O MINISTÉRIO DE PASTOR
Data: 1 de Junho de 2014 HINOS
SUGERIDOS 156, 337, 515.
TEXTO ÁUREO
“Eu
sou o bom Pastor; o bom Pastor da a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10.11).
VERDADE PRATICA
Por
meio do ministério pastoral, conduzimos as ovelhas ao Supremo Pastor, Jesus
Cristo.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Ec 12.11 Há um só Pastor
Terça - Is 40-11 O pastor apascenta as ovelhas
Quarta - Ez 34,12 O pastor em busca das ovelhas
Quinta - Am 3-12 O pastor protege as ovelhas
Sexta - Zc 11.17 O pastor negligente com o
rebanho
Sábado - Hb 13.20 Cristo, o Pastor das ovelhas
LEITURA BÍBLICA EM
CLASSE
João
10.11,14; Tito 1.7-11; 1 Pedro 5.2-4
João
10
11
-Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.
14
- Eu sou o bom Pastor; e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido.
Tito
1
7
- Porque convém que o bispo seja irrepreensível como despenseiro da casa de
Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem
cobiçoso de torpe ganância;
8
- mas dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante,
9
- retendo firme a fiei palavra, que é conforme a doutrina, para que seja
poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina como para convencer os contra-
dizentes.
10
- Porque há muitos desordenados, faladores, vãos e enganadores, principalmente
os da circuncisão,
11
- aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras,
ensinando o que não convém, por torpe ganância.
1
Pedro 5
2
- apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por
força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto;
3
- nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao
rebanho.
4
- E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de
glória.
INTERAÇÃO
Atualmente,
muitos são os modelos de liderança pastoral sugeridos sob os aspectos
empresarial e meramente psicológico. Entretanto, o modelo de liderança para um
pastor cristão deve estar centralizado sob o de Jesus de Nazaré. A vida do
nosso Mestre é o melhor exemplo para um ministério integral: acolhedor,
admoestador e servidor. Um modelo pastoral centrado na concepção empresarial
pode até trazer resultados visíveis, mas para Deus será um verdadeiro fracasso.
Seguir a liderança de Jesus de Nazaré pode parecer um grande fracasso, mas em
relação a Deus é grande vitória. Qual você escolhe?
OBJETIVOS
Após
a aula, o aluno deverá estar apto a:
Reconhecer o papel fundamental
de Jesus como o sumo pastor.
Classificar as características
de um i verdadeiro pastor.
Conscientizar-se da missão do
ministério pastoral.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Caro
professor, para o terceiro tópico da lição, e após o sub topico que conceitua a
missão do pastor, use o esquema da página seguinte. Fale a respeito do aspecto múltiplo
da missão pastoral. Na igreja local, o pastor é um guia espiritual do povo de
Deus. Dele se espera maturidade, idoneidade e amor no trato com as coisas de
Deus e ao rebanho. Por isso, conclua a lição desta semana afirmando a
complexidade da função pastoral e como Deus leva a sério o pastor que cumpre o
seu ministério. Em seguida, reúna os seus alunos para orarem pelo pastor local
e pelos pastores de todo o mundo.
PALAVRA-CHAVE
Pastor: Guia espiritual
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Ser
pastor sempre foi uma tarefa árdua. Muitas são as demandas internas e externas
da igreja local, entre elas o cuidado para com as pessoas do rebanho, visita a
enfermos, questões relacionadas a administração eclesiástica e o constante
desafio de se dedicar à oração, à pregação e ao ensino da Palavra de Deus. O
dia a dia pastoral é desafiador a quem é vocacionado por Deus para apascentar.
Somente pela graça e o amor do Pai é possível encarar tão grande
responsabilidade. Por outro lado, uma liderança madura e servidora é
imprescindível ao desenvolvimento da igreja local. Assim, a lição de hoje
abordará esse importante ministério.
I -
JESUS, O SUMO PASTOR
1. Jesus é o pastor
supremo.
A expressão “grande Pastor das ovelhas”, que aparece em Hebreus 13.20, refere-se
diretamente à sublimidade do Senhor Jesus como pastor no Novo Testamento.
Marcado pela humildade e despojamento da sua glória, Ele foi chamado “grande”
em seu
nascimento (Lc 1.32). O adjetivo “grande” enfatiza o quanto o Nazareno é
incomparável e mediador da nova aliança de Deus com os homens. Jesus Cristo é o
supremo pastor em todos os aspectos. Ele venceu a morte e libertou o homem da
prisão do pecado. Ele é Deus!
2. O pastor conhece
as suas ovelhas.
Em João 10.14, o adjetivo “bom” identifica Jesus como o pastor que por amor
protege e cuida das ovelhas que lhe pertence. Por isso, Ele é o “bom Pastor”.
Tal expressão designa ainda a intimidade entre o Sumo Pastor e as suas ovelhas.
Estas não ouvem a voz de outro pastor. O bondoso Salvador conhece a sua Igreja
por inteiro, e se relaciona com cada membro (Jo 10.5,15)*
3. O pastor dá a vida
pelas ovelhas.
Uma das principais fontes da economia israelita era o trabalho pastoril* Os
pastores cuidavam das ovelhas para delas obterem o lucro diário. Este é o
contexto de que se valeu o Senhor Jesus para referir-se ao ensinamento contido
na expressão “o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10.11). Aqui,
diferente dos pastores que garantiam o seu sustento no campo através do uso das
ovelhas, o Mestre Jesus mostra a disposição em dar a própria vida pelo seu
rebanho (Jo 10.15). Os verdadeiros pastores da igreja devem imitar o Sumo
Pastor, Jesus. NEle não há jamais exploração alguma do rebanho, e isso deve
servir de exemplo a todos aqueles que desejam ministrar à igreja do Senhor, tal
como ensina a Palavra em 1 Pedro 5.2-4.
SINOPSE
DO TÓPICO (1)
Jesus,
o Pastor Supremo, conhece as suas ovelhas e deu a sua vida por elas.
II - AS
CARACTERÍSTICAS DO VERDADEIRO PASTOR
1. Um caráter
íntegro.
Entre outras coisas, o exercício pastoral envolve aptidão para ensinar,
aconselhar e comunicar-se de forma clara com a igreja local. Porém, essas
características não são validadas se o caráter do pastor não for íntegro. Uma
das piores queixas que se pode ouvir acerca de um ministro é que sua palavra
pastoral não se coaduna com a sua vida. Como pode o líder falar sobre
honestidade e ser desonesto? De simplicidade e mostrar-se esbanjador? De
humildade e comportar-se soberbo? A melhor palavra pastoral é a vida do pastor
em sintonia com a mensagem do Evangelho que ele proclama (Mt 7.24-27; 23.2-36).
2. Exemplo para os
fiéis e os infiéis.
O texto bíblico de Timóteo 3.2,3, afirma que o bispo não deve ser dado ao
vinho, espancador, cobiçoso de torpe ganância, contencioso ou avarento; a
recomendação é que o obreiro seja moderado. A Igreja, o Corpo de Cristo,
precisa contemplar em seu líder sinais claros do fruto do Espírito, tais como
autocontrole, mansidão, bondade e amor. Estas características denotam idoneidade
moral e maturidade espiritual. A mesma postura moral que o pastor atesta aos
fiéis deve ser demonstrada, igualmente, aos infiéis (1 Tm 3.7).
3. Exemplo para a
família.
Não podemos esquecer que antes de ser exemplo para igreja local, e com os de
fora, o ministro do Evangelho, em primeiro lugar, deve ser o exemplo para a sua
própria família — sua primeira comunidade e igreja. Governar a própria casa com
modéstia e equilíbrio, criando seus filhos com respeito (1 Tm 3.4), é o
testemunho que toda a família cristã deseja experimentar na convivência sadia
com o pastor que é esposo, pai e avô. Portanto, todo obreiro deve cuidar bem do
seu lar, pois sem o devido respaldo deste, o seu ministério jamais terá
credibilidade.
SINOPSE
DO TÓPICO (2)
Do
pastor espera-se um caráter íntegro; um exemplo para j os fiéis, aos infiéis e
a toda a sua família.
III - O
MINISTÉRIO PASTORAL
1. A missão do pastor. O termo pastor (do
gr. poimên) no Novo Testamento tem o significado de “apascentador de ovelhas”.
De acordo com esta definição podemos afirmar que a principal missão de um
ministro é cuidar das pessoas que receberam Cristo como Salvador dando-lhes alimento
espiritual através do ensino da Palavra de Deus, como encontramos no livro do
profeta Isaías (Is 40.11). O verdadeiro pastor cuida das ovelhas com zeloso
amor e compaixão, entregando-se totalmente às suas demandas.
2. Uma missão
polivalente. A
missão pastoral também é múltipla, pois o ministério envolve o ensinamento, o
aconselhamento, a evangelização e missões, bem como a pregação expositiva da
Palavra de Deus, que é o seu mais importante empreendimento- Para além dessas
responsabilidades, o pastor age como o bom conciliador e administrador
eclesiástico dos bens e recursos humanos disponíveis para toda boa obra da
igreja local. Está sob os seus cuidados a gestão eficiente e honestados bens
materiais, patrimoniais e das finanças da igreja local.
3. O cuidado contra
os falsos pastores.
Quando Deus levantou Ezequiel como profeta de Israel, Ele ordenou-lhe que
repreendesse os pastores infiéis da nação. O Altíssimo considerava como falsos
pastores os que apascentavam a si mesmo e não as ovelhas (Ez 34.2c); exploravam
o rebanho e não o poupavam (34.3); não demonstravam amor pelas ovelhas, fazendo
com que elas se dispersassem (34.4-6).
O
próprio Deus é contra os falsos pastores (Ez 34.8-10)! Ele inspirou o apóstolo
Paulo a escrever para Tito quando da sua instrução pastoral ao jovem obreiro,
que este retivesse “firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que
seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina como para convencer os
contra dizentes. Porque há muitos desordenados, faladores, vãos e enganadores
[...] aos quais convém tapara boca” (Tt 1.9-11).
SINOPSE
DO TÓPICO (3)
A
missão do pastor é múltipla, pois ele cuida desde os assuntos espirituais até
os mais terrenos.
CONCLUSÃO
O
dom ministerial de pastor é concedido àqueles a quem Deus chama para servir ao
seu precioso rebanho, a Igreja de Jesus. Esta acha-se espalhada nas igrejas
locais que reúnem crentes oriundos de todos os lugares do mundo. Eles estão sob
os cuidados de líderes para serem alimentados com a Palavra de Deus. O objetivo
do ministério pastoral é fazer com que o rebanho do Senhor cresça na graça e no
conhecimento do Evangelho de nosso Salvador (2 Pe 3.18). Portanto, o pastor
precisa da graça divina para não fracassar em seu ministério. Oremos pelos
pastores, compreendamos as suas lutas e os apoiemos com amor e carinho.
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO
I
Subsídio
Teológico
“Viver
como Pedro: A Supervisão Pastoral (5.1-11)
Dirigindo-se
aos ‘estrangeiros’ (1.2) que haviam sido dispersos entre povos infiéis, e
frequentemente hostis, Pedro inicia sua carta com um imperativo à vida
santificada baseada no exemplo de Deus Pai (1.3—2.1 0). Pelo fato de muitos de
seus leitores poderem sofrer injustamente e de modo abusivo nas mãos de cruéis
agentes do governo, senhores ou maridos, na parte central e mais importante de
sua carta Pedro manda que se submetam à autoridade e sofram, mesmo sem merecer,
segundo o exemplo de Cristo (2.11-4.13). Nesta seção final da carta, Pedro
dirige-se aos presbíteros [pastores], responsáveis pelo pastoreio do rebanho de
Deus (5.1-4). Escrevendo como um presbítero [pastor] mais experiente, Pedro é
seu modelo de liderança sobre o povo de Deus (5.1-11). Termina os ensinamentos
com uma série de obrigações aplicáveis não só aos presbíteros, mas também a
todo o povo de Deus (5.5-11)" (STRONS- TAD, Roger; ARRINCTON, French L. (Eds.)
Comentário Bíblico Pentecostal Novo
Testamento. Vol. 2: Romanos a Apocalipse. 4.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009,
p.921).
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO
II
Subsídio
Teologia Devocional “[...] Prioridades na Vida do Pastor Manter as prioridades
em sua devida ordem é um dos maiores desafios que o pastor enfrenta. As muitas
ocupações do pastorado constantemente pressionam os ministros a comprometer a
oração, a vida devocional, a família e, às vezes, até o padrão moral exigido
pela Palavra de Deus.
As
prioridades do ministro do Evangelho devem estar nesta ordem: (1) seu
relacionamento com o Senhor, (2) sua esposa e filhos e (3) seu ministério e
trabalho. Acompanhe-me em alguns pontos de especial interesse no campo dessas
três prioridades.
Seu
relacionamento com o Senhor. Sua vida devocional é absolutamente decisiva. Anos
atrás, pedi ao Senhor que pusesse em ordem meu horário, e Ele o fez. Todos os
dias, das cinco às sete da manhã, estudo a Bíblia e oro. Tenho sido cuidadoso
em observar esse tempo — o tempo mais precioso do meu dia. Meus pais deram-me o
exemplo; seu devocional coincidia com as primeiras horas da manhã. Jesus
dedicava as primeiras horas do dia à oração. O Salmista Davi disse: ‘Pela
manhã, ouvirás a minha voz, ó Senhor; peia manhã me apresentarei a ti, e
vigiarei’ (SI 5.3). Esta disciplina será fundamental em tudo o que você fizer e
intentar realizar.
Seu
relacionamento com a esposa e filhos. Alguns ministros ficam tão ocupados, que
negligenciam as necessidades emocionais, alimentares e outras carências da
família. Esposa e filhos podem ficar ressentidos contra o ministério, e mesmo
contra Deus, tudo porque o chefe da família falhou em suprir-lhes as
necessidades básicas. Isso é trágico. Já faz tempo que determinei que não vou
ganhar para o Senhor os filhos dos outros e perder os meus. O Senhor nos tem
ajudado — a mim e a Shirley— nessa prioridade. [...] Paulo instruiu a Timóteo:
‘Se alguém não sabe governar sua própria casa terá cuidado da igreja de Deus?”’
(CARLSON, Raymond; TRASK, Thomas (et ali.). Manual Pastor Pentecostal: Teologia e Práticas Pastorais. 3.ed. Rio
de Janeiro: CPAD, 2005, p. 17).
BIBLIOGRAFIA
SUGERIDA
FERNANDO,
Ajith. Ministério dirigido por Jesus.
1. ed. Rio de janeiro: CPAD, 2013. CARLSON, Raymond; TRASK, Thomas (et alL). Manual Pastor Pentecostal: Teologia e Práticas Pastorais. 3. ed.
Rio de Janeiro: CPAD, 2005. MACARTHUR JR, John. Ministério Pastoral: Alcançando
a excelência no ministério cristão. 4. ed. Rio de janeiro: CPAD, 2004.
EXERCÍCIOS
1.
A expressão “grande Pastor das ovelhas”, que aparece em Hebreus 13.20, está
diretamente ligada a quê?
R:
Ao valor que o
Novo Testamento atribui ao Senhor Jesus.
2.
De acordo com a lição, relacione as características do verdadeiro pastor.
R:
Um caráter
íntegro, exemplo para os fiéis e os infiéis e exemplo para a família.
3.
Segundo o texto bíblico de I Timóteo 3.2,3, cite o que o pastor não pode ser. R:
O texto bíblico
de 1 Timóteo 3.2,3 afirma que o bispo não pode ser dado ao vinho, espancador,
cobiçoso de torpe ganância, contencioso ou avarento; a recomendação é que o
obreiro seja moderado.
4.
Qual o significado do termo "pastor" no Novo Testamento?
R:
“Apascentador
de ovelhas".
5.
Qual é a principal missão de um ministro?
R:
Cuidar das
pessoas que receberam a Cristo como salvador, dando-lhes alimento espiritual
através do ensino da Palavra de Deus.
Revista
Ensinador Cristão CPAD, n° 58, p.40.
Na
obra "Ministério Pastoral: Alcançando a excelência no ministério
cristão", do pastor norte- americano John Macarthur, Jr., editada pela
CPAD; o autor relata este comentário: "Reconhecemos essas tendências
alarmantes, crendo que as decisões tomadas nesta década reprogramarão a igreja
evangélica até boa parte do século 21. Assim, a futura direção da igreja é uma
preocupação preeminente e legítima. Sem dúvida, a igreja enfrenta um momento
decisivo. O verdadeiro contraste entre os modelos ministeriais concorrentes não
é o tradicional versus o contemporâneo, mas o bíblico e o não-bíblico"
(p.22).
A
que tendências alarmantes, M.acarthur se refere? A oito respostas que emergiram
de uma pesquisa realizada por John Seel, em 1995, nos Estados Unidos. Elas
foram dadas por 25 líderes evangélicos de renome que foram entrevistados pelo
pesquisador.
Dentre
oito principais respostas surgidas na pesquisa (identidade incerta; desilusão
institucional; falta de liderança; pessimismo em relação ao futuro; crescimento
positivo, impacto negativo; isolamento cultural; solução política e metodológica
como resposta), a que chama mais atenção é a "troca de orientação bíblica
pela pesquisa de mercado no ministério". Não por acaso, se vê muitos
seminários teológicos trocando disciplinas fundamentais para uma sólida
formação de um obreiro, como o hebraico, o grego, a hermenêutica, a exegese
etc., por aquelas que enfatizam a gestão, a forma de crescimento de uma igreja
local nos parâmetros do marketing e das estratégias meramente empresariais.
Aqui, é à hora de a igreja fazer uma profunda reflexão sobre "Que modelo
de ministério pastoral se quer exercer nos próximos anos?"
Com
intuito de deixarmos em aberto esta reflexão, porque o espaço não permite irmos
além, solicitamos ao prezado professor meditar nesta semana em todos os textos
bíblicos possíveis - use as concordâncias bíblicas, dicionários bíblicos e bons
comentários para lhe auxiliarem - em que Jesus aparece como o "Bom
Pastor" de ovelhas. Em seguida, procure responder, à luz dos quatro
Evangelhos, as seguintes perguntas: Qual o modelo ministerial de pastorado que
o Senhor Jesus espera encontrar nos seus discípulos? Que molde de liderança se
acha no agir de Jesus de Nazaré? É possível implantar esse ideal hoje? Qual
seria o impacto para a igreja e a sociedade? Boá aula!
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
De todos os dons
ministeriais, certamente o dom de pastor é o mais difícil de ser exercitado. Ao
mesmo tempo, é o mais desejado por aqueles que almejam exercer o ministério, na
Igreja do Senhor Jesus. Em todos os tempos, a função pastoral foi complexa e alvo
das forças contrárias ao rebanho espiritual, constituído dos salvos por Cristo.
Sem dúvida alguma, nos dias presentes, em pleno século XXI, ser pastor não é
missão fácil, não obstante os recursos existentes, em termos humanos, técnicos
e financeiros.
Os primeiros
pastores, no Novo Testamento, em geral, pagaram com a vida pelo fato de
representarem a Igreja de Jesus. As forças infernais, usando os sistemas
religiosos, políticos, econômicos e sociais, investiram pesadamente contra os
que foram levantados como líderes, nos primórdios da Igreja. Tiago, “irmão de
João”, foi morto por Herodes, para satisfazer a sede de sangue dos judeus
fanáticos, que não entenderam a missão de Cristo e de seus seguidores. Pedro
foi preso com o mesmo destino, para ser morto, num espetáculo macabro, que
agradaria aos inimigos do evangelho de Cristo. Mas foi poderosamente liberto do
cárcere, por intervenção direta de Deus, que enviou seu anjo para salvá-lo da
morte programada e continuar sua missão (At 12.11).
Eles eram pastores, apóstolos,
evangelistas e líderes da Igreja, em seus primeiros dias, após a Ascensão de
Jesus. Pedro e João foram presos por terem sido instrumentos de Deus para a
cura de um coxo de nascença, posto à porta do templo. E foram libertos para
proclamarem o evangelho de Jesus (At 3.1-6; 4.1-21). De modo geral, segundo a
tradição e a história da Igreja, somente João Evangelista teve morte natural,
alcançando extrema velhice, após passar por sofrimentos atrozes. Os demais
apóstolos de Jesus tiveram morte trágica, nas mãos dos sanguinários inimigos da
fé.
Nos primeiros
séculos, a perseguição aos servos de Deus foi cruel. “As perseguições só
cessaram, quando Constantino (272-337 d.C.), imperador de Roma, tornou-se
cristão. Seguiu-se uma era de crescimento numérico do Cristianismo, embora, nem
sempre, acompanhado de autenticidade e genuíno testemunho cristão. A mistura
entre a Igreja e o Estado trouxe enormes prejuízos à ortodoxia
neotestamentária”.
Os regimes
ditatoriais do nazismo, do fascismo e do comunismo, sempre procuraram destruir
os pastores das igrejas cristãs. Cientes de que, mortos os líderes, os fiéis
sempre se dispersariam e abandonariam sua fé. Mas cometeram grave engano.
Quanto mais os cristãos foram mortos, mais seu sangue serviu para regar a
sementeira do evangelho. Jesus disse que “as portas do inferno” não
prevaleceriam contra a sua Igreja (Mt 16.18). Pastores foram presos, torturados
e mortos. Mas a Igreja de Jesus segue sua marcha triunfal, em direção ao seu
destino, que é chegar aos céus, na vinda de Jesus, e reinar com Ele sobre as
tribos de Israel (Mt 19.28) e sobre as nações (Ap 20.6).
Nos dias atuais, ser
pastor não é absolutamente tarefa fácil, para quem deseja exercer o ministério
com fidelidade e sacrifício. As oposições externas e internas, muitas vezes,
perturbam as atividades do pastor. Dessa forma, o dom ministerial de pastor
precisa muito da graça e da unção de Deus para que seus detentores não
fracassem espiritual, emocional ou fisicamente. Necessitam muito das orações,
da compreensão, do apoio e do amor dos crentes em Jesus. Vamos refletir sobre a
função pastoral, com base no que a Palavra de Deus nos revela sobre essa
importante missão.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 105-106.
At 20.28 “Olhai,
pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu
bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio
sangue.”
Nenhuma igreja poderá
funcionar sem dirigentes para dela cuidar. Logo, conforme 14.23, a congregação
local, cheia do Espírito, buscando a direção de Deus em oração e jejum, elegiam
certos irmãos para o cargo de presbítero ou bispo de acordo com as
qualificações espirituais estabelecidas pelo Espírito Santo em 1Tm 3.1-7; Tt
1.5-9 (ver o estudo QUALIFICAÇÕES MORAIS DO PASTOR). Na realidade é o Espírito
que constitui o dirigente de igreja. O discurso de Paulo diante dos presbíteros
de Éfeso (20.17-35) é um trecho básico quanto a princípios bíblicos sobre o exercício
do ministério de pastor de uma igreja local.
PROPAGANDO A FÉ. (1)
Um dos deveres principais do dirigente é alimentar as ovelhas mediante o ensino
da Palavra de Deus. Ele deve ter sempre em mente que o rebanho que lhe foi
entregue é a congregação de Deus, que Ele comprou para si com o sangue precioso
do seu Filho amado (cf. 20.28; 1Co 6.20; 1Pe 1.18,19; Ap 5.9). (2) Em 20.19-27,
Paulo descreve de que maneira serviu como pastor da igreja de Éfeso; tornou
patente toda a vontade de Deus, advertindo e ensinando fielmente os cristãos
efésios (20.27). Daí, ele poder exclamar: “estou limpo do sangue de todos” (20.26;
ver nota). Os pastores de nossos dias também devem instruir suas igrejas em
todo o desígnio de Deus. Que “pregues a palavra, instes a tempo e fora de
tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina”
(2Tm 4.2) e nunca ministrar para agradar os ouvintes, dizendo apenas aquilo que
estes desejam ouvir (2Tm 4.3).
GUARDANDO A FÉ. Além
de alimentar o rebanho de Deus, o verdadeiro pastor deve diligentemente
resguardá-lo de seus inimigos. Paulo sabe que no futuro Satanás levantará
falsos mestres dentro da própria igreja, e, também, falsários vindos de fora,
infiltrar-se-ão e atingirão o rebanho com doutrinas antibíblicas, conceitos
mundanos e idéias pagãs e humanistas. Os ensinos e a influência destes dois
tipos de elementos arruinarão a fé bíblica do povo de Deus (ver o estudo FALSOS
MESTRES). Paulo os chama de “lobos cruéis”, indicando que são fortes, difíceis
de subjugar, insaciáveis e perigosos (ver 20.29 nota; cf. Mt 10.16). Tais
indivíduos desviarão as pessoas dos ensinos de Cristo e os atrairão a si mesmos
e ao seu evangelho distorcido. O apelo veemente de Paulo (20.28-31) impõe uma
solene obrigação sobre todos os obreiros da igreja, no sentido de defendê-la e
opôr-se aos que distorcem a revelação original e fundamental da fé, segundo o
NT.
(1) A igreja
verdadeira consiste somente daqueles que, pela graça de Deus e pela comunhão do
Espírito Santo, são fiéis ao Senhor Jesus Cristo e à Palavra de Deus (ver o
estudo A INSPIRAÇÃO E
A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS). Por isso, é de grande importância na preservação
da pureza da igreja de Deus que os seus pastores mantenham a disciplina
corretiva com amor (Ef 4.15), e reprovem com firmeza (2Tm 4.1-4; Tt 1.9-11)
quem na igreja fale coisas perversas contrárias à Palavra de Deus e ao
testemunho apostólico (20.30).
(2) Líderes
eclesiásticos, pastores de igrejas locais e dirigentes administrativos da obra
devem lembrar-se de que o Senhor Jesus os têm como responsáveis pelo sangue de
todos os que estão sob seus cuidados (20.26,27; cf. Ez 3.20,21). Se o dirigente
deixar de ensinar e pôr em prática todo o conselho de Deus para a igreja
(20.27), principalmente quanto à vigilância sobre o rebanho (20.28), não estará
“limpo do sangue de todos” (20.26, ver nota; cf. Ez 34.1-10). Deus o terá por
culpado do sangue dos que se perderem, por ter ele deixado de proteger o
rebanho contra os falsificadores da Palavra (ver também 2Tm 1.14 nota; Ap 2.2
nota).
(3) É altamente
importante que os responsáveis pela direção da igreja mantenham a ordem quanto
a assuntos teológicos doutrinários e morais na mesma. A pureza da doutrina
bíblica e de vida cristã deve ser zelosamente mantida nas faculdades evangélicas,
institutos bíblicos, seminários, editoras e demais segmentos administrativos da
igreja (2Tm 1.13,14).
(4) A questão
principal aqui é nossa atitude para com as Escrituras divinamente inspiradas,
que Paulo chama a “palavra da sua graça” (20.32). Falsos mestres, pastores e
líderes tentarão enfraquecer a autoridade da Bíblia através de seus ensinos
corrompidos e princípios antibíblicos. Ao rejeitarem a autoridade absoluta da
Palavra de Deus, negam que a Bíblia é verdadeira e fidedigna em tudo que ela ensina
(20.28-31; ver Gl 1.6 nota; 1Tm 4.1; 2Tm 3.8). A bem da igreja de Deus, tais pessoas
devem ser excluídas da comunhão (2Jo 9-11; ver Gl 1.9 nota).
(5) A igreja que
perde o zelo ardente do Espírito Santo pela sua pureza (20.18-35), que se
recusa a tomar posição firme em prol da verdade e que se omite em disciplinar
os que minam a autoridade da Palavra de Deus, logo deixará de existir como
igreja neotestamentária (ver 12.5 nota; ver o estudo A IGREJA).
STAMPIS. Donald C. (Ed) Bíblia de Estudo Pentecostal: Antigo e
Novo testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
I -
JESUS, O SUMO PASTOR
1. Jesus é o pastor
supremo.
JESUS É O PASTOR
SUPREMO
O Pastor dos
pastores. O escritor aos Hebreus denomina Jesus Cristo de “o grande Pastor das
ovelhas” (Hb 13.20). Só ele merece a qualificação de “grande”. No seu
nascimento, marcado pela humildade e despojamento de sua glória, Jesus foi
chamado de “grande”, na mensagem do anjo a Maria (Lc 1.32). Nenhum pastor, nas
igrejas locais, deve aceitar o título de “grande”, pois só Jesus o merece. Ele
é grande em todos os aspectos que se possam considerar em relação à sua pessoa.
Podemos refletir sobre o porquê Ele é chamado “grande”.
Primeiramente, porque
Ele é Deus! Todos os fundadores de religiões pereceram e seus restos mortais
jazem sob a tumba fria. Em seus túmulos consta a inscrição “aqui jaz” fulano ou
sicrano. No túmulo de Jesus, há uma inscrição diferente e gloriosa: “Ele não
está aqui porque ressuscitou” (Mt 28.6; Mc 16.6). Se Jesus houvesse sido um
homem comum, mortal, jazeria no túmulo como Buda, Maomé, Alan Kardec e outros
fundadores de religiões ou de seitas. Mas Jesus é Deus. Como tal, venceu todos
os poderes cósmicos, espirituais, humanos e físicos. E, por fim, vitorioso,
venceu a morte!
ELE É A PORTA DAS
OVELHAS
Em segundo lugar,
Jesus é o grande pastor das ovelhas, porque ele é “a porta das ovelhas” (Jo
10.7). Em termos espirituais, as ovelhas ou os salvos em Cristo só podem chegar
ao céu, na presença de Deus, através de Cristo, de seus ensinos, de seu exemplo
marcante, que deixou para todos os pastores e crentes de todas as idades. Ele
disse que era “o Bom Pastor”, que dá a vida por suas ovelhas e as conhece pelo
nome (Jo 10.11, 14).
Para entrar no seu
redil, o pecador tem que arrepender-se, crer em sua Palavra, e segui-lo (Jo
10.9). Não pode entrar, saltando os muros. O Adversário é “ladrão e salteador”,
porque não entra pela porta das ovelhas. Ele, e somente Ele, dá acesso ao homem
à presença de Deus. Jesus é ao mesmo tempo, “a porta”, “o caminho e a verdade e
a vida”. E declarou: “Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6).
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 107.
Foi na qualidade de
grande Pastor que Jesus deu sua vida pelas ovelhas; e por esse ato estabeleceu,
para sempre, sua reivindicação como o Pastor de seu povo. Ê igualmente essa
reivindicação que garante que ele não perderá a qualquer dos seus, mas antes,
os ressuscitará no último dia (conferir o décimo quinto capítulo do evangelho
de João)». (Dods in loc.).
«Deus de paz,
significa que Deus salva e dá bem-aventurança (ver Heb. 12:11). A ‘paz’ deve
ser entendida no sentido pleno do A.T., isto é, de prosperidade segura, obtida
pelo triunfo messiânico sobre poderes hostis da maldade. (Comparar com Heb.
2:14 e 7:2)». (Moffatt, in loc.). (Ver as palavras do próprio Cristo sobre essa
questão do pacto, em Marc. 14:24; Mat. 26:28 e Luc. 22:20).
«O Senhor Jesus se
tornou, devido ao seu trabalho medianeiro, o grande Pastor das ovelhas, em
virtude daquele pacto que foi inaugurado por seu sangue, e em virtude do seu
sangue é que ele foi levantado dentre os morta como o grande Pastor, tendo subido
até à mão direita do Pai».
«...ovelhas...»
Porquanto são conduzidas pelo Pastor, precisam de seus cuidados e em si mesmas
são impotentes, tomando-se inofensivas; tal como as ovelhas, as almas remidas
são expostas a grandes perigos, que somente um hábil pastor pode desviar. Elas
dependem dele para sua alimentação segurança; suas vidas dependem totalmente de
Cristo.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 667.
Ele oferece suas
orações por eles a Deus, estando disposto a fazer por eles o que esperava que
eles fizessem por ele: “Ora, o Deus de paz...” (v. 20). Nessa excelente oração,
observe: 1 .0 título dado a Deus - o Deus de paz, que descobriu um caminho de
paz e reconciliação entre Ele mesmo e os pecadores, e que ama a paz na terra e especialmente
nas suas igrejas. 2. A grande obra atribuída a Ele: Ele “...tomou a trazer dos
mortos o nosso Senhor Jesus Cristo”. Jesus ressuscitou pelo seu próprio poder;
e, contudo, o Pai estava interessado nisso, atestando com isso que a justiça
foi satisfeita, e a lei, cumprida.
Ele ressuscitou para
nossa justificação; e esse poder divino pelo qual Ele foi ressuscitado é capaz
de fazer tudo de que temos necessidade. 3. Os títulos dados a Cristo – nosso Senhor
Jesus, nosso Soberano, nosso Salvador, e o grande pastor das ovelhas, prometido
em Isaías 40.11, declarado por Ele mesmo que o era (Jo 10.14,15). Os ministros são
co-pastores, Cristo é o grande pastor. Isso denota o seu grande interesse pelo
seu povo. Eles são o rebanho do seu pastoreio, e o seu cuidado e preocupação
são por eles. 4. A forma e o método em que Deus se reconcilia, e Cristo
ressuscita dos mortos: “...pelo sangue do concerto eterno”. O sangue de Cristo
satisfez a justiça divina, e assim gerou a libertação de Cristo da prisão da
morte, como tendo pago a nossa dívida, de acordo com um concerto ou acordo
eterno entre o Pai e o Filho; e esse sangue é a sanção ou o selo de um concerto
eterno entre Deus e o seu povo.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento
ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 821.
No Antigo Testamento,
o título de pastor era conferido tanto aos guardiães de ovelhas como aos
dirigentes do povo de Israel. No Novo Testamento, porém, este título é
transferido para nosso Senhor Jesus Cristo, de uma maneira nova e sem igual.
• O bom Pastor: “Eu
sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10.11);
• O grande Pastor:
“Ora, o Deus de paz, que pelo sangue do concerto eterno tornou a trazer dos
mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, grande Pastor das ovelhas” (Hb 13.20);
• Pastor e Bispo:
“Porque éreis como ovelhas desgarradas; mas, agora, tendes voltado ao Pastor e
Bispo da vossa alma” (I Pe 2.25);
• O Sumo Pastor: “E,
quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória” (I
Pe 5.4).
Estes títulos
conferidos ao Senhor Jesus o distinguiam totalmente daqueles que apenas
arrogavam-nos para si, mas que na verdade não o eram. Jesus pronunciou este
discurso sobre ovelhas e pastor logo após ter visto uma “pobre ovelha” (o cego
que tinha sido curado por Jesus próximo ao tanque de Siloé) sendo expulsa do
redil judaico por aqueles que, aos olhos do povo, eram de fato os pastores (Jo
9.34). Cristo, então, mostra-nos aqui sua ternura e benevolência. A missão de
nosso Senhor, quando esteve aqui entre nós, foi servir à vontade divina e à
necessidade humana; por isso se apresentou como sendo o bom Pastor, dizendo
ainda: “Eu... conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido” (Jo
10.14).
Severino Pedro Da Silva. Epistola aos Hebreus coisas novas e grandes que Deus preparou
para você. Editora CPAD. pag. 283-284.
2. O pastor conhece
as suas ovelhas.
Ele disse: “Eu sou o
bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido” (Jo
10.14). Jesus cuida de seus servos, como um bom pastor cuida de suas ovelhas.
Ele não vê apenas o “rebanho”, ou a Igreja, que é predestinada, coletivamente,
para a salvação (Jo 1.5,11). Ele vê cada um dos seus servos, sabe o nome de
cada um, ainda que sejam milhões e milhões, em todo o mundo, ao longo da
História. Ele sabe o que cada um pensa ou diz (SI 139.1-4).
As ovelhas de Jesus o
conhecem. No relacionamento espiritual entre os crentes e o Senhor Jesus,
através da comunhão constante, o servo de Deus não se engana com a voz do seu
Pastor.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 109.
Jo 10.14,15 Da mesma
forma que o pastor chama as suas ovelhas, e elas seguem somente a ele, assim
Jesus conhece o seu povo. Os seus seguidores, por sua vez, o conhecem como seu
Messias, e eles o amam e confiam nele. Tal conhecimento e confiança entre Jesus
e seus seguidores é comparado ao relacionamento entre Jesus e o Pai: “Assim como
o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai”. E Jesus repetiu este ponto - que
Ele é o Bom Pastor, e que Ele dá a sua vida pelas ovelhas.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. pag. 550.
Primeiramente, só
existe uma entrada verdadeira para o curral. Aquele que não entra pela porta no
curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador (1). O
motivo e o método de abordagem do rebanho marcam as diferenças entre o ladrão e
o pastor. O pecado e os seus agentes querem enganar e destruir, ao passo que o
Bom Pastor (14) dá a sua vida pelas ovelhas (15).
Em segundo lugar,
existe o Bom Pastor (11), que entra no aprisco pela porta — Aquele, porém, que
entra pela porta é o pastor das ovelhas (2). A palavra pastor é anarthrous em
grego, e consequentemente “fixa a atenção no caráter, como algo distinto da
pessoa”. “O pastor não é um exemplo na parábola, ele é o exemplo; e é sobre a
descrição do seu comportamento que se apoia a narrativa, para que a atenção dos
leitores possa se concentrar ali. Não somente as ovelhas são as suas próprias
ovelhas; não apenas ele tem toda a autoridade para aproximar-se delas; não
apenas ele chama as suas ovelhas pelo nome; não apenas elas ouvem a sua voz,
mas ele as traz para fora e, quando faz sair todas as suas ovelhas, vai diante delas,
e elas o seguem”.
Em terceiro lugar,
Ele é o Criador da nova sociedade de crentes, i.e., daqueles que creem nele. A
este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas
ovelhas e as traz para fora. E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai
adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz (3-4). A menção
do porteiro ou guarda do portão é incidental na história. Mas uma coisa é
importante. Existe um relacionamento entre o Pastor e as ovelhas que se baseia
na natureza do Pastor — a sua voz, o seu conhecimento das ovelhas, a sua
liderança, a sua orientação. Estas palavras devem ter significado muito para o
homem que tinha sido curado da sua cegueira, e que fora excomungado da sua
sinagoga (9.34) e expulso da sua família. Agora, ele era um membro da nova
sociedade, um seguidor do Bom Pastor. A palavra usada para tirar para fora é a
mesma traduzida como “expulsar” em 9.34. Assim, realmente, ser expulso, sob o
ponto de vista de Deus, é ser chamado para fora. Assim é a ekklesia (lit., “os
chamados para fora”), a Igreja, a nova sociedade.
Em quarto lugar,
aqueles que pertencem a esta nova sociedade, a Igreja, são submissos a uma única
voz, ...porque conhecem a sua voz. Mas, de modo nenhum, seguirão o estranho;
antes, fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos (4-5). Existe uma
gloriosa exclusividade em ser um membro do rebanho de Cristo — existe somente
uma voz, um caminho, uma vontade que realmente importa. Em uma época de uma
vida excessivamente complexa, o caminho garantido para a paz de espírito, para
o enfoque nos propósitos corretos, e o comprometimento significativo é
encontrado quando reconhecemos somente a sua voz. Esta “audição seletiva” é uma
proteção não somente contra a heterodoxia, mas também contra a desintegração da
personalidade (cf. 14-15). Thomas R. Kelly chama isto de “orientação habitual
de todo o ser para aquele que é o Foco”.
Joseph
H. Mayfield. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 7. pag. 96.
“Eu sou o Bom Pastor”
(Jo 10.1-16). O “bom pastor” é uma designação singular, pois enfatiza que a
disposição do pastor de morrer pelas suas ovelhas.
Um “mercenário” — e
aqui Jesus se refere aos líderes religiosos de Israel — cuida das ovelhas
apenas enquanto é lucrativo ou seguro. O bom pastor, que valoriza cada uma das
suas ovelhas, dará a vida por elas. Na verdade, é nisto, no dar a vida, que a
bondade do pastor é estabelecida.
Parece tolo pensar em
um homem disposto a morrer por meros animais, por maior que seja sua afeição
por eles. Há uma distância muito maior entre Deus e seres humanos do que entre
seres humanos e ovelhas! A maravilhosa bondade de Deus é plenamente demonstrada
nesta maravilha: Jesus nos amou o suficiente para dar sua vida por nós.
Se alguma vez você se
sentir como uma ovelha perdida, só e amedrontado em um mundo sóbrio e hostil,
lembre-se do Bom Pastor. Você pode saber que Ele o ama porque Ele deu sua vida
por você. Aquele que o amou tanto nunca irá abandoná-lo. Em Jesus você nunca,
nunca está só.
Lawrence
O. Richards. Comentário Devocional da
Bíblia. Editora CPAD. pag. 686.-687.
Aqui Jesus aplica a
parábola em mais outra maneira, de outro ponto de enfoque. Ele chama a si
mesmo, com ênfase, o bom pastor, como o único que com toda justiça pode usar
este nome. Neste sentido o nome só é aplicado a Cristo; ele é aquele único mais
excelente pastor das ovelhas espirituais. O primeiro aspecto que o distingue
como o verdadeiro pastor de almas é este, que ele dá sua vida, sua própria
alma, como remissão, como aquele único sacrifício completo, pela culpa de todos
os pecadores, que mereceram a eterna condenação. Ele se tornou o seu
substituto; ele tomou sobre si as transgressões deles e morreu em lugar deles.
Foi assim que os culpados, os pecadores, foram redimidos de pecado e
destruição. Jesus, neste sentido, incidentalmente é um exemplo para todos
quantos carregam o nome pastor como seus assistentes na grande obra. Ele
também, tendo em vista este objetivo, se coloca em proposital contraste aos
mercenários, os mestres falsos, os fariseus. Tais mercenários, cuja preocupação
é o dinheiro e o desejo de gozar seu sossego em Sião, mas não têm interesse nas
almas das pessoas confiadas ao seu cuidado. São tão só mercenários e só
trabalham enquanto está assegurado seu viver e bem-estar. Ao primeiro sinal do
lobo, diante da primeira indicação de real perigo, de provável perseguição,
sofrimento, e, até, de martírio, fogem em precipitada corrida. O resultado é a
dispersão e o assassinato das ovelhas pelos inimigos. Mas o mercenário não se
preocupa; ele não tem qualquer preocupação, qualquer angústia, nenhum
interesse, nas ovelhas. “Aquele que quer ser pregador, que ele ame de todo o
coração o trabalho, que ele busque unicamente a hora de Deus e o bem-estar de
seu próximo. Caso ele não busca só a glória de Deus e a salvação de seu
próximo, mas, neste ofício, pensa sobre sua vantagem e dano, neste caso não
precisas pensar que ele irá durar. Ele, ou fugirá envergonhado e abandonará as
ovelhas, ou se calará e deixará as ovelhas sem pasto, isto é, sem a Palavra.
Mercenários são
aqueles que pregam em favor de seu próprio benefício, que são cobiçosos, e não
se querem satisfazer com o que Deus diariamente lhes concede como esmola. Pois,
nós pregadores não devemos desejar mais de nosso ofício do que o plenamente
suficiente. Aqueles que querem mais são mercenários que não se preocupam com o
rebanho; enquanto isto um pregador piedoso por esta causa desistirá de tudo,
até mesmo de seu corpo e sua vida.”11) O segundo aspecto que distingue Jesus
como o bom pastor, em contraste aos demais, é o fato do relacionamento e
conhecimento íntimo entre ele e suas ovelhas. Assim como Jesus conhece aqueles
que são seus, tanto de corpo, como de alma e espírito, assim os cristãos
conhecem a Jesus; seu coração, sua mente e sua vontade estão centrados em
Jesus, repousam em Jesus. A expressão representa corretamente a íntima e
cordial relação e comunhão de amor que há entre Cristo e seus verdadeiros
discípulos. Esta intimidade e comunhão é tão estreita e envolvente como o é a
que existe entre o Pai e o Filho. Seus corações e mentes estão abertas um ao
outro; há uma mútua troca de pensamentos e ideias, que sempre são orientadas
por maravilhoso amor.
Assim sucede também
entre Cristo e seus fiéis. É devido ao conhecimento que Cristo tem do Pai e de
sua vontade, que Jesus declara que entregará sua vida pelas ovelhas. O resgate
é pago pelos pecados do mundo inteiro, mas só os fiéis têm o proveito da graça
do Salvador, só eles obtém a graça do Pai. Cristo ainda tem outras ovelhas, que
não são deste aprisco; ele conseguirá também dentre os membros de outras nações
fora da judaica quem nele crê. Pois o Pai lhe deu da cada nação no mundo um
grande número; eles são seus por desígnio e dom do Pai. Aqui Cristo declara que
sua voz, por meio da palavra do evangelho, sairia aos povos de outra descendência
e língua do que os judeus. É a obrigação da vontade divina que repousa sobre
ele que o impulsiona para ganhar também a estes para o evangelho. E eles iriam
ouvir, iriam obedecer sua voz no evangelho, e o resultado final seria um
rebanho, composto de todos aqueles que aceitaram a salvação pelo sangue de
Cristo, o único Pastor, o Filho do próprio Deus. “Mas nada é dito sobre uma
união de organização. Pode haver vários apriscos, mas um rebanho.”12) Os sonhos
do unionismo não encontram suporte nesta passagem. A “santa Igreja Cristã, a
comunhão dos santos,” tem sido congregada no mundo desde a primeira proclamação
do evangelho, e
todos os verdadeiros cristãos em Cristo formam a grande igreja invisível. Aqui,
porém, não uma só palavra para unir organizações eclesiásticas visíveis em um
só corpo imenso e poderoso.
KRETZMANN.
Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo
Testamento Editora Concordia Publishing House.
Jo 10.3-5 Quando o
pastor chegava, ele chamava as suas próprias ovelhas pelo nome. Pelo fato das
ovelhas reconhecerem a voz de seu pastor, elas vêm e o seguem, e saem para pastar.
O aprisco das ovelhas
do judaísmo continha algumas pessoas do povo de Deus que tinham esperado pela
vinda de seu Pastor-Messias (veja Isaías 40.1-11). Quando o Pastor veio, judeus
crentes reconheceram a sua voz e o seguiram. Dizem que os pastores no oriente podiam
dar nome a cada ovelha e que cada ovelha respondia ao pastor que chamava pelo seu
nome. Os crentes verdadeiros, como ovelhas pertencentes ao verdadeiro Pastor, jamais
seguiriam um estranho que fingisse ser o seu pastor (5.43).
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. pag. 549.
“Aquele... que entra pela porta é o pastor das
ovelhas” (Jo 10.1-6). O contraste aqui não é entre Jesus e os líderes
religiosos, mas entre Jesus e os falsos messias. Cristo veio a Israel pela
porta identificada pelos profetas do Antigo Testamento. “O Espírito do Senhor
Jeová está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos
mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos
cativos e a abertura de prisão aos presos; a apregoar o ano aceitável do
Senhor” (Is 61.1-2).
Outros vieram
pregando um furioso banho de sangue como retribuição contra os opressores de
Israel. Eram falsos pastores, subindo por outra parte. Os falsos messias da
história conservaram essa característica. Eles trariam o reino de paz de Deus
por meios sangrentos e “libertariam” os oprimidos matando os opressores.
Cuidado com tais pessoas. Você não ouvirá a voz de Jesus nos seus estridentes
chamados à revolução.
“As ovelhas o seguem,
porque conhecem a sua voz” (Jo 10.4). Este tema é frequentemente repetido por
Jesus. O relacionamento de um pastor oriental com suas ovelhas era pessoal. O
pastor conhecia cada ovelha pelo nome, como um indivíduo. Ele conduzia, não
simplesmente arrebanhava as ovelhas. As ovelhas também reconheciam o seu
protetor e respondiam à sua voz. Sua audição era tão aguçada que se alguém
tentasse imitar a voz dele, elas se assustavam.
Há outra implicação
aqui também. A noite, geralmente quatro ou cinco rebanhos de ovelhas eram
reunidos em uma área ou curral protegido. De manhã, quando um pastor chamava,
suas ovelhas respondiam à sua voz e se separavam do rebanho! Era a resposta à
voz do pastor que identificava suas ovelhas das centenas de outras, que
poderiam parecer iguais a elas para o observador descuidado.
Hoje também aqueles
que ouvem o evangelho e reconhecem nele a voz de Deus chamando-os respondem. E
a nossa resposta a Jesus que nos identifica como suas ovelhas.
Lawrence
O. Richards. Comentário Devocional da
Bíblia. Editora CPAD. pag. 686.
Esta parábola também
foi proferida no templo,
pouco depois que Jesus encontrou o homem que estivera cego e havia proferido as
palavras ameaçadoras aos fariseus sobre a cegueira espiritual. Aqui ele se refere
a um aprisco de ovelhas, a um desses cercados ou currais para ovelhas. Este era
um pátio com altas paredes de pedra para não deixar entrar animais selvagens
como mais outros intrusos. Havia um portão ou porta que era vigiada por um
porteiro. Agora Jesus afirma que qualquer pessoa que não procurasse o portão
para entrar no curral, mas procurasse alguma outra maneira para atingir seu interior,
bem por este sinal se evidenciava como um ladrão, cuja intenção é furtar ou
mesmo assaltar, e que não hesitaria em usar violência. O pastor não necessita
de tais esquemas e estratagemas. Ele se aproxima publicamente do portão do
curral, e o vigia lhe abrirá a porta, pois conhece o pastor e sabe suas
intenções. E quando o pesado portão foi aberto, o pastor só precisa erguer sua
voz no chamado que as ovelhas conhecem muito bem, que as ovelhas responderão
imediatamente. Ele tem um nome para cada ovelha que foi confiada, e elas são capazes
de distinguir a este nome que foi chamado. Caso houver no curral vários
rebanhos para o pernoite, as ovelhas de cada pastor irão responder só à voz de
seu próprio pastor. E quando todas as ovelhas que pertencem ao seu rebanho
foram colocadas para fora do curral, elas seguirão seu pastor que as dirige
pelo caminho, indo o pastor à frente, como ainda é costume no oriente. Elas
seguem sua voz, não suas vestes nem seu cachorro, como foi comprovado por testes
confiáveis. As ovelhas têm um conhecimento tão certo do cuidado carinhoso do
pastor, de sua maneira mansa e gentil de conduzir e guiá-las, que têm plena
confiança nele. Mas, dum estranho as ovelhas sentem temor e fogem dele, visto
que sua vos não lhes é familiar; não aprenderam a confiar nele como acontece
com seu próprio pastor. Esta parábola é uma das mais belas histórias de Cristo
completeza e detalhada correção do quadro, e a aplicação da parábola foi
suficientemente óbvia. Mas, como sempre, os judeus não fizeram a mínima ideia
da lição que o Senhor quis transmitir. O aprisco é em todos os tempos a igreja
de Deus. As ovelhas são os membros do reino de Deus, os cristãos tanto do
Antigo como do Novo Testamento, que colocam sua confiança na palavra de sua
redenção por meio da obra do Messias. Mas os homens que devem ser seus pastores,
seus líderes, desde tempos antigos, têm sido divididos em duas classes. Há
aqueles que publicamente se aproximam da porta, que têm o chamado e a tarefa de
tomar conta das almas que lhes foram confiadas, e que realizam seu chamado
difícil de modo apropriado, com toda a fidelidade. Pois eles são assistentes do
grande Pastor, Jesus Cristo, sendo a voz dele que por eles chama. Desta forma,
as ovelhas ouvem a voz de Jesus na voz dos pastores fiéis, o que também
reconhecem e sabem perfeitamente, o que também observam com prazer. E, se realmente
são suas ovelhas, não prestam atenção à voz dos que tentam imitar a voz do verdadeiro
Pastor, mas deles têm medo e os evitam. “Pois como ele disse sobre seu ofício
que ele realiza por meio de sua palavra, ele também diz de suas ovelhas, como
se devem comportar em seu reino, a saber, quando a porta se abriu para Ele,
eles imediatamente ouvem sua voz e aprendem a reconhecê-la corretamente, pois
ela é de fato a voz confortadora e cordial, pela qual eles, livres do terror e
do medo, chegam à liberdade que possam esperar toda misericórdia e conforto de
Deus em Cristo. E, tendo aceitado este Pastor, aderem só a ele em toda
confiança e de nenhum outro ouvem os ensinos.”7) O ouvir espiritual das
verdadeiras ovelhas de Cristo, que são os cristãos, rapidamente se torna tão
sutil que sabem distinguir imediatamente entre o ensino verdadeiro e falso, e
temerão e evitar a vos de estranhos. Serão capazes de julgar corretamente a
doutrina, sem qualquer comando arbitrário duma hierarquia auto instituída. “A outra
doutrina é que todos os cristãos têm poder e direito para julgar toda doutrina
e se separar de falsos mestres e bispos e em não lhes obedecer. Pois aqui ouves
que Cristo diz de suas ovelhas:... A um estranho não seguirão.... Pois, podendo
eles julgar essas coisas, tem eles disso a regra que é estabelecida na palavra
de Cristo, a saber que todos que não pregam a Cristo são ladrões e assassinos.
Com esta afirmação é estabelecido o julgamento, de que já não qualquer necessidade
de outro conhecimento mas em ser reconhecido por Cristo, e que devem a ele seguir
este julgamento e, por isso, fugir e evitar a todos os tais, sem interessar
que, quão grandes, e quantos são”8). Estes falsos pastores são caracterizados
como aqueles que de alguma outra maneira sobem ao curral, mas não pela porta.
Falsos mestres, que não têm chamado de Cristo, cuja doutrina falsa não tem direito
para existir, não virão com o puro evangelho e com um chamado do qual podem
atestar sua origem divina, mas farão uso de tramas e estratagemas para enganar
as ovelhas e seduzi-los para que os ouçam. “Pois, o evangelho é tão delicado e precioso
que não pode suportar qualquer adição ou doutrina de fora. As doutrinas
espirituais que nos dizem como podemos chegar ao céu com jejuns, rezas, e
outras obras semelhantes, são em si mesmas trilhos secundários que o evangelho
não pode suportar; mas os oponentes as querem, por isso são ladrões e
assassinos, pois ultrajam as consciências e abatem e assassinam as ovelhas....
Por isso um tal trilho é meu assassinato e morte.”9). Todos os mestres falsos
são, segundo as Escrituras, ladrões e salteadores, e a presença deles é uma
constante ameaça à igreja de Deus. “Eles, contudo, são chamados ladrões por
esta razão, visto que secretamente furtam, e aparecem com atraentes palestras,
como São Paulo afirma, Rm. 16. 18, numa grande ostentação, e também e
verdadeiras vestes de ovelha, afirmam ter especial fidelidade e amor às almas,
mas, incidentalmente tem esta marca, pela qual Cristo ensina que devem ser distinguidos,
que não entram pela porta, mas sobem por outra maneira, isto é, como ele mesmo o
expõe, vêm antes dele e sem ele, não indicam e não se referem a Cristo como o
único Pastor e Salvador.
KRETZMANN.
Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo
Testamento Editora Concordia Publishing House.
3. O pastor dá a vida
pelas ovelhas.
Na vida pastoril, nos
campos, os pastores cuidam das ovelhas para obterem delas o sustento para suas
vidas. Eles não morrem pelas ovelhas. Mas Jesus, o Sumo Pastor, deu a sua vida
pelos que nEle creem (Jo 10.1, 15). Na sua morte, aparentemente, o seu rebanho
estaria destinado a ficar sem pastor. Mas, contrariando a lógica humana, Ele
ressuscitou ao terceiro dia, vitorioso sobre a morte, sobre o inferno, sobre o
Diabo e sobre todos os poderes do universo. Ele proclamou aos discípulos a sua
onipotência: “É-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mt 28.18).
O PASTOR QUE CUIDA
DAS OVELHAS
O salmista Davi
escreveu certamente o mais belo texto sobre a figura de Deus como nosso Pastor,
o “Jeová Raá”, que, ao mesmo tempo, é o “Jeová-Jirê\ o Senhor que provê todas
as coisas necessárias a seu povo. Ele se referia ao Deus Pai. E falava da
ovelha que confia no seu Pastor. Porém todas as características do pastor do
Salmo 23 aplicam-se a Jesus Cristo, “o bom Pastor” (Jo 10.11,14).
1) Não nos deixa
faltar nada. No seu cuidado, Jesus não nos deixa faltar nada que seja essencial
ou indispensável à nossa vida. O crente fiel sabe contentar-se com o que Deus
lhe concede por sua infinita bondade (Fp 4.11-13). O que lhe falta, o Senhor
lhe dá graciosamente, por sua bondade e por seu amor.
2) Os “verdes pastos”
(SI 23. 2), São a figura do alimento espiritual que Jesus propicia à sua
Igreja, através da ministração sadia da sua palavra. Os pastores verdadeiros
alimentam a Igreja com a sã doutrina. As “águas tranquilas” falam da paz
interior, que o Senhor concede aos que nele confiam. E a paz que Ele deixou
para seus servos (Sl 23.2b; Jo 14.27); é a paz “que excede todo o entendimento”
(l;p 4.7).
3) O refrigério da
alma. Lembra o conforto que a presença de Deus nos concede, através do Espírito
Santo, nosso “Consolador” (Sl 23.3; Jo 14.16, 17). Nas horas mais difíceis,
quando não liá solução humana, o Bom Pastor nos conforta com sua graça e seu
poder.
4) As “veredas da
justiça”. São o caminhar reto e hei do crente salvo em Jesus (Sl 23.3b; Rm
5.19; 1 Pe 3.12), Quando o crente anda, seguindo o pastor Fiel, não comete
injustiças.
5) A segurança da
ovelha. Mesmo passando pelo “vaie da sombra da morte” (Sl 23.4), a presença do
pastor dá segurança: “porque tu estás comigo” (Sl 23.4b). Jesus assegurou que
estaria com seus servos, ainda que sejam “dois ou três” (Mt 18.20).
6) A mesa perante os
inimigos. A mesa preparada para a ovelha, perante os inimigos e a unção com
óleo (Sl 23.5), nos remetem à unção do Espírito Santo na vida do crente fiel (1
Jo 2.20, 27; Ef 5.18), concedendo-nos vitória sobre os inimigos que se levantam
contra a nossa fé.
7) Bondade e
misericórdia todos os dias. O Pastor do Salmo 23 concede “bondade e
misericórdia” para que o crente fiel habite na casa do Senhor “todos os dias”
da sua vida (Sl 23.6). Cristo nos faz ser “templo do Espírito Santo” (1 Co
6.19,20). Por todos esses paralelos de Cristo em relação a nós e o descrito no
Salmo 23, podemos concluir que Jesus é o nosso Pastor por excelência.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 108-109.
Jo 10.11 Jesus é o
Pastor zeloso e dedicado - o bom pastor. Como descrito nos versículos que se
seguem, há quatro características que separam este Bom Pastor dos pastores
falsos ou maus:
1. Ele se aproxima
diretamente - Ele entra pela porta.
2. Ele tem a
autoridade de Deus - o porteiro permite que Ele entre.
3. Ele atende as
necessidades reais – as ovelhas reconhecem a sua voz e o seguem.
4. Ele tem amor
sacrificial - Ele está disposto a dar a sua vida pelas suas ovelhas.
Repetindo isto quatro
vezes, Jesus assinalou que o traço mais importante do bom pastor é que Ele dá a
sua vida pelas ovelhas (10.11; veja também 15,17,18).
De acordo com a
ilustração neste capítulo, a vida de um pastor poderia às vezes ser perigosa.
Animais selvagens eram comuns nos campos da Judéia. Um bom pastor podia
certamente arriscar a sua vida para salvar as suas ovelhas.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. pag. 550.
O propósito e o plano
de Deus não são apenas salvar o homem da morte, da destruição, da culpa, mas
também torná-lo santo, “conforme a imagem do seu Filho” (Rm 8.29). Tal
propósito só pode ser atingido de uma maneira; por meio da morte voluntária de
Jesus. Simplesmente por ser o bom pastor, Ele dá a sua vida pelas ovelhas (11).
Literalmente, o bom pastor pode ser traduzido como “O Pastor, aquele que é
bom”. A sua bondade é tão grande que Ele não encontra comparação — não existe
Pastor como Ele. Alguns levantaram a questão de como Cristo pode ser ao mesmo
tempo a Porta e o Pastor. Mas isto significa estar limitado pelos detalhes da
parábola, porque Ele certamente é a Porta do aprisco, a única Entrada para a
vida, e Ele é o Pastor das ovelhas, o Único que se preocupa o suficiente para
dar a sua vida pelas ovelhas (cf. 6.51).
Joseph
H. Mayfield. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 7. pag. 97-98.
Jo 10.10-13. As
intenções de um ladrão diante das ovelhas são inteiramente más; os planos do bom
pastor são totalmente bons. Ele deseja e providencia o bem-estar das ovelhas;
ele não se contenta com que elas tenham uma existência de privações e miséria;
ele quer que elas vivam plenamente a sua vida, tenham bastante pasto bom e
gozem de boa saúde. (É diffcil traduzir kalos de kalos poimên por qualquer
outro adjetivo a não ser bom ele forma um contraste bastante óbvio com o
“pastor inútil, que abandona o rebanho”, de Zc 11.17). O pastor prova ser bom
porque se preocupa em primeiro lugar com o bem-estar das ovelhas, não com o
seu. Ele até arrisca a sua vida para salvar a delas; provavelmente é este o
sentido do verbo tithêsin ("expor”) substituído pela variante didõsin
(dá). Afinal, elas são suas ovelhas; ele as trata visando o bem delas.
O mercenário não tem
más intenções, como o ladrão ou salteador, mas não tem interesse pessoal pelas
ovelhas do pastor verdadeiro. Ele toma conta delas em troca do seu salário; ele
faz sua obrigação muito bem em tempos normais, mas quando há perigo ele está
mais preocupado com a sua segurança do que com a das ovelhas. Ele não se
disporá a arriscar sua vida para defende-las do lobo que as espreita, como o
pastor de verdade. Não podemos dizer com certeza se o mercenário ou o lobo
correspondem a personagens da situação da qual Jesus está falando; talvez os
ouvintes tenham tirado suas próprias conclusões em relação a isto. Mas não há
dúvidas quanto a quem é o bom pastor.
F. F. BRUCE. João. Introdução
e Comentário.
Editora Vida Nova. pag. 196-197.
Jo 10.11 Na
sequência, a explicação da parábola volta-se da ―porta‖ para o próprio
―pastor‖. Novamente ressoa o poderoso autotestemunho de Jesus: ―Eu sou o
pastor, o bom.‖ Com uma longa e dolorosa paciência Deus havia observado os
pastores incompetentes, sim os maus pastores, negligenciar e destruir seu povo.
Ele havia prometido que cuidaria pessoalmente de seu rebanho. Agora ele o
cumpre. Chegou ele, o único, o verdadeiro ―bom‖ pastor. Jesus afirma: ―Eu sou‖
aquele para o qual apontam todas as profecias do bom pastor. ―Eu sou‖ aquele em
quem se concretiza definitivamente a figura do pastor, a antiga metáfora do
reinado em Israel. Em mim se cumpriu Ezequiel 34.11-16 e Isaías 40.11. Que
terrível cegueira, quando os dirigentes de Israel não reconhecem isso,
repudiando esse cumprimento das promessas de Deus!
O ―bom pastor‖ possui
uma única marca incondicional. ―O bom pastor empenha a sua alma pelas ovelhas.‖
A vida dos ―ladrões e assaltantes‖ é regida pela regra do ser natural: ―Para
nós mesmos.‖ Sobre a vida de Jesus brilha a poderosa palavra ―pelas ovelhas‖.
Por que o Verbo eterno abandonou o lugar junto do Pai na glória? Por que o
Verbo se tornou ―carne‖ e partilhou toda a nossa existência? Por que o Logos se
torna o Servo de Deus, que sofre, verte sangue e morre? Há somente uma
resposta: Pelas ovelhas, por nós! Ao ouvi-lo, acostumamo-nos com a formulação:
―O bom pastor dá a vida pelas ovelhas.‖ Nessa forma a palavra é mantida também
por traduções mais recentes. Igualmente está correto que o termo hebraico
―néphésh‖, em grego ―psyché‖, não se refere à ―alma‖ em sentido dogmático ou
filosófico restrito, mas visa designar a ―vitalidade‖ de um ser, motivo pelo
qual também pode ser traduzida por ―vida‖. Por outro lado, porém, não constam
aqui, para a palavra ―vida‖, nem ―bios‖ nem ―zoé‖, como o leitor é levado a
supor pela tradução usual. A verdade é que o texto grego traz ―psyché‖ =
―alma‖. Contudo, também para o conteúdo da afirmação a tradução não é indiferente.
―Dar a vida‖ evoca de forma unilateral, essencialmente passiva, apenas o
morrer. Então parece que Jesus teria sido esse bom pastor apenas nas horas de
sua morte. No entanto, quando João exorta em 1Jo 3.16 que nós também devemos
―dar a vida pelos irmãos‖, ele com certeza não pensou que todos os cristãos
devem morrer reciprocamente uns pelos outros. Ele se refere ao ―empenho da
vida‖ toda, o engajamento de toda a ―alma‖, que deve e pode acontecer sem
cessar em nossa convivência no amor. Foi assim que também E. M. Arndt
compreendeu a palavra, acolhendo-a numa tradução literal em seu hino: ―Quem
toda a alma empenhou, receberá a coroa.‖ Para um empenho desses a morte pode
ser a consumação extrema. É isso que acontece com o ―bom pastor‖ Jesus em sua
morte na cruz. Contudo, o empenho de sua alma significa incessantemente toda a
sua vida e atuação. O empenho de sua vida pelas ovelhas acontece precisamente
também na acalorada luta que ele está travando agora diante de nossos olhos em
favor das ovelhas mal-dirigidas contra seus sedutores, contra esses ―ladrões e
assaltantes‖.
Werner de Boor.. Comentário Esperança Evangelho de João. Editora Evangélica
Esperança.
Jo 10. 14/15 Mais uma
vez Jesus testifica ―Eu sou o bom pastor‖. Agora, porém, ele ressalta na figura
do pastor um aspecto que já era central na descrição dos v. 2-5: O ―conhecer‖
recíproco entre o pastor e suas ovelhas. ―E conheço as [ovelhas] a mim
pertencentes, e as [ovelhas] a mim pertencentes me conhecem.‖ Enquanto
inicialmente se salientava na ilustração o reconhecimento da ―voz‖ e o ―seguir‖
confiante, agora é mostrado que por trás desse ―ouvir‖ e ―seguir‖ está um
―conhecer‖ muito profundo. A parábola de Jesus refere-se a acontecimentos que
de fato ocorrem entre o pastor e suas ovelhas. Nesse ponto, porém, a descrição
do ―conhecer‖ mútuo entre o pastor e as ovelhas a ele pertencentes extrapola a
parábola, mostrando-nos uma realidade que não pode mais ser captada com
comparações terrenas. Porque esse ―conhecer‖ é tão profundo que Jesus o precisa
comparar com seu próprio relacionamento com o Pai. Jesus e suas ovelhas se
conhecem mutuamente ―como o Pai me conhece a mim e eu conheço o Pai‖. O próprio
Jesus confirma agora para nós o que arriscamos afirmar já no comentário a Jo
5.19, de que em nossa vida com nosso Senhor se repete para nós exemplarmente o
que constatamos na comunhão entre Filho e Pai maravilhosamente como sendo a
essência da comunhão interior propriamente dita. Realmente é assim que Jesus
nos conhece ―assim como o Pai o conhece‖. Será isso possível? Será que o fato
de Jesus ―conhecer‖ as pessoas não levará àquela reserva contra nós que se
salientou claramente em Jo 2.24s? Sim, será que quando Jesus conhece minha
natureza pervertida isso não precisa resultar em ojeriza, ira e rejeição?
Contudo, Jesus já havia prometido em Jo 6.37 que ele não expulsaria ninguém que
viesse até ele. Quem se torna um dos ―a ele pertencentes‖ por meio da fé, a
esse ele ―conhece‖ de uma forma inconcebível para nós, porém abençoada, de
consertar em amor, até que um dia alcance o alvo em nossa igualdade com ele
(1Jo 3.2; Rm 8.29). Mais tarde, nas últimas conversas com seus discípulos, ele
confirmará expressamente que esse seu ―conhecer‖ é ―amar‖: ―Como o Pai me amou,
também eu vos amei‖ (Jo 15.9). Por isso, e unicamente por isso também nosso
―conhecimento‖ de Jesus pode ser análogo ao conhecimento que Jesus tem do Pai:
―As [ovelhas] a mim pertencentes me conhecem… assim como eu conheço o Pai.‖
Jamais o ―conheceríamos‖, se ele não nos tivesse conhecido primeiro e ―amado
primeiro‖ (1Jo 4.19). Agora, porém, vemos e amamos em Jesus a fonte exclusiva
de nossa verdadeira vida, assim como o Filho tem sua vida a partir do Pai e no
Pai. Pelo menos inicialmente, e desse modo de forma fundamental, há em toda a
nossa atitude interior uma dependência, cordialmente aceita, de Jesus, que
corresponde à dependência, profundamente desejada e aceita, do Filho em relação
ao Pai.
Um ―conhecer‖ desses,
porém, referente aos a ele pertencentes, unicamente é possível pelo sacrifício
espontâneo de Jesus por nós. Ao Filho o Pai pode conhecer e amar com toda a
alegria e com completa satisfação. A nós, porém, Jesus pode conhecer e amar
somente pelo fato de que subordinou seu relacionamento conosco à seguinte
resolução: ―E empenho a minha alma pelas ovelhas.‖ Ele nos conhece e vê como
aqueles que ele comprou com o empenho total de sua alma e sua vida e que, por
conseqüência, lhe são caros. Mas ele já conhece e vê em nós aquilo que ele fará
de nós mediante o empenho total de sua alma.
A obra e luta de
Jesus valeu permanente e integralmente para Israel. Em tudo que lemos até aqui
tínhamos de lembrar sempre que Jesus fala aos ―judeus‖. Precisamente João, que
expõe com toda a profundidade o contraste entre Jesus e ―os judeus‖ ao mesmo
tempo sabe, não obstante, com que fidelidade Jesus até em sua morte como ―rei
dos judeus‖ se manteve fiel a Israel. Também as ovelhas de que fala o presente
trecho são ―as ovelhas perdidas da casa de Israel‖ (Mt 10.6; 15.24),
unicamente às quais
ele foi enviado agora. Apesar dessa fidelidade para com o povo de propriedade
de Deus, porém, Jesus tem consciência das dimensões universais de seu envio.
―Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; e também a elas preciso
conduzir. Elas ouvirão a minha voz. Então será um rebanho, um pastor.‖ As
―outras ovelhas‖ não estão no pátio cercado, ―neste aprisco‖, protegidas como
Israel atrás da ―cerca da lei‖. Estão ―sem Cristo, excluídas da cidadania em
Israel e estranhas aos testamentos da promessa‖, e por isso sem esperança e sem
Deus no mundo (Ef 2.12). Contudo Jesus sabe o que ele fará de acordo com o
maravilhoso plano e desejo do Pai. A promessa de Deus a Abraão em Gn 12.3 tinha
de ser cumprida. Por essa razão Jesus ―precisa conduzir‖ também essas muitas
outras ovelhas de todas as gerações e línguas e povos, que ele comprará com seu
sangue para Deus (Ap 5.9). E acontecerá o milagre que nenhuma pessoa podia
esperar: ―Elas ouvirão a minha voz.‖ Pessoas que por sua natureza, história e
cultura não têm absolutamente nada a ver com esse homem da Palestina, são
atingidas pela palavra de Jesus e encontram em Jesus sua vida, seu maior
tesouro. Se isso não estivesse diante de nós na história do evangelho como uma
realidade, ninguém o consideraria possível. Mas a palavra de Jesus é verdade:
―Ouvirão a minha voz.‖ Então não haverá vários rebanhos diferentes, mas ―haverá
um rebanho, um pastor‖. Jesus antevê aquela igreja de ―judeus‖ e ―gentios‖ que
foi concedida pela primeira vez na casa de Cornélio, que existia nas
comunidades de Paulo e das quais tratou o decisivo concílio dos apóstolos (At
15). ―Um rebanho, um pastor‖, isso se confirmou naquelas palavras de Paulo que
testemunham a unidade em Cristo acima de todas as diferenças (1Co 12.12s; Gl
3.28; Cl 3.11). A palavra de Jesus a respeito de ―um rebanho‖ não é mero ideal.
Foi gloriosamente cumprida. Em todos os continentes, países, raças e vozes foi
ouvida a ―voz‖ de Jesus e pessoas se agregaram à igreja de Jesus. Segundo sua
essência, essa igreja somente pode ser sempre a única igreja, assim como existe
apenas um pastor que a conquista com a sua vida.
Werner de Boor.. Comentário Esperança Evangelho de João. Editora Evangélica
Esperança.
Jo 10.14-16. É
característico do pastor verdadeiro que ele conheça suas ovelhas. O verbo
conhecer ocorre quatro vezes nos versículos 14 e 15, e em todas as vezes usa-se
o presente gnômico de ginüskü, com sentido geral, desvinculado do tempo. O
conhecimento especial que Pai e Filho têm um do outro na ordem eterna (veja Mt
11.27 e Lc 10.22) é ampliado para incluir aqueles a quem o Filho chama seus
(veja o amor mútuo e inclusivo de 14.21,23,15.9). Na parábola, o gênero de
minhas (ta êma) é neutro, referindo-se a ovelhas (probata) na verdade a
referência é àqueles que em outras passagens são chamados “seus” (hoi idioi; p.
ex. 13.1). Pode haver aqui um reflexo das palavras de Números 16.5 LXX: “O
Senhor sabe quem é dele” (citadas verbatim em 2 Tm 2.19). A disposição do bom
pastor em expor-se a perigos de morte em prol de suas ovelhas agora é anunciada
diretamente por Jesus (novamente existe a variante didõmi, dou para tithémi,
“deponho” ).316 Os leitores do evangelho sabiam que Jesus não somente se expôs
a perigos de morte em prol de seu povo, mas acabou mesmo “colocando-se entre
ele e seu inimigo, voluntaria mente morrendo em seu lugar". Na verdade, é isto que
as palavras de Jesus nos versículos 17 e 18 indicam.
Suas ovelhas, que
pertenciam a este aprisco, eram de linhagem judaica, mas ele tinha outras
ovelhas, que precisavam ser buscadas, que nunca tinham pertencido a este
rebanho e, na verdade, nem podiam ser encaixadas nele. Mais tarde, no
evangelho, elas são chamadas filhos de Deus que andam dispersos, que precisam
ser reunidos por Jesus em um só corpo, juntos com os que pertenciam à “nação
Israel” (11.51,52). A Versão Autorizada inglesa tem “um redil” em vez de um
rebanho, no fim do versículo 16, um erro que se originou da Vulgata (unum
ovile), e os revisores do rei Tiago não tinham desculpas porque William Tyndale
traduzira corretamente em 1526 e 1534 (algumas versões latinas anteriores à
Vulgata também foram mais corretas do que Jerônimo, de modo que também ele não
tem desculpas).
Estas palavras de
Jesus, então, apontam para a missão entre os gentios e a formação da comunidade
constituída de judeus e gentios crentes, onde não há “judeu nem grego” (Gl
3.28, Cl 3.11). As ovelhas judias precisavam ser tiradas primeiro do aprisco
(aulê), antes de serem reunidas às outras ovelhas para formarem um novo rebanho
ipoimriê). O que haveria de manter unido este rebanho maior e dar-lhe a
necessária proteção contra inimigos externos?
Não muros em redor,
mas a pessoa e o poder do pastor. Unidade e segurança do povo de Cristo
dependem da sua proximidade dele. Sempre que seu povo se esquece disto e tenta
garantir unidade e segurança construindo muros ao redor de si, os resultados
não são animadores. Ou os muros têm sido tão amplos a ponto de incluir diversos
lobos entre as ovelhas (com consequências desastrosas para estas), ou tão
restritos a ponto de haver mais ovelhas excluídas do que recolhidas.
F. F. BRUCE. João. Introdução
e Comentário.
Editora Vida Nova. pag.197-198.
I Ped 5. 2-4. A
responsabilidade pastoral desses presbíteros é descrita assim: apascentai o
rebanho de Deus (2). A palavra “pastorear” explica melhor o significado do
original do
que apascentai. O dever do pastor é triplo: providenciar pasto, caminhos para o
pasto e proteção nos caminhos para o pasto. Portanto, o dever do pastor vai
além da pregação. O rebanho é a Igreja. Ela pertence a Deus como sua possessão
comprada. Em certa época seus membros eram como ovelhas desgarradas, mas elas
voltaram ao “Pastor e Bispo” da sua alma (cf. 2.25). O pastor deve instruir e
guiar o rebanho em obediência e sujeição à completa vontade de Deus. O cuidado
a ser exercido envolve três particularidades expressas de forma negativa e
positiva. 1) Quanto ao espírito desse serviço, ele não é por força, mas
voluntariamente. A liderança da igreja era tão perigosa naqueles dias que
poderia custar a vida do líder. Mesmo assim, ele não deveria fazer essa obra
relutantemente como se fosse um fardo ou considerá-lo como um dever
profissional obrigatório. Em vez disso, esse era um ministério para o qual Deus
o havia apontado e chamado e, por isso, deveria ser feito com obediência e
alegria. 2) A motivação dessa supervisão não deveria ser por torpe ganância,
mas de ânimo pronto — não como um mercenário que espera ganhar dinheiro. Os
presbíteros tinham o direito de esperar sustento material daqueles a quem
ministravam; mas sua motivação não deveria provir de um “amor ao ganho
constitucional”, que “é uma desqualificação para o ministério cristão”.90
Considere seu efeito em Judas Iscariotes! 3) Quanto à forma de supervisão, ela
não deve ser como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de
exemplo ao rebanho (3). Os líderes nunca devem ser tirânicos ou se esquecer dos
direitos das pessoas que lhes foram confiadas. Eles não devem dominar como o
arrogante Diótrefes (3 Jo 9-11), mas liderar pelo poder de uma vida santa. O
pastor nunca deve esquecer que ele não é o Sumo Pastor (4).
A compensação terrena
do líder pode ser insignificante, mas quando aparecer
o Sumo Pastor (cf.
4.13), ele terá a sua recompensa incorruptível (cf. 1.4,5), a coroa de glória,
“a felicidade do céu, o elemento principal de a vida de Deus ser derramada na
alma por meio de Cristo”;91 “uma participação perpétua na sua glória e honra”
(Bíblia Viva).
Roy
S. Nicholson. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 10. pag. 242-243.
I Ped 5.2-4. I As
pessoas a quem são dadas essas orientações – aos presbíteros, pastores e
líderes espirituais da igreja, presbíteros e anciãos por ofício, e não por
idade, ministros daquelas igrejas às quais escreve esta epístola.
II A pessoa que faz
essa exortação - o apóstolo Pedro: “...admoesto eu”. E, para reforçar essa
exortação, ele lhes diz que é presbítero com eles, e assim não impõe nada a
eles que ele não esteja disposto a fazer também. Ele é também “...testemunha
das aflições de Cristo”, tendo estado com Ele no jardim, acompanhado ao palácio
do sumo sacerdote, e muito provavelmente tendo sido testemunha do seu
sofrimento na cruz, à distância, entre a multidão (At 3.15). Ele acrescenta que
é também “...participante da glória” que em certa medida foi revelada na
transfiguração (Mt 17.1-3), e vai ser completamente desfrutada na segunda vinda
de Jesus Cristo. Aprenda: 1. Aqueles cujo ofício é ensinar a outros devem
cumprir atentamente seu próprio dever, assim como ensinam ao povo o dever
deste. 2. Como eram diferentes o espírito e o comportamento de Pedro do
espírito e do comportamento dos seus pretensos sucessores! Ele não ordena e
manda, mas exorta. Ele não reivindica soberania sobre todos os pastores e igrejas,
nem se intitula príncipe dos apóstolos, vigário de Cristo ou cabeça da igreja,
mas se apresenta como presbítero. Todos os apóstolos eram presbíteros, ou
anciãos, embora nem todo presbítero fosse apóstolo. 3. Foi uma honra peculiar
de Pedro e de alguns mais serem testemunhas dos sofrimentos de Cristo; mas é
privilégio de todos os verdadeiros cristãos serem participantes da glória que há
de ser revelada.
III A descrição do
dever do pastor, e a maneira em que esse dever precisa ser cumprido. O dever do
pastor é tríplice: 1. “...apascentai o rebanho...”, por meio da pregação
honesta da palavra de Deus ao rebanho, e ao conduzi-lo de acordo com as
orientações e a disciplina que são prescritas pela palavra de Deus, que estão ambas
incluídas nessa expressão: Apascentai o rebanho.
2. Os pastores do
rebanho precisam ter a supervisão dele, o seu cuidado. Os presbíteros são
exortados a fazer o seu trabalho de bispos (que é o significado da palavra), por
meio do cuidado pessoal e da vigilância sobre todos que no rebanho estão
comprometidos ao seu cuidado.
3. Eles precisam ser
“...exemplo ao rebanho”, e praticar a santidade, a autonegação, a mortificação
e todos os deveres cristãos, que eles pregam e recomendam ao seu povo. Esses
deveres precisam ser realizados “...não por força”, não porque você tem de
fazê-los, não por compulsão de um poder civil, ou pela coação do medo ou da
vergonha, mas de uma mente voluntária que tem prazer na obra. Não “...por torpe
ganância”, ou por algum lucro ou proveito relacionados ao lugar em que você reside,
ou de uma prerrogativa relativa ao ofício, “...mas de ânimo pronto”,
considerando o rebanho mais do que a lã, sincera e alegremente se empenhando
para servir à igreja de Deus. “...nem como tendo domínio sobre a herança de
Deus”, agindo como tirano sobre o rebanho por compulsão ou força coerciva, ou
impondo invenções humanas ou não-bíblicas a ele em vez dos deveres necessários (Mt
20.25,26; 2 Co 1.24). Aprenda: (1) A dignidade eminente da igreja de Deus e de
todos os seus verdadeiros membros. Esses cristãos pobres, dispersos e
sofredores eram o rebanho de Deus. O restante do mundo é uma manada irracional.
Esses constituem um rebanho pacífico e ordeiro, redimido para Deus pelo grande
Pastor, vivendo em santo amor e comunhão uns com os outros, segundo a vontade
de Deus. Eles são também dignificados com o título de herança de Deus, sua
porção peculiar, escolhidos dentre a multidão comum para ser eu povo, para
desfrutar do seu favor especial e para fazer para Ele um serviço especial. No Novo
Testamento, a palavra nunca é restrita aos ministros da religião. (2) Os
pastores da igreja devem considerar o seu povo o rebanho de Deus, a herança de
Deus, e tratá-lo de acordo com isso. Não são seus, para serem dominados segundo
o seu prazer; mas são povo de Deus, e devem ser tratados com amor, mansidão e
ternura, por causa daquele a quem pertencem. (3) Aqueles ministros que são
forçados ao trabalho por necessidade ou atraídos a ele por torpe ganância não
podem realizar o seu dever como deveriam, porque não o fazem voluntariamente e
com disposição.
(4) A melhor forma
que um ministro pode usar para obter o respeito das pessoas é cumprir o seu
próprio dever entre elas da melhor maneira que puder, e ser um constante
exemplo a elas de tudo que é bom.
IV Em contraste com
os lucros imundos que muitos se propõem como o seu principal motivo em assumir e
cumprir o ofício pastoral, o apóstolo coloca diante deles a coroa da glória
preparada pelo grande pastor, Jesus Cristo, para todos os seus ministros fiéis.
Aprenda:
1. Jesus Cristo é o
“...Sumo Pastor” de todo o rebanho e herança de Deus. Ele os comprou, e os
governa; e os defende e salva para sempre. Ele é também o pastor principal
sobre todos os pastores subalternos; eles derivam a sua autoridade dele, agem em
nome dele e prestam contas a Ele.
2. Esse Sumo Pastor
vai aparecer para julgar todos os ministros e coo-pastores, para chamá-los à
prestação de contas, para ver se cumpriram fielmente seus deveres tanto
publicamente quanto em particular, de acordo com as orientações acima.
3. Aqueles que
comprovarem ter cumprido o seu dever terão o que é infinitamente melhor do que
o ganho temporal; receberão do Sumo Pastor um elevado grau de glória eterna, “...a in
corruptível
coroa de glória”.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo
Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 882-883.
I Ped 5.2 A
incumbência aos anciãos é: Apascentai o rebanho de Deus entre vós! A metáfora
do pastor e do rebanho é usada com freqüência na Bíblia (sobretudo em Ez 34 e
Jo 10). O verdadeiro pastor de seu povo é o próprio Deus (cf. 1Pe 2.25),
enquanto as pessoas incumbidas da direção são pastoras por incumbência de Deus.
Em consonância, a igreja é rebanho de Deus. Nunca seres humanos podem ter direitos
sobre ela, nem mesmo quando nela trabalharam laboriosa e fielmente como
pastores. O fato de ela ser rebanho de Deus é que torna o serviço nela tão
cheio de responsabilidade. Importa também aqui o que Paulo diz em 1Co 3.17 com
uma figura diferente: “Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o
destruirá.” Assim como no AT, também no NT Deus confiou o serviço de pastor a
pessoas, “supervisores” (At 20.28), pastores (Ef 4.11) e anciãos (ou “os mais
velhos”). Pelo fato de Pedro não diferenciar claramente entre “anciãos” e “mais
velhos”, nenhum dos mais velhos pode transferir a responsabilidade pelo rebanho
aos “anciãos”. Cada um deles possui perante Deus uma responsabilidade pela
igreja. A tarefa dos pastores consiste em apascentar. O foco está nas necessidades
do rebanho. Apascentar é regido pela pergunta: de que a igreja precisa para um
bom desenvolvimento e para ser protegida de perigos? Um verdadeiro pastor pode
se esquecer de seus próprios interesses por causa das carências do rebanho e de
cada uma das ovelhas que lhe foram confiadas, e o mesmo vale para um ancião no
tocante à igreja que lhe foi confiada.
O serviço do pastor é
ameaçado particularmente por três perigos: pela falta de disposição, por
ganância e pela avidez de poder. Com as palavras não coagidos, mas
voluntariamente, conforme Deus Pedro refere-se à falta de disposição para
cooperar. Há uma forma de cumprimento do dever que não traz alegria para
ninguém. Indisposição e contrariedade transferem-se para aqueles que cumprem o
“dever”, marcando a obra. Obviamente a rigor ninguém pode ser coagido a prestar
um serviço na igreja. Contudo, quando alguém pertence ao grupo dos presbíteros
ou quando até mesmo chega a ser ancião, ele tem a tarefa, e espera-se que
preste o serviço. É dessa “coação” que se fala. “Não coagido” significa, então,
realizar o serviço não porque isto é esperado, mas de livre e espontânea
vontade. Voluntariamente, ou “disposto”, “por livre iniciativa” refere-se à
iniciativa pessoal, ser cativado e impelido pela seriedade e magnitude do
serviço. Quando a vontade de Deus determina a vontade dos “mais velhos”, eles
agem de forma espontânea, mais precisamente conforme Deus. Isso pode
significar: “segundo a maneira de Deus” ou “segundo a vontade de Deus”.
Schlatter traduz: “em vista de Deus”. De qualquer modo visa-se expressar que
qualquer serviço de pastor depende de Deus. E mais uma advertência: não em
sórdida ganância, mas de boa vontade. É verdade que Jesus dissera: “porque
digno é o trabalhador do seu salário.” (Lc 10.7). Será que os anciãos recebiam
pagamento já nos tempos do NT? Seja como for, é grande o perigo de buscar nesse
serviço primeiramente a vantagem pessoal. Isso contamina o coração e o serviço.
Os anciãos, como bons pastores, devem estar realmente empenhados pelo rebanho,
tendo em vista o bem das ovelhas, e não mirando a lã delas. O significado
básico do termo grego prothymos (= disposto), expressa: inclinado, com
simpatia, com dedicação, com zelo, com gosto. O bem e as angústias dos outros
ocupam, portanto, o foco, e o motivo é a determinação de servi-los.
I Ped 5.3 Segue uma
última exortação aos anciãos. Tampouco como aqueles que se fazem senhores sobre
o que lhes foi distribuído, mas como aqueles que se tornam (ou: são) exemplos
do rebanho. O termo grego para o que lhes foi distribuído na realidade
significa “sorteio”. Em seguida passa a
significar: o que foi
sorteado, a herança, o quinhão sorteado. No presente contexto refere-se com
certeza à igreja, respectivamente à área de tarefas confiada a cada um dos
anciãos. Duas coisas repercutem nessa palavra: que se trata de algo grandioso e
que eles não o buscaram por si, mas que lhes foi atribuído. Não como aqueles
que se fazem senhores sobre o que lhes foi distribuído significa textualmente:
“olhar de cima para baixo”, depois “oprimir”, “subjugar”. Os anciãos devem conduzir
a igreja, e nessa função também exercer a disciplina eclesial. Nessa posição de
liderança reside o perigo do abuso, devido à pulsão humana pelo poder. Existe
um abuso da liderança, um senso equivocado quanto ao cargo. Ao senhorear sobre
os demais, os servidores da igreja se portam como senhores, privam Deus da
honra e posição de domínio que lhe cabem e impõem inferioridade aos membros da
igreja. Nisso sua liberdade e cooperação responsável se perdem, bem como a
alegria em servir e o senso comunitário. É assim que anciãos, por “olhar de
cima para baixo”, praticamente conseguem “gerir os negócios para baixo”. A isso
Pedro contrapõe a maneira correta de apascentar: como aqueles que se tornam
exemplo para o rebanho. Também Paulo emprega o termo exemplo ou “molde” (em
grego typos) e exorta no mesmo sentido os responsáveis pelas igrejas (1Tm 4.12;
Tt 2.7; cf. também 1Ts 1.4; 2Ts 3.9). Em Fp 3.17 ele conclama: “Imitai-me todos
juntos, irmãos, e fixai o vosso olhar naqueles que se conduzem segundo o exemplo
que tendes em nós” [TEB]. A igreja não precisa de índoles dominadoras, mas de
exemplos. Quem se transforma em senhor gosta de exigir da igreja serviços que
ele mesmo não está disposto a executar. Quem, no entanto, é exemplo,
antecipa-se no servir. Todos os “mais velhos” estão submetidos à tarefa de se
tornar exemplos do rebanho. Para o serviço de ancião não são necessários em
primeiro lugar o dom da pregação nem capacidades humanas de destaque, mas, pelo
contrário, uma atitude de vida que é marcada por Jesus e pelos apóstolos, ou
seja, pela Sagrada Escritura.
I Ped 5.4 E quando o
Supremo Pastor tiver sido manifesto recebereis a imarcescível coroa da glória.
Os anciãos precisam saber que acima das igrejas está um Supremo Pastor, e que
receberam a propriedade dele somente para cuidar. Ele avaliará e recompensará o
serviço deles (1Co 3.8,14; Ap 11.18). No serviço que prestam, portanto, os
anciãos são responsáveis perante ele, e independentes do julgamento das
pessoas. A sentença sobre seu ministério pastoral será proferida naquele dia em
que tiver sido manifesto o Supremo Pastor, que agora ainda está oculto, mas já
presente com todo o poder. Ele, pois, observa o serviço dos presbíteros.
Considerando, porém, que todos os acontecimentos na igreja e no mundo originados
em Deus têm por alvo a manifestação do Messias, é necessário que também os
presbíteros direcionem seu serviço para esse evento. Isso reforça seu senso de
responsabilidade e sua confiança, porque vale para eles a promessa: recebereis
a imarcescível coroa da glória. Naquele tempo, após as competições cada
vencedor recebia uma grinalda. Logo a grinalda é sinal do triunfo. É assim que
um dia o Supremo Pastor recompensará todos que apascentaram bem seu rebanho com
a grinalda da glória, que, ao contrário de todas as coroas terrenas, é
incorruptível, não consistindo de material terreno, mas de glória (cf. também
2Tm 4.8; Ap 2.10; 3.11). A glória, porém, é a essência da proximidade de Deus e
consequentemente de todo bem, toda luz e toda beleza. Paulo escreve em Cl 3.4:
“Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis
manifestados com ele, em glória. Quando Cristo, que é a nossa vida, se
manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória.” Essa
promessa vale de forma singular para aqueles que apascentaram fielmente o
rebanho de Deus.
Uwe
Holmer. Comentário Esperança Cartas aos I Pedro. Editora Evangélica
Esperança.
II - AS
CARACTERÍSTICAS DO VERDADEIRO PASTOR
1. Um caráter
íntegro.
Neste tópico,
enfatizamos as características do verdadeiro pastor, no sentido humano, daquele
que tem o chamado de Deus para ser um guia de parte do rebanho do Sumo Pastor.
E o que tem o dom ministerial de pastor. Não é qualquer pessoa que tem
condições de receber esse dom, ainda que seja o mais procurado pelos aspirantes
ao ministério eclesiástico. Paulo ensina que é Deus quem dá pastores às igrejas
(Ef 4.1): “Os pastores são aqueles que dirigem a congregação local e cuidam das
suas necessidades espirituais. Também são chamados “presbíteros” (At 20.17; Tt
1.5) e “bispos” ou supervisores (lTm 3.1; Tt 1.7)”.2
O pastor de uma
igreja deve espelhar-se nas características do “Sumo Pastor” (1 Pe 5.4). E deve
possuir qualificações que o credenciem para tão importante missão. O pastor
verdadeiro é dado por Deus à igreja. Ele não dá a igreja ao pastor (Ef 4.11); a
igreja, mesmo no sentido local, não pertence ao pastor. O pastor deve ser um
servo da igreja local, e não seu mandatário ou proprietário. A seguir, algumas
dessas qualificações, conforme 1 Timóteo 3.1-7 eTito 1.7, relativas ao bispo,
que é sinônimo de pastor:
1)
Irrepreensibilidade moral. Refere-se a uma vida de integridade, de que não
tenha de que se envergonhar ou causar escândalo.
2) Vida conjugal
ajustada (“marido de uma mulher”). Note-se que é prioridade o cuidado com a
vida conjugal; no Novo Testamento, não é prevista a tolerância com a bigamia ou
a poligamia; a regra é a monogamia, como plano original de Deus para o
matrimônio; e o pastor como esposo deve ser exemplo para os demais esposos, na
igreja, amando sua esposa e cuidando dela (Ef 5.25).
3) Vigilante. O
pastor é o guarda do rebanho. Deve estar atento ao que se passa ao seu redor;
vigiando, primeiro, a sua vida pessoal e ministerial (1 Tm 4.16). Depois,
vigiando o rebanho para alertar e livrar dos “lobos devoradores”; Ser vigilante
significa ser “atento, cauteloso, cuidadoso, precavido” quanto aos perigos que
o rodeiam. Para assumir a função de liderança, na igreja local, o obreiro deve
ser muito cuidadoso quanto à sua vida espiritual, moral, social, familiar e em
todos os aspectos. Isso porque o Diabo “anda rugindo como leão, buscando a quem
possa tragar” (1 Pe 5.7). O presbítero, bispo ou pastor deve obedecer o que
Jesus disse: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o
espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26.41). Ele precisa ser “exemplo
dos fiéis” (1 Tm 4.12; 1 Pe 5.3).
4) Sóbrio (simples,
moderado). O pastor ou bispo deve zelar pela simplicidade, no ministério; o
luxo, a ostentação material, a exibição de riqueza não convém a um homem de
Deus; Jesus disse: “sede símplices como as pombas” (Mt 10.16).
5) Honesto. Tem o
significado de ser “honrado, digno, correto, íntegro; decoroso, decente, puro,
virtuoso”. Todas essas qualificações podem resumir-se numa expressão: ser
“santo em toda a maneira de ver” (1 Pe 1.15). O homem de Deus não é perfeito em
si mesmo, por mais que se esforce para ser santo. Mas, cuidando de sua vida
pessoal, ministerial e como cidadão, pode ser muito bem visto pelos crentes como
uma pessoa honesta. O seu falar deve ser “sim, sim; não, não” (Mt 5.37).
Honestidade é sinônimo de integridade. O pastor ou bispo deve ser uma pessoa
assim, fiel, sincera, verdadeira. Deve ser alguém que vive o que prega ou
ensina (Tg 2.12).
6) Hospitaleiro. Esta
palavra vem de hospital, na sua origem. Não havia casas de saúde como hoje. Uma
hospedaria era um hospital, um lugar onde os viandantes podiam pousar, e também
os enfermos, uma hospedaria ou estalagem (Lc 10. 34,45). Mas o pastor não tem
obrigação de transformar sua casa em hospedaria. No sentido do texto,
hospitaleiro é sinônimo de acolhedor, que sabe tratar bem as pessoas, sem fazer
acepção de ninguém; é pecado (Dt 16.19; Ml 2.9; 1 Tm 2.11;Tg2.9).
7) Apto a ensinar.
Como o pastor é o que alimenta ou apascenta o rebanho, o pastor deve saber
fazer uso da Palavra de Deus, ministrando mensagens, estudos e reflexões que edifiquem
o rebanho sob seus cuidados. Se não tiver essa aptidão, deve estar no lugar
errado (2 Tm 2.15).
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 110-112.
Características do
Verdadeiro Pastor
1. Pode entrar
legalmente no aprisco das ovelhas (João 10:1). Isso se refere à missão messiânica
autêntica de Jesus e à sua autoridade.
2. O trabalho do
verdadeiro pastor é coroado de sucesso e ele entra apropriadamente no aprisco, mediante
a ajuda do porteiro (provavelmente símbolo do Espírito Santo, João 10:7).
3. O bom pastor
instrui as suas ovelhas com a sua palavra e o seu exemplo, e as guia (João
10:7).
4. O bom pastor vive
bem familiarizado com as suas ovelhas, e elas o conhecem bem, o que indica comunhão
e comunicação (João 10: 3,4). 5. O
pastor verdadeiro guia o rebanho, tanto nesta vida como em direção à vida
eterna (João 10:4 10 17 e 28).
6. O bom pastor é o
exemplo moral das ovelhas e vai adiante delas (João 10:4).
7. O verdadeiro
pastor é inteiramente devotado ao seu rebanho e dá a própria vida pelas suas
ovelhas (João 10: 11). Fica implícito aqui, no caso de Cristo, a expiação
realizada na cruz do Calvário, porém, mais particularmente ainda, a vida que
lhes é conferida através do sacrifício do pastor, isto é, a vida eterna, o lado
positivo da expiação, sendo frisada a união mística com Cristo, e não tanto o
lado negativo, que é o perdão dos pecados (João 10:28).
8. O verdadeiro
pastor garante a segurança do rebanho, tanto agora como para toda a eternidade mediante
a autoridade que lhe foi conferida pelo Pai: com quem Cristo tem perfeita
união, tanto no tocante à sua natureza quanto no que diz respeito aos seus desígnios
(João 10:27-30: ver também 5:19, acerca da unidade essencial entre o Pai e o
Filho).
Todas essas
características fazem violento contraste com os falsos pastores. que são
indivíduos totalmente egoístas e perversos, e que, na realidade, não podem oferecer
qualquer dessas vantagens e bênçãos ao rebanho. de Deus. Por ,conseguinte, é
dito aqui que o verdadeiro pastor, que e Cristo, entra pela porta, isto é,
pelos canais espirituais competentes, porquanto não tem necessidade de iludir,
posto que todos os seus propósitos são benévolos.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 105.
2. Exemplo para os
fiéis e os infiéis.
8) Não dado ao
vinho”. Nos tempos de Paulo, o vinho era já uma bebida alcoólica que podia
causar dependência química ou psicológica. Seria uma tristeza um pastor ficar
embriagado pelo uso constante do vinho. Se tosse escrito hoje, o texto talvez
dissesse: “não dado à cerveja, à champanhe, ao licor ou a outra bebida
alcoólica”. O pastor ou bispo deve dar exemplo de abstinência desse tipo de
bebida para o seu bem, de sua família e do rebanho sob seus cuidados.
9) Ordeiro (“não
espancador”). Por que Paulo fez referência a esse tipo de comportamento? Sem
dúvida, porque observou que algum obreiro tinha o costume de “espancar” as
pessoas a seu redor. Sempre houve pastores grosseiros, prepotentes, alguns que
cometeram “assédio moral” contra pessoas a seu redor. Isso é reprovável sob
todos os aspectos. O pastor deve ser ordeiro, humilde, de bom trato para com
todos, não cobiçoso nem ganancioso. Ordeiro quer dizer que mantém a ordem, na
casa de Deus.
10) Moderado, É
sinônimo de suave, brando, comedido, prudente, contido. É qualidade sem a qual
o pastor pode sofrer sérios revezes em sua vida, no relacionamento com outras
pessoas, em seus hábitos, costumes, etc. Ele não pode ser um desequilibrado
mental, sem controle de suas emoções. Para ser moderado, precisa ter o fruto da
temperança e da longanimidade (cf. G1 5.22).
11) Não contencioso.
O pastor ou bispo não deve viver em contenda, nem com a família, nem com os
crentes, nem. com os de fora. Contenda é o mesmo que porfia, dissensão, peleja,
que são “obras da carne” (G1 5.2,1). Diz um ditado: a melhor maneira de ganhar
uma contenda é evitá-la. Cora oração e vigilância é possível viver em paz.
12) Não avarento.
Quer dizer que o pastor ou bispo não deve ser sovino, mesquinho, e não deve ter
amor ao dinheiro (avareza), que é “a raiz de toda espécie de males” (1 Tm
6,10). O pastor não deve viver em função de dinheiro ou de bens materiais. Sua
missão é elevadíssima, e deve focar-se no amor às almas ganhas para Cristo, que
ficarão aos seus cuidados ministeriais.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 112-113.
QUALIFICAÇÕES DO PASTOR
No primeiro ponto,
acima, demos os dons que um pastor deveria possuir; e isso. como é óbvio, faz
parte de suas qualificações. Passagens das chamadas epistolas pastorais (I e 11
Timóteo e Tito) dão listas de qualificações desses ministros, além de outros.
Ver I Tim. 3:1 ss e Tito 2. Um pastor deve ser homem controlado, livre de
vícios, não belicoso. sem excessos. Deve governar bem a sua casa; não pode ser
um noviço; deve ter boa reputação, devidamente conquistada; deve ser avesso a
maledicências e ao uso incorreto da língua; não deve ser ganancioso; não deve andar
atrás do dinheiro; deve ser homem que se santifica; deve ter uma boa esposa,
que não lhe traga perturbações; deve ser forte na fé e mestre da mesma; deve
ter ousadia no seu ensino; deve ser cheio de amor e paciência; deve ser
perseverante; deve caracterizar' se por boas obras; na doutrina, deve ser
incorrupto; deve ser homem sério; sua linguagem deve ser sadia; deve saber
exortar; deve ser honesto; deve saber repelir toda forma de impiedade; deve ser
alguém ansioso para ensinar e capaz de fazê-lo; e, finalmente, deve ser homem
de reconhecida piedade.
Unger, no artigo
intitulado Pastor, divide as muitas qualificações de um pastor em três
categorias:
a. O serviço de
mmistração ao culto divino, pondo em ordem a adoração da congregação,
administrando as ordenanças, pregando a Palavra de Deus. Nesse sentido, o
pastor é um ministro.
b. Ele deve ser
habilidoso nos cuidados pastorais, cuidando de alimentar espiritualmente o
rebanho, mostrando-se vigilante, deixando-se envolver em boas obras e ações de
misericórdia e compaixão.
c. Ele deve brandir a
autoridade espiritual da Igreja, sendo um dirigente que merece respeito e que impõe
ordem e disciplina. Um pastor deve ter como um de seus alvos o aperfeiçoamento
dos santos (Efé. 4:12). mostrando-se espiritualmente alerta (Heb, 13:17; 11
Tim. 4:5) sendo capaz de exortar, advertir, consolar e orientar com autoridade
(I Tes. 2:22; I Cor. 4: 14,15). No quarto capítulo da epístola aos Efésios, o trabalho
dos pastores suplementa o trabalho dos apóstolos, evangelistas e profetas.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 105-106.
Qualificações do
Bispo (3.2)
Convém, pois, que o
bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto,
hospitaleiro, apto para ensinar. No total, há 15 qualificações estipuladas pelo
apóstolo, sete das quais ocorrem no versículo 2. E importante que a primeiríssima
destas seja a irrepreensibilidade. O significado da palavra é “acima de
repreensão”, “de reputação irrepreensível” (cf. CH), “de caráter impecável”,
“que ninguém possa culpar de nada” (NTLH). Por qualquer método que avaliemos,
esta é a virtude mais inclusiva que aparece na lista. Significa que o líder na
igreja de Cristo não pode ter defeito óbvio de caráter e deve ser pessoa de
reputação imaculada. Dificilmente se esperaria que não tivesse defeito, mas que
fosse sem culpa. E apropriado que o ministro seja julgado por um padrão mais
rígido que os membros leigos da igreja. Os leigos podem ser perdoados por
defeitos e falhas que seriam totalmente fatais a um ministro. Há certas coisas
que um Deus misericordioso perdoa em um homem, mas que a igreja não perdoa no
ministério deste. A irrepreensibilidade do candidato é requisito no qual
devemos ser insistentes hoje em dia, como o foi Paulo no século I.
O líder da igreja
deve ser exemplar especialmente em assuntos relativos a sexo. Este é o destaque
da segunda estipulação do apóstolo: Marido de uma mulher (2). Trata-se de
precaução contra a poligamia, que gerava um problema sério para a igreja cujos
membros eram ganhos para Cristo vindos de um paganismo que tolerava abertamente
casamentos plurais. Em todo quesito que a igreja com seus altos padrões éticos
relativos a casamento confrontar o paganismo de nossos dias, em regiões
incivilizadas ou não, a insistência cristã na pureza deve ser enunciada de
forma clara e seguida com todo o rigor.
Mas temos de
perguntar: A intenção de Paulo era desaprovar o segundo casamento? Alguns dos
manuscritos antigos requerem a tradução “casado apenas uma vez” (conforme nota
de rodapé na NEB). “Sobre este assunto, como em muitos outros”, comenta Kelly,
“a atitude que vigorava na antiguidade difere notadamente da que prevalece em
grande parte dos círculos de hoje. Existem evidências abundantes provenientes
da literatura e inscrições funerárias, tanto gentias quanto judaicas, que
permanecer solteiro depois da morte do cônjuge ou depois do divórcio era
considerado meritório, ao passo que casar-se outra vez era visto como sinal de
satisfação excessiva dos próprios desejos”.1 E óbvio que em alguns segmentos da
igreja primitiva esta era a opinião prevalente, chegando ao extremo último da
ordem de um ministério celibatário.
Mas esta não é a
interpretação do ensino de Paulo que prevalece hoje. E bem conhecida sua
própria preferência da vida solteira em comparação ao estado casado; e há
passagens nos seus escritos em que ele recomenda este estado aos outros (e.g.,
1 Co 7.39,40). Talvez o melhor resumo da intenção do apóstolo para os nossos
dias seja a declaração de
E. F. Scott: “O bispo
tem de dar exemplo de moralidade rígida”.2
As próximas três
especificações — vigilante, sóbrio, honesto (2) — têm relação próxima entre si
e descrevem a vida cristã ordeira. Moffatt traduz estas qualidades pelas
palavras: “temperado [NVI; cf. RA], mestre de si, calmo”. A temperança neste
contexto transmite a ideia de autocontrole (cf. CH) ou autodisciplina.
O próximo quesito
qualificador é apresentado pelo apóstolo na palavra descritiva hospitaleiro
(2). Esta mesma característica é mais detalhada em Tito 1.8: “Dado à
hospitalidade, amigo do bem”. Nesses primeiros dias da igreja, esta era uma
virtude muito importante.
Havia poucos albergues no mundo do século I, e os apóstolos e evangelistas
cristãos que eram enviados de lugar em lugar ficavam dependentes da
hospitalidade de cristãos que tivessem um “quarto de profeta”, mantido com a
finalidade de atender essas necessidades. Em nossos dias de hotéis, expressamos
nossa hospitalidade cristã de modo diferente. Mas quando a igreja era jovem,
essa hospitalidade era extremamente primordial. O dever e privilégio de
ministrá-la recaíam naturalmente sobre o bispo ou pastor. O espírito essencial
do ato é tão importante hoje como era outrora.
Igualmente essencial
e até mais importante é a sétima qualidade que Paulo menciona: Apto para
ensinar (2). Pelo visto, nem todos os pastores eram empregados no ministério de
ensino. E o que mostra 5.17: “Os presbíteros que governam bem sejam estimados
por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na
doutrina”. Mas a aptidão para ensinar era rendimento certo para o ministro
cristão. Era importante então como é hoje. Sempre haverá indivíduos que possuem
maior capacidade nesta ou naquela área que outros, mas certa habilidade para
ensinar é de extrema necessidade ao ministério completo e frutífero.
Homens de Sobriedade
(3.3)
Este versículo contém
mais seis especificações que devem caracterizar o líder cristão: Não dado ao
vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não
contencioso, não avarento (3). Todos os quesitos, exceto um, são negativos, mas
todos são importantes. O primeiro nos soa um tanto quanto estranho, sobretudo
quando seu significado preciso é entendido com clareza. Temos estas opções de
tradução: “Não deve ser indivíduo dado a beber” (NEB); “não pode ser chegado ao
vinho”, (NTLH); “não deve ser apegado ao vinho” (NVI; cf. BAB); “não deve ter o
vício da bebida” (BV); ou pelas palavras diretas: “Não bêbedo” (RSV). O ponto
que confunde o leitor da atualidade é que tal estipulação fosse necessária. No
pensamento da maioria dos evangélicos hoje em dia, a abstinência total de
bebidas alcoólicas é elementar na vida cristã. E não é difícil perceber que o
julgamento moral que determina a abstinência total para o cristão — leigo ou
ministro — é a compreensão básica da ética cristã. Mas esta ideia, como o
julgamento moral das trevas, não fora discernida claramente no século I. Temos
de manter isso em mente para entendermos as alusões do apóstolo ao uso do vinho
neste e em outros textos. Kelly observa que “hoje em dia, as pessoas por vezes
se surpreendem que Paulo achasse necessário fazer tal determinação, mas o
perigo era real na sociedade desinibida em que se situavam as congregações
efésia e cretense”.
Não espancador (3) é
expressão que exige interpretação neste contexto. Significa, literalmente, “não
doador de socos”. Kelly traduziu por “não dado à violência” (cf. BAB, BV, CH,
NVI, RA). O homem de Deus deve ser caracterizado por amor e comedimento
cristão.
Não há ambiguidade
ligada à próxima estipulação de Paulo: Não cobiçoso de torpe ganância (3). Esta
é advertência contra o amor do dinheiro que o apóstolo, mais adiante nesta
mesma epístola (6.10), declara ser “a raiz de toda espécie de males”. Tal
proibição tinha relevância imediata, pois fazia parte da responsabilidade do
pastor cuidar dos bens e capitais da igreja. Esta seria fonte constante de
tentação para o avarento. Somente aquele que desse toda prova de não ter
espírito de cobiça pode ser separado com segurança para a obra do ministério.
Claro que é
perfeitamente possível que ministros e leigos sejam enganados pelo que nosso
Senhor chamou de “a sedução das riquezas” (Mt 13.22). A sutileza desta sedução
é que a pessoa não precisa possuir riquezas para ser enganada por elas.
Desejá-las ardentemente, permitir-se adotar atitudes calculistas na esperança
de obter riquezas, ficar indevidamente interessado por salários e lucros deste
mundo não podem deixar de empobrecer e, no final das contas, destruir o valor
do próprio ministério. Tudo isso está implícito no aviso paulino do desejo
controlador por dinheiro.
A única virtude
positiva no versículo 3 é moderado, (“tranquilo”, CH; “cordato”, RA). Isto
significa não tanto a capacidade de manter a calma sob controle quanto a
capacidade de resistir sob pressão, com infalível espírito de bondade e
paciência. Paulo exalta esta virtude em 1 Coríntios 13.4, quando nos assegura
que o amor é sofredor e benigno — benigno mesmo no fim do sofrimento. As
especificações adicionais — não contencioso, não avarento (5) — são repetições
para enfatizar os quesitos já estipulados.
J.
Glenn Gould. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 9. pag. 469-471.
I Tm 3.2 O
presidente, pois, deve ser irrepreensível. Essas palavras não instituem o
presidente nem seu ministério, mas o pressupõem, e isso sem qualquer ênfase,
como em Fp 1.1. Em primeiro lugar se falou do “sacerdócio de todos os fiéis”
(cap. 2) e agora de seus servos, em plena concordância com 1Co 3.5. Podemos
chamar a lista subseqüente de “catálogo de virtudes”, em contraposição ao
chamado “catálogo de vícios”. Chama atenção que não se fazem exigências
especiais, exceto, talvez, de “apto para ensinar”. Pelo contrário, enumeram-se
atitudes práticas e cotidianas que precisam ser consideradas “elementares” para
todos os cristãos. Por que, no entanto, escrever acerca delas mesmo assim? Essa
lista ou outras similares nas past só podem ser descartadas depreciativamente
como “moral burguesa” ou “ética cristã mediana” se ignorarmos como tudo está
fundamentado e como as coisas elementares são e continuam sendo necessárias
para a fé.
Quando as coisas
elementares não são constantemente renovadas e redirecionadas em direção ao que
é fundamental (a base) e final (o alvo, a consumação, em grego, o eschaton),
rapidamente surgem enredamentos e descaminhos igualmente elementares,
arrastando consigo o indivíduo e a sociedade. É preciso ver as orientações das
past diante do pano de fundo de uma indomável correnteza de “anomia” na
sociedade e igreja.
Irrepreensível não
significa simplesmente gozar de boa fama, mas ter um testemunho justificadamente
bom. A crítica e as acusações não devem encontrar pontos vulneráveis para seu
ataque. Aparentemente a palavra designa o comportamento abrangente, fundamental
para tudo o que segue. Jesus frisa a importância do bom testemunho, como também
ocorre em geral no NT. Nessa questão é decisivo que o bom testemunho seja
reconhecido e fornecido pelos que não fazem parte da igreja. “Vossa conduta
seja decorosa aos olhos dos estranhos.” Essa exortação da carta mais antiga de
Paulo coincide integralmente com a exigência de ser irrepreensível, o que não
pode ser questionado nem mesmo por observadores críticos e hostis. Um modo de
vida desses só é viável a partir do “mistério da fé, preservado em uma
consciência pura”. Essa é a origem e a renovação de toda a autêntica irrepreensibilidade.
Representa o oposto tanto do comportamento antissocial como da exagerada
adaptação pacata a todos e a tudo.
Marido de uma só
mulher. O presidente deve ser exemplarmente casado. Não se espera o celibato
dos servidores da igreja, mas que tenham plena capacidade matrimonial e sejam
modelos no casamento. A melhor “escola matrimonial” acontece por “exemplos
matrimoniais”. Presidentes e diáconos devem ser casados uma única vez; isso
aponta em 3 direções:
1) Acerca da
profetiza Ana lemos que era virgem até se casar. Quando o marido morreu após 7
anos de casamento, ela passou a viver sozinha até idade avançada (84 anos),
servindo a Deus. De acordo com a palavra profética permaneceu fiel ao “noivo de
sua mocidade”.
2) Conforme as
palavras do Senhor a monogamia é o alvo original, estabelecido por Deus, do
relacionamento entre homem e mulher. Se os próprios gentios chamam atenção para
isso e os cristãos aspiram ao amor e à fidelidade no matrimônio, quanto mais
isso deveria valer, então, para aqueles que se “apresentam em todas as coisas”
(logo também no casamento) como “exemplo de boas obras”.
3) A interpretação
aqui fornecida possui relevância justamente com vistas à prática do divórcio,
que naquela época se alastrava com força, e do correlato recasamento de pessoas
divorciadas, seja entre gregos, seja entre judeus.
A expressão única
pode ser mantida em forma tão genérica pelo fato de que deve caracterizar de
forma abrangente a atitude básica fundamental da castidade em todas as
situações. O casto não reprimiu sua sexualidade, mas a tornou íntegra, porque
castidade é alegrar-se com a sexualidade respeitando os limites do respeito.
Sóbrio (nephalios)
vale tanto para mulheres como para homens idosos. O verbo correspondente já é
utilizado por Paulo em sua carta mais antiga: “Não durmamos como os demais, mas
vigiemos e sejamos sóbrios.” Ser sóbrio faz parte da oração e da vigilância e
diz respeito a uma contenção de orientação escatológica diante de todo tipo de
fanatismo, embriaguez, dissoluções no pensar, sentir e agir.
Quem reconhece a
verdade em Deus torna-se sóbrio diante do delírio do pecado, para viver uma
vida reta.
Sensato (sophron):
assim como o adjetivo “sóbrio”, também ocorre somente nas past, mas o termo é
usado como verbo na carta aos Romanos: cada qual deve pensar com moderação, ser
sensato, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um. Quem é temperante
possui uma medida correta de auto-avaliação, um sentido para o que é real. É
compreensivo. Depois de ser curado, o homem antes possesso está tranquilamente
assentado, está vestido e em perfeito juízo. O temperante é espiritualmente
saudável. “O fim de todas as coisas está próximo, sede, portanto, criteriosos e
sóbrios a bem das vossas orações!” Ambas as palavras – sóbrio e temperante – possuem
um viés escatológico, e o fato de aparecerem juntas serve para enfatizar isto.
Quem está embriagado e alimenta sonhos devotos a respeito de si mesmo e do
mundo não consegue orar de fato, porque orar é justamente o contrário de fugir
da chamada “realidade” para um mundo onírico. Vale o contrário: quem ora acorda
para a verdadeira situação, e quem está alerta ora de olhos abertos. É disso
que resultam as boas obras.
Digno (kosmios):
sensato e digno (como em 1Tm 2.9 para as mulheres!) pode ter aqui o sentido de
cortês, solícito, o que no entanto não deve ser entendido como cortesia
artificial, que visa as aparências, porque isso representaria uma contradição
com sóbrio e sensato. Realmente cortês é aquele que ao avaliar a si mesmo e a
todas as coisas de forma sensata e de acordo com a perspectiva de Deus, acordou
para as necessidades daqueles aos quais serve.
Hospitaleiro: em
outras ocasiões Paulo também exorta as igrejas para que cuidem das necessidades
dos santos e pratiquem a hospitalidade. Nos escritos do NT lemos a respeito de
cristãos que são viajantes e também comerciantes; outros são perseguidos e
precisam fugir para outras cidades. Os apóstolos e seus colaboradores viajavam
de localidade em localidade, dependendo para isso da acolhida solícita nas
casas dos crentes. Para as reuniões da igreja e para os que estavam em trânsito
as casas das famílias dos fiéis representavam o alojamento propício. Tudo isso
torna necessária a exortação de que não se esqueçam da hospitalidade. Mais
tarde é preciso proteger a hospitalidade contra os abusos de andarilhos
itinerantes e “irmãos estranhos”.
Hoje quem viaja por
países em que os cristãos são perseguidos ou representam uma minoria sabe o que
significa e custa a hospitalidade. Mas também onde os cristãos são maioria na
sociedade, mas as formas eclesiásticas não são (mais) marcantes e formadoras de
comunhão, a cordial liberalidade das famílias que creem em Cristo em relação a
visitantes, conhecidos e desconhecidos, constitui o nervo vital para uma igreja
que irradia para dentro do mundo. A abertura hospitaleira não é uma palavra em
favor, mas contra o aburguesamento, porque o burguês se isola e se fecha em seu
castelo, ainda que seja apenas uma pequena moradia alugada no mesmo edifício
com outros 10 ou 100 inquilinos. O burguês não gosta de se colocar a caminho,
nem gosta de ser incomodado por inconstantes. A vida de gueto de muitas
comunidades eclesiais tem por correlação a vida na reclusão caseira e na
privacidade de seus membros. Os servidores da igreja, porém, devem ser exemplos
no matrimônio e na família pelo fato de serem abertos e livres para o hóspede.
Apto para ensinar
(didaktikos): em todo o NT o termo ocorre somente aqui e em 1Tm 3.2. O seu
sentido é descrito exaustivamente em Tt 1.9: o presidente deve “apegar-se à
palavra confiável e conforme a doutrina, para que seja capaz de, pelo reto
ensino, exortar bem como convencer os que o contradizem”. Deve estar aberto
para questões doutrinárias, capaz de formar sua própria opinião e instruir a
outros. Precisa discernir entre o que é importante e o que leva a descaminhos,
entre doutrina verdadeira e falsa, saudável e doentia e ser capaz de ensinar e
transmitir corretamente o que é apropriado em cada caso.
Do presidente
espera-se capacidade de ensinar, do diácono não. Não se pode concluir disso que
ensinar seja atribuição exclusiva do presidente, nem é possível obter aqui uma
base para o posterior “magistério” católico-romano. Porque conforme 2Tm 2.2
Timóteo deve transmitir o evangelho a “pessoas fiéis”, não especificamente
apenas presidentes, que serão capazes de novamente ensinar a outras. O ensino
ministrado por mestres específicos somente tem sentido sob a premissa de que
todos são capazes de se instruir e exortar mutuamente. No entanto, só se pode
esperar isso deles quando e porque eles próprios são “ensinados por Deus”.
Ademais, 1Tm 5.17 deixa explícito que a presidência não era exercida por uma
pessoa sozinha, e que nem todos que presidiam ou eram presbíteros também
ensinavam.
Os presidentes tinham
de ser exemplos no ensinar, não para aliviar outros desta tarefa, mas
capacitando-os para isso. Na escola o professor de matemática deve instruir os
alunos para que saibam solucionar pessoalmente tarefas de matemática. Não deve
resolver a tarefa por eles, e nem todos os alunos devem tornar-se matemáticos
ou professores de matemática.
I Tm 3.3. Não dado ao
vinho, não espancador, porém amável, não briguento, não avarento.
Em Corinto as ágapes
e as santas ceias da igreja haviam degenerado em comilanças. Em seu meio havia pessoas
que se intitulavam irmãos, mas cujo Deus na verdade era seu próprio estômago. O
estômago era o poder máximo que os determinava. Comer e beber, bem como
digressões sexuais, significavam tudo para eles. Quem ainda era escravo de tais
vícios mesmo como cristão dificilmente podia conduzir aqueles que haviam se
convertido do mundo gentílico para novos hábitos de vida. O simples fato de que
era preciso dar essas instruções a presidentes e diáconos permite reconhecer
que à época da redação da carta a igreja não passava pela vida inerte, em um
“aburguesamento” distante e impassível: “impuros, idólatras, adúlteros, garotos
de programa, sodomitas, ladrões, avarentos, bêbados, maldizentes, assaltantes”
era o contexto de onde vinha uma parcela da igreja, não apenas em Corinto, e
com tais concidadãos seus membros conviviam no cotidiano. Como aprenderiam que
uma vida assim era indefensável na igreja, por ser antissocial e inconciliável
com o reino de Deus? Verdadeira transformação não podia ser trazida por ordens
e condenações genéricas, mas somente por modelos de vida nova vivenciados. Por
essa razão o presidente não deve ser beberrão nem galo de briga com discurso
autoritário, mas instrutor amável de uma vida verdadeira. Para a nossa época
uma lista equivalente
talvez seria: nem fumante inveterado, nem obeso, nem viciado em leitura de
jornais ou televisão, nem polemista.
Porém amável:
benigno, solícito, transigente; o contrário de rigorismo inflexível, que
tão-somente provoca contendas. De acordo com o linguajar atual poderíamos
traduzir o sentido com: objetivo, isento de agressão diante dos agressivos. Em
Tt 3.2s “transigente” foi combinado com “manso”, como também em 2Co 10.1, onde
Paulo escreve que ele exorta a igreja em conformidade com a amabilidade
(transigência) e mansidão que o determinam. Também na época atual de
embrutecimento das relações entre as pessoas, dos protestos e das provocações
(desafios) de âmbito mundial, quando se visa desencadear e consequentemente
desmascarar (super) reações autoconscientes em palavras e ações, é
imprescindível para a igreja de Cristo e seus servos que todos estejam
firmemente enraizados na forte mansidão de Jesus. Martin Luther King não
permitia nenhum participante nas marchas de protesto que em provas anteriores
havia se deixado arrastar para reações violentas.
Também nessa palavra
não se deve ignorar a conotação escatológica. Como o Senhor está próximo, os
cristãos devem expressar sua amabilidade a todas as pessoas, também diante dos
que os difamam e perseguem.
Não briguento:
trata-se aqui de briga por palavras, ter palavra de comando, ser irredutível no
debate., diferente de “não espancador”, que briga chegado às vias de fato,
muitas vezes embriagado.
Não avarento: Quando
Jesus disse que não se pode servir a Deus e ao dinheiro, os fariseus zombaram
dele porque eram gananciosos. Jesus espera do bom administrador que lide
fielmente com o dinheiro injusto. De acordo com Tt 1.7 o presidente, que é um
administrador (ecônomo) de Deus, não deve ambicionar a torpe ganância.
Lutero traduz: “não
ávido de querelas, mas brando, não briguento, não ávido por dinheiro.”
Hans
Bürki. Comentário Esperança Cartas aos I
Timóteo.. Editora
Evangélica Esperança.
I Tm 3. 2. «...bispo...»
Neste ponto oferecemos a nota expositiva geral sobre o «supervisor». Esse termo
grego, «epískopos», é usado por cinco vezes no N.T., isto é, em Atos 20:28;
Fil. 1:1; I Tim. 3:2; Tito 1:7 e I Ped. 2:25. O termo grego «episkope», usado
no primeiro versículo deste capítulo, indica o ofício do supervisor, ocorrendo
também, com essa significação, em Atos 1:20. A sua ideia fundamental é a função
da «supervisão», que consiste em olahr do alto alguma tarefa que estiver sendo
realizada. Esse título não se deriva do A.T., como é o caso de «presbuteros»,
«ancião», por exemplo.
Somente por duas
vezes, na tradução da Septuaginta (tradução do original hebraico do A.T. para 0
grego, completada cerca de duzentos anos antes da era cristã), é que essa
palavra tem qualquer conexão com a adoração religiosa (ver Núm. 4:16 e II Reis
11:18). É vocábulo aplicado a Deus, em Jó 20:29, e a Cristo, em I Ped. 2:25.
Nos tempos antigos era usado para indicar os oficiais dos exércitos, bem como
os «superintendentes» ou diretores dos trabalhadores, em qualquer projeto. Veio
a ser palavra usada para indicar o trabalho da «administração eclesiástica». No
que tange ao N.T., a questão envolve o modo exato como essa administração era
levada a efeito e quão ampla era a autoridade de um «supervisor» cristão .
Visto que nestas epístolas pastorais não estão em foco principalmente as
«funções», e, sim, as «qualificações» dos líderes eclesiásticos, não podemos
obter nessas epístolas uma visão muito clara do que tal ofício envolvia nos
tempos neotestamentários. Não há que duvidar, por conseguinte, que até no começo
do segundo século de nossa era, pelo menos, essas funções variavam de acordo
com o distrito onde isso ocorria, onde os costumes locais serviam de influência
sobre qualquer forma de governo. (Quanto a esse particular, ver as notas de
introdução a este terceiro capítulo).
Pelo tempo de Inácio
(o qual foi martirizado em cerca de 107 D.C., nos dias do imperador Trajano),
sendo aquele o terceiro supervisor de Antioquia, já se desenvolvera forte
episcopado, nas áreas com as quais ele estava familiarizado. Um único homem era
o supervisor da igreja, havendo supervisores de «territórios» que tinham a
autoridade de nomear a outros para esse ofício. Não sabemos dizer até que ponto
se desenvolvera esse tipo de governo em período anterior; mas, com base nestas
epístolas pastorais, alguns eruditos supõem que isso ocorreu bem cedo, e que
todas as formas de governo, conhecidas por Inácio, se tinham desenvolvido antes
da era apostólica terminar, pelo menos em algumas localidades. Notemos a forte posição
de Tiago, em Jerusalém (ver Atos 15:23; 21:18 e Gál. 2:9,12), sendo possível
que ele tivesse sido um «supervisor», quase da mesma categoria daqueles que
surgiram algum tempo mais tarde.
Jerônimo, ao comentar
sobre a passagem de Tito 1:5, confirma o fato que a supremacia de um único
supervisor, em qualquer localidade, derivava-se do «costume, e não de nomeação
real da parte do Senhor» (Conf. com Ep.146). Isso se deveu, principalmente, à
necessidade de serem evitados os cismas na igreja.
A ordem original na
igreja era o ministério plural, onde vários profetas, anciãos e diáconos
compartilhavam da liderança de igreja. A maioria das epístolas de Paulo, bem
como o livro de Atos, se referem a esses líderes sempre no plural, com alusão a
qualquer comunidade isolada. (Ver Atos 20:17 e Fil. 1:1). Porém, em vários
lugares, quando fortes personalidades podiam dominar personalidades mais
fracas, emergiu o governo de «um único indivíduo». Além disso, o
desaparecimento dos dons ministeriais, conferidos por manifestação do Espírito,
encorajou a ascendência de «homens fortes», capazes de governar, sem importar
se possuíam ou não a chamada ministerial. O ministério de «um homem só», é,
essencialmente, substituto do exercício dos dons ministeriais, porquanto esse
único líder se profissionalizou, passando a ser treinado em escolas e sendo
consagrado pela maquinaria eclesiástica. Além disso, em diversas áreas, dentre
os «homens fortes», se levantaria um líder ainda mais forte, que então assumia a
autoridade sobre uma área inteira, ao invés de fazê-lo sobre uma única congregação.
Pelo tempo de Inácio, isso já tinha acontecido, e, provavelmente, até mesmo
antes disso. Por conseguinte, o «supervisor» se tornou o elemento mais poderoso
da tríada governante, composta por «supervisor», «ancião» e «diácono». E esse
título de «supervisor» se aplicava ao «pastor» de uma única comunidade cristã,
ou então ao «pastor» de uma área inteira, que tinha a autoridade de nomear
outros «pastores». Essa situação certamente transparece, pelo menos em sua
forma preliminar, nas «epístolas pastorais».
Quanto à própria
nomeação, o mais provável é que isso diferisse em diferentes áreas. Clemente de
Roma (90 D.C.) e a Didache (um tratado cristão anônimo, pertencente ao começo
do segundo século de nossa era), indicam que era conferida a «eleição popular»
aos que aspiravam a esse ofício. Não há que duvidar que isso era seguido por
orações e imposição de mãos, que era a própria consagração. Vê-se, pois, que os
líderes das igrejas cristãs deveriam ser levantados espontaneamente dentre os
crentes, devendo ser distinguidos por uma fé singular no uso dos dons
espirituais, bem como no desenvolvimento da piedade pessoal. Esses homens,
pois, seriam consagrados pela irmandade, em reconhecimento de sua chamada e de
seu caráter provado, e não devido ao treinamento intelectual em escolas ou seminários.
O treinamento nas escolas, entretanto, para esses homens «espirituais», seria
uma educação extremamente vantajosa, porquanto há coisa que se pode aprender de
outros, ou dos compêndios, que não se pode aprender sozinho. Contudo, a
operação do Espírito sob hipótese alguma pode ser substituída com sucesso pelo
ministério profissional, o qual não é grandemente diverso, em sua natureza, de
outras «profissões».
A forma episcopal de
governo eclesiástico é aquele em que os «supervisores» têm a principal
autoridade, superior à autoridade de pastores e diáconos, e nunca investida
mediante alguma ação democrática por parte das igrejas locais. O «supervisor»
ou «bispo» de uma área é o oficial que consagra a outros. Esse oficia a todas
as consagrações, embora os «presbíteros» ou «anciãos» também tenham uma função
auxiliar quanto a esse particular, bem como quanto a muitas outras questões.
Normalmente, nas páginas do N.T., um «ancião» não é distinguido, quanto às
funções e ao ofício, de um «bispo» ou «supervisor». Nos escritos de Clemente de
Roma esses dois vocábulos são intercambiáveis. Porém, nas epístolas de Inácio, vê-se
que o «supervisor» já tomara a precedência. Além disso, não há no N.T. qualquer
conceito que os «supervisores» foram os sucessores dos apóstolos. Tal ideia é
produto da tradição e do desenvolvimento históricos.
As qualificações dos
«pastores» (ficando também subentendidas as qualificações de outros líderes
eclesiásticos) são as seguintes: «...irrepreensível...» No grego é
«anepilemptos», que significa exatamente o que temos aqui. Trata-se de forma
privativa de «epilambanomai», que significa «deitar mãos sobre», como se fora
uma acusação e comprovação de culpa. Portanto, um «supervisor» deveria ser
alguém além da possibilidade de ser apanhado em falta, em um escândalo ou em
algum vício. Essa palavra é usada somente aqui e em I Tim. 5:7 e 6:14, pelo que
é um dos cento e setenta e cinco vocábulos que se encontram nas «epístolas
pastorais» mas não encontrados em qualquer outra porção do N.T. E interessante
que o próprio vocabulário diferente destas epístolas tem sido motivo de
dúvidas, entre os estudiosos, acerca da autoria paulina das mesmas. O problema inteiro
é discutido na primeira secção, parte quarta, da introdução às «epístolas
pastorais».
«...esposo de uma só
mulher...» Essas palavras têm sido variegadamente compreendidas. Certamente
indica os pontos seguintes: 1. O líder cristão de uma igreja não pode ser
culpado de «poligamia». Isso contradiz as normas judaicas, tendo elevado o
ideal cristão do casamento monógamo, provavelmente baseado nos ensinamentos de
Cristo sobre o assunto, conforme se vê em Mat. 19:3 e ss. Visto que isso é
contrário à poligamia, certamente é também contrário ao concubinato, que é
apenas uma forma disfarçada de poligamia, e de pior espécie, embora houvesse realmente
pouca diferença entre as duas condições no antigo judaísmo, além do que o
«concubinato» não estava sujeito a qualquer estigma social.
2. Provavelmente isso
também é contra qualquer líder cristão que se tenha divorciado e se tenha
casado novamente, porquanto deve ser seguido o conceito do matrimônio ideal,
instituído pelo Senhor Jesus. A «exceção paulina» à lei que veda o divórcio,
quando um dos cônjuges é «incrédulo» (ver I Cor. 7:13-15), provavelmente
significa que tal pessoa deve ter direito à liderança eclesiástica, se para
tanto estiver preparado em todos os outros particulares. Isso se deve ao fato
que um irmão ou uma irmã não estão em «servidão» nesses casos, e isso subentenderia
o direito de se casarem novamente. O passado seria esquecido no cristianismo, e
as novas relações, estabelecidas dentro da nova fé cristã, suplantariam todas
as relações e condições anteriores. A igreja evangélica não tem reconhecido
esse ponto, mas parece ser um ensinamento paulino genuíno, embora não apareça
nos evangelhos. Portanto, se um irmão qualquer se divorciou de uma «crente»,
não pode ser líder na igreja. Porém, se se divorciou de esposa incrédula,
sobretudo antes dele mesmo ter-se convertido ao cristianismo, ou se tal
divórcio foi provocado pela mulher incrédula, e não por ele, então deveria a
congregação local reconhecê-lo como apto para ocupar posição de liderança
espiritual, contanto que, noutros pontos, esteja qualificado para isso. Mas, se
porventura o homem é quem se divorciou da mulher, contra a vontade dela, é
extremamente duvidoso que, na igreja primitiva, fosse permitido a tal homem
ocupar posição de liderança na igreja, mesmo que viesse a contrair novas núpcias.
3. Fica igualmente
proibida a digamia, isto é, segundo matrimônio, após o falecimento da p rim e
ira esposa. Parece que isso está incluso nessa proibição, que envolve aqueles
que devem ou não ocupar ofícios eclesiásticos. Alguns grupos se têm mostrado
bastante radicais nesse particular, não permitindo que um homem, casado pela
segunda vez, após o falecimento de sua p rim e ira esposa, ocupe cargo de
«pastor» ou «supervisor». Embora a interpretação desses grupos seja exagerada,
pelo que pode parecer improvável que isso seja o ensino deste texto, contudo, a
passagem de I Tim. 5:9,11 quase torna necessário que interpretemos, nestas palavras,
que o autor sagrado era contra qualquer forma de segundo matrimônio para um
oficial eclesiástico. E é provável que assim pensasse o autor sagrado porque
tal oficial deveria defender o ideal simbólico do casamento, um homem e uma
mulher, conforme é exemplificado no tipo de Cristo e sua igreja. (Ver Efé.
5:32). Além disso, a julgar pelas expressões do quinto capítulo desta epístola,
aludidas acima, parece que o autor sagrado julgava que a viuvez perpétua é mais
nobre e mais favorável à inquirição espiritual, bem como ao trabalho
eclesiástico, do que o estado de um homem casado pela segunda vez. (Ver as
notas expositivas nos lugares mencionados, que confirmam este ponto de vista e
esta interpretação necessária). Desnecessário é dizer que a igreja, em geral,
não tem sentido que esse preceito é obrigatório.
A morte da esposa de
um homem anula completamente o seu casamento; pelo que também, se vier a
contrair novas núpcias, será marido de uma só mulher. E a analogia da única
esposa de Cristo não pode ser aplicada neste particular, porque o matrimônio
não foi determinado como uma das instituições celestes.· Contudo, essa interpretação
sobre esta expressão, como declaração contrária a um segundo matrimônio, já era
forte nos escritos dos pais da igreja que viveram nos séculos II, III e IV D.C.
(Ver Tertuliano, ad Uxor, 1.7; Clemente de Alexandria, Strom. iii. 12;
Orígenes, Hom. xvii sobre Lucas). Tal ideia foi incorporada em dogmas
eclesiásticos posteriores. (Ver Apost. Ch. ordem 1; Apost. Canons, xvii e
Constituições Apostólicas ii.2). Os montanistas transformaram em artigo de fé
essa regra contra um segundo casamento, após a morte da p rim e ira esposa.
Atenágoras,
apologista cristão que viveu em Atenas, no segundo século de nossa era, chamava
de «adultério agravado» ao segundo casamento, o que nos mostra até que ponto o
ascetismo pode perverter o bom senso moral.
4. O ponto de vista
celibatário é outra interpretação sobre este versículo, dando a entender que a
«única esposa» de um pastor é a igreja, o que significaria que um «supervisor»
não poderia ter outra esposa além dessa.
Mas essa é uma
interpretação sem base, derivada de preconceitos, sendo tão extremada e
ridícula que nem precisa de refutação.
A situação inteira
tem sido complicada devido a situações especiais surgidas no decorrer da
história da igreja, como também por circunstâncias especiais de casos
particulares. Por exemplo, consideremos o casamento dos escravos, no império
romano. A nenhum escravo era conferido o estado completo do matrimonium, sem
importar se o outro cônjuge era escravo ou não. Levantava-se desse modo a
dúvida se a igreja deveria reputar como válido um casamento que não era
reconhecido pelo estado. Em outros lugares dava-se o caso oposto, isto é,
alguns governos não reconheciam (como até o dia de hoje) o «casamento
religioso», a menos que confirmado pela cerimônia «civil» (o que ocorre até
mesmo no Brasil). Na igreja oriental, os casamentos efetuados antes do batismo
(sem importar quem esteja envolvido) não são reputados como desqualificação
para o sacerdócio, se porventura foram posteriormente anulados. O melhor que
pode ser feito, portanto, no que tange a qualquer área geográfica, é que os
envolvidos procurem fazer uma avaliação honesta sobre os méritos ou deméritos
dos casos individuais, quando surgem problemas especiais que envolvem a questão,
que não possam ser definidos por qualquer conjunto de regras. As igrejas locais
que agem com prudência não se deixarão agrilhoar por qualquer regra isolada
sobre quem pode e quem não pode ser um de seus líderes; pelo contrário, haverão
de examinar cada caso particular com sabedoria e cautela, porquanto surgem
ocasionalmente casos especiais, aos quais não podem ser aplicadas as regras.
Não obstante, em qualquer decisão, a tradição eclesiástica não pode ser
ignorada, pois a história eclesiástica poderá oferecer um roteiro seguro.
Notemos que a
passagem de I Tim. 4:3 condena àqueles que se opunham ao matrimônio (conforme
faziam os gnósticos ascetas e os essênios); pelo que podemos concluir que o
autor sagrado recomenda que os principais líderes da igreja sejam homens
casados, embora isso não seja declarado na forma de um m andamento ou de um
dogma positivo. Mas não h á que duvidar que essa é a «situação desejável».
Todavia, um homem solteiro, de grande piedade, não deveria ser barrado de
ocupar qualquer ofício eclesiástico. Paulo não era casado, embora provavelmente
tivesse sido uma vez. Cumpre-nos observar, por semelhante modo, que às viúvas é
ordenado que não se casem novamente (ver I Tim. 5:14), sendo provável que aos «viúvos»
também se aconselhasse tal medida. Não seria razoável, segundo parece, não
permitir viúvos recasados ocuparem ofícios eclesiásticos. No entanto, segundo
todas as aparências, é justamente isso que o autor sagrado procura determinar.
(Ver o argumento em favor da «monogamia», em Efé. 5:32).
«...temperante...» No
grego é «nephalios», que significa «temperado» especialmente no uso do vinho,
«sóbrio». Noutros pontos do N.T., essa palavra é usada em I Tim. 3:11 e Tito
2:2; mas é usada sob forma diferente, a forma verbal, em I Tes. 5:6,8; II Tim.
4:5; I Ped. 1:13; 4:7 e 5:8. Esse termo pode significar «ajuizado», sem
qualquer vinculação à ideia de bebidas alcoólicas, embora se possa pensar em um
uso temperado de bebidas fortes. Todavia, não há aqui nenhuma proibição
absoluta.
Contudo, a fim de ser
evitada a má aparência do mal, bem como da tentação ao alcoolismo, talvez seja
melhor a abstinência total. (Ver o trecho
de Efé. 5:18 quanto à nota expositiva geral contra o «alcoolismo»). Notar as palavras
existentes no terceiro versículo deste capítulo, «...não dado ao vinho...», que
reforça o que é dito neste versículo. Todo o pastor deveria evitar as
leviandades da juventude.
«...sóbrio...» é
tradução de «sophron», vocábulo grego que quer dizer «prudente», «previdente», «autocontrolado»,
ao passo que, quando aplicado a mulheres, esse adjetivo significava «casta»,
«decente», «modesta». Em todo o N.T. é usado somente aqui e em Tito 1:8 e
2:2,5, isto é, dentro das «epístolas pastorais». Trata-se de um dos cento e
setenta e cinco termos usados exclusivamente nas «epístolas pastorais», e não
no restante do N. T.
« ...modesto...» No
grego é «kosmos», que significa «digno», «bem comportado», «sereno», palavra
usada exclusivamente aqui e em I Tim. 2:9. Portanto, é uma daquelas cento e
setenta e cinco palavras usadas somente nas «epístolas pastorais», em todo o N.T.
Seu significado básico é «ordeiro».
O «kosmos» (palavra
correlata), é a «beleza organizada» da criação de Deus. A forma verbal,
«kosmeo», significa «ordenar», «arranjar» ou «adornar», mas também «dirigir».
Um líder espiritual, sobretudo um pastor ou «supervisor», deveria ser
autocontrolado, ordeiro, dono de boa conduta e de boa reputação.
« ...hospitaleiro
...» (Ver as notas expositivas completas sobre essa qualidade, em Rom. 12:13,
havendo pensamentos adicionais a respeito, em Atos 16:15. Ver igualmente Tito
1:8 e I Ped. 4:9). Na epístola a Tito essa ideia é enfatizada ainda mais
intensamente. Todo o pastor deveria ser «amante da hospitalidade». E isso
deveria ser feito sem «murmurações», mas antes, livre e espontaneamente, como
demonstração do amor e da amizade fraternais (conforme se lê em I Ped. 4:9). Havia
a necessidade de hospitalidade, na igreja cristã primitiva, porquanto naquele
tempo eram raríssimas as hospedarias, as quais, com grande frequência, eram
apenas antros de ladrões e meretrizes. Os crentes, porém, que são membros da família
divina, deveriam ter interesse por seus irmãos na fé, provendo-lhes conforto e
o necessário para a vida diária. E os oficiais da igreja, por serem os
representantes da igreja, com frequência tinham de abrigar visitantes, evangelistas
em viagem, vindos de outros lugares, além de simples irmãos na fé, o que
significa que deveriam mostrar-se dispostos a cumprir essa obrigação, com
verdadeiro interesse e amor cristãos.
«...apto para
ensinar...» Essas palavras traduzem um único termo grego, «didaktikos», que é
usado aqui e em II Tim. 2:24, o que quer dizer que se trata de uma das cento e
setenta e cinco palavras usadas exclusivamente nas «epístolas pastorais», em
todo o N.T. Dos «supervisores» se esperava que fossem «mestres», conforme se vê
em I Tim. 5:17 e Tito 1:9. Isso indica mais que mero «interesse» pelo ensino.
Indica «qualificação» e «disposição» para ensinar. A própria palavra
ordinariamente significa «habilidoso no ensino»; e, de acordo com o ensino
neotestamentário, isso só pode indicar alguém que possui o dom ministerial de
«mestre». (Ver a introdução ao décimo segundo capítulo da p rim e ira epístola
aos Coríntios, sobre esse dom ministerial). Deve haver um ministério de ensino
planejado e persistente, muito mais extenso que o permitido pela pregação nos
cultos regulares. Um bom pastor saberá como ensinar a seu rebanho, a como
tornar eficaz seu ministério de ensino.
A Didache (escrito em
cere a de 100 D.C.) atribui a responsabilidade maior do ensino aos profeta s e
mestres (xiii e xv), ficando essa responsabilidade ao encargo dos pastores
somente na ausência daqueles. O importante é que haja indivíduos
espiritualmente chamados para esse ministério, os quais não devem p o u p a r
seu tempo e seus talentos no cumprimento de sua vocação.
Um mestre cristão
deve ser guardião e depositário do conhecimento bíblico, aprimorando-se c ad a
vez mais em sua compreensão sobre as realidades espirituais, aprofundando
sempre mais o seu conhecimento nas Escrituras. A igreja evangélica de hoje em
dia necessita de «mestres», havendo um número extremamente reduzido deles. O
trecho de I Tim. 5:17 mostra-nos que nem todos os pastores governantes tinham a
função de ensinar, e que aqueles que governavam e ensinavam deveriam ser alvo
de especial consideração, dignos de duplo salário. O ministério carismático, composto
de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres (ver Efé. 4:11), não
tinha por intuito cessar e ser substituído pelo ministério de ensino. Antes, o
ministério de «mestre» é recebido por unção divina, não resultando apenas do
cultivo intelectual. Todavia, o mestre usa «revelações» como base de seu
ensino, podendo essas revelações ser aquelas contidas nos documentos bíblicos
ou através de discernimento intuitivo ou transmissão mística de conhecimentos,
embora sempre de acordo com a revelação bíblica, que é básica, fundamental. Já
o profeta fala por inspiração espiritual direta, dada no momento da elocução da
profecia. Mas é o Espírito Santo quem impulsiona a ambos. Não ensinar equivale
a perecer; e é por isso que, em muitos lugares de hoje em dia, a igreja cristã
sucumbe, por falta de alimento e spiritual. O ensino é parte integral da Grande
Comissão (ver Mat. 28:19,20), devendo ser tratado com muito mais dedicação e
urgência do que vem ocorrendo entre nós, equiparando-se em intensidade e
importância ao evangelismo.
I Tm 3. 7. «...não
dado ao vinho...» (Quanto a notas expositivas completas acerca do «alcoolismo»,
e tudo quanto está implícito no uso de bebidas alcoólicas, ver Efé. 5:1.8). O
termo grego «paroinos» é aqui usado, sendo usado somente neste versículo e em
Tito 1:7. A passagem de I Tim. 5:23 mostra-nos que o autor não se opunha ao uso
moderado do vinho. Ele apela em favor da moderação. A total abstinência, entretanto,
é a conduta ideal para um ministro do evangelho, pois isso evitará críticas,
tentações e suspeitas. Ele não deveria ser, e nem deveria arriscar-se a ser,
«viciado no vinho», conforme o termo grego aqui usado indica. 6 óbvio que o
evangelho de Cristo tem convertido a muitos que antes eram alcoólatras, quando
estavam na incredulidade. Para esses, seria fácil reverterem à sua conduta
anterior, que é exatamente o que aconteceu em Corinto (ver I Cor. 11:21),
quando se abusava até mesmo da Ceia do Senhor.
Luz da ciência:
A ciência moderna
ajuda-nos a definir este problema. Tem sido mostrado que o álcool no sangue
mata células cerebrais. Combinando este fato com o ensino de I Cor. 3:16,17,
devemos dizer que a total abstinência é o único modo espiritual de agir.
«...não violento...»
No grego é «plektes», que indica indivíduo «pugnaz», «briguento», usado
unicamente aqui e em Tito 1:7, em todo ο N.T., sendo um dos cento e setenta e
cinco vocábulos usados exclusivamente nas «epístolas pastorais». Sua raiz é
«plesso», que significa «bater», «ferir», com um golpe direto com o punho, ou
com uma arma na mão, em contraste com «bailo», que é ferir com um míssil. O
sentido é literal neste caso; o autor sagrado não falava sobre alguém ser
pugnaz e violento nas palavras, embora isso, naturalmente, também seja ofensa
que não pode ser tolerada da parte de líderes eclesiásticos. Tais ofensas
verbais devem ser incluídas no significado desta palavra, embora isso não seja
diretamente aludido. As Constituições Apostólicas (oito volumes de instruções,
dos fins do século IV D.C.), um manual de disciplina eclesiástica, que
supostamente seriam instruções dos apóstolos a Clemente de Roma, contêm um
interessante paralelo: «A um supervisor, ancião ou diácono que bata nos
crentes, quando pecam, ou nos incrédulos, quando fazem algum erro, desejando aterrorizá-los
desse modo, ordenamos que seja deposto; pois em parte alguma o Senhor nos
ensinou a fazer tais coisas. Pelo contrário, quando foi ferido, não revidou;
quando foi vilipendiado, não vilipendiou; quando sofreu, não ameaçou»
(νώ'.47,28).
«...cordato...» No
grego é «epieikes», que significa «gentil», «bondoso», «pronto a ceder»,
«dotado de espírito tolerante», pois assim o pastor estará imitando a seu
Senhor. (Ver Fil. 4:5). (Ver a respeito da «tolerância», que se deriva da mesma
raiz, em II Cor. 10:1, e onde tal palavra é associada à «mansidão»). O presente
vocábulo condena o rigor estúpido e a atitude inflexível. No grego clássico era
usado para indicar «bondade», «gentileza», em que o indivíduo não insistia
sobre a justiça estrita, em contraste com «dikaios», «justo», «reto».
«...inimigo de
contendas...» No original temos aqui apenas uma palavra, «amachon», que
significa «pacífico». Trata-se da forma privativa de «mache», que quer dizer «batalha»,
«querela», «luta». Porém, quantos líderes eclesiásticos mostram a atitude
oposta a esta, sendo «briguentos», estando ansiosos por participar de
contendas, ao que chamam de «defender a fé» ou «lutar por uma causa justa»; e
assim dividem igrejas, perturbam denominações e, de modo geral, fazem da igreja
um campo de batalha, ao invés de contribuírem para que ela seja um lugar tranquilo,
onde se possa aprender a piedade. A passagem de Tito 3:2 apresenta juntas essas
mesmas duas palavras (esta e a anterior), embora em ordem inversa. «Amachos» é termo
usado somente aqui e em Tito 3:2, em todo ο N.T., embora «cordato» seja
largamente empregado.
«...não avarento...»
No grego é «aphilarguros», usado somente aqui e em Heb. 13:5. Significa
«amante de dinheiro». «Philarguros», sem o privativo, mas com sentido
praticamente idêntico, se encontra em Luc. 16:14 e II Tim. 3:2. O termo normal
para «avarento» é «pleonektes», em outras passagens do N.T. (Ver Rom. 1:29
quanto a notas expositivas sobre a forma nominal dessa palavra). Um bom
«supervisor» não se encontra em seu ofício por causa do dinheiro. Pode esperar
receber uma recompensa financeira razoável, por trabalhar no evangelho, mas não
deve esperar enriquecer nesse mister, não devendo mesmo trabalhar visando esse
alvo. A sua dedicação a Cristo deveria ser tão grande que ficasse excluída
qualquer possibilidade dessas. Entretanto, em nossos dias, muitos evangelistas
e «grandes pregadores» se têm, literalmente, enriquecido. Muitos deles têm aconselhado
a viúvas que lhes deixem suas ricas possessões em herança, além de usarem de
outros meios duvidosos para se enriquecerem. Um ancião ou pastor deveria ser
generoso com as suas possessões, dando sempre de si mesmo e de seus bens,
procurando fazer avançar o seu trabalho. Seu dinheiro deveria ser investido em
seu trabalho. Não deveria pensar em amealhar, pensando em uma aposentadoria
para dentro de poucos anos.
«Livre da cobiça
egoísta, que tão frequentemente gera ira e contenda (comparar com I Tim. 6:10 e
Heb. 13:5). Sabemos quão frequentemente nosso Senhor advertiu a seus discípulos
a que se precavessem da cobiça (ver Luc. 16:14, etc.)». (Oosterzee, in loc.).
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 307-310.
Homem de Maturidade
(3.6,7)
O versículo 6 oferece
perspicácia muito interessante sobre a situação em Éfeso: Não neófito, para
que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo
(6). Esta é
advertência contra a promoção muito rápida à liderança de “recém-conver- tidos”
ou pessoas “recentemente batizadas”. Embora a igreja efésia já tivesse muitos
anos de existência e, provavelmente, não devesse ter carência de líderes
maduros, havia indícios dfe que candidatos imaturos ao ministério estavam sendo
postos em serviço. Paulo acreditava em maturidade e preparação de candidatos
para este cargo santo, e por uma boa e suficiente razão. Existia o perigo de
que, para alguém inadequada mente preparado, a tentação ao orgulho espiritual se
tornasse grande demais para ser resistida. Isso é tragédia na certa, tragédia
descrita pelo apóstolo nos seguintes termos: Cair na condenação do diabo. C. K.
Barrett destaca que “o julgamento não é tramado pelo diabo, mas feito por Deus
em rígido acordo com a verdade”. A tradução de Phillips expressa o que o
apóstolo quis dizer: “Para que não se torne orgulhoso e participe da queda do
diabo” (CH).
Esta determinação
lembra uma situação nos procedimentos de nosso Senhor com seus seguidores,
relatada em Lucas 10.17-20. Os setenta haviam acabado de voltar de sua missão
designada e estavam exultantes com o fato de que “até os demônios se nos
sujeitam”. Jesus não reprovou imediatamente o orgulho espiritual principiante,
mas observou um tanto enigmaticamente: “Eu via Satanás, como raio, cair do
céu”. E completou: “Eis que vos dou poder [...] [sobre] toda a força do
Inimigo. [...] Mas não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos”. Foi o
orgulho que custou a Lúcifer o seu lugar nas hostes celestes, e esta foi a condenação
do diabo. O ministro cristão tem de estar atento para que o orgulho não o
compila a participar desta condenação.
Resta ainda uma
especificação final para aquele que deseja servir na posição de bispo ou líder:
Convém, também, que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não
caia em afronta e no laço (“armadilha”, NTLH) do diabo (7). O ministro cristão
tem de inspirar o respeito e a confiança da comunidade fora da igreja, caso
deseje ganhar as pessoas dessa comunidade para a igreja. E fácil dizer: “Não me
importo com o que as pessoas pensem de mim”; e contanto que essa atitude seja
devidamente planejada e corretamente compreendida, justifica-se. Mas ninguém
deve ser indiferente à sua reputação na comunidade em que vive. Ele deve
desejar veementemente que as pessoas o considerem inteiramente acima de
repreensão. Ver a questão de outro modo, diz Paulo, é expor-se à mesma
armadilha que aguarda o indivíduo cujo espírito está arruinado pelo orgulho
espiritual.
J.
Glenn Gould. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 9. pag. 471-472.
I Tm 3.7 Mas ele
também precisa ter um bom testemunho dos de fora, a fim de não cair na
difamação e no laço do diabo.
Já em sua carta mais
antiga o apóstolo exorta a congregação para que tenha uma “conduta decente
(honrada)” aos olhos dos de fora. Não ser tropeço nem causar escândalo! Essa
exortação vale para a conduta diante de todos: judeus, gregos, cristãos. Isso
não tem nada a ver com uma falsa adaptação aos padrões e costumes do mundo,
porque a igreja deve ser irrepreensível e pura em meio a esta geração
pervertida e corrupta. Suas boas obras devem poder ser vistas à luz do dia e se
diferenciar das inúteis obras das trevas. Porque “enquanto os cristãos se
preocupam sacerdotalmente pelo mundo, o mundo lança o afiado olhar da
hostilidade sobre a igreja, a fim de encontrar pontos vulneráveis. Por isso não
será recomendável colocar na liderança da igreja homens que eram notórios na
cidade por seus pecados ou fraquezas passadas, ainda que se tenham emendado
sinceramente”.
Os de fora na
realidade estão fora da igreja, mas nem por isso fora do alcance do juízo e da
graça de Deus. Os que estão fora da igreja possuem uma percepção implacável e
um juízo insubornável para os pecados daqueles que se dizem cristãos. Com essa
atitude na verdade condenam a si mesmos, porque confessam que sabem muito bem o
que é certo e como deveriam viver. Contudo, isso não desculpa a igreja. Ela mesma
deve manter um juízo vigilante acerca das próprias transgressões e por isso ir
com humildade e mansidão ao encontro dos “de fora”.
Quando se pondera
como os meios de comunicação de massa vasculham a vida passada e atual de
líderes políticos, econômicos e religiosos com a criatividade de um detetive,
desnudando-a em público (em geral por motivos ignóbeis de luta pelo poder),
torna-se ainda mais atual a exigência do bom testemunho de fora. Pois quando a
difamação circula em lugar do bom testemunho, ela pode influir de modo tão
terrível sobre o envolvido que lhe rouba a fé no perdão de Deus, lançando-o no
desespero. Como uma mosca na teia da aranha, ele ficará então emaranhado nos
laços do diabo, do acusador originário.
A lista das 16
“virtudes” começa de forma aparentemente inofensiva com a irrepreensibilidade
como premissa fundamental para o serviço de presidente. O catálogo termina com
a condição quase idêntica do bom testemunho dado pelos de fora da igreja,
anunciando surpreendentemente a verdadeira razão e a grave conotação de toda a
listagem: laço e juízo do diabo, esses são a ameaça e o risco reais daquele que
visa servir a outros sendo seu presidente. Enquanto assim se abre a visão para
o pano de fundo da sedução demoníaca, o catálogo de virtudes perde sua
limitação helenista e o sabor pequeno-burguês resultante da apreciação
meramente superficial.
Hans
Bürki. Comentário Esperança Cartas aos I
Timóteo.. Editora
Evangélica Esperança.
«...pelo
contrário...» Literalmente, o grego diz aqui, «...outrossim, ele deve...» ou
então «...deve ele também...» O versículo anterior mostra-nos que um
«supervisor» não pode ser homem recentemente convertido; antes, é mister que
seja crente há algum tempo, já bem firmado na fé, fortalecido em sua
experiência cristã. A essa ideia «implícita» são aqui acrescidas outras
exigências. Ou então, estas «adições» são acrescidas a todas as demais
qualificações, dadas a partir do segundo versículo deste capítulo, que é seu
sentido provável. É como se Paulo houvesse escrito: «...em adição a todas essas
qualificações que tenho mencionado, também quero acrescentar mais isto». Essas
«qualificações» incluem quaisquer virtudes e condições dadas a entender no
versículo anterior, mas também incluem tudo quanto é dito nesta secção, acerca
dessa questão.
«...bom
testemunho...» No grego é «marturia», que significa «testemunho ». Também pode
indicar aquilo que serve como prova sobre algo; uma espécie de reputação geral,
ou então o testemunho verbal sobre a veracidade de alguma coisa. Este último
sentido é que, mais provavelmente, está em foco aqui. Estão em pauta os «de
fora», mas que são testemunhas sobre a vida reta do candidato ao episcopado.
Esses devem dar um testemunho «positivo» sobre a avaliação que fazem dele, para
que não se torne suspeito de algum defeito ou vício, que o desqualifique.
«...dos de fora...»
Essas palavras aludem aos «incrédulos», aqueles que não fazem parte do
«rebanho» da igreja. (Ver o trecho de I Cor. 5:12, que explica essa expressão,
embora ali a palavra grega seja «ekso», e não «eksothen», como aqui, embora
esses dois vocábulos sejam sinônimos em seu uso). O vocábulo deste texto é
usado em II Cor. 7:5, embora com diferente conexão. O trecho de I Tes. 4:6
determina uma vida santa e honesta perante «os de fora». Nenhum «escândalo»
deve ser feito contra os judeus ou os gentios. (Ver I Cor. 10:32; Col. 4:5; I
Ped. 2:12 e 3:1). Toda a nova religião é sempre alvo de suspeitas, e não há que
duvidar que essas suspeitas recaiam sobre os cristãos primitivos. As pessoas,
em qualquer geração, tendem por observar aqueles que professam fé e poder
religioso e espiritual, para ver em que isso os modifica. Sempre se mostram
prontas a criticar todo e qualquer «fracasso da fé». É exigido de todo o
pastor, portanto, que ele seja aprovado nesse difícil teste. O que seus
vizinhos pensam a seu respeito? A sua piedade é patente e na sua vizinhança
pensam bem a seu respeito, ou isso se limita apenas ao círculo da igreja? Nesse
sentido, a «vox populi» é a «vox Dei». Com grande frequência a piedade de um
homem é colocada dentro de «categorias». Todo o «supervisor», pois, deve ter o
cuidado de manter a aparência piedosa na igreja; e pode até mesmo sentir-se
diferente entre a irmandade, para que nunca se descuide de agir com piedade
ali. Porém, seus familiares e seus vizinhos sabem qual é a real qualidade de
sua experiência espiritual. Paulo recomenda, portanto, que os de fora deem o
seu parecer sobre o caráter de todo o candidato ao pastorado, antes de ser ele
consagrado. Mas, com extrema raridade isso é uma regra aplicada à consagração
de pasto res, apesar de ser norma importantíssima.
« ...a fim de não
cair...» Caso um homem venha a ser devidamente testado, pode-se evitar a «queda
de um pastor», e isso é altamente desejável para o bem da comunidade inteira.
«...opróbrio...» No
grego temos o termo «oneidismos», que significa «vilipêndio», «desgraça»,
«insulto», «opróbrio». Não devemos pensar aqui somente em «críticas hostis»,
como dos «caluniadores humanos», embora certamente isso venha a acompanhar a
vida do pastor que naufragou na fé.
Devemos antes pensar
na ideia que transparece no sexto versículo deste capítulo: o próprio diabo
haverá de insultá-lo, de caluniá-lo , de repreendê-lo, em concordância com o
trecho de Apo. 12:10. E essas acusações podem ser feitas diante de Deus, diante
dos homens—de muitas maneiras diversas, que faça seu nome ser zombado e sua
pessoa ser desprezada, incluindo os caluniadores e zombadores levantados pelo próprio
Satanás—tanto do «lado de fora» como no seio da própria igreja. Os seres
humanos tornam-se instrumentos do diabo, nesse ridículo lançado contra o
pastor.
Alguns eruditos
supõem que o sentido destas palavras é que se o candidato ao pastorado tinha
defeitos e vícios, em sua vida anterior, quando a igreja fez dele um pastor tão
repentinamente, sem provas suficientes de sua conversão e experiência cristã,
então que tal homem tornar-se-á objeto imediato de críticas, por parte dos «de
fora», que o conhecem e que agora começam a denegri-lo. Essa interpretação é
possível, mas parece melhor pensarmos aqui em um «fracasso futuro», como
possibilidade seriamente antecipada, se porventura alguém for levantado como
líder na igreja precipitadamente, quando ainda é noviço na fé, pois o orgulho
daí decorrente gradualmente irá destruindo a ele mesmo e ao seu ministério.
(Isso pode ser
comparado com I Tim. 5:14, que é passagem que nos ensina que as viúvas jovens
devem casar-se novamente, a fim de que o «adversário» não tenha qualquer
oportunidade de falar com «reprimendas»).
«...laço...» No grego
é «pagis», que significa «armadilha», palavra usada para indicar algo que
apanha animais. Em sentido figurado, essa palavra indicava qualquer coisa que
representa perigo ou ameaça: ou fisicamente, como as enfermidades, a morte
física ou as dificuldades; e espiritualmente, como os testes difíceis, as
tentações, os tropeços. (C om p ara r com as passagens de I Tim. 6:19; II Tim.
2:26 e Rom. 11:9, quanto ao uso dessa palavra). Um líder cristão pode ser
embaraçado por muitas dessas coisas, postas em seu caminho, por Satanás. Seu
próprio orgulho e excessiva confiança podem ser algumas dessas coisas. (Ver o
sexto versículo deste capítulo). O dinheiro também pode ser uma dessas
armadilhas. (Ver I Tim. 6:9); -e assim também podem ser as mulheres ou a ambição.
Em todas essas coisas, pois, concentra-se o «perigo de queda», conforme diz
Alford (in loc.). E isso leva um pastor ao seu modo antigo de vida, aos seus
vícios e degradações.
«Os desviados, de
maneira geral, caem perante aqueles pecados que estavam acostumados a praticar,
antes de sua conversão. Hábitos inveterados são reavivados naquele que não
continua a negar-se a si próprio e a vigiar em oração». (Adam Clarke, in loc.).
Quanto ao ensinamento geral que devemos evitar que novos convertidos venham a
ocupar posições de autoridade, comparar a seguinte declaração encontrada no
Talmude, Maimonides Kilchot Tephilla, cap. 8 e secção 11: «Eles não nomeiam
como mensageiro ou ministro de uma congregação, senão aquele que é o maior na congregação,
em sua sabedoria e em suas obras; e, se for homem idoso, melhor ainda; e cuidam
para que o mensageiro ou -ministro da congregação seja homem cuja voz é
agradável, que esteja acostumado a ler. Mas aquele cuja barba ainda não se
desenvolveu de todo, embora seja homem de dotes consideráveis, não pode ser
ministro da congregação, por causa da honra da própria congregação».
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 311.
3. Exemplo para a
família.
13) Que governe bem a
sua casa. Esta é uma qualificação de grande importância, pois a.s pessoas ouvem
as mensagens dos pastores, mas olham para ele e como se relaciona com a
família, notadamente com os filhos. Ele é o cabeça (líder) da esposa e do lar
(Ef 5.22). Ao lado da esposa, que também governa a casa (1 Tm 5.14), deve criar
seus filhos “com sujeição” (1 Tm 3.4). Porque, diz Paulo: “se alguém não sabe
governar a sua. própria casa, terá cuidado da igreja de Deus? (1 Tm 3.5).
14) Experiente (“não
neófito”). Nem todo presbítero {ancião) é pastor. Mas todo pastor deve ser
presbítero. Pedro, um dos pastores líderes da Igreja Primitiva, exortou aos
colegas de ministério, sobre como liderar a igreja local, dizendo: “Aos
presbíteros que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com
e/es, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há
de revelar...” (1 Pe 5.1). Aqui, temos base para dizer que presbítero é termo
equivalente a pastor ou bispo. Assim, o pastor não deve ser um obreiro muito
novo (neófito), pois, a missão de pastor exige capacidade para aconselhar em
situações que só a experiência mostra as lições a serem indicadas.
15) De bom testemunho
perante os descrentes (“bom testemunho
dos que estão de
fora”). O pastor deve ser um proclamador do evangelho transformador de Cristo.
Seu testemunho deve ser uma pregação viva de que jesus converte e transforma o
pecador. Esse testemunho deve ser demonstrado, primeiramente, em sua vida
pessoal; depois, em sua casa, na igreja e, por fim, perante todas as pessoas
que o conhecerem.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 113.
«...governe bem...»
No grego é «proistemi», que significa «ser o cabeça», «conduzir», «gerir»,
sendo palavra usada para indicar qualquer forma de governo, ainda que,
secundariamente, tenha o significado de «ter interesse por», «cuidar de»,
«ajudar a». Um «supervisor» ou pastor é o governante da igreja local; mas,
antes de tudo, deve ser o chefe de sua casa. Seu lar é a sua primeira
responsabilidade, e somente se ele se mostra apto ali é que deve ser considerado
capaz de governar a casa de Deus.
«...criando os filhos
sob disciplina...» Literalmente, «...mantendo em sujeição...», uma frase única
em todo o N.T. A tradução inglesa RSV diz aqui (agora vertido para o
português): «...mantendo submissos os seus filhos...» Mas um pastor deve obter
esse resultado com razão, com paciência e com gentileza, embora também com
demonstração de autoridade e força, que seus filhos aprendam a respeitar. Ora,
isso nem sempre é fácil de conseguir, porquanto as crianças também são
indivíduos, podendo ser dotados de fortíssima vontade própria. Todavia, um pai
obterá bons resultados se suas ordens forem justas e úteis; e assim seus filhos
aprenderão que o pai de família age assim para benefício deles, e não meramente
a fim de demonstrar a sua autoridade. «A obediência e o respeito pela autoridade
são coisas importantes.
Algumas vezes,
entretanto, a criança submissa é a criança reprimida, cuja quietude evidencia
não um forte caráter, e, sim, um estado mental doentio, que pressagia males
futuros. As energias dinâmicas das crianças, ao invés de serem abafadas,
precisam ser dirigidas para fins dignos. A difícil arte da educação cristã
consiste de rodearmos os jovens com influências que os capacitem a combinar os
seguintes pontos: a. A obediência a Deus com a gloriosa liberdade dos filhos de
Deus; b. a conformidade à mente de Cristo com a liberdade de exprimir os dons
distintivos que Deus conferiu a cada um de seus filhos; c. o conhecimento dos
fatos cristãos e da história da igreja com a receptividade a maior luz, que
Deus faça irromper de sua santa Palavra, para cada nova geração; d. a
reverência à revelação divina no passo com a coragem que Deus fala a cada
pessoa que tem ouvidos para ouvir e lhe queira ser obediente; e. a gratidão
pelo que Deus tem feito no passado com a fé que Deus tem em reserva maiores
coisas ainda para o seu povo, que serão realizadas no futuro; f. o respeito
pelas experiências dadas às gerações anteriores com o propósito de buscar, em
primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça. A educação cristã deve
transmitir o conhecimento obtido pela experiência, ao mesmo tempo que deve
liberar os poderes criativos daqueles que são chamados a avançar para um novo
conhecimento e para maiores realizações». (Noyes, in loc.). Este versículo não
ensina que um homem «sem filhos» não pode ser um «supervisor» cristão , conforme
alguns e ru d ito s têm sugerido. Essa interpretação perverte o que aqui é
dito, sendo algo inteiramente fora de consideração.
«...com todo respeito
...» No grego é «s em n o te to s», que quer dizer «reverência», «respeito»,
«dignidade», «seriedade». Alguns estudiosos pensam que essas palavras aludem
aos filhos, os quais, estando debaixo da autoridade de seus progenitores, deveriam
mostrar «reverência e respeito»; o mais provável, entretanto, é que o pai da
família continue aqui em foco. O pastor que também é pai deve governar seus
filhos com «dignidade» e «seriedade». Precisa reconhecer a seriedade de sua
missão. Aos seus filhos, todo o pai deve três coisas: exemplo, exemplo,
exemplo. Se um pai der a seus filhos o exemplo certo, será fácil para aqueles
se tornarem homens de Deus. O pai é quem deve mostrar aos filhos o caminho.
Notemos que o termo grego «...todo...» é empregado aqui. As ações de um pai
pastor, para com os seus filhos, devem ser caracterizadas por uma seriedade
«completa» e «perfeita». Não deve ser uma atitude lassa e desinteressada. Pois,
se mostrar tal atitude, poderá afastar de si os seus próprios filhos,
tornando-os presa fácil de más influências. Em «tudo» um pastor deve manter
dignidade espiritual diante de seus filhos.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 310.
Assim como o
relacionamento conjugal reflete a relação entre Cristo e a igreja, assim a
associação familiar em uma grande casa é réplica e a célula originária da
família de Deus, do qual toda a paternidade no céu e na terra recebe o nome.
Pela fé em Cristo os gentios tornaram-se “membros da família de Deus”.
Como um pai governa
os filhos e a todos na própria casa, assim o presidente deve conduzir a igreja
de Deus, executando seu ministério com entusiasmo, i. é, bem. Ao contrário do
mundo grego, os cristãos não mandavam educar os filhos por meio de escravos
pedagogos, mas assumiam pessoalmente essa tarefa. Na obediência autêntica (que
é o contrário de coação, porque obediência autêntica é voluntária) e na
decorrente autonomia disciplinada dos filhos adolescentes seria possível
reconhecer a dignidade do pai amável. Isso também pode ser dito de outro modo:
somente quem possui autoridade real pode favorecer dignamente a obediência.
Quem está amarrado e inseguro, lançará mão de meios violentos, conduzindo assim
os filhos à rebeldia, não à subordinação espontânea. “Com toda a dignidade”
salienta a autoridade interior, que se situa acima da contraposição de educação
autoritária – antiautoritária.
Cuidar da igreja de
Deus. O presidente da igreja domiciliar não deve governar sobre ela de forma
arbitrária ou ditatorial, mas pensar em seu bem-estar físico, comunitário e
espiritual. A igreja não pertence a ele, mas a Deus. “Nisso sê diligente”,
enfatiza Paulo mais tarde.
Família e igreja
poderão crescer de forma saudável quando se encontram na mais estreita
interação. Igrejas perdem seu caráter familiar quando famílias cristãs já não
formam as verdadeiras células da igreja. Quando as famílias, mesmo as famílias
nucleares de nosso tempo, não forem mais centros espirituais e locais de
treinamento do amor experimentado de Deus, as igrejas se tornarão desertas,
apesar de todo o ativismo. Por isso cuidar das igrejas significa providenciar
em primeiro e principal lugar famílias saudáveis na fé. O cuidado pastoral
matrimonial certamente ainda é a área mais negligenciada do aconselhamento.
Quando o foco cair sobre a igreja como família de Deus, seu caráter de exemplo
no matrimônio e na família se reveste de fundamental importância. Novamente não
se deve entender isso como uma fachada de devoção hipócrita. Exemplo não é
encenar o que não existe. Nem mesmo a pergunta temerosa sobre o que os outros
dirão deve determinar ou tolher a vida familiar dos servidores da igreja.
Hans
Bürki. Comentário Esperança Cartas aos I
Timóteo.. Editora
Evangélica Esperança.
I Tm 3.4. Um teste
adicional, e crucial, é acrescentado: o superintendente deve ser um homem que
governe bem a sua casa, criando os filhos sob disciplina, com todo respeito. É
tomado por certo que normalmente será um homem casado, e como tal deve vigiar
para que a vida do seu lar seja ideal. A ideia é ecoada na liturgia de
ordenação no Livro Comum de Orações (anglicano), onde se pergunta aos
candidatos para o ministério: “Sereis diligentes para formular e formar a vós
mesmos, e às vossas famílias, de acordo com a doutrina de Cristo, e fazer de
vós mesmos e delas, até ao máximo das vossas possibilidades, exemplos e padrões
sadios para o rebanho de Cristo?” Alguns têm entendido as últimas três palavras
do versículo como aplicando-se aos filhos (cf. Moffatt: .. conserve seus filhos
submissos e perfeitamente respeitosos”), mas o substantivo respeito, ou
“dignidade” (Gr. semnotès) parece mais apropriado à atitude do pai. A lição é
que deve manter disciplina rigorosa, mas sem lutas nem apelos à violência.
John N. D. Kelly. I Timóteo. Introdução
e Comentário.
Editora Vida Nova. pag. 79-80.
III - O
MINISTÉRIO PASTORAL
1. A missão do
pastor.
O SIGNIFICADO DE
PASTOR
A palavra pastor vem
do latim, pastor, com o significado de “aquele que guarda as ovelhas”, “o que
cuida das ovelhas”. Na língua original do Novo Testamento, pastor (gr. poimen), de
acordo com Vine, é “... aquele que cuida de rebanhos (não meramente aquele que
os alimenta), é usado metaforicamente acerca dos ‘pastores’ cristãos (Ef
4.11)”.3 Em termos ministeriais, o pastor é aquele que tem esse dom
ministerial, e é encarregado de cuidar da vida espiritual dos que aceitam a
Cristo e ficam sob seus cuidados, numa igreja ou congregação local. Pastor é um
termo de cuidado, de zelo, de ternura, para com as ovelhas de Jesus.
A MISSÁO DO PASTOR
A principal missão do
pastor é cuidar das ovelhas de Cristo, que lhe são confiadas. A ele cabe apascentar
(gr. poimanô) as ovelhas, dando-lhes o alimento espiritual, através do ensino
fundamentado (doutrina) da Palavra de Deus. No Salmo 23, Davi mostra o cuidado
do pastor. Ele leva as ovelhas a deitar-se “em verdes pastos”. O pastor fiel
leva as ovelhas de Jesus a alimentar-se do “pasto verde”, que nutre a alma e o
espírito, fortalecendo-as, para que cresçam na graça e conhecimento do Senhor
Jesus Cristo (2 Pe 3.18).
Sua missão é múltipla
ou polivalente. Um pastor de verdade tem que agir como ensinador, conselheiro,
pregador, evangelizador, missionário, profeta, juiz de causas complexas, fazer
as vezes de psicólogo, conciliador, administrador eclesiástico dos bens
espirituais e de recursos humanos sob seus cuidados, na igreja local; é
administrador de bens materiais ou patrimoniais; gestor de finanças e recursos
monetários, da igreja local, além de outras tarefas como pai, esposo, e dono de
casa, como pastor de sua família.
A atividade pastoral
genuína é tão importante, que o profeta Isaías, falando ao povo de Israel,
acerca do livramento que lhe seria dado, usa a figura do pastor, aplicando-a ao
próprio Deus (Is 40.11). O verdadeiro pastor cuida bem das ovelhas: recolhe os
cordeirinhos (os mais fracos, mais novos) entre os braços; leva-os no regaço;
aos novos convertidos, os “amamenta”, como a “bebês espirituais” e os guia
mansamente.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 113-114.
PASTOR Várias versões
traduzem a palavra hebraica ro'eh ("protetor") como
"pastor", por exemplo em Jeremias 2.8; 3.15; 10.21; 12.10; 17.16;
22.22; 23.1,2. Essa palavra hebraica também foi traduzida em outras passagens
de Jeremias como pastor (23.4; 25.34,35,36; 31.10; 33.12; 43.12; 49.19; 50.6, 44;
51.23), e em outras passagens do AT de Génesis até Zacarias. Na versão KJV em
inglês, as palavras traduzidas como "pastores" foram geralmente
traduzidas como "regentes" nas versões modernas. As versões ASV e RSV
em inglês não utilizam o termo "pastor" em todo o AT. O termo na
versão KJV designa os líderes do governo e os governadores do povo de Deus.
A palavra grega
poimen foi uniformemente traduzida como "pastor" em Efésios 4.11 para
designar o ministro na Igreja. Em outras passagens do NT, essa palavra também
foi traduzida como "pastor de ovelhas" (q.v.; Mt 9.36; 25.32; 26.31;
Mc 6.34; 24.27; Lc 2.8,15, 18,20; Jo 10.2,11,12,14,16; Hb 13.20; 1 Pe 2.25).
PASTOR, CRISTÃO O
termo original significa literalmente "pastor". Esta palavra foi,
várias vezes, usada pelo Senhor Jesus Cristo no NT (Hb 13.20; 1 Pe 2.25) e,
apenas uma vez, como pastor dos cristãos (Ef 4.11). Nessa passagem, ela aparece
como um dom espiritual a ser praticado, e não como uma função a ser ocupada. Na
verdade, qualquer cristão que orienta, protege e geralmente trabalha como
protetor em relação aos outros crentes está desempenhando o dom espiritual de
um pastor. Entretanto, essa palavra veio a designar alguém que formalmente
alimenta o rebanho, administra as ordenanças, lidera a adoração e guarda a
verdade (Hb 13.17; 1 Pe 5.2). As Epístolas Pastorais fornecem as diretrizes dos
deveres daqueles que ocupam, oficialmente, as posições de liderança como
pastores entre o rebanho de Deus (2 Tm 4.1,-5). Ao dirigir-se aos anciãos da
Igreja em Éfeso (At 20.17), Paulo os chamou de supervisores ou bispos (v. 28) e
ordenou que apascentassem (ou "alimentassem") o rebanho (v. 28).
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora
CPAD. pag. 1469.
A mensagem principal
de João 10:2 é ensinar que o verdadeiro pastor, que é Cristo Jesus, tem a autoridade
própria e a comissão divina para ministrar às ovelhas, que são os verdadeiros
filhos de Deus de cujo direito não participam os falsos pastores. Essa autoridade
é aqui ilustrada pelo ato de entrar no aprisco, com a permissão e a boa
acolhida que é dada ao verdadeiro pastor pelo porteiro (ver João 10:3).
1. O Dom Pastoral
O oficio do pastor é
um dom de Deus à Igreja. Sem dúvida terá o dom
de governos, sendo
esse um dom especifico dos pastores. Mas também deve ter o dom da fé, e talvez outros
dons, como o de profecia, etc. Além disso, deve ser capaz de ensinar (ver I
Tim. 3:2b). Temos descrito a questão dos dons espirituais no artigo intitulado Dons
Espirituais, especialmente sua seção IV Charismata. Nem todos os pastores s10
mestres (ver Í Tim. 5:17); e nem todos eles são dotados de facilidade de
expressão. Mas um pastor deve ser possuidor de apreciável dose de compaixão e
simpatia, sendo capaz de misturar-se bem com as pessoas, gostando da companhia
dos seus semelhantes. Um monge, em seu mosteiro, que gosta da solidão,
meditando, rezando e lendo seus livros sagrados, sem importar quantas outras
virtudes possa ter, jamais seria um bom pastor.
Um mestre, mergulhado
até o pescoço nos seus livros que manuseia ideias e gosta de estudar e
aprender: pode ser um professor espetacular de Escola Dominical, mas
provavelmente não está bem adaptado às tarefas próprias de um pastor.
2. Definição
Um pastor, sendo
ocupante de um oficio eclesiástico respeitável. ainda assim. de acordo com
certos grupos cristãos, ocupa posição inferior à de um bispo. e comum hoje. -
em muitas denominações evangélicas. uma igreja ter mais de um pastor. dependendo
das muitas necessidades da mesma. Assim um deles ocupar-se-á do trabalho
pastoral interno, um outro cuidará dos jovens, e ainda um outro ficará
encarregado do evangelismo, por exemplo. Isso ocorre devido à complexidade do
oficio pastoral, sem falarmos no fato de que. às vezes. O rebanho toma-se por
demais numeroso para que um único homem faça a contento o seu trabalho.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 105.
Is 40. 11. O quadro final de Deus é de um
Pastor Divino. Como pastor, apascentará o seu rebanho (11) é conhecido por
todos os cristãos através do famoso Messias de Handel. Isaías viu Deus nos dois
aspectos da sua infinita soberania: exercendo seu poder para subjugar seus
inimigos e mostrando sua bondade compassiva para todos os membros do seu
rebanho. O versículo 10 mostra-o forte; o versículo 11 mostra-o meigo e gentil.
Brandura é simplesmente a força que se tornou meiga. Os cordeirinhos
recém-nascidos e as ovelhas que estão amamentando precisam de um cuidado
especial. Uma ovelha-mãe com um úbere pesado, cheio de leite, não deveria ser
sobrecarregada, e alguns cordeirinhos recém-nascidos ainda estão fracos demais
para longas caminhadas. Neste caso, eles devem ser carregados pelo pastor. Essa
profecia nos lembra de uma outra que descreve a compaixão de Cristo: “A cana
trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega” (42.3; cf. Mt 12.20).
Assim, esse prólogo conclui a segunda parte das profecias como começou, com uma
nota de conforto. Isaías vê que Deus não abandonou esse mundo ao caos; Ele
governa e continua pastoreando a todos.
Ross
E. Price. Comentário Bíblico Beacon.
Editora CPAD. Vol. 4. pag. 126.
Is 40.11. Com a piedade e a ternura de um
pastor (v. 11). Deus é o “Pastor de Israel” (SI 80.1); Cristo é o “bom Pastor”
(Jo 10.11). O mesmo que governa com a mão forte de um príncipe guiará e
apascentará com a gentil mão de um pastor. (1) Ele cuida de todo o seu rebanho,
o pequeno rebanho: “Como pastor, apascentará o seu rebanho”. A sua palavra é
alimento para o seu rebanho. Suas ordenanças são pastos onde eles devem se
alimentar; os seus ministros são seus pastores auxiliares, nomeados para cuidar
do rebanho. (2) Ele tem um cuidado particular com aqueles que mais necessitam
dos seus cuidados, as ovelhas que são fracas, e não podem cuidar de si mesmas,
e estão desacostumadas às dificuldades, e aquelas que estão prenhas, e por isso
estão pesadas, e, se algum mal for feito a elas, correm risco de dar cria
prematuramente. Ele cuida particularmente para que a descendência não se perca.
O bom Pastor tem um cuidado terno com as crianças que são entusiasmadas e
esperançosas, com os jovens convertidos, que estão iniciando o caminho para o
céu, com os crentes fracos, e com aqueles que têm um espírito pesaroso. Essas
são as ovelhas do seu rebanho que terão certeza de que não lhes faltará nada
que a sua situação exija. [1] “... entre os braços” do seu poder, “...
recolherá os cordeirinhos”; o seu poder se aperfeiçoa na fraqueza deles (2 Co
12.9). Ele os recolherá, quando vagarem, os recolherá quando caírem, os
recolherá quando estiverem dispersos, e os recolherá junto a si, por fim. E
tudo isso com seus braços, dos quais ninguém será capaz de arrebatá-los (Jo
10.28). [2] Ele “... os levará no seu regaço”, no regaço do seu amor, e ali os
guardará. Quando estiverem cansados, ou fracos, quando estiverem doentes e
enfraquecidos, quando se encontrarem em caminhos errados, Ele os levará, Ele os
carregará, e Ele tomará as devidas precauções para que não sejam deixados para
trás. [3] Ele “... as guiará mansamente”. Com a sua palavra, Ele não exige mais
serviços, e pela sua providência Ele não inflige mais problemas do que aqueles
para os quais Ele os capacitará; pois Ele considera a estrutura deles.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo
Testamento Isaías a Malaquias. Editora CPAD. pag. 177.
2. Uma missão
polivalente.
O PASTOR — UM
CONTRADITADO
Muitos obreiros,
principalmente os mais jovens, aspiram ao pastorado. Não é errado ter essa
aspiração. Paulo escreveu ao jovem obreiro Timóteo: “Esta é uma palavra
fiel: Se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja” (1 Tm 3.1). Mas os
candidatos ao episcopado (pastorado) devem ter consciência de que um pastor é
alvo de grandes contradições e oposições, a despeito de sua honrosa missão. A
lista de contradições sobre o que as pessoas pensam do pastor, é ampla e
variada. Alguém já escreveu diversas listas sobre isso. A seguir, resumimos uma
delas:
Se o pastor é ativo,
é ambicioso; se é calmo, é preguiçoso; se o pastor é exigente, é intolerante;
se não exige, é displicente; se fica com os jovens, é imaturo; se fica com os
adultos, é antiquado; se procura atualizar-se, é mundano; se não se atualiza, é
de mente fechada, retrógrado, ultrapassado; se prega muito, é prolixo,
cansativo; se prega pouco, é que não tem mensagem; se veste-se bem, é vaidoso;
se veste-se mal, é relaxado; se o pastor sorri, é irreverente; se não sorri, é
cara dura. O que o pastor fizer, alguém pensa que faria melhor. Pode parecer
algo hilário ou grotesco, mas reflete um pouco a visão que muitas pessoas têm
do pastor de uma igreja local . Aliás, alguém já escreveu, dizendo que “pastor
é uma espécie em extinção”.
Mas tais contradições
não devem ser motivo para desânimo ou desinteresse pelo ministério pastoral. O
Sumo Pastor, Jesus Cristo, foi alvo de piores referências a seu respeito, mesmo
demonstrando que era um ser especial, humano e divino, que só fazia o bem. Seus
opositores o acusaram de ser “comilão e bebedor” (Mt 11.19); de ter demônio (Jo
8. 52); de ser endemoninhado e expulsar demônio pelo príncipe dos demônios (Mc
3-22); e de tramar contra o governo da época, justificando sua condenação (Lc
23.2; Jo 19.12). Mas Jesus não desistiu. Foi até ao fim, entregando sua vida em
lugar dos pecadores. E cumpriu a sua missão (Jo 19.30).
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 114-115.
Disse o Senhor aos
discípulos: “Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos” (Mt 10.16). Na
realidade somos pastores de ovelhas; todavia, Ele nos previne que seremos
cercados, nós e eles, por animais perigosos. As ovelhas são atacadas por lobos.
Essa é uma advertência acerca das dificuldades que devemos esperar em um mundo
tão hostil. O próprio Senhor Jesus foi enviado “para evangelizar aos pobres;
enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vida aos
cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e apregoar o ano aceitável do Senhor”
(Lc 4.18,19). E ainda: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20.21).
Quão maravilhosa é
esta tarefa. Que alta e santa chamada é a nossa. Ele nos estabeleceu como luzes
no mundo, e nos chamou para sermos o sal da terra. O Senhor ensinou ainda:
“aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço, e outras maiores
fará, porque eu vou para junto do Pai” (Jo 14.12).
Esta promessa está
muito além da experiência da maioria dos obreiros do Evangelho, Cristo disse
justamente o que tinha a intenção de assegurar. Que Deus nos conceda fé, para
assumirmos a posição de autoridade e poder que Ele nos deixou como herança
nesta áurea promessa.
A grande comissão
inicia com uma pequena palavra - “Ide” (Mc 16.15; Mt 28.19). É o oposto de assentai-vos
e fixá-los, mas significa a renúncia das coisas que para trás ficam numa ação
definida para entrar em contato com os que se acham nas estradas, nas cidades,
no interior, na nação e fora dela.
A ordem de Jesus
atinge até aos confins da terra, partindo de Jerusalém. Trata-se de um
Evangelho de ação, e todo crente espiritual deve esforçar-se. E neste espírito
compete-nos testificar das verdades que temos visto e ouvido.
A melhor tradução de
“ensinai”, em Mateus 28.19 é “fazei discípulos”. Não basta meramente anunciarmos
o Evangelho, desincumbindo nos desta responsabilidade, e ficando limpos do
sangue de todos os homens. Não nos compete ir apenas passando e proclamando-o
às pessoas.
Mas, somos instruídos
a ter como objetivo específico à conquista de almas preciosas para Cristo. Não
teremos cumprido o dever enquanto não orarmos e lutarmos pacientemente, até que
os homens vejam o caminho e andem nele.
Quando Barnabé e
Paulo chegaram e, entraram na sinagoga dos judeus e “falaram de tal modo” que
um grande número de pessoas veio a crer no Evangelho (At 14.1). Isso é falar
com poder. Não apenas testificaram do Evangelho, mas o fizeram de tal modo a
ganhar novos discípulos. E assim sucedeu por onde passaram, embora enfrentando
dificuldade.
IBADEP - Instituto Bíblico
da Assembleia de Deus. Ética Cristã /
Teologia do Obreiro. pag.119-120.
3. O cuidado contra
os falsos pastores.
Lamentavelmente,
existem falsos pastores. Deus mandou o profeta Ezequiel repreender os pastores
infiéis de Israel. Em suas qualificações negativas, podemos entender o que faz
um falso pastor, nos dias atuais. 1) Eles não cuidam do rebanho. Mas
aproveitam-se do pastorado para “apascentarem a si mesmos” (Ez 34.2 c). São
oportunistas. Aproveitam-se das ovelhas para angariarem glórias para si.
2) Eles enriquecem às
custas das ovelhas. Diz o texto: “Comeis a gordura, e vos vestis da lã, e
degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas” (Êx 34.3). Há casos de
pastores que se tornam milionários, com fazendas, aviões, e muito dinheiro,
aproveitando-se das necessidades e carências dos crentes.
3) Eles não têm amor
às ovelhas. Pouco lhes importa a situação espiritual dos crentes. Só pensam em
se aproveitar do pastorado (Ex 34.4). Nas igrejas dos falsos pastores, não há
ensino, doutrina e cuidado com os novos convertidos; nem com os desviados e os
crentes fracos.
4) Eles dispersam as
ovelhas. Por não terem cuidado das fracas, das doentes, das quebradas e das
desgarradas, elas se dispersam e são vítimas das “feras do campo”, que são
inimigos do rebanho. “Assim, se espalharam, por não haver pastor, e ficaram
para pasto de todas as feras do campo, porquanto se espalharam. As minhas
ovelhas andam desgarradas por todos os montes e por todo o alto outeiro; sim,
as minhas ovelhas andam espalhadas por toda a face da terra, sem haver quem as
procure, nem quem as busque” (Ez 34.5,6).
5) Deus é contra tais
pastores. Em Ezequiel 34.8-10, diante de tão grande calamidade espiritual,
perpetrada por falsos pastores, O Senhor mandou dizer pelo profeta que Ele
próprio cuidaria de suas ovelhas (Ez 43.11, 12). Que Deus nos guarde desses
pastores, reprovados pelo Sumo Pastor.
Elinaldo
Renovato. Dons espirituais &
Ministeriais Servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 115-116.
“Profetiza contra os
pastores de Israel” (Ez 34.1-10). No Antigo Testamento, o termo “pastor” é
frequentemente usado para designar os reis de Israel e os seus líderes
espirituais. Agora Ezequiel olhou para trás e identificou as falhas de
liderança que contribuíram para o recente desastre de Judá. O verdadeiro
propósito que Ezequiel tinha em mente, porém, era mostrar um contexto no qual
um esperado Pastor, que ele estava prestes a descrever, iria se destacar.
Que falhas nos líderes
de Israel e de Judá levaram a nação ao desastre? Os príncipes dos reinos
hebreus tinham pensado apenas em si mesmos em vez de pensar no rebanho (v. 2).
Eles gananciosamente exploravam o rebanho para ganho pessoal (v. 3). Eles se
recusaram a intervir em favor dos fracos e doentes (v. 4). E eles permitiram
que o rebanho de Deus fosse espalhado por todas as nações (w. 5,6). Devido a
estes pecados, Deus disse: “Demandarei as minhas ovelhas da sua mão; e eles
deixarão de apascentar as ovelhas e não se apascentarão mais a si mesmos” (v.
10).
O Novo Testamento
adverte contra colocar-se no papel de liderança presunçosamente; Tiago 3.1 diz:
“Muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo”.
Qualquer um que veja a liderança como uma posição “superior” à dos outros, em
vez de vê-la como uma posição que tem como finalidade servi-los, ainda não está
pronto para ser um líder espiritual.
Lawrence
O. Richards. Comentário Devocional da
Bíblia. Editora CPAD. pag.446.
Restauração sob um
bom pastor (34.1-31). Enquanto o profeta é chamado de atalaia, os governantes
de Israel são aqui chamados de pastores (2). Estão incluídos os reis, os
príncipes e os magistrados. Clarke inclui também os sacerdotes e levitas.5
Esses têm sido pastores infiéis para com o povo de Deus. Eles não têm
sustentado o rebanho do Senhor (2), Israel. Em vez disso, eles estão mais
preocupados em alimentar-se a si mesmos e a estar bem vestidos (3). Eles não
tiveram misericórdia para com a ovelha doente nem com a que estava ferida. Eles
não buscaram a perdida (4), como Cristo, o Bom Pastor, fez anos mais tarde (Jo
10.11,14).
J.
Kenneth Grider. Comentário Bíblico
Beacon. Editora CPAD. Vol. 4. pag. 476;
Os Pastores São Reprovados. Ez 34.1-6
A profecia deste
capítulo não é datada, como acontece com todas aquelas que a seguem, até o cap.
40. E muito provável que ela tenha sido entregue depois do término da
destruição de Jerusalém, quando seria muito oportuno averiguar as suas causas.
I O profeta recebe a
ordem para profetizar contra os pastores de Israel - os príncipes e os
magistrados, os sacerdotes e os levitas, o grande Sinédrio ou conselho de
estado, ou a qualquer homem que tivesse a direção dos assuntos públicos em uma
esfera mais alta ou mais baixa, especialmente os reis, pois havia dois deles
agora cativos na Babilônia, que assim como o povo, deveriam enxergar as suas
próprias transgressões para que pudessem se arrepender, como Manassés em seu
cativeiro. Deus tem algo a dizer aos pastores, pois eles são sub-pastores, que
devem obediência àquele que é o grande Pastor de Israel, Salmos 80.1. Observe o
que o Senhor diz: Ai dos pastores de Israel! Embora eles sejam pastores, e
pastores de Israel, ele não deve poupá-los nem lisonjeá-los. Note que se a
posição e o poder dos homens não os afastarem do pecado, como deveriam, eles
não servirão para isentá-los da reprovação, nem para desculpar a sua falta de
arrependimento, nem para guardá-los dos juízos de Deus se não se arrependerem.
Tivemos um “ai” proferido contra os pastores, Jeremias 23.1. Deus acertará as
contas com eles de um modo especial, se não forem fiéis à confiança que neles
foi depositada.
II Ele é aqui
instruído sobre a acusação que deverá fazer contra os pastores, em nome de
Deus, como o fundamento da disputa de Deus com eles. Pois esta não é uma
discussão sem motivos. Eles são acusados de duas coisas: 1. De que todo o
cuidado deles visava o favoreci- mento pessoal, para enriquecerem a si mesmos e
se tornarem grandes. A função deles era cuidar daqueles que foram entregues aos
seus cuidados: Não apascentarão os pastores as ovelhas? Sem dúvida deveriam
apascentá-las. Eles estarão traindo a confiança do Senhor se não fizerem assim.
Não que eles devam colocar a comida na boca das ovelhas, mas devem prover a
comida para elas, e levá-las até ela. Mas estes pastores não prestaram, a esta
atividade, o mínimo de sua atenção. Eles alimentavam a si mesmos, planejavam
tudo para gratificar e saciar os seus próprios apetites, e para se tornarem
ricos e grandes, gordos e tranquilos. Eles garantiam os lucros das suas
funções. Eles comiam a gordura, o creme (assim alguns entendem), porque aquele
que apascenta um rebanho se alimenta do seu leite (1 Co 9.7), e garantiam para
si o melhor do leite. Eles garantiam a lã, e se vestiam com ela, colocando as
suas mãos na maior quantidade possível de bens daqueles que estavam sujeitos a
eles. Eles matavam aquelas ovelhas que estavam bem alimentadas, para que
pudessem se alimentar com aquilo que tivessem, assim como no caso de Nabote,
que foi morto por causa da sua vinha. Observe que há um “ai” para aqueles que
estão em posições púbicas de confiança, mas que só levam em consideração os
seus interesses particulares. Sim, para aqueles que estão mais curiosos a
respeito do benefício do que a respeito do oficio. Estes estão mais preocupados
com o dinheiro que deve ser conseguido, do que com o bem que deve ser feito.
Esta é uma queixa antiga: Todos buscam o que é seu, e muitos buscam mais do que
aquilo que é seu. 2. De que não cuidavam do benefício e do bem-estar daqueles
que foram entregues aos seus cuidados: Não apascentais o rebanho. Eles nem
sabiam como fazê-lo, de tão ignorantes que eram, nem se esforçavam para
fazê-lo, de tão preguiçosos que eram. Não, eles nunca desejaram nem planejaram
fazer isso, por serem tão traiçoeiros e infiéis. (1) Eles não cumpriram a sua
obrigação para com as ovelhas do rebanho que estavam doentes. Não as
fortaleceu, nem as curou, nem as ligou, v. 4. Quando qualquer uma do rebanho
estivesse doente ou com dores, aflita ou ferida, eles não se importavam se ela
fosse viver ou morrer. Eles nunca cuidavam delas. Os príncipes e juízes não se
importavam em fazer justiça àqueles que foram injustiçados, ou com a defesa da
inocência ofendida. Eles não se importavam com os pobres para vê-los abastecidos
com o necessário. Por eles, os pobres poderiam morrer de fome. Os sacerdotes
não se importavam em instruir os ignorantes, em corrigir os erros dos que
erravam, em advertir os desobedientes, ou confortar os indecisos e fracos. Os
ministros de estado não se importavam em impedir os males crescentes do reino,
que ameaçavam os seus pontos vitais. As coisas estavam erradas e fora de rumo
em todos os lugares, e nada era feito para corrigi-las. (2) Eles não faziam a
sua obrigação para com as ovelhas do rebanho que estavam dispersas, que foram
levadas pelos inimigos que invadiram o país, e que foram obrigadas a buscar
abrigo onde pudessem achar um lugar, ou que andavam desgarradas pelos montes e
outeiros (v. 6), onde estavam expostas às feras do campo e se tornaram como
pasto para elas, v. 5. Todos estão prontos a agarrar um animal sem dono. Alguns
foram para outra terra e mendigaram, outros foram para outra terra e
negociaram, e desse modo o país se tornou escasso de moradores, e foi
enfraquecido e empobrecido, e carecia de mãos tanto nos campos de grãos como
nos campos de batalha. Tanto na colheita como na guerra: As minhas ovelhas
andam espalhadas por toda a face da terra, v. 6. E ninguém jamais perguntou por
elas, e jamais foram encorajadas a voltar para o seu próprio país: não há quem
as procure, nem quem as busque. Com força e crueldade eles as regiam, o que fez
com que mais fossem embora, e desanimavam aquelas que pensavam em retornar. A
situação é muito ruim quando alguém tem motivos para esperar ser mais bem
tratado entre os estranhos do que em seu próprio país. Isto pode significar
aqueles do rebanho que se desviaram de Deus e da sua obrigação. E os
sacerdotes, que deveriam ter ensinado o bom conhecimento do Senhor, não
utilizaram meios para convencê-los e reclamá-los, de forma que eles se tornaram
uma presa fácil para os corruptores. Assim, se espalharam por não haver pastor,
v. 5. Havia aqueles que se denominavam pastores, mas que na verdade não o eram.
Note que aqueles que não fazem o trabalho de pastores são indignos deste nome.
E se aqueles que se propõem
a ser pastores forem pastores insensatos (Zc 11.15), se eles forem soberbos e
se sentirem envaidecidos por sua função, se forem ociosos e não amarem o seu
trabalho, ou se forem infiéis e indiferentes a ele, a situação do rebanho será
tão ruim quanto se não houvesse pastor. E melhor não ter nenhum pastor do que
ter pastores assim. Cristo se queixa de que o seu rebanho era como ovelhas que
não tinham pastor, quando, no entanto, os escribas e fariseus se sentavam na
cadeira de Moisés, Mateus 9.36. E muito ruim para o paciente quando o seu
médico é a sua pior doença; é muito ruim para as ovelhas do rebanho quando os
pastores as mandam embora e as dispersam, governando-as com violência.
Os Pastores Reprovados Ez 34. 7-16
Ao lermos os artigos
de impedimento anteriormente redigidos, em nome de Deus, contra os pastores de
Israel, só podemos olhar para os pastores com uma justa indignação, e para o
rebanho com uma terna compaixão. Deus, através do profeta, expressa aqui estes
dois sentimentos de uma forma enfática. E os pastores são chamados (w. 7,9)
para ouvir a palavra do Senhor, para ouvir esta palavra. Ouçam eles como o
Senhor os considera pouco, eles que se consideravam muito, e como o Senhor
considera muito o rebanho, o qual eles desprezavam tanto. As duas palavras
serão humilhantes para eles. Aqueles que não querem ouvir a palavra do Senhor
lhes dando instruções tão importantes, serão obrigados a ouvir a palavra do
Senhor proferindo a sua condenação. Agora veja aqui:
I Quão desgostoso
Deus está com os pastores. Os seus crimes são repetidos, v. 8. O rebanho de
Deus se tornou uma presa para os enganadores que primeiro, o atraíram para a
idolatria, e então para os destruidores que os levaram para o cativeiro. E
estes pastores não tinham o cuidado de evitar um ou o outro, mas agiam como se
não houvesse pastores. Portanto, Deus diz isto (v. 10), e confirma isto com um
juramento (v. 8): Eu estou contra os pastores. Eles receberam de Deus a
responsabilidade de apascentar o rebanho e utilizaram este precioso nome no que
faziam, esperando que tivessem o apoio dele. “Não,” diz Deus, “longe disso. Eu
sou contra eles.” Note que o fato de termos o nome e a autoridade de pastores
não garante a presença de Deus conosco, se não fizermos o trabalho que nos foi
ordenado, e não formos fiéis à confiança que foi depositada em nós. Deus é
contra eles, e eles saberão disso. Porquê: 1. Eles terão que prestar contas
pela maneira como se desincumbiram da confiança que neles foi depositada:
“Demandarei as minhas ovelhas da sua mão, e imputarei sobre eles o fato de
tantas estarem faltando.” Note que terão muito pelo que responder no dia do
juízo aqueles que têm sobre si o cuidado das almas, e que, no entanto, não
cuidam delas. Os ministros devem ficar alerta e trabalhar como aqueles que
devem prestar contas, Hebreus 13.17. 2. Eles perderão o oficio et beneficio -
tanto o trabalho como os salários. Eles cessarão de apascentar o rebanho, isto
é, de fingir que o apascentam. Observe que é justo que Deus tire das
mãos dos homens o poder de que eles abusaram, e a confiança que traíram. Mas se
este fosse todo o castigo deles, poderiam suportá-lo muito bem. Portanto, é
acrescentado: “Eles deixarão de apascentar as ovelhas e não se apascentarão mais
a si mesmos. Livrarei as minhas ovelhas da sua boca, pois não as têm protegido,
e não lhes servirão mais de pasto.” Note que aqueles que estão enriquecendo a
si mesmos com os despojos do público, não podem esperar que sempre tenham a
permissão para fazer isso. Deus também não permitirá que o seu povo seja sempre
menosprezado por aqueles que deveriam apoiá-lo, mas preparará um dia em que os
livrará dos pastores, que são os seus falsos amigos, bem como dos leões, que
são os seus inimigos confessos.
II Quão preocupado
Deus está com o rebanho. Ele fala mostrando que Ele mesmo é Aquele que está
mais preocupado com eles, pelo fato de tê-los visto assim negligenciados.
Porque é em Deus que o órfão encontra misericórdia. Promessas preciosas são
feitas aqui nesta ocasião, e deveriam ter o seu cumprimento no retorno dos
judeus do seu cativeiro e o seu restabelecimento na sua própria terra. Ouçam os
pastores esta palavra do Senhor, e saibam que eles não têm nenhuma parte nem
porção neste assunto. Mas ouçam as pobres ovelhas e sejam consoladas com isso.
Note que embora os magistrados e ministros falhem em fazer a sua parte, pelo
bem da igreja, Deus não falhará em fazer a sua parte. Ele tomará o rebanho na
sua própria mão, antes que a igreja perca a bondade que Ele planejou para ela.
Os sub-pastores podem mostrar que são negligentes. Mas o Sumo Pastor não
cochila nem dorme. Eles podem ser falsos. Mas Deus permanece fiel.
1. Deus juntará as
ovelhas que estavam espalhadas, e as trará de volta para o aprisco junto com
aquela que andava errante: “Eis que eu, eu mesmo, o único que pode fazer isto,
o farei, e terei toda a glória disso. Procurarei as minhas ovelhas e as
buscarei (v. 11) como faz um pastor (v. 12), e as farei voltar como ele faz com
a desgarrada, sobre os seus ombros, de todos os lugares por onde andam
espalhadas no dia de nuvens e de escuridão.” Há dias de nuvens e de escuridão,
com ventos e tempestades que espalham as ovelhas de Deus, que as mandam para lá
e para cá, para lugares diversos e distantes, em busca de tranquilidade e
segurança. Mas: (1) Onde quer que elas estejam, os olhos de Deus as acharão,
porque os seus olhos percorrem a terra, em favor delas. Eu buscarei as minhas
ovelhas, e nenhuma que pertença ao aprisco será perdida, embora tenha se
desgarrado. O Senhor conhece aqueles que são Seus. Ele conhece o seu trabalho,
onde moram (Ap 2.13), e onde estão escondidas. (2) Quando chegar a hora que Ele
mesmo determinou, os seus braços irão trazê-las para casa (v. 13): E as tirarei
dos povos. Deus tocará em seus corações para que venham pela sua graça, e pela
sua providência abrirá uma porta para elas e removerá toda dificuldade que se
achar no caminho. Elas não voltarão uma a uma, fugindo clandestinamente, mas
voltarão em um só grupo: “E as farei vir dos diversos países em que foram
dispersas, não só as famílias mais consideráveis deles, mas cada pessoa em
particular. A perdida buscarei, e a desgarrada tomarei a trazer,” v. 16. Isto
foi feito quando milhares de judeus voltaram triunfantemente deixando a Babilônia,
sob a direção de Zorobabel, Esdras, e outros. Quando aqueles que haviam se
desgarrado de Deus indo para caminhos de pecado forem trazidos de volta pelo
arrependimento, quando aqueles que erraram chegarem ao conhecimento da verdade,
quando os banidos de Deus forem reunidos e restaurados, e as congregações
religiosas, que estavam dispersas se reunirem novamente, quando cessarem as
perseguições, e quando as igrejas tiverem descanso e liberdade, então esta
promessa se cumprirá uma vez mais.
2. Deus apascentará o
seu povo como as ovelhas do seu pasto, que haviam estado famintas. Deus trará
os cativos de volta com segurança para a sua própria terra (v. 13), e os
apascentará nos montes de Israel, que são um bom pasto, e um pasto farto (v.
14). Ali será o seu pasto, e o seu aprisco. E este é um bom aprisco. Ali Deus
não só as apascentará, mas as fará repousar (v. 15), o que indica um descanso
confortável depois de terem se cansado com as suas peregrinações, e uma morada
constante e contínua. Eles não serão mais tirados destes pastos verdejantes,
como foram, nem serão perturbados, mas se deitarão em um repouso suave e não
haverá mais ninguém que os atemorize, Salmos 23.2, Deitar-me faz em verdes
pastos. Compare esta com uma promessa semelhante (Jr 23.3,4), quando Deus os
restaurou não só ao leite e mel da sua própria terra, ao gozo dos seus frutos,
mas aos privilégios do seu santuário no Monte Sião, o principal dos montes de
Israel. Quando eles tivessem um altar e um templo outra vez, e o benefício de
um sacerdócio estabelecido, então seriam alimentados em um bom pasto.
3. Ele socorrerá as
ovelhas que estão aflitas, ligará as que estão quebradas e fortalecerá as que
estão enfermas, consolará as que choram em Sião e com Sião. Se os ministros,
que deveriam falar de paz para aqueles que têm um espírito triste
negligenciarem ao seu dever, o Espírito Santo, o Consolador, será fiel ao seu
ofício. Mas como se segue, a gorda e a forte serão destruídas. Aquele que tem o
repouso para os santos atribulados tem o terror para os pecadores presunçosos.
Todo vale se encherá, e se abaixará todo monte e outeiro, Lucas 3.5.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo
Testamento Isaías a Malaquias. Editora CPAD. pag. 772-774.
ELABORADO:
Pb Alessandro Silva.
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