O VALOR DOS BONS CONSELHOS
Data 06/10/2013 Hinos Sugeridos:
584, 629, 631.
TEXTO ÁUREO
“O
temor do Senhor é o princípio da ciência; os loucos desprezam a sabedoria e a
instrução” (Pv 1.7).
VERDADE PRATICA
Provérbios
e Eclesiastes são verdadeiras pérolas da sabedoria divina para o nosso bom
viver.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Pv 1.2 A sabedoria
revela prudência
Terça - Pv 1.3 A sabedoria oferece justiça, juízo e equidade
Quarta - Pv 1.4 A sabedoria traz conhecimento
Quinta - Pv 1.5 A sabedoria gera sábios
conselhos
Sexta - Pv 1.6 A sabedoria interpreta a vida
Sábado - Pv 1.7 O temor do
Senhor e a sabedoria
LEITURA BÍBLICA EM
CLASSE
Provérbios
1.1-6.
1
- Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel.
2
- Para se conhecer a sabedoria e a instrução; para se entenderem as palavras da
prudência;
3
- para se receber a instrução do entendimento, a justiça, o juízo e a equidade;
4 - para dar aos simples prudência, e aos jovens conhecimento e bom siso;
5
- para o sábio ouvir e crescer em sabedoria, e o instruído adquirir sábios
conselhos;
6
- para entender provérbios e sua interpretação, como também as palavras dos
sábios e suas adivinhações.
INTERAÇÃO
Prezado
professor, iniciaremos mais um trimestre, o último do ano. Esta é uma excelente
oportunidade para fazer uma autoanálise a respeito do seu ministério de ensino.
Seus objetivos foram alcançados? Seus alunos cresceram na graça e no
conhecimento de Deus? Neste trimestre estudaremos parte da literatura
sapiencial judaica, isto é, os livros de sabedoria dos judeus que tratam dos
conselhos divinos para a vida humana. Veremos o quanto eles são atuais e
relevantes em seus ensinamentos.
O
comentarista deste trimestre é o pastor José Gonçalves, professor de Teologia,
filósofo, escritor e vice-presidente da Comissão de Apologética da CGADB.
OBJETIVOS
Após
esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Conhecer o conceito geral dos
livros de Provérbios e Eclesiastes.
Identificar as fontes da
sabedoria dos sábios antigos.
Compreender o propósito da
sabedoria ensinada em Provérbios e Eclesiastes.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Para
introduzir o primeiro tópico da lição, sugerimos que você reproduza o esquema
da página seguinte. É importante que todos os alunos tenham uma cópia do
quadro. O objetivo é fazer um resumo a respeito dos elementos literários
presentes nos livros dos Provérbios e do Eclesiastes. Explique aos alunos que
quando estes livros foram compilados nos tempos bíblicos, a cultura, a língua e
o estilo literário eram opostos aos da literatura moderna. Compreender o estilo
literário usado pelo compilador antigo é essencial para entendermos o sentido
real do texto e evitarmos interpretações mirabolantes.
PALAVRA-CHAVE
Sabedoria: Grande instrução; ciência, erudição, saber.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Lembro-me
dos ditados populares que ouvia dos meus pais: “Águas passadas não movem
moinhos”; “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”; “Quem espera
sempre alcança”, e muitos outros. Essas pequenas expressões contêm conselhos de
uma cultura popular impregnada de valores éticos, morais e sociais, que acabam
por dirigir as regras da vida em sociedade.
Mais
do que qualquer outra fonte, a Bíblia está recheada dessas pérolas.
São
bons conselhos que revelam a sabedoria divina. Tais máximas bíblicas são
expressas em linguagem figurada, das mais variadas formas (parábolas, fábulas,
enigmas e provérbios). Por isso, neste trimestre, conheceremos o que a Bíblia
revela sobre os conselhos divinos contidos nos livros de Provérbios e
Eclesiastes. Veremos ainda como esses conselhos se revelam na vida dos que
temem ao Senhor.
I -
JOIAS DA LITERATURA SAPIENCIAL
1. O livro de
Provérbios.
A Bíblia diz que Salomão compôs “três mil provérbios, e foram os seus cânticos
mil e cinco” (1 Rs 4.32). O texto sagra do identifica Salomão como o principal
autor do livro de Provérbios (Pv 1.1), mas não o único. O próprio Salomão
exorta a que se ouça “as palavras dos sábios” (Pv 22.17), e declara fazer uso
de alguns dos provérbios desses sábios anônimos (Pv 24.23).
O
livro revela que havia alguns provérbios de Salomão que circulavam nos dias do
rei Ezequias, e que posteriormente foram compilados pelos homens deste piedoso
rei (Pv 25.1).
Por
último, o livro de Provérbios revela que Agur, filho de Jaque, de Massá, é o
autor do capítulo 30. Já o capítulo 31 é atribuído ao rei Lemuel de Massá. O livro
pertence ao gênero literário hebreu conhecido como sa- piencial, isto é,
literatura da sabedoria.
2. O livro de Eclesiastes. Eclesiastes,
juntamente com Cantares, Jó, Salmos e Provérbios, também faz parte do gênero
literário conhecido como “Literatura Sapiencial”. Sua autoria é atribuída a
Salomão (Ec 1.1). Embora escrito pelo filho de Davi e pertença ao mesmo gênero
literário, o livro de Eclesiastes possui um estilo diferente de Provérbios. Ele
se apresenta como um discurso usado em assembleias ou templos. Alguns
intérpretes acreditam que se trata de uma coletânea utilizada por Salomão em
seus discursos.
Ao
contrário do que muitos pensam, o livro de Eclesiastes não expõe uma espécie de
ceticismo ou desencanto existencial. Salomão faz um balanço da vida do ponto de
vista de alguém que teve o privilégio de vivê-la com intensidade, mas que
descobre ser ela totalmente vazia se não vivida em Deus. A própria sabedoria,
tão celebrada nos Provérbios, quando posta a serviço de interesses pessoais e
objetivos mesquinhos é tida como tola.
SINOPSE
DO TÓPICO (1)
Provérbios
e Eclesiastes são livros de sabedoria judaica que revelam os desígnios eternos
para a vida.
II - A
SABEDORIA DOS ANTIGOS
1. A inteligência dos
sábios. Já
observamos que pelo menos duas referências do livro de Provérbios fazem citação
das “Palavras dos Sábios” (Pv 22.1 7; 24.23). Mas quem são esses sábios? O
texto não os identifica. Todavia, o Primeiro Livro dos Reis fala acerca de
outros sábios, igualmente famosos, e como Salomão os sobrepujou em sabedoria (1
Rs 4.29-31).
2. A sabedoria de
Salomão.
O escritor americano Eugene Peterson mostra a singularidade da sabedoria
salomônica em diferentes áreas da vida. Mais especificamente nos Provérbios, há
uma amostra de como honrar os pais, criar os filhos, lidar com o dinheiro,
conduzir a sexualidade, trabalhar e exercitar liderança, usar bem as palavras,
tratar os amigos com gentileza, comer e beber saudavelmente, bem como cultivar
emoções e atitudes em relação aos outros de modo pacífico. Peterson ainda
mostra que o princípio da sabedoria salomônica destaca que o nosso modo de
pensar e corresponder-nos com Deus reflete a prática cotidiana de nossa
existência. Isto significa que nada, em nossa vida, precede a Deus. Sem Ele
nada podemos fazer.
SINOPSE
DO TÓPICO (2)
A
sabedoria dos antigos, e particularmente a de Salomão, versava sobre diferentes
áreas da vida humana.
III -
AS FONTES DA SABEDORIA
1. A sabedoria
popular.
Os livros poéticos mostram, entre outras coisas como louvores e orações, muito
da sabedoria do povo de Israel. Ciente dessa verdade, Salomão apresenta máximas populares
para compor os seus Provérbios (Pv 22.17; 24.23). Podemos entender que Deus dá
inteligência aos homens para que estes possam analisar as situações da vida e
tirar delas conclusões que servirão para si mesmos e para outras pessoas, em
forma de conselhos e advertências, como ocorre no livro de Provérbios.
2. A sabedoria
divina.
O texto bíblico destaca que Salomão “falou das árvores, desde o cedro que está
no Líbano até ao hissopo que nasce na parede; também falou dos animais, e das
aves, e dos répteis, e dos peixes. E vinham de todos os povos a ouvir a
sabedoria de Salomão e de todos os reis da terra que tinham ouvido da sua
sabedoria” (1 Rs 4.33,34). De onde vinha tanta sabedoria? O texto bíblico
revela que Salomão orou pedindo a Deus sabedoria (1 Rs 3.9), e que o Senhor
respondeu-lhe integralmente (1 Rs 3.1 0-1 2). Esta é a fonte da sabedoria de Salomão
e explica o porquê de ninguém conseguir superá-la.
SINOPSE
DO TÓPICO (3)
A
fonte de toda sabedoria do rei Salomão era o Senhor nosso Deus.
IV - O
PROPÓSITO DA SABEDORIA
1. Valores éticos e
morais. Na
introdução do livro de Provérbios, encontramos um conjunto de valores éticos e
morais que revelam o propósito desses conselhos. Ali, consta todo o objetivo
proposto pelo livro: (1) Conhecer a sabedoria e a instrução; (2) Entender as
palavras da prudência; (3) receber a instrução do entendimento, a justiça, o
juízo e a equidade; (4) dar aos simples prudência e aos jovens conhecimento e
sensatez; (5) ouvir e crescer em sabedoria; (6) adquirir sábios conselhos; (7)
compreender provérbios e sua interpretação, bem como também as palavras dos
sábios e suas metáforas (Pv 1.1 -6).
2. Valores
espirituais.
Além de apontar valores éticos e morais, ao afirmar que o “temor do Senhor é o
princípio da ciência; [e que somente] os loucos desprezam a sabedoria e a
instrução” (Pv 1.7), o cronista sacro abaliza os valores espirituais que
sobressaem nas palavras de Provérbios. Da mesma forma, o livro de Eclesiastes
aponta para Deus como a razão de toda a existência humana. Fora dele não há
base segura para uma moral social. Os livros de Provérbios e Eclesiastes formam
uma tessitura milenar no contexto religioso judaico que, adaptado à nossa
realidade, apresentam conselhos práticos para a vida cotidiana de todos os
homens.
SINOPSE
DO TÓPICO (4)
O
propósito da sabedoria nos livros de Provérbios e Eclesiastes é constituir um
conjunto de valores éticos, morais e espirituais para a vida.
CONCLUSÃO
A
literatura sapiencial, representada neste trimestre pelos livros de Provérbios
e Eclesiastes, revela que o temor do Senhor é o fundamento de todo o saber.
Ninguém pode ser considerado sábio se os seus conselhos não revelarem
princípios do saber divino. Segundo a Bíblia, um sábio não se caracteriza
apenas por ter muita informação ou inteligência, mas é alguém que aprendeu o
temor do Senhor como a base de toda sua vida e, por isso, sabe viver e conviver
(Tg 3.1 3-1 8).
CARACTERÍSTICAS
LITERÁRIAS DOS LIVROS DE:
PROVÉRBIOS
1.
O estilo literário do livro dos Provérbios é pelo menos dois: Provérbio e
Instrução.
2.
Provérbios: A expressão é de difícil definição, mas suas características são
singulares: a) concisão; b) sagacidade; c) forma memorável; d) base na
experiência; e) verdade universal; f) objetivo prático e longo uso. Quase
sempre, o provérbio é descrito como poético ou rítmico, com metáforas sucintas,
vivazes, convincentes e admiráveis
3-
Instrução: Quase sempre articulada como o legado de um pai ao filho, ou do
mestre ao discípulo, que incluem ordens de proibições e as motivações pelos
quais eles devem obedecer.
ECLESIASTES
1.
O livro se divide em quatro partes: a primeira, a central, a segunda e o
epílogo.
2.
Primeira parte [l.J-3.15]. Reflexões bem organizadas sobre a vida, acompanhadas
de um poema enternecedor sobre o tempo.
3.
Parte central [3,1 6-1 1.8]. Alguns provérbios aparecem. De vez em quando uma
parábola e poesia também.
4.
Segunda parte [1J,9-12.8]. Há uma mudança de tom. A ideia é dar esperança ao
jovem, pois a velhice chega depressa demais.
5.
O epílogo [vv.9-14]. Esta seção é a justificativa de como o pregador ensinou ao
povo provérbios e ensinos verdadeiros e com clareza.
VOCABULÁRIO
Desencanto
Existencial:
Desgosto ou decepção com a realidade vivida, isto é, com a vida. Tessitura:
Modo como estão interligadas as partes de um todo; organização, contextura.
Sétuplo: Numeral que vale
sete vezes o outro.
Epítome: A síntese, o resumo.
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO
I
Subsídio
Bibliológico
“Livros
da Sabedoria
São
considerados livros da sabedoria três dos livros poéticos: Jó, Provérbios e
Eclesiastes, embora Jó seja realmente um livro de espécie única.
Essa
classificação é baseada no fato de tratarem esses três livros dos problemas que
mais interessam à humanidade. Jó trata do problema do sofrimento, Provérbios,
do problema do dever moral, e Eclesiastes, do problema da felicidade.
Os
livros chamados de Sabedoria são diferentes da literatura profética de Israel
porque expressam melhor a filosofia dos pensadores do que as determinações das
mensagens de Jeová. Não se encontra neles a frase: ‘Assim diz o Senhor’, quando
falam dos problemas da vida e das conclusões dos homens.
Os
sábios anunciaram as verdades como um tratado de filosofia moral, usando
palavras de profundeza mais elevada do que seus conhecimentos, de modo que só
tempos depois é que puderam ser interpretadas.
Provérbios
e Eclesiastes apresentam principalmente esse fato” (MELO, Joel Leitão de. Eclesiastes versículo por versículo.
Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p.12).
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO
II
Subsídio
Lexicográfico
“Sabedoria
[de Cristo]
Embora
no Antigo Testamento a sabedoria seja personificada no livro de Provérbios e
mostrada como tendo existido eternamente em Deus (Pv 8.22-30), ela é centrada
em uma pessoa, o Senhor Jesus Cristo (1 Co 1.30; Cl 2.2,3; cf. Lc 11.49).
Cristo,
em sua natureza humana, cresceu em sabedoria, e em estatura, e em graça para
com Deus e os homens (Lc 2.52), mas em sua natureza divina, repousava sobre ele
o Espírito sétuplo cujo principal atributo é a sabedoria (Is 11.2). Como
resultado os homens perguntaram, ‘Donde veio a este a sabedoria’ (Mt 13.54; Mc
6.2), não percebendo que alguém maior que Salomão estava ali (Mt 12.42). O
apóstolo Paulo escreve que Ele é o poder e a sabedoria de Deus, destacando que
a vida e a morte de Cristo eram o sábio plano de salvação de Deus (1 Co 1.24).
Os
gregos, com sua filosofia, buscavam a sabedoria (1 Co 1.22) e produziram
grandes homens como Platão e Aristóteles, mas não vieram a conhecer a Deus. Em
contraste, Deus, em sua infinita sabedoria, usou a Palavra da cruz para revelar
o modo como o homem pode ser salvo. O evangelho provou ser um tropeço para os
judeus, que estavam tentando obter a salvação através das boas obras (Rm
9.30-33); e ‘uma loucura ou insensatez’ (gr. moria, os pensamentos de um
simplório, simples demais para ser aceito como o verdadeiro conhecimento da
salvação) para os gregos cultos. Os judeus ficavam ofendidos com o pensamento
da crucificação, e por serem tão impotentes a ponto de precisarem que alguém
morresse pelos seus pecados. Os gregos consideravam a simples fé em uma
expiação substitutiva um modo fácil demais para a salvação. Contudo, a morte
expiatória do Senhor Jesus Cristo é o epítome de toda a sabedoria (Ef 3.10),
uma vez que ela resolve o maior problema do mundo e do homem, isto é, o pecado”
(Dicionário Bíblico Wycliffe. l.ed.
Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p.1712).
EXERCÍCIOS
1.
O que o livro de Provérbios revela acerca de Salomão?
R:
O livro revela que havia alguns provérbios de Salomão que circulavam nos dias
do rei Ezequias. Posteriormente, eles foram compilados pelos homens
desse
rei (Pv 25.1).
2.
Embora pertença ao mesmo gênero literário de sabedoria judaica, qual a
diferença entre Eclesiastes e Provérbios?
R:
Diferentemente de Provérbios, Eclesiastes apresenta-se como um discurso usado
em assembleias ou templos.
3.
Além de louvores e orações, o que os livros poéticos mostram?
R:
Muito da sabedoria do povo de Israel.
4.
Cite pelo menos três objetivos propostos na introdução do livro de Provérbios.
R:
Conhecer a sabedoria, a instrução; entender as palavras da prudência; adquirir sábios
conselhos.
5.
Os livros de Provérbios e Eclesiastes formam uma tessitura milenar no contexto
religioso judaico. Para nós, o que eles falam hoje?
R:
Adaptados a nossa realidade, eles apresentam conselhos práticos para a
vida
cotidiana.
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
Bíblia de Estudo
Defesa da Fé: Questões
reais; Respostas precisas; Fé Solidificada. l. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
Revista
Ensinador Cristão CPAD, n° 56, p.36.
O VALOR DOS BONS
CONSELHOS.
Neste
trimestre, teremos a oportunidade ímpar de estudar os livros de Provérbios e
Eclesiastes. São duas pérolas das Sagradas Escrituras. Provérbios nos ensina a
viver de modo sábio e Eclesiastes nos mostra o verdadeiro sentido da vida.
O
livro de Provérbios
O
livro de Provérbios é um verdadeiro compêndio de sabedoria em forma de
parábolas. São sentenças curtas, porém carregadas de significados e verdades
que foram aprendidas e ensinadas no dia-a-dia dos israelitas. Ao estudar este
livro, precisamos observar algumas particularidades importantes:
1.
Salomão não foi o único autor dos provérbios, embora ele tenha escrito uma
grande parte (cf. 1.1 ;10.1; 25.1). O próprio Salomão declara: "... também
estes são provérbios dos sábios" (Pv 24.23). Não podemos negar que Salomão
foi um dos homens mais sábios do seu tempo e que proferiu 3 mil provérbios (1
Rs 4.32), todavia há outros autores das citações, como Agur (Pv 30.1) e o rei
Lemuel (Pv 31.1). É importante também observar que seus autores pertenceram a
épocas distintas.
2.
Os provérbios têm a sua origem nos ditos populares. Todavia, os provérbios
bíblicos são breves declarações que expressam os conselhos divinos para nós.
Podemos afirmar que cada provérbio é
uma
parábola resumida e o livro todo é a Palavra de Deus. É Deus falando por
intermédio das circunstâncias da vida.
3.
Existem várias formas literárias dentro do livro, como, por exemplo, parábolas,
poemas, antíteses e comparações.
O
propósito do livro é ensinar os leitores a viverem de forma justa, correta e
ética. O objetivo é levar as pessoas a expressarem, no seu dia-a-dia, a
sabedoria de Deus. Embora o livro também trate das questões corriqueiras da
vida, ele é um convite à busca da sabedoria que vem do Alto, a sabedoria
divina.
O
livro de Eclesiastes
Ao
ler Eclesiastes 1.1 e o capítulo 2, não temos dúvida de que Salomão é seu
autor. Além disso, tanto a tradição judaica quanto a cristã conferem a autoria
do livro a Salomão.
Eclesiastes
é um livro biográfico e durante a sua leitura percebemos que não existe uma
sequência lógica. A impressão que temos é que os textos foram surgindo de
tempos em tempos, como em um diário. É o relato triste de um homem que, embora
sábio, viveu parte da sua vida longe de Deus. O propósito é mostrar, e em
especial aos jovens, que o sentido da vida não está nos bens materiais, no
conhecimento, no prazer, na fama. O verdadeiro sentido da vida está em Deus, o
Criador.
QUERO ESCLARECER QUE AO SE TRATAR DE DOIS LIVROS O TÓPICO ( I ) SE
TORNOU DEMASIADAMENTE EXTENSO, QUEM PREFERIR PODE LER SOMENTE UM DOS
COMENTÁRIOS FALANDO A RESPEITO DOS LIVROS.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Desde criança somos
ensinados a ouvir e atentar para os bons conselhos. Quem não se lembra, por
exemplo, de uma máxima que ouviu na infância? Todas as culturas valem-se de
parábolas, lendas, enigmas e máximas como veículo de transmissão dos seus
valores morais, éticos e espirituais. Cresci ouvindo os mais velhos dizerem:
Quem trabalha, Deus ajuda!; Mais vale uma andorinha na mão do que duas voando;
Um homem prevenido vale por dez. Essas máximas sintetizam um saber popular
responsável não somente pela transmissão de uma cultura, mas também funcionam
como normas de conduta. “O povo, porém, não costuma escrever”, observa Ivo
Storniolo, “mas reter na memória os seus achados’ de sabedoria. E por isso que
resume tudo num versinho rimado, fácil de guardar de cor. Hoje em dia, os
melhores lugares para encontrar a sabedoria popular são os para- choques de
caminhões, os muros pichados, as portas e paredes de banheiros públicos, os
joguinhos de adivinhação das crianças, os conselhos dos velhos, as piadas que
correm de boca em boca etc. Tudo isso é um tesouro que revela a alma do povo,
mostrando a compreensão que ele vai formando sobre a vida como resultado da sua
experiência no mundo. É o que podemos encontrar no provérbio: Anel de ouro em
focinho de porco é a mulher bonita, mas sem bom-senso (Pv 11.22).”
A Bíblia como um
livro cultural também é rica em provérbios, parábolas, enigmas e máximas. São
pérolas usadas pelos autores bíblicos visando facilitar a transmissão cultural
de uma verdade. Vale a pena destacar que esse recurso bíblico-literário não
possui apenas seu valor cultural, mas também traz consigo a revelação da
sabedoria divina. Muitos livros bíblicos são ricos nessas metáforas, mas o
livro de Provérbios e Eclesiastes se sobressaem no uso desse recurso. Neste
trabalho enfocaremos o que as obras de Salomão têm a revelar sobre esse assunto
e assim podermos desfrutar do seu extraordinário valor para o viver diário.
GONÇALVES. José,. Sábios Conselhos para um Viver Vitorioso
Sabedoria bíblica para quem quer vencer na vida. Editora CPAD. pag. 9-10.
APROFUNDE-SE
Que tipo de
sabedoria?
O objetivo dos
Provérbios é franco e direto: conhecer a sabedoria (Pv 1.2). É comum pensar em
sabedoria como uma forma avançada de conhecimento ou aprendizado, ou como um
senso de compreensão e visão extraordinário e profundo. Esta visão da sabedoria
possui um toque de misticismo, como se aqueles que a possuíssem houvessem, de
alguma forma, aprendido verdades profundas e enigmáticas de eras passadas. No
entanto, não há mistério a respeito da sabedoria sobre a qual Provérbios
discorre, nem necessariamente ela está restrita a uns poucos privilegiados. A
palavra traduzida como sabedoria aparece em Provérbios mais de 50 vezes e em
Eclesiastes 29 vezes e vem do termo hebraico chokmah, que significa habilidades
para a vida. Esta sabedoria é prática, e não teórica. Implica a pessoa viver de
forma responsável, produtiva e próspera.
Desse ponto de vista,
a sabedoria retratada em Provérbios ajuda-nos a compreender a forma como o
mundo funciona. A questão não é tanto como a pessoa é dotada intelectualmente,
mas o que ela faz na prática. É a verdade aplicada.
É por isso que
Provérbios trata de tantas questões da vida cotidiana, especialmente as que
envolvem escolhas morais e outras decisões que afetam o futuro. O sábio (hb.
chakam) evita o mal e promove o bem observando as ações das outras pessoas e seus
resultados, tomando então a decisão sobre sua vida. Assim, os Provérbios não
são exatamente promessas de Deus, e sim observações e princípios sobre a vida.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário
Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 950.
LETRAS, vogais e
consoantes formam palavras, frases, parágrafos, livros. As palavras podem ser
faladas, sinalizadas, sussurradas, escritas. Por meio de conselhos amigáveis,
discursos comoventes, obras empoeiradas e jornais diários, mensagens são
comunicadas.
E cada pessoa tenta
transmitir conhecimento e sabedoria a outras.
O ser humano traz
consigo o desejo intrínseco de aprender e entender. Nossa capacidade mental nos
diferencia dos animais: analisamos, conceituamos, teorizamos, discutimos e
debatemos tudo, da ciência ao sobrenatural. Construímos escolas, institutos e
universidades, onde professores instruídos nos ajudam a compreender o mundo c a
vida.
O conhecimento c bom,
mas há uma grande diferença entre saber algo e ter sabedoria para aplicar esse
saber à vida. Podemos acumular conhecimento, mas, sem sabedoria, o nosso
conhecimento será inútil. Devemos aprender a pôr em prática o que conhecemos.
O homem mais sábio
que já viveu, Salomão, deixou-nos um legado de sabedoria, que foi compilado cm três
livros: Provérbios, Eclesiastes e Cantares.
Sob a inspiração do
Espírito Santo, o rei registrou pensamentos e diretrizes práticas para a vida
do ser humano.
Especialmente em
Provérbios. Salomão deu conselhos práticos. Um provérbio é uma frase curta,
concisa, geralmente rica de imagens, que transmite uma verdade. O livro de
Provérbios c uma coletânea destas sábias sentenças.
Seu tema principal é
a natureza da verdadeira sabedoria. Salomão escreveu: “O temor do Senhor é o
princípio da ciência; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução" (Pv
1.7). Ele prosseguiu com centenas de exemplos práticos de como viver de acordo
com a sabedoria divina. No livro de Provérbios, vários assuntos são discutidos:
juventude e disciplina, vida familiar, autocontrole e resistência à tentação,
questões relacionadas a negócios, palavras e a língua, a importância de
conhecer a Deus o casamento e a busca da verdade, além de temas como a riqueza
e a pobreza, a imoralidade e, é claro, a sabedoria. Esses provérbios são poemas
curtos (normalmente versos emparelhados), contêm uma mescla de bom senso e
advertências oportunas. Embora não tenham a intenção de ensinar doutrina, uma
pessoa que segue os conselhos escritos neste livro andará com Deus.
A palavra hebraica
usada para designar essa coletânea de provérbios foi mas tal que no contexto do
livro, significa reger ou governar. Em Provérbios, há ditados, lembranças e
advertências, que se apresentam como sábios conselhos para nos ajudar a
governar nossa vida.
Ao ler Provérbios,
entenda que conhecer a Deus c a chave da sabedoria. Atente para os pensamentos
c as lições do homem mais sábio do mundo e aplique estas verdades à sua vida. Não
leia apenas. Coloque o conhecimento que adquiriu com esta leitura em prática!
BÍBLIA APLICAÇÃO
PESSOAL. Bíblia de Estudo Aplicação
Pessoal. Editora CPAD. pag. 151.
I -
JOIAS DA LITERATURA SAPIENCIAL
1. O livro de
Provérbios.
Conhecendo os
Provérbios
Autoria
Acerca da autoria de
Provérbios, o expositor bíblico William MacDonald destaca: “Às vezes, o livro é
chamado de ‘Provérbios de Salomão’, uma vez que a maioria deles foi escrito por
esse rei sábio (1.1; 10.1; 25.1). Salomão formulou três mil provérbios (cf. 1
Rs 4.32), mas apenas algumas centenas deles foram agrupados sob a inspiração do
Espírito Santo para fazer parte da Escritura Sagrada.
O capítulo 30
apresenta as palavras ‘de Agur, filho de Jaque’ (30.1), e o capítulo 31 traz as
palavras “do rei Lemuel” (31.1). Não sabemos quem são esses homens, embora
alguns acreditem que se tratam de outros nomes de Salomão”.
Data e Canonicidade
O escritor Antônio
Neves de Mesquita, especialista em Antigo Testamento e hebraísta, observa que
“os tradutores da Septuaginta, em 280 a.C., já incluíram Provérbios na sua
tradução, ao qual deram o nome de Paroimiai. Portanto, quase três séculos antes
de Cristo, Provérbios era um livro acabado e reconhecido como inspirado”. Ainda
de acordo com Mesquita, esse livro não provocou debate quanto à sua
canonicidade: “Nunca houve entre os rabinos qualquer discussão quanto à sua
canonicidade, e, sim, quanto à sua autoria, como aconteceu com Eclesiastes e
outros. Portanto, é um livro que sempre foi considerado inspirado, e os judeus
devem ser reconhecidos como a autoridade máxima nesse campo, pois era um livro
da sua biblioteca sagrada”.4 As fontes mais confiáveis colocam a redação final
desse livro após o cativeiro babilónico, visto ter sido nessa época que os
judeus demonstraram um interesse sem igual por sua Bíblia.
Propósito
A finalidade do livro
de Provérbios está declarada nos seis primeiros versículos do capítulo
primeiro. Esses versículos nos revelam que o propósito do livro é produzir
sabedoria e fazer com que seus leitores aprofundem-se mais ainda na verdadeira
sabedoria. A leitura dessa introdução dos Provérbios feita pelo Sábio Salomão
demonstra que a sabedoria é um conhecimento que pode ser aprendido, adquirido e
aumentado se for corretamente ensinado. Os estudiosos de provérbios observam
que o livro da sabedoria mostra o meio para se chegar a esse fim:
“O meio para isso”,
destaca Ivo Storniolo,“é o treinamento e a disciplina mental. Em segundo lugar
notemos que esse treinamento visa duas coisas: o desenvolvimento mental
(sensatez, habilidade, sagacidade, conhecimento, reflexão, saber) e o
desenvolvimento moral (justiça, direito, retidão). Essas duas coisas, porém,
caminham juntas, pois, na visão sapiencial, os erros não são pecados em razão
das falhas morais, mas da falta de bom-senso e discernimento: quem erra é mais
culpado pela idiotice do que pela maldade. O verdadeiro sábio, contudo, é, ao
mesmo tempo, justo e reto”.
GONÇALVES. José,. Sábios Conselhos para um Viver Vitorioso
Sabedoria bíblica para quem quer vencer na vida. Editora CPAD. pag. 10-12.
INTRODUÇÃO
Provérbio Esboço
1. A Palavra e suas
Definições
2. A Natureza dos
Provérbios
3. Os Provérbios da
Bíblia
4. Os Provérbios como
Fenômeno Verbal e da Literatura Universal
1. A Palavra e suas
Definições
Essa palavra vem do
latim, proverbium, formada por pro, «antes», e verbum, «Palavra». Seu sentido é
algumas vezes expresso por algumas poucas palavras, precisas e coloridas. O
latim, pro, pode ter o sentido de «de acordo com», ou «através de», e talvez
essa seja a força desse prefixo, nessa palavra. No hebraico, o vocábulo
correspondente é mashal, «ser semelhante», o que salienta o valor dos
provérbios para a feitura de comparações e observações sutis e inteligentes.
2. A Natureza dos
Provérbios
Um provérbio é uma
declaração expressiva, incisiva e concisa, embora com o intuito de transmitir
um pensamento novo ou importante. Pode ser uma declaração enigmática ou uma
máxima, como se fosse uma minúscula parábola ou símile. Os seus sinônimos são
aforismo, máxima, mote, preceito, símile. No Oriente, os provérbios usualmente
incluem comparações, uma espécie de observações aguda e condenada. Um provérbio
também pode ser uma «declaração enigmática», que requer meditação e análise
para que possa ser definido ou compreendido. É o caso de Pro. 17:3, que diz: «O
crisol prova a prata, e o forno o ouro; mas aos corações prova o Senhor».
Pode-se comparar esse provérbio com um outro, que lhe é similar, em Mal. 3:3. O
trecho de Pro. 1:17 é outro exemplo que requer reflexão demorada: «Pois debalde
se estende a rede à vista de qualquer ave».
3. Os Provérbios da
Bíblia
Podemos encontrar os
provérbios espalhados pela Bíblia inteira; mas o Livro de Provérbios é uma
espécie de coletânea principal de provérbios, atribuídos a Salomão. Os trechos
de I Sam. 10:11; 19:24; 24:13 também contêm declarações proverbiais. Outros
exemplos são: Jer. 31:29 e Eze. 18:2. Jó, sendo um livro poético, naturalmente encerra
muitos provérbios. A passagem de Jó 28:28 é bem conhecida que o temor do Senhor
é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento». Esse provérbio, em uma
forma modificada, reaparece no livro de Provérbios (1:7), como uma espécie de
provérbio principal, que determina o espírito do livro inteiro.
A presença de
provérbios em Deu. 28:15 ss e vs. 37 mostra-nos que este uso é bastante antigo
na cultura hebreia. Um povo desobediente é ameaçado de vir a tornar-se um
provérbio.
A passagem de Sal.
69:10,11 serve-nos de exemplo da maneira como são apresentados os provérbios.
Um indivíduo, humilhado e em estado aviltado, torna-se um provérbio para outras
pessoas.
No Novo Testamento,
há duas palavras gregas que são usadas e que podem ser traduzidas por «provérbio»:
parabolé, como em Luc. 4:23; e paroimia, como em João 6:25,29 e II Ped. 2:22.
Figuras de linguagem,
expressões vívidas ou declarações enigmáticas podem estar envolvidas nesses
vocábulos. Jesus empregou provérbios, em Seu ensino, como aquele de Luc. 4:23:
«Médico, cura-te a ti mesmo». Esse provérbio pode ser confrontado com João
16:25,39. Ver também Mat. 6:21 e João 12:24. Paulo falou em amontoar brasas
vivas sobre a cabeça de alguém (ver Rom. 12:20). E o trecho de I Cor. 15:33
contém um significativo provérbio, tomado por empréstimo do poeta grego
Menandro: «As más conversas corrompem os bons costumes». Outros provérbios de
Paulo acham-se em I Cor. 14:8: «Pois também se a trombeta der som
incerto, quem se
preparará para a batalha?»; e Tito 1:15: «Todas as cousas são puras para os
puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é puro». E Tito 1:12 tem
outro provérbio, citação do poeta grego Epimênides: «Cretenses, sempre
mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos». Também podemos citar I Tim.
6:10: «Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males», um provérbio
universalmente conhecido.
Provavelmente também
poderíamos catalogar como proverbial a declaração de Tia. 2:26; «Porque assim
como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta». Outra
dessas declarações é a de Tia. 1:22: «Tomai-vos, pois, praticantes da palavra,
e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos». Por sua vez, Pedro nos
ofereceu um excelente provérbio, quando escreveu: «...o amor cobre multidão de
pecados» (I Ped. 4:8). E a afirmação que se lê em II Ped. 2:22: «O cão voltou
ao seu próprio vômito; e a porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal», é
chamada de «adágio verdadeiro», por esse apóstolo. A primeira parte dessa
afirmação vem de Pro. 26:11; mas não se conhece a fonte originária de segunda
parte sua segunda parte.
Certas declarações de
Jesus, feitas como se fossem provérbios, expõem diante de nós a essência da
esperança do evangelho: «... conhecereis e a verdade vos libertara, (João
8:32); e: «Se pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres» (João
8:36).
4. Os Provérbios Como
Fenômeno Verbal e da Literatura Universal
Antes da escrita
haver sido inventada, os provérbios circulavam sob forma verbal. A literatura
de todos os povos revela que tal costume era universal. A literatura antiga dos
sumérios, dos babilônios, dos egípcios, dos gregos e dos romanos contém
provérbios, o que também pode ser dito acerca dos chineses, dos celtas, e de
outros povos. Provérbios populares acabaram se tornando provérbios literários.
As religiões também têm lançado mão dos provérbios. Os provérbios são
especialmente úteis no ensino de princípios éticos, e para exprimir expressões
de bom senso. São excelentes instrumentos didáticos.
No hebraico, mashal,
“símile”, “comparação”, um substantivo que ocorre trinta e oito vezes nas
páginas do Antigo Testamento, conforme se vê, por exemplo, em Núm. 21.27; Deu.
28.37; I Sam. 10.12; 24.13; I Reis 4.32; 9.7; II Crô. 7.20; Sal. 69.11; Pro.
1.1,6; 10.1; 25.1; Ecl. 12.9; Isa. 14.4; Jer. 24.9; Eze. 12.22,23; 14.8; 16.44;
18.2,3. Na Septuaginta, paroimia é palavra grega que significa “comparação”,
com base em uma raiz verbal que tem o sentido de “ser semelhante”, “ser
paralelo” (cf. Gên. 10.9; Pro. 10.26). No Novo Testamento, parabolé, palavra
grega que significa “posto ao lado”, “comparação”, “ilustração”, um vocábulo
empregado cinqüenta vezes: Mat. 13.3,10,13,18,23,31,33,34; 13.35 (citando Sal.
78.2); 13.36,53; 15.15; 21.33,45; 22.1; 24.32; Mar. 3.23; 4.2,10,11,13,30,33,34;
7.17; 12.1,12; 13.28; Luc. 4.23; 5.36; 6.39; 8.4,9-11; 12.16,41; 13.6; 14.7;
14.3; 18.1,9; 19.11; 20.9,19; 21.29; Heb. 9.9; 11.19. O nome do livro, em
hebraico, é misle selomoh, “provérbios de Salomão”.
O termo hebraico
mashal teve seu sentido ampliado para cobrir também outras formas de discurso,
como o oráculo de Balaão (Núm. 24.15), os cânticos de zombaria (Isa. 14.4; Hab.
2.6) e as alegorias, que são extensas comparações (Eze. 17.2; 20.49; 24.3).
Alguns estudiosos pensam que esse vocábulo hebraico vem da raiz que significa
“governai, porquanto mashal realmente “cria novos situações”, segundo disse um
deles (Gemser, Spruche Salomos, pág. 7). Outra sugestão no tocante à origem da
palavra é aquela que diz que esse termo vem do assírio, mishlu, “metade”,
referindo-se ao fato de que um provérbio típico consiste em duas metades postas
em paralelismo. Entretanto, o mais provável é mesmo que este vocábulo hebraico,
em seu sentido mais restrito de “comparação”, por sinédoque, acabou sendo usado
para indicar vários tipos de literatura de sabedoria, como aqueles que aparecem
coletados no livro canônico de Provérbios.
Esboço:
I. Pano de Fundo
II. Unidade do Livro
III. Autoria
IV. Data
A. Seção I
B. Seção II
C. Seções III e IV
D. Seção V
E. Seções VI, VII e
VIII
V. Lugar de Origem e
Destinatários
VI. Propósito do
Livro
VII. Canonicidade
VIII. Estado do Texto
IX. Problemas
Especiais
A. A Figura da
Sabedoria
B. Relação entre
Provérbios e a Sabedoria de Amenemope
1. O documento
egípcio
2. Relações léxicas
X. Conteúdo e Esboço
do Livro
A. Conteúdo
1. Gêneros literários
2. Assunto
B. Esboço
XI. Teologia do Livro
XII. Bibliografia
I. Pano de Fundo
Sem importar se a
autoria salomônica é aceita ou não, pode-se facilmente concordar que o pano de
fundo do livro de Provérbios parece ter sido a corte real em Jerusalém. Embora
a literatura de sabedoria (ver a respeito no Dicionário), no antigo Oriente
Próximo, seja anterior ao livro de Provérbios, por mais de mil anos, aquela
forma particular de instruções, endereçadas ao “meu filho”, parece-se mais com
certas obras literárias egípcias, como As Instruções de Ptahotepe; As
instruções de Mari-ka-Ré; As instruções de Amem-en-hete e /ís Instruções de
Ani. O casamento de Salomão com a filha do Faraó pode ter conduzido esse grande
rei israelita a interessar-se por esse tipo de instruções.
Características
literárias individuais, como a mashel, o padrão X, X + 1 e os longos discursos
encadeados encontram paralelos na literatura semítica anterior. Assim sendo, o
livro de Provérbios deve ter atraído os leitores já familiarizados com aquela
forma literária.
Muitos críticos
modernos têm negado aos hebreus uma mente verdadeiramente filosófica, a qual
caracterizaria mais os gregos. Assim, na opinião desses críticos, os israelitas
prefeririam depender das diretas revelações dadas do Alto, em vez de ficarem a
pensar à moda dos filósofos gregos, que criavam sistemas com base em conceitos.
Essa crítica, porém, leva em conta somente uma das facetas da mente dos
hebreus. Outra faceta dessa mesma mentalidade mostra-nos que o povo israelita,
tal e qual qualquer outro, sabia confiar nos méritos de uma filosofia humana
autêntica. A grande diferença, porém, é que os hebreus não apreciavam a
filosofia especulativa, que fica a imaginar como os mundos e os seus problemas
teriam sido criados; antes, eles preferiam olhar para uma orientação prática na
vida. E isso faziam de maneira intuitiva e analógica, e não em resultado de
raciocínios dialéticos. Isto explica porque os hebreus davam a essa forma de
pensamento o nome de “sabedoria”, porquanto, na busca pela solução diante dos
problemas morais do homem, diante da vida, eles demonstravam muito mais amor
pela sabedoria prática do que pelas especulações filosóficas.
Em vista disso, o
livro de Provérbios, começando com máximas isoladas acerca dos elementos
básicos da conduta humana, revela, de muitas maneiras sugestivas que os seus
autores (ver sobre Autoria, seção III) cada vez mais se aproximavam, em suas
apresentações, de uma postura filosófica. No mínimo pode-se afirmar que eles
tinham uma filosofia em formação. Esse desdobramento pode ser visto até mesmo
na maneira como o vocábulo hebraico mashal foi sendo cada vez mais usado com
maior amplitude de significação, ao que já tivemos ocasião de referir-nos.
A mashal, em seus
primeiros usos, era de natureza antitética, contrastando dois aspectos da
verdade, de tal modo que o pensamento ali mesmo se completava, nada mais
restando ao autor senão passar para algum outro assunto. Isso produzia o bom
efeito de pôr em contraste os grandes antagonismos fundamentais da existência
humana neste mundo: a retidão e a iniquidade; a obediência e o desregramento; a
industriosidade e a preguiça; a prudência e a presunção etc., o que analisava,
mediante contrastes, a conduta do indivíduo e dos homens em sociedade.
Entretanto, a partir do momento em que começam a prevalecer as mashalim
ilustrativas e sinônimas, o estudioso toma consciência da maior penetração e
ampliação do alcance do pensamento, porquanto começam a aparecer distinções mais
sutis e descobertas mais remotas, e as analogias que ali se vêem passam a
exibir uma relação menos direta entre causas e efeitos. E então, avançando
ainda mais no livro de Provérbios, especialmente quando atinge a seção
transcrita pelos “homens de Ezequias, rei de Judá” (caps. 25—29), o leitor pode
notar que cada vez mais se usa do artifício literário dos paradoxos e dos
dilemas. Além disso, a mashal amplia-se, ultrapassando a mera comparação entre
dois contrastes. Tudo isto, apesar de não ser ainda uma filosofia
autoconsciente, chega a ser um passo decisivo nessa direção.
Um pressuposto básico
dos escritores do livro de Provérbios é que a sabedoria e a retidão são
idênticas, e a iniquidade mesmo é uma espécie de insensatez. Isso é um ponto
tão pronunciado no livro que chega mesmo a ser axiomático, emprestando ao
volume o seu colorido todo especial. Isso transparece logo no primeiro
provérbio, após as considerações iniciais sobre o filho sábio. Lemos ali: “Os
tesouros dá impiedade de nada aproveitam; mas a justiça livra da morte” (Pro.
10.2). Com base nesse pressuposto básico, vêm à tona outros princípios não
menos axiomáticos: a fonte de uma vida caracterizada pele sabedoria é o temor a
Yahweh; quem quiser ser sábio precisa ter uma mente disposta a aprender a
instrução, e a atitude contrária é própria da perversidade; sábio é aquele que
não se deixa impressionar pelas vantagens passageiras obtidas pelos ímpios, ao
passo que o insensato não percebe as vantagens da verdadeira sabedoria, o temor
ao Senhor. Esses princípios são constantemente reiterados no livro de
Provérbios, não de forma sistemática, mas iluminando numerosos aspectos e
aplicações às questões práticas da vida. O princípio que mostra que as más
obras trazem em si mesmas as sementes da destruição, ao passo que o bem arrasta
após si as bênçãos divinas, é um dos conceitos fundamentais do qual emergiu
toda a filosofia de sabedoria dos hebreus.
De fato, essa
capacidade de mostrar sagacidade nos pensamentos e nos conselhos, reduzindo-os
a máximas ou parábolas, foi sempre tão admirada entre os israelitas que, desde
antes de Salomão, os seus possuidores tornavam-se líderes naturais, bem
reputados na comunidade de Israel. Cf. II Sam. 14.2 e 20.16. E quem demonstrou
maior habilidade, quanto a isso, do que o próprio Salomão? Não somente casos
difíceis lhe eram trazidos para solução (ver I Reis 3.16-28), como também lhe
eram apresentadas questões complicadas, para que ele fornecesse resposta (ver I
Reis 10.1,6,7). Portanto, foi com base no reconhecimento de que há homens
dotados de tremenda sagacidade mental, capazes de aplicar esta habilidade às
questões práticas da vida, que surgiu a literatura de sabedoria, incluindo o
livro de Provérbios.
II. Unidade do Livro
Visto que o próprio
livro declara que se trata de uma coletânea, a sua unidade não depende de sua
autoria. Antes, essa unidade encontra-se na natureza geral do seu conteúdo, os
provérbios, declarações sucintas ou um pouco mais longas que exibem profunda
sabedoria prática, aplicável à conduta diária dos homens. A obra pertence à
categoria geral da literatura de sabedoria (ver a respeito no Dicionário),
exaltando as virtudes da sabedoria (sob a forma de retidão) e condenando os
vícios da insensatez (sob a forma de falta de temor a Deus).
III. Autoria
Tradicionalmente, o
volume maior do livro de Provérbios tem sido atribuído a Salomão, filho de Davi
e rei de Israel (cf. Pro. 1.1; 10.1;
25.1). Entretanto, o
próprio livro de Provérbios menciona dois outros autores, a saber: Agur (30.1)
e Lemuel (31.1). Quanto a esta questão, existem duas posições extremadas, a
saber: 1. Salomão escreveu o livro inteiro de Provérbios; ou 2. ele não teve
nenhuma conexão direta com a obra (excetuando que ele é o “autor tradicional” e
patrono da literatura de sabedoria). Um terceiro ponto de vista, que ocupa
posição intermediária e está mais em consonância com o próprio testemunho
bíblico, é aquele que diz que Salomão foi o autor da maior parte do volume do
livro de Provérbios, à qual foram acrescentadas as obras de outros autores. Assim,
é apenas uma meia verdade aquela que diz que o livro de Provérbios não teve
“pai”, segundo afirmam alguns estudiosos. Pois, apesar de as declarações de
sabedoria geralmente se originarem entre pessoas do povo comum, alguém foi o
primeiro indivíduo a fazer essas declarações em uma linguagem epigramática.
Essa idéia é confirmada por nada menos de três vezes no volume do livro.
Vejamos: “Provérbios de Salomão filho de Davi, o rei de Israel, (1.1);
“Provérbios de Salomão... “ (10.1; que em nossa versão portuguesa aparece como
título, o que é um erro, pois faz parte do texto sagrado); e também “São também
estes provérbios de Salomão, os quais transcreveram os homens de Ezequias, rei
de Judá” (25.1). Por que duvidar do próprio testemunho bíblico? Todavia, essa
última passagem citada indica que Salomão não reunira todos os seus provérbios,
formando um único volume. Antes, ele deixara muitos de seus provérbios
dispersos, que os copistas de Ezequias coligiram. Se juntarmos a isso as
palavras de Agur e de Lemuel, teremos o que é hoje o nosso livro de Provérbios.
Uma tola objeção à
autoria salomônica é aquela que assevera que Salomão não era praticante das
virtudes inculcadas no livro de Provérbios; cf., por exemplo, Pro. 7.6-23, que
alguns pensam não refletir a vida de Salomão, porque ele teria tido um imenso
número de mulheres e concubinas (ver I Reis 11.3, que diz: “Tinha (Salomão)
setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe
perverteram o coração”). Tal objeção, entretanto, olvida-se de que uma coisa é
escrever obras de sabedoria, e outra, inteiramente diferente; é viver de
maneira sábia. Um homem pode trair os seus próprios princípios!
A narrativa sobre a
vida de Salomão em I Reis caps. 3, 4 e 10 (ver, especialmente, I Reis 4.30-34 e
II Crô. 9.1-24) dá a entender a sabedoria e a versatilidade inigualáveis de
Salomão, na composição de afirmações de sabedoria.
Por igual modo, a
afirmação de que os subtítulos (ver 1.1; 10.1 e 25.1) seriam meramente
honoríficos, não correspondendo à realidade da autoria salomônica, não faz
justiça a Salomão. Mesmo que os subtítulos em 1.1 e 10.1 mostrem que pessoas
posteriores compilaram provérbios esparsos de Salomão, nem por isso se negaria
realmente a autoria salomônica. Os compiladores não foram autores. Eles
compilaram o que já existia, e o que já existia era saído da pena de Salomão.
Além disso, o argumento que diz que as repetições, em duas seções diferentes do
livro de Provérbios, ou mesmo em uma de suas seções, elimina uma única autoria,
esquece o fato de que os autores muitas vezes repetem o que dizem, e que os
editores ou compiladores tinham por costume reter passagens duplicadas,
conforme se vê, por exemplo, nos casos de Sal. 14.1 e 511.
A questão da autoria
do trecho de Pro. 22.17-24.34 está vinculada ao problema da relação entre essa
seção e a obra A Sabedoria de Amenemope, o que é ventilado mais adiante.
Durante as discussões e controvérsias que houve entre os judeus do século I
D.C., acerca do cânon do Antigo Testamento, o livro de Provérbios foi
classificado, juntamente com os livros de Eclesiastes e de Cantares de Salomão,
como “salomônico”, conforme se aprende em Shabbat 30b. O livro de Provérbios,
conforme existe em nossos dias, deve ter tomado esta forma após os dias do rei
Ezequias (ver Pro. 25.1), isto é, após 687 A. C. De fato, Fritsch (IB, quarto
volume, pág. 775) pensa que a forma final pode ter sido alcançada somente por
volta de 400 A.C. Outros asseveram que a coletânea final (incluindo as palavras
de Agur e de Lemuel) deve ter sido feita em algum tempo entre os dias do rei
Ezequias e o começo do período pós-exílico, o que daria, mais ou menos, o mesmo
resultado.
Alguns estudiosos
modernos, de tendências liberais, observam que devem ser levadas em conta as
“palavras dos sábios” referidas em Pro. 22.17 e 24.23. Para eles, isso
representa mais alguns autores, embora anônimos. Entretanto, não é
absolutamente necessário aceitarmos esta opinião. Salomão poderia estar
meramente referindo-se a afirmações que antigos sábios haviam feito, mais ou
menos de conhecimento geral em sua geração, às quais, agora, ele emprestava uma
forma epigramática. É muito melhor ficarmos com a ideia da autoria salomônica,
claramente declarada no próprio livro de Provérbios por três vezes, conforme já
tivemos ocasião de verificar, do que imaginar uma multiplicidade de autores,
segundo o sabor da alta crítica, que sempre quer exibir erudição multiplicando
autores e atribuindo aos livros da Bíblia uma data posterior à qual eles
realmente pertencem.
IV. Data
Duas questões
diferentes estão envolvidas no problema da data do livro de Provérbios, a
saber: a data em que cada seção do livro foi escrita (ver a seguir quanto às
“seções” do livro); e, então, a data em que foi feita a “coletânea” ou
“editoração” das várias seções, a fim de formar um único volume (rolo), naquilo
que hoje conhecemos como o livro de Provérbios. Os eruditos conservadores
seguem o ponto de vista tradicional da autoria salomônica do livro inteiro,
excetuando os capítulos 30 (de Agur) e 31 (de Lemuel). Isto posto, eles datam o
volume maior do livro como pertencente ao século X A.C., provavelmente dos
últimos anos do reinado de Salomão. A coletânea das várias seções, por sua vez,
é datada variegadamente, pelos mesmos estudiosos conservadores, entre 700 A.C.
e 400 A.C.
A paz e a
prosperidade que caracterizaram o período de governo de Salomão ajustam-se bem
ao desenvolvimento de uma sabedoria reflexiva e à produção de obras literárias
desta natureza. Outrossim, vários especialistas observam que as trinta declarações
dos sábios, em 22.17—24.22, contêm similaridades com as trinta seções da
“Sabedoria de Amenemope”, produzidas no Egito, e que eram mais ou menos
contemporâneas à época de Salomão. Por semelhante modo, a personificação da
sabedoria, tão proeminente nos caps. 1--9 (ver
1.20; 3.15-18;
8.1-36), pode ser comparada com a personificação de ideias abstratas em
escritos em egípcios e mesopotâmicos pertencentes ao segundo milênio A.C.
O papel desempenhado
pelos “homens de Ezequias” (ver 25.1) indica que importantes seções do livro de
Provérbios foram compiladas e editadas entre 715 e 687 A.C., um período de
renovação espiritual encabeçada por aquele monarca judeu. Ezequias demonstrou
grande interesse pelos escritos de Davi e de Asafe (II Crô. 29.30). Talvez também
tivesse sido nesse tempo que foram adicionadas às coleções de provérbios de
Salomão as palavras de Agur (cap. 30); de Lemuel (cap. 31); bem como as
palavras dos sábios (22.17-24.22;, 24.23-34), embora seja perfeitamente
possível que o trabalho de compilação se tenha completado após o reinado de
Ezequias, conforme também já demos a entender anteriormente.
Os eruditos críticos,
por sua vez, rejeitam a autoria salomônica, pelo que datam cada seção do livro
de Provérbios separadamente, em geral em datas muito posteriores à data
tradicional da escrita e compilação do livro. Isso, por sua vez, leva-os a
datar a coletânea inteira no fim do período persa, ou mesmo do período grego.
Porém, descobertas arqueológicas e filológicas recentes têm feito alguns desses
eruditos abandonar uma data extremamente posterior, o que andava tão em voga na
primeira metade do século XX. Entre essas descobertas poderíamos citar o achado
de declarações de sabedoria dos cananeus, bem como certos padrões linguísticos
cananeus na literatura de Ugarite.
O que é indiscutível
é que o livro de Provérbios pode ser dividido em certas seções, conforme se vê
abaixo:
A. Seção I. Esta
seção tem sido datada como passagem relativamente posterior, porquanto supõe-
se que foi escrita como uma espécie de introdução para o volume inteiro. Há
quem pense que essa primeira seção seja pós-exílica, enquanto outros dizem que
a personificação da sabedoria (ver o oitavo capitulo) torna provável uma data
dentro do século III A.C. Porém, um terceiro grupo de estudiosos tem
demonstrado que essa personificação, ou melhor, hipostatisação, é uma das
características das religiões mesopotâmica e egípcia. A fórmula numérica de X,
X + 1, encontra-se em Pro.
6.16-19, ocorrendo
também em textos ugaríticos (cf.. Gordon, Ugaritic Manual, págs. 34 e 201) do
segundo milênio A.C. Albright (Wisdom in Israel and in the Ancient Near East)
pensa que essa seção é anterior aos Provérbios de Aicar, isto é, o século VII
A.C. Fritsch segue a tendência de dar uma data bem antiga à obra, ao afirmar
que existem fortes influências ugaríticas e fenícias na primeira seção de
Provérbios, e que os seus capítulos oitavo e nono compõem “uma das porções mais
antigas do livro”.
Um exemplo dessa
influência ugarítica, que damos aqui como ilustração, é o uso do termo lahima,
“comer”, que só pode ser encontrado por seis vezes no Antigo Testamento, quatro
delas no livro de Provérbios. Quando isso é combinado com a opinião de Scott
(Anchor Bible, “Proverbs”, págs. 9,10), que disse que os capítulos primeiro a
nono foram escritos como introdução a uma unidade já existente (isto é, os
caps. 10-31), a mais antiga data provável para essa primeira seção faz com que
uma data salomônica para as demais a ele atribuídas se torne bastante
plausível. Entretanto, Scott considera que esta primeira seção do livro é um
elemento posterior dentro do livro de Provérbios. O longo discurso desta seção
(em contraste com o estilo de aforismas do restante) encontra paralelos na
antiga literatura de sabedoria egípcia e acádica. Os aramaísmos ali existentes,
ao contrário do que antes alguns supunham, argumentam em favor de uma data mais
antiga, e não de uma data mais recente.
B. Seção II. Este
segmento do livro de Provérbios é considerado salomônico pelos eruditos
conservadores, como uma coletânea gradualmente feita, talvez com um núcleo
salomônico, que teria atingido seu presente estado no século V ou no século IV
A.C. Certo escritor moderno, Paterson, considera que essa é a porção mais
antiga do livro de Provérbios.
C. Seção III e IV. Estas
seções estão envolvidas na questão da dívida literária à Sabedoria de
Amenemope, que será discutida mais abaixo. A ideia de que esta seção depende
muito de uma obra egípcia possibilita uma data entre 1000 e 600 A.C., tudo
estando na dependência da data da obra egípcia. Por isso mesmo, Paterson pensa
que esta porção é pré-exílica, embora posterior a 700 A.C.
D. Seção V. De acordo
com o seu subtítulo, esta seção vem da época do rei Ezequias, porém a autoria
real pode ter pertencido ao século X A.C.
E. Seções VI, VII e
VIII. Há uma diferença na colocação destas três seções do livro de Provérbios,
entre a Septuaginta e o texto massorético (ver a respeito no Dicionário). Por
isso mesmo, Paterson pensa que, originalmente, cada uma destas seções
corresponde a antigas coleções separadas. À base de alegadas artificialidade,
ele as colocou em data posterior. No entanto, a forma acróstica de composição
(ver no Dicionário sobre Poemas Acrósticos), que alguns eruditos modernos
consideram um artificialismo, era um método favorito de composição de poemas
entre os antigos hebreus. Scott afirma que os poemas acrósticos apareceram
muito antes do exílio do século VI A.C. E, visto que a literatura de sabedoria
transcendia às fronteiras nacionais, a história política internacional
oferece-nos pouca ajuda para fixar alguma data para estas três seções do livro
de Provérbios.
V. Lugar de Origem e Destinatários
O livro de Provérbios
provavelmente originou-se nos círculos palacianos de Jerusalém. As porções
salomônicas (excetuando a
seção transcrita
pelos “homens de Ezequias, rei de Judá”; ver 25.1) podem ter sido registradas
pelos escribas desse monarca descendente de Salomão. A essas coletâneas de
provérbios, pois, os, escribas reais adicionaram as seções VI—VIII. O seu
conteúdo indica que o livro de Provérbios tinha por intuito instruir os filhos
das famílias nobres. Assim, embora estas instruções sejam endereçadas frequentemente
a “meu filho”, estava em pauta uma audiência muito mais ampla. A sabedoria dos
sábios destinava-se a “todos” (Paterson, pág. 54).
VI. Propósitos do Livro
O próprio livro de
Provérbios assevera claramente o seu propósito em Pro. 1.2-4, ou seja, infundir
sabedoria e discrição aos homens, especialmente no caso dos símplices,
destituídos de experiência na vida. Lemos no quarto versículo: “... para dar
aos simples prudência, e aos jovens conhecimento e bom siso”. É perfeitamente exequível
que esse também tenha sido o propósito do livro inteiro: orientar os homens na
conduta prática diária. Essa sabedoria, esse temor a Yahweh, é algo necessário
para a formação de um caráter bem cultivado. A coletânea dos provérbios, pois,
serviria de livro de informações útil para estudos públicos o privados. Os
provérbios inculcam a moralidade pessoal, além de um direto “bom senso”.
Paterson conseguiu extrair bem o propósito do livro de Provérbios ao escrever
que o alvo desse livro é"... diminuir o número dos tolos e aumentar o
número dos sábios” (pág. 54).
Embora o livro de
Provérbios seja uma obra de cunho eminentemente prático, ensinando como o homem
deve viver diariamente, a sabedoria ali ensinada está solidamente escudada
sobre o temor a Yahweh (ver, por exemplo, 1.7, que declara: “O temor do Senhor
é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino”). Por
todo o volume, esse respeito ao Senhor é apresentado como a senda que leva à
vida e à segurança (cf. 3.5; 9.10 e 22.4). No dizer de Pro. 3.18, a sabedoria é
“... árvore de vida para os que a alcançam, e felizes são todos os que a
retêm”.
VII. Canonicidade
Na obra hebraica,
Shabbat (30b), Provérbios é listado como um livro de canonicidade disputada,
nos fins do século I D.C., juntamente com os livros de Eclesiastes e Cantares
de Salomão. Mas sua associação com outras obras reconhecidamente salomônicas,
nessa afirmativa judaica, parece favorável ao argumento de que o livro era
canônico, e assim era considerado. Outro tanto se vê em M. Yadaim (3.5), onde
diferentes opiniões aparecem no tocante à canonicidade de Eclesiastes e
Cantares de Salomão, mas não há nenhum debate no tocante ao livro de
Provérbios. A LXX e a versão portuguesa concordam em dispor juntos todos os
três livros atribuídos a Salomão, • ou seja, Provérbios, Eclesiastes e Cantares
de Salomão.
De acordo com o
Talmude (Baba Bathra, 146), o livro de Provérbios aparece depois dos livros de
Salmos e de Jó e, em conformidade com Berakoth (57b), deveria figurar entre os
livros de Jó e de Salmos. A ordem de colocação nas modernas Bíblias (como na
nossa versão portuguesa) deve estar alicerçada sobre certa tradição rabínica,
que dizia que Moisés escreveu o livro de Jó, que Davi escreveu os Salmos, e que
Ezequias compilou os Provérbios (Baba Bathra, 14b-45a).
O trecho de Tia. 4.6,
ao citar Pro. 3.34, fá-lo de tal maneira que mostra que o livro de Provérbios era
considerado canônico no século
I D.C. Em adição a
isso, é com freqüência que o Novo Testamento se refere à seção do Antigo
Testamento que contém o livro de Provérbios, a saber, kethubim, os
“escritos", taxando-os de “Escritura" (no grego, graphé). A sua
inclusão na Septuaginta certamente favorece a idéia de uma bem remota aceitação
do livro de Provérbios como parte integrante das Santas Escrituras.
VIII. Estado do Texto
O livro de
Provérbios, em sua maior parte, acha-se escrito em hebraico claro, estilo clássico.
Entretanto, existem algumas poucas passagens difíceis no texto das seções
principais. O erudito Fritsch lista como vocábulos que têm causado problemas
para os tradutores os seguintes: 'amon (Prov. 8.30); yathen (12.20); hibbel
(23.34); manon (29.21); ‘aluqah (30.15); zarzir e ‘alqum (30.31). A maioria das
propostas de emendas, com o intuito de solucionar problemas textuais, não passa
de conjectura. Descobertas linguísticas recentes demonstram o valor de esperar
por maiores informações em vez de apelar para emendas conjecturadas.
A Septuaginta é uma
tradução frouxa, quase uma paráfrase, exibindo marcas do ponto de vista dos
tradutores. Em certos lugares a tradução é inteiramente corrupta. Inclui quase
cem duplicatas de palavra, frases, linha e versículos que aparecem somente por
uma vez, no texto massorético. Além disso, omite algumas seções e adiciona
outras. Na Septuaginta, o trecho de Pro. 30.1-14 vem depois de
24.22 (segundo o
texto hebraico), e então segue-se 24.23,24 (segundo o texto hebraico). Então a
Septuaginta tem Pro. 30.15—31.9, e então os caps. 25—29 (segundo o texto
hebraico) e, finalmente,
31.10-31. Essas
anomalias têm levado os estudiosos a acreditar que o texto continuava fluido ao
tempo em que foi feita a tradução da Septuaginta.
IX. Problemas Especiais
Duas particularidades
que merecem atenção especial são: 1. A figura da Sabedoria, no oitavo capítulo
de Provérbios; o 2. a relação entre o livro de Provérbios (22.17—24.34) e a
obra egípcia Sabedoria de Amenemope. Ambos os itens estão diretamente
vinculados a abordagens críticas quanto à autoria e à data do livro de
Provérbios, razão pela qual os ventilamos aqui.
A. A Figura da
Sabedoria. Apesar de a sabedoria ser exaltada como uma virtude, por toda a
seção de abertura do livro de Provérbios, como também em outros segmentos do
livro, é no seu oitavo capítulo que encontramos o tratamento da “sabedoria”
como uma hipostatisação. Ao que tudo indica, ali esse atributo divino aparece
como um ser que mantém inter-relações com os homens. Em Pro.
I.20-33; 8.1-36;
9.1-6,13,18, a “Sabedoria” aparece em oposição a- uma personagem similar,
embora contrária, a “Senhora Loucura”. A Sabedoria aparece como um profeta que
prega pelas ruas (cf. Jer.
II.6 e 17.19,20).
Não há nenhum traço
de politeísmo no livro de Provérbios. Por conseguinte, qualquer tentativa de
vincular o pano de fundo acerca de Salomão a Ma’at, Istar ou Sidurí Sabatu,
conforme fazem alguns, não é convincente nem tem base nos fatos. A única
questão que ainda resta ser ventilada é se a “Sabedoria” é uma verdadeira
hipostatisação, isto é, um atributo ou atividade da deidade à qual foi
conferida uma identidade pessoal. Alguns estudiosos defendem que
o oitavo capítulo de
Provérbios simplesmente apresenta uma vívida personificação.
A íntima correspondência
entre as atividades da “Sabedoria”, no livro de Provérbios, e as atividades de
Yahweh, no resto do Antigo Testamento, é algo deveras notável. A Sabedoria
derrama o espírito (ver Pro. 1.23, cf. Isa. 44.3). Deus chama, mas Israel não
responde (ver Pro. 1.24-26; cf. Isa. 65.1,2,12,13; 66.4). O Espírito de Deus é
a Sabedoria (ver Pro. 8.14; cf. Isa. 11.2). A Sabedoria promove a justiça (ver
Pro. 8.15,16; cf. Isa. 11.3-5). Da mesma maneira que a Sabedoria prepara o seu
banquete (ver Pro. 9.5, em oposição à mulher louca, que também tem o seu
banquete, Pro. 9.13-18), assim o faz Yahweh (ver. Isa. 25.6; 55.1-3; 65.11-13).
Nos seus escritos,
tanto o judaísmo posterior quanto o cristianismo referem-se ao papel
desempenhado pela “Sabedoria” na criação—um desempenho que em muito se
assemelha à sabedoria hipostatisada no livro de Provérbios. O livro apócrifo
Sabedoria de Salomão identifica a “Sabedoria” como “a modeladora de todas as
coisas” (7.22), como “associada às obras (de Deus)” (8.4) e como “formadora de
tudo quanto existe” (8.6). Fiio (De Sacerdota, 5) afirma que a “Sabedoria” foi
a fabricante do universo. Alguns estudiosos procuram demonstrar a ligação entre
o “Logos” do primeiro capítulo do evangelho de João, bem como a “Sofia”
concebida pelos mestres
gnósticos, com a
“Sabedoria”, hipostatisada do livro de Provérbios; porém, as conclusões desses
eruditos não conseguem harmonizar-se entre si.
Se o erudito Scott
(págs. 71 e 72) está correto em sua vocalização da palavra hebraica ‘amon, para
‘omen (em Pro. 8.30), visto que ‘omen significa “artífice principal” ou então
“criancinha”, segue-se que a “Sabedoria” é vista como aquela força
hipostatisada que unifica a todas as coisas (cf. Eclesiástico 43.28; Sabedoria
de Salomão 1.7; Col. 1.17 e Heb. 1.3).
Embora alguns
críticos tenham datado o livro de Provérbios como pertencente ao período
helenista, em face da hipostatisação da sabedoria (sob a alegação de que a
tendência para as hipostatisações era forte durante o período de dominação
grega), o fato é que há muitos paralelos entre o livro de Provérbios e o antigo
mundo do Oriente Próximo, do segundo milênio A.C., ou mesmo antes. Entre esses
paraielos, poderíamos citar os seguintes: 1. A. divindade egípcia de Mênfis,
Ptá, teria criado as coisas com sua palavra e seu pensamento. 2. Em Tote de
Hermápolis, a sabedoria divina e o deus criador aparecem personificados. 3. A
divindade suméria Ea-Enki era chamada de “o verdadeiro conhecedor”. 4. O deus
babilónico Marduque, intitulado de “o mais sábio dos deuses”, teria conquistado
Tiamate e então criado a terra e o homem. 5. O altíssimo deus El, do panteão
ugarítico, é descrito como alguém cuja “sabedoria é eterna”. Esses e outros
exemplos hebraicos (ver Sal. 74.13,14; 82.1; Isa. 14.12-14; 27.1) demonstram
claramente que, desde bem antes da época de Salomão, já se conhecia o artifício
literário dá hipostatisação.
Patersan fez um
sumário da discussão da “Sabedoria”, afirmando que o trecho de Pro. 8.22,23 é
uma ousada confirmação e reafirmação da doutrina expressa em Gên. 1.2. Deus não
criou um caos (cf. Gên.
1 e 2), e, sim, um
“cosmos”, um todo organizado. A sabedoria é a essência mesma do ser de Deus. O
universo não veio à existência por mero acaso, nem permanece existindo por suas
próprias forças. O mundo conta com uma teleologia (ver a respeito no
Dicionário) porquanto existe a teologia (ver Pro. 3.19; 20.12).
B. Relação entre
Provérbios e a Sabedoria de Amenemope. Desde que Adolph Erman ressaltou as
similaridades existentes entre a Sabedoria de Amenemope e o livro de Provérbios
(22.17—23.14), tem havido uma tendência geral para os estudiosos pensarem que
essa passagem bíblica está diretamente em dívida com aquela antiga obra de
origem egípcia. Todavia, os defensores da independência desse trecho bíblico de
qualquer obra egípcia também aparecem em bom número, como E. Diroton, C.
Fritsch e R.O. Kevin, para citar somente alguns. Embora a preponderância da
erudição encare o livro de Provérbios como se houvesse alguma dependência entre
ele e a Sabedoria de Amenemope, há argumentos sólidos suficientes para mostrar
a inveracidade dessa dependência, conforme podem averiguar sérios estudiosos da
Bíblia que queiram parar a fim de examinar todas as evidências disponíveis.
1. O Documento Egípcio. Foi Sir E. Wallis Budge, no seu
artigo Recuil d’Etudes Egyptoiogigue... Champoliion, em 1922, quem primeiro
tornou conhecida a antiga obra egípcia Sabedoria de Amenemope. Em 1923, ele
publicou o texto completo da obra, com fotografias e uma tradução. Outros
eruditos trouxeram a público suas próprias traduções do original egípcio. Mas
foi Erman o primeiro a sugerir que as “excelentes cousas” a respeito das quais
lemos em Pro. 22.20 poderiam ser traduzidas por “trinta”, com base na divisão
da Sabedoria de Amenemope em trinta capítulos. Essa tradução envolvia uma
modificação textual, uma nova vocalização de shalishim para sheioshim, no texto
hebraico do livro de Provérbios. E então Erman inferiu que o escritor bíblico
teria, diante de si, os trinta capítulos da Sabedoria de Amenemope, tendo dali
selecionado e incorporado trinta afirmações a seu próprio livro de sabedoria. A
verdade é que Oesterley e outros veem pelo menos que vinte e três das trinta
declarações daquela passagem do livro de Provérbios derivam da Sabedoria de
Amenemope, Scott, por sua vez, afiançou que somente nove dessas declarações
procedem daquela fonte. Mas o preâmbulo do trecho Pro. 22.17-21 parece ser uma
reformulação da conclusão da Sabedoria de Amenemope. Essa obra egípcia foi escrita
por Amen-em-apete, egípcio nativo de Panópolis, em Acmim. E!e era um supervisor
de terras, evidentemente uma posição importante. Também foi um sábio e um
escriba. Devido à posição que ele ocupava, alguns estudiosos datam a sua obra
como pertencente ao período pós-exílico de Judá (cf. Esdras e Ben Siraque),
Entretanto, o gênero literário da sabedoria e a instituição dos escribas eram
realidades bem-estabelecidas no antigo Oriente Próximo desde muito antes do
tempo de Salomão.
À obra Sabedoria de
Amenemope têm sido atribuídas diversas datas, desde cerca de 1300 A.C.
(Plumley) ou 1.200 A.C. (Albright), até datas em torno do século VII A.C.
(Griffith, Oesterley), ou do período persa-grego (Lange). A data mais antiga
baseia-se em um ostracon que continha um extrato daquela obra egípcia. Se isso
for aceito, então torna-se quase uma certeza que o livro de Provérbios
realmente tomou por empréstimo elementos do Sabedoria de Amenemope. Existe
mesmo a possibilidade de que aquele ostracon represente uma fonte informativa
comum, usada tanto pelo livro de Provérbios quanto pela Sabedoria de Amenemope.
Seja como for, isso em nada afeta a inspiração do livro de Provérbios,
porquanto o fenômeno da inspiração envolve até mesmo a seleção de material,
como também a composição do material original.
2. Relações Léxicas. Vários estudos sobre a lexicografia
de Sabedoria de Amenemope tendem a mostrar que seu vocabulário egípcio-semítico
pertence ao estágio final do idioma egípcio. Há indicações de que esse
vocabulário da obra assemelha-se mais com a Septuaginta do que com o texto massorético
(ver no Dicionário artigos sobre ambos os termos). Interessante é que, embora
isso seja posto em dúvida por alguns eruditos, o uso de expressões idiomáticas
semíticas no livro Sabedoria de Amenemope pode até mesmo mostrar que é essa
obra egípcia que depende do livro de Provérbios, e não o contrário, conforme
dizem alguns estudiosos. Assim é que, se o livro de Provérbios parece conter
versículos espalhados por Sabedoria de Amenemope, essa obra egípcia parece
conter versículos espalhados no livro de Provérbios. Destarte, os argumentos
pró e contra parecem bem equilibrados. Também tem grandes possibilidades uma
terceira posição, intermediária, que diz que tanto a obra egípcia quanto o
livro de Provérbios usaram antigas tradições orais comuns no antigo Oriente
Próximo, ou mesmo algum apanhado dessas tradições, já sob forma escrita. Também
merece consideração a idéia de que a passagem do livro de Provérbios estava
simplesmente usando os “trinta capítulos” egípcios como modelo, e não como
fonte informativa direta. E Scott (pág. 20) exprime um ponto de vista parecido
com isso.
X. Conteúdo e Esboço do Livro
O conteúdo do livro
de Provérbios pode ser classificado em conformidade com quatro critérios: por
gênero literário, por assunto, por autoria e por motivos teológicos.
Felizmente, as divisões feitas de acordo com os três primeiros critérios
justapõem-se com facilidade, em quase todos os pontos.
A. Conteúdo.
1. Gêneros
Literários. As duas formas literárias que mais prevalecem no livro de
Provérbios são: 1. as declarações sucintas e expressivas usadas para transmitir
sabedoria (os verdadeiros “provérbios”); e 2. os longos discursos didáticos, do
que são exemplos a primeira seção (caps. 1—9), e as seções sétima e oitava
(caps. 30—31). Praticamente todo o restante do livro cabe dentro da categoria
dos “provérbios”. Pode-se definir um provérbio como “uma declaração breve e
incisiva, de uso comum”. Tipicamente, um provérbio é anônimo, tradicional o
epigramático. Conforme alguém já disse, um provérbio caracteriza-se por “sua
brevidade, sentido e sal”. E, conforme expressou com grande percepção Lord John
Russell, um provérbio contém “a sabedoria de muitos e a argúcia de um só”. Na
segunda seção do livro de Provérbios, há trezentos e setenta e cinco dessas
declarações. Dentre os cento e trinta e nove versículos dos caps.
25—29, cento e vinte
e oito são provérbios. Com frequência, os provérbios assumem a forma de um
símile gráfico (cf. os caps. 25 e 26).
Quase todo o livro de
Provérbios, excetuando as seções primeira, sétima e oitava (caps. 1—9, 30 e
31), foi escrito formando duplas que se completam, ou dísticos. Esse
paralelismo—uma típica característica da poesia hebraica—ocorre com certa
variedade de formas. O chamado paralelismo sinônimo, em que a segunda linha reitera
ou reforça a primeira, é a forma usualmente encontrada em Pro.
16.10-22.15 (cf.
20.13). O paralelismo antitético, em que a segunda linha expõe um contraste do
que foi dito na primeira, ou uma reversão da ideia da primeira linha, é a forma
de paralelismo usualmente encontrada nos, capítulos 10 a 15 (cf. Pro. 15.1).
Ocasionalmente, vê-se no livro de Provérbios certa forma de paralelismo em que
a segunda (ou a terceira) linha adiciona algo ao pensamento expresso na
primeira linha. Esse tipo de paralelismo sintético acha-se em 10.22. Os
capítulos 25 e 26 estão repletos desse tipo de paralelismo.
2. Assunto. Três
tipos latos de material são apresentados no livro de Provérbios, isto é: 1.
instruções para que se abandone a insensatez e siga a sabedoria (caps. 1—9); 2.
exemplos específicos de conduta sábia ou de conduta insensata (as declarações
gnômicas das seções II — V; caps. 10—29); e 3. a vívida descrição acerca da
mulher virtuosa (cap. 31; que talvez contrabalance o motivo do filho sábio, nos
caps. 1—9).
Em adição a isso, o
conteúdo do livro de Provérbios pode ser agrupado de acordo com os tópicos
discutidos, como as declarações que versam sobre os males sociais (Pro. 22.28;
23.10; 30.14); sobre as obrigações sociais (15.6,7,17; 18.24; 22.24,25; 23.1,2;
27.6,10); sobre a pobreza (17.5; 18.23; 19.4,7,17); sobre os cuidados com os
pobres (14.31; 17.5,19; 18.23; 19.7,17; 21.13; 26.14,15); sobre as riquezas
materiais como uma questão secundária (11.4; 15.16; 16.8,16; 19.1; 22.1),
embora importante (10.22; 13.11; 19.4).
A vida doméstica é um
tópico frequente do livro (Pro. 18.22; 21.9.19; 27.15,16; 31.30), como também
as relações entre pais e filhos (10.1; 17.21,25; 19.18,24; 22.24,25; 25.17).
O assunto da
sabedoria já foi ventilado, anteriormente. Em contrate com o sábio, encontramos
o “louco”. Nada menos de quatro tipos de loucos podem ser discernidos no livro
de Provérbios: 1. O tolo símplice, que pode ser ensinado (Pro. 1.4,22; 7.7,8;
21.11). Esse é o “desmiolado”. 2. O insensato empedernido (1.7; 10.23; 12.23; 17.10;
20.3; 27.22), que é um obstinado. 3. O tolo arrogante, que escarnece de toda as
tentativas para iluminá-lo. Isso envolve uma atitude mental, e não tanto uma
“incapacidade mental”, do que tal indivíduo se torna culpado (3.34; 21.24;
22.10; 29.8). 4. O louco brutal, morto para toda decência e boa ordem (17.21;
26.3; 30.22; cf. Sal. 14.1).
A conduta dos reis é
um dos tópicos do livro (Pro. 16.12-14; 19.6; 21.1; 25.5; 28.15; 29.14). O bom
ânimo é encorajado (15.13-15; 17.22; 18.14). O uso da língua é discutido
(10.20; 15.1; 16.28; 21.23; 26.4,23). Também são mencionados outros hábitos ou
características pessoais (11.22; 13.7; 22.3; 25.14; 26.12; 30.33). Finalmente,
são discutidos alguns aspectos do conceito da “vida”: sua fonte originária
(10.11; 13.14; 14.27; 16.22); sua vereda (6.23; 10.17; 15.24); e também o
conceito da vida propriamente dita (11.30; 12.28; 13.4,12).
B. Esboço. Quase
todos os esboços que se têm traçado sobre o livro de Provérbios contêm de
quatro a dez seções principais. As divisões naturais do livro, todavia, parecem
indicar um esboço em oito pontos, com bom base na autoria provável e nos
estágios da coleção de unidades separadas, posteriormente coligidas em um único
rolo escrito em hebraico. É o que se vê abaixo:
I. Instrução paterna:
sabedoria versus insensatez (capas. 1—9)
II. Provérbios de
Salomão: primeira coleção (10.1—22.16)
III. Palavras dos
sábios: primeira coleção (22.17—24.22)
IV. Palavras dos
sábios: segunda coleção (24.23,24)
V. Provérbios de
Salomão: segunda coleção, feita pelos homens de Ezequias (caps. 25—29)
VI. Palavras de Agur
(cap. 30)
VII. Palavras de
Lemuel (31.1-9)
VIII. A esposa
virtuosa (31.10-31)
Algumas dessas seções
podem ser subdivididas. Assim, para exemplificar, Scott (págs. 9 e 10) vê dez
discursos de admoestação e dois poemas, além de algumas declarações gnômicas,
na primeira seção, ao passo que Kitchen divide a mesma seção em catorze
subdivisões. Na segunda seção, a diferença no paralelismo entre os caps. 10—15
e 16.1—22.16 pode indicar uma divisão natural. A segunda seção, até Pro. 23.14
parece estar intimamente relacionada à Sabedoria de Amenemope, enquanto o resto
dessa seção não mostra tal relação, o que pode indicar outra divisão natural.
Na quinta seção, talvez se deva perceber uma diferença entre os caps. 25—27
(principalmente preceitos e símiles) e os caps. 28 e 29 (principalmente
declarações gnômicas, como em Pro. 10.1—22.16). Quase todas as declarações
dísticas do livro de Provérbios encontram-se na segunda seção e em Pro. 28 e
29. Novamente, Scott subdividiu a sexta seção em um “diálogo com um cético”
(presumivelmente Agur; Pro.
39.1-9) e “provérbios
numéricos e de advertência” (30.10-33), ao passo que Murphy divide essa seção
após o vs. 14.
XI. Teologia do Livro
Embora alguns
estudiosos considerem o livro de Provérbios uma obra que ensina uma sabedoria
secular e prática, um exame mais cuidadoso de seu conteúdo revela que este
livro é extremamente teológico. Assim, é ali salientada a soberania de Deus
(Pro. 16.4,9 19.21; 22.2). A onisciência de Deus é claramente referida (15.3,11
21.2). Deus é
apresentado como o Criador de tudo (14.31; 17.5 20.12). Deus governa a ordem
moral do universo (10.27,29; 12.2). As ações dos homens são aquilatadas por
Deus (15.11; 16.2; 17.3; 20.27). Até mesmo neste nosso lado da existência a
virtude é recompensada (11.4; 12.11; 14.23; 17.13; 22,4). O juízo moral é mais
importante ainda do que a prudência (17.23).
O povo hebreu não
dispunha de um termo genérico para a ideia de “religião”. Não obstante, o livro
de Provérbios demonstra esta ideia por intermédio da expressão “o temor do
Senhor” (Pro. 1.7; 9.10; 15.33; 16.6; 22.4), como também por meio daquela outra
expressão que se acha nos livros dos profetas “o conhecimento de Deus” (ver,
por exemplo, Isa. 11.2; 53.11; Osé. 4.1; 6.6). Essas duas ideias aparecem como
um paralelo sinônimo, em Pro. 2.5 e 9.10.
Interessante é
observar que o livro de Provérbios ignora quase completamente o templo de
Jerusalém e o culto religioso ali efetuado (o que serve de fortíssimo argumento
contra uma autoria posterior do livro), excetuando algumas alusões bastante
indiretas (Pro. 3.9,10). De fato, trechos de Provérbios, como 16.6 e 21.3, até
parecem negar a necessidade dos sacrifícios levíticos (mas cf. 15.8 e 21.27). O
que se destaca no livro de Provérbios é o caráter vital da verdade (28.4 e
29.18). Citamos a última dessas referências: “Não havendo profecia o povo se
corrompe; mas o que guarda a lei esse é feliz”.
Embora o vocábulo
“aliança” só ocorra em Provérbios por uma única vez (ver 2.16,17), não há que
duvidar que esse conceito se faz presente no livro. A confiança, base de todo
relacionamento de pacto, é um sine qua non (Pro. 3.5,7; cf. 22.19; 29.25). Deus
é mencionado, na maioria das vezes, por Seu nome do pacto, isto é, Yahweh (nada
menos de oitenta e sete vezes). Também é evidente a relação entre pai e filho,
que tanto caracteriza a ideia de aliança (cf. Osé. 11.1), conforme se vê em
Pro. 3.12. “Porque o Senhor repreende a quem ama, assim como o pai ao filho a
quem quer bem”.
Um ponto que não pode
ser esquecido, neste nosso estudo, foi a marca deixada pelo livro de Provérbios
e seus conceitos no Novo Testamento. Isso se faz sentir por meio de várias
citações e alusões, conforme se vê nas duas listas abaixo, que servem apenas de
exemplos:
3.34 - 4.26 - 10.12 -
25.21,22 - 26.11 - Tia. 4.6; I Ped. 5.5b Heb. 12.13a Tia. 5.20 Rom. 12.20 II
Ped. 2.22
A. Citações
3.7ª 3.11,12 - Rom.
7.16 Heb. 12.5,6
B. Alusões
2.4 - Col. 2.3 3.1-4
- Luc. 2.52 12.7 - Mat. 7.24,27
Se considerarmos que
o livro de Provérbios é um extenso comentário sobre a lei do amor, então é
certo que este livro canônico tem ajudado a pavimentar o caminho para Aquele
que era tanto o Amor quanto a Sabedoria encarnados, o Senhor Jesus Cristo.
Se perguntássemos por
que motivo a última seção deste livro termina com um hino de elogio à mulher
virtuosa (Pro. 31.10-31), a resposta seria que a esposa de nobre caráter forma
um arcabouço literário juntamente com os discursos de introdução ao livro, nos
quais a Sabedoria é personificada como uma mulher. Na vida diária nenhum
paralelo mais feliz poderia ser encontrado como a personificação da sabedoria
do que a de uma esposa de bom caráter. Por conseguinte, o livro de Provérbios
começa e se encerra com chave de ouro.
XII. Bibliografia
A principal fonte de
informações sobre o livro dos Provérbios foi The Zondervan Pictorial
Encyclopedia of the Bible, designada Z nas referências bibliográficas. Agradeço
a gentil permissão dada pela Zondervan Publishing House, Grand Rapids,
Michigan, EUA, pelo uso da obra. Ver também ALB AM E IIB Kl ND WBC WES YO.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2529-2535.
Deus está presente,
não importa se o invocamos ou não. Assim dizia a placa na porta de Jung em
Zurique, e isso é um comentário extraordinário acerca do seu estudo e serviço à
humanidade. Algumas coisas simplesmente são assim; os arquétipos reaparecem; a
cura é possível. A citação também nos dá uma pista para a compreensão do livro
de Provérbios.
O Antigo Testamento
hebraico é dividido em três seções — a Lei, os Profetas e os Escritos,
correspondentes aos três tipos de líderes: o sacerdote, o profeta e o sábio (Jr
18.18). Mesmo o leitor casual sente que os Escritos são bem diferentes das
outras duas seções. Há história em Crônicas, Esdras-Neemias e Ester, mas não é
exatamente como a história de Êxodo ou dos dois livros de Reis. Os salmos
abrangem todo o AT, transmitindo forma cultual, experiência pessoal, história,
pompa e sabedoria. Há também Jó, Provérbios e Eclesiastes. Eclesiastes é um
livro breve e incomoda o leitor somente depois de estudo detalhado e muita
reflexão. Mas há muito em Provérbios, e quanto mais se convive com esse livro,
mais a “diferença” se destaca na mente e se torna quase tangível. Uma pista
surpreendente é o uso das palavras “santo”, “santidade”, que ocorrem somente
três vezes (v. comentário de 20.25; 30.3). Crônicas, Esdras e Neemias contêm muitas
referências à santidade — na maioria das vezes em conexão com o lugar santo, ou
com o povo santo, mas “santo” com referência ao Deus que é transcendente,
glorioso e zeloso. Ester, de forma estranha e peculiar, não menciona Deus nem a
santidade, embora Deus esteja presente numa dialética mais sutil do que Marx
seria capaz de imaginar. Jó segue o seu tema com menções ocasionais de Deus e
da santidade junto com sua preocupação com a angst (medo) e o sofrimento
humanos.
Eclesiastes é mordaz
e provocativo, um apêndice para Jó. Mas Provérbios aparentemente é muito
piedoso, devoto e sensato.
S ó lentamente se
torna claro por que o editor tem tão pouco interesse na exclamação dos
serafins: “Santo, santo, santo”; “adorai o Senhor na beleza da sua santidade”;
ou até (quando olhamos mais de perto) em qualquer tipo de adoração (v.
comentário de 2.8).
Provérbios trata da
vida e de como vive-la de forma sensata. O mundo foi feito pela sabedoria (cap.
8), e as pessoas que seguem a sabedoria vão descobrir que o mundo combina com
elas e estimula os seus esforços. A sabedoria é o arquiteto de Deus (8.30), de forma
que o temor do Senhor é o primeiro passo para a sabedoria (9.10), o fundamento e
a origem de todo o conhecimento (1.7), e a fonte da vida (14.27). A sabedoria,
aliás, é que redige o manual, o manual de instruções da oficina de Deus. Se os
tolos desprezam a sabedoria, arruínam a sua vida de todas as maneiras trágicas
e diversas descritas em Provérbios.
Os que leem e
praticam, que dão ouvidos ao sábio pai, vão prosperar no final, e em geral já
agora também. E possível que para melhor seguir as instruções do manual seja
útil conhecer o fabricante. Mas as pessoas podem reconhecer a sabedoria sem
reconhecer o Senhor cujo temor é o seu princípio e, certamente, sem uma
experiência pessoal de santidade. A sabedoria não é nacionalista; não se
menciona a reverência e o pavor diante do monte em chamas e quase não há
referências à aliança. E um livro para todas as raças. Reflete o mundo da
perspectiva do pragmático. Os seus provérbios sábios e espirituosos
“funcionam”.
Eles funcionam porque
é assim que Deus estruturou as coisas. Até mesmo se as pessoas não invocam esse
poder criador, a sua sabedoria criativa e sustentadora continua a lhes dar um
mundo em que opera a sabedoria, em que as coisas fazem sentido para o ser
humano. Provérbios é o rascunho da graça comum. Alexander Maclaren o descreveu como
remédio portátil para as febres da juventude, e o que importa com um remédio é
que você o tome, conhecendo o médico ou não. Provérbios reflete os escritos de
sabedoria de muitos povos e nos lembra de forma nobre que todos os homens compartilham
algumas percepções comuns acerca de sua situação, sua “condição humana”.
A sua sabedoria pode
até ser praticada pelas razões erradas — egoísmo, porque a sabedoria “funciona”
— mas como disse William Temple: “A arte da política é arranjar as coisas de
tal forma que os interesses próprios favoreçam o que a justiça exige”.
Os cristãos talvez
queiram seguir Provérbios por motivos mais profundos; ou talvez até considerem
o seu lucro final insignificante. Outros talvez considerem Provérbios muito ligado
a este mundo, com tão poucas referências ao porvir que alguns comentaristas até
negam que elas existam (v. comentário de 11.7). Mas até estes podem ler o livro
com proveito e alegria, ou com um sorriso torcido, com angústia e tristeza, e
desfrutar de muitos ditos sutilmente equilibrados para fazê-los pensar de
maneira profunda acerca do mundo e de seus habitantes tão diversos. Há ligações
concretas com palavras de grande significado no AT — equidade, retidão (v.
comentário de 8.15-21) e justiça, pois essas
são verdades profundas acerca dos verdadeiros alvos e a direção correta do
homem. O lema (1.7; 9.10) também mostra uma firme ligação com o restante das
Escrituras. O temor do Senhor é um conceito difícil de ser compreendido.
Certamente não é terror, nem um pavor diante do divino (v. comentário de 28.14).
E uma percepção reverente da realidade, exatamente o oposto da arrogância e da
insolência. E o reconhecimento de que há um limite para a escolha e as
descobertas humanas. Von Rad o descreve como um “limite à sabedoria empírica;
no limite, submeta- se a Deus”; e McKane comenta que o temor “não é a limitação
do próprio eu, mas a descoberta do eu”. As pessoas que gastam todo o seu tempo
desafiando a cerca não aprendem a desfrutar as bênçãos do campo. As pessoas que
vivem no temor do Senhor descobrem uma ocupação que traz a liberdade perfeita e
uma confiança que lhes concede autonomia. O temor do Senhor guiou as parteiras
israelitas no Egito (Ex 1.21) e serviu de base para a justiça (Ex 18.21), as
leis humanitárias (Lv 19.14,25; 25.17) e a monarquia (ISm 12.14; 2Sm 23.3). Ele
brilha no governante ideal (Is 11.2,3). No N T, esse temor é novamente o
reconhecimento apropriado do homem de quem ele é (Lc 12.4,5; 2Co 7.1; E f
5.21).
Em IPe 2.17, encontramos
a repetição de Pv 14.21, e a ordem “Temam a Deus” faz parte do evangelho eterno
(Ap 14.7). Esse temor pode ser percebido de forma tímida e articulado de
maneira insuficiente; o uso de “temente a Deus” como expressão de compreensão ou
compromisso mais fraco do que “cristão” é um exemplo. Mas, invocado ou não,
Deus está presente, e a sabedoria está em reconhecer isso. Nesse aspecto, o
final do século XX enfrentou uma crise. O senso comum de Provérbios é um
cimento social bom e bem-vindo. Mas uma sociedade que está cada vez menos certa
da existência e da presença de Deus descobre que a base da moralidade e da
comunidade está se esfacelando. Os que apagam as estrelas não têm mais com que
se orientar. Os cristãos podem se alegrar com o fato de que, invocado ou não, Deus
está presente e que há no homem uma mente (v. 4.23) que pode responder.
A fé cristã vai além
de Provérbios? Sim, na medida em que fornece uma motivação mais profunda. O
conselho prudente de Provérbios parece quase interesseiro em comparação com o
amor altruísta espontâneo que se espera do cristão. Cristo traz não somente uma
nova motivação, mas um novo poder para pô-la em prática (Rm 5.1-5). Por tudo isso,
os cristãos precisam de Provérbios se querem ser “astutos como as serpentes e
sem malícia como as pombas” (Mt 10.16), se é que querem andar com sabedoria em
relação aos outros, não como tolos mas como sábios.
Provérbios ainda
descreve o mundo em que vivemos. E um bom manual, até mesmo para os filhos do
Fabricante.
Autoria e data A
atribuição do livro a Salomão (1.1) o reconhece como fonte principal e maior
inspiração da sabedoria e da literatura em Israel. Durante seu reinado, foram
estabelecidos laços fortes com o Egito (lRs 3.1), e havia uma ampla troca de
conhecimento e de ideias entre os sábios (lRs 4.31), como ocorre nas confraternidades
de cientistas nos dias de hoje. Os títulos atribuem alguns grupos de provérbios
especialmente a Salomão (10.1-22; 16 e 25.1—29.17, editado sob a direção de Ezequias).
São citados homens sábios anônimos (22.17—24.22 e 24.23-24). Agur e Lemuel (30.1;
31.1) também são mencionados. Evidentemente foram acrescentados outros ditos
(v. comentário de 30.1). Não podemos determinar exatamente em que estágio
ocorreu a edição final. Está se tornando cada vez mais evidente que a
literatura sapiencial era parte integrante do mundo antigo, e Kidner argumenta
que no caso de Provérbios “todo o seu conteúdo pode ter existido, embora não colecionado
em um livro [...] já durante a vida de Salomão”.
Duas outras coleções
de sabedoria antiga de interesse especial são o Ensino Egípcio de Amenemope e
as Palavras Assírias de Ahikar. O primeiro pode bem ter sido anterior a Salomão;
o segundo dificilmente pode ser datado antes de 700 a.C. Os dois contêm
paralelos próximos, até literais, com os ditos do sábio (22.17ss; v.
comentário) e possíveis alusões em outras passagens. O uso que Provérbios faz
deles, no entanto, sugere que o editor sentiu que poderia usar e modificá-los
com grande liberdade, ou até que tinham sido absorvidos nas versões hebraicas
da sabedoria comum do Oriente Médio e usados desde então, e não copiados
servilmente de outras coleções.
Outros comentaristas
argumentam que houve revisões que fizeram um alinhamento crescente da sabedoria
de muitas fontes (predominantemente seculares) com a teologia israelita, e
assim consideram referências a “ Senhor ” revisões posteriores. Mas embora possam
ter havido revisões secundárias e alguns rearranjos, não há razão para
duvidarmos do fato de que em Israel a tradição sapiencial se desenvolveu e
cresceu no contexto de Deus, o Senhor que criou todas as coisas, que conduz a
história e cujos olhos estão em todo lugar, cuidando dos maus e dos bons.
Texto e estilo
O leitor talvez fique
preocupado com a quantidade de notas de rodapé (notas no comentário) e talvez
tema que, se foram necessárias tantas emendas textuais nas notas de rodapé da
NVI, o texto esteja num estado deplorável. Sempre há grandes dificuldades de
tradução relacionadas à tentativa de fazer a ponte entre séculos e de tentar
fazer isso entre culturas diferentes. No caso de epigramas, isso é ainda mais
difícil. Basta pensar em ditos comuns como “Deus ajuda quem cedo madruga”. A
força dessas expressões está na sua brevidade. Mas, em virtude dessa brevidade,
muitas coisas estão implícitas. A maior parte de Provérbios consiste em
parelhas de versos, metricamente equilibradas, com três ou quatro palavras
hebraicas cada um. A ordem nem sempre é importante, e às vezes o verbo é
omitido (v. comentário de 10.6; 27.19 p. ex.). Acrescente-se a isso o fato de que
muitas palavras são incomuns, talvez usadas num trocadilho, o que torna a
tarefa do tradutor realmente difícil. Não é de admirar que ele recorra a
pequenas alterações aqui e acolá que parecem tornar o provérbio mais equilibrado,
com sentido mais compreensível (v., e.g., comentário de 12.12). A NVI — e mais
ainda a N TLH — tomou a liberdade de modificar não somente as vogais, mas com frequência
também as consoantes, especialmente se alguma das versões (traduções gregas antigas
etc.) apoia a alteração. A VA tentou ficar com o texto hebraico sempre que
possível.
Neste comentário, as
dificuldades do texto são registradas, e sempre que a NIV ou a NEB (as versões
em inglês) recorreram muito rapidamente a uma versão ou emenda, chamamos a atenção
para outras possibilidades. O estilo é métrico e epigramático. Em algumas ocorrências,
a JB (em inglês) capta isso muito bem (12.23; 16.1; 21.4), mas não consegue manter
esse padrão em todo o livro. A NIV em inglês e, de forma semelhante, a NVI em português
primam pela suavidade e inteligibilidade do texto, o que transmite bem a
antítese ou o paralelismo. Uma distinção principal de estilo literário pode ser
vista no tipo de uso verbal. A chamada “literatura de frases” usa os verbos no
indicativo, para afirmar os dois lados de qualquer ideia: “A resposta calma
desvia a fúria, mas a palavra ríspida desperta a ira”. É assim que funciona. Pense
a respeito disso. A “literatura de instrução”, por contraste, usa os verbos no
imperativo: “Não explore os pobres por serem pobres, nem oprima os necessitados
no tribunal”. A distinção pode ser vista claramente no cap. 22 em que o estilo
muda no v. 16. A literatura de instrução é desenvolvida nos primeiros nove
capítulos para dar conselhos detalhados e exortação na forma de um simples imperativo,
seguido de uma afirmação explicando a razão da instrução (v. comentário de
22.17).
McKane identifica
três tipos na literatura de frases: ditados relativos à educação do indivíduo para
uma vida harmoniosa e bem sucedida; ditados relativos à comunidade e o efeito
sobre ela do mau e do bom comportamento por parte dos indivíduos; ditados
relativos a Deus, o “moralismo que deriva da piedade já vista”.
A classificação, no
entanto, é de interesse principalmente acadêmico, e este comentário não tenta
analisar os ditados segundo o seu tipo ou tópico. O livro de Provérbios é uma colcha
de retalhos. Como disse um homem que começou a ler um dicionário:
“Interessante, esse livro fica mudando de assunto o tempo todo”. E exatamente
essa mudança que torna Provérbios uma leitura tão prazerosa e agradável.
Repetidamente, de todos os pontos de vista possíveis, em todas as situações possíveis,
os princípios básicos de vida vêm em nossa direção; isso ocorre de maneira incisiva,
triste, secreta, humorística, direta, sugestiva; os provérbios são “amigos que com
muito tato me convencem de quem eu realmente sou”. O livro não foi escrito para
ser lido numa sentada, como se devêssemos entender a sua trama. Deve ser
desfrutado em pequenas doses; deve ser lido e refletido, saboreado na mente;
deve nos deixar intrigados até que captemos o seu sentido; deve ser lembrado
como uma sacudida na consciência ou um tempero na conversa.
CHARLES
G. MARTIN. Comentário Bíblico NVI.
Editora Vida. Livro de Provérbios. pag. 905-908.
INTRODUÇÃO
O livro de Provérbios
é uma antologia inspirada de sabedoria hebraica. Esta sabedoria, no entanto,
não é meramente intelectual ou secular. E principalmente a aplicação dos
princípios da fé revelada às tarefas da vida diária. Nos Salmos temos o hinário
dos hebreus; em Provérbios temos o seu manual para a justiça diária. Neste
último encontramos orientações práticas e éticas para a religião pura e sem
mácula. Jones e Walls dizem: “Os provérbios nesse livro não são tanto ditos
populares como a essência da sabedoria de mestres que conheciam a lei de Deus e
estavam aplicando os seus princípios à vida na sua totalidade [...] São
palavras de recomendação ao homem que está na jornada e que busca trilhar o
caminho da santidade”.1
A. Autoria e Data
A tradição hebraica
atribuiu o livro de Provérbios a Salomão assim como atribuiu o de Salmos a
Davi. Israel considerava o rei Salomão o seu sábio por excelência. E há
justificativas suficientes para esse reconhecimento. O reinado de quarenta anos
de Salomão em Israel foi realmente brilhante. E evidente que esses anos não
deixaram de ter os seus defeitos. Os muitos casamentos de Salomão não contam
pontos a favor dele (1 Rs 11.1-9). Na parte final do seu reinado ele preparou o
cenário para a dissolução do seu grande império (1 Rs 12.10). Não obstante, ele
realizou um ótimo reinado durante os anos dourados de prosperidade e poder de
Israel. A arqueologia é testemunha das suas habilidades na arquitetura e
engenharia, da sua competência na administração e da sua capacidade como
industrialista.
O historiador sacro
de 1 Reis nos conta que Salomão amou o Senhor (3.3); ele orou pedindo a Deus um
coração compreensivo (3.3-14); ele mostrou possuir sabedoria em questões
práticas da administração (3.16-28); a sua sabedoria foi concedida por Deus
(4.29); ele era conhecido por sua sabedoria superior entre as nações vizinhas
(4.29-34); ele escreveu 3.000 provérbios e mais de mil hinos (4.32); e foi
capaz de responder às perguntas mais difíceis da rainha de Sabá (10.1-10).
No entanto, assim
como nem todos os salmos foram escritos por Davi, nem todo o livro de
Provérbios foi obra de Salomão. Uma parte do livro é designada como “palavras
dos sábios” (22.17—24.34). Os últimos dois capítulos do livro contêm as
palavras de Agur, o filho de Jaque (30.1-33), e de Lemuel, filho de Massá
(31.1-9). O belo poema acróstico acerca da mulher e mãe perfeita (31.10-31) foi
escrito por um autor desconhecido. A erudição conservadora aceita a autoria
salomônica da maior parte do livro de Provérbios e a sua inclusão como um todo
no cânon do Antigo Testamento.
A erudição crítica,
no entanto, tende a rejeitar a atribuição tradicional da maior parte do livro
de Provérbios a Salomão. W. O. E. Oesterley diz: “Amaioria dos críticos
modernos rejeita totalmente a tradição de que Salomão tenha escrito uma série
de provérbios”.3 S. H. Blank comenta: “Não é necessário levar a sério a
atribuição de Provérbios a Salomão em 1.1; 10.1; 25.1 [...] O livro canônico de
Provérbios de Salomão não necessita de mais pretensão de autoria de Salomão do
que o livro apócrifo de Sabedoria de Salomão”.4 Mesmo assim, esse mesmo autor
reconhece a tendência crescente de se aceitar a validade da tradição judaica.
Ele diz: “Não se pode negar a possibilidade, e a opinião da erudição recente se
inclina a aceitar o ponto de vista de que Salomão ao menos cultivava a arte
proverbial e foi responsável pelo cerne do livro que lhe é atribuído”.
Embora grande parte
do livro de Provérbios tenha sua origem na época de Salomão, no décimo século
a.C., a conclusão da obra não pode ser datada antes de 700 a.C.,
aproximadamente duzentos e cinquenta anos após o seu reinado. Uma seção
(25.1—29.27) contém a coleção de provérbios que os escribas de Ezequias
copiaram de obras anteriores de Salomão. Alguns estudiosos datam a edição final
de Provérbios ainda mais tarde, mas antes do período de conclusão do Antigo
Testamento — 400 a.C. Outros ainda chegam a datar a edição final no período
intertestamental. Uma referência ao livro de Provérbios no livro apócrifo de
“Eclesiástico” (“A Sabedoria de Jesus Ben Sirach”), escrito em torno de 180
a.C., indica que nessa época Provérbios era amplamente aceito como parte da
tradição religiosa e literária de Israel.
B. Definição e Forma
literária
A palavra “provérbio”
em nossos dias significa um ditado breve e incisivo, expressando uma observação
verdadeira e conhecida concernente à experiência humana — por exemplo: “Deus
ajuda quem cedo madruga”. Há diversas coletâneas de provérbios modernos
publicadas nas mais diversas línguas e culturas. Para o antigo hebreu, no
entanto, a palavra “provérbio” (mashal) tinha um significado muito mais amplo.
Era usada não somente para expressar uma máxima, mas para interpretar um ensino
ético da fé do povo de Israel. A palavra vem do verbo que significa “ser como”
ou “comparar”. Por isso, no livro de Provérbios encontramos uma série de
símiles, contrastes e paralelismos. O paralelismo de duas linhas é a forma
predominante encontrada em Provérbios. Dentro dos limites desse modo de expressão
há uma variedade extraordinária. Existe o paralelismo antitético (10.1), o
paralelismo sinônimo (22.1) e o paralelismo progressivo, ou sintético (11.22).
Encontramos o paralelismo também em outras partes das Escrituras do Antigo
Testamento, especialmente em Salmos.
Em algumas partes do
Antigo Testamento o mashal tem ainda usos mais amplos. Em Juizes é usado para
descrever uma fábula (9.7-21) e como designação de um enigma (14.12). Em 2
Samuel 12.1-6 e Ezequiel 17.2-10 refere-se a uma parábola ou alegoria. Em
Jeremias 24.9 identifica um provérbio. Em Isaías caracteriza um insulto (14.4)
e em Miquéias um lamento (2.4).
O livro de Provérbios
é escrito e estruturado em forma poética, sendo que os ditos aparecem
geralmente em parelhas de versos (dísticos). Muitas versões e traduções
modernas seguem o padrão poético do original hebraico. Não é difícil perceber a
estrutura das partes principais do livro (veja esboço). No entanto, o conteúdo
em cada uma dessas partes muitas vezes resiste a um arranjo bem-organizado. Em
muitos casos não há conexão lógica entre um provérbio e os adjacentes.
C. Provérbios e o
Restante da Literatura Sapiencial
A literatura
sapiencial do Antigo Testamento inclui o livro de Jó, Eclesiastes e Cântico dos
Cânticos, além de Provérbios. Não se pode negar que essa sabedoria hebreia teve
seus antecedentes em culturas mais antigas e seus paralelos com nações
vizinhas. Israel estava situado na “encruzilhada cultural do Crescente Fértil”.
Salomão e Ezequias e os sábios da sua época estavam sintonizados com a sua
época e sem dúvida estavam em contato com a literatura existente nos seus dias.
A arqueologia nos deu
uma série de coleções do antigo Egito e da Mesopotâmia. Duas dessas são
particularmente significativas: “As palavras de Ahiqar” e “A instrução de
Amen-em-opet [Amenemope]”. Em virtude da semelhança de ideias e estrutura entre
esses escritos e o livro de Provérbios, eruditos críticos tendem a defender a
opinião de que houve dependência direta ou indireta dos hebreus dessa
literatura sapiencial. Esses estudiosos chamam atenção especial para as
semelhanças entre Provérbios 22.17—23.14 e “A instrução de Amen-em-opet
[Amenemope]”. Fritsch nos lembra, no entanto, que “não podemos negligenciar a
possibilidade de que Provérbios 22.17—23.14 já existisse como unidade de texto
muito antes de sua incorporação nesse livro, e que na verdade esse texto
pudesse ter influenciado o escriba egípcio”.
A erudição bíblica
conservadora rejeita a ideia de que os autores hebreus tenham dependido da
literatura egípcia com base no fato de que há contrastes como também
semelhanças e certamente grandes diferenças teológicas. Kitchen diz: “A
discordância completa em relação à ordem dos tópicos e as claras diferenças
teológicas entre Provérbios 22.1—24.22 e Amenemope impedem cópia direta em
qualquer direção”.9 Edward J. Young crê que o politeísmo de Amenemope teria
causado repulsa ao hebreu monoteísta e teria assim impedido a dependência da
literatura egípcia por parte do autor hebreu.
D. Mensagem Relevante
A mensagem do livro
de Provérbios é sempre relevante. Os seus ensinos “cobrem todo o horizonte dos
interesses práticos do cotidiano, tocando em cada faceta da existência humana.
O homem é ensinado a ser honesto, diligente, autoconfiante, bom vizinho,
cidadão ideal e modelo de marido e pai. Acima de tudo, o sábio deve andar de
forma reta e justa diante do Senhor”.
A sabedoria de
Provérbios coloca Deus no centro da vida do homem. A sabedoria, expressa por
Salomão no Antigo Testamento, teria a sua revelação mais plena em Jesus Cristo
nos dias da nova aliança. Disse Jesus: “A Rainha do Sul se levantará no Dia do
Juízo com esta geração e a condenará, porque veio dos confins da terra para
ouvir a sabedoria de Salomão. E eis que está aqui quem é mais do que Salomão”
(Mt 12.42; Lc 11.31). Paulo falou de Cristo como a “sabedoria de Deus” (1 Co
1.24; Cl 2.3). Kidner diz que no livro de Provérbios a sabedoria “é centrada em
Deus, e mesmo quando é extremamente real e relacionada ao dia-a-dia consiste da
maneira inteligente e sadia de conduzir a vida no mundo de Deus, em submissão à
sua vontade”. Sabedoria é encontrar a graça de Deus e viver diariamente em
harmonia com os propósitos salvadores que Ele tem para nós.
EARL
C. WOLF. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 3. pag. 355-357.
2. O livro de Eclesiastes.
INTRODUÇÃO
Esboço:
I. Caracterização
Geral
II. Autor
III. Integridade
IV. Inspiração
Histórica da Obra
V. Data
VI. Canonicidade
VII. Uso e Atitudes
Cristãs
VIII. Conteúdo
IX. Bibliografia
I. Caracterização Geral
Este livro representa
um tipo pessimista de literatura de sabedoria oriental, que mistura declarações
otimistas que sugerem que um segundo autor pudesse ter estado envolvido, ou que
um compilador posterior misturou os sentimentos expressos por dois autores
diferentes. O titulo, no hebraico Qoheleth, que significa Pregador ou Orador da
Assembléia, foi traduzido por ecclesiastes, no grego (Septuaginta), de onde
também deriva o título em português. À base do vocábulo hebraico temos o
substantivo kahal, “assembleia”. Presumivelmente, foi o próprio Salomão quem
convocou a assembleia para entregar seus discursos de grande sabedoria. Este
livro contém uma coleção um tanto frouxa de material, sendo difícil estabelecer
um estrito esboço do seu conteúdo. O trecho de Ecl. 9.17 - 10.20 poderia ser
incluído no livro de Provérbios. Algumas porções apresentam o autor refletindo
sobre suas próprias experiências ou admoestando outras pessoas, em vez de
dirigir um discurso formal a algum tipo de assembleia. A integridade do livro é
difícil de ser defendida. Quanto a peças literárias, este vocábulo aponta para
o conceito de que o livro foi produzido essencialmente por um único autor, e
que existe até hoje conforme foi originalmente escrito. Ver sob esse título.
II. Autor
Precisamos lembrar
que, nos tempos antigos, atribuir um livro a um autor famoso era considerado
uma honra prestada a esse autor, especialmente se algumas de suas ideias
estivessem sendo perpetuadas. Porém, muitas obras antigas eram atribuídas a
pessoas bem conhecidas com o propósito próprio de promover certas ideias ou
filosofias e com a esperança de que o nome vinculado ao livro ajudasse em sua
distribuição. Os antigos simplesmente não pensavam como nós, no que concerne a
essas práticas. Portanto, a afirmação de que certa pessoa é declarada autora de
um antigo livro não garante que assim realmente tenha sucedido. Um exemplo
notório dessa atividade aparece nos livros chamados pseudepígrafos (ver a
respeito no Dicionário), uma coleção que tem vários nomes de profetas do Antigo
Testamento ou líderes espirituais, como se eles fossem seus autores, embora a
realidade tivesse sido outra. É significativo que os Manuscritos do Mar Morto
incluam partes de vários destes livros, mostrando que as pessoas, bem ao lado
da entrada de Jerusalém, consideravam-nos escritos sagrados. Não nos deveria
surpreender, portanto, que alguns poucos dos livros canônicos da Bíblia, no
Antigo e no Novo Testamento, tenham a eles nomes vinculados como autores,
embora a realidade fosse outra.
O trecho de
Eclesiastes 1.1 atribui o livro a Salomão. Mas Lutero negava a veracidade dessa
afirmativa. De modo geral os eruditos liberais concordam com a avaliação de
Lutero, e é seguro dizer que muitos intérpretes conservadores também o fazem.
Unger afirma que poucos estudiosos conservadores de nossos dias continuam
defendendo a tese de que Salomão foi o autor do livro.
Em favor de Salomão
como autor do livro, temos a considerar os pontos seguintes:
1. Eclesiastes 1.1
atribui o livro a Salomão e 1.12,13 quase certamente também o faz.
2. A sabedoria da
Salomão é refletida em vários textos, com declarações que mostram Salomão a
falar. Ver Ecl. 1.16; 2.3-6 e 2.7,8.
3. O trecho de Ecl.
9.17—10.20 contém muitos provérbios, o que sugere que o autor do livro de
Provérbios (Salomão) também foi o autor de Eclesiastes.
4. O caráter ímpar da
linguagem e do estilo do livro parecem separá-lo das obras do período
pós-exílico, conforme alguns acreditam ser sua data. Isso poderia ser explicado
como o desenvolvimento, por parte de Salomão, de uma espécie de gênero de
linguagem e expressão literária. Há alguma similaridade com os escritos
cananeus e fenícios antigos, o que sugere que Salomão poderia ter tirado
proveito dessa literatura, com adaptações próprias. M. J. Dahood, em seu artigo
“Influência Cananeu-Fenícia no QoheletH’, Biblica, 33,1952, defende essa
comparação. Ele examinou inscrições e escritos que datam do século XIV A.C., os
tabletes de Ugarite, o Corpus Inscriptionum Semiticarum e inscrições fenícias e
púnicas. Tentou defender sua teoria com base em fatores como a ortografia
fenícia, a inflexão dos pronomes e das partículas, a sintaxe e empréstimos
léxicos, termos especiais referentes a itens comerciais e um vocabulário
comercial. Os trechos de I Reis 9.26-28 e 10.28,29 mostram que Salomão pode ter
tido contato com a língua fenícia, tendo usado termos e expressões comerciais e
estilos literários empregados pelos fenícios.
Contra Salomão como
autor do livro, têm sido sugeridos os seguintes argumentos:
1. Coisa alguma é
mais clara, nos documentos antigos, do que o fato de que as declarações que
afirmam autoria com frequência são espúrias.
2. O autor sagrado
pode ter sido um admirador de Salomão e de sua sabedoria, pelo que incluiu
referências pessoais a ele, bem como circunstâncias de sua vida, embora esse
autor não fosse o próprio Salomão. O que nos admira é que não existam ainda
mais livros atribuídos a Salomão. O livro apócrifo, Sabedoria de Salomão, é
outro exemplo do nome desse monarca judeu sendo usado para dar prestígio a um
livro.
3. Um autor posterior
poderia ter imitado os Provérbios de Salomão, tendo incluído no livro (Ecl.
9.17—10.20) uma breve compilação, chegando a tomar por empréstimo certos
pensamentos, sem que ele mesmo fosse Salomão.
4. Os argumentos de
natureza linguística poderiam provar uma data antiga para o livro de
Eclesiastes, mas também demonstrariam que o autor dificilmente poderia ter sido
o mesmo autor do livro de Provérbios. Ademais, um autor antigo, que tivesse
escrito em um estilo bastante distinto, poderia ter tomado por empréstimo
alguns elementos fenícios, sem que tivesse alguma conexão pessoal com Salomão.
De fato, a verdadeira natureza distintiva deste livro parece militar mais
contra Salomão, como seu autor, do que em favor dele, a menos que suponhamos que
ele conseguisse escrever de duas maneiras inteiramente diferentes, quando
passava de um livro para outro, algo que sabemos ser contrário ao que
conhecemos a respeito dos autores e seus livros. A linguagem e o estilo
literário são as impressões digitais dos autores, o que não se modifica
facilmente de um livro para outro senão à custa dos mais ingentes esforços.
Exemplos históricos disso são dificílimos de achar.
5. Certas ideias são
contrárias à afirmação de que Salomão escreveu o livro de Eclesiastes. Alguns
eruditos simplesmente não podem entender como um homem com a sabedoria de
Salomão, com uma postura judaica ortodoxa, poderia ter escrito um livro tão
pessimista quanto Eclesiastes. Paralelos egípcios e babilônios demonstram que
tal livro poderia ter sido escrito na época de Salomão, mas é inteiramente
possível que aquilo que achamos neste livro sejam invasões do pensamento
helenista cético.
De fato, o propósito
central do livro de Eclesiastes foi demonstrar que TUDO É VAIDADE ou
inutilidade; que não existem valores permanentes, e que um jovem deveria cuidar
para desfrutar o máximo de sua vida (hedonismo!). (Ver Ecl. 1.2; 3.13 ss.; 11.9
-12.8.) Outros- sim,
o jovem que fizer isso terá pairando sobre a sua cabeça o juízo divino, outro
elemento da tese de que tudo é vaidade. "Faze o que bem entenderes; mas
sabe que terás de pagar por isso." Esse é um conselho muito difícil de
seguir. É possível que Salomão, no declínio e apostasia que caracterizaram sua
idade avançada, na verdade, tenha caído nesse tipo de armadilha; e, nesse caso,
isso poderia refletir a autoria de Salomão.
6. Alguns linguistas
detectam no livro de Eclesiastes um hebraico posterior, bastante diferente do
hebraico da época de Salomão e mais próprio dos tempos helenistas.
7. O pregador mostrou
ser muito mais um filósofo e suas atitudes foram bastante similares às atitudes
dos filósofos epicureus gregos, após o período da guerra do Peloponeso (404
A.C.). A atitude negativa dos gregos contra a religião judaica reflete-se em
livros como I Macabeus e o Livro da Sabedoria, e o autor do livro de
Eclesiastes parece ser um reflexo similar. O autor sagrado teria chegado ao
mesmo tipo de conclusões a que chegaram seus vizinhos pagãos. O livro, pois,
representa uma espécie de meio caminho na direção do paganismo, embora com o
desejo de manter a posição da antiga fé. Por esse motivo, a lei continua sendo
um elemento importante, e até mesmo o dever do homem (Ecl. 12.13), mas ela não
conseguiu impedir que o autor sagrado chegasse a conclusões tão pessimistas.
8. Finalmente, há a
questão da canonicidade. Ver a seguir a seção Canonicidade. Os próprios judeus
não sabiam ao certo o que fazer como livro de Eclesiastes. Se eles tinham
certeza de que Salomão era o seu autor, não é provável que tivessem precisado
de tanto tempo para incluí-lo no cânon do Antigo Testamento. A canonicidade do
livro é algo que continuava sendo disputado nas escolas judaicas dos dias de
Jesus Cristo.
Após o exame da
evidências disponíveis, parece que a autoria salomônica repousa mais sobre o
desejo de conservar a tradição do que sobre a consideração dos fatos
envolvidos. As evidências inclinam-se em favor de uma produção helenista, e não
de uma produção que antecede a quase 1000 A.C.
III. Integridade
Alguns eruditos
argumentam em favor de dois autores distintos que teriam estado envolvidos na
escrita do livro de Eclesiastes, em vista de contradições nele encontradas.
Outros estudiosos, porém, supõem que isso possa ser explicado pela atividade de
algum editor. Há tentativas para atribuir ao Koheleth dois, três ou mais
autores; mas as evidências em favor dessa forma de atividade estão longe de ser
convincentes. Por outra parte, é patente que algum editor procurou corrigir a
incredulidade expressa pelo autor. Esse autor tem sido chamado de “o maior
herege da antiga literatura dos hebreus”, e algumas de suas declarações deixam
consternados os eruditos da Bíblia, desde que o livro de Eclesiastes foi
escrito. Para começar, sua filosofia básica de que tudo é vaidade (Ecl. 1.2) é
uma atitude pessimista que não concorda com o pensamento comum dos hebreus. O
seu hedonismo (Ecl. 2.24 ss.; 11.9 - 12.8) dificilmente concorda com a ética
dos hebreus. Uma mesma sorte atinge o sábio e o insensato (Ecl. 2.12-17), de
acordo com ele, o que é contrário à essência da teologia hebreia. Ele chega
mesmo ao extremo de dizer; "Pelo que aborreci a vida... sim, tudo é
vaidade e correr atrás do vento” (Ecl. 2.17). Ele nega qualquer vantagem à
sabedoria e ao conhecimento, pois essas coisas também produzem no homem o desespero
(Ecl. 1.17,18). O sábio morre como o insensato, e ambos acabam no olvido (Ecl.
2.16,17). Ele também nega a imortalidade da alma, pois o destino do homem seria
o mesmo que o destino de um animal irracional (Ecl. 3.18-20). O versículo que
se segue especula que pode haver certa diferença entre um homem e um animal
irracional — o espírito do primeiro subiria (para alguma outra forma de vida),
ao passo que o espírito do segundo desceria, presumivelmente para ser esquecido
— o que aparece sob a forma de uma indagação. O autor demonstra esperança, mas
não exibe muita fé. Contudo, o trecho de Ecl. 12.7 afirma categoricamente que
“o espírito volta a Deus”. A maioria dos eruditos pensa que em tudo isso há a
obra de um editor, ou de um segundo autor, que procurou suavizar o ceticismo do
autor original. Ou o autor originai, ao chegar ao final do livro, apesar do seu
desespero, resolveu deixar a sua sorte nas mãos de Deus e manifestou-se em
favor da imortalidade como um meio de reverter o dilema humano?
Quase todos os estudiosos
acreditam que o trecho de Ecl. 12.9- 14 consiste em adições editoriais. De
fato, o nono versículo foi escrito na terceira pessoa do singular. Ele fala
sobre o pregador como uma pessoa diferente dele mesmo. Outras provas de que
houve um editor ou um segundo autor encontram-se em Ecl. 2.26, onde se faz
clara distinção entre o sábio e o insensato. Ali lê-se que ao homem bom são
conferidos sabedoria, conhecimento e alegria, ao passo que o ímpio é coberto de
vexames. Isso suaviza um tanto a filosofia do livro: “Tudo é vaidade”. O trecho
de Ecl. 3.17 parece ser outra adição, visto que o autor apela para o julgamento
divino como meio de estabelecer diferença entre o homem bom e o homem mau. O
trecho de Ecl. 12.12 provavelmente constitui uma critica ao autor original, por
parte do editor, louvando as declarações do homem sábio, que aparece como um
Pastor (vs. 11), e adverte contra passar daí, o que, como é evidente, ele
pensava que o autor fizera em seu pessimismo. No vs. 14, ele apela novamente
para o juízo divino e indica que este é importante, apesar das declarações
pessimistas do autor, pois seremos julgados de acordo com aquilo que tivermos
praticado. De fato, a passagem de Ecl. 12.9-14 é uma espécie de adição, onde
são acrescidos valores e limitações ao livro, segundo o espírito de ortodoxia.
Se algum editor esteve atarefado nisso, é provável que o tenha feito mediante
declarações mais otimistas e ortodoxas.
Em favor da
integridade do livro, alguns estudiosos pensam que as declarações
contraditórias podem ser explicadas mediante a suposição de que um único autor
ficou divagando em seus pensamentos, defendendo ora uma posição ora outra,
mostrando-se assim autocontraditório, e isto sem se importar em procurar
harmonizar ideias mais pessimistas com ideias mais otimistas. Além disso,
muitos pensam ser estranho que um editor tentasse salvar uma obra herética,
cuja publicação só serviria para prejudicar o judaísmo em sua corrente central.
A primeira dessas sugestões é possível. Eu mesmo falo nesses termos, algumas
vezes. A segunda dessas sugestões constitui uma boa resposta, até onde posso
ver as coisas. Qualquer pessoa que raciocine sobre o livro, apesar de seu
pessimismo, fica impressionada pelo fato de que ele é uma excelente peça
literária. Suas declarações são sucintas e precisas, curiosas, às vezes,
dotadas de penetrante discernimento. Há muitas boas citações, que são
frequentemente ouvidas, extraídas desse livro. Um editor qualquer, fascinado
pela beleza do livro, contentar-se-ia em procurar corrigir alguns pontos
falhos, em vez de descartá-lo inteiramente. Sua excelência como peça literária
é tão inequívoca que aqueles que finalmente fixaram o cânon hebreu (embora
ortodoxo) não puderam deixar de incluí-lo, embora a questão há séculos viesse
sendo debatida entre os judeus.
Minha conclusão a
respeito é que temos apenas um autor principal do Eclesiastes, que um editor
posterior procurou tirar as arestas da obra original, e que o trecho de Ecl.
12.9-14 é sua nota de rodapé, como uma sua conclusão sobre a obra do autor. Mas
exatamente quanto material foi adicionado, é algo que terá de permanecer em
dúvida.
IV. Inspiração Histórica da Obra
Se procurarmos
entender o espírito deste livro, descobriremos que o autor era um filósofo que,
embora judeu, havia sido influenciado pela pessimista filosofia dos gregos,
especialmente da variedade epicuréia. Os epicureus sentiam fortemente a
inutilidade das coisas, objetando às ameaças de deuses imaginários, que
receberiam homens que já teriam vivido de modo miserável, para fazê-los
sentir-se mais miseráveis ainda, com seus múltiplos e horrendos julgamentos.
Eles preferiam o olvido à imortalidade, como maneira de pôr fim a tanto sofrimento, e
reduziam os poderes divinos, a entidades deístas, Se eles realmente existiam,
então não teriam interesse nem pelo homem bom nem pelo homem mau. Devemos
lembrar que nem todos os judeus ofereciam resistência à helenização. Nem todos
os judeus retiveram sua fé ortodoxa em face de inimigos que avançavam
destruindo e dispersando, e assim expunham filosofias que podem ter sido
consideradas uma avaliação mais justa da vida do que a avaliação apresentada
pelo judaísmo, embora essas outras filosofias fossem mais pessimistas. Se o
livro de Eclesiastes foi escrito em torno de 225 A.C., então consiste em uma
espécie de reafirmação daquilo que restou da fé judaica, visando algumas
pessoas, fora da corrente principal do judaísmo, mas que continuavam judias.
Muitos judeus haviam começado a duvidar da doutrina dos galardões divinos em
favor dos piedosos e dos julgamentos divinos contra os iníquos. Eles chegavam a
sentir que, afinal de contas, não há distinções fundamentais entre uns e
outros. Nesta vida, a tragédia desaba sobre uns e sobre outros, igualmente;
agora ambos vivem na inutilidade; e ambos entram no olvido, após a morte
física. Não obstante, o autor sagrado exibe saudável respeito pela lei de Deus.
Ele não se bandeara inteiramente para o pensamento pagão. Ver o quinto capítulo
do livro, do começo ao fim. Esse foi o elemento que o editor enfatizou, em sua
conclusão (Ecl. 12.13,14).
V. Data
Se partirmos do
pressuposto de que os argumentos em favor de Salomão como autor do livro de
Eclesiastes são fortes, então teremos de pensar que a data de sua composição
gira em torno da época de Salomão, cerca de 990 A.C. Impressiona-nos o caráter
ímpar da linguagem usada e suas afinidades com as expressões fenícias, mesmo
que não aceitemos Salomão como o autor do livro. E podemos supor que este livro
seja bastante antigo, se é que sofreu a influência fenícia. Mas, se ficarmos
impressionados pela similaridade de ideias com certas ideias helenistas, então
talvez devamos pensar numa data de composição em torno de 225 A.C. A maneira
como os próprios judeus disputaram sobre o livro, tendo-o incluído no seu cânon
sagrado somente após muita relutância, a despeito de ele próprio reivindicar
haver sido escrito por Salomão, pesa em favor da data posterior.
VI. Canonicidade
Ver no Dicionário o
artigo geral sobre Cânon, do Antigo e do Novo Testamento.
Quando foi definido o
cânon da Bíblia hebraica, por ocasião do concílio de Jamnia, em cerca do ano 90
D.C., muitos judeus opuseram- se ao livro de Eclesiastes, alegando que ele não
era digno de se posicionar entre os Escritos Sagrados. E mesmo mais tarde,
quando o livro já estava fisicamente presente na coletânea sagrada,
supostamente investido de autoridade, muitos rabinos continuaram opondo-se a
ele. Quando um judeu piedoso segurava algum livro sagrado, lavava as mãos em
seguida, em demonstração de respeito. Mas muitos deles, após manusearem o livro
de Eclesiastes, não pensavam que essa providência seria necessária, por não
considerarem o livro uma obra inspirada. Seria apenas uma habilidosa peça
filosófica, e não um dom do Espírito. Ver a Mishinah, Yadaim 3.5. Jerônimo, tão
tarde quanto 389 D.C., conhecia judeus que se sentiam insatisfeitos com a
inclusão do livro de Eclesiastes entre as Escrituras do Antigo Testamento. Não
obstante, o livro tem encontrado um uso devido no seio do judaísmo. O livro de
Eclesiastes é lido no terceiro dia dos Sukkoth (Tabernáculos), a tradicional
festa da colheita entre os hebreus, com o propósito de lembrar aos homens a
natureza transitória desta vida, e como uma advertência contra a cobiça pelas
riquezas e vantagens materiais, além de servir para reiterar o importantíssimo
princípio da necessidade de obedecer à lei de Deus como o maior e mais solene
dos deveres humanos.
VII. Uso e Atitudes Cristãs
Os eruditos liberais
não podem perceber o motivo para tantos debates. O livro volta-se contra certas
crenças ortodoxas. E daí?
Há pontos bons no
texto: o livro exibe bons discernimentos; confere-nos uma melhor compreensão
sobre certos desenvolvimentos do judaísmo... De que mais precisaríamos? E os
conservadores, que têm de defender a idéia da inspiração a qualquer custo, para
todos os livros do cânon, são forçados a acomodar-se ao livro, provendo razões
pelas quais o Espírito Santo teria achado apropriado incluí-lo no cânon. As
respostas quanto a essas questões são similares àquelas que acabo de frisar
acerca do cânon. O livro diz algumas coisas boas sobre a natureza transitória
da vida humana, sobre a vaidade das coisas e atividades terrenas, e contém
alguns versículos que servem de excelentes citações. Mas que dizer sobre a sua
falta de ortodoxia? Até hoje lembro-me de uma noite quando eu estava no
escritório do presidente de uma das escolas teológicas que frequentei, quando
ele fora chamado ao telefone. Alguém telefonara para fazer uma pergunta sobre o
livro de Eclesiastes. Como é que declarações daquela ordem podem ter penetrado
na Bíblia? Ele replicou dizendo que o Espírito deixou que esse livro fizesse
parte da Bíblia a fim de mostrar-nos o que o homem natural pensa e como ele
chega a conclusões negativas, enquanto não recebeu ainda a fé apropriada. Em
outras palavras, o livro, em sua porção não-ortodoxa, serviria como uma espécie
de exemplo ao contrário, mostrando- nos as coisas que devem ser evitadas, que
precisam ser observadas e repelidas. Esse tipo de raciocínio parece atrativo
para a mente ortodoxa. E não digo que é uma posição inútil, embora, de certa,
maneira seja uma resposta superficial.
C. I. Scofield, em
sua Bíblia anotada, diz in loc., afirmando a posição conservadora da melhor
maneira possível; “Este é o livro do homem debaixo do sol, que raciocina sobre
a vida; é o melhor que o homem pode fazer com o conhecimento de que existe um
Deus santo, e que ele levará tudo a juízo. As expressões-chaves são debaixo do
sol, percebi e disse em meu coração. A inspiração mostrou acuradamente o que
sucede, mas a conclusão e o raciocínio, afinal, são do homem. Sua conclusão de
que tudo é vaidade, em face do julgamento, pelo que o homem não deve consagrar
sua vida às coisas terrenas, certamente é verdadeira; mas a conclusão (12.13) é
legal, o melhor a que o homem pode chegar, à parte da redenção, sem antecipar o
evangelho”.
Essa é uma boa
declaração, mas mesmo assim continua sendo curioso que um livro herético
encontrasse caminho até o cânon do Antigo Testamento, por causa de seu estranho
encanto. Não há explicação que possa alterar a estranheza desse acontecimento.
VIII. Conteúdo
A discussão anterior
nos provê a natureza essencial do conteúdo do livro de Eclesiastes. Abaixo
damos um esboço acompanhando ideias bem gerais:
I. A Vaidade de Todas
as Coisas (1.1-3)
II. Demonstração da
Tese Básica da Vaidade (1.4 - 3.22)
1. Todas as coisas na
vida são transitórias (1.4-11)
2. O mal é provado
por seus resultados (1.12-18)
3. Há inutilidade no
lucro, no trabalho e nos prazeres (2.1-26)
4. A morte mostra que
tudo é inútil (3,1-22)
III. Um
Desenvolvimento Mais Detalhado do Tema (4.1 -12.8)
1. As injustiças da
vida mostram a inutilidade das coisas (4.1-16)
2. As riquezas para
nada servem (5.1-20)
3. A brevidade e
futilidade da vida do homem provam a inutilidade das coisas (6.1-12)
4. A inescrutável
providência divina prova a inutilidade das coisas (7.1 -9.18)
5. As desordens e
frustrações da vida ilustram a vaidade (10.1-20)
6. Jovens e idosos
demonstram a inutilidade das coisas (11.1 -12.8)
IV. Conclusão
(12.9-14)
O dever inteiro do
homem: guardar a lei na esperança de receber um bom julgamento divino.
IX. Bibliografia
AM G IIB KOH SCO UN Z
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2702-2704.
ECLESIASTES
O significado do livro
E provável que o
maior problema com que nos defrontamos na leitura de Eclesiastes seja a dúvida
de como devemos ler esse livro.
Devemos compreendê-lo
literalmente, ou devemos interpretar algumas partes como irônicas ou
sarcásticas? Será que o autor está defendendo o ponto de vista ortodoxo ou está
questionando-o? Ele crê em tudo que diz ou está levantando argumentos
hipotéticos e depois apresentando respostas? Será que as contradições aparentes
revelam uma incoerência real ou podem ser explicadas como parte do argumento do
autor? Existe somente um narrador no livro ou temos aí um diálogo entre um
cínico, sábio aos olhos do mundo, e um crente piedoso? As possibilidades são
muitas, um fato que se reflete na variedade de interpretações oferecidas em cada
época, desde a antiga até a moderna. O ponto essencial a ser levado em
consideração ao lermos Eclesiastes é que o livro faz parte do gênero literário
conhecido como Sabedoria Hebraica. O autor não é um profeta que fala da
perspectiva da revelação divina, mas um dos “sábios” que fundamenta seu ensino
naquilo que observa e experimenta.
Ele não exige
obediência, proclamando: “Assim diz o Senhor”, mas tenta ensinar e persuadir
apelando para a compreensão dos seus ouvintes.
Como em grande parte
da literatura sapiencial, pode não haver nada de particularmente religioso nas
afirmações do autor (cf., p. ex., a praticidade irreligiosa, realista, dos ditados
colecionados em Provérbios). Estaremos brigando com as intenções do sábio se lermos
o livro como se fosse uma coletânea de reflexões piedosas acerca do valor
eterno da vida “espiritual” em contraste com a transitoriedade dos desejos
terrenos. O nosso autor não tem o propósito de confortar o coração dos fiéis ao
lhes assegurar que, apesar da evidente futilidade da vida, tudo está bem se a
pessoa crê em Deus. Antes, ele encara as anomalias da vida e tenta encontrar
algum significado na existência; depois, com base nos seus argumentos e
raciocínios, oferece conselho a seus ouvintes.
O autor não é um
místico, mas um realista de senso prático. Ele não tem tempo para conversa
hipócrita. Se pudermos fazer uma comparação com Jó, ele não está alinhado com os
ortodoxos cujas trivialidades e chavões bem ensaiados resolvem todos os
problemas, mas com Jó, cujas experiências o levam a buscar respostas
diferentes.
A despeito de toda
sua orientação terrena e de seu ceticismo, o autor de Eclesiastes não é de
forma alguma um ateu, nem mesmo um humanista. Aliás, é a sua fé em Deus que lhe
fornece sua interpretação da vida. Entendemos que essa interpretação é, em
resumo, a seguinte.
Qualquer “saldo
positivo” aparente na vida está descartado em virtude da certeza absoluta da
morte (2.14,18; 5.16; 6.1-6). Parece que o homem é vítima do destino
inexorável. Mas será mesmo? O autor não enxerga isso em termos demasiado
impessoais ou pessimistas?
Para ele, Deus é o
que controla a vida e a morte; tudo é determinado de acordo com os seus
propósitos (3.14; 8.15). E verdade, esses propósitos talvez sejam
incompreensíveis (3.11; 11.5), mas isso não é motivo para desespero. O
significado da vida pode até estar escondido do homem, mas o autor, apesar de seus
momentos ocasionais de frustração, nunca duvida realmente de que esse
significado exista de fato (3.11; 8.16,17; 9.1). A tarefa do homem não é ir à procura
do que Deus reservou para si mesmo, mas desfrutar do que Deus deu ao homem, ou
seja, a vida (3.12,13; 5.18ss). Por isso, que o homem não encare a vida com
pavor, mas com alegria. Que ele encontre prazer no mundo que Deus criou para
ele e todas as suas atividades nesse mundo (2.24; 9.7ss); não, no entanto, no
sentido de que se abandone à busca do prazer em si sem consideração por valores
mais elevados, mas no sentido de que aceite a vida, tanto com os seus aspectos
positivos quanto com os seus aspectos negativos, como um presente de Deus, o
Criador (11.8—12.1). E necessário que haja moderação e autodisciplina (7.14-18),
mas a atitude fundamental da pessoa deve ser positiva. O que o autor está
recomendando é o desfrutar intenso, e não a resignação passiva; pois, uma vez
que a pessoa se declarou a favor de Deus, precisa fazer juízos acerca das
questões que o confrontam no mundo de Deus. Que então ele escolha a sabedoria,
e não a loucura; a justiça, e não a maldade; a vida, e não a morte (7.12; 8.8;
9.4).
Essas prescrições
positivas são contrabalançadas, no entanto, por algumas observações solenes
acerca das realidades do mundo comum à nossa volta. A insistência do autor no
desfrutar apropriado da vida está fundamentada no aspecto de que a vida é curta
e que foi dada por Deus como presente, e não porque os que fazem o bem são
sempre recompensados e os que fazem o mal são sempre castigados. Ele sabe que
isso não é verdade (8.14). Mas mesmo que ele não consiga entender o agir de
Deus, mais uma vez não o rejeita. Ele não consegue explicar como homens
injustos têm permissão para prosperar, mas não perde a sua fé em Deus. Ele não
afirma ter encontrado a resposta para o problema do sofrimento e do mal, mas mesmo
assim está seguro de que Deus é um Criador bom, e que, no desfrutar dos
presentes dados por ele, o homem pode encontrar ao menos algum significado na
vida (3.11ss).
O autor rejeita a
sabedoria tradicional dos sábios com as suas soluções bem-ordenadas para os
problemas da vida e suas convicções inabaláveis a respeito de como e por que
Deus age. A sabedoria mais elevada que o homem pode alcançar é encarar o fato
de que ele é meramente uma criatura e que a verdadeira sabedoria está somente
em Deus. Deus é soberano e Criador; é sobre esses dois fatos básicos, sem
desenvolver em mais detalhes a sua teologia, que o autor constrói sua filosofia
de vida.
Autoria e data
O nome Eclesiastes é
uma transliteração em português do título grego dado ao livro pelos tradutores
da Septuaginta. A palavra hebraica da qual os tradutores derivaram esse título
é qõhelet, o nome com que o autor do livro se intitula. E difícil saber o que o
autor tinha em mente quando escolheu qõhelet como seu pseudônimo. A palavra
está relacionada a convocar ou reunir uma congregação.
Possivelmente significava
alguém que convocava ou, mais provavelmente, quem falava a um encontro de
pessoas, e daí (via o grego ekklêsiastès) o conhecido título em português “o
Pregador”. Se era “pregador”, então ele era, no mínimo, um pregador bem heterodoxo,
e não convencional. Outras sugestões como filósofo, orador, argumentador ou
professor provavelmente são descrições mais próximas da posição adotada pelo
autor.
Tem havido muita
disputa acerca da identidade do autor. Hoje, praticamente todos os estudiosos
do AT, até os mais conservadores, são da opinião de que um rei que viveu no
século XX a.C. não pode ter sido o autor de Eclesiastes. Eles argumentam que o
hebraico do livro é muito tardio e aponta para uma época em que o aramaico
estava se tornando a língua popular da Palestina. Alguns chegaram a argumentar
que o livro foi escrito originariamente em aramaico e depois traduzido para o
grego. Gordis, no entanto, argumenta de forma convincente contra esse ponto de
vista, acrescentando a sugestão de que o autor muito provavelmente falava tanto
aramaico quanto hebraico, mas que escreveu as suas eruditas palavras em
hebraico, embora com uma coloração aramaica. Palavras e construções aramaicas
hebraizadas, além da ocorrência de palavras emprestadas da língua persa e da
evidente influência grega sobre a língua, parecem apoiar uma data de composição
do livro em algum ponto dos séculos IV ou III a.C.
A tradição da autoria
de Salomão se originou nos detalhes biográficos dos dois primeiros capítulos.
Parece que o nosso autor seguiu a prática comum de se identificar com alguma pessoa
importante para acrescentar peso ao seu argumento. Nesses dois capítulos, ele se
coloca na posição de Salomão (embora se deva observar que em nenhum lugar ele se
chame de Salomão) cuja sabedoria, diligência, riqueza e estilo geral de vida
fornecem ao autor um pano de fundo apropriado para as suas reflexões
introdutórias acerca do ditado (possivelmente também de Salomão): “Vaidade de
vaidades” (versões tradicionais; Que grande inutilidade!, NVI). Essa seção (1.12—2.26)
é apenas uma das muitas peças literárias breves que o autor colecionou nesse livro
(v. Composição e estilo a seguir), e é somente nessa seção que ele assume a
identidade salomônica. Seus comentários incisivos em outros pontos do livro
acerca da injustiça, tolice, opressão e crueldade dos governantes dificilmente
refletem o ponto de vista de um rei (e.g., 3.16; 4.1,13-16; 5.8. 8.3ss; 10.4-7,16-20).
A autoria anônima não
é empecilho para nossa compreensão do ensino do livro. O valor de um livro deriva
da verdade inerente a ele, e não do nome do seu autor.
Pouco se sabe da vida
pessoal do autor. Sendo um dos sábios, sem dúvida pertencia à classe superior e
muito provavelmente vivia em Jerusalém (observe sua pressuposição de que seus
leitores frequentavam o templo e sua familiaridade com a vida nos escalões mais
altos do governo: 5.1,2,8; 8.2,3; 10.4).
Ele provavelmente
ensinava em uma das escolas de sabedoria da cidade, e esse livro indica um
pouco do conteúdo e do estilo do seu ensino (12.9,10). Concluímos dos seus escritos
que era observador perspicaz, uma pessoa sensível, embora ao mesmo tempo tivesse
gosto apurado pelas coisas boas da vida. Tinha ampla experiência da qual
extrair ilustrações para os seus ensinamentos. Seus comentários nostálgicos do
desfrutar da juventude (11.9) e a descrição comovente do declínio na velhice
(12.2-7) sugerem que ele tenha escrito o livro no final da vida.
Composição e estilo
Precisamos admitir
que o autor de Eclesiastes não fez nenhum esforço para resumir seu ensino na
forma em que o esboçamos.
Em algumas partes, o
livro parece ter pouca progressão lógica de pensamento, sendo, como parece, uma
coletânea de algumas de suas reflexões filosóficas do final da sua vida.
No entanto, parece
ter havido de fato uma tentativa de organizar os ensaios em algum tipo de sequência.
A seção inicial (caps. 1 e 2) fornece uma apresentação simples e direta do tema
do autor. Os ensaios que seguem são reafirmações, avaliações ou
desenvolvimentos desse tema, e cada um toca de alguma maneira nas considerações
básicas do autor, como a futilidade com que a morte marca a vida, a tarefa dada
por Deus de se desfrutar da vida, a tragédia da tolice etc. Há variações de
estilo entre um ensaio e outro: reflexões na primeira pessoa, exortações na segunda
pessoa, comentários gerais acerca da vida e ditados sapienciais breves e
incisivos.
As incoerências
evidentes entre as diversas seções do livro deram origem a muitas teorias de
reconstrução e análise. Diversos esquemas de autoria múltipla têm sido sugeridos,
mas não se mostraram convincentes. Uma teoria mais popular é a de que um ou
mais sábios conservadores se debruçaram sobre o texto original bastante
radical, inserindo aforismos ortodoxos em pontos apropriados para atenuar as afirmações
heterodoxas do autor.
Ao contrário disso,
cremos que as afirmações mais ortodoxas faziam parte do argumento original do autor.
Afinal, ele pertencia à escola dos sábios, mesmo sendo considerado apóstata ou
renegado, e era natural que extraísse do fundo de ditados de sabedoria disponível o material
para seu escrito. Seus processos
de pensamento, seu vocabulário e o estilo literário refletem o contexto em que
ele foi
educado.
Os eruditos modernos
estão cada vez mais
convictos de que o livro provém de uma única mão e que todas as incoerências
precisam ser
aceitas como parte essencial da tese do autor. E possível que haja observações
editoriais no começo e no final do livro (1.1; 12.9-14), e nesse caso o livro propriamente
dito começa e termina com o tema “Vaidade de vaidades, tudo é vaidade”, ou, na NVI,
Que grande inutilidade! Nada faz sentido.
DONALD
C. FLEMING. Comentário Bíblico NVI.
Editora Vida. Livro de Eclesiastes. pag. 957-960.
ECLESIASTES
INTRODUÇÃO
A. Nome
No versículo inicial
de Eclesiastes, o autor se identifica como “pregador” (qoheleth). A palavra vem
de uma raiz que significa “reunir”, e, assim, provavelmente indica alguém que
reúne uma assembleia para ouvi-lo falar, portanto, um orador ou pregador. A
Septuaginta usou o termo grego Ecclesiastes, que as traduções em inglês e
português transpuseram como o nome do livro. O termo designa “um membro da
ecclesia, a assembleia dos cidadãos na Grécia”. Já no início da era cristã,
ecclesia era o termo usado para se referir à Igreja.
B. Autoria
Quem era Qoheleth? A
linguagem de 1.1 e a descrição do capítulo 2 parecem indicar o rei Salomão. A
autoria salomônica foi aceita tanto pela tradição judaica como pela tradição
cristã até épocas relativamente recentes. Martinho Lutero parece ter sido o
primeiro a negar isso, e provavelmente a maioria dos estudiosos da Bíblia
concordaria com ele. Purkiser escreveu:
No primeiro
versículo, o livro é atribuído ao “filho de Davi, rei em Jerusalém” [...]
Entretanto, em 1.12 diz: “Eu, o pregador, fui rei sobre Israel em Jerusalém”.
Claramente, nunca houve época alguma na vida de Salomão em que ele pudesse se
referir ao seu reino no pretérito. Em 2.4-11 também são descritos os feitos do
reinado de Salomão como algo que já era passado no tempo em que foi escrito.
Novamente, em 1.16 o
autor diz: “e sobrepujei em sabedoria a todos os que houve antes de mim, em
Jerusalém”. O mesmo pensamento se repete em 2.7. No caso de Salomão, apenas
Davi precedeu Salomão como rei em Jerusalém. Mais uma vez devemos lembrar que
os judeus usavam o termo “filho” para qualquer descendente; assim, Jesus também
é descrito como o “filho de Davi”.
Entre os estudiosos
mais recentes e conservadores, Young escreve: “O autor do livro foi alguém que
viveu no período pós-exílico e colocou suas palavras na boca de Salomão, assim
empregando um artifício literário para transmitir sua mensagem”. Hendry
considera a autoria não-salomônica uma questão tão fechada que ele não a
discute em sua introdução.3 Aqueles que rejeitam a Salomão como o autor
normalmente datam o livro entre 400 e 200 a.C., alguns ainda mais tarde.
O argumento
aparentemente mais forte contra a autoria salomônica é a presença de palavras
aramaicas no texto que não parecem ter sido usadas no tempo de Salomão. Archer,
entretanto, argumenta contra a validade dessa evidência, declarando que “o
livro de Eclesiastes não se encaixa em nenhum período na história da língua
hebraica [...] não existe no momento nenhum fundamento concreto para datar esse
livro com base em aspectos linguísticos (embora não seja mais estranho ao
hebraico do século X do que é para o hebraico do século V ou do século II).” Se
Salomão não é o autor, precisamos no mínimo dizer que muito do livro reflete
sua vida e suas experiências.
C. Interpretação
Como devemos
interpretar a mensagem deste livro? O leitor logo fica impressionado por pontos
de vista evidentemente contraditórios. Uma teoria persistente defende que o
livro é um diálogo com perspectivas contraditórias apresentadas por personagens
diferentes. Se este ponto de vista for aceito, a expressão frequentemente
repetida “vaidade de vaidades” seria o veredicto do autor num panorama que se
restringe apenas ao mundo presente. Outra abordagem favorita tem sido associar
a perspectiva consistentemente pessimista ao autor inicial e explicar pontos de
vista contraditórios como inserções de autores posteriores que tentaram
corrigir afirmações exageradas com o propósito de tornar o livro mais coerente
com os ensinamentos religiosos em vigor na época.
O livro de fato
apresenta oscilações entre confiança e pessimismo. Mas elas não precisam nos
instigar a abandonar a convicção na unidade e integridade de Eclesiastes. Tais
oscilações não seriam uma consequência natural da luta entre a fé, por um lado,
e os interesses pelos assuntos mundanos, por outro, tanto no coração do próprio
Salomão como na vida centrada na terra que o livro retrata? Barton escreve:
“Quando um homem contemporâneo percebe quantos conceitos diferentes e estados
de humor ele pode ter, descobre menos autores em um livro como Qoheleth”.
Se este livro
representa a luta de uma alma com dúvidas sombrias, também revela o
comportamento de um homem que notou o lado positivo das coisas. Apesar de sua
atitude pessimista, a vida é tão preciosa quanto um “copo de ouro” (12.6), e a
resposta final ao sentido da vida é: “Teme a Deus e guarda os seus mandamentos”
(12.13).
D. Organização
Eclesiastes não é um
livro racional ou organizado de maneira lógica. É como um diário no qual um
homem registrou suas impressões de tempos em tempos. Muitas vezes ele prefere
expressar sentimentos do momento e reações emocionais a apresentar uma
filosofia equilibrada sobre a vida. Geralmente o estado de espírito é de
ceticismo, mas ainda assim Peterson escreve: “Teria sido uma desgraça e uma
grande pena se um livro que foi escrito para ser a Bíblia de todos os homens
não se referisse ou deixasse de lidar com o espírito de ceticismo que é comum a
todos os homens”.
A estrutura do livro
faz dele um livro tão difícil de esboçar que muitos comentaristas nem tentam
identificar um padrão lógico. No esboço aqui apresentado, o autor foi
influenciado por Archer7 mais do que por qualquer outro autor. Às vezes o
leitor cuidadoso irá perceber que um destaque aponta para um pensamento
significativo daquela seção mais do que para um resumo de tudo que está ali.
Embora ocasionalmente
os parágrafos estejam relacionados apenas vagamente entre si, todos eles estão
relacionados ao tema do livro — talvez isso só seja verdade porque esse tema é
tão amplo quanto a própria vida!
A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 3. pag. 429-430.
II - A
SABEDORIA DOS ANTIGOS
1. A inteligência dos
sábios.
Os sábios
As nações do oriente
antigo tinham os seus "sábios", cujas funções iam desde a política do
estado até a educação. (Quanto ao Egito, cf., por exemplo, Gn 41.8; quanto a
Edom, cf. Ob 8). Em Israel, onde era reconhecido que "o temor do Senhor é
o princípio da ciência", os "sábios" também ocupavam uma função
mais importante. Jr 18.18 demonstra que, no tempo daquele profeta, os sábios
estavam no mesmo nível com o profeta e com o sacerdote como órgão da revelação
de Deus. Porém, assim como os verdadeiros profetas tiveram de entrar em luta
com profetas e sacerdotes movidos por motivos indignos, semelhantemente, muitos
dos "sábios" transigiram em sua função que era de declarar o
"conselho de Jeová" (Is 29.14; Jr 8.8-9).
Existem pelo menos
duas coleções de "palavras dos sábios" no livro de Provérbios; estas
se encontram em 22.17-24.22 e em 24.23-34. Talvez que os capítulos 1-9, que
contêm uma exposição do alvo e do conteúdo do "conselho dos sábios",
venham da mesma origem. É virtualmente impossível datar essas coleções.
Provavelmente representam a sabedoria destilada de muitos indivíduos que temiam
a Deus e viveram dentro de um considerável período de tempo. Porém muito desse
material é de data antiga. E. J. Young sugere que pode ser até pré-salomônico
(op. cit., pág. 302).
DAVIDSON. F. Novo Comentário da Bíblia. Provérbios pag. 3.
I Reis 4. 30. Era a
sabedoria de Salomão maior do que a de todos os do Oriente.
A sabedoria vem do
Oriente, e a tecnologia vem do Ocidente, “até que o Japão" foi adicionado.
Fosse como fosse, o Oriente era conhecido por seus sábios, seus astrólogos,
seus mestres espirituais. Israel não tinha nenhum homem que se comparasse com
os do Oriente, até que Salomão surgiu e ultrapassou a todos eles. O Egito era
uma grande civilização (em sua XIII a dinastia), quando Abraão subiu à
Palestina como um nômade. Heródoto disse que, para acreditar em todas as maravilhas
que existiam no Egito, era mister que o indivíduo fosse até lá para ver as
coisas por si mesmo. Mas não havia um único sábio no Egito que se pudesse
comparar com Salomão. Naturalmente, tudo era uma obra divina, dada pelo
Espírito Santo. Salomão alcançara tamanha sabedoria por concessão de Yahweh,
porque fizera uma sábia escolha e também porque sua missão em Israel requeria
tal sabedoria. Os Bene Qédhen (os filhos do Oriente) algumas vezes são
limitados às tribos árabe-edomitas do sudeste do mar Morto. “A Arábia-Edom era
o lar tradicional da sabedoria epigramática que os hebreus tanto admiravam. Cf.
Jó 1.3, onde ‘todos os do Oriente’ são os senhores do deserto da Arábia”
(Norman H. Snaith, in loc.).
No presente versículo,
em que o autor fala sobre o rio Eufrates, a fronteira do extremo norte de
Israel (vs. 24), provavelmente o autor também tinha em mente a sabedoria dos
assírios, os quais haviam edificado um grande império que, finalmente, acabaria
levando a nação do norte (Israel) para o cativeiro. Ver no Dicionário o artigo
chamado Cativeiros.
Estão em pauta os
“caldeus, os persas e os árabes, os quais, juntamente com os egípcios, eram
famosos por sua sabedoria e conhecimento” (Adam Clarke, in loc.). O Egito era a
mãe de muitas das artes e ciências, e o mundo subsequente estaria endividado
naquele lugar por longo tempo ainda.
I Reis 4.31. Era mais
sábio do que todos os homens. Agora o autor sagrado selecionou alguns
indivíduos especialmente sábios, cujos nomes eram conhecidos por qualquer
pessoa bem educada. Esses nomes representam várias áreas geográficas, mas nem
um deles podia comparar-se a Salomão.
Etã. Este é o nome de
várias personagens bíblicas. Entre elas, um renomado sábio, mencionado somente
aqui e no título do Salmo 89. Tratava-se de um ezraita, o patronímico dos
levitas Hemã e Etã (ver I Reis 4.31). W. F. Albright interpretou a palavra com
o sentido de aborígene, uma referência a povos pré-israelitas. Alguns daqueles
povos antigos foram incorporados a Israel, e alguns deles tornaram-se, com o
tempo, levitas.
Hemã, Calcol e Darda,
filhos de Maol. O autor sacro estava falando sobre uma gente acerca da qual
conhecemos bem pouco, mas que deve ter sido bem conhecida naquela época. Talvez
Hemã fosse o mesmo filho de Zerá e neto de Judá (ver I Crô. 2.6). Calcol era o
quarto dentre cinco filhos (ou descendentes) de Zerá (ver I Crô. 2.6). Darda
era outro de seus filhos, mas no presente texto temos o nome do pai como Maol.
Os eruditos debatem a identidade de Zerá e Maol, e a maioria deles presume que
os dois sejam um só homem, embora não haja prova disso. Ellicott, entretanto,
supõe que não deveríamos identificar os dois, e o fato de ambos terem tido
filhos de um mesmo nome é pura coincidência. Nesse caso, não temos informações
sobre aqueles homens, excetuando o item óbvio de que eram conhecidos por sua
sabedoria, embora Salomão ultrapassasse a ambos. Adam Clarke sugeriu que Maolé
uma referência à “dança”, pelo que seriam “filhos da dança”, ou seja,
especializados nessa arte. Salomão era excelente na poesia, e talvez na música
também, mas mesmo nessas artes (se a conjectura de Clarke está com a razão)
Salomão os ultrapassava. Ademais, a reputação de Salomão era universal, estando
sujeita à discussão em todas as nações em derredor.
Uma antiga tradição
judaica fazia Etã ser Abraão; Hemã, Moisés; e Calcol, José. Mas essa é uma
interpretação muito fantasiosa (e sem dúvida errônea). (Ver Hieron. trad. Heb.
em 2 Reg. foi. 80.1.)
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1365.
4.29 — Além de ter
dado a Salomão um coração que sabia ouvir (1 Rs3.9) e bem interpretar (v.
3.12), Deus deu a ele também grandeza de coração. Essas três qualidades
formavam a sabedoria de Salomão, que é descrita neste versículo como sendo
ilimitada e imensurável, como a areia da praia ou o número de israelitas (1 Rs
4.20).
4.30 — O termo todos
os do oriente se refere à Mesopotâmia (Gn 29.1), à margem leste do Jordão (Is
11.14) ou à Arábia em geral (Jz 6.3,33; 7.12). Todos estes são lugares cujos
habitantes tinham a reputação de serem sábios (Ob 8). A fabulosa reputação da
sabedoria do Egito se fez evidente na literatura egípcia por mais de um milénio
antes de Salomão nascer.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário
Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 563.
Vv. 29-34. A
sabedoria de Salomão foi para ele uma glória maior do que a sua riqueza. Ele
possuía o que aqui se chama de "largueza de coração", porque vez por
outra menciona-se o coração quando se deseja fazer alusão às faculdades
mentais. Tinha o dom da palavra e da sabedoria.
É muito desejável que
os que possuem dons de qualquer tipo, tenham largueza de coração, a fim de que
possam utilizá-los para o bem do próximo.
Quantos tesouros de
sabedoria e conhecimento são perdidos! Porém, toda a classe de conhecimento
necessário para a salvação encontra-se nas Sagradas Escrituras.
A Salomão vieram
pessoas de todas as partes, que apreciaram mais o seu conhecimento do que os
seus vizinhos, para ouvir a sua sabedoria. Nisto ele é um tipo de Cristo, em
quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento; e estão
escondidos para nós, pois Ele é feito por Deus sabedoria para nós. A fama de
Cristo difundir-se-á por toda a terra e os homens de todas as nações irão
apressadamente a Ele, aprenderão com Ele, e tomarão o seu jugo, que é leve, e encontrarão
o repouso para a sua alma.
HENRY.
Matthew. Comentário Bíblico Matthehw
Henry. 1 Reis. Editora CPAD. pag. 7.
2. A sabedoria de
Salomão.
O texto de 1 Reis
4.29-31, diz: “Deu também Deus a Salomão sabedoria, grandíssimo entendimento e
larga inteligência como a areia que está na praia do mar. Era a sabedoria de
Salomão maior do que a de todos os do Oriente e do que toda a sabedoria dos
egípcios. Era mais sábio do que todos os homens, mais sábio do que Etã,
ezraíta, e do que Hemã, Calcol e darda, filhos de Maol; e correu a sua fama por
todas as nações em redor”.
Por outro lado, o
livro de Provérbios faz referência às “palavras dos sábios” (Pv 22.17; 24.23).
Não há ainda um consenso sobre a real identidade desses sábios citados nestes
textos, mas uma coisa fica clara — a todos eles Salomão superou em sabedoria.
As máximas contidas
no livro dos Provérbios contém o pensamento salomônico sobre vários aspectos da
vida. Para o escritor Earl D. Radmacher, a sabedoria do livro de Provérbios “se
relaciona muito mais com o que nós chamamos de ‘sentido comum’. É uma maneira
de entender o funcionamento do mundo. A questão não é tanto o que alguém sabe
intelectualmente, mas como faz isso na prática. É uma verdade aplicada. E por
isso que Provérbios abarca todos os acontecimentos do dia a dia, especialmente
aqueles que envolvem interrogações morais e decisões que afetam o futuro.
A pessoa sábia (heb.
charam) evita a maldade e promove o bem, observando os demais e buscando uma
linha de ação baseada nos resultados. Assim, os Provérbios não são unicamente
promessas de Deus, também são observações e princípios acerca de como funciona
nossa vida.
Respondendo à
pergunta: O que a sabedoria pode fazer por sua carreira, seus relacionamentos e
sua vida pessoal? O escritor norte -americano Steven K. Scott, responde: “Eis
algumas recompensas que, segundo Salomão, você pode esperar se seguir os seus
conselhos: Sabedoria, prudência, capacidade de julgar, preservação e proteção,
sucesso, mais saúde, vida mais longa, honra, abundância financeira, estima dos
poderosos, elogios e promoções, independência financeira, confiança, força de
caráter, coragem, conquistas extraordinárias, realização pessoal, ótimos
relacionamentos, uma vida cheia de sentido, amor e admiração de outras pessoas
e compreensão”.
GONÇALVES. José,. Sábios Conselhos para um Viver Vitorioso
Sabedoria bíblica para quem quer vencer na vida. Editora CPAD. pag. 12-13.
Sabedoria e Esplendor
A sabedoria de
Salomão é celebrada na Bíblia (1 Rs 4.29-34) e em lendas. O livro de Provérbios
começa com a afirmação: "Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de
Israel". A autoria de uma grande parte do livro é atribuída a ele, cf.
Provérbios 25.1. Acredita-se que o versículo-título de Eclesiastes refira-se a
Salomão. A ele são atribuídos o livro de Cantares de Salomão e o livro apócrifo
de Sabedoria de Salomão. O compilador de 1 Reis 4 afirma que Salomão foi o
responsável por 3.000 provérbios e 1.005 cânticos. Os sobrescritos dos Salmos
lhe atribuem dois Salmos (72 e 127). O obituário de Salomão (1 Rs 11.41)
menciona sua sabedoria como registrada no livro da história de Salomão - o
registro oficial das atividades do rei. Durante a metade do reinado de Salomão,
ele recebeu uma notável visita da rainha de Sabá, que veio "dos confins da
terra" para ouvir sua sabedoria (Mt 12.42). Salomão mostrou a ela
Jerusalém, seu Templo, palácios e fortalezas. A rainha ficou tão impressionada
pela beleza da sua capital, pela comida em sua mesa, pela sua força militar, e
pelo esplendor geral da sua corte que "não houve mais espírito nela"
(1 Rs 10.5). Mas foi a sabedoria de Salomão que a impressionou profundamente.
Ela o
bombardeou com
perguntas e enigmas. Todos os seus enigmas e charadas foram respondidos de uma
forma tão inteligente, que ela finalmente exclamou palavras de congratulação.
"Bem-aventurados os teus homens, bem-aventurados estes teus servos que
estão sempre diante de ti, que ouvem a tua sabedoria!" (1 Rs 10.8).
Respeitando o costume oriental, ela presenteou Salomão com ricos presentes,
além de 120 talentos de ouro (1 Rs 10.8-10). Veja Sabá.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora
CPAD. pag.1742.
III -
AS FONTES DA SABEDORIA
1. A sabedoria
popular.
A fonte da sabedoria
popular
Embora não seja um
consenso entre os intérpretes, mas parece não haver dúvidas de que Salomão se
valeu de muitas máximas que circulavam nos seus dias. Isso de forma alguma pode
ser considerado como um demérito para suas monumentais obras literárias. Não,
de forma alguma. A obra The New Interpreters Dictionary ofthe Bible, destaca
que há de fato muita semelhança entre o que disse o sábio hebreu com aquilo que
escreveu Amenemope, um sábio egípcio que viveu muito antes de Salomão
(1305-1080 a.C). Esse fato é claramente demonstrado quando se faz um paralelo
entre as instruções de Amenemope e os Provérbios de Salomão 22.17—24.22. No
entanto, a Escritura põe em destaque que a sabedoria de Salomão sobrepujava
todo o saber dos seus dias, incluindo os egípcios que eram famosos pela grande
sabedoria que possuíam (1 Rs 4.30).8 Salomão demonstra sabedoria quando faz uma
adaptação dessa cultura popular para a sua própria cultura.
Nancy
Declaissé-Walford, estudiosa dos Provérbios, mostrou em um artigo, o paralelo
existente entre os Provérbios de Salomão e a Sabedoria do Antigo Oriente
Próximo. Por exemplo, a Instrução de Amenemope, sábio egípcio (12° século) é
muito semelhante à Provérbios 22.17—24.22, sugerindo alguns empréstimos de
temas proverbiais comuns e os Provérbios. A Instrução de Amenemope começa com
as palavras: “Dê ouvidos; Ouça as palavras; Dê seu coração para compreendê-las»
(3.9,10) enquanto Provérbios 22.17, afirma: “Inclinai os vossos ouvidos, e ouvi
as minhas palavras, e aplique a sua mente para o meu ensinamento”. Temas também
abordados por ambos os documentos incluem o tratamento dos pobres (Pv 22.24;
Instruções de Amenemope 11,13,14), o respeito pela tradição (Pv 23.10,11;
Instruções de Amenemope 7,11-15), e como se comportar na presença de
governantes (Pv 23.1-3; Instruções de Amenemope 13-18). Por outro lado, as
Instruções Aramaicas “As palavras do Ahiqar” (Agur 70 e 50
Século a. C), dirigida ao “meu filho”, contém numerosas palavras e dá conselhos
sobre a disciplina dos filhos semelhante a Provérbios 23.13,14 (Ahiqar 81,82).
GONÇALVES. José,. Sábios Conselhos para um Viver Vitorioso
Sabedoria bíblica para quem quer vencer na vida. Editora CPAD. pag. 13-14.
A história de todos
os povos está cheia de fatos e acontecimentos nos quais o ser humano sempre
tratou de compreender as chaves da sua própria realidade e a sua relação com o
mundo que o rodeia e de adotar os comportamentos idôneos para todo momento e
circunstância da sua existência. A infinita variedade de fenômenos conhecidos e
a observação de muitos deles, repetidos de maneira regular e cíclica, permitiu
enriquecer a experiência de cada geração e deduzir as atitudes que melhor
convêm para o desenvolvimento da vida e da cultura da humanidade.
A mais genuína
sabedoria popular se baseia nessa experiência, acumulada e transmitida de pais
a filhos, frequentemente em forma de máximas simples que, em geral, são como
lições de moral brevíssimas e fáceis de se reter na memória. A validez de
algumas delas, às vezes, fica limitada a um grupo humano de determinadas
características de raça, nação, religião, idioma ou costumes. Mas também há
aquelas que passam de um povo a outro e de uma a outra época. Trata-se, neste
segundo caso, de pensamentos de valor universal que podem se integrar de
imediato em culturas alheias à de origem. Assim ocorre em boa medida com
Provérbios, onde, por outro lado, também se avaliam reflexos de sabedoria popular
não-israelita: mesopotâmica, egípcia e de outros povos do Antigo Oriente Médio;
p. ex., as duas coleções de refrães atribuídas respectivamente a Agur e Lemuel
(30.1-33 e 31.1-9) ou o paralelismo existente entre Pv 22.17—23.12 e um famoso
texto do escriba egípcio Amenemope, por volta do ano 1000 a.C.
Um provérbio de
conteúdo sapiencial é denominado de mashal em hebraico, palavra aparentada com
uma raiz que, além de outros significados, inclui o de “dominar” ou “reger”.
Essa ideia tipifica um autêntico mashal como uma expressão persuasiva e
estimulante, seja qual for a forma em que se apresente: como provérbio ou
refrão propriamente
dito, como máxima moral ou sentença que avalia e compara diversas condutas e
atitudes adotadas frente à vida. Em algumas ocasiões mashal significa também
parábola, alegoria, fábula e inclusive adivinhação.
ALMEIDA.
João Ferreira de,. Bíblia de Estudo Almeida.
Editora Sociedade Bíblica, do Brasil.
2. A sabedoria
divina.
A sabedoria divina
levou Salomão a comentar praticamente a respeito de tudo o que há debaixo do
sol: “Discorreu sobre todas as plantas, desde o cedro que está no Líbano até ao
hissopo que brota do muro; também falou dos animais e das aves, dos repteis e
dos peixes. De todos os povos vinha gente para ouvir a sabedoria de Salomão, e
também enviados de todos os reis da terra que tinham ouvido da sua sabedoria”
(1 Rs 4.33,34). Lendo o capítulo três do primeiro livro dos Reis descobrimos de
onde vinha tanta sabedoria:
Salomão amava ao
Senhor, andando nos preceitos de Davi, seu pai; porém sacrificava ainda nos
altos e queimava incenso.
Foi o rei a Gibeão para lá sacrificar, porque
era o alto maior; ofereceu mil holocaustos Salomão naquele altar. Em Gibeão,
apareceu o Senhor a Salomão, de noite, em sonhos. Disse-lhe Deus: Pede-me o que
queres que eu te dê. Respondeu Salomão: De grande benevolência usaste para com
teu servo Davi, meu pai, porque ele andou contigo em fidelidade, e em justiça,
e em retidão de coração, perante a tua face; mantiveste-lhe esta grande
benevolência e lhe deste um filho que se assentasse no seu trono, como hoje se
vê. Agora, pois, ó Senhor, meu Deus, tu fizeste reinar teu servo em lugar de
Davi, meu pai; não passo de uma criança, não sei como conduzir-me. Teu servo
está no meio do teu povo que elegeste, povo grande, tão numeroso, que se não
pode contar. Dá, pois, ao teu servo coração compreensivo para julgar a teu
povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; pois quem poderia
julgar a este grande povo? Estas palavras agradaram ao Senhor, por haver
Salomão pedido tal coisa. Disse-lhe Deus: Já que pediste esta coisa e não
pediste longevidade, nem riquezas, nem a morte de teus inimigos; mas pediste
entendimento, para discernires o que é justo; eis que faço segundo as tuas
palavras: dou-te coração sábio e inteligente, de maneira que antes de ti não
houve teu igual, nem depois de ti o haverá. Também até o que me não pediste eu
te dou, tanto riquezas como glória; que não haja teu igual entre os reis, por
todos os teus dias. Se andares nos meus caminhos e guardares os meus estatutos
e os meus mandamentos, como andou Davi, teu pai, prolongarei os teus dias.
Despertou Salomão; e eis que era sonho. Veio a Jerusalém, pôs-se perante a arca
da Aliança do Senhor, ofereceu holocaustos, apresentou ofertas pacíficas e deu
um banquete a todos os seus oficiais (1 Rs 3.3-15). Isso explica porque ninguém
jamais conseguiu superar Salomão em sabedoria.
GONÇALVES. José,. Sábios Conselhos para um Viver Vitorioso
Sabedoria bíblica para quem quer vencer na vida. Editora CPAD. pag. 14-15.
SABEDORIA DE DEUS
Esboço:
I. Ideias Gerais
II. Deus Fez de Jesus
Cristo Essa Sabedoria
III. Referências e
Ideias. A Sabedoria de Deus
IV. A Multiforme
Sabedoria de Deus se Toma Conhecida (Efé.3:10)
I. Ideias Gerais
I. Essa sabedoria é
um dos atributos divinos (ver I Sam. 2:3); é insondável (ver Rom. 11 :33); e é
a base de toda a bondade humana, sobretudo do bem-estar espiritual, particularizando-se
a salvação (ver Efé. 1:8).
2. O evangelho contém
os tesouros da sabedoria divina (ver I Cor. 2:7).
3. Paulo fez
contraste entre a sabedoria humana (ensinada na filosofia) e a sabedoria de
Deus (que se manifesta na mensagem do evangelho). A sabedoria humana gera o
orgulho; a sabedoria divina conduz à salvação da alma.
4. A sabedoria divina
se manifesta em Cristo (ver o artigo sobre Sabedoria).
5. O próprio Cristo é
a personificação da sabedoria divina, conforme ensinado em I Cor. 1:30. E
Cristo quem proporciona aos homens os benefícios prometidos pela sabedoria
divina.
Tudo quanto os homens
podem conhecer acerca da verdadeira sabedoria. precisam conhecerem Cristo;
pois, para os homens, Cristo é a sabedoria de Deus. A sabedoria de Deus é
demonstrada no seu plano, relativo à redenção da humanidade, plano esse que
concretiza algo que a sabedoria humana sob hipótese nenhuma poderia concretizar.
E a palavra ou a mensagem da cruz é o tema central dessa sabedoria (ver I Cor.
I: 18). Por igual modo, essa sabedoria é a única que permanecera de pé sob o teste
do juízo divino (ver I Cor. I: 19). Através da sabedoria de Deus é que o mundo
inteiro pode ser potencialmente salvo (ver I Cor. 1:31). Tudo isso pode parecer
um escândalo, uma insensatez e uma pedra de tropeço para os homens (ver I Cor.
1:22-23), mas Jesus Cristo é a própria personificação da sabedoria de Deus (ver
I Cor. I :24,30). A grande verdade é que a sabedoria de Deus, que tantos homens
reputam como insensatez, é mais sábia que a sabedoria humana, porquanto cumpre
aquilo que o engenho humano está impossibilitado de fazer (ver I Cor. I :25).
Mas esse cumprimento só se verifica no caso de homens humildes, que reconhecem
sua ignorância espiritual; pois Deus dá iluminação espiritual a esses, mas resiste
aos soberbos (ver I Cor. I :26-28). Sim, Cristo é a verdadeira sabedoria de
Deus, fazendo violento contraste
II. Deus Fez de Jesus Cristo Essa Sabedoria
1. Mediante os seus
decretos, baixados desde a eternidade.
2. Mediante a
encarnação do Filho de Deus.
3. Mediante o
ministério terreno de Jesus Cristo.
4. Mediante a sua
exaltação à mão direita de Deus Pai, onde foi feito Senhor e Cristo, e de onde
brande toda a autoridade, nos céus e na terra, segundo também lemos em Mat. 28:
18. Ora, todos esses aspectos estavam designados de antemão com o propósito de
produzir a redenção humana.
III. Referências e Ideias. A Sabedoria de Deus
1. A sabedoria de
Deus é um de seus atributos (ver I Sam. 2:3 e Jó 9:4). 2. A sabedoria de Deus é
descrita como perfeita (ver Jó 36:4 e 37: 16).
3. É poderosa (ver Jó
36:5).
4. É universal (ver
Jó 28:24; Dan. 2:22 e Atos 15: 18).
5. É infinita (ver
Sal 147:5 e Rorn, 11:3).
6. É insondável (ver
Isa. 40:28 e Rom. 11:33).
7. É maravilhosa (ver
Sal. 139:6).
8. Ultrapassa a
compreensão humana (ver Sal 139:6).
9. É incomparável
(ver Isa. 44:7 e Jer. 10:7).
10. Não é derivada
(ver Jó 21:22 e Isa. 40:44).
11.O evangelho contém
os tesouros da sabedoria divina (ver I Cor. 2:7).
12. A sabedoria dos
santos é derivada da sabedoria de Deus (ver Esd. 7: 25). 13. Toda a sabedoria
humana deriva da sabedoria divina (ver Dan. 2:2).
IV. A Multiforme Sabedoria de Deus se Torna Conhecida
(Efé. 3: 10)
A palavra multiforme
deriva do termo grego polupoikilos, em forma adjetivada encontrada somente aqui
em todo o Novo Testamento, cujo significado é «variegado», «multilateral»,
usado para indicar quadros, flores e vestimentas de várias cores. Na versão da Septuaginta
(tradução do original hebraico do Antigo Testamento para o grego, completada
cerca de duzentos anos antes da era cristã), a capa de «muitas cores» presenteada
por Jacó a José é descrita por palavra (ver Gên. 37:3). Esse vocábulo pinta a
sabedoria divina como algo que tem muitíssimas facetas com os mais variados modos
de manifestação e expressão, por ser algo que é digno de ser contemplado,
devido a suas muitas e excelentes variações e realizações.
Gregório de Nissa
(ver Hom. viii, sobre Cantares de Salomão) nos fornece uma notável
interpretação, a que - vários expositores - aludem. Diz ele: «Antes da encarnação
de nosso Salvador, os poderes celestiais conheciam a sabedoria de Deus como
algo simples e uniforme, que efetuava maravilhas de modo consoante com a
natureza de cada coisa. Nada havia de poikilon (multiforme, multicolorido). Mas
agora, por meio da oikonomia (dispensação, plano) que diz respeito à igreja e à
raça humana, a sabedoria de Deus não é mais conhecida como algo uniforme, e,
sim, como algo polupoikilos (multiforme, variegado), produzindo contrários por
meio de contrastes, mediante a morte, a vida, a desonra, a glória, o pecado e a
retidão; mediante a maldição e a bênção; mediante a fraqueza e o poder. O
invisível se manifestou em carne. Veio para remir cativos, sendo ele mesmo o adquiridor,
e sendo ele mesmo o preço» (lD lB LAN NTI).
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 6. Editora Hagnos. pag. 9-10.
Fonte da sabedoria. Provérbios encoraja o
homem a buscar sabedoria. Ele tem de ouvi-la (1.33; 2.2), adquiri-la (Pv
4.6,7), amá-la (v. 4.6; 8.17) estima-la ou avaliá-la (4.8) e buscá-la (8.17).
Onde está esta sabedoria? Fazendo esta
pergunta duas vezes (Jó 28.12,20), Jó respondeu que só Deus sabe (v. 23). A
sabedoria pertence a Deus, dissera Jó anteriormente (12.13). A sua sabedoria é
profunda (Jó 9.4). Ele possuiu sabedoria no princípio (Pv 8.22), criou a terra
com sabedoria (3.19) e conta as nuvens na sua sabedoria (Jó 38.37). A sabedoria
é mais que uma característica humanamente inventada. É a habilitação divina, a
habilidade de enfrentar e ter sucesso baseado nas providências de Deus. Só Ele
“pôs a sabedoria no íntimo” (Jó 36).
Esta fonte divina de sabedoria significa que
a vida não deve ser dicotomizada entre o intelectual e o prático, entre o
religioso e o secular. “A totalidade da vida foi conotada em termos de
experiência religiosa, e a sabedoria foi mantida para ser pertinente a todos os
pontos da existência.”34 A literatura sapiencial trata da conduta ética,
conduta vista levando em conta a relação do homem com Deus. A vida assume uma
dimensão espiritual, pois a piedade é a chave para a vida prática.
A relação do indivíduo com a sua família,
vizinhos, empregados, estranhos é afetada pela relação com o Criador e Deus. A
pessoa com sabedoria bíblica tem mais que perspicácia secular e intelectual;
tem uma perspectiva espiritual que impregna toda a sua vida. A pessoa
verdadeiramente sábia é a pessoa piedosa.
ROY B. ZUCK. Teologia do Antigo Testamento. Editora
CPAD. pag. 286.
IV - O
PROPÓSITO DA SABEDORIA
1. Valores éticos e
morais.
Os seis primeiros
versículos de Provérbios mostram com muita clareza que o propósito desse livro
é o cultivo dos valores éticos-morais:
Provérbios de
Salomão, filho de Davi, o rei de Israel. Para aprender a sabedoria e o ensino;
para entender as palavras de inteligência; para obter o ensino do bom proceder,
a justiça, o juízo e a equidade; para dar aos simples a prudência e aos jovens,
conhecimento e bom siso. Ouça o sábio e cresça em prudência; e o instruído
adquira habilidade para entender provérbios e parábolas, as palavras e enigmas
dos sábio. (Pv 1.1-6)
O livro de
Provérbios, portanto, é rico em ilustrações sobre o comportamento humano e sem
dúvida procura trabalhar o caráter do homem. Mas como bem observou Derek Kidner,
ele não é um álbum de retratos, nem um livro de boas maneiras: oferece uma
chave à vida. “As amostras de comportamento que espalha diante das nossas
vistas são aquilatadas, todas elas, por um único critério, que poderia ser
resumido na pergunta: Isto é sabedoria ou estultícia?” Esta é uma abordagem que
unifica a vida, porque se adapta aos campos mais corriqueiros tanto quanto aos
mais exaltados. A sabedoria deixa a sua assinatura em qualquer coisa bem feita
ou bem julgada, desde uma observação apropriada até o próprio universo, desde
uma política sábia (que brota de uma introspecção prática) até uma ação nobre
(que brota de uma introspecção prática). Noutras palavras, fica igualmente bem
encaixada nos ambientes da natureza e da arte, da ética e da política, sem
mencionar outros, e forma uma base única de julgamento para todos eles.
GONÇALVES. José,. Sábios Conselhos para um Viver Vitorioso
Sabedoria bíblica para quem quer vencer na vida. Editora CPAD. pag. 16.
Literatura da
Sabedoria
O mundo antigo produziu
escritos em uma variedade de gêneros literários. No Egito, e na Mesopotamia igualmente,
encontramos tratados em matemática e astronomia, como também em magia.
Encontramos mitos e narrativas religiosas. Também encontramos histórias de
aventuras, livros didáticos dc medicina, poesia de amor, Salmos e documentos
políticos. Encontramos crônicas de reis e reinados, assim como ostentação de
antigos governantes. Descobrimos também uma das mais antigas formas literárias,
os escritos de sabedoria.
A mais primitiva
literatura de sabedoria data de bem antes de 2000 a.C. A literatura de
sabedoria é frequentemente organizada como um conselho dado por um pai ao seu
filho, ou um homem mais velho a seus alunos. Obras egípcias bem conhecidas são
atribuídas a um pai desejando aconselhar seu filho diante de um longo período
de prisão, a um vizir encarregado de ensinar um descendente real e a um
marinheiro motivando seu filho a estudar quando entrar na escola de escribas. As
vezes, a literatura de sabedoria é colocada no contexto de uma história, para
cativar a atenção de um aprendiz. Um exemplo egípcio é o Protesto de um
Camponês Eloquente, onde um homem apela por justiça após ter sido injustiçado
por um vizinho. Um exemplo bíblico é a história de Jó.
Porém, qual foi a
preocupação difundida que estimulou a escritura de tanta literatura de
sabedoria?
Dois temas parecem
reter o interesse dos autores. (1) Alguns escritos de sabedoria exploram assuntos
filosóficos. Jó e Eclesiastes enquadram-se nessa categoria. Jó debate a questão
por que o fiel sofre, e Eclesiastes luta com a questão do que dá significado à
própria vida. (2) Algumas literaturas de sabedoria dão conselhos de como viver
uma vida prudente. Provérbios está nessa categoria, com seus enérgicos ditados
e conselhos nas decisões morais e práticas que cada indivíduo deve tomar.
Este segundo tipo de
literatura de sabedoria bíblica não se apoia em revelação como sua fonte.
Os profetas falavam
claramente em corajosa confiança que “assim diz o Senhor”. Os autores dos provérbios
estavam bem conscientes de que eles expressavam discernimentos obridos ao
observar a experiência humana, assim como da estrutura moral provida pela Lei
de Moisés, A Lei não é referida para validar a proverbial sabedoria, embora os
provérbios em muitas culturas afirmem a necessidade de respeito por Deus e pela
ordem moral. Muitos provérbios tomados em nosso livro de Provérbios são
considerados como evidentes em si mesmos por qualquer pessoa de pensamento correto,
ainda que também contenham princípios importantes para o jovem e inexperiente
entender. Dentro do contexto cultural do mundo antigo, muitos eram evidentes em
si mesmos. Observações semelhantes são encontradas tanto no livro bíblico de
Provérbios como nos provérbios encontrados na literatura de sabedoria egípcia e
mesopotâmica. Observe, por exemplo, a afinidade dos provérbios achados na
egípcia Instrução de Amem-em-ope com os provérbios bíblicos.
*Não remova os marcos
divisórios ou ultrapasse os limites de uma viúva.
*Melhor é uma medida
que o deus te dá do que cinco mil (tomados) ilegalmente. *Melhor é a pobreza na
mão do deus do que a riqueza no depósito. *Não lance seus olhos na ocupação dos
ricos. Não te associes ao homem esquentado (ex. irritado).
Este e outros
paralelos não demonstram uma dependência da obra dos hebreus em relação à dos
egípcios, ou dos egípcios sobre a dos hebreus. Em vez disso, eles refletem o
fato de que Deus tem dado a toda a humanidade discernimento moral. Um
conhecimento do certo e do errado, um senso do que marca o comportamento justo
e correto está enraizado na própria natureza humana e encontra expressão pelo
menos em alguns dos ensinamentos de cada sociedade.
A grande contribuição
da revelação é nos fazer cientes que não é bastante saber o que é correto.
Muito da literatura
de sabedoria, tanto bíblica quanto extra bíblica, é vista como uma narrativa
épica de conselho dada pelo amadurecido ao jovem. Captamos o sabor da maioria
da literatura de sabedoria nessas tinhas de Provérbios 3.1,2. “Filho meu, não
te esqueças da Minha instrução, e o teu coração guarde os Meus mandamentos;
parque eles aumentarão os teus dias e te acrescentarão anos de vida e paz. ”
Devemos fazer o que é
correto. E, porque todos falham, não somente em ir ao encontro dos padrões de
Deus, mas até aos padrões da nossa sociedade, a revelação nos ensina a buscar a
Deus para salvação, em lugar de a nós mesmos.
Assim, a literatura
de sabedoria, nas Escrituras ou em outras antigas sociedades, tem uma função
mais estritamente definida. Ela descreve e estimula a ação correta e o reto
pensar. Ela não compartilha da função do profeta de criar um sentimento de
pecado, ou da missão do evangelista de voltar os olhos do homem para Deus como
único meio de salvação.
Enquanto a literatura
de sabedoria do mundo antigo não é revelatória em natureza, nem tem a intenção
primaria de ensinar verdades religiosas, os ditados de sabedoria de cada
sociedade realmente refletem a visão de Deus da cultura. No Egito Maat, verdade
ou justiça, estabelecia um último padrão ao qual os próprios deuses estavam
sujeitos. Na Babilônia, as leis morais brotavam da consciência humana e os
deuses eram também governados por padrões morais. Mesmo assim, os deuses
definiam o que era certo em qualquer dada situação e a vontade deles devia ser
determinada por um estudo de prognósticos. Na Suméria, outra sociedade
mesopotâmica, os deuses eram forças naturais não afetadas pelas coisas morais.
Em Israel, Deus era uma viva e vital presença, que supervisionava as
consequências dos atos humanos, recompensando o bem e punindo o mal. Assim, a
destilada sabedoria, expressa nos ditados proverbiais e conselhos, tinha uma
única recomendação. Ao fazer escolhas prudentes, uma pessoa expressava seu
temor a Deus, demonstrando a convicção de que Deus abençoaria aqueles que fizessem
o bem, e puniria aqueles que cometessem injustiça. Os princípios de uma vida
prudente podem ser evidentes por si mesmos em muito da literatura de sabedoria.
Porém, atrás do ensinamento de sabedoria do Antigo Testamento permanece a
convicção de que Deus energicamente apoia a ordem moral e é atuante na presente
experiência dos seres humanos.
Todas as principais
formas literárias usadas na literatura de sabedoria estão refletidas nos livros
do Antigo Testamento: Provérbios, Jó e Eclesiastes, e em vários Salmos de
sabedoria. São elas: máximas, ou provérbios; um pequeno preceito seguido por
uma discussão; uma questão retórica; solilóquio; debate; poesia descritiva ou
contemplativa; contos imaginários; e historietas ilustrativas. Através de cada
forma, a Bíblia ensina-nos importante verdade. Não há conflito entre o clamor
do profeta para a justiça e o prudente convite para ser sábio. Justiça e
sabedoria são a mesma coisa; pois o verdadeiro homem sábio, sempre ciente da
presença de Deus, escolherá fazer o que é correto.
RICHARDS. Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia.
Uma análise de Gênesis a
Apocalipse capítulo por capítulo. pag. 382-384.
PV. 1.1. Provérbios
de Salomão. Esta seção, que perfaz o Livro I, tem dezesseis extensos discursos
cheios de admoestação, advertências e declarações expressivas, que tendem a
tornar um homem sábio, contanto que ele os conheça e os ponha em prática.
Ver sobre Autoria na
seção III da Introdução, onde há uma discussão completa. Partes deste livro são
atribuídas a outros autores: Agur (capítulo 30) e Lemuel (capítulo 31.1 -9). O
ponto de vista dos comentaristas conservadores é que Salomão foi o autor de
certas partes do livro, ao passo que o editor adicionou trabalhos de outros
autores. O ponto de vista dos críticos é que o nome dele foi vinculado ao livro
mediante uma convenção literária, visto que ele era conhecido como um homem
sábio. Nos tempos antigos, era comum empregar os nomes de pessoas famosas como
alegados autores de livros, em parte para prestar-lhes uma honraria, e em parte
para garantir a circulação das obras, ou para dizer o que o mestre teria dito,
se tivesse escrito o livro.
Provérbios. No
hebraico, mashal, que pode significar comparação ou símile, ou então discurso.
Ambas as ideias são encontradas em Provérbios. Quanto a uma discussão completa
a respeito, ver os parágrafos primeiro e segundo da introdução ao livro.
Títulos. Alguns
manuscritos dizem Sepher Sishle, o “Livro de Provérbios”. A Septuaginta diz
Provérbios de Salomão. Eruditos judaicos posteriores chamavam este livro, bem
como o livro de Eclesiástico, de Livros de Sabedoria. Não podemos estar certos
sobre o título dos manuscritos originais, mas Mashal é o mais provável, caso
houvesse um título.
Salomão. Ver o artigo
sobre ele no Dicionário. O título rei, neste livro, deve estar ligado a
Salomão, e não a Davi. Foi o rei sábio quem editou o material a seguir. Ele foi
um homem sábio (I Reis 3.4-15,16-18) e escreveu três mil provérbios e mil e
cinco cânticos (I Reis 4.32). Não há razão para duvidar de que parte da soma
maciça de literatura entrou no livro presente, mesmo que a compilação final do
material se desse depois do cativeiro babilônio.
Propósito do Livro
(1.2-6)
Pv. 1.2. Para
aprender a sabedoria, e o ensino. Os homens precisam conhecer e seguir a sabedoria.
Crawford H. Toy (International Criticai Commentary, in loc.) disse que o
reconhecimento intelectual vem em primeiro lugar. A idéia é um tanto semelhante
à doutrina de Sócrates do “conhece-te a ti mesmo”, na qual o conhecimento
racional é muito importante. Mas não há que duvidar da ideia da agência do
Espírito, que usa a sabedoria adquirida para operar a vontade de Deus.
Portanto, isso deve incluir a iluminação da alma.
A sabedoria. Ver o
artigo sobre esta palavra no Dicionário, quanto a explicações completas. O
original hebraico diz hokhmah, palavra que, “neste versículo, significa
inteligência moral e religiosa, ou seja, o conhecimento da lei moral de Deus,
no que diz respeito às questões práticas da vida. Não se trata da sabedoria
especulativa e filosófica dos gregos” (Charles Fritsch, in loc.). Quanto ao que
se supõe que a lei significava para Israel, ver Sal. 1.2.
O ensino. A palavra
hebraica correspondente é musar, que tem o sentido básico de disciplina, ou
punição. Visto que aparece aqui de forma paralela com sabedoria, sem dúvida
significa o corpo e a atividade de ensino aplicados aos homens mais jovens,
para indicar seu treinamento no judaísmo. O principal manual, como é lógico,
seria a lei, porquanto, sem a lei, o judaísmo não seria o judaísmo. Esta
palavra implica a submissão às autoridades que eram mestres, como pai, mãe e,
especialmente, os mestres da lei, sábios cuja atividade se constituía em
ensinar às gerações mais jovens. O próprio livro mostra que tais mestres não se
apegavam à Bíblia, conforme a conheciam em seus dias, mas, antes, inventaram
muitas declarações e discursos que ultrapassavam os dizeres da lei, embora
tivessem suas raízes apegadas a ela.
Para entender as
palavras de inteligência. “Compreensão” significa discernimento, distinguir o
certo do errado e seguir o caminho certo, pois, caso não acompanhasse a parte
que segue, uma pessoa não seria dotada de real discernimento. A sabedoria pode
passar de pai para filho, e de mestre para estudante. As palavras devem ser
inteligentes e vigorosas, mas por trás delas deve haver a força do exemplo. No
livro de Provérbios, há sessenta e cinco convites para que os leitores tenham
entendimento. Ver Pro. 5.1.
Um pai deve três
coisas a seus filhos: exemplo; exemplo; exemplo.
Cf. este versículo com
Heb. 5.14: para discernir não somente o bem, mas também o mal”.
Os homens possuem
capacidades para tanto, mas precisam ser treinados para distinguir o bem do
mal. Cf. I Reis 3.9. De outra sorte, o coração tornar-se-á néscio, ou seja,
insensível (ver Isa. 6.10). Ver também Fil. 1.10.
Pv. 1.3. Para obter o
ensino do bom proceder. O autor sagrado continuava a explicar por qual motivo
escrevera esta porção e compilara este livro. Não basta ensinar. O estudante
deve estar motivado a aprender, isto é, receber o que lhe for ensinado. Um
estudante sente-se motivado quando se assenta aos pés de seu mestre. O
professor deve possuir muito mais conhecimento que o seu aluno. Além disso, o
aprendiz tem de ver que o próprio mestre pratica o que diz, dando o exemplo correto.
Tornai-vos, pois,
praticantes da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a nós mesmos.
(Tiago 1.22)
Resultados Práticos.
Um estudante deve obter sabedoria, praticando a retidão, cumprindo a justiça e
a equidade. Em outras palavras, deve ter as principais características de um
homem espiritual, cuja filosofia o salva de seus atos profanos.
Bom proceder. No
hebraico original temos a palavra haskei, e não a mesma palavra para
“sabedoria”, do vs. 2. Esta palavra significa “bom senso”. Um homem viverá de
acordo com o bom senso em todos os seus atos e relacionamentos com outras
pessoas. Alicerçado sobre esse fundamento, ele praticará as coisas que se
seguem, listadas após a palavra sabedoria.
A justiça. Esta
palavra, no original hebraico, é cedheq, “reto". Tal homem não se
envolverá em veredas tortuosas. Antes, caminhará ao longo da “vereda reta e
estreita”.
O juízo. No hebraico,
mishpat, “decisão" em favor do que é reto, atos e relações retas, a
retidão em todas as situações.
A equidade. No
hebraico, mesharim, que tem o sentido básico de suave ou reto. Ver Isa. 25.6,
onde se fala sobre a vereda de um homem reto. O homem vive “no mesmo nível” de
outros homens, ou seja, de maneira honesta e justa. “Aquilo que é reto,
verdadeiro e honesto” (Ellicott, in loc.).
Pv. 1.4. Para dar aos
simples prudência. Os jovens, inexperientes que se impressionam facilmente por
palavras distorcidas, precisavam das instruções do mestre, e ele mostrou zelo
sobre a questão, pleno de conhecimento e de capacidade de comunicar. Os simples
seriam uma presa fácil para os homens maus e as más situações. A palavra
hebraica para isso é pathah, que significa “aberto”, ou seja, franqueado a
todas as espécies de influência. Paralelo a isso é o jovem. O jovem estaria
aberto a influências boas e más, pelo que o mestre quereria chegar a ele, antes
que os lobos o alcançassem.
Os jovens pensam que
os idosos são tolos;
Os idosos sabem que
os jovens são tolos.
(George Chapman)
Conhecimento. No
hebraico, yadha, “conhecer”, a palavra comum com esse sentido. Um corpo de
conhecimento tinha de ser comunicado, e o aluno tinha de dominar tal
conhecimento. Um jovem precisava de mais do que conhecimento, mas isso era o
sine qua non de qualquer indivíduo que quisesse iniciar a caminhada ao longo da
trilha do conhecimento.
Bom siso. No
hebraico, mezimmah, literalmente, “poder de planejar”, ou seja, ter bom senso
suficiente para tomar boas decisões, “decidir quanto ao próprio curso de ação”.
Um jovem teria de aprender a resolver, com propósito, por qual caminho deveria
seguir, o que deveria e o que não deveria fazer. Esta palavra podia ser usada
em bom sentido e em mau sentido. Cf. Pro. 12.2; 14.17; 24.8 (no mau sentido);
Pro, 2.11; 3.21; 5,2; 8.12 (no bom sentido). Cf. a frase “prudentes como as
serpentes” (Mat. 10.16). Ver também Luc. 16.8 e Efé. 5.16.
Emerson queixou-se em
um ensaio seu de que, “às vezes, o mundo parece estar em uma conspiração para
nos importunar com trivialidades enfáticas". Somente um homem instruído é
capaz de separar o que é trivial do que é importante.
Pv. 1.5. Ouça o sábio
e cresça em prudência. O indivíduo que já obteve alguma sabedoria, bem como o
aluno que está progredindo em conhecimento, continuará aumentando em sua
erudição: o homem que atingiu alguma compreensão continuará desenvolvendo-se em
discernimento e adquirirá habilidades. Seus esforços renderão dividendos. Ele
tornar-se-á um mestre cada vez mais apto na lei e na aplicação prática à sua
vida diária. Ele tornar-se-á um sábio praticante, e não meramente um sábio
aprendiz. As ideias e as palavras são repetidas com base nos versículos
anteriores.
Prudência. No
hebraico, leqah, que vem de uma raiz que significa receber, tomar. Ele recebe
de outros, e então doa a outros as instruções da lei.
Adquira habilidade.
Esta última palavra corresponde ao hebraico tahbuloth, termo náutico, de uma
raiz que significa corda, ou seja, um mecanismo de “pilotagem", a “arte
dos marinheiros”, Tal homem guiar-se-á corretamente na passagem por esta vida e
suas tempestades, e será capaz de guiar a outros pelo mesmo mar. A Septuaginta
e a Vulgata Latina dizem aqui “governar”. A ideia é a noção de habilidade
naquilo que o indivíduo fàz, estando em mira a vida espiritual. “Tanto os
mestres quanto os seus alunos são aprendizes. O mestre pode saber coisas além
de seu estudante, mas nunca para de aprender e aumentar as suas habilidades”
(Rolland W. Schloerb, in loc.). Cf. Pro. 11.14; 12.5; 20.18 e 24.6 quanto ao
uso da mesma palavra, habilidade. Ver também Jó 37.12. Ver II Ped. 1.5, que tem
a mesma ideia:
Reunindo toda a vossa
diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento.
Para entender
provérbios e parábolas. Este versículo é a continuação dos vss. 2-4. O livro de
Provérbios tem um alvo erudito e prático. As declarações expressivas e os
discursos sábios, dirigidos aos insensatos (isto é, os provérbios), serão
inúteis para os aprendizes a menos que os significados apropriados sejam
determinados. Temos aqui uma nova palavra, a figura ou parábola, que no
hebraico é meiicah, que vem de uma raiz que significa dobrar, envergar. Uma
palavra cognata é interpretar. Um intérprete é alguém que dá uma distorção
apropriada a um jogo de palavras, para trazer à tona o sentido delas. O único
outro lugar onde essa palavra hebraica é usada é Hab. 2.6, onde tem o sentido
de “poema escarninho”. O significado é alguma coisa difícil que precisa ser
interpretada para o aluno. O sábio será um mestre das interpretações.
Palavras e enigmas
dos sábios. Parte do ensino ministrado será relativamente fácil, sendo expresso
por meio de palavras sábias que não precisam de nenhuma habilidade especial
para serem entendidas. Mas ocasionalmente surgirão enigmas. A palavra hebraica
correspondendo é hidhah, que significa, basicamente, “dobrar para um lado”.
Alguma declaração do professor não será franca e direta como a maioria de suas
palavras; antes, terá algum reflexo que exigirá um exame mais próximo e uma
explicação para ser entendida. Algumas versões traduzem essa palavra por “nós”.
Algumas afirmações terão de ser desatadas, e não cortadas, dando soluções
fáceis. Ver sobre Nó Górdio no artigo chamado Nó, na Enciclopédia de Bíblia,
Teologia e Filosofia, que servirá bem para ilustrar o texto presente.
Como poderei eu
entender, se alguém não me explicar?
(Atos 8.31)
Essa palavra, que se
refere a alguma declaração enigmática, foi usada no tocante à charada de
Sansão, em Juí. 14.12-18, bem como às perguntas difíceis feitas pela rainha de
Sabá, as quais Salomão, naturalmente, sábio que era, foi capaz de resolver (ver
I Reis 10.1; II Crô. 9.1),
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2537-2538.
I. INTRODUÇÃO E LEMA
(1.1-7)
O título provérbios
dá nome ao livro tanto em hebraico quanto em português, de Salomão é uma referência
a ele como autor principal e maior inspirador desse tipo de literatura em Israel.
O hebraico mãsãl, “provérbio”, tem na sua raiz o significado de “comparação” e
é usado com referência tanto à alegoria ampliada de Ez 17.2ss quanto ao símile
colorido de 10.26. E usado também em relação à frase capciosa de ISm 24.13 ou
até com referência ao escárnio (Is 14.4; Hc 2.6). A maioria dos ditados desse
livro, no entanto, é de “comparações” no sentido de duas declarações que são
postas lado a lado em forma de antítese (e.g., 10.10,11,12,22) — um par contrastante
para destacar uma diferença significativa — ou sinônimos (e.g., 10.18) — uma
repetição poética — ou, com menos frequência, como uma evolução (e.g., 29.1).
Todos são lembrados
com facilidade, e chegam a ser simplistas, como manchetes de notícias
edificantes.
v. 1,2. O propósito
da coleção é afirmado com uma lista fascinante de palavras chave sabedoria:
heb. hokmãh, o termo geral, raramente usado também com o sentido de “astuto”
(2Sm 13.3), mas em Provérbios sempre com conotação elogiosa, disciplina: heb. müsãr,
uma das maneiras mais difíceis de se conseguir à sabedoria, com implicações de correção
se necessário (v. 22.15). palavras que dão entendimento', o verbo (bin) e o
substantivo vêm da raiz “discernir”. Essa é a forma em que se capta a realidade
de uma situação, distinguindo o que interessa do que é periférico.
v. 3. O conteúdo
dessa instrução e dessa percepção é detalhado em quatro grandes seções: a
sensatez (da raiz sãkal, “comportar-se de forma sábia”, como em ISm 18.30) é
considerada como sucesso e prosperidade (17.8). Possui a ambiguidade da
prudência ou de saber lidar com todas as tentações (Gn 3.6) ou possibilidades
de crescimento (21.11) que essa frase inclui. Talvez as palavras de Jesus em Lc
16.8 deem um vislumbre disso o que é justo-, heb. $edeq, uma expressão da
natureza de Deus, “o padrão pelo qual Deus sustenta o mundo” (Snaith) e muitas
vezes ocorre em conexão com justo (mispãt), uma palavra que tem no uso secular
o significado de “costume” (ISm 2.13), mas de forma geral é usado mais
como um pronunciamento,
como o de um juiz e,
predominantemente, como referência à vontade de Deus (SI 19.9 e salmo 119
passim). correto-, heb. mêsãrim, de uma raiz que significa “reto”, “plano”,
destacando imparcialidade, que demasiadas vezes faltava na “justiça” da época.
v. 4. dar prudência
aos inexperientes: prudência: heb. ‘ormãh, uma palavra que tem a conotação de
“astuto” em escritos anteriores (e.g., Js 9.4), mas tem um valor um pouco melhor
em Pv (1.4; 8.5; 8.12) e é contrastada aqui com inexperientes (pty), os quais
encontramos com frequência em Salmos (19.7; 119.130) e em Provérbios — não com
a implicação moral de “tolo”, mas certamente de alguém mal preparado para a
vida real; incapaz, ingênuo, quase um “bobo”. O paralelo jovens destaca e
sublinha a inexperiência e a imprudência que precisa de conhecimento (tda‘a t,
uma palavra que em geral significa informação e experiência acumuladas,
possivelmente know-how e diferente de sabedoria, Ec 1.16) e de bom senso, uma
palavra neutra que descreve a capacidade de planejar coisas para o bem (2.11)
ou para o mal (12.2). Não se tem em mente somente os inexperientes e jovens. O
sábio e o que tem discernimento vão aumentar o seu conhecimento (leqah) — uma
palavra relacionada a “tomar”, “pegar”, sugerindo que o conhecimento deve ser
aceito de Deus. Ela está ligada ao processo, e não ao conteúdo do aprendizado —
obterá orientação. Obter: (qãnãh, palavra comumente usada para se referir a
“comprar”): v. 4.7 e comentário.
A seção termina com
quatro tópicos a serem estudados e compreendidos: provérbios (como no v. 1),
parábolas (o outro único uso na Bíblia em Hc 2.6 sugere “sátira”), ditados [...]
dos sábios, que eram amplamente venerados no mundo antigo, e enigmas (perguntas
difíceis ou capciosas, Jz 14.12; lRs 10.1; ou ditados sombrios, SI 78.2).
CHARLES
G. MARTIN. Comentário Bíblico NVI. Editora
Vida. Livro de Eclesiastes. pag. 909-910.
Quando o povo hebreu
pensava na lei, a sua mente se voltava imediatamente para Moisés. Quando se
expressavam em cânticos, usavam as composições de Davi. E quando traziam à
memória os seus ditados e provérbios, pensavam em Salomão.
1. O Significado do
Título (1.1)
O versículo 1
provavelmente nos dá o título editorial para todo o livro como também a chamada
para a primeira seção dele. Essa designação não significa que todo o conteúdo
do livro se originou com Salomão, mas reconhece-o como o autor das partes
principais de Provérbios e também dá a ele o tributo como o sábio inigualável
de Israel. Veja a discussão mais abrangente acerca da autoria de Provérbios na
Introdução.
Acerca do significado
de Provérbios (mashal) veja a Introdução. A expressão filho de Davi reafirma
explicitamente a linhagem de Salomão (1 Rs 11.12). Mathew Henry diz acerca dessa
afirmação: “Cristo é com freqüência chamado de Filho de Davi, e Salomão era um
tipo dele no fato, como também em outros, de que ele abria a sua boca em
parábolas ou provérbios”.
2. O Propósito do
Livro (1.2-6)
Muito do que está em
Provérbios tem aplicação universal. O seu propósito fundamental, no entanto, é
religioso. Salomão tentou fazer mais do que compartilhar o seu conhecimento;
ele se esforçou em mostrar a Israel o caminho da santidade. As quatro palavras
para aprender a sabedoria nos dão o cerne do propósito do livro inteiro. Edgar
Jones diz que o termo hebraico aprender (conhecer) “traz o sentido de um
encontro e comunhão pessoais que vão além de mera curiosidade intelectual.
[...] O propósito do livro é conquistar a submissão dos jovens à lei moral de
Deus. Além de curiosidade, há compromisso”.
Provérbios é
direcionado em primeiro lugar aos jovens (4) e aos inexperientes, mas serve
também para todas as idades e estágios da vida. Até o sábio — a pessoa mais
idosa e experiente — pode adquirir habilidade (5). A palavra hebraica para
simples (4) “designa o oposto do homem moral. Não significa um simplório no
nosso sentido do termo, mas um pecador, um mau caráter. Provérbios tem uma
mensagem de moralidade para os ímpios”.3 Essa mensagem, no entanto, é expressa
de forma um tanto indireta por meio de enigmas (6; a ARC antiga traz
“adivinhações”), ou outras formas proverbiais que exigem algum tipo de
interpretação, em vez do método mais direto e franco das declarações proféticas
dos profetas de Israel.
EARL
C. WOLF. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 3. pag. 359-360.
1.1 — O prólogo do
livro de Provérbios (Pv 1.1-7) tem três partes: (1) título (v. 1), (2) objetivo
(v. 2-6) e (3) tema (v. 7). O título, Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei
de Israel (v. 1), pode sugerir três coisas: (1) Salomão é autor do livro, (2)
Salomão foi autor das principais contribuições ao livro, ou (3) Salomão é o
patrono da sabedoria em Israel, então seu nome está neste título como honorífico.
Como há outros autores (ex.: Agur [cap. 30] e Lemuel [Pv 31.1-10]), e algum
material de Salomão foi editado muitíssimo depois de sua morte (Pv 25.1),
parece mais sensato interpretar as palavras de abertura do livro como uma combinação
da segunda e terceira opções. Salomão não pode ser o autor de todo o livro, mas
é seu contribuinte mais notável e o modelo do ideal de sabedoria de Israel.
1.2,3 — Os versículos
2 a 6 explicam o objetivo do livro de Provérbios. Os verbos conhecer, entenderem
e receber referem-se às formas de adquirir sabedoria.
A palavra sabedoria
se refere à capacidade, o que pode ser adquirida em sua vida quando se põe em
prática os ensinamentos dados por Deus. O termo instrução também pode ser
traduzido como disciplina [NVI]; refere-se ao processo de recepção de conhecimento
e posterior aplicação à sua vida diária.
1.3 — A expressão
traduzida como instrução do entendimento, assim como a sabedoria, denota uma
habilidade em prática, tal como a de um artesão ou músico. Ou seja, a sabedoria
afeta a vida como a habilidade dos artistas afeta a prática de sua arte.
As palavras justiça,
juízo e equidade dão um contexto moral à sabedoria, instrução e palavras que
dão entendimento. A sabedoria bíblica permeia a vida inteira; exige uma mudança
de comportamento e comprometimento com a justiça.
1.4 — Os simples ou
ingénuos são os jovens inexperientes, com tendência ao erro. Os termos prudência
e bom siso incluem os fatos mais duros da vida. O sábio já aprendeu com a
experiência a distinguir o que é verdadeiro, louvável e bom do que é falso,
vergonhoso e ruim (Rm 12.1,2).
1.5,6 — A expressão
crescer em sabedoria vem destacar que o homem que adquiriu alguma compreensão deve
continuar desenvolvendo-se em discernimento; sempre há mais o que aprender.
O versículo 6 fala
das lições que a pessoa mais madura obtém por meio do estudo de provérbios, interpretação,
palavras dos sábios e adivinhações.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário
Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 950.
2. Valores
espirituais.
Por outro lado, as
palavras: “O temor do Senhor é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a
sabedoria e o ensino” (Pv 1.7, ARA), demonstram que a transmissão de valores
espirituais estava na mente de Salomão quando escreveu este livro. Esse também
é um princípio que o filho de Davi faz sobressair em Eclesiastes, livro também
de sua autoria. Dessa forma observamos que Salomão demonstra que nenhuma
moral-social se firma se não tiver valores morais e espirituais como princípio.
O valor espiritual
dos Provérbios fica bem demonstrado no uso que nosso Senhor Jesus Cristo fez
dos mesmos. Como bem observou Antônio Neves de Mesquita:
Jesus fez amplo uso
dos ensinos de Provérbios na sua doutrinação prática. Muitas das suas parábolas
estão calcadas em seus ensinos. Por exemplo, a parábola dos primeiros lugares,
quando convidado para banquetes, está firmemente relacionada com Provérbios
25.6,7, onde se lê: não se glories no meio dos reis nem te ponhas no meio dos
grandes, porque melhor é que te digam: sobe para aqui, do que seres humilhado
diante do príncipe. A parábola do rico insensato está bem retratada em
Provérbios 27. Jesus, na conversa com Nico- demos, parece, que copiou a palavra
de Agur, filho de Jaqué em Provérbios 30.4, e quando se refere ao povo, dizendo
que a sabedoria é justificada por seus filhos, está citando Provérbios no seu
todo.
A literatura
sapiencial, representada neste capítulo pelos livros de Provérbios e
Eclesiastes, revela que o temor do Senhor é o fundamento de todo o saber.
Ninguém pode ser considerado sábio de fato se os seus conselhos não revelam
princípios do saber divino. Um sábio não é alguém dotado apenas de muita
informação ou inteligência, mas alguém que aprendeu que o temor do Senhor é a
base de toda moral-social.
GONÇALVES. José,. Sábios Conselhos para um Viver Vitorioso
Sabedoria bíblica para quem quer vencer na vida. Editora CPAD. pag. 17.
Pv 1.7.O temor do
Senhor é o princípio do saber. Esta é uma das maiores afirmações da literatura
de sabedoria, e não somente do livro de Provérbios. É básica para
compreendermos a espiritualidade do Antigo Testamento. Apresento uma nota de
sumário sobre essa declaração, em Sal. 119.38, e muito mais ainda no artigo do
Dicionário acerca do artigo intitulado Temor. Dou ali uma abundância de
referências sobre o assunto. Portanto, forneço aqui apenas uma idéia ou duas,
confiando que o leitor obtenha a essência dessa declaração nos lugares
mencionados. O temor do Senhor é a “religião do homem sábio” (Rolland W. Schloerb,
in loc.). Possivelmente, a base da idéia era o terror que um pobre adorador
sentia perante o seu Deus, ou seus deuses ou seus idolos. Mas o vocábulo acabou
adquirindo as idéias de reverência, de profundo respeito, de uma
espiritualidade em geral, conhecendo e praticando a lei mosaica, por motivo de
profundo respeito ao Legislador. A expressão temor do Senhor ocorre por onze
vezes no livro de Provérbios, e a forma imperativa, temei ao Senhor, por outras
quatro vezes. O autor se referia a uma “piedade genuína” (Adam Clarke, in
loc.). A declaração serve de “nota- chave de todo o ensinamento do livro”
(Ellicott, in loc.). Ver Pro, 1.29; 2.5; 3.7; 8.13; 9.10; 10.27; 14.2,26,27;
15.16,33; 16.6; 22.4; 23.17 e 24.21. A leitura desses versículos dará ao leitor
uma ideia do que essa expressão significa para o autor-compilador do livro de
Provérbios.
O princípio do saber.
Ter conhecimento não consiste apenas em estar informado sobre as coisas. Antes,
é conhecer as realidades espirituais e ser transformado por elas. Para os
hebreus, naturalmente, a lei era básica para alcançar tal forma de
conhecimento. A lei era a primeira fonte do conhecimento. Um homem bom tem um
bom começo no empreendimento do conhecimento, quando começa com seu fundamento
e inspiração, “o temor a Yahweh”. A mente de tal homem, pois, é condicionada a
compreender e a prosseguirem seu aprendizado. A palavra aqui usada,
“princípio”, pode significar “parte seleta”. O termo hebraico é reshith, o
ponto inicial de qualquer coisa. Quanto a esta palavra como porção seleta, ver
Jer. 49.35 e Amós 6.6. Cf. também Sal. 9.10; Jó 28.28 e Eclesiástico 1.14.
Pirke Aboth 3.26 também contém algo similar. Essa palavra foi usada em Gên. 1.1
para indicar o ponto inicial da criação física. Portanto, ela também marca o ponto
inicial da criação espiritual.
“A reverência é a
reação da alma à presença divina, uma reação não somente ao poder, mas também
ao valor. Trata-se da atitude da alma para com Deus, em Quem a bondade e o
poder são uma coisa só. E é despertada no homem sempre que ele encontra aqueles
valores que considera santos. Tudo mais cede caminho e torna-se subordinado a
isso” (Harris Franklin Rali, em seu livro, Chrístianity, pág. 11).
Em contraste com o
bom aprendiz, que firmou seus pés no caminho para cima, está o insensato, que
tropeça ao longo de seu caminho de ignorância e negligência. Os insensatos
vivem sem levar Deus em conta. Eles são corruptos e cada vez se corrompem mais.
Também guiam outros pelo caminho errado. Tais homens desprezam a verdadeira
sabedoria e fazem da vida uma cruzada de fazer dinheiro, ou a tentativa de
alcançar algum outro alvo trivial.
Quando Deus,
antigamente, desceu do céu, em poder e ira, os homens não Lhe deram atenção.
Tais homens são ateus praticantes. Eles podem acreditar na existência de algum
Ser Supremo, que vive em algum lugar, mas isso não faz diferença alguma em sua
vida. Pois vivem como se Deus não existisse. Ver Sal. 14.1, que usa a palavra
“insensato”, para caracterizar tais indivíduos.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1238.
Pv. 1.7. Depois da
declaração de propósito extraordinariamente clara (1.2-6), o autor expressa no
versículo 7 o tema principal de Provérbios e o princípio fundamental da
religião revelada. Este é o versículo-chave e contém a palavra-chave de todo o
livro — sabedoria. O temor do Senhor é uma expressão comum nas Escrituras,
especialmente em Salmos e Provérbios. Esse temor não é o medo subserviente do
castigo, mas o temor que se expressa em reverência e admiração. E “um temor
reverente e adorador” (AT Amplificado). Rylaarsdam diz: “Temer a Deus não é ter
medo dele, mas colocar-se diante dele em admiração, visto que o significado de
tudo e o destino de todas as pessoas são determinados por aquilo que Deus é e
faz”.
Acerca de uma
expressão semelhante em Salmos 111.10, Davies diz: “O temor do Senhor nas
Escrituras não significa somente aquela paixão piedosa ou a reverência filial
ao nosso adorável Pai que está no céu, mas com frequência se transforma em
religião prática [...] implica todas as graças e todas as virtudes do
cristianismo; em resumo, toda aquela santidade de coração e de vida que é
necessária para se desfrutar da felicidade eterna”.
A palavra Senhor é
significativa nesse versículo-chave. E o termo usado na tradução portuguesa do
nome hebraico de Deus que foi revelado ao povo de Israel (Êx 3.13-15). Esse
nome era constituído de quatro consoantes, YHWH, e provavelmente se pronunciava
Yahweh (Javé). Esse foi o Deus que havia se revelado ao seu povo Israel e lhe
tinha dado um sentido especial de destino entre as nações da terra.
O princípio, “ponto
de começo” ou “parte principal”, sugere mais do que uma posição cronológica. E
a “parte principal e mais importante do conhecimento — isto é, o seu ponto de partida e a
sua essência” (AT Amplificado). Kidner diz: “O princípio (isto é, o princípio
primeiro e controlador, e não um estágio que uma pessoa deixa para trás; cf. Ec
12.13), não é meramente um método de pensamento correto, mas um relacionamento
correto; é a submissão (temor) adoradora ao Deus da aliança que se revelou”.6
Os loucos desprezam a
sabedoria. Esses loucos são os que rejeitam as orientações divinas para a vida
e trilham o caminho da impiedade. O seu caminhar obstinado é contrário ao
caminhar do homem de sabedoria e de bondade. O louco, no sentido usado em
Provérbios, não é meramente um sujeito simplório. “Os loucos zombam do pecado”
(Pv 14.9). O louco é espiritualmente rebelde, indiferente aos conselhos divinos
e que rejeita o temor do Senhor.7 Jesus retratou esse tipo de pessoa quando
chamou de louco o homem que não observava os seus ensinos (Mt 7.26-27).
Nesse versículo-chave
podemos ver: “As Exigências de Deus para uma Vida Santa”. E necessário haver:
1) o relacionamento correto com Deus — o temor do Senhor; 2) o discipulado
contínuo — o princípio da ciência (sabedoria); e 3) o respeito pelas
orientações divinas — somente loucos desprezam a sabedoria e a instrução.
Precisa haver a iniciação da nossa caminhada com Deus, a continuação da
comunhão redentora e a aplicação dos nossos corações à disciplina da instrução
divina.
EARL
C. WOLF. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 3. pag. 360-361.
“Temor do Senhor”
(1.7). Esse versículo chama o temor do Senhor de “o principio da sabedoria”, Um
comentário rabínico sobre Provérbios nos adverte que o temor aqui não é medo,
mas “reverência a Deus expressa em submissão à Sua vontade”. Isso é de fato o
sentido básico do “temor do Senhor” por todo o A l , onde poderia
frequentemente ser traduzido por “respeito reverente” ou mesmo “fé”. O
comentário corretamente observa que “Deus é o Criador do Universo e da vida. E,
consequentemente, impossível obter um entendimento do lugar do homem, no
desígnio e propósito do viver, sem um humilde acesso a Ele.” Mas por que é o
temor de Deus o “princípio” ou ponto de partida? Por causa da convicção de que Deus
é - e deve ser reconhecido — a única porta que abre para a verdadeira
sabedoria. Somente quando tudo é orientado para o Senhor, o verdadeiro conhecimento
moral ou a sabedoria podem ser obtidos.
RICHARDS. Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia.
Uma análise de Gênesis a
Apocalipse capítulo por capítulo. pag. 387.
O lema
v. 7. O conselho de
Provérbios está resumido nesse lema tão conhecido. O temor (yir’ãh) do Senhor,
como Provérbios vai nos ensinar, não é um pavor aterrador, mas um relacionamento
de reverência, transparência e obediência que traz força e vida (14.26, 27) e é
o fundamento (principio [Gn 1.1], “base”, e não começo) de uma cosmovisão coerente
e digna do título conhecimento. Mas os insensatos abraçam tudo que é contrário
a esse relacionamento encorajador e fortalecedor.
Eles são
classificados em três tipos em Provérbios (kestl, ’ewil como aqui, e nãbãl), mas
todos são caracterizados por obstinação e pela determinação insolente de não
dar ouvidos à sabedoria dos outros ou à ordem de Deus. desprezam', esse verbo
resume a sua atitude; se procurarmos a palavra “desprezar” numa concordância,
vamos descobrir exatamente o tipo de pessoas que Provérbios tem em mente (Esaú,
Gn 25.34; Mical, 2Sm 6.16; Sambalate, Ne 2.19; Amã, Et 3.6).
CHARLES
G. MARTIN. Comentário Bíblico NVI. Editora
Vida. Livro de Eclesiastes. pag. 910.
1.7 — O temor do
Senhor é o ingrediente mais básico da sabedoria, uma virtude que só pode ser
alcançada
quando se conhece Deus e submete-se à Sua vontade. Ter conhecimento sobre algo
e nenhum de Deus aniquila o valor de possuir esse conhecimento. Só os loucos
rejeitaram o temor ao Senhor.
O verbo desprezar tem
uma forte carga negativa e dá mais peso ao fato de que não temer a Deus
equivale a rejeitar toda sabedoria (Dn 11.32; Jo 17.3).
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário
Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 950-951.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva.
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