: “O santuário e lar de Deus, que está no
céu, e que estava revelado apenas de forma incompleta no Templo em Jerusalém,
descerá sobre cada cristão que mantiver a sua fé”.
Joseph
H. Mayfield. Comentário Bíblico Beacon.
João. Editora CPAD. Vol. 7. pag. 125.
Jo 14.23 A resposta
de Jesus de forma alguma parece ser realmente correspondente a essa pergunta.
―Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o
amará, e viremos para ele e faremos nele morada.‖ Já nos deparamos com um modo
desses de ―responder‖ também em Jo 12.34-36. Não era o momento de abordar mais
de perto a pergunta, porque naquele momento havia necessidade de algo bem
diferente. Também agora, é essa a situação. Jesus ainda falará exaustivamente a
respeito do envio dos discípulos ao mundo. Porém somente poderão cumprir esse
envio como ―testemunhas‖ se eles próprios estiverem em ordem, se sua própria
vida for uma vida repleta de Jesus. Por isso, Judas, ouça o que Jesus tem a
dizer sobre a vida pessoal do discípulo! Dirija o olhar para a coisa grandiosa
que Jesus está mostrando a você e aos outros discípulos. Somente desse modo se
tornará uma ―testemunha‖ da nova vida que lhe cabe levar ao ser humano que vive
na morte. Jesus reitera sua promessa, conferindo-lhe a expressão máxima que se
pode encontrar. O discípulo torna-se ―morada‖ do Deus vivo! Isso transforma o
que foi prometido nos v. 8-10 em realidade plena. Vimos que Deus não é um
―objeto‖, algo que possa ser ―mostrado‖. Apenas
quem ―vem ao Pai‖
pode realmente encontrar a realidade do Pai. ―Reconhecer‖ e ―ver‖ depende de
uma maneira radical de ―ser‖. Esse novo ser é presenteado completamente quando
não mais apenas a pessoa vem a Deus, mas quando Deus agora ―vem‖ ao ser humano
―e faz nele morada‖. E isso não é prerrogativa de um determinado círculo de
pessoas eleitas. ―Se alguém me ama‖ é a frase que abre para cada pessoa essa
inaudita possibilidade de ser tornar morada do Deus trino. A condição prévia
para isso, porém, é imprescindível e está fundamentada no cerne da questão.
Esse ―alguém‖ tem de amar a Jesus. Trata-se, no caso, de ―amor‖ verdadeiro, que
se acende no amor redentor de Jesus por nós e que enche nosso coração. Ele é
tão decisivo que o Ressuscitado pergunta a Pedro unicamente por esse amor antes
de lhe confiar novamente o serviço (Jo 21.15-17). ―Amor‖ nunca é frio e sem
sentimentos, mas não deve se esgotar em meros sentimentos. O amor genuíno se
expressa claramente em guardar a palavra de Jesus. Quem ama o Filho e guarda a
palavra do Filho, está no amor do Pai. E esse amor busca toda a proximidade e
ligação com aquele que ele ama, levando ao ―vir e fazer morada‖.
Werner de Boor. Comentário Esperança Evangelho de João. Editora Evangélica
Esperança.
2. A Palavra da
verdade.
Tg 1.21 Devemos
rejeitar toda imundícia e acúmulo de malícia. Segundo o texto grego, esta é uma
ação definitiva. Por que devemos fazer isto? O progresso na nossa vida
espiritual não pode ocorrer a menos que vejamos o pecado como ele é, deixemos
de justificá-lo, e decidamos rejeitá-lo. A imagem das palavras de Tiago aqui
nos apresenta livrando-nos dos nossos maus hábitos e atos como quem se despe de
roupas sujas. Depois de “nos livrarmos”, precisamos receber com mansidão a
palavra de Deus, procurando viver de acordo com ela, porque ela foi enxertada
em nossos corações e se torna parte do nosso ser. Deus nos ensina desde as
profundezas das nossas almas, com o ensino do Espírito e com o ensino de
pessoas orientadas pelo Espírito. O solo no qual a palavra é plantada deve ser
acolhedor, para que ela possa crescer. Para tornar o nosso solo acolhedor,
precisamos desistir de quaisquer impurezas nas nossas vidas. A Palavra de Deus
torna-se uma parte permanente de nosso ser, orientando-nos todos os dias. A palavra
implantada é suficientemente forte para poder salvar a nossa alma. Quando absorvemos
as características ensinadas na Palavra, estas se expressam no nosso modo de viver.
As provações e as tentações não podem nos derrotar se estivermos aplicando a
verdade de Deus às nossas vidas.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 668.
Tg 1.21 – “Por isso,
despojai-vos de toda impureza e acúmulo de maldade”: precisamos permitir que
“passo a passo” nos seja tirada publicamente a velha natureza e dada a nova.
Unicamente na proporção em que estivermos dispostos a abrir mão do antigo, o
novo terá espaço. Somente na medida em que os “brotos selvagens” são tirados,
terão espaço os “ramos nobres”. Também o acúmulo de conhecimento por meio da
palavra de Deus está relacionado à disposição de obedecer, assim como
inversamente a falta de capacidade de entendimento está ligada à falta de
obediência (Jo 7.17; Ef 4.18). Hoje (como em certa medida também já em épocas
passadas) várias coisas podem se opor à palavra de Deus nas pessoas, como
“tampões de ouvidos”: vínculos com o ocultismo, indisciplina sexual,
endeusamento das riquezas. Tudo o que podemos fazer é rogar que também hoje
sejam abertos os ouvidos e o coração de muitos (At 16.14). – Os citados
empecilhos também podem reaparecer ou surgir pela primeira vez em pessoas há
muito chamadas por Deus, impedindo que a nova vida chegue ao devido avanço,
fortalecimento e amadurecimento. Por isso também há espaço no seio da igreja,
como outrora nos dias de Tiago, para a exortação: “Despi-vos de toda sujeira, e
do mal de todo tipo.” “Desmascara tudo e consome o que não for puro em tua luz”
(G. Tersteegen).
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Tg 1.21. Em geral,
este versículo é considerado juntamente com os w. 19-20. Mas, apesar de haver
uma ligação óbvia com o que vem antes dele, por causa da conjunção Portanto,
ele tem uma relação mais íntima com os versículos seguintes, através do tópico
da palavra. Além disso, o Portanto (idio) pode atuar como um elo entre a discussão
nos w. 21ss. e o v. 18, em vez de fazer uma ligação com os w. 19-20. Isto pode
ser sugerido a partir do fato de que 1 Pedro 1.23-2.2 demonstra um padrão
notavelmente semelhante a Tiago 1.18,21: o novo nascimento através da palavra
de Deus é seguido pela ordem (introduzida com dio) para que nos despojemos do
comportamento maligno e abracemos a Palavra de Deus.1 É improvável que Pedro
tenha se baseado em Tiago ou vice-versa. Mas é possível que os dois autores
estejam utilizando uma ordem sermônica comum no cristianismo primitivo, na qual
um lembrete do nascimento espiritual concedido graciosamente pelo Senhor a seu
povo, através da Palavra de Deus, era seguido por exortações para que eles
evitassem o tipo de comportamento associado com a vida antiga e começassem a
viver pelo padrão da Palavra de Deus que os havia salvado.
O uso que Tiago faz
da expressão despojando-vos (apotithemai) também apoia a ideia de que ele
estava empregando uma tradição comum. Este verbo, geralmente usado em relação
ao ato de tirar as vestes (cf. At 7.58), é amplamente aplicado no Novo
Testamento em referência ao “despir-se” dos padrões de comportamentos antigos e
pré-cristãos (cf. Rm 13.12; Ef 4.22, 25; Cl 3.8; Hb 12.1; 1 Pe 2.1). Aquilo de
que devemos nos despojar é toda impureza e acúmulo de maldade. A palavra
impureza (ARC “imundícia”; gr. rhyparia) aparece somente aqui no grego bíblico,
mas seu adjetivo, “sujo”, é usado em 2.2 (BJ) para descrever as roupas de um
homem pobre, e em Zacarias 3.3-4, referindo-se às vestes que o sumo-sacerdote
Josué tem de tirar, antes de receber os “finos trajes” das mãos do anjo do
Senhor. Assim, esta palavra mantém a figura das vestes sugerida por “despojar”.
Acúmulo de maldade é a tradução de uma palavra (perisseia) que significa
“excesso” ou “abundância”. Tasker afirma que ela possui aqui o mesmo
significado da palavra perisse uma, tendo o sentido de “o restante da maldade”.
Mas em Romanos 5.17 e 2 Coríntios 8.2, a palavra parece significar apenas
“abundância”, e então é preferível pensar que a palavra é acrescentada para
acentuar a variedade e o predomínio do pecado contra o qual os cristãos devem
lutar.
O “despojar-se” da
impureza deve ser acompanhado pelo “recebimento” de alguma outra coisa: a
palavra em vós implantada. Hort afirma que a palavra traduzida como
“implantada” (emphytos) significa “inata” (como em Sabedoria 12.10, a única
outra ocorrência da palavra no grego “bíblico”) e que Tiago estava se referindo
à capacidade natural, “inata”, que o homem tem de receber a revelação de Deus —
“a capacidade original envolvida na Criação à imagem de Deus, que torna
possível ao homem apreender a revelação”. Mas este conceito, além de ter um
apoio bíblico duvidoso, é muito geral para o contexto, onde “palavra” é
descrita como possuindo poder para salvar (v. 21) e gerar de novo (v. 18).
Então, ao contrário, estas referências indicam claramente que a “palavra
implantada” deve ser um retrato da Palavra de Deus proclamada e não uma
qualidade inata no homem.
Neste caso, emphytos
poderia se referir a alguma coisa que se tomou implantada.1 Este notável
conceito da Palavra pode estar baseado na famosa profecia da “nova aliança” em
Jeremias, onde Deus promete: “Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também
no coração lhas inscreverei” (Jr 31.33; e cf também a referência à “lei da
liberdade” em 1.25 e a parte na Introdução sobre “A lei”, pp. 48-49). O que
Tiago afirma, ao descrever a Palavra deste modo, é que o cristão não deve
pensar que está tudo terminado depois que a Palavra de Deus o salva. A Palavra
torna-se uma parte permanente, inseparável do cristão, uma presença dominadora
e orientadora dentro dele. Assim, a ordem para que “acolham” a palavra em vós
implantada não é no sentido de que se convertam (este é o significado de
“receber a palavra” em outro lugar do Novo Testamento), mas de que aceitem seus
preceitos como obrigatórios, procurando viver por eles. Os cristãos que
verdadeiramente foram “gerados” (v. 18) demonstram que a Palavra os
transformou, quando eles humildemente a aceitaram como autoridade e diretriz
para a vida. Ou, usando a figura utilizada pelo Senhor para explicar o mesmo
assunto: o crente deve preparar uma “boa terra” em seu coração, a fim de que a
“semente” da Palavra ali plantada possa produzir muito fruto (cf. Mc 4.3-20).
Tiago fala do ato de “salvar as vossas almas” como sendo este fruto. Em
concordância com o uso feito no Antigo Testamento, “alma” aqui significa
simplesmente “pessoa”, e a salvação é considerada em aspectos futuros: “acolher
a palavra” conduz ao livramento no dia do julgamento.
Peter
H. Davids. Comentário Bíblico
Contemporâneo. Editora Vida. pag. 79-81.
3. O propósito de
Deus.
Tg 1.18 Quando o
autor menciona nos, a quem ele se refere: aos leitores em geral ou aos
cristãos? Os comentaristas têm pontos de vista divergentes. A verdade é
significativa em qualquer um dos casos. Se entendermos nos como que
significando homens criados à imagem de Deus, o significado é claro. Deus nos
fez da maneira que somos — segundo a sua vontade. A razão para nossa liberdade,
provas, perplexidades e problemas morais envolvendo escolha é que deveríamos
ser semelhantes a Ele — como primícias das suas criaturas. Ele nos criou com
liberdade para escolher o mal ou com liberdade para escolher o bem para que
fôssemos em certo sentido os criadores do nosso próprio espírito, a glória
coroada da sua palavra criativa (cf. Hb 11.3).
Podemos, no entanto,
com sólidas evidências exegéticas entender nos como que referindo-se à Igreja
cristã. Robertson coloca o seguinte título para esse versículo: “O Novo Nascimento”.
Deus, que é nosso Pai por meio da criação, é também nosso Pai por meio da
redenção. Homens redimidos do pecado são a glória coroada dos propósitos de
Deus para a vida humana — “os primeiros espécimes da sua nova criação”
(Phillips). A palavra da verdade é a verdade do evangelho. Knowling vai mais
adiante e afirma: “Não podemos esquecer que o nosso Senhor (Jo 17.17-19) fala
da ‘palavra’ que é verdade, por meio da qual os discípulos devem ser
santificados”.14 O propósito final de Deus é conduzir-nos à vitória por meio
dos nossos testes para tornar-nos semelhante a Ele em santidade e amor.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 160-161.
Tg 1.18 ·...primícias...»
Um filho primogênito tinha privilégios superiores: tinha o lugar de precedência
na família, exercia autoridade sobre seus irmãos mais novos, recebia uma bênção
especial de seu pai, recebia a autoridade paterna, recebia dupla porção na
herança, era tratado especialmente por seus pais, para que não fosse alienado
(ver Deut. ׳ 21:15,16 ). Em sentido espiritual. Cristo é o primogênito acima de
todos. Nele, os crentes chegam a participar de seus poderes e privilégios
espirituais. Porém, na qualidade de primogênitos, eles também são ·primícias.
São a melhor porção da colheita, dedicada a Deus, como o eram as primícias no
antigo Israel. Deus era honrado com o oferecimento de suas vidas; a oferta dos
primogênitos consagrou a humanidade inteira, mostrando que todos os homens, se
o quiserem, podem participar de idênticos benefícios (ver Rom. 11:16). (Ver
também Apo. 14:4. onde a igreja é chamada de primícias.). Em I Cor. 15:20.23 o
próprio Cristo recebe esse titulo, o que indica que ele ocupa o primeiro lugar
em uma imensa companhia, que será levada ã vida eterna e ã ressurreição. (Ver
Jer. 2:3; Filo. de Const. Princ.. 6. quanto ao simbolismo usado acerca do povo de
Israel. Com parar também com II Tcs. 2:13. onde o termo é usado relativamente
aos crentes).
...das suas
criaturas... Deus possui uma vasta criação: e todos os seres inteligentes da
mesma são passíveis de redenção: e esse c o plano divino relativo a eles. Ele
mostra 0 que pode fazer pelos mesmos, através do que tem feito à igreja. A
igreja, pois. é o modelo da redenção divina. Esse mesmo pensamento geral está
contido em Efé. 3:10. onde se vê que a igreja instrui à hierarquia angelical acerca
de como a vontade de Deus e que a redenção opere no mundo. Do mesmo modo que
ele reconciliou a igreja a Cristo, assim também reconciliará todas as coisas
consigo mesmo. (Ver Efé. 1:10.19 ss.). Cristo, pois, tornar-se-á centro e
cabeça de tudo para todos (ver Efé. 1:23). Um numero excessivo de cristãos
limita essa ação universal de Deus na redenção. Finalmente, todos serão
afetados, embora nem todos os homens venham a participar da mesma vida eterna
dos eleitos. Cristo faz uma diferença universal, tendente ao aprimoramento. Mas
inclinamo-nos por subestimar o seu poder, bem como o vastíssimo alcance de sua
graça. O evangelho não pode ser o fracasso em que muitos o transformam.
Na antiga nação de
Israel, as «primícias» de todas as coisas vivas, homens, gado, cereal, etc..
eram consagradas ao Senhor. Essa consagração de tudo santificava a nação
inteira, tornando-a apta para ser usada por Deus (ver Rom. 11:16). Assim
também, no plano espiritual, o fato que Deus separou as ·primícias mostra-nos
que, eventualmente, tudo se beneficiará da expiação c da vida ressurreta de
Cristo. O produto da terra era de tipo mui diversos, como a cevada, 0 trigo, o
vinho, o azeite, o mel. as novas árvores frutíferas—todo o produto da terra
(ver Lev. 23:10-14; Exo. 23:16; 23:16,17; Deut. 18:4: Lev. 19:23,24 e Deut.
26:2). Mediante o uso desses itens, os sacerdotes viviam. No terreno
espiritual, as coisas (ou seres) de muitas espécies e gradações, se beneficiam
daquilo que Cristo realizou, e tudo eventualmente, será consagrado a Deus,
embora com níveis diversos de bem-estar e de glória. Toda a criação, por fim.
participará, de algum modo. na glorificação dos filhos de Deus. (Ver Rom.
8:20,21).
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 27.
Tg 1.18 Que efeito e
finalidade tem essa palavra? “Para que fôssemos como que oferta de primícias
das suas criaturas.” Vimos acima que o objetivo de Deus é voltar a clarear o
mundo obscurecido pela grande rebelião. “As nações hão de andar na luz dele e
os reis no fulgor de Deus” (Is 60.3), “até que Deus seja tudo em todos” (1Co
15.28). Jesus é o resplendor da glória de Deus (Hb 1.3), é “luz, que veio ao
mundo”. Nele a luz vinda de Deus novamente nos alcançou. Ele é a luz do mundo
(Jo 8.12). Sob seu reflexo também nós somos “luz do mundo” (Mt 5.14). Mais do
que isso: a luz está em nós por meio do Espírito dele, tornando-se transparente
em nós. “Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo
resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de
Deus, na face de Cristo” (2Co 4.6). O mundo zomba, dizendo que nós cristãos
seríamos no máximo a “luz traseira” do mundo. Mas quando permanecemos
singelamente voltados para nosso Senhor e abertos à influência de sua palavra e
seu Espírito, ele cuida para que apesar disso sejamos e continuemos sendo “luz
do mundo”.
Na metáfora da
“oferta de primícias” cumpre lembrar os primeiros frutos da colheita ofertados
a Deus. A humanidade, lavoura de Deus (Mt 13.38), produziu cardos e abrolhos.
Por isso Deus permite que também a lavoura do ser humano produza cardos e
abrolhos (Gn 3.17-19). Contudo agora caiu no solo o único grão de trigo bom,
“importado” por Deus para dentro desse mundo, o eterno Filho de Deus (Jo
12.24). Consequentemente, a igreja de Jesus agora pode ser começo da
maravilhosa colheita de Deus (Mt 13.30,37-43; Ap 14.15). A safra aponta para
além dela mesma. Ela é apenas começo, “fruto de primícias”. A igreja de Jesus
constitui um sinal de esperança para toda a criação (Rm 8.19ss).
Por realizar tudo
isso, a palavra de Deus é a dádiva de todas as boas dádivas de Deus.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
ELABORADO:
Pb Alessandro Silva.
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