O PRESBÍTERO, BISPO OU ANCIÃO
Data: 5 de Junho de 2014 HINOS
SUGERIDOS: 115, 344, 516.
TEXTO ÁUREO
Por
esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que
ainda restam e, de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros [...]” (Tt
1.5).
VERDADE PRATICA
O
presbitério deve ser constituído por pessoas idôneas para auxiliar na
administração da igreja local.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Tt 1.5 O
estabelecimento dos Presbíteros
Terça - Tg 5.14 Homens espirituais
Quarta - 1 Tm 4.14 A ação do presbitério
Quinta - 1 Pe 5.1,2 Presbíteros apascentadores
Sexta - 1 Pe 5-3 Como exemplo do rebanho
Sábado - Tt 1.5,7 Bispo - Outro nome para presbítero
LEITURA BÍBLICA EM
CLASSE
Tito
1.5-7; 1 Pedro 5,1-4.
Tito
1
5
- Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas
que ainda restam e, de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros, como já te
mandei:
6
- aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis,
que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes.
7
- Porque convém que o bispo seja irrepreensível como despenseiro da casa de
Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espanca dor, nem
cobiçoso de torpe ganância;
1
Pedro 5
1
- Aos presbíteros que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero
com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se
há de revelar:
2
- apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por
força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto;
3
- nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao
rebanho.
4
- E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de
glória.
INTERAÇÃO
A
igreja local é o Corpo Invisível de Cristo num tempo e num espaço. Ela é
constituída por distintos seres humanos. Por issot é preciso haver uma
liderança que a norteie, a oriente e a administre com sabedoria. Então, aprouve
ao Senhor levantar obreiros para dela cuidar. A igreja local jamais pode ser
administrada por um único líder. Apesar da importância do pastor titular; este
deve contar com um grupo de obreiros aptos a ensinar e a administrar a igreja
local: o presbitério. O nosso Pai levantou presbíteros, homens honrados, de boa
índole e idôneos, para junto do pastor titular, cuidar e zelar do rebanho do
Senhor.
OBJETIVOS
Após
esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Conceituar o termo e a função do
presbítero.
Valorizar o ministério do
presbítero.
Apontar os deveres dos
presbíteros.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Caro
professor, para concluir o assunto do primeiro tópico, sobre a função do
presbítero, reproduza o quadro da página seguinte conforme as suas
possibilidades. Peça aos alunos para discutirem as funções do presbítero
apresentadas no quadro, preenchendo os espaços vazios.
Conclua
afirmando que a função de um presbítero, em primeiro lugar, é pastoral. Isto
implica múltiplas ações e zelo com a igreja local instituída pelo Senhor numa
região. Ao final da aula, juntamente com os alunos, interceda pelo presbitério
de sua igreja local.
PALAVRAS-CHAVE
Presbítero: Ancião. Pessoa madura na fé.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
No
início da Igreja do primeiro século havia líderes que orientavam os crentes
quanto ao Evangelho, bem como à organização e desenvolvimento da igreja local.
O Evangelho frutificou na vida das pessoas, e por isso, surgiam cada vez mais novos
crentes. Foi necessário, afim de garantir o discipulado integral da nova pessoa
em Cristo, separar crentes idôneos e maduros na fé para cuidarem desse precioso
rebanho. Assim, os apóstolos de Cristo passaram a estabelecer presbíteros para
zelar pela administração e a vida espiritual da igreja local.
I - A
ESCOLHA DOS PRESBÍTEROS
1. Significado da
função. De
acordo com a Bíblia de Estudo Palavras-Chave, o termo “presbítero” (do gr.
presbyteros) é uma forma comparativa da palavra grega presbys, “pessoa mais
velha”. Como substantivo, e no emprego dos judeus e cristãos, “presbítero” é um
títuío de dignidade dos indivíduos experientes e de idade madura que formavam o
governo da igreja local. É um sinônimo de bispo (gr. episkopos, supervisor); de
professor (gr, didaskolos); e de pastor (gr. poimêri).
2. A liderança local. O apóstolo Paulo
cuidou de organizar a administração das igrejas locais por onde as plantava, separando
um grupo de obreiros para tal trabalho. Quando escreve ao seu discípulo, o
jovem Tito, Paulo o instrui a estabelecer presbíteros em diversos lugares, de
cidade em cidade (Tt 1.4,5,7). Está claro, assim, o aspecto pastoral da função
exercida pelos presbíteros nas comunidades cristãs antigas.
3. As qualificações. Em o Novo
Testamento, as referências aos presbíteros encontram-se no plural;
“presbíteros”, “bispos” ou “anciãos” (At 11.30; 15.2,4,6; 20.17;Tg 5.14; 1 Pe
5.1). Como a liderança local era formada por um grupo de irmãos experientes na
fé para cuidarem da igreja, a função dos presbíteros era pastoral. Portanto, o
presbítero é um pastor, um apascentador de ovelhas! A Palavra de Deus expressa
qualificações bem objetivas para o exercício fiel dessa função. Tais
qualificações estão descritas em Tito 1.6-9 para presbítero, assim como em 1
Timóteo 3.1-7 para “bispo”, denotando o aspecto sinonímico dos dois termos. Uma
leitura atenta das
duas listas indica a importância da função e como as igrejas não podem
descuidar-se quando da ordenação de pessoas para servi-la.
O
bom conselho do apóstolo Paulo ainda é a maneira mais segura para se separar
obreiros.
SINOPSE
DO TÓPICO (1)
O
termo presbítero (do gr. presbyteros) é um sinônimo de bispo (gr. episkopos), de
professor (do gr. didaskoíos) e de pastor (do gn poimêrí). Logo, a sua função é
pastoral.
II - A
IMPORTÂNCIA DO PRESBITÉRIO
1. Significado do
termo.
“Não desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a
imposição das mãos do presbitério” (1 Tm 4.14). Foi dessa forma que o apóstolo
Paulo lembrou Timóteo, aconselhando-o acerca do reconhecimento do ministério do
jovem pastor pelo conselho de obreiros. O Novo Testamento classifica esse corpo
de obreiro de “presbitério” (do gr: presbyterion, substantivo de presbítero, um
conselho formado por anciãos da igreja cristã).
2. A atuação do
presbitério. No
Concílio de Jerusalém, em relação às sérias questões étnicas e eclesiásticas
que podiam comprometer a expansão da igreja, os apóstolos e os anciãos (presbíteros)
foram chamados para debater e legislar sobre o assunto (At 15.2,6,9-11). Em
seguida, os presbíteros foram enviados à Antioquia para orientar os irmãos
sobre a resolução dos problemas que perturbavam os novos convertidos: "E,
quando iam passando pelas cidades, lhes entregavam, para serem observados, os
decretos que haviam sido estabelecidos pelos apóstolos e anciãos em Jerusalém”
(At 16.4).
3. A valorização do
presbitério.
O presbitério deve ser valorizado, pois desde os primórdios da Igreja cristã, a
sua existência tem fundamento na Palavra de Deus. O rebanho do Senhor será
ainda mais bem atendido se o presbitério das nossas igrejas for preparado para
uma atuação mais efetiva no governo da igreja e no ministério de ensino, tal
como instruiu o apóstolo Paulo: “Os presbíteros que governam bem sejam
estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra
e na doutrina” (1 Tm 5.17). O Novo Testamento mostra que, apesar de haver um
pastor titular, o governo de uma igreja não era exercido por um único líder,
mas pelo conselho de obreiros (At 20.17-37; Ef 4.11, 1 Pe 5.1). O presbitério é
de vital importância ao desenvolvimento das igrejas locais e ao bom ordenamento
do Corpo de Cristo.
SINOPSE
DO TÓPICO (2)
Fundamentado
na Palavra de Deus desde os primórdios cristãos, o presbitério atua no governo
da igreja local junto ao pastor titular.
III -
OS DEVERES DO PRESBITÉRIO
1. Apascentar a
igreja.
Os presbíteros têm o dever de alimentar o rebanho de Deus com a exposição da
Santa Palavra. O apóstolo Pedro bem exortou aos presbíteros da sua época acerca
desta tarefa: (1 Pe 5.2a). O apascentar as ovelhas do Senhor se dá com cuidado
pastoral, não pela força ou violência, como se os obreiros tivessem domínio
sobre o Corpo de Cristo. Esse ato ocorre voluntariamente, sem interesse
financeiro, servindo de exemplo ao rebanho em tudo (1 Pe 5.2,3) Os presbíteros
formam o conselho da igreja local cujo objetivo maior é atuar na formação
espiritual, social, moral e familiar do povo de Deus.
2. Liderar a igreja
local.
A liderança da igreja loca! tem duas esferas principais de atuação: o governo e
o ensino. O presbítero, quando designado para essas tarefas, tem o dever de
exercê-las na “Igreja de Deus” (1 Tm 3.5). Para isso, ele precisa saber governar
a sua própria casa” e ser "apto a ensinar” (1 Tm 3.2,4). Liderar o rebanho
de Deus, segundo o Novo Testamento, é estar disponível “para servir” e “não
para ser servido” (Mt 20.25-28; Mc 10.42-45). Com o objetivo de exercer
competentemente esta função, o presbítero deve ser uma pessoa experiente,
idônea e pronta a ser exemplo na igreja local. Ensinar e governar com equidade
e seriedade é o maior compromisso de todo homem de Deus chamado para tão nobre
tarefa.
3. Ungir os enfermos. “Está alguém entre vós
doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite
em nome do Senhor” (Tg 5.14). O ato da unção dos enfermos não pode ser
banalizado na igreja local. Ele revela a proximidade que o presbítero deve ter
com as pessoas. O membro da igreja local tem de se sentir à vontade para
procurar qualquer um dos presbíteros e receber oração ou uma palavra pastoral.
Tal obreiro foi separado pelo Pai e pela igreja para atender a essas demandas.
SINOPSE
DO TÓPICO (3)
Apascentar
a igreja de Cristo, * liderar uma igreja local e ungir os enfermos são algumas
das muitas responsabilidades do presbítero.
CONCLUSÃO
Vimos
que os termos presbítero, bispo e pastor são sinônimos. Os presbíteros, ou
bispos, sempre formaram um corpo de obreiros com a finalidade de contribuir
para a edificação da igreja local Eles exercem uma função pastoral. Nas
Assembleias de Deus no Brasil, os presbíteros exercem este serviço, pastoreando
as congregações.
Eles
ainda cuidam da execução; das principais tarefas da Igreja: a evangelização e o
ensino da Palavra. Portanto, esses obreiros precisam É ser bem selecionados e
valorizados pela igreja local.
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO
I
Subsídio
Teológico
“As
qualificações dos Presbíteros (1.6-9)
As
qualificações no verso 6, de acordo com o idioma original, são condições ou
questões indiretas relativas aos candidatos que estão sendo considerados para o
ministério. O grego traduz literalmente: ‘Aquele que for irrepreensível, marido
de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de
dissolução [desperdício de dinheiro] nem são desobedientes’ — este pode ser
considerado como um candidato ao presbitério Paulo parece estar usando as
palavras "ancião/presbítero’ (presbyteros, v.5) e ‘líder/bispo’
(episkopos, v.7) de modo intercambiável [.,,]. Neste primeiro período da
história da Igreja, os ofícios ministeriais eram variáveis e indistintos
(STRONSTAD, Roger; ARRINCTON, French L. (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Vol. 2: Romanos a
Apocalipse. 4.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, pp.704,05).
AU XÍLIO
BIBLIOGRÁFICO II
Subsídio
Histórico Pentecostal
“PRESBÍTEROS
As
Assembleias de Deus, especialmente no Brasil, certamente em razão de se
constituírem inicialmente de crentes de diversos grupos evangélicos, atraídos
peia crença bíblica do batismo no Espírito Santo, do ponto de vista
administrativo, ministerial, adotaram uma posição intermediária mais aproximada
do sistema presbiteriano. Não admitem hierarquia. Não aceitam o episcopado
formal, senão o conceito bíblico de que o pastor é o mesmo bispo mencionado no
Novo Testamento. Admitem, entretanto, o cargo separado de presbítero. O
presbítero (anteriormente chamado ‘ancião’) é o auxiliar do pastor. Porém, em
algumas regiões, em campo de evangelização das Assembleias de Deus, de certo
modo, é-lhe dado cargo correspondente ao de pastor, onde, na ausência deste,
ele desempenha todas as funções pastorais: unge, ministra a Ceia e batiza.
Entre esses, há os que possuem a dignidade, capacidade e verdadeiro dom de
pastor.
[...]
Porém, na Convenção Geral de 1937, na AD de São Paulo (SP), foi debatida a
questão sobre se os anciãos (presbíteros) não poderiam ser considerados
pastores. Os convencionais compreenderam, citando textos como 1 Pedro 5.1, Atos
20.28 e 1 Timóteo 5.1 7, que, em alguns casos, parece haver uma diferença entre
anciãos e anciãos com chamada ao ministério, e estabeleceram, assim, a
hierarquia eclesiástica que até hoje existe nas Assembleias de Deus: diáconos,
presbíteros e ministros do evangelho (pastores e evangelistas).
[...]
Nas Assembleias de Deus, embora o trabalho do presbítero tenha a sua definição,
passou a ser também visto como o penúltimo cargo a ser exercido pelo obreiro,
na sucessão das ordenações, antes de ser consagrado a evangelista ou pastor”
(ARAÚJO, Isael Dicionário do Movimento
Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, pp.71 5,16).
VOCABULÁRIO
Intercambiável:
Que pode intercambiar, permutar, trocar ou mudar reciprocamente. Étnica:
Relativo a etnia; pertence ou próprio de um povo. Sinonímia: Qualidade das
palavras sinônimas; de relação de sentido entre dois vocabulários que tem
significação muito próxima.
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
STRONSTAD, Roger;
ARRINGTON, French L. (Eds.) Comentário Bíblico
Pentecostal Novo Testamento. Vol. 2: Romanos a Apocalipse. 4.ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2009. ARAÚJO, Isael. Dicionário
do Movimento Pentecostal, Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
EXERCÍCIOS
1.
Segundo a lição o que é um presbítero?
R:
É um título de
dignidade dos indivíduos experientes e de idade madura que formavam o governo
da igreja local
2.
Qual o significado do termo “presbitério”?
R:
“Presbitério”
vem do gr. presbyterion, substantivo de presbítero, um conselho formado por
anciãos da igreja cristã. O termo designa o conjunto de presbíteros que
administram uma igreja local.
3.
Relacione os deveres dos presbíteros.
R:
Apascentar a
igreja, liderar a igreja local e ungir os enfermos.
4.
Quais as duas esferas principais de atuação da liderança da igreja local?
R:
O governo e o
ensino.
5.
Qual é o maior compromisso de todo homem de Deus chamado para ser presbítero?
R:
Ensinar e governar com equidade e seriedade.
Revista
Ensinador Cristão CPAD, n° 58. p.41.
Ao
longo da história da Igreja, vários modelos de governo eclesiásticos
apareceram. Mas, oficialmente, podem-se classificar três exemplos: o Episcopal,
o Presbiteriano e o Congregacional.
No
governo episcopal, o bispo é a autoridade máxima numa hierarquia constituída de
presbíteros e diáconos. Adotam esse modelo as igrejas Romana, Anglicana,
Ortodoxa e Metodista, por exemplo.
O
governo presbiteriano é constituído de um conselho eleito pela assembleia geral
da igreja local. Tal conselho é formado por presbíteros regentes
(administradores) e docentes (pastor titular e pastores que cuidam do ensino e
da liturgia) tipificados pelas igrejas presbiterianas de fé reformada. Ainda há
o presbitério (regional) subordinado ao Sínodo (estadual) que, por sua vez,
submete-se ao Supremo Concílio (nacional).
O
governo congregacional caracteriza-se pelas decisões tomadas em assembleia
geral constituída pela igreja local. As igrejas batistas são a denominação que
mais caracteriza esse modelo.
Tecnicamente,
as igrejas pentecostais adotam o modelo episcopal de governo. O das Assembleias
de Deus no Brasil constituiu-se pelas funções de Pastor, Evangelista,
Presbítero, Diácono e Auxiliar de Trabalho - a função de Auxiliar submete-se à
de diácono; esta à de presbítero; esta à de evangelista; e esta à de pastor;
mas todas, por sua vez, à de Pastor-Presidente.
Constituída
por diversos campos de trabalhos, onde uma igreja matriz exerce a liderança em
relação às igrejas setoriais e as demais congregações, e de setores
eclesiásticos regionais, a função do presbítero tem uma importância singular na
liderança local da igreja. O presbítero da Assembleia de Deus é um pastor
local, pois ele pastoreia as congregações sob a supervisão do pastor setorial
(pastor de uma igreja setorial da sede), isto é, um bispo responsável pela
supervisão de várias congregações em uma região daquele campo de trabalho.- Por
isso, uma grande e extraordinária tarefa pesa sobre os ombros dos presbíteros.
E
importante ressaltar que, segundo o pastor Isael Araújo, no "Dicionário do
Movimento Pentecostal" (CPAD), o modelo de governo assembleiano no Brasil
foi abundantemente influenciado pelo da Suécia e trazido pelos missionários que
lideraram inicialmente a igreja no Brasil quando da sua fase embrionária. Por
outro lado, o governo da Assembleia de Deus da América é diametralmente oposto
ao da brasileira.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
A Igreja deixou de
ser localizada apenas em Jerusalém, passando pela Judeia e Samaria, e começou a
se deslocar para “os confins da terra” (At 1.8). As “igrejas de Deus” sofriam a
perseguição e se espalhavam por vários lugares (1 Ts 2.14). A conversão do
fariseu Saulo, no caminho de Damasco, fez dele um dos maiores evangelistas de
todos os tempos. Em suas viagens missionárias, muitas igrejas foram abertas,
inclusive na Europa. Em consequência, as igrejas necessitavam de líderes, que
orientassem os crentes acerca do evangelho, da organização, do desenvolvimento
e da maneira de viver dos novos grupos de cristãos.
Os apóstolos, como
verdadeiros evangelistas e missionários, não podiam ficar radicados num só
lugar. Uns tinham que se dedicar “à oração e à palavra” (At 6.4). Outros precisavam
sair evangelizando, mas o crescimento da obra exigia mais pessoas para
ajudá-los. Assim, com o passar dos anos, foram surgindo crentes de mais idade,
que demonstravam condição para cuidar dos mais novos convertidos. A boa semente
do evangelho frutificava em vários lugares, e os líderes da Igreja
(pertencentes ao Colégio Apostólico) tomaram providências para que, em cada
cidade, fossem estabelecidos líderes locais para cuidarem do rebanho.
Barnabé e Saulo foram
encarregados de levar socorro aos irmãos da Judeia, os quais o fizeram,
entregando a ajuda “aos anciãos” (At 11.30). Havia uma grande fome naquela
região e os líderes, com sabedoria, não mandaram a ajuda de qualquer forma.
Enviaram aos líderes da comunidade cristã. Em sua primeira viagem missionária,
Paulo e Barnabé chegaram a Icônio, foram perseguidos e saíram para listra,
Derbe, Antioquia, Pisídia e por muitas outras cidades. Eles fizeram excelente
trabalho missionário, fundando muitas igrejas por onde passavam. E as multidões
de crentes precisavam ser discipuladas.
Aquela altura da
expansão da Igreja, não havia ainda um ministério organizado como conhecemos
hoje, com pastores, evangelistas, mestres, presbíteros e diáconos, de forma bem
definida e até impropriamente hierarquizada. Por isso, os discípulos mais
antigos, e de mais idade, eram designados para cuidar de cada igreja. Eram os
anciãos, que iam sendo escolhidos para serem superintendentes, supervisores, ou
bispos. Exortando os irmãos de Éfeso, Paulo falou para os líderes daquela igreja:
“Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos
constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com
seu próprio sangue” (At 20.28 — grifo nosso).
Em sua carta a Tito,
Paulo mostra que é um verdadeiro pastor e líder, chamado por Deus (1 Co 1.1; G1
1.1), e tem cuidado das igrejas que fundou em suas viagens missionárias. E diz
para seu discípulo: “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em
boa ordem as coisas que ainda restam e, de cidade em cidade, estabelecesses
presbíteros, como já te mandei” (Tt 1.5). De acordo com o entendimento da
época, a igreja local deveria ter à frente um obreiro experiente e de mais
idade. Que fosse um ancião. Um jovem obreiro pode ter muito conhecimento
bíblico e até muita unção de Deus. Mas a experiência só se consegue com o
tempo, com o passar dos anos (Jó 32.7).
Ao longo dos séculos,
a atividade do presbítero caracterizou-se pelo ministério de administrar as
igrejas, bem como do ensino da Palavra. Sua função não é inferior à do pastor
ou do evangelista. É atividade necessária para o bom ordenamento das atividades
das igrejas locais. O presbítero é obreiro que colabora com o pastor da igreja,
ajudando-o no cuidado do rebanho do Senhor Jesus Cristo.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 129-130.
I - A
ESCOLHA DOS PRESBÍTEROS
1. Significado da
função.
A palavra presbítero,
em sua origem significa “Forma comparativa” depresbys (gr.), que tem o
significado de “mais velho, como substantivo, uma pessoa mais velha;
especialmente um membro do Sinédrio israelita (também figurado, membro do
conselho celestial) ou um “presbítero” cristão — ancião, mais velho, “um título
de dignidade” “Anciãos de igrejas cristãs, presbíteros, encarregados da
administração e governo das igrejas individuais”. Equivale a “episkopos,
supervisor, bispo. Também didaskolos, professor; poimén, pastor”.
Nos primórdios da
Igreja, o presbítero era “o pastor” local, fazendo parte de um grupo de
obreiros, responsáveis pelo cuidado das novas igrejas que surgiam em
decorrência da evangelização intensiva. O apóstolo Paulo, que também era pastor
e presbítero, teve o cuidado de organizar a administração das igrejas por ele
abertas em suas viagens missionárias.
Escrevendo a Tito, seu discípulo, orientou-o quanto ao estabelecimento de
presbíteros, nos diversos lugares, onde havia igrejas, indicando que eles
seriam de fato os responsáveis pela liderança das novas igrejas.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 130-131.
PRESBITÉRIO,
PRESBÍTERO Grupo ou ordem de anciãos que consagrou o jovem Timóteo (1 Tm 4.14).
Parece que Paulo, nesta ocasião, liderava este grupo (2 Tm 1.6). Da mesma
maneira que a nação israelita tinha seus anciãos, as Sinagogas também tinham
seus, e o mesmo ocorria com o Sinédrio. Junto com o presbitério havia um
conjunto de sacerdotes e escribas. Na época do NT este grupo tinha como
presidente o sumo sacerdote. Paulo estabeleceu as igrejas sob o governo de um
corpo de anciãos (At 14.23; 16.4; Tt 1.5; cf. At 15.4,6,23; 20.17,28). Nas
igrejas atuais, particularmente naquelas que adotam a forma de administração
presbiteriana, o grupo de anciãos da Igreja local é chamado de sessão, enquanto
aqueles que se reúnem como representantes das igrejas de uma área maior são
chamados presbíteros. E impossível dizer se os anciãos mencionados em 1 Timóteo
eram de uma ou mais igrejas.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora
CPAD. pag. 1591.
ANCIÃO NO NT (literalmente
pessoa mais velha ou homem mais velho; algumas vezes transliterado como
presbítero). Este termo designava três grupos diferentes no NT: (a) indivíduos
mais velhos; (b) líderes político-religiosos do Judaísmo e (c) os primeiros
líderes da igreja apostólica.
1. Formação: AT,
Judaísmo Rabínico e a comunidade de Qumrã. De acordo com a terminologia do AT,
o ancião era um termo vagamente definido, designando os líderes religiosos e
políticos, especialmente de Israel. As referências bíblicas mostram que outras
nações, como Egito e Moabe, possuíram tais líderes (cp. Gn 50.7; Nm 22.7).
Embora vários termos hebraicos foram usados para descrever estes líderes, três
termos aparecem com mais frequência que outros: ii?T sendo o termo técnico para
ancião, mas geralmente significando uma pessoa mais velha (cp. Gn 43.7; Êx
3.16,18; 12.21; 17.5,6); nxw, significando idade avançada ou uma idade mais
velha, do verbo que significa ser muito antigo (cp. lRs 14.4); e 12?,
significando líder, chefe ou governador, e frequentemente aparecendo em
contextos onde é claramente um sinônimo de ancião (cp. Jz 5.15; 6.6-16). Em
Isaías 3.2,3 são mencionadas pelo menos onze diferentes posições de liderança
pelo profeta; ancião é uma delas. Particularmente importante é a ideia dos
“setenta anciãos” no AT (cp. Êx 24.1; Nm 11.16).
No primeiro século
d.C., o ofício de ancião era uma posição regular na sinagoga judaica. No
tratado do Sinédrio sobre a Mishná, as obrigações deste ofício são claramente
destacadas. O conselho de anciãos era responsável pelo governo da comunidade
judaica. Em lerusalém, o Sinédrio, que era um conselho composto de setenta e um
anciãos, agia como a corte suprema para todo o Judaísmo. (Cp. Berakhoth4:7;Nedrarim 5:5; Me- ghillah 3:1; Edhuyoth 5:6; Ta’anith
3:8; Middoth 2:2; Ed 10.8; Lc 6.22; Jo 9.22; 12.42.)
As descobertas de
Qumrã têm revelado uma comunidade pactuai, na qual o ofício de ancião também funcionava
quase do mesmo modo que no Judaísmo, e há um consenso geral de que a comunidade
de Qumrã realmente tinha conexões significantes com o Cristianismo primitivo.
Isto não sugere que a Igreja Primitiva adotou sua estrutura eclesiástica da
comunidade de Qumrã. O Manual de Disciplina (1 QS VI) fala dos anciãos (mebaqqer)
como os que estavam em segundo lugar em autoridade, vindo logo após os
sacerdotes.
2. O significado e a
importância para a Igreja do NT. Os termos associados com esta posição aparecem
mais de setenta vezes noNT: (a) quase metade das citações referem-se ao ofício
no Judaísmo (cp. Mt 15.2; 26.47; Mc 8.31; 14.43; At 4.5; 25.15; note: o termo
não é usado nenhuma vez no evangelho de João, exceto na variante textual em
8.9, e isto é particularmente significante à luz do tom negativo do quarto
evangelho para com o Judaísmo em geral); (b) cinco referências são designações
comparativas de idade (cp. Lc 15.25; At 2.17 [RSV “homens mais velhos”]; Rm
9.12; lTm 5.2 [RSV “mulheres mais velhas”]; Hb 11.2 [RSV “homens de idade”]; (c)
as referências restantes são em relação ao ofício na Igreja Primitiva.
Na história
apostólica de Lucas, o ofício aparece, sem explicações de sua origem, pela
primeira vez em Atos 11.30. A referência aqui é aos presbíteros na Igreja da
Judéia, para quem uma coleta foi tirada na Igreja de Antioquia. Nos é dito mais
tarde que Paulo “designou” (do verbo grego que significa “escolher ou eleger
por meio de mãos levantadas ou indicação”) presbíteros em cada Igreja (At
14.23). A exata natureza desta ordenação apostólica ou nomeação não é descrita
exceto para sugerir que orações e jejuns faziam parte do ritual. Nós podemos
supor que esta aparição inexplicável, em contraste com a escolha dos sete em
Atos 6, implica numa transição natural, da estrutura da Sinagoga Judaica para a
organização da Igreja Primitiva (cp. At 2.46).
A questão sobre a
qual a Igreja tem se dividido através dos anos é acerca do relacionamento do
ofício de presbítero em relação ao ministério total da Igreja. Primeiro,
deveria ser observado que em muitas passagens eclesiológicas importantes o
ofício de presbítero não é especificamente mencionado. Os ofícios de diácono,
bispo ou pastor assim como ancião são notavelmente omitidos ((ICo 12.4-11, e
vv. 28-30). (em ICo 12.28 traduzido como “administradores” que pode ser uma
referência a um tipo de presbítero moderador.) Em uma lista um pouco mais
definida dos ministérios da igreja,
em Efésios 4.11,
“pastores” (Ttotjnjv) e “professores” estão entre os títulos usados para
descrever estes líderes. Segundo, as epístolas pastorais referem-se somente a
dois ofícios: pastores ou presbíteros e diáconos. Em 1 Timóteo
3.1-13,0 texto usa
episkopos e diakonos\ enquanto que Tito 1.5-9 parece usar os termos episkopos e
presbuteros quase que de modo permutável: “te deixei em Creta, para que... em
cada cidade, constituísses presbíteros... porque é indispensável que o bispo
(episkopos) . “., Na carta à igreja em Filipo, a saudação menciona somente
“bispos” (episkopos) e “diáconos” (diakonos), e deve ser observado que ambos
termos são plurais.
Duas questões são
levantadas pela evidência do NT. Primeira, qual é a importância da pluralidade
de anciãos na igreja do NT? Segundo, qual é o relacionamento de bispo ou pastor
com o ofício de presbítero?
Em relação à primeira
questão, deve ser observado que duas possíveis explicações estão disponíveis.
Por um lado, a estrutura existente da sinagoga, com sua pluralidade de anciãos
é comparada à organização da Igreja do NT. Deve ser destacado aqui que, mesmo
na sinagoga havia, um “cabeça”. A pluralidade neste caso não proibiria a
liderança predominante de um presbítero, talvez referido como “presbítero que
preside” (lTm 5.17). Há, na história posterior da igreja, um desenvolvimento
que pode ser seguido desde uma pluralidade de presbíteros a um bispo presidente
até uma estrutura episcopal hierárquica. A natureza das assembleias cristãs
primitivas do NT, que geralmente cultuava em lares dos membros, pode também
ajudar a explicar a pluralidade de presbíteros. Em outras palavras, em uma dada
comunidade poderia haver um número de presbíteros responsável pelo cuidado de
uma congregação particular, que se reunia em seu lar ou no lar de algum outro
cristão na congregação. Exemplos claros disto são encontrados no próprio NT
(cp. At 16.11ss.;Rm 16.3-5).
Em relação à última
questão, já se tem observado que na época em que as epístolas pastorais foram
escritas os termos “bispo” e “presbítero” foram usados de modo permutável (cp.
lTm 3; Tt 1). Mas mesmo mais cedo no ministério de Paulo (cp. At 20.17-38),
quando ele se encontrou com os presbíteros da igreja de Éfeso, ele parece
referir-se aos três termos ao mesmo tempo — presbítero, bispo ou supervisor e
pastor. A ideia de presbíteros servindo como pastores do rebanho e
supervisionando a administração da Igreja ajudou a distinguir o título do ofício
de suas funções práticas. Em outras palavras, o termo presbítero,
originalmente, designava aqueles que eram, tanto natural quanto
espiritualmente, mais velhos ou mais maduros. Observe que Paulo faz menção específica
ao fato de que ninguém deveria ser admitido ao ofício de presbítero ou bispo
sendo um “recém convertido” ou noviço (cp. lTm 3.6). Os outros termos — pastor
e bispo ou supervisor — referem-se às funções deste ofício na Igreja. Um
presbítero é, portanto, um homem mais velho, um homem membro da Igreja
espiritualmente mais maduro, que é responsável pela administração da
congregação. Neste último caso, é instrutivo que Pedro refere-se a si mesmo
como um presbítero; “Aos presbíteros, pois, que há entre vós, rogo eu, que sou
presbítero com eles” (IPe 5.1). Nos últimos escritos pós-apostólicos da Igreja,
há uma evidência clara de que o ministério de pastor ou bispo e presbítero eram
o mesmo (cp. Didaquê 10.6).
Finalmente, deve ser
observado que o termo também tem um significado escatológico definido. Em
Apocalipse de João, um grupo selecionado recebe o título de “vinte e quatro
anciãos” e eles são chamados para participar na estrutura escatológica da
redenção. Comentaristas do NT discordam sobre a precisa referência destes
“vinte e quatro anciãos”, mas pode ser sugerido que este título aponta
novamente para origem judaica do ofício (AT e Rabínico), bem como ao
relacionamento dinâmico de Israel com a Igreja. A duplicação do número doze
pode apontar para uma unidade espiritual que será concretizada escatologica e
eclesiologicamente no fim dos tempos! (Cp. Ap 4.4,10; 5.5-14; 7.11-13; 11.16;
14.3; 19.4; Rm 9-11.)
MERRILL
C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia.
Editora Cultura Cristã. Vol. 1. pag. 297-299.
PRESBÍTERO. No AT. Os
“anciãos do povo” ou os “anciãos de Israel" são frequentemente associados
a Moisés quando este lidava com o povo (Ex 3.16; 4.29; 17.5; 18.12; 19.17;
24.1, 11; Nm 11.16). Posteriormente, administram o governo local (Jz 8.14; Js
20.4; Rt 4.2) e participam dos negócios da nação (1 Sm 4.3) mesmo depois da
instituição da monarquia (1 Sm 8.4; 30.26; 2 Sm 3.17; 5.3; 1 Rs 21.8). Galgam
nova preeminência durante o exilio (Jr 29.1; Ez 7.1; 14.1; 20.1) e depois da
volta do exilio, estão associados tanto ao governador nas suas funções (Ed
5.9ss.; 6.7) quanto à administração local (Ed 10.14). Em si mesmos, têm certas
funções jurídicas (Dt 22.15; 25.7ss.) e associam-se aos juizes, que
provavelmente são escolhidos dentre os “anciãos" (ou “presbíteros”), para
administração e execução da justiça (Dt 16.18; 21.2ss.; Ed 7.25; 10.14). Além
disso, estão associados a Moisés e Arão na transmissão
Presbítero -175
da palavra de Deus ao
povo (Ex 3.14; 4.29; 19.7) e na representação do povo diante de Deus nas
ocasiões grandiosas (Ex 17.5; 24.1; Nm 11.16). Cuidam dos preparativos para a
páscoa (Ex 12.21).
Outras nações tinham
anciãos (cf. Gn 50.7; Nm 22.7), o direito ao título estava ligado à idade, o
respeito de que o indivíduo gozava, ou ao cargo específico ocupado na
comunidade (cf. o alderman saxônico, o senator romano, a gerousia grega). O
ancião em Israel obtinha inicialmente, sem dúvida, sua autoridade e seu status,
bem como seu nome, da sua idade e da sua experiência.
No período dos
macabeus, 0 título “anciãos de Israel" é aplicado aos membros do Sinédrio
judaico que, segundo se considerava, tinha sido estabelecido por Moisés quando
nomeou os setenta anciãos em Nm 11.16ss. No nível local, uma comunidade de 120
(cf. At 1.15) ou mais, podia nomear sete anciãos (Mishna, Sanhedrin 1.6). Estes
eram chamados os “sete de uma cidade”, e é possível que os sete que foram
nomeados em Atos 6 fossem considerados anciãos desse tipo (cf. D. Daube, The NT
and Rabbinic Judaism, 237). Nos evangelhos, os anciãos estão associados com os
escribas e com os sacerdotes principais que fizeram padecer Cristo (Mt 16.21;
27.1) e os apóstolos (At 6.12).
No NT. Os anciãos ou
“presbíteros” (presbyteroi) aparecem já no início da vida da igreja, e assumem
posição juntamente com os apóstolos, profetas e mestres. Em Jerusalém, estão
associados a Tiago no governo da igreja local da maneira usada na sinagoga (At
11.30; 21.18), mas em associação aos apóstolos compartilham, também, do governo
mais amplo, tipo Sinédrio, da igreja inteira (At 15.2,6,23; 16.4). Um apóstolo
pode ser um presbítero (1 Pe 5.1).
Os presbíteros não
aparecem em Antioquia durante a estada de Paulo (At 13.1), nem são mencionados
nas primeiras epístolas dele. É possível que o governo eclesiástico fosse
questão de importância secundária naquele período. Mesmo assim, Paulo e
Barnabé, em sua primeira viagem missionária, promoveram a eleição de
presbíteros em todas as igrejas que fundaram (At 14.23).
Os presbíteros aos
quais Paulo dirigiu a palavra em Éfeso (At 20.17ss.) e aqueles aos quais 1
Pedro e Tlto falam, têm um lugar decisivo na vida da igreja. Além da sua função
de humilde supervisão pastoral, deles depende, em grande medida, a estabilidade
e a pureza do rebanho quando as tentações e crises se aproximam. Ocupam uma
posição de autoridade e de privilégio que pode ser abusada. São
co-participantes do ministério de Cristo entre 0 rebanho (1 Pe 5.1-4; At 20.28;
cf. Ef 4.11)·,
É asseverado
frequentemente que nas igrejas gentias 0 nome episkopos é usado como substituto
de presbyteros, com significado idêntico. Parece que as palavras são
intercambiáveis em At 20.17, 18 e Tt 1.5-9. Mas, embora todos os episkopoi
sejam indubitavelmente presbyteroi, não fica claro se o inverso sempre se
aplica. A palavra presbyteros indica principalmente o status de “ancião”, ao
passo que episkopos denota a função de pelo menos alguns dos anciãos. Mas é
possível que tenha havido “presbíteros” que não eram episkopoi.
Em 1 Tm 5.17, o
ensinp é considerado uma função desejável do presbítero, e não somente a da
supervisão. É provável que, quando os apóstolos, mestres e profetas, em suas
viagens, já não podiam ministrar a toda a igreja, a função do ensino e da
pregação recaísse sobre os presbíteros locais, e assim, desenvolver-se-ia o
cargo de presbítero, e as qualificações dos presbíteros. Isso, por sua vez,
pode ter levado a uma distinção dentro do presbiterado. A presidência do grupo
local de presbíteros, tanto na disciplina da congregação, quanto na celebração
da Ceia do Senhor, tenderia a ser um cargo permanente, exercido por um só
homem.
O “presbítero” em 2 e
3 João refere-se meramente a alguém que gozava de alta estima dentro da igreja.
Os vinte e quatro anciãos que com tanta freqüência aparecem nas visões do livro
de Apocalipse são exemplos de como toda a autoridade deve adorar humildemente a
Deus e ao Cordeiro (Ap 4.10; 5.8-10; 19.4). Deve-se notar que até mesmo esses
presbyteroi, segundo parece, ministram no céu à igreja na terra (Ap 5.5, 8;
7.13).
Na História da
Igreja. Na época da Reforma, Calvino entendeu que o cargo de presbítero era uma
das quatro “ordens ou cargos” que Cristo instituíra para o governo normal da
igreja, sendo que as outras eram: pastores, mestres e diáconos. Os presbíteros,
como representantes do povo, eram responsáveis pela disciplina, lado a lado com
os pastores ou bispos. Na Escócia, posteriormente, o presbítero recebia uma
ordenação vitalícia, sem a imposição das mãos, e tinha 0 dever de examinar os
candidatos à comunhão da igreja e de visitar os enfermos, sendo incentivado a
ensinar. Surgiu a teoria, através de 1 Tm 5.17, de que os ministros e os demais
presbíteros eram da mesma ordem, e que os ministros eram presbíteros quer
ensinavam, e os demais, presbíteros que governavam. De modo global, no entanto,
a Igreja Presbiteriana tem sustentado que há uma distinção entre a ordenação ao
ministério e a ordenação ao presbiterado, sendo que o tipo de ordenação é
determinado segundo a sua finalidade. O presbítero tem sido considerado
representante do povo (sem, porém, ter sido nomeado pelo povo, e sem ser responsável
diante deste) na organização dos assuntos da igreja, e tem cumprido muitas das
funções que, no NT, são próprias do diaconato. O padrão da obra do presbítero
dentro da igreja corresponde estreitamente àquele do “ancião do povo” no AT.
WALTER
A. ELWELL. Enciclopédia HISTÓRICO-TEOLÓGICA
DA IGREJA CRISTA. Editora Vida Nova.
2. A liderança local.
O crescimento das
igrejas, como fruto da evangelização e do discipulado, exige a delegação de
atividades a pessoas que tenham condições de liderar o rebanho do Senhor Jesus
(Tt 1.5,7). Os pastores não podem abarcar tudo para si, sob pena de não darem
conta das inúmeras responsabilidades que a igreja local requer. Como a
referência a presbíteros, no NT, sempre é feita no plural “presbíteros”,
“bispos” ou “anciãos”, dá a entender que, em geral, o presbítero não agia
isoladamente, mas como um corpo de ministros, ou de líderes, que cuidava da
igreja local. “Sempre são citados no plural, isto é, não é mencionada uma só
igreja onde houvesse apenas um presbítero (At 11.30; 15.2,4,6; 20.17; Tg 5.l4;
1 Pe 5.1).”
Certamente, pela
inexistência de pessoas qualificadas com o dom ministerial de pastor, havia a
necessidade de uma liderança, formada por um grupo de irmãos mais idosos, para
cuidar da igreja local. Entende-se, assim, que os presbíteros têm um ministério
de grande importância, auxiliando os pastores, designados por Deus para
apascentarem e cuidarem da Igreja do Senhor sob seus cuidados.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 131.
Tt 1. 4,5,7. Tito,
meu verdadeiro filho, segundo a fé comum: graça, misericórdia e paz, da parte
de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador (4). Em Atos dos
Apóstolos, Tito não é mencionado entre os assistentes de Paulo, embora seja
mencionado várias vezes em 1 Coríntios, Gálatas e 2 Timóteo. Ele era grego e
provavelmente foi ganho para Cristo pelo ministério do apóstolo. Quando surgiu
a controvérsia dos judaizantes, Lucas nos informa que os irmãos determinaram
que “Paulo, Barnabé e alguns dentre eles subissem a Jerusalém aos apóstolos e
aos anciãos sobre aquela questão” (At 15.2). Paulo nos fala (G1 2.3) que entre
estes “alguns dentre eles” estava Tito (presumindo que se trate da mesma visita
a Jerusalém). Mais tarde, este jovem aparece na segunda carta de Paulo aos
Coríntios, onde há oito referências a ele, que o mostram como ajudante de
confiança do apóstolo. Em 2 Timóteo 4.10, lemos que Tito estava em missão na
Dalmácia. Na época da carta de Paulo a Tito, o jovem é o representante do
apóstolo em Creta (ver Mapa 1), onde era evidentemente pastor da igreja cristã.
Paulo se dirige a
Tito por meu verdadeiro filho, segundo a fé comum, expressão que é mais bem
traduzida por “meu filho verdadeiramente nascido na fé que compartilhamos”
(NEB). A bênção que se segue é de caráter tipicamente paulino, conferindo nota
adicional de autenticidade a esta epístola: Graça, misericórdia e paz, da parte
de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador.
O apóstolo passa a
tratar imediatamente da razão que o levou a escrever a carta. Notamos a falta
de uma declaração de estima ou gratidão a Tito como ocorre em 2 Timóteo 1.3-5
(embora também não ocorra em 1 Timóteo). Por esta causa te deixei em Creta,
para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam e, de cidade em
cidade, estabelecesses presbíteros, como já te mandei (5). Os dizeres dão a
entender que fazia pouco tempo que Paulo estivera em Creta acompanhado com Tito
que lhe servia de assistente. Não há registro histórico em Atos que fale desta
campanha cretense. O Livro de Atos termina abruptamente com os acontecimentos
finais da primeira prisão de Paulo em Roma. Nossa tese, que torna possível a
autoria paulina das Epístolas Pastorais, é que o apóstolo foi liberto do
primeiro aprisionamento e continuou o seu trabalho. Embora não haja relato dos
anos finais da vida do apóstolo, teria havido tempo suficiente para a ampla
evangelização da ilha de Creta. O fato de Tito ter sido encarregado de ordenar
presbíteros... de cidade em cidade mostra a extensão dessa atividade. O
ministério de Paulo em Creta havia terminado recentemente; mas o apóstolo
deixou ali Tito, seu assistente, para completar a tarefa de organizar as
igrejas. A linguagem de Paulo dá a entender que nem tudo estava bem nas igrejas
cretenses e que parte da tarefa de Tito era corrigir o que estava errado.
Tito foi instruído a
designar e ordenar presbitérios (ou “pastores”, BV) para as igrejas. Esta
prática estava de acordo com o costume do apóstolo. Já na primeira viagem
missionária, Lucas nos informa que, “havendo-lhes por comum consentimento
eleito anciãos
em cada igreja, orando com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam
crido” (At 14.23). Há diferenças nas instruções de Paulo entre 1 Timóteo e
Tito. Na primeira, já havia bispos no exercício do cargo, ao passo que na
última, provavelmente por ser algo novo na igreja cretense, era a primeira
ordenação de presbitérios.
Porque convém que o
bispo seja irrepreensível como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem
iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância
(7). O assunto desta lista adicional de qualificações é o bispo (no singular) e
não os “presbíteros” (no plural). Barrett observa que “a mudança do plural (presbíteros)
para o singular (bispo) é mais bem explicado não pela suposição de que em cada
cidade havia um grupo de presbíteros e só um bispo, mas pela interpretação
[...] de que, enquanto que presbítero descreve o cargo, bispo descreve sua
função: Os presbíteros que você designar devem ter certas qualificações, pois o
homem que exerce a supervisão tem de ser”1 não soberbo, nem iracundo, nem dado
ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância.
A qualidade da
irrepreensibilidade — “caráter inatacável” (6) — ocorre novamente, pois a
responsabilidade do bispo é servir como despenseiro da casa de Deus (7). O
termo
despenseiro quer dizer, literalmente, “o administrador de uma casa ou família”
(Kelly). O bispo era o gerente financeiro da igreja local e por isso, se por
nenhuma outra razão, deve ser homem de extrema integridade.
O apóstolo alista
cinco defeitos que devem estar visivelmente ausentes no bispo (7). São falhas
de caráter que, caso sejam toleradas em um líder eclesiástico, lhe causarão
ruína certa. O soberbo é alguém propenso a ser “arrogante” (BAB), opinioso e
teimoso. Característica como esta constituiria alta traição do espírito do
Mestre. O iracundo seria indivíduo esquentado, vingativo e totalmente falto de
paciência (“impacientes”, BV), que é tão essencial ao servo de Cristo. Nem dado
ao vinho (“beberrão”, BJ) é expressão que sempre nos deixa surpresos num
contexto como este. Contudo, era um problema muito sério na igreja do século I.
A viticultura era abundante em todos os lugares ao longo da bacia mediterrânea,
e a tentação de beber vinho e, daí, ficar bêbado vinha de todos os lados. Nem
espancador (“violento”, BAB, BJ, CH, NTLH, NVI, RA) indica a tendência à ação
violenta ou arbitrária, que com certeza ocorria ocasionalmente entre os líderes
locais na igreja primitiva. Nem cobiçoso de torpe ganância (“nem ávido por
lucro desonesto”, NVI, cf. BJ, CH) é outra característica grosseira contra a
qual Paulo adverte. Como guardião dos fundos monetários da igreja esta poderia
se tornar fonte de tentação para o bispo.
J.
Glenn Gould. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 9. pag. 543-546.
Tt 1.4 A Tito, meu
autêntico filho segundo a fé em comum. Tito abraçou a fé em Jesus por meio da
proclamação do apóstolo, representando um fruto real do serviço apostólico.
Autêntico também pode ser a designação de um companheiro de luta na fé, desde
que seja aprovado.
O relacionamento do
apóstolo com Timóteo, o “filho amado”, certamente era mais íntimo, mas Tito
também está bem próximo dele. Tanto mais surpreendente é que um colaborador tão
próximo e íntimo de Paulo não seja mencionado em nenhuma passagem de At.
Sobre a fé em comum
apoia-se o relacionamento espiritual entre pai e filho. Chama atenção a
diferença em relação a 1Tm 1.2, onde simplesmente se lê: meu autêntico filho na
fé. Será que a ênfase do que há em comum permite inferir uma maior
independência de Tito, ou será que a intenção é enfatizar a posição comum de
todos os que creem (cf. 1b: em consonância com a fé dos eleitos)? Tito
representou o apóstolo com sucesso em uma questão complicada na igreja de
Corinto, enquanto Timóteo praticamente teve de ser protegido dos coríntios.
Em outras ocasiões
Paulo também escreve da “fé em comum”, compartilhada com todos os discípulos de
Jesus; com todos eles participa da “salvação conjunta”. Entendida nesse
sentido, a catolicidade, i. é, a validade geral ou participação geral na fé,
representa uma preocupação central da Bíblia.
Tt 1.5 – Por esta
causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem
como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi.
Dessa frase pode-se
concluir que Paulo e Tito evangelizaram juntos em Creta. Judeus de Creta
estiveram em Jerusalém por ocasião do Pentecostes. Não se pode descartar que
alguns deles aceitaram a fé em Jesus, o Messias, retornando a Creta como
primícias da fé. Tais primeiros contatos podem ter aberto o caminho para uma
posterior viagem missionária. O motivo direto da carta são os dois
colaboradores mencionados em Tt 3.13, que viajam até Creta, entregando a
missiva a Tito.
Na época da redação
Paulo está livre (Tt 3.12). A situação é semelhante à de 1Tm: Timóteo deve
organizar o necessário em Éfeso, e Tito em Creta. Tanto em 1Tm quanto em Tt a
instrução oral é seguida por confirmação e complementação escritas, um
procedimento que não é incomum para Paulo.
Tito também deixará a
ilha. Por isso é necessário que as instruções sejam entregues por escrito às
mãos dos irmãos colaboradores e co-dirigentes em Creta. Em 1Tm já se pressupõem
formas e serviços eclesiais mais sólidos, em Creta parece existir um estágio
anterior de constituição da igreja.
As coisas faltantes
são aquilo que ainda falta para o desenvolvimento de uma igreja plenamente
emancipada. O que Paulo deixou inconcluso é confiado a Tito para que este cuide
da evolução posterior. O que Deus começou ele pretende levar à maturidade. Aqui
não se tem em vista apenas um aperfeiçoamento em termos de organização! Já em
1Ts 3.10 Paulo escreve que deseja dirimir as falhas que ainda estão ligadas à
fé. As igrejas devem chegar à aprovação na fé.
Tito recebe
particularmente a incumbência de instituir presbíteros em cada cidade.
Aparentemente a fé em Jesus se expandiu primeiramente nas cidades, ou as
igrejas cresceram mais rapidamente nelas, de modo que se tornasse necessária a
instalação de presbíteros. As aldeias e localidades das redondezas eram
evangelizadas a partir das cidades. Em todos os lugares a instalação de servos
para a igreja aconteceu com a participação dos membros da igreja. At 14.23
informa que Paulo e Barnabé retornaram a três cidades em que se haviam formado
igrejas durante a primeira migração evangelizadora. Somente agora, na segunda
estadia, elegem presbíteros em cada igreja, recomendando-os em conjunto com a
igreja ao Senhor, mediante oração e jejum. A evangelização em Creta pode ter
ocorrido de forma similar. Primeiramente Paulo e Tito viajaram em conjunto pela
ilha, anunciando o evangelho de Jesus. Em uma segunda visita, pouco tempo
depois, Tito (ele permaneceu na ilha, enquanto Paulo seguiu viagem) deve
confirmar, em e com as jovens igrejas, presbíteros que se evidenciaram como
agraciados e aprovados por Deus em vista de seu serviço aos fiéis.
Em todas as igrejas
surgidas da atividade missionária de Paulo havia serviços eclesiais organizados
desde o princípio, tão logo um grupo sólido de discípulos estivesse de fato
formado. O NT não dá notícia de nenhuma igreja sem liderança. O estilo de
liderança pode se configurar de formas muito distintas, porém nunca na forma de
uma posição especial excludente ou de uma reivindicação legal consolidada.
Tt 1.7 O presidente
deve ser irrepreensível como administrador de Deus: O presidente é um dos
presbíteros e vem das fileiras deles, por isso é repetida para ele a
característica decisiva: que seja irrepreensível! O singular não exclui a
possibilidade de que houvesse vários presidentes em uma cidade, especialmente
quando se formavam várias igrejas caseiras na mesma localidade. Ao contrário de
1Tm, não se mencionam aqui diáconos. Não se trata de listar todos os serviços
na igreja e muito menos de instituir um cargo de bispo monárquico, nem de
providenciar o ordenamento jurídico de cargos.
A prestação de
serviços na administração de Deus acontece pela fé. Cada administrador presta
contas do que faz e deixa de fazer. Na sequência são arrolados cinco vícios que
o presidente deve evitar (v. 7), e depois ocorrem seis exigências,
imprescindíveis para sua contribuição na edificação da igreja.
Não autocrático:
usurpador, sem escrúpulos, caprichoso, teimoso. Um bom líder não imporá a si
mesmo, não tentará avançar solitariamente e sem os irmãos co-responsáveis. O
dirigente seja servo de todos, não seu comandante e senhor.
Não irascível: faz
parte de autocrático. Quem considera a si mesmo capaz de tudo ou confia demais
em si rapidamente perde a paciência com outros. Um valentão em breve se torna
solitário, alguém que tem apenas seguidores submissos, mas não irmãos
co-responsáveis.
Não dado ao vinho,
não briguento, não ganancioso: Houve tentativas de explicar essas condições, de
conotação óbvia, com os primórdios da missão e o baixo nível do entorno
gentílico. Contudo demandas morais que parecem elementares não são cumpridas de
forma óbvia. Quando as exigências básicas (aquilo que é fundamental e elementar)
são apenas pressupostas, e não são constantemente propostas, examinadas e
exercitadas, todo avanço permanece incerto e pode levar à auto-ilusão.
Hans Bürki. Comentário Esperança Cartas
aos Tito. Editora
Evangélica Esperança.
Tt 1.4 Tito, um
grego, era um dos mais confiáveis e responsáveis cooperadores de Paulo. Como um
verdadeiro filho, ele pode ter sido um dos convertidos de Paulo. Embora ele não
esteja mencionado no livro de Atos, outras epístolas chamam a atenção para o
fato de que Tito realizou diversas missões em nome de Paulo.
Paulo repetiu a sua
saudação padrão (graça e paz) com uma ligeira modificação. A última palavra repete a
idéia do versículo 3. Paulo usou a palavra “Salvador” tanto para Deus Pai como
para Jesus Cristo, revelando, desta maneira, a sua compreensão da natureza de Deus
e da obra de salvação (veja também 1.3; 2.10,13; 3.4,6).
Tt 1.5 Creta é uma
ilha comprida (240 quilômetros) e estreita, situada no mar Mediterrâneo. Entre
os seus habitantes, havia muitos judeus. Os primeiros convertidos foram
provavelmente judeus cretenses que tinham estado em Jerusalém por ocasião do Pentecostes
(At 2.11), mais de trinta anos antes de Paulo escrever esta carta. Talvez tivesse
havido algum novo contato com Paulo quando ele esteve ali como prisioneiro, em sua
primeira viagem a Roma, para ser julgado.
Posteriormente, ele e
Tito retornaram para uma visita evangelística.
Aparentemente, Paulo
não ficou muito tempo em Creta, de modo que deixou Tito, seu leal e capaz
cooperador, para completar o trabalho de estabelecer o ensino correto e lidar
com os falsos ensinadores, como também indicar presbíteros de cidade em cidade.
Paulo tinha indicado
presbíteros em várias igrejas durante as suas viagens (At 14.23).
Ao retornar da
primeira viagem missionária, Paulo dedicou um tempo extra para visitar novamente
cada igreja e estabelecer a liderança de cada uma delas. Ele não podia
permanecer em todas as igrejas, mas sabia que estas novas igrejas precisavam de
fortes líderes espirituais.
Os homens escolhidos
deveriam liderar as igrejas, ensinando a sã doutrina, ajudando os crentes a
amadurecer espiritualmente, e capacitando-os a viver para Jesus Cristo, apesar
da oposição. Os versículos seguintes fornecem as qualificações para os
presbíteros.
Tt 1.7 A expressão
“convém que o bispo seja irrepreensível” enfatiza que esta qualidade é
essencial em qualquer pessoa que seja um despenseiro da casa de Deus. Os
líderes da igreja que agem de maneira indigna e trazem acusações e reprovações
sobre si mesmos também danificam o trabalho de Deus. As diretrizes de Paulo
adquirem uma importância adicional no cenário de Creta, pois os cretenses eram
conhecidos por terem má reputaçáo (veja 1.12). Às vezes, as diretrizes de
liderança das Escrituras estarão em harmonia com os padrões predominantes para
os líderes maduros em uma cultura, e em outras ocasiões, elas estarão em
conflito.
Aparentemente, Tito
devia ser prudente com os cretenses.
Uma armadilha da
liderança é tornar-se soberbo. Mas o orgulho pode seduzir as emoções e
obscurecer a razão, tornando um líder de igreja ineficiente. O orgulho e a arrogância
foram a razão da queda do diabo, e ele usa o orgulho para apanhar outros. Além disto,
uma pessoa iracunda irá falar e agir sem pensar, magoando as pessoas e
danificando o trabalho e a reputação da igreja.
Estas três últimas
proibições tinham importância especial para a busca de Tito de líderes da
igreja na Creta do século I. Um líder de igreja não deve ser dado ao vinho nem espancador
(frequentemente, o resultado de a pessoa ser iracunda ou dada ao vinho). Além disto,
os líderes que Tito escolhesse deveriam servir por amor, e não por serem
cobiçosos por dinheiro.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 552-554.
3. As qualificações.
A missão do
presbítero é de tanta importância que o Novo Testamento dedica vários textos a
respeito das qualificações que se devem exigir dos obreiros que são escolhidos
para essa função ministerial. Não é um “dom de Deus”, como já vimos no estudo
sobre Efésios 4.11. Mas é um ministério, no sentido a que Paulo se refere, ao
dizer que “há diversidade de ministérios” (1 Co 12.5).
“O papel dos oficiais
da igreja era variável e flexível na época do Novo Testamento. Até o período patriótico
primitivo, tais funções ainda
não tinham sido padronizadas e regulamentadas”.4 Tendo em vista a origem do
presbítero, como acentuado em item anterior, sua importância é indiscutível. E
suas qualificações são das mais relevantes. Em sua escolha, segundo a Palavra
de Deus, devem ser observadas algumas qualidades ou qualificações, com base no
texto de Tito 1.6-9, que equipara o presbítero ao “bispo”'.
1) “Aquele que for
irrepreensível”. O presbítero, ou bispo, deve ser uma pessoa de caráter cristão
ilibado, íntegro, exemplar. Um “obreiro que não tem de que se envergonhar” (2
Tm 2.15).
2) “Marido de uma
mulher Significa que o candidato ao presbitério ou ao episcopado deve ser um
homem fiel à sua esposa. O renomado comentarista Matthew Henry, em seu
Comentário Bíblico sobre o Novo Testamento, diz sobre ser “marido de uma
mulher” o bispo não deve ser bígamo, tendo duas ou três mulheres, “de acordo
com a prática pecaminosa comum daquela época, por uma imitação perversa dos
patriarcas”.5
3) Que tenha familia
ajustada. Paulo dá destaque especial à criação dos filhos do presbítero ou
bispo (cf. 1 Tm 3.4,5).
4) “Não soberbo”. E
sinônimo de “arrogante, orgulhoso, presunçoso”. Um presbítero não deve ser
orgulhoso. Quando Jesus, Mestre dos mestres, e “Sumo Pastor”, lavou os pés dos
discípulos, quis dar uma grande lição aos pastores, e aos presbíteros ou
bispos. E bom lembrar que cargo ministerial não é sinônimo de grandeza
espiritual (1 Pe 5.5).
5) “Nem iracundo”.
Uma pessoa iracunda é raivosa, colérica, furiosa. Um presbítero deve ser pessoa
que sabe refrear seus impulsos emocionais. A ira é a pior opção para ser
cultivada. Um iracundo perde os melhores amigos e afasta a muitos de seu
convívio. Jesus oferece um curso de mansidão (Mt 11.29). Há vaga para todos.
6) “Nem dado ao
vinho”. Ou seja: não dado a fazer uso de bebida alcoólica (ver Ef 5.18). Não
deve beber vinho embriagante, nem ser tentado ou atraído por ele, nem comer e
beber com os ébrios (Mt 24.49). (1) A abstinência total de vinho fermentado era
a regra para reis, príncipes e juizes, no Antigo Testamento (Pv 31.4-7)/’ Não
há necessidade de o presbítero, bispo ou pastor tomar vinho. Um suco de uva
puro tem as mesmas propriedades terapêuticas que o vinho, exceto o teor
alcoólico.
7) “Nem espancador”.
Ou não violento, agressivo. O obreiro precisa ter o fruto da temperança ou do
domínio próprio, para não dar lugar a seu temperamento agressivo. O servo de
Deus não deve guiar-se por seu temperamento, mas pelo Espírito Santo (G1 5.16).
Alguém pode espancar outro com palavras, ou ferir com agressões verbais ou psicológica
(cf. Jr 18.18). Sempre houve pastores grosseiros, prepotentes, alguns que
cometeram “assédio moral” contra pessoas a seu redor. Isso é reprovável sob
todos os aspectos. O presbítero ou bispo deve ser ordeiro, humilde, de bom
trato para com todos.
8) “Nem cobiçoso de
torpe ganância”. A ganância por bens materiais ou pelo poder tem sido a causa
de muitos escândalos e descrédito contra o ministério pastoral. O apóstolo
Pedro deu a mesma exortação aos presbíteros (1 Pe 5.2).
9) “Mas dado à
hospitalidade”. O bispo deve ser hospitaleiro (Hb 13.2). Um presbítero, bispo
ou pastor deve ser uma pessoa acolhedora; que sabe receber bem, com cortesia e
amabilidade, qualquer pessoa, em sua casa, na igreja, ou em qualquer lugar. Não
deve ser grosseiro nem fazer acepção de pessoas (At 10.34; Tg 2.1, 9).
10) “Amigo do bem”. O
presbítero deve ter o fruto do Espírito da “benignidade”, que é a qualidade
daquele que se dedica a fazer o bem (SI 37.27; G16.9, 10). Quem faz o bem
colherá os frutos do que semeou.
11) “Moderado”. É
sinônimo de “comedido, prudente, contido”. O presbítero ou o bispo deve ser uma
pessoa assim, sem afetação, sem exibicionismo; ter uma vida sem exagero, seja
na vida ministerial, seja na vida pessoal; sem ser radicalista ou liberalista,
evitando os extremos. Não deve ser precipitado no falar, no agir, mas deve ter
autocontrole em suas atitudes e ações. Deve ter o fruto do Espírito da
temperança (G1 5.22).
12) “Justo”. É
sinônimo de “imparcial, isento, neutro, justiceiro". Ê qualidade
indispensável ao líder. O Sumo Pastor nos guia “pelas veredas da justiça por
amor do seu nome” (SI 23.3). O presbítero ou bispo, que apascenta as ovelhas do
Senhor, deve ter o mesmo cuidado, de ser justo e não praticar qualquer ato de
injustiça. Nunca usar os “dois pesos e duas medidas”.
13) “Santo”. É
qualidade e condição indispensável para que uma pessoa seja salva. Ser santo é
ser separado ou consagrado para Deus. Um líder tem o dever de zelar pela
santidade. Para isso precisa estar sempre exercitando o processo da “santificação,
sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14; 1 Pe 1.15).
14) “Temperante”. E
qualidade de quem tem “temperança”, ou domínio próprio, autocontrole. Que sabe
dominar seus impulsos e paixões, seja na área dos relacionamentos, na área
afetiva, sexual, ou nos apetites carnais. O intemperante em qualquer área acaba
prejudicando a si ou aos outros. O bispo ou presbítero precisa ser um exemplo
na temperança.
Após enumerar as
quatorze qualificações para a escolha de um presbítero ou bispo, Paulo diz a
condição para que ele possa exercer sua nobre missão, de cuidar, zelar e
alimentar o rebanho:
1) “Retendo firme a
fiel Palavra, que é conforme a doutrina (1.9a)”. Para que todas as
qualificações do ministro tenham valor é necessário que ele seja “exemplo dos
fiéis, na palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé, na pureza” (1 Tm
4.12).
2) “Para que seja
poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina como para convencer os contradizentes”
(1.9b). Guardando ou retendo a “Fiel Palavra” de Deus, o líder tem autoridade
para admoestar os que aceitam a “sã doutrina” e para “convencer os contradizentes”,
ou opositores
da liderança. Paulo sabia o que era esse tipo de gente (1 Tm 1.20; 2Tm 2.17;
4.14).
Para que as
qualificações do presbítero ou bispo sejam completas, é interessante reunir as
qualidades aqui estudadas com as da lista de Paulo a Timóteo, no capítulo
2.1-7. Uma complementa a outra.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 131-135.
Tt 1. 6-9. Paulo
descreve o tipo de homens a ser selecionado para este cargo importante: Aquele
que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não
possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes (6). Estas qualificações
que os presbíteros têm de possuir são semelhantes à lista de qualifieações para
bispo em 1 Timóteo 3. Irrepreensível significa ter “caráter inatacável” (NEB),
“integridade inquestionável” (CH). Esta é qualidade importantíssima. O ministro
cristão deve ser pessoa que evita não só o mal, mas a própria aparência do mal.
Sob todos os aspectos de conduta, ele tem de estar acima de repreensão. Suas
relações matrimoniais não devem ter a mínima nódoa de escândalo. Muitos na
igreja primitiva consideravam que marido de uma mulher era proibição de
casar-se de novo por qualquer razão. A referência óbvia aqui é a casamentos
duplos. As tradições cristãs de nossos dias não desaprovam o crente casar-se de
novo após o falecimento da primeira esposa. Devemos tratar esta área com toda a
discrição. O escândalo do divórcio tem envenenado tão completamente o fluxo da
ordem social de nossos tempos, que devemos ser extremamente sensatos e
cuidadosos nesta questão de segundo casamento, “para que o nosso ministério não
caia em descrédito” (2 Co 6.3, NVI).
Que tenha filhos
fiéis (6) é expressão que requer algumas considerações. Seu verdadeiro
significado foi capturado pela tradução: “que tenha filhos crentes” (BAB, RA;
cf. NVI). A estipulação registrada em 1 Timóteo 3.4 diz apenas: “Tendo seus
filhos em sujeição, com toda a modéstia”. Mas aqui Paulo vai mais longe,
insistindo que em Creta os homens separados para o cargo de presbítero têm de
ser bem-sucedidos em entregar a fé cristã aos seus filhos. E verdade que nenhum
pai pode controlar ou determinar as decisões morais e espirituais dos filhos.
As vezes, apesar de nossos melhores e mais sinceros esforços, os filhos no
livre exercício da vontade fazem escolhas que causam profundo sofrimento para
os pais. Mas não há nada que recomende a sinceridade e devoção de um ministro
piedoso que o fato de que seus filhos estão seguindo-o como ele segue Cristo.
Que não possam ser
acusados de dissolução nem são desobedientes (6) é, de certo modo, alternativa
a fiéis. Esta tradução esclarece a frase: “Não sujeitos à acusação de serem
libertinos ou insubordinados” (RSV; cf. CH, NVI).
Porque convém que o
bispo seja irrepreensível como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem
iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância
(7). O assunto desta lista adicional de qualificações é o bispo (no singular) e
não os “presbíteros” (no plural). Barrett observa que “a mudança do plural
(presbíteros) para o singular (bispo) é mais bem explicado não pela suposição
de que em cada cidade havia um grupo de presbíteros e só um bispo, mas pela
interpretação [...] de que, enquanto que presbítero descreve o cargo, bispo
descreve sua função: Os presbíteros que você designar devem ter certas
qualificações, pois o homem que exerce a supervisão tem de ser”1 não soberbo,
nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe
ganância.
A qualidade da
irrepreensibilidade — “caráter inatacável” (6) — ocorre novamente, pois a
responsabilidade do bispo é servir como despenseiro da casa de Deus (7). O
termo
despenseiro quer dizer, literalmente, “o administrador de uma casa ou família”
(Kelly). O bispo era o gerente financeiro da igreja local e por isso, se por
nenhuma outra razão, deve ser homem de extrema integridade.
O apóstolo alista
cinco defeitos que devem estar visivelmente ausentes no bispo (7). São falhas
de caráter que, caso sejam toleradas em um líder eclesiástico, lhe causarão
ruína certa. O soberbo é alguém propenso a ser “arrogante” (BAB), opinioso e
teimoso. Característica como esta constituiria alta traição do espírito do
Mestre. O iracundo seria indivíduo esquentado, vingativo e totalmente falto de
paciência (“impacientes”, BV), que é tão essencial ao servo de Cristo. Nem dado
ao vinho (“beberrão”, BJ) é expressão que sempre nos deixa surpresos num
contexto como este. Contudo, era um problema muito sério na igreja do século I.
A viticultura era abundante em todos os lugares ao longo da bacia mediterrânea,
e a tentação de beber vinho e, daí, ficar bêbado vinha de todos os lados. Nem
espancador (“violento”, BAB, BJ, CH, NTLH, NVI, RA) indica a tendência à ação
violenta ou arbitrária, que com certeza ocorria ocasionalmente entre os líderes
locais na igreja primitiva. Nem cobiçoso de torpe ganância (“nem ávido por
lucro desonesto”, NVI, cf. BJ, CH) é outra característica grosseira contra a
qual Paulo adverte. Como guardião dos fundos monetários da igreja esta poderia
se tornar fonte de tentação para o bispo.
Para compensar esta
lista de cinco defeitos a serem evitados, Paulo faz uma lista de seis virtudes
a serem cultivadas pelos líderes da igreja: Mas dado à hospitalidade, amigo do
bem, moderado, justo, santo, temperante (8). Na lista de Paulo das
qualificações de bispo registrada em 1 Timóteo 3.2 consta o dever da hospitalidade,
quesito repetido aqui. Na função de líder da igreja, tornou-se responsabilidade
do bispo receber em casa os apóstolos e evangelistas visitantes que em suas
viagens passassem por ali. Só nos tempos atuais o “quarto excedente” na casa
foi substituído por hotéis para o alojamento de convidados. A hospitalidade
cretense do século I era recurso importante para o líder da igreja.
Amigo do bem (8) tem
o significado literal de “amante do bem” ou “reto” (“amante da bondade”, RSV;
“bondoso”, BJ). Esta qualidade nos lembra a advertência de Paulo em Filipenses
4.8: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto,
tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa
fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”. Seguir esta
instrução é ser amante da bondade, característica que o ministro da igreja de
Cristo deve se sobressair em excelência.
O termo grego
traduzido pela palavra moderado é de significação muito próxima de temperante
(8) que consta nesta mesma lista de virtudes. Ambos os termos sugerem
autodomínio ou autocontrole (“controlado”, CH; “domínio próprio”, NVI; “domínio
de si”, RA), a habilidade de lidar objetivamente com situações difíceis sem se
deixar influenciar por preconceito. Barclay, em sua tradução, prefere a palavra
“prudente” (NTLH), e cita a definição que Trench dá ao termo: “Controle total
sobre as paixões e desejos, de forma que elas não recebam outras concessões
além do que a lei e a reta razão admitirem e aprovarem”.2 As qualidades
denotadas pelas palavras justo e santo mostram idéias estritamente religiosas.
Mas é provável que devamos entender justo não como referência à posição do
homem diante de Deus, por ter sido justificado pela fé pela graça, mas à sua
habilidade de tratar com correção seus semelhantes, de administrar seu oficio
com justiça
escrupulosa e integridade inatacável. O termo santo é traduzido por “devoto”
(NEB), conotando a qualidade de piedade (cf. “piedoso”, AEC, BJ, RA), a
qualidade da relação pessoal afetuosa e terna com Cristo. Mas Barclay afirma
que o termo conota muito mais, “pois descreve o homem que reverencia as
decências fundamentais da vida, as coisas que voltam além de qualquer lei ou
regulamento feito pelo homem”.3
O apóstolo introduz
no versículo 9 uma exigência adicional: Retendo firme a fiel palavra, que é
conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar (“exortar”,
BAB, RA) com a sã doutrina como para convencer os contradizentes. Este é um
tema que aparece em 1 Timóteo, embora não com todo este grau de ênfase. Em 1
Timóteo 5.17, Paulo destaca os presbíteros que “trabalham na palavra e na
doutrina” como “dignos de duplicada honra”. Mas aqui, na Epístola a Tito, a
competência nesta área é de todos os presbíteros. É a um ministério como este
que Deus chama os homens quando os convoca a ir e pregar. E responsabilidade do
pregador “oferecer Cristo aos homens”, como Carlos Wesley gostava de dizer.
Neste verso, ele descreve liricamente esta tarefa central de pregar:
Ofereço-lhe meu
Salvador;
Amigo de publicanos e
Advogado:
Seus méritos e morte,
ele advoga por você;
E intercede com Deus
pelos pecadores na terra*
Mas pregar Cristo e
oferecê-lo às pessoas é conhecer seguramente a Palavra de Deus relativa a
Cristo, mantê-la em consideração reverente e declarar sua verdade às pessoas.
Nestas Epístolas Pastorais, Paulo está vitalmente interessado na sã doutrina.
Por essa época, a mensagem da igreja tomara forma em credos e fórmulas
batismais. Vemos fragmentos dessas declarações de credo afloradas nas cartas a
Timóteo. Cada nova geração de líderes cristãos tem a necessidade de declarar
novamente as doutrinas básicas da fé cristã e justificá-las na mente e
consciência dos que as ouvem. Mas a sã doutrina também tem preceitos éticos,
que mostram como todos os cristãos, homens e mulheres, moços e velhos, escravos
e livres, devem viver em um mundo que rejeita Cristo. Tudo isto faz parte da
tarefa de admoestar e convencer os contradizentes — os que negam e contradizem
a verdade.
J.
Glenn Gould. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 9. pag. 545-547.
Tt1 1.6 Paulo
descreveu resumidamente algumas qualidades que um presbítero deveria ter. Ele
tinha dado a Timóteo um conjunto de instruções semelhante para a escolha de líderes
na igreja de Éfeso (veja 1 Tm 3.1-7; 5.22). Observe que a maioria das
qualificações envolve caráter, e não conhecimento ou talento. O modo de vida de
uma pessoa e os seus relacionamentos são uma janela para o seu caráter. Tenha
em conta estas qualidades quando avaliar pessoas para posições de liderança em
sua igreja. É importante ter líderes que possam efetivamente pregar a Palavra
de Deus, mas, ainda mais importante, eles devem viver de acordo com a Palavra de
Deus e ser exemplos para que os outros sigam.
A primeira qualidade
é ser irrepreensível.
Um presbítero não
deve apresentar conduta que possa ser base para qualquer tipo de acusação. Ele
estava acima de qualquer crítica. Novamente, a questão aqui não é que os
líderes não possam ser acusados, mas que, quando acusados, a sua vida prove a
falsidade da acusação.
Ser marido de uma
mulher significa que um líder de igreja não deve ser promíscuo, mas sim fiel no
seu casamento. Isto não impede uma pessoa que não seja casada de se tornar um
líder. Filhos crentes que não são acusados de dissolução nem são desobedientes mostrariam
que o líder da igreja provou que pode ser líder na sua própria casa. Os filhos de
um presbítero devem receber instrução espiritual e devem ser fiéis. Isto
provará que os líderes se preocupam com o ensino da doutrina correta e com a
disciplina dos outros.
Obviamente, aqueles
cujos filhos são rebeldes. insubordinados e se recusam a obedecer não são
apropriados para a importante posição de liderar o povo de Deus. A maneira como
vivem os filhos de uma pessoa atesta como a vida cristã é praticada em casa.
Tt 1.7 A expressão
“convém que o bispo seja irrepreensível” enfatiza que esta qualidade é
essencial em qualquer pessoa que seja um despenseiro da casa de Deus. Os
líderes da igreja que agem de maneira indigna e trazem acusações e reprovações
sobre si mesmos também danificam o trabalho de Deus.
As diretrizes de
Paulo adquirem uma importância adicional no cenário de Creta, pois os cretenses
eram conhecidos por terem má reputação (veja 1.12). Às vezes, as diretrizes de
liderança das Escrituras estarão em harmonia com os padrões predominantes para
os líderes maduros em uma cultura, e em outras ocasiões, elas estarão em
conflito.
Aparentemente, Tito
devia ser prudente com os cretenses.
Uma armadilha da
liderança é tornar-se soberbo. Mas o orgulho pode seduzir as emoções e
obscurecer a razão, tornando um líder de igreja ineficiente. O orgulho e a arrogância
foram a razão da queda do diabo, e ele usa o orgulho para apanhar outros. Além disto,
uma pessoa iracunda irá falar e agir sem pensar, magoando as pessoas e
danificando o trabalho e a reputação da igreja.
Estas três últimas
proibições tinham importância especial para a busca de Tito de líderes da
igreja na Creta do século I. Um líder de igreja não deve ser dado ao vinho nem espancador
(frequentemente, o resultado de a pessoa ser iracunda ou dada ao vinho). Além disto,
os líderes que Tito escolhesse deveriam servir por amor, e não por serem
cobiçosos por dinheiro.
Tt 1.8 Depois de
apresentar as características que um líder de igreja não deve ter, Paulo
apresenta três qualidades positivas. A hospitalidade tinha uma importância
fundamental nesta cultura. Ordenava-se que os crentes fossem hospitaleiros
(veja 3 João), de modo que os seus líderes deviam ser dados à hospitalidade, revelando
devoção e preocupação pelo bem estar de outros. Paulo insistiu que os líderes deviam
ser conhecidos por serem amigos do bem. Uma pessoa assim exibe esta bondade no
campo espiritual quando vive de maneira moderada e é justa com os outros. Um
crente que é santo provavelmente também será temperante, tendo uma vida
disciplinada, retratando uma pessoa que, como um atleta, está constantemente
“em treinamento” na sua vida cristã e no seu ministério. (Veja a observação
sobre 1 Timóteo 3.2, para informações adicionais sobre “temperança” ou
“auto-controle”.)
Tt 1.9 O líder da
igreja deve satisfazer exigências morais e espirituais na sua vida pessoal, e ser
confiável na compreensão e no ensino da palavra que lhe foi ensinada. A última expressão,
na verdade, vem em primeiro lugar no texto em grego, por uma questão de ênfase.
A mensagem, como tinha sido ensinada pelos apóstolos, era a mensagem fiel que
os líderes da igreja devem ensinar à sua congregação. Eles devem ser firmes e
poderosos, para poderem admoestar os outros com a sã doutrina e mostrar o erro
dos que são contra esse ensino.
Os pastores devem
cumprir uma função positiva e outra negativa ao lidar com a verdade.
Eles devem
incentivar, pregando, apoiando e reforçando as pessoas que seguem a verdade.
Mas eles também devem confrontar e refutar as ideias falsas. Líderes
confiantes, com determinação, cornem, e uma mensagem irrefutável, estariam em
um contraste completo com o modo de vida, as características de personalidade e
os falsos ensinadores cretenses (descritos nos versículos seguintes).
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 553-554.
LIDERES ORDENADOS E
QUALIFICADOS (Tt 1:5-9)
Um dos motivos pelos
quais Paulo deixou Tito na ilha de Creta foi para que organizasse as congregações
locais, "[pondo] em ordem as coisas restantes". Essa expressão é um
termo médico e se refere a endireitar um membro torto. Tito não era o ditador
espiritual da ilha, mas sim o representante apostólico oficial de Paulo, com
autoridade para realizar sua obra. Fazia parte da política de trabalho de Paulo
ordenar presbíteros nas igrejas que começava (At 14:23), mas o apóstolo não
havia ficado tempo suficiente em Creta para ordenar esses líderes.
Tito 1:6-8 apresenta
uma série de qualificações já discutidas em nosso estudo sobre 1 Timóteo 3:2,
3: "irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro,
apto para ensinar; não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de
contendas, não avarento". O fato de esses critérios aplicarem-se aos
cristãos da ilha de Creta, bem como àqueles da cidade de Éfeso, comprova que o
padrão de Deus para os líderes não varia. Tanto as igrejas das cidades grandes
quanto aquelas das cidades pequenas precisam de pessoas piedosas nos cargos de
liderança.
Vejamos, agora,
outras nove qualificações.
"Que tenha
filhos crentes (v. 6b). Os filhos dos presbíteros devem ser cristãos. Afinal,
se um servo de Deus não pode ganhar os próprios filhos para Cristo, como espera
ser bem-sucedido com os de fora?
Trata-se do mesmo
princípio que Paulo enfatiza a Timóteo (1 Tm 3:5): a vida e o serviço cristãos
devem começar no lar. Os filhos dos presbíteros não apenas devem ser salvos,
mas também ser bons exemplos de obediência e de dedicação. Caso pudessem ser acusados
de "dissolução" [vida desregrada] ou "insubordinação"
[desobediência, incapacidade de se sujeitar à autoridade], desqualificariam o
pai para o presbiterato. É evidente que isso se aplica aos filhos que ainda
vivem com a família sob a autoridade do pai.
É comum cristãos
novos na fé sentirem o chamado para o ministério e o desejo de ser ordenados mesmo
antes de terem firmado sua família na fé. Quando os filhos são pequenos, não se
trata de um problema sério, mas para os filhos mais maduros, pode ser um grande
choque ver que, de repente, sua família tornou-se "religiosa"! O pai
sábio ganha a própria família para Cristo e lhes dá a oportunidade de crescer
antes de ir para o seminário. Teríamos menos desastres no ministério, se essa
política fosse seguida com mais frequência.
"Despenseiro de
D eu s" (v. 7a). Um despenseiro não possui coisa alguma; antes, administra
tudo o que seu senhor lhe confia.
Talvez o despenseiro
{ou "mordomo") mais conhecido da Bíblia seja José, que tinha controle
absoluto sobre todos os negócios de Potifar (Gn 39:1-9). A característica mais
importante do despenseiro é sua fidelidade (Mt 25:21; 1 Co 4:1, 2). Deve usar o
que lhe é confiado para o bem e para a glória de seu senhor, não para os
próprios interesses (ver Lc 16:1-13).
O presbítero não deve
jamais dizer: "Isto é meu!" Tudo o que ele tem vem de Deus (Jo 3:27)
e deve ser usado para Deus. Seu tempo, seus bens, suas ambições e talentos lhe
foram dados como empréstimo pelo Senhor, e ele deve ser fiel ao usar todos
esses recursos para honrar a Deus e edificar a igreja.
É evidente que todos
os cristãos, não apenas os pastores, devem ser despenseiros fiéis!
"Não
arrogante" (v. 7b). Um presbítero não deve ser inflexível, sempre fazendo
pressão para que sua vontade prevaleça. Por certo, os membros da igreja devem
respeitar e seguir a liderança do presbítero, mas devem estar certos de que ele
é, de fato, um líder, não um ditador. Um pastor inflexível é arrogante, não
aceita as críticas e sugestões dos membros da sua igreja e impõe sua vontade em
todas as coisas.
"Não ira
scível" (v. 7c). Não deve se irritar com facilidade. Existe uma ira justa
contra o pecado (Ef 4:26), mas grande parte de nossa ira é injusta e dirigida
contra pessoas.
O homem reto deve
irar-se diante da injustiça.
Como diz um conselho
sábio: "A calma é preciosa demais para ser perdida".
"Amigo do b em
" (v. 8a). Isso inclui a amizade com pessoas boas e o gosto por bons
livros, boa música, boas causas e muitas outras coisas boas. O homem bom é aquele
que tem um coração bom e se cerca de coisas boas. É difícil crer que um servo consagrado
de Deus se envolveria deliberadamente com coisas nocivas a ele e a sua família.
"Justo" (v.
8b). Uma boa tradução para esse adjetivo é "direito". Deve ser um
homem de integridade, fiel a sua palavra e que pratica o que prega. Sua conduta
é reta.
"Piedoso"
(v. 8c). Esse termo dá a ideia de pureza e de santidade. "Sede santos, porque
eu sou santo" (1 Pe 1:16). O radical da palavra "santo"
significa "diferente". Os cristãos são diferentes dos pecadores
perdidos, pois, pela graça de Deus, são novas criaturas (2 Co 5:17).
"Que tenha
domínio de si" (v. 8d). Trata-se de uma referência ao autocontrole e se aplica
aos desejos e às ações do homem. Um termo sinônimo é "disciplinado".
O pastor deve ter disciplina quanto ao uso de seu tempo, a fim de fazer todo o
seu trabalho. Deve ter disciplina quanto a seus desejos, especialmente quando
membros bem-intencionados tentam empanturrá-lo com bolo e café!
Deve ter a mente e o
corpo sob controle, sujeitando-se ao Espírito Santo (Gl 5:23, ter "domínio
próprio").
"Apegado à
palavra fie l" (v. 9). Paulo gostava de Usar o termo fiel (ver 1 Tm 1:15; 4:9;
2 Tm 2:11; Tt 3:8). A Palavra de Deus é fidedigna, pois Deus não pode mentir
(Tt 1:2). Uma vez que a palavra é fiel, os que ensinam e pregam a Palavra
também devem ser fiéis. Paulo volta a falar da sã doutrina que vimos em 1
Timóteo 1:10. É a doutrina salutar, que promove crescimento espiritual.
Assim, os presbíteros
têm dois ministérios com respeito à Palavra de Deus: (1) edificar a igreja pela
sã doutrina; e (2) rejeitar os falsos mestres que espalham doutrinas perniciosas.
O membro ingênuo que declara: "Não quero doutrinas; prefiro devocionais práticas!",
não sabe o que está falando. Sem a verdade (ou seja, sem a doutrina bíblica), não
há ajuda nem saúde espirituais. A menção aos que se opõem à verdadeira doutrina
leva Paulo à terceira responsabilidade de Tito.
WIERSBE.
Warren W. Comentário Bíblico Expositivo.
N.T. Vol. II. Editora Central Gospel. pag. 338-340.
I Tm 3.1 A palavra
bispo, também traduzida como ancião, indicando o episcopado, referia-se a um pastor
ou a qualquer pessoa que exercesse uma posição de supervisão. O Novo Testamento
usa diversas palavras para se referir aos líderes da igreja; as mais comuns
são: apóstolo, presbítero, bispo, ancião, e diácono. A princípio, o cargo de
“apóstolo” referia-se somente aos Doze e poucos outros, como Paulo, mas a
palavra veio a ser usada em um sentido menos técnico para os representantes da
igreja (veja 2 Co 8.23; Fp 2.25). Os bispos eram líderes em congregações
específicas, e as palavras eram usadas alternadamente nas cartas de Paulo.
Eles eram os
pregadores ou ensinadores. Os diáconos eram os administradores nestas primeiras
igrejas - lidavam com as pessoas, a administração, as finanças etc.
Aparentemente, havia
uma palavra (ou ensino) trazida pela liderança da igreja, e Paulo a citou aqui
como sendo fiel (ou verdadeira).
É bom desejar ser um
líder espiritual. Desejar significa “dirigir o coração em direção a alguma coisa”.
A liderança é uma excelente obra. Paulo destacou a sua importância. No entanto,
como ele iria mostrar, os padrões são elevados.
I Tm 3. 2 Paulo
enumerou diversas qualificações para um bispo. Ele deve viver uma vida irrepreensível,
o que significa que ele não deve ter falhas no seu comportamento que possam ser
base pata qualquer tipo de acusação. Ele deve ser irrepreensível. Esta palavra
serve como um resumo geral do seu caráter. Um líder na igreja deve ter uma boa
reputação entre os crentes. A liderança define as bases. O que vem a seguir são
os tijolos que edificam sobre aquela reputação.
A qualificação
“marido de uma mulher” levou a diversas interpretações. Alguns dizem que ela
indica que ele deveria ser casado. Esta interpretação ganha força pelo fato de
que os falsos ensinadores proibiam o casamento (4.3). No entanto, tanto Paulo
como Timóteo não eram casados. Se Paulo ensinasse que um líder devia ser
casado, ele mesmo não poderia liderar e estaria contradizendo as suas
instruções em 5.14 e I Coríntios 7.25-33. Provavelmente, o líder, se fosse
casado, deveria ser um homem de uma única mulher, posicionando-se de uma forma
contrária aos padrões morais presentes na cultura pagã de Éfeso. A Bíblia
rejeita o casamento por conveniência e exige fidelidade e participação na única
carne que se cria quando o marido se une á sua esposa (veja Gn 2.24; E f
5.22-33).
Que ele seja
temperante ou vigilante, era outra maneira de dizer que um líder deveria possuir
um discernimento firme e equilibrado, ou até mesmo bom senso. Cada uma destas qualidades
é exigida dos líderes, mas elas devem ser o objetivo de todos os crentes.
Um líder da igreja
deve ser sóbrio, o que significa que a sua vida deve estar marcada pela moderação,
por limites, sem nada extremo ou excessivo, com ausência de extravagâncias. Nós
usamos o termo “equilibrado” para indicar que este líder possui a ênfase
apropriada em cada uma das prioridades da sua vida.
Ser honesto, ou ter
uma boa reputação, refere-se ao respeito social básico – um comportamento
normalmente digno. A palavra grega deriva de kosmos, “o mundo ou universo”, e
retrata uma pessoa que vive em harmonia com a maneira como Deus criou o mundo.
A hospitalidade era
amplamente enfatizada nas culturas do Oriente Médio e no Antigo Testamento
(veja Êx 22.21). Os crentes sáo instruídos a serem hospitaleiros (Hb 5.10;
13.2; I Pe 4.9; 3 Jo 5), de modo que um líder também deveria estar disposto a hospedar
pessoas na sua casa.
Os líderes cristãos
devem estar aptos para ensinar. Uma das tarefas mais importantes de qualquer
líder de igreja é ensinar as Escrituras aos membros da congregação. O líder
deve entender e ser capaz de transmitir as verdades profundas das Escrituras,
como também lidar com aqueles falsos pregadores ou ensinadores que as tratam de
maneira inadequada.
I Tm 3.3 Um bispo não
deve ser dado ao vinho, por motivos óbvios. Muitas destas qualidades podem ter
caracterizado os falsos ensinadores, que provocavam brigas na igreja (veja
6.3,4).
Ele não deve ser
violento ou espancador. Uma pessoa violenta é uma pessoa que ofende. A ofensa
pode assumir muitas formas (verbal, física, sexual, e até mesmo espiritual),
mas nasce de um profundo desrespeito pelos demais. Pode estar envolvida também
uma doença mental. Uma pessoa assim tende a ser defensiva, insegura, e
insensível. Uma pessoa com um histórico de batalhas verbais pode achar difícil
liderar eficientemente. Uma pessoa assim não deve ser escolhida para a
liderança.
Em contraste, o bispo
deve ser moderado e não contencioso. Esta pessoa está livre da aspereza, da
severidade, e da violência. Um líder cristão não ser avarento, ou amar o dinheiro
(veja 6.5-10). Os líderes devem ter uma atitude adequada para lidar com as
finanças da igreja. Isto afeta o uso ético dos fundos da igreja e a administração
de programas apropriados pata arrecadação de dinheiro. Muitos possíveis líderes
combinam o amor ao dinheiro com uma natureza contenciosa e acabam brigando na igreja
por causa de assuntos financeiros. Uma pessoa assim não deve ser escolhida para
liderar.
I Tm 3.4,5 As
qualificações tanto dos bispos como dos diáconos dependem da capacidade de cuidar
da sua própria casa (veja também 3.12). Não é absolutamente necessário que um
bispo seja casado ou tenha filhos. No entanto, se este for o caso, ele deve governar
bem a sua própria casa. A palavra “governar” significa uma administração
misericordiosa, que traz direção e orientação (veja I Ts 5.12; 1 Tm 5.17), sem
um controle rígido, cruel, tirânico, e autoritário. Este tipo de liderança
familiar reflete a correspondência entre
a igreja e o lar vista em Efésios 5.28-6.9.
Faz sentido que Paulo
use este requisito, pois ninguém pode conduzir um lar eficientemente sem amor e
firmeza, misericórdia e diretrizes. E, se os pais não exemplificam o que
ensinam, dificilmente as crianças seguirão as diretrizes, exceto sob pressão.
Existem dois pensamentos nesta frase: por um lado, embora seja verdade que os filhos
devam respeitar e obedecer aos seus pais, o respeito e a obediência são
subprodutos de uma liderança responsável em casa. A melhor maneira de ver a
capacidade de uma pessoa de lidar com uma grande responsabilidade é ver o seu
desempenho com uma responsabilidade pequena. A capacidade de governar a sua
casa é uma base de treinamento para a capacidade de um homem de administrar a
família de Deus, que está reunida na igreja. O mesmo amor, compaixão, firmeza e
misericórdia são necessários para as duas tarefas.
I Tm 3.6 Os novos
crentes devem se tornar seguros e fortes na fé antes de assumirem posições de liderança
na igreja. Frequentemente, quando está precisando desesperadamente de obreiros,
a igreja coloca um neófito prematuramente em uma posição de liderança. Os novos
crentes devem tomar parte no ministério de Deus, mas não devem ser colocados em
posições de liderança até que estejam firmemente enraizados na sua fé, com um
modo de vida solidamente cristão e um conhecimento da Palavra de Deus. De outra
maneira, o novo crente, ensoberbecendo' Se, cairá na condenação do diabo. A
referência ao diabo ensina que, da mesma maneira como Satanás caiu, por causa
do seu orgulho, assim também o perigo do orgulho espreita os novos crentes a quem
é dada alguma responsabilidade antes que estejam prontos para assumi-la. Os
novos crentes que são promovidos muito rapidamente podem ser alvos fáceis para
a poderosa tentação do diabo: o orgulho. O orgulho pode seduzir as emoções e
ofuscar a nossa razão. Pode tornar aqueles que são imaturos suscetíveis à
influência de pessoas inescrupulosas.
I Tm 3.7 Exigir que
os líderes tenham uma boa reputação com as pessoas de fora da igreja (isto é,
os não-crentes da comunidade) dava à igreja em geral uma boa reputação na
comunidade. Os líderes da igreja, sendo as pessoas mais visíveis da igreja no
mundo secular, fariam bem em manter os mais altos padrões e a melhor reputação.
Ver diversos líderes de igreja nas manchetes nos últimos anos devido à evasão
de impostos, uso ilícito de fundos e escapadas sexuais certamente danifica a
credibilidade da igreja. Os líderes de igreja que seguem os conselhos de Paulo evitam
que a sua igreja enfrente ofensas desnecessárias. Do contrário, o resultado é ficar
desmoralizado e cair em afronta e no laço do diabo, juntamente com os crentes e
os não-crentes. Este laço pode ser o fracasso moral e o julgamento resultante
em que um homem escolhido para ser líder irá cair, ou pode significar a
armadilha da tentação que leva ao orgulho, conforme mencionado no versículo 6.
Quando os líderes cristãos têm uma reputação ruim, isto impede que os incrédulos
venham a Cristo.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 494-496.
Esta é uma palavra
fiel: Se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja (1). A primeira
vista, a observação com a qual apóstolo inicia esta seção da carta — esta é uma
palavra fiel — é igual à declaração dita anteriormente em 1.15: “Esta é uma
palavra fiel”. Mas a igualdade é meramente aparente. A primeira observação deu
início a um ensino muito importante sobre a obra redentora de Cristo. Mas aqui
não há tal declaração solene de fé. Ainda que os estudiosos não tenham chegado
a um acordo quanto a este ponto, é provável que esta tradução seja a correta:
“Há um dito popular que diz: Aspirar à liderança é ambição honrosa’” (NEB; cf.
AEC, BJ, BV).
A palavra episcopado
é um tanto enganosa para os leitores de hoje, porque para nós o cargo de
epíscopo ou bispo tem associações eclesiásticas. Desejar este cargo seria
buscar promoção no ministério cristão. Estamos devidamente certos em reputar
que tal ambição é indigna da pessoa cuja vida é dedicada ao serviço de Cristo.
Como ressaltamos na Introdução, o termo “bispo”, tradução da palavra grega
episkopos, veio originalmente da organização das sociedades seculares e tem o
significado básico de “inspetor” ou “líder”. O apóstolo está dizendo que é uma
ambição digna a pessoa desejar um lugar de serviço responsável entre o povo de
Deus. A declaração que Paulo cita era um provérbio bem conhecido na época, o
qual ele usava como introdução do assunto que desejava tratar.
Convém, pois, que o
bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto,
hospitaleiro, apto para ensinar. No total, há 15 qualificações estipuladas pelo
apóstolo, sete das quais ocorrem no versículo 2. E importante que a
primeiríssima destas seja a irrepreensibilidade. O significado da palavra é
“acima de repreensão”, “de reputação irrepreensível” (cf. CH), “de caráter
impecável”, “que ninguém possa culpar de nada” (NTLH). Por qualquer método que
avaliemos, esta é a virtude mais inclusiva que aparece na lista. Significa que
o líder na igreja de Cristo não pode ter defeito óbvio de caráter e deve ser
pessoa de reputação imaculada. Dificilmente se esperaria que não tivesse
defeito, mas que fosse sem culpa. E apropriado que o ministro seja julgado por
um padrão mais rígido que os membros leigos da igreja. Os leigos podem ser
perdoados por defeitos e falhas que seriam totalmente fatais a um ministro. Há
certas coisas que um Deus misericordioso perdoa em um homem, mas que a igreja
não perdoa no ministério deste. A irrepreensibilidade do candidato é requisito
no qual devemos ser insistentes hoje em dia, como o foi Paulo no século I.
O líder da igreja
deve ser exemplar especialmente em assuntos relativos a sexo. Este é o destaque
da segunda estipulação do apóstolo: Marido de uma mulher (2). Trata-se de
precaução contra a poligamia, que gerava um problema sério para a igreja cujos
membros eram ganhos para Cristo vindos de um paganismo que tolerava abertamente
casamentos plurais. Em todo quesito que a igreja com seus altos padrões éticos
relativos a casamento confrontar o paganismo de nossos dias, em regiões
incivilizadas ou não, a insistência cristã na pureza deve ser enunciada de
forma clara e seguida com todo o rigor.
Mas temos de
perguntar: A intenção de Paulo era desaprovar o segundo casamento? Alguns dos
manuscritos antigos requerem a tradução “casado apenas uma vez” (conforme nota
de rodapé na NEB). “Sobre este assunto, como em muitos outros”, comenta Kelly,
“a atitude que vigorava na antiguidade difere notadamente da que prevalece em
grande parte dos círculos de hoje. Existem evidências abundantes provenientes
da literatura e inscrições funerárias, tanto gentias quanto judaicas, que
permanecer solteiro depois da morte do cônjuge ou depois do divórcio era
considerado meritório, ao passo que casar-se outra vez era visto como sinal de
satisfação excessiva dos próprios desejos”.1 E óbvio que em alguns segmentos da
igreja primitiva esta era a opinião prevalente, chegando ao extremo último da
ordem de um ministério celibatário.
Mas esta não é a
interpretação do ensino de Paulo que prevalece hoje. E bem conhecida sua
própria preferência da vida solteira em comparação ao estado casado; e há
passagens nos seus escritos em que ele recomenda este estado aos outros (e.g.,
1 Co 7.39,40). Talvez o melhor resumo da intenção do apóstolo para os nossos
dias seja a declaração de
E. F. Scott: “O bispo
tem de dar exemplo de moralidade rígida”.2
As próximas três
especificações — vigilante, sóbrio, honesto (2) — têm relação próxima entre si
e descrevem a vida cristã ordeira. Moffatt traduz estas qualidades pelas
palavras: “temperado [NVI; cf. RA], mestre de si, calmo”. A temperança neste
contexto transmite a ideia de autocontrole (cf. CH) ou autodisciplina.
O próximo quesito
qualificador é apresentado pelo apóstolo na palavra descritiva hospitaleiro
(2). Esta mesma característica é mais detalhada em Tito 1.8: “Dado à
hospitalidade, amigo do bem”. Nesses primeiros dias da igreja, esta era uma
virtude muito importante. Havia poucos albergues no mundo do século I, e os
apóstolos e evangelistas cristãos que eram enviados de lugar em lugar ficavam
dependentes da hospitalidade de cristãos que tivessem um “quarto de profeta”,
mantido com a finalidade de atender essas necessidades. Em nossos dias de hotéis,
expressamos nossa hospitalidade cristã de modo diferente. Mas quando a igreja
era jovem, essa hospitalidade era extremamente primordial. O dever e privilégio
de ministrá-la recaíam naturalmente sobre o bispo ou pastor. O espírito
essencial do ato é tão importante hoje como era outrora.
Igualmente essencial
e até mais importante é a sétima qualidade que Paulo menciona: Apto para
ensinar (2). Pelo visto, nem todos os pastores eram empregados no ministério de
ensino. E o que mostra 5.17: “Os presbíteros que governam bem sejam estimados
por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na
doutrina”. Mas a aptidão para ensinar era rendimento certo para o ministro
cristão. Era importante então como é hoje. Sempre haverá indivíduos que possuem
maior capacidade nesta ou naquela área que outros, mas certa habilidade para
ensinar é de extrema necessidade ao ministério completo e frutífero.
Este versículo contém
mais seis especificações que devem caracterizar o líder cristão: Não dado ao
vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não
contencioso, não avarento (3). Todos os quesitos, exceto um, são negativos, mas
todos são importantes. O primeiro nos soa um tanto quanto estranho, sobretudo
quando seu significado preciso é entendido com clareza. Temos estas opções de
tradução: “Não deve ser indivíduo dado a beber” (NEB); “não pode ser chegado ao
vinho”, (NTLH); “não deve ser apegado ao vinho” (NVI; cf. BAB); “não deve ter o
vício da bebida” (BV); ou pelas palavras diretas: “Não bêbedo” (RSV). O ponto
que confunde o leitor da atualidade é que tal estipulação fosse necessária. No
pensamento da maioria dos evangélicos hoje em dia, a abstinência total de
bebidas alcoólicas é elementar na vida cristã. E não é difícil perceber que o
julgamento moral que determina a abstinência total para o cristão — leigo ou
ministro — é a compreensão básica da ética cristã. Mas esta ideia, como o
julgamento moral das trevas, não fora discernida claramente no século I. Temos
de manter isso em mente para entendermos as alusões do apóstolo ao uso do vinho
neste e em outros textos. Kelly observa que “hoje em dia, as pessoas por vezes
se surpreendem que Paulo achasse necessário fazer tal determinação, mas o
perigo era real na sociedade desinibida em que se situavam as congregações
efésia e cretense”.3
Não espancador (3) é
expressão que exige interpretação neste contexto. Significa, literalmente, “não
doador de socos”. Kelly traduziu por “não dado à violência” (cf. BAB, BV, CH,
NVI, RA). O homem de Deus deve ser caracterizado por amor e comedimento
cristão.
Não há ambigüidade
ligada à próxima estipulação de Paulo: Não cobiçoso de torpe ganância (3). Esta
é advertência contra o amor do dinheiro que o apóstolo, mais adiante nesta
mesma epístola (6.10), declara ser “a raiz de toda espécie de males”. Tal
proibição tinha relevância imediata, pois fazia parte da responsabilidade do
pastor cuidar dos bens e capitais da igreja. Esta seria fonte constante de
tentação para o avarento. Somente aquele que desse toda prova de não ter
espírito de cobiça pode ser separado com segurança para a obra do ministério.
Claro que é
perfeitamente possível que ministros e leigos sejam enganados pelo que nosso
Senhor chamou de “a sedução das riquezas” (Mt 13.22). A sutileza desta sedução
é que a pessoa não precisa possuir riquezas para ser enganada por elas.
Desejá-las ardentemente, permitir-se adotar atitudes calculistas na esperança
de obter riquezas, ficar indevidamente interessado por salários e lucros deste
mundo não podem deixar de empobrecer e, no final das contas, destruir o valor
do próprio ministério. Tudo isso está implícito no aviso paulino do desejo
controlador por dinheiro.
A única virtude
positiva no versículo 3 é moderado, (“tranquilo”, CH; “cordato”, RA). Isto
significa não tanto a capacidade de manter a calma sob controle quanto a
capacidade de resistir sob pressão, com infalível espírito de bondade e
paciência. Paulo exalta esta virtude em 1 Coríntios 13.4, quando nos assegura
que o amor é sofredor e benigno — benigno mesmo no fim do sofrimento. As
especificações adicionais — não contencioso, não avarento (5) — são repetições
para enfatizar os quesitos já estipulados.
Este é ponto da mais
grave importância: Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição,
com toda a modéstia (4). Como ressalta E. K. Simpson: “O ideal do celibato
sacerdotal é tão totalmente estranho ao modelo primitivo, que se toma por certo
que o candidato ao ministério já seja casado de idade madura. A disciplina
paterna relaxada o desqualifica imediatamente para a posição de liderança na
igreja”.4 Esta é a versão que Phillips fez do versículo 4: “Deve ter a devida
autoridade em sua própria casa e ser capaz de controlar e exigir o respeito de
seus filhos” (CH). Temos de admitir que, entre todos os padrões, este é um dos
mais difíceis que Paulo estabeleceu. Mas como é importante! Muitos ministros
têm tido sua utilidade limitada ou mesmo destruída por não exercerem a
disciplina parental. E fácil ficarmos tão envolvidos em salvar os filhos dos
outros que acabamos deixando os nossos próprios filhos escapulir de nosso
controle. Chega o momento em que os filhos crescem e têm de assumir a direção
da própria vida. Nessa hora, ninguém estará com eles ao tomarem decisões que
julgarem acertadas. Mas a disciplina firme, cheia de amor e regada com oração
durante os anos formativos da vida de nossas crianças é seguramente o poderoso
fator determinante que possuirão quando tiverem de decidir sozinho o curso que
seguirão na vida. Há, portanto, força convincente no fato de Paulo insistir no
dever que o ministro tem de controlar a própria casa. E ninguém pode
contradizer a verdade básica que está entre parênteses no versículo 5: Porque,
se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?
O versículo 6 oferece
perspicácia muito interessante sobre a situação em Éfeso: Não neófito, para
que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo
(6). Esta é
advertência contra a promoção muito rápida à liderança de “recém-convertidos” ou
pessoas “recentemente batizadas”. Embora a igreja efésia já tivesse muitos anos
de existência e, provavelmente, não devesse ter carência de líderes maduros,
havia indícios de que candidatos imaturos ao ministério estavam sendo postos em
serviço. Paulo acreditava em maturidade e preparação de candidatos para este
cargo santo, e por uma boa e suficiente razão. Existia o perigo de que, para
alguém inadequadamente preparado, a tentação ao orgulho espiritual se tornasse
grande demais para ser resistida. Isso é tragédia na certa, tragédia descrita
pelo apóstolo nos seguintes termos: Cair na condenação do diabo. C. K. Barrett
destaca que “o julgamento não é tramado pelo diabo, mas feito por Deus em
rígido acordo com a verdade”.6 A tradução de Phillips expressa o que o apóstolo
quis dizer: “Para que não se torne orgulhoso e participe da queda do diabo”
(CH).
Esta determinação
lembra uma situação nos procedimentos de nosso Senhor com seus seguidores,
relatada em Lucas 10.17-20. Os setenta haviam acabado de voltar de sua missão
designada e estavam exultantes com o fato de que “até os demônios se nos
sujeitam”. Jesus não reprovou imediatamente o orgulho espiritual principiante,
mas observou um tanto enigmaticamente: “Eu via Satanás, como raio, cair do
céu”. E completou: “Eis que vos dou poder [...] [sobre] toda a força do
Inimigo. [...] Mas não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos”. Foi o
orgulho que custou a Lúcifer o seu lugar nas hostes celestes, e esta foi a
condenação do diabo. O ministro cristão tem de estar atento para que o orgulho
não o compila a participar desta condenação.
Resta ainda uma
especificação final para aquele que deseja servir na posição de bispo ou líder:
Convém, também, que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não
caia em afronta e no laço (“armadilha”, NTLH) do diabo (7). O ministro cristão
tem de inspirar o respeito e a confiança da comunidade fora da igreja, caso
deseje ganhar as pessoas dessa comunidade para a igreja. E fácil dizer: “Não me
importo com o que as pessoas pensem de mim”; e contanto que essa atitude seja
devidamente planejada e corretamente compreendida, justifica-se. Mas ninguém
deve ser indiferente à sua reputação na comunidade em que vive. Ele deve
desejar veementemente que as pessoas o considerem inteiramente acima de
repreensão. Ver a questão de outro modo, diz Paulo, é expor-se à mesma
armadilha que aguarda o indivíduo cujo espírito está arruinado pelo orgulho
espiritual.
J.
Glenn Gould. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 9. pag. 468-472.
I Tm 3. 1 Contra a
atuação dos hereges, que se precipitarão sobre o rebanho após a despedida de
Paulo, o apóstolo não tomou providências de cunho jurídico-eclesiástico ou de
natureza organizacional, e tampouco ampliou a competência dos presidentes, mas
exortou os presbíteros reunidos em Éfeso que se mostrem dignos de sua vocação
pelo Espírito Santo, que cuidem de si mesmos e do rebanho que lhes foi
confiado. Não escreve nada diferente a Timóteo: deve cuidar de si mesmo e da
doutrina, de modo que salvará a si e aos que lhe derem ouvidos. De modo análogo
cabe agora exortar os presidentes e diáconos em vista de sua vida e seu serviço
pessoal.
Serviço de
presidente. Há um consenso entre a maioria dos comentaristas de que este texto
não pode estar tratando do chamado cargo do episcopado monárquico. Nem sequer o
singular para serviço de presidente (v. 1) e presidente (v. 2) permite concluir
que apenas uma única pessoa fosse dirigente de uma igreja local. Em 1Tm 5.17
fala-se de vários presbíteros que presidem bem. Fazem o que se espera tanto dos
epískopoi (presidentes) como dos diáconos.
Por isso é melhor
traduzirmos com “presidente”, e suas incumbências, com “serviço”, porque não –
ainda não – se trata, de forma alguma, no caso deles, de um cargo com honra e
dignidade nem de um belo título, mas de uma “bela obra” (QI 25e).
A igreja em
localidades maiores podia ser formada de várias comunidades domiciliares com
seus presidentes (v. 4!) e um presidente podia executar diversas tarefas.
Alguns trabalham “em palavra e doutrina”, outros cuidam para que tudo
transcorra em ordem na igreja. O termo presidente, supervisor (epískopos)
designa originalmente “todo aquele a quem o cuidado por deter-minada questão é
confiado como incumbência duradoura ou temporária no seio de uma comunidade”.
É lícito buscar um
serviço de presidente e almejá-lo. A Bíblia não condena a aspiração humana,
Deus a concedeu ao ser humano. Não se deve ambicionar riqueza (1Tm 6.10, o
mesmo verbo), mas bens melhores e serviços belos.
Aspirar: almejar. Não
se deve reprimir o prazer do coração humano, mas purificá-lo e dirigi-lo para
alvos dignos, “assim tens teu prazer no Senhor, e ele te dá o que teu coração
deseja”.
Ao despertar a
aspiração do coração para praticar a vontade de Deus, o Espírito Santo conduz o
crente aos serviços e incumbências que correspondem à vocação divina e que por
isso podem se tornar o prazer e amor da própria pessoa.
I Tm 3. 2 O
presidente, pois, deve ser irrepreensível. Essas palavras não instituem o
presidente nem seu ministério, mas o pressupõem, e isso sem qualquer ênfase,
como em Fp 1.1. Em primeiro lugar se falou do “sacerdócio de todos os fiéis”
(cap. 2) e agora de seus servos, em plena concordância com 1Co 3.5. Podemos
chamar a lista subseqüente de “catálogo de virtudes”, em contraposição ao
chamado “catálogo de vícios”. Chama atenção que não se fazem exigências
especiais, exceto, talvez, de “apto para ensinar”. Pelo contrário, enumeram-se
atitudes práticas e cotidianas que precisam ser consideradas “elementares” para
todos os cristãos. Por que, no entanto, escrever acerca delas mesmo assim? Essa
lista ou outras similares nas past só podem ser descartadas depreciativamente
como “moral burguesa” ou “ética cristã mediana” se ignorarmos como tudo está
fundamentado e como as coisas elementares são e continuam sendo necessárias
para a fé.
Quando as coisas
elementares não são constantemente renovadas e re-direcionadas em direção ao
que é fundamental (a base) e final (o alvo, a consumação, em grego, o
eschaton), rapidamente surgem enredamentos e descaminhos igualmente
elementares, arrastando consigo o indivíduo e a sociedade. É preciso ver as
orientações das past diante do pano de fundo de uma in-domável correnteza de
“anomia” na sociedade e igreja.
Irrepreensível não
significa simplesmente gozar de boa fama, mas ter um testemunho
justificadamente bom. A crítica e as acusações não devem encontrar pontos
vulneráveis para seu ataque. Aparentemente a palavra designa o comportamento
abrangente, fundamental para tudo o que segue. Jesus frisa a importância do bom
testemunho, como também ocorre em geral no NT. Nessa questão é decisivo que o
bom testemunho seja reconhecido e fornecido pelos que não fazem parte da
igreja. “Vossa conduta seja decorosa aos olhos dos estranhos.” Essa exortação
da carta mais antiga de Paulo coincide integralmente com a exigência de ser
irrepreensível, o que não pode ser questionado nem mesmo por observadores
críticos e hostis. Um modo de vida desses só é viável a partir do “mistério da
fé, preservado em uma consciência pura”. Essa é a origem e a renovação de toda
a autêntica irrepreensibilidade. Representa o oposto tanto do comportamento
anti-social como da exagerada adaptação pacata a todos e a tudo.
Marido de uma só
mulher. O presidente deve ser exemplarmente casado. Não se espera o celibato
dos servidores da igreja, mas que tenham plena capacidade matrimonial e sejam
modelos no casamento. A melhor “escola matrimonial” acontece por “exemplos
matrimoniais”. Presidentes e diáconos devem ser casados uma única vez; isso aponta
em 3 direções:
1) Acerca da
profetiza Ana lemos que era virgem até se casar. Quando o marido morreu após 7
anos de casamento, ela passou a viver sozinha até idade avançada (84 anos),
servindo a Deus. De acordo com a palavra profética permaneceu fiel ao “noivo de
sua mocidade”.
2) Conforme as
palavras do Senhor a monogamia é o alvo original, estabelecido por Deus, do
relacionamento entre homem e mulher. Se os próprios gentios chamam atenção para
isso e os cristãos aspiram ao amor e à fidelidade no matrimônio, quanto mais
isso deveria valer, então, para aqueles que se “apresentam em todas as coisas”
(logo também no casamento) como “exemplo de boas obras”.
3) A interpretação
aqui fornecida possui relevância justamente com vistas à prática do divórcio,
que naquela época se alastrava com força, e do correlato recasamento de pessoas
divorciadas, seja entre gregos, seja entre judeus.
A expressão única
pode ser mantida em forma tão genérica pelo fato de que deve caracterizar de
forma abrangente a atitude básica fundamental da castidade em todas as
situações. O casto não reprimiu sua sexualidade, mas a tornou íntegra, porque
castidade é alegrar-se com a sexualidade respeitando os limites do respeito.
Sóbrio (nephalios)
vale tanto para mulheres como para homens idosos. O verbo correspondente já é
utilizado por Paulo em sua carta mais antiga: “Não durmamos como os demais, mas
vigiemos e sejamos sóbrios.” Ser sóbrio faz parte da oração e da vigilância e
diz respeito a uma contenção de orientação escatológica diante de todo tipo de
fanatismo, embriaguez, dissoluções no pensar, sentir e agir.
Quem reconhece a
verdade em Deus torna-se sóbrio diante do delírio do pecado, para viver uma
vida reta.
Sensato (sophron):
assim como o adjetivo “sóbrio”, também ocorre somente nas past, mas o termo é
usado como verbo na carta aos Romanos: cada qual deve pensar com moderação, ser
sensato, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um. Quem é temperante
possui uma medida correta de auto-avaliação, um sentido para o que é real. É compreensivo.
Depois de ser curado, o homem antes possesso está tranqüilamente assentado,
está vestido e em perfeito juízo. O temperante é espiritualmente saudável. “O
fim de todas as coisas está próximo, sede, portanto, criteriosos e sóbrios a
bem das vossas orações!” Ambas as palavras – sóbrio e temperante – possuem um
viés escatológico, e o fato de aparecerem juntas serve para enfatizar isto.
Quem está embriagado e alimenta sonhos devotos a respeito de si mesmo e do
mundo não consegue orar de fato, porque orar é justamente o contrário de fugir
da chamada “realidade” para um mundo onírico. Vale o contrário: quem ora acorda
para a verdadeira situação, e quem está alerta ora de olhos abertos. É disso
que resultam as boas obras.
Digno (kosmios):
sensato e digno (como em 1Tm 2.9 para as mulheres!) pode ter aqui o sentido de
cortês, solícito, o que no entanto não deve ser entendido como cortesia
artificial, que visa as aparências, porque isso representaria uma contradição
com sóbrio e sensato. Realmente cortês é aquele que ao avaliar a si mesmo e a
todas as coisas de forma sensata e de acordo com a perspectiva de Deus, acordou
para as necessidades daqueles aos quais serve.
Hospitaleiro: em
outras ocasiões Paulo também exorta as igrejas para que cuidem das necessidades
dos santos e pratiquem a hospitalidade. Nos escritos do NT lemos a respeito de
cristãos que são viajantes e também comerciantes; outros são perseguidos e
precisam fugir para outras cidades. Os apóstolos e seus colaboradores viajavam
de localidade em localidade, dependendo para isso da acolhida solícita nas
casas dos crentes. Para as reuniões da igreja e para os que estavam em trânsito
as casas das famílias dos fiéis representavam o alojamento propício. Tudo isso
torna necessária a exortação de que não se esqueçam da hospitalidade. Mais
tarde é preciso proteger a hospitalidade contra os abusos de andarilhos
itinerantes e “irmãos estranhos”.
Hoje quem viaja por
países em que os cristãos são perseguidos ou representam uma minoria sabe o que
significa e custa a hospitalidade. Mas também onde os cristãos são maioria na
sociedade, mas as formas eclesiásticas não são (mais) marcantes e formadoras de
comunhão, a cordial liberalidade das famílias que crêem em Cristo em relação a
visitantes, conhecidos e desconhecidos, constitui o nervo vital para uma igreja
que irradia para dentro do mundo. A abertura hospitaleira não é uma palavra em
favor, mas contra o aburguesamento, porque o burguês se isola e se fecha em seu
castelo, ainda que seja apenas uma pequena moradia alugada no mesmo edifício
com outros 10 ou 100 inquilinos. O burguês não gosta de se colocar a caminho,
nem gosta de ser incomodado por inconstantes. A vida de gueto de muitas
comunidades eclesiais tem por correlação a vida na reclusão caseira e na
privacidade de seus membros. Os servidores da igreja, porém, devem ser exemplos
no matrimônio e na família pelo fato de serem abertos e livres para o hóspede.
Apto para ensinar
(didaktikos): em todo o NT o termo ocorre somente aqui e em 1Tm 3.2. O seu
sentido é descrito exaustivamente em Tt 1.9: o presidente deve “apegar-se à
palavra confiável e conforme a doutrina, para que seja capaz de, pelo reto
ensino, exortar bem como convencer os que o contradizem”. Deve estar aberto
para questões doutrinárias, capaz de formar sua própria opinião e instruir a
outros. Precisa discernir entre o que é importante e o que leva a descaminhos,
entre doutrina verdadeira e falsa, saudável e doentia e ser capaz de ensinar e
transmitir corretamente o que é apropriado em cada caso.
Do presidente
espera-se capacidade de ensinar, do diácono não. Não se pode concluir disso que
ensinar seja atribuição exclusiva do presidente, nem é possível obter aqui uma
base para o posterior “magistério” católico-romano. Porque conforme 2Tm 2.2
Timóteo deve transmitir o evangelho a “pessoas fiéis”, não especificamente
apenas presidentes, que serão capazes de novamente ensinar a outras. O ensino
ministrado por mestres específicos somente tem sentido sob a premissa de que
todos são capazes de se instruir e exortar mutuamente. No entanto, só se pode
esperar isso deles quando e porque eles próprios são “ensinados por Deus”.
Ademais, 1Tm 5.17 deixa explícito que a presidência não era exercida por uma
pessoa sozinha, e que nem todos que presidiam ou eram presbíteros também
ensinavam.
Os presidentes tinham
de ser exemplos no ensinar, não para aliviar outros desta tarefa, mas
capacitando-os para isso. Na escola o professor de matemática deve instruir os
alunos para que saibam solucionar pessoalmente tarefas de matemática. Não deve
resolver a tarefa por eles, e nem todos os alunos devem tornar-se matemáticos
ou professores de matemática.
I Tm 3. 3 Não dado ao
vinho, não espancador, porém amável, não briguento, não avarento.
Em Corinto as ágapes
e as santas ceias da igreja haviam degenerado em comilanças. Em seu meio havia
pessoas que se intitulavam irmãos, mas cujo Deus na verdade era seu próprio
estômago. O estômago era o poder máximo que os determinava. Comer e beber, bem
como digressões sexuais, significavam tudo para eles. Quem ainda era escravo de
tais vícios mesmo como cristão dificilmente podia conduzir aqueles que haviam
se convertido do mundo gentílico para novos hábitos de vida. O simples fato de
que era preciso dar essas instruções a presidentes e diáconos permite
reconhecer que à época da redação da carta a igreja não passava pela vida
inerte, em um “aburguesamento” distante e impassível: “impuros, idólatras,
adúlteros, garotos de programa, sodomitas, ladrões, avarentos, bêbados,
maldizentes, assaltantes” era o contexto de onde vinha uma parcela da igreja,
não apenas em Corinto, e com tais concidadãos seus membros conviviam no
cotidiano. Como aprenderiam que uma vida assim era indefensável na igreja, por
ser anti-social e inconciliável com o reino de Deus? Verdadeira transformação
não podia ser trazida por ordens e condenações genéricas, mas somente por
modelos de vida nova vivenciados. Por essa razão o presidente não deve ser
beberrão nem galo de briga com discurso autoritário, mas instrutor amável de
uma vida verdadeira. Para a nossa época
uma lista equivalente
talvez seria: nem fumante inveterado, nem obeso, nem viciado em leitura de
jornais ou televisão, nem polemista.
Porém amável:
benigno, solícito, transigente; o contrário de rigorismo inflexível, que tão-somente
provoca contendas. De acordo com o linguajar atual poderíamos traduzir o
sentido com: objetivo, isento de agressão diante dos agressivos. Em Tt 3.2s
“transigente” foi combinado com “manso”, como também em 2Co 10.1, onde Paulo
escreve que ele exorta a igreja em conformidade com a amabilidade
(transigência) e mansidão que o determinam. Também na época atual de
embrutecimento das relações entre as pessoas, dos protestos e das provocações
(desafios) de âmbito mundial, quando se visa desencadear e consequentemente
desmascarar (super) reações autoconscientes em palavras e ações, é
imprescindível para a igreja de Cristo e seus servos que todos estejam
firmemente enraizados na forte mansidão de Jesus. Martin Luther King não
permitia nenhum participante nas marchas de protesto que em provas anteriores
havia se deixado arrastar para reações violentas.
Também nessa palavra
não se deve ignorar a conotação escatológica. Como o Senhor está próximo, os
cristãos devem expressar sua amabilidade a todas as pessoas, também diante dos
que os difamam e perseguem.
Não briguento:
trata-se aqui de briga por palavras, ter palavra de comando, ser irredutível no
debate., diferente de “não espancador”, que briga chegado às vias de fato,
muitas vezes embriagado.
Não avarento: Quando
Jesus disse que não se pode servir a Deus e ao dinheiro, os fariseus zombaram
dele porque eram gananciosos. Jesus espera do bom administrador que lide
fielmente com o dinheiro injusto. De acordo com Tt 1.7 o presidente, que é um
administrador (ecônomo) de Deus, não de-ve ambicionar a torpe ganância.
Lutero traduz: “não
ávido de querelas, mas brando, não briguento, não ávido por dinheiro.”
4 Que presida bem sua
própria casa, criando os filhos com toda a dignidade em obediência.
5 Mas se alguém não
sabe presidir a própria casa, como poderá cuidar da igreja de Deus?
Assim como o
relacionamento conjugal reflete a relação entre Cristo e a igreja, assim a
associação familiar em uma grande casa é réplica e a célula originária da
família de Deus, do qual toda a paternidade no céu e na terra recebe o nome.
Pela fé em Cristo os gentios tornaram-se “membros da família de Deus”.
Como um pai governa
os filhos e a todos na própria casa, assim o presidente deve conduzir a igreja
de Deus, executando seu ministério com entusiasmo, i. é, bem. Ao contrário do
mundo grego, os cristãos não mandavam educar os filhos por meio de escravos
pedagogos, mas assumiam pessoalmente essa tarefa. Na obediência autêntica (que
é o contrário de coação, porque obediência autêntica é voluntária) e na
decorrente autonomia disciplinada dos filhos adolescentes seria possível
reconhecer a dignidade do pai amável. Isso também pode ser dito de outro modo:
somente quem possui autoridade real pode favorecer dignamente a obediência.
Quem está amarrado e inseguro, lançará mão de meios violentos, conduzindo assim
os filhos à rebeldia, não à subordinação espontânea. “Com toda a dignidade”
salienta a autoridade interior, que se situa acima da contraposição de educação
autoritária – antiautoritária.
Cuidar da igreja de
Deus. O presidente da igreja domiciliar não deve governar sobre ela de forma
arbitrária ou ditatorial, mas pensar em seu bem-estar físico, comunitário e
espiritual. A igreja não pertence a ele, mas a Deus. “Nisso sê diligente”,
enfatiza Paulo mais tarde.
Família e igreja
poderão crescer de forma saudável quando se encontram na mais estreita
interação. Igrejas perdem seu caráter familiar quando famílias cristãs já não
formam as verdadeiras células da igreja. Quando as famílias, mesmo as famílias
nucleares de nosso tempo, não forem mais centros espirituais e locais de
treinamento do amor experimentado de Deus, as igrejas se tornarão desertas,
apesar de todo o ativismo. Por isso cuidar das igrejas significa providenciar
em primeiro e principal lugar famílias saudáveis na fé. O cuidado pastoral
matrimonial certamente ainda é a área mais negligenciada do aconselhamento.
Quando o foco cair sobre a igreja como família de Deus, seu caráter de exemplo
no matrimônio e na família se reveste de fundamental importância. Novamente não
se deve entender isso como uma fachada de devoção hipócrita. Exemplo não é
encenar o que não existe. Nem mesmo a pergunta temerosa sobre o que os outros
dirão deve determinar ou tolher a vida familiar dos servidores da igreja.
6 Não um
recém-convertido, para que não se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo.
Visto que tantas
coisas dependem da pré-figuração e do procedimento do presidente de uma igreja,
seu fracasso pode ser fatal não apenas para ele, mas para muitos. Por isso ele
não deve ser um recém-convertido. Afinal, um novato ainda não teve oportunidade
de comprovar a fé no cotidiano.
No presente texto não
se trata da questão da idade (ao contrário de 1Tm 5.1,9,17,19). O próprio
Timóteo era “jovem” na idade, jovem demais para seus críticos. Contudo Paulo
lhe atesta que ele está comprovado na fé e no amor que se desprende de si
mesmo, que vê as necessidades dos outros e os assiste. A validade da autoridade
de Timóteo estava somente na aprovação e no exemplo, não na idade ou na apresentação
imponente, muito menos em um título oficial concedido.
Quem alcança
influência como recém-convertido facilmente se embriaga com o poder que parece
possuir; deixando de ser sóbrio, perdendo o discernimento para diferenças e
distinções.
Ensoberbecer-se:
estar inflado, anuviar; a fumaça ascendente obscurece a visão. O presidente
está ameaçado pelo mesmo perigo que os hereges, e as mulheres: inebriar-se com
as liberdades e possibilidades de influência conquistadas e, em seguida,
tropeçar. O inflado paira como um balão sobre as baixadas do “cotidiano
burguês”. Em seus vôos ele secretamente despreza os pobres e simples, os
humildes e comuns. Vê, fala e atua por sobre as cabeças da igreja.
A tentação da soberba
não pode ser banida definitivamente nem mesmo por anos de aprovação, mas para
os recém-convertidos ela será quase inevitável e um constante risco para aquele
que é experimentado há mais tempo. Por isso Paulo confessa, a seu próprio
respeito, que lhe foi dado um “anjo de Satanás” para discipliná-lo, para que
ele não se envaideça.
E não incorra na
condenação do diabo: em Corinto havia uma igreja inteira inflada.
Vangloriava-se de sua “liberdade”, na qual permitia que um membro da igreja se
casasse com a mulher de seu pai (falecido), i. é, com a madrasta. Esse tipo de
“matrimônio” não era permitido nem mesmo entre os gentios, mas os cristãos, em
sua presunção, não viam “nada de mau” nisso.
Paulo ordena entregar
a referida pessoa ao julgamento temporal de Satanás, para que seja salvo no dia
do Senhor. A expressão refere-se tanto à disciplina interior na consciência
(auto-acusações, autocensura, contrição, vexação) quanto à disciplina exterior
eclesial. Paulo não espera apoio moral, mas lamento pela culpa partilhada por
toda a igreja em sua situação de soberba, que possibilita esses pecados,
tolerando-os em seu meio.
I Tm 3. 7 Mas ele
também precisa ter um bom testemunho dos de fora, a fim de não cair na
difamação e no laço do diabo.
Já em sua carta mais
antiga o apóstolo exorta a congregação para que tenha uma “conduta decente
(honrada)” aos olhos dos de fora. Não ser tropeço nem causar escândalo! Essa
exortação vale para a conduta diante de todos: judeus, gregos, cristãos. Isso
não tem nada a ver com uma falsa adaptação aos padrões e costumes do mundo, porque
a igreja deve ser irrepreensível e pura em meio a esta geração pervertida e
corrupta. Suas boas obras devem poder ser vistas à luz do dia e se diferenciar
das inúteis obras das trevas. Porque “enquanto os cristãos se preocupam
sacerdotalmente pelo mundo, o mundo lança o afiado olhar da hostilidade sobre a
igreja, a fim de encontrar pontos vulneráveis. Por isso não será recomendável
colocar na liderança da igreja homens que eram notórios na cidade por seus
pecados ou fraquezas passadas, ainda que se tenham emendado sinceramente”.
Os de fora na
realidade estão fora da igreja, mas nem por isso fora do alcance do juízo e da
graça de Deus. Os que estão fora da igreja possuem uma percepção implacável e
um juízo insubornável para os pecados daqueles que se dizem cristãos. Com essa
atitude na verdade condenam a si mesmos, porque confessam que sabem muito bem o
que é certo e como deveriam viver. Contudo, isso não desculpa a igreja. Ela
mesma deve manter um juízo vigilante acerca das próprias transgressões e por isso
ir com humildade e mansidão ao encontro dos “de fora”.
Quando se pondera
como os meios de comunicação de massa vasculham a vida passada e atual de
líderes políticos, econômicos e religiosos com a criatividade de um detetive,
desnudando-a em público (em geral por motivos ignóbeis de luta pelo poder),
torna-se ainda mais atual a exigência do bom testemunho de fora. Pois quando a
difamação circula em lugar do bom testemunho, ela pode influir de modo tão
terrível sobre o envolvido que lhe rouba a fé no perdão de Deus, lançando-o no
desespero. Como uma mosca na teia da aranha, ele ficará então emaranhado nos
laços do diabo, do acusador originário.
A lista das 16
“virtudes” começa de forma aparentemente inofensiva com a irrepreensibilidade
como premissa fundamental para o serviço de presidente. O catálogo termina com
a condição quase idêntica do bom testemunho dado pelos de fora da igreja,
anunciando surpreendentemente a
verdadeira razão e a
grave conotação de toda a listagem: laço e juízo do diabo, esses são a ameaça e
o risco reais daquele que visa servir a outros sendo seu presidente. Enquanto
assim se abre a visão para o pano de fundo da sedução demoníaca, o catálogo de
virtudes perde sua limitação helenista e o sabor pequeno-burguês resultante da
apreciação meramente superficial.
Hans
Bürki. Comentário Esperança Cartas aos I Timóteo.
Editora
Evangélica Esperança.
II - A
IMPORTÂNCIA DO PRESBITÉRIO
1. Significado do
termo.
I Tm 4.14. Não
desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição
das mãos do presbitério (14). Nesta passagem, o apóstolo reconhece que o poder,
que chamaríamos preparação carismática para o ministério, é decididamente o
mais importante. Ele firma que Timóteo recebeu este dom por profecia,
observação repetitiva de Paulo (1.18). O chamado de Deus para servir na obra do
ministério é consideração anterior e principal. E o Espírito Santo que tem de
instigar a escolha do homem para esta vocação santa. E com o seu chamado temos
razão para crer que haverá as qualificações acompanhantes da “graça, dons e
utilidade”. Pode haver casos excepcionais em que uma ou outra destas qualidades
não esteja em evidência, mas Deus as vê em estado latente; contudo, a regra é
conforme está declarada acima. Isto significa mais que “ter facilidade em
falar”, ou “ser muito extrovertido”, ou “dar-se bem com as pessoas”, ou “ser
líder nato”. Algumas destas qualidades podem complementar o equipamento
espiritual essencial, mas nenhuma o substitui.
Além disso, seria
erro presumir que a ordenação da igreja fornece esta qualidade mística quando
em falta. A significação da ordenação da igreja e sua relação com a ação
anterior do Espírito estão claramente expostas em Atos 13.2,3. Falando da
igreja em Antioquia na Síria, Lucas relata: “Disse o Espírito Santo: Apartai-me
a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e
orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram”. O mero “contato manual”,
como disse alguém, a imposição das mãos do presbitério não tem significado sem
essa obra antecedente do Espírito Santo. A linguagem de Paulo dá a entender
perfeitamente que, referindo-se à ordenação de Timóteo, a ação do presbitério
(os pastores) era reconhecimento e confirmação da ação anterior do Espírito.
J.
Glenn Gould. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 9. pag. 484-485.
I Tm 4.14 Ninguém
deveria desprezar Timóteo (4.12), nem ele deveria desprezar a si mesmo. Paulo
lembrou Timóteo de que ele tinha os requisitos necessários para realizar aquela
obra difícil em Éfeso. Entre eles, estava um dom espiritual de Deus. Embora
Paulo não defina especificamente este dom, ele estava preocupado com a
possibilidade de Timóteo hesitar em usá-lo ou deixar de usá-lo. Quando virmos
as capacitações de todos os tipos (espiritual, relacional, técnica) como dons de
Deus, será mais fácil vermos a sua mão operando por meio dos esforços humanos. A
incumbência de Timóteo como líder da igreja tinha ocorrido por profecia e com a
imposição das mãos do presbitério (veja também I.I3). O dom de Timóteo tinha sido
reconhecido publicamente. Isto ajudaria a confiança hesitante de Timóteo. Ele
poderia realizar a tarefa porque Deus o tinha chamado para realizá-la, o tinha
capacitado para realizá-la, e estaria com ele durante a realização dela.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 502.
Ao ler, exortar e
ensinar, Timóteo exerce o dom da graça recebido e faz uso dela, ao invés de
negligenciá-lo. Novamente deve-se considerar a conjunção de graça e
responsabilidade, dom da graça e incumbência da graça. Intimidado pela
condescendência ou pelo desprezo dos anciãos, premido pelos hereges, desanimado
por dúvidas e temores pessoais, Timóteo corre perigo de negligenciar o carisma
(dom da graça) recebido (QI 31d), recebendo em vão a graça de Deus (Compare-se
o texto paralelo em 1Co 15.10; 2Co 6.1: receber graça e ministério = trabalhar
com ele; receber em vão = negligenciar).
Dom da graça
(carisma): será que se trata de um equipamento espiritual recebido por ocasião
da “ordenação”? Porventura está-se falando de “graça ministerial”? A
interpretação de toda a frase precisa render uma resposta a essa questão. Para
Paulo o carisma está no começo e no centro de todo serviço e de toda a vida da
igreja. O carisma não é algo acrescentado ao ministério, nem mesmo algo que
somente possui certa importância à margem da verdadeira ordem eclesiástica.
Dons da graça foram dados a todos para todos, ainda que nem todos recebam os
mesmos dons. Em 1Co 12-14 Paulo não fala contra os dons da graça, mas somente
contra seu abuso. Timóteo não corre o risco dos carismáticos de Corinto. Pelo
contrário, a ele o apóstolo precisa dizer: não negligencies o dom da graça em
ti. O próprio Deus o concedeu a você, não uma instância humana. Por isso
utilize esse dom, exercite-se nele, use-o diligentemente!
Mediante profecia:
por meio de uma palavra profética; profecias que apontam para Timóteo; falam de
sua vocação. Desse chamado de Deus lhe advém força para a luta. No começo do
serviço não está o cargo, mas o carisma. No começo do carisma não está a
ordenação, mas a vocação pelo próprio Deus. Tanto o AT como o NT deixam
inequivocamente claro que os servos estabelecidos para um serviço específico
recebem a dádiva do Espírito antes de receber os dons do Espírito para o
serviço.
Pela imposição de
mãos: A imposição das mãos confirma o que aconteceu, a saber, a vocação prévia
por Deus, profeticamente divulgada. A prática da imposição das mãos situa-se no
âmbito dos sinais visíveis que acompanham a fé.
Que autoriza para o
serviço de presbítero: como interpretar esse genitivo? Como genitivo subjetivo
seria preciso traduzir: o conselho de anciãos impõe as mãos. Isso talvez
constituísse,
embora não
obrigatoriamente, uma contradição com 2Tm 1.6, onde Paulo escreve que impôs as
mãos a Timóteo. Portanto, trata-se de duas oportunidades distintas, ou então
Paulo lhe impôs as mãos em conjunto com os anciãos (QI 30). Contudo, supondo-se
um genitivus finalis, que assinala a finalidade, algo não apenas plausível, mas
provavelmente correto no contexto, a tradução será: pela imposição de mãos que
torna alguém presbítero. Assim como Tito deve instalar presbíteros de cidade em
cidade, assim o próprio Paulo havia instalado Timóteo como presbítero. A
instalação do presbítero não era uma ação arbitrária do apóstolo, mas ele
reconhecera no Espírito que Deus já havia posto sua mão sobre o jovem: o
apóstolo então agiu de modo correspondente. Embora Timóteo fosse jovem na
idade, Deus o havia chamado como “ancião” e o manifestou mediante profecia.
Concedeu-lhe o Espírito Santo, incutiu-lhe o carisma pa-ra o serviço, confirmou
sua vocação pela imposição de mãos por Paulo perante muitas testemunhas.
Que carisma
específico Timóteo havia, pois, recebido? Será que era pastor, mestre ou
evangelista? (“Faça a obra de um evangelista!” 2Tm 4.5). Seria igualmente
difícil definir um dom espiritual específico para Paulo. O dom geral da
“palavra”, i. é, a vocação para o “serviço à palavra”, podia abranger
proclamação, exortação, ensino e evangelização, mas apresentava ênfases diferentes
nos diversos servos. Dependendo também das circunstâncias com que se deparavam,
um ou outro serviço podia passar mais para o primeiro plano. Essencial para
todos os dons espirituais é que cada um carece de complementação. Por mais
abrangentes que sejam, ocorrem de forma apenas limitada em cada pessoa,
carecendo da permanente complementação por parte de outra.
Hans
Bürki. Comentário Esperança Cartas aos I Timóteo.
Editora
Evangélica Esperança.
2. A atuação do
presbitério.
At 16.4,5 Pelo menos
um dos novos itens da agenda da sua viagem era explicar a decisão tomada em
relação aos mandamentos que haviam sido estabelecidos pelos apóstolos e anciãos
no concílio de Jerusalém (At 15). As questões entre judeus e gentios que tinham
sido solucionadas no concílio provavelmente surgiriam novamente nas áreas predominantemente
gentílicas para onde Paulo estava viajando.
O crescimento rápido
era importante nesta primeira etapa da divulgação do Evangelho em meio aos
gentios. Os críticos do ministério de Paulo orientado aos gentios
(especialmente a facção judaica) estariam esperando ansiosamente por uma oportunidade
para calar Paulo, ou pelo menos para diminuir a sua influência. Mas aqui, na
primeira penetração real do Evangelho no mundo gentílico, a igreja prosperava, da
mesma maneira como havia ocorrido no início com a igreja que era composta, em
sua maioria, por pessoas de origem judaica.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 697.
E, quando iam
passando (tempo imperfeito) pelas cidades (Listra, Icônio, Pisídia, Antioquia)
os irmãos lhes entregavam (4) — os gentios cristãos — os decretos — lit.,
“dogmas” usados para os decretos imperiais (17.7; Lc 2.1)127 — que haviam sido
estabelecidos pelos apóstolos e anciãos em Jerusalém. A expressão Que haviam
sido estabelecidos quer dizer literalmente “que foram julgados”. Esta é a única
passagem no Novo Testamento onde o verbo comum krino foi traduzido como
estabelecidos. A luz desse contexto (cap. 15), provavelmente a melhor tradução
para a frase seria: “As decisões a que chegaram” (Phillips) ou “Os decretos que
foram deliberados”.128
Aparentemente, a
promulgação dos decretos do Concílio de Jerusalém mais ajudou do que prejudicou
os trabalhos, pois lemos que: as igrejas eram confirmadas na fé e cada dia
cresciam em número (5) — lit., “estavam sendo fortalecidas” e “estavam aumentando” (verbos
no tempo imperfeito). Este é o quarto relatório resumido sobre o progresso do
trabalho missionário (cf. 6.7; 9.31; 12.24).
Ralph
Earle. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 6. pag. 328-329.
«...decisões...»,
isto é, os decretos baixados quando do concilio que houve na cidade citada,
eram entregues e explicados aos irmãos. A palavra aqui empregada para traduzir
decisões é o mesmo termo usado nos trechos de Luc. 2:1 e Atos 17:7, para
indicar qualquer determinação oficial da parte do imperador, ou seja, um
«decreto». Paulo sem dúvida ansiava por mostrar-se leal ao pacto firmado em
Jerusalém. Essa própria lealdade demonstra que Paulo não via qualquer coisa de
errado na circuncisão de Timóteo, ou que fizera qualquer coisa em contradição
com as determinações tomadas durante aquele concilio. Lembremo-nos, além disso,
que Silas era um dos delegados originais enviados pelos irmãos de Jerusalém, o
qual poderia acrescentar o seu próprio testemunho sobre a natureza das
providências tomadas naquela cidade. «Os decretos e as determinações salutares
devem ser diligentemente observados, pois, de outro modo, assemelhar-se-iam a
um sino sem badalo». (Starke, in loc.).
«Esses decretos ainda
eram claramente considerados, pelos convertidos vindos do paganismo, como a
carta magna com base na qual poderiam tomar posição firme em qualquer disputa
com os judaizantes, e, sem dúvida, esses decretos ajudaram a determinar muitos
que ainda estavam hesitantes, a buscarem admissão na igreja cristã». (E.H.
Plumptre, in loc.).
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 3. pag. 328.
3. A valorização do
presbitério.
Recompensa Adequada
pelo Serviço Fiel (5.17,18)
As palavras “anciãos”
(1) e presbíteros (17; aqui quer dizer “pastores”, cf. BV) são tradução da
mesma palavra grega; os significados, embora distintos, estão correlacionados.
No versículo 1, significa os membros mais idosos da congregação; mas aqui diz
respeito aos indivíduos separados para a obra do ministério: Os presbíteros que
governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os
que trabalham na palavra e na doutrina (17). Há comentaristas que entendem que
este versículo antecipa a distinção entre “pastores” que governam e “pastores
que ensinam”, que é a prática em certas igrejas reformadas. Mas isso é
improvável, quando lembramos que Paulo já havia declarado especificamente que
todo bispo (ou pastor) tem de ser “apto para ensinar” (3.2).
O apóstolo está
estipulando a Timóteo que o pastor que combina igreja com o serviço fiel e
talentoso como pregador e professor de honra. É difícil acreditar que
signifique “pagamento em dobro” (NT Lógico que incluiu o aspecto monetário,
como as observações adicio claro; mas junto do honorário deve ser incluída a
honra. Ainda não h avia chegado o dia em que os ministros da igreja seriam
totalmente sustentados. O costume que então vigorava era que os líderes da
igreja se sustentassem, da mesma maneira que o apóstolo o fazia. Na opinião de
Paulo, o bom serviço merece reconhecimento e recompensa. Aquele cujo tempo era
tomado quase todo pelo trabalho da igreja deveria receber maior compensação.
Paulo sustenta seu
conselho com um argumento que lembra 1 Coríntios 9.9: Porque diz a Escritura:
Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: Digno é o obreiro do seu salário
(18). A primeira destas passagens é um preceito do Antigo Testamento
encontrado em
Deuteronômio 15.4, e em sua situação original é uma ordenação humanitária. Mas
em outro texto Paulo argumenta que tem um significado mais profundo:
“Porventura, tem Deus cuidado dos bois? Ou não o diz certamente por nós?” (1 Co
9.9,10). O apóstolo também cita outra passagem para a qual dá importância
igual: Digno é o obreiro do seu salário. Esta é declaração de nosso Senhor
registrada em Lucas 10.7.0 fato surpreendente é que os estudiosos do Novo
Testamento não conseguem achar evidências para provar que o Evangelho de Lucas
tinha acesso geral quando estas palavras foram escritas. Alguns expositores,
claro, concluem imediatamente que as Epístolas Pastorais devem ter sido
escritas muito depois que a data que lhes designamos. Mas o mais provável é que
o Evangelho de Lucas fosse conhecido por Paulo e também por Timóteo.
E. K. Simpson assume
a posição, junto com B. B. Warfield, de que “temos aqui uma citação verbalmente
exata do Evangelho de Lucas, tratada como porção integrante das Santas
Escrituras”. Nesta passagem, o apóstolo deixa clara sua opinião de que o
serviço fiel e eficaz merece reconhecimento e remuneração adequada. E óbvio que
a igreja começava a mudar rumando para um ministério assalariado.
J.
Glenn Gould. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 9. pag. 490-491.
I Tm 5. 17 Assim como
o v. 3 destaca dentre o grupo de mulheres idosas (v. 2) as viúvas que servem na
igreja, salientando a reverência que lhes é devida, assim são analisados agora
(v. 17) os homens dirigentes dentre os idosos e o comportamento devido diante
deles.
Presidir bem: algo
esperado primeiramente para a administração da própria família e em seguida
tanto dos presidentes como dos diáconos; aqui espera-se esta atitude de todos
os anciãos que exercem qualquer função de responsabilidade na igreja, seja a
administração econômica, seja, o que é particularmente evidenciado, o serviço
missionário e doutrinário. Deles a igreja espera que presidam bem, ou seja:
importa não já o serviço (o cargo!) como tal, mas o modo como é exercido (QI
12).
Dobrada honra: o
termo honra retoma nitidamente o tema do v. 3, onde já se evidenciou que ele
não podia se referir apenas ao sustento ou ao salário. Honrar uma pessoa
significa reconhecê-la, atribuir-lhe o valor que lhe cabe. O próprio Timóteo
não havia recebido a honra e o reconhecimento que merecia. Em vez de exigi-los
para si, deve responder a essa deficiência com vida exemplar. Conceder “dobrada
honra” pode significar ou honrar uma pessoa idosa por ser anciã e por trabalhar
na igreja como anciã ou, além do sustento material recebido por todos os idosos
carentes, manter (intelectualmente) honrados os idosos que presidem a igreja,
por causa de seu ministério. A igreja deve ser generosa e pródiga no sustento
de homens e mulheres idosos e de forma alguma ser reticente quando desempenham
um bom ministério em prol da igreja.
Sobretudo os que
trabalham na palavra e no ensino: que realizam algo, que se esforçam, termo frequente
em Paulo.
Palavra: como em 1Tm
4.12; 1Co 1.5; de modo geral a proclamação da mensagem de Cristo.
Ensino: instrução
para viver a partir da fé. De acordo com 1Tm 3.2 e Tt 1.9, ensinar faz parte
das atribuições do presidente. Consequentemente se fala aqui de vários
presidentes em Éfeso, assim como acontecia na igreja em Filipos. Os dirigentes
das famílias em cujos lares surgiram as primeiras igrejas caseiras também eram
os presidentes naturais para as igrejas, caso fossem aprovados.
Contrariando a
declaração, muitas vezes reiterada, de que as past preferem títulos para cargos
sem descrever a função deles, ao passo que o próprio Paulo raramente empregaria
títulos para cargos, mas em troca assinala o conteúdo dos diversos serviços,
aparece o presente versículo: “Sobretudo aqueles que trabalham na palavra e no
ensino.” Nem aqui nem em 1Tm 3.1s se fala de uma ordem hierárquica dos
ministérios. Por isso o jovem Timóteo pode ser convocado para ser “presbítero”,
porque em última análise a chave não é a idade, nem o cargo em si, mas o
serviço ao evangelho, o empenho e o labor dentro dele (1Tm 4.14).
Hans
Bürki. Comentário Esperança Cartas aos I Timóteo.
Editora
Evangélica Esperança.
NORMAS PARA A
ADMINISTRAÇÃO PRÁTICA
1 Timóteo 5:17-22
Esta passagem
consiste numa série de normas muito práticas para a vida e a administração da
Igreja.
(1) Deve-se honrar adequadamente os anciãos, e
também pagar-lhes como corresponde. No Oriente quando se debulhava, as hastes
de trigo se deixavam na era; logo se fazia com que várias juntas de bois
caminhassem sobre eles; ou se atava os bois num poste no meio, como um eixo. e
eram partidos ao redor do grão; outras vezes se acoplava a eles um pau de
debulhar, aquele que se fazia passar e repassar sobre o trigo; mas em todos os
casos se deixava os bois sem focinheira; estavam livres para comer todo o grão
que quisessem como prêmio pelo trabalho que estavam fazendo. A lei existente de
que não se devia atar a boca aos bois encontra--se em Deuteronômio 25:4. A
afirmação de que todo obreiro é digno de seu trabalho pertence a Jesus (Lucas
10:7). O mais provável é que Ele tenha citado um provérbio. Todo homem que
trabalha merece seu sustento, e quanto mais trabalha, mais terá ganho e
merecido. O cristianismo nunca teve nada que ver com a ética suave e
sentimental que exige salários iguais para todos. O que recebe o homem deve ser
sempre proporcional a seu trabalho. Mas devemos notar quais são os anciãos que
devem ser especialmente honrados e retribuídos. Trata-se daqueles que trabalham
na pregação e no ensino. Não se trata aqui do ancião que se limitava a dar
conselhos e recomendações, cujo serviço consistia em palavras, discussões e
argumentos e que considerava terminados seus deveres de ancião quando se sentou
a uma mesa e falou. O homem que verdadeiramente honrava a Igreja era aquele que
trabalhava para edificá-la com sua pregação da verdade às pessoas, e com sua
tarefa de educar os mais jovens e os novos conversos no caminho cristão.
(2) A Lei judia
estabelecia que não se podia condenar a ninguém com o testemunho de uma só
pessoa: “Uma só testemunha não se levantará contra alguém por qualquer
iniquidade ou por qualquer pecado, seja qual for que cometer; pelo depoimento
de duas ou três testemunhas, se estabelecerá o fato” (Deuteronômio 19:15).
A Mishnah, a lei
rabínica codificada, ao descrever o processo de um juízo diz: " A segunda
testemunha era igualmente trazida e examinada.
Se fosse encontrado
que o testemunho dos dois coincidia, seu o caso era aberto para a defesa."
Quer dizer, se sustentava-se uma acusação com a evidência de uma só testemunha,
considerava-se que não havia motivo para iniciar uma causa.
Em épocas posteriores
as normas da Igreja estabeleceram que as duas testemunhas deviam ser cristãs,
porque teria sido fácil para um pagão malicioso inventar uma falsa acusação
contra um ancião cristão para desacreditá-lo, e através dele à Igreja. Nos
primeiros dias da Igreja, as autoridades eclesiásticas não duvidavam em aplicar
a disciplina, e Teodoro de Mopsueste, um dos pais primitivos, assinala quão
necessária era esta norma, porque os anciãos estavam expostos sempre ao
desagrado e especialmente a ataques maliciosos "como aquela desforra que
tinham sido repreendidos por seus pecados". Uma pessoa a que se tinha
chamado à ordem podia querer obter sua revanche acusando maliciosamente a um
ancião de alguma irregularidade ou algum pecado. O certo é que este seria um
mundo mais feliz, e a Igreja seria mais feliz, se a pessoa compreendesse que
difundir ou repetir histórias a respeito das pessoas, que não são, nem podem
ser seguras, é nada menos que um pecado. Os falatórios irresponsáveis,
caluniosas e maliciosas fazem danos infinitos e causam muitas feridas, e Deus
não deixará de castigar.
NORMAS PARA A
ADMINISTRAÇÃO PRÁTICA
1 Timóteo 5:17-22
(continuação)
(3) Aqueles que
persistem no pecado devem ser repreendidos publicamente. Essa reprimenda
pública tinha um duplo valor. Fazia com que o pecador considerasse seriamente
sua forma de ser, e despertava o sentimento de vergonha; e fazia com que outros
se cuidassem de não ver-se envoltos eles mesmos numa humilhação similar. A ameaça
da publicidade não é má, se faz com que a pessoa se mantenha no caminho
correto, ainda que seja por medo. Um dirigente sábio, saberá quando é o momento
de calar as coisas, e quando deve fazer uma reprimenda pública. Mas seja o que
for que aconteça, a Igreja não deve dar ao mundo nunca a impressão de que está
tolerando o pecado.
(4) Timóteo vê-se
urgido a administrar sua tarefa sem favoritismos nem preconceitos. D. S. Easton
escreve. "O bem-estar de toda comunidade depende da disciplina
imparcial." Nada faz mais mal que tratar a algumas pessoas como se não
pudessem fazer o mal, ou a outros como se não pudessem fazer o bem. A justiça é
uma virtude universal, e nela a Igreja nunca deve estar por baixo das normas de
imparcialidade que até o mundo exige com razão.
(5) Previne a Timóteo
que “a ninguém imponhas precipitadamente as mãos”. Isso pode significar uma de
duas coisas.
(a) Pode ser que
signifique que não deve ser muito ligeiro em impor as mãos a qualquer pessoa
para ordená-la numa função da Igreja. Antes de promover-se a uma pessoa num
negocio, ou no ensino, ou nas forças armadas, deve dar prova de que ganhou A
ninguém imponhas precipitadamente as mãos essa promoção e que a merece. Ninguém
deveria começar no posto mais alto. A pessoa deve dar provas de que merece uma
posição de responsabilidade e liderança. Isto é duplamente importante na
Igreja; porque uma pessoa que é elevada a uma alta função e logo fracassa nela
ou a desacredita, não só traz desonra sobre si mesmo, mas também sobre a
Igreja. Num mundo crítico a Igreja não pode deixar de ser muito cuidadosa no
que concerne à classe de pessoas que escolhe como dirigentes.
(b) Na Igreja
primitiva era costume impor as mãos sobre um pecador penitente que tinha dado
prova de seu arrependimento e tinha retornado ao redil. Estava estabelecido:
"Quando cada pecador se arrepende e mostra frutos de seu arrependimento,
ponha-se as mãos sobre ele, enquanto todos oram por ele."
Eusébio, o
historiador da Igreja, relata-nos que era um costume antigo que os pecadores arrependidos
fossem recebidos novamente com a imposição de mãos e com oração. Se esta
passagem refere-se a isso, pode tratar-se de uma advertência a Timóteo que não
seja muito ligeiro em receber novamente à pessoa que havia trazido desonra à
Igreja; que esperasse até que tivesse demonstrado que sua penitência era
genuína e que estava verdadeiramente decidido a modificar sua vida para
concordar com suas manifestações de penitência.
Isto não quer dizer
em nenhum momento que se deva manter à distancia a esta pessoa e que se deve
tratá-la com suspicácia e desconfiança. Tal pessoa deve ser tratada com toda
simpatia em seu período de prova ajudando-a o e guiando-a. A comunidade cristã
nesse momento deve fazer tudo o que esteja a seu alcance para ajudar à pessoa a
que se redima e comece outra vez. Significa que não se deve tomar com ligeireza
a condição de membro da Igreja, e que as pessoas devem mostrar seu penitência
pelo passado e sua determinação para o futuro, não antes de ser recebido na
comunidade da Igreja, mas sim antes de ser recebido como membro dela. A
comunidade da Igreja existe para ajudar a estas pessoas a redimir-se a si
mesmos, mas o ser membros da Igreja é para aqueles que dedicaram suas vidas a
Cristo verdadeira e sinceramente.
BARCLAY. William. Comentário Bíblico. I Timóteo. pag.
129-133.
I Ped 5.1 Aqui
prossegue a linha de pensamento de 4.12-19. Como o julgamento de Deus irá
“começar pela casa de Deus” (4.17), os presbíteros destas congregações tinham
grande responsabilidade. Os presbíteros eram os líderes nomeados nas igrejas
(veja At 14.23; 20.17; 1 Tm 5.17,19;Tt 1.5,6); eles deveriam conduzir as igrejas
por meio do ensino das doutrinas sadias, ajudando os crentes a adquirirem
maturidade espiritual e equipando os crentes para viverem para Jesus Cristo,
apesar das oposições. Os presbíteros tinham grande responsabilidade, e esperava-se
que fossem bons exemplos. Pedro pediu como um presbítero também,
identificando-se, desta forma, com os outros líderes da igreja, embora tivesse
ainda mais autoridade por ser um dos apóstolos. Pedro tinha sido uma testemunha
das aflições de Cristo. Na verdade, ele não testemunhou a crucificação de
Cristo, porque ele tinha negado e desertado a Jesus; a palavra “testemunha”,
neste versículo, não significa “testemunha ocular”. Nem ele nem os demais presbíteros
tinham sido testemunhas oculares; no entanto, todos eles tinham sido convocados
para “testemunhar” (declarar ou noticiar) os sofrimentos de Cristo àqueles que
estivessem sob os seus cuidados. Como testemunhas, eles também poderiam
participar daqueles sofrimentos, “testemunhando-os” pessoalmente em sua própria
vida.
Mas eles compartilham
ainda mais, pois Pedro e os demais presbíteros, assim como todos os crentes,
serão participantes da glória de Cristo, que se há de revelar quando Ele
retornar. Pedro e os crentes estavam participando da glória de Cristo naquela época,
e eles também participarão desta glória quando ela for revelada, no último dia
(a Segunda Vinda).
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 732.
Os presbíteros (1)
eram obreiros maduros da igreja que agiam como supervisores; eles tinham
deveres administrativos e pastorais definidos. O contraste com os “jovens” (v.
5) indica uma forma simples de governo da igreja nos tempos de Pedro. Uma
administração sábia das obrigações da igreja é vital para a pureza e
preservação da Igreja, e mais ainda quando as perseguições impõem
responsabilidades peculiares para os líderes. Sou também presbítero. Pedro pode
ter considerado seu apostolado um tipo de responsabilidade de ancião em termos
mais amplos ou ele pode ter servido como ancião (presbítero) na igreja da
região onde morava. Com humildade ele refere-se ao seu apostolado, como
testemunha das aflições de Cristo. Ele tinha muito a dizer acerca das aflições
do seu Senhor. A descrição do seu ofício é a descrição que se espera de uma
pessoa santa. Não há auto-exaltação nem depreciação, nem qualquer alusão a
primazia, como alguns têm alegado em relação a Pedro.
Ele também era um
participante da glória que se há de revelar quando Cristo retomar à terra.
Pedro esteve no monte da Transfiguração e lá viu a glória do nosso Senhor. Ele
observou as provas gloriosas e infalíveis da sua ressurreição e ouviu a
promessa do anjo de que Cristo voltaria. Ele havia recebido uma comissão
especial que estava disposto a cumprir (cf. Lc 22.32; Jo 21.15-17); essa
epístola é prova disso.
Roy
S. Nicholson. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 10. pag. 242.
III -
OS DEVERES DO PRESBITÉRIO
1. Apascentar a
igreja.
A natureza e o
significado honrosos do cargo ou da função do presbítero ou bispo lhe confere
muitas responsabilidades. Seus deveres são inerentes às suas qualificações,
como foi visto no item I, deste comentário. A seguir, resumimos alguns desses
deveres, conforme indicam os textos bíblicos sobre o presbítero.
APASCENTAR A IGREJA
Os presbíteros, como
pastores, na igreja local, têm o dever de alimentar o rebanho de Cristo, com a
sã doutrina, que é o alimento puro, saudável e nutritivo para sua vida espiritual,
social, moral, familiar, como cidadão do céu e da terra. O apóstolo Pedro
exorta muito bem aos presbíteros quanto a esse dever primordial de sua missão:
“Apascentai o rebanho de Deus que está entre vós...” (1 Pe 5.2a).
CUIDAR DO REBANHO
Diz Pedro aos
presbíteros que devem apascentar “o rebanho de Deus”, “tendo cuidado dele, não
por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto;
nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao
rebanho” (1 Pe 5.2,3). Os cuidados pastorais com as ovelhas requer muita graça
e capacidade, concedidas por Deus. O presbítero deve ter a consciência de que
não é dono do rebanho. Ele cuida de ovelhas que pertencem ao Senhor Jesus e não
a ele.
1) Não “por força”.
Por isso, o presbítero, pastor ou bispo não tem o direito de usar “a força” ou
o autoritarismo para dirigir a igreja local. Já ouvimos de obreiro que,
aborrecido com alguma atitude de um ou outro crente, esbraveja, no púlpito:
“Aqui, quem manda sou eu; quem quiser pode sair”. Esse tipo de comportamento
revela um obreiro fracassado; que não tem autoridade nem competência para
cuidar do rebanho de Deus. O líder cristão não deve agir “por força”, mas pelo
poder do Espírito de Deus (cf. Zc 4.6).
2) “Mas
voluntariamente”. O trabalho do presbítero deve ser voluntário, ou espontâneo.
Não deve ser feito por obrigação imposta. Os obreiros que mais progridem em
seus ministérios e as igrejas sob seu cuidado crescem são aqueles que o fazem
por satisfação em servir. Quem serve voluntariamente enfrenta as lutas próprias
do ministério, mas não sofre tanto desgaste quanto aqueles que executam as
atividades “por obrigação”.
3) “Nem por torpe
ganância”. Uma das qualificações do presbítero ou bispo é não ser “cobiçoso de
torpe ganância” (Tt 1.7). E não ter apego “ao lucro desonesto”, ao uso indevido
dos recursos financeiros da igreja que dirige.
4) “Mas de ânimo
pronto”. Essa recomendação fala de disposição mental para servir à igreja, com
prontidão. Deus chamou Davi para ser rei, porque, entre suas qualidades
pessoais ele era “valente e animoso” (1 Sm 16.18). Uma das piores coisas para
uma igreja é um obreiro desanimado, sem coragem, sem interesse em ver a obra
crescer. Há obreiros que estão à frente de uma igreja, apenas para ter um
emprego, uma fonte de renda. Não deve ser indicado para presbítero um obreiro
sem ânimo.
5) “Nem como tendo
domínio sobre a herança de Deus”. É um terrível engano, quando o obreiro acha
que é dono da igreja local. Jesus não chama o obreiro para que ele “mande” na
igreja, mas para ser servo da igreja. Autoritarismo não faz parte da liderança
cristã. A resposta de Jesus ao desejo de grandeza (Mt 20.21) foi uma lição
eloquente para todos os líderes cristãos (Mt 20.25-28).
6) “Mas servindo de
exemplo ao rebanho”. O presbítero ou bispo deve ser um líder. E o verdadeiro líder
não é o que “manda”, mas o que vai à frente dos liderados. O Bom Pastor não
manda as ovelhas irem à frente. Ela vai “... adiante delas, e as ovelhas o
seguem, porque conhecem a sua voz” (Jo 10.4). O líder é o que influencia com
seu exemplo as ovelhas e elas o seguem para o seu objetivo.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 135-137.
A responsabilidade
pastoral desses presbíteros é descrita assim: apascentai o rebanho de Deus (2).
A palavra “pastorear” explica melhor o significado do original do que
apascentai. O dever do pastor é triplo: providenciar pasto, caminhos para o
pasto e proteção nos caminhos para o pasto. Portanto, o dever do pastor vai
além da pregação. O rebanho é a Igreja. Ela pertence a Deus como sua possessão
comprada. Em certa época seus membros eram como ovelhas desgarradas, mas elas
voltaram ao “Pastor e Bispo” da sua alma (cf. 2.25). O pastor deve instruir e
guiar o rebanho em obediência e sujeição à completa vontade de Deus. O cuidado
a ser exercido envolve três particularidades expressas de forma negativa e
positiva. 1) Quanto ao espírito desse serviço, ele não é por força, mas
voluntariamente. A liderança da igreja era tão perigosa naqueles dias que
poderia custar a vida do líder. Mesmo assim, ele não deveria fazer essa obra
relutantemente como se fosse um fardo ou considerá-lo como um dever
profissional obrigatório. Em vez disso, esse era um ministério para o qual Deus
o havia apontado e chamado e, por isso, deveria ser feito com obediência e
alegria. 2) A motivação dessa supervisão não deveria ser por torpe ganância,
mas de ânimo pronto — não como um mercenário que espera ganhar dinheiro. Os
presbíteros tinham o direito de esperar sustento material daqueles a quem
ministravam; mas sua motivação não deveria provir de um “amor ao ganho
constitucional”, que “é uma desqualificação para o ministério cristão”.90
Considere seu efeito em Judas Iscariotes! 3) Quanto à forma de supervisão, ela
não deve ser como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de
exemplo ao rebanho (3). Os líderes nunca devem ser tirânicos ou se esquecer dos
direitos das pessoas que lhes foram confiadas. Eles não devem dominar como o
arrogante Diótrefes (3 Jo 9-11), mas liderar pelo poder de uma vida santa. O
pastor nunca deve esquecer que ele não é o Sumo Pastor (4).
A compensação terrena
do líder pode ser insignificante, mas quando aparecer o Sumo Pastor (cf. 4.13),
ele terá a sua recompensa incorruptível (cf. 1.4,5), a coroa de glória, “a
felicidade do céu, o elemento principal de a vida de Deus ser derramada na alma
por meio de Cristo”;91 “uma participação perpétua na sua glória e honra”
(Bíblia Viva).
Roy
S. Nicholson. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 10. pag. 242-243.
I Ped 5.2,3 O
mandamento de Pedro para que os presbíteros apascentem o rebanho de Deus é uma
repetição das palavras que o Senhor Jesus disse ao próprio Pedro: “Apascenta as
minhas ovelhas” (Jo 21.16). A mesma palavra grega é usada nas duas passagens,
significando “guiar”, “atender”, “cuidar”, ou “pastorear”. O “rebanho” são os
crentes; os presbíteros tinham responsabilidades sobre as igrejas individuais
e, consequentemente, sobre uma certa parte do “rebanho” de Deus. Os presbíteros
deviam ser como pastores, que conduzem, orientam e protegem as ovelhas que
estão sob os seus cuidados. Os crentes precisariam de bons líderes quando enfrentassem
a perseguição. Esta
passagem descreve três possíveis problemas que os presbíteros poderiam enfrentar
e a maneira como deveriam agir: Motivação errada. Cuidar do rebanho não por força,
mas voluntariamente. Os presbíteros deviam servir em razão do amor que sentiam por
Deus. Pedro esperava que eles fizessem a vontade de Deus à sua maneira,
tentando agradar a Deus com fervor. Os pastores e os presbíteros devem servir
voluntariamente nas igrejas hoje. É frequentemente difícil obter uma lista de
candidatos para o cargo de presbítero devido à falta de disposição das pessoas
da congregação para servir.
Objetivos errados.
Cuidar do rebanho não por torpe ganância, mas de ânimo pronto. Em muitas das
igrejas, os presbíteros eram pagos pelos seus serviços; no entanto, esta remuneração
sozinha provavelmente não tornaria um presbítero rico. Esta tentação de ser
ambicioso provavelmente surgiu porque as finanças da igreja (o dinheiro
arrecadado para os pobres etc.) eram normalmente confiadas ao presbítero ou ao
bispo. A oportunidade de abusar da confiança era bastante real. Assim, tanto
Pedro como Paulo explicaram que os presbíteros devem receber um pagamento adequado
e precisam ser homens de confiança no que se refere ao dinheiro (veja 1 Tm 3.8;
5.17,18; Tt 1.7,11). Em vez de se concentrarem no dinheiro, os presbíteros deveriam
se concentrar no serviço. A palavra traduzida como “pronto” é muito forte em grego
e expressa grande zelo e entusiasmo. Hoje, os pastores recebem um pagamento para
servir, mas eles podem se tornar vítimas do desejo ambicioso por dinheiro. Não ter
dinheiro ou ter enormes quantias são situações que podem igualmente levar a muitas
preocupações financeiras.
Métodos errados.
Cuidar do rebanho não como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo
de exemplo ao rebanho. Os presbíteros lideram pelo exemplo, e não pela força.
“Tendo domínio” significa “dominando ou sujeitando pela força”. Os presbíteros
também devem resistir à tentação de abusar da sua autoridade e prejudicar a igreja
que está sob os seus cuidados. A fórmula que Jesus usava sempre era que aqueles
que lideram devem ser os melhores servos (Mc 10.42-45). Os líderes devem ser
exemplos de humildade e de servilismo. Os líderes não devem intimidar nem
coagir as pessoas.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 732-733.
Aqui podemos
observar:
I As pessoas a quem
são dadas essas orientações – aos presbíteros, pastores e líderes espirituais
da igreja, presbíteros e anciãos por ofício, e não por idade, ministros daquelas
igrejas às quais escreve esta epístola. n A pessoa que faz essa exortação - o
apóstolo Pedro:
“...admoesto eu”. E,
para reforçar essa exortação, ele lhes diz que é presbítero com eles, e assim
não impõe nada a eles que ele não esteja disposto a fazer também. Ele é também
“...testemunha das aflições de Cristo”, tendo estado com Ele no jardim,
acompanhando-o ao palácio do sumo sacerdote, e muito provavelmente tendo sido
testemunha do seu sofrimento na cruz, à distância, entre a multidão (At 3.15).
Ele acrescenta que é também “...participante da glória” que em certa medida foi
revelada na transfiguração (Mt 17.1-3), e vai ser completamente desfrutada na
segunda vinda de Jesus Cristo. Aprenda: 1. Aqueles cujo ofício é ensinar a outros
devem cumprir atentamente seu próprio dever, assim como ensinam ao povo o dever
deste. 2. Como eram diferentes o espírito e o comportamento de Pedro do
espírito e do comportamento dos seus pretensos sucessores! Ele não ordena e
manda, mas exorta. Ele não reivindica soberania sobre todos os pastores e
igrejas, nem se intitula príncipe dos apóstolos, vigário de Cristo ou cabeça da
igreja, mas se apresenta como presbítero. Todos os apóstolos eram presbíteros,
ou anciãos, embora nem todo presbítero fosse apóstolo. 3. Foi uma honra peculiar
de Pedro e de alguns mais serem testemunhas dos sofrimentos de Cristo; mas é
privilégio de todos os verdadeiros cristãos serem participantes da glória que há
de ser revelada.
A descrição do dever
do pastor, e a maneira em que esse dever precisa ser cumprido. O dever do
pastor é tríplice: 1. “...apascentai o rebanho...”, por meio da pregação
honesta da palavra de Deus ao rebanho, e ao conduzi-lo de acordo com as
orientações e a disciplina que são prescritas pela palavra de Deus, que estão ambas
incluídas nessa expressão: Apascentai o rebanho.. 2. Os pastores do rebanho
precisam ter a supervisão dele, o seu cuidado. Os presbíteros são exortados a fazer
o seu trabalho de bispos (que é o significado da palavra), por meio do cuidado
pessoal e da vigilância sobre todos que no rebanho estão comprometidos ao seu
cuidado. 3. Eles precisam ser “...exemplo ao rebanho”, e praticar a santidade,
a autonegação, a mortificação e todos os deveres cristãos, que eles pregam e
recomendam ao seu povo. Esses deveres precisam ser realizados “...não por
força”, não porque você tem de fazê-los, não por compulsão de um poder civil,
ou pela coação do medo ou da vergonha, mas de uma mente voluntária que tem prazer
na obra. Não “...por torpe ganância”, ou por algum lucro ou proveito
relacionados ao lugar em que você reside, ou de uma prerrogativa relativa ao
ofício, “...mas de ânimo pronto”, considerando o rebanho mais do que a lã,
sincera e alegremente se empenhando para servir à igreja de Deus. “...nem como
tendo domínio sobre a herança de Deus”, agindo como tirano sobre o rebanho por compulsão
ou força coerciva, ou impondo invenções humanas ou não-bíblicas a ele em vez
dos deveres necessários (Mt 20.25,26; 2 Co 1.24). Aprenda: (1) A dignidade eminente
da igreja de Deus e de todos os seus verdadeiros membros. Esses cristãos
pobres, dispersos e sofredores eram o rebanho de Deus. O restante do mundo é uma
manada irracional. Esses constituem um rebanho pacífico e ordeiro, redimido
para Deus pelo grande Pastor, vivendo em santo amor e comunhão uns com os
outros, segundo a vontade de Deus. Eles são também dignificados com o título de
herança de Deus, sua porção peculiar, escolhidos dentre a multidão comum para
ser seu povo, para desfrutar do seu favor especial e para fazer para Ele um
serviço especial. No Novo Testamento, a palavra nunca é restrita aos ministros
da religião. (2) Os pastores da igreja devem considerar o seu povo o rebanho de
Deus, a herança de Deus, e tratá-lo de acordo com isso. Não são seus, para
serem dominados segundo o seu prazer; mas são povo de Deus, e devem ser
tratados com amor, mansidão e ternura, por causa daquele a quem pertencem. (3)
Aqueles ministros que são forçados ao trabalho por necessidade ou atraídos a
ele por torpe ganância não podem realizar o seu dever como deveriam, porque não
o fazem voluntariamente e com disposição. (4) A melhor forma que um ministro
pode usar para obter o respeito das pessoas é cumprir o seu próprio dever entre
elas da melhor maneira que puder, e ser um constante exemplo a elas de tudo que
é bom.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 882.
2. Liderar a igreja
local.
O presbítero ou bispo
tem o dever de cuidar “da Igreja de Deus” (1 Tm 3.5). Para tanto, precisa saber
“governar a sua própria casa” (1 Tm 3.4). Daí, deduz-se que um dos seus deveres
é “governar” (cf. 1 Tm 5.17a) ou liderar a igreja local.
ENSINAR A IGREJA
O presbítero como
homem mais experiente tem o dever de ser um ensinador na igreja local. “Os
presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra,
principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina (1 Tm 5.17 — grifo
nosso).
PRESERVAR A IGREJA
CONTRA OS ERROS
Em todos os tempos,
as igrejas foram alvo das heresias e dos falsos ensinos. Nos tempos presentes,
não é diferente. Multiplicam-se como ervas daninhas os ensinos distorcidos, os
modismos e as práticas estranhas à ortodoxia bíblica. O presbítero, como líder
do rebanho, deve preservar a igreja local das investidas dos falsos mestres,
“...retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja
poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina como para convencer os
contradizentes” (Tt 1.9; 1 Tm 4.1).
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 137.
O DEVER DE REPREENDER
1 Timóteo 5:1-2
Sempre é muito
difícil repreender a outro com afabilidade; e a Timóteo algumas vezes
corresponderia uma tarefa duplamente difícil — a de repreender uma pessoa mais
velha que ele.
Crisóstomo escreve:
"A reprimenda ofende por natureza, em particular quando a dirige a uma
pessoa mais velha; e quando provém de um homem jovem também, há uma tripla
amostra de atrevimento. Deverá suavizá-la, portanto, com o modo e benignidade
da mesma. Porque é possível repreender sem ofender, se tão somente se cuida
nisso; requer uma grande discrição, mas pode-se fazer."
Sempre é problemático
censurar e repreender. Podemos detestar tanto a tarefa de advertir a alguém que
a evitemos por completo. Muitas pessoas se teriam salvado de cair na aflição ou
na desgraça, se alguém lhes tivesse advertido ou repreendido a tempo. Não pode
haver nada mais terrível na vida que escutar a alguém que nos diga o seguinte:
"Nunca teria chegado a isto, se você me tivesse falado a tempo." É um
equívoco evitar a palavra que se devia pronunciar.
Podemos censurar e
repreender a uma pessoa de tal forma que não haja nada mais que irritação em
nossa voz e amargura em nossas mentes e corações. Uma reprimenda dada com ira,
em tal forma que pareça provir do rechaço, do chateio, do desprezo, do desgosto
pode produzir medo; pode ferir e faz doer; mas quase inevitavelmente produzirá
ressentimento; e seu efeito final poderá ser simplesmente o de confirmar a
pessoa equivocada no erro de seu caminho. A repreensão irada e a reprimenda que
rechaça e despreza são raramente efetivos, e o mais provável é que causem mais
mal que bem.
Diz-se que Florence
Allshorn, a grande mestra missionária, quando era diretora de um colégio de
senhoritas, sempre repreendia a suas alunas, quando era necessário, como se as
estivesse abraçando. Só a reprimenda que provém do amor é efetiva. Se alguma
vez tivermos razão para repreender a alguém, devemos fazê-lo de tal maneira que
esclareçamos que o fazemos, não porque o desejamos, mas sim porque somos
obrigados pelo amor, e porque queremos ajudar e não ferir.
AS RELAÇÕES DA VIDA
1 Timóteo 5:1-2
(continuação)
Estes dois versículos
estabelecem o espírito que deveriam exibir as diferentes relações das distintas
idades da vida.
(1) Devemos tratar as
pessoas mais velhas com afeto e respeito. Deve-se tratar o homem mais velho
como a um pai, e a mulher mais velha como uma mãe. O mundo antigo conhecia bem
a deferência e o respeito que se deviam à idade.
Cícero escreve:
"Portanto, é o
dever do homem jovem demonstrar deferência para com seus superiores,
vincular-se ao melhor e ao mais digno deles, para receber o benefício de seus
conselhos e influências. Porque a inexperiência da juventude requer da
sabedoria prática da idade para ser fortalecida e dirigida. E esta época da
vida deve ser protegida sobre todas as coisas da sensualidade e deve ser
treinada no trabalho e na resistência da mente e do corpo, para poder estar
forte para a tarefa ativa no serviço militar e civil. E mesmo quando queiram
relaxar suas mentes e entregar-se à alegria, deveriam estar atentos aos
excessos e ter em mente as regras da modéstia. E isto será mais fácil, se os
jovens estiverem de acordo com que seus superiores estejam com eles, até em
seus prazeres" (Cícero, De Officis, 1:34).
Aristóteles escreve:
"Também deve-se render honras a todas as pessoas maiores de acordo com sua
idade, levantando-se para recebê-los e lhes buscando assento e demais."
(Aristóteles, Etica nicomaquea, 9:2).
Uma das coisas mais
terríveis da vida é que a juventude muitas vezes tende a considerar os anciãos
como uma moléstia. Deve-se dar sempre à velhice o respeito e o afeto devido,
àqueles que viveram por longo tempo e andaram muito pelo caminho da vida e da
experiência. Uma famosa frase francesa diz como num suspiro: "Se só a
juventude tivesse o conhecimento, se só a velhice tivesse a força." Mas
quando existe um respeito e um afeto mútuos, então a sabedoria e a experiência
da idade podem cooperar com a força, o espírito aventureiro e o entusiasmo da juventude,
para grande benefício de ambos.
(2) Devemos mostrar
fraternidade a nossos contemporâneos. Os homens jovens devem ser tratados como
irmãos. Aristóteles diz: "Dever-se-ia-se permitir que os camaradas e os
companheiros tivessem liberdade de expressão e utilização em comum de todas as
coisas" (Aristóteles, Etica nicomaquea, 9:2). Deve haver tolerância e se
devem compartilhar as cotas com nossos contemporâneos. Os cristãos nunca
poderão ser estranhos uns dos outros; devem ser irmãos no Senhor.
(3) As relações para
com aqueles do sexo oposto devem distinguir-se pela sua pureza. Os árabes têm
uma frase para descrever um cavaleiro. Chamam-no: "Irmão das jovens".
Há uma frase famosa que fala da "amizade platônica". Deve-se reservar
o amor para uma pessoa; é algo temível que o físico domine a relação entre os
sexos, e que um homem não possa olhar a uma mulher sem pensar em seu corpo.
Deve existir uma fraternidade de mente e coração entre o povo de Cristo, limpa
de todo desejo e assegurada pela classe mais alta de mútuo amor cristão.
BARCLAY. William. Comentário Bíblico. I Timóteo. pag. 117-119.
I Tim 3.2 —
Irrepreensível significa alguém não sujeito a punição ou repreensão. A ideia
não é que um bispo ou ministro não cometa mais pecado, mas, sim, que mostre uma
conduta cristã madura e consistente que não dá margem para vir a ser acusado de
algum erro grave. O sentido literal de marido de uma mulher é o tipo de homem
de uma só mulher. Essa expressão tem sido interpretada como uma forma de
excluir do cargo todos os que sejam imorais ou polígamos, ou como referência
específica àqueles que se casem novamente após uma separação ou divórcio. É uma
qualificação também para os diáconos (v. 12). Sóbrio significa sem bebida, lúcido;
significa ter controle do próprio corpo e da mente. E um estado de espírito de
equilíbrio, resultante de autocontrole. Honesto significa sincero e
disciplinado. Hospitaleiro significa que recebe bem os estranhos. A casa de um
ministro cristão deve estar aberta aos propósitos do ministério.
Apto para ensinar
também poderia ser traduzido por qualificado para ensinar ou que se dispõe a
ensinar. Uma vez que tem a ver com caráter, parece melhor entender essa
qualificação como de alguém que se dispõe a ensinar, como uma necessidade para
o homem de Deus (1 Timóteo 5.17; 2 Timóteo 2.24; Tito 1.9 mostram a exigência de
o presbítero ser capaz de ensinar).
I Tim 3.3 — Não dado
ao vinho significa não viciado em bebida alcoólica. Não espancador tem sido
traduzido também por não violento. O bispo ou presbítero não deve ser propenso
a briga, a violência e a querer agredir fisicamente as pessoas. Não cobiçoso de
torpe ganância. Não deve ter uma atitude egoísta em relação ao dinheiro ou aos
bens. Isso é também uma advertência para os líderes de igrejas quanto à devida
administração das finanças da casa de Deus.
Não contencioso
significa que não discute, não cria problemas; é a qualidade do homem pacífico.
O bispo ou presbítero
deve contender pela fé, sem ser contencioso. Não avarento significa
literalmente que não ama a prata (1 Tm 6.9). Observe que essa é a segunda
advertência aqui sobre dinheiro.
Alguns presbíteros em
Éfeso estavam recebendo ajuda financeira para o ministério (1 Tm 5.17,18).
Paulo os exorta para que não deixem que o desejo de obter seu ganho se tome sua
maior prioridade.
I Tim 3.4 — Governe
significa que se coloque diante de, ou administre.
A sua própria casa. O
presbítero deve administrar bem sua própria família. Seus filhos devem
submeter-se à sua liderança com modéstia e respeito. I Tim 3.5 — Se um ministro
for incapaz de governar a própria família, não terá cuidado devidamente de sua
igreja. Ao passar de governar para ter cuidado, Paulo enfatiza o carinho do
presbítero em sua função de apascentar a igreja local.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário
Bíblico Novo Testamento com
recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 594.
Mt 20 25-28. Aqui
estão a repreensão e a instrução que Cristo deu aos outros dez discípulos,
diante do desprazer que demonstraram pelo pedido de Tiago e João. O Senhor teve
de suportar muitas fraquezas por parte de todos eles, que eram muito fracos no
conhecimento e na graça; no entanto, Ele os suportou com amor.
1. A irritação
causada aos dez discípulos (v. 24):
“Indignaram-se contra
os dois irmãos” ; não porque desejassem ser preferidos antes deles - que foi o
pecado de Tiago e João, pelo qual Cristo se entristeceu - , mas porque queriam
ter a honra para si mesmos, o que revelava descrédito em relação aos dois
irmãos. Muitos parecem ter uma indignação pelo pecado; porém, não a sentem pelo
pecado em si, mas porque tal pecado os toca. Eles se indignarão contra um homem
que amaldiçoa; mas somente o farão se ele lhes amaldiçoar, e lhes afrontar, não
porque tal homem esteja desonrando a Deus. Esses discípulos estavam com raiva
da ambição de seus irmãos, embora eles mesmos fossem igualmente ambiciosos. E
comum que as pessoas se enfureçam com os pecados dos outros, os quais elas
permitem e toleram em si mesmas. Aqueles que são orgulhosos e cobiçosos não gostam
de ver outros assim. Nada causa mais dano entre irmãos, ou é a causa de mais
indignação e contenda, do que a ambição e o desejo de grandeza. Nós nunca
encontramos os discípulos de Cristo discutindo; mas eles enfrentaram uma
situação de contenda essa ocasião.
2. A correção que
Cristo lhes fez foi muito suave, por meio da instrução sobre o que eles
deveriam ser, e não por meio da repreensão pelo que eles eram. Ele havia reprovado
esse mesmo pecado antes (cap. 18.3), e lhes dissera que deveriam ser humildes
como crianças pequenas; o entanto, eles reincidiram nesse pecado, mas Cristo os
repreendeu de forma moderada. “Então, Jesus, chamou-os para junto de si”, o que
sugere um grande carinho e familiaridade. Ele não lhes ordenou, com raiva, que
saíssem de sua presença, mas os chamou, com amor, para virem à sua presença.
Ele está sempre pronto a ensinar, e nós somos convidados a aprender dele,
porque ele é “manso e humilde de oração”.
O que Ele tinha a
ensinar dizia respeito tanto aos dois discípulos como aos outros dez; portanto,
ele reúne todos. E lhes diz que enquanto estavam perguntando qual deles deveria
ter o domínio em um reino temporal, não havia realmente tal domínio reservado
para nenhum deles. Porque: (1) Eles não deveriam ser como os “príncipes dos gentios”.
Os discípulos de Cristo não deveriam ser como os gentios, nem como os príncipes
dos gentios. O principado não torna ninguém ministro, da mesma forma que o
“gentilismo” não torna ninguém cristão.
Observe: [1] Qual é a
maneira dos príncipes dos gentios (v. 25): exercer domínio e autoridade sobre
aqueles que lhes são sujeitos (mesmo que só possam alcançar o domínio com mão
forte), e uns sobre os outros também. O que os sustenta nessa posição é que
eles são grandes, e os homens grandes acham que podem fazer qualquer coisa.
Domínio e autoridade são as grandes coisas que os príncipes dos gentios
procuram, e de que se orgulham; eles deteriam o poder, venceriam todas as
dificuldades, teriam todos sujeitos a si, e todo feixe inclinado ao deles. Eles
queriam ter a seguinte proclamação diante de si: “Inclinai-vos”; como
Nabucodonosor, que matava, e deixava viver, ao seu bel-prazer. [2] Qual é a
vontade de Cristo com relação aos seus apóstolos e ministros, nesta questão. Em
primeiro lugar: ‘“Não será assim entre vós’. A constituição do reino espiritual
é bem diferente dessa. Deveis ensinar os súditos desse reino, instruí-los e
exortá-los, aconselhá-los e consolá-los, esforçarem-se com eles, e sofrer com
eles, não exercer domínio e autoridade sobre eles; não ter ‘domínio sobre a
herança de Deus’ (1 Pe 5.3), mas trabalhar em benefício dela” . Isto proíbe não
só a tirania e o abuso de poder, mas a reivindicação ou o uso de qualquer
autoridade secular, como os príncipes dos gentios legitimamente exercem. E tão
difícil para os homens vaidosos, mesmo para os homens bons, terem tal
autoridade, e não ficarem envaidecidos com ela, e fazerem mais mal do que bem
com ela, que nosso Senhor Jesus considerou necessário bani-la totalmente da
igreja. Até mesmo o apóstolo Paulo rejeita o domínio sobre a fé de qualquer
pessoa (2 Co 1.24). A pompa e a grandeza dos príncipes dos gentios não convém
aos discípulos de Cristo. Então, se o poder e a honra não foram planejados para
estar na igreja, era uma insensatez deles estarem disputando quem deveria
tê-los. Eles não sabiam o que pediam.
Em segundo lugar,
então qual será o relacionamento entre os discípulos de Cristo? O próprio
Cristo havia sugerido uma grandeza entre eles, e aqui Ele explica: “Todo aquele
que quiser, entre vós, fazer-se grande, que seja vosso serviçal; e qualquer
que, entre vós, quiser ser o primeiro, que seja vosso servo” (w. 26,27).
Observe aqui: 1. Que é dever dos discípulos de Cristo servirem uns aos outros,
para a edificação mútua. Isto inclui tanto a humildade como a utilidade. Os
seguidores de Cristo devem estar prontos a se submeter aos ofícios de amor mais
inferiores para o bem mútuo; devem ser sujeitos uns aos outros (1 Pe 5.5; Ef
5.21), para a edificação de uns para com os outros (Rm 14.19), agradar ao seu
próximo para o bem (Rm 15.2). O grande apóstolo se comportou como servo de
todos (veja 1 Co 9.19). 2. A dignidade dos servos de Cristo está relacionada ao
fiel cumprimento dessa obrigação. O modo de ser grande, e o primeiro, é ser
humilde e servil. Esses serão mais considerados e mais respeitados na igreja, e
será assim para todos aqueles que entenderem as coisas de forma correta. Os
mais honrados não são aqueles que são dignificados com nomes elevados e
poderosos, como os nomes dos grandes na terra, que aparecem em pompa, e assumem
para si mesmos um poder proporcional; os mais honrados serão aqueles que forem
mais humildes e que mais renunciarem a si mesmos, aqueles que mais planejarem fazer
o bem, embora diminuam a si mesmos. Esses honram mais a Deus, e a esses Ele
honrará. Assim como o que quer ser sábio deve se fazer de tolo, quem quiser ser
o primeiro deverá se comportar como servo. O apóstolo Paulo foi um grande
exemplo disso; ele trabalhou mais abundantemente do que todos, tornou- se (como
diriam alguns) um escravo do seu trabalho. E ele não é o primeiro? Não o
chamamos por unanimidade de “o grande apóstolo”, embora ele se autodenomine o
menor entre os menores? E talvez o nosso Senhor Jesus estivesse pensando em
Paulo quando disse: “Haverá derradeiros que serão primeiros”; porque Paulo nasceu
fora do tempo devido, como um abortivo (1 Co 15.8); ele não foi apenas o filho
mais novo da família dos apóstolos, mas, póstumo, tornou-se o maior dentre
eles. E talvez fosse para ele que o primeiro posto de honra no reino de Cristo
estivesse reservado e preparado por Deus Pai, e não para Tiago e João, que o
buscaram. Portanto, antes de Paulo começar a ser famoso como um apóstolo, a
Providência o ordenou, de forma que Tiago foi excluído (At 12.2), para que, no
colegiado dos doze, Paulo pudesse ser o seu substituto. (2) Eles devem ser como
o próprio Mestre; e é muito apropriado que eles o fossem, pois, enquanto
estivessem no mundo, deveriam ser como Ele foi quando estava no mundo. Porque
para ambos o estado atual é um estado de humilhação; a coroa e a glória estavam
reservadas para ambos no estado futuro. Eles precisavam considerar que “o Filho
do Homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a sua vida em resgate
de muitos” (v. 28). O nosso Senhor Jesus aqui se coloca diante dos seus
discípulos como um padrão de duas qualidades anteriormente recomendadas: a
humildade e a utilidade.
[1] Nunca houve um
exemplo de humildade e condescendência como houve na vida de Cristo, que não
veio para “ser servido, mas para servir”. Quando o Filho de Deus entrou no
mundo - o Embaixador de Deus para os filhos dos homens alguém poderia pensar
que Ele deveria ser servido, que deveria ter se apresentado em um aparato que
estivesse de acordo com a sua pessoa e caráter; mas Ele não fez isso; Ele não
agiu como uma celebridade, Ele não teve nenhum séquito pomposo de servos de
Estado para servi-lo, nem se vestiu em túnicas de honra, porque tomou sobre si
a “forma de servo”. Ele, na verdade, viveu como um homem pobre, e isto fez
parte da sua humilhação. Houve pessoas que o serviram com as “suas fazendas”
(Lc 8.2,3); mas Ele nunca foi servido como um grande homem. Ele nunca tomou a
pompa sobre si, não foi servido em mesas, como um dos grandes deste mundo.
Jesus, certa vez, lavou os pés dos seus discípulos, mas nunca lemos que eles
tenham lavado os pés dele. Ele veio para ajudar a todos quantos estivessem em
aflição. Ele se fez servo para os doentes e debilitados; estava pronto para
atender aos seus pedidos como qualquer servo estaria pronto para atender à
ordem do seu senhor, e se esforçou muito para servi-los. O Senhor Jesus serviu
continuamente visando este fim, negando a si até mesmo o alimento e o descanso
para cumprir essa tarefa. [2] Nunca houve um exemplo de beneficência e
utilidade como houve na morte de Cristo, que “deu a sua vida em resgate de
muitos”. Ele viveu como um servo, e fez o bem; mas morreu como um sacrifício, e
com isso Ele fez o maior bem de todos. Ele entrou no mundo com o propósito de
dar a sua vida em resgate; isto estava primeiro em sua intenção. Os aspirantes
a príncipes dos gentios fizeram da vida de muitos um resgate para a sua própria
honra, e talvez um sacrifício para a sua própria diversão. Cristo não age
assim; o sangue daqueles que lhe são sujeitos é precioso para Ele, e Ele não é
pródigo nisso (SI 72.14); mas, ao contrário, Ele dá a sua honra e a sua vida como
resgate pelos seus súditos. Note, em primeiro lugar, que Jesus Cristo
sacrificou a sua vida como um resgate. A nossa vida perdeu o direito nas mãos
da justiça divina por causa do pecado. Cristo, entregando a sua vida, fez a
expiação pelo pecado, e assim nos resgatou. Ele foi feito “pecado” e uma
“maldição” por nós, e morreu, não só para o nosso bem, mas “em nosso lugar” (At
20.28; 1 Pe 1.18,19). Em segundo lugar, foi um resgate por muitos. Ele foi
suficiente para todos, mas eficaz para muitos; e se foi eficaz para muitos,
então diz a pobre alma
duvidosa: “Por que não por mim?” Foi por muitos, para que por ele muitos
pudessem ser feitos justos. Esses muitos eram a sua semente, pela qual a sua
alma sofreu (Is 53.10,11). “De muitos”, assim eles serão quando forem reunidos,
embora parecessem então um pequeno rebanho.
Então esse é um bom
motivo para não disputarmos a precedência, porque a cruz é a nossa bandeira, e
a morte do nosso Senhor é a nossa vida. Esse é um bom motivo para pensarmos em
fazer o bem, e, em consideração ao amor de Cristo ao morrer por nós, não
hesitarmos em “sacrificar as nossas vidas pelos irmãos” (1 Jo 3.16). Os
ministros devem estar mais ansiosos do que os outros para servir e sofrer pelo
bem das almas, como o bendito apóstolo Paulo estava (At 20.24; Fp 2.17). Quanto
mais interessados, favorecidos e próximos estivermos da humildade e da
humilhação de Cristo, mais prontos e cuidadosos estaremos para imitá-las.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 260-262.
Mt 20.24,25 Os outros
dez discípulos indignaram-se com o fato de que Tiago e João tivessem tentado
usar o seu relacionamento com Jesus para obter as posições mais altas. Por que
tanta ira? Provavelmente porque todos os discípulos desejassem honra no reino.
Talvez Pedro, dominado pelo seu gênio, estivesse liderando os dez discípulos
indignados, pois ele era o terceiro, juntamente com Tiago e João no grupo mais próximo
a Jesus. Isto provavelmente parecia como um verdadeiro desprezo a ele. As
atitudes dos discípulos degeneraram em pura inveja e rivalidade.
Jesus imediatamente
corrigiu suas atitudes, pois eles nunca realizariam a missão para a qual tinham sido
chamados se não amassem e servissem uns aos outros, trabalhando juntos para o
bem do reino. Assim, Jesus pacientemente reuniu os seus discípulos e explicou-lhes
a diferença entre os reinos que eles viam no mundo e o reino de Deus, que eles
ainda não tinham experimentado.
Os reinos dos gentios
(um exemplo óbvio era o império romano) têm líderes que dominam o povo,
exercendo autoridade e exigindo submissão (veja 1 Pedro 5.1-3).
Nos reinos gentios, a
grandeza das pessoas depende da sua posição social ou do nome da família. Mas
Jesus explicou que o seu reino seria completamente diferente.
Mt 20.26-28 Em uma
frase, Jesus ensinou a essência da verdadeira grandeza: Todo aquele que quiser,
entre vós, fazer-se grande, que seja vosso serviçal. A grandeza é determinada
pelo serviço.
O verdadeiro líder
coloca as suas necessidades em último lugar, como Jesus exemplificou na sua vida
e na sua morte. Ser um “servo” não significa ocupar uma posição servil, mas sim
ter uma atitude na vida que atende livremente às necessidades dos outros sem
esperar nem exigir nada em troca. Os líderes que são servos apreciam o valor
dos outros e percebem que não são superiores a ninguém; eles também entendem
que o seu trabalho não é superior a nenhum outro trabalho. Procurar honra,
respeito e atenção dos outros vai em direção contrária às exigências de Jesus
para os seus servos. Jesus descreveu a liderança a partir de uma nova
perspectiva. Ao invés de usar as pessoas, nós devemos servi-las.
A missão de Jesus era
servir aos outros e dar a sua vida por eles. Um verdadeiro líder tem o coração
de um servo. Os discípulos devem estar dispostos a servir porque o seu Mestre deu
o exemplo. Jesus explicou que Ele não veio para ser servido, mas para servir a
outros. A missão de Jesus era servir — em última análise, dando a sua vida para
salvar a humanidade pecadora. A sua vida não foi “tomada”, Ele a “deu”,
oferecendo-a como sacrifício pelos pecados do povo. Um resgate era o preço pago
para libertar um escravo da escravidão. Jesus pagou um resgate por nós, e o
preço exigido foi a sua vida. Jesus tomou o nosso lugar, Ele morreu a morte que
nós mereceríamos.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 123-124.
.A Ambição Pessoal de
Tiago e João (20.20-28)
Em Marcos 10.35-45, a
outra passagem onde esse episódio está registrado, foi dito que Tiago e João
fizeram o pedido. Aqui é a mãe, com seus filhos (20). Obviamente, o pedido foi
feito juntamente, pelos três. Nesse ponto, Mateus abandona a sua prática
habitual, e se torna mais específico do que Marcos. Adorando-o significa
inclinando-se perante Ele.
O pedido era que os
dois filhos pudessem se sentar, um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu
Reino (21). Depois do segundo anúncio da Paixão, os discípulos haviam
perguntado: “Quem é o maior no Reino dos céus?” (18.1). Jesus havia respondido
colocando uma criança no meio deles e dizendo: “Aquele que se tornar humilde
como esta criança, esse é o maior no Reino dos céus” (18.4). O presente episódio
mostra como era profunda a falta de entendimento deles sobre essa verdade,
assim como sobre os ensinos ministrados por Jesus a respeito de sua Paixão, que
se aproximava. Eles haviam deixado de entender totalmente o espírito do seu
Mestre. Ainda estavam pensando no estabelecimento de um reino terreno. E já
haviam decidido quem deveria ser o “maior” no reino, embora ainda não soubessem
quem deveria se sentar à direita - lugar da mais elevada honra - e quem se
sentaria à esquerda.
A resposta de Jesus
foi clara: Não sabeis o que pedis (22). Algumas pessoas estão sempre procurando
os privilégios de uma posição, sem reconhecer as responsabilidades envolvidas.
Aqueles que estiverem mais próximos de Cristo irão sofrer mais. Será que
desejavam ser pendurados em uma cruz, ao Seu lado? Não haveria quem rivalizasse
com eles para essas posições! No entanto, quando o Senhor perguntou: Podeis vós
beber o cálice que eu hei de beber? Eles responderam de forma alegre e
inocente: Podemos. Beber o cálice era uma figura muito conhecida dos judeus
(cf. SI 75.8). Williams diz: “Aqui, o cálice significa os sofrimentos
interiores, mentais e espirituais, que Cristo suportou (cap. 26.39, 42)”.
O Mestre advertiu os
seus dois discípulos: Na verdade bebereis o meu cálice35 (23). Tiago foi o
primeiro dos apóstolos a ser martirizado (At 12.2). Em relação aos últimos dias
de João existem muitas lendas, mas nada se sabe ao certo, exceto que ele sofreu
na ilha de Patmos (Ap 1.9).
Jesus acrescentou que
não lhe competia atribuir assentos à Sua direita e à Sua esquerda, mas estes
lugares são reservados ...para aqueles para quem meu Pai o tem preparado.
Isso parece ser uma
negação de autoridade da parte de Cristo. E mais provável que nessa passagem
mas {alia) signifique “exceto” {ei me), como aceito por Blass-Debrunner36 e J.
H. Moulton. Dessa maneira, essa passagem pode ser assim entendida: “Não me
compete dar estes lugares a alguém, exceto àqueles a quem Deus planejou
concedê-los”. Isso não significa nenhum favoritismo, mas que os lugares no
Reino Messiânico serão dados a cada um de uma forma justa, e de acordo com um
critério pré-estabelecido.
Quando os outros dez
apóstolos perceberam o que Tiago e João haviam feito, eles indignaram-se contra
os dois irmãos (24). Esse verbo significa “rebelar-se, indignar- se, irar-se”.
Eles se ofenderam porque os dois filhos de Zebedeu estavam tentando “alcançar
uma posição” superior à deles. Mas, infelizmente, não existem provas de que
seus motivos fossem mais puros do que os demonstrados pelos dois irmãos.
Jesus reuniu os doze
discípulos, e os preveniu de que as políticas de seu Reino eram diferentes
daquelas dos governos terrenos. Ele lembrou que pelos príncipes dos gentios são
estes dominados e que os grandes exercem autoridade sobre eles (expressão
encontrada apenas aqui e na passagem paralela em Marcos 10.42). O verbo exercem
autoridade talvez possa significar “tiranizar sobre alguém”.
Mas não seria assim
entre os seguidores de Cristo (26). Em uma escala ascendente, Jesus diz
primeiramente que todo aquele que quiser ser grande, deve ser um serviçal. Essa
palavra corresponde a diakonos, de onde se originou a palavra “diácono”. Em
segundo lugar, quem quiser ter algum destaque deve, antes de mais nada, ser
servo (27) - literalmente, “escravo”. Isso ilustra o antigo ditado: “Para
subir, é preciso descer”. Aquele que se tornar servo de todos, será glorificado
e elevado por todos.
O versículo 28
representa uma grande passagem teológica. Jesus declarou que o Filho do Homem
não veio para ser servido (diakonethenai), mas para servir (diakonesai), e para
dar a sua vida em resgate de muitos. A palavra para vida é psyché. Resgate é
lytron (somente aqui e em Marcos 10.45), e vem de lyo, “libertar”. Ela
significa “preço da liberdade, resgate (especialmente o dinheiro do resgate
para a alforria dos escravos...)”. Esse uso está bastante ilustrado nos
papiros, como mostrou Adolf Deissmann. Ele cita três documentos em papiros
datados de 86, 100 e 107 (ou 91) d.C. que usam essa palavra com esse sentido.
Seu comentário é o seguinte: “Mas quando alguém ouvia a palavra grega lystron,
ou “resgate”, no primeiro século era natural que pensasse no dinheiro
necessário para comprar a alforria de um escravo”.
Em resgate de (anti)
muitos. O significado comum da preposição grega usada nesta expressão nos
papiros daquele período era “ao invés de”.42 Essa conotação está claramente
evidente nas outras duas passagens em Mateus, onde essa palavra ocorre. Em 2.22
lemos que Arquelau reinava “em lugar de” (anti) seu pai, Herodes. Ele havia
tomado o seu lugar. Em 5.38 ouvimos a expressão olho “por” (anti) olho e dente
“por” (anti) dente. Obviamente, isso significa um olho retirado “em lugar de”
um outro olho, e um dente retirado “em lugar de” um outro dente. De alguma
forma misteriosa, que só é conhecida por Deus, Cristo deu a sua vida em
resgate, “em lugar de muitos”, para libertá-los da escravidão do pecado e para
salvá-los da condenação eterna.
O uso da palavra
muitos, neste contexto, não nega o fato de que Cristo morreu por todos. Em 1
Timóteo 2.6, Paulo escreve que Cristo Jesus “deu a si mesmo em preço de
redenção [antilytron] por [hyper] todos”. Cristo morreu por todos, mas muitos
foram salvos como resultado de sua morte.
Sob o título
“Verdadeira Grandeza” podemos pensar: 1) No preço da grandeza - Podeis vós
beber o cálice... e ser batizados com o batismo...? 2) Na prática da grandeza -
Todo aquele que quiser, entre vós, fazer-se grande, que seja vosso serviçal; 3)
No padrão de grandeza - O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para
servir.
Ralph
Earle. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 6. pag. 142-143.
3. Ungir os enfermos.
A unção com óleo é um
ato de fé que acompanha a “oração da fé”, feita por homens de Deus, que,
liderando a igreja local, ou auxiliando os pastores-líderes, atendem aos que se
encontram enfermos, e oram por sua cura, “em nome de Jesus” (Mc 16.18c). Orar
pelos enfermos e curá-los é sinal de fé para “os que crerem”, independente de
serem obreiros regulares. Mas orar com unção com óleo é confiado aos
presbíteros.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 137.
Tg 5.14 Uma
característica da igreja primitiva era a sua preocupação com os doentes e o cuidado
para com eles. Aqui Tiago incentiva os doentes para que chamem os presbíteros da
igreja, pedindo aconselhamento e oração. Os presbíteros eram pessoas
espiritualmente amadurecidas, responsáveis pela supervisão das igrejas locais
(veja 1 Pe 5.1-4). Os presbíteros iriam orar sobre a pessoa doente, pedindo a
cura ao Senhor. A seguir, eles a ungiriam com azeite em nome do Senhor.
Enquanto oravam, os presbíteros deviam pronunciar claramente que o poder da
cura residia no nome de Jesus. A unção era frequentemente usada pela igreja
primitiva nas suas orações pedindo cura. Nas Escrituras, o azeite era tanto um
remédio (veja a parábola do bom samaritano, em Lucas 10.30-37) como um símbolo
do Espírito de Deus (como quando usado para ungir reis; veja 1 Sm 16.1-13).
Desta forma, o azeite pode ter sido um sinal do poder da oração, e pode ter
simbolizado a separação da pessoa enferma para a atenção especial de Deus.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 691.
Recebemos aqui
orientações específicas acerca dos doentes, e a misericórdia perdoadora e
curadora prometida aos que obedecem a essas orientações.
“Está alguém entre
vós doente”, então se pede deles: 1. Que “chame os presbíteros - presbyterous
tes ekklesias - os pastores ou ministros da igreja” (w. 14,15). E do doente a
responsabilidade de chamar os ministros, e desejar a ajuda e as orações deles.
2. E dever dos ministros orar pelos doentes, quando chamados a isso. “...orem
sobre ele”; que as suas orações sejam adequadas a esse caso, e suas intercessões
sejam como convêm aos que são afetados com as calamidades. 3. Em tempos de
curas milagrosas, os doentes deviam ser ungidos “...com azeite em nome do Senhor”.
Os expositores em geral restringem esse ungir com azeite àqueles que tinham o
poder de fazer milagres; e, quando cessaram os milagres, essa instituição
também cessou. No evangelho de Marcos, lemos do incidente em que os apóstolos
ungiram com azeite muitos que estavam doentes, e os curaram (Mc 6.13). E temos
relatos disso sendo praticado duzentos anos depois de Cristo; mas então o dom
de cura também acompanhava a unção, e, aí quando o dom milagroso cessou, esse
ritual foi deixado de lado. Os romanistas na verdade fizeram disso um
sacramento, que eles chamam de extrema-unção. Eles a usam, não para curar os
doentes, como era usada pelos apóstolos; mas, como em geral eles contrariam as
Escrituras nas ordens da sua igreja, assim aqui eles ordenam que isso seja
ministrado somente àqueles que estão à beira da morte. A unção do apóstolo foi
ordenada para curar a doença; a unção romanista é para a expulsão dos restos do
pecado, e para capacitar a alma (como eles pretendem) a combater melhor os
poderes do ar. Quando não conseguem provar, por nenhum efeito visível, que
Cristo reconhece a continuação do seu rito, eles mesmo assim levam as pessoas a
crer que os efeitos invisíveis são maravilhosos. Mas certamente é muito melhor
omitir essa unção com azeite do que invertê-la contra os princípios
estabelecidos para ela nas Escrituras. Alguns protestantes pensaram que essa
unção foi apenas permitida ou aprovada por Cristo, e não instituída por Ele.
Mas deveria parecer, pelas palavras de Tiago aqui, que foi uma coisa ordenada nos
casos em que havia fé para a cura. E alguns protestantes a têm defendido com
isso em vista. Não deveria ser usada comumente, nem mesmo na era apostólica; e
alguns têm pensado que não deveria ser deixada totalmente de lado em nenhuma
época, mas que sempre que houver uma medida extraordinária de fé na pessoa que
unge, e nas que estão sendo ungidas, uma bênção extraordinária poderá seguir a
observância dessa orientação para os doentes. Seja como for, há uma coisa que
precisa ser cuidadosamente observada aqui, que a salvação do doente não é
atribuída à unção com azeite, mas à oração: “...e a oração da fé salvará o
doente” (v. 15). Assim que: 4. A oração sobre os doentes precisa proceder de
uma fé viva, e ser acompanhada dela. Precisa haver fé tanto na pessoa que ora
quanto na pessoa pela qual se ora. Em tempo de doença, não é a oração fria e
formal que é eficaz, mas a oração de fé. 5. Deveríamos observar o sucesso da
oração: “...o Senhor o levantará”. Isto é, se essa pessoa for capaz e adequada
para o livramento, e se Deus tiver algo a mais para essa pessoa fazer no mundo,
“...e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados”; isto é, onde a doença
foi enviada como castigo por algum pecado específico, esse pecado será
perdoado, e como sinal disso a doença será removida. Assim como quando Cristo
disse ao homem incapaz: “Não peques mais, para que te não suceda alguma coisa
pior” (Jo 5.14), é sugerido aqui que algum pecado particular foi a causa da
enfermidade do doente. A grande coisa que devemos pedir de Deus para nós mesmos
e para os outros em épocas de doença é o perdão dos pecados. O pecado é tanto a
raiz da doença quanto o aguilhão dela. Se o pecado for perdoado, ou a aflição
será removida em misericórdia, ou obteremos misericórdia na continuidade dela.
Quando a cura está fundamentada no perdão, podemos dizer como Ezequias: “Tu,
porém, tão amorosamente abraçaste a minha alma, que não caiu na cova da
corrupção” (Is 38.17). Quando você está doente e com dor, é muito comum orar e
clamar: O, alivia-me! O, restaura a minha saúde! Mas a sua oração deveria ser antes
e principalmente: O, que Deus perdoe os meus pecados!
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo
Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 851.
1 – O cristão e a
enfermidade (v. 14).
Tg 5.14 “Está alguém
entre vós doente?”: para muitos é um tormento que haja enfermidade também na
vida do cristão.
a) A Bíblia vê a
enfermidade relacionada com o pecado humano. “O salário do pecado é a morte”
(Rm 6.23), e a enfermidade como precursora da morte é igualmente decorrência do
pecado. É verdade que Jesus baniu a conclusão de que o portador de uma enfermidade
especial também deve ter pecado de maneira especial (Jo 9.2ss). No entanto,
alguém pode constatar em si mesmo a doença como decorrência de seu pecado e
curvar-se debaixo dela – dando razão ao julgamento de Deus.
b) Acontece, porém,
que os pecados nos foram perdoados em decorrência do sofrimento expiatório de
Jesus. Será que nesse caso não deveriam ter sido retiradas também todas as consequências
do pecado? Afinal, Jesus não carregou também todas as nossas enfermidades (Is
53.4)? “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo” (Ec 3.11). Na consumação não
haverá mais enfermidade nem morte, nem “sofrimento” (pela perda de entes
queridos), “clamor” (de lamentação e acusação, de falta de paz e de guerras),
“dor” (da doença e das feridas). “E a morte não existirá mais” (Ap 21.4). Com a
primeira vinda de Jesus, Deus dá o primeiro passo e cura, sempre que for
acolhido, a causa oculta do mal: perdoa o pecado e concede a sua paz. Com a
segunda vinda, Deus dá o segundo passo e também anula todos os efeitos visíveis
do pecado: discórdia entre pessoas, enfermidade e morte (Ap 21.4). Afinal, se
Jesus não vier antes, também nós teremos de morrer. Vivemos em uma época de
“não ver e, apesar disso, crer” (Jo 20.29; 1Pe 1.8; 2Co 5.7; 1Co 13.12; Rm
8.24; 1Jo 3.2). Crer sem ver é o principal tema do exame de toda a nossa vida
cristã em nosso mundo.
c) Isso não exclui
que Deus conceda desde já aperitivos do que há de vir, uma primeira prestação
(cf. v. 15): os milagres de Jesus outrora e hoje são “sinais” (Jo 2.11; 3.2;
11.47) que mostram o que ele fará um dia de forma grandiosa e geral. As noites
do “não ver e, apesar disso, crer” não são tão escuras que não luzam nelas
também as estrelas. E Deus com certeza estaria disposto a nos dar mais se
confiássemos nele.
d) Logo vale a regra:
a salvação é presenteada por Deus em todos os casos a cada um que o pedir (Jl
2.32; Rm 10.13), mas a cura exterior, durante a presente era, é presenteada
onde e quando lhe aprouver. – Por isso ambas as posições estão biblicamente
erradas: d.1) A frase comum em vários “grupos pentecostais”: “Quem crê não está
enfermo, e quem está enfermo não crê corretamente.” d.2) A opinião já existente
desde o tempo do Iluminismo: “Que adiantará, pois, a oração contra a
enfermidade e outras dificuldades? Afinal, a vontade de Deus é perfeita.” Ou:
“Obviamente a oração não muda nada; apenas nos torna mais dóceis para a vontade
de Deus.” Por isso a única oração que deveria existir seria: “Seja feita a tua
vontade!” Isso tem conotação muito lógica e devota, mas não corresponde à
comunhão de vida que o Pai no céu concede a seus filhos neste mundo conforme as
Escrituras. Temos o privilégio de lhe dizer o que move nosso coração, e lhe
dirigir preces, deixando então por conta de sua sabedoria paterna o que ele
fará com essas orações. Jesus declara: “Peçam, e receberão” (Mt 7.7). Toda
oração correta é atendida, embora com frequência de modo diferente e em momento
diferente do que imaginamos, porém de forma melhor e em tempo mais acertado.
2 – O enfermo e a
igreja (v. 14)
Enfermidade traz
solidão. Isso é particularmente doloroso para um cristão cujo lar é a igreja.
Tiago escreve que o próprio membro enfermo da igreja deve tomar a iniciativa:
“Chame os presbíteros da igreja”. Não é dito: “Fique resmungando em seu canto e
pense: vejamos quanto tempo demorará até que alguém tenha a ideia de me
visitar.” Tiago quer que o enfermo convide os visitadores da igreja com a mesma
naturalidade com que chama o médico. De acordo com o v. 14, o que cabe aos
visitadores fazer poderá ocorrer unicamente mediante o consentimento do
enfermo. Se o próprio enfermo chamou os anciãos, tudo fica claro nesse aspecto
desde o princípio. – O NT também fala do dom especial da graça (em grego
chárisma) de cura dos enfermos (1Co 12.9,28,30). Havia, nas igrejas, cristãos
em que a efusão do Espírito de Deus trouxe consigo esse dom, da maneira como
outros recebiam outras dádivas. Aqui não se fala de um carisma especial. É
possível que esses “anciãos”, em grego presbýteroi (literalmente: “mais
idosos”), naqueles primórdios do cristianismo e nas igrejas às quais Tiago
escreveu, ainda nem sequer fossem detentores de um cargo regulamentado, mas que
simplesmente se tratava de cristãos mais antigos, mais maduros. Confiando nessa
palavra da Bíblia também hoje, na hora da enfermidade, podemos chamar à nossa
casa tais cristãos, a fim de que nos prestem esse serviço.
3 – A igreja e seus
enfermos (v. 14).
“Estes façam oração
sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor”:
a) Quando alguém não
puder vir à igreja, a igreja tem de ir até ele: “Se um membro sofre, todos os
membros participam do seu sofrimento” (1Co 12.26 [TEB]). Por meio dos anciãos a
igreja visita o enfermo. O próprio Jesus atribuiu uma importância especial à
visita a enfermos e concedeu à oração conjunta uma promessa especial (Mt 25.36;
18.19).
b) Os anciãos da
igreja oram, não apenas, mas também por saúde. – Eles “ungem com óleo”. Esse
era também um remédio caseiro contra doença e contusão (Lc 10.34). Contudo o
ungem “em nome do Senhor”. Nesse sentido o óleo na Escritura sempre representa
um sinal para o Espírito Santo. Foi por isso que no AT reis e sacerdotes eram
ungidos (Êx 29.7; Nm 35.25; 1Sm 9.16; 10.1; 16.12). E João escreve: “Recebestes
a unção” (1Jo 2.27). O Espírito Santo concede força (Rm 15.13; 1Co 2.4; 2Tm
1.7) começando pelo íntimo e chegando ao físico.
Será que não é
suficiente impor a mão como sinal de bênção? É obrigatório que suceda ainda uma
unção com óleo? Em várias outras passagens da Escritura constatamos que há
imposição de mãos para bênção e cura sem a unção com óleo (At 5.12; 14.3;
19.11). Sem dúvida podemos aderir a essa regra. Contudo, quando alguém por
simples obediência à presente palavra da Bíblia deseja recorrer à unção com
óleo ou a solicita para si, ele de qualquer forma tem em seu favor uma boa
razão da Escritura.
Fritz
Grünzweig. Comentário Esperança Carta De
Tiago. Editora Evangélica Esperança.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva
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