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8° LIÇÃO 3° TRIMESTRE 2014 O CUIDADO COM A LÍNGUA


O CUIDADO COM A LÍNGUA
Revista Ensinador Cristão CPAD, n° 59, p.39.
Houve no movimento evangélico brasileiro um tempo em que muitos acreditavam na palavra rhema — a bem da verdade ainda existe, mas o frenesi cessou. A ideia desse movimento era a de que a nossa palavra tem o poder tanto para abençoar quanto para amaldiçoar uma pessoa. Mas esta bênção ou maldição era embasada numa perspectiva mágica, como se o que se falasse acontecesse instantaneamente. E o texto usado para justificar este tipo de "experiência" era este de Tiago 3.9,10. Naturalmente, este não é o ensino de que se referia o meio-irmão do Senhor.

Em primeiro lugar, o tema central do texto é o desdobramento do capítulo 1 sobre a sabedoria do alto. Não podemos, ao longo da lição, perder esta perspectiva de vista, pois de acordo com ela o líder da igreja de Jerusalém desenvolve todo o seu argumento. O mestre por certo é uma função que deve ser exercida com a sabedoria do alto. E qual o veículo usado pelo mestre para transmitir a sabedoria de Deus? A língua. Por isso Tiago inicia o capítulo três admoestando a quem deseja inadvertidamente galgar a função de mestre somente por orgulho. Diante do Pai, o mestre será muito cobrado acerca do conteúdo que ensina, portanto, não há lugar para ambiciosos.
Em segundo lugar, Tiago ilustra a natureza perigosa de um órgão tão pequeno quanto à língua. Semelhante ao leme responsável por guiar um gigante em alto mar, ao freio na boca dos cavalos para dominar o seu corpo e, bem como, a faísca que pode incendiar uma floresta, assim é a potência da nossa língua tanto para fazer o bem quanto para o mal.
Quantas confusões foram feitas por causa do mal da língua? Através desta, pessoas matam as outras. Ofendem, denigrem, caluniam, humilham e não demonstram qualquer respeito à dignidade humana. Isto é pronunciar a maldição contra os outros como a Bíblia revela. Que poder de proporção destruidora a língua tem! E quase palpável. Quando alguém maltrata o outro verbalmente, maldiz a imagem e a semelhança de Deus. Isto é pecado contra o Pai e contra o próximo.
Mas o uso da língua pode ser maravilhoso. Com ela se pode elogiar alguém, consolar pessoas, animar almas cansadas e sedentas por esperança. Podemos fazer raiar um "mundo novo de amor e paz" para quem está vivendo um "inferno em chamas".
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Após estabelecer no capítulo 2, ao tratar sobre a relação entre fé e obras, as bases teológicas de suas recomendações éticas, Tiago passa agora, a partir do capítulo 3, para os assuntos de natureza mais prática, que faziam parte do dia a dia dos seus leitores. Como frisa o pastor e teólogo norte- -americano Timothy B. Cargal, as mudanças de comportamento tratadas por Tiago a partir desse capítulo em diante “são urgentes, pois, em um futuro não muito distante (Tg 5.9), os crentes deverão ser julgados pelo único ‘Legislador e Juiz’ (Tg 4.12), e alguns serão julgados com maior severidade que outros (Tg 3.1)”, de maneira que “a certeza desse iminente julgamento perante Deus traz consigo muitas responsabilidades não só para cada um deles como para com seus semelhantes”.
O objetivo de Tiago nessa segunda parte de sua epístola, permeada de exemplos práticos, é que seus leitores examinem a si mesmos para assegurarem que escaparão do julgamento vindouro. E para isso, o apóstolo, antes de adentrar o primeiro tema prático — sobre o poder da língua e os cuidados que o cristão deve ter com ela —, focaliza o primeiro obstáculo ao autoexame: a tendência, fruto da nossa natureza pecaminosa, de nos colocarmos sempre acima das outras pessoas.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 95-96.
Essa seção é completa em si mesma e trata do problema prático do cristão e seu uso da língua. Embora esses versículos sejam completos, eles também estão relacionados ao restante da epístola. A abordagem ampla de Tiago acerca do comportamento cristão inclui o tema relacionado à fala. O autor volta a abordar de maneira mais detalhada uma das ideias apresentadas em 1.19: “Todo o homem seja [...] tardio para falar”. A transição do tema de 2.14-26 ocorre de maneira natural; Tiago está preocupado com as palavras bem como com as obras do cristão.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 173.
Certamente você conhece o poder terapêutico da palavra.
Provavelmente você já viu coisas lindas acerca de pessoas que foram levantadas e curadas, refeitas e reanimadas por uma palavra boa. A palavra boa é como medicina, ela traz cura. Uma pessoa está abatida, triste, desanimada, aflita, sem sonhos, e, de repente, alguém chega com uma palavra oportuna, apropriada; e essa palavra, como bálsamo do céu, traz um novo ânimo e um novo alento.
Entretanto, nós também somos testemunhas de pessoas, famílias e comunidades, que sáo minadas e destruídas por palavras insensatas. Há palavras que ferem mais que uma espada afiada.
A Bíblia relata um exemplo dramático a esse respeito. Saul estava louco, possesso de ódio por Davi, seu genro. Davi não apenas tinha sido escolhido por Deus em seu lugar, mas também tinha sido escolhido pelo povo, como o herói nacional. Ao ser ungido pelo profeta Samuel para ser rei sobre Israel, Davi começou a ter muitos problemas. Sua unção não o levou ao trono, mas à escola do sofrimento e do quebrantamento. Em vez de Davi pisar os tapetes aveludados do palácio, pisou as areias esbraseantes do deserto. Em vez de subir ao palco da fama, sob as luzes da ribalta, precisou esconder-se nas cavernas. Em vez de Davi andar pelas ruas, em um carro alegórico, sendo aplaudido pelas multidões em festa, ele precisa perambular pelo deserto, esconder-se nas cavernas, e buscar refúgio até mesmo fora do território de Israel para salvar sua vida da fúria de um rei louco. Em uma dessas andanças, fugindo de Saul, ele chega à cidade de Nobe, onde morava uma comunidade de sacerdotes. Davi e seus homens chegaram ali com fome. O sacerdote disse que náo havia alimento para eles, senão o pão da proposição, aquele pão que era colocado na mesa da proposição todos os dias, como símbolo do alimento espiritual.
O sacerdote deu aquele pão para Davi. Este pegou a espada de Golias, que lá estava guardada, e saiu. Mas, ali estava um homem que ouviu toda a conversa entre Davi e o sacerdote. Esse homem chamava-se Doegue, um aliado de Saul. Este homem, de forma irresponsável, inconsequente e demoníaca foi ter com Saul e distorceu os fatos, escamoteou a verdade, delatando o sacerdote, como se este estivesse mancomunado com Davi em um plano de conspiração.
Saul, envenenado pela mentira de Doegue, mandou chamar o sacerdote e responsabilizou-o por ter-se ajuntado com Davi para traí-lo. O sacerdote tentou se defender, revelando a veracidade dos fatos, mas Saul, contaminado por uma palavra torcida, diabólica, falsa, tendenciosa de Doegue, resolveu destruir o sacerdote e toda a comunidade de sacerdotes da cidade de Nobe. Saul deu uma ordem a seus homens para matar o sacerdote, bem como os outros oitenta e cinco sacerdotes. Os homens de Saul recusaram-se a cumprir a ordem insana. Então, Saul obrigou o próprio Doegue, o delator, a lançar-se contra os sacerdotes para matá-los. Doegue passou ao fio da espada os homens, as mulheres, as crianças, as crianças de peito e até aos animais (iSm 2.1-9; 22.6-19). Foi uma chacina, por causa de uma palavra mal colocada, que delatara o sacerdote e alterara a notícia, dando uma conotação de traição e conspiração contra o rei.
Isso nos mostra como a língua pode ser um instrumento de bênção ou de destruição. Salomão, em Provérbios 6.16-19, elenca seis pecados que Deus aborrece e um pecado que a alma de Deus abomina. Dos sete pecados, três estão ligados ao pecado da língua: a língua mentirosa, a testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos.
Tiago chegou a dizer, nessa carta, que ninguém pode se dizer religioso sem primeiro refrear sua língua (1.27). Tiago está dizendo que podemos ter um conhecimento colossal das Escrituras, podemos ter um invejável cabedal teológico, mas se não dominamos a nossa língua, a nossa religião é vá. Para Tiago, para ser um cristão verdadeiro não basta apenas a teologia ortodoxa, é preciso também uma língua controlada.
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 57-59.
1 – Deus fala e falou, razão pela qual sua palavra pode e deve ser passada adiante em sua igreja e no mundo. O mundo descrente pensa que Deus se cala. Mas a Bíblia afirma: “Deus vem e não guarda silêncio” (Sl 50.3). Acima de tudo “falou por último em seu Filho” (Hb 1.2). Jesus é a palavra de Deus em pessoa (Jo 1.1; Ap 19.13). Ele se tornou íntimo de nós por meio de sua palavra e seu Espírito (Jo 15.15; 1Co 2.10).
2 – Já em termos gerais humanos o dom de falar representa uma das maiores e mais maravilhosas dádivas que recebemos. Por meio da linguagem podemos comunicar a outros o que pensamos, sentimos, queremos e experimentamos. E podemos participar do que outros vivenciam, pensam, sentem e querem. Toda a nossa comunhão e a cultura humana estão ligadas a esse dom. Um mundo descortina-se para nós por meio da linguagem.
3 – Agora nosso dom de falar é colocado no mais sublime serviço: Deus deposita sua palavra nos lábios humanos. Nossa capacidade de falar é colocada a serviço do falar de Deus. Podemos e devemos comunicar a palavra dele. Até mesmo pôs sua palavra nos lábios dos profetas do AT (Jr 1.9; etc.). Os sacerdotes tinham a permanente incumbência, associada a seu ministério, de entregar a promessa e orientação de Deus a Israel (Ml 2.7). Todo israelita tinha a tarefa de transmitir aos filhos o testemunho de Deus (Dt 6.7). Já durante os dias de Jesus na terra os discípulos receberam de seu Senhor a incumbência de transmitir a palavra de Deus (Mt 10.7; Lc 10.9). Também aos demais deu a instrução de testemunhar o que haviam recebido (Mc 5.19). Após a morte e ressurreição de Jesus o grupo de discípulos – e consequentemente também a igreja de Jesus de todos os tempos – recebe a incumbência de proclamar o evangelho (Mt 28.19). A todos os seus dirige a tarefa: “Sereis minhas testemunhas” (At 1.8).
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
I - A SERIEDADE DOS MESTRES (Tg 3.1,2)
1. O rigor com os mestres.
Não somos superiores a nossos irmãos em Cristo e a humildade deve caracterizar os mestres na Igreja.
O apóstolo Tiago abre o capítulo 3 alertando seus leitores para o perigo de alguns deles se acharem superiores aos demais devido à sua posição de mestres na Igreja. Tiago chega mesmo a dizer que seus leitores deveriam ter muito cuidado ao desejarem ser mestres: “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo” (v.l). Apesar de parecer aqui que Tiago está chegando ao ponto de desestimular os seus leitores a se tornarem mestres, como se ser mestre fosse algo mau, negativo, na verdade ele está, num recurso de retórica, apenas chamando a atenção de seus leitores para a imensa responsabilidade que há em ser um mestre na Igreja. Aliás, a Epístola de Tiago é um dos textos do Novo Testamento que mais usam o recurso da retórica na exposição de seus assuntos e argumentos.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 96.
Tg 3.1 O sentido do versículo 1 está claramente expresso por Moffatt: “Meus irmãos, não insistam em tornar-se mestres; lembrem-se: nós mestres seremos julgados com mais rigor”. Aparentemente a ânsia entre os primeiros cristãos de assumir o papel de mestres (professores) motivou Tiago a escrever essa seção da sua carta. Para uma melhor compreensão dessa passagem, Lenski argumenta que “deveríamos lembrar que nas primeiras igrejas qualquer membro podia falar nas reuniões. O texto de 1 Coríntios 14.26-34 é instrutivo: qualquer irmão pode contribuir com alguma palavra. No entanto, Paulo coloca restrições: essa contribuição deve ocorrer apenas com o propósito da edificação; ela deve ocorrer com a devida ordem; somente dois ou três devem falar e as mulheres devem manter o silêncio. Tiago apresenta as mesmas ideias”. Mais uma vez, Tiago identifica-se com os seus leitores: Meus irmãos. Essas admoestações não têm a intenção de proibir qualquer cristão de fazer o que for possível para orientar outras pessoas na vida e conduta cristã. Elas visam lembrar-nos das nossas responsabilidades em vez de impedir-nos das nossas obrigações. A advertência é dirigida às pessoas teimosas e àqueles que estão procurando fama (cf. Mt 23.8-10). Tiago está dizendo: Não sejam ansiosos por dirigir a vida dos outros, porque essa tarefa requer uma grande responsabilidade. Presume-se que o mestre tenha um conhecimento maior; essa luz adicional requer vida mais intensa. Se falharmos, receberemos mais duro juízo porque temos menos desculpas para errar.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 173-174.
3.1 Tiago ensinou que as pessoas não deviam se apressar para ser mestres na igreja. Muitos dos seus leitores, preocupados com o status, teriam desejado a posição respeitável de professores da comunidade. Acompanhando de perto o capítulo 2, uma das “obras” mais respeitadas que viria imediatamente à mente dos judeus seria a posição de professor. Tiago tinha em mente uma grande ênfase no crescimento espiritual e no autocontrole, antes que alguém assumisse uma posição de professor. Os professores receberão mais duto juízo de Deus. A autoridade para ensinar traz consigo uma responsabilidade maior. Assim como as obras revelam a profundidade da fé de uma pessoa, as palavras também mostram a profundidade da maturidade de uma pessoa. O professor tem uma responsabilidade maior devido ao seu papel chave no ensino (Lc 12.42-48).
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 678.
...havemos de receber maior juízo... Porque tomamos sobre nós a responsabilidade da instrução cristã, em que o desenvolvimento espiritual é encorajado ou amortecido. Quão frequentemente, na modernas denominações evangélicas, os pregadores passam de ano para ano sem aprimorarem a si mesmos ou eficácia de sua mensagem! Esses serão julgados por sua negligência. Se eles mesmos estagnaram, como se pode esperar que seus pupilos sejam outra coisa? Além disso, o melhor mestre é aquele que vai sempre aumentando em sua experiência e em seu conhecimento espirituais.
O mestre estagnado não se aprimorará em qualquer dessas áreas.
O mestre professa «conhecer», em elevado grau, a vontade de Deus e a sua revelação aos homens, e arroga-se o direito de conduzir os homens pelo caminho espiritual. Se ele falhar em seus deveres, mostrando-se indolente, ou pervertendo os mesmos, o seu julgamento será mais severo. Ele será considerado responsável pelo seu doutrinamento (ver I Tim. 4:1 e ss. e 6:3). Ele será responsabilizado por seu exemplo (ver I Cor. 11:1). Como um pai para seus filhos, assim é um mestre para com os demais irmãos na fé. Ele deve para eles três coisas principais: exemplo, exemplo, exemplo.
O mestre e o pregador cristãos movimentam com a mais preciosa dc todas as entidades—a personalidade humana. No plano espiritual, tratam do bem-estar das almas, Isso não é coisa sem importância, o que explica a advertência do presente texto. Os mestres cristãos praticamente não são recompensados financeiramente: mas, se fizerem bem seu trabalho, grande será o seu peso de glória. Mas se Deus está envolvido no caso. isso se dá em todos os aspectos da vida crista, contanto que a pessoa envolvida tenha sido chamada pelo Senhor para aquele mister. Cada pessoa tem uma missão especifica a cumprir, sendo pessoa sem-par; e isso não somente agora, neste mundo, mas também por toda a eternidade. (Ver Apo. 2:17, nas notas expositivas ali existentes, acerca desse conceito). Cada indivíduo será responsabilizado pelo modo como tiver cumprido sua própria vida. e então, sua própria missão.
«...havemos...» Notemos o verbo na primeira pessoa do plural, em que o autor sagrado inclui a si mesmo, mostrando ser ele um dos ·mestres· da igreja. Provavelmente não temos aqui apenas um toque polido, em que o orador se inclui na exortação, conforme fazem os mestres e os oradores, a fim de suavizarem suas expressões.
Havia proselitismos fanáticos e manias por polêmicas que talvez tenha encorajado a alguns para tomarem a si a tarefa de ensinar, mas que realmente não haviam sido preparado para isso pelo Senhor. Além disso, na sinagoga, todos os tipos de mestres eram convidados a falar, para que as ideias pudessem ser trocadas de modo ·liberal·. E bem possível que esse costume tenha sido insuflado na igreja. Seja como for, o autor anseia que não houvesse um número demasiado de mestres, e que os já existentes tomassem a sério a sua responsabilidade, não usando o ensino como meio de satisfazer alguma maneira ou fanatismo. Em Pirke Aboth, cap. 1,10, encontramos um aviso contra os mestres (certos rabinos), os quais, em seu zelo fanático, espantavam os discípulos e usavam o ensino para efeito de autoglorificação. (Isso pode ser comparado com as palavras de Jesus, em Mat. 23:1-12). Muitos gostavam de ser chamados ·Rabino, rabino!», e usavam a posição de mestres como trampolim para propósitos autoritários e egoístas. Os trechos de Atos 15:24: I Cor. 1:12; 14:26: Gál. 2:12 ilustram o problema de um grande número de mestres, muitos dos quais, na realidade, não foram chamados por Deus para o ofício, e alguns dos quais são até mesmo inimigos da verdade do evangelho.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 53.
Tg 3.1 – “Pois sabeis que receberemos um juízo tanto maior.” A “palavra de Deus em lábios humanos” constitui uma responsabilidade gigantesca. Por isso não é correto ansiar para receber essa incumbência, nem tampouco tratá-la levianamente (há razões para que se afirme também o oposto: confiando em nosso Senhor podemos nos arriscar a assumir essa tarefa. Ele é que concede também o dom para a incumbência – cf. Tg 1.5; 2Tm 1.6).
Importa “manejar corretamente” a palavra (2Tm 2.15), no juízo e com graça, com instrução e promessa, tanto aos orgulhosos quanto aos desanimados, aos levianos e deprimidos, aos que se mexem com entusiasmo humano e aos apenas introvertidos. Representa uma ousadia especial comunicar a palavra ao mesmo tempo entre numerosas pessoas tão diferentes, tanto perante pessoas desconhecidas como perante aquelas que conhecemos muito bem. Aqui há necessidade de prece e intercessão.
A “avaliação” iminente (1Co 4.4) pode tornar-se “condenação”. Quando um médico esquece algo, quando não visita o paciente em tempo hábil, quando faz um diagnóstico errado por negligência, comete um erro em uma intervenção, deixa de tomar as necessárias precauções ou aplica uma injeção errada, eventualmente terá de submeter-se a um processo penal e uma ação civil de indenização. Quando entregamos incorretamente a palavra de Deus, quando pregamos lei em lugar de evangelho, quando tornamos a graça barata, quando diminuímos a seriedade do chamado ao arrependimento, quando “tiramos” ou “acrescentamos” (Ap 22.18s), não seremos perseguidos pela promotoria pública. Mas estamos sujeitos ao juízo divino, que não será menos grave do que o juízo de Deus sobre os descrentes (Lc 12.46-48).
Com tanto maior intensidade cumpre que roguemos: “Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca manifestará os teus louvores” (Sl 51.15).
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
2. A seriedade com os mestres na igreja (v.1).
Ao referir-se a “mestres”, o apóstolo tem em mente exatamente todos aqueles crentes que exercem a atividade de ensino na Igreja. Trazendo para os dias de hoje, aqui estão incluídos os pastores, pregadores da Palavra de Deus, professores de Escola Dominical, obreiros em geral, dirigentes de igreja, missionários ou qualquer irmão em Cristo que exerça, reconhecidamente, um ministério de ensino entre o povo de Deus. Ora, uma vez que só pode dar quem tem para dar, isto é, só pode ensinar quem tem realmente recebido e aprendido o bastante para poder ensinar, e uma vez também que Jesus afirmou que “a quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido” (Lc 12.48), é óbvio que ninguém tem uma responsabilidade maior do que aqueles que ensinam a Palavra de Deus. Trata-se de uma atividade extremamente honrosa e para a qual existe uma promessa extraordinária de Deus: “...os que a muitos ensinam a justiça refulgirão como as estrelas, sempre e eternamente” (Dn 12.3); entretanto, por outro lado, como toda bênção, toda dádiva, todo dom — e o ensinar é um dom (Rm 12.6,7; Ef 4.8,11,12) — traz consigo uma responsabilidade, e essa responsabilidade é ainda maior no caso do dom do ensino, então o juízo será mais severo para os mestres. E o que assevera Tiago, inclusive incluindo-se entre os mestres, entre aqueles que passarão por esse julgamento diante de Deus: “...receberemos mais duro juízo” (Tg 3.1).
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 96-97.
Tg 3. Na igreja primitiva, os professores eram muito importantes. Tanto a sobrevivência como a profundidade espiritual dos crentes dependiam deles. Na igreja de Antioquia, os professores tinham o mesmo status que os profetas que enviaram a Paulo e Barnabé (At 13.1). Os professores eram o ponto de contato para todos os novos crentes, porque os convertidos precisavam receber instrução sobre os fatos do Evangelho, e os professores os edificavam na fé. O problema, entretanto, era que alguns professores tinham a capacidade de transmitir o ensinamento, mas eram movidos por motivações muito mundanas. Eles ocupavam posições de liderança em uma igreja, formavam grupinhos, e usavam as suas posições de professores para criticar os outros. Desta maneira, eles conseguiam conservar a sua posição e importância.
Neste capítulo, a preocupação imediata de Tiago é com as palavras dos falsos professores que estão destruindo os crentes com as suas línguas descontroladas. Desta
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 677.
*...Meus irmãos...· Este título é empregado de duas maneiras: 1. Para lembrar os leitores de sua fraternidade e de sua responsabilidade para com o Pai celestial, além de seu imenso privilégio de serem irmãos do Irmão mais velho, que é Cristo; e como um artifício literário para introduzir alguma nova secção.
·...não vos torneis muitos de vós. mestres...· Que ninguém anseie demasiadamente por scr mestre, certificando-se sempre de seu dom e chamamento, porquanto isso traz consigo uma responsabilidade em nada pequena, e um julgamento mais severo, sc tal dom for abusado. E isso envolve diretamente o uso da língua, algo potencialmente perigoso. ·...mestre...· Em um contexto puramente judaico, isso significa rabino. Porém, pelo tempo em que esta epistola foi cscrita, nas congregações cristãs havia indivíduos que se destacavam como mestres, que assumiam autoridade sobre os demais, tal como os rabinos eram os lideres das sinagogas. Alguns desses mestres eram apóstolos e evangelistas. Dos diáconos e anciãos se esperava que pudessem ensinar. Porem, havia mestres, especialmente dotados por Deus para tal mister, que eram guardiões do conhecimento bíblico e religioso, os quais eram inspirados pelo Espírito Santo, para usarem seu conhecimento com o mais elevado proveito. Não eram, necessariamente, diretamente inspirados por Deus como no caso dos apóstolos e profetas; mas ocupavam-se principalmente de transmitir a outro aquele corpo de conhecimento que já estava formado, ou o do A.T., ou de porções do Novo Testamento (ou as tradições que, finalmente, vieram a compor ο N.T.), e que a igreja cristã reconhecia como autorizado.
A algo ao mesmo tempo óbvio e necessário, meramente devido às considerações sobre a natureza do «mestre», que não pode haver grande número de mestres. Outros podem ensinar com capacidades limitadas e que realmente não possuam a aptidão e o dom do ensino, como sucede no caso de muitos dos «professores» de Escola Dominical da moderna igreja evangélica.
«...sabendo...» E como se Tiago tivesse dito: Aquilo que passo a dizer já é do conhecimento de todos, e esse conhecimento agirá como motivo para a conduta certa.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 52-53.
Tg 3.1 Agora, porém, havia os “mestres” especiais na igreja. Na pluralidade dos serviços nas igrejas eles tinham a incumbência específica de conduzir adiante os seus membros no conhecimento daquilo que Deus fez, faz e fará, e também no conhecimento daquilo que ele quer que seja feito por nós. Em Paulo (1Co 12.28; Ef 4.11s) os mestres exercem esse serviço específico em uma constituição diferenciada dos ministérios nas igrejas, ao lado de apóstolos, evangelistas e profetas. Em outras passagens da Escritura a palavra “mestre”, em grego didáskalos, tem o significado de um cristão incumbido de forma geral da tarefa de proclamar, interpretar a Escritura, sobretudo na reunião da igreja. Nessa acepção o “mestre” é comparável ao rabino judaico. Esse é o significado da palavra em Hb 13.7,17,24 e também aqui.
4 – Tiago adverte para que não se busque ansiosamente assumir essa tarefa:
“Não vos torneis mestres em tão grande número”: no contexto daquele tempo os mestres eram importantes, tanto os mestres da lei em Israel como também os mestres da sabedoria, os filósofos no mundo grego. Agora evidentemente vários cristãos percebiam uma chance de galgar uma posição de peso similar no âmbito de sua igreja. Afinal, era tão belo poder falar e ensinar, enquanto os outros ouviam com devoção. Trata-se de uma tendência humana em não poucas pessoas, e de um ideal grego em especial, “ser sempre o primeiro e se avantajar diante dos demais”. Contudo em Jesus e sua igreja vigoram outros parâmetros: quem aqui pretende ser “grande” e mais próximo do Senhor esteja disposto a assumir o papel do servo (Mt 20.26-28). O dom supremo é o amor que se esquece de si mesmo (1Co 12.31; 13.1ss). A igreja de Jesus se assemelha a um corpo no qual e dentro do qual cada membro e órgão são indispensáveis, possuindo sua importância específica (1Co 12.12ss). A tarefa dos mestres é uma entre outras. Ela é importante, mas o mesmo vale para os outros prestadores de serviço. Não é imperioso que alguém se torne um mestre.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
3. Perfeição que domina o corpo (v.2).
Na sequência, Tiago ressalta que os mestres também são passíveis de erros. Ele se coloca, juntamente com todos os demais mestres, no mesmo nível de falibilidade dos demais irmãos que não são mestres. Ou seja, tanto o cristão que é um mestre na Igreja como aquele crente mais simples da congregação não são moralmente perfeitos — ambos precisam da graça de Deus: “Porque todos tropeçamos em muitas coisas...” (Tg 3.2). Como ressalta Cargal à luz dessa passagem, “os professores ou mestres não são possuidores de uma posição superior ou de uma perfeição moral dentro da Igreja, pois estes também tropeçam”.
Um detalhe importante ainda nessa passagem, como destaca também Cargal, é que ela deixa claro que “o ofício de ensinar era altamente considerado nos primórdios da Igreja, e a pretensão de ‘muitos’ da congregação de se tornarem mestres, aos quais Tiago está se dirigindo”, é uma das causas de sua “preocupação com a ambição pelo poder e pela posição (Tg 1.9,12; 2.1-4)”.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 97-98.
Tg 3.2 O apóstolo nos lembra que todos tropeçamos em muitas coisas (v. 2). Uma tradução mais correta seria: “Todos nós cometemos erros” (RSV). Todos nós podemos tropeçar (cf. 1 Co 10.12); todos nós temos grandes chances de cometer equívocos e somos propensos a errar; por isso, corremos sérios riscos ao assumir voluntariamente o papel de guia. Wesley comenta: “Não coloque mais sobre as suas costas do que Deus confiou a vocês, visto que é tão difícil não ofender ao falar muito”.
Tiago usa o artifício da repetição de palavras para aumentar a ênfase. “Tropeçamos” em 2a é seguido de tropeça em 2b. Ele diz que se alguém não tropeça em palavra — se não cometemos erro no falar — podemos ser considerados homens perfeitos. Aquele que controla suas palavras pode refrear (guiar ou controlar) toda a sua conduta. Isso provavelmente não é um termo literal porque um homem poderia manter sua fala sob controle e mesmo assim pecar de outra forma. Tiago está usando um tipo de provérbio — uma generalização para enfatizar o lugar-chave da fala na vida cristã. Ela é comparável à afirmação de Jesus: “Porque por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado” (Mt 12.37).
O que Tiago quer dizer com varão [...] perfeito? 0 adjetivo perfeito (teleios) normalmente refere-se ao propósito ou função do substantivo modificado. Nesse contexto, poderia significar: “aqueles que alcançam plenamente o seu elevado chamado”.3 O cristão que é cristão no seu falar está agradando plenamente a Deus. Ele é varão [...] perfeito, no sentido que Jesus ordenou aos seus discípulos a usar um falar franco e direto (Mt 5.37) e então acrescentou: “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.48). A luz dessa verdade um cristão apenas pode se unir à oração do Salmista: “Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a tua face, Senhor, rocha minha e libertador meu!” (SI 19.14).
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 174.
Tg 3.2 Todos tropeçamos em muitas coisas, ou nos enganamos quando estamos descuidados. Todos tropeçamos, mas os nossos erros mais frequentes acontecem quando estamos falando. Por termos a tendência de cometer erros ao falar, precisamos ter ainda mais cuidado e permitir que Deus controle o que dizemos. Ele é capaz de orientar a nossa motivação, os nossos pensamentos, a nossa escolha de palavras, e até mesmo o impacto que as nossas palavras têm sobre os outros.
Muitas pessoas podem pensar que é impossível controlar a língua, mas a maioria das pessoas nem sequer começou a tentar. A capacidade de controlar a língua é a marca da verdadeira maturidade para o cristão (veja I.I9, “ser tardio para falar”). Quando Jesus confrontou os líderes religiosos sobre as acusações que tinham contra Ele, Ele disse que a boca fala do que há em abundância no coração – mostrando que aquilo que há dentro de uma pessoa afeta o que ela faz com as suas palavras (Mt 12.33-37). O Senhor também disse que nós devemos prestar contas por qualquer palavra descuidada que proferirmos (Mt 12.36). As pessoas que conseguem controlar as suas línguas serão capazes de refrear todo o corpo. A sabedoria e o amor de Deus e o autocontrole dado pelo Espírito Santo nos ajudarão a exercer este controle (veja Pv 15.1-4, para mais informações sobre como uma pessoa amadurecida controla a sua língua).
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 678.
Tg 3.2 E aí Tiago começa a colocar a questão da língua num aspecto muito interessante, que é a questão do tropeço. Nós tropeçamos em muitas coisas, aquele que não tropeça no falar é perfeito varão, é capaz de manter o controle de todo seu corpo (3.2).
Obviamente todos nós já falhamos, já tropeçamos em nossa própria língua. Quantas vezes já ficamos envergonhados de falar aquilo que não deveríamos ter falado, na hora em que não deveríamos ter falado, com a pessoa que não deveríamos ter falado, com a intensidade e o volume da voz que não deveríamos ter usado. Uma palavra falada é como uma seta lançada, não tem jeito de retorná-la. E como um saco de penas soltas do alto de uma montanha, não podemos mais recolhê-las.
Tiago, então, diz que se você controla sua língua, você controla o seu corpo inteiro, você domina sua vida. Nós tropeçamos, e a Bíblia diz que é um laço para o homem o dizer precipitadamente, pois além dos estragos provocados na vida de outros e na nossa própria vida, ainda vamos dar conta no dia do juízo por todas as palavras frívolas que proferimos. Pelas nossas palavras seremos inocentados, ou pelas nossas palavras seremos condenados. Tiago enumera para nós algumas figuras importantíssimas no trato dessa importantíssima matéria. Warren Wiersbe diz que a língua tem o poder de dirigir, destruir e deleitar.
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 60-61.
Tg 3.2 1 – “(Na verdade) falhamos de muitas maneiras”: em todas as esferas da vida ocorrem falhas, inclusive entre nós cristãos.
“Se alguém não tropeça (nem mesmo) no falar, é um homem perfeito”: teria chegado ao alvo (a palavra grega téleios = “perfeito” está gramaticalmente ligada a télos = “fim”, “consumação”, “alvo”). Com certeza essa pessoa também controlaria todas as demais áreas da vida. Antes Tiago escreveu: “Todos nós falhamos de múltiplas maneiras.” A última coisa que conseguimos controlar são as transgressões com palavras. Logo nenhum de nós é “pessoa perfeita”. Porém conhecemos Aquele capaz de afirmar: “Quem dentre vós pode me arguir de qualquer pecado?” (Jo 8.46). “As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo” (Jo 14.10,24). Pedro, que vivera longo tempo com Jesus, podia atestar: “Não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca… Não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças…” (1Pe 2.22s). No entanto, isso não pode ser afirmado a nosso respeito. “Nós falhamos de múltiplas formas”, principalmente e pelo tempo mais longo na área tão importante do nosso falar. Nesse ponto salva-nos unicamente o fato de que “a misericórdia se gloria contra o juízo” (Tg 2.13), prevalece o perdão de Deus e seu Espírito, por meio do qual ele mesmo habita em nossos corações (Ef 3.17). “O Senhor é o Espírito” (2Co 3.17). A única coisa que soluciona isso é que nosso Senhor está em nós e nós nele. Porque “se alguém está em Cristo, é nova criatura” (2Co 5.17).
2 – Por meio de duas comparações Tiago explicita como o pequeno membro, nossa língua, ou seja, nossa capacidade de falar, possui relevância decisiva para toda a vida, sendo por assim dizer o ponto de apoio de nossa vida. Mostra como somos capacitados para a “pôr freio” (controlar) também “o corpo todo” (nossa vida com seu vigor e seus efeitos; v. 3s).
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
II - A CAPACIDADE DA LÍNGUA (Tg 3.3-9)
1. As pequenas coisas no governo do todo (vv.3-5).
Usando como gancho o fato de que mesmo os mestres são passíveis de erro, Tiago insere o tema da língua, ao falar do “tropeço na palavra”, isto é, o tropeço na fala: “Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão é perfeito e poderoso para também refrear todo o corpo” (Tg 3.2b).
Para realçar diante de seus leitores o poder da língua, o apóstolo usa duas metáforas: a do freio na boca dos cavalos e a do leme do navio (Tg 3.3,4). As duas ilustrações evidenciam como esses dois objetos menores, essas pequenas partes de um todo, têm o poder de influenciar completamente o todo, de direcionar e dirigir todo o conjunto — o freio dirige as ações dos cavalos e o leme conduz o imenso navio na direção que o capitão deseja. Apesar de alguns comentaristas verem nessas metáforas ilustrações para o importante papel de influência que os mestres teriam na igreja, entendendo que Tiago se refere aqui à “língua” dos mestres como controlando todo o “corpo” da Igreja, na verdade uma leitura atenta dessa passagem mostra que o assunto aqui já é outro. Os mestres já não estão no foco. O fato de também tropeçarem na fala como qualquer outra pessoa (Tg 3.2b) é que foi usado como gancho para o assunto “língua” — ou poder da língua. Ou seja, Tiago já não está se dirigindo à questão dos mestres, mas a um problema que todos os crentes enfrentam individualmente: a necessidade de controlarem suas línguas, de serem bons mordomos do que falam.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 98.
Tg 3.3-5 A palavra “refrear” (v. 2) levou Tiago a usar a ilustração do freio nas bocas dos cavalos (v. 3). A língua é um pequeno membro (v. 5), mas ele nos lembra que o tamanho do instrumento não é a verdadeira medida da significância das nossas palavras. Três figuras marcantes são usadas para chamar a atenção do leitor para essa verdade. As primeiras duas ilustram os valores positivos do falar controlado. O freio nas bocas dos cavalos (v. 3) é uma coisa pequena, mas ao usar o freio, literalmente ao controlar a língua do cavalo, guiamos o animal e atingimos os nossos propósitos. O leme (v. 4) é bem pequeno em comparação com o navio, mas ao controlar o leme, o piloto guia o navio de maneira segura.
Nas duas ilustrações, o autor mostra que algumas coisas muito pequenas podem produzir resultados bastante significativos. O mesmo ocorre com a nossa fala: “E isto que acontece com a língua: mesmo pequena, ela se gaba de grandes coisas!” (NTLH).4 Embora os efeitos do falar estejam, com frequência, fora de proporção em relação ao tamanho da língua, esses efeitos podem ser salutares e construtivos. A chave é o controle, e esse controle é nosso dever cristão.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 174-175.
Tg 3.3-5 Freio... leme... língua... pequeno fogo.
O que estas coisas têm em comum? Todas elas são pequenas, mas são controladores muito eficientes - elas controlam alguma coisa muito maior que elas mesmas. Tiago está explicando o poder destruidor das nossas palavras. Nós vemos isto evidenciado na história, quando ditadores como Adolf Hitler, o aiatolá Khomeini, Josef Stalin e Saddam Hussein usaram suas palavras para mobilizar as pessoas para destruir outras. Nós vemos isto evidenciado nas divisões da igreja e na ruína da reputação de um pastor. E nós vemos como a violência verbal no lar pode destruir a própria personalidade e a natureza humana de cônjuges e crianças. Satanás usa a língua para dividir as pessoas e colocá-las umas contra as outras. As palavras ociosas são prejudiciais porque elas espalham a destruição rapidamente. Não devemos ser descuidados com as nossas palavras, pensando que poderemos pedir desculpas mais tarde, porque, mesmo fazendo isto, o estrago permanecerá. Poucas palavras pronunciadas com ira podem destruir um relacionamento que levou anos para ser construído. Lembre-se de que as palavras são como o fogo; elas não podem controlar nem reverter o estrago que fazem.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 678.
Tg 3.3-5 Nós podemos conduzir uma multidão pela maneira como falamos, tanto para o bem como para o mal. Martin Luther King foi um pastor batista, cujo pai e avô também tinham sido pastores. Sua liderança foi fundamental para o sucesso do movimento de igualdade de direitos civis entre negros e brancos nos Estados Unidos, nos idos de 1960. Enquanto exercia seu ministério em Montgomery, Alabama, relacionou-se com um grupo de militantes dos direitos civis e tornou-se conhecido ao liderar um movimento contra a segregação racial nos ônibus da cidade.
Em agosto de 1963, a campanha anti-racista atingiu o auge, quando mais de 200.000 pessoas participaram de uma concentração diante do monumento de Lincoln, em Washington. Na ocasião, Luther King pronunciou seu famoso discurso “Eu tenho um sonho”. Ele disse à multidão presente, bem como aos pósteros: “Eu tenho um sonho, de que um dia, em meu país, os meus filhos sejam julgados não pela cor da sua pele, mas pela dignidade de seu caráter”.
Em 1964, ano em que Martin Luther King ganhou o Prêmio Nobel da Paz, o governo americano sancionou a lei dos direitos civis, favorável às minorias raciais. Martin Luther King foi assassinado por um atirador branco em Memphis, no Tennessee, em 4 de abril de 1968. Ele tombou como mártir da sua causa, mas deixou depois de si, um país melhor, mais justo e mais humano.
Mas a língua também pode induzir as pessoas à prática do mal. Adolf Hitler era um orador que eletrizava as massas e conduzia multidões inteiras à loucura e às práticas extremamente cruéis e desumanas. Ele usou sua oratória para levar a Alemanha à guerra. Suas ideias foram despejadas como ácido do inferno sobre a mente do povo alemão. Até hoje ficamos perplexos e atordoados ao vermos filmes como O Holocausto, A Lista de Schindler e O Pianista. Esses filmes retratam a realidade crua e perversa dá destruição em massa do povo judeu nos campos de concentração nazistas.
A língua tem o poder de dirigir tanto para o bem como para o mal. Tiago usa duas figuras para mostrar o poder da língua: o freio e o leme (3.3,4). Para que serve um cavalo indomável e selvagem? Um animal indócil não pode ser útil, antes, é perigoso. Mas, se você coloca freio nesse cavalo, você o conduz para onde você quer. Através do freio a inclinação selvagem é subjugada, e ele se torna dócil e útil. Tiago diz que a língua é do mesmo jeito. Se você consegue controlar a sua língua, também conseguirá dominar os seus impulsos, a sua natureza e canalizar toda a sua vida para um fim proveitoso.
Tiago usa também a figura do leme. Um navio transatlântico é dirigido para lá ou para cá, pelo timoneiro, por meio de um pequeno leme. Imagine o que seria um navio sem o leme. Colocaria em risco a vida dos tripulantes, a vida dos passageiros e a carga que transporta. Isso seria um grande desastre. Sem leme, um navio seria um instrumento de morte, de naufrágio, de loucura. O leme, porém, pode conduzir esse grande transatlântico, fugindo dos rochedos, das rochas submersas e pode transportar em paz e segurança os passageiros, os tripulantes e a carga que nele está.
O que Tiago está dizendo é que se nós não controlarmos a nossa língua, nós seremos como um transatlântico sem leme e sem direção. Se não controlarmos nossa língua, vamos nos arrebentar nos rochedos, vamos nos destruir e vamos ainda destruir quem está perto de nós, porque a língua tem poder de dirigir para bem ou para o mal.
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 61-63.
Tg 3.3 a) “Ora, quando pomos freio na boca dos cavalos, para nos obedecerem, (também) lhes dirigimos o corpo inteiro”: com o freio se exerce o domínio sobre o animal todo. “Acima” do cavalo está o freio; por meio dele se decide sobre o cavalo. E “acima” do freio está o cavaleiro que move o freio. A pequena língua se assemelha ao pequeno freio. Nesse ponto predominante são tomadas as decisões acerca do que uma pessoa é e realiza, acerca da influência que ela exerce. Ademais, é sobretudo perante Deus que nossas palavras possuem um grande peso: “Ainda a palavra me não chegou à língua, e tu, Senhor, já a conheces toda” (Sl 139.4). “As pessoas terão de prestar contas de cada palavra má que sai de sua boca” (Mt 12.36). Nossa tendência é não atribuir às palavras um significado tão grande. Atentamos para as ações, mas nem de longe na mesma medida para nosso falar. Contudo a Bíblia não diferencia dessa forma entre palavra e ação. Também palavras são ações. – Em toda essa metáfora a nossa existência corresponde ao corpo do cavalo, e nossa língua, nossa capacidade de falar, ao freio que o move. A questão decisiva é a identidade do cavaleiro! Será que somos realmente nós mesmos? Nós humanos nunca somos apenas dirigentes, mas sempre também dirigidos, nunca somos apenas sujeitos, mas sempre também objetos. Quem está em nossa “sela”? O Espírito do alto ou o espírito de baixo? Paulo escreve: “Os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8.14).
Tg 3.4 b) “Observai, igualmente, os navios! Eles, sendo tão grandes e batidos de rijos ventos, por um pequeníssimo leme são dirigidos para onde queira o impulso do timoneiro”: a pequena língua, em geral pouco notada, nossa capacidade de falar, tão natural para nós, é comparada agora com o pequeno leme, quase submerso na água. O pequeno leme determina o rumo do navio, apesar do tamanho da embarcação e da fúria das tempestades. Eis o navio, e “acima” dele, por assim dizer (não em sentido espacial, mas no que tange à importância), está o leme, e acima do leme está o timoneiro. Novamente levanta-se a pergunta: em nosso caso, quem está “no leme”, quem é o “timoneiro”, e permitimos que nosso Senhor “conduza o barco”? “Soberano, governa; Vitorioso, vence; Rei, usa teu poder” – sobre mim!
3 – Até agora Tiago falou apenas do grande efeito produzido pela língua. Com uma terceira ilustração ele passa a relatar, com realismo bíblico, que efeitos devastadores partem da língua, e também exatamente de onde vêm esses efeitos (v. 5s).
Tg 3.5 Inicialmente Tiago volta a sintetizar o que expôs até aqui: “Assim, também a língua é (apenas) um pequeno órgão e (não obstante) se gaba de grandes coisas.” Então, porém, continua: “Vede uma fagulha! Que grande selva ela põe em brasas.” Alguém larga descuidadamente um fósforo ou um toco de cigarro, ou um grupo de excursão assa linguiças e vai embora sem apagar o fogo.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
2. “A língua também é um ‘ fogo” (vv.6,7).
O apóstolo lembra que a língua “é um fogo”. A forte imagem que ele apresenta nos versículos 5 e 6, ao comparar a língua como um pequeno fogo que incendeia um bosque, objetiva justamente enfatizar os resultados trágicos de uma língua fora de controle. Ela é extremamente destrutiva, destruidora. Nesse caso, é uma língua que não tem freio, que não é controlada pela pessoa. Nessas condições, ela passa a ser um instrumento do “inferno” (v. 6).
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 98-99.
A terceira figura de Tiago que contrasta a magnitude da causa e a extensão dos efeitos também introduz a ideia dos resultados trágicos do falar incontrolado: Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia. A língua também é um fogo (w. 5-6). Tiago agora descreve a língua perversa. Easton traduz: “Neste mundo de injustiça, a língua é colocada entre os nossos membros”.5 Esse fogo destrói com o seu calor e contamina todo o corpo (v. 6) com sua fumaça. O incêndio inflamado por uma língua descontrolada é causado pelo Diabo; é inflamada pelo inferno. O curso da natureza é interpretado da seguinte forma: “O curso normal dos afazeres humanos é inflamado — tornando-se destrutivo para a humanidade — por línguas perversas”.
“Você e eu não existimos meramente como entidades separadas. Cada um de nós não é como uma casa separada da outra [...] Tiago nos vê como casas que estão reunidas em uma grande cidade. Um fogo que acende uma casa, logo se espalhará e se tomará um grande incêndio destrutivo”. O sentido do versículo todo é bastante claro na Bíblia Viva: “E a língua é uma chama de fogo. Está cheia de maldade e envenena todos os membros do corpo. E é o próprio inferno que ateia fogo à língua, que pode transformar toda a nossa vida numa chama ardente de destruição e desastre”.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 175.
Tg 3.6 A língua é um mundo de iniquidade por causa do estrago que ela pode causar ao mundo e ao resto da comunidade cristã. A língua sem controle pode transformar a vida de uma pessoa em um fogo de destruição. Isto significa que a língua pode destruir todo o bem que nós construímos durante toda a vida. Embora tenhamos ministrado durante anos e anos, e vejamos frutos abundantes, se deixarmos de controlar a nossa língua, podemos vir a desfazer todo o bem que construímos durante os nossos anos no ministério. As nossas palavras têm um poder que poucas outras habilidades têm, pois a nossa língua é inflamada pelo inferno. As chamas do ódio, do preconceito, da calúnia, dos ciúmes e da inveja parecem vir do mesmo lago de fogo onde Satanás será punido (veja Ap 20.10,14,15, para mais informações sobre o lago de fogo).
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 678.
Tg 3.5-7 Tiago lança mão de outras duas figuras; o fogo e o veneno (3.5-8). Ele diz que uma fagulha pequena incendeia toda uma floresta. Você já parou para perceber que um incêndio de proporções tremendas pode ser causado por uma simples guimba de cigarro ou por um mero palito de fósforo? Aquela chama inicial é tão pequena que, se você der um sopro, ela se apaga. Mas o que adianta você soprar um fogo que se alastra por uma floresta? Aí não adianta mais. O fogo, depois que se agiganta e alastra torna-se indomável e deixa atrás de si grande devastação. Assim é o poder da língua. Onde um comentário maledicente se espalha, onde a boataria medra e onde a fofoca se infiltra, como labaredas de fogo, vai se alastrando e provocando destruição. Assim como o fogo cresce, espalha, fere, destrói e provoca sofrimento, prejuízo e destruição, assim também é o poder da língua.
No dia 8 de outubro de 1871, às oito horas e trinta minutos da noite, durante uma campanha evangelística de Dwight Liman Moody, em Chicago, aconteceu um terrível incêndio. Mais de cem mil pessoas ficaram sem casas, dezessete mil e quinhentos prédios foram destruídos e centenas de pessoas morreram. Aquele incêndio Como conhecer o poder da língua começou tênue e pequeno, mas atingiu proporções avassaladoras. Assim é o poder da língua, diz Tiago.
É do conhecimento geral o que aconteceu no ano 64 d.C. na cidade de Roma. O imperador romano Nero, em sua insanidade, pôs fogo em Roma, assistindo o espetáculo horrendo das chamas lambendo a cidade com fúria e à destruição do alto da torre de Mecenas. Dos quatorze bairros de Roma, dez foram devastados e destruídos pelas chamas. O que Tiago está querendo nos alertar é que a língua tem o poder do fogo, o poder de destruir. Como o fogo destrói, também a língua destrói.
No final do século 19, na cidade de Denver, Colorado, Estados Unidos, quatro repórteres aguardavam ansiosamente a chegada de um famoso político, um senador, que haveria de visitar a cidade. Os repórteres posicionaram-se para receber o dito senador, um homem de projeção no país. Entrementes, para a frustração deles, o senador não chegou, e eles ficaram tão decepcionados e desiludidos que resolveram ir para o Oxford Hotel e começaram a beber. Durante toda aquela noite, beberam em excesso. Depois de embriagados, eles resolveram escrever uma matéria para o jornal que pudesse chamar a atenção da população. De forma contundente, escreveram um artigo cuja manchete era: “A China anuncia a derribada de suas multisseculares muralhas”.
A notícia chegou à China como uma bomba explosiva e provocou uma grande confusão. Os chineses reagiram furiosamente, abrigando um grande ódio pelos ocidentais.
Os cristãos ocidentais que moravam na China passaram a ser perseguidos. Essa malfadada notícia provocou na China a sangrenta Revolução dos Boxers.
Em maio de 1900 essa revolução se alastrou, provocando grandes tragédias e a perda de milhares de vidas. Foi preciso que os Estados Unidos, a Inglaterra, a Alemanha, a França e o Japão se unissem para defender os ocidentais. Dezenove mil soldados aliados capturaram Pequim no dia 14 de agosto de 1900, mas, naquele mesmo dia, duzentos e cinquenta ocidentais foram assassinados naquela cidade.
Só um ano depois é que o tratado de paz foi assinado.
Contudo, os chineses expulsaram os estrangeiros da China. Esse fato medonho, provocado por uma mentira, foi o combustível para inflamar o nacionalismo chinês, encarnado na revolução comunista de 1949. Aqueles quatro repórteres de Denver jamais poderiam imaginar que uma notícia inconsequente pudesse trazer transtornos, prejuízos e tragédias tão gigantescas, de proporções tão avassaladoras. Assim é a língua, diz Tiago.
Muitas vezes, faz-se comentários acerca de uma pessoa, ou de uma determinada situação, em um tom jocoso, em tom de brincadeira, mas não podemos imaginar o que uma palavra irrefletida, mal colocada, pode provocar na vida de uma pessoa. E, então, Tiago está nos alertando que a língua tem de igual modo o poder destruidor. Tiago diz no versículo 6 que a língua é fogo. Ele não disse que é como fogo, mas é fogo. Tiago faz uma afirmação categórica. Ele diz também que a língua é um mundo de iniquidade. A língua corrompe. Mais do que isso, a língua contamina, fermenta, joga uma pessoa contra a outra. Tiago diz no versículo 6 que a língua está situada entre os membros do nosso corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a carreira da existência humana, como também ela mesma é posta em chamas no inferno. Ela não só leva à destruição, como também será destruída.
Três coisas precisam ser destacadas no pensamento de Tiago.
Em primeiro lugar, a língua é perigosa (3.6). Ela é mundo de iniquidade, ela é fogo, ela coloca em destruição toda a carreira da vida humana.
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 63-66.
Tg 3.6 “Também a língua é um fogo”: um fogo pequeno, insignificante, pouco considerado. “A língua se mostra entre os membros de nosso corpo como mundo da injustiça”: constitui um ponto de entrada singular para um espírito maligno em nossa vida, mas também o ponto de extravasamento desse espírito para nosso ambiente. Dessa maneira pode partir de nós uma influência profundamente consternadora, que deve nos assustar do mesmo modo como um incêndio florestal que causamos. Sem ponderar as palavras, relatamos algo, emitimos ou até mesmo sugerimos um juízo, e depois nos espantamos profundamente com o efeito disso e com o que outros fizeram disso (com os correspondentes acréscimos e exageros).
“Contamina o corpo inteiro”: Nosso Senhor Jesus Cristo diz: “Não é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai da boca, isso, sim, contamina o homem” (Mt 15.11).
“Põe em chamas o círculo da vida”: a idéia do “círculo da vida” ou da “roda da vida” pode vir do mundo intelectual indiano – como supõem muitos pesquisadores. Mas Tiago emprega a expressão simplesmente no sentido do “entorno” do ser humano, de nosso horizonte de vida e de todo o âmbito de nossa existência terrena.
Quando há um incêndio qualquer no mundo e vemos, na sequência, um monturo de escombros, pequenos ou grandes, é certo que a língua humana estava envolvida desde o começo. “O mundo da injustiça” parte da língua, derrama-se para dentro do mundo em redor do ser humano, confundindo e destruindo-o. Há uma legião de possibilidades para exercer uma influência tão maligna através da palavra humana falada, escrita e difundida pelos veículos de comunicação: mentira, desencaminhamento, suspeição, manipulação, instigação, agitação. As consequências: preconceito, inveja, ódio, fanatismo, ideologização, cupidez, indisciplina… No ataque-mor do inimigo e de seu séquito demoníaco na fase escatológica deste mundo, a língua que desencadeia o fogo maligno (Ap 13.5,11) terá um papel singular. É nisso que o pecado transforma a maravilhosa dádiva da fala!
Agora Tiago diz expressamente de onde vem, em última análise, esse fogo: “Pelo inferno é que ela é posta em chamas.” Novamente vemos aqui “acima”, ou “uma atrás da outra”, a “floresta”, ou seja, o mundo, que é incendiado e destruído, a palavra humana, que solta o estopim e causa o incêndio, e finalmente o fogo com o qual o estopim é aceso.
Tg 3.7 – Não conseguimos resolver tudo isso por nós mesmos, humanamente (v. 7s). É verdade que somos capazes de um espantoso número de coisas: “Toda espécie de feras, de aves, de répteis e de seres marinhos se doma e tem sido (definitivamente) domada pelo gênero humano”. Além dos animais poderíamos acrescentar muitas outras coisas: também a eletricidade e a energia atômica. É espantoso como o ser humano aprendeu a colocar a força da natureza que o cerca a seu serviço. Assume controle de tudo, menos de si mesmo, e isso se explicita com singular clareza em sua língua, em sua maneira de falar. As forças intelectuais do ser humano que se expressam nas ciências naturais e na tecnologia são muito maiores que suas forças éticas e de caráter. Isso ameaça causar, enfim, uma catástrofe.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Pv 18.21 A morte e a vida estão no poder da língua. As questões da vida e da morte estão na língua; ela pode abençoar e pode amaldiçoar. Pode dar vida e pode matar. Pode curar ou pode ser como uma serpente que pica e fere. Existem palavras que são como espadas e palavras que são como dardos, mas também existem palavras que curam. O falar demais envolve a transgressão (ver Pro. 10.19); o falar precipitado causa o dano (ver Pro. 17.28); o silêncio é elogiável, especialmente o silêncio de um homem insensato, que se torna temporariamente sábio por manter a boca fechada (ver Pro. 17.28); o engano pode ganhar vantagens, mas acaba sendo maléfico (ver Pro. 20.17); a maledicência é uma arma temível (ver Pro. 11.13); uma resposta branda pode aquietar águas agitadas (ver Pro. 15.1). Ver sobre Pro. 11.9 e 13 quanto a notas de sumário sobre o assunto, e ver também, no Dicionário, o verbete intitulado Linguagem, Uso Apropriado da. No livro de Provérbios há cerca de cem provérbios que tratam desse assunto.
Sinônimo. Considere o leitor estes dois pontos:
1. Um bom discurso é como uma fruta (vs. 20), e aqueles que o apreciam comerão com satisfação.
2. Mas essa porção do versículo pode significar que as pessoas que falam muito amam o seu muito falar, mas sofrerão as consequências de seu excesso de palavras. Ver Pro. 10.19; 18.2; 20.19.
Se a primeira dessas duas interpretações é a correta, então é um paralelo à vida referida na primeira linha métrica. Mas se a segunda é que está correta, então ela é paralela à morte referida na primeira linha. Cf. Tia. 1.19,25; 3.6,8. Ver também Pro. 12.13 e 4.23, onde se diz o mesmo tipo de coisa sobre o coração que é dito sobre a língua. Pense o leitor nos oradores eloquentes, cheios de vigor, e o bem ou o mal que eles projetam contra os homens cuja mente é conduzida por causas boas ou más.
‘“Falar é barato’. 'Palavras, palavras, nada senão palavras’. ‘Ele é apenas um falador’. Essas declarações ilustram uma comum depreciação da importância da fala. Porém, haverá alguma coisa no mundo mais potente para o bem ou para o mal do que as palavras? A fala é a faculdade que diferencia os homens dos animais. A fala é sinal de personalidade. A autoconsciência se manifesta somente na fala. O pensamento é impossível sem as palavras, as quais representam ideias. As ações são precedidas por pensamentos, conforme Hence colocou a questão: ‘O pensamento antecede as ações como os relâmpagos antecedem os trovões'. Mas o pensamento é impelido por sugestões verbais. Toda a cooperação entre os seres humanos depende das comunicações verbais para haver sucesso. A solidariedade cultural de um grupo se baseia em uma linguagem comum. O caráter se revela pela linguagem de cada indivíduo. ‘O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau, do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração’ (Luc. 6.45). Assim sendo, Tiago (capítulo terceiro) não está equivocado quando dá tanta ênfase à língua” (Easton, comentando sobre Tia. 3.2).
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2630-2631.
Pv 18.21 Observe: 1. Um homem pode fazer uma grande quantidade de bem ou uma grande quantidade de mal, tanto para os outros como a si mesmo, conforme o uso que faz da sua língua. Muitos provocaram a sua própria morte, por uma língua traiçoeira, ou a morte de outros por uma língua mentirosa; e, por outro lado, muitos salvaram a sua própria vida. ou buscaram a sua consolação, por uma língua gentil e prudente, e salvaram as vidas de outros, por um oportuno testemunho ou intercessão a favor deles. E, se pelas nossas palavras nós devemos ser justificados ou condenados, a vida e a morte, sem dúvida, estão no poder da língua. A língua foi o melhor alimento de Esopo, e o pior. 2. As palavras dos homens serão julgadas pelos sentimentos com que falam; aquele que não somente fala de maneira correta (o que um homem ímpio pode fazer, para salvar sua reputação ou agradar a seus amigos), mas ama falar bem, fazendo-o voluntariamente, e com prazer, para o tal a língua será a vida; e aquele que não somente fala de maneira equivocada (o que um homem bom pode fazer, inadvertidamente), mas ama falar assim (SI 52.4), para este a língua será a morte. Conforme os homens a amem, comerão os seus frutos correspondentes.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. pag. 815.
3. Para dominar a língua.
A língua só pode ser domada pela ação do Espírito Santo no coração
O apóstolo Tiago afirma que embora os animais mais bravos possam ser amansados pelo homem, a sua própria língua não pode ser domada por ele (Tg 3.7,8). Ele assevera claramente que a língua “é um mal que não se pode refrear, está cheia de peçonha mortal” (Tg 3.8b). Ou seja, não adianta tentarmos, por nossas próprias forças, domarmos a nossa língua. Então, como fazê-lo? A Palavra de Deus é clara: somente pela ação do Espírito Santo.
Tiago está falando aqui da língua como um fogo que tem o poder de colocar em chamas, no sentido de destruição, todo o curso da existência de uma pessoa — “...inflama o curso da natureza...” (Tg 3.6b) —, porém a Bíblia fala de um fogo santo, advindo do Espírito Santo, que incendeia positivamente nossa fala (Lc 3.16; At 2.2,3; 1 Ts 5.19), purificando-a, santificando-a, restaurando-a e tornando-a canal de bênção. Aliás, o próprio Tiago afirma que da língua pode proceder tanto a bênção quanto a mediação (no sentiam-se raiar o bem e bendizer, e de falar o mal e maldizer), e adverte seus leitores a não viverem nessa inconstância, mas a terem suas línguas apenas como canais de bênção (Tg 3.9,10). Ora, somente o Espírito Santo pode fazer isso, porque Ele vai até o centro do problema: o coração humano.
Lembremos que “língua” é uma expressão que se refere à linguagem, à fala, uma vez que a língua é apenas um veículo que expressa uma realidade interior, uma realidade que se encontra na mente, no coração do ser humano. O que determina se a língua será canal do mal ou do bem é o estado do coração da pessoa. Disse Jesus: “Do que há em abundância no coração, disso fala a boca” (Mt 12.34). Logo, o que Tiago está dizendo aqui é que tudo é uma questão de ter a nossa vontade, o nosso coração, controlados por Deus. Se é a vontade que põe freio na língua, e nossa vontade é continuamente má por causa do pecado, não poderemos frear a língua, a não ser que Deus reine em nossa coração, a não ser que permitamos que o Espírito Santo nos guie, reine sobre nossa vontade, nos governe (Rm 8.5-11). Isso ocorre quando buscamos a presença de Deus e somos, assim, cheios do Espírito; então, o fruto do Espírito em nós gerado produz temperança, autocontrole (Ef 5.18-21; G1 5.16,22), e domamos nossa língua.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 99-100.
Tg 3.7-8 A figura do fogo enfurecido e fora de controle sugere uma nova comparação. A palavra porque (v. 7) indica uma explanação adicional dos resultados trágicos da fala descontrolada. Feras selvagens de todo tipo têm sido domadas e submetidas a servir o homem, mas nenhum homem pode domar a língua. E um mal que não se pode refrear (v. 8). A referência à domesticação de animais selvagens parece uma alusão “ao domínio dado originalmente ao homem sobre as criaturas inferiores, que não foi perdido, como infelizmente aconteceu com o controle da língua”.9 No versículo 7, o autor novamente mostra o seu prazer pela repetição e aliteração: toda natureza (physis) de bestas-feras foi domada pela natureza humana. A língua teimosa está cheia de peçonha mortal (cf. SI 58.4; 140.1-3). Alguns intérpretes entendem que esse texto quer dizer que uma pessoa não pode controlar a língua de outra. No entanto, todo contexto parece mostrar claramente que Tiago está falando de autocontrole. Nenhum homem pode domar sua própria língua porque sua motivação para o mal vem de impulsos poderosos não por escolha própria — a língua é incendiada pelo inferno.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 175-176.
Tg 3.7,8 Embora as pessoas possam domar todas as criaturas (versão NTLH), nenhum homem pode domar a Língua. Por que? Porque ela é um mal que náo se pode refrear; está cheia de peçonha mortal. A língua é sempre capaz de fazer o mal; ela permanece indomada ao longo da vida. Com a nossa língua, nós podemos atacar e destruir. Ao reconhecermos a capacidade mortal da língua, podemos dar os primeiros passos para mantê-la sob controle.
Nenhum homem pode domar a língua, mas Cristo pode. Para fazer isto, Ele vai diretamente ao coração (Mc 7.14,15; Sl 51.10) e à mente (Rm 12.1,2). Não devemos tentar controlar a nossa língua somente através de nossos próprios esforços; devemos confiar no Espírito Santo. Ele nos dará um poder crescente para monitorar e controlar o que dizemos. Pois, quando nós nos sentirmos ofendidos ou criticados injustamente, o Espírito nos lembrará do amor de Deus e nos impedirá de reagir. O Espírito Santo curará a mágoa e impedirá que ataquemos. Podemos nos certificar de que estamos sob o controle do Espírito incorporando as Escrituras à nossa vida e pedindo ao Espírito que oriente os nossos pensamentos e atos todos os dias.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 678-679.
Tg 3. 7 A língua é indom ável (3.7). O homem, com o seu gênio, consegue domar os animais do campo, os répteis, os voláteis e também os animais aquáticos. O homem doma todas as criaturas do ar, da terra e do mar. Porém, o homem não consegue domar a própria língua. Se o homem conseguisse domar sua língua, diz Tiago, então ele seria um perfeito varão. O apóstolo Paulo diz que antes de abrirmos a boca, precisamos avaliar se a nossa palavra é verdadeira, amorosa, boa e edificante (Ef 4.29). Sócrates, o pai da filosofia, costumava falar sobre a necessidade de passarmos tudo que ouvimos por três peneiras.
Quando alguém chegava para contar-lhe alguma coisa, geralmente perguntava o seguinte: “Você já passou o que está me contando pelas três peneiras?” A primeira é a peneira da verdade. O que você está me falando é verdade? Se a pessoa titubeasse, dizendo: “Eu escutei falar que é verdade”. Sócrates, prontamente dizia: “Bom, se você escutou falar, você não tem certeza”. A segunda peneira é: “Você já falou para a pessoa envolvida o que você está me falando?”
A terceira peneira: “O que você vai me contar, vai ajudar essa pessoa? Vai ser uma palavra boa, útil, edificante para ajudar na solução do problema?” Se a pessoa não podia responder positivamente ao crivo das três peneiras, então, Sócrates era enfático: “Por favor, não me conte nada, eu não quero saber”.
O que Tiago está dizendo é que a língua é indomável.
As vezes, nós conseguimos dominar o universículo.
mas não conseguimos domar nossa língua. Benjamim Franklin costumava dizer que o animal mais terrível do mundo tem a sua toca atrás dos dentes, e Tiago diz que este animal indomável e venenoso é a língua. Esse animal feroz e venenoso é pior que um escorpião, pior que uma jararaca peçonhenta. A picada de um escorpião ou de uma cobra pode ser tratada, mas muitas vezes, o veneno da língua é incurável.
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 66-67.
Tg 3.8 “A língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido”: quanto cada ser humano fala durante um só ano de sua vida! E “no muito falar não falta transgressão” (Pv 10.19). – “… carregado de veneno mortífero”: o farmacêutico teria conflito com as leis se vendesse veneno irrestritamente. No entanto, quanta peçonha, quanta coisa que envenena as pessoas é dita, impressa e transmitida impunemente!
Se Tiago fosse um “pregador da lei”, como defendem alguns, se ele, portanto, pretendesse impor às pessoas apenas um “dever”, não poderia de forma alguma falar desse modo negativo acerca das possibilidades humanas. Teria de declarar: “Deves e podes!” Aliás, teria de apresentar mais instruções e sugerir às pessoas otimismo em vista de suas possibilidades. Mas Tiago fala com a mesma sobriedade bíblica como faz também Paulo em Rm 1.18 a 3.20. O ser humano não consegue se ajudar. “Quem comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34). O inferno, o inimigo está agindo. Por isso vale: “A minha força nada faz; sozinho estou perdido” [Martinho Lutero – hino “Castelo Forte”, HPD 97,2] Tiago afirma como Paulo: não consegues ajudar a ti mesmo e tampouco tens de ajudar a ti mesmo. Ele conhece a “misericórdia” de Deus (Tg 2.13), que não permite que nos debatamos em nossa incapacidade. Cristo diz: “No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16.33). O veneno, que desde Gn 3 praticamente circula em nossas veias e somos obrigados a disseminar, é eliminado pelo fato de que Deus passa a habitar em nós por intermédio de seu Espírito (Ef 3.17; Rm 8.11). O mais forte lança para fora da casa o assaltante forte (Lc 11.22). O fogo de baixo é superado pelo fogo do alto, o fogo do inferno pelo fogo de Deus (Lc 12.49; At 2.3). “Sede ardentes por meio do Espírito” (Rm 12.11). Fogo contra fogo! Jesus Cristo, Deus e seu Espírito têm de assumir a “montaria” e o “leme” em nós. Seu Espírito precisa nos incendiar. “… Que a língua toda vire fogo, que nada diga senão louvor a ti na terra e o que ao irmão edifica” (Ambrosius Blarer).
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
III - NÃO PODEMOS AGIR DE DUPLA MANEIRA (Tg 3.10-12)
1. Bênção e maldição (v.10).
Outro detalhe é que quando Tiago fala que com a língua “bendizemos a Deus” (v. 9), provavelmente ele tinha em mente também o fato de que os cristãos de sua época cultivavam o costume dos judeus daqueles dias — igualmente comum entre alguns judeus ortodoxos de hoje — de sempre acrescentar a expressão “Bendito seja Ele!” ao final de toda menção que faziam ao nome de Deus em uma fala. Ora, como os crentes da Igreja Primitiva nessa época eram todos judeus, e estes eram o público alvo da Epístola de Tiago, “essa era uma expressão apropriada de reverência para cada cristão primitivo”.
Como salienta A. F. Harper, a contradição moral de muitos dos cristãos judeus dos dias de Tiago em relação à língua consistia no fato de que, “esquecendo o segundo grande mandamento de nosso Senhor (Mt 22.36-29), e provocados pela ira, eles estavam amaldiçoando os seus irmãos, que foram feitos à imagem e semelhança de Deus, isto é, feitos à imagem de Deus (cf. Gn 1.26,27). O Novo Testamento ensina que mesmo uma maldição murmurada ou qualquer disposição irada contra o próximo é uma contradição à nossa fé cristã (cf. Mt 5.22). Não convém que isso se faça assim (Tg 3.10) entre os cristãos, porque essas atitudes e atos são contrários a Deus”. E Harper continua, explorando o significado das ilustrações que Tiago usa para realçar essa contradição moral na língua, e que ressaltam que essa contradição moral é, na verdade, sobretudo e intrinsecamente, uma contradição desnaturai:
“Essa contradição na conduta é tão desnaturai quanto imoral. A palavra ‘Porventura’ (v. 11 — meti) espera um claro ‘Não’ como resposta. O sentido é: ‘Você certamente não espera isso, espera?’. Ninguém que visita fontes salgadas, como podem ser encontradas próximo ao Mar Morto, esperaria encontrar água salgada e água doce saindo da mesma fonte. E se isso ocorresse, a água salgada estragaria a doce; a má estragaria a boa. O pomar e a vinha ensinam a mesma verdade. ‘Conhece-se o fruto pela árvore’. Jesus lembrou aos seus ouvintes que não se colhem ‘uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos’ (Mt 7.16). Tiago faz eco a essa verdade quando pergunta: ‘Pode também a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos?’ (Tg 3.12)”.
Ou seja, a língua indomada, inconstante e dobre é uma contradição moral e desnaturai. Pense nisso: todas as vezes que você permite que sua velha natureza, isto é, sua natureza pecaminosa, domine por alguns momentos a sua língua, então você está cometendo um ato contra Deus, mas também contra a nova condição que você ganhou em Cristo, contra a nova natureza que foi gerada em você pelo Espírito Santo através da exposição da Palavra de Deus (Tg 1.18). Se você é uma nova pessoa em Cristo, então o que você fala deve estar em sintonia com sua nova maneira de viver, com sua nova natureza em Cristo. Afinai, “se alguém entre vós cuida ser religioso e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a religião desse é vã” (Tg 1.26).
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 100-102.
Tg 3.10 Lenski escreve o seguinte acerca da expressão Com ela bendizemos a Deus (v. 9): “Os leitores, sem dúvida, continuavam seguindo o costume judaico de acrescentar ‘Bendito seja Ele!’ sempre que mencionavam o nome de Deus”.11 Essa era uma expressão apropriada de reverência para cada cristão primitivo. No entanto, o que estava acontecendo entre eles? Esquecendo o segundo grande mandamento do nosso Senhor (Mt 22.36-39), e provocados pela ira, eles estavam amaldiçoando os seus irmãos, que foram feitos à semelhança de Deus, i.e., feitos à imagem de Deus (cf. Gn 1.26,27).12 O Novo Testamento ensina que mesmo uma maldição murmurada ou qualquer disposição irada contra o próximo é uma contradição da nossa fé cristã (cf. Mt 5.22). Não convém que isto se faça assim (v. 10) entre os cristãos, porque essas atitudes e atos são contrários a Deus.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 176.
Tg 3.9,10 Como é estranho que a língua consiga bendizer a Deus e Pai, em um momento, e, a seguir, amaldiçoar os homens. Devemos ter, pelos seres humanos, a mesma atitude de respeito que temos por Deus, porque eles foram criados à sua imagem. Mas temos esta Língua horrível de duas faces, de modo que de uma mesma boca procede bênção e maldição.
Algumas pessoas pensam que o único limite para os palavrões e a linguagem grosseira é a desaprovação social. Mas a Palavra de Deus condena isto. Tiago diz que a razão pela qual nós não devemos amaldiçoar as pessoas é porque elas foram criadas à semelhança de Deus. Nós não devemos usar nenhuma palavra que as reduza a qualquer coisa inferior à sua estatura plena de seres criados por Deus.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 679.
Tg 3.10 “De uma só boca procedem bênção e maldição”: acontece que também nossa boca deveria ser reservada exclusivamente ao serviço a Deus. Quando entrava no santuário, o sumo sacerdote de Israel trazia na cobertura de sua cabeça as palavras: “Santo para o Senhor” (Êx 28.36; 39.30), i. é, ele era propriedade de Deus e reservado exclusivamente ao serviço dele. Do mesmo modo nosso Senhor, que nos “comprou por preço” (1Co 6.20), visa praticamente “inscrever” a frase “Santo para o Senhor” em nossa vida, em especial sobre nossa língua e nossos lábios, declarando-nos pertencentes a ele e reservados exclusivamente para o seu serviço (Sl 51.17; 71.23). A carta de Tiago é pregação em prol da santificação, e da santificação também faz parte a “nova natureza agradável a Deus” (Christoph Blumhardt).
“Isso não deve ser assim, meus irmãos”: essa duplicidade no uso da língua não é característica natural, mas desnaturada e culposa. Isso é o que a Bíblia nos diz incessantemente (Êx 20.16; Sl 34.14; Mt 5.22; Rm 12.14; 1Pe 3.9; etc.). Não deve e não precisa mais ser assim. Porque “se alguém está em Cristo, nova criatura é” (2Co 5.17). Podemos, mas não somos mais obrigados a pecar (Jo 8.36). E já não devemos fazê-lo. No v. 8 Tiago declara: “Nenhum ser humano pode…” Agora,
porém, diz: “Isso não dever ser.” Sem a possibilidade de obedecer a essa orientação ela seria absurda. Entre as linhas Tiago também agora aponta para o Senhor que cura e santifica.
3 – Por meio de duas ilustrações Tiago termina explicitando como é antinatural a duplicidade no falar (v. 11s).
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
2. Exemplos da natureza (vv. 11,12).
Para que saiamos da inconstância, para que não sejamos alternadamente fontes do bendizer e do maldizer, fontes de água doce e de águas amargas, produtores ora de bons frutos, ora de maus frutos pela nossa fala (Tg 3.11,12), devemos permitir que o Santo Espírito de Deus reine em nossos corações. Dessa forma, e tão somente dessa forma, conseguiremos cumprir a bela, sábia e perfeita recomendação do apóstolo Tiago sobre a fala, pronunciada ainda no início de sua epístola: “Mas todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar” (Tg 1.19).
Na vida cristã, não deve haver tagarelice e falas impensadas. O cristão deve saber ouvir, ele deve estar sempre pronto para ouvir as pessoas. Além disso, o cristão também não deve ser “pavio curto”, irritadiço, impaciente, intemperante. Ele deve ser longânimo, uma qualidade do fruto do Espírito em sua vida (G1 5.22). Ademais, diz ainda a Palavra de Deus: “Irai- vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira” (Ef 4.26). Ou seja, devemos evitar o máximo possível a irritação e, quando ela chegar, ela deve passar rápido. “Não se ponha o sol sobre a vossa ira” significa que, no mesmo dia, essa irritação deve passar.
Tudo isso só é possível, repito, na vida daquele que foi gerado pela Palavra da Verdade (Tg 1.18), isto é, na vida daquele que teve gerada em si uma nova natureza em Cristo e que busca todos os dias fortalecer-se em Deus, alimentar sua nova natureza, enchendo-se do Espírito Santo.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 102-103.
Tg 3.11-12 Essa contradição na conduta é tão desnaturai quanto imoral. A palavra Porventura (v. 11, meti) espera um claro “não” como resposta. O sentido é: “Você certamente não espera isso, espera?”. Ninguém que visita fontes salgadas, como as que podem ser encontradas próximo ao Mar Morto, esperaria encontrar água salgada e água doce vindo da mesma fonte. E se isso ocorresse, a água salgada estragaria a doce; a má estragaria a boa.
O pomar e a vinha ensinam a mesma verdade. “Conhece-se o fruto pela árvore”. Jesus lembrou aos seus ouvintes que não se colhem “uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos” (Mt 7.16). Tiago faz eco a essa verdade quando pergunta: pode também a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? (v. 12).
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 176.
Tg 3. 12ª «...Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas, ou a videira, figos? O autor sagrado toma uma outra ilustração da natureza, que mostra também a necessidade de coerência. Cada árvore frutífera produz seu tipo específico de fruta, c certamente não pode produzir, ora uma espécie, ora outra. Isso é impossível. E apesar de que isso seria uma deleitável curiosidade, qualquer pessoa que observasse o fenômeno, pensaria que é apenas uma perversão, algo em que a natureza errar a profundamente. E isso se daria especialmente se a mesma árvore produzisse, alternadamente, fruto comestível e fruto venenoso. Se esse fosse o caso, a árvore seria considerada uma afronta ao processo da natureza, e não apenas uma curiosidade. O homem, porquanto produz fruto bom e fruto venenoso, também é uma afronta e uma perversidade da natureza.
·...figueira... azeitonas... videira... Três frutos característicos da Palestina. Significados supostamente mais profundos têm sido visto no uso desses frutos, como se estivessem em foco lições morais e espirituais; mas não há que duvidar que tais interpretações são meras curiosidades, que não podem ser tomadas a sério: A figueira, símbolo de uma vida natural luxuosa, não pode produzir oliveiras, que simboliza a vida espiritual. A videira. O símbolo da teocracia e do cristianismo, afinal, não pode produzir figos, isto é, a felicidade externa, a plenitude da vida natural dos judeus. Portanto, seu sentido seria o que segue: Se alguém quer ser um judeu natural, não pode produzir os frutos dos filhos do Espírito; mas, se por outro lado, quiser ser cristão, não poderá contemplar ideais do judaísmo, sentando-se debaixo da figueira da prosperidade externa, esperando desfrutar de seu fruto». (Lange,- in loc.). O autor sagrado não estava apresentando qualquer simbolismo assim sutil, mas meramente ilustrava a monstruosidade do homem que, sendo comparado a uma árvore frutífera, produzia, alternadamente, fruto bom e fruto mau. Ariano, aluno de Epicteto, diz algo similar: Como poderia medrar uma videira, não como videira, mas como oliveira; ou uma oliveira, por outro lado, não como oliveira, mas como videira? Isso é impossível, inconcebível». As árvores, tal como os homens, são conhecidas por seus frutos, que mostram de que qualidades são eles. (Ver Mat. 7:20).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 58.
Tg 3.12 A metáfora da figueira e da videira: plantas guardam fidelidade à sua espécie, somente nós cristãos, de forma antinatural, muitas vezes não o fazemos – principalmente no caso de nossas palavras. Novamente somos lembrados do que Jesus afirma no Sermão do Monte: “Uma boa árvore produz bons frutos” (Mt 7.16). – Todavia também acontece que uma árvore produza duas espécies de frutos. Em uma macieira pode haver ao mesmo tempo uma variedade nobre, de bom paladar, ao lado maçãs silvestres e não-comestíveis. Isso acontece em galhos que não foram enobrecidos. A única solução é cortar os galhos orgulhosos e selvagens, e enxertar ramos nobres. Do mesmo modo é preciso que em nós sejam cortados os “galhos orgulhosos” e implantados os “galhos nobres”, a saber, o Espírito de Deus. A Bíblia chama isso de arrependimento e renascimento. Deus visa concretizar unidade na natureza e em nossa vida. É esse seu propósito, e ele é capaz de fazê-lo.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
3. Uma única fonte.
Tg 3.11,12 De uma mesma fonte, não pode jorrar água doce e água amargosa. Embora qualidades diferentes de água não possam fluir da mesma fonte, as palavras dos cristãos podem ser muito incoerentes. Em um momento, podemos falar de uma maneira que honre a Deus, e no momento seguinte, de uma maneira que dê a Satanás a força necessária para operar. Podemos escolher como vamos agir. Se não decidirmos, daremos a Satanás uma abertura para nos controlar. Devemos produzir o tipo de fruto em vista do qual fomos criados e regenerados para produzir - o fruto da justiça (veja Tg 3.18) -, da mesma maneira que se espera colher azeitonas de uma oliveira. Somente um coração renovado pode produzir palavras puras. Se a origem dos nossos pensamentos e atos é o amor de Deus em nossa vida, então não seremos capazes de gerar aquele tipo de palavras negativas contra o qual Tiago está nos advertindo.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 679.
Tg 3.12b ·...fonte de água salgada pode dar água doce ...· O mar Morto, na Palestina, fica apenas acerca de vinte e cinco quilômetros de Jerusalém. Naquela área há muitos poços de sal, pantanais e fontes que contém água salgada em variegadas percentagens. Há grande abundância de riachos salgados e fontes salobras naquela região, além de fontes termais impregnadas de enxofre, que abundam no vale vulcânico do rio Jordão.
Portanto, se os leitores originais da epistola eram naturais da Palestina,
haveriam de entender perfeitamente a linguagem simbólica usada.
Haveriam de saber que existem fontes de água potável e também de água salobra, mas que é impossível que de um mesmo manancial jorrasse água boa e água salobra. Os mananciais de água potável trazem vida; os demais mananciais nada produzem senão odores asfixiantes. Somente o homem pode cultivar a prodigiosa monstruosidade de produzir o que é bom e hígido, para em seguida produzir influências e poderes malignos e mortíferos. Pelo menos no crente, que é alguém que está sendo transformado para compartilhar da imagem de Cristo, isso não deveria ocorrer; o N.T. dá a entender que isso, realmente, não sucederá jamais.
«Se a boca emitir maldições, assim se fazendo uma fonte salobra, não pode, sob hipótese alguma, emitir também o riacho potável do louvor e das boas obras; e ainda que pareça fazê-lo, tudo deve ser hipocrisia e espetáculo». (Alford. in loc.). Toda a bênção, de fato, é maculada pela língua que profere maldições; e até mesmo o Louvor não fica bem na boca do pecador.
«De certa feita foi apresentado em favor de um homem que fora criticado e condenado por motivo insatisfatório, que ele era 'um bom homem, com exceção de seu mau gênio'. ‘Tudo, menos o seu mau gênio!' Foi a resposta em nada errada. 'Como se o mau gênio não representasse nove décimos do erro religioso!' ‘Se alguém não tropeça no falar é perfeito varão'».
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 58.
Tg 3.12b Na Palestina, região árida e seca, quando se fala em fonte, fala-se de um lugar muitíssimo precioso. A fonte é um lugar onde os sedentos, os cansados chegam e encontram alento, vida, força, ânimo e coragem para prosseguirem a caminhada da vida. A Bíblia fala de Agar perambulando no deserto com seu filho Ismael. A água acabou, a sede implacável a dominou e o desespero tomou conta dela e do seu filho. Sem esperança, sentou-se longe do seu filho para chorar, pois não tinha coragem de vê-lo morrer na ânsia da sede implacável. Mas, do céu o anjo de Deus lhe falou. Uma fonte começou a jorrar água perto de Ismael e a esperança brotou em sua alma, a vida floresceu em seu peito e o futuro sorriu para ela (Gn 21.15-21). Assim é uma palavra boa: traz alento em meio ao cansaço; traz esperança em meio ao desespero; traz vida no portal da morte.
Que bênção você poder usar sua língua como uma fonte de refrigério para as pessoas, para abençoá-las, encorajá-las e consolá-las. Como é precioso trazer uma palavra boa, animadora e restauradora para uma alma aflita. A principal marca do cristão maduro é ser parecido com Jesus, o varão perfeito. Uma das principais características de Jesus era que sempre que uma pessoa chegava aflita perto dele saía animada, restaurada, com novo entusiasmo pela vida. Quando as pessoas chegam perto de você, elas saem mais animadas e encantadas com avida? Elas saem cheias de entusiasmo, dizendo que valeu a pena conversar com você? Você tem sido uma fonte de vida para as pessoas? Sua família é abençoada pelas suas palavras? Seus colegas de escola e de trabalho são encorajados corri a maneira de você falar?
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 68.
Tg 3.11 A imagem do poço: de uma fonte (ou do poço ligado a ela) não jorra simultaneamente água doce e água do mar. Mas em nós humanos essa estranha mistura ocorre constantemente. Mesmo no caso de um poço ela é concebível, a saber, quando estiver simultaneamente ligada a duas fontes. A circunstância de que de nossa vida sempre brotam duas coisas distintas se explica pelo fato de que somos abastecidos a partir de duas fontes diferentes: o Espírito de Deus e o espírito deste mundo. Por isso importa suplicar: “Conserva meu coração vazio para ti” (Michael Hahn). Igualmente é necessário que não corramos para lá e para cá, mas que nossa comunhão com Jesus se torne sólida e constante (Jo 7.38; Cl 2.7;Hb 13.9).
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.

ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

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