NÃO DARÁS FALSO TESTEMUNHO
Nas
últimas eleições presidenciais, assistimos a uma onda de boatos entre os
políticos que objetivavam fazer a própria manutenção do poder. A busca pelo
poder temporal faz as pessoas inventarem casos contra outras sem o menor pudor
de que isso não seja verdade.
O método é simples: levantar o dolo contra a
pessoa, e que esta se vire para dar maiores explicações. Nada mais desumano
quanto usarmos subterfúgios contra o nosso próximo!
Na
obra "Manual do Pentateuco", de Victor P. Hamilton, sobre a aplicação
do nono mandamento, deparamo-nos com o seguinte comentário "A aplicação original
desse mandamento dizia respeito a testemunhos falsos em juízo ou em transações
oficiais e negócios em geral" (p.224). Levantar acusações contra pessoas sem
ter provas legítimas contra elas seria um ato pecaminoso e monstruoso. Não por
acaso Tiago afirma que a língua é um membro capaz de incendiar uma floresta (Tg
3.7). Com a má língua pode-se destruir reputações que levaram anos para serem
construídas.
"Eu
para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade.
Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz" (Jo 18.37). Jesus de Nazaré
tinha o compromisso com a verdade. Os fariseus e os doutores da lei não amavam
a verdade e, por isso, não podiam aceitar o ensinamento de Jesus, embora
reconhecessem a honestidade do nazareno (Mt 22.16). Já imaginou? Saber que
alguém é da verdade e não assumir tal verdade porque o sistema religioso de
outrora não o permitia? Ora, quem era do Templo na época de Jesus tinha uma
alta reputação social. Passar para o lado de Jesus significava se colocar
contra o Sumo-Sacerdote e perder automaticamente os privilégios da religião
oficial. Não podemos perder a nossa condição de sujeito em Jesus por causa do
poder temporal. O crente deve sempre escolher andar pela e na verdade em
quaisquer lugares. Na família, na escola, no trabalho, nas amizades ou em todo
ambiente onde os seres humanos se relacionam entre iguais. "E conhecereis
a verdade, e a verdade te libertará" (Jo 8.32). A verdade de Jesus não nos
deixa aprisionados, mas livres para sempre! Portanto, quem é de Jesus não tem
outro compromisso que não seja a verdade. A verdade de quem é, do que fala e
faz. Não empreste a sua língua para levantar falso testemunho contra alguém. O
nosso Senhor foi condenado pelos homens através do falso testemunho de outrem.
A vida de Jesus nos ensina o lado que devemos escolher: o melhor é sempre o da
verdade.
Revista ensinador. Editora CPAD Ano 16 - N° 61. pag.
41.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
O nono
mandamento tem conexão com o terceiro, visto que ambos enfocam o falar a
verdade. A proibição primária aqui diz respeito a uma declaração falsa num
processo legal. Isso pode ser visto tanto na linguagem e de maneira mais
enfática em alguns dispositivos legais do sistema mosaico, como veremos no
presente estudo. A construção "Não dirás falso testemunho contra o teu
próximo" é exatamente a mesma nos textos de Êxodo e Deuteronômio (êx
20.16; Dt 5.20); no entanto, essas palavras no texto hebraico apresentam
diferença, mas nada que mude o sentido da mensagem que o mandamento transmite.
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 121.
“Não
dirás falso testemunho contra o teu próximo (20,16). O mandamento inclui
testemunho dado em tribunal, mas vai além disso. Falso testemunho é qualquer
declaração maliciosa intencionada a degradar ou ferir outra pessoa, A reputação
dos outros, assim como suas propriedades, devem ser resguardadas por todos.
RICHARDS. Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia.
Uma análise de Gênesis a
Apocalipse capítulo por capítulo. Editora CPAD. pag. 64.
Parecido
com o abuso de um irmão por meio do roubo é desonrá-lo dando falso testemunho
contra ele (Êx 20.16). Embora a proibição possa ser legitimamente aplicada à
mentira em geral, a linguagem técnica (“falso testemunho”; hebraico, 'edsãqer)
sugere um cenário legal ou de corte no qual um caso concernente a um crime ou
contravenção está sendo julgado. As testemunhas eram (e são) essenciais na
determinação da culpa ou da inocência (cf. Dt 17.6,7; 19.15), mas pessoas
chamadas para testemunhar devem dizer a verdade sobre o que viram ou ouviram.
Fazer menos que isso e, assim, incriminar uma parte inocente e sujeitá-la ao
malogro da justiça infringiria gravemente a liberdade, as posses e
possivelmente até mesmo a vida dela. Mais uma vez, a repercussão na estrutura
bem ordenada de administração do Reino é óbvia e prejudicial.
Eugene H. Merrill. Teologia do Antigo Testamento. Editora Shedd Publicações. pag. 337.
I. O NONO MANDAMENTO
1.
ABRANGÊNCIA.
O
mandamento não se restringe apenas aos tribunais. O contexto mostra que ele se
refere também às palavras que usamos. Trata-se da responsabilidade pessoal de
cada um falar a verdade. Disse John Stott: Este mandamento não é somente válido
nas cortes de justiça. Se bem que inclui o perjúrio, também estão implícitas
todas as formas de escândalo e maledicência, toda a conversação ociosa e
charlatanice, todas as mentiras e os exageros deliberados e as meias verdades
que distorcem a verdade. Estamos proferindo falso testemunho quando aceitamos
certos rumores maliciosos e logo os transmitimos, ou quando os usamos para
outra pessoa para a prejudicar criando impressões falsas, ou quando não corrigimos
afirmações falsas, tanto por nosso silêncio como por nosso discurso (Basic
Christianity, p. 69; apud NYENHUIS, Gerald & ECKMAN, James P., 2002, p.
448).
O
mandamento condena pelo menos quatro aspectos na vida humana: o falso
testemunho no tribunal, a calúnia pessoal, o falar da vida alheia e a
bajulação. Israel era um estado teocrático e, por não haver separação entre
estado e religião, a ordem "Não dirás falso testemunho contra o teu
próximo" envolvia todo o aspecto da vida do israelita. Trata-se da necessidade
de cada um falar a verdade (Lv 19.11), pois o Senhor Jesus disse que o diabo é
o pai da mentira (Jo 8.44).
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 122-123.
Lev 19.16
Este versículo apresenta ramificações do nono mandamento, que exige veracidade.
O
próximo, contra quem não devemos iniciar nenhuma campanha de mexericos, é aqui
um compatriota hebreu. Jesus, entretanto, ampliou a aplicação disso a todos os
nossos semelhantes (ver Luc. 10.29 ss.). Cf. Êxo. 23.4,5. Nos vss. 33 e 34
deste capítulo, o conceito de “próximo” inclui os forasteiros.
“Não
deve haver campanhas de maledicência (vss. 16-18). Não devemos tentar fazer o
próximo cair em dificuldades. Devemos tratar com ele face a face, em espírito
de boa-vontade. Nunca deveríamos dizer: ‘Sou o guardador de meu irmão?'
conforme fez Caim. Deveríamos estar genuinamente interessados pelo bem-estar
temporal e espiritual de outras pessoas, como se fosse nosso mesmo. Por quê? Eu
sou o Senhor. Essa é, de fato, a ordem sagrada, física e moral, que deve haver
neste mundo” (Nathaniel Micklem, in loc.).
A
maledicência geralmente termina em calúnia. Isso torna-se um hábito
extremamente perigoso no caso de certas pessoas, e as mulheres, especialmente,
deleitam-se nesse vício. E assim, vidas inocentes são destruídas. Ver I Sam.
22.9,18; Eze. 22.9. A versão caldaica, de acordo com o Targum de Jonathan, diz
aqui: “Não seguirás a língua três vezes amaldiçoada, pois ela é mais fatal do
que a espada devoradora de dois fios”.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 552.
Lv
19.16 Nós somos proibidos de fazer qualquer coisa ofensiva ao bom nome do nosso
próximo (v. 16), seja: 1. Nas conversas comuns: “Não andarás como mexeriqueiro
entre o teu povo”. É uma má posição aquela em que o homem se coloca ao divulgar
os erros de seus semelhantes, dando a conhecer aquilo que era segredo,
agravando crimes e usando da pior maneira aquilo que estava errado, com o
desejo de destruir a reputação dos homens e semear a discórdia entre vizinhos.
A palavra usada para “mexeriqueiro” significa vendedor ambulante, ou pequeno
vendedor. Os mexeriqueiros são aqueles que se intrometem nos negócios. Pois
eles apanham histórias perversas em uma casa e as divulgam em outra, e
normalmente trocam calúnias. Veja este pecado condenado, Provérbios 11.13;
20.19; Jeremias 9.4,5; Ezequiel 22.9. 2. Ao dar testemunho: “Não te porás
contra o sangue do teu próximo”, se o seu sangue foi’ inocente, nem te aliarás
com homens sanguinários como os descritos em Provérbios 1.11,12. Os doutores
judeus dão este sentido adicional: Não deverás ficar assistindo o teu irmão em
perigo, mas deverás vir em seu socorro, embora isto possa representar perigo à
sua própria vida, ou a algum membro do seu corpo. E acrescentam: Aquele que
pode, com o seu testemunho, inocentar alguém que é acusado, é obrigado, por
esta lei, a fazê-lo. Veja Provérbios 24.11,12.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo
Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 411.
Lv 19.16
— O mexeriqueiro não era apenas um fofoqueiro, mas um caluniador, aquele que
almejava destruir a reputação de outrem. Em relação ao mandamento não te porás
contra o sangue do teu próximo, muitos casos podem ser incluídos aqui. No
contexto do julgamento, citado nesta seção, possivelmente estava em maior
evidência o falso juramento, que ocasionaria a morte do acusado, ou o
testemunho que exoneraria o réu.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário
Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 241.
2.
OBJETIVO.
Em
linhas gerais, temos aqui a defesa da honra. Falar a verdade é para todos os
povos e em todas as épocas. Mas, no sistema mosaico, o mandamento se distingue
por ser revelação e por isso mesmo se reveste de autoridade divina. O
mandamento é citado no Novo Testamento e foi resgatado pela graça e adaptado à
graça. A fé cristã leva o tema para além dos tribunais, pois pertence à esfera
espiritual, envolvendo a salvação, ao passo que na lei o seu aspecto é mais
jurídico visando manter o equilíbrio na sociedade.
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 122.
Dt 19.20
... O ouçam e temam. Aqueles que sobrevivessem ao incidente (como a familia do
homem que tinha cometido perjúrio), bem como a população em geral, que ouvisse
falar sobre o caso, temeriam, desencorajando o crime de perjúrio. E embora isso
não eliminasse o mal das testemunhas falsas, essa prática odiosa ficaria
grandemente reduzida.
Dt 17.13
Neste versículo vemos a severidade da lei. Não se hesitava em executar até
mesmo um juiz local, que não cumprisse o que se tinha considerado reto. Essa
execução agiria como uma medida preventiva, capaz de fazer todo o povo de
Israel temer. Em Israel, a justiça era imediata e terrível. Isso pode ser
contrastado com nossos sistemas modernos, que podem envolver anos para que um
simples caso de homicídio seja julgado. “Isso fazia o império da justiça
tornar-se dotado de máxima importância na Terra Prometida, ajudando a impedir a
anarquia” (Jack S. Deere, in Ioc.).
E
jamais se ensoberbeça. No hebraico, essa palavra é zadown, que significa “de
maneira arrogante”, “de maneira orgulhosa”. A medida disciplinar humilharia os
homens e fá-los-ia temer.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 830; 822.
Deveria
haver grande cuidado no julgamento, v. 18. Deveria ser feita uma investigação
diligente quanto ao caráter das pessoas, e todas as circunstâncias do caso.
Tudo isto devia sei' comparado, para que a verdade pudesse ser descoberta.
Quando a investigação fosse realizada de um modo fiel e imparcial, eles
poderiam esperar que a Providência os auxiliasse.
(5) Se
ficasse evidente que um homem tinha, conscientemente e perversamente, dado
falso testemunho contra seu próximo, embora o mal que lhe desejava não tivesse
sido realizado, este deveria sofrer a mesma penalidade à qual seu próximo
estaria sujeito, devido à sua evidência, v. 19. Nec lex estjustior idla -
Nenhuma lei poderia ser ma is justa. Se o crime do qual ele acusasse seu
próximo devesse ser punido com a morte, também o homem que deu falso testemunho
deveria ser condenado à morte. Se a punição fosse açoitamento, ele deveria ser
açoitado. Se fosse uma multa financeira, ele deveria ser multado também. E,
como para aqueles que não levassem em consideração a atrocidade do crime e a
necessidade de impedi-lo, pareceria ser uma punição muito dura, por ter dito
algumas palavras, especialmente quando nenhum mal tinha, realmente, sido feito,
aqui está acrescentado: “O teu olho não poupará”, v. 21. Nenhum homem precisa
ser mais misericordioso do que Deus. O benefício que resultará, para o público,
desta severidade, a recompensará com abundância: “Para que os que ficarem o
ouçam, e temam”, v. 20. Tais punições exemplares seriam advertências a outros,
para que não empreendessem nenhuma maldade deste tipo, quando vissem como
aquele que fez a cova e a escavou havia caído nela.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo
Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 619.
Dt 19.16-20.
O caso da testemunha maliciosa (lit. “testemunha de violência”, i.e. seu
testemunho levaria a um ato de violência) é agora discutido. Quando tal
testemunha declarava que o acusado era culpado de um ato errado (lit. “desvio”,
i.e. deserção, apostasia ou má conduta moral ou religiosa), as duas partes em
litígio tinham que comparecer perante Javé para responder aos sacerdotes e juízes que estivessem oficiando na ocasião. o tribunal localizado no santuário
central parece ser o que se tem em vista nesta passagem (cf. 17: 8-13). Depois
de cuidadoso exame os juízes (provavelmente todo o grupo de sacerdotes e juízes) dariam o veredito. Se a testemunha fosse falsa receberia o castigo que
se tencionava dar ao acusado. Desta maneira o mal seria “queimado”
(exterminado) de Israel e o perjúrio desestimulado.
I. A. Thompson. Deuteronômio Introdução e Comentário.
Editora Vida Nova. pag.208-209.
3.
CONTEXTO.
JUIZ,
O Um juiz ou magistrado civil é mencionado pela primeira vez em Israel sob a
liderança de Moisés, quando Jetro sugeriu que juízes fossem designados para
aliviar Moisés em suas responsabilidades administrativas (Êx 18.13-26). Mais
tarde, Israel se organizou em unidades dentro de cada tribo com um homem
qualificado como juiz. Estes homens deveriam julgar corretamente,
destemidamente e imparcialmente (Dt 1.16ss.). Somente os casos mais importantes
eram trazidos diante de Moisés (Dt 1.12-18; 21.2). Observe também a organização
de Israel em Números 1-10. Sob a liderança de Josué um plano similar foi
seguido (Dt 16.18-20; 17.2-13; 19.15-20; Js 8.33; 23.2; 24.1; 1 Sm 8.1). A era
que se seguiu à morte de Josué retrata uma situação modificada como é descrito
no livro de Juízes. Aqui os líderes principais, ou juízes do povo, eram aqueles
que tinham primeiramente a missão de livrar os israelitas das nações opressoras
(Jz 2.16). Carismaticamente dotados pelo Espírito de Deus, eles eram
"libertadores" (Jz 3.9), capacitados a livrar e preservar Israel (Jz
6.34-36).
A
palavra heb. shopet traduzida como "juiz" parece ter sido um termo
emprestado dos cananeus. Ela aparece na literatura ugarítica como spt com o
sentido de "governante" ou "juiz" e um sinônimo para
"rei". Posteriormente, os principais magistrados de Cartago,
descendentes dos fenícios ou cananeus, possuíram este título por séculos, e
eram conhecidos dos romanos como sufetes. Assim, o termo heb. corretamente
inclui o conceito de líder bem como o de árbitro. Durante a era entre a
conquista e a monarquia em Israel, os invasores opressores foram sucessivamente
mesopotâmios, moabi-tas, cananeus, midianitas, amonitas e filisteus. Os
notáveis juízes que foram usados para agir contra estes foram Otniel, Eúde,
Débora e Baraque, Gideão e Sansão, conforme narrado no livro de Juízes. Outros
juízes a respeito dos quais pouca informação está disponível foram Sangar,
Abimeleque, Tola, Jair, Ibsã, Elom e Abdom. Veja mais informações sobre cada um
deles nos tópicos que trazem os seus nomes, individualmente. Alguns dos juízes
desta era são mencionados no livro de Hebreus (cap. 11) como heróis da fé. Os
capítulos iniciais de 1 Samuel (cf. 4.18) indicam que Eli serviu como juiz de
Israel por 40 anos. Samuel não só guiou os israelitas em uma resistência bem
sucedida à opressão dos filisteus, mas também estabeleceu um organizado
tribunal
itinerante. Embora ele tenha designado seus filhos como juízes, as condições em
mudança marcaram uma transição para um reino organizado que trazia a
necessidade da unção de um rei (1 Sm 7.15-8.5). Durante a monarquia, o rei se
tornou o supremo juiz em assuntos civis (2 Sm 15.2; 1 Rs 3.9,28). Os casos eram
julgados pelo rei no portão do palácio (1 Rs 7.7), mas os tribunais locais
estavam da mesma forma em funcionamento. Davi atribuiu aos levitas o ofício
judicial e designou 6.000 homens como oficiais e juízes (1 Cr 23.4; 26.29).
Josafá ampliou o sistema judicial em Judá, designando sacerdotes e juízes em
cidades fortificadas com uma suprema corte em Jerusalém, onde as questões
religiosas estavam sujeitas aos sacerdotes e as questões civis sujeitas ao
príncipe de Judá (2 Cr 19.5-8). Os profetas frequentemente afirmavam que a
justiça estava corrompida pelo suborno e pelos falsos testemunhos (Is 1.23;
5.23; 10.1; Am 5.12; 6.12; Mq 3.11; 7.3). Os reis eram frequentemente injustos
em seu modo de tratar os profetas que falavam da parte de Deus (1 Rs 22.26,27;
2 Rs 21.16; Jr 36.26). Veja também 1 Reis 21.1-13, onde a lei era
desconsiderada por Acabe e Jezabel e falsas testemunhas eram usadas para trazer
vantagens ao rei.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora
CPAD. pag. 1112-1113,
JUIZ
1. As
Palavras Originais e seus Significados. A palavra hebraica para «juiz» é
shaphat. Ocorre por cento e dezoito vezes no Antigo Testamento, desde Gên. 16
até Miq. 4:3. O termo grego é kritês. Esse substantivo ocorre por dezoito vezes
no Novo Testamento: Mat. 5:25; 12:27; Luc. 11:19; 12:14,58; 18:2,6; Atos 10:42;
13:20; 18:15; 24:10; II Tim. 4:8; Heb. 12:23; Tia. 2:4; 4:11,12 e 5:9.
Além
de designar os indivíduos que tomam decisões sobre questões civis e religiosas,
as palavras envolvidas falam sobre a tentativa de determinar causas (ver Êxo.
18:13). Entre os povos, as decisões judaicas são anunciadas de várias maneiras.
Os juízes de Israel faziam-no verbalmente: «Tu és culpado!» ou «Tu és inocente!» Entre os romanos, marcava-se alguma espécie de material, como um
tablete de argila ou um pedaço de papel, com um A (absolvido) ou com um C
(condenado). Entre os gregos havia o costume de apresentar uma pedra branca ao
acusado, para indicar sua inocência, ou uma pedra negra, para indicar sua
culpa.
Outros
Significados. Considerar (Atos 16:15); governar (Sal. 58:11); punir, em conseqüência de julgamento condenatório (Heb. 13:4; Eze. 7:3-8; 22:2); censurar acerbamente
(Mat. 7:1).
2. No
Antigo Testamento.
a.
Yahweh é chamado, antes de todos, de Juiz dos homens. «Não Fará justiça o Juiz
de toda a terra?» (Gên. 18:25). Deus julga os indivíduos e as nações com base
em sua justiça absoluta (Gên. 3:14 ss; 6:3 ss; 11:5 ss; 15:14; 16:5; 20:3;
31:53).
b. O
chefe patriarcal de uma casa, na antiguidade, era o juiz de seus familiares e
de seu clã (Gên. 21, 22 e 27).
c.
Moisés era o único juiz da nação de Israel, depois que esta saiu da servidão,
no Egito; mas Jetro, seu sogro, encorajou-o a distribuir tal responsabilidade
escolhendo juízes secundários. Disso resultou a primeira instituição dos
juízes. Ver Êxo. 18:13-17; Deu. 1:9-18.
d. Na
codificação que se seguiu, conforme se vê no livro de Deuteronômio, houve a
nomeação de juízes e oficiais, de tal modo que cada cidade contasse com o seu
próprio juiz (Deu. 16:18 ss). Se o caso assim o exigisse, os sacerdotes podiam
ser convocados para atuar como juízes (Deu. 17:8-13).
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 3. Editora Hagnos. pag. 636.
Êxo
22.8 Levado perante Deus. Tal como antes o sentido da frase deve ser
"levado ao santuário”. O homem deve jurar solenemente em nome de Deus (ver
v.11), declarando sua inocência. Esta espécie de decisão judicial precisava ser
aprovada pelo queixoso (como num julgamento em que o réu tem de passar por uma
prova quase impossível). Se o réu tiver jurado falsamente, a maldição que ele
invocou cairá sobre ele mesmo e assim será suficientemente punido. Talvez nisso
esteja a explicação da frase “ a quem Deus condena” (v.9). O homem que sofre os
efeitos da maldição fica exposto como culpado pelo próprio Deus, e deve pagar em
dobro ao queixoso.
R.
Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 166.
II. O PROCESSO
1.
RESPONDER EM JUÍZO.
O
verbo "dizer" em "Não dirás falso testemunho contra o teu
próximo" (Êx 20.16; Dt 5.20) no Antigo Testamento hebraico é ‘ãnãh, "responder,
testemunhar, falar", usado também em um processo jurídico, tanto nos
tribunais humanos (Dt 19.16) como no tribunal divino (Is 3.9; 59.12; Jr 14.7).
O termo hebraico ‘êd shãqer, "falso testemunho, falsa acusação",
reaparece na literatura sapiencial (S127.12; Pv 6.19; 14.5; 19.5,9; 25.18). A
palavra ‘êd, "declaração, testemunho", indica "alguém com
conhecimento de primeira mão acerca de um acontecimento ou que pode testemunhar
com base num relato que ouviu" (HARRIS; ARCHER, JR.; WALTKE, 1998, p. 1083).
Tal pessoa está obrigada a testemunhar (Lv 5.1). E sheqer, "mentira,
falsidade, engano", diz respeito a qualquer atividade falsa, tudo aquilo
que não se baseia em fatos ou realidades. Aqui é a testemunha na qual não se
pode confiar.
Entretanto,
no texto paralelo em Deuteronômio, sheqer é substituído pelo substantivo
hebraico shãw‘, que significa "fraude, engano, inutilidade, inútil,
imprestável, falsidade, desonestidade, futilidade, vacuidade" (Dt 5.20). É
o mesmo termo empregado no terceiro mandamento para "vão" em
"Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, porque o SENHOR não terá
por inocente ao que tomar o seu nome em vão" (Êx 20.7; Dt 5.11). Na
verdade, há uma relação entre estes dois mandamentos, como exploramos no Capítulo
4. Muitos expositores do Antigo Testamento não consideram isso uma diferença,
mas uma forma de ampliar o sentido do mandamento, podendo
aplicar-se tanto no campo jurídico como nos vários aspectos da vida diária.
Sheqer é um termo específico, e shãw ‘ é genérico. As versões antigas não
apresentam também essa diferença. A LXX emprega pseudoma seitareis, "falso
testemunho", nas duas versões do Decálogo. Isso acontece ainda em outras
versões antigas como a Vulgata Latina, que traduz essas palavras por falsum
testimonium, além do Pentateuco Samaritano e o Targum de Ônquelos.
É no
nono mandamento em que o termo "próximo" aparece pela primeira vez no
texto hebraico do Decálogo como berèã ‘chã, "contra teu próximo". A
palavra rêa‘, "amigo, companheiro, outra pessoa", é usada para designar
"vizinho, parceiro". O amigo pode ser íntimo ou ocasional. O termo
ocorre mais três vezes no décimo mandamento: "... a casa do teu próximo;
... a mulher do teu próximo,... nem coisa alguma do teu próximo" (Êx
20.17; Dt 5.21) e faz parte do vocabulário jurídico (Êx 21.14, 35; 22.7- 10; Dt
15.2; 19.4, 5). É a mesma palavra de "Amarás o teu próximo como a ti
mesmo" (Lv 19.18) citada pelo Senhor Jesus (Mt 19.19). A LXX traduz pela
palavra grega plêsíon, "perto, próximo" ou "perto de, próximo
de", que no Novo Testamento grego aparece como preposição na passagem da
mulher samaritana, quando o texto diz que Sicar era perto da herdade que Jacó
tinha dado a José (Jo 4.5). Como advérbio substantivado, ocorre 12 vezes em
relação aos mandamentos do Decálogo (Mt 5.43; 19.19; 22.39; Mc 12.31, 33; Lc
10.27,29,36; Rm 13.9, 10; G1 5.14; Tg 2.8).
A
expressão "teu próximo" era conhecida por qualquer judeu
familiarizado com as Escrituras no período do ministério terreno do Senhor
Jesus, mas parece que havia incerteza quanto a seu exato significado: "E
quem é o meu próximo?"(Lc 10.29), perguntou um doutor da lei a Jesus. O
contexto dos evangelhos deixa claro que os judeus daquela época consideravam
como seus "próximos" apenas os amigos da mesma etnia, tribo e classe
com quem matinha uma relação mútua de afinidade e intimidade. Mas não é esse o
pensamento do Antigo Testamento, que inclui também os estrangeiros além dos
israelitas (Êx 3.22; Lv 19.34). O segundo e grande mandamento, "Amarás o
teu próximo como a ti mesmo", é a palavra final sobre o assunto. O próximo
é qualquer pessoa, independentemente de sua etnia, status, confissão religiosa
ou convicção política e filosófica.
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 123-125.
Parece
que o objetivo central deste mandamento é a proteção ao sistema judicial. Os tribunais seriam inúteis se os homens chegassem ali para mentir. Se tiver de
ser feita uma acusação contra outra pessoa, e se 0 acusado tiver de defender-se,
a verdade terá de ser dita por ambas as parles, sob pena da justiça naufragar.
Mas esse mandamento também se aplica a questões individuais. A sociedade em
geral perturba-se quando as pessoas saem a espalhar mentiras e calúnias sobre
seus semelhantes. O trecho de Êxo. 23.1 condena 0 falso testemunho em nível
pessoal. Ver Deu. 19.16-20 que requeria juízo apropriado contra falsas
testemunhas que perturbavam o sistema judíciai. A linguagem e os fatos devem
concordar entre si. Ver Deu. 13.14; 17.4; 22.20; Jer. 9,5; Sal. 9.5; 15.2; Pro.
12.19; 14.25; 22.21. A verdade precisa ser dita como tempero do amor (Efé.
4.15). Algumas vezes, as meias verdades prejudicam mais do que as mentiras
francas. O amor, porém, guarda-nos tanto da mentira aberta quanto das meias
verdades.
A
mentira artística vem sendo aprovada desde os tempos mais antigos, conforme
muitos eruditos supõem. Ver o caso de Labão (Gên. 29.21-27), e o caso um tanto
anterior de Jacó (Gên. 27.6-36). Por outro lado, a luz que brilhou por meio de
Moisés por certo condenava qualquer tipo de mentira ou abuso de linguagem.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 393.
Êxo 20.16. Não' dirás falso testemunho. Já
que numa sociedade simples, vivendo no deserto, quase todos os crimes envolviam
penas capitais, “ falso testemunho” bem sucedido seria equivalente a
assassinato. Para evitar tal problema, a testemunha deveria ser também o
executor (Dt 17:7), de modo a incorrer na culpa do sangue se estivesse mentindo.
O falso
testemunho assume grandes proporções no Velho Testamento (1 Rs 21:10, por
exemplo), como em qualquer sociedade em que a extrema pobreza exponha o homem à
tentação do suborno. Não há dúvida de que o mandamento poderia ser generalizado
para incluir a proibição de intrigas e mexericos (Lv 19:16), especialmente de
mexerico falso e maldoso que prejudicasse o próximo.
R.
Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 154-155.
O nono
mandamento diz respeito ao nosso próprio bom nome, e ao do nosso próximo: “Não
dirás falso testemunho”, v. 16. Isto proíbe: 1. Falar falsamente sobre qualquer
assunto, com mentiras, com equívocos intencionais, e de qualquer maneira
planejada para enganar o nosso próximo. 2. Falar injustamente contra o nosso
próximo, para o prejuízo da sua reputação. E (o que envolve a culpa de ambos):
3. Dar falsos testemunhos contra ele, acusando-o de coisas de que ele não tem
conhecimento, seja judicialmente, sob juramento (com o que são infringidos o
terceiro e o sexto mandamento, além deste). Ou extrajudicialmente, em
conversação comum, caluniando, difamando, inventando estórias, piorando o que é
feito erroneamente e tornando-o pior do que já é, e de alguma maneira
empenhando-se em aumentar a sua própria reputação sobre a ruína da do seu
próximo.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo
Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 296.
2.
FALSO TESTEMUNHO.
O nono mandamento não
se restringe apenas ao aspecto jurídico, ao perjúrio num tribunal civil ou
criminal, mas se aplica também à vida diária, como o boato e o mexerico (Êx
23.1; Lv 19.16). Estes envolvem a mentira e trazem implicações profundas na
vida humana. Deus condena tais práticas, e o ensino bíblico sobre o assunto
começa em Moisés e se estende até o Novo Testamento.
"Não admitirás
falso rumor e não porás a tua mão com o ímpio, para seres testemunha
falsa" (Êx 23.1). A TB traz "Não levantarás um boato falso"; a
ARA e NTLH empregam "notícias falsas". A expressão hebraica para
"falso rumor" aqui é shêma ’ shãw ‘. O termo shêma ’,
"informação, notícia, fama, boato", é um substantivo derivado do
verbo Vtpüi (shãma ‘), "ouvir, escutar, prestar atenção, obedecer".
Essa informação, notícia ou fama pode ser boa ou ruim e diz respeito ao que se ouve
dizer (1 Rs 10.1), diferentemente de um conhecimento pessoal, de uma
experiência direta: "Antes eu te conhecia só por ouvir falar, mas agora eu
te vejo
com os meus próprios olhos" (Jó 42.5). E o termo shãwque significa
"fraude, engano, inutilidade, inútil, imprestável, falsidade,
desonestidade, futilidade, vacuidade", aparece no terceiro mandamento (Êx
20.7; Dt 5.11) e no nono mandamento na versão de Deuteronômio (Dt 5.20). O
falso boato é a propagação de uma notícia infundada, não oficial e de fonte desconhecida.
O contexto mostra que divulgar informação enganosa é associação com o ímpio
para se tornar falsa testemunha: "E não porás a tua mão com o ímpio, para
seres testemunha falsa" (Êx 23.1b). Mesmo as coisas triviais do dia a dia
podem terminar na justiça, pois elas destroem a reputação de qualquer pessoa.
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 128-129.
Como o
mandamento anterior, este ressalta que as relações humanas devem ser baseadas
na honestidade e verdade. Aqui, Deus pede honestidade com respeito à reputação
de nosso próximo. o falso testemunho (20:16) não se restringe ao contexto de um
tribunal, mas ocorre sempre que difamamos ou mentimos sobre alguém. Esse tipo
de discurso é moralmente errado, pois abala a integridade do mentiroso e a
reputação do indivíduo que é alvo da mentira. As palavras mentirosas têm
conseqüências sérias; além de destruir relacionamentos e perspectivas de
carreira, podem até resultar em prisão e suicídio. Mais adiante, Deus expande
esse mandamento: “Não espalharás notícias falsas, nem darás mão ao ímpio [...]
nem deporás, numa demanda, inclinando-te para a maioria, para torcer o direito”
(23:1-2). Devemos nos lembrar de que testemunhas falsas foram usadas até no
julgamento injusto de nosso Senhor (Mt 26:59-62; Jo 19:12).
Tokunboh
Adeyemo. COMENTÁRIO BÍBLICO AFRICANO.
Editora Mundo Cristão. pag. 114.
Embora
negativo na forma, pode o nono mandamento apresentar um conteúdo positivo,
levando-nos a não falsear a verdade em todas as afirmações (13.14; 17.4-6) e a
sermos justos nos nossos juízos (17.8-13; 19.15-21). Cf. Mt 18.16. Na esteira
do Mestre, deve todo o Cristão dar testemunho da verdade (Jo 18.37). E como
será isto possível, senão dando testemunho daquele que é a própria Verdade?
DAVIDSON. F. Novo Comentário da Bíblia. Deuterionômio. pag. 31.
3.
O PRÓXIMO.
"Não andarás como
mexeriqueiro entre o teu povo; não te porás contra o sangue do teu próximo. Eu
sou o SENHOR" (Lv 19.16). A proibição consiste em dois preceitos paralelos
que expressam a mesma ideia. O termo hebraico usado aqui como
"mexeriqueiro" é rãkTl, "caluniador, difamador", e aparece
apenas seis vezes no Antigo Testamento, indicando alguém que calunia e revela
segredos (Pv 11.13; 20.19; Jr 6.28; 9.4 [3]; Ez 22.9). Com exceção de Ezequiel,
em todas elas o substantivo vem acompanhado do verbo hãlach, "andar,
caminhar"; isso indica tratar-se de uma expressão idiomática para o ato de
caluniar. Os léxicos geralmente informam que rãkil é um termo obscuro. A
Septuaginta revela nele nuances que indicam desonestidade, decepção,
duplicidade e falsidade. Assim, o mexeriqueiro aqui é muito mais que a simples
fofoca ou fuxico. Isso se confirma na segunda cláusula: "Não te porás
contra o sangue do teu próximo. O "sangue" diz respeito à vida:
"Não atentarás contra a vida do teu próximo" (ARA). A proibição nessa
segunda parte significa a responsabilidade pessoal de não colocar em perigo a
vida do próximo
com o falso testemunho a fim de declarar o inocente como culpado.
O mexerico corriqueiro
é também condenado pela Palavra de Deus (2 Co 12.20). O cristão nunca deve
falar mal de um irmão na igreja (Tg 4.11). o nono mandamento proíbe toda forma
de mentira, tanto aquela que se diz deliberadamente na vida diária como também
sob juramento num tribunal. Tudo aquilo que se fala com o propósito de
prejudicar o bom nome de alguém é pecado e violação desse mandamento. O Senhor
Jesus Cristo citou este mandamento para o moço rico, juntamente com outros do
Decálogo (Mt 19.18; Mc 10.19; Lc 18.20). Da mesma maneira, fez o apóstolo Paulo
(Rm 13.9). Mas na graça este mandamento aparece na esfera espiritual e não
jurídica (Ef 4.25; Cl 3.9).
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 129-130.
PRÓXIMO
1.
Palavras Envolvidas
Precisamos
considerar quatro palavras hebraicas e uma grega:
a.
Rea, «associado», «companheiro». Mas tem uma larga aplicação, incluindo até
mesmo objetos inanimados (ver Gên. 15:10). Pode estar em foco um amigo íntimo
(Pro. 26:10), ou um amante (Can. 5:16), ou o marido de uma mulher (Jer. 3:20).
Essa palavra hebraica, pois, destaca como próximo uma pessoa que é íntima de
quem fala, em um relacionamento onde imperam laços de amizade (ver £xo. 20:16,
17; Deu. 5:20). Essa palavra hebraica ocorre por cento e oitenta e nove vezes.
b.
Shaken, «concidadão», «vizinho». Está em foco alguém que mora próximo, e de
quem se pode pedir algo emprestado (ver Êxo. 3:22; 12:4; Pro. 27:10). Tal
vocábulo também era usado para indicar cidades próximas (ver Jer. 49:18). O
termo é utilizado por vinte vezes, como um substantivo, pois também era um
verbo, com o sentido de «residir», etc.
c.
Qarob, «próximo», referindo-se a alguém ou a algum lugar; no caso de pessoas,
significava «parente». Ocorre por setenta e cinco vezes nas páginas do Antigo
Testamento. Alguns exemplos: Exo. 32:27; Jos. 9:16; Sal. 15:3; Eze. 23:5,12;
Gên. 19:20; Isa. 13:13; Joel 3:14; Sof. 1:14. Essas duas últimas referências
mostram que a palavra também significava «perto» temporalmente.
d.
Amith, «colega», «igual», «próximo». Essa palavra hebraica aparece por doze
vezes no Antigo Testamento: Zac. 13:7; Lev. 6:2; 18:20; 19:11,15, 17;
25:14,15,17. Essas duas últimas referências mostram que ela pode ser traduzida
em português como «outro», embora dando a entender outro ser humano, o próximo.
e.
Plesíon, «próximo», «vizinho», «concidadão». Essa palavra grega aparece por
dezessete vezes no Novo Testamento: Mat. 5:43 (citando Lev. 19:18); 19:19;
22:39; Mar. 12:31,33; Luc. 10:27,29,36; João 4:5; Atos 7:26; Rom. 13:9,10;
15:2; Gál. 5:14; Efé. 4:25; Tia. 2:8 e 4:12.
2.
Ensinamentos Bíblicos Acerca do Próximo
Para
um israelita, um outro israelita era o próximo, porquanto era um irmão,
participante, com ele, do mesmo pacto com Abraão (ver Gen. 12:1-3). Dentro
desse contexto foi dado o mandamento de amar ao próximo como a si mesmo (ver
Lev. 19:18). Esse mandamento foi universalizado no Novo Testamento; ao passo
que no Antigo Testamento era restringido aos participantes do pacto abraâmico.
Assim, a interpretação rabínica dizia que aos israelitas foi ordenado que
amassem ao próximo, e que isso subentendia que eles deveriam odiar ao
não-próximo, ou ao estrangeiro, ou ao inimigo. Jesus referiu-se a essa
interpretação equivocada em Mat. 5:43 ss. E o Senhor reverteu essa ideia rabínica tão radicalmente que chegou a ordenar que amássemos aos nossos
próprios inimigos, determinando que orássemos em favor daqueles que nos
perseguem (ver Mat. 5:44). É desse modo que um crente chega a tornar-se um
«perfeito» filho do Pai celeste (vss. 45,46] dotado de uma elevada natureza
moral e espiritual. Diz Mat. 5:48: «Portanto, sede vós perfeitos como perfeito
é o vosso Pai celeste». Naturalmente, essa atitude para com o próximo faz parte
da manifestação geral da lei do amor. A prática da lei do amor é prova da
regeneração e da espiritualidade do indivíduo, segundo aprendemos em I João 4:7
ss.
O
Antigo Testamento, de fato, emprega em sentido mais amplo o termo «próximo»,
conforme se vê em Êxo. 3:22;
11:2 e Eze. 16:26. Também poderíamos pensar no livro do profeta Jonas, que é o
«João 3:16» do Antigo Testamento. Entretanto, essa visão mais espiritual .não
conseguiu capturar a imaginação da corrente principal do judaísmo, que cada vez
mais foi-se tornando uma fé exclusivista.
A mais
significativa passagem neotestamentária sobre a definição de quem é o nosso
«próximo», e o que isso deveria significar para nós, acha-se na parábola do Bom
Samaritano, em Luc. 10:29-37.
O
próximo é sempre alguma pessoa em necessidade, ao qual devemos socorrer, sem
importar se essa pessoa vive perto ou longe de nós, sem importar sua raça ou
religião. Do ponto de vista da criação (posto que não do ponto de vista da
regeneração), todos os homens são filhos do mesmo Deus, e todos eles são
irmãos. Assim, um próximo, nesse amplo sentido, tem direito ao nosso amor. Ora,
esse ensino era totalmente estranho ao judaísmo exclusivista dos dias de Jesus;
mas, embora concorde com a nossa teologia cristã, raramente é observado na
nossa prática. A real lei de Deus consiste em amarmos ao próximo como a nós
mesmos (ver Tia. 2:8); mas quanto a isso temos pouca experiência, exceto como
uma proposição teológica.
Paulo
também mencionou essa lei, no contexto da natureza do amor cristão (ver Rom. 13:9,10).
O amor ao próximo não o prejudica. Antes, cumpre todos os requisitos da lei,
que encoraja o bem e proíbe que se faça mal ao próximo (ver Gál. 5:14, que
reitera esse mandamento). Um amplo ensino espiritual haverá de ser, finalmente,
anunciado entre todos os homens (ver Heb. 8:11), quando então a espiritualidade
do ser humano será elevada ao ponto dele deixar de ser um guerreiro tribal,
conforme hoje se vê. Ver o artigo geral sobre o Amor, e também aquele sobre o
Fruto do Espírito.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 489.
Lv 19.
18. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Essa é a Regra Áurea. Cada um deve
amar o próximo como a si mesmo. Esse é o segundo grande manda- mento, de acordo
com a avaliação do Novo Testamento, que só perde em importância para o amor a
Deus. Jesus citou este versículo e exaltou os princípios em que ele está
alicerçado. Ver Mar. 12.31. A lei mosaica inteira repousa sobre esses dois
princípios.
A lei
do amor é a primeira lei da espiritualidade, e, de fato, a essência da
espiritualidade (I Cor. 13). É fruto da regeneração (I João 4.7).
Teu
próximo. De acordo com a definição rabínica, um compatriota hebreu. Mas notemos
que até este capítulo inclui o estrangeiro (vss. 33 e 34). Jesus falou de modo
que entendêssemos que próximo é qualquer outro ser humano (Luc.10.29 ss.).
Quando
de Hillel foi solicitado, por um discípulo em potencial, que dissesse a
essência da lei, estando de pé sobre somente um dos pés (em tempo breve, portanto),
ele apresentou, sob forma negativa, o conceito à nossa frente: Ό que não
quiseres que outros te façam, não faças a outros”. Mas Jesus apresentou uma
versão positiva desse mesmo princípio, em Mat. 7.12: Tudo quanto, pois, quereis
que os homens vos façam, assim fazei-0 vós também a eles”. Cf. Rom. 13.8-10.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 552.
Lv 19.17-18.
A responsabilidade para com o próximo envolve uma atitude positiva de coração e
mente. O ódio é ufna resposta emotiva que somente deve ser empregada contra o
mal (Am 5:15), e nunca contra alguém que também é um membro (“irmão") da
comunidade da aliança.
Quando
se considera necessária a repreensão, a questão deve ser discutida abertamente
com o transgressor, e não por detrás das suas costas, a fim de que a ira não
levasse ao ressentimento e ao ódio, resultando, assim, no pecado. Paulo
encorajou Timóteo a repreender os membros da igreja que estavam em erro, com
amor e paciência (1 Tm 4:12). Tomar vingança da maneira de uma inimizade
tradicional de sangue meramente perpetua uma injustiça, e às vezes a aumenta
além de todas as proporções.
A
vingança como tal pertence somente a Deus (Dt 32:35; Rm 12:19; Hb 10:30), que
pagará no tempo certo. O curso para o cristão seguir em tais casos foi
exemplificado por Jesus Cristo (1 Pe 2:23). A lei do amor para como o próximo é
enunciada somente aqui e no v. 34, e, segundo parece, abrange membros da
comunidade da aliança (“os filhos do teu povo”) juntamente com os forasteiros e
estrangeiros que viviam entre eles. Na realidade, os termos “amar” e “próximo”
parecem ter sido tão compreensivos no seu escopo naquele tempo quanto o são
agora.
Esta
assim-chamada “regra de ouro” foi citada por Cristo (Mt 19:19; 22:39; Mc 12:31;
Lc 10:27, etc.) como ideal de comportamento altruístico na sociedade. O
sentimento que subjaz este aforismo era sem igual no mundo antigo, e representa
um dos preceitos morais mais destacados do Antigo Testamento.
R.
K. Harrison. Leviticos. Introdução
e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 183-184.
III. A VERDADE
1.
ANTIGO TESTAMENTO.
I.
Terminologia Bíblica
No
hebraico devemos considerar uma palavra e no grego, também uma, a saber:
1.
Emeth, “verdade”, “constância”. Esse vocábulo hebraico ocorre por 92 vezes no
Antigo Testamento. Há outras formas dessa palavra e outros vocábulos que
ocorrem por algumas poucas vezes, e que também podem ser traduzidos como
“verdade”.
2.
Alétheia, “verdade”. Palavra grega que é usada por 110 vezes.
No
Antigo Testamento, a palavra emeth e seus cognatos indicam as idéias de
firmeza, estabilidade, fidelidade, alguma base fidedigna de apoio. É uma
qualidade atribuída tanto a Deus quanto às criaturas. Também é atribuída não
somente às mais diversas afirmações (por exemplo, Rute 3:12), mas também à
conduta (ver Gên. 24:49) e às promessas (II Sam. 7:28). A verdade é associada
na Bíblia à gentileza (Gên. 47:29), à justiça (Nee. 9:13 e Isa. 59:14) e à
sinceridade (Jos. 24:14). Por essas razões, a Septuaginta, com freqüência, a
traduz pelo termo grego pistis, “fé”, “fidelidade”, “convicção”, a fim de
expressar o aspecto moral, em vez de empregar alétheia, “verdade”.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 593.
Dt 32
.4 — Diferente da ineficácia dos deuses pagãos (v. 37), Deus dá a vida, a
estabilidade e a felicidade ao povo (v. 15,18,30,31). A vida abundante que Ele
concede é baseada em Sua obra perfeita. Como uma Rocha firme que permanece inabalável
diante das águas furiosas de um mar revolto, o Senhor e Sua obra continuam
sólidos perante o caos produzido pelas vidas em pecado. O Todo-poderoso é a
fundação segura de toda verdade num mundo decadente. Além disso, Ele nunca
deixará as mentiras corromperem a justiça (Sf 3.5). Ao contrário, como um juiz
justo e reto, protegerá os oprimidos.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário
Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 335.
Dt 32 (4)
Ele é um Deus de verdade, cuja palavra podemos aceitar, e nela podemos confiar,
pois não pode mentir aquele que é fiel a todas as suas promessas, nem suas
ameaças cairão por terra.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo
Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 662.
Dt 32.1-4. Acerca do testem
unho de céus e terra, cf. Is 1.2; M q 6.1,2. As palavras do cântico lembram a
chuva e o orvalho porque refrescam e renovam os ouvintes, já que aludem ao caráter
de Javé. Ele é tão sólido e confiável como uma rocha.
Bruce;
F. F. Comentário Bíblico NVI: Antigo e
Novo Testamento. Editora Vida. pag. 386.
2.
NOVO TESTAMENTO.
Pelo
que deixai a mentira e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos
membros uns dos outros" (Ef 4.25). O apóstolo Paulo mostra que engendrar
pensamento falso, falar mentira, propalar falsos rumores faz parte do estilo de
vida do mundo pagão. Os gentios convertidos à fé cristã tinham pela frente o
desafio de mudar o seu padrão de vida; precisavam agora viver como discípulos
de Cristo. Verdade é aquilo que corresponde aos fatos, em contraste com
qualquer coisa enganosa, a mentira (Dt 13.14; 17.4; is 43.9).
A
mentira é o oposto à verdade; trata-se da prática do engano, da falsidade e da
traição. No contexto bíblico, a mentira vai além da prática intelectual da
desonestidade; é uma distorção do verdadeiro eu e da nossa relação com Deus e
com o próximo (1 Jo 2.4; 4.20).
A
proibição aqui é a divulgação não oficial e de fonte desconhecida de informação
ou notícia no meio do povo de Deus. A lei que manda amar o próximo proíbe o
discurso nocivo, ainda mais quando o objetivo é destruir a vida ou a reputação
do outro.
A
pessoa confiável e de bem guarda segredo e não divulga o que ouve para não
prejudicar o próximo.
Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em
Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 130.
Nas
páginas do Novo Testamento, alétheia retém a ênfase moral e personalista que o
termo paralelo hebraico tem no Antigo Testamento, embora a noção de fidelidade,
com mais freqüência, seja transmitida através da palavra grega pistis.
Etimologicamente, alétheia sugere que alguma coisa tenha sido descoberta,
revelada, segundo a
sua
verdadeira natureza, dando a ideia daquilo que é real e genuíno, em
contraposição com o que é imaginário ou espúrio, ou, então, daquilo que é
veraz, em contraposição com o que é falso. Assim, lemos a respeito do
“verdadeiro Deus” e da “verdadeira vinha”, tal como o Credo Niceno faia sobre
“o vero Deus do vero Deus”. O adjetivo grego, aléthinos, aparece em contextos
assim, ao passo que alethés é palavra empregada como um predicado (ver Mat.
22:16; João 3:33, etc.). A julgar pelo uso que esses dois adjetivos têm no Novo
Testamento, não se pode averiguar qualquer diferença essencial no significado fundamental
desses dois termos, Porém, as referências neotestamentárias a declarações
verazes tomam evidente que o conceito de verdade cognitiva deriva-se das noções
de franqueza ou caráter fidedigno (ver, por exemplo, Mar. 5:33; 12:32; João
8:44-46; Rom. 1:25 e Efé. 4:25).
O
conceito cognitivo é mais explícito no Novo Testamento do que no Antigo
Testamento. A verdade está ligada não somente à fidelidade e à justiça, mas
também ao conhecimento e à revelação. Isso se deve, pelo menos em parte, à
intrusão da cultura grega com seus interesses mais acentuadamente teóricos no
mundo judaico; e, também, em parte, ao idioma grego, e, portanto, seria um erro
supormos que a língua grega e, portanto, o uso que o Novo Testamento faz do
vocábulo aletheia, reflita um dualismo platônico, e, portanto, uma
epistemologia platônica ou mesmo gnóstica. Pois, em primeiro lugar, a filosofia
grega é muito variada do que isso subentende: não havia somente uma
epistemologia grega. Em segundo lugar, os escritos bíblicos moldavam os significados
que queriam dar a entender, mediante o seu próprio uso criterioso dos
vocábulos. Sem dúvida alguma, ao escreverem para uma cultura já helenizada, com
suas diferentes compreensões acerca da verdade, esses escritores conservavam em
mente a ideia de verdade cognitiva. Todavia, a maneira de pensar dos escritores
sagrados era mais diretamente moldada pelos conceitos veterotestamentários e
acima de tudo, pela crença de que o verdadeiro Deus, o Deus alethinós, não vive
oculto, mas antes, age e fala com uma franqueza totalmente digna de confiança
(alethés).
II.
Três Conceitos de Verdade na Bíblia
O uso
que a Bíblia faz da palavra verdade, sugere três conceitos relacionados entre
si, a saber: 1. a verdade moral; 2. a verdade ontológica; e 3. a verdade cognitiva.
Naturalmente, os conceitos 2 e 3 dependem, logicamente, do conceito 1; e o
conceito 3 depende, logicamente, dos conceitos 1 e 2. Em cada um desses casos,
entretanto, a base da verdade se encontra em Deus, que é a fonte originária e o
padrão de 1, a retidão; 2, o ser; e 3, o conhecimento.
1. A
Verdade Moral. A verdade é um dos atributos de Deus. Como tal, esse vocábulo se
refere à integridade, ao caráter digno de confiança e à fidelidade de Deus. Um
poeta hebreu colebra esse atributo em Salmos 89, e o profeta Oseias o faz cm
Osé. 2:19-23. Em ambos os casos, a verdade divina é combinada com a
misericórdia e o amor dc Deus. De acordo com Deuteronômio 32:4, Salmos 100:5 e
146:6, a fidelidade de Deus é revelada por meio da criação; e, no livro de
Apocalipse, esse é o atributo de Deus sobre o qual repousa a expectação de
juízo (ver Apo. 3:7,14; 6:10; 15:3,4; 19:11 e 21:5).
Visto
que o caráter divino deve ser imitado pelos homens, a verdade também deveria
ser uma qualidade, virtude ou atributo humano. Por esse prisma, a verdade
importa em honestidade (Sal. 15:2; Efé. 4:25) e justiça civil (Isa.
59:4,14,15). Dizer a verdade, portanto, para o homem constitui uma obrigação,
de tal maneira que a veracidade (verdade cognitiva) seja uma das
características do homem em quem se pode confiar (verdade moral). Entretanto,
espera-se de cada indivíduo que se mostre íntegro diante de Deus e de seus
semelhantes (Êxo. 18:21; Jos. 24:14). Nesse sentido moral, a verdade não é
algum mero verniz superficial, pelo contrário, parte do próprio coração,
distinguindo o caráter inteiro do homem interior (I Sam. 12:24; Sal. 15:2;
51:6).
2. A
Verdade Ontológica. Originando-se no conceito de que o indivíduo que é
inteiramente digno de confiança é veraz, temos aquele outro conceito do
indivíduo que efetivamente é aquilo que se propõe a scr. Isso significa que tal
indivíduo não vive uma ficção, não procura enganar ao próximo, c nem é um homem
que dê um exemplo imperfeito ou negativo. Nesse sentido, “a verdadeira luz”
(João 1:9) é a perfeição que João Batista refletia em parte, em sua pessoa; “o
verdadeiro pão” (João 6:32) faz contraste com o imperfeito maná de Moisés; e
“os verdadeiros adoradores” (João 4:23) fazem contraste com aqueles que
adoravam por mera antecipação, aguardando por quem não conheciam o Messias. Os
crentes tessalonicenses abandonaram seus ídolos a fim de servirem ao verdadeiro
Deus (I Tes. 1:9). Cristo é a verdade personificada.
É
nesse sentido que falamos sobre “um verdadeiro homem”, “um verdadeiro erudito”
ou “um verdadeiro filho”,
dando
a entender alguém que é fiel a algum ideal, que representa perfeitamente algum
padrão de virtude. A teoria grega dos universais via, em todos os particulares,
uma participação, em algum grau, nas formas ideais dos universais. Pensadores
cristãos como Agostinho, Anselmo e Tomás de Aquino equipararam essas formas com
as idéias e os decretos divinos (verdades eternas), tendo atribuído uma
“verdade ontológica” aos objetos naturais que dão corpo a essas idéias e
decretos. Entretanto, essa noção não se originou dos ensinamentos bíblicos, mas
pela combinação das teorias gregas sobre a forma com o conceito bíblico de um
Criador que faz todas as coisas em consonância com a sua perfeita vontade.
3. A
Verdade Cognitiva. Um outro fator resultante da verdade moral é que o indivíduo
veraz diz a verdade e não a mentira ou falsidade. Em Deus, a verdade origina-se
na sua onisciência, de tal modo que o atributo da verdade se refere, pelo menos
em parte, ao seu perfeito conhecimento de todas as coisas (Jó 28:20-26; 38:39).
Visto que Deus é o Criador, tudo quanto sabemos depende, em última análise, do
Senhor. Toda verdade é uma verdade divina. Nossas habilidades cognitivas são
uma criação de Deus, e o caráter inteligível da natureza confirma a sabedoria
de Deus. Por conseguinte, o conhecimento de Deus é um conhecimento arquétipo,
do qual o nosso conhecimento é parcial, uma imitação. Aquilo que declaramos
verdadeiro, só o é à proporção que concorda com a verdade, que só se manifesta
perfeitamente na pessoa de Deus. Isso posto, a verdade terrestre é contingente,
dependente, limitada, provisória. É por um motivo assim que o apóstolo dos
gentios explicou que “... agora vemos como em espelho, obscuramente...”, e que
somente na presença imediata de Deus, quando estivermos na glória, é que
“...veremos face a face ...”. Sim, ainda no dizer do apóstolo, agora conhecemos
apenas parcialmente; no céu conheceremos tal e qual somos conhecidos. Em
contraste com o nosso conhecimento refletido, a verdade arquétipa é ilimitada,
imutável e absoluta. No caso do homem, a verdade permanece em formação
constante; mas, no caso de Deus, a verdade já é perfeita, completa.
Isso é
expresso através do conceito do Logos, nos escritos de João, bem como na
discussão, na epístola aos Colossenses, sobre o fato de estarem ocultos, em
Cristo, “...todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento...” (Col. 2:3). O
Cristo, por intermédio de Quem todas as coisas foram criadas, e que agora
sustenta a tudo em existência, é aquele que empresta, à natureza e à história,
inteligibilidade, boa ordem e propósito. Conhecer a Cristo é conhecer a fonte
onisciente de toda a verdade, de todo o conhecimento, não a fim de que possamos
saber de tudo quanto ele sabe, mas a fim de podermos compreender como são
possíveis todo o conhecimento e toda a sabedoria. Cristo é aquele que garante o
caráter fidedigno de qualquer verdade que podemos obter.
Apesar
dc ser evidente, no Novo Testamento, o conceito cognitivo da verdade (ver, por
exemplo, Mar. 5:33; 12:32; Rom. 1:25), é particularmente aplicado ali à
mensagem anunciada por Cristo e seus apóstolos (João 5:33; 8:31-47; Rom. 2:8;
Gál, 2:5; 5:7; Efé. 1:13; I Tim. 3:15; I João 2:21-27). Um mensageiro cristão
fiel fala a verdade que procede de Deus; e, correspondendo a essa verdade de Deus,
o crente confia em Deus, de quem procede essa verdade. A fé, pois, consiste
tanto no assentimento da verdade como na dependência ao que Deus declara. Por
isso é que se lê que uma pessoa “pratica a verdade”, quando dá o seu
assentimento à mensagem do evangelho e
confia
em Cristo, em vista de sua “verdade moral” ou fidelidade (ver I João 1:6-8;
2:4; 3:18,19).
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 1. Editora Hagnos. pag. 593-595.
« ...e
a verdade...» Quanto a este particular, poderíamos destacar os pontos
seguintes:
1.
Jesus é a verdade de Deus porque, na qualidade de «Logos» eterno (ver João
1:1), ele é a perfeita revelação de Deus e de sua verdade, e isso não meramente
para os homens, mas também para todos os seres criados.
2.
Jesus é, especialmente, a revelação de Deus aos homens, no que concerne à
salvação deles. Sua própria pessoa representa realmente essa verdade, porque
nele, segundo os eternos conselhos divinos (ver Efé. 1:3-5), ele sempre esteve
unido a Deus Pai, e o plano da redenção dessa maneira se originou dele. Assim
sendo, em sua encarnação, ele trouxe essa verdade da redenção aos homens. Em
sua ascensão, ressurreição e glorificação, ele assegura aos remidos a mais
plena participação em toda a sua glória e em sua natureza divina. Portanto, por
esses motivos ele é a verdade metafísica do homem.
3.
Jesus é a verdade do caminho pelo qual os homens devem retornar a Deus,
porquanto ele é o exemplo supremo e o ilustrador desse caminho. Essa é a
verdade envolvida em sua encarnação. Tudo quanto o homem precisa saber está
contido em sua pessoa. Jesus é a verdade ética do homem.
4.
Dessa maneira, em sua própria pessoa, Cristo Jesus combina tudo quanto os
homens precisam saber, crer e ser, tanto no que diz respeito à natureza de Deus
como no que tange à natureza e à posse da redenção e da glória eterna.
5.
Jesus é a Verdade, em o posição à religião falsa, como o judaísmo desviado e
obstinado. Ele é aquela verdade para a qual apontava a lei mosaica, e da qual o
pacto do A.T. era apenas uma sombra pálida. Ele é a materialização dá verdade
espiritual, e não meramente um profeta de Deus ou uma representação parcial
polêmica cristã contra os judeus incrédulos, que rejeitaram ao seu próprio
Messias. O autor sagrado queria que tais pessoas soubessem que tudo aquilo em
que confiavam, como uma revelação da parte de Deus, nada significava à parte da
pessoa de Jesus Cristo, posto ser ele a concretização de toda a verdade de
Deus, ao passo que Moisés, a lei e os profetas meramente apontavam para Cristo.
6. Em
sua própria essência. Cristo também é a verdade de Deus, porquanto ele mesmo é
divino, e assim nos tem mostrado qual é a natureza de Deus ou a verdadeira
forma de vida que ele possui, a qual ele está transmitindo aos homens através
de Cristo. Essa é justamente a mensagem de um trecho como Col. 2:9, onde se lê:
«...porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade...» Ou
então do trecho de Col. 1:15: «Ele é a imagem do Deus invisível...».
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 523.
Ele os
traz em segurança ao lar situado lá em cima. Cristo é a verdade: Cada palavra
sua pode ser confiada implicitamente, pois ela ensina o conhecimento de Deus, de
aponta o caminho. O caminho que ele ensina é o único caminho certo, pois ele é
a verdade absoluta. Cristo é a vida: Ele é o manancial e o doador de toda
verdadeira vida, a vida que vivifica a todos aqueles que creem nele, e que é
para ser gozada eternamente no fim do caminho. Aquele que nele crê tem a vida
eterna, no que está na vontade e intenção de Deus, está completamente unido a
Deus. Sendo estas coisas verdadeiras, a conseqüência é que ninguém pode vir ao
Pai, ou alcançar o gozo da bendição eterna, a não ser só por Jesus. Não há outro
caminho, sendo que todos os caminhos que são imaginados pelas pessoas, os
caminhos das boas obras e da justiça própria, são trilhos falsos os quais levam
à destruição eterna. Jesus é o único caminho ao céu. “Creio que é isto o que
‘verdade’, que é a segunda palavra, significa em toda sua simplicidade, a
saber, que Cristo não é somente o começo do caminho, mas que é o caminho
verdadeiro e seguro, que finalmente permanecerá o caminho ao qual a gente
sempre se precisa ater, e não permitir que o trilho errado nos seduza a buscar
algo ao lado de Jesus que nos possa ajudar na salvação.
KRETZMANN.
Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo
Testamento. Editora
Concordia Publishing House.
3.
O QUE É A VERDADE.
«
...Perguntou-lhe P ilatos: Que ê a verdade?...» A pergunta, feita ao Senhor
Jesus por Pilatos, e que este último não esperou ser respondida, tem sido
encarada de diversas maneiras pelos intérpretes, como segue: 1. «‘Q ue é a
verdade?’ disse Pilatos a zombar, sem querer esperar pela réplica». (Lord
Bacon).
2.
Outros estudiosos vêem uma forma de amargura mental expressa neste ponto, por
alguém que já fora empurrado para lá e para cá, »no mundo político altamente
competitivo e ilusório, onde a verdade real sempre aparece como a última
consideração.
3.
Alguns percebem nessa pergunta de Pilatos um tom de sarcasmo. Sucederia, por
acaso, que aquilo que os grandes filósofos gregos, seguidos por não
insignificantes pensadores romanos, não conseguiram definir e provar, havia
encontrado definição por aquele entusiasta judeu? E poderia a verdade
derivar-se de uma sociedade como a dos judeus, inimigos do gênero humano, que
naquele exato momento exigiam a morte de um homem inocente? «Esse famoso
escárnio de Pilatos revela a sua própria ignorância sobre a verdade, estando
ele defronte da verdade encarnada». (Robertson, in loc.).
4.
Certos estudiosos têm pensado que a indagação de Pilatos expressou uma
inquirição autêntica e sincera pela verdade. (Assim pensavam Crisóstomo,
Teodoreto, Arécio e outros). Porém, essa opinião não parece coincidir com a
realidade dos fatos.
5.
Lange (in loc.) opinou como segue: «Evidentemente ele ‘Pilatos’ não tinha
qualquer idéia de verdade subjetiva e vital, e por verdade entendia meramente
um problema objetivo escolástico sobre o que um homem prático e de negócios não
precisava perder tempo em meditações». Essa interpretação é apoiada pelo fato
de que os romanos, em sua maior parte, não se envolviam em especulações
metafísicas acerca da verdade e sua natureza, a exemplo dos gregos; e, por
igual modo, na filosofia romana, o ceticismo se torriara muito forte. Por
definição filosófica, o ceticismo afirma que não existe qualquer coisa como uma
verdade certa, imutável e eterna, e que, mesmo que tal coisa exista, os homens
ainda não encontraram meios para descobri-la, não sendo mesmo provável que se
possa encontrar esses meios de descoberta ou descrição. Naturalmente esse
parecer dos antigos romanos é o arauto do moderno ceticismo científico,
conforme pode ser visto no positivismo lógico, que decreta que a descoberta da
verdade é impossível para os homens, reduzindo a filosofia a uma mera tentativa
de fornecer algum método científico ao processo do raciocínio. Para essa
escola, a verdade é o que funciona em qualquer dada situação, mas, em face da alteração
das circunstâncias ou situações, a verdade passa a ser outra.
Pilatos,
quer inclinado quer não às especulações filosóficas, sem dúvida compartilhava
de algo dessa atitude tipicamente romana, por ser parte de uma sociedade que
encarava as coisas dessa maneira.
Portanto,
a sua pergunta a Cristo, para a qual não esperou resposta, equivale a uma
declaração sua, como, por exemplo: «Quem se importa com a verdade? Esse reino
de que falas, ó Jesus, é um reino que não pode ferir nossos interesses
‘romanos’ aqui em Jerusalém. Que tenho eu a ver com províncias e reinos que não
podem render tributo, que não podem produzir qualquer exército que se revolte
contra nós? Não passas de um fanático, e não representas qualquer ameaça
política real».
E
assim, com um gesto que deixava ver a sua impaciência -pois não tinha interesse
algum em ouvir mais qualquer coisa sobre o que lhe parecia especulações
teológicas loucas—voltou Pilatos as costas a Jesus, não querendo mais ouvi-lo.
Não obstante, estava convicto de sua inocência e proclamou essa opinião
francamente à multidão que o esperava ululante lá fora. Declarou que Jesus não
era culpado de crime algum e que suas aspirações à realeza eram inteiramente
diversas daquilo de que vinha sendo acusado.
O
vocábulo «...eu...» é enfático dentro da frase: «Eu não acho nele crime algum».
É como se Pilatos houvesse dito à multidão: «Quanto a vós, tendes encontrado
falta nele, mas injustamente, por motivo de ódio e preconceitos religiosos e
por causa dê vossa inveja; mas, quanto a mim, não encontro crime algum neste
homem».
«Pilatos
escarneceu tanto da grande Testemunha da Verdade como dos que aborreciam a
verdade. Sua conduta apresenta um lamentável exemplo da fraqueza moral daquele
espírito de poder mundano, que atingiu o seu ponto culminante no império
romano». (Alford, in loc.).
A
declaração que Pilatos fez nessa oportunidade, e que coincidia com a verdade e
com a justiça mais pura, não demorou a ser obliterada pelas maquinações da
política, onde parece mais importante preservar a paz do que salvar a vida de
um inocente.
«Não
encontro motivo algum para a acusação legal (ver o vs. 33). Sem importar o que
ele ‘Jesus’ seja, não há qualquer prova de traição contra a majestade de
César». (Ellicott, in loc.).
«A única
certeza que há é que nada é certo, nem mais miserável do que o homem, e nem
mais orgulhoso». (P lín io , o Velho, que assim deixava transparecer sua
atitude, própria da sua época).
«A
finalidade de Pilatos corresponde a uma vida vazia de toda base de verdade
objetiva; de'conformidade com as autoridades clássicas, ele terminou por
suicidar-se, em conseqüência de graves infortúnios». (Eusébio, História
Eclesiástica, II.7).
No
tocante à verdade do cristianismo, Arthur John Gossip (in loc.)
declara:
«Caso Pilatos se tivesse demorado um pouco mais, Cristo poderia ter-lhe
respondido: ‘Eu sou a verdade...’ Mas até isso, com toda a probabilidade, pouco
ou nada teria significado para aquele altivo romano. No entanto, isso seria
estritamente verdadeiro».
Não
faz muito tempo em que certo professor, de nome Charles Kingsley, resignou sua
cadeira de professor de história, sob a alegação de que não existe aquilo que
convencionamos chamar de história, pois não haveria conhecimento fidedigno
sobre os acontecimentos passados, conforme eles realmente sucederam, mas
tão-somente narrativas inexatas, coloridas pelos preconceitos deste ou daquele.
E muitos, por semelhante modo, têm desistido da busca pela verdade.
A
verdade que conhecemos
1.
Sabemos de bem pouco, mas aquilo que sabemos é imensamente importante.
2. Em
contraste com o conhecimento de um historiador, que depende de pesquisas do
passado distante, e isso contando com meios inadequados, a busca pela verdade
religiosa depende da revelação. A revelação depende do interesse de Deus pelo
mundo, e é evidência do mesmo.
3. A
verdade é comprovada nas vidas daqueles que são transformados segundo a imagem
de Cristo. Ê necessário poder para que isso se concretize, e o que é bom traz
consigo suas próprias evidências.
A
sabedoria não é finalmente testada nas escolas,
A
sabedoria não pode passar de quem a tem para quem não a tem,
A
sabedoria é da alma, não é susceptível de prova, é sua própria prova.
(Walt
Whitman, Canção da Estrada Aberta).
Conforme
disse Aristóteles (Retórica 11.13), a verdade é que os homens se vão tornando
menos e menos dogmáticos, à proporção em que envelhecem, reconhecendo cada vez
mais a vastidão da verdade; e isso certamente é o caso da verdade de Cristo,
pois essa é infinitamente ampla e não pode ser contida por qualquer credo ou
denominação religiosa, porquanto é impossível alguém cercar Deus com uma sebe.
Contra
a arrogância
1. A
fé não consiste de não crer em algo que não é a verdade. Urr dogma pode servir
de obstáculo para a verdade que conhece as coisas. 2. Nenhuma denominação ou fé
isolada pode ser guardiã da verdade
divina.
Podemos aprender coisas de outros, e as janelas deveriam ser
mantidas
abertas, para permitir que a luz entre, para que possa haver
crescimento.
Da
preguiça que aceita meias-verdades,
Da
arrogância que pensa conhecer toda a verdade,
O
Senhor, livra-nos.
O
próprio Paulo exibiu grande confiança: «Sei em quem tenho crido», e, no
entanto, aludiu a si mesmo como mero principiante na inquirição pela verdade
espiritual. (Ver II Tim. 1:12, em comparação com Fil. 3:10-14.
Quanto
a Jesus como «a personificação da verdade», ver João 14:6).
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 603-604.
Quando
Pilatos ouve essa observação a respeito da verdade, ele dá de ombro. Cético
como era, esse assunto não lhe desperta nenhum interesse. É bom ter em mente,
neste contexto, que muitos líderes romanos tinham desistido de todas as crenças
pagãs com respeito aos deuses. Ah, bom, no final de contas os deuses podem
existir e se vingarem de quem os ofende. Por essa razão, muitas dessas pessoas,
inclusive aquelas da fam ília de Pilatos (ver M t 19.7-9; M t 27.9), eram dom
inadas por medo supersticioso; mas quanto a convicções arraigadas ou fé profundam
ente radicada com respeito a Deus ou realidades básicas, isso sim plesm ente
não existia para eles.
É
nesse espírito de ceticismo e cinismo extremos que Pilatos deixa escapar: “O
que é a verdade?” , não se dando conta de que a resposta estava em pé à sua
frente (ver sobre 14.6).
Tendo
dito isso, Pilatos retoma ao pórtico e definitivamente diz aos judeus - a
multidão está crescendo sem parar em frente ao pretório - , “Eu não acho nele
crim e algum ”. Nenhum crime, nenhum a causa para acusação! Este homem, Jesus,
tal como Pilatos o via, especulava em fantasias espirituais, não era um
indivíduo perigoso. Da parte dele, não havia perigo para o estado. Se o
governador fosse um homem honesto, se estivesse disposto a servir à causa da
justiça, ele teria, neste ponto, liberado o prisioneiro. Mas Pilatos não era
esse tipo de homem. Para o caráter de Pilatos, ver sobre 18.29, 30.
Quando os judeus - pensamos que especialmente nos líderes, os membros do
Sinédrio - , ouviram o veredicto de Pilatos (“Não há m otivo para acusação”),
imediatam ente acusaram Jesus de sedição, que segundo eles tivera seu começo na
Galiléia e continuado até Jerusalém. O resultado foi que Pilatos - que,
naturalmente, sabia muito bem que tinha total jurisdição nesse caso, pois, segundo
a acusação, a tentativa de insurreição teria ocorrido dentro dos portões de
Jerusalém! - o enviou a Herodes. Foi um gesto de cortesia. E, ao m esm o tem po
(e isso estava no âm ago da mente de Pilatos), se porventura Herodes estivesse disposto
a julgar esse caso, ele (Pilatos) ficaria livre dele. E ficar livre dele era o
que Pilatos mais queria! A história do aparecimento de Jesus perante Herodes é
contada em Lucas 23.5-12. O estratagema falhou. Herodes devolveu o
prisioneiro, paramentado num a vestimenta de chacota. Então, Pilatos outra vez
se dirige aos membros do Sinédrio, dizendo-lhes que nem ele nem Herodes
acharam motivo para acusação. M as, novam ente ele transige. Temor
supersticioso e, quem sabe, um resquício de senso de justiça impedem Pilatos de
sentenciar Jesus a ser crucificado. Ele não está pronto para isso ... pelo
menos não ainda! Por outro lado, o medo do que judeus pudessem fazer-lhe caso
acrescentasse m ais um a ofensa às anteriores, o impede de soltar Jesus. Desse
modo, seu perverso coração está dividido entre os dois temores. Então, ele se
propõe agradar aos judeus sugerindo chicotear Jesus; e aplacar a voz de sua
própria consciência e os deuses {caso eles existissem !) não emitindo a ordem
de crucificar o prisioneiro. Ver Lucas 23.13-16.
Os
judeus, entretanto, têm outros planos. Nesse momento, a multidão - a essa
altura um a multidão se juntara! - exige de Pilatos que ele faça o que tem
costume de fazer por ocasião da Páscoa, isto é, soltar um prisioneiro, que
eles indicariam (talvez como símbolo e recordação da libertação de seus
ancestrais da casa da servidão no Egito).
KRETZMANN.
Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo
Testamento Editora Concordia Publishing House. 830-831.
Jo 18.37.
Pilatos entendeu pouco. Ele sabe que Jesus falou de seu ‘reino’ e, portanto, que
as pretensões de Jesus como um rei devem ser investigadas mais profundamente:
Então,
você é rei! A resposta de Jesus, traduzida literalmente, diz: “Tu dizes que sou
rei”, perifrasticamente traduzida por Dodd como “‘Rei’ é uma palavra tua, não minha”
(H TFG, p. 99; de forma similar, Bruce, pp. 353-354). Mas, na realidade, a
evidência é muito forte de que a expressão é certamente afirmativa (assim, a tradução
da BLH “É o senhor que está dizendo que eu sou rei!”), mesmo se, como na
expressão mais simples, ela é hesitante ou leva a uma circunlocução. Em outras
palavras, Jesus foi tão longe na auto-revelação que ele deve confirmar
abertamente seu próprio status real, mas ele estaria iludindo muito se não
continuasse a explicar a natureza peculiar de seu reino. Depois de descrever seu
reino com uma forma negativa (v. 36), ele agora define sua missão real
positivamente.
Ele
nasceu para ser um rei, para isso ele veio ao mundo: no contexto do quarto
evangelho, esse par de expressões refere-se à encarnação, sua mudança da glória
que compartilhava com o Pai em sua presença (17.5) para a sua manifestação nesse
mundo arruinado para manifestar algo daquela glória (1.14). Somente nesse momento
desse evangelho, o nascimento de Jesus é mencionado sem nenhuma ambiguidade. Ele veio, em suma, para ser um rei - ou, de outra forma, para testemunhar da
verdade (alêtheia-, cf. notas sobre 1.14; 4.24; 14.6). O paralelismo sugere que
seu reino é o reino da verdade; ou, de forma mais precisa, o exercício de seu reinado
de salvação é praticamente indistinguível de seu testemunho da verdade.
Nesse
contexto, a verdade é interpretada em um sentido mais que intelectual (cf dela
Potterie, 2. 624ss.); ela é apenas a auto-revelação de Deus em seu Filho, que é
a verdade (14.6). Revelar a verdade de Deus, da salvação e do juízo, era o
principal meio de fazer súditos, de exercer seu reinado salvífico (cf.
Lagrange, p. 477).
De
forma similar, somente aqueles que são corretamente relacionados com Deus, com a
própria verdade, podem compreender o testemunho que Jesus fornece da verdade
(cf. 3.16-21). Todos os que são da verdade ouvem a Jesus (cf. 10.3,16,27).
38a.
Se o reinado de Jesus é indistinguível de seu testemunho da verdade, e se seus
seguidores são caracterizados por fidelidade a seu testemunho, e não pela revolução
violenta, Pilatos é forçado a reconhecer que Jesus está sendo vítima de uma
conspiração do Sinédrio. Além disso, há um convite implícito nas palavras de
Jesus. O homem no banco dos réus convida o juiz para ser seu seguidor, para juntar-se
àqueles que são “da verdade”. Jesus não é perigoso; mas ele também pode estar
irritando Pilatos. De qualquer forma, Pilatos abruptamente termina o interrogatório
com uma curta e cínica pergunta: Que é a verdade? - e com a mesma rispidez dá
as costas, seja porque ele está convencido de que não existe uma resposta, seja
porque ele não quer ouvi-la, o que é mais provável. Ele prova, assim, que não
está entre aqueles a qúem o Pai deu a seu Filho (cf. Haenchen, 2. 180).
D.
A. CARSON. O Comentário De João. Editora Shedd
Publicações. pag. 595-596.
IV. O CUIDADO COM A MENTIRA
1.
AS TESTEMUNHAS.
Sobre
o Falso Testemunho (19.15-21)
Dt 19.15
Pelo depoimento de duas ou três testemunhas. Esse múltiplo testemunho concorria
para a preservação da justiça. A lei mosaica era severa, e por muitas vezes
requeria a punição capital, devido a crimes que na cultura moderna não seriam
castigados tão severamente. Uma testemunha falsa poderia tentar eliminar um
adversário prestando um testemunho falso: “Meu vizinho estava adorando um
ídolo!”. A fim de impedir tão ultrajante conduta, pois, foi estabelecida a lei
das “duas ou mais testemunhas”. Desse modo o perjúrio, embora não fosse
eliminado de todo, pelo menos era grandemente reduzido. Já vimos essa lei em
Deu. 17.6. As notas oferecidas ali aplicam-se também aqui. O depoimento de
testemunhas precisava ser investigado. Os juízes e os tribunais locais não
deveriam aceitar passivamente os caprichos desonestos dos homens. Juízes inquiririam as teste- munhas. E as testemunhas falsas deveriam ser executadas
(Deu. 19.19). Isso lançaria o temor no coração de todos, dificultando o pecado
de perjúrio.
Ό uso
veraz da língua, ao evitar a todo o transe a calúnia e a acusação falsa, é um
dos princípios centrais da ética bíblica, sendo esse pecado condenado no nono
mandamento da lei. Aqui esse principio foi expresso em linguagem leal, para uso
nos tribunais (cf. Êxo. 23.1; Lev. 19.11-18)" (G. Ernest Wright, in ioc.).
As
testemunhas não podiam prestar seu testemunho por meio de cartas, nem podiam
enviar representantes. Era mister que comparecessem pessoalmente, a fim de
serem inquiridas pelos juízes. E se houvesse 0 envolvimento de algum idioma estrangeiro, não podia haver um intérprete entre as testemunhas e os juizes. As
testemunhas tinham de encarar os juízes. Cf. Núm. 35.30.
Dt 19.16
Quando se levantar testemunha falsa. É de presumir-se que os casos complicados
fossem submetidos à apreciação da Corte Suprema, que funciona- va no santuário
central, em Jerusalém. Ver Deu. 17.18 ss.. O lugar determinado por Yahweh como
o santuário central também abrigaria o Tribunal Superior, que julgaria os casos
mais difíceis. Israel dispunha de severas leis de retaliação, como olho por
olho e dente por dente (vs. 21), e isso precisava ser regulamentado com medidas
extremas, mediante investigação e depoimento de testemunhas oculares, para que
houvesse sempre julgamentos justos. Leis severas exigiam uma justiça estrita.
Dt 19.17
Então os dois homens. É provável que tenhamos aqui a descrição daqueles entre
os quais tivesse surgido alguma pendência, no santuário central; mas, se um
concilio local estivesse envolvido, então deveriam prevalecer as mesmas regras
de justiça. O vocábulo no singular, “juiz”, que ali aparece (vs. 9), talvez
seja uma referência ao sumo sacerdote, que era o juiz supremo em Israel. A
passagem de Deuteronômio 17.8-13 aborda a Corte Suprema, e nas notas
expositivas a res- peito, dou informações acerca dos oficiais que operavam ali,
bem como dos tribunais secundários. Ver também Deu. 16.18 ss.. Nesse versículo
18 dou informações específicas sobre a estrutura dos antigos tribunais de
Israel.
Homens.
Mulheres não podiam servir de testemunhas. Ver Bartenora, see. 5. Esse mesmo
documento antigo assevera que tanto as testemunhas quanto os acusados tinham de
dar e ouvir o testemunho estando de pé.
Perante
o Senhor. Assim foi dito porque o tribunal e suas regras de ação tinham sido
estabelecidos por ordem divina. Deus era o observador silente que acompanhava 0
processo inteiro de justiça, e a Sua presença inspiraria os juízes a impor uma
justiça estrita.
O
comparecimento pessoal era uma necessidade. Ninguém podia escrever uma carta ou
enviar um seu representante.
Diante
dos sacerdotes e dos juízes.
Dt 19.18
Os juízes indagarão bem. Investigações criteriosas faziam parte do dever dos tribunais, em Israel. Ninguém podia mostrar-se frívolo, nessas ocasiões. Com
freqüência, a punição capital era o fim do julgamento. O Targum de Jonathan
refere a um exame e interrogatório completo das testemunhas. Ver Deu. 17.4,
quanto à expressão “indagarás bem”. Ver também Deu. 13.12-14 e 17.9. O trecho
enfatiza a questão. Não se permitia testemunho por “ouvir dizer”, em Israel.
Dt 19.19
Assim exterminarás o mal do meio de ti. O próprio Yahweh cuidaria para que os
tribunais de justiça de Seu povo não falhassem. Se alguma testemunha falsa
fosse descoberta pelas investigações, então tal indivíduo sofreria exatamente
0 castigo que tinha esperado infligir sobre seu vizinho ou conhecido inocente.
A
questão era levada “perante o Senhor” (vs. 17), porquanto era 0 tribunal do
Senhor e os juízes do Senhor estavam julgando o caso. Sua presença, invisível
mas real, seria garantia absoluta da justiça.
O
castigo poderia tomar a forma de uma multa, de açoites, da perda de um dos
membros do corpo, ou então de execução por apedrejamento, estrangula- mento,
execução na fogueira ou morte à espada. As testemunhas falsas seriam sujeitadas
a uma dessas punições, sem importar qual delas tivesse sido planejada para o
homem falsamente acusado.
Dt 19.20
... o ouçam e temam. Aqueles que sobrevivessem ao incidente (como a familia do
homem que tinha cometido perjúrio), bem como a população em geral, que ouvisse
falar sobre o caso, temeriam, desencorajando o crime de perjúrio. E embora isso
não eliminasse 0 mal das testemunhas falsas, essa prática odiosa ficaria
grandemente reduzida.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 830.
III.
Falsas testemunhas (19: 15-21). A prática do perjúrio é proibida no decálogo (5
: 20). Para desestimular o perjúrio, contudo, certas medidas judiciais foram estabelecidas. Esta breve seção trata de todo o assunto das testemunhas e, em
especial, da falsa testemunha, que tem sido uma ameaça à sociedade em todas as
épocas e entre todos os povos.
Dt 20.15.
É perfeitamente provável que Moisés formulasse uma única lei apodítica com
referência ao falso testemunho. Podemos postular tal lei nos seguintes termos:
Uma única testemunha não terá ganho de causa (lit. “ficará de pé”) contra
outrem com respeito a um crime qualquer.
Na
explanação subseqüente a tal lei aparece a cláusula de que duas ou três
testemunhas são necessárias antes que uma acusação possa ser sustentada.
Dt 20.16-20.
O caso da testemunha maliciosa (lit. “testemunha de violência”, i.e. seu
testemunho levaria a um ato de violência) é agora discutido.
Quando
tal testemunha declarava que o acusado era culpado de um ato errado (lit.
“desvio”, i.e. deserção, apostasia ou má conduta moral ou religiosa), as duas
partes em litígio tinham que comparecer perante Javé para responder aos
sacerdotes e juízes que estivessem oficiando na ocasioes. O tribunal localizado
no santuário central parece ser o que se tem em vista nesta passagem (cf. 17:
8-13). Depois de cuidadoso exame os juízes (provavelmente todo o grupo de
sacerdotes e juízes) dariam o veredito.
Se a
testemunha fosse falsa receberia o castigo que se tencionava dar ao acusado.
Desta maneira o mal seria “queimado” (exterminado) de Israel e o perjúrio desestimulado.
Dt 20.21.
A penalidade para o falso testemunho estava de acordo com a lex talionis, ou
lei da retaliação (cf Êx 21: 23ss.; Lv 24:17ss.), i.e. olho por olho, dente por
dente, etc.I39 Este princípio é freqüentemente mal entendido. Longe de
estimular a vingança, ele limita a vingança e serve como guia para um juiz ao
fixar este a penalidade compatível com a seriedade do crime. O princípio não
era, assim, o de dar margem à vingança, mas o de garantir a justiça, Lei
semelhante era conhecida em outras partes do mundo semítico. Algumas sociedades
faziam uso de compensações monetárias em alguns casos.141 Basicamente, a lex
talionis expressa a opinião de que a vida do indivíduo é algo sagrado, sem
equivalente material (cf. 12:23, 24; 15:9; 21:8; 22:6; 7; 25:11,12). A crítica
feita por Jesus a esta lei (Mt 5: 38ss.) surgiu de seu emprego para regular a
conduta entre dois indivíduos. Cristo não a rejeitou como princípio de justiça
que deveria ser empregado nos tribunais terrenos. Com respeito a
relacionamentos interpessoais Ele propôs o ideal da fraternidade, princípio
marcadamente forte em todo o livro de Deuteronômio. Estender a lex talionis ao
domínio interpessoal equivalia a destruir a lei de Deus.
I. A. Thompson. Deuteronômio Introdução e Comentário.
Editora Vida Nova. pag. 208-209.
Os
Falsos Testemunhos vv. 14-21
Aqui
está um estatuto para impedir fraudes e perjúrios. Pois a lei divina protege os
direitos e as propriedades dos homens. Ela é uma mui grande amiga da sociedade
humana e do interesse civil dos homens.
T Uma
lei contra fraudes, v. 14. 1. Aqui está uma instrução implícita, dada aos
primeiros colonizadores de Canaã, para que fixassem marcos, segundo a
distribuição da terra às diversas tribos e famílias. Observe que a vontade de
Deus é que cada um tenha o que for seu, que todos os bons meios sejam usados
para evitar invasões e conflitos, e que ninguém faça ou receba o mal. Quando o
direito é estipulado, deve-se tomar cuidado para que não seja, posteriormente,
removido. E, se possível, que não haja oportunidades para disputas. 2. Uma lei
expressa à posteridade, para que não removesse estes marcos que assim tinham
sido fixados a princípio, para que um homem, secretamente, não obtivesse para
si aquilo que era de seu vizinho. Este é, sem dúvida, um preceito moral, e
ainda em vigor, e a nós ele proíbe: (1) Invadir o direito de qualquer pessoa, e
tomar para nós aquilo que não nos pertence, por qualquer artifício ou
procedimento fraudulento, como falsificar, ocultar, destruir ou alterar
certificados e escritos (que são os nossos marcos, em função dos quais são
feitas as apelações), ou modificar cercas, marcos e limites. Embora os marcos
fossem colocados pelas mãos do homem, ainda assim, segundo a lei de Deus,
aquele que os removesse seria um ladrão e um saqueador. Que cada homem fique
satisfeito com a sua própria sorte, e seja justo com seus vizinhos, e então não
teremos nenhum marco removido. (2) Este preceito nos proíbe de semear a
discórdia entre vizinhos, e fazer qualquer coisa que ocasione disputa e processos
judiciais, o que é feito (e muito mal feito) confundindo aquelas coisas que
deveriam determinar as disputas e decidir as controvérsias. E: (3) Também nos
proíbe de romper a ordem e a constituição estabelecidas do governo civil, e
alterar costumes antigos sem justa causa. Esta lei sustenta a honra das
prescrições. Consuetudo facit jus - O que é costume deve ser considerado como
lei.
Uma
lei contra perjúrios, que estabelece duas coisas: 1. Que uma única testemunha
jamais deveria ser aceita para dar evidência em uma causa criminal, de modo que
a sentença fosse proferida com base no seu testemunho, v. 15. Esta lei já foi
vista antes, Números 35.30, e neste livro, cap. 17.6. Isto foi decretado a
favor do prisioneiro, cuja vida e honra não deveriam estar à mercê de uma
pessoa particular que tivesse algum ressentimento contra ele, e por precaução,
para que o acusado não dissesse aquilo que não pudesse confirmar através do
testemunho de outra pessoa. Esta lei coloca a humanidade, com justiça, em uma
posição vergonhosa, considerando-a como falsa e indigna de confiança. Segundo
ela, deve-se suspeitar de todos os homens. Porém é uma honra para a graça de
Deus que o relato que Ele deu, a respeito do seu Filho, seja confirmado tanto
no céu quanto na terra, por três testemunhas, 1 João 5.7. “Sempre seja Deus
verdadeiro, e todo homem mentiroso”, Romanos 3.4. 2. Que uma falsa testemunha
deveria receber a mesma punição que fosse infligida à pessoa que ela acusasse,
vv. 16-21. (1) O criminoso aqui é uma falsa testemunha, de quem se diz que “se
levanta” contra um homem, não somente porque toda testemunha se levantava
quando apresentava sua evidência, mas porque uma falsa testemunha, na verdade,
se levanta como um inimigo e um assaltante contra aquele que ela acusou. Se duas,
ou três, ou muitas testemunhas, estivessem de acordo em um falso testemunho,
todas estariam sujeitas à acusação, por esta lei. (2) A pessoa prejudicada ou
correndo riscos pelo falso testemunho é considerada como sendo demandante, v.
17. E se a pessoa fosse levada à morte, com base nas evidências, e
posteriormente se descobrisse que eram falsas, qualquer outra pessoa, ou os
próprios juízes, ex officio - em virtude do seu ofício, poderiam exigir que a
falsa testemunha se explicasse.
(3)
Causas deste tipo, tendo em si uma dificuldade extraordinária, deviam ser
levadas diante da corte suprema, os sacerdotes e juízes, dos quais se diz que
estão perante o Senhor, porque, assim como os outros juízes ficavam às portas
das cidades, também estes, à porta do santuário, cap. 17.12. (4) Deveria haver
grande cuidado no julgamento, v. 18. Deveria ser feita uma investigação
diligente quanto ao caráter das pessoas, e todas as circunstâncias do caso.
Tudo isto devia sei' comparado, para que a verdade pudesse ser descoberta.
Quando a investigação fosse realizada de um modo fiel e imparcial, eles
poderiam esperar que a Providência os auxiliasse.
(5) Se
ficasse evidente que um homem tinha, conscientemente e perversamente, dado
falso testemunho contra seu próximo, embora o mal que lhe desejava não tivesse
sido realizado, este deveria sofrer a mesma penalidade à qual seu próximo
estaria sujeito, devido à sua evidência, v. 19. Nec lex estjustior idla -
Nenhuma lei poderia ser ma is justa. Se o crime do qual ele acusasse seu próximo
devesse ser punido com a morte, também o homem que deu falso testemunho deveria
ser condenado à morte. Se a punição fosse açoitamento, ele deveria ser
açoitado. Se fosse uma multa financeira, ele deveria ser multado também. E,
como para aqueles que não levassem em consideração a atrocidade do crime e a
necessidade de impedi-lo, pareceria ser uma punição muito dura, por ter dito
algumas palavras, especialmente quando nenhum mal tinha, realmente, sido feito,
aqui está acrescentado: “O teu olho não poupará”, v. 21. Nenhum homem precisa
ser mais misericordioso do que Deus. O benefício que resultará, para o público,
desta severidade, a recompensará com abundância: “Para que os que ficarem o
ouçam, e temam”, v. 20. Tais punições exemplares seriam advertências a outros,
para que não empreendessem nenhuma maldade deste tipo, quando vissem como
aquele que fez a cova e a escavou havia caído nela.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo
Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 618-619.
2.
OS DANOS.
Êxo 21.23-25
A Lei de Talião. Temos aqui a declaração clássica da retaliação olho por olho,
dente por dente. Nesse caso, a punição era de acordo com a natureza do crime
cometido, de maneira a mais literal possível. Ver também Lev. 24.19,20 e Deu.
19.21 quanto a notas expositivas sobre essa lei. Tal lei provia uma retaliação
em proporções exatas, evitando-se assim os exageros.
O
termo “dano” (vs. 23), talvez aluda de volta ao vs. 22: um homem, em briga com
outro homem, viria a ferir a mulher grávida deste, que viera em seu socorro. Se
o ferimento não provocasse somente aborto, mas também a morte da mulher, então
a lei determinava “vida por vida”, a primeira declaração geral da lex talionis.
E o culpado era executado. Nesse caso, a palavra “dano” aponta para a morte da
mulher. Embora o culpado tivesse matado a mulher sem intenção de fazê-lo, visto
ter a mulher grávida e seu filho ainda não-nascido, o caso se agravava tanto
que passava a ser considerado como assassinato intencional.
Mas há
estudiosos que pensam que o vs. 23 dá início a uma nova seção. Nesse caso, não
há qualquer vinculação com o vs. 22. E, assim sendo, “vida por vida” passa a
aludir à ideia de homicídio não-intencional, já discutido nas notas sobre o vs.
12, ideia que seria aqui considerada de maneira geral. Por conseguinte, a lex
talionis começaria por crimes que merecessem punição capital.
Bons
intérpretes têm visto a questão por um ângulo ou por outro. Mas mesmo que o vs.
22 esteja em pauta, a expressão “vida por vida” deve ser entendida como uma declaração
geral de que o homicídio intencional precisava ser punido com a execução do
culpado!
Alguns
estudiosos cristãos pensam que o aborto é um homicídio, pois pensam que o
texto presente indica que o aborto envolvia a punição capital do culpado. Mas
isso dificilmente concorda como vs. 22. Se a mulher não fosse ferida, então o
simples aborto (nesse caso, provocado), era punível mediante mera muita.
Mas se
tem de ser classificado ou não como uma homicídio envolve uma complicação
difícil de resolver.
A lex
talionis é mais antiga que a legislação mosaica, e vestígios dessa anti- ga lei
podem ser encontrados em muitas culturas e em muitos antigos códigos legais.
Olho
por olho...Alex talionis requeria uma retaliação exata. A vantagem dessa lei é
que ela evitava exageros na aplicação da punição. Neste versículo são enfocadas
porções específicas do corpo humano: olho, dente, mão, pé. Se alguém
prejudicasse um dente de outrem, seu dente seria prejudicado; se prejudicasse
um pé, seu pé sofre- ria dano idêntico.
Mas
também devemos ver neste versículo um uso metafórico. Os crimes precisam ser
punidos com precisão, e não de forma leniente e nem exagerada. Tais castigos
poderiam nada ter a ver com membros literais do corpo humano. Este versículo
condena a leniência geral que caracteriza nosso moderno sistema judicial. Os
vss. 26 e 27 voltam à questão dos escravos; e nesse caso, não havia aplicação
da lex talionis, porque os escravos eram considerados propriedades, pelo que a
lei era mais branda em seus castigos nos casos de ferimentos produzidos
contra escravos. Os escravos não eram tratados como iguais e nem possuíam direitos
iguais às pessoas livres. Mas entre seres humanos livres, a lei tinha aplicação
estrita.
A lex
talionis produziu a mutilação generalizada de muitas pessoas, porquanto impunha
a aplicação da punição em proporções exatas aos danos causados em alguém. Por essa
e outras razões, posteriormente buscaram-se alternativas para a lex ía/ionis.
E, então, a leniência na aplicação das penas veio a tornar-se a regra geral.
Essa leniência, por sua vez, pode tornar-se tão acentuada que o criminoso nem
mais chega a sentir o peso do castigo. De fato, em alguns paises, como em nosso
Brasil, chega-se a pensar que os direitos humanos, evocados em defesa dos
culpados, esquece totalmente as vítimas dos criminosos. Agora, espera-se que 0
pêndulo da justiça comece a pender de novo, paulatinamente, na direção
contrária, e que os direitos das vítimas passem a ser melhor reconhecidos.
Jarchi
e outros intérpretes judeus informam-nos que, quando a pena imposta era a perda
de um olho, tal pena começou a ser substituída por uma multa correspondente ao
preço de um olho.
A lei
era regulamentada pelos anciãos que atuavam como juizes. Não era permitida a
retaliação individual, da parte de pessoas particulares. Fica entendido, embora
não seja dito francamente, que tais injúrias tinham sido infligidas a
propósito. Não obstante, é perfeitamente possível que até mesmo danos
infligidos acidentalmente eram cobertos pela lex lalionis. Essa lei, embora
aparentemente uma boa medida para assegurar a justiça, na prática permitia
muitos abusos e absurdos. Como um princípio, entretanto, nos ministra uma lição
necessária.
Queimadura...
ferimento... golpe. Qualquer tipo de dano que um homem possa provocar em outro,
deveria ser castigado com um dano similar. Os Targuns dos judeus de novo pensam
que a interpretação deve ser metafórica. Ou seja, uma justa retaliação deveria
ser aplicada por meio de multas, como “o preço de uma queimadura” (Targum de
Jonathan), ou coisa parecida. As Doze Tábuas da primitiva legislação romana
continham itens assim. Favorino objetava à aplicação literal da retaliação.
Como se poderia fazer um ferimento em alguém que correspondesse, exatamente, ao
ferimento que se fizera contra alguém? (Apud. Gell. Noct. Attic. 1.20 g. 1). Na
primitiva sociedade romana, os castigos eram negociados. Quando não se podia
chegar a um acordo, então era aplicada a literalidade. Josefo falou em dinheiro
pago pelo ferimento feito em um olho (Antiq. 1.4 c. 33,35).
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 400.
O cuidado
particular que a lei teve com as mulheres grávidas, para que nenhum mal lhes
fosse feito que pudesse provocar o seu aborto. A lei da natureza nos obriga a
sermos muito ternos neste caso, para que a árvore e o fruto não sejam
destruídos ao mesmo tempo, vv. 22,23. As mulheres grávidas, que desta maneira
são tomadas sob a proteção especial da lei de Deus, se viverem no temor a Ele,
podem, ainda, crer estar sob a proteção especial da providência de Deus, e ter
esperança de que serão salvas ao darem à luz. Nesta ocasião, é introduzida
aquela lei geral de retaliação à qual o nosso Salvador se refere em Mateus
5.38: “Olho por olho”. Bem: 1. A execução desta lei não é, com isto, deixada
nas mãos de pessoas individualmente, como se todo homem pudesse vingar-se, pois
isto causaria confusão universal e tornaria os homens como os peixes do mar. A
tradição dos anciãos parece ter colocado este disfarce corrupto sobre a lei, e
em oposição a isto o nosso Salvador nos ordena que perdoemos as ofensas e não
pensemos em vingança, Mateus 5.39. 2. Deus freqüentemente realiza a vingança no
decorrer da sua providência, tornando a punição, em muitos casos, uma resposta
ao pecado, como visto em Juízes 1.7; Isaías 33.1; Habacuque 2.13; Mateus 26.52.
3. Os magistrados devem ter em mente esta regra ao punir os criminosos, e fazer
justiça àqueles que são ofendidos. Deve-se considerar a natureza, a qualidade e
o grau do mal que é feito, para que possa haver reparação à parte ofendida, e
outros se contenham para não fazer nada semelhante. Ou olho por olho, ou o olho
ferido será redimido por uma soma de dinheiro. Observe que aquele que causa o
dano deve esperar, de uma maneira ou de outra, uma recompensa de acordo com o
dano que causar, Colossenses 3.25. As vezes, Deus faz com que as obras
violentas dos homens caiam sobre as suas próprias cabeças (SI 7.16). E os
magistrados, quanto a isto, são os ministros da justiça, pois são vingadores
(Rm 13.4) e não trazem debalde a espada.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo
Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 300.
3.
O PECADO DA MENTIRA.
MENTIRA
(MENTIROSO)
1.
Definições Básicas
Temos
preparado um longo artigo sobre os Vícios, onde é comentado o vício da mentira.
Mentir é fazer declarações propositalmente falsas, meias verdades que envolvem
falsas impressões. Um exagero proposital é um tipo de mentira, como também o é
uma declaração parcial proposital. Até mesmo as verdades proferidas com o
intuito de enganar, naquilo em que visam iludir, não passam de mentiras.
Entretanto, as histórias de ficção, escritas ou filmadas, embora não
correspondam à realidade, não são mentiras, visto que não se propõem a narrar
fatos, mas tão-somente simbolizam fatos e idéias.
2.
Palavras Bíblicas Envolvidas
No
hebraico encontramos kazab, palavra usada por vinte e nove vezes, conforme se
vê, por exemplo em Juí. 16:10,13; Sal. 40:4; Pro. 6:19; 14:5,25; 19:5,9; Isa.
28:15,17; Eze. 13:8,9,19; Dan. 11:27; Osé. 12:1; Amós 2:4; Sof. 3:13. Também
encontramos sheqer, que aparece no Antigo Testamento por cerca de quarenta e
três vezes com o sentido de «falsidade», «mentira», («mentiroso», etc., segundo
se vê, para exemplificar, em Jó 13:4; Sal. 63:11; 119:69; Isa. 9:15; 59:3; Jer.
9:3,5; 14:14; 29:21,31; Eze. 13:22; Miq. 6:12; Hab. 2:18; Zac. 10:2 e 13:3.
Ambas as palavras podem indicar «engano», «mentira». Outras palavras hebraicas
bem menos usadas sãoakzab (Miq. 1:14), bad, «artifício» (Jó 11:3; Isa. 16:6;
Jer. 48:30); kachash, «fingimento» (Osé. 7:3; 10:13; 11:12; Naum 3:1); dabar,
«palavra de falsidade» (Pro. 29:12).
No
grego encontramospseüdos, «mentira» «falsidade», palavra empregada no Novo
Testamento por sete vezes: João 8:44; Rom. 1:25; II Tes. 2:11; I João 2:21,27;
Apo. 21:27; 22:15. E também pseúsma, «falsidade», em Rom. 3:7.
3.
Usos Bíblicos
Os
homens mentem, principalmente, a fim de enganar. Essa palavra é usada nas
Escrituras para indicar as declarações falsas dos homens acerca de Deus e das
realidades espirituais (Jer. 14:14; Eze. 13:9; Rom. 1:25). A verdade divina é
reduzida a uma mentira, pelas idéias e declarações dos homens. As mentiras dos
homens pervertem, portanto, a verdade dita por Deus. Toda mentira cria uma
falsa certeza (Isa. 28:15). Os resultados da mentira são o erro e a ilusão
(Jer. 23:32). Os padrões morais são solapados pelas mentiras (Rom. 1:26 ss).
Deus
não pode mentir, mas precisa julgar (I Sam. 15:29; Tito 1:2). Por isso, a
mentira nunca é atribuída a Deus, mas é atribuída aos homens, como quando
prestam falso testemunho (Pro. 6:19). O ato de mentir era proibido pela lei
mosaica (Exo. 20:16; Lev. 19:11). Os crentes deveriam reconhecer que o ato de
mentir é próprio da vida velha, na incredulidade, devendo ser rejeitado pelo
crente como uma roupa indesejável, segundo se vê em Col. 3:9; «Não mintais uns
aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos». O
trecho de João 8:44 apresenta Satanás como o pai da mentira. Os trechos de Apo.
21:27 e 22:15 mostram que os mentirosos habituais (que o fazem devido à sua
natureza corrompida e não regenerada), ficam impedidos da salvação e do lar
celestial.
4.
Discussões Filosóficas
Será
errada a mentira, em todos os casos? Alguns filósofos asseveram que há ocasiões
em que mentir é melhor do que dizer a verdade. Um meu professor de filosofia
deu um exemplo em classe, baseado na vida real, ocorrido durante a Segunda
Guerra Mundial. Ele falou sobre um sacerdote católico romano que se viu
envolvido no movimento de resistência subterrânea de um paí» debaixo do poder
militar dos nazistas. Vidas dependiam dele. Quando foi apanhado, ele confessou,
e não mentiu, dizendo aos alemães que, de fato, fazia parte daquele movimento.
O resultado foi desastroso. Também poderíamos pensar no caso dos pacientes
terminais. Tais pacientes devem ficar sabendo da verdade, ou, pelo menos em
alguns casos, é melhor enganar o doente? Há pessoas que simplesmente querem
saber seu estado, e a essas deveríamos dizer a verdade. Mas há outras que,
segundo os médicos e seus familiares julgam, sentir-se-iam menos premidas se a
verdade não lhes fosse revelada, pois ass:m enfrentariam a morte mais
tranqüilamente. Isso posto, em tais casos, seria melhor mentir a um paciente
terminal. Se esses casos são exemplos de exceções válidas à regra contra a
mentira, então podemos afirmar que, algumas vezes, a lei do amor é melhor
servida por um engano (cují intenção é aliviar o sofrimento), do que se dizendo
a verdade chocante e brutal.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 4. Editora Hagnos. pag. 228-229.
«...Não
mintais...»
«Sem a
honestidade, o fundo cai de todas as outras virtudes. O amor é aclamado como
qualidade suprema da vida cristã; mas Paulo, ao dizer isso sobre a fé, a
esperança e o amor, afirma que a maior delas é o amor, o qual deve ser sem
hipocrisia (ver Rom. 12:9). O amor sem genuinidade é pior que não ter amor algum.
A honestidade é a essência da coragem moral, conforme ficou demonstrado na vida
de Jesus. Uma mentira inocente poderia tê-lo salvado da cruz, mas ele não a
quis proferir, apesar de sua vida estar em perigo. Os primeiros cristãos deixaram
profunda impressão sobre seus contemporâneos, não meramente por causa do amor
que exemplificavam («Vede como esses cristãos se amam uns aos outros»), mas muito
mais pela integridade de suas vidas (ver Tia. 5:12)». (Macleod, in loc.).
Um
criminologista norte-americano asseverou que á fraude é a ofensa criminal mais
propagada nos Estados Unidos da América, permeando todos os níveis da
sociedade. Ê justo supormos que o mesmo se dá em muitos outros países.
Como a
sociedade encara sem seriedade a mentira, o que se vê no grande número de
piadas que se centralizam em redor dessa prática. Mas quão séria é essa
questão, no N .T ., por refletir uma natureza desonesta e pervertida. Paulo
adiciona essa maldade à sua pintada de vícios, conforme se vê no oitavo
versículo. Este, tal e qual os outros vícios, pertence à i natureza antiga, ao
homem velho e não-remido. Tal vício, tal como aqueles outros, é incompatível
com a nossa nova vida em Cristo. No entanto, não é verdade que a maioria das
pessoas, dentro e fora da igreja, diz o que pensa ser-lhes mais vantajoso, sem
importar se é uma verdade ou uma mentira, de tal modo que o teste real da conduta
é o teste «pragmático »? Serei beneficiado, se disser uma mentira? Se a
resposta for «sim», então, para essas, pessoas, a mentira é preferível à
verdade. «...vos despistes...» No grego temos o verbo «apekduomai», o qual, tal
como o verbo do versículo anterior, pode significar «despir uma roupa». Portanto,
o quase certo é que Paulo dá prosseguimento à sua metáfora do «despir-se» e do
«vestir-se», tendo empregado apenas um sinônimo.
Como
Nos Despimos Do Velho Homem ?
1. Quando
aplicam os os meios de desenvolvimento e sp iritual, desvencilhamo-nos das
vestes velhas e sujas que nos caracterizavam antes da conversão. (Isso é
comentado no primeiro versículo deste capítulo).
2.
Esse despir-se é realizado por ocasião da conversão (ver João 3:3), e prossegue
na santificação (ver I Tes. 4:3). Ambas as coisas fazem parte da obra do
Espírito.
3.
Isso se cumpre através da nossa união com Cristo, por causa do que assumimos a
sua natureza, e assim nos tornamos um «novo homem». (Ver II Cor. 5:17 e suas
notas, quanto a esse conceito. Ver também as notas, em Rom. 6:3, sob o título
«O batismo espiritual»).
4. O
trecho de Efé. 4:22 encerra idêntica declaração, e ali são dadas notas adicionais
que .iluminam o tema. O velho homem é representado pelas vestes velhas. Ele é a
natureza antiga, não-convertido, egoísta, carnal, dominado por motivos carnais
e temporais. Cristo é a «nossa vida» (ver o quarto versículo deste capítulo).
Quando isso se toma uma realidade, então nos tornamos novas criaturas, ou seja,
temo-nos vestido de novas vestes, metaforicamente falando. (Ver o velho homem
crucificado, em Rom. 6:6).
«Torna-se
perfeitô no4ommio próprio aquele que não somente se abstém dos prazeres do
corpo, mas alegra-se por poder fazê-lo; ao passo que aquele que se abstém mas
se entristece com isso, não tem o domínio próprio». (Aristóteles):
A m
etáfora do «despojamento» nos leva de volta a todos os vícios mencionados, não
aludindo somente à prática da mentira.
O
paralelo a este versículo é a passagem de Efé. 4:25, onde se lê: «Por isso,
deixando a m e n tira, fale cada um a verdade com o seu próxim o, porque somos
membros uns dos outros». Quando mentimos para os irmãos, ferimos o corpo
inteiro de Cristo, distorcendo-o e a leijando os seus membros. O «velho homem»
é a «veste antiga», que deve ser, posta de lado.
O
velho homem nos impulsionava a ações que nos degradavam, incluindo a mentira.
Antes
de falares,
Faz
tudo passar diante de três portas de ouro:
As
portas estreitas são, a primeira: ‘Ë verdade!’
Em
seguida: ‘È necessário?’ Em tua.mente
Fornece
uma resposta veraz. E a próxima
É a
última e mais difícil: ‘É gentil?’
E se
tudo chegar, afinal, aos teus lábios,
Depois
de ter passado por essas três portas,
Então
poderás relatar o caso, sem temeres
Qual
seja o resultado de tuas palavras.
(Beth
Day).
A
mentira é contrária tanto à lei da verdade como à lei do amor. Ë, ao mesmo
tempo, injusta e sem gentileza, e tende, mui naturalmente, por destruir a
amizade e a boa fé entre os homens.
«A
mentira nos torna semelhantes ao diabo, o pai da mentira, sendo uma das
características principais da imagem do diabo em nossas almas». (Matthew Henry,
in loc., tecendo comentários sobre o trecho de João 8:44).
Referências
e idéias, a mentira:
1. A
mentira é proibida (ver Lev. 19:11 e Col. 3:9). 2. Ê abominável a Deus (ver
Pro. 6:16-19). 3. Ë uma abominação,contra Deus (ver Pro. 12:22). 4. Ë um obstáculo
à oração (ver Isa. 59:2,3). 5. É originada pelo diabo (ver João 8:44).
6. Os
santos devem repelir à mentira (ver Sal. 119:29).
7.
Devem evitar essa maldade (ver Isa. 63:8).
8.
Devem orar para serem preservados da mesma (ver Sal. 119:29).
9. Os
hipócritas são dados à mentira (ver Osé. 11:12).
10. Os
hipócritas causam a mentira (ver Isa. 57:4).
11. Os
ímpios mentem desde a infância (ver Sal. 58:3).
12. Os
ímpio»amam à mentira (ver Sal. 52:3).
13. Os
ímpios buscam a mentira (ver Sal. 4:2).
14. A
mentira é uma das características dos apóstatas (ver I I Tes. 2:9 e I Tim.
4:2).
15. A
mentira é um vício que exclui dos céus ao indivíduo (ver Apo. 21:27-22:15).
16. O
diabo exemplifica a mentira (ver Gên. 3:4).
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 139.
9. A
chamada: Não mintais talvez pareça vir como um anticlímax, mas os efeitos
sociais de promessas e compromissos indignos são enormes. Possivelmente este
desafio pertença à tradição, que é usada para completar a lista no v. 8. A
mesma admoestação ocorre em Efésios 4.25.
A
exortação parece estar restrita a uma aplicação dentro da comunidade cristã, de
modo que sua seriedade recebe uma referência deliberada. A mentira leva a um
rompimento da comunhão cristã, porque engendra a suspeita e a desconfiança, e
assim destrói a vida em comum no corpo de Cristo (Rm 12.4) mediante a qual
somos “membros uns dos outros.”
A
razão para o abandono dos maus caminhos agora é fornecida. Uma vez que vos
despistes do velho homem com os seus feitos traduz uma frase que começa com um
particípio grego apekdusamenoi (“tendo despido”). É complementado por um
particípio correspondente no v. 10 (gr. endusamenoi, “tendo vestido”). Todos os
comentaristas concordam que há um tema batismal nestes verbos, tirado da
atividade de despir-se para o ato do batismo, quando o novo cristão entrava na
água, e de vestir-se depois.
A
referência em Gálatas 3.27 claramente localiza a experiência como sendo
batismal, embora Paulo enfatize igualmente que todos os leitores das suas
Epístolas devem saber apreciar significado “interior” do ato exterior (cf. Rm
13.12, 14; cf. Ef 4.24).
O
problema postulado por estes particípios aoristos, que denotam um evento
passado, é saber se continuam a seqüência das admoestações ou se relembram o
batismo como sendo a ocasião quando o crente fez as renúncias da sua vida
antiga. No primeiro ponto de vista (declarado por Lohse, pág. 141) Paulo está
continuando a linha do seu apelo que começou com a chamada: “Não mintais,” e
ressaltando a obrigação que seus leitores devem enfrentar e agir à altura para
abrir mão dos hábitos que pertencem à sua velha natureza, despojando 'tudo
quanto pertence à sua vida anterior e substituindo-a com um novo modo de viver.
Os particípios têm um sentido imperativo, de acordo com o uso rabínico e
neotestamentário (veja D. Daube: “Participle and Imperative in I Peter” em E.
G. Selwyn: The First Epistle o f St Peter, Londres 1947, págs. 467-88).
O
ponto de vista alternativo (compartilhado por Abbott, Masson, C. Maurer em TDNT
vi, pág. 644, e defendido especialmente por J. Jervell, Imago Dei, Gõttingen,
1960, pág. 236) deve ser preferido como estando mais de conformidade com o
ensino atestado de Paulo. Está chamando os colossenses de volta ao seu batismo,
e conclamando-os a lembrar-se do seu efeito dinâmico ao libertá-los do seu
antigo modo de vida, como conseqüência da sua união com Cristo pela fé, agora
confessada. Passa a conclamá-los, nesta expressão participial, a viver à altura
daquela confissão batismal ao ser leal a ela, e a tomar-se na própria realidade
— mediante sua renúncia e sua aceitação da sua nova vida, dada a eles enquanto
foram ressuscitados com Cristo — aquilo que já foram declaradamente no seu
batismo.
Partes
anteriores desta carta — para não irmos mais longe no assunto da ética paulina
(veja V. P. Furnish: Theology and Ethics in Paul, Nashville, 1968) — confirmam
este modo de declarar a intenção de Paulo. Pode referir-se ao passado, à
entrada decisiva dos colossenses no reino de Deus, que transformou as suas
vidas (1.3) quando compartilharam do ato de Cristo em despir de Si mesmo a
tirania dos poderes demoníacos (2.11, 25). Este evento foi seu batismo (2.12,
13, 20) que inaugurou na união com Cristo, o Senhor, a sua posição crista
(3.1,3).
Esta
interpretação ajuda-nos a apreciar o termo enigmático: velho homem (ou “velho
Adão”) e novo homem (ou “novo Adão”). Parece claro que estes não são novos
termos de individualidade mas, sim, são expressões corpóreas que denotam uma
velha e um nova ordem de existência.
Paulo,
portanto, está conclamando seus leitores (como em Rm 6.6-14) a acabar com seu
antigo estilo de vida, com seus hábitos, inclinações e alvos, e a viver como
aqueles que, no começo da sua nova vida em Cristo, entraram no novo mundo de
uma nova humanidade que está viva para Deus. Nem devemos esquecer-nos de que,
embora Paulo bem possivelmente esteja utilizando formas tradicionais de
expressío (catequética) que eram moeda corrente nas igreja primitivas, haveria
relevância especial deste ensino para os homens e as mulheres de Colossos que
estavam perplexos no que dizia respeito a diretrizes rivais para o modo de vida
dos cristãos, oferecidas em nome dos falsos mestres no seu meio (2.16-23). A
resposta de Paulo e seu antídoto é uma declaração simples do senhorio de Cristo
e o que significa viver sob aquela regra. Seus leitores (conforme os faz
lembrar) eram aqueles que tinham professado lealdade ao Senhor Jesus Cristo na
conversão e na renovação (2.13). Que agora ponham em prática aquela profissão,
procurando ideais éticos cujo padrão é estabelecido por sua vida no “novo
Adão,” o novo segmento da humanidade que obtém sua vida de Cristo Jesus.
Ralph
P. Martin. Colossenses. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag.
117-118.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva.
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