Seguidores do Blog

10° LIÇÃO 2 TRIMESTRE 2014 O MINISTÉRIO DE MESTRE OU DOUTOR


O MINISTÉRIO DE MESTRE OU DOUTOR
Data: 8 de Junho de 2014                        HINOS SUGERIDOS 141, 258, 429.
Texto Áureo
“De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada: [...] se é ensinar, haja dedicação ao ensino" (Rm 12.6,7).

VERDADE PRÁTICA

Os vocacionados por Deus para o ministério do ensino são por Ele chamados para edificar a Igreja de Cristo
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Mateus 7.28,29; Atos 13.1; Romanos 12.6,7; Tiago 3.1.
Mateus 7
28 - E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina,
29 - porquanto os ensinava com autoridade e não como os escribas.
Atos 13
1 - Na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé, e Si meão, chamado Níger, e Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo.
Romanos 1 2
6 - De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada: se é profecia, seja ela segundo a medida da fé;
7 - se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino;
Tiago 3
1 - Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo.
INTERAÇÃO
Nunca foi tão necessário, como hoje, a igreja investir na figura do mestre cristão. Quando o crente é ensinado a estudar a Bíblia para compreender o mundo e a cultura bíblica, relacioná-la com o mundo do século XXI e aplicá-la à vida das pessoas de maneira competente, o risco de sofrermos o engano é amenizado. Para quem pensa ser prejudicial à vida espiritual estudar a Bíblia com seriedade, deveria pensar na elaboração das traduções bíblicas, por exemplo, disponíveis no Brasil. Se não houvesse homens e mulheres levantados por Deus e versados na erudição (línguas hebraica, grega, aramaica, egípcia e outras; a cultura oriental; a arqueologia para se achar manuscritos dos mais antigos possíveis), por certo, não teríamos a Bíblia traduzida em nosso idioma. Por isso, valorize quem se esmera por conhecer mais as Escrituras.
OBJETIVOS
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Aprender que Jesus, o mestre da Galileia, é mestre por excelência.
Identificar a ordem de Jesus aos seus discípulos para ensinar a igreja do primeiro século.
Saber da importância do dom ministerial de ensinador na igreja local.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Prezado professor, no terceiro tópico da lição o autor afirma: “Em nosso país, a leitura é um problema cultural. Se as pessoas leem pouco, a igreja pouco lerá”. Partindo do princípio que essa afirmação é um fato verdadeiro no contexto cultural brasileiro, selecione um texto que achar pertinente e leve para a sala de aula. No final da lição, proponha a turma uma roda de leitura. Esta atividade objetiva estimular o hábito de leitura. Então, distribua o texto ora escolhido e peça a um ou dois alunos para lerem. Ao término, discuta o texto com os alunos. Conclua dizendo como pode ser prazeroso e construtivo cultivar o hábito de ler.
PALAVRAS-CHAVE
Doutor ou Mestre: Pessoa que manifesta sapiência.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
O ministério do ensino da Palavra é primordial para a igreja exercer o discernimento no que tange ao tempo em que vive (culturas, teologia, filosofias etc.). Tão importante é a função do mestre na igreja que as Escrituras declaram o quanto ele deve esforçar-se intelectualmente para exercer tão nobre tarefa (Rm 12.7; 1 Tm 4.13). É uma tarefa importante e indispensável que exige muito de quem a desempenha.
I - JESUS, O MESTRE POR EXCELÊNCIA
1. O mestre da Galileia. Doutor incomparável, “percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, e pregando o evangelho do Reino [...]” (Mt 4.23). No ministério terreno, seus sermões, ensinos e discursos eram inflamados pelo amor às pessoas. Diferente dos escribas, Ele ensinava como quem tinha autoridade (Mt 7.28,29). A verdade emanava da pessoa de Jesus! Os que o ouviam só tinham duas opções: amá-lo ou odiá-lo. Era impossível ouvi-lo e ficar indiferente. Jesus transtornava a consciência do acomodado e aquietava o coração do perturbado.
2. O mestre divino. Em visita a Jesus, um mestre da Lei chamado Nicodemos, educado nas melhores escolas religiosas de Israel e grande conhecedor das Escrituras hebraicas, reconheceu em Jesus um personagem incomum de seu tempo (]o 3.1,2). Esse mesmo fariseu, que era príncipe dos judeus, afirmou que o Nazareno não poderia fazer o que fazia se Deus não fosse com Ele. Jesus é chamado Mestre cerca de quarenta e cinco vezes ao longo do Novo Testamento.
3. O mestre da humildade. A fim de ensinar os discípulos acerca da humildade, Jesus “levantou-se da ceia, tirou as vestes e, tomando uma toalha, cingiu- -se. Depois, pôs água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugarmos com a toalha com que estava cingido” (Jo 13.4,5). Que cena chocante para os judeus! A pergunta de Pedro descreve essa perplexidade (v.6). Era inimaginável um mestre encurvar-se para lavar os pés de pessoas leigas. Jesus era um mestre e deu o exemplo aos discípulos. O Emanuel, “Deus conosco”, encurvou-se diante dos homens! Isso se deu porque o ensino de Jesus não era mero discurso, mas “espírito e vida” (Jo 6.63). Ele nos convida a fazer o mesmo: “Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.13-15).
SINOPSE DO TÓPICO (1)
Jesus, o mestre da Galileia, é reconhecido em o Novo Testamento tanto como o Mestre Divino quanto o Mestre da humildade.
II - O ENSINO DAS ESCRITURAS NA IGREJA DO PRIMEIRO SÉCULO
1. Uma ordem de Jesus. Antes de ascender aos céus, de modo solene Jesus determinou aos seus discípulos que ensinassem “todas as nações [...] a guardar todas as coisas” que Ele tinha ordenado (cf. Mt 28.19,20). O livro de Atos registra a obediência dos primeiros apóstolos no cuidado de cumprir a determinação de Jesus. Após a descida do Espírito Santo (At 2.1-6),
o discurso de Pedro foi um verdadeiro ensino proferido no poder do Espírito Santo (At 2.14-40). Tendo em vista a plena edificação da Igreja na Palavra, o Senhor Jesus, através do Espírito Santo, dotou alguns de seus servos com o dom ministerial de mestre ou doutor (Ef 4,11). Esse dom é uma capacitação sobrenatural do Espírito. Isso não significa, porém, que devemos descuidar de nossa formação intelectual, pois o preparo para o ensino passa pela capacidade de aprender para posteriormente ensinar.
2. A doutrina dos apóstolos. O texto de Atos 2.42 informa-nos que os primeiros convertidos “perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”. Além disso, acrescenta que em “cada alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos” (v.43). A “doutrina dos apóstolos” aqui referida trata-se do conjunto de ensinos de Cristo ministrados por eles de forma constante e eficaz para o crescimento integral dos novos crentes.
3. Ensinamento persistente. Os primeiros mestres das Escrituras foram os integrantes do Colégio Apostólico (At 5.42, cf. vv.40,41). A Igreja começou nas casas, onde o ensino era ministrado a pequenos grupos nos lares. Falando aos anciãos de Éfeso, o apóstolo Paulo mostrou-se como um verdadeiro mestre que ensinava “publicamente e pelas casas, testificando, tanto aos judeus como aos gregos, a conversão a Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20.20,21). Deus havia preparado homens para ensinar e levantado “doutores” na igreja em Antioquia (At 13). O Pai Celestial igualmente deseja levantar mestres em sua igreja. Vivemos dias em que este ministério nunca foi tão necessário.
SINOPSE DO TÓPICO (2)
O ensino na igreja do primeiro século foi ordenado por Jesus para os apóstolos ensinarem persistentemente.
Ill - A IMPORTÂNCIA DO DOM MINISTERIAL DE MESTRE
1. Uma necessidade urgente da igreja. Para o ministério de ensino ser eficaz na igreja local é preciso haver pessoas vocacionadas. Não são todas que reúnem informações exegéticas, históricas e literárias da Bíblia, aplicando-as como é necessário. Deus concedeu à sua igreja mestres, e é preciso que ela invista neles também. Muitas vezes, por absoluta falta de preparo dos obreiros, predomina a superficialidade bíblica, a infantilidade “espiritual” e o aumento do engano promovido pelas astúcias dos falsos mestres (2 Pe 2.1). Esse dom do Senhor é para a igreja amadurecer em todas as dimensões da vida cristã, ao mesmo tempo em que desmascara os falsos ensinos (Ef 4.14; Os 4.6).
2. A responsabilidade de um discipulado contínuo. Estamos acostumados a pensar que o discipulado termina quando o novo convertido é batizado. Não há nada mais equivocado! O Senhor Jesus chamou-nos para ser os seus discípulos por toda a vida. Por isso, quem ensina instrui os crentes para a maturidade da fé.
É um aprendizado diário, permanente e contínuo, tanto para quem é discipulado quanto para quem está discipulado!
3. Requisitos necessários ao mestre. Apresentaremos alguns requisitos importantes para a igreja reconhecer pessoas com o dom ministerial de mestre em nossa época:
a) Um salvo em Cristo. Não pode haver dúvidas quanto à própria experiência salvífica por parte do vocacionado para o ministério do ensino (2 Tm 2.10-13). Infelizmente há pessoas que não creem naquilo que ensinam. Assim, não há verdade nem firmeza nelas.
b) O hábito de ler. Em nosso país, a leitura é um problema cultural. Se as pessoas leem pouco, a igreja pouco lerá. Entretanto, como ensinaremos se não lermos? O hábito da leitura era levado a sério no ministério do apóstolo Paulo (1 Tm 4.13; 2 Tm 4.13).
c) Preparo intelectual. A Bíblia é o instrumento de trabalho do ensinador cristão. Considerando este livro milenar, veremos que a cultura e o mundo da Bíblia são diferentes do nosso. Por isso, o mestre deve compreender o mundo da Bíblia (suas questões culturais, linguísticas, exegéticas etc.) para não fazer apelações fantasiosas, apresentando-as como exposição da Palavra de Deus. d) Um coração em chamas. Martin Loyd-Jones dizia que a verdadeira pregação era teologia em fogo. É vontade de Deus que o vocacionado ao ensino utilize os avanços das ciências bíblicas para pregar a Palavra de Deus na força do Espírito Santo. Precisamos alcançar as mentes e os corações dos nossos dias, e isto apenas será possível quando tivermos obreiros com uma mente bem preparada e conectada a um “coração em chamas” e apaixonado por Jesus (At 3.12-26).
SINOPSE DO TÓPICO (3)
O dom ministerial de mestre é uma necessidade para a igreja local e uma responsabilidade para um discipulado permanente.
CONCLUSÃO
É preciso desfazer a ideia propagada ao longo de décadas acerca do preparo intelectual do crente. Não é verdade que necessariamente ele esfriará na fé se estudar. Se fosse assim Paulo seria o mais frio dos apóstolos do Novo Testamento, pois não havia obreiro mais bem preparado que ele (At 17.15-34; Tt 1.12). Este, no entanto, soube conjugar preparo intelectual e poder do alto. É disso que as nossas igrejas precisam: homens cheios do Espírito, mas do mesmo modo, com a mente iluminada para responder, com mansidão e temor, a razão da nossa esperança (1 Pe3.15).
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO I
Subsídio Teológico
“MESTRE
Nas Escrituras, essa palavra está geralmente designando uma pessoa que é superior a outras, em poder, autoridade, conhecimento ou em algum outro aspecto. Várias palavras são traduzidas como ‘mestre’ nas várias versões da Bíblia Sagrada. A palavra hebraica mais frequente, ’adon, significa ‘soberano' ou ‘senhor’. O significado literal de várias palavras gregas varia de ‘instrutor’ ou didaskalos, como em Mateus 10.24, até ‘déspota’ ou despotes, com em 1 Pedro 2.18. Outra palavra grega traduzida como ‘mestres, epistates, significa ‘meu mestre’ (‘superior’ ou ‘professor’), com em João 4.31. [...] Duas palavras gregas para ‘mestres’ ocorrem em Mateus 23.8-10, ‘Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi [rhabbi, ‘meu mestre’, ou ‘professor’], a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres [kathegetes, ‘líderes’], porque um só é vosso Mestre, que é o Cristo" (PFEIFFER, Charles F.; REA, John; VOS, Howard F. (Eds.). Dicionário Bíblico Wydiffe. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, pp. 1261,62).
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
ARAÚJO, Carlos Alberto R. A Igreja dos Apóstolos: Conceito e Forma das Lideranças na Igreja Primitiva, l.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. GANGEL, Kenneth O.; HENDRII CKS, Howard G (Eds.), Manual de Ensino para o Educador Cristão: Compreendendo a natureza, as bases e o alcance do verdadeiro ensino cristão, 4.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
EXERCÍCIOS
1. Quais eram as duas opções de quem ouvia o Mestre dos mestres?
R: Amá-lo ou odiá-lo.
2. O que Jesus fez a fim de ensinar acerca da humildade?
R: O mestre da Galileia “levantou-se da ceia, tirou as vestes e, tomando uma toalha, cingiu-se. Depois, pôs água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-Ihos com a toalha com que estava cingido” (Jo 13.4,5).
3. Qual foi a ordem de Jesus para a Igreja antes de ascender aos céus?
R: Determinou aos seus discípulos que ensinassem “todas as nações [...] a guardar todas as coisas” que Ele tinha ordenado.
4. De acordo com a lição, o que significa a doutrina dos apóstolos?
R: Trata-se do conjunto de ensinos de Cristo ministrados por eles, de forma eficaz, a fim de produzir crescimento integral aos novos crentes.
5. O que é necessário para que o ministério de ensino na Igreja seja eficaz?
R: É preciso haver pessoas vocacionadas.
Revista Ensinador Cristão CPAD, n° 58, p.41.
Vivemos num tempo de avanço tecnológico e de multiplicação das informações em distintas áreas do conhecimento. Basta um computador conectado à internet e, pronto: um mundo outrora desconhecido agora se abre para você. Possivelmente, o seu aluno conhece o assunto a ser lecionado nesta semana. Certamente ele pesquisou muita coisa em livros e na internet. E pode ter acumulado até mais informação que o conteúdo preparado para a sua aula. Este é o nosso mundo globalizado!
Nesta lição, o nosso desafio é explicar como se pode relacionar o dom ministerial de mestre com as urgências existenciais dos dias contemporâneos. Não por acaso, ela abre o tema analisando o ministério do ensino em Jesus de Nazaré. O mestre da Galileia era antenado com as circunstâncias sociais, políticas e espirituais do seu tempo. Com propriedade, Jesus ensinou sobre a política, as prevenções contra o materialismo e confrontou os discípulos a respeito do verdadeiro sentido da vida humana. Levando sempre uma proposta de vida segundo a perspectiva do Reino de Deus. É a urgência da tarefa de todo educador cristão: levar os alunos a pensarem as demandas da existência à luz do Evangelho e segundo os aspectos positivos e negativos do Reino de Deus (Mt 5-7).
Preeminência do ministério do mestre
Podemos afirmar historicamente que, logo após a morte dos santos apóstolos, as testemunhas da ressurreição do Senhor, os mestres eram líderes chaves na comunidade antiga, assim como os profetas, os evangelistas e os pastores. Ao ponto de a Bíblia registrar a exortação apostólica: "Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina" (1Tm 5.17). Os presbíteros que se dedicavam ao exame da Palavra de Deus eram estimados por duplicada honra porque eles se afadigavam dia e noite para compreender os mistérios divinos (Rm 12.7). A mensagem do Reino tinha de fazer sentido na vida dos cristãos de outrora.
Caro professor, o Pai concedeu o dom ministerial do mestre para a sua Igreja atingir a estatura de Cristo em sua plenitude. Portanto, estude, persista em ler e reflita acerca da fé; não se esqueça de que os nossos alunos devem enfrentar as questões da vida sob o prisma da mensagem do Reino de Deus. E você professor, é um instrumento essencial nesse processo de formação cristã.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Entre os dons ministeriais, concedidos por Deus para edificação e “aperfeiçoamento dos santos”, nas igrejas locais, está o de “doutor” ou “mestre”. Não é um dom muito reconhecido em geral, nas comunidades cristãs, por falta de entendimento acerca do seu valor, ou até por preconceito contra esses termos. As pessoas não têm qualquer receio de tratar um obreiro como “pastor”, “evangelista”, “bispo” ou até “apóstolo”, nos dias presentes. Mas não é comum um obreiro, que tem o dom de mestre ser chamado de “mestre” ou “doutor”. Isso se deve à visão que se tem do que é ser dotado de capacidade para o exercício desse dom ministerial, tão importante quanto os demais dons de Deus. Ou pelo “ar de superioridade” que alguns demonstram no exercício desse dom.
Em parte, também, percebe-se que, em muitos casos, os mestres ou doutores não têm a devida humildade no exercício do dom que Deus lhes concedeu. Alguns, ressaltamos, portam-se com diletantismo ou soberba, pelo fato de serem intelectualmente mais galardoados do que outros. Há até os que cobram “cachê” para ensinar, seguindo o exemplo de cantores ou pregadores, que só servem por dinheiro, e mercantilizam os dons e talentos que são concedidos por Deus. Não se deve generalizar em caso algum o comportamento dos obreiros. Há os mestres ou doutores que, a despeito de seu elevado grau de conhecimento bíblico, teológico e secular, são humildes e sinceros, colocando-se como servos a serviço das igrejas.
Os bons mestres ou ensinadores são muito úteis às igrejas locais. Muitas vezes, os pastores, assoberbados com as atividades administrativas, construindo templos, cuidando do patrimônio, em viagens pastorais, e tantas atividades, próprias dos que realmente trabalham em prol da obra do Senhor, não têm tempo de preparar estudos e mensagens substanciais, para alimentar a igreja local. E recorrem aos mestres ou ensinadores, para que lhes ajudem nessa imensa tarefa de edificar o rebanho. Quando o pastor também é mestre pode suprir a igreja com o ensino da Palavra. Mas nem todo pastor tem esse dom. Assim como nem todo mestre tem o dom de pastor.
A atividade primordial do mestre, doutor ou ensinador é cuidar do ensino fundamentado da Palavra de Deus. É tão importante que a Bíblia requer que haja dedicação ao exercício desse dom. “...se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino ’ (Rm 12.7 — grifo nosso). Talvez seja uma das grandes falhas em muitos ministérios, nas igrejas, a falta de dedicação ao ensino. Há pessoas que querem ensinar sem o mínimo preparo para essa atividade. Nos tempos pós-modernos, mais do que nunca, existe a necessidade de bons ensinadores. Há questionamentos e problemas que não havia há alguns anos. E muitos pastores não estão preparados para dar respostas adequadas ao rebanho.
O avanço das ciências, das tecnologias, as questões da bioética, as mudanças rápidas no comportamento social provocam questões que exigem, não só o conhecimento bíblico e teológico, mas também secular.
O mestre, doutor ou ensinador precisa ter o cuidado de não se considerar superior ao pastor ou dirigente de uma congregação, pelo fato de ter mais conhecimento que a média dos obreiros. Humildade, modéstia, sabedoria e equilíbrio são qualidades indispensáveis aos que são dotados por Deus de mais capacidade para se dedicarem ao ensino. Mais cuidado ainda deve ter o mestre, pois deles será requerido mais, como diz Tiago: “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo” (Tg 3.1).
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 118-119.
ENSINO
A importância do ensino Cristão
1. Ensinemos por meio de palavras, pela mensagem dos hinos, pela força do exemplo. O ensino faz parte da Grande Comissão (ver Mat. 28:20).
2. Os dons espirituais existem para servir de auxilio no ministério do ensino, e o alvo de tudo é a maturidade espiritual, o crescimento e o aperfeiçoamento dos santos (ver Efé. 4:11 e ss).
3. Os verdadeiros mestres são dádivas divinas à igreja, para seu beneficio (ver Efé. 4:11). E o dom do «conhecimento. é dado especialmente aos mestres, a fim de que sejam eficazes em seu ministério (ver I Cor. 12:8).
4. O ensino tem um efeito edificador. Portanto, é importante, se a igreja tiver de ser edificada. O ensino é vital para esse propósito.
5. As Escrituras Sagradas nos foram transmitidas nessa forma escrita a fim de que o ministério do ensino fosse facilitado e se tomasse mais eficaz.
6. Acima de tudo o mais, Cristo foi o Mestre Suprem o. Se seguirmos o exemplo que nos deixou, sem dúvida haveremos de ensinar.
7. Aqueles que somente evangelizam, negligenciando o ensino cristão, terão de contentar-se com uma igreja infantil, carnal, com disputas e cisões na igreja local. Um povo faminto espiritualmente, será um povo infeliz.
8. A ausência de ensino cristão arma o palco para a apostasia. (ver Heb. 6:1 e ss).
9. Chega um tempo, na vida de cada crente, que se espera que ele se tome um mestre, e não um aprendiz (ver Heb. 5:12).
10. Observemos a importância emprestada por Paulo à necessidade de haverem homens bons que sejam mestres de outras pessoas na fé cristã, para que esta possa passar de uma geração à outra (ver 11 Tim, 2:2).
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 2. Editora Hagnos. pag. 390.
No Novo Testamento
Terminologia. Alguma forma da palavra "ensinar" é usada em várias versões para traduzir cinco termos gregos, quatro dos quais são precisamente traduzidos pela versão RSV em inglês.
1. O grego matheteuo, "ser" ou "fazer um discípulo" (Mt 28.19; At 14.21).
2. O grego paideuo, "educar" ou "treinar" (At 22.3; Tt 2.12).
3. O grego katecheo, "instruir" (1 Co 14.19; Gl 6.6 duas vezes).
4. O grego kataggello, "proclamar" (At 16.21; RSV "advogar").
5. O grego sophronizo, "encorajar", "aconselhar" (Tt 2.4).
A versão RSV em inglês traz o termo "ensino" em Lucas 10.39 como a tradução do termo logos.
A ideia transmitida pela palavra "ensinar", por seus cognatos e compostos reside inteiramente sobre alguma forma do verbo didasko.
Deus como mestre. Paulo afirmou que sua pregação não consistia de palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas pelo Espírito (1 Co 2.13). O apóstolo absteve-se de falar sobre o amor fraterno aos tessalonicenses, porque afirmou que eles foram instruídos por Deus a amarem-se uns aos outros (1 Ts 4.9). O Senhor Jesus encorajou seus discípulos a não se preocuparem com o que deveriam dizer nas ocasiões de perigo e perseguição, porque naquela mesma hora o Espírito Santo lhes ensinaria o que deveriam dizer (Lc 12.12). O Espírito Santo, disse o nosso Senhor, viria como um Paracleto e ensinaria todas as coisas aos seus discípulos (Jo 14.26). A unção do Espírito é o tutor perpétuo do crente (1 Jo 2.27).
O Senhor Jesus como mestre. O ministério de Jesus por toda a Palestina é descrito como sendo essencialmente de ensino, seja para as multidões casuais ou para os seus próprios discípulos; quer nas sinagogas, nos lugares públicos, ou na audiência dos líderes religiosos (Lc 5.17). O efeito sobre suas reuniões era impressionante e reforçava a convicção de que Ele ensinava não como os escribas, mas como alguém que possuía autoridade (Mt 7.28ss.; 13.54; Mc 1.22; 6.2; cf. Lc 4.32). Veja Autoridade. O Senhor Jesus afirmou que as palavras que Ele falava lhe haviam sido ensinadas por Deus Pai (Jo 8.28), e que seu ensino vinha do Pai (Jo 7.16ss.). Seu ensino foi caracterizado pelo uso frequente de parábolas (Mc 4.2).
Nicodemos reconheceu que Jesus era um mestre vindo de Deus, e que isto fora atestado por obras poderosas (Jo 3.2). Os principais dos sacerdotes e escribas o interrogaram quanto à fonte de sua autoridade de ensino (Mt 21.23; cf. Jo 18.19). Até mesmo os seus adversários admitiram francamente que o Senhor ensinava o caminho de Deus imparcialmente, independente do temor ou do favor do homem (Mc 12.14; Lc 20.21; Mt 22.16; cf. Jo 18.19). Certamente, todos estavam admirados com seu ensino (Mt 7.28; 13.54; 22.33; Mc 1.22; 11.18) e perguntaram se era um novo ensino (Mc 1.27). Em seu circuito inicial na Galileia, Cristo foi glorificado por todos devido ao seu ensino (Lc 4.15). Nos últimos dias de seu ministério, Ele estava diariamente no templo ensinando (Lc 19.47; 20.1; cf. Mc 14.49; Jo 18.20). Seu ministério foi caracterizado pela ativi-dade que os judeus - entendendo mal algumas de suas declarações - questionavam, não sabendo se Ele iria ensinar a Diáspora e os gentios (Jo 7.35).
A reputação do Senhor Jesus Cristo como mestre rapidamente lhe trouxe o respeitoso título de rabi (q.v.), ou raboni ("meu senhor", um extraordinário título para um mestre distinto) por parte de seus discípulos (Mc 9.5; 11.21; Jo 1.49), daqueles que o ouviam (Mc 12.14; Jo 3.2), e até mesmo de seus inimigos (Lc 10.25; 11.45; 19.39; 20.28). Este título aramaico às vezes é deixado sem uma tradução, às vezes é interpretado, porém é mais frequentemente traduzido pela palavra grega didaskalos ("mestre" ou "professor"), que embora não seja uma tradução literal é verdadeira no sentido do contexto original. O Senhor Jesus aceitou este título como indicativo do verdadeiro relacionamento existente entre si mesmo, como mestre, e os seus seguidores, como discípulos (Jo 13.13; Lc 6.40; Mt 10.24ss.). O tema central no ensino do Senhor Jesus era
o reino de Deus (Mt 5.2; 9.35). Lucas descreveu o relato de seu Evangelho como pertencendo a tudo o que Jesus começou tanto a fazer como a ensinar (At 1.1). Dentre as muitas lições que o Senhor Jesus ensinou aos seus discípulos, os evangelistas escolheram várias para as suas menções particulares; por exemplo, o Sermão do Monte (q.v.); o pedido de seus discípulos para que lhes ensinasse a orar (Lc 11.1): sua rejeição, morte e ressurreição em Jerusalém (Mc 8.31; 9.31); e sua segunda vinda (Mt 24-25; Mc 13; Lc 17.20-27; 21). Os apóstolos como mestres. Durante seu ministério, o Senhor Jesus enviou os seus discípulos para ensinar (Mc 6.30). Mais tarde, o Senhor mandou que fizessem discípulos de todas as nações, e ensinando-os a observar tudo o que Ele havia ordenado (Mt 28.20). Depois do Pentecostes, que ocorreu após a ascensão, os apóstolos ensinaram ao povo que o Senhor Jesus ressuscitou dos mortos (At 4.2). O concílio judeu mandou que Pedro e João desistissem de ensinar no nome de Jesus (At 4.18), uma ordem que eles não atenderam, e foram presos no templo enquanto continuavam a ensinar (At 5.21, 24ss.). Apesar de uma outra severa advertência das autoridades, os apóstolos continuaram a ensinar e pregar a Jesus Cristo (At 5.42) até que toda Jerusalém estivesse repleta de seu ensino (At 5.28). Barnabé e Paulo ensinaram durante um ano inteiro na igreja que estava em Antioquia (At 11.26; cf. 15.35). O procônsul Sérgio Paulo ficou admirado com o ensino de Paulo sobre o Senhor Jesus (At 13.12). Quando os atenienses ouviram Paulo, eles o levaram ao Areópago para que pudesse lhes expor seu novo ensino (At 17.19). Paulo passou dezoito meses em Corinto ensinando a Palavra de Deus (At 18.11), e mais tarde lembrou aos presbíteros efésios que ele lhes havia ensinado publicamente e de casa em casa durante sua estada em Éfeso (At 20.20). Apolo, embora conhecendo apenas o batismo de João, ensinou diligentemente em Éfeso as coisas do Senhor (At 18.25). Os discípulos judeus acusaram Paulo diante de Tiago e dos presbíteros em Jerusalém, de ter ensinado os gentios a abandonar as leis de Moisés, a deixar a prática da circuncisão, e a abandonar os costumes judeus (At 21.21). Esta mesma acusação foi lançada pelos próprios judeus quando descobriram Paulo no templo e exclamaram contra ele como alguém que havia ensinado os homens em toda parte contra os judeus, a lei, e o templo (At 21.28). Pela palavra falada e escrita, os apóstolos ensinaram a mensagem do cristianismo aos seus contemporâneos. Mestres na igreja. Paulo refere-se repetidamente à sua designação como mestre dos gentios na fé e na verdade (1 Tm 2.7; 2 Tm 1.11) e de sua doutrina (2 Tm 3.10; 1 Co 4.17). Ele negou que o Evangelho que ele pregava tivesse sido ensinado por um homem; antes.
ele declarou que o recebeu pela revelação de Jesus Cristo (Gl 1.12). O ensino de Paulo foi dirigido a todos os homens em toda a sabedoria para que todo homem pudesse tornar-se maduro em Cristo (Cl 1.28; cf. Hb 6.1,2). Entre os dons e a capacitação do Cristo que subiu aos céus a fim de equipar e treinar os membros de seu Corpo, estavam a capacitação para se tornarem pastores e doutores (ou mestres; Efésios 4.11). Uma vez que os apóstolos, profetas e evangelistas tinham a princípio uma grande mobilidade, é provável que muitos dos mestres na igreja primitiva tenham tido um ministério de viagens, visitando os crentes em uma certa cidade por um período mais curto ou mais longo. É provável que a maioria ou todos os cinco homens citados em Atos 13.1 não estivessem residindo permanentemente em Antioquia. O papel do mestre na igreja era designado e desempenhado através da indicação Divina e da capacitação do Espírito (1 Co 12.28). A integridade e a fidelidade para com a tarefa do ensino são enfaticamente ordenadas (Rm 12.7; 1 Tm 4.11,13,16), tanto em sua preparação como em seu conteúdo (Tt 2.1,7; 2 Tm 4.2). Aqueles que ensinam devem ser considerados dignos de duplicada honra (1 Tm 5.17), e merecem o apoio daqueles que são ensinados (Gl 6.6). O aspirante a mestre é solenemente advertido de que esta ativida-de, em última instância, o envolverá em um julgamento mais rigoroso (Tg 3.1). Mas embora existam aqueles que são especialmente selecionados para ensinar na igreja, cada crente deve envolver-se neste ministério (Cl 3.16; 1 Co 14.6,26; Hb 5.12). Este deve ser para o benefício de todos, e não deve ser complacente com desordem na adoração da igreja (1 Co 14.6,19,26). O servo do Senhor deve ser apto para ensinar e evitar contendas (2 Tm 2.24). Embora as mulheres sejam proibidas de ensinar os homens na igreja (1 Tm 2.12), Paulo ordena que as mulheres idosas ensinem o que é bom enquanto educam as mulheres mais jovens (Tt 2.3). O ensino na igreja. Há uma referência no NT a uma tradição cristã apostólica denominada diferentemente de sã doutrina (Tt 2.7) ou de palavra fiel (Tt 1.9), que havia sido entregue à igreja (Rm 6.17; 16.17; Ef 4.21; Cl 2.7; 2 Ts 2.15; 2 Tm 2.2; Tt 1.9). Os primeiros discípulos em Jerusalém dedicaram-se ao ensino dos apóstolos (At 2.42). Parte desta tradição era o AT, que é proveitoso, diz Paulo, para o ensino (Rm 15.4; 2 Tm 3.16; cf. 1 Tm 1.8-10). O ensino cristão, e somente ele (1 Tm 1.3), deve ser confiado aos homens que crêem, que por sua vez serão capazes de ensinar aos outros também (2 Tm 2.2; cf. 1 Tm 4.11). O presbítero, portanto, deve ser apto para ensinar (1 Tm 3.2), e deve permanecer firme na palavra fiel que lhe foi ensinada, para que possa dar instrução na sã doutrina e oferecer uma apologia eficaz para
a fé (Tt 1.9). A obediência ao padrão da doutrina é creditada com o poder moral para libertar o crente da escravidão do pecado (Rm 6.17). A doutrina está de acordo com a piedade (1 Tm 6.3) e fornece o alimento espiritual necessário ao crente (1 Tm 4.6). Outros usos. O menino Jesus foi encontrado por sua família sentado entre os doutores da lei no templo (Lc 2.46), Nicodemos foi chamado, por nosso Senhor, de mestre de Israel (Jo 3.10 etc). João Batista ensinou a seus discípulos como orar (Lc 11.1). O Senhor Jesus adverte que aquele que infringe o menor mandamento e assim o ensina aos homens, será o menor no reino; e, ao contrário, aquele que observa e ensina corretamente aos homens será grande no reino (Mt 5.19). Jesus censurou os escribas e os fariseus por adorarem a Deus de forma vã, ensinando como doutrinas os preceitos dos homens (Mt 15.9; Mc 7.7; cf. Is 29.13). Falso ensino. Entre os cristãos na Judeia havia aqueles que ensinavam a necessidade da circuncisão para a salvação, uma doutrina mais tarde repudiada pelo Concílio de Jerusalém (At 15.1). Paulo faz menção dos preceitos e ensinos humanos que prescrevem regulamentos rituais aos quais os cristãos não devem submeter-se (Cl 2.20-22). Ele adverte Timóteo que nos anos futuros alguns iriam afastar-se da fé dando ouvidos a doutrinas de demónios (1 Tm 4.1), enquanto outros reuniriam em torno de si mestres que se adequassem aos seus próprios desejos (2 Tm 4.3). Em outras passagens está previsto que os falsos mestres trarão heresias destrutivas à igreja (2 Pe 2.1). Paulo rogou a Timóteo que ensinasse as sãs palavras de Jesus, e que rejeitasse aqueles que ensinam de outra maneira (1 Tm 6.2ss.). O apóstolo ensinou que havia aqueles que deveriam ser silenciados visto que estavam perturbando famílias inteiras ensinando basicamente o que não tinham o direito de ensinar (Tt 1.11), e também adverte Timóteo contra os judaizantes que desejavam, em vão, se tornar mestres da lei (1 Tm 1.7). O mesmo apóstolo exortou os efésios à integração espiritual e à participação vital de todos dentro da igreja, para que eles não fossem agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina (Ef 4.14). O autor da epístola aos Hebreus adverte seus leitores a não se deixarem envolver por doutrinas várias e estranhas (Hb 13.9), enquanto João ordena aos seus leitores que não se associem a alguém que não permaneça na doutrina de Cristo (2 Jo 9,10). A igreja em Pérgamo é criticada por ter alguns que aderiram ao ensino de Balaão e à doutrina dos nicolaítas (Ap 2.14), enquanto a igreja em Tiatira é censurada por tolerar o ensino de Jezabel (Ap 2.20,24). Veja Castigo; Discípulo; Educação; Liderar, Líder; Parábola; Parábolas de Jesus; Rabi.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 647-650.
Os versículos 7-8 acrescentam: Se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou o que exorta, use esse dom em exortar. Colocada ao lado de ensinar, a palavra exortar sugere pregação. Sobre o significado de exortação (dom de exortar), veja os comentários sobre o versículo 1. No entanto, Barrett nos lembra que precisamos evitar fazer uma distinção muito precisa entre ensinar e exortar. “Cada um destes termos significa uma comunicação da verdade do evangelho ao ouvinte, efetivada de diversas maneiras: em uma delas, é explicada - em outra, é aplicada. Contudo, esta comunicação nunca deve ser explicada sem ser aplicada, nem aplicada sem ser explicada”.
William M. Greathouse. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 164.
E um belo dom,
que o use e ocupe-se dele. “...se é ensinar, haja dedicação ao ensino”; assim alguns o complementam, ho didaskon, en te didaskalia. Que ele seja regular, constante e diligente no ensino; que permaneça naquilo que é a sua própria função, e esteja nela como em seu ambiente natural (veja 1 Tm 4.15,16, onde isso é explicado por duas palavras: em toutois isthi e epimene autois, estar nessas coisas e continuar nelas). Em segundo lugar, que aquele que exorta sirva na exortação. Que ele se dedique a isso. Esse é o trabalho do pastor, como o anterior é o do mestre; aplicar as verdades e as regras do evangelho mais próximas à situação e à condição das pessoas e inculcar nelas aquilo que for mais prático. Muitos que são muito hábeis em ensinar podem, no entanto, ser muito frios e inábeis em exortar; e vice-versa. De um se requer uma cabeça esclarecida, de outro, um coração aquecido. Agora, onde esses dons estiverem claramente separados (de modo que um sobressaia em um e outro em outro) gera edificação dividir o trabalho adequadamente e, qualquer que seja a tarefa de que nos encarregamos, vamos nos dedicar a ela. Cuidar do nosso trabalho é entregar o melhor de nosso tempo e pensamentos a ele, aproveitar todas as oportunidades para ele e não apenas refletir em como fazê-lo, mas fazê-lo bem.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 389.
Nas páginas do N.T., o vocábulo «...ministério...» geralmente aparece vinculado a alguma forma de ministração física, como no caso do serviço prestado por Marta (ver Luc. 10:40), embora também possa indicar alguma forma de serviço espiritual, como 0 serviço prestado pelos anjos aos herdeiros da salvação, conforme lemos em Heb. 1:14. No trecho de II Cor. 3:7, essa mesma palavra é usada para falar sobre o ministério geral de Moisés. Pode significar uma destas coisas:
1. O serviço geral, físico ou espiritual, relativo às coisas temporais ou às realidades eternas.(Ver I Cor. 12:5; Efé. 4:13 e II Tim. 4:11).
2. Pode aplicar-se a ofício apostólico com suas diversas administrações. (Ver Atos 20:24; II Cor. 4:1 e I Tim. 1:12). Isso é vinculado ao ministério da reconciliação. (Ver II Cor. 5:18; Atos 6:4 e II Cor. 3:8,9).
3. Não é palavra especificamente usada para indicar o ofício diaconal, embora este seja referido por uma palavra cognata (proveniente da mesma raiz), isto é, «diakonos», que ocorre nesse sentido em Fil. 1:1 e I Tim. י . 3:8,12.
Vê-se, portanto, que a palavra «ministério» se aplica tanto ao serviço físico como ao serviço espiritual, os serviços mais chãos e mais elevados que podem ser realizados na igreja. (Ver Atos 6:1,4). Por conseguinte, é difícil nos decidirmos com certeza sobre o seu significado preciso, neste versículo do décimo segundo capítulo da epístola aos Romanos. O que se sabe é que essa palavra é distinguida da profecia, da exortação e do ensino, favorecendo a interpretação que pensa em um «serviço físico», como se se tratasse de atos de magnanimidade, em que aos necessitados são providos alimentos e em que se presta socorro aos necessitados em geral, segundo caiba por dever aos diáconos originais, no que tange à sua função na igreja local, não visando 0 seu ministério de modo geral; porquanto muitos dos diáconos eram quase apostólicos quanto ao caráter de suas funções espirituais. (Quanto a isso, basta-nos considerar os exemplos de Estêvão e Filipe, os quais haviam sido numerados entre os diáconos originais. Ver as notas expositivas sobre os «diáconos originais», bem como seu ofício, em Atos 6:2,5,6. Quanto à importância das «esmolas», para o judaísmo e para o cristianismo primitivo, ver Atos 3:2 e os comentários ali existentes. A leitura desses comentários dará ao leitor uma boa idéia dos motivos pelos quais Paulo salientou especificamente esse suposto serviço braçal, um tipo de ministração puramente física, como importante. E possível que a igreja cristã primitiva, seguindo os padrões práticos do judaísmo, fosse mais sensível para as necessidades físicas do povo, ao mesmo tempo que não negligenciava as necessidades espirituais dos homens).
Moule (in loc.) observa acerca desse «ministério» como segue: «Quase que cada trabalho, diferente das declarações inspiradas ou das operações miraculosas, pode ser incluso aqui». Assim também manifestou-se Godet (in loc.): «Uma atividade de natureza prática, exercida por meio de ação, e não de palavra».
Alguns estudiosos pensam que está aqui em foco o ofício específico dos «diáconos»; porém, apesar desse ofício estar naturalmente incluído, as funções aludidas neste versículo parecem ser muito mais amplas que aquelas que cabem aos diáconos.
Sanday e Headlam comentam (in loc.) concordando de forma geral com a interpretação apresentada acima: «...(palavra) usada ou geralmente, para indicar todas as ministrações cristãs (conforme se vê em Rom. 11:13; I Cor. 12:5 e Efé. 4:12), ou, mais especialmente, para indicar a administração de esmolas e socorros às necessidades físicas dos outros (segundo se vê em I Cor. 16:15 e II Cor. 8:4). Neste caso, a distinção com ‘profecia’, ‘ensino’ e ‘exortação’ parece exigir 0 sentido mais limitado».
«...dediquemo-nos ao ministério...» Essa «dedicação» não aparece no original grego, embora seja corretamente suprida na tradução. Literalmente, o trecho original diz: «...se serviço, no nosso servir». Se porventura o nosso dom consiste do humanitarismo, isto é, do elevado senso sobre as necessidades materiais alheias, devemos então dedicarmo-nos ao cumprimento dessa missão. Com esse tipo de ação cristã podemos comparar o trecho de Tia. 2:14-20, que fala sobre a comprovação da fé cristã, através dessa ministração. Vemos em Tiago a menção ao «alimento cotidiano» (versículo quinze), bem como à carência de «roupa». Sem esses cuidados para com os irmãos, a fé é declarada «morta».
Tudo isso serve para mostrar-nos quão importantes eram essas questões aos olhos da primitiva igreja cristã, o que também fica demonstrado pela própria nomeação dos diáconos originais. Não podemos ocultar o fato de que essa forma de ministração ocupa um lugar de muito menor destaque e importância, até mesmo nas chamadas igrejas evangélicas. Mas Deus certamente se agrada com aqueles que cuidam de seus irmãos na fé, ainda quando isso não envolve nenhum dom «espiritual» especial, como o do ensino ou o da profecia. Aqueles que possuem o espírito humanitário são o sal da terra, ainda que seu trabalho não pareça tão glorioso como 0 daquele que usa de palavras elevadas e de forma bela, a fim de persuadir aos homens sobre as verdades bíblicas.
«...o que ensina, esmere-se no fazê-lo...» (Ver as notas expositivas acerca da importância do «ensino», em Atos 20:20). Uma vez mais, o original grego diz tão-somente, «...aquele que ensina, no seu ensino...», deixando subentendida a ideia de «dedicação» ou «diligência». Aquele cujo ofício consiste em ensinar, deveria esforçar-se por aprimorar os seus conhecimentos, por melhorar a eficácia dos seus métodos de ensino, aumentando 0 seu interesse pessoal por aqueles que são os seus alunos. Um dos mais graves escândalos das modernas igrejas evangélicas é que a grande maioria dos seus mestres em nada melhora com a passagem dos anos, incluindo-se nisso tanto o conhecimento como os métodos empregados, como também não demonstram crescente interesse pessoal pelo bem-estar de seus alunos. Pois não é verdade que muitos pastores e outros ministros, depois de terminarem algum curso bíblico, em um instituto bíblico ou em um seminário qualquer, nunca mais envidam esforço para melhorarem, mas de ano após ano não apresentam qualquer mudança para melhor, dizendo sempre as mesmas coisas e da mesma maneira? Ponderamo-nos admirar, portanto que, neste nosso mundo moderno, onde 0 conhecimento geral aumenta de forma assustadora, tantos se sintam enfadados das igrejas, até que finalmente se desviam de todo? Não é suficiente proferir dogmas contínuos, sem variação e sem imaginação. Ninguém pode tolerar esse tipo de ministério para sempre. Esse tipo de ministério não corresponde aos problemas de nossa complexa sociedade contemporânea. No entanto, que o ensino bíblico é importante se toma imediatamente evidente através do fato que a Grande Comissão ordena-nos não somente evangelizar, mas igualmente ensinar, e ensinar «todas as coisas» que ele nos ordenou.
Ensinar mediante o «exemplo» também é importante, embora se trate de um aspecto olvidado por tantos mestres cristãos. (Há notas expositivas sobre essa questão em Atos 12:25. Ver também a distinção entre «profetas» e «mestres», em Atos 13:1 e Efé. 4:11). A distinção é que os mestres, apesar de serem-no por dom celestial, não se encontram sob inspiração imediata, de modo que lhes permita revelar alguma coisa nova, embora tenham à sua disposição certa forma de inspiração, que empresta autoridade àquilo que dizem. A inspiração dos mestres, entretanto, é muito mais sutil que a inspiração dos «profetas», pois a inspiração dos «mestres» vem mais por meios naturais, e não tanto por meios mais obviamente sobrenaturais e externos. Os mestres não precisam possuir quaisquer habilidades «psíquicas», o que sempre assinala o ofício dos «profetas».
Deveria tornar-se evidente, com base neste texto da epístola aos Romanos, que o ensino é um dom e ministério, e que somente os indivíduos assim dotados deveriam ensinar. E os crentes possuidores desse ministério deveriam procurar aprimorar-se na aplicação de sua chamada. O mestre cristão que espera pelo Espírito Santo, para que o Senhor o guie em suas pesquisas e em seus pensamentos, poderá expor aos seus ouvintes muitos tesouros, alguns antigos e outros novos, mas todos proveitosos e expressos de maneira tão convincente que possam transformar as vidas dos homens, porquanto as suas palavras podem ser usadas pelo Espírito de Deus visando exatamente a essa função.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 3. pag. 814.
I - JESUS, O MESTRE POR EXCELÊNCIA
1. O mestre da Galileia.
1. O SIGNIFICADO DE MESTRE
A palavra Mestre, nas escrituras, tem o sentido de designar “uma pessoa que é superior às outras, em poder, autoridade, conhecimento ou em algum outro aspecto”. No hebraico, a palavra 'adon que dizer “soberano” ou “senhor”. A palavra “rab” designa um “professor comum”. Com relação a Jesus, foi usada a palavra “rabi” (cf. Jo 4.31), indicando que ele era um mestre superior. As pessoas chamavam de “meu mestre”, “meu Senhor”, a quem tinha esse título. Jesus recebeu esse tratamento diversas vezes (Jo 1.38,49; 3.2,26). Quando Jesus ressuscitou, Maria usou a palavra “Rabon?, quando o reconheceu. “Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni (que quer dizer Mestre)!” (Jo 20.16). Em seus ensinos, “O Senhor Jesus proibiu o uso deste termo entre os discípulos por causa do orgulho e da exaltação pessoal com que era utilizado entre os fariseus (Mt 23. 7,8).
2. O MESTRE DA GALILEIA
Jesus era o Mestre perfeito. Além de Pastor, pregador, missionário e evangelista, exercia com excelência a missão de ensinar. Evangelizava e discipulava de maneira eficaz. Era o Mestre perfeito; o Doutor incomparável (Mt 4.23-25).
Seus ensinos, seus sermões ou discursos e suas aulas eram eloquentes e profundamente convincentes aos que o ouviam. Ele não ensinava teorias abstratas ou acadêmicas que impressionassem pela retórica. Seu ensino era bem recebido pelas multidões, porque Ele vivia o que ensinava e ensinava o que vivia.
O Mestre dos mestres fazia diferença em seus ensinos perante as multidões. O povo estava descrente das mensagens dos escribas e fariseus, que proferiam discursos eloquentes e legalistas, mas vazios de autenticidade e poder. Não foi por acaso, que as multidões que seguiam Jesus aumentavam a cada dia. A diferença dos ensinos de Jesus e os dos fariseus, era que Jesus falava com autoridade (Mt 7.28,29). Ele era incomparável, como Rabi da Galileia (Jo 3.2).
O Mestre dos Mestres deixou-nos grandes exemplos de sua pedagogia.
1) Conhecia a matéria que ensinava (Lc 24.27);
2) Conhecia seus alunos (Mt 13; Lc 15.8-10; Jo 21);
3) Reconhecia o que havia de bom em seus alunos (Jo 1.47);
4) Ensinava as verdades bíblicas de modo simples e claro (Lc 5.17- 26; Jo 14.6);
5) Variava o método de ensino conforme a ocasião e o tipo de ouvintes (Parábolas, perguntas, discursos, preleção, leitura, demonstração, etc.).
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 120-121.
MESTRE Nas Escrituras, essa palavra está geralmente designando uma pessoa que é superior a outras, em poder, autoridade, conhecimento ou em algum outro aspecto. Várias palavras são traduzidas como "mestre" nas várias versões da Bíblia Sagrada. A palavra hebraica mais frequente, 'adon, significa "soberano" ou "senhor". O significado literal de várias palavras gregas varia de "instrutor" ou didaskalos, como em Mateus 10.24, até "déspota" ou despotes, como em 1 Pedro 2.18. Outra palavra grega traduzida como "mestre", epistates, significa "alguém nomeado sobre" outros, como em Lucas 5.5. Ainda outra palavra grega é, na verdade, hebraica - "rabbi" que significa "meu mestre" ("superior" ou "professor"), como em João 4.31. Uma quinta palavra grega para "mestre" é kurios que geralmente foi traduzida como "senhor" ao longo de todo o NT e significa "supremo" (em autoridade). No sentido mais elevado, o título se aplica apenas ao Senhor. Ainda existem outras palavras gregas e hebraicas com diferentes aspectos de significado que foram traduzidas como "mestre". Duas palavras gregas para "mestre" ocorrem em Mateus 23.8-10, "Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi [rhabbi, "meu mestre", ou "professor"], porque um só é o vosso Mestre [kathegetes, "líder" ou "professor"], a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres [kathegetes, "líderes"], porque um só é vosso Mestre, que é o Cristo". Veja Rabi; Educação; Ensinar.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1261-1262.
RABI Esta palavra é uma transliteração da palavra hebraica usada como um termo de respeito e honra. A palavra significa literalmente "meu grande", "meu mestre". Embora o termo tenha sido originalmente usado como uma marca de respeito, depois do século I d.C. ele tornou-se um título para mestres religiosos e líderes, perdendo em grande parte o seu significado original. Este título continuou em uso durante a era Cristã, e é usado atualmente para designar os ministros ordenados entre os judeus. Embora as escolas recentes entre os judeus tenham tentado usar a graduação de títulos variando de "rab", um professor comum, até "rabi", e então "raboni", no tempo do Senhor Jesus não houve nenhuma consistência em uma forma de uso semelhante. No NT, o termo rabi foi aplicado ao Senhor Jesus em várias ocasiões, porém mais provavelmente no sentido de honra do que em um significado técnico (Jo 1.38,49; 3.2,26; 6.25). A palavra raboni, usada por Maria ao se dirigir ao Senhor ressuscitado (Jo 20.16) é a forma aramaica da mesma palavra. Certa vez o Senhor Jesus proibiu o uso deste termo entre os discípulos por causa do orgulho e da exaltação pessoal com que era utilizado entre os fariseus (Mt 23.7,8). Veja Educação; Mestre; Ocupações: Doutor; Advogado; Escriba; Sinagoga; Talmude.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag.  1242-1243.
Que pregador habilidoso Cristo era. Ele passou por toda a Galileia, ensinando nas sinagogas e pregando o Evangelho do reino. Entenda; 1. O que Cristo falava sobre o Evangelho do reino. O Reino dos céus, isto é, o reino de graça e glória, é enfaticamente o reino, o reino que estava chegando; o reino que iria sobreviver, que superaria todos os reinos da terra. O Evangelho compreende os estatutos deste reino, contendo o juramento de coroação do Rei, pelo qual Ele se obriga graciosamente a perdoai-, proteger e salvar os súditos daquele reino e a procurar a sua honra. Este é o Evangelho do reino; dele, o próprio Cristo foi o pregador, para que a nossa fé no reino possa ser confirmada. 2. Onde Ele pregava. Nas sinagogas. Não apenas ali, mas ali principalmente, porque estes eram os lugares onde a multidão se reunia, onde a sabedoria erguia a sua voz (Pv 1.21); porque eram os lugares onde o povo se reunia para a adoração religiosa e ali, esperava-se, a mente do povo estaria preparada para receber o Evangelho; e ali as Escrituras do Antigo Testamento eram lidas, e a sua exposição poderia facilmente introduzir o Evangelho do reino. 3. O empenho que Ele tinha em pregar. Ele passou por toda a Galileia, ensinando. Ele podia ter publicado uma proclamação, convocando todas as pessoas para que viessem até Ele; mas para mostrar a sua humildade, e a condescendência da sua graça, Ele vai até eles; pois Ele espera ser gracioso e vir para buscar e salvar. Josefo disse que havia aproximadamente duzentas cidades e vilas na Galileia, e Cristo visitou todas elas, ou a sua maioria. Ele viajava fazendo o bem. Nunca houve um pregador itinerante assim, tão infatigável, como era Cristo. Ele ia de cidade em cidade, para pedir aos pobres pecadores que se reconciliassem com Deus. Este é um exemplo para os ministros, para que se dediquem a fazer o bem, e. para que Sejam insistentes e constantes, a tempo e fora de tempo, em pregar a palavra.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 39-40.
Com estas palavras Mateus repete o que já afirmou em 4.23-25 sobre a atividade abrangente do Senhor. O v. 35 caracteriza, numa coincidência quase literal com 4.23, a atuação com quatro verbos. São eles: percorrer a região, ensinar, evangelizar, curar.
Estas quatro atividades revelam-nos o Cristo que fala e que trabalha, ou seja, a atuação de Jesus com palavra e atos, com cuidado pela alma e cuidado pelo corpo.
Primeiro: Jesus percorria a região. Ele procurava as pessoas lá onde estavam em casa. Em todas as cidades e aldeias há pessoas em casa. Jesus não espera que as pessoas venham a ele (como João Batista!), contudo vai até elas e as procura, por mais estranhos e escondidos que possam ser em seus hábitos. Ele realiza “visitas domicialiares”, como diríamos hoje. Samuel Keller afirmou certa vez: “A chave para as almas das pessoas está pendurada em sua casa. Por isso é necessário ir até elas, procurá-las em sua vida cotidiana, em suas aflições, em suas doenças, em sua solidão.”
Ressaltam-se em seguida três momentos característicos dessas andanças, dessa procura das pessoas em seus lares.
Segundo: Ensinando. Ensinar refere-se à instrução dada ao povo (exposição da palavra de Deus!), e também à controvérsia com os fariseus e escribas.
O objetivo é que o povo seja ensinado a partir da autoridade, e não dos “estatutos humanos”. A palavra, novamente a palavra, a palavra poderosa do Espírito, jamais poderá ser enaltecida demais. De que outra maneira o Bom Pastor alcançaria seu rebanho, se não fazendo ressoar a sua voz?
Terceiro: Ao lado do ensino acontece, como segunda característica, o “anúncio”, a “proclamação de alegria” do reino. Quem ouviu esse chamado de arauto, essa proclamação de alegria, deve saber que está convocado a se tornar cidadão desse reino, o reino que existirá de eternidade a eternidade.
Quarto: Ensino e proclamação são acompanhados da ação simultânea. Pois o reino de Deus está “em vigor”. Quando o Senhor diz a sua palavra, caem as amarras do pecado, os castelos do mâmon, as fortalezas da doença, sim os laços da morte. – Jesus nos proíbe deixar de lado a grande miséria física, social e econômica das multidões, como se não tivéssemos nada a ver com ela, como se fosse possível ouvir e aceitar o evangelho do reino de modo desligado dela. Jesus nos proíbe considerar essa miséria como algo sancionado por Deus. Pelo contrário, ela faz parte da realidade sem Deus em que Jesus nos ordenou que penetrássemos, dando-nos as magníficas palavras do “sal” e da “luz”.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica Esperança.
Mt 4:23 A Galileia região tinha uma população de cerca de 300.000 em 200 ou mais vilas e cidades, sem grandes cidades na área. O ministério de Jesus incluiu ensinar discípulos e aqueles que já estão familiarizados com a sua mensagem, proclamando a verdade para aqueles não familiarizados com a mensagem, e curando enfermidades físicas, emocionais e espirituais. Cura de todas as doenças e aflição dá uma antecipação surpreendente da idade para vir, onde não haverá mais doenças (1 Coríntios 15:42-43;.. Phil 3:21; Ap 21:4). O ministério de Jesus combinado que atendia às necessidades físicas das pessoas com o ministério para suas mentes e corações (proclamando o evangelho do reino ). Em sinagogas , ver nota em Lucas 4:16 e A Sinagoga e Adoração judaica.
BIBLIA DE ESTUDO ESV ENGLISH STANDARD VERSION. Published by Crossway Bibles.
Mt 7.28,29 Nos dois últimos versículos, tomamos conhecimento da impressão criada pelo discurso de Cristo nos seus ouvintes. Foi um excelente sermão, provável que Ele tenha falado muito mais, porém estas palavras não foram registradas. Sem dúvida, as palavras que saíram da sua boca, de cujos lábios se derramava a graça, contribuíram poderosamente para isso. Portanto: 1. Eles ficaram admirados com a sua doutrina. Acredita- se que poucos tenham sido levados a segui-lo, mas naquele momento todos ficaram maravilhados. Veja bem: Será que é possível acreditar que as pessoas admirem um bom sermão e ainda assim permaneçam na ignorância e na incredulidade? Ficam admiradas, mas não se tornam santificadas? 2. Talvez a razão disso seja que, apesar de ensinar com autoridade, Ele não era como os escribas. Os escribas pretendiam ter a mesma autoridade de qualquer um dos mestres, e eram apoiados por todas as vantagens externas que conseguiam. Porém, a sua pregação era pobre, vazia e insípida. Falavam como se não fossem mestres daquilo que pregavam, suas palavras não vinham de alguém que tivesse força ou vida, e repetiam as palavras como os alunos repetem as lições. Mas Cristo pronunciava o seu discurso da mesma maneira que um juiz pronuncia uma sentença. Ele realmente fazia seus discursos com um tom de autoridade. Suas lições eram leis, e a sua palavra era uma palavra, de comando. Cristo, sobre a montanha, mostrava mais autoridade que os escribas na cadeira de Moisés. Dessa forma, quando Cristo ensina às almas através do seu Espírito, Ele ensina com autoridade. Ele disse: “Haja luz. E houve luz”.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 90.
Mt 7.28,29 As palavras concluindo Jesus este discurso marcam o final do ensino de Jesus sobre o discipulado, e um retorno à narrava de Mateus. Jesus havia deixado as multidões completamente admiradas com a sua doutrina. Ele era diferente dos mestres da lei religiosa, que citavam frequentemente os conhecidos rabinos a fim de dar mais autoridade aos seus ensinos. Jesus não tinha essa necessidade; como era o Filho de Deus, Ele sabia exatamente o que as Escrituras diziam e significavam. Ele era a suprema autoridade. Jesus não precisava citar ninguém, porque Ele mesmo era a própria Palavra Original, o Verbo (João 1.1). O povo nunca tinha ouvido um ensino como este.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 55.
Mt 7. 28-29. O impacto do sermão do Monte foi profundamente marcante e duradouro. É o que também denota o tempo verbal do imperfeito no original grego. O imperfeito expressa a duração de uma ação ou impressão. “As multidões estavam totalmente fora de si.” Estavam como que atordoadas, paralisadas! Pavor e admiração, profundo abalo interior e simples incapacidade de captar tomaram conta de seu coração. Jamais tinham ouvido algo assim.
Havia também entre os escribas personalidades famosas e oradores poderosos. Nomes como os dos grandes mestres da lei Shammai e Hillel, que viveram pouco tempo antes de Jesus, ainda estavam vivos na memória de todos. Mas não eram nada diante daquele que agora falava com autoridade como o “Senhor”.
Aqueles podiam anunciar, com formulações cuidadosas e expressões elaboradas, uma série de prescrições morais detalhadas, mas Jesus derruba, a partir de sua autoridade divina, tudo o que eles haviam falado. Ele coloca diante dos seus ouvintes uma parede rochosa, uma parede granítica, vinda da eternidade, que esmagava e estilhaçava tudo o que até então fora dito. Nenhum discurso que tenha saído de lábios humanos era mais arrasador e impactante do que esse. Ele era, no mais verdadeiro sentido da palavra, a “inversão de todos os valores”. Ele foi e continua sendo o mais abrangente e mais radical paradoxo, i. é, diretamente oposto a tudo o que houve até então, que já fora dito sobre a face da terra.
O que antes era “branco”, o Senhor designa de “preto”, e o que era “preto” ele chama de “branco”. O que antes se dizia “em cima”, fica agora situado “em baixo”, e o que antes ficava “em baixo”, hoje se fala “em cima”. “Comparadas com a reviravolta que o sermão do Monte trouxe, as maiores revoluções são apenas batalhas infantis.” Todas as religiões da terra esforçam-se por estabelecer leis que se situam no âmbito do humanamente praticável. Jesus exige o que está fora do humanamente alcançável. Porém, o que é impossível aos homens, é possível para Deus, possível “em Cristo”, unicamente nele!
Usando uma comparação da música, o sermão do Monte é como uma magistral sinfonia que, sem qualquer preparação, inicia nos primeiros compassos com a atuação de toda a orquestra. E todos os instrumentos seguem sempre tocando o tema principal, o tema principal que é desenvolvido de modo inaudito e fundamentalmente diferente de todos as demais orquestras, a saber: O ser humano não é nada - Deus é tudo. O ser humano não pode nada - Deus, porém, pode tudo.
Até o momento em que foi pronunciado o sermão do Monte, as orquestras dos judeus tinham tocado aquela melodia que, sob a regência dos fariseus e escribas, fazia ressoar: “Justiça é possível a partir do esforço próprio, do mérito pessoal” (cf. o exposto em detalhes sobre Mt 5.38ss). Religião é auto-salvamento! Basta cumprir pontualmente todas as determinações estabelecidas pela religião, para que o superávit dos mandamentos observados supere o eventual pequeno déficit das transgressões da lei. Quando isso se concretiza, então Deus (assim ensinavam os mestres da lei) considera como justa aquela pessoa que fez por merecer total e plenamente o céu através de seu tesouro de obediências excedentes à lei. Portanto, o ser humano pode alcançá-lo e realmente o consegue sozinho, não carece nem da graça nem da salvação. Essa era a melodia que soava em toda a parte até o momento em que foi falado o sermão do Monte.
Além disso, até a hora de ser proferido o sermão do Monte, todas as orquestras humanas tinham tocado a melodia seguinte: “Toda a bem-aventurança humana consiste nisso: riqueza é felicidade, estar farto é conteúdo de vida, honra é „querer ser alguém‟, religião é autossatisfação, culto é produção com que eu próprio posso adquirir o céu”. O sermão do Monte, no entanto, anuncia com nitidez desde o primeiro compasso, pela atuação de todos os seus instrumentos, mesmo que o ouvinte empalideça: “A bem-aventurança da pessoa não está na riqueza, mas na pobreza, estar satisfeito não é ter de sobra, mas ter fome, honra não está em „querer ser alguém‟, mas em servir. Culto não é produção, mas graça. Religião não é satisfação das pessoas, mas paz de Deus e força de Deus. Somente aos que por si próprios nada são, nada têm e nada sabem, a esses, somente a eles, pertence a riqueza inescrutável e eterna de Deus e do Cristo. Somente os fracos, famintos, tristes e pobres em si – são ricos em Deus, ricos para toda a eternidade. Somente os que, com toda a seriedade e sinceridade, até com a última fibra do coração, “buscam o reino de Deus”, que querem agradar ao seu Senhor e Deus em cada situação do cotidiano, que, mediante recurso às forças do alto, fazem acontecer seu amor divino na pressão e escuridão do mundo, somente a eles pertence o reino dos céus e tudo o que na terra é necessário para ele, e precisamente do modo como Deus o quer!
Portanto: primeiro Deus, e outra vez Deus e de novo unicamente Deus. É isso que o sermão do Monte, ouvido como uma sinfonia, faz ressoar como tema principal mediante o toque de todos os seus instrumentos. Somente aquele que se esquece de si mesmo e pensa apenas no Cristo será bem-aventurado. Somente quem quer tornar-se feliz por graça, unicamente por graça, torna-se justo, é redimido para o tempo e a eternidade. Em Cristo, nele somente!
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica Esperança.
2. O mestre divino.
O ensino do Mestre Jesus não teve nem tem paralelo em qualquer instrução, discurso ou filosofia dos homens. São ensinamentos para serem vividos, e não apenas pregados. Não eram como os ensinos dos fariseus ou dos doutores de sua época (Mt 7.29). Tempos depois, seu discípulo e apóstolo, Paulo, que não conviveu com Ele, afirmou: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder” (1 Co 2.4). Uma das maiores causas do descrédito no evangelho pregado por muitas igrejas e muitos pregadores é a falta de autenticidade na vida deles. Jesus demonstrou, com sua palavra e com seus feitos que era o Mestre Divino. Ele pregava o evangelho vivo, que não consistia apenas em belos sermões, mas em vidas transformadas.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 121.
3.1,2 Nicodemos eta um líder religioso judeu e um {ariseu, isto é, pertencia à seita mais rigorosa daqueles tempos. Os líderes religiosos judeus estavam divididos em vários grupos.
Dois dos grupos mais importantes eram os fariseus e os saduceus. Os fariseus se isolavam de tudo que não fosse judeu e observavam cuidadosamente as leis do Antigo Testamento e as tradições orais transmitidas através dos séculos. Por ser um “líder”, ele fazia parte do conselho diretor judaico. Embora os romanos controlassem Israel politicamente, os judeus exerciam alguma autoridade sobre questões religiosas e civis menos importantes. O corpo diretor era formado por um conselho de setenta e um líderes religiosos judeus.
O que motivou Nicodemos a procurar Jesus? Provavelmente, ele estava impressionado e também curioso, e preferiu formar sua opinião a respeito de Jesus depois de uma conversa inicial. Talvez preferisse evitar ser visto na sua companhia, em plena luz do dia, por temer a censura de seus companheiros fariseus (que não criam que Jesus era o Messias). Mas pode náo ter sido o medo que o levou a Jesus depois de escurecer, e também é possível que tenha escolhido um momento em que pudesse conversar sozinho e longamente com o popular mestre que estava sempre cercado de pessoas.
Respeitosamente, Nicodemos se dirigiu a Jesus como o Mestre que havia sido enviado por Deus. Embora isso fosse verdade, esse título revela seu limitado conhecimento sobre Jesus, afinal Ele era muito mais que um simples rabino. Mas pelo menos Nicodemos identificou os sinais miraculosos de Jesus como a revelação do poder de Deus.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 500.
Uma Vida Nova Para um Homem Morto —Nicodemos (3.1-21)
Uma das infelicidades ocasionais nas divisões de capítulos da Bíblia é uma aparente ruptura no pensamento onde não deveria haver ruptura. O início do capítulo 3 é um excelente exemplo disto. João escreveu que Jesus “sabia o que havia no homem” (2.25). Mas João prosseguiu dizendo, sem qualquer quebra de linha nem ruptura de pensamento, que havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, príncipe dos judeus (1). E como se João estivesse dizendo: “Jesus tinha o conhecimento perfeito das necessidades mais profundas dos homens. Vamos citar alguns exemplos, começando com um homem, o fariseu Nicodemos”. Assim, Nicodemos se torna a “evidência A” para ilustrar o que Jesus conhece sobre os homens.
A palavra para homem tanto em 2.25 quanto em 3.1 é anthropos, que basicamente se refere aos homens como uma classe. E uma palavra genérica. Assim, o que se diz aqui a respeito de Nicodemos, um indivíduo, é dito sobre todos os homens. Esta é uma das muitas universalizações do Evangelho de João. A salvação é para “todos” (16), mas também é verdade que todos os homens precisam do nascimento que vem do céu (cf. Rm 3.23).
O cuidado com que se descreve a situação de Nicodemos na vida religiosa judaica não é uma coincidência. Ele era um homem entre os fariseus, um príncipe dos judeus. Se algum homem, na ordem antiga, conheceu o significado de Deus e dos seus planos e propósitos para o homem, esse foi Nicodemos — ele era profundamente entranhado na tradição monoteísta, além dos ensinos da lei, da história de Israel e das proclamações dos profetas. Mas em algum lugar, de alguma maneira, ele se perdera no caminho, e de alguma maneira exemplificava o que havia acontecido com o judaísmo. Assim, uma vez mais, João estabelece um vívido contraste entre a antiga aliança, com todos os seus mal-entendidos, as suas inadequações e suas falhas, e a nova aliança, que assegura a abundância da vida, que tem o Deus vivo e verdadeiro como a sua Fonte.
Este foi ter de noite com Jesus (2). Há uma grande dose de especulação quanto ao motivo pelo qual Nicodemos veio de noite. Alguns dizem ter sido por medo das opiniões alheias, especialmente de seus colegas. Há algo a ser dito a este respeito, à luz de outras duas ocasiões nas quais ele aparece neste Evangelho. A sua defesa de Jesus em 7.50 parece ser um pouco impessoal, e foi José de Arimatéia quem iniciou o pedido do corpo de Jesus (19.39). Talvez Nicodemos quisesse uma reunião tranquila, à noite. Mas uma pergunta melhor sobre esta visita seria: “Por que ele veio, afinal?” A resposta pode explicar por que ele veio de noite. Devido à profunda necessidade da sua alma, ele veio até o Senhor saindo da escuridão na qual ele e os seus companheiros estavam imersos. Compare isto com o ato de Judas. Quando ele deixou Jesus para ir fazer o acordo com os judeus, ele saiu “e era já noite” (13.30). O contraste vívido entre a luz e as trevas aparece regularmente ao longo de todo o Evangelho (cf. 1.5, 9; 3.19; 8.12; 9.4-5; 12.35).
Nicodemos disse: Rabi, bem sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele (2). Os milagres que Jesus realizara (2.23) indicavam o caminho para Nicodemos e para aqueles que este representava (observe a forma plural sabemos). Por causa desses milagres, eles pensavam que Jesus era um professor especial enviado por Deus. Rabi... és... vindo de Deus. Mas isto não significava que Jesus estava sendo reconhecido como o Messias.
Joseph H. Mayfield. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 7. pag. 48.
O ―diálogo com Nicodemos‖, conhecido por todos nós, mas em geral conhecido apenas como um episódio isolado, como estamos notando agora, acontece durante a primeira estadia de Jesus em Jerusalém. Trata-se de um recorte da atuação de Jesus naquela cidade, ou melhor, é também um fruto dessa atuação. Jesus mexe com os ânimos até entre os grupos dirigentes. Nessa reflexão precisamos ter sempre em mente que a expectativa do Messias vindouro estava viva em Israel e ganhara nova intensidade sob a pressão da dominação estrangeira romana. Já por ocasião do surgimento de João Batista a pergunta era: Será que ele pretende ser o Messias (cf. Jo 1.19ss)? Ocorre que em sua pessoa e seus atos Jesus é ainda mais poderoso e envolvente que João Batista. Por isso ―muitos creram em seu nome‖ (Jo 2.23). Por essa razão vai até Jesus um dos homens dirigentes de Jerusalém, chamado Nicodemos, que pertencia ao grupo dos ―fariseus‖ e tinha assento e voz no Sinédrio.
―Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.‖ João não nos diz por que esse homem veio procurar Jesus ―de noite‖. Não precisa ser por causa de medo ou receio. Pelo que se vê, Nicodemos é unânime com outros líderes importantes na apreciação de Jesus, podendo declarar: ―Sabemos que vieste de parte de Deus.‖ Então não tinha necessidade de ocultar sua visita a Jesus. É provável que naquele tempo se valorizasse muito as tranqüilas horas noturnas para manter um diálogo sem interrupções, motivo pelo qual João não considera necessária nenhuma justificativa especial da visita à noite.
2 Igualmente permanece em aberto a pergunta se os primeiros discípulos de Jesus, portanto, inclusive o próprio João, estiveram presentes ao diálogo.
O tratamento que Nicodemos dirige a Jesus é honroso. Ele, o reconhecido teólogo, o ―mestre em Israel‖ (v. 10), chama o homem sem estudo da Galiléia de ―Rabi‖. Espontaneamente reproduz a profunda impressão que ele e outros colegas do Sinédrio obtiveram de Jesus. Contudo, também neste caso não foram tanto as palavras de Jesus que o convenceram em seu íntimo, mas os ―sinais‖ que o constrangem a ver Deus por trás da atuação de Jesus. Mais tarde, nem mesmo os mais admiráveis milagres de Jesus convenceram seus antagonistas, mas somente intensificaram seu endurecimento ao extremo (cf. Jo 9.24-34; 11.46-53). Novamente torna-se claro que ―milagres‖ não podem ser a base
vital para uma fé verdadeira. Contudo, desde já Nicodemos estabelece uma clara barreira na interpelação honrosa de Jesus, que se torna perceptível no termo ―mestre‖, enfaticamente posposto. Vieste de Deus, sim; porém és apenas um grande ―mestre‖, nada mais que isso. Ou queres ser mais? Queres concordar com aqueles que agora estão a dizer em Jerusalém: Jesus Cristo, Jesus o Messias? Nicodemos dirige essa indagação oculta a Jesus. É sobre essa pergunta que ele pretende falar com o próprio Jesus.
Werner de Boor. Comentário Esperança Evangelho de João. Editora Evangélica Esperança.
1. Alguns eruditos identificaram Nicodemos com Naqdimon ben Gorion, um rico cidadão de Jerusalém que, de acordo com o Talmud, foi encarregado de suprir de água os peregrinos nas grandes festas.151 Os argumentos a favor desta identificação, no entanto, são bastante inconclusivos. Os fariseus, (já mencionados em 1.24) tinham uma influência sobre o público em geral totalmente desproporcional ao seu número. Eles eram um grupo minoritário no Sinédrio.
O fato de Nicodemos ser um dos principais dos judeus implica em que ele era membro dos fariseus no sinédrio (veja também Jo 7.50).
Pode ser que o evangelista esteja considerando Nicodemos como um dos “muitos” , de 2.23.153 No entanto, é possível que a conjunção grega de com que ele é apresentado no começo de Jo 3.1 tenha força adversativa: “Mas havia, entre os fariseus...” Como os outros, Nicodemos ficara impressionado com os sinais que vira, sem atinar para seu significado mais profundo, mas havia nele um desejo sincero de aprender mais, ao qual Jesus correspondeu “confiando-se" a ele mais que a muitos outros.
2. É melhor considerar a afirmação de que a visita de Nicodemos foi feita à noite como simples lembrança dos fatos, sem dar-lhe uma interpretação alegórica, como se a escuridão lá fora refletisse as trevas do entendimento de Nicodemos, que precisou ser iluminado. Também não precisamos querer saber por que ele decidiu vir à noite - se não quis que seus colegas e outros soubessem dos seus passos, ou escolheu uma hora em que não era provável que Jesus fosse perturbado, para terem tempo para uma conversa longa.
Nicodemos pode ter tido uma compreensão deficiente, mas pelo menos não estava cegado por preconceitos, como aqueles líderes religiosos cuja reação às palavras e obras de Jesus foi atribuí-las à atividade demoníaca (veja Jo 8.48,52, Mc 3.22ss.). Mesmo que ele não tenha compreendido o significado dos sinais, percebeu que eles somente poderiam ter sido operados pelo poder de Deus. Por esta razão, apesar de Jesus não pertencer às escolas de ensino sacro reconhecidas, este mestre-líder em Israel saudou-o como um igual com o título Rabi - um sinal de respeito que valia mais partindo de Nicodemos que dos dois discípulos jovens de João 1.38. As conclusões de Nicodemos eram válidas, até onde tinha ido, mas não chegaram ao ponto que importava. Jesus viu o estado de sua alma, por trás das palavras de saudação proferidas por ele e respondeu-lhe numa linguagem que, por mais desconcertante e incompreensível que tenha parecido a Nicodemos, fora calculada com cuidado para falar à sua condição.
F. F. BRUCE. João. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 78-79.
3. O mestre da humildade.
A Auto humilhação de Jesus (Jo 13.4-20)
Pelo fato de a declaração de abertura do capítulo 13 ser longa e detalhada, o leitor deve considerar que o início da cena da ceia ocorre na primeira oração do versículo 2: E, acabada a ceia (o texto grego diz “durante a ceia”), e então continua com a primeira oração no versículo 4: levantou-se da ceia. Ao fazê-lo, o Senhor tirou as vestes (4, cf. 10.17; Fp 2.5-8); i.e., a túnica externa. Então, tomando uma toalha, cingiu-se, o que “marca a ação de um escravo”. Assim preparado, Ele pôs água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxuga-los com a toalha com que estava cingido (5). João não declara por que algum dos discípulos não executou esta tarefa servil, mas evidentemente havia ocorrido alguma “busca de posição” entre os doze (Lc 22.24). Além disso, Jesus era o único naquela sala que poderia executar até mesmo o simbolismo da purificação — pois só Ele estava limpo no sentido teológico e moral da palavra (cf. 17.19; Hb 13.12). Ele veio para dar ao homem a possibilidade de tornar-se puro, moralmente limpo, santo.
Quando Jesus foi lavar os pés de Pedro, este lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a mim? (6) A resposta de Jesus, não o sabes tu, agora, não só afirmava a ignorância de Pedro em relação às coisas espirituais (e.g., a vinda do Espírito), como também incluía uma promessa: tu o saberás depois (7). O que eu faço era a humilhação do Senhor, simbolizada no ato de lavar-lhes os pés; na verdade, porém, Ele estava proporcionando toda a obra redentora de Deus para o homem. Hoskyns comenta que a reação de Pedro não é um contraste entre o orgulho de Pedro e a humildade de Jesus, mas, antes, “entre o conhecimento de Jesus, o qual é a base da ação, e a ignorância de Pedro, que ainda não percebe que a humilhação do Messias é a causa efetiva da salvação cristã” (cf. 2.22; 7.39; 12.16; 14.25-26; 15.26; 16.13; 20.9). Mas o entendimento do futuro estava longe demais para Pedro. Ele só via a incongruência imediata da situação — Jesus lavando os seus pés. Impulsivamente, ele declarou: “Nunca em nenhum momento lavarás os meus pés — para sempre” (tradução literal). Pedro esperava colocar um ponto final em tudo aquilo. Mas Jesus conhecia o caminho para o coração de Pedro — a ameaça de ser excluído da presença de Jesus, a quem Pedro amava. Se eu te não lavar, não tens parte comigo (8; cf. Hb 12.14). “Não há lugar na sociedade dos cristãos para aqueles que não forem purificados pelo próprio Senhor Jesus”. Se a comunhão só poderia ser adquirida pela purificação (cf. 1 Jo 1.7), então Pedro queria tudo o que pudesse ter — pés, mãos e cabeça (9).
Jesus fez uma aplicação geral da ideia sobre a qual conversava com Pedro: “Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés. Ele está todo limpo”. “Vós estais limpos, mas não todos” (10). Hoskyns comenta que, no ato da lavagem dos pés, Jesus “simbolicamente declara a completa purificação deles através da humilhação da morte do Messias. O cristão fiel é purificado pelo sangue de Jesus” (1 Jo 1.7; cf. Rm 6.1-3; 1 Co 10.16). Se a santidade de coração estiver no coração da Eucaristia (ver o comentário sobre 6.53), a pureza do coração está no coração do Pedilavium (lavagem dos pés). Tudo isto era uma prefiguração simbólica da obra do Espírito que se tornaria possível através da sua vinda (14.15-17,25-26; 15.26; 16.7-15).
Mas, e quanto a Judas? Ele estava limpo? Jesus sabia, e soube (6.70-71), quem o haveria de trair; por isso, disse: Nem todos estais limpos (11). Bernard diz: “No que diz respeito à limpeza do corpo, não há dúvida de que ele estava nas mesmas condições dos outros, mas não no sentido espiritual”.
Tendo lavado os pés dos discípulos e vestido a sua túnica, Jesus, estando à mesa, outra vez perguntou aos discípulos: Entendeis o que vos tenho feito? (12) Macgregor comenta: “Quando ‘veste a sua túnica’, Jesus assume a sua vida novamente (10.17ss.) no poder do Espírito, e assim esclarece todas as coisas” (7). Sem esperar por uma resposta, Jesus explicou que isto tinha sido um exemplo (15), ou modelo, “que estimula ou deve estimular alguém a imitá-lo”. Da mesma forma que Ele, seu Mestre (literalmente, “Ensinador”) e Senhor, lhes tinha feito, assim deveriam fazer uns aos outros (13-14; cf. 34). Hoskyns diz: “Seu ato de lavar os pés dos discípulos expressa a própria essência da autoridade cristã”. Não parece haver qualquer evidência de que Jesus quisesse que a lavagem dos pés fosse instituída como um sacramento. Mas fica claro que Ele estava ensinando, pelo exemplo básico e axiomático, embora paradoxal, que a única maneira de ser “o maior” (Lc 22.24) ou de ser bem-aventurado (17) é tomar a estrada do serviço amoroso (13.34) e do sacrifício (10.15), baseado no conhecimento da vontade de Deus para nós. A palavra traduzida como bem-aventurado no texto das Beatitudes é makarioi (Mt 5.3-12).
Joseph H. Mayfield. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 7. pag. 116-117.
João 13. 4/5 Na seqüência começa a instrução e preparação dos discípulos com uma ação de Jesus, da qual não obtemos nenhuma notícia no relato dos sinóticos. Jesus ―levantou-se da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha de linho, cingiu-se com ela. Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxuga-los com a toalha com que estava cingido.‖ Com que detalhamento e precisão João está relatando, quando em outras passagens costuma relatar de maneira muito sucinta! É como se ele visasse destacar com isso a conotação extraordinária e admirável da ação. Cumpre ponderar que em geral lavar os pés era apenas serviço dos ―escravos‖, sim, dentre um grupo de escravos executava-o somente o mais humilde e desvalorizado. E agora executa-o aquele ―a quem o Pai confiou tudo nas mãos‖, ―o Senhor da glória‖ (1Co 2.8). Nesse episódio torna-se palpável o que Paulo quer dizer em Fp 2.6ss: Ele, que ―subsistindo em forma de Deus‖, ―esvaziou-se a si mesmo, assumindo a forma de servo‖. Com o pano de linho se cingiu ―do avental de escravo para servir‖, exercendo um serviço típico de escravo.
Werner de Boor. Comentário Esperança Evangelho de João. Editora Evangélica Esperança.
Jo 13.3-5. A linguagem solene do versfcuio 3 prepara-nos para um ato de majestade divina. Jesus, consciente da soberania universal que o Pai lhe conferiu, plenamente ciente da sua origem e destino celestiais, faz algo que deixará no coração dos discípulos um sinal indelével desta soberania, origem e destino.
Ele se veste como um empregado da casa e pratica a tarefa de um empregado. Qualquer um dos discípulos teria realizado com prazer este serviço para ele, mas o ato de fazê-lo para os outros discípulos seria considerado uma admissão de inferioridade, intolerável diante da intensa competição que havia entre eles pelo lugar principal no reino do seu Mestre. Lucas acrescenta um elemento interessante, descrevendo como a disputa deles sobre este assunto provocou em Jesus algumas palavras sobre os verdadeiros padrões de grandeza e um apelo para que olhassem para seu próprio exemplo: “ ...no meio de vós, eu sou como quem serve" (Lc 22.24-27).
A descrição viva de João ilustra a afirmação de Filipenses 2.6s„ de que aquele que subsistia “em forma de Deus” assumiu a “forma de servo” - e com esta atitude manifestou Deus na terra da maneira mais perfeita possível. A forma de Deus não foi trocada pela forma de servo; ela foi revelada na forma de um servo. No lava pés, os discípulos, apesar de não entenderem no momento, viram uma manifestação rara da autoridade e da glória do Verbo encarnado, e uma declaração incomum do caráter do próprio Pai. Gordon Rupp descreve a degradação de Thomas Cranmer, no exercício de seu cargo sagrado, nestes termos:
E quando ele, finalmente, estava ali parado sem batina, vestido com as roupas de um indigente - in servitutem et ignominiam habitus - Bonner exclamou: “Agora não és mais Lorde". Cranmer logo respondeu que “nunca dera mais importância a algum título, nome ou estilo de escrita, do que ao ato de descascar uma maçã", mas ele dever ter sentido profundamente sua humilhação... E nós podemos ter certeza de que os quacres em tempo algum puseram um ponto de interrogação mais irônico atrás de um clérigo do que o fato de que, quando todos os advogados tinham sido afastados, um arcebispo acabou sendo descoberto “na forma de um servo" - isto ê, as únicas vestes sagradas adotadas pelo Senhor e Autor da Igreja Certamente, nenhuma veste combina tão bem com um ministro cristão como o “avental da humildade” (1 Pe 5.5) - expressão em que podemos detectar uma lembrança viva de uma ocasião inesquecível.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 240-241.
Jo 6.63. É por essa razão que o próprio Jesus agora também combina mais uma vez sua palavra sobre a ―carne‖ do Filho do Homem, que tem de ser ―comida‖, com o ―Espírito‖, que é o único que vivifica. ―As palavras que vos tenho dito são espírito e são vida.‖ Ao afirmar isso Jesus pode estar pensando em todas as palavras que já dissera aos discípulos. No entanto, nesse caso inclui-se igualmente todo o seu discurso do presente capítulo. Na situação agora relatada por João, com ―as palavras que vos tenho dito‖ Jesus deve estar se referindo sobretudo às considerações de Jo 6.26-59. Ou seja, justamente as palavras que falam de ―comer‖ (―mastigar‖) sua carne e de ―beber‖ seu sangue são na verdade ―Espírito e vida‖. Comer a carne sacrificada de Jesus dá o Espírito e a vida. E novamente o Espírito transforma a palavra da cruz em evangelho libertador e em pão da vida. Assim, o discurso de Jesus no cap. 6 deve ser lido e compreendido como dádiva da vida no Espírito.
Werner de Boor. Comentário Esperança Evangelho de João. Editora Evangélica Esperança.
Jo 6. 63. Jesus traz à lembrança de seus discípulos relutantes que o Espírito é que vivifica, a carne para nada serve (v. 63). A Ascenção e o Espírito andam juntos, quer na teologia do Evangelho de João (cf. 7:39; 20:22), quer no Novo Testamento em geral (ver, Atos 2:33). Todavia, que tipo de distinção Jesus está fazendo aqui, entre Espírito e carne? Como pode Jesus insistir, num só fôlego, na necessidade absoluta de “comer” sua carne e, logo em seguida, que a carne para nada serve? Alguns eruditos pensam que o sermão anterior, o da sinagoga, já não está em vista, mas que Jesus está voltando à distinção que fez a Nicodemos, entre o que vem de Deus e o que meramente vem do homem (cf. 3:6). Outros interpretam o versículo 63 como um qualificativo das tendências sacramentalistas dos vv. 53-58: para a vida cristã do crente, a participação na ceia do Senhor é de importância crucial, desde que esse crente participe do Senhor “espiritualmente” (i.e., de acordo com o sentido verdadeiro do sacramento).
É mais provável que carne tenha o mesmo sentido, aqui, como na primeira ocorrência, no sermão, isto é, no v. 51. “Carne” lá referia-se à morte de Jesus pelo mundo, e se a esta palavra se der um sentido semelhante, no v. 63, a afirmação é que a morte por si só nenhum valor tem. Espírito funciona aqui no sentido de espírito que dá vida, mediando a ressurreição (cf. 1 Coríntios 15:45; Romanos 8:11). Sem a esperança da ressurreição, a morte para nada serve, ainda que em prol de uma causa nobre, e a morte “pela vida do mundo” (v. 51) toma-se uma impossibilidade. O v. 63, desta maneira, acentua a promessa reiterada do sermão precedente, de que “Eu o ressuscitarei no último dia” (6:39,40, 44, 54). Para os hesitantes discípulos do v. 60, as palavras de Jesus pareceram “duras”, visto que o tema do sermão era “carne” e “morte”, mas, à vista da promessa da ressurreição, Jesus pode caracterizá-las, em vez disso, como “Espírito” e “vida” (v. 63).
J. Ramsey Michaels. Comentário Bíblico Contemporâneo João. Editora Vida. pag. 131-132.
Jo 13. 12/14 A ação do lava-pés foi concluída. Não deve continuar sendo uma ação silenciosa e incompreendida. No entanto, como Pedro, os demais discípulos obviamente compreenderão somente depois da Sexta-feira da Paixão e da Páscoa o que Jesus está fazendo agora. Porém, algo muito central de sua ação eles podem de devem ―compreender‖ imediatamente, levando-o para sua vida de discípulos como uma característica básica de todo seu serviço. Os discursos de despedida começam, primeiramente com a instrução e preparação dos apóstolos. ―Depois de lhes ter lavado os pés, tomou as vestes e, reclinando-se novamente à mesa, perguntou-lhes: Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós sois devedores de lavar os pés uns dos outros.‖ Jesus ―havia se reclinado novamente à mesa‖. Nessa refeição Jesus não estava ―sentado‖, mas ―deitado à mesa‖ com os seus. Assim a ceia, embora tenha sido apenas ―uma janta‖, ainda assim tinha conotação festiva. No v. 13, o ―vós‖ é ressaltado com ênfase. Seus discípulos o tratam de ―Mestre‖ e ―Senhor‖. Israel como um todo não o faz. Por isso parecia tão impossível para Pedro que esse ―Mestre e Senhor‖ fizesse o serviço de um escravo. Mas, visto que ele, o Mestre e Senhor, apesar disso o faz, os discípulos não se podem negar a servir uns aos outros.
Terão necessidade desse serviço sem cessar, mesmo que, como salvos e renascidos, sejam ―limpos de todo‖. O lava-pés é indispensável no convívio dos discípulos entre si. Não existe uma igreja ―pura‖ e ideal. Na convivência, mesmo como ―cristãos‖, muitas vezes ferimos uns aos outros, prejudicamos uns aos outros, perturbamos ou tolhemos a comunhão, evidenciamos a pequenez de nossa fé, a fraqueza de nosso amor, a debilidade de nossa esperança. Não está colocado à nossa deliberação se queremos em tudo isso ajudar uns aos outros. ―Vós sois devedores‖ diz Jesus. O serviço dos discípulos entre si de fato possui a característica de um serviço em si, que seu Mestre e seu Senhor lhes presta. É claro que não podem redimir um ao outro. Isso somente o próprio Jesus pode fazer. Mas ―lavar os pés‖ de modo algum se refere apenas a servir genericamente com disposição, a uma ―diaconia‖ geral. Assim como o serviço de Jesus era singular, assim o é também o serviço dos discípulos uns pelos outros. A partir do ato redentor de Jesus, ele é a ajuda perdoadora e purificadora para corrigir, libertar e endireitar. Unicamente pessoas redimidas e realmente salvas ―podem‖ prestar esse serviço.
15 ―Porque eu vos dei um exemplo, para que vós façais como eu vos fiz.‖ Representa uma distorção do evangelho se virmos em Jesus apenas um ―exemplo‖, ao qual queremos imitar com nossas próprias forças. Nessa leitura se ignoraria o que Jesus disse em Jo 3.1ss ao sério fariseu Nicodemos sobre a necessidade do novo nascimento. Por outro lado, também não podemos nem devemos negar que Jesus é ―exemplo‖. Em consonância, ele próprio está se colocando a seus discípulos como ―exemplo‖ precisamente em sua função apostólica. Acrescenta-se que no grego a palavra ―como‖ (kathos) não possui apenas um sentido comparativo, mas também uma conotação de justificativa. Devem ―fazer como Jesus fez‖; porém somente podem fazê-lo porque Jesus agiu primeiro dessa forma com eles.
Werner de Boor. Comentário Esperança Evangelho de João. Editora Evangélica Esperança.
“Vós deveis também lavar os pés uns aos outros” (Jo 13.12-17). Lucas 22.24 nos diz que, enquanto os discípulos entravam na sala em que ocorreria a Ultima Ceia, eles discutiam quem seria o maior no Reino do céu.
Esse pano de fundo encontrado em Lucas nos ajuda a perceber a importância da pergunta de Jesus: “Entendeis o que vos tenho feito?” Se Jesus, seu Senhor e Mestre, podia curvar-se para servir, os discípulos não deviam competir por grandeza, mas, antes, concentrar-se em servir. “Eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também”.
Em algumas tradições cristãs, o lava-pés literal é praticado. Mas a preocupação de Cristo não é com o ato, mas com a postura que ele demonstra. A humildade e o servir são elementos necessários à condição de discípulo cristão. Se somos seguidores de Jesus, certamente devemos seguir o seu exemplo.
Lawrence O. Richards. Comentário Devocional da Bíblia. Editora CPAD. pag. 693-694.
II - O ENSINO DAS ESCRITURAS NA IGREJA DO PRIMEIRO SÉCULO
1. Uma ordem de Jesus.
Embora em missões anteriores Jesus tivesse enviado os discípulos somente aos judeus (10.5,6), a sua missão a partir de então seria a todas as nações. Isto é chamado de Grande Comissão. Os discípulos tinham sido bem treinados, e tinham visto o Senhor ressuscitado. Eles estavam preparados para ensinar as pessoas de todo o mundo a guardar todas as coisas que Jesus tinha mandado. Isto também mostrava aos discípulos que haveria um período entre a ressurreição de Jesus e a sua segunda vinda. Durante este período, os seguidores de Jesus tinham uma missão a cumprir - evangelizar, batizar e ensinar as pessoas a respeito de Jesus para que elas, por sua vez, pudessem fazer a mesma coisa.
As boas novas do Evangelho deveriam ser transmitidas a todas as nações. Com este mesmo poder e autoridade, Jesus ainda nos ordena que contemos a outros sobre as boas-novas, e os façamos discípulos do reino. Nós devemos ir – seja à porta ao lado ou a outro país - e fazer discípulos. Esta não é uma opção, mas um mandamento a todos os que chamam Jesus de “Senhor”. Quando obedecermos, sentiremos conforto sabendo que Jesus está conosco todos os dias. Isto irá acontecer por meio da presença do Espírito Santo na vida dos crentes. O Espírito Santo será a presença de Jesus que nunca os deixará (Jo 14.26; At 1.4,5). Jesus continua a estar conosco hoje, por meio do seu Espírito.
Da mesma maneira como este Evangelho se iniciou, ele termina - Emanuel, “Deus conosco” (1.23).
As profecias do Antigo Testamento e as genealogias do livro de Mateus apresentam as credenciais de Jesus que o qualificam para ser o Rei do mundo - não um líder militar ou político, como os discípulos originalmente tinham esperado, mas o Rei espiritual que pode derrotar todo o mal e governar no coração de cada pessoa. Se nos recusarmos a servir fielmente ao Rei, seremos súditos desleais. Precisamos fazer de Jesus o Rei da nossa vida, e adorá-lo como nosso Salvador, Rei e Senhor.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 171.
Mt 28:18 Toda a autoridade . Em seu estado ressuscitado, Jesus exerce autoridade absoluta em todo o céu e a terra, o que demonstra sua divindade. Sua autoridade foi dada pelo Pai, o que indica que ele continua sujeito ao Pai (ver nota sobre 1 Coríntios. 15:28).
Mt 28:19 O imperativo ( fazer discípulos , isto é, chamar as pessoas a comprometer-se a Jesus como Mestre e Senhor) explica o foco central da Grande Comissão, enquanto os particípios gregos (traduzido go , batizando , e "ensinar" [v.20 ]) descrevem os aspectos do processo. todas as nações . O ministério de Jesus em Israel era para ser o ponto de partida do que viria a ser uma proclamação do evangelho a todos os povos da terra, incluindo não só os judeus, mas também os gentios. O nome (singular, não plural) do Pai, do Filho e do Espírito Santo é uma indicação precoce da divindade trinitária e uma proclamação aberta da divindade de Jesus.
Mt 28:20 O ensino é um meio pelo qual os discípulos de Jesus são continuamente transformados, a fim de tornar-se mais semelhante a Cristo (cf. 10:24-25;. Rom 8:29;. 2 Coríntios 3:18). observar . Obedeça. estou convosco todos os dias . Jesus conclui a comissão, e Mateus seu Evangelho, com o elemento crucial do discipulado: a presença do Mestre, que é "Deus conosco" (Mt 1:23).
BIBLIA DE ESTUDO ESV ENGLISH STANDARD VERSION. Published by Crossway Bibles.
·Ide. portanto, fazei discípulos...·. Algumas traduções dizem ·ensinai todas as nações». Porém, «fazei discípulos· é tradução melhor, embora em Mat. 13:52 seja usada essa expressão com o sentido de «instruir». O fazer discípulos envolve, em primeiro lugar, a necessidade do evangelismo ou da pregação do evangelho; mas também subentende um exercício de treinamento e orientação, de forma que esses discípulos sejam melhor firmados e instruídos na plenitude da mensagem das Escrituras Sagradas. A palavra «portanto·, provavelmente é uma glosa, pois é omitida pelos mss Aleph, AEFHKMSU V, Gamma e outros. Todavia c porção muito antiga do texto, por causa do Códex do Vaticano, como também dos mss Delta e Fam Pi. A glosa é excelente, conforme a maioria dos intérpretes concorda prontamente, porque mostra que essa ação de fazer discípulos dentre todas as nações, repousa na autoridade universal de Cristo. Por conseguinte, sem importar o que aconteça, algum sucesso está garantido; e o que parece ser fracasso, cm realidade não pode sê-lo. Se tragédias acontecerem. se mártires surgirem, se um tratamento vergonhoso for dado aos pregadores, se desumanidades forem perpetradas contra os discípulos, devemos saber que tudo será por causa de Jesus, e que a vitória e o sucesso final estão plenamente assegurados. Se males forem cometidos contra os discípulos de Cristo ״ o que parece não ter remédio, todavia. Deus curará a tudo, porque em Cristo está toda a autoridade, não somente neste mundo, mas também no céu. E, assim sendo, dessa promessa flui um rio de paz e de segurança. Da mesma maneira como a horrenda crucificação de Jesus foi prontamente sarada, final c completamente, pela ressurreição, assim também todos os recuos e derrotas dos verdadeiros discípulos serão sarados, porquanto a autoridade de Jesus Cristo garante isso. ·
·...de todas as nações...» Todas as limitações fronteiriças são aqui removidas, como também se verifica em Mat. 10:5. Assim foi estabelecida a universalidade da comissão apostólica. A questão sobre como os discípulos haveriam de receber e de incorporar-se na igreja, ainda não fora respondida; c ainda não haviam sido feitas as revelações, dadas a Paulo, que identificam a igreja como organismo quase totalmente gentílico uma noiva gentílica, e também aquelas outras que falam da alta chamada dessa igreja, que será transformada completamente segundo a imagem de Cristo. Todas essas coisas haveriam de ser esclarecidas mais tarde e podemos ler acerca delas cm trechos como Rom.8; Efé. 1; Col. 1; Heb. 5. O desenvolvimento dessa semente é deixado nas mãos do Espirito Santo, através do ministério dos apóstolos. Todas as nações certamente incluiria os judeus; mas a mensagem não teria mais alcance provinciano. Um dos principais temas deste evangelho de Mateus é o de demonstrar a universalidade da mensagem cristã; e este é o trecho central desse tema. Assim sendo, encontramos nesta passagem a grande ·Magna Carta· do empreendimento missionário do cristianismo.
·...balizando-os...» Essa declaração tem como base o conceito da triunidade divina. Paulo também ligou dessa maneira Jesus Cristo com Deus Pai e com Deus Espírito Santo, segundo se vê cm II Cor. 13:14 e I Cor. 12:4-6; e o quarto evangelho envolve muita coisa dessa natureza. Este versículo também é evidência de que a mesma geração que conheceu a Jesus Cristo na carne, também já estava reconhecendo as implicações trinitárias, tendo adotado uma expressão das mesmas cm seu rito batismal. Isso se tornou uma fórmula consagrada pelo uso, que tem prosseguimento até os nossos dias. (Ver também Atos 2:38 e 8:16, que subentendem a mesma coisa). Por conseguinte, apesar dessa doutrina não ter recebido sanção oficial senão já no concilio de Nicéia (325 D.C.), todavia, já ganhara a ascendência sobre todas as outras ideias, ao tempo cm que os evangelhos foram escritos. E fútil reivindicar que a doutrina da triunidade divina foi mero pronunciamento de um concilio eclesiástico, porque isso simplesmente não é verdade. O que sucedeu é que nesse concilio a doutrina foi ratificada, aprovada, sobre outras ideias referentes às relações entre o Pai, o Filho e o Espirito Santo. Foi aprovada e não criada, pelo concilio de Nicéia. Os cristãos primitivos talvez não compreendessem a palavra trindade, segundo ela é atualmente empregada como termo teológico; porém, se tivessem sido solicitados a explicar as relações no seio da deidade entre Pai, Filho e Espírito Santo, provavelmente teriam dito algo similar ao que essa doutrina ensina atualmente. Naturalmente que havia muitas vozes contraditórias na igreja, como ainda existem, se incluirmos aqui tudo quanto se convencionou chamar de igreja. Ver sobre a Trindade, 1 João 5:
·,..batizando-os em...» é reflexo do texto grego, neste caso. Aqui tentos uma significação profunda, porquanto expressa admiravelmente bem o sentido do batismo, que é a identificação espiritual com Cristo. Estamos plenamente identificados com Cristo, em sua morte. Compartilhamos dessa morte e de todas as suas implicações. Estamos mortos para o pecado, e fomos libertados do castigo imposto contra o pecado. Também compartilhamos da vida ressurreta de Cristo, que é o outro notável símbolo do batismo. Compartilhamos da vida eterna que Jesus trouxe do túmulo. e como se o sepulcro fosse o ventre da própria vida. Jesus saiu dali uma nova criatura, o primeiro homem imortal. Subsequentemente foi glorificado em sua ascensão, e então ainda mais glorificado quando de sua glorificação, à mão direita de Deus Pai. Agora estamos seguindo as suas pisadas. Participamos de sua imagem moral c metafísica, e participaremos plenamente de sua natureza e imagem.
Essa c a grande mensagem do evangelho, a qual ultrapassa cm muito a simples questão do perdão dos pecados c a mudança dc endereço para o céu. O céu é, essencialmente, o que tiver de suceder conosco, cm termos de transformação em criaturas vastamente superiores, e não apenas o aprazimento de bem-aventurança eterna em um lindo lugar. (Quanto a detalhes dessa importante doutrina, ver as notas em Rom. 8:29. Efé. 3:19, H Ped. 1:4) O batismo é símbolo dessa realidade; não é a própria realidade. A água não transforma, mas essa transformação é operada por nossa identificação com Cristo. A água é meramente o símbolo: a transformação é a coisa simbolizada. Não podemos confundir o símbolo com a verdade simbolizada—são coisas separadas. (Quanto a uma nota sobre o sentido do batismo, ver Rom. 6:3).
o batismo em Cristo não tem a intenção de servir de mera fórmula para o rito batismal, embora possa ser legitimamente usado como tal: pelo contrário, expressa aquela relação mística com Jesus, aquele participar espiritual de toda a sua vida e ser, no sentido mais literal possível, de tal maneira que a própria essência de nosso ser seja transformada ate tomar-se idêntica a essa essência. Essa expressão é paralela àquela expressão de Paulo, «...em Cristo...» Somos batizados em Cristo, no Pai c no Espírito Santo. Dessa forma é assegurada a participação na vida celestial, na vida eterna. Trata-se de nossa identificação com a divindade. Temos aqui uma linguagem mística, que não é fácil de ser entendida. Tão-somente sabemos que envolve algo vastissimamente grande. — Seremos elevados a uma posição que mui raramente é indicada na pregação comum da igreja. Precisamos erguer muito mais os nossos olhos, acima das doutrinas básicas do perdão dos pecados e da mudança de endereço para o céu. O evangelho consiste de muito mais do que está simbolizado pelo rito do batismo em água.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 1. pag. 654-655.
2. A doutrina dos apóstolos.
O ensino do evangelho de Cristo aos novos convertidos era tão sério e profundo, que os primeiros crentes eram batizados em águas, “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. Em cada alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos” (At 2.42, 43 — grifo nosso). A “doutrina dos apóstolos” era o conjunto de ensinos, ministrados por eles aos novos crentes, de forma eficaz, produzindo mudanças e transformações na vida dos que se convertiam, com sinais e maravilhas. Essa doutrina apostólica ainda está em vigor em nossos dias. Os mestres ou doutores, com humildade e amor, devem fundamentar seus estudos nos ensinos preciosos do evangelho de Cristo.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 125.
Atos 2.42 Este primeiro relato da igreja que acabava de nascer descreve a adoraçáo na igreja primitiva, na primeira década da igreja. Os três mil novos crentes se agregaram aos outros crentes. Isto é, se reuniram com outros como eles, pessoas de pensamento e fé semelhantes. Perseveravam implica que estavam regularmente, continuamente, persistindo nas atividades que vinham a seguir.
Estas atividades formam um mapa prático não somente para a igreja de um dia de idade, mas para qualquer igreja, de qualquer idade.
A doutrina dos apóstolos era essencial para o conteúdo daquilo que deveria ser estudado. Os apóstolos, as testemunhas oculares de tudo o que Jesus tinha feito, seriam aqueles a quem o Espírito Santo lembraria as verdades fundamentais segundo as quais a igreja seria conduzida pelos séculos futuros (Jo 14.17,25,26; 16.13). Desde o início, a igreja primitiva se dedicou a ouvir, estudar e aprender o que os apóstolos tinham para ensinar.
A comunhão (do grego, koinonia) significa associação e relacionamentos íntimos. Isto era mais do que simplesmente ficarem juntos, certamente mais do que simplesmente uma reunião religiosa. Isto envolvia compartilhar bens, fazer refeições juntos, e orar juntos.
O partir do pão se refere aos cultos de comunhão que eram realizados como lembrança de Jesus e instituídos de acordo com a Última Ceia, que Jesus tinha tido com os seus discípulos antes da sua morte (Mt 26.26-29). E provável que este culto incluísse regularmente uma refeição em comum (At 2.46; 20.7; 1 Co 10.16; 11.23-25; Jd 1.12).
A oração está ligada ao partir do pão, para explicar a palavra “comunhão”. Estas eram pelo menos duas das atividades que faziam parte das suas reuniões regulares. A oração sempre foi uma marca das reuniões dos crentes.
Atos 2.43 A palavra temor é a palavra grega phobos, literalmente traduzida como “medo”. Este temor era parcialmente causado pelas muitas maravilhas e sinais que os apóstolos faziam. As“maravilhas” (teratá) eram os milagres fabulosos que evocavam assombro naqueles que os viam. Os “sinais” miraculosos (semeia) conferiam autenticidade à mensagem e ao mensageiro, direcionando os observadores a uma fonte divina do milagre ou a uma verdade divina. Aqui, estes sinais e maravilhas conferiam autenticidade à mensagem dos apóstolos, identificando-a como uma verdade divina.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 633.
Os cristãos da igreja primitiva guardavam rigorosamente as ordenanças santas e eram profusos em todo tipo de devoção e piedade, pois o cristianismo, reconhecido em seu poder, coloca a alma em posição de ter comunhão com Deus em todas as maneiras em que Ele nos fez para conhecê-lo e prometeu nos conhecer.
1. Os primeiros cristãos eram diligentes e constantes em reunir-se para ouvir a pregação da palavra. Eles perseveravam na doutrina dos apóstolos (v. 42), sem jamais repudiá-la ou abandoná-la. Ou, conforme outra leitura: “Eles se mantinham constantes no ensino ou instrução dos apóstolos”. Pelo batismo, eles foram discipulados a aprender, ficando propensos ao ensino. Veja que aqueles que se entregam a Jesus devem estar plenamente cônscios da obrigação de ouvir sua palavra, pois assim lhe prestam honras e se edificam a si mesmos sobre a sua santíssima fé (Jd 20).
2. Os primeiros cristãos persistiam na comunhão dos santos. Eles continuaram firmes na comunhão (v. 42), perseverando unânimes todos os dias no templo (v. 46). Essa comunhão consistia no amor uns pelos outros e num rico relacionamento social entre eles. Tratava-se de um povo muito unido. Quando se retiraram da geração perversa, não viraram ermitões, mas se achegaram ainda mais uns aos outros e aproveitavam toda oportunidade para se reunirem. Onde quer que haja um discípulo, tem de haver mais, uma vez que são gente da mesma origem e essência. Veja como estes cristãos amam uns aos outros.
Eles se preocupavam uns com os outros, demonstravam simpatia mútua e, de coração aberto, defendiam as causas uns dos outros. Comungavam juntos na adoração religiosa.
Reuniam-se no templo: esse era o lugar do encontro, pois nossa comunhão conjunta com Deus é a melhor comunhão que podemos ter uns com os outros (1 Jo 1.3).
Observe: (1) Os cristãos da igreja primitiva estavam todos os dias no templo (v. 46), não só nos sábados e nas festas solenes, mas em outros dias, diariamente. Adorar a Deus tem de ser nossa atividade diária, e, sempre que houver oportunidade, quanto mais vezes fizermos publicamente melhor. O Senhor ama as portas de Sião (SI 87.2), e devemos imitá-lo. (2) Os cristãos da igreja primitiva eram unânimes (v. 46). Não havia discórdia ou discussão entre eles, somente amor santo. Com prazer e entusiasmo, eles se reuniam nos cultos públicos. Embora se agregassem aos judeus nos pátios do templo, os cristãos mantinham reuniões exclusivamente suas e eram unânimes em suas orações separadas.
3. Os primeiros cristãos juntavam-se na ordenança da Ceia do Senhor. Eles perseveravam L~.j no partir do pão (v. 42), celebrando o memorial da morte do Mestre, como pessoas que não se envergonhavam de relacionar- se e depender de Jesus Cristo e este crucificado (2 Co 2.2). Eles não podiam deixar de lembrar a morte de Cristo, por isso mantinham este momento comemorativo e o tornaram prática constante, porque era uma instituição de Cristo a ser transmitida às eras sucessivas da igreja. Eles repartiam o pão em casa, kat oikon - de casa em casa. Não julgavam adequado celebrar a Ceia do Senhor no templo, visto que isso era peculiar aos estabelecimentos cristãos. Por isso, ministravam essa ordenação em casas particulares, escolhendo as casas dos cristãos convertidos conforme a praticidade, às quais os vizinhos se dirigiam. Eles iam de uma a uma destas pequenas sinagogas ou capelas domésticas, casas que continham igrejas, e lá celebravam a Ceia do Senhor com as pessoas que normalmente se reuniam ali para adorar a Deus.
4. Os primeiros cristãos perseveravam [...] nas orações (v. 42). Depois que o Espírito foi derramado, como também antes enquanto o esperavam, eles permaneceram imediatamente em oração. A oração jamais será substituída até que venha a ser absorvida no louvor perpétuo. o partir do pão se coloca entre a obra e a oração,
pois se liga a ambas, e é uma forma de assistência apara ambas. A Ceia do Senhor é um sermão para os olhos e uma confirmação da palavra de Deus para nós. É um incentivo para as nossas orações e uma expressão solene da ascensão de nossa alma a Deus.
5. Os primeiros cristãos abundavam em ação de graças; sempre estavam louvando a Deus (v. 47). O louvor deve ser parte de toda oração e não algo a ser escondido num canto. Aqueles que recebem o dom do Espírito Santo devem ser ricos em louvores a Deus.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 24.
Atos 2. 42 Como continua a história após o agitado dia de Pentecostes? É significativo que, como nas últimas palavras de Jesus sobre o serviço testemunhal de seus discípulos, não encontramos aqui frases de exortação e ordens, mas apenas simples frases afirmativas. Na verdade, nós achamos que depois de conversões e conquistas espirituais é preciso imediatamente advertir: “Agora vocês também devem…!” Naquele tempo não havia necessidade disso, pois o Espírito estava presente e concedia com vivacidade o que nós nem mesmo com numerosas exortações alcançamos. “E perseveravam…”. O entusiasmo emocional se desfaz rapidamente, o Espírito Santo cria algo permanente.
Em que perseveravam? Sobretudo “na doutrina dos apóstolos”. Ocorria o que ainda hoje muitas vezes acontece em conversões: o centro da vida foi atingido pela evangelização, a mudança decisiva havia acontecido, pessoas se tornaram propriedade de Jesus – mas como sabiam pouco a respeito de Jesus! Como estavam ávidas para aprender mais, muito mais de Jesus! Não precisavam ser pressionadas para ler a Bíblia, se acotovelavam em torno do NT vivo que estava diante deles nas pessoas dos apóstolos. Temos de imaginar agora o “ensino” dos apóstolos de acordo com o costume judaico, de forma bem escolar e justamente por isso satisfatório e abençoador. Os apóstolos não desenvolviam pensamentos teológicos e dogmáticos, mas relatavam “todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar” (At 1.1), relatavam o que haviam vivenciado com Jesus e transmitiam os ditos, discursos e parábolas do Senhor. E os ouvintes gravavam tudo na memória, aprendendo-o de cor como pessoas acostumadas desde a infância a fixar na memória muita Bíblia. É dessa maneira que os evangelhos estavam vivos no coração e na memória de numerosas pessoas muito tempo antes que algo tenha sido escrito. Esse aprender e decorar, porém, não era “monótono”, mas abençoador. Como a pessoa era enriquecida quando absorvia cada vez mais desse Jesus, a quem ela pertencia com profunda gratidão, por ser o Salvador e Messias!
Desde já o ensinamento dos apóstolos tinha ainda uma segunda incumbência. As pessoas eram israelitas. Até então o ensino dos escribas lhes havia mostrado como aplicar a lei a todas as minúcias da vida. Por essa razão elas gostavam de ir aos escribas com todas as perguntas sobre a organização da vida. Agora a vida pertencia a Jesus; queriam vivê-la para ele, para agradar-lhe. Como ela acontecia? Como se seguiam na prática “os passos de Jesus” (1Pe 2.21)? Era isso que os apóstolos tinham de mostrar agora aos recém-convertidos, ainda que não o pudessem fazer ao modo rabínico e legalista.
Finalmente os apóstolos devem ter realizado por meio de sua “doutrina” mais uma coisa que era imprescindível justamente para israelitas: mostravam o que correspondia às grandes promessas da antiga Aliança na vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus. Conseqüentemente, o próprio Jesus havia “exposto a Escritura” aos discípulos, de sorte que “lhes ardia o coração” (Lc 24.27-32). Por isso, tanto Pedro como Paulo traziam em todos os seus discursos a “prova da Escritura”. Em vista disso, os jovens cristãos em Jerusalém, do mesmo modo como mais tarde as pessoas em Beréia, podiam examinar pessoalmente “se as coisas eram, de fato, assim” (At 17.11). Jesus foi evidenciado como o cumprimento do Antigo Testamento, e o Antigo Testamento se abria, a partir de Jesus, sob uma luz completamente nova para todos.
Igualmente, porém, perseveravam “na comunhão”. Pedro havia falado somente da redenção e da conversão do indivíduo. De fato constitui um ato de cada pessoa dar meia-volta e deixar-se salvar, assumindo plena responsabilidade por sua decisão. Não se diz nenhuma palavra de que em seguida Pedro ainda teria falado a respeito de que agora tinham de permanecer juntos e ser bem fiéis comparecendo a todas as programações. Não se fazia campanha para fundar uma igreja nem havia sido deliberada a formação de uma associação dos que crêem em Jesus. Tudo isso era desnecessário, porque “perseveravam na comunhão”. Com muita naturalidade eram atraídos uns pelos outros. Não havia quem quisesse ficar sozinho agora.
Essa comunhão não é apenas espiritual e edificante, mas uma comunhão de vida concreta. Isso se expressa no “partir do pão”. A princípio a palavra refere-se simplesmente à refeição conjunta, que segundo o costume judaico é iniciada com o partir e partilhar do pão (cf. At 20.11; 27.35; Mt 14.19;
15.36; Lc 24.30,35). Tomavam a refeição juntos, obviamente, como diz o v. 46, em grupos nas casas. Nesse contexto a comunhão podia tornar-se concreta na partilha e na doação. Contudo, segundo At 20.7 podemos pressupor que Lucas já via diante de si no “partir do pão” simultaneamente a celebração da ceia do Senhor. Essa celebração resultava da refeição conjunta – exatamente como na instituição pelo próprio Jesus – e acontecia vivamente bem longe de altar, liturgia e sacerdócio, nas casas e refeições caseiras. Era assim que ainda acontecia até mesmo na igreja de gentios de Corinto, como mostra 1Co 11.17-34.
Por fim, são também persistentes “nas orações”. Considerando que todos os aspectos falam da vida comunitária da primeira igreja, precisamos imaginar por “orações” acima de tudo as comunhões de oração. Crer em conjunto impele para orar em conjunto. Afinal, quantas coisas havia diariamente para repassar em oração, mesmo que esse orar ainda se ativesse completamente aos parâmetros de Israel. Todos eram participantes da comunhão de oração, pela gratidão e humildade, súplica e intercessão. Como israelitas, os membros da igreja de Jesus estavam acostumados a orar regularmente. Os salmos e a “oração das dezoito preces” estavam nos lábios de todos. No entanto, apesar de todas essas orações eles haviam sido “a geração perversa”, cuja oração era imprestável. Agora lhes foi concedido que pudessem invocar o Pai em Espírito e em verdade, o grito filial de um coração repleto do Espírito do Filho (Jo 4.24; Rm 8.15; Gl 4.6). Que belas reuniões de oração aconteciam agora! At 4.23,24 nos propiciará uma visão delas.
Atos 2. 43 “Cada alma, porém, enchia-se de temor.” Consideramos isso estranho? O “temor de Deus” obviamente se tornou algo desconhecido para nós, porque Deus ficou distante e impreciso, uma mera idéia de nossas cabeças. Acerca dos primeiros cristãos, porém, Bengel escreve com razão ao comentar este trecho: “Habebant enim DEUM praesentum” – “A saber, tinham a DEUS presente”. Para pessoas salvas, portanto, o temor não era aquele medo do castigo, sobre o qual João escreve que é lançado fora pelo amor perfeito (1 Jo 4.18). Pelo contrário, era o respeito sagrado daqueles que agora de fato “habitavam” na presença de Deus pelo Espírito Santo e por isso “com o fogo devorador e com as chamas eternas”, de que falou Isaías 33.14. É o “temor” que Pedro deseja aos fiéis como característica permanente de toda a sua conduta (1Pe 1.17).
Essa proximidade de Deus se tornou palpável nos “prodígios e sinais, que aconteciam por intermédio dos apóstolos”. Deus é por natureza um Deus dos milagres, um Deus que intervém nas realidades da vida, ajudando, libertando e restaurando. Em vista disso, o “temor” sobreveio também àqueles que ainda não pertenciam à igreja. Olhavam com apreensão para esses cristãos, entre os quais Deus se mostrava tão poderoso, e evitavam chegar perto demais deles. Tinham uma sensação de que Deus ainda era algo diferente daquele personagem da tradição antiga, em quem haviam “crido” e que haviam venerado em formas do passado sem um abalo especial do coração. É uma marca de autenticidade daqueles “prodígios e sinais” o fato de não desencadearem entusiasmo e fanatismo, mas “temor”.
Werner de Boor. Comentário Esperança Atos. Editora Evangélica Esperança.
3. Ensinamento persistente.
Os primeiros mestres ou ensinadores foram os integrantes do Colégio Apostólico. Como pioneiros na propagação do evangelho, foram perseguidos, presos e alguns mortos. Mas cumpriram a ordem de Jesus de pregar e ensinar a sua Palavra. Diz o texto bíblico: “E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar e de anunciar a Jesus Cristo” (At 5.42). Não perdiam tempo. Não havia templos cristãos. A igreja começou nas casas. O ensino era ministrado a pequenos grupos nos lares. C) apóstolo Paulo, falando aos anciãos de Éfeso, mostrou o caráter do seu ensino como verdadeiro mestre cristão: “servindo ao Senhor com toda a humildade e com muitas lágrimas e tentações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram; como nada, que útil seja, deixei de vos anunciar e ensinar publicamente e pelas casas, testificando, tanto aos judeus como aos gregos, a conversão a Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20.19-21 — grifo nosso).
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 125-126.
Atos 5. A maravilhosa ousadia e constância dos apóstolos em meio a todas estas injúrias e indignidades sofridas. Quando foram liberados (e os deixaram ir, v. 40), eles retiraram-se [...] da presença do conselho (v. 41). Não há registro de sequer uma palavra dita reflexivamente pelos apóstolos sobre o julgamento e o tratamento injusto que receberam. Quando os perseguidores os injuriavam, não injuriavam e, quando padeciam, não ameaçavam, mas entregavam a causa àquele a quem Gamaliel se referira - a Deus que julga justamente (1 Pe 2.23). As tarefas dos apóstolos eram preservar a posse de suas almas e fazer prova cabal do seu ministério apesar da oposição que enfrentavam. E eles desempenharam admiravelmente ambas as tarefas.
1. Os apóstolos suportaram os sofrimentos com alegria indómita: Eles se retiraram da presença do conselho (v. 41), talvez com as marcas das chicotadas nos braços e nas mãos, sob vaias dos escravos e da populaça, e com divulgação pública dada do castigo infame que sofreram.
Em vez de se envergonhar de Jesus e de sua ligação com Ele, regozijaram-se de terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome cle Jesus. Os apóstolos eram homens de reputação que jamais haviam feito nada de desprezível. Assim, não podiam deixar de sentir vergonha pelas coisas que padeceram, as quais lhes eram mais dolorosas que uma dor aguda e violenta, como normalmente é para os puros. Mas em sua ótica, eles suportavam os maus-tratos pelo nome de Jesus, porque lhe pertenciam e serviam aos seus interesses. Os sofrimentos devem contribuir para o maior avanço do seu nome-, e, portanto: (1) Os apóstolos consideraram uma honra serem achados dignos de padecer afronta, katexiothesan atimasthenai - eles foram honrados por serem desonrados por Jesus. A repreensão sofrida por Jesus é a verdadeira promoção, visto que nos conforma ao seu padrão e é útil aos seus interesses. (2) Os apóstolos se alegraram no sofrimento, lembrando-se do que o Mestre lhes dissera no início da obra: Quando vos -injuriarem, e perseguirem, [...] exultai e alegrai-vos (Mt5.11,12). Eles se alegraram a despeito de padecer afronta (as dificuldades não lhes diminuíram a alegria) e pelo fato de padecer afronta (as dificuldades aumentaram-lhes a alegria). Se padecermos adversidades por fazermos o bem, contanto que padeçamos apropriadamente e como devemos, nos regozijemos nessa graça que nos capacita a agir assim.
2. Os apóstolos prosseguiram na obra com diligência infatigável: Eles foram castigados por pregarem no nome de Jesus (v. 40) e receberam a ordem de não pregarem mais nesse nome. Contudo, eles não cessavam de ensinar e de anunciar (v. 42). Não deixaram de aproveitar toda oportunidade, nem diminuíram nada em seu zelo ou fervor.
Observe: (1) Quando os apóstolos pregavam: Todos os dias (v. 42). Não só em dias de sábado ou nos dias do Senhor, mas diariamente, tão regularmente quanto chegava o dia, sem falhar um dia sequei; como fez o Mestre (Mt 26.55, Lc 19.47). Eles não temiam ser mortos ou enfadai- os ouvintes. (2) Onde os apóstolos pregavam: publicamente no templo e particularmente nas casas (v. 42). Em reuniões heterogéneas, nas quais todos acorriam, e nas reuniões seletas de cristãos para ordenanças especiais. Eles não pensavam que um tipo de reunião os dispensaria de outro, pois a palavra deve ser pregada a tempo e fora de tempo (2 Tm 4.2).
No templo, os apóstolos estavam sob o olhai’ dos inimigos e mais expostos ao público. Mesmo assim, não se limitaram aos pequenos oratórios de suas próprias casas, mas se arriscaram na plataforma do perigo. Embora tivessem a liberdade do templo, um lugar consagrado, não lhes era difícil pregai- nas casas, em todas as casas, até na cabana mais pobre. Eles visitavam as famílias dos irmãos que estavam sob perseguição e lhes davam instruções particulares segundo requeria cada caso, até para crianças e escravos. (3) Qual era o tema que os apóstolos pregavam: Eles anunciavam a Jesus Cristo (v. 42). Eles pregavam mensagens relativas a Ele. E não era tudo, eles o recomendavam altamente, apresentando-o aos que os ouviam como Principe e Salvador (v. 31). Eles não pregavam a si mesmos, vias a Cristo Jesus (2 Co 4.5), como amigos fiéis do noivo, tornando sua tarefa promover o interesse dele. Esta era a pregação que mais ofendia os sacerdotes, que queriam que eles pregassem qualquer coisa, menos Jesus Cristo. Mas eles não mudariam o tema para agradá-los. Os ministros do evangelho devem ser constantes em anunciar senão a Jesus Cristo e este crucificado (1 Co 2.2), anunciar a Jesus Cristo e este glorificado. Nada mais que Jesus Cristo e o que for conversível a este tema.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 58-59.
Atos 5. 40 O partido dos sacerdotes não pode simplesmente ignorar o respeitado mestre teológico e seus companheiros de opinião no Sinédrio. Apesar de toda a sua fúria, deve ter havido também um resquício de insegurança em seu coração. Tampouco havia uma inequívoca base legal para uma sentença de morte. “Deixaram-se determinar por ele”. Gamaliel havia solicitado que os acusados saíssem, a fim de possibilitar uma deliberação sigilosa. Dessa maneira os personagens odiados estavam fora do campo de visão dos sacerdotes. Isso facilitou o veredicto rápido.
Os apóstolos são chamados de volta, e reitera-se a proibição de que falem. Para aguçá-la enfaticamente aplicam-se neles os açoites que nos são conhecidos como os “quarenta menos um” também da vida de Paulo (2Co 11.24), e que podiam ser aplicados como castigo em qualquer sinagoga. Então os apóstolos são liberados.
Atos 5. 41/42 Na seqüência lemos a respeito deles as preciosas frases: “E eles se retiraram do Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome. E em nenhum dia cessavam de ensinar e proclamar o Messias Jesus no templo e de casa em casa.” Não consideravam importantes as agudas dores de um lombo ensangüentado. Elas nem mesmo são mencionadas. Contudo, sentiram profundamente a desonra que, aos olhos de seus inimigos, estava implícita nessa flagelação física dessas. Ainda assim, saem do Sinédrio não quebrados, nem se lamentando, e tampouco amargurados, mas “regozijando-se”. Diante das pessoas seu sofrimento obviamente era uma desonra, mas perante Deus era “uma dignidade que não é conferida a qualquer um”. Cumprem a palavra que o próprio Jesus lhes dissera como “bem-aventurança” (Mt 5.11s; Lc 6.22s). Notamos quando Pedro fala de uma experiência bem pessoal quando mais tarde escreve em sua carta: “Pois que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o suportais com paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus.” (1Pe 2.20; cf. também At 4.14-16). Os apóstolos não foram açoitados “por terem pecado”, e sim “por esse nome”, pelo nome maravilhoso em favor do qual se consegue sofrer tudo com alegria. Destemidamente eles continuam sua atividade, no templo, diante dos olhares dos sacerdotes, e também nas diversas casas. Eles “evangelizavam”, disse Lucas literalmente, empregando aqui pela primeira vez essa bela palavra. O conteúdo da evangelização pode ser sintetizado naquelas duas palavras que nós sentimos apenas ainda como um “nome”: evangelizavam o “Messias Jesus”. Na verdade esse é o testemunho que é a base de todo o evangelho: Jesus é o Messias, Jesus é o Cristo, Jesus é o cumpridor de todas as promessas divinas, o Salvador da culpa e da morte, o Rei de Israel e o Consumador do mundo.
Werner de Boor. Comentário Esperança Atos. Editora Evangélica Esperança.
Atos 5. 40. Os argumentos de Gamaliel tiveram o efeito de refrear os saduceus entre os membros do Sinédrio. Quando os apóstolos foram reconvocados diante do tribunal, voltaram a ser admoestados a não falarem em nome de Jesus, e a admoestação foi enfatizada com açoites. Este era o castigo judaico de “quarenta açoites menos um”, que o Sinédrio ou os oficiais de uma sinagoga podiam aplicar no caso de transgressões contra a lei judaica (22:19; 2 Co 11:24; Mc 135). Não se tratava de uma opção suave; têm havido mortes causadas por este castigo, embora fossem excepcionais. Pretendia ser uma lição séria para os transgressores.
Atos 5. 41-42. Não somente o castigo fracassou, quanto ao causar desânimo aos cristãos (v. 42), como também os encheu de júbilo. Sofreram ignomínia e dores físicas e, portanto, num sentido mais palpável, não deveriam estar se sentindo felizes. Ao mesmo tempo, porém, sua reação foi de regozijo, porque Deus os considerara dignos de aceitarem a sua porção de sofrimento por amor ao evangelho, ou, conforme a expressão aqui, por amor ao Nome (21:13; 3 Jo 7), i.é, de Jesus. Aqui temos um exemplo concreto do “alegrar-se nos sofrimentos” que deve ser a marca que destaca o cristão sob perseguição (1 Pe 4:13; cf Mt 5:11-12; Rm 5:3-4; 2 Co 6:10; 1 Pe 1:6-7). Finalmente, conforme se poderia esperar, a experiência deles nada fez para diminuir o ardor do testemunho dos Apóstolos sobre Jesus como Messias. É provável que o Sinédrio pouca coisa podia fazer para impedi-los de evangelizarem nos seus lares. Mesmo assim, também continuaram as suas atividades no templo, sem serem molestados por algum tempo, segundo parece.
I. Howard Marshall. Atos. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 120.
Aots 20. 20-21. A pregação de Paulo era autêntica (w. 20,21). Ele foi a Éfeso para pregar o evangelho de Cristo, fora-lhes fiel e àquele que o comissionou. (1) O apóstolo era um pregador claro. Ele entregava as mensagens de modo bastante compreensivo. Essa interpretação se baseia em duas palavras: Nunca deixei de vos anunciar e ensinar (v. 20). Ele não divertiu os efésios com especulações sutis, nem os levou para depois abandoná-los nas nuvens de altas teorias e sublimes expressões. Ele lhes anunciou as verdades claras do evangelho, verdades da maior influência e importância, e lhes ensinou como se ensina a crianças. “Eu vou anunciei o caminho certo para a felicidade, e vos ensinei a andar nele.” (2) O apóstolo era um pregador poderoso, idéia implícita no fato de testemunhar aos efésios (v. 21, testificando). Ele pregou como se estivesse sob juramento, como se estivesse inteiramente certo da verdade que defendia. Seu único desejo era que a mensagem os convencesse, os influenciasse e os orientasse. Ele anunciou o evangelho, não como um vendedor de jornais que proclama as manchetes na rua (pouco lhe importando se o que proclama é verdadeiro ou falso), mas como testemunha conscienciosa que apresenta provas no tribunal, com a maior seriedade e solicitude. Paulo pregou o evangelho como uma testemunha a favor deles, caso o recebessem, e como uma testemunha contra eles, caso o rejeitassem. (3) O apóstolo era um pregador útil (v. 20). Em todas as suas pregações, objetivava fazer o bem àqueles para quem pregava. Ele proclamava tudo que fosse útil aos efésios, que tendesse a torná-los sábios e bons, mais sábios e melhores, que documentasse seus julgamentos e corrigisse seus corações e vidas. Ele pregava ta sympheronta, as coisas que traziam consigo a luz, o calor e o poder divino para suas almas. Não basta deixar de pregar o que é prejudicial, aquilo que leva ao erro ou endurece no pecado, mas temos de pregar o que é útil. Nós fazemos tudo isto, ó amados, para vossa edificação (2 Co 12.19). Paulo não tencionava pregar o que fosse agradável, mas o que fosse útil. E, quando agradava, o alvo era ser útil. A Bíblia diz que Deus ensina ao seu povo o que é útil (Is 48.17).
Os que ensinam ao povo o que é útil estão ensinando no lugar de Deus. (4) O apóstolo era um pregador esmerado, muito diligente e infatigável em seu trabalho: Ele pregava publicamente e pelas casas (v. 20). Ele não se confinava a um lugar quando tinha oportunidade de pregar na grande congregação, nem se limitava à congregação quando havia a chance de ensinar particular e pessoalmente. Não tinha medo nem vergonha de anunciar o evangelho publicamente, nem pregava com má vontade reservadamente, entre uns poucos, quando havia oportunidade para tal. Ele pregava publicamente ao rebanho que vinha em busca de pastos verdejantes e ia pelas casas buscar as ovelhas fracas e as desgarradas, sem nunca pensar que um modo de pregar excluía o outro. Em suas visitas particulares e enquanto vão de casa em casa, os ministros devem discorrer sobre os mesmos assuntos que ensinam publicamente. Devem repeti-los, repisá-los, explícá-los e, caso necessário, perguntar: Entendestes todas estas coisas? (Mt 13.51). E, sobretudo, devem ajudar as pessoas a aplicar a verdade a si mesmas e à sua própria situação. (5) O apóstolo era um pregador fiel: Ele não só pregava o que era útil, mas tudo que julgasse que fosse útil para os efésios. Não havia nada que ele retivesse (v. 20), mesmo que a pregação lhe custasse mais sofrimentos ou fosse desagradável para alguns e o expusesse ao ódio de outros. Ele se recusava a não pregar tudo que, em sua opinião, fosse útil, mesmo que não fosse nem agradável, nem aceitável para alguns. Ele não continha as reprimendas, quando necessárias e úteis, por medo de ofender, nem reprimiu a pregação da cruz, embora soubesse que era escândalo para os judeus e loucura para os gregos (1 Co 1.23), como fizeram recentemente os missionários romanos na China. (6) O apóstolo era um pregador universal: Ele testemunhou tanto aos judeus corno aos gregos (v. 21). Paulo nasceu judeu, foi criado como judeu, tinha um afeto profundo pela nação judaica e aprendeu as discriminações judaicas em relação aos gentios. Todavia, não se limitou aos judeus e nem evitou os gentios. Ele pregava de bom grado aos gentios tanto quanto aos judeus e se relacionava tão livremente com um grupo quanto com o outro.
Por outro lado, mesmo tendo sido chamado para ser o apóstolo dos gentios, e os judeus nutrissem uma inimizade implacável contra ele çor conta disso, muitos lhe causaram danos, e aqui, em Efeso, ainda que houvesse muitas conspirações contra sua vida, ele não abandonou a igreja aqui localizada; pelo contrário, continuou lidando com eles para fazer-lhes o bem. Os ministros têm de pregar o evangelho com imparcialidade porque são ministros de Cristo para a igreja universal. (7) O apóstolo era um pregador verdadeiramente cristão: Ele não pregava noções filosóficas ou questões de discussão duvidosa, nem pregava política ou se intrometia em assuntos do estado ou do governo civil. Ele pregava a f é e o arrependimento - os dois grandes temas do evangelho suas características e exigências. Esses eram temas nos quais insistia em todas as ocasiões. [1] O arrependimento para com Deus (v. 21, versão RA; ou a conversão a Deus, RC).
Aqueles que, pelo pecado, haviam-se afastado de Deus e estavam cada  vez mais se distanciando dele em um estado de separação completa e infinita, devem, pelo verdadeiro arrependimento, converter-se e correr para Ele. Paulo pregava o arrependimento como o grande mandamento de Deus (cap. 17.30) e dizia aos efésios que deviam obedecer-lhe para que se emendassem e se convertessem a Deus, fazendo obras dignas de arrependimento (conforme explica, cap. 26.20). Ele pregava o arrependimento como o dom de Cristo para a remissão dos pecados (cap. 5.31) e orientava os efésios a buscar esse perdão em Jesus. [2] A fé em nosso Senhor Jesus Cristo (v. 21).
Pelo arrependimento, temos de olhar para Deus como nossa meta, e pela/é, temos de olhar para Jesus Cristo como nosso caminho para Deus. Pelo arrependimento, devemos abandonar e deixar os pecados para que, então, pela fé, recebamos de Jesus o perdão dos pecados. Não basta nos arrependermos diante de Deus. Devemos demonstrar uma verdadeira/e em Jesus Cristo como nosso Redentor e Salvador, andando com Ele como nosso Senhor e nosso Deus. Pois não há acesso a Deus, como filhos pródigos arrependidos indo ao Pai, senão pela autoridade e justiça de Jesus Cristo como Mediador. Todos os anciãos efésios sabiam que Paulo fora um pregador desse tipo. E para prosseguirem com a mesma obra, eles têm de andar no mesmo espírito e nas mesmas pisadas.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 222-223.
Atos 20. 20 Tribulações e dificuldades não o levaram a “omitir nada do que vos seja salutar, de vos anunciar e ensiná-lo” [tradução do autor]. Paulo praticou as duas modalidades de serviço que constantemente se tornam necessárias: “anunciar” a mensagem e “ensinar” em todas as questões que surgem da mensagem para a fé e a vida de cada pessoa e da comunhão. Com zelo intenso ele aproveitou cada oportunidade para agir “publicamente e também nas casas”[tradução do autor].
Atos 20. 21 Dirigiu-se “tanto a judeus como a gregos”. Atualmente poderíamos dizer: pessoas ligadas à igreja e afastadas, pessoas religiosas e secularizadas. Conteúdo e alvo de sua proclamação eram simples, ainda que poderosos. Estava em jogo nada mais e nada menos que “o arrependimento para Deus e a fé em nosso Senhor Jesus”. Novamente não havia uma instrução detalhada “sobre” Deus, mas a ação pessoal decisiva de voltar-se para Deus, “deixando os ídolos” (1Ts 1.9), libertos do “império das trevas” (Cl 1.13), de volta ao único e legítimo Senhor e Criador. E o principal novamente não é o conhecimento teológico correto de Jesus, mas a “fé” em Jesus como o “Senhor”, a entrega confiante e obediente da vida a ele. Paulo também esperou esse “arrependimento para Deus” incondicionalmente dos “judeus” (ou seja, das pessoas religiosas e ligadas à igreja), do mesmo modo como Pedro fez no dia de Pentecostes (At 2.38). Também o judeu devoto estava “morto para Deus” (Ef 2.3), precisando “salvar-se desta geração perversa” (At 2.40). No entanto, também para o “grego” (para o afastado, a pessoa do mundo secularizado) essa salvação é viável de modo imediato e sem o desvio pela “lei”. Isso significa, inicialmente para rebater os judaístas: o “grego” não precisa tornar-se “judeu” antes que possa alcançar a salvação. Ao mesmo tempo, porém, também significa: “o ser humano de fora” não precisa tentar tornar-se “melhor” ou “mais devoto” pelo cumprimento de quaisquer mandamentos, por exercícios místicos ou ascéticos, ou pela submissão a cerimônias eclesiásticas. A libertação plena e integral encontra-se também para ele unicamente na “fé em nosso Senhor Jesus” (At 16.31).
Werner de Boor. Comentário Esperança Atos. Editora Evangélica Esperança.
Atos 20. 20. O ministério pastoral de Paulo se realizava publicamente em reuniões (tais quais aquelas que se realizavam na escola de Tirano) e também de casa em casa (2:46; cf. Rm 16:5; Cl 4:15; Fm 2). Paulo dá considerável ênfase ao fato de que, no decurso de tudo, não deixara de ensinar qualquer coisa que fosse proveitosa para seus ouvintes (cf. v. 27), embora nem sempre fosse bem aceita (G1 4:16, cf. 2 Co 4:2). Paulo enfatiza tão fortemente este aspecto que tem surgido a suspeita de que respondesse a alguma acusação, ou de que Lucas está deixando Paulo defender-se contra acusações posteriores.
Semelhantes defesas-próprias eram típicas de discursos de despedida (1 Sm 12:2-5; o tema é frequente nos Testamentos dos Doze Patriarcas). Lucas não registrou quaisquer críticas contra Paulo em Éfeso, mas sabemos que Paulo foi criticado em Corinto por defensores de “outro evangelho” (2 Co 11:4), e talvez seja este o tipo de acusação que Paulo aqui tem em mente.
Atos 20. 21. O resumo que Paulo aqui dá daquilo que realmente pregava é notavelmente simples. Os comentaristas têm sido dispostos a ver aqui um quiasmo nas suas palavras: i.é, que proclamava aos judeus a necessidade da fé, e aos gregos, a necessidade do arrependimento, respectivamente. Em linhas gerais, esta é a verdade, pois o arrependimento e o voltar-se para Deus faziam parte especialmente da mensagem aos gentios (1 Ts 1:9; cf. Gl 4:8-9; Hb 6:1), ao passo que os judeus eram conclamados a voltar-se das obras da lei para a fé. Mesmo assim, a fé era necessária para todos os convertidos (Rm 10:9-13 ressalta que os judeus e os gentios são iguais neste assunto; cf. Rm 1:16), e o arrependimento também era necessário no caso dos judeus. A teoria do quiasmo, portanto, é incerta. O termo arrependimento não é especialmente usado por Paulo; aqui temos um termo que faz mais parte do vocabulário de Lucas, mas serve como equivalente do uso que Paulo faz de “conversão” (1 Ts 1:9).
I. Howard Marshall. Atos. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 308-309.
Atos 13. A Incumbência (13.1-3).
Literalmente, o versículo 1 diz: “Na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores” (ASV; cf. NEB). No livro de Atos, a palavra igreja é usada quase exclusivamente para a congregação local, enquanto as epístolas — principalmente Efésios — se referem muitas vezes a toda a Igreja de Jesus Cristo. No entanto, em Atos ela conserva uma referência aos crentes de Jerusalém (5.11; 8.1,3; 11.22) exceto em duas ocasiões (7.38; 9.31).
A cidade de Antioquia na Síria era a terceira maior cidade do Império Romano (depois de Roma e Alexandria). Era o lugar onde os seguidores de Cristo receberam pela primeira vez o nome de “cristãos” para diferenciá-los dos crentes judeus das Sinagogas. Portanto, esta seria a localização lógica a partir da qual seria lançada a grande missão voltada aos gentios. A mentalidade tacanha e fortemente judaica de muitos discípulos de Jerusalém (cf. 15.1; 21.17-25) iria se revelar como um grande empecilho para qualquer movimento de caráter mundial se Jerusalém fosse o seu quartel general. Portanto, Antioquia tornou-se a base principal da evangelização do mundo gentílico. Sua localização (ver o mapa 3), na extremidade norte da Síria, em frente à Ásia Menor e Europa, também era muito favorável. Do ponto de vista psicológico e também geográfico, esta cidade era providencialmente adequada para se tornar um registro do lançamento do ataque ao mundo pagão que estava além do judaísmo. O cristianismo havia deixado de ser uma seita do judaísmo para se transformar em uma religião que conquistaria o mundo.
Foi feita uma referência a alguns profetas e doutores da igreja de Antioquia. No Novo Testamento, o termo profetas parece ter sido usado principalmente para os “pregadores”. A palavra grega prophetes (de prophemi, “falar”, com o sentido de declarar) significa “aquele que age como intérprete ou comunicador da vontade divina”, e da mesma maneira ela foi usada pelos profetas do Antigo Testamento (e.g., 3.22-23; 7.37; 8.28). Mas agora, como nas epístolas de Paulo, este termo é aplicado àqueles que pregam o Evangelho.
Os profetas eram considerados logo depois dos apóstolos, e os doutores ou mestres ocupavam o terceiro lugar (1 Co 12.28). Depois que a função de apóstolo havia terminado, os profetas e os doutores passaram a constituir os dois principais grupos de obreiros da igreja dignos de receber apoio, como mostra claramente o Didache (c. 13) do segundo século.
Na língua grega, a partícula te é colocada antes da palavra Barnabé e com Manaém. Este fato levou Ramsay a sugerir que a relação de cinco nomes deveria ser dividida em duas partes, com os três primeiros sendo designados como profetas e os dois últimos como doutores. Lake e Cadbury duvidam da validade desta distinção. Alexandre acha provável que “as duas palavras sejam termos genéricos específicos aplicados à mesma pessoa, uma denotando sua autoridade divina e a outra a forma específica como ela era exercida”. Mas como profetas e doutores são tratados como classes distintas tanto no Novo Testamento como no Didache (ver acima), a interpretação de Ramsay merece alguma consideração.
Barnabé já havia representado um papel menor, porém significativo em Atos. Ele é citado pela primeira vez por causa de sua generosa oferta à igreja (4.36-37). Foi ele quem se tornou o responsável por Saulo perante a desconfiada congregação de Jerusalém (9.27). Quando confrontado com o tremendo desafio de Antioquia, logo no início dos trabalhos que lá se realizaram, Barnabé procurou Saulo, um gigante intelectual e um fervoroso convertido, e o levou a Antioquia como principal mestre da igreja (11.22-26). Ele tinha sido enviado juntamente com Saulo a Jerusalém com uma oferta de alívio para os cristãos que estavam sendo afligidos pela fome (11.30). Sem dúvida, aqui seu nome é mencionado em primeiro lugar por ser o principal líder da igreja de Antioquia.
Simeão era um nome hebreu muito comum. Ele era chamado de Níger, que em latim significa “preto”. Este homem às vezes é identificado com Simão Cireneu (Mc 15.21), embora essa identidade não possa ser provada. Lúcio, cireneu (ou de Cirene, no Norte da África) pode ter sido o mesmo que é mencionado em Romanos 16.21. Provavelmente, não se trata de Lucas, o autor do livro de Lucas e de Atos. Devemos lembrar que eram os homens de Chipre e da Cirenaica que pregavam livremente aos gentios em Antioquia (11.20).
Manaém está relacionado com Herodes, o tetrarca — Herodes Antipas, que reinou na Galiléia e na Peréia (4 a.C. — 39 d.C.). Toda a frase que fora criado com está condensada em uma palavra grega syntrophos. Ela vem de syn, “com”, e trepho, “criar”. Abbott-Smith define: “por certo alguém foi alimentado ou criado como irmão adotivo: Atos 13.1 EV. De acordo com o uso helenístico, como um termo da corte, um amigo íntimo de um rei”.6 Bruce escreve: “O título syntrophos era dado aos meninos que tinham a mesma idade dos príncipes e que eram criados junto com eles na corte”. Da mesma forma, Bicknell diz: “Manaém era o irmão adotivo, ou mais precisamente, um companheiro de folguedos de Herodes Antipas”.8 Mas, depois de observar que o significado literal de “irmão adotivo” foi encontrado em um papiro do segundo século, Moulton e Milligan dizem: “Por causa do seu uso disseminado como um título da corte, essa expressão seria melhor entendida como “cortesão” ou “amigo íntimo”.9 Portanto, ao invés de “irmão adotivo, colaço” (ASV, Phillips), esta palavra provavelmente deveria ser traduzida como “membro da corte de” (RSY) ou “companheiro de honra para” (C. K. Williams).
Sobre a combinação dos homens mencionados aqui, Lumby faz este interessante comentário: “Um era cipriota, outro um cireneu, outro era judeu, mas, por causa de seu nome duplo, estava acostumado a se misturar com não judeus. Um deles era a conexão com a casa de Herodes. E Saulo, o apóstolo dos gentios, havia sido nomeado pelo céu — esta relação pode ser de alguma forma considerada típica de “todo o mundo” dentro do qual o Evangelho iria agora se propagar”.
Ralph Earle. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 7. pag. 298-300.
Atos 13. 1 Através da última frase de At 12, acerca do retorno de Barnabé e Saulo, fomos novamente levados a Antioquia. Também Barnabé, que por enquanto ainda era o visitador de Jerusalém em Antioquia, já não considera Jerusalém, e sim Antioquia como o lugar ao qual pertence. Contudo, ele e Saulo não dirigem a igreja sozinhos. Não há nada de “episcopal” a fazer ali! Há “profetas e mestres” na direção. Não devemos distinguir entre “ministérios” e determinadas “competências”, pois nesse caso deveríamos ter sido informados quem dos cinco cristãos citados por nome seria, enfim, “profeta”, e quem “mestre”. Pelo contrário, fica claro que a igreja possuía entre suas pessoas dirigentes as duas mais importantes formas da “palavra”: a proclamação diretamente provocada pelo Espírito, com perspicácia em relação aos corações e antevisão do futuro, e a exposição doutrinária, apoiada em determinado conhecimento, decisiva nas questões práticas e pastorais. O “carisma” e o “ministério” ainda estão completamente entrelaçados, porque tudo ainda é vida dada e dirigida por Deus. Há homens poderosos no Espírito, agindo. Questões organizacionais, delimitação de competências, problemas da constituição eclesiástica não têm nenhuma importância, motivo pelo qual tampouco se tornam perceptíveis. Mas Barnabé de fato é o primeiro da lista, e Saulo está no final, como o mais jovem. Aprender a ver “historicamente” faz parte da leitura correta de Atos: o “grande Paulo” também foi um jovem iniciante, que constava como último na lista, depois de outras personalidades dirigentes. Neste 13º capítulo poderemos acompanhar por um longo período como Paulo “se fez”. A liderança deve ter sido exercida pelos cinco, “em conselho fraterno”. Aliás, não há nenhum antioqueno recém-convertido entre eles. “Simeão” tem um nome judeu; não se pode saber por que
tem o cognome “Níger” = “o negro”. Ao que parece, Simeão faz parte dos homens de Cirene, citados em At 11.20. Manaém pode ser de fato o filho da ama-de-leite de Herodes Antipas ou recebeu a designação de “irmão de leite” como um título, que nas cortes gregas era conferido até mesmo sem essas ligações naturais. Seja como for, isso o caracteriza como palestino e como homem mais idoso e também humanamente importante. A jovem igreja em Antioquia precisava de homens experientes, que possuíam, através de sua relação com a primeira igreja, conhecimentos suficientes de Jesus, sua história e sua palavra. Como gostaríamos de saber mais sobre eles! De que maneira um homem do convívio de alguém como Herodes Antipas chegou à fé em Jesus? Que história divina sucedeu ali? No entanto, Lucas não tinha condições de relatar tudo isso em seu breve livro.
Werner de Boor. Comentário Esperança Atos. Editora Evangélica Esperança.
Atos 13.1 A igreja em Antioquia da Síria tornou-se o centro de partida da missão de penetração no mundo (a última parte da comissão de Jesus em 1.8). O primeiro versículo nos dá uma idéia da sua constituição verdadeiramente internacional e do amplo espectro de pessoas que estavam sendo atingidas pelo Evangelho.
Até este ponto, parece que Barnabé e Paulo tinham sido os principais professores na igreja de Antioquia (11.26). Esta lista mostra pelo menos outros três, considerados como profetas e doutores. Barnabé aparece em primeiro lugar na lista por ser provavelmente o líder do grupo. Simeão (chamado Níger), devido à sua pele negra, provocou algumas especulações de que era o mesmo Simão de Cirene que carregou a cruz de Cristo (Mc 15.21), mas não se pode garantitesta informação. O próximo nome da lista é um homem cireneu (de Cirene) chamado Lúcio. Cirene ficava no norte da África. Lúcio provavelmente era um dos homens de Chipre e Cirene que pregaram pela primeira vez o Evangelho aos gentios de Andoquia (veja 11.20,21). O quarto indivíduo era Manaém, que fora criado com Herodes Antipas. Saulo era um rabino judeu, altamente instruído, e cidadão romano. O seu nome conclui a lista deste grupo tão variado. As diferenças sociais, geográficas e raciais destes indivíduos mostram que o Espírito de Deus tinha estado trabalhando rapidamente e sobre uma ampla região geográfica. O Evangelho não tinha apenas chegado a estas regiões, mas também o Espírito de Deus usava a Antioquia cosmopolita para reunir uma equipe diversificada para a próxima “fàse” da expansão do reino.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 680.
Um relato do estado em que se encontrava a igreja que estava em Antioquia (v. 1), que foi plantada no capítulo 11.20.
1. Como a igreja em Antioquia estava bem provida de bons ministros. Havia alguns profetas e doutores (v. 1), homens notáveis por dons, graça e utilidade. Jesus, quando subiu ao céu, deu uns [...] para profetas [...] e doutores (ou “mestres”, versão RA; Ef 4.11). Estes homens tinham ambos os ofícios: profetas e doutores. Agabo, pelo visto, era profeta e não doutor, e muitos eram doutores que não eram profetas. Os mencionados aqui eram, às vezes, divinamente inspirados e recebiam instruções imediatamente do céu em ocasiões especiais, o que lhes dava o título de profetas. Ao mesmo tempo eles eram doutores declarados da igreja nos cultos, expunham as Escrituras e esclareciam a doutrina de Cristo com aplicações satisfatórias. Estes eram os profetas, sábios e escribas que Jesus prometera enviar (Mt 23.34), que eram, de todos os modos, qualificados para o serviço da igreja cristã. Antioquia era uma grande cidade com muitos cristãos, de forma que não podiam se reunir todos num mesmo lugar. Fazia-se necessário que tivessem muitos doutores para presidir suas respectivas reuniões e apresentar os propósitos de Deus ao povo. Na lista, Barnabé é citado em primeiro lugar, provavelmente porque era o mais velho, e Saulo, por último, provavelmente porque era o mais novo. Mas depois o último se tornou o primeiro e Saulo foi mais célebre na igreja.
Mais três nomes são citados. (1) Simeão (v. 1), que, com vistas a distingui-lo de outros do mesmo nome, era chamado Níger, “o Negro”, por causa da cor dos cabelos. É semelhante àquele que em tempos mais recentes foi cognominado de o Príncipe Negro*. (2) Lúcio (v. 1), de Cirene, que certos estudiosos pensam (inclusive o Dr. Lightfoot) que se trata do mesmo Lucas que escreveu os Atos, era originalmente cireneu e teve sua formação educacional na faculdade ou sinagoga cirenaica em Jerusalém, onde ouviu e recebeu o evangelho. (3) Manaém (v.1), indivíduo de certa dignidade porque foi criado com Herodes, o tetrarca, o que quer dizer que ou se alimentaram do mesmo leite, ou frequentaram a mesma escola, ou foram alunos do mesmo tutor, ou, preferivelmente, eram colegas e companheiros constantes. Em cada parte da formação educacional de Manaém, Herodes era seu companheiro e amigo íntimo, dando-lhe a clara perspectiva de cargo honorífico na corte. Não obstante, ele abandonou todas essas esperanças por amor a Cristo.
Foi como Moisés que, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó (Hb 11.24). Tivesse ele se unido a Herodes, com quem fora criado, ele poderia ter tido o lugar de Blasto e sido camareiro do rei. Mas é melhor ser companheiro de sofrimentos com um santo do que ser companheiro de perseguições com um tetrarca.
2. Como os bons ministros da igreja em Antioquia eram bem usados: Eles serviam ao Senhor e jejuavam (v.2). Observe: (1) Os doutores (ou mestres) fieis e diligentes estão, na verdade, servindo ao Senhor. Os que ensinam os cristãos estão servindo a Cristo. Eles realmente o honram e promovem os interesses do Reino. Os que servem à igreja pregando e orando (ambas as funções estão inclusas aqui), estão servindo ao Senhor, pois eles são os servos da igreja por amor a Cristo. Em seus serviços eles têm de olhar para Ele, e as suas recompensas, eles as receberão dele. (2) Servir ao Senhor, de um modo ou de outro, tem de ser o negócio declarado cias igrejas e seus doutores (ou mestres). Devemos separar tempo para esta obra e passar uma parte do dia nela. O que mais temos de fazer como cristãos e ministros senão servir a Cristo, o Senhor? (Cl 3.24; Rm 14.18). (3) O jejum é de utilidade em nosso serviço ao Senhor como sinal de nossa humilhação e como meio de nossa mortificação.
Esse exercício religioso não foi praticado pelos discípulos de Jesus, enquanto o esposo estava com eles (Mc 2.19,20), tanto quanto íoi pelos discípulos de João Batista e dos fariseus.
Depois que o esposo foi tirado, eles jejuaram muitas vezes como pessoas que aprenderam muito bem a negai’ a si mesmo e suportar as dificuldades.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 133.
Ill - A IMPORTÂNCIA DO DOM MINISTERIAL DE MESTRE
1. Uma necessidade urgente da igreja.
2 Pedro 2.1 O final do capítulo 1 leva ao tema da sua carta. Pedro tinha explicado que Deus tinha operado por meio de seres humanos para transmitir as suas palavras às pessoas (1.21).
Ao mesmo tempo, no entanto, a iniquidade estava em ação. Os verdadeiros profetas falavam e escreviam as Palavras de Deus, mas também houve entre o povo falsos profetas.
Na época do Antigo Testamento, os falsos profetas contradiziam os verdadeiros profetas (veja, por exemplo, Dt 13.1-5; 1 Rs 18.19; 22.6ss.; Jr 23.16-40; 28.1-17), dizendo às pessoas somente aquilo que elas desejavam ouvir. Estes “falsos profetas” não falavam as palavras de Deus e traziam mensagens que faziam as pessoas e os reis se sentirem bem. As Escrituras explicam que estes falsos profetas enfrentariam o juízo de Deus (Dt 18.20-22).
Vindos de dentro das igrejas, os falsos doutores trabalhavam para introduzir heresias de perdição a respeito de Deus. Como podemos distinguir heresias de perdição de “diferenças de opinião”? A palavra “heresia” aplica-se a doutrinas fundamentais cuja má interpretação pode ser destrutiva para o cristianismo. “Diferenças de opinião” aplicam-se a questões que nunca serão completamente solucionadas. Conhecemos as doutrinas fundamentais há mais de mil e quinhentos anos (como, por exemplo, a da divindade de Cristo, a da Trindade, a da expiação substitutiva), ao passo que sempre “concordamos em discordar” de outras (o calvinismo versus o arminianismo, o batismo dos bebês, o papel das mulheres na igreja etc.). As heresias a que Pedro se refere eram heresias de perdição porque os professores queriam fazer com que os crentes negassem o Senhor que os resgatou com o seu sangue derramado na cruz. Um ensino é destrutivo se ele traz informações que não são a verdade a respeito de Jesus. Qualquer distorção da verdade já não é mais a verdade. A palavra para “negar” significa contradizer, rejeitar, ou repudiar. Consequentemente, estas heresias podiam ter assumido algumas formas: (1) negar a segunda vinda de Cristo, ou (2) negar a soberania de Cristo, ao desobedecer aos seus ensinamentos e praticar a imoralidade. Alguns falsos doutores estavam menosprezando a importância da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Alguns afirmavam que Jesus não poderia ser Deus. Outros declaravam que Ele não poderia ter sido realmente um ser humano.
Estes doutores frequentemente permitiam, e até mesmo incentivavam, todos os tipos de atos errados e imorais, especialmente os pecados sexuais (veja 2.10,14).
Pedro revelou a gravidade de negar a Cristo, pois afastar-se dele traria repentina perdição. Isto não aconteceria imediatamente - pois muitos falsos doutores trabalhavam e prosperavam. Entretanto, quando esta destruição garantida viesse, ela seria repentina e final.
Surge a pergunta: Como poderiam estes falsos doutores, que tinham sido crentes e a quem o Senhor tinha “resgatado”, acabar sendo castigados com a punição eterna?
Existem cinco interpretações principais a respeito desta pergunta:
1. Estes falsos doutores tinham sido crentes, mas tinham perdido a sua salvação. Alguns alegam que o problema com esta interpretação é que ela contradiz outras Escrituras que afirmam que uma pessoa não pode perder a sua salvação (veja Jo 3.16; 5.24; 10.28,29; Rm 8.28-39).
2. Estes falsos doutores tinham se unido à comunidade cristã e pareciam fazer parte dela, mas posteriormente abandonaram a Cristo e tentaram convencer outras pessoas a fazerem o mesmo.
3. Estes falsos doutores foram “resgatados” no sentido de “criados”, e não no de “salvos”. O problema aqui é que uma outra palavra teria sido usada se Pedro tivesse desejado dizer isto.
4. Estes falsos doutores só diziam que tinham sido salvos, “resgatados” ou “comprados” pelo sangue de Cristo. Mas eles estavam mentindo. Possivelmente, porém como podemos saber?
5. Estes falsos doutores tinham sido “resgatados” ou “comprados” pelo sangue de Cristo, pois o sangue de Cristo é suficiente para salvar todos aqueles que já viveram e que estão vivos, se todos decidiram ou decidirem crer. No entanto, para começar, os falsos doutores nunca aceitaram Cristo como seu Salvador e, desta forma, nunca foram salvos. Potencialmente, Cristo morreu por todos, mas somente aqueles que creem e que o seguem é que serão salvos.
Das cinco interpretações, a segunda e a quinta são as mais plausíveis.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 749-750.
2 Ped 2.1. No final do capítulo anterior, faz-se menção aos homens santos de Deus, que viveram na época do Antigo Testamento e foram usados como os instrumentos do Espírito Santo, ao escreverem os oráculos sagrados; mas no início deste capítulo, ele nos conta que existiram, mesmo naquela época, falsos profetas na igreja junto aos verdadeiros. Em todas as épocas da igreja, e em todas as dispensações, quando Deus envia os verdadeiros profetas, o diabo manda alguns para seduzir e enganar, os falsos profetas no Antigo Testamento, e os falsos cristos, falsos apóstolos e mestres enganadores no Novo. Acerca desses, observe: 1. A ocupação deles é introduzir enganos destruidores, até mesmo heresias abomináveis, assim como a ocupação dos mestres enviados por Deus é mostrar o caminho da verdade, até mesmo o caminho verdadeiro para a vida eterna. Há heresias abomináveis como também práticas abomináveis; e os falsos mestres são diligentes em difundir esses erros perniciosos. 2. Heresias abomináveis são em geral introduzidas secretamente, sob o manto e o disfarce da verdade. Aqueles que introduzem heresias destrutivas “...negarão o Senhor que os resgatou”.
Eles rejeitam e se negam a ouvir e aprender do grande mestre enviado por Deus, embora Ele seja o único Salvador e Redentor dos homens, que pagou o preço suficiente para redimir todos os pecadores que há no mundo. 3. Os que introduzem enganos destrutivos sobre outros trazem “...sobre si mesmos repentina (e por isso segura) perdição”. Autodestruidores são destruídos rapidamente; e os que estão tão endurecidos que propagam enganos destrutivos para outros serão certa e repentinamente destruídos, e isso sem escapatória.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 894.
a. Acautelai-vos dos falsos mestres (2:1-3).
1. Sobre os paralelos extensivos entre boa parte deste capítulo e a Epístola de Judas, ver a Introdução. O pensamento de Pedro ainda demora-se nas profecias do Antigo Testamento. Em Israel«# meio do povo surgiram falsos profetas além dos verdadeiros; e agora a história estava se repetindo. Seus leitores tinham falsos mestres no seu meio. Ao descrevê-los neste capítulo, oscila entre o tempo presente e o futuro, conforme faz Paulo num contexto semelhante em 1 Timóteo 4:1 ss. Sem dúvida, isto é porque vê que cumprem as profecias tanto do Antigo Testamento quanto de Jesus (Dt 13:2-6; Mt 24:24, etc.).
Sempre tem havido falsos mestres entre o povo de Deus, e sempre os haverá.!
Que esta é a interpretação correta da mudança de tempo verbal, e não, conforme alguns sustentam, a falta dalgum escritor do século II de ser consistente nos seus arcaísmos (i. e., continuamente desliza para o tempo presente) é sugerido por uma passagem em Justino Mártir (m. 165 d.C.) que cita esta passagem. Diz ao judeu Trifão: “E assim como havia falsos profetas contemporâneos com vossos profetas santos, assim também há muitos falsos mestres entre nós, contra os quais nosso Senhor nos advertiu a precaver-nos. Muitos deles ensinaram doutrinas ímpias, blasfemas e profanas, falsificando-as em nome dEle; ensinaram, também, e continuam ensinando, aquelas coisas que procedem do espírito imundo do diabo.”
Falsos profetas podem significar que falsamente alegavam ser profetas, ou que profetizavam coisas falsas; provavelmente os dois.
Os homens eram tão indignos de confiança quanto a mensagem.
Mayor fez uma coletânea interessante das características dos falsos profetas que estavam marcantemente presentes na situação à qual Pedro se dirige. Seu ensino era bajulação; suas ambições eram financeiras; suas vidas eram dissolutas; sua consciência era amortecida, e seu alvo era o logro (ver Is 28:7; Jr 23:14; Ez 13:3; Zc 13:4). Povo traduzi-los, palavra esta que é empregada para o povo de Deus na LXX bem como no Novo Testamento. Conforme os discursos atribuídos a ele em Atos, e conforme o ensino em 1 Pedro também, Pedro declara que os cristãos foram incorporados: no verdadeiro Israel de Deus; não há nenhuma dicotomia entre o Antigo Testamento e o Novo.
Estes falsos mestres (note-se a rápida mudança de pseudoprophêtai parapseudodidaskaloi, o que sugere que talvez os falsos mestres não fizeram, afinal das contas, muitas pretensões quanto a serem profetas) são o tipo de homens (hoitines) que sempre serão achados introduzindo dissimuladamente ou sub-repticiamente pontos de vista heréticos. O verbo introduzir (pareisagein) tem duas implicações: significa “ trazer para dentro lado a lado com” (sc. o ensino verdadeiro) e também “ introduzir secretamente” (cf. G1 2:4).
Heresias destruidoras (lit. “ de destruição” — outro hebraísmo) significa opiniões que destroem a verdadeira fé. A palavra hairesis (lit. “escolha”) era aplicada a um partido ou seita (cf. At 5:17; 15:5) ou aos pontos de vista sustentados por semelhante seita. Nos escritos paulinos, a tendência a divisões (G15:20; 1 Co 11:18-19) e a independência arrogante (Tt 3:10) são as ênfases heréticas relevantes, mas já nos tempos de Inácio (c. de 110 d.C.) a palavra é usada em nosso sentido de “falsa doutrina.”
O efeito do seu ensino foi que foram até ao ponto (kai) de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou. Esta frase fascinante nos mostra algo daquilo que a cruz significava para nosso autor, porque resgatou enfatiza tanto a seriedade da triste situação do homem quanto o alto custo do livramento efetuado por Cristo (cf. Mc 10:45; 1 Tm 2:6; Ap 5:9). A palavraagorazõ é empregada para a redenção de Israel para fora do Egito (cf. 2 Sm 7:23). Na cruz, como no Êxodo, vemos a intervenção pessoal de Deus em prol do Seu povo, não somente para livrá-lo de um triste destino de escravidão e morte, mas também para redimi-lo “ para ser seu povo” , conforme Samuel 7:23 continua. Deus redime o homem afim de que o modo de vida transformado deste seja um crédito ao seu Salvador; a fim de que, conforme a expressão em 1 Pedro 4:2, “já não viva de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus” .
Ora, estes falsos mestres entendiam, sem dúvida, a libertação oferecida pela cruz de Cristo; a liberdade era um dos seus brados de guerra(2:19). Mas não reconheciam o viver santo imposto pelo Crucificado.
Mediante suas vidas negavam o Senhor que os comprou. O cristianismo é, realmente, uma religião de liberdade; mas também exige amoroso serviço totalmente dedicado a Jesus, o Redentor. Paulo, Judas, Tiago e outras personalidades de destaque no Novo Testamento deleitavam-se em chamar-se Seus douloi, “escravos” ..Os falsos mestres não eram assim. E interessante que um movimento libertino semelhante em Corinto elicitou uma resposta semelhante, em palavras semelhantes, de Paulo (1 Co 6:19, 20; 7:23).
Nosso autor está em harmonia com o restante do Novo Testamento (ver Rm 6 e Hb 10) ao asseverar claramente que o homem não pode correr com a caça e também com os caçadores. O homem que procura servir a Deus e também ao seu próprio-eu está na estrada larga para a repentina destruição, pois ou a morte ou a parusia o cortará no meio da sua carreira. (Para um uso semelhante de tachinê, “repentino” , “dentro em muito breve” , para a morte do próprio Pedro, ver 1:14).
Michael Green. II Pedro. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 89-91.
2. A responsabilidade de um discipulado contínuo.
1. O DISCIPULADO PERMANENTE
O ensino da Palavra de Deus, na igreja local, é indispensável e de fundamental importância. Depois da evangelização, vem o discipulado dos novos convertidos. Mas o discipulado não deve ser visto como apenas algumas lições da Escola Dominical. O discipulado cristão é para toda a vida. Ninguém deixa de ser discípulo pela idade ou “por tempo de serviço”. O pastor ou bispo deveria ser também mestre e ter sempre a capacidade para ensinar. Diz Paulo: “Convém que o bispo seja.... apto a ensinar ’ (1 Tm 3.2 — grifo nosso). Em Efésios 4.11, o dom ministerial de “pastores” vem bem junto ao de “doutores”. Mas nem sempre esses dois dons são encontrados em todos os pastores. Por isso Deus resolveu designar algumas pessoas com a missão de dedicar-se ao ensino (cf. Rm 12.7). “E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente, apóstolos, em segundo lugar, profetas, em terceiro, doutores...” (1 Co 12.28).
A missão dos mestres ou doutores, nas igrejas, é de grande valor. Os pregadores, os evangelistas ou os missionários pregam a Palavra de Deus, atraindo as almas para Cristo. Os novos convertidos são como “crianças” espirituais, que precisam receber o alimento espiritual de acordo com o seu tempo de conversão; os crentes mais antigos, supostamente, devem ter mais maturidade; mas todos precisam do ensino fundamentado, que expresse a sã doutrina. Sem o ensino, os crentes ficam sem o conhecimento indispensável ao seu crescimento na graça e no conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. 2 Pe 3.18).
2. O PAPEL DOS MESTRES
A necessidade do ensino da Palavra de Deus requer pessoas preparadas para ministrá-la com sabedoria, graça e unção da parte de Deus. Diante disso, vem o papel dos mestres e doutores. São pessoas que se dedicam ao ensino (cf. Rm 12.7). Eles não se consideram superiores aos demais obreiros, pelo fato de terem recebido o dom de ensinar. Mas, pela dedicação constante ao estudo e à pesquisa bíblica, reúnem informações e subsídios, extraídos das Escrituras, para compartilhar com toda a igreja.
Quando o pastor da igreja local reúne em si a condição de pastorear e ensinar, a igreja é bem servida com o ensino bem fundamentado que atende às necessidades espirituais dos crentes. Mas, como foi dito antes, nem todo pastor é mestre. Mas todos são apascentadores, que zelam, cuidam, vigiam e protegem o rebanho de Cristo aos seus cuidados.
Os mestres, doutores ou ensinadores, que recebem o dom de ensinar, podem (e devem) cooperar com a liderança da igreja na ministração de estudos valiosos e profundos para a edificação dos crentes. Diz o pastor Elienai Cabral: “Igrejas sem mestre são igrejas fracas espiritualmente. Por isso, deve-se reconhecer a importância e a necessidade do ministério do ensino. È através do ensino sadio e racional, inspirado pelo Espírito Santo, que a igreja se justifica contra as falsas doutrinas e que se fortifica contra os ataques espirituais de Satanás”.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 121-123.
O QUE É DISCIPULADO?
Durante a Idade de Ouro da Grécia, o jovem Platão podia ser visto caminhando pelas ruas de Atenas em busca de seu mestre: o maltrapilho, descalço e brilhante Sócrates. Aqui, provavelmente, estava o início de um discipulado. Sócrates não escreveu livros. Seus alunos escutavam atentamente cada palavra que ele dizia e observavam tudo o que ele fazia, preparando-se para ensinar a outros. Aparentemente, o sistema funcionou. Mais tarde, Platão fundou a Academia, onde Filosofia e Ciência continuaram a ser ensinadas por 900 anos.
Jesus usou relacionamento semelhante com os homens que ele treinou para difundir o Reino de Deus. Seus discípulos estiveram com ele dia e noite por três anos. Escutavam seus sermões e memorizavam seus ensinamentos. Viram-no viver a vida que ele ensinava. Então, após sua ascensão, confiaram as palavras de Cristo a outros e encorajaram-nos a adotar o seu estilo de vida e a obedecer ao seu ensino. Discípulo é o aluno que aprende as palavras, os atos e o estilo de vida de seu mestre com a finalidade de ensinar outros.
O discipulado cristão é um relacionamento de mestre e aluno baseado no modelo de Cristo e seus discípulos, no qual o mestre reproduz tão bem no aluno a plenitude da vida que tem em Cristo que o aluno é capaz de treinar outros para que ensinem outros.
Um estudo cuidadoso do ensino e da vida de Cristo revela que o discipulado possui dois componentes essenciais: a morte de si mesmo e a multiplicação. São essas as ideias básicas de todo o ministério de Jesus. Ele morreu para que pudesse reproduzir nova vida. E ele requer que cada um de seus discípulos siga o seu exemplo.
MORRER PARA SI MESMO
O chamado de Cristo para o discipulado é um chamado para a morte de si mesmo, uma entrega absoluta a Deus. Jesus disse: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa, este a salvará” (Lc 9.23,24).
Da perspectiva do mundo, a franqueza de Cristo em chamar as pessoas para segui-lo parece exagerada. Hoje, se alguém quisesse “vender” um estilo de vida tão exigente, um compromisso tão radical, provavelmente contrataria a empresa mais sofisticada de publicidade para descrever detalhadamente, num folheto ilustrado com lindas fotografias coloridas, os benefícios de tal decisão. Ou contrataria uma atriz deslumbrante e a cercaria de figuras famosas obviamente felizes pelo deleite e a satisfação de sua nova vida em Cristo. Depois captaria a magia do momento em videoteipe, com a esperança de colocar o filme no ar no intervalo do programa de maior audiência.
Jesus, porém, é honesto e direto: para compartilhar de sua glória, primeiro a pessoa tem de compartilhar de sua morte.
Jesus é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis. E o Senhor do Universo ordena que toda pessoa o siga. Seu chamado a Pedro e André (Mt 4.18,19) e a Tiago e João (Mt 4.21) foi uma ordem. “Siga-me” sempre tem sido uma ordem, nunca um convite (Jo 1.43).
Jesus nunca implorou que alguém o seguisse. Ele era em- baraçosamente direto. Ele confrontou a mulher no poço, com o seu adultério; Nicodemos, com seu orgulho intelectual; os fariseus, com sua justiça própria. Ninguém pode interpretar “Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo” (Mt 4.17) como uma súplica. Jesus ordenou a cada pessoa que renunciasse a seus interesses, abandonasse os pecados e obedecesse completamente a ele.
Quando o jovem rico se recusou a vender tudo o que possuía para segui-lo (Mt 19.21), Jesus não foi correndo atrás dele tentando conseguir um acordo. Ele nunca minimizou seu padrão. Jesus declarava apenas: “Quem me serve precisa seguir-me [...]” (Jo 12.26).
Jesus esperava obediência imediata. Ele não aceitava desculpas (Lc 9.62). Quando um homem quis primeiro sepultar o pai antes de seguir Cristo, ele replicou: “[...] Siga-me, e deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos” (Mt 8.22). Homem algum recebeu algum elogio por ter obedecido à ordem de Cristo de segui-lo e tornar-se seu discípulo; era o que se esperava de todos. Jesus disse: “Assim também vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, devem dizer: 'Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever’ ” (Lc 17.10).
Assim, quando é que você se torna um cristão, um discípulo de Cristo? Quando vai à frente em resposta a um apelo? Quando se ajoelha diante do altar? Quando chora sinceramente? Nem sempre. Os primeiros seguidores de Cristo tornaram-se discípulos
quando lhe obedeceram, quando ‘eles, deixando imediatamente seu pai e o barco, o seguiram” (Mt 4.22)
A obediência à ordem de Cristo “Siga-me” resulta na morte de si mesmo. O cristianismo sem essa morte é apenas uma filosofia abstrata. É um cristianismo sem Cristo.
Talvez o erro fundamental cometido por muitos cristãos seja fazer distinção entre receber a salvação e tornar-se discípulo. Colocam as duas coisas em níveis diferentes de maturidade cristã, presumindo que é aceitável ser salvo sem assumir compromisso com as exigências mais radicais de Jesus, como “tomar a sua cruz” e segui-lo (Mt 10.38).
Essa ideia baseia-se na crença errada de que a salvação é principalmente para o benefício do homem a fim de torná-lo feliz e evitar a condenação eterna.
Embora a salvação venha ao encontro da mais profunda necessidade do homem, essa ideia humanista de fazer uma coisa em favor do bem-estar da pessoa ignora completamente a razão fundamental pela qual Cristo morreu na cruz. Deus concede a salvação aos homens principalmente para trazer glória a ele por meio de um povo que tem o caráter de seu Filho (Ef 1.12). A glória de Deus é mais importante do que o bem-estar do homem (Is 43.7).
Ninguém que compreenda o propósito da salvação ousaria especular que uma pessoa pudesse ser salva sem aceitar o senhorio de Cristo. Cristo não pode ser o Senhor da minha vida se eu for o senhor dela. Para que Cristo esteja no controle, tenho de morrer. Não posso me tornar discípulo sem morrer para mim mesmo e sem me identificar com Cristo, que morreu pelos meus pecados (Mc 8.34). O discípulo segue o seu Mestre até mesmo à cruz.
Por muito tempo, lutei para entender as implicações práticas de “morrer para si mesmo”. Como essa determinada autor renúncia se manifestaria em minha vida? Ao meditar em Gálatas 2.20, finalmente compreendi: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim [...]”.
Suponhamos que no dia 1 ° de janeiro eu estivesse sobrevoando o Kansas quando o avião explodiu. Meu corpo caiu no chão, e morri com o impacto. Depois de algum tempo, um fazendeiro encontrou meu corpo. Não havia pulsação, nenhuma batida do coração nem fôlego. Meu corpo estava frio. Era óbvio que eu estava morto. O fazendeiro fez uma cova. Mas, ao colocar meu corpo na terra, o dia já estava escuro demais para cobri-lo. Decidindo que terminaria o trabalho na manhã seguinte, ele voltou para casa.
Então Cristo veio e me disse: “Keith, você está morto. Sua vida sobre a Terra acabou, mas eu soprarei um fôlego de nova vida em você se prometer fazer qualquer coisa que eu pedir e ir a qualquer lugar que eu mandar”.
Minha reação imediata foi: “De maneira nenhuma. Isso não é razoável. É escravidão”. Mas, então, reconhecendo que não estava em posição de negociar, sincera e rapidamente concordei.
Instantaneamente, os pulmões, o coração e os demais órgãos vitais voltaram a funcionar. Voltei à vida. Nasci de novo. Daquele momento em diante, não importava o que Cristo pedisse de mim ou aonde me mandasse, eu estava mais que disposto a obedecer-lhe. Nenhuma tarefa seria por demais difícil, nenhum horário cansativo demais, nenhum lugar perigoso demais. Nada era sem motivo. Por quê? Porque eu não tinha direito sobre
minha vida; estava vivendo com tempo emprestado, o tempo de Cristo. Keith morrera no dia 1° de janeiro em um milharal do Kansas. Então eu podia dizer com Paulo: “Estou crucificado [morri] com Cristo; já não sou eu [Keith] quem vive, mas Cristo [quem] vive em mim”.
É isso que significa morrer para si mesmo e nascer de novo. A ordem de Cristo “Siga-me” é uma determinação para participar de sua morte a fim de experimentar uma nova vida. Você se torna morto para si mesmo totalmente consagrado a ele.
Um grande paradoxo da vida está em que existe imensa liberdade nessa morte. O morto já não se preocupa com seus direitos, com sua independência ou com as opiniões dos outros a seu respeito. Ao unir-se espiritualmente ao Cristo crucificado, riquezas, segurança e status — as coisas que o mundo tanto almeja — perdem o valor. “Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos” (G1 5.24). A pessoa que toma a cruz, que está crucificada com Cristo, não fica ansiosa pelo amanhã porque o seu futuro está nas mãos de outro.
Certo líder da igreja no interior sonhava em realizar um ministério ousado nas ruas. Mas quando os milagres pelos quais ansiava não aconteceram, ele recorreu a fantasias, distorcendo encontros e criando eventos imaginários, esperando conseguir o respeito das pessoas. Ele se tornara escravo de suas visões de grandeza, cativo de suas próprias esperanças.
Sua motivação subconsciente era ganhar o respeito e a admiração do mundo cristão por meio de atos heroicos para o Reino. Paixões, sonhos e visões nunca foram crucificados. Ele nunca foi liberto da pressão de ser um sucesso e de produzir. Nunca experimentou a liberdade que vem de não ter de provar nada, não ter nada a perder. Ele tinha uma ideia distorcida do discipulado. Queria servir a Deus para que pudesse obter glória.
Por outro lado, o morto para si mesmo é liberto a fim de fazer todas as coisas para a glória de Deus (Rm 8.10). Ele coloca tudo o que tem e tudo o que é à disposição permanente de Deus. Sua submissão ao senhorio de Cristo capacita-o a agradar a Deus em cada decisão que toma, em cada palavra que diz e em cada pensamento que tem. O discípulo vê toda a sua vida e todo o seu ministério como adoração (ICo 10.31). Morrer para si mesmo liberta-o para ter prazer em seu amor a Deus.
A morte do eu é pré-requisito essencial para tornar-se discípulo. Qualquer pessoa que nao tenha experimentado a morte de si mesmo não pode se qualificar como elo legítimo no processo de discipulado porque é incapaz de reproduzir. Jesus ensinou: “[...] se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, continuará ele só. Mas se morrer, dará muito fruto” (Jo 12.24). Sem multiplicação, não existe discipulado.
COMO SABER SE VOCÊ É DISCÍPULO?
Muitas pessoas dizem ter experimentado a morte de si mesmo e estar vivendo totalmente consagradas a Cristo. Mas Jesus disse: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7.21; grifo do autor).
A experiência de um amigo meu chamado Ed ilustra quão sério é o erro de identidade. Quando o preço do ouro subiu vertiginosamente, dando início a mais uma corrida do ouro na Califórnia, Ed, decidido a ficar rico, comprou terras na região. Durante dois meses, ele trabalhou 18 horas por dia e nada encontrou senão terra e pedras. Então descobriu um minério amarelo. Pensou que tivesse encontrado uma fortuna. Levou correndo o minério a um avaliador e começou a planejar a contratação de mais empregados e fazer uma viagem pela Europa.
Entretanto, para a consternação de Ed, o avaliador anunciou que o minério era pirita de ferro. Ed não podia acreditar. Estava certo de que o avaliador tinha-se enganado. Mas não importava quanto Ed protestasse, não podia contestar o cheiro de enxofre que saía da fornalha. O próprio minério resolveu a questão.
O minerador tem de estar certo de que aquilo que encontrou é ouro antes de usá-lo para adquirir bens e serviços. Assim também acontece com Deus. Ele exige que sejamos discípulos de Cristo antes de nos usar para realizar sua obra.
Como saber se você é um discípulo de Cristo? Como saber se você já morreu para si mesmo e está apto a reproduzir? A evidência inegável ao discernir se alguém é uma versão espiritual de imitação de ouro ou o artigo genuíno é a presença de um caráter semelhante ao de Cristo. Se o caráter de Cristo estiver faltando, você ainda não morreu para si mesmo e não está preparado para reproduzir.
Talvez a maior dificuldade que você tenha de enfrentar seja crer de fato que seu caráter é mais importante do que sua capacidade ou suas habilidades. Tal ideia é tão incomum ao mundo que, mesmo depois de entregar-se à morte de si mesmo, você a achará estranha.
Tive uma grande luta com isso. Durante anos, eu vi pregadores empregarem toda espécie de tática emotiva para induzir as pessoas a aceitarem Cristo. Alguns imploravam à congregação, sugerindo que estariam fazendo um favor a Jesus se o seguissem. Outros faziam convites tão amplos que nenhuma pessoa sincera poderia deixar de atender. Insistiam em que todos os que tivessem algum mau pensamento ou dado vazão a alguma motivação impura ou quebrado um só ensinamento bíblico viessem à frente. Pregavam como se Deus fosse julgá-los pelo número de pessoas que respondessem ao apelo, e não por compaixão, como teve Cristo dos homens.
Concluí que quanto mais pessoas eu conduzisse a Cristo, mais valor teria. Eu procurava atrair as pessoas às reuniões cristãs com truques que prostituíam o evangelho: concursos, lutas de balões d água e até mesmo casas mal-assombradas. Esforçava-me por lustrar minha apresentação do plano de salvação e refinar os apelos que fazia depois da pregação. Quando poucas pessoas
respondiam ao apelo, eu ficava envergonhado. Eu tinha uma mentalidade que valorizava feitos.
Sempre soube em minha mente que só o Espírito de Deus movia as pessoas ao arrependimento e à confissão e que fui chamado apenas para testemunhar, e não para convertê-las. Contudo, agia como se a qualidade da minha vida cristã e a salvação dos outros dependessem da minha capacidade e criatividade na evangelização.
Finalmente, a Bíblia alertou-me para a verdade. Primeiramente, e acima de tudo, Deus queria que eu tivesse o caráter de Cristo —fosse cristão. Só então ele operaria por meio de mim para a sua glória.
Que revelação paralisante! Eu havia confundido ativismo e a resposta do homem com retidão; havia substituído a adoração por atividades. De repente, minha segurança nas boas obras foi destruída.
A verdade era dolorosamente clara. É necessário ser médico antes de tratar dos doentes. É necessário ser advogado antes de advogar. Do mesmo modo, eu teria de ser como Cristo antes de realizar sua obra.
O caráter cristão consiste na união de qualidades mentais e éticas que o capacitem “para que vocês vivam de maneira digna de Deus, que os chamou para o seu Reino e glória’ (lTs 2.12); exibe o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio (G1 5.22,23).
Um exame cuidadoso do ministério de Cristo revela que, entre as virtudes que caracterizavam sua vida, quatro qualidades destacavam-no de todas as demais pessoas como o Filho unigê- nito de Deus: obediência, submissão, amor e oração.
Quando descobri isso pela primeira vez, fiquei aturdido. Será que o Deus encarnado escolheu edificar sua Igreja sobre o fundamento dessas quatro qualidades? Pareciam características
de uma pessoa fraca — de alguém que depende totalmente de outra para ter direção, motivação e confiança.
No entanto, era exatamente isso. Essas qualidades descreviam perfeitamente a relação de Cristo com o Pai. A força de Cristo vinha de sua dependência do Todo-poderoso. E, se eu quisesse ser usado por Deus, minha relação com ele teria de ser moldada conforme a do meu Senhor. O caráter cristão é construído por meio de minha disposição (exercício de minha vontade) em sujeitar cada aspecto de minha vida à imagem de Cristo.
Alguns cristãos têm procurado entrar no nosso ministério de discipulado com a condição de que seus talentos sejam utilizados. Mas tal perspectiva é uma negação da morte de si mesmo e demonstra que seus valores estão distorcidos. A principal ocupação do discípulo deve ser que seu caráter seja construído e multiplicado. Um doutor em Filosofia, um mestre em Divindade, um assistente social não são necessariamente mais valiosos para uma organização missionária como é a Impacto Mundial. Essas pessoas não são tratadas de um modo diferente de como outras são tratadas. Todos nós procuramos fazer discípulos, mas sabemos que isso é impossível sem que sejamos primeiramente discípulos. Precisamos conhecer a Deus antes de torná-lo conhecido.
O discípulo emprega qualquer dom ou talento que construa o Reino ou edifique o corpo. Ele confiantemente deixa de exercer habilidades que possam nutrir seu orgulho ou impedir sua maturidade cristã. O enfoque do homem morto para si mesmo é Deus. Ele procura ser como Cristo.
Se algum homem tivesse motivo para encontrar segurança em sua reputação, capacidades ou credenciais este seria o apóstolo Paulo. Mas ele reconhecia que isso tudo era lixo em comparação a ser como Cristo (Fp 3.8). A capacidade da pessoa nada vale sem um caráter reto. É claro que mortal algum pode
atingir tais qualidades por seus próprios esforços. Mas Deus predestinou os discípulos, a serem “conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8.29).
Certo dia, eu velejava pela costa da Califórnia com um amigo quando um nevoeiro denso e inesperado surgiu, impedindo a visibilidade quase por completo. Tínhamos medo de que jamais chegássemos ao cais. Navegamos por uns 45 minutos sem saber onde estávamos quando, de repente, ouvimos o som fraco mas distinto da buzina de nevoeiro. Dirigindo nosso barco orientados por aquele som providencial, cuidadosamente chegamos afinal à baía e ao cais. Se não tivéssemos ouvido o sinal, teríamos ficado à deriva no oceano.
Se você não tiver um alvo para sua vida, é provável que fique à deriva. Se o seu alvo for o nada, provavelmente o atingirá. É por isso que você tem de ter uma compreensão perfeita da pessoa que Cristo quer que você seja.
Obediência, submissão, amor e oração são os objetivos pelos quais você e cada discípulo que fizer deverão lutar. Servem de instrumento para medir o seu crescimento e o progresso daqueles a quem discipula. São tão importantes que os examinaremos individualmente nos capítulos seguintes.
Keith Phillips. A Formação de um Discipulo. Editora Vida.
3. Requisitos necessários ao mestre.
Um bom ensinador, mestre ou doutor é pessoa que, usada por Deus, na unção do Espírito Santo, pode muito contribuir para a edificação espiritual e moral dos crentes. O Eclesiastes resume o valor dos que ensinam com a sabedoria de Deus: “As palavras dos sábios são como aguilhões e como pregos bem fixados pelos mestres das congregações, que nos foram dadas pelo único Pastor” (Ec 12.11). Para ser um bom mestre, na igreja, são necessários alguns requisitos.
1) Apresentar-se a Deus. “Procura apresentar-te a Deus aprovado... que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15a). Um bom mestre deve ser um obreiro aprovado por Deus, e não apenas nas faculdades de teologia ou seculares. O que ensina deve ser aprovado:
a) No testemunho pessoal (1 Tm 4.16; 2 Tm 4.5);
b) Na vida familiar (SI 128.1);
c) Na vida social (Mt 5.16);
d) Na igreja (Ec 5.1,2).
2) “Que não tem de que se envergonhar... ” (2 Tm 2.15b). Quem é mestre precisa ser exemplo dos fiéis (1 Tm 4.12). Deve ter uma vida íntegra, para não ser alvo de acusações por parte dos que o ouvem ou dos de fora da igreja. Se um ensinador dá escândalo compromete seu nome, sua imagem e seus ensinos.
3) “Que maneja bem a palavra da verdade...” (2 Tm 2.15c). Esse requisito é muito importante, porque o mestre ou doutor é o homem que faz uso da Palavra de Deus para ministrar o ensino à igreja. Seu manual de ensino é a Bíblia Sagrada. Ele deve conhecer bem a Palavra para poder preparar estudos, mensagens e reflexões a serem compartilhadas, verbalmente ou por escrito, para a edificação da igreja. Devem ser “aptos para ensinar” (1 Tm 3.2; 2 Tm 2.24). Para ter esse manejo, é preciso que o mestre ou doutor tenha certos cuidados:
a) Seja um leitor persistente e estudioso da Bíblia (1 Tm 4.13).
b) Seja dedicado ao ensino (Rm 12.7b). Essa dedicação exige esforço e disciplina para o desenvolvimento de um ministério frutífero;
c) Seja um leitor de bons livros de estudo bíblico (2 Tm 4.13). Os bons livros não substituem a Bíblia, mas, quando são escritos por homens de Deus, são excelentes auxílios ao preparo de estudos e mensagens;
d) Procure conhecer versões variadas da Bíblia, principalmente as de estudo bíblico, examinando seus comentários, para evitar inserções heréticas, em suas notas;
e) Utilize dicionários, concordâncias e enciclopédias bíblicas.
f) Seja um leitor de revistas, jornais, e periódicos (evangélicos e seculares), que tenham subsídios para fortalecer o ensino.
g) Tenha preparo teológico. Um curso teológico de boa qualidade não faz um excelente mestre no ensino da Palavra de Deus. Esse é feito por Deus. Contudo, o curso dá uma visão ampla do estudo sistemático da Palavra de Deus, a partir da Teologia Sistemática e suas divisões; da Hermenêutica, da Homilética, da História da Igreja, da Geografia Bíblica, Ética Pastoral, Didática, Psicologia, etc... A Bíblia diz: “Examinai tudo. Pretende o bem...” (1 Ts 5. 21). Um mestre deve ter conhecimentos acima da média de seus alunos.
Tiago adverte que muitos não queiram ser mestres (doutores ou professores), visto que “receberemos mais duro juízo” (Tg 3.1). Diante disso, é importante que os mestres sejam pessoas cuidadosas no exercício de sua missão, pautando-se pelos princípios éticos e morais da Palavra de Deus, para que possam contribuir para o crescimento espiritual dos crentes, nas igrejas, auxiliando os pastores ou líderes a melhor conduzirem o rebanho do Senhor Jesus.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 123-124.
II Tm 2.10 Apesar da prisão de Paulo, a Palavra de Deus continuaria em ação, convocando os escolhidos por Deus (aqueles que ainda não tinham crido em Cristo como o Salvador).
Paulo confiantemente podia suportar tudo, sabendo que Deus continuava no comando. Algumas vezes, o sofrimento não traz nenhum outro benefício, exceto o que os outros irão aprender com o nosso sofrimento. Uma mulher suporta as dores do parto pelo bem do seu bebê. Nunca devemos pensar no sofrimento como alguma forma de conseguir mérito para ganhar a nossa salvação ou para escapar da nossa culpa, nem como alguma forma de punição de Deus. Embora Paulo experimentasse um sofrimento intenso e verdadeiro ao transmitir o Evangelho, ele concentrava-se nos resultados do seu sofrimento — outras pessoas estavam encontrando a salvação em Cristo.
Quem são “os escolhidos”? Embora o conceito de “escolha” tenha gerado violentas diferenças doutrinárias, a maioria destas diferenças originasse nos pontos de vista teológico e filosófico, e não na própria Bíblia. Neste contexto, Paulo indicou que os escolhidos são aqueles a quem será dada salvação e glória eterna. Paulo não reivindica saber quem são estes escolhidos. A sua identificação pertence à soberania de Deus. Para Paulo, Deus realizou a salvação e o encarregou de transmitir a Palavra; Deus sabe quem responderá positivamente. Paulo estava tão certo do propósito de Deus, que estava disposto a sofrer pela realização desta preciosa salvação.
II Tm 2.11-13 Esta “palavra fiel”, citada nestes versículos, era provavelmente um antigo hino cristão ou uma citação usada em uma cerimônia cristã, embora seria igualmente apropriado dizer que Paulo pode ter fornecido aqui, sob a inspiração do Espírito Santo, outro dos primeiros hinos da igreja.
O primeiro par de versos deste hino contrasta a morte com a vida - a morte do crente para o pecado, no momento da salvação. e a nova vida iniciada agora com Cristo, no mundo e na eternidade. Os crentes morreram com Cristo porque se identificaram com Ele, como está simbolizado no sacramento do batismo. A promessa é que a identificação dos crentes com Cristo na morte significa que Ele os ressuscitará para viverem com Ele. Este segundo par de versos compara a perseverança com as recompensas. Aqueles que vivem por Cristo podem enfrentar um terrível sofrimento, que deverá ser suportado. Cristo suportou e agora reina (1 Co 15.25); todos os crentes que suportarem até o fim também reinarão com Ele (Ap 3.21; 5.10; 20.4).
O terceiro par de versos revela que o comprometimento com Cristo deve ser total, sem possibilidade de voltar atrás; negar resulta em ser negado (veja também Mt 10.32,33). Em grego, o tempo do verbo na frase “se o negarmos” é futuro. Estas palavras transmitem um aviso solene; mas negar a Cristo era impensável para os primeiros cristãos, mesmo diante da crescente perseguição. Os verdadeiros crentes podem ser descrentes e fracos, às vezes; eles podem fraquejar ao dar um testemunho (veja 2.13), mas nunca poderão negar o seu Senhor.
O último par de versos revela a profundidade do relacionamento entre os crentes e Cristo, o Senhor; quando nós, às vezes, fraquejamos, isto não significa que Deus irá nos rejeitar para sempre. Estas palavras aplicam-se não aos que não têm fé, mas aos crentes que, às vezes, falham com o Senhor.
Os seres humanos, pela sua própria natureza, são inclinados a fracassar; e os cristãos, embora nascidos de novo, ainda são humanos. Porém, mesmo quando os crentes são infiéis. Deus permanece fiel. Os crentes têm garantidas as promessas de Cristo. Isto não nos dá uma permissão para a falta de fé, mas alivia a nossa consciência quando falhamos, permitindo-nos voltar para o Pai e começar de novo. Deus não nega aqueles por quem Ele morreu, pois Ele não pode negar-se a si mesmo.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 529-530.
II Tm 2:10 suportar ... por causa dos eleitos . Embora haja discordância entre os cristãos sobre a doutrina da eleição, uma compreensão bíblica da doutrina não faz trabalho missionário undercut mas permite que ele. Paulo sofre justamente por causa de uma certeza de que, através de seu ministério, Deus vai salvar alguns. Veja as notas sobre Rom. 8:29; 08:30; Ef. 01:11.
II Tm 2:11-13 Os confiáveis movimentos declaração do conforto de desafiar e de volta para o conforto: v. 11b é um lembrete da vida, mesmo em face da morte; v 12 chamadas para a perseverança; v 13 é um lembrete de Deus de poder e fidelidade preservar. Neste contexto, para negar-lhe deve implicar uma ofensa mais grave do que ser infiel . Negando Cristo prevê a apostasia final, em contraste com um lapso temporário em confiar em Cristo ("se somos infiéis"). Aqueles que negam Jesus será julgado para sempre; mas todos os crentes pecam, e Deus é fiel e vai perdoar, restaurar e manter aqueles que são verdadeiramente seu.
BIBLIA DE ESTUDO ESV ENGLISH STANDARD VERSION. Published by Crossway Bibles.
II Tm 2.10 Por isso suporto tudo por causa dos eleitos, para também eles alcancem a salvação que (temos) no Messias Jesus (e que está ligada) com glória eterna. O amor suporta tudo. Paulo não está amargurado nem desesperado. Está sofrendo, porém seu sofrimento ocorre “em Cristo”, acontece por causa do evangelho, por amor daqueles que Deus escolheu, amou e santificou em Cristo. Paulo sabe do sofrimento vicário em prol da igreja dos eleitos. Assim ele descarta qualquer ideia de mérito. Os eleitos não alcançam a salvação nele ou por causa dos sofrimentos dele, mas em Jesus e por meio da morte dele na cruz. Só Jesus traz a salvação aos pecadores e com ela a glória eterna, que forma um nítido contraste com os padecimentos temporais (v. 3-6). Sem dúvida existe para os eleitos o perigo de não permanecerem na graça, de, pelo contrário, vacilarem nas tribulações e caírem. Por meio de seu sofrimento, ou melhor, por meio de seu comportamento no sofrimento (ação de graças, paciência, testemunho ousado, amor ao inimigo, intercessão) Paulo visa contribuir para que alcancem a salvação, assim como ele mesmo tem a certeza de que terá participação na salvação.
II Tm 2.11 A primeira parte da carta vai chegando ao ponto culminante. Novamente – como na primeira carta (1Tm 3.16) – o apóstolo coroa suas exposições com um hino que está entrelaçado da forma mais estreita com tudo que veio antes e ao mesmo tempo introduz e fundamenta a segunda parte.
Reproduziremos o texto grego na tradução literal, a fim de ilustrar as regras da estrutura do todo à base de um exemplo:
Pistos ho logos
digna de fé (é) a palavra
1. ei gar syn-apethanomen,
se pois nós morremos junto com (aoristo),
kai sy-zesomen;
então viveremos com (futuro);
2. ei hypomenomen,
kai sym-basileusomen;
também governaremos com (futuro);
3. ei arnesometha
se renegarmos (futuro),
ka' keynos arnesetai hemas;
então aquele nos renegará (futuro);
4. ei apistoumen, ekeinos pistos menei;
se somos infiéis (presente), aquele permanece fiel (presente);
arnesasthai gar heauton
negar-se (infinitivo do aoristo) pois a si (mesmo)
ou dynatai.
não é capaz (presente).
Presumivelmente os v. 11-13 colocam diante de nós quatro linhas de um hino, estreitamente ligado ao fragmento, possivelmente de outro hino, do v. 8. Paulo conecta as duas citações por meio de um comentário sobre sua vida (v. 9s), assim como para Timóteo ele também interliga consistentemente a doutrina e a vida. Quando seguimos com atenção os fios do tecido da carta, reconhecemos um entrelaçamento profundo do todo. Em parte alguma as citações de hinos foram reunidas desconexamente ou distribuídas de forma solta. Assim como Jesus esteve abandonado na vida terrena por ocasião da condenação, sendo condenado como malfeitor, assim o apóstolo suporta males como um malfeitor, algemado como Jesus. Assim como o Ressuscitado governa como Messias da linhagem real de Davi, assim Paulo também alcançará, após os padecimentos, a salvação em Jesus e a glória eterna ao lado de todos os eleitos (v. 10) que perseveram com Jesus. Paulo não se inseriu indevidamente entre os dois fragmentos de hinos. Ao interpretá-los em relação a si mesmo, não deixa de aplicá-los simultaneamente a todos os colaboradores, e até mesmo a todos os eleitos. Passando pela sua própria pessoa, conduz ao testemunho daqueles que dizem “nós” em conjunto com ele. As linhas 1 e 2 atestam atitude e ação, conforme brota da fidelidade perante o Senhor. As linhas 3 e 4 mostram as consequências da infidelidade e negação. Nos 4 versos observamos ainda o tempo verbal e a forma pessoal:
Linha tempo verbal forma pessoal
1 passado (aoristo) nós – nós
2 presente nós – nós
3 futuro nós – ele
4 presente nós – ele
Linha 1: “Se temos morrido com.” O tempo verbal grego do aoristo pode assinalar uma ação em sua totalidade, que por um lado aconteceu ou começou no passado, mas perdura: sempre que temos morrido, morremos ou morreremos com ele, também viveremos com ele. O viver com, que começa já na vida presente, mas florescerá de forma perfeita somente depois da morte, deve ser considerado de forma análoga.
II Tm 2.12 Linha 2: Perseverar firmes somente é possível em Cristo. Quem buscar fundamento e força para perseverar em si mesmo cairá e negará Senhor, como aconteceu com Pedro. Perseverar é algo dirigido para o final, para a resistência até a morte, para o martírio. Governar com: os redimidos estão participando desde já do governo de seu Senhor exaltado sobre o mundo. Sua tarefa futura deve ter efeitos práticos desde já.
Linha 3: Se negarmos. O olhar está voltado para o futuro, para a última provação, quando estiverem em jogo vida e morte por causa do testemunho de Jesus. No presente contexto é preciso lembrar os falsos mestres. “Imiscuíram-se certas pessoas, cujo comportamento há tempo já foi descrito assim: ímpios são eles, distorcem a graça que Deus nos concedeu, em uma vida de
dissolução, negando nosso único Governante e Senhor, Jesus Cristo”. Timóteo não deve negar seu Senhor como os hereges, quando a última provação o alcançar, assim como o que Paulo agora precisa enfrentar. Com sua perseverança pessoal no Senhor o apóstolo dirige o olhar de seu colaborador para o próprio Senhor. Quem nega a Jesus em juízo perante os seres humanos e se declara definitivamente separado dele também será negado por Jesus no juízo perante o Pai. Essa é uma palavra séria de exortação na luta em torno da verdade. Acontece que já na primeira igreja o triste exemplo de Pedro era uma exortação séria impossível de ignorar, continuando a sê-lo desde então.
Jesus dirá aos pseudoprofetas e falsos mestres que se apresentaram em nome dele: nunca vos conheci, afastai-vos de mim. As past estão impregnadas dessa seriedade, porque a realidade da heresia e da negação está poderosamente diante dos olhos. A observação de A. Bengels sobre o texto vale com irrestrita urgência: “Essa negação não apenas acontece em tempos de perseguição, mas também nos dias de hoje, quando a razão se eleva acima da fé.” A igreja precisa vigiar sem cessar para que em seu seio não haja alguém que tenha um coração maligno de incredulidade ou que por puro temor diante das pessoas e necessidade de afirmação se cale covardemente sobre o nome do Senhor, somente para não se expor ao escárnio e desprezo. Por essa razão ela precisa se exortar mutuamente todos os dias.
II Tm 2.13 Linha 4: Se nós nos tornamos infiéis, ele permanece fiel. Em primeiro plano aparece aqui a imutável fidelidade do Senhor, que é capaz de proteger seus discípulos do mal até mesmo na última tentação. Nesse contexto torna-se compreensível a prece da oração do Senhor: E não nos deixes cair em tentação (naquela tentação na qual nos afastaríamos definitiva e irremediavelmente de ti e te negaríamos), i. é, protege-nos diante e durante a hora da tentação (redime-nos do mal). O reino de Deus será consumado apesar da infidelidade e fraqueza dos eleitos, pois “a infidelidade deles haveria de anular a fidelidade de Deus?” A quarta linha é marcada integralmente pelo linguajar de Paulo. “A incredulidade humana não debilita a credibilidade de Deus” (Schlatter). As quatro linhas extraídas de um hino não terminam no sombrio mistério do futuro, que talvez oculte nossa negação e nossa queda. O hino conduz para a maravilhosa luz da imutável fidelidade de Deus e de nosso Senhor Jesus. O apóstolo “fala a partir da esperança da vida eterna com toda a convicção, a partir da eternidade, dirigida para o atual período de preparo. É assim que o velho Paulo anima a si mesmo em suas algemas e a Timóteo, seu filho, e a todos os cristãos” (A. Bengel). “Ele continua fiel a nós, ou melhor: ele permanece fiel às suas promessas. Também quando tantas vezes fracassamos e nos tornamos infiéis, ele é capaz de perdoar. A lógica é quebrada no amor do Redentor. Isso não significa carta branca para pecado e queda, como demonstra a terceira linha do hino, mas um consolo para consciências atemorizadas, e a fé que fracassa tem o privilégio de se erguer na fidelidade de seu Senhor”.
Porque se negar (a si próprio) ele não é capaz. Essa frase poderia ser considerada tanto como ainda pertencente ao hino e consequentemente estaria enfatizando o final inesperado, ou então como adendo do apóstolo. A imponente seção de 2Tm 1.3-2.13 constitui um comentário comovente sobre Lc 12.4-12, desembocando, face aos padecimentos e à morte, na exaltação da fidelidade do Senhor. Independentemente de qual é e for a situação no mundo e na igreja, uma coisa é certa e firme: “O Senhor é fiel, ele vos fortalecerá e protegerá diante do maligno” (2Ts 3.3).
Hans Bürki. Comentário Esperança Cartas aos II Timóteo.. Editora Evangélica Esperança.
I Tm 4.13 Paulo esperava visitar Timóteo e os crentes de Éfeso em breve (veja também 3.14,15). Além de observar cuidadosamente a sua vida privada, para mantê-la acima de quaisquer críticas, Timóteo também devia dar atenção e cuidar da preparação do seu ministério público em três áreas principais, que são descritas a seguir. Timóteo devia se dedicar a ler em público as Escrituras Sagradas, uma prática iniciada nos tempos do Antigo Testamento (veja Êx 24.7; Dt 31.11; Js 8.35; 2 Rs 23.2,3; Ne 8.1-18) e continuada nas sinagogas (1x4.16; At 15.21; Cl 4.16; 1 Ts 5.27).
Ele também devia exortar os crentes, por meio da pregação. Timóteo devia exortar, ou seja, advertir, aconselhar e incentivar seus ouvintes a respeito das palavras das Escrituras, ajudando-os a aplicar estas palavras em suas vidas diárias. Ensinar refere-se ao treinamento na doutrina cristã. As pessoas precisavam conhecer, entender e ser lembradas constantemente das grandes verdades da fé cristã.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 501- 502.
I Tm 4.13 « ...aplica-te...» No grego é «prosecho», que significa «dar atenção a», «seguir», «voltar a mente para». Isso se refere à diligência e à dedicação necessárias por parte de todo o pastor, sobretudo em suas funções públicas, que passam a ser enumeradas.
«...á leitura. . .» Temos aqui, particularmente, a leitura em público, do A T., mas talvez também das epístolas dos apóstolos e de outros documentos que seriam considerados dotados de valor entre os cristãos primitivos. Naqueles dias, quando a imprensa ainda não fora inventada, os manuscritos eram raríssimos. Praticamente ninguém possuía uma cópia inteira e particular das Sagradas Escrituras. Além disso, pouquíssimas eram as pessoas que sabiam ler. Isso significa que a «leitura das Escrituras, em público», se tornava uma necessidade premente.
A igreja cristã primitiva dividia as Escrituras sagradas em «lecionários», isto é, «trechos selecionados» das Escrituras, para serem l id o s , e que cobriam, para todos os efeitos práticos, a totalidade do N.T. Temos em nossa possessão, até hoje, muitos desses manuscritos litúrgicos, que nos servem de fonte informativa acerca do texto do N.T.; pois normalmente preservam antiquíssima representação do texto sagrado. A leitura era feita perante a congregação inteira, de maneira solene e digna. Em algumas igrejas cristãs, como acontecia na sinagoga judaica, havia leitores especiais; ou então tal leitura era feita por algum dignitário visitante. O pastor podia interromper o leitor e fazer comentários, I sua vontade. No trecho de Luc. 4:16 e ss., vemos que o Senhor Jesus foi o leitor de uma passagem bíblica. (Ver Atos 13:15 quanto a outra alusão à leitura pública das Escrituras). Na sinagoga judaica, normalmente era lida alguma porção da lei, outra porção dos Salmos, e outra ainda dos profetas. Os trechos de I Tes. 5:27; Efé. 3:4 e Col. 4 :1 6 mostram-nos que as epístolas paulinas não tardaram a ser incluídas nessas leituras em público. Eusébio (História Eclesiástica :423), Tertuliano (Apo. 39) e Justino Mártir (Apol. 1.67), deixaram-nos informes que mostram que, na igreja primitiva, eram lidas porções do A.T. juntamente com passagens dos primeiros livros do N .T., e que isso começou antes mesmo de haver qualquer coisa como um «cânon» oficial do N.T. A passagem de II Ped. 3:16 mostra-nos que algumas das epístolas paulinas desfrutaram de grande posição de autoridade, lado a lado com o A .T . A declaração de Justino mostra-nos que os «evangelhos» também eram lidos em sua época, isto é, no começo do segundo século de nossa era.
Embora o sentido primário dessas palavras indique a leitura pública das Escrituras, e como os pastores deveriam mostrar-se fiéis nessa função eclesiástica, espera-se, mui naturalmente, que todos os líderes cristãos sejam homens que dediquem muito tempo ao estudo e à leitura dos documentos sagrados.
«...à exortação...» No grego é «paraklesis», que significa «encorajamento», «exortação», «consolo». O Espírito Santo é o «Consolador», o «Ajudador», o «divino paracleto», palavra teológica essa baseada no termo grego que ora comentamos.
Esse verbo significa «chamar para o lado de, c om o intuito de ajudar», «convocar»; e isso tanto para exortar como para consolar. No presente versículo, porém, devemos entender «exortar», porquanto a palavra é usada em conexão com a ideia da leitura das Escrituras em público, indicando, portanto, a pregação que compunha parte do culto de adoração dos cristãos. Mas em particular, um «supervisor» também deveria agir como consolador; e também poderia pregar mensagens consoladoras, a seu público. Mas parece que a ideia de exortação é que se destaca aqui, pelas razões dadas acima. Tais exortações podem estar baseadas ou não na leitura feita, pois normalmente eram feitas mediante «alguma espécie de explicação sobre o que era lido, ou, pelo menos, incluía algo dessa atividade.
«...no ensino...» No grego é «didaskalia», que significa «instrução», «ensino». Não é suficiente ler e exortar. O pastor também precisa ser um mestre; e a sua pregação deve ser qual uma aula; doutro modo será vazia e infrutífera. Exortação e ensino também são unidos em Rom. 12:7,8 e I Tim. 6:2. (Ver as notas expositivas sobre o «dom ministerial do mestre», na introdução ao décimo segundo capítulo da primeira epístola aos Coríntios).
A principal função do pastor, no tocante ao culto de adoração, é aqui salientada. A pregação não é bastante por si mesma. Também deve haver o ensino, e as passagens de Rom. 12:7 e Tito 2:1-14 mostram-nos que o ensino deve incluir tanto a instrução doutrinária como a instrução moral.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 326.
I Tm 4.13. Persevera: atentar cuidadosamente, ocupar-se de. Em vez de prestar atenção nas heresias ou cair em vícios, Timóteo deve entregar-se inteiramente a seu mandato. Quando se dedicar ao “bom combate” e for arrebatado por ele, permanecerá protegido contra as influências negativas.
Na leitura: trata-se da leitura em voz alta das Escrituras disponíveis perante a congregação reunida. Os textos de 2Co 3.14; Lc 4.16; At 13.15 se referem à leitura do AT praticada na sinagoga, um direito de cada homem que soubesse ler. Conforme 1Tm 5.18 (citações do AT e do NT), 1Ts 5.27; Cl 4.16; Ap 1.3 a leitura pode ser tanto do AT como dos escritos do NT já existentes. Aqui a ênfase certamente incide sobre a leitura de escritos apostólicos, o que no entanto não exclui a conhecida prática de proclamar textos do AT. “Conjuro-vos, pelo Senhor, que esta epístola seja lida a todos os irmãos. E, uma vez lida esta epístola perante vós, providenciai por que seja também lida na igreja dos laodicenses; e a dos de Laodicéia, lede-a igualmente perante vós.” As past não permitem notar uma diferença em relação a essa leitura de suas missivas motivadas por autoridade apostólica (QI 21, 25e).
Na exortação: No culto da sinagoga a palavra livremente lida era interpretada. “Depois da leitura da lei e dos profetas, os chefes da sinagoga (judaica) mandaram dizer-lhes: Irmãos, se tendes alguma palavra de exortação para o povo, dizei-a!” Após essa solicitação Paulo se levanta e evangeliza. Isso não é a mesma coisa que ensinar. Também em Rm 12.7s ele diferencia nitidamente entre exortar e ensinar como dois dons distintos da graça. O próprio Deus é o Deus de toda a consolação, Cristo o Parákletos, que envia outro Parákletos, o Espírito Santo. Deparamo-nos aqui com uma palavra-chave da revelação do NT que liga da maneira mais estreita possível as past com todas as demais cartas de Paulo e com os escritos de João. O Messias é o consolo de Israel, que será revelado no fim dos tempos e pelo qual esperam os mansos da terra. Os ricos, que tentam usar sua riqueza para se tranquilizar em seu vazio humano, “já têm sua consolação”. Nesse contexto também deve ser entendida a “consolação das Escrituras”, porque elas apontam para o Deus da esperança. Da Escritura e de sua leitura provêm o verdadeiro consolo e a verdadeira admoestação.
Exortar significa tratar, com base nas Escrituras, e com autoridade profética, por meio do Espírito Santo, de cada indivíduo e de cada igreja em sua carência, aflição e perigo atuais, dirigindo-se de forma amável e séria à consciência e ao coração dos ouvintes. A “paráclese” sempre possui o duplo sentido de exortar e encorajar, de anunciar e desafiar, de consolar e fortalecer. Exortar visa a situação atual, motivo pelo qual é aplicação pessoal, ou, se quisermos, subjetiva, i. é, direcionada ao sujeito, da Escritura Sagrada.
Na doutrina: atividade de ensino, instrução, educação. Ensinar é algo diferente e é mais que retirar um versículo da Bíblia, relacionando com ele considerações edificantes. Estão em jogo a totalidade da fé cristã e a história da salvação: “a forma da doutrina”. Quem ensina, expõe os desígnios de Deus e evidencia as dádivas e os deveres deles decorrentes; interpela o entendimento e convida para o cumprimento em obediência. Quem exorta, nutre e fortalece o coração dos ouvintes com a palavra de Deus. Coloca-os junto com seu fracasso diante daquele que perdoa e restaura. Interpela sua consciência, para que acordem da indiferença.
Timóteo deve nutrir-se pessoalmente com a palavra da fé e seguir a doutrina, então terá condições de exortar e ensinar a igreja a partir da Escritura. A vivência na Escritura e a leitura a partir de seus textos constitui o fundamento para as duas atividades principais do servo da palavra: exortar e ensinar, dirigir-se ao indivíduo, falar-lhe a partir de Deus e colocá-lo no contexto geral dos desígnios de Deus com a igreja e o mundo, o subjetivo e o objetivo, as pequenas coisas do cotidiano e a grande dimensão universal e supramundana das idéias e intenções de Deus. Ambas precisam ser mantidas em equilíbrio e tensão recíproca. Quando se enfatiza demais a doutrina e falta a exortação, surge um conhecimento cerebral, dissociado da vida e atividade cotidianas. Quando a exortação se torna preponderante, o ser humano se perde na subjetividade, na autocontemplação e em última análise na santificação própria, na mesquinhez, e a devoção adquire aparência mofada e estreita. Falta a relação com a magnitude e a totalidade dos desígnios de Deus. Por essa razão ambas as coisas são necessárias, da maneira como o Espírito explicita para cada respectiva situação.
Hans Bürki. Comentário Esperança Cartas aos I Timóteo.. Editora Evangélica Esperança.
II Tm 4. 13. Ainda mais que a capa, Paulo queria seus livros e pergaminhos. A prisão de Paulo poderia ter ocorrido tão inesperadamente, que ele não pôde voltar para casa para apanhar seus pertences pessoais. Os livros incluiriam partes do Antigo Testamento. Os pergaminhos eram muito provavelmente pergaminhos ou papiros escritos à mão, frequentemente usados no século I para a tomada de notas (como em cadernos), confecção de memorandos, ou primeiros rascunhos de obras literárias. Talvez estes pergaminhos fossem rascunhos de algumas das epístolas de Paulo. Na época em que vivemos, em que muitas coisas são descartáveis, achamos difícil imaginar que nos tempos de Paulo uma pessoa tivesse um único agasalho, excelente, durável e provavelmente valioso para usar durante toda a sua vida, e que frequentemente o deixasse para os seus filhos ou herdeiros. Artigos como capas eram muito importantes e muito difíceis de fazer, de maneira que náo poderiam ser malfeitos. Praticamente tudo o que era escrito também tinha um grande valor. Paulo era um estudioso e teria reunido, para o seu uso, uma biblioteca pequena, mas eficiente. Quando Paulo pediu os livros e os pergaminhos, ele não estava pedindo toda a sua biblioteca, mas alguns documentos mais apreciados.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 542-543.
II Tm 4. 13. Os livros: o termo se refere a folhas de papiro para anotações e para copiar livros. Folhas de pergaminho são muito caras e são usadas somente para documentos de valor. Provavelmente se trata aqui de cópias de livros do AT e talvez até mesmo de uma coleção de ditos do Senhor. Como será que esse pedido, que na realidade pressupõe que Paulo ainda pensa em ler, estudar e escrever, combina com o tom anterior e subsequente, que expressa a certeza do chamado iminente para comparecer diante de Deus?
Paulo havia advertido os cristãos em Tessalônica de que não deveriam se deixar afastar do trabalho em vista da expectativa da volta imediata do Senhor. Acaso ele mesmo agiria de outra maneira? De Lutero foi transmitida uma afirmação que revela uma mentalidade idêntica: se o dia final estivesse previsto para começar amanhã, hoje ele ainda plantaria uma macieira.
De qualquer forma era possível que entre sentença e execução trans-corresse um período mais longo. Paulo conta com essa possibilidade para ainda rever Timóteo. Talvez haja também cartas urgentes a ser escritas. Não sabemos as razões. Está claro que Paulo pensa sem cessar na vinda de Timóteo. Qual é a melhor forma para sua viagem? Quem deve acompanhá-lo? O que ele deverá trazer consigo? De que necessito com maior urgência? O pedido pela capa revela que nesse aspecto não se podia esperar ajuda dos cristãos em Roma. Ele estava na prisão, e sentia frio. Como Paulo não escrevia em função de terceiros e ele próprio era o autor, não havia necessidade de prestar maiores explicações: afinal, Timóteo estava informado. Esses detalhes da vida cotidiana do apóstolo não tinham maior relevância para seus contemporâneos e para Timóteo. Para nós, porém, a quem 19 séculos separam da vida desse homem, justamente essas “questões secundárias” possuem um valor muito especial. Permitem que sintamos a pessoa de Paulo por um instante e constatemos: suas lutas e expectativas, sua dor e saudade, sua afeição carinhosa, sua carência de comunhão, de calor, de literatura e trabalho, preso em cadeias, solitário, abandonado, como prisioneiro desonrado… E tudo isso para que se torne manifesto que o poder transbordante em meio a tal impotência não vem do próprio Paulo, e sim de Deus.
Hans Bürki. Comentário Esperança Cartas aos II Timóteo.. Editora Evangélica Esperança.
«...livros...» No grego temos a palavra bíblia, que é forma plural. É possível que indique rolos de velo. O descobrimento dos rolos do Mar Morto mostra-nos que o velo ou pergaminho já estava em uso muito antes desse material ser aludido nestas epístolas pastorais. Mas esse material de escrita era extremamente caro, pelo que o papiro, material mais perecível, era empregado. Nada existe neste texto que nos sugira o que estava escrito nesses rolos. Alguns supõem mesmo que nada estava escrito neles, e que Paulo apenas pedia «material de escrita», em que pudesse grafar suas epístolas mais tarde. Todavia, isso não é muito provável. Pois certamente ele poderia adquirir tal material na própria cidade de Roma, sem grande dificuldade e dispêndio.
O próprio termo grego, «biblia», em nada nos ajuda acerca do que estaria contido naqueles rolos, porquanto essa era uma das palavras mais comumente usadas no grego para indicar livros ou volumes. Tal palavra deriva-se de «bublos», um papiro egípcio. O termo latino «liber» também significava «livro», mas esse vocábulo indicava a cortiça interna de certa árvore, de onde se fabricava uma espécie de papel. Plínio, em sua História Natural (x iii.ll) diz-nos que, no caso do papiro, o âmago da planta era cortado em fatias, as quais eram arrumadas em fileiras, sobre as quais eram colocadas transversalmente outras fileiras, e então, sob pressão, era feita a aderência de umas fatias sobre as outras. Os manuscritos neotestamentários de que dispomos foram escritos sobre esse material. Pertencentes aos séculos II a VI D.C., há mais de setenta fragmentos ou porções mais extensas, e que incorporam cerca de setenta e cinco por cento do N.T., com muitas secções repetidas. (Ver essa informação, juntamente com informações gerais sobre os antigos manuscritos do N.T., e outros testemunhos acerca do texto do N.T., no artigo existente na introdução ao comentário que versa sobre esse assunto). Por volta do século IV D.C., o velo já estava em uso comum; e, por ser esse um material bastante durável, nele há muito maior número de manuscritos do N.T. do que em papiro.
Normalmente, naqueles dias, os «códices» (manuscritos em forma dos livros atuais) ainda não tinham começado a ser usados; mas rolos com múltiplas colunas era o estilo em uso para o fabrico de livros. Os códices Vaticano e Sinai tico (manuscritos em forma de códex, escritos em velo) contam com múltiplas colunas, sendo provável que tenham sido diretamente copiados de rolos de papiros.
No tocante às conjecturas sobre o que estaria contido nesses rolos, temos as seguintes: Uns pensam que seriam as Escrituras do A.T.; outros pensam que seriam livros dos filósofos, especialmente estoicos, posto que os escritos paulinos exibem influência do estoicismo, e que Tarso era um centro dessa filosofia; outros pensam em cartas escritas em papiro, talvez cópias de sua própria correspondência, juntamente com cartas que ele recebera da parte de outros, alguns desses livros poderiam ser escritos judaicos sobre as Escrituras do A .T., na forma de comentários. Devem ter sido alguns poucos livros escolhidos, talvez de várias espécies. «O idoso pregador poderia sentir-se feliz com os seus livros». (Robertson, in loc.).
«...especialmente os pergaminhos...» Eram livros ou documentos feitos de peles preparadas de bezerro, de antílope, de cabra ou de ovelha. O material mais caro era feito de bezerro ainda não-nascido, devido à sua fina textura. Eram caríssimos, e poucas pessoas possuíam livros feitos desse material. Eram reunidos, formando rolos, ou então eram deixados como páginas soltas. O termo pergamina (equivalente a «membrana»), e que se refere a esse material, se derivou do nome da cidade de Pérgamo, na Mísia, onde era manufaturado em grande quantidade, e de onde foi introduzido na Grécia. Posto que esse era o material mais valioso, e visto que Paulo parecia mais ansioso por receber esses documentos do que os «livros», alguns eruditos têm pensado que esses eram os livros que continham as Escrituras do A.T., pelo menos certas de suas porções, porquanto não havia como transportar o A.T. inteiro escrito sobre esse material, que ficaria por demais volumoso. Mas outros eruditos supõem, além disso, que havia ali cópias primitivas das declarações e da história da vida de Jesus, bem como algumas das cartas e escritos do próprio Paulo. No entanto, também há intérpretes que pensam aqui em «pedaços» de pergaminho, e não rolos, ou seja, diversos documentos, alguns dos quais Paulo talvez precisasse para apresentar a sua defesa em Roma. Na realidade, não há como averiguar o conteúdo desses rolos de papiro ou de pergaminho. A única coisa que parece certa é que eram documentos escritos, e não apenas material de escrita em branco.
Esse pedido de Paulo pode ser comparado com a solicitação que fez William Tyndale(1492 - 1536), um dos primeiros tradutores da Bíblia para o inglês. Ele escreveu da prisão de Vilvoorde, onde estava confinado por causa de suas atividades religiosas: «Rogo a V. Sa., e isso pelo Senhor Jesus, que se eu tiver de permanecer aqui no inverno, que peça ao comissário que seja tão bondoso comigo que me envie, entre outras coisas que ele tem, uma capa mais quente...sinto dolorosamente o frio em minha cabeça...pois aquela que tenho é muito fina...Ele tem uma camisa de lã que me pertence, e se quiser, pode mandá-la. Mas, acima de tudo...minha Bíblia em hebraico, a gramática e o vocabulário, para que eu passe meu tempo nessa atividade». (The Message o f the Book, Nova Iorque, E.P. Dutton and Co. 1909, pág. 392).
Parece que, em sua grande hora de prova, Paulo desejava ter o consolo das Escrituras; pois assim também poderia desviar seus pensamentos daquela crise terrena, a fim de que pudesse olhar mais fixamente para o Senhor Jesus.
Esta vida seria brutal se, algumas vezes,
Não tivéssemos claros vislumbres de um escopo mais vasto,
Indícios de uma ocasião infinita.
Algumas vezes, ao andar pelas ruas,
Ou nos montes, sempre sem aviso prévio,
Uma graça de ser, mais excelente do que somos,
Que acena mas desaparece, uma vida mais ampla
Que se impõe a si mesma, com rápido vislumbre
De circulos espaçosos, ilumina-nos a mente.
(James Russell Lowell)
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 406.

ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

Um comentário:

  1. Muito Bom esse Material. Leciono na escola dominical e tenho encontrado muita ajuda em seu Blogue, Deus continue te abençoando.

    Nilson Miranda

    ResponderExcluir