O DIACONATO
Data:
22 de Junho de 2014 HINOS
SUGERIDOS 115, 175, 394.
TEXTO ÁUREO
“Porque
os que servirem bem como diáconos adquirirão para si uma boa posição e muita
confiança na fé que há em Cristo Jesus” (1 Tm 3.13).
VERDADE PRATICA
Embora
o diaconato seja um ministério específico, a diaconia é uma missão de todo o
crente.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Fp 1,1 Auxiliares
dos líderes da igreja local
Terça - At 6-1-5 Homens exemplares
Quarta - At 6.6 Separados com imposição de mãos
Quinta - 1 Tm 3-12 Bons líderes no lar
Sexta - 1 Tm 3.1 3 Chamados para servir
Sábado - Mt 20.26-28 Jesus veio para servir
LEITURA BÍBLICA EM
CLASSE
1
Timóteo 3.8-13.
8
- Da mesma sorte os diáconos sejam honestos, não de língua dobre, não dados a
muito vinho, não cobiçosos de | torpe ganância,
9
- guardando o mistério da fé em uma pura consciência.
10
- E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem
irrepreensíveis.
11
- Da mesma sorte as mulheres sejam honestas, não maldizentes, sóbrias e fiéis
em tudo.
12
- Os diáconos sejam maridos de uma mulher e governem bem seus filhos e suas |
próprias casas.
13
- Porque os que servirem bem como diáconos adquirirão para si uma boa posição e
muita confiança na fé que há em Cristo Jesus.
INTERAÇÃO
Servir:
uma ordenança de nosso Senhor (Mc 1230,31). O ministério de serviço ao próximo
é o símbolo de amor na instituição dos diáconos relatada no livro dos Atos dos
Apóstolos, no sexto capítulo. Aqui, os apóstolos foram coerentes com o
ensinamento de Jesus de Nazaré. Há muito, o nosso Senhor havia ensinado sobre a
urgência de resolver questões sociais e de caráter humanitário de quem quer que
fosse.
O
problema registrado em Atos 6 foi de caráter étnico, mas hoje outros grandes
problemas afligem muitos membros da igreja local. Que o serviço dos diáconos de
Cristo nos inspire a cultivar um estilo de vida diaconal baseado na história de
Jesus de Nazaré.
OBJETIVOS
Após
esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Analisar o estilo de vida
diaconal de Jesus.
Explicar a instituição do
ministério do diácono.
Discorrer sobre o perfil e a
função do diácono.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Prezado
professor, para concluir a presente lição, sugerimos uma atividade prática para
executá-la junto à classe. Procure o secretário da igreja e se informe sobre as
pessoas enfermas que não podem ir aos cultos rotineiros. De acordo com a
quantidade de enfermos, e após a Escola Dominical, separe grupos de três ou
quatro pessoas (depende da quantidade de alunos) para fazerem uma visita. Ao
chegar no lar da pessoa visitada, ore, leia a Palavra e cante para ela.
Converse
um pouco de modo que ela sinta-se bem acolhida. Ao final da atividade, reúna
todos os grupos e explique-lhes que esta é uma prática diaconal transbordante
de amor e baseada no ensino de Jesus de Nazaré (Mt 25.36,43).
PALAVRA-CHAVE
Diácono: Aquele que serve por amor.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
No
primeiro século da era cristã, a Igreja cresceu sob o avivamento do Espírito e
expandiu-se pelo mundo. Na mesma medida em que cresceu, surgiram também
problemas na esfera social, demandando urgentes providências. Por uma sábia e
unânime decisão, em assembleia, a igreja de Jerusalém escolheu sete homens de
moral ilibada e cheios do Espírito Santo, para administrarem esse
"importante negócio” (At 6.3). Nesta lição estudaremos esse importante
ministério de serviço que, por causa de uma crise étnica na igreja, levou os
apóstolos a propor medidas que serviram de base para instituir a função
diaconal. Esta, até hoje, faz parte do ministério ordenado pelas igrejas
cristãs.
I - A
DIACONIA DE JESUS CRISTO
1. Significado do
termo. O
termo grego diaconia significa “ministério” ou “serviço”. A vida inteira de
Jesus aqui na Terra demonstrou o verdadeiro sentido da diaconia em todos os
seus aspectos. Na realidade, seu ministério terreno evidenciou o quanto Ele foi
“apóstolo da nossa confissão” (Hb 3.1), profeta (Lc 24.19), evangelista (Lc
4.18,19), pastor (Jo 10.11), mas principalmente, diácono por excelência (Mt
20.28). O apóstolo Paulo disse que Jesus, “sendo em forma de, Deus, não teve
por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de
servo, fazendo-se semelhante aos homens” (Fp 2.6-7). Segundo a Bíblia de Estudo
Palavras-Chave, a expressão “tomando a forma de servo" denota o sentido de
uma condição humilde.
2. Serviço de
escravo.
Na véspera da sua crucificação, o Senhor Jesus reuniu os seus doze discípulos
para comer a última ceia. Tomando uma toalha e uma bacia com água, ele começou
a lavar os pés dos discípulos, um a um (Jo 1 3.4,5). Não há atitude mais
comovente do nosso Senhor como o relato do lava-pés, demonstrando serviço,
exemplo e humildade. A “diaconia da toalha e da bacia” é a convocação Cristo
Centrica para uma vida de serviço humilde (Jo 13.12-17).
3. O discípulo é um
serviçal.
Certa vez, Tiago e João pediram ao Senhor lugares de destaques, “à direita” e
“à esquerda” de Jesus, quando da implantação do seu Reino (Mc 10.35-37). Os
discípulos ainda não haviam compreendido a mensagem de Jesus. A proposta do
Nazareno nunca foi a de estabelecer uma hierarquia de poder temporal para a sua
igreja, mas a de serviço conforme demonstra sua resposta a eles: “entre vós não
será assim; antes, qualquer que, entre vós, quiser ser grande será vosso
serviçal [diako- nos]. E qualquer que, dentre vós, quiser ser o primeiro será
servo de todos. Porque o Filho do Homem também não veio para ser servido, mas
para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc 10.43-45).
SINOPSE
DO TÓPICO (1)
A
diaconia de Jesus Cristo está centralizada na disponibilidade em servir o
próximo.
II - A
INSTITUIÇÃO DOS DIÁCONOS
1. O conceito da
função.
A palavra diácono (gr. diakonos), segundo o Dicionário Vine, refere-se àquele
que presta trabalhos voluntários aludindo aos exemplos dos criados domésticos
dos tempos do Novo Testamento. O termo destaca, em especial, a função de um
mestre ou de um pastor cristão, entrelaçando o sentido técnico do diácono ou
diaconisa. Outra palavra grega relacionada a “diácono” é doulos. Esta refere-se
a "um servo" ou “um escravo” (Mt 1 3.27,28; Jo 4.51). Portanto, a
ideia preponderante que a função do diácono remonta é a do serviço voluntário
prestado, pelo “ministro”, o “servo” ou o “assistente”, para alguém.
2. Origem do
diaconato.
“A bênção”, “problema” e ‘'reivindicação” são palavras-chave para o advento do
ministério formal dos diáconos em o Novo Testamento. A bênção foi o
extraordinário crescimento da igreja local em Jerusalém. A questão étnica
causada pela situação social de muitos que aceitavam a fé, especialmente
envolvendo viúvas judias de fala hebraica e as de fala grega (At 6.1), era o
problema. A reivindicação pode ser vista na manifestação verba) destas viúvas
que, sentindo-se injustiçadas pelo que elas interpretaram ser uma forma de
discriminação dos líderes da igreja de Jerusalém, cobraram sua assistência (At
6.1).
3. A escolha dos
diáconos.
Para resolver o impasse, orando e impondo-lhes as mãos, os apóstolos separaram
sete irmãos de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria para
administrar uma questão étnica e social (At 6.2-7). Foi uma decisão de caráter
pacificador e de muito bom-senso À para a igreja não se perder em permanentes
desentendimentos.
O
objetivo era estimulá-la a resolver a questão reconhecendo o caminho equivocado
antes aderido pelos líderes até aquele momento. Assim, eles puderam executaras
mudanças necessárias e resolveram uma questão que poderia trazer sérios
problemas para a igreja de Jerusalém.
SINOPSE
DO TÓPICO (2)
O
livro dos Atos dos Apóstolos, no capítulo 6, descreve a instituição do ministério
de diácono.
III - O
PERFIL E FUNÇÃO DO DIÁCONO
1. Qualificações do
diácono.
As qualificações dos diáconos descritas no livro de Atos e na primeira carta a
Timóteo revelam que em nada elas diferem da atribuição ética exigida aos bispos
(1 Timóteo e Tito).
a) Caráter moral (1
Tm 3.8).
Os diáconos devem ser pessoas honradas, dignas, corretas e íntegras. Não pode
haver “língua dobre”
neles, isto é, a sua palavra deve ser sim, sim e não, não. A ganância por
dinheiro tem de passar longe da sua vida, pois sua função é exatamente a de
executar trabalhos administrativos da igreja local, como auxiliar nas tarefas
do culto e acompanhar as viúvas e os pobres da Igreja do Senhor.
b) Caráter espiritual
(1 Tm 3.9,10).
Ter a plena convicção do que é crer no Evangelho. O diácono guarda a revelação
de Deus que está em Cristo Jesus, o nosso Senhor (cf. Rm 16.25). Por isso, a
liderança e a igreja local devem avaliar o candidato ao diaconato levando em
conta o seu caráter moral e espiritual.
c) Caráter familiar. O candidato deve ser
marido de uma mulher, fiel à sua esposa e bom pai, A exemplo dos bispos, os
diáconos devem ser zelosos com o seu lar, amar as suas esposas com amor
sacrifical. Devem respeitar os seus filhos, para obterem deles o mesmo
respeito. O “serviço” do diácono à sua família revelará como ele servirá a
igreja local.
2. A função dos
diáconos em Atos 6.
Quando foram instituídos diáconos, setes homens de fala grega foram separados
para assistir socialmente as viúvas: tanto as de fala hebraica como as de fala
grega. Os diáconos não podiam permitir que houvesse injustiças de caráter
social na igreja do primeiro século. A função do diaconato era fundamentalmente
de caráter social.
3. A função dos
diáconos hoje.
Atualmente, a função primordial do diácono é auxiliar a igreja local através
das orientações do seu pastor em atividades ligadas a visitar os enfermos, os
necessitados e os desviados, bem como cuidar das tarefas espirituais ligadas ao
culto, como a distribuir os elementos da Ceia do Senhor, recolheras
contribuições para a manutenção da igreja local (dízimos e ofertas) e auxiliar
na ordem e na segurança da liturgia do culto, bem como de outras tarefas já
mencionadas.
SINOPSE
DO TÓPICO (3).
Para
o perfil e a função do diácono deve-se levar em conta o caráter moral, o
caráter espiritual e o caráter familiar do candidato.
CONCLUSÃO
O
diaconato foi instituído pelos apóstolos de Cristo quando a comunidade cristã
cresceu e precisou ter pessoas que pudessem resolver questões relacionadas a
problemas sociais que demandavam atenção e cuidado, Hoje, os diáconos servem à
igreja e a Deus em trabalhos diferentes, e a liderança das igrejas locais deve
valorizar o seu trabalho e reconhecê-los como excelentes servidores do Reino de
Deus, pois, no sentido lato, todos somos diáconos da Igreja de Deus.
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO
I
Subsídio
Teológico
“Comunhão
Quebrada: A Comunidade Escolhe Sete Diáconos
Os
crentes se dedicam a formar uma comunidade de comunhão (At 2.42), que acha
expressão em compartilharas possessões com os necessitados. Como exemplo
positivo de comunhão, Lucas chamou atenção a Barnabé (At 4.36,37); em
contraste, Ananias e sua esposa são exemplos negativos (At 5.1-1 1). No
capítulo 6, Lucas informa um desarranjo na comunhão causado pela negligência da
comunidade para com suas viúvas gregas. No meio de tremendo progresso da
Igreja, este problema coloca a unidade eclesiástica em sério perigo.
Nesta
época, a comunidade cristã consiste em dois grupos: os judeus gregos
(hellenistai, ‘crentes de fala grega’) e os judeus hebreus (hebraioi, ‘crentes
de fala aramaica’). Os judeus gregos de Atos 6 são crentes que foram fortemente
influenciados pela cultura grega, provavelmente enquanto viviam fora da
Palestina, ao passo que os judeus hebreus são cristãos que sempre viveram na
terra nativa da Palestina” (STRONSTAD, Roger; ARRINGTON, French L. (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo
Testamento. Vol. 1: Mateus a Atos. 4.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009,
p.657).
AUXILIO BIBLIOGRÁFICO
II
Subsídio
Teológico
“[Sobre
a Escolha dos diáconos]
[...]
Lucas não declara como é feita a escolha dos sete homens, mas a congregação
como um todo vê a sensatez da proposta dos apóstolos (v.5) e participa na
escolha destes diáconos. A qualificação básica é a espiritualidade, mas eles
devem ser distintos de duas maneiras.
Eles
têm de ser cheios do Espírito Santo’. Em vez de ser meros bons administradores
ou gerentes de recursos, esta qualificação lhes exige que sejam capacitados
pelo Espírito na ordem dos discípulos no Dia de Pentecostes. Quer dizer, eles
devem ter o poder de uma fé que faz milagres.
Eles
também têm de ser ‘cheios [...] de sabedoria’. Complementar aos atos de poder
está o discurso inspirado pelo Espírito. Os diáconos têm de ser poderosos em
obras e palavras. Como pessoas competentes e maduras que são inspiradas pelo
Espírito, elas têm de ter bom senso prático e serem capazes de lidar com
delicados problemas de propriedade. Seu ministério inclui negócios empresariais
e a distribuição de ajuda para os necessitados, mas também deve ser espiritual
e carismático. Eles devem exercer quaisquer dons espirituais que Deus lhes
concedeu.
Entre
os sete homens escolhidos para servir como diáconos estão Estêvão e Filipe (os
únicos dois sobre quem Lucas apresenta detalhes). Filipe se destaca como
pregador carismático (At 8.4-8,26- 40; 21.8); ele é o primeiro a fundar uma
igreja entre os samaritanos. Estêvão é descrito como "homem cheio de fé*
(v.5), sem dúvida significando a fé que faz milagres. Ele faz ‘prodígios e
grandes sinais entre o povo’ (v.8), e seus oponentes não sabem como lidar com a
pregação que ele faz (v. 10). O ministério destes dois homens ilustra os
ministérios dos diáconos carismáticos, os quais se estendem muito além das
preocupações práticas do dia a dia da Igreja.
A
ordenação dos sete diáconos fornece bom modelo para ministrar as minorias da
Igreja. Como na Igreja primitiva, devemos nos preocupar com o modo como as
minorias — os pobres, as viúvas, os órfãos e as pessoas de diferentes origens
raciais — são tratadas. Semelhante às viúvas crentes de faia grega, tais
pessoas são indefesas, e suas necessidades podem ser negligenciadas. Cada
congregação deve ter um programa próprio para ministrar aos que estão em
desvantagem e às minorias, e entregar este ministério àqueles que são
espiritualmente dotados e compromissados a cuidar deles” (STRONSTAD, Roger;
ARRINGTON, French L. (Eds.) Comentário
Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Vol. 1: Mateus a Atos. 4.ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2009, pp.657-8),
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
ANDRADE,
Claudionor de. Manual do Diácono. 1.
ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1999,
STOTT.
John R. W. Cristianismo Equilibrado.
1. ed. Rio de Janeiro, CPAD, 1 995.
EXERCÍCIOS
1.
Qual o significado do termo grego “diaconia'?
R:
“Ministério” ou
“serviço”.
2.
Qual o significado da “diaconia da toalha e da bacia”?
R:
Significa a
convocação Cristo- Centrica para uma vida de serviço humilde (Jo 13.12-17).
3.
Quais as qualificações para o diaconato?
R:
Caráter moral,
caráter espiritual e caráter familiar.
4.
Qual a função dos diáconos em Atos 6?
R:
Assistir
socialmente as viúvas: tanto as de fala hebraica como as de fala grega.
5.
Qual a função dos diáconos hoje?
R:
Auxiliar a
igreja locai através das orientações do seu pastor em atividades ligadas a
visitar os enfermos, os necessitados e os desviados, bem como cuidar das
tarefas espirituais ligadas ao culto, como distribuir os elementos da Ceia do
Senhor, recolher as contribuições para a manutenção da igreja local (dízimos e
ofertas) e auxiliar na ordem e na segurança do culto, bem como de outras
tarefas para as quais for designado.
Revista
Ensinador Cristão CPAD, n°58, p.42.
Por
que existe o ministério do diácono? Qual a sua função e importância na vida da
igreja local? Estas perguntas podem e devem ser trabalhadas em sala de aula.
Muitos alunos não têm a convivência da realidade e dos meandros da organização
eclesiástica de suas igrejas locais. Por isso esta é uma excelente oportunidade
para abordar um assunto que faz parte da vida cristã de todo membro em uma
comunidade local.
Para
responder as perguntas elaboradas acima, deve-se partir do sexto capítulo do
livro dos Atos dos Apóstolos, pois ali, pela primeira vez, foi constituído um
ministério específico de caráter social para resolver uma variante problemática
de aspecto étnico: entre as viúvas de fala hebraica e as de fala grega. Tal
problema poderia atravancar o avanço da igreja local que estava em Jerusalém.
Os apóstolos sentiram-se cobrados em solucionar um problema não muito fácil,
entretanto, os ministérios da Palavra e da Oração não poderiam ficar em segundo
plano. Mas igualmente, a sobrevivência humana.
Orientados
pelo Espírito Santo, e também dotados por um profundo bom senso, juntamente com
a igreja, os apóstolos não hesitaram em tomar a decisão de separar sete homens
judeus de fala grega 13 Estêvão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e
Nicolau - para resolverem uma questão de caráter social e urgente. Assim, a
igreja de Jerusalém voltou a normalidade da sua atividade coadunando a prática
proclamatória do Evangelho com o serviço de interferir socialmente na vida dos
crentes, e não- -crentes também, para suprir a necessidade de quem precisava de
ajuda. Por isso, o caráter do ministério diaconal é profunda e biblicamente
enraizado numa intensa preocupação social. O diácono de Atos não foi chamado
para fazer trabalhos meramente litúrgicos, (como colher dízimos e ofertas e
servir a Santa Ceia), mas principalmente a cuidar dos mais necessitados,
visitar as viúvas e os enfermos, amparando quem realmente precisa de cuidados
na comunidade cristã local.
Por
conseguinte, o serviço de diácono não é simplesmente uma função eclesiástica,
mas um estilo de vida ensinado e promovido por Jesus de Nazaré. Quando um
crente olha para o verdadeiro diácono ele deve sentir-se impulsionado para
viver um estilo de vida diaconal, como o de Cristo em seu ministério terreno.
Pois o diaconato é um estilo de vida centralizado em Jesus de Nazaré, jamais em
si mesmo.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Em seus ensinos,
Jesus não especificou como seria a organização da Igreja, nos diversos lugares
por onde seu evangelho haveria de promover a conversão de muitas pessoas pelo
poder do Espírito Santo. Ele garantiu que haveria de edificar a sua Igreja e
“as portas do inferno não prevaleceriam contra ela” (Mt 16.18). E a Igreja
cresceu e se expandiu pelo mundo todo. E seu crescimento demandou o
estabelecimento de medidas e providências jamais experimentadas por qualquer
organização humana.
Para começar o
grandioso trabalho, só restavam onze apóstolos. Judas, o traidor, perecera de
maneira trágica, indo para “o seu próprio lugar” (At 1.25). A equipe de Jesus
era pequena e diminuíra. Mas a obra precisava ser feita. Em lugar de Judas foi
eleito Matias, que tomou “o seu bispado” (At 1.20). (Esse texto mostra que o
apóstolo também era bispo). Resolvido o problema da substituição de Judas, os
apóstolos encetaram a grande missão de prosseguir com a obra de Jesus. No
cenáculo, receberam o poder do Alto, sendo batizados com o Espírito Santo. Com
a pregação cheia de unção, quase três mil novos crentes agregaram-se ao pequeno
grupo de cristãos (At 2.37-41).
O crescimento
vertiginoso trouxe diversos problemas. Entre os conversos, havia pessoas de
outros lugares, além de judeus. Os problemas não tardaram a surgir. O
evangelista Lucas, escritor dos Atos dos Apóstolos, registrou o que ocorria
naqueles dias, quando a comunidade cristã cresceu grandemente, e surgiram
diversos problemas, inclusive de ordem social (cf. At 6.1-7). E os líderes da
Igreja resolveram reunir a assembleia e buscar a solução para o atendimento
social aos irmãos carentes. A tarefa era um grande desafio. Ou eles cuidavam da
evangelização e do discipulado, ou cuidavam da parte social.
Por decisão sábia e
unânime, escolheram sete homens, com qualidades exemplares, para cuidarem
daquele “importante negócio”, que era dar assistência aos novos convertidos nas
suas necessidades básicas. Muitos que aceitavam a Cristo ficavam em situação
difícil, rejeitados por suas famílias, expulsos de casa e desprezados da
sociedade. Assim, ante uma crise de caráter humano, os apóstolos tiveram que
tomar medidas que serviram de base para a criação do cargo ou da função de
diácono que faz parte, até hoje, do ministério ordenado, nas igrejas cristãs.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 139-140.
Aquilino de Pedro
afirmou que o diaconato é o ministério por excelência; o serviço é a sua razão
primacial. Se nos voltarmos aos atos dos apóstolos, constataremos que não
exagera o ilustrado teólogo. A diaconia outra coisa não é senão um serviço
incondicional e amoroso a Deus e à sua Igreja. O diácono que não vive para
servir a igreja de Deus, não serve para viver como ministro de Cristo. A
essência do diaconato é o serviço; do diaconato, o serviço também é o amoroso
fundamento. E sem serviço também a diaconia é impossível. Nesse sentido, quão
excelso e perfeito diácono foi o Senhor Jesus!
Valdemir
P. Moreira. Manual do Diácono.
I - A
DIACONIA DE JESUS CRISTO
1. Significado do
termo.
A palavra diaconia é
originaria do vocábulo grego diákonos e significa, etimologicamente, ajudante,
servidor. Já que o diácono é um servidor, pode ele ser visto também como um
ministro; a essência do ministério cristão, salientamos, é justamente o
serviço. Em seu Dicionário do Novo Testamento Grego, oferece-nos W.C. Taylor a
seguinte definição de diácono: garçom, servo, administrador e ministro. Na
Grécia clássica, diácono era o encarregado de levar as iguarias à mesa, e
manter sempre satisfeitos os convivas. Na septuaginta, eram os servos chamados
de diáconos, porém não desfrutavam da dignidade de que usufruíram seus
homônimos do NT, nem eram incumbidos de exercer a tarefa básica destes:
socorrer os pobres e necessitados. Não passavam de meros serviçais. Aos olhos
judaicos, era esse um cargo nada honroso. A palavra diácono aparece cerca de
trinta vezes no NT. Às vezes, realça o significado de servo; outras, o de
ministro. Finalmente, sublime a função que passou a existir na Igreja Primitiva
a partir de Atos capítulo seis. Observemos, entretanto, que, nesta passagem de
Atos dos apóstolos, não encontramos a palavra diácono. O cargo descrito, e o
titulo não é declinado. A obviedade do texto, contudo, não atura duvidas:
referiam-se os apóstolos, de fato, ao ministério diaconal.
Valdemir
P. Moreira. Manual do Diácono.
Eles devem ser como o
próprio Mestre; e é muito apropriado que eles o fossem, pois, enquanto
estivessem no mundo, deveriam ser como Ele foi quando estava no mundo. Porque
para ambos o estado atual é um estado de humilhação; a coroa e a glória estavam
reservadas para ambos no estado futuro. Eles precisavam considerar que “o Filho
do Homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a sua vida em resgate
de muitos” (v. 28). O nosso Senhor Jesus aqui se coloca diante dos seus
discípulos como um padrão de duas qualidades anteriormente recomendadas: a
humildade e a utilidade.
[1] Nunca houve um
exemplo de humildade e condescendência como houve na vida de Cristo, que não
veio para “ser servido, mas para servir”. Quando o Filho de Deus entrou no mundo
- o Embaixador de Deus para os filhos dos homens alguém poderia pensar que Ele
deveria ser servido, que deveria ter se apresentado em um aparato que estivesse
de acordo com a sua pessoa e caráter; mas Ele não fez isso; Ele não agiu como
uma celebridade, Ele não teve nenhum séquito pomposo de servos de Estado para
servi-lo, nem se vestiu em túnicas de honra, porque tomou sobre si a “forma de
servo”. Ele, na verdade, viveu como um homem pobre, e isto fez parte da sua
humilhação. Houve pessoas que o serviram com as “suas fazendas” (Lc 8.2,3); mas
Ele nunca foi servido como um grande homem. Ele nunca tomou a pompa sobre si,
não foi servido em mesas, como um dos grandes deste mundo. Jesus, certa vez,
lavou os pés dos seus discípulos, mas nunca lemos que eles tenham lavado os pés
dele. Ele veio para ajudar a todos quantos estivessem em aflição. Ele se fez
servo para os doentes e debilitados; estava pronto para atender aos seus
pedidos como qualquer servo estaria pronto para atender à ordem do seu senhor,
e se esforçou muito para servi-los.
O Senhor Jesus serviu
continuamente visando este fim, negando a si até mesmo o alimento e o descanso
para cumprir essa tarefa.
[2] Nunca houve um
exemplo de beneficência e utilidade como houve na morte de Cristo, que “deu a
sua vida em resgate de muitos”. Ele viveu como um servo, e fez o bem; mas
morreu como um sacrifício, e com isso Ele fez o maior bem de todos. Ele entrou
no mundo com o propósito de dar a sua vida em resgate; isto estava primeiro em
sua intenção. Os aspirantes a príncipes dos gentios fizeram da vida de muitos
um resgate para a sua própria honra, e talvez um sacrifício para a sua própria
diversão.
Cristo não age assim;
o sangue daqueles que lhe são sujeitos é precioso para Ele, e Ele não é pródigo
nisso (SI 72.14); mas, ao contrário, Ele dá a sua honra e a sua vida como
resgate pelos seus súditos. Note, em primeiro lugar, que Jesus Cristo
sacrificou a sua vida como um resgate. A nossa vida perdeu o direito nas mãos
da justiça divina por causa do pecado. Cristo, entregando a sua vida, fez a
expiação pelo pecado, e assim nos resgatou. Ele foi feito “pecado” e uma
“maldição” por nós, e morreu, não só para o nosso bem, mas “em nosso lugar” (At
20.28; 1 Pe 1.18,19). Em segundo lugar, foi um resgate por muitos. Ele foi
suficiente para todos, mas eficaz para muitos; e se foi eficaz para muitos,
então diz a pobre alma duvidosa: “Por que não por mim?” Foi por muitos, para
que por ele muitos pudessem ser feitos justos. Esses muitos eram a sua semente,
pela qual a sua alma sofreu (Is 53.10,11). “De muitos”, assim eles serão quando
forem reunidos, embora parecessem então um pequeno rebanho.
Então esse é um bom
motivo para não disputarmos a precedência, porque a cruz é a nossa bandeira, e
a morte do nosso Senhor é a nossa vida. Esse é um bom motivo para pensarmos em
fazer o bem, e, em consideração ao amor de Cristo ao morrer por nós, não
hesitarmos em “sacrificar as nossas vidas pelos irmãos” (1 Jo 3.16). Os
ministros devem estar mais ansiosos do que os outros para servir e sofrer pelo
bem das almas, como o bendito apóstolo Paulo estava (At 20.24; Fp 2.17). Quanto
mais interessados, favorecidos e próximos estivermos da humildade e da
humilhação de Cristo, mais prontos e cuidadosos estaremos para imitá-las.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 261-262.
Mt 20.26-28 Em uma
frase, Jesus ensinou a essência da verdadeira grandeza: Todo aquele que quiser,
entre vós, fazer-se grande, que seja vosso serviçal. A grandeza é determinada
pelo serviço. O verdadeiro líder coloca as suas necessidades em último lugar,
como Jesus exemplificou na sua vida e na sua morte. Ser um “servo” não
significa ocupar uma posição servil, mas sim ter uma atitude na vida que atende
livremente às necessidades dos outros sem esperar nem exigir nada em troca. Os líderes
que são servos apreciam o valor dos outros e percebem que não são superiores a
ninguém; eles também entendem que o seu trabalho não é superior a nenhum outro
trabalho. Procurar honra, respeito e atenção dos outros vai em direção
contrária às exigências de Jesus para os seus servos. Jesus descreveu a
liderança a partir de uma nova perspectiva. Ao invés de usar as pessoas, nós
devemos servi-las.
A missão de Jesus era
servir aos outros e dar a sua vida por eles. Um verdadeiro líder tem o coração
de um servo. Os discípulos devem estar dispostos a servir porque o seu Mestre deu
o exemplo. Jesus explicou que Ele não veio para ser servido, mas para servir a
outros. A missão de Jesus era servir — em última análise, dando a sua vida para
salvar a humanidade pecadora. A sua vida não foi “tomada”, Ele a “deu”,
oferecendo-a como sacrifício pelos pecados do povo. Um resgate era o preço pago
para libertar um escravo da escravidão. Jesus pagou um resgate por nós, e o
preço exigido foi a sua vida. Jesus tomou o nosso lugar, Ele morreu a morte que
nós mereceríamos.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 124.
Mt 20. 28 Nesse
ponto, Jesus apresenta-se — o Filho do homem (veja comentário sobre 8.20) —
como o supremo exemplo de serviço para os outros. O versículo é claramente
importante para nossa compreensão da percepção de Jesus de sua morte.
Três questões
relacionadas pedem discussão.
1. Autenticidade.
Muitos rejeitam a autenticidade do versículo 28 ou, pelo menos, de 28a (e do
correspondente Mc 10.45) com base em que ele se ajusta mal ao contexto, uma vez
que a morte vicária de Jesus não pode ser imitada por seus discípulos, que em
nenhuma outra passagem registra-se ele falando de sua morte dessa maneira e que
a linguagem usada reflete a influência da igreja helénica. Ao contrário, a
linguagem demonstra ser palestina (Jeremias, Eucharistic Words [Palavras eucarísticas],
p. 179-82); e Jesus não fala de sua morte em termos distintos de quando
instituiu a ceia do Senhor (26.26-29) e também de Lucas 22.37, presumindo que
ela se relaciona a uma ocasião distinta. E bastante comum no Novo Testamento,
nas palavras atribuídas a Jesus e a outras existentes em outros trechos começarem
com a necessidade dos discípulos matarem o “eu” e terminarem com a morte
vicária única de Jesus como um exemplo ético — ou, de forma inversa, começarem
com a morte única de Jesus e tê-la aplicada como um exemplo para os discípulos
(Jo 12.23-25; Fp 2.5-11; IPe 2.18-25). Não há motivos substanciais para negar a
autenticidade desse dito (cf. esp. S. H. T. Page, “The Authenticity of the
Ransom Logion [Mark 10.45b]” [“A autenticidade do dito de resgate (Mc 10.45b)”],
em France e Wenham, p. 1:137-61); e suas nuanças parecem muito mais em harmonia
com a forma progressiva como Jesus se revelou (cf. Carson, “Christological
Ambiguities” [“Ambiguidades cristológicas”]) que com a nítida confissão
apostólica pós-ressurreição.
2. Sentido. É natural
entender que o “não veio” como pressupondo, pelo menos, um indício da
pré-existência de Jesus, embora a linguagem não exija absolutamente isso. Ele
não veio para ser servido, como um rei que depende de incontáveis cortesãos e
criados, mas para servir os outros. Stonehouse observa com acerto que esse
versículo presume que o Filho do homem tem todo direito de esperar ser servido,
mas, em vez disso, ele serve. Está implícita a autoconsciência de que o Filho
do homem que, por causa de sua origem celestial, possuía autoridade divina era
aquele que se humilhou a ponto de se submeter a uma morte vicária. A tripla
ruptura das referências do Filho do homem (veja digressão sobre 8.20), até
aqui, é artificial. A demonstração da glória divina brilha com mais esplendor
quando é separada por causa da morte vergonhosa de um homem redentor. Esse é
exatamente o cerne da revelação de si mesmo de Jesus e do evangelho primitivo
(ICo 1.23: “Pregamos a Cristo [Messias] crucificado”).
O Filho do homem veio
para “dar a sua vida em resgate por muitos”. Deissmann (LAE, p. 331s.) observa
que lytron (“resgate”) não era usado muito comumente para o preço de compra da
libertação de escravos; e há boa evidência de que, no Novo Testamento, a noção
de “preço de compra” está sempre sugerida no uso de lytron.
No entanto, outros,
ao examinar a palavra na LXX, concluem que, sobretudo quando o sujeito é Deus,
a palavra tem o sentido de “libertação”; e o verbo cognato, de “libertar”, sem
referência ao “preço pago” (veja esp. Hill, Greek Words [Palavras gregas], p.
58-80). O assunto pode ser difícil de decidir em uma passagem como Tito 2.14. A
perversidade é uma cadeia da qual Jesus por meio de sua morte nos liberta ou um
dono de escravos do qual Jesus por meio de sua morte nos resgata?. O paralelo
em 1 Pedro 1.18 sugere a última opção, embora (como Turner, Christian Words
\Palavras cristãs], p. 105-7, insiste) não haja nunca qualquer menção no Novo
Testamento daquele a quem o preço é pago; e em Mateus 20.28,
esse sentido é
praticamente assegurado pelo uso de an ti (“para”). A força normal dessa
preposição denota substituição, equivalência, troca (cf. esp. M. J. Harris, DNTT,
3:1179s.). “A vida de Jesus entregue em morte vicária realiza a libertação de
vidas confiscadas. Ele agiu em favor de muitos ao tomar o lugar deles”
(ibid.,p. 1180).
O termo “muitos”
enfatiza os incomensuráveis efeitos da morte solitária de Jesus: um morre,
muitos encontram sua vida “resgatada, curada, restaurada, perdoada”, uma grande
multidão que nenhum homem pode contar (cf. J. Jeremias, “Das Lõsegeld für
Viele” [“O resgate de muitos”] , Ju d a ica 3 [1948], p. 263). Mas deve-se
lembrar que o termo “muitos” pode se referir, nos PMM e na literatura rabínica,
à comunidade eleita (cf. Ralph Marcus, “‘Mebaqqer’ and ‘Rabbim’ in the Manual
of Discipline vi, 11-13” [“‘Mebaqqer’ e ‘rabbim’ no manual de disciplina 6.11-13”],
JBL 75 [1956], p. 298-302). Isso sugere que a morte vicária de Jesus é o
pagamento pelo povo escatológico de Deus e que resulta nesse povo. Isso se
ajusta bem ao “muitos” de Isaías 52.13—53.12.
3. Dependência de
Isaías 53. argumentam que não há alusão a Isaías em Marcos 10.45 e em Mateus 20.28.
Eles argumentam isso com base em dois fundamentos: linguístico e conceituai. Da
perspectiva linguística, eles observam que o verbo grego diakonein (“servir”,
v. 28) e seus cognatos não são nunca usados na LXX para traduzir ‘eb ed (“servo”
dos “cânticos de servo” de Isaías) e seus cognatos. Mas a evidência é frágil, e
os paralelos conceituais são próximos — o Servo de Isaías beneficia os homens por
meio de seu sofrimento, e Jesus também faz isso. Hooker, com certeza, está errado
em restringir diakonein a serviço doméstico (cf. France, “Servant of the Lord”
[“Servo do Senhor”], p. 34). France e Moo (Use o f OT [Uso do AT\, p. 122ss.)
também mostram que “dar a sua vida” tem origem em Isaías 53.10,12 e que lytron
(“resgate”) não é uma tradução impossível para ’ãsãm (“oferta de culpa”) como
alguns alegam. A palavra hebraica ’ãsãm inclui a noção de substituição ou, pelo
menos, de um equivalente. O pecador culpado oferece uma ’ãsãm a fim de remover
sua própria culpa, e em Levítico 5, ’ãsãm refere-se a pagamento compensatório.
Assim, embora ’ãsãm
tenha mais nuanças sacrificiais que lytron, os dois termos incluem a ideia de pagamento
ou compensação. Muitos estudiosos também reconhecem no termo “muitos” uma clara
referência a Isaías (cf. esp. Dalman, p. 171-72). A implicação da evidência
cumulativa é que Jesus se refere explicitamente a si mesmo como o Servo
sofredor de Isaías (veja comentário sobre 26.17-30) e interpretava sua própria
morte sob essa luz — interpretação em que Mateus seguiu seu Senhor (veja
comentário sobre 3.17; 12.15-21).
D.
A. CARSON. O Comentário De
Mateus. Editora
Shedd Publicações. pag. 504-506.
2. Serviço de
escravo.
Diaconia significa
“ministério, serviço”. Jesus Cristo foi exemplo para a Igreja em todos os
aspectos. Em sua Diaconia, Ele foi “apóstolo... da nossa confissão” (Hb 13.1).
Foi profeta (Lc 24.19); foi evangelista (Lc 4.18-19); foi Pastor (Jo 10.11) e
também foi diácono. Ele demonstrou seu caráter e sua personalidade, dando
exemplo de humildade. Para cumprir sua missão sacrificial em favor dos homens,
Jesus despojou-se temporariamente de sua glória plena (Jo 17.14). Paulo diz que
Ele assumiu a forma de servo, mais que isso, a forma de “escravo”. Jesus, “...
sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas
aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo- se semelhante aos
homens-, e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente
até à morte e morte de cruz” (Fp 2.6-8 — grifo nosso). A expressão “tomando a
forma de servo”, “significa aparecer em uma condição humilde e desprezível”.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 140.
Jesus, o Diácono dos
diáconos
Foi o Senhor um
diácono em tudo perfeito. Na declaração que faz Ele em Marcos 10.45,
encontramos a variante da palavra diakonia duas vezes: “O Filho do Hmem também
não veio para ser servido [diakonêthênai], mas para servir [diakonêsai] e dar a
sua vida em resgate de muitos”. Ele era Senhor, e servia a todos. Era Rei
prometido, mas se dizia servo dos servos de Deus. Deveria estar à mesa, mas
ei-lo a lavar os pés dos discípulos.
Embora o apocalipse
mostre-o na plenitude de sua gloria, vemo-lo em Isaias, como o servo sofredor.
A fim de assumir a sua diaconia, despojou-se de suas prerrogativas, assumiu a
nossa forma e pôs-se a servir indistintamente a todos.
Este é o nosso
Senhor; Diácono dos diáconos!
Valdemir
P. Moreira. Manual do Diácono.
A AUTO HUMILHAÇÃO DE
JESUS (13.4-20)
Pelo fato de a
declaração de abertura do capítulo 13 ser longa e detalhada, o leitor deve
considerar que o início da cena da ceia ocorre na primeira oração do versículo
2: E, acabada a ceia (o texto grego diz “durante a ceia”), e então continua com
a primeira oração no versículo 4: levantou-se da ceia. Ao fazê-lo, o Senhor
tirou as vestes (4, cf. 10.17; Fp 2.5-8); i.e., a túnica externa. Então, tomando
uma toalha, cingiu-se, o que “marca a ação de um escravo”. Assim preparado, Ele
pôs água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxuga-los com
a toalha com que estava cingido (5). João não declara por que algum dos
discípulos não executou esta tarefa servil, mas evidentemente havia ocorrido
alguma “busca de posição” entre os doze (Lc 22.24). Além disso, Jesus era o
único naquela sala que poderia executar até mesmo o simbolismo da purificação —
pois só Ele estava limpo no sentido teológico e moral da palavra (cf. 17.19; Hb
13.12). Ele veio para dar ao homem a possibilidade de tornar-se puro,
moralmente limpo, santo.
Quando Jesus foi
lavar os pés de Pedro, este lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a mim? (6) A
resposta de Jesus, não o sabes tu, agora, não só afirmava a ignorância de Pedro
em relação às coisas espirituais (e.g., a vinda do Espírito), como também
incluía uma promessa: tu o saberás depois (7). O que eu faço era a humilhação
do Senhor, simbolizada no ato de levar-lhes os pés; na verdade, porém, Ele
estava proporcionando toda a obra redentora de Deus para o homem. Hoskyns
comenta que a reação de Pedro não é um contraste entre o orgulho de Pedro e a
humildade de Jesus, mas, antes, “entre o conhecimento de Jesus, o qual é a base
da ação, e a ignorância de Pedro, que ainda não percebe que a humilhação do
Messias é a causa efetiva da salvação cristã” (cf. 2.22; 7.39; 12.16; 14.25-26;
15.26; 16.13; 20.9).9 Mas o entendimento do futuro estava longe demais para
Pedro. Ele só via a incongruência imediata da situação — Jesus lavando os seus
pés. Impulsivamente, ele declarou: “Nunca em nenhum momento lavarás os meus pés
— para sempre” (tradução literal). Pedro esperava colocar um ponto final em
tudo aquilo. Mas Jesus conhecia o caminho para o coração de Pedro — a ameaça de
ser excluído da presença de Jesus, a quem Pedro amava. Se eu te não lavar, não
tens parte comigo (8; cf. Hb 12.14). “Não há lugar na sociedade dos cristãos
para aqueles que não forem purificados pelo próprio Senhor Jesus”. Se a
comunhão só poderia ser adquirida pela purificação (cf. 1 Jo 1.7), então Pedro
queria tudo o que pudesse ter — pés, mãos e cabeça (9).
Jesus fez uma
aplicação geral da ideia sobre a qual conversava com Pedro: “Aquele que está
lavado não necessita de lavar senão os pés. Ele está todo limpo”. “Vós estais
limpos, mas não todos” (10). Hoskyns comenta que, no ato da lavagem dos pés,
Jesus “simbolicamente declara a completa purificação deles através da
humilhação da morte do Messias. O cristão fiel é purificado pelo sangue de
Jesus” (1 Jo 1.7; cf. Rm 6.1-3; 1 Co 10.16).14 Se a santidade de coração
estiver no coração da Eucaristia (ver o comentário sobre 6.53), a pureza do
coração está no coração do Pedilavium (lavagem dos pés). Tudo isto era uma
prefiguração simbólica da obra do Espírito que se tornaria possível através da
sua vinda (14.15-17,25-26; 15.26; 16.7-15).
Mas, e quanto a
Judas? Ele estava limpo? Jesus sabia, e soube (6.70-71), quem o haveria de
trair; por isso, disse: Nem todos estais limpos (11). Bernard diz: “No que diz
respeito à limpeza do corpo, não há dúvida de que ele estava nas mesmas
condições dos outros, mas não no sentido espiritual”.
Tendo lavado os pés
dos discípulos e vestido a sua túnica, Jesus, estando à mesa, outra vez
perguntou aos discípulos: Entendeis o que vos tenho feito? (12) Macgregor
comenta: “Quando ‘veste a sua túnica’, Jesus assume a sua vida novamente
(10.17ss.) no poder do Espírito, e assim esclarece todas as coisas” (7).16 Sem
esperar por uma resposta, Jesus explicou que isto tinha sido um exemplo (15),
ou modelo, “que estimula ou deve estimular alguém a imitá-lo”.17 Da mesma forma
que Ele, seu Mestre (literalmente, “Ensinador”) e Senhor, lhes tinha feito,
assim deveriam fazer uns aos outros (13-14; cf. 34). Hoskyns diz: “Seu ato de
lavar os pés dos discípulos expressa a própria essência da autoridade
cristã”.18 Não parece haver qualquer evidência de que Jesus quisesse que a
lavagem dos pés fosse instituída como um sacramento. Mas fica claro que Ele
estava ensinando, pelo exemplo básico e axiomático, embora paradoxal, que a
única maneira de ser “o maior” (Lc 22.24) ou de ser bem-aventurado (17) é tomar
a estrada do serviço amoroso (13.34) e do sacrifício (10.15), baseado no
conhecimento da vontade de Deus para nós. A palavra traduzida como
bem-aventurado no texto das Beatitudes é makarioi (Mt 5.3-12).
Um dos doze, no
entanto, está se excluindo da execução do serviço amoroso, e consequentemente
das bem-aventuranças implicadas. Sem dúvida alguma pensando em Judas, o Mestre disse:
Não falo de todos vós (18). Então, como para enfatizar o fato de que o próprio
Judas escolhera desempenhar o papel do traidor como um cumprimento das
Escrituras, Ele acrescentou: eu bem sei os que tenho escolhido. Bernard traduz
esta frase com exatidão: “Sei o tipo de homem que escolhi”. A expressão
traduzida por: para que se cumpra a Escritura é um pouco enganosa. O ensino
claro das Escrituras é que as escolhas morais do homem são deixadas dentro de
seu próprio campo de decisão. Barclay esclarece bem a questão quando comenta:
“Toda esta tragédia que está acontecendo, de alguma maneira, está dentro do
propósito de Deus... Foi como as Escrituras disseram que seria”. trecho das
Escrituras que Jesus citou é Salmos 41.9: aquele que comia do meu pão, levantou
contra mim o seu calcanhar. Compartilhar o pão era uma promessa de amizade.
Levantou... o seu calcanhar descreve um ato de violência brutal, como o coice
repentino de um cavalo. Como foi profético! Em poucos momentos, Judas sairia,
tendo ainda em sua boca o gosto do bocado da escolha que foi partilhado com
Jesus. Ele então retornaria com uma turba de assassinos, perpetrando o ato
violento e brutal jamais dantes praticado, nem sequer equiparado.
Jesus tinha uma razão
especial para expor o problema básico diante dos discípulos. Isto se tornaria
para eles mais uma evidência, a fim de que entendessem a sua verdadeira
natureza. Ele lhes contou o evento da traição antes que acontecesse, e explicou
a razão: para que, quando acontecer, acrediteis que eu sou (19). O eu sou (ego
eimi) é outra das declarações de Jesus de sua divindade (cf. 16.4; 14.29; Ez
24.24; Mt 24.25). Westcott diz a respeito do eu sou: "... em mim está a
fonte da vida e luz e força; Eu vos apresento a majestade invisível de Deus; Eu
uno a virtude do meu Ser essencial, o que se vê e o que não se vê, o finito e o
infinito”.
Embora seja verdade
que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele
que o enviou (16), Jesus assegura aos seus discípulos o relacionamento com Ele
e com o Pai. Pois se alguém receber o que eu enviar, me recebe a mim, e quem me
recebe a mim recebe aquele que me enviou (20).
Joseph
H. Mayfield. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 7. pag. 116-118.
Jo 13.3-5 Jesus, o
Filho de Deus, conhecia a sua origem e o seu destino. Ele sabia que em breve iria
retomar ao seu Pai. Tendo a certeza de seu próprio destino, Ele concentrou a
sua atenção nos discípulos, e mostrou-lhes o que significava para Ele tornar-se
o Servo deles - e também mostrou que eles deveriam servir uns aos outros.
Em um momento tão
próximo da revelação da verdadeira identidade e glória de Jesus, Ele separou
aqueles que por direito eram seus, e expressou o seu caráter através de um ato
de humildade. Ele levantou-se da ceia, tirou as vestes e, tomando uma toalha,
cingiu-se como um avental. Ele então pôs água numa bacia e começou a lavar os
pés dos discípulos.
Jesus era o exemplo
de servo, e Ele mostrou a sua atitude de servo aos seus discípulos. Lavar os
pés era um ato comum nos tempos bíblicos. A maioria das pessoas viajava a pé
(calçando sandálias) pelas estradas empoeiradas da Judéia. Quando entravam em casa,
era costume lavar os pés. Não se oferecer para lavar os pés de um convidado era
considerado uma falta de hospitalidade (veja Lucas 7.44). Lavar os pés dos
convidados era o trabalho de um dos servos mais simples da casa, e deveria ser
realizado quando os convidados chegassem (1 Samuel 25.41). Esta era uma tarefa
subserviente. O incomum sobre este ato era que Jesus, o Mestre e Instrutor, estava
fazendo isto para os seus discípulos, como o escravo mais inferior faria.
Jo 13.12-16 O ato de
Jesus de lavar os pés dos discípulos demonstrava amor em ação. Jesus era o seu
Mestre e Senhor, significando que Ele estava em um nível mais elevado do que
eles; contudo, o Senhor assumiu uma posição de humildade e serviço porque amava
aqueles a quem servia. Jesus ordenou aos seus discípulos que lavassem os pés
uns dos outros - que servissem uns aos outros em amor de acordo com o exemplo
que Ele estabeleceu. Se recusar a servir aos outros, se recusar a se humilhar,
não importa quão elevada seja a sua posição, é se colocar acima de Jesus. Tal
orgulho arrogante não é o que Jesus ensinou. Estes discípulos logo seriam
enviados como os mensageiros da igreja cristã. Eles seriam líderes em muitos
lugares – na verdade, Tiago, João e Pedro se tornaram os líderes da igreja
cristã em Jerusalém. Jesus ensinou a estes, que logo seriam líderes, que quando
eles trabalhassem para divulgar o Evangelho, deveriam antes de tudo ser servos
daqueles a quem ensinassem. Os discípulos devem ter se lembrado desta lição todas
as vezes que enfrentaram problemas, lutas, e alegrias junto aos primeiros
crentes.
Quantas vezes eles
devem ter se lembrado de que foram chamados para servir. E que diferença isto
fez! Imagine como teria sido difícil o crescimento (até mesmo a existência) da
igreja primitiva, se estes discípulos tivessem continuado a competir por
lugares de grandeza e importância! Felizmente para nós, eles mantiveram a lição
de Jesus em seus corações.
Jo 13.17 Somos
abençoados (felizes, alegres, realizados), não por causa do que sabemos, mas
por causa do que fazemos com aquilo que sabemos. A graça de Deus a nós encontra
a sua perfeição no serviço que nós, como vasos de sua graça, prestamos aos
outros. Encontraremos a nossa maior bênção ao obedecermos a Cristo, servindo
aos outros.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 565-566.
Jo 13. 3-5. O
conhecimento especial de Jesus acerca da vontade de seu Pai para ele, articulado
no versículo 1, é agora repetido, mas com duas adições significativas: ele não
só sabia que o tempo tinha chegado para ele deixar esse mundo, mas também que
viera de Deus e que o Pai havia colocado todas as coisas debaixo do seu poder.
Com tal poder e status a sua disposição, poderíamos esperar que ele derrotasse o
Diabo em um confronto imediato e flamejante e devastasse Judas com um irresistível
golpe de ira divina. Em vez disso, ele lava os pés de seus discípulos, inclusive
os pés do traidor.
Sem dúvida, os
discípulos ficariam felizes em lavar os pés dele; eles não podiam conceber a ideia
de lavar os pés uns dos outros, visto que essa era uma tarefa normalmente
reservada para os servos mais inferiores. Pares não lavavam os pés uns dos
outros, exceto muito raramente e como sinal de grande amor. Alguns judeus
insistiam que não se devia exigir de escravos judeus que lavassem os pés de outros;
esse trabalho devia ser reservado para escravos gentios, ou para mulheres, crianças
e discípulos (Mekhilta 1 sobre Ex 21.2). Em uma história bem conhecida, quando
rabi Ismael voltou para casa vindo da sinagoga e sua mãe quis lavar seus pés,
ele recusou por considerar a tarefa muito humilhante. Ela levou a questão à corte
rabínica com base no fato de que via essa tarefa como uma honra {cf. SB 1. 707).
A relutância dos discípulos de Jesus em se oferecerem para essa tarefa é, para dizer
o mínimo, culturalmente compreensível; o choque que sofreram quando ele se
ofereceu não é somente resultado da vergonha que sentiram, mas também é uma reação
ao esforço de entender a conveniência dessa alteração das coisas.11 Pois, aqui,
Jesus inverte as funções normais. Seu ato de humildade é tão desnecessário
quanto atordoante e é, ao mesmo tempo, uma demonstração de amor (v. 1), um
símbolo de purificação salvadora (w. 6-9), e um modelo de conduta cristã (w.
12-17).
Podemos imaginar os
discípulos reclinando-se sobre suas esteiras finas ao redor de uma mesa baixa.
Cada um apoiando-se sobre o braço, geralmente o esquerdo; os pés espalhando-se
da mesa para fora. Jesus levantou-se de sua esteira. Os detalhes são
reveladores: Jesus tirou sua capa e colocou uma toalha em volta da cintura -
adotando, assim, as vestes de um criado doméstico, vestes que eram desprezadas
tanto em círculos judaicos quanto gentios (SB 2. 557; Suetônio, Calígula, 26).
Assim, ele começou a lavar os pés de seus discípulos, demonstrando, dessa
forma, sua declaração: “eu estou entre vocês como quem serve” (Lc 22.27; cf. Mc
10.45 par.). Aquele que “embora sendo Deus [...] esvaziou-se a si mesmo, vindo
a ser servo” (Fp 2.6,7). De fato, ele “foi obediente até a morte, e morte de cruz!”
(Fp 2.8). O inigualável auto esvaziamento do Filho eterno, da Palavra eterna, alcança
seu ápice na cruz. Isso não significa que a Palavra mude da forma de Deus para
a forma de um servo; significa, ao contrário, que ele de tal forma veste nossa carne
e vai de olhos bem abertos para a cruz que sua divindade é revelada em nossa
carne, supremamente, no momento da maior fraqueza, do maior serviço (cf. notas
sobre 1.14).
Jo 13. 12. As notas
que servem como prefácio a essa seção, acima, argumentaram que não há motivo
para pensar que a nova aplicação do episódio do lava-pés, introduzida logo a
seguir no texto (w. 12-17), seja proveniente de outro escritor. Após vestir novamente
sua capa e retornar a sua esteira (cf. v. 4), Jesus pergunta: Vocês entendem o
que lhes fiz? A natureza exemplar do ato do lava-pés é revelada (w. 13-17). Mas
os elos que ligam esses versículos ao tema da purificação, que domina os
versículos precedentes, são mais acidentais. Mesmo quando dizem que o evento do
lava-pés aponta, de várias formas, para a purificação espiritual baseada na
morte de Cristo, ambos, o ato do lava-pés e aquela morte expiatória, são as
revelações supremas do amor de Jesus pelos seus (v. lb). O episódio do lava-pés
foi atordoante para os discípulos de Jesus, mas nada quando comparada à ideia
de um Messias que sofreria a morte odiosa e vergonhosa na cruz, a morte do
amaldiçoado. No entanto, os dois eventos - o lava-pés e a crucificação - são,
na verdade, da mesma qualidade. O reverenciado e exaltado Messias assume a
função do servo desprezado para o bem de outros. Isto, junto com a noção de
purificação, explica por que o episódio do lava-pés pode apontar tão
efetivamente para a cruz. Mas o serviço prestado a outros não pode se
restringir a esse ato único. Se o evento do lava-pés e da cruz são propiciados pelo
incrível amor de Jesus (v. 1), a comunidade dos purificados que ele está
criando deve ser caracterizada pelo mesmo amor (w. 34,35) e, portanto, pela
mesma abnegação no esforço de servir a outros. E isto significa que o ato do
lava-pés é quase obrigado a ter um significado exemplar, assim como a morte de
Cristo, embora única, tem o sentido de exemplo (e.g. Mc 10.35-45; Jo 12.24-26;
IPe 2).
Jo 13. 13. Jesus
responde agora à pergunta que ele fez no versículo 12: se seus seguidores tinham
ou não entendido, ele vai explicar o que ele fez. Mestre (didaskalos) é o equivalente
de ‘rabi’, o termo regularmente usado por discípulos ao se dirigirem a seus
professores (como os seguidores de João Batista se dirigiam a ele, 3.26; cf.
também 1.38,49; 3.2; 4.31; 6.25; 9.21; 11.8). Sem dúvida, Senhor (kyrios) foi
primeiramente aplicado a Jesus como um sinal de respeito por sua função de
ensino, equivalente à mar, do aramaico; a expressão é preservada no Novo
Testamento em “Maranata!” (ARC) - literalmente “Vem, Senhor!” (lC o 16.22) - o
que demonstra claramente a influência dos cristãos de fala aramaica ao projetar
um de seus ditos favoritos no mundo de fala grega. Sabe-se que ‘rabi’ e ‘mari’
apareciam juntos nos lábios de discípulos rabínicos dirigindo-se a seus mestres
(cf. SB 2. 558). Mas, nos lábios de cristãos após a ressurreição de Jesus
Cristo, ‘Senhor’ assumiu um significado mais rico na medida em que as mais
profundas reflexões sobre quem é Jesus se firmaram.
‘Senhor’ tornou-se
uma das formas mais importantes de os cristãos se referirem a Jesus como alguém
que Deus levantou e exaltou com “o nome que está acima de todo nome” (Fp
2.9-11; cf. At 2.36). De fato, leitores da LXX estavam acostumados a se referir
ao próprio Deus como o ‘Senhor’. O evangelista entende isso; ninguém que
reportou a confissão de 20.28 poderia deixar de entendê-lo. Assim, ele permanece
fiel, simultaneamente, aos constrangimentos históricos daquela fatídica noite
de Páscoa e à teologia que ele quer inculcar. De fato, leitores posteriores não
poderiam deixar de encontrar nas palavras dramáticas de Jesus - e com razão,
pois eu
o sou - pelo menos um prenúncio de uma declaração que vai muito além do que um
rabi poderia dizer. Em seu significado, o versículo faz eco a Lucas 6.46:
Por que vocês me
chamam ‘Senhor, Senhor’ e não fazem o que eu digo?
Jo 13. 14,15. Em uma
sociedade estratificada, uma das formas que o orgulho humano se manifesta é a
recusa de assumir as funções mais baixas. Mas agora que Jesus, o Senhor e
Mestre deles, lavou os pés de seus discípulos — um ato impensável! — há motivo
de sobra para que eles o façam, pois eles também devem lavar os pés uns dos outros,
e nenhum motivo concebível para se recusar a fazer isso. Jesus diz: Eu lhes dei
o exemplo (hypodeigma—a palavra sugere tanto ‘exemplo’ quanto ‘padrão’; (f. Hb
4.11; 8.5; 9.25; Tg 5.10; 2Pe 2.6) para que vocês façam como lhes fiz. Pouco
convém aos seguidores de Jesus algo além da humildade. O zelo cristão
divorciado da humildade transparente soa como vazio e até mesmo patético.
Nós podemos
sensatamente perguntar se aquelas comunidades cristãs que praticam o ato do
lava-pés como um sacramento cristão, igual ao batismo e a ceia do Senhor,
entenderam essa passagem melhor que aqueles que acreditam não poder elevar o
ato do lava-pés ao mesmo plano. Podemos perguntar algo semelhante acerca do ato
formal do lava-pés na Quinta-feira Santa, quando papas, bispos, abades e outros
lavam os pés de clérigos inferiores e algumas vezes de pobres. Dois fatores têm
impedido, corretamente, a maioria dos cristãos de institucionalizar dessa
maneira o ato do lava-pés. Primeiramente, em nenhuma outra passagem do Novo
Testamento, ou mesmo nos mais antigos documentos extra bíblicos da igreja, o
episódio do lava-pés é tratado como um rito eclesiástico, uma ordenança, um
sacramento. A menção deste episódio em 1 Timóteo 5.10 não é exceção: ele não é
apresentado como um rito universal, mas é colocado em uma lista das boas obras
de hospitalidade de coração aberto, como a que qualifica uma viúva para ser
incluída na lista de auxílio.
Teólogos e
expositores sábios são sempre relutantes em elevar ao âmbito de rito universal
algo que aparece somente uma vez nas Escrituras. Além disso, e talvez mais
importante, a essência do mandamento de Jesus trata da humildade e préstimosidade
para com irmãos e irmãs em Cristo, o que pode ser cruelmente parodiado por um
mero ‘rito’ de lava-pés e que facilmente esconde um espírito indomado e um
coração arrogante.
Jo 13. 16. Jesus
reforça o ponto com um aforismo, que provavelmente era repetido frequentemente
durante seu ministério e que podia ser facilmente usado para diversas
aplicações diferentes (c f Mt 10.24; Lc 6.40; Jo 15.20). Após a forte declaração:
Digo-lhes verdadeiramente(cf. notas sobre 1.51), Jesus aprofunda o contraste
professor/aluno ao introduzir dois outros pares: senhor/servo (entendido como
escravo) e superior (isto é, aquele que envia)/mensageiro. A palavra para
‘mensageiro’ é apóstolos, a única vez que a palavra aparece no quarto
evangelho, e desta vez sem qualquer implicação aos ‘doze apóstolos’ oficiais: a
palavra tinha um amplo campo de significado durante todo o período do Novo
Testamento.
Isto não significa
que o evangelista não tinha o conceito de um grupo especial de doze discípulos:
em outro momento, ele refere-se repetidamente aos ‘Doze’ (6.67,70; 20.24). O
sentido do aforismo neste contexto é, de qualquer forma, bastante claro: nenhum
emissário tem o direito de pensar que está isento de tarefas empreendidas
alegremente por aquele que o enviou, e nenhum escravo tem o direito de julgar
qualquer tarefa indigna abaixo dele após seu senhor já ter realizadoa. Grande
Deus, em Cristo tu chamas nosso nome e depois nos recebes como teus, não por
algum mérito, direito ou reivindicação, mas por teu gracioso amor somente.
Nós lutamos para
vislumbrar teu assento de misericórdia e te encontrar ajoelhado a nossos pés.
Depois pegas a
toalha, partes o pão
E nos humilhas. E nos
chamas de amigos.
Sofres e serves até
que todos estejam saciados,
E mostras quão
grandioso amor pretendes
Demonstrar até que
toda a criação cante,
Para encher todos os
mundos, para coroar todas as coisas.
Brian A. Wren (*1936
-)
Jo 13. 17. As
palavras estas coisas provavelmente se referem aos versículos 14,15, e o versículo
16 opera como um tipo de parênteses aforístico. Há uma forma de piedade
religiosa que pronuncia um ‘amém’, de coração, às mais fortes exigências do
discipulado, mas que raramente faz qualquer coisa com elas. Jesus já havia condenado
aqueles que ouvem suas palavras mas deixam de guardá-las (12.47,48; c f 8.31).
Agora, ele enfatiza a verdade novamente, conforme uma ênfase repetida nos
evangelhos (e.g. Mt 7.21-27; Mc 3-35; Lc 6.47,48) e em outras passagens {e.g.
Hb 12.14; Tg 1.22-25).
D.
A. CARSON. O Comentário De João.
Editora
Shedd Publicações. pag. 462-469.
3. O discípulo é um
serviçal.
Mc 10.35-42. A
repreensão que Ele fez a dois de seus discípulos, pelo ambicioso pedido que lhe
fizeram. Essa história é muito semelhante à que lemos em Mateus 20.20. Mas ali
está escrito que a mãe deles fez o pedido, aqui eles mesmos o fazem. Ela os
apresentou e fez o pedido, e então eles a apoiaram, e concordaram com o pedido.
Observe: 1. Assim
como, por um lado, existem alguns que não usam os grandes incentivos que Jesus
nos deu em oração, por outro lado, também existem alguns que abusam deles. Ele
tinha dito: “Pedi, e dar-se-vos-á”. E pedir as grandes coisas que Ele prometeu
significa uma fé elogiável, mas era uma presunção condenável a desses
discípulos, de fazer uma exigência tão ilimitada ao seu Mestre: “Queremos que nos
faças o que pedirmos”.
Seria melhor que o
deixássemos fazer por nós o que Ele julgar adequado, pois Ele “é poderoso para
fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos” (Ef
3.20).
2. Nós devemos tomar
muito cuidado com a maneira como fazemos promessas genéricas. Jesus não se
comprometeu a fazer o que eles pedissem, mas quis saber deles o que desejavam:
“Que quereis que vos faça?” Ele os deixaria prosseguir com o seu pedido, para
que pudessem se envergonhar de tê-lo feito.
3. Muitos foram
levados a uma armadilha por falsas noções acerca do Reino de Deus, como se ele
fosse deste mundo, e como os reinos das potestades deste mundo.
Tiago e João chegam à
seguinte conclusão: se Jesus ressuscitar, Ele deverá ser um rei, e se Ele for
um rei, os seus apóstolos deverão ser nobres, e um deles, de bom grado, será o
Primus par regni - O primeiro dos nobres do reino, e outro estará ao seu lado,
como José, na corte de Faraó, ou Daniel, na de Dario.
4. A honra deste
mundo é uma coisa cintilante, com a qual os olhos dos próprios discípulos de
Cristo ficaram, muitas vezes, fascinados. Mas ser bons deveria ser a nossa
preocupação, mais do que parecer grandiosos, ou ter alguma proeminência.
5. A nossa fraqueza e
falta de perspectiva aparecem tanto nas nossas orações quanto em qualquer outra
coisa.
Não podemos dar
ordens com as nossas palavras quando falamos com Deus, tanto a respeito dele
quanto a nosso respeito. E loucura fazer exigências a Deus, mas nos submetermos
a Ele é uma atitude sábia.
6. É a vontade de
Cristo que nós nos preparemos para os sofrimentos, e deixemos que Ele cuide de
nos recompensar por eles. Ele não precisa ser lembrado, como precisou Assuero,
dos serviços do seu povo, nem consegue esquecer a obra da sua fé e de seu
trabalho de caridade.
A nossa preocupação
deve ser a de termos sabedoria e graça para sabermos como sofrer com Ele, e
então confiarmos que Ele possibilitará a melhor maneira de reinarmos com Ele. O
Senhor também definirá quando, e onde, e quais serão os graus da nossa glória.
A repreensão de Jesus
aos demais discípulos,
XX pelo desconforto
deles com o pedido de Tiago e João. Eles começaram a ficar muito descontentes,
a indignarem-se contra Tiago e João (v. 41). Eles ficaram irritados com os dois
por pedirem preferência, não porque isto não fosse conveniente aos discípulos
de Cristo, mas porque cada um deles esperava tê-la. Quando o cínico pisou sobre
o jaez (manto do cavalo) de Alexandre, com a expressão: Calco fastum Alexandri
- Agora eu piso sobre o orgulho de Alexandre, foi oportunamente repreendido com:
Sed Majorifastu - Mas com um orgulho ainda maior do que o seu próprio. Assim
eles descobriram a sua própria ambição, através do seu desagrado pela ambição
de Tiago e João; e Jesus aproveitou essa ocasião para adverti-los quanto a
isso, e a todos os seus sucessores, no ministério do Evangelho (w. 42-44). Ele
os chamou a si de uma maneira familiar, para dar-lhes o exemplo de
condescendência, mesmo quando estava reprovando a sua ambição, e para
ensiná-los a nunca manter os seus discípulos à distância. Ele lhes mostra:
1. Que o mundo
geralmente abusa ou usa mal o domínio (v. 42): Que eles pareciam dominar os
gentios, que têm o nome e o direito de governar; eles exercem soberania sobre
outros, e este é o objetivo do seu estudo, não tanto para protegê-los e cuidar
do seu bem-estar quanto para exercer autoridade sobre eles. Eles serão
obedecidos, desejando ser arbitrários e ter a sua vontade realizada em todos os
aspectos. Sic volo, sic jubeo, stat pro ratione voluntas - Assim eu desejo,
assim eu ordeno; o meu prazer é a minha lei. A sua preocupação é o que os seus
súditos farão para sustentar a sua própria pompa e grandeza, não o que eles
farão pelos súditos.
2. Que, portanto,
isso não deve ser aceito na igreja: “Entre vós não será assim”; aqueles que
estiverem aos seus cuidados deverão ser como ovelhas sob os cuidados do pastor,
que deve guiá-las e alimentá-las, e deve ser um serviçal para elas, não como
cavalos sob o comando do cocheiro, que os faz trabalhar e os espanca, e obtém os
seus pagamentos com eles. Aquele que pretende ser grande e poderoso, ao invés
de se lançar a uma dignidade e a uma dominação secular, deverá ser “servo de
todos”.
Ele será humilde e
desprezível aos olhos de todos os que são sábios e bons: “o que a si mesmo se
exaltar será humilhado”. Ou, em outras palavras, aquele que desejar ser
verdadeiramente grande e importante, deverá se entregar integralmente a fazer o
bem a todos, deverá se curvar aos serviços mais humildes, e trabalhar nos serviços
mais duros. Não somente serão mais honrados no futuro, como também são mais
honrados agora, aqueles que são mais úteis. Para convencê-los disso, Jesus apresenta
o seu próprio exemplo diante deles (v. 45). “O Filho do Homem se submete
primeiro às maiores dificuldades e aos maiores perigos, e depois entra na sua glória,
e vocês podem esperar conseguir algo tão elevado de outra maneira, ou tendo
mais facilidade ou honra do que Ele?”. (1) Ele assume “a forma de servo”. Ele “não
veio para ser servido”, e atendido, “mas para servir”, e conceder a sua graça.
(2) Ele se apresenta de modo obediente à morte, e ao seu domínio, pois Ele dá
“a sua vida em resgate de muitos”. Pois Ele morreu para o benefício de todas as
pessoas que o aceitarem como Senhor e Salvador; e será que nós não deveremos
nos esforçar para viver de um modo que beneficie os salvos?
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 463-464.
Mc 10.35,36 Dois dos
discípulos de Jesus, Tiago e João (irmãos que juntamente com Pedro formavam o
círculo íntimo de discípulos, 9.2) se aproximaram de Jesus. Eles pediram que o Senhor
prometesse que lhes faria um favor. Eles podem ter compreendido erroneamente a
promessa de Jesus de que os doze discípulos “se sentariam em doze tronos,
julgando as doze tribos de Israel” (Mateus 19.28). Jesus estava pensando no que
iria enfrentar em Jerusalém, e na morte que Ele sabia que lhe aguardava ali.
Contudo, o Senhor mostrou uma paciência notável com estes dois amados discípulos
que apresentaram este pedido. Jesus não fez promessas, mas simplesmente perguntou
o que eles queriam que Ele fizesse. Os discípulos, como a maioria dos judeus daquela
época, tinham uma ideia errada do Reino do Messias, da maneira que este foi
predito pelos profetas do Antigo Testamento. Eles pensavam que Jesus iria
estabelecer um reino terreno que libertaria Israel da opressão de Roma.
Enquanto os discípulos seguiam Jesus em direção a Jerusalém, eles perceberam
que algo estava prestes a acontecer; eles certamente esperavam que Jesus fosse
inaugurar o seu Reino. Tiago e João queriam se sentar em lugares de honra ao
lado de Cristo em sua glória. Nas antigas cortes reais, as pessoas escolhidas
para se sentar à direita e à esquerda do rei eram as pessoas mais poderosas do
Reino.
Tiago e João estavam
pedindo o equivalente a estas posições na corte de Jesus. Eles entendiam que
Jesus teria um Reino; eles entendiam que Jesus seria glorificado (eles tinham
visto a Transfiguração); e se dirigiram a Ele como súditos leais ao seu rei. No
entanto, eles não entenderam que o Reino de Jesus não é deste mundo; ele não está
centralizado em palácios e tronos, mas no coração e na vida de seus seguidores.
Nenhum dos discípulos entendeu esta verdade antes da ressurreição de Jesus.
Mc 10.38 Jesus
respondeu a Tiago e João que ao fazer tal pedido egocêntrico, eles não sabiam o
que estavam pedindo. Pedir posições da mais elevada honra significava também
pedir um profundo sofrimento, porque eles não poderiam ter um sem o outro.
Portanto, o Senhor perguntou primeiro se eles poderiam beber o cálice amargo de
tristeza que Ele iria beber. O “cálice” ao qual Jesus se referiu era o cálice
de sofrimento que Ele teria que beber a fim de trazer a salvação aos pecadores.
Então Jesus perguntou se eles eram capazes de ser batizados com o batismo de
sofrimento que Ele enfrentaria. A referência a “batismo” é uma metáfora do
Antigo Testamento em que uma pessoa é esmagada pelo sofrimento.
O “cálice” e o
“batismo” se referem àquilo que Jesus iria enfrentar na cruz. Nas duas
perguntas, Jesus estava perguntando a Tiago e a João se eles estavam prontos
para sofrer por amor ao Reino.
Mc 10.39,40 Tiago e
João responderam confiantemente a pergunta de Jesus. A resposta deles pode não
ter revelado bravata ou orgulho; ela mostrou a disposição que eles tinham para seguir
Jesus, qualquer que fosse o custo desta decisão. Eles disseram que estavam
dispostos a enfrentar qualquer tribulação por amor a Cristo. Jesus respondeu
que eles certamente seriam chamados a beber do cálice de Jesus, e seriam
batizados com o seu batismo de sofrimento: Tiago morreu como um mártir (Atos
12.2); João viveu muitos anos passando por perseguições, antes de ser forçado a
viver os últimos anos de sua vida no exílio, na ilha de Patmos (Apocalipse
1.9).
Embora estes dois
discípulos fossem enfrentar grande sofrimento, isto ainda não significaria que
Jesus iria conceder o pedido de grande honra que haviam feito. Jesus não tomaria
esta decisáo; em vez disso, aqueles lugares estavam preparados... para aqueles
a quem está reservado. A onisciência de Deus está revelada na declaração de
Jesus; Ele já sabia quem receberá aqueles lugares de grande honra.
Mc 10.41,42 Os outros
dez discípulos ficaram indignados, provavelmente porque todos os discípulos
desejavam honra no Reino. As atitudes dos discípulos se degeneraram em puro
ciúme e rivalidade. Jesus lhes explicou a diferença entre os reinos que eles
viram no mundo e o Reino de Deus, que eles ainda não haviam experimentado. Os
reinos do mundo (um exemplo óbvio era o próprio Império Romano) têm tiranos e
altos oficiais que se assenhoreiam do povo, exercendo autoridade e exigindo
submissão.
Mc 10.43-45 O Reino
de Jesus já havia começado bem ali, em meio àquele grupo de doze discípulos.
Mas o Reino não foi estabelecido com alguns que poderiam dominar sobre outros.
Em vez disso, o maior seria o servo de todos. Um verdadeiro líder possui o
coração de um servo, ajudando os outros com boa vontade, quando necessário. Os
líderes servos apreciam o valor dos outros e percebem que não estão acima de
nenhuma tarefa. Não são invejosos quanto aos dons de outra pessoa, mas cumprem alegremente
as suas obrigações. Os discípulos não poderiam se enganar com a explicação de Jesus
de que eles deveriam servir de uma forma sacrificial. Somente com tal atitude
os discípulos seriam capazes de desempenhar a missão de compartilhar o
Evangelho por todo o mundo.
Jesus era seu exemplo
perfeito de um líder servo, porque Ele veio aqui não para ser servido, mas para
servir os outros, e para dar a sua vida em resgate de muitos. A missão de Jesus
era servir - em última análise dando a sua vida a fim de salvar a humanidade
pecadora. Sua vida não foi
“tirada”; Ele a “deu”, a ofereceu como um sacrifício pelos pecados do povo. Um resgate
era o preço
pago para libertar um escravo da escravidão. Jesus pagou um resgate por nós, e
o preço
exigido foi a sua vida. Jesus tomou o nosso lugar; Ele morreu a morte que merecíamos.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 259- 261.
Ambição de Tiago e
João (10.35-45)
Ao ler esses
versículos ficamos chocados com a falta de espiritualidade dos discípulos - a
memória curta (9.33-35) e o descarado egoísmo deles. Mas também ficamos
impressionados com a incrível paciência e sabedoria do nosso Mestre. Jesus mal
tinha acabado de lhes dar uma outra detalhada previsão de Sua paixão, que se
aproximava, quando Tiago e João (35), evidentemente instigados pela mãe deles
(Mt 20.20-21), aproximaram-se e fizeram uma pergunta digna de uma criança:
Queremos que nos faças o que pedirmos. Era o mesmo que pedir para assinar um
cheque com a quantia em branco! Pacientemente, Jesus perguntou: Que quereis que
vos faça? (36).
Crendo que Jesus
estava prestes a estabelecer o reino messiânico, os Filhos do Trovão pediram o
máximo possível. Concede-nos que, na tua glória, nos assentemos, um à tua
direita, e outro à tua esquerda (37). “O grande vizir se colocava à mão direita
de seu soberano, e o comandante-em-chefe à sua esquerda.” Eles estavam
procurando ocupar as posições de maior autoridade. Que sofrimento isso deve ter
causado ao Senhor!
Enquanto Ele estava
pensando em uma cruz, eles estavam pensando em coroas. O fardo do Senhor se
confrontava com a cegueira deles, e o seu sacrifício com o egoísmo que
demonstravam. Ele só queria dar, mas eles só queriam receber. A motivação dele
era servir; a deles era a própria satisfação pessoal.
Não sabeis o que
pedis (38) foi a triste réplica de Jesus. Em seguida vieram perguntas para
investigar a mente desses ambiciosos jovens e levá-los a um melhor entendimento
do Reino. Podeis vós beber o cálice de um sofrimento interior e de uma agonia
que eu bebo (cf. SI 75.8; Is 51.22; Jo 18.11) e vos submeter ao batismo de uma
esmagadora tristeza (cf. Is 43.2; Lc 12.50) - ou de uma visível perseguição e
aflição - com que eu sou batizado? Em outras palavras: “Podeis suportar ser
atirados às provações que estão prestes a me esmagar?” Como futuros mártires,
desde os dias dos Macabeus, Tiago e João disseram: Podemos (39). A
impetuosidade deles é admirável e até espantosa. No entanto, eles estavam
falando uma parte da verdade. Em seu devido tempo eles iriam realmente beber o
cálice da agonia de Jesus e experimentar um pouco do Seu batismo de morte, como
está confirmado em Atos 12.2 e Apocalipse 1.9.
Com respeito ao
pedido de posições de autoridade, Jesus entendeu que “é o mérito, não o
favor... nem a busca egoísta... que assegura a promoção no Reino de Deus”. O
assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence, “mas isso é
para aqueles a quem está reservado” (40). Lugares de honra - e sua
correspondente responsabilidade - não são distribuídos a pedido. Eles ocorrem,
na própria natureza do Reino, àqueles que estão preparados para eles por meio
das qualidades de caráter e espírito (cf. SI 75.6).
Se os dois filhos de
Zebedeu aparecem sob um aspecto pouco favorável, os dez discípulos restantes
não eram melhores que eles, pois quando ouviram isso começaram a indignar-se
contra Tiago e João (41). A discussão anterior sobre “qual era o maior” (9.34)
surgiu novamente. Com incansável persistência, Jesus, chamando-os a si,
procurou mostrar-lhes a Sua “escala de valores”.
Sabeis que os que
julgam ser príncipes das gentes (literalmente, “aqueles que parecem governar”)
delas se assenhoreiam (42). Os discípulos sentiram o aguilhão dessas palavras
ao se lembrarem das táticas opressoras dos governadores das províncias. Mas
entre vós não será assim (43). O grande entre os seguidores de Jesus será
aquele que quiser ser um serviçal (ministro) e servo (escravo) de todos (44).
Os Reinos da terra
passam Em púrpura e ouro;
Eles nascem,
florescem e morrem,
E é tudo que se sabe
da sua história.
Só um Reino é Divino,
E só uma bandeira
ainda triunfa,
Aquele cujo Rei é um
servo,
E, seu emblema, um
patíbulo na colina.
Mas por que teria que
ser assim? “Porque o próprio Filho do Homem não tinha vindo para ser servido,
mas para servir” (45, Goodspeed). Nisto, Cristo nos deixou o exemplo que
devemos imitar, seguindo as Suas pisadas (1 Pe 2.21).
A parte restante do
versículo 45 é fundamental para a doutrina da expiação. O Filho do Homem...
veio... para servir e dar a sua vida em resgate (lutron, “o dinheiro do resgate
pago pela libertação de um escravo”)68 de muitos. A expressão de muitos, que
literalmente significa “em lugar de” ou “em vez de” indica o elemento da
substituição, essencial para o entendimento bíblico da expiação. Essa grande
passagem “mostra claramente como Jesus sabia que havia sido chamado para fundir
em Seu próprio destino os dois papéis de Filho do Homem (Dn 7) e de Servo do Senhor
(Is 53)”.
Os versículos 32-45
podem ser assim esboçados: 1) Auto sacrifício, 32-34; 2) Busca interesseira,
35-40; 3) Serviço abnegado, 41-45.
Ralph
Earle. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 6. pag. 288-289.
II - A
INSTITUIÇÃO DOS DIÁCONOS
1. O conceito da
função.
DIÁCONO Sua forma
verbal (diakonein) significa "servir", particularmente "servir
às mesas" (cf. Arndt, p. 183). Tem a conotação de um serviço muito
pessoal, intimamente relacionado com servir por amor. Para os gregos, o serviço
era raramente dignificado; o desenvolvimento próprio deveria ser a meta de uma
pessoa ao invés da humilhação própria. Enquanto a LXX não usa a palavra
diakonein ("servir"), o judaísmo conserva uma visão diferente sobre o
serviço. Isso está exemplificado no segundo mandamento: "Amarás o teu
próximo como a ti mesmo" (Lv 19.18; cf. Mc 12.31). Foi isso que o nosso
Senhor ensinou quando lavou os pés de seus discípulos, acrescentando:
"Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também"
(Jo 13.15). O uso generalizado da palavra "diácono" no NT foi
classificado por H. W. Beyer ("Diakoneo, etc", TDNT, II. 81-93) e
foram sugeridas as seguintes formas adaptadas: (1) "o servente em uma
refeição" (Jo 2.5,9); (2) "o servo de um mestre" (Mt 22.13; Jo
12.26); (3) "o servo de um poder espiritual", bom (Cl 1.23; 2 Co 3.6;
Rm 15.8) ou mau (2 Co 11.14ss; Gl 2.17); (4) "o servo de Deus" (2 Co
6.3ss.) ou de Cristo (2 Co 11.23) como no caso de Paulo, ou como foi aplicado a
seus companheiros de trabalho (1 Ts 3.1-3; 1 Timóteo 4.6; Cl 1.7; 4.7); (5)
"os [gentios como] servos de Deus" (Rm 13.1-4); (6) "um servo da
igreja" (Cl 1.24,25; 1 Co 3.5). Nos escritos gregos esse nome está
relacionado muito de perto com o sentido do verbo. Ele descreve um atendente à
mesa, um servo, um mensageiro, um garçom e ainda era usado com referência a
ocupações específicas, como padeiro ou cozinheiro. O termo aparece poucas vezes
na LXX e sempre comum sentido secular. Ele descreve os servos do rei em Ester
1.10; 2.2; 6.3,5. Em Provérbios 10.4 (na LXX) o tolo deve ser "servo"
do sábio. Josefo, o historiador da nação judaica, caracterizou Eliseu como
"discípulo e servo" de Elias".
Quando a palavra
diaconato apareceu pela primeira vez na igreja primitiva? Foi em Atos 6.1-6? Na
passagem que trata da escolha e nomeação dos sete, a palavra
"diácono" não aparece. E enquanto os termos diakonia
("ministério" ou "serviço") e diakonein ("servir a uma
mesa") realmente aparecem (At 6.1,2,4) eles são usados, segundo parece, em
um sentido não técnico, isto é, eles se referem a trabalhadores e não aos
ocupantes de um posto. Isso está indicado pela expressão "servir às
mesas" e pela referência ao ministério da Palavra, onde o mesmo termo aplica-se
a ambos os tipos de serviço. Lightfoot (na obra Philippians, pp. 188ss.)
considera os sete como os primeiros diáconos, pois (1) seus deveres eram
semelhantes àqueles que desde essa época haviam caracterizado o
"diaconato"; por exemplo, o cuidado para com as viúvas e os órfãos, e
a prática de atos de caridade. (2) Era uma função recém criada sem se igualar
ao ministério levítico, nem ao ministro da Sinagoga (o Chazan). E, (3) o
ministério de ensinar como, por exemplo, o de Estevão e Felipe, era um
incidente do ofício introduzido apenas pela necessidade das circunstâncias. Rackam
(na obra Acts, pp. 82-86) conclui que o "ofício" em Atos 6 era
"único, isto é, único no mesmo sentido do apostolado". Os sete
diáconos correspondem aos 12 discípulos, e a lista completa de seus nomes
mostra essa relação. Portanto, nesses dois grupos estão os ancestrais dos
presbíteros e dos diáconos. Em Romanos 16.1, Paulo refere-se a Febe como
diakonon ("diaconisa" q.v.) da igreja de Cencréia. Seria ela uma
ocupante do cargo ou a palavra simplesmente descreve seus serviços na
comunidade? E impossível dizer. Por exemplo, no caso da referência às mulheres
em 1 Timóteo 3.11 seriam elas esposas dos diáconos ou seriam
"diaconisas"? Com referência a uma pessoa que ocupa um cargo
específico na igreja, a palavra diakonos ("diácono") ocorre em apenas
duas passagens do NT. Filipenses 1.1 e 1 Timóteo 3.8,12. O texto em Filipenses
1.1 contém a saudação de Paulo aos "bispos e diáconos". Embora
nenhuma atividade esteja especificada aqui, elas representam duas funções
existentes e relacionadas, consideradas como distintas no corpo dos santos em
geral. Em 1 Timóteo 3.13, podemos observar a mesma relação: o "bispo"
(w. 1-7) e o "diácono" (vv. 8-13). Os diáconos deviam ser homens de
caráter disciplinado e de elevada reputação moral (w. 8,9), deviam estar
qualificados para o cargo por se mostrarem "irrepreensíveis" (v. 10)
e ter o controle de seus próprios
lares (v. 12). O fato
de em seus ministérios de caridade e de auxílio entrarem em contato com o povo
e com posses materiais, exigia qualidades especiais de caráter. Não deviam ser
de "língua dobre" nem "cobiçosos de torpe ganância" (v. 8).
Paulo não especifica como os diáconos deveriam ser escolhidos, no entanto eles
deviam ser primeiramente "provados" e Timóteo esperava, certamente,
estar capacitado a aprová-los. O desenvolvimento histórico do cargo do diácono
está ligado ao do bispo. Veja Bispo para a questão da seleção. Em outras
passagens do NT, Paulo usa o termo ministro para indicar a presença de seus
companheiros no ministério do Evangelho -Timóteo (1 Ts 3.2), Tíquico (Cl 4.7),
Epafras (Cl 1.7). O ministério do próprio Paulo (1 Co 3.5; 2 Co 3.6; 6.4;
11.15) assim como o ministério de Cristo (Em 15.8) também são designados dessa
maneira. Essas últimas referências indicam que esse termo não era, de forma
alguma, aplicado a serviços inferiores. W. M. D. e A. F. J.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora
CPAD. pag. 552-553.
DIÁCONO
diakonos (em português, “diácono”), denota
primariamente "criado", quer aquele que faz trabalhos servis, ou o
ajudante que presta serviços voluntários, sem referência particular ao seu
caráter.
A palavra está provavelmente relacionada com o
verbo diõkõ. “apressar-se após, perseguir" (talvez dito originalmente
acerca de um corredor). "Ocorre no Novo Testamento em alusão aos criados domésticos
(Jo 2.5.9); ao governante civil (Rm 13.4); a Cristo (Rm 15.8; Gl 2.17); aos
seguidores de Jesus em sua relação com o Senhor (Jo 12.26: Ef 6.21; Cl 1.7;
4.7); aos seguidores de Jesus em relação uns com os outros (Mt 20.26: 23.11: Mc
9.35; 10.43); aos servos de Cristo no trabalho de orar e ensinar (1 Co 3.5: 2
Co 3.6: 6.4; 11.23: Ef 3.7; Cl 1.23.25: 1 Ts 3.2; I Tm 4.6); àqueles que servem
nas igrejas (Rm 16.1 [usado acerca de uma mulher só aqui no Novo Testamento];
Fp 1.1; 1 Tm 3.8.12); aos falsos apóstolos, servos de Satanás (2 Co 11.15).
O termo diakonos é usado uma vez onde.
aparentemente, a referência é aos anjos (Mt 22.13); em Mt 22.3. onde a
referência é aos homens, o termo doulos é usado** (extraído de Notes on
Thessalonians, de Hogg e Vine. p. 91).
O termo diakonos deve. falando de modo geral,
ser distinguido do termo doidos, "servo, escravo”: o lernio diakonos
encara o servo em relação ao seu trabalho: o termo doidos o vê em relação ao
seu mestre.
Veja. por exemplo. Mt 22.2-14; aqueles que
chamam os convidados e os trazem (Mt 22.3.4.6.8.10) são os douloi: aqueles que
executam a sentença do rei (Mt 22.13) são os diakonoi. Nota: Quanto aos termos
sinônimos, leitourgos denota "aquele que executa deveres públicos"; misthios
e misthôtos, “servo contratado"; oiketes, “servo doméstico**; huperetes.
“funcionário subordinado que serve seu superior" (designava,
originalmente. o remador da fileira de baixo numa galera de guerra); therapon, aquele
CUJO serviço é O de liberdade e dignidade. Veja MINISTRO. SERVO.
Os denominados “sete diáconos" em At 6
não são mencionados por esse nome. embora o tipo de serviço no qual estavam
engajados era do caráter daquele consignado para tal.
W. E. VINE; Merril F. UNGER; Wllliam WHITE
Jr. Dicionário VINE. Editora CPAD. pag. 563.
2. Origem do
diaconato.
O ministério ou
serviço dos diáconos surgiu a partir de uma bênção, de um problema e de uma
murmuração. A bênção foi o crescimento extraordinário dos que criam em Jesus e
o aceitavam como Salvador, deixando o judaísmo e outras religiões e tornavam-se
cristãos. O problema foi causado pela situação social de muitos que aceitavam a
fé, especialmente envolvendo viúvas dos gregos ou gentios, que aceitavam o
evangelho. A murmuração foi a reclamação desses, que se julgavam discriminados
pelos líderes da Igreja, em relação ao atendimento de suas necessidades
básicas. Diz o texto:
“Ora, naqueles dias,
crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os
hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano. E os
doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós
deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre
vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos
quais constituamos sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na
oração e no ministério da palavra. E este parecer contentou a toda a multidão,
e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro,
e Nicanor, e Timão, e Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia; e os
apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos. E
crescia a palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos
discípulos, e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé” (At 6.1-7 — grifo
nosso).
Mas os líderes da
Igreja foram sábios. Não procuraram resolver tamanha questão sozinhos. Reuniram
a multidão, em assembleia, a eclésia, e elegeram sete homens com qualidades
exemplares sobre aquele “importante negócio”, para que os líderes pudessem
perseverar “na oração e no ministério da palavra”. Na maioria das igrejas, os
diáconos estão desviados da função para que foram instituídos, que foi cuidar
da assistência social dos carentes. Mas sua escolha é de grande valor para o
funcionamento ministerial das igrejas cristãs.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 141.
A instituição do
diaconato
O diácono é o único
ministério cristão a originar-se de um fato social; surgiu de uma premente
necessidade da Igreja Primitiva: o socorro às viúvas helenistas. Atenhamo-nos
no que diz o texto que escreveu Lucas (At 6.1-7). Do texto sagrado, apontemos
alguma das razões que levaram os apóstolos a instituírem o diaconato:
a) O crescimento da Igreja
Do Pentecostes à
instituição do diaconato, a Igreja Primitiva cresceu de três mil convertidos, a
cinco mil; a partir daí, o rebanho do Senhor não mais parou de multiplicar-se
(At 2.41; 4.4). De forma que, em atos capítulo seis, o número de discípulos já
havia superado a capacidade estrutural da Igreja (At 6.1). Crescendo o número
de fiéis, cresceram também os problemas. Tivesse a Igreja se limitado aos cento
e vinte, certamente nenhuma dificuldade teriam os primitivos cristãos. Não
haveriam de precisar de diáconos, nem de pastores, e até os mesmos apóstolos
seriam prescindíveis. Acontece que as grandes igrejas enfrentam grandes
desafios, e demandam, por conseguinte, grandes soluções. Com a chegada das
ovelhas, vai o aprisco deixando sua rotina, vai o pastoreio desdobrando-se em
cuidados e desvelos pelas almas, e o Reino de Deus vai alargando suas
fronteiras e descortinando os mais promissores horizontes.
b) O descontentamento
social
Relata-nos Lucas que
“houve uma murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas
daqueles estavam sendo esquecidas na distribuição diária”. Tal contingência não
podia esperar; exigia imediata solução. Caso não houvesse uma alternativa
urgente e satisfatória, a situação deteriorar-se-ia, agravando a injustiça
social, e aprofundando a fissura entre os dois principais segmentos culturais
da igreja em Jerusalém: os hebreus e os helenistas.
A situação que se
desdenhava deixou os apóstolos mui preocupados. Como israelitas, sabiam eles
que a injustiça e a desigualdade social eram intoleráveis aos olhos de Deus (Dt
15.7,11).
c) O comprometimento
do ministério apostólico
Continuassem os
apóstolos a suprir as necessidades dos órfãos e das viúvas, haveriam de
comprometer de forma irremediável as principais funções de seu ministério (At
6.2-4). Por isso deliberaram: “Não é razoável que nós deixemos a palavra de
Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de
boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarreguemos
deste serviço. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra” (At
6.2-4). Como seria maravilhoso se os pastores seguissem o exemplo dos
apóstolos! Infelizmente, não são poucos os que se acham de tal forma empenhados
com os negócios materiais do rebanho, que já não têm tempo de orar, nem mais
ligam importância à exposição da Palavra. Transformaram-se em meros executivos.
Vivem mais preocupados com os rendimentos financeiros do redil do que com o
bem-estar das ovelhas. Será que ainda não perceberam ter sido o diaconato
instituído justamente para que os pastores nos entregassem amorosamente à
oração e à proclamação dos conselhos de Deus? Queira o Senhor que, no termino
de nosso ministério, possamos dizer como o apostolo Paulo: “Porque jamais deixei
de vos anunciar todo o desígnio de Deus” (At 20.27).
d) A organização
ministerial da Igreja
Até a instituição dos
diáconos, a Igreja conhecia apenas o ministerial apostólico. Eram os apóstolos
responsáveis inclusive pelo socorro cotidiano. E isto, como vimos, por pouco
não compromete o desempenho do principal magistério da Igreja. Com a
instituição dos diáconos, porém, formou-se a base do ministério eclesiástico.
Levemos em conta também os anciãos; estavam eles sempre prontos a secundar os
apóstolos. Mais tarde, o termo ancião (ou presbítero) passaria a ser sinônimo
de pastor e bispo. Desde então, apesar das várias formas de governo
eclesiásticos, a Igreja vem funcionando a contendo, cumprindo suas varias
tarefas, tendo como base o modelo de Atos dos Apóstolos.
Valdemir
P. Moreira. Manual do Diácono.
A discordância
infeliz entre alguns membros da igreja, a qual poderia ter trazido
consequências maléficas, mas foi prudentemente apaziguada e repreendida a
tempo: Crescendo o número dos discípulos (pois assim eram chamados os cristãos
no princípio: os aprendizes de Cristo) a muitos milhares em Jerusalém, houve
-uma murmuração (v. 1).
1. Nosso coração se
sente bem ao descobrir que cresceu o número dos discípulos (v. 1), à proporção
inversa que, sem dúvida, irritou o coração dos sacerdotes e saduceus (cap. 4.1;
5.17) pelo mesmo motivo. A oposição que a pregação do evangelho enfrentou, em
vez de deter seu progresso, contribuiu para o seu sucesso. Quanto mais afligiam
os membros da igreja cristã incipiente, como fizeram com os membros da igreja
judaica infante no Egito, tanto mais se multiplicavam e tanto mais cresciam (Ex
1.12). Os pregadores eram surrados, ameaçados e maltratados, mas, mesmo assim,
as pessoas recebiam sua doutrina. Eram atraídas, sem dúvida, pela maravilhosa paciência
e alegria nas provações que demonstravam.
Esse comportamento convencia as pessoas de que eles tinham e eram
sustentados por um espírito melhor que o deles próprio.
2. Causa-nos
desalento descobrir que o crescimento do número dos discípulos (v. 1) dá
oportunidade para discórdias. Até agora, todos eles eram unânimes em uma mesma
opinião. Esta. observação frequente significava uma honra para eles. Mas agora
que cresciam em número, começaram a murmurar, semelhantemente ao que ocorreu no
velho mundo. Quando os homens começaram a multiplicar-se, eles se corromperam
(Gn 6.1,12). Tu multiplicaste este povo e a alegria lhe aumentaste (Is 9.3).
Quando as famílias de Abraão e Ló aumentaram, houve contenda entre os pastores
do gado de Abrão e os pastores do gado de Ló (Gn 13.7). O mesmo estava
ocorrendo aqui: Houve urna murmuração, não uma desavença aberta, mas um
ressentimento secreto. (1) Os queixosos eram os gregos, ou helenistas, contra os
hebreus (v. 1). Os gregos eram os judeus que se espalharam pela Grécia e outras
regiões, falavam comumente a língua grega e liam o Antigo Testamento na versão grega,
não no original hebraico. Muitos deles estavam em Jerusalém para a festa quando
aceitaram a fé cristã e foram acrescentados à igreja. Estes murmuraram contra
os hebreus, que eram os judeus nativos que usavam o original hebraico do Antigo
Testamento. Alguns pertencentes a cada um desses grupos se tornaram cristãos,
mas, pelo visto, essa aceitação conjunta da fé não teve sucesso, como deveria,
em extinguir os poucos ciúmes que tinham uns dos outros antes da conversão.
Eles retiveram um pouco do fermento velho e não entenderam ou não se lembraram
de que em Cristo Jesus não há nem grego nem judeu (Cl 3.9). Portanto, não há
distinção entre hebreus e helenistas, mas todos são igualmente acolhidos em
Cristo, e deveriam ser, por causa dele, queridos uns dos outros.
(2) A murmuração
destes gregos era que as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano
(v. 1), quer dizei; na distribuição dos fundos de caridade pública, e as viúvas
hebreias eram mais bem cuidadas. Veja que a primeira controvérsia na igreja
cristã envolveu finanças. E pena que as pequenas coisas deste mundo sejam
pontos de discórdia entre os que admitem ter relações com as grandes coisas do
outro mundo. Juntaram muito dinheiro para a assistência social aos pobres, mas,
como frequentemente ocorre em tais casos, era impossível agradar a todos na
distribuição do montante. Os apóstolos, a cujos pés o dinheiro foi depositado
(cap. 4.34), fizeram o que puderam para distribuí-lo de modo a atender as
expectativas dos doadores. Fizeram a distribuição, obviamente, com a mais
absoluta imparcialidade, e nem de longe intentaram respeitar os hebreus mais
que os gregos.
Contudo, houve queixa
deles, que diziam estarem as viúvas gregas sendo desprezadas. Embora elas
fossem aptas a receber esse tipo de assistência social, os apóstolos não lhes
deram o suficiente, ou não contemplaram todas, ou não deram exatamente a mesma
soma oferecida às viúvas hebréias. [1] Talvez esta murmuração (v. 1) fosse infundada
e injusta, sem motivo algum. Mas aqueles que, por qualquer razão, se encontram
em situação desfavorável (como estavam os judeus gregos em comparação com os
que eram hebreus de hebreus), são susceptíveis a, por ciúme, acharem que estão
sendo desprezados quando na verdade não estão. É erro comum de pessoas pobres
que, em vez de serem gratas pelo que recebem, se queixem e reclamem. Tendem a
pensar que recebem pouco, ou que os outros ganham mais que elas. Há inveja e
cobiça, raízes de amargura que se encontram tanto entre os pobres quanto entre
os ricos, apesar das situações humilhantes em que estão e às quais devem se
adaptar. [2] Partamos do pressuposto de que havia motivo para a murmuração. Em
primeiro lugar, certos estudiosos sugerem que os outros pobres no grupo dos
gregos tinham a subsistência provida, embora as suas viúvas fossem desprezadas
(v. 1). Essa falha acontecia porque os gerentes administravam de acordo com uma
regra antiga observada entre os hebreus: a viúva deve ser sustentada pelos
filhos do seu marido (veja 1 Tm 5.4). Em segundo lugar, as viúvas, ao meu ver,
são citadas no lugar de todos os pobres, porque muitos desses que estavam nos registros
da igreja e recebiam esmolas, eram viúvas que tinham sido fartamente
sustentadas pelas atividades dos seus maridos enquanto estavam vivos, mas que
caíram em grandes dificuldades financeiras quando faleceram. Os que administram
a justiça pública devem de uma maneira particular proteger as viúvas de
injustiças (Is 1.17; Lc 18.3), assim os que administram os fundos da caridade
pública devem de uma maneira particular sustentar as viúvas no que for
necessário (veja 1 Tm 5.3). Perceba que estas viúvas e os outros pobres
recebiam uma ajuda diária (v. 1). Talvez, após um cálculo prévio, sabiam que
não podiam acumular sua porção para o futuro. Então os administradores dos
fundos, num gesto de bondade, davam-lhes dia a dia o pão necessário. Eles dependiam
do quinhão do dia para viver. Pelo visto, as viúvas gregas foram,
comparativamente, desprezadas.
Talvez os que
distribuíam o dinheiro consideraram que os hebreus ricos contribuíam mais para
o fundo do que os gregos ricos, que não tinham propriedades para vender, como
os hebreus. Por conseguinte, os gregos pobres deveriam ter menos direito ao
fundo. Embora houvesse certa dose de tolerância, tratava-se de procedimento cruel
e injusto. Veja que mesmo na igreja mais bem organizada do mundo sempre haverá
algo impróprio, administração incompetente, queixas ou, pelo menos, algumas reclamações.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 59-60.
A palavra discípulos
(1) aparece aqui pela primeira vez no livro de Atos (ver os comentários sobre
1.15). Ela significa, literalmente, “aprendizes”. É usada nos Evangelhos para
referir-se aos seguidores de João Batista (e.g., Mt 9.14), dos fariseus (e.g., Mc
2.18), de Moisés (Jo 9.28) e de Jesus (e.g., Lc 6.17). A sua aplicação mais frequente
é em relação aos doze apóstolos. No livro de Atos (vinte e oito vezes),
normalmente refere-se aos cristãos em geral. Nas outras partes deste livro,
eles são chamados “santos” (9.13), “irmãos” (1.15, em algumas versões; 9.30),
“nazarenos” (24.5). Mas discípulos é “talvez a palavra mais característica dos
cristãos no livro de Atos”.159
Crescendo o número
dos discípulos significa literalmente “enquanto os discípulos se multiplicavam”
(particípio presente, indicando um crescimento contínuo). Quanto mais membros
uma igreja tem, mais problemas em potencial ela apresentará. Agora, iniciava-se
uma murmuração — o som da palavra grega sugere o zumbir das abelhas — por parte
dos gregos. A palavra grega é hellenistes, que deveria ser traduzida como
“helénicos”. Diz-se que esta foi “a primeira aparição desta palavra na
literatura grega”.160 Ela é encontrada somente duas outras vezes no Novo
Testamento (9.29; 11.20). Aparentemente, significa pessoas “de língua grega”.
Bruce escreve: “O contexto irá então determinar mais exatamente que tipo de
pessoas de língua grega são elas: aqui, cristãos judeus de língua grega; em
9.29, provavelmente judeus de língua grega nas sinagogas; em 11.20, provavelmente
gentios”.
Em contraste com os
helénicos, estavam os hebreus. Isto parece querer dizer “judeus de língua
hebraica ou aramaica”.162 No Novo Testamento, a palavra aparece novamente
somente em 2 Coríntios 11.22, e em Filipenses 3.5. Em ambos os casos, Paulo
aplica-a a si mesmo, como um rígido observador da lei — ou possivelmente como
um judeu de puro sangue.
A causa desse
murmúrio era que as suas viúvas eram desprezadas — “negligenciadas” (somente
aqui no NT) — no ministério cotidiano. Com respeito a viúvas, Lake e Cadbury
afirmam: “Em geral, o termo ‘viúvas’ vem a ter um duplo sentido: (a) todas as mulheres
que tinham perdido os seus maridos; (b) um número seleto de classe elevada, que
era indicado a uma posição definida dentro da organização da igreja como parte
do ‘clero’” (cf. clérigos). O significado anterior provavelmente aplica-se às
viúvas aqui, e o último àquelas de 1 Timóteo 5.9-10.
A palavra grega para
ministério é traduzida como “socorro” em 11.29. Esta é, evidentemente, a idéia
aqui. Com os fundos que os cristãos tornavam disponíveis (cf. 2.44- 45;
4.32-37), os pobres e os necessitados eram cuidados no cotidiano com uma doação
de alimentos. Knowling faz esta sugestão significativa: “E bem possível que as
viúvas helénicas tivessem sido ajudadas anteriormente com o tesouro do Templo,
e que essa ajuda tenha cessado, visto que elas se uniram à comunidade cristã”.
A palavra chera,
viúva, aparece nove vezes no Evangelho de Lucas — somente três vezes nos demais
Evangelhos juntos — e três vezes no livro de Atos. Ela está de acordo com a
ênfase de Lucas sobre as mulheres (ver a introdução do Evangelho de Lucas). Em
outras passagens do Novo Testamento, a palavra é encontrada com maior
frequência na primeira carta a Timóteo (oito vezes). Poderia ser um dos
diversos itens menores que indicam a possibilidade de que Lucas foi o
escrevente de Paulo para as epístolas pastorais (cf. 2 Tm 4.11)?
Ralph
Earle. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 7. pag. 247-248.
Atos 6.1. Lucas foi
criticado porque estaria traçando uma imagem ideal demais do primeiro
cristianismo. Nesse trecho, no entanto, ele relata tranquilamente as
consideráveis mazelas que levaram a uma tensão na jovem igreja e à murmuração
explícita. A igreja era perpassada por uma diferença natural: havia
“helenistas”, i. é, judeus dos países ocidentais, que falavam grego, e
“hebreus”, os judeus de língua aramaica da Palestina (e do Oriente propriamente
dito). Diferenças assim nunca deixam de ser significativas. A unidade da igreja
de Jesus não se estabelece pelo fato de que as diferenças são simplesmente
ignoradas. Os grupos de língua grega passavam por dificuldades nos encontros
cristãos, nos quais se falava – inclusive por parte dos apóstolos – o aramaico.
Deve ter surgido rapidamente uma tendência para realizar reuniões próprias no
idioma familiar grego. Por outro lado, a beneficência da igreja, que de acordo
com At 4.35 não podia mais ser um empreendimento meramente pessoal em vista do
crescente número de cristãos, mas acontecia pela mediação dos apóstolos, não
alcançou de maneira plena esses grupos “helenistas”. As viúvas “estavam sendo
esquecidas na distribuição diária”. Mais uma vez notamos como toda a narrativa
de Lucas é sucinta. “E se distribuía a cada um segundo a necessidade da pessoa”
(At 4.35). Assim ele escrevera, sintetizando brevemente o essencial. Para ele
deve ter sido evidente que entre os “necessitados” estavam em primeiro lugar as
“viúvas”. De 1Tm 5.3-16 depreendemos que a previdência para as viúvas continuou
sendo uma área central do serviço da igreja. Na Antiguidade simplesmente não
havia uma possibilidade de ganho próprio para mulheres. Se uma viúva não tinha
filhos que providenciassem seu sustento, ela se encontrava em grande aflição.
Nessa situação, porém, estavam sobretudo as viúvas dos “helenistas”. Depois de
velhos, casais haviam se mudado do exterior para a Terra Santa, sobretudo para
Jerusalém. Estando morto o marido, e vivendo os filhos numa terra longínqua, o
que seria da esposa agora? Começou o serviço beneficente da igreja,
inicialmente da judaica, e agora também da cristã. Consequentemente, as
diferenças linguísticas e a grande extensão da igreja transformaram-se em
empecilhos. Naquele tempo as viúvas viviam uma vida sossegada e recatada.
Provavelmente os apóstolos conheciam melhor as viúvas do grupo aramaico e
viam-nas com mais frequência. As viúvas helenistas eram “esquecidas”. Tampouco
Lucas relatou que essa “distribuição para cada um de acordo com sua
necessidade” já levara a uma forma de ajuda regular. Uma atividade dessas se
consolida inesperadamente numa instituição. Ao que parece, portanto,
desenvolveu-se a prática de alimentar regularmente os necessitados, de realizar
refeições diárias para as quais as viúvas helenistas não eram convidadas.
Porém, a circunstância de que determinadas pessoas não apenas se viam excluídas
de uma doação livre e eventual, mas de uma assistência regular, que parecia
conceder também a elas um “direito” a determinados benefícios, gera especial
tristeza e amargura. Todos sabemos com que rapidez nos sentimos magoados, com
que facilidade suspeitamos de “intenções” por trás de esquecimentos que na
realidade se explicam por razões bem inofensivas. Rapidamente generalizamos
casos isolados, e o egoísmo coletivo acaba exacerbando tudo. “Houve murmuração
dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo
esquecidas na distribuição diária.”
Werner
de Boor. Comentário Esperança Atos. Editora
Evangélica Esperança.
3. A escolha dos
diáconos.
O diaconato como
ministério
Ministério é um
trabalho, ou função eclesiástica, exercida por aqueles que são biblicamente
ordenados. Da leitura de Atos 6.6, concluímos: os diáconos são também
ministros. Apontemos algumas razões que nos argúem serem os diáconos
integrantes do ministério cristão:
a) A instituição do
diaconato foi inspirada pelo Espírito Santo
Assim como os
apóstolos haviam sido chamados para auxiliar a Jesus, foram os diáconos
separados para assistir aos apóstolos e pastores. Não se admite, pois, que os
diáconos façam oposição ao pastor; foram eles chamados justamente para ajudar o
anjo da igreja (At 6).
b) A instituição do
diaconato foi eclesiasticamente acordada
Contou com o apoio de
toda a Igreja de Jerusalém que, em seu nascedouro, representava toda a
assembléia dos santos. E, de conformidade com as instruções do próprio Cristo
(Mt 18.9). Logo, o diaconato surgiu com o pleno apoio da Igreja de Cristo.
c) Os diáconos foram
formalmente ordenados
Não foram os sete
separados em segredo, mas consagrados ante a congregação. Contaram eles,
consequentemente, com o apoio tanto da Igreja quanto do magistério apostólico.
d) Os diáconos
receberam formalmente a imposição de mãos
Ai está a prova cabal
de seu ministério. À semelhança dos apóstolos Barnabé e Saulo, foram os
diáconos santificados ao ministério através desse ato tão significativo:
“orando, lhes impuseram as mãos” (At 6.6; 13.1-3). Se não são ministros os
diáconos, porque a oração e a imposição de mãos?
e) A real dimensão do
diaconato
Convém ao diácono
entender que, embora ministro, jamais deve ignorar a autoridade que tem o
pastor sobre todos os ministérios, órgãos e departamentos da igreja. Que ele
reconheça sempre a verdadeira dimensão de seu cargo e a exata razão de sua
chamada, e coloque-se à inteira disposição de seu pastor. Seja amigo e
companheiro deste. Cabe aqui lembrar o que disse Otis Bardwell,
experimentadíssimo diácono: “O diácono não foi chamado para receber honrarias,
mas para servir a Deus e à Igreja”.
O diaconato como um
importante negócio
Na versão Revista e
Corrigida de Almeida, lemos: “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões
(...) aos quais constituamos sobre este importante negócio” (At 6.3). A versão
atualizada, porém, buscando maior aproximação com o grego, usa a seguinte
expressão: “aos quais encarreguemos deste serviço”. É o diaconato, afinal, um
serviço ou um importante negócio? Ambas
as coisas, pois estão certas ambas as versões. A palavra grega chréia tanto
pode ser traduzida como serviço quanto como negócio. Ela pode ser compreendida,
ainda, como “um serviço para suprir auxilio em caso de necessidade”. Portanto,
nenhum erro cometeu os revisores dessas versões. Servir a Igreja, a Noiva do
Cordeiro, é de fato um importante negócio! Pense nisso, diácono, e
conscientize-se de sua responsabilidade.
Valdemir
P. Moreira. Manual do Diácono.
A solução
satisfatória da questão, e o expediente escolhido para acabar com a causa desta
murmuração. Até aqui, os apóstolos dirigiam a atividade assistencial. As
pessoas lhes faziam pedidos e apelavam em casos de rixas e injustiças. Eles
eram obrigados a empregar pessoas menos responsáveis, que não tomariam todo o
cuidado que deveria ser tomado, nem estariam tão firmes quanto deveriam estar
contra a tentação da parcialidade. A solução era escolher algumas pessoas para
administrar este negócio, pois estavam sem tempo.
Tais pessoas deviam
possuir tempo e serem mais bem qualificadas para essa incumbência do que
aquelas escolhidas pelos apóstolos.
1. Como o método foi
proposto pelos apóstolos: Eles convocaram a multidão dos discípulos (v. 2), os
diligentes das congregações de cristãos de Jerusalém, os homens em posição de
liderança. Os doze sozinhos não determinariam nada sem eles, pois há vitória na
multidão dos conselheiros (Pv 24.6). Em assuntos dessa natureza, os discípulos,
que eram mais entendidos nos negócios desta vida, dariam melhor conselho do que
os apóstolos. (1) Os apóstolos ressaltaram veementemente que de jeito nenhum
admitiriam tão grande mudança de função, deixando de lado a grande obra que
faziam: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas
(v. 2). Servir às mesas era receber dinheiro e fazer pagamentos, tarefa muito
semelhante ao que se realizava às mesas dos cambistas no templo. Isso era
avesso às responsabilidades para as quais foram chamados. Seu dever era pregar
a palavra de Deus. Eles não tiveram a oportunidade de estudar para ser pregador
como acontece conosco (eles recebiam a palavra no momento em que a proferiam, Mt
10.19). Acharam que era muita atividade para uma pessoa só empregar todas as
suas reflexões, cuidados e tempo, embora um desses homens valesse mais que dez
de nós, mais do que dez mil. Se fossem servir às mesas, deveriam, em certa
medida, deixar a palavra de Deus. Não haveria como atender a obra da pregação
com o zelo e atenção devidas. Pectora nostra duas non admittentia que curas -
Estas nossas mentes não admitem dois empregos ansiosos e distintos. Este
serviço às mesas tinha fins piedosos, e servindo à caridade dos cristãos ricos
e à necessidade dos pobres estava-se servindo ao próprio Jesus. Contudo, os
apóstolos não tirariam tanto tempo da pregação como esse serviço requereria.
Eles não se afastarão mais da pregação pelo dinheiro depositado aos seus pés do
que serão impelidos à pregação pelas chicotadas recebidas nas costas. Enquanto
o número dos discípulos era pequeno, os apóstolos conseguiam administrar o
negócio sem fazer interrupções importantes em sua atividade principal. Mas
agora que o número dos discípulos estava aumentando, não mais seria possível
proceder dessa forma. Não é razoável, ouk areston estin não é conveniente, ou
não é recomendável (v. 2), que negligenciemos o negócio de alimentar almas com
o pão da vida para atendermos o negócio (v. 3) de socorrer os corpos dos
pobres. Veja que a pregação do evangelho é a melhor obra, a mais apropriada e
necessária com a qual o ministro pode se envolver e com a qual deve se ocupar
inteiramente (1 Tm 4.15). Para realizá-la, ele não deve se embaraçar com
negócio desta vida (2 Tm 2.4), e nem mesmo com a obra de fora da Casa de Deus
(Ne 11.16).
(2) Os apóstolos
pediram aos irmãos que fossem escolhidos sete varões (v. 3), bem qualificados
para o objetivo em vista, cujo negócio seria servir às mesas, diakonein trapezais
- ser diáconos às mesas (v. 2). 0 negócio tinha de ser bem cuidado, mais bem
administrado do que fora até o momento pelos apóstolos. Logo, pessoas apropriadas
eram inseridas ocasionalmente no ministério da palavra e da oração, mas não tão
dedicadas a essas funções como eram os apóstolos. Elas deviam cuidar das provisões
da igreja, ou seja, inspecionar, pagar e manter as contas. Tinham de comprar o
que fosse necessário para a festa (Jo 13.29) e atender tudo que fosse
necessário in ordine ad spiritualia - para os exercícios espirituais, a fim de
que tudo fosse feito com decência e ordem, e ninguém fosse negligenciado. [1]
Os candidatos tinham de ser devidamente qualificados. Os irmãos da congregação
deviam escolher, e os apóstolos, ordenar. Mas os irmãos da congregação não tinham
autoridade para escolher, nem os apóstolos para ordenar homens totalmente
impróprios para o ofício: Escolhei [...] sete varões (v. 3), tantos quantos
julgarem que bastariam por ora; mas depois o número poderia ser maior caso
houvesse necessidade. Estes deviam ser, em primeiro lugar, homens de boa
reputação (v. 3), livres de escândalo, considerados pelos vizinhos como homens
íntegros e fiéis, de bom testemunho, em quem se pode confiar, sem a marca de
vícios e maus hábitos, mas, ao contrário, reputados por tudo que seja virtuoso
e louvável, martyroumenoics - homens que produzam bons testemunhos em seu
convívio social. Veja que os que são postos em qualquer ofício na igreja devem
ser homens de boa reputação, irrepreensíveis. E não só isso, mas de caráter admirável,
requisito indispensável ao ofício e sua execução. Em segundo lugar, eles deviam
ser homens cheios do Espírito Santo (v. 3), cheios dos dons e da graça do
Espírito Santo, que são necessários para a administração correta deste cargo.
Tinham de ser honestos, hábeis e ousados, como eram os juízes em Israel: Homens
capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza (Ex
18.21). Por meio dessas qualidades, mostravam estar cheios do Espírito Santo.
Em terceiro lugar, eles deviam ser homens cheios [...] d,e sabedoria (v. 3).
Não bastava que fiassem homens honestos e bons, deviam também ser homens
discretos e de bom siso, que não pudessem ser enganados e que organizassem as
tarefas com disciplina. Deviam ser homens cheios do Espírito Santo e de sabedoria,
quer dizer, do Espírito Santo como Espírito de sabedoria. Encontramos a palavra
da sabedoria dada pelo Espírito como forma distinta da palavra da ciência,
conhecimento doado pelo mesmo Espírito (1 Co 12.8). Os que recebem a
incumbência de tratar do dinheiro público devem ser cheios [...] de sabedoria
para que o distribuam não só com fidelidade, mas com comedimento. [2] Os
candidatos tinham de ser nomeados pelos ir mãos da congregação:
Escolhei, pois,
irmãos, dentre vós, sete varões (v. 3). Considerai entre vós quem são os mais
adequados para tal função e em quem podeis confiar de modo mais satisfatório” .
Presumia-se que os irmãos da congregação soubessem melhor que os apóstolos, ou
pelo menos fossem mais aptos para se informar do caráter desses homens. Por
conseguinte, cabia-lhes o privilégio da escolha.
[3] Os apóstolos
ordenariam os escolhidos ao serviço e lhes dariam o cargo para que soubessem o
que fazer e tivessem consciência de fazê-lo. Os apóstolos lhes dariam
autoridade para que as pessoas interessadas soubessem a quem fazer solicitações
e se submeter em assuntos dessa natureza: Homens aos quais constituamos sobre
este importante negócio (v. 3) para assumir essa responsabilidade e cuidar para
que não haja desperdício ou falta.
(3) Os apóstolos se
entregaram inteiramente à obra como ministros, agindo com a maior cautela
possível para desobrigar-se convenientemente desse ofício laborioso: Mas nós
perseveraremos na oração e no ministério da palavra (v. 4). Veja aqui: [1]
Quais são os dois grandes meios de graça do evangelho: a palavra e a oração (v.
4). Por meio deles, a comunhão entre Deus e o seu povo é mantida e preservada.
Pela palavra, Deus fala com o povo e, pela oração, o povo fala com Deus. Essas práticas
têm uma ligação mútua entre si. Por intermédio desses dois meios de graça, o
Reino de Cristo é promovido e lhe ocorrem acréscimos. Temos de profetizar sobre
os ossos secos e orar para que o espírito de vida de Deus entre neles (Ez
37.4-10). Pela palavra e pela oração, os outros meios de graça são
santificados, e os sacramentos tornam-se eficazes (1 Tm 4.5). [2] Qual é o
grande negócio dos ministros do evangelho: dedicar-se continuamente à oração e
ao ministério da palavra (v. 4). Eles ainda têm de ser adequados ou aparelhados
para esses serviços, ou se dedicar a esses serviços de modo público ou
particular, em tempos determinados ou fora deles. Eles devem ser a boca de Deus
para o povo no ministério da palavra, e a boca do povo para Deus na oração.
Para a convicção e conversão dos pecadores e para a edificação e consolação dos
santos, temos de oferecer nossas orações por eles e lhes ministrar a palavra,
reforçando nossas orações com nossos esforços no uso dos meios designados. Não
devemos só ministrar a palavra, temos também de orar por eles para que essa
ministração seja eficaz. A graça de Deus pode fazer tudo sem a nossa oração,
mas a nossa oração não pode fazer nada sem a graça de Deus. Os apóstolos foram
capacitados com dons extraordinários do Espírito Santo, línguas e milagres.
Contudo, as práticas às quais eles se dedicavam continuamente era pregar e orar,
para, por meio delas, edificar a igreja. Esses ministros, sem dúvida, são os
sucessores dos apóstolos (não na plenitude do poder apostólico - os que têm tal
pretensão são usurpadores ousados mas na melhor e mais excelente das obras
apostólicas), que se dão continuamente à oração e ao ministério da palavra.
Jesus sempre estará com esses até à consumação dos séculos (Mt 28.20).
2. Como esta proposta
foi aceita e posta em execução pelos discípulos. Os apóstolos não impuseram a
proposta por poder absoluto, embora tivessem o direito de exigir o que se
deveria fazer (Fm 8). Mas propuseram como algo altamente conveniente, e este
parecer contentou a toda, a multidão (v. 5) dos discípulos (v. 2). A multidão
[...] dos discípulos alegrou-se ao ver os apóstolos se desincumbirem voluntariamente
da intervenção em assuntos seculares e transmiti-los a outros. A multidão [...]
dos discípulos se agradou em saber que eles se dedicariam à palavra e à oração.
Eles não contestaram a proposta, nem adiaram sua implementação.
(1) A multidão [...]
dos discípulos elegeu as pessoas (v. 5). Não é provável que todos tivessem
escolhido os mesmos homens. Todo o mundo tinha o amigo de quem pensava bem. Mas
a maioria dos votos caiu nas pessoas aqui nomeadas, tendo o consentimento tanto
dos candidatos quanto dos eleitores. Não houve perturbação como fazem comumente
os membros de sociedades em tais casos.
Um apóstolo, que era
funcionário notável, era escolhido por sorte, que é mais imediatamente o ato de
Deus. Mas os inspetores dos pobres eram escolhidos pelo voto da multidão [...]
dos discípulos. Esse método deve ser reputado à providência de Deus, que tem o
coração e a boca de todos os homens em seu poder. Há uma lista dos indivíduos
escolhidos. Certos estudiosos pensam que eles eram componentes dos setenta
discípulos. Mas isso não é provável. Há muito tempo os setenta foram ordenados
pelo próprio Cristo para pregar o evangelho, e não havia mais razão para eles
deixarem a palavra de Deus e servirem às mesas. É mais provável que se
encontrassem entre os que se converteram desde o derramamento do Espírito até a
presente hora. A promessa afirmava que todos os que fossem batizados receberiam
o dom do Espírito Santo (cap. 2.38), e o dom, de acordo com essa promessa, é o
enchimento do Espírito Santo. Esse enchimento era um dos requisitos para todos
aqueles que fossem escolhidos para este serviço. Reflitamos acerca destes sete
varões. [1] Estes sete varões estavam entre os que venderam suas propriedades e
depositaram o dinheiro no fundo assistencial.
Porque caeteris
paribus - outras coisas sendo iguais, estes varões eram os mais aptos para
receber a incumbência da distribuição daquilo para o que tinham sido mais
generosos em contribuir. [2] Estes sete varões eram todos do grupo dos gregos
ou judeus helenistas, porque todos têm nomes gregos. Esta medida seria provável
para silenciar a murmuração dos gregos (a qual ocasionou essa decisão) e para
garantir que os estrangeiros não fossem negligenciados visto que a
responsabilidade foi colocada em estrangeiros. Nicolau (v. 5), é óbvio, foi um deles,
porque era prosélito de Antioquia. Alguns estudiosos defendem que este modo de
expressão indica que os outros seis eram prosélitos de Jerusalém, como ele era
de Antioquia. O primeiro nomeado é Estêvão, que é a glória destes septemviri,
homem cheio de fé e do Espírito Santo. Ele tinha muita fé na doutrina de Cristo
e a possuía mais do que os outros. “Cheio de fidelidade, cheio de coragem” (conforme
traduzem alguns), porque estava cheio [...1 do Espirito Santo, dos seus dons e
graças. Ele era homem extraordinário e de destaque em tudo o que era bom. Seu
nome significa “coroa”. Filipe é o segundo nomeado, porque ele, tendo servido
bem como diácono, adquiriu para si boa posição (1 Tm 3.13), e depois foi
ordenado ao ofício de evangelista. Ele era companheiro e cooperador dos
apóstolos (cap. 21.8; compare com Ef 4.11). E óbvio que a pregação e o batismo,
serviços que ele desempenhava (lemos no capítulo 8.12), não eram funções de diácono
(já que esse ofício era servir às mesas em oposição ao ministério da palavra),
mas de evangelista. E quando ele foi designado para ser evangelista, temos
razão para pensar que renunciou ao diaconato por ser incompatível com aquele
ofício. Quanto a Estêvão, nada encontramos que prove que seja um pregador do
evangelho, porque ele só debate nas escolas e pleiteia por sua vida no
julgamento (v. 9; cap. 8.2). O último nomeado é Nicolau, que, segundo certos
estudiosos, mais tarde se desviou (sendo o Judas entre estes sete varões) e
fundou a seita dos nicolaítas mencionada em Apocalipse 2.6,15, onde Jesus diz,
repetidamente, que essa era uma facção abominada por Ele. Alguns dos antigos,
todavia, o inocentam dessa acusação. Dizem que, embora essa seita impura e vil fosse
denominada conforme seu nome, isso ocorrera injustamente.
Afirmam que somente
pelo fato de ele insistir que também os que têm mulheres sejam como se as não
tivessem (1 Co 7.29), maldosamente, deduziram que os que tivessem mulheres
deveriam tê-las em comum. Por isso, Tertuliano, quando trata da comunidade de
bens, cita uma exceção particular: Omnia indiscreta; apud nos, praeter uxores -
Todas as coisas são comuns entre nós, exceto nossas esposas. Apol., cap. 39. (2)
Os apóstolos designaram estes sete varões para o trabalho de servir às mesas
por ora (v. 6). A multidão [...] dos discípulos os apresentou aos apóstolos (v.
6), que aprovaram os candidatos e os ordenaram. [1] Os apóstolos oraram (v. 6)
com os sete varões e por eles, para que Deus lhes desse cada vez mais do
Espírito Santo e sabedoria e para que os qualificasse para o serviço ao qual
foram chamados. Oraram ainda a fim de que Deus fizesse deles uma bênção para a
igreja e, particularmente, para os pobres do rebanho. Todos que são envolvidos
no serviço da igreja devem ser entregues à direção da graça divina por suas
orações. [2] Os apóstolos impuseram as mãos (v. 6) sobre os sete varões, quer
dizer, eles os abençoaram em nome do Senhor (SI 129.8), pois a imposição de
mãos era usada para esse fim. Assim Jacó [...] abençoou cada um dos filhos de
José (Hb 11.21), e, sem contradição alguma, o menor é abençoado pelo mcdor (Hb
7.7).
Os diáconos são
abençoados pelos apóstolos, e os ajudadores dos pobres são abençoados pelos
pastores da congregação. Tendo implorado por uma bênção sobre os sete varões,
por meio da imposição de mãos, os apóstolos lhes asseguraram que essa bênção
fora dada como resposta. Dessa maneira, eles estavam autorizando os sete varões
a exercerem seu ofício e colocando sobre os membros da congregação a obrigação
de observarem os diáconos nesse particular.
IT T O avanço da igreja
depois disto. Quando as coisas foram postas em ordem na igreja (queixas atendidas
e inquietações acalmadas), a religião se firmou (v. 7). l.A palavra de Deus
[...] crescia, (v. 7). Agora que os apóstolos resolveram manter-se mais do que nunca
restritos à pregação, o evangelho espalhou-se mais e ocasionou mais poder. Os
ministros que se desembaraçam de empregos seculares e se dedicam completa e
vigorosamente à obra, contribuem muito para o sucesso do evangelho. A palavra
de Deus cresce como a semente plantada, que produz trinta, sessenta ou cem
vezes mais (Me 4.8). 2. Os cristãos cresceram a cântaros: Em Jerusalém se
multiplicava muito o número dos discípulos (v. 7). Quando Jesus estava na
terra, o seu ministério teve pouco sucesso em Jerusalém. Agora essa cidade
proporciona a maioria dos convertidos. Deus tem seus remanescentes até nos
piores lugares. 3. Grande parte dos sacerdotes obedecia, à fé (v. 7). A palavra
e a graça de Deus são grandemente glorificadas, quando as pessoas menos
prováveis são influenciadas pelo evangelho, como ocorre aqui com os sacerdotes,
que ou se opuseram ou pelo menos se uniram com os que se opunham à mensagem
evangelística. Os sacerdotes, cujo cargo honorífico surgiu da lei de Moisés,
estavam propensos a serem conduzidos pelo evangelho de Cristo. Pelo visto, eles
vieram em massa. Muitos deles concordaram em unir-se e entregar, de uma só vez,
seus nomes a Jesus Cristo para continuarem tendo o crédito uns dos outros e
para fortalecerem as mãos uns dos outros: polis ochlos - uma grande multidão de
sacerdotes foi, pela graça de Deus, ajudada a vencer seus preconceitos e a
obedecer à fé, assim é descrita conversão dos sacerdotes. (1) Os sacerdotes adotaram
a doutrina do evangelho. Seus entendimentos foram levados cativos ao poder da
verdade de Cristo, e todo pensamento contestador e oponente foi conduzido à obediência
de Cristo (2 Co 10.4,5). As pessoas conhecem o evangelho para a obediência da f
é (Rm 16.26). A fé é um ato da obediência, pois este é o mandamento de Deus:
que creiamos (1 Jo 3.23). (2) Os sacerdotes evidenciaram a sinceridade de terem
crido no evangelho de Cristo através de uma submissão alegre a todas as suas
regras e preceitos. O desígnio do evangelho é refinar e reformar nosso coração
e nossa vida. A fé nos dá a lei, e devemos ser-lhe obedientes.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 60-63.
Os doze (2) — uma
citação encontrada somente aqui no livro de Atos — convocaram uma reunião da
igreja: a multidão dos discípulos. Com santificado bom senso, os apóstolos
declararam que não era razoável (adequado) que eles deixassem a palavra de Deus
— ensinassem e anunciassem — e servissem às mesas. “Servir” é o verbo diakoneo.
O substantivo cognato diakonia é traduzido como “ministério” no versículo 1.
Como “diácono” vem de diakonos, os homens aqui escolhidos são frequentemente
mencionados como “os sete diáconos”, mas esta designação não lhes é dada no
texto. Provavelmente, não havia um cargo técnico como o dos diáconos neste
estágio primitivo da igreja.
“Servir às mesas”
normalmente é interpretado como servir comida. Mas a palavra trapeza era usada
para as mesas dos cambistas (e.g., Mt 21.12). Em Atenas, hoje, pode-se ver uma
Trapeza em cada banco. Também trapezeites (somente em Mt 25.27) significa “banqueiro”,
ou “cambista”. Lumby comenta aqui: “Servir às mesas significa dirigir a mesa ou
o balcão onde o dinheiro era distribuído”. E possível que a frase fosse
interpretada com o sentido mais amplo de administrar os assuntos financeiros da
igreja, da qual uma parte importante era a provisão de comida para os
necessitados. Não é provável que os doze apóstolos realmente servissem às mesas
de comida, embora tivessem servido pão e peixes, com as próprias mãos, aos
cinco mil e aos quatro mil. De qualquer forma, o verbo forte traduzido como
deixemos (ou “abandonemos”) implica que todo o tempo dos doze estava sendo
tomado por estes cuidados com as necessidades temporais dos irmãos”. Quando
ministros ordenados passam a maior parte do tempo cuidando dos assuntos materiais
da igreja, a vida espiritual do povo fica prejudicada.
O curso da ação que
os apóstolos prescreviam era sábio. Uma divisão de trabalho era a única solução
satisfatória. Sete bons homens leigos seriam indicados para cuidar dos assuntos
materiais da congregação enquanto os apóstolos perseverariam na oração e no
ministério da palavra (4).
Praticamente todas as
palavras ou frases dos versículos 3 e 4 estão cheias de significado. O termo
irmãos é aplicado aqui pela primeira vez aos cristãos como irmãos espirituais
em Cristo. Este uso ocorre trinta e quatro vezes no livro de Atos e
frequentemente nas epístolas.
Escolhei literalmente
quer dizer “procurar, visitar ou inspecionar, com o objetivo de encontrar as
qualificações necessárias”. Dentre vós — literalmente “no seu meio” — enfatiza
o fato de que deveria haver cuidado na seleção dos encarregados da igreja.
A escolha de sete
varões tem sido explicada de várias maneiras. Sugeriu-se que Jerusalém pode ter
sido dividida em sete distritos, ou que havia sete congregações cristãs que se
reuniam em casas particulares. A razão mais provável é a mais simples — sete
era um número sagrado para os judeus, significando perfeição.
As qualificações
destes homens deviam ser três: 1. Boa reputação; 2. Cheios do Espírito Santo;
3. Cheios... de sabedoria — “sabedoria prática” ou tato. Essas ainda são as
três qualificações principais para os trabalhadores cristãos.
Os sete candidatos
deveriam ser escolhidos por toda a congregação. Este procedimento democrático
era um primeiro passo importante para neutralizar reclamações. Os apóstolos
então constituiriam os homens escolhidos sobre este importante negócio —
literalmente “necessidade”. Mas aqui esta atividade pode ser traduzida como
“ofício”.
O resultado desta
indicação pode ser que os apóstolos poderiam dedicar todo o seu tempo ao
trabalho para o qual foram chamados, e para o qual estavam qualificados. Com
respeito à oração, Bruce diz: “A adoração regular da igreja é o que isso
significa”. A realização da adoração pública (oração) e pregação (o ministério
da palavra) deviam ser as suas principais tarefas.
A proposta feita
pelos apóstolos contentou a toda a multidão (5). Eles elegeram
— lit., “escolheram
por si mesmos” — sete homens do seu meio. O primeiro foi Estêvão. Este é
descrito adicionalmente como um homem cheio de fé e do Espírito Santo. Para a
sua difícil tarefa de satisfazer os murmuradores helenistas, ele precisaria do
otimismo da fé, da bondade e sabedoria do Espírito. O fato de Estêvão ser
destacado com uma menção especial se deve, talvez, ao fato de que este
incidente forma um prelúdio para o seu martírio. Estêvão significa “coroa”, e
ele foi o primeiro cristão a receber a coroa de mártir.
Filipe tornou-se um
pregador e evangelista depois da morte de Estêvão (8.5-40; 21.8). Dos demais
homens, não se faz outra menção no Novo Testamento. Sobre Prócoro, Lake e
Cadbury dizem: “Segundo uma lenda largamente encontrada na arte bizantina, ele
era o escriba a quem João ditou o quarto Evangelho”.171 Nicolau é identificado
como prosélito de Antioquia. A menção a esta cidade reflete o interesse
especial de Lucas no lugar, talvez devido ao fato de que Lucas nasceu ali. A
região tem um papel importante na narrativa dos Atos (cf. 11.19-30; 13.1-3;
etc.).
O fato de Nicolau ser
especificado como um prosélito — gentio convertido ao judaísmo — não implica
necessariamente que os outros seis fossem todos judeus. Freqüentemente,
ressalta-se que eles podem ter pertencido ao grupo helenista da igreja. Neste
caso, eles teriam sido mais aceitáveis para os helénicos que reclamavam e
também mais solícitos às necessidades desse grupo minoritário. Era uma manobra
de tato.
Depois de os sete
homens serem selecionados pela congregação, eles foram apresentados ante os
apóstolos (6), provavelmente em uma importante reunião que teve a participação
de toda a igreja. Os apóstolos, orando, lhes impuseram as mãos. Isto sugere uma
ordenação oficial destes homens para o seu ministério especial. O padrão já
tinha sido estabelecido pelos judeus.
Ramsay descreve assim
a importância deste evento: “Um passo distinto em direção à igreja
universalizada foi tomado aqui; já era conhecido que a igreja era maior que a
raça judaica pura; e o elemento não judeu era elevado a um posto oficial”.
Aqui temos alguma
ajuda sobre “como solucionar problemas”: 1. Reconhecer o problema (1-2a); 2.
Recusar-se a subordinar o que é essencial (26); 3. Remover as causas de
reclamações (3-6); 4. Colher os resultados de uma solução sensata (7).
2. Cresce o Número de
Convertidos (6.7)
O resultado desta
manobra tática que libertou os apóstolos para um ministério espiritual de tempo
integral tinha três partes: 1. A palavra de Deus crescia em poder e em
publicidade; 2. Multiplicava-se muito o número dos discípulos em Jerusalém,
devido tanto às necessidades materiais quanto às espirituais da congregação que
estava sendo cuidada adequadamente; 3. O crescimento de grande parte dos
sacerdotes que obedecia à fé — Josefo diz que havia vinte mil sacerdotes nessa
época. Aqui, o uso da expressão a fé, significando o cristianismo, antecipa o
seu uso nas epístolas pastorais e mostra que este fator não pode ser usado como
um argumento a favor da data posterior daquelas cartas.
Por que a menção
especial à conversão de grande número de sacerdotes? Lumby sugere: “Para estes
homens, o sacrifício seria maior do que para os israelitas comuns, pois eles
sentiam o peso completo do ódio contra os cristãos, e perdiam o seu status e
apoio, assim como os seus amigos”.
Ralph
Earle. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 7. pag. 248-250.
At 6.2 Que bom que
essa murmuração chega até os apóstolos! Representava uma acusação também contra
eles, em cujas mãos estavam a aplicação e a distribuição das dádivas. Mas os
apóstolos não reagem melindrados, e sim objetivamente. Não tomam simplesmente
uma decisão por conta própria, mas envolvem a igreja toda na dificuldade que
emergiu (como já fizeram em At 1.15ss e tornarão a fazer em At 15.4,22).
“Convocam a multidão dos discípulos”, e os “Doze” dão a declaração unânime:
“Não é agradável a Deus que nós negligenciemos a palavra de Deus para servir às
mesas.” Que palavra cheia de clareza do Espírito Santo! Os apóstolos não estão
primeiramente comovidos com a murmuração e as acusações. Não se desculpam nem
prometem trazer uma solução imediata. Tampouco olham primeiro para a carência
existente, por mais “cristã” que essa atitude poderia parecer. Imediatamente
levantam os olhos para o Senhor e perguntam pela vontade dele. Isso é viver
“com fé”! Esse olhar torna a pessoa livre e objetiva! Pois é evidente que
“negligenciar a palavra” não pode ser a vontade e incumbência de Deus. Os
apóstolos realmente honram a Deus como Deus, e confirmam que o ser humano não
vive somente do pão, mas de toda palavra que procede da boca de Deus, e que a
mensagem que lhes foi confiada compõe-se literalmente de “palavras desta vida”
(At 5.20), das quais depende a vida eterna das pessoas. Essa mensagem precisa,
pois, ser comunicada de qualquer maneira. A esse ministério precisam ser
devotados todo o tempo e toda a energia dos mensageiros.
At 6.3 No entanto, os
Doze não estavam menosprezando a assistência material. Não se pode simplesmente
tolerar que viúvas padeçam fome. É preciso providenciar uma solução cabal.
Porém – aí está a igreja! “Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa
reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos dessa
tarefa”. Hoje escolheríamos mulheres da igreja para uma tarefa assim. A
princípio, naquele tempo isso era impossível, ainda que a ruptura com os
costumes da época tenha acontecido de maneira relativamente rápida justamente
nesse ponto (Febe!). Para esse momento, portanto, é preciso escolher homens
capazes. As pessoas a quem se confia dinheiro precisam ter “boa reputação”. Os
apóstolos não dizem por que devem ser justamente “sete”. Contudo, nas
comunidades judaicas a diretoria local geralmente era formada por sete homens,
os quais eram chamados “os sete da cidade”. Por isso os apóstolos podem ter
pensado involuntariamente nesse número. Seja como for, esses homens depois são
denominados “os Sete” (At 21.8), mas não “diáconos”, como muitas vezes dizemos
sem conferir as fontes. Agora é mencionado o pré-requisito interior: “cheios do
Espírito e de sabedoria.” Também esse “serviço à mesa” é, numa igreja de Jesus,
um “ministério espiritual”, e não mera “questão administrativa” que pudesse ser
enfrentada simplesmente com forças e dons mundanos. Nessa circunstância fica
singularmente claro como a frase dos apóstolos sobre seu próprio trabalho era
de fato “objetiva”. Ela não significava, p. ex., que: pessoas mais
insignificantes também podem cuidar de coisas tão simples, nós apóstolos somos
grandes demais para isso. Não, a beneficência na igreja demandava homens
primorosos, “cheios do Espírito e de sabedoria”. Na narrativa de Lucas ainda
não existe qualquer escalonamento dos “cargos”, com o qual a igreja em breve se
adequou ao “esquema” deste mundo, dando assim vazão a todas as pulsões da
natureza humana que contradizem profundamente a palavra e essência de Jesus, a
saber, a ambição, a ânsia por direitos e privilégios, a insistência em posições
exteriores. Lucas não está descrevendo como um cargo “inferior”, o da
“diaconia”, é criado ao lado do cargo mais alto de “apóstolo”. Não contribui
para o “surgimento da constituição eclesiástica”. Pelo contrário, está
mostrando como uma igreja viva sabe tomar providências práticas quando aparecem
dificuldades e carências, vendo também em atividades dessa natureza
repercussões do Espírito de Deus que nela habita.
At 6.4 Agora também
apreciaremos a frase seguinte com sua límpida objetividade: “Quanto a nós,
porém, perseveraremos na oração e no ministério da palavra.” Aliás, é com essa
objetividade que também deveríamos ouvir essa frase para a situação atual!
Teríamos muitas formulações edificantes para contradizer os apóstolos e lhes
mostrar que de fato teriam cumprido a incumbência do Mestre se tivessem
“servido às mesas” de modo humilde e amoroso. Essa teria sido a melhor e mais
eficaz pregação! Pelo menos grande parte de nós pensa que hoje a ação de ajuda
seria a única proclamação que de fato ainda “chega” nas pessoas, porque a
“palavra” estaria esvaziada e impotente. Com toda a naturalidade esperamos que
os “servos da palavra” dediquem considerável parcela de seu tempo e suas
energias em “servir às mesas”. Para isso não carecemos de justificativas
teológicas cristãs convenientes. Na verdade, o resultado desse sistema já
deveria ter nos despertado há tempo. Deveríamos ouvir de forma nova o que os apóstolos
expressam com tanta clareza e determinação. Em primeiro lugar citam a
necessidade da oração! De fato, quanto tempo e quantas energias requer a vida
de oração do servo da palavra, se tiver o propósito de corresponder pelo menos
satisfatoriamente a tudo que está diante dele apenas na congregação que lhe foi
confiada! Será que a flagrante impotência de nossa igreja não tem como raiz o
fato de que nossos ministros não conseguem mais “perseverar na oração” por
causa de tantas sobrecargas? Mais uma vez admiramos a força de formulação do
Espírito Santo quando Pedro acrescenta à oração o “serviço da palavra”. Os
apóstolos não visam esquivar-se do “servir” e assim manter-se
aristocraticamente em altitudes edificantes. Estão conscientes de que Jesus os
chamou para “servir”. Não querem servir menos do que os Sete que a seguir serão
eleitos, não querem ser menos “diáconos” que eles. Porém seu serviço se realiza
em outra área, exigindo tudo deles. O “serviço da palavra” simplesmente não
deixa sobrar tempo e força para outro ministério. Será que isso realmente seria
diferente nos dias de hoje?
At 6.5 “A palavra
agradou a toda a multidão.” Lucas emprega uma expressão do AT conforme a
encontrava em sua Bíblia grega (p. ex., em 2Sm 3.36). O AT já chamava toda a
comunidade de Israel de “toda a multidão” (2Cr 31.18). “E elegeram…”; a
multidão “elegeu”, sem que obtenhamos informação sobre o procedimento usado. Os
nomes dos eleitos têm uma entonação grega. Devem ter sido nomeados justamente
“helenistas” porque a negligência em relação às viúvas deles havia sido a causa
de toda essa ação. Nicolau é chamado expressamente de “prosélito de Antioquia”.
Pela primeira vez aparece
um grego de nascença,
um “gentio” no âmbito da igreja de Jesus, ainda que pela via do ingresso na
cidadania israelita. Pela primeira vez soa também o nome “Antioquia”, que mais
tarde se torna tão importante em Atos dos Apóstolos. Sendo o próprio Lucas
originário de Antioquia, ele dispunha de conhecimentos especialmente precisos.
Em contrapartida, uma pessoa como Filipe, apesar do nome grego, dificilmente
seria um helenista. Mais tarde, atuou intensamente na Samaria, ou seja, numa
área de língua aramaica.
No caso desses homens
ocorre algo semelhante como no caso dos apóstolos. Na sequência ouviremos mais
somente sobre Estêvão e Filipe; os demais não são mais citados em Atos dos
Apóstolos. Prestaram o serviço para o qual foram eleitos neste momento, e isso
basta. Porém descobrimos Estêvão e Filipe no serviço de evangelistas! Isso
somente nos causará espécie enquanto ainda permanecermos presos à ideia dos
“cargos”. Mas Schlatter tem razão: “Atos dos Apóstolos nos mostra que os
encarregados que assumiam compromissos concretos junto com determinada
incumbência não perdiam nada de seu direito de cristãos, e de forma alguma se
pensava que Estêvão prepararia o sopão, e deixaria a palavra por conta dos
outros. Pelo contrário, ele continua sendo o que é, servo da igreja, membro do
corpo do Senhor, e por isso testemunha de sua graça, lutador pelo direito dele,
e morre sem que fosse alvo da crítica: „Teu diaconato te enviou para a cozinha,
e não ao posto de mártir‟.”
6 “Apresentaram-nos
perante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos.” Cabe-nos
observar ambos os aspectos. Por um lado são os apóstolos que investem os
eleitos no serviço. A imposição das mãos mediante oração não é apenas uma
confirmação formal da eleição. Para as pessoas do pensamento bíblico, desde o
AT a imposição das mãos era uma transferência real de plenos poderes e força
para o ministério (Nm 27.18-23; Dt 34.9), o que é enfatizado seriamente pela
imagem negativa oposta, de transmissão real da culpa pela imposição das mãos
(Êx 29.15; Lv 16.21; Nm 8.12). Nesse ato não apenas se indica simbolicamente,
mas se age de modo eficaz. Por outro lado, porém, como mostra At 13.3, esse ato
não tinha o sentido oficial e hierárquico de uma “função” puramente
“apostólica”.
At 6.7 “E crescia a
palavra de Deus.” Como também em 2Ts 3.1, “a palavra” é considerada como uma
grandeza independente com vitalidade e poder vivificador próprios. Realmente
não somos mais que “servos” dessa palavra, que não precisamos tornar grande e
eficaz com base no nosso empenho e no nosso esforço. A Deus seja rendida
sincera gratidão porque também nós podemos presenciar como a própria palavra
“corre” e “cresce”. Isso nos compromete ainda mais a dedicar todo o nosso amor
e energia no serviço, libertando ao mesmo tempo nosso serviço de qualquer
supertensão temerosa.
“E, em Jerusalém,
aumentava muito o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes
obedeciam à fé.” Lucas nos havia mostrado que a categoria dos sacerdotes era a
verdadeira adversária de Jesus e depois também da mensagem de Jesus. Contudo, agora
acontece o milagre (Jo 7.48s!) de que a palavra invade até as fileiras desse
adversário. Justamente aqui Lucas formula de forma precisa: “Obedeciam à fé.”
Esses sacerdotes não eram atraídos a Jesus por um entusiasmo súbito. A fé tinha
de mostrar-se a eles com seu direito divino e sua necessidade interior, de
sorte que davam o passo até Jesus como um passo de obediência, contrariando
toda a sua postura anterior e todas as dificuldades. No idioma grego o
imperfeito novamente assinala que esse “tornar-se obediente” diante da fé
aconteceu apenas aos poucos, passo a passo. Nesse processo também a “multidão
de sacerdotes” pode ter sido grande apenas em relação à atitude geral da
categoria sacerdotal, e não um contingente numericamente “grande”. Porém no caso
dos sacerdotes torna-se especialmente explícito o que é inerente à fé genuína.
A fé autêntica não é arbitrária, não é “sentimento”; tampouco é apenas aceitar
uma grande felicidade. Do contrário, com que rapidez poderíamos nos tornar
novamente inseguros quando os sentimentos desaparecem ou quando, em lugar da
felicidade, grandes aflições decorrem de nossa fé. A fé somente será clara e
firme quando ela se submeter obedientemente a uma verdade que está diante de
nós de modo irrefutável na ação de Deus em Jesus. Ao mesmo tempo, no entanto, a
expressão também mostra que nunca chegamos à fé de forma mecânica, através de
uma “subjugação” qualquer. Nosso coração acomodado muitas vezes deseja ser
subjugado, de modo que ficaríamos isentos de crer. A verdade de Deus nos é
mostrada com clareza; essa é a obra de Deus. Agora, porém, é a nossa tarefa
“obedecer” pessoalmente à fé, superando consideráveis resistências em nós e em
torno de nós.
Werner
de Boor. Comentário Esperança Atos. Editora
Evangélica Esperança.
III - O
PERFIL E FUNÇÃO DO DIÁCONO
1. Qualificações do
diácono.
Os diáconos tiveram
papel muito honroso nos primórdios da Igreja. Os bispos e os diáconos eram
líderes da igreja. Paulo usou o termo diáconos como favorito para si e para
seus cooperadores (cf. Rm 16.1; 1 Co 3.5 — “ministros”; Cl 1.23 — “ministro”;
Cl 4.7 — “fiel ministro”). Todos esses termos correspondem a “diácono”. Além
das qualidades exigidas em Atos 6.1-7, Paulo indica outros importantes
requisitos para o diaconato. Após enumerar as qualificações para bispo ou
presbítero, Paulo aproveita o ensino para discorrer sobre as qualificações dos
diáconos ou ministros que serviam nas igrejas. E o faz de modo imediato, sem
lacuna ou pausa em sua ministração, dizendo que os diáconos, “da mesma sorte”
que os bispos ou presbíteros, deveriam ter as seguintes qualificações (1 Tm
3.8-10, 11-13):
1) “Sejam honestos”.
Isso significa que devem ser “honrados, dignos, corretos, íntegros”.
Corresponde à “boa reputação”, indispensável ao indicado para diácono, quando
houve sua instituição (At 6.3); nas igrejas, hoje, os diáconos recolhem dízimos
e ofertas; alguns são tesoureiros, em congregações ou igrejas. Se forem
desonestos, podem cair no laço do Diabo de roubarem até os dízimos, como já
aconteceu em várias ocasiões. Para sua maldição (Zc 5.3,4).
2) “Não de língua
dobre”. Isto é, que não sejam homens de duas palavras, ou de “duas caras”; que
diz uma coisa sobre um assunto, e diz outra coisa sobre o mesmo problema. Jesus
disse: Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não, porque o que passa disso
é de procedência maligna (Mt 5.37). Um animal que tem língua dobre (dupla) é a
serpente.
3) “Não dados a muito
vinho”. No tempo de Paulo, a exemplo do que ocorria no tempo de Jesus, o vinho
era uma bebida familiar. Havia o vinho fermentado e o não fermentado, o suco da
uva (gr. guenematos tês ampèlou), que Jesus tomou na instituição da Ceia. Não
fica bem para o diácono (ministro, servo), ser habituado a tomar vinho ou
qualquer bebida alcoólica.
4) “Não cobiçosos de
torpe ganância”. Um diácono não deve ser ganancioso, ou seja, cobiçoso, ávido
por dinheiro, ou qualquer outro tipo de vantagem ou lucro pessoal, na obra do
Senhor, ou em sua vida pessoal. Muitos têm afundado moralmente, por causa da
desonestidade, que resulta da ganância por riquezas materiais (1 Tm 6.10).
5) “Guardando o
mistério da fé em uma pura consciência”. Esse “mistério” é a revelação de Deus,
através de Cristo (cf. Rm 16.25). E “a sabedoria de Deus oculta em mistério”,
“Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e
não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam.
“Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as
coisas, ainda as profundezas de Deus” (1 Co 2.9,10). O diácono deve ter
consciência de que não é um serviçal qualquer, mas um “servo de Deus” a serviço
da sua Igreja.
6) “Que sejam
primeiro provados”. Só deve ser indicado para ser diácono pessoa que seja
avaliada pelo ministério, ou pela liderança. “Depois sirvam, se forem
irrepreensíveis”. Tal recomendação demonstra a responsabilidade de quem indica
um crente para o diaconato. Ele não vai fazer um trabalho qualquer, mas um
“importante negócio” (At 6.3). Deve ser “irrepreensível” (íntegro, fiel).
7) “Maridos de uma mulher”.
A interpretação para esta qualificação é a mesma que foi feita para os bispos
ou presbíteros. Os diáconos devem ser homens fiéis às suas esposas. Não
significa que está inapto para o ministério ou diaconia, se foi vítima de uma
infidelidade conjugal. Se for o causador da infidelidade fica desqualificado
para o diaconato. O radicalismo não constrói bom entendimento das Escrituras.
Um diácono não pode ser bígamo ou infiel.
8) Que ‘‘governem bem
seus filhos e suas próprias casas”. A exemplo dos bispos ou presbíteros, os
diáconos também devem ser bons donos de casa, bons esposos e bons pais; que
saibam cuidar de seus filhos, para poderem cuidar das atividades que lhes forem
confiadas na casa de Deus.
Após enumerar essas
qualificações para o diaconato, Paulo conclui, dizendo que os que as possuírem
alcançam uma avaliação positiva para servirem na igreja: “Porque os que
servirem bem como diáconos adquirirão para si uma boa posição e muita confiança
na fé que há em Cristo Jesus” (1 Tm 3.13).
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 142-144.
Tenho um amigo, cuja
vocação é ser diácono. Neste ministério, não lhe foi difícil alcançar a
excelência. Pois sempre reconheceu, com profunda humildade, ter sido ungido
para servir à mesa de Cristo, à mesa da Igreja e a mesa de seu pastor. Para
esse meu amigo, é a diaconia uma raríssima oportunidade de agradar ao Senhor
Jesus.
Com que solicitude,
serve ele a Igreja de Cristo! Sabe lidar com as crianças. É tolerante com os
jovens. Trata os idosos com paciência. Socorre os necessitados. Evangeliza. E
está sempre à disposição dos que se afadigam na Palavra. Tão especial é esse
meu amigo que o ministério achou por bem, certa vez, homenageá-lo. Mas como
premiar alguém que tão eficazmente vinha desempenhando o diaconato? Que ao
presbitério seja promovido! E, assim, foi. De um dia para o outro, perdemos um
excelente diácono, e não ganhamos um presbítero. Tempos depois, lá estava o meu
amigo importunando o pastor a fim de voltar às lides diaconais. E a sua
importância era tão oportuna, que não havia como desconsiderá-la. A fim de
remediar a situação, houveram por bem “removê-lo” à função para qual fora
vocacionado.
I. AS QUALIFICAÇÕES
DO DIÁCONO
As qualificações
diaconais são os requisitos imprescindíveis que tornam o obreiro cristão apto a
exercer o ministério de socorro aos necessitados e de serviço aos santos. Tais
qualificações acham-se compreendidas em Atos 6.3 e na primeira Epístola de Paulo
a Timóteo 3.8-13. Em ambas as passagens, há um elenco de virtudes e requisitos,
que só encontraremos em homens de valor. Por que tais qualificações fazem-se
tão necessárias?
A resposta é obvia.
Diferentemente do escravo do AT, de quem era requerida apenas uma cega
subserviência, o diácono do NT viria a ocupar um lugar de honrado destaque na
Igreja de Cristo. Não seria ele um servo comum; erguer-se-ia como ministro. Eis
a seguir os requisitos exigidos:
1. De boa reputação
Afirmou Publílio Siro
que a reputação é um segundo patrimônio. Se o admirável poeta latino estivesse
a reviver os passos iniciais da Igreja de Cristo, certamente haveria se içar a
reputação à mais alta das grandezas sociais. Pois a primeira virtude que os
cristãos primitivos reclamaram dos postulantes ao diaconato foi justamente a
boa reputação: “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa
reputação...” (At 6.3).
a) O que é a
reputação
Originaria do
vocábulo latino reputatione, a palavra reputação significa fama, celebridade e
renome. O erudito evangélico Samuel Vila realça quão significativo é este
termo: “Reputação é uma das vozes mais sábias que tem a nossa língua. É a nossa
fama ou credito pessoal; é algo que se submete ao julgamento público todos os
dias. Reputar, pois, é julgar repetidamente a uma pessoa ante o fórum da moral
pública”.
De conformidade com o
étimo da palavra, os sete primeiros diáconos já vinham sendo observados e
rigorosamente julgados tanto pelo colégio apostólico quanto pela igreja. E,
nesse julgamento, foram todos eles aprovados com o máximo louvor. Por
conseguinte, antes de separarmos um obreiro ao diaconato, exijamos tenha ele
uma boa reputação. Se não for bem conceituado diante da igreja e do ministério,
que não seja aceito. E que sua reputação seja também comprovada pela família e
pela sociedade.
O diácono haverá de
ser um esposo exemplar, um pai responsável e prestimoso, um cidadão honesto e
cumpridor de seus deveres. Se a sua reputação não transcender a tais limites,
reprovemo-lo. Doutra forma, trará somente aborrecimentos à igreja, e
transtornos à obra de Deus.
b) O significado
grego da palavra reputação
No original, temos o
vocábulo marturouménous que significa não somente reputação como também
testemunho. Devem os diáconos portanto, desfrutar de um inconfundível atestado
público. Que todos lhe comprovem a idoneidade do caráter e a fé sábia e
experimentada nas boas obras. Você tem zelado por sua reputação? Como obreiros
de Cristo, somos submetidos a julgamentos diários. Somos julgados em casa, na sociedade
e na igreja. Até mesmo em nosso íntimo, somos nós julgados. É com base em tais
julgamentos que seremos chamados a ocupar as maiores responsabilidades no Reino
de Deus. Você tem um nome a zelar; cuide de sua reputação. E que não ocorra
conosco o que se deu com um dos personagens de Shakespeare: “Reputação,
reputação, reputação! Ah, perdi a reputação! Perdi o que em mim havia de
mortal, e o que fica é bestial”.
2. Cheios do Espírito
Santo
O ser cheio do
Espírito Santo é o mesmo que ser batizado? Não quero, aqui, perder-me em
discussões acerca desse binômio. Se desprezarmos nossas raízes, diremos
tratarem-se de coisas completamente distintas. Se nos voltarmos, todavia, aos
primeiros dias da Igreja, constataremos: os discípulos só eram considerados cheios
do Espírito Santo somente depois de haverem passado pela experiência
pentecostal (At 2.4; 10.47; 19.6). Sobre a controvérsia, pronuncia-se o Dr.
George E. Ladd: “Quando o Espírito Santo foi dado aos homens, os discípulos
foram batizados e ao mesmo tempo cheios do Espírito Santo”. Stanley M. Horton
também é bastante taxativo; não admite réplicas: “Todos os 120 presentes foram
cheios, todos falaram em novas línguas, e o som das línguas foi publicamente
notório” (Grifos nossos).
O saudoso pastor
Estevão Ângelo de Souza, um de nossos maiores teólogos, não faz separação entre
o ser cheio e ser batizado no Espírito Santo: “O batismo com o Espírito Santo é
um ato de Deus pelo qual o Espírito vem sobre o crente e o enche plenamente. É
a vinda do Espírito Santo para encher e apoderar-se do filho de Deus como
propriedade exclusivamente sua”. É nos oportuno aqui recorda o que disse
Hopkins: “Devemos reconhecer o fato de que ter o Espírito Santo é uma coisa, e
ficar cheio (batizado) do Espírito é bem outra”. Diante do exposto, como
entender Efésios 5.18? Leiamos esta passagem:
“E não vos
embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito”. Como
harmonizar essa recomendação de Paulo com a reivindicação feita aos sete
diáconos? Em primeiro lugar, há que se entender que, em todos os episódios de
Atos dos Apóstolos, onde se menciona o “encher do Espírito Santo”, temos um ato
soberano e instantâneo de Deus. É algo que se dá de fora para dentro, de cima
para baixo.
Temos, aqui, pois, a
efusão ou derramamento do Espírito Santo. Ao passo que, em Efésios,
deparamo-nos não com um ato, mas com um processo de enchimento que se dá de
dentro para fora. E este processo, ao contrario daquele, depende da vontade do
crente. Se este não seguir a recomendação bíblica, e desprezar o exercício da
piedade, não poderá conservar o enchimento do Espírito Santo.
Vejamos como, no
original, o verbo grego é usado em Efésios 5.18: allá plerousthe em pneúmati.
“Mais enchei-vos do Espírito Santo”. O verbo plerousthe acha-se no presente do
imperativo passivo da segunda pessoa do plural. Neste caso, o tempo presente
exige uma ação habitual continuada. É como se o apóstolo Paulo estivesse
recomendando aos irmãos de Eféso: “Deveis, constante e permanentemente, permite
que o Espírito Santo domine vossas vidas”. Deve o diácono, por conseguinte, não
apenas ser batizado no Espírito Santo como também manter a plenitude do
Espírito através do cultivo da piedade e do fruto do Espírito Santo. É uma
ordem a ser cumprida hoje e por todo o crente, seja este obreiro ou não.
Conclui-se, pois, que
os diáconos têm de ser não somente batizados no Espírito Santo como se manter
na plenitude do Espírito. Sua experiência haverá de ser completa; da conversão
ao batismo no Espírito Santo, mais do que plena. Os pentecostais, mercê de
Deus, temos nos pautado por esta regra de ouro.
É por isso que
separamos para o ministério somente os que, além de sua comprovada conversão,
já receberam o batismo com o Espírito, e na plenitude do Espírito Santo,
perseveram. Hoje, porém, não são poucas as igrejas que, alegando ser o diácono
um mero cargo local, vêm consagrando a esse ofício homens que ainda não
experimentaram o batismo no Espírito Santo. Isso é mui temerário! Pois
estaremos, dessa maneira, abrindo um perigoso precedente nas fileiras de nossos
obreiros que, desde o inicio da Obra Pentecostal, vêm pautando-se por uma vida
espiritual singularmente plena. Além do mais, consideremos as dificuldades que
envolvem o diaconato. Por ser um ministério que se põe na linha de frente,
exige de quem o exerce um poder sobrenatural. Já pensou se Estevão ou Felipe
não desfrutassem de semelhante virtude? Como se haveriam naqueles dias tão
difíceis?
3. Cheio de sabedoria
Alguém já disse, mui
apropriadamente, que este é o século do conhecimento, mas não da sabedoria.
Embora tenhamos avançado tanto, em todas as áreas da tecnologia,
espiritualmente pouco, ou quase nada logramos. Se para obter conhecimento,
bastam os estudos e a pesquisa, o mesmo não acontece com a sabedoria. Para se
conquista-lá, demanda-se o exercício contínuo e pessoal da piedade; o temor do
Senhor é o seu principio (Pv 1.7).
De acordo com a ótica
Bíblica, a sabedoria é a forma como vivemos, agimos e reagimos às
circunstâncias; é o reflexo da natureza divina em nossa existência. Traduz-se a
sabedoria num viver irrepreensível e santo. Esse era o tipo de sabedoria que os
apóstolos esperavam encontrar nos diáconos. Não buscavam necessariamente homens
ilustrados e cultos. Mesmo porque, como diria Chaucer, nem sempre são os mais
eruditos igualmente os mais sábios. Os diáconos, porém, não deveriam eles de
ser plenos. A expressão grega não deixa dúvidas: pléreis sphías. Cheios de
sabedoria! É o que se impunha a cada um dos diáconos.
a) O que é sabedoria
W.C. Taylor
explica-nos qual o seu significado no grego do NT: “O mais elevado dom
intelectual, de compreensiva intuição nos caminhos e propósitos de Deus;
sabedoria prática, os dotes do coração e mente que são necessários a conduta
reta da vida”.
Afirma Souter que a
sabedoria é “o variado conhecimento de coisas humanas e divinas adquirido pela
agudez e experiência, e resumida em máximas e provérbios; perícia na direção de
afazeres; prudência nas relações com homens incrédulos; discrição e aptidão em
ensinar a verdade; o conhecimento e a prática dos requisitos de uma vida reta e
piedosa; conhecimento do plano divino, outrora velado, de prover a salvação
para os homens pela morte expiatória de Cristo”. Por conseguinte, a sabedoria
que as Sagradas Escrituras estão a exigir dos diáconos não é a cultura livresca
e acadêmica. É a experiência que nos advém de uma vida de intima comunhão com o
Senhor.
b) Como adquirir
semelhante sabedoria
A verdadeira
sabedoria é adquirida através da:
- Leitura diária da
Bíblia Sagrada: quanto não temos de aprender dos profetas e apóstolos! Foram
estes sábios divinamente inspirados a espargir luz onde só havia trevas. E
todas as vezes que, com eles nos privamos, tornamo-nos mais sábios.
- Orando e chorando:
faz bem o diácono que se dedica diariamente a oração. É um exercício que requer
perseverança e Constância. Quanto mais buscar a Deus, mais municiado
sentir-se-á. E, com o passar dos tempos, haverá você de constatar que o seu
ministério será de tal forma honrado, que, naturalmente (ou
sobrenaturalmente?), estará a realizar outras tarefas ao seu Senhor? Haja vista
o que aconteceu a Estevão e a Felipe.
- Cultivando o temor
do Senhor: a Bíblia é muito clara: o principio da sabedoria é o temor a Deus
(Pv 1.7). Esse temor, que pode ser interpretado como a mais profunda e singular
reverência ao Todo-Poderoso, força-nos a cultivar uma vida de intensa piedade.
A partir daí, tudo faremos para jamais desagradar ao Único e Verdadeiro Deus
(Ap 14.7).
4. Sejam honestos
Depois de haver
discorrido acerca dos requisitos acerca dos requisitos ao episcopado, Paulo
põe-se a considerar o ofício diaconal. Pelas as expressões que usa, tinha ele
os diáconos em elevada consideração. Destes, exige o apóstolo promovidas
qualificações: “Da mesma sorte os diáconos” (1 Tm 3.8). No original, tal
expressão é mui significativa: Diakónous hosaútos.
O vocábulo hosaútos
equivale a de igual modo, da mesma maneira. Wilbur B. Wallis lembra que “o
pensamento principal parece ser que deveria haver o mesmo tipo e grau de dons e
qualificações para os diáconos, segundo o padrão dos anciãos”. Devem ser os
diáconos, portanto, ser tão qualificados quanto os bispos.
a) O que é
honestidade
Probidade, decência,
decoro. É a qualidade de quem é íntegro e digno. A palavra grega para
honestidade é semnótes: seriedade, honradez, respeito. Barret é de opinião que
esse versículo pode ser assim traduzido: “Da mesma forma sejam os diáconos
homens de princípios elevados”.
b) A razão da
honestidade
Em virtude de suas
obrigações administrativas, o diácono tem de se mostrar incorruptível. É ele
quem estará a lidar com os tesouros dos santos. Em muitas igrejas, além de
recolher os dízimos e ofertas, estará também administrando os recursos captados
aos homens, mulheres, jovens e crianças que vêm ao santuário adorar ao Criador
com as suas fazendas e haveres. Caso não seja honesto, agirá o diácono como
Judas: lançara mão de quanto se deposita na bolsa do Cristo (Jo 12.6).
A honestidade também
é sinônima de seriedade. Como estará o diácono a tratar como povo, é imperativo
inspire ele respeito. Como seria lamentável se as senhoras o evitasse por causa
de sua postura lasciva! Na casa de Deus, tem o diácono um elevado papel a
representar. Honestidade é um de nossos maiores legados. Que jamais a percamos.
Se dela abrirmos mão, o que nos restará? Perguntava o romancista inglês John
Lyly do século XVI.
5. Não de língua
dobre
O portador desse
aleijão moral, não pode ser depositário de confiança alguma. É alguém que não
consegue manter a própria palavra; jamais serve como testemunha. Tem sempre
duas palavras uma para cada ocasião. Versões? Muitas! Depende da circunstancia.
Ele é falso, caluniador, peçonhento. Vive para difamar e difama para viver.
Está sempre pronto a trair os melhores amigos, e a semear inimizades entre os
companheiros. Terá ele, por ventura algum companheiro ou amigo?
Por força das
reivindicações diaconais, terão os candidatos ao cargo uma só palavra. O seu
dizer será: sim, sim, e não, não. O que disto passar virá certamente do
maligno. No original, a Expressão língua dobre é mui significativa. Dialógous
significa língua-dupla. O que detém semelhante deformidade moral dá a um mesmo
fato as mais variadas versões. Pouco lhe importa se a honradez do próximo será
ou não comprometida. O homem de língua dobre, de acordo com o grego, é também o
fofoqueiro. É aquele que não sabe guarda segredo; está sempre a arruinar a
reputação alheia. É uma tragédia para o povo de Deus o diácono de língua dobre.
Compromete o seu pastor e a honradez de cada uma das ovelhas. Vê coisas que
jamais existiram; fala daquilo que nunca houve. Inventa, fantasia e está sempre
a mentir. Pouco lhe importa se vidas forem enlameadas, ou lares, destruídos.
O bom diácono é
discreto; sabe guarda segredo. Possui ele o suficiente despacho para resolver
as mais embaraçosas situações sem comprometer o caráter de seus conservos. Ele
tem uma só palavra; não se preocupa em ser politicamente correto conquanto seja
justo, fiel e leal.
6. Não dados a muito
vinho
Afinal, é licito ao
crente ingerir álcool? Se lermos as Sagradas Escrituras, deparar-nos-emos com
homens e mulheres piedosos que o beberam. Todavia, há que se responder a uma
outra pergunta: é conveniente? Responde Paulo: “Todas as coisas me são lícitas,
mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas eu não me
deixarei dominar por nenhuma” (1 Co 6.12). Entre a licitude e a conveniência,
optemos por esta; aquela acarreta-nos, não raro, dificuldades e amargores.
Era lícito a Noé
beber do fruto da vide? Certamente. Mas descobriu-se inconveniente em sua tenda
(Gn 9.20-29). E as filhas de Ló? Era-lhes lícito dar vinho ao pai? Só que um
abismo chamou outro abismo até que o incesto para sempre manchou a família
desse patriarca (Gn 19.30-38).
Como diria Salomão, o
vinho é escarnecedor (Pv 20.1). Escarnece o vinho de tudo; jamais se farta de
escarnecer. Conscientizemo-nos de que o Senhor Jesus nos chamou para sermos uma
sociedade de temperança. Por isso, temos de optar pela conveniência, e da
licitude, em certos casos, abrir mão. Se bebermos moderadamente estaremos
pecando? Todavia, bem faremos se, das bebidas fortes, nos abstivermos. Pois não
são poucos os que se contaminaram com álcool. Levavam os recabitas tão a sério
as recomendações divinas e as tradições paternas, que vieram até a renunciar os
mais legítimos direitos.
Num momento
particularmente difícil em Judá, quando os filhos de Abraão quebrantavam
abertamente a Lei de Moisés, ignoravam sua cultura e os mais santos legados, os
descendentes de Recabe aferraram-se ainda mais ao seu compromisso. Instados a
tomar vinho, redargüiram: “Não beberemos vinho, por que Jonadabe, filho de
Recabe, nosso pai, nos mandou dizendo: Nunca bebereis vinho, nem vós nem vossos
filhos” (Jr 35.6).
Se devemos pautar-nos
como sociedade de temperança, como encarar a presente recomendação de Paulo?
Claramente recomenda o apóstolo que os diáconos não sejam dados a muito vinho
(1 Tm 3.8). Como nos haveremos diante dessa aparente contradição? Em primeiro lugar,
entendamos o contexto cultural em que a epístola foi escrita. Tanto a sociedade
grega quanto a hebréia encaravam com naturalidade o vinho; tinham-nos como
benção dos céus. Eurípides chegou a afirmar que, onde não há vinho, não existe
amor. Todavia, com o aprimoramento consuetudinário da Igreja, foi esta
assumindo sua vocação como agência de temperança. Até que, em Efésios,
recomenda o apóstolo: “E não vos embriagues com vinho em que há contenda, mas
enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18).
A expressão grega Já
em 1 Timóteo, Paulo é ainda mais explicito. Segundo deixa bem patente, o
candidato ao ministério pastoral não pode ser dado ao vinho (1 Tm 3.3). Com
respeito aos diáconos, parece haver certa tolerância. A expressão grega é
piedosamente esclarecedora: mé oino pollo proséchontas.
A ideia, no original,
retrata alguém com a mente voltada para o vinho; não pode livrar-se dessa
obsessão. É alguém dominado pelas bebidas fortes. Por conseguinte, como pode um
diácono, nessas condições, servir a obra de Deus e zelar pelo bem estar dos
santos? Como pode ser um ministro se não ministra o próprio ser? Ainda que haja
nessa recomendação paulina uma aparente abertura para se beber moderadamente, a
experiência alerta-nos: a abstinência ainda é o melhor caminho. Willbur B.
Wallis é categórico: “O testemunho da Bíblia é consistentemente contra o uso da
bebida forte. A aplicação prática do princípio na sociedade moderna é de total
abstinência”. Que os diáconos sejam comedidos. Ou melhor: que primem eles pela
abstemia. Se não beberem, estarão livres de cometer aqueles pequenos desatinos
e lapsos que tanto mancham o homem de Deus.
Sejamos mais
explícitos: que jamais se deem ao vinho; o exercício de seu oficio exige em
tudo sobriedade. Estejam sempre atentos às reivindicações de seu ministério;
não se deixem levar pela alegria fútil e irresponsável das bebidas fortes.
O exemplo de Noé é
uma seriíssima advertência. Embora piedoso, expôs-se vergonhosamente; trouxe a
maldição sobre a família. Maldição esta que, ainda hoje, vem desafiando o
concerto das nações do Médio Oriente.
7. Não cobiçosos de
torpe ganância
Como esquecer a
Balaão? Este profeta bem que poderia haver entrado para a história sagrada com
as honras do misterioso Melquisedeque, ou com as deferências do avisado e sábio
Jetro. Ambos, estrangeiros e gentios como ele. Desventuradamente, Balaão não
buscou sublimar tal privilégio. Deixou-se induzir pelo prêmio da corrupção.
Corrupto e corruptor, viveu para corromper, e, corrompido, pereceu ele. Balaão
era um típico cobiçoso de torpe ganância. Vendeu-se para amaldiçoar e fazer
tropeçar a Israel (Nm 22.1-7). E como foi lutuoso o seu fim! Nas Sagradas
Escrituras, Balaão não é visto apenas como avaro e ganancioso. É visto também
como o inaugurador de um caminho maldoso e de uma doutrina que, por pouco, não
destrói a Israel (2 Pe 2.15; Ap 2.14).
Até onde conduz a
torpe ganância! O que começou em ambição, termina em heresias; em gravíssimos
pecados, acaba-se. A torpe ganância, pelo que depreendemos das escrituras
apostólicas, também levou um diácono a cometer os mesmos desatinos de Balaão.
Refiro-me a Nicolau (At 6.5).
Se de fato foi este o
famigerado heresiarca da Ásia Menor, temos aqui Balaão do Novo Testamento. A
obra de sua seita tornou-se de tal forma repugnante, que Jesus por pouco não
antecipa o dia da ira (Ap 2.6). Esse heresiarca, como todos os demais,
permitiram-se embriagar pela usura. E já tudo cobiçando, deturpando e tudo
corrompendo-se até o inferno. Grande desgraçã operou ele no seio da Igreja
Primitiva! Não é sem razão que Paulo exige seja o diácono despojado da torpe
ganância: “Não cobiçoso de torpe ganância” (1 Tm 3.8).
No grego: mé
aischokerdeis. A expressão pode ser entendida também como: não amante do lucro,
não mercenário. Por que não podem os diáconos ser gananciosos? Em primeiro
lugar, exige-se tenha o homem de Deus uma postura íntegra e santa. Ele tem de
ser, no mínimo, incorruptível. Pois estará a lidar com os bens econômicos e
financeiros da Igreja. Se incorrupto e reto, jamais cairá em torpes ganâncias.
Saberá como
encaminhar devidamente as ofertas e os dízimos dos fiéis. Não são poucos,
desgraçadamente, os que têm desviado o dinheiro do tesouro sagrado. É um abismo
que sempre acaba por atrair outros abismos. Que o diácono administre correta,
sabia e piedosamente os próprios bens. Se for avaro, não haverá de permitir
sejam os recursos dos santos empregados em favor dos necessitados. Quererá tudo
para si. Não fazia assim Iscariotes? Tecnicamente, foi Judas o primeiro
diácono. E que péssimo diácono foi ele! Amou tanto o dinheiro, que pelo
dinheiro foi arruinado. A única coisa que logrou com tudo o que roubara foi a
própria sepultura (At 1.18.19).
8. Guardando o
ministério da fé em uma pura consciência
Além das qualidades
morais e sociais, exige-se seja o diácono são na fé. Que esteja de conformidade
com as Sagradas Escrituras, e as tenha como única regra de fé e prática. Que
sustente a sã doutrina, e não evidencie quaisquer desvios no que tange à
ortodoxia. Estejamos atentos a recomendação de Paulo: “Guardando o ministério
da fé em uma pura consciência” (1 Tm 3.9).
O que deseja o
apóstolo aprendamos aqui? Que só poderemos qualificarmos como guardiões dos
mistérios da fé se pura estiver nossa consciência. Requer-se, pois, do diácono
obediência ativa e reverente. Doutra forma, cairá na tentação do diabo; e não
demora muito, eis mais um heresiarca egresso das fileiras diaconais. Somente
uma consciência purificada pelo sangue de Jesus pode debelar a virulência da
heresia. Por conseguinte, é inadmissível um diácono que, embora social e
moralmente correto, ostente aleijões doutrinais. Tem de ser ele um expoente
incorruptível da Palavra de Deus. Haja vista Estevão. Diante do sinédrio, expôs
este com tanta mestria a história da salvação, que deixou a todos assombrados
(At 7).
Seu discurso é o
pronunciamento de uma autoridade incontestável das Sagradas Escrituras. E
Filipe? Não se revelaria ele um abalizado evangelista? O plano da salvação que
expôs ao eunuco de Candace foi tão eficaz, que levou o etíope a converte-se
radicalmente ao Senhor Jesus (At 8.26-40).
Se Estevão e Felipe
destacaram-se pela correção doutrinária, o mesmo não aconteceria a Nicolau. Foi
este um escândalo para a Igreja de Cristo. Não demorou muito, e já estava
revelando suas deformidades doutrinárias e comportamentais. A muitos corrompeu;
e, da verdade, desviou várias igrejas. No próximo capítulo, quando estivermos a
discorrer sobre a prova dos diáconos, veremos como aferir a sua pureza
doutrinária. Por enquanto, que estes conselhos sejam piedosamente observados:
a) Leitura diária da
Bíblia
Deve o diácono ser um
assíduo leitor das Escrituras Sagradas. Quanto mais estudar a Bíblia, mais
livre estará de cair em heresias e enganos. A recomendação de Paulo é mui
taxativa: “Persiste em ler” (1 Tm 4.13).
b) Estudo sistemático
da Bíblia
Além do estudo diário
e devocional das Sagradas Escrituras, deve o diácono também estudar
sistematicamente a Palavra de Deus. Faria bem o diácono se cursar um seminário
que zele pela ortodoxia. Em suma: Primando pelo estudo sistemático e sempre
piedoso da Bíblia, o diácono jamais se contaminará com os engodos doutrinários.
Pois estará a guardar o mistério da fé numa pura consciência.
9. Os diáconos sejam
maridos de uma mulher
A vida conjugal do
diácono tem de ser um exemplo. Atenhamo-nos à recomendação do apóstolo: “sejam
maridos de uma mulher” (1 Tm 3.12). O que Paulo aqui demanda é que o candidato
ao oficio diaconal tenha uma vida conjugal sem embaraço ou equívocos. Nada deve
prendê-lo ao passado; todos os seus problemas sentimentais têm de estar bem
resolvidos. Nada de casos pretéritos, nem episódios que estejam a reclamar
explicações e desdobramentos. O seu comportamento em relação às mulheres deve
evidenciar um homem comprovadamente de Deus. Com as jovens, seja um irmão mais
velho; respeitador e cortês. Com as mais idosas, um filho querido e solícito.
Com as crianças, um pai cuidadoso e atento. Se não se contiver diante do sexo oposto,
seja vetada sua indicação ao diaconato. O diácono tem de ser fiel à esposa. E
que jamais se dê aos namoricos e flertes!
10. Governem bem seus
filhos
A advertência de
Paulo não admite evasivas: “e governem bem seus filhos” (1 Tm 3.12). Busquemos
a expressão no grego: téknõn kalõs proistámenoi. O verbo proístemi, aqui na
primeira pessoa do indicativo singular, é riquíssimo em acepções.
Etimologicamente, significa: tomo posição em frente, assumo a direção, a
liderança e o governo. Significa também: sou cuidadoso, sou atencioso, e
aplico-me aos meus deveres. Da expressão paulina, somos instados a concluir: o
pai cristão não é um mero educador; é antes de tudo o administrador de seus
filhos. Nessa condição, tudo fará a fim de que estes sejam bem sucedidos tanto
diante de Deus quanto diante dos homens. Não foi educado assim o menino Samuel?
E, nessa tarefa, a disciplina é de fundamental importância.
Se há um obreiro que
necessita trazer os filhos sob disciplina, é o diácono. Pela natureza mesma de
seu cargo, seus filhos têm de ser um consumado exemplo de vida cristã. Isto não
significa, porém, que estes devam abdicar da infância e das coisas próprias de
sua idade. Doutra forma, haveriam eles de nascer já adultos. Haja vista o que
Paulo confessa aos coríntios. Quando menino, falava como menino e, como menino,
agia. Mas chegando a maturidade, já se comportava como adulto e, como adulto,
já discorria (1 Co 13.11).
Se por um lado, não
podemos violentar a pueril natureza de nossos filhos; por outro, não devemos deixá-los
entregues à própria vontade. Em seus provérbios, exorta-nos Salomão a educar a
criança no caminho em que deve andar porque, mesmo grande, jamais apartar-se-á
dele (Pv 22.6). Isto significa que, mesmo disciplinada, uma criança jamais
deixará de ser criança... feliz, educada e bem orientada quanto ao futuro. Faça
culto domestico todos os dias. Ore com os seus filhos; leia a Bíblia com eles.
Ouça-os em seus dilemas. Admoeste-os na Palavra. Leve-os à Escola Dominical.
Procure saber quem são os seus amigos e colegas. Interrogue-os acerca de seus
lazeres.
Na casa de Deus, que
eles se portem com decência e profundo temor. Crianças, adolescentes ou jovens,
podem os nossos filhos ter uma postura reconhecidamente cristã, e nem por isso
deixarão de ser eles mesmos. Que exemplo maravilhoso viu Paulo na casa de
Filipe! Em sua viagem a Jerusalém, visitou Paulo esse antigo diácono, e ficou
impressionado pela maneira como agora evangelista dirigia o lar. Tinha este
quatro filhas virgens, e todas elas profetizavam (At 21.9). Se conseguirmos
ordenar assim o nosso lar, que maravilha não haverá de ser!
11. Governem bem suas
próprias casas
Governar a casa não é
somente trazer os filhos sob disciplina nem manter perfeita sintonia com a
esposa. É gerir os negócios do lar de tal forma que este venha a funcionar
produtiva e eficazmente. Aliás, a palavra economia tem uma etimologia bastante
interessante. Ela é formada por dois vocábulos gregos: oikos, casa, e nomos,
lei.
Se fosse necessário,
daríamos a esta palavra a seguinte definição: Conjunto das leis que regulam o
funcionamento de uma casa, com o objetivo de suprir-lhe todas as necessidades,
e equilibrar suas receitas e despesas. Talvez tivesse Paulo este vocábulo em
mente ao recomendar: “que governe (...) bem a sua casa” (1 Tm 3.12).
Em grego:
proistámenoi kai ton idíon oikon. Governar a casa implica em contemplar-lhe e
suprir-lhes todas as carências e demandas; saldar-lhe os compromissos; fazer
com que as rendas da família sejam bem empregadas. Governar bem a casa implica
em equilibrar-lhe as receitas e as despesas. Afinal, terá o diácono de, em
algumas igrejas, administrar os bens materiais destas. Se não tem ele o governo
de sua casa, como haverá de agir a casa de Deus? Se não sabe lidar com o
próprio dinheiro, como lidará com o dinheiro dos santos? Que esta pergunta seja
respondida com sinceridade por todos os diáconos.
Valdemir
P. Moreira. Manual do Diácono.
1. O Cargo de Diácono
(3.8)
Agora Paulo trata da
ordem dos diáconos e delineia as qualificações que devem caracterizá-los.
Quando se busca entender o diaconato na igreja primitiva, é comum reportar-se
ao início dessa função na congregação em Jerusalém. Lá, conforme registrado em
Atos 6.1-6, a igreja escolheu “sete varões” que deveriam “servir às mesas” para
que os apóstolos não fossem forçados a “deixar a palavra de Deus”. Esta foi
divisão clara de responsabilidades entre os apóstolos, que eram os líderes
espirituais da igreja, e os “sete varões” (em nenhum texto bíblico eles são
chamados diáconos), que eram os responsáveis em cuidar das necessidades
temporais dos crentes. Não há como comprovar que a ordem dos diáconos
encontrada nas igrejas paulinas (e.g., Fp 1.1) esteja em sequência linear desta
ação da igreja em Jerusalém. Mas pouca dúvida resta de que este precedente
estabelecido em Jerusalém exerceu tremenda influência no desenvolvimento do
diaconato mais tarde na igreja.
A função mais antiga
dos diáconos era cuidar da distribuição dos fundos de caridade da igreja. Como
ressalta B. S. Easton: “Ainda que o substantivo grego transliterado por
‘diácono’ signifique ‘servo’ ou ‘assistente’, qualquer tradução é enganosa,
porque os diáconos não eram assistentes dos administradores, mas despenseiros
das obras de caridade da igreja; eles ‘serviam’ os pobres e os doentes”. O
termo “diácono” que vigora na igreja de hoje perdeu grande parte de sua
denotação original. Em certas igrejas, o diaconato é a ordem inicial do
ministério ordenado, levando normalmente ao sacerdócio ou presbitério, ao passo
que em outras, trata-se de um cargo ocupado por crentes leigos. Mas na igreja
do século I, os diáconos mantinham lugar de dignidade e influência comparável à
dos bispos, e vemos que as qualificações que Paulo detalha para este ofício não
são menos exigentes.
2. Diáconos
Disciplinados (3.8)
Da mesma sorte os
diáconos sejam honestos, não de língua dobre, não dados a muito vinho, não
cobiçosos de torpe ganância (8). Identificamos aqui algumas expressões empregadas
pelo apóstolo quando estabeleceu o padrão para os bispos: A mesma exigência de
serem honestos, “homens de altos princípios” (NEB); o mesmo requisito de terem
temperança autodisciplinada; a mesma advertência de não se deixarem ser
corrompidos pela ganância. Mas nova nota é soada nas estipulações do apóstolo
para os diáconos não se permitirem ser de língua dobre. Kelly traduz a palavra
grega por “consistente com o que dizem”, e observa que esta expressão passou a
“significar ‘não mexeriqueiro’, sendo referência às oportunidades de conversa
fiada que os diáconos tinham em seu trabalho pastoral de casa em casa. Uma
tradução literal seria ‘não usuários de frases de duplo sentido’, abrindo a
probabilidade de que o verdadeiro sentido é ‘não dizer uma coisa enquanto se
pensa em outra’ ou (mais provavelmente) ‘não dizer uma coisa a uma pessoa e uma
coisa diferente à seguinte”’.
Todos conhecemos o
mal da “fofoca”, que tem a fácil propensão de se tornar boato maldoso. Em sua
forma mais extrema, torna-se o ato ignóbil conhecido por difamação. Ninguém que
se considera seguidor de Cristo se entregaria conscientemente à conduta que
ocasionasse essa consequência. O tipo incoerente de fofoca que leva a tais
resultados horríveis parece inofensivo e até agradável. Mas Paulo vê as coisas
como elas são, e nos avisa solenemente acerca disso. Não fica bem os crentes,
sem falar os crentes líderes, condescenderem com este passatempo “inocente”,
mas mortal.
3. Homens de
Integridade Espiritual (3.9)
A seguir, como
qualificação para o cargo de diácono, o apóstolo estipula um quesito que não
consta em suas exigências aos bispos: Guardando o mistério da fé em uma pura
consciência (9). Em prol da imparcialidade, devemos destacar que em Tito 1.9 o
apóstolo inclui nas qualificações aos bispos ou pastores uma especificação bem
parecida com esta estipulada aos diáconos na passagem sob estudo. O que
significa mistério da fé? “Mistério”, segundo Guthrie, “é uma expressão paulina
que conota não o que está fora do conhecimento, mas o que, estando outrora
escondido, agora é revelado às pessoas de discernimento espiritual.”8 Mais
adiante, neste mesmo capítulo, o apóstolo faz um resumo mais interessante
acerca do “mistério da piedade” (ver comentários no v. 16). Este é o âmago do
ensino cristão, fora do qual não há como haver fé cristã distintiva. Os homens
que ocupam o cargo de diácono têm de guardar a fé em uma pura consciência. Isto
significa com sinceridade absoluta e sem reservas mentais.
4. Homens de Valor
Comprovado (3.10)
O versículo 10 amplia
a tendência paulina de entender que os candidatos ao cargo de diácono devem
passar por escrutínio mais rigoroso que os bispos: E também estes sejam
primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis (10). Hoje em dia,
poderíamos tratar como algo muito importante os discrepantes graus de rigor
impostos nos candidatos para estes ofícios na igreja primitiva. De fato, as
funções de ambas as categorias, seja bispado ou diaconato, estão incorporadas
na obra do ministério para a igreja de hoje. Tudo que Paulo diz a esse
respeito, quer dirigido a bispos ou a diáconos, está dizendo a todo aquele que
se sente conduzido pelo Espírito para a obra do ministério. Hoje reconhecemos a
necessidade de provar por testes práticos os homens que são candidatos à ordenação.
Insistimos na maturidade espiritual e em qualificações educacionais; mas também
insistimos que o homem deva ter exercido, com certa medida promissora de
sucesso, alguma fase prática do ofício ministerial. E nenhum candidato deve
receber a ordenação da igreja caso não seja, na palavra do apóstolo,
irrepreensível.
J.
Glenn Gould. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 9. pag. 472-474.
I Tm 3. 8-10. Lemos
aqui acerca do caráter dos diáconos: esses eram os responsáveis pelos
interesses temporais da igreja, isto é, a manutenção dos ministros e a provisão
pelos pobres. Eles serviam às mesas, enquanto os ministros ou bispos se
dedicavam somente ao ministério da palavra e da oração (At 6.2,4). Atos 6.1-7
relata a instituição desse ofício e o motivo que o ocasionou. Um requisito necessário
para ser diácono era ter bom caráter, porque auxiliavam os ministros, apareciam
e agiam publicamente, e carregavam uma grande responsabilidade em seu serviço.
Eles deveriam ser honestos (modestos, sóbrios). Sobriedade é dever de todo
cristão, mas, especialmente daqueles que têm algum ofício na igreja. Não de
língua dobre, ou seja, dizer uma coisa para uma pessoa e uma coisa diferente
para outra, de acordo com os interesses do momento: uma língua dobre surge de
um coração dobre. Bajuladores e difamadores têm uma língua dobre. Não dados a
muito vinho, porque isso gera um descrédito muito grande para qualquer homem,
especialmente para um cristão, ainda mais quando ocupa um ministério. Essa
pessoa acaba se desqualificando para o serviço e abre a porta para muitas
tentações. Não cobiçosos de torpe ganância.
Isso seria
especialmente mau para os diáconos, que tinham a responsabilidade de cuidar do
dinheiro da igreja, e, se fossem avarentos e cobiçosos de torpe ganância, seriam
tentados a apropriar-se fraudulentamente do dinheiro que deveria ser destinado
para o serviço público. Guardando o mistério da fé em uma pura consciência (v.
9). Observe: O mistério da fé é mais bem mantido em uma consciência pura. O
amor prático da verdade é o conservante mais poderoso contra o erro e a ilusão.
Se mantivermos uma consciência pura (cuidado com tudo aquilo que corrompe a
consciência e nos afasta de Deus), preservaremos o mistério da fé em nossa
alma. Também estes sejam primeiro provados (v 10). Não é saudável que os bens
públicos sejam depositados nas mãos de qualquer pessoa, sem primeiro ser provada,
e encontrada apta para o serviço que deve realizar.
A integridade de seus
julgamentos, o zelo por Cristo e a irrepreensibilidade da sua conversão devem ser
provados. Suas esposas, semelhantemente, devem ter um bom caráter (v. 11); elas
devem ser respeitáveis, não maldizentes, não mexeriqueiras, não devem contar histórias
injuriosas nem semear discórdia. Elas devem ser, sim, sóbrias e fiéis em tudo.
Não dadas a nenhum tipo de excesso, mas leais em tudo que lhes é confiado.
Todos que estão
envolvidos em algum ministério devem dobrar seu cuidado para caminhar de
maneira digna em relação ao evangelho de Cristo. Assim, não caminharão de
maneira desordenada, nem mancharão o ministério.
O que o apóstolo já
havia dito a respeito dos bispos ou ministros, repete aos diáconos, ou seja: o
diácono deve ter somente uma esposa. Ele não pode ter se separado de sua esposa,
por desafeição, e se casado com outra. Os diáconos devem governar bem seus
filhos e suas próprias casas. As famílias dos diáconos deveriam ser exemplos às
outras famílias. E o motivo para essa qualificação (v. 13) é que, embora o
ofício de um diácono fosse de uma hierarquia inferior, ele poderia ser um passo
para um grau maior e, esses que serviram mesas com propriedade, poderiam mais
tarde servir na pregação da palavra e na oração. Talvez o apóstolo também
esteja se referindo à boa reputação que esse diácono receberia pela sua
fidelidade nesse ministério: eles adquirirão para si uma boa posição e muita
confiança na fé que há em Cristo Jesus. Observe: 1. Na Igreja Primitiva havia
somente duas ordens de ministros ou oficiais: bispos e diáconos (Fp 1.1). Os
períodos subsequentes inventaram o resto. O ofício do bispo, do presbítero, do
pastor, ou do ministro se restringia à oração e ao ministério da palavra; e o
ofício do diácono se limitava basicamente a servir às mesas. Clemente Romano,
em sua epístola aos cristãos (cap. 42; 44), fala muito detalhadamente e
claramente a esse respeito, de que os apóstolos, advertidos pelo nosso Senhor
Jesus Cristo, sabiam que surgiria na Igreja cristã uma controvérsia acerca do
episcopado, por isso nomearam as ordens supracitadas, bispos e diáconos. 2. O
trabalho principal dos diáconos, de acordo com as Escrituras, era servir às
mesas e não pregar e batizar. E verdade, no entanto, que Filipe pregou e
batizou em Samaria (At 8), mas lemos que ele era um evangelista (At 21.8), e
ele pode ter pregado e batizado, e realizado qualquer outra parte do ofício
ministerial, debaixo dessa condição; ainda assim, o ofício de diácono visava
cuidar dos interesses temporais da Igreja, como os salários dos ministros e
prover para os pobres. 3. Diversas qualificações eram muito necessárias, mesmo
para esses cargos inferiores: Os diáconos sejam honestos (“respeitáveis”,
versão RA) etc. 4. Algumas provas eram necessárias quanto às qualificações das
pessoas antes de serem admitidas num cargo da igreja, ou, antes de terem sua
confiança provada: E também estes sejam primeiro provados.
5. A integridade e a
retidão em um ofício inferior são o caminho para se alcançar uma posição mais
elevada na igreja: Os diáconos adquirirão para si uma boa posição. 6. Isso
também resultará em grande ousadia na fé, enquanto a falta de integridade e
retidão tornará uma pessoa tímida e pronta a tremer diante da própria sombra.
Fogem os ímpios, sem que ninguém os persiga; mas qualquer justo está confiado
como o filho do leão (Pv 28.1).
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 692.
I Tm 3.8 Qual é a
relação entre diáconos e presidentes? Alguns comentaristas atribuem aos
diáconos uma posição subordinada. Preliminarmente está claro que na verdade
ambos os serviços são pressupostos, mas que a relação entre eles não é
regulamentada. Não se fala de uma subordinação hierárquica dos diáconos a um
“bispo”, nem se pode falar disso quando se leva em conta as declarações do NT
sobre a diaconia. Em Rm 12.6ss Paulo cita, imediatamente depois da profecia, a
diaconia (prestação de serviço) e, entre os dons da graça, menciona-a até mesmo
antes do dom de ensinar.
Enquanto o mundo
grego e judaico tinha do “ministério” a concepção de dominação, Jesus mostrou
por meio de sua vida e morte que não veio para que fosse servido, mas para
servir. O cristianismo primitivo reconheceu a realidade nova e incomparável que
tivera início em Jesus. Ao falar de diaconia, introduziu um termo numa acepção
desconhecida tanto entre os judeus como entre os gregos. A diaconia não designa
simplesmente a assistência a pobres e doentes, como se acredita poder deduzir
de At 6.1. Os sete diáconos não são “servidores da igreja”, mas dirigentes da
igreja dos judeus cristãos helenistas em Jerusalém. Os “diáconos” eram
evangelistas, realizavam batismos. A atividade informada sobre Estêvão não combina
com a ideia que projetamos de um diácono como “servidor da igreja”. Conforme
precisamos depreender das tensões, uma parcela excessivamente grande da
liderança da igreja estava nas mãos de judeus cristãos palestinos. Visto que
cada vez mais judeus de Roma e da Ásia Menor (residentes em Jerusalém) se
tornavam cristãos, havia necessidade de ter também judeus cristãos helenistas
como co-responsáveis na direção.
A influência de
Estêvão era tão grande na opinião pública, e sua defesa do evangelho no poder
do Espírito Santo era tão convincente, que os oponentes precisaram eliminá-lo.
Será que Estêvão havia negligenciado seu serviço às mesas de cuidado das
viúvas, para se tornar um evangelista – ou será que havia sido chamado, como
dirigente corresponsável da igreja, a fim de zelar para que o alimento corporal
e espiritual fosse distribuído?
Uma coisa é certa: o
“diácono” Estêvão se tornou a primeira testemunha de sangue (mártir) mencionada
no NT.
As premissas para a
incumbência do diácono não são “inferiores” do que para o presidente; pelo
contrário, pode-se reconhecer uma ênfase maior nas “aptidões” espirituais.
Digno: o termo ocorre
ainda em Fp 4.8, onde a palavra igualmente aparece no âmbito de uma lista de
virtudes. Em 1Tm 2.2 a honradez é combinada com a devoção; “honrado”, “digno”
designa predominantemente o comportamento dirigido a Deus, enquanto
“irrepreensível” (1Tm 3.2) se refere mais ao julgamento do mundo.
Não de língua dobre
pode ter tanto o sentido de “não caluniador” (v. 11) como de “insubornável”,
“puro”. Não se deve nem pode dizer a todos tudo o que se pensa, mas também não
se deve dizer nada que seja diferente do que se pensa.
Não entregues
desmedidamente ao vinho: a abstinência total não é exigida nem do diácono nem
do presidente. A tentativa radical de rejeitar ou reprimir qualquer prazer não
é suficiente para levar à libertação do prazer excessivo viciado. Uma proibição
do álcool até mesmo viria ao encontro das tendências ascéticas de auto-redenção
dos hereges, com os quais o próprio Timóteo se defrontava.
Não visando o lucro
injusto: Tanto o presidente como também o diácono precisam administrar dinheiro
e bens. Embora Timóteo seja um bom diácono – serviu com Paulo ao evangelho e
não buscou o interesse próprio – também ele precisa da repetida exortação de
fugir da ganância. Pode alegar que está servindo a outros, tentando enriquecer
às custas deles, seja em bens materiais, seja em aumento de poder.
I Tm 3.9 Que guardam
o mistério da fé em uma consciência pura.
O mistério
(mysterion) da fé ou da devoção (1Tm 3.16) pode ser equiparado com o mistério
de Cristo ou mistério do evangelho. Ao contrário dos cultos de mistérios do
mundo helenista, o mistério de Cristo não deve permanecer oculto da maioria e
reservado a apenas poucos iniciados – deve ser anunciado a todos. Verdade é que
a razão humana não consegue sondar o mistério de Deus, mas o próprio Espírito
de Deus precisa revelá-lo ao espírito humano. Consequentemente o mistério de
Cristo só pode ser proclamado e captado no poder do Espírito Santo e preservado
unicamente em uma consciência pura. A consciência pura não é simplesmente uma
“consciência limpa” no sentido superficial burguês. Somente por meio do feito
reconciliador do Crucificado a consciência pode ser purificada das obras mortas.
Nos cultos e ceias da igreja os homens devem elevar mãos santas para a oração
(1Tm 2.8) e os diáconos servir a Deus de consciência pura.
I Tm 3.10 Também eles
devem primeiramente ser examinados e somente depois admitidos ao serviço, se
forem irrepreensíveis.
Paulo examina (o
mesmo verbo do v. 10) a igreja em Corinto para ver se seu amor é genuíno. Ele
exorta os cristãos que vêm à ceia do Senhor a que primeiro examinem a si
mesmos, e por fim lhes diz: “Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé”. O
exame dos diáconos deve ser interpretado menos como exame ou tempo probatório
antes da contratação definitiva, e mais no sentido corrente em Paulo, de uma
aprovação geral. É para isso que aponta a locução: “também eles”, ou seja, como
os presidentes, devem gozar de um bom testemunho dentro e fora da igreja. Não
temos nenhuma in-formação mais exata sobre como o exame pode ter acontecido.
Decisivo é que a aprovação em si é considerara indispensável para todos
(congregação, presidentes, diáconos). A fé precisa ser provada e purificada. O
sentido da tentação não consiste em que o ser humano seja seduzido para o
pecado, mas em que na tentação seja provado e aprovado pela perseverança. Todos
se defrontam com o próprio Deus, que conhece e examina os corações de todos, e
que por isso se dá a entender a quem ele chamou e para que.
Hans
Bürki. Comentário Esperança Cartas aos I Timóteo.
Editora
Evangélica Esperança.
2. A função dos
diáconos em Atos 6.
Mostra-nos a historia
do Cristianismo não terem sido poucos os diáconos que se destacaram nas lides e
amanhos eclesiásticos. Não descure o diácono, portanto, de suas
responsabilidades. Se antes os seus deveres circunscreviam-se à congregação,
suas obrigações, agora, vão mais além. Manter-se-á ele atento, desde já as
necessidades de seu pastor, às exigências do ministério e aos reclamos do credo
e dos estatutos de sua igreja e denominação.
I. RESPONSABILIDADES
DO DIÁCONO EM RELAÇÃO AO SEU PASTOR
É o diácono o
auxiliar mais direto de que dispõe o pastor. Ou pelo menos deveria sê-lo. Na
Igreja Primitiva, foram os diáconos constituídos justamente para que os
apóstolos se mantivessem efeitos aos ofícios de seu ministério: a oração e a
palavra. Disso ciente, estará o diácono sempre vigilante quanto aos reclamos de
seu pastor. Jamais permitirá venha este a negligenciar o espiritual a fim de
envolver-se com o material. Pois quem deve lidar com o material é o diácono;
pelo espiritual consumir-se-á o pastor. Como seria lamentável se viesse o
pastor a deixar de lado o sermão de domingo por causa da bancada do templo que
não foi alinhada, ou porque os elementos de Santa Ceia não foram ainda
preparados! Que os diáconos se encarreguem dessas providências. E, que no momento
da adoração, esteja o santuário devidamente arrumado. Infelizmente, estão os
diáconos tão absolvidos em pregar, acham-se tão entretidos em disputar os
primeiros lugares, que acabam por se esquecer de seu pastor. Não estou
insinuando deva o diácono privar-se do púlpito. Se houver oportunidade,
aproveite-a. Eu também fui diácono, e jamais deixei de ocupar a sagrada
tribuna. Pregava e ministrava estudos bíblicos. Escola Dominical. Todavia, não
me lembro de haver descurado uma vez sequer de minhas responsabilidades. Felipe
e Estevão eram doutores a serviço dos santos. Diácono seja cuidadoso com o seu
pastor. Propicie-lhe as necessárias condições a fim de que possa ele dedicar-se
às lides: orar pelo rebanho e alimentar os santos com a Palavra de Deus. Por
que abandoná-lo às preocupações materiais do redil? Você foi separado para
auxiliá-lo a conduzir o rebanho de Deus através dos campos sempre verdejantes.
Pode haver trabalho mais glorioso?
II. RESPONSABILIDADE
DO DIÁCONO EM RELAÇÃO AO MINISTÉRIO
Você já pertence ao
ministério eclesiástico. Esteja, pois, em perfeita sintonia com os integrantes
deste. Veja-os como companheiros de luta. Jamais intente uma carreira solo. Os
obreiros de Deus somos vistos sempre em equipe. São os setenta que saem de dois
em dois; os doze que se afainam e repousam ao lado do Senhor; os cento e vinte
que, em perseverante oração, aguardam, no cenáculo, o pentecostes. E o que
dizer de Paulo?
Embora o maior
missionário, jamais deixou de ter os seus assistentes. Lendo-lhe as cartas,
deparamo-nos de contínuo com os integrantes de sua operosa equipe. Os que se
isolam, diz Salomão, estão a rebuscar os próprios interesses. Participe das
reuniões de ministério. Inteire-se dos assuntos tratados. Com humildade e
sempre reconhecendo o seu lugar, opine, sugira, ofereça subsídios. Seja amigo
de todos; de cada um em particular, um cooperador sempre querido. Não se
ausente. Cultive aquele companheirismo tão próprio dos cristãos primitivos.
Esteja atento às orientações de seu pastor. Agindo assim, você se surpreenderá
com êxitos de seu ministério. Isolado, ninguém poderá crescer; em equipe, todo
avanço é possível.
Valdemir
P. Moreira. Manual do Diácono.
DIACONOS ORIGINAIS
Por que Me diáconos?
Por que foi escolhido tal número de diáconos? As seguintes sugestões tem sido apresentadas
como explicação desse fato: 1. Por ser esse o número dos dons do Espirito Santo
(ver Isa, 11:2 e Apo. 1:4).
2. Porque sete talvez
fosse a representação equitativa dos diversos grupos de que se compunha a comunidade
cristã, isto é. três representantes do grupo hebraico, três representantes do
grupo helenista e um representante dos prosélitos. Contudo, essa explicação não
justifica o número «sete». porque a representação poderia ser feita de outro
modo, em que se chegasse a um total bem diferente.
3. Alguns têm suposto
que tal número foi regulado pela circunstância de que a cidade de Jerusalém, naquela
época, estava dividida em sete distritos. Porém, acerca disso não há qualquer
evidência comprobatória.
4. Talvez esse número
tenha sido escolhido por ser considerado um número sagrado segundo o pensamento
dos hebreus, jamais esteve sujeito a alterações, em face mesmo das condições
exigidas para tal oficio, que era as de terem visto ao Senhor Jesus ressurreto
e de terem lido pessoalmente nomeados por ele. Uma prova disso que as
qualificações para qualquer oficial eclesiástico subordinado eram praticamente
idênticas, como também muitas de suas funções eram parecidas, pois quase tudo
quanto uns podiam fazer, os outros também podiam.
«Posto que Paulo
considerava a igreja Cristo como o verdadeiro 'Israel de Deus', é
perfeitamente' natural que ele tenha planejado a organização embrionia das igrejas
cristãs segundo as normas da concreção judaica, caso em que os anciãos da
igreja podem ser comparados, em termos latos, com os 'lideres' das sinagogas
judaicas. A palavra ancião é comumente utilizada para descrever a terceira
seção dos conciliadores, os quais, juntamente com os sumos sacerdotes e com os
escribas, compunham o sinédrio, e, de conformidade com o parecer de algumas
autoridades sobre o assunto, eram os membros ni04egais desse concl1io.
Finalmente, a mesma palavra parece ter sido usada, na Ásia Menor, como titulo
dos chefes de diversas corporações, ao passo que, no Egito, era usada para indicar
tanto oficiais religiosos como civis.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 2. Editora Hagnos. pag.135.
3. A função dos
diáconos hoje.
A ÉTICA DIACONAL
Olinto era um velho
diácono de minha primeira igreja. Homem alto, forte, barrigudo. De minha quase
segunda infância, cuidava eu tratar-se de um gigante. O velho Olinto não
falava; trovejava.
Sua voz parecia
percorrer não somente o templo, como os campos todos de São Bernardo, aquela
outrora pacata e graciosa cidade paulista. Não preciso dizer que os meus amigos
e eu não gostávamos dele. Pois estava constantemente a surpreender-nos em
peralvilhices. Ele chegava ao absurdo de não permitir que ficássemos correndo
pelo templo, nem que fossemos à rua . Onde já viu tal coisa? Quantos ralhos não
levei do velho Olinto! E a carranca daquele italiano? E o seu sotaque
carregado? Aquelas palavras que não entendíamos.
Aquelas frases – meio
toscanas, meio portuguesas – soavam como se fossem broncas, ecoavam corretivas
e disciplinadoras. Francamente, as crianças não gostávamos do velho Olinto. Mas
ali, na lateral esquerda daquele templo querido e sempre benfazejo, onde
presenciei, ainda em minha peraltice, tantas manifestações da glória de Deus,
achava-se um diácono ético e santo. Um homem que gozava da inteira confiança de
seu pastor. Um dia o Senhor Jesus achou por bem recolher o velho Olinto. Ele
foi-se embora! Mas a sua imagem, guardo-a no coração. Hoje, fosse escrever-lhe
o epitáfio, escolheria esta inscrição: “Aqui jaz um diácono que soube ser
ético”. O velho Olinto sabia que, além das qualificações que a Palavra de Deus
demanda de cada candidato ao diaconato, todos precisam observar um código de
ética. Sem ética, nenhum ministério cristão é possível.
I. O QUE É A ÉTICA
DIACONAL
Antes de entrarmos a
ver o que é a ética diaconal, é necessário que busquemos uma definição de
ética.
1. O que é ética
Numa primeira
instancia, podemos dizer que a ética é o: “Estudo sistemático dos deveres e
obrigações do individuo, da sociedade e do governo. Seu objetivo: estabelecer o
que é certo e o que é errado. Ela tem como fonte a consciência, o direito
natural, a tradição e as legislações escritas; mas, acima de tudo, o que Deus
estabeleceu em Sua Palavra – a Ética das éticas. A essência da ética acha-se
registrada nos Dez Mandamentos – a única legislação capaz de substituir a todas
as legislações humanas”. Dicionário Teológico, Edições CPAD.
2. O que é a ética
diaconal
Ética diaconal, por
conseguinte, é a norma de conduta que o diácono deve observar no desempenho de
seu ministério. Através desse código de procedimento, terá ele condições de
discernir entre o que é certo e o que é errado. Para que jamais venha a ferir
as normas de conduta de seu ministério, é imprescindível tenha ele sempre
consigo as fontes da ética diaconal.
II. FONTES DA ÉTICA
DIACONAL
Do que já vimos até
ao presente instante, não nos é difícil inferir quais as fontes da ética
diaconal. São estas a Bíblia, os regulamentos da igreja local e a consciência
do próprio diácono.
1. A Bíblia
Os evangélicos temos
a Bíblia como a infalível e inspirada Palavra de Deus. É a nossa inapelável
regra de norma e conduta. Quais quer estatutos ou regulamento eclesiásticos têm
de emanar da Bíblia, e não pode, sob hipótese alguma, contrariar a esta.
O diácono, portanto,
orientar-se-á espiritual e eticamente através da Bíblia. Quanto ao seu cargo
especifico, terá em conta as seguintes passagens: Atos 6.1-6; 1 Timóteo 3.8-13.
Leia sempre esses textos; tenha-os em mente; inscreva-os na tábua do seu
coração. Agindo assim, jamais tropeçará.
2. Regulamento da
igreja local
Além das Sagradas
Escrituras, estará o diácono atento aos regulamentos, estatutos e convenções da
igreja local. É claro que, conforme já dissemos, têm de estar estes em perfeita
consonância com a Palavra de Deus. Esteja atento, pois, às particulares
culturais e estatutárias de sua igreja. Aja de conformidade com estas; não as
despreze nem as fira. Se não contrariam a Palavra de Deus, por que não
observá-las? Lembre-se: é melhor obedecer do que sacrificar. Tenha a necessária
sabedoria para não ferir as convenções locais. Quem no-lo recomenda é a lei do
amor.
3. A consciência do
próprio diácono
É a consciência
aquela voz secreta que temos na alma que, de conformidade com os nossos atos,
aprova-nos ou reprova-nos.
O apóstolo Paulo dá
como válido o testemunho da consciência: “Pois não são justos diante de Deus os
que só ouvem a lei; mas serão justificados os que praticam a lei (porque,
quando os gentios, que não têm lei, fazem por natureza as coisas da lei, eles,
embora não tendo lei, para si mesmo são lei, pois mostram a obra da lei escrita
em seus corações, testificando juntamente a sua consciência e os seus
pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os)” (Rm 2.13-15). Por
conseguinte, mantenha sempre a consciência em absoluta consonância com a
Palavra De Deus. Não a deixe cauterizar-se. Permita que o Espírito Santo
domine-a por completo. E, todas às vezes que, quer em sua vida particular, quer
no exercício do ministério, sentir que ela o acusa, dobre os joelhos, e ore
como o rei Davi: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e
conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho perverso, e guia-me
pelo caminho eterno”(Sl 139.23,24). O Senhor, então, mostrar-lhe-á como agir e
corrigir-se se for necessário. Lembre-se: a sua consciência, posto que
necessária, não é autoridade última de sua vida. Ela somente será valida se
estiver em conformidade com os reclamos e demandas da Palavra de Deus.
Já que sabemos quais
as fontes da ética diaconal, vejamos a seguir quais os principais
direcionamentos éticos que deve o diácono observar no exercício de seu
ministério.
III. SÍNTESE DA
CONDUTA ÉTICA DO DIÁCONO
Por conduta ética do
diácono, entendemos o seu irrepreensível proceder de conformidade com a Palavra
de Deus, conforme os regulamentos, estatutos e visão cultural da igreja em que
ele estiver lotado, e segundo o testemunho de sua consciência que, em hipótese
alguma, pode contrariar as Sagradas Escrituras. Em linhas gerais, estes são os
procedimentos éticos que deve o diácono observar no exercício de seu
ministério.
1. Quanto ao seu
oficio
Conscientize-se de
que foi separado para servir a mesa de Cristo, a mesa da igreja de Cristo e a
mesa do anjo da igreja de Cristo. Portanto, exerça o seu ministério de acordo
com a ordenança que lhe confiou o Senhor Jesus. O seu principal mister é servir
e não pregar. Ainda que você pregue melhor que seu pastor, não se prevaleça disso.
Dê-lhe todo o suporte a fim de que ele se dedique à oração e a exposição da
Palavra.
Caso tenha você outra
chamada especifica, não se exaspere; no devido tempo ela acontecerá. Até lá,
cumpra rigorosamente o seu diaconato. Se houver oportunidade para pregar,
pregue. Mas não se esqueça, por enquanto, sua obrigação é servir à mesa. Não se
ausente para pregar; esteja presente para servir.
2. Quanto à sua
lealdade
Lembre-se: é você,
como diácono, o melhor amigo de seu pastor. Portanto, não se junte aos revoltosos
nem faça oposição ao anjo da igreja. Antes, ore por ele, sirva-o amorosa e
sacrificialmente.
Se o seu pastor
equivocar-se em alguma coisa, converse com ele, mostrando-lhe, humildemente,
porque acha você estar ele errado. Não se esqueça de que ele pode estar certo.
Por isso, saiba com falar-lhe. E que ninguém mais saiba do teor dessa conversa.
3. Quanto às críticas
Não critique o seu
pastor nem os membros de seu ministério. Quando alguém o fizer, desestimule-o.
Mostre aos críticos acérrimos e pertinazes que, ao invés das críticas,
ocupem-se em orar pelo anjo da igreja e pela expansão do Reino de Deus.
4. Quanto à
ministração particular da Ceia
Se designado a levar
a Ceia para alguém do sexo feminino, no domicilio deste, faça-se acompanhar de
sua esposa ou de outra pessoa. Jamais entre na casa de um membro da igreja a
menos que lá esteja o pai de família. Seja prudente e vigilante. Fuja sempre da
aparência do mal. Não brinque com o pecado.
5. Quanto ao dinheiro
O ideal é que todos
os dízimos e ofertas sejam entregues na casa do tesouro. Se alguém quiser
entregar-lhe o dízimo, ou a oferta, peça-lhe gentilmente que o faça na
tesouraria da igreja. Se for imprescindível que receba a oferta e o dízimo,
leve-os imediatamente a igreja. Não os esqueça consigo nem tome-os emprestados.
O dinheiro não é seu; pertence a Jesus.
6. Quanto à discrição
A discrição é uma das
qualidades essenciais para o exercício do diaconato. É a qualidade de quem é
prudente, sensato e que sabe guardar segredo. O homem discreto é alguém em quem
se pode confiar. No exercício do diaconato, você certamente presenciará muitos
casos graves e comprometedores. Se você não for prudente, poderá arruinar
preciosas vidas e reputações que vêm sendo construídas há décadas. Portanto,
saiba controlar a própria língua.
Em casos graves,
procure diretamente o seu pastor. Não vá sair por aí segredando, pois o segredo
quando compartilhando com pessoas erradas deixa de ser segredo para tornar-se
notícia. Leia o Livro de Provérbios diariamente, e certifique-se de quão
valiosa é a discrição.
7. Quanto às
arbitrariedades
Exerça o seu
ministério no poder do Espírito Santo. Deixe de lado as ameaças e
arbitrariedades. Você não precisa lembrar a ninguém de que é diácono, mas todos
precisam saber que você é, de fato, um homem de Deus.
8. Quanto à
pontualidade
Chegue no horário do
culto; não se apresse a sair. O seu pastor está sempre a precisa de sua ajuda.
9. Quanto à obediência
Não discuta as ordens
do seu pastor. Se não estiver de acordo com elas, indague sobre as razões
destas. Se não puder cumpri-las, justifique-se. Mas não saia resmungando nem
murmurando.
Lembre-se: é melhor
obedecer do que sacrificar.
10. Quanto ao amor
Se você exercer o seu
ministério com amor, estará cumprindo a Lei, os Profetas e todo o Novo
Testamento. E será, em todas as coisas, bíblica e eticamente correto. Portanto,
não se esqueça da Palavra de Deus. Tem-na bem junto de si!
Conclusão
À semelhança do velho
Olinto, pode você exercer um diaconato irrepreensível. Aja, portanto, de acordo
com a Palavra de Deus. Observe as normas de sua igreja, e jamais desdenhe da
visão cultural desta. Prime pela ética. Não deixe que nada venha a macular o
seu ministério. Não basta ser eficiente; é necessário que ajamos de
conformidade com a Palavra de Deus.
Valdemir
P. Moreira. Manual do Diácono.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva
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