O PERIGO DA BUSCA PELA AUTORREALIZAÇÃO HUMANA
Revista
Ensinador Cristão CPAD, n° 59, p.41.
Por
que existem conflitos, discórdias e males entre as pessoas cristãs? Tiago, o
meio-irmão do Senhor, retoricamente, pergunta: "Porventura, não vêm disto,
a saber, dos vossos deleites que nos vossos membros guerreiam?" (v.1).
Esta é a origem dos conflitos e das discórdias que o autor da epístola descreve
na seção bíblica 3.1-3. Quão enganoso e destrutivo é o coração humano!
No
terceiro capítulo, Tiago demonstra que a maioria das nossas desavenças e tramas
perversas é fruto da ambição, ignomínia e sede de vermos o nosso desejo
realizado. E qual o objetivo desta realização? O deleite! O líder da igreja de
Jerusalém expõe a nudez da alma humana. Daí é que surgem muitas frustrações
espirituais e da própria alma. O indivíduo tem uma relação com Deus não segundo
a vontade divina, mas a sua própria, pois colocaram em sua cabeça que as
bênçãos de Deus são para os seus deleites e prazeres. Neste ponto, Tiago é
taxativo: "Cobiçais e nada tendes; sois invejosos e cobiçosos e não podeis
alcançar; combateis e guerreais e nada tendes, porque não pedis. Pedis e não
recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites" (4.2,3).
"Porque
não pedis", Tiago destaca esta expressão para compará-la, logo em seguida,
com a outra posterior: "Pedis e não recebeis". Porque alguém pede a
Deus e não recebe, já que o nosso Senhor prometeu dar-nos tudo o que pedíssemos
em seu nome? Esta é uma pergunta que só pode ser respondida à luz de um autoexame
sincero, pois a Palavra responde com clareza: "Pedis e não recebeis,
porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites". Temos de ter o
cuidado, para não confundirmos a vontade de Deus com a nossa própria. Não
podemos usar o nome de Deus para realizar as vontades e os prazeres
particulares. Deus não se usa!
Portanto,
desafie a classe para um autoexame honesto, sincero e transparente à luz da
Palavra de Deus. Nada é melhor que o homem desnudar-se na presença do
Altíssimo. O nosso Pai sabe o que está em nosso coração e qual a nossa
verdadeira motivação de vida diante dEle. Num tempo dominado pelas ambições e
prazeres humanos, a palavra ensinada por Tiago chega a uma ótima hora e
desafia-nos a olharmos para nós e perguntarmo-nos: o que há em meu coração?
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Ao falar, no final do
capítulo 3, sobre a sabedoria que vem do Alto, o apóstolo contrasta-a com a
falsa sabedoria, a sabedoria terrena, que se baseia na “amarga inveja” e no
“sentimento faccioso” (Tg 3.14,16). Prosseguindo, então, nesse raciocínio,
Tiago começa o capítulo 4 falando sobre a origem das disputas e dos conflitos
entre as pessoas, e dos males do orgulho humano. E o apóstolo já vai direto ao
assunto no primeiro verso do capítulo, ao encetá-lo com a pergunta: “Donde vêm
as guerras e pelejas entre vós?” (v.la).
Ora, não poucas
vezes, somos tentados a culpar as pessoas ou a situação à nossa volta pelos
conflitos, mas Tiago é claro quanto à real origem das disputas e conflitos: ele
afirma que tudo começa dentro de nós (v.lb). Sendo assim, urge atentarmos para
a repreensão do apóstolo, até porque ela nos apresenta alguns passos que
devemos tomar para evitar que nos tornemos fontes de conflitos, como veremos a
seguir.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 115.
O capítulo 4 começa
com um desafio para que eles mudem o seu comportamento habitual. As perguntas
de Tiago impõem a firmeza e o comprometimento de uma pessoa que compreende que
o mal inalterado não irá desaparecer. Tiago deseja que os seus irmãos e irmãs
resistam não somente às práticas da sabedoria maligna, mas também à fonte desta
sabedoria. O seu plano exige uma declaração de fidelidade a Deus e uma rebelião
declarada contra o exército do diabo.
Precisamos sentir o
impacto destas mesmas verdades, à medida que Tiago descreve as situações que
são terrivelmente verdadeiras nas igrejas da atualidade. As disputas e brigas
que Tiago observava ainda caracterizam a vida do corpo de Cristo e prejudicam gravemente
a transmissão eficiente do Evangelho. Os de fora, que consideram a igreja como
um lugar de consolação e salvação, frequentemente a encontram repleta de discórdias.
Precisamos desesperadamente da sabedoria de Deus em nossas igrejas.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 681.
A sabedoria falsa é
força poderosa em favor do mal, conforme fica demonstrado na secção anterior.
Porém, mais prejudicial ainda para a inquirição espiritual é o desejo maligno e
descontrolado; e esse é o tema que o autor sagrado agora passa a abordar e a
repreender. Esta secção não demonstra qualquer unidade especial, pois o autor
sagrado mistura muitas ideias, embora, de alguma maneira, alguma forma de
desejo distorcido apareça por detrás de cada versículo.
Os versículos
l-2bintroduzem uma espécie de aforismo estoico, sendo bem possível que essas
palavras foram tomadas por empréstimo de algum outro escritor. O que se segue,
entretanto, é puramente religioso, no estilo judaico. Os homens que têm desejos
conflitantes, nenhum deles santificados pela influência do Espirito de Deus,
criam confusão em suas próprias vidas, bem como na vida da congregação local a
que pertencem. Desejos conflitantes provocam guerras, entre nações ou
indivíduos, ou mesmo entre facções de uma igreja local. Aqueles que se envolvem
em tais dissensões, esquecem-se da grande chave mestra da conduta cristã:
«Buscai primeiramente o Reino de Deus...» Mas buscam zelosamente as coisas de
mero valor temporal, que são coisas inteiramente prejudiciais para a alma,,
quando substituem os valores espirituais. É um dos elementos do paradoxo que é
a natureza humana, que aquele que se esquece de seu bem-estar espiritual,
termina por anelar por coisas que são prejudiciais para sua alma. Contenta-se
em seguir algo que lhe dá prazer imediato, e age como se os valores eternos não
existissem, ou como se fossem secundários, sem importância. Sempre temos sido
ensinados, e professados a crer que a vida digna de ser vivida é aquela que
traz o bem para outros, que é expressão de amor e altruísmo. Porém, frequentemente,
vivemos exclusivamente para nós mesmos, e mesmo quando fazemos algo em favor de
outrem, é porque temos algum motivo egoísta ulterior. Dessa maneira, não
vivemos segundo a lei do amor, que exige que tomemos sempre em consideração a
dimensão eterna.
Ê o desejo mau e
egoísta que nos leva a olvidar e a ignorar os verdadeiros motivos da vida. O
primeiro mandamento consiste em amar a Deus; o segundo mandamento nos ordena
amar ao próximo e o trecho de Mat. 25:35 e ss. mostra-nos que amamos a Deus
quando amamos ao próximo, o que é realizado por feitos de generosidade em favor
de nossos semelhantes. Porém, quando buscamos os próprios interesses e agimos
somente em proveito próprio, dificilmente podemos viver segundo essa regra. Por
conseguinte, os maus desejos, egoístas que tão, frustram a lei do amor; e o
resultado natural disso é o espírito contencioso.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 62.
I - A ORIGEM DOS CONFLITOS E DAS DISCÓRDIAS (Tg 4.1-3)
1.
Que sentimentos são esses?
Tg 4.1 “Guerras
exteriores vêm de guerras interiores”. Aqui está a verdade que Tiago procura
deixar claro para os seus leitores. Ele estava tratando de um problema que
ocorria no círculo de crentes. Ele continua se dirigindo aos “meus irmãos”
(1.2; 2.1; 3.1,10; 4.11). Esses eram cristãos professos, mas eles não estavam
dando um bom exemplo como seguidores de Cristo. Na sua comunhão, havia inveja e
sentimento faccioso (3.14). Em um apelo à consciência, Tiago pergunta: Donde
vêm as guerras e pelejas entre vós? (v. 1). Não são elas guerras travadas em
seu próprio espírito?
1. Desejos Errados e
Desastre Espiritual (4.1,2b)
Tiago dá uma resposta
afirmativa à sua própria pergunta, mas ele sabe que é a mesma resposta que seus
leitores ouvirão de uma consciência acusadora. Vocês colocaram seu coração
naquilo que o mundo pode lhes dar e, como resultado, vocês estão em
dificuldade. Desejos mundanos conflitam uns com os outros. Esses deleites
(“prazeres”, ARA), que nos vossos membros guerreiam (v. 1), perturbam vossa
própria paz de espírito, por isso vocês brigam e matam e espalham o conflito
aos outros. O principal problema é que vocês permitem que desejos profanos
possuam seu espírito. Esses desejos, se impuros e incontrolados, levam ao
desastre espiritual.
Se analisarmos esse
texto de acordo com 3.14, ele é melhor interpretado por sois invejosos
(“matam”, cf. KJV e NVI e ARA), combateis e guerreais de maneira figurativa.
Não é provável que essas coisas tenham, na verdade, ocorrido na comunidade
cristã. Tanto Tiago quanto seus leitores cristãos estariam familiarizados com a
interpretação de Jesus de que abrigar o desejo perverso consistia, na ótica de
Deus, na violação dos mandamentos (cf. Mt 5.21-22). A maioria dos tradutores
modernos entende que o versículo
2 apresenta duas
sentenças equilibradas, ou seja: “Vocês desejam, mas não possuem; por isso
cometem assassinato. E vocês são invejosos e não conseguem obter; por isso,
lutam e brigam” (NASB).
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 181-182.
Tg 4.1 A palavra
“pelejas” refere-se a lutas sem armas, como em conflitos pessoais. Estes conflitos
não têm nada a ver com as disputas no mundo pagão; são disputas dentro da
igreja, entre os crentes. Tiago está descrevendo uma situação em que um grupo
chega a um estado de guerra, com escaramuças declaradas surgindo em meio às pessoas.
Os lados foram escolhidos, as trincheiras foram cavadas. Em casos como este, os
crentes deixaram de ser pacificadores (3.18) e vivem em um antagonismo aberto
uns contra os outros. A palavra “guerras” refere-se a batalhas com armas, um
conflito armado. Esta palavra é usada de maneira figurada para indicar a luta
entre poderes, tanto terrenos quanto espirituais.
Obviamente, haverá
desacordos em qualquer igreja. Mas, quando isto acontecer, será que seremos
suficientemente sábios para entender a razão? Identificaremos a sua origem?
Quando tratados de maneira correta, com sabedoria devota, estes problemas podem
levar ao crescimento.
Infelizmente,
entretanto, algumas igrejas tornam-se campos de batalha permanentes. Os novos crentes
encontram-se em meio a um fogo cruzado de discussões, ressentimentos e lutas
pelo poder que aparentam ser uma verdade espiritual, mas que frequentemente são
simplesmente conflitos pessoais. Neste processo, os observadores inocentes são,
a umas vezes, profundamente feridos. Muitos de nós conhecem pessoas que se afastaram
da igreja por causa de um conflito que nada tinha a ver com o Evangelho.
Guerras e pelejas têm
sido causadas não por alguma força externa, mas pelos maus desejos (versão
NTLH) das pessoas. Quando cada pessoa procura o seu próprio prazer, o resultado
só pode ser conflito, ódio, e divisão. A expressão “lutando dentro de vocês”
(versão NTLH)
sugere uma batalha
furiosa entre o desejo de fazer o bem e o desejo de fazer o mal.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 682.
1 – A realidade da
falta de paz (v. 1).
Tg 4.1 “Guerra”, em
grego pólemos: trata-se do combate a um adversário com todos os meios
disponíveis, inclusive as armas, com a finalidade de aniquilá-lo. Quantas
guerras também o nosso século presenciou em todos os quadrantes do mundo!
Quantas repetidas vezes as guerras nos ameaçam! E como já nos acostumamos com
os conflitos! O mundo está cheio de “guerras e clamores de guerras” (Mt 24.6).
“Lutas”: essa é a
expressão mais abrangente. Refere-se também aos atritos menores. Eles ocorrem
em toda parte: no dia-a-dia político, entre parceiros sociais, na vida
econômica e profissional, entre vizinhos e moradores da casa, entre as gerações
e entre cônjuges.
“Entre vós”:
significa no âmbito da igreja de Jesus. Isso é consternador. Será que, ao
falarmos da discórdia, pensamos apenas nos outros ou primeiramente em nós? Está
em negociação a “nossa causa”. Repetidamente ocorrem rivalidades, ciumeiras,
suscetibilidades, necessidade de afirmação, tensões, irreconciliabilidade,
dissensões entre cristãos, em igrejas, congregações e grupos cristãos. Também
quando está em jogo a necessária luta pela verdade, muitas coisas humanas estão
envolvidas. Com frequência a luta está infectada por um espírito falso. A
palavra representa um chamado ao arrependimento que nosso Senhor dirige a todos
nós. – “Entre vós” significa literalmente: “em vós”. A expressão refere-se à
nossa comunhão, ou seja, à realidade das interações humanas. Mas igualmente
pode ser relacionado com cada um de nós: em nós mesmos trava-se a luta. Pelo
fato de frequentemente existir em nós mesmos tanta desordem, falta de paz,
dilaceramento, temos não raro reações tão negativas. A falta de paz entre as
pessoas nas coisas pequenas e grandes, em discórdias e guerras, não é mais do
que a multiplicação daquilo que existe em cada indivíduo.
2 – A causa da
discórdia – de onde ela vem (v. 1).
“De onde vêm as
guerras e de onde as contendas entre vós? De onde, senão dos desejos que
militam em vossos membros?”
Esses “desejos” e
cobiças se dirigem ao que o próprio ser humano precisa para viver, ao que a
geração posterior necessita, ao que traz alegria e gera felicidade ou
facilidade para nós, ao que promete sublimar nossa vida, ao que promete nos
preservar de sermos esquecidos no mundo vindouro, ao que deve assegurar a nós e
nossos filhos o futuro, ao que vemos em outros… Muitas dessas expectativas têm
razão de ser. Contudo, em nós elas surgem permeadas, atacadas, embebidas pelo
espírito de baixo, ao qual muitas vezes abrimos as portas. Estão contaminadas e
deterioradas desde que o pecado está no mundo. Vivemos no reino do pecado, no
mundo, e, por natureza, o mundo está em nós. Essa condição do ser humano é
chamada de “carne” pela Bíblia. Todas as esferas da vida estão marcadas por
ela: a luta por bens, por ascensão social, por poder, por realização na vida,
por felicidade. Também nossa sexualidade é abarcada por ela.
“Em vossos membros”:
todos os órgãos humanos, dons, possibilidades, esferas de vida são igualmente
atacados por esse espírito. Essa condição está sediada em nosso “sangue”. Em
vão procuramos no ser humano o muito citado “cerne bom”. Pelo contrário, de
acordo com a sentença da Bíblia ele possui um cerne mau, duríssimo. Ela fala de
“corações de pedra” (Ez 36.26s). Unicamente o próprio Deus é capaz de realizar
o “transplante cardíaco” que salva. O “em vossos membros” diz ainda mais: esses
órgãos, dons e âmbitos da vida se tornam praticamente instrumentos, “armas”
(cf. Rm 6.13) nessa ferrenha luta por auto-afirmação, reconhecimento e
auto-realização do ser humano: forças intelectuais, capacidade de contatos,
olhos, ouvidos, capacidade de falar, mãos, pés, órgãos sexuais, em suma: corpo,
alma e espírito.
“Os desejos militam
em vossos membros”: Assim o ser humano é atormentado e agitado. Preocupação e
medo como consequência desses desejos (do próprio desejo e do desejo dos
outros) tornam-se “contingência básica de sua existência”, como dizem os
filósofos. Ele é como um animal que precisa sempre “garantir-se”, estar alerta e
buscar um ponto fraco no outro para se defender. Algo análogo ocorre
predominantemente na vida profissional, comercial, política, social, e até
mesmo na vida familiar. Quando desaparece a confiança em Deus, desaparece
também a confiança nas pessoas. Essa é a condição do ser humano que não conta
com Deus e não espera nada dele, com o ser humano que tenta ser grande por
conta própria (Gn 3.5) e que pensa ter de ajudar-se a si mesmo. É o ser humano
que acredita estar sozinho, motivo pelo qual também tem de suportar sozinho o
gigantesco fardo da preocupação pelo futuro. Por isso resiste tão
ferrenhamente, por isso a bestial seriedade e as hostilidades. No entanto – o
que é alarmante – isso também ocorre na igreja cristã.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
As GUERRAS são uma
realidade da vida, a despeito dos acordos de paz. Não há apenas guerras entre
as nações, mas também entre as denominações, dentro nas famílias e dentro do
nosso próprio coração. Tiago diz que o nosso verdadeiro problema não está fora
de nós, mas dentro de nós (4.1; Mt 15.19,20).
A guerra do
Peloponeso, que durou 27 anos, destruiu a Grécia no ápice da grande civilização
que ela havia criado como resultado da Idade de Ouro de Atenas. Roma fez da guerra
uma maneira de viver, mas, apesar disso, foi vencida e destruída pelos
bárbaros. Na Idade Média, a guerra varreu a Europa, culminando com os horrores
da Guerra dos Trinta Anos, terminada em 1648.
Essa guerra é
considerada o episódio militar mais horrível na história ocidental antes do
século 20. Cerca de 7 milhões de pessoas ou seja, 1/3 dos povos de língua alemã
morreram naquela guerra. James Boyce disse que a guerra é o nosso principal
legado.
Na Primeira Guerra
Mundial (1914-1918) aproximadamente 30 milhões de pessoas pereceram. Todos ficaram
horrorizados. Mas dentro de 20 anos outra guerra fi)i travada no mesmo
anfiteatro, pelos mesmos participantes, por muitas das mesmas razões. A Segunda
Guerra Mundial (1939-1945) resultou na perda de 60 milhões de vidas, enquanto
os custos quadruplicaram da estimativa de 340 bilhões para 1 trilhão de
dólares.
Assistimos a guerra
fria entre o comunismo e o capitalismo.
Assistimos o maior
massacre da história contra os cristãos pelas mãos do comunismo entre os anos
de 1917 a 1985. Assistimos sangrentas guerras tribais na África, batalhas fratricidas
na Irlanda, massacres no Oriente Médio.
Hoje vemos o domínio
bélico dos Estados Unidos sobre seus rivais. Essas guerras são uma projeção da
guerra instalada em nosso próprio peito. Carregamos uma guerra dentro de nós.
Desejamos o nosso próprio prazer à custa dos outros (4.2). Em vez de lutar,
Tiago diz que devemos orar (4.2,3).
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag.
2.
A origem dos males (Tg 4.2).
Tg 4.2 Os desejos
aqui descritos tornam-se tão fortes, que as pessoas estão prontas até para matar
(versão NTLH), com a finalidade de conseguir aquilo que querem. A palavra “matar”
pode ser interpretada como uma hipérbole para o ódio e a amargura. Em lugar de
reavaliarem os seus desejos, as pessoas descritas por Tiago recorrem à inveja,
a lutas, a disputas, e a coisas piores do que estas. Mas, apesar de todo o seu
egoísmo e antagonismo para conseguirem o que desejam, elas ainda não podem
alcançar estas coisas.
Por que? Nós
aprendemos (desde quando tivemos o nosso primeiro triciclo ou a nossa primeira
boneca até quando dirigimos o nosso primeiro automóvel) que os desejos
satisfeitos não trazem tanta satisfação quanto prometem.
Algumas vezes,
conseguimos realmente aquilo que queríamos, e então descobrimos que ainda não
temos aquilo de que realmente necessitávamos - a profunda satisfação que somente
nos vem quando somos justificados para com Deus. Se confiarmos somente nos nossos
desejos, eles apenas nos levarão às coisas desta terra, e náo às coisas de
Deus. Era resumo, a mensagem de Tiago é: Nada tendes, porque não pedis a Deus.
Em outras palavras: “Vocês não têm o que querem porque não querem a Deus”.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 682.
Este versículo dá
prosseguimento à citação «secular» que encabeça a presente secção. Não podemos
imaginar que houvesse mortes reais no seio da igreja. A citação secular fala
sobre «guerras», com derramamento de sangue e tudo, em que sempre há um
vencedor e um perdedor. Espiritualmente, entretanto, todas essas declarações se
aplicam especialmente às contendas nas igrejas, pois, quando isso sucede, não
pode haver um verdadeiro vencedor; a igreja inteira é perdedora, sendo
sacrificado seu bem-estar e seu poder espirituais.
O segundo versículo
deste capítulo explica detalhadamente a conexão entre a busca pelos prazeres e
as lutas subsequentes, no primeiro versículo.
A tradução inglesa
RSV reflete isso claramente: «Desejais e não tendes; portanto, matais. Cobiçais
e não podeis obter; portanto, combateis e fazeis guerras». Os desejos não
cumpridos causam descontentamento; o descontentamento se manifesta na forma de
violência e de contenda franca.
«...cobiçais...» No
grego é nepithumeo», «desejar», «anelar por», em bom ou em mau sentido. E óbvio
que aqui isso deve ser entendido de maneira prejudicial. Tal palavra era com
frequência usada para indicar as paixões sexuais descontroladas; mas o presente
contexto não limita seu sentido a isso.
«.. .e nada
tendes...» Obter para si mesmo não é satisfatório; a alma, que reconhece
intuitivamente a natureza da verdadeira inquirição na vida, não aceita a
satisfação falsa derivada do egoísmo. Portanto, o resultado líquido do egoísmo
é a insatisfação.
«...matais...» No
contexto original, devia ser entendido literalmente; no contexto cristão,
conforme o uso do autor sagrado, está em foco a destruição do bem-estar
espiritual, da .reputação alheia, da vida espiritual de crentes individuais e
de igrejas locais inteiras. Erasmo, pensando que o termo é por demais severo,
conjecturou um termo similar como se fosse o original, a saber, «phthoneo» (em
contraste com a palavra usada aqui,
«phoneo»); porém,
isso é uma emenda arbitrária, e sem qualquer apoio dos manuscritos do N.T.
grego existentes.
«...invejais, e nada
podeis obter...» A emulação também não é satisfatória; até mesmo quando se
obtém aquilo que se deseja, a porção nobre do homem rejeita isso como digno. O
estoicismo diz isso claramente.
O desejo cumprido
conduz meramente a uma maior multiplicidade de desejos; e a grande
multiplicidade dos desejos conduz à frustração; e a frustração leva à
futilidade. Esse tema é desenvolvido amplamente na filosofia moderna por
Schopenhauer. Sua conclusão é que a única emoção legitimamente orientadora é a
simpatia; e isso é apenas uma outra maneira de dizer «Amar o próximo». O amor é
o oposto da emulação. O amor constrói; a inveja e a emulação destroem.
«Finalmente, ele
proíbe o desejo, sabendo que o desejo produz a revolução e se inclina para a
intriga. Pois todas as paixões da alma são más, agitando-a e excitando-a de
maneira desnatural, destruindo sua saúde e, pior que tudo, seu desejo. E esses
males têm por causa o amor ao dinheiro, o amor às mulheres, o amor à glória ou
o amor a qualquer daquelas coisas que produzem prazer—são elas coisas pequenas
e ordinárias? Não é por causa dessa paixão que relações são quebradas, e assim
a boa vontade natural é transformada em uma desesperadora inimizade? que grandes
e populosos países são desolados domésticos? e que terras e mares são tomados
por tremendos desastres, devido a batalhas navais .e campanhas terrestres? Pois
as guerras, famosas em sua tragédia, que os gregos e os bárbaros têm feito uns
contra os outros, originaram-se todas de uma só fonte: o desejo pelo dinheiro,
pela glória ou pelo prazer. Por causa dessas coisas a raça humana tem
enlouquecido». (Filo, de decai., 28. M, par. 204 e s.).
«...viveis a lutar e
fazer guerras...» No uso original e «secular», bem de acordo com a citação de
Filo, transcrita acima, estavam em foco guerras e derramamento de sangue
literais, a violência dos homens, os atos desumanos dos homens uns contra os
outros, tudo por causa de desejos descontrolados. Porém, conforme essa citação
foi utilizada pelo autor sagrado, estão em foco lutas íntimas e comunais, que
são prejudiciais tanto para o crente individual como para as igrejas locais.
Essas atividades nada conseguem realizar. Essa é a tese que o autor reitera por
muitas vezes.
Em contraste violento
com tudo isso, posta-se Deus. Filo comenta acerca desse princípio em Leg. all.
ii.23. M., par. 83. Comenta ele que é impossível dominar a busca pela
satisfação dada pelo prazer, exceto mediante a submissão a Deus. Somente na
comunhão mística com Deus, através do seu Santo Espírito, que forma a imagem de
Cristo no íntimo, podemos esperar receber as forças necessárias para vencermos
as nossas paixões, os nossos desejos egoístas. A maioria dos homens se deixa
governar por esses elementos, conforme a observação mais casual o demonstra. O
homem de Deus, entretanto, deve viver acima desse tipo de vida.
«Existe uma espécie
de reação em cadeia na alma do homem, tal como aquela que Tiago aqui descreve:
a concupiscência, incapaz de sentir-se satisfeita, leva o indivíduo a impulsos
sádicos, os quais, despertados por uma visão de prazeres fora do alcance do
indivíduo, se transformam em violência, em crueldade e em homicídio». (Easton,
in loc.).
«...Nada tendes,
porque não pedis...» O autor sagrado descontínua abruptamente sua citação
(provavelmente de uma fonte estóica), e agora se volta para o tema da oração. O
fato de ter ele dito que toda a concupiscência e contendas de seus leitores
«nada consegue», fá-lo lembrar-se que aquilo que é digno de ser recebido nos é
dado em resposta às nossas orações. Por conseguinte, ele se volta imediatamente
para esse assunto. A abrupta mudança de tema tem deixado perplexos aos
intérpretes, que não percebem que o autor sagrado estava somente se utilizando
de uma citação, que aqui descontínua, e que isso sugeriu uma nova corrente de
pensamento, a qual se segue imediatamente. (Quanto a notas expositivas
completas sobre a «oração», ver o trecho de Efé. 3:18, onde é apresentada a
nota de sumário a respeito).
A Natureza Da Oração
1. A oração é um ato
criativo que pode fazer qualquer coisa, até mesmo os labores mais fantásticos e
prodigiosos.
2. Porém, precisa
mover-se acompanhando a corrente da vontade divina; em caso contrário, pode-se
pedir o que bem se entender, que nada sucederá.
3. Se pudéssemos ver
nossas vidas conforme Deus as vê, assim observando seu curso inteiro, do
princípio ao fim, perceberíamos aqueles acontecimentos que terão de ocorrer, a
bem de nosso desenvolvimento espiritual. Então perceberíamos quão errada e prejudicial
é qualquer oração que nos leva a evitar tais ocorrências. E também veríamos
como, antes de qualquer acontecimento valioso, nossas almas são inspiradas a
orar com intensidade. E assim oramos; e depois dizemos: «A oração fez isso».
Talvez fosse mais correto dizermos : «Deus fez isso. Isso fazia parte de seu
plano para mim, e minha oração foi um exercício espiritual que me preparou para
buscar e aceitar o que Deus tencionava para mim».
4. Seja como for, a
oração é um importante exercício espiritual, e não consiste meramente de «pedir
e receber». A oração nos serve de treinamento espiritual. Portanto, é um de
nossos meios de desenvolvimento espiritual.
5. Quanto a outras
notas que nos oferecem discernimento acerca da natureza da oração, ver a nota
de sumário sobre a «oração», em Efé. 6:18 e Mat. 7:7 e ss. Busquemos a dimensão
eterna, e todas as coisas nos serão acrescentadas (ver Mat. 6:31-33).
«Deus promete àqueles
que oram, e não aos que lutam. Se orássemos, não haveria nem ‘guerras’ e nem
‘lutas’». (Faucett, in loc.).
«Os bens mundanos são
os vossos deuses; não deixais pedra sobre pedra, a fim de obtê-los; e visto que
nada pedis de Deus, senão para o consumirdes em vossos maus desejos e
propensões, vossas orações não são ouvidas». (Adam Clarke, in loc.).
«Eles não tentam
suprir suas necessidades de um modo que cause perda a alguma outra pessoa-, a
saber, orando a Deus; preferem empregar a violência e a astúcia contra os
outros. Ou então, se oram, pedindo o suprimento de suas necessidades terrenas,
nada obtêm, porquanto oram com mau intuito. Orar sem o espírito da oração é
namorar com o fracasso». (Plummer, in loc.).
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 63.
Tg 4.2 a) O v. 2 demonstra
o comportamento humano por meio de três palavras que expressam um crescendo.
“Desejais” trata de uma avidez insaciável e egoísta: “Quanto mais tem, tanto
mais deseja possuir”. – “Assassinais e vos fanatizais”: seríamos capazes de
“servir veneno” ao outro. “Lutais e fazeis guerras”: agora, de maneira
grosseira e refinada, tudo também se torna explícito.
b) No resultado final
tudo isso não leva a nada. Três vezes é dito: “Não tendes nada – não alcançais
nada – não recebeis nada.” “Retornam onerados de pecados e insatisfeitos.”
Apesar de todas as asseverações em contrário, as guerras não produzem nada de
bom. Quantas coisas foram devoradas pelas últimas grandes guerras mundiais,
vidas humanas, casamentos, famílias, lares, felicidade, bens, moralidade! E qual
é o saldo de uma luta exacerbada entre parceiros de sociedade? Aperta-se mais
um pouquinho o parafuso dos salários e preços, bem como a sorrateira
desvalorização da moeda. Isso acontece ainda mais em lares, famílias e
matrimônios. As pessoas gemem: “… como poderia ser bela nossa vida!” – “Não
recebeis nada”: em sua bondade Deus estaria disposto a presentear. Mas quando
concedemos espaço a esse espírito e a essa distorção, Deus se fecha.
c) “Porque não
pedis”: tentam conquistar pessoalmente o que somente pode ser obtido junto ao
grande Doador. Acreditam ser obrigados a cuidar de si mesmos completamente
sozinhos e não fazem uso da grande possibilidade da oração. Não optam pela
extraordinária saída de toda a aflição: não batem na porta que sempre está aberta
para nós (Mt 7.7; 1Pe 5.7; Fp 4.6; Sl 37.5).
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
I Sam 16.7 Não
atentes para a sua aparência. Saul era homem de elevada estatura, algo muito
apreciado pelos antigos. Ver os comentários sobre I Sam. 9.2 e 10.23. Samuel
estava caindo no erro de julgar um homem por sua aparência física. Samuel não
estava olhando para 0 interior, mas Yahweh era observador dos corações.
Há a aparência e há a
realidade. O homem vê a aparência de uma pessoa ou coisa, e assim faz
julgamentos precipitados. Mas Deus vê a realidade do homem ou coisa, e faz um
juízo verdadeiro. Samuel tinha de ajustar-se à maneira divina de avaliar
pessoas e coisas. É frequentemente verdadeiro que as aparências enganam. Os
homens são facilmente enganados e atos tolos ocorrem por causa de decepções. A
questão da escolha do segundo rei de Israel era muito importante para ser feita
de acordo com sua aparência física. Por isso mesmo, Yahweh teve de intervir
desde 0 começo, certificando-se de que Davi fosse ungido. O coração de Eliabe
não era tão bom quanto a sua aparência física. Ele não era um candidato
apropriado.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1180.
I Sam 16.7 Os
profetas, quando falavam debaixo da direção divina, eram tão sujeitos a erros
como qualquer outro; como Natã (2 Sm 7.3). Mas Deus corrigiu o engano do
profeta por meio de um sussurrar secreto em sua mente: Não atentes para a sua
aparência (v. 7). Era estranho que Samuel, que tinha sido tristemente
desapontado em relação a Saul, cuja aparência e estatura o recomendavam mais do
que qualquer outro, deveria estar tão ansioso em julgar um homem por essa
regra. Quando Deus desejava satisfazer o povo com um rei, escolheu um homem
decoroso; mas, quando desejava ter alguém conforme o seu coração, esse não
deveria ser escolhido pela sua aparência exterior. Os homens julgam segundo a
vista dos seus olhos, mas Deus não (Is 11.3). O SENHOR olha para o coração, isto
é: (1) Ele conhece o coração. Nós podemos afirmar como as pessoas se parecem,
mas Ele pode afirmar quem elas são. As pessoas olham para os olhos (de acordo
com o original), e se satisfazem com a vivacidade e disposição de alguém, mas
Deus olha para o coração, e vê os pensamentos e intenções dele. (2) Ele julga
as pessoas pelo coração. A boa disposição do coração, a santidade ou bondade
dele, nos recomendam a Deus. O coração é precioso diante dele (1 Pe 3.4), não a
majestade da aparência, ou a força e estatura do corpo. Vamos reconhecer a
verdadeira beleza que está no interior, e julgar as pessoas, tanto quanto for
possível, pelo seu coração, e não pela sua aparência.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo
Testamento Josué a Ester. Editora CPAD. pag. 285.
I Sam 16.6,7 — Eliabe
significa meu Deus é pai. E disse. Samuel estava provavelmente dizendo para si
mesmo. A aparência e a estatura do filho mais velho de Jessé, Eliabe,
recomendava-o para a liderança.
Mas as mesmas
características foram exatamente aquelas que recomendaram Saul (1 Sm 9.2). Em
vez de olhar para a aparência, Deus olhou para o coração. Portanto, Deus deu a
Samuel uma nova perspectiva. O estado do coração de um homem era muito mais
significativo do que a sua habilidade natural e a sua aparência física.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário
Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 480.
3.
O porquê de não recebermos bênçãos (Tg 1.3).
A primeira reflexão
para a qual a repreensão de Tiago nos leva diz respeito à necessidade de
analisarmos as nossas reais motivações. O versículo 3 é enfático quanto a esse
ponto. Ali, Tiago afirma que, em vez de forçarmos para conseguir as coisas que
desejamos, devemos pedi-las confiantemente a Deus (v.2b); só que, em seguida,
ele acrescenta que nem adianta pedirmos a Deus o que desejamos quando o que
pedimos a Ele é com base em péssimas motivações: “Pedis e não recebeis, porque
pedis mal, para o gastardes em vossos deleites” (v.3). Ou na versão da Nova
Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH): “E, quando pedem, não recebem porque os
seus motivos são maus. Vocês pedem coisas a fim de usá-las para os seus Próprios
prazeres” (Tg 4.2,3 — grifos meus).
Ou seja, o que o
apóstolo Tiago está afirmando aqui é que o verdadeiro cristão não é fonte de
conflitos porque ele harmoniza os seus desejos com a santidade de Deus; ele
harmoniza as suas motivações com o que é santo. Em outras palavras, não basta
que nossos alvos sejam bons; nossas motivações também têm que ser boas. Elas
devem refletir a nossa comunhão com Deus, que é santo.
O apóstolo Paulo,
escrevendo em sua Primeira Epístola aos Coríntios sobre o uso correto dos dons
espirituais, trata do tema do amor e, quando o faz, apresenta o amor como
aquilo que caracteriza uma motivação santa. Isto é, nenhuma motivação é correta
se não se baseia no amor cristão (1 Co 13.1-7).
Outro parâmetro para
avaliação das nossas motivações, além do amor e da santidade, é a busca da
glória de Deus. A Bíblia diz que, em tudo o que fazemos, devemos buscar a
glória de Deus acima de tudo (1 Co 10.31).
Em segundo lugar, a
repreensão de Tiago nos aponta para a necessidade de não apenas refletirmos
sobre nossas motivações, mas também sobre os meios que utilizamos para chegar
aos fins que almejamos. Ou seja, não basta também que os alvos que desejamos
alcançar sejam corretos, e nem que as motivações que nos levam a buscá-los
também sejam corretas; é preciso ainda atentar para que os meios usados para
atingir esses alvos sejam igualmente corretos.
Não há problema em
desejarmos realizar coisas ou mesmo buscarmos uma realização pessoal, contanto
que o tipo de realização que procuramos não seja pecaminosa em si mesma e que
também as nossas motivações e os meios pelos quais objetivamos alcançar essas
realizações também não sejam pecaminosos, mas completamente sadios.
Um fato impactante
sobre esse ponto na Epístola de Tiago é que a repreensão do apóstolo chama a
atenção para métodos extremamente terríveis que estavam sendo usados em sua época.
Essa constatação fica bem clara quando acompanhamos o raciocínio que ele
desenvolve no versículo 2 como aparece em algumas outras versões em português,
que procuram ser ainda mais precisas na tradução do texto original grego.
Vejamos, por exemplo, o versículo 2 na NTLH: “Vocês querem muitas coisas; mas,
como não podem tê-las, estão prontos até para matar a fim de consegui-las.
Vocês as desejam ardentemente; mas, como não conseguem possuí-las, brigam e
lutam” (Tg 4.2 — grifos meus). O Comentário Bíblico Pentecostal do Novo
Testamento traz ainda a seguinte tradução especial para a referida passagem:
“Você deseja, mas não tem; então você mata. Você tem inveja, mas é incapaz de
conseguir, então você guerreia e peleja”.
Como vemos, o texto
bíblico no original dá a ideia de pessoas que estão tão cegas pelos seus
desejos que já se encontram totalmente fora de controle, ao ponto de haver
entre elas gente que estava disposta até a matar para conseguir o que desejava!
Essa é uma interpretação mais correta, que mostra de forma chocante até que
ponto pode chegar uma pessoa possuída e dominada por um desejo.
Há, porém, uma outra
interpretação dada a essa passagem, como lembra o Comentário Bíblico
Pentecostal: “Existe entre os comentaristas uma acentuada tendência para
interpretar a exortação de Tiago ‘combateis e guerreais’ (Tg 4.2) como uma
simples figura de retórica e não uma verdadeira acusação de assassinato. De
acordo com esses estudiosos, Tiago está acompanhando a precedência de Jesus
quando se referiu ao ódio como assassinato (Mt 5.21,22)”.2 Entretanto, como
sublinha a referida obra, parece muito mais provável que Tiago está aqui
aludindo à “omissão de cuidar ‘dos órfãos e das viúvas’ (Tg 1.27), assim como
de outros membros indigentes da comunidade (Tg 2.15,16)”, como a causa “de
mortes desnecessárias”. Logo, “o desejo pecaminoso de ‘gastar em vossos
deleites’ (Tg 4.3)” é também “uma espécie de assassinato”.
Ademais, devemos nos
perguntar se nossa interpretação pró- -retórica e pró-espiritualização dessa
ideia de morte nesta passagem bíblica, não se dá porque nos choca imaginar que
alguns ditos cristãos dos dias de Tiago estavam levando irmãos em Cristo mais
necessitados — e pobres de forma geral — à morte devido a seus interesses
egoístas, que lhes fazia omitirem-se de ajudar essas pessoas. Ao lutarem apenas
pelos seus próprios deleites, estavam, na prática, mesmo que indiretamente,
combatendo e guerreando contra seus irmãos necessitados, levando-os, dessa
forma, à morte.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 1.16-119
Tg 4.3 Quase tão ruim
quanto não pedir é pedir de maneira errada. Se não entendermos bem o uso correto
da oração, poderemos deixar de orar, ou tentar manipular a Deus. Mais adiante,
Tiago deixa claro que, quando oramos, precisamos nos humilhar diante de Deus
(4.7). Se não for assim, poderemos não ser atendidos. As pessoas não deveriam
ficar surpresas quando as suas orações não fossem atendidas, porque os seus
motivos são frequentemente maus (versão NTLH). Elas iriam gastar o que
recebessem nos seus deleites (a mesma palavra utilizada em 4.1). Os desejos das
pessoas eram tão fortes, que elas estavam brigando, disputando, e usando a
oração para conseguir o que queriam. O seu motivo não era ajudar os outros, mas
satisfazer a si mesmas.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 682.
Tg 4.3 Para eles,'
orar era apenas um meio de fomentar a ganância. Se conseguissem qualquer coisa
com esse propósito dúbio, teriam a certeza que não fora Deus quem lhe dera
Tinham perdido completamente o conceito do uso apropriado da oração. Tinham-na
transformado em um instrumento da carnalidade. Em que eles se importavam acerca
da oração como um avanço na santidade e no bem-estar espiritual? Agiam como se
houvesse apenas a dimensão terrena na existência, sem céu e sem Deus. Eram
teístas professos, mas eram ateus na prática, porquanto, na realidade,
imaginavam que Deus não desempenhava qualquer papel vital em suas vidas. Dd
«eu» e seus prazeres tinham feito os seus deuses. Eram idólatras da pior
espécie. Nada há de errado nas orações que pedem a prosperidade e o bem-estar
físico; conforme se depreende de III João 2. E bom -alguém gozar de boa saúde e
estar financeiramente próspero. Mas é mau fazer dessas coisas a finalidade
central de nossas vidas. Outrossim, os leitores originais da epístola tinham
como alvos verdadeiros de suas vidas a busca pelos prazeres, pelo conforto e
pelo poder; e assim não se preocupavam apenas com uma abastança mais razoável.
Tinham substituído a dimensão eterna pela dimensão temporal; tinham feito da
auto-indulgência algo mais importante do que cumprir a vontade de Deus, sendo
transformados segundo a imagem de Cristo, o que é e deverá ser sempre o alvo de
toda a existência. (Ver Efé. 1:10). «...buscai pois, em primeiro lugar, o seu
reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas» (Mat.
6:33).
«Uma vida consagrada
ao seniço de Deus é a melhor oração que pede bênçãos temporais. A oração feita
com espirito ganancioso é como a de um bandido, que pede sucesso para os seus
assaltos.» (Plummer, in loc.).
«...mal...», isto é,
erradamente. (Comparar com Sabedoria 14:29,30 e IV Macabeus 6:17). Aquela gente
pedia com «propósitos egoístas», para obter os frutos ilegítimos dos prazeres.
Essas orações não são ouvidas por Deus. (Quanto ao fato que Deus ouve as
orações dos justos e penitentes, ver Sal. 34:15-17; 145:18; Pro. 10:24; Salmos
de Salomão 6:6; Luc. 18:9 e ss.; Tia. 1:6 e ss.-, I João 5:14 e Hermas, Sim.
iv.6).
«...esbanjares em
vossos prazeres...» A ideia central é que eles desejam a abastança financeira,
a fim de se ocuparem mais diligentemente na busca pelos prazeres; e existem
ainda outros meios pelos quais os prazeres podem ser obtidos, e as petições de
tais pessoas incluem qualquer coisa mediante o que o «eu» pode ser satisfeito.
«Até mesmo as orações
dos crentes com frequência são melhor respondidas quando os seus desejos são
menos atendidos». (Faucett, in loc.).
«Queriam fazer de Deus
o ministro de suas próprias concupiscências». (Calvino, in loc.).
«O sentido geral é:
se realmente orásseis corretamente, esse senso de contínua sede por coisas
mundanas em maior quantidade não existiria: todas as vossas necessidades
apropriadas seriam supridas; e aqueles desejos impróprios, que geram guerras e
contendas entre vós desapareceriam. Pediríeis, e pedirieis bem, e,
consequentemente, obteríeis». (Alford, in loc.).
«É grande a
misericórdia de Deus quando ele não ouve aos homens que fazem orações injustas.
(Ver Sal. 66:18)» (Quesnel, in loc.).
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 63.
Até mesmo a oração é
deturpada (v. 3).
Tg 4.3 O mau espírito
do egoísmo, o espírito de baixo, deturpa até mesmo a oração (quando ainda
existe), de modo que ela pode tornar-se vã: “Pedis e não recebeis, porque pedis
com má intenção, para (o) consumirdes em vossos prazeres”. O ser humano, também
aquele que é aparentemente cristão, encontra-se em uma posição de “ouriço”, de
“defesa para todos os lados”. No fundo não se interessa pessoalmente por Deus e
pelo que agrada a ele. Quando ora a Deus, espera que ele seja mero fornecedor
dos meios com que possa se afirmar e reforçar sua posição. Deus somente deve
prover os auxílios para a felicidade, o conforto, o prazer e a edificação do
pedestal da auto-exaltação dessa pessoa. Alguém pode até mesmo pedir pelos dons
do Espírito, em grego charismata – pelos mais notáveis – com a intenção de se
sobressair com eles, de exibi-los como distintivo de sua devoção singular.
Também a intenção de celebrar vitórias nesse campo significaria “consumir em
seus prazeres” o que foi pedido. – Contudo, Deus não aceita esse papel de
fornecedor. Em vão se aguarda o atendimento de tais pedidos. Por esse motivo
uma oração altamente efusiva não obtém resposta. Por isso, eventualmente uma
pessoa torna-se receptiva para “dons” enganosos, os pseudo-charismata, “moeda
falsa”, que procede de outra “casa da moeda”, de outro remetente.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
II - A BUSCA EGOÍSTA (Tg 4.4,5)
1.
Adúlteros e amigos do sistema mundano (Tg 4.4).
A partir do versículo
4, Tiago entrelaça a busca pecaminosa com o sistema que domina a maior parte da
humanidade, e que é chamado na Bíblia de “mundo”. O apóstolo chama de
“adúlteros e adúlteras” todos os crentes que, em vez de se afastarem da cultura
humana pecaminosa, em vez de se distanciarem do sistema pecaminoso fomentado
pelo Diabo, se unem a ele. Ou seja, o relacionamento do cristão com esse
sistema é traição a Deus, é traição ao nosso relacionamento e compromisso com
Ele, é adultério espiritual.
O meio-irmão de Jesus
é enfático: “A amizade do mundo é inimizade contra Deus” e “Qualquer que quiser
ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4.4). Esse ensino é
frisado também pelos apóstolos Paulo e João em 2 Coríntios 6.14-18 e 1 João
2.15-17.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica.
Editora CPAD. pag. 119.
Tg 4.4 A chocante
palavra “adúlteros” descreve claramente a infidelidade espiritual das pessoas e
tenciona despertá-las para que encarem a sua verdadeira condição espiritual.
Estes crentes estavam tentando amar a Deus e ter um romance com o mundo. O fato
de Deus expressar, nos termos mais fortes possíveis, a importância da
fidelidade deve nos inquietar. Os padrões bíblicos de comportamento pessoal,
conjugal e espiritual estão sob constante ataque de erosão.
Nós somos constantemente
bombardeados pela mensagem da transigência. Do ponto de vista do mundo, nós devemos
ser flexíveis, tolerantes ao pecado, e complacentes. Mas isto não funciona,
porque a amizade do mundo é inimizade
contra Deus. Para os crentes, o mundo e Deus são dois objetos distintos de
afeto, mas são completamente opostos. O mundo é o sistema do maligno, que está
sob o controle de Satanás; ele representa tudo o que é contrário a Deus. Ter amizade
com o mundo, portanto, é adotar os seus valores e desejos (veja também Rm
8.7,8; 2 Tm 4.10; I Jo 2.15-17). Estes crentes podem amar verdadeiramente a
Deus, mas também são atraídos pelos benefícios do sistema deste mundo. Eles
adoram a Deus, mas podem desejar a influência, os padrões de vida, a segurança financeira,
e talvez um pouco da liberdade que o mundo oferece. A busca destas coisas só
irá minar a generosidade, os cuidados, e a divisão de recursos que deveriam
caracterizar os cristãos.
Qual é, então, o
relacionamento adequado de um crente com o mundo? Alguns usaram declarações
bíblicas como esta de Tiago como a base para uma retirada radical do “mundo”.
Mas a retirada não é a solução. Embora seja verdade que nós somos chamados para
estar no mundo mas não pertencer a este mundo (Tg 17.14), deveríamos amar as
pessoas deste mundo o suficiente para lhes transmitirmos o Evangelho. Para
fazermos isto, precisamos nos relacionar com elas sem nos relacionar com as
coisas deste mundo que são contrárias a Deus (veja 1 Jo 3.15-17).
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 682-683.
Ruptura com o Mundo
(4.4)
As palavras Adúlteros
e adúlteras não se encontram nos textos gregos mais antigos. Deveríamos
interpretar adúlteras figuradamente, como Jesus usou esse termo quando chamou
as pessoas falsas e infiéis dos seus dias de “geração [...] adúltera” (Mt
12.39). A expressão não sabeis vós supõe que os leitores estavam familiarizados
com essa verdade mas a estavam ignorando. O mundo aqui, como em outras partes
do Novo Testamento, significa tudo que as pessoas pensam e fazem que
desconsidera Deus e é contrário à sua vontade. Por meio de palavras
retumbantes, Tiago declara que o povo de Deus deve tomar uma decisão clara
entre Deus e todas as atitudes não-cristãs. Se pertencemos a Deus, a amizade do
mundo precisa nos deixar. Se nos agarramos a qualquer caminho errado,
nutrindo-o como um amigo, nos tornamos inimigos de Deus e não temos mais uma
base bíblica para crer que estamos em um relacionamento de salvação com Ele.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 182.
Tg 4.4 “Adúlteros
(literalmente: adúlteras), não sabeis que a amizade com o mundo é inimizade
contra Deus? Quem, portanto, pretende ser um amigo do mundo revela-se inimigo
de Deus.”
a) “Mundo”: o que a
Bíblia visa dizer com isso?
a.1) A palavra grega
kósmos significa “enfeite” (o termo “cosmético” origina-se dela). Segundo a
opinião dos gregos, portanto, o mundo é uma “coisa linda”, uma “bela ordem”.
Uma série de autores entende por “mundo” a bela e maravilhosa criação de Deus.
“Deus fez o mundo e tudo o que ele contém” (At 17.24; cf. Hb 11.3; Sl 50.1;
90.2; Pv 30.4).
a.2) Um grande número
de referências bíblicas, particularmente no NT, emprega “mundo” no sentido de
“humanidade”, “mundo das pessoas”, com determinada natureza e intenção
homogêneas: o ser humano, ao qual Deus confiou a terra (Gn 1.28), abriu as
portas para o inimigo, deu-lhe atenção. Agora este o domina. Toda a humanidade
é território ocupado pelo inimigo. Jesus fala do diabo como “príncipe deste
mundo” (Jo 12.31; 14.30; 16.11). Paulo chega a designar o inimigo como “deus
deste mundo” (2Co 4.4). E João diz que o mundo “jaz no maligno” (1Jo 5.19; cf.
também o comentário a Tg 1.27). Deus “amou o mundo” (Jo 3.16), porém não para
confirmar sua natureza, mas para, por meio de seu Filho, salvar o que é
possível salvar. Como cristãos prestamos serviço ao mundo em consonância com o
amor e a vontade salvadora de nosso Deus, devendo por isso “tomar o rumo”,
entrar no mundo (Mt 28.19). Jesus fala aos seus: “Assim como meu Pai me enviou,
assim envio vocês” (Jo 20.21). Porém não devemos nos perder no mundo, nem
diluir-nos nele, do contrário não poderemos mais ser para as pessoas o que
devemos ser. Nesse sentido (negativo) a Escritura fala com muita frequência do
“mundo”. João exorta: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se
alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1Jo 2.15ss). Paulo escreve:
“Não vos conformeis com este mundo” (Rm 12.2). Lamenta que Demas “passou a amar
este mundo” (2Tm 4.10). E as testemunhas do NT constatam que o mundo com sua
natureza e seu prazer desaparecerá e será condenado (1Co 7.31; 1Jo 2.17; 1Co
11.32). É nesse sentido negativo e de advertência que também Tiago fala aqui do
mundo.
b) “A amizade com o
mundo”: colocando em último plano ou até mesmo negando o que Deus é, concede e
deseja, o ser humano busca concordância com aquilo que prevalece nos seres
humanos e obtém reconhecimento, aprovação e aplausos deles. Adapta-se ao
entorno, para não prejudicar sua aceitação. Isso também acontece porque seu
desfavor e sua inimizade acarretam desvantagens ou até mesmo poderiam tornar-se
perigosos.
c) O efeito nefasto
da amizade com o mundo: “inimizade contra Deus”. Deus deseja se reconciliar com
o pecador. Mas ele é inconciliável em vista do pecado, do inimigo e de sua
natureza. Uma linha de confrontação perpassa o mundo, fazendo divisão entre
Deus e Satanás. Quem se volta para esse último e para pessoas determinadas por
sua natureza obrigatoriamente se distancia de Deus e se volta contra ele. Não é
possível ser simultaneamente um bom amigo de Deus e do mundo controlado pelo
inimigo (cf. Mt 6.24; 12.30). É preferível perder o mundo todo que perder a
Deus! Quando o ser humano diz “não” a Deus, Deus por fim dirá “não” a ele e sua
vida. “Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb 10.31). Fazer a mesma
troca que Judas, largando Jesus, e com isto também Deus, para obter a amizade
(e os bens) do mundo tem consequências quase inimagináveis para nós.
d) Tiago elucida por
que a aliança com o mundo tem efeitos tão nefastos, recorrendo a uma estranha
constatação: “Adúlteras” sois vós! De acordo com o v. 5, a acusação não é de
transgressão do Sexto Mandamento (“Não cometerás adultério”), mas do Primeiro
Mandamento: “Eu sou o Senhor, teu Deus, não terás outros deuses além de mim.”
d.1) A comunhão que o
grande e santo Deus concede a seu povo, ao pequeno ser humano pecador, é
repetidamente comparada na Escritura aos dois relacionamentos humanos mais
estreitos que existem: o relacionamento entre pai e filho e entre marido e
mulher, ou noivo e noiva. Sim, o verdadeiro relacionamento entre pai e filho, o
verdadeiro matrimônio, é a comunhão que Deus concede. Constitui o protótipo da
comunhão humana. O melhor que os humanos conseguem realizar é sempre uma mera réplica,
mais ou menos fiel. As palavras que a Escritura usa para descrever a comunhão
entre Deus e sua igreja do AT e NT como matrimônio ou noivado, passam como um
fio vermelho por toda a Bíblia. A aliança do Sinai (Êx 19.1-9) foi como uma
celebração matrimonial. Mais tarde isso passou a ser expressamente formulado
(Os 2.19s; Ez 16; 23; Is 61.10; 62.5; Ef 5.25; Ap 19.7; 21.2; 22.17). Hoje o
mundo manifesta incompreensão diante da mensagem da comunhão que Deus concede
aos humanos. Declara: “Temos agora uma ideia da magnitude do cosmos. É
inconcebível que – se existir um Deus – ele se importe tanto com cada pequenino
ser humano.” No entanto, para quem crê, para quem compreendeu algo do amor de
Deus, esse amor se transforma em milagre ainda maior. No Sl 8 nos deparamos
pela primeira vez com a admiração que toma conta do ser humano quando por um
lado se apercebe do poder de Deus, o Criador, e por outro, do amor de Deus, o
Pai, para com seus filhos: “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos,
e a lua e as estrelas que estabeleceste: que é o homem, que dele te lembres, e
o filho do homem, que o visites? Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do
que Deus” (Sl 8.3-5). João expressa essa surpresa e admiração com as palavras:
“Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados
filhos de Deus!” (1Jo 3.1). Foi necessário falar disso aqui com tanto
detalhamento porque somente sob esse ângulo é possível compreender a presente
passagem da Escritura, a gravidade do afastamento de Deus: somente quem conhece
o dia sente integralmente a profundidade das trevas. Somente quando conhecemos
o amor de Deus e o experimentamos podemos aquilatar o que significa jogar fora
esse amor como algo sem valor e trocá-lo por uma coisa qualquer. Precisamente
isso é chamado aqui de “adultério”. A grave palavra não se dirige a descrentes,
que não conhecem o amor de Deus, mas àqueles que ouviram o “pedido de
casamento” na palavra proclamada, que responderam sim a Deus, experimentaram
seu amor e viveram em sua comunhão, mas depois lhe deram as costas (cf. Hb
6.4-6).
d.2) Paralela à linha
lúcida da “noiva” a Bíblia também é perpassada pela linha obscura do povo de
Deus que se tornou infiel, que desprezou o milagre de seu amor (Os 1ss; Is
1.21; Ez 16; 23; também cabe citar aqui Ap 17).
“Adúlteras” é o nome
dado por Tiago aos cristãos que flertam com o mundo, desertam para o lado dele
e se associam a ele. A forma feminina deve estar relacionada com a
circunstância de que, na “aliança matrimonial” entre Deus e seu povo, tanto sua
igreja quanto o cristão individual ocupam o lugar da “esposa”.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
2.
“Inimigos de Deus”.
Nessa passagem, um
aspecto muito importante ressaltado por Tiago sobre o nosso relacionamento com
Deus é que o “Espírito, que em nós habita, tem ciúmes” (v. 5). A construção do
versículo 5 no original grego não é muito clara, podendo esse texto significar
que o espírito humano tem a tendência natural “de opor-se a Deus e ao próximo”,4
o que estaria implícito na expressão traduzida como “ciúmes”; ou então que o
Espírito Santo tem ciúmes de nós, isto é, zelo intenso por nós. A maioria
esmagadora dos comentaristas bíblicos, à luz do que afirmam o final do
versículo 4 e o início do versículo 6, prefere a segunda interpretação para o
versículo 5, que é também a interpretação aceita por mim: Tiago quer dizer aqui
que o Espírito Santo de Deus tem ciúmes de nós. O Consolador, aquEle que
intercede por nós e em nós com gemidos inexprimíveis (Rm 8.26,27) e se
entristece frente aos nossos pecados (Ef 4.30), o nosso Ajudador, que nos guia
na caminhada espiritual e no relacionamento com o Pai celestial através de
Cristo (Rm 8.5-11), tem um forte, intenso e amoroso zelo por nós.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 119-120.
Em guerra contra Deus
(Tg 4.4-10)
A raiz de toda a
guerra é rebelião contra Deus. Mas como um crente pode estar em guerra contra
Deus? Cultivando amizade com os inimigos de Deus. Tiago cita três inimigos com
quem não podemos ter amizade, se desejamos viver em paz com Deus. Tiago fala de
tentações que estão fora de nós (o mundo e o diabo) e tentações que estão
dentro de nós (a carne).
Tiago fala do mundo (4.4).
A palavra kosmos foi empregada em um sentido ético, para indicar uma sociedade
corrupta, ou o princípio do mal que opera sobre os homens.*^ O mundo aqui é a
sociedade humana com seus valores, princípios e filosofia vivendo à parte de Deus.
Esse sistema que rege o mundo é anti-Deus. Se o mundo valoriza a riqueza,
começamos a valorizar a riqueza também. Se o mundo valoriza o prestígio,
começamos a valorizar o prestígio. Temos a tendência de assimilar esses valores
do mundo.
Um crente pode
tornar-se amigo do mundo gradativamente:
primeiro, sendo amigo
do mundo (4.4).
Segundo, sendo
contaminado pelo mundo (1.27).
Terceiro, amando o
mundo (IJo 2.15-17).
Quarto,
conformando-se com o mundo (Rm 12.2). O resultado é ser condenado com o mundo
(iCo 11.32). Assim, seremos salvos como que por meio do fogo (iCo 3.11-15).
Amizade com o mundo é uma espécie de adultério espiritual. O crente está casado
com Cristo (Rm 7.4) e deve ser fiel a Ele (Is 54.5; Jr 3.1-5; Ez 23; Os 1-2;
ICo 11.2). O mundo é inimigo de Deus e ser amigo do mundo é constituir-se em
inimigo de Deus.
Não dá para ser amigo
do mundo e de Deus ao mesmo tempo. Temos que tomar cuidado com as pequenas
coisas.
O mundo envolve as
pessoas pouco a pouco. Ninguém se torna um viciado em álcool do dia para a noite.
Ninguém se lança de cabeça nas aventuras loucas das drogas no primeiro trago ou
na primeira picada. Ninguém começa uma vida licenciosa num primeiro flerte. A sedução
do mundo é como uma fenda numa barragem, começa pequena, mas pode conduzir a um
grande desastre. Luis Palau comenta:
Quando a imensa
represa Teton Dam, no sudeste de Idalio, desmoronou, em 05 de junho de 1976,
todos ficaram aturdidos. Sem aviso prévio, sob céu claro, a imensa estrutura
subitamente desmoronou, lançando milhões de litros de água para dentro da bacia
do rio Snake. Uma catástrofe súbita? Um desastre instantâneo?
Certamente parecia
ser pelo menos superficialmente. Mas, abaixo da linha da água, numa
profundidade em que os engenheiros não podiam ver, ocorria a propagação de uma
rachadura oculta que, de forma lenta, porém gradual, enfraquecia toda a
estrutura da represa.
Aquilo começou de
forma bastante insignificante. Apenas um Como viver em um mundo cheio de
guerras pequeno ponto frágil, uma pequena ponta de erosão. Ninguém vira e
ninguém cuidara do problema. Quando a fenda foi detectada, já era muito tarde.
Os empregados da represa tiveram apenas de correr para salvar suas vidas e de
escapar de serem levados pelas águas. Ninguém vira a pequena rachadura, mas
todos viram o grande desmoronamento.
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 86-88.
a. “Povo adúltero”. A
New International Version toma o texto direto e pessoal com o pronome vocês
(“vocês, adúlteros”). No original, a primeira palavra é uma forma de tratamento
e significa “adúlteras”.
11 E difícil
interpretar essa expressão literalmente, especialmente quando o contexto
indica que Tiago não está apresentando uma questão moral. Assim como nos
versículos anteriores (4.1-3), é preciso que compreendamos a expressão adúltero
figurativamente, ou, para ser mais exato, espiritualmente.
Tiago está escrevendo
para cristãos judeus que estão familiarizados com o termo adúltera quando
aplicado ao relacionamento matrimonial entre Deus como marido e o seu povo como
esposa infiel. Por exemplo, Deus disse ao profeta Oséias: “Vai, toma uma mulher
de prostituições, e terás filhos de prostituição; porque a terra se prostituiu,
desviando-se do Senhor” (Os 1.2).
Jesus chama os
fariseus, saduceus e intérpretes da lei de “geração má e adúltera” (Mt 12.39;
16.4; e ver Mc 8.38; itálico nosso).
Além disso, Jesus se
refere a si mesmo indiretamente como o noivo (Mt 9.15 e paralelos) e Paulo diz
que Cristo é o esposo da igreja (2Co 11.2; Ef 5.22-25; consultar também Ap
19.7; 21.9).
b. “A amizade do
mundo é ódio para com Deus”. Tiago faz essa colocação na forma de pergunta e
apela para o conhecimento intuitivo do leitor. Que esposo permite que sua
esposa tenha um relacionamento ilícito com outro homem? E o que pensar de uma
esposa que abre mão do amor matrimonial para envolver-se em relações adúlteras?
Qual você acha que é
a reação de Deus quando um crente se apaixona pelo mundo? Deus é zeloso (Ex
20.5; Dt 5.9), ele não tolera qualquer
amizade com o mundo.
O que significa a
palavra mundo? Ela representa “o sistema da humanidade como um todo (suas
instituições, estruturas, valores e costumes) organizado sem Deus”.12 E o
sentido que Paulo transmite em sua segunda carta para Timóteo: “Porque Demas,
tendo amado o presente século, me abandonou e foi para Tessalônica” (2Tm 4.10).
Tiago é enérgico ao dizer que uma pessoa não pode ter amizade com o mundo e com
Deus ao mesmo tempo. O mundo não tolera amigos de Deus, pois estes são
considerados inimigos. O contrário também é verdade. Deus considera um “amigo
do mundo” como um inimigo.
c. “Ódio para com
Deus”. Que expressão aterradora! Um amigo de Deus que suporta a inimizade do
mundo pode sempre encontrar consolo nas palavras do reformador do século 16, John
Knox, que disse: “Um homem com Deus ao seu lado está sempre junto com a maioria”,
mas a pessoa que se depara com Deus como seu inimigo está sozinha, pois o mundo
não pode ajudá-la. O autor aos Hebreus conclui: “Horrível coisa é cair nas mãos
do Deus vivo” (Hb 10.31).
Quem é um inimigo de
Deus? O cristão foi colocado no mundo apesar de não ser do mundo (Jo 17.16,18).
O apóstolo João adverte: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se
alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (lJo 2.15). Quando uma pessoa intencionalmente
se volta para o mundo, para tomar-se parte dele, ela tomou uma decisão
consciente de rejeitar Deus e os ensinamentos de sua Palavra.13 Assim, qualquer
um que deliberadamente escolhe em favor do mundo e contra Deus terá Deus como
seu inimigo.
Simom
J. Kistemaker. Comentário do Novo
Testamento Tiago e Epistola de João. Editora Cultura Cristã. pag. 183-185.
Será que “precisamos”
conhecer mesmo? E preciso experimentar todos os tipos de religiões para se ter
certeza qual é a correta? É preciso passar por todo tipo de dor para saber que
é ruim? É preciso experimentar a droga para saber que não é boa para nosso
corpo? Nao é preciso flertar com o mundo nem coisas as coisas do mundo para
poder opinar sobre elas. Pois quando o fazemos, corremos um grande risco de
entrar em um processo de amizade com o mundo. Principalmente porque sabemos que
amizade com o mundo, para Deus, é sinônimo de inimizade com ele. “Quem quer ser
amigo do mundo faz-se inimigo de Deus”, afirma Tiago. Além do mais, essa
amizade se torna inimizade para com Deus por que o inimigo de Deus é o Diabo. E
sendo ele o deus deste mundo {aiori), como já vimos, se comportar com as
atitudes e ambições do Diabo quer dizer ser inimigo de Deus também. Jesus
dialogou com os judeus: “Todo aquele que vive pecando é escravo do pecado” (Jo
8.34).
“Vocês pertencem ao
pai de vocês, o Diabo, e querem realizar o desejo dele. [...] Quando mente,
fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44). “Ou
vocês acham que é sem razão que a Escritura diz que o Espírito que ele fez
habitar em nós tem fortes ciúmes?” Essa maneira de entender esse texto no
original pressupõe que o Espírito seja o Espírito Santo. Ele certamente não
fomenta inveja nos indivíduos no quais ele habita. Buscar a amizade do mundo é
o mesmo que viver debaixo da sua influência, dependência e segurança como se isso
fosse o mais importante de tudo. Esse tipo de namoro com o mundo, esse andar de
mãos dadas, não é apenas perigoso, mas é fatal, pois a infidelidade leva à
apostasia. Nenhum marido ou esposa se contentaria com menos do que
exclusividade total em seu relacionamento conjugal. Assim, Deus jamais tolerará
qualquer tipo de divisão entre ele e o mundo. Pois Deus é “ciumento” quando se trata
de sua “esposa” ou “noiva”, a igreja.
Russell P. Shedd,.
Edmilson F. Bizerra. Uma Exposição De
Tiago A Sabedoria De Deus. Editora Shedd
Publicações.
3.
O Espírito tem “ciúmes” (Tg 4.5).
Sim, Deus tem ciúmes
dos seus filhos!
Parece estranha a
ideia de que Deus tem ciúmes, mas é exatamente disso que Tiago está falando no
versículo 5. E a expressão “...diz a Escritura...” não quer dizer que as
palavras que vêm a seguir — “O Espírito que em nós habita tem ciúmes” — se
trata de uma citação fiel, ao pé da letra, de algum texto do Antigo Testamento.
O que Tiago diz é que essa é uma das mensagens das Sagradas Escrituras no
Antigo Testamento: o Espírito do Senhor tem ciúmes de seus filhos.
Há inúmeras passagens
do Antigo Testamento que revelam isso, especialmente aquelas que dizem respeito
ao relacionamento entre Deus e o povo de Israel. Em seu clássico O Conhecimento
de Deus, o teólogo britânico James I. Packer dedica um capítulo inteiro para
relembrar algumas dessas fortes passagens do texto sagrado com o objetivo de
refletir sobre esse aspecto divino pouco abordado hoje em dia — o ciúme de
Deus. Escreve Packer:
“Quando Deus tirou
Israel do Egito, levando o povo para o Sinai e dando-lhes sua lei e aliança,
seu ciúme foi um dos primeiros fatos a respeito de Si mesmo que lhes ensinou. A
sanção do segundo mandamento, pronunciado em voz audível para Moisés nas
‘tábuas de pedra escritas pelo dedo de Deus’ (Ex 31.18) era este: ‘Porque Eu
sou o Senhor teu Deus, Deus zeloso” (Ex 20.5). Mais tarde, Deus falou a Moisés
de modo mais direto: ‘O nome do Senhor é Zeloso; sim, Deus zeloso é Ele’ (Ex
34.14). [...] De fato, a Bíblia fala bastante sobre o ciúme de Deus. Há
diversas referências no Pentateuco (Nm 25.11; Dt 4.24; 6.15; 29.20; 32.16,21),
nos livros históricos (Js 24.19; 1 Rs 14.22), nos Profetas (Ez 8.3-5,16; 38 e
42; 23.25; 36.5; 38.19; 39.25; J1 2.18; Na 1.2; Sf 1.18; 3.8; Zc 1.14; 8.2) e
nos Salmos (78.58; 79.5). Ele [seu zelo] é constantemente apresentado como um
motivo para [Deus] agir, seja em ira ou misericórdia: ‘Terei zelo pelo meu
santo nome’ (Ez 39.25); ‘Com grande zelo estou zelando por Jerusalém e Sião’
(Zc 1.14); ‘O Senhor é um Deus zeloso e vingador’ (Na 1.2)”.
O apóstolo Paulo
também fala sobre o ciúme de Deus, ao lançar sobre os orgulhosos cristãos de
Corinto a seguinte pergunta: “Ou irritaremos o Senhor? Somos nós mais fortes do
que Ele?” (1 Co 10.22). Nessa passagem, Paulo está afirmando aos crentes coríntios
que havia uma impossibilidade moral de se beber “o cálice do Senhor” e beber “o
cálice dos demônios” (1 Co 10.21).
Como ressalta Donald
Metz, “o cálice dos demônios representava o apogeu dos banquetes dos pagãos nos
quais eram feitas três saudações em honra aos deuses.
Um crente não podia
tomar parte em tal rito pagão sem ofender a sua consciência. Qualquer tentativa
de ter comunhão com Deus e, ao mesmo tempo, de participar deliberadamente de
práticas idólatras provocará a irritação do Senhor (1 Co 10.22; Dt 32.21)”.
Lembrando ainda que,
nessa mesma Epístola, alguns capítulos antes, Paulo já falara do ciúme divino
aos crentes em Corinto, evocando justamente o fato de que, desde o dia em que
aceitaram Cristo como Senhor e Salvador, o Espírito Santo passou a habitá-los
(1 Co 6.19,20), mesmo fato frisado por Tiago (Tg 4.5). E o apóstolo aos gentios
ainda revisitaria esse assunto na sua Segunda Epístola aos Coríntios (2 Co
6.14-18).
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 120-121.
Tg 4.5 O texto em
Tiago 4.6 (o próximo versículo) é uma citação do Antigo Testamento —
especificamente. Provérbios 3.34. No entanto, esta expressão não é uma citação
direta de nenhum versículo do Antigo Testamento. Tiago está adotando uma abordagem
usada em outras passagens do Novo Testamento, que consiste em resumir ensinamentos
do Antigo Testamento em vez de citá-los diretamente. O texto grego da frase “o
Espírito que em nós habita tem ciúmes” oferece diversas traduções alternativas,
de modo que o contexto deve nos ajudar a determinar o que o autor quis dizer.
Tiago estava dizendo que Deus, que fazia com que o seu Espírito residisse nos
crentes, tem ciúme do seu relacionamento, ou estava dizendo que o espírito que
Deus pôs no homem é inclinado aos ciúmes - e por essa razão deve ser mantido em
observação. O objetivo desta declaração é confirmar a comunhão do crente com
Deus, e a sua posição contrária ao mundo.
Podemos dizer que nos
relacionaremos tanto com Deus como com o mundo, mas, na prática, só poderemos
escolher um caminho. Quanto mais nos entregarmos ao mundo, mais forte será a
nossa fidelidade ao mundo. Quanto mais nos entregarmos a Deus, mais forte será
a nossa ligação com Ele. “Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o
vosso coração” (Mt 6.21), disse Jesus.
Para aqueles que
fazem a escolha sábia, enfrentando aquilo que pode parecer uma batalha
desanimadora, Tiago acrescenta uma mensagem maravilhosa de esperança.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 683.
O Deus que tem ciúmes
(4.5,6)
A interpretação do
versículo 5 sempre trouxe dificuldades. A tradução da KJV está gramaticalmente
correta, mas não é a única possibilidade. A maioria das traduções modernas e
comentários concordam que o verbo habita (katokisen) é a palavra usada no Novo
Testamento para indicar a presença do Espírito de Deus. Eles, portanto, dão ao
versículo uma interpretação inteiramente diferente, tal como: “Ele anela de
modo ciumento pelo espírito que fez habitar em nós” (RSV). Se essa
interpretação está correta, fica claro que Tiago terminou a sua purificação da
conduta má e começa o seu apelo ao arrependimento. Quando fomentamos a amizade
com o mundo, podemos nos desviar e deixar Deus fora da nossa vida. Mas isso não
ocorre facilmente. Deus é um Deus zeloso, que não tolera rivais. Quando nos
convertemos, Ele nos deu um novo espírito. Deus se enternece por essa nova vida
na alma. Ele procura de todas as formas nos analisar quando começamos a nos
descuidar. Ele quer que essa vida cresça, porque deseja que sejamos totalmente
seus.
Não há nenhuma
passagem específica no Antigo Testamento que corresponda à última parte do
versículo 5. As palavras diz a Escritura, que Tiago cita, não são uma citação,
“mas um resumo dos ensinamentos do Antigo Testamento: Deus quer a pessoa
inteira, nossa lealdade completa” (Berk., nota de rodapé).
Deus fica condoído
com a nossa simpatia dividida e nossa amizade com o mundo que resulta disso.
Ele deseja que a plenitude do seu Espírito controle a nossa vida; Ele nos
convida a chegarmos a Ele e nos submetermos ao seu ministério. Deus dá essa
ajuda especial àqueles que humildemente a aceitam. Para provar seu ponto, Tiago
cita Provérbios 3.34 exatamente como ocorre na Septuaginta (cf. 1 Pe 5.5).
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 183.
Tg 4:5 Além de
condená-los por seu comportamento. Tiago acrescenta uma advertência: ou pensais
que em vão diz a Escritura que... Aquela gente tem lido o Antigo Testamento, e
só a supressão voluntária de sua mensagem pode justificar suas ações.
As escrituras em
questão provavelmente são uma obra apócrifa; a primeira tradução alternativa de
ECA com certeza é a forma correta: o Espírito que ele fez habitar em nós tem
intenso ciúme. Deus é como um marido ciumento (Êxodo 20:5; 34:14; Deuteronômio
4:24) que não vai tolerar adultério de sua “noiva”. O alvo do ciúme de Deus é o
Espírito que ele soprou no seu povo (Gênesis 6:17; 7: 15; Salmos 104:29-30;
Ezequiel 37), a quem chamou para que o adorasse e a ele obedecesse. Quando,
entretanto, seu povo corrompe seu espírito para servir ao mundo, o ciúme de
Deus se inflama. Ai da pessoa que ignora a ameaça divina, como se as Escrituras
fossem apenas papel e tinta!
Peter
H. Davids. Comentário Bíblico
Contemporâneo. Editora Vida. pag. 132.
III - A BUSCA DA AUTORREALIZAÇÃO (Tg 4.6-10)
1.
Humilhando-se perante Deus (Tg 4.6,7).
Submetendo-se a Deus
Nos versículos 6 a
10, o apóstolo Tiago exorta seus leitores a fugirem das paixões pecaminosas se
submetendo a Deus. Ele começa nos lembrando que o Espírito de Deus, que em nós
habita e tem zelo santo por nós, nos admoesta para que obtenhamos “maior graça”
(v.6). Para isso, basta que, seguindo sua admoestação, sujeitemo-nos a Deus,
isto é à sua vontade, que é “boa, agradável e perfeita” (Rm 12.2).
Assevera Tiago que os
orgulhosos, os soberbos, os egoístas, são resistidos por Deus, que “dá graça”,
isto é, a “maior graça”, apenas aos humildes (Tg 4.6b). Na sequência, Tiago
relaciona o sujeitar-se a Deus com o resistir ao Diabo (v.7), o que significa
que o Diabo procura de todas as formas atrapalhar para que não nos sujeitemos à
vontade de Deus. Porém, se resistirmos às suas sugestões, afirma o apóstolo,
ele fugirá de nós. Ou seja, a melhor forma de mantermos o Diabo afastado de nós
é nos sujeitarmos à vontade de Deus.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 122.
Tg 4.6 Nós
precisaremos confiar no poder de Deus para resistir a tais desejos malignos.
Este poder está disponível. Citando Provérbios 3.34, Tiago oferece esperança
àqueles que desejam a comunhão com Deus. Deus resiste aos soberbos porque o
orgulho nos torna egocêntricos e nos leva a concluir que nós merecemos tudo o
que podemos ver, tocar, ou imaginar. Ele cria apetites avarentos que superam em
muito aquilo de que necessitamos.
O orgulho pode
sutilmente fazer com que não mais vejamos os nossos pecados ou a nossa necessidade
de perdão. Mas a humildade abre o caminho para que a graça de Deus flua em
nossa vida; assim. Deus dá graça aos humildes. A humildade não é uma fraqueza;
ao contrário, é a única maneira pela qual os crentes conseguem coragem para
enfrentar todas as suas tentações e provações com o poder de Deus. À medida que
Deus nos dá mais graça, percebemos que as atrações sedutoras deste mundo são
apenas substitutos baratos daquilo que Deus tem para oferecer. A escolha é
nossa — podemos nos humilhar e receber a graça de Deus, ou podemos continuar
com o nosso orgulho e auto-suficiência e sentir a sua ira. Como é que nós, tão
propensos ao orgulho no mesmo momento em que pensamos que podemos estar nos
aproximando da humildade, podemos descobrir a verdadeira humildade? Como
podemos nos tornar o tipo de pessoas humildes que encontram a graça abundante
que Deus promete? Tendo revelado a nossa necessidade, Tiago agora aponta o
caminho claramente.
Tg 4.7 Nós nos
sujeitamos a Deus reconhecendo tanto a sua amizade quanto a sua autoridade. A
nossa relação com Deus não é de iguais, mas de servos confiantes. Embora Ele
não esteja definindo especificamente a palavra, Tiago está descrevendo a vida
de fé. A verdadeira fé responde a Deus ativamente, e não passivamente. Embora Deus
inicie e facilite tudo o que ocorre entre Ele e nós, o nosso envolvimento nunca
está completamente excluído. A humidade pessoal diante de Deus é parte da fé
viva. Satanás sabe que, enquanto ele puder estimular o orgulho humano, poderá
retardar o plano de Deus, mesmo que seja apenas temporariamente. Mas, por mais
que Satanás seja poderoso, o seu único poder sobre os crentes está nas suas
fortes tentações. Nós podemos resistir ao diabo, e eie fiigirá de nós. Por
outro lado, uma falta de resistência praticamente garantirá a perseguição
contínua de Satanás (veja também Ef 6.10-18 e lPe 5.6-9).
Uma vez que
identificamos o diabo como o nosso inimigo, nós precisaremos compreender quem ele
é e como ele opera, para que possamos efetivamente resistir a ele. O objetivo
principal do diabo é separar o homem de Deus. Destinado à destruição, ele quer
tomar a maior parte possível da criação. Entre as razões pelas quais nós
precisamos tão desesperadamente da graça de Deus, está o fato de que nós
travamos um combate mortal com um inimigo superior. Precisamos da ajuda de Deus
para resistir às artimanhas separatistas de Satanás e nos aproximar de Deus.
Os mandamentos
apresentados a seguir, e na verdade em todo o restante desta carta, são comentários
sobre as suas declarações acima. Tanto a humildade diante de Deus quanto a resistência
ao diabo sâo necessárias.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 683-684.
Tiago fala do diabo
(4.6,7). O pecado predileto do diabo é a vaidade, o orgulho. Ele tenta as
pessoas nessa área (4.6,7). Ele tentou Eva e tenta os novos crentes (iTm 3.6).
Deus quer que dependamos dEle enquanto o diabo quer que dependamos de nós. O
diabo gosta de encher a nossa bola. O grande problema da igreja hoje é que
temos muitas celebridades e poucos servos. Há tanta vaidade humana que não
sobra espaço para a glória de Deus.
Como podemos vencer
esses três inimigos? Tiago nos informa que Deus está incansavelmente do nosso
lado (4.6). Ele sempre nos dá graça suficiente para vencer. Mas a graça de Deus
não nos isenta de responsabilidade. Nos versículos 7-10 há vários mandamentos
para obedecer. A graça não nos isenta da obediência. Quanto mais graça, mais
obediência.
Tiago menciona quatro
atitudes, segundo Warren Wiersbe, que podem nos dar vitória; submissão a Deus, resistência
ao diabo, comunhão com Deus e humildade diante de Deus.
Em primeiro lugar,
devemos nos submeter a Deus (4.7).
Essa palavra é um
termo militar que significa fique no seu próprio posto, ponha-se no seu lugar.
Quando um soldado quer se colocar no lugar do general ele tem grandes problemas.
Renda-se incondicionalmente. Ponha todas as áreas da sua vida sob a autoridade
de Deus. Por isso um crente rebelde não pode viver consigo nem com os outros.
Davi pecou contra Deus, adulterando, mentindo, matando Urias e escondendo o seu
pecado. Mas quando ele se humilhou, se submeteu e confessou, encontrou paz novamente
com Deus.
Em segundo lugar,
devem os resistir ao diabo (4.7). O diabo não é para ser temido, mas resistido.
Somente quem se submete a Deus pode resistir ao diabo. A Bíblia nos ensina a não
dar lugar ao diabo (Ef 4.27).
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 88-89.
Tg 4.6 d.3) Mas na
maior gravidade desse zelo de Deus também se evidencia todo o ardor de seu
amor, de seu amor puro, misericordioso, e que está em busca de nós: “Contudo,
ele concede tanto maior graça” (v. 6).
e) Que cabe, pois,
fazer.
Tg 4.7 e.1) “Deus
resiste aos soberbos, mas aos humildes concede graça.” Sujeitai-vos, portanto,
a Deus.”
Tiago está citando
uma palavra do AT (Pv 3.34; cf. 1Pe 5.5) a fim de mostrar o que desagrada e
agrada a Deus e o que, consequentemente, cabe a nós fazer. – “Deus resiste aos
soberbos”, aos “que se exaltam”, à vaidade impaciente que não quer esperar por
Deus e pela sua hora, mas extrapola dos “trilhos que seu desígnio de amor
estabeleceu” (J. A. Rothe). Tenta se virar sozinho e buscar outras ajudas e
alianças que prometem levar mais rapidamente ao atendimento (cf. “a meretriz”
em Ap 17.3; 18.7). Esse espírito vem da mesma fonte como o espírito do mundo
hostil a Deus, autocrático e arbitrário (cf. o anticristo em Ap 13.5): trata-se
da contaminação do espírito incomensuravelmente orgulhoso, do inimigo. – “Mas
aos humildes concede graça”: por duas razões é relevante essa humildade.
Primeiro, ela nos torna dóceis para a vontade de Deus. Cria disposição para
ocupar o espaço que ele atribui, onde e pelo tempo que ele determinar. Visto
que é ao mesmo tempo alegre na confiança e na esperança. “Aqui está a
perseverança e a fidelidade dos santos” (Ap 13.10; 14.12). Em segundo lugar –
Deus praticamente visa nos encontrar no lugar em que estamos: embaixo. Quem
tenta se elevar não o encontra. Jesus, por meio do qual Deus nos procurou, foi
“humilde de coração” (Mt 11.29). Deixou-se deitar na manjedoura e pregar à
cruz. “Para baixo leva o caminho de Cristo.”
e.2) “Sujeitai-vos,
portanto, a Deus”. Com essas palavras Tiago chega à conclusão final decorrente
de suas declarações anteriores: parem de tentar afirmar-se a si mesmos!
Capitulem perante Deus! Abram mão do “empreendimento próprio”! Desistam dos
planos pessoais! Retornem a seu Senhor! Permitam que o amor dele volte a
conquistar seu coração! Entreguem sua vida nas mãos dele! Deixem-se usar para a
sua obra, como e onde ele quiser! Esse é o lugar dos filhos de Deus, da noiva
de Cristo. Deixem-se colocar novamente ali, e façam-no todos os dias! No último
trecho da jornada da igreja de Jesus será decisivo perseverar nessa atitude.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
2.
Convertendo a soberba em humildade (Tg 4.8,9)
O apóstolo explica em
detalhes como se dá essa submissão a Deus, no que ela consiste.
Em primeiro lugar,
diz ele que é preciso se aproximar de Deus, isto é, buscá-lo sinceramente:
“Chegai-vos a Deus” (v.8a). A consequência disso é que Deus se chegará a nós
(v. 8b) — ou seja, teremos comunhão com Ele e seremos abençoados pela sua
presença em nossas vidas. “Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes
com todo o vosso coração” (Jr 29.13).
Em segundo lugar, é
preciso se arrepender dos pecados e mudar de atitude: “Limpai as mãos,
pecadores” (v.8c). Ter as mãos limpas fala de chegar-se a Deus com a
consciência limpa devido ao arrependimento sincero. Paulo fala de levantar as
mãos em oração diante do Senhor “sem ira nem contenda” (1 Tm 2.8), purificado.
Em terceiro lugar, é
preciso dar fim ao “duplo ânimo” (v.8d), isto é, ao hesitar entre Deus e o
mundo, ao coxear entre a vontade de Deus e as paixões pecaminosas.
Em quarto lugar,
“purificai o coração” (v.8e), que significa aqui ter um coração sincero, sem
falsidade, sem maldade. Só os puros de coração verão a Deus (Mt 5.8), isto é,
só os sinceros de coração poderão ter um relacionamento real com Deus.
Ao final, Tiago
reforça a necessidade de arrependimento sincero, de quebrantamento verdadeiro
perante Deus: “Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o
vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza” (v.9).
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 122-123.
Tg 4.8 A idéia de
humildade diante de Deus agora inclui o benefício adicional da resposta imediata
de Deus. Nós podemos nos chegar a Deus e Ele se chegará a nós. A instrução de limpar
as máos significa purificar os nossos atos e modificar o nosso comportamento exterior.
A maneira como nós vivemos é importante para Deus. A medida que nos aproximamos
de Deus, nós nos tornamos conscientes de hábitos e atos na nossa vida que não
agradam a Ele. Limpar as mãos dá a idéia de remover estas coisas da maneira
como vivemos. Precisamos nos afastar dos pecados que Deus nos mostra.
De maneira similar, a
instrução de purificar o coração pede a pureza de pensamentos e motivos –
modificações em nosso interior. As pessoas não podem continuar sendo
hipócritas, tentando amar tanto a Deus como ao mundo. A pureza de coração,
portanto, implica sinceridade.
4.9 À medida que Deus
se aproxima de nós, devemos sentir a nossa falta de merecimento. Afinal,
estamos obtendo a permissão de nos aproximarmos do Deus santo e perfeito.
Tiago descreveu um longo
processo espiritual nos oito últimos versículos. Ele começou descrevendo as
pessoas em conflito umas com as outras e consigo mesmas. A seguir, ele descreveu
a origem de tais conflitos nos desejos inapropriados, que são motivados, em
grande parte, pela tentativa de permanecer próximas tanto do mundo como de
Deus. O desmascarar de uma vida como esta e a convocação dos crentes à
humildade pode não ser uma mensagem bem recebida. A rendição pode não vir com
facilidade.
Desejos arraigados há
muito tempo podem reagir com desobediência. O arrependimento poderá ter que
incluir a recordação do quanto nós nos afastamos do caminho de Deus antes de
termos retornado.
Estes termos
diferentes, misérias, lamentações, pranto e tristeza captam a luta de uma alma
que se aproxima de Deus.
Existe uma morte que
está acontecendo. É um chamado ao arrependimento profundo e sincero. O riso das
pessoas (o riso escarnecedor que se recusou a levar o pecado a sério) e a sua alegria
com os prazeres do mundo precisam ser completamente transformados - em tristeza
pelos seus pecados (veja também Lc 6.25). Até que isto ocorra, não há espaço
para o riso da liberdade verdadeira e a alegria do Senhor. A vida cristã
envolve alegria, mas, quando nós percebemos os nossos pecados, precisamos nos lamentar,
para que possamos nos arrepender. Somente depois da lamentação é que podemos passar
para a alegria na graça que Deus nos dá.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 684.
Tg 4:8 Arrependimento
total significa purificação. Há promessa e ao mesmo tempo exigência na
convocação chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. É promessa recíproca de
Deus: torne-se para ele o que ele se tornará para você (Malaquias 3:7),
volte-se para Deus, que Deus se voltará para você (Zacarias 1:3).
Deus é um Pai amoroso
que aguarda a oportunidade de responder a seu filho em perdão, mas há uma
exigência: que o filho se arrependa e se aproxime, chegai-vos.
Este termo
normalmente indica um ato de culto. Mas toda a adoração naquela igreja deixa de
ser uma aproximação, para alguns, pois sua desarmonia comunitária, enraizada na
preocupação com o sucesso mundano, impossibilita tal aproximação, por ser
inaceitável. “Aproximem-se de mim”, clama o Senhor. “Adorem-me em espírito e em
verdade! Cultuem-me em obediência!” (cf. 1:27).
Prosseguindo a
metáfora, clama Tiago: Lavai as mãos, pecadores. O culto no Antigo Testamento
exigia mãos cerimonialmente puras (e.g., Êxodo 30:19-21).
Esses crentes não
estão preparados no momento para o culto, porque estão em pecado. O termo
pecadores é forte, pois Tiago não aceita desculpas. As ações dessas pessoas são
pecaminosas — de fato são pecado indesculpável. E só mudarão seu comportamento
(“lavarão as mãos”) depois de aceitarem esse fato.
Tiago deixa o
comportamento de lado e trata agora do problema interior, ao exigir: vós de
duplo ânimo, purificai os corações. Outra vez temos um termo do cerimonial
tirado do Antigo Testamento (cf. Êxodo 19:10), mas a imundícia agora não está
no exterior (e.g., pelo fato de o judeu ter tocado num cadáver), mas no interior.
A natureza da purificação que se faz necessária transparece no termo duplo, o
mesmo encontrado em 1:8. Não se aplica a uma pessoa que conscientemente oculta
seus motivos reais, mas a uma pessoa cuja motivação encontra-se dividida. Por
um lado, a pessoa deseja seguir a Cristo e ser um bom cristão; por outro lado,
não está disposta a desistir do mundo (cf. Romanos 6:8; 2 Coríntios 5:11-17).
As pessoas assim apresentam desculpas pelo fato de seguir os padrões do mundo a
respeito de influência e modos de ganhar dinheiro (cf. 4:13-17). Contudo, Tiago
já declarou que Deus não quer repartir tais crentes com o mundo; Deus os deseja
para si, com exclusividade total (4:4). Pelo que é preciso que esses crentes se
purifiquem por dentro, eliminem os motivos mundanos e busquem a Cristo e seu
reino, e a mais ninguém.
4:9 O arrependimento
adequado mostra sinais característicos. No íntimo, esses crentes vão perceber
seu estado: senti as vossas misérias; haverá no coração deles um sentimento de
dor que se exprimirá nestas palavras: “ai! que é que eu fiz?”. Essa tristeza se
expressa externamente: lamentai e chorai — marcas de todos os verdadeiros
reavivamentos. O evangelismo moderno tende a produzir um curto-circuito neste
processo, ao prometer paz antes de o pecador ter percebido toda a gravidade de
sua péssima condição espiritual. Tiago evita essa armadilha com muito cuidado,
convocando esses crentes a que sintam a gravidade de sua tranquila aceitação do
pecado.
A lamentação é tão
natural que qualquer outra reação seria inadequada: converta-se o vosso riso em
pranto, e a vossa alegria em tristeza. Esta ordem pode ter-se originado nas
palavras de Jesus: “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados”
(Mateus 5:4). Ou, “ai de vós, os que agora rides! pois vos lamentareis e
chorareis” (Lucas 6:25). Sem verdadeiro arrependimento agora, o futuro é
sombrio, mas com arrependimento, não haverá choro mais tarde; na verdade, o
arrependimento é a única reação racional. Como poderiam os pecadores entender a
gravidade do desagrado de Deus, conforme Tiago o descreve, sem deixar que a
alegria falsa lhes desaparecesse do rosto, enquanto o alimento esfria na mesa,
e em jejum e lágrimas se prostrem perante Deus?
Peter
H. Davids. Comentário Bíblico
Contemporâneo. Editora Vida. pag. 134-135.
Tg 4.8 c) Nota-se
aqui mais uma razão por que o diabo foge: “Chegai-vos a Deus”, àquele que é o
lado de Deus que se volta para nós, achegai-vos ao Filho. Ele derrotou o
inimigo na Sexta-Feira Santa e na Páscoa. Agora é, para nós, apenas um inimigo
vencido, de meras refregas retardatárias. Quando “corremos” para Jesus, i. é,
quando de imediato nos voltamos em oração a Jesus para obter ajuda, o inimigo
não pode nos perseguir (cf. Pv 18.10). “O diabo anda em derredor como um leão
que ruge, buscando alguém para devorar” (1Pe 5.8). “Em derredor”, isso
significa praticamente “pelas bordas”. Não tem coragem de se aproximar. Apenas
lhe resta esperar que alguém se distancie novamente de Jesus. Então o ataca e
arrasta consigo. A singela palavra: “Satanás foge quando te vê junto à cruz”
foi dita com base em uma grande experiência de cuidado pastoral. – Na seqüência
Tiago conta o que torna essa aproximação de Deus em Jesus Cristo tão fácil: “E
ele se chegará a vós.” Não conseguimos dar nenhum passo em direção a ele sem
que ele não venha primeiro em nossa direção. É o que Jesus também explicita na
parábola do filho pródigo: não apenas o filho foi ao encontro do pai, mas o pai
também foi ao encontro do filho, facilitando-lhe a volta para casa (Lc 15.20).
d) O que é necessário
quando nos chegamos a ele.
d.1) “Purificai as
mãos, pecadores!” Tiago sublinha algo que muitos pregadores de hoje escrevem em
letras miúdas ou até mesmo deixam fora: o Pai, que está pronto a nos receber, é
o Deus santo. O pecado não cabe na comunhão com ele. O filho perdido da
parábola desnudou todos os estragos. Também nós precisamos fazer isso. Desse
modo ele purifica mãos e corações. “O sangue de Jesus Cristo, o Filho de Deus,
nos purifica de todo pecado” (1Jo 1.7).
d.2) “Santificai os
corações”: não se trata apenas de perdoar culpa passada, mas também de largar o
atual amor ao pecado (cf. Jo 17.19; Rm 1.4; Gl 5.24; 1Pe 3.15; Hb 12.14).
“Santo” significa ser propriedade irrestrita de Deus e reservada para o seu
serviço exclusivo (cf. 1Co 6.19). “Nossos corações pertencem totalmente ao
varão do Calvário” (F. v. Bodelschwingh). – Em seguida é abordado o grave dano
de tantos cristãos nos dias de Tiago e também de hoje: “Vós que sois de ânimo
dobre” (no grego consta aqui a mesma palavra como em Tg 1.8: dípsychos): é
verdade que não somos indiferentes, porém temos no peito as “duas almas”, o
amor a Jesus e ao mundo. Isso tem de mudar. Esse cristianismo de “pular a
cerca” precisa acabar. Entregar também isso ao morrer de Cristo faz parte da
“santificação dos corações”.
Tg 4.9 d.3) “Percebei
vossa miséria, lamentai e chorai. Vosso riso (como se tudo estivesse em ordem)
deve se transformar em tristeza e vossa alegria em desalento”: muita vida
cristã “semi-viva” com certeza se deve ao fato de que muitos cristãos hoje não
passam mais pela fase da “tristeza divina” (2Co 7.10) que faz parte de um
arrependimento genuíno. Vários comentaristas já disseram que Tiago teria
descrito o retorno do ser humano para Deus em cores excessivamente sombrias.
Afinal, o arrependimento seria algo alegre. Na realidade a alegria tem sua
razão de ser (v. 10b). Antes, porém, é preciso passar pelo que Tiago está
mostrando aqui, para que se torne algo salutar.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
3.
“Humilhai-vos perante o Senhor” (Tg 4.10).
Sujeitar-se a Deus,
submeter-se a Ele, ou, como acrescenta Tiago ainda, humilhar- se diante do
Senhor. O resultado dessa atitude é claro: “Humilhai-vos perante o Senhor, e
Ele vos exaltará” (v. 10 — grifo meu).
Em suma, Tiago nos
ensina nessa bela passagem de sua epístola que não há vitória sobre as paixões
pecaminosas e nem exaltação espiritual na vida do cristão sem humilhação diante
de Deus, sem submissão total à sua vontade, que se dá através desses quatro
passos acima elencados a partir de seu próprio texto. E mais: vivendo assim,
não teremos, inclusive, conflitos entre nós, porque nossas motivações, desejos
e formas de agir estarão completamente harmonizados com a perfeita vontade do
Senhor.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 123.
Tg 4.10 Humilhar-nos
perante o Senhor e admitir a nossa dependência dele significa reconhecer que o
nosso valor vem somente de
Deus. É reconhecermos a necessidade desesperada que temos de sua ajuda e sujeitarmo-nos
à sua vontade para a nossa vida. Embora nós não mereçamos a graça de Deus, Ele
nos alcança no seu amor e nos dá valor e dignidade, apesar dos nossos defeitos humanos.
Quando fazemos isto, a promessa é certa: Ele nos exaltará e nos dará honra. Um dos
exemplos bíblicos mais comoventes desta verdade é encontrado na parábola de
Jesus sobre o pai que perdoa (veja Lc 15.11-32).
O filho tinha tomado
a sua herança e saído de casa para ser amigo do mundo. Somente depois que se
encontrou falido em todos os aspectos é que ele se arrependeu e, entristecido, voltou
para casa. O filho confessou ao seu pai que era indigno de ser chamado de
filho. Mas o pai o exaltou e o recebeu de volta à família.
O ato de retornar
exigiu submissão. As palavras de arrependimento do filho rebelde exigiram humildade.
O resultado final foi uma grande alegria. A humildade perante Deus será seguida
da nossa exaltação.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 685.
Tg 4.10 Não é natural
os homens buscarem e manterem sentimentos de tristeza e abatimento. Não é natural
ao indivíduo buscar humilhar-se. Todos querem sentir-se livres, poderosos,
auto-suficientes! Aquela atitude de contrição deve ser buscada em Cristo,
mediante o dom de Deus, porquanto também é em Cristo que seremos exaltados e
glorificados. Porém, essa exaltação e glória nada tem a ver com a maneira como
os homens ordinariamente se exaltam, mediante experiências e alegrias carnais.
A humilhação desnatural, pela qual precisamos passar a fim de nos libertarmos
da carnalidade, não é a expressão permanente que buscamos. O versículo presente
deixa isso claro. Esse estado de quebrantamento é apenas a preparação da alma
para receber alegria e exaltação espirituais; mas são preparativos necessários,
uma vez que nos tenhamos permitido ser levados pelo mundo, pela maneira de
pensar e de agir dos homens mundanos.
«...humilhai-vos...»
O autor sagrado retorna, neste ponto, ao início de sua exortação (no sexto
versículo, onde ele diz que Deus dá graça aos «humildes»). Para que sé obtenha
essa atitude de «humilhação», conforme nos diz o autor, há necessidade de
vários estágios ou atos: sujeição a Deus, resistência ao diabo (versículo
sétimo), aproximação de Deus, purificação de atos e do homem interior
(versículo oitavo), aflição, lamentação, choro, tristeza de coração (versículo
nono). Todos esses elementos fazem parte necessária de nossa humilhação diante
do Senhor.
«...na presença...»,
isto é, perante os olhos divinos, algo visível para o Senhor. Isso deve ser
feito na busca da comunhão com ele, para que sejamos aceitos por ele, buscando
libertar a alma de seus liames com o que é terreno, absorvendo-nos na
contemplação das realidades divinas. Se não agirmos assim, nossa experiência,
eventualmente, será a de Scott Fitzgerald, um novelista, que viveu na
dissipação de costumes, em sua juventude, buscando febrilmente as sensações
corpóreas, o que é bastante típico da vida dos jovens modernos, que não têm
Deus. Pouco antes de sua morte prematura, ele se descreveu como um «prato
rachado». Passou por muitos vales de depressão, procurando recuperar-se de sua
bancarrota moral e espiritual. E assim ele teve de aprender a árdua lição que «custa
muito mais alguém entregar-se a um único hábito mau do que praticar muitos
hábitos bons», conforme diz um antigo e sábio provérbio. (Quanto à necessidade
que temos de nos humilharmos diante de Deus, ver as notas expositivas sobre o
sexto versículo deste capítulo, bem como ver as Escrituras seguintes:, Rom.
6:4—participação na morte de Cristo; Jó 5:11; Eze. 21:26; Mat. 23Í12; Luc.
14:11; I Ped. 5:6 e Ben Siraque ii.17).
«Deus protege aos
humildes e os livra; ele os ama e consola; e também lhes confere uma graça acessível;
. e, após a humilhação dos mesmos, eleva-os até à glória. E assim serve seus
segredos aos humildes, atraindo-os docemente a ele mesmo» (Tomás à Kempis).
«...Senhor...» Está
em foco Deus Pai, tal como nos versículos sexto, sétimo e oitavo, embora
normalmente, nas páginas do N.T., essa palavra aponte para o Senhor Jesus
Cristo. (Ver Rom. 1:4 quanto a esse título de Cristo e quanto a seu «senhorio», nas
notas expositivas ali existentes). Deus é o «Senhor» da humanidade; ele tem os
direitos da soberania; e isso requer humildade de nossa parte, bem como a
lealdade a ele.
«...vos exaltará...»
Agora está em foco o poder e a bênção espirituais; e isso tanto quanto ao
bem-estar presente como na glória futura, quando compartilharemos da
glorificação de Cristo. (Ver as notas expositivas sobre esse tema, em Rom.
8:29,30). Ele nos exaltará espiritual e moralmente, e, finalmente, nos levará à
sua presença (ver Heb. 10:19). (Ver também esse pensamento, incorporado no
bem-estar da vida eterna, em Tia. 1:12 e 5:8; e ver notas expositivas completas
sobre essa questão, em João 3:5). Essa exaltação ocorre dentro de nossa
«salvação», o que é comentado em Heb. 2:3. (Ver declarações similares nos
trechos de Mat. 23:13; Luc. 14:11; 18:14; II Cor. 11:7 e I Ped. 5:6). Os
escritores judaicos também insistiam veementemente sobre a necessidade do
arrependimento^ para aqueles que desejam receber qualquer coisa da parte de
Deus. «E lugar comum, na boca de Raba que, a perfeição da sabedoria é o
arrependimento» (Berachoth, 17a).
«Tal como uma árvore
deve lançar profundas raízes para baixo, a fim de que cresça para cima,
assim também aquele que não fixar profundamente sua alma na humildade, se
exalta a si mesmo para sua própria ruína» (Agostinho).
«Ele lhes dá um lugar
e um nome em sua casa, melhor que o de filhos e filhas; ele os adorna com a sua
graça; ele os reveste da retidão de seu Filho; ele lhes concede proximidade a
si mesmo; e, finalmente, ele os introduzirá em seu reino e em sua glória» (John
Gill, in loc.). Porém, melhor do que tudo isso, ele lhes dá de sua própria
«plenitude» de atributos e poderes, com base na participação em sua própria
natureza (ver Efé. 3:19; Col. 2:10).
«...(exalta) a glória
inefável de seus filhos manifestos» (Alford, injoc.).
Tudo isso faz
contraste com as vitórias temporais e fúteis, e com a exaltação humana, na face
da terra:
As
vitórias deste mundo Lembram-me as águas do mar:
Cai
lá oiro, vai ao fundo,
E
um cepo fica a boiar.
(Augusto
Gil)
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 67-68.
Tg 4.10 “Humilhai-vos
perante o Senhor”: considerando que pode vir a ser necessário que uma pessoa se
curve perante outra que a ama e à qual magoou severamente, quanto mais será
preciso que nos humilhemos diante do santo e puro Deus, que nos ama de modo inconcebível,
por causa de nossa culpa em pensamentos, palavras e ações, com a qual magoamos
o seu amor da forma mais grave possível. Humilhar-se perante Deus significa
reconhecer a própria culpa e o juízo justo de Deus sem objeções e réplicas, sem
restrições e tentativas de se justificar. É essa a única atitude com a qual se
pode suplicar por perdão e graça (cf. o exemplo do rei Davi em 2Sm 12.13a; Sl
51).
“E ele vos exaltará”
(cf. 1Pe 5.6): Deus não mantém prostrada e cheia de vergonha a pessoa que se humilha
diante dele. Reveste-a com sua justiça, que nos foi conquistada por meio de
Jesus Cristo (2Co 5.21; Rm 8.1). Levanta-a e presenteia-a com a filiação divina
(Rm 8.15; 1Jo 3.1). Por isso sentimos já nesta vida, após passarmos pela
“tristeza divina”, a grande alegria da volta para casa (Lc 15.24b).
“Arrependimento e alegre empreendimento” (A. Schlatter). Deus nos exalta de tal
maneira que não apenas passa a realizar bênçãos para nós, mas também através de
nós, talvez nada humanamente grandioso, e não obstante algo verdadeiramente
útil e frutífero com autoridade interior.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
ELABORADO:
Pb Alessandro Silva.
A paz do Senhor irmão. Deixe Deus cuntinuar a lhe usar em sabedoria, esse ensino me ajudou muito em minha aula.Deus lhe abençoe.
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