Seguidores do Blog

2° LIÇÃO 3° TRIMESTRE 2014 O PROPÓSITO DA TENTAÇÃO


O PROPÓSITO DA TENTAÇÃO
A PARTI DESTE TRIMESTRE NÃO POSTAREI MAIS A LIÇÃO, SOMENTE OS COMENTÁRIOS.

COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
REVISTA ENSINADOR
"Não nos deixes cair em tentação." Foi a oração de Jesus ensinada aos discípulos. No tempo da provação, angústia, tristeza e sofrimento são realidades presentes na vida do discípulo de Cristo. Infelizmente, e em nome de uma teologia, muitos desejam descartar da vida esta realidade humana e não dá ao seguidor do caminho o direito de sofrer. Não é isto que a Palavra de Deus nos ensina! Pelo contrário, o sofrimento por Cristo nos dá a oportunidade de mostrarmos a nossa fé e amor por Ele, como os mártires que não retrocederam na convicção do Evangelho.

A lição desta semana tem um penoso objetivo: o de resgatar a doutrina bíblica do sofrimento por Cristo. Esta, por vezes, tem sido esquecida pela Igreja Evangélica. Quando falamos de sofrimento, algumas pessoas nos perguntam: "Mas por que o crente deveria sofrer?"; "Devemos ensinar a teologia da miséria?" etc. Tais perguntas são descabidas, pois não escolhemos sofrer por Jesus, é Este quem nos escolhe. Por consequência, ao vivermos para Cristo precisamos estar dispostos a também sofrermos por Ele. Note as palavras do Meigo Nazareno: "E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida a salvará. Porque que aproveita ao homem granjear o mundo todo, perdendo-se ou prejudicando-se a si mesmo?" (Lc 9.23-25).
As expressões "negue-se a si mesmo", "tome cada dia a sua cruz" e "siga-me" significam o convite para peregrinarmos o caminho da execução do nosso eu. Este é o caminho da Cruz de Cristo! Há, porventura, coisa mais difícil do que negar a nós mesmos? Esmagar a nossa vontade para fazer a do outro? A expressão "cada dia" revela-nos que o caminho da cruz deve ser feito por nós, diariamente, crucificando assim o "eu". O teólogo French L. Arrington amplia este conceito: "Tomar a cruz significa uma resolução diária em negar a si mesmo por causa do Evangelho. [...] Não é questão momentânea, mas um modo de vida. Os cristãos nunca devem deixar de carregar a cruz" (Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento, CPAD, p.374).
O Evangelho não deixa outra escolha: o nosso caminho é o do sofrimento por Cristo. O ensino de Tiago sobre o sofrimento está em pleno acordo com o Evangelho de Cristo.
COMENTÁRIO NA INTEGRA DO LIVRO DO TRIMESTRE.
O propósito da tentação
Por estar escrevendo “às doze tribos que andam dispersas” (Tg 1.1), isto é, provavelmente aos cristãos judeus que se encontravam espalhados entre as nações devido à primeira onda de perseguição ao Cristianismo no início da Igreja Primitiva (At 8.1; 11.19), o primeiro assunto que o bispo de Jerusalém trata em sua epístola é justamente a provação. Mais especificamente, ao dirigir-se a seu rebanho disperso, o apóstolo Tiago demonstra sua preocupação com a necessidade de esses cristãos entenderem corretamente o propósito das aflições pelas quais estavam passando bem como o posicionamento que deveriam ter diante dessas terríveis intempéries. E ao fazê-lo, ele apresenta, resumidamente, o significado da provação na vida dos filhos de Deus.
Neste capítulo, abordaremos esse tema da provação à luz dos versículos 2 a 4 e 12 a 15 do primeiro capítulo da Epístola de Tiago, porque eles tratam mais diretamente sobre esse assunto. Entretanto, os versículos intermediários, isto é, aqueles que se encontram entre esses dois blocos de versículos, serão também e eventualmente citados quando for necessário para melhor compreensão do assunto. Comecemos, então, pela análise dos versículos de 2 a 4. O propósito da provação na vida do cristão.
A afirmação que abre esse primeiro bloco de versículos sobre o tema na Epístola de Tiago expressa contundentemente algumas verdades sobre as provações um tanto esquecidas hoje em dia por muitos cristãos. Declara Tiago: “Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações” (Tg 1.2). Só esse versículo já seria suficiente para jogar por terra, por exemplo, todos os pressupostos da Teologia da Prosperidade e da Confissão Positiva. Antes, porém, de mergulharmos nas verdades nele contidas, é preciso entender corretamente o que Tiago quer dizer quando fala de “tentações” aqui.
O vocábulo que aparece no original grego dessa passagem para “tentações” é Peirasmos, que significa literalmente “prova”, “provação” ou “teste”.1 O termo “sugere uma situação difícil, uma pressão dolorosa”,2 daí algumas versões do texto sagrado preferirem a tradução “tentações”, que traz a ideia de “teste”, enquanto outras — a maioria — preferem a tradução “provações”, que traz a ideia de uma situação aflitiva. Na verdade, as duas traduções estão corretas, uma vez que Peirasmos é utilizado nessa passagem em alusão às aflições decorrentes de perseguições sofridas pelos crentes por causa da sua fé (Tg 1.3) e tais adversidades são também tentações, porque elas testam a fidelidade dos cristãos a seu Senhor. Aliás, aflições, de forma geral, funcionam quase sempre também como tentações. Ou seja, Peirasmos descreve perfeitamente a situação dos cristãos judeus dispersos pelo Império Romano: eles estavam tendo a sua fidelidade ao evangelho provada pela fornalha da perseguição.
Esclarecido isso, vamos agora às lições extraordinárias que essa declaração inicial de Tiago nos traz.
Em primeiro lugar, essa afirmação do apóstolo implica que o cristão, o servo de Deus, o filho de Deus, aquele que ama e serve ao Senhor, passa, sim, por dificuldades. Tiago se dirige aos seus leitores não como falsos crentes, mas como “irmãos” em Cristo, e conta-nos que esses irmãos, apesar da sua fé e principalmente por causa da sua fé, estão passando por “várias provações”, não por poucas. Isso se coaduna com o que Jesus já havia dito a seus discípulos, que no mundo teríamos aflições (Jo 16.33), e com o que o salmista Davi asseverou em Salmos 34.19, que o “justo” sofre “muitas aflições”. Então, é absolutamente falsa a crença de que todas as provações na vida de uma pessoa são resposta direta a algum pecado na vida dela. Santos, justos, irmãos em Cristo, também passam por dificuldades pelo simples fato de estarem neste mundo.
Em segundo lugar, diferentemente do que a maioria esmagadora dos seres humanos faz diante das aflições, a afirmação de Tiago deixa claro que devemos reagir a elas com alegria e não com desolação. O problema é que, infelizmente, como declara Lawrence Richards, “a última coisa que fazemos normalmente, quando vêm as tentações, é alegrar-nos”. Aliás, a primeira pergunta que o homem natural faria diante de uma declaração como a de Tiago seria, como também frisa Richards: “Nós podemos compreender porque os cristãos de Jerusalém, forçados a deixar seus lares e fugir para terras estrangeiras, enfrentariam ‘várias tentações’, mas teriam ‘grande gozo’?”.
O célebre teólogo puritano Matthew Henry ressalta brilhantemente a razão mais óbvia para essa reação do cristão, e que também está subentendida nas palavras de Tiago. Frisa Henry: “Não devemos afundar numa disposição mental triste e desconsolada, que nos faria desfalecer nas provações, mas precisamos nos empenhar em manter o nosso espírito elevado e firme para melhor discernir a nossa situação; e para maior vantagem nossa, devemos empenhar-nos em fazer o melhor dela”.4 Ou seja, qualquer pessoa que reage com desânimo completo diante das provações está se rendendo a elas e, portanto, já está derrotado; logo, se queremos vencê-las, temos que enfrentá-las com disposição de ânimo, não com abatimento de alma.
Entretanto, mesmo após essa explicação mais óbvia para a reação do cristão frente às adversidades, ainda há uma indagação que incomoda aquele que não é cristão: “E até compreensível tentar manter-se calmo ou com um espírito elevado em meio à tempestade, mas alegrar-se grandemente diante dela?”. É por isso que Matthew Henry acrescenta em seguida: “A filosofia pode instruir os homens a permanecerem calmos em suas dificuldades, mas o Cristianismo lhes ensina [algo mais:] a serem alegres”.
Sim, os cristãos podem ter “grande alegria” em meio às aflições. Mas, como isso é possível? Como o Cristianismo ensina o cristão a se alegrar em meio às dificuldades? A explicação de Tiago está nos versículos 3 e 4: o entendimento do propósito das provações leva o crente a ver as suas adversidades como oportunidades para seu crescimento, amadurecimento e fortalecimento espirituais.
Tiago diz que o cristão tem “grande gozo” quando se vê mergulhado em “várias provações” porque ele sabe (“sabendo”, v.3) “que a prova da vossa fé produz a paciência” (v.3). O vocábulo grego traduzido aqui como “paciência” é Hupomone, que significa literalmente “permanência em baixo de”, “ficar em baixo de”, trazendo a ideia de “tolerância”, “resignação”, “persistência”, “perseverança”.6 Não por acaso, a maioria das versões da Bíblia traduz esse vocábulo nessa passagem como “perseverança”. Ou seja, o que Tiago está dizendo nesse texto é que uma vez confirmada a nossa fé em meio às provações, esta é fortalecida, porque o resultado da provação é a paciência ou a perseverança. São nas provações que aprendemos a perseverança, que é a capacidade de mantermo-nos firmes mesmo quando tudo está dando errado, mesmo quando tudo parece estar conspirando contra nós. Não se engane: ninguém aprende a perseverar, ninguém cresce e amadurece na fé, sem passar por provações.
Alguns cristãos são mais provados do que outros, mas todos são provados de alguma forma, porque são as provas que exercitam a nossa fé. Essa é a razão pela qual Deus permite provações na vida dos seus filhos. Como dizia A. W. Tozer, “Deus não mima os seus filhos”, por isso as provações na vida do cristão. Quando mimamos nossos filhos, eles se estragam, eles crescem com um caráter defeituoso. E a disciplina que aperfeiçoa o caráter da criança, como Salomão enfatiza inúmeras vezes no Livro de Provérbios. Da mesma forma, são as provações que aperfeiçoam a fé e o caráter cristãos.
Como assevera o apóstolo Pedro: “agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações [Peirasmos], para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória na revelação de Jesus Cristo” (1 Pe 1.6,7).
A IMPORTÂNCIA DE NÃO ESMORECER NAS PROVAÇÕES E DA SABEDORIA PARA O COMPLETO CRESCIMENTO ESPIRITUAL
É interessante notar que Tiago estava preocupado não apenas em seus leitores entenderem o propósito das provações, mas também em ajudá-los a cumprirem esse propósito. Isso porque, no versículo 4, ele afirma: “Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma”. Ou seja, ele estava dizendo a seus leitores: “A obra da perseverança deve ser completada em suas vidas para que vocês sejam realmente aperfeiçoados, maduros, fortalecidos na fé”. Isto é, não basta entender o propósito das provações; é preciso enfrentar até o fim esse processo, não parar no meio do caminho, para finalmente se chegar ao resultado desejado.
Mas, e se depois desse processo o cristão ainda sentir que está lhe faltando alguma coisa? Nos versículos 5 a 8, Tiago responde a essa questão que eventualmente um de seus leitores poderia fazer. Ele diz aos cristãos judeus dispersos que para garantir que o crescimento espiritual deles seja completo, além de não esmorecerem em meio às provações, eles devem também, caso sintam necessidade, pedir sabedoria a Deus. E aqui Tiago estava confrontando uma antiga corrente da tradição judaica sobre a sabedoria, que afirmava que toda sabedoria que precisamos seria alcançada apenas por meio das provações. Ao contrário dessa crença, diz Tiago aos seus irmãos em Cristo que se “a paciência” tiver “a sua obra completa” em suas vidas e, mesmo assim, eles sentirem que ainda lhes falta alguma coisa, que não têm ainda toda a sabedoria almejada, devem, então, pedi-la a Deus: “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada” (v.5).
Finalmente, consideremos ainda os versículos 9 a 11 do capítulo primeiro de Tiago, porque eles são uma continuação do raciocínio do apóstolo sobre como as provações podem ser transformadas em motivo de grande alegria para o crente em Cristo (apesar de esses versículos, isoladamente, também trazerem outras lições específicas que serão analisadas no capítulo 4 deste livro). Nos versículos de 9 a 11, Tiago fala que assim como o cristão pobre deve alegrar-se em sua melhora de vida (v.9), o cristão rico também deve alegrar-se nas circunstâncias difíceis (v. 10a), porque as riquezas terrenas são passageiras, transitórias, não devemos nos apegar a elas (w. 10b-11).
Ou seja, à luz dos versículos anteriores, o que o apóstolo Tiago está afirmando nesses versículos é, em síntese, que o cristão deve aceitar as ordens da providência divina com gratidão.
Portanto, o cristão transforma a sua provação em grande alegria quando ele reconhece na provação uma oportunidade para amadurecer e fortalecer-se na fé (w.2-4); quando ele se aproxima de Deus em oração, pedindo-lhe sabedoria (w.5-8); e quando ele aceita com gratidão a soberania e a providência divinas em todas as circunstâncias de sua vida (w.9-11), sabendo que Deus está no controle de tudo e Ele sabe o que faz e o que é melhor para a sua vida (Rm 8.28; 12.2). Mas, não termina aí. Ainda há um quarto ponto, que se encontra no versículo 12, e sobre o qual falarei ao final deste capítulo.
A ORIGEM DAS TENTAÇÕES
No segundo bloco de versículos sobre provações (Tg 1.12- 15 — o vocábulo grego para tentações nessa passagem é Peiras- mos também), Tiago é claro quanto à origem das tentações. Ele declara que elas não provêm de Deus (v. 13) e também não faz nenhuma referência a elas procederem diretamente do Diabo ou do mundo. O apóstolo assevera que a tentação tem a sua origem, na verdade, no próprio ser humano, em sua natureza pecamino sa (w. 14,15). Ou seja, o mundo e o Diabo são apenas agentes indutores externos da tentação.
Como afirma o teólogo Millard J. Erickson, a Bíblia enfatiza que o problema do pecado “está no fato de que os homens são pecadores por natureza. [...] Muitas vezes, a tentação envolve indução externa, [...] porém, o pecado é uma escolha da pessoa que o comete. O desejo de fazer o que se faz pode estar presente de forma natural e também pode haver indução externa, mas o indivíduo é basicamente responsável”.7 Como o próprio Jesus afirmou, o pecado não vem de fora para dentro; ele está dentro de nós, é resultado de nossa natureza (Mc 7.15). O que vem de fora são apenas estímulos para que o pecado se manifeste dentro de nós.
Entendido isso, percebemos que as tentações, na verdade, não exercem alguma força sobre a pessoa para fazê-la cair, mas apenas revelam a natureza interior da pessoa e a verdadeira qualidade de sua fé. Basta lembrar que se não houvesse natureza pecaminosa, nenhuma tentação seria de fato tentação. O que torna a tentação de fato uma tentação é porque temos uma natureza pecaminosa. Como bem explica Tiago, “cada um é tentado quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência” (v. 14).
Finalmente, é importante frisar ainda que ser tentado não é pecado; pecado é ceder à tentação. E, inclusive, ser provado é, como afirma Tiago, motivo de contentamento do cristão, porque se ele não buscou aquela dificuldade, mas foi confrontado por ela, ele sabe que essa situação poderá se transformar em uma oportunidade para o seu crescimento; ele poderá suportar e vencer essa provação pela graça de Deus, fortalecendo-se no Senhor e na força do seu poder (Ef 6.10), vencendo no dia mal (Ef 6.13) e crescendo na fé (1 Pe 1.6,7).
O prêmio eterno para quem sofre e vence as tentações
O prêmio eterno do cristão que sofre e vence as provações já está garantido: “Bem-aventurado o varão que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que O amam” (Tg 1.12). Aleluia! Está é a quarta razão pela qual o cristão pode transformar suas provações em grandes alegrias: ele sabe que maior é o galardão daquele que, mesmo sendo muito provado, permanece firme em sua fé.
Não à toa, a palavra “paciência” (ou “perseverança”, em outras versões), que é o resultado de suportar as provações (Rm 5.3; Tg 1.3), aparece no texto bíblico ligada não apenas às tribulações (Rm 5.3), às aflições (2 Co 6.4) e às perseguições (2 Ts 1.4; Tg 1.2,3), mas também à vida eterna (Lc 21.19; Rm 2.7; Hb 10.36), à esperança (Rm 5.3; 15.4,5; lTs 1.3) e à alegria (Cl 1.11). Logo, ser provado é motivo de alegria porque nosso prêmio por suportar as provações serão a vida eterna, a coroa da vida, a esperança que não murcha e a alegria que não tem fim. Portanto, louve a Deus nas suas provações! “Tende grande gozo quando cairdes em várias provações” (Tg 1.2), porque “em todas essas coisas, somos mais do que vencedores por aquele que nos amou” (Rm 8.37)!
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 25-33.
Hb 5.8 Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu.
Pedro, falando sobre o sofrimento, disse: “... se fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados, pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas” (I Pe 2.20,21). Algumas vezes passamos por provas tão duras em nossas vidas, que até chegamos a perguntar a Jesus: “Senhor, tu não tens uma maneira mais suave para nos ensinar?” E vez por outra o Senhor nos responde com amor e ternura: “O que eu faço, não o sabes tu, agora, mas tu o saberás depois” (Jo 13.7). Em nenhum momento em sua vida José questionou a Deus, mesmo sendo maltratado por seus irmãos, e depois, ao ser vendido como escravo para o Egito, ou ainda quando foi posto na prisão injustamente. Apesar de todos estes infortúnios, José conservou firme sua fé em Deus e em suas promessas para sua vida. E, por fim, ao reencontrar seus irmãos, não mais como um escravo, mas como o governador do Egito, José disse: “Pelo que Deus me enviou diante da vossa face, para conservar vossa sucessão na terra e para guardar- vos em vida por um grande livramento. Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, senão Deus...” (Gn 45.7,8).
Severino Pedro Da Silva. Epistola aos Hebreus coisas novas e grandes que Deus preparou para você. Editora CPAD. pag. 86-87.
Hb 5.8 Nos reinos de qualquer regime antigo, nenhum príncipe sofre; o príncipe da coroa é especialmente criado e preparado para o reinado. Mas Jesus, embora fosse o Filho de Deus, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu. A lição desconcertante deste versículo é que Deus mesmo, nascido de ascendência humana, realmente aprendeu algo em meio ao sofrimento que passou. O Deus onisciente precisava aprender? Jesus aprendeu sobre a condição humana. Este conhecimento trouxe mais compaixão do que inteligência, mais identificação pessoal do que informação mensurável.
Como Jesus, os crentes frequentemente aprendem a obediência através do sofrimento (veja 12.2-11). Este exemplo de Cristo encorajou os leitores a permanecerem firmes e a não se desviarem da fé em períodos de sofrimento. Assim como Cristo foi aperfeiçoado através de seu sofrimento, os cristãos também o serão.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 602.
Hb 5.8 A obediência que aprendeu (5.8). Por aquilo que padeceu Ele aprendeu a obediência. No entanto, nosso Senhor nunca havia sido desobediente, nem teve nenhum tipo de inclinação para isso. Como então poderia aprender obediência? Somente no sentido de que a obediência que causa tremenda angústia assume uma nova dimensão. Em relação a Jesus, o amor pelo Pai era tamanho que a obediência sempre tinha sido um prazer. Nunca houve qualquer hesitação ou o sentimento de um preço doloroso. Mas aqui se exigia uma obediência num aspecto que tocava o próprio relacionamento do Pai com o Filho, uma exigência que na sua essência não podia ser um prazer, mas um castigo. Quando a obediência é fácil precisa estar sob suspeita. Talvez não passe de um egoísmo disfarçado ou simplesmente uma política de conveniência. Mas quando a obediência custa um coração quebrantado é porque a lição foi aprendida e a sua genuinidade autenticada.
O nosso Senhor teve de aprender este aspecto pela experiência pessoal, bebendo o copo até a última gota, ainda que era Filho. Se o Filho quisesse tornar-se o sumo sacerdote salvador, adequado para todas as necessidades dos homens, precisava ir até o fim e ser aprovado em todos os sentidos. Somente um sumo sacerdote completamente submisso a Deus poderia representar Deus perante o homem e o homem perante Deus. A dignidade da pessoa de Cristo como Filho não poderia isentá-lo da humilhação do sofrimento, se ele fosse cumprir seu chamado como servo sofredor de Deus (Is 53). A perfeição da obediência e a extremidade do sofrimento implicada neste versículo tenderia a apoiar a exposição do versículo 7 de que sua oração não foi “ouvida” no sentido de que ele não foi isentado de tomar o “copo”.
Gramaticalmente, tudo até aqui nos versículos 7,8 está subordinado ao sujeito principal e ao predicado aprendeu a obediência. O sentido, portanto, é que, apesar do “grande clamor e lágrimas” do nosso Senhor, e apesar do fato de que o Pai os viu e ouviu, e apesar do fato de Jesus ser o Filho, era necessário que sofresse para aprender pela experiência a plena inteireza da obediência.
Richard S. Taylor. Comentário Bíblico Beacon. Hebreus. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 53-54.
Mt 5.10 Os que sofrem perseguições por causa da justiça são bem-aventurados. Este é o maior paradoxo de todos, e é peculiar ao cristianismo. Consequentemente, é deixado para o final, e é mais reforçado do que qualquer um dos outros (w. 10-12). Esta bem-aventurança, como o sonho de Faraó, é dupla, porque é dificilmente reconhecida, e ainda assim, ela é garantida; e na última parte, há a mudança do sujeito: “Bem-aventurados sois vós”, meus discípulos e seguidores. Em outras palavras: “E com isto que vocês, que têm virtudes abundantes, devem estar mais imediatamente preocupados; pois vocês devem contar com as dificuldades e os problemas, mais do que outros homens”. Observe aqui:
1. A descrição do caso dos santos sofredores; este é um caso difícil, que desperta a compaixão. (1) Eles são perseguidos, caçados, e capturados, como os animais nocivos, que são procurados para serem destruídos; como se um cristão tivesse uma cabeça de lobo, como um malfeitor - qualquer pessoa que o encontre pode matá-lo. Eles são abandonados como os dejetos de todas as coisas; multados, aprisionados, expulsos, privados de suas propriedades, excluídos de todos os lugares de confiança e que podem trazer lucro, espancados, atormentados, torturados, sempre entregues à morte e considerados como ovelhas para o matadouro. Este tem sido o efeito da inimizade da semente da serpente contra a semente sagrada, desde os tempos do justo Abel. Era assim na época do Antigo Testamento, como vemos em Hebreus 11.35ss. Cristo nos disse que seria assim também com a igreja cristã, e não devemos pensar que isto é estranho (1 Jo 3.13).
Ele nos deixou um exemplo.
(2) Eles são injuriados, e têm todos os tipos de maldades falsamente ditas contra si Apelidos e palavras de acusação se ligam a eles, sobre pessoas, em particular, e sobre a geração dos justos, de maneira geral, para fazê-los odiados; algumas vezes, para fazê-los formidáveis, para que possam ser. atacados poderosamente; diz-se contra eles coisas que não sabiam (SI 35.11; Jr 20.18; At 17.6,7). Aqueles que não tinham poder em suas mãos para causar algum outro prejuízo, ainda podiam fazer isto. E aqueles que tinham poder para persegui-los, também achavam necessário fazê-lo para se justificarem da forma bárbara como os tratavam. Eles não podiam tê-los importunado, se não os tivessem vestido em peles de lobos; nem teriam lhes dado o pior dos tratamentos, se não os tivessem representado, primeiramente, como os piores dentre os homens. Eles serão injuriados e perseguidos. Observe que injuriar os santos é persegui-los, e isto será descoberto em breve, quando as palavras duras forem computadas (Jd 15), como também os cruéis escárnios (Hb 11.36). Eles dirão todo tipo de maldade contra vocês, com falsidade; algumas vezes, diante do trono do julgamento, como testemunhas; algumas vezes, no assento do escarnecedor, com zombarias hipócritas nas festas; eles são a canção dos bêbados. Algumas vezes diretos, como Simei amaldiçoou Davi; algumas vezes, pelas costas, como fizeram os inimigos de Jeremias. Observe que não há maldade tão negra e horrível que, em uma ocasião ou em outra, não tenha sido dita, em falsidade, sobre os discípulos e seguidores de Cristo. (3) “Por causa da justiça” (v. 10); “por minha causa” (v. 11). Por causa da justiça, portanto por causa de Cristo, pois Ele está muito interessado na obra da justiça. Os inimigos da justiça são inimigos de Cristo; Isto exclui da bem-aventurança aqueles que sofrem justamente, e têm maldades ditas com verdade pelos seus crimes reais; que eles se envergonhem e se confundam, isto é parte da sua punição. Não é o sofrimento que faz o mártir, mas a causa. Os mártires são aqueles que sofrem por causa da justiça, que sofrem por não pecai- contra suas próprias consciências, e que sofrem por fazer o que é bom. Qualquer que seja a desculpa que os perseguidores tenham, é no poder da santidade que eles têm um inimigo; é realmente Cristo e a sua justiça que são difamados, odiados e perseguidos. “As afrontas dos que te afrontam caíram sobre mim” (SI 69.9; Rm 8.36).
2. O consolo dos santos sofredores é apresentado.
(1) Eles são “bem-aventurados”; pois agora, na sua vida, recebem males (Lc 16,25), e os recebem em grande medida. Eles são bem-aventurados, pois é uma honra para eles (At 5.41); é uma oportunidade de glorificar a Cristo, de fazer o bem e de sentir consolo especial e visitas de graça e sinais da presença do Senhor (2 Co 1.5; Dn 3.25; Rm 8.29).
(2) Eles serão recompensados; “deles é o reino dos céus”. Na atualidade, eles têm direito a ele, e têm doces antecipações dele; e em breve tomarão posse dele. Embora não haja nada nestes sofrimentos que possa, a rigor, ser digno de Deus (pois os pecados do melhor merecem o pior), ainda assim o reino dos céus é aqui prometido como recompensa (v. 12). “Grande é o vosso galardão nos céus” . Tão grande, a ponto de transcender o serviço. Está no céu, no futuro e fora do alcance da vista; mas está bem guardado, fora do alcance do acaso, da fraude, e da violência. Observe Deus irá cuidar daqueles que perdem por Ele, ainda que seja a própria vida, para que não o percam no final. O céu, no final, será uma recompensa abundante por todas as dificuldades que enfrentamos no nosso caminho. Isto é o que tem sustentado os santos sofredores de todas as épocas, esta alegria que está diante deles.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 47-48.
Mt 5.10 “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus” . A perseguição não deve surpreender os cristãos. Pessoas que dão prioridade aos outros raramente recebem aplausos e honrarias, e muitas vezes são perseguidas. Pelo fato de viverem para Deus, elas se destacam no mundo, e se tornam alvos dos ataques do inimigo. O mundo está sob o controle de Satanás, e os crentes pertencem ao exército que o está combatendo. A recompensa para esses crentes será o Reino dos céus. Deus irá compensar o sofrimento que seus filhos experimentam por serem leais a Ele.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 37.
10 Não foi por acidente que Jesus passou da pacificação para a perseguição, pois o mundo gosta tanto de acalentar ódios e preconceitos que nem sempre os pacificadores são bem-vindos. A oposição é uma marca normal do ser discípulo de Jesus, tão normal quanto ter fome de justiça ou ser misericordioso (cf. também Jo 15.18-25; At 14.22; 2Tm 3.12; IPe 4.13,14; cf. o “ai” em Lc 6.26). Lachs (p. 101-3) não consegue acreditar que os cristãos sempre foram perseguidos por causa da justiça; por isso, ele recoloca um alegado texto hebraico subjacente dizendo “por causa do Justo” — referência a Jesus. Mas ele subestima quão ofensiva realmente é (cf. Is 51.7) a verdadeira justiça, “a conduta apropriada diante de Deus” (Przybylski, p. 99). A recompensa dessas pessoas perseguidas é a mesma recompensa dos pobres em espírito — a saber, o reino dos céus, que conclui a inclusão.
D. A. CARSON. O Comentário De Mateus. Editora Shedd Publicações. pag. 170.
I – O FORTALECIMENTO PRODUZIDOS PELAS TENTAÇÕES (Tg 1.2, 12).
1. O que é tentação.
I. Definição
Há uma palavra hebraica e duas palavras gregas, envolvidas neste verbete, a saber:
1. Massah, "teste". "provação". Palavra hebraica usada por cinco vezes. Deu. 4:34; 7:19; 29:3;, SaL 95:8; Jó 9:23.
2. Peirasmôs, "teste", "prova". Palavra grega usada por vinte vezes: Mal. 6:13; 26:41; Mar. 14:38; Luc. 4:13; 8:13; 11:4; 22:28,40,46; Atos 20:19; 1 Cor. 10:13; Gál. 4:14; 1 Tim. 6:9; Heb. 18; Tia. 1:2,12; 1 Ped. 1:6; 11 Ped. 2:9 e Apo.3:10.
3. Peirázo, ''testar'', "submeter à prova". Vocábulo grego que ocorre por trinta e seis vezes: Mal. 4:1,3; 16:1; 19:3; 22:18,35; Mar. 1:13; 8:11; 10:2; 12:15; Luc. 4:2; 11:16; João 6:6; 8:6; Atos 5:9; 9:26; 15:10; 16:7; 24:6; 1 Cor. 7:5; 10:9,13; 11 Cor. 115; GáI. 6:1; 1 Tes. 3:5; Heb. 2:18; 3:9 (citando Sal. 95:9); 4:15; 11:17,37; Tia. 1:13,14; Apo. 12,10; 3:10.
No original grego, tentação é "peirasmos", que significa "teste", "provação", "tentação para a prática do mal". Esse vocabulário pode incluir ou não a ideia de alguma questão moral envolvida. Pode simplesmente indicar um teste difícil, uma prova, e não alguma tentação tendente à prática do mal, uma incitação ao pecado. Por outro lado, essa palavra pode envolver a ideia de incitação ao pecado. Essa foi exatamente a palavra utilizada pelo Senhor Jesus, em sua oração, no trecho de Mat. 6:13, onde ele diz: " ... e não nos deixeis cair em tentação...". É também o mesmo termo usado para indicar as tentações que Satanás lançou contra o Senhor Jesus, no deserto (ver Luc. 4: 13). Na passagem de Tia. 1:12 essa mesma palavra é empregada para indicar, bem definidamente, a tentação à prática do mal.
É lógico acreditarmos, por conseguinte, que a tentação referida neste versículo tem por intuito incluir questões tanto "morais" como "amorais", isto é, tentações para a prática do pecado (o que é evidente no próprio contexto), mas igualmente, certos períodos de dificuldades, o que também se evidencia quando consideramos, no contexto, o que Paulo mesmo esperava para o fim desta era, refletindo uma doutrina judaica comum, de que haveria um período geral de tribulações, em todos os sentidos, quando se aproximasse o fim da presente dispensação (ver 1 Ped. 4: 12 e Apo. 3: 10 quanto a essa mesma ideia, nas páginas do N.T.). Deus não tenta a homem algum para a prática do mal (ver Tia. 1:12), embora ele permita que as tribulações nos sobrevenham (ver Mal. 6: 13), e destas últimas o Senhor Jesus orou pedindo livramento. Satanás foi capaz de tentar ao Senhor Jesus com o mal; nada disso o diabo jamais teria podido fazer, sem a permissão divina.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 6. Editora Hagnos. pag. 350-351.
TENTAR, TENTAÇÃO Os termos heb. e gr. para "tentar" (heb. massa, gr. peirazo, ekpei-razo) e "tentação" (heb. nasa, gr. peirasmos) podem, às vezes, ter o significado de "induzir ao pecado", que tão fortemente colore nossas palavras em português "tentar" e "tentação". Mas seu principal e predominante significado é o de "testar o valor e o caráter de homens" e, às vezes, os de Deus. Nesse sentido, os cristãos devem se examinar para se certificarem de que suas palavras e ações evidenciam que eles são crentes genuínos (2 Co 13.5; cf. 2 Pe 1.10).
Semelhantemente, Deus testa, no AT, a veracidade da confiança que seu povo tem nele, como no caso de Abraão (Gn 22.1), Israel (Êx 15.25; 16.4), a tribo de Levi (Dt 33.8), Ezequias (2 Cr 32.31) e o salmista (SI 26.2). O NT diz que Deus (ou Cristo) provou a fé de Filipe (Jo 6.6) e de Abraão (Hb 11.17; cf. Gn 22.1).
Na sua providência, Deus usa os eventos da vida cotidiana para testar a professada fé e o caráter dos cristãos. O teste pode resultar em severos tormentos, tanto físicos quanto espirituais (Hb 11.37; 1 Pe 4.12). Deus usou severos fenómenos naturais (Êx 20.18-20), as dificuldades das peregrinações pelo deserto (Dt 8.2), e a opressão das tribos cananéi-as para testar Israel (Jz 2.21,22). Aos cristãos não é prometida a ausência de provas, mas a força necessária para suportá-las (1 Co 10.13; 2 Pe 2.9; cf. 1 Pe 4.1,12-16). O próprio Cristo, ao se tornar humano, passou por toda sorte de testes mentais e físicos (Hb 2.18; 4.15).
Crê-se que até mesmo coisas são testadas ou provadas, como por exemplo uma espada (1 Sm 17.38), uma reputação (1 Rs 10.1; 2 Cr 9.1) e convicções (Dn 1.12,14). Tanto a palavra heb. quanto a gr., às vezes, têm o significado de tentar fazer algo. Em uma pergunta retórica, Deus questiona: "...ou se um deus intentou ir tomar para si um povo..." (Dt 4.34). Os homens tentam se comunicar (Jó 4.2) ou se juntar a outros (At 9.26). Os termos gregos e hebraicos traduzidos como "tentar" e "tentação" também aparecem no mau sentido de "induzir ao pecado". O Diabo é acusado de ser o instigador de tais provas (Mt 4.3; 1 Ts 3.5,6). Até mesmo na vida dos cristãos ele exerce grande pressão para o pecado
(1 Co 7.5; 1 Ts 3.5; Ap 2.10). Sucumbir a tais tentações pode demonstrar que a profissão do cristão não é sincera (Lc 8.13). A tentação para pecar frequentemente se origina de pensamentos malignos e da concupiscência (Tg 1.14); provocações às quais um forte desejo por riquezas bem pode se juntar (1 Tm 6.9). Contudo, a tentação para pecar nunca vem de Deus (Tg 1.13). O cristão deve orar por libertação de todas essas tentações (Mt 6.13; Lc 11.4). A tentação, no mau sentido, também pode tomar a forma de testar o outro na esperança de expor seus pontos fracos, e usá-los contra a própria pessoa. Os inimigos de Cristo frequentemente tentaram empregar essa tática contra Ele (cf. Mt 16.1; 19.3; 22.35; Lc 20.23).
Algumas vezes a Bíblia fala de homens testando ou tentando a Deus. Por exemplo, Israel tentou a Deus no deserto (Êx 17.2,7; Nm 14.22; SI 95.8,9; 1 Co 10.9), e os fariseus e saduceus tentaram a Jesus (Mt 16.1; Mc 8.11; 10.2). Além disso, os cristãos professos podem tentar a Deus. Ananias e Safira o fizeram ao mentir (At 5.9). Cristãos judeus o fizeram, trazendo empecilhos aos crentes gentios (At 15.10). Paulo advertiu os coríntios a respeito da incredulidade, da idolatria, do modo de vida ímpio, da atitude de tentar a Cristo e da murmuração (1 Co 10.7-10; cf. Nm 21.4-9).
Quando confrontado pelas tentações, o cristão tira o encorajamento necessário do conhecimento de que ele não os enfrenta sozinho. Deus já removeu o crente do domínio de Satanás e o colocou em seu próprio reino e família (Cl 1.12,13). As tentações que Satanás traz estão sempre dentro dos limites permitidos por Deus (Jó 1.8-12; 2.3-6). Além disso, o cristão tem o exemplo da vitória de Cristo sobre o pecado (Hb 4.15) e a promessa da sua ajuda (Hb 2.18). Mesmo quando o cristão sucumbe à tentação e ao pecado, ele ainda tem a promessa de perdão disponível através da contínua, eficaz e redentora graça de Cristo (Hb 4.14-16; 1 Jo 2.1).
A recompensa dos cristãos por sua fiel resistência a todos os tipos de tentação é a coroa de vida (Ap 2.10).
Os exemplos mais conhecidos de tentação nas Escrituras são a indução de Adão e Eva ao pecado no jardim do Éden por Satanás (Gn 3.1-7; 1 Tm 2.13,14) e a tentação de Cristo no deserto (Mt 4.1-11; Mc 1.12,13; Lc 4.1-13).
Comparando-se essas tentações, nota-se que Eva (em comum acordo com Adão) sucumbiu à tentação por dar atenção excessiva aos desejos físicos (por exemplo, a comida) e às posses materiais dessa vida (o belo fruto que ela desejava), e por se entregar a um orgulho precipitado (supunha-se que o fruto traria sabedoria). Se por um lado Cristo, o segundo Adão (Rm 5.12-21; 1 Co 15.22) sentiu todo o peso do teste, por outro Ele superou completamente a tentação em cada uma dessas áreas (por exemplo, a tentação de transformar pedras em pães; de desejar obter para si os reinos do mundo; e, com um orgulho presunçoso, se atirar do Templo). Por ter experimentado e triunfado sobre essas e outras tentações, o Senhor Jesus Cristo é capaz de se compadecer e ajudar seu povo nas tentações que enfrenta.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1908-1909.
Hb 4.14 Para os leitores cristãos judeus, o sumo sacerdote tinha sido a sua mais elevada autoridade religiosa. O sacerdócio começou com Arão, irmão de Moisés (Ex 28.41). Somente o sumo sacerdote podia interceder junto a Deus pelos pecados da nação (Lv 16). Mas Jesus é um grande Sumo Sacerdote, melhor que todos os sumos sacerdotes de Israel. Aqui estão as razões:
• Os sumos sacerdotes eram homens que podiam oferecer sacrifícios, mas que não podiam fazer nada para tirar o pecado.
Jesus deu a sua vida e morreu como o sacrifício supremo e final pelo pecado.
• O sumo sacerdote podia entrar no Santo dos Santos somente uma vez por ano para fazer a expiação pelos pecados da nação. Jesus penetrou nos céus e tem acesso irrestrito a Deus Pai.
• Os sumos sacerdotes eram humanos e pecadores. Jesus intercede a Deus pelas pessoas como o Filho de Deus, que não tem pecado, o qual é, ao mesmo tempo, humano e divino.
• Os sumos sacerdotes eram as autoridades religiosas mais elevadas para os judeus. Jesus tem mais autoridade do que os sumos sacerdotes judeus, porque Ele é tanto Deus como homem.
• As pessoas não podiam se aproximar de Deus, exceto através de um sumo sacerdote. Quando Jesus morreu, o véu que separava o Santo dos Santos no Templo foi rasgado em dois, indicando que a morte de Jesus Cristo tinha aberto o caminho para que as pessoas pecadoras pudessem se chegar à presença do Deus santo.
Por causa de tudo o que Jesus Cristo fez e está fazendo por nós, retenhamos firmemente a nossa confissão. Permita que Jesus seja o seu Sumo Sacerdote; somente Ele pode lhe proteger do juízo inevitável (descrito em 4.12,13). Cristo é um Sumo Sacerdote fiel que representa todos aqueles que confiam nele.
Hb 4.15 Pelo fato de Jesus, o nosso Sumo Sacerdote, ter-se tornado como nós. Ele experimentou a vida humana de uma forma completa. Ele cansou-se, teve fome, e enfrentou as limitações humanas normais. Dessa forma.
Jesus entende as nossas fraquezas. Não apenas isso, mas Ele também em tudo foi tentado, mas sem pecado. Jesus, em sua humanidade, sentiu a luta e a realidade da tentação. O texto em Mateus 4.1-11 descreve uma série específica de tentações do Diabo, mas Jesus provavelmente enfrentou tentações ao longo de toda a sua vida terrena, assim como nós as enfrentamos (veja 1 Jo 2.16).
Hb 4.16 Através de sua morte na cruz, o nosso grande Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, abriu o acesso a Deus. Agora as pessoas podem se aproximar de Deus diretamente por causa do sacrifício que Jesus fez pelos pecados. Por Jesus ter dado a sua vida para fazer isto a nosso favor, cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça de Deus. Este versículo é um convite aberto para considerarmos a Deus como um grande aliado e um verdadeiro amigo. Sim, Deus ocupa um trono, um lugar de poder e autoridade, mas é um trono de um Deus misericordioso. “Graça” significa favor imerecido. A nossa capacidade de nos aproximarmos de Deus não vem de nenhum mérito próprio que tenhamos, mas depende inteiramente dele. Ele é o nosso Pai, que nos ama como seus filhos. Do trono de Deus, não receberemos ira, nem seremos ignorados; antes, poderemos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno. Deus está atento às nossas necessidades. Nenhum pedido é insignificante, e nenhum problema é pequeno demais. Deus promete ajudar-nos no momento certo — no tempo dele. Isto não significa que Deus promete resolver todas as necessidades no exato momento em que o buscarmos. Tampouco significa que Deus apagará as consequências naturais de qualquer pecado que foi cometido. Significa, porém, que Deus ouve, cuida, e responderá do seu modo perfeito, em seu tempo perfeito.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 599-600.
Hb 4.15 Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.
No versículo 18 do capítulo 2 desta epístola está escrito: “Porque, naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados”. Aprendemos destes textos e de outros similares das Escrituras que a tentação em si mesma não é pecado. Ela pode induzir alguém ao pecado, se houver espaço e lugar para tal procedimento. Quando Jesus esteve aqui entre os homens, Ele “em tudo foi tentado”, isto é, Ele passou a ser alvo das “mesmas paixões que nós”. Contudo, Ele nunca cedeu a uma só dessas paixões, nem por pensamento e nem por atos, por cuja razão o escritor sagrado conclui dizendo: "... [Ele] em tudo foi tentado, mas sem pecado”. A tentação sempre visa destruir a fé daquele que se encontra em paz com Deus. Ela vem à pessoa humana por várias vias de acesso que conduzem ao coração, sendo a “concupiscência” o veículo transmissor da sedução, que vem em primeiro lugar, e quando cedida pode conduzir à morte (cf. Tg 1.14,15).
Severino Pedro Da Silva. Epistola aos Hebreus coisas novas e grandes que Deus preparou para você. Editora CPAD. pag. 78.
Hb 4. 14-16. Porque Jesus nos ajudará (4.14-16). Estes versículos constituem uma continuação do discurso de exortação acerca do repouso e uma recapitulação e resumo dos quatro primeiros capítulos. Vamos primeiro considerar o discurso acerca do repouso.
Tendo chamado a atenção para a penetrante e inescapável luz da Palavra de Deus, o autor agora redireciona a atenção para a necessidade desesperadora de um Sumo Sacerdote — Jesus, o Filho de Deus. O Deus, a respeito de quem ele tem falado, é o mesmo Deus que rejeitou seus pais antigos na sua ira santa; Ele não pode ser menosprezado e vai igualmente rejeitá-los. Portanto, eles deveriam estar alegres pelo seu Sumo Sacerdote, e rapidamente refugiar-se nele. A terrível e incriminadora revelação do seu coração pela Palavra de Deus é motivo de medo, mas o ministério sumo sacerdotal de Jesus é motivo de esperança. Portanto, retenhamos firmemente a nossa confissão (14). Vamos nos apegar à nossa fé pessoal e à confissão pública de Jesus como nosso Salvador. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas (15). Literalmente, Jesus pode “sentir as nossas debilidades” (Mueller). A palavra fraquezas (astheneiais) tem uma conotação moral em Hebreus (cf. 5.2) e significa não apenas fraqueza física ou uma limitação humana, mas uma fraqueza consciente e instável na tentação. Nosso Senhor também nos entende nesta fraqueza, porque, como nós, em tudo foi tentado. Visto que foi tentado como nós, Ele sabe por experiência o que significa para nós ser tentado. Ele não foi tentado em todas as particularidades ou em cada situação possível; e.g., Ele não foi tentado como marido, ou pai, ou dono de uma propriedade, ou empregador, ou soldado, porque não exerceu nenhuma dessas funções. Mas Ele foi tentado em três áreas básicas da suscetibilidade humana: corpo, alma e espírito. Jesus conhecia a tentação no campo do apetite do corpo, no campo dos relacionamentos humanos e no campo dos relacionamentos espirituais. Eu — os outros — Deus: Ele foi tentado nestes três pontos. O que deveria governá-lo? Seu desejo por pão? Seu desejo por aceitação? Seu desejo por poder? Ou sua lealdade a Deus? Estas são perguntas fundamentais da vida que cada pessoa deve responder. Certamente, nestes aspectos básicos as tentações do Senhor eram exatamente iguais (kath homoioteta) às nossas.
Mas sem pecado. Embora seja perfeitamente verdadeiro que Jesus não enfrentou a tentação com a desvantagem do pecado original, esta não é a ideia aqui. O que o autor de Hebreus ressalta neste texto é que Jesus não cedeu uma única vez à tentação. Ele foi perfeitamente triunfante. Se não fosse tentado como nós, não poderia compreender os nossos sentimentos em nossas muitas tentações; por outro lado, se não tivesse sido perfeitamente vitorioso, não poderia ajudar-nos, mas necessitaria Ele próprio de ajuda.
Parece que estava claro na mente do autor a tentação peculiar que estes cristãos hebreus estavam enfrentando. Eles foram tentados a voltar atrás, e desta forma, falhar em entrar no seu repouso prometido. Jesus também teve sua experiência de deserto — em certo sentido, seu Cades-Barnéia — e, portanto, sabia o que estavam passando. Ele entende o deserto do ataque satânico que segue a primeira emoção gloriosa da fé. Por isso, eles não devem permitir que a ideia de voltar atrás ocupe a mente, nem devem ficar envergonhados ou ceder à paralisia do desespero. Eles precisam chegar com confiança ao trono da graça, para que possam alcançar misericórdia (perdão pelo fato de vacilar) e achar graça, a fim de serem ajudados neste tempo oportuno (16).
Estes versículos também são um resumo de toda a argumentação até aqui nesta epístola. Jesus é um grande sumo sacerdote, visto que não é um ser angélico nem está numa posição de igualdade com Moisés. Ele é o Filho de Deus, Aquele que “assentou-se à destra da Majestade, nas alturas” (1.3), ou, como está expresso aqui: que penetrou nos céus (14). O trono da graça ao qual somos convidados a vir com confiança em oração é o trono não só de Deus o Pai, mas de Deus o Filho — não só daquele cuja palavra é lei, mas daquele que se tornou Mediador e Intercessor. O Jesus da história recente e o Javé do AT se fundem em um Deus num único trono. Lá, no trono, nossos pecados são condenados e perdoados. Lá encontramos justiça e misericórdia. Lá encontramos acesso renovado para o restante do povo de Deus. Mas tudo isto é mediado por Jesus. Nossa ousadia só ocorre nele e por meio dele. Se Jesus não é o Filho de Deus, que está à destra do Pai, tendo cumprido plenamente e, desta forma, substituído a ordem mosaica, nossa ousadia não passa de uma arrogância insensata. É o Pai, por meio de Jesus, ou é o repouso por meio de Jesus, ou não é nada. E assim que o autor determina a finalidade da pessoa de Jesus Cristo.
Richard S. Taylor. Comentário Bíblico Beacon. Hebreus. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 48-49.
«...Deus é fiel...» E isso pelas razões expostas em seguida —ele exerce controle sobre todas as tentações que sobrevêm ao crente em sua vida, ele permite somente aquelas tentações que podem ser toleradas, sem importar se essas assumem a forma de testes, de sofrimentos, de perseguições ou de incitações para a prática do mal. Além disso, Deus provê sempre um meio de escape, quando somos assediados pelas tentações, desviando aquelas outras que, de modo algum, poderíamos suportar. Sim, Deus é «...fiel...» no sentido de «digno de confiança», como alguém em quem se pode confiar, no que diz respeito a essa questão das tentações.
A Fidelidade De Deus
1. Existe o «poder de Deus», que nos guarda, escudado em sua promessa (ver I Ped. 1:5).
2. Os próprios castigos divinos são planejados com o propósito de aprimorar a nossa espiritualidade, e não meramente com a finalidade de punir-nos pelo mal que tivermos praticado. Esse é um dos aspectos da fidelidade de Deus para com os seus «filhos», nos quais ele está formando a imagem do Filho.
3. As tentações diárias são controladas por Deus. Ê fatal que venham essas tentações, mas não chegam a nós sem qualquer razão, e sempre tendem para o nosso bem.
4. Os pais terrenos podem castigar seus filhos por mero capricho (ver Heb. 12:10), mas Deus jamais age dessa maneira, pois todos os problemas da vida, que envolvam ou não o pecado, são presentes que nos são dados a fim de encorajar-nos a prosseguir no caminho espiritual e aprimorar a nossa espiritualidade. (Ver João 7:6; 11:4 e Atos 7:9,10 acerca da «providência divina»).
«...não sejais tentados além das vossas forças...» Um crente conta com reservas de forças até mesmo para enfrentar os poderes espirituais malignos. Não obstante, compete-lhe utilizar-se de certos meios para desenvolver esses recursos, a fim de que possa usá-los prontamente quando isso se tornar necessário. Precisa ter certo nível de espiritualidade, desenvolvido mediante a oração, a meditação, a comunhão com o Espírito Santo, a transformação segundo a imagem moral de Cristo. O próprio Cristo e o exemplo supremo das reservas de forças espirituais que resguardam o homem de Deus contra qualquer modalidade de tentação. As passagens de Heb. 2:18 e 4:15 mostram-nos que Jesus foi tentado em todos os pontos em que também o somos, embora jamais tivesse cedido ao pecado Cristo Jesus não pecou, não porque não pudesse, fazê-lo; pois, nesse caso, não serviria de exemplo e de consolo para nós. Mas não pecou porque o seu desenvolvimento espiritual, através da presença do Espírito Santo, era tão grande que foi capaz de resistir às formas mais variegadas e difíceis de tentação, incluindo a «incitação ao pecado», as «tribulações», as «perseguições» e os «momentos difíceis».
Por Que Ê Importante Resistir a Tentação?
1. A tentação, se não for dominada, destrói a fibra moral. Mas, uma vez que lhe oferecemos resistência, isso melhora a qualidade moral do nosso ser. Aquele hino que diz: «Cada vitória te ajudará a outra vitória conquistar», encerra grande verdade.
2. Há uma bem-aventurança especial pronunciada em prol daqueles que resistirem às tentações, a saber, a «coroa da vida», e isso por promessa de Deus (ver Tia. 1:12).
3. Isso significa que a santificação conduz à glória, o que é um tema ensinado em vários lugares do N.T. (Ver Mat. 5:48 e II Tes. 2:13). Por conseguinte, a transformação moral é que nos leva à transformação metafísica, dentro da qual chegamos a compartilhar da própria natureza do Filho (ver II Cor. 3:18).
4. Os testes, por si mesmos, podem ser forças que nos ajudem em nosso desenvolvimento espiritual; isso é explicado abundantemente em Atos 14:22, onde há notas sobre o tema.
Tiago expressou essa mesma ideia de maneira um tanto mais poética, ao dizer: «Bem-aventurado o homem que suporta com perseverança a provação; porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam» (Tia. 1:12). Sim, a verdadeira bem-aventurança espiritual é conferida ao homem digno de receber a coroa da vida, isto é, o dom da vida eterna, com a consequente participação em tudo quanto Cristo é e tem, a glorificação em Cristo. (Quanto a notas expositivas gerais sobre as «coroas», ver II Tim. 4:8. Quanto ao «tribunal de Cristo», ver II Cor. 5:10. Quanto aos «galardões», ver I Cor. 3:8,14).
A resistência às tentações, em suas variegadas formas, aumenta o poder do crente. Mas a cessão ante as mesmas destrói as defesas espirituais dos remidos. (Quanto a como as tribulações podem ser uma bênção, ver Rom. 5:3. Quanto à «persistência», como uma qualidade espiritual, ver Rom. 5:3.
Quanto a notas expandidas sobre os «resultados benéficos da perseguição e dos sofrimentos», ver Atos 14:22, que se aplicam diretamente a este versículo).
«...juntamente com a tentação...» No original grego temos «...o livramento...», com o artigo definido, o que certamente indica «o meio de escape». Mui provavelmente isso quer dizer que no caso de cada tentação, manifestar-se-á alguma maneira pela qual podemos escapar ao mal, algum meio que nos capacite a suportar a dor e a tristeza. O «meio de escape» é sempre adaptado a cada circunstância. O pecado se faz presente e é poderoso; nenhum indivíduo escapa à tentação à prática do mal. Mas esse não é o «escape» prometido. Testes de ordem física e espiritual, grandes tragédias, são acontecimentos poderosos, debilitadores, desencorajadores, algumas vezes avassaladores; mas Deus sempre se mantém próximo do crente. Paulo promete aqui alguma ajuda divina em cada caso, embora não especifique exatamente o que devemos esperar. E essa «ajuda» será tão variegada como as tribulações.
Ele (Deus) conhece os poderes que nos conferiu, bem como quanta pressão somos capazes de resistir. Não permitirá que sejamos vítimas das circunstâncias que ele mesmo determinou para nós e ‘impossibilita non jubet’...Tentação é provação, e Deus ordena as provações de tal modo que ‘sejamos capazes de suportá-las’. O ‘poder’ é conferido paralelamente com a ‘tentação’, embora a resistência não nos seja proporcionada; essa resistência depende de nós mesmos». (Robertson e Plummer, in loc.).
«É uma demonstração de covardia cedermos à tentação, bem como um voto de desconfiança a Deus». (Robertson, in loc.).
A parte seguinte do presente versículo deixa entendido que o «escape» só aparece através da resistência e da persistência do crente.
«...de sorte que a possais suportar...» Notemos que não nos é dado o «escape» por meio da ausência de toda a tentação; nem nos é outorgado o «escape» porque logo somos livres da tribulação. Antes, esse «escape» nos é proporcionado ‘porque’ temos podido resistir e chegar ao triunfo. Somente essa forma de escape e de disciplina é que pode produzir qualquer crescimento cristão substancial.
«Com frequência, o único ‘escape’ se verifica através da ‘resistência’. Ver Tia. 1:12». (Vincent, in loc.).
«Fechem-se em um 'cul de sac ’ os desesperos de um homem; mas que ele veja uma porta aberta para sua saída; e ele continuará lutando, levando a sua carga. A palavra grega ‘ekbasis’ (escape) significa ‘saída’, escape para longe da luta. Logo em seguida aparece ‘upenegkein’ (sustentar debaixo de algo), em que esta última ação é possibilitada pela esperança relativa àquela primeira. Quão diferente é tudo isso da consolação estoica dos suicidas: ‘A porta continua aberta’! No caso desta epístola aos Coríntios, a ideia de ‘tentação’ deve incluir tanto as atrações em direção à idolatria como as perseguições que o abandono da idolatria envolve». (Findlay, in loc.).
«Neste versículo encontramos talvez a exposição mais pratica, e, portanto, mais clara, que se pode achar acerca da doutrina do livre-arbítrio humano, em relação ao poder governador de Deus. Deus abre a estrada, mas o próprio homem deve ‘caminhar’ por ela. Deus controla as circunstâncias; mas o homem se utiliza delas. É nesse ponto que jaz a sua responsabilidade como homem». (John Short, in loc).
«.. .A providencia de Deus abre um caminho em meio a teia. Deus sempre abre uma brecha nessa fortaleza doutra maneira inexpugnável. No caso de alguma alma reta entrar em dificuldades e apertos, podemos descansar certos de que haverá um ‘meio de escape’, tal como houve uma ‘entrada’; e também que o teste jamais ultrapassará as forças que Deus dá a cada qual, para que possa suportar à prova». (Adam Clarke, in loc.).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 154-155.
Além disso. Deus promete dar também o escape para que possamos suportar e não cair em pecado. Será necessário ter autodisciplina para procurar esse “escape” até no meio da tentação e então utilizá-lo, assim que for encontrado. O escape é sempre difícil e muitas vezes exige a ajuda dos outros. Uma das formas que Deus nos dá para que consigamos fugir da tentação é o bom senso. Se um crente sabe que será tentado em certas situações, então deve se afastar delas. Outra forma é através dos amigos cristãos. Em vez de tentar enfrentar sozinho a tentação, o crente pode explicar o seu dilema a um amigo cristão que lhe seja íntimo e confiável e pedir a sua ajuda.
Esse amigo poderá orar, sensibilizar a pessoa, e dar valiosos conselhos e opiniões. A verdade é que Deus ama tanto o seu povo, que irá protegê-lo das tentações insuportáveis. E sempre irá oferecer uma saída.
A tentação nunca deverá inserir uma barreira de separação entre o crente e Deus, e cada crente deve ser capaz de dizer: “Obrigado, Senhor Deus, por confiar tanto em mim. O Senhor me considera capaz de enfrentar essa tentação. Agora, o que o Senhor quer que eu faça?”
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 149
“Mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além de vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar.” A igreja pode possuir ambas as coisas que fazem parte da essência da fé. A verdadeira fé vê toda a seriedade da vida. Mede os perigos das tentações e está disposta ao empenho extremo com todas as forças. Isso corresponde à imagem do atleta traçada por Paulo. No entanto a fé vê simultaneamente a Deus, pairando acima de tudo com sua fidelidade e, como uma criança no colo da mãe, repousa na palavra e nas promessas de Deus, experimentando por isso aquele ―desfecho‖ das provações que no final a apresenta ―irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo‖ (1Co 1.8), porque ―Deus é fiel‖ (1Co 1.9).
Werner de Boor. Comentário Esperança Cartas aos I Corinto. Editora Evangélica Esperança.
2. Fortalecimento após a tentação (v.2).
Tg 1.2 “Por várias provações”: constam aí os momentos altos e baixos, a aflição na vida pessoal e na vida dos semelhantes, as dificuldades econômicas e profissionais (os cristãos daquele tempo eram em grande medida pessoas simples, em parte escravos), as pessoas com as quais lidamos diariamente e que nos dificultam as coisas. – Agregam-se a essas as aflições específicas que atingem os cristãos: as pessoas em torno deles os ridicularizam, deixam de lado, observam com a finalidade de poder criticar. Naquele tempo os judeus, com os quais, afinal, tinham tanto em comum, hostilizavam os cristãos. Cada vez mais também os representantes do poder estatal romano, de altos e baixos escalões, os viam com suspeita. Essas tribulações são “várias”, “multiformes”. Vêm de todos os lados. São “coloridas”, como também se pode traduzir. Às vezes a situação se torna “variada” demais para nós.
“Entrardes”: entra-se em tais provações como em uma tempestade repentina. Há pouco o sol ainda brilhava amistosamente. Despreocupados seguíamos a jornada. Mas de repente precipita-se sobre nós a aflição, vinda de um lado inesperado. Ficamos deprimidos e arrasados. Também os cristãos daquele tempo podem ter pensado: como seria bela a vida, se não existisse isso!
É verdade que a Bíblia nos diz que não precisamos ocultar quando também estamos tristes em diversos tormentos (1Pe 1.6). Sim, ela nos diz que o próprio Jesus esteve triste quando atribulado (Mt 26.38; Hb 5.7). Mas Tiago escreve: a rigor, deveis e podeis vos alegrar com vossas tribulações.
Fritz Grünzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Tg 1.2 Como pode alguém ter grande gozo ao passar por tentações ou provações? Esta é uma recomendação admirável – devemos decidir ficar alegres em situações em que a alegria seria, naturalmente, a nossa última reação. Quando determinadas circunstâncias nos irritam e nós queremos culpar o Senhor, Tiago nos dirige para a alternativa mais saudável - a alegria. Aqueles que confiam em Deus devem exibir uma resposta positiva e radicalmente diferente diante dos eventos difíceis da vida.
A nossa atitude deve ser de alegria genuína.
Não é uma alegre previsão antes das provações.
Ao contrário, é a alegria durante as provações.
A alegria baseia-se na confiança no resultado da provação. É a percepção surpreendente de que as provações representam a possibilidade de crescimento. Por outro lado, muitas pessoas ficam felizes quando escapam às dificuldades.
Mas Tiago nos incentiva a sentirmos alegria pura mesmo diante das dificuldades. Tiago não está incentivando os crentes a fingirem estar felizes. Alegrar-se vai além da felicidade.
A felicidade concentra-se em circunstâncias terrenas e no quanto as coisas vão bem por aqui. O gozo concentra-se em Deus e na sua presença em nossas experiências.
A palavra “quando” não deixa muito espaço para a dúvida. Somos encorajados a nos sentir alegres quando passarmos por todos os tipos de aflições, e não se as enfrentarmos.
Provações, problemas, situações adversas podem roubar a nossa alegria se não adotarmos a atitude correta. De onde vem este problema? Os problemas e as tentações que enfrentamos podem ser dificuldades que vêm de fora ou tentações que vêm de dentro. Um problema pode ser uma situação difícil que põe à prova a fé de uma pessoa, como uma perseguição, uma decisão moral difícil, ou uma tragédia. O caminho da vida está cheio de tais provações.
Suportar a provação não é suficiente. O objetivo de Deus ao permitir que ocorra este processo é desenvolver a maturidade completa em nós.
Considerar que os seus problemas podem ser motivo de alegria vem da atitude de ver a vida tendo em mente a perspectiva de Deus.
Podemos não ser capazes de compreender as razões específicas para Deus permitir que determinadas experiências nos esmaguem e esgotem, mas podemos estar confiantes de que o seu plano é para o nosso bem. O que pode parecer desanimador ou impossível para nós nunca parece da mesma maneira para Deus!
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 662-663.
Tg 1.2. Tiago abre sua carta com dois aspectos bastante característicos. Ele chama seus leitores de meus irmãos, uma forma de tratamento que ele utiliza catorze vezes (três delas acompanhadas da qualificação “amados”), principalmente para introduzir uma nova divisão. Esta forma de tratamento afetuoso confere um forte tom pastoral a muitas exortações da carta. E, em segundo lugar, ele expressa uma ordem: tende por motivo de toda a alegria. A ordem é categórica e sugere a necessidade de uma decisão definitiva no sentido de se tomar uma atitude alegre. “toda a” modificando “alegria” pode sugerir que a alegria não deve estar misturada com outras emoções — “tende por motivo de somente alegria” — mas provavelmente enfatize em primeiro lugar a qualidade da alegria (BJ, “grande alegria”). O que é notável nesta ordem é que ela se aplica a uma situação em que uma reação de alegria não seria muito natural: o passardes por várias provações. A palavra traduzida como “provações”, peirasmos, tem dois significados básicos no Novo Testamento. Ela pode se referir à atração interna ao pecado, como em 1 Timóteo 6.9: “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição”. Em outros casos, ela se aplica a aflições externas, especialmente perseguições (cf. 1 Pe 4.12). E provável que em vários versículos os dois significados estejam incluídos (e.g. Mt 26.41 e paralelos).
No presente versículo, o uso de passardes (literalmente, “cair em”) e a substituição de peirasmos por “prova” (ARC), no versículo 3, favorecem bastante o segundo significado. Devido à qualificação várias, provavelmente devamos pensar tanto nas dificuldades comuns a todas as pessoas bem como em adversidades específicas que os cristãos precisam enfrentar, como resultado da fé que possuem. Assim, as doenças (cf. 5.14), dificuldades financeiras (cf. 1.9) e perseguições econômicas e sociais (cf. 2.6) estariam todas incluídas nas várias provações. Quaisquer que sejam as provações, elas devem ser consideradas pelos crentes como uma ocasião para regozijo.
Douglas J. Moo. Tiago. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 59.
I Ped 1.7 Embora Deus possa ter diferentes objetivos nas provações que o seu povo enfrenta, um resultado preponderante de todas as provações está claro: elas provam a fé das pessoas, mostrando que esta fé é forte e pura. Para Deus, a fé dos crentes é muito mais preciosa do que o ouro, a substância mais valiosa e durável daquela época.
A fé verdadeira é indestrutível e durará por toda a eternidade. No entanto, ela pode suportar o fogo das provações, lutas e perseguições que a purificam, removendo impurezas e defeitos. Deus valoriza uma fé provada pelo fogo (ou pelas “dificuldades”).
Por meio das provações, Deus queima a nossa autossuficiência e as nossas atitudes egoístas, para que a nossa autenticidade possa refletir a sua glória e lhe traga louvor.
Como as provações provam a força e a pureza da fé de alguém? Uma pessoa que vive uma vida confortável pode achar muito fácil ser um crente. Mas conservar a fé diante do ridículo, da calúnia, da perseguiçáo ou até mesmo da morte prova o verdadeiro valor daquela fé. Esta fé resulta em louvor, honra e glória concedidos aos crentes pelo próprio Deus, quando Jesus Cristo retornar (na revelação) para julgar o mundo e levar os crentes para casa.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 706.
I Ped 1.7 Na sequência é exposta a finalidade das provações: para que o que é autêntico de vossa fé seja constatado como muito mais precioso que ouro perecível, que é apurado por fogo, para louvor e glória e honra na revelação de Jesus como Messias. O presente versículo tem por base uma comparação frequente na Bíblia (Sl 12.6; Pv 17.3; 27.21; Ml 3.3). Para saber se o ouro é autêntico, ele precisa ser derretido no fogo. Isso não afeta o ouro em nada, mas todas as impurezas são expulsas no processo, e aquilo que é autêntico, que realmente tem valor, se destaca com pureza. Pelo fato de a fé frequentemente se misturar a diversas impurezas, Deus precisa realizar um processo de derretimento. Assim como a depuração do ouro, também o sofrimento deve ser visto positivamente como teste para a fé. Essa visão pode ajudar decisivamente na aflição. Para que o que é autêntico de vossa fé seja constatado como muito mais precioso. Por que é a fé preciosa? Por nos dar paz no coração ou ajuda para viver? O aspecto mais grandioso dela é que honra a Deus: para louvor e glória e honra. Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11.6). E sem fé é impossível honrar a Deus e lhe servir. Porém, o real cumprimento de sentido de nossa vida é que “sejamos algo para o louvor de sua glória” (Ef 1.12). Já para um ser humano representa uma honra ser alvo de confiança. Isso vale também perante Deus: a criatura honra seu Criador, o filho de Deus honra seu Pai, confiando nele. No entanto, para poder honrar a Deus, a fé tem de ser autêntica. Por isso tem de ser provada por causa da honra de Deus. Tudo isso se revestirá de um peso particular pela revelação de Jesus como Messias. Esse é o ponto para o qual tudo converge. Esse é o próximo grande evento no curso da história da salvação: o desprezado Nazareno será revelado com sua dignidade messiânica. Agora ainda está oculto. Quando, porém, Jesus se tornar visível, também o que é autêntico na fé de sua igreja sofredora passará a ser nitidamente manifesto. Isso há de acontecer para a honra de Deus. Ainda que o diabo concentre toda a sua intenção em arrastar as pessoas para longe de Deus em sua rebelião antidivina, naquele dia com certeza será flagrante que não teve sucesso em incontáveis pessoas (Ap 7.9s). Chama atenção que o texto deixa em aberto a questão de a quem, afinal, são dirigidos o louvor e a honra. Certamente o faz de forma pensada. Porque a glorificação do Redentor em sua revelação é ao mesmo tempo a revelação e glorificação de seus redimidos (Rm 8.17; 1Jo 3.2), e em tudo isso são conferidos louvor, glória e honra ao próprio Pai. Porque o alvo é a honra de Deus (1Co 15.28). É para isso que Jesus virá, para “ser glorificado em seus santos e ser admirado em todos que vieram a ele” (2Ts 1.10). “Quando, porém, se manifestar o Messias, nossa vida, então também vós sereis manifestos junto com ele em glória” (Cl 3.4).
Fritz Grünzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
«...o valor da vossa fé ... confirmado...* No grego, o primeiro substantivo abstrato é *dokimion*. Esse termo pode significar «teste», «prova», sendo assim que alguns intérpretes o entendem. Nesse caso, a provação mesma se torna preciosa, devido a seus gloriosos resultados. Mas outros pensam que a palavra deve ser entendida no sentido dc «genuína», pois tal vocábulo era empregado para indicar moedas «genuínas· ou outros metais preciosos, os quais, apesar de passarem por teste, demonstram sua autenticidade e pureza. Quando o termo é usado para indicar a pureza de metais, significa que eles são ·genuínos», livres de mistura com metais inferiores.
Provavelmente a ideia de «genuinidade» é que está em foco aqui. O teste mostrará que a fé é genuína, sem qualquer mistura de incredulidade. Essa fé consiste na outorga da alma a Cristo, sem espaço para o serviço ao próprio eu, e que seja fé suficientemente forte para resistir aos assaltos de homens hostis e ímpios.
Aquilo sobre o que lemos aqui tão pacificamente era uma questão das mais vitais para seus leitores originais. Alguns deles morreriam na voragem.
Outros ficariam aleijados; ainda outros seriam aprisionados ou perderiam suas propriedades. E muitos seriam vilipendiados e expulsos de seus lares.
A fé deles resistiria ao impacto de tal tratamento? Pedro diz que tais coisas servem somente para demonstrar a autenticidade da fé; c isso resulta em grande vitória, para louvor de Deus c para o bem-estar espiritual de seus filhos.
·...muito mais precioso do que o ouro perecível...» O ouro é testado no fogo. E quanto mais quente for o fogo, tanto mais puro sairá o ouro. A metáfora metalúrgica continua em foco. O ouro é precioso; e o tesouro humano é elevadíssimo. O ouro tem sido, frequentemente, a base da economia. Alguém já disse que o ouro é amarelo por ser tão cobiçado por homens violentos. Mas, pertence apenas a este mundo temporal. Finalmente, terá de perecer. E só é mais valioso que os outros metais por ser mais raro do que eles. Há metais de maior utilidade, pois o ouro é um metal principalmente decorativo. Teria pouquíssimo valor, se não fosse tão raro.
Só tem valor porque os homens lhe atribuem tal valor, e não porque ele tem valor intrínseco. Existem três espécies de valor: 1. Algumas coisas possuem um valor intrínseco ou primário, por serem valiosas por si mesmas. Nessa categoria se acha a água por exemplo. Não podemos viver sem água. 2. Há coisas que possuem um valor secundário, por causa do uso que lhe podemos dar como se dá no caso de um instrumento. Seu metal talvez não valha grande coisa; mas a sua ·utilidade» a torna valiosa. 3. Além disso, há valores terciários ou subjetivos—como quando uma pessoa atribui valor a uma fotografia, porque está sentimentalmente preso a ela. O papel é de valor extremamente baixo; outras pessoas não estão interessadas no mesmo; porém, uma ou mais pessoas poderão dará uma fotografia um grande valor, devido àquilo que ela representa. O ouro cabe dentro desta terceira categoria. Só é valioso porque os homens o supõem valioso, em seu raciocínio subjetivo. Tal raciocínio, entretanto, pode modificar-se. Se descobrirmos grandes depósitos de ouro em um outro planeta, e esse tornar-se disponível em grande abundância na terra, o ouro perderá o seu valor relativo.
Não acontece a mesma coisa com a fé. diz Pedro. Quando é testada no fogo, e é comprovadamente genuína, terá muito mais valor que todo o ouro da terra. Por essa mesma razão é que disse o Senhor Jesus: «Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Que daria um homem cm troca de sua alma?»(Marc. 8:36,37). Mediante a fé, um homem é «guardado para a salvação», contanto que com ela combine o poder de Deus e se aproveite do mesmo. A alma é o elemento do homem dotado de valor primário ou intrínseco, e isso em um grau incalculável.
«O ponto frisado é que se o ouro temporal tem valor para ser trabalhosamente refinada, quanto mais a fé se reveste de um valor eterno».
(Hunter. in loc.).
·...mesmo apurado por fogo...» E preciso um fogo de grau muito elevado para purificar o minério de ouro; mas os homens se dão a esse trabalho, por causa do resultado obtido. Assim também o crente, com coragem deveria resistir às chamas da provação, porquanto envolverá purificações morais; c. se o crente resistir ao teste será o instrumento pelo qual receberá a salvação divina. O autor sagrado queria dar a entender que Deus acolhe o indivíduo que sofre, recompensando-o generosamente, porquanto terá sofrido tudo por amor ao Senhor Jesus Cristo. (As notas expositivas. em Atos 14:22, sugerem muitas maneiras pelas quais as tribulações e as perseguições podem redundar em nosso benefício).
*...redunde em louvor...* De quem? Do ·Deus bendito» (ver o terceiro versículo), naturalmente, porquanto Deus transformará a tragédia em triunfo; c seu Filho será exaltado quando os filhos de Deus atingirem a imagem e a natureza dele, como parte integrante de sua herança, quando de sua segunda vinda. Por isso é que Jesus falou da bem-aventurança do servo que ouviu o Muito bem, servo bom e fiel» (Mat. 25:21). Ora, vendo que Deus o conduziu em segurança através das provações, para o beneficio eterno de sua alma. o crente se encherá de louvores ao Senhor. Assim é que um agnóstico, como John Stuart Mill, pode dizer: «Devemo-nos esforçar por viver de tal modo que Jesus Cristo aprove a nossa vida». E não temos nisso nenhuma sugestão inútil. Eventualmente, todos haverão de buscar a sua aprovação, segundo se vê no primeiro capitulo da epístola aos Efésios c no trecho de Fil. 2:9-11.
Louvor. 1. Deus é digno de ser louvado (ver II Sam. 22:4): 2. Cristo é digno de ser louvado (ver Apo. 5:12); 3. Deus é glorificado por nossos louvores (ver Sal. 22:23); 4. O louvor deve ser oferecido a Cristo; 5. O louvor é aceitável mediante Cristo (ver Heb. 13:15); 6. Deus merece o louvor devido aos seguintes fatores: a. sua majestade (Sal. 96:1):
b. sua glória (Sal. 138:5); c. sua excelência (Sal. 148:3); d. sua grandeza (l Crô. 16:25 e Sal. 145:3); e sua santidade (Isa. 6:3).
...glória e honra ... Essa combinação de qualidades é comum nas páginas do N.T. (Ver Rom. 2 :7,10; I Tim 1:17; Heb. 1:3 e Sal. 8:6).
Porém, em combinação com o «louvor*, só figura aqui cm todo ο Ν.'Γ. Λ glória e a honra pertencem a Deus, pelas mesmas razões que o louvor lhe deve ser atribuído, conforme vimos acima. Esses elementos pertencem exclusivamente a Deus; mas agradou-lhe conferi-los também aos homens (ver Rom. 2:7,10), quando estes agem bem, de modo que lhe agrade. Deus é honrado pela vida do crente de fé comprovada; e também receberá honra verbalmente expressa da parte de tal crente. Deus é honrado pela vida e pelas palavras desse crente, tal como um pai é exaltado quando seus filhos agem direito. A glória de Deus se derramará por sobre os homens, e muitos filhos de Deus, por conseguinte, serão conduzidos à glória (ver Heb. 2:10).
...revelação de Jesus Cristo... Está em foco a «parousia», tal como nos versículos quinto e décimo terceiro . A segunda vinda de Cristo será a revelação de sua pessoa e de sua glória: e assim o homem dará um grande salto à frente, para descobrir o centro e a razão de sua existência, o que finalmente, haverá de caracterizar a todas as coisas, conforme explica o primeiro capitulo da epístola aos Efésios. Ele será então revelado como Salvador, Juiz, Senhor universal, centro de tudo. razão da existência e alvo de toda a existência. (Comparar com I Cor. 1:7 e II Tes. 1:7). «Em todas essas passagens, denota a revelação de Cristo em sua majestade, como Juiz c Galardoador». (Bigg. in loc.). Porém, parece que está envolvido ainda mais do que isso, segundo é explicado mais acima.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 98.
Lc 4. 1-13. A Tentação de Jesus
Para uma ampla argumentação sobre as tentações de Jesus, veja os comentários referentes a Mateus 4.1-11. Mateus e Lucas apresentam a narrativa da Tentação com detalhes, ao passo que Marcos apenas a menciona (Mc 1.12-13). Naquilo que é o principal, os relatos de Mateus e Lucas contêm as mesmas informações, mas diferem quanto aos seguintes aspectos:
1) Eles não mencionam a segunda e a terceira tentações na mesma ordem. Mateus coloca a tentação de saltar do pináculo do Templo em segundo lugar, ao passo que no texto de Lucas ela está em terceiro lugar. A tentação de aceitar os reinos do mundo, então, é a terceira em Mateus e a segunda em Lucas.
2) Lucas diz que Jesus foi tentado durante os quarenta dias do jejum e também posteriormente; Mateus não menciona estas outras tentações.
3) Segundo Mateus, depois que Satanás mostra a Jesus os reinos deste mundo, ele diz: “Tudo isto te darei”. Lucas enfatiza a autoridade e a glória destes reinos. De acordo com Lucas, Satanás diz Dar-te-ei a ti todo este poder (literalmente, “autoridade”) e a sua glória (6).
4) Quanto à mesma tentação, em Lucas, acrescenta-se ao texto de Mateus o seguinte: porque a mim me foi entregue, e o dou a quem quero (6).
5) Na tentação de saltar do pináculo do Templo, Mateus chama a cidade de “Cidade Santa”, enquanto Lucas a chama pelo nome, Jerusalém (9). Aqui, o motivo de Lucas é, obviamente, esclarecer os leitores gentios.
Estas diferenças não alteram em nada os ensinos relativos à tentação de Jesus.
Barclay intitula esta seção como “A batalha contra a tentação” e assim a esquematiza: 1) A tentação de subornar as pessoas com presentes materiais, 2-4; 2) A tentação de fazer acordos ou concessões, 5-8; 3) A tentação de dar demonstrações sensacionais às pessoas, 9-12. Poderíamos acrescentar mais uma: 4) As recompensas da vitória sobre a tentação, 13-14.
Charles L. Childers. Comentário Bíblico Beacon. Lucas. Editora CPAD. Vol. 6. pag.
Lc 4.1,2 A palavra “E” retoma a história de 3.22.
Jesus voltou do Jordão e foi... ao deserto. Jesus tomou a ofensiva contra o inimigo, o diabo, indo ao deserto para enfrentar a tentação.
A palavra “diabo” em grego significa “acusador”; em hebraico, a palavra “Satanás” significa a mesma coisa. O diabo, que tentou Adão e Eva no jardim, também tentou a Jesus no deserto. Satanás é um ser real, um anjo criado, mas rebelde e caído, e não um símbolo ou uma ideia. Ele luta constantemente contra Deus e aqueles que seguem e obedecem a Deus. Satanás não é onipresente, nem é todo poderoso.
Por meio dos espíritos malignos sob o seu domínio, Satanás trabalha em todas as partes, tentando afastar as pessoas de Deus e atraí-las à sua própria escuridão.
A expressão foi tentado descreve uma ação contínua; Jesus foi tentado constantemente durante os quarenta dias. O Espírito levou Jesus ao deserto onde Deus pôs Jesus à prova - não para ver se Jesus estava pronto, mas para mostrar que Ele estava preparado para a sua missão. Satanás, no entanto, tinha outros planos; ele esperava distorcer a missão de Jesus tentando-o para fazer o mal. Por que era necessário que Jesus fosse tentado? A tentação faz parte da experiência humana. Para que Jesus fosse completamente humano, Ele tinha que enfrentar a tentação (veja Hb 4.15). Jesus tinha de desfazer o que Adão tinha feito. Adão, embora criado perfeito cedeu à tentação, e assim o pecado entrou na raça humana. Jesus, por outro lado, resistiu a Satanás. A sua vitória oferece a salvação aos descendentes de Adão (veja Rm 5.12-19). Durante estes quarenta dias, Jesus não comeu coisa alguma, de modo que ao final Ele teve fome. A condição de Jesus como Filho de Deus não tornava o seu jejum mais fácil; o seu corpo físico sofria a fome severa e a dor de estar sem alimento. As três tentações registradas aqui ocorreram quando Jesus estava na sua condição física mais enfraquecida.
Lc 4.3 A primeira vista, este parece ser um ato relativamente inofensivo, até mesmo uma sugestão piedosa. Jesus rinha muita fome, então por que não usar os recursos sob o seu comando e transformar uma pedra em pão? Neste caso, entretanto, o pecado não estava no ato, mas na razão por trás dele. O diabo estava tentando fazer Jesus tomar um atalho para resolver o seu problema imediato à custa de seus objetivos de longo prazo, procurando o conforto através do sacrifício da sua disciplina. Satanás normalmente trabalha desta forma - persuadindo as pessoas a realizar uma ação, até mesmo uma boa ação, por um motivo errado ou na hora errada. O fato de que alguma coisa não seja propriamente errada não significa que é boa para alguém em determinado momento. Muita gente peca tentando satisfazer desejos legítimos não incluídos na vontade de Deus, ou, antes do momento definido por Ele.
4.4 Jesus respondeu a Satanás com o que está escrito nas Escrituras. Nas três citações de Deuteronômio, encontradas em Lucas 4.4, 8 e 12, o contexto mostra que Israel fracassou em cada um dos testes. Jesus mostrou a Satanás que embora o teste pudesse ter feito Israel fracassar, isto não funcionaria com Ele. Jesus compreendia que a obediência à missão do Pai era mais importante do que comida. Fazer pão para si teria mostrado que Ele não havia deixado todos os seus poderes de lado, nem se humilhado e nem se identificado completamente com a raça humana. Mas Jesus recusou-se a fazê-lo, mostrando que só usaria os seus poderes em submissão ao plano de Deus.
Lc 4.5,7 O diabo arrogantemente esperava ter sucesso na sua rebelião contra Deus, afastando Jesus de sua missão e obtendo a sua adoração. Satanás tentou a Jesus para que Ele assumisse o mundo como um reino terreno ali mesmo, sem executar o plano de salvar o mundo do pecado. Para Jesus, aquilo significava obter o seu prometido domínio sobre o mundo sem passar pelo sofrimento e pela morte na cruz. Satanás ofereceu um atalho. Mas Satanás não entendeu que o sofrimento e a morte eram parte do plano de Deus, que Jesus tinha decidido obedecer. O fato de que Jesus pudesse ver, num momento de tempo, todos os reinos do mundo, apoia a interpretação de que esta experiência foi visionária. O foco não está na montanha, mas sim naqueles reinos que estavam (e estão) sob o domínio de Satanás (Jo 12.31). Satanás ofereceu-se para dar o domínio sobre o mundo a Jesus. Isto desafiava a obediência de Jesus ao cronograma e à vontade de Deus. A tentação de Satanás, basicamente, era: “Por que esperar? Eu posso lhe dar isto agora!” Naturalmente, a oferta tinha uma condição: “Se tu me adorares”. Lc 4.8 Uma vez mais, Jesus respondeu a Satanás com as Escrituras. Para Jesus, obter o domínio do mundo mediante a adoração de Satanás seria não apenas uma contradição (Satanás ainda estaria no comando), mas também romperia o primeiro mandamento, “Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a ele servirás” (Dt 6.4,5, 13). Para realizar a sua missão de trazer salvação ao mundo, Jesus precisaria seguir o caminho da submissão a Deus.
Lc 4.9-11 O templo era o edifício mais alto em Jerusalém e o seu pináculo provavelmente era o canto da parede que se projetava sobre a encosta. Se o diabo levou Jesus fisicamente a Jerusalém ou se isto aconteceu numa visão não está claro. De qualquer forma, Satanás estava arrumando o cenário para a sua próxima tentação. Jesus tinha citado as Escrituras em resposta às outras tentações de Satanás. Aqui Satanás tentou a mesma tática com Jesus; ele usou as Escrituras para tentar convencer Jesus a pecar! Satanás estava citando o Salmo 91.11,12 para apoiar a sua solicitação. Este salmo descreve a proteção de Deus para aqueles que confiam nele. Obviamente, Satanás interpretou as Escrituras erroneamente, tentando fazer parecer que Deus protegeria os seus até mesmo em meio ao pecado, removendo as consequências naturais dos atos pecaminosos.
Saltar do pináculo para testar as promessas de Deus não era parte da vontade de Deus para Jesus. No contexto, o salmo promete a proteção de Deus para aqueles que, enquanto de acordo com a sua vontade e fiéis a Ele, se encontrassem em perigo. Ele não promete a proteção para crises criadas artificialmente, nas quais os cristãos chamam a Deus para testar o seu amor e o seu cuidado.
Lc 4.12 Jesus novamente respondeu citando as Escrituras: no entanto, Ele usou as Escrituras com uma compreensão do verdadeiro significado. Os fatos eram que embora Deus prometa proteger o seu povo, Ele também exige que ele não o tente. Na passagem em Deuteronômio 6.16, Moisés estava se referindo a um incidente durante a peregrinação de Israel no deserto, registrada em Êxodo 17.1-7.0 povo tinha sede e estava disposto a fazer um motim contra Moisés e retornar ao Egito, se ele não lhes desse água. Para Jesus, saltar do pináculo do templo teria sido um teste ridículo ao poder de Deus, e teria estado fora da vontade de Deus.
Jesus sabia que seu Pai poderia protegê-lo. Ele também entendia que todas as suas ações deveriam concentrar-se no cumprimento da missão de seu Pai.
Lc 4.13 Este seria somente o primeiro de muitos encontros que Jesus teria com o poder de Satanás. A vitória pessoal de Jesus sobre Satanás no verdadeiro início do seu ministério definiu o cenário do seu comando sobre os demônios por todo o seu ministério, mas não dissuadiu a Satanás de continuar a tentar arruinar a missão de Jesus. A sua vitória sobre o diabo no deserto foi decisiva, mas não final, pois o diabo ausentou-se dele por algum tempo.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 340-342.
As últimas palavras do capítulo anterior, de que Jesus era o Filho de Adão, revelam-no como a semente da mulher; sendo assim, temos o Senhor aqui, de acordo com a promessa, pisando na cabeça da serpente, frustrando e derrotando o diabo em todas as suas tentações, que por uma única tentação havia frustrado e derrotado os nossos primeiros pais. Portanto, no início da guerra, Jesus fez represálias a ele, e venceu aquele que no passado havia sido o vencedor.
Nesta história da tentação de Cristo, observe:
I Como Ele foi preparado e equipado para ela. Aquele que permitiu a tribulação proveu aquilo de que o Senhor Jesus precisava para vencer; porque embora não saibamos que exercícios possam estar diante de nós, nem para que encontros podemos estar reservados, Cristo sabia, e teve aquilo que era necessário; e Deus faz o mesmo por nós, e esperamos dele tudo o que nos é necessário.
1. Ele estava cheio do Espírito Santo, que havia descido sobre Ele como uma pomba. O Senhor Jesus tinha agora medidas maiores de dons, graças e consolações do Espírito Santo do que antes. Note que aqueles que estão cheios do Espírito Santo é que estão bem armados contra as tentações mais fortes.
2. Ele havia retornado do Jordão recentemente, onde foi batizado, e reconhecido por uma voz do céu como sendo o Filho Amado de Deus; e assim E le foi preparado para este combate. Note que quando tivermos a mais consoladora comunhão com Deus, e as descobertas mais claras de seu favor a nós, podemos esperar que Satanás nos ataque (o navio mais rico é o prêmio do pirata), e que Deus permitirá que ele faça isso, para que o poder de sua graça possa ser manifestado e exaltado.
3. Ele foi levado pelo Espírito ao deserto, pelo Espírito bom, que o conduziu como um campeão para o campo, para lutar contra o inimigo que Ele certamente iria derrotar. O fato de ser levado ao deserto:
(1) Deu alguma vantagem ao tentador; porque ali ele o teve sozinho, sem a companhia de amigos, por cujas orações e conselhos o Senhor Jesus poderia ser ajudado na hora da tentação. Ai daquele que está sozinho! Ele poderia dar vantagem a Satanás, pois conhecia a sua própria força; mas nós não podemos, pois conhecemos a nossa própria fraqueza.
(2) Ele ganhou alguma vantagem para si durante este jejum de quarenta dias no deserto. Podemos supor que o Senhor estava totalmente concentrado em sua própria consagração, e em consideração à sua tarefa, e à obra que Ele tinha diante de si; que Ele passou todo o seu tempo em uma conversa imediata e íntima com o seu Pai, como Moisés no monte, sem qualquer desvio, distração, ou interrupção. De todos os dias da vida de Cristo na carne, estes parecem ter se aproximado mais da perfeição da vida angelical e da vida celestial, e isto o preparou para os ataques de Satanás. Aqui o Senhor Jesus foi fortalecido contra eles. 4. Ele continuou jejuando (v. 2): E naqueles dias não comeu coisa alguma. Este jejum foi totalmente miraculoso, como o jejum de Moisés e de Elias, e o revela, como a eles, um profeta enviado por Deus. E provável que este episódio tenha ocorrido no deserto de Horebe, o mesmo deserto no qual Moisés e Elias jejuaram. Assim como ao se retirar para o deserto, Ele se mostrou perfeitamente indiferente ao mundo, por seu jejum Ele se mostrou perfeitamente indiferente ao corpo; e Satanás não pode dominar facilmente aqueles que se desprendem e morrem para o mundo e para a carne. Quanto mais mantivermos a nossa carne em sujeição, menos vantagens Satanás terá contra nós.
II Como o Senhor Jesus foi atacado por uma tentação atrás da outra, e como Ele derrotou o plano do tentador em cada ataque, e se tornou mais do que vencedor. Durante os quarenta dias, Ele foi tentado pelo diabo (v. 2), não por uma sugestão interior, porque o príncipe deste mundo não tinha nada em Cristo, e assim não tinha como injetar qualquer coisa nele, mas por solicitações exteriores, talvez com a aparência de uma serpente, como tentou os nossos primeiros pais. Mas no final de quarenta dias Satanás se aproximou mais, e fez o que estava ao seu alcance, ao perceber que o Senhor Jesus estava com fome, v. 2. Provavelmente, o nosso Senhor Jesus começou a olhar ao redor entre as árvores, para ver se poderia achar algo que fosse comestível, quando então o diabo aproveitou a ocasião para lhe fazer a sua proposta.
1. Ele o tentou a não confiar no cuidado de seu Pai em relação a Ele, e a agir por conta própria, e a ajudar-se a si mesmo provendo o sustento de uma maneira que o seu Pai não havia designado (v. 3): Se tu és o Filho de Deus, como a voz do céu declarou, dize a esta pedra que se transforme em pão. (1) “Eu te aconselho a fazer isto; porque Deus, se é teu Pai, se esqueceu de ti, e demorará muito antes que Ele envie corvos ou anjos para te alimentar”. Se começarmos a pensar em sermos os nossos próprios escultores, e vivermos pela nossa própria previsão, sem dependermos da providência divina, se quisermos obter riquezas pelo nosso poder e pela força das nossas mãos, podemos considerar isto como uma tentação de Satanás, e devemos consequentemente rejeitá-la; pensar em ser independente de Deus é um conselho de Satanás. (2) “Eu te desafio, se tu o podes; se não o fizeres, direi que não és o Filho de Deus; porque João Batista disse recentemente que Deus pode suscitar, das pedras, filhos a Abraão, que é o maior; portanto, tu não tens o poder do Filho de Deus, se não transformares as pedras em pão para ti mesmo, quando necessitares. E este é um milagre menor” . Assim, o próprio Deus foi tentado no deserto: Poderá Deus preparar uma mesa no deserto? Poderá dar pão? Salmos 78.19,20.
Agora: [1] Cristo não cedeu à tentação; Ele não transformaria aquelas pedras em pães; não, embora estivesse com fome; Em primeiro lugar, porque Ele não faria o que Satanás lhe ordenou que fizesse, pois isto seria como se tivesse havido um pacto entre o Senhor e o príncipe dos demônios. Note que não devemos fazer nada que se pareça com a atitude de dar lugar ao diabo. Os milagres foram operados para a confirmação da fé, e o diabo não tinha fé para ser confirmada; portanto o Senhor Jesus não faria isto por ele. Ele operou os seus sinais na presença dos seus discípulos (Jo 20.30), e particularmente o início de seus milagres, transformando água em vinho, o que Ele fez para que os seus discípulos pudessem crer nele (Jo 2.11); mas aqui no deserto o Senhor Jesus não tinha nenhum discípulo em sua companhia.
Em segundo lugar, Ele operou milagres para a ratificação de sua doutrina, e, portanto, até que começasse a pregar, Ele não começaria a operar milagres. Em terceiro lugar, Ele não operaria milagres para si mesmo e para o seu próprio sustento, para que não parecesse impaciente pela fome, porquanto o Senhor Jesus não veio para agradar a si mesmo, mas para sofrer a dor, e esta seria apenas uma dor entre outras. Ele também mostraria que não agradou a si mesmo, e iria, antes, transformar água em vinho para crédito e conveniência de seus amigos, e não pedras em pão para o seu próprio sustento, mesmo que isto parecesse necessário. Em quarto lugar, Ele reservaria a prova de ser o Filho de Deus para mais adiante, e preferia ser censurado por Satanás por se comportar como fraco, e incapaz de fazê-lo, do que ser persuadido por Satanás a fazer o que lhe convinha fazer.
Desse modo, o Senhor Jesus foi censurado por seus inimigos como se não pudesse salvar a si mesmo, e descer da cruz, quando Ele de fato poderia ter descido; mas não o faria, porque não convinha que o fizesse. Em quinto lugar, Ele não faria nada que parecesse falta de confiança em seu Pai, não agiria separadamente dele, e não faria qualquer coisa que estivesse em desacordo com a sua condição atual. Sendo, em todas as coisas, feito como os seus irmãos, o Senhor Jesus iria, como os outros filhos de Deus, viver na dependência da Providência e da promessa divina. Ele confiaria em Deus Pai, fosse para enviar a provisão necessária ao deserto, ou para levá-lo à cidade que deveria habitar onde haveria mantimento, como costumava fazer (SI 107.5-7). E assim, quando o Senhor Jesus tivesse terminado estes quarenta dias de jejum, o Pai iria supri-lo, embora Ele estivesse com fome naquele momento.
[2] 0 Senhor Jesus respondeu utilizando as Escrituras (v. 4): Está escrito. Esta é a primeira palavra registrada como sendo falada por Cristo depois da instalação de seu ofício profético; e é uma citação do Antigo Testamento, para mostrar que Ele veio para declarar e manter a autoridade das Escrituras como algo que não se pode controlar; Satanás não é capaz de controlá-la. E embora o Senhor Jesus tivesse o Espírito sem medida, e tivesse uma doutrina própria para pregar e uma religião para fundar, ela estava de acordo com Moisés e os profetas. O Senhor Jesus estabelece os escritos destes homens como uma regra para si mesmo, e nos recomenda que os tenhamos como uma resposta a Satanás e às suas tentações. A Palavra de Deus é a nossa espada, e a fé nesta preciosa Palavra é o nosso escudo; devemos, portanto, ser poderosos nas Escrituras, e seguirmos nesta força, avançarmos, e continuarmos na nossa batalha espiritual, conhecendo o que está escrito, porque ela é para o nosso aprendizado, para o nosso uso. O texto das Escrituras que o Senhor Jesus menciona é Deuteronômio 8.3. Em outras palavras: “O homem não viverá só de pão. Eu não preciso transformar as pedras em pão, porque Deus Pai pode enviar o maná para o meu sustento, assim como Ele fez por Israel; o homem pode viver de toda Palavra de Deus, e ser alimentado por aquilo que Ele determinar”. Como é que Cristo pode ter vivido confortavelmente durante estes últimos quarenta dias? Não pelo pão, mas pela Palavra de Deus, pela meditação sobre esta Palavra, e pela comunhão com ela, e com Deus nela e por ela; e de uma maneira que Ele ainda pudesse viver, embora agora Ele começasse a ter fome. Deus tem muitas maneiras de sustentar o seu povo, sem os meios comuns de subsistência.
Portanto, não se deve em nenhuma circunstância perder a confiança nele, mas em todo o tempo devemos depender dele, no caminho da obediência. Se faltar o alimento, Deus pode tirar o apetite, ou dar graus de paciência que permitam que um homem ria da assolação e da fome (Jó 5.22). O Senhor também pode tornar os legumes e a água mais nutritivos do que toda a porção do manjar do rei (Dn 1.12,13), permitindo que o seu povo se alegre nele, mesmo que a figueira não floresça, Habacuque3.17. Uma crente vigorosa disse que fez das promessas a sua refeição nas ocasiões em que sofreu a escassez de alimentos.
2. O diabo tentou Jesus a aceitar dele o reino, o qual, como o Filho de Deus, Ele esperava receber de seu Pai, e glorificá-lo, w. 5-7. Este evangelista coloca esta tentação em segundo lugar, a qual Mateus colocou por último, e que, parece, foi realmente a última; mas Lucas estava absorto por ela, como a mais maligna e a mais violenta, e, portanto, se apressou em citá-la. Na tentação do diabo aos nossos primeiros pais, ele lhes apresentou o fruto proibido, primeiro como bom para se comer, e então como agradável aos olhos; e eles foram dominados por estes dois encantamentos. Satanás aqui primeiro tentou a Cristo para transformar pedras em pão, que seria bom para se comer, e então lhe mostrou os reinos do mundo e a sua glória, que eram agradáveis aos olhos; mas em ambas estas coisas o Senhor Jesus venceu Satanás, e talvez tendo isto em vista, Lucas muda a ordem. Agora observe: (1) Como Satanás procurou conduzir esta tentação, para persuadir Cristo a se tornar tributário a ele, e receber o seu reino das mãos dele. [1] Satanás trouxe ao Senhor uma perspectiva de todos os reinos do mundo em um momento, uma representação visionária deles, como ele pensava ser mais provável de cativar, e parecer uma perspectiva real. Para obter melhor êxito, ele o levou para este propósito a um alto monte; e, devido ao fato de em seguida, depois da tentação, encontrarmos a Cristo do outro lado do Jordão, alguns acreditam que provavelmente o diabo o tenha levado ao topo do Pisga, de onde Moisés tem a visão de Canaã. O fato de que este foi apenas um espectro que o diabo, como príncipe do poder dos ares, aqui apresentou ao nosso Salvador, é confirmado pela circunstância que Lucas aqui faz notar, que tudo se passou em um momento; enquanto que, se um homem toma a perspectiva de apenas uma nação, ele deve fazê-lo sucessivamente, deve se virar, e observar primeiro uma parte e então a outra. Assim o diabo pensou em impor sobre o nosso Salvador uma falácia - a deceptio visus; ao procurar fazê-lo crer que poderia lhe mostrar todos os reinos do mundo, Satanás o levaria a uma opinião de que ele poderia lhe dar todos estes reinos.
[2] Ele ousadamente alegou que todos estes reinos lhe foram entregues, que ele tinha poder para dispor deles e de toda a glória deles, e dá-los a quem quisesse, v. 6. Alguns acreditam que aqui ele se fez passar por um anjo de luz, e que, como um dos anjos que foi colocado sobre os reinos, ele tinha comprado, ou conquistado, todos os demais, e, portanto, lhe foi confiada a disposição de todos eles, e, em nome de Deus, Satanás os daria ao Senhor Jesus, sabendo que eles foram criados para Ele; mas o impedimento era esta condição, que ele deveria se prostrar e adorá-lo, o que um anjo bom jamais teria exigido nem admitido, e o Senhor jamais o faria, nem sequer por coisas muito maiores do que estas, Apocalipse 19.10; 22.9. Mas eu prefiro acreditar que Satanás reivindicou este poder por ser o próprio demônio, e que este poder lhe foi entregue não pelo Senhor, mas pelos reis e pelo povo destes reinos, que deram o seu poder e honra ao diabo, Efésios 2.2. Por isso ele é chamado de deus deste mundo, e príncipe deste mundo. Foi prometido ao Filho de Deus que ele deveria ter as nações por sua herança, Salmos 2.8. “Por que”, diz o diabo, “as nações são minhas, são meus súditos e devotos; no entanto, serão tuas, eu as darei a ti, sob a condição de me adores por elas, e digas que elas são as recompensas que dei a ti, como outros fizeram antes de ti (Os 2.12), e consintas em tê-las sob o meu domínio.”
[3] Satanás exigiu dele honra e adoração: Portanto, se tu me adorares, tudo será teu, v. 7. Em primeiro lugar, Satanás deseja que o Senhor o adore. Talvez ele não queira dizer nunca mais adorar a Deus Pai, mas adorá-lo junto com a adoração oferecida a Deus Pai; porque o diabo sabe, que se ele conseguir apenas uma vez se fazer sócio, logo será o único proprietário. Em segundo lugar, Satanás faria um contrato com o Senhor Jesus, de que quando, de acordo com esta promessa, Ele tomasse posse dos reinos deste mundo, não faria nenhuma alteração nas religiões do mundo, mas toleraria as nações como havia feito até aquele momento, permitindo que sacrificassem aos demônios (1 Co 10.20). Por esta proposta, o Senhor Jesus deveria ainda manter o culto aos demônios no mundo, e então deixá-lo tomar todo o poder e a glória dos reinos se lhe agradasse. Que a riqueza e a grandeza desta terra fiquem para quem quiser; porém, quanto a Satanás, este nada terá se não tiver o coração dos homens, bem como os seus sentimentos e a sua adoração. O diabo só pode operar nos filhos da desobediência, e é assim que ele eficazmente os devora.
(2) Como o nosso Senhor Jesus triunfou sobre esta tentação. Ele deu à tentação uma repulsa terminante, e a rejeitou com veemência (v. 8): “Vai-te, Satanás, não suporto a menção disto. O que? Adorar o inimigo do Deus a quem eu vim servir? e do homem a quem eu vim salvar? Não, Nunca farei isto.” Uma tentação como esta não era para ser analisada, mas recusada imediatamente; o assunto foi liquidado com uma única palavra, Está escrito: Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a Ele servirás; e não somente isto, mas somente a Ele adorarás; a Ele e a nenhum outro. Portanto, Cristo não adorará a Satanás, e quando tiver os reinos do mundo entregues a si por seu Pai, como espera em breve receber, amais permitirá que qualquer adoração ao diabo continue neles. Onde quer que chegue o seu Evangelho, tudo o que for maligno será perfeitamente arrancado e abolido. Cristo não fará nenhum acordo com o diabo. O politeísmo e a idolatria deverão sucumbir, quando se levantar o reino de Cristo. Os homens devem se converter do poder de Satanás para Deus, do culto aos demônios para o culto ao único Deus vivo e verdadeiro. Esta é a grande lei divina que Deus restabelecerá entre os homens, e por sua santa religião reduzirá o homem à obediência: só Deus deve ser adorado e servido; portanto, qualquer que toma qualquer criatura como objeto de culto religioso - mesmo que seja um santo ou um anjo, ou a própria virgem Maria - frustra diretamente o desígnio de Cristo, e cai no paganismo.
3. O diabo o tentou a ser o seu próprio assassino, em uma presunçosa confiança da proteção de seu Pai, da qual Ele não tinha nenhuma garantia. Observe: (1) O que o diabo pretendia com esta tentação: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, v. 9. [1] Ele queria que Cristo buscasse uma nova prova de que era o Filho de Deus, como se a prova que o seu Pai havia lhe dado, pela voz do céu, e a descida do Espírito sobre Ele não fossem suficientes. Isto seria uma desonra para Deus, como se Ele não tivesse escolhido o meio mais adequado de lhe dar esta garantia; e teria sido uma falta de confiança de que o Espírito habitava nele, o que era a maior prova e a prova mais convincente de que o Senhor Jesus era o Filho de Deus, Hebreus 1.8,9. [2] Ele queria que Cristo buscasse um novo método de proclamar e anunciar isto ao mundo. O diabo, na verdade, sugere que o Senhor Jesus foi confirmado como sendo o Filho de Deus em uma região afastada, na companhia de pessoas comuns, que compareceram ao batismo de João, e que estas honras foram proclamadas nestas condições desfavoráveis; mas se Ele agora declarasse no pináculo do templo, em meio a todas as pessoas importantes que compareciam ao serviço no templo, que Ele era o Filho de Deus, e então, para prová-lo, se lançasse de lá de cima e saísse ileso, com certeza seria recebido por todos como um mensageiro enviado do céu. Assim Satanás teria feito com que o Senhor Jesus buscasse honras conforme um plano diabólico (desprezando tudo o que Deus havia feito a respeito dele), e assim se manifestasse no templo de Jerusalém. Porém Deus Pai planejou que o Senhor Jesus se manifestasse mais entre os penitentes de João, por quem a sua doutrina seria mais bem recebida do que pelos sacerdotes. [3] E provável que o diabo tivesse alguma esperança de que, embora não pudesse lançá-lo abaixo, causando-lhe algum dano, pudesse convencê-lo a se lançar abaixo, e a queda poderia ser a sua morte; então o diabo o teria finalmente fora do caminho. (2) Como o diabo apoiou e reforçou esta tentação. Ele fez a sua sugestão dizendo, “Está escrito”, v. 10. Cristo havia citado as Escrituras contra ele; e ele achou que estaria em pé de igualdade com Cristo, e mostraria que podia citar as Escrituras tanto quanto o Senhor. Os hereges e sedutores têm procurado perverter as Escrituras, utilizando textos isolados e fora de contexto, para cometer as piores iniquidades. Mandará aos seus anjos, acerca de ti, se tu fores seu Filho, que te guardem e que te sustentem nas mãos. E agora que Jesus estava no pináculo do templo, poderia esperar especialmente esta ministração de anjos; porque, sendo o Filho de Deus, o templo era o lugar adequado onde Ele deveria estar (cap. 2.46). E, além disto, se algum lugar debaixo do sol tivesse uma guarda de anjos constantemente, deveria ser este lugar, Salmos 68.17. E verdade, Deus prometeu a proteção de anjos para nos encorajar a confiar nele, não para tentá-lo; a promessa da presença de Deus está conosco, e junto com ela está também a promessa da ministração dos anjos; mas esta promessa referente aos anjos não vai além da promessa da presença do Senhor: Eles te guardarão quando estiveres andando pelo caminho, onde estivei’ o teu caminho, mas não se presumires voar nos ares. (3) Como o diabo foi frustrado e derrotado na tentação, v. 12. Cristo citou Dt 6.16, onde é dito, Não tentareis o Senhor, vosso Deus, desejando um sinal para a prova da revelação divina, quando ele já entregou o que é suficiente; porque assim fez Israel, quando tentaram a Deus no deserto, dizendo, Ele nos deu água tirando-a da pedra, mas será que também é capaz de nos dar carne? Disto Cristo seria culpado se dissesse: Deus Pai certamente provou que sou o seu Filho, enviando o Espírito sobre mim, a maior bênção. Mas, será que Ele também poderia me dar uma bênção menor do que esta, dando ordem aos seus anjos a meu respeito? Qual foi o resultado e o desfecho deste combate, v. 13. O nosso Redentor vitorioso manteve o seu fundamento, e saiu vencedor, não só por si mesmo, mas também por nós.
1. O diabo esvaziou a sua aljava, e assim acabou toda a tentação. Cristo lhe deu a oportunidade de dizer e fazer tudo o que podia contra si; ele permitiu que o diabo tentasse toda a sua força, e mesmo assim o derrotou.
Cristo sofreu, sendo tentado, até que toda a tentação terminou? E não devemos esperar passar por todas as nossas aflições, atravessando a hora da tentação que nos está reservada?
2. O diabo então deixou o campo de batalha: Ausentou-se dele. O diabo viu que era inútil atacar o Senhor Jesus; ele não tinha nada nele para que os seus dardos inflamados o atingissem; o Senhor não tinha nenhum ponto cego, nenhuma parte fraca ou desprotegida em seu muro; por esta razão, Satanás desistiu do caso.
Observe que se resistirmos ao diabo, ele fugirá de nós.
3. No entanto, o diabo prosseguiu em sua maldade contra o Senhor, e partiu decidido a atacá-lo novamente; ele ausentou-se, mas por algum tempo, achri kairou – até uma outra hora, ou até o dia em que deveria outra vez ser solto contra Ele, não como um tentador, para fazê-lo pecai'. O diabo tentaria golpear a cabeça do Senhor, mas seria totalmente derrotado; mas como um perseguidor, o diabo procuraria fazer com que o Senhor sofresse através das atitudes de Judas e de outros instrumentos perversos a quem ele empregou. O diabo feriria o calcanhar do Senhor, conforme lhe foi dito (Gn 3.15) que deveria fazer, e que faria, mas a própria cabeça do diabo seria esmagada.
Ele se ausenta agora até que chegue aquele dia que Cristo chama de poder das trevas (cap. 22.53), quando o príncipe deste mundo viria outra vez, João 14.30.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 545-549.
3. Felicidade pela tentação (v. 12).
Rm 5.3-5 Enquanto aqueles que faziam parte da igreja coríntia tinham falhado em fazer alguma coisa sobre o pecado deste homem, o próprio Paulo lhes diria o que deveria ser feito. Paulo tinha avaliado o problema e havia jugado. Como um apóstolo e pai espiritual desta igreja (4.15), Paulo tinha a autoridade para lidar com o assunto, e ele compreendia o perigo que haveria para a igreja se o pecado permanecesse impune. Paulo disse à igreja, em termos bastante claros, que deveria ser convocada uma reunião de toda a congregação, para que testemunhassem e apoiassem a ação. Quando eles se reunissem, ele estaria presente no espírito, porque tinha a autoridade como um apóstolo, e o poder do Senhor Jesus também estaria com eles quando se reunissem. Toda a situação estava sob o poder soberano que o Senhor Jesus tem para lidar com o espírito do homem e trazê-lo ao arrependimento. Paulo explicou a disciplina que deveria ser executada: expulsar o homem da igreja e entregá-lo nas mãos de Satanás. Isto significaria excluí-lo da comunhão dos crentes (veja 1 Tm 1.20). Sem o apoio espiritual dos cristãos, este homem seria deixado sozinho com seu pecado e Satanás, e esperava-se que este vazio o levasse ao arrependimento. A igreja não poderia entregá-lo a Satanás em um sentido completamente destrutivo, porque somente Deus pode entregar uma pessoa para o juízo eterno. O que se pretendia era obrigá-lo a enxergar as consequências do pecado, através de sua vivência na esfera de influência de Satanás - o mundo separado de Cristo e da igreja. “Para destruição da came” significava que a exclusão da comunhão ajudaria o homem a encarar a sua natureza (carne) pecadora e egoísta, a se arrepender, e a voltar para a igreja. Paulo queria que este pecador experimentasse a crucificação de sua natureza pecadora (Rm 7.5,6; Gl 5.24). Tais medidas drásticas podem ser necessárias para lidar com a natureza pecaminosa, mas para o homem era muito mais importante encarar isto e arrepender-se, a fim de, no final, ser salvo. Paulo esperava que esta severa ação disciplinar pudesse trazer um benefício eterno para o homem. Hoje, as igrejas precisam de determinação espiritual para lidar com pecados como estes, que afetam a igreja como um todo. Mas a excomunhão como uma forma de disciplina deve ser usada raramente e cuidadosamente.
Esta deve ser uma ação do corpo da igreja, e não apenas de uma ou duas pessoas. O seu propósito deve ser remissivo e restaurador, e não vingativo ou justificativo.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 126-127.
A alegria no sofrimento (5.3-5a)
A justificação não apenas nos prepara para o céu, mas também nos equipa para vivermos vitoriosamente aqui na terra. Paulo não está tratando de algo apenas para o porvir, mas de algo que nos capacita a viver vitoriosamente em meio às tensões da vida. Nas palavras de John Stott, há paz, graça e glória, sim! Porém, há também sofrimento Aquele que foi justificado demonstra gloriosa alegria não apenas na esperança da glória, mas também no sofrimento. A força do verbo grego kaucometha indica que nos alegramos com grande e intenso júbilo. Tanto as tribulações presentes como a glória vindoura são objetos de júbilo do cristão. Em outras palavras, regozijamo-nos não somente no alvo, a glória, como também nos meios que conduzem a ela, isto é, nos sofrimentos. Nestas duas coisas encontramos alegria. Nessa pedagogia divina, quatro estágios devem ser observados.
Em primeiro lugar, nós nos gloriamos nas próprias tribulações (5.3). Não somos masoquistas, como aqueles a quem agrada a dor; tampouco estoicos impassíveis e sofridos. Não nos gloriamos no sofrimento ou por causa do sofrimento, mas por seus frutos, por seus resultados. Nossa esperança da glória não pode ser obumbrada ante as angústias e provações que agora nos cercam. O cristão não olha para a vida com uma visão romântica, pessimista ou irreal. Não nega a existência da dor e do sofrimento. Não murmura nem se insurge contra Deus por causa do sofrimento. Sabe que o sofrimento é proposital e pedagógico. As tribulações devem ser vistas à luz de suas consequências eternas (IPe 4.12,13).
O cristão não crê em acaso, coincidência, sorte, azar ou determinismo. Não tem medo de sexta-feira 13 nem de passar debaixo de escada. Sabe que nem um fio de cabelo da sua cabeça pode ser tocado sem que Deus saiba, permita e tenha um propósito. Concordo com Geoffrey Wilson quando ele diz que “não existe atalho para a glória; a cruz sempre precede a coroa (Fp 1.29,30).
Este gloriar-se na tribulação é um fruto da fé. Não é o efeito natural da tribulação, que, como vemos, leva grande parte da humanidade a murmurar contra Deus, e até mesmo a amaldiçoá-lo. E apenas o conhecimento de que essas tribulações são conformes a determinação de seu Pai celeste, que capacita o cristão a regozijar-se nelas, pois em si mesmas elas são más, aflitivas, e não causa de júbilo (Hb 12.6; Ap3.19).
A palavra “tribulação”, no grego thlipsis, significa “pressão”. John Stott diz que essa palavra se refere especificamente a oposição e perseguição por parte de um mundo hostil. No sentido preciso, não se trata aqui de enfermidade, dor, tristeza ou aflição, mas da pressão de um mundo posto no maligno. A vida cristã é o enfrentamento de muitas pressões: do diabo, do mundo, de nossas fraquezas. Jesus deixou claro que no mundo teremos aflições (Jo 16.33) e o apóstolo Paulo diz: “[...] através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (At 14.22).
A palavra “tribulação” vem do latim tribulum, o lugar onde se descascava o trigo, separando o grão da palha. O tribulum. era um pedaço pesado de madeira com cravos de metal usado para debulhar cereais. Ao ser arrastado sobre os cereais, o tribulum separava o grão da palha. Quando passamos por tribulações e dependemos da graça de Deus, as dificuldades nos purificam e nos ajudam a eliminar a palha. As tribulações na vida do salvo não vêm para destruí-lo, mas para purificá-lo. Elas não agem contra ele, mas a seu favor. As tribulações não operam por si mesmas, à revelia, na vida dos salvos, mas são trabalhadas pelo próprio Deus, para o nosso bem. Por meio das tribulações, Deus esculpe em nós a beleza de Cristo.
Em segundo lugar, sabemos que a tribulação produz perseverança (5.3). A tribulação é pedagógica. Ela gera paciência triunfadora. Não poderíamos exercer a paciência sem o sofrimento, porque sem este não haveria necessidade de paciência. A paciência nasce do sofrimento. A palavra grega hupomone significa “paciência triunfadora”. Trata-se de uma paciência vitoriosa, que não se entrega nem é passiva, mas triunfa alegremente diante das intempéries da vida. Hupomone é paciência diante das circunstâncias adversas. E o espírito que enfrenta as coisas e as supera. Não é o espírito que resiste passivamente, mas o que vence e conquista ativamente as provas e tribulações da vida. Isso significa saber que Deus está no controle, forjando em nós o caráter de Cristo no cadinho das provas.
As grandes lições da vida, nós as aprendemos no vale da dor. O sofrimento é não apenas o caminho da glória, mas também o caminho da maturidade. O rei Davi afirmou: “Foi-me bom ter passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos” (SI 119.71). O patriarca Jó disse que antes do sofrimento conhecia a Deus só de ouvir falar, mas por meio do sofrimento seus olhos puderam contemplar o Senhor (Jó 42.5).
Em terceiro lugar, sabemos que perseverança produz experiência (5.4). A palavra grega dokime, traduzida por “experiência”, significa literalmente algo provado e aprovado. Essa palavra era usada para descrever o metal submetido ao fogo do cadinho com o propósito de remover-lhe as impurezas e torná-lo um metal provado, legítimo e puro. William Hendriksen diz que, assim como o fogo purificador do ourives livra o ouro e a prata das impurezas que no estado natural a ele aderem, também a paciente resignação ou perseverança dos filhos de Deus os purifica.
A palavra dokime, portanto, significa caráter provado e aprovado como resultado de um teste de julgamento. Um bom exemplo disso é a experiência vivida por Davi.
Ele não quis a armadura de Saul porque nunca a havia provado, não a havia submetido à prova. O que Paulo nos está ensinando é que não devemos ter uma fé de segunda mão. Devemos conhecer a Deus não apenas de ouvir falar. Devemos conhecê-lo pessoalmente, profundamente, experimentalmente.
Em quarto lugar, sabemos que a experiência produz esperança (5.5a). Esta não é uma esperança vaga nem vazia. E uma esperança segura, que não nos decepciona nem nos deixa envergonhados. Mas como saber que essa esperança não é uma fantasia nem uma ficção? A resposta de Paulo é meridianamente clara: porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi outorgado. O apóstolo Paulo diz que o fundamento sólido sobre o qual descansa nossa esperança de glória é o amor de Deus. Há uma efusão do amor de Deus em nosso coração. Nesse momento o céu desce à terra e somos inundados pelas profusas torrentes do amor divino. A justificação não é apenas um ato jurídico de Deus feito no céu; tem também reflexos concretos e reais na terra. O resultado da justificação é uma bendita experiência de transbordamento do amor de Deus em nosso coração.
LOPES. Hernandes Dias. ROMANOS O Evangelho segundo Paulo. Editora Hagnos. pag. 207-211.
Rm 3-5a Apesar da frase: “O justo viverá”, vale também a verdade: “Muitas são as aflições do justo” (Sl 34.19). E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações. O justo sempre será como um estilhaço na carne para um mundo de injustiças (Rm 1.18). É inconcebível que ele permaneça livre de contrariedades, ameaças e medo. “Filho, se te dedicares a servir ao Senhor, prepara-te para a prova” (Eclesiástico 2.1 [BJ]). Pressão de todos os lados tenta esmagar novamente sua fé. As “tribulações” devem ser entendidas aqui como uma síntese. Elas vêm de fora como de dentro, física, espiritual e intelectualmente, do exterior como do interior da igreja. Tanto mais admirável é que essa plêiade de males não apenas é incapaz de obscurecer o gloriar-se e a esperança daquele que crê, mas que até pode intensificá-los. Pois não se gloria, apesar de sofrer, mas precisamente porque sofre: sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Conjugadas com a fé (v. 1,2), as tribulações produzem uma corrente de reações positivas. Assim como é possível usar uma escada rolante descendente para subir por ela correndo, assim é possível superar em direção oposta aquilo que deprime (Rm 8.28). Subitamente descobrimos o sofrimento para Cristo como sendo um sofrimento com Cristo, como um presente da mais íntima comunhão com ele e como marca registrada da autenticidade de nosso seguimento. Isto transmite uma firmeza antes desconhecida. Provações superadas, porém, resultam em experiência, a qual por sua vez ativa a esperança pela glória de Deus. Apoiando-se em palavras de salmos como Sl 22.5; 25.3,20.
Adolf Pohl. Comentário Esperança Romanos. Editora Evangélica Esperança.
I Ped 4.12,13 Os cristãos não deveriam estranhar as violentas provações que vinham sobre eles. Como Cristo, os cristãos devem esperar enfrentar perseguições. Isto não seria coisa estranha – a perseguição vinha seguindo o Evangelho desde a época da crucificação de Jesus. Os crentes deviam esperar a perseguição e o sofrimento porque estas coisas fazem parte do plano de Deus para aperfeiçoar os cristãos. Nem mesmo o Senhor Jesus Cristo foi poupado da perseguição (Rm 8.32). Em lugar de ficarem surpresos pelas provações, Pedro exortou os crentes a se alegrarem, porque, quando sofriam pela sua fé em Cristo, estavam sendo participantes das aflições de Cristo. Se nós sofremos, este fato mostra a nossa identificação com Cristo e que a nossa fé é genuína. Como Cristo foi perseguido, nós também seremos perseguidos e, consequentemente, participaremos dos seus sofrimentos. Se nós perseverarmos, desfrutaremos a nossa herança futura com Ele. Os servos que conhecem o sofrimento de Cristo terão alegria na revelação da sua glória. Isto não significa que todo sofrimento é resultado de uma boa conduta cristã. Algumas vezes, alguém irá se queixar: “Ele está me atormentando porque eu sou um cristão”, quando é óbvio, para todo mundo, que o próprio comportamento desagradável da pessoa é a causa dos seus problemas. Pode ser necessária uma análise cuidadosa ou um sábio aconselhamento para determinar a verdadeira causa do nosso sofrimento. No entanto, podemos ter a certeza de que, sempre que sofrermos devido à nossa lealdade a Cristo, Ele estará conosco o tempo todo.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 730.
I Ped 4.12 Amados, não estranheis o fogo ardente entre vós, que vos sobrevém para provação, como se algo estranho vos acontecesse. Quanto à expressão amados, cf. o comentário a 1Pe 2.11. Antes de posicionar-se novamente a respeito do sofrimento, Pedro enfatiza mais uma vez sua ligação especial no amor de Jesus Cristo. Não estranheis (ou: estejais surpresos ou admirados) expressa o mesmo que: não vos deixeis irritar, não vos deixeis abalar, não vos sintais decepcionados. Se encarassem o sofrimento como algo estranho, poderiam surpreender-se, poderiam pensar que algo não estaria certo com as promessas de Deus ou com a filiação divina deles. Poderiam temer que algo alheio, como o maligno, fosse mais forte que a proteção de Deus. No entanto, sofrimentos de forma alguma são algo estranho para seguidores do Crucificado, e sim algo normal. São parte inerente do discipulado. Aqui o sofrimento é chamado de fogo ardente. Cf. 1Pe 1.7: assim como o ardor do fogo depura o ouro, assim o sofrimento purifica a fé. Ao denominar “sofrimento” como ardor do fogo, Pedro lhe dá uma interpretação, ligando a ela a frase relativa subsequente: que vos sobrevém para provação (cf. o exposto sobre 1Pe 1.7). Quem sabe disso não fugirá do sofrimento, mas concordará com ele. Desse modo é presenteado com a atitude que o ajuda a suportar o sofrimento! Não obstante, algo muito maior será propiciado aos cristãos.
I Ped 4.13 Pelo contrário, na medida em que participais dos sofrimentos do Cristo, alegrai-vos, para que também vos alegreis jubilando na revelação de sua glória. A frase grega contém duas asserções, para as quais precisamos de duas frases na tradução. A idéia é: na medida em que (ou: assim como) participais nos padecimentos do Cristo, participareis e vos alegrareis com júbilo na revelação da sua glória. E: por isso concordai com o sofrimento, e até alegrai-vos com ele na mesma proporção em que sofreis. É algo grandioso poder convocar pessoas sofredoras à alegria com tanta autoridade. Que força está por trás disso! É a força da expectativa cristã primitiva (cf. 1Pe 1.3), da esperança viva pela manifestação da glória do Messias. Pedro experimentou pessoalmente que o Senhor Jesus é capaz de encher os corações dos seus em meio à aflição e tortura com vitoriosa alegria. Diz-se dele e de João: “E eles se retiraram do Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome. (de Jesus)” (At 5.41). Aqui se afirma: participais em (ou: estais em comunhão com) os sofrimentos do Cristo. O que ele, como Cordeiro de Deus, suportou vicariamente por nós sem dúvida aconteceu de uma vez por todas (1Pe 3.18; Hb 9.27): a vitória do Calvário está consumada (Jo 19.30). O padecimento expiatório da culpa da humanidade jamais se repetirá. Apesar disso continua havendo sofrimentos do Cristo, porque o Senhor exaltado sofre com sua igreja. E sua igreja sofre porque se apega a ele, testemunhando o nome dele neste mundo. O sofrimento na verdade a atinge, porém aponta para Cristo. Ele se ligou indissoluvelmente à sua igreja: afinal, é o cabeça dela (Ef 1.22; 4.15; 5.23; Cl 1.18) e ela é seu corpo (1Co 12.27; Ef 1.23; 4.12,16). Ele identifica-se tanto com sua igreja que é capaz de dizer a Saulo, perseguidor da igreja: “Por que me persegues (At 9.4)? Em Cl 1.24 Paulo escreve: “Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja;” O Comentário Esperança diz o seguinte acerca desta passagem: “Até então (até a parusia), porém, ainda durarão as „dores de parto do Messias‟, que agora atingem seu corpo, a igreja. Por isso o „tem de‟ da obrigatoriedade divina do sofrimento também paira sobre a trajetória da igreja rumo ao reino vindouro (At 14.22)” [p. 308]. De forma muito clara testemunha-se de antemão que ao confessar Jesus a igreja terá de passar por sofrimentos (Mt 10.22; Mc 13.9; 1Ts 3.3s; 2Tm 3.12; Ap 1.9; 2.9s; 7.14). Porém a participação nos sofrimentos do Messias a insere simultaneamente na participação na consumação: para que também vos alegreis jubilando na revelação de sua glória (cf. também Rm 8.17). Essa glória, que ele já possui agora, na realidade ainda está oculta, e a igreja ainda aguarda sua revelação; então, porém, se alegrará com júbilo. É rumo a esse evento que ela vive e sofre. Unicamente a escatologia bíblica não-deturpada, a expectativa da glória vindoura de Jesus conferem aos cristãos força, e até mesmo alegria no sofrimento! Alegrar-se antecipadamente por isso constitui sua força!
Uwe Holmer. Comentário Esperança Cartas aos I Pedro. Editora Evangélica Esperança.
I Pd4.12-16. Participando dos Sofrimentos de Cristo,
Novamente Pedro retorna a um tema dominante: o sofrimento dos cristãos. Como seguidores de Cristo, eles esperam compartilhar da sua glória; conseqüentemente, eles também deveriam esperar compartilhar dos seus sofrimentos. Eles não deveriam “estranhar” ou surpreender-se com a ardente prova (12). Esse não é um acontecimento fortuito. Também não é Satanás simplesmente tentando persuadi-los de que se eles possuem um relacionamento especial com Deus (cf. 1.2-4; 2.9-10), esses sofrimentos não iriam ocorrer. Sua “provação pelo fogo” tem um propósito divino, embora no momento eles tenham dificuldade em entendê-lo. Pedro tinha se referido anteriormente ao teste de fogo da sua fé que redundava em glória (cf. 1.7). Como participantes das aflições de Cristo (13), eles devem regozijar-se, não pelo fato do seu sofrimento, mas porque o experimentam como representantes de Cristo. O sofrimento imediato veio porque os cristãos chamaram Jesus de Filho de Deus e o adoravam como o Soberano supremo em vez de adorar o imperador. O grau do seu regozijo deveria ser aumentado pela intensidade das perseguições que suportavam. A alegria que eles agora experimentam apesar dos seus sofrimentos dará lugar a uma grande alegria, na revelação da sua glória, i.e., quando verão a Cristo e o seu reino será supremo. Nesse tempo esses sofredores deverão saltar de alegria, em exultação triunfante.
Pedro estava preocupado com os insultos e as perseguições que eles experimentavam pelo nome de Cristo (14) e por causa de uma vida coerente com seus ensinamentos. Repreensão e glória são colocadas em contraste. O tratamento desdenhoso inflige sofrimento maior na alma mais sensível do que o abuso físico ou a destruição de sua propriedade. Por isso temos aqui a alusão à promessa de Cristo de bênçãos por sofrer por sua causa (cf. Mt 5.11). O Espírito da glória de Deus dá coragem para enfrentar o sofrimento sem retroceder.85 O Espírito de Deus garante aos cristãos sofredores que eles participarão da glória aperfeiçoada na vinda de Cristo. O significado dos versículos 15-16 é a seguinte: Que ninguém desonre a Cristo sofrendo um castigo justo por crimes contra os homens; ninguém é abençoado se está sofrendo em decorrência das suas próprias faltas. Em vez disso, que o homem se glorie por causa do castigo infligido por ser cristão.86
A advertência de sofrer como homicida [...] ladrão [...] malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios (15) não deveria nos chocar se lembramos do estado geral da sociedade daquela época. A vida de alguns desses crentes pode ter sido tão má como as pessoas de Corinto que Paulo descreveu (cf. 1 Co 6.9-11). Havia exemplos em que criminosos, para ocultar sua natureza e a verdadeira causa do seu castigo, professavam ser cristãos, e davam a impressão que estavam sendo castigados por serem cristãos.
Aquele que se entremete em negócios alheios é a pessoa que “se desvia do seu chamado e se torna juiz dos outros” (Wesley). Os inimigos acusavam os cristãos de serem hostis à sociedade civilizada, sendo acusados de tentar forçar os não cristãos a agir de acordo com os padrões cristãos. Isso criaria um tumulto civil que poderia resultar em violência do povo (cf. At 19.21-41).
Aquele que se padece como cristão, não se envergonhe; antes, glorifique a Deus (16). A essa altura, o termo cristão tinha se tornado o nome pelo qual os pagãos sarcasticamente descreviam os seguidores de Cristo (cf. At 11.26; 26.28). Os judeus que rejeitaram Jesus como o Cristo não chamavam seus seguidores de cristãos. Renan, citado em Ellicott, disse: “Pessoas bem educadas evitavam pronunciar esse nome, ou, quando forçadas a fazê-lo, pediam desculpas”.87 Evidentemente, os próprios cristãos ainda não usavam esse nome, mas o consideravam como um símbolo da mais alta honra quando seus inimigos os chamavam assim. O que Pedro exortou que fizessem (v. 16) ele mesmo havia praticado (cf. At 5.29-42, especialmente o v. 41).
Roy S. Nicholson. Comentário Bíblico Beacon. I Pedro Editora CPAD. Vol. 10. pag. 240-241.
II – ORIGEM DAS TENTAÇÕES (Tg 1. 13-15)
1. Tentação é Humana.
Tg 1.13 Precisamos ter uma visão correta de Deus para podermos perseverar durante os períodos de provações. Especificamente, precisamos compreender a visão que Deus tem das nossas tentações. As provações e tentações sempre se apresentam a nós com escolhas. Deus quer que façamos boas escolhas, não más. As dificuldades podem produzir maturidade espiritual e levar a benefícios eternos, se suportadas com fé. Mas também se pode fracassar nos testes. Nós podemos ceder às tentações. E, quando fracassamos, frequentemente usamos todos os tipos de desculpas e razões para os nossos atos. O mais perigoso deles é dizer: “De Deus sou tentado”. É crucial que nos lembremos de que Deus testa as pessoas para o bem; Ele não tenta as pessoas para o mal. Mesmo durante as tentações, podemos ver a soberania de Deus ao permitir que Satanás nos tente para melhorar a nossa fé e nos ajudar a crescer na nossa confiança em Cristo. Em lugar de perseverarmos (1. 12), nós podemos ceder ou desistir diante das provações e, desta forma, culpar a Deus pelo nosso fracasso. Desde o início, a reação humana normal é inventar desculpas e culpar os outros pelo pecado (veja Gn 3.12,13).
Uma pessoa que inventa desculpas está tentando transferir a culpa para outra coisa ou pessoa. Um cristão, por outro lado, aceita a responsabilidade pelos seus erros, confessa-os, e pede perdão a Deus. Por Deus não poder ser tentado pelo mal. Ele não pode ser o autor da tentação. Tiago está argumentando contra a visão pagã dos deuses, na qual o bem e o mal coexistiam. Deus não deseja o mal para o povo; Ele não causa o mal; Ele não tenta enganar as pessoas - Ele a ninguém tenta. A esta altura, uma pergunta pode ser feita acertadamente: “Se Deus realmente nos ama, por que Ele não nos protege da tentação?” Um Deus que nos protege da tentação é um Deus que não está disposto a nos permitir crescer. Para que um teste seja uma ferramenta eficiente de crescimento, ele deve poder permitir o fracasso. Na verdade.
Deus prova o seu amor, protegendo-nos na tentação, em vez de nos proteger da tentação (1 Co 10.13).
Tg 1.15 Tiago mostra o resultado da tentação quando uma pessoa cede a ela. Observe que os dois primeiros passos da tentação (havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado) enfatizam a natureza interna do pecado. Quando nos entregamos à tentação, o nosso pecado coloca os eventos mortalmente em movimento - o pecado gera a morte. Para abandonar o pecado, não basta deixar de pecar. O estrago já foi feito. Decidir “não mais pecar' pode cuidar do futuro, mas não cura o passado. Esta cura deve vir por meio do arrependimento e do perdão. Algumas vezes, é necessário fazer uma reparação. Por mais amargo que pareça o remédio, nós podemos ficar profundamente gratos pelo fato de que existe um remédio.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 666-667.
Como lidar de forma sábia com as tentações (Tg 1.13-15)
Uma pessoa madura é paciente nas provas. Uma pessoa imatura transforma provas em tentações. Warren Wiersbe diz que provas são testes enviados por Deus, e tentações são armadilhas enviadas por Satanás. Quando Deus nos prova é para que possamos passar no teste e herdar as bênçãos. Quando passamos por dificuldades somos tentados a questionar o amor e o poder de Deus. Então, Satanás oferece um caminho para escaparmos das provas. Essa oportunidade é uma tentação. Quando Jesus estava jejuando e orando no deserto, Satanás o tentou, sugerindo a ele que transformasse pedras em pães.
Há três fatos que devemos considerar se queremos vencer as tentações. Em primeiro lugar, olhe para frente e considere o julgamento de Deus (1.13-16). Não culpe a Deus pela tentação, Ele é absolutamente santo para ser tentado e Ele é absolutamente amoroso para tentar.'^ Deus nos prova como provou a Abraão, mas Ele não nos tenta. A prova é para santificar-nos. A tentação é para derrubar-nos. Uma tentação é uma oportunidade de fazer uma coisa boa de maneira errada, como por exemplo: passar em uma prova é coisa boa, mas colar na prova para passar é uma coisa errada; o prazer sexual é uma coisa boa, mas o sexo fora do casamento é uma coisa errada. A provação visa a nosso fortalecimento; a tentação, a nossa queda. Tiago vê o pecado não apenas como um ato, mas como um processo em quatro estágios: o primeiro estágio é o desejo ou cobiça (1.14). A palavra que Tiago usou para “desejo”, epithymia, não necessariamente tem um sentido de desejo mau e impuro.^® Podemos transformar um desejo legítimo em um desejo pecaminoso. A cobiça é a tentativa de satisfazer um desejo fora da vontade de Deus. Comer é normal, glutonaria é pecado. Dormir é normal, preguiça é pecado. Sexo no casamento é normal, sexo fora do casamento é pecado. Os desejos devem estar sob controle, e não no controle. Devemos controlar os desejos, não estes a nós.
O segundo estágio é o engano (1.14). Tiago usa duas figuras para ilustrar o engano da tentação: a figura do caçador que usa uma armadilha (atrai) e a figura do pescador que usa o anzol com isca (seduz). Se Ló pudesse ver a ruína que estava por trás de Sodoma, e se Davi pudesse ver a tragédia sobre a sua casa quando se deitou com Bate-Seba, eles jamais teriam caído. Precisamos identificar a isca e a arapuca do diabo, para não cairmos na rede de seu engano.
O terceiro estágio é o nascimento do bebê chamado pecado (1.15). Tiago muda a figura da armadilha e do anzol para a figura do nascimento de um bebê maldito, chamado PECADO.
O quarto estágio é a morte (1.16). A cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte. Vemos aqui a genealogia do pecado. A cobiça é a mãe do pecado e a avó da morte. O salário do pecado é a morte (Rm 6.23).
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 25-26.
Tg 1.13 “O poder das circunstâncias era forte demais.” “Minha personalidade é forte, não consegui me controlar.” “Outras pessoas são culpadas.” “A rigor, Deus mesmo é culpado. Por que ele me deixou cair nessa situação tentadora? Por que me criou assim?” É assim que o ser humano tenta se livrar da culpa – e em última análise empurrá-la para Deus, para assim se auto justificar. A isso Tiago responde: “Ninguém que é tentado diga: Sou tentado por Deus.”
No bloco final da primeira série de provérbios da carta de Tiago, Tg 1.2-18, os versículos 13ss nos colocam novamente diante da palavra pesarmos, aqui predominante, e que no grego significa tanto os termos “prova”, “teste de aprovação” como também “tentação” (cf. Tg 2.12). Refere-se aos momentos perigosos e decisivos, nos quais um caminho errado se abre diante de nós e se torna viável e sedutor. Na Bíblia repetidamente vemos pessoas nessa situação: Eva perto da árvore proibida e com os desejos despertados e fortalecidos pelo tentador, querendo servir-se dos frutos (Gn 3.1-6). Caim, aparentemente preterido e cheio de rancor (Gn 4.3-8). José no Egito, com a possibilidade de, não obstante a situação criada pela vileza dos irmãos, tornar as coisas bem agradáveis para si (Gn 39.7-10). Absalão, com a chance de agora se tornar rei (2Sm 15.1-12).
Tg 1.15 “Em seguida, depois de haver começado a cobiça”: aqui é descrito o segundo estágio. À semelhança de um bacilo que traz enfermidade, damos espaço ao desejo em nós, quando não buscamos ajuda junto do Senhor em oração. Acontece a “incubação”, ainda não manifesta exteriormente, e então a irrupção visível da “doença”: “Dá à luz o pecado.”
Cobiça e pensamento geram, pois, ação. O peixe abocanha (a metáfora da isca – e do peixe – é a segunda utilizada por Tiago). Engoliu o anzol e passa a nadar com ele no corpo. Ainda está na água, mas fisgado pelo anzol. Quando toleramos uma ideia ou desejo por tempo suficiente em nós, ela (ou ele) finalmente se torna, com certa obrigatoriedade, uma ação.
“O pecado, porém, uma vez consumado, dá à luz a morte.” O bacilo de enfermidade, multiplicado infinitamente, é capaz de finalmente sufocar a vida de um ser humano. Ou, ilustrando com a outra metáfora aqui utilizada, a da “isca”: na sequência acontece um puxão com a vara de pesca, e o peixe sai voando do ambiente de vida para o ambiente de morte. Isso não acontece apenas quando alguém passou da morte para a “segunda morte”, a morte após a morte, para a eterna consciente condição de ter morrido para Deus (Mc 9.44; Ap 20.14). Vale igualmente agora, quando alguém “está morto em pecados” (Ef 2.5). É bem possível que os outros ainda nos considerem cristãos: “Tens o nome de que vives, e estás morto” (Ap 3.1).
O mais perigoso na realidade não seria o “abocanhar do peixe”, o ato maligno individual, mas o fato de que por meio dele o inimigo amarra o ser humano a si, afastando-o assim da comunhão de vida com Deus, com Jesus Cristo, seu ambiente de vida. Na desobediência concreta começamos a apostatar de Jesus.
A ajuda ainda continua aberta. “Onde o pecado se tornou poderoso, a graça é ainda mais poderosa” (Rm 5.20). Podemos correr até Jesus Cristo, o médico que permanece com o consultório aberto, bem como levar outros até ele. Ele é capaz de retirar novamente a “isca” e o “anzol” que já foi engolido, i.é, tirar o pecado e libertar das amarras (1Jo 1.7; Jo 8.34,36). Sim: Jesus pode não somente curar a enfermidade, mas também acordar da morte ao conceder (novamente) sua comunhão (Ap 3.1-4; Ef 2.1-6; Cl 2.13-15). Nosso Senhor diz: “Quem vem a mim, certamente não o lançarei fora” (Jo 6.37).
Fritz Grünzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
2. Atração pela própria concupiscência.
Tg 1.14 Alguns crentes pensavam que, como Deus permitia as provações. Ele também deveria ser a origem da tentação. Estas pessoas podiam desculpar os seus pecados, dizendo que a culpa era de Deus. Tiago corrige isto. As tentações vêm de dentro, do engodo da nossa própria concupiscência. Tiago destaca a responsabilidade individual pelo pecado. Os desejos podem ser alimentados ou deixados morrer de fome. Se o próprio desejo é mau, precisamos negá-lo. Isto depende de nós, com a ajuda de Deus. Se incentivarmos os nossos desejos, eles logo se tornarão atos. A culpa pelo pecado é somente nossa. O tipo de desejo que Tiago está descrevendo aqui é o desejo descontrolado. Ele é egoísta e sedutor. Será que tira Satanás do aperto, colocando a responsabilidade pela tentação sobre os nossos desejos? Não. Podemos ser levados pelos nossos desejos, mas é o diabo que está por trás dos impulsos quando nós estamos seguindo uma direção errada. A tentação vem dos desejos maus dentro de nós, e não de Deus. Podemos montar e colocar a isca na nossa própria armadilha. Ela começa com um mau pensamento e torna-se pecado quando permanecemos no pensamento e permitimos que ele se transforme em uma ação. Como uma bola de neve rolando ladeira abaixo, o pecado cresce e torna-se ainda mais destruidor á medida que nós lhe damos mais liberdade. A melhor hora para interromper uma tentação é antes que ela seja grande demais, ou esteja se movendo rápido demais, fora de controle (veja Mt 4.I-I1; 1 Co 10.13; e 2 Tm 2.22, para mais informações sobre como escapar das tentações).
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 666.
O que Deus faz e deixa de fazer nesse caso (v. 14).
Nos testes de aprovação é Deus mesmo quem nos conduz – esse é o inequívoco testemunho da Bíblia. José sofreu provação pela mão humana, mas sabia que Deus estava agindo nela. Era com ele que estava lidando. E Deus ajudou para que essa prova chegasse a um final feliz (Gn 50.20). Ao povo de Israel Deus declarou no fim de sua peregrinação pelo deserto: “Eu te humilhei e te provei, para saber o que estava no teu coração” (Dt 8.2). Ao velho Tobias é dito nos livros deuterocanônicos, (sem dúvida no mesmo sentido dos escritos canônicos), ao final de um longo e enigmático caminho, porém com desfecho positivo: “Fui enviado a ti para pôr-te à prova” (Tb 12.13b). Acima de tudo o próprio Jesus, como novo “Adão”, a fim de realizar mais uma vez o mesmo exame em que no passado o primeiro Adão fora reprovado, “foi conduzido ao deserto pelo Espírito, para ser tentado pelo diabo” (Mt 4.1).
b) O que Deus, porém, não faz: ele não “tenta”. Não deseja que sejamos reprovados nas provações. Não nos tenta para o mal. Procura não nos arrastar para a maldade. Do contrário, ele próprio ficaria do lado do mal.
Contudo Deus é “não-tentável”, inviolável pelo mal. Ele é a mais pura luz. Consequentemente Deus, por natureza, tampouco é capaz de “ludibriar” alguém ou arrastá-lo para as trevas.
Como o mal de fato surge em nossa vida.
14 Não por culpa ou determinação de Deus, mas “cada um é tentado por sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz”.
a) O primeiro estágio do caminho para o mal é “a própria cobiça”. Chama atenção que Tiago não cita o diabo. Não que o desconhecesse (cf. Tg 4.7s), mas ele nos diz: “Não se apresse em empurrar a culpa para o diabo; não o use para se livrar.” – “A própria cobiça” representa o objeto ou situação específicos que, dependendo da constituição e situação da pessoa, lhe são sedutores aqui e agora: no caso de Caim, foi a possibilidade dar uma boa lição ao privilegiado Abel. No caso de Acã foram ricos despojos. Para Sansão, uma mulher dentre os filisteus. Para Absalão, a coroa real. Isso “atrai” e “fisga”. Ou seja: primeiramente chegamos perto e rodeamos, ao menos em pensamento, aquilo que nos tenta, como o peixe rodeia a isca. Enquanto o peixe apenas é atraído pela isca e nada em seu redor, ele ainda não foi fisgado. Também nós ainda podemos ser preservados, ainda podemos fugir do pecado (Sir 21.2; Tg 4.7s), refugiar-nos junto de nosso Senhor, o vitorioso do Calvário e da Páscoa, junto daquele que é capaz de tornar “verdadeiramente livre” (Jo 8.36). “O nome do Senhor é um castelo firme (uma fortaleza). O justo corre até lá e é abrigado” (Pv 18.10; “Castelo forte é nosso Deus” [Martim Lutero]).
Fritz Grünzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
A Tentação Vem de Dentro (1.14)
Tiago conhecia os poderes sobrenaturais do mal que agiam no mundo (cf. 3.6), mas aqui ele procura ressaltar o envolvimento e a responsabilidade pessoal do homem ao cometer pecados. O engodo do mal está em nossa própria natureza. Ele está de alguma forma entrelaçado com a nossa liberdade. A questão é: “Será que eu preferiria ser livre, tentado e ter a possibilidade de vitória ou ser um ‘bom’ robô?” O robô está livre de tentação, mas ele também não conhece a dignidade da liberdade ou o desafio do conflito e não conhece nada acerca da imensa alegria quando vencemos uma batalha.
Tiago diz que cada um é atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Essa palavra epithumia (“desejo”, RSV) pode ter um significado neutro, nem bom nem mal. Assim, H. Orton Wiley escreve: “Todo apetite é instintivo e sem lógica. Ele não identifica o erro, mas simplesmente anela pelo prazer. O apetite nunca se controla, mas está sujeito ao controle. Por isso o apóstolo Paulo diz: ‘Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado’ (1 Co 9.27)”.12 Este talvez seja o sentido que Tiago emprega aqui.
No entanto, na maioria dos casos no Novo Testamento, epithumia tem implicações maléficas. Se for o caso aqui, quando um homem é seduzido para longe do caminho reto, isso ocorre por causa de um desejo errado. Tasker escreve: “Este versículo, na verdade, confirma a doutrina do pecado original. Tiago certamente teria concordado com a declaração de que ‘a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice’ (Gn 8.21).
Desejos concupiscentes, como nosso Senhor ensinou de maneira tão clara (Mt 5.28), são pecaminosos mesmo quando ainda não se concretizaram em ações lascivas”.13 Se essa interpretação for verdadeira, há aqui mais uma dimensão na origem da tentação. Desejos errados podem ser errados não somente porque são incontrolados, mas porque, à parte da presença santificadora do Espírito, eles são carnais.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag.159-160.
3. Deus nos fortalece na tentação.
I Cor 10.13 As tentações acontecem na vida de todos os crentes — ninguém está livre delas. A tentação em si não é um pecado; o pecado só passa a existir quando a pessoa cede à tentação. Os crentes não devem ficar assustados ou desanimados, ou pensar que estão sozinhos nas suas fraquezas. Eles devem, antes, entender as suas fraquezas e se voltar a Deus, para que possam resistir às tentações. Suportar as tentações traz grandes recompensas (Tg 1.12). Mas Deus não abandona o seu povo aos caprichos de Satanás, pois Deus é fiel. Ele não irá eliminar todas as tentações porque enfrentá-las e permanecer forte na fé pode representar uma experiência de crescimento. Entretanto, Deus promete evitar que elas se tornem tão fortes, que não possamos lutar contra elas. O segredo de resistir à tentação é reconhecer a sua fonte, e então reconhecer a origem da força que é capaz de combater contra ela.
Além disso. Deus promete dar também o escape para que possamos suportar e não cair em pecado. Será necessário ter autodisciplina para procurar esse “escape” até no meio da tentação e então utilizá-lo, assim que for encontrado. O escape é sempre difícil e muitas vezes exige a ajuda dos outros. Uma das formas que Deus nos dá para que consigamos fugir da tentação é o bom senso. Se um crente sabe que será tentado em certas situações, então deve se afastar delas. Outra forma é através dos amigos cristãos. Em vez de tentar enfrentar sozinho a tentação, o crente pode explicar o seu dilema a um amigo cristão que lhe seja íntimo e confiável e pedir a sua ajuda.
Esse amigo poderá orar sensibilizar a pessoa, e dar valiosos conselhos e opiniões.
A verdade é que Deus ama tanto o seu povo, que irá protegê-lo das tentações insuportáveis. E sempre irá oferecer uma saída.
A tentação nunca deverá inserir uma barreira de separação entre o crente e Deus, e cada crente deve ser capaz de dizer: “Obrigado, Senhor Deus, por confiar tanto em mim. O Senhor me considera capaz de enfrentar essa tentação. Agora, o que o Senhor quer que eu faça?”
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 149.
I Cor 10.11-13. Aplicação à igreja de Corinto. O AT não é simplesmente uma história de acontecimentos seculares. Ele contém a revelação do relacionamento de Deus com os homens. Dessa forma, sua história é usada para mostrar um padrão de comportamento a ser imitado ou evitado. O exemplo de Israel foi escrito para aviso nosso (11). A palavra aviso significa “colocar na mente” ou “instruir pela palavra”. Em 2 Timóteo 3.16-17 existe a ideia de uma repreensão ou correção. Para quem já são chegados os fins dos séculos significa para aquele que vive na última era do tempo, a dispensação cristã.
A sua aplicação é clara e direta. Aqueles que eram excessivamente confiantes e egoístas entre os coríntios foram advertidos de que, no exato momento em que se sentissem mais seguros, poderiam cair (12). O exemplo de estar de pé e de cair representa um estado de fidelidade e um estado de desobediência. “A queda dos outros deve nos deixar mais cautelosos a nosso próprio respeito”.
Paulo ameniza a severidade das suas palavras ao garantir que a tentação peculiar dos coríntios é humana (13). Nada de novo havia acontecido aos coríntios; todos os homens experimentam tentações. Portanto, se eles pecarem, não terão desculpas. Paulo declara também que Deus age firmemente e sempre concede forças àqueles que confiam nele, e o seguem. Como Alford escreve: “Ele celebrou uma aliança com você ao lhe chamar: se Ele permitisse que você sofresse uma tentação além do seu poder de vencê-la... Ele estaria transgredindo essa aliança”.84 Deus conhece muito bem as circunstâncias que cercam cada tentação, e vos não deixará tentar acima do que podeis; antes, com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar. O termo escape (ekbasis) era usado como referência a uma passagem na montanha. A imagem é de um exército ou de um grupo de viajantes preso nas montanhas. Eles descobrem uma passagem e o grupo escapa para algum lugar em que possa estar em segurança. A frase para que a possais suportar indica o poder sustentador do Espírito Santo, que todos os homens podem receber. A vitória sobre a tentação será possível através de uma humilde confiança. Porém, ter uma autoconfiança presunçosa diante da tentação representa uma avenida aberta para uma derrota certa.
Donald S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. I Coríntios. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 320.
Mas a essa palavra de cautela ele acrescenta uma palavra de conforto (v. 13). Embora seja desagradável a Deus abusarmos, não é agradável para Ele nos desesperarmos. Se o primeiro é um grande pecado, o último está longe de ser inocente. Embora devamos temer e acautelar-nos a fim de não cairmos, também não devemos estar com medo e aturdidos; pois ou nossas provações serão proporcionais à nossa força, ou a força será suprida na proporção de nossas tentações. De fato, nós vivemos em um mundo tentador, onde estamos cercados de armadilhas. Cada lugar, condição, relação, emprego e divertimento têm abundância delas; porém, que conforto podemos obter de tal passagem! Pois: 1. “Não veio sobre vós, diz o apóstolo, tentação, senão humana; isto é, tal como vós esperais da parte dos homens de princípios pagãos e que têm poder; ou ainda, tal como é comum à humanidade na presente situação; ou ainda, tal como o espírito e a determinação de meros homens podem vos fazer passar.” Note que as provações dos cristãos comuns não passam de provações comuns; outros têm semelhantes cargas e tentações; o que eles suportam e passam nós também podemos. 2. “...mas fiel é Deus”. Embora Satanás seja um enganador, Deus é verdadeiro. Os homens podem ser falsos, e o mundo pode ser falso; mas Deus é fiel e nossa força e segurança estão nele. Ele guardou sua aliança e nunca desapontará a esperança filial e a confiança de seus filhos. 3. Ele é tão sábio quanto fiel e dará a nossa carga à proporção de nossa força. Ele “vos não deixará tentar acima do que podeis”. Ele sabe o que podemos carregar e o que podemos suportar. E Ele fará, em sua sábia providência, que as nossas tentações sejam proporcionais à nossa força ou nos fará aptos a enfrentá-las. Ele cuidará para que não sejamos vencidos, se nós confiarmos nele, e decidirmos mostrar-nos fiéis a Ele. Não precisamos nos desorientar com as dificuldades em nosso caminho, pois Deus cuidará que elas não sejam grandes demais para enfrentarmos, especialmente: 4. Quando Ele levá-las a bom termo. Ele “...dará também o escape”, ou da própria provação ou do seu prejuízo. Não há nenhum vale tão escuro que Ele não possa encontrar um caminho por ele; nenhuma aflição tão horrível que Ele não possa evitar, remover, ou nos capacitar para suportá-la, e, no fim, dominá-la para a nossa vantagem.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 470.
Sal 119.11 Guardo no coração as tuas palavras. Qualquer criança que frequente a escola dominical conhece este versículo e qualquer crente adulto também o conhece, mas porventura nós o observamos? Este versículo é largamente usado para falar sobre a sabedoria da memorização da Bíblia e, embora provavelmente
não seja esse o sentido pretendido, é uma boa aplicação. Não precisamos ser como os fanáticos que decoram todo o saltério e o citam diariamente. Eu mesmo memorizei as epístolas paulinas (além da epístola aos Hebreus, que não é paulina) em minha juventude, pelo que agi como um fanático. É possível que as pessoas que colocam em prática esses prodígios mentais se ocupem da Bibliolatria (ver a respeito no Dicionário). Além disso, talvez eles façam viagens pelo próprio “eu”, gabando- se de quantas Escrituras conseguem memorizar. Por outra parte, os abusos não anulam o bem, e a memorização é um modo digno de estudar a Bíblia.
Naturalmente, este versículo fala sobre a lei, empregando a terceira das dez palavras listadas no vs. 1.
Guardo. Isto é, “escondo” (conforme diz a Revised Standard Version), aludindo à metáfora de um tesouro escondido. O homem que tem o tesouro escondido em seu coração tem menor inclinação a ceder à tentação. “A palavra de Cristo deve habitar nele ricamente. Caso contrário, em breve ele pode ser surpreendido por algum pecado teimoso” (Adam Clarke, in Ioc.).
Habite ricamente em vós a palavra de Cristo, instrui-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos e hinos e cânticos espirituais, com gratidão em vossos corações.
(Colossenses 3.16)
“Escondei... como os orientais escondem seus tesouros. Cf. Mat. 13.44” (Ellicott, in Ioc.). Ver II Cor. 7.1 e Tito 2.11,12, que contêm passagens neotestamentárias similares. Ver o vs. 14, quanto a ideias sobre riquezas.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2433.
Sl 119.11 Aqui temos: 1. A aplicação íntima que Davi faz da palavra de Deus a si mesmo: escondi a tua palavra no meu coração, guardou-a no coração para que sempre esteja à mão quando tiver motivo para usá-la; ele guarda-a como algo de muito valor para ele, como algo muito querido, como algo que tivesse medo de perder ou de que ser roubado. A palavra de Deus é um tesouro digno de ser guardado, e não há lugar mais seguro para guardá-la que em nosso coração; se a tivermos só em nossa casa ou em nossa mão, os inimigos podem tirá-la de nós; se a tivermos só em nossa mente, nossa memória pode falhar, mas se nosso coração for libertado por estar moldado nela, e a impressão dela permanecer em nossa alma, ela está a salvo. 2. O bom uso que ele designou fazer da palavra de Deus: para eu não pecar contra ti. Os homens bons têm medo de pecar e tomam cuidado para evitar o pecado; e a forma mais eficaz de evitar o pecado é esconder a palavra de Deus em nosso coração, para que possamos responder a cada tentação como nosso Mestre o fez, como está escrito, para que possamos opor os preceitos de Deus ao domínio do pecado, as promessas dele à sedução do pecado, e suas ameaças ao perigo do pecado.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. pag. 624.
III – PROPÓSITO DAS TENTAÇÕES (Tg 1.3-4, 12.)
1. Para provar a nossa fé (v.3)
Tg 1.12 A Bíblia Sagrada aprofunda o significado de bem-aventurado para incluir uma alegria profunda que vem do recebimento da graça de Deus. Da mesma maneira que os atletas perseveram no seu treinamento para melhorar a sua capacidade e a sua resistência para a competição, os cristãos também perseveram no treinamento espiritual ao suportarem, com perseverança, a provação (versão RA), que irá trazer maturidade e integridade.
As provações de hoje se parecerão com um treinamento quando nós enfrentarmos os desafios de amanhã. A maneira de entrar no círculo vencedor de Deus é amá-lo e permanecer fiel a Ele, mesmo sob pressão. Existe uma linha de chegada. Há bons resultados pelo caminho - o progresso espiritual tem marcadores de quilometragem.
Mas as provações desta vida estão limitadas a esta vida. Algum dia, as provações terminarão. O primeiro capítulo da carta de Tiago nos ensina que o objetivo de longo prazo de Deus para nós é a maturidade e a integridade, mas o seu objetivo eterno para nós é a coroa da vida, uma expressão rica em esperança. O crente que suporta com perseverança, confiando em Deus, terá uma vida que, embora não seja cheia de glória nem de honra, ainda é verdadeiramente abundante, alegre, e vitoriosa. Suportar as provas da vida dá aos crentes um sabor de eternidade, mesmo no presente. Esperar por esta maravilhosa recompensa e por aquele que a apresentará a nós pode ser uma fonte de resistência e coragem em tempos de provações (veja também 1 Co 9.24-27; 2 Tm 4.7,8). Os cristãos podem se considerar verdadeiramente bem-aventurados, não importando quais sejam as suas circunstâncias exteriores, porque a eles foi prometida a coroa da vida.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 665-666.
Quando somos provados precisam os estar de olho na recompensa (1.12). Quando Deus nos prova é para o nosso bem, por isso somos bem-aventurados. Quando somos provados, desenvolvemos a paciência triunfadora. Quando somos provados somos aprovados por Deus. Quando somos provados somos galardoados por Deus. Quando somos provados temos a oportunidade de demonstrar nosso amor por Deus. A Bíblia diz que nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória (2Co 4.17). Como Lutero expressou no hino Castelo Forte, ainda que percamos família, bens, prazeres. Deus continua sendo nosso castelo forte.
Herbert Lockyer narra uma história que lança luz sobre essa questão.
A história é contada por uma mulher piedosa que, tendo enterrado um de seus filhos, recolheu-se a sua melancolia. Contudo, quando leu o Salmo 18.45: ‘Vive o Senhor’, foi consolada. Então, outro filho morreu. Ainda assim, ela permaneceu calma e confiante, enquanto dizia: ‘o consolo pode morrer, mas Deus está vivo’. Porém, o mais pesado golpe de todos ocorreu quando o seu amado esposo morreu, e ela quase foi subjugada pelo sofrimento. Mas sua filha que sobrevivera, observando como antes sua mãe falava para confortar-se a si mesma, perguntou-lhe, desconsolada: ‘Deus morreu, mamãe? Deus morreu?’. Isso alcançou o dolorido coração daquela mulher, e a sua antiga confiança no Deus vivo retornou. O fato de sermos provados nos capacita, não apenas para recebermos recompensa futura, mas também nos equipa para sermos usados por Deus agora. Li algo maravilhoso que nos ajuda a entender esse princípio: O processo utilizado no passado para o cultivo das árvores que se tornariam os mastros principais dos navios militares e mercantes era assim: os grandes construtores de navios selecionavam as árvores localizadas no topo das altas colinas para, provavelmente, virem a ser o mastro de um navio. Então, eles cortavam todas as árvores que as circundavam e que protegeriam da força do vento as árvores escolhidas. Com o passar dos anos, e com os fortes açoites dos ventos contra aquelas árvores, elas cresciam e se tornavam mais fortes ainda, até que, finalmente, estavam suficientemente firmes para serem o mastro de um navio.
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 23-24.
Tg 1.12 “Bem-aventurado”: a palavra constitui praticamente uma continuação das bem-aventuranças de Jesus (Mt 5.3-11). Não se trata de verdades gerais. Não são verdadeiras “em si”, mas apenas verdadeiras em e por meio de Jesus Cristo, por meio do Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Em sua graça Deus concede o maravilhoso prêmio à nossa porçãozinha de aprovação, que na verdade vive a cada instante da fidelidade dele.
a) Quem é “ditoso”? “A pessoa que carrega (ou “suporta”) com perseverança a provação”. Trata-se de um verbo derivado do grego “paciência”, “permanecer por baixo”, hypomoné (cf. o comentário a Tg 1.3). Portanto, é importante não tentar escapar das múltiplas provas de Deus, mas perseverar nelas por amor e para louvor dele: seja sob o peso que significa sermos atribulados por causa da obediência de fé – condições precárias, tarefas difíceis, pessoas que nos causam problemas, preces aparentemente não atendidas – seja (conforme a composição da palavra) debaixo da tribulação de nos encontrarmos, em um aspecto qualquer, ou até mesmo em vários aspectos, humanamente no lado obscuro da vida.
b) “Bem-aventurado” em que sentido? Desde já, porque o beneplácito de Deus repousa sobre nós quando, pelo amor de nosso Pai, suportamos aquilo que nos foi ordenado como filhos de Deus. Mas Deus por sua graça nos presenteará principalmente no alvo com o grande prêmio de vitória: “Porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida.” O termo grego stéphanos significa os louros da vitória na competição esportiva. Como ficaremos pasmos quando Deus responder de forma tão maravilhosa à nossa corrida cristã, na qual de fato nos guiamos pela palavra: “Deste-me trabalho com os teus pecados e me cansaste com as tuas iniqüidades” (Is 43.24). “Lá soará, Deus coroará: só ele salvação trará” (Philipp Friedrich Hiller [1699-1769]). – “A vida” é a definição de conteúdo daquilo que a coroa representa. Por isso pode ser traduzida: “Receberá a coroa, a saber, a vida.” Ou seja, a única coisa chamada vida, nosso Senhor Jesus Cristo, o grande Deus, sua comunhão eterna. “Estaremos com o Senhor eternamente” (1Ts 4.17). Quem tem Jesus tem tudo. “Contigo está a fonte da vida, e em tua luz vemos a luz” (Sl 36.9). “O Senhor é meu bem e minha porção” (Sl 16.5; cf. também 1Jo 1.2).
“Que Deus prometeu”: cf. Jo 3.16,36; 10.28; Rm 6.23; Cl 3.4; 1Ts 4.17b. Deus fez promessas. Penhorou sua palavra. Ele há de resgatá-la, inclusive quando parece estar atrasado (Hc 2.3; 2Pe 3.9). “A palavra do Senhor é verdadeira; e o que ele promete ele certamente cumprirá” (Sl 33.4).
“Aos que o amam”: em Jesus vemos o que significa amar a Deus. Por amor ao Pai ele trilhou qualquer caminho, também o mais enigmático: ao sinal dele tornou-se ser humano, “a fim de procurar e salvar o que está perdido” (cf. Fp 2.6ss; Lc 19.10). Segundo o desígnio do Pai, concordou com que os famosos se afastassem dele e somente os sem-nome o seguissem. “Eu te louvo, ó Pai… sim, Pai; porque assim foi agradável perante ti” (Mt 11.25s). Ele também ofertou dor e lágrimas do caminho indizivelmente difícil e enigmático até a cruz como sacrifício ao Pai (Hb 5.7). Amar a Deus: entre nós isso também inclui precisamente que por meio do Espírito de Jesus suportemos, segundo sua orientação e por amor ao Pai, caminhos incompreensíveis e sinas aparentemente absurdas: “Sim, Pai, de todo coração, o fardo teu carregarei” (Paul Gerhardt).
Fritz Grünzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Provação, dificuldades, problemas, sofrimento, tribulação, depressão, seja qual for o nome que damos às adversidades e às tragédias da vida, a verdade absoluta é que não é fácil enfrentá-las. O ser humano pode ser forte, inteligente, brilhante ou, até mesmo, o maior gênio da matemática, e ainda assim não estar imune aos dramas da vida. Como aconteceu com John Forbes Nash Jr. Que ainda jovem fez uma descoberta revolucionária no campo da matemática que anos depois lhe renderia o prêmio Nobel de Economia. Mas mesmo para uma mente brilhante como a de Nash não foi suficiente para que ele ficasse imune à esquizofrenia que quase destruiu sua vida, carreira e casamento.
A adversidade náo escolhe a classe social, baixa ou alta; a escolaridade, analfabeto ou doutor; a beleza, bonito ou feio; a religião, cristão ou pagão nem o grau de espiritualidade, infiel ou comprometido.
Ela é uma fatalidade, parte de um mundo caído. E parte de um mundo que vive no mal, que herdou as consequências da rebelião do primeiro casal que teve o privilégio de ver Deus face a face.
Mas independentemente desse drama que vivemos, nós, como servos do Senhor, podemos experimentar e viver de forma diferente mesmo diante dos problemas e das provações que o mundo nos prepara.
E no versículo 12, Tiago, novamente, vai de forma contundente contra tudo aquilo que o mundo nos apresenta como resposta fácil quando afirma que existe maior alegria no fato de perseverarmos na provação, porque depois de aprovados receberemos o grande prêmio, a coroa da vida, que Deus garantiu entregar àqueles que o consideram acima de tudo nessa vida. Tiago começa dizendo “feliz” ou “bem-aventurado” é a pessoa que persevera na provação. O grande dilema e mesmo ironia dessa bem-aventurança é que ela pressupõe a felicidade quando nós nos encontramos em um estado deplorável. É fácil abraçar aquilo que o salmista diz: “Como é feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios” (SI 1.1). É certo que ninguém em sã consciência iria para a porta de um botequim para se aconselhar com bêbados sobre sua vontade de abrir um negócio. Qual a felicidade que alguém encontraria seguindo conselhos dessas pessoas? Por isso, é muito fácil perceber que feliz é aquele que tem sua satisfação na lei do Senhor (SI 1.2). Por outro lado, é muito mais difícil aceitar que exista felicidade em se perseverar na provação. Todos nós já tivemos nossos dias difíceis. E quantos se animam com os famosos: “Não chora”; “Deixa disso, não vale nem a pena se estressar”; “Ah, isso vai passar”; “Levanta a cabeça, esquece isso, tudo vai ficar bem”; “Nada como um dia após o outro”; “Você tem que ser forte”. Se tivéssemos essa força, não seria exatamente isso que estaríamos fazendo?
Mas independentemente de ser tão difícil abraçar o que Tiago diz, ainda assim, é verdade que feliz é aquele que persevera. Por mais doloroso que seja aceitar, há felicidade mesmo quando nos encontrarmos em um estado miserável. O próprio mundo nos dirá que somos coitados por estarmos nesse estado. Ou muitos de nós olham para as pessoas em dificuldade como coitadas e miseráveis. A razão disso é que definimos a miséria das pessoas pelo que elas passam. Só que Deus define nossa miséria não pelo que passamos, mas pelo que deixamos de alcançar. Por essa razão, Tiago nos ensina que feliz é a pessoa que persevera na provação. A felicidade aqui está ligada a perseverança. Como Tiago já havia mencionado nos versículos 3 e 4: “pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. [...] E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros Não temos outra saída, pois, como cristãos, precisamos praticar a perseverança a fim de alcançar um caráter perseverante. Da mesma forma que um atleta persevera ou passa por estresse físico para alcançar um grau maior de resistência, assim também acontece conosco, os cristãos. Precisamos resistir aos testes ou às tribulações da vida a fim de obter a perseverança espiritual que trará perfeição. Diante dos problemas, temos que zelar pela nossa atitude diante de Deus. Não devemos permitir que entremos na murmuração que leva ao desespero. Mas como o autor de Hebreus escreveu devemos “suportar as dificuldades como disciplina. Deus nos trata como a seus filhos. Ora, qual o filho que não é disciplinado por seu pai?” (Hb 12.7). Tribulação para o não cristão é punição, mas para o cristão é teste, uma verdadeira prova de amor do Pai. Como escreveu Thomas M.: “Uma pessoa pode não ser sempre feliz quando tudo acontece segundo os seus próprios desejos, mas ela pode resistir e perseverar o mal com vitória e paciência”. E a perseverança é alcançada na provação, ou seja, durante a tempestade. Deus quer de nós dependência, confiança nele, ou seja, quer que nos apoiemos nele. O cristão chora. O cristão sente dor. O cristão se humilha diante de Deus. Ele clama ao pai por socorro. Ele persevera na provação. Como Jesus disse: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mt 26.39). Quando Jesus disse isso ele estava sendo poético e politicamente correto com suas palavras? E claro que não. Jesus estava prestes a enfrentar a morte e ele sabia muito bem disso. Seu próprio sentimento demonstra isso. No versículo anterior, ele dissera que sua alma estava profundamente triste, “tristeza mortal” (Mt 26.38). E o evangelista Lucas nos informa que sua angustia era tamanha que ele orava intensamente, e seu suor era como “gotas de sangue que caíam no chão” (Lc 22.44). Não podemos ser cínicos. Não podemos negar que o sofrimento existe e que ele dói. Ele machuca. As dificuldades física, emocional e econômicas desta vida são reais. A vida é repleta de problemas. Não temos como fugir dessa realidade. Somos pessoas vulneráveis a tudo. Basta um vírus, e ficamos de cama. Basta uma mudança de tempo, e pegamos uma gripe. Basta uma noite mal dormida, um pouco de estresse, falta de comida e uma queda na pressão sanguínea que perdemos os sentidos, como acontece com aqueles que sofrem de síncope do vaso vagai.
Mas será que Deus está pedindo que tenhamos fé a ponto de ignorar ou fazer de conta que não estamos sofrendo ou que não sofremos de forma alguma porque somos supercrentes? De forma alguma! Não é vergonha nem pecado um cristão ficar doente ou sofrer, sentir-se frágil. Isso é ser humano. Como Paulo afirmou: “por amor de Cristo, vos foi concedido não somente crer nele, mas também sofrer por ele” (Cl 1.29, A21). Contudo, o Senhor espera que não vivamos presos, limitados nem acorrentados pelas tragédias da vida de tal forma que nos impossibilite de ver além do nosso próprio problema. Pois assim deixamos de enxergar tudo aquilo que de mais precioso ele tem nos dado e nos preparado para receber. Como disse o profeta Habacuque: “mesmo não florescendo a figueira, e não havendo uvas nas videiras, mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimentos na lavoura, nem ovelhas no curral, nem bois nos estábulos, ainda assim, eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação” (3.17,18).
As aflições externas só serão o mal maior, se Deus não for nosso bem maior. Por isso, rejeitar nossa situação não é o caminho, mas o caminho é perseverar na nossa provação.
Provação e tentação traduzem a mesma palavra grega (peirasmos). Esta deve ser a razão que Tiago trata dos dois sentidos nesse parágrafo. Primeiro, ele trata da felicidade do homem que persevera na provação (certamente, a melhor opção no v. 12). Todo tipo de sofrimento atinge o homem em conseqüência da queda de Adão e a maldição que foi pronunciada contra o mundo por Deus. O apóstolo Paulo escreveu: “Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada. A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados. Pois ela foi submetida à inutilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra, recebendo a gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Rm 8.18-21).
A felicidade dos que perseveram nas provações e são aprovados (,dokimos, v. 2) culmina no galardão de receber a coroa da vida (v. 12). Essa coroa (stephanos, grinalda, uma coroa de folhas) correspondia nos jogos olímpicos à medalha de ouro nos dias atuais. A aprovação do Senhor resulta na honra concedida a um vencedor. Todo cristão que não desiste, mas persevera, será reconhecido como vencedor, recebendo a coroa da vida, prometida por Deus para aqueles que o amam.
Paulo afirma que ele corre para ganhar o prêmio que ele também chama de coroa (stephanon). Enquanto os que correm no estádio correm para uma coroa ou grinalda que perece, Paulo esmurra seu corpo para ganhar a corrida de Deus. A grinalda que o Senhor lhe dará não perece (ICo 9.25), mas durará para sempre. A permanente e duradoura confirma que a vida eterna nunca acabará. Novamente, em 2Timóteo, Paulo, pouco antes de sua decapitação em Roma, expressa sua confiança em ser galardoado com uma coroa (stephanos) de justiça (4.8). Todos os justificados (declarados justos pela graça) receberão a coroa que os identifica como perfeitos, sem mácula ou mancha de pecado.
A coroa é o emblema de sucesso espiritual concedido pelo Rei do universo àqueles que mantêm sua fé. Talvez tenha sido desse versículo que C. S. Lewis tenha tirado a ideia de coroar os jovens vencedores Pedro, Edmundo, Susana e Lucia, no final de sua primeira aventura, contra a Rainha má de Nárnia, pois eles passaram no teste da fé e perseveram até o fim.
E coroa da vida aqui pode ser entendida como a coroa que é a vida que Deus nos premiou. Essa vida é sem dúvida a vida eterna, o desfrutar da presença de Deus na eternidade. Em Apocalipse 2.9 e versículos seguintes, Jesus diz para os cristãos que estão sofrendo que aqueles que perseverarem que o prêmio será a vitória sobre a morte. “Estas são as palavras daquele que é o Primeiro e o Ultimo, que morreu e tornou a viver. Conheço as suas aflições e a sua pobreza, mas você é rico! Conheço a blasfêmia dos que se dizem judeus, mas não são, sendo antes sinagoga de Satanás. Não tenha medo do que você está prestes a sofrer. O Diabo lançará alguns de vocês na prisão para prová-los, e vocês sofrerão perseguição durante dez dias. Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida. Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. O vencedor de modo algum sofrerá a segunda morte’.
Jesus conhece nossa aflição. Ele sabe onde está localizada nossa dor. Ele conhece exatamente o que estamos passando. E ele pede de nós coragem? Ele diz para nós “deixarmos disso”, ou “sairmos dessa”? Não. Ele pede de nós fidelidade. Ser fiel, mesmo em caso de ter que enfrentar a morte. Esse versículo de Tiago é um dos mais apocalípticos de todo o livro. Pois ele está olhando para o presente: as nossas dificuldades e provações hoje, mas nos chamando para uma disposição futura. É impressionante como, em grande parte da Bíblia, a questão do sofrimento está relacionada com o presente e o futuro.
O presente sempre sendo o momento que experimentamos nosso sofrimento, e o futuro sendo sempre nossa âncora na qual devemos nos apoiar. Parece que, de alguma forma, o Senhor quer nos ensinar que o sofrimento nessa vida, no presente, é inevitável. Em parte, é inevitável por estarmos em um mundo caído, corrompido e contaminado pelo pecado. E focalizar no sofrimento, na dor, no problema, na tribulação só agrava o fato como se fosse uma forma que o mundo encontrou para nos distanciar de Deus. Mas o encorajamento do Senhor está em nos ensinar e nos impulsionar a olhar para além do sofrimento na expectativa e na esperança daquilo que ele está reservando para nós para toda a eternidade.
Por pior que sejam os nossos sofrimentos, e eles são legítimos e verdadeiros, Paulo diz que eles ainda assim se quer podem ser comparados com a glória que em nós será revelada (Rm 8.18). Ou ainda que eles, embora nada mais sejam do que leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles (2Co 4.17). Por essa razão, precisamos fixar os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno (v. 18).
De alguma forma sobrenatural encontraremos força mudando nosso foco do problema para a glória aguardada da herança que receberemos no momento prometido. Além disso, é necessário reconhecer a própria limitação do período de sofrimento atual que é passageiro, mesmo que para muitos de nós algumas horas de angústia pareçam representar uma vida inteira de sofrimento. E se falhamos em ter uma visão correta e certa de nosso futuro, falharemos em uma abordagem correta e equilibrada do nosso presente. Viveremos no tormento da dor sem esperança. Ficaremos desanimados e desmotivados com a própria vida, e muito mais ainda com a vida cristã. Estaremos nos culpando por não agirmos como deveríamos, e a tendência de correr para mais longe de Deus, por conta da própria sensação e sentimento de falência espiritual, por saber como devemos agir e acabar agindo de outra forma.
Como é lastimável pensar que existem muitas pessoas enganando e sendo enganadas com essa ideia diabólica de que o crente 11.10 sofre, o crente não fica doente. Quando o que a Bíblia mais afirma é que o sofrimento é real. Que os problemas machucam, doem. Que essa vida não é fácil não. E essa mentira nos tenta a encobrir uma realidade que é impossível de ser coberta. E tão impossível encobrir e mascarar o sofrimento como cobrir o mar ou impedir que o sol apareça. Podemos e tentamos fazer de tudo — correr para médicos, tomar remédios, fazer tratamentos, praticar esportes, alimentar-se bem, mas a verdade é que a vida neste mundo pressupõe dor, angústia e tribulação.
Seria utopia achar que o sofrimento é injusto tanto quanto que Deus é injusto por permitir que o mundo seja assim. Por outro lado, o lado melhor da moeda, é que Deus não nos criou para a terra, mas para o céu. E pode um crente viver no presente sem a visão do céu? O presente que recebemos no meio de tudo é um chamado para focalizarmos nossa pátria verdadeira (Fp 3.20).
Por isso, a constância e a perseverança têm grande valor para Deus. O apóstolo Paulo disse que Deus retribuirá a cada um conforme o seu procedimento’. Ele dará vida eterna aos que, persistindo em fazer o bem, buscam glória, honra e imortalidade (Rm 2.6,7). Na competição dos jogos, a perspectiva de ganhar o prêmio serve de estímulo para os atletas. Também, para todos os que perseveram na corrida cristã, apesar das aflições e oposição, Deus oferecerá a coroa da vida.
Russell P. Shedd,. Edmilson F. Bizerra. Uma Exposição De Tiago A Sabedoria De Deus. Editora Shedd Publicações.
Tg 1.3 Embora a nossa tendência seja pensar nas provas como uma maneira de testar o que não sabemos ou não temos, passar por uma prova deveria ser uma oportunidade positiva para provar aquilo que aprendemos. Esta prova à nossa fé é um teste que tem um objetivo positivo. Neste caso, os problemas não determinam se os crentes têm fé ou não. Os problemas fortalecem os crentes, acrescentando paciência à fé que já se encontra presente. A paciência é a fé ampliada; ela envolve a confiança em Deus por um período muito longo de tempo. Tiago náo está questionando a fé dos seus leitores — ele supõe que eles confiam em Cristo. Ele não está convencendo as pessoas a terem fé; ele está encorajando os crentes a permanecerem fiéis até o fim. Tiago sabe que a fé deles é verdadeira, mas esta fé precisa amadurecer.
Não podemos conhecer verdadeiramente a nossa própria profundidade até que vejamos como reagimos sob pressão. Diamantes preciosos começam sendo carbono, sujeitos a uma pressão intensa durante algum tempo. Sem pressão, o carbono continua sendo carbono.
A prova da sua fé é a pressão contínua que a vida exerce sobre você. A paciência, como uma pedra preciosa, é o resultado desejado deste teste. A paciência não é uma submissão passiva às circunstâncias; é uma resposta forte e ativa aos eventos difíceis da vida, mantendo-lhe em pé à medida que você enfrenta as tempestades.
Não é simplesmente a atitude de suportar as provações, mas sim a capacidade de convertê-las em glória e superá-las.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 663.
Aprova da nossa fé (v. 3) fortalece nossa paciência. Jesus disse: “E na vossa paciência que ganhareis a vossa alma” (Lc 21.19, ASV). Tiago não nos dá este conselho com base na sua autoridade pessoal. Sabendo que significa: “Descubram por conta própria”. O tempo do verbo sugere uma ação progressiva e contínua — descobrindo continuamente. O apóstolo diz, na verdade: “Procurem ser alegres e perseverantes e vejam se não é a melhor maneira de lidar com as suas provações”.
E por que deveríamos continuar provando? Tasker responde: “Para que os cristãos sejam perfeitos e completos, avançando até alcançar a vida equilibrada de santidade perfeita e íntegra”.3 Essa é a vontade de Deus para o cristão. A exortação aponta para uma santidade representando o alvo mais elevado da maturidade cristã. Mas essa maturidade não deve estar dissociada do cumprimento do mandamento do nosso Senhor e da sua provisão para alcançar esse elevado nível de santidade. A palavra perfeitos é a mesma que Jesus usou quando instruiu seus seguidores: “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.48).
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 155.
Tg 1.3 a) Aprendemos a paciência. “Pois tendes o conhecimento de que o teste de autenticidade de vossa fé produz paciência.” O termo grego para “paciência”, hypomoné, significa também “perseverança”, “constância”, literalmente “permanecer por baixo”, debaixo das condições difíceis, das tarefas onerosas, dos sofrimentos físicos e psíquicos etc., permanecer debaixo de Deus e de sua vontade, no lugar em que ele nos colocou. Nossa natureza humana perde a paciência diante das adversidades. Mas em que sentido, afinal, as tribulações produzirão paciência nos cristãos?
Paulo escreve: “Estais radicados nele”, em Cristo (Cl 2.7). As tribulações são capazes de nos prestar o serviço de nos ensinar a enraizar-nos cada vez mais profundamente em Deus, a agarrar-nos cada vez mais firmemente a ele. É como as árvores fazem na natureza: as de raízes rasas são derrubadas, uma depois da outra, pela tempestade. As faias solitárias sobre os montes agarram-se cada vez mais firmemente às rochas nas ventanias. Consequentemente, nossa constância se fortalece cada vez mais nos testes de autenticidade. – Igualmente colhemos experiências com nosso Senhor, como p. ex.: “Ele tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz subir, ele empobrece e enriquece; abaixa e também exalta” (1Sm 2.6s). Em novas provações saberemos por experiência própria: não há motivos para resignar. Sabemos o que podemos esperar de Deus nas provações, qual é o método de nosso Deus: ele socorre na aflição e, na hora certa, também ajuda a sair dela. Em certas circunstâncias, outros, ainda iniciantes na fé, poderão aprender algo com a tranquilidade, serenidade e certeza daqueles que há muito vivem com seu Senhor e em muitas provações já colheram numerosas experiências com ele. “… que têm sido exercitados” (Hb 12.11). Ademais é importante que preservemos as experiências de tribulações anteriores para a atualidade e o futuro, para nós e outros (Sl 77.12) e as façamos frutificar em determinadas ocasiões.
Fritz Grünzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
2. Produzir a paciência (v.3,4)
Similar à sua lista de fraquezas de 4.8-10, esta lista inclui aflições, necessidades e angústias que a maioria dos pregadores não apresentaria perante seus ouvintes.
Por pregar a Cristo, Paulo tinha sido açoitado. Em 11.23-25, Paulo lembra que tinha sido açoitado cinco vezes pelos judeus.
Ele também tinha sido espancado com varas pelas autoridades civis em três ocasiões diferentes. Lucas registrou, no livro de Atos, que Paulo e Silas sofreram esta punição em Filipos (veja At 16.23,24).
Paulo tinha sido aprisionado em Filipos (At 16.23). Em praticamente todas as cidades, Paulo tinha enfrentando tumultos, normalmente provocados pelos judeus rancorosos. Em Antioquia da Pisídia, os judeus incitaram os homens e mulheres influentes da cidade para expulsá-lo daquela cidade (At 13.49-52). Em Icônio, os cidadãos tramaram apedrejar Paulo até a morte (At 14.5,6). Em Listra, uma multidão irritada o apedrejou, e, milagrosamente, ele sobreviveu e seguiu até a cidade seguinte para pregar o Evangelho (At 14.19). Em Filipos, uma multidão cercou Paulo e Silas e os aprisionou (At 16.19-24).
Em Tessalônica, uma multidão que procurava Paulo cercou a casa de Jason (At 17.5). Em Éfeso, uma multidão de ourives enraivecidos atacou os companheiros de viagem de Paulo (At 19.23-41). Mesmo durante o ministério de Paulo entre os coríntios, os judeus de Corinto o prenderam e o levaram diante do governador (veja At 18.12-17). Em toda parte onde Paulo pregava o Evangelho, ele encontrava-se com multidões inflamadas. Ele esperava oposição, mas também esperava que Jesus o guiasse nestas situações difíceis (veja 1.3-7).
Depois de listar algumas das aflições involuntárias que tinha enfrentado, Paulo mencionou as aflições que ele havia suportado voluntariamente pela causa do Evangelho. Paulo não apenas enfrentou obedientemente todos os tipos de oposição a Cristo, como também fez sacrifícios pessoais para poder continuar a anunciar as boas novas. Paulo tinha trabalhado até a exaustão para não se tornar um peso para as pessoas a quem estava pregando, em especial para os coríntios (veja 11.9). Em Tessalônica, ele trabalhou noite e dia; talvez isto lhe tenha causado algumas daquelas noites sem dormir, em vigília (1 Ts 2.9; 3.8). Talvez algumas destas vigílias voluntárias não tivessem sido passadas em trabalho físico, mas em orações por todas as igrejas. Além disto, Paulo tinha jejuado muitas vezes. Ele pode ter feito isto para não ser um peso financeiro para as pessoas a quem estava pregando (veja 11.7-10).
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 216-217.
Mas como os seus caluniadores coríntios aparentemente sentiram que a honra da indicação feita por Deus significava sucesso e proeminência, Paulo teve que ressaltar que até mesmo os seus sofrimentos eram demonstrações da autenticidade do seu apostolado (4-5).201 Em tudo - possivelmente em todas as ocasiões - Paulo e seus companheiros de trabalho se tornavam recomendáveis (dignos de elogio, cf. 3.1; 4.2; 5.12) como ministros (servos; cf. 6.4; Mt 20.26; Mc 10.43) de Deus. Redpath sugere que todas as condições mencionadas em 4-10 “fornecem uma plataforma para a exibição da graça de Deus” na vida dos seus servos.202
Paulo recomenda o seu ministério, primeiramente, na muita paciência (“grande persistência”, RSV). Esta qualidade, muita ressaltada por Jesus (Mt 10.22; 14.13; Lc 8,15; 21.19) e certamente significativa para Paulo (1.6; 11.23-30; Rm 5.3; 1 Ts 1.3), coloca-se no topo de três grupos de provações. O primeiro grupo, no versículo 4, apresenta os sofrimentos de Paulo em termos gerais. Eles podem se referir àquelas dificuldades que são independentes do agente humano, e incluem aflições (cf. 1.3-10; 2.4; 4.8,17; At 14.22; 20.23), todas as experiências de pressão física, mental ou espiritual que talvez possam ser evitadas; necessidades (“privações”, NEB), que não possam ser evitadas; e angústias (“dilemas”, NEB, 4.8), das quais não é possível escapar.
Donald S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. I Coríntios. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 438.
«...na muita paciência...» Esta última palavra, no original grego, é «upomone». Trata-se não simplesmente da capacidade de esperar com tranquilidade e sem queixumes, pela concretização de algo que se espera, conforme a definição ordinária da palavra moderna «paciência». Antes, dentro do uso neotestamentário há a ideia de «constância», «fortaleza», «permanência», «perseverança», em face das dificuldades, das perseguições e de um trabalho árduo e prolongado. Por isso mesmo, um elevado lugar é atribuído a essa virtude, nas páginas do N.T., bem como em outras literaturas cristãs. Notemos a «constância de Cristo», em seus sofrimentos (Pol. 8:2); a fortaleza «similar à de Cristo» (ver II Tes. 3:5); a «constância» na prática do que é direito (ver Rom. 2:7); a «perseverança dos santos» (em, Apo. 3:10). O Senhor Jesus dava a essa virtude uma importância muito grande, conforme se vê em Luc. 8:16; 21:19; Marc. 13:13; Mat. 10:22 e 24:13. Esta epístola torna a mencioná-la, no trecho de II Cor. 12:12. E nas passagens de I Tim. 6:11; II Tim. 3:10 e Tito 2:2, essa virtude aparece logo depois do «amor», nas listas das virtudes cristãs. Crisóstomo teceu louvores a essa virtude como segue: «É ela a raiz de toda a bondade, a mãe da piedade, o fruto que nunca murcha, uma fortaleza jamais conquistada, um porto que desconhece tempestades». (Hom. 117). O mesmo autor diz em sua Ep. ad Olymp. 7: «(ela é) a rainha das virtudes, o alicerce das ações corretas, a paz na guerra, a calma na tormenta, a segurança nas maquinações, que nenhuma violência humana e nenhum poder do mal poderá prejudicar». Clemente de Roma, ao referir-se às várias virtudes que recomendavam aos apóstolos, deu o primeiro lugar a essa virtude. (Ver Cl. 12:12).
Aquieta-te, minha alma: o Senhor está a teu lado; Suporta com paciência a cruz da tristeza ou da dor; Deixa ao teu Deus ordenar e providenciar; Em toda a modificação ele permanecerá fiel; Aquieta-te, minha alma; teu melhor e celeste Amigo Por caminhos espinhosos te conduz a um fim feliz. (Katharina von Schlegel).
«Todos os homens aprovam a paciência, embora poucos estejam dispostos a praticá-la». (Tomás à Kempis, 1380-1471, em sua famosa obra Imitação de Cristo).
«É na vossa perseverança que ganhareis as vossas almas» (Luc. 21:19).
«Tendes ouvido da paciência de Jó...» (Tia. 5:11).
«...aflições...» No grego temos o termo «thlipsis», uma palavra geral que indica várias formas de aflição, produzidas por circunstâncias externas adversas, pelas tribulações, pelas perseguições, pelas angústias mentais e espirituais. A ideia à raiz dessa palavra é «pressão». O verbo grego «thlibo» significa «premir», «espremer», «restringir», «estreitar», e, por conseguinte, «oprimir, «afligir». Esse vocábulo é usado por nada menos de quarenta e cinco vezes nas páginas do N.T., com tais sentidos como «tribulação» (como em Mat. 13:21 e 24:21,29), «aflição» (como em Marc. 4:17 e 13:19); «angústia» (como em I Cor. 7:28); e «perseguição» (como em Atos 11:19).
«...privações...» é tradução do vocábulo grego «anagke», que quer dizer «necessidade», «calamidade». Essa palavra, no original grego, também podia transmitir a idéia da «falta» de algo necessário, ou seja, a redução a uma pobreza extrema. Sabemos que Paulo sofreu assim, porquanto aprendeu como ter abundância e sofrer penúria. (Ver Fil. 4:12). Essa palavra grega, entretanto, pode significar simplesmente «calamidades», «experiências adversas», o que também se verificou na vida do apóstolo dos gentios. Esse vocábulo é empregado por dezoito vezes no N.T., e ambas essas ideias aparecem inerentes nas ocorrências do mesmo. «...angústias...», no grego, é «stenochoria», que literalmente traduzido seria «estreiteza», demonstrando um estado de «confinamento», de «restrição», dando a ideia de angústias, apertos de muitas formas.
É interessante que alguns estudiosos veem certa intensificação crescente das dificuldades mencionadas por Paulo —«Aflições» (II Cor. 1:4,8; 2:4 e 4:7), que podem ser evitadas; «necessidades» (II Cor. 12:10), que não podem ser evitadas; e «apertos» (II Cor. 12:10), do que não há como escapar». (Plummer, in loc.).
«A ideia aqui prevalente é a de pressão e confinamento: cada estágio mais estreito do que o anterior, de tal modo que nenhum espaço é deixado para movimento ou escape». (Stanley, in loc.).
Paulo expressa as suas grandes tribulações mediante o emprego de diversos trios, três ao todo, expressando nove formas de angústia (nos versículos quarto e quinto deste capítulo). Comenta Faucett(ín loc.), acerca disso: «O primeiro trio expressa as aflições em geral; o segundo trio, aquelas que se originam nas violências dos homens; e o terceiro trio, expressa aquelas que ele provocou contra si mesmo, direta ou indiretamente. Tudo isso comprovava o seu direito de exortá-los com autoridade, bem como sua capacidade de servir-lhes de exemplo.
O recital que se segue (nos versículos quarto a décimo deste capítulo) é uma extravasam do coração de Paulo, com o objetivo único de revelar o seu amor, através daquilo que ele teve de tolerar. Tudo começa com a menção de seus sofrimentos físicos, uma lista impressionante, repetida com maiores detalhes em II Cor. 11:23-28. Paulo se regozijava nesses sofrimentos, mas não mediante alguma ufania no martírio, conforme com freqüência os sofrimentos dos santos se transformam em uma espécie de indulgência masoquista. Para Paulo, essas coisas eram as ‘marcas do Senhor Jesus’ (ver Gál. 6:17). Os sinais de seu companheirismo com seu Senhor, o resultado e aprova de sua fidelidade a seu Senhor e à sua mensagem...Em seguida nos é oferecida uma descrição sobre as qualidades que acompanhavam a mensagem do apóstolo. Nisso se encontram os frutos e manifestações do Espírito Santo. Essas são as graças que Paulo procurava cultivar, e que ele reputava como essenciais naquele que quisesse recomendar o seu ministério aos outros». (James Reid, ín loc.).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 353-354.
II Ts 1.4 Aparentemente, não era costumeiro de Paulo falar, nas igrejas de Deus, sobre um grupo de crentes a fim de se gloriar de determinadas características. No caso dos tessalonicenses, entretanto, Paulo os elogiou, assim como outros já tinham feito (I Ts 1.7-10).
A palavra hupomone, traduzida como paciência, é a mesma palavra usada em I Tessalonicenses 1.3. Ela retrata não uma aceitação passiva face às dificuldades, mas sim uma resistência ativa contra elas, demonstrada pela fé.
Os crentes tessalonicenses permaneciam fiéis a Deus mesmo em meio a todas as perseguições e aflições que estavam suportando. Paulo tinha sido perseguido durante a sua primeira visita a Tessalônica (At 17.5-9). Sem dúvida, aqueles que tinham respondido positivamente à sua mensagem e tinham se tornado cristãos continuavam a enfrentar perseguições.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 462.
Em linguagem exuberante, Paulo relembra a origem emocionante da igreja tessalonicense. Eles são chamados de amados irmãos... de Deus (4). A frase de Deus deve ser colocada depois de irmãos, e não depois de é referindo-se à eleição (cf. AEC, BAB, BJ, NVI, RA). A fraternidade cristã é a fraternidade dos filhos de Deus que nasceram de novo e estão mutuamente unidos pelo amor e pela vida comum que têm em Cristo. E muito real e forte. Tais pessoas foram e são amadas continuamente por Deus (cf. Rm 8.31-39). “Amados por Deus” (BV) era termo reservado no Antigo Testamento para Israel e pessoas especiais. Em Cristo, todos os homens tomam parte do privilégio.
Acerca dos tessalonicenses cristãos, Paulo confirma: sabendo... a vossa eleição (4). E comum este conceito bíblico ser erroneamente interpretado ou torcido. Eleição significa escolha, e nas Escrituras os eleitos são aqueles a quem Deus escolheu para serem seus filhos e herdeiros da vida eterna. A construção grega (4) denota que o ato de eleição de Deus brota
do seu amor imutável. Há acordo sobre este ponto entre todos os que aceitam as Escrituras como regra. A divisão surge na questão do método e base da eleição. Para um grupo, é a deliberação secreta e eterna de Deus, sua escolha soberana de certos indivíduos, ao mesmo tempo em que ele ignora os demais. Mas o único ponto de vista consistente com o teor geral
das Escrituras, como também com todas as passagens em questão, é o que ensina que a eleição é a escolha de Deus para a vida, pela graça, de todos os que salvadoramente creem em Jesus Cristo. O chamado é universal, de forma que ainda que o princípio no qual a escolha é feita seja decretado eternamente, a eleição não é arbitrária, mas condicional à aceitação da oferta de misericórdia em Cristo. A escolha é condicional, e, portanto, os eleitos são aqueles que permanecem na fé e perseveram na obediência7 (cf. 2.13-15; 2 Pe 1.10).
Paulo não hesita em insistir no conhecimento da eleição para a salvação pessoal. Tal garantia é promessa das Escrituras. A força da palavra porque, que inicia o versículo 5, denota que a eleição dos tessalonicenses foi deduzida dos fatos indisputáveis de sua experiência. Eles têm “fé”, “amor” e “esperança” (3) em Jesus Cristo? E estas virtudes se mostram em “obra” (3), por exemplo, afastar-se dos ídolos; em “trabalho” (3), por exemplo, servir ao Deus vivo e verdadeiro; e em “paciência” (3), por exemplo, esperar dos céus a seu Filho (cf. 9,10)? O auto-exame minucioso não deve suscitar dúvidas ansiosas, mas combater a falsa confiança na bênção de um dia que é apenas lembrança.
Paulo nos lembra o que James Denney denomina de “os sinais da eleição”.
Árnold E. Airhart. Comentário Bíblico Beacon. I e II Tessalonicenses.  Editora CPAD. Vol. 9. pag. 361-362.
A terceira razão para o louvor prestado por Paulo aos crentes tessalonicenses é que eles tinham suportado bem as perseguições, não abandonando o poder da fé e nem a constância do testemunho cristão. Os trechos de I Tes. 1:6; 2:14 e 3:2-5 mostram-nos que aqueles crentes estavam sob o assédio da perseguição, quando Paulo lhes escreveu sua primeira epístola; e essa situação teve prosseguimento durante os meses passados entre o recebimento da primeira e da segunda epístolas. Aqueles crentes, tendiam para o desencorajamento por esse motivo; mas o apóstolo dos gentios demonstra como não tinham razão alguma para o desânimo, já que o progresso espiritual deles, que era fator verdadeiramente importante, nada sofrera, sendo tão extraordinário que ele podia elogiá-los perante outras comunidades cristãs, de outras localidades, utilizando-se deles como um exemplo de como os crentes devem confiar em Cristo e mostrar-se perseverantes sob a opressão.
«Estamos sempre prontos para ver nisso todas as coisas, exceto aquilo que vem de Deus, os erros feitos pelo o b reiro, os pre co n c eito s de novos discípulos, no sentido que a luz ainda não clareou, e também as falhas de caráter que o Espírito Santo não conseguiu vencer; e quando fixamos nossa atenção sobre essas coisas, é apenas natural que nos mostremos inclinados à censura. O homem natural gosta muito de encontrar defeitos; pois isso lhe dá, com pouquíssimo trabalho, o senso consolador de ser superior. Mas é um olho maligno aquele que só pode ver faltas, deleitando-se nelas. Antes de comentarmos as deficiências ou equívocos, que só se tornam visíveis em face do pano de fundo da nova vida, agradeçamos a Deus pela vida nova, por mais humilde e imperfeita que seja essa forma. Não é necessário que o caráter do crente seja agora o que ainda será. Porém, somos forçados, pela força do dever, pela verdade e por tudo quanto é correto e justo, a dizer:
‘Graças sejam dadas a Deus por aquilo que ele começou a fazer mediante a sua graça’. Existem pessoas que nunca deveriam ver trabalhos feitos pela metade; e talvez essas mesmas pessoas devessem ser proibidas de criticar as missões, tanto as de âmbito pátrio como as que atuam no estrangeiro. A graça de Deus não é responsável pelas falhas dos pregadores ou dos convertidos; mas ela é antes a fonte originária de suas virtudes; é a fonte de sua nova vida; é também a esperança do futuro deles; e a menos que acolhamos suas operações com ações de graças constantes, não estaremos em uma atitude mediante a qual a graça divina possa operar em nós».
(Denny, in loc.).
«...nos gloriamos de vós...» Os crentes tessalonicenses não tinham reais motivos para estarem desencorajados; pois o que devia ser realizado, estava sendo realizado. Paulo se «gloriava» neles perante outras igrejas. É usado por ele o vocábulo grego «egkauchomai», que significa «ufanar-se», e que em um mau sentido significa «mostrar-se arrogante». Não era coisa de somenos que o grande apóstolo dos gentios pensasse que o progresso espiritual daqueles crentes era de tal natureza que merecesse jactar-se ele do mesmo de maneira sincera. Isso Paulo disse a fim de encorajá-los em meio às tribulações e descoroçoamentos. Em Corinto (bem como em outras localidades da província da Acaia), Paulo apresentava o caso dos crentes tessalonicenses como um exemplo de como os crentes devem progredir na sua vida espiritual (ver II Cor. 1:1). Outro sim, o trecho de I Tes. 1:8 deixa entendido um contato e uma atividade muito maiores do que aquela concentrada em qualquer província romana isolada. Poucos meses, pelo menos, se tinham passado; e isso teria dado a Paulo tempo de visita diversos territórios, onde poderia ter iniciado novas obras. Não sabemos dizer, entretanto, quanto tempo se passara desde que ele escrevera sua primeira epístola aos Tessalonicenses; mas pelo menos alguns meses teriam sido necessários para que houvesse aqueles novos acontecimentos.
«...igrejas de Deus...» (Quanto a notas expositivas completas sobre a «igreja», em sua chamada, em sua natureza, em sua missão e em seu destino, ver Efé. 3:10. Ver as notas expositivas sobre a «igreja de Deus», em I Tes. 3:5,15). Essa expressão também se acha nas passagens de I Cor. 1:2; 10:32; 11:22; 15:9; II Cor. 1:1; Gál. 1:13. No plural temos «igrejas de Deus»
As igrejas de Deus são dele (é usado o genitivo possessivo, no o rig in a l grego), pertencem ao Senhor; e também em Deus elas encontram seu propósito e destino, sua presente existência e sua manutenção partem dele; e é ele quem exerce autoridade religiosa sobre elas, porquanto Cristo é o Filho unigénito de Deus e é também o Cabeça da igreja (ver Efé. 1:23).
«Os crentes tessalonicenses não precisavam temer que estavam ocultos em algum posto distante. Nem os homens e nem Deus deixavam de dar atenção à coragem deles... Seus fundadores e amigos, mesmo à distância, observavam com ufania quão resoluta era a fé deles; ao passo que no processo seguro da providência divina aquela fé tinha um destino todo próprio, porquanto estava vinculada aos desígnios eternos do Senhor».
(Moffatt, in loc.).
É possível que os crentes tessalonicenses tivessem imaginado que o tom de louvor, da parte do apóstolo Paulo, em sua primeira epístola, fosse um tanto exagerado. Mas agora Paulo mostra que em nada ele se, mostrara exagerado. Os seus elogios eram plenamente merecidos por eles, de formas espiritualmente recomendáveis. A vereda pela qual eles tinham começado a andar, a despeito das dificuldades crescentes, agora era exposta novamente como o caminho pelo qual deveriam palmilhar.
« ...constância de f é ...» No grego, a primeira dessas palavras é «upomone», que poderia ser traduzida por «paciência» ou «resistência». Mui raramente, porém, tal termo tem o sentido de «paciência», se emprestarmos a esse vocábulo o sentido de passividade sem queixumes. Por exemplo, Jó, apesar de ser homem de grande paciência, não ficou passivo, e não deixou de queixar-se, conforme os registros bíblicos deixam bem claro. Contudo, em meio à sua tremenda provação, ele se mostrou «resistente», sem jamais ter abandonado a sua confiança no Senhor.
Aqueles crentes de Tessalônica, que sofriam sob a perseguição, mereciam ser elogiados. Podiam eles ficar no aguardo de uma glória que me estava sendo Separada através de sua resistência fiel debaixo da tribulação, visto que eram sais a Cristo. Por outro lado, seus perseguidores não podiam enganar a si mesmos sob o pensamento que o tratamento desumano que conferiam a outros, ainda que feito em nome a e Deus, pudesse ser esquecido pelo Senhor ou pudesse deixar de ser devidamente castigado. As leis morais do universo exigem que o homem colha segundo aquilo que tiver semeado; e isso se aplica tanto no caso do incrédulo como no caso do próprio crente.
As ações de um homem e sua conduta na vida tomarão evidente que tipo de colheita ele poderá esperar. O juízo é certo; e não nos deveríamos equivocar a esse respeito, porquanto assim o requerem as leis morais. Doutro modo, se alguém pudesse fazer o mal, sem nunca ser punido, Deus seria motivo de zombarias e o mundo não passaria de caos. Por outro lado, o bem que os homens praticam não pode deixar de ser notado pela mente divina. Mas naturalmente, embora isso não seja destacado no presente texto, o juízo será disciplinador, e não meramente retributivo, o que fica perfeitamente claro em passagens como I Ped. 3:18-20 e 4:6, onde também aparecem as notas expositivas centrais sobre o julgamento divino. Assim, pois, o juízo divino será exato, tendo por desígnio recompensar e punir, em medida exata, de conformidade com a gravidade de cada crime; mas essa própria vingança serve, «resistência persistente», a despeito das circunstâncias difíceis. Isso pode ser confrontado com o trecho de Rom. 5:3-5 (conforme a tradução inglesa de Williams, mas aqui vertida para o português), e que diz: «...o sofrimento produz ‘resistência’ (a mesma palavra do presente versículo); a resistência, o caráter comprovado; o caráter comprovado, a esperança; e a esperança jamais nos desaponta; pois através do Espírito Santo, que nos foi dado, o amor de Deus tem invadido os nossos corações». Vemos, no presente contexto, que a «resistência» do crente, aqui focalizada, é uma qualidade espiritual, um produto de um andar inspirado e dirigido pelo Espírito Santo; e todas as qualidades e graças cristãs são produzidas da mesma maneira.
«A paciência humana, por conseguinte, além da resistência, possui igualmente a qualidade da expectação, em que o crente aguarda que algo aconteça, que ‘alguém venha em seu socorro’. A mensagem da paciência de Deus, nos profetas e através deles, contribui para a reativação da paciência.
Nas páginas do N.T...... a ‘paciência de Deus’ (ver Rom. 15:5), continua revestida do mesmo sentido tão lato». (R. Gregor Sjnith).
Cumpre-nos observar, no presente versículo, que essa «resistência» se alicerça sobre a fé. A fé consiste da outorga da alma a Cristo, em que o crente entrega a sua pessoa aos cuidados do Senhor, a fim de ser transformado segundo a sua imagem. Tal consagração a Cristo dá a um crente a disposição e o poder de suportar dificuldades que se originam em face de sua expressão de lealdade a Cristo.
«...perseguições...» No grego temos o vocábulo «diogmos», que significa «perseguição» ou «teste severo». Também tem o sentido de «caça»; pois se deriva do verbo «dioko», que quer dizer «perseguir», «caçar», «expulsar».
Em sentido nominal, esse termo também significa «tormento», «molestamento». Esse vocábulo dá-nos a entender a figura simbólica de um animal caçado, de uma presa perseguida, de um tormento incansável e sem misericórdia.
« ...tribulações...» No grego é «thlipsis», que significa «pressão», «opressão», e, metaforicamente, «aflição», «perseguição». Excelente tradução, nesse caso, é «opressão», que preserva à ideia de pressão inerente que há nessa palavra. A forma verbal, «thlibo», significa «pressionar», «comprimir», «estreitar».
«Portanto, quanto mais profundidade alguém alcança na fé, tanto mais será dotado de paciência para suportar a tudo com fortaleza de espírito, por um lado; e, por outro lado, a impaciência e a covardia ante a adversidade deixa transparecer a incredulidade, da parte de quem assim age, e mais especialmente ainda quando as perseguições devem ser sofridas por amor ao evangelho. Neste último caso a influência da fé aparece em primeiro plano».
(Calvino, in loc.).
ao mesmo tempo, de medida instrutora, corrigindo e produzindo alguma espécie de restauração, ainda que os punidos sob hipótese alguma venham a obter a glória reservada aos eleitos. (Ver o trecho de Rom. 11:32, que mostra Sue até mesmo os secretos decretos de Deus, contra os ímpios, têm a finalidade e aplicar sua misericórdia para com todos, através da aplicação da disciplina).
O primeiro capítulo da epistola aos Efésios deixa perfeitamente claro que o poder restaurativo de Cristo, que é universal e cósmico, é tão grande que é simplesmente impossível que qualquer coisa, em qualquer lugar, possa escapar de sua órbita, ainda que esse poder seja aplicado em graus variados, e sempre porque os homens ou os seres angelicais se prostrem ante sua posição de Cabeça e Senhor, posição essa que, finalmente, será firmada e reconhecida universalmente. (Ver a passagem de Fil. 2:10, 11 e as notas expositivas ali existentes, que deixam isso bem claro). Todos se prostrarão perante «Jesus» (onde se destaca sua qualidade de «Salvador»), e todos se prostrarão perante «o Senhor». Ver o mistério da vontade de Deus, Efé. 1:10.
A passagem à nossa frente fala sobre o fervor ardente do judaísmo posterior, utilizando-se da linguagem dos profetas, que proferiam palavras duras e altissonantes contra os inimigos e perseguidores da nação de Israel. Nessas palavras há uma verdade que não pode ser ignorada. No entanto, não honramos a Deus por fazer dele o grande Destruidor de todos os séculos, que queima pessoas como se fossem leitões assados, em uma imensa fornalha. Há certas passagens que lançam uma preciosa luz sobre a natureza dos julgamentos de Deus, definindo mais exatamente o que eles significam.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 229-230.
3. Chegar à perfeição.
Ef 4.13 A palavra “até” indica que o processo descrito em 4.12 deve continuar até que um certo objetivo seja alcançado – quando todos os crentes chegarem (conseguirem, alcançarem) à unidade da fé. Isto quer dizer a unidade na crença no próprio Cristo, e essa crença relaciona-se intrinsecamente com o nosso conhecimento dele. O objetivo inclui a realização de um esforço unido para viver e proclamar essa fé.
Unidade em nosso conhecimento refere-se ao mais completo e total conhecimento experimental. Cada crente deve ter um relacionamento íntimo e pessoal com Jesus Cristo. Paulo o chamou aqui de Filho de Deus, mostrando que o seu conhecimento inclui um entendimento apropriado do novo relacionamento com o Pai que foi concedido pelo Filho (Rm 8.10-17).
Este corpo unificado dos crentes é dito maduro e completamente adulto, à medida da estatura completa de Cristo. O foco, neste versículo, está em nós - cada crente como parte do corpo completo. Esta metáfora quer dizer que a igreja, como o corpo de Cristo, deve se adequar à Cabeça em desenvolvimento e maturidade. Isto não se refere à perfeição (impossível nesta vida), mas ao crescimento - como crianças tornando-se adultas, o que leva ao próximo conselho referente a esse crescimento.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 337.
O versículo 13 rememora o anterior e oferece explicação adicional da “edificação” da igreja. Uma vez mais, Paulo usa três frases, cada uma iniciada com a preposição grega eis: 1) à unidade da fé; 2) a varão perfeito; 3) à medida da estatura completa de Cristo. Estas não são idéias paralelas. A primeira fala do meio da maturidade, a segunda fala da realidade da maturidade e a terceira fala da medida da maturidade. Uma tradução melhor do versículo seria esta: “Assim, todos finalmente atingiremos a unidade inerente em nossa fé e em nosso conhecimento do Filho de Deus, e chegaremos à maturidade, medida por nada menos que a estatura completa de Cristo” (NEB).
A unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus constitui o meio do amadurecimento (cf. RA). A unidade é um dom do Espírito (cf. 3), mas requer-se fé e conhecimento para recebê-la. Neste texto, a fé é a resposta que damos ao Filho de Deus e a nossa confiança nele — Deus manifestado na carne que morreu no Calvário em nosso benefício. Aqui, conhecimento (epignosis) é semelhante à fé no ponto em que significa “compreensão, familiaridade, discernimento”. Não devemos equipará-lo a conhecimento intelectual, mas a relações pessoais. A unidade se origina dessa intimidade com o Filho proporcionada pela graça. Paulo não está falando da experiência inicial com Cristo. O apóstolo se preocupa com o crescimento e aumento em entendimento e compreensão dos propósitos e vontade de Deus conforme estão revelados em associação com Cristo. Os membros da igreja podem e devem ter tal crescimento em maior medida enquanto o servem.
A varão perfeito refere-se ao nível de maturidade coletiva e individual na igreja, no qual o poder de Deus se manifesta inteiramente em santidade e justiça. Tal estado será atingido em seu significado máximo futuramente, quando possuirmos a graça de Cristo na perfeição da ressurreição (cf. Fp 3.7-16).
A medida da estatura completa de Cristo é o padrão de medida que determina a maturidade cristã. Hodge escreve: “A igreja se torna adulta, homem perfeito, quando alcança a perfeição de Cristo”. A chave para interpretar o versículo é a expressão estatura completa de Cristo. Qual é esta estatura? Salmond diz que é “a soma das qualidades que fazem o que ele é”. Quando a igreja está à altura da maturidade plena do seu Senhor, ela é perfeita. E à medida que cresce em direção a essa maturidade, ela fica mais próxima de sua meta em Cristo. Precisamos também destacar que não há crescimento na igreja separadamente de nosso crescimento individual como crente. É cada um de nós individualmente que tem de se dirigir com empenho à estatura completa de Cristo.
Willard H. Taylor. Comentário Bíblico Beacon. Efésios. Editora CPAD. Vol. 9. pag. 161-162.
Essa é uma das grandes declarações do N.T., no que concerne ao alvo vital e ao sentido do evangelho, o que sem dúvida ultrapassa os meros aspectos iniciais do perdão dos pecados e da futura transferência para os céus, ao que o evangelho usualmente vem sendo frequentemente reduzido.
Essa é uma declaração similar a outras fortes afirmativas, a saber:
1. A conformação à imagem de Cristo, mediante o propósito da predestinação (ver Rom. 8:29; nessa referência oferecemos a nota de sumário sobre o conceito da «transformação segundo a imagem de Cristo»).
2. A participação na vida necessária e independente de Deus, ou seja, haveremos de compartilhar do mesmo «tipo» de vida que Deus tem, e do que os anjos não participam, por terem uma vida «dependente». (Ver as notas expositivas a respeito em João 5:25,26 e 6:57).
3. A transformação do crente segundo a imagem de Cristo, de um estágio de glória para outro, através do Espírito Santo (ver II Cor. 3:18). 4. A condução dos filhos de Deus ó glória, para que se tornem membros da divina família, para que sejam filhos tal como o Filho é filho, para que compartilhem com ele de sua natureza e herança. (Ver Rom. 8:14-17 e Heb. 2:10).
5. A participação na plenitude da divindade, tal como o próprio Cristo, o Deus-homem, está completo nessa plenitude. (Ver Col. 2:9,10).
6. A participação em «toda a plenitude do próprio Deus Pai». (Ver Efé. 3:19).
7. A participação na natureza divina. (Ver II Ped. 1:4).
A meditação sobre essas referências bíblicas e notas expositivas dará ao leitor uma ideia completa do que o evangelho neotestamentário tem como alvo, conforme se vê nos escritos dos apóstolos. E o versículo que ora comentamos é paralelo a todas as passagens citadas, em seu sentido e intuito básicos, ainda que frisem diferentes detalhes das mesmas verdades;
«.. .até...» Provavelmente essa palavra não foi usada para distinguir a vida presente, na igreja, da vida futura nos lugares celestiais, e, sim, para incluir ambas as ideias. Todos os aspectos da edificação, do processo de aperfeiçoamento, fomentado no presente pela administração dos dons na igreja, visam a unidade final da fé, o pleno conhecimento do Filho de Deus, a ampla participação em tudo quanto ele é e possui, isto é, a sua «plenitude». Esse processo de aperfeiçoamento é aquilo que continuamente nos preenche mais e mais com a plenitude de Deus; mas, posto que Deus é infinito, a eternidade futura inteira se caracterizará por um preenchimento contínuo, pois no céu não há estagnação. A própria vida, em sua essência e caráter, consiste da inquirição eterna para que sejamos cheios de Deus para que tenhamos sua natureza, sua santidade e sua plenitude.
«...todos...» Esse termo aponta para os crentes e remidos de todas as eras. No original grego temos a expressão «o todo», o que torna essa expressão coletiva e universal. Não diz «todos nós», e, sim, «o todo». Devemos observar que crentes individuais isolados não poderão obter o elevadíssimo alvo aqui apresentado. A igreja inteira é que atingirá tal alvo. Somente a edificação e o desenvolvimento mútuos nos levarão a esse clímax espiritual. Meu progresso depende do progresso da comunidade cristã inteira; e o progresso da igreja depende de mim, por sua vez. Todos nós perfazemos o «corpo único», o único organismo, e o crescimento se dá por igual. Não poderei atingir a perfeição e a completa glorificação, até que todos os membros do corpo participem disso comigo. E esse é um poderosíssimo argumento em favor da necessidade de edificação mútua.
«...unidade d a fé...» Que significará essa expressão?
1. Não está em foco «a total harmonia em torno de proposições de fé», o acordo sobre o que deve consistir o «corpo de doutrinas». Deus cuidará das nossas «crenças»; mas não é isso que se destaca aqui, porquanto a palavra «fé» raramente tem a ideia de um conjunto de doutrinas, nas páginas do N.T. Ver I Tim. 1:2, onde encontramos notas sobre este uso. 2. Pelo contrário, conforme é usual nos escritos de Paulo, devemos entender aqui a «fé salvadora». Assim sendo, essa expressão significa «...até que todos nós cheguemos àquela unidade para onde nos conduz a ‘entrega de alma’ (ou fé) a Cristo».
A fé é o instrumento da salvação; e vivemos de fé em fé. Na fé é que entregamos a alma eternamente às mãos de Cristo, pois a fé é essa entrega. Porém tal entrega se manifesta em diversos graus. Porém, na experiência da igreja cristã, coletivamente, essa entrega será finalmente absoluta, em que todos os remidos se entregarão totalmente e por igual a Cristo, chegando àquela grande unidade que é o objeto de tudo quanto ocorre na igreja. Dentro dessa unidade, pois, os homens chegam à perfeita harmonia com Deus e seu Cristo, ficando removidos então todos os elementos separadores e alienadores, o que significa que uma completa comunhão com o Senhor e com os irmãos será atingida, além de recebermos total benefício espiritual da parte do Senhor. Essa unidade é a finalidade mesma do «mistério da vontade de Deus» (ver Efé. 1:10). Isso se concretizará, primeiramente, no seio da igreja (ver Efé. 3:3), quando então a igreja tornar-se-á o modelo de como Deus haverá de restaurar todas as coisas em Cristo, fazendo tudo entrar em harmonia com ele, por ser ele o cabeça de todos os mundos e de toda a criação.
Já existe no momento uma certa unidade criada pelo Espírito, a qual deve ser preservada por nós e aplicada no âmbito da igreja local (e essa é a mensagem desta secção inteira, a começar pelo primeiro versículo, até ao versículo décimo sétimo). Porém, haverá aquela completa realização da unidade, a total restauração em Cristo, a perfeita harmonia com ele, como se fosse um corpo com sua cabeça; e esse é o aspecto final da unidade (o cumprimento da vontade de Deus), para o que o presente versículo aponta.
«Essa frase com freqüência tem sido mal-entendida na prédica e no ensino cristãos. Muitos são tentados a pensar que está em foco o exciusivismo da ortodoxia, uma unidade de um grupo fracionário de cristãos, que aceitam uma formulação comum de confissão teológica». (Wedel, in loc.).
E prossegue o mesmo autor: «Não precisamos subestimar a ortodoxia. Essa palavra significa ‘crença correta’. A fé cristã requer a crença correta, bem como formulações intelectuais corretas, e não errôneas, sobre o evangelho. A heresia foi e é, conforme esta epístola (aos Efésios) não tardará a demonstrá-lo, um perigo constante para a igreja».
A unidade da fé significa claramente aqui, entretanto, aquela unidade exigida ‘pela fé’ em Cristo.
Nenhum crente individual e nem a igreja, coletivamente, atingiram ainda a unidade que a fé pode produzir, quando então estaremos em total união com tudo quanto Cristo é e tem. Paulo não reivindicava haver atingido a perfeição (ver Fil. 3:12-14). Há um a só fé (ver o quinto versículo), sendo essa uma das formas unificadoras fundamentais do sistema cristão. Essa fé salvadora, essa «entrega de alma» a Cristo, finalmente resultará em total entrega a Cristo, por parte de todos os crentes. Disso é que fluirá a plena unidade e tudo quanto está prometido no caminho das bênçãos espirituais e celestes (ver Efé. 1:3). (Quanto a notas expositivas completas sobre a «fé evangélica», ver Heb. 11:1).
«...pleno conhecimento do Filho de Deus...» As palavras «...pleno conhecimento...» traduzem um único vocábulo grego, «epignosis»; mas, visto que essa palavra é uma forma intensificada (com um prefixo preposicional), é tradução correta dizer como temos aqui. Quem recebe tal conhecimento, conhece experimentalmente ao Filho de Deus. Quanto a isso, consideremos os pontos abaixo:
1. Essa palavra indica conhecimento intelectual, mas não somente isso. 2. Também significa o conhecimento experimental da alma, mediante a «comunhão» com o Filho de Deus, em sua natureza essencial e em suas manifestações. Paulo via Cristo como uma personalidade transcendental que, em sua grandiosidade, só pode vir a ser conhecido por métodos espirituais. E assim conhecido ele passa a transformar os homens, para que estes assumam sua natureza e suas riquezas. É por isso que Paulo declarou, em Fil. 3:10: «...para o conhecer e o poder da sua ressurreição e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte...»
3. Esse conhecimento, pois, é de natureza «mística», conforme diz a teologia paulina do princípio ao fim. Em outras palavras, tal conhecimento nos chega através da «iluminação e transformação» operadas pelo Espírito Santo. (Comparar isso com Efé. 1:18, onde Paulo ora para que os crentes tenham seus olhos do entendimento «iluminados», a fim de que possam «conhecer» a esperança da nossa vocação, as riquezas da glória de herança nos santos; e assim «conheceremos» seu grande poder, que foi exercido em Cristo, e que será exercido em nós. (Ver Efé. 1:19). Conhecer e experimentar tais coisas, portanto, faz parte do que significa «conhecer» a Cristo.
A revelação, além disso, leva-nos a conhecer ao próprio Deus, conforme aprendemos no décimo sétimo versículo deste mesmo capítulo. O tema da segunda oração de Paulo, neste livro, é que possamos «conhecer» o «amor de Cristo», e nesse amor se encerra o «conhecimento de tudo quanto o amor de Cristo está fazendo por nós e em nós». Pois, nas páginas do N.T., conhecer é amar, pois o «conhecimento-amor» é a «gnosis» neotestamentária, em contraste com os conceitos dos gnósticos. Sim, o amor é a real «gnosis» cristã, por ser essa a fonte originária de todas as bênçãos espirituais.
«...do Filho de Deus...» Essa expressão, dentro desta frase, está ligada tanto à «fé» como ao «conhecimento». Trata-se da «fé em Cristo» e do «conhecimento de Cristo».
«...d perfeita varonilidade...» Variações dessa expressão são «homem perfeito», «varonilidade madura». Paulo fala de um corpo humano que cresce desde a infância até atingir a idade adulta, a maturidade.
Espiritualmente falando, a «criança», que é a igreja, mediante o «desenvolvimento espiritual», haverá finalmente de tornar-se homem maduro. (Isso pode ser comparado com o «novo homem» de Efé. 2:15). Porém, «plenamente desenvolvido» ou «maduro», neste caso, no presente contexto, deve também significar «perfeito», ou seja, «homem sem qualquer deficiência ou defeito», porquanto nada menos do que isso concorda com o próprio texto, ao mesmo tempo que o vocábulo grego «teleios» naturalmente tem esse significado, ainda que não tenha necessariamente tal sentido, podendo indicar apenas «maduro», em contraste com «infantil», quando aplicado a seres humanos.
No versículo seguinte, Paulo menciona os «nepioi» («crianças»), palavra grega essa que com freqüência indica «infantes» bem pequenos, que ainda não sabem falar. Os crentes imaturos são como tais crianças, quanto ao desenvolvimento espiritual. Porém, o propósito dos dons espirituais, na igreja e em seu programa geral de edificação (ver o décimo segundo versículo), é produzir a maturidade e a perfeição no seio da igreja; e nessa unidade perfeita é que se cumpre o mistério da vontade de Deus, no que tange à igreja (ver Efé. 1:10 e 3:3).
A igreja inteira, e não meros crentes individuais, é que está em pauta aqui, embora seja verdade que aquilo que sucede à igreja inteira necessariamente sucede a todos os seus membros. Cada crente será um exemplar do que Cristo é, porquanto somos Cristo em formação. O singular usado neste caso, o «homem» que chegou à «perfeita varonilidade», assinala a total unidade que se busca concretizar e que, fatalmente, será atingida.
Portanto, toda e qualquer desunião, conforme vemos hoje em dia à face da terra, no seio da própria igreja evangélica, com suas numerosíssimas denominações, onde igrejas locais competem entre si em mau sentido onde crentes se destroçam uns aos outros, tudo isso é uma negação prática da unidade da igreja, sinal de imaturidade espiritual, por que ainda somos infantes, espiritualmente falando.
Para chegarmos à unidade, é inútil continuarmos a reduzir o cristianismo ao seu estado mais ínfimo, com o que todos possam concordar e ficar unidos. Pelo contrário, precisamos, todos nós, crescer em Cristo, atingir a maturidade espiritual. Somente assim seremos unidos em Cristo, alicerçados no «máximo» e não no «mínimo» do cristianismo. O movimento ecumênico da igreja de hoje em dia procura unir os cristãos sobre bases «mínimas»; e por isso fica automaticamente condenado pelo conceito de unidade encontrado nesta passagem.
«...a medida da estatura da plenitude de Cristo...» Isso reitera, em outras palavras, o conceito da «perfeição» com que se inicia o presente versículo. A obtenção da «perfeição», na realidade, consiste em assumirmos a total medida da plenitude de Cristo. Essa expressão também define o que deve ser o «homem perfeito» (que Paulo acabara de mencionar). Ninguém poderá ser «perfeito» enquanto não for tudo quanto Cristo é. Trata-se de elevada doutrina, que nos ensina profunda verdade. Essa elevação, entretanto, está oculta da moderna igreja evangélica, que não pode elevar-se acima de pensamentos como ficarmos livres do pecado. Porém, estarmos sem pecado não nos torna perfeitos. Pois os anjos, que não caíram, são impecáveis, mas nem por isso participam da perfeição de Deus Pai e de Deus Filho. O evangelho, porém, expõe ante os homens essas perfeições, que transcendem infinitamente a mera impecabilidade que muitos veem aqui.
A Natureza Da Perfeição
1. Em sua manifestação terrena, a perfeição aparece como maturidade espiritual, como elevado grau de santidade, de parceria com poder espiritual e utilidade nas mãos de Deus, no que diz respeito tanto a nós, quanto à igreja. Recebemos poder a fim de servirmos e cumprirmos nossas respectivas missões.
2. Porém, nas dimensões celestiais, começaremos dotados da mesma natureza que Cristo (ver I João 3:2), e assim seremos participantes de sua plenitude e atributos (ver Col. 2:10).
3. Por semelhante modo, pertencem-nos a natureza e os atributos do Pai (ver Efé. 3:19).
4. Na qualidade de seres tão exaltados, ainda assim a nossa perfeição será apenas «relativa», pois só Deus é perfeito. Mas iremos passando de um estágio de glória para outro, perenemente aumentando a nossa perfeição, sempre nos aproximando, mas nunca atingindo plenamente, as perfeições divinas. Portanto, a glorificação será um processo interminável. A impecabilidade será apenas seu início. Também iremos avançando no campo das virtudes positivas de Deus, em seus atributos, e na participação de sua forma de vida.
Qual será o tempo da maturidade? Paulo não frisa aqui nenhum ponto no tempo, presente ou futuro, para atingirmos esse alvo da perfeição. Mas a, eternidade futura será o terreno da busca contínua e bem-sucedida. De fato, sendo Deus infinito, e visto que estamos crescendo segundo a sua plenitude, passaremos a eternidade nessa inquirição, crescendo sempre na direção da perfeição. Esse é o próprio significado da vida, pois a vida vem de Deus, é de Deus, está em Deus e volta-se para Deus.

ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

4 comentários:

  1. A PAZ DO SENHOR

    AMADO NÃO PARA DE POSTAR OS ESTUDOS DAS LIÇÕES

    POIS TEM SIDO DE GRANDE AJUDA PARA MIM

    POIS EU SEMPRE ESTOU GUARDANDO SEUS ESTUDOS E IRÃO FAZER FALTA

    QUE DEUS CONTINUE LHE ABENÇOANDO E ESTAREI ORANDO PELO IRMÃO

    ResponderExcluir
  2. A PAZ DO SENHOR
    ACHO MUITO INTERESSANTE ESSE ESTUDO REFERENTE A EBD, PORÉM EU NÃO VISUALIZEI OS HINOS SUGERIDOS E NEM OS EXERCÍCIOS DESSA LIÇÃO :(
    DEUS ABENÇOE IRMÃO

    ResponderExcluir
  3. A paz do Sr Jesus aos amados.
    Meu amado irmão não estou mais postando a lição somente os comentário.
    Devido a problemas de tempo, pois assim sobra mais tempo para pesquisar e preparar as aulas.
    Mas existem outros blog e site que o fazem como o do Ev: Henrique.
    Site: http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/videosebdnatv.htm

    ResponderExcluir
  4. Deus te abençoe meu irmão pelo seu esforço e dedicação a ebd, isso é muito imortante.

    ResponderExcluir