A VERDADEIRA FÉ NÃO FAZ ACEPÇÃO DE PESSOAS
Revista
Ensinador Cristão CPAD, n° 59, p.39.
Imagine
a hora do culto vespertino! O coral se apresenta de maneira solene e, de
repente, adentra ao recinto um mendigo; sujo, bêbado, gritando. Qual seria a
tua reação? O exemplo ora citado é extremo. Mas passível de acontecer em
qualquer igreja. Todavia, o público o qual Tiago está se referindo não diz
respeito apenas aos mendigos, mas às pessoas economicamente menos abastadas.
Para Tiago, o pobre não é apenas o mendigo, mas quaisquer pessoas que em um
dado momento da vida precisa de algo necessário à sua subsistência.
Professor,
aqui, é necessário fazer uma reflexão. Será que não tem algum aluno na classe
que se sinta discriminado na igreja? Seja pela cor da pele ou aparência física
ou classe social? Prepare esta lição com cuidado e respeito, pois quando
ministrada, ela pode revelar sentimentos diversos de pessoas vítimas de
discriminação até mesmo na igreja local. Mesmo que inconscientemente!
Tendemos
a pensar que certas coisas não acontecem na igreja, pois ela é um lugar santo.
Sim, é santa, mas, todavia, composta de santos humanos. E possível perceber
certos comportamentos na igreja que um professor secular, por exemplo, lida
todo o instante em sala de aula. Certas atitudes do mundo secular acontecem em
nossos espaços sacros e, por isso, precisamos estar capacitados para se deparar
com estas realidades e agirmos com a sabedoria do alto.
Portanto,
professor, trabalhe o tema central da presente lição abordando a sua tese
principal: a de que é inadmissível a discriminação na igreja. A Palavra diz que
"noutros tempos, éreis gentios na carne e chamados incircuncisão pelos
que, na carne, se chamam circuncisão feita pela mão dos homens; que, naquele
tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos aos
concertos da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. Mas, agora, em
Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de cristo chegaste
perto. Porque ele é a nossa paz, [...] e, pela cruz, [...] matando com ela as
inimizades" (Ef 2.11-16). Não podemos reconstruir a parede que uma vez o
próprio Senhor a derribou! Boa aula!
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Um dos pecados mais
comuns, até mesmo entre alguns ditos cristãos, tem sido a acepção de pessoas,
isto é, a discriminação de uma pessoa por causa da sua condição financeira, da
sua posição social ou da sua aparência. A acepção de pessoas trata-se de uma
atitude absolutamente anticristã, como veremos com detalhes neste capítulo.
Tiago 2.1- 13 enfatiza que nenhum cristão pode-se dizer verdadeiramente um
cristão se vive favorecendo ou desprezando as pessoas devido à condição social
delas.
Há vários textos na
Bíblia que ressaltam esse pecado, porém, sem dúvida alguma, a passagem bíblica
mais marcante e enfática sobre esse assunto é a que abre o capítulo 2 da
Epístola de Tiago. Ao ser lida hoje, a referida passagem chama a atenção pela
sua contundência, porém é preciso frisar que, na época em que Tiago a escreveu,
ela soou ainda mais contundente do que hoje. Isso porque, nós, ocidentais,
apesar do processo cada vez mais avançado de descristianização da sociedade
ocidental, ainda podemos perceber o horror de tal atitude. Só que, nos tempos
de Tiago, a cultura era totalmente outra, bem distinta da nossa.
O mundo, na época de
Tiago, era caracterizado por profundas divisões sociais que eram aceitas
normalmente pela maioria esmagadora da sociedade. Naquela época, agir com
humildade era manifestação de fraqueza, não de virtude; e fazer distinção de
pessoas por aparência ou por condições físicas ou socioeconômicas era visto
como algo absolutamente natural. Logo, a mensagem cristã, ao ser proclamada,
teria um impacto enorme na sociedade de então, porque ela batia fortemente de
frente com toda essa cultura, ao pregar a humildade, o perdão, a misericórdia,
a igualdade entre os seres humanos etc.
O Cristianismo nivela
todas as pessoas, e o faz inicialmente com a afirmação de que “todos pecaram e
destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). Além disso, ele também ordena
que amemos o nosso próximo incondicionalmente, independente de sua condição
social, econômica, física etc (Lv 19.18; Mt 22.39). Aliás, se hoje há menos
discriminação do que houve no passado, isso se deve à influência do
Cristianismo na história. Se o Ocidente mantivesse intacta a cultura pagã da
Antiguidade, que, por exemplo, discriminava deficientes e pobres, com certeza a
acepção de pessoas ainda seria vista hoje como a ordem do dia em vez de uma
aberração moral, como realmente é. Sim, é verdade que houve falhas morais no
passado nessa área — e hoje eventualmente ainda há — entre aqueles que professam
a fé cristã, mas mesmo os mais críticos do Cristianismo não podem deixar de
afirmar que esse não é o ensino do Cristianismo e que o mundo seria moralmente
pior se não se deixasse impregnar minimamente pelos valores judaico-cristãos.
Devemos o conceito de igualdade e de direitos humanos que temos hoje no mundo a
esses valores.
Dito isso, vejamos a
seguir, com detalhes, as razões bíblicas, apresentadas pelo apóstolo Tiago no
capítulo 2 de sua epístola, pelas quais a acepção de pessoas é totalmente
rejeitada pelos cristãos.
A comunidade cristã
Imagine, em uma época
como a de Tiago, quando o mundo era marcado por divisões sociais profundas as
quais mencionei rapidamente na introdução deste capítulo, surgir uma comunidade
em que não havia acepção de pessoas, onde o pobre convivia com o rico, onde o
servo convivia com o seu senhor e onde tanto judeus quanto gentios adoravam a
Deus juntos e com alegria. Essa era a comunidade cristã, que impactou a
Antiguidade durante o período do Império Romano.
Urge que mantenhamos
esse modelo bíblico da Igreja Primitiva em nossos dias, um modelo que
influenciou cristãos na História a lutar contra a discriminação racial ou étnica,
contra o sexismo (seja ele machista ou feminista), contra a discriminação por
classes sociais e econômicas, e contra a discriminação de deficientes. Essa foi
uma marca, inclusive, nos grandes avivamentos da História: foi assim, por
exemplo, no Avivamento Wesleyano no século XVIII, na Inglaterra, e no início do
Movimento Pentecostal Moderno, como no caso do Avivamento da Rua Azusa, em Los
Angeles, Estados Unidos, no início do século XX. Segundo os jornais
norte-americanos da época, o Avivamento da Rua Azusa causava repulsa em alguns
e admiração em outros pelo fato de que aquele galpão, onde ocorriam as reuniões
sob a direção do líder negro pentecostal William Joseph Seymour (1870-1922),
reunia tanto negros quanto brancos, e gente de todos os extratos sociais, que
se prostravam juntos em adoração a Deus. Em sua obra The Charismatic Century:
The Enduring Impact of the Azusa Street Revival (Warner Faith, 2006, EUA), Jack
Hayford e Davi Moore registram relatos da época de críticas ao movimento porque
“homens e mulheres, brancos e negros, se ajoelhavam juntos” e “se abraçavam” em
momentos de quebrantamento; e o jornalista John Sherrill, em sua obra They
Speak in Other Tongues (“Eles Falam em Outras Línguas”), conta que “ricos e
pobres, igualmente, vinham ver o que ali acontecia”. E ele continua: “Vinham
pessoas das cidades circunvizinhas, mas também do meio-oeste norte-americano,
dos estados de Nova Inglaterra, do Canadá, da Grã-Bretanha. Havia ali brancos e
negros, idosos e jovens, educados e iletrados”.
Em Cristo, não há
pobre nem rico, homem nem mulher, negros nem brancos, amarelos ou pardos,
gentio nem judeu. Todos são um em Cristo: “Porque todos sois filhos de Deus
pela fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos
revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre;
não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E se sois de
Cristo, então sois descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa” (G1
3.26-29). Aleluia!
Confusões pós-modernas
sobre o sentido correto da não acepção de pessoas à luz da Bíblia Antes de
concluirmos esse assunto, é importante destacarmos ainda que, infelizmente,
devido ao relativismo moral que está grassando na nossa sociedade nas últimas
décadas, muitos têm distorcido maquiavelicamente o sentido real e original dos
direitos humanos, da igualdade à luz dos valores judaico-cristãos, e passado a
combater, como se acepção de pessoas fosse, aquilo que na verdade não o é. Por
exemplo: em nome da não acepção de pessoas, há quem defenda o homossexualismo
como uma prática que deve ser aceita por todos normalmente, inclusive pelos
cristãos, e ainda criam leis para punir quem não concorde com essa prática,
mesmo que os cristãos tratem respeitosamente todos os homossexuais. Para quem
defende isso, não aceitar a prática homossexual significa acepção de pessoas.
Ora, acepção de
pessoas não é isso. Acepção de pessoas é favoritismo com base em condições
sociais, é desamor, é desprezo. E não fazer acepção de pessoas é tratar todas
as pessoas da mesma forma, isto é, com respeito e amor. Não tem nada a ver com
concordância com práticas erradas.
Além disso, não fazer
acepção de pessoas também não tem nada a ver com desprezar as diferenças
naturais, como querem fazer crer, por exemplo, as feministas. Justamente porque
não faz acepção de pessoas, o cristão respeita as diferenças naturais, não
procurando confrontar ou forçar a diferença de uma pessoa sobre a outra.
Simplesmente, ele apenas rejeita aquilo que é pecaminoso, não despreza o que é
natural e respeita todos, crentes ou não, tratando-os com respeito.
Há feministas que
citam Gálatas 3.28, que diz que em Cristo “não há macho nem fêmea” para
sustentar que não deve haver diferença de funções entre homens e mulheres.
Trata-se de um erro grotesco, pois o referido texto, como o seu próprio
contexto denota, não quer dizer nada disso. Como afirma Donald Stamps a
respeito de Gálatas 3.28, Paulo aqui está removendo “todas as distinções
étnicas, raciais, nacionais, sociais e sexuais no que diz respeito ao nosso
relacionamento espiritual com Jesus Cristo”. Ele está dizendo que “todos os que
estão em Cristo são igualmente herdeiros da graça divina (1 Pe 3.7), do
Espírito prometido (G1 3.14; 4.6) e da restauração à imagem de Deus (Cl 3.10,11)”.
E, “por outro lado, dentro do contexto de igualdade espiritual, os homens
permanecem homens e as mulheres, mulheres (Gn 1.27). Os papéis que Deus lhes
atribuiu no casamento e na sociedade permanecem imutáveis (1 Pe 3.1-4; Ef
5.22,23)”.
Em época de significados
distorcidos, clarificação de ideias se torna um dever constante. Logo, como o
conceito de tolerância no cristianismo ou mesmo de tolerância em termos
democráticos está sendo cada vez mais distorcido, urge fechar este capítulo
explicitando seu significado.
Antes de tudo, o
cristão bíblico, obviamente, defende fervorosamente a tolerância; porém, não
qualquer tipo de tolerância. E que tipo de tolerância ele defende e qual ele
não defende? Ele defende a tolerância legal e a tolerância social, mas não a
tolerância acrítica. Como assim?
O cristão bíblico
defende o direito que cada pessoa tem de acreditar em qualquer crença (ou em
nenhuma) que se queira acreditar. Ele defende, por exemplo, que ninguém deve
ser coagido a crer no que ele, cristão, crê. Isto é, o verdadeiro cristão
defende e promove a liberdade religiosa. Isso se chamada tolerância legal.
O cristão bíblico
também defende o respeito a todas as pessoas, mesmo que discorde frontalmente
de suas religiões ou ideias. Ele defende a paz entre os indivíduos, entre os
diferentes. Isso é tolerância social.
E com base na
tolerância legal e na tolerância social que temos de fato a chamada liberdade
religiosa.
Entretanto, o cristão
bíblico não defende a tolerância acrítica. Muito ao contrário: ele defende que
a tolerância em uma democracia, assim como a tolerância cristã à luz da Bíblia,
não é sinônimo de ser acrítico, de não poder expressar, defender e pregar os
valores bíblicos. Agora, em tudo, deve haver sempre o amor e o respeito.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 71-73; 80-83.
A advertência
necessária que Cristo aproveitou para fazer aos seus ouvintes. Embora o Senhor não
tenha vindo para ser um repartidor dos bens dos homens, Ele veio para ser um
guia de suas consciências em relação aos bens. O Senhor deseja que todos tomem cuidado
para não abrigarem este princípio corrupto que eles viam que era, nos outros, a
raiz de tantos males.
Aqui está:
1. A advertência em
si (v. 15): Acautelai-vos e guardai-vos da avareza, horate - “observai-vos a
vós mesmos, mantende um olho extremamente cuidadoso sobre os vossos próprios
corações, para que princípios avarentos não entrem neles furtivamente; e
phylassesthe - preservai-vos a vós mesmos, mantende uma atadura severa sobre os
vossos próprios corações, para que os princípios avarentos não os dominem, nem
estabeleçam sua lei neles. A avareza é um pecado contra o qual precisamos vigiar
constantemente. Portanto, precisamos ser frequentemente alertados contra ela.
2. O motivo dela, ou
um argumento para reforçar esta advertência: “Porque a vida de qualquer não
consiste na abundância do que possui” ; isto é, “a nossa felicidade e conforto
não dependem de termos uma grande quantidade da riqueza deste mundo”. (1) A
vida da alma, sem dúvida alguma, não depende dela, e a alma é o homem. As
coisas do mundo não se ajustarão à natureza de uma alma, nem suprirão suas
necessidades, nem satisfarão seus desejos, nem durarão tanto quanto ela. (2) A
vida do corpo e a felicidade deste não consistem na abundância destas coisas. Porque
muitos que vivem contentes e tranquilos, e atravessam o mundo muito
confortavelmente, possuem apenas um pouco da riqueza dele (um j antar de ervas
com amor santo é melhor do que um banquete de coisas gordurosas).
Por outro lado,
muitos que vivem miseravelmente, possuem uma quantidade muito grande das coisas
deste mundo; estes possuem abundância, no entanto não têm nenhum conforto; eles
privam a sua alma do bem, Eclesiastes 4.8. Muitos que possuem abundância estão descontentes
e desassossegados, como Acabe e Hamã. E que bem a sua abundância lhes
proporciona?
3. A ilustração disto
através de uma parábola, sendo que sua importância é mostrar a loucura das
coisas carnais deste mundo enquanto vivem, e sua miséria quando morrem. Também
há o propósito não só de censurar aquele homem que veio até Cristo com um
pedido a respeito de seus bens, enquanto não tinha nenhum cuidado com a sua
alma e com o outro mundo, mas de reforçar esta advertência necessária a todos
nós, para nos guardarmos da avareza. A parábola nos mostra a vida e a morte de
um homem rico, e deixa que julguemos se este homem era feliz.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 622.
Não era incumbência
do Senhor nem finalidade de sua vinda ajudar o pedinte a alcançar sua justa
herança, mas curá-lo de sua mazela principal. “E disse-lhes: Tende cuidado e
guardai-vos de toda e qualquer avareza!” Ele advertiu todos os ouvintes, porque
quase todas as pessoas sofrem desse mal fundamental.
Os dois imperativos
“vede” e “tende cuidado” no v.15a poderiam ser vistos como recomendação:
“Mantenham bem abertos os olhos contra a avareza!” Contudo a tradução mais
correta talvez seja: “Vede este homem que acaba de dirigir-se a mim com uma
demanda legal, e cuidai-vos!” O termo grego, traduzido por avareza, designa
mais precisamente “a avidez de ter cada vez mais”, e não o desejo de conservar
aquilo que já se possui. Esse último aspecto, porém, faz parte do primeiro.
Esse duplo anseio está baseado numa confiança supersticiosa em bens terrenos,
cuja posse é equiparada à felicidade.
A complexa construção
do texto básico no v. 15b, não obstante diversas obscuridades do significado,
aponta para a tolice da avareza no seguinte sentido: “Ainda que alguém tenha em
abundância, não conquistará vida por meio de seus bens”. Provavelmente seja
esse o significado dessa frase de difícil formulação.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica
Esperança.
Essa é uma
advertência muito séria. Que cada ouvinte a leve a sério. Que comece fazendo um
inventário. Que ele tome como uma séria tarefa fazer a si mesmo e
reiteradamente a pergunta: “Sou, porventura, um homem cobiçoso? Experimento a
alegria de dar para as boas causas? Ou porventura sou uma pessoa egoísta? Sinto
uma paixão desordenada pelas possessões materiais? De ter honra e prestígio?
Poder e posição? Em
suma, sou cobiçoso?
A palavra grega que é
traduzida por cobiça é muito descritiva. Literalmente, significa: A sede de ter
mais, de ter sempre mais e mais e ainda mais. É como se um homem que tem sede
tomasse um copo de água salgada para saciá-la, uma vez que tem à disposição
unicamente essa água. Isso faz com que ele tenha ainda mais sede. De modo que continua
tomando mais e mais até que sua sede o mata. Em relação a isso, pense também em
uma das palavras alemãs que significa cobiça: die Habgier, cf. a palavra
holandesa: hebzucht, a paixão descontrolada de ter ... ter ... ter ... mais ...
e mais ... e ainda mais.
Jesus disse a essas
pessoas - e diz a nós hoje - que não nos deixemos escravizar por esse demônio
da cobiça, e acrescenta: porque a vida de um homem [a vida que realmente
importa] não consiste na abundância de suas possessões, seus bens terrenos.
HENDRIKSEN. William. Comentário do Novo Testamento. Lucas II. Editora Cultura Cristã.
pag. 179-180.
I - A
FÉ NÃO PODE FAZER ACEPÇÃO DE PESSOAS (Tg 2.1-4)
1. Em Cristo a fé é
imparcial.
Tg 2.1 Os irmãos e irmãs
eram membros da igreja e a família de Tiago na fé cristã. O relacionamento
familiar que Tiago está descrevendo está limitado àqueles que têm a fé de nosso
Senhor Jesus Cristo. Devido à sua posição no grupo de crentes, os leitores de
Tiago deviam seguir as instruções que ele lhes daria.
Os crentes que iriam
receber esta carta já eram culpados por tratar as pessoas de modo diferente.
Aparentemente, os crentes estavam avaliando as pessoas com base somente em
aspectos externos - aparência física, status, riqueza, poder. Como resultado,
eles estavam fazendo concessões a pessoas que representavam estas posições de
prestígio e sendo influenciados por elas.
A recomendação de
Tiago continua sendo importante para as igrejas de hoje. Frequentemente, nós
tratamos uma pessoa bem vestida e elegante melhor do que uma pessoa que parece
ser pobre. Nós fazemos isto porque preferimos nos identificar com pessoas de
sucesso do que com fracassos aparentes. A ironia, Tiago nos lembra, é que os
supostos vitoriosos podem ter conseguido o seu estilo de vida impressionante às
nossas custas. As nossas igrejas não devem mostrar nenhuma parcialidade com
respeito à aparência exterior, à riqueza, ou ao poder de uma pessoa. A lei do amor
deve governar todas as nossas atitudes com relação aos outros. E muito
frequente que se dê tratamento preferencial aos ricos ou poderosos quando há
posições na igreja que precisara ser ocupadas. É muito frequente que uma igreja
não demonstre interesse pelas sugestões dos seus membros mais humildes ou
pobres, favorecendo as ideias dos ricos. Este tipo de discriminação não deve
ter lugar nas nossas igrejas.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 670-671.
O Mandamento (Tg 2.1)
O versículo 1 deveria
ser lido como um mandamento para estar em concordância com a natureza
imperativa da epístola.1 Mas Tiago começa sua palavra de repreensão onde toda
repreensão eficaz deve começar — ele identifica-se com aqueles que repreende.
Ele escreve aos meus irmãos (v. 1) e “meus amados irmãos” (v. 5). Como um sábio
líder de igreja, Tiago pede aos seus leitores que avaliem a conduta deles em
relação à sua lealdade cristã suprema — a fé de nosso Senhor Jesus Cristo. A
expressão não tenhais a fé é uma referência à fé que eles cultivavam e à forma
em que deveriam fazê-lo. Tiago estava escrevendo a homens e mulheres cristãos.
Eles estavam bem cientes do significado da fé cristã — a religião que Cristo
tinha trazido ao mundo. Acepção de pessoas significa parcialidade; a exortação
é: “Não mostrem nenhum tipo de preconceito e de parcialidade” (NT Ampl.).
Phillips coloca a exortação de maneira ilustrativa: “Meus irmãos, jamais
procurem misturar esnobismo com fé em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo!”.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 165.
“Acepção de pessoas”:
os antigos tinham outro entendimento de “pessoa” que nós. Não se referiam tanto
à personalidade individual de cada um, mas antes ao rótulo que alguém tinha. Um
era “escravo”, outro “cidadão”, outro “comerciante”, um “general”, outro
“príncipe”.
A expressão “acepção
da pessoa” = “ser partidário” ocorre particularmente na tradução grega do AT,
na Septuaginta [LXX]. Já no AT é rigorosamente proibido que o juiz seja parcial
em sua sentença (Lv 19.15; Dt 1.17; Sl 82.2). O juiz não podia pensar: “Essa
pessoa é líder de um clã, por isso tenho de fechar um olho.” Ou: “Esse é um
escravo estrangeiro; aqui posso estabelecer um exemplo de dureza.” Ser juiz
significava encontrar e promulgar o direito por incumbência e em lugar de Deus.
E a Bíblia atesta incessantemente que perante Deus não existe acepção da
pessoa. Não considera o rótulo nem a categoria humana, mas o próprio ser
humano, fazendo justiça a cada um (Dt 10.17; Rm 2.11; Ef 6.9; Cl 3.25).
Nenhuma acepção de
pessoas: agora Tiago diz que fé e acepção de pessoas não combinam. Importa que
não creiamos em nossos papéis, nos rótulos, mas em Deus. Não são posses,
posições ou “vestimenta gloriosa” que conferem glória, mas unicamente o “Senhor
da glória”.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Dissensões na Ceia do
Senhor, 11.17-34
O problema da
modéstia feminina, em relação ao culto público, representava um assunto de
pouca importância quando comparado a alguns problemas que haviam surgido na
prática da Ceia do Senhor. A rejeição de uma cobertura para a cabeça das
mulheres pode ter se originado de falta de conhecimento ou de um mal-entendido
sobre a natureza da liberdade cristã. Mas a deliberada perversão do sagrado
serviço da Ceia do Senhor revelou uma indiferença pelos ensinamentos cristãos
básicos. Dessa forma, Paulo adotou um tom severo ao denunciar a gula e as
discussões associadas a esse símbolo de fraternidade.
1. Uma Rigorosa
Censura (11.17-22)
No versículo 2, Paulo
havia elogiado os coríntios por sua lealdade geral aos ensinos e práticas que o
apóstolo lhes havia transmitido. Agora ele escreve: Não vos louvo (17). A
situação era grave. O verbo declarar (parangello) que consta em algumas versões
significa impor uma ordem com autoridade. Ele lhes ordena que resolvam o
assunto. A ocasião dessa rigorosa censura de Paulo representa um dos fatos mais
chocantes que podem ocorrer a um grupo que está realizando um culto de
adoração: Porquanto vos ajuntais, não para melhor, senão para pior. Ao invés de
edificar a vida espiritual, a Ceia do Senhor havia se tornado, para aquela
igreja, um momento de declínio espiritual.
a) Dissensões na
igreja (11.18-19). Paulo escreve: Ouço que... há entre vós dissensões (18). A
palavra para dissensões (schismata) foi usada anteriormente (1.10) para
descrever o espírito que estava dividindo a igreja. Quando as pessoas se
reuniam para adorar a Deus elas revelavam um espírito de divisão e de
exclusividade, até mesmo no ritual cristão mais sagrado.
A palavra heresias
(19) deriva de um termo que reforça a ideia de escolher entre alternativas. Na
linguagem bíblica e da igreja, essa palavra geralmente significa uma escolha
errada, portanto uma falsa doutrina. Ela pode ser uma das “obras da carne” (G1
5.20). Aqui seu significado parece ser semelhante às dissensões do versículo
18. A versão RSV traduz a expressão como “divisões entre vós”. O significado da
última parte do versículo 19 parece ter a forma de uma sátira. Em outras
palavras: Vocês devem manter as dissensões entre si, a fim de que aqueles que
insistem que estão certos possam prová- lo separando-se do restante da igreja.
b) Abusos na Ceia do
Senhor (11.20-21). As dissensões em Corinto eram tão graves que quando as
pessoas se reuniam para cultuar a Deus não era para comer a Ceia do Senhor
(20). Suas divisões pessoais (e carnais) haviam realmente transformado o culto
em uma espécie de dissipação, que o tornava algo bem diferente de um culto ao
Senhor. Em Corinto, a Ceia do Senhor não era simplesmente um símbolo da
ingestão de alimentos e bebidas. Era uma verdadeira refeição. Aparentemente,
cada membro levava alimentos ao culto. Nas festas religiosas das religiões
pagãs, a divisão dos alimentos era muito comum, e recebia o nome de eranio. Na
Igreja Primitiva, seus membros aparentemente também participavam, em certas
ocasiões, de uma refeição comum que recebia o nome de festa (ou banquete) do
amor, ou agape (2 Pe 2.13; Jd 12). Entretanto, em Corinto essa refeição não
representava o amor cristão, e nem mesmo a aparente boa vontade das festas
pagãs. A esse respeito, Paulo escreve: Porque, comendo, cada um toma
antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome, e outro embriaga-se
(21).
Na Santa Ceia de
Corinto parece que cada pessoa colocava o alimento à sua frente e começava a
comer sua própria ceia. O quadro é de briga e gula para comer as provisões
antes que fosse possível “fazer uma distribuição geral dos alimentos, para não
precisar dividi-lo com os demais irmãos”.13 Como consequência, os pobres que
não podiam levar muito, ou aqueles que nada podiam levar ou chegavam tarde,
sairiam com fome. Dessa forma, um tem fome, e outro embriaga-se. O verbo embriaga-se
(methuein) geralmente significa “ficar intoxicado”. Mas também significa comer e
beber até à completa satisfação, e este pode ser o seu significado aqui. De
qualquer maneira, os coríntios haviam deturpado completamente o significado da
Santa Ceia. A Ceia do Senhor é o símbolo do sacrifício, do amor e da
fraternidade. Mas em Corinto representava egoísmo, intemperança e indiferença
às necessidades dos outros.
Pecados no Abuso da
Ceia do Senhor (11.22). Paulo descreve três pecados específicos cometidos pelos
coríntios. Em primeiro lugar, eles haviam mudado o preceito espiritual em uma
espécie de cerimônia festiva. A finalidade da Ceia do Senhor era lembrar aos
crentes a morte de Cristo e o resultado redentor do seu sofrimento. Se os
membros da igreja queriam satisfazer sua fome ou celebrar uma refeição festiva,
poderiam escolher uma outra ocasião. Em segundo lugar, os coríntios haviam
mostrado falta de respeito e de reverência pela igreja de Deus. Transformar a
igreja em um lugar de celebração festiva “é o mesmo que aviltá-la, portanto,
desprezá-la, rebaixá-la”.14 E, por último, através do egoísmo deles, os membros
mais abonados perturbavam e humilhavam os pobres entre os crentes. Esta
combinação de pecados levou Paulo a fazer a mais simples, porém a mais
completa, declaração condenatória: Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisso não vos
louvo.
2. O Significado da
Ceia do Senhor (11.23-26)
O entendimento de
Paulo a respeito da Ceia do Senhor se originava de uma revelação direta de
Deus. O apóstolo apresenta a autoridade da sua narrativa “fundamentada em um
alicerce imutável”. Quando Paulo recebeu o evangelho diretamente de Cristo
(G11.11-12), e não do homem, ele também recebeu instruções relativas à Ceia do
Senhor. Além disso, ele havia transmitido estas informações à igreja de forma
cuidadosa e fiel. Assim, o apóstolo podia afirmar com segurança e autoridade:
Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei (23).
A Ceia representava a
inauguração de um novo pacto de graça, e deveria ser observada como um
memorial. Tanto o “corpo partido” quanto o “sangue derramado” deveriam ser
considerados como símbolos e não como referências literais ao corpo de Cristo.
Quando Jesus disse, isto é o meu corpo que é partido por vós (24), ele não
estava fisicamente sentado à mesa. Qualquer ideia sobre uma transformação
milagrosa, tanto no pão quanto no vinho, é contrária ao relato bíblico.
Finalmente, a Ceia do Senhor deveria ser celebrada como um memorial ou
lembrança, e não como meio de salvação. As afirmações: Fazei isto em memória de
mim e Anunciais a morte do Senhor, até que venha (26) confirmam a ideia de que
a Ceia é uma lembrança espiritual ou um símbolo da morte de Cristo.
3. Celebração da Ceia
do Senhor (11.27-34)
A Ceia do Senhor é
uma recordação espiritual do ato de redenção de nosso Senhor, e um testemunho
público da nossa fé em Jesus Cristo. Portanto, ela deve ser celebrada como um
agradecimento solene.
Participação indigna
(11.27). Paulo afirma que é possível comer o pão ou beber o cálice do Senhor,
indignamente. O advérbio indignamente se refere à diferença de pesos; portanto
ele significa “pesos diferentes” ou “indevidamente equilibrados”. A atitude de
uma pessoa pode não estar equilibrada com a importância da ocasião. Se ela
participar da Ceia do Senhor de forma frívola e descuidada, sem respeito ou
gratidão, ou mesmo se estiver em pecado ou manifestando amargura contra outro
irmão crente, estará participando indignamente.
Participar
indignamente é ser culpado do corpo e do sangue do Senhor. A palavra culpado
(enochos) significa “ser passível do efeito penal de um ato; aqui a palavra...
[envolve] a culpa pela morte de Cristo”. Ao invés de se apresentar à mesa com
uma atitude imprópria ou pecadora, o crente deve comparecer “na fé, e com o
devido comportamento em relação a tudo aquilo que é apropriado a este ritual
solene”.
Exame espiritual
(11.28). Antes de participar desse serviço sagrado, examine-se o homem por meio
de uma análise rigorosa. Essa palavra significa testar; portanto, o crente
deverá examinar seus motivos e seus atos. Certamente ninguém poderá ganhar,
como um pagamento, a graça e o perdão de Deus. Mas, por outro lado, um sincero
exame irá indicar se a pessoa compareceu à mesa sagrada levada por motivos
sinceros e uma obediência ativa ao Senhor. O ensino de Paulo é totalmente
positivo. Ele não diz que alguém deva fazer um auto-exame, e deixar a mesa do
Senhor em uma situação de desespero. Pelo contrário, ele aconselha o homem a
examinar seu coração e, em seguida, cheio de uma fé sincera, coma deste pão, e
beba deste cálice.
Os perigos da
irreverência (11.29-30). A versão ARA traduz o versículo 29 da seguinte forma:
“Quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si”. A palavra
krima, que a versão ARA traduz como juízo, significa condenação, como na versão
ARC. Paulo não tem a intenção de afirmar que a pessoa que comparece à mesa sem
a qualificação espiritual adequada será eternamente amaldiçoada. Ele quer dizer
que tal ato irá trazer a condenação e a culpa. Não discernindo o corpo do
Senhor significa que o crente não foi capaz de distinguir entre o memorial
sagrado da Ceia de Senhor e outros tipos de refeição.
O apóstolo indica que
como resultado do abuso da Ceia do Senhor... há entre vós muitos fracos e
doentes e muitos que dormem (30). E muito grave declarar que o abuso da Ceia do
Senhor resulta na maldição eterna, mas Paulo adverte que o castigo de Deus
poderia acontecer, trazendo enfermidades e até a morte física. A palavra fracos
Oasthenes) está relacionado a enfermidades; o termo doentes (arrostos) quer
dizer enfermidade e decadência, enquanto a palavra dormem (koimaomai) é usada
freqüentemente no NT para indicar a “morte daqueles que pertencem a Cristo”.
Godet diz que Paulo está descrevendo um “julgamento prévio, especificamente
infligido por Deus, como aquele que Ele envia para despertar o homem para a
salvação”.
Participação
reverente (11.31-34)
A maneira de evitar o
castigo de Deus é nos julgarmos a nós mesmos de modo voluntário e sincero (31).
Mas, quando Deus envia seu julgamento para o crente, este é repreendido pelo
Senhor (32). Nesses casos, os castigos de Deus não são severos, mas símbolos do
seu amor. “Eles são enviados para nos livrar dos caminhos do pecado e para não
participarmos da condenação do mundo”.
A maneira adequada de
observar o sacramento é esperar uns pelos outros (33). Os membros devem esperar
até que todos estejam reunidos e depois, com afeição fraterna e respeito,
conduzir a festa do amor. A determinação final do versículo 34 é novamente uma
advertência para não considerar a Ceia do Senhor uma refeição comum. Se um
homem estiver com fome, coma em casa. A finalidade da Ceia é lembrar aos
crentes a obra redentora de Cristo e despertar na igreja um espírito de unidade
e amor.
Alguns outros pontos
relativos a este assunto ainda exigem alguma atenção. Sobre eles Paulo escreve:
Quanto às demais coisas, ordena-las-eis quando for ter convosco (34). Esses
problemas estavam afetando seriamente a vida da igreja e podiam ser adiados
para uma outra ocasião. Quais eram as demais preocupações que Paulo tinha em
mente? Talvez ele quisesse separar completamente a ideia da festa do amor da
celebração da Ceia do Senhor. Sabemos que por volta do ano 150 d.C. o costume
de fazer uma refeição junto com a Ceia do Senhor havia sido abandonado.
Para os cristãos
existe “Força Através das Ordenanças”. 1) Elas foram instituídas pelo Senhor,
23a; 2) Elas são memoriais do sacrifício de Cristo, 236-26; 3) Elas exigem um
auto-exame, 27-29; 4) Elas produzem a preocupação pelos outros, 33-34.
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. I
Coríntios. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 327-331.
I Cor 11.17-34 — Esta
passagem diz respeito às atividades impróprias que estavam ocorrendo quando a
igreja se reunia para participar da celebração da eucaristia ou ceia do Senhor.
I Cor 11.17 — Não vos
louvo. Em contraste com o elogio de Paulo no versículo 2, de que os coríntios haviam
obedecido a muitos de seus ensinos, aqui ele expressa preocupação pelas
práticas pecaminosas dos coríntios durante a adoração. Ajuntais é um termo
técnico que se refere à reunião da igreja e é usado três vezes nesta passagem
(v. 18,20).
I Cor 11.18 —
Dissensões. E tentador compararmos as dissensões aqui com os problemas que
aparecem no capítulo 1, mas parece que as dissensões, nesse versículo, estão
relacionadas aos eventos que aconteciam quando a igreja se reunia para a ceia
do Senhor. E possível que as dificuldades estivessem acima de distinções
referentes a classes de ricos e pobres, ou judeus e gentios. Quando a Igreja se
reúne, todos devem se ajuntar como irmãos, mas, ao que parece, não era isso que
acontecia em Corinto. Em vez da união recomendada por Paulo em 1 Coríntios
11.17 e enfatizada novamente nos capítulos 12—14, havia divisão entre os
cristãos.
I Cor 11.19 — Os
aprovados (a ra ). Um dos resultados positivos decorrentes da divisão ou dos
partidos (a ra ) na igreja é que se torna óbvio quem são os verdadeiros
cristãos na congregação.
I Cor 11.20-22 — A
Ceia do Senhor era a peça central da adoração da igreja do primeiro século. Reunidos
em torno de uma mesa, os irmãos se encontravam com o Senhor e uns com os outros
em unidade. Cristo havia expressado esse tipo de humildade e unidade quando
instituiu a ceia (Mt 26.26-30; Mc 14-22-26; Lc 22.14-23). Os cristãos coríntios
estavam tomando antecipadamente a sua própria ceia, violando o espírito e o
propósito da refeição. Ao agirem assim, eles mostravam desprezo pela Igreja de
Deus e envergonhavam aqueles que nada têm (v. 22).
I Cor 11.21 — Porque,
comendo [...] um tem fome, e outro embriaga-se. Na igreja do primeiro século, a
ceia do Senhor normalmente era precedida por uma refeição para comunhão, mais
tarde conhecida como a Festa Àgape. No final, tantos problemas acompanhavam
essas festas, que, no Concílio de Cartago (397 d.C.), elas foram estritamente proibidas.
E foi o que aconteceu em Corinto. Quando se ajuntavam, os coríntios não comiam juntos;
consequentemente, isso não podia ser chamado de comunhão, e o comportamento
deles desonrava tanto o Senhor, que a reunião dificilmente poderia ser chamada
de ceia do Senhor.
Alguns, na verdade,
ficavam embriagados.
11.22-25 — Eu recebi
do Senhor se refere à revelação que Paulo recebeu de Cristo sobre o significado
da morte e da ressurreição do Senhor representado pelos elementos da santa
ceia; simbolismo que Paulo ensinou aos irmãos, explicando os novamente.
I Cor 11.24,25 —
Tomai, comei [...] partido são palavras omitidas nos melhores manuscritos. Isto
é o meu corpo. Sem dúvida, uma expressão não literária, mas figurativa. Ele
estava ali, no meio dos discípulos, participando com eles do elemento do pão,
que significa Sua encarnação.
Que é [...] por vós.
Isso significa o caráter sacrifical e vicário da morte de Cristo. Ele é
relembrado nesta mesa, não como um grande exemplo, ou mestre, ou mesmo profeta,
mas como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Fazei isto, todas as
vezes que beberdes, em memória de mim. Contrastando com a reunião muitas vezes
impensada e negligente dos cristãos coríntios em sua chamada festa do amor,
Jesus pediu aos Seus discípulos: “Lembrai-vos de mim”.
I Cor 11.26 —
Anunciais a morte do Senhor, até que venha. A ceia do Senhor remonta à morte de
Cristo e aguarda Sua Segunda Vinda (Mt 26.29; Mc 14-25; Lc 22.18).
I Cor 11.27-29 —
Indignamente se refere ao modo como uma pessoa participa da ceia do Senhor. Os coríntios
estavam transformando a refeição em um momento para exagerarem na comida e se embriagarem,
em vez de fazerem daquela ocasião um tempo para refletirem na morte e na
ressurreição do Senhor Jesus Cristo.
I Cor 11.30 — Dormem,
neste contexto, refere-se à morte de cristãos (1 Co 15.18; 1 Ts 4.15,16). Esta passagem
se refere à morte precoce, um castigo sofrido por alguns cristãos que não se
examinavam à mesa do Senhor (v. 28).
I Cor 11.31,32 — Se
nós nos julgássemos a nós mesmos, o Pai não precisaria corrigir-nos. Mas,
quando os cristãos não estiverem dispostos a fazer este autoexame, Deus mesmo
irá corrigi-los.
I Cor 11.33,34 —
Esperai uns pelos outros. Paulo conclui sua discussão sobre a ceia do Senhor
com uma exortação prática, para que os cristãos coríntios demonstrassem a
devida preocupação uns pelos outros. Ele insinua, nas palavras coma em casa,
que desaprova as frequentes festas do amor.
E ele mostra
novamente uma preocupação pastoral quando expressa a ideia para que vos não ajunteis
para condenação. Paulo não se deleita com a mão disciplinadora do Senhor.
Ordená-las-ei (do grego diatasso) refere-se às providências visivelmente práticas
(1 Co 16.1; G1 3.19). Qualquer outro detalhe relacionado à ceia do Senhor,
Paulo esclareceria em sua visita à cidade.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário
Bíblico Novo Testamento com
recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 431-432.
Problemas com
respeito à Ceia do Senhor (11.17-34)
Há quatro grandes
verdades que vamos destacar nesta exposição:
Em primeiro lugar, as
repreensões do apóstolo Paulo à igreja (11.17-22). O apóstolo Paulo acabara de
fazer um elogio à igreja de Corinto (11.2). Agora, porém, traz uma séria
exortação: “Nisto, porém, que vos prescrevo, não vos louvo, porquanto vos
ajuntais não para melhor, e sim para pior” (11.17).
O que estava
acontecendo? Mais uma vez divisão na igreja de Corinto. As divisões na igreja
haviam chegado a proporções alarmantes. Além do culto à personalidade em torno
de alguns líderes (1.12), agora Paulo mostra que os crentes estavam indo à igreja
e voltando para casa piores (11.17). O culto na igreja estava desembocando em
certo esnobismo perverso e odioso por parte dos ricos. Eles estavam desprezando
os pobres.158 Os ricos estavam desprezando a Igreja de Deus e envergonhando os
pobres. “Porque, ao comerdes, cada um toma, antecipadamente, a sua própria ceia;
e há quem tenha fome, ao passo que há também quem se embriague” (11.2). A Ceia
era precedida pela Festa do Amor, a festa do Ágape.
A Bíblia fala dessa
festa em Judas 12. No dia em que a Ceia do Senhor era celebrada servia-se uma
refeição completa. Os crentes comiam, bebiam, repartiam, se confraternizavam e
depois, num clima de comunhão, celebravam a Ceia do Senhor. Essa foi uma
prática da igreja apostólica que se perdeu na História.
A Festa do Agape era
não apenas um tempo de comunhão, mas, também, e, sobretudo, um ato de amor aos
membros mais pobres da igreja. Era uma oportunidade para os cristãos ricos
repartirem um pouco de seus bens materiais com os pobres. Uma vez que todos traziam
de casa alguma coisa para comer e faziam uma espécie de ajunta-prato, os pobres
poderiam participar de uma boa refeição pelo menos uma vez na semana. Depois
desse banquete, então, eles celebravam a Ceia.
Em segundo lugar, a
deturpação da Festa do Amor (11.17-22,33,34). Na igreja de Corinto, durante a
Festa do Amor, os ricos se isolavam e comiam à vontade as finas iguarias dos
próprios banquetes que traziam de casa, e bebiam a ponto de se embriagarem. Do
outro lado, porém, ficavam os pobres, que não tinham condições de trazer
alimentos de casa e passavam fome. Depois de toda essa atitude odiosa de preconceito
e desamor, eles se reuniam e celebravam a Ceia do Senhor. E nesse contexto que
Paulo os reprova, dizendo-lhes que estavam se reunindo para pior. Essa não é a
Ceia do Senhor que eles estavam participando. A atitude deles não era
compatível com a celebração da Ceia do Senhor. Agindo dessa forma eles estavam
desprezando a Igreja de Deus.
O que estava
acontecendo nessa festa? Vejamos os seis pontos apresentados por Paulo que
apontam a deturpação da Festa do Amor.
a) Eles se ajuntavam
para pior. Paulo escreve: “Nisto, porém, que vos prescrevo, não vos louvo,
porquanto vos ajuntais não para melhor, e sim para pior” (11.17). O culto deles
não estava centrado em Deus nem era sensível ao próximo. Tudo girava em torno
deles mesmos, de tal maneira que quando eles iam para a igreja, eles não
adoravam a Deus nem serviam ao próximo. Assim, ao voltarem para casa, voltavam
em estado pior. Eles cultuavam a si mesmos.
Eles buscavam a
satisfação do próprio eu. Então Paulo os exorta: Vocês estão se reunindo para
pior. Leon Morris diz que “em vez da comunhão ser um ato eminentemente edificante,
estava tendo um efeito dilacerante”.
b) Eles se reuniam,
mas não havia harmonia no meio deles.
Paulo diz: “Porque,
antes de tudo, estou informado haver divisões entre vós quando vos reunis na
igreja; e eu, em parte, o creio” (11.18). Havia divisões, partidos, e cismas
entre eles.
A palavra grega para
“divisões” é schismata, a mesma palavra que Paulo empregou em (1.10), acerca
das dissensões que tinham cindido a igreja em facções. Essas se intrometeram na
mais santa das práticas déT culto. Eles estavam dentro da igreja, mas não
tinham uma só alma. Os ricos estavam de um lado e os pobres do outro. Os
crentes de Corinto valorizavam as pessoas pela grife da roupa que usavam, pelo
título que as pessoas tinham e pela posição que as pessoas ocupavam na
sociedade. O status social das pessoas dividia a igreja. Eles não tinham uma só
alma, um só coração, um só sentimento, e um só propósito. Havia ajuntamento,
mas não comunhão.
c) Eles participavam
dos elementos da Ceia, mas não era a Ceia que eles celebravam. Paulo afirma:
“Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a ceia do Senhor que comeis”
(11.20). Paulo está combatendo o perigo do ritualismo.
Você pode assentar-se
para celebrar a Ceia, comer o pão e beber o vinho e, ainda assim, não ter
usufruído as bênçãos da comunhão da Mesa do Senhor. Por quê? Porque a motivação
pode estar errada.
Os crentes de Corinto
seguiam um ritual, mas o coração deles estava afastado do propósito divino.
Eles tinham o ritual, mas não a essência representada pelo ritual. Deus está
mais interessado na sinceridade do coração do que em rituais. Nós devemos
celebrar a Páscoa com os asmos da sinceridade.
Se participarmos do
culto, assentando-nos ao redor da mesa do Senhor, não refletirmos sobre o
significado da Ceia e ainda desprezarmos nossos irmãos, então, esse ritual é desprovido
de qualquer valor. Deus não se impressiona com rituais pomposos, Ele quer a
verdade no íntimo. O cerimonialismo é um grande perigo. Deus não se impressiona
com os nossos ritos e cerimônias. Ele vê o coração do adorador.
d) Eles eram esnobes
e orgulhosos (11.21). Os ricos, de um lado, comiam os melhores churrascos e
bebiam os melhores vinhos até a embriaguez enquanto os pobres ficavam do outro
lado passando fome. De um lado estavam os pobres com fome e do outro estavam os
ricos bêbados. Depois dessa feira de vaidades, os ricos ainda tinham a
petulância de dizer: “Agora nós vamos celebrar a Ceia do Senhor”. Agindo assim,
feriam a comunhão, humilhavam os irmãos pobres e desonravam a Deus. E
importante ressaltar que a atitude egoísta dessas pessoas estava em flagrante
contraste com a oferta altruísta e sacrificial de Cristo que deu Sua vida para
o resgate dos pecadores. A Ceia que eles celebravam apontava para a oferta
sacrificial de Cristo e eles a celebravam com gestos de egoísmo e não de amor
altruísta.
e) Eles se entregavam
a excessos dentro da igreja (11.21).
Eles bebiam a ponto
de chegar à embriaguez na Festa do Amor, antes da celebração da Ceia. Os ricos
deixavam os pobres passando fome, enquanto comiam, empanturravam-se e
embebedavam-se num claro sinal de excesso e falta de domínio próprio. Paulo diz
que a atitude deles estava errada. Eles estavam se reunindo para pecar. Tanto a
glutonaria quanto a bebedeira são obras da carne e não fruto do Espírito (G1
5.19-21).
f) Eles desprezavam a
Igreja de Deus e envergonhavam os pobres (11.22). A deturpação da Festa do Amor
na Igreja primitiva acabou abolindo-a completamente. Eles desprezavam a
santidade de Deus, a santidade da igreja e o amor ao próximo.
Em terceiro lugar, o
significado da Ceia do Senhor (11.23-26). A Ceia do Senhor está centralizada na
morte expiatória de Cristo e no Seu sacrifício vicário. A cruz de Cristo e não
o egoísmo humano está no centro dessa celebração. O sangue de Cristo é o selo
da nova aliança. Por meio dele Deus perdoa os nossos pecados e nos salva da ira
vindoura.
A Ceia do Senhor é
uma proclamação dramatizada de quatro verdades essenciais da fé cristã. Não
podemos nos assentar à mesa sem olhar para o sacrifício de Cristo. Warren Wiersbe
destaca quatro pontos que Paulo ensinou sobre a Ceia e que devemos ainda hoje
observar sempre que nos reunirmos ao redor da mesa do Senhor: devemos olhar
para trás, para a frente, para dentro e ao redor.
a) Devemos olhar para
trás. Quando você participa da Ceia, você deve olhar para trás, para a cruz de
Cristo (11.26). Todas as vezes que comemos o pão e bebemos o cálice, anunciamos
a morte do Senhor. Quando Jesus pegou o pão e o partiu, Ele disse: “Este pão é
o meu corpo, que é partido por amor de vós. Tomai e comei, fazei isto em
memória de mim”. Jesus está ordenando que a igreja se lembre não dos Seus
milagres, mas da Sua morte. Devemos olhar para trás e nos lembrar por que
Cristo morreu, como Cristo morreu, por quem Cristo morreu. Cristo é o centro da
Ceia. A Ceia é uma pregação dramatizada do calvário.
b) Devemos olhar para
frente. Quando participa da Ceia, você não olha somente para trás, mas também
para a frente. Paulo diz: “Porque, todas as vezes que comerdes este pão e
beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha” (11.26). A
Ceia nos aponta para a segunda vinda de Cristo. A eucaristia aponta para
aparousia. Há um clima de expectativa em toda celebração da Ceia do Senhor (Lc
22.16,18). A segunda vinda de Cristo é a grande esperança do cristão num mundo
onde o mal tem feito tantos estragos. Atrás, aponta para a sua morte; à frente,
aponta para a sua volta.165 William MacDonald, citando Godett, afirma: “A Ceia
do Senhor é o elo entre Suas duas vindas, o monumento de uma, a garantia de
outra”.
c) Devemos olhar para
dentro. Quando você celebra a Ceia, náo somente olha para trás e para a frente,
mas também olha para dentro. Paulo exorta: “Examine-se, pois, o homem a si
mesmo” (11.28). Você não olha para o seu irmão. Você não é o juiz do seu irmão.
Em vez de examinar e julgar a vida alheia; volte as baterias para você mesmo,
examine-se a si mesmo e julgue-se a si mesmo. Investigue o seu coração. Analise
a sua vida. E digno observar que Paulo diz: Examine-se o homem a si mesmo e com
a. Paulo não diz: Examine-se o homem e deixe de comer. Você não deve fugir da
Ceia por causa do pecado, mas fugir do pecado por causa da Ceia. A Ceia é um
instrumento de restauração. A Ceia é um tempo de cura, de reconciliação e
restauração. A Ceia é o momento em que devemos aguçar os sentidos da nossa alma
para examinar-nos e nos voltarmos para o Senhor. Na Ceia devemos correr do
pecado para Deus e não de Deus para o pecado. A ordem de Paulo é: Examine-se e
coma!
d) Devemos olhar ao
redor. Quando você participa da Ceia, você olha para trás, para a cruz; você
olha para frente, para a segunda vinda de Cristo; você olha para dentro, para
um auto-exame e você também olha ao redor (11.33,34). O apóstolo Paulo escreve:
“Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos outros.
Se alguém tem fome, coma em casa, a fim de não vos reunirdes para juízo. Quanto
às demais cousas, eu as ordenarei quando for ter convosco” (11.33,34). Paulo
está orientando os crentes a esperarem uns pelos outros para uma comunhão
verdadeira na Festa do Amor.
Na igreja de Corinto
era costume os crentes trazerem suas iguarias de casa e comerem fartamente sem
esperar uns pelos outros. Quando os menos favorecidos chegavam só encontravam
as sobras. Havia até alguns pobres que passavam fome. O que Paulo nos ensina?
Não temos essa prática da Festa do Amor atualmente, mas temos o princípio.
Quando você se reunir
para a Ceia, olhe ao seu redor, para seu irmão que está perto de você. Tem
alguém faltando à igreja? Por que este ou aquele irmão ou irmã não está aqui assentado
perto de nós?
A Ceia é um momento
de comunhão. Somos um só pão.
E isso o que Paulo
deseja que a igreja entenda sobre a Ceia.
Devemos procurar o
Senhor e também os nossos irmãos.
Devemos encontrar-nos
com o Senhor e também com os nossos irmãos. Na Ceia os céus e a terra se tocam.
Em quarto lugar, os
perigos em relação à Ceia do Senhor (11.27-32). Paulo alista alguns perigos com
respeito à Ceia do Senhor.
a) Participar da Ceia
do Senhor indignamente. Paulo escreve: “Por isso, aquele que comer o pão ou
beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do
Senhor” (11.27). O que é participar da Ceia do Senhor dignamente?
João Calvino diz que
participar da Ceia de forma digna é ter consciência da nossa própria
indignidade. Quando temos consciência da nossa indignidade, mas ao mesmo tempo
reconhecemos que por meio de Cristo somos habilitados a nos assentarmos à mesa,
então participaremos da Ceia dignamente. A nossa dignidade é a consciência da nossa
indignidade.
Leon Morris afirma
que há um sentido em que todos têm de participar indignamente, pois ninguém
jamais pode ser digno da bondade de Cristo para conosco. Mas em outro sentido
podemos vir dignamente, isto é, com fé, e com a devida realização de tudo que é
pertinente a tão solene rito. Negligenciar nisto é vir indignamente no sentido
aqui censurado.
Participar da Ceia
indignamente é assentar-se à mesa de forma leviana e irrefletida.
Precisamos discernir
o que Cristo fez na cruz por nós.
Precisamos
compreender o Seu sacrifício vicário. Participar da Ceia irrefletidamente ou
participar da Ceia hospedando pecado no coração, sem a devida disposição de
arrependimento é fazê-lo de forma indigna. E tornar-se réu do corpo e do sangue
de Jesus.
Ser réu do corpo e do
sangue de Cristo Jesus é um pecado gravíssimo. Você só tem dois lados para
estar em relação ao sangue. Você está debaixo dos benefícios do sangue ou está
do lado daqueles que levaram Jesus para a cruz e o mataram. Você é assassino de
Cristo ou é beneficiário do sangue de Cristo. Participar indignamente da Ceia e
ser réu do corpo e do sangue de Cristo; é estar na mesma posição de Anás,
Caifás, Pilatos e os soldados romanos que pregaram Jesus na cruz. Assim, só
existem duas possibilidades: Você está debaixo dos benefícios do sangue de
Cristo ou é réu do corpo e do sangue do Senhor. O apóstolo Paulo está dizendo
que quem participa da Ceia indignamente se torna culpado de derramar o sangue
de Cristo; isto é, coloca-se não do lado dos que estão participando dos
benefícios da Sua paixão, mas do lado dos que foram culpados por Sua
crucificação.
b) Participar da Ceia
do Senhor sem discernimento. O apóstolo Paulo escreve: “Examine-se, pois, o
homem a si mesmo, e assim coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe
sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que há entre
vós muitos fracos e doentes e não poucos os que dormem” (11.28-30). Discernir o
quê?
Discernir o corpo!
Que corpo? Paulo está falando de dois corpos aqui. O primeiro corpo é o corpo
físico de Cristo. E o corpo que foi moído e traspassado na cruz. Contudo, há outro
corpo que precisa ser discernido. E o corpo místico de Cristo. Qual é o corpo
místico de Cristo? A Igreja! Quando você vem para a Ceia, mas, despreza o seu irmão,
fazendo acepção de pessoas, ou nutrindo mágoa em seu coração, você está
participando da Ceia sem discernir o corpo. E se você participa da Ceia sem
discernir o corpo, você está participando de forma indigna. O resultado é que
um pecado espiritual produz consequências físicas:
“Eis a razão por que
há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem” (11.30). Essas
são as doenças hamartiagênicas, ou seja, doenças produzidas pelo pecado. A
igreja de Corinto, em virtude de pecados não tratados, tinha pessoas fracas,
doentes e algumas que já haviam morrido. Leon Morris nessa mesma linha de
pensamento diz que males espirituais podem ter resultados físicos. A razão da
má saúde e mesmo da morte de alguns crentes de Corinto tem atrás de si uma
atitude errada para com esse ofício sumamente solene.
A igreja de Corinto
não estava cumprindo o mandamento de amar uns aos outros. Portanto, ela não
estava discernindo o corpo. A consequência da falta de discernimento do corpo
levou a igreja a comer e beber juízo para si: fraqueza, doenças e morte
(11.30).
c) Participar da Ceia
do Senhor sem autojulgamento.
Paulo alerta:
“Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seriamos julgados. Mas, quando
julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o
mundo” (11.31,32). Não podemos ser frouxos com nós mesmos. Se nós participarmos
da Ceia do Senhor com pecados nao confessados sobre nós; não teremos, então, discernido
o corpo que foi partido para que esse pecado fosse perdoado.
Não podemos ser
condescendentes com os nossos próprios erros. Precisamos enfrentar a nós
mesmos. Quando você vier para a Ceia, não trate a si mesmo com condescendência.
Julgue a si mesmo.
Enfrente os seus pecados com rigor. Porque se você não julgar a si mesmo, vai
ser condenado com o mundo.
A celebração da Ceia
é um momento de autoconfronto.
O auto-engano é um
grande perigo. A igreja de Laodicéia olhou no espelho e disse: Estou rica e
abastada. A igreja de Sardes disse: Eu estou viva! Mas, Jesus disse à primeira igreja
que ela era pobre e miserável e a segunda que ela estava morta. Paulo é
enfático: Julgue a si mesmo, examine a si mesmo para que você não seja julgado
e condenado com o mundo. Matthew Henry diz que as ordenanças de Cristo podem
nos fazer melhores, ou nos farão piores; se elas não nos quebrantarem e nos
amolecerem; nos tornarão mais endurecidos.
Quando você julga a
si mesmo, é disciplinado por Deus e a disciplina de Deus traz salvação, cura, e
vida. Todavia, quando não julgamos a nós mesmos, nos tornamos autoindulgentes, e
o juízo torna-se inevitável. O juízo de Deus para o crente não é a perda da
salvação nem a condenação eterna, mas a disciplina.
Na vida do crente,
fraqueza, doença e morte podem ser disciplina de Deus para nos afastar de
pecados mais terríveis e de consequências mais danosas. A disciplina de Deus visa
a sempre nos fazer voltar para Ele e nos livrar da condenação do mundo.
LOPES, Hernandes Dias. 1
Coríntios Como resolver conflitos na Igreja. Editora Hagnos. pag. 210-220.
2. O amor de Deus tem de ser manifesto na
igreja local.
A cena imoral
descrita por Tiago
Nos versículos de 2 a
4, Tiago descreve uma cena que, muito provavelmente, não se trata de uma mera
hipótese ou conjectura, como aparenta ser à primeira vista, mas de algo que o
próprio apóstolo deve ter presenciado em algum ajuntamento de crentes da Igreja
Primitiva em seus dias, para seu imenso desgosto e indignação. Vamos ler
atentamente a descrição que Tiago faz dessa cena e, em seguida, vejamos alguns
detalhes elucidativos que encontramos nela:
“Porque, se no vosso
ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com vestes preciosas,
e entrar algum pobre com sórdida vestimenta, e atentardes para o que traz a
veste preciosa e lhe disserdes: Assenta-te tu aqui, num lugar de honra, e
disserdes ao pobre: Tu, fica aí em pé ou assenta-te abaixo do meu estrado,
porventura não fizestes distinção dentro de vós mesmos e não vos fizestes juízes
de maus pensamentos?”
O primeiro detalhe
que nos chama a atenção nessa passagem é o vocábulo grego traduzido aqui por
“ajuntamento”. Ele é o mesmo utilizado para referir-se às sinagogas judaicas:
Synagoge. Curiosamente, como lembra o teólogo A. F. Harper, “esse é o único
texto do Novo Testamento em que uma congregação cristã é chamada de sinagoga”’.
O uso do termo “sinagoga” aqui sugere o óbvio: que Tiago está falando a
cristãos judeus, isto é, a judeus convertidos ao Cristianismo, os quais ainda
se reuniam por essa época em ajuntamentos ao estilo judaico2 e, por isso, muito
provavelmente, ainda traziam consigo práticas das sinagogas de seus dias que se
chocavam com o espírito do Evangelho. Tais práticas haviam, inclusive, já sido
alvo da repreensão de Jesus, como podemos ver em Mateus 23.6. Inclusive, os
escribas e fariseus, que Jesus censura nessa passagem por terem, dentre outros
muitos comportamentos pecaminosos, o hábito de amarem “os primeiros lugares nas
ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas”, eram, segundo o relato do
evangelista Lucas, homens bem aquinhoados financeiramente e — conforme ele
mesmo os define expressamente — “avarentos” (Leia Lucas 16.9- 15). A narrativa
dos evangelhos dá a entender, por exemplo, que os fariseus Nicodemos e Simão,
simpáticos a Jesus, eram ricos (Jo 3.1; Lc 7.36-50). Isso não quer dizer,
claro, que todos os fariseus eram ricos. Só uma parte o era. Acredita-se que a
maioria era de classe média. Os saduceus é que, provavelmente, eram, em sua
maioria, ricos.
Na época de Jesus e
Tiago, era comum homens de elevada posição social, política ou religiosa serem
bajulados nas sinagogas, enquanto os mais pobres eram geralmente preteridos,
desprezados. Durante o seu ministério terreno, Jesus chamou a atenção para esse
comportamento mais de uma vez, condenando-o, como podemos ver em passagens como
Mateus 12.41-44 e 23.6.
Mas, outro detalhe
importante dessa cena descrita por Tiago é que ele não necessariamente se
refere a crentes que costumeiramente frequentavam essas sinagogas cristãs,
esses ajuntamentos de crentes em Cristo. E mais provável que ele esteja
aludindo a ricos e pobres que apenas visitavam essas reuniões e não a membros
regulares. Quanto a se eram crentes em Cristo ou não, como afirma Harper, “há
divergência de opinião” entre os comentaristas bíblicos “se esses eram
visitantes cristãos ou não cristãos”;3 mas, seja como for, “a verdade
espiritual do texto não muda”, ela não é alterada pelo fato de os visitantes
serem crentes ou não. A maioria, porém, acredita que Tiago se refira a
visitantes ricos crentes, devido ao contexto da Epístola, que traz também
repreensões voltadas exclusivamente para cristãos ricos que agiam como ímpios,
como podemos ver no capítulo 5 desta Epístola e sobre o qual falaremos com
detalhes no capítulo 12 deste livro.
Mais um detalhe a ser
considerado é a descrição “com anel de ouro no dedo e com vestes preciosas” (Tg
2.2). Explica Harper que “o anel de ouro indicava que esse homem era do Senado
ou um nobre romano”, pois “durante os primeiros anos do Império [Romano],
somente homens nessa posição tinham o direito de usar esse tipo de anel”.4 Já
“vestes preciosas” é uma referência a belas togas brancas, que eram uma
vestimenta “usada frequentemente por candidatos a um oficio político”.
A expressão “abaixo
do meu estrado” (Tg 2.3) é uma alusão ao fato de que, em uma sinagoga, “pessoas
de uma posição inferior ficavam em pé ou sentavam no chão”. Logo, “abaixo do
meu estra do”
deve ser compreendido como “aos meus pés”. Isto é, enquanto as cadeiras das
sinagogas e os demais assentos do ajuntamento eram reservados para os anciãos,
escribas, fariseus e saduceus, e a qualquer outra pessoa na congregação que
fosse detentora de privilegiada posição social, os pobres ficavam no pé ou no
chão. E o mesmo estava ocorrendo nos ajuntamentos dos cristãos judeus, denuncia
e repreende Tiago, que declara contundentemente: “Porventura não fizestes
distinção dentro de vós mesmos e não vos fizestes juízes de maus pensamentos?”
(Tg 2.4).
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 74-77.
Tg 2.2,3 Tiago nos
propõe um vivido caso hipotético de estudo. Dois homens estavam entrando em uma
reunião da igreja. Nós podemos supor que estes dois homens fossem visitantes,
uma vez que são descritos somente pela aparência. Um dos homens era rico, como se
observa por suas vestes preciosas e por seu anel de ouro no dedo. O outro era
pobre e com sórdida vestimenta. Neste cenário, o homem rico é tratado com
deferência e recebe um lugar de honra. Os crentes ficaram impressionados com
ele. Ele tornou-se objeto de um serviço e de uma deferência especiais.
O homem pobre, no
entanto, pode somente ficar em pé ou se sentar no chão (versão NTLH). Não lhe
dão nem dignidade nem conforto. Tiago manifesta-se contra isto. É o nosso
relacionamento com Cristo que nos dá dignidade, e não a nossa profissão ou as
nossas posses. Quando nos reunimos para adorar, devemos estar conscientes de
que, mesmo que conheçamos a todos os que estão no recinto. Cristo está
presente, Se houver dois ou três de nós reunidos em seu nome, Ele está ali (Mt 18.20).
Antes de adorar, devemos reconhecer a presença de Deus. Não podemos supor que Ele
segue o seu próprio conselho? Quando Jesus se reúne conosco, Ele assume um
lugar de honra ou compete pela nossa atenção? Ou imaginamos que Jesus ocupa o
lugar de maior humildade entre nós e espera ser reconhecido como Senhor? Quando
negligenciamos ou ignoramos os pobres ou desamparados, nós também estamos
ignorando a Cristo.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 671.
Tg 2.2s “Se entrar em
vossa reunião um homem”: Tiago, muito preocupado com a prática, cita, para a
máxima clareza acerca do que quer dizer, um exemplo concreto. Não quer dizer
que tenha acontecido dessa maneira: “Na hipótese de entrar em vossa reunião um
homem…”
“Com anéis de ouro e
um traje brilhante (alvo)”: provavelmente devemos imaginar alguém que não
pertence à igreja. Em geral os cristãos eram pessoas humildes. O aparecimento
de um homem assim representava uma raridade. E quando um homem desses se
declarava pertencente à igreja, para ela isto significava uma honra e também
ajuda contra as injunções de pessoas ricas e poderosas. O dirigente da reunião
e mais alguns irmãos responsáveis o saúdam e acompanham até a primeira fila. Lá
conseguem um lugar confortável para ele.
“Mas vem também um
pobre em trajes sujos”: provavelmente também ele seja alguém que não faz parte
da igreja. Talvez o dirigente fique um pouco irritado porque chegou tão tarde.
Usa um traje sujo. Por sua origem e educação talvez nem mesmo esteja acostumado
a cuidar muito da aparência. Talvez também seja um escravo que apenas naquele
instante teve permissão de sair do trabalho, não tendo mais tempo para se lavar
e trocar de roupa. De forma alguma será conduzido para fora. Anunciam-lhe que
no canto, ao lado da porta, ainda existe espaço para ficar em pé e, se quiser,
também poderá vir à frente e se sentar nos degraus do estrado elevado.
Talvez esses cristãos
nem mesmo notassem algo. Tiago não critica a cortesia dos dirigentes da igreja
para com o novo participante, nem as possibilidades modestas oferecidas pela
sala de reuniões. O foco de sua crítica é a diferença que se faz. É sobejamente
sabido que isso acontece no mundo. Afinal, o mundo não conhece outra nobreza do
ser humano do que aquela obtida pela posição na sociedade. Isso porém não pode
acontecer de jeito nenhum na igreja de Jesus. Na verdade o evangelho não nos
concede nem o direito nem o dever de mudar as condições sociais pela revolução.
Porém as diferenças sociais se mostram mínimas diante da dádiva preparada por
Deus para o ser humano: “glória”. Tiago ensina a arcar com as consequências
práticas do fato de que a glória concedida pelo “Senhor da glória” pesa
infinitamente mais que a “glória” proporcionada por bens, posição, estudo e
“vestes esplendorosas”.
Tiago praticamente
nos obriga a encarar a pergunta sobre as nossas deficiências atuais nessa
questão. É fácil criticar as condições sociais da Antiguidade ou dizer que há
cem anos a igreja fracassou na questão social. Facilmente nos tornamos “cegos
funcionais” em vista dos erros da nossa geração. Talvez façamos
irrefletidamente o que mais tarde seremos forçados a reconhecer como falha
grosseira.
a) Não sabemos se a
velhinha que se assenta nos fundos sem alarde e ora pelos outros não realiza
mais em prol dos frutos da reunião do que o famoso evangelista no púlpito. Por
isso também nesse aspecto não devemos fazer acepções! b) Sejamos gratos pelo
membro abastado da igreja que com seus auxílios e doações financia boa parte do
trabalho. Mas por isso não devemos lhe dar preferência sobre outros (Mc
12.41-44). A alegria pelo renomado cientista que colabora na igreja tem toda a
razão de ser, porém não deve levar a idolatrar essa pessoa. Colocaríamos o
próprio em risco. c) Nosso objetivo é envolver os jovens nas responsabilidades
das igrejas e congregações, onde existem, mas não de forma que os idosos passem
a sentir-se desvalorizados. d) Operários estrangeiros e pessoas de cor de forma
alguma podem ser tratados como pessoas de segunda categoria entre os cristãos.
e) Não queremos tratar com desprezo pessoas moralmente problemáticas, viciadas
etc. Se por um lado não podemos aprovar tudo isso, por outro não sabemos que
circunstâncias e aflições as levaram a essa dependência e quantas lutas
enfrentam. Seja como for: nosso Senhor está pronto para acolhê-las. Logo também
nós queremos fazer o mesmo. f) Um ídolo de cunho especial é hoje a realização.
Uma pessoa é classificada de acordo com o que é capaz de produzir. Por isso
precisa existir um lugar em que essa regra cruel não vigore: a igreja de Jesus.
Nela o ser humano, amado por Deus, tem valor em si. g) Observemos a nós mesmos:
com que diferenciação na atitude interior eventualmente vamos ao encontro de
pessoas, para quem levantamos o olhar, e para quem pensamos poder olhar de cima
para baixo (em geral sem fundamento real)?
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Tg 2.2-3 Esses
versículos são um tipo de ética cristã para os “introdutores da igreja”. No
entanto, na Igreja do primeiro século, eles foram provavelmente dirigidos, não
aos introdutores, mas a qualquer membro da congregação que tinha um assento
especial no culto. Talvez Tiago tivesse observado este tipo de tratamento
preferencial na igreja de Jerusalém ou em alguma congregação vizinha que havia
visitado. O ajuntamento (v. 2; gr., synagogue) seria o lugar onde os cristãos —
provavelmente um grupo misto de convertidos judeus e gentios — se reuniam para
adorar. E o mesmo termo usado para as sinagogas judaicas. Esta era uma palavra
e uma forma de adoração que a Igreja Primitiva tomou emprestadas diretamente
dos seus ancestrais hebreus. Deveria ser mencionado, no entanto, que esse é o
único texto no Novo Testamento em que uma congregação cristã é chamada de
“sinagoga”. Presumimos que o homem com anel de ouro e o pobre eram visitantes e
não membros regulares. Há divergência de opinião se esses eram visitantes
cristãos ou não cristãos. Isso, no entanto, não muda a verdade espiritual do
texto. A atitude mostrada aos homens era errada em ambos os casos. E se o homem
bem vestido era o tipo de pessoa descrito nos versículos 6,7, mesmo sendo
membro, sua mudança de religião não havia transformado seu interior. O ato não
cristão imediatamente julgaria o valor do homem pela aparência do seu traje. O
anel de ouro indicava que esse homem era do Senado ou um nobre romano. Durante
os primeiros anos do império, somente homens nessa posição tinham o direito de
usar esse tipo de anel. Sórdida vestimenta significa uma toga branca. Essa
vestimenta era usada frequentemente por candidatos a um ofício político.
Atentardes (v. 3) deveria ser entendido como prestar atenção especial ao homem
de aparência próspera. As cadeiras da sinagoga, ou outros assentos, eram
geralmente guardados para os anciãos e escribas. Um lugar de honra nesses
assentos seria oferecido a uma pessoa de posição. Pessoas de uma posição
inferior ficavam em pé ou sentavam no chão. Abaixo do meu estrado pode ser
entendido “aos meus pés” (RSV).
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 165.
3„ Não sejamos
perversos (v.4).
O que quer dizer a
expressão “juízes de maus pensamentos”? Trata-se de uma referência a juízes que
julgam com base em pensamentos errados, equivocados, ou seja, tendo como
fundamentos, padrões absolutamente equivocados, critérios iníquos.
Harper entende que a
melhor tradução aqui seria “juízes com mais pensamentos”, que é a utilizada em
inglês pela Revised Standard Version.7 Ele apresenta ainda um preciso resumo
dos padrões errados desses cristãos que honravam os nobres e preteriam os
pobres na congregação. Vejamos esse resumo:
Que tipo de
pensamentos maus esses cristãos mal orientados estavam tendo?
1) Que a vestimenta
fina era a marca de homens finos e que roupa comum significava caráter comum.
2) Que a riqueza é um
marco do valor das pessoas.
3) Que a posição
financeira fazia diferença na aceitação na igreja.
4) Que “sistemas de
castas” sociais e econômicas são aceitáveis para Cristo e apropriadas para sua
Igreja.
Ainda hoje,
infelizmente, há pessoas que se deixam guiar por esses critérios iníquos. Isso
só revela o quão distante os seus corações estão ainda do verdadeiro Evangelho.
Como afirma Matthew Henry, “a deformidade do pecado nunca é verdadeira e
totalmente discernida até que o mal dos nossos pensamentos seja revelado; e é
isso que agrava extremamente as faltas do nosso temperamento e da nossa vida,
que ‘toda imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente’
(Gn 6.5)”.9 Que Deus nos livre de cairmos nesse mesmo pecado! Que em nossas
igrejas e no nosso dia a dia tratemos a todos com honra, amor e respeito,
independente da condição social de cada um.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 77-78.
Tg 2.4 Este tipo de
distinção mostra que os crentes estão sendo dirigidos por motivos errados.
Tiago condenou o seu comportamento, porque Cristo os tinha tornado um só (Gl
3.28). Por que é errado julgar uma pessoa com base na sua situação econômica? A
riqueza pode ser um sinal de inteligência, de decisões sábias, e de trabalho árduo.
Por outro lado, ela pode querer dizer simplesmente que a pessoa teve a boa
sorte de nascer em uma família rica. Ela também pode até ser um sinal de
avareza, desonestidade, e egoísmo. Quando honramos uma pessoa apenas porque ela
se veste bem, estamos considerando a aparência como algo mais importante do que
o caráter.
Outra suposição falsa
que às vezes influencia o nosso tratamento dos ricos é a interpretação
equivocada do relacionamento de Deus com a riqueza. E fácil, porém enganoso,
acreditar que as riquezas são um sinal da bênção e da aprovação de Deus.
Mas Deus não nos
promete recompensas ou riquezas terrenas; na verdade, Cristo nos convoca para
que estejamos dispostos a sofrer por Ele e desistir de tudo para nos agarrarmos
à vida eterna (Mt 6.19-21; 19.28-30; Lc 12.14-34; 1 Tm 6.17-19). Teremos
riquezas incalculáveis na eternidade se formos fiéis na nossa vida atual (Lc
6.35; Jo 12.23-25; Gl 6.7-10; Tt 3.4-8).
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 671.
Tg 2.4 “Porventura
não caístes em contradição convosco mesmos?”: “Tendes a nobreza divina eterna e
usais como parâmetro as pequenas coisas transitórias, aplicando-as uns aos
outros! Isso não é inconsequente? Como nosso comportamento muitas vezes
corresponde pouco à nossa percepção cristã correta! Com que facilidade nos
metemos nos sulcos costumeiros de nossa atitude anterior e de nosso entorno!
“Vós vos tornastes
juízes com (segundo) pensamentos perversos”: O termo grego ponerós = “mau” é
usado no NT como substantivo que designa o maligno, o inimigo. Ele visa
destruir a obra que Deus realiza em nós e através de nós: a) a “veste
gloriosa”, os bens, o nível social se tornam um ídolo. Ele é levado mais a
sério do que aquilo que Deus dá e faz, e até mesmo do que o próprio Deus. b) Em
razão disso a igreja de Jesus sofre divisão. O amor esfria. Pessoas são
magoadas. Eventualmente elas se distanciam da igreja e até mesmo de seu próprio
Senhor. c) Debilita-se a eficácia da igreja em termos missionários, naquilo que
ela diz, faz e é, tanto através daquilo que o ambiente mostra, como também em vista
da autoridade interior perante Deus.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Porventura não
fizeste distinção dentro de vós mesmos? (v. 4) tem duas interpretações
possíveis. Alguns entendem que este texto faz distinções entre membros e, dessa
forma, está dividindo a igreja. O NT Amplificado traduz da seguinte forma:
“fazendo discriminação entre vós mesmos”. Outros interpretam a frase como sendo
simplesmente um pensamento paralelo à última parte do versículo. A NEB traduz
esse versículo da seguinte maneira: “Vocês estão percebendo que estão sendo
incoerentes e julgam de acordo com padrões falsos?”. Juízes de maus pensamentos
é melhor traduzido por: “juízes com pensamentos maus” (RSV), i.e., tendo
pensamentos com motivações erradas. Esses juízes estavam usando padrões
errados. Que tipo de pensamentos maus esses cristãos mal orientados estavam
tendo? 1) Que a vestimenta fina era a marca de homens finos e que roupa comum
significava caráter comum. 2) Que a riqueza é um marco do valor das pessoas. 3)
Que a posição financeira fazia diferença na aceitação na igreja. 4) Que
“sistemas de castas” sociais e econômicas são aceitáveis para Cristo e
apropriadas para sua Igreja.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 166.
II -
DEUS ESCOLHEU OS POBRES AOS OLHOS DO MUNDO (Tg 2.5-7)
1. A soberana escolha
de Deus.
Tg 2.5 Ouvi (v. 5) é
um imperativo que significa: “Espere um minuto; preste atenção”. Esse termo é
comparável ao uso de Jesus de “na verdade, na verdade” (cf. Jo 3.5). Tiago aqui
reprova seus companheiros cristãos, mas é a repreensão amorosa aos meus amados irmãos.
Ele é sensível aos maus tratos dados aos pobres e às ações muitas vezes
insensíveis e desumanas dos ricos (cf. 5.1-6). Mas ele não defende os pobres
por causa da sua pobreza, nem ataca os ricos por causa da sua riqueza. Em vez
disso, sua defesa e ataque são baseados em outros fatos. Admitidamente, ele
reconhece esses fatos como geralmente verdadeiros nas respectivas classes.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 166.
Tg 2:5 Tiago inicia
seu ataque lógico contra essa prática (2:5-7) com um apelo: Ouvi, meus amados
irmãos, e chama-lhes a atenção para o fato de estar referindo-se a algo de que
já têm conhecimento: Não escolheu Deus aos que são pobres? Tiago emprega a
terminologia familiar da eleição, com que Israel estava acostumado
(Deuteronômio 4:37; 7:7), como também a igreja (Efésios 1:4; 1 Pedro 2:9), mas
aplica-a de modo específico aos pobres. A maior parte dos membros da igreja
primitiva era constituída de pobres (“não são muitos os sábios segundo a carne,
nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados” [1 Coríntios
1:26]); a igreja de Jerusalém era bastante pobre (Tiago 2:1-26) (2 Coríntios
8:9). Mas Tiago está dizendo mais do que isso. Deus elegeu de modo especial aos
que são pobres aos olhos do mundo (pois só são pobres segundo os padrões de
valor do mundo) para serem ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos
que o amam. Por um lado, isso torna o pobre quase igual àquele que suporta a
provação. em 1:2, visto que ambos recebem aquilo que Deus prometeu aos que o
amam. Por outro lado, Tiago está aplicando o ensinamento de Jesus, visto que
foi o Senhor quem disse que havia vindo de modo particular “para evangelizar
aos pobres” (Lucas 4:18) e depois: “Bem-aventurados vós, os pobres, pois vosso
é o reino de Deus” (Lucas 6:20). Jesus selecionara os pobres como os
especialmente contemplados com o seu reino; Tiago apanha essa ideia e acrescenta:
aos que o amam, a fim de limitar a promessa aos pobres que reagem em amor
diante da mensagem do evangelho. Se há favoritos aos olhos de Deus, esses são
os pobres, visto que Deus os vê de modo bem diferente do mundo. O mundo os
enxerga como pobretões desprezíveis, sem importância, mas para Deus eles são
ricos na fé e herdeiros do reino — o contrario da perspectiva mundana.
Peter
H. Davids. Comentário Bíblico
Contemporâneo. Editora Vida. pag. 81-82.
Tg 2.5 “Ouvi, meus
amados irmãos!”: Tiago sabe que aquilo que passa a dizer contraria a
expectativa humana e o preconceito humano. Em geral a pessoa, talvez de forma
não muito consciente, simplesmente não capta esse tipo de pensamento. Por isso
pede atenção especial.
a) O que Deus faz:
“Deus escolheu os pobres no mundo”: nós humanos sempre começamos pelo alto.
Tentamos agarrar o melhor. Isso começa com coisas exteriores, p. ex., o
jardineiro que transplanta mudas do viveiro escolhe primeiro as mais fortes.
Afinal, depende da qualidade das plantas. Do mesmo modo também nós, quando
escolhemos pessoas para quaisquer finalidades, sempre selecionamos as melhores,
as que se destacam. Também corriqueiramente as pessoas se interessam em
especial por aqueles que possuem categoria e renome. Deus, porém, com sua
misericórdia e por não depender da qualidade do ser humano, começa em outro
lugar, embaixo, junto aos pobres: elegeu um povo de escravos para selar uma
aliança. Do seu lugar escondido atrás do rebanho chamou alguém de quem ninguém
se lembrava para ser o mais importante rei de seu povo. Uma moça insignificante
de Nazaré foi transformada por ele em mãe do Filho unigênito. Ninguém a quem
Deus chamou deve pensar que Deus o escolheu em virtude de seus atributos (Dt
7.7-9; 1Co 1.26-29). – Também por essa razão o eterno Filho de Deus se tornou
pobre, para que os pobres notem que Deus busca justamente a eles (Mt 8.20; 2Co
8.9). Como Tiago, o próprio Senhor, de forma especial, tomou partido dos que de
diversos modos são pobres e carentes de ajuda (Lc 4.18; 6.20s,24s; 14.13,21;
16.19ss).
“Os pobres no mundo”:
a expressão se refere aos pobres do conjunto da sociedade humana. Havia pobres
sobretudo nas igrejas cristãs dos primeiros séculos (cf. 1Co 1.26). Não raro
isso acontece também hoje, especialmente quando não é oportuno ser cristão,
quando a opinião pública é contrária a isso, quando isso acarreta desvantagens.
– No entanto, a definição mais precisa “os pobres no mundo” permite também
depreender que essa pobreza é apenas passageira e se refere unicamente à vida
atual e ao éon presente.
“Ricos pela fé”: ao
nos tornarmos crentes, ao crermos no que Deus nos diz, confluem sua imensurável
riqueza e nossa penúria de mendigo. Nosso Senhor praticamente afirma: “O que é
teu é meu” (foi assim que quitou nossa dívida). E declara: “O que é meu é teu”
(dando-nos participação de sua glória divina). Isso vale desde já pela fé e
depois manifestamente: “São herdeiros (co-partícipes) do reino”: o “reino”, em
grego basileia, não apenas significa uma esfera de senhorio, mas também o ato
de governar. Ser “co-partícipes do reino” significa em primeiro lugar que o
crente é concidadão da soberania vindoura de Cristo, mas também co-partícipe de
seu governo sobre o mundo (Ap 1.6; 20.4; 1Co 6.2). “A intercessão dos filhos de
Deus é (desde já) sua participação no governo de Deus sobre o mundo” (F.
Oetinger).
b) Como agem, no
entanto, os que fazem tais distinções - “Vós, porém”: submeteram-se aos padrões
do mundo, assumindo assim uma posição errada diante do pobre e diante do rico.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Lc 6.20 Muito
provavelmente, Jesus transmitiu estes ensinos basicamente aos discípulos, com a
multidão ouvindo. Os discípulos recém escolhidos de Jesus, os doze homens que
seriam os seus cooperadores mais próximos, podem ter sido tentados a se sentir
orgulhosos e importantes. Afinal, a popularidade de Jesus continuava a crescer,
como foi visto na multidão que estava com Ele naquele momento. Os discípulos, surpreendidos
pela popularidade de Jesus, precisavam primeiramente entender as prioridades do
reino de Deus. Além disto, muitos dos discípulos estavam confusos a respeito do
que Jesus iria fazer exatamente. Os Evangelhos apresentam um grupo de homens que,
embora tivessem fé, nunca entenderam bem a morte próxima e a ressurreição até
que as testemunharam por si mesmos. Assim, Jesus lhes disse, de maneira muito
clara, que eles não deveriam esperar fama nem fortuna neste mundo, pois não foi
isto que Jesus veio trazer. Eles seriam verdadeiramente “bem aventurados”, mas
segundo os padrões de um reino diferente.
Estes versículos são
chamados de “Bem aventuranças”, originando-se na palavra latina que significa
“bênção”. Eles descrevem o que significa ser um seguidor de Cristo. São padrões
de conduta; eles contrastam os valores do reino com os valores do mundo,
mostrando o que os seguidores de Cristo podem esperar do mundo e o que Deus irá
lhes dar. Eles contrastam a falsa religiosidade com a verdadeira humildade; eles
mostram como as expectativas do Antigo Testamento são cumpridas no reino de
Deus.
A palavra
“bem-aventurado” significa mais do que felicidade; significa favorecido e
aprovado por Deus.
A primeira
“bem-aventurança” é reservada para os pobres. Estas são as pessoas que não têm
nada em que confiar, exceto Deus. Elas percebem que não têm nada seu para dar a
Deus e portanto precisam depender da sua misericórdia. Jesus diz: “vosso é o
Reino de Deus”. Observe que Ele não diz “será” mas sim “é”. Aceitar a Jesus no
coração traz o indivíduo para dentro do reino, mesmo que ele viva na terra.
Jesus não estava
exaltando a pobreza; antes, Ele estava esclarecendo que estes são os resultados
do discipulado e que os discípulos seriam bem-aventurados porque eles poderiam
confiar em Jesus, o Filho do Homem. Nestas bem-aventuranças, Jesus não estava
amaldiçoando tudo o que faz parte da vida - como o riso, a diversão, a
felicidade, o dinheiro, a comida - mas se estas coisas se tornassem o centro da
vida sem considerar a Deus, então o indivíduo não poderia ser “bem-aventurado”
por Deus.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 359.
Lc 6.20 Antes de o
Senhor começar a pregar, ambos os evangelistas, Mateus e Lucas, enfatizam a
solenidade desse memorável instante. Mateus relata: “Ele abriu a boca,
ensinou-os e disse” (Mt 5.2). Lucas escreve: “Ele ergueu o olhar até seus
discípulos e disse” (Lc 6.20). Com isso, o evangelista não declara que somente
os discípulos do Senhor ouviam essa pregação, mas também o povo estava presente
(cf. Lc 7.1). Aqui apenas se menciona que Jesus olhou de forma especial para
discípulos.
Ao contrário de
Mateus, que cita oito bem-aventuranças (Mt 5.3-11), Lucas traz somente quatro
bem-aventuranças no início do sermão. A essas quatro bem-aventuranças são
acrescentadas, em correspondência exata, quatro ais, que fazem parte do
material exclusivo do presente evangelista. Por meio deles assinala-se uma
inversão e revalorização de todas as correspondências terrenas no reino de
Deus. A interpelação direta de pobres e ricos nas bem-aventuranças e nos ais dirige-se
a todos os ouvintes, provavelmente porque havia entre eles representantes de
ambas as classes.
Perguntamos: como
entender a palavra “Ditosos vós, os pobres”? Na primeira bem-aventurança do
Sermão do Monte Mateus fala clara e inequivocamente dos “pobres no espírito” e
depois dos “que têm fome de justiça” (Mt 5.3,6), de forma que Mateus parece
conferir ao todo um sentido mais profundo do que Lucas, que pensaria apenas na
carência quanto às necessidades exteriores da vida. Contudo não é esse o caso. Lucas
não defende uma ideia diferente de Mateus nas bem-aventuranças.
Tanto em Mateus
quanto em Lucas, o Sermão do Monte (sempre o mesmíssimo sermão) somente pode
ser entendido a partir da contraposição com a justiça farisaica da lei (veja
com detalhes no Comentário Esperança, Mateus, sobre Mt 5.17-19 e, ali mesmo, no
final do Sermão do Monte).
Os fariseus defendiam
a seguinte concepção: quem cumpre a lei com exatidão é rico junto de Deus. No
entanto, quem além disso ainda cumprir exatamente e observar literalmente todas
as tradições antigas dos pais, por meio das quais a lei de Moisés foi
interpretada e significativamente ampliada, esse é muito rico junto de Deus e
pode encaminhar-se serena e confiantemente para o dia do acerto de contas.
Ao contrário dessa justiça
farisaica pela lei, Jesus afirma com toda a clareza: bem-aventurados sois vós,
pobres, que não tendes nada a apresentar perante Deus, que sois miseráveis e
carentes de ajuda perante Deus, que não esperais outra ajuda senão unicamente
de Deus (cf. Sl 25.16-22; 69.30; 70.6; 74.21; 86.1-6; Sf 3.12).
Quando Jesus declara,
conforme Lucas: “Ditosos sois vós, os pobres”, isso significa o mesmo que a
palavra de Mateus: “Ditosos os pobres por meio do espírito (ou no espírito)”.
Quando Lucas coloca o
ai a respeito dos “ricos” ao lado da exclamação de salvação de Jesus para os
pobres, ele mostra que entendeu corretamente o cerne, considerando os fariseus
como os ricos.
E mais: da mesma
maneira como em Mateus o sim em favor dos pobres inclui o não (apenas implícito)
contra os ricos, assim também Lucas inclui nesse “não” (veja ali o comentário)
o forte contraste para com a erudição farisaica das escrituras. Ela, por
exemplo, afirma: “Há somente um caminho para entrar no reino dos céus: o
mérito.” Esse é o caminho orgulhoso, pelo o qual os escribas creem poder
entrar. Estão equivocados. Os discípulos, porém, jamais devem considerar-se
ricos e colocar sua esperança em algo que não seja a graça de Deus. Então vale
e valerá para eles a palavra: “Benditos os pobres, porque deles é o reino de
Deus”.
A verdadeira pobreza
espiritual recebe muitas promessas na vida. Em Is 29.19 é anunciado: “Os mansos
terão regozijo sobre regozijo no Senhor, e os pobres entre os homens se
alegrarão no Santo de Israel” (cf. Is 41.17; 66.2; Sl 68.10; 72.2,4,12s; 34.19;
38.21; 9.15; 10.14; 37.15). Quem confia na graça de Deus é rico em sua pobreza.
Digno de nota é a
justificativa da primeira bem-aventurança: “porque vosso é o reino de Deus”.
Dessa forma são unificados o reino escatológico e o reino atual de Deus. Já no
presente essa soberania de Deus é uma realidade viva e perceptível que pode ser
recebida, conquistada e apropriada pela pessoa. Os pobres já possuem o reino de
Deus, porque Deus achou por bem dá-lo a eles (Lc 12.32).
A palavra: “Felizes
vós miseráveis; porque vosso é o reino de Deus” vale também para nós hoje.
Devemos tornar-nos pobres e permanecer pobres. Tornar-se pobre significa
experimentar o desmanche do eu orgulhoso e inflado, ser conduzido das alturas
das mentiras de nossa própria condição de ricos, saciados e grandes, para
baixo, para o vale de nossa verdadeira pobreza e indigência. E mais: “tornar-se
pobre” significa desmontar todos esses fundamentos e escoras falsos a que nos
apegamos, por meio dos quais tentamos ser algo por conta própria. Desmontar até
o ponto em que toda a nossa pobreza se torna explícita. “Permanecer pobre”
significa não sair deste “desmanche” e “quebramento”. Schlatter afirma: “Todo
aquele que se exime da pobreza, exime-se da promessa.”
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica
Esperança.
2. A principal razão
para não desonrar o pobre (v.6).
Em primeiro lugar,
fazer acepção de pessoas é desonrar a fé em “nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor
da Glória” (Tg 2.1), Deus encarnado, que nunca fez acepção de pessoas. Aliás, a
Bíblia diz que Deus olha não a aparência, mas o coração da pessoa (1 Sm 16.7).
Em segundo lugar, a
Bíblia diz que a nossa motivação em tudo o que fazemos deve ser o amor (1 Co
13.1-8), razão pela qual Tiago lembra que a “Lei Real” (Tg 2.8), isto é, a Lei
do Reino de Deus, é “Amarás a teu próximo como a ti mesmo”. Portanto, a acepção
de pessoas deve ser considerada um absurdo pelo verdadeiro cristão, uma vez que
fere o princípio do Reino de Deus de amarmos o próximo como a nós mesmos, isto
é, a Lei do Amor.
Em terceiro lugar,
Tiago cita a acepção de pessoas no início do capítulo 2 como um exemplo de algo
oposto à verdadeira religião, que é apresentada de forma sintética no final do
capítulo 1 (Tg 1.27). Os dois assuntos estão umbilicalmente ligados no texto da
epístola. Logo, o que Tiago está dizendo aqui, ao tratar desse assunto, é que
quem pratica a acepção de pessoas não é um verdadeiro cristão, não vive de fato
uma vida de piedade, mas uma farsa religiosa.
Em quarto lugar,
especialmente sobre o tratamento dado aos pobres, Tiago lembra que aos pobres
deste mundo também foi dado conhecer o Reino de Deus e o privilégio de serem
filhos do Rei, devendo estes serem tratados da mesma forma, com a mesma
dignidade, com que são tratados os irmãos não pobres (Tg 2.5). O apóstolo
também evoca o fato de que há ricos maus e perversos, inclusive muitos que
estavam levando cristãos às barras dos tribunais injustamente e blasfemavam
deles (Tg 2.6,7); logo, era absolutamente incoerente tratar com dignidade
homens perversos e maus só por serem ricos e deixar de honrar e valorizar
homens simples e honestos apenas porque são pobres. Tratava-se de uma
contradição abissal.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 73-74.
Tg 2.6 O argumento de
Tiago é que vós desonrastes (v. 6) aqueles que Deus escolheu (v. 5). “Não é que
Deus limitou sua escolha aos pobres, mas de acordo com a história, eles foram a
sua primeira escolha (veja Lc 1.52; 1 Co 1.26)”.3 A escolha de Deus também não
foi arbitrária. É simplesmente um fato que o pobre e o oprimido são mais
responsivos ao evangelho do que os ricos que dependem do poder do seu dinheiro.
Em todo caso, Tiago deixa claro que os pobres de quem ele fala são aqueles que
são ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 166.
Tg 2.6 Através do
Novo Testamento, ficamos sabendo que a igreja primitiva era formada, em grande
parte, por pessoas pobres, especialmente na Judéia e em Jerusalém (At 11.29,30;
ICo 16.1-3). Essas pessoas, pertencentes à classe mais baixa da sociedade,
estavam tratando com deferência o rico e desprezando o pobre. Tiago condena essa
prática desprovida de caridade.
A acusação que Tiago
fez aos leitores de sua epístola é séria. Ele declara um fato: “insultaram o
pobre” (ver também ICo 11.22). Desprezar os pobres implica desprezar Jesus
Cristo, o protetor e guardião dos pobres. Eles não defendem mais a causa de
Cristo. Ao mostrar favoritismo para com o rico, eles “tomaram o partido do
diabo contra Deus”.15 Qual é o efeito desse esnobismo? Em seus ensinamentos, Jesus
usou as seguintes palavras: “Quem não é por mim, é contra mim; e quem comigo
não ajunta, espalha” (Mt 12.30).
Tiago trata da
questão do favoritismo de forma assertiva. Sua intenção é arrancar a raiz do
favoritismo do solo da igreja cristã primitiva. Ele exorta o crente a abrir os
olhos, enxergar a realidade e responder a estas três questões:
a. Quem os explorai
Tiago responde essa pergunta mais adiante na epístola, quando repreende o rico
que oprime o pobre. Ele menciona exemplos específicos: “Vejam! Os salários que
vocês deixaram de pagar para os trabalhadores que ceifaram os seus campos estão
clamando contra vocês. O clamor dos ceifeiros chegou aos ouvidos do Senhor
Todo-Poderoso” (5.4). Partindo do contexto geral da situação que Tiago
descreve, ficamos sabendo que os ricos não pertencem à comunidade cristã. Não
importa se eram judeus ou gentios. Eles exploravam o povo que era incapaz de se
defender, incluindo as viúvas e órfãos (comparar com Am 8.4; Mq 2.2; Zc 7.10).
Por meio dos escritos da comunidade de Qumran, na primeira parte do século l e,
descobrimos que até mesmo os sacerdotes de Israel estavam explorando os pobres.
Se os cristãos tratam
com deferência aqueles que exploram e oprimem o pobre, vão contra ensinamentos
claros das Escrituras. Os cristãos estão do lado errado, pois deveriam estar
defendendo os pobres. b. Não são eles que estão arrastando vocês para os
tribunais? O Novo Testamento oferece alguns exemplos bastante claros de
apóstolos sendo levados para tribunais por judeus e gentios (At 5.27; 16.19;
18.12). Judeus ricos e influentes tinham o poder de arrastar judeus cristãos
pobres para os tribunais a fim de prejudicá-los. Tiago não é específico em sua
referência aos ricos. Quer fossem judeus ou gentios, essas pessoas ricas
estavam recebendo honra e respeito dos mesmos cristãos que arrastavam para os
tribunais. Se esses cristãos não estivessem corrompidos pelo pecado do
favoritismo, permaneceriam leais aos pobres, suportariam as injustiças e,
assim, demonstrariam pensar como Cristo (ver, por exemplo, lPe 2.20). Ao invés
disso, estavam honrando o rico e menosprezando o pobre.
Simom
J. Kistemaker. Comentário do Novo
Testamento Tiago e Epistola de João. Editora Cultura Cristã. pag. 108-109.
Tg 2.6 1) “Vós
desonrastes o pobre”: ele foi humilhado. Não foi dado crédito à promessa de
Deus de que ele recebe honra e glória. Em decorrência dificultou-se ao pobre
que conte pessoalmente com a promessa misericordiosa de Deus.
2) Tiago diz que para
os cristãos realmente não existe motivo para cortejar os ricos e poderosos
dessa maneira. De forma alguma pretende instigar os cristãos contra os ricos,
mas devem aprender a enxergar a verdadeira situação: propriedade é poder, e o
poder, o lugar no “controle maior”, representa uma grande tentação: “Não são os
ricos que vos tratam com violência?” Aqueles que nadavam na riqueza, inclusive
no judaísmo, não queriam ouvir muito a respeito da esperança messiânica.
Estavam bastante satisfeitos com sua vida. As pobres igrejas cristãs com sua
esperança pelo dia vindouro (Tg 5.7ss) eram objetos de seu desprezo e
representavam para eles uma trave no olho. – “Eles vos arrastam a tribunais”:
agiam contra os cristãos por causa de sua convicção de fé, como lemos
repetidamente em Atos dos Apóstolos (At 4.1ss; 5.17ss; 6.9ss; 8.1ss; 9.23ss;
12.1ss; 13.50; 14.19; 16.19ss; 17.5ss,13ss; 19.23ss; 21.27ss; 23.12ss). Também
era possível que membros pobres da igreja estivessem endividados com eles. O
usurário impiedoso rapidamente obtinha um pretexto para lhes tirar
absolutamente tudo. Naquele tempo (e não apenas então) era possível conseguir
muita coisa mediante subornos (cf. At 24.26). Ademais se davam ouvidos aos
abastados e influentes.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Após essas considerações,
a acusação é severa de fato: “Mas vós desonrastes o pobre” (v. 6). 4. A acepção
de pessoas, no sentido desta passagem, por conta das suas riquezas e da
aparência exterior, é apresentada como um pecado muito grave, em virtude dos
prejuízos devidos à riqueza e grandeza mundanas, e a tolice que há no fato de
cristãos prestarem consideração indevida por aqueles que não têm consideração
alguma nem por seu Deus nem por eles: “Porventura, não vos oprimem os ricos e
não vos arrastam aos tribunais ?
Porventura, não
blasfemam eles o bom nome que sobre vós foi invocado? (vv. 6,7). Considerai
como é comum que as riquezas sejam incentivos aos vícios e ao dano da blasfémia
e da perseguição. Pensai nas muitas calamidades que vós mesmos tolerais, e nas
grandes afrontas que são lançadas sobre vossa fé e vosso Deus por homens de
posses, poder e grandeza mundanos; e isso vai fazer vossos pecados parecerem
extremamente pecaminosos e tolos, ao construirdes aquilo que tende a vos
destruir, e a destruir tudo que estais edificando, e a desonrar esse nome pelo
qual sois chamados.” O nome de Cristo é um nome digno; ele reflete honra, e dá
dignidade aos que o usam.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 833.
3. Desonraram o
Senhor.
A Pobre Escolha dos
Ricos (2.6b,7)
Favorecer os ricos e
desprezar os pobres simplesmente não faz sentido para os cristãos. João Calvino
comentou que é estranho honrar nossos algozes e ao mesmo tempo ferir nossos
amigos! Provavelmente Tiago estava se referindo a judeus ricos. Na Palestina,
ele havia visto os ricos saduceus oprimirem a Igreja (At 4.1-4). Ele também
podia estar familiarizado com as experiências de Paulo nas cidades gentias.
As três acusações
específicas são dirigidas contra os ricos, das quais a igreja procurava obter
favor. Opressão e julgamentos no tribunal são as primeiras duas acusações;
blasfêmia é a terceira. Em todas elas, Tiago apela ao conhecimento e
conveniência do leitor. “Não são os ricos que oprimem vocês e pessoalmente
[lit., eles próprios] os arrastam para os tribunais? Não são eles que blasfemam
o bom nome que sobre vocês foi invocado?” (NASB). A referência aponta para a
experiência do batismo no qual o bom nome, i.e., o nome de Cristo, foi invocado
sobre eles. O uso de o [...] nome em vez de Deus ou Cristo por parte do autor,
parece refletir seu treinamento judaico no qual sempre havia uma reverência
muito grande pelo nome de Deus, ao ponto de hesitar-se mencioná-Lo.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 166-167.
Tg 2.7 Considerai
como é comum que as riquezas sejam incentivos aos vícios e ao dano da blasfémia
e da perseguição. Pensai nas muitas calamidades que vós mesmos tolerais, e nas
grandes afrontas que são lançadas sobre vossa fé e vosso Deus por homens de
posses, poder e grandeza mundanos; e isso vai fazer vossos pecados parecerem
extremamente pecaminosos e tolos, ao construirdes aquilo que tende a vos
destruir, e a destruir tudo que estais edificando, e a desonrar esse nome pelo
qual sois chamados.” O nome de Cristo é um nome digno; ele reflete honra, e dá
dignidade aos que o usam.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 833.
Tg 2.7 “Não são eles
que blasfemam o bom (belo) nome que foi proferido sobre vós?”: por ocasião do
batismo daqueles cristãos foi proferido o nome de Jesus. Afinal, batizava-se em
nome dele (At 2.38; 10.48). Eles foram transportados à comunhão com Jesus e se
tornaram propriedade dele.
“O belo nome”:
nota-se nessa formulação todo o amor, a gratidão e alegria daqueles primeiros
cristãos. Quando eles eram denegridos, em última análise poderiam permanecer
indiferentes. Que importa? Mas quando o nome de Deus era desonrado, eles eram
atingidos (em nosso caso não acontece muitas vezes o contrário?).
Em suma, cabe dizer:
os cristãos devem estar igualmente abertos para pobres e ricos. Não pode haver
ódio de classe. Mas quem vê como Deus concede sua nobreza de forma equânime a
todos precisa (e pode) excluir este tratamento tão desigual que o mundo pratica
quando dá preferência a ricos e poderosos.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Os ricos são os que
blasfemam o bom nome daquele a quem pertenceis. Agora Tiago acrescenta uma
acusação de natureza religiosa. O nome de Jesus havia sido outorgado aos
cristãos, ou (de modo mais literal) em seu nome haviam sido batizados. Agora os
cristãos “pertencem” a Cristo. Seu Senhor é Cristo. Todavia, os ricos falam mal
desse nome, quando escarnecem de Jesus ou quando insultam seus seguidores. Não
está esclarecido se faziam isso no tribunal, como parte do processo opressivo,
ou se estavam insultando a Cristo nas sinagogas e nas praças. Nem uma nem outra
ação era justa. Entretanto, a igreja também tomara a decisão de insultar os
pobres (a quem Deus honra), e desse modo, decidiu favorecer os ricos,
identificando-se com a classe opressora. Com frequência acontece que o grupo
oprimido assume as características de seus opressores; quando isso acontece à
igreja, o fato não é apenas patético e irônico, mas constitui uma inversão
moral, visto que as pessoas que tomaram sobre si o nome de Cristo agem, agora,
à semelhança das que blasfemam do nome de Cristo.
Peter
H. Davids. Comentário Bíblico
Contemporâneo. Editora Vida. pag. 83.
III - A
LES REAL, A LEI MOSAICA E A LEI DA LIBERDADE (Tg 2.8-13)
1. A Lei Real.
.A Lei Real (2.8)
Nesse parágrafo (w.
8-13) Tiago nos leva de volta, como sempre deve ocorrer quando avaliamos o
caráter da nossa conduta, à regra básica para o cristão — Amarás o teu próximo
como a ti mesmo (v. 8). Sempre “faremos bem” se fizermos aquilo que gostaríamos
que os Qutros fizessem a nós se as condições fossem desfavoráveis.
Essa lei, que orienta
a conduta cristã, está conforme a Escritura. Ela foi extraída do Antigo
Testamento (Lv 19.18) e reafirmada nos ensinamentos de Jesus (Mt 22.39). Ela é
a lei real porque é a palavra do nosso Senhor. Ela é a lei real porque se a
guardarmos em ato e em verdade, não podemos quebrar nenhuma das leis de Deus
que regem nossos relacionamentos com nosso próximo. Guardar essa lei é guardar
toda a lei.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 167.
Tg 2.8 Temos esboçada
de forma geral a lei que deve dirigir-nos em todas as nossas relações com os homens.
“Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo
como a ti mesmo, bem fazeis” (v. 8). Para que ninguém pense que Tiago defendeu os
pobres com o efeito de desprezar os ricos, ele agora lhes diz que não imaginou
encorajar conduta imprópria alguma para com ninguém. Eles não devem odiar os
ricos nem ser rudes para com eles. Mas, como as Escrituras nos ensinam a amar
todos e ao nosso próximo como a nós mesmos, sejam eles ricos ou pobres, fazemos
bem em ter uma firme consideração por essa regra. Daí observe: 1. A regra
segundo a qual os cristãos devem andar está estabelecida nas Escrituras, “...se
cumprirdes, conforme a Escritura...”. Não são os grandes homens, nem as
riquezas do mundo, nem as práticas corrompidas entre os próprios crentes que
devem nos guiar, mas as Escrituras da verdade. 2. As Escrituras nos apresentam isso
como lei, que amemos nosso próximo como a nós mesmos; o que ainda está em vigor
para nós, e é antes levado adiante e a um degrau mais alto por Cristo do que tornado
menos importante para nós. 3. Essa lei é uma lei real, procede do Rei dos reis.
Seu próprio valor e dignidade levam-na a merecer que seja assim honrada; e o
estado em que estão todos os cristãos agora, por ser um estado de liberdade, e
não de escravidão ou opressão, faz dessa lei, pela qual eles devem regular
todas as ações uns aos outros, uma lei real. 4. A pretensão de observar essa
lei real, quando for interpretada com parcialidade, não desculpa os homens de
qualquer procedimento injusto. Nela está sugerido que alguns estariam prontos a
bajular homens ricos, e a ser parciais para com eles, porque, se estivessem em
circunstâncias semelhantes, deveriam esperar tal consideração por si mesmos. Ou
eles poderiam alegar que mostrar o distinto respeito por aqueles a quem Deus na
sua providência havia distinguido por sua posição e nível não era nada mais do
que certo; por isso, o apóstolo concorda em que, no que concerne a eles
cumprirem os deveres da segunda tábua, fazem bem em dar honra a quem é devida;
mas essa justa pretensão não cobre o pecado deles naquela indevida acepção de
pessoas de que estão sendo acusados.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 833-834.
Tg 2.8 “A lei régia”:
em que medida o mandamento “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” é a “lei
régia”?
a) Foi promulgada
pelo Rei, pelo “Rei sobre todos os reis” (Lv 19.1,18). O Filho, ao qual o Pai
concedeu todo o poder (Mt 11.27; 28.18; Ap 19.16), equiparou-a ao mandamento de
amar a Deus acima de todas as coisas (Mt 22.37ss).
b) A “lei régia” foi
e continua sendo cumprida pessoalmente pelo Rei. Temos um Deus amigo dos
humanos (Tt 3.4). Esse amor foi coroado pelo que é dito em Jo 3.16: “Deus amou
o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito…” (cf. Rm 5.10; 8.32). E o
Filho, o amor de Deus manifesto e ativado em favor de nós, cumpriu esse
mandamento. Ele nos amou mais do que a si mesmo, entregando a última gota de
sangue em favor de nós (Mt 20.28). Já que é preciso punir, ele quis ser punido.
Já que é preciso morrer, ele quis morrer.
c) O mandamento do
amor é a “lei régia”, porque abarca todos os demais mandamentos que nos foram
dados em vista de Deus e de nosso semelhante. Ela é o ponto principal ao qual
convergem todos os raios (Mt 22.34-40; cf. 1Co 13.13).
d) O amor é também
uma “lei régia” pelo fato de presentear com liberdade e liberalidade régias,
não pedindo contrapartidas e não estabelecendo nenhuma pré-condição.
“Observada segundo a
Escritura”: isso impede que todas as demais coisas sejam chamadas de “amor”. –
“Fazeis bem”: é assim que agrada a Deus, é assim que se fará bem às pessoas, e
é assim que estaremos bem orientados pessoalmente. Nossa vida se torna íntegra,
rica e livre.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Rm 13.8-10 Se devemos
alguma coisa devemos pagar a dívida. Mas é preciso perguntar: Será que Paulo
está contra a hipoteca da casa e as mensalidades da escola? Paulo não está contra
a atitude de pedir emprestado, mas contra pedir coisas ou dinheiro emprestados que
náo temos a intenção de pagar. A dívida descuidada e fraudulenta não traduz um
comportamento aceitável entre os crentes. A esse argumento Jesus acrescenta a recomendação
de que seus seguidores devem ser conhecidos como credores e doadores de boa fé
(Mt 5.42). Devemos ser responsáveis pelos pagamentos, e não pedir empréstimos que
estejam além da nossa capacidade de pagar. Entretanto, sempre deveremos algo a alguém:
a ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor. Podemos perceber através deste
versículo que nunca terminaremos de pagar a dívida de amor que temos para com
as outras pessoas (veja também Jo 13.34,35; Gl 5.22; Ef 5.1,2; 1 Jo 3.11-24;
4.7-21).
Os mandamentos contra
o adultério, o assassinato, o furto ou a cobiça, que são mencionados por Paulo,
vêm diretamente dos Dez Mandamentos. Eles se aplicam ao nosso relacionamento
com os outros (veja Ex 20.13-15,17). Paulo pretende, com essa relação, mostrar
que todos estão sob um mandamento mais abrangente: “Amarás ao teu próximo como
a ti mesmo”, citado de Levítico 19.18. Quando amamos alguém não temos a intenção
de prejudicar ou fazer mal a esta pessoa. Portanto, o amor preenche todos os
requisitos de Deus.
Os cristãos devem
obedecer á lei do amor, que está acima das leis civis e religiosas. E fácil
tentar desculpar a nossa indiferença em relação aos outros simplesmente por não
termos nenhuma obrigação legal de ajudá-los, e até tentarmos justificar as
nossas injúrias se os nossos atos forem tecnicamente legais! Mas Jesus não
deixa brechas na lei do amor.
Sempre que o amor
exigir, devemos ir além dos
requisitos legais humanos, e imitar o amor de Deus.
13.11 Paulo quer que
os crentes entendam sua constante necessidade de demonstrar amor, especialmente
em relação ao tempo - a volta de Cristo está próxima. As passagens do Antigo
Testamento que falam da volta de Cristo estão dirigidas à nossa
responsabilidade de estar alertas, preparados morai e espiritualmente, e servindo
diligentemente ( 1 Pe 4.11 ; Tg 5.8 ; 1 Jo 2.18). Os crentes devem estar
alertas e vigilantes para não serem surpreendidos. Paulo sabe que a antiga
natureza pecadora ainda irá, ocasionalmente, provocar problemas, por isso o
apóstolo pede que os seus leitores se mantenham acordados. Permanecer muito
tempo num estado de letargia espiritual, onde o pecado é tolerado e as boas
obras não são praticadas, pode levar a um coma espiritual que nos transforma em
seres irresponsáveis perante Deus.
A volta de Cristo, e
nossa final e total salvação, estão, agora, mais perto de nós do que quando
aceitamos a fé. Cada dia que passa nos leva mais próximos ao instante da volta
de Cristo, quando seremos conduzidos ao céu para ficar ao seu lado para sempre
(veja também Mc 13.13; Lc 21.28; 1 Ts 5.4-11; Hb 9.28).
O tempo está se
acabando; portanto, precisamos utilizar cada momento para viver corretamente.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 83-84.
Nosso relacionamento
com a lei (13.8-10)
Paulo faz uma
transição de nossa relação com o Estado (13.1-7) para a nossa relação com os
irmãos (13.8-10). Ele já tratou de nossa dívida de compartilhar o evangelho com
os incrédulos (1.14), de nossa dívida para com o Espírito de viver uma vida
santa (8.12) e de nossa dívida de lealdade no pagamento dos impostos ao Estado
(13.6,7).
Agora, trata de uma
dívida que nunca poderemos quitar completamente, a dívida do amor. Nunca amamos
em grau superlativo. Estamos sempre aquém dessa exigência divina. Charles
Erdman diz: “A razão de o amor ser tão importante reside no fato de que o amor
é o cumprimento de toda a lei e a lei é o próprio fundamento do Estado”.
Destacaremos aqui,
três pontos:
Em primeiro lugar, o
amor ao próximo é uma divida impagável. “A ninguém fiqueis devendo coisa
alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros...”
(13.8a). Conforme
William Hendriksen, este versículo condena a prática de alguns que estão sempre
prontos a tomar empréstimo, porém são muito lentos em reembolsar a soma
emprestada. A Bíblia diz que o ímpio pede emprestado e não paga (SI 37.21), mas
o apanágio do cristão é a honestidade. Vale ressaltar que a expressão “uns aos
outros” (13.8) não significa apenas os irmãos na fé. Na verdade, ninguém está
excluído desse amor todo abrangente. Devemos livrar-nos de todas as dívidas,
não negando, ignorando ou fugindo delas, mas pagando-as: existe apenas uma
dívida de que ninguém pode livrar-se, a dívida do amor. Viver como cristão não
significa apenas prontamente quitar compromissos financeiros, legais e morais,
para depois reclinar-se, desligando-se do gigantesco volume restante de tarefas
ao redor. Um cristão permanece no serviço. Jamais dirá ao próximo: cumpri minha
obrigação, estamos quites. Jamais tentará evadir-se com ajudas que já prestou: desse
e daquele me livrei, pois com essa atitude já estaria fora do amor. Não podemos
amar suficientemente uma pessoa. Só Deus pode fazê-lo de forma plena e cabal.
Seremos sempre devedores em relação à dívida do amor.
Em segundo lugar, o
amor ao próximo é o cumprimento da lei. “[...] pois quem ama o próximo tem
cumprido a lei. Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás,
e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu
próximo como a ti mesmo” (13.8b,9). O amor é essencialmente obediência. Quem ama
o próximo tem cumprido a lei. O amor não é o fim da lei, e sim o seu
cumprimento. Ao afirmar que quem ama o próximo tem cumprido a lei, Paulo cita
os mandamentos da segunda tábua da lei, ou seja, nossa relação horizontal ou
nosso dever para com as outras pessoas. Quem ama não mata, não adultera, não
furta nem cobiça o que é do próximo.
E conhecida a
expressão usada por Agostinho de Hipona: “Ama a Deus e faze o que quiseres”.
Quando amamos a Deus e ao próximo, cumprimos a lei. Concordo com John Stott quando
ele diz que o amor e a lei necessitam um do outro.
O amor necessita da
lei para orientá-lo, e a lei necessita do amor para inspirá-la. Geoffrey Wilson
completa: “A lei dá conteúdo ao amor; o amor dá cumprimento à lei. A lei prescreve
a ação, mas é o amor que constrange ou motiva a realização da ação envolvida”.
Em terceiro lugar, o
amor não pratica o mal contra o próximo. “O amor não pratica o mal contra o
próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor” (13.10). O amor é benigno,
e não maligno. O amor é altruísta, e não egoísta. O amor coloca sempre o outro
na frente do eu. O amor respeita a vida do outro, por isso quem ama não mata. O
amor respeita a honra e a família do outro, por isso quem ama não adultera. O
amor respeita os bens e a propriedade do outro, por isso quem ama não furta. O amor
respeita o bom nome do outro, por isso quem ama não se presta ao falso
testemunho. O amor não deseja o que é do outro; antes, está contente com o que
Deus lhe deu, por isso quem ama não cobiça. William Hendriksen diz que cada
mandamento negativo (“Não”) está na base de um mandamento positivo. Portanto, eis
o significado:
Você amará, e por
isso não cometerá adultério, mas preservará a sacralidade dos laços conjugais.
Você amará, e por isso não matará, mas ajudará seu próximo a conservar-se vivo
e bem. Você amará, e por isso nada furtará que pertença a seu próximo, mas,
antes, protegerá suas possessões. Você amará, e como resultado não cobiçará o
que pertença a seu próximo, mas se alegrará no fato de que ele possui algo.
LOPES. Hernandes Dias. ROMANOS O
Evangelho segundo Paulo. Editora Hagnos. pag. 433-436.
Rm 13.8 Paulo faz conexão
com a exortação de, no contexto da vida civil, pagar a cada um os débitos que
houver: A ninguém fiqueis devendo coisa alguma. Há, porém, outro compromisso
que continua existindo, que é incomparável, e que já foi abordado em Rm
12.9-21: exceto o amor com que vos ameis uns aos outros. O amor se diferencia
decisivamente de uma cidadania auto-suficiente. Viver como cristão não
significa apenas prontamente quitar compromissos financeiros, legais e morais,
para depois reclinar-se, desligando-se do gigantesco volume restante de tarefas
ao redor. Um cristão permanece no serviço. Jamais dirá ao próximo: cumpri minha
obrigação, nós estamos quites! Jamais tentará evadir-se com ajudas que já
prestou: desse e daquele me livrei!, pois com essa atitude já estaria fora do
amor.
O NT não demanda o
amor “numa alegre falta de motivos” (Karl Barth), mas com ampla fundamentação.
É nossa “dívida” amar (1Jo 4.11), porque recebemos amor por meio de Deus, o Pai
(Mt 5.44,45), o Filho (1Jo 4.1) e o Espírito Santo (Gl 5.22). Mas amor também é
simplesmente obediência. Especialmente em situações impossíveis de compreender
– que são os casos mais frequentes – ou em que a psique (ainda) não está
disposta, o amor cumpre o que foi mandado. É nessa direção que aponta o
presente versículo. Pois quem ama o próximo, cumpriu a lei. Por meio dessas
palavras Paulo leva de volta ao ponto de partida de toda a paráclese de Rm
12,13, formulado em Rm 12.2b: pratica incondicionalmente a vontade de Deus!
Quem cumpre a vontade de Deus, durará perpetuamente. Se quiseres entrar na
vida, cumpre os mandamentos, precisamente os mandamentos da lei! Em Paulo,
assim como em Jesus, não há nenhuma passagem que abra uma brecha para que se
imagine que a vontade de Deus teria de ser achada em outro lugar que não a lei
e os profetas do AT. O “novo mandamento” do amor não torna supérfluo o “antigo
mandamento”. Amor não é o fim da lei, e sim seu cumprimento.
Rm 13.11 Embora a
igreja de Roma não tivesse sido fundada por Paulo, ele pode pressupor um certo
conhecimento entre os leitores de lá. Cada comunidade cristã situava-se,
naquele tempo, no contexto de um reconhecimento histórico-salvífico, de modo
que a afirmação seguinte não constituía novidade para nenhuma comunidade.
Porém, como em Rm 6.3, esse conhecimento poderia ter sido deixado de lado. Ele
precisa ser reavivado, para que as exortações apostólicas não caiam no vazio. E
digo isto a vós outros que conheceis o tempo. Sucintamente Paulo delineia a
compreensão cristã dos primórdios sobre a situação entre a primeira e segunda
vinda do Senhor, o “dia do Senhor”. Esse dia ainda não chegou (2Ts 2.2),
contudo vem chegando (Rm 13.12). Esse “vem chegando” não significa: ele chega
amanhã ou depois de amanhã! Ao contrário, Paulo está tendo a visão do romper do
dia que já começou. Já é hora de vos despertardes do sono. Involuntariamente, a
formulação chama o Getsêmani à nossa memória. Também lá a exortação de não
dormir mais se refere a um dado cronológico marcante. É a hora mundial, hora do
perigo mundial, mas também da chance universal. Por isso ela é por um lado
denominada de “hora do poder das trevas”, por outro lado de “hora do Filho do
Homem”, “a sua hora”. Seu conteúdo é a ação redentora de Deus no sofrimento de
Jesus. Ela desembocou na exclamação de triunfo: “Está consumado!” É nesse fato
que está enraizada a percepção de tempo da igreja cristã. No ponto baixo da
Sexta-Feira da Paixão ela visualiza o ponto alto da gloriosa revelação de Deus,
de maneira que agora tudo se transforma. Aconteceu a virada dos tempos, ainda
que o mundo continue girando como se nada tivesse acontecido. Como ilustração
serve o lusco-fusco da primeira hora, quando o novo dia se anuncia. A partir de
agora luz e trevas lutam entre si. Porém isso não acontece como uma tragédia
eterna, conforme ensinam algumas religiões, mas a noite já foi derrotada e está
em retirada. É por isso que as sombras que ainda pesam sobre a existência não
conseguem mais impressionar os que creem, não podem levá-los a dormir “como os
demais” (1Ts 5.6). Para eles dissipou-se o entorpecimento do sono, citado em Rm
11.8. Nada mais ao redor encontra-se em estado plúmbeo, mas agora tudo está num
movimento de pressão irresistível para frente. Porque a nossa salvação está,
agora, mais perto do que quando no princípio cremos. O “perto” tornou-se “mais
perto” e “cada vez mais perto”. Nenhum instante permanece parado no tempo. O
cristão não se vê parado num pátio de estacionamento, mas experimenta um avanço
de fé em fé, de graça em graça, e de glória em glória.
Adolf
Pohl. Comentário Esperança Romanos. Editora
Evangélica Esperança.
2. A Lei Mosaica.
Tg 2.10-11 Essa lei
geral deve ser considerada junto com uma lei particular: “Mas, se fazeis
acepção de pessoas, cometeis pecado e sois redarguidos pela lei como
transgressores (v. 9). Não obstante a lei das leis: Amarás a teu próximo como a
ti mesmo, e para mostrar aquele respeito por eles que gostaríeis de ver
demonstrado por vós se estivésseis nas circunstâncias deles, contudo isso não
vai desculpar o fato de distribuirdes, sejam os favores, sejam as repreensões
da igreja de acordo com as condições exteriores dos homens; mas aqui deveis
olhar para uma lei particular, que Deus deu a vós junto com aquela, e por esta
sereis totalmente condenados pelo pecado de que vos acusei”. Essa lei está em Levítico
19.15: “Não fareis injustiça no juízo; não aceitarás o pobre, nem respeitarás o
grande; com justiça julgarás o teu próximo”. Aliás, a própria lei real,
corretamente exposta, serviria para condená-los, porque ela ensina que devem se
colocar tanto no lugar dos pobres quanto dos ricos, e assim agirem de forma
justa para com um e para com o outro. Então ele prossegue:
Para mostrar a
abrangência da lei, e quanta obediência deve ser prestada a ela. Eles devem obedecer
à lei real, cumprir tanto uma parte quanto a outra, ou então ela não os
defenderá quando quiserem usá-la como razão para justificar alguma ação
particular:
“Porque qualquer que
guardar toda a lei e tropeçar em um só ponto tornou-se culpado de todos” (v.
10). Isto pode ser entendido: 1. Com referência ao caso que Tiago tem tratado:
Vocês defendem o seu respeito pelos ricos porque devem amar o seu próximo como
a si mesmos?
Então por que não
mostrar uma consideração igual e devida pelos pobres, pois vocês devem amar o
seu próximo como a si mesmos? Senão a ofensa de vocês em um ponto vai arruinar
sua pretensão de observar toda a lei. Porque qualquer que guardar toda a lei e
tropeçar em um só ponto, propositadamente, reconhecidamente e com continuidade,
e que pensa que deve ser desculpado em algumas questões por causa da sua
obediência em outras, tornou-se culpado de toda a lei. Isto é, ele incorre no
mesmo castigo e está sujeito à mesma pena, pela sentença da lei, como se a
tivesse violado em outros pontos também além daquele em que é culpável. Não que
todos os pecados sejam iguais, mas que todos carregam o mesmo desprezo pela
autoridade do Legislador, e assim obrigam a sofrer o castigo que é estipulado
pela violação daquela lei. Tudo isso nos mostra como é inútil pensarmos que as
nossas boas obras vão compensar nossas más obras, e francamente nos põe a
buscar uma outra forma de expiação. 2. Isso é ilustrado ainda ao se colocar a
questão de forma diferente da que foi mencionada antes (v. 11): “Porque aquele
que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás. Se tu, pois, não
cometeres adultério, mas matares estás feito transgressor da lei”. Uma pessoa
talvez seja muito severa em caso de adultério, ou das coisas que tendem à
perversão da carne, mas esteja menos disposta a condenar o homicídio, ou o que
tende a arruinar a saúde, quebrantar o coração e destruir a vida dos outros.
Outra tem um pavor extraordinário do homicídio, mas tem ideias menos severas
acerca do adultério; enquanto alguém que olha para a autoridade do Legislador
mais do que para a questão do mandamento vai ter a mesma razão para condenar um
e outro. A obediência é então aceitável quando se tem um olho para a vontade de
Deus; e a desobediência deve ser condenada, em qualquer instância, visto que é
uma afronta à autoridade de Deus. E, por essa razão, se transgredimos em um
ponto, desdenhamos a autoridade daquele que deu toda a lei, e assim somos culpados
de toda ela. Assim, se você olha para a lei dos antigos, você está condenado;
pois “...maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas
no livro da lei para fazê-las” (G13.10).
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 834.
Tg 2.9-11 Parcialidade
é Pecado
O autor está se
aproximando da conclusão do seu argumento: se os cristãos observarem a lei do
amor estarão agradando a Deus, mas quando mostrarem parcialidade estarão
cometendo pecado. Nos versículos 9-11, ele antecipa uma objeção possível. “Por
que fazer um alarde tão grande quanto ao respeito às pessoas? E apenas uma
ofensa isolada e certamente não deve ser levada tão a sério”.6 Tiago refuta
essa objeção ao ressaltar que a quebra de qualquer parte da lei é quebrar toda
a lei.
a) Qualquer pecado
quebra a lei de Deus (2.10). O que Tiago quer dizer quando afirma que se o
homem tropeçar em um só ponto tornou-se culpado de todos (v.10)? Ele certamente
não quer dizer que quebrar um mandamento é tão ruim em suas consequências
quanto quebrar todos os dez. Ele também não quer dizer que as consequências de
uma falha pequena são tão sérias quanto os resultados de um pecado flagrante.
Alguns dos estoicos mais extremos declaravam que o roubo de um centavo era tão
sério quanto matar os pais. Mas Tiago era um cristão e não um estoico. Jesus
ensinou que um homem deve amar a Deus de todo o coração. Qualquer pecado é uma
evidência de que o meu amor por Deus é algo menos do que completo. Um pecado é,
portanto, tão mal quanto outro no sentido de quebrar minha comunhão com Deus.
Se este pecado não é perdoado e a comunhão não é restaurada, a pessoa acaba
rompendo sua união vital com Deus. Nesse sentido, um homem é culpado de todos:
guardar todos os outros mandamentos não tem valor alguma em satisfazer a Deus,
se rejeito a sua vontade para a minha vida em algum ponto. Nesse sentido um
homem é “culpado de todos ao violar toda a lei, embora não viole a lei no seu
todo, porque [ele] transgride o amor, que é o cumprimento da lei”.6 Uma pessoa
não pode cometer o pecado de voluntariamente desprezar a personalidade humana e
ser agradável a Deus, da mesma forma que não pode violar um outro mandamento e
continuar mantendo o favor de Deus.
b) A parcialidade é
uma questão séria (2.11). No versículo 9, Tiago disse que se mostrarmos
parcialidade somos redarguidos (condenados) pela lei como transgressores. Ele
agora procura mostrar a seriedade dessa transgressão. O mesmo Deus que disse:
“Não adulterarás”, ordenou “Não matarás” — e esse tipo de destruição da
individualidade é assassinato (cf. Mt 5.21-22). Ficar irado contra um homem é
algo devastador; quem despreza uma pessoa, aos olhos de Deus, está cometendo
assassinato. Uma pessoa pode ser destruída por uma atitude errada tanto quanto
por um golpe físico.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago.
Editora CPAD. Vol. 10. pag. 167-168.
Tg 2.9 “Se, porém,
fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado”: em que sentido essa distinção de
pessoas viola o amor (e consequentemente descumpre o mandamento de Deus,
tornando-se pecado)?
a) No que se refere
ao pobre, humilde e insignificante: esta atitude o rebaixa e desonra. Impede-o
de crer que Deus tem projetos grandiosos e abençoados para ele, e reforça nele
a tendência para a incredulidade e o desânimo.
b) No que diz
respeito ao rico e distinto: por um lado ele é seduzido e encorajado a
transformar seu dinheiro e sua importância em deus. Por outro, as pessoas se
curvam apenas diante das suas posses, de sua influência e dos bons “contatos”
que a amizade com ele representam. Pode imaginar: “Todos me cortejam, mas na
realidade não se interessam por mim, mas pela vantagem que lhes devo
proporcionar.” Jesus não fazia diferenças. Tinha tempo igual para o influente
Nicodemos (Jo 3) e para uma mulher mal-afamada, para uma pessoa paralítica há
décadas e para um mendigo cego (Jo 4; 5; 9).
“Cometeis pecado e
sois arguidos pela lei como transgressores”: aqui se explicita uma importante
faceta daquilo que a Bíblia chama de “pecado”, em grego harmartia (“passo em
falso”): em sua santidade e bondade Deus nos mostrou, mediante seus
mandamentos, o único caminho salutar por essa vida. Jesus andou o caminho à
nossa frente. “Ele nos deixou um exemplo, para que o sigamos em suas pegadas”
(1Pe 2.21). O alpinista que se nega a andar nas pegadas de seu guia pode cair
no precipício. Do mesmo modo cairá quem se nega a seguir nosso Senhor, a também
não fazer acepção de pessoas.
O efeito da violação
de um único mandamento (v. 10s).
Tg 2.10 “Porque quem
cumpre toda a lei, mas tropeça em um único ponto, torna-se culpado em tudo”:
a) Também na
realidade humana do dia-a-dia este pode ser o caso. Se alguém corajosamente
andou durante duas horas nas pegadas do alpinista, mas então, em um único
ponto, se afasta teimosamente do caminho, esse ato pode lhe custar a vida.
Quando alguém anda corretamente durante seis quilômetros por uma estrada na
serra, mas em seguida passa por cima da proteção lateral, isso basta para que
caia na ribanceira. Nada diferente ocorre nas leis penais humanas: se alguém
sonega 50.000 euros, não pode pleitear isenção alegando que, afinal, não matou
ninguém. Quem por negligência causa um acidente fatal de trânsito não pode
requerer inocência por ter antes percorrido 100.000 quilômetros sem causar
acidentes.
b) Quanto mais isso
vale em vista do santo Deus! Nossa comunhão com ele exige também de nós
santidade e perfeição (Lv 19.2; Mt 5.48). Para passar de ano os alunos podem
compensar uma nota ruim em matemática com uma ou duas notas boas em outra
matéria. Aqui não podemos compensar nada. A comunhão com Deus requer de nós
praticamente nota máxima em todas as matérias. Se não chegarmos ao nível
aceitável em um aspecto, toda a justiça julgadora de Deus se volta contra nós.
Nesse momento torna-se compreensível para nós a palavra de Paulo: “Não há
nenhum que faça o bem, nenhum sequer” (Rm 3.12).
c) A transgressão em
um ponto isolado tem importância para toda a nossa vida. O pecado é o “fator de
segregação”. Ele nos conduz para fora da comunhão vital com Deus. É irrelevante
onde se localiza esse ponto, se no quinto, sexto, sétimo ou oitavo mandamento.
Em qualquer um dos casos secam-se as forças de Deus em nossa vida: quando um
galho é quebrado da árvore, ele morre, não importa se foi quebrado mais em cima
ou mais embaixo. É assim que nós também sempre perdemos nosso aconchego em Deus
diante do poder destrutivo do inimigo: em épocas passadas, quando alguém
abandonava a cidade murada enquanto as hostes da guerra roubavam e saqueavam do
lado de fora, corria perigo de ser morto, independentemente do portão pelo qual
saísse da cidade.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Mt 5.17 Jesus não
veio como um rabino trazendo um ensino recém elaborado, Ele veio como o prometido
Messias com uma mensagem que fora transmitida desde o início dos séculos. “Não
cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir”. Jesus
completa e transcende a lei. A lei do Antigo Testamento não foi rescindida e
deve ser agora interpretada e reaplicada à luz de Jesus. Deus não mudou de
idéia e a vinda de Jesus fazia parte do plano de Deus para a Criação (veja
Gênesis 3.15).
Mt 5.18 Jesus usou
muitas vezes a expressão “Em verdade vos digo” em seu discurso, indicando que
as palavras seguintes serão de vital importância. Nessas palavras Jesus atribuiu
a maior autoridade à lei de Deus. Jesus não só cumpriu a lei, mas até que o céu
e a terra passem (significando até o fim do mundo) a lei não será modificada.
Nem um jota ou um til se omitirá da lei, nem o menor traço de uma pena será
colocado ao lado da lei de Deus. A afirmação de Jesus certifica a absoluta
autoridade de cada palavra e letra da Escritura. Tudo o que foi profetizado na
lei de Deus será cumprido, e os seus propósitos serão alcançados. Tudo se
cumprirá.
Mt 5.19 Jesus iria
cumprir toda a Lei, e realizar tudo que foi predito pelos Profetas (5.17,18). Portanto,
os seus seguidores também devem observar até os menores mandamentos que estão
incluídos na Lei e nos Profetas. Além disso, se algum mestre influenciar os
outros para infringir até o menor dos mandamentos da lei, ele será chamado o
menor no Reino dos céus. Como a Lei e os Profetas apontam na direção de Jesus e
dos seus ensinos, aquele que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino
dos céus. Aqueles que tratarem qualquer parte da Lei como “pequena” e,
portanto, passível de ser infringida, serão chamados de “menores” e, provavelmente
excluídos. Jesus explicou aos seus discípulos que os homens responsáveis pela
transmissão da mensagem deveriam viver e ensinar cuidadosamente, levando em consideração
a importância da Palavra de Deus. Os seguidores de Jesus devem respeitar e
obedecer a Palavra de Deus, se quiserem realizar grandes conquistas para Ele.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 39.
Mt 5 17-20 A lei que
Cristo veio estabelecer concordava com exatidão com as Escrituras do Antigo
Testamento, aqui chamada de a lei e os profetas. Os profetas eram os comentaristas
da lei, e, juntos, os profetas e a lei, criaram aquela lei de fé e prática que
Cristo encontrou no trono da sinagoga judaica; e aqui Ele a mantém no trono.
1. Jesus protesta
contra a ideia de anular e enfraquecer o Antigo Testamento: “Não cuideis que
vim destruir a lei ou os profetas” . (1) Em outras palavras “Não deixemos que
os judeus religiosos, que têm grande apreço pela lei e pelos profetas, temam
que Eu tenha vindo para destrui-los”. Não deixemos que eles tenham preconceito
contra Cristo e a sua doutrina, devido a uma inveja deste reino que Ele veio
estabelecer, o que pode soar como um menosprezo da honra das Escrituras que eles
aceitavam como vindas de Deus e das quais eles sentiam o poder e a pureza, Não.
Deixemos que eles fiquem satisfeitos por verem que Cristo não tem nenhum mau
desígnio em relação à lei ou aos profetas. Em outras palavras: (2) “Não
permitamos que os judeus profanos, que não consideram a lei ou os profetas, e
que estão cansados daquele jugo, achem que Eu vim para destruir a lei ou os
profetas”. Não permitamos que os libertinos carnais imaginem que o Messias veio
para libertá-los da obrigação dos preceitos divinos, e ainda assim
assegurar-lhes as promessas divinas, para fazê-los felizes e dar-lhes permissão
para viver como desejarem. Cristo não ordena nada agora que fosse proibido,
fosse pela lei da natureza ou pela lei moral, nem proíbe qualquer coisa que
aquelas leis obrigassem. E um grande engano pensar que Ele faz isto, e aqui Ele
toma cuidado para corrigir este engano. “ Não cuideis que vim destruir” . O
Salvador das almas não destrói nada, a não ser as obras do diabo; Ele não
destrói nada que venha de Deus Pai, muito menos aqueles excelentes preceitos
que temos de Moisés e dos profetas. Não. Ele veio para cumpri-los, Isto é: [1]
Ele veio para obedecer aos mandamentos da lei, pois Ele nasceu sob a lei
(G14.4). Em todos os aspectos, Ele mostrava obediência à lei, honrava os seus
pais, observava o sábado judeu, orava, dava esmolas e fazia o que ninguém mais fazia-obedecendo
perfeitamente-, e jamais infringiu qualquer ponto da lei. [2] Para cumprir as
promessas da lei e as predições dos profetas, de que todos deram testemunho
dele. O concerto da graça é, basicamente, o mesmo agora que era naquela época,
e Cristo é o seu Mediador. [3] Para responder aos símbolos da lei; assim (como
expressa o bispo Tillotson), Ele não esvaziou, mas cumpriu a lei cerimonial, e
se manifestou como sendo a Essência de todas aquelas sombras. [4]. Para reparar
as suas imperfeições, e assim completá-la e aperfeiçoá-la. Dessa forma, a
palavra plerosai tem um significado adequado. Se considerarmos a lei como um
recipiente que anteriormente continha alguma água, podemos entender que Ele não
veio para jogar a água fora, mas para encher o recipiente até o topo. Ou ainda,
podemos considerar a lei como uma imagem que é um primeiro esboço, e que exibe
alguns traços somente para delinear a peça que se pretende confeccionar;
posteriormente, estes traços são completados. Assim, Cristo aprimorou a lei e
os profetas, através das suas adições e explicações. [5J. Para prosseguir com o
mesmo desígnio. As instituições cristãs estão tão longe de distorcer e contradizer
aquilo que era o principal desígnio da religião judaica, que o promovem ao
máximo. O Evangelho é o tempo da correção (Hb 9.10), não para rejeitar a lei, mas
para corrigi-la e, consequentemente, estabelecê-la.
2. Ele declara a
perpetuidade da lei; não apenas que Ele não desejava ab-rogá-la, mas que ela
nunca deveria ser ab-rogada (v. 18). “Era verdade, vos digo” que Eu, o Amém, a
Testemunha fiel, solenemente declaro que “ até que o céu e a terra passem” ,
quando não existir mais tempo e o estado imutável das recompensas substituir todas
as leis, “nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido” .
Pois o que é que Deus está fazendo em todas as operações, tanto de providência
como de graça, a não ser cumprir as Escrituras? O céu e a ter ra se unirão, e
serão completamente envolvidos em ruína e confusão, antes que qualquer palavra
de Deus caia ao chão ou seja em vão. A palavra cio Senhor permanece para
sempre, tanto a da lei como a do Evangelho. Observe que o cuidado de Deus, a
respeito da sua lei, se estende até mesmo àquelas coisas que parecem ser menos
importantes nela, o jota e o til; pois o que quer que pertença a Deus, e leve a
sua marca, por menor que seja, será preservado. As leis dos homens são tão
patentemente imperfeitas (e todos temos consciência dessa imperfeição), que
permitem uma máxima: Apicesjuris non sunt jura - Os pontos extremos da lei não
correspondem à lei; porém Deus estará a postos e manterá cada jota e cada til da
sua lei.
3. Ele dá aos seus
discípulos a missão de preservar cuidadosamente a lei, e lhes mostra o perigo
de negligenciá-la e menosprezá-la (v. 19). “Qualquer, pois, que violar um
destes menores mandamentos”, da lei de Moisés (quanto mais um dos maiores, como
faziam os fariseus, que negligenciavam os aspectos mais importantes da lei), “e
assim ensinai' aos homens” (como eles faziam, anulando os mandamentos de Deus
com suas tradições, cap. 15.3), “será chamado o menor no Reino dos céus”.
Embora os fariseus
pudessem se denominai- os melhores professores possíveis, eles não seriam
usados como professores no reino de Cristo. ‘Aquele, porém, que os cumprir e
ensinar” (como fariam os discípulos de Cristo, portanto provando ser melhores
amigos do Antigo Testamento do que os
fariseus eram, embora desprezados pelos homens), “será chamado grande no Reino
dos céus".
Observe: (1) Entre os
mandamentos de Deus há alguns menores que outros; nenhum deles é pequeno de
maneira absoluta., mas de. forma comparativa. Os judeus reconhecem o menor dos
mandamentos da lei como sendo aquele que fala do ninho de ave (Dt 22,6,7);
mesmo ele, no entanto, tem um significado e unia intenção bastante
considerável. (2) É uma coisa perigosa, na doutrina ou na prática, revogar o
menor dos mandamentos de Deus; infringi-lo, isto é, agir de modo a diminuir a
sua abrangência ou enfraquecer a sua obrigatoriedade; quem fizer isto estará correndo
riscos. Assim, invalidar qualquer um dos dez mandamentos é um golpe ousado
demais para que o Deus zeloso possa condescender. É algo além de transgredir a lei,
é quebrantai- a lei (SI 119,126). (3) Quanto mais corrupção eles espalham,
piores eles são. Infringir o mandamento já é atrevimento suficiente, mas é
muito pior ensinar os homens a fazê-lo, Claramente, isto se refere àqueles que,
nesta época, se assentavam na cadeira de Moisés e pelos seus comentários
corrompiam e desvirtuavam o texto. Opiniões que tendem à destruição da
religiosidade séria e dos fundamentos da religião cristã, por meio de observações
corruptas às Escrituras, são suficientemente ruins quando defendidas, mas
piores quando propagadas e ensinadas como se fossem a Palavra de Deus. Aquele que
faz isto será chamado o menor no Reino dos céus, o reino da glória; ele nunca
irá para lá, mas será eternamente excluído. Ele não fará parte do reino da
igreja do Evangelho. Ele estará tão longe de merecer a dignidade de um
professor no reino, que nem chegará a ser considerado um membro dele. O profeta
que ensina estas falsidades é a cauda naquele reino (Is 9.15); quando a verdade
aparecer em sua própria evidência, estes professores corruptos, embora
valorizados como os fariseus, não serão considerados juntamente com os sábios e
os bons.
Nada torna os
ministros mais desprezíveis e indignos do que corromper a lei (Ml 2.8,11).
Aqueles que atenuam e incentivam o pecado, discordando e desprezando a
severidade na religião, assim como a seriedade na devoção, são uma contaminação
na igreja. Mas, por outro lado, são verdadeiramente honrados e de grande responsabilidade
na igreja de Cristo aqueles que dedicam a sua vida e doutrina a promover a
pureza e a severidade da religião prática, que tanto fazem como ensinam o que é
bom, pois os que não fazem o que ensinam derrubam com uma mão o que edificam
com a outra, Estes se entregam à mentira, e tentam os homens a pensar que a religião
como um todo é um engano. Mas aqueles que falam com experiência, que vivem o
que pregam, são verdadeiramente grandes; eles honram a Deus, e Deus os honrará
(1 Sm 2.30), e no futuro irão brilhar como astros no reino do nosso Pai.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 50-51.
Sua Natureza
(5.17-20)
Sem dúvida, alguns
dos ouvintes de Jesus sentiram que Ele era revolucionário em seu ensino. Eles
podem ter pensado que Ele pretendia destruir a lei ou os profetas (17). Isto
Ele negou enfaticamente - não vim ab-rogar, mas cumprir. Nesta declaração muito
significativa Ele indicou o seu relacionamento com o Antigo Testamento. Ele iria
cumprir seus mandamentos e promessas, seus preceitos e profecias, seus símbolos
e tipos. Isto Ele fez em sua vida e ministério, em sua morte e ressurreição.
Jesus cumpriu totalmente os aspectos do Antigo Testamento. Quando lido à luz de
sua pessoa e obra, ele brilha com um novo significado. Cristo é a Chave, a
única Chave que abre as Escrituras.
O que acontecerá à
Lei? O Mestre declarou solenemente: Em verdade vos digo que, até que o céu e a
terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja
cumprido (18). O jota representa a menor letra do alfabeto hebraico, o yodh,
que se parece muito com o apóstrofo. Ele também corresponderia à menor letra
grega, iota. O til era o “chifre” (ou “acento”) sobre algumas letras hebraicas que
as distinguiam de outras. Estas distinções são frequentemente tão pequenas, que
é necessário olhar bem de perto para se ter certeza de qual letra se trata. A
contraparte moderna é muito bem expressa na tradução de Goodspeed: “Nem um
pingo no i ou a linha que corta o t serão removidos da Lei até que tudo seja
observado”.
De forma coerente com
esta visão, Jesus advertiu que qualquer que violar (19; “remover, separar”) um
dos menores mandamentos e assim ensinar aos outros será chamado o menor no
Reino dos céus. Aparentemente, a última parte desta afirmação parece
surpreendente. Como alguém que violou a Lei poderia estar no Reino? A solução
reside em traduzir a frase assim: “em relação ao reino do céus”; isto é, em
relação ao Reino ele seria o menor, deixado de fora. Grande é aquele que
cumprir e ensinar os mandamentos. A ação deve preceder o ensino. O versículo 20
é geralmente considerado o versículo-chave do Sermão do Monte. A justiça dos
discípulos de Cristo deve exceder a dos escribas e fariseus. Jesus estava se
referindo a uma justiça interior, moral e espiritual, em vez da justiça
exterior, cerimonial e legalista dos fariseus. “O problema com os fariseus”,
diz Martin Lloyd-Jones, “era que eles estavam interessados nos detalhes em vez
de nos princípios, que eles estavam interessados nas ações em vez de nos
motivos, e que eles estavam interessados em fazer em vez de ser”.
É correto para o
cristão agradecer a Deus por não estar debaixo da Lei, mas debaixo da graça.
Mas se ele pensa que as exigências sobre ele são menores por causa disso, não
leu o Sermão do Monte de forma a compreendê-lo. Jesus declarou enfaticamente
que Ele exige uma justiça mais elevada do que a dos escribas e fariseus. No
restante do capítulo, o Senhor fornece seis exemplos concretos daquilo que Ele
quer dizer, exatamente, com isso. Ele basicamente se refere a uma justiça de
atitude interior em vez de meramente uma ação exterior. Mas isto levanta a
exigência. Deve-se não só guardar as suas ações, mas também as suas atitudes;
não só as suas palavras, mas também os seus pensamentos. A lei de Cristo traz,
para aqueles que a guardam, mais exigências do que a lei de Moisés.
Ralph
Earle. Comentário Bíblico Beacon.
Mateus. Editora CPAD. Vol. 6. pag. 57-58.
3. A Lei da
Liberdade.
A consistência entre
o falar e o agir
Tiago termina essa
primeira parte do capítulo 2 enfatizando a necessidade de haver consistência
entre o falar e o agir na vida do cristão (Tg 2.9,10,12), lembrando que haverá
juízo divino sobre aqueles que não se arrependem, mas vivem um falso
Cristianismo (Tg 2.11-13), isto é, vivem uma fé cristã de fachada, onde a fé e
as obras estão dissociadas. Aliás, o exemplo que ele cita de religião falsa no
início do capítulo 2 serve de gancho para que, em seguida, ele trate mais
específica e exatamente sobre a relação indissociável entre a fé genuína e as
boas obras (Tg 2.14-26).
O resumo de Tiago
sobre o tema acepção de pessoas é: “Assim falai e assim procedei” (v. 12a).
Isto é: “Cristão, viva o que você prega! Se você é mesmo um cristão verdadeiro,
então você deve amar o teu próximo como Cristo o fez: independente de condição
social, etnia, idade, sexo, condição financeira e status”. Ou seja, tenha um
coração como o de Jesus. Ame as pessoas como Deus as ama.
Finalmente, do belo
texto de Tiago sobre o juízo e a misericórdia no versículo 13, Matthew Henry
ressalta três lições: “(1) A condenação que será pronunciada sobre os pecadores
impenitentes no final vai ser o juízo sem misericórdia; [...] (2) Aqueles que
não mostrarem misericórdia agora não encontrarão misericórdia naquele grande
dia; mas [...] (3) Haverá aqueles que se tornarão exemplos do triunfo da
misericórdia, em quem a misericórdia rejubila contra o juízo”. Amém! Como disse
Jesus, “bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão
misericórdia” (Mt 5.7).
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 78-79.
Tg 2.12 Tiago
direciona os cristãos a se comportarem mais especificamente pela lei de Cristo.
“Assim falai e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei da liberdade”
(v. 12). Isso vai nos ensinar não somente a sermos justos e imparciais, mas
muito mais compassivos e misericordiosos para com os pobres; e isso vai nos
libertar de todas as considerações sórdidas e indevidas para com os ricos.
Observe aqui: 1.0 evangelho é chamado de lei. Ele tem todos os requisitos de
uma lei; preceitos com recompensas e castigos anexos; ele prescreve deveres, e também ministra conforto; e Cristo é o rei
para nos governar como também o profeta para nos ensinar e o sacerdote para
sacrificar e interceder por nós. Estamos sob a lei de Cristo. 2. É uma lei da
liberdade, e da qual não temos razão de nos queixar por ser um fardo ou jugo;
pois o serviço a Deus, de acordo com o evangelho, é liberdade perfeita. Ela nos
liberta de todas as relações escravizantes, seja a pessoas ou a coisas deste
mundo. 3. Todos precisamos ser julgados por esta lei da liberdade. A condição eterna
dos homens será estabelecida de acordo com o evangelho; esse é o livro que será
aberto quando estivermos diante do trono do julgamento. Não haverá alívio para
aqueles que o evangelho condena, nem haverá acusação contra aqueles a quem o
evangelho justifica. 4. É do nosso interesse então falar e agir agora como convém
àqueles que em
breve serão julgados por essa lei da liberdade; isto é, vivamos à altura do
evangelho, nos conscientizemos dos deveres do evangelho, tenhamos a disposição
mental do
evangelho, e que as nossas conversas sejam conversas do evangelho, porque por essa regra
seremos julgados.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 834-835.
Tg 2.12 “A lei da
liberdade”: leis humanas são frequentemente sentidas como certo cerceamento, como
restrição da liberdade. Porém quando compreendemos a sabedoria e o amor de
Deus, o Pai, suas ordens deixam de ser coercivas. Quando estamos sob a
influência do Espírito dele, quando imperam o amor e a gratidão, quando
pensamos como o Pai, então a nossa vontade não atravessa mais o caminho da
misericordiosa vontade de Deus. Então se afirma a nosso respeito o mesmo que é
dito a respeito do Filho que por meio do Espírito habita em nossos corações:
“Agrada-me, Senhor, fazer a tua vontade” (Sl 40.8; Ef 3.17; 2 Co 3.17).
Verdadeira liberdade não é liberdade em si (ela imediatamente se tornaria outra
vez uma amarra degradante), mas liberdade para Deus, dos filhos para com o Pai,
e, consequentemente, liberdade diante dos humanos e em prol dos humanos (cf.
também o comentário a Tg 1.25). Unicamente desse modo somos verdadeiramente
seres humanos.
“Julgados pela lei da
liberdade”: ao se findarem nossos caminhos, serão colocados do lado de nossa
vida o mandamento de Deus e a vida de Jesus, que é a vontade vivida de Deus. A
vida de Jesus será o critério para nós. Paulo escreve: “Viestes a obedecer à
forma de doutrina…” (Rm 6.17 – na tecnologia se entende por “forma de doutrina”
uma espécie de medida ou instrumento de medição). “Falai de tal maneira e
procedei de tal maneira como aqueles que estão prestes a ser julgados pela lei
da liberdade”: “Senhor, constantemente imprimes em minha mente essa revelação,
para que, andando ou ficando parado, cuide unicamente de como sou aos teus
olhos” (P. F. Hiller). Hoje mesmo queremos nos deixar medir e perpassar pela
vida e pelo Espírito de Jesus. “É nesse ponto que desejo ser perpassado,
passando liberto para a vida” (Michael Hahn).
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
A liberdade da fé (Gl
5.1). Há diferença de opinião em relação ao relevante contexto de 5.1. O
versículo resume o que vem antes, quer a alegoria imediata, quer todo o
argumento dos capítulos 3 e 4, ou serve de transição essencial às exortações
finais da epístola? Trataremos como resumo final do argumento que Paulo provou,
ou seja, que a lei traz escravidão e a fé traz liberdade. Não há que duvidar
que seja “um epítome da argumentação de toda a carta”.
Paulo adverte os
gálatas: Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou (1).
Usando o modo imperativo (ver Introdução), o apóstolo ordena: “Permanecei
firmes” (BJ; cf. NVT). Esta ordem podia ser dada como uma continuação natural
do seu argumento. Eles deveriam permanecer firmes na liberdade com que Cristo
os libertou. Não há dúvida de que se refere à liberdade da escravidão da lei
(cf. 4.5,26,31). Esta liberdade era uma liberação do poder e domínio do pecado
que os escravizara pela lei (cf. 3.19—4.11; Rm 7.7-25). A frase seguinte torna
isso inconfundivelmente claro: E não torneis a meter-vos debaixo do jugo da
servidão (1). Se os gálatas voltassem para a lei, como os judaizantes os
exortavam a fazer, eles estariam a meter-se (lit., “carregar-se” ou
“oprimir-se”), de novo,83 debaixo do jugo da servidão. Este jugo da servidão
significaria o fim da liberdade que desfrutavam em Cristo.
A Natureza da
Liberdade Cristã (5.13)
Agora Paulo se dedica
a uma nova tarefa. Ele mostra as implicações morais da fé cristã. Porque vós,
irmãos, fostes chamados à liberdade (13). Este fato diz respeito à liberdade da
lei e à consequente liberdade do pecado. Foi para essa liberdade que eles foram
chamados por Deus. Paulo apresentara com esmero argumentos para mostrar que
esta era parte indispensável da crença que encontraram em Cristo. E mais que
natural que a insistência paulina nesta liberdade tenha levado seus oponentes a
temer que ele destruísse o único bastião contra a maré da imoralidade pagã (cf.
Introdução). Eles temiam que os gentios não tivessem uma restrição essencial,
mas que entendessem erroneamente esta liberdade. O termo “somente” (KJV) não é
usado para limitar o que fora declarado (“somente” não useis, então, da
liberdade para dar ocasião à carne), mas para chamar atenção a algo importante.
Para acalmar os
temores desnecessários de seus inimigos e orientar seus convertidos
adequadamente, Paulo os exorta a não usar da liberdade para dar ocasião à carne
(13). Este comportamento, obviamente, seria um abuso da liberdade que têm na fé
— mas o que significa exatamente? Como comentado acima (ver comentários em
5.1), a liberdade dos crentes resultou na libertação do domínio e poder
compulsivo do pecado. Eles não são mais controlados pela carne pecadora —
forçados a viver por ela! Contudo, o abuso dessa liberdade forneceria ocasião (“oportunidade”,
CH) para o pecado recuperar o controle sobre eles (ver comentários em 5.16-25).
De modo típico, Paulo
via a proteção contra tal abuso da liberdade, não negando a escravidão
compulsiva do legalismo, mas aceitando uma nova escravidão voluntária de amor:
Servi-vos uns aos outros pela caridade (13; “pelo amor”, ACF, AEC, BAB, RA). O
verbo está no modo imperativo (cf. Introdução) e declarado em termos claros e
positivos. Eles foram admoestados a escravizarem-se uns aos outros
voluntariamente. Este é um paradoxo vital e esclarecedor! Eles eram livres,
contudo, para permanecer livres, tinham de se escravizar novamente (cf. Rm
6.15-22; 1 Co 9.19). Esta é a preocupação constante de Paulo. Como você usa sua
liberdade? Como você vive sua nova vida? (ver comentários em 2.20).
Esta nova escravidão
era possível através do5 amor (agape). O contexto revela que a significação de
agape é “claramente benevolência, desejo da felicidade dos outros, levando a
esforços para o bem deles”. O homem •em Cristo é “libertado para o amor”. Este
conceito se harmoniza com o ensinamento consistente de Paulo. Quando acoplado
com o versículo 15, fica claro que o abuso ameaçador da liberdade dos gálatas
estava na área das relações pessoais.
Paulo negou
veementemente que a rejeição das obras eliminasse a dinâmica para a conduta
moral e ética; pelo contrário, promovia tal dinâmica. A verdadeira fé se
expressa em amor. Vemos também esta verdade no fato importante de que agape não
é mero sentimento humano; é o amor de Deus que foi derramado no coração do
crente (cf. Rm 5.5). O agape é o fruto do Espírito. A verdadeira alternativa
para a arregimentação do legalismo é a disciplina do espírito humano pela
submissão à orientação do Espírito Santo.
Esta escravidão de
amor quando relacionada aos seres humanos é o aspecto permanente da nova vida
sob a direção do Espírito, que começou na “capitulação [do crente] a Cristo”.
Em 1 Tessalonicenses 3.12,13, Paulo identifica claramente esse andar de amor
com a santidade. A medida que o Senhor “faz” os crentes aumentar e abundar
neste amor uns pelos outros e para com todas as pessoas, o resultado é o que o
coração dos crentes se estabelece inocente em santidade (hagiosune).
A preocupação de
Paulo pelo uso certo da liberdade reflete uma das necessidades mais críticas da
igreja de hoje. Como é frequente as pessoas terem a nova vida em Cristo e a
liberdade que dá, mas não viverem sob a direção do Espírito (ver comentários em
5.16-26)! Pelo contrário, permanecem na terra de ninguém, vivendo sob a direção
do eu. Elas estão em constante perigo de abusar da liberdade e perder a nova
vida. Como Paulo bem sabia, só há uma solução para este problema do pecado:
Entrar voluntariamente em nova escravidão de amor pela crise da capitulação.
Esta ação é o verdadeiro início da vida sob a direção do Espírito.
R.
E. Howard. Comentário Bíblico Beacon.
Galatas Editora CPAD. Vol. 9. pag. 60; 65-66.
Gl 5.1 Nós temos a
liberdade da escravidão aos nossos desejos pecaminosos e à lei judaica. Mas a
liberdade veio através de um preço elevado. Para que nós pudéssemos aproveitar a
liberdade, alguém teve que nos libertar, e esse alguém foi Cristo Jesus (Jo
8.32,36).
Como Cristo nos
libertou, nós devemos estar firmes na liberdade. Cristo nos libertou das
fórmulas legalistas, do julgamento de Deus sobre o pecado, de todas as regras
feitas pelo homem, e das experiências subjetivas do medo e da culpa. Nós
devemos viver esta liberdade, praticá-la, e nos alegrarmos com ela! Voltar à
lei e tentar obter o que Cristo já nos deu é zombar do seu sacrifício.
5.13 Quando Paulo
ministrou entre os gálatas, ele não deu aos seus convertidos um novo conjunto
de regras que deviam ser obedecidas (como os judaizantes tinham feito), pois
isto os teria feito escravos da lei. Ao contrário, os gálatas foram chamados à
liberdade. Paulo era o mensageiro, mas eles “foram chamados” pelo próprio Deus,
o autor do Evangelho. Alguns dos críticos de Paulo podem ter condenado esta
pregação da liberdade cristã, dizendo que ela levaria as pessoas a uma vida sem
restrições ou diretrizes. Paulo tinha uma resposta imediata e vigorosa, explicando
que a liberdade não deveria ser usada para dar ocasião à carne (veja também
5.16,17,19,24). Satanás e a carne usam a nossa liberdade da lei como uma oportunidade
para inflamar os nossos desejos. Os desejos pecaminosos humanos levam aos problemas
mencionados em 5.26 (cobiçar, provocar uns aos outros, e invejar) e à falta de ajuda
mútua, descrita em 6.1-10. Quando toleramos a natureza pecadora, nós abrimos a porta
a este tipo de comportamento e atitudes (veja 1 Pe2.16; 2 Pe 2.8-10; Jd 4). As
exigências da nossa natureza humana representam uma constante ameaça à nossa
verdadeira liberdade em Cristo. Nós precisamos desta ajuda constante para que
possamos manter a nossa “carne” sob controle.
A liberdade cristã é
a liberdade de servir uns aos outros pela caridade (ou pelo amor). O amor pelos
outros crentes flui do que Deus fez no coração de cada crente. A palavra grega
para amor (agapè) refere-se ao amor sem egoísmo, o amor que se doa. A liberdade
cristã não deixa os crentes vagando pela vida sem leis, regras, restrições, ou
orientações. Na verdade, eles vivem livres de acordo com os padrões de Deus e
glorificam a Deus servindo aos outros pelo amor.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 290-291; 293.
Gl 5.1; 13. Escravidão
- vivendo fora da esfera da liberdade (5.1)
O apóstolo acabara de
argumentar com os crentes da Galácia que eles eram filhos de Abraão, não da
mulher escrava, mas sim da livre. Eram filhos de Sara, e não de Hagar. Eram
filhos da promessa, e não escravos da lei. Destacamos quatro pontos na análise
do versículo 1.
Em primeiro lugar,
éramos escravos antes de Cristo. “Para a liberdade foi que Cristo nos
libertou...” (5.1). Antes de Cristo nos libertar, éramos escravos do diabo, da
carne e do mundo. Vivíamos escravizados na coleira do pecado. Estávamos na
potestade de Satanás, na casa do valente, no reino das trevas, andando segundo
o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora
atua nos filhos da desobediência. Éramos filhos da ira (Ef 2.2,3).
Em segundo lugar,
fomos libertados por Cristo. “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou...”
(5.1). Não alcançamos nossa liberdade por nós mesmos. Não fomos libertados por
causa de nossa obediência à lei. Nossa liberdade foi uma obra de resgate
realizada por Cristo. Foi ele quem nos arrancou do império das trevas. Foi ele
quem Uberdade ameaçada quebrou nossos grilhões e despedaçou nossas cadeias. Foi
ele quem nos libertou do pecado, da morte e do inferno.
Em Cristo somos
livres, verdadeiramente livres; livres não para pecar, mas para cumprir a
vontade de Deus.
Adolf Pohl evoca a
transação de escravos na antiguidade para elucidar esse magno assunto. Um
escravo podia ser comprado no mercado de escravos unicamente para continuar seu
serviço sob o novo proprietário, ou seja, não era resgatado para a verdadeira
liberdade. Assim também pensavam alguns escribas: que Deus havia resgatado os israelitas
do Egito não para serem seus filhos, mas seus escravos. Não era essa a
interpretação do apóstolo Paulo.
Deus nos libertou
para a verdadeira liberdade. De fato somos livres em Cristo Jesus.
John Stott tem razão
quando vê Jesus Cristo como o libertador, a conversão como o ato de emancipação,
e a vida cristã como a vida de liberdade. Essa liberdade cristã é a liberdade
de consciência, liberdade da tirania da lei, da luta terrível para guardar a
lei com a intenção de ganhar o favor de Deus. E a liberdade da aceitação divina
e do acesso a Deus por intermédio de Cristo. Calvino argumenta acertadamente
que somos livres porque “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele
próprio maldição em nosso lugar” (3.13); porque Cristo anulou o poder da lei,
até onde ela nos mantinha sujeitos ao juízo de Deus, sob pena de morte eterna;
e também porque Cristo nos resgatou da tirania do pecado, de Satanás e da
morte.
Em terceiro lugar,
precisamos manter nossa Uberdade em Cristo. “Permanecei, pois, firmes...”
(5.1). Nossa liberdade é sempre espreitada. Muitos inimigos tentam
convencer-nos de que ainda somos escravos. Os crentes da Galácia haviam Gálatas
— A carta da liberdade cristã sido libertados da escravidão do paganismo (4.8)
e dos rudimentos do mundo (4.3), mas agora estavam tornando-se novamente
escravos do legalismo (4.9-11). Precisamos vigiar para que nossa liberdade não
seja arrancada de nós. Não podemos colocar nosso pescoço na coleira do
legalismo religioso como queriam os judaizantes. Não podemos viver como
escravos na casa do pai, como propôs o filho pródigo. Somos livres! Calvino
observa que, se permitirmos que os homens escravizem nossa consciência, seremos
despojados de uma bênção inestimável e, ao mesmo tempo, insultaremos a Cristo,
o autor da liberdade.
Concordo com Adolf
Pohl quando diz que o carvalho não se prende com as raízes ao chão somente para
resistir contra a tempestade, mas também para extrair alimento do solo. Para se
defender contra tentativas de subjugação, é necessária a incessante prática da
liberdade a partir de Deus. William Hendriksen exemplifica que a melhor ideia dessa
ordenança, “permanecei firmes”, é a de um soldado no meio do campo de batalha,
que, em vez de fugir, oferece forte resistência ao inimigo e o vence. E triste
constatar, porém, que alguns cristãos se assustam com a liberdade que possuem
na graça de Deus; por isso, procuram uma comunhão legalista e ditatorial, na
qual deixam outros tomar as decisões por eles. São como adultos voltando ao
berço.
Em quarto lugar, não
podemos sujeitar-nos outra vez à escravidão. “... e não vos submetais, de novo,
a jugo de escravidão” (5.1). Cristo não nos libertou a fim de que no tornássemos
novamente escravos.438 Os crentes da Galácia estavam sendo persuadidos pelos
falsos mestres a voltar da graça para a lei; do evangelho para o legalismo; da
liberdade para a escravidão; da cruz de Cristo para os ritos judaicos.
Uberdade ameaçada Eles,
que já haviam saído da escravidão da idolatria, estavam agora voltando à
escravidão do legalismo. O apóstolo Pedro disse no Concílio de Jerusalém que
esse jugo era insuportável (At 15.10). Donald Guthrie entende que a figura do
jugo é uma metáfora apropriada para a servidão, porque um animal com o jugo não
tem alternativa senão se submeter à vontade de seu dono.
Gl 5.13-14 Paulo transmitiu
a base doutrinária para as igrejas da Galácia; agora, está aplicando a
doutrina. A teologia desemboca na ética; o conhecimento produz vida. A
influência perniciosa dos falsos mestres entre as igrejas gentílicas trouxe
grande confusão acerca dos limites da liberdade cristã. Mais tarde Paulo tratou
desse mesmo tema em sua Primeira Carta aos Coríntios (6.12; 8.9,13; 9.12,19,22;
10.23,24; 11.1). Paulo, no texto em tela, esclarece a igreja sobre esse
momentoso tema. Compreendendo a liberdade cristã (5.13-15)
Há dois extremos
perigosos com Gálatas — A carta da liberdade cristã respeito à liberdade
crista: o legalismo de um lado e a licenciosidade de outro. Há aqueles que
querem regular a liberdade apenas por regras exteriores. Esses caem na armadilha
do legalismo e privam as pessoas da verdadeira liberdade em Cristo. Porém, há
aqueles que, em nome da liberdade, sacodem de si todo o jugo da lei e querem
viver sem nenhum preceito ou limite. Esses confundem liberdade com licenciosidade
e caem na prática de pecados escandalosos.
William Hendriksen
ilustra esse fato dizendo que a vida crista é semelhante a atravessar uma
pinguela que cruza sobre um lugar onde se encontram dois rios contaminados: um
é o legalismo e o outro é a libertinagem. O crente não deve perder o equilíbrio
para não cair dentro das faltas refinadas do judaísmo nem nos grosseiros vícios
do paganismo.469 Concordo com John Stott quando diz que o cristianismo não é
escravidão, mas um chamamento da graça para a liberdade.470 A liberdade cristã,
porém, não é liberdade para pecar, mas liberdade de consciência, liberdade para
obedecer. O cristão salvo pelo sangue de Cristo é livre para viver em
santidade.
Destacamos aqui
quatro verdades importantes.
Em primeiro lugar, a
liberdade cristã não é uma licença para pecar. “Porque vós, irmãos, fostes
chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne...”
(5.13a). No versículo 13 temos um chamado, uma advertência e um mandamento.
Veremos neste ponto o chamado e a advertência e, no próximo ponto, analisaremos
o mandamento. Fomos chamados para a liberdade, e não para a escravidão do
pecado. Calvino destaca que, após exortar os gálatas a não permitirem nenhum
impedimento de sua liberdade (5.1), Paulo agora lhes recomenda que sejam moderados
em usá-la (5.13).
A capacitação do
Espírito para uma vida santa. Fomos chamados para uma vida nova e não para
viver com o pescoço na coleira do pecado. A liberdade cristã não é uma licença
para pecar, mas o poder para viver em novidade de vida. A liberdade cristã não
é licenciosidade, mas deleite na santidade. A liberdade cristã é a liberdade do
pecado, não a liberdade para pecar. E uma liberdade irrestrita para
aproximar-se de Deus como seus filhos, não uma liberdade irrestrita para
chafurdar em nosso egoísmo. A licenciosidade desenfreada não é liberdade
alguma; é outra forma mais terrível de servidão, uma escravidão aos desejos de
nossa natureza caída.
Jesus disse que
aquele que pratica o pecado é escravo do pecado (Jo 8.34). Paulo disse que o
homem antes da sua conversão é escravo de toda a sorte de paixões e prazeres (Tt
3.3). A palavra “liberdade” está profundamente desgastada. Muitos defendem a
liberdade do amor livre, a prática irrestrita do aborto, o uso indiscriminado
das drogas e o homossexualismo. Isso, porém, não é liberdade; é escravidão.
A palavra grega
aphorme, traduzida por “ocasião à carne”, era usada no contexto militar em
referência a um lugar do qual se faz um ataque, se lança uma ofensiva.
Portanto, significa um lugar vantajoso e também uma oportunidade ou pretexto.
Assim, a nossa liberdade em Cristo não deve ser usada como um pretexto para a
autoindulgência.
Nessa mesma linha,
Donald Guthrie explica que a palavra aphorme é um vocábulo militar para “base
de operações”. Dessa forma, a carne é representada como um oportunista, sempre
pronto a aproveitar-se de qualquer oportunidade. Em segundo lugar, a liberdade
cristã não é uma permissão para explorar o próximo. “... sede, antes, servos
uns dos outros, pelo amor” (5.13b). Calvino declara que o método para impedir a
liberdade de irromper em abuso imoderado e licencioso é regulá-la pelo amor.
Quem ama não explora, mas serve o próximo. Somos livres para amar e servir, e
não para explorar nosso próximo. O amor não pratica o mal contra o próximo.
Como na parábola do bom samaritano, o cristão não agride o próximo nem passa de
largo para não se envolver com os feridos, caídos à margem da estrada; mas vê,
aproxima-se e cuida do próximo, ainda que seja seu inimigo. Concordo com John
Stott quando diz: “Somos livres em nosso relacionamento com Deus, mas escravos em
nosso relacionamento com os outros”.
Não podemos usar o
próximo como se fosse uma coisa para nos servir; temos de respeitá-lo como
pessoa e nos dedicar a servi-lo. Pelo amor temos de nos tornar douleuete, “escravos”
uns dos outros, não um senhor com uma porção de escravos, mas um pobre escravo
com uma porção de senhores, sacrificando o nosso bem pelo bem dos outros, e não
o bem deles pelo nosso. A liberdade cristã é serviço, não egoísmo.
Em terceiro lugar, a
liberdade cristã não é uma autorização para ignorar a lei. “Porque toda a lei
se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (5.14).
Somos libertos da condenação da lei, mas não dos seus preceitos. Não nos aproximamos
mais da lei com o propósito de sermos aceitos por Deus; mas porque já fomos aceitos
em Cristo, aproximamo-nos da lei para obedecer a Deus.
John Stott destaca
com razão que, embora não possamos ser aceitos por Deus por guardarmos a lei,
depois que somos aceitos continuamos guardando a lei por causa do amor que
temos a Deus, que nos aceitou e nos deu o seu Espírito para nos capacitar a
guardá-la. William capacitação do Espírito para uma vida santa Hendriksen
complementa a ideia dizendo que a motivação do crente para obedecer a esse
mandamento é a gratidão pela redenção consumada por Cristo; o poder para
realizá-la é proporcionado pelo Espírito de Cristo (5.1,13,25).
A síntese da lei é o
amor, o amor a Deus e ao próximo.
Aqui Paulo usa uma
figura de linguagem, na qual ele toma uma parte como o todo. E que podemos ver
a face de Deus no próximo e, quando amamos o próximo, estamos amando a Deus
quem o criou. Calvino diz que Deus resolve provar o nosso amor para com ele por
meio do amor ao nosso irmão. E por isso que o amor é chamado de “...o cumprimento
da lei” (Rm 13.8,10). Não porque o amor ao próximo seja superior à adoração a
Deus, mas porque é a prova dessa adoração. Deus é invisível, mas se representa nos
irmãos. O amor para com os homens flui do amor a Deus.
Em quarto lugar, a
liberdade cristã não é uma chancela para destruir o próximo. “Se vós, porém,
vos mordeis e devorais uns aos outros, vede que não sejais mutuamente destruídos”
(5.15). Somos livres para amar e servir uns aos outros, e não para devorar e
destruir uns aos outros. Nas igrejas da Galácia, os dois extremos — os
legalistas e os libertinos - destruíram a comunhão. Os dois verbos gregos
dakno, “morder”, e katesthio, “devorar”, sugerem animais selvagens engajados em
uma luta mortal. Desse modo, a força da alma e a saúde do corpo, o caráter e os
recursos, são consumidos por lutas e intrigas.
Devemos agir como
irmãos, e não como feras ou como cães e gatos sempre envolvidos em conflitos. E
o Espírito da vida que habita em nós, e não o instinto da morte. Morder e devorar
são atos destrutivos, uma conduta mais apropriada a animais selvagens do que a
irmãos em Cristo. Donald Guthrie diz que o apóstolo pensa numa alcateia de
animais selvagens precipitando-se cada um contra a garganta do outro. E uma
representação viva não só da desordem total, como também da mútua destruição.
LOPES, Hernandes Dias. GALATAS
A carta da liberdade cristã. Editora Hagnos. pag. 216-219; 233-238.
ELABORADO:
Pb Alessandro Silva
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