NÃO TERÁS OUTROS DEUSES
Quando lemos o primeiro e grande
mandamento do Decálogo, qual sentido ele nos traz?
Será que se refere à questão
meramente racional e religiosa, como a quantidade exata das divindades no céu?
Ou apenas se refere a se podemos ou não ter estátuas em casa, fotografias,
artes plásticas de alguma pessoa? Ou se trata apenas de um texto apologético
contra as imagens de esculturas refletidas hoje nos "santos da igreja
romana"?
O primeiro mandamento está interligado ao
segundo, e pode-se dizer que ambos estão divididos em três partes: (1)
"Não terás outros deuses diante de mim." (2) "Não farás para ti
imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em
baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra." (3)
"Nãoteencurvarásaelas nem as servirás." Essa é uma informação
importante para nos esclarecer a respeito do porquê desse mandamento ser tão
especial ao povo judeu. Não por acaso, Deus constituiu o Shemá Israel, isto é,
o "Ouve ó Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR"; a
profissão de fé do monote- ísmo judeu. O medo de cair na idolatria faz com que
as pessoas preocupem-se em jogarfora as esculturas de artes de casa,
fotografias de familiares ou simplesmente passar longe de alguém que professa
outra tradição religiosa. Mas não é bem isso que o primeiro mandamento nos
ensina. Deus abomina que as pessoas atribuam a uma imagem, que tenta ser uma
representação dEle, a adoração que é devida só a Ele; e também que usem a sua
imagem para fins equivocados, como ganhar dinheiro ou fazer, em nome dEle, o
mal, a perversidade. A nação de Israel não poderia também reproduzir outras
divindades, como a de Faraó, seus pressupostos religiosos e culturais, pois a
nação havia sido libertada para sempre. Por isso Jesus repete o mesmo
mandamento: "Nenhum servo pode servira dois senhores" e "Não
podeis servir a Deus e a Mamom (Lc 16.13).
O dinheiro e o poder estão entre os
"deuses" deste século. Mamom foi o único "deus" que o nosso
Senhor chamou pelo nome. Muitos são os elementos produzidos por Mamom: o
"deus" dinheiro, a competição, o "deus" televisão, o
"deus" internet, o consumismo etc. O problema hoje quanto à idolatria
não se dá no campo do politeísmo, pois a maioria da população, ao menos no
Brasil, não acredita nos deuses antigos. Mas se a questão for analisada do
ponto de vista dos "deuses" que disputam a atenção da nossa mente e
coração, então a coisa muda de figura. Portanto, o convite de Deus para o seu
povo é o de amá-IO de todo coração, com toda a força do pensamento e de toda a
alma. Ele é o único e eterno Deus das nossas vidas!
Revista ensinador. Editora CPAD. pag. 37
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Resumo do capítulo. A lista crítica dos mandamentos básicos
morais e espirituais é introduzida: “Falou Deus todas estas palavras”. Esses
princípios para viver um Focalizado, harmonioso relacionamento com Deus e com o
seu proximo nao sâo meras invenções humanas. Embora eles estabeleçam um padrão
moral para todos, são especialmente dirigidos para a comunidade em aliança:
para homens e mulheres que partilham um relacionamento com Deus (20.1-17). O
impressionante cremor do fumegante monte Sinai sublinha o fato de que é o
próprio Deus que fala do céu a Israel (v. 18-22) e que a nenhum deus fictício
de invenção humana terá lugar ao lado do Senhor (v. 23). O Todo-Poderoso também
diz a Israel que use somente altares simples para sacrifício, para
posteriormente separar a sua adoração da adoração pagã (w. 24-26). Ver página
64 para um debate sobre cada um dos Dez Mandamentos.
RICHARDS. Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia.
Uma análise de Gênesis a
Apocalipse capítulo por capítulo. Editora CPAD. pag. 63.
A ordem dos Dez Mandamentos é relevante do ponto de vista
teológico. Dos dez, os dois primeiros, os que têm que ver com a singularidade e
incomparabilidade de Deus, são os mais importantes, pois a menos que eles sejam
observados e até que o sejam, todos os outros não têm verdadeira relevância.
O fundamento da obra redentora de Deus no êxodo era sua
graça e poder soberanos; e, de forma recíproca, o êxodo e os sinais e
maravilhas que o precederam apresentaram testemunho eloqüente do fato de que
ele é Deus e, mais especificamente, o Senhor de Israel. Ele já demonstrara que
sua vitória no Egito não fora apenas sobre o faraó e seus exércitos, mas, na
verdade, fora sobre os deuses deles (Êx 12.12). Até mesmo os conselheiros do
faraó foram obrigados a admitir que não podiam duplicar nem desviar os
terríveis sinais e maravilhas que caíram sobre o Egito, nos quais se percebia a
ação do “dedo de Deus” (Êx 8.19). O Senhor, por meio de seus atos poderosos,
deixou claro que ele, se ele, na verdade, não era o único Deus, era, pelo
menos, um Deus sem igual.
Eugene
H. Merrill. Teologia do Antigo
Testamento. Editora Shedd Publicações. pag. 324.
I.
A AUTORIDADE DA LEI
1. A
fórmula introdutória do Decálogo.
A fórmula introdutória "Então, falou Deus todas estas
palavras, dizendo..." (êx 20.1) é característica única do Decálogo, como
explicou o rabino e erudito bíblico Benno Jacob: "Nós não temos um segundo
exemplo de tal sentença introdutória" (JACOB, 1992, p. 543). Nem mesmo na
passagem paralela, a fórmula é repetida, mas aparece de maneira reduzida ao
"mínimo absoluto" (CHILDS, 1976, p. 593) para se ajustar à estrutura
da narrativa (Dt 5.5). No entanto, os outros códigos do sistema mosaico são
introduzidos com um discurso de Deus a Moisés como no Código da Aliança:
"Então, disse o SENHOR a Moisés"(Êx 20.22; 34.32; Levítico 17.1;
Deuteronômio 6.1). Fraseologia similar é usada para designar os Dez
Mandamentos: "Estas palavras falou o SENHOR a toda a vossa congregação no
monte, do meio do fogo, da nuvem e da escuridade, com grande voz, e nada
acrescentou; e as escreveu em duas tábuas de pedra e a mim mas deu"(Dt
5.22), mas ela não introduz o Decálogo. Tudo isso revela a origem e a
autoridade divina da lei.
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 31-32.
Êxo 20.1 Então falou Deus. Ele foi o poder revelador. A
legislação mosaica é oriunda da inspiração divina. Deus é um Deus teísta, ou
seja, Ele não abandonou a Sua criação. Antes, faz-se presente na mesma,
recompensando ou castigando e fazendo conhecida a Sua vontade.
Uma outra versão dos Dez Mandamentos aparece em Deu.
5.6-21, com diferenças mínimas. Ver outra versão em Êxo. 34.10-29. A ordem dos
mandamentos difere em diferentes textos e versões. Os Dez Mandamentos não eram
novos, e, sim, uma seleção inspirada e apta, dentre uma grande massa de ensinos
morais e espirituais, compartilhados por muitos povos. Essa seleção foi
divinamente inspirada e guiada. Essa seleção é uma breve síntese de ensinos
espirituais e morais essenciais, em relação a Deus e em relação aos homens.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 388.
Deus falou (1) com o povo do monte em chamas. O texto em
Deuteronômio declara nitidamente que Deus “no monte, do meio do fogo, da nuvem
e da escuridade, com grande voz” (Dt 5.22) deu estes mandamentos para a
assembléia. Não sabemos como Deus falou em voz audível, mas Israel entendia que
a voz que ouviam era de Deus. Esta era “uma voz audível e terrível, a voz de
Jeová, soando como trombeta pela multidão (19.16: 20.18)”. Este modo de
descrever o evento não indica que Deus tenha cordas vocais como o homem, mas
assevera que Deus criou um som audível que, de forma inteligível, enunciava suas
palavras para o homem. Depois que ouviram aquela voz, preferiram que Moisés (19)
lhes falasse.
Leo
G. Cox. Comentário Bíblico Beacon.
Êxodo. Editora CPAD. pag. 187
2.
As partes do concerto.
Após a fórmula introdutória, vem o que é considerado o
prefácio de toda a lei: "Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra
do Egito, da casa da servidão" (Êx 20.2). Alguns críticos liberais, com
base numa premissa falsa sobre a composição dos diversos códigos do sistema
mosaico, querem sustentar a ideia de um Deus tribal ou nacional na presente
declaração. São teorias subjetivas que eles procuram submeter a métodos
sistemáticos para dar uma forma acadêmica a seus pressupostos. Mas o relato da
criação em Gênesis e o relato do dilúvio, por exemplo, falam por si sós sobre a
soberania de Javé em todo o universo como Senhor do céu e da terra, reduzindo
tais ideias a cinzas.
Desde os tempos antigos, discute-se se esta declaração faz
parte do primeiro mandamento. A autorrevelação de Deus aqui é significativa.
Javé já se havia revelado a Moisés antes (Êx 3.14,15; 6.2, 3), mas aqui se
trata de um relacionamento entre o humano e o divino, Deus e Israel. Na declaração
"Eu sou o SENHOR, teu Deus", apesar do uso na segunda pessoa, ele se dirige
à nação inteira de Israel. O nome divino está vinculado ao resgate dos
israelitas da terra do Egito, a grande libertação das garras de Faraó. Esta
redenção é o tema do livro de Êxodo. A "casa da servidão" é o símbolo
da opressão social. O Egito era uma terra boa e abençoada, como o jardim do
Éden (Gn 13.10; Dt 10.11); no entanto, passou para a história como uma caserna
ou quartel de escravos. Por isso, é lembrado nas páginas da Bíblia como a
"casa da servidão" (Dt 5.6; 6.12; 7.8; 8.14; 13.5, 10; Js 24.17; Jz
6.8; Mq 6.4). Os judeus consideram Êxodo 20.2 ou Deuteronômio 5.6 como parte do
primeiro mandamento.
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 32-33.
Êxo 20.2 teu Deus. A reivindrcação de Deus vem em primeiro
lugar. Israel era dele por direito de criação e de redenção. Os mandamentos
pactuais do Senhor foram dados àqueles a quem ele já atraíra a si mesmo,
tirando-os da escravidão no Egito (19.4). embora não da escravidão do pecado
(caps. 32-34).
Bíblia de Estudo de
Genebra.
Editoras Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil. pag. 102.
O texto do tratado apresentava os detalhes da nova relação
entre o suserano (o rei poderoso) e seu vassalo (a nação mais fraca). O
suserano impunha deveres e tributos, além de exigir obediência e lealdade
incondicionais. Por vezes, esses acordos incluíam regras específicas para
garantir a proteção do suserano de futuros ataques. No entanto, embora a forma
e a estmtura da aliança estabelecida por Deus com Israel fosse semelhante à de
tratados políticos humanos, seu conteúdo é bem diferente de qualquer acordo
desse tipo.
Como nos demais tratados, este começa com uma explanação dos
vínculos históricos entre as duas partes: Eu sou o Senhor teu Deus, que te
tirei da terra do Egito, da casa de servidão (20:1-2). No entanto, continua com
declarações sucintas que revelam a
natureza de Deus e expressam sua vontade para seu povo. Deus assumiu um compromisso
com eles e agiu de modo a cumprir as promessas que fez aos patriarcas, esperando
do povo uma contrapartida. Deseja que seu povo sirva de modelo, transmitindo as
verdades divinas às nações. A fim de cumprir essa responsabilidade e viver como
um exemplo daquilo que o reino de Deus pode ser na terra, os israelitas
deveriam aprender a obedecer exclusivamente ao Senhor, seu libertador, adorá-lo
corretamente e distingui-lo dos ídolos. Também deveriam aprender a amar os
outros membros da comunidade liberta e resgatada. Os Dez Mandamentos são uma
declaração daquilo que seria necessário para tal.
Tokunboh
Adeyemo. COMENTARIO BÍBLICO AFRICANO.
Editora Mundo Cristão. pag. 111-112.
3. O
Senhor do universo.
SOBERANIADE DEUS
O termo soberania, denota uma situação em que uma pessoa,
com base em sua dignidade e autoridade, exerce o poder supremo, sobre qualquer
área, em sua província, que esteja sob a sua jurisdição. Um
"soberano" pois, exerce plena autonomia e desconhece imunidades
rivais.
Quando é aplicado a Deus, o termo indica o total domínio do
Senhor sobre toda a suavasta criação. Como Soberano que é, Deus exerce de modo
absoluto a sua vontade, sem ter de prestar contas a qualquer vontade finita.
Conforme se dá com outras idéias teológicas, o termo não figura nas páginas da
Bíblia, embora o conceito seja reiterado por inúmeras vezes. Para tanto, as
Escrituras apelam para a metáfora de "governante e súditos". Embora
expresse essa idéia de outras maneiras, é principalmente nas doxologias ou
atribuições de louvor que aparece o conceito. Poderíamos citar aqui uma passagem
do Antigo e uma do Novo Testamentos, como prova disso. " ... até que
conheças que o Altissimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem
quer" (Dan. 4:25). "Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus
único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém" (I Tim. 1:25).
A soberania de Deus consiste em sua onipotência, expressa
em relação ao mundo criado, mormente no tocante à responsabilidade moral das
criaturas diante dele. Visando a um fim benfazejo, e executando o seu plano
eterno para a criação inteira e para os homens Deus exerce autoridade absoluta,
amoldando todas as coisas e todos os acontecimentos à semelhança do que o
oleiro faz com o mesmo monte de barro amassado. Ver Rom. 9: 19 ss. Embora,
erroneamente, quanto aos seus motivos, o suposto objetar, postulado por Paulo,
expressou uma verdade inconteste: Pois quem jamais resistiu à sua (de Deus)
vontade?" (vs. 19). Além de mandar na sua criação sem que alguém possa
intervir nas decisões divinas, a Bíblia nos ensina que essa soberania é
exercida tendo em vista galadoar a piedade e castigar a rebeldia. E o que se vê
em trechos como o de Romanos II :22, que diz: "Considerai, pois, a bondade
e a severidade de Deus; para com os que caíram, severidade; mas para contigo, a
bondade de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte também tu serás
cortado". Isso nos permite chegar à conclusão de que Deus não age
arbitrariamente, movido pelo capricho, quando determina todas as coisas segundo
os ditames de sua soberana vontade.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 1. Editora Hagnos. pag. 242.
O telsmo reinvindica possuir conhecimento; em outras
palavras, declara que há evidencias conclusivas em favor da existência de Deus,
suficientemente positivas para permitir-nos uma declaração em prol de sua
existencia. Essas evidências nos chegam através da observação meramente empírica
da grandiosidade e do designio aparentes neste mundo, através da intuição,
através da razão e, sobretudo, através das experiências místicas, Outrossim,
nossa experiência, fisica e espiritual, confirma para nós que Deus jamais abandonou
ao seu universo, mas antes, continua bem próximo de nós, mantendo assim
constante contaeto com os homens, no que visa o beneficio e o proveito eternos
deles.
O trecho de Atos 17:24-31 apresenta elevadas expressões
teistas. Deus, pois, é a fonte originária de toda a vida fisica e espiritual, e
é o poder sustentador de ambos esses tipos de vida. Deus é a fonte de toda a forma
de consciencia. Ele é a origem de todas as idéias morais, como também de todos
os valores humanos. Deus é imanente em sua natureza, e não absolutamente
transcendental. Ele é quem preserva todo o valor e a dignidade humanos.
Finalmente, Deus é o Salvador e o Redentor do homem, aquele que se oferece para
elevar o homem à vida divina, por intermédio de Cristo. Além disso, Deus é o
Juiz de todas as suas criaturas inteligentes, morais, que as recompensa ou
pune, de conformidade com a retidão ou a maldade de suas ações. Deus é o alvo
de toda a existência. :E: a própria razão para continuarmos vivendo.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 2. Editora Hagnos. pag. 100.
4. A
libertação do Egito.
Êxo 20.2 Yahweh foi o autor do livramento de Israel da
servidão ao Egito. O autor sacro alude à informação dada antes, nos capítulos
primeiro a décimo sétimo, ou seja, os destrutivos prodígios das dez pragas,
além do livramento no mar de Juncos (Êxo. 13.22). O Deus libertador também era
o legislador. O povo de Israel, agora livre, entrava em um novo pacto, o pacto
mosaico. O pacto mosaico foi o quinto dos pactos. Esse pacto deu início à
quinta dispensação, a era durante a qual Israel tornou-se uma nação distintiva
por causa de seu código legal superior e divinamente inspirado. Quanto à idéia
que a lei mosaica exprime o caráter moral de Deus, cf. Lev. 11.44,45; 19.2.
Israel era o filho primogênito de Deus (Êxo. 4.22), e um
filho precisa ter a mesma natureza moral de seu pai. Cf. a declaração de Jesus
em Mateus 5.48: “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai
celeste”. A Gratidão Requer Obediência. O povo libertado de Israel deveria
reconhecer o ato libertador de Yahweh, correspondendo a isso mediante a obediência
à lei mosaica. Vemos o mesmo conceito em Romanos 2.4, onde lemos que a bondade
de Deus leva os homens ao arrependimento. Alguns intérpretes judeus faziam
deste segundo versículo o primeiro mandamento.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 388.
Que te tirei da terra do Egito. Nos tratados de suserania
do Oriente Próximo antigo, grande atenção era dada aos atos beneficentes do rei
para com o vassalo. Desta forma, não é de se admirar que o pacto do Sinai fosse
proclamado tendo este prólogo histórico que proclama a atividade redentora de
Deus. Esta declaração é fundamental para numerosos aspectos do pensamento e da
adoração israelita.
O êxodo foi a chave para a autocompreensão de Israel como
povo, o seu conceito do Deus redentor, a concepção teocêntrica da História, bem
como a sua vida contínua de adoração.
Comentário Bíblico Broadman. Editora JUERP. Vol i.
pag. 486.
Te tirei da terra do Egito, e por isto mesmo provaram-me a
ser superior a todos os deuses, ilimitado em poder, e mais gracioso, bem como
temível em operação. Este é o prefácio ou introdução, mas não devem ser
separados da ordem.
ADAM
CLARKE. Comentário Bíblico de Adam
Clarke.
II.
O PRIMEIRO MANDAMENTO
1.
Um código monoteísta.
O Decálogo é monoteísta e introduz essa doutrina no sistema
mosaico que influenciou o pensamento teológico dos antigos hebreus, vindo a se
culminar com a manifestação do Filho de Deus. O monoteísmo aqui era uma
inovação, visto que as nações da época eram politeístas. A Mesopotâmia é o
berço da civilização humana e o centro irradiador da idolatria. A terra do Nilo
foi grandemente afetada por essa idolatria. E Israel e seus ancestrais tiveram
vínculos com as culturas mesopotâmica e egípcia.
Abraão veio da Mesopotâmia e a nação de Israel se formou no
Egito. Como nação, Israel seguia em direção à Terra Prometida, onde estavam os
cananeus, idólatras como todos os seus vizinhos. A idolatria era a cultura
predominante na época. Esse era o mundo religioso do Oriente Médio de então,
com cultos envolvendo sacrifício de crianças e prostituição.
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 27-28.
MONOTEÍSMO. O judaísmo, o islamismo e o cristianismo são os três
grandes expoentes dessa idéia da divindade. Segundo essa posição, existe apenas
um único Deus, em sentido absoluto, não querendo isso dizer que ele é o nosso
deus e que existem outros deuses de outros povos. Antes, somente um ser é o
possuidor da divindade autêntica. É interessante observarmos que esse ensino
foi antecipado ou mesmo parcialmente duplicado dentro da filosofia platônica,
em seu conceito de bondade universal, como também no conceito do «intelecto
puro», de Aristóteles. Essa doutrina é ensinada francamente na idéia de
«Yahweh», segundo o judaísmo posterior, segundo a qual Deus é o Deus de todos,
e não meramente da nação israelita. Na realidade, ele é o Deus de todos os
universos, de tudo quanto existe, sem importar se pertence à categoria terrena
ou celestial, humana ou angelical, material ou espiritual.
Ordinariamente as seguintes idéias são vinculadas ao
monoteísmo:
a. Deus é um ser infinito ou absoluto. Daí a origem da
introdução do vocábulo «omnis», em «onipotente», «onipresente» e «onisciente».
Isso nos leva à suposição de que Deus é, em grau infinito, aquilo que
experimentamos apenas em pequena medida.
Naturalmente os conceitos sobre a infinitude na realidade
são negativos, porquanto não possuímos qualquer experiência sobre qualquer
coisa infinita. Assim que alguém começa a tentar descrever o «infinito», por
motivo de suas próprias descrições já começou a reduzir o infinito à mera
finitude. Não obstante, temos fé suficiente para crer que apesar de nada realmente
sabermos sobre a infinitude, e apesar de
não possuirmos linguagem capaz de descrevê-la, podemos atribuir a qualidade da
infinitude a Deus, supondo que aquilo que possuímos, de forma finita, ele
possui em grau infinito. Discussões semelhantes ao raciocínio que aqui expomos
mostram-nos quão pouco realmente conhecemos sobre Deus, visto que nossas
descrições e nossa mentalidade não se prestam muito para descrever a natureza
infinita de Deus.
b. Além disso declaramos que esse Deus possui tanto a vida
necessária como a vida independente. Em outras palavras, Deus possui aquela
forma de imortalidade verdadeira, que não pode deixar de existir. Esse é um dos
pontos doutrinários mais exaltados do evangelho de João, onde há comentários
nos trechos de João 5:26 e 6:57 no NTI. Todos os demais seres possuem uma vida
que não é necessária, isto é, aquela variedade de vida que pode deixar de
existir. No entanto, o ensino do evangelho de João é que Deus outorgou essa
vida necessária a Jesus Cristo, como homem — e através dele, a todos os seres
humanos que nele vierem a crer; e assim o homem pode tornar-se possuidor da
imortalidade verdadeira, o mesmo tipo de vida que Deus tem e que caracteriza
agora a vida do Senhor Jesus. Mas a vida de Deus é igualmente «independente», isto
é, uma vida que existe por si mesma, sem depender de outra qualquer, para sua
origem e continuação. Ora, os remidos, por intermédio de Cristo, por semelhante
modo tornar-se-ão possuidores dessa «vida independente», que também caracteriza
a verdadeira imortalidade.
c. Ordinariamente, o conceito do monoteísmo inclui a idéia
de que Deus é o criador de todas as coisas, que somente ele existiu desde a
eternidade, e que todo o resto da existência, sem importar se pertence à
natureza física ou à natureza espiritual, se deriva dele. O conceito da
criação, conforme aparece como idéia filosófica, não requer a introdução de um
início absoluto; ou, em outras palavras, pode ser encarado no mesmo sentido em
que dizemos que um objeto físico «cria» uma sombra quando exposto à luz. Nesse
caso, a sombra realmente co-existe com o objeto, mas este último é a «causas»
da sombra, ou seja, o «criador» da sombra. Por semelhante modo, no conceito da
emanação (conforme ensinado pelo panteísmo estóico), embora a criação seja
vista como parte integrante do criador, e, por isso mesmo, co-eterna com ele,
contudo, ainda assim poderíamos falar em criação, pois Deus teria criado tudo
emanando a si mesmo.
Não obstante, tanto o judaísmo como o cristianismo ensinam
que os mundos físicos, juntamente com tudo quanto existe, tiveram início em um
ponto do tempo, deixando somente Deus como eterno. Isso tem criado, para
alguns, o pseudoproblema que indaga: «E o que Deus estava fazendo quando
somente ele existia?» Orígenes, para resolver esse problema, supôs que a
criação seria um ato eterno de Deus, de tal forma que nunca teria havido um
tempo em que Deus esteve inativo. Mas outros estudiosos da Bíblia ensinam que o
tempo pertence somente à criação, e que, por isso mesmo, antes da criação, não
havia tempo. Ainda outros intérpretes, em busca da solução para esse problema,
têm sugerido que a criação é eterna apenas como um conceito de Deus, isto é,
existente na mente de Deus desde a eternidade. Todavia, a idéia ordinária,
aceita pela maioria dos teólogos cristãos, é que Deus criou todas as coisas em
um ponto inicial do tempo, mediante a
sua própria energia, como que «do nada»; embora a criação, através da própria
energia divina, com a qual Deus teria formado a matéria, baseado em princípios
espirituais, não é realmente uma criação do nada. Quanto a outras notas
expositivas sobre a «criação», ver Heb. 11:3 e João 1:1-3 no NTI. Ver também o
artigo sobre Criação.
d. Como parte usual da teologia monoteísta avulta o
conceito de que Deus é um ser pessoal, e não alguma força cósmica impessoal.
Deus é um ser inteligente; e podemos saber algo a seu respeito mediante o exame
do ser humano, — que foi criado à sua imagem. Mais perfeitamente ainda, podemos
saber sobre Deus através do Senhor Jesus Cristo, que refletiu a sua glória,
Deus é Espírito, no que faz contraste com a matéria, ainda que não saibamos no
que consiste um «espírito», exceto que não pode ser compreendido em termos das
coisas materiais. Além disso, Deus possui natureza emocional. Deus tem vontade
e razão, de uma maneira infinita, ainda que, até certo ponto, o homem seja um
reflexo dessas verdades, possuindo tais propriedades mais ou menos da mesma
maneira que Deus as possui, posto que em grau muito menor. Por conseguinte,
somos levados à conclusão de que Deus não é alguma força cósmica, remota, impessoal,
sem qualquer consciência da existência do homem. Pelo contrário, é um ser vivo
que tem todo o conhecimento dos homens, que os guia, que os castiga ou
galardoa, segundo as suas ações, e que determina os eventos e o destino de cada
ser humano. Ora, essa é a posição do «teísmo».
e. Ao Deus único, o Deus apresentado pelo monoteísmo,
também atribuímos a qualidade da moralidade. Deus é bom, amoroso e santo, sendo
o grande despenseiro da justiça. O seu amor, entretanto, não é da qualidade do
«eros» ou amor erótico, sensual, e, sim. é «agape». um amor sem causa, sem
começo e puro em seu princípio, consistindo em um interesse genuíno e eterno
pelo bem-estar de todas as suas criaturas. Esse amor, outrossim, é
independente, ou seja, não é cnado ou mantido por qualquer coisa existente no
objeto amado; pelo contrário, devido à sua suprema natureza amorosa, Deus é
quem dá corpo ao princípio da bondade e da justiça, não precisando indagar, de
quem quer que seja, o que seria bom e o que não o seria. Assim, pois, Deus é o
padrão final de todos os valores morais.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 4122-4123.
Êxo 3.3 Não terás outros deuses. Temos aqui a regra do
monoteismo Neste ponto, o monoteismo substitui todas as outras possíveis noções
de Deus. Todavia, não basta acreditar na existência de um Deus. Esse Deus único
precisa ser reconhecido e obedecido como a autoridade moral de todos os atos
humanos. Também só há um Deus no atinente à questão da adoração e do serviço
espirituais. O Deus único merece toda honra. Isso labora contra o panteísmo e
todo o seu caos. Este último adiciona muitas informações àquilo que comentamos
aqui. Ver também Êxo. 23.13.
A nação de Israel estava cercada por povos que eram leais a
um número impressionante de divindades. As pragas do Egito tinham mostrado que
só Yahweh é Deus (ver Êxo. 5.2 e 6.7). Há uma profunda verdade na idéia que um
homem só pode adorar a um Deus. Jesus abordou essa questão em Mateus 6.24. Os
homens adoram aquelas coisas que lhes parecem importantes, incluindo o
dinheiro. Há deuses externós e internos. Mas todos eles são deuses falsos.
Yahweh é um Deus zeloso que não tolera rivais (vs. 5;
34.14). Naturalmente, temos nisso uma linguagem antropomórfica. Divindades
rivais seriam algo contrário ao caráter único de Deus. E um deus que não é
único não é o verdadeiro Deus. Ver os vss. 22,23. A desobediência ao primeiro
mandamento foi a principal razão dos cativeiros (ver a esse respeito no
Dicionário) que, finalmente, Israel sofreu.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 388.
O primeiro mandamento: “Não terás outros
deuses além de mim” (Êx 20.3), tem força especial contra esse pano de fundo e
tudo que Moisés recontou dos tempos primevos e dos patriarcas. Esse mandamento
não é tanto (nem mesmo principalmente) um argumento pelo monoteísmo, mas uma
reivindicação do Senhor de exclusividade sobre Israel como o único Deus de
Israel.” Sem dúvida, mesmo nessa época, a fé monoteísta fazia parte do dogma
normativo hebraico (cf. Êx 9.14; Dt 4.35,39; 32.12,39), mas a intenção da
proibição aqui era garantir que Israel dedicasse submissão integral ao Senhor
em contraposição a todos as outras deidades reais ou imaginárias. O sentido
literal do texto é: “Que não haja para você outros deuses em meu lugar”. Se as
nações do mundo queriam crer em outras deidades e adorá-las, que fosse assim,
mas Israel devia reconhecer só o Senhor como seu Deus.
Pode-se achar que fosse desnecessário dar
essa ordem a Israel naquele momento decisivo de redenção e de concessão da
aliança, mas isso seria interpretar erroneamente a predileção congênita da
nação (e nossa) de procurar e adorar deuses inventados pelo homem. Os
ancestrais patriarcais tinham lutado com essa questão (Gn 31.34; 35.2-5), e Israel
não se comprometeria tão rápido com a aliança em vista aqui quanto se
comprometeu com a construção de um bezerro de ouro, atribuindo a este a
maravilhosa libertação do êxodo (Êx 32.4). Dessa época em diante — pelo menos
até o retorno do exílio babilônio — Israel e Judá sucumbiram quase
continuamente às lisonjas da idolatria pagã, assunto que documentaremos com
detalhes.
Sem apresentar desculpas para Israel, é
importante entender alguma coisa do ambiente cultural e religioso em que a
nação veio à existência. As grandes civilizações do mundo do Oriente Próximo da
Antiguidade, sem exceção, estavam mergulhadas em uma visão de mundo que
explicava todos os fenômenos, naturais e sobrenaturais, como manifestações
aleatórias de incontáveis deuses e deusas, os quais tinham de ser apaziguados a
fim de que não descarregassem sua vingança sobre a humanidade ou deviam ser
induzidos por vários meios a trazer fortuna e bem-estar para o homem.12
Abundância ou necessidade, saúde ou doença, paz ou guerra, vida ou morte — todos
dependiam do capricho de seres poderosos que, de alguma maneira, deviam ser
invocados ou apaziguados a fim de que a vida trouxesse alguma satisfação.
Israel vivia nesse mundo, tendo chegado a algum sentido de um Deus verdadeiro e
vivo só por meio da graça deste em afastar Abraão do paganismo sumério e em pôr
a ele e seus descendentes para amadurecer em uma relativa incubação em uma
Canaã muitíssimo desabitada e em uma
parte isolada do Egito. Mas a remoção total daquele mundo era impossível, e
Israel viu-se presa nas contra-correntes da vida cultural e religiosa da época
e, mais uma vez, levada ao limiar do desastre espiritual até que, por fim, foi
para o exílio assírio exatamente por causa de sua infidelidade à aliança em
seguir outros deuses (2Rs 17.7-22).
Não obstante, Israel ter experimentado a
provisão de Deus de proteção e do êxodo redentor, seria imensa a tentação da
nação em um mundo largamente governado pela ligação de causa e efeito na
atribuição de bênção por parte dos deuses da natureza. Portanto, o mandamento
para não ter outros deuses não é um princípio teológico enunciado nos seguros
limites da abstração acadêmica, mas afeta a vida e o pensamento diários.
Ater-se a esse mandamento exigiria recursos que estavam além da capacidade de
meros seres humanos; desobedecer- lhe, por sua vez, provocaria a mais severa
punição; pois ter outro deus que não o Senhor seria um ato, da mais alta
magnitude, de infração e de deslealdade com a aliança.
Eugene
H. Merrill. Teologia do Antigo
Testamento. Editora Shedd Publicações. pag. 324-326.
2.
Idolatria do Egito.
As Religiões do Egito
1. História envolvida e caracterização geral. A história da
religião, no antigo Egito, começa paralelamente à sua história secular, ou
seja, em 3000 A.C., e, então, continua até o advento do islamismo (após 642
D.C.). Somente então podemos falar em termos do Egito medieval e do Egito
moderno. Talvez somente na época do monoteísmo de Aquenaton (1372-1354) tenha
havido qualquer coisa parecida com um movimento unificador na religião; mas,
mesmo assim, foi um esforço de pouca duração, imposto de cima para baixo. Em
tudo o mais, a religião egípcia era pluralista, estando envolvida em
desenvolvimentos e práticas de cunho local, pois cada localidade tinha seu
próprio deus, seu sacerdócio e seu culto religioso.
2. Características mais antigas. Muitas culturas seguem as
mesmas diretrizes gerais. As primeiras divindades são sempre personificações
das forças da natureza, como o sol, as estrelas, certos animais como o touro, o
falcão, o crocodilo, ou então o trovão, o relâmpago, os poderes infernais
(estes últimos sugeridos pelas atividades vulcânicas), a força das tempestades,
dos ventos, da chuva, etc. Depois disso aparecem os espíritos dos mortos ou
outros espíritos, que inspiram o terror nos homens, e os levam a adorá-los. A
necessidade das colheitas, para a continuação da vida, fornecem aos homens seus
deuses e deusas da fertilidade, e o desejo pelos prazeres é a inspiração dos
deuses e deusas da alegria e da fertilidade. Acrescente-se a isso a inevitável
atividade antropomórfica, que faz deuses e deusas serem concebidos em termos de
seres humanos, embora ampliados, mas que têm virtudes e vícios melhores e
piores do que as virtudes e vícios dos homens.
3. Divindades protetoras. Antes que Menes unificasse o
Egito sob o seu governo, o país estava dividido em dois reinos (o Alto e o
Baixo Egitos). Subseqüentemente, foi dividido em distritos, bem como em um certo tipo de cidades-estados. Cada cidade ou distrito
contava com seu deus protetor ou patrono. Alguns dos deuses mais importantes
eram os seguintes:
Anúbis, de Cinópolis, um deus com cabeça de chacal, que era
o deus dos mortos. Atom, de Heliópolis, mais tarde identificado com o deus-sol
Rá (que vide). Bastete, a deusa-gata de Bubástis. Hator (que vide), a deusa-
vaca de Denderá e de Afroditópolis. Horus, o deus - sol, em forma de falcão, de
Bedete. Edfu, o deus real do Egito. Khnum, o deus com cabeça de carneiro de
Elefantina, que também era adorado sob a forma da catarata existente na região.
Khonsu, o deus-lua de Tebas. Min, o deus-peixe fálico de Cóptos. Akhmim, um
deus agrícola. Montu, o deus da guerra de Hermontis e que tinha cabeça de
milhafre. Amom, o deus do carneiro sagrado, que substituiu a Montu, em Tebas.
Neite, a deusa de Sais e de Esna. Necbete, a deusa corvo de El-Kab. Ptá, o
deus-boi de Mênfis, que era considerado o patrono especial dos artistas.
Sebeque, o deus-crocodilo de Fayum e de Kom Ombo. Tote (vide),—o deus com
cabeça de íbis de Mermúpolis, que, supostamente, teria inventado a arte da
escrita e que era o santo patrono da erudição e que era também representado
pelo babuíno!
Os deuses animais patronos, no Egito. Além de adorarem
deuses que eram representados por seres animalescos, os egípcios também
adoravam diretamente a certos animais. Assim, havia ápis (vide), um touro negro
com manchas brancas, adorado em Mênfis Mnevis, um boi de cor clara, que era o
deus de Heliópolis. Havia ainda outros deuses-boi, relacionados a outras
localidades egípcias. Outros animais sagrados, formando uma lista difícil de
nela acreditarmos, incluíam o babuíno, o musaranho, o cão, o lobo, o chacal, o
gato, o leão, o hipopótamo, o carneiro, a vaca e vários pássaros, como o
abutre, o gavião e o ganso. Também não nos devemos esquecer da serpente, considerada
uma divindade em muitos lugares do Egito. Até mesmo insetçs, como o
escaravelho, vieram a fazer parte do panteão egípcio. É curioso, todavia, que a
adoração direta a certos animais não garantia aos mesmos uma longa vida,
conforme se dá na índia, no caso da vaca sagrada, que ninguém toca. Muito pelo
contrário, os egípcios comiam o boi sagrado.
Apesar desse costume, os túmulos dos bois sagrados, em
Sacara, encontram-se entre os mais impressionantes túmulos do Egito. O gato,
por sua vez, era um animal considerado sagrado e muitos gatos mumificados têm
sido encontrados naquele país. Ver o artigo separado sobre o Gato.
O deus-chacal, Anúbis, tinha a tarefa especial de proteger
os espíritos dos mortos que vagueavam, no após-vida. Também havia cáes de guarda
para os vivos e o grande Cão de Guarda para os mortos! A imaginação dos homens
mostra-se ridícula, para dizermos o mínimo.
Deuses que eram forças da natureza. Entre esses havia Rá, o
sol; Hapi, o rio Nilo; Num, o oceano; Sou, o ar; Tefnute, o orvalho; e Gebe, a
terra.
4. Movimento de unificação da V Dinastia e outras
unificações. Os teólogos de Heliópolis, nesse tempo (2560-2420 A.C.),
identificaram sua divindade local, Atom, com o deus-sol, Rá. Isso deu origem a
uma espécie de religião nacional, embora não tivessem sido eliminados os muitos
deuses locais, o que se evidencia pelas muitas divindades descritas antes.
Antes mesmo desse tempo, porém, tinha havido outras unificações, como quando
Sete e Ombos tornaram-se divindades especiais no Alto Egito, e Horus tornou-se
outro tanto, no Baixo Egito. Em uma outra ocasião, a deusa corvo, Necbete, do
Alto Egito, obteve proeminência maior que a de outros deuses, e o deus-
serpente, Buto, tornou-se muito importante no Baixo Egito. Posteriormente,
Horus foi identificado com Atom-Rá-Haracte, de Heliópolis. E foi então que se
tornou a divindade real dos Faraós, conferindo-lhe grande proeminência no
panteão egípcio.
5. Amenopofis IV (Icnaton, 1375-1358 A.C.), da XVIII
Dinastia, promoveu a causa do monoteísmo, tendo negado o poder de deuses solares, como Amon, que haviam recebido a lealdade de
cidades como Tebas. Esse Faraó opôs-se abertamente à casta sacerdotal de Amom,
fazendo com que Atom-Rá-Haracte se tornasse o único deus - sol do Egito. Os
estudiosos referem-se a Aten como o nome do deus que resultou dessa
consolidação. Outros deuses foram proscritos no Egito, embora, aparentemente,
continuassem sendo reconhecidos como entidades. Portanto, temos então muito
mais o fenômeno do henoteísmo do que o fenômeno do monoteísmo dos hebreus, e
também diferente do fenômeno do politeísmo pagão, embora, na prática, tivesse
sido estabelecido no Egito, um monoteísmo de breve duração. Todavia, essa
adoração unificada não contava com qualidades morais especiais, conforme se
verificou no monoteísmo hebreu. Aten era retratado como um criador benévolo,
como sustentador da vida. É curioso que Aquenaton tenha se casado com a sua
própria filha, embora isso não tivesse resultado de qualquer convicção
religiosa, pois outros Faraós haviam feito a mesma coisa. Esse Faraó é que tem
sido visto, nas visões de místicos modernos, como o progenitor do anticristo
(biológico ou espiritualmente, ou ambas as coisas?)
6. Osiris. a. Pano de fundo. Os primórdios desse culto
podem ser encontrados no Antigo Reino Egípcio, bastante anterior à época de
Abraão e dos patriarcas de Israel. Toda uma família de deuses desenvolveu-se em
torno de Osiris, o que incluía um culto muito elaborado. No entanto, nos
primeiros dias do Reino Antigo, essa família divina ainda não havia sido
imaginada. Ao que parece, o próprio Osiris a princípio fora o deus Nilo de
Busiris, no Delta. Em tempos remotos, Osiris, ísis, Horus e Sete tinham sido
divindades tribais independentes. Horus acabou sendo adorado em companhia dela,
considerado seu filho. Sete era adorado como uma espécie de figura divina igual
a Horus. Osiris, quando unido a essa família, tornou-se o esposo de ísis. Com a
passagem do tempo, — Sete deixou de ser igual a Horus, e acabou sendo o irmão
mau de Osiris. Então Osiris tornou-se o pai bom, Horus tornou-se o filho bom, e
ambos faziam oposição a Sete. É deveras curioso que alguns teólogos mórmons supõem
que Satanás é um irmão desviado do Filho e que tanto o Filho quanto o Pai agora
se opõem a Satanás. Assim, apesar das relações serem diferentes, a idéia é
idêntica: uma família de deuses na qual um dos membros erra e sofre oposição.
Além disso, Osiris veio a ser imaginado como irmão de ísis, que se casou com
ela, de acordo com um antigo costume entre os egípcios. Sete também tinha uma
irmã, chamada Nebate, que se casou com ele. Mas, em algumas representações,
Osiris teria uma segunda esposa, essa mesma Nebate, que tinha um filho divino,
Anpu, ou Anúbis.
b. Osiris era o deus dos mortos, o que explica a grande
proeminência dessa divindade na teologia egípcia. Para uma egípcia, a
felicidade eterna dependia de ser ela favorecida e transformada por Osiris. Seu
nome veio a tornar-se um sinônimo virtual de bem-aventurado. O reino de Osiris
era descrito em termos vagos e indistintos; mas, antropomorficamente, de tal
modo que o após - vida era visto essencialmente como uma existência análoga à
do mundo presente. O famoso Livro dos Mortos, até hoje existente em várias
traduções, era o roteiro para alguém chegar ao reino de Osiris. Uma cópia desse
livro com freqüência era deixada nos túmulos, a fim de guiar os mortos e
servir-lhes como uma espécie de amuleto. Osiris atuava como um juiz. Cada alma
era pesada em comparação com a verdade e era submetida a um longo questionário
referente, principalmente, àquilo que alguns chamariam de pecados mortais. Se
uma alma fosse aprovada entrava na felicidade eterna. Se fosse rejeitada, ela
seria expulsa sob a forma de um porco, para alguma sorte desconhecida.
c. Osiris e a ressurreição. Os mitos que circundavam essa
família de deuses inclui a idéia de que Osiris foi assassinado por Sete. Horus,
porém, conseguiu reunir os pedaços de seu corno desmembrado,
para restaurar o seu corpo à vida. Portanto, temos aí a curiosa doutrina do
filho que ressuscitou ao pai, o contrário da ressurreição de Jesus Cristo, no
Novo Testamento. Naturalmente, outras religiões antigas também contavam com
histórias de ressurreições, pelo que não há nenhuma conexão direta entre Osíris
e o Novo Testamento, excetuando aquela esperança que os homens sempre tiveram
de que a morte, de alguma maneira, pode ser derrotada mediante algum ato
divino. No relato da ressurreição de Osíris, também há o paralelo com o
cristianismo de que essa mesma vida pode ser dada aos homens, sob a condição
deles seguirem pela vereda espiritual. Em algumas versões, quem ressuscita a
Osíris, após seu assassinato, não é o filho dele, Horus, e, sim, a sua esposa,
ísis.
d. O submundo e o céu . Osíris, antes de tudo, era o deus
do submundo, das regiões infernais. Em tempos posteriores, entretanto, ele
passou a ser imaginado como um habitante dos lugares celestiais, onde se
encontraria sentado em um trono, para julgar todas as coisas.
e. Faráo e Osíris. Isso envolve uma doutrina de filiação,
visto que o Faraó era tido como filho de Osiris, ou seja, divino por seu
próprio direito. O conceito do rei divino exercia grande poder sobre a política
e a religião do Egito.
f. A imortalidade obtida por Osíris. Um aspecto da teologia
egípcia que circunda a figura de Osíris diz que ele mesmo obteve a imortalidade
mediante obras piedosas, e através de ritos religiosos apropriados. Quão
parecido com a doutrina católica romana! O sacerdócio que servia a Osíris é
retratado como os preservadores da fórmula para a obtenção da imortalidade.
Eles exortavam os homens a seguirem o exemplo deixado pelo próprio Osiris, para
poderem obter o mesmo tipo de vida que ele teria obtido. Há nisso, igualmente,
um curioso paralelo com a doutrina mórmon, que diz que o próprio Deus, no passado
distante, foi um homem como qualquer outro, mas obteve a sua augusta posição e
natureza através da obediência perfeita às leis divinas superiores.
g. Adaptações romanas. Nos tempos dos romanos, Osíris e
ísis foram unidos como as divindades protetoras de certa religião misteriosa
que falava sobre um deus que morrera, mas foi trazido de volta à vida.
h. Proeminência de Osiris e fsis. A adoração que circundava
Osiris e a sua família tornou-se tão dominante nos tempos helénicos que os
visitantes gregos do Egito, como Heródoto (ver II.42), tinham a impressão de
que Osíris e Isis eram as únicas divindades nacionais do Egito. Os estudiosos
das religiões do mundo supõem que essa popularidade devia-se à ênfase sobre a
imortalidade alcançável que esse culto prometia aos homens. De fato, a maioria
das pessoas tem a esperança de sobreviver à morte, encontrando uma vida imortal
melhor do que a vida atual.
i. Unificações. Quando Osíris se tornou o fator principal
da fé egípcia, esse deus começou a incorporar em si mesmo as funções e poderes
de outras divindades locais. Ele absorveu deuses anteriores do submundo, como
Khentamentiu, o deus com cabeça de cão de Abidos, Ptá-Socar, de Mênfis, e Gebe.
Visto que os mitos afirmavam que seu corpo fora desmembrado, vários santuários
afirmavam possuir algum pedaço de seu corpo. Entretanto, sua cabeça estaria
guardada em um certo túmulo, em Abidos. Ali, esse alegado túmulo era exibido
aos visitantes, pelo que o local tornou-se um dos principais centros desse
culto. O paralelo católico romano, que envolve relíquias e ossos de santos, nem
precisa ser comentado. O deus Anúbis, com cabeça de chacal (um dos filhos de
Osíris), era quem teria a tarefa de dar as boas vindas às almas, levando-as ao
trono de julgamento.
7. Algumas Formas religiosas. — Essas formas variavam de
uma região para outra. A descrição sob o terceiro ponto, Deuses Protetores,
sugere a grande variedade de formas de adoração do Egito. Antes de tudo, temos
uma fantástica idolatria, que representava as divindades sob uma variedade
quase interminável de figuras.
Em segundo lugar, havia castas religiosas que cuidavam dos
templos, com ritos os mais elaborados. Os deuses eram sen/idos com libações
(líquidos) e com alimentos sólidos. A vida após-túmulo era retratada como um
estado onde as pessoas trabalhavam, pelo que pessoas proeminentes teriam
escravos, os quais eram mortos e sepultados juntamente com eles, para garantir
que continuariam sendo servidos do outro lado da existência. Alguns eruditos
pensam que sacrifícios humanos eram comuns no Egito, embora as evidências
quanto a isso não sejam conclusivas. Em tempos posteriores, em vez de serem
sepultados pessoas reais, bastavam estátuas representando as mesmas, pelo que a
morte só envolvia os mortos.
Amuletos e encantamentos. Não havia fim desses objetos
entre os egípcios, que chegaram até nós desde os tempos mais remotos. Os
amuletos incluíam objetos como olhos sagrados de cavalos, imagens de deuses,
cabeças de chacal, vespas e outros insetos, todos os quais teriam propriedades
mágicas e divinas.
O culto a Osíris oferecia alguns fatores interessantes. A
adoração efetuada nos grandes templos incluía a veneração pessoal dos deuses.
Uma parte dessa veneração incluía o ato de alimentá-los (simbolicamente,
através de sacrifícios). Além disso, os ídolos que os representavam eram
grandemente ornamentados. Esses serviços pessoais usualmente cabiam aos
sacerdotes de cada culto. Em dias de festa religiosa ou de observância cúltica,
a imagem do deus (escondida por algum véu ou cortina, para dar uma aura de
mistério à coisa) era transportada em uma procissão. Quando surgiu o
cristianismo, o paganismo, com suas antigas formas religiosas, sofreu um
retrocesso; mas, com o tempo, o paganismo ressurgiu, sob a forma de doutrinas e
cerimônias, primeiramente fora da cristandade, até 390 D.C., mas, pouco a
pouco, como parte do culto cristão. Nos dias de Teodósio I, foram fechados os
grandes e antigos templos pagãos. A religião pagã havia percorrido um longo
caminho no Egito, e agora uma nova fase da história da religião haveria de
começar.
8. A natureza e o destino da alma. A grande pluralidade
envolvida na religião, no Egito, naturalmente produziu muitos conceitos sobre a
alma. Alguns aspectos são dignos de menção, embora tudo quanto se diga não
represente uma doutrina unificada. Um corpo embalsamado presumivelmente poderia
ressuscitar, tornando-se, novamente, um veiculo da alma. O ká, ou seja, o congênere
do corpo físico, ou o seu fantasma, teria início quando do nascimento do corpo,
era imortal e ficava a vaguear após a morte do corpo físico. Não se pode
duvidar que essa doutrina foi inspirada por experiências com fantasmas e formas
espirituais, que, algumas vezes, podem ser vistas, até com certa freqüência,
por algumas pessoas. O ká era associado a um outro elemento formativo do
complexo humano, chamado de khaib ou «sombra», simbolizado pela sombra da
pessoa à luz do sol. Esses dois elementos, segundo se concebia, estariam
vinculados ao corpo material e mesmo em algum sentido também material. Todavia,
também haveria elementos imateriais no complexo humano, que incluíam o bá, a
verdadeira alma, simbolizada por uma ave com cabeça humana e que voaria para
dentro e para fora do túmulo da pessoa morta. Naturalmente, a ave é um símbolo
universal da imortalidade, um dos arquétipos do espírito, dentro da psique
humana. O bá dos monarcas era simbolizado pelo falcão. Também haveria o khu, ou
glória, que seria o espírito, representado pelo pássaro de crista. E também
haveria o ab, simbolizado por um coração. Igualmente havia o sekhem, ou força;
e, finalmente, o ran, ou nome. Porém, exatamente como esses diversos elementos
se combinavam ao bá, de acordo com o pensamento egípcio, e até que ponto seriam
meros sinônimos de uma mesma coisa, não é muito claro.
Relação entre e Ká e o Bá. Esse é um ponto interessante,
porquanto os estudos mais recentes demonstram a existência de um fantasma
aparentemente semimaterial, ou vitalidade, em contraste com o corpo físico, que
é verdadeiramente material. Isso posto, o homem seria composto, pelo menos, de
três níveis de energia: o corpo físico (material); a vitalidade (semimaterial);
e o espirito, ou alma (imaterial). Também há provas incipientes de que o homem
real é o superego, um ser semelhante ao anjo
guardião do pensamento cristão. Nesse caso, o verdadeiro ser humano seria um
poder elevadíssimo (semelhante aos anjos, abaixo dos quais os espíritos humanos
foram postos, temporariamente, conforme se vê em Salmos 8:5 e Hebreus 2:7),
capaz de manipular tanto a alma quanto o corpo, quando se trata de aprender
alguma coisa. Seja como for, o contraste entre o ká e o bá também pode ser
observado em alguns escritores gregos, embora não com esses nomes e nem de
forma sistemática e coerente. Mas, pelo menos, fica esclarecido que o ká é o
responsável por algumas formas de aparições fantasmagóricas e, talvez, das
manifestações de poitergeist (que vide). Também pode estar por detrás de certos
fenômenos associados às sessões espíritas ou de mediunidade. Já o bá, ou alma
verdadeira, é uma outra questão; e, algumas vezes, tem contacto com os homens
mortais.
Idéias Simples. De acordo com os egípcios, após a morte
física, a alma ficaria pairando por sobre o túmulo da pessoa sepultada,
exigindo alimentos e bebidas, uma idéia compartilhada por muitos outros povos
antigos. Isso deu origem a vários ritos religiosos, mediante os quais homens
mortais cuidariam de almas imortais. Em tempos posteriores, oferendas reais
foram substituídas por ofertas simbólicas, sob a forma de desenhos ou pinturas,
nos túmulos. Se esses sacrifícios não fossem realizados, a alma tinha de
depender da deusa árvore, a fim de receber nutrição. Essa deusa viveria nas
árvores existentes nos cemitérios e nas áreas onde havia túmulos, pelo que sempre
havia tal deusa, com esse propósito. Por qual motivo os homens gostam de
sepultar seus mortos em áreas arborizadas, até em nossos próprios dias?
Porventura alguma memória antiga da raça chegou até nós? Ou simplesmente
associamos a árvore à vida física, pelo que sentimos um certo consolo, ao
depositarmos os corpos de nossos mortos sob a sombra das árvores? O bá, segundo
os egípcios, podia entrar ou sair de um túmulo, à sua vontade.
Em tempos posteriores e mais sofisticados, os egípcios
supunham que a alma iria a juízo, na presença de Osíris, podendo participar de
sua bem-aventurança, se fosse aprovada por ele. Da mesma maneira que Osíris
conseguira atingir uma feliz imortalidade, outro tanto poderia ser feito pela
alma. E, visto que um rei podia tornar-se divino, é seguro supormos que o
ensino egípcio posterior dizia que as almas humanas que são aprovadas em juízo,
passam a participar da natureza divina, embora eu esteja especulando quanto a
isso. O que é inegável é que a imortalidade era um aspecto importante da
adoração a Osíris, tendo sido o elemento responsável, pelo menos parcialmente,
pela popularidade que o culto a Osíris contava entre as massas populares do
Egito.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 4196-4199.
A RELIGIÃO EGÍPCIA
A. Os deuses dos egípcios. Fundamentalmente a religião
egípcia estava bem situada em suas práticas e horizontes. Os egípcios em cada
distrito tendiam a adorar as suas deidades locais, principalmente, ao invés de
algumas grandes figuras de importância nacional ou cósmica. Como era comum, no
caso do paganismo antigo, os deuses do Egito eram, em grande parte,
personificações de poderes da natureza (e.g. fertilidade), de fenômenos
naturais (e.g., o Nilo) e seus supostos atributos (e.g., os deuses falcão, boi,
etc.). Alguns eram cósmicos (deus sol), e alguns eram personificações de certos
conceitos (e.g., Maat, deusa da “verdade” e da ordem).
Enquanto que vários animais, plantas, etc. eram respeitados
símbolos de poderes naturais e forças misteriosas, ao mesmo tempo eram
manifestações dos deuses, e mesmo como veículos de sua presença — uma
característica que veio a ser compartilhada pelas estátuas e outras imagens, e
por animais sagrados (como o boi de Apis em Mênfis, por exemplo). Isto afetou
as representações dos deuses na arte. Tão cedo quanto o período do Reino
Antigo, os deuses vieram a ser compreendidos em forma básica de humons. Alguns,
como Ptá Osíris, eram mostrados em uma forma inteiramente humana. Outros, por
um tipo de iconografia abreviada, apareciam em forma humana, exceto por suas
cabeças que geralmente eram de animais conectados com as deidades respectivas.
Anúbis aparece com a cabeça de chacal, Sobk com a de um crocodilo, Hóms e Rá
geralmente com a de um falcão, Tóte com a de aves, etc. As vezes, eles podiam
aparecer em mais de uma forma: Ainon de Tebas tinha geralmente aparência
puramente humana, mas poderia ter uma cabeça de carneiro.
Entre os deuses locais, Amon de Tebas representava os
poderes escondidos da natureza, e seu parente próximo era Min de Coptos que
personificava a virilidade e a fertilidade, especialmente humana e animal. Em
Mênfis, Ptá, era o artífice o Vulcano egípcio, o patrono dos artesãos, enquanto
que Sokar era um deus local da morte e da vida nova (logo identificado com
Osíris). No Médio Egito, Tóte era um deus da sabedoria e das letras, e era conectado
com a adoração da lua. Mais para o sul, Hathot de Dendera era uma deusa do
amor. A deusa Bast de Bubastis e Sekhme em Mênfis, respectivamente,
representavam poderes beneficentes e da ameaça de pestilência, entre outras
coisas.
Entre os deuses que tinham grande impacto, além de uma
influência local, Rá e Osíris foram muito mais importantes. Rá, o deus do Sol
(q.v.) tinha o seu culto centrado em Heliópolis (On). Ele logo tomou-se bem
associado com o reino, alcançando domínio teológico no estado na 4- e 5-
dinastias (Veja Pirâmide), superando Ptá de Mênfis, a capital administrativa. O
seu culto também afetou as formas do culto no templo egípcio em geral. Seu
impacto na monarquia é indicado pelo título “Filho de Rá” adotado por quase
todos os Faraós da 5- dinastia até o período romano, totalizando uns 3.000
anos. Na 18â dinastia, Aquenaton tentou fazer uma forma especial de adoração do
Sol como a única religião do Egito. Rá também afetou a vida no mundo vindouro —
os mortos poderiam navegar os céus pelo dia com ele em seu barco sagrado, e
também de noite pelo mundo dos mortos, se levantando diariamente com ele no
horizonte leste. Durante o Reino Antigo, a elevação de Osíris deu uma
alternativa depois da morte, e em dias posteriores (no Novo Reino), havia até
uma construção teológica de Rá e Osíris como o sol nascente do dia e o sol
noturno precedendo o novo nascimento, respectivamente.
A adoração de Osíris talvez chegou o mais perto de uma
religião universal no Egito, antes do impacto do Cristianismo. Ele era um deus
funerário que tomou-se identificado com Khentamentyu (“Chefe dos Ocidentais”),
no Reino Antigo, que era o deus funerário local em Abidos no Alto Egito, um
lugar santificado muito tempo antes das tumbas dos primeiros reis. Osíris era o
senhor do mundo dos mortos e da vida além, que foi modelada parcialmente pelo
Egito terreno — neste lugar os seus seguidores poderiam plantar e colher
abundantemente e apreciar os prazeres previamente tidos na terra. Ele prometia
uma contínua existência neste mundo além, e também se tomou identificado com o
Nilo que com sua cheia anual trazia nova vida à terra. Um aspecto importante
deste culto era a sua natureza “familiar”. A sua esposa era a deusa Isis, de um
eficaz caráter como esposa e mãe de Fíórus que vingou seu pai e suplantou seu
inimigo Sete, na mitologia. Aqui o Egito encontrou uma religião que oferecia
algo depois da morte em termos que atraíam tanto aos homens como as mulheres.
Aceito nos Textos de Pirâmide no Reino Antigo, o
triunfo de Osíris foi completo desde o advento do Reino Médio, c. 2000 a.C. e
Abidos tomou-se uma das mais sagradas e famosas cidades do Egito. Centenas de
monumentos memoriais de pedras esculpidas nos museus do mundo (especialmente
Cairo) exumados das areias nos últimos séculos dão um testemunho mudo ao desejo
de inúmeros egípcios de ter seus nomes na presença do “grande deus”. No último
período, a influência de Osíris em outros cultos foi muito enfatizada. Mesmo o
grande deus imperial, Amon de Tebas na 21 - e 263 dinastias viu seu limite em
Kamak pontuado com vinte ou mais santuários de várias formas de Osíris. Ainda
mais tarde, o culto de Osíris (especialmente como Serapis) e a religião de Isis
penetraram o mundo greco-romano, e a religião de Isis competiu com Mithras e
com o cristianismo primitivo, alcançando a Europa e império romano. O deus
Nilo, Japi, foi também venerado por todo o Egito, e em todos os períodos
(especialmente em relação a agricultura), mas ele nunca recebeu grandes
templos. Sua adoração foi mais freqüentemente marcada pelas cerimônias sazonais
à margem do rio, as de Mênfis e Heliópolis (mais tarde no Cairo) sobrevivendo
mesmo nos tempos modernos (a “Noite da Queda” na tradicional festa do início da
cheia anual do Nilo).
No entanto, além dos cultos locais e deuses como Rá e
Osíris, com um apelo mais amplo que durou milênios, a história da religião do
Egito mostra também o desenvolvimento e o declínio de outros deuses,
condicionado pelas mudanças políticas. Sob o domínio das dinastias mais antigas,
o Reino Antigo, Ptá de Mênfis teve uma importância central na cidade, mas então
foi ofuscado por Rá, deus sol. A teologia menfita desta época provavelmente
representa a reivindicação de Ptá (contra Rá) pelo papel de deus supremo e
criador de tudo. No final do Reino Antigo, Osíris estava ganhando tanto terreno
a ponto de invadir o domínio de Rá, i.e., da teologia real; e como foi notado
acima, deu aos egípcios uma poderosa esperança para a vida além, desde o Reino
Médio em diante, tanto que no Reino Novo, a acomodação teológica mesmo
conformou Rá e Osíris como se fossem formas diferentes do mesmo deus. Amon de
Tebas ilustra bem a flutuante fortuna do deus e de sua cidade. Sua importância
surgiu primeiramente quando no reino Médio ele tomou-se Amon-Rá (com um escopo
mais universal) e foi favorecido pela 12- dinastia. Era originário do sul do
Egito. Foi somente com os Faraós todo-poderosos de Tebas na 18- dinastia que
Amon, deus das forças ocultas da natureza, tomou-se também rei dos deuses e virtualmente deus do império, com os maiores
templos jamais vistos. No entanto, a desproporcional proeminência de Amon e seu
sacerdócio foram sentidos no estado como uma ameaça pela monarquia, culminando
na deposição de Amon e de outros deuses em favor do deus sol por Aquenaton. No
entanto, o monoteísmo solar de Aquenaton foi superficial e (como notado acima)
concentrou-se grandemente na beneficência e na força sustentadora do sol na
natureza; não teve tom moral ou base filosófica. O título “vivendo na
verdade" (Maat) refletiu meramente a reivindicação de Aquenaton de que o
seu caminho, e não o de outros deuses antigos, era a verdade da ordem certa do
cosmos. Não há aqui uma fonte adequada para o monoteísmo social e a moral
enfática de Moisés ou do pacto do Sinai.
Na 19a e 20 dinastias, o lado de Ramsés conteve o poder de
Amon favorecendo-o como um da trindade de deuses: Amon de Tebas, Rá de
Heliópolis, e Ptá de Mênfis. Um ou dois textos extraordinários mesmo que
sincretisticamente procuram identificar os três deuses como aspectos de uma
grande deidade (conforme e.g., Gardiner, Hieratic Papyru in the British Museum,
3 séries, 1 [1935], págs. 28-37) um fato que mostra um alto nível de pensamento
religioso e especulações já no séc. 13 a.C.
À luz disto, o monoteísmo revelado do AT não precisava
esperar até depois do exílio babilónico para ser manifestado ou formulado. No
Período Posterior (conforme citado acima), a fama externa de Amon de Tebas
cresceu com o eclipse do Império, Ptá similarmente reiniciou o papel principal
de artificies locais — deus de Mênfis, e Rá continuou tradicionalmente como
parte da teologia real — Osíris e Isis com seu filho Hórus ganharam uma maior
popularidade geral, enquanto que os deuses e deusas do Delta receberam mais
proeminência com a aquisição das cidades do Delta sob o governo dos reis do
Egito Baixo nas dinastias posteriores.
Finalmente, o próprio Faraó deve ser reconhecido entre os
deuses. Ele era seu representante na terra, e entre os egípcios era um homem
que mexia com o mundo dos deuses. O rei vivo era tido como Hórus, e o morto
como Osíris; um novo rei recebia um direito de sucessão que não se podia
desafiar, ao menos parcialmente por virtude de dar-se o apropriado enterro ao
seu predecessor de modo filial como fez Hórus por Osíris (veja Faraó).
MERRILL
C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia.
Editora Cultura Cristã. Vol. 2. pag. 332-335.
3.
Como Israel preservou o monoteísmo de Abraão?
A IDOLATRIA DO MUNDO ANTIGO
Abraão nasceu em Ur dos caldeus, cidade da Mesopotâmia (Gn 11.27-31).
Seus ancestrais serviam a outros deuses (Js 24.2,15). A localização geográfica
é a Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates, no atual Iraque. Os babilônios
adoravam a diversos deuses, que eram personificações da natureza, como Sin, o
deus-sol de Ur e Harã; Istar, a deusa do amor e da guerra; e Enlil, deus do
vento e da terra. Bel era o nome de outra divindade (do acádico, belo,
"senhor"), equivalente a Baal, deus dos cananeus. Com o tempo, Bel
veio a ser identificado como Marduque ou Merodaque, o patrono da cidade de
Babilônia, que se tornou o principal deus no panteão babilônico (Is 46.1; Jr
51.44). Os assírios adoravam, entre outros deuses, a Adrameleque e a Nisroque
(2 Rs 17.31; 19.37; Is 37.38).
Os textos hieroglíficos das pirâmides enumeram cerca de
duzentos deuses e relatos mitológicos. Os antigos egípcios empregavam o termo
Ta Neteru, "terra dos deuses", para o seu país. Havia uma
proliferação de deuses e templos no Egito, e cada grande cidade contava com
suas tríades de acordo com as dinastias: em Ábidos, Osíris, ísis e Hórus; em
Mênfis, Ptah, Sekhmet e Nefertum, e, em Tebas, Amom, Mut e Khonsu. O templo do
sol, bêth shemeshp em hebraico, "casa do sol" ür 43.13), é termo
traduzido por "Heliópolis" na LXX, vindo do grego, hêliou póleõs,24
"cidade do sol". Não confundir com a cidade de Bete-Semes, em judá (2
Rs 14.11). Aqui se trata da antiga cidade egípcia de Om, seu nome hebraico, ou
Heliópolis, em grego (Gn 41.45, 50 LXX). A cidade era dedicada ao deus-sol,
conhecido também como Rá; é a atual Tell el Hisn, 16 km ao nordeste do Cairo.
Os cananeus adoravam a Baal (Jz 6.31), Baal-Berite (Jz
8.33). Seu plural é baalim. Baal era também conhecido pelas cidades onde eram
cultuados: Baal-Peor, da cidade de Peor (Dt 4.3; Os 9.10), Baal-Meom, da cidade
de Meom (Nm 32.38; Ez 25.9) e Baal-Zefom (Nm 33.7). Astarote ou Astarte (Jz
10.6), identificada em nossas versões como "postes sagrados", deusa
cananeia da fertilidade" era deusa nacional dos sidônios (1 Rs 11.5, 33).
Aparece como "bosque" na Versão Almeida Corrigida,
"poste-ídolo" na Atualizada, e "Aserins" na Tradução
Brasileira. São os ídolos de madeira e de pedras (Jr 3.9; Dt 4.28). A madeira
simbolizava a fertilidade feminina, a deusa Aserá, mãe dos deuses cananeus; e a
pedra representava a fertilidade masculina na religião dos cananeus.
Quemos ou Camos era o deus nacional dos moabitas (Nm 21.29;
Jz 11.24; I Rs 11.7, 33; II Rs 23.13; Jr 48.7, 13, 46). Malcam ou Milcom (I Rs
11.33) era o deus nacional dos amonitas. Milcom, em hebraico milkom, e Moloque,
molech, em hebraico, seriam dois deuses ou nomes diferentes do mesmo deus? (I
Rs 11.5, 7, 33). Parecem ser nomes alternativos. O termo malkãm significa
"seu rei", mas a Septuaginta, a Vulgata Latina e a Peshita traduzem
esta palavra como nome próprio. É uma questão de
vocalização da palavra. As consoantes hebraicas aqui são exatamente as mesmas -
mlkm) e o texto antigo era consonantal. Dagom e Baal-Zebube eram deuses dos
filisteus (Jz 16.23-24; II Rs 1.2-3, 6,16).
Os gregos do período do Novo Testamento tinham vários
deuses: Zeus, o pai dos deuses; Hermes, o deus mensageiro; Afrodite, a deusa do
amor; Dionísio, o deus do vinho; Atenas, ou Pala Atenas, nascida da cabeça de
Zeus, deusa padroeira da cidade de Atenas. Hesíodo, em sua obra Teogonia, a
Origem dos Deuses, apresenta uma lista interminável deles. Para os romanos, o
pai dos deuses era Júpiter; o deus correspondente a Hermes era Mercúrio (At
14.11-13); Afrodite era similar a Vênus e assim por diante.
Esses deuses da mitologia greco-romana apresentavam os
mesmos vícios e as mesmas características dos humanos: ódio, inveja, ciúme,
imperfeições... eles comiam, bebiam etc. Era muito comum um homem ter o seu
deus devocional, prestando-lhes cultos em particular, além de oferecer libações
a outros deuses. Por isso havia nas casas romanas os penates ou nichos,
espécies de altar com uma representação do deus adorado naquele lar. Em Éfeso,
a deusa Diana, Ártemis para os romanos, era cultuada no templo daquela cidade,
que era uma das sete maravilhas do mundo antigo. Mas os seus adoradores também
tinham miniaturas da imagem de Diana em seus penates. Demétrio, de Éfeso, era
fabricante de nichos (At 19.24). Os mesmos adoradores desses deuses
participavam também do culto do imperador.
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 29-31.
Panteões Nacionais
O Antigo Testamento frequentemente menciona os deuses das
várias nações vizinhas a Israel em termos gerais. Aqui podemos encontrar
praticamente todas as nações com as quais
Israel teve contato. Normalmente a palavra "panteão" é usada na lista
e na discussão dos deuses de qualquer grupo étnico ou político. No entanto,
este é um anacronismo ilusório. A expressão semita significa "a assembleia
dos deuses". Este conclave deve ser visto como uma reunião para tomada de
decisões ou ações (por exemplo, o senado de alguns países pode se reunir sem a
presença de todos os senadores) e não como um catálogo formal e metódico das
divindades adoradas por um povo em particular. Com esta distinção em mente,
podemos observar os seguintes panteões mencionados na Bíblia.
1. Os deuses dos amonitas (Jz 10.6). O principal deus era
Moloque ou Milcom.
2. Os deuses dos amorreus (Js 24.2,15; Jz 6.10; 1 Rs 21.26;
2 Rs 21.11). Como pouca literatura dos amorreus chegou até nós, precisamos
depender de fontes secundárias e inferências para o nosso conhecimento desse
panteão. Evidentemente, era parecido com o panteão cananeu posterior. O templo
de Ishtar em Mari e o templo de Dagom na Babilónia eram, provavelmente,
santuários dos amorreus. Dagom, Hadade e Anate parecem ter sido divindades dos
amorreus, impostas por estes aos cananeus, quando invadiram a região do médio
Eufrates, como se pode inferir das descobertas em Ras Shamra (Oldenburg, The
Conflict Between El and Baal, pp. 146-163).
3. Os deuses dos assírios (Na 1.14) passaram a fazer parte
da jurisdição do Antigo Testamento entre os séculos IX a VII a.C. O principal
deus deste panteão era Assur, substituindo o sumério Ea. O panteão assírio era
parecido com o da Babilónia. Nas duas localidades, as divindades semitas
substituíram os antigos deuses sumérios, em alguns casos absorvendo as suas
supostas funções e os seus títulos.
4. Os deuses dos babilónios (Is 21.9; Ed 1.7) foram
importantes para Israel nos séculos finais do período dos reis e durante o
exílio. Existiam mais de 700 divindades listadas na Babilónia. Os
conquistadores semitas dos sumérios aceitaram os deuses nativos e adicionaram
os seus próprios. Esta situação foi posteriormente complicada pelo fato de que
cada cidade-estado passou a ter o seu próprio panteão.
Em Lagash, nos tempos antigos, Anu, o deus do paraíso, era
adorado juntamente com Antu, a sua esposa. Em Eridu, o deus principal era
Enlil, deus da terra, que mais tarde foi sucedido por Merodaque. A esposa de
Enlil era Damkina, e o seu filho era Merodaque. Essas figuras (exceto
Merodaque) eram todas sumárias. Outros deuses da Babilónia incluíam Sin (a
suméria Nanna), o deus-lua; Shamash, o deus-sol e filho de Sin; Ningal, a
esposa de Sin; Ishtar (a suméria Innina), a deusa da fertilidade, e o seu esposo
Tamuz; Allatu (a suméria Ereshkigal), a deusa do inferno; Namtar, o mensageiro
do deus da morte; Irra, o deus das pestes; Kingsu, a deusa do caos; Apsu, o
deus das profundezas do mar; Nabu, o santo patrono da ciência e do aprendizado;
e Nusku, o deus do fogo. Veja Babilónia. 5. Os deuses dos cananeus (q.v.) são
mencionados juntamente com os dos demais habitantes de Canaã, em uma relação
com a conquista da terra pelos hebreus. Outras tribos mencionadas em Êxodo
23.23; 34.11-17; Juízes 3.5ss., e outras passagens, incluem os amorreus, os
heteus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. Exceto para os heteus, e
possivelmente os heveus (talvez os horeus, ou hurrianos; cf. a versão grega de
Génesis 34.2; Josué 9.7), as demais tribos eram fortes aliadas dos cananeus e
provavelmente adoravam as mesmas divindades. O mesmo era verdade sobre os
sírios mencionados em Juízes 10.6, mas provavelmente houve alguma mudança
naquele panteão nos últimos tempos. O panteão cananeu é o mais conhecido dos
textos mitológicos de Ras Shamra, embora outras informações venham de Filo de
Byblos e de fontes bíblicas, assim como de curtos textos literários em aramaico
e em fenício. O principal deus e criador era El. Seu filho (às vezes chamado de
seu neto) Baal era o deus das tempestades e da vegetação. Ele era chamado de
"aquele que predomina", "o exaltado, deus da terra". Na
mitologia, Baal é entronizado em uma montanha no norte. Durante o reinado de
Acabe, ele tornou-se o principal deus de Israel. Aserá era a esposa de El e a
mãe de 70 deuses. Nos textos de Ras Shamra, a deusa Anate é a irmã, e
frequentemente, a esposa de Baal, mas, no Antigo Testamento, Astarote (isto é,
Aserá) é normalmente a sua esposa. Em Tiro, a pátria de Jezabel, Aserá é a
esposa de Baal (1 Rs 15.13; 18.19; 2 Rs 21.7; 23.4). Outros deuses cananeus
proeminentes eram Dagom, Moloque, Resefe e Rimom (veja abaixo), e Mot (a
morte). 6. Os deuses do Egito são mencionados na história pré-monárquica antiga
dos hebreus, e novamente no período entre os séculos VII e VI a.C.(Êx 12.12; Js
24.14; Jr 43.12,13; 46.25). Como os deuses do Egito estavam em constante
modificação, fusão e sincretismo, dependendo parcialmente da sorte política da
província ou cidade onde uma divindade em particular era soberana, é difícil
fornecer uma breve pesquisa do "panteão" egípcio. No entanto, o
principal deus era conhecido por diferentes nomes em diferentes lugares e
épocas. Em Heliópolis ele era conhecido como Aten-Re-Khepri; em Elefantina,
como Khnum-Re; em Tebas, como Amon-Re (veja abaixo); e em Amarna (q.v.), como
Aton-Re. Re, o deus-sol, era assim fundido com o deus local da província.
Observam-se tríades de deuses principais em várias épocas: Ptah, Sekhmet, Nefer
Tem; Amon-Re, Mut e Khonsu; Osíris, Isis e Horus. Todas estas são tríades
pai-mãe-filho.
Segundo os textos das pirâmides, o Livro dos Mortos, e
outros exemplares da literatura egípcia antiga, existiam mais de 1200
divindades conhecidas pelos egípcios. As principais eram as seguintes: Apis, o
touro de Mênfis (Êx 32; 1 Rs 12.25-33 podem se referir à sua adoração); Hapi, o
deus do Nilo; Hator, a deusa do amor e da beleza; Ma'at, o deus da justiça e da
ordem; Sotis, a estrela do cão; Sihor, o deus do inferno; Shu, o deus do ar;
Thot, o deus escrivão.
7. Os deuses dos edomitas são, às vezes, mencionados como
os deuses de Seir (2 Cr 25.14; cf. versículo 20).
8. Os deuses dos heteus, embora não mencionados pelo nome
no Antigo Testamento, têm uma referência indireta em Êxodo 23.23,24; 34.11-15;
Juízes 3.5,6. O principal deus heteu, Teshub, era um deus das tempestades,
grosseiramente equivalente a Baal. Portanto, é possível que os heteus tenham
adorado as divindades dos cananeus como um resultado de seu contato com este
povo, embora os nomes idolatria (Ex 20.3-5;
32.35; Nm 25.1-9; Dt 5.7-9). Por trás do terrível julgamento de Joel 1.4-20
estava a queda de Israel na idolatria (cf. Jl 2.12ss.). O cativeiro é
representado como sendo o resultado da adoração a outros deuses (2 Rs 22.17).
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora
CPAD. pag. 761-764.
III.
EXEGESE DO PRIMEIRO MANDAMENTO
A Palavra. Esse termo vem do grego, ex, «fora», e agein,
«guiar», ou seja, «liderar» ou «explicar". A palavra portuguesa exegese é
usada para indicar «narrativa», «tradução» ou «interpretação». Dentro do contexto
teológico, a ênfase recai sobre a interpretação de modos formais de explicação
que podem ser aplicados a algum texto, a fim de se compreender o seu sentido.
Na linguagem técnica, a exegese aponta para a interpretação de alguma passagem
literâria especifica, ao mesmo tempo em que os principios gerais aplicados em
tais interpretações são chamados hermenêutica (que vede).
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 2. Editora Hagnos. pag. 617.
1.
Outros deuses.
Estudos de críticos conservadores mostram que a ideia de
henoteísmo no primeiro mandamento não se sustenta. Esse mandamento é
considerado o mais genérico e o menos detalhado do Decálogo. O rabino Benno
Jacob se pronunciou sobre o assunto da seguinte forma: "Nós não podemos
ajudar, mas responder porque este mandamento não era usado para prover uma
lição dogmática final acerca das falsas deidades, mas isto foi precisamente o que
o Decálogo procurou evitar" (JACOB, 1992, p. 546). Ele explica. É que no
Sinai só existiam Javé e Israel, e nada havia a ser dito sobre as nações e seus
deuses, portanto orabino acrescenta: "Não existia outro deus para o Decálogo".
A mais rudimentar regra da hermenêutica diz que nunca se deve interpretar um
texto isoladamente, fora do seu contexto. Aqui, esse contexto mostra a
proibição de sacrificar e servir a outros deuses é absoluta e sem concessão, o
que remete ao monoteísmo (Êx 22.20; 23.13; 34.14; Dt 6.4, 14; 13.2). É assim
que essas e outras passagens do Pentateuco explicam o primeiro mandamento.
Existe um só Deus e Deus é um só; esse pensamento permeia a Bíblia inteira (2
Rs 19.15; Jo 17.3).
Os ídolos, de fato, não são deuses (Dt 32.21; Gl 4.8).
Apenas são chamados assim por existirem na mente dos seus adoradores (1 Co
8.5), mas não reais de fato. O objeto de adoração dos gentios são
representações demoníacas; os pagãos adoram os próprios demônios (Lv 17.7; Dt
32.17; 1 Co 10.20). Não existe Deus além de Javé (Is 44.6; 45.5, 6). Os
cristãos devem manter distância dos ídolos (1 Co 10.14; 1 Jo 5.21).
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 35-36.
Gn 1.26 - “Façamos o
homem à nossa imagem." Por que Deus utiliza a forma plural? Um ponto de
vista alega que esta é uma referência ã Trindade — Deus. Jesus Cristo e o
Espirito Santo todos um só Deus. Outra visão explica que a finalidade da
palavra no plural é denotar majestade. Os reis tradicionalmente usam a forma
plural ao referir-se a si mesmos. Em Jó 33.4 e Salmos 104.30. sabemos que o
Espirito de Deus esteve presente na criação. Em Colossenses 1.16, vemos que
Cristo. Filho de Deus. estava trabalhando na criação.
BÍBLIA APLICAÇÃO
PESSOAL. Bíblia de Estudo Aplicação
Pessoal. Editora CPAD. pag. 6.
Gn 1.26 DISSE DEUS
FAÇAMOS. Esta expressão contém uma referencia primeva ao Deus trino e uno. O
uso da primeira pessoa no plural [“nós”, oculto] indica que há pluralidade em
Deus (Sl 2.7; Is 48,16). A revelação da carecteristica trina e uma de Deus só
se torna clara, porém, quando quando chegamos ao Novo Testamento (Lc 3.21-22).
STAMPIS. Donald C. (Ed) Bíblia de Estudo Pentecostal: Antigo e
Novo testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
Êxo 20.3 Não terás outros deuses. Neste ponto, o monoteismo
substitui todas as outras possíveis noções de Deus. Todavia, não basta
acreditar na existência de um Deus. Esse Deus único precisa ser reconhecido e
obedecido como a autoridade moral de to- dos os atos humanos. Também só há um
Deus no atinente à questão da adoração e do serviço espirituais. o Deus único
merece toda honra. Isso labora contra o panteísmo e todo o seu caos.
A nação de Israel estava cercada por povos que eram leais a
um número impressionante de divindades. As pragas do Egito tinham mostrado que
só Yahweh é Deus (ver Êxo. 5.2 e 6.7). Há uma profunda verdade na idéia que um
homem só pode adorar a um Deus. Jesus abordou essa questão em Mateus 6.24. Os
homens adoram aquelas coisas que lhes parecem importantes, incluindo o dinheiro.
Há deuses externós e internos. Mas todos eles são deuses falsos.
Os vss. 4-6 descrevem e ampliam o primeiro mandamento. Os
católicos-romanos e os luteranos (e também muitos intérpretes judeus) pensam
que esses versículos formam, conjuntamente, o primeiro mandamento. Mas a
maioria dos outros grupos protestantes e evangélicos fazem desses versículos um
mandamento distinto.
Yahweh é um Deus zeloso que não tolera rivais (vs. 5;
34.14). Naturalmente, temos nisso uma linguagem antropomórfica. Divindades
rivais seriam algo contrário ao caráter único de Deus. E um deus que não é
único não é o verdadeiro Deus. Ver os vss. 22,23. A desobediência ao primeiro
mandamento foi a principal razão dos cativeiros, finalmente, Israel sofreu.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 388.
Êxo 20.3 — Não terás outros deuses. O Senhor
não deveria ser visto por Israel como um deus qualquerentre todos os outros, e
nem como o melhor deles. Ele era e é o único Deus vivo. Ele, e somente Ele, deveria
ser adorado, obedecido e louvado pelos israelitas. Muitos estudiosos consideram
o conceito de monoteísmo uma conquista de Israel, tal como a arte é uma
realização original dos gregos, e o direito, uma façanha dos romanos. Tais
eruditos acreditam que o verdadeiro monoteísmo (a crença em um único Deus) não
fora totalmente estabelecido até a época de Amós (séc. 8 a.C.). Entretanto, o
testemunho da Bíblia apresenta uma visão diferente desse conceito crítico. A
história bíblica apresenta a crença emum único Deus desde o começo da história
de Israel como uma nação. O primeiro mandamento é uma comprovação disso. E tal
fato não foi uma realização de Israel. Este povo foi apenas o receptor das
revelações divinas.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O
Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 164-165.
2. O
ponto de discussão.
Diante de mim (3) significa “lado a lado comigo ou além de
mim”.20 Deus não esperava que Israel o abandonasse; Ele sabia que o perigo
estava na tendência de prestar submissão igual a outros deuses. Este mandamento
destaca o monoteísmo do judaísmo e do cristianismo.
“O primeiro mandamento proíbe todo tipo de idolatria mental
e todo afeto imoderado a coisas terrenas e que podem ser percebidas com os
sentidos.” Não existe verdadeira felicidade sem Deus, porque Ele é a Fonte de
toda a alegria. Quem busca alegria em outros lugares quebra o primeiro mandamento
e acaba na penúria e em meio a acontecimentos trágicos.
Leo
G. Cox. Comentário Bíblico Beacon.
Êxodo. Editora CPAD. pag. 189.
Diante de mim. Literalmente “ à minha face” . Esta frase
vagamente incomum também parece ser usada em relação ao ato de tomar uma segunda
esposa enquanto a primeira ainda estivesse viva. Tal uso, de uma quebra de um
relacionamento pessoal exclusivo, ajuda a explicar o seu significado aqui. A
frase está relacionada à descrição de YHWH como um “ Deus zeloso” , no
versículo 5. Alguns comentaristas modernos sugerem que “ diante de YHWH” ou “ a
presença de YHWH” no restante da Torah são referências ao;altar de YHWH
(23:17). Vêem, portanto, uma referência ao culto israelita: nenhum outro deus
pode ser adorado simultaneamente com YHWH num santuário comum, como era de
praxe, por exemplo, na religião cananita. Não há dúvida de que isto é verdade,
mas parece ser uma explicação inadequada. Seja qual for, porém, a maneira de
encararmos os detalhes da passagem, seu sentido principal é claro: por causa da
natureza de YHWH e do que YHWH fez por Israel, Ele não dividirá Seu louvor com
quem quer que seja: Ele é único. Consulte Hyatt com respeito a outras
interpretações da frase.
R.
Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 148.
3. O
politeísmo.
São três as principais formas de adoração no paganismo do
Antigo Oriente Médio: politeísmo, henoteísmo e monolatria. Foi nesse contexto
que viveram os patriarcas do Gênesis e em que a nação de Israel foi formada.
O politeísmo é a crença em muitos deuses. O termo deriva de
duas palavras gregas, polys, "muito", e theos, "Deus". Era
a religião dos antigos mesopotâmios, egípcios, gregos, romanos e do atual
hinduísmo. O henoteísmo é uma forma primitiva de religião que admite a existência
de muitos deuses; no entanto, apenas um deles tem a supremacia. O termo, aplicado
em 1881 por F. Max Muller, historiador alemão das religiões, significa
literalmente "um Deus", do grego heis/hen, o numeral "um",
e theos, "Deus". A forma henoteísta deve ser definida como uma crença
em um Deus, mas admitindo a existência de outros deuses, como ocorre à doutrina
das atuais testemunhas de Jeová.
A palavra monolatria vem de monos, "único", e
latreia, "serviço sagrado, culto". O termo surgiu com o orientalista
alemão Julius Wellhausen (1844-1918). Define-se como adoração ou culto "de
uma deidade única para cada grupo étnico-político (clã, tribo, povo), não para toda a humanidade, de sorte
que se admitem tantos deuses legítimos como povos" (GUERRA, 2001, p. 613).
Assim, o henoteísmo deve ser entendido como uma forma de crença do qual a
monolatria é o tipo correspondente de adoração. A ideia de henoteísmo e
monolatria formarem um estágio intermediário entre politeísmo e monoteísmo não
tem sustentação bíblica, visto que a religião original da raça humana era
monoteísta. Não se conhecia a idolatria antes do dilúvio. A Bíblia afirma que
todas essas formas falsas de adoração são uma degeneração do monoteísmo
original (Rm 1.21-25).
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 28-29.
POLITEISMO. Essa palavra vem do grego, poli, -muítos-, e
theóe, "deus.., ou seja, a crença de que existem muitos deuses. Isso
contrasta com o monoteísmo, a crença na existência de um único Deus, e com o
henotelsma, a crença de que apesar de existirem muitos deuses, somos
responsáveis diante de um só Deus. Dois artigos devem ser consultados nesta
enciclopédia, em relação ao politeismo.
Só as três grandes fés: a do judaismo, a do cristianismo e
a do islamismo têm adotado uma forte posição monoteista. Contudo, os judeus e
os maometanos vêem o conceito trinitariano cristão como uma forma velada de
monoteismo. Dentro do cristianismo moderno, os mórmons defendem um politeismo teórico.
De acordo com o mormonismo, na verdade existiriam muitos deuses; mas, na
prática, eles promovem um triteismo: haveria três deuses com os quais temos
algo a tratar, o Pai, o Filho e o Espirito Santo, que seriam pessoas separadas
e deuses distintos uns dos outros, e não meras hipástases (vide) de uma única
essência divina.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 321.
IV.
O MONOTEÍSMO
1.
Os mandamentos, os estatutos e os juízos.
Dt 6.1 Mandamentos... estatutos... juízos. Temos aqui a
tríplice designação da legislação mosaica, conforme já tínhamos visto em Deu.
5.31. Estatutos e juizos figuram como que formando um par em Deu. 4.1,5,8,14,45
e 5.1. E Deu. 6.20 reitera essa tripla designação. Ver as notas a respeito em
Deu. 5.31. Talvez não devamos estabelecer distinções muito nítidas entre esses
três termos, pois parecem ser apenas uma referência múltipla aos muitos
preceitos baixados por Moisés. Alguns estudiosos têm sugerido que os “man-
damentos'' são os dez mandamentos, e os outros dois vocábulos apontam para
desenvolvimentos e ampliações posteriores do núcleo original da lei. O que fica
claro, contudo, é que está em pauta a complexa legislação mosaica, referida por
meio de vários termos. Toda essa grande complexidade precisa- va ser ensinada
(Deu. 5.31), conhecida e observada (5.31-33), para que então houvesse vida (4.1
e 5.33).
... se te ensinassem. A idéia de instrução é reiterada
aqui. Ver Deu. 5.31 quanto a notas expositivas completas e referências a
artigos importantes sobre esse assunto.
Para que os cumprisses na terra. Ou seja, na Terra
Prometida, dada a Israel por meio do Pacto Abraàmico (ver as notas a respeito
em Gên. 15.18). Os três discursos de Moisés (que perfazem 0 volume maior de Deuteronômio)
exortavam 0 povo de Israel para que obedecesse à lei, como meio de conquista e
de vida boa e longa na Terra Prometida. Os filhos de Israel precisavam instruir
à geração mais jovem quanto aos seus deveres na Terra Prometida. Por motivo de
desobediência, a geração anterior havia perecido no deserto, com as exceções
únicas de Caiebe e Josué (ver Deu. 1.34 ss.).
A lei destinava-se a todas as “gerações” dos filhos de
Israel (ver Êxo. 29.42; 31.16). Esses estatutos eram “perpétuos” (Êxo. 29.42;
31.16; Lev. 3.17 e 16.29). Os hebreus não antecipavam um fim para 0 seu sistema
religioso. Mas ele terminou, e isso serviu de instrumento para 0 começo do
cristianismo. Todos os sistemas terminam e assim tornam-se instrumentos de
avanço. Essa evolução é que é “perpétua”. A epístola aos Hebreus mostra como e
por qual motivo 0 Antigo Pacto terminou, a fim de que 0 Novo Pacto pudesse
tomar 0 lugar daquele e percorrer 0 seu próprio curso.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 781, 784.
Dt 6.1 — Os mandamentos fazem referência à instrução de
amar a Deus (v. 5), e Moisés era o instrumento usado pelo Senhor para
transmitir Suas ordenanças a Israel (Dt 5.22,23), como afirma a passagem estes,
pois, são os mandamentos, os estatutos e os juízos que mandou o Senhor, vosso Deus,
para se vos ensinar. Portanto, não era a lei de Moisés, mas sim a Lei de Deus.
Dt 6.2 — O temor a Deus inclui a apreensão por causa de Sua
santidade e magnificência, o amor a Ele e a submissão à Sua vontade.
Inicialmente, pode envolver o medo. Todavia, esse sentimento leva à sensação de
admiração, ao comprometimento com a adoração e ao deleite em conhecer Deus. O
Todo-poderoso esperava que Seu povo seguisse Seus caminhos por sucessivas gerações,
visto que prometera abençoar geração após geração (Gn 17.7,8) todos os dias da
sua vida. O Senhor presenteou Israel com bênçãos sobre a terra como um
benefício da aliança (Dt4-40;5.29;6.24; 14-23; 18.5;30.15), porém elas estavam
condicionadas à lealdade. O propósito de Sua Lei foi levar a plenitude de vida
às pessoas mediante Sua graça (Dt 4.1). A desobediência acarretaria a perda do direito
à terra e aos privilégios do concerto (Dt 4.26;30.15-19; SI 1.6; 112.10). Desta
forma, Deus ensinou aos hebreus que Ele é a vida e que rejeitá-lo é escolher a
morte (Dt 30.20; Jo 3.16-20).
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário
Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 323.
Dt 6:1-3. A ordem de 5: 32, 33 é agora expressa com nova
ênfase. A expressão estatutos e juízos, que acontece em outras partes do livro
(5: 1; 12: 1), é aqui precedida pela palavra mandamento no singular (miswâ; cf.
SBB, que traz, erroneamente, o plural). O termo poderia ser traduzido como
“ordem”. Em maiores detalhes, a ordem é representada por estatutos e
mandamentos, embora estes não apareçam formalmente senão nos capítulos 12 a 26.
A esta altura a preocupação principal é expressar princípios gerais. Israel é
exortado a cumprir e guardar as leis de Javé e a teme-LO (reverenciá-LO).
Quaisquer bênçãos que se seguissem seriam o cumprimento da promessa patriarcal
(Gn 12: 1-7).
R.
Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 49.
2. O
maior de todos os mandamentos.
Dt 6.4 Temos aqui a introdução ao maior de todos os
mandamentos, o amor (vs. 5).
Consideremos estes pontos: 1. Dar ouvidos. 2. Israel
deveria ouvir e obe- decer. O mandamento fora dado ao povo de Deus, àqueles que
tinham sido libertados do Egito, aos quais fora entregue a Terra Prometida, que
fazia parte do Pacto Abraâmico. 3. Monoteísmo, não somente para ser crido, mas
também para ser aplicado. O único Deus verdadeiro requer obediência. A
idolatria é terminantemente proibida. 4. Os direitos do Criador, o qual é
Yahweh e Elohim (ver, acerca disso, as notas sobre o versículo anterior).
O monoteísmo forma a base do pronunciamento original da lei
(ver Êxo. 20.3,4). Mas não devemos entender isso como mera crença na existência
de um único Deus, ou que a divindade existe sob a forma de uma única unidade.
Pois também envolve a obediência estrita à lei que foi dada pelo Deus único.
O original hebraico, que tem sido sujeitado a várias
traduções, é: Yahweh, nosso Deus, Yahweh, um. Eis algumas das traduções:
O Senhor nosso Deus é um Senhor.
O Senhor nosso Deus, o Senhor é um só.
O Senhor é nosso Deus, o Senhor é um.
O Senhor é nosso Deus, somente o Senhor.
O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.
Fica em dúvida qual a melhor maneira de traduzir o original
hebraico. Mas o intuito do original hebraico é perfeitamente claro. Só existe
um Deus; e Ele é nosso Senhor e dono; Ele nos
deu a Sua lei; e ela deve ser obedecida. Isso rejeita peremptoriamente a idolatria.
O Deus único requer o cumprimento da lei do amor, que sumaria a lei toda em uma
única declaração, precisamente o quinto versículo deste capítulo.
Ό objeto da atenção exclusiva, do afeto e da adoração de
Israel não é difuso, mas compacto e único. Está em foco algum panteão de
divindades, cada uma das quais possuidora de uma personalidade dotada da
desconcertante capacidade de ser dividida por devotos e santuários rivais,
impedindo que a atenção do adorador se concentre sobre um único objeto. A
atenção de Israel, porém, não podia ser dividida; antes, confinava-se ao Ser
único e bem definido, cujo nome é Yahweh" (G. Ernest Wright, in loc.).
O único Senhor. Não muitos deuses; mas essa expressão
também enfatiza as idéias de exclusividade e de soberania. Esse único Deus precisa
ser obedecido; Ele é o doador e senhor de toda vida.
O Shema. Este versículo, que na íntegra lê: Ouve, Israel, 0
Senhor nosso Deus é o único Senhor”, tem sido assim chamado. Esse vocábulo
hebraico é o verbo no imperativo: Ouve”. O versículo contém a confissão
fundamental e simplificada do judaísmo, da qual tudo mais depende. Os deuses do
Oriente Próximo e Médio eram muitos, imorais, brutais, imprevisíveis, jamais
agindo em harmonia com outras divindades, Todas essas noções eram repelidas por
Israel. No judaísmo bíblico, pois, a fé religiosa avançara, devido ao seu
monoteísmo aplicado, não sendo apenas um monoteísmo teórico.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 784.
Os versículos 4 e 5 fazem parte do que chamamos Shema (hb.
“ouve”). Este é o credo do judaísmo. O SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR ou
“O Senhor é o nosso Deus, o Senhor é um” são traduções válidas. Os judeus
consideram a palavra hebraica Yahweh* muito sagrada para ser pronunciada e, por
isso, a substituem pela palavra Adonai, “meu Senhor”. Yahweh quer dizer,
literalmente, “Ele é” ou “Ele se toma, Ele vem
ARC traduz por “JEOVÁ” ou “SENHOR” (assim, em letras
maiúsculas) todas as vezes que, no original, ocorre a palavra hebraica Yahweh.
(N. do T.) a ser”. Moffatt a traduz por “o Eterno”. Os dizeres do versículo 4
declaram que o Senhor é o Deus de Israel, que ele é o único Deus e que ele é o
mesmo em todos os lugares. Esta descrição estava em oposição aos deuses das
nações circunvizinhas, particularmente a Baal que era adorado de diferentes
formas e com diferentes ritos em diversas localidades.
A palavra único não é incompatível com a doutrina cristã da
Trindade, ou seja, três Pessoas da mesma substância em uma deidade. Com efeito,
a palavra Deus está, via de regra, na forma plural nas Bíblias hebraicas como
também neste versículo.
Leo
G. Cox. Comentário Bíblico Beacon.
Êxodo. Editora CPAD. pag. 433-434.
Dt 6.4. Ouve Israel. Israel é convidado a responder a Javé
com a mesma plenitude de amor demonstrada por Javé em favor de Seu povo. No
Novo Testamento o versículo 5 é apresentado por Jesus como o primeiro e grande
mandamento (Mt 22: 36-38. Cf. Mc 12: 29-34; Lc 10: 27, 28).
Esta breve passagem (4-9) tem sido conhecida pelos judeus
durante séculos como o Shema (sPma', ouve em hebraico) e é recitada junto com
Deuteronômio 11: 13—21 e Números 15: 37-41 como oração diária. A referência à
colocação das leis de Deus como frontal entre os olhos é comentada em 6: 8. A
prescrição do versículo 4 tem sido considerada como uma maneira positiva de
enunciar as ordens negativas dos dois primeiros mandamentos do Decálogo (5:
7-10). Esta confissão central da fé israelita consiste de apenas quatro
palavras, Javé, nosso Deus, Javé, Um. A expressão tem sido entendida de várias
maneiras. Traduções possíveis são: Javé nosso Deus, Javé é um”, “Javé é nosso
Deus, Javé é um”, “Javé é nosso Deus, Javé somente”. Seja qual for a tradução
escolhida, o significado essencial é claro. Javé deveria ser o único objeto da
adoração, leal dade e amor de Israel. A palavra “um” ou “Único” implica em
monoteísmo, mesmo que não o afirme com todas as sutilezas da formulação
teológica.
O monoteísmo bíblico tinha uma expressão prática e
existencial que levaria ao abandono de pontos de vista como a monolatria. Mesmo
que alguém em Israel admitisse a existência de outros deuses, a afirmação de
que somente Javé era Soberano e único objeto da obediência de Israel fazia soar
o toque fúnebre para quaisquer posições inferiores ao monoteísmo.
R.
Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 50-51.
3. A
Trindade na unidade.
O monoteísmo é instituído como confissão de fé na lei de
Moisés, e o Decálogo introduz esta doutrina. O monoteísmo é a crença em um só
Deus, como sugere a própria palavra: monos, "único", e theos,
"Deus". O termo é usado para designar a crença em um e somente um
Deus. A ênfase nesta unidade contrasta de maneira visível com o henoteísmo e a
monolatria, além do politeísmo. Os patriarcas do Gênesis, Abraão, Isaque e
Jacó, eram monoteístas e instruíram seus descendentes nessa crença (Dt 13.6;
28.64; Jr 19.4).
O Deus de Israel revelado no Antigo Testamento é o mesmo
Deus do cristianismo (Mc 12.29-32). O Senhor Jesus não somente ratificou o
monoteísmo judaico do Antigo Testamento, como também afirmou que o Deus Javé de
Israel, mencionado em Deutero- nômio 6.4-6, é o mesmo Deus que ele veio revelar
à humanidade (Jo 1.18). O monoteísmo cristão é trinitário porque a sua base é de
um só Deus que subsiste em três pessoas distintas: o Pai, o Filho e o Espírito
Santo (Mt 28.19). O monoteísmo judaico é chamado de monoteísmo ético, pois Javé
é um Deus com propósito ético e a afirmação de um só Deus é feita com base
ética. Os Dez Mandamentos são chamados de "Decálogo Ético". A
doutrina de Deus é uma "questão de vida ou morte", pois, Jesus disse:
"E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e
a Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17.3).
O apóstolo Paulo anunciava aos gentios o mesmo Deus de seus
antepassados: "O Deus de nossos pais de antemão te designou para que
conheças a sua vontade, e vejas aquele Justo, e ouças a voz da sua boca"
(At 22.14). Veja o que ele ensina nas epístolas: "Todavia para nós há um
só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus
Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele" (1 Co 8.6);
"Ora, o medianeiro não o é de um só, mas Deus é um" (Gl 3.20);
"Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos
vós" (Ef 4.6). A fé cristã não admite a existência de outro Deus além do
Deus de Israel (Mc 12.32). É o monoteísmo judaico-cristão.
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 36-37.
TRINDADE A igreja primitiva, oposta ao politeísmo, com o AT
ensinando que há um só Deus, foi logo forçada a questionar: Quem é Jesus
Cristo? Era Ele apenas um homem? É Ele um anjo? Ou é Ele um Deus? E se Ele é um
Deus, existem dois Deuses? Próximo ao início do século IV, um forte grupo na
Igreja, sob a liderança de Ario, afirmava que Cristo era um anjo criado.
Ataná-sio comandava a ortodoxia e garantiu a condenação do Arianismo no Concílio
de Nicéia em 325 d.C. A decisão foi repetida e o Credo de Nicéia recebeu sua
forma final no Concílio de Constantinopla em 381 d.C. O debate no concílio
centrou-se no significado do título Filho de Deus. Os arianos sustentaram que o
Filho nem sempre tinha existido; o Filho ou Palavra é uma criatura, uma obra,
não o mesmo, em essência, com o Pai e, portanto, não era o verdadeiro Deus.
Atanásio, ao contrário, criou uma distinção entre a
filiação moral, no sentido de que todo crente é um filho de Deus, e uma
filiação natural, como Isaque era filho de Abraão. Então, se Cristo fosse Filho
apenas no sentido moral, Ele não seria diferente de nós e não seria o único
Filho de Deus. A isso, os arianos respondiam que Cristo é o único Filho de Deus
porque Ele veio a ser unicamente através do Pai, enquanto todos os outros são
gerados pelo Pai através do Filho. Mas essa construção, alegava Atanásio, nos
tornaria filhos de Cristo ao invés de filhos de Deus. Cristo, então, nos
separaria de Deus ao invés de nos unir a Ele. O debate se aprofundou em
detalhes. Ario usou Provérbios 8.22, "O Senhor Deus me criou antes de
tudo, antes das suas obras mais antigas" (RSV), para provar que Cristo era
uma criatura. Atanásio referenciou o verso à natureza humana de Cristo. O
concílio, por fim, rejeitou a afirmativa de Ario de que o Filho é como o Pai,
assim como o estanho se assemelha à prata, e adotou o Credo de Nicéia para o qual o Filho é dito ser um em
essência com o Pai. Alguns críticos ridicularizam a teologia e o concílio por
ter discutido tão violentamente a respeito da importância da letra
"i". O ponto em debate era se Jesus Cristo era da "mesma
essência" (homoousios) do Pai (e, portanto, Deus por inteiro) ou de
"essência similar" (homoiousios) ao Pai (e, portanto, alguém menor do
que Deus). A diferença que a letra "i" faz é bem maior do que a
existente entre prata e estanho; é a diferença entre Deus e uma criatura.
A doutrina da Trindade também é acusada de ter introduzido
na cristandade temas pagãos da filosofia grega. Nada poderia estar mais longe
da verdade. Em primeiro lugar, os argumentos de Atanásio não utilizam nem a
linguagem, tampouco os conceitos da filosofia grega; eles são completamente
bíblicos. Segundo, foi Ário e não Atanásio quem utilizou argumentos pagãos ao
permitir que honras fossem prestadas a um ser que ele considerava inferior a
Deus. E terceiro, o Credo de Nicéia removeu elementos pagãos que haviam
aparecido em Orígenes e outros teólogos anteriores.
A doutrina da eterna geração do Filho, por exemplo,
indicada nas palavras do Credo de Nicéia, "Unigénito de Seu Pai antes de
todos os mundos", evita o erro de que o Logos, ao invés de ser um Filho
eterno seja uma criação voluntária pela qual Deus se isola da contaminação da
criação do mundo. Como a ênfase na eterna geração evita esse erro, a ênfase na
geração eterna mostra que o Filho não é um passo em uma série descendente de
emanações, e que embora a filiação por geração seja uma relação necessária, a
criação é um ato voluntário. Para os cristãos ativos hoje, a questão da
Trindade muitas vezes toma a forma da defesa da divindade de Cristo e a da
personalidade do Espírito Santo. Esta defesa é requerida em dois casos. A
teologia liberal tende a um Cristo puramente humano e as Testemunhas de Jeová
ressuscitam o arianismo ao fazer de Cristo um anjo criado. O material
escriturai é o mesmo, independente de qual grupo seja considerado, embora as
Testemunhas de Jeová sejam mais propensas a dar atenção às Escrituras do que os
liberais.
O primeiro versículo do Evangelho de João é frequentemente
citado pelas Testemunhas de Jeová. Elas inevitavelmente sustentam que a
tradução correta é: "No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e
o Verbo era um deus". A resposta do cristão começa com o próprio
versículo. Aqui encontramos uma expressão idiomática grega particular, o uso
anarthous do nome, isto é, o uso do nome sem o artigo definido. Em grego,
quando o narrador queria indicar ou designar uma pessoa ou objeto, ele usava o
artigo; mas
quando queria reforçar uma qualidade ou natureza dos
mesmos, ele excluía o artigo. Portanto, a tradução literal de João 1.1 seria:
"E o Verbo era da mesma natureza ou qualidade de Deus" (cf. a mesma
expressão idiomática em Hebreus 1.2, onde algumas versões trazem corretamente a
expressão "seu Filho", embora o texto grego traga simplesmente o
termo "filho"). A evidência adicional para provar que João não
poderia ter ensinado que Cristo era uma criatura a quem foi concedido o título
honorífico de "Deus" é claramente encontrada nos versos imediatamente
seguintes a João 1.1. Outras passagens declaram dire-tamente a divindade de
Cristo, como Hebreus 1.5-8, "A qual dos anjos disse jamais: Tu és meu
Filho?... Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos
séculos" (cf. Tt 2.13). Outro verso nesse sentido, cujas duas partes os
liberais tentaram separar, inserindo um ponto final entre eles é:
"Cristo... o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente" (Rm 9.5).
Outras bem conhecidas afirmações da divindade de Cristo estão contidas na bênção
apostólica (2 Co 13.13 e 13.14 em algumas versões) e na fórmula batismal (Mt
28.19). Referências adicionais selecionadas entre um grande número de
referências disponíveis são: Mateus 11.27; João 5.23; Atos 10.36; 20.28;
Romanos 10.9; Colossenses 2.9; 1 Tessalonicenses 3.11; 1 Pedro 1.2.
O fato de o termo Senhor ser a tradução, em grego, do termo
Jeová utilizado no AT é, em si mesmo, uma evidência da divindade de Cristo e
também nos convida a comparar passagens do AT e do NT; por exemplo, Isaías 40.3
com Mateus 3.3; Salmo 24.7,10 com 1 Coríntios 2.8; Jeremias 23.5,6 com 1
Coríntios 1.30; e Provérbios 16.4 com Colossenses 1.16.
Pode-se também supor que o AT antecipa a doutrina da
Trindade ao utilizar um termo no plural, Elohim, em Génesis 1.26, e mais claramente
quando se trata do Anjo do Senhor em Génesis 16; 18; 19. No caso do Espírito
Santo, não é tanto sua divindade que é questionada, mas sua personalidade
distinta. O Espírito Santo é uma pessoa; este é um fato que pode ser plenamente
entendido. Embora o nome Espírito seja do género neutro em grego, os pronomes
relativos ao Espírito são masculinos (ao contrário da tradução de Romanos 8.16
na versão KJV em inglês). Vários textos deixam bastante claro que Ele é uma
pessoa distinta tanto do Pai como do Filho: Mateus 3.16; Lucas 4.18; João
15.26; 16.7; Atos 5.32; Hebreus 9.14 etc.
Alguns, às vezes, rejeitam a doutrina da Trindade por
pensar que ela não está explicitamente declarada nas Escrituras (1 Jo 5.7 não
consta em alguns textos gregos). Mas esta doutrina está claramente implícita no
testemunho dado pelas Escrituras quanto à verdadeira
e completa divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, mantendo uma
distinção de pessoas; em outras palavras, há três pessoas em um único Deus.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora
CPAD. pag. 1966-1968.
Definição.
Os crentes comuns, e até mesmo a maioria dos mestres cristãos, se fossem
solicitados a definir a trindade, apresentariam uma definição
"triteísta", e não uma definição "trinitária", Diriam haver
três pessoas divinas, Pai, Filho e Espírito Santo, e que são uma só pessoa.
Porém, se fossem pressionados a explicar melhor suas idéias, diriam que essas
três pessoas são "distintas".
A
doutrina trinitária, entretanto, não contempla pessoas distintas. Se assim
fosse, tudo se reduziria ao "triteismo". Em outras palavras, haveria
três pessoas e, por conseguinte, três deuses, pois cada pessoa é vista dotada de
existência separada das outras duas. A maioria dos argumentos apresentados em
favor do "trinitarianismo", na realidade dá apoio ao
"triteismo", No trinitarianismo, fala-se da essência de Deus, como
algo que está sujeito à distinção em três pessoas, mas sem qualquer divisão que
permita a distinção em três pessoas diversas. Não há "três deuses", e
nem meramente três modos de manifestação divina. Antes, todas as pessoas são
co-extensivas, co-iguais e co-eternas. Contudo, sem importar que tipo de
analogia ou argumento usemos, a fim de demonstrar essa doutrina, em algum ponto
não conseguiremos explicar-nos devidamente, pois simplesmente não sabemos como
pode haver três, e, ao mesmo tempo, um só, porquanto a mente dos homens
terrenos não se presta muito bem para entender a matemática celeste. Por conseguinte,
as analogias e explanações invariavelmente se inclinam por apoiar o "triteísrno",
e não o "trinitarianisrno". Até mesmo as explicações antigas, que falavam
de três "hipóstases" de "uma só substância", chegavam
perigosamente perto do triteismo, se é que não eram expressões dessa posição. A
palavra trindade significa a "união de três partes ou expressões em uma só".
Porém, se postularmos três pessoas separadas, teremos caído no triteísmo, mesmo
que digamos que essas três pessoas possuem o mesmo tipo de natureza. Muitos homens
existem; compartilham do mesmo "tipo de natureza"; mas não perfazem
"um" único individuo.
Se
dissermos que Deus é um só, em seu ser essencial, mas que a essência divina
existe em três formas ou modos de ser, cada forma constituindo uma pessoa,
embora participem da mesma essência, ainda assim teremos caido no triteísmo, se
porventura estivermos concebendo três pessoas distintas, com existências
individuais. Agostinho falava da trindade em termos de "relações
internas", ou seja, aspectos de um único ser divino. Em Deus não há qualquer
divisão, mas tão-somente simplicidade e unidade perfeitas. Aceitando essa forma
de definição, que é verdadeiramente trinitária, encontramos dificuldade em harmonizar
essas idéias com as descrições dadas pelo NT, acerca das pessoas e das obras
das três pessoas divinas. O que isso significa e que, sem importar qual
definição apresentemos sobre a "trindade", nossas mentes permanecem
insatisfeitas, porquanto simplesmente não podemos aprender o conceito
"trinitário",já que não temos qualquer experiência sobre algo que
seja, ao mesmo tempo, três e um. Portanto, nossas mentes não podem entender o
conceito trinitariano, quando é apresentado realmente como tal, e não como
forma velada do triteísmo.
Não
obstante, o NT ensina que só há um Deus, e que há três pessoas divinas. Como
isso pode ser, não sabemos dizê-lo. Tomás de Aquino estava com a razão, ao
asseverar que algumas doutrinas cristãs transcendem à razão e à percepção dos
sentidos estão sujeitas à apreensão exclusiva da fé. O fato de que a mente humana
não é capaz de entender uma doutrina não significa que tal doutrina não seja
veraz. Por conseguinte, afirmamos a verdade da idéia trinitariana, porquanto
certas passagens do NT, quando consideradas em seu conjunto, exigem essa idéia,
ainda que as nossas explicações a respeito fiquem muito aquém de nos satisfazer
plenamente. Também aceitamos a divindade e a humanidade de Cristo, mescladas no
homem Jesus de Nazaré, mas não há maneira de explicar tal coisa, acerca de como
ela pode ser verdadeira. Isso envolve uma dimensão do conhecimento e da verdade
que as nossas mentes ainda não conseguiram atingir. Por que haveríamos de
pensar que não há "mistérios" presentes em qualquer sistema de conhecimento
que envolva considerações sobre a realidade última? A verdadeira definição e
compreensão sobre a trindade continuasendo um mistério para nós; no entanto, possuímos
excelentes indicações, nas páginas do NT, de que isso representa a verdade
sobre a natureza e a pessoa de Deus, e que o l';IT, não procura nos ensinar o
''triteismo''.
História.
E verdade, naturalmente, que o termo "trindade" não se acha no NT, e
nem em qualquer documento há uma definição clara de "trindade". Rejeitamos
enfaticamente a germinidade do trecho de I João 5:7a, Bb, conforme o mostram as
notas expositivas acima, em favor de cuja rejeição há evidências irresistiveis.
Contudo, o "conceito" da "trindade" é algo que se faz
necessário pelo aspecto "total" da divindade, segundo esta é exposta
nas páginas do N. T.
O
vocábulo "trindade" evidentemente foi pela primeira vez usado por
Tertuliano, na última década do século II d.C., mas não encontrou lugar na
teologia formal da Igreja até o século IV d.C. Essa doutrina recebeu ampla expressão,
pela primeira vez, em resultado daobra de pais capadócios da Igreja (meados do
século IV d.C. e mais tarde), a saber, Basílio, Gregório de Nissa e Gregório Nazianzeno.
Eles formularam as idéias de distinção hipostática e de unidade substancial;
mas algumas de suas explicações são claramente triteístas, e não trinitárias, o
que se verifica sempre quando alguém tenta explanar. O que está em foco. A
doutrina da trindade recebeu declaração formal na carta sinodal do concílio
realizado em Constantinopla, em 382 d.C. (preservado por Teodoreto, História
Eclesiástica, v.9). Ainda antes, tal como no credo de Nicéia, em 325 d.C; e nos
escritos dos pais da Igreja Inácio, Irineu, Tertuliano e Orígenes, podem ser
encontradas fórmulas trinitárias. O conceito da trindade, pois, é quase tão
antigo como o "cânon" do próprio NT, tendo surgido na história
eclesiástica quase tão prontamente quanto qualquer teologia formal.
Tertuliano
falava de "uma substância, três pessoas".
Após
o século IV d.C., a posição trinitária se tornou o padrão da Igreja, ainda que,
periodicamente, tivesse sofrido ataques e negações. Os principais desses
ataques foram o monoteísmo hebreu, o arianismo, o sabelianismo, o socinianismo
e o unitarismo. A heresia gnóstica, naturalmente, antes disso, já vinha
assediando a Igreja por cento e cinqüenta anos, desde os próprios dias apostólicos;
essa heresia não tinha o conceito trinitário (ver CoL 2.18 no NTI quanto notas
expositivas completas sobre esse sistema).
E
verdade, naturalmente, que os primitivos cristãos, sem teologia sofisticada,
não formularam qualquer "conceito trinitário". Somente muitas decadas
de reflexão desenvolveram esse pensamento. Tal "reflexão", porém, foi
frutífera, deixando transparecer certas verdades que a Igreja primitiva não
possuía e nem descreveu de modo formal.
Crentes
individuais têm negado, duvidado ou ignorado essa verdade, a qual não deve
tornar-se base de nossa comunhão uns com os outros. É crente o indivíduo que
reconhece a Jesus Cristo como Salvador (Col. 2: 19). Um homem pode fazer isso
sem mostrar-se sofisticado em sua teologia ao ponto de formular um conceito
trinitário.
Significação
e importância da doutrina da trindade. Essa doutrina nos é revelada nas
Escrituras por uma razão, não por mera curiosidade. Sugerimos os seguintes
aspectos importantes dessa doutrina:
a.
Confere-nos a compreensão acerca da natureza de Deus e, por conseguinte, da
nossa própria, pois o homem também é uma espécie de trindade, formada de corpo,
alma e espírito. Desse modo aprendemos, uma vez mais, que o homem foi criado
segundo a imagem de Deus; e esse é o significado da existência toda, porquanto
Deus é o alvo da vida, a saber, Deus Pai (ver Cor. 8:6) e o Filho (ver o
primeiro capítulo da epístola aos Efésios, sobretudo o vigésimo terceiro
versículo, e o trecho de Cal. 1:16).
b.
Assim como Deus é triúno, mas cada pessoa divina tem sua função e propósito,
mas todas concordam em um único propósito, assim também o homem, apesar de ser um
ser extremamente complexo, pois combina aspectos espirituais e materiais, tem
um grande propósito na existência. c. O conceito da trindade ensina-nos como
Deus opera em sua criação: Deus Pai é o planejador de todas as coisas, incluindo
a redenção humana; o Filho é o agente em tudo, criador tanto da antiga como da
nova criação; e o Espírito Santo é o enviado de ambos, procurando realizar a
missão do Filho durante sua ausência, especialmente a transformação dos homens
remidos segundo a imagem e a natureza do Filho, que é a redenção mesma da humanidade.
Todas as doutrinas cristãs, pois, têm alguma relação com o conceito da
trindade. A redenção humana está a ela vinculada.
d.
O conceito da trindade tira da idéia de estagnação o conceito de Deus agora e
por toda a eternidade. Deus é dinâmico, pois nele existe plenitude de vida,
sendo Ele a sua própria fonte originaria.
e.
Esse conceito nega o "deísmo", que é a doutrina que Deus é tão
transcendental que não pode e não tem qualquer coisa a ver com sua criação; bem
pelo contrário, o "Filho" subentende que haverá outros filhos de
Deus. Ele veio em busca dos homens para concretizar esse ideal; o Espírito
Santo, na qualidade de "paracleto" e agente de Cristo, de seu alter
ego, mostra que Deus sempre está com os homens, com o propósito de conduzi-los
ao seio da família divina, para que sejam irmãos do Filho de Deus (ver 11 Cor.
3:18 e Rom. 8:29). Por conseguinte, o conceito da trindade subentende o
"teísmo", ou seja, que Deus está conosco e visa o nosso beneficio.
f.
O conceito da trindade subentende unidade na diversidade; e essa é uma lição
objetiva concernente ao mundo como Deus trata com sua criação. Cristo é o
centro de tudo (unidade), mas os homens, uma vez remidos, não perdem a sua individualidade,
embora assumam a imagem e natureza de Cristo e venham a compartilhar de toda a plenitude
de Deus (Ver Efé. 3: 19 e Col. 2: 10). O dualismo não se acha no coração
central do Universo, embora agora se manifeste, por causa da presença do pecado.
g.
O trinitarianistrio limita os "rivais" ao poder de Deus. Chama de
"falsos", a todos os demais supostos deuses. Deus, na qualidade de
benevolência suprema, portanto, garante o triunfo do bem em todo o Universo. Nem
mesmo os perdidos haverão de conservar-se em hostilidade contra Deus; e isso
envolve alguma forma de restauração, até mesmo para esses, apesar de não virem
a compartilhar da vida dos eleitos (ver o primeiro capítulo da epístola aos
Efésios, ver Col. 3:6).
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 1. Editora Hagnos. pag.496-498.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva.
excelente estudo parabéns!!
ResponderExcluirParabéns meu querido irmão pelo o comentário
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