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2° LIÇÃO 1° TRIMESTRE 2015 O PADRÃO DA LEI MORAL

O PADRÃO DA LEI MORAL
Retomando a explicação do artigo anterior, cremos na Bíblia como Palavra inteira de Deus que, através dos Dez Mandamentos, indicou o caminho para a vida a partir do povo hebreu (em 1250 a.C.).
Foi um reinicio da revelação divina, passando pelos mandamentos, pela monarquia, pelos santos profetas, pelo nascimento e vida de Jesus de Nazaré, a imagem plena de Deus; pela ressurreição de Cristo e pela proclamação dos apóstolos. Poderíamos então enumerar os objetivos do Decálogo para o povo hebreu, bem como para o mundo:
1. Para nunca mais haver escravidão;
2. Para a preservação da liberdade do povo;
3. Para os hebreus viverem a justiça de Deus e a comunhão com o próximo;
4. Para ser um povo organizado, tornando-se o sinal de Deus para o mundo;
5. Para uma comunidade organizada por Deus ser a resposta divina para o clamor dos povos;
6. Para o povo ser o anúncio do próprio Deus, a amostra daquilo que Deus quer para todo ser humano.
7. Para o povo viver a dimensão perfeita do amor a Deus e ao próximo;
As Escrituras dizem que Deus entregou a Lei a Moisés objetivando conservar a liberdade do povo hebreu. Jesus Cristo, o Seu Filho, não anulou a Lei de forma alguma, mas a completou e a reafirmou (Mt 5.17), dizendo mais: "O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes" (Mc 12.29-31). Ora, esses dois grandes mandamentos são o resumo fiel do "Decálogo".
O problema da lei hebreia, no tempo de Jesus, foram os maus doutores ensinarem os Dez Mandamentos ao povo, mas sem observá-los. Eles repetiam literalmente a letra, no entanto, matavam o "espírito" da lei (Mt 23.1- 39). Os maus fariseus e escribas não se preocupavam com o clamor do povo, o sofrimento das pessoas e a necessidade espiritual do pecador. Simplesmente repetiam a lei como um mantra, mostrando um Deus irado, sem compaixão para com as pessoas. Da manutenção da liberdade, o povo judeu voltou à escravidão, agora não do Egito, mas a da religião sem Deus. Por isso a letra (a lei escrita) mata, mas o Evangelho, que é "espírito e vida", vivifica o pecador (Jo 6.63; 2Co 3.6).
Revista ensinador. Editora CPAD. pag. 37.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Mesmo inteiramente à parte da revelação especial por meio do evangelho, o qual tantos gentios jamais ouviram, Deus se fez conhecer e continua agindo assim por meio de sua revelação geral na natureza, na História e na consciência; aqui, como a seqüência o indica, com ênfase na revelação de Deus na natureza, ou seja, na “criação”. Não que os homens, agindo por sua própria iniciativa, pudessem ter descoberto Deus, mas, como a passagem o expressa, Deus se deu a conhecer a eles o que quer que na área da criação se possa conhecer sobre ele.
O pequeno termo “Pois” é uma vez mais muito significativo. É não só continuativo, mas também confirmativo, demonstrando que, o que foi dito no versículo 19, é realmente um fato. A sentença introduzida por “Pois” pode ainda refletir no que foi dito anteriormente, ou seja, no versículo 18, isto é, pode ser considerado como que indicando por que a ira de Deus está sendo revelada contra os ímpios: seus feitos perversos são indesculpáveis!
Nos versículos 16 e 17, Paulo estivera falando da revelação de Deus A no evangelho para a salvação. E claro que aqui, nos versículos 19 e 20, ele fez a transição da revelação especial para a geral. Ele está agora falando de “as coisas que são feitas”, ou seja, da revelação de Deus “em suas obras”, isto é, na criação ou natureza.
Note a expressão “atributos invisíveis de Deus”. Que Deus é realmente invisível é algo ensinado em toda parte na Escritura. Note especialmente as seguintes passagens:
“Deus mesmo ninguém jamais viu” (Jo 1.18).
“(o Filho de seu amor, que é) a imagem do Deus invisível” (Cl 1.15).
“ao Rei das eras, o Deus único, imperecível, invisível” (ITm 1.17).
“aquele que é invisível” (Hb 11.27).
Uma explicação adicional dessas qualidades ou atributos invisíveis é apresentada nas palavras “seu poder eterno e natureza divina”.
Quanto a este poder eterno ou onipotência infalível, ele é evidente em todas as obras de Deus (SI 111.2; 118.17; 119.27; 139.14; 145.10);
no livramento de Israel do Egito (Êx 20.1, 2) e no terno cuidado divino concedido a seu povo (Dt 33.27). Repetidas vezes, os salmistas e profetas fazem referência aos poderosos feitos de Deus. Ninguém é capaz de deter sua mão (Dn 4.35). Ele faz o que quer, pois nada é difícil demais para ele (Gn 18.14; Jr 32.27).
Entretanto, no presente contexto não são - pelo menos não primariamente - os poderosos feitos de Deus que estão sendo contemplados. A referência é, antes, às obras da criação: as obras de Deus que, por um longo tempo, de fato sempre, desde a criação do universo, têm sido visíveis aos homens e têm exercido sua indelével impressão em sua mente.
Paulo está pensando no Deus que criou os céus e a terra, e que os estabelece por decretos perpétuos (Gn 1; SI 104). Ele está refletindo sobre aquele que fez “o Sete-estrelo e o Órion, e que torna a densa treva em manhã e muda o dia em noite” (Am 5.8).
O termo “sua natureza divina” indica a suma de todos os gloriosos atributos de Deus, no presente contexto especialmente aqueles atributos que fazem e deixam uma impressão na mente de todos: a exibição do poder, sabedoria e bondade de Deus no universo criado. Passagens tais como Salmo 8; 19.1-6 e Isaías 40.21, 22, 26 derramam mais luz sobre o tema.
A tradução “Seus atributos invisíveis... têm sido claramente percebidos” reproduz corretamente o sentido do original, mas falha em fazer justiça à sua beleza. O original (grego), ainda que um tanto mais claro do que a tradução usual, emprega um par de palavras que, embora se assemelhem uma à outra na forma, expressam uma aparente contradição.
Se se preferir, pode chamá-lo paradoxo ou oximono. Uma aproximação mais estreita do original seria: “suas qualidades invisíveis... são claramente vistas.”
Como, porém, é possível ver o invisível? Não é verdade que os olhos físicos são inaptos para ver as qualidades invisíveis de Deus? É verdade, sim; mas, embora esses olhos estejam observando as glórias do universo, as quais Deus criou, a alma, com seus olhos invisíveis, está recebendo profunda impressão. Claramente vê o poder de Deus exibido “nas coisas que foram criadas”, ou seja, nas obras de Deus.
A Confissão Belga, Artigo I, comentando Romanos 1.20, fala de “a criação, preservação e governo do universo, o qual está diante de nossos olhos como um livro extremamente elegante; nele todas as criaturas, grandes e pequenas, são como tantos caracteres que nos levam a ver claramente as coisas invisíveis de Deus, até mesmo seu eterno poder e divindade, como diz o apóstolo: 'todas essas coisas são suficientes para convencer os homens e deixá-los sem justificativa’.”
“...de sorte que tais pessoas são indesculpáveis.” Ainda quando se vêem constantemente cercadas pela evidência, não só da existência de Deus, mas também de seu infinito poder, adorável bondade e incompreensível sabedoria, recusam-se a reconhecê-lo como seu Deus, e a cultuá-lo.
Mesmo sem o benefício dos produtos do engenho humano, tais como microscópio e telescópio, eram aptos a refletir sobre a vastidão do universo, a ordem fixa dos corpos celestes em seus cursos, o arranjo das folhas ao redor do caule, o ciclo das obras aquáticas divinamente criadas (evaporação, formação das nuvens, destilação, formação fluvial), o mistério da germinação da semente e a formação da planta – não simplesmente qualquer planta, mas um tipo particular de planta da qual a semente se originou, o frêmito do nascente, desde o pálido fluxo róseo ao orbe majestoso, a habilidade das aves em construir seus “lares” sem jamais ter recebido lições de engenharia doméstica, a genero sa maneira em que o alimento é suprido para todas as criaturas, a adaptação de criaturas vivas a seu hábitat (por exemplo, as bases flexíveis dos pés dos camelos para as fofas areias do deserto), etc., etc. Além dessa voz de Deus nas obras da criação, há também a voz do mesmo Deus na consciência (2.15). A evidência era esmagadora. E todavia não há resposta na forma de adoração e gratidão. Então, seguramente sua conduta é inescusável!
HENDRIKSEN. William. Comentário do Novo Testamento. Romanos. Editora Cultura Cristã. pag. 90-94.
I Os meios e auxílios que eles tiveram para chegar ao conhecimento de Deus. Embora eles não tivessem um conhecimento da sua lei que Jacó e Israel tiveram (SI 147.20), contudo, entre eles, “...ele não se deixou a si mesmo sem testemunha” (At 14.17); “...porquanto o que de Deus se pode conhecer...” (w. 19,20). Observe: 1. Que descobertas eles fizeram: “...porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta”, en autois - entre eles; isto é, havia alguns entre eles que tinham o conhecimento de Deus, estavam convencidos da existência de um Numen supremo. As filosofias de Pitágoras, Platão e dos estóicos descobriram muito do conhecimento de Deus, como se vê pela grande quantidade de testemunhos.
O que se pode conhecer, o que implica que há muito que não pode ser conhecido. O ser de Deus pode ser apreendido, mas não pode ser compreendido. Não podemos descobri-lo pela busca puramente humana (Jó 11.7-9). O entendimento finito não pode conhecer perfeitamente um ser infinito; mas, bendito seja Deus, há aquilo que pode ser conhecido, o bastante para nos conduzir ao nosso fim principal, glorificá-lo e desfrutar dele; e essas coisas reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos, enquanto coisas secretas não devem ser inquiridas (Dt 29.29).
2. De onde eles tiveram essas descobertas: “...Deus lho manifestou”. Essas noções naturais comuns que eles tinham de Deus foram impressas em seus corações pelo próprio Deus da natureza, que é o Pai das luzes. Esse senso de uma Deidade, e uma consideração para com esta Deidade, são tão inatos à natureza humana que alguns pensam que é por esses elementos que devemos diferenciar homens de animais brutos e não pela razão.
3. Por quais modos e meios essas descobertas e notificações que eles tinham eram confirmadas e melhoradas, a saber, pela obra da criação (v. 20): “Porque as suas coisas invisíveis...”.
(1) Observe o que eles sabiam: “...as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade”. Embora Deus não seja objeto dos sentidos, contudo, Ele se desvelou e se fez conhecido por meio de coisas sensíveis. O poder e a divindade de Deus são coisas invisíveis, e, no entanto, são claramente vistas em suas obras. Ele trabalha em segredo (Jó 23.8,9; SI 139.15; Ec 11.5), mas manifesta o que tem forjado, e nisso torna conhecido seu poder e divindade, e outros dos seus atributos que a luz natural apreende na idéia de um Deus. Eles não poderiam chegar pela luz natural ao conhecimento das três pessoas da Divindade (ainda que alguns pensem ter encontrado vestígios disso nos escritos de Platão), mas eles chegaram ao conhecimento da Divindade, pelo menos um conhecimento suficiente para mantê-los longe da idolatria. Foi essa a verdade que eles mantiveram na injustiça.
(2) Como eles chegaram a esse conhecimento: pelas coisas que estão criadas”, que não poderiam ter sido feitas por si mesmas, nem poderiam ter uma ordem e harmonia tão exatas por puro acaso; e por isso devem ter sido produzidas por alguma causa primeira ou um agente inteligente, de maneira que a causa primeira não poderia ser nenhuma outra senão um Deus poderoso e eterno. Veja SI 19.1; Is 40.26; At 17.24. O trabalhador é conhecido por sua obra. A variedade, multiplicidade, ordem, beleza, harmonia, natureza diversa e projeto excelente das coisas que são feitas, a direção delas para certos fins, e a contribuição de todas as partes para o bem e beleza do todo, dão prova farta de um Criador e do seu eterno poder e divindade.
Assim a luz brilhou na escuridão. E isso “...desde a criação do mundo”. Ou isso deve ser entendido: [1] Como o tópico do qual o conhecimento deles é extraído. Para evidenciar essa verdade, temos de recorrer à grande obra da criação. E alguns pensam que essa ktisis kosmou, essa criatura do mundo (como também pode ser lido), deve ser entendida como sendo o homem, a ktisis kaV eksochen - a criatura mais notável do mundo inferior, chamada ktisis (Mc 16.15). A constituição e estrutura do corpo humano, e especialmente os mais excelentes poderes, faculdades e capacidades da alma humana, provam em grande medida que há um Criador, e que ele é Deus. Ou: [2] Como a data da descoberta. Tão antiga quanto a criação do mundo. Nesse sentido apo ktiseos kosmou é mais frequentemente usado na Escritura. Esses conhecimentos a respeito de Deus não são nenhuma descoberta moderna, de última hora, mas verdades antigas, que vêm desde o princípio. A maneira de se reconhecer a Deus é uma maneira boa e antiga; ela existe desde o princípio. A verdade partiu do erro.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 312-313.
A ira de Deus éjusta por causa da forma consciente que o homem rejeita a revelação divina (1.19,20). Chamamos a atenção para algumas verdades solenes:
a. O homem só pode conhecer a Deus porque este se revelou (1.19). Calvino inicia as Institutas dizendo que só podemos conhecer a Deus porque ele se revelou. O conhecimento de Deus não é fruto da lucubração humana, mas da própria revelação que Deus faz de si mesmo.
b. A revelação natural é suficiente para mostrar a majestade de Deus (1.20). O homem tem a verdade porque Deus se revelou na natureza. John Stott destaca que a criação é uma manifestação visível do Deus invisível.180 A criação ou revelação natural fala sobre os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua divindade.
John Murray diz corretamente que as obras visíveis da criação de Deus manifestam suas perfeições invisíveis.
Deus deixou sobre sua obra criada as “impressões digitais” de sua glória, que se torna manifesta a todos. Depreendemos desse fato que Deus é distinto da criação. Ele não se confunde com as coisas criadas. O panteísmo, portanto, é uma falácia. De igual forma, concluímos que Deus é soberano, uma vez que trouxe à existência as coisas que não existiam. O universo não é fruto de geração espontânea. O universo não pariu a si mesmo. Ele foi criado. O universo não é resultado de uma explosão cósmica, uma vez que a desordem não produz a ordem nem o caos produz o cosmo. O universo não é conseqüência de uma evolução de bilhões e bilhões de anos. Antes, é obra de Deus e arauto de Deus. O rei Davi escreve: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (SI 19.1). Todo o cosmo é um testemunho eloqüente da existência de Deus.
Segundo John Stott, a autorrevelaçao de Deus por meio das “coisas que foram criadas” tem quatro características básicas: 1) ela é universal ou geral, porque se destina a todo o mundo em todos os lugares; 2) ela é natural, porque se deu pela ordem natural; nisso ela se opõe à sobrenatural, que envolve a encarnação do Filho e a inspiração das Escrituras; 3) ela é contínua, pois vem desde a criação do mundo e continua dia após dia, noite após noite, ao contrário da “final”, que é completa em Cristo e nas Escrituras; 4) ela é criacional, revelando a glória de Deus por intermédio da criação, no que se opõe è revelação salvadora, que manifesta a graça salvadora de Deus em Cristo.
c. A revelação natural é suficiente para tornar o homem indesculpável perante Deus (1.20). Mesmo que a revelação natural não seja suficiente para salvar o homem, é suficiente para responsabilizá-lo. Todos os homens são indesculpáveis perante Deus porque a verdade de Deus tem-se manifestado a eles tanto na luz da consciência como no testemunho da criação (1.19,20). Os homens não poderão fazer apologia em seu próprio favor. Ninguém poderá dizer a Deus no dia do juízo: “Ah! eu não sabia que o Senhor existia, não sabia que o Senhor é criador do universo”. Charles Erdman tem razão quando diz que o próprio mundo é descrito pelo termo cosmo, que significa “ordem” e implica desígnio por parte do Criador. Aqui cai por terra a teoria do índio inocente, dos povos remotos que estão em estado de inocência. Não é essa a teologia de Paulo. Todos os povos são indesculpáveis diante de Deus. Eles pecam contra Deus conscientemente. Paulo está dizendo também que o ateísmo é uma grande tolice. Ninguém nasce ateu. Na verdade, esse conhecimento de Deus é sufocado. Os ateus se fazem assim. O ateísmo não é uma questão intelectual, mas moral. Cranfield afirma corretamente que o pecado é sempre um assalto à verdade, isto é, a verdade fundamental de Deus como Criador, Redentor e Juiz.
LOPES. Hernandes Dias. ROMANOS O Evangelho segundo Paulo. Editora Hagnos. pag. 81-83.
I – AS TÁBUAS DA LEI
1. FORMATO.
ARCA DA ALIANÇA
A arca anda. tida como lugar da manifestação de Yahweh. Era chamada ..arca da aliança servindo de simbolo visivel da presença deYahweh. O vocábulo hebraico traduzido em português por ..arca. significava apenas caixa ou cofre. Era transportada pelos sacerdotes em expedições militares, pois julgava-se que ela era motivo de proteção para os israelitas (Núm. 10:33; Deu. 1:33). Essa caixa era feita de madeira de acácia, de forma retangular, com cerca de 1,10 m de comprimento por cerca de 0,70 m de largura e de altura (Exo. 25:10· ver especificações e descrições da arca, nesse capitulo). Era forrada de ouro por dentro e por fora, com uma beirada de ouro.
Tinha quatro pés, cada qual com uma argola de ouro. (vs. 12), onde eram permanentemente inseridas vara de madeira de acácia recobertas de ouro (vs. 13-15). Vários povos da antiguidade tiveram caixas sagradas, onde eram guardados os ídolos, simbolos dos idolos ou outras relíquias sagradas. Naturalmente, vârias nações circunvizinhas consideravam a arca como o deus de Israel, ou associada a alguma forma de idolatria física (I Sam, 4:6,7). A arca foi capturada pelos filisteus na segunda batalha de Ebenezer, o que só trouxe infortúnios para eles, de tal modo que a devolveram aos israelitas (ver I Sam. 4-6). Ficou em Quiriate-Jearim até que Davi a instalou no novo santuário de Jerusalém. Subseqüentemente, foi transferida para o templo de Salomão e colocada no Santo dos Santos (ver 11 Sam, 6 e I Reis 8:1-11). Nela estavam guardadas as duas tábuas de pedra, onde haviam sido escritos os dez mandamentos, as condições do pacto divino. Dai deriva-se o nome dessa caixa: arca da aliança. Os outros objetos guardados na arca, como o vaso de ouro com maná e a vara de Aarão, que florescera (ver Heb, 9 :4), talvez pertencessem a uma outra época, tendo-se perdido ou perecido de alguma outra maneira, antes da construção do templo de Salomão. O trecho de I Reis 8:9 declara que só as tábuas do decálogo eram guardadas na arca. A tampa da arca era o propiciatório, lugar onde era aspergido o sangue no Dia da Expiação (ver Êxo, 25:17 e 26:34), uma das mais importantes instituições de Israel. A arca, nesse periodo de sua história, era vista somente pelo sumo sacerdote, e somente uma vez por ano. Sobre o propiciatório havia os querubins, um em cada extremidade. Em certo sentido, ali ficava o trono mistico de Yahweh.
O que sucedeu mais tarde à arca, não se sabe. A tradição afirma que não havia arca no segundo templo (Menahot 27b; Josefo, Guerras, V.5). No judaismo há «arcas" que são caixas onde são guardados os rolos da Torah, ou lei. Seja como for, Jeremias predisse que chegariam dias quando não mais se buscaria a arca (Ier. 3:16), porquanto Jerusalém inteira tornar-se-ia o trono de Yahweh.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 1. Editora Hagnos. pag. 257-258.
Era uma estrutura sobre o qual era o ferecido o incenso. Os trechos de Êxo. 30:1-10 e 40:26,27 nos fornecem a localização do mesmo, perante o véu, e não por detrás do mesmo, no Lugar Santo. Esse altar tinha cerca de 0,90 m de comprimento, 0,90 m de largura e 1,80 m de altura. Era feito de madeira de acácia, recoberta de ouro. Na qualidade de altar do incenso, tipificava Cristo como nosso intercessor (ver João 17:1-26 e Heb. 7:25), mediante quem nossas orações ascendem até Deus, e em quem temos acesso e poder espiritual. Simboliza  também o sacrifício de louvor e adoração, oferecido pelos crentes-sacerdotes. (Ver Heb. 13:15).
«...uma urna de ouro contendo o maná...» Em parte alguma do A.T. é dito que havia maná dentro da arca, e nem a urna é chamada «...de ouro...». Mas na versão da Septuaginta (tradução do original hebraico do A.T. para o grego, lemos que essa urna era «de ouro». Alguns estudiosos explicando o problema do «ouro» fazem a palavra «no interior» referir-se ao tabernáculo, e não à própria urna; mas essa explicação é inaceitável. No A.T. também nunca é dito que a vara de Aarão foi posta dentro da arca, ainda que ambos esses objetos fossem reverenciados. (Ver Êxo. 16:22 e Núm. 17:10). Os escritos rabínicos normalmente não concordam com o autor sagrado na disposição desses itens dentro da arca. O autor sagrado está preservando, talvez, alguma tradição obscura que nunca se tornou popular ou aceitável entre os judeus. Vincent (in loc.) menciona a existência de tal tradição entre alguns rabinos, mas não a identifica. Moulton (in loc.) menciona que algumas tradições rabínicas assim entendiam a disposição de tais objetos, com base no trecho de I Reis 8:9. Esse versículo diz claramente que nada havia no interior da arca senão as tábuas da lei; mas alguns intérpretes pensam que isso foi «em algum tempo»; antes do tempo histórico dos reis outros objetos tinham sido postos no interior da arca. Porém, o próprio versículo parece ensinar enfaticamente o contrário. Contudo, se alguns rabinos assim entendiam, disso poderia ter-se desenvolvido a tradição que o maná e a vara de Aarão estiveram no interior da arca. Mas a tradição judaica original diz que esses itens «jaziam defronte» da arca, e não que foram postos em seu interior.
Alford (in loc.) menciona Levi ben Gerhsom e Abardanel, além de outros escritores rabínicos, os quais supunham que esses objetos, tinham sidos guardados «dentro da arca», embora não dê as referências. John Gill (in loc.) diz-nos que essas referências são comentários sobre o trecho de I Reis 8:9, por aqueles escritores mencionados e por «outros». Portanto, pelo menos havia uma tradição nesse sentido, por mais incerta que a mesma tenha sido; e o autor sagrado segue a mesma, em preferência ao que diz o A.T., o que é uma exceção à regra por ele usada. Naturalmente, a questão não se reveste de nenhuma importância capital.
Dentro do A.T., o maná, como é óbvio, era a «provisão divina» para limento dos corpos. Mas, no N.T. representa a provisão para a «alma», e essa provisão é Cristo. Jesus é o maná, o pão da vida. (Ver o sexto capítulo do evangelho de Deus, onde é narrada a multiplicação dos pães para os cinco mil e o discurso de Jesus sobre o «pão da vida». O versículo quarenta e oito desse capítulo apresenta as notas expositivas detalhadas sobre o tema de Jesus como o pão da Vida»),
«...a vara de Aarão, que floresceu...» (Essa vara ap resentou botões, floresceu e deu amêndoas. Esse objeto estava associado à arca, e talvez tivesse sido guardado em seu interior, ou posto na frente da mesma, como lem brete sagrado do poder divino sobre o mal. Alguns estudiosos pensam que serve de tipo de Cristo, em seu «sacerdócio florescente». Baal Hatturim, em Núm. 17:5, empresta uma idéia sacerdotal a esse item. Cristo é a «raiz que saiu de terra seca», que é idéia correlata àquela em que uma vara evidentemente sem vida repentinamente voltou a dar fruto (ver Isa. 53:2). (Ver também Núm. 17:1-10 quanto à história da vara que floresceu, e que determinou quais eram os sacerdotes autênticos).
«A vara de Aarão que floresceu—tipifica a Cristo, em sua ressurreição, possuído por Deus, como Sumo Sacerdote. O sacerdócio de Aaieão fora posto em dúvida quando da rebelião de Coré, pelo que o próprio Deus teve de confirmá-lo. (Ver Núm. 17:5). Cada um dos cabeça-de-tribo trouxe uma vara perfeitamente morta; mas Deus insuflou vida na vara de Aarão. Assim também todos os criadores de religiões morreram, Cristo entre eles. Mas Cristo ressuscitou d en tre os mortos, tendo sido ex altad o como Sumo Sacerdote.
«...tábuas da aliança...» O sangue do sacrifício era posto sobre o «propiciatório», cobrindo a lei, escondendo-a da vista de Deus; e assim os homens eram simbolicamente perdoados, a despeito das severas exigências da lei. Assim também o sangue de Cristo tem o mesmo efeito, só que não apenas simbolicamente. A arca guardava o sagrado depósito, mas o sacrifício de sangue satisfazia às exigências da lei. Há um acesso à misericórdia que ultrapassa às ousadas exigências da lei. Em Cristo somos de tal modo transformados que nos tornamos santos como a lei requer, compartilhando da própria santidade de Deus. O sangue da expiação apaga o registro de nossos pecados; e o Espírito Santo nos toma santos.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 578.
2. A DIVISÃO DAS TÁBUAS.
Os judeus, desde Fílon de Alexandria até a atualidade, dividem os Dez Mandamentos em dois grupos de cinco, um grupo para cada tábua. Agostinho de Hipona supunha haver três mandamentos na primeira tábua e sete na segunda. Calvino e muitos da atualidade acreditam que na primeira tábua estavam gravados os quatro mandamentos relativos aos deveres do homem com Deus e, na segunda, os seis mandamentos relativos ao homem e seu próximo. Alguns interpretam que o Senhor Jesus Cristo sintetizou as tuas tábuas nos dois grandes mandamentos (Mt 22.34-40), com a ressalva do sábado, pois não há ensino no Novo Testamento para a observância do quarto mandamento. Essa questão é discutida mais adiante, no Capítulo 5.
Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 19.
Divisão do Decálogo
Os judeus, os católicos e os luteranos combinam as proibições contra o politeísmo e a idolatria em uma só. Os judeus estabeleceram a afirmação introdutória (Êx 20.2) como o primeiro mandamento, enquanto os católicos e os luteranos dividem o mandamento contra a cobiça. As igrejas Ortodoxa e Reformada consideram Êxodo 20.2 como introdutório, a proibição contra o politeísmo como o primeiro mandamento, e a proibição da idolatria como o segundo mandamento. A segunda opinião é superior porque ela faz uma distinção entre politeísmo e idolatria. Essa visão evita artificialmente que se divida o décimo mandamento, e que se faça um mandamento de Êxodo 20.2, que não é nem um mandamento nem uma proibição.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 548.
Divisões. Os mándamentos da lei Dlosaiea foram registraclos em duas tábuas de pedra (exo. 31:18). Isso poderia indicar as duas faces de uma mesma pedra, ou entio duas pedras. Alguns estudiosos preferem pensar na primeira possibilidade. Seja como for, a primeira dessas tábuas trata da responsabilidade do homem diante de Deus, incluindo o primeiro e grande mandamento de seamar a Deus com todas as fibras e potencialidades do ser (Deu. 6:4,5; Mat. 22:36 ss), A segunda tábua definia os deveres do homem para com os seus semelhantes, o que ê elaboradoem Lev. 19:18. Historicamente, outras divisões vieram a existir, conforme se vê nas igrejas reformadas. Ali o trecho de Êxodo 20:2.3. é considerado como passagem que enfatiza a exclusividade de Yahweh. Os vss. 4 e 6 desse capo aparecem ali como um único mandamento, a injunção elaborada contra a idolatria, sob qualquer forma. O vs. 7 seria o terceiro mandamento, que proibiria qualquer forma de profanação. Então seguir-se-iam sete mandamentos que tratam das relações entre homem e homem, o que seria o aspecto ético da lei mosaica. Além dessa divisão reformada, há a chamada divisão agostiniana, que une os vs. 3 a 6, onde o monoteísmo e a idolatria são encarados como mutuamente exclusivos. Assim, aquele que adora a qualquer tipo de imagem de escultura, já abandonou a adoração ao único Deus. Além disso, o mandamento referente à cobiça é dividido em duas partes distintas. A divisão talmúdica faz de Êxodo 20:2 o primeiro mandamento, e de Êxodo 20:3-6 o segundo.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 2. Editora Hagnos. pag.125-126.
3. A REBELIÃO.
Dt 9-11. As tábuas de pedra ou tábuas da aliança eram os “documentos” nos quais a aliança fora registrada. Este era o costume tradicional dos tratados de suserania do Oriente Próximo, o serem registrados em tábuas. Talvez o mesmo termo seja o pretendido aqui, e daí a tradução “tábuas de pedra” (5:22;Êx31:18; cf. Êx32:15s.; 34:1).
Vários elementos desta narrativa soam de maneira estranha a ouvidos ocidentais: abstinência de água e comida por quarenta dias, a apresentação das placas de pedra a Moisés por Deus e a inscrição dos mandamentos nas placas pelo dedo de Deus. Tal linguagem é comum no Velho Testamento e comum no Oriente. É caso para debate aberto, por exemplo, se o número quarenta poderia talvez denotar algo como “por tempo consi derável”, ou até mesmo “um período solene de espera e preparação” (cf. Gn 7:4; 1 Rs 19: 8; Jn 3: 4; Mt 4: 2; At 1: 3). A expressão ocorre em literatura extra-bíblica na Esteia de Moabe, linha 8. Mais uma vez, é comum no Velho Testamento atribuir eventos à atividade de Deus quando, na verdade, tais eventos tenham sido realizados por Seus agentes, embora Ele tenha recebido o crédito. Assim, a conquista de Canaã foi obra Sua, embora tenha sido empreendida por Israel. Neste capítulo, Javé aparece como aquele que expulsa os povos de Canaã (4). Nossas mentes ocidentais procuram depressa demais imprimir explicações literalistas e materialistas a tais expressões. Será que esta passagem não poderia simplesmente indicar que, durante um período de preocupação solene com uma santa missão, sob a direção de Deus, o próprio Moisés selecionara as placas e nelas escrevera? No entanto, ele podia perfeitamente dizer que Deus lhe dera as placas e que as palavras que nelas inscrevera eram a própria escrita de Deus.
Não são desconhecidas em nosso linguajar moderno expressões como “o Senhor me abriu uma porta”, ou “O Senhor conseguiu um visto para mim”, etc. Tais antropomorfismos são necessários em vista de nossas limitações humanas, se desejarmos apreender, mesmo de maneira limitada, os mistérios da pessoa e da atuação de Deus. (Veja o comentário sobre 5:22).
I. A. Thompson. Deuteronômio Introdução e Comentário. Editora Vida Nova.
Advertências contra a Superioridade Moral.
Israel E Lembrado das suas Rebeliões Dt 9. 7-29
Para que não tivessem a possibilidade de pensar que Deus os tinha trazido a Canaã por causa da sua justiça, aqui Moisés lhes mostra o milagre de misericórdia de não terem sido destruídos no deserto, há pouco tempo: “Lembra-te e não te esqueças de que muito provocaste à ira o Senhor, teu Deus, no deserto” (v. 7). Longe de comprar o seu favor, muitas vezes vocês provocaram o seu desprazer. Aqui eles são acusados das provocações dos seus pais. Pois, se Deus tivesse tratado seus pais conforme o que eles mereciam, esta geração jamais teria existido, e muito menos teria entrado em Canaã. Somos propensos a nos esquecer das nossas provocações, especialmente quando cessa a dor causada pela vara, e pre cisamos ser sempre lembrados delas, para que jamais venhamos a alimentar qualquer convencimento sobre a nossa própria justiça. Paulo menciona a culpa sob a qual se encontra toda a humanidade, para provar que não podemos ser justificados diante de Deus pelas nossas próprias obras, Romanos 3.19,20. Se as nossas obras nos condenarem, elas jamais poderão nos justificar. Observe que: 1. Eles tinham sido um povo provocador desde a sua saída do Egito, v. 7. Durante quarenta anos, desde o primeiro até o último, Deus e Moisés se entristeceram com eles. É muito triste que Moisés, agora partindo, mencione uma triste característica deles: “Rebeldes fostes contra o Senhor, desde o dia em que vos conheci", v. 24. Tão logo eles tinham formado um povo, houve a formação de uma facção entre eles, que, em todas as ocasiões, enfrentou a Deus e ao seu governo. Embora a história Mosaica registre pouca coisa além das ocorrências do primeiro e do último ano, dos quarenta, ainda assim parece, por este relato geral, que os demais anos não foram muito melhores, sendo somente uma provocação contínua. 2. Mesmo em Horebe, eles fizeram um bezerro e o adoraram, v. 8ss. Este foi um pecado tão odioso, e tão excessivamente pecaminoso, por diversas agravações, que eles mereceram, em todas as ocasiões, ser repreendidos por isto. O bezerro foi feito no mesmo lugar onde a lei foi dada (segundo a qual eles eram expressamente proibidos de adorar a Deus por meio de imagens), e enquanto a montanha ainda ardia diante de seus olhos, e Moisés tinha subido para receber, por eles, a lei por escrito. “Cedo vos desviastes do caminho”, v. 16. 3. Deus ficou muito enfurecido com eles, pelo seu pecado. Que eles não pensem que Deus ignorava o que eles tinham feito de errado, e lhes dava Canaã por aquilo que havia de bom entre eles. Não, Deus tinha decidido destruí-los (v. 8), e poderia facilmente tê-lo feito, e não teria saído perdendo por causa disto. Ele até mesmo desejou que Moisés concordasse que o fizesse, w. 13,14. Com isto, ficava evidente o quanto o pecado deles era odioso, pois Deus nunca se enfurece com alguém acima do que é merecido, como freqüentemente fazem os homens. O próprio Moisés, embora fosse amigo e favorito, tremeu com a revelação da ira do Deus do céu contra a impiedade e injustiça do povo (v. 19): “Temi por causa da ira e do furor com que o Senhor tanto estava irado”, provavelmente não somente por causa deles, mas também por si mesmo, Salmos 119.120.
4. Eles tinham, pelo seu pecado, infringido o concerto com Deus, e perdido todos os privilégios do concerto - o que Moisés indicou a eles, quebrando as tábuas, v. 17. Foi lhes dada uma carta de divórcio, e a partir de então eles poderiam, com razão, ter sido abandonados para sempre, de modo que a sua boca certamente fosse impedida de alegar qualquer justiça própria. Deus, na verdade, os tinha renegado, quando disse a Moisés (v. 12), E o “teu povo”, nenhum deles é meu, nem serão tratados como meus. 5. O próprio Arão caiu no desagrado de Deus, por causa disto, embora ele fosse o santo do Senhor, e somente tivesse sido levado, pela surpresa ou pelo terror, a unir-se a eles no pecado: “Também o Senhor se irou muito contra Arão”, v. 20. A posição de ninguém, nem o seu caráter, podem proteger da ira de Deus, se a pessoa tiver comunhão “com as obras infrutuosas das trevas”. Arão, que deveria ter feito expiação por eles, uma vez que a iniqüidade deveria ser purificada através de sacrifícios e ofertas, caiu, ele mesmo, sob a ira de Deus: eles não consideraram o que estavam fazendo, quando o atraíram ao pecado. 6. Foi com grande dificuldade, e com muita dedicação, que o próprio Moisés conseguiu desviar a ira de Deus e evitar a destruição completa do povo. Ele jejuou e orou por quarenta dias e quarenta noites, antes que pudesse obter o perdão para eles, v. 18. E alguns pensam que foram dois períodos de quarenta dias (v. 25), porque está escrito: “Estava prostrado”, pois a sua missão, nos primeiros quarenta dias, não tinha sido desta natureza. Outros opinam que foi somente um conjunto de quarenta dias, embora mencionado duas vezes (como também no capítulo 10.10). Mas isto era suficiente para sensibilizá-los do grande descontentamento que Deus tinha sentido contra eles, e da pequena possibilidade de escape que teriam. E a grandeza da ira de Deus contra toda a humanidade é vista no fato de que ninguém menos que o seu Filho, e um preço nada menor que o seu próprio sangue, seriam necessários para afastá-la. Aqui Moisés lhes fala do conteúdo da sua intercessão por eles. Ele foi obrigado a reconhecer a obstinação, a impiedade e o pecado do povo, v. 27. O caráter do povo era verdadeiramente mau, pois aquele que trabalharia como um advogado a favor deles não conseguia lhes imputar uma boa reputação, e não tinha nada mais a dizer em nome deles, exceto que Deus tinha feito grandes coisas por eles, o que, na verdade, somente piorava o crime deles (v. 26). Eles eram a descendência de bons antepassados (v. 27), um fato que também podia ter se voltado contra eles, piorando o problema, e não melhorando. Outro problema é que os egípcios iriam criticar a Deus, se Ele destruísse os israelitas, como um Deus incapaz de concluir aquilo que tinha começado a fazer por eles (v. 28), uma alegação que teria sido respondida facilmente, não importando o que dissessem os egípcios, pois os próprios céus declaram a justiça de Deus. De modo que a sua libertação, da destruição, naquela época, deveu-se puramente à misericórdia de Deus, e à insistência de Moisés, e não a qualquer mérito deles que pudesse ser oferecido como uma diminuição da sua ofensa. 7. Para afetá-los ainda mais com a destruição de que tinham estado tão próximos, ele descreve, muito particularmente, a destruição do bezerro que fizeram, v. 21. Ele chama isto de “vosso pecado”. Talvez, não somente porque tinha sido o objeto do seu pecado, mas porque a sua destruição pretendia ser um testemunho contra o seu pecado, e uma indicação, para eles, daquilo que os próprios pecadores mereciam. Aqueles que fizeram o bezerro eram semelhantes a ele, e não teria sido errado se tivessem, da mesma maneira, sido pisados, e consumidos, e moídos até serem defeitos em pó, e não sobrasse nada deles. O fato de Deus aceitar a destruição do ídolo, em lugar da destruição dos idólatras, demonstra uma misericórdia infinita. 8. Mesmo depois desta salvação que tinham recebido, em muitas outras situações eles provocaram ao Senhor, repetidas vezes. Ele só precisava mencionar os nomes dos lugares, pois eles traziam as lembranças, seja do pecado, seja da punição, nos seus próprios nomes (v. 22): em Taberá, incêndio, onde o fogo de Deus se acendeu entre eles, por causa das suas queixas. Em Massá, tentação, onde eles desafiaram o poder todo-poderoso a ajudá-los. E em Quibrote-Hataavá, o sepulcro dos que tiveram o desejo, onde as guloseimas que cobiçaram foram o seu veneno. E, depois destes lugares, a sua descrença e desconfiança em Cades-Barnéia, de que ele já lhes tinha falado (cap. 1), e que aqui menciona outra vez (v. 23), certamente teria completado a sua destruição, se tivessem sido tratados de acordo com seus méritos.
Que eles considerem tudo isto, e ficará evidente que, qualquer que fosse o favor que Deus, a partir de então, lhes mostrasse, ao subjugar seus inimigos e dar-lhes a posse da terra de Canaã, não seria devido à sua própria justiça. E bom que sempre nos lembremos, contra nós mesmos, com tristeza e vergonha, dos nossos pecados anteriores, e revejamos os registros que a consciência tem deles, para que possamos ver o quanto devemos à graça gratuita, e possamos humildemente reconhecer que jamais merecemos, da mão de Deus, qualquer coisa diferente de ira e maldição.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 588-590.
Moisés fica sabendo do Pecado de Israel (32.7-14)
a) A avaliação e ameaça de Deus (32.7-10). Moisés teria voltado ao acampamento totalmente desinformado da idolatria de Israel não tivesse Deus lhe falado. Foi ato de misericórdia revelar esta tragédia a Moisés antes de descer do monte. Deus também usou esta oportunidade para provar a fé e a coragem do seu servo.
Deus disse a Moisés: Vai, desce; porque o teu povo, que fizeste subir do Egito, pecou (7). Este linguajar dá a impressão que Deus renuncia a este povo e reputa Moisés líder e libertador dessa gente. O pecado sempre nos separa de Deus, embora o Senhor nunca esteja disposto a nos deixar de pronto. Na posição de Moisés, a atitude mais fácil a tomar era negar maiores responsabilidades por este povo, mas as experiências nos últimos meses fizeram algo neste homem. Ele não era líder de Israel por escolha própria e muitas vezes se sentira impotente diante de seguidores rebeldes. Só por Deus ele chegara a este ponto, e o Deus que o levara até ali não ia falhar nesse momento crucial.
A avaliação que Deus fez desta multidão perversa é clara: O povo se corrompeu (7); depressa se desviou e colocou um bezerro no lugar de Deus (8); era obstinado (9; “de dura cerviz”, ARA); Ele estava muito irado com o povo (10). “De dura cerviz” (9, ARA) é expressão aplicada a cavalo ou boi rebelde que não se deixa ser controlado por rédeas. Israel se recusara a obedecer ao concerto que fizera com Deus.
Este provavelmente foi o maior teste que Moisés teve que suportar. Deixa-me, Deus disse, que eu os consuma; e eu farei de ti uma grande nação (10). Não há como negar que seria justo Deus tomar esta providência; é óbvio que Ele teria cumprido a ameaça se Moisés não tivesse intercedido. Deus conhecia seu servo, sabia que ele passaria no teste e que se tornaria mediador. Moisés viu a realidade da ira de Deus, rejeitou a oportunidade de glória egoísta e suplicou pelo povo e pela glória de Deus.
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Êxodo. Editora CPAD. pag.225-226.
I Deus informa Moisés o que estava acontecendo no X acampamento enquanto ele estava ausente, w. 7,8. Ele poderia ter-lhe dito antes, tão logo tivesse sido dado o primeiro passo rumo a isto, e tê-lo enviado para baixo, para evitar que isto acontecesse. Mas Ele permitiu que isto chegasse a este ponto, com fins sábios e santos, e então o enviou para baixo, para punir este acontecimento. Observe que não é desgraça para a santidade de Deus que Ele permita que o pecado seja cometido, uma vez que Ele sabe, não somente como impedi-lo, quando assim o desejar, mas como torná-lo útil aos desígnios da sua própria glória.
Observe o que Deus diz aqui a Moisés, a respeito deste pecado.
1. Que o povo tinha se corrompido. O pecado é a corrupção ou depravação do pecador, e é uma autocorrupção; “cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência”.
2. Que eles tinham se desviado do caminho. O pecado é um desvio do caminho do nosso dever, a entrada em um atalho. Quando eles prometeram fazer tudo o que Deus lhes ordenasse, eles começaram tão bem como podiam. Mas agora tinham perdido o caminho, e tinham se desviado.
3. Que tinham se desviado depressa, logo depois que a lei lhes tinha sido dada, e tinham prometido obedecer a ela, pouco depois que Deus tinha feito tão grandes coisas por eles, e tinha declarado suas boas intenções de fazer coisas ainda maiores. Eles logo se esqueceram das obras de Deus. Cair em pecado tão rapidamente depois de termos renovado o nosso concerto com Deus, ou de termos recebido alguma misericórdia especial da parte dele, é muito provocador.
4. Ele lhe diz, particularmente, o que tinham feito: “Fizeram para si um bezerro de fundição, e perante ele se inclinaram”. Observe que os pecados que estão ocultos dos nossos governantes, estão nus e patentes, diante de Deus. Ele vê aquilo que eles não podem descobrir, e nenhuma iniqüidade do mundo é oculta dele. Nós não conseguiríamos suportar ver a milésima parte da provocação que Deus vê todos os dias, e ainda assim Se mantém em silêncio. 5. Ele parece renegá-los, dizendo a Moisés: “O teu povo, que fizeste subir do Egito”. Como se tivesse dito: “Eu não tenho nenhum relacionamento com eles, nem tenho qualquer preocupação com eles. Que nunca se diga que eles são o meu povo, ou que Eu os fiz subir do Egito”. Observe que aqueles que se corrompem, não somente se envergonham, mas também fazem com que o próprio Deus se envergonhe deles, e da sua bondade para com eles. 6. O Senhor o manda de volta para baixo, com toda a pressa: “Vai, desce”. Moisés deve interromper até mesmo a sua comunhão com Deus, para ir e cumprir o seu dever como um magistrado em meio ao povo; Josué também deve fazê-lo, Josué 7.10. Pois tudo é belo na sua ocasião apropriada.
II O Senhor expressa o seu desprazer com Israel, devido a este pecado, e a determinação da sua justiça de eliminá-los,vv. 9,10. 1. Ele descreve o verdadeiro caráter deste povo: “E povo obstinado”, incapaz de se submeter ao jugo da lei divina, e governado, de certa forma, por um espírito de contradição, avesso a todo o bem e inclinado a todo o mal, obstinado contra os métodos empregados para a sua cura. Observe que o Deus justo vê não somente o que fazemos, mas o que somos. Não somente os atos da nossa vida, mas as disposições do nosso espírito, e leva tudo isto em consideração em todos os Seus procedimentos. 2. O Senhor declara qual era a recompensa merecida: Que o seu furor se acendesse contra eles (“deixa-me, que o meu furor se acenda contra eles, e os consuma”), de modo a consumi-los de uma vez, apagando os seus nomes de debaixo dos céus (Dt 9.14). Não somente expulsando-os do concerto, mas expulsan- do-os do mundo. Observe que o pecado nos expõe à ira de Deus. E esta ira, se não for acalmada pela misericórdia divina, nos queimará como restolho. Era justo que Deus deixasse que a lei seguisse o seu curso contra os pecadores, e que os extirpasse imediatamente, ao menor ato de pecado. E, se Ele o fizesse, isto não representaria nem perda nem desonra para Ele. 3. Ele resiste à persuasão para que Moisés não interceda a favor deles: ‘Agora, pois, deixa-me”. O que fez Moisés, ou o que poderia fazer, para impedir que Deus os consumisse? Quando Deus decide abandonar um povo, e o decreto da sua ruína já foi promulgado, nenhuma intercessão pode evitar isto, Eze- quiel 14.14; Jeremias 15.1. Mas Deus desejava expressar a grandeza do seu justo desprazer com eles, à maneira dos homens, que não desejam que ninguém interceda por aqueles com os quais decidiram ser severos. Desta maneira, também, Ele desejava honrar a oração, indicando que nada, exceto a intercessão de Moisés, poderia salvá-los da destruição, para que Moisés pudesse ser um tipo de Cristo, por cuja mediação, e somente por ela, Deus se reconciliaria com o mundo. Para que a intercessão de Moisés pudesse se revelar mais notável, Deus lhe faz uma oferta, de que, se não intercedesse neste assunto, Ele faria dele uma grande nação. Que, no decorrer do tempo, Ele faria nascer um povo dos seus lombos, ou que imediatamente, de uma maneira ou de outra, traria outra grande nação sob o seu governo e liderança, para que ele não saísse perdedor pela destruição do povo. Se Moisés tivesse tido um espírito egoísta e limitado, ele teria concordado com esta oferta. Mas ele prefere a salvação de Israel à promoção da sua própria família. Aqui estava um homem adequado para governar.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 330-331.
A Ira de Deus (32.7-10)
Moisés, em estado de êxtase, no monte Sinai, foi informado por Yahweh sobre o que estava acontecendo no vale. A ira divina em breve haveria de manífestar-se. Milhares de israelitas haveriam de morrer (vss. 27,38). Somente uma operação radical poderia purificar toda aquela imundícia. Yahweh até já se dis- punha a começar tudo de novo, primeiramente aniquilando todo o povo de Isra- el, para então fazer de Moisés o progenitor de uma raça inteiramente nova (vs. 10). Mas Moisés fez intercessão, dissuadindo o Senhor dessa idéia, e, finalmente, prevaleceu.
Êxo 32.7 Vai, desce. Moisés deveria descer do monte Sinai, onde estivera durante quarenta dias e quarenta noites (Êxo. 24.18). Os israelitas haviam caído na mais total desgraça, por terem seguido a sua natureza pervertida, impulsionados pela sua vontade distorcida. Talvez o bezerro de ouro fosse tido como um emblema de Yahweh, que os ajudasse a adorar melhor. Mas se assim pensaram, então estavam crassamente equivocados. Toda a prática estava podre, sem importar como a tenham tentado justificar. Os corruptos sempre descobrem meios para justificar suas práticas corruptas.
Notemos o jogo de palavras aqui, “o teu povo”, que Moisés teria tirado do Egito. Yahweh não os estava mais chamando de Seu povo, conforme, por tantas vezes, vimos até esta altura do livro de Êxodo. Ver Êxo. 3.10; 5.1; 7.4; 8.1; 9.1 e 10.3 como exemplos. O povo por assim dizer afirmava: “Esta imagem faz-me lembrar de Deus; e é por isso que a estou venerando”. Mas Yahweh replicou: “o teu povo se corrompeu”.
Êxo 32.8 Este versículo passa em revisão as condições descritas nos vss. 1 -6, ou seja, Yahweh estava descrevendo para Moisés o que tinha acontecido, e estava enumerando cada item. O deslize para a idolatria tinha sido algo voluntário, com plena consciência do que eles esta- vam fazendo. E os resultados foram desastrosos (vs. 27 ss.).
Êxo 32.9 Tenho visto a este povo. Essa era a avaliação divina acerca dos israelitas: um povo de dura cerviz. Essa é a primeira instância dessa expressão no A. T., e que veio a tornar-se usual como descrição da nação de Israel, Ver Êxo. 32.9; 33.3,5; 34.9; Deu. 9.6,13; 10.16; 31.27; II Crô. 30.8; Sal. 75.5; Jer. 17.23. E, no Novo Testamento, ver Atos 7.51. A metáfora deriva-se da circunstância em que um cavalo não obedece ao cavaleiro, mas que, de pescoço duro, segue para onde melhor lhe parece. Também pode apontar para os animais que eram espicaçados com agui- Ihões, para que se pusessem a puxar o arado. Mas em vez de fazerem o trabalho, endureciam os músculos do pescoço e resistiam às aguilhoadas, seguindo a direção que quisessem. Aben Ezra via uma aplicação literal ao indivíduo que foge para fazer sua própria vontade, e que, quando é chamado, nem se dá ao trabalho de volver a cabeça, reconhecendo sua convocação. Está em destaque uma estupidez obstinada, voluntariosa, que teimosamente resolve seguir uma causa má, de maneira inflexível, indisciplinada, resolvida a fazer o mal, perversa em seu desígnio, sem dar atenção à qualquer reta instmção, que chega mesmo a ser autodestrutiva. Pois faz coisas reco- nheddamente prejudiciais a si mesma. Sócrates supunha que “a virtude consiste em conhecimento". Em outras palavras, que se um homem realmente soubesse o que lhe é melhor, faria tal coisa. Porém, sabe-se que por muitas vezes as pessoas inclinam-se para a autodestruição, tão profunda é a sua perversidade.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 447.
4. DEUS RENOVA O CONCERTO.
A Renovação do Concerto (34.10-28)
a) A promessa de Deus (34.10,11). Deus renova com Moisés formalmente o concerto quebrado. Prometeu conduzir Israel fazendo maravilhas (10), que seriam maiores aos olhos do povo que qualquer coisa jamais feita. Ele as chamou coisa terrível é o que faço contigo. “O que estou a ponto de fazer com vocês inspira terror” (VBB). O Senhor expulsaria os inimigos da terra da promessa (11). As maravilhas se cumpriram mais tarde em ocorrências como a queda dos muros de Jericó (Js 6.20) e a matança dos inimigos com chuva de pedra (Js 10.11). Ainda que Moisés não tenha vivido para ver estas vitórias, a promessa de Deus cumpriu-se para seu povo.
b) O aviso contra a idolatria (34.12-16). O mal de formar alianças com os povos da Terra Prometida era uma possibilidade real. Os israelitas tinham de se guardar (12) e não fazer concerto com os moradores, porque este procedimento seria um laço para eles. Para se proteger, Israel tinha de derrubar os altares, quebrar as estátuas e cortar os bosques (13). Não deviam permitir que continuassem existindo. As estátuas (“colunas”, ARA) e os bosques (“postes-ídolos”, ARA) eram objetos de culto erigidos para a adoração de deuses e deusas da mitologia cananéia. Estavam ligados com o culto a Baal, e foram “introduzidos em Israel pela fenícia Jezabel (1 Rs 18.19)”.68 “Ritos grotescamente imorais eram praticados com relação às colunas e bosques, e estas foram fonte contínua de tentação para os israelitas até o exílio.”
Acerca da declaração de que Deus é zeloso (14), ver nota em 20.5. Todo concerto com os moradores da terra (15) levaria Israel a se unir com eles em festas a ídolos e casamentos entre si, resultando em apostasia e idolatria (16). Casar-se com alguém ligado a uma falsa religião é o caminho mais rápido para a desobediência. Os filhos se prostituem segundo os deuses das esposas. A idolatria, quer pagã ou da atualidade, é forma de adultério espiritual. A pessoa é infiel ao compromisso com Deus, quando o coração busca seguir os deuses deste mundo.
Em nossa sociedade, é quase impossível salvar nossos filhos da exposição a essas tentações. Colocadas juntas em escolas públicas e atividades comunitárias, as crianças cristãs são sujeitas diariamente a estas seduções. Nossa única esperança é a instilação de coragem e fé que resistirão ao engodo de “ídolos” mundanos e casamentos com não-crentes. Quando ocorrem alianças erradas e outros erros em nossa família, há o recurso à graça redentora de Deus e ao poder da oração intercessora pelo Espírito Santo.
c) Várias proibições (34.17-26). Muitas destas proibições são repetições de ordens anteriores. O recente pecado de Israel tornou imperativa a repetição do mandamento de não fazer deuses de fundição (17). As instruções encontradas nos versículos 18 a 20 são analisadas em 12.14-20; 13.3-13; e 23.15. O mandamento sobre o sábado (21; ver comentários em 23.12) acrescenta a necessidade de observar o dia santo na aradura e na sega. Os israelitas deviam resistir à tentação de, no dia de Deus, arar quando ameaçava chover ou de colher quando a colheita estava madura. Era fácil então, como é hoje, justificar o trabalho quando havia obrigações a cumprir.
d) A finalização do concerto (34.27,28). Deus disse a Moisés: Escreve  estas palavras (27) — as palavras que Deus acabara de lhe dizer (10-26). Conforme o teor destas palavras significa “com base nestas palavras” (Smith-Goodspeed; cf. NTLH). Estes acordos renovaram o concerto do Senhor com o povo. Clarke supunha que o procedimento incluía uma cópia das tábuas de pedra para Israel, visto que as originais seriam colocadas na arca.71 Em todo caso, foi Deus que escreveu os dez mandamentos nas duas tábuas (28; o pronome oculto ele [escreveu] deve ser entendido como referência a Deus; ver v. 1), e Moisés escreveu o restante do concerto. O servo do Senhor ficou no monte quarenta dias e quarenta noites, como da primeira vez, e jejuou em ambas as ocasiões (cf. 24.18; Dt 9.9).
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Êxodo. Editora CPAD. pag. 233-235.
Êxo 34.27 O pacto foi reinstaurado. Moisés escreveu as leis, mas Yahweh estava presente, garantindo que isso seria feito de modo correto, preciso. No primeiro caso, as tábuas de pedra do decálogo foram escritas pelo dedo de Deus (Êxo. 31.18). O segundo jogo de pedras foi ditado por Yahweh, mas gravado por Moisés. A lei condicionava as relações do pacto. Não era um pacto gracioso, e, sim, de obras. Por essa razão, era fatal que fracassasse, sendo afinal substituído pelo Novo Pacto, em Cristo.
Moisés, o Mediador do pacto é de novo destacado, prefigurando Cristo na Sua posição de Mediador. Ver Êxo. 19.19; 20.19 e 24.1,2,9-11. Moisés foi o mediador da lei. Cristo foi o mediador da graça (ver João 1.17).
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 460.
A renovação da aliança (34.10-28)
v. 10. Primeiro Deus anuncia o que ele pretende fazer a favor de Israel — maravilhas que vão ofuscar os sinais que acompanharam o êxodo (e.g., Js 6.1-27; 10.12ss).
No final do v. 10, a NVI omite a expressão “por você” que está nas outras versões (“contigo” , BJ; “com vocês”, NTLH). Isso certamente se refere a Moisés e concorda com a condição especial de Moisés em toda a questão da aliança (cf. v. 27, “aliança com você e com Israel” ). Ê na expulsão dos povos que estão em Canaã (v. 11) que Deus vai realizar a obra maravilhosa, v. 12. Cf. 23.32.
v. 13. Cf. 23.24; D t 12.3. postes sagrados eram objetos de culto feitos de madeira (se eram postes ou árvores, não se sabe) que eram sagrados para Aserá, a deusa cananéia da fertilidade.
v. 14. Acerca dos v. 14-26 como um “decálogo ritual” mais antigo do que o “decálogo ético” de 20.3-17, v. a discussão em Cole. v. 15. quando eles se prostituírem uma metáfora das práticas imorais em geral e certam ente não sem significado literal com relação aos cultos da fertilidade, convidarão vocês: ICo 10.27-30 mostra como o mesmo tipo de situação poderia apresentar problemas ao cristão individual na cidade de Corinto do século I. Quanto os israelitas eram vulneráveis diante desse tipo de tentações ficou demonstrado de forma convincente no caso do bezerro de ouro. v. 17. ídolos de metal: correspondente à proibição de imagens esculpidas em 20.4. T alvez o uso do term o “bezerro fundido” em associação com o pecado de Israel (cf. 32.4) explique a diferença de ênfase, v. 18. Cf. 23.15. v. 19,20. Cf. 13.1 lss. A lei do primeiro a nascer é introduzida no cap. 13 seguindo o relato do êxodo; aqui, ele vem depois da regulamentação da festa dos pães sem fermento (v. 18) que havia se ligado estreitamente com a tradição do êxodo. v. 21.
A lei do sábado precisava ser observada em todas as épocas (cf. 31.13), inclusive na época de arar e na colheita, quando a tentação de desconsiderá-la seria mais forte. v. 22. A festa das semanas é a festa da colheita de 23.16; ocorria sete semanas depois da festa dos pães sem fermento (v. 18). A festa do encerramento da colheita é outro nome da festa dos tabernáculos (cf. 23.16). v. 23. Cf. 23.17. O calendário religioso de Israel é apresentado na sua forma com pleta em Lv 23. v. 24. Ninguém cobiçará a sua terra: uma palavra para o adorador ansioso em paralelo com o que está em lR s 17.13 e M t 6.33. Cole com enta acerca da facilidade com que um agricultor poderia mudar a marca divisória de terras para prejudicar o seu vizinho mais piedoso. Os que viviam em lugares mais distantes e isolados estariam temerosos de que na sua ausência algum estranho tentasse estabelecer, ou até restabelecer, a reivindicação por uma porção de terra. v. 25. Cf. 23.18. O sacrifício da festa da Páscoa corresponde à “gordura das ofertas de minhas festas” em 23.18, mas essa lei está especificam ente relacionada à Páscoa em 12.10. v. 26. Cf. 23.19. A generosidade de Deus é reconhecida tanto positiva quanto negativam ente — positivam ente, na apresentação dos primeiros frutos; negativamente, na rejeição dos rituais de fertilidade dos cananeus.
O paralelo antigam ente pressuposto entre o cozimento de um cordeiro no leite de sua mãe e a referência num texto ugarítico de Ras Shamra está sendo seriamente questionado atualmente, v. 27. Escreva essas palavras cf. 24.4,7. Essas são as condições da aliança esboçadas nos v. 12.26. com você: Moisés era o mediador da aliança; cf. comentário do v.10. v.28. E escreveu a implicação mais natural é que foi Moisés que m escreveu,visto que é o sujeito dos verbos anteriores.
Mas o v.1 opõe-se a isso, e pode bem ser que o sujeito original (ou até mesmo o sujeito pretendido agora) de escreveu seja Deus. A questão depende em parte do significado exato das frases discutidas no comentário de 31.18; 32.16.
Bruce; F. F. Comentário Bíblico NVI : Antigo e Novo Testamento. Editora Vida. pag. 225-226.
A RENOVAÇÃO DO CONCERTO - 34.1-35
A visão que acabara de ser prometida deveria ser concedida quando Deus renovasse a aliança, que o povo havia quebrado por sua idolatria. Dessa maneira Deus fez com que a própria rebelião de Seu povo redundasse em Seu favor, pois proveu a oportunidade de Moisés requerer seus pedidos, em Êx 23, e para uma revelação, em resposta, a respeito das excelências da natureza de Deus, que ultrapassou qualquer coisa conhecida até então.
Eu faço um concerto (10), isto é, Deus renova a aliança já feita, mas que já tinha sido violada pelos israelitas. Nos versículos seguintes são apresentadas tanto as promessas que Deus incluiu em Seu concerto como as condições sobre as quais o povo estaria em posição de aceitar as promessas, isto é, Guarda... (11); após isso, é dado um sumário das principais observâncias, representando todos os mandamentos transmitidos antes.
DAVIDSON. F. Novo Comentário da Bíblia. Êxodo. pag. 84-86.
II – OS DEZ MANDAMENTOS
1. ORIGEM DO TERMO.
O termo é usado em Êxodo 34.28; Deuteronômio 4.13; 10.4, e os mandamentos estão registrados em Êxodo 20.1 -17; Deuteronômio 5.6-21. O título alternativo “decálogo” angliciza o termo da LXX, que é uma tradução literal do hebraico.
MERRILL C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 2. pag. 142.
Palavras Envolvidas e Designações
A importância da lei, dentro do judaísmo, pode ser demonstrada pelo fato de que há cerca de novecentas referências aos mandamentos, no Antigo Testamento, mediante o uso de uma dezena de palavras diferentes.
O Decálogo. O termo decálogo, que significa dez palavras, foi usada pelos pais gregos da Igreja para se referirem aos dez mandamentos do Antigo Testamento. No hebraico, esses mandamentos são chamados haddebarim asereth, «dez palavras». Ver Êxo. 34:28; Deu. 4:13 e 10:4. Outras expressões também usadas para indicar a lei são: «as duas tábuas do testemunho» (Êxo. 34:29); a «sua aliança» (Deu. 4:13), «as tábuas da aliança» (Deu. 9:9). No Novo Testamento, encontramos, principalmente, o termo grego entola~i, «mandamentos» (Mat. 19:17 ss, Rom. 13:9; I Tim. 1:9, para exemplificar).
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 4139-4140.
2. CLASSIFICAÇÃO.
Quanto à lei, algo precisa ser dito sobre a alegada divisão em lei moral, lei cerimonial e lei civil. Desde muito tempo qualifica-se o Decálogo como lei moral, enquanto a parte da legislação mosaica que trata das cerimônias de sacrifícios e festas religiosas, entre outras, é chamada de lei cerimonial, e os preceitos de caráter jurídico são considerados lei civil. A visão tripartite da lei em preceitos morais, cerimoniais e civis não vem das Escrituras. "Embora essa distinção tripartite seja antiga, seu uso como fundamento para explicar a relação entre os testamentos não é demonstravelmente derivada do Novo Testamento e provavelmente não é anterior a Tomás de Aquino" (CARSON, 2011, p. 179).
Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 25.
A PRIMEIRA TABUA
“Não terás outros deuses" (20.3), Absoluta prioridade deve ser dada a Deus. Este mandamento é a chave para todos os ourros* A menos que nos comprometamos com o Senhor, e somenre com Ele, nossos corações serão dissuadidos da justiça do decreto dos Dez Mandamentos. Para o antigo Israel, “outros deuses” eram freqüentemente ídolos pagãos* Para nós, "outros deuses” podem ser a procura do bem-estar ou do prazer. Se nosso compromisso com o Senhor for completo, a observância do restante dos mandamentos seguirá naturalmente, “Não farás imagem” (20,4)* Deus é espírito. Assim, esculpir qualquer imagem para uso em nosso culto corrompera nosso entendimento da natureza de Deu s como Yahweh. O zelo do Senhor (v, 5) reflete uma preocupação apaixonada nossa para conhecer e cultuar a Deus como Ele verdadeiramente e. A menção de “visito a maldade dos pais nos filhos” lembra-nos que as conseqüências de um conhecimentoimperfeito de Deus persiste por gerações, Se conhecemos e adoramos ao Senhor em sua natureza espiritual, protegemos nossos descendentes dos pecados e conse-
A SEGUNDA TÁBUA
uHonra teu pai e tua mãe" (20*12). Uma forma intensiva da palavra “honra” é usada aqui, e o mandamento pode bem ser traduzido como “demonstrar respeico*. Pais são instrumentos de Deus na vida dos filhos, para ir ao encontro das necessidades físicas deles e introduzir a criança nos caminhos de Deus. A prioridade espiritual dos pais é observada no fato de que muitas das cerimônias, tal como a ceia da Páscoa, eram conduzidas no seio da família. Em Deuteronômio 6 e 1 1, é destacada a responsabilidade pela educação no lar, E significativo que no mundo predominantemente masculino* seja dado à “mãe' uma posição igual, sendo apresentada primeiramente no texco em hebraico de Levítico 19.3.
"Não matarás” (20* 13). “Assassinar” é mais preciso aqui do que “matar”. A palavra hebraica rasah ê a única sem paralelo em outras sociedades do segundo milênio a.C, Ela identifica "morte de pessoas” e inclui assassinatos premeditados executados com hostil intenção e mortes acidentais ou homicídio cuíposo. Dentro da comunidade da aliança, precisa va-se tomar um grande cuidado para que ninguém perdesse a vida, mesmo por acidente. O termo rasah não é aplicado em mortes na guerra ou em execuções judiciais, >>pp. I 14, 128.
uNâo adulterarás” (20.14). A integridade do relacionamento o crucial na comunidade da aliança, A fidelidade de um homem e uma mulher um ao outro reflete a fidelidade de Deus ao seu povo. Em ou eras qüentes castigos* que crescem onde quer que os homens falhem em conhecer e amar ao Criador.
Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus* em vão” (20*7). O '"nome” do Senhor, Yahweh, ocorre 6.828 vezes no AT. Este é o nome pessoal do Deus de Israel, Nunca e usado para uma divindade pagã.
Assim o ‘nome” de Deus transmite sua singularidade, a verdadeira essência do que Ele é* A palavra hebraica transliterada como “abuso” na NVI, e “em vão em outras versões, significa “nada” ou '‘uma coisa não substancial”, Nunca devemos falar do Senhor ou usar seu nome como se Ele fosse irreal ou insignificante.
Devemos falar dEle com respeito, como o único que tem absoluta prioridade em nossas vidas.
“Lembra-te do dia do sábado, para o santificar” (20*8-11)* Este é o único mandamento do Decálogo nao repetido no NT, que estabelece o domingo como o dia de adoração dos cristãos. O padrão de seis dias de trabalho e um de descanso foi estabelecido pelo próprio Deus na Cri ação t e o povo do AT devia honrá-lo não trabalhando no sétimo dia.
antigas sociedades no Oriente Próximo* o adultério era considerado um a grande pecado” contra o cônjuge, A Escritura o vê como um pecado contra Deus, uma rejeição da estrutura da aliança que liga um povo ao Senhor. Não é de admirar que a idolatria é freqüentemente retratada como adultério espiritual, um pecado contra o vínculo de intimidade que existe entre o Senhor e Israel.
“Não furtarás” (20*15) O mandamento proíbe roubo de qualquer espécie, O conceito aqui nâo é tanto pelos direitos de propriedade individual como o que diz respeito ao impacto destruidor do roubo nos relacionamentos dentro da comunidade da aliança.
Assim a punição por furto no AT não é prisão, mas restituição, devolvendo pelo menos o dobro do que foi roubado (cf. 22*9). O pagamento feiro à vítima não é punitivo. Veja, na verdade, restaurar a harmonia e a estabilidade. “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo15 (20,16). O mandamento inclui testemunho dado em tribunal, mas vai além disso. Falso testemunho é qualquer declaração maliciosa intencionada a degradar ou ferir outra pessoa, A reputação dos outros, assim como suas propriedades, devem ser resguardadas por todos.
Não cobiçarás” (20.17)* Desejar qualquer coisa a qual Deus escolheu dar a outro revela uma omissão em dar a Deus prioridade cm nossas vidas.
RICHARDS. Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia. Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. Editora CPAD. pag. 64.
3. FORMA.
20.3-17 Os Dez Mandamentos, também conhecidos como o Decálogo, que se seguem após o prólogo histórico introdutório {v. 2), são formados corno um preceito ou mandamento diretamente dado na segunda pessoa. Essa íorma era algo bastante incomutti na época. Códigos legais antigos do Oriente Próximo eram, na maior parle, casuísticos ou formados pela jurisprudência quanto à forma, ou sej a, uma construção "se... então” escrita na terceira pessoa, na qual uma suposta ofensa era seguida por uma afirmação de uma ação a ser tomada ou uma penalidade a ser aplicada. Os Dez Mandamentos também podem ser agrupados em duas categorias gerais: a vertical, ou seja, o relacionamento do ser humano com Deus (vs. 2-11), e a horizontal, ou seja, o relacionamento do ser humano com a comunidade (vs. 12-17). Proibições concisamente listadas caracterizam a segunda categoria, com uma exceção — um imperativo mais a explicação do mesmo (v. 12). A explanação ou o motivo anexo a uma proibição caracteriza a primeira categoria. Por esses Dez Mandamentos, a verdadeira teologia e o verdadeiro culto, o nome de Deus e o sábado, a honra familiar, a vida, o casamento, a propriedade, a verdade e a virtude estão bem protegidos.
MAC ARTHUR. Bíblia de Estudo. Sociedade Bíblica do Brasil. pag. 118.
É habitual na erudição bíblica referir-se aos Dez Mandamentos e ao livro do concerto, que os segue, como lei no sentido de jurisprudência comum. Embora esta não seja uma noção totalmente errônea, o mais recente reconhecimento de que estas seções são nada menos do que as cláusulas de estipulação em um documento de tratado que teve o efeito saudável de localizá-los mais precisamente no ambiente histórico, literário e teológico. Estas estipulações não visavam regular o comportamento humano em geral, embora os princípios que elas incorporam sejam heurísticos e atemporais, mas acham seu lugar em um contrato cujo propósito é fornecer diretrizes legais, morais e religiosas para um povo especial escolhido para uma tarefa especial. E até para este povo os regulamentos náo eram um meio pelo qual ele obtinha a salvação — que foi simbolizada pela Páscoa e pelo êxodo —, mas um manual de instruções pelo qual o povo do concerto tinha de ordenar a vida nacional na missão como povo sacerdotal e mediador. As estipulações eram a tôrah no sentido de instruções.
Tendo estabelecido a natureza da lei de Israel como estipulação do concerto, ainda é importante ressaltar que a grande seção de estipulação do tratado está dividida em duas partes, como já mencionamos. A primeira, os Dez Mandamentos, é de forma e função completamente diferente da segunda seção, o livro do concerto. Como mostraram muitos estudiosos, os mandamentos estão expressos na estrutura de lei apodíctica.50 Isto diz respeito à natureza geral, incondicional e elementar expressa em quase toda ocorrência por um “não farás”.
O livro do concerto, por outro lado, está disposto na forma de lei casuística. Seus regulamentos tratam de casos específicos ou classes de incidentes e normalmente consistem em declarações tipo prótase-apódose, quer dizer: “Se alguém
fizer isto ou aquilo, então esta é a penalidade”.
Outra ressalva é que a seção de estipulação mais curta e geral é parecida
com uma “constituição”, da qual a seção mais longa de estipulações se relaciona como um corpo de emendas ou, melhor, exemplos de aplicação específica. Assim, cada um dos dez mandamentos tem elaboração no resultante livro do concerto, com a conseqüência de que os princípios estão detalhados com referência precisa à vida prática e cotidiana.
Roy B. Zuck. Teologia do Antigo Testamento. Editora CPAD. pag. 49-50.
III – A QUESTÃODOS PRECEITOS DA LEI.
1. UMA SÓ LEI.
Jo 7.22. A NVI remenda bastante o grego, que, sem dúvida, é um pouco difícil. Ele começa com dia touto, por causa disso’. Porque nenhuma conexão é transparente, alguns (e.g: Sanders, p. 207; BLH; Bruce, p. 177) sugerem que as palavras devam ser lidas com o versículo precedente (havia pouca ou nenhuma pontuação nos manuscritos originais, assim, em teoria, esses rearranjos não envolvem nenhuma alteração do texto): “vocês estão admirados por causa disso” (v. 21; BLH). Isso faz muito sentido, mas é contrário ao uso joanino, que sempre coloca a frase no início de sua cláusula. Esse ponto de vista deve, portanto, ser descartado. Se dia touto for lido com o versículo 22, um problema permanece, pois a expressão geralmente se refere a um motivo já dado, isto é, ‘por causa disto [que acabo de mencionar]...’. A explicação mais provável é que ‘disso’ se refira à obra de cura, da restauração da plena saúde, à qual Jesus acaba de se referir, mas aqui, considerada paradigmaticamente: foi por causa de precisamente tal profunda renovação que Moisés deu a lei da circuncisão.
O resto desse versículo e todo o próximo combinam-se para apoiar essa interpretação. Antes de traçá-la, é importante observar o aparte parentético: que a circuncisão não tenha vindo de Moisés, mas dos patriarcas. Historicamente, isso é correto: a circuncisão foi instituída como um sinal de aliança enquanto Abraão ainda estava vivo (Gn 17.10ss.), e foi formalizada como parte do código mosaico no Sinai (Ex 12.44ss.). Mas João não inclui o aparte para gerar interesse em detalhes históricos ocultos. A observação tende a depreciar Moisés um pouco e, mais importante, estabelece que esse ritual antecedeu a lei mosaica, tendo, portanto, precedência sobre ela (cf. G1 3.17).
Os fios agora se ligam. Se a lei da circuncisão veio de Moisés ou do tempo dos patriarcas, o resultado era o mesmo: vocês circuncidam no sábado. A lei exigia que a circuncisão acontecesse no oitavo dia. Se uma criança nascesse no sábado, o oitavo dia (em um sistema inclusivo de cálculo) caía no sábado seguinte. A questão, portanto, é qual lei toma precedência: o mandamento de que a criança seja circuncidada no oitavo dia, ou a proibição contra todo trabalho regular no dia de sábado. As palavras de Jesus registram a conclusão: os judeus regularmente circuncidavam seus filhos no sábado, se o sábado fosse o oitavo dia (cf Mishná Shabbath 18.3; 19.2,3; Nedarim 3.11).
Jo 7.23. Assim, aqui estavam os oponentes de Jesus, ‘quebrando’ formalmente o sábado para que a lei de Moisés, com respeito à circuncisão, não fosse quebrada. Eles faziam isso regularmente; Jesus realizou só uma obra, aquele ‘único milagre’ (v. 21), todavia ele gerou profundo ressentimento. Portanto, por que eles estão tão cheios de ira (cholaô, extremamente raro; cf. NewDocs 4. § 91)? Alguns (e.g. Beasley-Murray, pp. 109-110) pensam que Jesus, com esse raciocínio, está provando seu ponto no versículo 19, de que todos os seus oponentes violam a lei já que todos eles sancionam a circuncisão no sábado. Essa é uma interpretação improvável, por dois motivos. Primeiro, ela significaria que Jesus estava concedendo que ele próprio era um transgressor da lei, mesmo se, diferentemente de seus oponentes, ele violou a lei do sábado só uma vez. Segundo, a questão no texto é que os judeus estabeleceram uma hierarquia de precedência entre as prescrições detalhadas do código mosaico, precisamente para guardar a lei. O mesmo princípio de uma hierarquia de precedência é revelado em Mateus 12.5, em que Jesus indica que os sacerdotes que realizam seus deveres sagrados no sábado não incorrem em culpa como violadores do sábado. A conclusão nessa passagem não é que os judeus por esse princípio de fato violar a lei (embora, formalmente, eles o façam, cf. Carson, Matt, in loc.), mas que aquele milagre único de Jesus implicitamente apela a uma hierarquia semelhante de precedência.
Mas, embora seja semelhante, não é a mesma hierarquia. Os pensadores judeus dessa época afirmavam, na base da precedência da circuncisão do oitavo dia sobre o sábado, que qualquer ato necessário de misericórdia podia ser legitimamente realizado no sábado. A circuncisão era vista como um ritual de aperfeiçoamento: um membro do corpo, por esse rito, era aperfeiçoado e tinha de ser aperfeiçoado no oitavo dia; quanto mais, portanto, deve um ato ser realizado, mesmo no sábado, se ele aperfeiçoa o corpo inteiro, isto é, se ele salva uma vida (c/TTosephta Shabbath 15.16; Mekhilta [um comentário rabínico] sobre Ex 31.13). Jesus estabelece uma hierarquia levemente diferente ao remover o critério de urgência ou de necessidade.
Os judeus podiam bem raciocinar que um homem que foi paralítico por trinta e oito anos pode sem dúvida esperar mais um dia para ser curado. Mas, eliminando a necessidade da consideração, a hierarquia da precedência de Jesus forja o mais forte elo possível entre circuncisão e a cura do homem todo — e isso em um contexto que acaba de nos lembrar que a circuncisão, em todo caso, antedata a lei de Moisés e, portanto, as leis do sábado (v. 22). A cura que Jesus opera do homem todo torna-se, assim, um cumprimento da circuncisão do Antigo Testamento, no mesmo dia que serviu como um sinal dos propósitos de redenção e de descanso de Deus no Antigo Testamento. O raciocínio de Jesus não é a exegese trapaceira de um teólogo determinado a exonerar sua própria prática enganosa a qualquer custo, mas insistência de que sua atividade é o cumprimento dos propósitos redentores de Deus estabelecidos na antiga aliança e, portanto, uma antecipação do argumento não só em Gálatas 3, mas também em Hebreus 4. É mais uma evidência de que Moisés escreveu sobre Cristo (Jo 5.46).
Embora os detalhes desse argumento não sejam encontrados em nenhum dos numerosos conflitos sabáticos relatados nos sinóticos, dificilmente isso é base para suspeitar que o registro de João seja inautêntico, já que a característica dominante das perícopes sabáticas nos sinóticos é a total diversidade dos argumentos apresentados. Em outras palavras, João simplesmente acrescenta mais um, um que está pelo menos de acordo com alguns argumentos sinóticos (e.g. a asserção de que Jesus está acima do sábado como seu Senhor, Mc 2.28 par.),130 e uma antecipação do argumento teológico pressuposto em Hebreus 4.
D. A. CARSON. O Comentário De João. Editora Shedd Publicações. pag. 315-317.
Jo 7.22 ―Moisés vos deu a circuncisão – se bem que ela não vem dele, mas dos patriarcas – e também no sábado circuncidais um homem.‖ A circuncisão é mais antiga que Moisés e já foi dada e ordenada a Abraão como sinal da aliança (Gn 17.10-12). Moisés, porém, a acolheu na lei, ordenando que ela deve ser realizada no oitavo dia (Lv 12.3). No entanto, para poder obedecer rigorosamente a determinação, era preciso que meninos também fossem circuncidados no sábado, quando o oitavo dia após o nascimento caísse num sábado. Acontece que essa operação no corpo de uma criança sem sombra de dúvida é uma ―obra‖. Apesar disso ela é praticada também no sábado. E agora Jesus faz uma dedução semelhante à maneira como também escribas estruturavam suas conclusões teológicas:
Jo 7.23 ―E, se o homem pode ser circuncidado em dia de sábado, para que a lei de Moisés não seja violada, por que vos indignais contra mim, pelo fato de eu ter curado, num sábado, a um homem todo?‖ Parece que Jesus não está entendendo a circuncisão em toda a sua profundidade como sinal de participação na comunidade salvífica israelita, mas aderindo à interpretação que costumava ser usada no ambiente grego para justificar a circuncisão: ela favorece a saúde. Nesse caso, ela naturalmente é apenas uma ajuda parcial, enquanto Jesus curou uma pessoa inteira. Contudo, o aspecto principal para Jesus é a linha de pensamento fundamental. Uma vez que os escribas e fariseus até reconhecem ―obras‖ lícitas ou mesmo ordenadas no sábado, então eles têm de compreender também que a ajuda pela cura para um infeliz enfermo é uma ―obra‖ dessas. Por isso Jesus solicita a seus adversários que nessa questão não julguem superficial e mecanicamente, mas enxerguem com maior profundidade.
Werner de Boor. Comentário Esperança Evangelho de João. Editora Evangélica Esperança.
Jo 19-24. Jesus acusou os judeus de fracasso no cumprimento da Lei. Não estavam fazendo a vontade de Deus nesse sentido. Como, então, poderiam aceitar Aquele a quem Deus tinha enviado? Suas intenções homicidas para com Ele eram por si mesmas violação do sexto mandamento. A multidão, ficando ao lado dos líderes sem conhecer seus desígnios, pensava que Jesus estivesse louco, atormentado por um demônio, imaginando que Sua vida estivesse em perigo (v. 20). O Senhor tinha de atingir as raízes da animosidade dos líderes. Aquele um só feito que Ele fizera em Jerusalém e que deixara todos maravilhados, mas que colocara os líderes contra Ele, foi a cura do homem aleijado, no sábado (cap. 5). O próprio Moisés, que os judeus respeitavam tanto, ordenou a circuncisão (embora a prática se originasse com os patriarcas e não com Moisés), de modo que ela tinha de ser realizada no oitavo dia (Lv. 12:3), mesmo se caísse no sábado. Pelo motivo (v. 22) não está bastante claro quanto à relação que tem com o assunto. Possivelmente aponta a seguinte linha de pensamento - que a circuncisão no sábado era aceitável e na realidade apontava para a obra que Jesus tinha realizado, uma vez que a restauração de um homem física e espiritualmente era até mais significativo do que a administração do sinal da aliança.
Charles F. Pfeiffer. Comentário Bíblico Moody. Editora Batista Regular. João. pag. 44.
2. A LEI DO SENHOR E A LEI DE MOISÉS.
Ne 8.1-5 O livro da Lei de Moisés era provavelmente o Pentateuco. os primeiros cinco livros da Bíblia. O povo ouviu atentamente a Esdras enquanto lia a Palavra de Deus, e suas vidas foram mudadas.
BÍBLIA APLICAÇÃO PESSOAL. Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Editora CPAD. pag. 675.
Como Iegislador e Mediador da Aliança. A lei mosaica tanto foi uma legislação quanto foi uma aliança. E Moisés foi o instrumento humano para tanto. O capitulo vinte do livro de Êxodo fornece-nos a porção cêntrlca dessa legislação, mas quase todo o livro de Êxodo está envolvido em seu delineamento; e o livro de Deuteronômio repete a questão, com algumas adições, ao passo que o livro de Levítico fornece-nos as intrincadas leis acerca do sacerdócio e do culto religioso. A lei mosaica não era apenas um documento religioso de proibições. .Paralelamente a isso, era um complexo conjunto de leis civis, muitas delas com preceitos paralelos em outras legislações semiticas. Ver o artigo intitulado Hamurabi, Código de, quanto a uma ilustração a esse respeito. O código de Hamurabi foi escrito cinco séculos antes de Moisés; e os pontos de semelhança mostram que uma das fontes da legislação mosaica foi o fundo de –Ieís desenvolvidas pelas culturas semiticas durante um longo período de tempo.
Pode-se dizer que as leis civis de Moisés ocupam cerca de quarenta parágrafos em Êxodo 21-23; em Levitico 18-20, um pouco mais do que vinte parágrafos; em Deuteronômio 12-16, cerca de noventa parágrafos. O material, desse modo, mostra ser bastante completo, embora não exageradamente longo. Esses cento e cinqüenta parágrafos são menos do que os 282 parágrafos do código de Hamurabi. As leis dos assírios ocupavam cerca de 115 parágrafos, embora muito mais material se tenha perdido. As leis dos heteus, até onde o demonstram as descobertas arqueológicas, ocupam cerca de 200 parágrafos.
Esse pacto mosaico é contrastado com o Novo Testamento, trazido por Cristo. Caracterizava-se por uma lei, e, presumivelmente, era capaz de transmitir vida (ver Lev. 18:5). Entretanto, os eruditos hebreus têm demonstrado que, nos escritos de Moisés, essa vida era apenas terrena, e não pós-morte. Os intérpretes posteriores do judaísmo é que a interpretaram como pós-morte. Seja como for, como um contraste com a lei mosaica, a graça, a verdade e a vida eterna vieram por meio de Cristo (João 1:17). O evangelho anuncia ao mundo a graça divina (ver Rom. 3 e 4). O pacto mosaico estava contido em três divisões: a. os mandamentos (Êxo, 20); b. os juizos (Êxo, 21:1-24:11), que regulamentavam a vida social de Israel; e c. as ordenanças (Êxo. 24:13-31:18) que governavam a vida religiosa da nação. Esses três aspectos constituíam a lei. O trecho de 11 Cor. 3:7-9 caracteriza essa legislação como «ministério da morte» e «ministério da condenação», porquanto não era através da lei que a vida espiritual ê conferida ao homem. O crente do Novo Testamento não está debaixo da lei mosaica, e, sim, sob o incondicional Pacto Novo da graça divina (ver Rom. 3:21-27; 6:14,15; OU 2:16; 3:10-14; 4:21-31; Heb. 10:11-1).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 340.
3. A LEI DE DEUS.
Israel Renova a Aliança (Js 24.16-28)
No momento em que Josué chamou o povo a fazer uma escolha, os sentimentos das pessoas pareciam ter sido chocados por até mesmo uma alusão à apostasia. Nunca nos aconteça que deixemos o Senhor para servirmos a outros deuses (16).
Eles, reconheceram que realmente fora o Senhor quem realizara todos aqueles atos poderosos em favor deles. Eles não tinham um desejo consciente de rejeitar a Deus.
Eles reconheciam que foi o Senhor que nos guardou por todo o caminho em que andamos (17). Eles dependeram de Deus para todos os feitos; conseqüentemente, não tinham um incentivo para deixá-lo. Sua experiência pessoal lhes testificava que Deus sempre lhes fizera bem; também nós serviremos ao Senhor, porquanto é nosso Deus (18).
Josué desafiou a sinceridade daquelas pessoas. Ele temia que as promessas que elas faziam fossem apenas superficiais. Parece que ele tem o pressentimento de um futuro fracasso por parte do povo. Não podereis servir ao Senhor (19) sem mostrar um grau mais elevado de dedicação de mente e lealdade do que aquele que o povo já havia mostrado.
A expressão: não podereis servir, tem o mesmo sentido lógico de “não pode ser meu discípulo” de Lucas 14.26,27. Josué queria que o povo reconhecesse que as declarações de Deus para a nação eram exclusivas. O Senhor seu Deus jamais ficaria satisfeito com algum tipo de rompante ou entusiasmo temporário. Ele é um Deus santo (19); conseqüentemente, os homens pecadores não podem se colocar diante dele. Ele é um Deus zeloso; portanto, outros não podem receber a afeição nem os direitos que são somente dele. Ele não perdoará a vossa transgressão nem os vossos pecados. Deus não vai fechar os olhos à meia lealdade e nem tolerará a falsidade. Pessoas que vivem uma existência dúbia não podem servir ao Senhor.
Durante sua associação com os israelitas, Josué conscientizou-se da tendência que eles tinham de entrar em situações comprometedoras e de contemporizar. Eles faziam promessas de lealdade com muita facilidade. Josué queria que sua devoção fosse genuína. Deveriam saber com profunda convicção que o comprometimento com outras coisas não era nem praticável e nem possível neste concerto.
Josué advertiu que, se Israel violasse esta troca de promessas, Deus se tornará, e vos fará mal, e vos consumirá, depois de vos fazer bem (20). Ele queria que aquele povo se lembrasse que o Senhor desejava lealdade total e genuína devoção.
Jesus Cristo também ensinou que “ninguém pode servir a dois senhores” (Mt 6.24). Tiago enfatizou esta verdade ao dizer que “o homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos” (Tg 1.8).
A prática da falsa lealdade ao Senhor, mais tarde, resultou no afastamento de Israel da fonte de bênção. O plano de Deus insistia para que o povo erradicasse as nações ímpias de seu meio. Pelo fato de terem se recusado a seguir este preceito, o Senhor deixou que eles fizessem uma colheita do mal. Deste modo, o povo foi ferido e consumido por seus inimigos.
Quando a inquestionável fonte de benefícios de Deus foi eliminada da programação de vida do povo, o Senhor não teve mais oportunidades de lhe fazer bem. O concerto com o Deus vivo é o mais sério tipo de relacionamento que o homem pode experimentar. O povo foi ainda mais enfático, ao insistir que antes, ao Senhor serviremos (21).
Josué solenemente advertiu aquelas pessoas que sois testemunhas contra vós mesmos de que vós escolhestes o Senhor, para o servir (22). Eles fizeram a escolha de servir ao Senhor incondicionalmente. Peloubet faz a seguinte observação: “Nossas profissões religiosas são testemunhas permanentes contra nós no caso de nos esquecermos de Deus”.  Josué pediu que Israel evidenciasse sua sinceridade, ao colocar fora os deuses estranhos que há no meio de vós (23). Não se tem conhecimento do quão presentes esses deuses estavam entre o povo. O fato de Josué pedir que o povo se livrasse dos deuses é uma confirmação de que ele estava consciente da existência deles (cf. Jz 17.5).
Josué estava certo de que antes de poderem inclinar o vosso coração ao Senhor (23) todas as outras lealdades deveriam ser eliminadas. O registro não indica que qualquer um dos deuses estrangeiros foi eliminado (cf. Gn 35.2-4).
Pela terceira vez naquela reunião o povo declarou: Serviremos ao Senhor, nosso Deus (24; cf. 18, 21). Aparentemente o povo brincava com os elementos da apostasia, sem perceber o extremo risco de permitir aquilo que Deus denunciava. A erradicação de tudo o que desagradasse ao Senhor era o preço para obter o seu favor. Antes de poderem realmente servir, precisavam fazer uma rendição incondicional ao programa completo que Deus tinha para suas vidas.
Depois dessa declaração de proposta de lealdade, fez Josué concerto, naquele dia, com o povo (25). Isto envolvia a oferta de sacrifício, com a solene declaração de que a idolatria não seria tolerada em Israel.
Josué fez dessa reunião pública uma ocasião solene. Ele pôs por estatuto e direito... escreveu estas palavras no livro da Lei de Deus; e tomou uma grande pedra e a erigiu ali (25,26). Josué utilizou-se de todo o expediente disponível para garantir a lembrança de Deus nas mentes das pessoas. Esta pedra nos será por testemunho (27). Ela marcava o local onde o concerto fora estabelecido entre Deus e o povo.
Chester O. Mulder. Comentário Bíblico Beacon. Josué. Editora CPAD. pag. 78-79.
Js 24.22-27 - Josué e o povo selaram a aliança de servir a Deus quando escreveram as palavras no livro da Lei de Deus e no momento em que erigiram uma grande pedra debaixo do carvalho, a mesma árvore que Jacó encontrou quando veio a Siquém. Esta árvore ficava perto do santuário do Senhor, o qual, provavelmente, não era uma construção regular ou um templo, mas um lugar sagrado criado em Siquém ao levar o tabernáculo para lá.
A referência às pessoas apresentando-se diante de Deus (v. 1) pode indicar que o tabernáculo estava lá. A pedra debaixo do carvalho funcionava como um lembrete legal ou testemunho de que a aliança fora assumida pelas pessoas. Agora, a pedra e o povo eram ambos as testemunhas. Isso reflete a função do altar construído pelas tribos que estavam assentadas a leste do Jordão, que também era um testemunho (Js 22.34). Uma grande pedra erguida, que data da época final da idade do Bronze (isto é, mais ou menos a época em que se passa essa história), foi encontrada em Siquém, e pode ser a pedra aqui mencionada.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 399-400.
Ne 8.8 Ele e outros leram do livro da lei, desde a alva cdé ao meio-dia (v. 3), e eles leram declarando (“claramente”, v.8 [versão RA]). A leitura das Escrituras em reuniões cristãs é uma ordenança de Deus, em que Ele é honrado, e sua Igreja, edificada. E, em ocasiões especiais, devemos estar abertos a participar por muitas horas juntos na leitura e exposição da palavra de Deus: os que são mencionados aqui se reuniram por seis horas. Que aqueles que lêem e pregam a palavra aprendam também a apresentar-se de maneira distinta, como aqueles que entendem o que dizem e são tocados por ela, e que desejam que esses a quem falam tenham condições de entendê-la, retê-la e ser tocados por ela. Laço é para o homem dizer precipitadamente (Pv. 20.25). (4) O que eles leram, isso expuseram, e disso mostraram a intenção e o significado, e a aplicação prática das palavras da lei; eles explicaram o sentido em outras palavras, faziam que, lendo, se entendesse (w. 7,8). Observe: [1] E necessário que aqueles que ouvem a palavra a entendam; caso contrário, não passam de palavras e sons vazios (Mt 24.15). [2] Portanto, exige- se que aqueles que são mestres por ofício expliquem a palavra e dêem sentido a ela. Entendes tu o que lês?, e: Entendestes todas estas coisas? (veja Mt 13.51), são boas perguntas a serem colocadas para os ouvintes; mas: Como poderei entender, se alguém me não ensinar? (At 8.30,31). Ler é bom e pregar é bom, mas a exposição une a leitura e a pregação, e assim torna a leitura tanto mais inteligível e a pregação tanto mais convincente. (5) O povo comportou-se de maneira muito apropriada quando a palavra foi lida e aberta a eles. [1] Com grande reverência. Quando Esdras abriu o livro, todo o povo se pôs em pé (v. 5), mostrando dessa forma respeito tanto por Esdras quanto pela palavra que ele estava prestes a ler. Cabe aos servos ficar em pé, quando seu senhor fala com eles, em honra ao seu senhor e para mostrar a disposição em fazer o que lhes é ordenado. [2] Com grande firmeza e compostura. O povo estava no seu posto (v.7); diversos ministros estavam lendo e expondo a certa distância um do outro, e cada um do povo permaneceu no seu lugar, não se dirigia primeiro para um e então para outro, para fazer comentários sobre eles, mas permanecia no seu lugar, para que não perturbasse o outro nem fosse ele próprio perturbado. [3] Com grande atenção e disposição: os ou vidos de todo o povo estavam atentos ao livro da Lei (v. 3). Seus ouvidos estavam como acorrentados a ele; eles ouviam prontamente, e prestavam atenção em cada palavra. A palavra de Deus requer atenção e a merece. Se por causa de descuido deixamos escapar muita coisa ao ouvir, existe o perigo de que pelo esquecimento deixemos escapar tudo depois de ouvir.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Josué a Ester. Editora CPAD. pag. 825.
A Leitura e a Exposição da Lei de Moisés (Ne 8.1-12)
O cenário do capítulo 8 parece fazer alusão ao último versículo do capítulo anterior (7.73): “E chegado o sétimo mês, e estando os filhos de Israel nas suas cidades”. Quanto à importância religiosa do sétimo mês, Tisri, que corresponde a partes de setembro e outubro, veja os comentários sobre Esdras 3. Podemos entender que, antes do período de treze ou mais anos em que morou em Jerusalém, Esdras já havia ensinado outras pessoas, e assim prosseguiu. Neste caso, as pessoas já conheciam o significado das festividades que começavam com a Festa das Trombetas no primeiro dia do sétimo mês. De qualquer maneira, Esdras entra agora em cena e, no início do sétimo mês, recebe dos líderes judeus a solicitação de ler o livro da Lei. Enquanto isso, uma grande platéia havia se reunido - formada por homens e mulheres - em uma área importante de Jerusalém para ouvir suas palavras. Foi erguida uma plataforma elevada5 para essa finalidade diante da Porta das Aguas (3), cerca de quinhentas jardas ao sul da área do Templo. Com a ajuda de inúmeros levitas, que se postaram do seu lado direito e esquerdo, e depois das devidas cerimônias, ele se colocou perante o público e leu a lei desde a alva até ao meio-dia. Quando Esdras abriu o livro (5) ele, evidentemente, desenrolava um pergaminho e, com esse sinal, todas as pessoas se levantaram.
A maneira pela qual os levitas ajudaram Esdras não está muito clara. No versículo 8 ficamos cientes de que eles leram o livro, na Lei de Deus, e declarando e explicando o sentido, faziam com que, lendo, se entendesse. Parece que a leitura e a interpretação foram feitas por muitos levitas; talvez, Esdras tenha lido em hebraico e os levitas sido incumbidos de traduzir ou parafrasear em caldeu ou aramaico, língua que havia se tornado popular durante o exílio. Com algumas modificações, essa língua continuou a ser falada até os dias de Jesus. Em todo caso, era necessário fazer com que o significado fosse claro, e isso foi conseguido, pois o texto informa que todas as pessoas entenderam.
C. E. Demaray. Comentário Bíblico Beacon. Neemias. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 529-530.
IV – A LEI E A GRAÇA
1. A TRANSITORIEDADE DA LEI.
A GLÓRIA D O NOVO CO NCERTO 3.7-18
Paulo lembrou as tábuas de pedra nas quais Deus tinha escrito o antigo concerto. Ele identificava a lei, embora mortal, como sendo, apesar disto, gloriosa, porque ela é a provisão de Deus e a prova da sua intervenção na vida do seu povo. Mas aquilo que está resumido em pedra nem de longe pode vir a ser tão glorioso como o que ainda está por vir. O Espírito cria uma nova vida em nós. Ele é o Espírito Santo que estava presente na criação do mundo como um dos agentes da origem da própria vida (Gn 1.2). Ele é o poder que está operando no novo nascimento de cada cristão e aquele que nos ajuda a viver uma vida cristã autêntica.
II Cor 3.7,8 Paulo usou a história da ocasião em que Deus deu os Dez Mandamentos para ilustrar a diferença entre o seu ministério e o de Moisés. A história pode ser encontrada em Êxodo 34.29-35. Depois de receber os Dez Mandamentos escritos pelo próprio Deus, Moisés desceu do monte Sinai com as tábuas. Embora Moisés não soubesse, a pele do seu rosto resplandecia com a glória de Deus. Quando Moisés voltou ao campo israelita, o povo viu o seu rosto radiante e teve medo de se aproximar dele. Moisés reuniu o povo ao seu redor para que pudesse lhes dizer tudo o que Deus tinha ordenado que eles fizessem, e para isto colocou um véu sobre o seu rosto. Quando Moisés entrava no Lugar Santíssimo do Tabernáculo para estar na presença do Senhor, ele removia o véu do seu rosto para falar com Deus. Depois, ele aparecia novamente diante das pessoas com o rosto descoberto e lhes dizia o que Deus tinha ordenado. Quando acabava de falar, Moisés novamente colocava o véu sobre seu rosto.
Paulo usou o hábito de Moisés de colocar um véu sobre o seu rosto e depois removê lo como um símbolo da diferença entre o antigo e o novo concerto. O antigo sistema da lei gravada em tábuas de pedra trazia condenação porque ele mostrava o pecado e a sua trágica conseqüência: a morte. Em contraste, o novo concerto traz a vida, por intermédio do Espírito Santo. Isto era mais glorioso - literalmente, refletia mais a glória de Deus - do que a lei. Para reforçar ainda mais este ponto, Paulo descreveu a glória do rosto de Moisés como uma glória transitória.
A passagem do Antigo Testamento não registra este fato. Parece que Paulo interpretou a ação de cobrir o rosto com um véu como um esforço de Moisés para desviar a atenção do brilho transitório da sua própria face, para concentrar a atenção das pessoas na lei. Paulo via este brilho transitório como outro sinal da natureza temporária do antigo concerto.
II Cor 3.9-11 O antigo concerto só trazia a condenação, mas o novo pode trazer às pessoas a justiça diante de Deus. A carta de Paulo aos Romanos explica com detalhes como o antigo concerto traz condenação, A lei traz um veredicto de culpa, porque ela aponta o pecado na vida das pessoas (Rm 3.19,20; 5.12,13).
Ninguém é justo diante de Deus (Rm 3.10).
Mas Deus, com a sua misericórdia, concede a sua própria justiça àqueles que crêem no seu Filho (Rm 5.17). Desta forma, todos aqueles que crêem em Jesus são declarados justos diante de Deus (Rm 3.20-22). Esta sentença, portanto, resume a diferença entre o antigo e o novo concerto que Paulo tinha pregado aos coríntios: o antigo, por apontar o pecado, traz o julgamento de Deus; mas o novo, por meio da vida inocente e da morte de Jesus, traz a justiça de Deus ao crente.
O antigo concerto era glorioso. Não apenas o rosto de Moisés brilhava, mas trovões, relâmpagos, uma espessa nuvem, um sonido de buzina mui forte e fogo acompanharam a sua inauguração, no Monte Sinai (Êx 19.16-20). Mas o novo concerto muito mais o excederá em glória. O novo ministério, o ministério do Espírito, é ainda mais glorioso. As vidas e os corações transformados dos crentes são uma obra de Deus ainda mais miraculosa do que os relâmpagos, os trovões, e os terremotos. Na verdade, esta glória maior estava eclipsando a glória do antigo concerto. Da mesma forma como a luz brilhante do sol faz com que uma lanterna pareça inútil, também a glória inigualável do novo concerto torna inútil qualquer brilho menor. O antigo concerto era transitório, tinha sido deixado de lado, e estava sendo substituído pelo novo concerto, que permanece.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 204-205.
II Cor 3.7 «...ministério...», no original grego, é «diakonia», que significa «serviço», «ofício», indicando, conforme a palavra é usada no presente texto, alguma espécie de organização de vida, debaixo da lei. Essa ordem organizada, porém, conduzia à morte, segundo aprendemos no versículo anterior.
Ao mencionar a lei como um agente executador, Paulo exalta o sistema da graça divina; o novo pacto, porém, ele exalta como agente transmissor de vida. Ao mesmo tempo, polemicamente falando, ele mostra aos crentes coríntios de que maneira os seus mestres, de tendências legalistas (provavelmente pertencentes ao partido que tinha a Pedro como seu «herói», ver I Cor. 1:12), haviam pervertido a graça gratuita de Deus, em Cristo Jesus, fazendo o cristianismo torftar-se inferior ao que na realidade é.
«...gravado com letras em pedras...» Esse foi também outro meio que Paulo usou para mostrar como o antigo pacto era «inferior» ao novo, meio que ele já havia utilizado no terceiro versículo deste capítulo. A nova aliança grava a mensagem de Cristo em tábuas de carne, isto é, no homem essencial, espiritual; e isso é que toma essa mensagem eficaz em suas vidas. A antiga mensagem, por sua vez, não era gravada no coração, mas foi gravada meramente em tábuas de pedra.
«...glória...», no original grego, é «doksa», que ordinariamente significa «louvor», «honra», mas que também é palavra usada para referir-se à presença de Deus, a «glória» ou «shekinah» de sua presença, conforme os judeus a denominavam. Por causa de sua pureza, majestade e profundíssima santidade, Deus é considerado aqui como um ser inabordável, como quem habita em luz brilhantíssima e inacessível. Essa luz onde Deus habita é tão avassaladora, que consumiria qualquer ser que não seja perfeito e que dele porventura pudesse aproximar-se; por isso mesmo é que Deus habita em luz «inacessível», no dizer de I Tim. 6:16. Os anjos compartilham, em muito menor grau, desse resplendor; e Moisés, pois, participou do mesmo ainda em grau inferior ao dos anjos. Porém essa glória que brilhava no rosto de Moisés, não tardou a desaparecer. Assim também sucedeu à lei mosaica, como caminho de vida, quando Cristo, o Filho eterno de Deus, a glória real do Pai, veio habitar entre os homens, trazendo sua redenção aos homens. A glória de Moisés se desvaneceu, mas a glória do homem Jesus jamais poderá diminuir.
Mediante tais idéias, Paulo ilustrou a glória maior e a permanência do novo pacto.
Ilustrações sobre a inferioridade da lei mosaica em relação ao sistema da graça divina. Há quatro maneiras de mostrar essa inferioridade, a saber: 1. A lei era a ministração da jnorte; mas a graça conduz à vida eterna.
2. A lei era a ministração da condenação; a graça nos confere a justificação.
3. A lei era temporária (ver o versículo presente); mas o novo pacto é permanente.
4. A lei refletia a glória de Deus, no rosto de Moisés; mas o novo pacto em muito ultrapassa a essa glória, tal como Cristo é maior do que Moisés.
«...desvanecente...» é tradução do vocábulo grego «katargeo». Essa palavra significa «tornar ineficaz», «fazer impotente», «tomar inútil», «abolir», «pôr de lado». Paulo quis dar a entender o total desaparecimento da legislação mosaica como a maneira divina de tratar com os homens, sendo então substituída pelo sistema da graça, conforme o vemos rias páginas do N.T. Tais declarações devem ter servido somente para enfurecer os legalistas e os judeus.
II Cor 3.11 Rebrilhante glória de Deus acompanhou a doação e administração original da lei mosaica. Deus aprovou o que fora feito; tudo era obra sua.
A Glória Da Lei :
1. A lei era gloriosa por ser uma manifestação da vontade divina, acompanhada pela presença de Deus ou de algum elevado poder espiritual, em sua outorga e administração.
2. A lei prefigurava Cristo nos seus sacrifícios e cerimônias, pelo que, por si mesma, era gloriosa.
3. Continha muitas lições espirituais de grande valor, embora não fosse, ela mesma, o caminho da salvação.
4. Demonstrava a necessidade que temos do Salvador, além de predizer a sua vinda. Foi um mestre-escola que conduziu homens a Cristo.
5. Todavia, a glória da lei era secundária, fadada como estava a ser ultrapassada, uma vez que fosse outorgado aos homens aquilo que a lei simbolizava e predizia.
6. A glória da lei era transitória, e desapareceu diante da vinda de Cristo. 7. Seu valor era significativo, pelo que também a sua glória foi grande; mas a glória de Cristo é a que pode transfigurar a ti e a mim.
Os discípulos de Cristo não refletem a glória transitória de Moisés em seus rostos. Antes, possuem a glória eterna do Espírito de Deus, em suas almas. De quatro maneiras, pois, o apóstolo dos gentios demonstrava a superioridade da nova aliança, em comparação com o antigo pacto. Essas quatro maneiras são: 1. A lei mosaica era a ministração da morte; a nova aliança é a ministração da vida (ver o sétimo versículo deste capítulo). 2. A lei era a ministração da condenação; a nova aliança é a ministração da justificação (ver o nono versículo). 3. A lei tinha certa glória; mas o novo pacto ultrapassa em muitíssimo essa glória (ver os versículos décimo e décimo oitavo deste capítulo). E a quarta maneira, que Paulo destaca aqui, fala sobre a permanência da graça, em relação ao sistema mosaico, que era transitório.
Em tudo isso se percebe que o apóstolo Paulo rompera definida e permanentemente com o antigo judaísmo. Para ele, o cristianismo não era meramente um nível mais elevado do judaísmo, alguma nova expressão do judaísmo. Pelo contrário, era uma revelação muito mais elevada, uma nova ordem, revestida de uma nova e permanente glória. A glória do judaísmo—segundo nos informava Paulo—era infinitesimal, quando posta em confronto com a glória que nos é oferecida em Cristo.
«A glória do novo pacto nos resguarda da morte, nos resguarda da condenação, e é permanente. Nesse argumento, pois, o apóstolo tinha em vista, sobretudo, os judaizantes, os quais pensavam que a lei era indispensável e superior ao evangelho». (Beet, in loc.).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag.
Agora o apóstolo apresenta de um modo claro o que ele tinha apenas mencionado previamente (cf. 3, 6) - o contraste entre as dispensações (cf. RSV) da Lei e do Espírito, entre o ministério de Moisés e o de Paulo. O ministério de Moisés (7) é caracterizado pela glória (“brilho”, RSV) no rosto de Moisés. “Transitória como era” (NASB), era ainda assim tão brilhante que os filhos (huious, “filhos”) de Israel não podiam “olhar atentamente” (NASB) para ela (Êx 34.29-30). A ênfase de Paulo está na glória ou no esplendor do ministério de Moisés como uma revelação da eterna vontade de Deus. Assim, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras (cf. Rm 7.7-8; 1 Co 15.16), veio em glória, não é óbvio (ouchi), pergunta Paulo, que “seja de maior glória (ou resplendor, RSV)” o ministério do Espírito (8), que dá a vida (3.6; cf. G1 3.5)?
Então, na segunda fase do seu contraste, ele prossegue explicando que “se o ministério da condenação [Dt 27.26; G1 3.10] foi glorioso, muito mais excederá em glória o ministério da justiça” (9, NASB) [Rm 1.17; 5.17; 8.1-4; 1 Co 1.30].'“A lei”, comenta Calvino, “deve nos mostrar a doença, de modo a não nos mostrar, ao mesmo tempo, qualquer esperança de cura; o evangelho deve trazer o remédio àqueles que já não têm mais esperança”. O último supera a primeira “porque é uma coisa muito maior absolver o pecador condenado do que condená-lo”. Uma só considera a lei escrita nas pedras; o outro, considera o sangue do próprio Filho de Deus e o poder do Espírito. A justiça sobre a qual Paulo baseia a superioridade do seu ministério é “a justiça de Deus” revelada no “evangelho de Cristo” (Rm 1.16-17), que ele expõe em termos de justificação e santificação em Romanos 3.31—8.39.
Este contraste entre ministérios pode até mesmo ser considerado tão radical, que o primeiro, que foi glorificado (10) como um instrumento da auto-revelação de Deus, agora, “nesta parte, não foi glorificado, por causa desta excelente glória” (NASB) - a glória do segundo, que o supera em muito (cf. Jo 1.17; Rm 10.4; G1 3.21-25). “A sua glória agora está diminuída, como o brilho dos lampiões quando chega o amanhecer” (R. A. Knox).
Paulo desenvolve o seu ponto final do contraste (11) a partir do brilho do rosto de Moisés (3.7), que já desaparecia, de acordo com a tradição judaica, mesmo quando ele estava descendo do Monte Sinai. Ele viu isto como sendo um sinal da natureza transitória do antigo concerto, que Moisés representava. O contraste é com a permanência da revelação do Espírito. Porque, se o que era transitório foi para glória (dia doxes), muito mais é em glória (en doxe) o que permanece.
Assim, a adequação do ministério apostólico de Paulo é a sua superioridade como um ministério do novo concerto - um ministério do Espírito - superior (1) como a vida é mais gloriosa do que a morte, (2) como ajustiça é mais gloriosa do que a condenação, e (3) como aquilo que é permanente é mais glorioso do que aquilo que é transitório.
Donald S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. II Coríntios. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 419.
2. A GRAÇA.
Lv 18.5 Cumprindo os quais, 0 homem viverá por eles. Vivia-se, vivendo corre- tamente. A vida consistia na guarda da lei. Este versículo é muito empregado para mostrar que os hebreus esperavam obter a vida eterna mediante a guarda da lei. Posteriormente, os judeus interpretavam-no nesse sentido. Mas foi essa a questão central que o apóstolo Paulo combateu e repudiou, em Gál. 3.21,22. Disse ele: .. se fosse promulgada uma lei que pudesse dar vida, a justiça, na verdade seria procedente de lei. Mas a Escritura encerrou tudo sob o pecado, para que mediante a fé em Jesus Cristo fosse a promessa concedida aos que crêem”.
Mas em Lev. 18.5, “vida" não é a vida eterna. Em parte alguma do Pentateuco temos a promessa de vida além-túmulo para'os que vivessem retamente, nem temos ameaças de juízo, além-túmulo, para os que não vives- sem retamente. O Pentateuco não contém a doutrina da alma, embora ela seja antecipada na doutrina da imagem de Deus, em Gên. 1.26,27. Séculos mais tarde, nas mãos de Paulo, essa doutrina tornou-se muito importante, como centro da vida e natureza da alma eterna (Rom. 8.29 ss.; I João 3.2). Tal desenvolvimento teológico, contudo, não começou nos dias de Moisés. A idéia da alma começa nos Salmos e nos Profetas; mas 0 assunto da bem-aventurança ou da punição eternas, além-túmulo, ainda precisou de muito mais tempo para ser consolidado dentro da teologia dos hebreus. Simplesmente temos de admitir que a teologia judaica, nesse particular, era deficiente, sendo esse um dos pontos que a revelação cristã veio aprimorar.
Não há que duvidar, sem embargo, de que, posteriormente, quando os judeus vieram a crer firmemente na existência da alma imortal e imaterial, o trecho de Lev.18.5 passou a ser empregado para mostrar que a vida etema viria através da guarda da lei. E isso armou o palco para o repúdio a tal ensino, por parte de Paulo.
A vida referida em Lev. 18.5 é uma vida física abundante, abençoada por Yahweh. Uma vida boa, mediante a observância dos mandamentos, mas que termina na morte. É melhor alguém viver bem do que ao contrário, e a guarda da lei fazia parte integral de uma vida boa e longa sobre a terra, sob a bênção de Yahweh.
“A obediência às leis de Deus produzia, em Seu povo, vidas felizes e realizadas (cf. Lev. 26.3-13; Deu. 28.1-14)” (F. Duane Lindsey, in ioc.).
“As autoridades religiosas dos dias do segundo templo interpretavam essa cláusula no sentido de que quem obedecesse a essas leis teria a vida eterna. Por isso mesmo, as antigas versões caldaicas traduziam-na como “terá a vida eterna”. Essa passagem foi citada tanto pelos profetas (Eze. 20.11; Nee. 9.29) quanto pelo apóstolo Paulo (Rom. 10.5 e Gál. 3.12), 0 qual contrastou essa promessa, basea- da nas obras, com a promessa do evangelho, baseada na fé” (Ellicott, in toe.). O argumento paulino, naturalmente, era que viver a lei, obedecer aos seus conceitos, é algo realmente acima da capacidade humana. Por isso mesmo, 0 homem precisa de um sistema diferente do da lei, o sistema da graça-fé.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 545.
Lv 18.4,5 — ]uízos e estatutos são as ordens, as leis e os atos de natureza permanente. O termo juízos (mishpadm) se refere às decisões judiciais que envolviam situações não abarcadas pelas ordenanças.
Mediante os estatutos e os juízos de Deus, Israel guiaria sua vida, ou seja, [viveria] por eles. Deus deu a Lei a Seu povo como um estilo de vida em todos os seus segmentos - físico, moral, espiritual e relacional. Entretanto, como Paulo observou, quando a Lei era violada, tornava-se a causa da morte (Rm 7.10-12). Neste ponto, uma grande reparação, maior do que a Lei, seria necessária. O remédio estava em Cristo.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 239.
Gl 3.11 Tentar ser justificado diante de Deus observando a lei não dá certo. A lei não pode salvar, mas a fé pode. Paulo referiu-se à declaração de Habacuque, em Habacuque 2.4: “O justo viverá da fé”. Uma pessoa justificada não é aquela que observa a lei, mas aquela que tem um relacionamento correto com Deus. Esta expressão significa que os cristãos viveráo por causa da fidelidade de Deus e por causa da sua atitude de fé em Deus; como resultado, eles terão a vida eterna e sentirão a plenitude da vida.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 227.
O método da lei não só encontra sua conseqüência lógica na maldição, mas as Escrituras claramente consideram fé, e não lei, a base de justificação. E é evidente que, pela lei, ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé.
“Justificar” e “fazer justo” são traduções possíveis do mesmo verbo grego. Este termo — “justiça” (dikaiosyne) — é um dos conceitos mais importantes no pensamento paulino. Mas as interpretações são numerosas e extensamente divergentes. Há pouca disputa que às vezes diga respeito — talvez primariamente — ao novo estado do crente, constituindo-se desta forma em termo forense que descreve o veredicto judicial divino de absolvição do pecador (cf., e.g., Rm 3.20,21; 4.3,5,6; 5.1,9,17; G1 2.16,17,21; 3.6,8,24). Também é usado muitas vezes como termo ético que se relaciona à transformação moral gerada na vida do crente. O erro é insistir em um dos significados excluindo o outro. Em determinado contexto, um conceito predomina, mas o outro ainda existe em segundo plano. Em Romanos e Gálatas, onde lida com a controvérsia sobre a lei, Paulo enfatiza compreensivelmente o significado forense de justiça. Mas é errôneo supor — como muitos fazem — que esta nova relação é desprovida de significação moral e ética. O “homem de fé” não é apenas absolvido, mas o poder do pecado é interrompido em sua vida. Pelo visto, o significado ético de justiça está implícito em Romanos 6.13,16,18-20; 8.10, Efésios 6.14 e Filipenses 1.11.
O apóstolo cita Habacuque 2.4 como apoio bíblico para o seu argumento de que os homens são justificados pela fé e não pela lei. A expressão viverá é acrescentada ao conceito básico de o homem ser justo pela fé.20 Talvez isso signifique que a justificação em si é a nova vida, desta forma comparando-a com a regeneração; ou, como conseqüência da regeneração, refira-se à obtenção da vida eterna no céu como conseqüência da fé.
R. E. Howard. Comentário Bíblico Beacon. Galatas Editora CPAD. Vol. 9. pag. 47.
Elementos Constituintes Da Justificação
1. A justificação nos confere a retidão divina, em nós implantada e cultivada pelo Espírito, primeiramente na forma de uma declaração forense, mas, em seguida, realizada como um fato vivo. Somos moralmente transformados (ver Rom. 3:21).
2. Ela se baseia sobre a missão de Cristo, incluindo o seu ato expiatório (ver Rom. 3:24).
3. Ela se verifica totalmente à revelia dos méritos humanos, como aqueles adquiridos pela obediência à lei mosaica (ver Rom. 3:28).
4. Não se trata de mera declaração forense. Antes, é o começo da santificação, e a semente da glorificação. Desse modo, a própria forma de vida divina é proporcionada aos homens (ver João 5:25,26).
5. A justificação, portanto, não é apenas um princípio. É uma força viva, através do Espírito, e seu propósito é conferir-nos a imagem de Cristo, com sua natureza e espiritualidade (ver II Cor. 3:18).
Para que um homem participe da santidade de Deus, é mister uma profunda operação do Espírito de Deus. Somente Deus pode produzir essa espécie de santidade em um homem, o que se verifica por meio do poder místico e transformador do Espírito Santo. E é essa transformação moral que lança o alicerce para a transformação metafísica do crente, segundo a, imagem de Cristo, mediante o que ele passará a compartilhar da própria natureza de Jesus (Rom. 8:29). Trata-se de um alvo extremamente exaltado, para o que a lei nem ao menos apontava, quanto menos podia produzir. Com base nessas considerações do que está sendo feito nos homens, na salvação deles, deveria tornar-se perfeitamente evidente que ninguém é justificado perante Deus por intermédio da lei.
O significado da justificação tem sido obscurecido por aqueles que enxergam nessa doutrina apenas uma declaração «forense». Mas a justificação não pode resumir-se nisso, porquanto ela é a «justificação para a vida», ou seja, tem a ver com a própria participação na vida divina, em que o indivíduo entra na posse da eterna vida de Deus, a vida necessária e independente de Deus, nos termos dos trechos de João 5:25,26 e 6:57.
A justificação, como doutrina paulina, inclui igualmente a atribuição e a realização da própria santidade e da vida de Cristo no crente; e é paralela, senão mesma idêntica ao intuito, à santificação e à glorificação. Dessa maneira é que o apóstolo dos gentios se utiliza desse termo, e não apenas como uma declaração legal da parte de Deus, de que um indivíduo qual agora é visto por ele em Cristo, e, por conseguinte, é santo. Isso é uma verdade, mas é apenas uma parte da verdade, por ser apenas o começo da justificação, conforme Paulo se utiliza desse vocábulo. (Quanto a uma discussão completa sobre o que a doutrina da justificação significava para Paulo, ver as notas expositivas sobre Rom. 3:24,28, onde são expostas as diversas teorias a respeito). Quanto mais se compreende sobre a justificação, tanto mais se percebe que o princípio legalista da lei não pode justificar o homem.
«...o justo viverá pela fé...» Essa citação, extraída do trecho de Hab.2:4, eleva infinitamente a maneira como as palavras citadas sãousadas aqui. No contexto dessa passagem parece que o sentido, é que «o justo viverá por sua fidelidade»; e isso relacionado à preservação da vida física, terrena, em face dos invasores caldeus. Os caldeuS serviram de espada vingadora de Deus, usada para expurgar o povo de Deus, o povo israelita. O caráter dos caldeus era pior que o dos israelitas; no entanto, foram usados com esse mencionado propósito. E isso criou uma situação que deixou o profeta perplexo. Como é que Deus pode usar um povo ímpio a fim de expurgar o seu próprio povo? Parecia haver algo de injusto a respeito da questão. Não obstante, a fé ascende a Deus, confiadamente; e Habacuque pode perceber que, a despeito da situação ser extremamente desagradável, e que a provação que se seguiria era terrível, ainda assim ele podia continuar confiando no Senhor Deus. O homem bom sobreviveria, seria preservado e continuaria a viver, para a glória de Deus, mediante a sua confiança fiel; e devido a essa sua fidelidade, seria honrado por Deus. Essa era a fé do profeta Habacuque. Conforme Paulo se utiliza dessa expressão, alguns elementos usados pelo profeta Habacuque são preservados; no entanto, em Paulo a declaração é infinitamente elevada em seu sentido, Paulo, tal como o profeta antigo, tem em mente mais do que a mera crença; ele combina as idéias de «fazer o que é reto» com «ser reto aos olhos de Deus», em sua noção da fé. Assim sendo, um crente é aquele que tem a fé correta no tocante a Cristo, mas também é aquele que possui o princípio vivo da fé, que vai alimentando a santidade de Cristo que se forma em sua alma. Portanto, esse «viver» que o crente tem é presente, e não apenas futuro. Esse «viver» é a participação, agora mesmo, na vida de Deus; e isso produz a verdadeira vida de santidade, a qual é aceitável aos olhos de Deus. Além disso, esse «viver» também tem um aspecto escatológico, ou seja, relaciona-se à existência futura, nos lugares celestiais, na vida eterna.Por essa razão é que a tradução inglesa RSV (aqui vertida para o português), diz: «Aquele que pela fé é justo, viverá». Essa vida, no tempo verbal futuro, é a vida eterna de que desfrutaremos nos lugares celestiais. Porém, ninguém poderá chegar ali se não viver essa mesma forma de vida, em seus estágios preliminares; e isso pela mesma fé mediante a qual ele se torna justo.
Acerca da «fé» e sua justiça, Stamm (in lo c . ) assevera: «A dificuldade dos tradutores, quanto a esta passagem, origina-se da ausência de um único verbo, em inglês (ou em alguma outra língua moderna) que expresse, ao mesmo tempo, ‘fazer o que é reto e ter posição correta diante de Deus’; e da ausência de um substantivo que signifique tanto ‘retidão’ como ‘aceitação perante Deus, como justo’; e de um adjetivo que descreve o homem que é ao mesmo tempo ‘reto’ e que ‘age com retidão’. Ou ainda, usando o latim, que seja tanto ‘justo’ como ‘justificado’. As obscuridades daí resultantes, e as incoerências que daí surgem, dão ajuda e consolo à natureza humana —ou, como Paulo diria, é apoiada a ‘carne’, em seu hábito de divorciar a fé da fidelidade, e a justificação da retidão. Os intérpretes precisam resguardar-se da idéia de alicerçarem a ‘justificação pela fé’ sobre uma retidão imputada ou fictícia, ao invés de apresentar as duas coisas como verdades inseparáveis da presente vida do crente, em Cristo. Quando Paulo asseverava que o homem justo, que é ao mesmo tempo reto e está justificado, deve viver com base em sua fé, ele descrevia uma maneira de viver que é tanto presente quanto futura. A sua fé é que determina a ação que torna real a retidão, até mesmo agora».
Essa é uma nota excelente, digna de ser estudada, e que combate corretamente certas formas legalistas de justificação, correntes na interpretação da igreja evangélica moderna. Na realidade não há meio de separar a fé e a santidade, nos escritos e na teologia de Paulo, porquanto uma coisa é a fonte originária da outra.
A expressão: «O justo viverá pela fé» é citada por três vezes nos escritos de Paulo. Além desta passagem, ela também figúra em Rom. 1:17 e Heb. 10:38. (Essa expressão é comentada com abundância de detalhes nas notas expositivas da referência da epístola aos Romanos, além das idéias adicionais aqui expostas).
« ...diante de Deus...» , isto é, sob a visão contemplativa de Deus, de sua perene vigilância protetora, e de conformidade com as suas exigências. A justificação e a vida eterna não podem resultar de qualquer padrão e trabalho humanos, como a lei, à vista da lei, ou conforme os homens consideram as coisas. Deus é o «expectador», que deve aprovar e motivar, e até mesmo gerar o que é realizado dentro da justificação.
«...pela fé...» Essa vida se origina do princípio ativo da fé, sem importar se falamos de seu aspecto presente ou futuro. A fé é a fonte, e não a lei, e não exigências legalistas, cerimoniais ou sacramentais.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 469-470.
Esse é o argumento geral e concludente de Paulo, que nos apresenta uma espécie de sumário de todos argumentos, para mostrar que o sistema da graça não nos conduz e não pode mesmo conduzir-nos a uma vida caracterizada pela lassidão e pelo pecado. Na realidade, em contraste com o sistema legal, o sistema da graça nos provê os meios para a vitória, o que a lei não podia fazer, e realmente não fazia. Nisso fica comprovada a vasta superioridade da «graça» em relação à «lei». A graça não somente perdoa e imputa a «correta posição» ao indivíduo, mas, ao mesmo tempo, produz essa correta posição, a justiça, nesse indivíduo. A lei não perdoa, mas antes, condena, e na luta contra o pecado, longe de ser um herói que defende a causa da vida correta, na realidade se presta a ser uma espécie de aliado do mal, porquanto faz com que o pecado «avulte» ou se «intensifique», conforme o melhor sentido da palavra no grego, em Rom. 5:20, onde o leitor deve consultar as notas expositivas a respeito.
«A salvação, conforme já tivemos ocasião de observar por mais de uma vez (comparar com Rom. 1:16; 5:9,10 e 6:8), é algo essencialmente escatológico. Pertence à nova era. Essa nova era, a era de Cristo, a era do Espírito, ainda não foi inaugurada, embora existam sinais inequívocos de que isso está prestes a aconteÉer, e que, de fato, já está começando a ocorrer. O Espírito Santo nos tem sido dado; e o Espírito Santo, segundo já temos indicado, é mais do que um sinal ou garantia de uma promessa; antes, é a própria vida da nova era, manifestando-se entre nós. Conforme dirá 0 apóstolo Paulo pouco mais adiante (ver Rom. 8:3), o Espírito Santo é nsprimícias, ou então, conforme ele é chamado em Efé. 1:14, ele é 'o penhor da nossa herança’. A própria ‘herança’, entretanto, ainda não foi recebida na realidade. Somos herdeiros em princípio, mas não na realidade, não como um fato consumado. É como se um testamento já tivesse sido declarado legal e válido, e como se já tivéssemos sido declarados os herdeiros legítimos, e como se um pagamento inicial nos tivesse sido feito, sendo apênas a questão da passagem de um breve período de tempo, até entrarmos na possessão completa de nossa herança.
Essa figura simbólica serve, tão bem como qualquer outra, para mostrar como Paulo via o futuro, como se este já estivesse presente. Talvez apenas um pouco menos apropriada seria a analogia do momento, no início de cada dia, em que surgem os primeiros albores da madrugada. Nessa ocasião, deveria alguém dizer que o dia já veio, ou que ainda virá?
É claro que qualquer um poderia dizer uma coisa ou outra, sem faltar com a verdade. Na realidade, porém, o dia pleno ainda não veio, pois as trevas ainda são bastante profundas; como princípio, todavia, o dia já é então chegado, pois naqueles toques de cor e de luz, no horizonte oriental, o dia já começou a raiar realmente». (John Knox, in loc.).
«...não estais debaixo da lei...» Em que sentido ou sentidos essa declaração de Paulo deve ser compreendida? Os pontos alistados abaixo respondem .׳
1. No sentido que os povos gentílicos nunca estiveram sob a legislação mosaica, o que inclui tanto as leis morais como as cerimoniais, conforme se verifica através de toda a discussão sobre esses primeiros capítulos desta epístola aos Romanos.
2. No sentido de que a lei não pode produzir a «salvação», que supostamente seria adquirida pelo homem que a observasse criteriosamente. Os crentes não estão debaixo da lei, a fim de observá-la e assim «ganharem» a salvação, em parte ou inteiramente.
3. Os mandamentos do sistema legalista não são obrigatórios para os crentes, e tudo quanto for alcançado no terreno da santidade, sê-lo-á pela lei do Espírito, e não através do conceito legalista. A piedade vem através da religião mística, e não através da religião legalista.
4. O crente não está debaixo da lei como se esta fosse o guia de sua vida, conforme vários intérpretes cristãos têm erroneamente imaginado. A lei, como princípio legalista que é, não presta um melhor serviço, «orientando» e concedendo a vitória sobre o pecado, na vida diária; isto é obtido através da regeneração produzida pelo Espírito. Não se pode começar pela graça e terminar pela lei. Pois a graça também nos provê 0 padrão de conduta do crente; mas, paralelamente a isso, nos confere 0 poder no íntimo para vivermos à altura desse padrão (0 qual, diga-se de passagem, é muito mais elevado e espiritual do que o padrão apresentado pela lei, conforme se depreende claramente das palavras do próprio Senhor Jesus, em Mat. 5:21,22,27,28,33,34,38,39,43,44). O que guia ao crente é a lei do Espírito no íntimo, isto é, aquela lei que é capaz de ensinar 0 homem interior, e que, ao mesmo tempo, capacita a alma a seguir tais instruções divinas. Tudo quanto é justo, dentro do princípio legal da lei mosaica, é espiritualizado dentro da lei do Espírito.
5. É bem provável que quando Paulo fez esta declaração, de que o não estarmos sob a lei realmente é uma ajuda que nos capacita a ter uma vida vitoriosa, se referia ao pensamento já expresso em Rom. 5:20. A lei mosaica, longe de produzir a santidade no indivíduo, na realidade «aumentava» a intensidade do pecado, em suas diversas atividades. Em contraste com isso, a graça divina nos livra. Portanto, não estar alguém debaixo da lei presumivelmente fica eliminada, em seu caso, a ação provocativa da lei no que tange ao pecado.
«...e, sim, da graça...» A palavra «...graça...» é aqui empregada a fim de representar um inteiro e novo sistema, tal como a palavra «lei» nos traz à mente 0 sistema inteiro da legislação mosaica. A graça subentende o plano eterno de Deus Pai, em Cristo. A Palavra eterna é assim representada no que se relaciona ao homem, no que diz respeito à sua encarnação, à sua vida, à sua morte expiatória, à sua ressurreição doadora de vida, ao dom de seu «alter ego», o Espírito Santo, o qual dá prosseguimento e leva a bom termo a sua obra terrena, e a vinda da era eterna dourada. Cristo é a personificação da graça, e o sistema da graça representa tudo aquilo que o Senhor Jesus é para o crente, tal como Moisés era sinônimo do judaísmo. O sistema da graça cuida final e eficazmente do problema do pecado em sua inteireza, sem importar se se trata da condenação à morte física e à morte espiritual, ou se se trata da perversão da presente expressão de conduta diária. Somente através da graça divina, conforme fica subentendido no «caminho de Jesus», é que podemos esperar a vitória final sobre o pecado e seus efeitos daninhos.
Como A Graça Opera, A Fim De Dar-Nos Vitória Sobre O Pecado
1. A palavra «graça», neste caso, refere-se ao sistema espiritual da graça, em contraste com o sistema da lei. Sob Moisés, os homens receberam um conhecimento para eles elevado demais. Ficaram sabendo o que havia de errado, mas foram deixados sem poder para resistir ao pecado. De fato, a lei revigorou o pecado. Sob a graça, pelo contrário, 0 ministério do Espírito nos é conferido, pois ele é o alter ego de Cristo, o qual faz de nós o seu templo (ver Efé. 2:20), e, dessa forma, nos transforma.
2. O método mosaico era «legalista», isto é, consistia de uma lei que exigia coisas dos homens, encorajando 0 orgulho humano. Abria caminho para os méritos humanos como maneira de considerar-se a obtenção da salvação. Portanto, não podia prover aos homens o dom divino, a saber, a salvação da alma.
3. O caminho do Espírito é místico. Esse vocábulo, consoante à sua definição mais básica, significa que entramos em «contacto» com algum poder superior, especificamente, Deus, o Espírito Santo, Cristo. Esse contacto capacita-nos a cumprir os requisitos da retidão, não com perfeição impecável, mas com vitórias sobre o vício e o pecado.
4. No trecho de Rom. 6:12, demos notas sob o título «Como pôr fim a esse reino do pecado», onde há certo número de sugestões que têm aplicação aqui. Assim perceberemos que tais meios, todos eles em seu conjunto, foram providos pelo poder do Espírito, o qual é 0 agente do «método da graça» da salvação.
5. O trecho de Rom. 8:2 fala sobre a «lei do Espírito», a qual opera em nós; e é através desse novo princípio que obtemos a vitória. Essa nova lei foi escrita em nossos corações, pelo que se torna em uma característica da alma, e não mero conhecimento mental.
6. O Espírito Santo é o poder por detrás dos meios de desenvolvimento espiritual. O método da graça opera através de tais meios.
7. Obviamente, o método da graça abre a provisão necessária para a santificação, uma importantíssima realidade e doutrina cristã, o que é amplamente comentado em I Tes. 4:3.
8. O alvo maior das operações do Espírito, o que, paralelamente, é o aspecto mais elevado da salvação, é a transformação do indivíduo segundo a própria imagem de Cristo, de tal modo que o crente vai passando de um estágio de glória para outro, em contínua ascensão. (Ver notas completas a respeito em II Cor. 3:18). Ê óbvio que a pessoa assim beneficiada, dificilmente se vê sujeita ao reino do pecado.
«Muitas almas honestas existem que não podem crer que a obediência a Deus possa ser garantida a não ser através da lei. Dizem essas pessoas: «Dê inteira liberdade a um homem, e já não se poderá mais controlá-lo». Consideremos, entretanto, os pontos seguintes:
1. Nenhum ser humano, na realidade, foi jamais controlado inteiramente pelo princípio da lei. A nação de Israel, que Deus sujeitou sob a lei, e isso mediante «maravilhosas e gloriosas manifestações de sua própria presença e autoridade», imediatamente renunciou à obediência que haviam prometido prestar-lhe.
2. Consideremos a relação existente entre a noiva e o seu noivo. Essa relação é um laço de amor, em que todos se deleitam por buscar o bem-estar do outro. Não se trata de uma relação imposta por qualquer lei. O marido não sai andando pela casa baixando regras para a esposa observá-las ׳, como se a continuação dessa relação matrimonial dependesse dessa observância! Tais regras são baixadas para os servos! Não obstante, descobrimos que a esposa pergunta ansiosamente a seu esposo o que ele quer para o almoço, e como, em qualquer outro sentido, ela possa agradá-lo e ser-lhe útil. Ora, tudo isso se deriva do princípio do amor, e não da lei!
3. Ora, Deus declara, e isso repetidamente, que fomos tirados de debaixo do princípio da lei por causa da morte de Cristo. Agora, estamos debaixo dá graça, e assim, produzimos fruto para Deus. Servimos em «novidade de espírito», o que só pode significar (a exemplo da esposa, que se deleita ante a possibilidade de agradar ao seu esposo) aquele espírito de serviço voluntário, ditado pela devoção pessoal, que anima todo o verdadeiro crente.
4. Não há a menor esperança, entretanto, de que qualquer pessoa venha a exibir adisposição e a capacidade de perceber o poder desse plano divino da ‘novidade de espírito', enquanto tal pessoa não tiver percebido e crido que realmente ela morreu com Cristo que ela mesma era tão má que todo o seu «velho homem» foi crucificado juntamente com Cristo; a fim de que agora, estando em relação matrimonial com um outro, isto é, com aquele que ressuscitou dentre os mortos, possa ela produzir fruto digno para Deus.
Que Deus pode ser Deus-Salvador, e não somente Legislador, é algo que a mente humana isolada não pode conceber, porquanto isso só pode ser recebido pela fé. Que naqueles que não estão debaixo da lei se cumpre tudo, e mais ainda! —quanto a lei requer, parece uma insensatez para todos quantos não têm fé, a fé bíblica e neotestamentária na graça de Deus, em Cristo Jesus.
Sete realidades são experimentadas pelos crentes, desde que passam pela crucificação e pela vinda do Espírito Santo, e que não eram experimentadas antes, pelos próprios crentes, a saber:
1. O pecado foi eliminado na cruz. Antes, ano após ano, o pecado só vinha sendo «encoberto».
2. Nosso velho homem foi crucificado juntamente com Cristo —abrindo assim o caminho para o completo livramento do poder do pecado, através da presença habitadora do Espírito Santo.
3. Cristo é glorificado em nós. (Ver Atos 1:3 e João 7:39).
4. O Espírito Santo foi dado dispensacionalmente no dia de Pentecoste; e então, tendo ouvido e crido no evangelho, os crentes individuais são por sua vez selados pelo «Espírito Santo da promessa» (ver Efé. 1:13), 0 qual também testifica, no coração dos crentes, na qualidade de «Espírito do Filho de Deus», de que agora eles são filhos adultos de Deus.
5. No dia de Pentecoste, Deus começou a criar «novas criaturas em Cristo Jesus» (ver II Cor. 5:17), ou, conforme diz Tia. 1:18: «...para que fôssemos como que primícias das suas criaturas». Cristo, 0 primogênito dentre os mortos, é 0 Cabeça de sua nova criação.
6. Os crentes, desde o dia de Pentecoste em diante, foram batizados em um corpo, 0 Corpo de Cristo, tendo-se tornado membros de Cristo e membros uns dos outros, algo novo e maravilhoso!
7. Após o dia de Pentecoste a «casa de Deus» não era mais a cidade de Jerusalém, e, sim, passou a ser «entre os crentes», em qualquer lugar onde se encontrem eles — mesmo que apenas dois ou três estejam reunidos em nome de Cristo, porquanto ali estará também ele (ver Mat. 18:19,20), e ali estará igualmente o Espírito Santo (ver I Cor. 3:16 e Efé. 2:21,22)».
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 3. pag. 674-675.
Rm 6.14 O pecado não pode, e nunca mais poderá, ter domínio sobre nós porque náo estamos mais debaixo da lei. O que significa não estarmos mais debaixo da lei?
• Não estamos mais sob as exigências da lei, como estavam as pessoas do Antigo Testamento.
• Não estamos sob a maldição decorrente do inatingível padrão da lei (G1 3.10-14).
• Náo estamos sob o seu sistema de exigências: as leis cerimoniais que tinham que ser meticulosamente guardadas.
• Não estamos mais sob o medo de ser reprovados pelo justo padrão da lei.
Se os crentes ainda estivessem debaixo da lei, então o pecado seria o seu senhor, e os dominaria. Por si mesma, a lei produz tanto a prova como a forte consciência do pecado, mas náo pode direcionar ou motivar uma pessoa a fazer o que é certo. Portanto, os crentes sáo libertados pela graça de Deus, porque somente a graça pode sobrepujar o pecado. Somente vivendo nessa graça é que nós podemos derrotar o poder do pecado em nossa vida. Quando a nossa vida está apenas sob a lei, o pecado é o nosso senhor; ele nos domina. Mas quando vivemos sob a graça, o nosso Senhor é Deus, e é Ele quem nos domina.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 46.
3. OS MANDAMENTOS DE CRISTO.
Jo 14.15 «...se me amais, guardareis os meus mandamentos...» Este versículo vincula os nossos pensamentos aos conceitos emitidos nos versículos anteriores, sobre a feitura de obras que os crentes realizassem cm nome de Jesus. Aqueles que haveriam de realizar essas obras, e essas formas dc obras seriam maiores do que aquelas que o próprio Senhor Jesus fez neste mundo, jamais seriam realidades nào fora a presença do amor que é aqui mencionado e nem fora a força proporcionada pelo Espirito Santo, que aparece nos dois versículos seguintes. A atuação do *Logos* encarnado foi motivado pelo amor. tal como a ação de Deus Pai, ao enviar Cristo ao mundo. (Ver João 3:16). Aqueles quc estão unidos dentro da familia de Deus devem participar de um amor mútuo, amor esse que forçosamente inspira ações características da natureza de Cristo. Tholuck (in loc.) tem uma excelente observação sobre a natureza desse amor: ·Para Joào o amor não consiste meramente em felicidade dc sentimentos; mas é unidade de vontade com o amado (ver Joào 14:21; IS: 14 c I João 3:18). É o amor que torna os homens susceptíveis a comunhào com o Consolador: o mundo nào pode recebê-lo». Entretanto, também expressa a verdade aquilo que lange registrou (in loc.). ao dizer: *A amorosa contemplação da personalidade dc Cristo é o vinculo dc comunhão dos discípulos, aquilo quc faz deles uma personalidade coletiva, e nessa comunhào podem tornar-se o órgào da manifestação pessoal do Espirito Santo*.
Quanto ao sentido da palavra ·mandamentos·, neste ponto, poderíamos destacar as seguintes observações:
1. Nâo se trata de alguma referência direta aos dez mandamentos, quer segundo aparecem os mesmos nas páginas do A.T., quer segundo aparecem incorporados no N.T.
2. Nào sc trata de uma referência às diversas instruções quc Jesus deu a seus discípulos.
3. Mas trata-se de uma alusào ao corpo e espirito inteiro daquilo que os homens aprendem mediante a sua associação com Jcsus e, mais particularmente, por pertencerem à familia cclcstial da qual ele é o irmão mais velho e na qual há o Pai celeste. Os seus mandamentos sào as normas que orientam essa familia. os princípios éticos da familia celeste, o que nào se limita aos dez mandamentos, mas nem por isso é contrário aos mesmos.
4. Na referência em foco. neste ponto, há uma alusào especial ao novo mandamento, que é a lei do amor, que se mostra saliente entre todos os mandamentos, sumariando a eles todos dentro dc poucas palavras e que haveria dc scr uma característica toda cspccial dc cada membro dessa família, bem como da familia como uma comunidade local, na forma de igreja. O espirito de todas essas verdades podc ser encontrado na declaraçào apostólica de Paulo: «...logo. já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus. que me amou e a si mesmo se entregou por mim» (Gál. 2:20).
Estamos fazendo progresso, em nossa obediência e aplicação da lei do amor, quando começamos a ter cuidado pelos outros segundo cuidamos dc nós mesmos; quando nos parece tão importante o que acontece aos outros, como o quc acontece conosco; e, acima de tudo, quando em tudo desejamos para os outros não menos do que para nós mesmos. O amor é uma profunda motivação quc provoca a partilha e o mais autêntico altruísmo, e isso é abundantemente ilustrado na vida de Cristo, que viveu para os outros e morreu pelos outros. O amor é um produto da influência do Espírito no coraçào do crente (um dos aspectos do fruto do Espírito—ver Gál. 5:22), e faz parte da transformação ética que o Espirito Santo opera nos remidos, servindo tambcm de evidência do desenvolvimento espiritual dos mesmos.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 529.
Jo 14.15. Dois elos ligam este versículo ao que o precede. (1) A perspectiva de fazer “coisas maiores” antecipa a necessidade de uma capacitação com poder, a manifestação do próprio Deus por meio de seu Espírito. Este versículo está transferindo a discussão para os versículos 16,17. (2) O tema da obediência está de acordo com o ato de pedir coisas em nome de Jesus (w. 13-14). Nada da prometida frutificação virá para aqueles que pensam que podem manipular o Cristo exaltado, ou usá-lo para seus próprios fins.
Barrett (p. 461) observa corretamente que a prótase se vocês me amam “controla a gramática dos próximos dois versículos (15-17a) e o pensamento dos próximos seis (15-21)”. Jesus demonstrou o amor que tem pelos seus (13.Is.), declarou seu amor por eles e ordenou que amem uns aos outros (13.34,35); nesse momento, pela primeira vez no quarto evangelho, ele fala do amor deles por ele. O condicional é de terceira classe: Jesus nem assume que seus seguidores o amam, nem que não o amam, nem mesmo como suposição, mas projeta uma condição e estipula sua conseqüência: eles obedecerão (o futuro, não o imperativo, é a leitura correta: cf. Metzger, p. 245) o que ele ordena.
A relação indissociável entre o amor por Cristo e a obediência a Cristo aparece repetidamente nos escritos de João {cf. w. 21,23; 15.14). A ligação aproxima-se da esfera de definição: “Porque nisto consiste o amor a Deus: em obedecer aos seus mandamentos” (ljo 5.3). Mas quais são os ‘mandamentos’ dele? Os paralelos que ligam “meus mandamentos” (v. 15), “mandamentos” (v. 21), e ‘meus ensinamentos’ (lit.“minha palavra” no v. 23, e “minhas palavras” no v. 24) sugerem, para alguns, que há mais coisas em jogo que os mandamentos éticos de Jesus. O que a pessoa que ama Jesus observará não é simplesmente um conjunto de injunções éticas discretas, mas toda a revelação do Pai, revelação essa concebida holisticamente (cf. 3.31,32; 12.47-49; 17.6). Não obstante, as formas plurais (‘mandamentos’, entolat) provavelmente enfocam os componentes individuais das exigências de Jesus, enquanto que o singular ‘palavra’ {logos; cf. notas sobre 14.23; 17.6) enfoca o Cristo-revelação como um todo abrangente. Obviamente, um dos principais ingredientes desta revelação é a obrigação que os seguidores de Jesus têm, na nova aliança, de amar um ao outro (13.34,35). João entende isto tão integralmente relacionado à devoção holística a Deus que ele pode, em outra passagem, afirmar: “Assim sabemos que amamos os filhos de Deus: amando a Deus e obedecendo aos seus mandamentos” (l Jo 5.2).
D. A. CARSON. O Comentário De João. Editora Shedd Publicações. pag. 498-499.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

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