A ATUALIDADE DOS ÚLTIMOS CONSELHOS DE TIAGO
Caro
professor, mais um trimestre se finda. Nesta oportunidade é hora de fazermos um
balanço da nossa atividade de magistério cristão. E necessário que algumas
perguntas sejam feitas, tais como: Tenho alcançado os objetivos propostos em
cada lição? Os meus alunos têm crescido espiritualmente e como pessoas? Estas
são perguntas que só você pode fazê-las e respondê-las.
O
autoexame sincero é fundamental para nortear o nosso árduo trabalho no
magistério cristão.
Antes
de iniciar a última lição faça uma síntese dos temas tratados ao longo de todo
o trimestre. É importante o professor fazer este procedimento para que os
alunos percebam o fio condutor da lição trimestral e saibam que cada lição está
concatenada desde a primeira até a décima terceira. Escolha os temas que, como
professor, você achar mais importante fazendo um sintético comentário sobre
eles. Então poderás anunciar o assunto da última lição que é a conclusão da
carta de Tiago, destacando os últimos conselhos que servem de auxílios atuais
para a vida cristã hoje. E necessário destacar os quatro os conselhos
principais expostos na presente seção da carta de Tiago (5.7-20): o valor da
paciência; a proibição de juramentos; a unção dos enfermos e a disposição de
converter um irmão do erro.
Vale
a pena também recordar que no início da epístola o tema da tentação foi evocado
por Tiago como um evento que gerava Paciência. Agora a paciência é retomada no
capítulo cinco. Aqui, um conselho de Tiago chama atenção: "Sede vós também
pacientes, fortalecei o vosso coração, porque já a vinda do Senhor está
próxima". Num tempo marcado pela dor, em que o povo de Deus vive, este
conselho do meio-irmão do Senhor continua atual e em plena vigência:
"fortalecei o vosso coração". Mas para quê? Para não se enfraquecer
com as ilusões da vida, os escândalos divulgados, sabendo que o tempo que
precede a vinda de Cristo é um tempo marcado pela falta de fé e pela falta de
esperança em Deus. Por isso, o conselho para sermos pacientes!
Com
paciência vamos peregrinando a nossa vida aqui no mundo, amando a Deus e ao
próximo. Buscando viver a autenticidade da fé segundo o Evangelho de Cristo.
Não abrindo mão da nova aliança estabelecida por Deus a todos os quantos creem
no seu Filho.
Revista
Ensinador Cristão CPAD, n° 59, p.42.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Chegamos à parte
final dos conselhos de Tiago. Seu estilo direto e prático nos obriga a meditar
sobre a forma como temos nos conduzido na esfera cristã, tanto dentro da igreja
quanto fora dela. Neste capítulo, Tiago deixa seus últimos conselhos para a
Igreja, encerrando assim um ciclo de pequenos sermões práticos.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 146.
A PACIÊNCIA EM MEIO
AO SOFRIMENTO / 5.7-12
Os crentes, cuja
maioria era pobre, eram frequentemente explorados pelos ricos e perseguidos por
causa da sua fé. Esta pressão externa levava a problemas na igreja à medida que
a sua frustração atingia o ponto de ebulição. Tiago encorajou os crentes para
que tivessem paciência até à volta do Senhor. Mas a paciência que ele descreve não
é passiva. É uma paciência que envolve ação. Nesta seção, Tiago exemplifica alguns
recursos úteis para uma aplicação pessoal. Depois de falar sobre a necessidade da
paciência, ele passa a revelar algumas lições diferentes que reforçam e aplicam
este tema. O princípio da paciência não significa muito, a menos que nós
possamos aplicá-lo à nossa vida. Examinando a vida com os olhos de Tiago,
descobrimos que há muitas maneiras pelas quais Deus nos dá direção e
encorajamento.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 689.
Tiago começa sua carta
com uma chamada à perseverança sob as provações (1.2-4) e termina exortando os
crentes a serem pacientes até à vinda do Senhor (5.7,8). As provas, e não as
experiências místicas, são o caminho da santificação e do aperfeiçoamento
(1.4)." Tiago se volta agora dos ricos para os pobres que estavam sendo
oprimidos e dá-lhes uma palavra de encorajamento. Eles devem ser pacientes,
sabendo que é a Deus que estão servindo e que de Deus é que vem a
recompensa." Os pobres são encorajados a confiar no provedor e não na provisão.
Tiago diz para os
crentes da dispersão que a recompensa é a coroa da vida (1.12); agora, afirma
que a recompensa é a vinda de Cristo (5.7,8). No começo, o caminho da perfeição
é a oração (1.5) e no final da carta, ele volta ao mesmo tópico (5.13-18). No
começo oramos por nós, no fim oramos pelos outros.
Tiago fala da segunda
vinda de Cristo sob dois aspectos: como uma alegre esperança (5.7,8 e 10,11) e
como uma temível expectativa (5.9,12). Para os salvos, o Senhor vem trazendo
compaixão e misericórdia (5.11); para os ímpios o Juiz vem trazendo julgamento
(5.9,12)."^ Tiago diz que a vinda do Senhor está próxima (5.8) e o juiz
está às portas (5.9). Ao mesmo tempo em que a vinda do Senhor será um dia glorioso
para o Seu povo, será também o terrível dia do Senhor para os ímpios.
Certo fazendeiro
zombava dos crentes, trabalhando em frente à igreja no domingo. Colheu mais que
os crentes e mandou uma carta para o jornal explicando sua posição: “Enquanto
os crentes iam para a igreja eu trabalhei. Colhi mais que eles. Deus não me
castigou. O que vocês pensam disso?” O jornalista publicou a carta e colocou
uma nota de rodapé: Deus não ajusta suas contas na colheita."® James Boyce
ainda diz: “Nós podemos passar por perseguições, enfrentar problemas,
atravessar períodos de angústia, ver os maus prosperando, enquanto nós estamos
sofrendo. Mas isso não é tudo. Um dia Deus acertará as contas”.
A vinda do Senhor é
um sinal de alerta sobre o perigo do mau uso da língua. Devemos ter cuidado
para não nos
queixarmos uns dos outros (5.9). Também devemos ter cuidado para não fazermos
juramentos impróprios (5.12). É mais fácil fazer um voto do que cumpri-lo. Mas ao
fazermos um voto, devemos cumpri-lo, porque Deus não gosta de tolos (Ec 5.4). E
mais importante ser real do que dramático. Nosso sim deve significar sim e o
nosso não deve significar não. Devemos ser íntegros em nossa palavra. Não
podemos ser pessoas divididas internamente. Devemos nos livrar da mente dupla.
Devemos ser íntegros com Deus e com os homens e praticar uma devoção à verdade,
se é que ela habita em nós.
A vinda do Senhor
está próxima (5.8), está às portas (5.9). Enquanto Jesus não volta não
esperamos vida fácil neste mundo (Jo 16.33). Paulo nos lembra que é em meio a
muita tribulação (At 14.22).
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 109-111.
I - O
VALOR DA PACIÊNCIA E A PROIBIÇÃO DO JURAMENTO (Tg 5.7-12)
1.
O valor da paciência e da perseverança (vv.7,8).
Tiago começa esta
seção de sua carta recomendando a paciência aos crentes. Ele diz que essa
paciência deve durar até a vinda do Senhor. Exercer essa paciência deveria ser
um grande desafio para aqueles crentes, e não é menos desafiador para nós.
Vinte e um séculos se passaram desde que o Senhor Jesus prometeu retornar para
buscar os seus, e a Igreja do Senhor tem tido de conviver com um mundo que muda
a forma de pensar sempre para pior, e que diariamente descobre novas formas de
transgredir os mandamentos divinos.
Devemos ser pacientes
diante de todos esses fatores? Sim, mas lembre-se de que o foco da recomendação
à paciência é no tocante à vinda do Senhor. Isso implica uma renovação diária
da nossa confiança nas promessas de Jesus. E a orientação de Tiago à paciência
não inclui a conivência com o pecado e com este mundo decaído.
A paciência tem sua
recompensa. O exemplo desta é apresentado na comparação que Tiago faz sobre o
lavrador e o fruto da terra. Da mesma forma que o trabalho do lavrador é árduo,
deve ser árduo também o nosso esforço em nos lembrar de que a Vinda de nosso
Senhor Jesus não tardará.
Tiago destaca ainda
nessa comparação um terceiro elemento: a chuva temporã e a serôdia. E qual
seria a importância desses fenômenos naturais para o agricultor? Elas
representam a ajuda divina para o trabalho humano.
Martin Vincent
comenta que a chuva temporã caía em outubro, novembro e dezembro, e
prolongava-se até janeiro e fevereiro. Estas chuvas não vêm repentinamente, mas
gradualmente, de modo que o agricultor pode semear seu trigo ou sua cevada. As
chuvas vêm principalmente do oeste ou sudoeste (Lc 12.54), duram dois ou três
dias a cada vez, e caem principalmente à noite... A chuva serôdia, que é muito
menos intensa, cai em março e abril. A chuva na ocasião da colheita era considerada
um milagre.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 147-149.
Tg 5.7 Os crentes
devem ser pacientes mesmo em meio às injustiças. Os crentes precisam ter perseverança,
confiar em Deus em meio às suas dificuldades, e se recusarem a procurar a
vingança pelas injustiças que são cometidas contra cada um deles (veja também
1.2,12; Sl 37). Mas a paciência não significa inatividade. Havia trabalho a ser
realizado — servir a Deus, cuidar uns dos outros, e proclamar as Boas Novas.
Existe um ponto final, uma ocasião em que a paciência não será mais necessária
- a vinda do Senhor. Nesta ocasião, tudo será corrigido. A igreja primitiva
vivia em constante expectativa da volta de Cristo, e nós devemos fazer o mesmo.
Como nós não sabemos quando Cristo irá retornar, para trazer a justiça e
remover toda a opressão, devemos esperar com paciência (veja 2 Pe 3.8-10).
Como um exemplo de
paciência, Tiago fala do lavrador, que precisa esperar o precioso fruto da
terra, aguardando-o com paciência. A paciência deve ser exercitada e
desenvolvida no período entre as chuvas. Até mesmo aqueles que não são
lavradores têm muitas oportunidades para desenvolver a paciência. A espera da
chegada de um bebê, o início em um novo emprego, a conclusão dos estudos, a
espera pela visita de alguém querido, a melhora lenta da saúde durante uma
enfermidade prolongada – todas estas situações colocam a nossa paciência à
prova. Nós iremos exercitar a paciência quando nos concentrarmos no resultado
final da nossa espera. O caminho de Deus raramente é o caminho mais rápido, mas
é sempre o caminho completo.
Tg 5.8 Em lugar de
serem como os ricos do versículo 5, que “engordaram” seus corações na riqueza
deste mundo, os crentes devem permitir que a certeza do retorno de Cristo os
ajude a ser pacientes e a fortalecer o seu coração, isto é, ter coragem. Quaisquer
que sejam as circunstâncias, Tiago nos encoraja a sermos firmes na nossa fé e a
termos uma alegria inspirada pela fé que impregne todas as partes da vida (veja
1.2-4). Como o lavrador, nós investimos muito tempo na nossa esperança futura.
O lavrador está à mercê do clima - ele está fora do seu controle. Mas nós
realmente sabemos que a vinda do Senhor está próxima.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 686.
Tg 5.7,8 Cristo Está
Voltando,
Tiago não tenta
provar a doutrina da Segunda Vinda, nem anunciá-la. Para ele, a Segunda Vinda é
uma esperança viva para a Igreja Primitiva. Ele cita a iminência e realidade da
vinda (parousia) do Senhor como um motivo para os cristãos permanecerem firmes:
Sede, pois, irmãos, pacientes até a vinda do Senhor (v. 7).
Dois tipos de
paciência são sugeridos. O primeiro diz: Sede [...] pacientes (v, 7) — não se
apressem em retaliar contra as injustiças cometidas contra vocês por homens
descritos nos versículos 1-6. O segundo diz: Sede [...] pacientes (v. 8) —
aceitando pacientemente a demora de Deus em relação ao retorno do nosso Senhor.
A ilustração da época
de plantio e colheita foi tirada da experiência palestina. O fruto da terra é a
colheita de grãos. Ele era precioso porque a vida do lavrador e sua família
dependiam dele. Na Palestina, o grão é plantado no outono e recebe a chuva
temporã no final de outubro. Ele recebe a chuva [...] serôdia em março e abril,
pouco antes de estar maduro. Durante todo esse tempo, o agricultor espera
pacientemente pela colheita. A razão da sua paciência é sua esperança confiante
na colheita.
Tiago interpreta sua
própria parábola: Sede vós também pacientes, fortalecei o vosso coração, porque
já a vinda do Senhor está próxima (v. 8). A vinda do nosso Senhor era uma
grande fonte de esperança para os primeiros cristãos. Porventura temos essa
mesma expectativa em relação à vinda do Senhor? Tasker escreve:
Se a volta do Senhor
parece muito distante, ou se a relegamos a um futuro tão remoto que não exerce
nenhum efeito sobre a nossa perspectiva ou nossa maneira de viver, fica claro
que deixou de ser para nós uma esperança viva. E possível que tenhamos
permitido que a doutrina da sua volta em glória para julgar os vivos e os
mortos tenha sido abafada pelo ceticismo ou se transformado em algo diferente,
talvez como a transformação gradual da sociedade humana por valores cristãos,
que parou de exercer qualquer tipo de influência em nossas vidas. Na medida em
que permitimos que isso aconteça, cessamos de ser cristãos do Novo Testamento.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 191-192.
– O grande futuro
ajuda a viver corretamente no presente (v. 7s).
Mas como podemos
perseverar na fé, até mesmo quando somos alvo da injustiça descrita no v. 6?
Tg 5.7 “Perseverai,
pois, irmãos, até à chegada do Senhor”:
a) “Irmãos”: Enquanto
os v. 1-6 se referem principalmente a pessoas do mundo ao redor da igreja, aqui
o texto se dirige àqueles que ouviram o chamado de Jesus e se tornaram filhos
de Deus por arrependimento e fé e pelo Espírito Santo (Rm 8.14s).
b) “Chegada”, em
grego parusia, “do Senhor”: a palavra, frequentemente traduzida como “volta”,
significa literalmente “presença”, “chegada” (parusia tem ambos os
significados: estar presente e tornar-se presente). A palavra expressa aqui que
Aquele que no passado veio discretamente como ser humano e que agora está
presente de modo invisível, inclusive por meio sua palavra e Espírito, virá e
se manifestará súbita e dominantemente em divindade explícita (Jo 1.14; Mt
18.20; 28.20; 25.31s; Lc 17.24; 1Co 1.7; Fp 3.20; Tt 2.13).
Essa grande esperança
e certeza constituem por assim dizer o horizonte dominante de nossa vida
cristã. Sabemos, para onde correm a história do mundo e da salvação. Essa
esperança determina nossa atualidade. O brilho da alegria prévia se estende até
o dia mais sombrio. Ao mesmo tempo isso representa um forte compromisso para
nós. “A expectativa esperançosa do futuro torna-se rigorosa disciplina para a
atualidade” (Heinrich Rendtorff). A questão dominante é se estamos prontos para
a chegada dele (Mt 24.44; Lc 12.35). Seja como for, cabe dizer “que somente
poderemos falar de uma vida cristã quando o olhar para o Senhor vindouro
dominar todas as coisas. Vida cristã de forma alguma se esgota em exemplaridade
moral” (Kurt Hennig).
c) “Suportai, pois,
com paciência”: no NT grego consta um verbo formado por makrothymia =
“longanimidade”, “perseverança”. Por sabermos que Deus pronunciou a primeira
palavra sobre este mundo e que também pronunciará a última, podemos ter fôlego
resistente. Por termos conhecimento de como tudo “se apaga” em nossa vida
pessoal e no mundo todo, podemos aguentar firmes.
Nossa paciência vive
da paciência e longanimidade que Deus tem e precisa ter conosco. “Considerai
como vossa beatitude a longanimidade de nosso Senhor” (2Pe 3.15). Deus espera
até que sua casa esteja cheia (Lc 14.22s), até que tenha entrado o “número
pleno dentre as nações” previsto por ele (Rm 11.25). Não é Deus quem nos faz
esperar, mas somos nós que o fazemos esperar. A morosidade não é de Deus, mas
nossa (2Pe 3.9,14s). Necessário é que os chamados também sejam preparados para
que o Filho possa apresentar-nos ao Pai (Ef 5.25-27; Fp 1.6; 2Co 4.14; Cl
1.22,28; 1Ts 5.23). No NT a trajetória da igreja de Jesus pela história
universal é comparada com o caminho de Israel do Egito à terra prometida (1Co
10.1-13; Hb 3.7-19; etc.). Israel poderia ter chegado mais rapidamente ao alvo
se tivesse sido mais fiel. Será que nós também poderemos chegar mais depressa
ao alvo se formos mais fiéis em vista de outros e nós mesmos? “Esperai e
correi” em 2Pe 3.12 igualmente pode ser traduzido como “esperai e acelerai”.
Apesar de todas as exortações à paciência certamente temos também a permissão e
a ordem de suplicar pela vinda próxima de Jesus (Ap 22.17; Rm 8.18-27). Também
Lc 18.7s se refere, conforme o contexto, à intervenção de Deus em seu grande
dia para redimir os seus e eliminar o inimigo (cf. também Rm 16. 20; Ap
20.1-3).
d) De uma forma
geral, as pessoas estão acostumadas a aguardar algo que na verdade não têm em
mãos, mas do que não duvidam, em última análise por confiarem na fidelidade de
Deus: “Eis que o lavrador aguarda.” Espera por duas coisas:
d.1) Pelo resultado
de seus esforços: “o precioso fruto da terra”. Constitui grande milagre que a
terra dê, com antiga fidelidade, a cada ano, o que o ser humano precisa. Quando
falha apenas um ano, isso representa, até mesmo na atual era industrial, a
maior catástrofe. Mas, após um crescimento praticamente imperceptível, a terra
produz fielmente suas dádivas, embora as plantinhas sejam
inicialmente muito
pequenas e ameaçadas. O próprio Deus se mantém fiel a nós nessa questão:
“Enquanto durar a terra não cessarão semeadura nem colheita” (Gn 8.22; cf. Mc
4.26-29).
d.2) Espera que a
planta receba o que precisa para crescer e amadurecer: “as primeiras e as
últimas chuvas”, a chuva no outono para a semeadura e a germinação, a chuva na
primavera para o crescimento e a maturação. O agricultor pratica com denodo e
cuidado o que sabe e pode fazer. Deixa o restante serenamente por conta de
alguém outro.
8 e) “Suportai vós
também com paciência”: também no caso do reino de Deus temos uma colheita (Mt
13.23,30; Ap 14.15s; Sl 126.5s; Gl 6.9). Também nele é preciso semear e
trabalhar a lavoura (Mt 13.3,24; 1Co 3.9; Gl 6.9). Porém o próprio Senhor tem
de conceder o crescimento (1Co 3.6). Por meio da metáfora do lavrador se
expressam duas coisas:
e.1) Não se
preocupem, um dia haverá uma colheita. Os cardos e abrolhos, o inço semeado
pelo inimigo não poderão sufocar tudo (Mt 13.8,23,30).
e.2) A lavoura recebe
de Deus aquilo de que tem necessidade, “as primeiras e últimas chuvas”, sua
palavra e seu Espírito (bem como as pessoas que prestam o serviço, hoje e
amanhã – 1Co 3.6). “Aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao
dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6). Por isso nós também podemos estar tranquilos.
Faremos com esmero e fidelidade aquilo que podemos e devemos. O restante
deixaremos por conta de nosso Senhor. O fato de que a extraordinária semente
tenha caído no solo já não poderá ser revertido pelo inimigo com sua astúcia e
violência, nem com todo o seu exército (Jo 12.24). Pelo fato de nosso Senhor
ter sido morto e ressuscitado, a colheita para Deus pode amadurecer em nossa
vida e também na vida de outros, por meio de nós. Já não será em vão o que
fizermos (1Co 15.58).
f) Como, porém,
sustentaremos essa paciência e serenidade? Tiago convoca: “Fortalecei os
corações.” E Paulo escreve: “Sede fortes no Senhor” (Ef 6.10). A “bateria” de
nossa própria força se esgotaria rapidamente. Somente quando perseveramos na
“fonte energética” da força dele somos capazes de resistir. Cuidar desse
contato significa “fortalecer os corações”. Jesus expressa isso por meio da
ilustração da videira e dos ramos: “Permanecei em mim, e eu em vós, e dareis
muito fruto. Porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 1.3s). – Tiago afirma: toda
a questão pode ser vista em conjunto. Afinal, não é possível continuar
infinitamente assim: “A chegada do Senhor está próxima”.
De acordo com os
presságios da volta de Jesus citados pelas Escrituras temos a impressão de que
poderíamos formular, também segundo a cronologia humana: “A chegada do Senhor
se aproximou”.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
2.
O valor da tolerância de uns para com os outros (v.9).
Ainda dentro de uma
visão muito prática, Tiago recomenda que não nos queixemos uns contra os
outros, para que não sejamos condenados. A expressão queixar-se, citada logo
depois da recomendação à paciência, deve nos levar a crer que o hábito de
queixar-se pode ser uma consequência da impaciência. Pessoas impacientes tendem
a ser queixosas, e esquecem- se com facilidade de que Deus tem seu próprio
tempo para realizar seus feitos.
E possível entender
também que o queixar-se uns contra os outros demonstra o ato de as pessoas
falarem mal uns dos outros. Além da impaciência que induz às queixas, deveria
haver pessoas cristãs que em suas queixas apontavam os pontos negativos de
outras pessoas. Isso por si é um ato digno de condenação da parte de Deus.
Criamos muitas expectativas em relação a outras pessoas, esquecendo-nos de que
todos somos limitados e propensos a falhas. Se como cristão aponto os erros de
outras pessoas de forma intencional ou acidental, certamente serei julgado por
Deus por causa desse ato.
Aqui entra a questão
da tolerância. Não devemos aqui incentivar a tolerância para com o pecado —
isso não está em questão no texto, e sim dos irmãos uns para com os outros.
Lembremo-nos ainda de que esses crentes estavam tendo sua fé provada por meio
de diversas tribulações. Mesmo nesses momentos, não podiam ser descuidados com
suas palavras, nem demonstrar ressentimentos ou frustrações contra seus irmãos.
Ainda sobre o quesito
paciência nos sofrimentos, Tiago apresenta alguns exemplos de aflição e
paciência: os profetas que falaram em nome do Senhor e Jó, o patriarca. Tiago não
cita os nomes dos profetas, mas sabe que seus leitores estão familiarizados de
tal forma com a história de Israel. Esses leitores vão se lembrar dos exemplos
daqueles que foram enviados por Deus para fazer com que o povo de Israel
andasse de acordo com a vontade divina.
Os profetas eram
pessoas que pagaram um alto preço para manifestar a vontade de Deus de forma
inconfundível. Não raro, Deus ordenava a esses homens que fizessem coisas muito
diferentes para dar ênfase à sua mensagem.
E o que dizer de Jó?
Ele era o homem mais rico do Oriente. Tinha 10 filhos, boa saúde, e era temente
a Deus. Quando trata de Jó, Tiago destaca o fim que Deus deu a ele, e como foi
misericordioso e piedoso. Mas ele destaca também a paciência de Jó ante a suas
tribulações. Como sabemos, Jó era um homem rico, e perdeu todos os seus bens.
Tinha uma grande família, e perdeu todos os seus filhos. Tinha uma boa saúde, e
ficou doente de tal forma que sua aparência assustava. Mesmo sendo um homem
íntegro, foi acusado de ter pecado contra Deus. Passou o tempo de sua
tribulação sem respostas sobre o motivo pelo qual passava por aquilo, e teve de
aturar amigos que interpretaram errado os acontecimentos de sua vida. Passar
por tudo isso exige paciência, e muita. Não há registros de que ele tenha
pecado contra Deus em todas essas coisas. Mesmo na pior das situações,
envergonhou Satanás e seus propósitos malignos de demonstrar que o homem só
pode ser fiel quando tem dinheiro ou quando tem boa saúde. Jó venceu, e Deus
também.
Aqui cabe uma
palavra. Deus não retirou o que Jó tinha: família, riquezas e saúde. Mesmo
assim, o Criador retribuiu em dobro o que o patriarca possuía e havia perdido.
Curioso é notar que Jó não pediu nada de volta em dobro. Sua postura foi dizer
“Deus deu, e Deus tirou”. Ele não fez exigências como se Deus tivesse obrigação
de dar de volta o que tinha antes, como algumas músicas em nossos dias ensinam. E não
há respaldo bíblico para tal prática, de pedir em dobro o que perdemos, como se
fosse obrigação divina o reembolso de nossos bens.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 149-151.
Tg 5.9 Estes crentes,
que estavam enfrentando a perseguição de fora e os problemas de dentro da
igreja, naturalmente poderiam se achar resmungando e criticando uns aos outros.
Tiago não quer que eles se encham de ressentimentos e amarguras uns em relação
aos outros — isto somente destruiria a unidade de que eles precisam tão
desesperadamente. Recusar-se a se queixar uns contra os outros faz parte da virtude
de ser paciente (5.7). Queixar-se uns dos outros indica uma atitude descuidada
em relação às palavras. Devido aos perigos criados pelas nossas palavras (veja
Tg 3.I-I2), não podemos ser descuidados na maneira como falamos uns com os
outros e uns dos outros. Tiago já mencionou o grande Juiz (4.12).
Este Juiz não está
longe, mas já está à porta. Tiago está advertindo os crentes a que não estejam
envolvidos em julgamentos, brigas. críticas ou mexericos quando aquele a quem deveriam
servir retornar. O conhecimento da presença de Cristo não é apenas confortante;
ele também pode ser condenador – especialmente quando nós começamos a nos
comportar como se Ele estivesse longe.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 689-690.
A Pressão nos Induz à
Impaciência, 5.9
O foco aqui muda da
paciência com os pecadores fora da igreja para a paciência um com o outro
dentro da Igreja. Alguém escreveu o seguinte: Caminhar em amor com os santos de
cima Será uma maravilhosa glória; Mas, caminhar com os santos aqui em baixo, Bem,
isso já é uma outra história!
Em tempos de
dificuldades, a paciência é provada e somos tentados a nos queixar (v. 9; lit.,
gemer, ou seja, reclamar ou resmungar) uns contra os outros. Tiago adverte os
cristãos a não apontarem para os erros de outra pessoa, para que não sejais
condenados. A proximidade da vinda de Cristo serve como advertência contra o
fracasso do cristão bem como para a consolidação da sua constância. Além do
mais, o juiz está à porta. O retorno de Cristo está próximo; Ele será o Juiz de
todos os homens; portanto, não devemos assumir o papel de julgar os outros, quer
fora quer dentro da Igreja (cf. Mt 7.1-5).
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 192.
Como o grande dia da
salvação ainda poderia se tornar uma desgraça para nós (v. 9).
De que nos valeria a
esperança pelo grande dia se, quando ocorrer, não fôssemos encontrados prontos?
Tg 9 Tiago diz como
isso pode acontecer precisamente na época em que a “injustiça toma conta e o
amor esfria em muitos” (Mt 24.12): “Não vos queixeis uns aos outros, irmãos”: a
queixa pode se dirigir contra o entorno, mas também contra os co-cristãos (“uns
aos outros”). Tempos de perseguição sempre foram também tempos de confusão
interior nas igrejas. Isso duplica o sofrimento. Amigos se afastam e nos atacam
pelas costas. Alguns não querem ceder nem um milímetro. Outros gostariam de
fazer acordos dizendo ser “prudência de serpente” (Mt 10.16), como a definem. O
inimigo sempre manejou de forma excelente a arte de “dividir e dominar”. Alguém
que persistir fielmente em seu lugar certamente ficará amargurado e gemerá por
causa de seus amigos. Desse modo, porém, em pensamento já estará julgando (cf.
acima o comentário a Tg 4.11s). E nosso Senhor declara: “Não julgueis, para que
não sejais julgados” (Mt 7.1). Também Tiago nos diz o que está em jogo nesse
pensamento (como tal muito bem inteligível): “Para que não sejais julgados”
(novamente notamos que Tiago está próximo do Sermão do Monte). Em vista do
grande juízo final temos de escolher se enveredaremos pela “via judicial”
(“exijo o meu direito!” – contudo desse modo não somos capazes de “responder
nem a uma de mil coisas”, Jó 9.3), ou, então, pela “via da graça”. Nosso Senhor
franqueou este caminho com seu sacrifício e nos convida, consequentemente, a
apresentar nosso “pleito por graça”. “Quem invocar o nome do Senhor será salvo”
(Jl 2.32). Quando julgamos ao próximo, “queixando-nos” dele e buscando proceder
contra ele pela “via judicial”, abandonamos também para nós mesmos a “via da
graça”. Jesus, por exemplo, declara: “Com a medida com que tiverdes medido, vos
medirão também” (Mt 7.2; cf. Mt 18.23-35). – “O Juiz está diante da porta”:
nosso Senhor virá em breve. Isso faz com que tudo seja ainda mais atual.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
3.
Aflição, sofrimento e juramento (vv. 10-12).
Quem nunca ouviu a
expressão “juro por Deus”? Geralmente as pessoas costumam usar juramentos para
dar crédito ao que estão falando. É como se um juramento fosse a garantia de
que o discurso tem validade, que é confiável. Na prática, esse hábito não é
bom, pois a Bíblia nos adverte a que tenhamos um discurso mais exato em nossa
vida, e essa exatidão está vinculada à forma como vivemos. Se minha vida exala
exatidão em agir conforme a vontade de Deus, certamente minhas palavras acompanharão
a minha vida.
Não precisamos jurar
por Deus nem por ninguém para que sejamos levados a sério. Jurar por Deus é
considerado uma forma de usar o nome do Senhor em vão, quando isso é usado de
forma leviana. Falar de forma desonesta usando o nome do Senhor não garante a
bênção dEle em nossas vidas.
Havia permissão na
lei de Moisés para se fazer juramentos? Sim. “O Senhor, teu Deus, temerás, e a
ele servirás, e pelo seu nome jurareis.” (Dt 6.13). E Jeremias 12.16 fala: “E
será que, se diligentemente aprenderem os caminhos do meu povo, jurando pelo
meu nome: Vive o Senhor, como ensinaram o meu povo a jurar por Baal, então
edificar-se-ão no meio do meu povo”. Na prática, fazer juramentos em nome dos
deuses era comum para os homens antigos, e mesmo o povo de Israel poderia jurar
em nome do Senhor. Entretanto, essa prática não poderia substituir uma vida de
integridade e a vontade de cumprir os votos prometidos. Um israelita poderia
usar o nome do Senhor em um juramento, mas apenas se temesse a Deus e o servisse,
conforme consta em Deuteronômio. E esse tipo de prática poderia ser estendido a
outros que aprendessem os caminhos do Senhor e o servissem. Portanto, quem
temia ao Senhor e o servia com integridade poderia usar o nome do Senhor para
jurar e cumprir o juramento depois.
A preocupação de
Tiago não passa por essa questão, e sim com a desonestidade de algumas pessoas
na congregação que aproveitavam o nome do Senhor para convencer outras. Por
isso, é bom que em vez de usarmos juramentos, que tenhamos atitudes que
garantam nossas palavras.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 151-152.
Tg 5.10 Os cristãos
de origem judaica conheciam as histórias dos profetas, muitos dos quais sofreram
enormemente ou foram mortos por proclamar a mensagem de Deus (veja, por exemplo,
o caso de Elias, em 1 Reis 19.1 ss.; o caso de Jeremias, em Jeremias 38; e o
caso de Amós, em Amós 7). Tiago está lembrando os seus leitores de que mesmo
aqueles que falaram em nome do Senhor tiveram que ter paciência na sua aflição.
O significado parcial é que Deus não preserva aqueles a quem Ele chamou do
sofrimento; antes, Ele os preserva no sofrimento. Eles tornam-se um exemplo
para todos os crentes por causa da sua obediência e fidelidade, a despeito das dificuldades
que suportaram.
Tg 5.11 Aqui Tiago
está levando seus leitores à aplicação das lições de pessoas do Antigo Testamento.
Por exemplo, Jó pode nos oferecer um olhar fascinante à história antiga e uma biografia
interessante, mas a melhor obra de Jó é como um professor: alguém que sofreu e
que pode nos ajudar a suportar o sofrimento. A sua vida é um exemplo que nós
precisamos seguir. Jó pode ter reclamado, mas ele não deixou de confiar em
Deus, ou de obedecer ao Senhor (veja Jó 1.21; 2.10; I6.I9-2I; 19.25-27). E o
Senhor o alertou e o restaurou (veja Jó 42.12). Os crentes, depois de todo o
sofrimento que tinham suportado até então, eram encorajados a não desistir -
Deus os libertaria e os recompensaria. Nós podemos ver claramente, com base na vida
de Jó, que a perseverança não é o resultado do entendimento. Jó nunca recebeu
uma explicação de Deus sobre o seu sofrimento.
Isto deve-se, em
parte, ao fato de que a dor é frequentemente uma parte da vida que deve ser
suportada sem explicações. Existem muitas coisas que nós conseguimos entender,
mas não todas. O objetivo de Deus não é que nós simplesmente desenvolvamos uma
mente cheia de explicações e respostas; o seu objetivo é trazermos a um ponto
em que nós confiemos nele.
Deus não gosta de ver
o seu povo sofrendo. Ele permite que o seu povo enfrente a dor porque um bem
maior será produzido. Enquanto isto, Tiago encoraja os seus leitores a
confiarem em Deus, a esperarem pacientemente, a perseverarem, e a se lembrarem
de que Deus é muito misericordioso e piedoso.
Tg 5.12 Tiago está se
referindo às palavras de Jesus em Mateus 5.34-37. Jurar era um costume comum, e
Tiago queria que esta prática fosse suspendida entre os crentes. As pessoas ofereciam
garantias verbais desrespeitosas ou arrogantes que elas mesmas podiam reverter através
de alguns detalhes legais. Como garantias em negrito em um texto de boa impressão,
estes juramentos tinham a intenção de criar uma impressão de verdade - mas as pessoas
que os pronunciavam não esperavam realmente ficar presas a eles. Os cristãos não
deviam fazer nenhum juramento para garantir a veracidade daquilo que diziam. A nossa
honestidade deve ser inquestionável. Os crentes não precisam fazer juramentos,
pois as suas palavras devem ser sempre verdadeiras. Não deve haver motivo para
que eles precisem reforçar as suas palavras com um juramento. Deus irá julgar
as suas palavras.
Será que devemos
fazer juramentos no tribunal? Os juramentos proibidos aqui são aqueles das
conversas normais, e não os juramentos formais feitos em um tribunal. Os juramentos
legais têm o objetivo de colocar quem os faz em uma obrigação legal. O perjúrio
é um crime grave. A maioria dos estudiosos conclui que Tiago não deseja que nós
nos recusemos a fazer juramentos no tribunal.
Uma pessoa que tenha
a reputação de exagerar ou de mentir não pode conseguir que alguém creia nela
somente através de sua palavra. Por exemplo, esta pessoa poderia dizer: “Eu prometo!”,
ou: “Eu juro!” Os cristãos não devem nunca ser assim. Seja sempre honesto, para
que os outros creiam nos seus simples “sim” e “não”. Evitando as mentiras, as
meias-verdades, e as omissões da verdade, você ficará conhecido como uma pessoa
digna de confiança.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 690.
Tg 5.10,11 Exemplos
de Paciência,
Exemplos de piedade e
devoção sempre servem de encorajamento para o cristão. Tiago provavelmente
tinha as palavras de Jesus em mente: “bem-aventurados sois vós quando vos [...]
perseguirem [...] por minha causa. Exultai [...] porque assim perseguiram os
profetas que foram antes de vós” (Mt 5.11-12). E por isso que ele diz: Eis que temos
por bem-aventurados (v. 11, “Eis que temos por felizes”, ARA). “Nós,
semelhantemente a Jesus, pronunciamos uma bem-aventurança aos profetas que
foram homens tão pacientes”. Tiago nos lembra do nosso privilégio bem como do
nosso sofrimento. Se sofremos por Deus, estamos em boa companhia. Por que os
profetas, em vez de Jesus (cf. 1 Pe 2.21), foram escolhidos por Tiago como
exemplos de paciência? Mayor considera diversas possibilidades, entre elas que
“Tiago deseja que eles vejam Jesus como o Senhor da glória em vez de o padrão
de sofrimento”.
Dos profetas que
sofriam com paciência e que falaram em nome do Senhor (v. 10), Tiago volta-se
agora para um homem que tem sido conhecido como “o maior exemplo” de paciência.
Essa é a única referência a Jó no Novo Testamento, embora Tiago entenda que
seus leitores estejam familiarizados com a história de Jó: Ouvistes qual foi a paciência
de Jó (v. 11). A paciência dos profetas era uma atitude de longanimidade em
relação aos seus compatriotas que os perseguiam. A palavra usada para descrever
a paciência de Jó (hypomene) significa persistência ou tolerância.4 A paciência
singular de Jó podia ser reconhecida na sua determinação em suportar quaisquer
que fossem os infortúnios, sem perder sua fé em Deus. A frase o fim que o
Senhor significa “o alvo do Senhor”. O apóstolo sabia que o propósito final de
Deus sempre é bênção para o homem que suporta com paciência a aflição.
Provavelmente, citando dos Salmos, ele conclui: “porque o Senhor é cheio de
terna misericórdia e compassivo” (v. 11, ARA; cf. SI 103.8; também Êx 34.6).
Tg 5.12 O Juramento é
Proibido,
Superficialmente, a
admoestação desse versículo não parece estar relacionada com o contexto. Há, no
entanto, uma conexão com o pensamento do versículo 9. Debaixo da pressão das
circunstâncias, há uma tendência de se falar explosivamente e se usar o nome de
Deus em vão com juramentos precipitados e irreverentes. Talvez seja com relação
ao versículo 9 que Tiago diz: Mas, sobretudo — i.e., acima de todas as formas
desprotegidas do falar emocional e queixoso — não jureis. Nesse mandamento o
autor está parafraseando as palavras de Jesus (Mt 5.34-37).
Nem Tiago nem Jesus
tinham a intenção de proibir o juramento sério ou oficial ordenado nas
Escrituras (cf. Dt 6.13; 10.20; Is 65.16; Jr 4.2; 12.16). Ambos estavam
preocupados com o uso irreverente do nome de Deus e advertiam contra o falar
desonesto que requeria um juramento para apoiar cada afirmação. O caminho para
evitar ofensa desse tipo é fazer uso de uma linguagem simples e sincera — que a
vossa palavra seja sim, sim e não, não.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 192-193.
Outros foram exemplos
para nós na perseverança (v. 10s).
Tg 5.10 Não somos os
primeiros que passam por coisas desse tipo. Em outros que trilharam o caminho
antes de nós podemos constatar o que acontece com uma pessoa, como ela procede
corretamente e a que alvo Deus a leva: “Irmãos, tomai por modelo no sofrimento
e na paciência os profetas, os quais falaram em nome do Senhor”: se tivessem
silenciado, nada lhes teria acontecido. Se tivessem dito o que as pessoas
gostam de ouvir, teriam sido aplaudidos. Contudo perseveraram em sua missão.
Por isso, no lugar em que se encontravam estava também seu Senhor (cf. 1Rs
18.36). Pessoas como elas são incômodas para o inimigo. Mas ele sempre encontra
outras pessoas que também se deixam usar como instrumentos dele contra aquelas.
Elas passam a atacar duramente os mensageiros de Deus. Por isso eles não ficam
isentos do sofrimento. Porém, confiando em seu Senhor, preservam e comprovam
paciência, perseverança e rumo claro. Também os que foram crentes antes de nós
não passaram sem tribulação por este mundo. Não esperemos algo diferente!
Tg 5.11 “Temos por
felizes os que perseveraram firmes”: no entanto não adianta somente declará-los
felizes. Temos de seguir o exemplo deles. Não basta ler biografias cristãs. É
necessário que em nosso lugar e nossa época também nós sejamos aprovados no
sofrimento e na paciência.
Em Hb 11.17-40
cita-se por nome uma série de pessoas que andaram o caminho antes de nós e
cruzaram a meta. Tiago, porém, menciona somente uma: Jó. “Tendes ouvido da
paciência de Jó”: atingiam-no, golpe após golpe, as “notícias sinistras”. Ele,
porém, dizia: “O Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do
Senhor!” (Jó 1.21), bendito apesar de tudo! A pessoa mais próxima dele, sua
esposa, aconselhou-o a renegar a fé: “Amaldiçoa a Deus e morre!” (Jó 2.9). Ele,
porém, ficou firme: “Temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o
mal?” (Jó 2.10). Ao prosseguir na leitura do livro, notamos: nem mesmo Jó
estava livre de dúvidas. Às vezes passava bem perto da ira contra Deus. Também
os líderes espirituais de nosso país não desempenharam sempre um papel tão
admirável como poderíamos imaginar a partir de diversas biografias. E tampouco
nós o desempenharemos. “… para que diante dele ninguém se glorie” (1Co 1.29).
“Vistes o fim do
Senhor; que o Senhor é rico em terna misericórdia e cheio de compaixão”: O “fim
do Senhor” é, na acepção lingüística ativa, uma expressão hebraica peculiar e
significa o fim (positivo) que Deus deu à atribulada trajetória de Jó, o alvo
para o qual ele o conduziu (Jó 42.10-16). Deus declarou-se admiravelmente
favorável a Jó. Como razão de tudo isso Tiago cita somente uma coisa: “que o
Senhor é rico de terna misericórdia e cheio de compaixão” (cf. acima o comentário
sobre Tg 2.13; 3.17 acerca da misericórdia de Deus).
Pergunta-se se essa
palavra também se refere a Jesus. Nesse caso significa: o destino de Jó foi uma
das prefigurações da trajetória de Jesus. De forma muito diferente de Jó ele
também comprovou a perseverança paciente. E o desfecho positivo nele foi ainda
mais significativo (Fp 2.5-11). Nós “vimos” que Deus se declarou milagrosamente
a favor dele na Páscoa e na Ascensão. Igualmente “vimos”, ou seja,
experimentamos, que “o Senhor é rico de terna misericórdia e cheio de
compaixão”. Por ter passado por tudo isso, nosso Senhor nos compreende
completamente e tem maior compaixão com nossa fraqueza (Hb 4.15).
É possível uma ou
outra interpretação da passagem. Seja como for, a mensagem é: é verdade que passamos
por consideráveis sofrimentos e testes de paciência, porém temos um Senhor
misericordioso que não nos quer torturar, mas conduzir a um fim glorioso (Is
28.29; 1Co 10.13).
4 – Nenhum desvio da
atitude de humildade e paciência (v. 12).
Tg 5.12 “Acima de
tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem por
qualquer outro voto; antes, seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para não
cairdes em juízo” (cf. também Mt 5.34-37). A palavra “jurar” tem vários
significados:
a) O juramento visa
alicerçar uma declaração acerca de algum conhecimento em vista de um
acontecimento passado. É nesse sentido que os tribunais às vezes exigem o
juramento das testemunhas.
b) O juramento deve
alicerçar a declaração de uma vontade em vista de um comportamento pessoal
futuro. É essa a característica do juramento profissional ou à bandeira.
c) Existem também em
diálogos do cotidiano asseverações em forma de declarações semelhantes a um
juramento, p.ex., para confirmar ou não um conhecimento. No Oriente Médio elas
devem ter sido particularmente frequentes (cf. Mt 5.34-37).
Atenuaríamos a
recém-mencionada palavra de Jesus do Sermão do Monte e também a de Tiago se
restringíssemos a interpretação apenas à alternativa c. Faz parte da natureza
dos discípulos de Jesus, que não desejam seguir ao “pai da mentira” (Jo 8.44),
mas ao Senhor da verdade (Jo 14.6; 18.37), que digam a verdade por causa de
Deus e das pessoas com singeleza e pureza, e que tampouco recorram, para
corroborar sua declaração, ao nome do santo e grande Deus, indisponível para
eles. Pelo contrário, esperam com paciência que ele se posicione favorável a
eles e à palavra deles. Por isso um cristão às vezes se opõe com sua frágil
palavra, totalmente indefeso, a um mundo mentiroso e desconfiado. Em certas
ocasiões os cristãos precisam parecer “gente inaceitável”, para que fique
patente como o mundo é “inaceitável”.
De acordo com o
contexto de Tg 5.6ss deve-se considerar também a seguinte situação: um cristão
foi difamado, desonrado e deserdado, e até ameaçado de morte. Por muito tempo
agiu segundo o modelo de seu Senhor e a palavra: “Ele não ofereceu resistência”
(Tg 5.6). Agora, porém, explode de repente: “Tão certo como existe um Deus no
céu, estou sofrendo injustiças! Não continuarei tolerando isso!” Por mais
compreensível que seja uma reação dessas, ela não deixa de representar um
afastamento da atitude da fé e da paciência, da trajetória predefinida pela
Escritura: não vos vingueis a vós mesmos… Deus retribuirá (cf. Rm 12.19). Jesus
não agiu assim. Com tais coisas distanciamo-nos dele e por fim perdemos tudo.
Por isso: “Acima de tudo, meus irmãos…” Alguém pode realizar e suportar muitas
coisas, mas dificilmente tolerar a injustiça revoltante. Contudo seria pena se
por isso perdêssemos até mesmo o prêmio de vitória naquele dia. Por isso
diremos com simplicidade nossa palavra no sentido do “sim – sim”, “não – não”
(Mt 5.37). Se não nos derem crédito, nós o suportaremos como sofrimento de
Cristo.
d) O termo grego
neste texto significa ao mesmo tempo também “conjurar”. O mundo helenista
tentava controlar os poderes do destino por meio de fórmulas de esconjuro, para
que passassem a atuar, p.ex., no sentido de ajudar a própria pessoa ou de
castigar outra. No tempo de perseguição os cristãos podem ter corrido o risco
de falar de forma similar com o Deus vivo (“jurar” tem em vista o falar com
pessoas, e “conjurar”, o falar com Deus). Sob intensa pressão algo assim também
poderá eclodir de nós: “Tão certo como vives, tens de me ajudar agora!” Ou
também: “Tão certo como és Deus, não permitas mais que ele o faça! Corta-lhe o
caminho!” Assim o ser humano tenta dispor de Deus e forçá-lo a ajudar
imediatamente a si mesmo ou castigar a outros. Dessa forma nos arvoraríamos em
acusadores e juízes sobre esses outros. De Mt 7.1 sabemos (cf. também o
comentário a Tg 4.11s; 5.9) que assim traríamos o juízo de Deus sobre nós
mesmos. Por isso Tiago diz igualmente aqui: “para não cairdes em juízo.” Também
na época escatológica que nos deixa amargurados, pretendemos permanecer inteiramente
nos sulcos de seu ser e seu caminho, seja no que diz respeito ao nosso
relacionamento com Deus, seja também no tocante ao nosso semelhante. Nosso
Senhor há muito declarou nas horas da mais dura luta: “Não como eu quero, mas
como tu queres!” (Mt 26.39). E: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”
(Lc 23.34).
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
II - A UNÇÃO DE ENFERMOS E COMO DEUS OUVIU A ELIAS (Tg 5.13 18)
1.
Oração e cânticos (Tg 5.13).
À medida que vai
terminando sua carta, Tiago continua dando conselhos práticos aos leitores. Ele
já recomendou paciência na tribulação, e agora apresenta um tratamento contra a
aflição: a oração. Está alguém aflito? Ore. Nada melhor que pedir paciência a Deus
em oração. Essa oração pode ser também pelo fim do sofrimento, pois ninguém, em
sã consciência, gosta de passar períodos contínuos de sofrimento.
Precisamos entender
que não somos imunes ao sofrimento, em qualquer de suas esferas, mas nem por
isso estamos impedidos de pedir que Deus nos alivie do sofrimento. Jesus rogou
ao Pai que se possível, retirasse dEle o cálice do sofrimento, e Paulo rogou ao
Senhor que tirasse dele o espinho na carne. Faz parte da nossa natureza a busca
pelo alívio do sofrimento, e isso em si não é errado. Entretanto, podemos
entender que é errado passar pelo sofrimento murmurando e queixando-se de tudo
e de todos. Tiago recomenda que oremos, portanto, quando estivermos em aflição.
Assim, além de buscarmos conforto em Deus, evitamos pecar com a murmuração.
Como já sabemos, a
vida do servo de Deus não é apenas de sofrimentos. Temos refrigério e muitos
momentos de alegrias e vitórias concedidas por Deus, e devemos demonstrar nossa
gratidão e alegria entoando louvores ao Senhor. Essa é uma forma de adoração a
Deus que chama a atenção das pessoas à nossa volta. Adoramos a Deus com nossas
atitudes, nossas orações e contribuições, mas também por meio de nossos
louvores. Tiago repreende de forma enérgica a murmuração, mas incentiva a adoração
e os cânticos.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 152-153.
Tg 5.13 Há muitas
respostas para o sofrimento.
Alguns de nós
preocupam-se; alguns juram vingança contra aqueles que causaram o sofrimento;
alguns deixam a ira arder no seu interior; alguns queixam-se. Mas Tiago diz que
a resposta correta para o sofrimento é continuar orando sobre ele (veja também
Sl 30; 50.15; 91.15). Esta não será necessariamente uma oração pedindo o fim do
sofrimento, mas pedindo paciência e forças para suportá-lo. Se formos
suficientemente bem-aventurados, a ponto de nos sentirmos felizes, devemos agradecer
a Deus cantando louvores ao Senhor (veja também 1 Co 14.15; Ef 5.19; Cl 3.16).
Pelo fato de nosso louvor ser dirigido a Deus, cantar é, na verdade, uma outra
forma de oração.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 691.
Tg 5.13 A
continuidade e a relação mútua desses versículos finais da epístola não estão inteiramente
claras. Eles são, portanto, interpretados de formas diferentes. Alguns os
consideram essencialmente sem conexão e denominam essa seção simplesmente de
“Admoestações finais”. Mas uma leitura cuidadosa mostra que há uma progressão
lógica, visto que Tiago fala aqui das necessidades espirituais dos cristãos.
Oração e Louvor, 5.13
Nos versículos 7-12,
o apóstolo estava exortando seus leitores em relação à conduta cristã diante da
aflição. Aflito (kakopathei) aqui tem o mesmo significado de “aflição”
(kakopatheias) no versículo 10. Na provação, como em cada circunstância da
vida, o dever mais elevado do cristão bem como o seu privilégio mais nobre é a
comunhão com Deus. Por isso, Tiago escreve: Está alguém entre vós aflito? Ore.
Para que os seus leitores possam ter uma perspectiva correta e lembrar-se de
Deus nas horas alegres, ele acrescenta: Está alguém contente? Cante louvores. O
louvor deveria estar em nossos lábios quando a vida proporciona alegria; e
deveria haver louvor mesmo debaixo de pressão quando nos lembramos da bondade
de Deus (cf. Ef 5.18-20). Cante louvores (“cante salmos”, KJV) é uma tradução
do grego restrita demais; ela se tornou a Versão Autorizada provavelmente por
causa do costume de cantar salmos na Inglaterra em 1611, quando a KJV foi
escrita. Quase todas as traduções mais modernas trazem “cante louvores”. Reicke
nos alerta que há lugar tanto para os cânticos evangélicos mais recentes como
para os hinos cristãos tradicionais. Ele diz: “Vale salientar que aqui o
cântico cristão é supostamente um meio de expressar os sentimentos alegres bem
como os sentimentos mais sérios”.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 194-195.
“DE TUDO FAÇA UMA
ORAÇÃO!” – TG 5.13
Tudo deve e precisa
servir ao aprofundamento de nossa comunhão com o Senhor. Paulo, p.ex., escreve:
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm
8.28).
Tg5.13 1 – “Está
alguém entre vós sofrendo? Faça oração!”: quando o ser humano comum sofre,
acusa Deus e o mundo, fica irado e diz: “Agora é que não creio em mais nada.”
Apesar de toda a compreensão pela angústia interior de pessoas que sofrem
pesadamente, não se pode deixar de dizer: quem fala assim provavelmente nunca
terá crido de verdade. O sofrimento nos impele na mesma direção na qual já
estamos caminhando: quando vivemos de costas para Deus, ele nos impele ainda
mais para longe de Deus. Quando estamos voltados para Deus, o sofrimento nos
impele para perto de Deus. Quantos personagens da Bíblia se deixaram levar à
oração por intermédio da aflição: Jacó às margens do Jaboque (Gn 32.23-32),
Moisés na dor por causa do pecado de seu povo (Êx 32-34), Davi e outros por
causa da própria culpa (Sl 51;130), Daniel pela culpa e aflição de seu povo (Dn
9.1-19). Em nosso Senhor Jesus Cristo, o sofrimento fez com que sua comunhão
com o Pai e sua obediência se destacassem de forma ainda mais maravilhosa:
“Aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu” (Hb 5.8).
Quando também nós
somos levados pelo sofrimento a uma comunhão mais profunda com nosso Deus, ele
nos presta um bom serviço. Deus alcançou assim o que pretendia alcançar. O
sofrimento nos presta um serviço rumo à oração. E a oração nos presta um
serviço no sofrimento: ele não precisa nos deixar desesperados e embotados.
Afinal, sempre resta uma saída aberta para nós, a saída em direção ao grande e
misericordioso Deus.
2 – “Está alguém
alegre? Cante salmos”: graças a Deus que também existem épocas na vida em que
não é difícil estar “alegre”. No entanto, o que produzem elas em nossa vida?
Assim como o sofrimento nos impele para frente, assim a felicidade nos atrai
para frente na direção em que de qualquer maneira já nos movemos. Quando um ser
humano vive de costas para Deus, os tempos de felicidade facilmente se tornam
tempos de superficialidade, de indiferença e de glorificação pessoal: “Vejam,
basta saber se virar, e tomar a vida pelo lado positivo!” Então as horas de
“alegria” não raramente se transformam também em horas de leviandade,
petulância, orgulho e flagrante pecado. Naquele, porém, que vive voltado para
Deus, a alegria também é revertida em oração, gratidão e louvor. – “Cante”: é
verdade que está escrito “Cantai ao Senhor em vossos corações” (Cl 3.16). Isso,
porém, não exclui que também se cante com os lábios. O mundo descrente hoje
quase não canta mais. Tão somente ouve a música boa ou ruim feita por outros.
Será bom que se reconheçam cristãos pelo fato de cantarem. Tempos de nova vida
no cristianismo sempre foram também tempos de novas canções (ainda mais belo é
quando se agradece a Deus “com corações, lábios e mãos”). Um cântico desses
sempre é ao mesmo tempo uma confissão perante o mundo em redor e um convite
para que se acheguem ao bom Deus: louvarei ao Senhor “para que os míseros ouçam
e se alegrem” (Sl 34.2). Uma velha mãe que passara por muitos sofrimentos
declarou a outras mulheres mais jovens que carregavam uma cruz: “Se existe uma
coisa na vida de que me arrependo é de sempre ter me preocupado.” Essas
palavras também foram um desses louvores convidativos a Deus. – “Salmos”: são
palavras que já existiam prontas para a oração, hinos que haviam sido
transmitidos por gerações anteriores do povo de Deus, ou também canções que
foram produzidas pelo jovem cristianismo nos dias de Tiago (cf. Fp 2.5-11). Também
nós temos o direito de nos dirigir a Deus com palavras próprias, de acordo com
o que sentimos no coração. Da mesma forma, porém, podemos usar as palavras de
outros, os salmos da Bíblia e os hinos da igreja de Jesus Cristo. Também um
hino antigo torna-se “cântico novo” se por meio dele amarmos e louvarmos
autenticamente a Deus.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
2.
A oração da fé (vv. 14,15).
Ainda abordando a
questão da oração, surge o tema da oração pelos enfermos. Havia certamente
pessoas na congregação que adoeciam por diversos motivos, fossem eles
genéticos, advindos de hábitos prejudiciais à saúde ou outros fatores.
Desde a queda, o ser
humano convive com doenças que se não matam em pouco tempo, debilitam ou tiram
a capacidade de as pessoas trabalharem ou terem vida social.
A Bíblia relata
diversos casos de doenças. A lepra era uma das mais conhecidas nos tempos
bíblicos. Além de afastar a pessoa de sua família e amigos, ia apodrecendo os
membros do corpo do doente. Fluxos de sangue também eram conhecidos, a ponto de
a Lei de Moisés alertar sobre a forma como uma pessoa deveria ser tratada nesse
tipo de situação. Uma pessoa com fluxo de sangue se tornava anêmica, fraca e
debilitada, além de carregar em si um pesado estigma social. É evidente que
havia formas de curas nos tempos antigos, mas nem todas as doenças eram
conhecidas e igualmente tratadas para que o enfermo fosse curado.
A oração da fé isenta
o doente de buscar auxílio médico? De forma alguma. Buscar auxílio médico não
deve ser interpretado como sinal de incredulidade. Tomemos por exemplo o caso
de Jesus e os dez leprosos de Lucas 17. Jesus estava indo para Jerusalém e
passou entre Samaria e Galileia. Entrando em uma aldeia, encontrou-se com dez
leprosos que imploraram a cura do Senhor, e Ele os mandou apresentarem-se ao
sacerdote. Por que isso? Primeiro, porque o sacerdote era quem declarava a
pessoa leprosa, mas ele igualmente declarava a pessoa curada. E o curado
deveria agradecer a Deus com uma oferta trazida por sua cura.
Não estamos isentos
de buscar ajuda médica, no mínimo para descobrir que tipo de mal está nos
acometendo e que tipo de tratamento nos pode ser ministrado. Mas não podemos
nos esquecer de que servimos a um Deus que tem poder sobre todas as doenças, e
que nos pode curar.
A oração da fé deve
ser ministrada pelos presbíteros da igreja, que deveriam ungir o enfermo com
azeite em nome do Senhor. O poder da cura estava em o nome do Senhor Jesus
Cristo. Os presbíteros não realizavam a cura, mas deveriam orar ao Deus que tem
o poder de curar.
O verso 15 de Tiago
traz mais uma característica desse caso específico de oração pela cura: o
perdão dos pecados. E possível haver conexão entre um pecado e uma doença, mas
da mesma forma essa conexão pode não existir. Por isso, Tiago não diz “está
doente porque cometeu pecado”, mas diz “... se houver cometido pecados. Tiago
não vincula doenças a pecados, mas entende que esse vínculo pode existir.
Se este é o caso em
tela, ou seja, se uma pessoa peca e fica doente, podemos entender que a busca
pelos presbíteros da igreja — para que orem pelo enfermo — pressupõe um
arrependimento do pecado cometido e a busca pela restauração física e espiritual.
Sabemos que esses casos devem ser tratados de forma individual, pois Tiago não
criou essa regra. De qualquer forma, por meio da oração, os pecados serão
perdoados. O bem-estar físico e o espiritual são bênçãos de Deus para seus
filhos, e Ele age de forma completa em todos os sentidos.
O que não pode faltar
em qualquer desses dois casos é a fé. Se uma pessoa está doente por causa de um
pecado, ou se está doente por outros fatores, ela deve buscar ajuda do alto com
fé. Esse elemento é indispensável tanto para o doente quanto para os
presbíteros que hão de orar. E a oração da fé, não a unção com azeite, que
salvará o enfermo. A unção tem o sentido terapêutico e não pode ser dispensada,
mas é a fé que trará a vida ao doente. Nossa oração, portanto, não pode ser
apenas para receber a cura divina, mas também para que a nossa comunhão com
Deus seja restaurada e nossos pecados, perdoados.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 153-155.
Tg 5.14 Uma
característica da igreja primitiva era a sua preocupação com os doentes e o cuidado
para com eles. Aqui Tiago incentiva os doentes para que chamem os presbíteros da
igreja, pedindo aconselhamento e oração. Os presbíteros eram pessoas espiritualmente
amadurecidas, responsáveis pela supervisão das igrejas locais (veja 1 Pe
5.1-4). Os presbíteros iriam orar sobre a pessoa doente, pedindo a cura ao
Senhor. A seguir, eles a ungiriam com azeite em nome do Senhor. Enquanto
oravam, os presbíteros deviam pronunciar claramente que o poder da cura residia
no nome de Jesus. A unção era frequentemente usada pela igreja primitiva nas
suas orações pedindo cura. Nas Escrituras, o azeite era tanto um remédio (veja
a parábola do bom samaritano, em Lucas 10.30-37) como um símbolo do Espírito de
Deus (como quando usado para ungir reis; veja 1 Sm 16.1-13). Desta forma, o
azeite pode ter sido um sinal do poder da oração, e pode ter simbolizado a
separação da pessoa enferma para a atenção especial de Deus.
Tg 5.15 A oração deve
vir do coração, ser sincera, e estar fundamentada na confiança em Deus e na
obediência a Ele, e não pode haver dúvidas, como em 1.5-8. Ter fé é uma
responsabilidade dos presbíteros que estão orando, e não da pessoa doente (nada
é dito a respeito da sua fé). É possível que a fé da pessoa doente seja
exercida ao chamar os presbíteros. Além disto, se há a necessidade da confissão,
os presbíteros poderão ministrá-la a esta pessoa. O processo assegura a
dependência que os crentes têm uns dos outros. Não são os presbíteros que
realizam a cura, nem é o azeite, mas é o próprio Senhor. Será que isto
significa que todas as orações em que se pede a cura garantem que Deus fará a
pessoa doente melhorar? Deve ser enfatizado aqui que a oração oferecida é uma
oração oferecida em fé - não somente a fé que crê que Deus pode curar, mas
também a fé que expressa a confiança absoluta na vontade de Deus. Uma
verdadeira oração de fé irá reconhecer a soberania de Deus na resposta que Ele
decidir conceder àquela oração. A vontade de Deus nem sempre é curar aqueles
que estão enfermos (veja 2 Co 12.7-9).
Uma oração em que se
pede uma cura deve ser feita juntamente com o reconhecimento de que a vontade
de Deus é suprema. O pecado pode ou não ser a causa da doença, mas é dada uma
oportunidade para a confissão, e os presbíteros estão ali para recebê-la. Não
se faz nenhuma exigência de confissão, mas a oportunidade é dada a qualquer
pessoa que houver cometido pecados. Esta condição é importante porque, com
excessiva frequência, nós temos a tendência de supor que o pecado é a causa do
sofrimento de alguém. A Bíblia ensina que o pecado pode causar enfermidades (veja
Mc 2.1-12; 1 Co 5.5; 11.27-30), mas ela também observa claramente que este não
é sempre o caso (veja jó 9.2,3).
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 691.
Tg 5.14,15ª O
Privilégio da Cura Divina
A oração em tempos de
enfermidade é nosso dever e nosso privilégio em Cristo. Provavelmente,
deveríamos observar essa prática cristã mais do que fazemos. Tiago diz: Está
alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele. Os
presbíteros eram líderes reconhecidos ou apontados na congregação local desde
os anos 40- 50 d.C. (cf. At 11.30; 14.23). Sua função era um tanto semelhante à
do pastor dos nossos dias. Orar sobre ele significava orar estando em pé ao
lado (“sobre”) do leito do enfermo. Um significado secundário da palavra sobre
(epi) poderia ser orar junto a em vez de sobre ele.
A prática de ungir
com azeite em conexão com cura é mencionada somente mais uma única vez no Novo
Testamento (Mc 6.13). Para nós essa unção serve como um símbolo de obediência à
admoestação da Palavra de Deus e provavelmente como uma forma de encorajamento
à fé do doente. Nos tempos do Novo Testamento, esse pode ter sido um tratamento
medicinal natural usado em cooperação com a oração. Sabemos que a unção do
corpo com óleo era uma prática medicinal comum na Palestina do primeiro século.
O verbo ungindo (aleipsantes) significa literalmente “tendo ungido”. Moffatt
entende essa ação como untar o corpo do paciente com óleo. Parece claro, no
entanto, que se a unção era um meio natural de cura, ela também tinha um
significado espiritual, porque era para ser administrado em nome do Senhor. Em
todo caso, Tiago nos assegura que é a oração da fé (“oração oferecida com fé”,
NEB) que salvará o doente, e o Senhor o levantará (v. 15).
A Bíblia ensina a
doutrina da cura divina e cabe a nós procurar fazer a oração da fé pela cura do
doente. No entanto, recursos e intervenções providenciais, quando necessários,
não deveriam ser rejeitados. Aqueles que não conhecem a Cristo recorrem à
medicina e cirurgia sem oração. Nós que confiamos nEle devemos usar todos os
meios salutares que a ciência moderna tem nos oferecido e ao mesmo tempo
confiar a nossa cura inteiramente ao seu soberano poder.
Easton comenta: “O
autor deixa essa promessa sem qualificação, embora tanto ele quanto seus
leitores soubessem perfeitamente bem que nem todos os casos de enfermidade
seriam curados; aqui, como em todos os casos, quando a eficácia da oração é
ensinada, a condição ‘conforme a vontade de Deus’ deve ser entendida de forma
implícita. Contudo, todos sabem que quando existe uma fé viva e profunda, como
era o caso na época em que Tiago foi escrito, curas extraordinárias acontecem”.
Tg 5.15b,16ª Cura e
Perdão
Entre os judeus, a
doença geralmente era atribuída ao pecado. Jesus rejeitou essa visão como um
princípio universal (Jo 9.1-2), mas em outro texto sugere o que sabemos ser um
fato, que em muitos casos o pecado é a causa de uma enfermidade específica (cf.
Jo 5.14).
Nesses casos,
presume-se que a pessoa que procura a cura também se arrependeu do seu pecado e
está procurando o perdão divino. No versículo 16, a ordem da oração está
invertida. Aqui a pessoa é admoestada: “Portanto, confessem os seus pecados uns
aos outros e orem uns pelos outros para serem curados” (v. 16, NVI, grifo do
autor). Quando uma pessoa vem sinceramente a Deus com uma necessidade, receberá
ajuda. Essa ajuda aumenta sua fé em Deus, e ela provavelmente também encontrará
ajuda para outras necessidades.
Easton3 ressalta que
a admoestação Confessai as vossas culpas uns aos outros (v. 16) não deve ser
entendida como uma prática universal cristã mas, sim, ser entendida em seu
contexto, ou seja, a confissão sendo feita pelo doente e a oração pelos
visitantes. Embora essa pareça uma interpretação razoável, a gramática permite
uma exegese mais ampla. É certamente verdade que quando reconhecemos que agimos
erradamente e oferecemos orações mútuas de intercessão, isso fortalecerá
grandemente toda a vida espiritual da igreja e abrirá o caminho para bênçãos
crescentes de Deus.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 195-196.
1 – O cristão e a enfermidade (v. 14).
Tg 5.14 “Está alguém
entre vós doente?”: para muitos é um tormento que haja enfermidade também na
vida do cristão.
a) A Bíblia vê a
enfermidade relacionada com o pecado humano. “O salário do pecado é a morte”
(Rm 6.23), e a enfermidade como precursora da morte é igualmente decorrência do
pecado. É verdade que Jesus baniu a conclusão de que o portador de uma
enfermidade especial também deve ter pecado de maneira especial (Jo 9.2ss). No
entanto, alguém pode constatar em si mesmo a doença como decorrência de seu
pecado e curvar-se debaixo dela – dando razão ao julgamento de Deus.
b) Acontece, porém,
que os pecados nos foram perdoados em decorrência do sofrimento expiatório de
Jesus. Será que nesse caso não deveriam ter sido retiradas também todas as
consequências do pecado? Afinal, Jesus não carregou também todas as nossas
enfermidades (Is 53.4)? “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo” (Ec 3.11).
Na consumação não haverá mais enfermidade nem morte, nem “sofrimento” (pela
perda de entes queridos), “clamor” (de lamentação e acusação, de falta de paz e
de guerras), “dor” (da doença e das feridas). “E a morte não existirá mais” (Ap
21.4). Com a primeira vinda de Jesus, Deus dá o primeiro passo e cura, sempre
que for acolhido, a causa oculta do mal: perdoa o pecado e concede a sua paz.
Com a segunda vinda, Deus dá o segundo passo e também anula todos os efeitos visíveis
do pecado: discórdia entre pessoas, enfermidade e morte (Ap 21.4). Afinal, se
Jesus não vier antes, também nós teremos de morrer. Vivemos em uma época de
“não ver e, apesar disso, crer” (Jo 20.29; 1Pe 1.8; 2Co 5.7; 1Co 13.12; Rm
8.24; 1Jo 3.2). Crer sem ver é o principal tema do exame de toda a nossa vida
cristã em nosso mundo.
c) Isso não exclui
que Deus conceda desde já aperitivos do que há de vir, uma primeira prestação
(cf. v. 15): os milagres de Jesus outrora e hoje são “sinais” (Jo 2.11; 3.2; 11.47)
que mostram o que ele fará um dia de forma grandiosa e geral. As noites do “não
ver e, apesar disso, crer” não são tão escuras que não luzam nelas também as
estrelas. E Deus com certeza estaria disposto a nos dar mais se confiássemos
nele.
d) Logo vale a regra:
a salvação é presenteada por Deus em todos os casos a cada um que o pedir (Jl
2.32; Rm 10.13), mas a cura exterior, durante a presente era, é presenteada
onde e quando lhe aprouver. – Por isso ambas as posições estão biblicamente
erradas: d.1) A frase comum em vários “grupos pentecostais”: “Quem crê não está
enfermo, e quem está enfermo não crê corretamente.” d.2) A opinião já existente
desde o tempo do Iluminismo: “Que adiantará, pois, a oração contra a
enfermidade e outras dificuldades? Afinal, a vontade de Deus é perfeita.” Ou:
“Obviamente a oração não muda nada; apenas nos torna mais dóceis para a vontade
de Deus.” Por isso a única oração que deveria existir seria: “Seja feita a tua
vontade!” Isso tem conotação muito lógica e devota, mas não corresponde à
comunhão de vida que o Pai no céu concede a seus filhos neste mundo conforme as
Escrituras. Temos o privilégio de lhe dizer o que move nosso coração, e lhe
dirigir preces, deixando então por conta de sua sabedoria paterna o que ele
fará com essas orações. Jesus declara: “Peçam, e receberão” (Mt 7.7). Toda
oração correta é atendida, embora com frequência de modo diferente e em momento
diferente do que imaginamos, porém de forma melhor e em tempo mais acertado.
2 – O enfermo e a
igreja (v. 14)
Enfermidade traz
solidão. Isso é particularmente doloroso para um cristão cujo lar é a igreja.
Tiago escreve que o próprio membro enfermo da igreja deve tomar a iniciativa:
“Chame os presbíteros da igreja”. Não é dito: “Fique resmungando em seu canto e
pense: vejamos quanto tempo demorará até que alguém tenha a ideia de me
visitar.” Tiago quer que o enfermo convide os visitadores da igreja com a mesma
naturalidade com que chama o médico. De acordo com o v. 14, o que cabe aos
visitadores fazer poderá ocorrer unicamente mediante o consentimento do
enfermo. Se o próprio enfermo chamou os anciãos, tudo fica claro nesse aspecto
desde o princípio. – O NT também fala do dom especial da graça (em grego
chárisma) de cura dos enfermos (1Co 12.9,28,30). Havia, nas igrejas, cristãos
em que a efusão do Espírito de Deus trouxe consigo esse dom, da maneira como
outros recebiam outras dádivas. Aqui não se fala de um carisma especial. É
possível que esses “anciãos”, em grego presbýteroi (literalmente: “mais
idosos”), naqueles primórdios do cristianismo e nas igrejas às quais Tiago
escreveu, ainda nem sequer fossem detentores de um cargo regulamentado, mas que
simplesmente se tratava de cristãos mais antigos, mais maduros. Confiando nessa
palavra da Bíblia também hoje, na hora da enfermidade, podemos chamar à nossa
casa tais cristãos, a fim de que nos prestem esse serviço.
3 – A igreja e seus
enfermos (v. 14).
“Estes façam oração
sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor”:
a) Quando alguém não
puder vir à igreja, a igreja tem de ir até ele: “Se um membro sofre, todos os
membros participam do seu sofrimento” (1Co 12.26 [TEB]). Por meio dos anciãos a
igreja visita o enfermo. O próprio Jesus atribuiu uma importância especial à
visita a enfermos e concedeu à oração conjunta uma promessa especial (Mt 25.36;
18.19).
b) Os anciãos da
igreja oram, não apenas, mas também por saúde. – Eles “ungem com óleo”. Esse
era também um remédio caseiro contra doença e contusão (Lc 10.34). Contudo o
ungem “em nome do Senhor”. Nesse sentido o óleo na Escritura sempre representa
um sinal para o Espírito Santo. Foi por isso que no AT reis e sacerdotes eram
ungidos (Êx 29.7; Nm 35.25; 1Sm 9.16; 10.1; 16.12). E João escreve: “Recebestes
a unção” (1Jo 2.27). O Espírito Santo concede força (Rm 15.13; 1Co 2.4; 2Tm
1.7) começando pelo íntimo e chegando ao físico.
Será que não é
suficiente impor a mão como sinal de bênção? É obrigatório que suceda ainda uma
unção com óleo? Em várias outras passagens da Escritura constatamos que há
imposição de mãos para bênção e cura sem a unção com óleo (At 5.12; 14.3;
19.11). Sem dúvida podemos aderir a essa regra. Contudo, quando alguém por
simples obediência à presente palavra da Bíblia deseja recorrer à unção com
óleo ou a solicita para si, ele de qualquer forma tem em seu favor uma boa
razão da Escritura.
4 – A tríplice
promessa dada a essa oração (v. 15).
Tg 5.15 “A oração da
fé” é a oração que se origina da fé. É a oração de um crente, ou seja, de uma
pessoa que está “em Cristo”, na comunhão de vida com ele, e que se dirige ao
Senhor com toda a sua confiança. É para uma oração desse tipo que foram dadas
estas promessas:
a) “A oração salvará
o enfermo”: se Deus quiser, também da morte física – podemos orar também por
isso. Em todos os casos, porém, salva da “segunda morte” (Ap 2.11; 20.6,14;
21.8), a eterna e consciente morte definitiva para Deus. É isso que o NT
entende consistentemente por “redenção”. A oração conjunta com aquele que jaz
enfermo – inclusive com confissão do pecado (v. 16) – obtém como resultado que
o doente chegue plenamente à presença de Deus.
b) “O Senhor o
levantará” (não fazem isso os que oram), concedendo-lhe alívio ou cura no
corpo. Deus está disposto a fazer mais do que geralmente imaginamos. Isto pode
acontecer presenteando-o interiormente com a força de suportar os sofrimentos
com paciência para o louvor de Deus (cf. Jó 1.21; Jo 21.19).
c) “Se houver
cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados”: o serviço dos presbíteros não é mero
serviço de médico. Quem tem apenas o objetivo de “se livrar” o quanto antes da
enfermidade não compreendeu Tg 5.14. Quando, porém, alguém leva a totalidade de
sua miséria a Jesus na presença dos irmãos, tem sua vida colocada em ordem
também na totalidade. Não se trata aqui apenas de cuidado pelo corpo, mas ao
mesmo tempo e acima de tudo de cuidado espiritual.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
3.
Oração e confissão (v. 16-18).
O assunto oração
continua sendo a tônica da parte final da Carta de Tiago. Ele já recomendou
orar nos momentos de aflição, e para os doentes, que recebam a oração da fé
feita pelos presbíteros da igreja. Agora Tiago trata da confissão feita por
irmãos.
Confessar as culpas
uns aos outros é uma prática que deveria ser mais comum em nosso meio. Isso não
ocorre tanto porque, não raro, o confessante partilha detalhes de sua vida com
pessoas que nem sempre possuem a maturidade necessária para ouvir e reter o que
ouviram. E constrangedor quando uma pessoa se sente culpada de alguma falta e
partilha o fato com alguém que logo depois de ouvir, passa a conversa adiante,
expondo ao desprezo e ao escárnio, o confessante.
Tiago diz que devemos
confessar as culpas uns aos outros. Ninguém está isento de pecar, nem mesmo na
igreja ou no ministério. A confissão recíproca coloca confessor e ouvinte no
mesmo polo, de forma que ambos se verão como pessoas que não poderão se
orgulhar de seus feitos, e que precisarão orar uns pelos outros, como diz
Tiago. Quem confessa e quem ouve deve orar um pelo outro, para que ambos sejam
curados e restaurados.
A prática da
confissão recíproca pode aliviar os sentimentos de culpa, desde que a confissão
seja acompanhada da oração. Confissão sem oração em seguida, pode se tornar
motivo de piadas, expondo o culpado a uma situação futura constrangedora. E
quem ouve deve estar ciente de que não basta orar pelo confessor, mas que
também não pode ele, o ouvinte, se tornar um canal de divulgação de pecados
alheios. Isso pode esvaziar a intenção da confissão, pois se uma pessoa na
congregação peca e busca ajuda em confissão e oração, ela espera que sua
história se encerre ali mesmo. Portanto, usemos de sabedoria nessas horas.
Há casos em que a
repercussão de um pecado pode trazer dificuldades à congregação. Nesses casos,
é preciso que hajamos com sabedoria para não deixar de aplicar uma correção que
sirva de exemplo a todos, mas que também possa recuperar o crente que pecou, de
forma que ele não se afaste dos caminhos do Senhor.
Tiago trata também da
oração de Elias, mas ele a utiliza como um exemplo para o fim do verso 16:
“...a oração de um justo pode muito em seus efeitos”. Quando o apóstolo trata
de Elias e sua oração, ele ainda está discorrendo o assunto da confissão
recíproca dos pecados e da oração para que o confessor seja sarado.
Elias, suas limitações
e sua oração são apresentadas a seguir. Elias é um dos profetas mais conhecidos
do Antigo Testamento, e seu testemunho é impressionante. Vindo de uma
localidade chamada Tisbi, de difícil localização nos mapas de geografia
bíblica, Elias confrontou o rei Acabe por causa de seus pecados e deixou claro
que não choveria em Israel por três anos e meio, conforme sua oração. Depois
orou novamente, e Deus mandou chuva sobre Israel, ao ponto de a terra produzir
novamente seus frutos. Mas como Tiago começa tratando de Elias? “Elias era um
homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando pediu que não chovesse...”. O
que Tiago quer realmente nos ensinar com isso? Que a nossa oração faz
diferença, a oração de um justo pode muito em seus efeitos, e Deus espera que oremos
a Ele.
Podemos não ter o
ministério profético como Elias tinha. Podemos não ter um destaque na história
bíblica, e ser tentados de todas as formas a ceder ao pecado, mas quando nos
inclinamos diante do altar do Senhor, Ele nos ouve e vem em nosso Socorro. Não
há como negar que a realidade à nossa volta pode ser modificada por meio da
oração.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 154-155.
Tg 5.16 Não é o plano
de Deus que o seu povo esteja só. Os membros do corpo de Cristo devem poder
contar com os outros para apoio e oração, especialmente quando estão doentes ou
sofrendo. Os presbíteros devem estar preparados para atender à necessidade de
oração de qualquer membro, e a igreja deve estar alerta para orar pela cura de
qualquer pessoa que esteja enferma.
Porém, somos
frequentemente culpados não apenas por hesitarmos em nos apoiar uns aos outros
nas nossas enfermidades e fraquezas. Somos ainda mais responsáveis por não
confessarmos as nossas culpas uns aos outros. A ênfase recente sobre os grupos
pequenos dentro das igrejas tem crescido, em grande parte, devido a uma
necessidade de reaver algumas das características básicas da vida no corpo de
Cristo que foram negligenciadas. Quando os cristãos estão realmente trabalhando
para “compartilhar os problemas uns dos outros”, o mundo observa e nós nos
aproximamos mais de nossa tarefa de cumprir a “lei de Cristo” (veja Gl 6.2).
Amar ao seu próximo como a si mesmo inclui, acima de tudo, orar pelo próximo.
A oração feita por um
justo pode muito em seus efeitos porque a pessoa que está orando é justa. A
pessoa não está livre de pecados, mas ela confessou a Deus os pecados de que
tem consciência e está completamente comprometida com o Senhor, procurando
fazer a sua vontade. Outra vez, podemos dizer que a pessoa justa consegue o que
quer em oração porque ela quer aquilo que Deus quer.
O recurso mais
poderoso do cristão é a comunicação com Deus por meio da oração. Este é o
instrumento de cura e perdão e é uma arma poderosa nas guerras espirituais. Os resultados
são frequentemente maiores do que nós pensávamos que seriam possíveis. Algumas pessoas
veem a oração como o último recurso a ser tentado quando tudo mais falhar. As nossas
prioridades são contrárias às de Deus. A oração deve vir em primeiro lugar.
Deus alegra-se por usar as nossas orações para realizar os seus objetivos e
deleita-se em atender às nossas necessidades, mas Ele nunca está limitado pelas
nossas orações. O poder de Deus é infinitamente maior do que o nosso, de modo
que só faz sentido confiar neste poder – especialmente porque Deus nos encoraja
a fazê-lo.
Tg 5.17,18 A oração é
verdadeiramente poderosa - você se lembra de Elias? A sua história é encontrada
em I Reis 17.1-18.46. Elias tinha grande poder na oração. Uma seca veio como sinal,
para o iníquo rei Acabe, de Israel, de que o ídolo Baal não tinha poder sobre
as chuvas. E Elias, orando, pediu que não chovesse, e, por três anos e seis
meses, não choveu sobre a terra. Depois, ele orou pedindo chuva, e o céu deu
chuva. Tiago usou pessoas do Antigo Testamento para exemplificar cada um dos
seus temas principais:
• A natureza da fé é
encontrada na vida de Abraão e Raabe (2.21-25).
• A perseverança é
exemplificada por Jó (5.11).
• A oração eficaz é
exemplificada por Elias (5.17,18).
A vida de cada uma
destas pessoas é importante para nós. São exemplos a ser seguidos. Quando nós
escolhemos todos os nossos modelos a partir de pessoas contemporâneas, eventualmente
podemos ficar desapontados pelas suas falhas. Outras gerações de crentes não podem
nos desapontar. Elas cometeram seus erros, perseveraram e agora são testemunhos
de que a vida pode ser vivida para Deus.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 691-692.
Tg 5.16b-18 Oração
Eficaz
Quando devemos
esperar que nossas orações sejam respondidas por Deus? Tiago deixa claro que
orações desse tipo devem vir de um justo (v. 16), i.e., alguém que está num
relacionamento correto com Deus e o homem. Uma tradução da última frase do
versículo
16 é a seguinte:
“Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo” (ARA). A única oração de um
injusto que Deus promete ouvir é a oração de arrependimento. Baseado na palavra
traduzida por “oração fervorosa” (Bíblia Viva, energoumene), Mayor escreve a
sua própria interpretação: “Somos tentados a considerar como passivas as formas
que geralmente são consideradas médias e dessa forma entender a força aqui de
uma oração operada ou inspirada pelo Espírito, como ocorre em Romanos 8.26
(Benson traz ‘inspirada’; Macknight, ‘oração entretecida’; Bassett, ‘quando ativada
pelo Espírito de Deus’)”.
Cada pessoa que ora
sabe que há tempos em que o Espírito Santo a ajuda em sua oração. Mas Tiago
deixa claro que as pessoas que têm suas orações respondidas não precisam ser
santos sobre-humanos, diferente das pessoas comuns. O autor aqui apresenta um
exemplo de oração do Antigo Testamento como já tinha apresentado anteriormente
exemplos de fé nos versículos 10-11. “Elias era humano como nós” (v. 17, NVI.
Cf. 1 Rs 17.1; 18.1, 42-45).5 Ele era um homem exatamente igual a nós — com os
mesmos recursos disponíveis de Deus que estão disponíveis para nós. Todo
verdadeiro cristão que serve a Deus, como os presbíteros, é encorajado a orar a
oração da fé. A admoestação de Tiago para orar por cura do doente e sua
ilustração da oração de Elias por chuva nos assegura que Deus responde à oração
num domínio natural. A oração não apenas nos transforma, mas por meio dela,
Deus também muda as coisas.
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 196.
A premissa de perdão
e cura (v. 16).
Tg 5.16 a)
“Confessai, pois, os pecados uns aos outros”: aqui o foco principal é o
enfermo. Que nos dias de enfermidade não apenas esperemos uma “aprazível
visita”, mas aproveitemos essa situação limítrofe em que nos encontramos para
um desnudamento total de nossa vida perante Deus, na qual os irmãos são
testemunhas e parceiros de oração! E melhor ser envergonhado um pouco agora do
que ser obrigado, por ocasião do grande dia, a “ser manifesto com isso perante
o tribunal de Cristo” (2Co 5.10). Quando ele perdoa nossos pecados, eles serão
eternamente esquecidos (cf. Mq 7.18s; Is 38.17; Sl 32.1s). Por um lado, os
irmãos visitantes não precisam (toda vez que prestam esse tipo de serviço)
também fazer uma confissão completa acerca de sua vida, mas por outro deve
ficar explícito que aquele que está sentado à beira do leito depende do perdão
de Deus tanto quanto o acamado.
b) “E orai uns pelos
outros”: não devemos deixar os companheiros cristãos que sofrem (e tampouco os
semelhantes em geral) tão sozinhos como ocorre com frequência, mas temos de
visitar e apoiá-los por meio desse serviço sério de oração. – No presente
versículo fica explícita a estreita ligação entre intercessão e arrependimento,
ou confissão dos pecados. Nossos pequenos círculos de intercessão poderiam ser mais
vigorosos e frutíferos se cada qual não tentasse preservar a imagem perante o
outro. Na verdade não temos de fazer constantes confissões de toda a vida
(basta que o
façamos uma vez – se
Deus não lembra mais nossos pecados, tampouco nós temos de recordá-los). Mas é
benéfico que no diálogo prévio ou na própria oração seja expresso o que não foi
correto em nossa vida, talvez em relação ao assunto abordado nesta ou na última
visita. Tiago escreve: “Todos falhamos em muitas coisas” (Tg 3.2).
Uma frase genérica
sobre a oração no presente contexto (v. 16).
“A oração de um
justo”: Tiago não tem em mente a oração de quem defende a “justiça própria”, de
quem pensa que pode produzir pessoalmente sua justiça (cf. Lc 18.11s). Ele diz:
“Deus dá graça aos humildes” (Tg 4.6). E Paulo escreve: “Cristo foi feito
pecado por nós, para que nele nos tornássemos a justiça de Deus” (2Co 5.21).
Tiago tem em vista a justiça perante Deus, que nos foi conquistada e
presenteada por Jesus. Em Jesus somos “justos”, direitos para Deus. – “De muito
é capaz, quando tornada eficaz, a súplica do justo”: Como isso acontece?
a) Por parte do ser
humano. No v. 17 afirma-se a respeito de Elias que ele orava “fervorosamente”.
Muitas vezes oramos mais seriamente em causa própria do que na prece em favor
de outros. Até mesmo em vista de nós mesmos às vezes temos de ser conduzidos
para a mais grave aflição, até que um grito de oração autêntica saia de nosso
coração.
b) Por parte de Deus.
Nossa oração é “tornada eficaz” por intermédio do grande sumo sacerdote Jesus
Cristo, que intervém em nosso favor (Rm 8.34; 1Jo 2.1; Hb 4.14; 7.25s; 8.1), e
através do Espírito Santo, que nos “assiste em nossa fraqueza” e nos representa
perante Deus “como lhe convém” (Rm 8.26s).
Um exemplo de oração
atendida da história do povo de Deus (v. 17s).
Tg 5.17s “Elias era
homem semelhante a nós.” Apenas em uma coisa se diferenciava de muitos: “Ele
orava com instância.” Aqui se afirma o que não é mencionado expressamente em
1Rs 17.1, que Elias também rogou pelo juízo. Sem dúvida não se tratava de
oração para amaldiçoar: “Nada será suficientemente ruim para Acabe e o povo
esquecido de Deus!” Mas percebeu que somente uma disciplina rigorosa é capaz de
deter o povo diante do abismo, para que não perca totalmente sua característica
de eleito, tornando-se apenas um povo “como os demais povos” (1Sm 8.5).
Consequentemente, pais também podem interceder assim pelos filhos: “Ó Pai,
conduze-os sempre em beatitude, ainda que por milagres.” Em seguida, porém,
Elias orou – isso é relatado expressamente em 1Rs 18.42s – principalmente pela
suspensão do juízo, pela chuva tão urgentemente necessária. Para ele vigorava
(pelo menos em certas épocas – cf. também 1Rs 19.3) como para praticamente
nenhum outro: “Perante humanos uma águia, perante Deus um verme.” Que atitude a
dele sobre o monte Carmelo, contrariando o rei e o povo inconstante! E como se
prostrou mais tarde em oração perante Deus (1Rs 18.21,42)! Como podemos ser
gratos pelo fato de que ao lado das palavras sobre a fé a Escritura coloca os exemplos
de pessoas reais que a vivenciaram! Dessa maneira a fé se torna mais concebível
para nós em qualquer situação. Façamos nós também “com instância” a oração de
que hoje, do ponto de vista espiritual, “o céu dê chuva e cresçam frutos”!
Também a miséria material no mundo da discórdia, da injustiça e da pobreza, das
dores e da morte constitui, quando somos habitados pela compaixão de Deus, uma
aflição que comove nosso coração. Tanto mais se impõe a nossos lábios a súplica
pelo socorro integral: “Vem logo, ó Jesus!” (cf. Ap 22.17,20).
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Ill - A IMPORTÂNCIA DA CONVERSÃO DE UM IRMÃO (Tg 5.19,20)
1.
O cuidado de uns para com os outros (v.19).
Tiago completa seu
ensino olhando agora para as pessoas que um dia estiveram em nossas
congregações e se desviaram da verdade. Ele não aborda o motivo pelo qual uma
pessoa se desviou. Ele não entra no debate de ter sido justo ou não o motivo
pelo qual a pessoa não congrega mais. Ele apenas diz: “... se alguém o
converter. São dizeres complexos, pois implicam que uma pessoa pode ter
comunhão com os santos e um dia, ainda assim, se afastar. Esse texto pode ser
de difícil entendimento para os que entendem que se uma pessoa estava na igreja
e se desviou, na verdade ela nunca foi salva.
Pensemos nas
implicações desse texto. Tiago diz que “... se algum dentre vós se tem desviado
da verdade...”, e isso dá claramente o entendimento de que uma pessoa que
aceitou a Jesus pode um dia se desviar dos caminhos do Senhor. Discussões à
parte, Tiago oferece uma grande solução, mais do que um grande problema: quem
converte do erro um pecador salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão
de pecados.
Essa é uma mensagem
que nos manda ser mais zelosos no cuidado para com os outros, seja fortalecendo
os fracos em nossas congregações, seja evangelizando para apresentar Jesus aos
que não o conhecem. Quem se desvia dos caminhos do Senhor pode receber o mesmo
perdão que é oferecido àquele que nunca teve o conhecimento de Jesus Cristo.
Alexandre
Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 157-158.
Tg 5.19 “Algum dentre
vós” refere-se a um crente que se afastou da fé ao se envolver com idolatria ou
heresias. Ninguém do grupo está protegido contra o desvio da verdade. A pessoa
designada como “algum” pode ser cada um de nós, “Desviar-se” significa um grave
afastamento da fé - também conhecido como “apostasia”. A “verdade”, como usada
aqui, não se refere às preocupações doutrinárias externas, mas à verdade
central da fé cristã - isto é, que Jesus Cristo é o Filho de Deus, o Senhor e Salvador,
que morreu pelos nossos pecados e ressuscitou dos mortos. Escolhas e ações que nos
levam a negar a soberania do Cristo vivo nos afastam da verdade.
Quando alguém se
desvia, a igreja ou a comunidade cristã deve tentar fazê-lo voltar (versão
NTLH), não para ser julgado, mas para o arrependimento e a restauração. Quando
um crente está ciente do desvio de outro crente, este conhecimento traz consigo
a responsabilidade para a ação. Todas estas imagens retratam uma comunidade em que
as pessoas se importam profundamente umas com as outras, e em que não se
permite que os desviados escorreguem pelas fendas desapercebidos. Nós estamos
dispostos a trazer de volta alguém que se desviou, ou simplesmente retorcemos
as mãos enquanto a pessoa se perde nas trevas?
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 693.
Tg 5:19 Finalmente,
Tiago está pronto para encerrar sua carta, mas, ao fazê-lo, segue o costume
generalizado de mencionar seu propósito. Dirigindo-se aos crentes (meus
irmãos), Tiago lhes propõe uma situação: se algum dentre vós se desviar da
verdade, e alguém o converter. Falar de desviar-se é falar de um abandono sério
da verdade, como a idolatria (e.g., Isaías 9:16). A vida cristã pode ser descrita
como um modo de viver oposto à morte; desviar-se do caminho da vida é perambular
pela larga estrada que conduz ao inferno (Mateus 7:13-14). Os caminhos da vida
e da morte nunca se cruzam, visto que, como Tiago sustenta (4:4), o mundo e
Deus excluem-se mutuamente. Esta ilustração nos traz à memória O Peregrino de
Bunyan.
A verdade não diz
respeito a fatos intelectuais, mas a um modo de vida. Tiago não está
interessado em erros doutrinários, não quer “pôr os pingos nos is” escatológicos,
não almeja “arregaçar as mangas”, mas preocupa-se com uma verdade central:
Jesus é Senhor! O livro todo procura demonstrar o que significa o senhorio de
Jesus na vida concreta do povo de Deus. Se Jesus não for obedecido, o crente
terá perdido a verdade central, e ficará atolado num pantanal de pecado e morte.
Se um crente se
desvia, o resto da comunidade não deve simplesmente permitir-lhe que vá, mas
deve tentar trazê-lo de volta (se alguém o converter). Como ensinaram Paulo
(Gálatas 6:1) e João (1 João 5:16-17), o objetivo não é o julgamento, mas a
restauração. Entretanto, a restauração e o perdão não podem sobrevir sem o
arrependimento (cf. Lucas 17:3-4). Por isso, a primeira tarefa não é “aceitar”
alguém que vai afundando, mas alcançar essa pessoa, fazê-la cair em si, levá-la
a dar as costas para seu mau caminho e reconduzi-la ao bom caminho.
Peter
H. Davids. Comentário Bíblico
Contemporâneo. Editora Vida. pag. 161-162.
A situação (v. 19).
Tg 5.19 “Alguém entre
vós”: nessa palavra não está em questão o serviço missionário a pessoas que
jamais se defrontaram com o evangelho e o seguiram, mas a tarefa diante
daqueles que deram o passo em direção a Jesus e sua igreja e que depois
desertaram do grupo de seguidores de Jesus. Em uma época em que a grande
“apostasia” (2Ts 2.3) se manifesta cada vez mais nitidamente, essa palavra da
Escritura se reveste de singular atualidade.
“Que se desviou da
verdade”: o próprio Jesus é essa “verdade” (Jo 14.6). Pode haver diversas
razões por que alguém se separe de Jesus: a) a opinião e o espírito da época
colocam trilhos que levam as pessoas para longe de Jesus; o indivíduo não
reflete muito; há poderes ocultos que dirigem as pessoas. b) A razão pode ser –
agora de forma mais consciente para a respectiva pessoa – dúvidas intelectuais
e o escândalo que se sente diante da demanda de Jesus: tolera-se alguém que se
empenha em prol do bem das pessoas, porém rejeita-se aquele que reivindica vir
da parte de Deus e representar a salvação do mundo. Tolera-se alguém que
soluciona a “questão do pão”. Abandona-se alguém que reclama ser pessoalmente o
“pão da vida” (Jo 6.48,66). c) Uma pessoa pode estar sendo atraída mais pelos
prazeres sensuais, pelos bens e pelo poder do mundo que por Jesus: “Demas
passou a amar o presente século” (2Tm 4.10). d) A pessoa simplesmente tenta
manter a vida sob seu controle pessoal, ao invés de seguir a Jesus. Por
exemplo, Deus declara sobre Saul: “Ele deixou de me seguir” (1Sm 15.11). – De
todos os lados a apostasia se apresenta de forma atraente aos cristãos de hoje.
É necessário que cerquemos particularmente as pessoas jovens com nossa
intercessão.
“Desviar-se da
verdade” também é possível por ocasião do anúncio da mensagem do evangelho, na
doutrina: quando alguém fala como se Deus não fosse o Senhor pessoal, que criou
e preserva o mundo e que nos coloca nesta vida, que governa sobre nós, que visa
conduzir-nos à comunhão pessoal com ele, que um dia nos chamará para prestarmos
contas e que consumará tudo gloriosamente; como se Jesus não tivesse vindo a
nós da parte de Deus, não tivesse morrido por nosso pecado, não ressuscitado
verdadeiramente e não estivesse conosco todos os dias e não retornasse; como se
a Escritura não fosse para nós a palavra confiável e compromissiva de Deus;
como se o ser humano não fosse corrompido pelo pecado e por isso pudesse e
tivesse de criar pessoalmente sua salvação, o grande futuro e a consumação de
tudo. Quando alguém não somente crê e vive equivocadamente, mas também ensina
falsamente, isso tem consequências especialmente desastrosas: não apenas se
desvia sozinho, mas também desencaminha a outros.
“Desviar-se da
verdade” constitui uma aflição muito maior do que a enfermidade grave que
acomete alguém (v. 14).
2 – O serviço (v.
19).
“E alguém o
converter”: naturalmente também Tiago sabe que apenas Deus pode converter uma
pessoa, i. é, levá-la a arrepender-se e retornar para casa. Contudo Deus
precisa de instrumentos humanos. A “mão” do bom pastor que se estende aos
perdidos tem “dedos” humanos. Jesus mostra em Mt 18.15-17 como esse serviço
acontece.
De acordo com essa
palavra é primordial e prioritariamente necessário falar com os desviados. Não
gostamos de fazê-lo. Afinal, com isso não conquistamos amigos. Em nossas
igrejas, congregações e grupos existe um certo acordo tácito: “Não digo nada
incômodo a você, e você tampouco me diz algo incômodo.” Com essa atitude nós e
os outros poderemos obter a perdição.
Tentamos justificar
nosso silêncio. Por exemplo, quando se trata de verificar se o outro crê
corretamente: afinal, não podemos ver seu íntimo. Mas Jesus declara: “Em seus
frutos os conhecereis” (Mt 7.16; cf. também Tg 2.17; 3.12). – Em relação à
doutrina falsa dizemos: não devemos ser “juiz da inquisição” nem realizar uma
“aferição” dogmática. Afinal, já no NT nos deparamos com um pluralismo muito
grande, com uma forte diversidade de opiniões entre as testemunhas. No entanto,
todos eles tentam, em grande concórdia e completando-se um ao outro de forma
recíproca, tornar importante e dileto para nós a Jesus, o eterno Filho de Deus
que veio da parte de Deus, o Salvador do mundo. A configuração plural dos
testemunhos bíblicos de forma alguma permite justificar a arbitrariedade
doutrinária de hoje. – Em vista da vivência errada afirma-se: não nos cabe
estabelecer preceitos morais para outros. No entanto a Escritura demanda
enfaticamente a obediência de fé (Tg 2.14ss; Rm 1.5; 12.1ss; 16.26).
Portanto,
persuadimo-nos de que temos o direito e o dever de nos calar, enquanto Paulo
“exortava dia e noite com lágrimas” irmãos desviados, “para que permanecessem
na fé” (At 14.22; 20.30s). Se nessa época de apostasia (2Ts 2.3) não quisermos
nos tornar culpados coletivamente e um em relação ao outro, precisamos aprender
de maneira nova a falar uns com os outros, a nos exortarmos e a lutar uns pelos
outros, enfim, a exercer o aconselhamento espiritual. – Verdade é que de forma
alguma podemos nos colocar como juízes sobre outros (Mt 7.1s; Tg 4.11s). Também
nós estamos a caminho e ainda não chegamos ao alvo. “Quem pensa que está de pé,
cuide para que não caia” (1Co 10.12). Os antigos afirmaram que um bom
conselheiro pastoral precisa ser tão humilde que “ninguém possa colocar-se
abaixo dele”.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
2.
A proximidade do ensino de Tiago com o de Jesus.
Tg 5.20 O erro do
pecador desgarrado é tão grave a ponto de levar à morte — à morte eterna e espiritual
-, se ele não for trazido de volta (veja I Co 11.30; I Jo 5.16). Mas, quando o
crente se arrepende e retorna para junto de Deus, Deus irá perdoar apagar e
esquecer os pecados desta pessoa (veja Sl 32.1; 1 Pe 4.8). O contexto é um
tanto obscuro sobre a identidade do desgarrado. Trata-se de um crente desviado,
ou é uma pessoa do grupo que não creu verdadeiramente e está se desviando? Os
cristãos discordam se é ou não possível que as pessoas percam a sua salvação,
mas todos concordam que aqueles que se afastam da sua fé ou que não a confessam
genuinamente tem problemas sérios e precisam se arrepender. Entretanto, fica
claro o que este versículo quer dizer: nós devemos trazer de volta o desgarrado
- não discutir sobre se a pessoa estaria ou não perdida se não o fizéssemos.
O que começou com um
incentivo para suportar as dificuldades com alegria agora tem a sua conclusão
com um apelo para que uns cuidem dos outros. Os crentes devem prosseguir na sua
fé juntos. É Deus quem salva e protege, mas Ele permite que estejamos envolvidos
com a vida de outros cristãos.
É um a experiência
inesquecível testemunhar a acolhida cristã oferecida a alguém que se desviou e
retornou, ver o perdão de Deus trabalhando por intermédio do corpo de Cristo quando
os crentes aceitam a pessoa que está arrependida. Sob o ponto de vista da
eternidade, deve ser realmente como se uma coberta fosse estendida sobre uma
multidão de pecados. A carta de Tiago é o cristianismo com as mangas
arregaçadas para o trabalho. É o guia prático de trabalho para a vida na fé cristã.
Ela expressa o que significa seguir a Jesus Cristo no dia a dia. Tiago enfatiza
a fé em ação. As teorias são para os teólogos, mas Tiago está interessado na
vida! A vida correta é a evidência e o resultado da fé.
A igreja deve servir
com compaixão, falar afetuosamente e sinceramente, viver em obediência aos
mandamentos de Deus, e amar uns aos outros. O corpo de crentes deve ser um
exemplo dos princípios do céu aplicados na terra, levando as pessoas a Cristo
por meio do amor a Deus e do amor que uns têm pelos outros. Se nós verdadeiramente
acreditarmos na Palavra de Deus, nós a viveremos dia após dia. A Palavra de
Deus não é meramente alguma coisa que nós lemos, ou algo sobre o que refletimos,
mas é algo que colocamos em prática.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 693.
Tg 5:20 Essa tarefa
de recuperar o pecador, levando-o ao arrependimento, não fica sem sua
recompensa: sabei que aquele que fizer converter um pecador do erro do seu
caminho salvará da morte uma alma e cobrirá uma multidão de pecados. Tiago
reconhece que a pessoa que abandonou a verdade é um pecador, cujo caminho é o
erro. Assim começa o Didaquê: “Há dois caminhos — um da vida e o outro da
morte. E é grande a diferença entre os dois caminhos” (1:1). Este fato
seriíssimo é fundamental, visto que provém de Jesus (de modo especial do sermão
do monte). Em havendo confusão entre os dois caminhos, não se pode iniciar o
esforço de recuperação.
Além do mais, a alma
do pecador corre grave risco de morte. Conquanto Tiago possa estar referindo-se
à morte física, que ele sabe ser às vezes o resultado do pecado (5:14-16; 1
Coríntios 11:30), é muito provável que esteja referindo-se à morte espiritual,
eterna (Judas 22 e 23). Tiago reconhece a seriedade da situação do pecador, e
sua convicção o leva a um esforço por salvá-lo. Tiago escreveu 108 versículos
apenas para tentar salvar alguns crentes de uma situação que ele sabe que
significa morte.
Entretanto, a história
não termina aqui. O que se desviara foi reconduzido ao caminho da vida. Deus
não deseja que o ímpio morra, mas que se arrependa. A graça de Deus ainda fica
disponível, não importando a extensão de nossa rebelião contra o Senhor (4.6).
O pecador é, pois, livrado da morte. As mandíbulas do inferno fecham-se sobre o
vazio, enquanto o crente mais uma vez passa a trilhar o caminho da vida. A
libertação resultou no perdão de uma multidão de pecados, que agora estão
“cobertos”, isto é, perdoados.
Tal crente não será
marcado na igreja como alguém que certa vez se desviou e se perdeu, mas como
alguém que faz parte de uma comunidade formada de pecadores perdoados. Este é o
objetivo de Tiago ao escrever sua carta. Tiago salienta o caminho errado, na
esperança de que as pessoas o abandonem, e seus pecados lhes sejam perdoados
para sempre. Com essa nota de graça e de perdão, Tiago encerra sua carta.
Peter
H. Davids. Comentário Bíblico
Contemporâneo. Editora Vida. pag. 162-163.
Tg 5.20 “Deve saber”:
é importante ponderar o que está em jogo nessa questão. A situação não é igual
a, p.ex., um membro de um clube que decidiu se desligar e é convencido a ficar.
É isso que o mundo descrente vê quando nos empenhamos para que alguém permaneça
em nossa igreja, nossa comunhão, ou mais: junto de Jesus (nos próprios clubes
há um esforço para manter membros que se tornaram indecisos).
“Quem converte o
pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma dele e cobrirá multidão
de pecados”. Trazer de volta a Jesus e ao discipulado decidido uma pessoa que
se havia separado de Jesus e agora segue ideias e exemplos falsos, que vive
como todo o mundo e ainda afasta outros do Cristo bíblico por meio de palavras
ensinadas pelo espírito contemporâneo: isso significa resgatar uma pessoa da
morte, da “segunda morte” (Ap 2.11; 20.6,14), da morte após o falecimento, da
morte consciente, eterna e terrível, distante de Deus.
Em geral, as pessoas
correm com todas as forças quando há risco de morte! Em um pronto-socorro,
todos agem com rapidez e sensatez quando um acidentado grave é trazido! Todo o
resto é deixado em segundo plano! Quanto mais nós cristãos temos de estar
mobilizados, deixando todo o resto em segundo plano quando está em jogo a vida
eterna de uma pessoa, talvez de alguém a que estamos afeiçoados de forma
natural humana! Quando alguém deixa um acidentado grave abandonado na rua,
poderá eventualmente ser levado ao tribunal por “omissão de socorro”. Quando
não nos deixamos levar por nosso Senhor a um serviço desses, de resgatar as
almas das pessoas, essa atitude um dia se transformará em acusação perante o
tribunal eterno.
“E cobrirá multidão
de pecados”. Ninguém precisa pensar: “O que passou, passou e persiste; pela
vida toda terei de arcar com o fardo sombrio de meus erros.” Achegar-nos ao
Senhor crucificado por nós e descobrir diante dele, arrependidos, nossa culpa,
significa que ele a cobrirá para toda a eternidade (cf. Mq 7.18s; Is 38.17; Sl
32.2; Is 1.18b; 1Jo 1.7; Pv 28.13).
O texto original
também pode ser entendido como segue: quem converte um pecador de seu
descaminho há de salvar da morte sua própria alma e cobrir uma porção de seus
próprios pecados. Em sua carta Tiago não deixou dúvidas de que aquilo que
fazemos não nos faz merecer nossa bem-aventurança, nem mesmo nosso zelo
missionário. Alcançamo-la unicamente por meio daquilo que nosso Senhor realiza
e realizou. A pessoa que pensa unicamente em sua própria salvação, acreditando
que não precisa ser “tutor de seu irmão” (Gn 4.9), quem nega a obediência da
fé, perde novamente a salvação. Também nisso Tiago não nos deixa em dúvida (Tg
2.14ss; cf. também Mt 18.23-35). Somente conservamos para nós a misericórdia
que passamos adiante. Somente perdão e paz que presenteamos a outros se
desenvolvem e atuam plenamente em nossa vida. Somente quando estivermos a
serviço de nosso Senhor continuamos como verdadeiros participantes do serviço
dele. Quem se ocupa em resgatar outros do abismo, para que cheguem aos braços
do Bom Pastor, permanece com isso pessoalmente nos braços dele. Quem ao lado de
outros se humilha de coração em vista do pecado deles (e dessa maneira se
conscientiza cada vez mais de seu próprio pecado), alcança tanto mais
plenamente o perdão da própria culpa. Esforçar-nos, na época da grande apostasia,
com coração, lábios e mãos para que outros não fiquem aquém das expectativas de
Jesus faz com que nós mesmos não fiquemos aquém delas, mas superemos esse tempo
repleto de tentações. É como quando alguém se agita em uma noite fria de
inverno, na qual todos correm o risco de adormecer e congelar, visando
mantê-los acordados; assim permanece pessoalmente acordado e é salvo. – Na
verdade a carta não encerra com um voto de bênção, como outras cartas do NT,
mas é com essa importante observação que Tiago conclui sua carta tão benéfica
para nosso cotidiano como cristãos e particularmente para a multidão que corre
em direção do alvo.
Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
ELABORADO:
Pb Alessandro Silva.
gostei muito de sua exposicao acerca da carta de tiago
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