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13° LIÇÃO 2 TRIMESTRE 2014 A MULTIFORME SABEDORIA DE DEUS


A MULTIFORME SABEDORIA DE DEUS
Data: 29 de Junho de 2014                     HINOS SUGERIDOS 10, 330, 440.
TEXTO ÁUREO
“Para que, agora, peia igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef 3.10).

VERDADE PRATICA
A multiforme sabedoria de Deus vai além da compreensão humana e é demonstrada ao mundo pela Igreja de Cristo.
LEITURA DIÁRIA
Segunda       - Pv 2.6                     Deus dá sabedoria
Terça             - Pv 9-10                   O princípio da sabedoria
Quarta           - Rm 11.33               A insondável sabedoria divina
Quinta            - Rm 11.34-36         Quem compreendeu o intento divino
Sexta             - 1 Co 1.24               Cristo, a Sabedoria de Deus
Sábado         - Ef1. 17                   O espírito de sabedoria e revelação
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Efésios 3.8-10; 1 Pedro 4.7-10
Efésios 3
8 - A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo
9 - e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que, desde os séculos, esteve oculto em Deus, que tudo criou;
10 - para que, agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus,
1 Pedro 4
7 - £ já está próximo o fim de todas as coisas; portanto, sede sóbrios e vigiai em oração.
8 - Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros, porque o amor cobrirá a multidão de pecados,
9 - sendo hospitaleiros uns para os outros, sem murmurações.
10 - Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.
INTERAÇÃO
Uma das coisas mais maravilhosas quando estudamos a teologia da Santíssima Trindade é identificar como o Pai, o Filho e o Espírito Santo estão em pleno relacionamento numa unidade perfeita. É isto mesmo! A Santíssima Trindade mostra-nos uma perfeita unidade. Portanto, não poderíamos esperar outra forma de Deus agir pela Igreja, se não pela expressão da sua multiforme sabedoria em trabalhar no mundo através do Corpo de Cristo. Para isso, Deus disponibilizou ao seu povo dons de revelação, dons de poder, dons de expressão e dons ministeriais. Que o Senhor nos use como instrumentos em suas mãos.
OBJETIVOS
Após a aula, o aluno deverá estar apto a;
Conhecer o caráter diverso dos dons espirituais e ministeriais.
Estudar as qualidades dos bons despenseiros dos mistérios divinos.
Correlacionar os dons espirituais com o fruto do Espírito.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Professor, para introduzir a última lição do trimestre reproduza na lousa o esquema da página seguinte. Em seguida, faça uma revisão dos assuntos tratados ao longo do trimestre. Cite e comente cada dom estudado. O propósito desta revisão é para que fique claro ao aluno o caráter múltiplo de Deus em lidar com a sua amada Igreja. Por isso, podemos perceber através dos estudos dos dons a multiforme sabedoria do Pai sobre o seu povo. Boa aula!
PALAVRA-CHAVE
Multiforme: Várias formas; diversas maneiras; numerosos estados.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
O Altíssimo revelou para a Igreja um mistério oculto desde a fundação do mundo. Pelo Espírito Santo, o Senhor trouxe luz para o seu povo usando os “seus santos apóstolos e profetas” para mostrar que esse mistério é Cristo em nós, a esperança da glória. Era a multiforme sabedoria do Pai manifestando-se para pessoas simples como eu e você.
I - OS DONS ESPIRITUAIS E MINISTERIAIS
1. São diversos. Na passagem bíblica de 1 Coríntios 1 2.8-10 são mencionados nove dons do Espírito Santo. Há outros dons espirituais noutras passagens da Bíblia já mencionados em lições anteriores deste trimestre, como Romanos 12,6-8; 1 Coríntios 12.28-30; 1 Pedro 4.10,11 e Hebreus 2.4. São dons na esfera congregacional. Em Efésios 4.7-11 e 2 Timóteo 1.6 vemos dons espirituais na esfera ministerial da igreja.
2. São amplos. A sabedoria de Deus é multiforme e plural. É manifesta em seus dons espirituais e ministeriais nas mais variadas comunidades cristãs espalhadas pelo mundo.
3. Dádivas do Pai. Outras excelentes dádivas de Deus dispensadas à sua Igreja para comunicar o Evangelho a todos, são:
a) 4 dádiva do amor. A grande manifestação de amor do Altíssimo para com a humanidade foi enviar o seu Filho Amado para salvar o mundo Oo 3.16). Este amor dispensado por Deus desafia-nos a que amemos aos nossos inimigos e ao próximo, isto é, qualquer ser humano carente da graça do Pai (Jo 1.14).
b) A dádiva da filiação divina. Deus torna um filho das trevas em filho de Deus Oo 1.12; 1 Pe 2.9). É a graça do Pai indo ao encontro da pessoa, tornando-a membro da família de Deus (Ef 2.19).
c) O ministério da reconciliação. O apóstolo Paulo explica o milagre da salvação como resultado do “ministério da reconciliação” (2 Co 5.19). Todo ser humano pode ter a esperança de salvação eterna, mas de salvação agora também. Quem está em Cristo é uma nova criatura e o resultado disto é que Deus faz tudo novo em sua vida (2 Co 5.17).
SINOPSE DO TÓPICO (1)
Os dons espirituais e ministeriais são diversos e amplos.
II - BONS DESPENSEIROS DOS MISTÉRIOS DIVINOS
1. Com sobriedade e vigilância. O despenseiro deve administrar a igreja locai, retirando da “despensa divina” o melhor alimento para o rebanho. Paulo destaca a sobriedade e a vigilância do candidato ao episcopado como habilidades indispensáveis ao exercício do ministério (1 Tm 3.2). Por isso, o apóstolo recomenda ao obreiro não ser dado ao vinho, pois bebida traz confusão, contenda e dissolução (1 Tm 3.2 cf. Ef 5.1 8). O fiel despenseiro é o oposto disso. Nunca perde a sobriedade e a vigilância em relação ao exercício do ministério dado por Deus.
2. Amor e hospitalidade. Os despenseiros de Cristo têm um “ardente amor uns para com os outros, porque o amor cobrirá a multidão de pecados” (1 Pe 4.8). Mediante a graça de Deus, o obreiro pode demonstrar sabedoria e amor no trato com as pessoas. Amar sem esperar receber coisa alguma é parte do chamado de Deus para os relacionamentos (1 Jo 3.16). Esta atitude é a verdadeira identidade daqueles que se denominam discípulos do Senhor Jesus (Jo 1 3.34,35). Aqui, também entra o caráter hospitaleiro do obreiro, recomendado pelo apóstolo Pedro (1 Pe 4.9). Isso se torna possível para quem ama incondicionalmente, pois a hospitalidade é acolhimento, bom trato com todas as pessoas — crentes ou não, pobres ou ricas, cultas ou não etc. Este é o apeio que o escritor aos Hebreus faz a todos os crentes (Hb 1 3.2,3).
3. O despenseiro deve administrar com fidelidade. A graça derramada sobre os despenseiros de Cristo tem de ser administrada por eles com zelo e fidelidade. A Palavra de Deus nos adverte: “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pe 4.10). Pregando, ensinando ou administrando o corpo de Cristo, tudo deve ser feito para a glória do Senhor, a quem realmente pertence a majestade e o poder (1 Pe 4.11). Paulo ensina-nos ainda que devemos ser vistos pelos homens como “ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus” (1 Co 4.1; Cf 1.26,27). Por isso, os despenseiros de Deus devem ser fiéis em tudo; "para que, agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef 3.10).
SINOPSE DO TÓPICO (2)
Os bons despenseiros dos mistérios divinos devem apresentar sobriedade, vigilância, amor, hospitalidade e fidelidade ao Senhor.
III - OS DONS ESPIRITUAIS E O FRUTO DO ESPÍRITO
1. A necessidade dos dons espirituais. Os dons espirituais são indispensáveis à Igreja. Uma onda de frieza e mornidão tem atingido muitas igrejas na atualidade, as quais não estão vivendo a real presença e o poder de Deus para salvar, batizar com Espírito Santo e curar enfermidades (Ap 3.15-20). Em tal estado, os dons do Espírito são ainda mais necessários. É no tempo de sequidão que precisamos buscar mais e mais a face do Senhor, rogando-lhe a manifestação dos dons espirituais para o desperta- mento espiritual dos crentes em Jesus (Hb 3.2).
2. Os dons espirituais e o amor cristão. Paulo termina o capítulo sobre os dons espirituais, dizendo: “Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente” (1 Co 1 2.31). Em seguida abre o capítulo mais belo da Bíblia Sagrada sobre o amor— 1 Coríntios 13. Como já dissemos, não é por acaso que o tema do amor (capítulo 1 3) está entre os assuntos espirituais (capítulos 12 e 14). Ali, o apóstolo dos gentios refere-se a vários dons, ensinando que sem o amor nada adianta tê-los.
3. A necessidade do fruto do Espírito. Uma vida cristã pautada pela perspectiva do fruto do Espírito (Gl 5.22) — o amor — é o que o nosso Pai Celestial quer à sua Igreja. Uma igreja cheia de poder, que também ama o pecador. Cheia de dons espirituais, mas que também acolhe o doente. Zelosa da boa doutrina, mas em chamas pelo amor fraterno que, como diz Paulo, “é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal” (1 Co 13.4,5). O caminho do amor é mais excelente que o dos dons espirituais (1 Co 12.31).
SINOPSE DO TÓPICO (3)
Os dons espirituais são ligados ao amor cristão, o mais autêntico fruto do Espírito.
CONCLUSÃO
A multiforme sabedoria de Deus manifesta-se na igreja através da intervenção sobrenatural do Espírito Santo e a partir dos dons de Deus necessários ao crescimento espiritual dos crentes. Sejam quais forem os dons, aqueles que os possuem devem usá-los com humildade e fidelidade, não buscando os interesses próprios, mas sobretudo o amor, pois sem amor de nada adianta possuir dons. Estes são para a edificação dos salvos em Cristo Jesus.
AUXILIO BIBLIOGRÁFICO
Subsidio Teológico “SABEDORIA
Embora Paulo não tenha pregado de acordo com a sabedoria do mundo, todavia ele pregou a sabedoria oculta de Deus que só pode ser discernida quando Deus dá ao homem a direção e a ajuda do Espírito Santo (1 Co 2.7-1 4). Deus deseja que o homem tenha e conheça sua sabedoria (Tg 1.5). Ela é espiritual e consiste no conhecimento de sua vontade (Cl 1.9; Ef 1.8,9). Ela é ‘do alto’ e é contrastada com a sabedoria terrena e humana deste mundo, que pode até ser inspirada pelos demônios (Tg 3.1 3-1 7; cf, Cl 2.23; 1 Co 3.1 9,20; 2 Co 1.1 2). A sabedoria de Deus deve ser revelada ou 'dada’ aos homens (Rm 11.33,34; 2 Pe 3,15; Lc 21.15). Isto pode ser conferido pela Palavra de Deus e pelo ensino humano dela (Cl 3.16; 1.28; Ap 13,18; 1 7.9)” (PFEIFFER, Charles F.; REA, John; VOS, Howard F. (Eds.). Dicionário Bíblico Wycliffe. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p. 1712).
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
MENZIES, William W.; HORTON, Stanley M. Doutrinas Bíblicas: Os Fundamentos da Nossa Fé. 5. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 10. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
DONS ESPIRITUAIS E MINISTERIAIS
Dons de Revelação                       Palavra de Sabedoria; Palavra da Ciência; Discernimento de Espíritos.
Dons de Poder                                Dom da Fé; Dons de Curar; Operação de Maravilhas.
Dons de Expressão                    Dom de Profecia; Variedade de Línguas; 1 Interpretação das Línguas.
Dons Ministeriais                             Apóstolos; Profetas; Evangelistas; Pastores; Doutores.
EXERCÍCIOS
1. Segundo a lição, quais são as dádivas de Deus dispensadas à sua Igreja para comunicar o Evangelho a todos?
R: A dádiva do amor, a dádiva da filiação divina e o ministério da reconciliação.
2. Segundo o apóstolo Paulo quais habilidades são indispensáveis ao exercício do ministério (1 Tm 3.2)?
R: A sobriedade e a vigilância.
3. Como Paulo termina o capítulo sobre os dons espirituais?
R: Dizendo: “Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente” (1 Co 12.31).
4. Qual o caminho ainda mais excelente que os dons, segundo a lição?
R: O caminho do amor.
5. Sejam quais forem os dons, como aqueles que os possuem devem usá-los?
R: Com humildade e fidelidade, não buscando os interesses próprios, mas, sobretudo, o amor, pois sem amor de nada adianta possuir dons.
Revista Ensinador Cristão CPAD, n° 58, p.42.
Dons Espirituais e Dons Ministeriais: Revelação - sabedoria, conhecimento e discernimento de Espírito; Poder - fé, dons de curar e operação de maravilhas; Elocução - profecia, variedades de línguas e interpretações de línguas; Apóstolos; Profetas; Evangelistas; Pastores; Doutores. Quantas dádivas a serviço da Igreja de Cristo! Quantas formas de Deus trabalhar pelo seu povo! Diversidade na unidade! Unidade na diversidade! Por isso, o nosso Pai Celestial age de acordo com a sua multiforme graça e sabedoria.
Além de divina, e Igreja de Cristo é humana e terrena. Ela está alocada num tempo, cultura e realidades sociais bem distintas uma das outras. As igrejas locais são a expressão da Igreja Invisível. Esta é composta por todos os seres humanos dos quatro cantos da Terra que têm em comum a fé centralizada em Jesus como Senhor e Rei: África, Ásia, América Central, América do Norte, América do Sul, Europa, Oceania e Antártida (cf. http://www. waponline.it/ChurchinAntarctica/tabid/65/Default. aspx). Logo, os dons espirituais e ministeriais são dados por Deus a homens e mulheres objetivando servir o próximo, edificar a igreja local e fazê-la atingir o estado perfeito de amor: "Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor" (Ef 4.15,16). Apenas há razão de exercer os dons de Deus se o princípio fundamental da vida cristã ponderar o outro em amor.
Portanto, precisamos compreender os dons espirituais e ministeriais, não como superstição, mas realização em Deus para o serviço e bem-estar da Igreja de Cristo espalhada pelo mundo. Para isso que o Pai concede uns para apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores. E a outros, os mune com dons de profecia, discernimento de espíritos, cura, e tantos outros. Tudo para demonstrar que, como na Santíssima Trindade, a relação do Pai com a sua Igreja dar-se nos termos da diversidade e da multiforme graça e sabedoria divina.
Após estudar um trimestre sobre dons espirituais e ministeriais, instiga os alunos a buscarem essas dádivas de nosso Senhor para instrumentalizá-los ao ponto de serem pessoas espirituais reconhecidas pela prática do amor, pois sem amor: de nada vale os dons!
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Após o estudo sobre os dons de Deus, podemos constatar que sua sabedoria transcende a tudo o que se pode entender com a limitada percepção do homem. Enquanto a sabedoria humana é compartimentada ou segmentada em áreas do conhecimento, a sabedoria de Deus é multiforme. Ele a manifestou desde a criação, quando sua mente divina imaginou trazer à realidade as coisas criadas, incluindo o universo imenso, formado de planetas e estrelas, bem como o homem e os seres vivos da natureza, numa demonstração de planejamento perfeito, jamais alcançado pela mente humana.
O salmista teve a visão da sabedoria e do poder criador de Deus, ao exclamar: “O Senhor, quão variadas são as tuas obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria; cheia está a terra das tuas riquezas” (SI 104.24). Só o homem incrédulo, em sua arrogância e presunção, não percebe que a grandeza do universo, ou do macrocosmo, bem como a imensa complexidade do microcosmo, observado nos microuniversos das células ou das moléculas dos elementos da natureza, não podem ter sido fruto do acaso cego, mas de uma mente sobrenatural, dotada de sabedoria e inteligência além da imaginação limitada do homem. O sábio Salomão, em suas reflexões sobre o universo, declarou:
A MULTIFORME SABEDORIA DE DEUS
“O Senhor, com sabedoria, fundou a terra; preparou os céus com inteligência” (Pv 3.19). A sabedoria de Deus e sua inteligência divina sempre agiram juntas para que o Eterno alcançasse seus objetivos e propósitos, ao criar todas as coisas.
Mas foi no plano espiritual, que transcende às coisas materiais do universo, que Deus demonstrou sua multiforme sabedoria de forma tão elevada, que é considerada um verdadeiro mistério que só a revelação divina pôde trazer à luz, ao conhecimento do homem, por meio do Espírito Santo. Paulo diz que esse mistério foi revelado de maneira muito especial, por misericórdia e bondade de Deus, pelo Espírito Santo, “aos seus santos apóstolos e profetas”, bem como à Igreja do Senhor:
Essa multiforme sabedoria de Deus, que tudo criou pelo poder sobrenatural de sua palavra, a ponto de trazer à existência todas as coisas, a partir do nada absoluto, transformou-se em uma relação de amor para com o homem. Mesmo sabendo de antemão que o homem iria cair em desobediência, em seu plano divino, por sua graça e misericórdia, Deus enviou Jesus, para salvar o homem da tragédia do pecado. E Cristo manifestou-se como a encarnação da sabedoria de Deus: “Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus” (1 Co 1.24 — grifo nosso).
A Igreja — o Corpo de Cristo, reúne os “chamados, tanto judeus como gregos” ou gentios, para proclamar a salvação de Deus à humanidade. Por ser a representante de Deus na Terra, ela é alvo dos mais terríveis ataques do Inimigo de Deus, que, mesmo condenado em última instância, no Tribunal Divino, e sabendo que seu fim é o inferno, procura destruir a comunidade dos salvos e remidos por Cristo. Diante dessa realidade, Deus tem concedido à igreja recursos especiais, que são os dons espirituais e os dons ministeriais, já estudados nos capítulos anteriores, para edificação e força para cumprir a sua missão. O dom de sabedoria, ao lado dos outros dons, concede parte da multiforme sabedoria de Deus a seus servos para que saibam como agir, como viver, como proceder e atuar, diante da missão que lhes foi confiada de proclamar o evangelho por todo o mundo a toda a criatura. Os dons ministeriais fazem parte da capacitação de Deus a homens chamados e preparados para exercer a liderança nas igrejas que reúnem os salvos em Cristo Jesus, até à sua vinda em glória para reinar para sempre.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 148-149.
SABEDORIA DE DEUS
Esboço:
I. Ideias Gerais
II. Deus Fez de Jesus Cristo Essa Sabedoria
III. Referências e Ideias. A Sabedoria de Deus
IV. A Multiforme Sabedoria de Deus se Toma Conhecida (Efé.3:10)
I. Ideias Gerais
1. Essa sabedoria é um dos atributos divinos (ver I Sam. 2:3); é insondável (ver Rom. 11 :33); e é a base de toda a bondade humana, sobretudo do bem-estar espiritual, particularizando-se a salvação (ver Efé. 1:8).
2. O evangelho contém os tesouros da sabedoria divina (ver I Cor. 2:7).
3. Paulo fez contraste entre a sabedoria humana (ensinada na filosofia) e a sabedoria de Deus (que se manifesta na mensagem do evangelho). A sabedoria humana gera o orgulho; a sabedoria divina conduz à salvação da alma.
4. A sabedoria divina se manifesta em Cristo (ver o artigo sobre Sabedoria).
5. O próprio Cristo é a personificação da sabedoria divina, conforme ensinado em I Cor. 1:30. E Cristo quem proporciona aos homens os benefícios prometidos pela sabedoria divina.
Tudo quanto os homens podem conhecer acerca da verdadeira sabedoria. precisam conhecerem Cristo; pois, para os homens, Cristo é a sabedoria de Deus. A sabedoria de Deus é demonstrada no seu plano, relativo à redenção da humanidade, plano esse que concretiza algo que a sabedoria humana sob hipótese nenhuma poderia concretizar. E a palavra ou a mensagem da cruz é o tema central dessa sabedoria (ver I Cor. I: 18). Por igual modo, essa sabedoria é a única que permanecera de pé sob o teste do juízo divino (ver I Cor. I: 19). Através da sabedoria de Deus é que o mundo inteiro pode ser potencialmente salvo (ver I Cor. 1:31). Tudo isso pode parecer um escândalo, uma insensatez e uma pedra de tropeço para os homens (ver I Cor. 1:22-23), mas Jesus Cristo é a própria personificação da sabedoria de Deus (ver I Cor. I :24,30). A grande verdade é que a sabedoria de Deus, que tantos homens reputam como insensatez, é mais sábia que a sabedoria humana, porquanto cumpre aquilo que o engenho humano está impossibilitado de fazer (ver I Cor. I :25). Mas esse cumprimento só se verifica no caso de homens humildes, que reconhecem sua ignorância espiritual; pois Deus dá iluminação espiritual a esses, mas resiste aos soberbos (ver I Cor. I :26-28). Sim, Cristo é a verdadeira sabedoria de Deus, fazendo violento contraste com a falsa sabedoria humana.
II. Deus Fez de Jesus Cristo Essa Sabedoria
1. Mediante os seus decretos, baixados desde a eternidade.
2. Mediante a encarnação do Filho de Deus.
3. Mediante o ministério terreno de Jesus Cristo.
4. Mediante a sua exaltação à mão direita de Deus Pai, onde foi feito Senhor e Cristo, e de onde brande toda a autoridade, nos céus e na terra, segundo também lemos em Mat. 28: 18. Ora, todos esses aspectos estavam designados de antemão com o propósito de produzir a redenção humana.
III. Referências e Ideias. A Sabedoria de Deus
1. A sabedoria de Deus é um de seus atributos (ver I Sam. 2:3 e Jó 9:4). 2. A sabedoria de Deus é descrita como perfeita (ver Jó 36:4 e 37: 16).3. É poderosa (ver Jó 36:5).
4. É universal (ver Jó 28:24; Dan. 2:22 e Atos 15: 18).
5. É infinita (ver Sal 147:5 e Rorn, 11:3).
6. É insondável (ver Isa. 40:28 e Rom. 11:33).
7. É maravilhosa (ver Sal. 139:6).
8. Ultrapassa a compreensão humana (ver Sal 139:6).
9. É incomparável (ver Isa. 44:7 e Jer. 10:7).
10. Não é derivada (ver Jó 21:22 e Isa. 40:44).
11.O evangelho contém os tesouros da sabedoria divina (ver I Cor. 2:7).
12. A sabedoria dos santos é derivada da sabedoria de Deus (ver Esd. 7: 25). 13. Toda a sabedoria humana deriva da sabedoria divina (ver Dan. 2:2).
IV. A Multiforme Sabedoria de Deus se Torna Conhecida (Efé. 3: 10)
A palavra multiforme deriva do termo grego polupoikilos, em forma adjetivada encontrada somente aqui em todo o Novo Testamento, cujo significado é «variegado», «multilateral», usado para indicar quadros, flores e vestimentas de várias cores. Na versão da Septuaginta (tradução do original hebraico do Antigo Testamento para o grego, completada cerca de duzentos anos antes da era cristã), a capa de «muitas cores» presenteada por Jacó a José é descrita por palavra (ver Gên. 37:3). Esse vocábulo pinta a sabedoria divina como algo que tem muitíssimas facetas com os mais variados modos de manifestação e expressão, por ser algo que é digno de ser contemplado, devido a suas muitas e excelentes variações e realizações.
Gregório de Nissa (ver Hom. viii, sobre Cantares de Salomão) nos fornece uma notável interpretação, a que - vários expositores - aludem. Diz ele: «Antes da encarnação de nosso Salvador, os poderes celestiais conheciam a sabedoria de Deus como algo simples e uniforme, que efetuava maravilhas de modo consoante com a natureza de cada coisa. Nada havia de poikilon (multiforme, multicolorido). Mas agora, por meio da oikonomia (dispensação, plano) que diz respeito à igreja e à raça humana, a sabedoria de Deus não é mais conhecida como algo uniforme, e, sim, como algo polupoikilos (multiforme, variegado), produzindo contrários por meio de contrastes, mediante a morte, a vida, a desonra, a glória, o pecado e a retidão; mediante a maldição e a bênção; mediante a fraqueza e o poder. O invisível se manifestou em carne. Veio para remir cativos, sendo ele mesmo o adquiridor, e sendo ele mesmo o preço» (lD lB LAN NTI).
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 6. Editora Hagnos. pag. 9-10.
I - OS DONS ESPIRITUAIS E MINISTERIAIS
1. São diversos.
Os dons espirituais são variados, como recursos usados pelo Espírito Santo para manifestar o poder de Deus e sua multiforme sabedoria, através de instrumentos humanos, usados para a edificação e o fortalecimento espiritual da igreja. Os dons devem ser buscados com humildade e discernimento. “Assim, também vós, como desejais dons espirituais, procurai sobejar neles, para a edificação da igreja” (1 Co 14.12). A lista de dons espirituais pode ser vista em dois sentidos: restrito e amplo, como resumimos a seguir.
NO SENTIDO ESTRITO
Normalmente, quando se tratam dos dons espirituais, entende-se que eles são em número de nove. Essa conclusão baseia-se na contagem dos dons, com base em 1 Coríntios 12: “Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o dom de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas” (1 Co 12.8-10).
De fato, a relação acima indica que há nove tipos de dons espirituais. Entretanto, quando se tratam dos dons de curar, no plural, não se pode precisar quantas manifestações desse dom podem existir. Não há um só dom de curar, nem uma única maneira de se fazer uso desses dons. Sua pluralidade certamente denota a vontade de Deus para que seu povo tenha saúde e qualidade de vida, tanto espiritual, quanto emocional ou física. A experiência cristã nos mostra que há homens de Deus que parecem ter capacitação para orar por determinados tipos de enfermidades, enquanto outros oram por outras doenças. Não podemos ser dogmáticos a respeito dos dons, mas não se veem operadores de milagres com plena capacitação para orar eficazmente por todos os tipos de males ou doenças. Dessa forma, os tipos de dons espirituais são nove. E podem ser ampliados por causa da pluralidade dos dons de curar. A Bíblia não nos autoriza especificar os dons de curar.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 150.
I Cor 12.8-11 Estes nove dons especificam a variada distribuição necessária para uma manifestação completa do Espírito: a palavra da sabedoria, é uma declaração espiritual, num dado momento, pelo Espírito, sobrenaturalmente revelado a mente, o propósito e o caminho de Deus aplicado a uma situação específica. A palavra da ciência é uma revelação sobrenatural de informação relativa a uma pessoa ou acontecimento, feita a um propósito específico, normalmente peculiar tendo a ver com uma necessidade imediata. 0 dom da fé é uma forma de fé que vai além da fé natural e da fé para salvação. Ela confia sobrenaturalmente e não duvida em relação aos assuntos específicos envolvidos. Os dons de curar são aquelas curas que Deus realiza sobrenaturalmente pelo Espírito. 0 plural sugere que, como existem muitas doenças e moléstias, o dom está relacionado è cura de muitas desordens. A operação de maravilhas é uma manifestação de poder além do curso normal da lei natural. E uma permissão divina para se fazer algo que não poderia ser feito naturalmente. Profecia é uma revelação divina em nome do Espírito, uma revelação edificante do Espírito para o momento (14.3), um discernimento súbito do Espírito, sugerindo exortação e conforto (14.3,30). Discernir os espíritos é a capacidade de discernir o mundo do espírito e, especialmente, detectar a verdadeira fonte das circunstâncias ou motivos das pessoas. Variedade de línguas é o dom de falar sobrenaturalmente em uma língua não conhecida ao indivíduo. 0 plural permite diferentes formas, possivelmente harmonizando as línguas conhecidas faladas de At 2.4-6 e as declarações transracionais desconhecidas em Coríntios, designadas especialmente para orar e cantar no Espírito, na maior parte para adoração privada (14.14-19). A interpretação das línguas é o dom de transmitir a mensagem transracional (mas não irracional) significativa do Espírito para os outros, quando exercido em público. Não é a tradução de uma língua estrangeira. Nota: Nenhum dos dons requer um cenário "público", embora cada um possa e deva ser acolhido em reuniões corporativas.
PLENITUDE. Bíblia de Estudo Plenitude. Editora Sociedade Bíblica, do Brasil. pag. 1139.
Agora o apóstolo mostra como se manifestavam os vários dons do Espírito, nos quais a congregação era tão rica, e qual o propósito que eles deviam guardar em mente: Mas a cada um (cristão) está sendo dada a manifestação do Espírito visando o proveito comum. Ele fala de modo muito geral, afirmando que cada cristão possui algum dom da graça, um dom que não foi meramente derramado sobre ele em certa ocasião no vago e distante passado, mas que lhe é concedido dia após dia. Por isso, seu alvo e objetivo não é servir ao engrandecimento e gozo pessoal, mas ser colocado à disposição e ao ministério do proveito espiritual da congregação inteira e da igreja. Cada cristão devia revelar-se um bom despenseiro da multiforme graça de Deus, 1.Pe. 4. 10; Mt. 25. 14-30.
Paulo mostra por meio de certo número de exemplos como exatamente os talentos espirituais dos cristãos individuais deviam servir para o benefício da congregação toda: A um foi dada pelo Espírito, por meio do Seu poder, a palavra de sabedoria. Teve um saber excepcionalmente completo das grandes verdades da Escritura, ou seja, do mistério do evangelho, da palavra da cruz, e de modo claro e convincente pôde expô-las em seu conjunto. Mas a outro foi dada a palavra de conhecimento, segundo o mesmo Espírito, orientado pelo Seu poder. Teve o dom de aplicar a palavra de Deus a casos individuais na vida, lançar de modo apropriado luz sobre eles, fazer as conclusões corretas na base dum claro conhecimento. O saber é mais teórico, conhecimento é mais prático. São estas em especial as qualificações do professor e pastor.
Na segunda série de dons, a um outro é dada fé, no mesmo Espírito, unicamente no Seu poder e outorga. Não é aquela fé que aceita a salvação em Cristo, ou seja, não a fé que justifica, mas uma confiança forte e inabalável no Deus onipotente ou no poder de Cristo, como algo capaz de se revelar em feitos extraordinários e realizar o que aos homens parece impossível.18) Este dom de fé heroica foi especialmente necessária nos dias antigos da igreja, mas desde então apareceu em muitos servos do Senhor, que, com a assistência do Senhor, realizaram o aparentemente sobrenatural. A um outro foram dados na concessão do mesmo Espírito os dons das curas. Nos dias antigos houve cristãos que foram capazes de curar os doentes sem o uso de medicamentos e para realizar outras coisas milagrosas, como sejam: ressuscitar os mortos, castigar os maus por meio duma manifestação extraordinária da ira de Deus, como no caso de Ananias e Safira, Elimas, etc.
Com estes dons estiveram intimamente ligados os atos de poder, e a operação de milagres em geral.
Paulo menciona no terceiro grupo de dons, que a outro cristão é dada profecia, o que não só inclui a habilidade de ver o futuro e pré-anunciar eventos vindouros, mas também a de aplicar a palavra de Deus no ensino e na admoestação. “A profecia é que alguém pode interpretar e explicar corretamente a Escritura, e dela comprovar, de modo vigoroso, a doutrina da fé e a doutrina falsa; por meio dela também admoestar o povo, ameaçar ou fortalecer e confortar, indicando, enquanto isto, a ira vindoura, o castigo e a vingança sobre os descrentes e desobedientes, e, por outro, o socorro divino e a recompensa para os cristãos e piedosos; assim como os profetas o fizeram à base da palavra de Deus, tanto da lei como das promessas.”19) A outro é dado o discernir espíritos, que é a capacidade de, rapidamente, distinguir entre verdadeiros e falsos mestres, 2.Ts. 2. 9; 1.Jo. 4. 1.
Quando Satanás descobriu que aberta inimizade e perseguição não tiveram o sucesso que seus planos quiseram, então ele empregou a astúcia e atuação escondida, fazendo surgir falsos mestres exatamente no meio das congregações cristãs, cujas línguas fluentes muitas vezes conseguir introduzir doutrinas diferentes do puro evangelho pregado pelos apóstolos. Por isso uma pessoa que tem a capacidade para logo discriminar, para desmascarar a posição dúbia e perigosa dos falsos mestres, foi uma valiosa aprovação na congregação. A mais outro cristão foram dadas tipos de línguas, sendo ele capaz para falar as grandes coisas de Deus em línguas estranhas, que jamais estudara, Mc. 16. 17, ou ele podia louvar o Senhor numa língua totalmente nova e desconhecida, virtualmente na língua dos anjos, cap. 13. 1. Contudo, visto que estes dons em si mesmo teriam sido inúteis, o Senhor também havia concedido a um outro a interpretação de línguas, ou seja, a capacidade de traduzir a língua desconhecida para o benefício da congregação, para a edificação dos ouvintes.
Claramente o apóstolo lembra seus leitores que, não importando a imensa diferença entre eles, não importando a inclinação que houve entre os detentores dos diferentes talentos para exaltar seus dons pessoais, todos estes dons haviam sido operadas por um e o mesmo Espírito, quando distribuiu a cada pessoa individual exatamente como Sua vontade o ditava. Aqui se destacam dois pensamentos: Que é tão somente o Espírito que lida com cada indivíduo, que é Sua escolha e juízo que determinam os dons, mas também que não podia haver qualquer ideia de mérito da parte de quem os recebeu; a medida do Espírito Santo é a sua vontade e seu conselho pessoal e gracioso.
Nota: Dos dons aqui mencionados pelo apóstolo, “quatro desapareceram completamente do meio da igreja cristã, os outros cinco ainda são encontrados, ainda que em medida menor.
Desapareceram completamente o dom de curar sem a aplicação de remédios, o dom de operar outros milagres, o dom de falar línguas estranhas sem algum estudo e uso prévio, e por último o dom de interpretar tais línguas que jamais se estudou. Este, porém, não é o caso com os outros dons mencionados pelos apóstolos, a saber, com os dons de falar pelo Espírito com sabedoria e com conhecimento, com o dom de profetizar, isto é, de expor as Escrituras, com o dom de uma fé excepcionalmente alta, forte e heroica, e por fim com o dom de distinguir entre os espíritos.”20) Se estes dons ao menos tivessem sido empregados mais vezes, em toda humildade, para o benefício da igreja!
KRETZMANN. Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo Testamento. Editora Concordia Publishing House.
2. São amplos.
Considerando-se que a sabedoria de Deus é “multiforme”, e que seu poder é ilimitado, e que, de igual forma ele concede à Igreja a sua “multiforme” graça, podemos inferir que Deus não está limitado a um número fixo ou fechado de dons. Após ensinar sobre os dons espirituais, no capítulo 12 de 1 Coríntios, o apóstolo Paulo dirige sua doutrina para a “excelência do amor fraternal”, no capítulo seguinte. Certamente, podem ser considerados dons espirituais tantas outras dádivas de Deus à sua igreja. Dessa forma, o leque dos dons de natureza espiritual pode ser ampliado.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 151.
3. Dádivas do Pai.
1) O dom do amor. A maior manifestação do amor de Deus foi o ter enviado a Jesus Cristo para salvar o perdido. Ele próprio declarou de modo solene e incisivo: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16 — grifo nosso). Esse amor, traduzido como o amor “ágape”, é a mais profunda demonstração de Deus, que se doou, em Cristo, para redimir o homem da sua constrangedora situação como caído e longe do criador. Cristo é o amor encarnado, que se “fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14).
2) O dom da filiação divina. Através da fé em Cristo, Deus torna o pecador seu filho, integrando-o na família de Deus. João registrou esse fato: “Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus-, aos que creem no seu nome” (Jo 1.12 — grifo nosso). Ninguém pode conquistar esse poder (ou direito). E resultado da graça e do amor de Deus. “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos e da família de Deus” (Ef 2.19).
3) O dom do batismo com o Espírito Santo. Na casa de Cornélio, enquanto Pedro ministrava a palavra, o Espírito Santo caiu sobre os que ali estavam, conforme Pedro afirmou: “como nós no princípio”; sem dúvidas com o sinal exterior de línguas estranhas (cf. At 2.4). “Portanto, se Deus lhes deu o mesmo dom que a nós, quando cremos no Senhor Jesus Cristo, quem era, então, eu, para que pudesse resistir a Deus?” (At 11.17; At 1.5; 1 Ts 4.8).
4) O dom do crescimento. Doutrinando a igreja em Corinto, Paulo reprovou a atitude de certos grupos que se levantaram na congregação, causando dissensão, divisões internas e partidarismo em torno dos apóstolos. Havia, certamente, quem atribuía a Pedro, a Apoio e a Paulo a preeminência pelo sucesso da evangelização. Mas Paulo, como bom servo de Deus, lhes afirmou: “Eu plantei, Apoio regou; mas Deus deu o crescimento. Pelo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento” (1 Co 3.6,7). Esse crescimento é acima de tudo espiritual.
5) O ministério da reconciliação. Em sua segunda carta aos coríntios, Paulo, escrevendo sobre a nova vida do salvo em Cristo, explica que o milagre da salvação, que inclui a regeneração, a justificação e a santificação, “provém de Deus”, que nos concedeu o “ministério da reconciliação”. “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. E tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados, e pôs em nós a palavra da reconciliação” (2 Co 5.17-19 — grifo nosso).
6) O espírito de fortaleza, de amor e de moderação. Podemos dizer que Deus nos dá o equilíbrio espiritual, quando nos submetemos à sua vontade. De um lado, concede o “espírito de temor”, para que o sirvamos com profundo respeito e reverência (SI 128.1); de outro, dá-nos o “espírito de fortaleza”, ou de poder; mas, para que esse poder não fique sem controle, concede o “espírito de amor e de moderação” (cf. 2 Tm 1.7). Nenhum dom espiritual, no sentido estrito ou amplo, tem seu exercício aprovado por Deus, se não for por amor e com a devida e sábia moderação. Quando isso não acontece, o detentor do dom tende a aproveitar-se dele para sua promoção pessoal. O Espírito Santo não autoriza a glória para ninguém, exceto para Cristo, o que é a sua missão (Jo 16.14).
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 151-152.
Jo 3. 16. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (16). Esta é a primeira menção ao amor de Deus neste Evangelho. E um tema dominante no livro, embora pouco se fale até o capítulo 13. Deus amou o mundo de tal maneira. Aqui, novamente, está a ideia do alcance universal. O evangelho é para todos os homens. Nenhum deles está excluído. Isto descreve por que Deus fez o que fez. Ele amou! A palavra em grego é egapesen. Este é o amor que se move pelos interesses do outro, sem pensar nos próprios interesses. E um amor que deseja arriscar tudo por alguma vantagem para outra pessoa, que não considera nenhum preço muito alto se outra pessoa puder receber algum benefício. O tempo aoristo do verbo indica que o ato de amor de Deus não é limitado pelo tempo e simultaneamente é único e completo. E o amor absoluto!
Deu o seu Filho unigénito. Embora este ato seja muito mais frequentemente descrito pelo verbo “enviar” (e.g., 3.17,34; 6.29,38-40), aqui a ideia enfatizada é a do presente de Deus para o homem (cf. 4.10). Outra vez, o tempo do verbo dar se refere a um ato absoluto e completo (cf. Hb 10.14). Ele deu o seu Filho unigénito, ou seja, a Dádiva que era mais preciosa, e “o título ‘unigénito’ é acrescentado para destacar este conceito”.
... Todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. As alternativas estão definidas. Elas são a vida e a morte! A Dádiva de Deus tornou possível que o homem faça a escolha, a resposta da fé. Os verbos perecer e ter estão em tempos diferentes no original. O primeiro está em aoristo e significa “de uma vez por todas”, expulso para a escuridão exterior. O último está no presente, indicando uma vida eterna presente e duradoura.
William M. Greathouse. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 51-52.
Jo 3.16 O Evangelho inteiro encaminha-se para esse versículo. O amor de Deus não está dirigido somente a certo grupo de indivíduos, ele é oferecido ao mundo. O amor de Deus não é estático ou egoísta, mas se propaga e atrai outros para si. Aqui os atos de Deus definem o padrão do verdadeiro amor, a base de todos os seus relacionamentos: quando você ama alguém está disposto a se sacrificar, com ternura e de boa vontade, por essa pessoa. O amor sacrificial também é a prática de procurar formas de atender às necessidades daqueles que são amados. No caso de Deus, esse amor é infinitamente prático, pois se dispõe a salvar aqueles que não têm a esperança de se salvarem sozinhos. Mas Deus pagou um preço muito alto para nos salvar; Ele ofereceu o seu único Filho, o maior preço que Ele podia pagar.
Essa oferta foi feita a todo aquele que nele crê. “Crer” é mais do que aceitar intelectualmente que Jesus é Deus. Significa colocar a nossa fé e confiança naquele que é o único que pode nos salvar. Significa eleger a Cristo como o responsável pelos nossos planos atuais, e pelo nosso destino eterno. Crer é ter certeza de que suas palavras são seguras, e confiar nele para receber o poder de mudar.
Jesus aceitou o nosso castigo e pagou o preço pelos nossos pecados para evitar a nossa morte. Aqui a palavra perecer (ou morte) não significa a morte física, pois todos nós iremos morrer algum dia, mas se refere a uma eternidade longe de Deus. Aqueles que creem receberão essa bênção, a nova vida que Jesus comprou para nós - a vida eterna com Deus.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 503.
Ef 2.19 Os gentios não são mais estrangeiros nem forasteiros. Estas palavras descrevem pessoas que vivem em um país que não é o seu, sem qualquer dos direitos de cidadania daquele país. Os gentios eram “estrangeiros” em relação aos judeus, bem como a qualquer esperança (sem Cristo) de um relacionamento com Deus (2.12). Esta era a sua antiga posição. Por causa de Cristo, entretanto, os gentios tornaram-se cidadãos, com todos aqueles que haviam sido chamados para serem os concidadãos dos Santos. Os judeus e os gentios que depositam a sua fé em Jesus Cristo como seu Salvador tornam-se membros da família de Deus. (Veja Fp 3.20; Hb 3.2-6.)
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 328.
Neste ponto, o apóstolo volta a falar sobre o estado dos gentios e repete o linguajar do versículo 12. Por Cristo, eles não são mais estrangeiros (xenoi) — “visitantes estrangeiros sem direitos na comunidade” — e forasteiros (paroikoi) — “residentes estrangeiros com direitos temporários e limitados”. A atual relação com Deus na qualidade de redimidos do Senhor não é nem um pouquinho inferior aos judeus. Paulo se serve de três ilustrações para expressar a unidade extraordinária que prevalece na comunhão dos crentes judeus e gentios.
1. “Concidadãos dos Santos” (19a)
Nesta metáfora, retirada da vida citadina, o apóstolo garante aos gentios que “os seus nomes estão inscritos no mesmo rol cívico com todos a quem ‘o Senhor contará quando somar as pessoas”’. Antigamente, os judeus eram os santos, cidadãos da cidade de Deus, e os gentios eram os estrangeiros. A situação não é mais esta. Os crentes gentios fazem parte do novo Israel (G1 6.16), que é formado por todos os cristãos. Eles compartilham todos os direitos e privilégios deste novo povo.
Willard H. Taylor. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 9. pag. 142-143.
II Cor 5.18,19 Esta renovação de vida não é nenhuma obra humana. O próprio Deus já iniciou o trabalho. Somente Deus pode permitir que as pessoas se aproximem dele. Somente Deus pode satisfazer as suas exigências de justiça. Somente Deus pode salvar. Deus é o Autor e o Consumador da salvação (veja Hb 12.2). Deus reconciliou seu povo consigo mesmo por Jesus Cristo.
Quando confiam em Cristo, os crentes já não são mais inimigos de Deus. Por meio da obra expiatória de Cristo na cruz, Deus tornou os crentes parte da sua família. Jesus morreu no nosso lugar para que nós pudéssemos desfrutar da comunhão com Deus (1 Co 15.3). Como nós, os crentes, fomos reconciliados com Deus, recebemos o ministério da reconciliação, para levar as  pessoas a se reconciliarem com Ele. Como Paulo tinha se reconciliado por intermédio de Cristo, tornou-se a sua missão pregar aquela mensagem. Caso os coríntios tivessem se esquecido do ponto central da mensagem de Paulo para eles, o apóstolo o repetiu; Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados. Deus, por intermédio da morte de Cristo na cruz, estava trazendo de volta todas as pessoas - judeus e gregos, igualmente - que tinham pecado (Rm 5.10; Ef 2.14-17). Embora fôssemos inimigos de Deus, Cristo nos alcançou e nos salvou da destruição certa. Ele até mesmo nos lavou para que pudéssemos nos aproximar de Deus com corações limpos (Cl 1.21,22).
Esta é verdadeiramente uma mensagem maravilhosa.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 215.
A reconciliação, com uma dupla noção:
1. Como um privilégio inquestionável (w. 18,19). A reconciliação pressupõe a ruptura de uma amizade. O pecado causou essa ruptura. Ele quebrou a amizade entre Deus e o homem. O coração do pecador é preenchido de inimizade contra Deus, e Deus é ofendido verdadeiramente pelo pecador.
No entanto, existe a possibilidade da reconciliação; o Deus ofendido do céu está disposto a se reconciliar. E perceba: (1) Ele apontou o Mediador da reconciliação. Ele nos reconciliou consigo por meio de Jesus Cristo (v. 18). Deus deve ser reconhecido do início ao fim na tarefa e cumprimento do Mediador. Todas as coisas relacionadas à nossa reconciliação com Jesus Cristo vêm de Deus, que pela mediação de Jesus Cristo reconciliou o mundo consigo mesmo. Ele colocou-se na condição de ser reconciliado com os ofensores, sem causar qualquer agravo ou insulto à sua justiça ou santidade. Ele não imputa ao homem as suas transgressões e desiste do rigor do primeiro concerto, que foi quebrado, não insistindo na vantagem que Ele poderia ter legitimamente contra nós pela quebra da aliança. Ele está disposto a formar um novo pacto, uma nova aliança de graça, e, de acordo com o teor dela, Ele está livre para perdoar todos os nossos pecados e justificar livremente, pela sua graça, todo aquele que crer. (2) Ele estabeleceu o “...ministério da reconciliação” (v. 18). Pela inspiração de Deus, foram escritas as Escrituras, que contêm a palavra da reconciliação, mostrando-nos que a paz foi feita pelo sangue da cruz, que a reconciliação foi operada, e nos orientou em como podemos estar interessados por ela. Ele estabeleceu o ofício do ministério, que é o ministério da reconciliação.
Os ministros devem abrir e proclamar aos pecadores os termos da misericórdia e reconciliação e persuadi-los a concordar com eles. Porque: 2. A reconciliação é entendida aqui como nosso dever indispensável (v. 20). Da mesma forma que Deus está pronto a ser reconciliado conosco, nós também devemos nos reconciliar com Ele. E é o grande alvo e plano do evangelho que a palavra da reconciliação prevaleça contra os pecadores para que abandonem a sua inimizade contra Deus. Ministros fiéis são embaixadores de Cristo, enviados parar tratar com os pecadores acerca de paz e reconciliação: Eles vêm em nome de Deus, com suas súplicas, e agem em nome de Cristo, fazendo aquilo que Ele fez quando esteve nesta terra e o que Ele deseja que seja feito agora que está no céu. Que condescendência maravilhosa! Embora Deus não possa ser considerado um perdedor na disputa ou desavença, nem um ganhador na paz, no entanto, pelos seus ministros Ele suplica para que os pecadores abandonem a sua inimizade e aceitem os termos que Ele oferece, para que possam ser reconciliados com Ele, com todos os seus atributos, com todas as suas leis, e com todas as suas providências, e creiam no Mediador, e aceitem a redenção e concordem com todo o seu evangelho. Para nos encorajar a fazer isso, o apóstolo acrescenta o que deveria ser bem entendido e devidamente considerado por nós (v. 21), a saber: (1) A pureza do Mediador: Ele “...não conheceu pecado”. (2) O sacrifício que ofereceu: Ele foi feito “...pecado por nós”; não um pecador, mas pecado, isto é, uma oferta pelo pecado, um sacrifício pelo pecado. (3) O fim e desígnio de tudo isso:
“...para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” e justificados livremente pela graça de Deus pela redenção que está em Cristo Jesus. Observe: [1] Como Cristo, que não conheceu pecado, foi feito pecado por nós, para que nós, que não temos justiça própria, fôssemos feitos nele justiça de Deus. [21 Nossa reconciliação com Deus somente ocorre por meio de Jesus Cristo e pelo seu mérito.
Portanto, devemos somente confiar nele e na sua justiça.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 525.
Esta nova situação, na qual os homens são novas criaturas em Cristo, se deve ao ato criativo de Deus (cf. 4.6; Rm 3.25; 11.36). Tudo isso provém de Deus, testemunha o apóstolo, porque Ele nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo (18-19).181 A reconciliação envolve a superação da alienação pessoal (Ef 4.18) ou da hostilidade (Cl 1.21), causadas pela rebelião do homem contra o seu legítimo Soberano. O resultado é uma nova condição de paz (Rm 5.1; G15.22; Ef 2.12-17; Fp 4.7) e a restauração da comunhão.
E o homem que deve ser reconciliado, e não Deus, como no judaísmo,182 pois é Deus quem realiza a reconciliação. Certamente está envolvida a ira de Deus contra o pecado dos homens (Rm 1.18; 2.5), caso contrário os pecados que praticaram não seriam computados contra eles. Mas Deus, no seu amor sagrado, tomou a iniciativa. Na cruz de Cristo, Ele se tornou o Agressor e invadiu a vida humana extraviada com um amor cheio de perdão. “Se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho... o amor de Deus está derramado em nosso coração” (Rm 5.10,5). A “maior mudança possível ocorreu no homem... na sua natureza completa e na sua vida”,183 que estão alteradas por causa da mudança do relacionamento entre Deus e o homem. O pecado é tratado adequadamente com (21) respeito ao que ele causou ao homem (Rm 7.5-25; 8.2) e também com respeito ao que ele significa diante da santidade de Deus (Rm 3.21-26).
Para Paulo e para os coríntios a reconciliação foi realizada. O caminho agora está aberto para todos, e ao apóstolo foi confiado o ministério da reconciliação. Este é o clímax da passagem e a razão final pela qual ele não pode viver para si mesmo (13-15). A sua tarefa é anunciar a novidade aos homens, isto é (“neste sentido”),184 Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo. Nenhuma vírgula deve ser colocada depois de Cristo (cf. ASV, RSV), pois o que Paulo quer destacar é o que Deus fez em Cristo.185 O elo (Rm 5.9-10) entre a reconciliação e a justificação (12) é mostrado na palavra imputando (“levando em conta”, ASV; cf, Rm 4.3-8). A obra da reconciliação, no entanto, não está completa no que diz respeito ao mundo,186 pois Deus pôs (“depositou”, Weymouth) em Paulo a palavra181 da reconciliação (cf. 1 Co 1.18). A palavra (logos), segundo Cullmann, “é a revelação final e definitiva como tal”.188 A palavra da reconciliação é a essência do ministério da reconciliação. A palavra qualifica plenamente todas as fases do ministério. Este ministério não trata basicamente de dar bons conselhos, mas sim de comunicar aos homens as boas-novas do que Deus fez em Cristo pelo mundo.
Frank G. Carver. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 435-436.
II - BONS DESPENSEIROS DOS MISTÉRIOS DIVINOS
1. Com sobriedade e vigilância.
Despenseiros são as pessoas que tomam conta da despensa de uma casa, ou do lugar onde são guardados os alimentos e outros itens necessários à manutenção da família. O apóstolo Pedro exorta os destinatários da sua primeira carta, quanto à iminente vinda de Jesus, fazendo solene advertência sobre como os cristãos devem comportar-se, “como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pe 4.10).
1. O DESPENSEIRO DEVE SER SÓBRIO E VIGILANTE
Deve guardar a sobriedade e vigilância, em oração (1 Pe 4.7); essa advertência refere-se à simplicidade que deve caracterizar um servo de Deus, sobretudo aquele que tem a liderança, na casa do Senhor. Fala da constante vigilância sobre a vida cristã, ante os ataques diuturnos do Adversário. Ele anda como leão, buscando destruir vidas preciosas. O que administra o rebanho de Deus deve saber retirar da “despensa” de Deus o melhor alimento. E vigiar por suas vidas. E Pedro quem dá idêntica advertência em sua primeira carta: “Sede sóbrios, vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1 Pe 5.8; Mt 26.41).
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 152-153.
SÓBRIO ou SOBRIEDADE
1. A palavra grega nepho, com suas derivadas, significa ser livre da embriaguez e de todas as formas de excesso; consequentemente, ser calmo, moderado, sereno, ter autocontrole e ser tranquilo no pensamento e nas ações (1 Ts 5.6,8; 1 Tm 3.2,11; 2 Tm 4.5; Tt 1.8; 2.2; 1 Pe 1.13; 4.7; 5.8).
2. A palavra grega sophroneo, com suas derivadas, significa estar em seu juízo perfeito, ser razoável ou sensato, agir prudente ou cuidadosamente (Mc 5.15; 1 Tm 3.2; Tt 1.8; 2.2,12; 1 Pe 4.7). É a antítese de existente, "estar fora de si" (2 Co 5.13); portanto significa exercer autocontrole não se entregando a paixões desenfreadas (Tt 2.6) nem ao orgulho (Rm 12.3). Sua forma nominal, sophrosyne, "sobriedade" (1 Tm 2.9,15) tem o sentido de moderação, e consequentemente modéstia e castidade (cf. Tt 2.5).
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1845.
«...temperante...» No grego é «nephalios», que significa «temperado» especialmente no uso do vinho, «sóbrio». Noutros pontos do N.T., essa palavra é usada em I Tim. 3:11 e Tito 2:2; mas é usada sob forma diferente, a forma verbal, em I Tes. 5:6,8; II Tim. 4:5; I Ped. 1:13; 4:7 e 5:8. Esse termo pode significar «ajuizado», sem qualquer vinculação à ideia de bebidas alcoólicas, embora se possa pensar em um uso temperado de bebidas fortes.
Contudo, a fim de ser evitada a má aparência do mal, bem como da tentação ao alcoolismo, talvez seja melhor a abstinência total. (Ver o trecho de Efé. 5:18 quanto à nota expositiva geral contra o «alcoolismo»). Notar as palavras existentes no terceiro versículo deste capítulo, «...não dado ao vinho...», que reforça o que é dito neste versículo. Todo o pastor deveria evitar as leviandades da juventude.
«...sóbrio...» é tradução de «sophron», vocábulo grego que quer dizer «prudente», «previdente», «autocontrolado», ao passo que, quando aplicado a mulheres, esse adjetivo significava «casta», «decente», «modesta». Em todo o N.T. é usado somente aqui e em Tito 1:8 e 2:2,5, isto é, dentro das «epístolas pastorais». Trata-se de um dos cento e setenta e cinco termos usados exclusivamente nas «epístolas pastorais», e não no restante do N. T.
« ...modesto...» No grego é «kosmos», que significa «digno», «bem comportado», «sereno», palavra usada exclusivamente aqui e em I Tim. 2:9. Portanto, é uma daquelas cento e setenta e cinco palavras usadas somente nas «epístolas pastorais», em todo o N.T. Seu significado básico é «ordeiro». O «kosmos» (palavra correlata) é a «beleza organizada» da criação de Deus.
A forma verbal, «kosmeo», significa «ordenar», «arranjar» ou «adornar», mas também «dirigir». Um líder espiritual, sobretudo um pastor ou «supervisor» deveria ser autocontrolado, ordeiro, dono de boa conduta e de boa reputação.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 309.
2. Amor e hospitalidade.
O DESPENSEIRO DEVE SER AMOROSO
Em segundo lugar, o despenseiro de Cristo deve ter “ardente caridade uns para com os outros, porque a caridade cobrirá a multidão de pecados” (1 Pe 4.8); todo crente fiel deve ser despenseiro de Deus; mas, como já refletimos, o obreiro, pastor, dirigente, ou líder de uma igreja, pastoreia ovelhas que não são suas. E cada ovelha é diferente da outra, em temperamento, formação, visão das coisas, e nem sempre é dócil e obediente. Há crentes que dão muito trabalho aos líderes. Como despenseiro da graça de Deus, o obreiro deve demonstrar amor em todas as ocasiões, no trato com todo o tipo de ovelha. Com as mais fracas, deve ser mais compreensivo; com as mais fortes, deve ser incentivador de sua fé e testemunho; com as feridas, deve ter sempre o bálsamo do amor e da compreensão; e com as que pecam, fazer uso da disciplina com amor, sem abuso de autoridade. Enfim, em qualquer situação o despenseiro deve ter amor. É característica do verdadeiro discípulo de Jesus (Jo 13.34,35).
O DESPENSEIRO DEVE SER HOSPITALEIRO
Deve ter hospitalidade para com “os outros, sem murmurações” (1 Pe 4.9); já foi visto que hospitalidade é acolhimento, bom trato com todas as pessoas, na administração da igreja local; ou do crente com seus irmãos, familiares, amigos e pessoas em geral. “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque, por ela, alguns, não o sabendo, hospedaram anjos” (Hb 13.2). Há quem faça acepção de pessoas, discriminando os mais humildes ou menos favorecidos na vida humana. Essa não é atitude do despenseiro da casa de Deus. Esse deve ser sempre atencioso com todos, ajudando-os em suas necessidades espirituais emocionais e físicas, dentro de suas possibilidades. Não agir assim, é pecado (Dt 16.19; Tg 2.9).
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 153-154.
I Ped 4.8 A caridade, o apoio e o incentivo mútuos também seriam uma grande defesa. Nenhum cristão é uma ilha; ninguém está sozinho.
Quando os crentes sentem o profundo amor da comunhão, eles têm a rede de apoio que pode ajudá-los em meio a qualquer crise. A mesma ideia de que a caridade cobrirá a multidão de pecados é encontrada em Provérbios 10.12: “O ódio excita contendas, mas o amor cobre todas as transgressões”. Pedro pode ter citado este provérbio, ou um provérbio da sua época que se baseava ligeiramente neste versículo. Isto não significa que o amor ignore, não preste atenção, ou tente esconder o pecado. Na verdade, Pedro provavelmente estava pensando novamente nas suas palavras de 4.1,2, de que os crentes devem viver o resto de sua vida de acordo com a vontade de Deus, e não conforme os desejos humanos. Sendo crentes, eles devem deixar de pecar. A “cobertura dos pecados”, portanto, é a capacidade que os crentes têm de perdoar uns aos outros, porque Cristo os perdoou.
A caridade age como um amortecedor, suavizando as irritações e os solavancos que são causados pelos companheiros de fé.
I Ped 4.9 Ser hospitaleiro é diferente de receber bem; é diferente de um entretenimento social. Receber bem concentra-se no anfitrião - a casa deve estar impecável; a comida deve estar bem preparada e ser abundante; o anfitrião deve parecer relaxado e ter um bom temperamento. Ser hospitaleiro, por outro lado, é algo que se concentra nos convidados. As suas necessidades -sejam um lugar onde se hospedar, alimentos, um ouvido atento, ou aceitação — são a principal preocupação. Isto pode acontecer em uma casa desarrumada; pode acontecer ao redor de uma mesa de jantar em que o prato principal é uma sopa. Os crentes não devem hesitar em compartilhar os seus recursos com aqueles que precisam de uma refeição ou de um alojamento somente por estarem muito ocupados, ou por não terem condições de receber bem. A hospitalidade é uma forte expressão de amor e caridade, que Pedro já havia ordenado que os crentes demonstrassem (4.8).
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 728-729.
Demonstrando Hospitalidade, 4.9,10
Onde houver um viver vigilante haverá um viver digno. Isso significa que cada um deve usar aquilo que possui, embora seja modesto e escasso, para suprir as necessidades dos companheiros cristãos. Nos dias de Pedro isso podia ter significado aqueles que haviam sido forçados a sair de suas casas pela perseguição ou estavam fazendo uma longa jornada. Os cristãos devem ser hospitaleiros [...] sem murmurações, mesmo que isso signifique um peso adicional para eles. Reclamar do preço rouba as bênçãos de compartilhar com nossos irmãos.
O motivo por trás dessa generosidade é o amor: amor ao irmão necessitado e amor ao Pai celestial, de quem recebemos toda boa dádiva (cf. 1 Co 4.7). Nossos dons e talentos não são para uso próprio. Eles são uma responsabilidade de Deus para serem usados como Ele intenta, como bons despenseiros (10) devem usá-los: para abençoar outros. Esse serviço é um ministério, quer seja de talentos, dinheiro, influência ou outras bênçãos que Deus concedeu de maneira tão abundante; e todos receberam dons que podem ser compartilhados (cf. Rm 12 e 1 Co 12).
Roy S. Nicholson. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 239.
A hospitalidade (v. 9). A hospitalidade aqui requerida é o acolhimento espontâneo e amoroso de estranhos e viajantes. O objetivo apropriado da hospitalidade cristã seria abrigar os cristãos entre si. A intimidade da sua relação e a necessidade da sua condição naquela época de perseverança e aflições obrigavam os cristãos a serem hospitaleiros uns para com os outros. As vezes os cristãos eram privados de tudo que tinham, e eram expulsos e levados a países distantes por sua segurança. Nesse caso, morreriam de fome se os seus irmãos cristãos não os recebessem.
Por isso, essa é uma regra sábia e necessária que o apóstolo estabeleceu aqui. E ordenada também em outras passagens (Hb 13.1; Rm 12.13). A maneira de cumprir esse dever é assim: precisa ser cumprido de maneira espontânea, amorosa e generosa “...sem murmurações” diante das despesas ou outras dificuldades. Aprenda: (1) Os cristãos devem não somente ser caridosos, mas hospitaleiros uns para com os outros. (2) Tudo o que o cristão fizer por conta da hospitalidade, deve fazê-lo com alegria, e sem murmurações. “De graça recebestes, de graça dai” (Mt 10.8).
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 879.
I Ped 4.9 As hospedarias da antiguidade viviam infestadas de prostitutas e assaltantes. Portanto, os cristãos, segundo a prática oriental comum, acolhiam em seus lares outros crentes que por ali passassem cm viagem, vindos de outras regiões. Pedro encoraja aqui essa prática. Supomos que a hospitalidade e a generosidade daqueles que viviam na mesma comunidade também está envolvida, e não meramente o acolhimento de crentes vindos de outras terras. A hospitalidade é apenas uma extensão do amor fraternal, uma subcategoria daquilo que aparece no versículo anterior.
·...sem murmuração...· No grego é gogausmos, ·queixa·, ·desprazer·.
Um homem que é exortado a convidar um viajante a abrigar-se cm sua casa, pode pensar consigo mesmo: ·Isso me custará dinheiro e perderei minha liberdade em casa·. Ao assim meditar, ele registra um pensamento de desprazer, o que fará de sua oferta de hospitalidade um motivo de murmuração. Tal hospitalidade não se baseia no amor; portanto, não é uma hospitalidade autêntica, do ponto de vista do cristianismo bíblico. Os supervisores e outros líderes eclesiásticos deveriam ser ·hospitaleiros, (ver I Tim. 3:2). Também deveriam ser ·amantes da hospitalidade· (ver Tito 1:8), porquanto normalmente se esperava que os lideres entre os cristãos é que receberiam em casa irmãos na fé em viagem.·
Nos dias de Pedro, os hotéis eram raros e distantes uns dos outros. As hospedarias eram caras e imorais. Os crentes em viagem encontravam abrigo nos lares de seus irmãos na fé. Não há que duvidar que o acolhimento a pregadores e crentes em viagem se tomou uma carga que podia ser sentida pesadamente pelos crentes. Agravando mais ainda a situação, visto que os edifícios eclesiásticos eram poucos, os lares eram usados como lugar de comunhão e culto. De fato, a causa missionária, tanto no passado como no presente, deve uma soma incalculável àqueles cujos lares foram abertos e que, em amor persistente c duradouro, praticaram a hospitalidade sem murmuração... Nosso Senhor deu novo sentido a tal hospitalidade, relacionando-a consigo mesmo: , ...era forasteiro e me hospedastes... sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes' (Mat. 25:35,40)». (Homrighausen, in loc.).
·De fato, sem a prática literal dessa virtude, as missões da igreja cristã teriam sido impossíveis». (Bigg, in loc.).
O crente que aceita a hospitalidade de outro deve ser suficientemente sábio para não permanecer por tempo demais. O trecho de Eclesiástico 29:25-28 descreve como um estranho que exagera da hospitalidade recebida, primeiramente recebe trabalhos manuais para fazer, e então é expulso. £ sinal de amor e consideração, da parte do hospedado, não exigir uma benevolência exagerada de seu hospedeiro.
A hospitalidade na antiga igreja cristã. Lemos que os cristãos primitivos determinavam até mesmo jejuns, a fim de que o alimento poupado pudesse ser conferido aos necessitados, aos estranhos e aos viajantes. Isso é amor verdadeiro cm operação.
I Ped 4.10 ·...Servi uns aos outros...· De modo geral, mas particularmente aqui devemos entender ·trabalho físico», isto é, a partilha de alimentos, de abrigo e de dinheiro, tal como na hospitalidade que acabara de ser recomendada.
·...conforme o dom que recebeu...· O trecho de Rom. 12:7 focaliza um dom de ·ministério», isto é, boas obras na forma de esmolas, de cuidados pelos enfermos, e de hospitalidade. Alguns crentes são especialmente dotados pelo Espírito, tomando-se ricos em atos de caridade, dispostos à realização de serviço bondoso, o que fazem com maneiras graciosas e corteses. Talvez alguns médicos, enfermeiras e filantropos, quando são também crentes espirituais, recebem tal dom, além de outros, que têm a oportunidade especial de ministrar as necessidades físicas dos outros. Algumas vezes tais pessoas também recebem amplos meios financeiros capacitando-se assim de se mostrarem generosas cm alto grau. O judaísmo e o cristianismo primitivo enfatizavam grandemente a importância das esmolas. (Isso é comentado nas notas sobre Atos 3:2. Comparar também com Tia. 1:27, onde a ·religião pura· é definida como a visita aos órfãos e às viúvas, em suas aflições, isto é, mediante a ministração às suas necessidades, além de conservar-se o crente imaculado do mundo). Tal ministração é a prática da regra áurea de Cristo, uma duplicação do seu amor. Portanto, esse ·ministério· é apenas a concretização da lei do amor, mencionada no oitavo versículo deste capítulo.
Este versículo, naturalmente, não só fala do dom especial da ·ministração às necessidades físicas», mas também impõe a todos os crentes o mesmo costume, ao ponto em que suas habilidades e circunstâncias lhes permitirem a participação. Cada homem tem um dom; e, no presente versículo, sem dúvida cada crente deve contribuir com o seu próprio. Em outras palavras, p eu s abençoa um homem, e então ele tem os meios para realizar um serviço de caridade para com outros, sem importar se esse serviço consiste cm hospedar alguém, cm dar esmolas ou em cuidar de enfermos ou necessitados. E assim aprendemos aquele principio básico, tão comum nas páginas do N.T., e que determina: ·Recebemos a fim de dar, não a fim de amontoar bens para nosso próprio conforto». Feliz é o homem que crê nisso e o pratica. Todo crente é um «mordomo, e não um proprietário» daquilo que possui. O mordomo deve mostrar-se ativo no uso de seus bens cm favor de outrem, e não na tentativa de juntar mais ainda para si mesmo.
·...despenseiros...· Cada pessoa é ímpar e tem uma missão sem igual, agora e na eternidade. (Ver as notas expositivas a esse respeito, cm Apo. 2:17). Ele recebe habilidades necessárias para o exercício apropriado de sua missão. Também recebe os meios financeiros para poder realizar sua obra.
Sua missão o transforma no tipo de pessoa que pode realizar um serviço específico. Um crente também pode receber várias missões; e todas cias. coletivamente consideradas, visam fazer dele um indivíduo sem-par. Uma missão é um meio de expressar a graça de Deus para com outros, pois nenhuma missão visa apenas o benefício do próprio indivíduo. Todos os dons de Deus se originam em sua ·graça. Essa é a fonte de tudo de bom que possuímos. Portanto, quando ministramos a outros, cm qualquer sentido que seja. meramente espalhamos ao redor a graça de Deus, do modo que nos foi apontado. A mordomia subentende tanto que nos foi confiada certa missão como também a existência de uma necessidade autêntica. A graça de Deus se reveste de variedade infinita, resultando em dádivas abundantes aos homens. Tornamo-nos ministros mediante quem essa abundância é distribuída. Não ·possuímos* aquilo que a graça de Deus nos dá pois tudo nos foi dado por empréstimo, temporariamente. Se nos recusarmos a contribuir, logo deixaremos de receber. Quando o povo de Israel ficou cobiçoso e recolheu mais maná do que era mister para o suprimento de um dia, o maná se estragou e soltou mau cheiro, tomando-se inútil. Assim, o homem que recebe, mas não dá logo se tornará inútil como despenseiro da graça do Deus, e sua alma será estragada, perdendo toda a similaridade com a natureza espiritual de Cristo. O próprio Cristo veio para servir, e não para ser servido. (Ver Mat. 20:28).
«...multiforme graça...» No grego, o adjetivo é·poikilos·, «diversificado», «de muitas espécies*. A graça divina se manifesta de muitos modos e se concretiza na vida humana de muitas maneiras. Cada crente recebeu tal graça, e está na obrigação moral de concedê-la a outros.
·...graça...» (Quanto a notas expositivas completas sobre a *graça*, ver Efé. 2:8). O que possuímos que não tenhamos recebido de Deus? *Pois quem é que te faz sobressair? c que tens tu que não tenhas recebido? e. se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não ti veras recebido?» (I Cor. 4:7). Alguns agem como se o que têm fora produzido por eles mesmos. Concede-nos graça tal que possamos cumprir tua vontade E proferir tuas palavras e andar diante de teu rosto.
Profundos e calmos, como águas profundas e tranquilas. Concede-nos tal graça. (Christina Roasetti)
Dom: Consideremos os pontos seguintes a respeito: 1. Envolve qualquer coisa doada gratuitamente. 2. Indica alguma bênção dada graciosamente por Deus, de qualquer espécie, aos pecadores (ver Rom. 5:15.16 e 11:29). 3. Indica a graça da salvação (ver Efé. 2:9), mediante a qual a salvação é conferida aos homens. 4. Indica um preparo gracioso e divino para o serviço, algum dom espiritual, alguma operação extraordinária do Espírito Santo (ver I Tim. 4:14) ou mesmo os dons do Espirito Santo (ver os capítulos doze a catorze da primeira epistola aos Coríntios). 5. Indica a abundância de possessões físicas, usadas para benefício alheio: ou bens materiais suficientes para que deles possamos contribuir, embora não naquela profusão que poderíamos chamar de «abundante». Esse é o sentido que está em foco, talvez com alguma mistura com a quarta posição. Esta passagem pode ser ilustrada pela parábola dos ·talentos», narrada pelo Senhor Jesus, em Mat. 25:15. Alguns intérpretes acreditam que Pedro alude aqui a essa tradição, embora tal narrativa ainda não tivesse tomado forma escrita nos evangelhos canônicos, porquanto esta primeira epistola de Pedro foi escrita antes dos mesmos, com a única exceção possível do evangelho de Marcos.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 156-157.
Heb 13.2 A segunda instrução é; Não vos esqueçais da hospitalidade para com estranhos. Este tipo de hospitalidade era importante porque naquele tempo as hospedarias eram caras, além de serem centros de práticas pagãs e atividades criminosas. Esta hospitalidade também ajudava a transmitir o Evangelho, porque os missionários itinerantes poderiam ir a mais lugares e ministrar a mais pessoas se não tivessem que se alojar em hospedarias. Estes “estranhos” que deveriam ser hospedados, entretanto, não deviam ser pessoas que trabalhassem contra o reino de Deus; ou seja, os crentes não deveriam receber em suas casas falsos pregadores ou ensinadores (2Jo 10,11; 3 Jo 5-9).
Um incentivo adicional a este tipo de hospitalidade vem do registro bíblico de que, com a sua hospitalidade, alguns, não o sabendo, hospedaram anjos. Isto aconteceu com Abraão (Gn 18.1-14) e Ló (Gn 19.1- 3). A hospitalidade estendida aos anjos e recebida por eles mostra a importância da hospitalidade que os cristãos devem oferecer uns aos outros. E melhor oferecer hospitalidade generosamente do que perder a oportunidade de receber anjos.
Heb 13.3 A terceira instrução concentra-se nos presos. Já houve uma alusão a esta recomendação em 10.32-34. Os crentes devem se compadecer dos prisioneiros, especialmente de (mas sem se limitar a) cristãos aprisionados pela sua fé. Jesus disse que os seus seguidores seriam seus representantes quando visitassem pessoas na prisão (Mt 25.36). Outros que eram maltratados - espancados, assaltados, atacados, ou humilhados – também precisavam ser lembrados. Os crentes devem sofrer com eles e compartilhar a sua tristeza (veja também 1 Co 12.26; 2Tm 1.16).
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 643.
Heb 12.2 A hospitalidade: “Não vos esqueçais da hospitalidade” (v. 2). Precisamos acrescentar ao amor fraternal a hospitalidade. Observe aqui: 1. O dever exigido - hospitalidade, tanto para com aquelas pessoas que são estranhas à comunidade de Israel quanto para com aquelas que são estranhas à nossa pessoa, especialmente os que sabem que são estrangeiros aqui e estão buscando uma nova pátria, que é o caso do povo de Deus, e era assim nessa época: os judeus que criam estavam numa condição desesperadora e angustiante. Mas ele parece referir-se à hospitalidade em relação a estranhos como tais; embora não saibamos quem são, nem de onde vêm, mesmo assim, vendo que estão sem um lugar definido de hospedagem, devemos lhes dar lugar no nosso coração e na nossa casa, à medida que tivermos oportunidade e condições.
2. O motivo: “...porque, por ela, alguns, não o sabendo, hospedaram anjos”', foi assim no caso de Abraão (Gn 18), e de Ló (Gn 19), e um dos que Abraão recebeu era o Filho de Deus; e, embora não possamos supor que isso sempre seja o nosso caso, mas o que fizermos aos estranhos, em obediência a Ele, Ele vai considerar e recompensar como tendo sido feito a Ele mesmo (Mt 25.35): “Era estrangeiro, e hospedastes-me”. Deus com frequência concedeu honras e favores aos seus servos hospitaleiros, além de toda a imaginação e de forma inesperada. V A compaixão cristã: “Lembrai-vos dos presos (v. 3). Observe aqui: 1. O dever - lembrar dos presos, e dos maltratados.
(1) Deus com frequência ordena as coisas de tal forma que enquanto alguns cristãos e igrejas estão em meio a adversidades, outros desfrutam de paz e liberdade. Nem todos são chamados ao mesmo tempo a resistirem até o sangue. (2) Aqueles que estão em liberdade precisam ter compaixão daqueles que estão presos e em meio a adversidades, como se estivessem presos com eles nas mesmas correntes; eles precisam sentir os sofrimentos dos seus irmãos. 2. A razão desse dever: “...como se estivésseis presos com eles [...] como sendo-o vós mesmos também no corpo”; não somente no corpo natural, e assim propensos a sofrimentos semelhantes, e vocês devem se compadecer deles agora para que outros se compadeçam de vocês quando chegar o seu tempo de provações. Mas também no mesmo corpo místico, debaixo da mesma cabeça: “De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele”. Não seria natural nos cristãos se não carregassem os fardos uns dos outros.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 818.
Bondade para com o estrangeiro (13.2). A mesma palavra philia, “amor”, que no versículo 1 está associada com “irmãos”, está aqui associada com zenos, “estrangeiro”. Não permitam que o calor da sua afeição e hospitalidade seja uma coisa exclusiva, limitada ao seu círculo imediato de amigos crentes; portanto, não vos esqueçais da hospitalidade (6.10), porque, por ela, alguns, não o sabendo, hospedaram anjos (Gn 18—19). Isto não significa que devemos tratar cada maltrapilho que passa como um convidado de honra, mas significa que há recompensas inesperadas e escondidas em um espírito de hospitalidade generoso, que vale para os de fora bem como para os de dentro. Nossa bondade pode não descobrir anjos, mas pode contribuir para a formação de santos.
Compaixão pelos que sofrem (13.3). Também devemos lembrar dos presos, como se estivéssemos presos com eles. Não pode haver verdadeira empatia se nos restringirmos a lágrimas de crocodilo em casa. Devemos entrar no sofrimento dos outros por meio da oração, da escrita, da visitação, às vezes por meio de ajuda jurídica ou financeira. Muitos estão presos pela doença em hospitais ou inválidos em casa. Estes também precisam ser lembrados. Devemos ser atenciosos com todos que sofrem adversidades, de qualquer tipo, como se nós mesmos estivéssemos sendo maltratados no corpo. Se no momento não estamos passando por tribulações semelhantes isto não deve ser motivo de presunção e, certamente, nenhuma evidência de favoritismo divino; nem é uma garantia para o futuro. Estar no corpo é ser igualmente exposto a todos os riscos que pertencem à vida na terra. Os cristãos muitas vezes são protegidos sobrenaturalmente, mas nem sempre. Eles não estão imunes a doenças ou isentos de sofrimento. Por que Deus permitiu que Tiago fosse morto por Herodes, mas poupou Pedro de maneira miraculosa? Por que Ele permite todas as outras injustiças aparentes? Isto é um mistério que está escondido em sua soberania inescrutável e perfeita.
Richard S. Taylor. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 123.
3. O despenseiro deve administrar com fidelidade.
O DESPENSEIRO DEVE ADMINISTRAR BEM A GRAÇA DE DEUS
Aqui, entendemos que cada crente é um despenseiro de Deus. Pedro adverte quanto a sua mordomia, dizendo: “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá, para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o poder para todo o sempre. Amém” (1 Pe 4.10, 11).
O DESPENSEIRO DEVE SER FIEL
Escrevendo aos coríntios, Paulo ensina que devemos ser vistos pelos homens, todos os crentes, como “ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus” (1 Co 4.1). A palavra ministro vem de diáconos, ou servo. Diante de Deus, cada um deve ser servo a serviço da igreja e de sua missão na Terra. Tendo em vista sua grande missão, diante de Deus, da Igreja e dos homens, os despenseiros devem ser fiéis em tudo. Os “mistérios de Deus” não têm nada a ver com coisas ocultistas, esoteristas ou místicas. A Bíblia nos declara que significa esse mistério. Paulo, aos colossenses, diz: “o mistério que esteve oculto desde todos os séculos e em todas as gerações e que, agora, foi manifesto aos seus santos-, aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória (Cl 1.26,27). Aí, temos “o mistério” revelado: “Cristo em vós, esperança da glória”! Esse mistério foi revelado “para que, agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef 3.10).
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 154.
I Ped 4.10 Cada pessoa recebeu um ou mais dons espirituais da parte de Deus - um talento ou uma habilidade concedidos pelo Espírito Santo que podem ser usados no ministério da igreja. Os dons espirituais ajudam o povo de Deus a servir e amar uns aos outros (4.8) e a prosseguir em sua tarefa de divulgar o Evangelho. Alguns destes dons tão variados estão listados em Romanos 12.6-8, I Coríntios 12.4-11,27-31, e Efésios 4.11,12 - estas listas são diferentes, e não são, de maneira alguma, exaustivas. Quando os crentes reconhecem humildemente a sua parceria no corpo de Cristo, os seus dons podem ser usados de maneira eficaz.
Quando os crentes usam os seus dons no serviço humilde aos outros, a graça de Deus pode fluir deles. Os dons que Deus dá aos crentes são tão variados e multifacetados quanto os próprios crentes. Assim como a graça de Deus varia ao tratar as pessoas, os dons de Deus (dados devido à sua graça) também variam na administração da sua graça como corpo de Cristo na terra. Administrá-los bem significa não ocultar os dons, mas usá-los como devem ser usados - para servir e edificar o corpo de Cristo.
I Ped 4.11 Pedro encorajou os crentes para que usassem os seus dons (4.10). Os homens e mulheres que têm o dom de falar devem ser responsáveis peio que dizem, falando segundo as palavras de Deus. Da mesma maneira, aqueles que foram dotados com habilidades que se centram em ajudar aos outros também têm uma responsabilidade - não servir com as suas próprias forças, mas segundo o poder que Deus dá. Se os crentes servirem unicamente com as suas próprias forças, ou para parecerem bons aos olhos dos outros, eles começarão a pensar que servir é uma tarefa exaustiva. Mas servir com o poder de Deus significa ser capaz de fazer mais do que é pedido, e fazê-lo com um único objetivo: para que Deus seja glorificado por Jesus Cristo. Quando os crentes usarem os seus dons como Deus ordena (para ajudar os outros e edificar a igreja), os outros verão a Jesus Cristo neles e glorificarão ao Senhor pela ajuda que receberam.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 729.
(1) A regra é que, qualquer que seja o dom, comum ou extraordinário, quaisquer que sej am o poder, a habilidade ou a capacidade para fazer o bem que nos foram dados, devemos administrar, ou servir, uns aos outros com eles, não nos considerando senhores, mas somente “...bons despenseiros da multiforme graça”, ou dos diversos dons de Deus. Aprenda: [1] Seja qual for a habilidade que tivermos para fazer o bem, precisamos reconhecê-la como um dom de Deus e atribuí-lo à sua graça. [2] Quaisquer dons que tenhamos recebido, devemos considerá-los como recebidos para o uso uns aos outros. Não podemos tomá-los para nós mesmos, nem escondê-los num lenço, mas servir com eles aos outros da melhor maneira que conseguirmos. [3] Ao recebermos os multiformes dons de Deus, precisamos considerar-nos apenas despenseiros, e agir de acordo com isso. Os talentos que nos são confiados são bens do nosso Senhor, e precisam ser empregados de acordo com a orientação dele. E se exige de um despenseiro que seja encontrado fiel.
(2) O apóstolo exemplifica as suas orientações acerca dos dons em dois aspectos particulares: falar e administrar, acerca dos quais ele dá estas regras: [1] “Se alguém, seja um ministro em público, seja um cristão numa reunião particular, falar ou ensinar, precisa fazê-lo segundo as palavras de Deus”, que nos orientam acerca dos assuntos da nossa fala. O que os cristãos em particular ou os ministros em público ensinam e falam precisa ser a pura palavra e os oráculos de Deus. Acerca da maneira de falar, precisa ser com seriedade, reverência e solenidade, que convém à santa e divina palavra. [2] “Se alguém administrar, ou como um diácono, distribuindo donativos da igreja e cuidando dos pobres, ou como pessoa particular, por meio de dádivas e contribuições de caridade, administre segundo o poder que Deus dá”. Aquele que recebeu abundância e habilidades de Deus deve administrar com abundância, e de acordo com sua habilidade. Essas regras devem ser seguidas e praticadas para este fim, “...para que em tudo, em todos os seus dons, ministrações e serviços, Deus seja glorificado” (v.11), “...para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.16), “...por Jesus Cristo” (v. 11), que obteve e concedeu esses dons aos homens (Ef 4.8), e unicamente por meio de quem nós e nossos serviços são aceitáveis a Deus (Hb 13.15), a quem, Jesus Cristo, “...pertence a glória e o poder para todo o sempre. Amém.” Aprenda que, em primeiro lugar, é dever dos cristãos em particular e dos ministros em público falar uns aos outros das coisas de Deus (Ml 3.16; Ef 4.29; SI 145.10-12). Em segundo lugar, importa seriamente a todos os pregadores do evangelho manter-se próximos da palavra de Deus, e tratar essa palavra como os oráculos de Deus. Em terceiro lugar os cristãos não devem somente cumprir com as suas obrigações, mas precisam cumpri-las com vigor e de acordo com as suas melhores habilidades. A natureza da obra de um cristão, que é trabalho sublime e difícil, a bondade e o favor do Mestre e a excelência de toda a recompensa, tudo exige que os nossos esforços sejam sérios e vigorosos, e tudo que somos chamados a fazer para a honra de Deus e o bem dos outros, devemos fazer com todas as nossas forças. Em quarto lugar, em todos os deveres e serviços da vida devemos almejar a glória de Deus como o nosso propósito principal; todas as outras coisas precisam ser submetidas a isso, que vai santificar nossos atos e coisas comuns (1 Co 10.31). Em quinto lugar, Deus não é glorificado por nada do que fazemos se não oferecermos isso a Ele por meio da mediação e dos méritos de Jesus Cristo. Em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, que é o único caminho para o Pai. Em sexto lugar, a adoração que o apóstolo presta a Jesus Cristo e o fato de lhe atribuir louvor e domínio eternos provam que Jesus Cristo é o Deus Altíssimo, bendito acima de tudo para sempre. Amém.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 879-880,
I Ped 4. 10 Cada um, conforme recebeu um dom da graça – servi uns aos outros com ele como bons administradores da multiforme graça de Deus. Visto que os dons da graça (em grego: charisma) são dados pelo Espírito Santo, eles também são chamados de “dons do Espírito” (1Co 14.1). Este versículo presta uma importante contribuição para a pergunta a respeito do que são os carismas e como devem ser exercidos. O contexto demonstra que ser hospitaleiro, falar a palavra de Deus e exercer a diaconia são serviços dos dons da graça. O NT, portanto, não restringe o termo “dom da graça” aos dons particularmente notórios, p. ex., cura de enfermos (1Co 12.9) ou línguas (1Co 12.10; 14.13). Quem pratica de modo alegre e consciente a hospitalidade provavelmente obteve um carisma para isso. Porém, todo aquele que recebeu um dom para a edificação da igreja é um “carismático”. Pedro não escreve: “cada um, quando recebeu um dom da graça”, mas como (ou: “na proporção em que”) recebeu. Logo tem por certo que cada cristão participa da multiforme graça de Deus, que conseqüentemente também possui dons da graça. Não é possível produzi-los a partir de si mesmo, mas somente recebê-los. É verdade que podemos “buscá-los” (1Co 14.1), mas sempre continuarão sendo dádiva de Deus através do Espírito Santo. Servi uns aos outros com eles significa: os dons da graça foram dados para o serviço mútuo. Obviamente os dons não devem ser mal usados pelo seu detentor, p. ex. para a fama pessoal, pois então se tornam uma ameaça. Os dons da graça que nos foram confiados não devem nos tornar “carismáticos” deslumbrados, mas servidores humildes e singelos. Desse modo a dádiva se torna incumbência. Cada qual é servo do outro, essa é a ordem da igreja de Jesus. Como bons administradores da multiforme graça de Deus. A graça de Deus é sua dadivosa dedicação aos seus (cf. o comentário a 1Pe 1.13). Multiforme ela é na medida em que exerce uma obra diversificada na igreja e em cada cristão (cf., p. ex., 1Pe 5.10). Como graça multiforme ela também é suficiente para todas as múltiplas carências da igreja. Administradores é o nome dado pelo próprio Jesus a seus discípulos em várias parábolas (Lc 16.1; cf. Mt 25.14ss). Um administrador é caracterizado pelo fato de ter recebido dádivas em confiança para o serviço, que não são de sua propriedade. Cabe-lhe prestar contas sobre seu uso, razão pela qual tem de aproveitar tempo e oportunidade, enquanto possui os dons. Um laborioso empenho em prol de seu Senhor com os dons da graça que lhe foram confiados constitui o bom administrador.
I Ped 4. 11 Quando alguém fala – em palavras de Deus; quando alguém serve – a partir da força que Deus oferece. Uma vez que aqui se trata do serviço mútuo (v. 10), com “falar” Pedro provavelmente tem em vista tanto o discurso na reunião da igreja como também a palavra pessoal de irmão para irmão. Quando alguém fala, que sejam palavras (ou: “enunciações”) de Deus. Aqui não se refere a palavras da Bíblia, mas a palavras que brotam de ouvir a Deus, embora não dissociadas da Sagrada Escritura. Trata-se do falar de Deus aqui e agora, de seu falar relativo a uma situação específica. Quando alguém fala – em palavras de Deus não devemos traduzir de forma atenuada: “como palavras de Deus”. No grego não apenas se usa uma comparação, mas designa-se a realidade. Aquele que fala deve enunciar palavras que de fato se originam de Deus. Quando isso acontece, será um falar eficaz – para honra de Deus e não para a honra pessoal – determinado pelo Espírito Santo e seus dons da graça (cf. também Cl 3.16): um “culto carismático”. A presente palavra de Pedro corresponde à de Paulo: “Segui o amor e procurai, com zelo, os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis. (em grego propheteuein)” (1Co 14.1). Importa para Pedro a fala compreensível, concedida por Deus e desmascarando o que está oculto no coração (1Co 14.24s). Em 2Co 2.17 Paulo assevera: “É da parte de Deus, na presença de Deus, em Cristo que falamos” [TEB]. É vontade do Senhor que isso aconteça na igreja de forma abundante e clara. Quando alguém serve – a partir da força que Deus oferece. O grego diakonein = “servir” formou o termo “diaconia”. Originalmente diakonein significa “servir à mesa” e se refere, no NT, ao auxílio prestado em situações de carência e necessidade física, mas também espiritual (cf. ThBl, artigo “Dienen”). O fato de Pedro citar, dentre a grande variedade de carismas, justamente o diakonein demonstra como ele é importante em uma igreja viva. Uma vida eclesial apropriada sempre se manifestará através da diaconia. Não estamos diante de uma exortação especial para diáconos e diaconisas, mas de uma convocação para toda a igreja. Pedro conta naturalmente com o fato de que na igreja existem muitos servidores. Todos os discípulos são instruídos a servir (Jo 13.15-17). É verdade que nos primórdios do NT já houve exercício do
ministério do diácono e da diaconisa (At 6.3; Fp 1.1); a exortação de Pedro à igreja toda, no entanto, revela com nitidez e clareza que esses serviços organizados não devem tornar desnecessário o agir diaconal específico de todos os membros da igreja. A incumbência diaconal é tão grande que o “ministério” diaconal do indivíduo e o agir diaconal de todos os membros da igreja precisam completar um ao outro. Quando alguém serve – a partir da força (ou “vigor”) que Deus oferece. Na força que Deus oferece residem, teológica e historicamente, as raízes da diaconia. Por isso a diaconia verdadeira somente poderá ser exercida por alguém que vive diariamente da força que Deus oferece. A miséria com que o cristão se depara pode ser tão dura e desanimadora que não se pode enfrentá-la de outra forma que não pela força suprida por Deus. Também nesse ponto fica evidente: a diaconia somente pode ser realizada mediante oração e no poder de Deus.
É significativo como o presente trecho termina: para que em tudo Deus seja exaltado por meio de Jesus Cristo. Somos chamados a ser algo para o louvor da glória de Deus (Ef 1.12). É para isso que aponta toda a atuação do Filho (Mt 6.9s; Jo 17.4). É para isso que aponta também o Espírito Santo em nós, que ele convocou. Não existimos para nós mesmos. Quando nos transformamos no centro das atenções, erramos nosso alvo. Sempre estão em jogo Deus e sua honra. Toda a vida, também o amor fraternal, a hospitalidade e diaconia, têm em Deus seu fundamento e alvo: para que em tudo Deus seja exaltado (ou: honrado, glorificado) por meio de Jesus Cristo. Servindo ao irmão o cristão honra a Deus. Em tudo (ou: através de todos) Deus deve ser exaltado. O alvo da exortação apostólica é que cada um viva, em tudo que fizer, para a glória de Deus, engrandecendo assim o nome dele. Além disso, importa que Deus seja exaltado através de todos. Um cristão não pode fazer nada sem Jesus, nem mesmo prestar a Deus a honra que lhe é devida. O que ele fizer para a honra de Deus acontece por meio de Jesus Cristo. Consequentemente, também na glorificação de Deus a honra não cabe aos cristãos, mas a Jesus Cristo. Para ele é (ou: ele possui) a honra e o poder para os éons dos éons. Amém. O trecho encerra com uma exaltação, uma “doxologia” (de doxa = honra). Como nosso Deus é grande! Aqui Pedro diz enfaticamente: “Para ele é a honra e o poder”, não apenas “para ele seja” ou “a ele compete a honra”, como normalmente. Devemos estar cientes disso no sofrimento. Éon significa “era”. A Sagrada Escritura desconhece nosso conceito estático, onerado pela filosofia, de “eternidade” em repouso. A Bíblia fala de forma mais dinâmica de éons, referindo-se às diferentes eras marcadas pelo agir salvador de Deus. Quanto à expressão: para os éons dos éons, lemos, p. ex., no Comentário Esperança sobre Rm 16.27: “O futuro não é eternidade vazia, mas uma plenitude de novas eras, que hão de desenvolver cada vez mais e de forma mais profunda a exuberante riqueza de sua graça (Ef 2.7).”
Uwe Holmer. Comentário Esperança Cartas aos I Pedro. Editora Evangélica Esperança.
I Cor 4.1 A missão de Paulo e de todos os que foram chamados para pregar o evangelho foi construída sobre quatro elementos: serviço, mordomia, fidelidade e sensibilidade aos juízos de Deus. Embora todos estes elementos estejam relacionados, há diferença entre eles.
a) Serviço (4.1). Paulo e Apoio não deveriam ser considerados como líderes de evangelhos diferentes. Ambos eram ministros de Cristo. A palavra ministros (hyperetas) significa “servos”. Originalmente o termo se referia a remadores que ajudavam a impulsionar barcos através das águas do mar. A palavra sugere a labuta e o trabalho contínuo envolvido na obra do evangelho.
b) Mordomia (4.1). Paulo e Apoio também eram despenseiros dos mistérios de Deus. Um despenseiro (oikonomos) era literalmente o “administrador de uma casa”. Freqüentemente ele era um escravo respeitado e eficiente a quem o negociante ou o dono da terra havia entregue a administração da propriedade. Como tal, o despenseiro tinha autoridade sobre os ajudantes ou empregados. Ele atribuía trabalho e distribuía mantimentos. Ele era o superintendente sobre a operação de todo o empreendimento. Contudo, ele estava sempre ciente de que era um escravo, e estava sob a obrigação de iniciar e executar a vontade do proprietário.
O termo mistérios se refere a todo o plano da salvação (cf. o comentário sobre 2.7). Paulo e Apoio não possuíam qualquer conhecimento secreto escondido de todos, exceto de alguns escolhidos. Eles eram mestres e pregadores da verdade revelada sobre a salvação em Jesus Cristo e através dele.
William M. Greathouse. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 267.
I Cor 4.1 Como Paulo deve ter se sentido profundamente mal-interpretado! Ao combater com determinação uma parte dos novos mestres em Corinto com sua ―sabedoria‖, seu interesse era exclusivamente a causa, a vigência única da ―palavra da cruz‖, não a importância de sua pessoa. Por isso ele torna a dar uma instrução à igreja, sobre como ―a gente‖ deve ―avaliar‖ a ele e todos os seus colaboradores: “Assim sejamos avaliados: como servos de Cristo” [tradução do autor]. Em 1Co 3.5 ele já descrevera Apolo e a si mesmo como ―servos, por meio de quem crestes‖. Ali utilizou o termo diakonos, que designa o serviço de acordo com o proveito que ele traz para aquele a quem se serve. Agora ele usa uma palavra que designa sobretudo a subordinação e dependência do servo diante do senhor. Desse modo deixa claros ambos os aspectos: de maneira alguma visa ser ―senhor‖ da igreja, ele é apenas ―servo‖; no entanto ele é servo de um Senhor e está comprometido com ele, motivo pelo qual é impossível que fique subordinado aos coríntios e a seus desejos. Isso é reforçado pelo adendo que fala sobre o conteúdo de seu serviço: “administradores dos mistérios de Deus”. A ele foi confiada a administração da causa magna: os mistérios de Deus. Com quanto zelo um administrador precisa lidar com
essas preciosidades! Paulo e seus colaboradores – afinal, Paulo volta a falar de ―nós‖ – não determinam com pleno poderio pessoal o que dão à igreja. Mas tampouco a igreja pode exigir o que deseja ouvir e obter. Trata-se de ―mistérios‖, de realidades que se subtraem à nossa avaliação e transcendem nossas capacidades naturais, para as quais precisamos nos abrir com reverência para obtê-las. E esses mistérios foram planejados exclusivamente pelo próprio Deus antes dos éons e concretizados unicamente na própria história da salvação, sobretudo na cruz de Jesus (Cf. 1Co 2.7 e o comentário, acima, p. 63). Ninguém tem direito de mudar algo disso, nem Paulo nem a igreja.
Werner de Boor. Comentário Esperança Cartas aos I Corinto. Editora Evangélica Esperança.
O ministro é um mordomo fiel (4.1-6)
Paulo ainda está corrigindo o mesmo problema identificado desde o capítulo 1, a divisão na igreja em virtude do culto à personalidade. O mundo estava entrando na igreja de Corinto e a filosofia do mundo conduzia os seus assuntos internos.
Corinto era uma cidade grega e o grande hobby dessa cidade era ir para a praça, a ágora, a fim de escutar os grandes filósofos e pensadores discutirem suas idéias e exporem a maneira como viam o mundo ao seu redor. Eles se identificavam com um ou outro líder, com esse ou aquele filósofo. Eles acabavam se tornando seguidores de homens.
Centrando-se em seus líderes, os coríntios estavam prestando fidelidade a homens; homens de Deus é verdade, mas apenas homens. Essa era a maneira que o mundo se comportava e ensinava. Sempre que a igreja segue os grandes nomes e gira em torno de homens, está imitando o mundo.
Uma vez que eles estavam acostumados a vivenciar isso no mundo, queriam, agora, fazer o mesmo dentro da igreja. Por isso, diziam: Eu sou de Paulo, eu de Apoio, eu de Cefas e eu de Cristo.
Como Paulo combate essa idéia do culto à personalidade?
Após afirmar que os obreiros da igreja são apenas servos ou diáconos, ele prossegue em seu argumento, dizendo que eles são escravos condenados à morte que trabalham sob as ordens de um superior (4.1). Vamos examinar alguns pontos importantes:
Em primeiro lugar, o obreiro é um escravo sentenciado à morte. Paulo escreve: “Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo” (4.1). A palavra - “ministro” na língua portuguesa representa o primeiro escalão do governo. O ministro é uma pessoa que ocupa uma alta posição política, de grande projeção na liderança, e tem em suas mãos um grande poder e autoridade. Se olharmos a palavra “ministro” no campo religioso, estaremos falando de alguém que exerce a função de líder na igreja local. Todavia, a palavra usada pelo apóstolo Paulo para definir o ministro nos dá uma idéia totalmente contrária. A palavra grega usada é huperetes, que significa um remador de galés.
Essa palavra era utilizada para a classe mais simples de servos. Os ministros são meros servos de Cristo. Eles não têm autoridade procedente deles mesmos. A palavra huperetes só aparece aqui em todo o Novo Testamento. Nos grandes navios romanos existiam as galés, que eram porões onde trabalhavam os escravos sentenciados à morte. Aqueles escravos sentenciados à morte prestavam um serviço antes de morrer. Eles tinham os seus pés amarrados com grossas correntes e trabalhavam à exaustão sob o flagelo dos chicotes até à morte. Paulo diz que o ministro não deve ser colocado no pedestal como o dono da igreja ou como o capitão do navio, antes deve ser visto como um escravo que serve ao capitão até à morte. Paulo está dizendo para não colocarmos os holofotes sobre um homem, porque importa que os homens nos considerem como huperetes e não como capitães do navio. O obreiro da igreja é um escravo já sentenciado à morte, que deve obedecer as ordens do capitão do navio, o Senhor Jesus Cristo.
Em segundo lugar, o obreiro éu m mordomo que obedece as ordens do seu Senhor (4.1). Paulo usa agora uma nova figura. Ele diz que o obreiro é um despenseiro ou mordomo. A palavra grega usada por Paulo é oikonomos, de onde vem a nossa palavra mordomo. O ministro é um despenseiro, aquele que toma conta da casa do seu senhor. Em relação ao dono da casa, o mordomo era um escravo, mas em relação aos outros serviçais, ele era o superintendente. Sua função era cuidar dos interesses do seu senhor. Ele cuidava da alimentação da casa. Ele prestava contas, não aos seus colegas, mas ao seu senhor.
Os mistérios de Deus representam aqui o evangelho, a Palavra de Deus. O mordomo ou oikonomos era a pessoa que cuidava da despensa, da dieta, da alimentação de toda a família. O oikonomos era um administrador, mordomo, dirigente de uma casa, com freqüência um escravo de confiança que era encarregado de todos os negócios do lar. A palavra enfatiza que a pessoa recebe uma grande responsabilidade, pela qual deve prestar contas. O que isso nos sugere?
a) Não era competência do mordomo prover o alimento para a família; essa era uma responsabilidade do dono, do senhor da casa. O ministro do evangelho não tem de prover o alimento, porque esse já foi providenciado. Esse alimento é a Palavra de Deus. Compete ao ministro dar a Palavra de Deus ao povo. O ministro não é o provedor, ele é o garçom que serve as mesas. Ele não coloca alimento na despensa, mas prepara o alimento e o serve. Ele não pode sonegar o alimento que está na despensa, ou adulterá-lo nem substituí-lo por outro.75 Ele precisa ser íntegro e fiel, dando ao povo o mesmo alimento que o dono da casa proveu para a família.
Sabemos, porém, que é possível ter na despensa os melhores alimentos e, mesmo assim, ter na mesa a pior refeição. A competência do mordomo era pegar a riqueza do alimento que estava na despensa, que é a Palavra de Deus, e preparar uma refeição gostosa, saborosa, e balanceada: Leite para a criança, alimento sólido para aqueles que podem suportá-lo. Não é conveniente preparar a mesma refeição todos os dias. O ministro precisa ensinar todo o desígnio de Deus. Paulo diz: “Toda a Escritura é inspirada por Deus é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3.16, 17).
b) Nao era função do mordomo buscar nova provisão ou servir qualquer alimento que não fosse provido pelo senhor. A Palavra de Deus deve ser ensinada de formas variadas. Paulo diz para ensinarmos todo o conselho de Deus (At 20.27). Hoje, não temos mais profetas nem apóstolos como tinham as igrejas primitivas! Eles pregavam mensagens de revelação. Quando os profetas diziam Assim diz o Senhor, eles estavam recebendo uma mensagem inspirada, inédita, e nova da parte de Deus. E essa mensagem iria fazer parte do cânon das Escrituras.
Nos dias atuais, porém, nenhum homem e nenhuma mulher recebe mensagens novas de Deus. Tudo o que Deus tem para nós já está nas Escrituras. Mesmo que um anjo descesse do céu e pregasse outra mensagem que vá além daquela que está nas Escrituras, deve ser prontamente rejeitada e considerada como anátema! (G11.6-9). A Bíblia já tem uma capa posterior. Ela já está concluída, fechada e é por isso que no livro do Apocalipse diz que nós não podemos acrescentar ou retirar mais nada do que nela está escrito (Ap 22.18,19). A pregação hoje não é revelável, mas expositiva. Você não acrescenta mais nada ao que está na Palavra, mas expõe apenas o que está na Palavra.
Não recebemos mensagens novas, mas damos ao povo o conteúdo da Palavra de Deus já revelada. c) A função do mordomo era servir as mesas com integridade.
O ministro não é um filósofo que cria a sua própria filosofia. Não é assim o despenseiro. Ele não cria uma doutrina, uma teologia ou uma idéia a fim de aplica-la e ensiná-la. Cabe a ele transmitir o que recebeu. E Paulo sempre usa essa expressão: “[Eu] vos entreguei o que também recebi” (ICo 15.3). O despenseiro não pode entregar o que não recebeu. E o que é que ele recebeu? E o que está na Palavra! Sendo assim, o despenseiro não podia mudar o alimento. De igual forma, nós não podemos mudar a mensagem. Também o despenseiro não podia adulterar o alimento, ou seja, ele não podia mudar o conteúdo, a substância, e a essência do alimento.
Nós não podemos mudar nem diluir a Palavra de Deus. Ainda, o despenseiro não podia acrescentar nenhum alimento no cardápio além daquele que estava na despensa. Nós não podemos pregar o evangelho e mais alguma coisa. E o evangelho, somente o evangelho e, todo o evangelho. Finalmente, o despenseiro não podia reter as iguarias que o senhor da casa havia provido para toda a casa, para toda a família. Ele tinha de distribuir todo o alimento que o seu senhor providenciara para a família e para o restante da casa. E isso significa dizer que o despenseiro precisa pregar para a igreja todo o conselho de Deus. Não pode pregar apenas as doutrinas da sua preferência. A melhor maneira de fazer isso é pregando expositivamente, livro por livro. Essa é a maneira mais adequada de se colocar na mesa todas as iguarias providenciadas pelo Senhor.
LOPES, Hernandes Dias. 1 Coríntios Como resolver conflitos na Igreja. Editora Hagnos. pag. 69-74.
III - OS DONS ESPIRITUAIS E O FRUTO DO ESPÍRITO
1. A necessidade dos dons espirituais.
No capítulo 2, vimos o Propósito dos Dons Espirituais. Neste item, podemos identificar a necessidade dos dons para as igrejas em todos os tempos e lugares. Hoje, mais do que nunca, com o esfriamento do amor e a multiplicação da iniquidade (cf. Mt 24.12), a Igreja do Senhor Jesus necessita de mais poder, de mais unção, de “mais demonstração do Espírito e de poder” (1 Co 2.4). Os teólogos cessacionistas, que ensinam que os dons espirituais cessaram com o fechamento do Cânon do Novo Testamento, e não há mais necessidade deles. Cometem equívoco elementar em sua exegese sobre a atualidade dos dons. O fechamento do Cânon nada tem a ver com doutrina. Quer dizer que não se pode acrescentar mais nenhum livro ao Novo Testamento.
No que concerne aos dons espirituais, os ensinos cessacionistas não se firmam na boa interpretação da Bíblia, porque carecem de fundamento escriturístico. Eles se baseiam em premissas equivocadas, que aprenderam com seus mentores, nos seminários, ou em seus tratados teológicos. Para esses teólogos, suas conclusões cessacionistas tornaram- se dogmas, a exemplo do que ocorreu na teologia católica. São postulados intocáveis, sagrados, infalíveis. Eles defendem, corretamente, o postulado da “Sola Scriptura”, fundamento da Reforma, mas, em seus estudos, valorizam mais a opinião dos teólogos do que a própria Palavra de Deus. Em nenhum lugar, na Bíblia, está escrito que os dons espirituais deixaram de operar na igreja. Os dons espirituais, hoje, são mais necessários do que no tempo dos apóstolos. Há uma “frente fria”, passando pelos seminários, por faculdades teológicas, e por muitas igrejas, em que não se vê a presença de Deus, através dos dons espirituais, ou dos sinais do poder de Deus, na vida das pessoas.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 155.
Ap 3.15,16 Esta alusão ao abastecimento de água de Laodicéia é uma metáfora adequada para as atividades desta igreja. Laodicéia sempre tinha tido um problema com o seu abastecimento de água. A cidade de Hierápolis, a noroeste, era famosa pelas suas fontes minerais de águas quentes. Um aqueduto tinha sido construído para trazer água das fontes à cidade. Mas, quando a água chegava à cidade, ela não estava nem quente nem refrescante - somente morna e cheia de minerais (impura), de maneira que tinha um sabor terrível. De acordo com Cristo, estes crentes não eram nem frios nem quentes, mas mornos, tão insípidos quanto a água morna que chegava à cidade.
Muitos pensaram que as palavras “quente” e “frio” se referem à espiritualidade, e que Cristo preferiria ter pessoas “frias” (sem nenhuma fé, ou sem nenhum tipo de crescimento) a crentes “mornos” (que tinham um pouco de fé). Eles interpretaram a palavra “frio” como sendo negativa, e “quente”, como sendo positiva, com a palavra “morno” como um meio-termo entre estes dois estados. Na verdade, tanto “frio” quanto “quente” devem ser interpretados como estados positivos. Cristo desejava que aquela igreja tivesse uma pureza refrescante (fria), ou um valor terapêutico (quente), mas ela não tinha nada disso.
Ap 3.17 Laodicéia era uma cidade rica, e aparentemente a igreja também era rica. Não está claro se os crentes de Laodicéia estavam reivindicando riqueza espiritual ou material.
Eles podem ter sido materialmente ricos e imaginado que as riquezas eram um sinal das bênçãos de Deus sobre eles. Com a sua riqueza, vinha uma atitude de auto-sufidênda – um sentimento de que de nada tinham falta. Eles estavam materialmente seguros e sentiam-se espiritualmente a salvo - sem a necessidade de mais crescimento. Infelizmente, esta atitude os cegou para a sua própria condição verdadeira - desgraçados, miseráveis, pobres, cegos, e nus. Compare isto com a situação da igreja de Esmirna; eles eram pobres, mas Cristo os chamou de ricos (2.9). Os crentes de Laodicéia podem ter sido ricos, mas estavam espiritualmente empobrecidos. Embora a cidade se orgulhasse da sua grande riqueza financeira, de uma indústria têxtil produtiva, e da pomada oftálmica especial, a verdadeira condição espiritual da igreja deixava a cidade pobre, nua, e cega (veja 3.18).
Ap 3.18 Laodicéia era conhecida pela sua grande riqueza, mas Cristo disse aos crentes de Laodicéia que comprassem ouro dele; então, teriam verdadeiros tesouros espirituais (veja 1 Tm 6). Eles tinham ouro de tolos nas suas contas bancárias, ouro deste mundo, sem nenhum valor espiritual ou eterno. Eles só enriqueceriam com o ouro de Cristo.
A cidade orgulhava-se das suas indústrias de tecido e tintura. Eles tinham desenvolvido uma lã negra que tinha ficado famosa por todo o império romano e que alcançava preços elevados. Embora se vestissem ricamente, estavam nus diante de Deus. Eles eram egoístas.
Mas Cristo lhes disse que comprassem vestes brancas (a sua justiça) dele, para que náo aparecesse a vergonha da sua nudez. Laodicéia orgulhava-se de uma pomada oftálmica preciosa que curava muitos problemas dos olhos, mas os seus habitantes estavam espiritualmente cegos. Cristo lhes disse que ungissem os olhos com o colírio dele, para que vissem a verdade Jo 9.39). Cristo estava mostrando aos crentes de Laodicéia que o verdadeiro valor não está nas posses materiais, mas em um relacionamento correto com Deus. As suas posses e realizações não tinham valor algum, quando comparadas com o futuro eterno do Reino de Cristo.
Ap 3.19 Havia uma segunda chance para esta igreja; Cristo lhes oferecia a oportunidade de se arrependerem. A sua repreensão e castigo viriam por causa do seu amor pela igreja (Pv 3.12). Cristo “vomitará” aqueles que desobedecerem (3.16), mas disciplinará aqueles que Ele ama. Devido a esta misericórdia, os crentes devem se arrepender voluntariamente, percebendo a necessidade que têm de Cristo em todas as áreas de suas vidas e ministérios. Então, eles serão eficazes para Ele.
Ap 3.20 A igreja de Laodicéia era complacente e rica. Eles sentiam-se satisfeitos consigo mesmos, mas não tinham a presença de Cristo entre eles. Cristo batia à porta dos seus corações, mas eles estavam tão ocupados desfrutando os prazeres mundanos, que não percebiam que Ele estava tentando entrar. Os prazeres deste mundo — dinheiro, segurança, bens materiais – podem ser perigosos, porque a satisfação temporária que eles trazem pode tornar as pessoas – até mesmo os crentes - indiferentes à oferta de Deus de uma satisfação permanente e eterna.
Muitos interpretaram este versículo como uma ajuda na evangelização, retratando Cristo tentando entrar no coração de um indivíduo.
O contexto é Cristo realmente falando a uma igreja toda. As pessoas da igreja de Laodicéia precisavam aceitar Cristo pela primeira vez, pois algumas delas nunca tinham assumido este compromisso. Outras precisavam tornar a crer nele de todo o seu coração. Cristo está batendo à sua porta, desejando que a igreja de Laodicéia se lembre da necessidade que tem dele e abra a porta. Ele entraria e cearia com os crentes, retratando a comunhão à mesa.
No costume oriental, este “cear” referia-se à principal refeição do dia, que os amigos íntimos compartilhariam. Esta refeição retrata o tipo de comunhão que existirá no Reino vindouro do Messias (19.9; Is 25.6-8; Lc 22.30). A igreja precisava se arrepender da sua auto-suficiência e da sua transigência e retornar a Cristo.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 848-849.
Laodicéia Não É Quente Nem Fria (Ap 3.15-17)
"Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente: oxalá foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és nem frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu ".
Aparentemente, os crentes em Laodicéia estavam agindo como se tivessem esquecido quem era Jesus e porque havia Ele morrido. O Senhor Jesus faz-lhes, então, uma advertência muito forte por não serem nem "frios" nem "quentes". Antes de haverem aceitado a fé, eram frios. Ao receberem a Jesus, haviam se tornado quentes - zelosos seguidores do Mestre. Agora, porém, encontravam- se num perigoso estado intermediário - a mornidão espiritual. Não estavam mais desejosos de corresponder ao movimento do Espírito, nem estavam frios o suficiente para perceber quão grandes eram suas necessidades. Além de nada fazerem à obra de Deus, não respondiam ao seu chamado ao arrependimento. Por isso, Jesus deseja que fossem frios ou quentes, pois, assim, poderia fazer alguma coisa por eles.
O Senhor aquieta-se quando lida com um povo a quem não pode usar nem abençoar. Os de Laodicéia não se opunham ao Senhor, mas também não se aproximavam dEle. Como água morna não serve para se beber, de igual modo os crentes mornos jamais se tornarão aptos a seguir a Cristo.
Por isso, Ele os "cuspirá" (literalmente, "vomitar"), ou rejeita-los-á. Agiam como o segundo filho da Parábola dos Dois Filhos, onde o pai pediu a um que fosse trabalhar na vinha. Embora este dissesse: "Eu vou, e não o foi" (Mt 21.30). Eles reivindicavam serem cristãos, mas não faziam a vontade do Pai Celestial.
Laodicéia era um rico centro de comércio. A prosperidade era a causa da mornidão daquela igreja. Eles haviam se tornado ricos e cheios de bens materiais. Com o dinheiro que já tinham, multiplicavam ainda mais suas posses. Estavam, agora, tão envolvidos com a vida material que eram induzidos a negligenciar a espiritual (Mt 13.22). Esta igreja não havia sofrido nenhuma perseguição. Não havia sido invadida pelas falsas doutrinas nem pelos falsos apóstolos. Para as outras igrejas, sua situação era excelente, ideal. Os cristãos de Laodicéia haviam se tornado tão satisfeitos e eufóricos com as coisas que o dinheiro pode comprar, que foram levados a perder o desejo pelas coisas de Deus. Infelizmente, não haviam aprendido ainda a "viver em prosperidade" (Fp 4.12). Como resultado, sua satisfação era falsa por ignorarem as coisas de Deus.
Como na Parábola do Rico Tolo (que por ter muito, só cogitava em construir celeiros cada vez maiores), os crentes daquela cidade achavam que não tinham mais necessidades. Deus, contudo, os viu, não como se estivessem usufruindo de bênçãos, mas como desgraçados, miseráveis, pobres, cegos e nus". Eram tão miseráveis como os não salvos, tão desgraçados como os piores pecadores. Eram pobres porque não possuíam as verdadeiras alegrias do céu. Cegos, porque não tinham percebido que poderiam usar suas riquezas para levar o Evangelho a outros. A prosperidade que possuíam tinha lhes roubado o fervor e a esperança, por isso não mais aguardavam o retorno de Cristo com o anelo que uma vez tiveram. Estavam nus, porque achavam-se despidos da justiça de Cristo. Confiavam na prosperidade como suposta evidência das bênçãos divinas.
Laodicéia É Desafiada (Ap 3.18,19)
"Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e vestidos brancos, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas. Eu repreendo e castigo a todos quantos amo: sê pois zeloso, e arrepende-te. "
Apesar de Jesus não ter nenhum motivo de elogio a esta igreja, mas somente repreensões, ainda assim oferece-lhe esperanças. Em vez de procurar as riquezas deste mundo, deveriam eles comprar de Jesus "ouro provado no fogo", testado e refinado, livre de impurezas. Este é o ouro da fé, que vale muito mais do que todo o ouro deste mundo, não importando
quão puro e valioso este possa vir a ser (1 Pe 1.7). Deus quer que sejamos ricos na fé.
Comprar de Jesus não significa necessariamente dar dinheiro pelo seu trabalho, embora isto talvez esteja implícito aos crentes de Laodicéia. Seria bom, contudo, se observássemos o clamor do Senhor em Isaías 55.1,2 que diz: "O vós todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Porque gastais o dinheiro naquilo que não é pão? e o produto de vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi- me atentamente, e comei o que é bom e a vossa alma se deleite com a gordura".
Eles poderiam comprar de Jesus também "vestidos brancos" - a veste triunfante da justiça (Ap 9.89). Isto, através do sangue do Cordeiro, onde adquiririam uma justiça imputada por Cristo. Uma justiça que fosse real, em suas vidas, através do processo santificador do Espírito Santo.
Precisavam comprar também "colírio" (produto pelo qual Laodicéia tornara-se conhecida). Lembra-nos isto a unção espiritual para os olhos. Deste modo, poderiam ver o seu verdadeiro estado espiritual, e receber a ajuda do Espírito e da Palavra. Então, teriam uma visão clara de Cristo, do céu, e das demais coisas do Espírito. Em João 16.13, Jesus promete que o Espírito Santo nos guiará em toda a verdade, isto é, a verdade do Evangelho, da Palavra de Deus.
No caso de os laodicenses confundirem essas repreensões, pensando ser Jesus mau e vingativo, o Senhor assinala-lhes que Ele repreende e disciplina a todos quantos ama. Seu amor é caloroso e pessoal, não distante. O "eu", aqui, é enfático. O Pai castiga e disciplina a todo aquele que recebe por filho (Pv 3.11,12; Hb 12.5,6).
"Repreendo" é traduzido da mesma palavra grega usada para "reprovo" em João 16.8, onde é empregada para um trabalho específico do Espírito Santo. A palavra inclui a ideia de "expor, repreender, refutar, e mostrar-se culpado". Isto é: o Espírito convence através de prova. Jesus faz aos laodicenses a mesma coisa que fez a João. E, do mesmo modo, o Espírito Santo fará tanto ao mundo, ao çrente carnal e ao cristão espiritual.
Haveria esperança aos laodicenses caso eles se arrependessem. Mas isto implicaria numa mudança de atitude, de coração; enfim: um retorno ao antigo fervor. Acontecendo isto, deveriam consagrar-se a si mesmo num zelo contínuo, como mostra o tempo verbal grego.
Cristo Está à Porta (Ap 3.20)
"Eis que estou à porta, e bato: se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo."
As palavras finais de Cristo à igreja em Laodicéia são uma outra demonstração maravilhosa de seu amor. Após repreendê-los, Jesus coloca-se a si mesmo do lado de fora da porta da igreja, e bate repetidamente, esperando que alguém lhe responda. Apesar de havê-los advertido severamente, seu desejo real não é cuspi-los fora de sua boca, mas "cear" com eles. Jesus está buscando a restauração da comunhão perdida com tais crentes.
Este convite de Cristo era endereçado também a todas as igrejas que não mais possuíam o fogo do avivamento, que tinham se tornado meras organizações ao invés de organismos vivos. Se alguém lhe abrisse a porta, e lhe aceitasse a oferta de renovação espiritual, o avivamento com certeza viria.
Podemos também aplicar esta verdade de forma individual. Jesus não forçará nenhuma igreja, ou pessoa, a aceitá-lo. Mas se alguém abrir-lhe o coração, Ele entrará, trar-lhe-á sua bênção, proporcionando-lhe a maravilhosa comunhão no Espírito.
Além do mais, a Bíblia fala-nos de uma grande ceia que está para vir - as Bodas do Cordeiro. Somente os que ceiam com Ele, agora, ceiarão com Ele no porvir.
HORTON. Staleym. M. Serie Comentário Bíblico Apocalipse As coisas que Brevemente devem acontecer. Editora CPAD.
Ap 3.15 O inquérito judicial (EXCURSO 1c) trata essa igreja como um bloco único. Não há os ―demais‖ (Ap 2.24) ou ―alguns‖ (Ap 3.4 [BLH]) que se mantêm fiéis. Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Água fervente ou fria tem utilidade. Contudo, a quem fortaleceria ou refrescaria água morna? Nessa passagem, ela está sendo oferecida a Cristo, pois ele a degusta em sua boca (v. 16). Ela o repugna. Ele é hóspede em Laodicéia e, com a maior tranqüilidade, os anfitriões servem-lhe água morna. Servem-no com seu serviço lerdo, com seus cultos sonolentos, com orações de ladainhas e com seu cuidado pastoral negligente. Conheço, diz o Senhor diante dessa atividade. Obviamente ele o sabe, pois ele tem de experimentá-lo. Toda a mornidão na comunidade, toda atitude lerda e desligada, também diante das pessoas, fere a ele. O que é feito a um de seus mais humildes irmãos, é praticado contra ele.
Não somente Cristo, também Satanás conhece a maré espiritual baixa da comunidade (cf. o comentário a Ap 3.1). Por isso ele os deixa integralmente em paz. Por isso não se informa nada sobre tentação e perseguição, negação, apostasia ou abalos. Tudo está intacto e tudo se realiza. O quadro de membros não dá razão para preocupações. Sim, os membros mornos consideram o Senhor Jesus Cristo tão inócuo, que nem sequer se desligam.
Quem dera fosses frio ou quente! Essa exclamação denota uma avaliação definida. O grau mais alto é ―quente‖, p. ex., nos termos de Rm 12.11: ―sede fervorosos de espírito‖. Depois segue-se na escala de valores a rejeição clara e fria. No nível mais baixo, porém, está a mornidão. É nele que se abafa de modo suave, mas determinado, o ardor e rugir do Espírito, evitando-se de toda forma ser um adversário. Normalmente, esse caminho intermediário entre os extremos é considerado o ―equilíbrio áureo‖. Contudo, o cristão ―nem a favor nem contra‖ na verdade não se encontra no meio, mas sim em queda livre, no ponto mais baixo da escala de valores.
Entre a acusação e a palavra de ameaça (EXCURSO 1d) normalmente encontra-se o chamado ao arrependimento. Na presente missiva, porém, precipita-se uma ira tão incandescida sobre a situação da comunidade que a ameaça é acrescentada no mesmo fôlego. Isso não significa que não seja mais possível o arrependimento, pois mais adiante segue-se o convite para ele. Antes significa que diante da igreja amornada não se apresenta nenhum Senhor morno. Seu ardor é esperança para todos os mornos.
16 Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca. Com vistas a quatro igrejas o Senhor dissera: ―Tenho algo contra ti!‖ Agora é declarado: ―Tu me repugnas!‖ Esse é o ápice da condenação. Ainda assim – ele ainda suporta os insuportáveis por algum tempo. Justamente nesse ponto segue-se uma palavra de arrependimento extraordinária (EXCURSO 1d), um lutar e requestar por Laodicéia.
Ap 3.17 Agora a igreja toma a palavra, revelando uma arrasadora ignorância diante do conhecimento de seu Senhor no v. 15: pois dizes: Estou rico e abastado. Foi assim que falou em outra ocasião o rico fazendeiro em Lc 12.19. No presente texto fala um comerciante rico. ―Sim‖, pondera ele, ―tornei-me rico‖. Conhecemos a opinião das pessoas bem-sucedidas, como se refestelam em suas recordações sobre como levantaram seus negócios. No passado assumiram um pequeno comércio, agora possuem uma gigantesca loja de departamentos! A conclusão talvez soe como Zc 11.5: ―Não o consideram pecado algum, e dizem: louvado seja Deus, agora sou rico!‖ (tradução do autor). Da mesma maneira acontece aqui, que a gabolice com o sucesso material transita para a presunção de uma posse religiosa.
Não preciso de coisa alguma. Em 1Co 12.21 essa formulação ocorre em relação a outro membro da igreja: o irmão não tem nada de significativo para me oferecer. O que ele fala não é importante. Comigo mesmo tenho o suficiente. No presente texto, porém, o orgulho do que providencia tudo por si mesmo levanta-se diante do próprio Senhor. Jo 15.5 é virado de pernas para o ar: ―Sem ti podemos realizar tudo!‖ É assustador formulá-lo dessa maneira, mas quantas vezes isso é praticado na vida (1Co 4.8)! Nessa auto-suficiência diante de Jesus, nesse afastamento do trono de sua graça residem o pecado originário da igreja, bem como o começo do fim.
Entretanto, nem mesmo Sansão notou que sua força o abandonara: e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável (―e nem sabes que és miserável e digno de pena‖ [tradução do autor]). É assim que se apresenta o quadro da realidade do homem ativo nos negócios e conformado com o mundo, que acompanha tudo. Ele está tenso e desgastado, o tipo de atribulado de Mt 11.28 (o mesmo vocábulo em Rm 7.24). Ele deveria chegar a Jesus, porém não o sabe. Ele se considera independente: ―Não careço de nada‖. Contudo, tem necessidade dos remédios e da cura para o coração. Toda vez que alcança o sossego, busca o divertimento e os compromissos, saindo logo de novo às pressas. Sobretudo teria necessidade da compaixão e, finalmente, do arrependimento. E por estar tão sobrecarregado, é digno de pena. A ira não torna Jesus cego para o pecador. Ele preserva o olhar pela pobre criatura. Ela lhe dá pena, e muito mais quando ela mesma não tem consciência de si, mas ainda se auto-engrandece. O estado espiritual é caracterizado com três ilustrações: pobre, cego e nu (cf. abaixo).
Ap 3.18 A esses três pontos enfermos correspondem os três conselhos. Aconselho-te. Talvez haja aqui uma conotação do linguajar comercial. Jesus se apresenta como comerciante (Mt 13.45), oferecendo três especialidades de Laodicéia famosas naquele tempo. Pelo que se evidencia, a igreja entrementes misturou-se intimamente com o mundo que a envolve. Enquanto antes constituía um templo de Deus nessa cidade de lojas, agora ela própria se tornou um estabelecimento comercial (Jo 2.16), estando acomodada ao seu contexto. O espírito de negócios, de compra e de regateio, havia deslocado o Espírito Santo. Por amor à igreja, porém, Jesus se transforma num mercador, que tenta superar todos os seus concorrentes: ―de mim compres, com toda a certeza receberás boa mercadoria‖. Com tenacidade, quase como de um mascate, ele oferece ora isso, ora aquilo, sempre apresentando ao freguês reticente novas mercadorias. O Filho Eterno se rebaixa a um ponto tão humilde. Fez-se um laodicense para os laodicenses, a fim de conquistá-los.
Com o que Laodicéia deverá pagar? Seguramente essa resposta teria de ser respondida com Is 55.1: ―Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite‖ Também Ap 22.17 conhece essa curiosa ―aquisição‖. Com certeza reside nisso um indício dos altos ―preços‖ que o ser humano paga nesse mundo por artigos de pouco valor, comprometendo pureza, honra, paz e saúde. Junto desse novo ―comerciante‖ na verdade se comprará com vantagens, sim, de forma extraordinariamente vantajosa, a saber, de graça. Ele começa com suas ofertas:
De mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres. O ouro dos bancos de Laodicéia tinha boa fama por causa da consistência de seu valor (cf. nota 243). Ao adquiri-lo, o freguês estava bem atendido. Contudo o mercador adverte: ―Todos vocês que se abasteceram do ouro de Laodicéia, são pobres e terrivelmente enganados. Façam rapidamente negócios comigo e tornem-se verdadeiramente ricos.‖ Nesse texto, ―ouro‖ é expressão da verdadeira posse. Todas as missivas às igrejas falaram sobre ter e não ter (nota 185). Cristo faz o balanço. Ele encontra prateleiras totalmente vazias. Contudo, ainda há tempo. Ele quer ajudar a igreja a passar do passivo para o disponível, ou seja, para que tenha amor, fé, serviço, testemunho, esperança (cf. 1Pe 1.7,18; 1Co 12,13).
Vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez. Laodicéia possuía uma indústria têxtil produtiva, sobretudo para tecidos pretos, da moda (cf. nota 243) – Diz-se que os acusados compareciam de preto diante do tribunal. Os condenados eram despidos (aqui, no v. 17; também Jesus foi despido antes da crucificação), réus absolvidos recebiam uma veste branca (cf. o comentário a Ap 3.4). São essas as correlações do nosso texto. O Senhor não deseja a nudez de sua igreja. Ele lhe oferece purificação e absolvição.
E colírio (―pomada‖) para ungires os olhos, a fim de que vejas. No Oriente as doenças nos olhos eram muito freqüentes, causadas pela forte irradiação solar, por constante poeira, exigüidade da água e falta geral de higiene. Por isso havia muitos cegos, muitos médicos de olhos e centenas de
diferentes remédios na forma de pomadas, talcos e gotas. Também Laodicéia comercializava uma famosa marca desses produtos (cf. nota 243).
Quando o v. 17 chama a igreja de cega, sintetiza-se toda a miséria. Muitas vezes os cegos são pobres, e os pobres andam precariamente vestidos. A causa da pobreza e nudez reside na cegueira. A cegueira espiritual, da qual o AT fala com tanta freqüência, refere-se ao direito de Deus de fazer reivindicações, às conseqüências da desobediência, bem como à subestimação do pecado e de Satanás. De acordo com Jo 9.41 essa cegueira espiritual acomete aquele que a nega. Imaginemos uma pessoa cega que se porta como se pudesse ver, não permitindo que seja conduzida, nem tateando cautelosamente no seu caminho. ―Não preciso de ninguém, sei fazer tudo sozinho!‖ É essa a desastrosa cegueira que se apresenta no presente texto (v. 17).
Foi por isso que o grande médico de olhos diagnosticou primeiro: ―Estás cego!‖ e agora declara: ―Vendo para ti pomada para os olhos!‖
Ap 3.19 Nesse instante o Senhor tira a máscara do comerciante aplicado aos negócios, revelando-se como aquele que ele é: como amigo de todas as igrejas: Eu repreendo e disciplino a quantos amo. O amor de amigo (Jo 15.14,15, aqui no v. 20) expressa-se em duas atividades que, na formulação, constituem uma repercussão de Pv 3.12 (e Hb 12.7), mas que novamente devem ser examinadas no seu contexto. Lá elas estão inseridas na relação pai-filho, e naquele contexto a disciplina é sofrer castigo. Contudo, é estranho a João falar de Cristo como o Pai dos discípulos. Igualmente falta no trecho qualquer vestígio de sofrimento por castigo. Por um lado, entre amigos focaliza-se a palavra da verdade: Eu repreendo (―corrijo‖). O amigo rejeita tudo o que não for verdade. Inexoravelmente ele examina as obras e cita de forma aberta o que for imprestável. Segue-se a palavra da punição: Eu disciplino. Ele ameaça com ira ardente, destroça a presunção, exige conseqüências e ordena o arrependimento. Tudo isso se espelha na mensagem à igreja. Ela também está entremeada da busca pela atenção, o chamado para despertar e convidar. Ainda que não seja possível o elogio, nem por isso há falta do amor. Também na ira o Senhor se lembra de sua misericórdia e ―não é com prazer que ele nos causa sofrimento ou dor‖ (Lm 3.33 [BLH]).
Sê, pois, (daqui em diante) zeloso e arrepende-te. A primeira das duas exortações está na forma verbal de continuidade. Aos anos de mornidão (v. 16) devem seguir-se anos de zelo. Que sejam tomados do zelo de Jesus quando purificou o templo (Jo 2.17) e que seja queimado o zelo antigo, impuro, que fez da comunidade uma casa de comércio. Fora com o ativismo afundado no mundo, com o regatear, acumular, trabalhar, correr e apressar-se por nada! O nome, o reino e a vontade de Deus passam a determinar os pensamentos de forma nova.
20 Arrependimento desencadeia-se diante de Cristo, e somente diante dele (EXCURSO 1d): Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa. Na Antigüidade se podia solicitar ingresso numa casa de duas maneiras: ou se batia com uma argola metálica, ou simplesmente se chamava. Aqui ressoam ambos, a batida e a voz, um sinal da premência da vontade. Como é que os laodicenses ouviam a voz de Jesus? Por doença, sofrimento ou acontecimentos históricos? Conforme Jo 10.3,27; 18.37 e sobretudo conforme as sete exortações ―ouça!‖ nos ditos de gravação, cabe considerar o falar do Espírito precisamente nessas mensagens às igrejas. Nelas o Senhor se apresentava e se apresenta às suas igrejas, fazendo ressoar a sua voz.
Embora não lhe faltem chaves (Ap 1.18; 3.7), ele deixa a abertura por conta das próprias pessoas. Distancia-se de todos os meios violentos de penetrar no pecador, abordando-o com o amor mais nobre. Não existem hóspedes mais distintos que ele e seu Espírito. Diante dele pessoas se tornam novamente verdadeiros seres humanos, responsáveis até o extremo. Por isso também são culpadas ao extremo quando trancam esse amor do lado de fora.
Quando Jesus entra no recinto daquele que lhe abre? Na sua segunda vinda? Em passagem alguma é ensinado que o Senhor entra em pessoas isoladas na ocasião de sua volta. Ou será que essa entrada sucede quando se celebra a Ceia do Senhor? Como tentamos evidenciar pela tradução, o texto usa uma palavra muito genérica para falar de uma refeição comunitária, que não deveria ser relacionada de imediato com a celebração da Ceia do Senhor: e cearei com ele. Como comparação devem ser observados versículos de João que falam da vinda do Senhor exaltado por meio do Espírito: Jo 14.23,18; 16.7,13,22. Ele passa imediatamente por cada porta que se abre para ele por meio do arrependimento. Lá dentro não há necessidade de esperar pela próxima celebração da Ceia do Senhor.
Sua presença no Espírito Santo (à semelhança de Mt 28.20; 18.20) é caracterizada assim: e cearei com ele, e ele, comigo. Talvez a inversão indique uma troca de papéis. O hóspede torna-se anfitrião. O Jesus que entrou providencia o copo cheio e o pão da vida. Visto que em última análise o arrependimento acontece às suas custas, arrependermo-nos é para nós uma ―obra alegre‖ (Lutero).
Adolf Pohl. Comentário Esperança Apocalipse. Editora Evangélica Esperança.
2. Os dons espirituais e o amor cristão.
No capítulo 12, de sua primeira Carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo discorre de maneira inigualável sobre os dons espirituais. Ele termina o capítulo sobre os dons, dizendo: “Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente” (1 Co 12.31). Na sequência do tema dos dons espirituais, ele continua seu ensino, demonstrando o valor do amor em ação, ou da caridade, no uso dos dons espirituais. E prova, de modo cabal, que os dons sem o amor de Deus não significam nada. O amor, no exercício dos dons espirituais, é o “caminho mais excelente”.
No capítulo 13 de Coríntios, sobre a “excelência do amor”, Paulo refere-se a vários dons espirituais, afirmando que sem amor de nada adianta ter tais dons (1 Co 13.1-3).
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 153-154.
I Cor 12.31 A exortação de Paulo em relação aos melhores dons procura corrigir as aplicações errôneas do uso público das línguas. 0 uso privado, que é designado principalmente para a auto-edificação, estava sendo confundido com 0 exercício público. "Melhor" pode ser definido como aquele ou aqueles dons mais adequados a uma determinada situação, e há um exemplo presente: por exemplo, a profecia é funcionalmente "melhor" do que as línguas em público, pois edifica a igreja (14.4-5), a menos, é claro, que a "língua" seja interpretada. Entretanto, 0 exemplo do corpo humano exclui toda classificação de valor de dons (12.22-25). Não se pode tirar legitimamente nenhuma conclusão sobre 0 valor das línguas do fato dela aparecer por último nas listas. 0 autocontrole é uma virtude de menor importância no fruto do Espírito por estar listado por último (Gl 5.22-23)? Usando a mesma lógica, 0 amor deveria ser menos importante do que a fé e a esperança, mas Paulo diz que é 0 maior (1 Co 13.13). Um caminho ainda mais excelente não é uma comparação negativa entre dons e amor, visto que 0 advérbio ainda indica a continuação do assunto. Todas as manifestações do Espírito devem, ao mesmo tempo, manifestar 0 lado do amor, pois 0 amor é a questão definitiva que está por trás de todas as coisas.
PLENITUDE. Bíblia de Estudo Plenitude. Editora Sociedade Bíblica, do Brasil. pag. 1190.
Dando-lhes a sugestão de um caminho mais excelente, a saber, da caridade, do amor mútuo e da boa vontade. Esse era o único caminho correto para tranquilizá-los e uni-los, e fazer com que seus dons voltassem a ser a vantagem e a edificação da igreja. Isso os tornaria amáveis uns com os outros e preocupados mutuamente, e, portanto, acalmaria seus espíritos e colocaria um fim a seus pequenos ressentimentos e pelejas, suas disputas sobre precedência. De acordo com o apóstolo, apareceriam no primeiro nível aqueles que tinham mais do verdadeiro amor cristão. Note que a verdadeira caridade deve ser grandemente preferida aos mais gloriosos dons. Ter o coração incandescido com o amor mútuo é imensamente melhor do que resplandecer com os mais pomposos títulos, cargos e poderes.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 483.
1Co 12.31b Em 1Co 12.31a Paulo incentivou os coríntios a buscar com zelo os dons especialmente valiosos do Espírito. A essa solicitação ele poderia ter acrescentado sem problemas as explanações de 1Co 14. Pois ali fala do ―valor‖ dos dons espirituais, mostrando porque ―profetizar‖ é mais valioso e importante do que orar em línguas. No entanto, ele interrompe seu raciocínio para dizer aos coríntios algo decisivo. “Muito além disso eu vos mostro um caminho” [tradução do autor]. Não sabemos se o ―muito além disso‖ deve ser ligado ao verbo, como em 2Co 1.8; 4.17 ou se pertence, como adjetivo, ao ―caminho‖. De acordo com a construção da frase ambas as alternativas são possíveis. Na primeira opção o próprio Paulo estaria sob a impressão de que neste momento sua instrução à igreja ultrapassa amplamente tudo o que disse até agora, atingindo aqui seu verdadeiro ápice. No segundo caso estaríamos sendo lembrados de que a expressão ―caminho‖ – sobretudo em Atos – é usada para designar o cristianismo propriamente dito (At 9.2; 24.14; mas também 13.10; 16.17; 18.25). Paulo está mostrando aos coríntios em que consiste a essência do cristianismo e porque ele é um “caminho” tão inusitado, que sobrepuja a tudo.
Segue-se o ―cântico dos cânticos sobre o amor‖. Porém 1Co 13 não tem nada de efusão lírica! Esse capítulo não tem nada a ver com um ―cântico‖. Ele é um dos ensinamentos mais sérios exatamente diante das aflições da vida da igreja de Corinto. É uma poderosa palavra de condenação e ao mesmo tempo uma palavra sobre derradeiras e vívidas certezas.
Paulo escreve sobre o ―amor‖. Este é realmente o conceito central. Mas precisamente por isso Paulo tem um receio perceptível de falar a esse respeito. Parece até que ele já está vendo com que facilidade essa palavra pode ser mal-compreendida. Também na carta aos Romanos ―o amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor‖ é a certeza definitiva e que sustenta a tudo. Porém Paulo seleciona primeiramente a dura palavra da ―justiça de Deus‖, fazendo com que todo o capítulo seja dominado por esse tópico, antes de colocar o amor de Deus diante da igreja em Rm 5.5ss e Rm 8.35-39. De igual maneira ele mencionou o amor pela primeira vez na presente carta apenas em 1Co 8.1. E agora, em 1Co 13, ele o coloca no centro, obviamente com uma intensidade e determinação incomparáveis.
Como todo o NT, ele escolhe o termo agape para ―amor‖, que praticamente não era usado no mundo em que vivia o cristianismo. Ele conhecia o eros, o amor desejoso, que obviamente no caso de alguém como Platão também podia conter o mais nobre anseio, mas que ainda assim não deixa de ser um amor desejoso, voltado para o próprio eu. Com agape, no entanto, o primeiro cristianismo designava a experiência maravilhosa que tivera a partir de Deus em Cristo: um amor que não quer nada para si, mas entrega e sacrifica tudo, especialmente para indignos, culpados, inimigos, para pessoas que não podem retribuir nada nem
agradecer realmente. Por isso esse agape é em primeiro lugar e em sua origem o amor de Deus (1Co 13.13; 1Jo 4.16), o amor de Cristo (2Co 5.14; Gl 2.20), o amor do Espírito (Rm 15.30). Ele não é uma possibilidade humana, não é a ―maior virtude‖. Muito menos ele é o que corriqueiramente entendemos por ―amor‖, até mesmo por ―amor cristão‖. Até mesmo o mundo é muito bem capaz de produzir, sem o cristianismo, um pouco de cordialidade e disposição para ajudar. O costumeiro ―amor cristão‖ verdadeiramente ainda não seria o caminho para “muito além disso”. Ele ainda não é o ―fazer a mais‖ de que Jesus falou em Mt 5.43-48. O agape somente pode ser proporcionado em Cristo por intermédio do Espírito Santo (Rm 5.5b) como uma realidade radicalmente nova, oposta à velha natureza egocêntrica. Assim, porém, ele é o que importa no ser cristão agora e na eternidade.
Werner de Boor. Comentário Esperança Cartas aos I Corinto. Editora Evangélica Esperança.
3. A necessidade do fruto do Espírito.
Este estudo não estaria consistente, se não fosse abordado, ainda que resumidamente, o tema do fruto do Espírito Santo na vida dos salvos. Acima, vimos que os dons espirituais sem amor nada significam para Deus. E o fruto do Espirito — O amor (G1 5.22) — é o que faz a diferença entre um crente salvo e um crente perdido. O que tem dons de Deus, ou dons do Espírito Santo, necessita ser coberto pelo amor de Deus em seu coração, e em suas ações. Por isso, Paulo diz que “A caridade [o amor, em outras versões] é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; a caridade não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal” (1 Co 13.4,5 — colchete inserido).
A prática da caridade, ou do amor em ação, age no caráter do crente. Não admite inveja, irresponsabilidade, orgulho, indecência, e “não busca seus interesses”, ou seja, não é egoísta (1 Co 13.5), “não se irrita”, ou seja, não permite que o crente viva irritado com os outros, o tempo todo, e não dá lugar a suspeitas infundadas, como o texto citado bem evidencia. O dom do Espírito deve ser exercido com amor e humildade, sem presunção ou orgulho (1 Co 13.4).
O uso dos dons deve dar lugar a um exercício constante em busca da maturidade cristã. A falta de maturidade leva os detentores de dons a serem carnais e infantis na fé. A igreja de Corinto possuía em seu seio todos os dons, mas os crentes não estavam maduros na fé. Diz Paulo: “E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos criei e não com manjar, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis; porque ainda sois carnais, pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois, porventura, carnais e não andais segundo os homens (1 Co 3.1-3 — grifo nosso).
Exortando a igreja, Paulo diz da necessidade de deixarem de ser meninos na fé. “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino” (1 Co 13.11). A prática do fruto do Espírito, aliada ao exercício dos dons, é o que evita a meninice espiritual, e leva o crente a alcançar a maturidade espiritual, como diz Paulo: “logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino”. É a falta do fruto do Espírito da temperança, da bondade, da benignidade e acima de tudo do amor, que tem sido causa de escândalos e decepções nas igrejas.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 156-157.
5.22-23 Essas virtudes são caracterizadas como fruto em contraste a "obras". Somente o Espírito Santo pode produzi-las, e não nossos próprios esforços. Um outro contraste é que, enquanto as obras da carne são mais de uma, o fruto do Espírito é um e indivisível. Quando o Espírito controla completamente a vida de um crente, ele produz todas essas graças. As três primeiras dizem respeito à nossa atitude em relação a Deus, a segunda tríade lida com os relacionamentos sociais, e o terceiro grupo descreve os princípios que guiam a conduta de um cristão.
PLENITUDE. Bíblia de Estudo Plenitude. Editora Sociedade Bíblica, do Brasil. pag. 1220.
Gl 5.22,23 A apresentação da palavra “fruto”, por Paulo, está cheia de significado. Com ela, Paulo queria transmitir o significado de uma colheita cheia de virtudes. O fruto é um subproduto; leva tempo para crescer e requer cuidado e cultivo. O Espírito produz o fruto; a nossa função é entrar em sintonia com o Espírito. Os crentes exibem o fruto do espírito, não porque eles trabalham nele, mas simplesmente porque o Espírito controla as suas vidas. O fruto do Espírito separa os cristãos do mundo mau e sem Deus, revela o seu poder dentro deles, e os ajuda a serem mais parecidos com Cristo na sua vida cotidiana. Em contraste com a lista que se segue, Paulo não descreveu estas características como sendo óbvias. As primeiras residem em nós; as outras vêm como resultado da presença do Espírito.
Mais uma vez, as características classificam-se em categorias. As três primeiras são interiores e só podem vir de Deus:
• Caridade (ou amor) - este é o amor como demonstrado por Jesus, que é auto-sacrificial e imutável, e como demonstrado por Deus, que enviou seu Filho para morrer pelos pecadores (Rm 5.5). O amor forma a base para todas as demais características do fruto aqui listadas. Em outra passagem, Paulo subdivide o amor em vários componentes (veja 1 Co 13), para que o “amor” (ou caridade) passe a ter pouca semelhança com o significado emocional tão frequentemente atribuído à palavra.
• Gozo - uma alegria interior que persiste apesar das circunstâncias externas. Esta característica tem pouco a ver com felicidade e pode existir em tempos de infelicidade. É uma satisfação profunda e saudável que continua mesmo quando uma situação na vida parece vazia e insatisfatória. O relacionamento com Deus, por meio de Cristo, preserva-se mesmo nos desertos e vales da vida.
• Paz - uma tranquilidade interior e uma fé na soberania e na justiça de Deus, mesmo face a circunstâncias adversas. É um profundo concordar com a verdade de que Deus, e não nós, é quem está a cargo do universo.
As três seguintes dizem respeito ao relacionamento de cada crente com os demais:
• Longanimidade (ou paciência, de acordo com a versão NTLH) – suportar pacientemente as pessoas que nos irritam continuamente. A obra do Espírito Santo em nós aumenta a nossa tolerância.
• Benignidade - agir com delicadeza, com benevolência com relação aos outros, como Deus fez conosco. A benignidade toma a iniciativa de responder às necessidades das outras pessoas.
• Bondade — estender a mão para fazer o bem aos outros, mesmo que eles não o mereçam. A bondade não reage ao mal, mas absorve a ofensa e reage com ações positivas.
As três últimas apresentam traços mais gerais de caráter, que deveriam guiar a vida de todo crente:
• Fé (ou fidelidade, de acordo com a versão RA) - a pessoa que é confiável, digna de confiança.
• Mansidão - a pessoa é humilde, considera os demais, sujeita-se a Deus e à sua Palavra. Mesmo quando a ira é a resposta adequada, como quando Jesus limpou o Templo, a mansidão conserva a expressão da ira orientada na direção correta. A mansidão aplica até mesmo a força na direção correta.
• Temperança (ou domínio próprio, de acordo com a versão RA) - o domínio sobre os desejos humanos pecaminosos e a sua falta de controle. Ironicamente, os nossos desejos pecaminosos, que prometem auto-realizaçáo e poder, inevitavelmente nos levam à escravidão.
Quando nos rendemos ao Espírito Santo, inicialmente sentimos como se tivéssemos perdido o controle, mas Ele nos leva a exercer o autocontrole que seria impossível somente com as nossas próprias forças. Deus deu a lei para tornar as pessoas conscientes dos seus pecados e restringir o mal. Mas ninguém faria uma lei contra as características deste fruto (virtudes), pois elas não são nem pecaminosas nem más. Na verdade, uma sociedade onde todas as pessoas agissem assim precisaria de poucas leis. Como Deus, que enviou a lei, também enviou o Espírito, os subprodutos da vida cheia do Espírito harmonizam-se perfeitamente com o objetivo da iei de Deus. Uma pessoa que exibe o fruto do Espírito satisfaz a lei muito melhor do que uma pessoa que mantém os rituais, mas tem pouco amor no seu coração.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 297-298.
O Fruto do Espírito (5.22,23)
O contraste entre a carne e o Espírito atinge um clímax adequado quando Paulo faz a lista do fruto do Espírito (22). No âmago de sua exortação há o apelo para que o crente seja atraído pelo fruto ao mesmo tempo em que é repelido pelas “obras”. Embora Paulo aceitasse a opinião prevalecente na igreja primitiva, que dizia que a presença e atividade do Espírito eram evidenciadas pelos dons sobrenaturais,59 ele reconhecia que estas não eram necessariamente prova de caráter moral. Por conseguinte, deu o mais sublime valor e destaque ao fruto do Espírito, que se relaciona diretamente às qualidades éticas e morais.60
Dos versículos 22 e 23, Alexander Maclaren analisa “O Fruto do Espírito”. Ele mostra: 1) Os três elementos do caráter; 2) A unidade do fruto; 3) A cultura da árvore; 4) Este é o único fruto digno.
A escolha de Paulo do termo fruto é importante quando comparado com “obras”. “Uma obra é algo que o homem produz para si mesmo; um fruto é algo que é produzido por um poder que não é dele mesmo. O homem não pode fazer o fruto.”61 E frequente a observação de que o fruto está no singular. Embora indique a unidade das virtudes cristãs, não devemos dar muito foco a esse quesito, porque Paulo usa constantemente a forma singular quando o termo tem um significado figurativo.
a) Amor (5.22). Paulo está dizendo que estes produtos são resultado do Espírito divino operando no espírito humano. A lista do apóstolo começa necessariamente com agape (caridade; “amor”, ACF, AEC, BAB, BJ, BV, CH, NTLH, NVI, RA), porque este é a maior de todas as virtudes (cf. 1 Co 13.13), é o manto que une tudo com perfeição (cf. Cl 3.14). O amor cristão é uma categoria abrangente e fonte exclusiva dos outros frutos, no mesmo sentido em que o tronco sustenta os galhos, ou o prisma quando reflete as cores da luz. Considerados desta perspectiva, os frutos que se seguem são amor em ação e expressões descritivas do agape (ágape, amor, amor-caridade).
A palavra grega agape é um termo distintamente cristão, criado da necessidade de descrever adequadamente o evangelho da nova criatura.66 Mais adiante, o termo agape é usado primariamente para se referir ao amor que os indivíduos têm, ou deveriam ter, uns pelos outros, que é reflexo do amor de Deus por eles. Eles devem fixar seu padrão de acordo com o padrão do Senhor. A definição de Barclay é concisa e abrangente: ‘Agape é benevolência inconquistável, boa vontade imbatível”. Como tal, é uma preocupação compartilhada e uma identificação generosa com as necessidades dos outros. Esta preocupação abrange tudo, embora as pessoas que a recebem sejam indignas; resulta na transformação de quem é amado e de quem ama. Agape por vezes é mal-entendido e confundido com o conceito de amor aceito hoje em dia. Mas há uma diferença. Em vez de ser um sentimento impulsivo pelo qual a pessoa é levada, agape é a resposta da pessoa inteira envolvendo a vontade, o sentimento e o intelecto. Não é fraco e nocivamente permissivo, mas forte e disciplinado.
Talvez a melhor definição de agape seja o que ele faz e o que ele é. Este tipo de amor tem de agir com generosidade e perdão expansivos. O amor cumpre a lei (14), proporcionando atmosfera que caracteriza e motiva a totalidade da vida cristã (cf. Ef 5.2). Ele habilita a verdade — que frequentemente dói — para que seja falada como pedido e não como ofensa (cf. Ef 4.15). É o laço que une o corpo de Cristo (cf. Cl 2.2); evitando que a liberdade se transforme em licenciosidade (13) e edificando os membros do povo de Deus (cf. 1 Co 8.1; Ef 4.16), enquanto vivem juntos em paciência (cf. Ef 4.2; Rm 14.15).
Não surpreende a conclusão de Paulo de que agape deva ser a “busca”69 do crente. Ele não deve se satisfazer com recompensa menor. Contudo, isto não é algo que parte dele próprio. Compreensivelmente, o “caminho ainda mais excelente” (cf. 1 Co 12.31) não é opção fácil. Talvez alguém pergunte: “Quem poderá, pois, salvar-se?” (Mc 10.27). A resposta não poderia ser mais apropriada: Tara os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis”! Pelo visto, este é o fato mais importante sobre agape. No uso cristão, veio a representar uma qualidade divina. Deus não só nos ama, Ele ama através de nós (13), “porquanto o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5.5). O amor é o finito do Espírito.
b) Alegria e paz (5.22). Os próximos dois frutos do Espírito têm relação vital um com o outro. Gozo (chara) é a “alegria” (BJ, BV, CH, NTLH, NVI, RA) ou felicidade que irradia da vida do crente — uma expressão externa de paz interior. Em si, a alegria é vista e conhecida pelos outros. Esta é a atmosfera do Novo Testamento. O cristão basicamente infeliz é uma contradição. O Reino de Deus é caracterizado por alegria (gozo), junto com justiça e paz (cf. Rm 14.17).
A forma comum de saudação no grego secular era “regozijai” (chairein). Ainda que isto não tenha significado mais específico que o moderno “Como vai?”, deve ter havido nova significação para os alegres homens de fé. Embora não seja saudação distintamente cristã, era usada de vez em quando no Novo Testamento. Barclay captura o espírito de tal saudação com: “Que a alegria esteja com você”.
A alegria acrescenta brilho a todas as virtudes cristãs, e ilumina toda experiência de vida, mas em nenhum momento brilha mais intensamente do que nas adversidades. Uma das primeiras lições que o novo crente deve aprender é que a alegria não depende das circunstâncias; pelo contrário, as provações são transformadas pela alegria. Não basta suportar ou até vencer as tribulações, pois sem alegria o triunfo está incompleto (cf. Cl 1.11). Não é surpresa que alegria e aflição estejam quase sempre juntas quando o homem de fé sofre alegremente por amor a Jesus.
Esta alegria cristã não é efervescência superficial, mas jorra de fontes profundas e interiores da vida cheia do Espírito. E um fruto do Espírito! A alegria é a manifestação externa da paz (eirene) interna. Esta paz não é mera ausência de dificuldade, ansiedade e preocupação. Trata-se de serenidade que é o resultado de viver numa relação certa com Deus, com os homens e consigo mesmo. Pela fé em Cristo, o homem encontra paz com Deus (cf. Rm 5.1), e esta nova relação se torna o fundamento para uma vida de paz nas outras duas dimensões.
Na saudação tipicamente cristã, havia paz: “Graça a vós e paz”. Embora a paz seja dom do “Deus de paz”, esta não deve ser mal-entendida. Não é questão de pouca monta viver em paz, sobretudo com certas pessoas! Paulo precisou exortar: “Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens” (Rm 12.18). O crente tem de procurar o prêmio da paz (cf. 1 Pe 3.11; Hb 12.14), a qual só será encontrada quando ele andar pelo Espírito, porque a paz é fruto de uma vida cheia do Espírito.
c) Longanimidade (5.22). A “paciência” (makrothumia, BV, CH, NTLH, NVT) é seguramente o fruto que torna o homem semelhante a Deus. Como ocorre com outros termos, esta é característica de Deus; e do homem, segundo Deus quer que ele seja. Como Deus é paciente com os homens, então eles são pacientes nele, tanto quanto em relação a seus semelhantes; pois as circunstâncias e os acontecimentos estão nas mãos de Deus.
Esta virtude bíblica vital não deve ser confundida com mera disposição tranqüila, que permanece impassível diante de toda e qualquer perturbação. Tal modo de vida é mais uma característica nativa da personalidade do que uma qualidade do espírito. Longanimidade é exatamente o que a palavra sugere: ânimo longo, firmeza de ânimo, constância de ânimo, alguém que permanece animado por muito tempo sem se deixar abater. Sua essência primária é a perseverança (Desistir? Nunca!), suportando as pessoas e as circunstâncias. Como Deus é longânimo para conosco (cf. 1 Tm 1.12-16), assim devemos ser longânimos para com nossos semelhantes (Ef 4.2), nunca admitindo a derrota por mais que os homens sejam irracionais e difíceis (cf. 1 Ts 5.4). E este tipo de paciência que reflete verdadeiramente o amor cristão (agape; cf. 1 Co 13.4). Tal amor paciente não é nossa realização. É o trabalho de Deus no coração dos homens, pois é o fruto do Espírito.
d) Benignidade (5.22). Os crentes não devem ser longânimos em um ambiente de isolamento moral. O homem de fé deve expressar benignidade (chrestotes), talvez mais bem traduzida por “amabilidade” (NVI). No Novo Testamento, a bondade de Deus não é uma qualidade moral apavorante que repele o homem; trata-se de amabilidade acompanhada de paciência (Rm 2.4). Mas quando é imposta, com esta benignidade há a severidade (Rm 11.22). A amabilidade de Deus tem o propósito de levar ao arrependimento, de forma a poder expressar-se em perdão (cf. Rm 2.4). Vemos melhor esta amabilidade nos homens quando perdoamos os outros assim como Cristo nos perdoou (cf. Ef 4.32). Esta é a maior bondade que o homem pode ter, contudo, poucos são perdoadores por natureza. E o fruto do Espírito.
e) Bondade (5.22). O próximo fruto é bondade (agathosyne). Está estritamente ligada a benignidade; mas, da lista de Paulo, bondade é a que fornece a definição menos precisa. A conclusão de Barclay é que significa uma generosidade sincera que é imerecida, mais que uma justiça relutante ou até mesquinhamente conferida ainda que merecida e digna. E certo que tal generosidade amplia o significado de “amabilidade que perdoa”, e é realmente fruto do Espírito.
f) Fé (5.22). A fé (pistis) é o fruto mais mal-entendido de todos. Esta é uma das raras ocasiões em que o termo grego é mais ambíguo que o equivalente em nosso idioma. Ao longo do Novo Testamento, pistis refere-se principalmente à ação do crente depender totalmente da obra de Cristo. O fruto do Espírito são virtudes éticas que lidam primariamente com as relações interpessoais.80 Em poucos exemplos, o termo grego pistis tem o significado ético de “fidelidade”, que é obviamente como devemos entendê-lo aqui. Em si, descreve lealdade, probidade e confiança. Como se dá com bondade, o padrão humano da fidelidade é não menos que o próprio Deus (cf. Rm 3.3). Como Deus é fiel, assim seus mordomos devem ser (cf. 1 Co 4.2).
Fidelidade não diz respeito somente a manter-se fiel a Deus diante das provas e coações, mas também a ser leal ao próximo. O elogio de Paulo aos seus colaboradores fiéis (1 Co 4.17; Ef 6.21) e aos santos fiéis (Ef 1.1; Cl 1.2) certamente engloba tal confiança nas relações humanas. Muito corretamente, a fidelidade representa o nível mais alto de responsabilidade entre o marido e a mulher (cf. 1 Tm 3.11). “Não há igreja ou casamento que permaneça, a menos que esteja fundamentado na lealdade.” É mais que virtude humana, é fruto do Espírito!
g) Mansidão (5.22). Este fruto é um dos mais difíceis de definir, principalmente porque é impossível traduzir prautes (mansidão) por um único termo em nosso idioma. Ser manso não tem a conotação de ser “desalentado, desanimado, mole, fraco ou destituído de energia ou força moral”. Mansidão é a combinação de força e suavidade.84 “Quando temos prautes, tratamos todas as pessoas com cortesia perfeita, reprovamos sem rancor, argumentamos sem intolerância, enfrentamos a verdade sem ressentimento, iramos, mas não pecamos, somos gentis, mas não fracos.”
A mansidão tem de estar associada com a verdadeira humildade (cf. Mt 11.29; Cl 3.12), o contrário de orgulho e arrogância. Este é o melhor tipo de força, e inspira o enlevo de Deus. Mansidão é uma qualidade de Moisés (Nm 12.3), que de modo magnífico harmonizou força e suavidade em seu difícil papel. O maior exemplo é aquele que era maior que Moisés, Jesus Cristo. Mansidão é a própria essência do caráter daquele que é capaz de limpar o Templo e perdoar uma infeliz adúltera. E este “jugo” que o discípulo é convidado a tomar sobre si (cf. Mt 11.19), pois é supremamente característico da semelhança com Cristo. O crente possui mansidão apenas como fruto do Espírito.
h) Temperança (5.22). O último fruto é temperança (egkrateia), mais bem traduzida por “autocontrole”. Embora este fruto descreva a coibição de todas as paixões e desejos do homem (1 Co 9.25), também tem a aplicação específica de ser sexualmente moderado (1 Co 7.9). Isto é compreensível no mundo daquela época, como também no nosso. A pureza moral era virtude distintamente cristã, e tende a sê-lo hoje. O propósito de Deus é que seus filhos vivam no mundo, mas permaneçam puros da depravação moral que há no mundo. Isto é possível quando o crente anda pelo Espírito, porque autocontrole é fruto do Espírito. Este autocontrole, ou melhor, controle do Espírito, atinge todas as áreas da vida cotidiana.
R. E. Howard. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 9. pag. 73-77.

ELABORADO: Pb Alessandro Silva

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