O MINISTÉRIO DE MESTRE OU DOUTOR
Data:
8 de Junho de 2014 HINOS
SUGERIDOS 141, 258, 429.
Texto Áureo
“De modo que, tendo
diferentes dons, segundo a graça que nos é dada: [...] se é ensinar, haja
dedicação ao ensino" (Rm 12.6,7).
VERDADE PRÁTICA
Os
vocacionados por Deus para o ministério do ensino são por Ele chamados para
edificar a Igreja de Cristo
LEITURA BÍBLICA EM
CLASSE
Mateus
7.28,29; Atos 13.1; Romanos 12.6,7; Tiago 3.1.
Mateus
7
28
- E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua
doutrina,
29
- porquanto os ensinava com autoridade e não como os escribas.
Atos
13
1
- Na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber:
Barnabé, e Si meão, chamado Níger, e Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado
com Herodes, o tetrarca, e Saulo.
Romanos
1 2
6
- De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada: se é
profecia, seja ela segundo a medida da fé;
7
- se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino;
Tiago
3
1
- Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais
duro juízo.
INTERAÇÃO
Nunca
foi tão necessário, como hoje, a igreja investir na figura do mestre cristão.
Quando o crente é ensinado a estudar a Bíblia para compreender o mundo e a
cultura bíblica, relacioná-la com o mundo do século XXI e aplicá-la à vida das
pessoas de maneira competente, o risco de sofrermos o engano é amenizado. Para
quem pensa ser prejudicial à vida espiritual estudar a Bíblia com seriedade,
deveria pensar na elaboração das traduções bíblicas, por exemplo, disponíveis
no Brasil. Se não houvesse homens e mulheres levantados por Deus e versados na
erudição (línguas hebraica, grega, aramaica, egípcia e outras; a cultura oriental;
a arqueologia para se achar manuscritos dos mais antigos possíveis), por certo,
não teríamos a Bíblia traduzida em nosso idioma. Por isso, valorize quem se
esmera por conhecer mais as Escrituras.
OBJETIVOS
Após
esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Aprender que Jesus, o mestre
da Galileia, é mestre por excelência.
Identificar a ordem de Jesus aos
seus discípulos para ensinar a igreja do primeiro século.
Saber da importância do
dom ministerial de ensinador na igreja local.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Prezado
professor, no terceiro tópico da lição o autor afirma: “Em nosso país, a
leitura é um problema cultural. Se as pessoas leem pouco, a igreja pouco lerá”.
Partindo do princípio que essa afirmação é um fato verdadeiro no contexto
cultural brasileiro, selecione um texto que achar pertinente e leve para a sala
de aula. No final da lição, proponha a turma uma roda de leitura. Esta
atividade objetiva estimular o hábito de leitura. Então, distribua o texto ora
escolhido e peça a um ou dois alunos para lerem. Ao término, discuta o texto
com os alunos. Conclua dizendo como pode ser prazeroso e construtivo cultivar o
hábito de ler.
PALAVRAS-CHAVE
Doutor ou Mestre: Pessoa que manifesta sapiência.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
O
ministério do ensino da Palavra é primordial para a igreja exercer o
discernimento no que tange ao tempo em que vive (culturas, teologia, filosofias
etc.). Tão importante é a função do mestre na igreja que as Escrituras declaram
o quanto ele deve esforçar-se intelectualmente para exercer tão nobre tarefa (Rm
12.7; 1 Tm 4.13). É uma tarefa importante e indispensável que exige muito de
quem a desempenha.
I -
JESUS, O MESTRE POR EXCELÊNCIA
1. O mestre da
Galileia. Doutor
incomparável, “percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, e
pregando o evangelho do Reino [...]” (Mt 4.23). No ministério terreno, seus
sermões, ensinos e discursos eram inflamados pelo amor às pessoas. Diferente
dos escribas, Ele ensinava como quem tinha autoridade (Mt 7.28,29). A verdade
emanava da pessoa de Jesus! Os que o ouviam só tinham duas opções: amá-lo ou
odiá-lo. Era impossível ouvi-lo e ficar indiferente. Jesus transtornava a
consciência do acomodado e aquietava o coração do perturbado.
2. O mestre divino. Em visita a Jesus,
um mestre da Lei chamado Nicodemos, educado nas melhores escolas religiosas de
Israel e grande conhecedor das Escrituras hebraicas, reconheceu em Jesus um
personagem incomum de seu tempo (]o 3.1,2). Esse mesmo fariseu, que era
príncipe dos judeus, afirmou que o Nazareno não poderia fazer o que fazia se
Deus não fosse com Ele. Jesus é chamado Mestre cerca de quarenta e cinco vezes
ao longo do Novo Testamento.
3. O mestre da
humildade.
A fim de ensinar os discípulos acerca da humildade, Jesus “levantou-se da ceia,
tirou as vestes e, tomando uma toalha, cingiu- -se. Depois, pôs água numa bacia
e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugarmos com a toalha com que
estava cingido” (Jo 13.4,5). Que cena chocante para os judeus! A pergunta de
Pedro descreve essa perplexidade (v.6). Era inimaginável um mestre encurvar-se
para lavar os pés de pessoas leigas. Jesus era um mestre e deu o exemplo aos
discípulos. O Emanuel, “Deus conosco”, encurvou-se diante dos homens! Isso se
deu porque o ensino de Jesus não era mero discurso, mas “espírito e vida” (Jo
6.63). Ele nos convida a fazer o mesmo: “Vós me chamais Mestre e Senhor e
dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós
deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para
que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.13-15).
SINOPSE
DO TÓPICO (1)
Jesus,
o mestre da Galileia, é reconhecido em o Novo Testamento tanto como o Mestre
Divino quanto o Mestre da humildade.
II - O
ENSINO DAS ESCRITURAS NA IGREJA DO PRIMEIRO SÉCULO
1. Uma ordem de
Jesus.
Antes de ascender aos céus, de modo solene Jesus determinou aos seus discípulos
que ensinassem “todas as nações [...] a guardar todas as coisas” que Ele tinha
ordenado (cf. Mt 28.19,20). O livro de Atos registra a obediência dos primeiros
apóstolos no cuidado de cumprir a determinação de Jesus. Após a descida do
Espírito Santo (At 2.1-6),
o
discurso de Pedro foi um verdadeiro ensino proferido no poder do Espírito Santo
(At 2.14-40). Tendo em vista a plena edificação da Igreja na Palavra, o Senhor
Jesus, através do Espírito Santo, dotou alguns de seus servos com o dom
ministerial de mestre ou doutor (Ef 4,11). Esse dom é uma capacitação
sobrenatural do Espírito. Isso não significa, porém, que devemos descuidar de
nossa formação intelectual, pois o preparo para o ensino passa pela capacidade
de aprender para posteriormente ensinar.
2. A doutrina dos
apóstolos. O
texto de Atos 2.42 informa-nos que os primeiros convertidos “perseveravam na
doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”. Além
disso, acrescenta que em “cada alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais
se faziam pelos apóstolos” (v.43). A “doutrina dos apóstolos” aqui referida
trata-se do conjunto de ensinos de Cristo ministrados por eles de forma
constante e eficaz para o crescimento integral dos novos crentes.
3. Ensinamento
persistente.
Os primeiros mestres das Escrituras foram os integrantes do Colégio Apostólico
(At 5.42, cf. vv.40,41). A Igreja começou nas casas, onde o ensino era
ministrado a pequenos grupos nos lares. Falando aos anciãos de Éfeso, o
apóstolo Paulo mostrou-se como um verdadeiro mestre que ensinava “publicamente
e pelas casas, testificando, tanto aos judeus como aos gregos, a conversão a
Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20.20,21). Deus havia preparado
homens para ensinar e levantado “doutores” na igreja em Antioquia (At 13). O
Pai Celestial igualmente deseja levantar mestres em sua igreja. Vivemos dias em
que este ministério nunca foi tão necessário.
SINOPSE
DO TÓPICO (2)
O
ensino na igreja do primeiro século foi ordenado por Jesus para os apóstolos
ensinarem persistentemente.
Ill - A
IMPORTÂNCIA DO DOM MINISTERIAL DE MESTRE
1. Uma necessidade
urgente da igreja.
Para o ministério de ensino ser eficaz na igreja local é preciso haver pessoas vocacionadas.
Não são todas que reúnem informações exegéticas, históricas e literárias da
Bíblia, aplicando-as como é necessário. Deus concedeu à sua igreja mestres, e é
preciso que ela invista neles também. Muitas vezes, por absoluta falta de
preparo dos obreiros, predomina a superficialidade bíblica, a infantilidade
“espiritual” e o aumento do engano promovido pelas astúcias dos falsos mestres
(2 Pe 2.1). Esse dom do Senhor é para a igreja amadurecer em todas as dimensões
da vida cristã, ao mesmo tempo em que desmascara os falsos ensinos (Ef 4.14; Os
4.6).
2. A responsabilidade
de um discipulado contínuo. Estamos acostumados a pensar que o discipulado termina
quando o novo convertido é batizado. Não há nada mais equivocado! O Senhor
Jesus chamou-nos para ser os seus discípulos por toda a vida. Por isso, quem
ensina instrui os crentes para a maturidade da fé.
É
um aprendizado diário, permanente e contínuo, tanto para quem é discipulado
quanto para quem está discipulado!
3. Requisitos
necessários ao mestre. Apresentaremos alguns requisitos importantes para a
igreja reconhecer pessoas com o dom ministerial de mestre em nossa época:
a) Um salvo em
Cristo.
Não pode haver dúvidas quanto à própria experiência salvífica por parte do
vocacionado para o ministério do ensino (2 Tm 2.10-13). Infelizmente há pessoas
que não creem naquilo que ensinam. Assim, não há verdade nem firmeza nelas.
b) O hábito de ler. Em nosso país, a
leitura é um problema cultural. Se as pessoas leem pouco, a igreja pouco lerá.
Entretanto, como ensinaremos se não lermos? O hábito da leitura era levado a
sério no ministério do apóstolo Paulo (1 Tm 4.13; 2 Tm 4.13).
c) Preparo
intelectual.
A Bíblia é o instrumento de trabalho do ensinador cristão. Considerando este
livro milenar, veremos que a cultura e o mundo da Bíblia são diferentes do
nosso. Por isso, o mestre deve compreender o mundo da Bíblia (suas questões
culturais, linguísticas, exegéticas etc.) para não fazer apelações fantasiosas,
apresentando-as como exposição da Palavra de Deus. d) Um coração em chamas. Martin Loyd-Jones dizia que a verdadeira
pregação era teologia em fogo. É vontade de Deus que o vocacionado ao ensino
utilize os avanços das ciências bíblicas para pregar a Palavra de Deus na força
do Espírito Santo. Precisamos alcançar as mentes e os corações dos nossos dias,
e isto apenas será possível quando tivermos obreiros com uma mente bem
preparada e conectada a um “coração em chamas” e apaixonado por Jesus (At 3.12-26).
SINOPSE
DO TÓPICO (3)
O
dom ministerial de mestre é uma necessidade para a igreja local e uma
responsabilidade para um discipulado permanente.
CONCLUSÃO
É
preciso desfazer a ideia propagada ao longo de décadas acerca do preparo
intelectual do crente. Não é verdade que necessariamente ele esfriará na fé se
estudar. Se fosse assim Paulo seria o mais frio dos apóstolos do Novo
Testamento, pois não havia obreiro mais bem preparado que ele (At 17.15-34; Tt
1.12). Este, no entanto, soube conjugar preparo intelectual e poder do alto. É
disso que as nossas igrejas precisam: homens cheios do Espírito, mas do mesmo
modo, com a mente iluminada para responder, com mansidão e temor, a razão da
nossa esperança (1 Pe3.15).
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO
I
Subsídio
Teológico
“MESTRE
Nas
Escrituras, essa palavra está geralmente designando uma pessoa que é superior a
outras, em poder, autoridade, conhecimento ou em algum outro aspecto. Várias
palavras são traduzidas como ‘mestre’ nas várias versões da Bíblia Sagrada. A
palavra hebraica mais frequente, ’adon, significa ‘soberano' ou ‘senhor’. O significado
literal de várias palavras gregas varia de ‘instrutor’ ou didaskalos, como em
Mateus 10.24, até ‘déspota’ ou despotes, com em 1 Pedro 2.18. Outra palavra
grega traduzida como ‘mestres, epistates, significa ‘meu mestre’ (‘superior’ ou
‘professor’), com em João 4.31. [...] Duas palavras gregas para ‘mestres’
ocorrem em Mateus 23.8-10, ‘Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi [rhabbi,
‘meu mestre’, ou ‘professor’], a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a
ninguém na terra chameis vosso pai porque um só é o vosso Pai, o qual está nos
céus. Nem vos chameis mestres [kathegetes, ‘líderes’], porque um só é vosso
Mestre, que é o Cristo" (PFEIFFER, Charles F.; REA, John; VOS, Howard F.
(Eds.). Dicionário Bíblico Wydiffe.
1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, pp. 1261,62).
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
ARAÚJO,
Carlos Alberto R. A Igreja dos
Apóstolos: Conceito e Forma das
Lideranças na Igreja Primitiva, l.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. GANGEL,
Kenneth O.; HENDRII CKS, Howard G (Eds.), Manual
de Ensino para o Educador Cristão: Compreendendo
a natureza, as bases e o alcance do verdadeiro ensino cristão, 4.ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2005.
EXERCÍCIOS
1.
Quais eram as duas opções de quem ouvia o Mestre dos mestres?
R:
Amá-lo ou
odiá-lo.
2.
O que Jesus fez a fim de ensinar acerca da humildade?
R:
O mestre da
Galileia “levantou-se da ceia, tirou as vestes e, tomando uma toalha,
cingiu-se. Depois, pôs água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos
e a enxugar-Ihos com a toalha com que estava cingido” (Jo 13.4,5).
3.
Qual foi a ordem de Jesus para a Igreja antes de ascender aos céus?
R:
Determinou aos
seus discípulos que ensinassem “todas as nações [...] a guardar todas as
coisas” que Ele tinha ordenado.
4.
De acordo com a lição, o que significa a doutrina dos apóstolos?
R:
Trata-se do
conjunto de ensinos de Cristo ministrados por eles, de forma eficaz, a fim de
produzir crescimento integral aos novos crentes.
5.
O que é necessário para que o ministério de ensino na Igreja seja eficaz?
R:
É preciso haver
pessoas vocacionadas.
Revista
Ensinador Cristão CPAD, n° 58, p.41.
Vivemos
num tempo de avanço tecnológico e de multiplicação das informações em distintas
áreas do conhecimento. Basta um computador conectado à internet e, pronto: um
mundo outrora desconhecido agora se abre para você. Possivelmente, o seu aluno
conhece o assunto a ser lecionado nesta semana. Certamente ele pesquisou muita
coisa em livros e na internet. E pode ter acumulado até mais informação que o
conteúdo preparado para a sua aula. Este é o nosso mundo globalizado!
Nesta
lição, o nosso desafio é explicar como se pode relacionar o dom ministerial de
mestre com as urgências existenciais dos dias contemporâneos. Não por acaso,
ela abre o tema analisando o ministério do ensino em Jesus de Nazaré. O mestre
da Galileia era antenado com as circunstâncias sociais, políticas e espirituais
do seu tempo. Com propriedade, Jesus ensinou sobre a política, as prevenções
contra o materialismo e confrontou os discípulos a respeito do verdadeiro
sentido da vida humana. Levando sempre uma proposta de vida segundo a
perspectiva do Reino de Deus. É a urgência da tarefa de todo educador cristão:
levar os alunos a pensarem as demandas da existência à luz do Evangelho e
segundo os aspectos positivos e negativos do Reino de Deus (Mt 5-7).
Preeminência
do ministério do mestre
Podemos
afirmar historicamente que, logo após a morte dos santos apóstolos, as
testemunhas da ressurreição do Senhor, os mestres eram líderes chaves na
comunidade antiga, assim como os profetas, os evangelistas e os pastores. Ao
ponto de a Bíblia registrar a exortação apostólica: "Os presbíteros que
governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os
que trabalham na palavra e na doutrina" (1Tm 5.17). Os presbíteros que se
dedicavam ao exame da Palavra de Deus eram estimados por duplicada honra porque
eles se afadigavam dia e noite para compreender os mistérios divinos (Rm 12.7).
A mensagem do Reino tinha de fazer sentido na vida dos cristãos de outrora.
Caro
professor, o Pai concedeu o dom ministerial do mestre para a sua Igreja atingir
a estatura de Cristo em sua plenitude. Portanto, estude, persista em ler e
reflita acerca da fé; não se esqueça de que os nossos alunos devem enfrentar as
questões da vida sob o prisma da mensagem do Reino de Deus. E você professor, é
um instrumento essencial nesse processo de formação cristã.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Entre os dons
ministeriais, concedidos por Deus para edificação e “aperfeiçoamento dos
santos”, nas igrejas locais, está o de “doutor” ou “mestre”. Não é um dom muito
reconhecido em geral, nas comunidades cristãs, por falta de entendimento acerca
do seu valor, ou até por preconceito contra esses termos. As pessoas não têm
qualquer receio de tratar um obreiro como “pastor”, “evangelista”, “bispo” ou
até “apóstolo”, nos dias presentes. Mas não é comum um obreiro, que tem o dom
de mestre ser chamado de “mestre” ou “doutor”. Isso se deve à visão que se tem
do que é ser dotado de capacidade para o exercício desse dom ministerial, tão
importante quanto os demais dons de Deus. Ou pelo “ar de superioridade” que
alguns demonstram no exercício desse dom.
Em parte, também,
percebe-se que, em muitos casos, os mestres ou doutores não têm a devida
humildade no exercício do dom que Deus lhes concedeu. Alguns, ressaltamos, portam-se
com diletantismo ou soberba, pelo fato de serem intelectualmente mais
galardoados do que outros. Há até os que cobram “cachê” para ensinar, seguindo
o exemplo de cantores ou pregadores, que só servem por dinheiro, e
mercantilizam os dons e talentos que são concedidos por Deus. Não se deve
generalizar em caso algum o comportamento dos obreiros. Há os mestres ou
doutores que, a despeito de seu elevado grau de conhecimento bíblico, teológico
e secular, são humildes e sinceros, colocando-se como servos a serviço das
igrejas.
Os bons mestres ou
ensinadores são muito úteis às igrejas locais. Muitas vezes, os pastores,
assoberbados com as atividades administrativas, construindo templos, cuidando
do patrimônio, em viagens pastorais, e tantas atividades, próprias dos que
realmente trabalham em prol da obra do Senhor, não têm tempo de preparar
estudos e mensagens substanciais, para alimentar a igreja local. E recorrem aos
mestres ou ensinadores, para que lhes ajudem nessa imensa tarefa de edificar o
rebanho. Quando o pastor também é mestre pode suprir a igreja com o ensino da
Palavra. Mas nem todo pastor tem esse dom. Assim como nem todo mestre tem o dom
de pastor.
A atividade
primordial do mestre, doutor ou ensinador é cuidar do ensino fundamentado da
Palavra de Deus. É tão importante que a Bíblia requer que haja dedicação ao
exercício desse dom. “...se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja
dedicação ao ensino ’ (Rm 12.7 — grifo nosso). Talvez seja uma das grandes
falhas em muitos ministérios, nas igrejas, a falta de dedicação ao ensino. Há
pessoas que querem ensinar sem o mínimo preparo para essa atividade. Nos tempos
pós-modernos, mais do que nunca, existe a necessidade de bons ensinadores. Há
questionamentos e problemas que não havia há alguns anos. E muitos pastores não
estão preparados para dar respostas adequadas ao rebanho.
O avanço das
ciências, das tecnologias, as questões da bioética, as mudanças rápidas no
comportamento social provocam questões que exigem, não só o conhecimento
bíblico e teológico, mas também secular.
O mestre, doutor ou
ensinador precisa ter o cuidado de não se considerar superior ao pastor ou
dirigente de uma congregação, pelo fato de ter mais conhecimento que a média
dos obreiros. Humildade, modéstia, sabedoria e equilíbrio são qualidades
indispensáveis aos que são dotados por Deus de mais capacidade para se
dedicarem ao ensino. Mais cuidado ainda deve ter o mestre, pois deles será
requerido mais, como diz Tiago: “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres,
sabendo que receberemos mais duro juízo” (Tg 3.1).
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 118-119.
ENSINO
A importância do ensino Cristão
1. Ensinemos por meio
de palavras, pela mensagem dos hinos, pela força do exemplo. O ensino faz parte
da Grande Comissão (ver Mat. 28:20).
2. Os dons
espirituais existem para servir de auxilio no ministério do ensino, e o alvo de
tudo é a maturidade espiritual, o crescimento e o aperfeiçoamento dos santos
(ver Efé. 4:11 e ss).
3. Os verdadeiros
mestres são dádivas divinas à igreja, para seu beneficio (ver Efé. 4:11). E o
dom do «conhecimento. é dado especialmente aos mestres, a fim de que sejam
eficazes em seu ministério (ver I Cor. 12:8).
4. O ensino tem um
efeito edificador. Portanto, é importante, se a igreja tiver de ser edificada.
O ensino é vital para esse propósito.
5. As Escrituras
Sagradas nos foram transmitidas nessa forma escrita a fim de que o ministério
do ensino fosse facilitado e se tomasse mais eficaz.
6. Acima de tudo o
mais, Cristo foi o Mestre Suprem o. Se seguirmos o exemplo que nos deixou, sem
dúvida haveremos de ensinar.
7. Aqueles que
somente evangelizam, negligenciando o ensino cristão, terão de contentar-se com
uma igreja infantil, carnal, com disputas e cisões na igreja local. Um povo
faminto espiritualmente, será um povo infeliz.
8. A ausência de
ensino cristão arma o palco para a apostasia. (ver Heb. 6:1 e ss).
9. Chega um tempo, na
vida de cada crente, que se espera que ele se tome um mestre, e não um aprendiz
(ver Heb. 5:12).
10. Observemos a
importância emprestada por Paulo à necessidade de haverem homens bons que sejam
mestres de outras pessoas na fé cristã, para que esta possa passar de uma
geração à outra (ver 11 Tim, 2:2).
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 2. Editora Hagnos. pag. 390.
No Novo Testamento
Terminologia. Alguma
forma da palavra "ensinar" é usada em várias versões para traduzir
cinco termos gregos, quatro dos quais são precisamente traduzidos pela versão
RSV em inglês.
1. O grego matheteuo,
"ser" ou "fazer um discípulo" (Mt 28.19; At 14.21).
2. O grego paideuo,
"educar" ou "treinar" (At 22.3; Tt 2.12).
3. O grego katecheo,
"instruir" (1 Co 14.19; Gl 6.6 duas vezes).
4. O grego
kataggello, "proclamar" (At 16.21; RSV "advogar").
5. O grego
sophronizo, "encorajar", "aconselhar" (Tt 2.4).
A versão RSV em
inglês traz o termo "ensino" em Lucas 10.39 como a tradução do termo
logos.
A ideia transmitida
pela palavra "ensinar", por seus cognatos e compostos reside
inteiramente sobre alguma forma do verbo didasko.
Deus como mestre.
Paulo afirmou que sua pregação não consistia de palavras ensinadas pela
sabedoria humana, mas pelo Espírito (1 Co 2.13). O apóstolo absteve-se de falar
sobre o amor fraterno aos tessalonicenses, porque afirmou que eles foram
instruídos por Deus a amarem-se uns aos outros (1 Ts 4.9). O Senhor Jesus
encorajou seus discípulos a não se preocuparem com o que deveriam dizer nas
ocasiões de perigo e perseguição, porque naquela mesma hora o Espírito Santo
lhes ensinaria o que deveriam dizer (Lc 12.12). O Espírito Santo, disse o nosso
Senhor, viria como um Paracleto e ensinaria todas as coisas aos seus discípulos
(Jo 14.26). A unção do Espírito é o tutor perpétuo do crente (1 Jo 2.27).
O Senhor Jesus como
mestre. O ministério de Jesus por toda a Palestina é descrito como sendo
essencialmente de ensino, seja para as multidões casuais ou para os seus
próprios discípulos; quer nas sinagogas, nos lugares públicos, ou na audiência
dos líderes religiosos (Lc 5.17). O efeito sobre suas reuniões era
impressionante e reforçava a convicção de que Ele ensinava não como os
escribas, mas como alguém que possuía autoridade (Mt 7.28ss.; 13.54; Mc 1.22;
6.2; cf. Lc 4.32). Veja Autoridade. O Senhor Jesus afirmou que as palavras que
Ele falava lhe haviam sido ensinadas por Deus Pai (Jo 8.28), e que seu ensino
vinha do Pai (Jo 7.16ss.). Seu ensino foi caracterizado pelo uso frequente de
parábolas (Mc 4.2).
Nicodemos reconheceu
que Jesus era um mestre vindo de Deus, e que isto fora atestado por obras
poderosas (Jo 3.2). Os principais dos sacerdotes e escribas o interrogaram
quanto à fonte de sua autoridade de ensino (Mt 21.23; cf. Jo 18.19). Até mesmo
os seus adversários admitiram francamente que o Senhor ensinava o caminho de
Deus imparcialmente, independente do temor ou do favor do homem (Mc 12.14; Lc
20.21; Mt 22.16; cf. Jo 18.19). Certamente, todos estavam admirados com seu
ensino (Mt 7.28; 13.54; 22.33; Mc 1.22; 11.18) e perguntaram se era um novo
ensino (Mc 1.27). Em seu circuito inicial na Galileia, Cristo foi glorificado
por todos devido ao seu ensino (Lc 4.15). Nos últimos dias de seu ministério,
Ele estava diariamente no templo ensinando (Lc 19.47; 20.1; cf. Mc 14.49; Jo
18.20). Seu ministério foi caracterizado pela ativi-dade que os judeus -
entendendo mal algumas de suas declarações - questionavam, não sabendo se Ele
iria ensinar a Diáspora e os gentios (Jo 7.35).
A reputação do Senhor
Jesus Cristo como mestre rapidamente lhe trouxe o respeitoso título de rabi
(q.v.), ou raboni ("meu senhor", um extraordinário título para um
mestre distinto) por parte de seus discípulos (Mc 9.5; 11.21; Jo 1.49),
daqueles que o ouviam (Mc 12.14; Jo 3.2), e até mesmo de seus inimigos (Lc
10.25; 11.45; 19.39; 20.28). Este título aramaico às vezes é deixado sem uma
tradução, às vezes é interpretado, porém é mais frequentemente traduzido pela
palavra grega didaskalos ("mestre" ou "professor"), que
embora não seja uma tradução literal é verdadeira no sentido do contexto
original. O Senhor Jesus aceitou este título como indicativo do verdadeiro
relacionamento existente entre si mesmo, como mestre, e os seus seguidores,
como discípulos (Jo 13.13; Lc 6.40; Mt 10.24ss.). O tema central no ensino do
Senhor Jesus era
o reino de Deus (Mt
5.2; 9.35). Lucas descreveu o relato de seu Evangelho como pertencendo a tudo o
que Jesus começou tanto a fazer como a ensinar (At 1.1). Dentre as muitas
lições que o Senhor Jesus ensinou aos seus discípulos, os evangelistas
escolheram várias para as suas menções particulares; por exemplo, o Sermão do
Monte (q.v.); o pedido de seus discípulos para que lhes ensinasse a orar (Lc
11.1): sua rejeição, morte e ressurreição em Jerusalém (Mc 8.31; 9.31); e sua
segunda vinda (Mt 24-25; Mc 13; Lc 17.20-27; 21). Os apóstolos como mestres.
Durante seu ministério, o Senhor Jesus enviou os seus discípulos para ensinar
(Mc 6.30). Mais tarde, o Senhor mandou que fizessem discípulos de todas as
nações, e ensinando-os a observar tudo o que Ele havia ordenado (Mt 28.20).
Depois do Pentecostes, que ocorreu após a ascensão, os apóstolos ensinaram ao
povo que o Senhor Jesus ressuscitou dos mortos (At 4.2). O concílio judeu
mandou que Pedro e João desistissem de ensinar no nome de Jesus (At 4.18), uma
ordem que eles não atenderam, e foram presos no templo enquanto continuavam a
ensinar (At 5.21, 24ss.). Apesar de uma outra severa advertência das
autoridades, os apóstolos continuaram a ensinar e pregar a Jesus Cristo (At
5.42) até que toda Jerusalém estivesse repleta de seu ensino (At 5.28). Barnabé
e Paulo ensinaram durante um ano inteiro na igreja que estava em Antioquia (At
11.26; cf. 15.35). O procônsul Sérgio Paulo ficou admirado com o ensino de
Paulo sobre o Senhor Jesus (At 13.12). Quando os atenienses ouviram Paulo, eles
o levaram ao Areópago para que pudesse lhes expor seu novo ensino (At 17.19).
Paulo passou dezoito meses em Corinto ensinando a Palavra de Deus (At 18.11), e
mais tarde lembrou aos presbíteros efésios que ele lhes havia ensinado
publicamente e de casa em casa durante sua estada em Éfeso (At 20.20). Apolo,
embora conhecendo apenas o batismo de João, ensinou diligentemente em Éfeso as
coisas do Senhor (At 18.25). Os discípulos judeus acusaram Paulo diante de
Tiago e dos presbíteros em Jerusalém, de ter ensinado os gentios a abandonar as
leis de Moisés, a deixar a prática da circuncisão, e a abandonar os costumes
judeus (At 21.21). Esta mesma acusação foi lançada pelos próprios judeus quando
descobriram Paulo no templo e exclamaram contra ele como alguém que havia
ensinado os homens em toda parte contra os judeus, a lei, e o templo (At
21.28). Pela palavra falada e escrita, os apóstolos ensinaram a mensagem do
cristianismo aos seus contemporâneos. Mestres na igreja. Paulo refere-se
repetidamente à sua designação como mestre dos gentios na fé e na verdade (1 Tm
2.7; 2 Tm 1.11) e de sua doutrina (2 Tm 3.10; 1 Co 4.17). Ele negou que o
Evangelho que ele pregava tivesse sido ensinado por um homem; antes.
ele declarou que o
recebeu pela revelação de Jesus Cristo (Gl 1.12). O ensino de Paulo foi
dirigido a todos os homens em toda a sabedoria para que todo homem pudesse
tornar-se maduro em Cristo (Cl 1.28; cf. Hb 6.1,2). Entre os dons e a
capacitação do Cristo que subiu aos céus a fim de equipar e treinar os membros
de seu Corpo, estavam a capacitação para se tornarem pastores e doutores (ou
mestres; Efésios 4.11). Uma vez que os apóstolos, profetas e evangelistas
tinham a princípio uma grande mobilidade, é provável que muitos dos mestres na
igreja primitiva tenham tido um ministério de viagens, visitando os crentes em
uma certa cidade por um período mais curto ou mais longo. É provável que a
maioria ou todos os cinco homens citados em Atos 13.1 não estivessem residindo
permanentemente em Antioquia. O papel do mestre na igreja era designado e
desempenhado através da indicação Divina e da capacitação do Espírito (1 Co
12.28). A integridade e a fidelidade para com a tarefa do ensino são
enfaticamente ordenadas (Rm 12.7; 1 Tm 4.11,13,16), tanto em sua preparação
como em seu conteúdo (Tt 2.1,7; 2 Tm 4.2). Aqueles que ensinam devem ser
considerados dignos de duplicada honra (1 Tm 5.17), e merecem o apoio daqueles
que são ensinados (Gl 6.6). O aspirante a mestre é solenemente advertido de que
esta ativida-de, em última instância, o envolverá em um julgamento mais
rigoroso (Tg 3.1). Mas embora existam aqueles que são especialmente
selecionados para ensinar na igreja, cada crente deve envolver-se neste
ministério (Cl 3.16; 1 Co 14.6,26; Hb 5.12). Este deve ser para o benefício de
todos, e não deve ser complacente com desordem na adoração da igreja (1 Co
14.6,19,26). O servo do Senhor deve ser apto para ensinar e evitar contendas (2
Tm 2.24). Embora as mulheres sejam proibidas de ensinar os homens na igreja (1
Tm 2.12), Paulo ordena que as mulheres idosas ensinem o que é bom enquanto
educam as mulheres mais jovens (Tt 2.3). O ensino na igreja. Há uma referência
no NT a uma tradição cristã apostólica denominada diferentemente de sã doutrina
(Tt 2.7) ou de palavra fiel (Tt 1.9), que havia sido entregue à igreja (Rm
6.17; 16.17; Ef 4.21; Cl 2.7; 2 Ts 2.15; 2 Tm 2.2; Tt 1.9). Os primeiros
discípulos em Jerusalém dedicaram-se ao ensino dos apóstolos (At 2.42). Parte
desta tradição era o AT, que é proveitoso, diz Paulo, para o ensino (Rm 15.4; 2
Tm 3.16; cf. 1 Tm 1.8-10). O ensino cristão, e somente ele (1 Tm 1.3), deve ser
confiado aos homens que crêem, que por sua vez serão capazes de ensinar aos
outros também (2 Tm 2.2; cf. 1 Tm 4.11). O presbítero, portanto, deve ser apto
para ensinar (1 Tm 3.2), e deve permanecer firme na palavra fiel que lhe foi
ensinada, para que possa dar instrução na sã doutrina e oferecer uma apologia
eficaz para
a fé (Tt 1.9). A
obediência ao padrão da doutrina é creditada com o poder moral para libertar o
crente da escravidão do pecado (Rm 6.17). A doutrina está de acordo com a
piedade (1 Tm 6.3) e fornece o alimento espiritual necessário ao crente (1 Tm
4.6). Outros usos. O menino Jesus foi encontrado por sua família sentado entre
os doutores da lei no templo (Lc 2.46), Nicodemos foi chamado, por nosso
Senhor, de mestre de Israel (Jo 3.10 etc). João Batista ensinou a seus
discípulos como orar (Lc 11.1). O Senhor Jesus adverte que aquele que infringe
o menor mandamento e assim o ensina aos homens, será o menor no reino; e, ao
contrário, aquele que observa e ensina corretamente aos homens será grande no
reino (Mt 5.19). Jesus censurou os escribas e os fariseus por adorarem a Deus
de forma vã, ensinando como doutrinas os preceitos dos homens (Mt 15.9; Mc 7.7;
cf. Is 29.13). Falso ensino. Entre os cristãos na Judeia havia aqueles que
ensinavam a necessidade da circuncisão para a salvação, uma doutrina mais tarde
repudiada pelo Concílio de Jerusalém (At 15.1). Paulo faz menção dos preceitos
e ensinos humanos que prescrevem regulamentos rituais aos quais os cristãos não
devem submeter-se (Cl 2.20-22). Ele adverte Timóteo que nos anos futuros alguns
iriam afastar-se da fé dando ouvidos a doutrinas de demónios (1 Tm 4.1),
enquanto outros reuniriam em torno de si mestres que se adequassem aos seus
próprios desejos (2 Tm 4.3). Em outras passagens está previsto que os falsos
mestres trarão heresias destrutivas à igreja (2 Pe 2.1). Paulo rogou a Timóteo
que ensinasse as sãs palavras de Jesus, e que rejeitasse aqueles que ensinam de
outra maneira (1 Tm 6.2ss.). O apóstolo ensinou que havia aqueles que deveriam
ser silenciados visto que estavam perturbando famílias inteiras ensinando
basicamente o que não tinham o direito de ensinar (Tt 1.11), e também adverte
Timóteo contra os judaizantes que desejavam, em vão, se tornar mestres da lei
(1 Tm 1.7). O mesmo apóstolo exortou os efésios à integração espiritual e à
participação vital de todos dentro da igreja, para que eles não fossem agitados
de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina (Ef 4.14).
O autor da epístola aos Hebreus adverte seus leitores a não se deixarem
envolver por doutrinas várias e estranhas (Hb 13.9), enquanto João ordena aos
seus leitores que não se associem a alguém que não permaneça na doutrina de
Cristo (2 Jo 9,10). A igreja em Pérgamo é criticada por ter alguns que aderiram
ao ensino de Balaão e à doutrina dos nicolaítas (Ap 2.14), enquanto a igreja em
Tiatira é censurada por tolerar o ensino de Jezabel (Ap 2.20,24). Veja Castigo;
Discípulo; Educação; Liderar, Líder; Parábola; Parábolas de Jesus; Rabi.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora
CPAD. pag. 647-650.
Os versículos 7-8
acrescentam: Se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou o que exorta, use esse
dom em exortar. Colocada ao lado de ensinar, a palavra exortar sugere pregação.
Sobre o significado de exortação (dom de exortar), veja os comentários sobre o
versículo 1. No entanto, Barrett nos lembra que precisamos evitar fazer uma distinção
muito precisa entre ensinar e exortar. “Cada um destes termos significa uma
comunicação da verdade do evangelho ao ouvinte, efetivada de diversas maneiras:
em uma delas, é explicada - em outra, é aplicada. Contudo, esta comunicação
nunca deve ser explicada sem ser aplicada, nem aplicada sem ser explicada”.
William
M. Greathouse. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 8. pag. 164.
E um belo dom,
que o use e ocupe-se
dele. “...se é ensinar, haja dedicação ao ensino”; assim alguns o complementam,
ho didaskon, en te didaskalia. Que ele seja regular, constante e diligente no
ensino; que permaneça naquilo que é a sua própria função, e esteja nela como em
seu ambiente natural (veja 1 Tm 4.15,16, onde isso é explicado por duas
palavras: em toutois isthi e epimene autois, estar nessas coisas e continuar nelas).
Em segundo lugar, que aquele que exorta sirva na exortação. Que ele se dedique
a isso. Esse é o trabalho do pastor, como o anterior é o do mestre; aplicar as
verdades e as regras do evangelho mais próximas à situação e à condição das
pessoas e inculcar nelas aquilo que for mais prático. Muitos que são muito
hábeis em ensinar podem, no entanto, ser muito frios e inábeis em exortar; e vice-versa.
De um se requer uma cabeça esclarecida, de outro, um coração aquecido. Agora,
onde esses dons estiverem claramente separados (de modo que um sobressaia em um
e outro em outro) gera edificação dividir o trabalho adequadamente e, qualquer
que seja a tarefa de que nos encarregamos, vamos nos dedicar a ela. Cuidar do
nosso trabalho é entregar o melhor de nosso tempo e pensamentos a ele,
aproveitar todas as oportunidades para ele e não apenas refletir em como
fazê-lo, mas fazê-lo bem.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 389.
Nas páginas do N.T.,
o vocábulo «...ministério...» geralmente aparece vinculado a alguma forma de
ministração física, como no caso do serviço prestado por Marta (ver Luc.
10:40), embora também possa indicar alguma forma de serviço espiritual, como 0
serviço prestado pelos anjos aos herdeiros da salvação, conforme lemos em Heb.
1:14. No trecho de II Cor. 3:7, essa mesma palavra é usada para falar sobre o
ministério geral de Moisés. Pode significar uma destas coisas:
1. O serviço geral,
físico ou espiritual, relativo às coisas temporais ou às realidades
eternas.(Ver I Cor. 12:5; Efé. 4:13 e II Tim. 4:11).
2. Pode aplicar-se a
ofício apostólico com suas diversas administrações. (Ver Atos 20:24; II Cor.
4:1 e I Tim. 1:12). Isso é vinculado ao ministério da reconciliação. (Ver II
Cor. 5:18; Atos 6:4 e II Cor. 3:8,9).
3. Não é palavra especificamente
usada para indicar o ofício diaconal, embora este seja referido por uma palavra
cognata (proveniente da mesma raiz), isto é, «diakonos», que ocorre nesse
sentido em Fil. 1:1 e I Tim. י . 3:8,12.
Vê-se, portanto, que
a palavra «ministério» se aplica tanto ao serviço físico como ao serviço
espiritual, os serviços mais chãos e mais elevados que podem ser realizados na
igreja. (Ver Atos 6:1,4). Por conseguinte, é difícil nos decidirmos com certeza
sobre o seu significado preciso, neste versículo do décimo segundo capítulo da
epístola aos Romanos. O que se sabe é que essa palavra é distinguida da
profecia, da exortação e do ensino, favorecendo a interpretação que pensa em um
«serviço físico», como se se tratasse de atos de magnanimidade, em que aos
necessitados são providos alimentos e em que se presta socorro aos necessitados
em geral, segundo caiba por dever aos diáconos originais, no que tange à sua
função na igreja local, não visando 0 seu ministério de modo geral; porquanto
muitos dos diáconos eram quase apostólicos quanto ao caráter de suas funções
espirituais. (Quanto a isso, basta-nos considerar os exemplos de Estêvão e
Filipe, os quais haviam sido numerados entre os diáconos originais. Ver as
notas expositivas sobre os «diáconos originais», bem como seu ofício, em Atos
6:2,5,6. Quanto à importância das «esmolas», para o judaísmo e para o
cristianismo primitivo, ver Atos 3:2 e os comentários ali existentes. A leitura
desses comentários dará ao leitor uma boa idéia dos motivos pelos quais Paulo
salientou especificamente esse suposto serviço braçal, um tipo de ministração
puramente física, como importante. E possível que a igreja cristã primitiva,
seguindo os padrões práticos do judaísmo, fosse mais sensível para as
necessidades físicas do povo, ao mesmo tempo que não negligenciava as
necessidades espirituais dos homens).
Moule (in loc.)
observa acerca desse «ministério» como segue: «Quase que cada trabalho,
diferente das declarações inspiradas ou das operações miraculosas, pode ser
incluso aqui». Assim também manifestou-se Godet (in loc.): «Uma atividade de
natureza prática, exercida por meio de ação, e não de palavra».
Alguns estudiosos
pensam que está aqui em foco o ofício específico dos «diáconos»; porém, apesar
desse ofício estar naturalmente incluído, as funções aludidas neste versículo
parecem ser muito mais amplas que aquelas que cabem aos diáconos.
Sanday e Headlam
comentam (in loc.) concordando de forma geral com a interpretação apresentada
acima: «...(palavra) usada ou geralmente, para indicar todas as ministrações
cristãs (conforme se vê em Rom. 11:13; I Cor. 12:5 e Efé. 4:12), ou, mais
especialmente, para indicar a administração de esmolas e socorros às
necessidades físicas dos outros (segundo se vê em I Cor. 16:15 e II Cor. 8:4).
Neste caso, a distinção com ‘profecia’, ‘ensino’ e ‘exortação’ parece exigir 0
sentido mais limitado».
«...dediquemo-nos ao
ministério...» Essa «dedicação» não aparece no original grego, embora seja
corretamente suprida na tradução. Literalmente, o trecho original diz: «...se
serviço, no nosso servir». Se porventura o nosso dom consiste do humanitarismo,
isto é, do elevado senso sobre as necessidades materiais alheias, devemos então
dedicarmo-nos ao cumprimento dessa missão. Com esse tipo de ação cristã podemos
comparar o trecho de Tia. 2:14-20, que fala sobre a comprovação da fé cristã,
através dessa ministração. Vemos em Tiago a menção ao «alimento cotidiano»
(versículo quinze), bem como à carência de «roupa». Sem esses cuidados para com
os irmãos, a fé é declarada «morta».
Tudo isso serve para
mostrar-nos quão importantes eram essas questões aos olhos da primitiva igreja cristã,
o que também fica demonstrado pela própria nomeação dos diáconos originais. Não
podemos ocultar o fato de que essa forma de ministração ocupa um lugar de muito
menor destaque e importância, até mesmo nas chamadas igrejas evangélicas. Mas
Deus certamente se agrada com aqueles que cuidam de seus irmãos na fé, ainda
quando isso não envolve nenhum dom «espiritual» especial, como o do ensino ou o
da profecia. Aqueles que possuem o espírito humanitário são o sal da terra,
ainda que seu trabalho não pareça tão glorioso como 0 daquele que usa de
palavras elevadas e de forma bela, a fim de persuadir aos homens sobre as
verdades bíblicas.
«...o que ensina,
esmere-se no fazê-lo...» (Ver as notas expositivas acerca da importância do
«ensino», em Atos 20:20). Uma vez mais, o original grego diz tão-somente,
«...aquele que ensina, no seu ensino...», deixando subentendida a ideia de
«dedicação» ou «diligência». Aquele cujo ofício consiste em ensinar, deveria
esforçar-se por aprimorar os seus conhecimentos, por melhorar a eficácia dos
seus métodos de ensino, aumentando 0 seu interesse pessoal por aqueles que são
os seus alunos. Um dos mais graves escândalos das modernas igrejas evangélicas
é que a grande maioria dos seus mestres em nada melhora com a passagem dos
anos, incluindo-se nisso tanto o conhecimento como os métodos empregados, como
também não demonstram crescente interesse pessoal pelo bem-estar de seus
alunos. Pois não é verdade que muitos pastores e outros ministros, depois de
terminarem algum curso bíblico, em um instituto bíblico ou em um seminário
qualquer, nunca mais envidam esforço para melhorarem, mas de ano após ano não
apresentam qualquer mudança para melhor, dizendo sempre as mesmas coisas e da
mesma maneira? Ponderamo-nos admirar, portanto que, neste nosso mundo moderno,
onde 0 conhecimento geral aumenta de forma assustadora, tantos se sintam
enfadados das igrejas, até que finalmente se desviam de todo? Não é suficiente
proferir dogmas contínuos, sem variação e sem imaginação. Ninguém pode tolerar
esse tipo de ministério para sempre. Esse tipo de ministério não corresponde
aos problemas de nossa complexa sociedade contemporânea. No entanto, que o
ensino bíblico é importante se toma imediatamente evidente através do fato que
a Grande Comissão ordena-nos não somente evangelizar, mas igualmente ensinar, e
ensinar «todas as coisas» que ele nos ordenou.
Ensinar mediante o
«exemplo» também é importante, embora se trate de um aspecto olvidado por
tantos mestres cristãos. (Há notas expositivas sobre essa questão em Atos
12:25. Ver também a distinção entre «profetas» e «mestres», em Atos 13:1 e Efé.
4:11). A distinção é que os mestres, apesar de serem-no por dom celestial, não
se encontram sob inspiração imediata, de modo que lhes permita revelar alguma
coisa nova, embora tenham à sua disposição certa forma de inspiração, que
empresta autoridade àquilo que dizem. A inspiração dos mestres, entretanto, é
muito mais sutil que a inspiração dos «profetas», pois a inspiração dos
«mestres» vem mais por meios naturais, e não tanto por meios mais obviamente
sobrenaturais e externos. Os mestres não precisam possuir quaisquer habilidades
«psíquicas», o que sempre assinala o ofício dos «profetas».
Deveria tornar-se
evidente, com base neste texto da epístola aos Romanos, que o ensino é um dom e
ministério, e que somente os indivíduos assim dotados deveriam ensinar. E os
crentes possuidores desse ministério deveriam procurar aprimorar-se na
aplicação de sua chamada. O mestre cristão que espera pelo Espírito Santo, para
que o Senhor o guie em suas pesquisas e em seus pensamentos, poderá expor aos
seus ouvintes muitos tesouros, alguns antigos e outros novos, mas todos
proveitosos e expressos de maneira tão convincente que possam transformar as
vidas dos homens, porquanto as suas palavras podem ser usadas pelo Espírito de
Deus visando exatamente a essa função.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 3. pag. 814.
I -
JESUS, O MESTRE POR EXCELÊNCIA
1. O mestre da
Galileia.
1. O SIGNIFICADO DE
MESTRE
A palavra Mestre, nas
escrituras, tem o sentido de designar “uma pessoa que é superior às outras, em
poder, autoridade, conhecimento ou em algum outro aspecto”. No hebraico, a
palavra 'adon que dizer “soberano” ou “senhor”. A palavra “rab” designa um
“professor comum”. Com relação a Jesus, foi usada a palavra “rabi” (cf. Jo
4.31), indicando que ele era um mestre superior. As pessoas chamavam de “meu
mestre”, “meu Senhor”, a quem tinha esse título. Jesus recebeu esse tratamento
diversas vezes (Jo 1.38,49; 3.2,26). Quando Jesus ressuscitou, Maria usou a
palavra “Rabon?, quando o reconheceu. “Disse-lhe Jesus: Maria! Ela,
voltando-se, disse-lhe: Raboni (que quer dizer Mestre)!” (Jo 20.16). Em seus
ensinos, “O Senhor Jesus proibiu o uso deste termo entre os discípulos por
causa do orgulho e da exaltação pessoal com que era utilizado entre os fariseus
(Mt 23. 7,8).
2. O MESTRE DA
GALILEIA
Jesus era o Mestre
perfeito. Além de Pastor, pregador, missionário e evangelista, exercia com
excelência a missão de ensinar. Evangelizava e discipulava de maneira eficaz.
Era o Mestre perfeito; o Doutor incomparável (Mt 4.23-25).
Seus ensinos, seus
sermões ou discursos e suas aulas eram eloquentes e profundamente convincentes
aos que o ouviam. Ele não ensinava teorias abstratas ou acadêmicas que
impressionassem pela retórica. Seu ensino era bem recebido pelas multidões,
porque Ele vivia o que ensinava e ensinava o que vivia.
O Mestre dos mestres
fazia diferença em seus ensinos perante as multidões. O povo estava descrente
das mensagens dos escribas e fariseus, que proferiam discursos eloquentes e
legalistas, mas vazios de autenticidade e poder. Não foi por acaso, que as
multidões que seguiam Jesus aumentavam a cada dia. A diferença dos ensinos de
Jesus e os dos fariseus, era que Jesus falava com autoridade (Mt 7.28,29). Ele
era incomparável, como Rabi da Galileia (Jo 3.2).
O Mestre dos Mestres
deixou-nos grandes exemplos de sua pedagogia.
1) Conhecia a matéria
que ensinava (Lc 24.27);
2) Conhecia seus
alunos (Mt 13; Lc 15.8-10; Jo 21);
3) Reconhecia o que
havia de bom em seus alunos (Jo 1.47);
4) Ensinava as
verdades bíblicas de modo simples e claro (Lc 5.17- 26; Jo 14.6);
5) Variava o método
de ensino conforme a ocasião e o tipo de ouvintes (Parábolas, perguntas,
discursos, preleção, leitura, demonstração, etc.).
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 120-121.
MESTRE Nas
Escrituras, essa palavra está geralmente designando uma pessoa que é superior a
outras, em poder, autoridade, conhecimento ou em algum outro aspecto. Várias palavras
são traduzidas como "mestre" nas várias versões da Bíblia Sagrada. A
palavra hebraica mais frequente, 'adon, significa "soberano" ou
"senhor". O significado literal de várias palavras gregas varia de
"instrutor" ou didaskalos, como em Mateus 10.24, até
"déspota" ou despotes, como em 1 Pedro 2.18. Outra palavra grega
traduzida como "mestre", epistates, significa "alguém nomeado
sobre" outros, como em Lucas 5.5. Ainda outra palavra grega é, na verdade,
hebraica - "rabbi" que significa "meu mestre"
("superior" ou "professor"), como em João 4.31. Uma quinta
palavra grega para "mestre" é kurios que geralmente foi traduzida
como "senhor" ao longo de todo o NT e significa "supremo"
(em autoridade). No sentido mais elevado, o título se aplica apenas ao Senhor.
Ainda existem outras palavras gregas e hebraicas com diferentes aspectos de
significado que foram traduzidas como "mestre". Duas palavras gregas
para "mestre" ocorrem em Mateus 23.8-10, "Vós, porém, não queirais
ser chamados Rabi [rhabbi, "meu mestre", ou "professor"],
porque um só é o vosso Mestre [kathegetes, "líder" ou
"professor"], a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém
na terra chameis vosso pai porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus.
Nem vos chameis mestres [kathegetes, "líderes"], porque um só é vosso
Mestre, que é o Cristo". Veja Rabi; Educação; Ensinar.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora
CPAD. pag. 1261-1262.
RABI Esta palavra é
uma transliteração da palavra hebraica usada como um termo de respeito e honra.
A palavra significa literalmente "meu grande", "meu
mestre". Embora o termo tenha sido originalmente usado como uma marca de
respeito, depois do século I d.C. ele tornou-se um título para mestres religiosos
e líderes, perdendo em grande parte o seu significado original. Este título
continuou em uso durante a era Cristã, e é usado atualmente para designar os
ministros ordenados entre os judeus. Embora as escolas recentes entre os judeus
tenham tentado usar a graduação de títulos variando de "rab", um
professor comum, até "rabi", e então "raboni", no tempo do
Senhor Jesus não houve nenhuma consistência em uma forma de uso semelhante. No
NT, o termo rabi foi aplicado ao Senhor Jesus em várias ocasiões, porém mais
provavelmente no sentido de honra do que em um significado técnico (Jo 1.38,49;
3.2,26; 6.25). A palavra raboni, usada por Maria ao se dirigir ao Senhor
ressuscitado (Jo 20.16) é a forma aramaica da mesma palavra. Certa vez o Senhor
Jesus proibiu o uso deste termo entre os discípulos por causa do orgulho e da
exaltação pessoal com que era utilizado entre os fariseus (Mt 23.7,8). Veja
Educação; Mestre; Ocupações: Doutor; Advogado; Escriba; Sinagoga; Talmude.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora
CPAD. pag. 1242-1243.
Que pregador
habilidoso Cristo era. Ele passou por toda a Galileia, ensinando nas sinagogas
e pregando o Evangelho do reino. Entenda; 1. O que Cristo falava sobre o
Evangelho do reino. O Reino dos céus, isto é, o reino de graça e glória, é enfaticamente
o reino, o reino que estava chegando; o reino que iria sobreviver, que
superaria todos os reinos da terra. O Evangelho compreende os estatutos deste
reino, contendo o juramento de coroação do Rei, pelo qual Ele se obriga
graciosamente a perdoai-, proteger e salvar os súditos daquele reino e a procurar
a sua honra. Este é o Evangelho do reino; dele, o próprio Cristo foi o
pregador, para que a nossa fé no reino possa ser confirmada. 2. Onde Ele
pregava. Nas sinagogas. Não apenas ali, mas ali principalmente, porque estes
eram os lugares onde a multidão se reunia, onde a sabedoria erguia a sua voz
(Pv 1.21); porque eram os lugares onde o povo se reunia para a adoração
religiosa e ali, esperava-se, a mente do povo estaria preparada para receber o
Evangelho; e ali as Escrituras do Antigo Testamento eram lidas, e a sua
exposição poderia facilmente introduzir o Evangelho do reino. 3. O empenho que
Ele tinha em pregar. Ele passou por toda a Galileia, ensinando. Ele podia ter
publicado uma proclamação, convocando todas as pessoas para que viessem até Ele; mas
para mostrar a sua humildade, e a condescendência da sua graça, Ele vai até
eles; pois Ele espera ser gracioso e vir para buscar e salvar. Josefo disse que
havia aproximadamente duzentas cidades e vilas na Galileia, e Cristo visitou
todas elas, ou a sua maioria. Ele viajava fazendo o bem. Nunca houve um
pregador itinerante assim, tão infatigável, como era Cristo. Ele ia de cidade
em cidade, para pedir aos pobres pecadores que se reconciliassem com Deus. Este
é um exemplo para os ministros, para que se dediquem a fazer o bem, e. para que
Sejam insistentes e constantes, a tempo e fora de tempo, em pregar a palavra.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 39-40.
Com estas palavras
Mateus repete o que já afirmou em 4.23-25 sobre a atividade abrangente do
Senhor. O v. 35 caracteriza, numa coincidência quase literal com 4.23, a
atuação com quatro verbos. São eles: percorrer a região, ensinar, evangelizar,
curar.
Estas quatro
atividades revelam-nos o Cristo que fala e que trabalha, ou seja, a atuação de
Jesus com palavra e atos, com cuidado pela alma e cuidado pelo corpo.
Primeiro: Jesus
percorria a região. Ele procurava as pessoas lá onde estavam em casa. Em todas
as cidades e aldeias há pessoas em casa. Jesus não espera que as pessoas venham
a ele (como João Batista!), contudo vai até elas e as procura, por mais
estranhos e escondidos que possam ser em seus hábitos. Ele realiza “visitas
domicialiares”, como diríamos hoje. Samuel Keller afirmou certa vez: “A chave
para as almas das pessoas está pendurada em sua casa. Por isso é necessário ir
até elas, procurá-las em sua vida cotidiana, em suas aflições, em suas doenças,
em sua solidão.”
Ressaltam-se em
seguida três momentos característicos dessas andanças, dessa procura das
pessoas em seus lares.
Segundo: Ensinando.
Ensinar refere-se à instrução dada ao povo (exposição da palavra de Deus!), e
também à controvérsia com os fariseus e escribas.
O objetivo é que o
povo seja ensinado a partir da autoridade, e não dos “estatutos humanos”. A
palavra, novamente a palavra, a palavra poderosa do Espírito, jamais poderá ser
enaltecida demais. De que outra maneira o Bom Pastor alcançaria seu rebanho, se
não fazendo ressoar a sua voz?
Terceiro: Ao lado do
ensino acontece, como segunda característica, o “anúncio”, a “proclamação de
alegria” do reino. Quem ouviu esse chamado de arauto, essa proclamação de
alegria, deve saber que está convocado a se tornar cidadão desse reino, o reino
que existirá de eternidade a eternidade.
Quarto: Ensino e
proclamação são acompanhados da ação simultânea. Pois o reino de Deus está “em
vigor”. Quando o Senhor diz a sua palavra, caem as amarras do pecado, os
castelos do mâmon, as fortalezas da doença, sim os laços da morte. – Jesus nos
proíbe deixar de lado a grande miséria física, social e econômica das
multidões, como se não tivéssemos nada a ver com ela, como se fosse possível
ouvir e aceitar o evangelho do reino de modo desligado dela. Jesus nos proíbe
considerar essa miséria como algo sancionado por Deus. Pelo contrário, ela faz
parte da realidade sem Deus em que Jesus nos ordenou que penetrássemos,
dando-nos as magníficas palavras do “sal” e da “luz”.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica
Esperança.
Mt 4:23 A Galileia
região tinha uma população de cerca de 300.000 em 200 ou mais vilas e cidades,
sem grandes cidades na área. O ministério de Jesus incluiu ensinar discípulos e
aqueles que já estão familiarizados com a sua mensagem, proclamando a verdade
para aqueles não familiarizados com a mensagem, e curando enfermidades físicas,
emocionais e espirituais. Cura de todas as doenças e aflição dá uma antecipação
surpreendente da idade para vir, onde não haverá mais doenças (1 Coríntios
15:42-43;.. Phil 3:21; Ap 21:4). O ministério de Jesus combinado que atendia às
necessidades físicas das pessoas com o ministério para suas mentes e corações
(proclamando o evangelho do reino ). Em sinagogas , ver nota em Lucas 4:16 e A
Sinagoga e Adoração judaica.
BIBLIA DE ESTUDO ESV ENGLISH STANDARD
VERSION. Published by Crossway Bibles.
Mt 7.28,29 Nos dois
últimos versículos, tomamos conhecimento da impressão criada pelo discurso de Cristo
nos seus ouvintes. Foi um excelente sermão, provável que Ele tenha falado muito
mais, porém estas palavras não foram registradas. Sem dúvida, as palavras que
saíram da sua boca, de cujos lábios se derramava a graça, contribuíram
poderosamente para isso. Portanto: 1. Eles ficaram admirados com a sua
doutrina. Acredita- se que poucos tenham sido levados a segui-lo, mas naquele momento
todos ficaram maravilhados. Veja bem: Será que é possível acreditar que as
pessoas admirem um bom sermão e ainda assim permaneçam na ignorância e na incredulidade?
Ficam admiradas, mas não se tornam santificadas? 2. Talvez a razão disso seja
que, apesar de ensinar com autoridade, Ele não era como os escribas. Os escribas
pretendiam ter a mesma autoridade de qualquer um dos mestres, e eram apoiados
por todas as vantagens externas que conseguiam. Porém, a sua pregação era
pobre, vazia e insípida. Falavam como se não fossem mestres daquilo que
pregavam, suas palavras não vinham de alguém que tivesse força ou vida, e
repetiam as palavras como os alunos repetem as lições. Mas Cristo pronunciava o
seu discurso da mesma maneira que um juiz pronuncia uma sentença. Ele realmente
fazia seus discursos com um tom de autoridade. Suas lições eram leis, e a sua
palavra era uma palavra, de comando. Cristo, sobre a montanha, mostrava mais
autoridade que os escribas na cadeira de Moisés. Dessa forma, quando Cristo
ensina às almas através do seu Espírito, Ele ensina com autoridade. Ele disse:
“Haja luz. E houve luz”.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo
Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 90.
Mt 7.28,29 As
palavras concluindo Jesus este discurso marcam o final do ensino de Jesus sobre
o discipulado, e um retorno à narrava de Mateus. Jesus havia deixado as
multidões completamente admiradas com a sua doutrina. Ele era diferente dos
mestres da lei religiosa, que citavam frequentemente os conhecidos rabinos a fim
de dar mais autoridade aos seus ensinos. Jesus não tinha essa necessidade; como
era o Filho de Deus, Ele sabia exatamente o que as Escrituras diziam e
significavam. Ele era a suprema autoridade. Jesus não precisava citar ninguém, porque
Ele mesmo era a própria Palavra Original, o Verbo (João 1.1). O povo nunca
tinha ouvido um ensino como este.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 55.
Mt 7. 28-29. O
impacto do sermão do Monte foi profundamente marcante e duradouro. É o que
também denota o tempo verbal do imperfeito no original grego. O imperfeito
expressa a duração de uma ação ou impressão. “As multidões estavam totalmente
fora de si.” Estavam como que atordoadas, paralisadas! Pavor e admiração,
profundo abalo interior e simples incapacidade de captar tomaram conta de seu
coração. Jamais tinham ouvido algo assim.
Havia também entre os
escribas personalidades famosas e oradores poderosos. Nomes como os dos grandes
mestres da lei Shammai e Hillel, que viveram pouco tempo antes de Jesus, ainda
estavam vivos na memória de todos. Mas não eram nada diante daquele que agora
falava com autoridade como o “Senhor”.
Aqueles podiam
anunciar, com formulações cuidadosas e expressões elaboradas, uma série de
prescrições morais detalhadas, mas Jesus derruba, a partir de sua autoridade
divina, tudo o que eles haviam falado. Ele coloca diante dos seus ouvintes uma
parede rochosa, uma parede granítica, vinda da eternidade, que esmagava e
estilhaçava tudo o que até então fora dito. Nenhum discurso que tenha saído de
lábios humanos era mais arrasador e impactante do que esse. Ele era, no mais
verdadeiro sentido da palavra, a “inversão de todos os valores”. Ele foi e
continua sendo o mais abrangente e mais radical paradoxo, i. é, diretamente
oposto a tudo o que houve até então, que já fora dito sobre a face da terra.
O que antes era
“branco”, o Senhor designa de “preto”, e o que era “preto” ele chama de
“branco”. O que antes se dizia “em cima”, fica agora situado “em baixo”, e o
que antes ficava “em baixo”, hoje se fala “em cima”. “Comparadas com a
reviravolta que o sermão do Monte trouxe, as maiores revoluções são apenas
batalhas infantis.” Todas as religiões da terra esforçam-se por estabelecer
leis que se situam no âmbito do humanamente praticável. Jesus exige o que está
fora do humanamente alcançável. Porém, o que é impossível aos homens, é
possível para Deus, possível “em Cristo”, unicamente nele!
Usando uma comparação
da música, o sermão do Monte é como uma magistral sinfonia que, sem qualquer
preparação, inicia nos primeiros compassos com a atuação de toda a orquestra. E
todos os instrumentos seguem sempre tocando o tema principal, o tema principal
que é desenvolvido de modo inaudito e fundamentalmente diferente de todos as
demais orquestras, a saber: O ser humano não é nada - Deus é tudo. O ser humano
não pode nada - Deus, porém, pode tudo.
Até o momento em que
foi pronunciado o sermão do Monte, as orquestras dos judeus tinham tocado
aquela melodia que, sob a regência dos fariseus e escribas, fazia ressoar:
“Justiça é possível a partir do esforço próprio, do mérito pessoal” (cf. o
exposto em detalhes sobre Mt 5.38ss). Religião é auto-salvamento! Basta cumprir
pontualmente todas as determinações estabelecidas pela religião, para que o
superávit dos mandamentos observados supere o eventual pequeno déficit das
transgressões da lei. Quando isso se concretiza, então Deus (assim ensinavam os
mestres da lei) considera como justa aquela pessoa que fez por merecer total e
plenamente o céu através de seu tesouro de obediências excedentes à lei.
Portanto, o ser humano pode alcançá-lo e realmente o consegue sozinho, não
carece nem da graça nem da salvação. Essa era a melodia que soava em toda a
parte até o momento em que foi falado o sermão do Monte.
Além disso, até a
hora de ser proferido o sermão do Monte, todas as orquestras humanas tinham
tocado a melodia seguinte: “Toda a bem-aventurança humana consiste nisso:
riqueza é felicidade, estar farto é conteúdo de vida, honra é „querer ser
alguém‟, religião é autossatisfação, culto é produção com que eu próprio posso
adquirir o céu”. O sermão do Monte, no entanto, anuncia com nitidez desde o primeiro
compasso, pela atuação de todos os seus instrumentos, mesmo que o ouvinte
empalideça: “A bem-aventurança da pessoa não está na riqueza, mas na pobreza,
estar satisfeito não é ter de sobra, mas ter fome, honra não está em „querer
ser alguém‟, mas em servir. Culto não é produção, mas graça. Religião não é
satisfação das pessoas, mas paz de Deus e força de Deus. Somente aos que por si
próprios nada são, nada têm e nada sabem, a esses, somente a eles, pertence a
riqueza inescrutável e eterna de Deus e do Cristo. Somente os fracos, famintos,
tristes e pobres em si – são ricos em Deus, ricos para toda a eternidade.
Somente os que, com toda a seriedade e sinceridade, até com a última fibra do
coração, “buscam o reino de Deus”, que querem agradar ao seu Senhor e Deus em
cada situação do cotidiano, que, mediante recurso às forças do alto, fazem
acontecer seu amor divino na pressão e escuridão do mundo, somente a eles
pertence o reino dos céus e tudo o que na terra é necessário para ele, e
precisamente do modo como Deus o quer!
Portanto: primeiro
Deus, e outra vez Deus e de novo unicamente Deus. É isso que o sermão do Monte,
ouvido como uma sinfonia, faz ressoar como tema principal mediante o toque de
todos os seus instrumentos. Somente aquele que se esquece de si mesmo e pensa
apenas no Cristo será bem-aventurado. Somente quem quer tornar-se feliz por
graça, unicamente por graça, torna-se justo, é redimido para o tempo e a
eternidade. Em Cristo, nele somente!
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica
Esperança.
2. O mestre divino.
O ensino do Mestre
Jesus não teve nem tem paralelo em qualquer instrução, discurso ou filosofia
dos homens. São ensinamentos para serem vividos, e não apenas pregados. Não
eram como os ensinos dos fariseus ou dos doutores de sua época (Mt 7.29).
Tempos depois, seu discípulo e apóstolo, Paulo, que não conviveu com Ele,
afirmou: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras
persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder” (1
Co 2.4). Uma das maiores causas do descrédito no evangelho pregado por muitas
igrejas e muitos pregadores é a falta de autenticidade na vida deles. Jesus
demonstrou, com sua palavra e com seus feitos que era o Mestre Divino. Ele
pregava o evangelho vivo, que não consistia apenas em belos sermões, mas em
vidas transformadas.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 121.
3.1,2 Nicodemos eta
um líder religioso judeu e um {ariseu, isto é, pertencia à seita mais rigorosa
daqueles tempos. Os líderes religiosos judeus estavam divididos em vários
grupos.
Dois dos grupos mais
importantes eram os fariseus e os saduceus. Os fariseus se isolavam de tudo que
não fosse judeu e observavam cuidadosamente as leis do Antigo Testamento e as
tradições orais transmitidas através dos séculos. Por ser um “líder”, ele fazia
parte do conselho diretor judaico. Embora os romanos controlassem Israel
politicamente, os judeus exerciam alguma autoridade sobre questões religiosas e
civis menos importantes. O corpo diretor era formado por um conselho de setenta
e um líderes religiosos judeus.
O que motivou
Nicodemos a procurar Jesus? Provavelmente, ele estava impressionado e também
curioso, e preferiu formar sua opinião a respeito de Jesus depois de uma conversa
inicial. Talvez preferisse evitar ser visto na sua companhia, em plena luz do
dia, por temer a censura de seus companheiros fariseus (que não criam que Jesus
era o Messias). Mas pode náo ter sido o medo que o levou a Jesus depois de
escurecer, e também é possível que tenha escolhido um momento em que pudesse conversar
sozinho e longamente com o popular mestre que estava sempre cercado de pessoas.
Respeitosamente,
Nicodemos se dirigiu a Jesus como o Mestre que havia sido enviado por Deus.
Embora isso fosse verdade, esse título revela seu limitado conhecimento sobre
Jesus, afinal Ele era muito mais que um simples rabino. Mas pelo menos
Nicodemos identificou os sinais miraculosos de Jesus como a revelação do poder
de Deus.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 500.
Uma Vida Nova Para um
Homem Morto —Nicodemos (3.1-21)
Uma das infelicidades
ocasionais nas divisões de capítulos da Bíblia é uma aparente ruptura no
pensamento onde não deveria haver ruptura. O início do capítulo 3 é um
excelente exemplo disto. João escreveu que Jesus “sabia o que havia no homem”
(2.25). Mas João prosseguiu dizendo, sem qualquer quebra de linha nem ruptura
de pensamento, que havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, príncipe
dos judeus (1). E como se João estivesse dizendo: “Jesus tinha o conhecimento
perfeito das necessidades mais profundas dos homens. Vamos citar alguns
exemplos, começando com um homem, o fariseu Nicodemos”. Assim, Nicodemos se
torna a “evidência A” para ilustrar o que Jesus conhece sobre os homens.
A palavra para homem
tanto em 2.25 quanto em 3.1 é anthropos, que basicamente se refere aos homens
como uma classe. E uma palavra genérica. Assim, o que se diz aqui a respeito de
Nicodemos, um indivíduo, é dito sobre todos os homens. Esta é uma das muitas
universalizações do Evangelho de João. A salvação é para “todos” (16), mas
também é verdade que todos os homens precisam do nascimento que vem do céu (cf.
Rm 3.23).
O cuidado com que se
descreve a situação de Nicodemos na vida religiosa judaica não é uma
coincidência. Ele era um homem entre os fariseus, um príncipe dos judeus. Se
algum homem, na ordem antiga, conheceu o significado de Deus e dos seus planos
e propósitos para o homem, esse foi Nicodemos — ele era profundamente
entranhado na tradição monoteísta, além dos ensinos da lei, da história de
Israel e das proclamações dos profetas. Mas em algum lugar, de alguma maneira,
ele se perdera no caminho, e de alguma maneira exemplificava o que havia
acontecido com o judaísmo. Assim, uma vez mais, João estabelece um vívido
contraste entre a antiga aliança, com todos os seus mal-entendidos, as suas
inadequações e suas falhas, e a nova aliança, que assegura a abundância da
vida, que tem o Deus vivo e verdadeiro como a sua Fonte.
Este foi ter de noite
com Jesus (2). Há uma grande dose de especulação quanto ao motivo pelo qual
Nicodemos veio de noite. Alguns dizem ter sido por medo das opiniões alheias,
especialmente de seus colegas. Há algo a ser dito a este respeito, à luz de
outras duas ocasiões nas quais ele aparece neste Evangelho. A sua defesa de
Jesus em 7.50 parece ser um pouco impessoal, e foi José de Arimatéia quem
iniciou o pedido do corpo de Jesus (19.39). Talvez Nicodemos quisesse uma
reunião tranquila, à noite. Mas uma pergunta melhor sobre esta visita seria:
“Por que ele veio, afinal?” A resposta pode explicar por que ele veio de noite.
Devido à profunda necessidade da sua alma, ele veio até o Senhor saindo da
escuridão na qual ele e os seus companheiros estavam imersos. Compare isto com
o ato de Judas. Quando ele deixou Jesus para ir fazer o acordo com os judeus,
ele saiu “e era já noite” (13.30). O contraste vívido entre a luz e as trevas
aparece regularmente ao longo de todo o Evangelho (cf. 1.5, 9; 3.19; 8.12;
9.4-5; 12.35).
Nicodemos disse:
Rabi, bem sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes
sinais que tu fazes, se Deus não for com ele (2). Os milagres que Jesus
realizara (2.23) indicavam o caminho para Nicodemos e para aqueles que este
representava (observe a forma plural sabemos). Por causa desses milagres, eles
pensavam que Jesus era um professor especial enviado por Deus. Rabi... és...
vindo de Deus. Mas isto não significava que Jesus estava sendo reconhecido como
o Messias.
Joseph
H. Mayfield. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 7. pag. 48.
O ―diálogo com
Nicodemos‖, conhecido por todos nós, mas em geral conhecido apenas como um
episódio isolado, como estamos notando agora, acontece durante a primeira
estadia de Jesus em Jerusalém. Trata-se de um recorte da atuação de Jesus
naquela cidade, ou melhor, é também um fruto dessa atuação. Jesus mexe com os
ânimos até entre os grupos dirigentes. Nessa reflexão precisamos ter sempre em
mente que a expectativa do Messias vindouro estava viva em Israel e ganhara
nova intensidade sob a pressão da dominação estrangeira romana. Já por ocasião
do surgimento de João Batista a pergunta era: Será que ele pretende ser o
Messias (cf. Jo 1.19ss)? Ocorre que em sua pessoa e seus atos Jesus é ainda
mais poderoso e envolvente que João Batista. Por isso ―muitos creram em seu
nome‖ (Jo 2.23). Por essa razão vai até Jesus um dos homens dirigentes de
Jerusalém, chamado Nicodemos, que pertencia ao grupo dos ―fariseus‖ e tinha
assento e voz no Sinédrio.
―Este, de noite, foi
ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus;
porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com
ele.‖ João não nos diz por que esse homem veio procurar Jesus ―de noite‖. Não
precisa ser por causa de medo ou receio. Pelo que se vê, Nicodemos é unânime
com outros líderes importantes na apreciação de Jesus, podendo declarar:
―Sabemos que vieste de parte de Deus.‖ Então não tinha necessidade de ocultar
sua visita a Jesus. É provável que naquele tempo se valorizasse muito as
tranqüilas horas noturnas para manter um diálogo sem interrupções, motivo pelo
qual João não considera necessária nenhuma justificativa especial da visita à
noite.
2 Igualmente
permanece em aberto a pergunta se os primeiros discípulos de Jesus, portanto,
inclusive o próprio João, estiveram presentes ao diálogo.
O tratamento que
Nicodemos dirige a Jesus é honroso. Ele, o reconhecido teólogo, o ―mestre em
Israel‖ (v. 10), chama o homem sem estudo da Galiléia de ―Rabi‖.
Espontaneamente reproduz a profunda impressão que ele e outros colegas do
Sinédrio obtiveram de Jesus. Contudo, também neste caso não foram tanto as
palavras de Jesus que o convenceram em seu íntimo, mas os ―sinais‖ que o
constrangem a ver Deus por trás da atuação de Jesus. Mais tarde, nem mesmo os
mais admiráveis milagres de Jesus convenceram seus antagonistas, mas somente
intensificaram seu endurecimento ao extremo (cf. Jo 9.24-34; 11.46-53).
Novamente torna-se claro que ―milagres‖ não podem ser a base
vital para uma fé
verdadeira. Contudo, desde já Nicodemos estabelece uma clara barreira na
interpelação honrosa de Jesus, que se torna perceptível no termo ―mestre‖,
enfaticamente posposto. Vieste de Deus, sim; porém és apenas um grande
―mestre‖, nada mais que isso. Ou queres ser mais? Queres concordar com aqueles
que agora estão a dizer em Jerusalém: Jesus Cristo, Jesus o Messias? Nicodemos
dirige essa indagação oculta a Jesus. É sobre essa pergunta que ele pretende
falar com o próprio Jesus.
Werner de Boor. Comentário Esperança Evangelho de João. Editora Evangélica
Esperança.
1. Alguns eruditos
identificaram Nicodemos com Naqdimon ben Gorion, um rico cidadão de Jerusalém
que, de acordo com o Talmud, foi encarregado de suprir de água os peregrinos
nas grandes festas.151 Os argumentos a favor desta identificação, no entanto,
são bastante inconclusivos. Os fariseus, (já mencionados em 1.24) tinham uma
influência sobre o público em geral totalmente desproporcional ao seu número.
Eles eram um grupo minoritário no Sinédrio.
O fato de Nicodemos
ser um dos principais dos judeus implica em que ele era membro dos fariseus no
sinédrio (veja também Jo 7.50).
Pode ser que o
evangelista esteja considerando Nicodemos como um dos “muitos” , de 2.23.153 No
entanto, é possível que a conjunção grega de com que ele é apresentado no
começo de Jo 3.1 tenha força adversativa: “Mas havia, entre os fariseus...”
Como os outros, Nicodemos ficara impressionado com os sinais que vira, sem
atinar para seu significado mais profundo, mas havia nele um desejo sincero de
aprender mais, ao qual Jesus correspondeu “confiando-se" a ele mais que a
muitos outros.
2. É melhor
considerar a afirmação de que a visita de Nicodemos foi feita à noite como
simples lembrança dos fatos, sem dar-lhe uma interpretação alegórica, como se a
escuridão lá fora refletisse as trevas do entendimento de Nicodemos, que
precisou ser iluminado. Também não precisamos querer saber por que ele decidiu
vir à noite - se não quis que seus colegas e outros soubessem dos seus passos,
ou escolheu uma hora em que não era provável que Jesus fosse perturbado, para
terem tempo para uma conversa longa.
Nicodemos pode ter
tido uma compreensão deficiente, mas pelo menos não estava cegado por
preconceitos, como aqueles líderes religiosos cuja reação às palavras e obras
de Jesus foi atribuí-las à atividade demoníaca (veja Jo 8.48,52, Mc 3.22ss.).
Mesmo que ele não tenha compreendido o significado dos sinais, percebeu que
eles somente poderiam ter sido operados pelo poder de Deus. Por esta razão,
apesar de Jesus não pertencer às escolas de ensino sacro reconhecidas, este
mestre-líder em Israel saudou-o como um igual com o título Rabi - um sinal de
respeito que valia mais partindo de Nicodemos que dos dois discípulos jovens de
João 1.38. As conclusões de Nicodemos eram válidas, até onde tinha ido, mas não
chegaram ao ponto que importava. Jesus viu o estado de sua alma, por trás das
palavras de saudação proferidas por ele e respondeu-lhe numa linguagem que, por
mais desconcertante e incompreensível que tenha parecido a Nicodemos, fora
calculada com cuidado para falar à sua condição.
F. F. BRUCE. João. Introdução
e Comentário.
Editora Vida Nova. pag. 78-79.
3. O mestre da
humildade.
A Auto humilhação de
Jesus (Jo 13.4-20)
Pelo fato de a
declaração de abertura do capítulo 13 ser longa e detalhada, o leitor deve
considerar que o início da cena da ceia ocorre na primeira oração do versículo
2: E, acabada a ceia (o texto grego diz “durante a ceia”), e então continua com
a primeira oração no versículo 4: levantou-se da ceia. Ao fazê-lo, o Senhor
tirou as vestes (4, cf. 10.17; Fp 2.5-8); i.e., a túnica externa. Então,
tomando uma toalha, cingiu-se, o que “marca a ação de um escravo”. Assim
preparado, Ele pôs água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a
enxuga-los com a toalha com que estava cingido (5). João não declara por que
algum dos discípulos não executou esta tarefa servil, mas evidentemente havia
ocorrido alguma “busca de posição” entre os doze (Lc 22.24). Além disso, Jesus
era o único naquela sala que poderia executar até mesmo o simbolismo da
purificação — pois só Ele estava limpo no sentido teológico e moral da palavra
(cf. 17.19; Hb 13.12). Ele veio para dar ao homem a possibilidade de tornar-se
puro, moralmente limpo, santo.
Quando Jesus foi
lavar os pés de Pedro, este lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a mim? (6) A
resposta de Jesus, não o sabes tu, agora, não só afirmava a ignorância de Pedro
em relação às coisas espirituais (e.g., a vinda do Espírito), como também
incluía uma promessa: tu o saberás depois (7). O que eu faço era a humilhação
do Senhor, simbolizada no ato de lavar-lhes os pés; na verdade, porém, Ele
estava proporcionando toda a obra redentora de Deus para o homem. Hoskyns
comenta que a reação de Pedro não é um contraste entre o orgulho de Pedro e a
humildade de Jesus, mas, antes, “entre o conhecimento de Jesus, o qual é a base
da ação, e a ignorância de Pedro, que ainda não percebe que a humilhação do
Messias é a causa efetiva da salvação cristã” (cf. 2.22; 7.39; 12.16; 14.25-26;
15.26; 16.13; 20.9). Mas o entendimento do futuro estava longe demais para Pedro.
Ele só via a incongruência imediata da situação — Jesus lavando os seus pés.
Impulsivamente, ele declarou: “Nunca em nenhum momento lavarás os meus pés —
para sempre” (tradução literal). Pedro esperava colocar um ponto final em tudo
aquilo. Mas Jesus conhecia o caminho para o coração de Pedro — a ameaça de ser
excluído da presença de Jesus, a quem Pedro amava. Se eu te não lavar, não tens
parte comigo (8; cf. Hb 12.14). “Não há lugar na sociedade dos cristãos para
aqueles que não forem purificados pelo próprio Senhor Jesus”. Se a comunhão só
poderia ser adquirida pela purificação (cf. 1 Jo 1.7), então Pedro queria tudo
o que pudesse ter — pés, mãos e cabeça (9).
Jesus fez uma
aplicação geral da ideia sobre a qual conversava com Pedro: “Aquele que está
lavado não necessita de lavar senão os pés. Ele está todo limpo”. “Vós estais
limpos, mas não todos” (10). Hoskyns comenta que, no ato da lavagem dos pés,
Jesus “simbolicamente declara a completa purificação deles através da
humilhação da morte do Messias. O cristão fiel é purificado pelo sangue de
Jesus” (1 Jo 1.7; cf. Rm 6.1-3; 1 Co 10.16). Se a santidade de coração estiver
no coração da Eucaristia (ver o comentário sobre 6.53), a pureza do coração
está no coração do Pedilavium (lavagem dos pés). Tudo isto era uma prefiguração
simbólica da obra do Espírito que se tornaria possível através da sua vinda
(14.15-17,25-26; 15.26; 16.7-15).
Mas, e quanto a
Judas? Ele estava limpo? Jesus sabia, e soube (6.70-71), quem o haveria de
trair; por isso, disse: Nem todos estais limpos (11). Bernard diz: “No que diz
respeito à limpeza do corpo, não há dúvida de que ele estava nas mesmas
condições dos outros, mas não no sentido espiritual”.
Tendo lavado os pés
dos discípulos e vestido a sua túnica, Jesus, estando à mesa, outra vez
perguntou aos discípulos: Entendeis o que vos tenho feito? (12) Macgregor
comenta: “Quando ‘veste a sua túnica’, Jesus assume a sua vida novamente
(10.17ss.) no poder do Espírito, e assim esclarece todas as coisas” (7). Sem
esperar por uma resposta, Jesus explicou que isto tinha sido um exemplo (15),
ou modelo, “que estimula ou deve estimular alguém a imitá-lo”. Da mesma forma
que Ele, seu Mestre (literalmente, “Ensinador”) e Senhor, lhes tinha feito,
assim deveriam fazer uns aos outros (13-14; cf. 34). Hoskyns diz: “Seu ato de
lavar os pés dos discípulos expressa a própria essência da autoridade cristã”.
Não parece haver qualquer evidência de que Jesus quisesse que a lavagem dos pés
fosse instituída como um sacramento. Mas fica claro que Ele estava ensinando,
pelo exemplo básico e axiomático, embora paradoxal, que a única maneira de ser
“o maior” (Lc 22.24) ou de ser bem-aventurado (17) é tomar a estrada do serviço
amoroso (13.34) e do sacrifício (10.15), baseado no conhecimento da vontade de
Deus para nós. A palavra traduzida como bem-aventurado no texto das Beatitudes
é makarioi (Mt 5.3-12).
Joseph
H. Mayfield. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 7. pag. 116-117.
João 13. 4/5 Na
seqüência começa a instrução e preparação dos discípulos com uma ação de Jesus,
da qual não obtemos nenhuma notícia no relato dos sinóticos. Jesus ―levantou-se
da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha de linho, cingiu-se
com ela. Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a
enxuga-los com a toalha com que estava cingido.‖ Com que detalhamento e
precisão João está relatando, quando em outras passagens costuma relatar de
maneira muito sucinta! É como se ele visasse destacar com isso a conotação
extraordinária e admirável da ação. Cumpre ponderar que em geral lavar os pés
era apenas serviço dos ―escravos‖, sim, dentre um grupo de escravos executava-o
somente o mais humilde e desvalorizado. E agora executa-o aquele ―a quem o Pai
confiou tudo nas mãos‖, ―o Senhor da glória‖ (1Co 2.8). Nesse episódio torna-se
palpável o que Paulo quer dizer em Fp 2.6ss: Ele, que ―subsistindo em forma de
Deus‖, ―esvaziou-se a si mesmo, assumindo a forma de servo‖. Com o pano de
linho se cingiu ―do avental de escravo para servir‖, exercendo um serviço típico
de escravo.
Werner de Boor. Comentário Esperança Evangelho de João. Editora Evangélica
Esperança.
Jo 13.3-5. A
linguagem solene do versfcuio 3 prepara-nos para um ato de majestade divina.
Jesus, consciente da soberania universal que o Pai lhe conferiu, plenamente
ciente da sua origem e destino celestiais, faz algo que deixará no coração dos
discípulos um sinal indelével desta soberania, origem e destino.
Ele se veste como um
empregado da casa e pratica a tarefa de um empregado. Qualquer um dos discípulos
teria realizado com prazer este serviço para ele, mas o ato de fazê-lo para os
outros discípulos seria considerado uma admissão de inferioridade, intolerável
diante da intensa competição que havia entre eles pelo lugar principal no reino
do seu Mestre. Lucas acrescenta um elemento interessante, descrevendo como a
disputa deles sobre este assunto provocou em Jesus algumas palavras sobre os
verdadeiros padrões de grandeza e um apelo para que olhassem para seu próprio
exemplo: “ ...no meio de vós, eu sou como quem serve" (Lc 22.24-27).
A descrição viva de
João ilustra a afirmação de Filipenses 2.6s„ de que aquele que subsistia “em
forma de Deus” assumiu a “forma de servo” - e com esta atitude manifestou Deus
na terra da maneira mais perfeita possível. A forma de Deus não foi trocada
pela forma de servo; ela foi revelada na forma de um servo. No lava pés, os
discípulos, apesar de não entenderem no momento, viram uma manifestação rara da
autoridade e da glória do Verbo encarnado, e uma declaração incomum do caráter
do próprio Pai. Gordon Rupp descreve a degradação de Thomas Cranmer, no
exercício de seu cargo sagrado, nestes termos:
E quando ele,
finalmente, estava ali parado sem batina, vestido com as roupas de um indigente
- in servitutem et ignominiam habitus - Bonner exclamou: “Agora não és mais
Lorde". Cranmer logo respondeu que “nunca dera mais importância a algum
título, nome ou estilo de escrita, do que ao ato de descascar uma maçã",
mas ele dever ter sentido profundamente sua humilhação... E nós podemos ter
certeza de que os quacres em tempo algum puseram um ponto de interrogação mais
irônico atrás de um clérigo do que o fato de que, quando todos os advogados
tinham sido afastados, um arcebispo acabou sendo descoberto “na forma de um
servo" - isto ê, as únicas vestes sagradas adotadas pelo Senhor e Autor da
Igreja Certamente, nenhuma veste combina tão bem com um ministro cristão como o
“avental da humildade” (1 Pe 5.5) - expressão em que podemos detectar uma
lembrança viva de uma ocasião inesquecível.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 240-241.
Jo 6.63. É por essa
razão que o próprio Jesus agora também combina mais uma vez sua palavra sobre a
―carne‖ do Filho do Homem, que tem de ser ―comida‖, com o ―Espírito‖, que é o
único que vivifica. ―As palavras que vos tenho dito são espírito e são vida.‖
Ao afirmar isso Jesus pode estar pensando em todas as palavras que já dissera
aos discípulos. No entanto, nesse caso inclui-se igualmente todo o seu discurso
do presente capítulo. Na situação agora relatada por João, com ―as palavras que
vos tenho dito‖ Jesus deve estar se referindo sobretudo às considerações de Jo
6.26-59. Ou seja, justamente as palavras que falam de ―comer‖ (―mastigar‖) sua
carne e de ―beber‖ seu sangue são na verdade ―Espírito e vida‖. Comer a carne
sacrificada de Jesus dá o Espírito e a vida. E novamente o Espírito transforma
a palavra da cruz em evangelho libertador e em pão da vida. Assim, o discurso
de Jesus no cap. 6 deve ser lido e compreendido como dádiva da vida no
Espírito.
Werner de Boor. Comentário Esperança Evangelho de João. Editora Evangélica
Esperança.
Jo 6. 63. Jesus traz
à lembrança de seus discípulos relutantes que o Espírito é que vivifica, a
carne para nada serve (v. 63). A Ascenção e o Espírito andam juntos, quer na
teologia do Evangelho de João (cf. 7:39; 20:22), quer no Novo Testamento em
geral (ver, Atos 2:33). Todavia, que tipo de distinção Jesus está fazendo aqui,
entre Espírito e carne? Como pode Jesus insistir, num só fôlego, na necessidade
absoluta de “comer” sua carne e, logo em seguida, que a carne para nada serve?
Alguns eruditos pensam que o sermão anterior, o da sinagoga, já não está em
vista, mas que Jesus está voltando à distinção que fez a Nicodemos, entre o que
vem de Deus e o que meramente vem do homem (cf. 3:6). Outros interpretam o
versículo 63 como um qualificativo das tendências sacramentalistas dos vv.
53-58: para a vida cristã do crente, a participação na ceia do Senhor é de
importância crucial, desde que esse crente participe do Senhor
“espiritualmente” (i.e., de acordo com o sentido verdadeiro do sacramento).
É mais provável que
carne tenha o mesmo sentido, aqui, como na primeira ocorrência, no sermão, isto
é, no v. 51. “Carne” lá referia-se à morte de Jesus pelo mundo, e se a esta
palavra se der um sentido semelhante, no v. 63, a afirmação é que a morte por
si só nenhum valor tem. Espírito funciona aqui no sentido de espírito que dá
vida, mediando a ressurreição (cf. 1 Coríntios 15:45; Romanos 8:11). Sem a
esperança da ressurreição, a morte para nada serve, ainda que em prol de uma causa
nobre, e a morte “pela vida do mundo” (v. 51) toma-se uma impossibilidade. O v.
63, desta maneira, acentua a promessa reiterada do sermão precedente, de que
“Eu o ressuscitarei no último dia” (6:39,40, 44, 54). Para os hesitantes
discípulos do v. 60, as palavras de Jesus pareceram “duras”, visto que o tema
do sermão era “carne” e “morte”, mas, à vista da promessa da ressurreição,
Jesus pode caracterizá-las, em vez disso, como “Espírito” e “vida” (v. 63).
J.
Ramsey Michaels. Comentário Bíblico
Contemporâneo João. Editora Vida. pag. 131-132.
Jo 13. 12/14 A ação
do lava-pés foi concluída. Não deve continuar sendo uma ação silenciosa e
incompreendida. No entanto, como Pedro, os demais discípulos obviamente
compreenderão somente depois da Sexta-feira da Paixão e da Páscoa o que Jesus
está fazendo agora. Porém, algo muito central de sua ação eles podem de devem
―compreender‖ imediatamente, levando-o para sua vida de discípulos como uma
característica básica de todo seu serviço. Os discursos de despedida começam,
primeiramente com a instrução e preparação dos apóstolos. ―Depois de lhes ter
lavado os pés, tomou as vestes e, reclinando-se novamente à mesa,
perguntou-lhes: Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais o Mestre e o Senhor
e dizeis bem; porque eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei
os pés, também vós sois devedores de lavar os pés uns dos outros.‖ Jesus ―havia
se reclinado novamente à mesa‖. Nessa refeição Jesus não estava ―sentado‖, mas
―deitado à mesa‖ com os seus. Assim a ceia, embora tenha sido apenas ―uma
janta‖, ainda assim tinha conotação festiva. No v. 13, o ―vós‖ é ressaltado com
ênfase. Seus discípulos o tratam de ―Mestre‖ e ―Senhor‖. Israel como um todo
não o faz. Por isso parecia tão impossível para Pedro que esse ―Mestre e
Senhor‖ fizesse o serviço de um escravo. Mas, visto que ele, o Mestre e Senhor,
apesar disso o faz, os discípulos não se podem negar a servir uns aos outros.
Terão necessidade
desse serviço sem cessar, mesmo que, como salvos e renascidos, sejam ―limpos de
todo‖. O lava-pés é indispensável no convívio dos discípulos entre si. Não
existe uma igreja ―pura‖ e ideal. Na convivência, mesmo como ―cristãos‖, muitas
vezes ferimos uns aos outros, prejudicamos uns aos outros, perturbamos ou
tolhemos a comunhão, evidenciamos a pequenez de nossa fé, a fraqueza de nosso
amor, a debilidade de nossa esperança. Não está colocado à nossa deliberação se
queremos em tudo isso ajudar uns aos outros. ―Vós sois devedores‖ diz Jesus. O
serviço dos discípulos entre si de fato possui a característica de um serviço
em si, que seu Mestre e seu Senhor lhes presta. É claro que não podem redimir
um ao outro. Isso somente o próprio Jesus pode fazer. Mas ―lavar os pés‖ de
modo algum se refere apenas a servir genericamente com disposição, a uma
―diaconia‖ geral. Assim como o serviço de Jesus era singular, assim o é também
o serviço dos discípulos uns pelos outros. A partir do ato redentor de Jesus,
ele é a ajuda perdoadora e purificadora para corrigir, libertar e endireitar.
Unicamente pessoas redimidas e realmente salvas ―podem‖ prestar esse serviço.
15 ―Porque eu vos dei
um exemplo, para que vós façais como eu vos fiz.‖ Representa uma distorção do
evangelho se virmos em Jesus apenas um ―exemplo‖, ao qual queremos imitar com
nossas próprias forças. Nessa leitura se ignoraria o que Jesus disse em Jo
3.1ss ao sério fariseu Nicodemos sobre a necessidade do novo nascimento. Por
outro lado, também não podemos nem devemos negar que Jesus é ―exemplo‖. Em
consonância, ele próprio está se colocando a seus discípulos como ―exemplo‖
precisamente em sua função apostólica. Acrescenta-se que no grego a palavra
―como‖ (kathos) não possui apenas um sentido comparativo, mas também uma
conotação de justificativa. Devem ―fazer como Jesus fez‖; porém somente podem
fazê-lo porque Jesus agiu primeiro dessa forma com eles.
Werner de Boor. Comentário Esperança Evangelho de João. Editora Evangélica
Esperança.
“Vós deveis também
lavar os pés uns aos outros” (Jo 13.12-17). Lucas 22.24 nos diz que, enquanto
os discípulos entravam na sala em que ocorreria a Ultima Ceia, eles discutiam
quem seria o maior no Reino do céu.
Esse pano de fundo
encontrado em Lucas nos ajuda a perceber a importância da pergunta de Jesus:
“Entendeis o que vos tenho feito?” Se Jesus, seu Senhor e Mestre, podia
curvar-se para servir, os discípulos não deviam competir por grandeza, mas,
antes, concentrar-se em servir. “Eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos
fiz, façais vós também”.
Em algumas tradições
cristãs, o lava-pés literal é praticado. Mas a preocupação de Cristo não é com
o ato, mas com a postura que ele demonstra. A humildade e o servir são
elementos necessários à condição de discípulo cristão. Se somos seguidores de
Jesus, certamente devemos seguir o seu exemplo.
Lawrence
O. Richards. Comentário Devocional da
Bíblia. Editora CPAD. pag. 693-694.
II - O
ENSINO DAS ESCRITURAS NA IGREJA DO PRIMEIRO SÉCULO
1. Uma ordem de
Jesus.
Embora em missões
anteriores Jesus tivesse enviado os discípulos somente aos judeus (10.5,6), a
sua missão a partir de então seria a todas as nações. Isto é chamado de Grande
Comissão. Os discípulos tinham sido bem treinados, e tinham visto o Senhor
ressuscitado. Eles estavam preparados para ensinar as pessoas de todo o mundo a
guardar todas as coisas que Jesus tinha mandado. Isto também mostrava aos
discípulos que haveria um período entre a ressurreição de Jesus e a sua segunda
vinda. Durante este período, os seguidores de Jesus tinham uma missão a cumprir
- evangelizar, batizar e ensinar as pessoas a respeito de Jesus para que elas, por
sua vez, pudessem fazer a mesma coisa.
As boas novas do
Evangelho deveriam ser transmitidas a todas as nações. Com este mesmo poder e
autoridade, Jesus ainda nos ordena que contemos a outros sobre as boas-novas, e
os façamos discípulos do reino. Nós devemos ir – seja à porta ao lado ou a
outro país - e fazer discípulos. Esta não é uma opção, mas um mandamento a
todos os que chamam Jesus de “Senhor”. Quando obedecermos, sentiremos conforto
sabendo que Jesus está conosco todos os dias. Isto irá acontecer por meio da
presença do Espírito Santo na vida dos crentes. O Espírito Santo será a
presença de Jesus que nunca os deixará (Jo 14.26; At 1.4,5). Jesus continua a
estar conosco hoje, por meio do seu Espírito.
Da mesma maneira como
este Evangelho se iniciou, ele termina - Emanuel, “Deus conosco” (1.23).
As profecias do
Antigo Testamento e as genealogias do livro de Mateus apresentam as credenciais
de Jesus que o qualificam para ser o Rei do mundo - não um líder militar ou político,
como os discípulos originalmente tinham esperado, mas o Rei espiritual que pode
derrotar todo o mal e governar no coração de cada pessoa. Se nos recusarmos a
servir fielmente ao Rei, seremos súditos desleais. Precisamos fazer de Jesus o
Rei da nossa vida, e adorá-lo como nosso Salvador, Rei e Senhor.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 171.
Mt 28:18 Toda a
autoridade . Em seu estado ressuscitado, Jesus exerce autoridade absoluta em
todo o céu e a terra, o que demonstra sua divindade. Sua autoridade foi dada
pelo Pai, o que indica que ele continua sujeito ao Pai (ver nota sobre 1
Coríntios. 15:28).
Mt 28:19 O imperativo
( fazer discípulos , isto é, chamar as pessoas a comprometer-se a Jesus como
Mestre e Senhor) explica o foco central da Grande Comissão, enquanto os
particípios gregos (traduzido go , batizando , e "ensinar" [v.20 ])
descrevem os aspectos do processo. todas as nações . O ministério de Jesus em
Israel era para ser o ponto de partida do que viria a ser uma proclamação do
evangelho a todos os povos da terra, incluindo não só os judeus, mas também os
gentios. O nome (singular, não plural) do Pai, do Filho e do Espírito Santo é
uma indicação precoce da divindade trinitária e uma proclamação aberta da
divindade de Jesus.
Mt 28:20 O ensino é
um meio pelo qual os discípulos de Jesus são continuamente transformados, a fim
de tornar-se mais semelhante a Cristo (cf. 10:24-25;. Rom 8:29;. 2 Coríntios
3:18). observar . Obedeça. estou convosco todos os dias . Jesus conclui a
comissão, e Mateus seu Evangelho, com o elemento crucial do discipulado: a
presença do Mestre, que é "Deus conosco" (Mt 1:23).
BIBLIA DE ESTUDO ESV ENGLISH STANDARD
VERSION. Published by Crossway Bibles.
·Ide. portanto, fazei
discípulos...·. Algumas traduções dizem ·ensinai todas as nações». Porém,
«fazei discípulos· é tradução melhor, embora em Mat. 13:52 seja usada essa expressão
com o sentido de «instruir». O fazer discípulos envolve, em primeiro lugar, a
necessidade do evangelismo ou da pregação do evangelho; mas também subentende
um exercício de treinamento e orientação, de forma que esses discípulos sejam
melhor firmados e instruídos na plenitude da mensagem das Escrituras Sagradas.
A palavra «portanto·, provavelmente é uma glosa, pois é omitida pelos mss
Aleph, AEFHKMSU V, Gamma e outros. Todavia c porção muito antiga do texto, por
causa do Códex do Vaticano, como também dos mss Delta e Fam Pi. A glosa é
excelente, conforme a maioria dos intérpretes concorda prontamente, porque
mostra que essa ação de fazer discípulos dentre todas as nações, repousa na
autoridade universal de Cristo. Por conseguinte, sem importar o que aconteça,
algum sucesso está garantido; e o que parece ser fracasso, cm realidade não
pode sê-lo. Se tragédias acontecerem. se mártires surgirem, se um tratamento
vergonhoso for dado aos pregadores, se desumanidades forem perpetradas contra
os discípulos, devemos saber que tudo será por causa de Jesus, e que a vitória
e o sucesso final estão plenamente assegurados. Se males forem cometidos contra
os discípulos de Cristo ״ o que parece não ter
remédio, todavia. Deus curará a tudo, porque em Cristo está toda a autoridade,
não somente neste mundo, mas também no céu. E, assim sendo, dessa promessa flui
um rio de paz e de segurança. Da mesma maneira como a horrenda crucificação de
Jesus foi prontamente sarada, final c completamente, pela ressurreição, assim
também todos os recuos e derrotas dos verdadeiros discípulos serão sarados,
porquanto a autoridade de Jesus Cristo garante isso. ·
·...de todas as nações...» Todas as limitações
fronteiriças são aqui removidas, como também se verifica em Mat. 10:5. Assim
foi estabelecida a universalidade da comissão apostólica. A questão sobre como
os discípulos haveriam de receber e de incorporar-se na igreja, ainda não fora
respondida; c ainda não haviam sido feitas as revelações, dadas a Paulo, que
identificam a igreja como organismo quase totalmente gentílico uma noiva gentílica,
e também aquelas outras que falam da alta chamada dessa igreja, que será
transformada completamente segundo a imagem de Cristo. Todas essas coisas
haveriam de ser esclarecidas mais tarde e podemos ler acerca delas cm trechos
como Rom.8; Efé. 1; Col. 1; Heb. 5. O desenvolvimento dessa semente é deixado
nas mãos do Espirito Santo, através do ministério dos apóstolos. Todas as
nações certamente incluiria os judeus; mas a mensagem não teria mais alcance
provinciano. Um dos principais temas deste evangelho de Mateus é o de demonstrar a
universalidade da mensagem cristã; e este é o trecho central desse tema. Assim
sendo, encontramos nesta passagem a grande ·Magna Carta· do empreendimento
missionário do cristianismo.
·...balizando-os...»
Essa declaração tem como base o conceito da triunidade divina. Paulo também
ligou dessa maneira Jesus Cristo com Deus Pai e com Deus Espírito Santo,
segundo se vê cm II Cor. 13:14 e I Cor. 12:4-6; e o quarto evangelho envolve
muita coisa dessa natureza. Este versículo também é evidência de que a mesma
geração que conheceu a Jesus Cristo na carne, também já estava reconhecendo as
implicações trinitárias, tendo adotado uma expressão das mesmas cm seu rito
batismal. Isso se tornou uma fórmula consagrada pelo uso, que tem
prosseguimento até os nossos dias. (Ver também Atos 2:38 e 8:16, que
subentendem a mesma coisa). Por conseguinte, apesar dessa doutrina não ter recebido
sanção oficial senão já no concilio de Nicéia (325 D.C.), todavia, já ganhara a
ascendência sobre todas as outras ideias, ao tempo cm que os evangelhos foram
escritos. E fútil reivindicar que a doutrina da triunidade divina foi mero
pronunciamento de um concilio eclesiástico, porque isso simplesmente não é
verdade. O que sucedeu é que nesse concilio a doutrina foi ratificada,
aprovada, sobre outras ideias referentes às relações entre o Pai, o Filho e o
Espirito Santo. Foi aprovada e não criada, pelo concilio de Nicéia. Os cristãos
primitivos talvez não compreendessem a palavra trindade, segundo ela é atualmente
empregada como termo teológico; porém, se tivessem sido solicitados a explicar
as relações no seio da deidade entre Pai, Filho e Espírito Santo, provavelmente
teriam dito algo similar ao que essa doutrina ensina atualmente. Naturalmente que
havia muitas vozes contraditórias na igreja, como ainda existem, se incluirmos
aqui tudo quanto se convencionou chamar de igreja. Ver sobre a Trindade, 1 João
5:
·,..batizando-os em...» é reflexo do texto
grego, neste caso. Aqui tentos uma significação profunda, porquanto expressa
admiravelmente bem o sentido do batismo, que é a identificação espiritual com
Cristo. Estamos plenamente identificados com Cristo, em sua morte.
Compartilhamos dessa morte e de todas as suas implicações. Estamos mortos para
o pecado, e fomos libertados do castigo imposto contra o pecado. Também
compartilhamos da vida ressurreta de Cristo, que é o outro notável símbolo do
batismo. Compartilhamos da vida eterna que Jesus trouxe do túmulo. e como se o
sepulcro fosse o ventre da própria vida. Jesus saiu dali uma nova criatura, o
primeiro homem imortal. Subsequentemente foi glorificado em sua ascensão, e então
ainda mais glorificado quando de sua glorificação, à mão direita de Deus Pai.
Agora estamos seguindo as suas pisadas. Participamos de sua imagem moral c
metafísica, e participaremos plenamente de sua natureza e imagem.
Essa c a grande
mensagem do evangelho, a qual ultrapassa cm muito a simples questão do perdão
dos pecados c a mudança dc endereço para o céu. O céu é, essencialmente, o que
tiver de suceder conosco, cm termos de transformação em criaturas vastamente
superiores, e não apenas o aprazimento de bem-aventurança eterna em um lindo
lugar. (Quanto a detalhes dessa importante doutrina, ver as notas em Rom. 8:29.
Efé. 3:19, H Ped. 1:4) O batismo é símbolo dessa realidade; não é a própria
realidade. A água não transforma, mas essa transformação é operada por nossa
identificação com Cristo. A água é meramente o símbolo: a transformação é a
coisa simbolizada. Não podemos confundir o símbolo com a verdade simbolizada—são
coisas separadas. (Quanto a uma nota sobre o sentido do batismo, ver Rom. 6:3).
o batismo em Cristo não
tem a intenção de servir de mera fórmula para o rito batismal, embora possa ser
legitimamente usado como tal: pelo contrário, expressa aquela relação mística
com Jesus, aquele participar espiritual de toda a sua vida e ser, no sentido
mais literal possível, de tal maneira que a própria essência de nosso ser seja
transformada ate tomar-se idêntica a essa essência. Essa expressão é paralela
àquela expressão de Paulo, «...em Cristo...» Somos batizados em Cristo, no Pai
c no Espírito Santo. Dessa forma é assegurada a participação na vida celestial,
na vida eterna. Trata-se de nossa identificação com a divindade. Temos aqui uma
linguagem mística, que não é fácil de ser entendida. Tão-somente sabemos que
envolve algo vastissimamente grande. — Seremos elevados a uma posição que mui
raramente é indicada na pregação comum da igreja. Precisamos erguer muito mais
os nossos olhos, acima das doutrinas básicas do perdão dos pecados e da mudança
de endereço para o céu. O evangelho consiste de muito mais do que está
simbolizado pelo rito do batismo em água.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 654-655.
2. A doutrina dos
apóstolos.
O ensino do evangelho
de Cristo aos novos convertidos era tão sério e profundo, que os primeiros
crentes eram batizados em águas, “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e
na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. Em cada alma havia temor, e
muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos” (At 2.42, 43 — grifo
nosso). A “doutrina dos apóstolos” era o conjunto de ensinos, ministrados por
eles aos novos crentes, de forma eficaz, produzindo mudanças e transformações
na vida dos que se convertiam, com sinais e maravilhas. Essa doutrina
apostólica ainda está em vigor em nossos dias. Os mestres ou doutores, com
humildade e amor, devem fundamentar seus estudos nos ensinos preciosos do
evangelho de Cristo.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 125.
Atos 2.42 Este
primeiro relato da igreja que acabava de nascer descreve a adoraçáo na igreja
primitiva, na primeira década da igreja. Os três mil novos crentes se agregaram
aos outros crentes. Isto é, se reuniram com outros como eles, pessoas de pensamento
e fé semelhantes. Perseveravam implica que estavam regularmente, continuamente,
persistindo nas atividades que vinham a seguir.
Estas atividades
formam um mapa prático não somente para a igreja de um dia de idade, mas para qualquer
igreja, de qualquer idade.
A doutrina dos
apóstolos era essencial para o conteúdo daquilo que deveria ser estudado. Os
apóstolos, as testemunhas oculares de tudo o que Jesus tinha feito, seriam aqueles
a quem o Espírito Santo lembraria as verdades fundamentais segundo as quais a igreja
seria conduzida pelos séculos futuros (Jo 14.17,25,26; 16.13). Desde o início,
a igreja primitiva se dedicou a ouvir, estudar e aprender o que os apóstolos
tinham para ensinar.
A comunhão (do grego,
koinonia) significa associação e relacionamentos íntimos. Isto era mais do que
simplesmente ficarem juntos, certamente mais do que simplesmente uma reunião
religiosa. Isto envolvia compartilhar bens, fazer refeições juntos, e orar
juntos.
O partir do pão se
refere aos cultos de comunhão que eram realizados como lembrança de Jesus e
instituídos de acordo com a Última Ceia, que Jesus tinha tido com os seus
discípulos antes da sua morte (Mt 26.26-29). E provável que este culto
incluísse regularmente uma refeição em comum (At 2.46; 20.7; 1 Co 10.16;
11.23-25; Jd 1.12).
A oração está ligada
ao partir do pão, para explicar a palavra “comunhão”. Estas eram pelo menos
duas das atividades que faziam parte das suas reuniões regulares. A oração
sempre foi uma marca das reuniões dos crentes.
Atos 2.43 A palavra
temor é a palavra grega phobos, literalmente traduzida como “medo”. Este temor
era parcialmente causado pelas muitas maravilhas e sinais que os apóstolos
faziam. As“maravilhas” (teratá) eram os milagres fabulosos que evocavam
assombro naqueles que os viam. Os “sinais” miraculosos (semeia) conferiam autenticidade
à mensagem e ao mensageiro, direcionando os observadores a uma fonte divina do
milagre ou a uma verdade divina. Aqui, estes sinais e maravilhas conferiam
autenticidade à mensagem dos apóstolos, identificando-a como uma verdade
divina.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 633.
Os cristãos da igreja
primitiva guardavam rigorosamente as ordenanças santas e eram profusos em todo
tipo de devoção e piedade, pois o cristianismo, reconhecido em seu poder,
coloca a alma em posição de ter comunhão com Deus em todas as maneiras em que
Ele nos fez para conhecê-lo e prometeu nos conhecer.
1. Os primeiros
cristãos eram diligentes e constantes em reunir-se para ouvir a pregação da palavra.
Eles perseveravam na doutrina dos apóstolos (v. 42), sem jamais repudiá-la ou
abandoná-la. Ou, conforme outra leitura: “Eles se mantinham constantes no
ensino ou instrução dos apóstolos”. Pelo batismo, eles foram discipulados a aprender,
ficando propensos ao ensino. Veja que aqueles que se entregam a Jesus devem
estar plenamente cônscios da obrigação de ouvir sua palavra, pois assim lhe
prestam honras e se edificam a si mesmos sobre a sua santíssima fé (Jd 20).
2. Os primeiros
cristãos persistiam na comunhão dos santos. Eles continuaram firmes na comunhão
(v. 42), perseverando unânimes todos os dias no templo (v. 46). Essa comunhão
consistia no amor uns pelos outros e num rico relacionamento social entre eles.
Tratava-se de um povo muito unido. Quando se retiraram da geração perversa, não
viraram ermitões, mas se achegaram ainda mais uns aos outros e aproveitavam
toda oportunidade para se reunirem. Onde quer que haja um discípulo, tem de
haver mais, uma vez que são gente da mesma origem e essência. Veja como estes
cristãos amam uns aos outros.
Eles se preocupavam
uns com os outros, demonstravam simpatia mútua e, de coração aberto, defendiam
as causas uns dos outros. Comungavam juntos na adoração religiosa.
Reuniam-se no templo:
esse era o lugar do encontro, pois nossa comunhão conjunta com Deus é a melhor comunhão
que podemos ter uns com os outros (1 Jo 1.3).
Observe: (1) Os
cristãos da igreja primitiva estavam todos os dias no templo (v. 46), não só
nos sábados e nas festas solenes, mas em outros dias, diariamente. Adorar a Deus
tem de ser nossa atividade diária, e, sempre que houver oportunidade, quanto
mais vezes fizermos publicamente melhor. O Senhor ama as portas de Sião (SI 87.2),
e devemos imitá-lo. (2) Os cristãos da igreja primitiva eram unânimes (v. 46).
Não havia discórdia ou discussão entre eles, somente amor santo. Com prazer e
entusiasmo, eles se reuniam nos cultos públicos. Embora se agregassem aos
judeus nos pátios do templo, os cristãos mantinham reuniões exclusivamente suas
e eram unânimes em suas orações separadas.
3. Os primeiros
cristãos juntavam-se na ordenança da Ceia do Senhor. Eles perseveravam L~.j no
partir do pão (v. 42), celebrando o memorial da morte do Mestre, como pessoas
que não se envergonhavam de relacionar- se e depender de Jesus Cristo e este
crucificado (2 Co 2.2). Eles não podiam deixar de lembrar a morte de Cristo,
por isso mantinham este momento comemorativo e o tornaram prática constante,
porque era uma instituição de Cristo a ser transmitida às eras sucessivas da igreja.
Eles repartiam o pão em casa, kat oikon - de casa em casa. Não julgavam
adequado celebrar a Ceia do Senhor no templo, visto que isso era peculiar aos
estabelecimentos cristãos. Por isso, ministravam essa ordenação em casas particulares,
escolhendo as casas dos cristãos convertidos conforme a praticidade, às quais
os vizinhos se dirigiam. Eles iam de uma a uma destas pequenas sinagogas ou
capelas domésticas, casas que continham igrejas, e lá celebravam a Ceia do
Senhor com as pessoas que normalmente se reuniam ali para adorar a Deus.
4. Os primeiros
cristãos perseveravam [...] nas orações (v. 42). Depois que o Espírito foi
derramado, como também antes enquanto o esperavam, eles permaneceram imediatamente
em oração. A oração jamais será substituída até que venha a ser absorvida no
louvor perpétuo. o partir do pão se coloca entre a obra e a oração,
pois se liga a ambas,
e é uma forma de assistência apara ambas. A Ceia do Senhor é um sermão para os
olhos e uma confirmação da palavra de Deus para nós. É um incentivo para as
nossas orações e uma expressão solene da ascensão de nossa alma a Deus.
5. Os primeiros
cristãos abundavam em ação de graças; sempre estavam louvando a Deus (v. 47). O
louvor deve ser parte de toda oração e não algo a ser escondido num canto.
Aqueles que recebem o dom do Espírito Santo devem ser ricos em louvores a Deus.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 24.
Atos 2. 42 Como
continua a história após o agitado dia de Pentecostes? É significativo que,
como nas últimas palavras de Jesus sobre o serviço testemunhal de seus
discípulos, não encontramos aqui frases de exortação e ordens, mas apenas
simples frases afirmativas. Na verdade, nós achamos que depois de conversões e
conquistas espirituais é preciso imediatamente advertir: “Agora vocês também
devem…!” Naquele tempo não havia necessidade disso, pois o Espírito estava
presente e concedia com vivacidade o que nós nem mesmo com numerosas exortações
alcançamos. “E perseveravam…”. O entusiasmo emocional se desfaz rapidamente, o
Espírito Santo cria algo permanente.
Em que perseveravam?
Sobretudo “na doutrina dos apóstolos”. Ocorria o que ainda hoje muitas vezes
acontece em conversões: o centro da vida foi atingido pela evangelização, a
mudança decisiva havia acontecido, pessoas se tornaram propriedade de Jesus –
mas como sabiam pouco a respeito de Jesus! Como estavam ávidas para aprender
mais, muito mais de Jesus! Não precisavam ser pressionadas para ler a Bíblia,
se acotovelavam em torno do NT vivo que estava diante deles nas pessoas dos
apóstolos. Temos de imaginar agora o “ensino” dos apóstolos de acordo com o
costume judaico, de forma bem escolar e justamente por isso satisfatório e
abençoador. Os apóstolos não desenvolviam pensamentos teológicos e dogmáticos,
mas relatavam “todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar” (At 1.1),
relatavam o que haviam vivenciado com Jesus e transmitiam os ditos, discursos e
parábolas do Senhor. E os ouvintes gravavam tudo na memória, aprendendo-o de
cor como pessoas acostumadas desde a infância a fixar na memória muita Bíblia.
É dessa maneira que os evangelhos estavam vivos no coração e na memória de
numerosas pessoas muito tempo antes que algo tenha sido escrito. Esse aprender
e decorar, porém, não era “monótono”, mas abençoador. Como a pessoa era
enriquecida quando absorvia cada vez mais desse Jesus, a quem ela pertencia com
profunda gratidão, por ser o Salvador e Messias!
Desde já o
ensinamento dos apóstolos tinha ainda uma segunda incumbência. As pessoas eram
israelitas. Até então o ensino dos escribas lhes havia mostrado como aplicar a
lei a todas as minúcias da vida. Por essa razão elas gostavam de ir aos
escribas com todas as perguntas sobre a organização da vida. Agora a vida
pertencia a Jesus; queriam vivê-la para ele, para agradar-lhe. Como ela
acontecia? Como se seguiam na prática “os passos de Jesus” (1Pe 2.21)? Era isso
que os apóstolos tinham de mostrar agora aos recém-convertidos, ainda que não o
pudessem fazer ao modo rabínico e legalista.
Finalmente os
apóstolos devem ter realizado por meio de sua “doutrina” mais uma coisa que era
imprescindível justamente para israelitas: mostravam o que correspondia às
grandes promessas da antiga Aliança na vida, paixão, morte e ressurreição de
Jesus. Conseqüentemente, o próprio Jesus havia “exposto a Escritura” aos
discípulos, de sorte que “lhes ardia o coração” (Lc 24.27-32). Por isso, tanto
Pedro como Paulo traziam em todos os seus discursos a “prova da Escritura”. Em
vista disso, os jovens cristãos em Jerusalém, do mesmo modo como mais tarde as
pessoas em Beréia, podiam examinar pessoalmente “se as coisas eram, de fato,
assim” (At 17.11). Jesus foi evidenciado como o cumprimento do Antigo
Testamento, e o Antigo Testamento se abria, a partir de Jesus, sob uma luz
completamente nova para todos.
Igualmente, porém,
perseveravam “na comunhão”. Pedro havia falado somente da redenção e da
conversão do indivíduo. De fato constitui um ato de cada pessoa dar meia-volta
e deixar-se salvar, assumindo plena responsabilidade por sua decisão. Não se
diz nenhuma palavra de que em seguida Pedro ainda teria falado a respeito de
que agora tinham de permanecer juntos e ser bem fiéis comparecendo a todas as
programações. Não se fazia campanha para fundar uma igreja nem havia sido
deliberada a formação de uma associação dos que crêem em Jesus. Tudo isso era
desnecessário, porque “perseveravam na comunhão”. Com muita naturalidade eram
atraídos uns pelos outros. Não havia quem quisesse ficar sozinho agora.
Essa comunhão não é
apenas espiritual e edificante, mas uma comunhão de vida concreta. Isso se
expressa no “partir do pão”. A princípio a palavra refere-se simplesmente à
refeição conjunta, que segundo o costume judaico é iniciada com o partir e
partilhar do pão (cf. At 20.11; 27.35; Mt 14.19;
15.36; Lc 24.30,35).
Tomavam a refeição juntos, obviamente, como diz o v. 46, em grupos nas casas.
Nesse contexto a comunhão podia tornar-se concreta na partilha e na doação.
Contudo, segundo At 20.7 podemos pressupor que Lucas já via diante de si no
“partir do pão” simultaneamente a celebração da ceia do Senhor. Essa celebração
resultava da refeição conjunta – exatamente como na instituição pelo próprio
Jesus – e acontecia vivamente bem longe de altar, liturgia e sacerdócio, nas
casas e refeições caseiras. Era assim que ainda acontecia até mesmo na igreja
de gentios de Corinto, como mostra 1Co 11.17-34.
Por fim, são também
persistentes “nas orações”. Considerando que todos os aspectos falam da vida
comunitária da primeira igreja, precisamos imaginar por “orações” acima de tudo
as comunhões de oração. Crer em conjunto impele para orar em conjunto. Afinal,
quantas coisas havia diariamente para repassar em oração, mesmo que esse orar
ainda se ativesse completamente aos parâmetros de Israel. Todos eram
participantes da comunhão de oração, pela gratidão e humildade, súplica e
intercessão. Como israelitas, os membros da igreja de Jesus estavam acostumados
a orar regularmente. Os salmos e a “oração das dezoito preces” estavam nos
lábios de todos. No entanto, apesar de todas essas orações eles haviam sido “a
geração perversa”, cuja oração era imprestável. Agora lhes foi concedido que
pudessem invocar o Pai em Espírito e em verdade, o grito filial de um coração
repleto do Espírito do Filho (Jo 4.24; Rm 8.15; Gl 4.6). Que belas reuniões de
oração aconteciam agora! At 4.23,24 nos propiciará uma visão delas.
Atos 2. 43 “Cada
alma, porém, enchia-se de temor.” Consideramos isso estranho? O “temor de Deus”
obviamente se tornou algo desconhecido para nós, porque Deus ficou distante e
impreciso, uma mera idéia de nossas cabeças. Acerca dos primeiros cristãos,
porém, Bengel escreve com razão ao comentar este trecho: “Habebant enim DEUM
praesentum” – “A saber, tinham a DEUS presente”. Para pessoas salvas, portanto,
o temor não era aquele medo do castigo, sobre o qual João escreve que é lançado
fora pelo amor perfeito (1 Jo 4.18). Pelo contrário, era o respeito sagrado
daqueles que agora de fato “habitavam” na presença de Deus pelo Espírito Santo
e por isso “com o fogo devorador e com as chamas eternas”, de que falou Isaías
33.14. É o “temor” que Pedro deseja aos fiéis como característica permanente de
toda a sua conduta (1Pe 1.17).
Essa proximidade de
Deus se tornou palpável nos “prodígios e sinais, que aconteciam por intermédio
dos apóstolos”. Deus é por natureza um Deus dos milagres, um Deus que intervém
nas realidades da vida, ajudando, libertando e restaurando. Em vista disso, o
“temor” sobreveio também àqueles que ainda não pertenciam à igreja. Olhavam com
apreensão para esses cristãos, entre os quais Deus se mostrava tão poderoso, e
evitavam chegar perto demais deles. Tinham uma sensação de que Deus ainda era
algo diferente daquele personagem da tradição antiga, em quem haviam “crido” e que
haviam venerado em formas do passado sem um abalo especial do coração. É uma
marca de autenticidade daqueles “prodígios e sinais” o fato de não
desencadearem entusiasmo e fanatismo, mas “temor”.
Werner
de Boor. Comentário Esperança Atos. Editora
Evangélica Esperança.
3. Ensinamento
persistente.
Os primeiros mestres
ou ensinadores foram os integrantes do Colégio Apostólico. Como pioneiros na
propagação do evangelho, foram perseguidos, presos e alguns mortos. Mas
cumpriram a ordem de Jesus de pregar e ensinar a sua Palavra. Diz o texto
bíblico: “E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar e de
anunciar a Jesus Cristo” (At 5.42). Não perdiam tempo. Não havia templos
cristãos. A igreja começou nas casas. O ensino era ministrado a pequenos grupos
nos lares. C) apóstolo Paulo, falando aos anciãos de Éfeso, mostrou o caráter do seu ensino
como verdadeiro mestre cristão: “servindo ao Senhor com toda a humildade e com
muitas lágrimas e tentações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram; como
nada, que útil seja, deixei de vos anunciar e ensinar publicamente e pelas
casas, testificando, tanto aos judeus como aos gregos, a conversão a Deus e a
fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20.19-21 — grifo nosso).
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 125-126.
Atos 5. A maravilhosa
ousadia e constância dos apóstolos em meio a todas estas injúrias e
indignidades sofridas. Quando foram liberados (e os deixaram ir, v. 40), eles
retiraram-se [...] da presença do conselho (v. 41). Não há registro de sequer
uma palavra dita reflexivamente pelos apóstolos sobre o julgamento e o
tratamento injusto que receberam. Quando os perseguidores os injuriavam, não
injuriavam e, quando padeciam, não ameaçavam, mas entregavam a causa àquele a
quem Gamaliel se referira - a Deus que julga justamente (1 Pe 2.23). As tarefas
dos apóstolos eram preservar a posse de suas almas e fazer prova cabal do seu
ministério apesar da oposição que enfrentavam. E eles desempenharam admiravelmente
ambas as tarefas.
1. Os apóstolos
suportaram os sofrimentos com alegria indómita: Eles se retiraram da presença
do conselho (v. 41), talvez com as marcas das chicotadas nos braços e nas mãos,
sob vaias dos escravos e da populaça, e com divulgação pública dada do castigo
infame que sofreram.
Em vez de se
envergonhar de Jesus e de sua ligação com Ele, regozijaram-se de terem sido
julgados dignos de padecer afronta pelo nome cle Jesus. Os apóstolos eram
homens de reputação que jamais haviam feito nada de desprezível. Assim, não
podiam deixar de sentir vergonha pelas coisas que padeceram, as quais lhes eram
mais dolorosas que uma dor aguda e violenta, como normalmente é para os puros.
Mas em sua ótica, eles suportavam os maus-tratos pelo nome de Jesus, porque lhe
pertenciam e serviam aos seus interesses. Os sofrimentos devem contribuir para
o maior avanço do seu nome-, e, portanto: (1) Os apóstolos consideraram uma
honra serem achados dignos de padecer afronta, katexiothesan atimasthenai -
eles foram honrados por serem desonrados por Jesus. A repreensão sofrida por
Jesus é a verdadeira promoção, visto que nos conforma ao seu padrão e é útil
aos seus interesses. (2) Os apóstolos se alegraram no sofrimento, lembrando-se
do que o Mestre lhes dissera no início da obra: Quando vos -injuriarem, e
perseguirem, [...] exultai e alegrai-vos (Mt5.11,12). Eles se alegraram a
despeito de padecer afronta (as dificuldades não lhes diminuíram a alegria) e
pelo fato de padecer afronta (as dificuldades aumentaram-lhes a alegria). Se
padecermos adversidades por fazermos o bem, contanto que padeçamos
apropriadamente e como devemos, nos regozijemos nessa graça que nos capacita a
agir assim.
2. Os apóstolos
prosseguiram na obra com diligência infatigável: Eles foram castigados por
pregarem no nome de Jesus (v. 40) e receberam a ordem de não pregarem mais
nesse nome. Contudo, eles não cessavam de ensinar e de anunciar (v. 42). Não
deixaram de aproveitar toda oportunidade, nem diminuíram nada em seu zelo ou
fervor.
Observe: (1) Quando
os apóstolos pregavam: Todos os dias (v. 42). Não só em dias de sábado ou nos
dias do Senhor, mas
diariamente, tão regularmente quanto chegava o dia, sem falhar um dia sequei;
como fez o Mestre (Mt 26.55, Lc 19.47). Eles não temiam ser mortos ou enfadai-
os ouvintes. (2) Onde os apóstolos pregavam: publicamente no templo e
particularmente nas casas (v. 42). Em reuniões heterogéneas, nas quais todos
acorriam, e nas reuniões seletas de cristãos para ordenanças especiais. Eles
não pensavam que um tipo de reunião os dispensaria de outro, pois a palavra deve
ser pregada a tempo e fora de tempo (2 Tm 4.2).
No templo, os
apóstolos estavam sob o olhai’ dos inimigos e mais expostos ao público. Mesmo
assim, não se limitaram aos pequenos oratórios de suas próprias casas, mas se
arriscaram na plataforma do perigo. Embora tivessem a liberdade do templo, um
lugar consagrado, não lhes era difícil pregai- nas casas, em todas as casas,
até na cabana mais pobre. Eles visitavam as famílias dos irmãos que estavam sob
perseguição e lhes davam instruções particulares segundo requeria cada caso,
até para crianças e escravos. (3) Qual era o tema que os apóstolos pregavam:
Eles anunciavam a Jesus Cristo (v. 42). Eles pregavam mensagens relativas a
Ele. E não era tudo, eles o recomendavam altamente, apresentando-o aos que os
ouviam como Principe e Salvador (v. 31). Eles não pregavam a si mesmos, vias a Cristo
Jesus (2 Co 4.5), como amigos fiéis do noivo, tornando sua tarefa promover o
interesse dele. Esta era a pregação que mais ofendia os sacerdotes, que queriam
que eles pregassem qualquer coisa, menos Jesus Cristo. Mas eles não mudariam o
tema para agradá-los. Os ministros do evangelho devem ser constantes em
anunciar senão a Jesus Cristo e este crucificado (1 Co 2.2), anunciar a Jesus Cristo
e este glorificado. Nada mais que Jesus Cristo e o que for conversível a este
tema.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 58-59.
Atos 5. 40 O partido
dos sacerdotes não pode simplesmente ignorar o respeitado mestre teológico e
seus companheiros de opinião no Sinédrio. Apesar de toda a sua fúria, deve ter
havido também um resquício de insegurança em seu coração. Tampouco havia uma
inequívoca base legal para uma sentença de morte. “Deixaram-se determinar por
ele”. Gamaliel havia solicitado que os acusados saíssem, a fim de possibilitar
uma deliberação sigilosa. Dessa maneira os personagens odiados estavam fora do
campo de visão dos sacerdotes. Isso facilitou o veredicto rápido.
Os apóstolos são
chamados de volta, e reitera-se a proibição de que falem. Para aguçá-la
enfaticamente aplicam-se neles os açoites que nos são conhecidos como os
“quarenta menos um” também da vida de Paulo (2Co 11.24), e que podiam ser
aplicados como castigo em qualquer sinagoga. Então os apóstolos são liberados.
Atos 5. 41/42 Na
seqüência lemos a respeito deles as preciosas frases: “E eles se retiraram do
Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas
por esse Nome. E em nenhum dia cessavam de ensinar e proclamar o Messias Jesus
no templo e de casa em casa.” Não consideravam importantes as agudas dores de
um lombo ensangüentado. Elas nem mesmo são mencionadas. Contudo, sentiram
profundamente a desonra que, aos olhos de seus inimigos, estava implícita nessa
flagelação física dessas. Ainda assim, saem do Sinédrio não quebrados, nem se
lamentando, e tampouco amargurados, mas “regozijando-se”. Diante das pessoas
seu sofrimento obviamente era uma desonra, mas perante Deus era “uma dignidade
que não é conferida a qualquer um”. Cumprem a palavra que o próprio Jesus lhes
dissera como “bem-aventurança” (Mt 5.11s; Lc 6.22s). Notamos quando Pedro fala
de uma experiência bem pessoal quando mais tarde escreve em sua carta: “Pois
que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o suportais com
paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e
o suportais com paciência, isto é grato a Deus.” (1Pe 2.20; cf. também At 4.14-16).
Os apóstolos não foram açoitados “por terem pecado”, e sim “por esse nome”,
pelo nome maravilhoso em favor do qual se consegue sofrer tudo com alegria.
Destemidamente eles continuam sua atividade, no templo, diante dos olhares dos
sacerdotes, e também nas diversas casas. Eles “evangelizavam”, disse Lucas
literalmente, empregando aqui pela primeira vez essa bela palavra. O conteúdo
da evangelização pode ser sintetizado naquelas duas palavras que nós sentimos
apenas ainda como um “nome”: evangelizavam o “Messias Jesus”. Na verdade esse é
o testemunho que é a base de todo o evangelho: Jesus é o Messias, Jesus é o
Cristo, Jesus é o cumpridor de todas as promessas divinas, o Salvador da culpa
e da morte, o Rei de Israel e o Consumador do mundo.
Werner
de Boor. Comentário Esperança Atos. Editora
Evangélica Esperança.
Atos 5. 40. Os
argumentos de Gamaliel tiveram o efeito de refrear os saduceus entre os membros
do Sinédrio. Quando os apóstolos foram reconvocados diante do tribunal,
voltaram a ser admoestados a não falarem em nome de Jesus, e a admoestação foi
enfatizada com açoites. Este era o castigo judaico de “quarenta açoites menos
um”, que o Sinédrio ou os oficiais de uma sinagoga podiam aplicar no caso de
transgressões contra a lei judaica (22:19; 2 Co 11:24; Mc 135). Não se tratava
de uma opção suave; têm havido mortes causadas por este castigo, embora fossem
excepcionais. Pretendia ser uma lição séria para os transgressores.
Atos 5. 41-42. Não
somente o castigo fracassou, quanto ao causar desânimo aos cristãos (v. 42),
como também os encheu de júbilo. Sofreram ignomínia e dores físicas e,
portanto, num sentido mais palpável, não deveriam estar se sentindo felizes. Ao
mesmo tempo, porém, sua reação foi de regozijo, porque Deus os considerara
dignos de aceitarem a sua porção de sofrimento por amor ao evangelho, ou,
conforme a expressão aqui, por amor ao Nome (21:13; 3 Jo 7), i.é, de Jesus.
Aqui temos um exemplo concreto do “alegrar-se nos sofrimentos” que deve ser a
marca que destaca o cristão sob perseguição (1 Pe 4:13; cf Mt 5:11-12; Rm
5:3-4; 2 Co 6:10; 1 Pe 1:6-7). Finalmente, conforme se poderia esperar, a
experiência deles nada fez para diminuir o ardor do testemunho dos Apóstolos
sobre Jesus como Messias. É provável que o Sinédrio pouca coisa podia fazer
para impedi-los de evangelizarem nos seus lares. Mesmo assim, também
continuaram as suas atividades no templo, sem serem molestados por algum tempo,
segundo parece.
I.
Howard Marshall. Atos. Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 120.
Aots 20. 20-21. A
pregação de Paulo era autêntica (w. 20,21). Ele foi a Éfeso para pregar o
evangelho de Cristo, fora-lhes fiel e àquele que o comissionou. (1) O apóstolo
era um pregador claro. Ele entregava as mensagens de modo bastante
compreensivo. Essa interpretação se baseia em duas palavras: Nunca deixei de
vos anunciar e ensinar (v. 20). Ele não divertiu os efésios com especulações sutis,
nem os levou para depois abandoná-los nas nuvens de altas teorias e sublimes
expressões. Ele lhes anunciou as verdades claras do evangelho, verdades da
maior influência e importância, e lhes ensinou como se ensina a crianças. “Eu
vou anunciei o caminho certo para a felicidade, e vos ensinei a andar nele.”
(2) O apóstolo era um pregador poderoso, idéia implícita no fato de testemunhar
aos efésios (v. 21, testificando). Ele pregou como se estivesse sob juramento,
como se estivesse inteiramente certo da verdade que defendia. Seu único desejo
era que a mensagem os convencesse, os influenciasse e os orientasse. Ele
anunciou o evangelho, não como um vendedor de jornais que proclama as manchetes
na rua (pouco lhe importando se o que proclama é verdadeiro ou falso), mas como
testemunha conscienciosa que apresenta provas no tribunal, com a maior
seriedade e solicitude. Paulo pregou o evangelho como uma testemunha a favor
deles, caso o recebessem, e como uma testemunha contra eles, caso o
rejeitassem. (3) O apóstolo era um pregador útil (v. 20). Em todas as suas
pregações, objetivava fazer o bem àqueles para quem pregava. Ele proclamava tudo
que fosse útil aos efésios, que tendesse a torná-los sábios e bons, mais sábios
e melhores, que documentasse seus julgamentos e corrigisse seus corações e
vidas. Ele pregava ta sympheronta, as coisas que traziam consigo a luz, o calor
e o poder divino para suas almas. Não basta deixar de pregar o que é
prejudicial, aquilo que leva ao erro ou endurece no pecado, mas temos de pregar
o que é útil. Nós fazemos tudo isto, ó amados, para vossa edificação (2 Co
12.19). Paulo não tencionava pregar o que fosse agradável, mas o que fosse útil.
E, quando agradava, o alvo era ser útil. A Bíblia diz que Deus ensina ao seu
povo o que é útil (Is 48.17).
Os que ensinam ao
povo o que é útil estão ensinando no lugar de Deus. (4) O apóstolo era um
pregador esmerado, muito diligente e infatigável em seu trabalho: Ele pregava
publicamente e pelas casas (v. 20). Ele não se confinava a um lugar quando
tinha oportunidade de pregar na grande congregação, nem se limitava à
congregação quando havia a chance de ensinar particular e pessoalmente. Não
tinha medo nem vergonha de anunciar o evangelho publicamente, nem pregava com
má vontade reservadamente, entre uns poucos, quando havia oportunidade para
tal. Ele pregava publicamente ao rebanho que vinha em busca de pastos
verdejantes e ia pelas casas buscar as ovelhas fracas e as desgarradas, sem nunca
pensar que um modo de pregar excluía o outro. Em suas visitas particulares e
enquanto vão de casa em casa, os ministros devem discorrer sobre os mesmos
assuntos que ensinam publicamente. Devem repeti-los, repisá-los, explícá-los e,
caso necessário, perguntar: Entendestes todas estas coisas? (Mt 13.51). E,
sobretudo, devem ajudar as pessoas a aplicar a verdade a si mesmas e à sua
própria situação. (5) O apóstolo era um pregador fiel: Ele não só pregava o que
era útil, mas tudo que julgasse que fosse útil para os efésios. Não havia nada
que ele retivesse (v. 20), mesmo que a pregação lhe custasse mais sofrimentos
ou fosse desagradável para alguns e o expusesse ao ódio de outros. Ele se recusava
a não pregar tudo que, em sua opinião, fosse útil, mesmo que não fosse nem
agradável, nem aceitável para alguns. Ele não continha as reprimendas, quando
necessárias e úteis, por medo de ofender, nem reprimiu a pregação da cruz,
embora soubesse que era escândalo para os judeus e loucura para os gregos (1 Co
1.23), como fizeram recentemente os missionários romanos na China. (6) O
apóstolo era um pregador universal: Ele testemunhou tanto aos judeus corno aos
gregos (v. 21). Paulo nasceu judeu, foi criado como judeu, tinha um afeto
profundo pela nação judaica e aprendeu as discriminações judaicas em relação
aos gentios. Todavia, não se limitou aos judeus e nem evitou os gentios. Ele
pregava de bom grado aos gentios tanto quanto aos judeus e se relacionava tão
livremente com um grupo quanto com o outro.
Por outro lado, mesmo
tendo sido chamado para ser o apóstolo dos gentios, e os judeus nutrissem uma
inimizade implacável contra ele çor conta disso, muitos lhe causaram danos, e
aqui, em Efeso, ainda que houvesse muitas conspirações contra sua vida, ele não
abandonou a igreja aqui localizada; pelo contrário, continuou lidando com eles
para fazer-lhes o bem. Os ministros têm de pregar o evangelho com
imparcialidade porque são ministros de Cristo para a igreja universal. (7) O
apóstolo era um pregador verdadeiramente cristão: Ele não pregava noções
filosóficas ou questões de discussão duvidosa, nem pregava política ou se
intrometia em assuntos do estado ou do governo civil. Ele pregava a f é e o
arrependimento - os dois grandes temas do evangelho suas características e
exigências. Esses eram temas nos quais insistia em todas as ocasiões. [1] O
arrependimento para com Deus (v. 21, versão RA; ou a conversão a Deus, RC).
Aqueles que, pelo
pecado, haviam-se afastado de Deus e estavam cada vez mais se distanciando dele em um estado de
separação completa e infinita, devem, pelo verdadeiro arrependimento,
converter-se e correr para Ele. Paulo pregava o arrependimento como o grande
mandamento de Deus (cap. 17.30) e dizia aos efésios que deviam obedecer-lhe
para que se emendassem e se convertessem a Deus, fazendo obras dignas de
arrependimento (conforme explica, cap. 26.20). Ele pregava o arrependimento como
o dom de Cristo para a remissão dos pecados (cap. 5.31) e orientava os efésios
a buscar esse perdão em Jesus. [2] A fé em nosso Senhor Jesus Cristo (v. 21).
Pelo arrependimento,
temos de olhar para Deus como nossa meta, e pela/é, temos de olhar para Jesus
Cristo como nosso caminho para Deus. Pelo arrependimento, devemos abandonar e
deixar os pecados para que, então, pela fé, recebamos de Jesus o perdão dos
pecados. Não basta nos arrependermos diante de Deus. Devemos demonstrar uma
verdadeira/e em Jesus Cristo como nosso Redentor e Salvador, andando com Ele
como nosso Senhor e nosso Deus. Pois não há acesso a Deus, como filhos pródigos
arrependidos indo ao Pai, senão pela autoridade e justiça de Jesus Cristo como
Mediador. Todos os anciãos efésios sabiam que Paulo fora um pregador desse
tipo. E para prosseguirem com a mesma obra, eles têm de andar no mesmo espírito
e nas mesmas pisadas.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 222-223.
Atos 20. 20
Tribulações e dificuldades não o levaram a “omitir nada do que vos seja
salutar, de vos anunciar e ensiná-lo” [tradução do autor]. Paulo praticou as
duas modalidades de serviço que constantemente se tornam necessárias:
“anunciar” a mensagem e “ensinar” em todas as questões que surgem da mensagem
para a fé e a vida de cada pessoa e da comunhão. Com zelo intenso ele
aproveitou cada oportunidade para agir “publicamente e também nas
casas”[tradução do autor].
Atos 20. 21
Dirigiu-se “tanto a judeus como a gregos”. Atualmente poderíamos dizer: pessoas
ligadas à igreja e afastadas, pessoas religiosas e secularizadas. Conteúdo e
alvo de sua proclamação eram simples, ainda que poderosos. Estava em jogo nada
mais e nada menos que “o arrependimento para Deus e a fé em nosso Senhor
Jesus”. Novamente não havia uma instrução detalhada “sobre” Deus, mas a ação
pessoal decisiva de voltar-se para Deus, “deixando os ídolos” (1Ts 1.9),
libertos do “império das trevas” (Cl 1.13), de volta ao único e legítimo Senhor
e Criador. E o principal novamente não é o conhecimento teológico correto de
Jesus, mas a “fé” em Jesus como o “Senhor”, a entrega confiante e obediente da
vida a ele. Paulo também esperou esse “arrependimento para Deus”
incondicionalmente dos “judeus” (ou seja, das pessoas religiosas e ligadas à
igreja), do mesmo modo como Pedro fez no dia de Pentecostes (At 2.38). Também o
judeu devoto estava “morto para Deus” (Ef 2.3), precisando “salvar-se desta
geração perversa” (At 2.40). No entanto, também para o “grego” (para o
afastado, a pessoa do mundo secularizado) essa salvação é viável de modo
imediato e sem o desvio pela “lei”. Isso significa, inicialmente para rebater
os judaístas: o “grego” não precisa tornar-se “judeu” antes que possa alcançar
a salvação. Ao mesmo tempo, porém, também significa: “o ser humano de fora” não
precisa tentar tornar-se “melhor” ou “mais devoto” pelo cumprimento de
quaisquer mandamentos, por exercícios místicos ou ascéticos, ou pela submissão
a cerimônias eclesiásticas. A libertação plena e integral encontra-se também
para ele unicamente na “fé em nosso Senhor Jesus” (At 16.31).
Werner
de Boor. Comentário Esperança Atos. Editora
Evangélica Esperança.
Atos 20. 20. O
ministério pastoral de Paulo se realizava publicamente em reuniões (tais quais
aquelas que se realizavam na escola de Tirano) e também de casa em casa (2:46;
cf. Rm 16:5; Cl 4:15; Fm 2). Paulo dá considerável ênfase ao fato de que, no
decurso de tudo, não deixara de ensinar qualquer coisa que fosse proveitosa
para seus ouvintes (cf. v. 27), embora nem sempre fosse bem aceita (G1 4:16,
cf. 2 Co 4:2). Paulo enfatiza tão fortemente este aspecto que tem surgido a
suspeita de que respondesse a alguma acusação, ou de que Lucas está deixando
Paulo defender-se contra acusações posteriores.
Semelhantes
defesas-próprias eram típicas de discursos de despedida (1 Sm 12:2-5; o tema é frequente
nos Testamentos dos Doze Patriarcas). Lucas não registrou quaisquer críticas
contra Paulo em Éfeso, mas sabemos que Paulo foi criticado em Corinto por
defensores de “outro evangelho” (2 Co 11:4), e talvez seja este o tipo de
acusação que Paulo aqui tem em mente.
Atos 20. 21. O resumo
que Paulo aqui dá daquilo que realmente pregava é notavelmente simples. Os
comentaristas têm sido dispostos a ver aqui um quiasmo nas suas palavras: i.é,
que proclamava aos judeus a necessidade da fé, e aos gregos, a necessidade do
arrependimento, respectivamente. Em linhas gerais, esta é a verdade, pois o
arrependimento e o voltar-se para Deus faziam parte especialmente da mensagem
aos gentios (1 Ts 1:9; cf. Gl 4:8-9; Hb 6:1), ao passo que os judeus eram
conclamados a voltar-se das obras da lei para a fé. Mesmo assim, a fé era
necessária para todos os convertidos (Rm 10:9-13 ressalta que os judeus e os
gentios são iguais neste assunto; cf. Rm 1:16), e o arrependimento também era
necessário no caso dos judeus. A teoria do quiasmo, portanto, é incerta. O
termo arrependimento não é especialmente usado por Paulo; aqui temos um termo
que faz mais parte do vocabulário de Lucas, mas serve como equivalente do uso que
Paulo faz de “conversão” (1 Ts 1:9).
I.
Howard Marshall. Atos. Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 308-309.
Atos 13. A
Incumbência (13.1-3).
Literalmente, o
versículo 1 diz: “Na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e
doutores” (ASV; cf. NEB). No livro de Atos, a palavra igreja é usada quase
exclusivamente para a congregação local, enquanto as epístolas — principalmente
Efésios — se referem muitas vezes a toda a Igreja de Jesus Cristo. No entanto,
em Atos ela conserva uma referência aos crentes de Jerusalém (5.11; 8.1,3;
11.22) exceto em duas ocasiões (7.38; 9.31).
A cidade de Antioquia
na Síria era a terceira maior cidade do Império Romano (depois de Roma e
Alexandria). Era o lugar onde os seguidores de Cristo receberam pela primeira
vez o nome de “cristãos” para diferenciá-los dos crentes judeus das Sinagogas.
Portanto, esta seria a localização lógica a partir da qual seria lançada a
grande missão voltada aos gentios. A mentalidade tacanha e fortemente judaica
de muitos discípulos de Jerusalém (cf. 15.1; 21.17-25) iria se revelar como um
grande empecilho para qualquer movimento de caráter mundial se Jerusalém fosse
o seu quartel general. Portanto, Antioquia tornou-se a base principal da
evangelização do mundo gentílico. Sua localização (ver o mapa 3), na extremidade
norte da Síria, em frente à Ásia Menor e Europa, também era muito favorável. Do
ponto de vista psicológico e também geográfico, esta cidade era
providencialmente adequada para se tornar um registro do lançamento do ataque
ao mundo pagão que estava além do judaísmo. O cristianismo havia deixado de ser
uma seita do judaísmo para se transformar em uma religião que conquistaria o
mundo.
Foi feita uma
referência a alguns profetas e doutores da igreja de Antioquia. No Novo
Testamento, o termo profetas parece ter sido usado principalmente para os
“pregadores”. A palavra grega prophetes (de prophemi, “falar”, com o sentido de
declarar) significa “aquele que age como intérprete ou comunicador da vontade
divina”, e da mesma maneira ela foi usada pelos profetas do Antigo Testamento
(e.g., 3.22-23; 7.37; 8.28). Mas agora, como nas epístolas de Paulo, este termo
é aplicado àqueles que pregam o Evangelho.
Os profetas eram
considerados logo depois dos apóstolos, e os doutores ou mestres ocupavam o
terceiro lugar (1 Co 12.28). Depois que a função de apóstolo havia terminado,
os profetas e os doutores passaram a constituir os dois principais grupos de
obreiros da igreja dignos de receber apoio, como mostra claramente o Didache
(c. 13) do segundo século.
Na língua grega, a partícula
te é colocada antes da palavra Barnabé e com Manaém. Este fato levou Ramsay a
sugerir que a relação de cinco nomes deveria ser dividida em duas partes, com
os três primeiros sendo designados como profetas e os dois últimos como
doutores. Lake e Cadbury duvidam da validade desta distinção. Alexandre acha
provável que “as duas palavras sejam termos genéricos específicos aplicados à
mesma pessoa, uma denotando sua autoridade divina e a outra a forma específica
como ela era exercida”. Mas como profetas e doutores são tratados como classes
distintas tanto no Novo Testamento como no Didache (ver acima), a interpretação
de Ramsay merece alguma consideração.
Barnabé já havia
representado um papel menor, porém significativo em Atos. Ele é citado pela
primeira vez por causa de sua generosa oferta à igreja (4.36-37). Foi ele quem
se tornou o responsável por Saulo perante a desconfiada congregação de
Jerusalém (9.27). Quando confrontado com o tremendo desafio de Antioquia, logo
no início dos trabalhos que lá se realizaram, Barnabé procurou Saulo, um
gigante intelectual e um fervoroso convertido, e o levou a Antioquia como
principal mestre da igreja (11.22-26). Ele tinha sido enviado juntamente com
Saulo a Jerusalém com uma oferta de alívio para os cristãos que estavam sendo
afligidos pela fome (11.30). Sem dúvida, aqui seu nome é mencionado em primeiro
lugar por ser o principal líder da igreja de Antioquia.
Simeão era um nome
hebreu muito comum. Ele era chamado de Níger, que em latim significa “preto”.
Este homem às vezes é identificado com Simão Cireneu (Mc 15.21), embora essa
identidade não possa ser provada. Lúcio, cireneu (ou de Cirene, no Norte da
África) pode ter sido o mesmo que é mencionado em Romanos 16.21. Provavelmente,
não se trata de Lucas, o autor do livro de Lucas e de Atos. Devemos lembrar que
eram os homens de Chipre e da Cirenaica que pregavam livremente aos gentios em
Antioquia (11.20).
Manaém está
relacionado com Herodes, o tetrarca — Herodes Antipas, que reinou na Galiléia e
na Peréia (4 a.C. — 39 d.C.). Toda a frase que fora criado com está condensada
em uma palavra grega syntrophos. Ela vem de syn, “com”, e trepho, “criar”.
Abbott-Smith define: “por certo alguém foi alimentado ou criado como irmão
adotivo: Atos 13.1 EV. De acordo com o uso helenístico, como um termo da corte,
um amigo íntimo de um rei”.6 Bruce escreve: “O título syntrophos era dado aos
meninos que tinham a mesma idade dos príncipes e que eram criados junto com
eles na corte”. Da mesma forma, Bicknell diz: “Manaém era o irmão adotivo, ou
mais precisamente, um companheiro de folguedos de Herodes Antipas”.8 Mas,
depois de observar que o significado literal de “irmão adotivo” foi encontrado
em um papiro do segundo século, Moulton e Milligan dizem: “Por causa do seu uso
disseminado como um título da corte, essa expressão seria melhor entendida como
“cortesão” ou “amigo íntimo”.9 Portanto, ao invés de “irmão adotivo, colaço”
(ASV, Phillips), esta palavra provavelmente deveria ser traduzida como “membro
da corte de” (RSY) ou “companheiro de honra para” (C. K. Williams).
Sobre a combinação
dos homens mencionados aqui, Lumby faz este interessante comentário: “Um era
cipriota, outro um cireneu, outro era judeu, mas, por causa de seu nome duplo,
estava acostumado a se misturar com não judeus. Um deles era a conexão com a
casa de Herodes. E Saulo, o apóstolo dos gentios, havia sido nomeado pelo céu —
esta relação pode ser de alguma forma considerada típica de “todo o mundo”
dentro do qual o Evangelho iria agora se propagar”.
Ralph
Earle. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 7. pag. 298-300.
Atos 13. 1 Através da
última frase de At 12, acerca do retorno de Barnabé e Saulo, fomos novamente
levados a Antioquia. Também Barnabé, que por enquanto ainda era o visitador de
Jerusalém em Antioquia, já não considera Jerusalém, e sim Antioquia como o
lugar ao qual pertence. Contudo, ele e Saulo não dirigem a igreja sozinhos. Não
há nada de “episcopal” a fazer ali! Há “profetas e mestres” na direção. Não
devemos distinguir entre “ministérios” e determinadas “competências”, pois
nesse caso deveríamos ter sido informados quem dos cinco cristãos citados por
nome seria, enfim, “profeta”, e quem “mestre”. Pelo contrário, fica claro que a
igreja possuía entre suas pessoas dirigentes as duas mais importantes formas da
“palavra”: a proclamação diretamente provocada pelo Espírito, com perspicácia
em relação aos corações e antevisão do futuro, e a exposição doutrinária,
apoiada em determinado conhecimento, decisiva nas questões práticas e
pastorais. O “carisma” e o “ministério” ainda estão completamente entrelaçados,
porque tudo ainda é vida dada e dirigida por Deus. Há homens poderosos no
Espírito, agindo. Questões organizacionais, delimitação de competências,
problemas da constituição eclesiástica não têm nenhuma importância, motivo pelo
qual tampouco se tornam perceptíveis. Mas Barnabé de fato é o primeiro da
lista, e Saulo está no final, como o mais jovem. Aprender a ver
“historicamente” faz parte da leitura correta de Atos: o “grande Paulo” também
foi um jovem iniciante, que constava como último na lista, depois de outras
personalidades dirigentes. Neste 13º capítulo poderemos acompanhar por um longo
período como Paulo “se fez”. A liderança deve ter sido exercida pelos cinco,
“em conselho fraterno”. Aliás, não há nenhum antioqueno recém-convertido entre
eles. “Simeão” tem um nome judeu; não se pode saber por que
tem o cognome “Níger”
= “o negro”. Ao que parece, Simeão faz parte dos homens de Cirene, citados em
At 11.20. Manaém pode ser de fato o filho da ama-de-leite de Herodes Antipas ou
recebeu a designação de “irmão de leite” como um título, que nas cortes gregas
era conferido até mesmo sem essas ligações naturais. Seja como for, isso o
caracteriza como palestino e como homem mais idoso e também humanamente importante.
A jovem igreja em Antioquia precisava de homens experientes, que possuíam,
através de sua relação com a primeira igreja, conhecimentos suficientes de
Jesus, sua história e sua palavra. Como gostaríamos de saber mais sobre eles!
De que maneira um homem do convívio de alguém como Herodes Antipas chegou à fé
em Jesus? Que história divina sucedeu ali? No entanto, Lucas não tinha
condições de relatar tudo isso em seu breve livro.
Werner
de Boor. Comentário Esperança Atos. Editora
Evangélica Esperança.
Atos 13.1 A igreja em
Antioquia da Síria tornou-se o centro de partida da missão de penetração no
mundo (a última parte da comissão de Jesus em 1.8). O primeiro versículo nos dá
uma idéia da sua constituição verdadeiramente internacional e do amplo espectro
de pessoas que estavam sendo atingidas pelo Evangelho.
Até este ponto,
parece que Barnabé e Paulo tinham sido os principais professores na igreja de
Antioquia (11.26). Esta lista mostra pelo menos outros três, considerados como
profetas e doutores. Barnabé aparece em primeiro lugar na lista por ser
provavelmente o líder do grupo. Simeão (chamado Níger), devido à sua pele negra,
provocou algumas especulações de que era o mesmo Simão de Cirene que carregou a
cruz de Cristo (Mc 15.21), mas não se pode garantitesta informação. O próximo
nome da lista é um homem cireneu (de Cirene) chamado Lúcio. Cirene ficava no
norte da África. Lúcio provavelmente era um dos homens de Chipre e Cirene que
pregaram pela primeira vez o Evangelho aos gentios de Andoquia (veja 11.20,21).
O quarto indivíduo era Manaém, que fora criado com Herodes Antipas. Saulo era um
rabino judeu, altamente instruído, e cidadão romano. O seu nome conclui a lista
deste grupo tão variado. As diferenças sociais, geográficas e raciais destes
indivíduos mostram que o Espírito de Deus tinha estado trabalhando rapidamente
e sobre uma ampla região geográfica. O Evangelho não tinha apenas chegado a
estas regiões, mas também o Espírito de Deus usava a Antioquia cosmopolita para
reunir uma equipe diversificada para a próxima “fàse” da expansão do reino.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 680.
Um relato do estado
em que se encontrava a igreja que estava em Antioquia (v. 1), que foi plantada
no capítulo 11.20.
1. Como a igreja em
Antioquia estava bem provida de bons ministros. Havia alguns profetas e
doutores (v. 1), homens notáveis por dons, graça e utilidade. Jesus, quando subiu
ao céu, deu uns [...] para profetas [...] e doutores (ou “mestres”, versão RA;
Ef 4.11). Estes homens tinham ambos os ofícios: profetas e doutores. Agabo,
pelo visto, era profeta e não doutor, e muitos eram doutores que não eram
profetas. Os mencionados aqui eram, às vezes, divinamente inspirados e recebiam
instruções imediatamente do céu em ocasiões especiais, o que lhes dava o título
de profetas. Ao mesmo tempo eles eram doutores declarados da igreja nos cultos,
expunham as Escrituras e esclareciam a doutrina de Cristo com aplicações
satisfatórias. Estes eram os profetas, sábios e escribas que Jesus prometera enviar
(Mt 23.34), que eram, de todos os modos, qualificados para o serviço da igreja
cristã. Antioquia era uma grande cidade com muitos cristãos, de forma que não
podiam se reunir todos num mesmo lugar. Fazia-se necessário que tivessem muitos
doutores para presidir suas respectivas reuniões e apresentar os propósitos de
Deus ao povo. Na lista, Barnabé é citado em primeiro lugar, provavelmente porque
era o mais velho, e Saulo, por último, provavelmente porque era o mais novo.
Mas depois o último se tornou o primeiro e Saulo foi mais célebre na igreja.
Mais três nomes são
citados. (1) Simeão (v. 1), que, com vistas a distingui-lo de outros do mesmo
nome, era chamado Níger, “o Negro”, por causa da cor dos cabelos. É semelhante àquele
que em tempos mais recentes foi cognominado de o Príncipe Negro*. (2) Lúcio (v.
1), de Cirene, que certos estudiosos pensam (inclusive o Dr. Lightfoot) que se
trata do mesmo Lucas que escreveu os Atos, era originalmente cireneu e teve sua
formação educacional na faculdade ou sinagoga cirenaica em Jerusalém, onde
ouviu e recebeu o evangelho. (3) Manaém (v.1), indivíduo de certa dignidade
porque foi criado com Herodes, o tetrarca, o que quer dizer que ou se
alimentaram do mesmo leite, ou frequentaram a mesma escola, ou foram alunos do
mesmo tutor, ou, preferivelmente, eram colegas e companheiros constantes. Em
cada parte da formação educacional de Manaém, Herodes era seu companheiro e
amigo íntimo, dando-lhe a clara perspectiva de cargo honorífico na corte. Não
obstante, ele abandonou todas essas esperanças por amor a Cristo.
Foi como Moisés que,
sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó (Hb 11.24).
Tivesse ele se unido a Herodes, com quem fora criado, ele poderia ter tido o
lugar de Blasto e sido camareiro do rei. Mas é melhor ser companheiro de
sofrimentos com um santo do que ser companheiro de perseguições com um
tetrarca.
2. Como os bons
ministros da igreja em Antioquia eram bem usados: Eles serviam ao Senhor e
jejuavam (v.2). Observe: (1) Os doutores (ou mestres) fieis e diligentes estão,
na verdade, servindo ao Senhor. Os que ensinam os cristãos estão servindo a
Cristo. Eles realmente o honram e promovem os interesses do Reino. Os que servem
à igreja pregando e orando (ambas as funções estão inclusas aqui), estão
servindo ao Senhor, pois eles são os servos da igreja por amor a Cristo. Em
seus serviços eles têm de olhar para Ele, e as suas recompensas, eles as
receberão dele. (2) Servir ao Senhor, de um modo ou de outro, tem de ser o
negócio declarado cias igrejas e seus doutores (ou mestres). Devemos separar
tempo para esta obra e passar uma parte do dia nela. O que mais temos de fazer
como cristãos e ministros senão servir a Cristo, o Senhor? (Cl 3.24; Rm 14.18).
(3) O jejum é de utilidade em nosso serviço ao Senhor como sinal de nossa
humilhação e como meio de nossa mortificação.
Esse exercício
religioso não foi praticado pelos discípulos de Jesus, enquanto o esposo estava
com eles (Mc 2.19,20), tanto quanto íoi pelos discípulos de João Batista e dos
fariseus.
Depois que o esposo
foi tirado, eles jejuaram muitas vezes como pessoas que aprenderam muito bem a
negai’ a si mesmo e suportar as dificuldades.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 133.
Ill - A
IMPORTÂNCIA DO DOM MINISTERIAL DE MESTRE
1. Uma necessidade
urgente da igreja.
2 Pedro 2.1 O final
do capítulo 1 leva ao tema da sua carta. Pedro tinha explicado que Deus tinha operado
por meio de seres humanos para transmitir as suas palavras às pessoas (1.21).
Ao mesmo tempo, no
entanto, a iniquidade estava em ação. Os verdadeiros profetas falavam e
escreviam as Palavras de Deus, mas também houve entre o povo falsos profetas.
Na época do Antigo
Testamento, os falsos profetas contradiziam os verdadeiros profetas (veja, por
exemplo, Dt 13.1-5; 1 Rs 18.19; 22.6ss.; Jr 23.16-40; 28.1-17), dizendo às pessoas
somente aquilo que elas desejavam ouvir. Estes “falsos profetas” não falavam as
palavras de Deus e traziam mensagens que faziam as pessoas e os reis se
sentirem bem. As Escrituras explicam que estes falsos profetas enfrentariam o
juízo de Deus (Dt 18.20-22).
Vindos de dentro das
igrejas, os falsos doutores trabalhavam para introduzir heresias de perdição a
respeito de Deus. Como podemos distinguir heresias de perdição de “diferenças
de opinião”? A palavra “heresia” aplica-se a doutrinas fundamentais cuja má
interpretação pode ser destrutiva para o cristianismo. “Diferenças de opinião” aplicam-se
a questões que nunca serão completamente solucionadas. Conhecemos as doutrinas
fundamentais há mais de mil e quinhentos anos (como, por exemplo, a da
divindade de Cristo, a da Trindade, a da expiação substitutiva), ao passo que
sempre “concordamos em discordar” de outras (o calvinismo versus o
arminianismo, o batismo dos bebês, o papel das mulheres na igreja etc.). As
heresias a que Pedro se refere eram heresias de perdição porque os professores queriam
fazer com que os crentes negassem o Senhor que os resgatou com o seu sangue derramado
na cruz. Um ensino é destrutivo se ele traz informações que não são a verdade a
respeito de Jesus. Qualquer distorção da verdade já não é mais a verdade. A
palavra para “negar” significa contradizer, rejeitar, ou repudiar.
Consequentemente, estas heresias podiam ter assumido algumas formas: (1) negar
a segunda vinda de Cristo, ou (2) negar a soberania de Cristo, ao desobedecer
aos seus ensinamentos e praticar a imoralidade. Alguns falsos doutores estavam
menosprezando a importância da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Alguns afirmavam que Jesus não poderia ser Deus. Outros declaravam que Ele não
poderia ter sido realmente um ser humano.
Estes doutores frequentemente
permitiam, e até mesmo incentivavam, todos os tipos de atos errados e imorais,
especialmente os pecados sexuais (veja 2.10,14).
Pedro revelou a
gravidade de negar a Cristo, pois afastar-se dele traria repentina perdição.
Isto não aconteceria imediatamente - pois muitos falsos doutores trabalhavam e
prosperavam. Entretanto, quando esta destruição garantida viesse, ela seria
repentina e final.
Surge a pergunta:
Como poderiam estes falsos doutores, que tinham sido crentes e a quem o Senhor
tinha “resgatado”, acabar sendo castigados com a punição eterna?
Existem cinco
interpretações principais a respeito desta pergunta:
1. Estes falsos
doutores tinham sido crentes, mas tinham perdido a sua salvação. Alguns alegam
que o problema com esta interpretação é que ela contradiz outras Escrituras que
afirmam que uma pessoa não pode perder a sua salvação (veja Jo 3.16; 5.24;
10.28,29; Rm 8.28-39).
2. Estes falsos
doutores tinham se unido à comunidade cristã e pareciam fazer parte dela, mas
posteriormente abandonaram a Cristo e tentaram convencer outras pessoas a
fazerem o mesmo.
3. Estes falsos
doutores foram “resgatados” no sentido de “criados”, e não no de “salvos”. O
problema aqui é que uma outra palavra teria sido usada se Pedro tivesse
desejado dizer isto.
4. Estes falsos
doutores só diziam que tinham sido salvos, “resgatados” ou “comprados” pelo
sangue de Cristo. Mas eles estavam mentindo. Possivelmente, porém como podemos
saber?
5. Estes falsos
doutores tinham sido “resgatados” ou “comprados” pelo sangue de Cristo, pois o
sangue de Cristo é suficiente para salvar todos aqueles que já viveram e que
estão vivos, se todos decidiram ou decidirem crer. No entanto, para começar, os
falsos doutores nunca aceitaram Cristo como seu Salvador e, desta forma, nunca
foram salvos. Potencialmente, Cristo morreu por todos, mas somente aqueles que
creem e que o seguem é que serão salvos.
Das cinco
interpretações, a segunda e a quinta são as mais plausíveis.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 749-750.
2 Ped 2.1. No final
do capítulo anterior, faz-se menção aos homens santos de Deus, que viveram na
época do Antigo Testamento e foram usados como os instrumentos do Espírito
Santo, ao escreverem os oráculos sagrados; mas no início deste capítulo, ele
nos conta que existiram, mesmo naquela época, falsos profetas na igreja junto
aos verdadeiros. Em todas as épocas da igreja, e em todas as dispensações, quando
Deus envia os verdadeiros profetas, o diabo manda alguns para seduzir e
enganar, os falsos profetas no Antigo Testamento, e os falsos cristos, falsos apóstolos
e mestres enganadores no Novo. Acerca desses, observe: 1. A ocupação deles é
introduzir enganos destruidores, até mesmo heresias abomináveis, assim como a
ocupação dos mestres enviados por Deus é mostrar o caminho da verdade, até
mesmo o caminho verdadeiro para a vida eterna. Há heresias abomináveis como também
práticas abomináveis; e os falsos mestres são diligentes em difundir esses
erros perniciosos. 2. Heresias abomináveis são em geral introduzidas
secretamente, sob o manto e o disfarce da verdade. Aqueles que introduzem heresias
destrutivas “...negarão o Senhor que os resgatou”.
Eles rejeitam e se
negam a ouvir e aprender do grande mestre enviado por Deus, embora Ele seja o
único Salvador e Redentor dos homens, que pagou o preço suficiente para redimir
todos os pecadores que há no mundo. 3. Os que introduzem enganos destrutivos
sobre outros trazem “...sobre si mesmos repentina (e por isso segura)
perdição”. Autodestruidores são destruídos rapidamente; e os que estão tão
endurecidos que propagam enganos destrutivos para outros serão certa e
repentinamente destruídos, e isso sem escapatória.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 894.
a. Acautelai-vos dos
falsos mestres (2:1-3).
1. Sobre os paralelos
extensivos entre boa parte deste capítulo e a Epístola de Judas, ver a
Introdução. O pensamento de Pedro ainda demora-se nas profecias do Antigo
Testamento. Em Israel«# meio do povo surgiram falsos profetas além dos
verdadeiros; e agora a história estava se repetindo. Seus leitores tinham
falsos mestres no seu meio. Ao descrevê-los neste capítulo, oscila entre o
tempo presente e o futuro, conforme faz Paulo num contexto semelhante em 1
Timóteo 4:1 ss. Sem dúvida, isto é porque vê que cumprem as profecias tanto do
Antigo Testamento quanto de Jesus (Dt 13:2-6; Mt 24:24, etc.).
Sempre tem havido
falsos mestres entre o povo de Deus, e sempre os haverá.!
Que esta é a
interpretação correta da mudança de tempo verbal, e não, conforme alguns
sustentam, a falta dalgum escritor do século II de ser consistente nos seus
arcaísmos (i. e., continuamente desliza para o tempo presente) é sugerido por
uma passagem em Justino Mártir (m. 165 d.C.) que cita esta passagem. Diz ao
judeu Trifão: “E assim como havia falsos profetas contemporâneos com vossos
profetas santos, assim também há muitos falsos mestres entre nós, contra os quais
nosso Senhor nos advertiu a precaver-nos. Muitos deles ensinaram doutrinas
ímpias, blasfemas e profanas, falsificando-as em nome dEle; ensinaram, também,
e continuam ensinando, aquelas coisas que procedem do espírito imundo do
diabo.”
Falsos profetas podem
significar que falsamente alegavam ser profetas, ou que profetizavam coisas
falsas; provavelmente os dois.
Os homens eram tão
indignos de confiança quanto a mensagem.
Mayor fez uma
coletânea interessante das características dos falsos profetas que estavam
marcantemente presentes na situação à qual Pedro se dirige. Seu ensino era
bajulação; suas ambições eram financeiras; suas vidas eram dissolutas; sua consciência
era amortecida, e seu alvo era o logro (ver Is 28:7; Jr 23:14; Ez 13:3; Zc
13:4). Povo traduzi-los, palavra esta que é empregada para o povo de Deus na
LXX bem como no Novo Testamento. Conforme os discursos atribuídos a ele em
Atos, e conforme o ensino em 1 Pedro também, Pedro declara que os cristãos
foram incorporados: no verdadeiro Israel de Deus; não há nenhuma dicotomia
entre o Antigo Testamento e o Novo.
Estes falsos mestres
(note-se a rápida mudança de pseudoprophêtai parapseudodidaskaloi, o que sugere
que talvez os falsos mestres não fizeram, afinal das contas, muitas pretensões
quanto a serem profetas) são o tipo de homens (hoitines) que sempre serão
achados introduzindo dissimuladamente ou sub-repticiamente pontos de vista
heréticos. O verbo introduzir (pareisagein) tem duas implicações: significa “
trazer para dentro lado a lado com” (sc. o ensino verdadeiro) e também “
introduzir secretamente” (cf. G1 2:4).
Heresias destruidoras
(lit. “ de destruição” — outro hebraísmo) significa opiniões que destroem a
verdadeira fé. A palavra hairesis (lit. “escolha”) era aplicada a um partido ou
seita (cf. At 5:17; 15:5) ou aos pontos de vista sustentados por semelhante
seita. Nos escritos paulinos, a tendência a divisões (G15:20; 1 Co 11:18-19) e
a independência arrogante (Tt 3:10) são as ênfases heréticas relevantes, mas já
nos tempos de Inácio (c. de 110 d.C.) a palavra é usada em nosso sentido de
“falsa doutrina.”
O efeito do seu
ensino foi que foram até ao ponto (kai) de renegarem o Soberano Senhor que os
resgatou. Esta frase fascinante nos mostra algo daquilo que a cruz significava
para nosso autor, porque resgatou enfatiza tanto a seriedade da triste situação
do homem quanto o alto custo do livramento efetuado por Cristo (cf. Mc 10:45; 1
Tm 2:6; Ap 5:9). A palavraagorazõ é empregada para a redenção de Israel para fora
do Egito (cf. 2 Sm 7:23). Na cruz, como no Êxodo, vemos a intervenção pessoal
de Deus em prol do Seu povo, não somente para livrá-lo de um triste destino de
escravidão e morte, mas também para redimi-lo “ para ser seu povo” , conforme
Samuel 7:23 continua. Deus redime o homem afim de que o modo de vida
transformado deste seja um crédito ao seu Salvador; a fim de que, conforme a
expressão em 1 Pedro 4:2, “já não viva de acordo com as paixões dos homens, mas
segundo a vontade de Deus” .
Ora, estes falsos
mestres entendiam, sem dúvida, a libertação oferecida pela cruz de Cristo; a
liberdade era um dos seus brados de guerra(2:19). Mas não reconheciam o viver
santo imposto pelo Crucificado.
Mediante suas vidas
negavam o Senhor que os comprou. O cristianismo é, realmente, uma religião de
liberdade; mas também exige amoroso serviço totalmente dedicado a Jesus, o
Redentor. Paulo, Judas, Tiago e outras personalidades de destaque no Novo
Testamento deleitavam-se em chamar-se Seus douloi, “escravos” ..Os falsos mestres
não eram assim. E interessante que um movimento libertino semelhante em Corinto
elicitou uma resposta semelhante, em palavras semelhantes, de Paulo (1 Co 6:19,
20; 7:23).
Nosso autor está em
harmonia com o restante do Novo Testamento (ver Rm 6 e Hb 10) ao asseverar
claramente que o homem não pode correr com a caça e também com os caçadores. O
homem que procura servir a Deus e também ao seu próprio-eu está na estrada larga
para a repentina destruição, pois ou a morte ou a parusia o cortará no meio da
sua carreira. (Para um uso semelhante de tachinê, “repentino” , “dentro em
muito breve” , para a morte do próprio Pedro, ver 1:14).
Michael Green. II Pedro. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova.
pag. 89-91.
2. A responsabilidade
de um discipulado contínuo.
1. O DISCIPULADO
PERMANENTE
O ensino da Palavra
de Deus, na igreja local, é indispensável e de fundamental importância. Depois
da evangelização, vem o discipulado dos novos convertidos. Mas o discipulado não
deve ser visto como apenas algumas lições da Escola Dominical. O discipulado
cristão é para toda a vida. Ninguém deixa de ser discípulo pela idade ou “por
tempo de serviço”. O pastor ou bispo deveria ser também mestre e ter sempre a
capacidade para ensinar. Diz Paulo: “Convém que o bispo seja.... apto a ensinar
’ (1 Tm 3.2 — grifo nosso). Em Efésios 4.11, o dom ministerial de “pastores”
vem bem junto ao de “doutores”. Mas nem sempre esses dois dons são encontrados
em todos os pastores. Por isso Deus resolveu designar algumas pessoas com a
missão de dedicar-se ao ensino (cf. Rm 12.7). “E a uns pôs Deus na igreja,
primeiramente, apóstolos, em segundo lugar, profetas, em terceiro, doutores...”
(1 Co 12.28).
A missão dos mestres
ou doutores, nas igrejas, é de grande valor. Os pregadores, os evangelistas ou
os missionários pregam a Palavra de Deus, atraindo as almas para Cristo. Os
novos convertidos são como “crianças” espirituais, que precisam receber o
alimento espiritual de acordo com o seu tempo de conversão; os crentes mais
antigos, supostamente, devem ter mais maturidade; mas todos precisam do ensino
fundamentado, que expresse a sã doutrina. Sem o ensino, os crentes ficam sem o
conhecimento indispensável ao seu crescimento na graça e no conhecimento de
Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. 2 Pe 3.18).
2. O PAPEL DOS
MESTRES
A necessidade do
ensino da Palavra de Deus requer pessoas preparadas para ministrá-la com
sabedoria, graça e unção da parte de Deus. Diante disso, vem o papel dos
mestres e doutores. São pessoas que se dedicam ao ensino (cf. Rm 12.7). Eles
não se consideram superiores aos demais obreiros, pelo fato de terem recebido o
dom de ensinar. Mas, pela dedicação constante ao estudo e à pesquisa bíblica,
reúnem informações e subsídios, extraídos das Escrituras, para compartilhar com
toda a igreja.
Quando o pastor da
igreja local reúne em si a condição de pastorear e ensinar, a igreja é bem
servida com o ensino bem fundamentado que atende às necessidades espirituais
dos crentes. Mas, como foi dito antes, nem todo pastor é mestre. Mas todos são
apascentadores, que zelam, cuidam, vigiam e protegem o rebanho de Cristo aos
seus cuidados.
Os mestres, doutores
ou ensinadores, que recebem o dom de ensinar, podem (e devem) cooperar com a
liderança da igreja na ministração de estudos valiosos e profundos para a
edificação dos crentes. Diz o pastor Elienai Cabral: “Igrejas sem mestre são
igrejas fracas espiritualmente. Por isso, deve-se reconhecer a importância e a
necessidade do ministério do ensino. È através do ensino sadio e racional,
inspirado pelo Espírito Santo, que a igreja se justifica contra as falsas
doutrinas e que se fortifica contra os ataques espirituais de Satanás”.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 121-123.
O QUE É DISCIPULADO?
Durante a Idade de
Ouro da Grécia, o jovem Platão podia ser visto caminhando pelas ruas de Atenas
em busca de seu mestre: o maltrapilho, descalço e brilhante Sócrates. Aqui,
provavelmente, estava o início de um discipulado. Sócrates não escreveu livros.
Seus alunos escutavam atentamente cada palavra que ele dizia e observavam tudo
o que ele fazia, preparando-se para ensinar a outros. Aparentemente, o sistema
funcionou. Mais tarde, Platão fundou a Academia, onde Filosofia e Ciência
continuaram a ser ensinadas por 900 anos.
Jesus usou
relacionamento semelhante com os homens que ele treinou para difundir o Reino
de Deus. Seus discípulos estiveram com ele dia e noite por três anos. Escutavam
seus sermões e memorizavam seus ensinamentos. Viram-no viver a vida que ele
ensinava. Então, após sua ascensão, confiaram as palavras de Cristo a outros e
encorajaram-nos a adotar o seu estilo de vida e a obedecer ao seu ensino.
Discípulo é o aluno que aprende as palavras, os atos e o estilo de vida de seu
mestre com a finalidade de ensinar outros.
O discipulado cristão
é um relacionamento de mestre e aluno baseado no modelo de Cristo e seus
discípulos, no qual o mestre reproduz tão bem no aluno a plenitude da vida que
tem em Cristo que o aluno é capaz de treinar outros para que ensinem outros.
Um estudo cuidadoso
do ensino e da vida de Cristo revela que o discipulado possui dois componentes
essenciais: a morte de si mesmo e a multiplicação. São essas as ideias básicas
de todo o ministério de Jesus. Ele morreu para que pudesse reproduzir nova
vida. E ele requer que cada um de seus discípulos siga o seu exemplo.
MORRER PARA SI MESMO
O chamado de Cristo
para o discipulado é um chamado para a morte de si mesmo, uma entrega absoluta
a Deus. Jesus disse: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome
diariamente a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a
perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa, este a salvará” (Lc
9.23,24).
Da perspectiva do
mundo, a franqueza de Cristo em chamar as pessoas para segui-lo parece
exagerada. Hoje, se alguém quisesse “vender” um estilo de vida tão exigente, um
compromisso tão radical, provavelmente contrataria a empresa mais sofisticada
de publicidade para descrever detalhadamente, num folheto ilustrado com lindas
fotografias coloridas, os benefícios de tal decisão. Ou contrataria uma atriz
deslumbrante e a cercaria de figuras famosas obviamente felizes pelo deleite e
a satisfação de sua nova vida em Cristo. Depois captaria a magia do momento em
videoteipe, com a esperança de colocar o filme no ar no intervalo do programa
de maior audiência.
Jesus, porém, é
honesto e direto: para compartilhar de sua glória, primeiro a pessoa tem de
compartilhar de sua morte.
Jesus é o Senhor dos
senhores e o Rei dos reis. E o Senhor do Universo ordena que toda pessoa o
siga. Seu chamado a Pedro e André (Mt 4.18,19) e a Tiago e João (Mt 4.21) foi
uma ordem. “Siga-me” sempre tem sido uma ordem, nunca um convite (Jo 1.43).
Jesus nunca implorou
que alguém o seguisse. Ele era em- baraçosamente direto. Ele confrontou a
mulher no poço, com o seu adultério; Nicodemos, com seu orgulho intelectual; os
fariseus, com sua justiça própria. Ninguém pode interpretar “Arrependam-se,
pois o Reino dos céus está próximo” (Mt 4.17) como uma súplica. Jesus ordenou a
cada pessoa que renunciasse a seus interesses, abandonasse os pecados e
obedecesse completamente a ele.
Quando o jovem rico
se recusou a vender tudo o que possuía para segui-lo (Mt 19.21), Jesus não foi
correndo atrás dele tentando conseguir um acordo. Ele nunca minimizou seu
padrão. Jesus declarava apenas: “Quem me serve precisa seguir-me [...]” (Jo
12.26).
Jesus esperava
obediência imediata. Ele não aceitava desculpas (Lc 9.62). Quando um homem quis
primeiro sepultar o pai antes de seguir Cristo, ele replicou: “[...] Siga-me, e
deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos” (Mt 8.22). Homem algum
recebeu algum elogio por ter obedecido à ordem de Cristo de segui-lo e
tornar-se seu discípulo; era o que se esperava de todos. Jesus disse: “Assim
também vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, devem dizer:
'Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever’ ” (Lc 17.10).
Assim, quando é que
você se torna um cristão, um discípulo de Cristo? Quando vai à frente em
resposta a um apelo? Quando se ajoelha diante do altar? Quando chora
sinceramente? Nem sempre. Os primeiros seguidores de Cristo tornaram-se
discípulos
quando lhe
obedeceram, quando ‘eles, deixando imediatamente seu pai e o barco, o seguiram”
(Mt 4.22)
A obediência à ordem
de Cristo “Siga-me” resulta na morte de si mesmo. O cristianismo sem essa morte
é apenas uma filosofia abstrata. É um cristianismo sem Cristo.
Talvez o erro
fundamental cometido por muitos cristãos seja fazer distinção entre receber a
salvação e tornar-se discípulo. Colocam as duas coisas em níveis diferentes de
maturidade cristã, presumindo que é aceitável ser salvo sem assumir compromisso
com as exigências mais radicais de Jesus, como “tomar a sua cruz” e segui-lo
(Mt 10.38).
Essa ideia baseia-se
na crença errada de que a salvação é principalmente para o benefício do homem a
fim de torná-lo feliz e evitar a condenação eterna.
Embora a salvação
venha ao encontro da mais profunda necessidade do homem, essa ideia humanista
de fazer uma coisa em favor do bem-estar da pessoa ignora completamente a razão
fundamental pela qual Cristo morreu na cruz. Deus concede a salvação aos homens
principalmente para trazer glória a ele por meio de um povo que tem o caráter de
seu Filho (Ef 1.12). A glória de Deus é mais importante do que o bem-estar do
homem (Is 43.7).
Ninguém que
compreenda o propósito da salvação ousaria especular que uma pessoa pudesse ser
salva sem aceitar o senhorio de Cristo. Cristo não pode ser o Senhor da minha
vida se eu for o senhor dela. Para que Cristo esteja no controle, tenho de
morrer. Não posso me tornar discípulo sem morrer para mim mesmo e sem me
identificar com Cristo, que morreu pelos meus pecados (Mc 8.34). O discípulo
segue o seu Mestre até mesmo à cruz.
Por muito tempo,
lutei para entender as implicações práticas de “morrer para si mesmo”. Como
essa determinada autor renúncia se manifestaria em minha vida? Ao meditar em
Gálatas 2.20, finalmente compreendi: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não
sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim [...]”.
Suponhamos que no dia
1 ° de janeiro eu estivesse sobrevoando o Kansas quando o avião explodiu. Meu
corpo caiu no chão, e morri com o impacto. Depois de algum tempo, um fazendeiro
encontrou meu corpo. Não havia pulsação, nenhuma batida do coração nem fôlego.
Meu corpo estava frio. Era óbvio que eu estava morto. O fazendeiro fez uma
cova. Mas, ao colocar meu corpo na terra, o dia já estava escuro demais para
cobri-lo. Decidindo que terminaria o trabalho na manhã seguinte, ele voltou
para casa.
Então Cristo veio e
me disse: “Keith, você está morto. Sua vida sobre a Terra acabou, mas eu
soprarei um fôlego de nova vida em você se prometer fazer qualquer coisa que eu
pedir e ir a qualquer lugar que eu mandar”.
Minha reação imediata
foi: “De maneira nenhuma. Isso não é razoável. É escravidão”. Mas, então,
reconhecendo que não estava em posição de negociar, sincera e rapidamente
concordei.
Instantaneamente, os
pulmões, o coração e os demais órgãos vitais voltaram a funcionar. Voltei à
vida. Nasci de novo. Daquele momento em diante, não importava o que Cristo
pedisse de mim ou aonde me mandasse, eu estava mais que disposto a obedecer-lhe.
Nenhuma tarefa seria por demais difícil, nenhum horário cansativo demais,
nenhum lugar perigoso demais. Nada era sem motivo. Por quê? Porque eu não tinha
direito sobre
minha vida; estava
vivendo com tempo emprestado, o tempo de Cristo. Keith morrera no dia 1° de
janeiro em um milharal do Kansas. Então eu podia dizer com Paulo: “Estou
crucificado [morri] com Cristo; já não sou eu [Keith] quem vive, mas Cristo
[quem] vive em mim”.
É isso que significa
morrer para si mesmo e nascer de novo. A ordem de Cristo “Siga-me” é uma
determinação para participar de sua morte a fim de experimentar uma nova vida.
Você se torna morto para si mesmo totalmente consagrado a ele.
Um grande paradoxo da
vida está em que existe imensa liberdade nessa morte. O morto já não se
preocupa com seus direitos, com sua independência ou com as opiniões dos outros
a seu respeito. Ao unir-se espiritualmente ao Cristo crucificado, riquezas,
segurança e status — as coisas que o mundo tanto almeja — perdem o valor. “Os
que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os
seus desejos” (G1 5.24). A pessoa que toma a cruz, que está crucificada com
Cristo, não fica ansiosa pelo amanhã porque o seu futuro está nas mãos de
outro.
Certo líder da igreja
no interior sonhava em realizar um ministério ousado nas ruas. Mas quando os
milagres pelos quais ansiava não aconteceram, ele recorreu a fantasias,
distorcendo encontros e criando eventos imaginários, esperando conseguir o
respeito das pessoas. Ele se tornara escravo de suas visões de grandeza, cativo
de suas próprias esperanças.
Sua motivação
subconsciente era ganhar o respeito e a admiração do mundo cristão por meio de
atos heroicos para o Reino. Paixões, sonhos e visões nunca foram crucificados.
Ele nunca foi liberto da pressão de ser um sucesso e de produzir. Nunca
experimentou a liberdade que vem de não ter de provar nada, não ter nada a
perder. Ele tinha uma ideia distorcida do discipulado. Queria servir a Deus
para que pudesse obter glória.
Por outro lado, o
morto para si mesmo é liberto a fim de fazer todas as coisas para a glória de
Deus (Rm 8.10). Ele coloca tudo o que tem e tudo o que é à disposição
permanente de Deus. Sua submissão ao senhorio de Cristo capacita-o a agradar a
Deus em cada decisão que toma, em cada palavra que diz e em cada pensamento que
tem. O discípulo vê toda a sua vida e todo o seu ministério como adoração (ICo
10.31). Morrer para si mesmo liberta-o para ter prazer em seu amor a Deus.
A morte do eu é
pré-requisito essencial para tornar-se discípulo. Qualquer pessoa que nao tenha
experimentado a morte de si mesmo não pode se qualificar como elo legítimo no
processo de discipulado porque é incapaz de reproduzir. Jesus ensinou: “[...]
se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, continuará ele só. Mas se
morrer, dará muito fruto” (Jo 12.24). Sem multiplicação, não existe
discipulado.
COMO SABER SE VOCÊ É
DISCÍPULO?
Muitas pessoas dizem
ter experimentado a morte de si mesmo e estar vivendo totalmente consagradas a
Cristo. Mas Jesus disse: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará
no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos
céus” (Mt 7.21; grifo do autor).
A experiência de um
amigo meu chamado Ed ilustra quão sério é o erro de identidade. Quando o preço
do ouro subiu vertiginosamente, dando início a mais uma corrida do ouro na
Califórnia, Ed, decidido a ficar rico, comprou terras na região. Durante dois
meses, ele trabalhou 18 horas por dia e nada encontrou senão terra e pedras.
Então descobriu um minério amarelo. Pensou que tivesse encontrado uma fortuna.
Levou correndo o minério a um avaliador e começou a planejar a contratação de
mais empregados e fazer uma viagem pela Europa.
Entretanto, para a
consternação de Ed, o avaliador anunciou que o minério era pirita de ferro. Ed
não podia acreditar. Estava certo de que o avaliador tinha-se enganado. Mas não
importava quanto Ed protestasse, não podia contestar o cheiro de enxofre que
saía da fornalha. O próprio minério resolveu a questão.
O minerador tem de
estar certo de que aquilo que encontrou é ouro antes de usá-lo para adquirir
bens e serviços. Assim também acontece com Deus. Ele exige que sejamos
discípulos de Cristo antes de nos usar para realizar sua obra.
Como saber se você é
um discípulo de Cristo? Como saber se você já morreu para si mesmo e está apto
a reproduzir? A evidência inegável ao discernir se alguém é uma versão
espiritual de imitação de ouro ou o artigo genuíno é a presença de um caráter
semelhante ao de Cristo. Se o caráter de Cristo estiver faltando, você ainda
não morreu para si mesmo e não está preparado para reproduzir.
Talvez a maior
dificuldade que você tenha de enfrentar seja crer de fato que seu caráter é
mais importante do que sua capacidade ou suas habilidades. Tal ideia é tão
incomum ao mundo que, mesmo depois de entregar-se à morte de si mesmo, você a
achará estranha.
Tive uma grande luta
com isso. Durante anos, eu vi pregadores empregarem toda espécie de tática
emotiva para induzir as pessoas a aceitarem Cristo. Alguns imploravam à
congregação, sugerindo que estariam fazendo um favor a Jesus se o seguissem.
Outros faziam convites tão amplos que nenhuma pessoa sincera poderia deixar de
atender. Insistiam em que todos os que tivessem algum mau pensamento ou dado
vazão a alguma motivação impura ou quebrado um só ensinamento bíblico viessem à
frente. Pregavam como se Deus fosse julgá-los pelo número de pessoas que
respondessem ao apelo, e não por compaixão, como teve Cristo dos homens.
Concluí que quanto
mais pessoas eu conduzisse a Cristo, mais valor teria. Eu procurava atrair as
pessoas às reuniões cristãs com truques que prostituíam o evangelho: concursos,
lutas de balões d água e até mesmo casas mal-assombradas. Esforçava-me por
lustrar minha apresentação do plano de salvação e refinar os apelos que fazia
depois da pregação. Quando poucas pessoas
respondiam ao apelo,
eu ficava envergonhado. Eu tinha uma mentalidade que valorizava feitos.
Sempre soube em minha
mente que só o Espírito de Deus movia as pessoas ao arrependimento e à
confissão e que fui chamado apenas para testemunhar, e não para convertê-las.
Contudo, agia como se a qualidade da minha vida cristã e a salvação dos outros
dependessem da minha capacidade e criatividade na evangelização.
Finalmente, a Bíblia
alertou-me para a verdade. Primeiramente, e acima de tudo, Deus queria que eu
tivesse o caráter de Cristo —fosse cristão. Só então ele operaria por meio de
mim para a sua glória.
Que revelação
paralisante! Eu havia confundido ativismo e a resposta do homem com retidão;
havia substituído a adoração por atividades. De repente, minha segurança nas
boas obras foi destruída.
A verdade era
dolorosamente clara. É necessário ser médico antes de tratar dos doentes. É
necessário ser advogado antes de advogar. Do mesmo modo, eu teria de ser como
Cristo antes de realizar sua obra.
O caráter cristão
consiste na união de qualidades mentais e éticas que o capacitem “para que
vocês vivam de maneira digna de Deus, que os chamou para o seu Reino e glória’
(lTs 2.12); exibe o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, paciência,
amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio (G1 5.22,23).
Um exame cuidadoso do
ministério de Cristo revela que, entre as virtudes que caracterizavam sua vida,
quatro qualidades destacavam-no de todas as demais pessoas como o Filho unigê-
nito de Deus: obediência, submissão, amor e oração.
Quando descobri isso
pela primeira vez, fiquei aturdido. Será que o Deus encarnado escolheu edificar
sua Igreja sobre o fundamento dessas quatro qualidades? Pareciam
características
de uma pessoa fraca —
de alguém que depende totalmente de outra para ter direção, motivação e
confiança.
No entanto, era
exatamente isso. Essas qualidades descreviam perfeitamente a relação de Cristo
com o Pai. A força de Cristo vinha de sua dependência do Todo-poderoso. E, se
eu quisesse ser usado por Deus, minha relação com ele teria de ser moldada
conforme a do meu Senhor. O caráter cristão é construído por meio de minha
disposição (exercício de minha vontade) em sujeitar cada aspecto de minha vida
à imagem de Cristo.
Alguns cristãos têm
procurado entrar no nosso ministério de discipulado com a condição de que seus
talentos sejam utilizados. Mas tal perspectiva é uma negação da morte de si
mesmo e demonstra que seus valores estão distorcidos. A principal ocupação do
discípulo deve ser que seu caráter seja construído e multiplicado. Um doutor em
Filosofia, um mestre em Divindade, um assistente social não são necessariamente
mais valiosos para uma organização missionária como é a Impacto Mundial. Essas
pessoas não são tratadas de um modo diferente de como outras são tratadas.
Todos nós procuramos fazer discípulos, mas sabemos que isso é impossível sem
que sejamos primeiramente discípulos. Precisamos conhecer a Deus antes de
torná-lo conhecido.
O discípulo emprega
qualquer dom ou talento que construa o Reino ou edifique o corpo. Ele
confiantemente deixa de exercer habilidades que possam nutrir seu orgulho ou
impedir sua maturidade cristã. O enfoque do homem morto para si mesmo é Deus.
Ele procura ser como Cristo.
Se algum homem
tivesse motivo para encontrar segurança em sua reputação, capacidades ou
credenciais este seria o apóstolo Paulo. Mas ele reconhecia que isso tudo era
lixo em comparação a ser como Cristo (Fp 3.8). A capacidade da pessoa nada vale
sem um caráter reto. É claro que mortal algum pode
atingir tais
qualidades por seus próprios esforços. Mas Deus predestinou os discípulos, a
serem “conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8.29).
Certo dia, eu
velejava pela costa da Califórnia com um amigo quando um nevoeiro denso e
inesperado surgiu, impedindo a visibilidade quase por completo. Tínhamos medo
de que jamais chegássemos ao cais. Navegamos por uns 45 minutos sem saber onde
estávamos quando, de repente, ouvimos o som fraco mas distinto da buzina de
nevoeiro. Dirigindo nosso barco orientados por aquele som providencial,
cuidadosamente chegamos afinal à baía e ao cais. Se não tivéssemos ouvido o
sinal, teríamos ficado à deriva no oceano.
Se você não tiver um
alvo para sua vida, é provável que fique à deriva. Se o seu alvo for o nada,
provavelmente o atingirá. É por isso que você tem de ter uma compreensão
perfeita da pessoa que Cristo quer que você seja.
Obediência,
submissão, amor e oração são os objetivos pelos quais você e cada discípulo que
fizer deverão lutar. Servem de instrumento para medir o seu crescimento e o
progresso daqueles a quem discipula. São tão importantes que os examinaremos
individualmente nos capítulos seguintes.
Keith
Phillips. A Formação de
um Discipulo. Editora Vida.
3. Requisitos
necessários ao mestre.
Um bom ensinador,
mestre ou doutor é pessoa que, usada por Deus, na unção do Espírito Santo, pode
muito contribuir para a edificação espiritual e moral dos crentes. O
Eclesiastes resume o valor dos que ensinam com a sabedoria de Deus: “As
palavras dos sábios são como aguilhões e como pregos bem fixados pelos mestres
das congregações, que nos foram dadas pelo único Pastor” (Ec 12.11). Para ser
um bom mestre, na igreja, são necessários alguns requisitos.
1) Apresentar-se a
Deus. “Procura apresentar-te a Deus aprovado... que maneja bem a palavra da
verdade” (2 Tm 2.15a). Um bom mestre deve ser um obreiro aprovado por Deus, e
não apenas nas faculdades de teologia ou seculares. O que ensina deve ser
aprovado:
a) No testemunho
pessoal (1 Tm 4.16; 2 Tm 4.5);
b) Na vida familiar
(SI 128.1);
c) Na vida social (Mt
5.16);
d) Na igreja (Ec
5.1,2).
2) “Que não tem de
que se envergonhar... ” (2 Tm 2.15b). Quem é mestre precisa ser exemplo dos
fiéis (1 Tm 4.12). Deve ter uma vida íntegra, para não ser alvo de acusações
por parte dos que o ouvem ou dos de fora da igreja. Se um ensinador dá
escândalo compromete seu nome, sua imagem e seus ensinos.
3) “Que maneja bem a
palavra da verdade...” (2 Tm 2.15c). Esse requisito é muito importante, porque
o mestre ou doutor é o homem que faz uso da Palavra de Deus para ministrar o
ensino à igreja. Seu manual de ensino é a Bíblia Sagrada. Ele deve conhecer bem
a Palavra para poder preparar estudos, mensagens e reflexões a serem
compartilhadas, verbalmente ou por escrito, para a edificação da igreja. Devem
ser “aptos para ensinar” (1 Tm 3.2; 2 Tm 2.24). Para ter esse manejo, é preciso
que o mestre ou doutor tenha certos cuidados:
a) Seja um leitor
persistente e estudioso da Bíblia (1 Tm 4.13).
b) Seja dedicado ao
ensino (Rm 12.7b). Essa dedicação exige esforço e disciplina para o
desenvolvimento de um ministério frutífero;
c) Seja um leitor de
bons livros de estudo bíblico (2 Tm 4.13). Os bons livros não substituem a
Bíblia, mas, quando são escritos por homens de Deus, são excelentes auxílios ao
preparo de estudos e mensagens;
d) Procure conhecer
versões variadas da Bíblia, principalmente as de estudo bíblico, examinando
seus comentários, para evitar inserções heréticas, em suas notas;
e) Utilize
dicionários, concordâncias e enciclopédias bíblicas.
f) Seja um leitor de
revistas, jornais, e periódicos (evangélicos e seculares), que tenham subsídios
para fortalecer o ensino.
g) Tenha preparo
teológico. Um curso teológico de boa qualidade não faz um excelente mestre no
ensino da Palavra de Deus. Esse é feito por Deus. Contudo, o curso dá uma visão
ampla do estudo sistemático da Palavra de Deus, a partir da Teologia Sistemática
e suas divisões; da Hermenêutica, da Homilética, da História da Igreja, da
Geografia Bíblica, Ética Pastoral, Didática, Psicologia, etc... A Bíblia diz:
“Examinai tudo. Pretende o bem...” (1 Ts 5. 21). Um mestre deve ter
conhecimentos acima da média de seus alunos.
Tiago adverte que
muitos não queiram ser mestres (doutores ou professores), visto que
“receberemos mais duro juízo” (Tg 3.1). Diante disso, é importante que os
mestres sejam pessoas cuidadosas no exercício de sua missão, pautando-se pelos
princípios éticos e morais da Palavra de Deus, para que possam contribuir para
o crescimento espiritual dos crentes, nas igrejas, auxiliando os pastores ou
líderes a melhor conduzirem o rebanho do Senhor Jesus.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 123-124.
II Tm 2.10 Apesar da
prisão de Paulo, a Palavra de Deus continuaria em ação, convocando os escolhidos
por Deus (aqueles que ainda não tinham crido em Cristo como o Salvador).
Paulo confiantemente
podia suportar tudo, sabendo que Deus continuava no comando. Algumas vezes, o
sofrimento não traz nenhum outro benefício, exceto o que os outros irão
aprender com o nosso sofrimento. Uma mulher suporta as dores do parto pelo bem do
seu bebê. Nunca devemos pensar no sofrimento como alguma forma de conseguir mérito
para ganhar a nossa salvação ou para escapar da nossa culpa, nem como alguma forma
de punição de Deus. Embora Paulo experimentasse um sofrimento intenso e
verdadeiro ao transmitir o Evangelho, ele concentrava-se nos resultados do seu sofrimento
— outras pessoas estavam encontrando a salvação em Cristo.
Quem são “os
escolhidos”? Embora o conceito de “escolha” tenha gerado violentas diferenças doutrinárias,
a maioria destas diferenças originasse nos pontos de vista teológico e
filosófico, e não na própria Bíblia. Neste contexto, Paulo indicou que os
escolhidos são aqueles a quem será dada salvação e glória eterna. Paulo não reivindica
saber quem são estes escolhidos. A sua identificação pertence à soberania de
Deus. Para Paulo, Deus realizou a salvação e o encarregou de transmitir a
Palavra; Deus sabe quem responderá positivamente. Paulo estava tão certo do propósito
de Deus, que estava disposto a sofrer pela realização desta preciosa salvação.
II Tm 2.11-13 Esta
“palavra fiel”, citada nestes versículos, era provavelmente um antigo hino
cristão ou uma citação usada em uma cerimônia cristã, embora seria igualmente apropriado
dizer que Paulo pode ter fornecido aqui, sob a inspiração do Espírito Santo,
outro dos primeiros hinos da igreja.
O primeiro par de
versos deste hino contrasta a morte com a vida - a morte do crente para o
pecado, no momento da salvação. e a nova vida iniciada agora com Cristo, no mundo
e na eternidade. Os crentes morreram com Cristo porque se identificaram com
Ele, como está simbolizado no sacramento do batismo. A promessa é que a
identificação dos crentes com Cristo na morte significa que Ele os ressuscitará
para viverem com Ele. Este segundo par de versos compara a perseverança com as
recompensas. Aqueles que vivem por Cristo podem enfrentar um terrível
sofrimento, que deverá ser suportado. Cristo suportou e agora reina (1 Co
15.25); todos os crentes que suportarem até o fim também reinarão com Ele (Ap 3.21;
5.10; 20.4).
O terceiro par de
versos revela que o comprometimento com Cristo deve ser total, sem
possibilidade de voltar atrás; negar resulta em ser negado (veja também Mt
10.32,33). Em grego, o tempo do verbo na frase “se o negarmos” é futuro. Estas
palavras transmitem um aviso solene; mas negar a Cristo era impensável para os primeiros
cristãos, mesmo diante da crescente perseguição. Os verdadeiros crentes podem ser
descrentes e fracos, às vezes; eles podem fraquejar ao dar um testemunho (veja
2.13), mas nunca poderão negar o seu Senhor.
O último par de
versos revela a profundidade do relacionamento entre os crentes e Cristo, o
Senhor; quando nós, às vezes, fraquejamos, isto não significa que Deus irá nos
rejeitar para sempre. Estas palavras aplicam-se não aos que não têm fé, mas aos
crentes que, às vezes, falham com o Senhor.
Os seres humanos,
pela sua própria natureza, são inclinados a fracassar; e os cristãos, embora nascidos
de novo, ainda são humanos. Porém, mesmo quando os crentes são infiéis. Deus permanece
fiel. Os crentes têm garantidas as promessas de Cristo. Isto não nos dá uma permissão
para a falta de fé, mas alivia a nossa consciência quando falhamos,
permitindo-nos voltar para o Pai e começar de novo. Deus não nega aqueles por
quem Ele morreu, pois Ele não pode negar-se a si mesmo.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 529-530.
II Tm 2:10 suportar
... por causa dos eleitos . Embora haja discordância entre os cristãos sobre a
doutrina da eleição, uma compreensão bíblica da doutrina não faz trabalho
missionário undercut mas permite que ele. Paulo sofre justamente por causa de
uma certeza de que, através de seu ministério, Deus vai salvar alguns. Veja as
notas sobre Rom. 8:29; 08:30; Ef. 01:11.
II Tm 2:11-13 Os
confiáveis movimentos declaração do conforto de desafiar e de volta para o
conforto: v. 11b é um lembrete da vida, mesmo em face da morte; v 12 chamadas
para a perseverança; v 13 é um lembrete de Deus de poder e fidelidade
preservar. Neste contexto, para negar-lhe deve implicar uma ofensa mais grave
do que ser infiel . Negando Cristo prevê a apostasia final, em contraste com um
lapso temporário em confiar em Cristo ("se somos infiéis"). Aqueles
que negam Jesus será julgado para sempre; mas todos os crentes pecam, e Deus é
fiel e vai perdoar, restaurar e manter aqueles que são verdadeiramente seu.
BIBLIA DE ESTUDO ESV ENGLISH STANDARD
VERSION. Published by Crossway Bibles.
II Tm 2.10 Por isso
suporto tudo por causa dos eleitos, para também eles alcancem a salvação que
(temos) no Messias Jesus (e que está ligada) com glória eterna. O amor suporta
tudo. Paulo não está amargurado nem desesperado. Está sofrendo, porém seu
sofrimento ocorre “em Cristo”, acontece por causa do evangelho, por amor
daqueles que Deus escolheu, amou e santificou em Cristo. Paulo sabe do
sofrimento vicário em prol da igreja dos eleitos. Assim ele descarta qualquer ideia
de mérito. Os eleitos não alcançam a salvação nele ou por causa dos sofrimentos
dele, mas em Jesus e por meio da morte dele na cruz. Só Jesus traz a salvação
aos pecadores e com ela a glória eterna, que forma um nítido contraste com os
padecimentos temporais (v. 3-6). Sem dúvida existe para os eleitos o perigo de
não permanecerem na graça, de, pelo contrário, vacilarem nas tribulações e
caírem. Por meio de seu sofrimento, ou melhor, por meio de seu comportamento no
sofrimento (ação de graças, paciência, testemunho ousado, amor ao inimigo,
intercessão) Paulo visa contribuir para que alcancem a salvação, assim como ele
mesmo tem a certeza de que terá participação na salvação.
II Tm 2.11 A primeira
parte da carta vai chegando ao ponto culminante. Novamente – como na primeira
carta (1Tm 3.16) – o apóstolo coroa suas exposições com um hino que está
entrelaçado da forma mais estreita com tudo que veio antes e ao mesmo tempo
introduz e fundamenta a segunda parte.
Reproduziremos o
texto grego na tradução literal, a fim de ilustrar as regras da estrutura do
todo à base de um exemplo:
Pistos ho logos
digna de fé (é) a
palavra
1. ei gar
syn-apethanomen,
se pois nós morremos
junto com (aoristo),
kai sy-zesomen;
então viveremos com
(futuro);
2. ei hypomenomen,
kai sym-basileusomen;
também governaremos
com (futuro);
3. ei arnesometha
se renegarmos
(futuro),
ka' keynos arnesetai
hemas;
então aquele nos
renegará (futuro);
4. ei apistoumen,
ekeinos pistos menei;
se somos infiéis
(presente), aquele permanece fiel (presente);
arnesasthai gar
heauton
negar-se (infinitivo
do aoristo) pois a si (mesmo)
ou dynatai.
não é capaz
(presente).
Presumivelmente os v.
11-13 colocam diante de nós quatro linhas de um hino, estreitamente ligado ao
fragmento, possivelmente de outro hino, do v. 8. Paulo conecta as duas citações
por meio de um comentário sobre sua vida (v. 9s), assim como para Timóteo ele
também interliga consistentemente a doutrina e a vida. Quando seguimos com
atenção os fios do tecido da carta, reconhecemos um entrelaçamento profundo do
todo. Em parte alguma as citações de hinos foram reunidas desconexamente ou
distribuídas de forma solta. Assim como Jesus esteve abandonado na vida terrena
por ocasião da condenação, sendo condenado como malfeitor, assim o apóstolo
suporta males como um malfeitor, algemado como Jesus. Assim como o Ressuscitado
governa como Messias da linhagem real de Davi, assim Paulo também alcançará,
após os padecimentos, a salvação em Jesus e a glória eterna ao lado de todos os
eleitos (v. 10) que perseveram com Jesus. Paulo não se inseriu indevidamente
entre os dois fragmentos de hinos. Ao interpretá-los em relação a si mesmo, não
deixa de aplicá-los simultaneamente a todos os colaboradores, e até mesmo a
todos os eleitos. Passando pela sua própria pessoa, conduz ao testemunho
daqueles que dizem “nós” em conjunto com ele. As linhas 1 e 2 atestam atitude e
ação, conforme brota da fidelidade perante o Senhor. As linhas 3 e 4 mostram as
consequências da infidelidade e negação. Nos 4 versos observamos ainda o tempo
verbal e a forma pessoal:
Linha tempo verbal
forma pessoal
1 passado (aoristo)
nós – nós
2 presente nós – nós
3 futuro nós – ele
4 presente nós – ele
Linha 1: “Se temos
morrido com.” O tempo verbal grego do aoristo pode assinalar uma ação em sua
totalidade, que por um lado aconteceu ou começou no passado, mas perdura:
sempre que temos morrido, morremos ou morreremos com ele, também viveremos com
ele. O viver com, que começa já na vida presente, mas florescerá de forma
perfeita somente depois da morte, deve ser considerado de forma análoga.
II Tm 2.12 Linha 2:
Perseverar firmes somente é possível em Cristo. Quem buscar fundamento e força
para perseverar em si mesmo cairá e negará Senhor, como aconteceu com Pedro.
Perseverar é algo dirigido para o final, para a resistência até a morte, para o
martírio. Governar com: os redimidos estão participando desde já do governo de
seu Senhor exaltado sobre o mundo. Sua tarefa futura deve ter efeitos práticos
desde já.
Linha 3: Se negarmos.
O olhar está voltado para o futuro, para a última provação, quando estiverem em
jogo vida e morte por causa do testemunho de Jesus. No presente contexto é
preciso lembrar os falsos mestres. “Imiscuíram-se certas pessoas, cujo
comportamento há tempo já foi descrito assim: ímpios são eles, distorcem a
graça que Deus nos concedeu, em uma vida de
dissolução, negando
nosso único Governante e Senhor, Jesus Cristo”. Timóteo não deve negar seu
Senhor como os hereges, quando a última provação o alcançar, assim como o que
Paulo agora precisa enfrentar. Com sua perseverança pessoal no Senhor o
apóstolo dirige o olhar de seu colaborador para o próprio Senhor. Quem nega a
Jesus em juízo perante os seres humanos e se declara definitivamente separado
dele também será negado por Jesus no juízo perante o Pai. Essa é uma palavra
séria de exortação na luta em torno da verdade. Acontece que já na primeira
igreja o triste exemplo de Pedro era uma exortação séria impossível de ignorar,
continuando a sê-lo desde então.
Jesus dirá aos
pseudoprofetas e falsos mestres que se apresentaram em nome dele: nunca vos
conheci, afastai-vos de mim. As past estão impregnadas dessa seriedade, porque
a realidade da heresia e da negação está poderosamente diante dos olhos. A
observação de A. Bengels sobre o texto vale com irrestrita urgência: “Essa
negação não apenas acontece em tempos de perseguição, mas também nos dias de
hoje, quando a razão se eleva acima da fé.” A igreja precisa vigiar sem cessar
para que em seu seio não haja alguém que tenha um coração maligno de
incredulidade ou que por puro temor diante das pessoas e necessidade de
afirmação se cale covardemente sobre o nome do Senhor, somente para não se
expor ao escárnio e desprezo. Por essa razão ela precisa se exortar mutuamente
todos os dias.
II Tm 2.13 Linha 4:
Se nós nos tornamos infiéis, ele permanece fiel. Em primeiro plano aparece aqui
a imutável fidelidade do Senhor, que é capaz de proteger seus discípulos do mal
até mesmo na última tentação. Nesse contexto torna-se compreensível a prece da
oração do Senhor: E não nos deixes cair em tentação (naquela tentação na qual
nos afastaríamos definitiva e irremediavelmente de ti e te negaríamos), i. é,
protege-nos diante e durante a hora da tentação (redime-nos do mal). O reino de
Deus será consumado apesar da infidelidade e fraqueza dos eleitos, pois “a
infidelidade deles haveria de anular a fidelidade de Deus?” A quarta linha é
marcada integralmente pelo linguajar de Paulo. “A incredulidade humana não
debilita a credibilidade de Deus” (Schlatter). As quatro linhas extraídas de um
hino não terminam no sombrio mistério do futuro, que talvez oculte nossa
negação e nossa queda. O hino conduz para a maravilhosa luz da imutável
fidelidade de Deus e de nosso Senhor Jesus. O apóstolo “fala a partir da
esperança da vida eterna com toda a convicção, a partir da eternidade, dirigida
para o atual período de preparo. É assim que o velho Paulo anima a si mesmo em
suas algemas e a Timóteo, seu filho, e a todos os cristãos” (A. Bengel). “Ele
continua fiel a nós, ou melhor: ele permanece fiel às suas promessas. Também
quando tantas vezes fracassamos e nos tornamos infiéis, ele é capaz de perdoar.
A lógica é quebrada no amor do Redentor. Isso não significa carta branca para
pecado e queda, como demonstra a terceira linha do hino, mas um consolo para
consciências atemorizadas, e a fé que fracassa tem o privilégio de se erguer na
fidelidade de seu Senhor”.
Porque se negar (a si
próprio) ele não é capaz. Essa frase poderia ser considerada tanto como ainda
pertencente ao hino e consequentemente estaria enfatizando o final inesperado,
ou então como adendo do apóstolo. A imponente seção de 2Tm 1.3-2.13 constitui
um comentário comovente sobre Lc 12.4-12, desembocando, face aos padecimentos e
à morte, na exaltação da fidelidade do Senhor. Independentemente de qual é e
for a situação no mundo e na igreja, uma coisa é certa e firme: “O Senhor é
fiel, ele vos fortalecerá e protegerá diante do maligno” (2Ts 3.3).
Hans Bürki. Comentário Esperança Cartas
aos II Timóteo.. Editora
Evangélica Esperança.
I Tm 4.13 Paulo
esperava visitar Timóteo e os crentes de Éfeso em breve (veja também 3.14,15).
Além de observar cuidadosamente a sua vida privada, para mantê-la acima de
quaisquer críticas, Timóteo também devia dar atenção e cuidar da preparação do
seu ministério público em três áreas principais, que são descritas a seguir.
Timóteo devia se dedicar a ler em público as Escrituras Sagradas, uma prática
iniciada nos tempos do Antigo Testamento (veja Êx 24.7; Dt 31.11; Js 8.35; 2 Rs
23.2,3; Ne 8.1-18) e continuada nas sinagogas (1x4.16; At 15.21; Cl 4.16; 1 Ts
5.27).
Ele também devia
exortar os crentes, por meio da pregação. Timóteo devia exortar, ou seja,
advertir, aconselhar e incentivar seus ouvintes a respeito das palavras das
Escrituras, ajudando-os a aplicar estas palavras em suas vidas diárias. Ensinar
refere-se ao treinamento na doutrina cristã. As pessoas precisavam conhecer, entender
e ser lembradas constantemente das grandes verdades da fé cristã.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 501- 502.
I Tm 4.13 « ...aplica-te...»
No grego é «prosecho», que significa «dar atenção a», «seguir», «voltar a mente
para». Isso se refere à diligência e à dedicação necessárias por parte de todo
o pastor, sobretudo em suas funções públicas, que passam a ser enumeradas.
«...á leitura. . .»
Temos aqui, particularmente, a leitura em público, do A T., mas talvez também
das epístolas dos apóstolos e de outros documentos que seriam considerados
dotados de valor entre os cristãos primitivos. Naqueles dias, quando a imprensa
ainda não fora inventada, os manuscritos eram raríssimos. Praticamente ninguém
possuía uma cópia inteira e particular das Sagradas Escrituras. Além disso,
pouquíssimas eram as pessoas que sabiam ler. Isso significa que a «leitura das
Escrituras, em público», se tornava uma necessidade premente.
A igreja cristã
primitiva dividia as Escrituras sagradas em «lecionários», isto é, «trechos
selecionados» das Escrituras, para serem l id o s , e que cobriam, para todos
os efeitos práticos, a totalidade do N.T. Temos em nossa possessão, até hoje,
muitos desses manuscritos litúrgicos, que nos servem de fonte informativa
acerca do texto do N.T.; pois normalmente preservam antiquíssima representação
do texto sagrado. A leitura era feita perante a congregação inteira, de maneira
solene e digna. Em algumas igrejas cristãs, como acontecia na sinagoga judaica,
havia leitores especiais; ou então tal leitura era feita por algum dignitário
visitante. O pastor podia interromper o leitor e fazer comentários, I sua
vontade. No trecho de Luc. 4:16 e ss., vemos que o Senhor Jesus foi o leitor de
uma passagem bíblica. (Ver Atos 13:15 quanto a outra alusão à leitura pública
das Escrituras). Na sinagoga judaica, normalmente era lida alguma porção da
lei, outra porção dos Salmos, e outra ainda dos profetas. Os trechos de I Tes.
5:27; Efé. 3:4 e Col. 4 :1 6 mostram-nos que as epístolas paulinas não tardaram
a ser incluídas nessas leituras em público. Eusébio (História Eclesiástica
:423), Tertuliano (Apo. 39) e Justino Mártir (Apol. 1.67), deixaram-nos
informes que mostram que, na igreja primitiva, eram lidas porções do A.T. juntamente
com passagens dos primeiros livros do N .T., e que isso começou antes mesmo de
haver qualquer coisa como um «cânon» oficial do N.T. A passagem de II Ped. 3:16
mostra-nos que algumas das epístolas paulinas desfrutaram de grande posição de
autoridade, lado a lado com o A .T . A declaração de Justino mostra-nos que os
«evangelhos» também eram lidos em sua época, isto é, no começo do segundo
século de nossa era.
Embora o sentido
primário dessas palavras indique a leitura pública das Escrituras, e como os
pastores deveriam mostrar-se fiéis nessa função eclesiástica, espera-se, mui
naturalmente, que todos os líderes cristãos sejam homens que dediquem muito
tempo ao estudo e à leitura dos documentos sagrados.
«...à exortação...»
No grego é «paraklesis», que significa «encorajamento», «exortação», «consolo».
O Espírito Santo é o «Consolador», o «Ajudador», o «divino paracleto», palavra
teológica essa baseada no termo grego que ora comentamos.
Esse verbo significa
«chamar para o lado de, c om o intuito de ajudar», «convocar»; e isso tanto
para exortar como para consolar. No presente versículo, porém, devemos entender
«exortar», porquanto a palavra é usada em conexão com a ideia da leitura das
Escrituras em público, indicando, portanto, a pregação que compunha parte do
culto de adoração dos cristãos. Mas em particular, um «supervisor» também
deveria agir como consolador; e também poderia pregar mensagens consoladoras, a
seu público. Mas parece que a ideia de exortação é que se destaca aqui, pelas razões
dadas acima. Tais exortações podem estar baseadas ou não na leitura feita, pois
normalmente eram feitas mediante «alguma espécie de explicação sobre o que era
lido, ou, pelo menos, incluía algo dessa atividade.
«...no ensino...» No
grego é «didaskalia», que significa «instrução», «ensino». Não é suficiente ler
e exortar. O pastor também precisa ser um mestre; e a sua pregação deve ser
qual uma aula; doutro modo será vazia e infrutífera. Exortação e ensino também
são unidos em Rom. 12:7,8 e I Tim. 6:2. (Ver as notas expositivas sobre o «dom
ministerial do mestre», na introdução ao décimo segundo capítulo da primeira
epístola aos Coríntios).
A principal função do
pastor, no tocante ao culto de adoração, é aqui salientada. A pregação não é
bastante por si mesma. Também deve haver o ensino, e as passagens de Rom. 12:7
e Tito 2:1-14 mostram-nos que o ensino deve incluir tanto a instrução
doutrinária como a instrução moral.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 326.
I Tm 4.13. Persevera:
atentar cuidadosamente, ocupar-se de. Em vez de prestar atenção nas heresias ou
cair em vícios, Timóteo deve entregar-se inteiramente a seu mandato. Quando se
dedicar ao “bom combate” e for arrebatado por ele, permanecerá protegido contra
as influências negativas.
Na leitura: trata-se
da leitura em voz alta das Escrituras disponíveis perante a congregação
reunida. Os textos de 2Co 3.14; Lc 4.16; At 13.15 se referem à leitura do AT
praticada na sinagoga, um direito de cada homem que soubesse ler. Conforme 1Tm
5.18 (citações do AT e do NT), 1Ts 5.27; Cl 4.16; Ap 1.3 a leitura pode ser
tanto do AT como dos escritos do NT já existentes. Aqui a ênfase certamente
incide sobre a leitura de escritos apostólicos, o que no entanto não exclui a
conhecida prática de proclamar textos do AT. “Conjuro-vos, pelo Senhor, que
esta epístola seja lida a todos os irmãos. E, uma vez lida esta epístola
perante vós, providenciai por que seja também lida na igreja dos laodicenses; e
a dos de Laodicéia, lede-a igualmente perante vós.” As past não permitem notar
uma diferença em relação a essa leitura de suas missivas motivadas por
autoridade apostólica (QI 21, 25e).
Na exortação: No
culto da sinagoga a palavra livremente lida era interpretada. “Depois da
leitura da lei e dos profetas, os chefes da sinagoga (judaica) mandaram dizer-lhes:
Irmãos, se tendes alguma palavra de exortação para o povo, dizei-a!” Após essa
solicitação Paulo se levanta e evangeliza. Isso não é a mesma coisa que
ensinar. Também em Rm 12.7s ele diferencia nitidamente entre exortar e ensinar
como dois dons distintos da graça. O próprio Deus é o Deus de toda a
consolação, Cristo o Parákletos, que envia outro Parákletos, o Espírito Santo.
Deparamo-nos aqui com uma palavra-chave da revelação do NT que liga da maneira
mais estreita possível as past com todas as demais cartas de Paulo e com os
escritos de João. O Messias é o consolo de Israel, que será revelado no fim dos
tempos e pelo qual esperam os mansos da terra. Os ricos, que tentam usar sua
riqueza para se tranquilizar em seu vazio humano, “já têm sua consolação”.
Nesse contexto também deve ser entendida a “consolação das Escrituras”, porque
elas apontam para o Deus da esperança. Da Escritura e de sua leitura provêm o
verdadeiro consolo e a verdadeira admoestação.
Exortar significa
tratar, com base nas Escrituras, e com autoridade profética, por meio do
Espírito Santo, de cada indivíduo e de cada igreja em sua carência, aflição e
perigo atuais, dirigindo-se de forma amável e séria à consciência e ao coração
dos ouvintes. A “paráclese” sempre possui o duplo sentido de exortar e
encorajar, de anunciar e desafiar, de consolar e fortalecer. Exortar visa a
situação atual, motivo pelo qual é aplicação pessoal, ou, se quisermos,
subjetiva, i. é, direcionada ao sujeito, da Escritura Sagrada.
Na doutrina:
atividade de ensino, instrução, educação. Ensinar é algo diferente e é mais que
retirar um versículo da Bíblia, relacionando com ele considerações edificantes.
Estão em jogo a totalidade da fé cristã e a história da salvação: “a forma da
doutrina”. Quem ensina, expõe os desígnios de Deus e evidencia as dádivas e os
deveres deles decorrentes; interpela o entendimento e convida para o
cumprimento em obediência. Quem exorta, nutre e fortalece o coração dos
ouvintes com a palavra de Deus. Coloca-os junto com seu fracasso diante daquele
que perdoa e restaura. Interpela sua consciência, para que acordem da
indiferença.
Timóteo deve
nutrir-se pessoalmente com a palavra da fé e seguir a doutrina, então terá
condições de exortar e ensinar a igreja a partir da Escritura. A vivência na
Escritura e a leitura a partir de seus textos constitui o fundamento para as
duas atividades principais do servo da palavra: exortar e ensinar, dirigir-se
ao indivíduo, falar-lhe a partir de Deus e colocá-lo no contexto geral dos
desígnios de Deus com a igreja e o mundo, o subjetivo e o objetivo, as pequenas
coisas do cotidiano e a grande dimensão universal e supramundana das idéias e
intenções de Deus. Ambas precisam ser mantidas em equilíbrio e tensão
recíproca. Quando se enfatiza demais a doutrina e falta a exortação, surge um
conhecimento cerebral, dissociado da vida e atividade cotidianas. Quando a
exortação se torna preponderante, o ser humano se perde na subjetividade, na
autocontemplação e em última análise na santificação própria, na mesquinhez, e
a devoção adquire aparência mofada e estreita. Falta a relação com a magnitude
e a totalidade dos desígnios de Deus. Por essa razão ambas as coisas são
necessárias, da maneira como o Espírito explicita para cada respectiva situação.
Hans
Bürki. Comentário Esperança Cartas aos I
Timóteo.. Editora
Evangélica Esperança.
II Tm 4. 13. Ainda
mais que a capa, Paulo queria seus livros e pergaminhos. A prisão de Paulo
poderia ter
ocorrido tão inesperadamente, que ele não pôde voltar para casa para apanhar
seus pertences pessoais. Os livros incluiriam partes do Antigo Testamento. Os
pergaminhos eram muito provavelmente pergaminhos ou papiros escritos à mão,
frequentemente usados no século I para a tomada de notas (como em cadernos),
confecção de memorandos, ou primeiros rascunhos de obras literárias. Talvez estes
pergaminhos fossem rascunhos de algumas das epístolas de Paulo. Na época em que
vivemos, em que muitas coisas são descartáveis, achamos difícil imaginar que
nos tempos de Paulo uma pessoa tivesse um único agasalho, excelente, durável e provavelmente
valioso para usar durante toda a sua vida, e que frequentemente o deixasse para
os seus filhos ou herdeiros. Artigos como capas eram muito importantes e muito
difíceis de fazer, de maneira que náo poderiam ser malfeitos. Praticamente tudo
o que era escrito também tinha um grande valor. Paulo era um estudioso e teria
reunido, para o seu uso, uma biblioteca pequena, mas eficiente. Quando Paulo
pediu os livros e os pergaminhos, ele não estava pedindo toda a sua biblioteca,
mas alguns documentos mais apreciados.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 542-543.
II Tm 4. 13. Os
livros: o termo se refere a folhas de papiro para anotações e para copiar
livros. Folhas de pergaminho são muito caras e são usadas somente para
documentos de valor. Provavelmente se trata aqui de cópias de livros do AT e
talvez até mesmo de uma coleção de ditos do Senhor. Como será que esse pedido,
que na realidade pressupõe que Paulo ainda pensa em ler, estudar e escrever,
combina com o tom anterior e subsequente, que expressa a certeza do chamado
iminente para comparecer diante de Deus?
Paulo havia advertido
os cristãos em Tessalônica de que não deveriam se deixar afastar do trabalho em
vista da expectativa da volta imediata do Senhor. Acaso ele mesmo agiria de
outra maneira? De Lutero foi transmitida uma afirmação que revela uma
mentalidade idêntica: se o dia final estivesse previsto para começar amanhã,
hoje ele ainda plantaria uma macieira.
De qualquer forma era
possível que entre sentença e execução trans-corresse um período mais longo.
Paulo conta com essa possibilidade para ainda rever Timóteo. Talvez haja também
cartas urgentes a ser escritas. Não sabemos as razões. Está claro que Paulo
pensa sem cessar na vinda de Timóteo. Qual é a melhor forma para sua viagem?
Quem deve acompanhá-lo? O que ele deverá trazer consigo? De que necessito com
maior urgência? O pedido pela capa revela que nesse aspecto não se podia esperar
ajuda dos cristãos em Roma. Ele estava na prisão, e sentia frio. Como Paulo não
escrevia em função de terceiros e ele próprio era o autor, não havia
necessidade de prestar maiores explicações: afinal, Timóteo estava informado.
Esses detalhes da vida cotidiana do apóstolo não tinham maior relevância para
seus contemporâneos e para Timóteo. Para nós, porém, a quem 19 séculos separam
da vida desse homem, justamente essas “questões secundárias” possuem um valor
muito especial. Permitem que sintamos a pessoa de Paulo por um instante e
constatemos: suas lutas e expectativas, sua dor e saudade, sua afeição
carinhosa, sua carência de comunhão, de calor, de literatura e trabalho, preso
em cadeias, solitário, abandonado, como prisioneiro desonrado… E tudo isso para
que se torne manifesto que o poder transbordante em meio a tal impotência não
vem do próprio Paulo, e sim de Deus.
Hans Bürki. Comentário Esperança Cartas
aos II Timóteo.. Editora
Evangélica Esperança.
«...livros...» No
grego temos a palavra bíblia, que é forma plural. É possível que indique rolos
de velo. O descobrimento dos rolos do Mar Morto mostra-nos que o velo ou
pergaminho já estava em uso muito antes desse material ser aludido nestas
epístolas pastorais. Mas esse material de escrita era extremamente caro, pelo
que o papiro, material mais perecível, era empregado. Nada existe neste texto
que nos sugira o que estava escrito nesses rolos. Alguns supõem mesmo que nada
estava escrito neles, e que Paulo apenas pedia «material de escrita», em que
pudesse grafar suas epístolas mais tarde. Todavia, isso não é muito provável.
Pois certamente ele poderia adquirir tal material na própria cidade de Roma,
sem grande dificuldade e dispêndio.
O próprio termo
grego, «biblia», em nada nos ajuda acerca do que estaria contido naqueles
rolos, porquanto essa era uma das palavras mais comumente usadas no grego para
indicar livros ou volumes. Tal palavra deriva-se de «bublos», um papiro
egípcio. O termo latino «liber» também significava «livro», mas esse vocábulo
indicava a cortiça interna de certa árvore, de onde se fabricava uma espécie de
papel. Plínio, em sua História Natural (x iii.ll) diz-nos que, no caso do
papiro, o âmago da planta era cortado em fatias, as quais eram arrumadas em
fileiras, sobre as quais eram colocadas transversalmente outras fileiras, e
então, sob pressão, era feita a aderência de umas fatias sobre as outras. Os
manuscritos neotestamentários de que dispomos foram escritos sobre esse
material. Pertencentes aos séculos II a VI D.C., há mais de setenta fragmentos
ou porções mais extensas, e que incorporam cerca de setenta e cinco por cento
do N.T., com muitas secções repetidas. (Ver essa informação, juntamente com informações
gerais sobre os antigos manuscritos do N.T., e outros testemunhos acerca do texto
do N.T., no artigo existente na introdução ao comentário que versa sobre esse
assunto). Por volta do século IV D.C., o velo já estava em uso comum; e, por
ser esse um material bastante durável, nele há muito maior número de
manuscritos do N.T. do que em papiro.
Normalmente, naqueles
dias, os «códices» (manuscritos em forma dos livros atuais) ainda não tinham
começado a ser usados; mas rolos com múltiplas colunas era o estilo em uso para
o fabrico de livros. Os códices Vaticano e Sinai tico (manuscritos em forma de
códex, escritos em velo) contam com múltiplas colunas, sendo provável que
tenham sido diretamente copiados de rolos de papiros.
No tocante às
conjecturas sobre o que estaria contido nesses rolos, temos as seguintes: Uns
pensam que seriam as Escrituras do A.T.; outros pensam que seriam livros dos
filósofos, especialmente estoicos, posto que os escritos paulinos exibem
influência do estoicismo, e que Tarso era um centro dessa filosofia; outros
pensam em cartas escritas em papiro, talvez cópias de sua própria
correspondência, juntamente com cartas que ele recebera da parte de outros,
alguns desses livros poderiam ser escritos judaicos sobre as Escrituras do A
.T., na forma de comentários. Devem ter sido alguns poucos livros escolhidos,
talvez de várias espécies. «O idoso pregador poderia sentir-se feliz com os
seus livros». (Robertson, in loc.).
«...especialmente os
pergaminhos...» Eram livros ou documentos feitos de peles preparadas de
bezerro, de antílope, de cabra ou de ovelha. O material mais caro era feito de
bezerro ainda não-nascido, devido à sua fina textura. Eram caríssimos, e poucas
pessoas possuíam livros feitos desse material. Eram reunidos, formando rolos,
ou então eram deixados como páginas soltas. O termo pergamina (equivalente a
«membrana»), e que se refere a esse material, se derivou do nome da cidade de
Pérgamo, na Mísia, onde era manufaturado em grande quantidade, e de onde foi
introduzido na Grécia. Posto que esse era o material mais valioso, e visto que
Paulo parecia mais ansioso por receber esses documentos do que os «livros»,
alguns eruditos têm pensado que esses eram os livros que continham as
Escrituras do A.T., pelo menos certas de suas porções, porquanto não havia como
transportar o A.T. inteiro escrito sobre esse material, que ficaria por demais volumoso.
Mas outros eruditos supõem, além disso, que havia ali cópias primitivas das
declarações e da história da vida de Jesus, bem como algumas das cartas e
escritos do próprio Paulo. No entanto, também há intérpretes que pensam aqui em
«pedaços» de pergaminho, e não rolos, ou seja, diversos documentos, alguns dos
quais Paulo talvez precisasse para apresentar a sua defesa em Roma. Na
realidade, não há como averiguar o conteúdo desses rolos de papiro ou de
pergaminho. A única coisa que parece certa é que eram documentos escritos, e
não apenas material de escrita em branco.
Esse pedido de Paulo
pode ser comparado com a solicitação que fez William Tyndale(1492 - 1536), um
dos primeiros tradutores da Bíblia para o inglês. Ele escreveu da prisão de
Vilvoorde, onde estava confinado por causa de suas atividades religiosas: «Rogo
a V. Sa., e isso pelo Senhor Jesus, que se eu tiver de permanecer aqui no
inverno, que peça ao comissário que seja tão bondoso comigo que me envie, entre
outras coisas que ele tem, uma capa mais quente...sinto dolorosamente o frio em
minha cabeça...pois aquela que tenho é muito fina...Ele tem uma camisa de lã
que me pertence, e se quiser, pode mandá-la. Mas, acima de tudo...minha Bíblia
em hebraico, a gramática e o vocabulário, para que eu passe meu tempo nessa
atividade». (The Message o f the Book, Nova Iorque, E.P. Dutton
and Co. 1909, pág. 392).
Parece que, em sua
grande hora de prova, Paulo desejava ter o consolo das Escrituras; pois assim
também poderia desviar seus pensamentos daquela crise terrena, a fim de que
pudesse olhar mais fixamente para o Senhor Jesus.
Esta vida seria
brutal se, algumas vezes,
Não tivéssemos claros
vislumbres de um escopo mais vasto,
Indícios de uma
ocasião infinita.
Algumas vezes, ao
andar pelas ruas,
Ou nos montes, sempre
sem aviso prévio,
Uma graça de ser,
mais excelente do que somos,
Que acena mas
desaparece, uma vida mais ampla
Que se impõe a si
mesma, com rápido vislumbre
De circulos
espaçosos, ilumina-nos a mente.
(James Russell Lowell)
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 406.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva.
Muito Bom esse Material. Leciono na escola dominical e tenho encontrado muita ajuda em seu Blogue, Deus continue te abençoando.
ResponderExcluirNilson Miranda